Revista Construtores de Histórias

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EDITORIAL

Segunda revista de 2016! E é no entorno desse projeto que fazemos amigos e construímos novas e excelentes histórias! Descobrimos que há tantos Construtores de Histórias por aí... Podemos citar, por exemplo, o pessoal do coletivo Contem Poesia, tema da nossa matéria de capa. Essa galera vai pra rua com uma maquina de escrever e constrói poesias, junto dos transeuntes, retornando - dias depois - e fazendo com que o lugar vivencie uma experiência diferente e inesperada. Fazemos novos amigos cada vez que esse grupo cresce, são as histórias de Eduardo Lima e Igor de Medeiros que passam a fazer parte do dia a dia dos Construtores e trazem, voluntariamente, suas habilidades para somar junto ao coletivo. Também é o caso de Abílio Cannel que tanto trabalhou na revista que se transformou em Construtor Honorário e assume, em definitivo, a coluna “Van filosofia’’ – quem melhor do que um filósofo para esse passeio? O foco dessa edição foi imaginação e o sarau “Academia dos Escritores” contou com uma decoração toda feita de pipas e com lindas corujas de origami. A imaginação também invadiu os textos e muito estamos crescendo nesses encontros com escritores que a usam para pedir por um mundo melhor onde escrita tem, sim, seu espaço. Aproveito para indicar o conto de Alan Livan “Num passe de Mágica”, mais uma alegoria à imaginação. Neste mês, também realizamos nossa primeira intervenção na rua, aqui mesmo na Vila Zilda – Muita gente fugiu de nós é claro! Mas, mesmo assim, boas histórias entram para essa edição graças a esse diálogo da rua com a arte. Apresentamos, ainda, o Projeto Ampliando Talentos, que beneficia garotos e garotas, cuja história de vida não é das mais fáceis, mas que decidiram fazer da educação o caminho para alcançar seus sonhos. Nosso mais novo parceiro, tem por missão tornar esse caminho mais florido. E como uma ideia como essa não seria apoiada pelos Construtores? Por último, agradecemos - de novo - a participação de Dona Lúcia, que sempre nos surpreende com seus excelentes poemas. ‘‘Aos queridos avós’’ é uma ode a tempos remotos e que desejamos reconquistar para ter o que contar. Como disse no início, é tão bom fazer amigos e escrever junto mais um mês esse sonho cada vez mais COLETIVO.

FICHA TÉCNICA Realização: Construtores de Histórias Catarina Barbosa Danielle Venina Matheus Mendes Paulo Giordan Priscila Enokida Rodrigo Marcelino Sandra Martins Vinícius Escócia Arte da Capa: Ronaldo Ferreira Autores Convidados: Alan Livan Fernanda Peres José Mateus Ferreira Maria Lúcia dos Santos Marcos Magalhães Victor Taiguara Vinícius Cosseti

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Contato: col.construtoresdehistorias Construtores de Histórias


ÍNDICE

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MATÉRIA DA CAPA A Arte na Rua. A Rua na Arte

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Biografias

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Editorial

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Notícias dos Construtores

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Agenda dos Construtores

23 Os Construtores de Histórias

POESIAS O Globo de Neve

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Aos Queridos Avós

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Sonhar... Sonhar... Sonhar...

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BITCODE; LUZSEFEZ; (...)

20 Sarau na Escola

CONTOS Trecho: Coríntios

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Num passe de mágica

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ARTIGOS Van Filosofia

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Voar: (...)

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Experiência Ampliando Talentos

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Globo de Neve - José Mateus

E MAIS... Percepções Literárias

11 A Arte na Rua, A Rua na Arte

Variedades

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Coríntios - Trecho No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João. Este veio para testemunho, para que testificasse da luz, para que todos cressem por ele. JOÃO - 1:1-7

