SAMPA+ | dia & noite

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Fascículo Dia & Noite

novembro/2013 | USJT

Um olhar

Dia & Noite Um olhar NOTURNO DIURNO


Fascículo Dia & Noite

EDITORIAL Um olhar noturno, um olhar diurno Nesta edição do SAMPA+ você verá as noites de São Paulo como nunca viu antes. Nas próximas páginas serão contadas histórias que acontecem durante as 24hs da capital paulistana, mesmo quando não se está olhando. TEMPO RECUPERADO: Conheça a história de um relacionamento salvo por um estabelecimento que funciona após a meia-noite. E outras dicas para fazer durante a madrugada o que não deu tempo de fazer durante o dia. Depois dessa, não haverá como fugir da academia por falta de tempo, hein! ANJOS DO CORPO DE BOMBEIROS: Confira também depoimentos e histórias de pessoas que não param. Salvam vidas a todo o momento, seja com o sol a pino ou a lua pendurada no céu. E descubra detalhes de homenagens feitas a esses heróis que deram suas vidas em troca da chance de salvar o próximo. A PRESSA NOTURNA: Se a CPTM não para durante o horário comercial, durante a noite corre com mais pressa ainda. Saiba mais sobre a manutenção diária dos trens que ocorre enquanto os usuários recarregam as baterias para outro dia apressado. RUAS E PRAÇAS: As histórias em três cantos tradicionais da cidade contadas pelo que vivem e respiram SP. E a arte de rua que nasce à noite para instigar durante o dia. E outros detalhes por aí. Desvende e aprecie!

EXPEDIENTE O Suplemento Sampa+ é um projeto experimental da disciplina PROCEDJI, sob orientação editorial e gráfica da professora Iêda Santos.

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2ºBCSNJO - D1 Beatriz Santos ....201203710 Michelle Camila...201209754 Nicolas Tomé......201208449 Sara Olivera.......201212873

ARTIGO

Câmeras: mais segurança ou menos privacidade? A falta de segurança hoje em dia nas grandes capitais é um assunto que volta a tona a todo o momento. Dentro de shopping, em supermercados, em lojas ou no meio da rua somos observados durante 24 horas por dias. Mas, mesmo com tanta tecnologia em prol da segurança, por que não nos sentimos realmente seguros? Mais de 1,5 milhão de equipamentos vigiando São Paulo pode parecer, para alguns, falta de privacidade, pelo simples fato de não gostarem de serem observados. Mas, para a Guarda Civil Metropolitana isso é um meio de “proteger” a sociedade e dar mais segurança ao cidadão. Além disso, as imagens gravadas podem ser utilizadas para inúmeros fins, como descobrir quem estava envolvido em algum roubo ou quem estava errado em um acidente de transito. Mas não adianta ter um mar de artefatos que auxiliam no monitoramento senão existem pessoas para resolverem aquilo que foi registrado. É necessários olhares técnicos trabalhando em conjunto a tecnologia para que as coisas realmente fluam.


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A CIDADE QUE NÃO PARA

Sim! Durante a madrugada é possível fazer tudo aquilo que não dá tempo para fazer de dia Beatriz Santos São Paulo é conhecida no mundo como um lugar agitado durante 24 horas por dia, 7 dias por semana. Hoje, a rotina do horário comercial das 8h às 18h já não é mais suficiente para fazer todas as atividades do cidadão paulistano. E, para gerar mais lucros e atender a todos, as empresas estão dando um jeitinho e e stendendo um pouco mais o horário de atendimento. Na verdade, mais que estender o atendimento, os comércios estão aderindo a uma nova forma de trabalho: o atendimento 24 horas. Já imaginou fazer as unhas às 2 da manhã? Ou comprar um pão bem quentinho e tomar um café reforçado de madrugada? Essas pequenas coisas da rotina já não precisam mais ser feitas durante o dia. Podemos encontrar desde floriculturas até sorveterias que ficam em funcionamento durante o dia e à noite.

