Lila shortcuts

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Os contos seguem a história de Lila, a garota de 17 anos com o poder da telecinese, e Alex, o melhor amigo de seu irmão e seu grande amor secreto desde sempre. Quando um assalto nas ruas do sul de Londres sai horrivelmente errado e expõem a sua habilidade única, Lila foge para a Califórnia, onde Alex e seu irmão estão trabalhando para uma organização secreta chamada Unidade e procurando os homens que mataram a mãe de Lila há 5 anos atrás. Lila se vê involuntariamente envolvida na caçada e no mistério de um suposto assassinato.


Para todos os f達s de Alex e Lila.


Redimindo Demos Dizem que o amor salva, que liberta você, que redime. Olhando para o corpo no chão, rios, lagos, oceanos inteiros de sangue jorrando ao redor meus pés, o seu grito ainda está perfurando meu crânio como uma britadeira, um pensamento em combustão vai se formando, embrionário e sem forma, um pensamento que iria crescer e tornar-se sólido nos próximos meses e anos. O pensamento de que o amor não liberta como ela uma vez tentou me dizer, pelo contrário, o amor te destrói, escraviza e em última instância, condena você. Eu amei Melissa. A morte dela me destruiu e, como você sabe, me condenou também. Há muita coisa que você não sabe. Um monte de coisas que você provavelmente nunca vai saber. Mas se houvessem duas verdades que eu pudesse te contar, a primeira seria esta: Eu a amava. A segunda seria: Eu não a matei. Eu sei que a Unidade me acusa de ter matado e tem me classificado como um monstro, um monstro de proporções bíblicas, mas aqui está um fato interessante; a palavra monstro é derivada do latin “Monere” significando uma coisa para advertir, instruir, para demonstrar. Então me chame de monstro, mas deixe-me fazer o meu trabalho e adverti-lo. Nós nos reunimos ao redor do capô do carro, inclinando o mapa esboçado e calculando a distância do prédio cinzento e feio. - Torres de vigia estão aqui e aqui - disse Bill, apontando o dedo sobre o mapa - Cercas elétricas, pontos de verificação, parede interna, sala de espera, sala de vigilância, portas de segurança, segundo conjunto de portas de segurança, bloco de segurança máxima e aqui - ele apontou para baixo com o polegar – aqui é onde eles o estão mantendo. - A asa de ajuste? - Ryder perguntou, espiando mais atento ao mapa. Bill sorriu para ele.


- Onde eles detêm o pior dos piores, condenados à morte e os que continuam tentando escapar. Amber abraçou seus braços ao redor de seu corpo. Ela era uma criança abandonada, uma menina ainda, com um cabelo vermelho que ardia como uma auréola na luz da manhã. Joguei-lhe um boné. - Aqui, coloque isso. Ela pegou meu boné Raiders e olhou para ele. - Este é o meu disfarce? - perguntou ela – Vocês querem invadir uma prisão de segurança máxima e resgatar um prisioneiro no corredor da morte e este é o meu disfarce? Eu gostava de sua franqueza. Ela era uma criança difícil de enganar. - Não - eu disse - isso não é um disfarce. Nós não precisamos de disfarces. Nós temos o seu namorado nos acompanhando para o passeio. Ele vai peneirar as memórias de todos, então vamos entrar e sair sem que ninguém se lembre de nada. - Eles vão ter câmeras de segurança – Amber disse, arqueando uma sobrancelha para mim. - Eu vou lidar com isso, não se preocupe - eu disse à ela. As crianças de hoje em dia são realmente desconfiadas. Ela olhou para mim, mordendo o interior de sua bochecha, mas não disse uma palavra. Algumas vezes me peguei pensando se ela e Ryder não eram jovens demais, se eu deveria estar arrastando-os para lugares assim. Bill era um adulto, cheio de cicatrizes de batalha e cansado. Ele tinha visto o pior que o mundo poderia trazer, mas esses dois? Eles pareciam protagonistas de um comercial de leite. Bill, por outro lado, tinha o tipo de cara de quem aparece no programa “America´s Most Wanted” (Os Mais Procurados da América). Ele foi um paramédico no passado e tinha habilidades de primeiros socorros úteis, mas que não foi isso me encantou nele. Não. O que me fez notar o potencial de Bill foi que ele poderia levantar um caminhão com apenas um olhar em sua direção e usá-lo como uma arma. É claro que você sabe agora o que eu estava fazendo reunindo esse grupo desorganizado de pessoas juntas. Eu estava unindo quantos de nós eu pudesse encontrar, ou seja, pessoas com excepcionais habilidades, nenhum tem uma habilidade tão excepcional quanto a minha, é claro, mas todos tem alguma habilidade excepcional. E eu estava fazendo isso porque ficou claro que a única maneira de vencer esta guerra contra as Stirling Enterprises e seus militares-recém-formados da Unidade, era reunir minhas forças e lutar.


Amber e Ryder tinha sido forçados à se unir a este exército, mas depois que eu mostrei à eles as provas, as fotografias e a trilha de papel que liga Senador Burns à empresa de defesa Stirling Enterprises, depois de eu ter mostrado à eles que o governo deu carta branca à Stirling para pesquisa e desenvolvimento de novas armas para eles e que nós éramos as armas que eles estavam pesquisando, não foi tão difícil convencê-los a ficar por seu próprio livre arbítrio. Pinte uma visão de mundo que envolve exércitos de soldados geneticamente modificados capazes de mover coisas só de olhar para eles, espiões que podem ler mentes e mudar o curso da história através da remoção de memórias, a maioria das pessoas acaba concordando em ficar e lutar para evitar que isso aconteça. O espírito humano é indomável. Calúnias são coisas duras de esquecer. Seria desonesto da minha parte afirmar que eu era somente o pobre caluniado, no entanto. Eu sabia de que forma o mundo funcionava e eu estava jogando um jogo mais. Meu princípio de motivação era não apenas impedir uma nova ordem mundial aterrorizante, mas algo muito mais básico também: vingança. O amor tinha me condenado. - Certo, vamos lá então? - Eu perguntei, dobrando o mapa e colocando no bolso de trás. Subimos em silêncio dentro do carro, cada um de nós focado no plano, o mapa desenhado em nossas cabeças foi se materializando em um prédio de concreto sólido, muros e alças torcidas de arame farpado enquanto chegamos mais perto. San Quentin é uma das maiores prisões de segurança máxima dos EUA. Lá dentro, há condenados ao corredor da morte, aguardando a execução, o caso do meu velho colega, companheiro de lutas e leal amigo, Harvey. Telecinético, com um conjunto de habilidades semelhantes às de Bill, ele está agora conhecido como “prisioneiro 18974”, condenado à prisão perpétua por assalto à mão armada e assassinato (tecnicamente foi homicídio culposo, o segurança do banco entrou no lugar errado, na hora errada – carregar barras de ouro, ainda que com a mente, é pesado). Gostaria de tê-lo resgatado mais cedo, mas Melissa reapareceu na minha vida antes que eu pudesse chegar à ele. Ela me ligou dois meses antes, pedindo minha ajuda. Eu não falava com ela há mais de 17 anos, desde a faculdade, mas na hora que eu peguei o telefone e ouvi a voz dela, os sete anos desapareceram como fumaça no vento. Eu fui um tolo por achar que com o tempo eu superaria ela.