A igreja estava lotada, pessoas em pé, e João impaciente olhava para a porta, lá do fundo surgiu uma mãozinha pequena pintada com esmalte branco, carregava uma bíblia com capa de tricô rosa, estava em um vestido azul e tinha uma presilha do lado direito do cabelo segurando os grandes cachos. Olhou-a com felicidade, mas disfarçou, fingindo-se muito bravo. Ela acenou para Dona Zilá e Seu Eliaquim, aproximando-se do rapaz e beijando-lhe na bochecha: - Tá muito atrasada! – ralhou ele. - Calma João. Eu cheguei, não cheguei. – sorriu a menina matreira. - Uma hora dessas dou teu lugar para os outros! - Dá nada! – emburrou a menina – Esse lugar é meu há anos! Ele sorriu e pôs-se em pé, dando o lugar dele mesmo a uma senhora que acabara de chegar. Gabriela ainda tentou impedi-lo, mas não tinha jeito: esse era o João. Olhou para o rapaz, estava tão alto, em nada lembrava o menino que ela conheceu quando chegou ali. Tinha 17 anos, seus cabelos eram negros e curtos e os olhos de um verde que fixos no altar como estavam agora, ficavam ainda mais profundos e enigmáticos. Estava se preparando para o vestibular. Secretamente, lhe contara que ia prestar medicina. Tinha cara de médico? Ela achou que não. Nesse momento, notou que ele não fizera a barba, estranhou, João era perfeccionista demais, sempre estava impecável. De repente, sem que a menina esperasse, ele a encarou, notando a contemplação da menina, fez uma careta, como se ainda tivesse bravo, depois sorriu. Gabriela disfarçou fixando seus olhos na bíblia e a folheando aleatoriamente. O que João pensaria? Já bastava que todos: suas tias, os pais dele, o Pastor e, até mesmo, os amigos dissessem que um dia se casariam... Gabriela gostava de João, mas não sabia se era um amor para o resto da vida. Por isso, não queria que as pessoas falassem. Sentiu um cutucão em suas costas, era Aninha: - Menina, você me mata de susto! – riu aliviada. - Cadê o João? – sorriu a outra ajeitando os cabelos em um coque – Ele não veio? - Como não veio? O João nunca falta. Tá ali. – disse apontando com o queixo – Vai ficar com os rapazes - disse observando-o próximo a dois outros jovens um bem mais alto que João e outro de igual tamanho - Como todo menino... - Deixa de ser boba. A igreja tá cheia, senão ele estaria colado com você. - Que voz é essa? – brincou a menina abrindo os braços – Senti um pouco de inveja? Não


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acho que devia ter esse sentimento aqui... - Não é isso não, Gabriela... – a moça fez uma pausa e com um biquinho disse – Olha o Marcelo. O garoto nem me nota, poxa! Aninha se referia ao garoto alto que estava ao lado de João, era líder do grupo de jovens e o amor da vida de Aninha, embora deixasse claro à moça que não namoraria ninguém sem antes ter concluído a faculdade. Mesmo assim, a garota nutria grandes esperanças. - Teu papo não devia ser comigo, colega! Peça a Deus. – disse apontando para o alto - Você pediu o João? – replicou a outra tristemente. Um filme passou diante da cabeça de Gabriela, se viu entrando ali pela primeira vez e novamente olhou para o rapaz que agora era cutucado por Marcelo: - Não, Aninha. – disse voltando-se para a amiga – Deus me deu ele sem nenhum pedido, eu precisava dele e só Deus sabia... - Você é muito abençoada, menina! Ele não esconde de ninguém o quanto te ama e isso vai dar casamento... – animou-se – Não vejo a hora de te ver entrar de noiva nessa igreja! - Olha o culto tá começando. Shhhhhh! – pediu erguendo as mãos para o céu e pondo-se de pé. Os louvores sempre foram a parte favorita de João, era o momento em que sentia-se encher de alegria. Em alguns deles trocavam olhares, como se esperassem aquele determinado canto. Quando começou a pregação, o Pastor pediu para ficarem em pé os solteiros e profetizou que eles não ficaram só, como por mágica os olhos de João e Gabriela se cruzaram dentro da igreja, ela disfarçou novamente e ele ergueu os braços em agradecimento dando “glórias” e “Aleluias”. Na saída da igreja, os cinco jovens sentaram sobre a mureta do estacionamento, era hábito dos jovens se encontrarem lá, para discutirem rapidamente as atribuições da igreja. Marcelo estava sempre agitado de agenda na mão juntando veteranos e novatos da igreja em cooperação e troca de experiências. Diferente dele, Gabriela comia pipoca doce junto com Aninha, falavam sobre uma vigília que ocorreria em duas semanas e questionavam como acordariam cedo na sexta e aguentariam a madrugada toda. E quando Marcelo cobrou deles a presença naquele importante evento, Gabriela respondeu: - Não sei se posso... – todos se assustaram – Eu tenho uma festa. - Festa no mundo? – questionou Rodrigo, irreverente como sempre. O rapaz gargalhou divertidamente, deixando visível as covinhas do rosto. - Gente eu vivo no mundo! Odeio quando vocês falam desse jeito, parece que quem não está aqui é menos gente que nós. – resmungou Gabriela – E, tem mais, nós não devíamos buscar a conversão dos outros? Corintios é uma aventura entre o religioso e o mundano que aborda temas como: sexualidade, orientação dos pais, drogas, miséria e, sobretudo, amor. Sandra Martins


