MANUAL DE CONSERVAÇÃO DOS ELEMENTOS ARTÍSTICOS DO PALÁCIO DA LIBERDADE BELO HORIZONTE/MG Grupo Oficina de Restauro
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ÍNDICE 1
APRESENTAÇÃO ........................................... 06 Objetivo ............................................................... 06
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BREVE HISTÓRICO DA RESTAURAÇÃO DE 2005/2006 ............................................... 08 Descrição dos ambientes e seus elementos constitutivos ............................. 09 Plantas dos pavimentos ...................................... 09 Átrio .................................................................... 10 Saguão e hall da escadaria ................................. 10 Salas de recepção ................................................ 11 Torreões ............................................................... 12 Salas do hall do 1º pavimento ........................... 13 Salas do hall da escadaria .................................. 14 Corredor da Rainha ............................................ 15 Salão Nobre ......................................................... 15 Varanda ............................................................... 16 Varandas dos torreões ........................................ 17 Salão Dourado e sala das Medalhas .................. 18 Salas do hall do 2º pavimento ........................... 19 A primeira sala .................................................... 19 A segunda sala .................................................... 19 A terceira sala ..................................................... 20 Gabinete particular ............................................ 20 Salão Mourisco .................................................... 21
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Sala da Rainha .................................................... Sala de banquetes .............................................. Sala de jantar ...................................................... Sala de almoço .................................................... Quarto ................................................................. Quarto de vestir ..................................................
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IDENTIFICAÇÃO DOS BENS E SEUS MATERIAIS COMPOSITIVOS ................................................... 25 Elementos ............................................................ 25 Identificação dos materiais ................................ 26
RECONHECIMENTO DOS AGENTES DE DEGRADAÇÃO E DIAGNÓSTICO DOS PROBLEMAS ................................................ 37
EXEMPLOS ........................................................... 38
CONSERVAÇÃO PREVENTIVA ............................ 45 Roteiro de inspeção ............................................ 45 Área interna ........................................................ 45 A faxina diária ..................................................... 46
Área externa ...................................................... 47 A conservação cotidiana .................................... 47
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RECOMENDAÇÕES PARA A UTILIZAÇÃO DO IMÓVEL E DOS BENS INTEGRADOS ................... 49 A utilização ......................................................... 49 Os reparos ........................................................... 49 O deslocamento .................................................. 50 Solicitação de técnicos especializados ............... 51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................... 52 ÍNDICE .................................................................. 53
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1 APRESENTAÇÃO No embalo dos avanços científicos e tecnológicos ocorridos nos últimos tempos, tornou-se prática comum no campo dos estudos e análises das obras de arte relacionar bens culturais ao meio ambiente quando se trata de processos de deterioração. Ficou constatado que com algumas ações diretas ou mesmo indiretas esse patrimônio pode ser preservado contra possíveis danos futuros a partir da criação de condições ideais para o seu bem estar e, consequentemente, para o dilatamento da sua existência. As práticas de conservação preventiva e de manutenção permanente dos bens edificados e de seus elementos integrados, extensivas aos bens móveis que geralmente complementam as decorações desses espaços, são procedimentos que, incontestavelmente, garantem de forma adequada e eficaz a sua preservação. Recorrer à intervenção restauradora depois que os referidos elementos chegam a níveis comprometedores de degradação, além de comprometer a sua integridade físico-química - em determinados casos até mesmo a estética da obra - resulta em custos muitas vezes extremamente onerosos e que poderiam ser evitados através de investimentos diários e efetivos em sua conservação. Os resultados positivos dessa proteção dependem diretamente de uma constante fiscalização e também da forma como o espaço é utilizado cotidianamente. Bens edificados que são relegados ao abandono estão sujeitos a degradações advindas dos rigores das intempéries, favorecendo as infiltrações, os ataques de agentes biológicos, o surgimento de fungos além do acúmulo de poeiras e sujidades, entre vários outros tipos de danos. Por outro lado, se utilizados de forma inadequada ou excessiva, esses bens podem estar sujeitos à ação de diversos agentes de
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deteriorações, tais como incidência direta de raios solares, desgastes por atritos e abrasões ou até mesmo vandalismos. Nesse contexto, nada mais oportuno que a elaboração de um manual específico para a preservação de uma edificação do porte do Palácio da Liberdade, cujas especificações contemplem desde a cobertura do monumento até a sua estrutura de sustentação, incluídas algumas indicações básicas sobre a sua utilização, além de informações detalhadas a respeito dos materiais e técnicas empregados em sua construção e restaurações, apontando ainda as suas fragilidades e as formas de protegê-los contra os agentes de deterioração. Acredita-se que a partir das orientações nele apresentadas, conjugadas com as constantes vistorias efetuadas por profissionais especializados em suas áreas específicas, grandes problemas poderão ser evitados em um futuro próximo.
OBJETIVO Este manual é dirigido às pessoas que trabalham e circulam no prédio do Palácio da Liberdade, monumento tombado pelo IEPHA/MG em 27 de janeiro de 1975. Tem como objetivo a conservação preventiva da edificação e de seus bens integrados, por meio da fiscalização e da realização periódica de serviços para sanar danos causados quer pelo uso, quer pelo desgaste natural dos materiais ou por má conformação dos seus estratos, evitando-se, assim, trabalhos mais radicais de restauração. Ao longo deste manual serão apresentadas informações necessárias à prevenção e identificação de problemas que possam causar danos aos bens integrados da edificação e as características que permitirão a identificação de problemas mais sérios, para que se possa saber quando obter ajuda técnica especializada.
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2 BREVE HISTÓRICO DA RESTAURAÇÃO DO PALÁCIO O Palácio da Liberdade foi construído em 1897, como ícone de um ideal republicano e, mais do que símbolo do poder e da política, agregou em sua trajetória a função de bem cultural. O responsável pela decoração interna do palácio foi Frederico Steckel, que seguiu o gosto eclético característico das edificações da cidade de Belo Horizonte à época de sua construção. Apresenta, então, todo tipo de elementos artísticos sobre diversos suportes: pinturas parietais, tetos decorados ― em papier colé, carton foncé ou pinturas sobre reboco e telas; relevos em estuque e gesso, pisos parquetados, portas entalhadas, vitrais, elementos em ferro fundido ou prensados em folhas de flandres nas coberturas, acabamentos em mármores e granitos. Todos esses elementos sofreram perdas, desgastes, descaracterizações e redecorações ao longo do tempo. Numa restauração de grande amplitude realizada entre 2005 e 2006, que abarcou todo o conjunto no resgate de volumetrias e de todos os bens integrados ao edifício, além da abordagem dos problemas técnicos a serem solucionados, focalizou-se uma perspectiva conceitual do conjunto e do resultado contemplado. Desde a feitura do projeto até a execução das intervenções, a interdisciplinaridade das profissões de restaurador, arquiteto e historiador atuou de modo a equacionar as funções que constituem o bem cultural: testemunhos históricos, sentidos estéticos e afetivos, uso ativo e função museológica, sem agredir os atributos físico-químicos dos elementos, evitando que se tornassem simulacros.
