MURAL
U M
N O V O
OLHAR SOBRE A
PERIFERIA
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EDITORIAL Mais uma missão cumprida!
FICHA TÉCNICA A escrita deste editorial é, Realização: c e r t a m e n t e, u m a d a m a i o r e s Construtores de responsabilidades que recebi na Histórias produção da Revista Construtores de Histórias. Isso porque trata-se, primeiramente, de um exemplar cujo Catarina Barbosa tema é a atividade de jornalistas, ou Danielle Venina seja, pessoas que escrevem Matheus Mendes profissionalmente e que batalham para que a arte da escrita seja seu meio ganhar a vida e, principalmente, de Paulo Giordan expor seu olhar sobre o mundo. Além disso, a questão da representatividade na Priscila Enokida periferia é coisa muito séria e, felizmente, há uma porção de grupos de Rodrigo Marcelino responsa fazendo isso brilhantemente e poder encontrar e conversar com uma Sandra Martins equipe que faz isso de dentro do prédio da Folha de São Paulo é muito importante. Vinícius Escócia O que nos motiva nessa jornada é, justamente, a oportunidade de sermos portadores de informações tão valiosas. A cada nova edição, crescemos e nos Arte da Capa: fortalecemos, acreditando ainda mais. Derrubou-se, nos últimos anos a Ronaldo Ferreira impressão de que não existe produção literária e artística nas periferias, resta agora fazer com que isso seja público e de conhecimento geral. Afinal, semana após semana, atendemos autores que não vislumbraram oportunidade de Autores Convidados: serem reconhecidos, apesar da qualidade e criatividade de suas obras. Abílio Canel Durante esses dois anos, empoderamos a periferia. Em 2016, inclusive, Bianca Chalegre com um sarau de grande importância para a região e que se mostrou Carol Mesquita fundamental para difundir essas produções. Por isso, é inesquecível para nós, uma revista que lança um olhar menos Jéssica Galvão estereotipado sobre as comunidades. E não é isso que fazemos desde a Jonathan Oliveira primeira revista? Assim, deixo o convite para que você, amigo leitor, busque Vinícius Cosseti um olhar novo: busque as flores crescendo, busque o traço do grafite no muro, busque a poesia na esquina… Procure, enfim, pessoas e sonhos, pois a periferia está repleta deles. Por falar em flores, destaque para o poema sentimental da jovem Carol Mesquita, que faz jornalismo escolar na EMEF Lourenço Filho. Acho justo que essa revista seja todinha dedicada a ela, que tem contribuído para um jornalismo informativo e bastante social, não acham? Não poderia deixar de citar Vinicius Cosseti, nossa estrela em ascenção. Fiquem atentos a esse nome, pois há uma grande chance de vocês o lerem Seja um muitas outras vezes nessas páginas. (sem spoilers, por favor!) e o nosso Construtor de Histórias filósofo, Abílio Canel - um Construtor Honorário. Contribua com este Lembramos que nossa missão é ajudar e é uma honra publicar os texto de periódico vocês. Então se quer publicar conosco, mande um email, chame-nos pelo Contato: Facebook… Faça parte dessa caminhada! Por fim, essa revista deixou algo muito claro para nós: a periferia precisa col.construtoresdehistorias de trabalhos como esse e, com o apoio do Programa VAI, estamos fazendo nossa parte. Agradecemos, então, infinitamente por essa oportunidade. Sandra Matins Construtores de Histórias
ÍNDICE
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MATÉRIA DA CAPA Mural: Um novo olhar sobre a periferia
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Biografias
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Editorial
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Notícias dos Construtores
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Agenda dos Construtores
23 Fábrica de Cultura Jaçanã
POESIAS Um pouco sobre mim
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Parecia Inofensivo
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Lembranças
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Circo dos Anos
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Oficina de Escrita
CONTOS Um colar
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Trecho: Os 2 Universos
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Eu te via...
