Revista Construtores de Histórias

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AGENDA DOS CONSTRUTORES

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EDITORIAL

Mais uma revista! E, dessa vez, com FICHA TÉCNICA um tema que todos nós adoramos: Realização: Histórias em Quadrinhos. E – sim – nós Construtores de não perdemos a oportunidade de Histórias mergulhar de cabeça nesse universo fantástico. Até mesmo os Construtores de Catarina Barbosa Histórias se transfor maram em Danielle Venina personagens de HQ nesta edição.. Matheus Mendes A pesquisa que realizamos nos Paulo Giordan permitiu entender o quanto esse universo é extenso. A produção de um Priscila Enokida quadrinho possui tantos elementos intrínsecos que nem somos capazes Rodrigo Marcelino de enumerar. Trata-se de algo que vai muito além de juntar imagem e Sandra Martins balões de fala. É, em síntese, maravilhoso! Vinícius Escócia Nossos agradecimentos ao Coletivo Prateleira de Quadrinhos, em especial ao Jonatas, que tão bem nos recebeu e tanto cooperou com Arte da Capa: nosso trabalho, proporcionando uma matéria de capa riquíssima em Ronaldo Ferreira conteúdo, além de uma agradável manhã recheada com grandes aprendizados sobre a arte de escrever, compreender e difundir HQs. Autores Convidados: Lembramos, ainda, de nossos parceiros de Furnas – que, junto aos Abílio Canel Construtores, realizaram o sarau de divulgação desta revista, Aderci Sanches presenteando, por ocasião do natal, mais de 150 crianças carentes da Annelise Carvalho região da Vila Zilda. Parabéns pelo projeto! Bianca Arias Como não poderia faltar, agradecemos aos autores dos inúmeros Danilo Nogueira textos que recebemos e pedimos perdão por nem todos serem Isabella Ferraz contemplados nesta publicação. Prometemos, no entanto, que nas Sophia Silva próximas edições suas obras estarão em nossas páginas. Obrigado pela confiança que depositam em nós! Ainda nesta edição, você poderá conferir mais uma coluna Van Filosofia, dessa vez com uma charge criada pelo brilhante Abílio Canel, que a cada edição se torna ainda mais parte da equipe. E já que o assunto é HQ, nossas curiosidades também versam sobre Seja um os bastidores das maiores produtoras de histórias de heróis do mundo: Construtor de Histórias DC e Marvel. Separamos apenas alguns dos vários mistérios que esse Contribua com este periódico universo possui e garantimos que vale a pena ler sobre todos eles. Contato: Prepare-se, leitor! Uma nova aventura espera por vocês nessas páginas. Vista sua supercapa, escolha seu superpoder, acomode-se em col.construtoresdehistorias um lugar supertranquilo e aproveite esta super-revista. Sandra Martins - Idealizadora do Coletivo. Construtores de Histórias


ÍNDICE

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MATÉRIA DA CAPA De quadrinho em quadrinho, construímos nossa história...

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Biografias

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Editorial

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Notícias dos Construtores

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Agenda dos Construtores

23 CEI Raio de Luz

POESIAS Desacato

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Renúncia

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Canto de Mim Mesmo

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Amor Passageiro

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COPIA COLA; Rei de Aluguel; (...)

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Quebra-Cabeça

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Teatro no SESC

CONTOS Tudo o que eu te ensinei

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As cartas que Henry não enviou à Ana

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De quadrinho em quadrinho...

ARTIGOS Van Filosofia

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Sarau Academia de Escritores

