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Ano 112 • Dezembro 2010

Manifestou-se a graça de Deus Advento

O Senhor vem, vamos ao seu encontro

Mãe Imaculada

Um capítulo do livro Ladainha de Nossa Senhora

Espaço Jovem

Aprender a administrar o tempo


Tempo do Advento Em meio à treva escura, ressoa clara voz. Os sonhos maus se afastem, refulja o Cristo em nós. Despertem os que dormem feridos de pecado. Um novo sol já brilha, o mal vai ser tirado. Do Céu desce o Cordeiro que traz a salvação. Choremos e imploremos das culpas o perdão. E, ao vir julgar o mundo no dia do terror, não puna tantas culpas, mas venha com amor. Ao Pai e ao seu Filho poder e majestade, e glória ao Santo Espírito por toda a eternidade.

Disse o anjo à Virgem: Maria, alegra-te, ó cheia de graça, O Senhor é contigo; És bendita entre todas as mulheres da terra. Extraído do livro Liturgia das horas, volume I, PP. 105 e 106


Editorial

Manifestou-se, com efeito, a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens.

C

(Tito 2,11)

hegamos no mês de dezembro, último mês do ano civil e primeiro do calendário litúrgico. Neste mês, durante o Advento, nos preparamos na perspectiva das duas vindas de Cristo: sua vinda gloriosa no fim dos tempos e sua vinda terrena, que celebramos no Natal. Celebrar o Natal é contemplar a manifestação da bondade de Deus para toda a humanidade. Por isso, nesta edição, os temas concentram-se nas diversas demonstrações festivas relacionadas ao Natal: o Advento, os símbolos natalinos, etc. Em homenagem à Imaculada Conceição, publicaremos um capítulo do livro Ladainha de Nossa Senhora, do Pe. Joãozinho, que nos explica a origem da Invocação Mãe Imaculada. É com grande alegria que a equipe da revista Ave Maria deseja a você e aos seus familiares um santo e abençoado Natal. Que possamos oferecer a Jesus nossa gratidão, pois ele nos salvou por sua misericórdia. Junto com este exemplar da revista, você recebe como brinde um calendário. Que ele seja para você um estímulo de reflexão e oração durante todo o tempo do ano de 2011. Seja Deus a nossa força. Capa: Manifestou-se a graça de Deus www.avemaria.com.br/revista www.avemaria.com.br/revista

O Natal A era christã. Era uma dessas noites em que a imaginação transporta-se em arroubos de mystica contemplação, em que o coração sente a intensidade das suas vibrações, em que a alma comprehende a sublimidade da existência; (...) A humanidade sentia qualquer cousa, que prophetizava que o scenario de sua existência ia passar por uma mutação completa (...) Todos em completa união, queriam ver o Redenptor, depois de lhes ter sido annunciada sua vinda pelos pastores(...) Quem não se curvaria, mais ímpio que fosse, deante da sublimidade do quadro(...) Quem, contemplando a magestade Divina, encarnada em Jesus, a quase perfectibilidade, simbolisada em Maria e a innemitavel devotação representada por José, deixaria de entoar com o côro celeste: Gloria in excelsis Deo? E. de C. (autor)

Trechos de artigo de autoria com as iniciais acima publicada na Ave maria de 21 de dezembro de 1902, numero 51, p 815.

Pe. Luís Erlin, cmf dezembro de 2010

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Sumário Maria na devoção popular Revista Ave Maria 112 anos Direção Administrativa Marcos Antônio Mendes

Nossa Senhora das Maravilhas ........................ 5

Curiosidades

Os símbolos natalinos............ 18

Especial do mês

Mãe Imaculada...........................8

Direção Editorial Luís Erlin Gerência Editorial J. Augusto Nascimento

Reflexão Bíblica

Redação Avelino S. de Godoy

Espiritualidade

No caminho da partilha .......... 22 Peça à Mãe que o filho atende ...........................26

Revisão Isabel Ferrazoli Projeto gráfico Gledson Zifssak

Música e Liturgia

Coroa do Advento ...................28

Diagramação Rui Cardoso Joazeiro Correspondências Rua Martim Francisco, 636, São Paulo, SP, 01226-000 revista@avemaria.com.br Divulgação & Publicidade Rodrigo Recchia Tel.: (11) 3823-1060 e Fax: (11) 3663-3491 publicidade@avemaria.com.br divulgacao.revista@avemaria.com.br Assinaturas Preço a partir de R$ 40,00 por ano Responsável: Geraldo José Canezin Rua Martim Francisco, 636, São Paulo, SP, 01226-000 Tels.: 0800-7730-456 e (11) 3823-1060 Fax: (11) 3663-3491 assinaturas@avemaria.com.br Revista Ave Maria é uma publicação mensal da Editora Ave-Maria (CNPJ 60.543. 279/0002-62), fundada em 28 de maio de 1898, registrada no SNPI sob nº 22.689, no SEPJR sob nº 50, no RTD sob nº 67 e na DCDP do DFP, sob nº 199, P. 209/73 BL ISSN 0005 - 1934, pertencente à Congregação dos Missionários Claretianos. Impressão Gráfica Ave-Maria. Estrada Comendador Orlando Grande, 88. Bairro: Gramado, Embu, SP. 06833-070 Tel.: (11) 4785-0085 www.avemaria.com.br/revista

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Devocional

O milagre de Guadalupe ........10

Personalidade Bíblica

João Evangelista ..................... 30

Espaço Jovem

Aprender a administrar o tempo .................................. 34

Ano litúrgico

Santo rosário

Evangelização

Comunicação

Advento: o Senhor vem, vamos ao seu encontro........................14 Nas águas dos rios da vida .... 16

Terceiro Mistério Glorioso: a vinda do Espírito Santo.......... 36 O comunicador.......................42

Rede virtual Carta a um jovem internauta..44

Meu lar

O desafio de perdoar e suas dimensões psicológicas (2) ...46 Seções Editorial .................................................3 Espaço Jovem ....................................34 Espaço do leitor ................................ 6 Santo rosário .....................................36 Comemorações do mês .................24 Seção infantil ................................... 48 Personalidade bíblica .....................32 Sabor & Arte na mesa ...................50 www.avemaria.com.br/revista


Maria na devoção popular

Nossa Senhora

DAS MARAVILHAS

P

erto de Salamanca, Espanha, havia uma capela na qual se venerava uma imagem denominada Senhora das Maravilhas, cuja origem era desconhecida e o estado de conservação era lastimável. Certamente por ser muito venerada, seu manuseio era descuidado e por isso o juiz eclesiástico determinou que fosse enterrada. Mas o povo se opôs a essa ordem, em especial João González e sua esposa, que pediram que a entregassem aos seus cuidados. No princípio, o pedido foi negado, mas depois de tantas e constantes insistências, o casal conseguiu a tutela da imagem em sua casa. Desse modo, pôde-se conservar a imagem. www.avemaria.com.br/revista

Depois de muitas vicissitudes, foi vendida na cidade de Madri para Ana Maria Del Cárpio, cujo marido era escultor e restaurou a imagem, deixando-a muito bonita. Conta a tradição que Ana Maria teve um sonho no qual Maria apresentava o Menino Jesus, seu santíssimo Filho, pedindo que não deixasse de cuidar da imagem. Por três anos o ícone permaneceu em sua casa. Durante essa permanência, muitos milagres aconteceram, forçando o vigário geral a intimar a senhora Ana Maria a ceder a imagem para os cuidados das Irmãs Carmelitas, na igreja de Santo Antão. Essa ordem foi cumprida em 1o de fevereiro de 1627, quando numa linda carruagem trasladou a imagem de Nossa Senhora das Maravilhas, com grande afluência popular. Conta-se que, durante a procissão, uma pomba acompanhou todo o trajeto da carruagem até ser depositada a imagem no altar da igreja, que o povo passou a chamar de Igreja das Maravilhas. Aí a pomba deixou-se apanhar pelas freiras. Entre as muitíssimas maravilhas inerentes a Maria, sem contar as que sabemos pelos santos Evangelhos, como a Imaculada Conceição e a Maternidade divina, conta-se que o Padre Antônio Vieira, quando menino estudante, tinha muita dificuldade nos estudos. Era motivo de caçoadas pelos colegas por considerarem seu talento abaixo do normal. Humildemente, orava diante da imagem de Nossa Senhora das Maravilhas, venerada numa igreja de Salva-

Pe. Roque Vicente Beraldi, cmf é missionário claretiano

dor, na Bahia. Conseguiu a graça de se tornar talentoso e grande pregador do seu tempo, como se lê na História dos Jesuítas no Brasil.

ORAÇÃO Ó Mãe de bondade e misericórdia, santa Virgem Maria, eu pobre e indigno pecador, a ti recorro com todo o afeto do meu coração, implorando a tua piedade. Assim como estiveste de pé junto à cruz do teu Filho, também te dignes assistir-me, não só a mim, pobre pecador, como a todos que necessitam. Auxiliados por ti, possamos oferecer ao Deus uno e trino o sacrifício do seu agrado. Por Cristo Senhor nosso. Amém.

INSTITUTO SECULAR Filiação Cordimariana

“Permanecemos no mundo para ser fermento no meio das realizações humanas...” (Estatuto - capítulo III) “Estais dentro do Sagrado Coração de Maria e isto vos bastará.” Santo Antônio Maria Claret

Gostaria de conhecê-lo? Ligue: (11) 3207-1524 ou escreva para: Rua Bueno de Andrade, 71 apto 93 - CEP: 01526-000 São Paulo - SP

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Espaço do LEITOR Amigos e leitores A Ave Maria nos dá a graça de aprender sobre vários assuntos como, sabedoria, fé, leituras bíblicas e estimulando o discernimento do que acontece no mundo. Às vezes, a vida nos traz situações difíceis e complexas, outras vezes, ela nos mostra vários caminhos a seguir, e temos que tomar uma decisão. Toda escolha tem uma renúncia. Quando temos confiança em Deus e em nós mesmos, fica mais fácil: clamamos ao Senhor que nos direcione o melhor caminho. Decidimos segui-lo e, olhando para a frente, avistamos os novos desafios que o dia a dia traz. Amigos, por experiência própria, se hoje consigo escrever algo é porque Deus me tem como filha e nos momentos mais difíceis me pegou em seu colo e disse: “Filha, não desanima! Eu estou ao seu lado”. Por isso, peço a vocês que acreditem e entreguem suas dores, suas mágoas, seus problemas ao Senhor. Só ele consegue preencher o vazio de todo coração dilacerado pelos obstáculos da vida. Abraços e muita paz no coração de todos. Luciana Brandão, Orlândia, SP Sou padre, em Ipatinga, MG, vigário Geral da Diocese de Itabira- Coronel Fabriciano. No momento, sou Mestrando na área de Bioética em Buenos Aires, Argentina. O curso foca principalmente os avançados acontecimentos na área da genética e também do Desenvolvimento sustentável, em relação aos fenômenos da natureza. Sou também diretor espiritual e membro de uma equipe multidisciplinar que coordena uma clínica de recuperação de drogados em Ipatinga, MG, onde moro. Trabalho na formação sacerdotal como reitor dos seminaristas da filosofia, tenho programa em rádios e TV, escrevo também para alguns jornais aqui na região. Acabou de ser aprovada uma edição de um livro meu na Ed. Canção Nova. Estou falando tudo isso com humildade, não por vaidade, mas entendo que é preciso gritar o Evangelho de cima dos telhados como diz Jesus. Sei que esta revista tem um “timão” de ótimos escritores, mas, se desejarem conhecer alguns artigos meus, favor acessar: www.defatoonline.com.br. Deus os ilumine neste sublime trabalho de comunicar o amor, a vida e a paz. Pe. Francisco Guerra, Ipatinga, MG

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Escrevo pela primeira vez e quero dar os parabéns pela revista Ave Maria. Ela é muito decisiva para as pessoas que buscam fé, amor, alegria e conforto espiritual. Assim podemos conhecer melhor Jesus e Maria. A Ave Maria renova nossa esperança e nos reanima para a vida. Escrevo também para pedir orações.para mim e para os meus. Que a a paz de Maria e de Jesus esteja com todos. Iraci Martins Caldeira, São Paulo, SP Parabenizo o trabalho e a qualidade da revista Ave Maria. Chamo atenção a um erro na edição de setembro de 2010, página 40, que traz no artigo “A palabra é...” Kairós uma pintura de MICHELANGELO da capela Sistina no Vaticano. A revista coloca a arte como sendo de DA VINCI. Pe. José Leonardo, Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, Arquidiocese de Diamantina, MG Prezados amigos da Ave Maria Gostaria de apresentar a vida de meus pais, Lúcio e Edvirges, dedicada aos filhos e à Igreja. É uma homenagem póstuma à nossa mãe e uma alegria para o nosso pai, ambos fiéis leitores da Ave Maria. Foram 48 anos de união, muita cumplicidade e trabalhos na comunidade. Ela faleceu no último dia 21 de setembro. Tornaram-se assinantes da Ave Maria desde o primeiro ano de casamento, portanto há 48 anos. Crescemos com a Ave Maria dentro de casa e a utilizamos em muitos trabalhos de escola e catequese. Nossa mãe, enquanto catequista, a utilizava muito nas suas catequeses. Ultimamente, já debilitada por doença, não deixava de fazer as atividades propostas, separar algum artigo que achava interessante para os filhos lerem e também copiar alguma receita saborosa. Agradecemos a companhia da Ave Maria em nossa família, propondo formação cristã com informações atualizadas. Pedimos orações pela alma de nossa querida mãe e esposa, fiel devota da Virgem Maria, para que ela descanse em paz. Luciana Dogo e irmãos, São João da Boa Vista, SP www.avemaria.com.br/revista


Sou assinante há alguns anos e tenho visto o crescimento da revista na qualidade dos artigos e na visualização. Porém, não posso deixar de discordar do artigo escrito na revista de maio, p. 31, sobre São José. Divulgar um asssunto que a Igreja católica Apostólica Romana não aceita, como um casamento anterior de São José e quatro filhos e duas filhas, é trazer confusão na cabeça dos mais simples. Vocês já imaginaram Nossa Senhora convivendo com enteados e criando Jesus? A direção da revista não devia permitir qualquer tipo

de divulgação, principlamente a título de curiosidade, de um asssunto que não vai acrescentar nada na fé dos católicos, além de trazer confusão. Míriam do Rosário Curado, Goiânia, GO

ANUNCIE NA REVISTA AVE MARIA Ligue para (11) 3823-1060 Ramal 1221ou pelo e-mail: publicidade@avemaria.com.br

Nota da Redação: Prezada Míriam, agradecemos pela sua observação e entendemos sua preocupação. O articulista deixou claro a posição da Igreja sobre a não veracidade do fato. Apenas citou a questão a título de curiosidade encontrada no apócrifo “Evangelho do Pseudo-Tomé”.