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Fascículo Dia & Noite CAFÉ DA MADRUGADA

No bairro de Perdizes, em São Paulo, encontramos o DeRo Cabeleireiro, liderado por Rogéria Aguiar. A empresária é graduada e tem curso de especialização em Roma de reestruturação e alteração dos fios. A cabelereira nos conta que o diferencial do salão atrai muitos clientes. “Quando comecei, achei que não daria muito certo, que não viriam muitos clientes de madrugada. E não é que me enganei?”. Nos primeiros meses que o salão mudou para o horário alternativo, Rogéria chegou a passar mais de 15 horas trabalhando. Hoje, ela tem funcionárias contratadas somente para a madrugada. “Acho que essa ideia atrai muitos clientes porque, em uma cidade como São Paulo, 5 minutos que você tem a mais dá para fazer um monte de coisa. Agora, quando temos um estabelecimento a nossa disposição 24 horas por dia, facilita demais a nossa vida”, completa Rogéria. E, além da aparência, o corpo tem sua vez. A falta de tempo não pode mais ser uma desculpa para não se exercitar. É possível aliviar o estresse e manter uma vida saudável a qualquer hora do dia. Localizada no Tatuapé, a Master Academia 24 Horas funciona full time, e oferece inúmeras maneiras de manter a forma, mesmo depois de um dia cheio. Com equipamentos modernos e professores capacitados para dar todo apoio aos alunos, a academia atrai um grande números de atletas, em sua maioria jovens que trabalham e estudam o dia todo, ficando, assim, sem tempo de se dedicar às atividades físicas durante o dia.

Sabe quando bate aquela fome de madrugada e você não encontra nada que mate o desejo noturno na geladeira? Isso já não é mais problema na terra da garoa. A Galeria dos Pães oferece um delicioso cardápio noturno, que inclui sopas, cafés, pães variados, saladas de frutas e muitas outras opções em um horário não muito comum nas populares padarias da cidade. Sem nenhuma outra franquia ou filial, a matriz se encontra na altura 1645 da Rua Estados Unidos, no Jardim América. A loja, além da Sopa da Noite, tem uma adega com mais de 1500 rótulos, mais de 1000 tipos de queijo e frios, e horários de Café da Manhã, Almoço e Chá da Tarde com o que há de mais gostoso quando se trata de comidinhas de padarias. Mas, se a vontade for de devorar um delicioso bolo de nozes ou tomar uma bela taça de

Foto: Divulgação

BELEZA SEM HORA MARCADA

A falta de tempo não será mais desculpa

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Foto: Divulgação

DECLARAÇÃO A LUZ DA LUA

As luzes aconchegantes abrem o apetite na Ofner, mesmo à noite

sorvete de creme holandês, a bola da vez é a doceria e sorveteria Ofner, localizada em quase 20 pontos diferentes na cidade de São Paulo. Victor de Macedo, gerente de uma loja de aparelhos eletrônicos, diz que adora ter perto de casa um lugar que oferece infinitas e deliciosas opções de sobremesas a qualquer hora do dia. “Várias vezes depois de voltar da balada eu e meus amigos passamos lá para comer alguma besteira ou tomar um sorvete antes de ir para casa”. As luzes aconchegantes abrem o apetite, e as vitrines da doceria expões deliciosos bolos, tortas, doces e panificados. Além disso, a confeitaria oferece sorvetes, salgados, bombons, chocolates, uma linha zero e, sazonalmente, artigos de páscoa e natal.

Ser romântico hoje em dia no mundo moderno é raridade e receber flores, por exemplo, já não é mais tão comum. Agora, receber flores junto com um pedido de desculpas às 2 e meia da madrugada é algo quase impossível. Quase. Quem escuta a história de Mauro Silva, um jovem alfaiate, e Terezinha Maria, professora do ensino fundamental, pode até pensar que está ouvindo um romance dos anos 20, mas isso aconteceu e não faz muito tempo. O casal havia brigado no dia do aniversário de 2 anos de namoro e, no fim da discussão, resolveram colocar um fim no relacionamento. O que Terezinha não imaginava era que Mauro saiu de sua casa às pressas, madrugada afora, e saiu à procura de flores. Depois de procurar em todos os cantos da cidade, ele encontrou uma floricultura aberta, perto do Hospital Das Clínicas. “Já estava quase desistindo. Depois de dirigir tanto, a ideia de achar um buque de rosas aquela hora da noite pareceu burrice. Quando eu já ia fazer o retorno, vi a loja aberta”. Terezinha diz que foi uma surpresa e tanto e que não imaginava que ele pudesse fazer isso. “Depois daquele briga horrível, a última coisa que eu pensei foi que ele estaria na porta da minha casa segurando um buque de flores. Foi maravilhoso.” Hoje o casal está noivo e pretende se casar no final do ano que vem. Tudo isso graças à floricultura que não fecha as portas na cidade que não dorme.

