Politicamente Incorreto - Monet

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ELE QUER O SEU

VOTO por Sarah Mund fotos José Bassit

Ou pelo menos o seu clique do controle remoto.

Atílio Pereira não sabe muito bem como se tornou tão popular. A verdade é que um incidente durante um escândalo de corrupção acabou lhe rendendo a fama de político mais honesto do Brasil – o que não poderia estar mais longe da realidade. “O deputado Atílio é o que qualquer brasileiro seria se tivesse o poder, a imunidade e o dinheiro que ele tem”, apontou Danilo Gentili. Foi a partir dessa premissa que ele, que até já apanhou no Congresso em seus tempos de repórter bocudo, desenvolveu ao lado do diretor Fabrício Bittar a trama de POLITICAMENTE INCORRETO, série de comédia que irá ao ar no mesmo horário da propaganda eleitoral obrigatória nos canais de televisão aberta. O senso de oportunidade já está parecido com o da classe. Engajado e polêmico, o assunto não é nenhuma novidade para o comediante. O projeto foi desenvolvido a partir do espetáculo de stand up comedy que ele apresentou na véspera das últimas eleições para presidente e depois foi comercializado em DVD. Mas se nos palcos ele dispensava seu veneno contra os políticos sem nenhum pseudônimo, agora assume um personagem que em oportunismo não deixa nada a dever a Odorico Paraguaçu, de O Bem Amado (vivido por Paulo Gracindo na novela global e por Marco Nanini no cinema). “O Atílio não é um político engraçado, ele é um deputado sério. POLITICAMENTE INCORRETO I A PARTIR DO DIA 15, SEGUNDAS, 20H30, FX, 134 E 634 (HD)

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Ou seja, ele é patético. Ele é uma mistura de muitas figuras que eu encontrei trabalhando no Congresso”, descreveu Gentili. Sem perder a chance de aproveitar a repentina popularidade, Atílio se lança como candidato à Presidência da República. Mas sem saber medir suas palavras, ele é obrigado pelo presidente do partido, Chagas, vivido pelo paraibano José Dumont, a passar por um verdadeiro banho de loja nas mãos da assessora política Maria Eduarda, papel de Paula Possani. Começa aí um embate de ideais, do achismo contra o profissionalismo. A vantagem de Atílio é seu carisma e sua sorte. Mesmo quando contraria todas as orientações que recebeu, ele acaba conseguindo sair bem na fita. “A gente começou pensando no que seria um absurdo para um político falar, mas no fim acabamos fazendo um compilado do que realmente acontece. Quando olhamos um discurso real, percebemos que é mais absurdo que algo que poderíamos escrever”, revelou o comediante. Quem acompanha séries de comédia americanas como Parks and Recreation e Veep (confira mais no quadro abaixo), vai reconhecer algumas situações abordadas na atração. “A gente explora muito a vergonha alheia, esse é o tom”, explicou Gentili, ao que completou o diretor Fabrício Bittar: “A gente gosta muito dessas comédias, mas a gente tem a vantagem de a nossa política ser muito mais engraçada. Para se ter uma ideia, lá eles têm prédios clássicos e grandiosos, nós tivemos que detonar e sujar um pouco o cenário para ficar parecido com Brasília”.

“O deputado Atílio é o que qualquer brasileiro seria se tivesse o poder, a imunidade e o dinheiro que ele tem” – Danilo Gentili

PADRÃO DE CINEMA – E, por falar em cenário, a grandiosidade e fidelidade dos cenários impressiona. Filmada no polo de cinema de Paulínia, no interior de São Paulo, a produção conta com uma reprodução fiel da sala de votações do Plenário. “Estamos há mais de um ano preparando o roteiro. Não queremos entregar qualquer série, mas a melhor que pudermos fazer. Não é um caça-níquel, eu sou fã de sitcom e vou fazer o que eu acho o melhor produto possível para os fãs. Estamos dilapidando o roteiro, todos juntos revendo as piadas e adaptando para que tudo funcione. Comédia é isso: colaboração. É como

catar feijão; tem que ter um monte de opções para escolher”, revelou Gentili sobre o processo de criação da trama. Além disso, os atores passaram duas semanas juntos para chegar ao nível de entrosamento necessário para que as piadas saíssem com naturalidade, mesmo que não sigam suas falas à risca. “Nós temos ciência de que é uma concorrência dificílima ter um programa de humor na mesma hora do horário político, que também é comédia. Mas se é para esculhambar, então melhor assistir a alguém que não está fingindo que trabalha!” Recado dado.

Capital Federal no interior de São Paulo – Danilo Gentili e elenco recebem grupo de jornalistas no estúdio em Paulínia, onde a série é gravada. Na imagem maior, os atores conversam no cenário do gabinete do deputado; e, nas fotos menores, o estúdio no qual o Plenário foi recriado

MANDACHUVAS NA TV

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24: LIVE ANOTHER DAY

Após oito anos protegendo seu país, Jack Bauer (Kiefer Sutherland) se tornou alvo de sua própria nação na minissérie de 12 episódios que retoma a história quatro anos depois da oitava temporada. Procurado pela CIA, ele se refugia em Londres, onde tentará evitar outro desastre global. Só que, desta vez, quem o persegue é um dos homens mais poderosos do mundo: o atual presidente dos EUA, James Heller (William Devane).

PARKS AND RECREATION

Você se pergunta como pessoas medíocres podem ser bem-sucedidas? Esta série mostra como uma delas consegue. Leslie Knope (Amy Poehler) pode ser bem intencionada, mas está aquém dos requisitos para comandar qualquer setor do governo. Entre figuras patéticas, ela vai enfrentando desafios burocráticos e galgando cargos até se tornar uma funcionária federal responsável por parques e áreas verdes.

SCANDAL

No drama da mesma autora de Grey’s Anatomy, Olivia Pope (Kerry Washington) é uma consultora que ajuda a resolver pepinos da Casa Branca e ao mesmo tempo mantém um romance com o presidente americano (Tony Goldwyn). Quando você vê tantas decisões sendo tomadas por questões carnais, fica realmente difícil não pensar que outros motivos banais podem estar por trás das ações dos governantes.

THE KILLING

As duas primeiras temporadas acompanham os detetives Holder (Joel Kinnaman) e Linden (Mireille Enos) tentando desvendar a morte de uma adolescente. O caso os leva a suspeitar do candidato a prefeito, Darren Richmond (Billy Campbell), já que o corpo foi encontrado em um carro de campanha. Embora a dupla até acredite em sua inocência, segredos do passado vão comprometer o político.

VEEP

O que Selina Meyer (Julia Louis-Dreyfus) tem de ambiciosa tem também de atrapalhada. Senadora de sucesso, ela acha que ser eleita vice-presidente é um passo mais próximo do poder, mas descobre que o cargo em Washington não é exatamente o que esperava e pior do que prometeram. Sendo sempre relegada pelo presidente, ela tenta desastradamente deixar sua marca na história do governo americano.

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FOTOS: DIVULGAÇÃO

Gostando ou não de acompanhar o assunto, não dá para negar que a política rende boas histórias – sejam elas dramáticas ou cômicas. Não é à toa que os americanos são tão obcecados com tramas que se passam na Casa Branca e contam com inúmeras atrações sobre o tema. Confira quais outros personagens usam e abusam do poder nas telas.


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