#Descobriapé - reflexões sobre a relação com o entorno ao caminhar nas cidades

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#Descobriapé reflexões sobre a relação com o entorno ao caminhar nas cidades


Esta publicação é resultado do concurso "Descobri a Pé" realizado na Semana do Caminhar 2019 - aprender caminhando.

Realização: SampaPé! Coordenação e textos: Leticia Leda Sabino Colaboração: Mathilde Weill Revisão de textos: Andrew Oliveira

Publicado em 22 de setembro de 2019


ÍNDICE 1. O concurso Descobri a Pé 2. Algumas ideias sobre Aprender e Descobrir Caminhando 3. Descobertas Caminhantes 4. Conclusões Foto em Passeio Poético na Lapa em São Paulo


O concurso Descobri a Pé Na Semana do Caminhar 2019, o tema foi "aprender caminhando", nesse sentido, o concurso para as redes sociais, anualmente promovido pelo evento, quis estimular e conhecer o olhar do que as pessoas descobrem e aprendem ao longo de suas caminhadas e deslocamentos a pé nas cidades. Para isso, as pessoas foram convidadas a publicar fotos de suas descobertas caminhando, durante todo o mês de julho, com a hashtag #descobriapé, o convite dizia: "O concurso 'Descobri a Pé' tem como objetivo estimular o olhar lúdico, além de reunir imagens com exemplos de descobertas compartilhadas por caminhantes pelas cidades brasileiras. Como, por O que é a Semana do Caminhar? A Semana do Caminhar é um evento anual promovido pelo SampaPé! que reúne diversas organizações a nível nacional para celebrar o caminhar, a forma de deslocamento mais praticada nas cidades brasileiras.


exemplo, placas sobre elementos históricos, nome de plantas, animais, histórias de bairros, arquitetura, obras de arte, entre outras. Elas devem ser publicadas nos perfis pessoais de seus autores no Facebook ou Instagram, com o post em modo público, e usando as hashtags '#DescobriAPé' ou '#descobriapé' e '#SemanaDoCaminhar2019', além do nome da cidade onde foi tirada a foto. A legenda deve explicar qual foi a descoberta feita ao caminhar para compartilhar o conhecimento com mais pessoas."

Ao todo, foram publicadas 148 fotos, de 15 cidades, com a hashtag, que podem ser vistas no link: bit.ly/votedescobriape

Mosaico de fotos publicadas no site do evento


Algumas ideias sobre aprender e descobrir caminhando Segundo De Certeau, "o ato de caminhar está para o sistema urbano como a enunciação está para a língua", e tem tríplice função no espaço: de apropriação, de realização e de relações. Ainda para ele, o caminhante atualiza e improvisa sobre a ordem dos elementos espaciais, aumentando as possibilidade de caminhos e práticas da cidade (p. 177 e 178). Dessa forma, quando caminhamos, estamos expressando e elaborando cidade. As descobertas caminhantes também se dão no campo de desafiar, criar trajetos e formas de circular na cidade. Caminhos de Rato A linhas de terra que se formam na grama a partir das pisadas das pessoas, representam essa improvisação de quem caminha, descobrindo e fazendo cidade. Brasília por Leticia Sabino


Além dos trajetos e dos caminhos, a velocidade e ritmo são centrais para descobertas caminhantes. Lefebvre, diz que o corpo se manifesta nos espaços públicos e "os ritmos, múltiplos, se interpenetram" (p. 282). O caminhar, desde sua perspectiva, pode ser considerado "pequenos movimentos" que "às vezes é rompido pelos grandes movimentos – os que produzirão interferências" como, por exemplo, vias para veículos motorizados, mas, que como ele afirma são "em contrapartida, atravessado, penetrado pelos pequenos movimentos" (p. 130 e 131). De forma prática, para o urbanista Gehl, "somente ao estar "a pé" é possível uma situação funcionar como oportunidade significativa de contato e informações, em que o indivíduo está a vontade e na velocidade para experimentar, pausar e se envolver". A célebre frase de Careri complementa: "quem perde tempo ganha espaço". Ao recorrer à equação tempo/espaço afirma que na velocidade e ritmo lento do caminhar que se vivenciam as cidades.