11 Agência Mural
ARTIGOS Van Filosofia
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E MAIS... Variedades
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Feira Cultural - E.E Cyrene
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Um colar... Eu era só mais um garoto, vivendo uma vida engraçada... "engraçadamente monótona" naquela cidadezinha medíocre onde nada realmente acontecia. Aí num desses dias, que você amanhece com o barulho da chuva sobre as telhas, eu estava no porão, e a poeira do móvel acinzentava os meus cabelos escuros, fazendo-me tossir como um doente, perco o ar e o equilíbrio o que me faz cair deitado ao chão, resmungando pela poeira prestes a me erguer do assoalho. Observo uma caixinha brilhante debaixo do móvel velho, não seria nada demais, provavelmente. Por que não esticar a mão para alcançar? Sentado sobre uma cadeira, com a pequena caixa dourada na mão, sacudo o cabelo e dou umas batidas na minha calça, como quem tentando me livrar de toda aquela poeira, depressa abro a caixa que dentro só contém um lindo colar. Era alguma pedra brilhante em forma de coração, um endereço e a foto de uma garota de olhos castanhos e sorriso lindo. Curioso, caminho até a mulher que me criou, ela não gostava muito de falar comigo. Mas, eu queria perguntar a ela sobre a caixa, sobre a garota, se ela sabia algo… De costas lavando louça ela permaneceu e perguntou-me o que eu estava fazendo parado ali. A forma como o tom de voz dela soou nos meus ouvidos me fez assustado esconder a caixa atrás do meu corpo magro e apenas dizer "nada" e correr para o quarto. Fechei a porta e encarei a caixinha dourada pelo resto do dia. Alguma coisa, nos olhos da garota da foto, fez com que eu quisesse encontrá-la… De repente, li embaixo da caixa do colar, "uma herança pequena, pra no teu coração nunca matarem a esperança. 1287" Aquilo realmente havia percorrido anos demais para ficar estagnado na mão de alguém como eu, 1287? Isso era mais velho que a minha tataravó... Bom, independente de quem fosse a menina do retrato, acho que ela merecia o colar mais do que eu. Sei que no máximo o venderia para comprar uns jogos de vídeo game. Tinha um endereço na cidade vizinha, ficava perto do centro e eu estava arrumando um jeito de não parecer um maluco com uma foto e um colar procurando alguém. Assim, eu rondei a casa por alguns dias e nada da garota. Numa quarta feira ensolarada, quando eu quase desistia, finalmente a encontrei na lanchonete da esquina, após pedir um café antes de desistir de vez daquela idéia maluca. mas… Que oportunidade mais louca, lá estava ela, na mesma lanchonete, e o seu colar queimava em meu bolso, eu sentei-me na mesma mesa em que ela estava. A moça olhava fixo para um livro com seus longos cabelos caindo sobre as páginas. Ela levantou o olhar intrigada. Sorte que ela lia Clarisse Lispector que era a minha autora favorita. Ela sorriu ao me ouvir elaborar alguns resumos e debater sobre literatura e, vê-la sorrir, fez com que eu não me importasse com o valor do colar. Talvez a vida não me trouxesse ali só por aquilo, por aquele sorriso... Garoto idiota eu, mal sabia que a vida prega peças, e que nem sempre as peças são contos de fadas... Eu nunca tive coragem de entregar o colar, mas cada vez que a voz dela ecoava me chamando de amor, o colar sempre em meu bolso ardia, como se quisesse criar vida e brotar no pescoço da minha garota... Até que então, eu disse para ela que feliz pulou no meu pescoço, eu contei que a amei desde a foto. Ela questionou como aquilo foi parar na minha mão "você precisa conhecer mamãe, talvez ela saiba explicar o porquê isso está com você" Eu idiota apaixonado, disse brincando: “Me dá sua mão em casamento pequena?” Ela sorriu, e não era só o sorriso da foto era o sorriso mais lindo da minha vida... Viajamos alguns dias para chegar até a casa da mãe dela, ela era cheia de coisinhas, mau humor matinal, e essas coisas de garotas. Porém, eu amava cada chatice dela. Eu tremia em frente à porta da casa de sua mãe porque eu estava realmente cogitando a idéia de fazê-la minha esposa, mas a minha vida acabou ali... Ao abrir a porta, a senhora
