LEMBRA? WAKE ME UP (Ed Sheeran)

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Wake Me Up

Sarah Malta

LEMBRA? (WAKE ME UP) Sarah Malta

Este conto é baseado na música Wake Me Up, do cantor Ed Sheeran. Todos os direitos autorais da música estão reservados a ele.


Wake Me Up

Sarah Malta

TALVEZ EU ESTEJA APAIXONADO QUANDO VOCÊ ME ACORDAR...

Estive pensando no modo que como sempre abominei as pessoas que faziam tatuagens com os nomes de seus namorados ou namoradas. Entendia, é claro, e acreditava no amor. Mas sempre achei um exagero. Quando me deparava com um desses casos, geralmente, eu olhava, desdenhava, e pensava o quão errado e permanente aquilo era. Não estou dizendo que o relacionamento das pessoas que se tatuavam acabaria logo, mas... e se acabasse? O que isso poderia acarretar? Não é... arriscado demais? Eu não sabia de nada. Que idiota. Acontece que a tatuagem é só uma dessas coisas doidas que fazemos quando estamos amando. Não que amar já não seja loucura o suficiente, é claro. Você e eu sabemos que sim. Mas, por sorte, agora eu sei com mais intensidade. Enquanto meus olhos se abriam e eu encarava seu rosto perfeito e rosado, seus olhos brilhantes e vivos, seu cabelo desgrenhado pela noite de sono, e seus lábios vermelhos vivos, denunciando que ela acabara de escovar os dentes, pensei o quão sortudo era. Sou sortudo por saber sobre o amor com mais intensidade. Sou sortudo por tê-la, agora, olhando para mim, com um sorriso em seu rosto. Sou sortudo por ter sido acordado por ela, tantas vezes. Sortudo por amá-la mais do que tudo, sortudo por ser amado de volta. Sou sortudo por poder abraçá-la, beijá-la, e dizer ao mundo que aquela era minha garota. Minha mulher. A que eu amava, mais do que tudo. Pensei, com um sorriso, vendo-a, que eu deveria marcar minha pele com o seu nome. Não seria sacrifício nenhum. Ela já estava em mim, de qualquer maneira. Permanentemente. — Bom dia, dorminhoco — disse ela, sem deixar de sorrir, sentada em suas próprias pernas, passando as mãos pelo meu cabelo fino e desgrenhado. — Por favor, não me olhe assim. — Assim como? — perguntei, sentando-me em sua cama e bocejando involuntariamente. Seus dedos saíram do meu cabelo, mas, honestamente, por mim eles poderiam continuar por lá. — Assim fofo — disse ela, pondo-se em minha frente. Sorria, abertamente, sem nada a esconder, mostrando toda a sua felicidade. Sorria com todo o corpo, toda a alma. Toda ela. — Você é muito fofo, sabia? Ah, eu sabia. Sorri para ela, enquanto, sem medo, ela me abraçava delicadamente, pelo simples prazer de ter seu corpo junto ao meu. Eu sabia muito bem do quanto eu era um rapaz fofo. Na realidade, ela fez questão de me dizer isso mais de uma vez. Fui levado ao dia de nosso primeiro encontro. Depois de muito tentar e finalmente conseguir fazer com que ela aceitasse meu pedido, saímos, e estávamos nos divertindo bastante. Quando eu olhei para seus olhos, e sorri, pensando mais uma vez que estava na companhia da garota mais incrível que existia naquela cidade, ela sorriu para mim, simplesmente, e disse que eu era fofo. Lembro-me de pensar que havia, definitivamente, perdido a garota. Não, ela não iria querer ficar comigo de qualquer maneira. Quando uma garota diz que você “é um fofo”, ou “um amor”, não queira sair da amizade, por que não vai acontecer. E, poxa, eu fiquei