E MAIS... Variedades

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Tudo o que eu te ensinei E eu te alertei que a vida real jamais poderia superar tua imaginação. Convenci-te que as fotos em preto e branco são mais belas por estarem em construção: artista e público juntam-se para completar a obra – o primeiro com os traços e as bordas; o segundo com conteúdo, contexto e história. Preenchem-na com todas as suas lápides empilhadas na edificação de suas muralhas pessoais. Muros os quais ousamos timidamente escalar de vez em quando e, espiando por entre os flancos, respiramos fundo jogando ao externo uma flor. Uma flor, uma lágrima, uma dor; um grito mudo, uma dança, um toque, um calor. E agora, com teus olhos já fechados e cansados do expirado, perceba que nada mudou, mas aquela foto cinza tem tons teus eternizados. Orientei-te a não fugir das tuas dores, dos teus medos e das tuas saudades. A falta que ela faz não irá sumir só porque teus olhos estão fechados e o cheiro dela está trancado no teu cofre mais espesso depois que jogastes a chave no mar. Se o câncer levou-a antes da hora marcada, talvez tu sejas a alma atrasada, pois o barqueiro não costuma errar. Quem sabe um dia encontremo-nos todos nos belos jardins do Paraíso, ou nos palácios do Elísio, nas nuvens dos querubins ou nos braços de Iemanjá? Bem, só me prometa uma coisa: não deixe que a morte te mova só porque a vida é desova para um novo nascer. E saiba que ela dói em mim também. Ela me ensinou a ser a pedra angular do meu próprio forte para que quando as ondas inundem meu bote e me tirem o ar, eu escute sua voz calma sussurrando “Calma, meu dengo, para ser peixe basta saber nadar.”. Sussurrei nas tuas noites de insônia sobre como, ás vezes, o corpo é uma prisão. Que Morfeu te nega a inconsciência porque tua alma implora por exílio, expiração. Talvez por medo, imaturidade ou ingratidão. O desejo de liberdade plena é universal, mas somos animais sociais: estamos condenados uns aos outros sem o direito de escolher a solidão. E eu rezo todas as noites para que encontres em ti mesmo a melhor companhia, que dances na chuva a faças sinfonia com tua própria voz: um show só teu que, talvez alguém escute por trás das cortinas fechadas dos teus olhos e se sinta convidado a participar também. Mas saiba que o mundo é interessante demais para que, como todos, teus olhos busquem somente por marinheiros e ignorem o cais. Escrevi na areia sob teus pés que, ao contrário do que dizem, uma mentira contada mil vezes ainda é uma fraude. As pessoas dizem a si mesmas que a felicidade será alcançada depois de tal obstáculo e postergam sua satisfação para o próximo ato, até ser tarde demais e as cortinas se fecharem no fim do espetáculo. Seja no presente a realização do teu sonhado futuro, pois o recado é duro: o Acaso não irá proteger-te enquanto andares distraído. Tu não és invencível – de tão delicado chegas a ser risível, de porcelana, sujeito a choques e calotes. Provei-te que tua personalidade é um conceito relativo, que está em constante transformação pelo dialogismo. Quem sabe esse relato discreto possa melhorar-te em alguns anos – acredite, foram muitas marcas de expressão e cicatrizes manchando panos? Não. Não te escrevo em nome do progresso – Conte que me perdoe, pois essa noção é questionável. Quem foram Platão, Kant, Buda ou Maomé, se não homens de carne e osso, para dizernos o que perfeição realmente é? E por essa mesma lógica, quem sou eu? Tu és livre para virar a direita na próxima conversão, ou sair da estrada, entrar na contramão. Irônico escrever estas linhas sendo que tu és o meu parágrafo em construção. Então, te peço apenas um favor: não trace um dilema entre fazer-se poema ou crônica do Ruben nos botequins dos Jardins, por que não ser ambos quando – e se – a vontade vir? Recitei nos teus ouvidos que as dicotomias de Camões também são tuas, que as reflexões de Clarisse te despem nua. Que as críticas machadianas encaixam-se perfeitamente no teu ego esculpido por um mundo