Milton Santos, ainda sobre a velocidade, faz um "elogio aos homens lentos". Eles são aqueles que por terem que andar a pé na cidade rápida e moderna, não entram na alienação da industrialização e dos ritmos acelerados das cidades motorizadas, e, por isso, os "pobres, homens comuns, homens 'lentos' acabam por ser mais velozes na descoberta do mundo" (p. 41). A anti-pressa que cria os flâneurs, caminhantes por opção em ato de resistência ao urbanismo moderno da cidade máquina. Como Berenstein destaca em seu livro, Elogio aos Errantes, "contra a velocidade imposta pela modernidade positivista, o flâneur traz a questão da lentidão e também a da ociosidade." Enquanto Paris teve Baudelaire, o Rio de Janeiro teve o João do Rio como flanante que se destacou ao escrever sobre as descobertas a pé. A alma encantadora das ruas O livro do João do Rio de suas flanâncias no Rio de Janeiro mostram as diversas descobertas do caminhar desacelerado. Sobre o flanar e o flâneur ele diz "e de tanto ver o que os outros não podem entrever, o flâneur reflete. As observações foram guardadas na placa sensível do cérebro; as frases, os ditos, as cenas vibram-lhe no cortical."


Além da prática dos caminhos, do ritmo e da interação ao estar a pé, as descobertas caminhantes têm também fundamento no funcionamento fisiológico do corpo. Diversos estudos científicos relacionam atividade física com atividade cerebral que, por sua vez, melhora a capacidade cognitiva. O ato de caminhar em si, oxigena o corpo e o cérebro, e aumenta a capacidade de aprendizagem. Outros, apontam que caminhar ao ar livre é ainda melhor, porque a informação visual estimula os neurônios que ajudam a fixar a memória. Muitos desses conhecimentos foram compilados no recente livro do neurocientista O'Mara, O Elogio ao Caminhar (tradução livre de In the Praise of Walking). Além disso, ele afirma que os caminhos a pé ajudam o cérebro a formar mapas e entendimento das cidades.

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Vale ressaltar que ao caminhar, o cérebro libera serotonina e dopamina, os neurotransmissores que geram sensação de bem estar e de prazer. Dessa forma, fica mais atraente observar e interagir com o meio. Descobertas caminhantes são muito mais do que acessar conhecimento, informações ou melhorar a capacidade de compreensão do espaço. Em artigo sobre caminhar e educar a atenção, Ingold adiciona que "há muitas maneiras de caminhar, e nem todas nos levam para fora" (p. 23). Para ele, ao contrário do que convencionalmente se pensa, há "sabedoria da experiência" quando o caminhar é "guiado", segue uma trilha, e quem caminha pode vagar e não precisa tomar decisões de caminho - navegar. Desse modo, é possível estar "verdadeiramente presente no presente". O que gera "uma compreensão, fundada na experiência imediata, daquilo que está além do conhecimento" (p. 34). Valoriza, assim, a vivência e experiência do presente a pé como aprendizado.


Na abertura da Semana do Caminhar 2019, tivemos uma conversa muito animada e profunda sobre aprender caminhando com a artista Edith Derdyk e o antropólogo José Magnani, mediada pelo urbanista Mauro Calliari. Edith lembrou que caminhando colocamos nosso corpo no espaço e nos posicionamos. Através do caminhar, ela diz, respondemos constantemente “o que o corpo pode e o que o corpo pede?”. Magnani, afirmou que é preciso deixar-se afetar pelos outros e pelo meio nos caminhos, um princípio da psicanálise aplicado aos caminhares — assim o corpo registra o meio. E descobre, explora, se relaciona e aprende (SampaPé!, 2019). A partir de todas as ideias apresentadas, fica claro que caminhar é uma experiência complexa e com uma riqueza única. E, então, o que será que pessoas quando provocadas a compartilhar suas descobertas na prática do caminhar registram? Isso é o que vamos mostrar a seguir a partir do nosso olhar e análise das fotos que participaram do concurso #descobriapé.