Estabelecimentos 24h

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QUEM SÃO ELES Relatos de tragédias que mudaram uma sociedade Nicolas Tomé Heróis. Corajosos. Guerreiros. Humanitários. Anjos. É assim que a sociedade os vê e define. Os homens do Corpo de Bombeiros de São Paulo, que há décadas encantam as crianças por suas habilidades na hora de salvar vidas, sem se importar com as condições climáticas, dificuldades de acesso ou horários. Eles estão prontos a servir dia e noite. O Corpo de Bombeiros tem por finalidade preservar a vida das pessoas que compõem a sociedade, não só a paulistana, mas a mundial. As metas de quem faz parte desse agrupamento é sempre buscar o bem-estar enfrentando riscos que podem ocasionar até mesmo a sua própria morte e a dos envolvidos no caso. Fatos marcantes são relembrados pela mídia sempre que acontece alguma tragédia. A presença dos Bombeiros é fundamental para que o máximo de vidas possa ser salvo. No dia 01 de fevereiro de 1974, por volta das 8h54, um curto-circuito no 12º andar causou o incêndio do Edifício Joelma deixou aproximadamente 180 vítimas fatais e 300 feridos. O Corpo de Bombeiros recebeu a primeira chamada às 9h03 da manhã. Dois minutos depois, viaturas partiram de quartéis próximos, mas devido a condições adversas no trânsito só chegaram ao local às 9h10. Helicópteros foram acionados para auxiliar no salvamento, mas não conseguiram pousar no teto do edifício pois este não tinha heliporto, além disso telhas de amianto, escadas, madeiras e fumaça do incêndio também impediram o pouso das aeronaves. Mesmo sem equipamentos básicos de segurança, como máscaras de oxigênio, os bombeiros decidiram entrar no prédio para o resgate, tentando alcançar aqueles que haviam conseguido chegar ao topo do edifício. Foram parcialmente bem sucedidos, pois a fumaça e as chamas já haviam vitimado dezenas de pessoas. Outro fato que marcou a corporação e a sociedade foi o acidente com o avião da companhia aérea TAM que viajava de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, para São Paulo e não conseguiu realizar o pouso no Aeroporto de Congonhas. Acabou colidindo com o prédio da mesma empresa em 17 de Julho de 2007 por volta das 18h51, causando a morte de 199 pessoas. Segundo o Corpo de Bombeiros, a aeronave passou pela cabeceira da pista do Aeroporto de Congonhas e, após cruzar

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a Avenida Washington Luís na zona sul de São Paulo, se chocou contra o Prédio. Centenas de bombeiros de diversas unidades de São Paulo foram encaminhados para atender uma única ocorrência naquele dia e as buscas por corpos duraram por toda a madrugada. Para o bombeiro Fábio Eduardo, de 35 anos, e há 10 servindo a sociedade, a ação da Corporação é fundamental, pois o que eles mais buscam é a preservação da vida das pessoas e que acontecimentos como esse reforçam cada vez mais a importância pelo bem mais valioso que é a família, repensando nas atitudes tomadas. Outro caso que podemos citar aqui, foi o incêndio na Boate Kiss, na cidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul, em Janeiro de 2013, levando a óbito 240 pessoas. Os três casos acima estão relacionados com incêndios, porém o Agrupamento do Corpo de Bombeiros não atende ocorrências apenas desse modo. Eles realizam o resgate de vítimas de acidentes de trânsito, salvamentos aquáticos e outras atividades que compreende na preservação da integridade das pessoas. Sem a preparação desses profissionais, que são capazes de dar a sua própria vida para salvar a de pessoas que eles nem conhecem, podemos considerar um ato assim como heroísmo. Para quem está no dia a dia convivendo com essas realidades de acidentes, ocorrências de salvamento e outras ações o trabalho do Corpo de Bombeiros se torna gratificante porque além de correr riscos, quem executa essas ações tem como objetivo principal zelar pelo bem mais precioso que todos nós temos, a nossa vida. Não é só em tragédias que os bombeiros atuam. Pequenas ocorrências são frequentes no dia-a-dia da corporação como acidentes de trânsito utilizando as unidades do resgate, que faz a locomoção das vítimas. Fatos como esses são vivenciados por diversas pessoas todos os dias, como é o caso da vendedora Ana Cristina Barbosa que foi socorrida pelo Corpo de Bombeiros após uma colisão em uma avenida de São Paulo. “Eu e meu marido voltávamos de um restaurante, quando um carro em alta velocidade bateu no nosso e com a pancada meu marido bateu a cabeça no vidro da porta esquerda e teve ferimentos leves. Fomos socorridos pelos bombeiros e graças à agilidade deles tudo terminou bem”.