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Consideradas todas essas questões, o enfoque da restauração dos elementos artísticos foi a década de 20, período da visita dos reis belgas a Belo Horizonte, quando o palácio passou por uma redecoração e complementação das áreas que não tinham sido decoradas no período da inauguração. Com o passar dos anos, outras reformas, decorações e pinturas foram se superpondo às antigas, até chegarem a ter de 7 a 13 camadas de repinturas sobre as originais, escondendo boa parte dos trabalhos decorativos, com acréscimos e modificações estruturais. Em virtude de tantas intervenções, uma completa homogeneidade de época não foi possível, mas foi proporcionada uma leitura íntegra, e ao mesmo tempo didática, dos elementos decorativos e de suas várias fases, com prospecções deixadas, revelando as camadas de pintura retiradas e as que ainda se encontram resguardadas abaixo. Todas as intervenções foram realizadas com rigor técnico, buscando o resgate histórico sem deixar de contemplar os elementos agregados e a harmonia estética. Outro aspecto importante de toda restauração, também presente nessa, é a valoração dos ofícios, das técnicas e dos materiais originais, que passaram a conviver em sintonia com os novos ali inseridos.
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Descrição dos ambientes e seus elementos constitutivos
Palácio da Liberdade 1o pavimento
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Palรกcio da Liberdade 2o pavimento
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Átrio Cômodo 1
Átrio tripartido por paredes (intercolúnios) em granito e piso em mármore. As três portas de entrada em arco pleno são em ferro decorado com motivos geométricos e possuem portinholas de vidro sobrepostas. Os marcos são em granito, as paredes que intermeiam os marcos e as portas são recortadas em dois níveis diferentes. Os marcos em granito das portas internas são emoldurados por outros arcos em massa, que têm pintura cinza imitando pedra. Os vãos externos, em número de cinco (três frontais e dois laterais), têm vão livre e são ladeados por pilastras em granito. O centro dos arcos é ornamentado por voluta em relevo, entalhada na mesma pedra. Os tetos são em abóbada de ogivas com pintura decorativa de molde.
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Saguão / Hall Escadaria Cômodos 2 e 7 primeiro pavimento
O saguão e o hall da escadaria, embora interligados, possuem decoração distinta. No primeiro ambiente, de acolhimento e distribuição, abrem-se cinco portas em ferro, de duas folhas com desenhos geométricos, contornadas por molduras em arco. O segundo abriga a escada de ferro decorada com motivos fitomorfos e faz a ligação com a parte posterior do prédio, através de duas portas ao fundo e quatro laterais que se abrem para as salas das antigas Assessorias de Imprensa e Especial. Essas portas têm os batentes e as vergas retas, em relevo de massa com pintura imitando mármore amarelo. Sobre elas, observamse marcas dos elementos decorativos em relevo que compunham a ornamentação e que foram retirados em algum período não identificado. Atrás da escada, na parede do fundo entre as duas portas, encontra-se um vão que serve de hall para o elevador. Esse vão é ladeado por pilastras com caneluras e elementos decorativos em estuque no arremate superior (brasões, folhas, frisos, cordões e perolados), em imitação de mármore amarelo. Ainda no arremate
superior, observamse cabeças de figuras indígenas estilizadas, decoradas com folhas e penas. A tarja central apresenta brasão com emblema de Minas Gerais e é decorada por guirlandas, acantos e uma tocha acesa. As paredes apresentam pinturas decorativas: no saguão são compostas por quadros retangulares verticais, com pintura marmorizada em tom cinza, alternada por pilastras cobertas com granitina fina, cinza, para dar o aspecto do granito das colunas. O hall da escadaria tem as paredes decoradas por barrado inferior e placas imitando mármores em tons de cinza. Sob o marmorizado das placas, encontra-se uma pintura anterior, em tom rosa terroso, adornada por motivos florais estilizados.
O teto do saguão é formado por painéis quadrangulares em carton foncé e tela, com pinturas lisas, contornados por elementos decorativos em relevo com motivos florais. Ao centro, tem uma rosácea branca em papier maché, e as cimalhas que arrematam o teto também são decoradas em relevo. Entre o teto e a parede, observa-se um barrado com pintura imitando pedra granito.
Salas de Recepção Cômodos 3 e 5
Uma dessas salas era, originalmente, a chapelaria; quanto à destinação da sala que hoje é a recepção, não se tem nenhuma referência. Em uma delas existe uma porta de madeira que faz ligação com a sala subsequente, quebrando a simetria das duas salas. Estas ladeiam o saguão do hall principal e cada uma está ligada a ele por uma porta com verga em arco pleno, arrematada nas laterais por cornija e aduela central. O enquadramento tem decoração marmórea em amarelo alaranjado e a porta em ferro, com motivos geométricos, é pintada em grafite escuro. Na parede oposta, encontra-se outra porta que dá acesso ao torreão, também com verga em arco pleno (cada porta com duas folhas em ferro, desenhos geométricos, pintada em grafite). Essa porta diferencia-se da outra pela bandeira envidraçada e pela pintura lisa do enquadramento. Na parede frontal, encontra-se uma janela central, com quatro folhas em madeira com pintura imitando pinho-de-riga, vidro e bandeira em arco pleno, também envidraçada. As paredes são pintadas em tom rosa terroso com decoração em molde, nos quatro cantos, de flores estilizadas e frisos perfazendo um quadro em vermelho óxido de ferro. Os barrados inferiores, em ressalto, e os rodapés estão pintados em imitação de mármore cinza. O forro em tela, retangular, é circundado por cimalha branca salpicada de dourados, decorada em relevo com elementos florais e formas ovaladas. O retângulo central, pintado de azul claro, é contornado por friso em relevo com folhinhas de videira; as quinas são recortadas com florões e no centro tem uma rosácea branca, com relevos em motivos florais.