Descobertas caminhantes Mas afinal, o que as pessoas compartilharam como descobertas nos seus trajetos? O que foi destacado? Muitas coisas se repetiram? Observamos com atenção todas as 148 fotos e a seguir mostramos os padrões e elementos de destaques e também a apresentamos as 10 fotos que tiveram mais "likes" no albúm do SampaPé!, que ficou disponível para voto ao longo da Semana do Caminhar 2019. Essas fotos devem também remeter a descobertas e experiências que todas e todos nós já vivenciamos caminhando. E mais do que conhecer as descobertas, essa compilação é também um elogio ao olhar caminhante. "Caminante, son tus huellas "Caminhante, são teus passos el camino y nada más; o caminho e nada mais; Caminante, no hay camino, Caminhante, não há caminho, se hace camino al andar..."

faz-se caminho ao andar..."

Antonio Machado


Ao analisar todas as fotos, foi possível identificar algumas categorias dos elementos apontado pelas pessoas como descobertas. Elas foram divididas em quatro grandes grupos de ação e relação das pessoas com o meio e o meio com as pessoas:

AÇÃO

RELAÇÃO

PASSAR

Acesso

USAR

Interação

OLHAR

Contemplação

RESPIRAR

Desaceleração


PASSAR

USAR

Passagens Calçadões

Obstáculos

Ruas Abertas

Informação

Praças e Parques

Sinalização

Bancos Pessoas

Lúdico

Intervenção Urbana Arquitetura Escultura

Natureza e água Pôr do Sol

Prédios Históricos

Mensagem

Arte Urbana

OLHAR

RESPIRAR


Os elementos aparecem de formas variadas, e todos os mencionados é porque tiveram repetições. A seguir os elementos são explicados: Passagens, Calçadões e Ruas Abertas muitas das fotos eram de ruelas, escadões, calções ou até mesmo ruas abertas, ou seja, lugares que só quem está a pé pode passar e ver de perto interagir com o que tem. Obstáculo - foi o único elemento negativo e que apareceu em formas variadas, desde veículos ocupando as calçadas, até as ruas e grandes estruturas como obstáculos. Praças e Parques - muitos registros foram feitos de elementos nos espaços públicos verdes da cidade, seja pela natureza, pela oportunidade de sentar, ou até mesmo pelo fato de ter este equipamento no meio do caminho. Informação - em muitas fotos, ressalta-se a informação disponível na rua ao caminhar, seja indicando um caminho, informando o nome da árvore, a história de quem dá nome a rua ou até mesmo sobre eventos públicos.


Sinalização registrou-se sinalizações variadas, desde horizontal, com pintura no piso de corredores e bicicleta, até sinalização de indicação para pedestres. Bancos - onde sentar também apareceu em vários registros, de parklet a mesas de bares na calçada e banquinhos de praça. Intervenções Urbanas classificamos intervenções urbanas como ações cidadãs nas ruas para quem está a pé. Lúdico - o brincar apareceu em vários registros; no ritmo da caminhada, é possível ver pintura no piso para brincar, parar para balançar, entre outras atividades lúdicas. Arquitetura - muitos participantes deram uma atenção especial aos edifícios que a forma, fachada e elementos chavama atenção nos seus caminhos. Esculturas - essas obras chamaram atenção dos participantes, algumas pelo seu caráter decorativo, outras simbólicas e temáticas.


Prédios Históricos - prédios com arquitetura colonial foram bastante destacados por chamar atenção e ser representações de outras épocas. Arte Urbana - muitos registros continham arte urbana em formatos e tamanhos variados, desde graffitis, mural, lambe até bordado. Natureza e Água em muitas fotos registrou-se as paisagens naturais que resistem na cidade ou se vê ao caminhar. A presença de água também foi algo que se repetiu muito. Pôr do Sol - foi muito capturado, como um momento que, apesar de acontecer todos os dias, continua a impressionar e quem está a pé pode parar e apreciar. Mensagens - a pé se notam mensagens nas paredes, no chão, ou ainda em outros suportes, vários registros as colocaram em evidência por fazer refletir sobre algum tema. Pessoas - a presença das pessoas nos espaços, usando, caminhando em grupo, se expressando, foi muito representada.


