Orphan Black - Monet

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Cara de uma, DNA da outra O criador de Orphan Black relata a verdadeira epopeia que foi Conflito de interesses – Diferentes mulheres, com suas próprias vidas e características, entram em rota de colisão com diversas instituições ao descobrirem que são geneticamente idênticas, todas vividas pela atriz Tatiana Maslany

tornar realidade uma das séries mais populares do momento

por Sarah Mund, de Liverpool

CLONES

não são necessariamente uma novidade desde que a existência da ovelha Dolly surpreendeu o mundo em 1996. Mais de dez anos se passaram desde que o animal que marcou o início de uma nova era na ciência morreu, mas graças à série Orphan Black o assunto clonagem anda mais quente que nunca – pelo menos no universo pop. E assim como aconteceu com a Dolly, a produção da BBC America que chega à segunda temporada no Brasil também passou por muitos percalços antes de ganhar vida, como conta Graeme Manson, um dos criadores. “Nós trabalhamos nesse projeto por muito tempo, tivemos a ideia dez anos antes. Começamos tentando escrever um roteiro para o cinema, mas Orphan Black A PARTIR DO DIA 24, era impossível abordar TERÇAS, 21H, A&E, 138 toda a complexidade e o mistério da história em apenas duas horas. 2 8 + M o­n e t + F E V E R E I R O

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TE CONHEÇO? Tatiana Maslany consegue interpretar sete personagens tão diferentes que dá até para esquecer que é ela que dá vida a cada um dos clones

Justo nessa época, a TV por assinatura estava passando por uma transformação com produções como Família Soprano e A Sete Palmos, então notamos que esse poderia ser o caminho”, revelou com exclusividade para a MONET. No entanto, a simples mudança de mídia não abriu as portas que ele e seu parceiro criativo, John Fawcett, esperavam. “Nós tínhamos um excelente roteiro e um ótimo discurso e mesmo assim oferecemos para todo mundo no Canadá e nos EUA antes de ouvir um sim. Acho que pensaram que éramos muito ambiciosos e pouco experientes. Ainda por cima havia um grande risco do projeto todo desmoronar se não acertássemos na escolha da atriz”, confidenciou Manson. Não é de se estranhar que a proposta tenha sido recebida com receio quando se fala de uma história que conta com mais de sete mulheres clonadas interpretadas pela mesma atriz e que envolve pesquisas genéticas secretas e seitas religiosas.

ALISON HENDRIX Típica dona de casa e mãe de família, Alison não queria nenhum envolvimento com os outros clones, mas encontra uma força para lutar que desconhecia em si mesma. BETH CHILDS É a identidade dela que Sarah assume depois de vê-la cometer suicídio no metrô. A policial estava psicologicamente abalada com o que descobriu sobre a clonagem. COSIMA NIEHAUS A cientista é a mais nova vítima da misteriosa doença que já matou outras iguais a ela. Consciente do projeto que a criou, tenta ajudar a encontrar uma cura.

CLONAGEM 2.0 No momento em que a história é retomada na segunda temporada, pelo menos sete clones já apareceram – sem contar a

Múltiplas personalidades – Na tentativa de descobrir qual é a doença que acomete as clones e que já começou a se manifestar nela mesma, Cosima faz um pacto com o diabo e passa a trabalhar para o Dyad Institute com ajuda de sua amante Delphine (Evelyne Brochu) na foto maior; acima, Sarah (se disfarça para se aproximar da executiva Rachel e exigir respostas sobre as verdadeiras intenções dela com as clones; ao lado, ela lida com a detetive DeAngelis (Inga Cadranel), que ainda não desistiu de investigar a morte de Beth

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menção de mais quatro delas. Mas quem realmente é uma em um milhão é a atriz Tatiana Maslany. A canadense foi escolhida em um grupo de 100 artistas que concorreram ao papel e essa era uma das maiores preocupações dos produtores: achar alguém que daria conta da tarefa hercúlea de protagonizar a atração. “Ela é incrível! O processo de seleção foi terrível para as atrizes. Reunimos as cinco melhores em Toronto [onde a série é filmada] para ler os primeiros roteiros na frente dos executivos. A essa altura todas eram excelentes, mas pequenos detalhes acabaram fazendo a diferença”, relatou Manson. “Foram dois dias vendo elas se revezarem entre cinco personagens e, enquanto algumas só acertavam determinadas características, a Tatiana continuou crescendo. Ela é muito boa em improvisação e cada vez que falávamos para trocar de personagem era como se ela virasse uma página ou apertasse um botão para que ela mudasse tudo, sua forma de falar, de respirar, de se portar. Ela é muito boa com a parte física de cada personagem”, descreveu o produtor e criador. Ele ainda contou como Tatiana Maslany consegue se concentrar nas diferentes personagens. Os próprios produtores criam roteiros de cores diferenciadas e montam o cronograma tentando manter o mínimo de mudanças possível em um dia de gravação, mas nem sempre isso é possível. Então, além de figurino, maquiagem e penteados específicos de cada uma delas, a atriz criou uma trilha sonora diferente para todas as clones que ela ouve para se

HELENA A gêmea indomável de Sarah foi criada por religiosos fanáticos e tem uma relação de amor e ódio com a irmã. Apesar de ter levado um tiro, retorna para a segunda temporada. KATJA OBINGER Essa clone criada na Alemanha apareceu brevemente na primeira temporada. Ela já sofria da doença que acomete algumas de suas semelhantes e acabou assassinada. RACHEL DUNCAN Uma das pessoas poderosas no instituto que comanda o projeto de clonagem, ainda não ficou totalmente claro qual a participação da executiva em todo o processo.