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O Globo de Neve O que sou? Quem sou? O que fui? Quem fui? Um dia claro e ensolarado. Um dia na praia, um dia de mar. Um dia... Qual dia? Como fui? O que aconteceu? Fui um dia na praia, quente e ensolarado, um dia em 1978, apenas mais um, apenas algo mais, apenas um instante. Frio? Calculado? Louco? Instável? Um período e nada mais. Preso nos umbrais da lembrança. Descansando sobre a lareira do tempo, em sua terrível casa empoeirada. Apenas mais uma urna... Urna... Apenas mais um globo de neves... Ou de águas? Uma simples urna de coração na empoeirada casa do tempo... Em verdade estou rachado. Esvaecendo-me devagar, a cada minuto mais próximo da morte. Sou exatamente isso, um globo de neve quebrado, com a neve me deixando devagar, cada instante daquele dia de sol se apagando lentamente. Afinal, sou de neve ou de sol? Um momento e nada mais, descansando nos umbrais do fim, aguardando o doce beijo desvairado da fria amiga. Uma lembrança, da luz, do sorvete derretendo, do conflito, dos gritos, do pneu furado, da briga, do soco e do olho roxo, do choro e das esfarrapadas desculpas. Esse terrível momento que guardo. A pequena lembrança, embalado cuidadosamente em papel de presente. Um pequeno globo de neves. Hoje rachado. Perdendo seu conteúdo. Vazando devagar. Uma memória consumida pelo tempo. José Mateus Ferreira Nascido em 1998, costumo me considerar um poço de inconstância. Acredito que acima de tudo o principio fundamental da vida é a Mudança. Atualmente sou ativista dos direitos da comunidade LGBT, pesquisador queer e da teoria dialética da sociedade, militante da esquerda socialista e entusiasta do ateísmo. Sou apaixonado por Roberto Piva, Hilda Hilst e Allen Ginsberg. Enfim, um jovem aspirante a escritor.


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Aos queridos avós

Vovó querida Vovó que é luz Vovó Santana Vovó de Jesus Vovó querida Te amo com devoção Tudo que me ensinaste Guardo no coração Vovó querida seu amor É radiante como o dia Ao encontrar-te Vejo-a com sabedoria Vovô querido Deus o fez assim Vovô de Jesus

Maria Lúcia Barbara dos Santos Maria Lúcia Barbara, tem 70 anos, gosta de pessoas inteligentes em busca de igualdade e de direitos e deveres. Suas maiores paixões são a sua família, a sua comunidade e a conquista do bem comum por todos.