Foto: Alberto Takaoka

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HISTÓRIA A formação dos Corpos de Bombeiros no país começa no século XVI. Até a metade do século XIX, quando ocorria um incêndio quem corria para apagar as chamas eram os voluntários, aguadeiros e milicianos que na maior parte das vezes, perdiam a batalha devido às construções serem feitas de madeira. Os primeiros bombeiros militares surgiram na Marinha, devido os riscos de incêndio nos antigos navios de madeira; porém, eles existiam apenas como uma especialidade, e não como Corporação. Foi então que em meados de 1763, no Rio de Janeiro, foi criada uma repartição para extinguir incêndios. Destroços e resgates no acidente com avião da TAM

Resgate às vítimas no incêndio do Hotel Joelma (SP) em 1974

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Fascículo Dia & Noite HOMENAGEM AOS HERÓIS

Memorial às vítimas do WTC em que 343 bombeiros perderam a vida

Crianças como João Victor, de 10 anos, tem sonho de servir ao agrupamento do Corpo de Bombeiros de São Paulo e cada vez mais esse sonho é alimentado por sua família, como nos descreve sua mãe, Elaine Macedo, de 33. “Desde cedo, quando o João assistia a algumas matérias na televisão e quando estava passando pela rua e via uma viatura dos Bombeiros ele dizia,

‘Olha mãe, o caminhão vermelho’. Então, a partir dai percebi que isso seria mais que uma paixão. E não só eu, mas minha família apoia e incentiva esse desejo dele”. Que os homens que servem o Corpo de Bombeiros de São Paulo, do Brasil e do mundo inteiro continuem servindo de exemplo de vida para crianças e adultos por muito tempo.

Fotos: Divulgação

Sempre que há alguma tragédia, homenagens são feitas para aqueles que se foram de maneira inesperada. World Trade Center (WTC) encerrou a carreira de diversas pessoas e entre elas estavam as de 343 bombeiros que socorriam as vítimas do atentado terrorista em 11 de setembro de 2001. No Brasil após o acidente com a aeronave da Companhia Aérea TAM em 2007. A Praça Memorial 17 de Julho foi construída no local do acidente. Sua inauguração em 17 de julho de 2012, foi exatamente cinco anos após a tragédia. O memorial foi projetado para o terreno de 8.318 m² onde ficava o prédio da TAM Express, Na Praça Memorial existe um espelho d’água onde os nomes das vítimas estão gravados e também uma amoreira (árvore frutífera que produz amora) que resistiu ao incidente. Nos Estados Unidos, a empresa OCC (Orange County Choppers) criou uma motocicleta em homenagem aos Bombeiros que deram a vida na tragédia do 11 de setembro, chamada de Firebike, a moto foi apresentada em eventos pelo país, emocionando todos os presentes e os companheiros daqueles que se foram em 2001. Comemorado no dia 2 de Julho, o Dia do Bombeiro é uma forma de todos os anos no Brasil homenagearmos grandes pessoas que são exemplos de vida para as crianças, por sua carreira profissional e para muitos adultos são considerados como anjos, por conta de tudo o que eles realizam no seu dia-a-dia, durante a jornada de trabalho.