PEDIDOS DE ORAÇÃO • José Plauto, Catingueira, PB • Wanderson Quintes Mendes, Macaé, RJ • Fábio B. de Oliveira agradece as graças alcançadas, Fortaleza, CE • Wanderson Quintes Mendes, Macaé, RJ • Cleide Alvarenga de Paula, Governador Valadares, MG • Ione Maria Lobato Campos Lopes, Barbacena, MG • Alda de Sousa Lustosa Campos, Mãe Dágua, PB • Nayara Santos, Cuiabá, MT • Iraci Martins Caldeira, Londrina, PR • Leônidas Dias da Silva, Cuiabá, MT

Prezados leitores, na edição de novembro/2010 (páginas 11 a 15) destacamos alguns santos, beatos, veneráveis e servos de Deus que nasceram ou viveram no Brasil. Como houve inversão ou ausência de alguns nomes, achamos por bem apresentar a seguinte errata: SANTOS • No lugar de São Roque Gonzáles considerar São Roque Gonzáles, Santo Afonso Rodriguez e São João del Castillo, presbíteros e mártires. BEATOS • No lugar de André de Soveral considerar André de Soveral, Ambrósio Francisco Ferro e 28 Companheiros. • No lugar de Adílio da Ronch considerar Padre Manuel Gomes Gonzalez e Adílio da Ronch. VENERÁVEIS Entre os veneráveis, considerar também: • Madre Maria Teodora Voiron www.avemaria.com.br/revista

SERVOS DE DEUS Entre os servos de Deus, considerar também: • Padre Donizetti • José Silvério Horta • Lafayette da Costa Coelho Sabemos que muitos cristãos viveram as virtudes cristãs e morreram com fama de santidade, por isso em muitas dioceses estão recolhendo testemunhos e documentos para iniciarem o processo de beatificação e canonização dos filhos de Deus e da Igreja. Entre eles destacamos: • Irmã Benigna Victima de Jesus (Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade); • Irmão Sardinha (Missionário Claretiano) Logicamente o espaço que temos é muito reduzido para incluirmos todos aqueles que merecem destaque, porém temos certeza de que não serão esquecidos diante do trono de Deus. dezembro de 2010

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Especial do mês

Pe. Joãozinho, scj, é licenciado em Estudos Sociais e especialista em Psicopedagogia

Mãe

IMACULADA N

o dia 8 de dezembro comemoramos 156 anos da definição do dogma da Imaculada Conceição de Maria. Ou seja, a Igreja define como verdade de fé que Maria nasceu sem pecado original. Em 1854, o papa Pio IX, por meio da bula Ineffabilis Deus, proclamou solenemente este dogma. Era o reconhecimento solene da verdade mais profunda escondida nas primeiras palavras que o anjo Gabriel disse à virgem naquele dia, em Nazaré: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo” (Lc 1,28). Os teólogos passaram centenas de anos debatendo se Maria seria realmente imaculada. Quase todos aceitavam que ela tivesse nascido sem o pecado. Mas alguns não tinham tanta certeza de que ela tivesse se mantido toda a vida sem pecar. Achavam que ela poderia ter feito pelo menos “um pequeno pecado” para também poder ser salva. Perguntavam: “Mas se Maria é imaculada, afinal

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de contas, de que ela foi salva... se não tinha pecado?!”. Hoje sabemos que a salvação é mais do que a remissão dos pecados. Deus, por meio do seu Espírito, nos recria a cada momento. Em Cristo somos novas criaturas. Maria também foi recriada em seu Filho, Jesus. O debate sobre a Imaculada fez evoluir nossos conceitos teológicos de salvação. Os teólogos podem complicar demais. Os artistas, às vezes, veem a verdade um pouco antes, pela via da intuição. A imagem de Aparecida é na verdade uma homenagem à Imaculada: Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Ela apareceu no rio Paraíba em 1717, mais de cem anos antes da definição do dogma. Os músicos sempre cantaram em prosa e verso que Maria nasceu sem pecado. “Imaculada, Maria de Deus, coração pobre acolhendo Jesus. Imaculada, www.avemaria.com.br/revista


Maria do povo, Mãe dos aflitos que estão junto à cruz”. Não é difícil para a mãe que prepara o quarto do bebê, que faz todos os exames, que espera nove meses, entender que Deus preparou de um modo especial o ventre onde deveria nascer o seu Filho. Ela foi preservada do pecado original. Novamente os teólogos começam seu interminável debate sobre esse tema. Muitas vezes acabam confundindo mais do que esclarecendo. Como podemos nascer com pecado? Ainda nem temos consciência! O bebezinho pode ter um pecado? A coisa é bem mais simples. Há na humanidade um grande e escondido mistério de comunhão, de solidariedade. Muitas vezes percebo que alguns defeitos do meu pai aparecem em mim. Outras vezes meu jeito de falar vai ficando parecido com o da minha mãe. Afinal, a memória dos nossos ancestrais é preservada nas nossas células, no nosso DNA. Será tão difícil entender que participamos do pecado da humanidade? É desta participação que Maria foi preservada. Sabe por quê? Para ser tão livre quanto Eva. Sim. Eva também foi concebida sem pecado original. Por isso era totalmente livre para responder ao tentador. Ela não tinha aquela natural inclinação para o mal que chamamos de concupiscência. Você já percebeu que temos uma queda pelo pecado? Somos tentados e sentimos vontade de pecar. Isso é um efeito do pecado original que ficou em nós. O Batismo apaga o pecado original. Mas fica a cicatriz. Não temos uma liberdade absoluta. Por isso, antes de fazer novamente a proposta de salvação, Deus preservou Maria para que ela estivesse totalmente livre para dizer sim ou não. Ela foi escolhida. Poderia ter dito não? Claro, da mesma maneira que Eva (cf. Gn 3,15). Mas Maria pisou na cabeça da serpente e disse SIM! Maria foi escolhida “em Cristo, antes da criação do mundo, para que www.avemaria.com.br/revista

fosse santa e imaculada na sua presença, no amor, predestinando-a como primícias para a adoção filial por obra de Jesus Cristo” (cf. Ef 1,4-5). Ela é a Mãe de Jesus, o Cordeiro “sem mancha” (cf. Ex 12,5; 1Pd 1,19), imolado para redimir a humanidade do pecado. Na verdade, Maria é a prefiguração daquilo que a Igreja é chamada a ser: santa e imaculada. No céu todos seremos imaculados! Olhemos para Maria e fortaleçamos a nossa esperança de chegar lá.

Mãe imaculada, rogai por nós!

Mater intemerata Literalmente, “intemerata” significa absoluta pureza e integridade moral. Assim, a antiga ladainha em latim tinha um crescendo de afirmações sobre Maria: puríssima, castíssima, sempre virgem e “intemerata”. Essa invocação foi substituída por “imaculada”, dogma que afirma a total integridade de Maria, mas preservando o primado da graça. Ela não foi “a escolhida” por causa de seus méritos, mas por que desde o ventre materno Deus a preservou.

Esse artigo faz parte do livro: Ladainha de Nossa Senhora – O sentido de cada invocação, de Pe. Joãozinho, scj, publicado pela Editora Ave-Maria. dezembro de 2010

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Devocional

O milagre de GUADALUPE

N

ossa Senhora de Guadalupe das Américas é assim conhecida e invocada desde que o Papa Pio XI a proclamou “Padroeira de todas as Américas” e não apenas da América Latina. É uma história que se inicia com um relato de aparição da Virgem Santíssima na primeira metade do século XVI, nas colinas de Tepeyac, na cidade do México. E desde então

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continua sendo a principal característica cultural-religiosa do povo mexicano. O contexto cultural e histórico das aparições deixou impressa a identificação afetiva e carinhosa da Mãe de Deus para com os povos humildes de todo o continente, que vivem na esperança de dias melhores, de uma sociedade mais justa e fraterna. É um verdadeiro fenômeno que tem chamado a atenção de

Pe. Ady Mytial administrador paroquial diocese Santo André

toda a Igreja e inclusive de cientistas ao longo dos anos.

Origem da aparição

As aparições ocorreram entre os dias 9 e 12 de dezembro de 1531, num total de cinco aparições, através das quais travava-se um duelo entre o bispo do México e o humilde índio Juan Diego, a quem a Virgem Santíssima www.avemaria.com.br/revista


Na mesma linha, os primeiros a sentir-se filhos de tão soberana Senhora foram os índios e os primeiros mestiços destas terras. Dados simbólicos como a pele morena da Virgem, as rosas e os diferentes coloridos vinculados ao prodígio de Guadalupe estão relacionados com a cor da pele dos nativos e com tradições mesoamericanas representativas do sagrado. A indiscutível reverência do povo para com a Virgem evoca e confirma essa conotação de Mãe e intercessora.

havia escolhido como mensageiro para comunicar o seu pedido. O recado da Virgem era simples: com a ajuda de Dom Juan Zumárraga, bispo do México, fosse erguido um templo nas colinas de Tepeyac, lugar escolhido pela própria Virgem, onde pudessem ser acolhidos todos aqueles que sofriam de todo tipo de males. E, dois anos depois, em 1533, o templo - o primeiro - foi construído. No ano de 1521, após quatro longos anos de sangrentos combates em que os valentes astecas enfrentavam as tropas de Hernán Cortés, a sua capital, a grande Tenochtitlán, foi derrotada pelas forças colonizadoras. Menos de 20 anos depois, 9 milhões de habitantes da terra que professaram por séculos uma religião politeísta com cruéis sacrifícios humanos foram convertidos ao Cristianismo. Dez anos depois dessa derrota começaram as aparições da Virgem de Guadalupe. Tempo esse relativamente curto do encontro entre o mundo ocidental cristão com o mundo mesoamericano. Ainda estava em gestação a nova configuração cultural-religiosa decorrente deste encontro histórico. Pode-se imaginar o cenário de confusão provocado pelo choque das duas culturas feitas de cosmovisões tão distintas. Como ocorrera desde o dia 5 de dezembro de 1492, quando Cristóvão Colombo comandou a chegada dos primeiros europeus na ilha do Haiti Quisqueya Boyo — batizada pelos espanhóis de Hispanhola, hoje dividida em Haiti e República Dominicana —, o Cristianismo foi simplesmente imposto aos povos do “Novo Mundo” e suas religiões foram suplantadas pela religião do colonizador. No caso da “Nova Espanha” — o México de então — esse encontro foi tão violento e bélico quanto religioso. Marcado em grande parte pelo misticismo das tribos indígenas, houve a divergência de visão entre os que apoiavam os espanhóis como deuses e senhores e os que viam neles o início de sua destruição como povo e nação. Em todo caso, há www.avemaria.com.br/revista

índio Juan Diego registros do grande empenho dos colonizadores para um trabalho de evangelização junto aos índios colonizados. Com referência a essa época, temos a seguinte declaração do saudoso Papa João Paulo II, por ocasião da celebração da IV Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, em outubro de 1992 — 5º Centenário da colonização em Santo Domingo, capital da República Dominicana: “(...) América Latina, em Santa Maria de Guadalupe, oferece um grande exemplo de evangelização perfeitamente inculturada (...). No rosto mestiço da Virgem de Tepeyac, se resume o grande início da inculturação”. Ainda, de acordo com o poeta e diplomata mexicano, Octavio Paz, a Virgem de Guadalupe é feita de terra americana e teologia europeia.