07 dos cabelos grisalhos, desmaiou ao ver-me. Minutos depois já acordada olhando a caixinha aquela senhora chorava desesperada. Eu não sabia, mais meu coração pararia de bater logo depois... Ela estava chorando demais, entre seus soluços disse que eu era a cara de meu pai, que por sinal eu nem me lembrava bem como era, pois ele havia morrido há tempo demais, eu ainda sem entender, a minha garota assustada paralisada, muda, desesperada... “Você tinha poucos anos quando me fui, achei ele deitado com outra sobre a cama, a nenem recém nascida sobre os meus braços chorava e você o amava demais para deixá-lo... apesar de tudo ele era um bom pai, e cuidaria bem de você. A caixinha de baixo do móvel, era pra quando ela completasse 15 anos, perto da data do aniversário enviei a foto e o endereço, mesmo assim o colar nunca chegou, pensei que ele não morasse mais lá”. “Realmente não mora” respondi estagnado “Morreu, o conheci pouco…” Passamos horas conversando sobre tudo, minha garota perdida sobre os vitrais da janela, como se não habitasse mais dentro dela... Saiu batendo os pés e berrando: “Irmãos! Irmãos! Irmãos! Isso é uma brincadeira? Cadê as câmeras? Pode parar Miguel não tem graça nenhuma!” eu estremeço a cada palavra que ela grita chorando. Nos sentamos sobre a grama e, sem ter muito o que dizer, eu olho no fundo dos olhos dela e ainda a amo com toda a minha alma, mesmo que não deva mais. Lívida, ela soluça e quer sair correndo, pergunta se pode... Fugir, eu tento ser engraçado e digo que não adianta fugir se seremos irmãos em qualquer lugar do universo. Não teve graça, a vida não tem na verdade, não sem ela... Sobre o meu cansaço deito no chão com ela nos meu braços, acaricio seus cabelos como antes, mais nada é igual, ela se vira para mim perto demais e eu quase imploro para ela não fazer assim, eu quero beijá-la com tudo que tem dentro de mim… Eu nunca soube que seria a última vez, eu teria a beijado se soubesse, teria virado mais noites, teria mais tantas coisas, como alguém pode ir mesmo estando do seu lado? Como algo acaba mesmo estando no fundo dos olhos? e do peito... Ela me acompanha calada para o caminho de volta, caminhamos lentamente como se o coração morresse a cada passo, porque sabemos que nunca mais seremos o que éramos... Ela sorrindo tristemente fala “você foi a melhor coisa que me aconteceu” e eu olho no fundo dos olhos dela querendo dizer que eu a amo, dou um beijo em sua testa "se cuida"... Engraçado, amar tanto de um jeito que não é o jeito certo, ela nasceu no mesmo berço que eu, mais meu coração não entende genealogia só quer correr pra ela. Eu nunca mais apareci, todos os dias convivo com a dor de amá-la da maneira errada, eu a amo com tudo que tem dentro de mim... E se a vida por acaso for uma peça, o palhaço com certeza sou eu, ou me entregaram o papel errado? Deviam ter me dito antes que não era permitido estar apaixonado... Que meus carinhos eternizem o nosso amor, num beijo de despedida imaginário, do adeus que eu não te dei, ainda sinto falta. "uma herança, pequena... " Mas a esperança morreu quando eu soube que o teu sangue corre em mim...
Bianca Chalegre Bianca Chalegre, 21 anos, formada em estética e cosmética, apaixonada por livros e amante da escrita, encontra em cada palavra que escreve uma forma de deixar um pouco de si nas coisas e pessoas.
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Trecho: Os 2 Universos Em uma manhã de quinta-feira, Richt acordou cedo como qualquer dia, preparou seu almoço rapidamente e se arrumou para o trabalho. Nesse dia ele avançou e muito em sua pesquisa sobre uma substância nova que ele havia descoberto, ele chamava de blini, a qual ele acreditava que pudesse explicar como as coisas eram criadas. Na faculdade, Richt estava tendo uma aula normal e fazendo seus cálculos sobre massa, quando de repente recebeu uma mensagem no celular. “Seu braço tem o segredo; Seu amigo tentará lhe matar; Sua amada te trará de volta; Encontre seu protetor; Apenas tocando o espelho você verá, que pequenas coisas você pode criar; “Nem tudo é o que parece” Após ler essa mensagem, Richt olha desesperadamente ao redor da sala para ver quantas pessoas estavam com celular na mão e pra sua surpresa não havia ninguém. Retomando os olhos para a mensagem procura o número de quem havia mandado a mensagem, mas não havia nenhum. Começou a sentir calafrios que começavam do dedo do pé e iam até o ultimo fio de cabelo. Procurou se acalmar e respirar fundo: -É só uma mensagem – pensava ele. Sabia que não existia um motivo pelo qual aquela mensagem pudesse ser verdadeira. Ele pensou a aula toda o porquê recebera aquela mensagem e não sabia o que fazer e nem para quem contar, estava sozinho, mergulhado em seus pensamentos ouviu uma voz suave lhe chamando: -Richt venha aqui um minutinho? Era a Professora que lhe chamava na porta da sala e em um instante todos os alunos o olhavam com espanto. Chegando a porta a professora lhe pede para acompanhá-la até um lugar e ele a segue com desconfiança. Antes de saírem, a professora foi interrompida por uma aluna que perguntou se ela iria demorar, ela então diz aos alunos que estavam dispensados para descer e aproveitar o evento que estava começando no pátio da escola e depois saiu levando Richt. Andam por alguns minutos pela faculdade até que finalmente chegam a uma sala que Richt nunca havia visto e o deixa muito desconfiado, mas como se tratava de sua professora que já era conhecida há muitos anos então ele não hesitou e entrou na pequena sala ao lado de uma escada.