VAN FILOSOFIA: Educação

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Infância/Adolescência

Juventude/Maturidade

Velhice/Transcendência

Nos dias de escola Indo e voltando na Van Todos com sua sacola Corpo são em mente sã

Conquistamos a faculdade Do cobrador ao prefeito Todos com mais idade Elevamos nosso conceito

Chega a aposentadoria E a consciência medita Agora que bom seria Toda uma vida infinita

Tudo que conversava Na entrada e na saída É o que o mundo ensinava A Filosofia da vida

Desde a Grécia antiga De tudo que se escrevia Por Tales ou pela cantiga Lá vem a Filosofia

Mas da vida vem a morte Ao perder a fé que havia Se entrega à própria sorte Quando quer e não podia

Muitos a pegam no ponto Poucos em movimento Mas todos ganham desconto Se a tomam por sentimento

E do farol que alumia Se esconde o maior tesouro Do tempo em que conseguia Da pedra obter o ouro

Vai e volta sem parar De Darwin a Adão e Eva É a Van que faz pensar Ou a Filosofia que nos leva

De joelhos vem ao mundo Levanta-se com o dia Dorme o sono profundo À beira da sabedoria

Passeia por todos os lares Trajeto sinuoso e complexo Passa por muitos lugares Seja côncavo ou convexo

E pássaro vira avião Coisa que não se via Dirigir virou profissão Professor, condutor, guia

Mas quando a Van parava Que nada podia andar Quase ninguém falava Eu começava pensar Coisa que não se ensina Busco agora entender Como a semente germina Quando parece morrer Depois novamente seguia Até que tocassem o sino E voltava a Filosofia A cruzar nosso destino Quantas coisas na Terra Nós temos por compreender A luta da paz frente a guerra A vida incessante do Ser Daí que o tempo passava Na volta de nossas férias Embalado eu aproveitava Para rever as matérias Abílio Cannel Construtor de Histórias honorário.

Une todas as áreas Leva todos a viajar Temas diversos, dúvidas várias Longos caminhos faz encurtar Seu início é o ponto final Nada se cria nem perde a forma Entram e saem ao sinal Todo o tempo se transforma

Eis que num certo dia Duvidava de ter visto Discordava do que lia Então penso, logo existo E me tomo da febre terçã Pelo sábio que não sabia Se a Filosofia é que é Vã Ou a Van-Filosofia


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Sonhar... Sonhar... Sonhar... Sonhar... Sonhar... Sonhar... Sonhar é... perder o chão e ganhar o céu Sonhar é... tornar a fantasia em realidade Sonhar é... tornar o impossível possível Sonhar é... criar o teu próprio mundo Sonhe, Ame, Se torne feliz... Sonhe consigo mesmo Ame você mesmo Aprenda a amar você Depois de amar a si Ame alguém que te ame Sonhe com quem sonha com você Seja feliz com você Perca o chão com quem sonha com você Vinicius Cosseti Meu nome é Vinícius Cosseti e sou o autor deste poema... Tenho 18 anos, sou designer gráfico, escrevo desde os 11 e tenho agora a oportunidade de publicar meu primeiro poema. Se gostarem avisem aos Construtores e eu enviarei outros.

Percepções Literárias: Áudio-Book Ei você! É você mesmo que ama ler, já imaginou se seu livro tivesse voz? Então pare de sonhar e te apresento o áudio-book, são gravações de livros narrados por pessoas que fazem variações no tom de voz e efeitos sonoros, trazendo vida e emoção ao livro. Essa gravação num estúdio de gravação profissional, os formatos de áudio têm uma variação entre Mp4, M4a, MP3, WMA ou Ogg, aplicativos (gratuitos ou pagos) ou até mesmo em formato de CD, entre outros. Nos anos de 1980 e 1990, os audiolivros se encontravam em fita cassete, atualmente em desuso. Aprecie esse jeito leitura que proporciona benefícios para pessoas com a rotina agitada, disléxicas ou que possui alguma deficiência visual.