07 antagônico: tu és bicho como Fabiano, mas ideal como Iracema; um índio que rema, rema, rema e afoga-se por amor ao fútil. Não vale a pena afogar-se por nada além de si – não negue, nossa alma é pequena! É minúscula e quebradiça feito mosaico Bizantino – reflete com teu o brilho do mundo, mas cai, quebra, estilhaça, corta, machuca, deixa marca. Tatuagem de sangue que arde sem se ver, dói e não se sente. Enroscam-te os dedos, embrulham seu estômago e entorpecem tua mente. Quem é Katrina, Wilma ou Andrew perto dos fantasmas que te assombram? Eu te avisei que o amor te faria entender porque furacões recebem nome de gente. Lança-te, balança-te, bagunça-te. Faz-te em cacos. E te despedaça no chão como as cinzas de uma fênix que renascerá como um novo inteiro de partes. Um novo universo em expansão e caos: formam-se buracos negros na tua mente, galáxias explodem no seu estômago, estrelas nascem nos teus olhos e cometas escorrem pelo céu da sua boca, mas o Latin Lover termina, sem revólver, sem ciúmes e sem remédio. De tédio. E o ciclo recomeça. Reinicia-se em harmonia com teus cacos, furacões, parágrafos rachurados; tuas ondas, cicatrizes, memórias e muralhas. Harmonia que eventualmente fazemos caos, como um oceano de ar no qual insistimos em nos sufocar, desejando fugir, escapar, respirar. Não te penalizes uma sentença que nunca lhe foi dada, liberta-te de todas as correntes que tu mesmo enlaçaste e antes de salvar-se do mundo, escolha salvar-se de si. Desejo do fundo do peito que te aches, que te cures e que vida cada momento eternamente – eternamente enquanto dure! Contei-lhe sobre como a dor pode ser bonita na tela, no papel, na TV, mas como a vida ainda é poesia – e jamais vazia- sem ela. Ser feliz é uma escolha, é a colheita das tuas ações; ser triste é atenuar resistência ao criar resistência ao pouco ar que luta por espaço em teus pulmões. Cada molécula de oxigênio é um veneno doce: sorri para a vida, mas acena para Caronte. Por que então tens tanta pressa, se o futuro inerente é a morte? Quem sabe um dia, com um pouco de sorte, entendas que a vida é um emaranhado de nós: que estamos todos amarrados, eu, tu e ele conectados por uma conjugação plural. E que independente do que faças, a gravidade “tique-taca” tua areia sem dó, porque ela sabe que, desde que te sintas real, basta uma ampulheta só. Apontei para ti todas as estrelas do meu céu, contando-lhe entre sorrisos sobre como tens sorte de ver as árvores, ouvir os pássaros e provar o mel de todas as sinestesias que o mundo te traz. E essa vida é tão fugaz, tu tens a obrigação de ver toda música, tocar todo cheiro, cheirar toda cena e ouvir todo beijo. Não existe toque melhor que o de uma brisa fria temperada com o amargo de um café quente, ou a explosão de cores e texturas que deveras sentes quando respiras fundo e observas o teto rosado de teus olhos fechados. Sinta a magia de ser tudo e de ser nada: de ser galáxia perto do Sol, de ser átomo perto de mol.

Isabella Ferraz Nasci em sete de janeiro de 1998, em São Paulo. Com dois anos, mudei-me para Limeira, o que me trouxe uma infância clichê e feliz. Durante minha estadia no interior, me aproximei muito das artes em geral: fiz danças, lutas, li pouco de muito por limites de maturidade. Ao retornar à capital, em 2011, estudei num colégio, no qual aprendi a ter muito de pouco e não me render à superficialidade tão intrínseca ao nosso cotidiano. Esta batalha se deu através da reflexão sobre diversos assuntos que, para não serem perdidos, tornaram-se palavras. Atualmente, faço Engenharia de Produção na Escola Politécnica de São Paulo, e muito embora pouco da minha rotina esteja relacionada à arte,procuro sempre respirar e achar poesia na vida.


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As cartas que Henry não enviou à Ana Será que é um pecado imperdoável se apropriar da história alheia porque você não a considera boa o suficiente? Ou talvez ela seja tão boa que, você como leitor, não consegue se limitar apenas a ler. Bom, de qualquer forma, acabei me apropriando quando conheci Henrique VIII, Rei da Inglaterra por volta de 1500 d.C.. Sua história é incrível e, inclusive, fica aqui um convite para que a conheça em detalhes. Parece mesmo surreal. Aprendendo sobre esse monarca na aula de história eu consegui imaginar traços de sua personalidade e o que provavelmente o teria levado às suas decisões tão revolucionárias. Mas, como romântica incorrigível que sou, é claro que não poderiam faltar muito drama e amor não correspondido em minhas adaptações históricas. Os trechos de cartas que escrevi a seguir, além de demonstrar o lado romântico de Henry (carinhosamente chamando), mostra também um pouco da história real do rapaz que se tornou Rei com apenas 18 anos. Algumas informações são verídicas mas, apesar de ele ter sido um Rei “bom de lábia” e bastante namorador, a história não aconteceu exatamente dessa forma com Ana Bolena, outra personagem da vida real por quem me apaixonei e que se tornou, pouco mais tarde, na minha ficção e na vida real, Rainha da Inglaterra, esposa de Henrique. AS CARTAS QUE HENRY NÃO ENVIOU À ANA Londres, 23 de Junho de 1508 Minha Anne, Acho que agora finalmente estou entendendo tudo o que está se passando. O Rei continua me mantendo preso em meus aposentos e não tenho um quarto para entrar furtivamente na calada da noite. Ele diz que é para me proteger. Eu fui lá em seu antigo quarto. Você ainda não havia voltado. Por que a demora? Não entende que cada dia que passo sem sua companhia é como uma estaca retirando lentamente todas as minhas entranhas? Quer a minha morte, é isso? No dia em que estava chorando em seu quarto e Mary foi me chamar pedindo para que você se acalmasse porque estava convencida de que seu pai havia morrido na viagem da qual não retornava, eu levei até você a notícia que secou-lhe as lágrimas. Seu pai fora atingido pela praga, sim, mas estava retornando, vivo. E agora onde está você? Quando a morte ronda o leito de meu pai e o risco de me tornar Rei antes que esteja preparado me aflige? Onde está você para secar minhas lágrimas de aflição por ele? Eu não consigo entender por que não está aqui. Volte logo. Eternamente seu. H. R.