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A faculdade dele era composta por um prédio de sete andares e um pátio enorme no térreo, cada andar tinha oito salas e todas eram bem espaçosas. Ao entrar na sala, ele nota que não tem nada, cadeiras, mesas, ou qualquer coisa, e em um piscar de olhos, não via mais a professora, ela havia desaparecido. Ele nota que a sala só tem uma pequena lâmpada de teto que dificulta muito sua visão, ele caminha três passos para frente e se assusta com um barulho e uma sombra correndo em sua direção. Quando vê, percebe que é sua professora que vinha com uma espada de corte fino, muito perigosa e conhecida na cidade como lamina sem direção. Havia ganhado esse nome por ser leve e muito simples de se manusear e por isso qualquer pessoa, mesmo que não tivesse habilidade nenhuma em usar espadas, conseguia usá-la para matar, por isso foi proibida. Mas ali estava a espada vindo em sua direção rapidamente, com a intenção de arrancar sua cabeça de seus ombros. Por uma questão de sorte, ele escorrega e cai fazendo a espada passar por cima de sua cabeça e o vento refresca lhe o rosto: -Calma professora! O que foi que te fiz de tão grave assim? – Levanta-se do chão e anda de costas tentando afastar a professora com as mãos. -Você tem uma coisa que me pertence! –Grita a professora que se prepara para outro golpe. Ele desvia novamente e suas costas encostam-se à parede, o deixando sem saída. Então no momento em que ela corria para acerta-lo, ele ouve uma voz suave: -Toque nos óculos dela com a mão direita. Senão irá morrer. -Richt já conhecia aquela voz, mas não conseguia se lembrar de onde que já tinha ouvido. Começou a ficar confuso, pois a sala estava vazia. Não era possível alguém estar falando com ele de verdade, mas pela situação que se encontrava, não tinha escolha a não ser ouvir a voz. Mas como? Pensava ele. Mas se não fizesse, com certeza a professora o mataria naquele lugar. Então espera o momento certo e respira fundo, quando ela se aproxima, ele se joga em suas pernas e ela cai no chão. Nervosa ela se levanta rapidamente e puxa a espada para trás para um novo ataque, mas Richt toca na lente dos óculos dela e de repente tudo para de se mover dentro da sala. Jonathan Oliveira Jonathan Oliveira é escritor da saga de livros Os dois Universos, estudou na escola pública e acredita na escrita como forma de transformação da sociedade.