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Torreões Cômodos 4 e 6 primeiro pavimento
Os torreões apresentam forma circular e estão recuados em relação ao corpo central do edifício. Dispostos lateralmente, dão harmonia à edificação e têm no piso baixo a função de passagem, fazendo a ligação direta com as salas de recepção. A fachada do primeiro piso é em granito recortado, sendo a parede interna em reboco pintado com imitação de granito. Possui três vãos de portas e um vão de janela, alternadas por quatro nichos encimados por óculos. A janela, em arco pleno, possui vão aberto, que é ladeado por duas colunas em granito, encimadas por capitel entalhado numa interpretação livre do estilo. Os interiores são decorados com imitação de granito e os pisos, em mármores branco e preto, têm o desenho de uma estrela de oito pontas. Os tetos em reboco são decorados por vinhetas que contornam as circunferências com motivos florais estilizados.
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Salas do hall do 1º pavimento cômodos 8, 9, 10, 11, 12 e 13
As seis salas são distribuídas em três de cada lado das paredes do saguão do hall da escadaria, a partir das salas de recepção. As salas se interligam por dentro por meio de portas e todas têm uma só janela. Duas de cada lado têm portas para o hall e a última se comunica com as salas do fundo do prédio. Uma das salas tem uma porta de ligação com a sala de recepção, diferentemente da sua similar. Afora essa particularidade, todas as salas são simétricas. A diferença entre elas está na ornamentação das paredes internas pintadas em molde, duas do lado direito imitando papel de parede e as outras em pinturas lisas, emolduradas com temas florais nos cantos e/ou barrados superiores
e inferiores. Em algumas salas, observam-se prospecções deixadas de pinturas anteriores a essas decorações, correspondentes à época da inauguração. Os forros em madeira ripada das quatro primeiras salas têm desenho triangular; já as duas últimas têm os forros em ripamento simplificado. Todas as janelas e portas são tonalizadas, e nos vãos, abaixo das janelas, encontra-se pintura imitativa de madeira.
Salas do hall da escadaria cômodo 63 segundo pavimento O hall do segundo pavimento é praticamente um corredor, delimitado pelo guardacorpo circular da imponente escadaria art noveau, em ferro fundido e batido, que dá acesso ao Salão Nobre através de três portas em madeira, e por mais duas portas para o Salão Mourisco, em oposição às salas antigas do Ajudante de Ordens e da secretária particular do governador. Na parede de frente para as portas do Salão Nobre encontra-se centralizado o hall
do elevador, ladeado por dois corredores de passagem para o salão de banquete e a sala da Rainha. O guarda-corpo do vão do elevador é decorado com vidros coloridos. As paredes do pequeno hall são decoradas com pinturas formando quadros contornados por frisos. Nas paredes do hall, no terço inferior, observam-se dois nichos com pintura decorativa sobre reboco, entre dezesseis pilastras marmorizadas e mais quatro quinas de pilastras nos cantos. Sob os arcos plenos dos vãos das portas e dos nichos, vemos medalhões com relevos de figuras humanas alternadas com águias, e, entre as cornijas, encontram-se arremates ressaltados, em forma oval, com monograma MG. Na parte superior das paredes, existem três vãos com três janelas envidraçadas intercaladas por panos decorados à moda de papel de parede, separados por pilastras em mísula terminando na cimalha superior. O teto “agamelado” é composto por uma claraboia central envidraçada (outrora havia um vitral colorido), em formato quadrado, de onde pende um lustre de cristal da Boêmia, e por quatro painéis laterais em estuque, também quadrados e ligeiramente abaulados, representando a Liberdade, a Fraternidade, a Ordem e o Progresso em pinturas neoclássicas. Os painéis das arestas do forro apresentam decoração com elementos fitomórficos curvilíneos.
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Corredor da Rainha
Salão Nobre
cômodo 69
cômodo 58
O corredor da Rainha liga o hall ao salão de banquete. De um lado, tem um vão aberto para o guarda-corpo do elevador; de outro, paredes ricamente decoradas com imitação de placas de mármore amarelo e cinza. Ladeando a porta de acesso à sala da Rainha, estão dois quadros pintados no estilo rococó e o barrado superior tem decoração com motivos florais estilizados ao gosto da Renascença italiana. Observase prospecção de pintura anterior com frisos geométricos no mesmo estilo da parede de frente ao elevador.
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O salão, localizado na parte frontal central do segundo pavimento, correspondente a uma sala de visitas com mobiliário Luís XVI, é ricamente decorado com elementos fitomorfos e antropomorfos, possuindo vinte e quatro pilastras de fuste com textura (a decoração marmorizada original se perdeu), com capitéis dourados, cimalhas em relevos, mísulas, medalhões, guirlandas, quadros parietais com pinturas em molde, monograma MG e molduras em papier maché que cercam as quatro telas laterais com alegoria de figuras femininas representando as musas da Música, Literatura, Escultura e Pintura. A tela central, datada de 1925, de autoria de Antônio Parreiras, tem como tema cena mitológica representando Apolo em carro, entre nuvens, puxado por quatro cavalos e tendo aos pés várias mulheres ofertando flores. Nas paredes divisórias com a Sala das Medalhas e o Salão Dourado, encontram-se três vãos, sendo o central aberto, de passagem, ladeado pelos outros dois fechados, espelhados e contornados por moldura em estuque dourada. Acima dos espelhos, observa-se relevo dourado de guirlandas com pombos ao centro. As pilastras alternam-se aos pares em todos os vãos do salão.
As portas em imbuia são em número de seis, sendo três de ligação com o hall da escadaria e as outras três abrindo-se para a varanda. Essas portas diferenciamse das demais por uma parte superior envidraçada em arco pleno (varandas) e em arco reto (lado do hall). As paredes são pintadas em verde musgo; as pilastras e enquadramentos, em bege rosado escondendo os tons e o marmorizado originais. Os barrados inferiores têm relevos em ressalto, as almofadas dos socos das pilastras apresentam pintura decorativa e os rodapés, marmorizada. O teto tem formato de gamela, com tela central retangular, de autoria de Antônio Parreiras, retratando cena mitológica e circundada por cimalha em madeira dourada, decorada em relevo com elementos florais e formas curvilíneas. As telas menores laterais, também retangulares, estão contornadas por friso em relevo, e os painéis, localizados nos cantos, trazem decoração com elementos fitomorfos, zoomorfos e medalhão central com perfil de figura feminina em camafeu de estuque. A iluminação lateral é feita por apliques metálicos, com duas lâmpadas em forma de vela, dispostos nas pilastras. Sobre os consoles, em estilo Luiz XVI, encontramse vários vasos de porcelana chinesa da dinastia Ming.