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A ARTE NA RUA. A RUA NA ARTE A performance relacional como forma de afeta o quotidiano Na sua opinião, qual é o espaço ideal para que a arte aconteça? Muitos de nossos leitores, certamente, buscarão em suas memórias seus contatos com a arte e citarão museus, galerias, teatros, cinema… Mas nem todos concordam com essa “regra” e, na contramão da máxima que sugere convidar o público a visitar a arte, preferem levar a arte até o público e, assim, tratam-na como um bem de todos, na missão de trazer as sensações que somente a arte pode proporcionar para qualquer espaço. E isso inclui a rua e a vida de quem transita, todos os dias, por esses lugares. Arte na rua? Isso mesmo! No coletivo “Contém Poesia”, nascido em 2014, a arte é vista como uma relação ampla e aberta com o dia a dia das pessoas, com aquilo que elas intitulam de cotidiano. Trata-se da quebra da rotina mecânica a qual estamos subordinados - muitas vezes - sem notar, pela surpresa, acompanhado, geralmente, pelo espanto e pela curiosidade, causado por uma atividade artística que não esperávamos encontrar ali. “Tudo começou com a produção de um vídeo, para o lançamento de um livro meu de poesias.”, conta Gabriel Augusto, artista fundador do coletivo, “E quando eu fui pra rua e sentei com a máquina de escrever, eu não conseguia filmar, porque juntou uma roda de pessoas querendo saber o que era.A verdade, é que quando eu comecei a conversar com essas pessoas eu descobri que aquela interação era muito mais interessante do que escrever poesia sozinho em Realização da Intervenção casa”.


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Nascia, naquele momento de troca entre o escritor e o leitor, a primeira ideia d o C o l e t i v o, j á v o l t a d a p a r a a performance relacional. Para que você possa entender, “Performance Relacional” é uma espécie de arte construída em conjunto entre o artista e qualquer pessoa que deseje participar, pode estar associada a coisas simples ou aos mais complexos Gabriel Augusto criando poesias com pedestres pensamentos, mas sem a obrigação de assim sê-lo. Hélio Oiticica (1937-1980) e Ligia Clark (1920-1988), são considerados os precursores desse movimento, mas não criaram fórmulas. Esse tipo de arte vai se moldando a cada grupo, a cada espaço e a cada necessidade que encontra. Com o Contém Poesia não é diferente. O grupo realizam suas ações em áreas de grande circulação popular na região central de São Paulo, seu projeto patrocinado pelo Programa VAI (Valorização de Iniciativas Culturais) prevê intervenções que ocorrerão em sete lugares da capital. Tais intervenções estão divididas em etapas: a primeira ocorre quando Gabriel, levando uma máquina de escrever para a rua, cria junto dos transeuntes - poemas coletivos que refletem o cotidiano e a vivência dessas pessoas, além de sua ideias sobre o mundo que os rodeia. A segunda ação, trata da observação realizada por todo o grupo: Marcus Mazieri, Narany Mireya, Ingrid Rosa, Bobby Baq e o próprio Gabriel Augusto, nessa ação eles repensam o espaço e a discussão para definir os passos que serão tomados. A terceira e última ação é a própria performance relacional que deve incluir o espaço, as pessoas e os artistas em uma única produção de arte. “O ‘Projeto Contém Poesia nas Ruas’ tem como Membros do Coletivo objetivo fazer o poeta extrapolar para além das páginas de um livro, para além das ideias, com a certeza de romper o cotidiano e transformar o espaço a sua volta”, explica Marcus, “A rua vira um espaço novo e artístico”. E a moral dessa história é que a arte não tem espaço definido, ela simplesmente acontece. Para saber mais sobre o Coletivo Contém Poesia, acesse: www.facebook.com/paginacontempoesia/


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VARIEDADES Chegou o momento que você mais aguardou - ou não - nesta edição! É a nossa incrível seleção do que acontece nos bastidores da Literatura.

Exemplo Mundial! .A Índia é o país que mais lê no mundo, registrando uma média de 10 horas semanais para cada leitor. Guardado a sete chaves... Mário de Andrade arquivou 7 mil cartas em pastas e, em seu testamento, determinou que elas só poderiam ser abertas no ano do cinquentenário da sua morte. O cofre foi aberto em 1995. Ler é bom demais... até para o nariz! “Bibliosmia” é o nome dado ao prazer em que as pessoas sentem ao cheirar livros antigos. E quem não adora lontras? O símbolo do Patrono de Hermione é uma lontra, porque J.K Rowling adora lontras, e se vê muito em Hermione. Sobre títulos não muito bons... ‘‘Tudo está bem quando termina bem’’ - este era o título provisório (e bem menos dramático) de Guerra e Paz, um dos mais importantes livros da história, lançado por Tolstói, em 1866. [Ainda] sobre títulos não muito bons... A obra máxima de Lewis Carroll quase entrou para história com outro nome. Lançado em 1865, Alice no País das Maravilhas teria outro título: As aventuras de Alice no subterrâneo.