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VAN FILOSOFIA
Abílio Canel Construtor de Histórias Honorário
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Eu te via... Eu te via passeando com um cachorro que adorava fazer suas necessidades na calçada. Você recolhia com cuidado e com medo de se sujar. Cada vez que ele insistia em repetir e você olhava com uma expressão de raiva, como se o animal estivesse fazendo aquilo para te sacanear, eu ria disfarçadamente, me diverti muito com esses passeios. Sua camiseta preta alguns números maiores que você, uma calça jeans rasgada e uma bota de couro. Comecei a achar que você só tinha essas três peças de roupas para usar, era algo hilário. Mas logo percebi que eram suas favoritas, confesso que senti uma pontada de inveja delas. Ver seu sorriso bobo quando cumprimentava alguma vizinha pela manhã me iluminava, fazia meu dia valer a pena. Diversas vezes pensei em sair do meu anonimato na esperança de ter um desses sorrisos direcionados a mim. O carteiro que deixava suas correspondências ás dez da manhã já estava acostumado de me ver por ali, se eu não estivesse com minha roupa de ginástica, fingindo dar uma corrida pela vizinhança provavelmente ele acharia suspeito a minha presença constante. Mas assim que ele passava eu cumpria meu dever: ia dar uma olhada na sua caixinha de cartas. Banco, conta de luz, conta de água, fatura de cartão, algum panfleto de promoção, e outras vezes cartão postal de alguns amigos que estavam no exterior (Paris e Roma eram os que mais você recebia, parece ser bem popular não é mesmo?). Seu lixo para mim já era familiar, sempre cheio, normalmente de embalagens de comida congelada, latinhas de cerveja e garrafas de refrigerante. Você não se preocupa muito com a saúde, né? Pois deveria, não quero ver você doente no futuro. Para mim sempre foi um estranhamento ver garrafas de destilados em um dos sacos, você não é de beber esse tipo de bebida devidos aos remédios controlados que você toma antes de dormir (as dez e meia da noite precisamente). Acende a luz da cozinha, apaga, acende a do banheiro, permanece durante alguns minutos e vai para seu quarto onde liga o abajur até pegar no sono. E que sono pesado, sorte a minha, pois você nunca me ouviu escalando até a janela para te observar dormir com o mesmo cobertor verde e um short de futebol azul, a mão de baixo do travesseiro. Tantas as vezes que eu me imaginei sendo cada parte do seu colchão que tocava seu corpo. Mas não vou me estender muito nesse assunto. Não queria te assustar com tudo isso, só te mostrar que não está sozinho e que existe alguém te acompanhando e observando. E principalmente se importa com você, até demais. Beijos, estarei por perto. AS. Paulo Giordan
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MURAL - UM NOVO OLHAR SOBRE A PERIFERIA Uma agência de notícias que narra as histórias que a grande mídia finge não ver Imagine um jornalismo diferente escrito por correspondentes comunitários, em sua maioria estudantes ou já formados em jornalismo, mas, sobretudo, interessados em contar o que se passa na região em que moram, na periferia da Grande SP. Parece loucura, não parece? Mas não é, abrigados no prédio da Folha de São Paulo, mas com ideologias e crenças próprias, essas pessoas - na grande maioria jornalista - vão sob a ótica jornalística e sem o costumeiro estereótipo contar histórias da periferia onde existem problemas, sim, mas também grandes histórias. “A Agência Mural é importante para dar voz a muitos bairros menores, muitas vezes esquecidos dos grandes noticiários, ou lembrados apenas por suas mazelas, ou quando se tornam palco de tragédias”, explica Aline Kátia Melo, 33, correspondente do bairro de Jova Rural, “A Agência Mural tem o diferencial de mostrar o protagonismo dos moradores, muito além dos problemas, mostrando soluções criativas, inspiradoras, inovadoras do quotidiano, sem sensacionalismo e sem vitimismo, com bom humor, propriedade e muita diversidade de bairros, moradores e municípios da grande SP”. Isso se confirma nos mandamentos que regem o trabalho do Mural que são, parodicamente, 10 e norteiam com supremacia uma forma diferente de atuar e noticiar os acontecimentos das zonas periféricas: 1. Não use a palavra “carente”. Prefira termos sem juízo de valor. 2. Tome cuidado com o sensacionalismo e evite clichês. 3. Nunca chegue em uma pauta tentando comprovar suas próprias teses. Ao falar com uma fonte da periferia, escute com atenção (não somente ouça) o que ela tem a dizer. Somente depois de apuradas todas as informações é possível concluir algo. 4. Lembre-se que as crianças da periferia, e os moradores em geral, não são “coitados”. Tome cuidado ao abordar a ação de projetos e organizações sociais e/ou artísticas dentro destas regiões da cidade para evitar reforçar a imagem de vítima que recai de forma geral