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Anne, Espero que George esteja lhe fazendo feliz, como eu gostaria de estar. Espero, sinceramente, que não esteja aflita pela culpa. Espero que me mande alguma carta com notícias. Gostaria de poder dizer que lhe esqueci, mas ainda não foi possível. O seu silêncio me assombra. E agora vou me deitar pensando em te encontrar, mas nos meus sonhos você não está mais. Acho que estou arrependido de pensar em esquecer-te. Manter viva a lembrança de seus sorrisos e seus olhares me dava força para enfrentar todos os dias. Agora eles apenas parecem cinzentos, mesmo com o sol brilhando. Volte.

Minha Anne, Seu Henry está aqui, a sua espera. Não consigo enviar-lhe nenhuma carta pelo medo de dizer algo que não seja do seu agrado, ou de meu amigo George. Por favor, diga-me que está bem. Eu pretendo me casar com Catarina. É bem mais fácil de aceitar sem sua presença aqui. Peço para que venha a tempo de impedir. Ainda te a... Não contente em ter romantizado muito mais a história do Rei, eu encontrei um final bem mais digno para ela, em minha opinião é claro. E, não satisfeita em tê-lo feito sozinha, convido você a descobrir como foi a vida de Henry Tudor, se é que já não sabe, e imaginar como poderia ter sido. Não dói e parece até mesmo reconfortante.

Annelise Carvalho Annelise Alves Carvalho, 21 anos, formada em Administração de Empresas, da cidade de Guarulhos, São Paulo. Sua leitura preferida sempre fora os quadrinhos. Recentemente passou a se aventurar nos romances de época. Sempre gostou de escrever e desenhar, antes sem compromisso, agora com muito amor.


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VAN FILOSOFIA

Abílio Canel Construtor de Histórias Honorário

Desacato Enquanto a poesia for desacato eu desacata-rei ! eu sou poeta e não rei a milícia repreende, prende mas não entende que minha poesia é pertinente Enquanto a poesia for desacato eu desacata-rei ! lutarei, persistirei

Enquanto a poesia for desacato eu desacata-rei ! Eu ando corro de pés descalços! sou alvo dos tais repressores. me apoio nos defensores Martin Luther king, Madiba Mandela EU SOU FAVELA. Enquanto a poesia for desacato eu desacata-rei ! eu sou poeta e não rei. Vinícius Escócia


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Renúncia E nesse transe talvez em sonho divido a alma Uma parte segue te acompanhando Caminho em paz pela vida do destino Alguns momentos, sem rumo, Só te amando

Que saudade sinto de você doce menino Do sorriso ausente que embalava meus sonhos Do silencio vazio dos teus passos Da ternura do teu olhar e dos abraços Da luz de tua alma que se irradia. E nesse transe talvez em sonho divido a alma Uma parte segue te acompanhando Caminho em paz pela vida do destino Alguns momentos, sem rumo, Só te amando Mas uma voz vai me chamando à realidade É a razão que vai falando sem piedade Volte num todo corpo e alma vai falando Renuncia ao doce enlevo Vai caminhando! E assim, alma ferida sigo em frente, Com teu rosto em minha mente me fitando, Eu digo adeus com vontade fe ficar, Que saudade sinto de você doce menino Do sorriso ausente que embalava meus sonhos Do silencio vazio dos teus passos Da ternura do teu olhar e dos abraços Da luz de tua alma que se irradia.

