O milagre da fonte da Gomeira

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II. Um dia na Alfândega Tavila, 46 anos após a Conquista de Ceuta e da assunção de Vasco Anes da Costa, depois chamado de Corte-Real, como Alcaide-Mor da vila, por graça de João I, o de Boa-Memória 23º ano do reinado de Afonso V, o Africano Vastas eram as propriedades aforadas aos Franca. Depois de passar o Ribeiro dito do Almargem, eram as duas herdades separadas pelo velho caminho romano que se estendia até Cacela, para terminar em Castro Marim. A Gomeira compreendia tudo que ia da estrada romana até ao mar, que naqueles tempo penetrava sem barreiras por terra adentro. Os seus solos eram menos aptos para o cultivo do cereal, e a escassez de fontes de água naturais um problema para quem quisesse fazer agricultura que precisasse de irrigação intensiva. As árvores plantadas e deixadas pelos mouros compreendiam antigas amendoeiras, oliveiras e alfarrobeiras. No entanto, os camponeses que lavravam estas terras plantaram muitas figueiras, que lhes davam sustento quando o senhorio não lhes pudesse dar do seu proveito. No entanto, eram poucos os cultivos feitos e o trigo difícil de medrar, pois o solo era muito seco. Havia uma antiga nora deixada pelos mouros, mas havia duzentos anos ninguém a havia reparado os canais de irrigação que dela irradiavam aproveitavam o facto da dita estar situada no topo de uma colina sobranceira ao Almargem. Havia muita pastorícia e criação de cavalos, para depois ser vendido nas feiras de gado ou para o esforço de guerra em Marrocos. Na Gomeira era grande a quantidade de amendoeiras, oliveiras e alfarrobeiras. O cultivo de alfarroba era algo que os mouros haviam deixado, pois as alfarrobas fertilizavam as terras e era um bom alimento para o gado de qualquer tipo. O que faltava era água, e condições para alojar os camponeses que trabalhavam para as terras da Ordem. As mulheres tinham de descer a encosta do Benamur para lavarem a roupa na Ribeira do Almargem, correndo o risco de serem levadas pela corrente ou caírem num pego. Genoveva Pessanha, a nova senhora das Terras da Ordem, preocupava-se com as pobres criaturas que trabalhavam para manter a produtividade da herdade. A falta de água era uma realidade e nos quentes e tórridos meses de Verão, essa necessidade do líquido precioso só conseguia ser resolvida graças à nora do Benamur que tinha uma cisterna que quase nunca secava, e os poços nos campos eram poucos e estavam muito distanciados entre si. Alternativas para matar a sede era através de alimentação baseada na fruta com polpa húmida, como por exemplo o figo ou a ameixa. Os rios mais próximos eram largos e salgados, a água insalubre, e conseguir arranjar água potável só mandando alguém a Tavila de propósito para encher os cântaros nas fontes do Castelo e do Largo do Cano, para além de que a ribeira do Almargem só tinha água potável prosseguindo da sua antiga ponte em direcção à serra, e em meses de Verão este leito, reduzido a poças, secava por completo, deixando os pobres camponeses sedentos e com poucas soluções. Diogo Lopes, esse estava mais preocupado com a gestão da alfândega para pagar as constantes viagens de frequência quase semanal destinadas ao reabestecimento de Ceuta. Pelo porto de Tavila começaram a chegar escravos africanos quando foi o descoberto o Rio do Ouro, e quando a Europa inteira soube, todas as nações mandaram navios com as suas maiores maravilhas 7


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