Varanda cômodo 57 2º pavimento
Varanda tripartida por pilastras e balcões em granito sob arcos apoiados em pilares e os balaústres vazados alternam-se com as paredes fechadas. Na parte interna, a divisão se dá por arcos de passagem em reboco pintado, simulando mármore. Observase prospecção de imitação de mármore vermelho sob a decoração acinzentada. As três portas de entrada, com enquadramento em arco pleno, são em madeira. Os relevos de massa dos enquadramentos têm pintura decorativa reproduzindo mármore cinza, As paredes que intermeiam os enquadramentos e as portas, são recortadas em níveis diferentes, apresentando, da mesma forma, pintura imitativa de granito. As cercaduras, em granito, dos vãos externos da varanda são emolduradas por outros arcos também em granito e em massa, na parte interna, sobre imitação de pedra. O centro dos arcos é ornamentado por voluta em relevo, entalhada no mesmo granito. Os tetos em estuque são divididos em três abóbadas de ogivas e ricamente decorados com motivos mitológicos marinhos. O piso é composto por quadrados enviesados de mármore branco.
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Varandas dos torreões cômodos 60 e 62 2º pavimento
Cada varanda dos torreões circulares possui sete janelas em arco pleno, com vãos abertos, balcão e balaustrada ladeados por duas colunas, encimadas por capitel modelado numa interpretação livre do estilo compósito. O barrado inferior, as colunas e os intercolúnios se encontram decorados com pintura imitando granito. A ligação com o interior do prédio é feita por uma porta em madeira de quatro folhas decoradas com vidros gravados a ácido na parte superior. A bandeira é fechada com vidros lisos. O teto, de forração em tela, é decorado com motivos florais e pássaros. Os apliques, originalmente em papier maché, foram substituídos por resina após a restauração. Os pisos são em granitina de três cores, formando o mesmo desenho de estrela dos torreões.
Salão Dourado e Sala das Medalhas cômodos 59 e 61
As salas correspondentes ao Salão Dourado e à Sala das Medalhas estão, respectivamente, à direita e à esquerda do Salão Nobre, vistas de dentro do prédio. As duas salas, distribuídas simetricamente, têm decoração idêntica, diferindo apenas em detalhes na decoração dos tetos - na Sala das Medalhas, observam-se instrumentos musicais na pintura do teto, com forração em tela, o que indica que antes era uma sala de música. Cada uma das salas está ligada a um torreão por uma porta central em madeira, com quatro folhas divididas em painéis emoldurados por frisos de cristal na parte superior, decorados por gravação com ácido de desenhos geométricos e motivos florais. Acima, observam-se sobrevergas em frontão, na parte inferior, arcos concêntricos na superior, e relevos com motivos de flores na parte central. As portas são contornadas com friso côncavo de folhas e arrematadas, na parte superior, com desenho retangular. Cada porta é ladeada por par de pilastras com socos emoldurados por frisos. Na parede oposta à entrada do torreão, encontra-se um vão aberto de passagem e ligação com o Salão Nobre, com verga em arco pleno, em tom marrom.
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Salas do hall do 2º pavimento cômodos 64, 65 e 66 Das três salas do lado direito, duas desembocam no hall e a outra se abre para o corredor lateral ao elevador. Essas salas são simétricas no tamanho e se interligam internamente por meio de portas; todas têm uma só janela.
A parede da fachada frontal, onde se encontra a sacada com balcão e balaústre em granito, é fechada, igualmente, por porta de quatro folhas envidraçadas. A bandeira de verga em arco pleno também tem cristais decorados. Todo o madeirame é aparente. De frente para a sacada, encontra-se outra porta toda em madeira com almofadas, que faz ligação com o Salão Mourisco e a antiga sala do Ajudante de Ordem.
A primeira sala
As paredes possuem decoração composta de elementos em relevo de estuque e painéis com pintura em arabescos, no estilo Renascença italiana. O barrado, com moldura saliente, tem vários quadros retangulares marmorizados. Os forros em tela retangulares são circundados por cimalha em papié colé, decorada em relevo com elementos florais e formas ovaladas. O retângulo central, pintado de cinza (a cor original rosa encontra-se abaixo), é contornado por friso em relevo e faixa externa com decoração de instrumentos musicais adornados com flores, frutos e partitura. Ao centro, encontrase uma rosácea branca, com relevos em motivos florais, de onde pende lustre em cristal e bronze dourado. O mobiliário é no estilo Luiz XVI, originalmente folheado a ouro. Observam-se faianças de Sèvres.
Encontra-se do lado direito do segundo pavimento e uma das portas dá para o hall da escadaria principal. Outras portas, com duas folhas em madeira almofadadas e em verga reta, ligam a sala ao Salão Dourado e à sala de reuniões. Apresenta forro em tela decorada, enquanto o piso é em ripamento simples. As paredes têm pintura lisa com friso horizontal decorativo. Os alizares têm pintura imitando madeira, e o rodapé em madeira é decorado com imitação de mármore verde.
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A segunda sala
Gabinete particular cômodo 89
É uma sala de espera com paredes lisas, forro em tela com cimalhas e interligam por dentro relevos em papier colé e madeira policromada, de onde pende um lustre de metal. Os móveis são em estilo Império e observam-se esculturas neoclássicas em bronze.
A terceira sala
É um gabinete de atendimento, com mobiliário estilo Diretório. Durante o processo de restauração verificou-se a presença de um arco de vão aberto que tinha sido emparedado e dava para o hall. Constatou-se, ainda, que, debaixo da decoração em lambri, no mesmo estilo do gabinete, existe uma outra, imitativa de papel de parede. Essa pintura, que se encontra abaixo da cor lisa, atualmente está documentada em uma “janela” deixada como registro. O forro em gesso, com sancas denteadas, também é posterior, e corta parte do antigo arco.
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Do mesmo modo que o de atendimento, esse Gabinete tem mobiliário característico do período Diretório, em madeira aparente e apliques em metal, o teto em estuque decorado com relevos em gesso, rosácea central, emoldurado com friso de elementos fitomorfos, formando um retângulo. As paredes são lisas com barrado em lambri no terço inferior. Observam-se “almofadas” de parede aparente, ladeadas por pequenas pilastras em madeira e capitel dourado, no qual se veem apliques nos moldes dos móveis, confeccionados em massa e dourados por purpurina, elementos que ornamentam as pilastras, as molduras do barrado e as portas. O piso tem trabalho em parquet, com desenhos geométricos na cercadura em duas tonalidades e, ao centro, as ripas são dispostas em grupos contrastantes, formando quadrados na mesma tonalidade clara.