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Voar: a eterna inveja e frustração que o homem carrega no peito a cada vez que vê um pássaro no céu Aprendemos a fazer um milhão de coisas, mas voar… Voar a vida não deixou. Talvez por saber que nós, humanos, aprendemos a pertencer demais aos lugares e às pessoas. E que, neste caso, poder voar nos causaria crises difíceis de suportar, entre a tentação de ir e a necessidade de ficar. Muito bem. Aí o homem foi lá e criou a roda. A Kombi. O patinete. A Harley. O Boeing 737. E a gente descobriu que, mesmo sem asas, poderia voar. Mas a grande complicação foi quando a gente percebeu que poderia ir sem data para voltar. E assim começaram a surgir os corajosos que deixaram suas cidades de fome e miséria para tentar alimentar a família nas capitais, cheias de oportunidades e monstros. Os corajosos que deixaram o aconchego do lar para estudar e sonhar com o futuro incrível e hipotético que os espera. Os corajosos que deixaram cidades amadas para viver oportunidades que não aparecem duas vezes. Os corajosos que deixaram, enfim, a vida que tinham nas mãos, para voar para vidas que decidiram encarar de peito aberto. A vida de quem inventa de voar é paradoxal, todo dia. É o peito eternamente divido. É chorar porque queria estar lá, sem deixar de querer estar aqui. É ver o céu e o inferno na partida, o pesadelo e o sonho na permanência. É se orgulhar da escolha que te ofereceu mil tesouros e se odiar pela mesma escolha que te subtraiu outras mil pedras preciosas. E começamos a viver um roteiro clássico: deitar na cama, pensar no antigo-eterno lar, nos quilômetros de distância, pensar nas pessoas amadas, no que eles estão fazendo sem você, nos risos que você não riu, nos perrengues que você não estava lá para ajudar. É tentar, sem sucesso, conter um chorinho de canto e suspirar sabendo que é o único responsável pela própria escolha. No dia seguinte, ao acordar, já está tudo bem, a vida escolhida volta a fazer sentido. Mas você sabe que outras noites dessa virão. Mas será que a gente aprende? Aprende a ficar doente sem colo, a sentir o cheiro da comida com os olhos, a transformar apartamentos vazios na nossa casa, transformar colegas em amigos, dores em resistência, saudades cortantes em faltas corriqueiras? A ser filho de longe, a amar via Skype, a ver crianças crescerem por vídeos, a fingir que a mesa do bar pode ser substituída pelo grupo do whatsapp, a ser amigo através de caracteres e não de abraços, a rir alto com HAHAHAHA, a engolir o choro e tocar em frente?


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Será que a vida será sempre esta sina, em qualquer dos lados em que a gente esteja? Será que estaremos aqui nos perguntando se deveríamos estar lá e vice versa? Será teste, será opção, será coragem ou será carma? Será que um dia saberemos, afinal, se estamos no lugar certo? Será que há, enfim, algum lugar certo para viver essa vida que é um turbilhão de incertezas que a gente insiste em fingir que acredita controlar? Eu sei que não é fácil. E que admiro quem encarou e encara tudo isso: EU MESMA. Quem deixou Vitória da Conquista, São José do Rio Preto, Floripa, Juiz de Fora, Recife, Sorocaba, Cuiabá ou Paris para construir uma vida em São Paulo. Quem deixou São Paulo pra ir para o Rio, para Brasília, Dublin, Nova York, Aixen-provence, Brisbane, Lisboa. Quem deixou a Bolívia, a Colômbia ou o Haiti para tentar viver no Brasil. Quem trocou Portugal pela Itália, a Itália pela França, a França pelos Emirados. Quem deixou o Senegal ou o Marrocos para tentar ser feliz na França. Quem deixou Angola, Moçambique ou Cabo Verde para viver em Portugal. Quem veio de Guarulhos para Bertioga. Para quem tenta, para quem peita, para quem vai: O preço é alto. A gente se questiona, a gente se culpa, a gente se angustia. Mas o destino, a vida e o peito às vezes pedem que a gente embarque. Alguns não vão. Mas nós, que fomos, viemos e iremos, não estamos livres do medo e de tantas fraquezas. Mas estamos para sempre livres do medo de nunca termos tentado. #Keepwalking Fernanda Peres Fernanda Peres Silva Souza, 28 anos, casada e apaixonada por um barbudo lindo, nutricionista especialista em gestão de unidades de alimentação e nutrição e incentivadora de alimentação saudável para os cabeças duras. Apaixonada por cães (especialmente da raça Golden retriever) e vidrada em livros e escritas.

