N達o importa quanto tempo dure. Se for verdadeiro, o amor volta.
Agradecimentos Acima de tudo, agradeço aos meus pais, Josh e Hayley Williams-Farro (mamãe, você não pode me bater por ignorar seu sobrenome, eu coloquei um hífen!). Crescer na casa deles foi a melhor experiência que um ser humano poderia ter, e agradeço a Deus todos os dias por me dar a honra de fazê-lo. Obrigado, mamãe e papai, por me amarem, por acreditarem em mim e me aceitarem. Obrigado por me darem a melhor perspectiva sobre o amor verdadeiro que um jovem poderia receber. Este livro é para vocês. Obrigado também ao meu editor/agente, Martin Laurence. Além de fazer um trabalho maravilhoso (quando se trata de não gostar de nada que escrevo), ele acreditou em mim antes mesmo que eu o fizesse. E nem mesmo reclama tanto assim quando precisa corrigir meus erros ortográficos estrondosos. Valeu mesmo, cara. Também mando meus sinceros agradecimentos aos melhores irmãos que uma pessoa poderia ter: Sophie, Danna e Nate. Obrigado por aturarem minha personalidade amável (ou nem tanto) desde o momento em que nasci. Amo vocês. Obrigado a todos da editora (Kyle, Lila, Michael, Hazel) que tornam meus dias cada vez mais divertidos, além do trabalho fantástico na formatação de meus livros. Vocês são incríveis, pessoal. Obrigado a Jonathan Sheeran, meu melhor amigo, meu confidente, e o namorado mais incrível que uma pessoa pode ter. Além de ter projetado mais uma capa perfeita para mim. E por fim, obrigado a você, por estar lendo isso. Espero que aproveite sua viagem nas páginas dessa aventura.
Para mamãe e papai, minhas inspirações.
PARTE I
Prólogo
— ‘TÁ com você, Tess! Não havia nuvens no céu azulzinho que exibia seu sol escaldante naquela tarde de verão. Segundo os médicos, ficar exposto ao sol naquela altura do dia não era nada saudável, mas Damon e Tessa sinceramente não se importavam nem um pouco com isso. Era verão, não havia aula, e a mãe de Tessa finalmente a deixara passar uma tarde na casa dos Basso. Além do mais, Damon estava excepcionalmente lento naquele dia e por isso perdia feio na brincadeira, de acordo com os cálculos de Tess, que também não eram tão exatos assim. — Tá com você! — gritou a menina de apenas seis anos de idade, alcançando-o e tocando seu braço antes de disparar na direção contrária com uma risada ecoando pela garganta. Damon, de sete anos, apenas deixou-se rir também e correu com toda a velocidade para alcançar a melhor amiga. O suor já escorria por suas testas, afinal, eles já estavam brincando há bastante tempo. Mas não apenas de pique-pega. Damon e Tessa também brincaram de amarelinha, jogaram bola e passaram duas horas brincando de pique esconde com Dennis, o irmãozinho de Damon que agora tirava uma soneca. Essas brincadeiras e correrias quase enlouqueceram a Sra. Jane Basso, que além de cuidar de um bebê de colo, tinha de manter o olho esperto nas crianças para que não fizessem nenhuma besteira. — Ah! — exclamou Damon, parando de correr atrás de Tessa. Suspirou longamente e deixou-se sentar no chão, ofegante. — Tess! Não quero mais brincar. Tessa, vendo que o amigo sentara-se no gramado abaixo da mangueira que situava no quintal dos fundos da casa dos Basso, parou de correr e deu meia-volta. Não demorou muito para ela se sentar ao lado de Damon. — Por quê? — perguntou ela. — Estou com muito calor — respondeu ele, passando a mão pela testa que grudava seus cabelos lisos e escuros de suor —, e estou cansado também. Tessa assentiu, imitando seu gesto e limpando o suor da testa com os dedos, mas ainda assim deixando que um sorriso aparecesse em seu rosto mais do que jovial, mostrando seus dentinhos recém-nascidos, separados. Nate e Dennis adoravam apelidá-la de Bob Esponja por culpa disso. — Eu acho que você parou de brincar por que estava perdendo! — disse ela, encarando o amigo com seus olhos verdes profundos e marotos. Damon abriu a boca, ofendido. — Mentira! — exclamou ele. — É só por que eu ‘tô cansado. Se não eu ganhava de você mil vezes seguidas. Tessa deixou que sua gargalhada ecoasse livremente. — Até parece — duvidou a menina. — Quem é o mais rápido de nós dois, hein? — Eu! — Damon deu de ombros, fazendo com que a amiga revirasse os olhos e empurrasse seu ombro, desmentindo-o. — Tá, tá bem, é você, mas eu sou mais esperto e tomo os atalhos para te pegar. — Você estava perdendo — cuspiu ela, com um sorriso cínico no rosto. — Não sabe nem perder!