Salão Mourisco
sala da rainha
cômodo 67
Decorado ao gosto oriental, tem o teto quadriculado e almofadado com ornatos em relevos pintados de dourado. As paredes são decoradas com pintura de molde, sobre reboco, pintadas com arabescos entrelaçados, emoldurando folhagem estilizada ao centro e cortinado no arremate superior, nas cores vermelho e marrom, imitando tapeçaria. O piso é trabalhado com ripas de madeiras clara e escura, formando ângulos que convergem para o centro. As poltronas, em couro vermelho, sugerem uma sala de descanso e fumoir. Na sala, encontram-se um piano e mobiliário do século XIX em madeira escura. Vasos art-noveau decoram o ambiente.
O teto tem forro em tela decorada ao gosto renascentista, contornada por relevos em papier colé, madeira vazada e cimalhas decoradas. Lustre constituído de opalinas pintadas a mão. Nas paredes, observa-se pintura de molde, sobre reboco, em folhas estilizadas sobre fundo verde abacate, no estilo dos tecidos brocados. O piso é trabalhado em ripas grandes, de mesma tonalidade, com losango central. Os móveis são em estilo Luiz XVI, folheados a ouro sobre madeira pinho-de-riga importada da Letônia e tecido gobelin. Enfeitam as mesas vasos e porcelanas de Sèvres.
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Salão de banquetes
Sala de jantar cômodo 75
Decorado em estilo neoclássico, tem o rodateto pintado com painéis alegóricos de temas intitulados Spes (pesca/esperança), Fortuna (cena de caça), Labor (trabalho) e Salve (lazer). Entre os painéis, a ornamentação é feita com guirlandas, camafeus e molduras em papier maché pintadas de dourado. Um grande lustre de cristal pende do centro do teto. As paredes são entrecortadas por pilastras marmorizadas, portas e vãos espelhados, com grandes e trabalhados enquadramentos em arco pleno. O piso é em parquet geométrico com madeiras clara, amarelada, e escura, avermelhada e marrom, formando, ao centro, desenho da rosa dos ventos, o mesmo que adorna o Salão Nobre, só que em maior proporção. Os aparadores espelhados são em estilo Luiz XVI, e o conjunto, em madeira escura, de mesa ovalada e cadeiras, com encosto em medalhão forrado de veludo vermelho, foi fabricado posteriormente, evocando o mesmo estilo.
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Decorado ao gosto da Renascença italiana, com pinturas de molde de frutos e folhas, elegantemente pendentes sobre fundo imitativo de madeira nas pilastras, e de papel de parede nos panos parietais. O piso é em parquet de quadrados engendrados como elos de corrente, nas cores amarelo e preto. O forro almofadado, geométrico, com rosáceas ao centro, é também contornado por frisos em relevo de papier maché.
Sala de almoço
quarto
A sala avarandada, denominada Salão de Almoço ou, também, Salão de Chá, encontra-se na parte posterior do prédio, e apresenta três grandes janelas com cercadura baixa de metal fundido. Três portas se abrem para o salão de banquetes e duas outras, laterais, acessam o corredor do quarto de dormir, uma minicopa e a escada de ligação com o mezanino e o primeiro pavimento.
Quarto do Governador, antigo quarto preparado para receber os reis da Bélgica, situa-se no final da ala direita posterior do prédio e faz ligação, por duas portas, com o quarto de vestir e com um corredor de acesso ao salão de banquetes. O mobiliário é em palhinha, laqueado em azul esverdeado e ornamentado com dourado, confeccionado, no Rio de Janeiro, especialmente para a visita real. As paredes são demarcadas por frisos que emolduram quadros retangulares. Sobre as duas portas, encontram-se, além do arremate reto em relevo, dois medalhões circulares, arrematados com guirlandas em estuque, pintados com vasos e flores em tons de cinza, sugerindo fotografia. Debaixo das janelas, que possuem sanefas, observase o mesmo trabalho de pintura imitando madeira. O vão, entre as janelas que dão para o lado exterior do pátio, tem um espelho embutido. O piso tem o trabalho idêntico ao do quarto de hóspedes, com cercadura em duas tonalidades de madeira.
O teto é decorado com placas em relevo à feição de casas de abelha, originalmente em carton foncé e friso em papier maché; depois de restaurado, as placas o material das placas foi substituído por poliuretano. A parte inferior das paredes apresenta um barrado pintado em imitação de madeira: entre os arcos das portas, na parte superior, foram deixadas amostras da primeira pintura decorativa com figuras de leões. O piso tem trabalho em parquet com desenhos geométricos.
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quarto de vestir
3 IDENTIFICAÇÃO DOS BENS MÓVEIS E INTEGRADOS
A decoração das paredes é feita com quadros demarcados por frisos, do rodapé até a cimalha denticulada em mísula, que cerca o teto abaulado com rosácea central. O piso tem trabalho de parquet na cercadura e ripas dispostas no centro, de modo a formar um desenho geométrico. Os móveis são laqueados em verde e com frisos dourados.
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São considerados bens culturais todos os elementos artísticos, e seus materiais constituintes, integrados ao monumento: pinturas parietais; cimalhas decorativas; relevos; molduras; pisos em madeira e pedras; guarda-corpos elaborados; forros, espelhos e vidros decorados; mobiliário; objetos de uso e de enfeite como louças, faianças, lustres, candelabros, tapetes, quadros...
Elementos ESTUQUE, GESSO E PAPIER COLÉ:
MADEIRA:
forros decorados, molduras em relevo e sancas
pisos em parquet, mobiliário, esculturas, portas e janelas
MÁRMORE E GRANITO:
METAL E FERRO FUNDIDO:
esculturas, pisos, balcões e balaústres
apliques, castiçais, lustres, folhas de flandres das coberturas, bustos, esculturas, escadaria, guarda-corpos, portões e elevador
REBOCO:
TECIDO:
pinturas parietais decorativas, pinturas imitativas de papel de parede, de mármores e de granito
quadros em tela, tapeçarias e tapetes
VIDRO, CRISTAL E PORCELANA: vidros decorados das portas, vitrais, lustres, mangas, abajures, vasos, faianças e espelhos
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Identificação dos materiais
Elemento: apliques, castiçais, lustres, abajures e mangas
MATERIAL: Latão fundido: o latão é uma liga metálica de cobre e zinco com percentagens deste último entre 3% e 45%, dependendo do tipo. Latão e cristais: na linguagem corrente, a palavra cristal é utilizada para designar vidros de elevada transparência e qualidade. Esses cristais não são mais do que vidro com um elevado teor de óxido de chumbo, os quais não têm estrutura cristalina, já que neles os átomos não apresentam qualquer forma de arranjo regular.