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chateado. “Fofo” é uma qualidade que homem nenhum gosta de ter. Esse é o tipo de coisa que você diz a um cachorrinho. Contei isso a ela. Sorrindo, ela me falou que eu era fofo como um cachorrinho. Foi quando eu pensei que já era para mim. Sem chance. Definitivamente havia perdido toda e qualquer oportunidade que tinha de namorar aquela menina. Mas, no fim da tarde, quando o céu ficava rosado e o vento batia calmo em nossos rostos, seus lábios tocaram os meus. E, segurando meu rosto com cautela, ela me disse que amava cachorrinhos. Isso me fez rir. E, estranhamente, soube me apaixonaria perdidamente por aquela menina. Agora, alguns anos depois, enquanto ela me acordava, fazia também questão de relembrar o apelidinho. Não havia como retirar isso dos lábios dela, era impossível. Chamar-me de fofo era o que ela mais gostava de fazer. Sorrindo, como sempre, ela olhava dentro dos meus olhos, tocava minha barba rala cautelosamente, sentia o gosto dos meus lábios, vagarosamente, e sussurrava que eu era fofo como um cachorrinho. — Fofo? — disse eu, a voz saindo mais rouca do que o comum, o humor sempre presente. Ela deu uma risada gostosa, tangível. Senti seus lábios beijando meu pescoço. — Como um cachorrinho — ela não deixou de dizer, lindamente. Suas pernas enroscavam-se nas minhas, seu cheiro se misturava ao meu. Naquele momento, éramos completamente pertencentes um ao outro. E eu amava aquilo. — Um cachorrinho lindo, com os pelinhos da cabeça bagunçados, por que acabou de acordar depois de ter passado a noite toda se mexendo como um peixe fora d’água e puxando a coberta — ela sorriu mais uma vez, embora sua voz tivesse um pequeno toque de acidez. Não era a primeira vez que ela reclamava dos meus hábitos ao dormir. Sempre me mexi muito, desde pequeno. Esse era um fato que minha mãe já tinha esclarecido a ela. Mesmo assim, minha garota não parecia infeliz, ou com raiva de mim. Seus lábios foram pressionados contra o meu pescoço, lentamente, enquanto seus braços encontravam um ao outro em minhas costas. Senti-me arrepiar, como sempre desde que nos apaixonamos. Não importava quanto tempo se passasse, sempre me sentirei dessa forma. A sensação, o arrepio, a paixão. Tudo de uma vez. Um sentimento único, eufórico, presente. Fora assim há quatro anos, quando nos conhecemos, e era assim agora. Algo dizia lá dentro de mim que seria assim para sempre. O que tínhamos era forte demais para dissipar-se com o tempo. — Como você pode cheirar tão bem logo de manhã, hein? — ela perguntou, respirando fundo, o rosto ainda colado ao meu pescoço, e beijando-me sem parar. Ri. Minha menina, como eu, sempre foi louca por carinho, por contato. Sempre sentimental, romântica, apaixonada. Nunca teve meias palavras ou meios desejos. Dizia o que penava, fazia o que queria. E ela me queria. Eu era seu cachorrinho fofo e cheiroso. Eu a queria por que ela era ela, simplesmente. A garota que fora feita para mim. A metade da minha metade. Não importa o quanto isso soe clichê. Esse é o tipo de coisa que só se entende quando se sente, meu amigo. — Passei a noite inteira deitado na sua cama, do seu lado, no meio dos seus travesseiros e dos seus cheiros. Não poderia ser diferente. — Disse eu, passando minhas mãos pelos seus braços aparentemente frágeis (mas que na prática podiam fazer um belo estrago), pelas suas coxas descobertas enroscadas nas minhas. Seus lábios ainda estavam na extensão do meu pescoço, beijando-o com estalinhos, sentindo meu cheiro. Eu sentia seu coração batendo contra o meu. Sentia seus cílios agitando-se no meu pescoço. Sentia os arrepios, sentia a paixão aflorando dentro de mim. Sentia seus braços