Cidade: Recife Descrição: #descobriape o Marco Zero.

@biancaof


Lúdico Pessoas Praças e Parques Mais do que o lugar, a praça do Marco Zero do Recife, essa foto mostra que a descoberta e a surpresa está no olhar apreciativo do uso do espaço. Na foto, é possível ver muitas pessoas aproveitando o espaço público junto a dois elementos lúdicos: a roda gigante e as pipas no ar. Essa paisagem apresenta um respiro na vida urbana e um convite a desacelerar e participar. Onde você se sentiu convidada ou convidado a ficar e interagir com o lugar por onde passava?


Cidade: Recife Descrição:#descobriape que homens têm medo de mulheres que não têm medo.

@biancaof


Arquitetura Prédios Históricos Mensagem Essa foto chama atenção tanto pelo cenário, composto pela arquitetura histórica, pavimentos de piso português e paralelepípedo e luminária trabalhada, quanto pela mensagem encontrada no muro. A mensagem, escrita em letras pequenas, só é possível de ser vista, lida e refletida no ritmo do caminhar. A frase em si é muito forte e nos leva a refletir sobre machismo a partir de uma provocação aos homens. Mensagens como essa, encontradas no caminho, podem levar à reflexão e fortalecer mulheres que estão passando a pé. Que mensagens te dão apoio ao caminhar?


Cidade: São Paulo Descrição:#descobriape que a Galeria Nova Barão tem uma pracinha com fonte de água, banco e estátua de profeta do Aleijadinho muito fofos.

Meli Malatesta


Pessoas Passagens Bancos

Escultura

Essa foto mostra vários elementos. Primeiro, o espaço em que se caminha, pois trata-se de uma galeria de acesso apenas a pé, sendo um trajeto único aos caminhantes. Ainda, evidenciam-se os mobiliários e equipamentos que geram oportunidade de parada e respiro no caminho, sendo eles, bancos e fonte que juntos formam uma pequena pracinha. E, por fim, destaca-se a descoberta de escultura réplica do famoso artista mineiro Aleijadinho, sendo possível ver a reação de surpresa na foto. Quando foi a última vez que algo no caminho te surpreendeu?


Cidade: Recife Descrição:#descobriape equilibrista ou como lidar com a chuva.

@biancaof


Passagens Obstáculos Pessoas A foto é única e tem a beleza de captar um momento. Assim, apesar de estar mostrando um problema grave, transmite leveza. Se por um lado evidencia o obstáculo que as ruas alagadas geram às pessoas a pé, por outro, mostra o "jeitinho" e improviso das pessoas para vencer essa barreira. A cena pode chegar a parecer surreal. A escala da rua, as fachadas das lojas com manequim, continuando a sua dinâmica normal, colaboram com o espanto. A perspectiva capturada apresenta a resiliência ante o caos e evidencia a sensação tão ambígua de andar a pé. Quando você teve que vencer um obstáculo ao caminhar?


Cidade: Florianópolis Descrição: #Descobriapé uma fauna na madrugada.

@danielbiologo


Arte Urbana Lúdico Natureza A imagem capta a relação entre a natureza real e a natureza representada, através do registro das árvores e do graffiti de camaleão, lado a lado. Contrastados sob luz e sombra tal perspectiva só pode ser capturada à noite. Dessa forma, cria-se uma conexão entre o que é natural e o que é produzido pelas pessoas, como, por exemplo, a arte. Capaz de transformar a passagem por um muro à noite em uma experiência mais divertida e de apreciação, justamente no momento em que se sente maior vulnerabilidade ao estar a pé nas cidades. Você consegue se lembrar de alguma descoberta em caminhadas noturnas?