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Elemento: balcões, balaústres e colunas
MATERIAL: Granito natural, não polido. O granito é uma rocha ígnea de grão fino, médio ou grosseiro, composta essencialmente por quartzo e feldspato, tendo como minerais acessórios, mica (praticamente sempre presente), hornblenda e zircão, entre outros minerais.
Elemento: bustos, placas e esculturas
MATERIAL: Bronze: liga metálica que tem como base o cobre e o estanho e proporções variáveis de outros elementos como zinco, alumínio, antimônio, níquel, fósforo, chumbo, com o objetivo de obter características superiores à do cobre.
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Elemento: elevador e guarda-corpo
MATERIAL: Chapas de ferro, vidros e corrimão em madeira
Elemento: Escadaria
MATERIAL: Ferro batido e relevos fundidos, mármore e corrimão em madeira
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Elemento: folhas de flandres das coberturas
MATERIAL:
Material laminado composto por ferro e aço revestido com estanho.
Elemento: forros decorados
MATERIAL: Carton foncé e papier colé em molde nos relevos e tela policromada. A técnica papier colé consiste na sobreposição de papéis encolados sobre molde. Carton foncé é o cartão prensado no molde
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Elemento: mobiliรกrio
MATERIAL:
madeiras peroba-do-campo, mogno e imbuia, laqueadas ou folheadas a ouro e madeiras aparentes importadas
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Elemento: portas e janelas
MATERIAL: madeiras imbuia, canela, cedro e peroba-do-campo
Elemento: port천es e elevador
MATERIAL:
ferro batido e chapas de ferro pintados de grafite
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Elemento: painéis e pinturas parietais decorativas, imitativas de papel de parede, mármore e granito
MATERIAL: tinta têmpera sobre reboco, tinta óleo imitativa de granito na parte externa dos torreões. A têmpera é uma mistura, usada em pintura, constituída de gema e clara de ovo, água e pigmentos em pó. Também é obtida misturando-se ingredientes oleosos com uma solução de água e cola.
Elemento:
Elemento:
pisos em granitina
pisos em pedra
MATERIAL: revestimento argamassado, cujo acabamento tem aparência de granito, é preparado com cimento branco, granas de granito, mármore e corante
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MATERIAL: mármore branco e preto
Elemento: pisos em parquet
MATERIAL: lâminas em madeira marfim, imbuia, mogno ou braúna
Elemento: pisos em madeira
MATERIAL: ripas de pinho-de-riga e/ou peroba-do-campo
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Elemento: quadros em tela
MATERIAL: tela pintada a tinta óleo com moldura em madeira
Elemento: relevos em folhas, cordões, camafeus, mísulas e cimalhas
MATERIAL: estuque fundido: argamassa resultante da adição de gesso, água e cal, usada como aditivo retardador de uma secagem demasiadamente rápida.
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Elemento: tapeçarias e tapetes
MATERIAL: trançados ou industriais de fios coloridos
MATERIAL:
Elemento: espelhos, faianças e vasos
Os espelhos mais comuns são formados por uma camada de prata, alumínio ou amálgama de estanho, que é depositada quimicamente sobre a face posterior de uma lâmina de vidro e, por trás, coberta com uma substância protetora. Por sua vez, os espelhos de precisão são obtidos depositando, por evaporação sob vácuo, a camada metálica sobre a face anterior do vidro. Esses espelhos não podem ser protegidos, o que implica que se realizem metalizações frequentes.
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Elemento: vidros decorados das portas
MATERIAL: vidros gravados com รกcido
Elemento: vitrais
MATERIAL: vidros coloridos (italianos), formando desenhos fixados com fios de chumbo.
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4 RECONHECIMENTO DOS AGENTES DE DEGRADAÇÃO Muitos são os agentes que deterioram e agridem os bens móveis e imóveis. Sua simples exposição ao tempo já é um fator natural de desgaste. Os agentes climáticos, biológicos e/ou intervenções podem acelerar as deteriorações. A conservação não suspende, simplesmente, um processo de degradação já instalado. Pode, sim, utilizar-se de métodos técnico-científicos, em uma perspectiva interdisciplinar, para reduzir, tanto quanto possível, o ritmo de seu desenvolvimento. Por isso, a observância constante é fundamental para inibir o início de um processo deteriorante. agressões e desgastes resultantes de manuseio inadequado: Uso persistente; vandalismo; exposição em lugares inadequados; acidentes e principalmente limpezas com produtos químicos e água; impactos de objetos pontiagudos; fricções; contato persistente com o corpo humano e/ou mobiliário, causando perdas e abrasões; acúmulo de sujidades e gorduras; exposição direta e contínua à luz incandescente ou aos raios solares; biológicos: Vegetação; microorganismos (fungos); insetos; animais de pequeno porte (roedores e aves) de natureza climática: chuvas; insolação; ventos e raios
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desgaste natural do tempo: escurecimentos ou clareamento dos tons originais dos elementos; ressecamentos dos estratos compositivos ocasionando craquelês e fissuras externos, relacionados com o ambiente: trepidações de maquinários e automóveis; acidentes nas redes elétrica e hidráulica.