Damon revirou os olhos e deu de ombros, antes de mostrar sua língua para ela. Mas ao invés de causar desagrado em Tessa como planejava, Damon só conseguiu fazer com que sua risada se tornasse mais alta. Meu Deus do Céu, Tess não parava de rir nunca. — Eu vou ganhar da próxima vez, você vai ver — retomou ele, dando ombros, já se deixando sorrir também. — Acabou de assumir que perdeu — dessa vez, foi Tessa quem lhe mostrou a língua e Damon quem riu. Quando mostrava a língua para alguém, ela fazia uma expressão engraçada demais. Será que ele ficava engraçado como ela quando fazia aquilo? Não pôde responder à sua própria pergunta, pois logo viu a amiga suspirando e deixandose deitar com tudo na grama verdinha que havia sido aparada pelo pai de Damon, Pablo, um dia antes. Os cabelos loiros dela estavam soltos e se direcionaram para todos os lugares quando ela se deitou, fechando os olhos. Damon fez que não com a cabeça e deitou-se também, fechando os olhos e os direcionando ao sol, vendo suas pálpebras ficarem vermelhas. Sorriu. Gostava de fazer isso, era engraçado. — Eu te contei que vou ganhar um irmão novo? — disse ele de repente, ainda de olhos fechados. Um dia antes, seus pais reuniram toda família para dizer que sua mãe estava esperando outro bebê. — Não — ele escutou a voz de Tessa, surpresa. — Mas você já tem tantos! E tinha mesmo. Além de Damon e Dennis, a família Basso ainda tinha como filhos Nate, o mais velho, de doze anos, e John, o mais novo, de um ano e sete meses. — Eu sei, mas não tenho nenhuma irmãzinha — explicou ele. — Papai disse que dessa vez vai ser uma irmãzinha. — Isso é muito legal — Damon abriu os olhos e viu Tessa com seu sorriso no rosto, os olhos brilhando. — Eu queria uma irmãzinha. O menino apertou a mão da amiga num gesto amigável. — Um dia você vai ter — disse ele, tão seguro de si que Tessa chegou a acreditar. — Tomara — entoou ela, suspirando e apertando a mão de Damon de volta. O cansaço de seu corpo jovem parecia sumir momentaneamente enquanto ela estava deitada na grama fresquinha. — Sabe o que eu estava pensando? — Damon entoou sua voz fina novamente, sem conseguir manter seus devaneios na própria cabeça. Sentou-se na grama, fazendo com que Tess também se sentasse e o encarasse. — O quê? — perguntou ela. — Estava pensando que, sabe, o amor — ele começou a gesticular com as mãos —, a gente pode sentir de um monte de jeitos, né? Por que eu amo a mamãe e ela me ama também, mas ela ama o papai de um jeito diferente. E tudo é amor? Mesmo sendo sentido de jeitos diferentes? Tessa gargalhou com vontade, mas Damon não se sentiu envergonhado por isso. Já estava acostumado com os surtos de risadas da amiga e, na verdade, até mesmo esperava por isso. — Mamãe vive dizendo que o amor é relativo. — O que é relativo? — Damon franziu o cenho e Tessa torceu os lábios. — Não sei, não — disse, encolhendo os ombros. — Acho que deve ser tipo legal. Damon assentiu com a cabeça, achando totalmente plausível. — Mas, sabe — Tessa continuou seu raciocínio —, eu acho que é legal por que ele muda. Eu amo o papai muito, mas amo você também. Só que diferente. — E esse amor diferente é tipo o amor do papai e da mamãe? — Damon perguntou, sério, quase chegando a uma conclusão. Tessa pensou um pouco antes de assentir. — Acho que é — disse ela por fim.