Cidade: São Paulo Descrição:#Descobriapé a escultura "A Menina e o Bezerro" do escultor carioca Luiz Christophe. Obra belíssima do início da déc. de 1910 que figura no famoso Largo do Arouche ressaltando as bucólicas raízes de São Paulo. Mais do que isso, ampliando sentidos, a obra hoje pode simbolizar o carinho, o afeto, o amor pelos animais. Um abraço para frear os maltratos, a exploração e a morte de milhares e milhares de animais - a manifestação em prol da vida bem no centro paulistano.

Andrew Oliveira


Mensagem Escultura Praças e Parques A legenda evidencia ideias que são evocadas a partir da observação de uma escultura na cidade. O tema da escultura, bucólico - uma menina abraçando um bezerro -, chama atenção no ambiente urbano. A descoberta leva a refletir sobre a relação das pessoas com os animais. Além disso, o registro acontece ao passar em uma praça, um lugar de convite a desacelerar os passos na cidade e de observação mais cuidadosa. Logo, é possível acessar informações e disfrutar da cidade como um espaço de exposição e aprendizado a céu aberto. Vale ressaltar, mais uma vez, o papel da arte nas caminhadas noturnas. Que sentimentos as esculturas no caminho te provocam?


Cidade: Recife Descrição:#Descobriapé a passagem secreta da Rua Siqueira Campos pra Av. Guararapes.

@biancaof


Passagens Arquitetura Ruas Abertas Essa foto tem vários elementos de descobertas caminhantes. Primeiro, o local é uma rua em que o espaço viário foi apropriado para o uso pelas pessoas caminhando. Dessa forma, as calçadas se tornaram espaço para sentar. Ainda, como destacado na legenda, descobriu-se uma "passagem secreta", ou seja, um atalho para quem caminha. A relação entre a escala humana, a pé, e a escala dos edifícios é evidenciada, junto com o destaque à arquitetura dos prédios, das luminárias e das cores registradas. Qual é o seu atalho a pé preferido na sua cidade?


Cidade: Florianópolis Descrição:#Descobriapé que muitos motoristas de Floripa são egoístas e verdadeiros idiotas estimulados pela impunidade no trânsito.

@danielbiologo


Obstáculos Nessa foto, a "descoberta" é negativa, pois registra um obstáculo ao caminhar, gerado pelo automóvel de outra pessoa. A pessoa a pé está atenta e não naturaliza os problemas no caminho. Assim, o registro não é necessariamente uma descoberta daquela caminhada mas sim um desabafo do descaso com o caminhar por parte de algumas pessoas e do poder público. Encontrar esses obstáculos no caminho gera mal estar a quem está a pé e até mesmo impossibilidade de seguir ferindo o direito de ir e vir. Outro efeito negativo, na experiência, é limitar a liberdade de olhar a cidade e o entorno atenta e curiosamente, e por consequência, a possibilidade de usufruir plenamente do caminhar. Você repara nos obstáculos no seu caminho?


Cidade: Recife Descrição:#Descobriapé usos alternativos do espaço público.

@biancaof


Passagens Pessoas

Lúdico

Intervenção Urbana Em primeiro plano, a foto destaca a possibilidade de se divertir balançando na rua. Isso mostra os usos alternativos do espaço público, a imaginação dos habitantes e a vontade de dar mais vida ao lugar, o que permite mais interação entre os habitantes e o espaço. Em segundo plano, é possível notar que o espaço é um calçadão, uma rua dedicada a quem está a pé, que está bastante movimentada, com a presença de várias pessoas, bicicletas e também de mobiliários. A expressão da pessoa no balanço e de outras que passam também chamam atenção na foto. Você já encontrou um balanço no caminho? Parou para balançar?


Cidade: Florianópolis Descrição:#Descobriapé a rua Felipe Schmidt, primeiro calçadão para pedestres implantando entre a Praça XV e rua Jerônimo Coelho no final da década de 70, onde os olhares se cruzam a passos largos, alguns com pressa, outros a contemplar.

