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Os dias de Madina eram marcados quase sempre por fome e frio. N達o entendia muito bem por que sua m達e insistia em abrir as janelas mesmo com o frio de congelar que fazia no outono russo.

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As inúmeras tentativas de Madina de chamar a atenção de nada adiantavam. Na verdade, pareciam ter justamente o efeito contrário: quanto mais ela chorava, mais a mãe só ficava na janela, alheia ao sofrimento da própria filha.


Restava a Madina, então, ficar com os cães, com os quais dividia o curto espaço do apartamento. Geralmente, deitava em meio a eles e conseguia ficar aquecida.

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E eles também pareciam apreciar a presença de Madina, pois sempre a cercavam e chegavam até mesmo a brincar com ela e sua bolinha, único presente e única diversão dos seus dias.


Ao contrĂĄrio dos dias, as noites eram sempre movimentadas. A mĂŁe gostava de festas e Madina se via obrigada a encarar o intenso barulho e a conviver com estranhos que quase sempre a tratavam muito bem, cheios de alegria.

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NÃO Os cães estavam estranhamente agitados e um amigo de sua mãe não parava de chutá-los. Madina se sentia incomodada com aquilo e queria pedir para que ele parasse, mas a música estava alta demais, então resolveu e gritar ‘não, não, não’ e chorar o mais alto que conseguia, apesar de saber que lágrimas não era bem vistas naquele apartamento.

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Assim que começou, os cães começaram a latir ainda mais, quase que como em sintonia com o seu choro. Conseguiram não só que o estranho parasse de incomodá-los como também que a festa inteira fosse ver o que estava acontecendo.


A última coisa que se lembra daquela noite foi de ver sua mãe caminhando em sua direção e de em seguida receber uma pancada. Quando acordou, estava presa num quarto junto com os cães.

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Quarto esse que agora eles passavam todas as noites enquanto a mãe e seus amigos aproveitavam as festas até altas horas da madrugada. Por um lado Madina achou bom. Apreciava imensamente a companhia dos cães e cada vez mais desprezava a presença da mãe.


Quanto mais apreciava a companhia dos cães e entendia o comportamento deles, mais desprezava a presença da mãe. Encontrava neles tudo que gostaria de receber: carinho, atenção, acolhimento, companheirismo e, acima de tudo, amor. Assim, Madina foi crescendo tendo como referencial o comportamento canino, que era o que ela julgava ser o correto.

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Às vezes passavam dias e mais dias naquele quarto à espera da boa vontade da mãe. No fundo, Madina preferia ficar presa no quarto, pois só assim não era algo da raiva de sua mãe, que parecia cada dia mais irritada e com aspecto pitoresco. O apartamento parecia cada vez menor, sem espaços, e, um dia, Medina perdeu o equilíbrio e derrubou uma garrafa de vidro de chão. Um caco pegou na sua perna e ela logo começou a sangrar.

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A mãe, claro, pareceu se importar mais com a garrafa perdida do que com o ferimento de Madina, pois não só a levou para o quarto como deu um forte tapa em sua cabeça. Sem conseguir suportar duas dores tão fortes ao mesmo tempo, Madina começou a chorar. E chorou o mais alto que conseguiu.


Os cachorros começaram a acompanhá-la e latiam cada vez mais alto também. Não se sabe ao certo por quanto tempo Madina chorou, mas conseguiu ouvir uma grande discussão do lado de fora do quarto.

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Alguém gritava “eu voltarei”, “eu voltarei” enquanto a mãe dizia algo que ela não conseguia entender muito bem. Sem forças, restou a Madina cair no sono e esperar por mais um dia de completo abandono.


O que aconteceu no dia seguinte foi uma quebra na rotina do apartamento e Madina entĂŁo compreendeu o significado das palavras ‘eu voltarei’. Madina acordou com um forte barulho na porta.

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A princípio pensou que fosse mais uma maneira inusitada da sua mãe descontar a raiva costumeira de todas as manhãs. Mas então ouviu uma voz desconhecida chamando várias vezes o seu nome. Estranhamente os cães ficaram quietos, então Madina resolveu dizer ‘sim, sim’.


- Isso é um absurdo. É claro que eu tomo conto da minha filha. - Minha senhora, não é o que nós estamos observando aqui. Sua filha estava presa num quarto, sem as mínimas condições, ferida e na companhia de cachorros. O seu apartamento também não oferece segurança para uma criança da idade de Madina. Além de tudo isso, a senhora parece claramente embriagada. - Eu não sei quem inventou essas coisas, mas desconfio do vizinho. Ele adora se intrometer no que não lhe diz respeito. Mas veja, policial, minha filha e eu temos uma ótima relação, não é, Madina? Venha aqui.