A evolução durante os anos Desde o início, a devoção guadalupana foi vinculada à realeza de Maria Santíssima. Assim contam que se referiu a ela Dom Juan de Zumárraga, numa das suas conversas com Juan Diego: “Anda, venha me mostrar onde quer a rainha do céu que se lhe construa seu templo”.

O século XVII ficou conhecido como o que deu a devida atenção ao fenômeno guadalupano. Teólogos e intelectuais realizaram profundos estudos, procurando interpretá-lo à luz da revelação e da Patrística, como também à luz da Filosofia e da Teologia. Enfim, é preciso destacar que o culto à Virgem de Guadalupe foi mesmo propagado no século XVII. Em 1671, por exemplo, o Provincial dos Jesuítas, Francisco de Florência, afirmava que cada casa de cada povoa­do tinha uma reprodução da imagem. Foi deste modo que o guadalupanismo foi permeando toda a realidade do povo como fator determinante na configuração de sua identidade nacional. Todas as facções a invocariam, inclusive reformistas e liberais. Foi proclamada a “igualdade diante da Virgem”, como o último vínculo que devia unir a todos os mexicanos nos casos desesperados. O país conheceu um profundo processo de reforma que efetivou a separação radical da Igreja e do Estado. Contudo, sequer as leis da Reforma conseguiram atingir o guadalupanismo. Seu principal promotor, Benito Juárez, isentou o santuário de Tepeyac junto com seus bens e o calendário emocional dos mexicanos. O padre Miguel Hidalgo inaugurou a prática de “fervor religioso e entusiasmo patriótico” ao içar a imagem da guadalupana como bandeira da insurgência. Junto com outro padre, José María de Morelos, foi consagrado como grande celebridade na história dezembro de 2010

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Devocional do México pelo seu protagonismo na guerra pela independência do país sob a bandeira de Guadalupe.

cano, o dia da Virgem de Guadalupe, “Mãe e Evangelizadora da América”. Não são várias Américas, mas uma só América sob o manto de Nossa Senhora de Guadalupe.

Como a Igreja vem enfocando essa aparição

Como é hoje

É claro que os estudos realizados têm corroborado para o posicionamento da Igreja. Mas parece muito mais correto afirmar que o reconhecimento da devoção venha sendo autenticado por declarações oficiais da Igreja e de autoridades eclesiásticas. Não seria possível a Igreja permanecer indiferente diante de tão grande fenômeno religioso. Nesse sentido, o século XVIII vai ser marcado como o século da consagração da Guadalupana. Em 1737, a imagem foi levada em procissão pelas ruas e proclamada patrona da cidade do México, nove anos depois, de todo o reino da Nova Espanha, a nação mexicana de então. Em 1754, o patronato foi aprovado pelo papa Benedito XIV, que autorizou a transferência de sua festa para o dia 12 de dezembro, concedendo-lhe missa e ofício próprios. A devoção a Guadalupe foi crescendo entre todos os grupos sociais do país e os mexicanos que saíram do país levavam a imagem impressa na lembrança. Em favor de seu serviço e a difusão de seu culto, foi fundada no século XVII a Congregação Eclesiástica de Presbíteros Seculares de Santa Maria de Guadalupe do México. Dela procederam os ilustres padres acima mencionados, Miguel Hidalgo e José Maria Morelos. Por outro lado, depois de uma primeira tentativa fracassada no século XVII, foi novamente concedida a faculdade de coroar, com coroa de ouro, a milagrosa imagem da Santíssima Virgem de Guadalupe. Inclusive, o papa Leão XIII autorizou essa celebração para o mês de dezembro de 1738. Contudo, mais uma vez foi postergada para oito anos mais tarde, em virtude da remodelação do santuário guadalupano. Por fim, che-

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Excepcionalmente, a Virgem de Guadalupe é ainda hoje a única capaz de juntar numa sintonia nacional os diferentes segmentos da atual sociedade mexicana. Rainha, Mãe e Felicidade emergem de uma esperança coletiva na recuperação de um paraíso perdido. Para isso, corrobora o seu símbolo de religiosidade desde que se começou a lhe render culto. O seu símbolo de liberdade ficou plasmado das lutas dos revolucionários encabeçados por Hidalgo, e mais perto de nós, na década de 90, dos guerrilheiros campesinos que seguiram Zapata no sul do México. gou o feliz dia 12 de outubro de 1895, quando a capital e todas as cidades da república se mobilizaram para celebrar a coroação de Maria, Senhora de Guadalupe, Rainha do México. Depois de ser proclamada pelo papa Pio X, em 1910, “Padroeira de toda a América Latina”, Pio XI a proclamou “Padroeira de todas as Américas”. Depois, em 1945, foi chamada de “Imperatriz das Américas” pelo Papa Pio XII, e, mais tarde, em 1961, “A Mãe das Américas” pelo Papa João XXIII. Também foi dessa forma que o papa João Paulo II invocou a sua maternal intercessão, ajoelhado diante de sua imagem, em sua terceira visita ao México, em maio de 1999. Mas antes, durante a sua segunda visita ao México, o Pontífice havia celebrado na Basílica da Virgem de Guadalupe a beatificação de Juan Diego. Finalmente, João Paulo II pediu que fosse celebrado todo dia 12 de dezembro, em todo o continente ameri-

Onipresente não apenas na consciência coletiva do mexicano, como em todas as esferas e aspectos de sua vida cotidiana, a Virgem de Guadalupe é a mãe universal que transcendeu as fronteiras mexicanas para ser invocada como Imperatriz e Mãe das Américas. Rainha, Mãe e Felicidade, objeto de intensa e perdurável devoção, brota de uma certeza que o povo manifesta quando a visita, quando a invoca, quando lhe chora e, sem percebê-lo, vê-se envolvido na suas esperançosas e ternas palavras dirigidas a Juan Diego: No temas, ¿no estoy yo aquí que soy tu Madre?... Em consideração a tudo isso, acreditamos poder afirmar que hoje em dia o guadalupanismo continua em tremenda ascensão. Basta evocar para isso a atual conjuntura social do país, fortemente marcado pelo narcotráfico, e lembrar, como foi dito acima, que a Virgem de Guadalupe é a Mãe, a Rainha e a felicidade de México. www.avemaria.com.br/revista


Pois bem, a notícia do escândalo do narcotráfico nos últimos tempos no México tem deixado qualquer um estupefato. Uma situação que parece escapar do controle das instituições do Estado. Situação bastante confusa, pois enquanto alguns cartéis são duramente combatidos, outros vão incrementando escandalosamente o seu poder de guerra e de destruição. Daí a violência generalizada tão abundantemente divulgada pela mídia; a qual se manifesta em repetidos casos de sequestros, chacinas, desaparição e repressão contra a imprensa. É diante deste quadro de insegurança que a Virgem de Guadalupe se situa como única esperança para o povo. Uma vez que o Estado não está correspondendo, recorre-se a Virgem de Guadalupe como quem tudo resolve, principalmente os casos tidos como mais difíceis. A dita devoção é como um tipo de fortaleza onde o povo busca refugiar-se para se abrigar e ser protegido. Ainda hoje, o culto se faz constante com peregrinações ao longo do ano, principalmente agora neste tempo que precede o Dia da Padroeira, celebrado em 12 de dezembro. Anualmente, ela é visitada por 10 milhões de fiéis, fazendo de sua Basílica no México, o santuário católico mais popular do mundo depois do Vaticano. Daí pode-se entender quão relevante o papel que desempenha o guadalupanismo na história passada e presente da nação e do povo do México.

Estudos realizados na estampa de Nossa Senhora de Guadalupe Provavelmente depois do sudário

de Turim, nenhuma outra peça religiosa suscitou tanto a curiosidade de cientistas quanto a imagem da Virgem de Guadalupe. Tem sido objeto de inúmeros estudos e convém destacar que a maioria deles foi motivada por diversas causas: a manta do índio Juan

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Diego, onde a imagem ficou milagrosamente impressa, é de um tecido feito a partir de cacto, que deveria se deteriorar em torno de apenas 20 anos. No entanto, desafiando qualquer explicação científica sobre sua origem, não demonstra sinais de deterioração depois de 474 anos. Em decorrência desse fato, vários estudos foram realizados no tecido, inclusive em 1999, por Leoncio Garza Baldés, que também trabalhou no Sudário de Turim, encomendado pelo arcebispo do México, Cardeal Norberto Rivera Carrera. No ano de 2002, o esperto restaurador de arte José Sol Rosales disse ter examinado a imagem com estereomicroscopia e identificou sulfato de cálcio, sujeiras e, entre outras coisas, o trabalho revelou materiais e métodos consistentes com os do século XVI. Antes disso, estudos químicos foram realizados nos pigmentos do tecido, onde não foram encontrados corantes vegetais, animais, nem minerais. Outros inúmeros estudos realizados nos olhos vivos da imagem, contribuíram para reforçar o profundo mistério que envolve a imagem da Virgem de Guadalupe. Evitando entrar nos detalhes desse profundo mistério da imagem, limito-me a dizer que, enquanto eles deixam intrigados os estudiosos e especialistas, o povo fiel está assegurado de tão poderosa mãe e intercessora. De quem pode ainda ouvir confiante as mesmas palavras carinhosamente dirigidas ao Juan Diego, símbolo de todos os povos sofredores:No temas, ¿no estoy yo aquí, que soy tu Madre?... (Não temas, não estou eu aqui, que sou tua mâe?... Fica a absoluta certeza, e ninguém deve duvidar, de que o México hoje não seria o mesmo país, com esse mesmo povo sem a história dessa intervenção milagrosa da Virgem do céu na sua história desde a sua origem. Intervenha de novo, ó Virgem de Guadalupe, trazendo segurança e paz ao teu povo.

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Ano litúrgico

ADVENTO: C

o Senhor vem, vamos ao seu encontro

“Amém. (Marana tá!) Vem, Senhor Jesus!” (Apocalipse 22,20)

om o tempo do Advento, iniciamos um novo ano litúrgico e nesse tempo somos convidados a refletir sobre dois aspectos da vinda de Cristo: aquela histórica, já realizada, e aquela escatológica, que ainda não foi alcançada. O Advento, portanto, não é uma simples preparação para o Natal. É o tempo vivido sob o sinal da vinda do Senhor: que veio e que há de vir. A primeira é fundamento da segunda e a segunda é o seu coroamento. Assim, durante esses dias que antecedem o Natal, em nossa preparação, não podemos simplesmente ficar presos ao passado nem voltados a um futuro distante, pois esses dois eventos estão estreitamente associados. Entre a primeira e a segunda vinda se coloca a vida da Igreja (da qual somos membros), que celebra o único mistério de Cristo (o Cristo que veio e que virá), celebra no hoje a sua “vinda” (a sua constante manifestação como Salvador), recordando aquela histórica e aquela final. A presença ou vinda sacramental une as duas vindas: o Cristo nascido e ressuscitado, que apareceu e aparecerá, se faz presente na celebração eucarística. Nesta sublime oração, logo após a consagração do Corpo e Sangue de Cristo e o anúncio – Eis o mistério da fé! – nós aclamamos: Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus! Assim o tempo do Advento nos motiva: o Senhor vem, vamos ao seu encontro. Somos chamados a nos mover ao encontro do Senhor, seguindo o anúncio do profeta Isaías: subamos à

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Valdeci Toledo é mestre em Teologia e editor assistente na editora Ave-Maria

montanha do Senhor, à casa do Deus de Jacó: ele nos ensinará seus caminhos, e nós trilharemos as suas veredas (Isaías 2,3). João Batista também nos adverte: fazei penitência porque está próximo o Reino dos Céus (Mateus 3,2). Não devemos temer, mas confiar, mesmo não compreendendo todas as coisas, como Maria que acolhe a palavra divina do anjo Gabriel e leva no ventre o Filho de Deus com inefável amor, confiando que para Deus não há o impossível. Advento é tempo de esperança, mas também tempo de escuta e de reflexão sobre o “reino” de justiça e de paz inaugurado pelo Emanuel (Deus conosco) e sobre a “identidade” de verdadeiro homem e verdadeiro Deus da pessoa de Cristo. No livro do Apocalipse o Senhor nos diz: Eis que venho em breve! Felizes aqueles que põem em prática as palavras deste livro. [...] Eis que venho em breve, e a minha recompensa está comigo, para dar a cada um conforme as suas obras (Apocalipse 22,7.12). Diante desse anúncio, o Espírito e a Esposa (Igreja) dizem: “Vem!”. Possa aquele que ouve dizer também: “Vem!”. Aquele que tem sede, venha! E que o homem de boa vontade receba, gratuitamente, da água da vida! (Apocalipse 22,17). E o Senhor nos responde: Sim! Eu venho depressa! E a Igreja renova seu anseio: Amém. (Marana tá!) Vem, Senhor Jesus! (Apocalipse 22,20). Esse é o grito jubiloso que a Igreja expressa durante o Advento.

ele veio na história, nascido do ventre virginal de Maria Santíssima, mas não sabemos quando ele virá na sua glória, por isso devemos estar sempre alertas. Devemos nos preparar para esse encontro glorioso. Que nossa preparação para o Natal não se resuma na compra de presentes ou na preparação de banquetes, esses são atos que promovem a fraternidade e são expressões da alegria entre nós. Porém, não podemos reduzir a importância dessa grande festa às questões temporais. Natal é a celebração do nascimento do nosso Senhor e Salvador: e o Verbo se fez carne e habitou entre nós ( Jo 1,14). Jesus assumiu nossa humanidade para santificá-la e destiná-la à vida divina, na comunhão com a Santíssima Trindade. Assim, aceitando e confiando na sua infinita misericórdia, todos são chamados a se unir a ele na eternidade. Celebrar o Natal é, portanto, celebrar o início da nossa salvação. É celebrar o Emanuel, Deus conosco, pois manifestou-se, com efeito, a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens (Tito 2,11).