Uma palavra, meu nome em seus lábios, e foi o suficiente. O amor que eu sentia por ela estava de volta, brilhante e vívido como as barras de ouro que Harvey e eu tínhamos roubado do Federal Reserve. Mas lembra o que eu disse sobre amar? Não vai te resgatar. Falo por experiência. Nesses 17 anos eu me tornei exatamente o mesmo homem que ela temia que pudesse ser. Um homem sem moral, com poucos escrúpulos e uma lista de crimes em meu nome tão longa que eu já havia esquecido de pelo menos metade deles. Você já viu minha ficha criminal. E eu não vou tentar negar. Eu tenho certeza que eu sou culpado de muito do que eles dizem: assalto a banco, traição, arrombamento, furto, roubo, posso de armas, e sim, até mesmo assassinato. Seu nome era senador Burns. Você já ouviu falar dele, eu acho. Ele era o homem para quem Melissa trabalhava. O homem que ordenou seu assassinato para encobrir seus próprios crimes. E eu o matei. Felizmente eu faria tudo de novo. A prisão, mesmo as de segurança máxima com guardas armados com metralhadoras por cada canto, não são tão difíceis de entrar ou sair. Eles são construídas para evitar fugas de humanos sem o nosso tipo de vantagens concedidas pelo nosso DNA. Quando eu disse para Amber não se preocupar, eu quis dizer isso. Eu já tinha bastante experiência em roubar bancos, ao ponto em que quando eu passava casualmente em frente à um banco, eu tinha que me lembrar à não entrar, congelar o caixa, forçar o guarda à entregar sua arma e convencer o gerente a abrir o cofre. Eu sequer suaria a camisa para tirar Harvey de San Quentin. Talvez eu tenha me tornado assim, em parte, devido à forma como tinha sido a morte de Melissa, minha mente sempre lembrando do atirador, friamente focado, tendo a morte como seu ponto final. Apenas dois dias depois que ela ligou pedindo a minha ajuda, ela estava morta. Eu fui a pessoa que a encontrou. Como você apagaria uma imagem assim de sua mente? Resposta: não apaga. Estou feliz por você não estar lá para testemunhar. Porém, à esta hora, não tenho dúvidas de que eles mostraram todas as fotografias de qualquer maneira. Lila estava lá também. Ela testemunhou tudo isso, e eu muitas vezes me pergunto como isso a afetou. Eu sabia que Melissa tinha filhos, mas ver Lila ali de pé, com a boca aberta diante de um rastro de sangue e do corpo de sua mãe deitado na escada, era como ver um fantasma, uma visão de Melissa quando menina. Eu fiz a única coisa que eu poderia pensar em fazer. A peguei, querendo protegê-la do horror.


Eles ainda estavam na casa - as pessoas que assassinaram Melissa e eles vieram atrás de nós. Eu não tenho nenhuma dúvida, se eu não tivesse aparecido, eles teriam matado Lila também. Você acredita? Eu salvei a vida de Lila. Me desculpe, eu cheguei muito tarde para salvar Melissa, mas eu salvei Lila. Duvido que seja o suficiente para comprar o seu perdão, mas um homem pode esperar. Bill olhou para enquanto nós passávamos a entrada da prisão. Eu balancei a cabeça para ele e ele baixou o vidro. Antes que o guarda pudesse perguntar qualquer coisa, eu nublei a sua mente. Ele acenou para nós sem nos perguntar nada. Nós estacionamos e saímos do carro, os olhos fixos nas torres de guarda à frente de nós. - Veja isso - disse eu, com foco nas formas de dois guardas armados, de pé observando a terra de ninguém entre as paredes interna e externa. Enquanto nós olhávamos, e eu me concentrei e ambos colocaram suas armas no chão e acenaram. - Podemos acabar com isso? – Amber murmurou, escondendo-se em direção à entrada, que parecia a fachada de algum castelo da Disneylandia. Ela estava franzindo a testa, pressionando uma mão na cabeça. Foi só então que eu percebi que ela estava sentindo os sentimentos de mais de cinco mil presos, muitos deles encarcerados pelos crimes mais hediondos que se possa imaginar. Isso me fez reconsiderar a decisão de trazê-la com a gente, mas nós precisávamos de alguém para controlar os sentimentos, apenas no caso de alguma coisa sair fora do planejado. Na entrada o guarda pediu para ver a nossa identificação. Roubei uma frase de Star Wars: - Você não precisa ver a nossa identificação. - Nós não precisamos ver sua identificação - o guarda repetiu, com o rosto branco como cera. - Vamos em frente - eu disse. - Vamos em frente - repetiu ele. Ryder deu uma risada. Fizemos o mesmo em cada posto de guarda até nós chegarmos na sala de espera. Qualquer guarda que olhasse para nós, era atingido por uma onda de calma lançada por Amber, até que se afastasse sorrindo. Esse era um grande dom que ela tinha. Isso me fez pensar que poderiam existir também outras habilidades, outros mais que poderíamos recrutar em um dado momento.


Ryder apagou qualquer memória de nós – um gesto rápido, um toque de seus dedos na testa de alguém e tudo era esquecido, nos tornando fantasmas. A única coisa que eu tinha mentido para Amber era sobre as câmeras. Era a verdadeira razão que preocupava. Não havia nada que eu pudesse fazer sobre as câmeras. Elas eram câmeras de circuito fechado. E Harvey era o único que tinha habilidades para lidar com isso. Eu sabia que nossos rostos seriam registrados, mas o meu já estava no registro, como também já estavam os de Bill e Ryder. Amber estava parcialmente oculta do visor e eu esperava que de alguma forma pudesse disfarçar ela. Nós caminhamos casualmente até chegarmos na sala de espera, onde os membros de uma família tinham seus vinte minutos para conversar com seu parente querido condenado ao corredor da morte. Você pode imaginar o clima neste lugar. Amber precisou se apoiar em Ryder. Olhei ao redor verificando os pontos em nosso mapa, como eram na realidade. Havia uma porta à frente, em linha reta, fortemente vigiada que levava a uma sala de controle, que eu sabia que era ocupada por vários guardas armados. Thomas tinha desenhado o mapa depois que ele se projetou para dentro do prédio e fez um reconhecimento completo. Diante da lembrança de Thomas, senti uma torção intestinal familiar de raiva, em seguida, uma explosão de culpa que eu rapidamente tentei ocultar. Culpa era uma emoção desperdiçada. Thomas foi o primeiro do nosso exército a cair. Outro antigo colega, que havia trabalhado comigo em alguns “serviços” bancários no passado, Thomas tinha concordado em me ajudar a cavar informações sobre quem havia assassinado Melissa, se infiltrando em reuniões do senador Burns com a Stirling Enterprises. Pouco depois que ele confirmou o papel de Burns nos fatos, Thomas desapareceu. Eu acredito que ele foi assassinado pela Unidade, que estava agora ativamente me caçando. Bill pegou as chaves da cintura de um guarda. Eu congelei outro guarda. Amber fez tudo o que pôde, trabalhando com a energia já disponível no espaço, logo a sala estava cheia de gritos histéricos das mães valentes, esposas deprimidas, crianças catarrentas e pais envergonhados de joelhos se afogando em um mar de tristeza. Foi uma coisa feia de se ver. Atravessamos por aquela porta e adentramos na sala de controle em dez segundos. Eu assumi o comando, congelando os cinco guardas antes pudessem sequer girar em suas cadeiras ou levantar suas armas.