Memorial 17 de Julho: homenagem às vítimas do acidente da TAM

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Após o último desembarque Michelle Camila

Foto: Divulgação

Os bastidores da Companhia que movimenta São Paulo

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Fascículo Dia & Noite Todos os dias, a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) transporta em média 2,6 milhões de passageiros. Pessoas apressadas, de vários lugares, que utilizam esse transporte diariamente para ir e vir de suas casas para o trabalho, e vice-versa. Vinculada à Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos (STM), teve sua criação autorizada pela Lei nº 7.861 no dia 28 de maio de 1992. Hoje, a CPTM serve a 22 municípios e possui 89 estações operacionais. Porém, enquanto as milhões de pessoas que usam o transporte diariamente dormem, a Companhia de trens não para

um minuto. Durante todas as madrugadas, manutenções são realizadas, e o Centro de Controle Operacional opera o tempo inteiro. Tudo para garantir o funcionamento de todo o sistema. Manutenções O Engenheiro Jonathan Lopes Cuevas, que faz parte da Gerência de Projetos e Montagens de Sistemas, conta que existem na CPTM dois tipos de manutenção, a preventiva e a corretiva. “Toda ação de controle, conservação e restauração com o objetivo de manter o equipamento dentro de parâmetros para operação e desempenho caracteriza-se como

manutenção preventiva. A manutenção decorrente de defeitos ou falhas nos equipamentos é a corretiva, ou seja, consertam-se as máquinas para que voltem a funcionar”, explica Cuevas. As manutenções acontecem durante 24h por dia, e sete dias da semana, de acordo com um cronograma elaborado pela gerência. O engenheiro conta que o processo ocorre em quatro locais chamados de “abrigo”, são eles: Abrigo da Lapa, Abrigo da Luz, Abrigo Eng.º São Paulo e Abrigo Presidente Altino. Fora as oficinas, caso seja necessária uma manutenção mais especifica em algum equipamento que compõe o trem.

Foto: Divulgação

Enquanto as milhões de pessoas que usam o transporte diariamente dormem, a Companhia de trens não para um minuto...

Conjunto novo de rodas para ser instalado, na oficina de trens da CPTM, na estação Bresser

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Fascículo Dia & Noite Centro de Controle Operacional (CCO)

Quando algum defeito é detectado e o maquinista percebe, o primeiro procedimento é tentar religar o equipamento e verificar se há algo que tenha causado algum defeito visual em algum componente. Opinião de quem usa Pesquisa realizada pela ANTP (Associação Nacional dos Transportes Públicos) aponta que

59% dos passageiros da Linha 10-Turquesa (Brás/Rio Grande da Serra) da CPTM, avaliam o serviço prestado como bom ou excelente. Dos sete itinerários operados pela companhia na Grande São Paulo, apenas dois evoluíram no índice em comparação a 2011. Além da 10-Turquesa, apenas a Linha 8-Diamante melhorou diante da opinião pública. O traçado, que vai da Estação Júlio Prestes, na Capital, até Itapevi, obteve 56% de opiniões favoráveis, ante 47% no ano anterior. A Linha 12-Safira (Brás/Calmon Viana) foi a que recebeu pior avaliação: apenas 26% de classificações como boa ou excelente. Em 2011, a taxa era de 43%. A opinião do usuário João Alcantara, 20 anos, confirma os dados da pesquisa da ANTP: “Tem muita ineficiência no dia a dia. Quebra quase sempre, sem falar do desconforto por conta Foto: Divulgação

Localizado no Brás, o Centro de Controle Operacional é responsável por colher os trens no pátio, mandar para o lavador, colocar e regular a circulação. Cada movimento dos trens é monitorado através de diversos painéis. Lá também se encontram os controladores de tráfego. “Basicamente o cérebro da ferrovia”, diz Anderson Muras, Controlador de circulação de trens. O CCO funciona 24h. Muras também explica que “quando algum defeito é detectado e o maquinista percebe, o primeiro procedimento é tentar religar o equipamento e verificar se há algo que tenha causado algum defeito visual em algum componente. Caso ele não consiga restabelecer, é acionada a equipe de restabelecimento, onde existe um técnico em cada

estação para averiguar o defeito. Se mesmo assim o especialista não conseguir constatar a falha, ou caso ela não possa ser consertada no local, o trem é rebocado para o abrigo, onde serão tomadas todas as providências para sancionar a imperfeição”.