SARAH MANNING A única entre as clonadas que conseguiu gerar um filho, ela é visada pelo instituto que realizou o projeto para estudos que expliquem por que é diferente das outras.

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concentrar antes de cada cena – o que provavelmente ajuda a não escorregar no sotaque e trejeitos. O desafio fica quando Sarah, a personagem principal, se passa pela policial Beth ou pela cientista Cosima. Para o segundo ano, ele promete ainda mais ação, mais informações sobre o projeto de clonagem, a seita religiosa que persegue as mulheres que participaram dele e, é claro, mais clones. Tudo isso com direito a novos cenários, como o do Dyad Institute onde Cosima irá trabalhar pesquisando uma cura para a doença que a acomete. “Estamos muito orgulhosos da segunda temporada. A história volta no ponto onde parou, bastante dinâmica e empolgante e com a mesma quantidade de mistério e surpresas que deixa as pessoas presas à trama”, entregou Manson.

COMOÇÃO ONLINE Parte do sucesso de Orphan Black está no fato de que ela traz elementos que agradam a variados públicos. Drama, romance, ficção científica, mistério, ação policial e até mesmo comédia, com a figura do popular Felix (Jordan Gavaris), irmão adotivo de Sarah. “Não foi com a intenção de atrair uma audiência variada, mas é uma premissa do show que nos permite transitar por universos diferentes. Coordená-los é um verdadeiro desafio, mas ao mesmo tempo satisfatório. Criamos esses mundos conscientemente e nos

esforçamos para que cada um tenha uma aparência e um clima próprios”, detalhou Manson. Mas os produtores não contavam com a febre que a atração se tornou entre os fãs online. Os membros do Clone Club, como eles se autodenominam, são dedicados e fiéis, e começaram por conta própria uma campanha para que a atriz Tatiana Maslany fosse indicada às principais premiações da televisão americana. O prêmio em si nunca veio (o que causou a ira desses fãs), mas eles não se deixaram abalar e continuam cultuando a série em sites e redes sociais. E para quem tem receio de se apegar à atração e se deparar com um final decepcionante como foi o de Lost para muita gente, Manson garante que eles sabem para onde estão indo: “Nós sabemos o motivo de tudo, é só uma questão de quanto tempo teremos para chegar lá. O ideal seriam sete tem-

Rota de fuga – Enquanto Alison se refugia na produção de um musical no teatro comunitário para se afastar das demais clones, Sarah cai na estrada para fugir das pessoas que estão atrás dela e de sua filha Kira (Skyler Wexler) com a ajuda de seu irmão adotivo Felix (Jordan Gavaris). Já Helena milagrosamente sobrevive ao tiro que levou no final da primeira temporada e consegue chegar sozinha a um hospital para receber atendimento médico

poradas, mas se necessário nos contentamos com cinco”, admitiu. E para tanto planejamento ele ainda conta com a ajuda da verdadeira Cosima, uma PhD em História da Ciência de quem é amigo e que o ajuda com o contexto não só científico como histórico, social e ético. “Essa colaboração nos dá muitas ideias para explorar.” Ou seja, a história fica ainda mais assustadora agora, sabendo que ela poderia ser real. Já pensou encontrar você mesmo no shopping ou em uma estação do metrô?

Tatiana Maslany não é a primeira a encarar a árdua tarefa de dar vida a mais de um personagem na mesma produção. Mas alguns outros artistas também desempenharam a vida dupla – ou tripla, quádrupla, quíntupla... – tão bem que não dá para deixar de mencioná-los. Confira alguns atores e atrizes que conseguem mudar de personalidade tão fácil quanto ligar e desligar um interruptor mental 3 2 + M o­n e t + F E V E R E I R O

EDDIE MURPHY – Interpretar mais de um personagem no mesmo filme já virou rotina para ele, mas foi em O Professor Aloprado (1996) que o ator mostrou ao mundo sua versatilidade – ainda mais quando as pessoas ainda desconheciam o poder da maquiagem e do figurino para transformar.

LISA KUDROW – Impossível esquecer a carismática Phoebe, que conquistou os fãs ao lado dos amigos de Friends (1994-2004). Poucos lembram que a atriz também fez a irmã gêmea da personagem, a egocêntrica Úrsula.

FOTOS: DIVULGAÇÃO

TALENTO MULTIÚSO

MIKE MYERS – Não satisfeito em viver o herói e o vilão nos filmes Austin Powers (1997, 1999, 2002), o comediante ainda encara mais dois papéis além do protagonista e do Dr. Evil: Fat Bastard e Goldmember.

PETER SELLERS – Como se já não bastasse o roteiro e a direção de Stanley Kubrik, Dr. Fantástico (1964) é estrelado pelo ator com três personagens, capitão Lionel Mandrake, presidente Merkin Muffley e Dr. Strangelove.

SARAH PAULSON – Logo de cara todo o elenco de American Horror Story: Freak Show (2014) interpreta mais de um personagem a cada nova edição da minissérie, mas nesta a atriz surpreendeu com as gêmeas siamesas.

TONI COLLETTE – Esse caso é ainda mais complexo, já que na verdade a atriz viveu apenas uma personagem, mas ao mesmo tempo precisou interpretar suas quatro personalidades em United States of Tara (2009-2011).

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