Bill, usando um anzol de pesca, amarrou todos os cinco guardas em suas cadeiras e removeu suas armas, colocando em uma mochila que havíamos trazido junto, esta já continha várias armas que tínhamos roubado uma semana antes. “Esteja sempre preparado” – esse é o meu lema. Não que eu seja pró-armas. As armas eram para intimidar apenas. Elas não eram sequer necessárias. Amber trancou a porta atrás de nós. Nós estávamos calmos, tranquilos mesmo, como se tivéssemos invadido prisões juntos durante toda as nossas vidas. Mas, em seguida, um alarme soou, tão alto que nos fez abaixar e cobrir nossas cabeças. - Droga - Eu xinguei, cruzando para o console, me perguntando quem tinha acionado o alarme. Tínhamos deixado passar um guarda? Eu localizei a cela onde Harvey estava e acionei o botão para liberação da porta, admirando a beleza das prisões modernas e principalmente, a praticidade do bloqueio eletrônico remoto de sistemas. Na tela observei as grades de uma cela no piso superior de um bloco de três andares serem liberadas. Eu olhei de volta em direção à outro botão que piscava. O alarme tinha disparado um bloqueio onde estávamos. Me peguei sorrindo enquanto eu observava em outra tela um exército de guardas carregando escudos e armas em direção à um corredor. Os outros ficaram um pouco nervosos com a visão, mas eu sempre gostei de um desafio. - Vamos lá - gritei para os outros, atravessando para a porta. Caminhamos por um piso de um bloco de celas, onde o alarme estava ainda mais alto, abafando o barulho dos nossos pés sacudindo as passarelas metálicas. De dentro das celas vieram vaias, os sons de coisas sendo jogadas e de metal batendo contra metal. O som do alarme tinha um efeito sobre os prisioneiros como uma daquelas sirenes agudas – os colocava em um frenesi. Nós paramos diante da cela de Harvey. Ele nem sequer olhou para cima quando eu pisei para dentro. Ele estava debruçado sobre a cama empilhando seus pertences ordenadamente em cima de um cobertor. - Belo lugar - eu disse, olhando ao redor. Ele dividia cela com outro prisioneiro - um enorme cara latino com tatuagens e uma pança que poderia ser encaminhada para a sala de parto. Eu balancei a cabeça para ele. Ele parou entre o banheiro da cela e uma parede, posicionando as mãos em um gesto defensivo.


- Você demorou - Harvey murmurou endireitando-se e levantando o cobertor com seus pertences - livros, cigarros, algumas fotografias - em seu ombro. - Bem, antes tarde do que nunca - eu sorri, batendo em suas costas. Apresentei-o aos outros enquanto corríamos descendo as escadas, e tive de gritar para ser ouvido acima do barulho do alarme e dos prisioneiros gritado em suas celas. Amber estava cobrindo a cabeça com as mãos, Ryder tinha o braço sobre seus ombros, mesmo Bill começou a ficar nervoso. - Acho que você tem um plano para a gente dar o fora né? - Harvey perguntou, parando na metade das escadas para acender um cigarro. Soprou uma nuvem de fumaça na minha cara. - Claro que sim - eu disse, olhando para a sala de controle e para os guardas perplexos e atordoados ainda. A imprensa foi à loucura naquele dia. Você deve se lembrar disso. Foi grande novidade na época. Um motim durante o qual um prisioneiro (prisioneiro 18974), escapou da custódia. Uma vez que Harvey se uniu à nós novamente, eu senti que agora éramos uma força a ser reconhecida. O que começou como vingança tornou-se rapidamente uma ofensiva da minha parte – um ataque coordenado para trazer Stirling de joelhos e destruir seu programa de pesquisa. Foram recrutados mais membros - você tem todos os seus nomes - Suki, Nate, Alicia - mas a Unidade recrutou mais gente também. Eles recrutaram soldados, assassinos treinados, e tornaram-se incansáveis em sua busca por nós. Nós já não estávamos na ofensiva, mas na defensiva, sempre em fuga. Ainda assim poderia tentar destruir eles, lutando contra eles. Eu acho que eles sabiam disso. É por isso que o recrutaram. A primeira vez que te vi, Jack, eu percebi imediatamente. Você estava atravessando o campus, um calouro no Estado de Washington. Era Outono, as folhas caindo das árvores em rajadas de confete. Você estava andando com outro menino, eu agora sei que era Alex. Os dois estavam com um grupo de meninas. Você tinha seu braço em volta de uma, e estava fazendo ela rir. Eu vi você e as peças se encaixaram como fichas em uma máquina caça-níqueis. Você tinha dezoito anos. Eu fiz as contas. Mas mesmo que eu não tivesse feito, teria sido óbvio se você já viu fotos minhas na sua idade. Eu me pergunto se você já percebeu isso sozinho; os cabelos escuros, a pele cor de oliva. Você tem os olhos de sua mãe, mas você é definitivamente a cara de seu pai.


A revolta de que sua mãe havia mentido para mim por todos esses anos não foi nada em comparação com a alegria que senti ao vê-lo e saber que eu tinha um filho. Eu não estava com raiva. Eu entendi por que Melissa tinha me deixado e por que ela nunca me contou sobre você. Eu não teria sido um bom pai. Ou talvez eu fosse. Talvez se eu soubesse que tinha um filho, que eu era responsável por outro pequeno ser, talvez esse teria sido o meu incentivo para mudar, para ser a pessoa que Melissa esperava que um dia eu seria. Talvez eu tivesse me redimido. Mas eu não posso culpar Melissa por não querer colocar isso à prova. Michael, o homem que você cresceu acreditando ser seu pai foi. . . é um bom homem. Ele fez um bom trabalho em criá-lo. Eu imagino que os dois homens da Stirling Enterprises te visitaram naquele dia fresco de outono, vestindo seus ternos escuros e seus misteriosos óculos de sol contando histórias sobre a defesa da segurança nacional não poderiam sequer imaginar certos laços de parentesco. “Você é o perfil certo para juntar-se à Unidade e nos ajudar a caçalo. O homem que matou a sua mãe a sangue frio. O homem que quer destruir o mundo”. Como pode a verdade competir com uma história assim? Por dois anos eu mantive o meu silêncio. Eu pensei que seria mais seguro do que ter você sabendo a verdade. Se você soubesse a verdade, então o que você poderia ter feito? Ido atrás de Stirling? Depois de ir atrás de Burns? Eu acho que você faria tudo isso. Porque você é como eu, eu acho que você é, então, sim, eu estou bastante certo de que isso é o que você teria feito. E eu já tinha pegado Burns e estava lidando com Stirling. Eu não queria deixar você se envolver, pondo em perigo a si mesmo para nada. Você iria deixar de ser o caçador para ser caçado. Eles iriam tentar matar você assim como eles fizeram com a sua mãe. E minha última promessa para Melissa foi que eu iria proteger você e sua irmã, que eu iria mantê-los seguros. Então me perdoe. Eu sou um homem. Eu sou um pai protegendo o seu filho. Vou deixar você com um último presente. Uma imagem que eu guardo no meu coração, uma memória que eu relembro todos os dias, guardando em minha mente como um pedaço de vidro do mar que se torna mais suave e mais polido com cada volta. Sua mãe. Ela tinha dezenove anos, a idade que você tem agora. Ela está se afastando de mim, olhando para trás por cima do ombro, os olhos brilhantes, queimando com convicção e ainda assim seu sorriso é um