— Ah — Damon ergueu as sobrancelhas, entendendo. Tessa encarava-o com seus grandes globos verdes e um meio sorriso no canto dos lábios. — Eu te amo, então, Tess. Desse jeito diferente. Pela primeira vez, sua amiga não gargalhou. Ela apenas enrubesceu, dando mais cor às suas sardas nas bochechas e inclinou-se para abraçá-lo. — Também te amo desse jeito diferente, Damon — confessou ela, apertando os ombros magrinhos do amigo e deixando-lhe um beijo na bochecha antes afastar-se e constatar que Damon carregava um sorriso tímido nos lábios. Não deixou de encará-la, entretanto, e pareceu pensar durante mais alguns segundos. — E o que duas pessoas que se amam diferente devem fazer?
1 — PODE deixar ele ali. Tessa apontou com o dedo para o canto do quarto e o rapaz assentiu levemente com a cabeça. Logo ele e sua equipe de mudança, seis caras, se esforçavam para deixar o piano de calda, a única herança que Tessa ganhara de sua avó materna, onde a garota havia determinado. Aquela coisa realmente parecia ser bem mais pesada do que ela podia imaginar. Mesmo que seis homens fortes estivessem segurando, eles ainda pareciam fazer uma força monstruosa para levantar o piano do chão. Tess, pequena do jeito que era, não conseguia se imaginar erguendo aquele instrumento musical nem em um milhão de anos. Não que Tessa fosse fraca, por que não, ela não era. Podia ser baixinha — genes paternos que ela realmente gostaria de não ter herdado —, mas era a confirmação do provérbio de que “todo baixinho é invocado”. E também não era tão baixinha assim — conhecia pessoas menos compridas do que ela. Sua mãe, por exemplo. A Dona Christine parecia ter comido menos vitaminas do que o necessário na infância; isto é, se vitaminas realmente fizessem crescer. Tess meio que não acreditava mais nesse tipo de coisa. Talvez tudo tivesse sido apenas um truque de sua mãe para fazê-la comer todos os legumes. — Aqui tá legal? — um dos rapazes perguntou, ofegando levemente. Dava para enxergar a veia de seu pescoço pulsando. Os outros pareciam igualmente exaustos. Tessa fez que sim com a cabeça. — Sim, obrigada — disse ela, e não demorou nada para a equipe de mudança sair pela porta de seu novo quarto. Tess se pegou sorrindo. Não dava para acreditar que aquilo tudo era realidade. O pesadelo tinha finalmente acabado, meu Deus, a ficha ainda não havia caído! Nada de discussões, nada de medo de entrar em sua própria casa, nada de problemas na escola, nada de ódio, raiva ou decepção. Agora, finalmente, tudo estava em seu lugar. Tudo estava bem. Ela sentou-se ao piano que acabara de ser posto em seu devido lugar. Acariciou lentamente as teclas, produzindo um som limpo e harmonioso, porém breve, apenas para aplacar seu espírito, elevar sua mente. Com toda a correria da mudança, não tocava há mais de uma semana. Tempo demais para alguém que já estava tão dependente da arte e da música para... bem, sobreviver. De qualquer maneira, Tess não tocou muito. Mesmo que sentisse saudade de tocar piano, ora, nada se igualava a saudade que sentia de seu pai e de suas irmãs. Por isso, ainda vendo os homens circularem pela sua nova casa de um lado para o outro, ela procurou o rosto da mulher que aparentava demasiada jovialidade para ser sua mãe. — Mãezinha! — exclamou a garota, fazendo uma Christine suspirar, conhecendo perfeitamente aquele tom da filha. Virou-se na direção da voz e viu Tessa descendo as escadas como um furacão até parar em sua frente. Seus olhos verdes arregalados e seu meio sorriso já denunciavam completamente suas intenções. — Humm... quanto eu ter vou gastar? — Christine foi direto ao assunto, mas isso apenas fez sua filha rir. — Nada — ela sorriu mais espontaneamente. — Só vim dizer que estou indo até a casa do pai. O rosto de Chris ganhou um traço de preocupação e, naturalmente, discórdia.