Estefânia Bordin


Calçadões Pessoas

Arquitetura

Prédios Históricos A foto contém muita informação. Primeiro, o espaço onde é tirada: um calçadão de pedestres - o primeiro da cidade se destaca por ser um local de acesso exclusivo a pé. Além disso, o pavimento, as fachadas e as luminárias chamam atenção por serem elementos preservados de outra época histórica. Somado a isso, o contraste com alguns edifícios de estilo mais moderno e a organização linear dos prédios ajuda a criar a composição única do registro. Outro destaque é com relação ao uso. As características do lugar favorece o encontro entre pessoas e convida os transeuntes a observar o entorno. Há calçadões nos seus trajetos? De que você mais gosta neles?


Conclusões Esta publicação, assim como a própria Semana do Caminhar, aborda o caminhar nas cidades de forma positiva e propositiva. A proposta de celebrar os prazeres e exaltar os benefícios da experiência de caminhar nas cidades não se opõe ao reconhecimento dos diversos problemas e estrutura precária que limitam os deslocamentos a pé - que precisam ser urgentemente resolvidos. Celebrar o caminhar é revolucionário. A leitura desta publicação é um convite a caminhar lentamente, observando as cidades, "deixando-se afetar" pelo meio e pelas pessoas, correspondendo aos anseios do corpo. Conhecer diversos olhares de descobertas caminhantes amplia as possibilidades de experiências e aprendizados nos próximos passos a serem percorridos nas cidades. Os resultados do concurso #descobriapé e análises confirmam a autenticidade e a unicidade (no sentido de ser único e de união) que caminhar pode nos proporcionar como indivíduos e coletivo.


REFERÊNCIAS CARERI, Francesco. Walkscapes, o caminhar como prática estética. Tradução Frederico Bonaldo (do original de 2002). G. Gili, 2013. CERTEAU, Michel. A Invenção do Cotidiano. Editora Vozes, 1998. Acessado em 15/09/2019. Disponível em: https://gambiarre.files.wordpress.com/2010/09/michel-de-certeau-a-invenc3a7c3a2o-do-cotidiano.pdf? fbclid=IwAR0HkCW290uzsdYgDeQhClK3LArZmVfWDLRWXC4BqjbgJjidOwUEfBAN3wU DO RIO, João. A alma encantadora das ruas. Companhia das Letras, 2008. GEHL, Jan. Cidades para pessoas. Tradução Anita Di Marco (do original de 2010). INGOLD, Tim. O Dédalo e o Labirinto: caminhar, imaginar e educar a atenção. Acessado em 21/09/2019. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ha/v21n44/0104-7183-ha-21-44-0021.pdf?fbclid=IwAR3gn2VQsbCnCSDrli--e MGzaGXMxuKFMIpi_VYBElZ1cbzxZHUdG6jQ_BI JACQUES, Paola Berenstein. Elogio aos Errantes. EDUFBA, 2012. Acessado em 15/09/2019. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/7894/3/Elogio_aos_Errantes_RI.pdf LEFEBVRE, Henri. A produção do espaço. Tradução Doralice Barros Pereira e Sérgio Martins (do original: La production de l’espace. 4e éd. Paris: Éditions Anthropos, 2000). Primeira versão: 2006. Acessado em 15/09/2019. Disponível em: https://gpect.files.wordpress.com/2014/06/henri_lefebvre-a-produc3a7c3a3o-do-espac3a7o.pdf?fbclid =IwAR32oGZmeuTQWpdzlrWfaJbaJH8KidpBePrdHwmUnuaV9M_5w2-9DwU_yIE O'MARA, Shane. In Praise of Walking: The New Science of how We Walk and why It’s Good for Us. Bodley Head, 2019. SampaPé!. Aprendemos Caminhando? Medium, 2019. Acessado em 20/09/2019. Disponível em: https://medium.com/@sampape/aprendemos-caminhando-990565e9cfc8 SANTOS, Milton. Técnica espaço tempo – Globalização e meio técnico- científico informacional. 1994. Acessado em 20/09/2019. Disponível em: http://reverbe.net/cidades/wp-content/uploads/2011/livros/tecnica-espaco-tempo-milton-santos.pdf?fb clid=IwAR1Fhd6M5nmW_tH1GTWXm3TgRcee6wZ42_VJOH8hKwmIkPayREPrZJV_xco



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