escudo para sua tristeza. Está usando um cachecol, um casaco, suas bochechas estão vermelhas com o frio. Ela está segurando livros junto ao peito com uma mão e com a outra mão está pressionando seu estômago, um gesto que eu só reconheci o significado muito mais tarde. Ela está afastando de mim, me abandonando, para salvar você. E agora, como seu pai, é a minha vez de fazer o mesmo.


Recrutando Jack Dezessete. Ela tem apenas dezessete anos. Eu não me importo com o que Alex diz. Ela ainda é uma criança. E não pode ser que seja por causa de um menino. E se for por causa de um menino, então eu vou matálo. Esqueça Lila estar no próximo vôo de volta para Londres, eu estarei nesse vôo também. Os meus olhos corriam em torno dos terminais de chegada, à procura de qualquer movimento suspeito, de qualquer coisa fora do lugar. É automático, eu apenas estou consciente que estou fazendo isso. Nos anos seguintes à morte da minha mãe, eu ficava vendo ela onde quer que eu fosse. Eu encontrava uma mulher loira no meio de uma multidão e meu coração começava a saltar como se alguém estivesse puxando-o em uma corda. Em seguida, a loira misteriosa se virava e meu coração despencava para o fundo do meu peito enquanto eu encarava a realidade mais uma vez, a realidade de que a minha mãe tinha ido embora e eu nunca iria vê-la novamente. Eu parei de ver o rosto de minha mãe no dia em que vi pela primeira vez uma fotografia de Demos. Agora é seu rosto que eu vejo em todos os lugares que eu vou. Eu flexiono o pé e sinto a pressão confortante da arma no coldre do meu tornozelo. Eu gostaria de estar usando meu coldre de ombro também, mas se eu aparecesse nitidamente armado, Lila iria surtar, bem como a segurança do aeroporto. E, além disso, uma arma oferece uma falsa sensação de segurança. Eu gostaria de estar portando as armas da Unidade, aquelas que são as únicas que funcionam contra Demos e sua turma. Sim, porque ir atrás deles com apenas balas e granadas é como ir contra King Kong com um cassetete de brinquedo e eu estou ficando doente de tentar e nunca conseguir chegar perto dele. Enquanto observo os viajantes com os olhos turvos arrastando seus carrinhos de roda através das portas de correr e, em seguida, jogando-se nos braços de amigos e parentes que os estão esperando, eu me pergunto pela centésima vez desde Lila me enviou esse e-mail, o que afinal está acontecendo em sua vida. Então eu senti novamente aquela onda de culpa, porque se eu fosse um bom irmão, eu saberia. E eu sei porque me incomoda tanto perguntar. Porque eu sou um péssimo irmão. Eu sei isso. Alex recebe emails dela e fala com ela mais do que eu. Mas, sinceramente, eu não sei o


que dizer para ela. Eu não posso falar com ela sobre o que eu faço, qual é o meu trabalho, e levando-se em conta de que eu não tenho qualquer outra coisa acontecendo na minha vida, exceto o meu trabalho, acho que a chance de uma conversa se limita um pouco. E conversar com Lila sobre sua vida só me faz lembrar de quanto eu falhei com ela. Em primeiro lugar, deixando ela ir para a Inglaterra. Em segundo lugar, não estando lá quando a mamãe morreu, e em terceiro lugar, ao estar tão longe de pegar o cara que fez isso. Eu franzo a testa para um grupo de turistas japoneses que desembarcam no terminal de chegadas, me lembrando de repente da menina da noite passada, Suki, aquela que deixamos escapar por entre nossos dedos. Ainda estou furioso de pensar que ela estava bem ao nosso lado no bar, provavelmente lendo a nossa mente enquanto eu estava lá incentivando Alex à dar em cima dela. O problema é que Demos está recrutando pessoas mais rápido do que uma busca no Google. Nossa estimativa é que há algumas centenas deles lá fora, mas Demos consegue encontrá-los mais rápido do que nós podemos. Eu quero dizer, não é como se eles viessem com a palavra “mutante” estampada em suas testas, por isso é não é fácil de identificar quem são. De alguma forma, porém, ele consegue descobrir. Suspirando, eu retiro o meu telefone do bolso e confiro para ver se Alex me enviou uma mensagem. Ele voltou à Base para traçar um perfil de Suki, mas ele está, obviamente, diante de um desenho em branco, já que ele não ligou. Há apenas uma mensagem de texto vinda de Sara sugerindo nos encontrarmos mais tarde e fazermos algo, isso me faz sorrir pela primeira vez durante toda a manhã, e também há outra de Rachel perguntando quando eu estou pensando em ir trabalhar. Cara, eu estava esperando que Alex fosse me cobrir com ela. A última coisa que eu preciso é Rachel encima por isso. Eu não tenho certeza do que eu vou dizer à ela ainda. Relacionamentos próximos, mesmo com aqueles da família, não são permitidos. Eu sou o único cara em toda a Unidade que está namorando alguém, e isso só porque Sara trabalha para a Unidade. Eu culpo Alex pelo mau humor de Rachel. É bem conhecido por quase todo mundo na Base que ela gostaria de ser mais do que a chefe de Alex. E não é que seria uma dificuldade ou um grande sacrifício aliviar sua reprimida frustração, então eu não entendo por que Alex continua ignorando suas tentativas de sair com ele. Ela é maravilhosa. Mesmo que ela seja um pouco paranóica e arrogante e tenha um pai que você não gostaria de provocar.