Desde a ascensão de Cristo, a Igreja aguarda o seu retorno. Ele virá com poder e glória. Sabemos quando www.avemaria.com.br/revista

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Evangelização

Nas águas dos

Pe. Agnaldo José é sacerdote, jornalista e mestre em Comunicação

RIOS DA VIDA

“Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho!” (1Cor 9,16) foi o lema do XIV Congresso Missionário Jovem, que aconteceu na cidade de Barreirinha, Amazonas, em outubro.

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ui convidado para participar deste encontro de irmãos, organizado pelos padres do PIME (Pontifício Instituto das Missões Exteriores) que trabalham na paróquia Nossa Senhora do Bom Socorro, diocese de Parintins. De Parintins a Barreirinha foram duas horas de barco. Os rios estavam baixos pela falta de chuva. Ao chegar à cidade, fui acolhido com muito carinho pelos padres Pedro Belcredi e Emilio Buttelli, do PIME. Os padres italianos chegaram à região do baixo Amazonas em 1948. O território é coberto de águas e florestas. O maior obstáculo ao trabalho missionário é a comunicação fluvial, feita por barcos a motor e canoas. Desde o começo, os padres dedicaram-se às visitas itinerantes ao longo das dezenas de rios, em cujas margens viviam os índios. As missões tinham a dupla finalidade de dar assistência espiritual e transformar as centenas de famílias, espalhadas e abandonadas, em comunidades e povoados cristãos. Há quarenta anos, as cidades de Parintins, Barreirinha, Maués, Nhamundá e Boa Vista do Ramos, hoje com milhares de moradores, eram apenas povoados. O congresso de Barreirinha reuniu mais de mil jovens. A maioria veio

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Cidade de Parintins, há duas horas de Barreirinha, AM

das comunidades assistidas pelos missionários, espalhadas pelas margens dos rios da região. Jovens alegres, solidários, mas que sofrem as consequências do mundo globalizado. Muitos são desafiados pelas drogas, prostituição e falta de melhores condições de vida. Apesar das dificuldades, muitos demonstraram esperança em relação ao futuro: “Moro muito longe de Manaus. Mas sinto que posso fazer muita coisa boa aqui na minha comunidade...”, disse Henrique, do povoado Caranã. A ação missionária da Igreja fecunda o coração da juventude daquelas terras. Os padres do PIME e os da diocese mantêm acesa a chama da fé e a esperança de uma “terra sem males” na vida do povo: “Estou aqui há quatorze anos. Sou feliz. Deixei a Itália, passei dezoito anos na África e agora estou em Barreirinha. A gente navega para lá, para cá, nestes rios, mas vale a pena. Não existe nada mais valioso que o sorriso dos jovens e das crianças. Isto é vida”, partilhou padre Pedro, com os olhos cheios de lágrimas.

Depois de conviver com os amazonenses, naquele final de semana, voltei para casa mais enriquecido. Percebi que Jesus está vivo e presente naquela região indígena e cabocla. Que tenhamos, também, como os padres do PIME, o ardor missionário, ajudando crianças, jovens e adultos a navegarem em águas mais profundas.

BARREIRINHA (AM)

População: cerca de 25 mil habitantes Área: 5.749,8 km² Distância da capital Manaus: 329,7 km

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Curiosidades

Os símbolos A NATALINOS

palavra “natal” em português originou de “natalis”, do verbo latino nascor, que quer dizer nascer. De “natalis” evolui para “natale” em italiano, “noël” em francês, “nadal” em catalão e “natal” em castelhano, que progressivamente foi substituída por “navidad”. “Christmas”, Natal em inglês, é evolução de “Christes maesse”, que quer dizer “missa de Cristo”.

“Hoje, caríssimos, nasceu o Salvador: exultemos! Porque não existe lugar para a tristeza onde se celebra o Natal da vida”.

O Natal no dia 25 de dezembro é a celebração do nascimento do Menino-Deus cuja tradição vem do ano 336, em Roma. Nos primeiros séculos do cristianismo, o mundo pagão celebrava o dia do “nascimento do deus sol invencível” (natalis solis inviciti) em que se cultuava o deus que venceu as trevas e trouxe a luz. A Igreja procurou dar um novo sentido a essa festa, colocando Cristo como o sol de justiça e luz do mundo. Esse simbolismo foi reafirmado pelo papa Leão Magno no ano de 440 em um sermão natalino, dizendo: “Hoje, caríssimos, nasceu o Salvador: exultemos! Porque não existe lugar para a tristeza onde se celebra o Natal da vida, e esta, aniquilando o medo da morte, infunde em nós a alegria da eternidade prometida”. O Natal, enfim, é a celebração de nosso próprio nascimento em Deus, o dia em que Cristo veio ao nosso encontro, o dia em que o Pai nos enviou como presente o seu Filho. Com a celebração do Natal foram agregados outros símbolos que contribuíram para externar esse sentimento e reforçar o clima festivo e característico desse dia. A seguir, serão destacados alguns desses símbolos e seus significados estritamente religiosos, mas sem deixar de lado também o romantismo que envolve todo esse dia de sonho.

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meia-noite fosse anunciado o início da missa pelo um canto de um galo. A missa de Natal apareceu no século V e, a partir da Idade Média, transformou-se em uma celebração jubilosa, culminando com a grande solenidade que hoje conhecemos.

Presépio Essa palavra vem do latim praesepire, que significa “cercado na frente”, “estábulo” ou “curral”. A apresentação do presépio apareceu pela primeira vez no século V. No início, apenas com a manjedoura, o menino Jesus, uma vaca e um burro, depois foram acrescentados a estrela de Belém, a Virgem Maria, São José, os pastores, etc. São Francisco de Assis (1182-1226), na Itália, foi quem popularizou o presépio por meio de uma representação artística na noite de Natal. Construiu uma gruta e agrupou ao redor do menino Jesus as imagens de Maria, de José, dos pastores em adoração ao Salvador recémnascido e ainda o asno e o boi. O presépio quer nos lembrar o nascimento do menino-Deus e nos ajudar a refletir sobre esse acontecimento, incentivando-nos a agradecer a Jesus pelo gesto humilde e exemplar de nascer numa manjedoura. O sucesso dessa representação em Assis, na Itália, foi tamanha que se estendeu pelo mundo todo.

Missa do Galo É com esse nome que se conhece a missa celebrada na noite de Natal. Sua denominação originou-se de uma fábula que afirmava ser o galo o primeiro a presenciar o nascimento de Jesus, ficando por isso encarregado de anunciá-lo ao mundo. Até o começo do século XX era costume que à www.avemaria.com.br/revista

Estrela de Belém A Bíblia relata que uma estrela guiou os Reis Magos vindos do Oriente até a manjedoura de Belém, lugar onde se encontrava o Menino Jesus. A Estrela de Belém é relembrada quando colocada em presépio ou na ponta de uma árvore de Natal. A estrela é a luz permanente e simboliza alegria; aquela que guia, atrai e desperta a atenção para o extraordinário acontecimento daquela noite (cf. Mateus 2,2.9-10). A estrela, além de indicar o local do nascimento do Menino Jesus, aponta para a plenitude da vida que representa a dádiva de Deus ao mundo, que é o Cristo Salvador.

Anjos São os mensageiros de Deus na história da salvação. Simbolizam a comunicação de Deus com a humanidade. É o sinal de que “os céus se abriram e Deus visitou seu povo”. Foram os anjos que anunciaram o nascimento do meninoDeus aos mais humildes, os pastores. dezembro de 2010

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Curiosidades

Balas e Bombons

Simbolizam a doçura das palavras divinas, a doçura de participar de sua Igreja, vivendo sua Palavra: Jesus Cristo.

Árvore de Natal (PINHEIRO)

Simboliza o reino de Deus: “Eu sou a videira (árvore) e vós sois os ramos” ( João 15,5). Quando iluminada, a árvore lembra que Cristo é a luz do mundo. O pinheiro se associa à resistência aos rigores do frio europeu, é o símbolo da vida e da graça, o verde representa a esperança da vida eterna. O pinheiro, como árvore de Natal, aparece pela primeira vez na Europa, em 1539. Deus afirma que Ele é como o “cipreste” que mantém suas folhas sempre verdes (Oseias 14,8) mesmo diante da seca ou do inverno. Da falta de esperança Deus faz nascer o verde de uma nova esperança (Isaías 11.1, 53.2; Jeremias 33,15). A árvore de natal é uma tradição muito mais antiga do que o cristianismo e não é exclusiva de nenhuma religião em particular. Muito antes da tradição de se comemorar o Natal, os egípcios já levavam galhos de palmeiras para dentro de suas casas no dia mais curto do ano, dezembro, simbolizando o triunfo da vida sobre a morte. Os romanos enfeitavam suas casas com pinheiros durante um festival de inverno em homenagem a Saturno (deus da agricultura). Diz-se que o pinheiro foi escolhido como símbolo do Natal por

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causa da sua forma triangular, que, de acordo com a tradição cristã, representa a Santíssima Trindade. A “Árvore do Paraíso”, outra tradição de enfeitar a árvore com frutas e doces, por exemplo, era o símbolo da festa de Adão e Eva, que acontecia no dia 24 de dezembro, muito antes da tradição cristã do Natal. Hoje, a árvore não só representa o paraíso, como no início da tradição cristã, mas também a salvação.

Arranjos secos

O que está seco é porque não tem vida. Por isso, sempre que estivermos longe de Cristo, estaremos secos, pois só Ele é a Vida e comunica essa Vida. Jesus veio até nós para que tudo se refloresça, para que tudo tenha vida e em abundância ( Jo 10,10).

Sinos

Os sinos emitem sons agradáveis e audíveis à grande distância. São tocados em ocasiões geralmente festivas nos campanários das igrejas e serviam antigamente para enviar mensagens aos que moravam mais distantes, para comunicar algum acontecimento, chamar para a missa, anunciar algum falecimento, etc. Por ocasião do Natal, faz nos lembrar o fato de termos um Salvador que se fez homem e habitou entre nós.

Velas

Eu sou a luz do mundo. Quem anda comigo não anda nas trevas (cf. Jo 8,12). A vela simboliza a luz que veio ao mundo com o nascimento de Cristo. Simboliza essa presença de Cristo como luz. Cada Natal é um renovar de nossa fé em Jesus e do compromisso de viver como ele, qual a luz do mundo. O consumir-se da vela por completo para gerar luz simboliza a doação em favor da vida.

Bolas coloridas

As bolas coloridas que adornam a árvore de Natal significam os frutos daquela árvore viva que é Jesus. Representam os dons maravilhosos que o nascimento de Jesus nos trouxe e as boas ações daqueles que vivem em Jesus e como Jesus.

Cartões de Natal

Em 1831, um jornal de Barcelona, na Espanha, quis testar a técnica da litografia imprimindo uma estampa para felicitar seus leitores pelo Natal. Mas a confecção do primeiro cartão de Natal, no entanto, é atribuída ao britânico Henry Cole, em 1843, quando encomendou a uma gráfica um cartão com a mensagem de “Feliz Natal e Próspero Ano Novo”, isso porque não tinha tempo para escrever para todos os seus amigos. O costume de desejar Boas Festas www.avemaria.com.br/revista


por meio dos cartões se estendeu até os dias de hoje. Os cartões de Natal originam-se da necessidade que o ser humano tem de comunicar-se e compartilhar sua vida com as pessoas que ama. Desejar um “FELIZ NATAL” de todo o coração a uma pessoa que ofendemos durante o ano é a melhor reconciliação e vivência cristã do Natal.