— Mas... agora? — perguntou ela em tom lamentoso, quase como se dissesse “e vai me deixar aqui sozinha e desamparada?”. Não que isso intimidasse Tessa. — Sim! — exclamou a mais nova. — Já tem mais de um ano que eu não vejo as meninas ou o meu pai, estou morrendo de saudades. Ellie fez onze anos, mãe, por favor, preciso ver minha irmãzinha. Soube que a Delilah entrou no jardim não faz nem um mês. Enfim, tchau, te vejo mais tarde, e não se preocupa que eu conheço essa cidade como a palma da minha mão. — Tessa foi dizendo tudo de uma vez e saiu antes que a Dona Chris pudesse contestar. Sabia que essa atitude irritava sua mãe, mas há muito tempo Tess conseguira autonomia para sair de casa quando pretendesse, e era impossível negar: parte disso era por causa de Andrew, seu antigo padrasto. Sua vida, na realidade, mudara completamente desde que aquele canalha resolveu adentrá-la. Mas Tessa não precisava mais aturá-lo, pois sua mãe havia finalmente conseguido seu tão merecido divórcio. E com a herança que sua avó havia deixado, Christine se adaptaria facilmente, afinal, essa era uma das qualidades que Tessa mais admirava na mãe: a habilidade em resolver problemas e se reerguer como ninguém. Talvez por isso ela tenha cursado contabilidade na faculdade, assim como seu pai, uma vez que eles haviam se conhecido lá. Enquanto caminhava pelas ruas calmas daquela cidadezinha pacata, Tessa não pôde deixar de pensar, mais uma vez, o porquê do relacionamento de seus pais não ter dado certo. Tudo bem, já se passara doze anos. Era muito tempo. Mas... meu Deus, Tess nunca conhecera duas pessoas que fossem tão incrivelmente parecidas, tanto em temperamento quanto na forma irritante de reclamar de sua única tatuagem abaixo do pulso. Mas que implicância, era uma cruz! Uma cruz bem pequena no braço! Qual era a razão de tanta briga, afinal? A questão era que Logan e Christine poderiam ter sido sim, um daqueles casais de famílias felizes que se vê em filmes americanos antigos. Eles poderiam ter sido felizes juntos. Tess perdera a conta de quantas vezes viu suas fotos de casamento e de quando eles namoravam, ou mesmo de quando nasceu. Era visível a alegria estampada na face dos pais. Eles estavam felizes por estarem juntos. Eles se amavam. Eles... poderiam ter ficado juntos. Mas não ficaram. Tessa aprendeu com a vida de que, às vezes, por mais que tudo aparente estar bem, na realidade não está. Não se pode ver a alma das pessoas. Um sorriso no rosto não quer dizer felicidade. Pelo menos, em grande parte das vezes. E embora seus pais não estivessem juntos como um casal, tudo parecia estar melhor do jeito que estava. Esse sentimento dentro da jovem de dezessete anos só se intensificou quando ela viu o rostinho magricela e risonho de sua irmã, Ellie, de onze anos. — Tess! — gritou a menina, assim que a porta da casa fora aberta. Os olhos de Ellie brilharam imediatamente enquanto ela correu para os braços da meia-irmã, dando-lhe um abraço tão apertado que perdeu o ar. — Achei que você só viria amanhã! Paiêê, a Tess chegou! Tess, Tess, eu tenho que te contar um monte de coisa! Sabia que estou aprendendo a tocar piano? Meu pai comprou um piano pra mim! Entra, vamos, eu vou te mostrar! Paaaai, vem logo, a Tess tá aqui! Antes que Tessa pudesse pronunciar qualquer palavra, Ellie interrompeu-a com sua voz pré-adolescente e profundamente elétrica. Sempre fora falante. Desde os três aninhos — foi quando Tessa a vira pela primeira vez. — TESS TESS TESS TESS! — um grito contínuo e fino ecoou pela casa, e logo uma criança com um vestidinho rosa e um sorriso que faltava os dentinhos de baixo iluminou o lugar. Quando viu a irmã mais velha, Delilah não hesitou em pular em seu colo e deixar um beijo carinhoso em seu rosto. Tess, morta de saudade das irmãs, deu-lhe um longo beijo na