Controladora conversa com maquinista no Centro de Controle Operacional (CCO) da CPTM.

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Foto: Divulgação

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Estação Luz da CPTM, em São Paulo

da superlotação.” Alcantara utiliza a linha 12-Safira todos os dias para ir ao trabalho. Descarrilamento de trem levanta discussão No dia 18 de setembro, um trem de carga da companhia MRS descarrilou e atingiu o último vagão de uma composição, com passageiros, da CPTM, e deixou cinco pessoas feridas. O acidente trouxe à tona um debate sobre o uso compartilhado dos trilhos. “O ideal, na minha opinião, seria acabar com o uso compartilhado de trilhos de trens

de passageiros e trens de carga. Pois melhora o sistema metropolitano, como diminuição do intervalo dos trens, também não afetaria o transporte de cargas. Hoje a maior parte das viagens só podem ser feitas num horário reduzido na parte metropolitana. Isso existe devido um acordo entre o governo do Estado e as empresas que administram o transporte de carga sobre trilhos, que determinam o uso de ambos os trens no mesmo trilho, pois não há outro caminho”, relata o Engenheiro Jo-

nathan Cuevas. Ainda segundo Cuevas, existe um estudo/ projeto feito pela CPTM que prevê a construção de uma via paralela a existente para o uso exclusivo do transporte de carga. “Porém, existem muitos detalhes a serem definidos neste projeto. Como quem irá financiar a construção da via. Infelizmente, enquanto não se chega a uma solução, o transporte metropolitano de passageiros fica prejudicado.”, finaliza o engenheiro.

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As horas acesas da noite São Paulo em três cantos: a cidade que dorme, mas nunca apaga as luzes Sara Oliveira

Foto Christian Knepper

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Como uma manhã do século 20

No marco-zero do amanhecer paulista Quando o dia nasce - e parece o fazer primeiro ali - se você não olhar muito ao redor e não sentir os cheiros que rondam o ar pode sentir como se estivesse numa manhã do século 20. Mas ao tirar as vendas nostálgicas dos olhos e ouvir os sons agitados das pessoas que gritam sobre a salvação e a religião ou oferecem atestados médicos, irá se deparar com o retrato da realidade de SP. Devido ao avanço das linhas de metrô, na década de 70 centenas de prédios e quarteirões

foram demolidos para que a reforma do antigo Largo da Sé tivesse início. A nova praça seria projetada com tendências americanas e, na época, alguns arquitetos e paisagistas criticaram que os tipos de plantas e os espelhos d’água incentivariam a população sem-teto a mover-se para a localidade. Há quase dez anos, em 2004, a Prefeitura de São Paulo apontava que existiam aproximadamente 2.500 pessoas no centro da cidade. Em 2011, espalhados pela região, esse número chegou a 6.500 desabrigados em situação de rua. Atualmente, viciados em crack e outras drogas também fazem um abrigo dos arredores da Catedral da Sé. Na tentativa de afugentar a população de rua, a Prefeitura instalou um ônibus de monitoramento na praça. A intenção é de coibir a ação de traficantes, usuários de droga e até mesmo a chegada de novos moradores de rua. Palco de manifestações como a Revolução de 32 e as Diretas Já, a Praça da Sé, no marco-zero da capital paulista, é um desolador retrato que não se esconde nas horas claras do dia.