Presentes

A ideia de trocar presentes no Natal está relacionada aos reis magos que trouxeram presentes para o menino Jesus (Mt 2,11). Essa troca de presentes quer lembrar a todos sobre a generosidade de Deus por meio de Cristo, que veio trazer a vida e vida em abundância. O simbolismo dessa troca não deve se ater apenas ao mero acúmulo de presentes, mas como partilha para com as pessoas excluídas, para que tenham acesso também a essa vida abundante que Cristo trouxe para todos. Presentear o necessitado é abrir as portas do seu coração para o Senhor nascer!

Coroa do Advento

É feita de ramos de pinheiro ou cipreste como sinal de esperança e vida. Geralmente, é enfeitada com fita vermelha, simbolizando o amor de Deus que nos envolve. Também é a manifestação do nosso amor que ansioso aguarda o nascimento do Filho de Deus. (Leia mais sobre esse tema na página 28) www.avemaria.com.br/revista

Ceia É o momento em que a família se reúne para se confraternizar. Muitos comemoram o Natal com mesa farta, símbolo do banquete eterno. Mas a Ceia, a refeição do Natal, quer significar que a nossa verdadeira vida é Cristo, o Filho de Deus que estamos festejando. Na Ceia, costuma-se colocar no centro uma vela acesa para simbolizar o Cristo que nos une em volta de si e que é a nossa luz, a alegria que se deve ter durante toda a nossa vida porque temos um Salvador. Queremos que a mensagem do nascimento de Jesus se espalhe porque é o libertador do gênero humano.

Papai Noel A origem do Papai Noel é incerta, cercada de histórias e se distanciou do verdadeiro sentido do Natal de Jesus. A mais conhecida vem do século IV e fala sobre Nicolas, nascido em 281, que se tornou bispo de Myra, na Ásia Menor. Seus pais tiveram dificuldades para ter filhos até que nasceu Nicolas. Em agradecimento, passaram a distribuir alimentos, roupas e dinheiro aos pobres. Quando morreram, Nicolas herdou os bens de seus pais e, mesmo como bispo, continuou o trabalho de ajuda aos necessitados. Nicolas é representado na Europa usando vestes de bispo com um bastão numa das mãos e um saco de presentes na outra. Morreu no ano de 350. Passou a ser conhecido por São Nicolas. Papai Noel não pode ser visto pelo ângulo científico ou religioso, mas mágico. Um ser capaz de unir a humanidade em torno de coisas boas como o amor, a ternura, a paz, os sentimentos carinhosos, etc., mesmo que seja por um dia.

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Testemunho de vida Reflexão bíblica

No caminho da

PARTILHA:

Elias e a viúva de Sarepta humanizam nosso “dezembro”

Ângela Cabrera, op é teóloga, especialista no livro dos Salmos. É da República Dominicana e estuda no Brasil

(1 Reis 17, 7-15)

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om certeza, você já escutou falar sobre o profeta Elias. As Escrituras o apresentam de maneira admirável, situando-o entre os profetas clássicos (1 Rs 18,16-19). Atuou no tempo do rei Acab, 873-853, (1Rs17,29), monarca que, ao ser casado com Jezabel de Tiro, permitiu a divulgação, em Israel, do culto a Baal, deus da fertilidade. Esse culto usufruiu um status oficial na corte (1Rs 18,19). O palácio real mantinha 450 profetas de Baal (1Rs 18,22). Imaginou esta profecia condicionada pelos benefícios recebidos? Com razão Elias foi considerado um ardente opositor dos cultos idolátricos, propulsor da fé em Javé como único Deus. À margem da corte, profetizou na periferia com pouca chance de sobrevivência. Numa

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destas estradas, conservou-se uma das belas histórias que compõem sua narrativa (1Rs 17,8-24). Havia fome em Israel... A seca afetou os agricultores (1Rs 18), quando Elias emigrou para Sarepta (cidade da antiga Fenícia). Ali observou uma viúva juntando lenha (17,10). Pediu-lhe água. Quando ela ia à procura desta, Elias gritou: traze-me também um pedaço de pão! (17,11). Mas é esperto, não é? Ela argumentou-lhe, ante tal atrevimento, que só possuía um punhado de farinha e um pouco de óleo, para depois morrer com seu filho (cf.:17,12-13). Mas o profeta foi mais longe: ... vai ... mas prepara-me antes com isso um pãozinho e traze-o para mim; depois prepararás o resto para ti e teu filho (17,14). Mas foi demais!! O que você teria feito? Pois

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bem, ela aceitou a proposta com a esperança que lhe prometera: a farinha não se acabará... o azeite não se esvaziará, até o dia em que o Senhor fizer chover sobre a face da terra (17,14-15). Observe que beleza!!! O relato nos informa que não são os deuses da fertilidade que proporcionam os produtos da terra, mas o Deus de Israel, o Deus da vida. Além disso, o profeta mendiga alimento porque não come na mesa do rei. Também é maravilhosa a atitude desta mulher na condição de viúva. Na época, ficar sem marido era ficar sem defensor social (cf.: Is 1,23; 10,2; 2 Sam 14,4). Despojar-se para repartir, não o que lhe sobrou, senão o que precisava, acordou os sentidos do povo. Será que os vizinhos, ao ver seu gesto, sensibilizaram-se? Será que de-

sempunharam a “farinha da panela” e o “óleo” da ânfora? Isto não é o milagre da partilha? Pode tirar suas conclusões. Mas lembro que até o próprio Jesus a recorda como exemplo de mulher estrangeira que é capaz de acreditar mais do que os judeus (cf.: Lc 4,26). Dezembro é um mês especial. Humaniza-nos. Tem sabor da infância, das pessoas e dos fatos históricos convertidos em sacramentos para nossas vidas. Que, como esta viúva, nossas mãos partilhem aquilo que forma parte de nós e que nossos lábios falem coisas bonitas, aquelas que às vezes ficam grudadas na garganta. Viva o amor de maneira descontraída..., pois a sensibilidade se prolongará ao longo do ano. Que em cada gesto de ternura possamos enxergar o Jesus acontecendo.


Comemorações do mês

Santo Ambrósio dia 7

Ambrósio quer dizer “imortal, divino”. Nasceu em Treves por volta de 340. É invocado como protetor das abelhas e dos trabalhadores em cera. Estudou direito em Roma e logo ingressou na vida pública. Foi governador da Emília, Lácio e Milão. Além de político, era versado em humanidades, poesia e retórica. Representa, pois, a encarnação dos mais altos valores da alma romana. Tal era o seu prestígio junto à população que acabou sendo escolhido bispo pelo próprio povo. Enquanto exortava o povo à paz e à concórdia, uma voz do meio da multidão exclamou: “Ambrósio, bispo!”. Entre surpreso e cheio de temor, aceitou relutante o cargo como vontade de Deus. Durante o seu episcopado, deu mostras de excelente administrador da comunidade. Foi um verdadeiro guia espiritual e pastor do povo. Deixou várias obras escritas, entre os quais comentários exegéticos, sermões, etc. Morreu em Milão no dia 4 de abril de 397. É apresentado com vestes episcopais, com um livro numa das mãos e na outra o báculo. Outras vezes, é representado com uma pomba, uma colmeia ou com abelhas.

Santa Luzia dia 13

Viveu entre séculos III e IV. “Luzia” vem de “Lúcia” e quer dizer “aquela que é luzente como a aurora, iluminada”. É invocada contra a cegueira do corpo e da alma. Lúcia sofreu o martírio em Siracusa, provavelmente durante a perseguição de Diocleciano. Muito venerada na Igreja dos primeiros séculos, como indica uma inscrição encontrada nas escavações da catacumba de São João. Segundo as Atas, Luzia pertencia a uma família nobre e rica. Prometida em matrimônio, ela adiou o casamento, pois havia feito voto de consagrar a Deus toda a sua vida. Sua mãe ficou gravemente enferma e Luzia levou-a à tumba da Santa Águeda, onde obteve a cura. Sua mãe consentiu que ela se dedicasse à vida religiosa e distribuísse os bens aos pobres. Revoltado com a atitude de sua pretendida, o noivo denunciou-a ao procônsul Pascásio. Ela confessou destemidamente a sua fé. Decidiram, então, expô-la à humilhação pública, mas seu corpo ficou tão pesado que dezenas de homens não puderam arrastá-lo. As chamas também nada puderam contra ela. Por fim, foi decapitada.

São Pedro Canísio dia 21

O doutor da Igreja, S. Pedro Canísio, 1521-1597. “Pedro” quer dizer “rocha”, “pedra”; nasceu em Nimega, Holanda, em 1521. Filho do prefeito, doutorou-se em Direito Canônico, em Lovaina, e em Direito Civil, em Colônia. Ingressou na Companhia de Jesus e, em 1546, foi ordenado sacerdote. Viveu num tempo conturbado pela Reforma e Contra-reforma, lutando intensamente pela consolidação do catolicismo na Alemanha. Por isso ele é chamado pelos alemães de o “segundo apóstolo da Alemanha”, o Bonifácio dos tempos modernos. S. Pedro Canísio percorreu quase toda a Europa. Consolidou uma rede de colégios e universidades jesuíticas nas cidades de Ingolstaldt, Praga, Munique, Insbruck, Tréveris, Mogúncia, Dilligen, Spira, tudo com o objetivo de fazer frente à Reforma Protestante. Como escritor, deixou uma obra admirável e fundamental para o catolicismo na Alemanha: Suma da doutrina cristã e um catecismo, para o povo e crianças, as Controvérsias. Morreu em Friburgo, no dia 21 de dezembro de 1597.

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Para saber mais: Os cinco minutos dos santos, J. Alves, Ed. Ave-Maria. dezembro dezembrode de2010 2010

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Rever a vida

Adelino Dias Coelho é jornalista e editor da revista Ave Maria

Dia 31 de DEZEMBRO H oje é dia de rasgar papel das gavetas... ops!, é dia de deletar os e-mails. A­manhã será outro dia! Ano-Novo, roupa nova! Queremos tudo novo! Também desejamos renovar nossos propósitos, recomeçar nosso regime alimentar, reabrir a matrícula na faculdade... Vai ser tudo diferente. Ah!, sim. Ao chegar ao último dia do ano, lembramo-nos de agradecer a Deus a existência. Sim, estamos vivos. Quanta coisa nos aconteceu neste ano! Mas sobrevivemos e agora celebramos este feito de modo muito especial. E amanhã, dia 1° de Janeiro, como será? O que o futuro nos aguarda? Quiséramos sabê-lo e nosso coração se aperta. O que fazer? Vamos também nos esvaziar por dentro de tanta coisa ruim que há dentro dele. É o primeiro passo. Vamos imitar o que fez Jesus. Estamos

na semana que se segue ao Natal e certamente meditamos que ele não se prevaleceu do fato de ser Deus para exigir algum privilégio. Tão bem tinha acabado de nascer em extrema pobreza, e Herodes já o queria matar. Teve que fugir. Voltou. Foi morar na Galileia, região desprezada pelos judeus. Ficou 30 anos aprendendo o ofício de carpinteiro de seu pai adotivo. E após a morte deste continuou a ajudar sua Mãe. Dá-nos a impressão de que não tinha pressa, mas fazia a cada momento o que Deus lhe mostrava que devia ser feito. Pois bem, está aí um belo pro­ grama para o ano-novo que começa amanhã. Vamos nos ater àquilo que deve ser realizado, do melhor modo possível, colocando-nos inteiros naquilo que estivermos fazendo.

Que tal?

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Espiritualidade

Peça à Mãe que o Filho atende!

“Peça à Mãe que o Filho atende!” “Antes de falar com Jesus, fale com Maria!” Li essas frases num jornal de comunidade. Quem usou as duas frases acertou numa e errou na outra. A devoção a Maria, se for bem entendida, só pode fazer o bem. Mal entendida, pode levar o fiel a pensar que Jesus só atende bem a oração que passa por Maria. Alguns pregadores dizem isso, mas o catolicismo não prega isso. Seria o cúmulo uma igreja cristã negar a intercessão de Jesus. Ele orou, ora e orará por nós. Mas erraria a Igreja que proibisse o fiel de falar direto com o Pai. A Igreja Católica na missa fala diretamente ao Pai, em nome de Jesus.