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sobre os residentes de áreas de baixa renda. 5. Fuja dos lugares-comuns ao falar sobre os moradores da periferia. Todos possuem cor, formação profissional, nível escolar, valores, núcleo familiar, entre outros, tão diversos quanto os dos cidadãos de outros bairros de São Paulo. 6. Não subestime a capacidade política dos moradores da periferia. Eles não são uma "massa uniforme" que vota da mesma forma, apenas para começar. 7. Na periferia há níveis de renda distintos. Lembre-se disso ao falar com um morador. 8. A periferia não é só violência e escassez de infraestrutura. 9. Ao tratar de algum tema relacionado à periferia, tenha o cuidado de ouvir a voz de quem mora na região. Não dê ouvidos somente para as fontes oficiais. 10. Não se esqueça que os bairros localizados na periferia fazem parte da cidade como qualquer outro bairro. “Com os amigos, nas ruas, muitas vezes o que já ouvi é que o jornal e a tevê não falam do que realmente acontece com a gente da ponte para cá e quando falam só reforçam o estereótipo negativo que pesa contra nós, tal como o crime, as drogas e a violência”, redefine e questiona Lucas Veloso, 22, Jornalista e um dos mais animados nesse fazer jornalístico diferenciado, “Claro que onde moro existe essas coisas, mas no centro também. E porque a cobertura destas duas regiões é claramente diferente? Porque o lugar onde moro só deve ser visto como espaço de coisas ruins e de péssimos resultados?”. Mas para esse grupo não basta escrever para a periferia é preciso empoderá-la e foi nesse intuito que nasceu o Projeto Mural nas Escolas, que consiste na realização de palestras e oficinas com turmas de ensino médio de escolas públicas de bairros da capital e das cidades no entorno. O objetivo é não apenas chamar a atenção dos estudantes para a profissão de jornalista, mas também apresentar o trabalho diferenciado realizado pelo Mural e pelos correspondentes locais, levando esses jovens a se tornarem os grandes contadores das histórias de sua escola, comunidade e das pessoas que residem e fazem parte desse quotidiano. Em 2016, entre os colégios visitados estão as escolas Dona Cyrene de Oliveira Laet, no Jaçanã, e o Colégio Maria Hilda. A ação do “Mural nas Escolas” é totalmente gratuita para os participantes. Se você, professor, coordenador ou diretor de escola pública deseja um seminário ou oficina na sua instituição, envie um e-mail para contato@agenciamural.com.br. A iniciativa é coordenada pelo correspondente de Oficinas - Mural nas Escolas
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Paraisópolis e mestrando em Educação pela PUCSP, Vagner de Alencar. Em visitas quinzenais, o Mural pretende promover um bate-papo informal com os alunos, com a exposição de matérias feitas pelos correspondentes comunitários e detalhes sobre o cotidiano do jornalista. “Sem um patrocinador para financiar o projeto, o “Mural nas Escolas” é um desafio para o blog comunitário. Apesar de estar hospedado no site da Vídeo-Conferência com representante do Folha, não há uma participação direta do veículo nos Medium conteúdos”, conta-nos Vagner, 29, jornalista, “É uma iniciativa que surgiu da nossa necessidade de estreitar laços com a comunidade e com os jovens que a compõem, o objetivo é que eles possam também realizar publicações e com isso dar voz a esses jovens”. No site da Agência de Jornalismo das Periferias, define-se a cidade de São Paulo, por ser formada por 96 distritos e rodeada de outras 39 cidades, que compõem a região metropolitana, com quase 21 milhões de pessoas que moram, trabalham, alimentam-se, divertem-se e deslocam-se diariamente. Em 24 de novembro de 2010, o Blog Mural, o primeiro blog de notícias das periferias de São Paulo, nasceu como um esforço coletivo de cerca de 20 jornalistas para transformar as notícias e suprir essa demanda e lacunas de informação. Hospedado, desde seu início, entre a lista de blogs da Folha de S. Paulo, eles, hoje, sob um nome mais abrangente, parecem não estarem dispostos a parar e mostram que têm muito a contar sobre as áreas ditas invisíveis à redação dos jornais. É um trabalho inovador e que merece atenção, pois busca igualdade de condições e direitos e, acima de tudo, ouvir de verdade as pessoas.
Para saber mais, acesse: https://agenciamural.com.br/ Equipe Agência Mural
VARIEDADES
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Em mais uma maravilhosa listinha de curiosidades, os Construtores apresentam mais informações incríveis sobre os bastidores da literatura.
Livro-Expresso O livro Corintios, da autora e Construtora de Histórias, Sandra Martins, levou apenas uma semana para ser escrito! A obra completa está disponível para leitura no Wattpad, para computador e smartphone. De arrepiar... A ideia para a história de Frankenstein surgiu numa noite chuvosa durante as férias de Mary Shelley, na Suíça. Ela se reuniu com vários amigos, entre eles seu marido, o poeta Percy B. Shelley e Lorde Byron. Cada um deles teve que escrever um conto de horror. Ela ganhou a aposta com esse livro. Cantoria na Terra Média Enquanto vendia os direitos de filmagem d’O Hobbit, Tolkien proibiu a Disney de se envolver. O autor odiava as pesadas alterações e adaptações que o estúdio produzia. Quatro anos após a sua morte, O Hobbit foi adaptado para um musical pela Warner Bros. Big-livro O livro mais grosso do mundo, o Das Buch des dickste Universums, reúne textos e desenhos feitos por crianças num concurso realizado na Alemanha. Com uma singela lombada de míseros 4.08 metros, tem 50.560 páginas e pesa 220 kg. O preço? Você pode adquiri-lo pela bagatela de DEZ MIL EUROS. Mini-livro A editora japonesa Toppan Printing fez o menor livro do mundo, menor que uma cabeça de agulha, com apenas 0,75 milímetros “Flores das quatro estações” traz ilustrações da flora do arquipélago japonês em 22 páginas.
