Aha

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Tiros. Tomas já estava acostumado com aquele barulho todas as noites nas redondezas. Mas dessa vez o barulho havia sido tão perto que, mesmo contrariando as orientações de ficar quieto e deitado, ele se levantou.

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Foi então que viu a cena que mudaria sua vida para sempre. Em pé, seu pai apontava uma arma para a cabeça de sua mãe, que, já caída no chão, sangrava muito e aos prantos implorava para viver. Antes que Tomas pudesse falar algo, seu pai disparou o terceiro tiro.


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Desesperado, Tomas gritou o mais alto que conseguiu, na esperança de reverter o que tinha acabado de presenciar. Nunca havia visto o seu pai daquele jeito, ele parecia transtornado e, assim que percebeu a presença de Tomas, veio em sua direção com a arma ainda em mãos.


Assustado, Tomas rapidamente fechou a porta do quarto e em seguida pulou a janela que dava para a rua. Começou a correr e conseguiu ouvir mais um tiro. Correu ainda mais rápido e correu até não ter mais forças para correr. E então Tomas chorou. E chorou até não ter mais forças para chorar.

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E ent達o Tomas adormeceu.


Quando acordou, desnorteado, ainda se perguntava se tudo aquilo tinha mesmo acontecido ou se n達o passava apenas de um sonho. Teve a resposta que procurava quando percebeu que estava no meio de uma grande mata.

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“Respire, Tomas. Respire”, repetia para si mesmo. Tentou seguir a única trilha que avistava no chão, talvez a trilha feita por ele mesmo enquanto fugia durante a noite passada. Tomas sentia frio, sentia fome e sentia, acima de tudo, que não tinha para onde ir.


Lembrou que sua mãe estava morta e de repente se viu novamente sem forças para nada. Foi então que recebeu um forte pancada na cabeça.

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Olhou para os lados e para cima: ninguĂŠm. Resolveu se levantar e novamente foi atingido por algo, mas dessa vez nas costas.


Assim que se virou, pode observar um movimento na รกrvore mais prรณxima. Se aproximou e foi mais uma vez atingido na cabeรงa, mas logo escutou uma voz: - EI, HUMANO E lรก estava. Um macaco enroscado na รกrvore enquanto degustava uma fruta e metralhava Tomas com suas sementes.

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E lá estava. Um macaco enroscado na árvore enquanto degustava uma fruta e metralhava Tomas com suas sementes. - Ah, eu já estava até com saudade. Há tempos não aparecia um perdido por aqui. Sempre tão assustados com tudo, como se fossem a mais inofensiva das criaturas. - Dá pra você parar de jogar essas coisas em mim? Não estou muito bem. - Se eu tivesse que viver naquele caos que vocês chamam de cidade, também não estaria muito bem, meu caro.

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- Não é isso…é que… Nesse momento, Tomas ali, perdido numa mata, sendo zombado por um macaco enquanto recebia sementes na cabeça, não conseguiu segurar as lágrimas. - Ei, meu caro. Ei, você realmente... olha, mil desculpas. - Eu vi o meu pai matar a minha mãe. E depois ele veio atrás de mim. O meu próprio pai.


- É, a coisa está mais feia do que eu pensava. - Então seria legal se você parasse de me jogar essas coisas e me explicasse como sair daqui. - Mas o que você tem de tão importante para fazer na cidade? Digo, sua mãe está morta, seu pai quer te matar. Se eu fosse você, ficaria escondido por aqui mesmo, meu caro.

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Apesar de parecer loucura, Tomas conseguiu achar algum tipo de nexo no que macaquinho acabara de dizer. Claro, sentiria falta dos amigos da rua, de jogar futebol e no fim do jogo dividir as moedas para conseguir comprar um refrigerante, mas seria muito arriscado voltar agora sabendo que seu pai estava a sua procura para apenas matรก-lo.


- Como eu poderia sobreviver aqui? - Não é tão difícil como parece. Venha, eu vou te mostrar.

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E assim Tomas viveu durante 4 anos. Jamais pensou que receber sementes na cabeça acabaria por lhe render um novo lar, novos amigos e uma nova rotina. Com sua habilidade, Tomas logo ganhou respeito e confiança até dos mais desconfiados, como Chitah. Ele ainda se lembrava do que era antes de chegar até ali. Ele nunca esqueceu. Sentia que poderia viver mil anos, mas aquela imagem jamais sairia da sua cabeça.


H

E foi justamente nesse momento que percebeu seu amigo macaquinho estranhamente empolgado.

A H HA

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HA

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-Veja, veja. Um humano! Venha, traga sementes. E, ei, umas bananas também. Acho que o primeiro desde que você caiu por esses lados. Sabe-se lá quando teremos outro.

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Tomas e o macaquinho partiram rumo à zombaria. Da última vez, Tomas era a vítima. Agora, ele seria o líder. Logo se juntou ao macaquinho e, mesmo com toda sua habilidade, não conseguiu se esconder por muito tempo.