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Madina, que estava no colo de uma policial, apenas apontou o ferimento na perna, balançou a cabeça e começou a dizer ‘não’ repetidas vezes até lágrimas, as que eram proibidas no apartamento, começarem a brotar no seu rosto.

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S S R U A D O V O P O D L A N R S S JO R U A D O V DO PO aJORNAL NTE

Menin rro! URGE CachMoenina URGENTE ! o r r o Cach

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- Acho que já temos a resposta necessária. A senhora precisa me acompanhar. - Eu juro que tudo isso é um tremendo engano. Eu juro. Não sei o que está acontecendo aqui. - Não se preocupe, querida. Eles também ganharão um novo lar. A história de Madina logo ganhou destaque nos noticiários e vários casais se mostraram interessados em acolher e dar àquela pequena criança todo o amor que ela só havia recebido até agora dos seus cães. Após um período numa casa de recuperação recebendo toda a ajuda e acompanhamento necessários, ela conseguiu um novo lar, uma nova família e, para sua surpresa, novos cães. Ali, aprendeu, finalmente, o que era se sentir amada, querida e feliz.


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Hoje Madina tem 20 anos, estuda veterinária e divide apartamento com uma colega de curso e um cãozinho. Com a ajuda de seus novos pais, criou uma ONG de proteção aos animais e sempre ajuda as crianças que assim como ela foram vítimas de abusos. Crianças que precisam apenas de uma nova oportunidade. Crianças que assim como Madina só estão em busca de um pouco de amor


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35 O caso de Madina é parecido com o primeiro aqui mostrado – ela também era filha de mãe alcoólatra, e foi abandonada, vivendo praticamente até seus 3 anos sendo cuidada pelos cães. Quando foi encontrada, a menina sabia somente 2 palavras – sim e não – e preferia se comunicar como os cães.

HISTÓRIA REAL

Por sorte, devido a pouca idade, a menina foi considerada física e mentalmente saudável, e acredita-se que ela tem todas as chances de levar uma vida relativamente normal quando crescer.


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Hianna Alves era só mais uma menina loira e linda que gostava de ler os quadrinhos da Turma da Mônica e os livros de Agatha Christie. Só que, além disso gostava de muito mais coisas e prestava atenção no mundo e no que havia nele. Formada em jornalismo pelo UniCeub, em Brasília, em 2008, Hianna descobriu com o tempo que além das historinhas da Mônica e da Agatha ela também gostava de Machado de Assis, Nick Hornby e Luís Fernando Veríssimo. E foi também o tempo que fez com que ela percebesse era fácil (e divertido) para ela escrever sobre música e sobre outras coisas. Como os contos presentes nesses livros. Comanda o Hiannafork desde 2013 e cuida da comunicação do Instituto Sam Jovana desde a sua fundação.

AUTORA

Thiago Dantas


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Sam Jovana nasceu em setembro de 1991 e desde menina já dava sinais de que seria grande. Gostava de desenhar, ler jornais, apreciar as mineiridades da vida e também de discutir política com seu avô.

Curiosa, apta por novidades e atenta ao mundo que a rodeia, Sam Jovana ainda ama desenhar, ler jornais, apreciar as mineiridades do caminho e também tornar melhor a vida das pessoas através de suas criações. E esses livros ilustrados por ela são um pedaço desse desejo. Thiago Dantas

LUSTRAÇÕES E DESIGN

Já adulta, passou em Cinema de Animação e Artes Digitais e também na Universidade Federal de Minas Gerais, mas acabou cursando mesmo Design na Escola de Design da UEMG. E na faculdade aprimorou os talentos que já tinha: ilustradora de mão cheia, Sam se envolveu em projetos e trabalhos que acreditava e construiu uma carreira (embora curta) bastante interessante. Passando pelos centros de Design e da Imagem da Escola de Design da Universidade de Minas Gerais e por algumas agências de publicidade e comunicação, a mocinha que se tornou, de fato, grandiosa.


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Título 5inco Data de publicação 25 de Novembro de 2013 Textos Hianna Alves hianna Texto Biografias Thiago Dantas dantast Ilustração & Diagramação Sam Jovana sammn Edição/Revisão Romulo Tesch Santanna remuly Cotejamento Maura Corrêa causaturpis Encadernação Meu Libretto meulibretto Orientador Flávio Nascimento flavito

Agradecimentos: Delci de Moura Carlos de Oliveira Cássio de Castro Guilherme Legnani Filipe da Matta Diego Tudesco Leonora Laporte Hugo Avelar Ana Lúcia Vega Cínthia Moraes Dayana Teixeira Murilo Coimbra Pedro Melo Camila Suzuki Danielle Moura Carla Hartman Eduardo Furbino Camila Pelinsari Leonardo Lopes


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