Mas uma voz vai me chamando à realidade É a razão que vai falando sem piedade Volte num todo corpo e alma vai falando Renuncia ao doce enlevo Vai caminhando! E assim, alma ferida sigo em frente, Com teu rosto em minha mente me fitando, Eu digo adeus com vontade fe ficar, Mas, deixo a vida em tuas mãos Pra me cuidar Marcado o tempo, entregue a ao Senhor da Vida E diga a ele, que nossos caminhos traça Que te entreguei como se entrega um tesouro Um bem maior para um bem Que nunca passa Diga ao Senhor, Não renunciei a própria vida Eu simplesmente a perdi quando te achei Só renunciei a este amor, grandioso, puro Que me marcou roubando minha razão de ser

Aderci Sanches Prado Com 71 anos, trabalhou em diversas áreas até se tornar bancária, cargo que abandonou ao se casar, em 1965. Mãe de três filhos. Concluiu o 1º Grau através do Telecurso. Em seguida, formou-se como Auxiliar de Enfermagem e trabalhou na Santa Casa até 1994. Adentrou, ainda, a Faculdade, onde se formou Enfermeira, atuando nessa área até se aposentar .




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DE QUADRINHO EM QUADINHO, CONSTRUÍMOS NOSSA HISTÓRIA... Prateleira de Quadrinhos - Um olhar sobre o mundo através da HQ Quando, em 1895, o Journal publicou uma tirinha de desenhos que, sequenciados, contavam uma história, era impossível imaginar que aquela edição seria tão marcante. O criativo Richard Outcault, seu autor, seria, provavelmente, considerado maluco se anunciasse que estava, na verdade, convencionando o modelo de HQs que seriam lidas quase dois séculos depois. Certamente, ninguém tinha ideia de como esse modelo se tornaria popular tão rapidamente, principalmente entre crianças e adolescentes. O boom do gênero aconteceu graças ao personagem Mickey Dugan, mais conhecido como The Yellow Kid (‘‘O Garoto Amarelo’’), este era o personagem principal de Hogan's Alley, uma das primeiras histórias em quadrinhos a ser impressa em cores. O Yellow Kid era uma criança dentuça com traços asiáticos, que sempre aparecia com um sorriso bobo e sua vestimenta característica – um pijama amarelo – enquanto circulava por uma vila cheia das mais estranhas criaturas. A tirinha chegou a fazer tanto sucesso que os O Menino Amarelo jornais a disputavam sem a menor discrição. Histórias em quadrinhos, HQs, gibis, revistinhas, tirinhas ou charges – Não importa o nome – são um dos recursos de leitura mais bem aceitos pelas pessoas. No Brasil começaram a ser publicadas no século XIX, adotando um estilo satírico. No entanto, a edição de revistas próprias de histórias em quadrinhos no país começou no início do século XX, cartunistas como Mauricio de Souza fizeram parte da infância de milhares de crianças com a mesma relevância de Monteiro Lobato na literatura e,


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portanto, são dignos do mesmo mérito. Os personagens da Turma da Mônica, criados em 1959, vivenciam um cotidiano simples de crianças que vivem na Rua dos Limoeiros. Mas não são apenas as crianças que se deliciam com as HQs, na verdade o público é quase tão variado quanto o conteúdo das histórias e atrai de desenhistas a críticos. Prova disso é que o cinema tem absorvido essa diversidade de personagens e histórias e, inserindo todos os recursos possíveis em efeitos especiais, o resultado tem agradado muito, tanto que os filmes batem recordes de bilheteria, um após o outro. O último grande sucesso é Esquadrão Suicida, que narra a história dos vilões da DC em uma batalha onde são obrigados a executar missões a mando do governo. Caso Cartaz - Esquadrão Suicida sejam bem-sucedidos, eles têm suas penas abreviadas em 10 anos. Caso contrário, simplesmente, serão executados. No mundo das HQs, entretenimento se mistura a contestação. O conteúdo infantil, ligado ao cotidiano ou aos super-heróis passeia entre problemas sérios como aceitação, preconceito e drogas. São infinitas possibilidades. Mas, apesar disso, há uma corrente de estudiosos de literatura que menospreza o gênero, diminuindo sua importância à meras histórias vazias. Na contramão dessa opinião, o Coletivo Prateleira de Quadrinhos traz, gratuitamente, à Biblioteca Municipal Milton Santos, oficinas que promovem trocas, debates e workshops com explicações e dinâmicas voltadas para quem quer aprender sobre o universo dessas histórias. ‘‘Nossa missão é contribuir para a formação de novos leitores, pensando que a educação não pode se preocupar somente em informar o que já foi feito, a educação tem que abrir uma porta para que o sujeito possa fantasiar o futuro e dar corpo a essa fantasia”. explica Jonatas Reunião do Coletivo Varela, um dos idealizadores do projeto. “Não temos super poderes mas, temos os mesmos sentimentos dos personagens das histórias” acrescenta Ana Cristina Gomes, outra integrante do coletivo,