Construtores de Histórias Visitam O Coletivo Construtores de Histórias alça novos voos. E você pode participar dessa iniciativa! Em parceria com Escolas, Biliotecas e também com a Fundação Casa, os Construtores estão realizando saraus e competições literárias em diversos lugares. E aí? Quer que a gente vá até você? Entre em contato conosco!


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Num passe de mágica. Baixinho, vestindo fraque, cartola, luvas, tudo branco. Até a bengala que trazia consigo era branca. Os cabelos castanhos cortado bem curto. Os olhos pequeninos de um verde esquisito em um rosto redondo e avermelhado. Um mágico! Fazia qualquer coisa desaparecer. Mas qualquer coisa mesmo. Pombos, coelhos, relógios e outros objetos da plateia era fichinha. Abracadabra abracabrum. Um passe de mágica, e o que ali estava, puf, desaparecia no ar. Uma bicicleta, uma cabra, duas galinhas, uma sela quase nova... Puf! Já era. Um relógio de parede, um piano de calda, uma carabina enferrujada, um gramofone... E a fila foi crescendo. E tudo mundo queria ver aquele que talvez fosse o maior de todos os mágicos da terra. E todo mundo trazendo alguma coisa para o mágico fazer sumir. Mas qualquer coisa mesmo. Até as mais esdrúxulas. Dores, problemas, paixões mal resolvidas, cacoetes, manias. E a fila já dava volta no quarteirão. Estava nesta função, fazendo sumir as espinhas de um menino uma por uma, só no abracadabra, quando uma criança (sempre elas), foi de mansinho até o fundo do palco. Ali se encontrava um armário com cara de bem usado. O menino, no escondido, abriu a porta do dito. E foi tudo caindo lá de dentro, esparramando no chão. Tudo o que ele tinha feito sumir, se derramando pelo palco. Logo vi que aquilo tudo só podia mesmo ser um truque.

Alan Livan Alan Livan é professor de Arte, Mestre em Arte Educação pesquisando Intervenções Artísticas na Escola Pública. Ator, diretor e dramaturgo da Cia Teatral Cabras. Um eterno aprendiz que nada sabe a não ser que a Vida é Bela!


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Marcos Magalhães Nascido e crescido em Jaraguá do Sul - SC, foi só por volta dos dez que me mudei para São Paulo. E vir para cá teve lá seu lado bom. Foi estudando aqui, por exemplo, que entrei em contanto com um professor que me ensinou a escrita criativa enquanto forma de traduzir o mundo ao meu redor de maneira original. Para mim, esse exercício começou com os haicais. Depois, experimentei me dedicar ora a contos, ora a crônicas. Hoje em dia, pesco versos: na sarjeta, no grafite; nos sons e nos espaços. E, uma vez fisgados, os publico semanalmente em uma página que venho administrando há uns três meses - a In Vitro (fb.me/poesiainvitro). De resto, sigo minha estrada à pé.