bochecha antes de segurar suas coxas para que a criança pudesse se manter firme em seu colo. — Paaaaiê! — Ellie ainda insistia. — Vem, Tess, entra. Papai deve estar surdo, vou te contar. Mas não estava. Além de ser falante, Ellie sempre tivera o pavio-curto. Seu presente de boas vindas para Tessa, quando ela tinha dez anos e Ellie três, fora uma mordida no nariz. Isso por que a irmã mais velha não conseguiu segurá-la direito e a mais nova estava cansada de ficar no colo. Não havia se passado nem dez segundos desde que Tess batera na porta da casa do pai, e o barulho de meninas gritando o tempo todo fazia a jovem se sentir em casa. E logo ele apareceu em seu campo de visão, o velho Logan. Mas não estava tão velho assim. Na faixa dos quarenta-e-tantos, ele tinha cabelos brancos dispersos por o que já foi uma cabeleira loura, mas agora era uma cabeça rala, a calvície tomando conta de tudo. Os óculos de três graus em cada olho estavam bem posicionados acima de seu nariz, e em seu corpo, a camiseta listrada social. Aparentava mesmo o contador que era. Sua expressão sempre bondosa não mudara nada desde a última vez que Tessa o vira. Ainda com Delilah grudada ao corpo, ela abraçou a cintura do pai com um braço e fechou os olhos quando ele fez um leve cafuné no topo de sua cabeça, como sempre. Seu cheiro do mesmo perfume Lacoste de sempre fê-la perceber o quanto sentia falta dele. — Tessa, meu amor — disse ele, sua voz um pouco entoada para a curiosidade —, o que você fez com esse seu cabelo? Tess deu uma risada alta, separando-se do pai. — Bom te ver também, pai. Também estava morta de saudades — ela deu de ombros, enquanto Ellie tagalerava mais sobre seu piano novo e Delilah mexia atentamente com seu colarzinho de guitarra. Logan sorriu. — Sabe que estava com saudades — disse ele. — Mas é sério, não acha que... é melhor manter-se em só uma cor? Da última vez que Logan vira Tessa, ela havia acabado de pintar o cabelo de apenas vermelho-tinta-guache (era como ela gostava de chamar essa cor). Mas, agora, na realidade, havia enjoado e adicionado algumas mechas laranja também. Repicara o corte. Ousado, sexy, lhe dava um ar meio maluco. Exatamente o que Tess estava procurando. — Não, pai, acho que ‘tá bom assim — ela deu de ombros, levando os olhos para a irmãzinha. — Você não acha, Lilah? Não acha que meu cabelo é mais legal assim? A menina, antes concentrada em passar os dedinhos no autorrelevo do pingente de Tessa, esboçou um sorriso. — Seu cabelo é muiiiito bonito — disse ela, encantada com as cores. — O maaais bonito de todos! — ela deu ênfase na palavra “mais” enquanto demonstrava a imensidão de seu argumento abrindo os bracinhos. Tessa sorriu e deu-lhe um último beijo na bochecha antes de deixá-la no chão. Após mais uma tentativa frustrada de tentar fazer seu pai entender que a cor de seu cabelo refletia seu espírito, cumprimentar Jessica, sua madrasta, e ver todos os últimos desenhos de Delilah, Tessa finalmente foi para o quarto de uma Ellie impaciente. A préadolescente, com seus hormônios à flor da pele e sua irritação natural, praticamente bufou de raiva quando a mais velha colocou o rosto para dentro do quarto. Sorriu. Às vezes, El parecia Tess quando era mais nova. Embora a mais velha tivesse motivos reais para se chatear com tudo. — Ei, vim te ver tocar aquela música, gatinha — disse ela, atrevendo-se a entrar no quarto devagarzinho, sem causar muita comoção.