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Um pouco sobre mim... Filho de uma estrela (a mais brilhante) Junto com um Deus (o mais poderoso) Um ser perfeito de imperfeições Quase um meio sangue Puxou o brilho de sua mãe E a determinação de seu pai A Vontade de viver da mãe E a coragem insana do pai Nunca soube o que é abaixar a cabeça Muito menos se entregar ao lado sombrio Mas sabe muito bem quando está errado E sabe como se redimir dos erros Mas não tem medo de errar Gostaria de mostrar como se faz Deixa a cara a tapa sem medo Não é todo mundo que sabe bater Filho de um deus, tão forte quanto seu pai
Me diga quem tem coragem de bater So tem medo de sua mãe, sua estrela Quando brava fica mais quente que o sol Um talento inquestionável com as pessoas Também com o brilho que puxou... Sabe ser quente como sua mãe Mas ainda precisa aprender a amar Meio novo nessa coisa se amor Acaba se confundindo Se ilude de vez em quando Mas devolve a ilusão com frieza Frieza que seu pai lhe ensinará Seja quente como sua mãe Mas seja frio em dobro Com quem não aproveite seu calor Tem a cabeça meio conturbada Horas o mais alegre horas Horas tão sombria Mas é essa mistura que ele gosta de ser
Vinícius Cosseti Vinícius Cosseti conhecido entre seus amigos por Cosseti nasceu no dia 27 de março de 1998 Tem 18 anos e pensa em se formar em designe gráfico, biologia ou psicologia Adora ler, escreve poesias e seu trabalho Hoje em dia Vinicius trabalha na gráfica do seu Tio e quando não está no trabalho está escrevendo suas poesias
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Parecia Inofensivo
Parecia inofensivo Mas sem imaginar, me dominou. Hoje tudo o que eu mais queria É você, minha maior alegria. Problemas todos tem, Desavenças temos também. Só queria poder te provar, Que sem o seu amor não dá pra ficar. Sem ti meu mundo e nublado, Mas com você parece tudo iluminado. E os meus dias de tormenta, Se perdem todos, em sua presença. Oh meu amor, me desculpa se errei, Me desculpa se algum dia, você eu machuquei. Eu prometo não te magoar, Pois sem ti, não há forças para continuar.
Jéssica Galvão Jessica Galvão, 17 anos. Gosto de ler nas horas livres, e adoro ouvir música. Meu ponto forte sem dúvidas e a comunicação, não fecho a boca um minuto. Formada no ensino médio, escrevo meus poemas baseados em vivências próprias.
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Lembranças
Ah... Aquele sorriso Aquele jeito de me olhar Aquele abraço apertado e reconfortante Aquela amizade louca e engraçada Aquelas bochechas avermelhadas quando trocamos olhares mesmo que sem querer Aquele conforto que eu encontro ao seu lado Aquele sorriso que você conseguiu tirar de mim com algumas brincadeiras Aquela risada espontânea com aquelas piadas sem graça, que para mim eram as melhores Aquele nosso jeito único de conversar sobre games e séries Aquelas fotos que eu tiro a todo momento em que estamos juntos Aquelas minhas lágrimas que você limpou quando eu estava triste Aquelas risadas vindas de ambos quando algum de nós caiamos Aquelas palavras fofas e carinhosas que você me disse várias vezes Ah... Todas essas lembranças agora estão só na memória, e todas elas foram vividas com você...
Carol Mesquita Meu nome é Maria Carolina, estudo na E.M.E.F Lourenço Filho. Tenho 13 anos, faço dança desde pequena e sempre gostei muito de ler e escrever, faço parte do AEL Ilan Brenman e sou redatora oficial do jornal da escola.