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Pe. Zezinho, scj é escritor, compositor e conferencista

O próprio Jesus ensina, no Pai-Nosso, a falar diretamente com o Pai. Mas propõe que o façamos em nome dele. Sugere que peçamos em seu nome e até insistamos nisso! Não temos que falar o tempo todo só com Jesus. Podemos falar direto com o Pai e o Espírito Santo. Mas a Igreja Católica não diz que, se nossa oração não for atendida, devemos pedir a Maria, que ela consegue infalivelmente. Não é assim que funciona nossa religião. Jesus é o nosso único intercessor diante do Pai. Nenhum outro nome deve ser usado por nós além do de Jesus. É no nome dele que devemos pedir a Deus que nos ouça. Ele tem crédito. Maria também pode falar direto com Jesus ou com o Pai, mas tem que pedir em nome de Jesus. Todo mundo no céu e na terra tem que fazer isso. É doutrina de São Paulo na sua Carta aos Efésios. Certamente Maria sabe orar melhor do que nós. Ninguém o conheceu melhor do que ela. Maria pode ser nossa intercessora, mas Deus tem sempre a última palavra. Aliás, qualquer padre, freira, pastor, amigo ou amiga pode interceder a Jesus por nós. Podemos todos interceder uns pelos outros. Está na Bíblia. Com muito mais razão, Maria, que está no céu, também pode interceder por nós e o faz. Mas se o católico deixar de falar com Jesus para falar com Maria, ela será a primeira a não querer isso. Por isso a frase “Peça à Mãe que o Filho atende” pode ser e é verdadeira. A outra, “Antes de falar com Jesus, fale com Maria”, é bonita mas está errada. Isso não faz parte da teologia católica! Seria o mesmo que ensinar que Jesus não nos ouve, mas Maria sim! Devoção a Maria não é isso! Nem tudo passa por Maria. Nem ela o quer! Fonte: Site Pe. Zezinho, scj

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Música e Liturgia

A

Coroa do ADVENTO

Ir. Míria T. Kolling é religiosa do Imaculado Coração de Maria e compositora

Quanto à forma da coroa, circular, tem o sentido de perfeição, harmonia e infinitude, sem começo nem fim, como Deus é... E nós, inseridos nesse tempo que penetra a eternidade, vamos sendo iluminados e aquecidos pela Luz de Cristo, cuja presença salvadora no mundo cresce aos poucos, até manifestar-se plenamente no Natal. A experiência em nós da LUZ que brilha na escuridão nos faz também ser luzes de esperança, alegria, justiça, paz e solidariedade aos irmãos, em meio a tantas trevas...

são acesas no início da celebração, após a saudação inicial ou antes das leituras, estando num lugar apropriado, que não seja sobre o altar, mas próximo ao ambão. Prefira-se material vivo e natural, evitando muito brilho e decorações artificiais, que não condizem com a verdade dos sinais, e muitas vezes já antecipam o Natal. Normalmente a cor das velas seria vermelha, a cor do amor e também do martírio. Em alguns países, como a Suécia, são todas brancas; já na Áustria são várias cores: roxo, vermelho, rosa e branco. No Brasil, faz parte da nossa cultura afro e indígena usar-se velas coloridas. Poucas são as informações sobre o uso e o significado das cores, e não há unanimidade sobre o assunto. Mas a tradição aponta o seguinte:

coroa do Advento é um símbolo muito expressivo, usado nesse tempo de preparação e expectativa alegre pela vinda do Senhor no seu Natal. Tem sua origem na Alemanha, onde nessa época é inverno rigoroso, com dias sem muita luminosidade, o sol fraco, as noites muito frias. Usada pelos colonos e feita com ramos de pinheiros, é a única árvore que não perde suas folhas no inverno. Enfeitavam-na com flores e velas ou lâmpadas, para iluminar a casa e aquecer do frio, sinal de vida em meio à natureza coberta de neve, onde tudo parecia ter morrido... A ideia foi aos poucos sendo adotada pelos católicos alemães, que começaram a enfeitar suas casas e igrejas... E foram os missionários vindos da Alemanha ao Brasil, no início do século XX, que trouxeram tal costume, hoje cada vez mais presente em nossas comunidades.

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São quatro os domingos do Advento, e a cada domingo se acende uma vela, de modo que a luz vai aumentando, até explodir em claridade total, com a vinda da LUZ, do SOL da salvação, Cristo Jesus, que nos visita e vem morar entre nós, fazendo encontro profundo conosco, aliança definitiva com o seu povo. Normalmente as velas da coroa

1) A primeira vela é a do profeta, de cor roxa, porque indica tempo de penitência e conversão.

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2) A segunda vela é a de Belém, de cor vermelha, testemunhando João Batista, que aponta e anuncia o Cordeiro de Deus e derrama, como Jesus, o seu sangue para a vida do mundo. 3) A terceira é a vela dos pastores, de cor rosa, ligada ao Domingo da Alegria, sinal da expectativa alegre pela vinda do Salvador. 4) A quarta vela é a dos anjos, de cor branca, ligada à Virgem Maria, que dará à luz um filho, Jesus Cristo. O rito pode ser feito da seguinte maneira: uma pessoa entra com a vela acesa (de preferência uma mulher grávida), enquanto a comunidade canta o refrão e a primeira estrofe do canto, conforme está na partitura abaixo, e assim sucessivamente, a cada domingo... ou outro canto apropriado - Uma vela acendemos neste momento, de Maria Sardenberg; Coroa do Advento (Uma vela, na coroa acendemos...) de André Martinelli. Também pode ser feita a seguinte louvação, enquanto se coloca a vela na coroa:Bendito sejas, Deus bondoso, pela luz de Cristo, sol de nossas vidas, a

quem esperamos com toda a ternura do coração! Como comunidade cristã, somos chamados a viver no advento algumas atitudes essenciais: a espera vigilante e jubilosa do Senhor que vem; a esperança de quem confia nas promessas de Deus, e a conversão, abrindo o coração, acolhendo a Palavra, disponíveis e abertos à graça... Nada melhor que viver o Advento com Maria, que Santo Agostinho bem retrata: “Concebeu em seu coração por meio de sua fé antes ainda do que em seu corpo. Ela é o modelo de espera. Ela é exemplo de esperança, de oração e contemplação ante a vinda de Cristo... Maria é templo do Senhor, sacrário do Espírito Santo, Mãe do Verbo Encarnado, a cheia de graça, o lugar onde Deus desce para tornar-se Emanuel com seu povo”. Entre algumas melodias e cantos da coroa do Advento, oferecemos esta que Reginaldo Veloso compôs em 2008, muito bíblica, inspirada nas leituras de cada domingo e com melodia bem popular:


Personalidade bíblica

João Evangelista Sua festa é celebrada dia 27 de dezembro

“o discípulo que Jesus amava” (Jo 13,23)

S

Vida

egundo a Tradição, João escreveu o quarto dos quatro Evangelhos, três Epístolas [1-2-3 João] e o Apocalipse, último livro do Novo Testamento. Provavelmente, nasceu em Betsaida, era filho de Zebedeu, irmão de Tiago Maior e trabalhava junto com eles como pescador e consertador de redes de pesca. Quando Jesus o chamou, ele era discípulo de João Batista; e, ao entrar para o grupo dos Apóstolos, tornou-se o mais novo dentre os doze. Para muitos investigadores bíblicos, o “discípulo amado” que tanto o Evangelho de João fala é o próprio João, apesar de nunca a Bíblia o afirmar diretamente. O que muito chama a atenção em João é que foi o único apóstolo que teve coragem de estar aos pés da cruz e foi o único que recebeu de Jesus uma herança concreta: cuidar de Maria Santíssima em seu lugar.

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Pe. Cleodon Amaral de Lima é exegeta, professor, produtor e apresentador de televisão

Sua época João era um dos três que acompanhavam Jesus em tudo no seu Ministério. Por exemplo, esteve presente na ressurreição da Filha de Jairo (Mc 5,22-42 e paralelos) e na Transfiguração de Jesus (Mt 17,1-9 e paralelos). Quando encostou sua cabeça no peito de Jesus, Este lhe confidenciou quem era o traidor ( Jo 13,23-26). Ficou exilado de 93 a 97 na Ilha de Patmos, no Mar Egeu, na época de Domiciano (81-96), e ali escreveu o Apocalipse. Depois da Ressurreição de Jesus, ainda viveu mais de 70 anos e, segundo Polícrates, que foi Bispo de Éfeso por volta do ano 190 d.C., João morreu com 94 anos, em Éfeso, por volta do ano 103, de morte natural. Isso também foi atestado por Eusébio de Cesareia nos seus documentos [cf. História Eclasiástica 5,24].

Como João era e como devemos ser • Você ama Jesus? O quanto? Demonstraria o seu amor tanto quanto João? • João era conhecido como “o discípulo que Jesus amava” ( Jo 13,23). Qual a imagem que Jesus tem de você, enquanto seu seguidor? • Se Jesus tivesse sido crucificado sábado, você estaria ao lado de João? Sinceramente? • Qual o grau de intimidade que tem com Jesus? Teria coragem de encostar sua cabeça no peito de Jesus, com sinceridade, a ponto de ser considerado o (a) melhor amigo (a) do Senhor? • Se tivesse recebido de Jesus a missão de cuidar de sua Mãe, recebê-la-ia em sua casa com todo o amor ou a trataria como uma qualquer?

Você é capaz de imitá-lo? Uma Sugestão: o comentário de introdução ao Evangelho de João no Novo Testamento - próprio para estudos bíblicos lançado pela Editora AveMaria - traz muitos comentários pertinentes e um rico aparato crítico para cada passagem do Evangelho de João. Interessante para todos os que se interessam em se aprofundar em Teologia-BíblicaJoânica e Neotestamentária. Vale a pena conferir em Novo Testamento – Edição de Estudo. Editora Ave-Maria, São Paulo, 2009.

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Aprender a administrar o

TEMPO

O

s novos tempos. Quem pretende trabalhar ou trabalha com a juventude precisa dar atenção especial, afetiva e humana a cada jovem. É preciso valorizar a lógica do jovem, que é mais pessoal do que discursiva, e ao mesmo tempo despertar nele a consciência crítica e o compromisso social. Para isso é preciso paciência e, principalmente, tempo. No CDL (Curso de Dinâmica para Líderes), saber administrar o tempo é mais um dos objetivos do curso. Não ter tempo para fazer a metade das coisas de que se precisa ou se gostaria é uma reclamação cada vez mais comum entre as pessoas, e também entre os jovens. Hoje, exige-se agilidade na tomada das decisões e obtenção de resultados a curto prazo. Condições que contrariam o desenvolvimento consciente e pleno do jovem. O tempo do crescimento humano e espiritual é diferente do tempo da realização das atividades materiais. Nesta matéria, aprofundaremos a questão do aproveitamento do tempo para a realização de um trabalho pastoral.

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Vilões do tempo Reclamar da falta de tempo é redundância. Passar minutos ou horas para resolver alguma tarefa, pensando em tudo o que se tem para fazer, não ajudará em nada. É preciso entender onde se gasta o tempo. Pontue cada atividade praticada nas últimas 24 horas. É importante visualizar para que se tenha a noção de como o tempo da sua vida vem sendo aproveitado ou desperdiçado. O resultado é quase sempre o mesmo: a vida das pessoas está presa a tantas coisas sem importância, sem nenhuma prioridade — televisão, internet, preocupação extremada com aparência física, pensamentos superficiais e negativos, entre outros — que, ao final de um dia, semana, mês ou ano, parece ter faltado tempo para o essencial à vida, à realização e à felicidade. A falta de foco e o fato de não saber priorizar o que é importante são fatores que levam o jovem a tornar-se desorganizado. Outro fator que interfere é a ansiedade, que estressa, faz com que ele tenha uma visão deturpada das tarefas, levando-o

a perder tempo com ações e pensamentos sem importância e tornando-o incapaz de realizar as atividades de forma correta.

Reorganizando o tempo É essencial ter noção de todas as obrigações e afazeres que pretendemos realizar a curto, médio e longo prazo. Faça uma lista de tarefas na agenda, no palmtop, no iphone, no celular ou de qualquer outra forma para se lembrar dos compromissos. Querer guardar tudo na mente é impossível. O ideal é deixar a cabeça livre para decisões mais importantes.

Driblando a falta de tempo Muitas vezes o jovem sente vontade de iniciar um trabalho pastoral, voluntário, mas acaba desistindo por achar que não terá tempo para suas realizações pessoais. Da mesma forma, jovens engajados na Igreja, muitas vezes, reclamam do acúmulo de reuniões. Procure pontuar www.avemaria.com.br/revista


Luciana de Castro Siciliani é advogada e participante da Pastoral da Juventude

atividades realizáveis, ou seja, aquelas que você terá condições de executar no dia, na semana, no mês e se possível no semestre. Estabelecer metas e prazos para a realização dos afazeres é um começo. Ao priorizar o trabalho e a ação pastoral, não deixe de incluir nessa lista momentos com a família e o encontro com os amigos, pois eles dão significados à nossa existência. Para quem só pensa em baladas e chopinho, reflita com ele o sentido de como tem aproveitado a vida. Há muitas outras oportunidades a serem vivenciadas e um sentido maior para sua existência pessoal e social.

Novos hábitos O verdadeiro líder precisa ter disciplina pessoal, saber definir prioridades, estabelecer horários para o início e término de cada atividade particular e em grupo. A ação pessoal do líder motiva o grupo. Por isso, ele deve ter em mente que não é autossuficientes, deve pedir ajuda, distribuir tarefas a todos, propiciando o apoio necessário para que o grupo se desenvolva no aspecto interpessoal. www.avemaria.com.br/revista

“Se sonhamos com um amanhã diferente, precisamos derrubar as coisas que nos prejudicam de construir o novo” (João Paulo II - aos jovens do Equador, 1985)

Dinâmica para aprofundar o tema Objetivo: administrar o tempo. Material: 1 caixa de fósforos. Tempo: 1 minuto por participante. Como aplicar: solicite aos participantes que acendam um fósforo e se apresentem ao grupo enquanto o palito estiver aceso ou falem o que aprenderam de mais importante naquele dia. Fechamento: se todos tiveram o mesmo tempo para se expressar, questione por que para alguns o tempo foi suficiente e para outros não. Abra espaço para discussão.