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“Queremos fazer do mundo um lugar melhor. Poderíamos ser chamados de turma, liga, ou iniciativa, mas somos pessoas comuns que resolveram mudar o mundo em que vivemos, devolvendo para leitura o que recebemos dela”. Os participantes da oficina, bastante motivados, desenham enquanto aprendem sobre origens, perfis e características das Jonatas, idealizador do projeto mais diversas que envolvem o mundo criado para as histórias em quadrinhos. “O intuito da oficina não é ensinar a desenhar, por isso ela é uma experiência valiosa mesmo para aqueles que não gostam dessa arte”, continua Jonatas. A verdade é que existem poucas políticas públicas da educação que utilizam os quadrinhos como uma ferramenta capaz de enriquecer o processo educativo e ele, muitas vezes, se vê apenas como parte de provas e avaliações de vestibulares. Mas eles são bem mais que isso, eles representam a manifestação da arte, do pensamento e da criatividade. Ao usar quadrinhos como um mecanismo de formação cultural, Produção nos workshops confrontamos os sentimentos que fazem parte da vida e do mundo. As situações e elementos do cotidiano envolvidos dentro de uma história em quadrinhos fazem com que o leitor se reconheça e perceba que não está só, assim ele pode aprender que é possível mudar de uma forma mais lúdica e interativa. Tais impressões marcam o leitor e o levam a refletir sobre o mundo e a sua existência. Ainda existe muito preconceito com relação a essa produção de linguagem, muitos a consideram rudimentar ou inferior. A verdade é que no mundo em que vivemos cada vez mais imagem e linguagem estão entrelaçadas. Vemos isso em propagandas, em toda a linguagem audiovisual. Para completar essa reportagem acho que aceitamos o desafio da galera do prateleira como um desafio para toda a sociedade “Nosso desafio com essa oficina é mostrar que os quadrinhos podem ajudar as pessoas a resolver seus conflitos, eles têm feito isso a gerações e na nossa não é diferente pois os HQs se renovam e isso é, verdadeiramente, mágico”. O livro é aquele brinquedo, por incrível que pareça, Que, entre um mistério e um segredo, Põe idéias na cabeça. Maria Dinorah


VARIEDADES

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Já que o assunto é HQ, os Construtores de Histórias separaram uma listinha bem divertida de curiosidades sobre o maravilhoso mundo dos quadrinhos.

Troca de Nomes O nome original da Mulher Maravilha era “Suprema”, mas os produtores mudaram de ideia de última hora por lembrar o nome Superman. Mix de Heróis! Em 1996, a Marvel e a DC Comics criaram a Amalgam Comics, juntando seus universos em um só. Assim, surgiram Darkclaw (Batman + Wolverine), Super Soldier (Superman + Capitão América) e Iron Lantern Green (Lanterna Verde + Homem de Ferro). Acordo de Cavalheiros Quando Nick Fury foi reintroduzido nas HQs Ultimate Marvel, ele foi redesenhado para se parecer com Samuel L Jackson, sem a sua permissão. O próprio ator notou a semelhança e entrou em contato com a empresa para fazer um acordo: para não ser processada, a Marvel teria de garantir que o papel no cinema seria exclusividade de Jackson. Precisando de Consertos? Chame os Heróis Há uma empresa fictícia criada pela Marvel chamada Damage Control. Ela é especializada na reparação dos danos materiais causados por conflitos entre super-heróis e supervilões. A série de HQs da Damage Control foi criada em 1989 e existem vários números publicados. O MacGyver dos Quadrinhos O Agente Coulson já derrotou sozinho toda uma unidade de soldados HYDRA. Quando perguntado sobre qual arma ele utilizou para fazer isso, ele mostrou uma caneta. Isso sim daria um bom comercial para a BIC.