Eu apaguei esse pensamento logo e voltei a me concentrar em Suki, pensando se ela realmente havia sido estúpida o suficiente para nos dar o seu nome real. Eu estou ainda correndo a cena na minha cabeça quando avisto uma garota loira no meio da multidão, andando atrás de alguns turistas. Por um momento, eu acho que é a minha mãe, e o meu coração se expande no meu peito, a adrenalina inundando o meu sistema, antes da raiva me invadir de novo. Faz tempo que meus olhos começaram a jogar esses pequenos truques visuais comigo, mas, em seguida, a multidão se dispersa e ela está lá novamente. Exceto não é minha mãe, mas é ela. Minha respiração trava na minha garganta. É Lila. Ela está olhando ao redor como se estivesse perdida. Eu chamo o nome dela. Pela primeira vez seu nome fica preso na minha garganta. É a segunda vez que ela olha para cima, mas dessa vez ela me vê e um sorriso explode em seu rosto. Ela corre para mim e eu permaneço em choque. Alex estava certo. Que droga. Ela não é mais uma criança. Quando ela ficou bem mais alta? E desde quando ela não usa mais aparelho? Enquanto ela se aproxima, eu tento lembrar o que disse Alex sobre como manter a calma. Mas eu não tenho chance de perder minha calma porque ela desmorona contra mim, e toda a raiva que eu estive sentindo se dissipa em um instante. Eu puxo a minha irmã para meus braços e fecho os olhos sentindo uma onda de emoção subir pela minha garganta me deixando completamente surpreso. Meus olhos começam a lacrimejar e estou com medo de abrir minha boca e minha voz falhar, então eu solto os braços e me afasto. Agarrando a bolsa de sua mão eu começo a andar, tecendo meu caminho através da multidão, deixando Lila seguir atrás. Uma vez fora, eu acelero e começo a andar em passos largos em direção ao carro, tentando alcançar tempo para me recompor. Temos cerca de duas horas até Oceanside. Eu dirijo enquanto percebo que Lila não quer usar o tempo que teremos para explicar por que ela roubou o cartão de crédito do papai e pulou em um avião para outro continente, e acreditem, é preciso muita força de vontade da minha parte para não lhe perguntar se é sobre um menino e se for, querer saber o seu nome e onde ele mora. Em vez disso, falamos sobre o tempo, e eu começo a descrever minha casa como se eu fosse Martha Stewart em pânico. Lila ainda não diz muita coisa. Ela só olha pela janela e ocasionalmente percebo que volta a me olhar aparentando estar nervosa. Olho para ela. Seu cabelo cresceu mais e está mais escuro, não tão loiro como quando éramos crianças. Ela está magra demais e ela tem


peitos. O que eu estou tentando não perceber porque ela é minha irmã, e desde quando, meu Deus, ela tem peitos? Eu olho em sua direção e tento agir da forma mais objetiva que posso, imaginando como ela aparentaria se eu fosse um cara qualquer, um dos caras da Unidade. Sim, eu realmente não posso deixar minha irmã longe da minha vista. E ela não dá qualquer pista do que está acontecendo. Como se eu soubesse tudo que estava acontecendo. E, enquanto eu olho para ela mais uma vez, eu tenho que admitir que eu estou feliz em vê-la. Mais feliz do que eu pensei que eu estaria. Apesar de tudo. Só então ela se estica e puxa a manga da minha camiseta. Suas sobrancelhas arqueiam para cima. Eu desço a manga da camiseta para baixo para cobrir a minha tatuagem, a que eu fiz no dia em que terminamos o nosso treinamento básico. - Mamãe ficaria tão brava! - Lila diz, balançando a cabeça para mim. - Sim? - Eu digo - Bem, ela não está por perto para ver, não é? Eu piso no acelerador. Porque ela tem que falar justo da mamãe? E por que ela começou a falar com um sotaque inglês frio e estranho? O que é isso? Acho que cinco anos vivendo na Inglaterra pode ter esse efeito. Mais uma dose de culpa caindo sobre mim. Já se passaram realmente cinco anos? Nós começamos a dirigir ao lado da Base de Camp Pendleton, eu mostrei para Lila. O lugar tinha uns duzentos quilômetros quadrados e daqui parecia uma espécie de reserva natural. Não mostrava nenhum indício da tortura que acontece por trás das cercas de arame farpado. Porque é isso que as Bases de Treinamento fazem: tortura. Alex e eu não queríamos apenas passar pelo treinamento militar padrão, nós também fomos para o acampamento de fuzileiros, 13 semanas de inferno extra, com uma cereja no topo. Eu encosto o carro na frente da casa e aperto o alarme. Ao meu lado eu ouço Lila recuperar o fôlego e começo a orar para que ela não me pergunte nada sobre o sistema de alarme. Isso vai ser uma coisa difícil de explicar. Para distraí-la eu começo à mostrar a casa. Lila para por um tempo em frente da geladeira olhando para as fotografias presas ali. Por um momento, observando seu rosto enquanto seus olhos encaram as fotos, eu quero colocar o meu braço ao redor dela e perguntar como ela está. Quero pedir-lhe para me dizer o que está errado, então eu poderia tentar ajudar. Quero coçar nas suas costelas e fazê-la rir. Eu quero voltar no tempo de como as coisas costumavam ser antes. Eu quero ser o grande irmão, do qual ela se lembra. Mas eu não posso.


Muita coisa aconteceu. Muito tempo se passou e agora existem muitos segredos e coisas que não foram ditas. Então, eu só pergunto se ela quer alguma coisa para comer. Depois da volta pela casa, eu convenço Lila a tirar um cochilo, em parte porque Alex tem enviado mensagens com todas as informações que ele conseguiu sobre Suki e eu quero conferir isso e em parte também porque Lila parece exausta. Uma vez que ela vai para o quarto, eu imprimo as informações sobre Suki e caminho para a cozinha. Faço uma pausa na geladeira e olho para a mesma fotografia que Lila estava olhando. A imagem da mamãe. As bordas estão enrolando e a imagem já começa a ficar borrada. Por um longo tempo eu não conseguia olhar para aquela foto, não podia olhar para nenhum retrato da mamãe, mas quando eu deixei de vê-la em meio à multidão, eu tive medo de começar a esquecer seu rosto, então eu prendi esta foto aqui. Nos dias em que é difícil sair da cama, isso me ajuda a lembrar exatamente por que eu estou lutando. Ao lado, há uma foto de Lila que Alex tirou da última vez que a vimos. Nós três estávamos jogando basquete no quintal da casa de Alex. Foi uma semana depois de Alex e eu abandonarmos a faculdade e nos mudarmos para perto do oceano para começar o treinamento básico. Na época a casa de Alex também era meu lar. Seus pais tinham praticamente me adotado após mamãe morrer. O pai de Alex é um diplomata. Na época, ele trabalhava na Embaixada da Suécia em Washington, mas ele estava prestes a ser enviado em missão em algum lugar na Europa e eles estavam ocupados arrumando a casa. Eles estavam com raiva de Alex por ter abandonado a faculdade, mas eu acho que eles perceberam que querer discutir e argumentar com qualquer um de nós seria inútil. Meu pai, entretanto, não foi tão compreensivo. Pela primeira vez desde que ele fez as malas e deixou os EUA, ele voltou. Eu não tinha visto ele ou Lila por quase dois anos e eu não tinha falado com o meu pai uma única vez há muito tempo. Para ser bem sincero, eu não poderia ter dado menos importância à o que meu pai pensava de mim. Ele dizia que eu estava jogando o meu futuro fora. Não fiz o menor caso nem de sua insistência para que eu partisse para Londres com ele. Para mim, ele perdeu o direito de me dizer o que fazer quando ele desistiu de vingar mamãe e se mudou para a Inglaterra, como já não importasse o que aconteceu ela e por quê aconteceu. Se tivesse sido eu, se fosse a minha mulher, se fosse Sara ou se fosse Lila, que houvessem sido assassinadas, eu não teria nunca desistido de me vingar de quem fez isso. Mesmo Alex,


que não é da família, está tentando encontrá-lo e fazer justiça. Sim, não há nada que qualquer um possa me dizer que me faça perdoá-lo. Pego uma lata de coca-cola da geladeira, me sento e começo a ler as informações de Suki.