A primeira reação de Tomas foi a de tentar fugir, mas seu pÊ estava preso em um galho. E quanto mais ele tentava se livrar, mais ficava preso e mais o humano se aproximava.

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- Não precisa ter medo. Eu não vou te machucar. - Fique longe de mim. - Você não é aquele garoto desaparecido? Tomas, certo? E, pela primeira vez, Tomas parou de desesperadamente puxar o seu pé - Como você sabe? - Há pessoas procurando por você, garoto. - Meu pai? - Não, não. O seu pai está preso. Pessoas da família da sua mãe. Sua tia, principalmente. Ela nunca perdeu a esperança de te encontrar.


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Tomas sentiu que era tempo de voltar. A vida na mata era interessante, ele tinha muito carinho por seus novos amigos, mas não poderia continuar ali para sempre. Olhou para o macaquinho, que de longe acompanhara toda aquela cena, e percebeu que ele balançava a cabeça positivamente. Tomas então deixou que o humano se aproximasse e o ajudasse a tirar o pé do galho. E juntos partiram de volta para o caos.


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35 Depois de ver sua mãe sendo assassinada pelo seu pai, um garoto de 4 anos, chamado de John Ssebunya fugiu para a floresta. Ele foi encontrado, em 1991, por uma mulher chamada Millie, integrante de uma tribo de Uganda. Quando foi visto pela primeira vez, Ssebunya estava escondido em uma árvore. Millie voltou para o vilarejo onde vivia e pediu ajuda para resgatá-lo. Ssebunya não apenas resistiu como também foi defendido por sua família adotiva de macacos. Quando foi capturado, seu corpo estava recoberto por ferimentos e seus intestinos infestados por vermes. No começo, Ssebunya não sabia falar e nem chorar.

HISTÓRIA REAL

Depois, ele não apenas aprendeu a se comunicar como, também, aprendeu a cantar e tomou parte em um coral infantil chamado Pearl Of Africa (“Pérola da África”). Ssebunya foi tema de um documentário produzido pela rede BBC, exibido em 1999.


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Hianna Alves era só mais uma menina loira e linda que gostava de ler os quadrinhos da Turma da Mônica e os livros de Agatha Christie. Só que, além disso gostava de muito mais coisas e prestava atenção no mundo e no que havia nele. Formada em jornalismo pelo UniCeub, em Brasília, em 2008, Hianna descobriu com o tempo que além das historinhas da Mônica e da Agatha ela também gostava de Machado de Assis, Nick Hornby e Luís Fernando Veríssimo. E foi também o tempo que fez com que ela percebesse era fácil (e divertido) para ela escrever sobre música e sobre outras coisas. Como os contos presentes nesses livros. Comanda o Hiannafork desde 2013 e cuida da comunicação do Instituto Sam Jovana desde a sua fundação.

AUTORA

Thiago Dantas


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Sam Jovana nasceu em setembro de 1991 e desde menina já dava sinais de que seria grande. Gostava de desenhar, ler jornais, apreciar as mineiridades da vida e também de discutir política com seu avô.

Curiosa, apta por novidades e atenta ao mundo que a rodeia, Sam Jovana ainda ama desenhar, ler jornais, apreciar as mineiridades do caminho e também tornar melhor a vida das pessoas através de suas criações. E esses livros ilustrados por ela são um pedaço desse desejo. Thiago Dantas

LUSTRAÇÕES E DESIGN

Já adulta, passou em Cinema de Animação e Artes Digitais e também na Universidade Federal de Minas Gerais, mas acabou cursando mesmo Design na Escola de Design da UEMG. E na faculdade aprimorou os talentos que já tinha: ilustradora de mão cheia, Sam se envolveu em projetos e trabalhos que acreditava e construiu uma carreira (embora curta) bastante interessante. Passando pelos centros de Design e da Imagem da Escola de Design da Universidade de Minas Gerais e por algumas agências de publicidade e comunicação, a mocinha que se tornou, de fato, grandiosa.


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Título 5inco Data de publicação 25 de Novembro de 2013 Textos Hianna Alves hianna Texto Biografias Thiago Dantas dantast Ilustração & Diagramação Sam Jovana sammn Edição/Revisão Romulo Tesch Santanna remuly Cotejamento Maura Corrêa causaturpis Encadernação Meu Libretto meulibretto Orientador Flávio Nascimento flavito

Agradecimentos: Delci de Moura Carlos de Oliveira Cássio de Castro Guilherme Legnani Filipe da Matta Diego Tudesco Leonora Laporte Hugo Avelar Ana Lúcia Vega Cínthia Moraes Dayana Teixeira Murilo Coimbra Pedro Melo Camila Suzuki Danielle Moura Carla Hartman Eduardo Furbino Camila Pelinsari Leonardo Lopes


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