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Canto de mim mesmo Traiçoeiros e curiosos estão à minha volta Pessoas com quem me encontro, os efeitos que a minha infância tem sobre mim, ou o bairro e a cidade em que vivo, ou a nação, As últimas datas, descobertas, invenções, sociedades, autores antigos e novos, Meu jantar, roupas, amigos, olhares, cumprimentos, dívidas, A indiferença real ou fantasiosa de um homem ou mulher que eu amo, A doença de alguém de minha gente ou de mim mesmo, ou ato doentio, ou perda ou falta de dinheiro, depressões ou exaltações, Batalhas, os horrores da guerra fratricida, a febre de notícias duvidosas, os terríveis eventos; Essas imagens vêm a mim dia e noite, e partem de mim outra vez, Mas não são o meu verdadeiro Ser. No passado vejo meus próprios dias quando suei através do nevoeiro com linguistas e contendores, Não trago zombarias ou argumentos, apenas testemunho e aguardo. Eu celebro o eu, num canto de mim mesmo, E aquilo que eu presumir também presumirás, Pois cada átomo que há em mim igualmente habita em ti. Descanso e convido a minha alma, Deito-me e descanso tranqüilamente, observando uma haste da relva de verão. Minha língua, todo átomo do meu sangue formado deste solo, deste ar, Nascido aqui de pais nascidos aqui de pais o mesmo e seus pais também o mesmo, Com saúde perfeita, dou início, Com a esperança de não cessar até morrer.

Sophia Silva Estudante do EMEF Lourenço Filho, tenho 14 anos, literalmente apaixonada pela escrita e pela música. Assim, decidi colocar o que mais amo na folha do caderno. Escrevo meus sentimentos em poesia porque me identifico com essa maneira. Espero que gostem.


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Amor passageiro Pode parecer estranho mas eu queria muito viajar de trem, não um trem qualquer, um trem com poltronas confortáveis e amarelas. Pode parecer estranho mas, você sempre gostou dos meus gostos desajeitados e estranhos. Poltronas amarelas e um porta copo azul, aquele azul sabe? Aquele mesmo azul que tinha naquele quadro que eu implorei para você me dar de presente de aniversário. Pode parecer estranho mas, todas as vezes que eu olho para ele me lembro de você, e me lembro de todas as vezes que você gostando ou não de algo que eu sonhasse ou quisesse, você sempre olhava nos meus olhos, sorria e concordava com todas aquelas tolices que eu dizia para você. Pode parecer estranho mas o meu desejo de viajar em um trem de poltronas amarelas tem uma explicação. Pode parecer estranho para os outros, mas para nós era espetacular, todos os meus sonhos você sabia até de cor de tanto que eu repetia para você, mas tinha um único sonho que eu precisava realizar sem você saber. Pode parecer estranho mas eu sonhei uma vez que você subia em um trem de poltronas amarelas e porta copos azuis, o trem estava cheio, mas tinha uma poltrona do meu lado. Você caminhava na minha direção e se sentava ali, quieto, sorridente e com um livro de poemas na mão. Pode parecer estranho mas quando você sorriu, sem intensão de me conquistar, foi inexplicável o que senti naquele momento. Você só quis ser simpático, e foi o sorriso mais sincero que eu tinha visto durante o dia todo, conversamos e trocamos SMS por um tempo até que você me chamou pra jantar. Pode parecer estranho, mas nesse meu sonho todo o meu maior desejo era te reencontrar todos os dias naquele trem de poltronas amarelas e porta copos azuis, só pra te olhar sorrindo outra vez.

Bianca Arias Nasceu e mora em São Paulo, tem 14 anos mas é muito avançada para o colegial. Seu maior prazer é desabafar a vida na escrita, quer ser administradora de empresas.


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CÓPIA COLA

Rei de Aluguel

A música da asas As asas dão amor O amor trás ilusão A ilusão trás a dor Da dor a agonia Da agonia o rancor Do rancor a raiva Da raiva o desgraça Da desgraça o luto Do luto o perdão Do perdão o amor

Ví a mula sem cabeça E também a Iemanjá Saci sem perna pulando E a Iara cantar Ví tanta coisa nesse mundo que só me resta falar Poesia vem do profundo Do profundo vem as histórias O conto reina o rei conta para reinar.

Sem Título Sem Sentimento Mais vale pagar com o figado do que com o coração Uma alma perdida em um lago de escuridão O amor véio mas matou com uma ilusão Catraca da vida não passo não Travei com a mochila e agora só me resta a emoção.