5 EXEMPLOS perdas de suporte e de pintura nas quinas por batidas e contusões
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desprendimentos de camada de pintura desbotamento da pintura por insolação
desprendimento de pintura (inĂcio)
desprendimento por umidade
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perdas na camada de pintura
craquelĂŞs e desprendimento de tela
apodrecimento e rachadura da madeira por infiltração manchas na pintura
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danos causados por infiltração (manchas, desprendimentos e rachaduras) manchas na tela
deformação no piso causado por salto agulha
rachaduras
descolamento de lâmina do parquet
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trincas de movimentação e ferrugem no metal por umidade
perda de suporte e acĂşmulo de poeira
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6 CONSERVAÇÃO PREVENTIVA Conservar é preservar! Preservar é manter os bens em boas condições de uso, com o sentido maior de resguardá-los, evitando-se o aparecimento de problemas e garantindo-se a manutenção de seus valores históricos e estéticos. A finalidade da conservação é assegurar ao patrimônio mobiliário e imobiliário, com seus elementos integrados, condições seguras que possibilitem seu uso e sua sobrevivência no tempo, por várias gerações futuras. Uma edificação e seus elementos artísticos estão sujeitos a degradações naturais e a agressões que progressivamente os destroem, caso não haja um conjunto de ações determinadas em proteger, conservar e prevenir as deteriorações advindas. As ações de proteção partem, primeiramente, das leis de preservação do patrimônio seguidas pelos procedimentos de limpeza, conservação, inspeção e, até mesmo, de todo um processo de restauração, que, no caso específico do Palácio, ocorreu nos anos de 2005 e 2006. Conservação preventiva é a reunião de medidas que se deve tomar para impedir o aparecimento de danos em uma obra, evitando-se trabalhos radicais de restauração. Ao primeiro sinal de avaria e/ou inicio de deterioração do bem, providências devem ser tomadas tanto no sentido de sanar a causa da degradação, como no de dificultar a aceleração da degradação.
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Roteiro de inspeção Com a finalidade de sistematizar procedimentos, deve-se ter em mãos um roteiro para fiscalizar os bens, acompanhar o trabalho de faxina e inspecionar as estruturas do imóvel.
Área interna Para uma boa conservação, faz-se necessário estabelecer rotinas periódicas de inspeção e, para tal, a equipe de limpeza se apresenta como a mais apta, já que percorre diariamente todos os ambientes, tendo com eles contato direto. Durante o desenrolar das faxinas cotidianas, os profissionais responsáveis podem fiscalizar e informar sobre cada item, identificando o início da degradação e o local. Para tanto, é essencial que esses profissionais sejam treinados e reconhecidos como faxineiros especializados em patrimônio. Os seguranças e profissionais do setor educativo também devem exercer o papel de fiscais.
A faxina diária Algumas recomendações devem ser seguidas durante a faxina para a boa conservação dos bens e da estrutura física do monumento: escadaria: espanador de pelos macios; flanela seca no guardacorpo, corrimão e espelhos da escada. Não utilizar água e muito menos vapor de água sob pressão. Vassoura macia e aspirador no tapete; pano úmido no mármore;
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esculturas externas: só devem ser limpas por profissional especializado espelhos: limpeza com álcool e panos macios esquadrias: panos secos e macios; espanador de pelos macios forros: observar o aparecimento de manchas e outros danos; comunicar ao IEPHA janelas, portas e ferragens: limpar com panos secos e macios; conservar o insulfilm das bandeiras das janelas da sala de jantar que ameniza a insolação constante sobre a parede. Observar oxidação das ferragens; empenamentos e rachaduras nas madeiras louças: pano macio e seco; espanador de pelos macios lustres, apliques e abajures: espanador de pelos macios; secador de cabelos a frio mármore: nunca utilizar baldes de água, jatos de pressão d’água e produtos comerciais nos pisos em mármore; apenas panos úmidos. No caso de sujidade aderida, no máximo e no local, limpar com sabão neutro e esponja macia. Observar a colocação de proteções de EVA nas quinas das pilastras e nos rodapés durante a limpeza e emprego de enceradeira. Nos degraus externos, podese usar água em abundância sem jato de pressão, só com esponjas e panos macios
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mobiliário espanador de pelos macios; flanela seca e aspirador de pó. Observar se há excrementos de cupins; tecidos manchados, puídos ou furados; rachaduras nos tampos de mármore paredes: panos macios secos e espanador de plumas paredes decoradas espanadores de pelos macios e flanelas. Observar o aparecimento de craquelês; perdas de pintura e de suporte; fissuras e manchas pisos em madeira: usar cera industrial pastosa e, com as bordas da enceradeira protegidas com espuma, passar primeiro a escova verde e, depois, a branca para polimento. Nunca utilizar panos úmidos, somente secos e macios. Proteger rodapés e pilastras com EVA recortados e encaixados no tamanho dos volumes. Para retirar o acúmulo de cera nos pisos, empregar removedor específico. Observar a ocorrência de excrementos de cupins. Não utilizar colas para prender carpetes e tapetes (recomendação pertinente para os demais tipos de pisos) pisos em marmorite (granitina): podem ser lavados com água. Observar se ocorrem descolamentos dos preenchimentos das trincas prataria: limpeza com pano seco quadros e tapeçarias: espanadores e trinchas de pelos macios. Nunca passar panos úmidos
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tapetes: aspirador de pó; panos úmidos e sabão neutro onde houver pequenas manchas. Observar aparecimento de áreas puídas. Nunca colar os tapetes aos pisos vidros: usar espanadores de pelos macios; flanelas secas e álcool, se necessário. Verificar a fixação e vedação dos vidros e vidraças.
Área externa O roteiro de inspeção para agentes externos abrange questões que envolvem aspectos físicos e climáticos, assim como as avarias nas instalações pelo uso ou por acidente. A fiscalização deve ser constante e feita pelos profissionais que trabalham e circulam na área externa do Palácio.
A conservação cotidiana A preservação do imóvel e dos elementos que o compõem deve-se à contínua verificação do bom funcionamento e aplicação de sua aparelhagem estrutural:
ar condicionado: manutenção periódica em todos os equipamentos, dando-se atenção especial aos que ficam sob a cobertura do salão de banquetes para evitar qualquer tipo de vazamento. Técnicos devem ser acompanhados por funcionário interno capacitado, a fim de que não se pise no forro em tela do salão
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caixa d’água: proceder à limpeza interna bienalmente com água sanitária e vassoura e enxaguar bem antes de encher de novo coberturas metálicas e telhado: após chuva forte ou ventania, é fundamental que o telhado passe por revisão à procura de telhas quebradas e/ou destacadas; quando for necessária a substituição, verificar o modelo e procedência para não misturar tipos diferentes. A limpeza das calhas deve ser periódica, assim como a revisão dos pontos de fixação (rebite e solda) das chapas metálicas e das emendas dos condutores. Controlar o acesso, só permitido para pessoas habilitadas em reparar algum dano, e nunca pisar nas chapas metálicas dos torreões drenagem das águas pluviais: desobstrução da rede subterrânea de drenagem anualmente, antes do período das chuvas fachada em cantaria, balaustradas e platibandas: remoção de vegetação, limpeza com jato de água em baixa pressão. Observar perdas, aparecimento de manchas e micro-organismos (musgos) fachadas laterais: como são pintadas com tinta mineral, a limpeza deve ser feita com jato de água em baixa pressão. Observar aparecimento de trincas, áreas umidificadas ou empoçadas e manchas.