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O texto a seguir é o relato de um dos alunos beneficiários do Projeto Ampliando Talentos, parceiro dos Construtores de Histórias Experiência Ampliando Talentos Dois de Fevereiro de 2015. Nesse dia eu estava entrando pela primeira vez no Colégio ETAPA como um aluno. Foi o início do novo ciclo que se iniciava na minha vida, o início da minha incrível e incomparável oportunidade de estudar em uma escola que me ajudará a ampliar meus talentos, melhorar meus horizontes, e, com isso, abrir portas em minha vida. Hoje, se encerra o primeiro pequeno ciclo que eu passarei neste Colégio. Neste semestre, eu fiz novas amizades; tive a oportunidade de vivenciar o final de um ano em um bimestre, o fim do conjunto, em que me separo da maioria de meus colegas da antiga classe; participei de algumas olimpíadas brasileiras; aprendi muita coisa que eu tenho certeza que nunca viria se estivesse estudando nos colégios públicos de meu bairro; fiz mais provas do que eu já havia feito em toda a minha vida, e até aprendi a organizar melhor meu tempo para conciliar estudo e lazer. Já detalhei mais os demais meses nos relatórios anteriores, então prezarei, a partir de agora, os acontecimentos do último mês. Neste mês, eu participei de mais uma prova de olimpíada, a Olimpíada Brasileira de Física, e esta semana fiquei sabendo que fui classificado para a segunda fase dessa olimpíada. Ao ver o resultado, fiquei muito alegre, pois não estava confiante de mim mesmo quando fiz a prova da olimpíada, e não esperava ser classificado. Outra coisa que me deixou feliz, foi ver a minha média geral do conjunto aumentar, chegando até à 9,0. Depois das últimas provas, minha média caiu um pouco, mas mesmo assim eu ainda vou progredir, e ser remanejado para a primeira sala (assim espero). Eu sei que não cheguei onde cheguei apenas por mérito próprio, tive muita ajuda de muitas pessoas. Por esse motivo, encerro meu relatório deste mês agradecendo aos colaboradores do projeto Ampliando Talentos, por permitir que tudo isso pudesse ser possível, aos meus parentes, pelo apoio que me deram em todos os momentos necessários, à Roberta Parollo, por me incentivar e motivar à continuar a minha jornada, ao Makoto Yokoyama, pelas ajudas em organização do tempo e foco nos estudos, e, principalmente, a meus amigos, por me darem tanto apoio, quanto incentivo, além de me proporcionarem momentos de alegria e me fazer não ficar tão bitolado nos estudos. Com muito carinho e gratidão, Victor Taiguara O Victor tem 15 anos e está no 2º ano do ensino médio. Ele é um dos 14 alunos atualmente financiados pelo projeto Ampliando Talentos, com bolsa 100 % no colégio Etapa. Tem o sonho de fazer faculdade de Engenharia. Desde pequeno já era estudioso, o que lhe rendeu algumas medalhas até hoje (3 medalhas de ouro na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas em 2012, 2013 e 2014); menção honrosa na Olimpíada Brasileira de Física em 2015 e medalha de ouro no Canguru de Matemática em 2016. Quando sobra algum tempo – coisa rara ultimamente – ainda gosta de escrever.


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NOTÍCIAS DOS CONSTRUTORES Intervenção dos Construtores E não é que rolou! Para o meio da primeira revista foram pra rua os Construtores Vinicius Escócia, Danielle Venina e Catarina Souza a fim de conseguir alguns depoimentos e histórias, aqui deixamos o rosto sorridente de nossas contribuidoras que gentilmente contaram suas histórias. Não um Coletivo, mas uma Aldeia

Falando em legal, no último mês conhecemos dois coletivos, o da matéria da Capa dessa revista e um outro que se intitula Aldeia. Foi um aprendizado incrível com uma galera que faremos questão de visitar outras vezes. Saiu na Nossa ZN, confiram a reportagem.

Fundação Casa E voltamos à Fundação Casa, com uma semana corrida de duas palestras por dia - fica nosso agradecimento ao Sérgio a pessoa que mais assistiu nossas palestras - uma visita que repetiremos muitas e muitas vezes.

Sarau Soul Poeta E no colégio Alberto Cardoso, lá estivemos nós conversando sobre poesia, produção de texto e cultura de um modo geral, A sala foi lotada por cinco vezes. Mas é claro que não faltou pique aos construtores.

Tocha Olímpica Para finalizar: Sandra Martins, Matheus Mendes e Rodrigo Marcelino conduziram um passeio com uma tocha de mentira pelas ruas do Jaçanã, foi hilário! Mas vamso deixar essa história para um outro dia.


AGENDA DOS CONSTRUTORES

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As inscrições para o Projeto Ampliando Talentos estão abertas até o dia 02 de outubro. Acesse o site e confira!



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