Alex está andando na minha frente. Ele tem o seu braço em torno de uma garota e ela está se inclinando para ele. É uma cena tão enjoativa que me faz querer vomitar. Ele está carregando uma pilha de livros em seu braço livre e ela está olhando para ele como ela quisesse arrancar tudo e ter bebês. É o nosso primeiro mês na faculdade Freshman e Alex já quebrou a primeira regra do Clube Freshman se envolvendo com uma garota e depois ficando preso à ela. Quero dizer, o que é isso? Mas eu acho que Alex sempre foi assim. Isso faz dele um romântico incorrigível. Eu já não sou nada romântico. Eu aceno para um grupo de meninas sentadas nos degraus do prédio de dormitórios e todas elas acenam de volta e, em seguida, começam a falar entre si olhando para mim. Eu acho que já até fiquei com uma delas, na semana passada, mas eu não tenho certeza absoluta. Melhor apenas sorrir e acenar em um caso como esse. Uma menina anda em minha direção, cabelos balançando sobre o ombro e me dá um sorriso que me diz que ela adoraria sair para um encontro, mas eu já estou atrasado para um, então eu devolvo o sorriso e fico olhando. Charmosa. Pensando bem. - Hey! - Eu chamo. Ela para, balançando seu cabelo novamente. Isso pode ficar chato, mas se houver qualquer problema, eu tenho certeza absoluta que posso esquecê-la facilmente. - Você quer ir tomar um café qualquer dia? - Eu pergunto.

Eu tenho que correr para encontrar com Alex, empurrando meu celular no bolso enquanto corro. Ele está dizendo adeus à Fran ou à Faye ou qualquer que seja seu nome. Ela é assistente de ensino da pósgraduação. Tenho que dar para Alex uns pontos extras por pegar uma mulher mais velha, especialmente uma que tem poder de elevar a sua nota final.


Eu espero à alguma distancia enquanto eles se beijam e, em seguida, limpo a garganta. Alex olha incisivamente, sorri dando adeus para a garota, beija ela novamente por mais alguns segundos e depois se vira para mim. - OK, vamos lá - diz ele e começa a dar passos largos para irmos embora. Nós andamos pelo campus em direção à biblioteca onde estamos indo encontrar com esses dois caras da Stirling Enterprises. Pelo que conseguimos descobrir pela pesquisa que fizemos – Ok, eu assumo, a pesquisa que Alex fez - eles são uma empresa de defesa, principalmente envolvidos em fornecimento de armas para os militares dos EUA e desenvolvimento de sistemas de inteligência para o Pentágono. Eles apareceram do nada no campus ontem. Alex e eu estávamos jogando basquete quando percebemos dois caras de terno sentados nas arquibancadas. Achamos que eram olheiros em primeiro lugar, mas em seguida, eles se aproximaram de nós quando estávamos saindo da quadra e nos deram os seus cartões. Acabou que não eram olheiros da NBA, mas para especialistas em treinamentos para militares recém formados, e eles estavam lá para nos contratar. Alex ficou naturalmente desconfiado, mas isso é parte da sua personalidade. Ele suspeita até de um pedaço de queijo. Embora tenho que reconhecer que a cara de pôquer de Alex ao desconfiar de tudo é exatamente a razão de porque eu nunca jogo pôquer contra Alex. Eu achei que esta era uma oportunidade brilhante. Eu já queria ser policial quando estava no Ensino Médio, mas uma década vestindo um uniforme azul não parecia que seria a maneira mais rápida de descobrir quem matou a minha mãe, e minha experiência com policiais depois do que aconteceu com a minha mãe não me deu muita fé em sua capacidade investigativa. Mas o treinamento militar e contatos com o Serviço de Inteligência? A promessa de rapidamente ser promovido e subir de patente? Tudo isso no lugar de aulas chatas de Filosofia na sala 101 e dívidas com a parcela da faculdade. Além disso, mulheres adoram homens de uniforme. Enquanto Alex caminha à minha frente eu sinto uma guinada familiar no meu intestino. É culpa que eu sinto, por arrastá-lo mais uma vez em algo contra a sua vontade. Então eu me lembro que esses caras de terno da Stirling Enterprises vieram aqui especificamente para recrutar à ambos. Além disso, isso é totalmente diferente de forçá-lo à entrar no nosso ginásio da escola no Ensino Médio para pulverizar queijo em conserva nas paredes.


Os dois homens estão esperando por nós nos degraus da biblioteca, vestindo ternos cinza escuro, gravatas cor de carvão, e sapato preto. Eu me pergunto se isso é parte do uniforme, porque eu não tenho certeza se eu quero usar um terno. Seguimos para dentro e descobrimos que eles inclusive reservaram uma sala de reuniões no piso térreo. Uma bandeja de café e biscoitos espera por nós, então eu me sento enquanto eles começam a espalhar pastas sobre a mesa. Os caras tiraram os óculos de sol mas os seus olhos não dão pistas de nada. Um deles, à esquerda parece o maior fisiculturista que já vi e o terno mal consegue cobrir seu corpo, ele se chama Hicks. Ele tem uma cabeça quadrada, uma mandíbula ainda mais quadrada e olhos verdes. O da direita se chama Ciccone, o que me faz pensar na Madonna. Talvez eles sejam parentes. Ele é negro, com um corte militar e as sobrancelhas como as de uma menina. Mas eu não ousaria dizer a ele isso. Eu também observei que ambos estão vestindo coldres de ombro e que os coldres de ombro contém armas. - Uau, vocês fizeram a lição de casa - eu ouço Alex dizer enquanto eu estou adicionando creme no meu café. Ele está olhando uma das pastas. Eu tomo meu café e me junto à ele na mesa. Alex me entrega uma pasta. Eu viro as páginas e encontro todos os meus trabalhos e pesquisas da faculdade, minhas pontuações, meus registros de frequência. Eu fico sério, tentando esconder a minha reação. Mas meu Deus! Eles têm todos os registros escolares, desde a primeira série. - Nós sempre pesquisamos os nossos candidatos primeiro, minuciosamente - diz Hicks - É assim que sabemos que iremos recrutar o melhor dos melhores. Alex sorri educadamente, ele é filho de um famoso diplomata, afinal. - Tudo o que falta são as medidas individuais de cada perna minha eu digo, deixando cair a pasta na mesa. Alex me lança um olhar irônico, mas sua mandíbula está tensa e ele tem aquele brilho em seus olhos, o mesmo de quando ele assiste o time adversário ao seu cobrando um pênalti na partida de futebol. - Sr. Loveday, Sr. Wakeman - diz Ciccone - Vamos começar a conversar. Eu tenho certeza que vocês andaram pesquisando o que é a Stirling Enterprises e já sabem quem nós somos, ou quem vocês acham que nós somos, mas nós estamos aqui para fornecer a informação privilegiada, a verdade que você não vai encontrar na internet ou perguntando para qualquer um por aí.