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Circo dos Anos
Esse ano, me senti em um verdadeiro circo Nele, não fui a atração principal Na verdade, poucos olharam para mim Recebi urros e aplausos Gritos de motivação e de desistência Estava em uma verdadeira corda bamba Havia pessoas querendo me derrubar E as vezes, admito Eu mesma queria me jogar Perdi coisas, que talvez estejam abaixo de meus pés E ganhei coisas que achei acima de minha cabeça Equilibrei, fardos que nunca me pertenceram Mas não todos, porque também tenho os meus Aplaudi pessoas, que merecem ser contempladas Mas também aplaudi aquelas que só o fiz por ser educada Meu número era mais que simples Algo que muitas pessoas devem ter feito igual Mas também houve atrações nunca antes vistas Algumas, pareciam ser palhaçada Outras, me perturbarão pelo resto da vida Nesse nosso circo, passamos por todos os lugares Nos apresentando para todos os tipos de pessoas Todos nele sorriem Alguns mostram o quanto a vida é perfeita, e que tem muito a mostrar Há outros, cênicos, que mostraram a você o quanto a vida deles é ruim E querem que os aplauda por isso Estou em meio a eles Sufoco pela falta de ar e meu corpo treme de medo Depois de tudo que andei, tudo que não quero é cair Sei o que há abaixo E isso me assusta
Danielle Venina
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NOTÍCIAS DOS CONSTRUTORES Oficina de Produção Literária - Projeto Condor | Fábrica de Cultura Vocês já nós conhecem das páginas das revistas. Mas gostaria de nos conhecer pessoalmente? Pois é, eis a oportunidade: o coletivo está ministrando oficinas para escritores nas Fábricas de Cultura. No último mês, foi a vez da unidade Jaçanã. Nesses encontros alguns dos Construtores falam sobre o processo de escrit,a que vai desde a criação de seu texto, passando por revisão até o grande momento que é a publicação. Gostou, siga a programação das Fábricas de Cultura. Encontramos vocês lá!
Revista Nossa ZN | Acantonamento Escoteiro Esse mês o nosso grupo visitou o Acantonamento dos Lobinhos do Jardim Fontális, um projeto lindo realizado através da parceria entre Furnas e a Escola Estadual Bibliotecária Terezine Arantes Ferraz. Durante a visita, aprendemos muito sobre solidariedade e autonomia. Também conversamos sobre a realização de um Sarau conjunto. Essa é, com certeza, uma iniciativa que dá certo.
Café Filosófico, com Profs. Fabiano e Weslay Apoiar projetos na área da escrita é uma das coisas que mais gostamos de fazer. E foi assim que nos tornamos parte do Café Filosófico da Escola Estadual Vereador Elisio de Oliveira Neves, juntamente com os professores Fabiano e Weslay. Esse ano o evento abordou a Diversidade Religiosa, visões de mundo sob as múltiplas influências religiosas, os Construtores de Histórias, é claro, marcaram presença.
Debate sobre a Pena de Morte Aproveitando o clima de embate nas redes sociais sobre diversos temas, alguns dos Construtores, junto à professora Sandra Martins, ajudaram a organizar um debate na E. E. Dnª Cyrene de Oliveira Laet, o tema escolhido pelos alunos foi a Regulamentação da Pena de Morte e deixou muitos adolescentes divididos. O que realmente importa é argumentar e ter opinião própria, não é verdade?
AGENDA DOS CONSTRUTORES CABRAS NO SESC IPIRANGA Um misto entre teatro, contação de histórias e palhaçadas é o que espera os espectadores de Cabras, grupo formado por Marivaldo Alves e Alan Livan, que sesenvolve trabalho com Cômico Popular, Teatro, Palhaço e Contação de História. Em repertório, o espetáculo Um Show de Palhaçada com Garibaldi & Cabriola e a contação Contos dos quatro cantos do mundo. Onde: Praça Vermelha do SESC Ipiranga Quando: Dias 10 e 17 de dezembro. À partir das 16h.
SKOOB Você já conhece o portal SKOOB? É maior rede social para leitores do Brasil, onde você pode colocar os livros que já leu e também os que deseja ler. Uma leitura divertida que te permite compartilhar com seus amigos, dar sua opinião sobre livros, participar de sorteios e ainda montar sua própria estante, não fique fora dessa e se cadastre para curti essa nova aventura. Onde: Onde você quiser, através do www.skoob.com.br Quando: 24 horas por dia, 7 dias por semana
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