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Santo rosário

Terceiro Mistério Glorioso:

a vinda do ESPÍRITO SANTO

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Pe. Nilton C. Boni é missionário claretiano e pároco da Igreja Imaculado Coração de Maria, Curitiba, PR

“Eu vos mandarei o Prometido de meu Pai, entretanto, permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto” (Lc 24,49). Após subir aos céus, Jesus consola o coração dos discípulos, deixando-os sob a ação do Espírito Santo. A partir de agora, o vento do Espírito os conduzirá no anúncio da Palavra. A missão de Jesus continuará viva por meio de seus seguidores, animada pela força do Alto, impulsionada pela confiança que forma o homem novo. O Espírito Santo tomará todas as decisões e caminhará à frente dos escolhidos para que falem e proclamem o que está no coração de Deus. Toda a nossa vida e ação estão centradas num projeto, num ideal de salvação. Na realidade, todo o nosso ser está inserido no mistério da Trindade. Quem nos move é o Espírito Santo, pois ele se preocupa com nosso agir e torna possível nossa comunicação com o Pai. Jesus se encarna no seio de Maria por meio do Espírito, começa sua vida pública com o batismo no Jordão sob a ação esplendorosa do Espírito e inicia sua caminhada para Jerusalém movido pela força do Espírito. Em todos os momentos, quem o acompanhou foi a força de Deus presente desde o início da criação. Ousamos dizer que na Ressurreição o Espírito Santo abriu o sepulcro e o tomou pela mão, dando-lhe a vida nova da qual somos testemunhas. Que lindo é sentir a presença envolvente de Deus na diversidade de dons e carismas que exprimem confiança e alento ao velho homem, transformando-o em nova criatura. Falar das www.avemaria.com.br/revista

coisas de Deus é deixar o Espírito Santo se comunicar, comungar conosco, conduzir-nos. Se olharmos ao nosso redor, veremos que o vento do amor sempre está passando, pois o Espírito é o amor do Pai e do Filho para que “tenhamos vida em plenitude”. É o Espírito que sempre nos ajuda a discernir e a fazer as escolhas certas. Tudo que é bom, belo e verdadeiro provém dele. Sua luz é tão forte e acessível que nos faz enxergar a eternidade. Por meio de sua ação sentimos mais fortemente a presença de Jesus nos ungindo para a missão. Jesus não nos deixa órfãos ao subir para junto do Pai. Isso significa que o Mestre ainda nos acompanha, pois nos quer junto dele. Somos seres falíveis e corremos o risco de nos perder diante das oportunidades da vida. Nenhum cristão está imune aos prazeres do mundo, mas, se os olhos e o coração estiverem atentos ao Espírito Santo, seremos verdadeiramente iluminados com o dom da profecia e da fortaleza e nos tornaremos um no coração de Jesus. Neste mistério, Maria nos convida a crer na força do Espírito Santo como ela um dia o fez. Acreditar que tudo pode ser mudado pela fé, pela confiança e pelo amor. O Espírito Santo é nosso irmão, a sabedoria encarnada, a alegria que invade, a certeza de que tudo posso naquele que me fortalece. Olhe ao redor e encontre as razões para amar o Espírito Santo. Quando não houver mais saída para os problemas, coloque-se diante dele e acenda a chama de sua vela outrora apagada pelos desenganos. Vinde Santo Espírito! dezembro de 2010

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Mensagem

Mensagem de

NATAL P

or que será que todos nós no tempo do Natal nos tornamos espiritualmente como crianças?

Não importa a idade, voltamos à nossa infância, repassando coisas e fatos, na maioria simples, mas que nossa mente insiste em recordar de tudo aquilo que vivemos junto com os nossos antepassados. Uma das respostas está na simplicidade da manjedoura, onde Deus não exitou em tornar-Se um de nós, nos remete e nos chama atenção para também nos tornarmos simples como as crianças. Na simplicidade com que Deus se manifestou, foi oferecida a salvação para toda a humanidade. O povo que jazia nas trevas do erro por milênios viu uma grande luz, dizem-nos o Profeta Isaías. Na simplicidade e humildade da pessoa está a eficácia da ação de Deus. Neste sentido a presença maternal de Maria Santíssima não deixa por menos. A notícia vinda por meio do anjo, nove meses antes, também foi recebida por ela com simplicidade. O Magnificat, hino de agradecimento que ela cantou, deixa tudo muito claro: “eis a servidora do Senhor, faça -se em mim o que for de Tua vontade”. Só os simples, ou quem se fizer simples, como crianças, vão entender

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Ir. Hely Vaz Diniz é missionário claretiano e diretor da gráfica Ave-Maria

plenamente a profundidade do mistério amoroso do Pai, em se tornar humano na pessoa de Jesus Cristo, para salvar a humanidade da antiga culpa. Então podemos dizer que o Natal é a festa da simplicidade, as pessoas levadas por sentimentos infantis procuram superar diferenças, se encontrar, enviar mensagens de felicitações e fazer trocas de presentes, às vezes simples, mas que expressam a alegria e a ternura de viver o amor às pessoas, a exemplo de Jesus de Nazaré. Nossa falta de mística espiritual muitas vezes nos faz perder o verdadeiro sentido da festa, somos levados pelo consumismo e não apreciamos o sabor original do Santo Natal de Jesus. Muitas vezes, o aniversariante está ausente da festa e de nossas mesas abarrotadas de alimentos, sem o devido espaço para Ele. Que o verdadeiro espírito natalino seja vivido por todos nós, com a mesma intensidade de amor e de sentimentos mais nobres e profundos do ser humano. Que Maria, a mulher que acreditou com toda convicção, nos traga cada vez mais sentimentos de fé em Seu Filho amado e, com a sua maternal presença, nos ensine a celebrar o verdadeiro nascimento de Jesus, no meio desta humanidade tão carente de Deus, que é amor. www.avemaria.com.br/revista


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Mensagem

Fábio Davidson é formado em jornalismo, graduado em História

O tempo

PASSA

Cuco Ainda é cedo. Cuco Cuco Daqui a pouco cuido disso. Cuco Cuco Cuco Por que a pressa? Cuco Cuco Cuco Cuco Eu não entendo por que eles insistem em correr... Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Não, eu não vou deixar pra última hora!

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Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco É... Agora acho melhor eu começar. Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Ih! Não tem ninguém pra me ajudar? Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Por que o tempo está passando tão rápido?

Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Só mais um pouquinho...

Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Alguém, pare esse relógio!!!

Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco No final, tudo sempre dá certo.

Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Cuco Socorro!!! Mais um ano me engoliu!!!

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Pois é. Parece que foi ontem que desejei um Feliz Ano Novo para você, leitor. E, doze meses depois, aqui estamos novamente. Hora de olhar para trás e fazer avaliações. E de olhar para frente e iniciar planejamentos. O meu principal será o de tentar não ser engolido pelas horas, mas tentar vivê-las em sua integralidade. Aproveitar cada minuto para aprender e ensinar. Estabelecer – e cumprir – tempo para descanso do corpo e da mente. Ouvir mais as pessoas e, também, fazer silêncio. Enfim, viver com menos ansiedade e com a certeza de que tudo tem seu tempo.

Dica do mês: A recomendação para este mês provavelmente esteja em sua cabeceira. O livro bíblico de Eclesiastes, cujo autoria é controversa, mas que traz muita sabedoria em suas palavras.

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A palavra é...

A

palavra clero tem sua origem no grego klerus. Poderíamos traduzir literalmente por “distribuição” ou “porção”. Diz a tradição que essa expressão era originalmente utilizada para designar um lote de terra dividido em áreas menores por ocasião da partilha de uma herança. Ou seja, é possível que o “clero” fosse uma porção delimitada de terra.

Na tradução bíblica dos Setenta, tradução da bíblia hebraica para o grego, a palavra klerus foi utilizada várias vezes para designar uma porção. No

Pe. Maciel M. Claro é missionário claretiano e diretor comercial da Editora Ave Maria

Clero

Novo Testamento, a palavra também foi utilizada com significado de “porção”. Por exemplo, na primeira carta de Pedro (5,3) foi utilizada para referir-se ao grupo dos fiéis que foi confiado ao ministro. O uso da palavra clero no sentido que conhecemos hoje para designar os ministros sagrados, tem sua orígem no século III, com os padres da Igreja. Tertuliano, Origenes e Clemente de Alexandria utilizam a palavra para referir-se às pessoas que faziam parte da hierarquia eclesiástica. Dessa forma, os cléri-

gos eram uma porção do povo de Deus que estava a serviço da comunidade. Na Idade Média, por circunstâncias históricas, o clero tinha um importante papel social. Tinha grande importância na formação social, moral e ideológica da sociedade medieval. O clero medieval estava dividido em alto e baixo clero. O alto clero era constituído pelo papa, cardeais e bispos. Essas pessoas eram muito influentes na cultura e na política da sociedade. O baixo clero era formado pelos padres e diáconos, que tinham contato direto com seus fiéis. Atualmente, o Código de Direito Canônico, no cânon 207, nos diz que “por instituição divina, entre os fiéis, há na Igreja os ministros sagrados, que no direito são também chamados clérigos; e os outros fiéis são também denominados leigos”. Isto é, através do sacramento da ordem, alguns fiéis são consagrados e recebem uma missão especial no seio da Igreja para ensinar, santificar e governar.

Ordenação presbiteral de Fernando Henrique Alves, cmf, ao lado do Cardeal Arcebispo de São Paulo Dom Odilo Pedro Scherer, o ordenante, aos 12 de outubro de 2010, na Igreja Coração de Maria, São Paulo, SP. www.avemaria.com.br/revista

Derivadas da palavra clero temos: clérigo e clergyman. Clérigo é o indivíduo que faz parte de um clero: bispos, presbíteros e diáconos. O clergyman (palavra inglesa que significa “homem do clero”) é utilizada para referir-se à camisa utilizada pelos clérigos e que possui um colarinho branco. dezembro dezembrodede2010 2010

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Comunicação

Adriana Maria da Silva é Fonoaudióloga do Seminário Claretiano de Batatais

O COMUNICADOR Desde os primórdios, a humanidade se utiliza da fala como forma de transmissão de conceitos e experiências

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O

comunicador é aquele que transmite uma mensagem, que usa palavras, gestos, olha­ res e ações como meios de se relacionar com o mundo. Saber falar de maneira clara, objetiva e, principalmente fiel aos nossos costumes e pensamentos, é muito importante!

lógica. Com o passar do tempo, a fala se desenvolveu. O ser humano aprendeu a coletar informações e armazená-las no cérebro, deixando-as à disposição para quando houvesse necessidade de colocá-las em circulação e enviar as mensagens desejadas.

O homem sempre necessitou trocar informações entre si para participar ativamente da sua evolução bio-

No processo educacional, a comunicação favorece a troca de informações e experiências entre as

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gerações, ajudando a perpetuar a história de um povo. A comunicação atua também como forma de adaptação e enfrentamento de novas realidades sociais. Não podemos nos esquecer dos comunicadores de massa: radialistas, apresentadores de TV, dentre outros, que, mediante os meios de comunicação social, agem diretamente em conflitos e crises políticas e sociais. A comunicação bem realizada pode propiciar, em muitos casos, uma convivência mais pacífica entre os povos. Desde os primórdios, a humanidade se utiliza da fala como forma de transmissão de conceitos e experiências para integrar-se, ao mesmo tempo na vida comunitária e na construção social do mundo.

A modernidade ofereceu ao mundo comunicativo algumas ferramentas de trabalho que décadas atrás não imaginaríamos existir como: rádio, telefone, televisão e internet. Esses veículos mediáticos facilitaram a nossa forma de acessar as diversas informações de maneira rápida, eficaz e funcional. Para um bom comunicador, quanto mais simples o uso do vocabulário para o ouvinte, mais compreensível e eficiente fica a comunicação. Aprender a se comunicar bem não é tarefa fácil, mas também não é impossível. A cada dia temos oportunidade de aprender e ganhamos uma nova chance de melhor nos relacionar conosco e com o próximo.


Rede virtual

Carta a um jovem

Frei Betto é escritor, autor de várias obras

INTERNAUTA S Não se deixe escravizar pelo computador. Não permita que ele roube seu tempo de lazer, de ler um bom livro (de papel, e não virtual), de convivência com a família e os amigos. Submeta-o à sua qualidade de vida.