Avenida Paulista feito rio São 121 anos desde a inauguração da clássica avenida, que durante três anos teve outro nome. Avenida Carlos de Campos. Uma homenagem póstuma ao décimo segundo vice-presidente de São Paulo de 1924 a 1927 - título equivalente a governador. A troca durou três anos, até que, devido ao descontentamento da população da época, a avenida volta a ser simplesmente Paulista. Para o professor de Comunicação Social, Warde Marx, “a avenida é escolhida pelos manifestantes por ser uma vitrine, pois depredar um banco na Avenida Paulista tem mais repercussão”. A Paulista serve como palco de inúmeros movimentos e reivindicações sociais. Cerca de 70 deficientes físicos foram à Avenida exigir melhor acesso nos transportes públicos, em 1975. Em 2000, os professores já faziam manifestações na cidade. Visto da avenida mais simbólica de São Paulo - quiçá do Brasil - o céu é uma fenda em meio aos prédios geometricamente alinhados. A Avenida faz parte

2013: Professores reivindicam reposição salarial de 36,74% no vão do Masp

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Foto: Marcelo Camargo

Foto: Priscila Vilario

De manhã vê-se trabalho, pernas apressadas e à noite quando as pernas já correram de volta às suas casas no transporte entupido é que se tem uma visão ampla e clara de outro lado da realidade. O que é possível para enxergar quando só a escuridão permite ver em SP?


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Foto: André Deak

As percepções mudam de acordo com o passo que se dá e nas 24 horas da cidade, há beleza por todos os cantos, mas existem também mazelas humanas.

Arte na Rua Augusta, um dos afluentes da Avenida Paulista do trajeto diário de 1,5 milhões pessoas. Movimentando-se em fila, um grupo aguarda a sua vez de visitar um museu; no sentido oposto, um portão aberto é o convite do pedaço de natureza que floresce em meio a tanta movimentação. E, quando a noite leva essa gente para suas casas e os carros passam ainda rápidos, mas poucos, a vida deixa de correr no rio principal e vaza para os afluentes. No caso, o afluente mais conhecido como Rua Augusta, por onde continua de luzes acesas à noite. A República da noite “Isto aqui tá muito diferente do que já foi. A noite aqui é muito agitada!”, conta Gertrudes Müller. E sua voz que lhe saíra fraca agora baixava uns dois tons ao confidenciar, “tem muita prostituição e drogas à noite”. Moradora da região, a senho-

ra de bengala, meia ortopédica e quase noventa anos, que saiu para tomar sol, junta-se a outras pessoas na Praça da República, formando o cenário de fim de tarde. Aqui, alguns dias nascem como se as noites fossem segredos. E a paisagem desse ponto tradicional da cidade de São Paulo ganha ares de desconfiança quando a noite vem chegando. E quando as luzes se acendem e evidenciam construções históricas as palavras de Gertrudes tornam-se reais. As percepções mudam de acordo com o passo que se dá e nas 24 horas da cidade, há beleza por todos os cantos, mas existem também mazelas humanas. As ruas que libertam a arte Da arte de pedir esmola à, muitas vezes, anônima arte visual de espalhar mensagens ou

ilustrações significativas pela cidade, a metrópole é movida por artistas, alguns que sobrevivem da arte e de outros que encontram abrigo dos dias de sobrevivência através dela. Os dois tipos tiram da rotina aqueles que enxergam a intervenção humana artística no meio do caminho. Quem passa rápido, distraído, e fica imune às pessoas talentosas, muitas vezes não consegue evitar que um som incomum entre pelos ouvidos. Involuntariamente, os olhos procuram a origem do som e guia a visão até o jovem saxofonista Pedro Lira, cujo repertório vai de Brasileirinho a Roberto Carlos. A arte sonora que devolve ritmo à realidade. “Tudo o que a gente faz, a gente faz pelo outro. Não é por nós.”, diz o jovem de 29 anos que já foi, e ainda é, um pouco de muita coisa. De cozinheiro à professor, ele conta que a música o chama. E enfatiza que “todos deveriam libertar seus talentos”. E que lugar melhor para dar liberdade aos dons do que na rua? À noite, quando já não há plateia, o espetáculo é espalhado nas paredes e será visto durante o dia, em grafites ou revoltas poéticas. Artes que muitas vezes a prefeitura insistiu em apagar. À noite, nas ruas da Sé, outros tipos de artistas anônimos escrevem poemas ou esculpem o lixo ao seu redor e durante o dia apenas interpretar o seu papel social. Na cidade inquieta, as artes dependem do olhar de cada um, mas estão todas nas ruas.

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