— Não tem nada melhor para fazer? — murmurou Ellie, com raiva. Tessa sorriu, aproximando-se bruscamente e roubando um beijo na bochecha da irmã. — Vamos lá, não seja chata. Estava falando com sua mãe e Lilah antes, por que queria reservar o resto da tarde para nós duas. Ou você iria querer que eu visse você tocando uma coisinha apenas e já tivesse que sair para falar com alguém? Bingo! Tessa tocara no ponto certo para retirar o bico emburrado do rosto da irmã, ela sabia. Tudo se comprovou quando a testa franzina de Ellie se aliviara, mostrando até mesmo certa leveza. — O.k. — disse ela, um meio sorriso no rosto. — O.k., escute isso. Não estou fazendo aula nem nada, então, não sou muito boa, mas escute isso. Os dedos magrinhos de Ellie se movimentaram pelo teclado do piano, tocando o que Tessa reconheceu de imediato como Imagine, dos Beatles. Sorriu. Épico, é claro, fácil, e perfeito para um iniciante. — E então? — a irmã mais nova pediu opinião. — Está muito bom! — Tessa sorriu. — Sério, você toca muito bem. Mas ouça, tente usar o polegar ao invés do dedo indicador para notas inteiras, e friccione a mão para cima quando for alcançar as teclas pretas. Pode ajudar. Mas, de qualquer maneira, está realmente bom. Você tem talento! — O polegar? — Ellie perguntou, torcendo os lábios. Tessa assentiu, colocando ela mesma a mão direita sobre o teclado. — Sim, desse jeito — explicou ela, os dedos tocando um Dó Maior. — Entendeu? — agora ela havia feito um Sol Maior. — Aaah! — disse Ellie, imitando então os movimentos da irmã. — É, fica mais fácil. Obrigada! — Não tem de quê — Tess deu de ombros. — Eu estou aprendendo a tocar sem professor nem nada por que eu e minha melhor amiga queremos mostrar para nossos pais que conseguimos sozinhas — Ellie não precisou dizer que entrara em uma aposta para que Tessa soubesse disso. Sorriu, entretanto. — E quem é sua melhor amiga? — Isabelle — disse ela, virando-se para Tessa. — Isabelle Basso. Ela é bem legal, sabe? Bem legal mesmo. Só é meio chata às vezes, mas é legal. Só que a mente de Tessa parara no nome que sua irmãzinha havia pronunciado. Na realidade, no sobrenome. Basso. Sua cabeça girou. — Por acaso sua amiga tem irmãos? — a pergunta saiu da boca jovem antes que ela pudesse controlar. Virou o rosto para Ellie meio desesperadamente, lembrando-se de súbito de que, quando fora embora de Franklin, a Sra. Jane Basso estava grávida de uma menina. De uma provável Isabelle Basso. — Ah, tem, um monte — Ellie dera de ombros. — Tem o Nate, que não mora aqui. O Dennis que é o mais legal. E o Jon, que é o mais chato de todos. E... tem outro... mas eu quase não vejo ele por que ele não estuda na nossa escola, e... — Damon? Os olhos de Ellie pararam na irmã, e pela primeira vez no dia, ela não se deu ao trabalho de retornar ao assunto que havia iniciado. Franziu as sobrancelhas, contudo. — É — disse ela, surpresa. — É, Damon, aham. Esse é o nome do irmão da Belle. Como você sabe? Tessa sorriu, o coração martelando contra o peito gradativamente. Deu de ombros, como se aquilo não tivesse importância alguma.
Ora, não deveria ter, correto? Damon fora apenas seu amiguinho de infância. Seria bobo se importar exageradamente com aquilo. Tessa não era uma adolescente comum, nunca fora, e certamente não se deixaria levar por esse tipo de clichê comum. Simplesmente não era ela. — Ah, é que eu tinha um amigo, quando era pouco mais nova que você, chamado Damon Basso. E ele tinha dois irmãos, Dennis e Jon. — Aaah... — Ellie fez que tinha entendido e depois esboçou um sorriso tranquilo. — Isso é legal. Tessa deixou-se dar um meio sorriso. — É — concordou ela, encarando o nada. — Muito legal mesmo. Permaneceu na casa do pai durante mais trinta minutos até decidir ir embora para seu novo lar. Ainda precisava descobrir como usar o chuveiro e embrulhar seu colchão novo com seu lençol velho para que ele tivesse seu cheiro. Além disso, a lembrança de Damon e da família Basso meio que estava martelando em sua mente desde a conversa com Ellie. Tessa estava de cabeça cheia por causa daquela cidade. Precisava mesmo era de um descanso. Um banho quente e uma longa e duradoura noite de sono em seu mais novo colchão com molas. O que era muito melhor do que a espuma de três anos sobre a qual ela se deitava na Califórnia. Provavelmente Tessa era a única garota no mundo que se animara tanto por sair da Califórnia para ir morar no Tennessee. Mas não se importava. Nunca se importou. Franklin era uma cidade antiga, marcada por vários museus, e todas as casas pareciam ter sido construídas em 1700. Isso tornava a cidade muito requisitada pelos turistas-semnada-para-fazer, mas não era disso que Tessa gostava na pequena cidadezinha sulista. Ela gostava da calma. Do cheiro. E de como era longe da Califórnia. Além disso, é claro, havia