Ele faz sinal para ambos nos sentarmos. Assim, depois de trocarmos um olhar, nós dois nos sentamos. - Nós sabemos que vocês estão aqui por causa de uma bolsa de estudos como atletas - diz ele olhando para mim - e que o Sr. Wakeman tem tanto uma bolsa de estudos atlética como também uma acadêmica. Obrigado por apontar o quanto Alex é mais esperto - eu penso comigo mesmo, enquanto encaro o homem. - Nós sabemos que vocês tem olheiros da NBA e outras categorias de olho em vocês. Ele olha para Alex enquanto ele diz isso e eu me remexo na minha cadeira até que ele olhe para mim. - E eu tenho certeza que haverá inúmeras outras ofertas para ambos - acrescenta com um curto sorriso. Eu estreito meus olhos diante de seu discurso de recrutamento. - Mas acho que nós temos uma oferta muito mais atraente - Hicks disse, inclinando-se para frente com um sorriso. Ele coloca a mão no bolso interno do paletó e puxa algo de dentro, e em seguida, joga sobre a mesa em minha direção. Eu pego. É uma fotografia de um cara que eu nunca vi antes. Parece que ela foi tirada de imagens de algum circuito interno e no fundo, no chão, eu vejo o logotipo do banco Wells Fargo. O homem da fotografia tem cerca de quarenta anos, eu acho, com cabelo escuro e olhos misteriosos. Ele está olhando para a câmera com o que você poderia chamar um sorriso de crocodilo preguiçoso. Alex se inclina para cima do meu ombro para olhar para a foto. - Quem é ele? - pergunta ele. - Esse é o homem que matou a mãe de Jack - Hicks diz. Eu olho para cima. Meu coração voou contra a parede do meu peito. - O que você está dizendo? Como você sabe isso? - Alex pergunta enquanto eu tento colocar as palavras juntas em uma frase coerente. - Nós trabalhamos no serviço de inteligência - diz Hicks, pressionando os lábios como se ele apenas deixou escapar um segredo que ele não deveria ter dito. Eu estou fora de minha cadeira antes que eu perceba. - Quem é ele? - Eu grito. Hicks me encara friamente. - Sente-se e vamos dizer-lhe. Alex cutuca minha cadeira com o pé e eu lentamente me sento, sem tirar os olhos da foto. É algum tipo de piada de mau gosto?


- Quem é ele? - Repito com os dentes cerrados. - O nome dele é Demos. Esse é o nome que ele usa, pelo menos. Nós não temos mais outras informações sobre quem ele é, de onde vem, ou o que faz. Nós ainda estamos trabalhando nisso. - Porquê? - Por quê? - Por que você está trabalhando nisso? Por que ele não está sob custódia? Onde ele está? Eu tenho um milhão perguntas. Eu não consigo colocar todas para fora. Eu estou agarrando palavras, em pensamentos. Quero respostas para tudo. E eu quero elas agora. - Calma - Ciccone diz e eu percebo que eu estou gritando. Alex se inclina para a frente, em parte, me bloqueando, como se ele tivesse lido a minha mente e estivesse tentando se antecipar antes que salte para frente e bata a cabeça do cara na mesa. - Como você sabe quem matou Melissa? - Alex pergunta, em voz baixa - Os policiais nem sequer descobriram. O caso foi arquivado. - Porque nós não somos os policiais - diz Hicks com um sorriso de satisfação - Nós somos melhores que eles. - Você já pegou ele? - Alex pergunta. - Não - o cara admite com um encolher de ombros. - Você está simplesmente nos mostrando a fotografia de um cara qualquer, aleatório - diz Alex - Isso não é prova de nada. Eu começo a franzir a testa. Ele tem um ponto. Eu percebo que minhas unhas estão cavando em minhas mãos. - Sim – eu digo - Onde está a prova de que ele fez isso? Onde por acaso ele está? Os dois se olham e em seguida, um deles desliza um pedaço de papel para nós. - Você precisa assinar isso antes que possamos dizer algo mais. - Um acordo de não divulgação? - Alex pergunta, pegando o pedaço de papel e franzindo a testa. Eu respiro fundo e solto a minha mandíbula. - Você não vai me dizer mais nada antes que eu assine um pedaço de papel? - Eu pergunto, tentando dar o meu melhor para manter a calma porque falta pouco para a cara desse homem conhecer o meu punho. - O que estamos prestes a compartilhar com vocês é extremamente confidencial. Existem apenas algumas pessoas, mesmo no governo, que sabem o que nós fazemos. Nem mesmo o Presidente foi totalmente informado do teor completo do nosso trabalho.


Alex olha para mim, mas eu já estou com a caneta na minha mão. Eu vou assinar o papel, se isso significa que eles vão me dizer quem matou minha mãe. Atiro a caneta para baixo e Alex pega e assina o seu nome também, sem uma palavra. Hicks lê, confere nossas assinaturas, coloca o papel em sua pasta e fecha. Então, finalmente, ele olha para cima e diz: - Bom. Vocês concordaram que nada do que dissermos vai além destas quatro paredes. - Apenas fale logo - eu grito. - Telecinese, leitura da mente, projeção astral - diz ele, inclinando-se para trás na cadeira e brincando com a caneta - Vocês sabem algo sobre essas coisas? - Além de assistir X-Men quando eu era uma criança? - Eu pergunto, revirando os olhos. Estou prestes a fazer algum dano a algo ou alguém. De preferência alguém. - Eles não são apenas conceitos de ficção – ele diz olhando diretamente para mim, sem um pingo de humor em seus olhos. Nenhum de nós disse nada por um longo momento. Em seguida, muito lentamente Alex começa a levantar-se. Eu sigo ele. - Sente-se - Hicks ordena. Por um momento o ar na sala fica carregado com energia. Alex não faz nenhum movimento que vai sentar-se. Nem eu. Alex balança a cabeça para os caras. - Você veio aqui com todas estas informações sobre nós - diz ele, acenando com a mão para os arquivos sobre a mesa - Você mostrou para nós uma fotografia de um homem que diz que matou a mãe de Jack, mas não nos deram nenhuma prova, e agora parece que você acha que é divertido brincar com a gente. Então, se você nos der licença, vamos ir embora daqui. - Não tão rápido - diz Hicks e ele joga uma pasta de papel pardo grosso em direção à nós. Fotografias caem e deslizam para fora. Eu pisco para elas então começo a recolher como um homem faminto diante de um pedaço de pão, as imagens surgem para mim. São fotos de minha mãe, da minha casa - minha antiga casa – gráficos da cena do crime - um rastro de sangue - móveis quebrados - fita amarela – e uma foto de Demos - outra fotografia de uma menina com um cabelo vermelho em chamas - outra de um menino.