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7 RECOMENDAÇÕES PARA A UTILIZAÇÃO DO IMÓVEL E DOS BENS INTEGRADOS
A utilização Para a correta utilização do monumento e dos elementos a ele incorporados, alguns cuidados devem ser observados: castiçais e vasos: evitar sua utilização em lugares instáveis; durantes os eventos solenes e/ou festivos, deixá-los expostos em lugares seguros: os mais frágeis devem ser retirados e guardados. A limpeza deve ser delicada, a seco, com panos macios circulação de visitantes: organização de pequenos grupos; controle e limitação dos acessos com cordas e piquetes; utilização de pantufas; proibição de sapatos de salto agulha, de entrada com bolsas, mochilas e de comestíveis no interior do monumento eventos: limitar o número de pessoas e organizar o acesso de repórteres, fotógrafos e seus equipamentos. Antes do evento, retirar objetos em louça de lugares instáveis e acompanhar os organizadores durante a montagem dos aparatos festivos
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mobiliário: evitar a colocação de objetos sobre ele, e, no caso dos móveis do Salão Nobre, restringir o uso dos assentos. Limpeza a seco tapetes: evitar o pisoteamento excessivo e o consumo de bebidas e comidas sobre eles sem proteção adequada.
Os reparos No caso de ocorrência de pequenos acidentes, algumas atitudes devem ser tomadas antes de se chamar o técnico: cortes em telas: colocar no verso fita adesiva ou fita crepe, a fim de evitar a movimentação desigual do suporte curto-circuito: desligar imediatamente a rede elétrica emperramento e ferrugem de dobradiças e fechaduras: utilizar no local spray de WD 40 início de incêndio: utilizar o extintor específico para cada situação: os extintores podem utilizar três agentes (produtos) diferentes para inibir as chamas, que são água, gás carbônico e pó químico. Cada um deles é indicado para um determinado tipo de incêndio: • extintor tipo A, à base de água: é utilizado no caso de incêndios causados por materiais como madeira, papel, tecidos e seus derivados. Nunca deve ser usado em incêndios de classe C, ou seja, em equipamentos elétricos;
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• extintor tipo B, à base de gás carbônico: indicado em incêndios causados por líquidos inflamáveis como gasolina, álcool, tinta, óleo diesel, dentre outros • extintor tipo C, à base de pó químico: deve ser utilizado em caso de incêndio envolvendo redes elétricas e fiações, como em motores, geradores, equipamentos elétricos e eletrônicos etc. Não é eficaz em incêndios classe A. Observações: (1) deve ser obedecida rigorosamente a data de reposição dos extintores; (2) recomenda-se, ainda, fazer, anualmente, o treinamento da equipe com o Corpo de Bombeiros; (3) em caso de alastramento e descontrole do fogo chamar, os bombeiros lâminas soltas do parquet: guardá-las com a indicação do local, fotografando-o se possível quinas e partes com decoração desprendidas: guardá-las embaladas em papel macio, com identificação do local vidros e porcelanas: os cacos devem ser embalados em papel, preferencialmente branco, e guardados em um recipiente identificado com nome e tipo de peça e, quando possível, colados com fita adesiva nas partes trincadas. Os vidros comuns quebrados ou trincados devem ser substituídos por similares de mesma espessura. Observação: no caso de ser constatada a falta de algum objeto, comunicar imediatamente ao superior para sua identificação no inventário e para serem tomadas as devidas providências.
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O deslocamento Extremos cuidados devem ser tomados quando houver necessidade de deslocar móveis e objetos, iniciando-se com o uso de luvas antiderrapantes: esculturas, castiçais e similares: utilizar um apoio na parte inferior, sob a base, somente equilibrando as partes superiores, sem nenhum tipo de pressão dobre elas louças e similares: proteger as peças com plástico bolha, cobertores ou espuma, armazenando-as em lugar reservado e sinalizadas com placas de “frágil” móveis: não poderão ser arrastados, mas sempre elevados por, pelo menos, duas pessoas, que utilizarão as partes mais rígidas e sólidas como apoio, nunca os braços ou pernas de cadeiras, por exemplo objetos decorativos: para o deslocamento de pratarias, objetos em couro etc. é necessário, primeiramente, fazer a escolha de um local seguro e bem climatizado de acordo com o material a ser armazenado tapetes e tapeçarias: cada um deverá ser enrolado com um tecido macio em seu interior, deixando-se a superfície decorada para dentro, com a maior circunferência possível no rolo e o mínimo de pressão telas: observar para que não haja nenhum tipo de pressão sobre a tela durante o deslocamento e na armazenagem
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Solicitação de técnicos especializados Toda avaria e/ou começo de degradação deverá ser imediatamente comunicado ao curador e ao IEPHA/MG, para que seja enviado um técnico que avaliará e orientará os procedimentos técnicos a serem realizados, e indicará profissionais capacitados para resolução, sob sua fiscalização, dos problemas.
telefones do IEPHA Geral
3235- 2800 Setor de Restauração
3235- 2833
Arquitetura
3235- 2831
telefones úteis 193 Bombeiros 116 Cemig 155 Copasa 199 Defesa Civil 197 Polícia Civil 190 Polícia Militar 192 SAMU
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8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KLÜPPEL Griselda Pinheiro; SANTANA, Mariely Cabral de. Manual de Conservação Preventiva. Projeto Editorial do Programa Monumenta/IPHAN, 2005. 243 p. KOCH, Wilfried. Dicionário de estilos arquitetônicos. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 229 p. MENDES, Marylka; SILVEIRA, Luciana da; BEVILAQUA, Fátima; NUNES BATISTA, Antônio Carlos. Conservação: conceito e prática. Rio de Janeiro: UFRJ, 2001. 339 p. MORAND, Annie. L’Encyclopédie des Styles. Paris: Éd. Marabout Pratiques, 1969. 512 p. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA-UNESCO. La Conservación de los Bienes Culturales- Museos y Monumentos. Roma: Editora Unesco, XI, 1969. 364 p. RENAULT, Christophe; LAZÉ, Christophe. Les styles de l’architecture et du mobilier. Paris: Éditions Jean- Paul Gisserot, 2006. 128 p.
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