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ei que você passa longas horas no computador navegando a bordo de todas as ferramentas disponíveis. Não lhe invejo a adolescência. Na sua idade, eu me iniciava na militância estudantil e injetava utopia na veia. Já tinha lido todo o Monteiro Lobato e me adentrava pelas obras de Jorge Amado guiado pelos “Capitães de areia”. A TV não me atraía e, após o jantar, eu me juntava à turma de rua, entregue às emoções de flertes juvenis, ou sentava com meus amigos à mesa de uma lanchonete para falar de Cinema Novo, bossa nova – porque tudo era novo – ou das obras de Jean Paul Sartre. Sei que a internet é uma imensa janela para o mundo e a história, e costumo parafrasear que o Google é meu pastor, nada me há de faltar... O que me preocupa em você é a falta de síntese cognitiva. Ao se postar diante do computador, você recebe uma avalanche de informações e imagens, como as lavas de um vulcão se precipitam sobre uma aldeia. Sem clareza do que realmente suscita o seu interesse, você não consegue transformar informação em conhecimento e entretenimento em cultura. Você bor-

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boleteia por inúmeros nichos, enquanto sua mente navega à deriva qual bote sem remos jogado ao sabor das ondas. Quanto tempo você perde percorrendo nichos de conversa fiada? Sim, é bom trocar mensagens com os amigos. Mas, no mínimo, convém ter o que dizer e perguntar. É excitante enveredar-se pelos corredores virtuais de pessoas anônimas acostumadas ao jogo do esconde-esconde. Cuidado! Aquela garota que o fascina com tanto palavreado picante talvez não passe de um velho pedófilo que, acobertado pelo anonimato, se fantasia de beldade. Desconfie de quem não tem o que fazer, exceto entrincheirar-se horas seguidas na digitação compulsiva à caça de incautos que se deixam ludibriar por mensagens eróticas. Faça bom uso da internet. Use-a como ferramenta de pesquisa para aprofundar seus estudos; visite os nichos que emitem cultura; conheça a biografia de pessoas que você admira; saiba a história de seu time preferido; veja as incríveis imagens do Universo captadas pelo telescópio Hubble; ouça sinfonias e música pop. Mas fique alerta à saúde! O uso pro-

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longado do computador pode causar-lhe, nas mãos, lesão por esforço repetitivo (ler) e torná-lo sedentário, obeso, sobretudo se, ao lado do teclado, você mantém uma garrafa de refrigerante e um pacote de batatas fritas... Cuide sua vista, aumente o corpo das letras, deixe seus olhos se distraírem periodicamente em alguma paisagem que não seja a que o monitor exibe. E preste atenção: não existe almoço grátis. Não se iluda com a ideia de que o computador lhe custa apenas a taxa de consumo de energia elétrica, as mensalidades do provedor e do acesso à internet. O que mantém em funcionamento esta máquina na qual redijo este artigo é a publicidade. Repare como há anúncios por todos os cantos! São eles que bancam o Google, as notícias, a Wikipédia, etc. É a poluição consumista mordiscando o nosso inconsciente. Não se deixe escravizar pelo computador. Não permita que ele roube seu tempo de lazer, de ler um bom livro (de papel, e não virtual), de convivência com a família e os amigos. Submeta-o à sua qualidade de vida. Saiba fazê-lo funcionar apenas em

determinadas horas do dia. Vença a compulsão que ele provoca em muitas pessoas. E não se deixe iludir. Jamais a máquina será mais inteligente que o ser humano. Ela contém milhares de informações, mas nada sabe. Ela é capaz de vencê-lo no xadrez – porque alguém semelhante a você e a mim a programou para jogar. Ela exibe os melhores filmes e nos permite escutar as mais emocionantes músicas, mas nunca se deliciará com o amplo cardápio que nos oferece. Se você prefere a máquina às pessoas e a usa como refúgio de sua aversão à sociabilidade, trate de procurar um médico. Porque sua autoestima está lá embaixo e o computador não haverá de encará-lo como se fosse um verme. Ou sua autoestima atingiu os píncaros e você acredita que não existem pessoas à sua altura, melhor ficar sozinho. Nas duas hipóteses você está sendo canibalizado pelo computador. E, aos poucos, se transformará num ser meramente virtual. O que não é uma virtude. Antes, é a comprovação de que já sofre de uma doença grave: a síndrome do onanismo eletrônico.

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Meu Lar

O desafio de perdoar e suas dimensões

PSICOLÓGICAS (2)

Emoções como a raiva, a mágoa, o ressentimento tendem a diminuir ou desaparecer quando se perdoa

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m nossa última conversa, concluíamos dizendo que anistiar, desculpar, esquecer e negar não constituem o autêntico perdão. E permaneceu a pergunta: então, de que maneira o autêntico perdão pode acontecer? Pois é, aí está o desafio de perdoar, pois, de alguma forma, as ações de anistiar, desculpar, etc. também estão no campo do perdão entendido de maneira mais abrangente, mas apresentam-se limitadas em relação às dimensões do perdão. Para que o perdão seja autêntico, é preciso que o dano sofrido seja reelaborado. Assim sendo, o perdão envolve componentes de ordem emocional, cognitiva e comporta­ mental. Segundo a análise do comportamento, ele tem ainda uma função, de acordo com a história de vida do indivíduo.

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O perdão não acontece de modo www.avemaria.com.br/revista


Pe. Vitor Calixto dos Santos, cmf, é sacerdote e especialista em Terapia por Contingências de Reforçamento

acidental ou aleatório. Uma de suas características é o fato de ser resultante de uma escolha, e é interessante avaliar, em cada situação, as contingências presentes, para que algumas pessoas escolham perdoar e outras, não. Por exemplo, uma pessoa que viva em um ambiente no qual a “defesa da honra” seja muito reforçada socialmente, provavelmente tenderá a escolher não perdoar, podendo, inclusive, buscar meios para se vingar do ofensor. Além de ser uma ação de escolha (operante, segundo a análise do comportamento), o perdão também toca dimensão respondente, ou seja, ligado às emoções como a raiva, a mágoa, o ressentimento, que tendem a diminuir ou desaparecer quando se perdoa. As dimensões psicológicas do perdão estão começando a ser estudadas, e um de seus pesquisadores, Martin Seligman, afirma que o perdão é uma maneira de reescrever o passado, posto que é impossível esquecê-lo, e uma das formas pelas quais aumentam-se as emoções positivas acerca de nosso passado. Baseado em Worthington, ele apresenta o procedimento de perdoar em cinco etapas: Relembrar – de forma objetiva o sofrimento; Empatia – tentar entender o ponto de vista do agressor; Altruísmo – no qual o dom do perdão escapa do interesse próprio; Compromisso – no sentido de tornar público o perdão, por exemplo, escrevendo uma carta ao agressor; e, por último, Abraçar ou Apreender o perdão – fazendo esforços para se dar conta de que o evento doloroso não desaparece-

rá da memória e isso não significa que não se tenha conseguido perdoar. 1 Outros autores apresentam as etapas do procedimento de perdoar em três ou quatro etapas, mas que podem ser entendidas de maneira semelhante, pois envolvem, como vimos acima, as dimensões cognitiva, emocional e comportamental da pessoa. Isso quer dizer que o perdão autêntico envolve a pessoa na sua totalidade, o que significa a sua relação com o ambiente em que vive e ao qual responde segundo sua história de vida. Perdoar continuará sendo um desafio para muitos de nós, mas um desafio que poderá ser vencido, já que a ação de perdoar envolve uma escolha e um aprendizado, ou seja, uma virtude que poderá ser desenvolvida. 1. Conferir: Willians, L.C.A. - Perdão e Reparação de Danos in GOMIDE, P.I.C. (org.) — Comportamento Moral. Uma proposta para o desenvolvimento das virtudes, Curitiba: Juruá Editora, 2010, p.201.


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Lucielen Souza é Nutricionista da Editora Ave-Maria

Ingredientes

Modo de Preparar

• 300g de grão-de-bico cozido • 700g de bacalhau cozido e desfiado • 1 cebola grande picada • 1 xícara (chá) de azeitona portuguesa • 1 xícara (chá) de cebolinha verde • 1 colher (sobremesa) de orégano • 1 xícara (chá) de azeite de oliva • sal e pimenta a gosto • 1 pimentão vermelho

Ingredientes

Salada de Bacalhau

Deixe o grão-de-bico de molho em água de um dia para outro. A seguir, cozinhe. Após cozinhar, retire a pele. Reserve. Deixe o bacalhau de molho de um dia para o outro. Troque a água durante o tempo que ficar de molho. A seguir, cozinhe. Em um refratário, coloque o grão-de-bico, o bacalhau cozido e desfiado, a cebola, o orégano, as azeitonas, a pimenta, o azeite de oliva e a cebolinha. Mexa para se agregarem. Coloque a mistura em um recipiente e decore com cebolinha ou a gosto. Pique o pimentão vermelho em fatias bem fininhas. Decore a salada. Sirva gelada.

Pernil Assado com Frutas

• 1 pernil • 1 lata de cerveja • 1 pacotinho de caldo de carne em pó • 2 colheres/sopa de tempero pronto ou dentes de alho amassados • 1 pimenta vermelha • 100g e bacon Molho • sal a gosto • 2 potes de iogurte natural • 50g de margarina • 1 caixinha de creme de leite • figos cortados em fatias • 1 maço de manjericão • 10 fatias de abacaxi • 3 folhas de louro

• 2 colheres/sopa de margarina • 1 cebola ralada • sal e pimenta-do-reino a gosto

Valor calórico: 78,9 kcal por porção (colher de arroz cheia)

Modo de Preparar

Tempero Em um recipiente coloque a cerveja, o caldo de carne em pó, bacon, tempero pronto ou dentes de alho amassados, pimenta e sal. Misture e reserve. Pernil Coloque o pernil em um refratário ou assadeira e faça furos sobre ele com ajuda de uma faca. A seguir, regue com o tempero reservado. Deixe no tempero de um dia para o outro. Espalhe a margarina sobre ele e cubra com papel alumínio. Leve ao forno pré-aquecido a 150° C por 1h30 minutos. A seguir, retire o papel alumínio, coloque as fatias de figo e abacaxi e deixe dourar. Molho Derreta a margarina em uma panela e refogue a cebola. Junte o manjericão batido no liquidificador, o creme de leite, o iogurte, o louro, a pimenta-do-reino e o sal. Misture. Cozinhe por alguns minutos.

Crepe Flambado (coberto com frozen de maçã, canela e castanha-de-cajú) Valor calórico: 289,8 kcal por porção (porção média)

Ingredientes

• 250 ml de leite integral • 1 ovo • 1 xícara (chá) de farinha de trigo • 1 colher de chá de açúcar • 1 colher de chá de manteiga amolecida • 1 colher de chá de vinho branco seco • 1 lata de creme de leite s/ soro • 50 ml e conhaque • 1 colher de café de semente de papoula • 100 gramas de castanha-de-caju

Para a calda Para o frozen • 2 colheres/sopa de açúcar • ½ lata de creme de leite sem soro • 100 ml de néctar de laranja • 1 pote de iogurte sabor maçã com canela • 2 colheres/sopa de açúcar

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Modo de Preparar

Massa No liquidificador, coloque e leite, o ovo, a farinha, o açúcar e a manteiga amolecida e bata. Desligue. Acrescente o vinho e bata novamente. Em uma frigideira redonda untada com manteiga, frite porções de massa dos dois lados. Em seguida, dobre os crepes formando um triângulo. Regue com a calda e duas colheres de sopa do creme frozen. À parte, flambe o conhaque e distribua sobre os crepes. Salpique castanhas-de-caju. Frozen: No liquidificador, coloque o creme e leite s/ o soro, o iogurte e o açúcar. Bata. Coloque em um recipiente e leve para o freezer por 8 horas. Retire e bata novamente. Conserve no freezer. Calda: Em uma panela, coloque o açúcar e o suco de laranja. Ferva até o ponto de fio.

Quantidade por porção de 80g: 154,4 kcal por porção (porção pequena)

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Natal do Senhor

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o sol nascente ao poente cantai, fiéis, neste dia, o Cristo Rei que, por nós, nasceu da Virgem Maria. Autor feliz deste mundo, tomou um corpo mortal. A nossa carne assumindo, Livrou a carne do mal. No seio puro da Virgem entrou a graça dos céus. Em si carrega um segredo sabido apenas por Deus.

O casto seio da Virgem se faz o templo de Deus. Gerou sem homem um Filho, o Autor da terra e dos céus. Nasceu da Virgem o Filho que Gabriel anunciou, em quem no seio materno João, o Batista, exultou. Não recusou o presépio,

foi sobre o feno deitado; quem mesmo as aves sustenta com leite foi sustentado. Do céu os coros se alegram, os anjos louvam a Deus. Pastor se mostra aos pastores quem fez a terra e os céus. Louvor a vós, ó Jesus, que duma Virgem nascestes. Louvor ao Pai e ao Espírito no azul dos paços celestes. A quem vistes, ó pastores? Anunciai e nos dizei quem na terra apareceu? Nós vimos um menino e os anjos a cantar e a louvar Nosso Senhor. Aleluia.

Extraído do livro Liturgia das horas, volume I, p. 364



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