Danilo Nogueira Danilo Nogueira, conhecido entre seus amigos, por Danilo Hale nasceu no dia 06 de 06 de 1999. Tem 17 anos e pensa em se formar em biologia. Adora ler, escreve poesias e histórias para adolescentes onde trabalha com dilemas existenciais. Hoje em dia Danilo com vários cursos no seu currículo procura um trabalho ou algum projeto para ocupar a mente,


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Quebra-Cabeça Num episódio montava um quebra-cabeça Perdi-me ao desenho ainda disforme Assim destrairia a menina travessa Mas então destraí à mim, esperando o transforme Tantas peças, era difícil encaixar uma na outra Veio um pensamento além do paradigma Porém não compartilhei-o, talvez pensassem que eu estivesse louca Metaforicamente senti-me naquele enorme quebra-cabeça Representando uma insignificante peça E por incrível que pareça Surgiu poema, que rendeu conversa Aquela pecinha colorindo um fragmento do grande céu azul Era vaga demais Entretanto a individualidade de cada um Faz com que torne-se completo, sem precisar de menos ou mais Priscila Enokida

Construtores de Histórias Visitam O Coletivo Construtores de Histórias alça novos voos. E você pode participar dessa iniciativa! Em parceria com Escolas, Biliotecas e também com a Fundação Casa, os Construtores estão realizando saraus e competições literárias em diversos lugares. E aí? Quer que a gente vá até você? Entre em contato conosco!


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NOTÍCIAS DOS CONSTRUTORES Sarau Academia de Escritores Os Construtores realizaram seu segundo sarau, concluindo a edição A Rua na Arte e a Arte na Rua, o na sede da Associação Amigos de Vila Zilda. O evento, além da apresentação do grupo Reboco das Letras, contou com uma Batalha de Versos e alguns espectadores recitaram suas próprias composições. A festa foi incrível!

Missão Criança Falando em festa, no sábado anterior ao Dia das Crianças, Priscila Enokida, junto a um grupo de colegas, fez pinturas de rosto durante o Missão Criança - festa coordenada pelo Museu do Jaçanã, com ajuda de patrocinadores locais. O bairro recebeu brinquedos, apresentações, prestação de serviços de saúde e beleza, e oficinas. Parabéns pela iniciativa!

Teatro no SESC Os alunos da EE D. Cyrene de Oliveira Laet, participaram do Festival Sincronia de Linguagens no SESC Santana com a peça Uma Tragédia Quase Grega, de autoria de Sandra Martins e Matheus Mendes. A obra cômica narra o julgamento e morte do filósofo Sócrates.

Parceria na Fábrica de Cultura Jaçanã - Fábrica no quintal E segue a parceria com a Fábrica de Cultura Jaçanã. Dessa vez, o evento conjunto aconteceu no auditório do equipamento. Os CDH dividiram palco com o Bando Jaçanã, cia. de teatro composta por jovens da região.. Inesquecível!

CEI Raio de Luz - Contação de Histórias Por ocasião do Dia das Crianças, Os Construtores visitaram um Centro de Educação Infantil, localizado na Vila Zilda. Os alunos da unidade, todos com cerca de cinco anos, participaram de uma divertida contação de histórias infantis ministrada pelos integrantes do coletivo, além de aprenderem músicas e danças em grupo. Foi muito legal!


AGENDA DOS CONSTRUTORES TROVADORES NOEIS Repleta de luzinhas coloridas, gnomos, sinos e bonecos, instrumentos musicais, fitas, cata-ventos, bolinhas de neve e brinquedos, a Casa dos Trovadores está toda enfeitada para o natal. Nesse lugar especial, às sextas-feiras (de 04 de novembro a 23 de dezembro), ocorre a ‘‘Seresta de Sexta - especial de natal’’. Onde: R. Aimberê, 651 – Perdizes Quando: Às sextas-feiras Das 20h às 21h30. Venha e traga toda sua família e amigos!

PLANETÁRIO DO IBIRAPUERA O Planetário Aristóteles Orsini, o primeiro planetário do Brasil é um prédio importante do patrimônio histórico, científico e cultural, tombado pelo Condephaat. Neste fim de ano, está aberto para visitas de quarta à domingo e aos feriados, para sessões com duração de 40 minutos. Para assistir, basta retirar uma das 320 senhas gratuitas distribuídas 1h antes do início do evento. Onde: Parque Ibirapuera - Av. Pedro Álvares Cabral, s/n Quando: De quarta à Domingo Das 10h às 18h

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