algo nela que a trouxera de volta para lá, e não era apenas sua paixão pela cidadezinha. Como se Tessa soubesse que deveria recomeçar sua vida ali, simplesmente por que... sim. Tudo bem, ela sabia que esse não era um argumento nada válido ou sensato, mas ela sentia. Não podia dizer o que era. Apenas sentia. Como descrever um sentimento que nem ela mesma sabia como discernir? Já estava quase perto de casa quando virou a última esquina em passos rápidos — nunca aprendera a andar devagar. Mas sua mania fez com que ela não percebesse que um casal também estava na calçada, pronto para virar a esquina. O trombo foi inevitável; o corpo de Tessa foi pressionado contra o de uma garota de olhos azuis e cabelo louro impecável, que não hesitou deixar-se dar um grito fresco de dor posteriormente. — Aaaaaai! Menina, você ficou maluca?! — sua voz era ainda mais irritante do que sua aparência perfeita, Tessa pensou. Ainda assim, respirou fundo, contou até três. — Me desculpe por trombar com você, não tinha te visto — disse ela, já girando os calcanhares para se afastar do casalzinho idiota. — Pelo amor de Deus, acorda pra vida! Você simplesmente acabou com meu cabelo. Um... dois... três... — Me. Desculpe. Quatro... cinco... seis... — É só você ficar mais atenta. — E qual foi mesmo a parte de “me desculpe” que você não entendeu? — contagem interrompida. — Por que, honestamente, embora você não me pareça a garota mais
inteligente do mundo, acho que é capaz de entender duas palavrinhas. Ou vai querer que eu desenhe? O garoto de pele morena e olhos castanhos, ao lado da loura, evidentemente ficara ofendido. A boca dele se entreabriu imediatamente, mediante ao fato de que Tessa teve a coragem de chamar sua namorada de burra. — Qual é a sua, garota? — perguntou ele, elevando a voz para Tess e aparentemente tomando as rédeas da situação. — Quem você acha que é para chegar assim enfrentando? — Em primeiro lugar, quem eu sou não interessa a você — a expressão de Tessa era dura, fria. Ela aprendera a utilizá-la com frequência. — E em segundo lugar, eu não estou “enfrentando” ninguém. Sua namorada burra que começou a procurar encrenca. Infelizmente para ela, é exatamente o que ela vai conseguir se continuar enchendo o saco. — Eu vou acabar com você! — a loura voltou a falar, dessa vez para ameaçar Tessa. Seu rosto exalava irritação pela impertinência de Tess. Mas isso só fez com que a ruiva risse com todo o deboche que tinha dentro de si. — Ah, sério? Então vem! — provocou. — Se quer brigar, brigue. Não me importo. Já surrei outras garotas como você na Califórnia, e acredite, você não é nada especial. Antes que a loura tivesse o ímpeto de estalar sua mão no rosto de Tessa, seu namorado segurara-a. O olhar castanho e duro impunha para que ela simplesmente não brigasse, embora Tessa houvesse provocado-a. — Mas olha só que lindo — Tess ironizou sem se controlar. Simplesmente saíra dela. — O namoradinho idiota quer impedir a namoradinha de quebrar a cara. O menino a olhou como se fosse matá-la, mas ao invés disso, apenas aproximou-se dela e num movimento rápido segurou seu braço. Apertou-o, forçando-a a olhá-lo nos olhos. — Escuta aqui, menina — disse ele, a voz sombriamente irritada. — Você não tem ideia de com quem está falando. Ela o encarou a altura. — Oh, sério? Sério que não tenho? — novamente, ela ironizou. — Eu conheci outras centenas de garotos como você. Não é você o macho-alfa do colégio, que prova tua masculinidade batendo nos garotos menores? Não é você o moleque mais popular, metido a riquinho e badboy, que faz de tudo para proteger a namoradinha, que também pratica bullying com as demais meninas? Por favor! Eu sei exatamente quem é você, seu moleque. E não vou ser outra vítima sua — ela cuspiu tudo na cara do menino, sem abaixar o olhar por um só segundo, dizendo simplesmente tudo o que lhe veio à cabeça. Como sempre fizera. Viu que o garoto não podia estar mais surpreso por ela tê-lo dito aquilo, mas também estava com raiva. Muita raiva. A mão dele ainda estava em volta de seu antebraço, apertando. — E solta a droga do meu braço! Uma vez fora de seu aperto, Tessa não desfez o contato visual com o casal idiota. A menina parecia muito pasma por ela ter enfrentado-a e enfrentado seu namorado também — provavelmente ninguém nunca havia feito isso antes. O garoto, com os olhos ainda queimando de raiva, suspirou de leve e virou-se para a namorada. — Vamos, Daphne — e então saiu, ignorando Tessa e puxando a namorada pela mão. Com os olhos revirando, Tess finalmente virou a esquina e viu sua nova casa bem instalada. O carro denunciava que sua mãe não havia saído, e era melhor assim, pois Tess se esquecera de pegar a chave. E tudo o que ela menos queria era fazer o caminho de volta para a casa do pai e reencontrar seus mais novos amiguinhos.