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apertando minhas costas, só para sentir-se segura como eu me sentia ao seu lado. Coloquei minhas mãos em sua cintura, pequena, como ela, e minha. Tão minha. — Ainda estou com sono — sussurrei, fechando os olhos e apenas sentindo o corpo dela junto ao meu, o que deixava meu corpo ainda mais entorpecido e minha vontade de dormir mais acentuada. Queria dormir, mas queria dormir junto a ela. Embora também não quisesse, por que isso me faria perder o tempo que tínhamos. Após o término desse domingo, ela voltará para a faculdade, e se passará mais uma semana inteira sem que eu a veja. Eu terei de esperar a sexta-feira chegar. Então, a tomaria em meus braços novamente. — Você é um preguiçoso — ela disse, retirando os lábios do meu pescoço para olhar-me, com os lábios comprimidos, a expressão de bronquear. — E um bagunceiro! Acha que eu não vi o que você fez no seu apartamento? Sinceramente, como você vive naquele lugar? Eu ri, encolhendo meus ombros. — Talvez ele só precise de um toque feminino — sugeri. — Talvez ele só precise de menos roupas espalhadas em todos os lugares, vamos ser honestos — ela bufou levemente, mas não conseguiu representar o papel de garota brava e logo depois deixou-se rir. Deu-me um tapinha no ombro antes de jogar todo o peso de seu corpo sobre o meu, fazendo-me deitar novamente em seu travesseiros. Em cima de mim, beijou meu ombro, meu peito, sentiu o cheiro do meu pescoço, e o beijou de novo. Eu deixei-me dar uma risada até que ela se acalmou e aninhou seu rosto no meu peito. Passava os dedos lentamente pela minha cintura, como se desenhasse alguma coisa. — Adivinha o que eu estou escrevendo — disse ela, ainda passando os dedos lentamente pela minha barriga. Sorri. — Você sabe que nesse jogo eu sou bom — eu falei. — Só não me faça cócegas. — Seja bonzinho e eu penso no seu caso — ela estava fazendo caso duro. Dei uma risada. — Tudo bem, vou começar. Concentrei-me em seus dedos e na sensação da ponta deles na parte lateral do meu abdômen. Identifiquei um traço para baixo e três traços horizontais, e então uma curva. “Eu”. Logo depois, pude senti-la desenhar um “Te”, no mesmo lugar. A terceira palavra foi bem mais confusa, mas pude identificar a letra “O”, no fim de tudo. — Eu também te amo, linda — disse eu, quando ela terminou de desenhar. Deixouse dar uma risada, grande, perfeita como ela. — Seu chato — resmungou, ainda que estivesse sorrindo. — Sempre acerta. — Falei para você que era bom nesse jogo. Fez-se uma pausa. Ela suspirou, abraçando-me com um pouco mais de força, de repente. — É sério, sabia? — ela não se virou para me olhar nos olhos. — O desenho. Eu te amo. Muito. Sabe disso, não é? Passei a ponta dos meus dedos nas costas dela, devagar, num gesto carinhoso. — Claro — disse, meio confuso. — Você sabe que eu também te amo muito. Então ela suspirou de novo. Nenhuma risada, dois suspiros em menos de trinta segundos. Preocupei-me, por que notei que ela estava imóvel, atordoada por algum motivo. Detestava e me amedrontava vê-la daquele jeito. A última vez que ela perguntou se eu sabia que ela me amava, anunciou sua ida para o outro lado do país e terminamos o namoro durante um ano que durou mais do que uma vida inteira. O ano mais solitário e doloroso da minha vida. Machucava pensar sobre ele. Por um segundo, tive medo de reviver todo aquele inferno pessoal.


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— Eu te amo — disse ela novamente. — Te amo tanto... tanto... que eu... quero viver minha vida contigo, sabe? Eu quero... construir meu futuro com você. Você sabe disso. Essa coisa... que eu sinto por você... sei lá, é muito mais especial do que qualquer outro sentimento que eu já tenha tido. Eu te amo. Seu coração estava acelerado. Eu podia sentir as batidas descontroladas de seu peito contra o meu abdômen. Eu sabia que ela me amava, e já havíamos conversado sobre o futuro diversas vezes, mas ela nunca dissera nada daquela forma. Isso aquecia meu coração, mas enchia-me de medo. — Sei disso — as palavras conseguiram sair da minha boca. — Já te falei que é contigo que eu vou viver, linda. Você sabe que sem você eu não sou nada, não é? Sabe que eu te amo. Meu futuro é ao seu lado. Não tem outro jeito de ser. Ela suspirou, quase fungando. — Acontece que esse nosso futuro pode começar agora — finalmente, ela virou seu rosto para mim. Seus olhos brilhantes agora estavam ainda mais brilhantes pelos indícios de lágrimas que queriam cair. — Eu acho que... acho que... — O quê? — perguntei, confuso, assustado. — Acho que estou grávida. A notícia caiu sobre mim como um banho frio. Senti cada músculo do meu corpo endurecer, e involuntariamente apertei sua cintura com força. Sempre pensei sobre isso. Sempre pensei em amá-la para sempre, casar com ela, construir minha família ao seu lado. No entanto, nunca passou pela minha cabeça a possibilidade de isso vir à tona, e acontecer agora, subitamente. Era algo que eu não havia imaginado. Então eu sorri.


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