Apenas um recado do autor de vocês Bom dia/boa tarde/boa noite, amados. Como eu vou saber o horário em que os senhores estão lendo isso? Exato. Não vou saber. Mas ainda assim, serei cordial e cumprimentar-lhes-ei como merecem ser cumprimentados. Tá, eu não estou enganando ninguém. Mas, bem, nesse momento, vocês devem estar se perguntando o porquê de terem lido o prólogo e o primeiro capítulo de Odeio Amar Você online, em vez de estarem prestigiando-os em seus bons e sempre fiéis livros impressos. Eu explico, amados. Acontece que o processo de publicação vai demorar um pouquinho mais do que esperado. E, como vocês são fãs muito ansiosos e muito lindos, eu decidi liberar um pouquinho para aplacar a curiosidade de vocês (de como ficará o livro, e tudo mais. Vocês sabem do que estou falando. Têm me atormentado em relação a essa história nos últimos dois anos. Mas não parem, por favor! Amo isso em vocês.). Portanto não se preocupem: num futuro não muito distante (eu espero!), cada um de vocês terá um exemplar de Odeio Amar Você nas mãos. Particularmente, essa é a minha obra mais pessoal e íntima. É claro que vocês leram muito pouco (por favor, me digam o que acharam de Tessa e sua irreverência), mas já devem saber por outros meios que isso é profundamente importante. Para mim, pelo menos. Odeio Amar Você (ou OAV, para os práticos), honestamente, mudou minha vida. Sempre digo que você nunca termina um livro da maneira que o começou. Cresci muito enquanto escrevia Odeio Amar Você (ora! Quando foi que não cresci escrevendo qualquer coisa, uma vez que escrevo desde os dez anos?), e espero que vocês compartilhem, ao menos um pouco, de minha visão. Sobre o amor, quero dizer. Eu não conheço cada um de vocês e tenho certeza que, a cada maneira, já foram decepcionados de alguma forma. Como Tessa, talvez seus pais tenham se divorciado. Como Damon, talvez tenha sido traído pela namorada. Não sei. Não tenho como saber. Mas sei que, lá no fundo, muitos de nós acabamos por desacreditar no amor. Não é nossa culpa. É culpa das circunstâncias. No entanto, amados, com essa obra eu espero que faça com que alguns de vocês passem a acreditar. Existe um amor verdadeiro (embora ele não seja devidamente retratado na maior parte dos livros e filmes em geral), e, sim, nós devemos acreditar nele. Não estou dizendo que vocês devem suspirar por toda pessoa razoavelmente atrativa que virem, ou que devem sair à procura de parceiros como tigres ferozes procuram por gazelas. Não é assim que as coisas funcionam com o amor. Ele vem do nada; quando você menos espera, galante, sem fazer ruídos, de mansinho. Sim, ele te toma. E sim, ele talvez seja algo remotamente parecido com o que você vê em filmes e livros em geral.
Mas só remotamente. Lembre-se de que seu amado tem defeitos. Cabe a ti aprender a amálos, assim como ama suas qualidades. Ou amar odiá-los. Bem, aí é com vocês. É mais ou menos isso que pretendo que vocês captem com essa obra. O fato da existência do amor, e da existência do ódio, bem no meio dele. Por que por mais que eles sejam dados como antônimos, a linha que os separa é, na verdade, muito tênue. Em certos casos, como o de Tess e Damon, nem sequer existe uma linha. “Não existe ódio implacável a não ser no amor”, já dizia Propércio. Não deixem de acreditar, amados, apenas por uma decepção. O amor vem. Pode até ir embora. Mas se for verdadeiro, ele volta.
Joseph Farro