Eu não entendi. Eu não entendi o que tudo isso significa. Eu olho para Hicks de volta. Ele aponta para a fotografia na minha mão. - Ela é uma telepata - diz ele. Eu olho para baixo. Estou segurando a foto da menina com cabelo vermelho. - Ela pode ler emoções e alterá-las. Ele aponta para a foto do menino. - O menino é um tamizador. Ele pode remover memórias da mente das pessoas. Juntos, eles roubaram bancos em todo o Sudoeste, invadiram um depósito de armas, levando um verdadeiro arsenal. Esse cara – ele aponta o dedo para baixo para a foto de um rapaz com a cabeça raspada e barba por fazer - Este é Harvey James. Ele estava em San Quentin por roubo qualificado e uma série de outros crimes. Ele é telecinético. Pode mover as coisas só de olhar para elas. Ele estava na ala de segurança máxima. E a sua turma, simplesmente entrou lá e o resgatou. Entraram. E saíram. Estamos falando de uma prisão de segurança máxima e eles caminharam como se andassem no parque, saindo com o prisioneiro. Alex e eu só olhamos para o cara como se ele estivesse falando outra língua. Hicks encostou no outro lado da mesa e tirou uma grande fotografia brilhante em preto e branco do homem chamado Demos. - Este é o homem que matou sua mãe. Ciccone entregou então uma pasta, ainda mais grossa. - E aqui nessa pasta está porque ele fez isso - diz ele.

Um barulho forte como uma explosão me despertou. Minha mão voa instintivamente para a minha arma. Eu levo um segundo para perceber que é apenas a campainha e não o alarme. Está escuro lá fora. Eu devo ter adormecido. A papelada sobre Suki ficou espalhada sobre a mesa da cozinha. Eu olho para o relógio. Já são 20:00 hs. A campainha toca novamente. Deve ser Alex. Porcaria. Eu não tive a oportunidade de ler os dados que ele enviou. É só então que eu me lembro que Lila está na casa. Eu fico em silêncio, mas não escuto barulho nenhum, logo deduzo que ela, provavelmente, ainda está dormindo. Levanto-me e sigo para a porta da frente, massageando meu pescoço, que agora tem um torcicolo. Minha cabeça dói, pedaços do meu sonho voltam para mim como as memórias nebulosas de uma amnésia. Eu me pergunto o que me fez sonhar com isso. Parece que se passou uma vida, desde que eu me sentei naquela sala da biblioteca com Alex e aqueles dois caras e


nós dois assinamos aquela papelada. Nós nem sequer discutimos mais o assunto. Eles mostraram o assassino da minha mãe diante de nós como uma cenoura, dizendo que iriam nos treinar, nos equipar e nos pagar para pegar o cara. Existia outra opção que não fosse assinar o papel? Assim que eu abri a porta, Alex passou por mim para o corredor, olhando brevemente para a sala de estar. - Onde está Lila? - pergunta ele. - Ela está lá em cima, dormindo - eu digo. Uma carranca passa em seu rosto. - Como foi? Ela está bem? Você falou com ela? Eu sigo ele para a cozinha. - Não. Eu pensei que, você sabe, talvez você pudesse perguntar-lhe qual é o problema. Alex está olhando para a geladeira. Ele puxa uma caixa de leite e se vira de frente para mim, as sobrancelhas levantadas. - Você é melhor em interrogatório que eu – eu dou um encolher de ombros. - Tudo bem. Está bem. Eu vou falar com ela. Ele cai em uma cadeira e começa a vasculhar a papelada espalhada, seus dedos tamborilando a mesa. Pego alguns bifes da geladeira e um pouco de salada, pensando no que fazer para o jantar já que Lila provavelmente irá acordar em breve. - O que mais você descobriu? – Pergunto para Alex, apontando para a foto de Suki. Alex começa a despejar informações. - Vinte anos de idade. Cresceu em Tóquio. Seu pai é um empresário. Ele está financiando seus "estudos" aqui nos EUA. Duvido que ele esteja ciente de que sua filha é uma psy ou que ela está atualmente usando seu cartão de crédito e levando-o à completa falência. Mas não temos idéia do paradeiro dela desde ontem. Ela desapareceu. Eu olho feio para uma fotografia de Suki, sorrindo para mim da mesa. - Ela vai aparecer novamente - Alex diz calmamente. Eu sei que ele está apenas tentando me tranquilizar. - Você acha que ela seria tão estúpida? - Eu pergunto. - Ela não foi nada esperta no bar, não é? - Alex responde - Eu não acho que estamos lidando com uma mente brilhante aqui. Ele tem um ponto. Eu relembro a cena no bar novamente. Como nós pudemos deixá-la ir embora? Ela simplesmente deslizou para a direita por baixo do braço de um cara e passou pela porta antes que nós


tivéssemos a chance de tirar nossas armas. E Demos estava esperando ela lá fora. Foi a primeira vez que eu tinha visto ele em carne e osso. E eu deixei ele escapar. A raiva sobe com força dentro de mim como um maremoto. - Ele estava lá - eu digo, transparecendo descrença através da minha voz - Ele estava bem ali. Deus! Alex, nós poderíamos ter pegado ele. Ele está jogando com a gente. É apenas um jogo para ele. - Cometemos um deslize, Jack, isso é tudo. Da próxima vez, vou estar pronto. Vamos ter outra chance, eu sinto isso. Eles estão rastreando Suki, assim que ela usar qualquer forma de identificação, passar seu cartão de crédito, registrar seu nome em um motel, mexer no Facebook, estaremos lá, para pegá-los. Concordo com a cabeça. - Estou de plantão hoje à noite - eu digo, de repente. - Você quer que eu fique aqui essa noite? - Alex pergunta - Apenas no caso de Lila acordar e você não estar aqui? - Isso seria ótimo. Obrigado. Às vezes, quando eu paro para pensar sobre isso, percebo o quanto eu devo à Alex. Mais do que eu jamais serei capaz de retribuir, com toda a certeza. Mas é exatamente a mesma situação de Lila. Eu não sei o que dizer a ele. Quer dizer, o cara largou mão de uma possível chance na NBA, ou de um emprego em uma empresa fabulosa e uma vida inteira de terno e salário de sete dígitos, para perseguir psicopatas por um salário muito menor. Mas Alex nunca disse nada que me faz duvidar que ele não estivesse 100 % comprometido com isso. Eu não tenho um irmão, mas eu acredito que se tivesse, eu não poderia amar ele mais do que eu amo Alex. Ele é meu irmão. Nunca precisou ser dito. Sempre esteve claro. É por isso que eu não digo nada agora. Alex olha para cima e, em seguida, me pega olhando para ele. - Você está bem? - pergunta ele. Abro a boca e por um segundo eu estou à beira de dizer à ele o quanto sou grato, mas, felizmente, antes de eu me envergonhar com a cena patética, ouvimos um barulho. Eu começo a juntar os papéis em uma pasta e então eu guardo em uma gaveta. - Lembre-se não podemos dizer nada disso para Lila, OK? Alex concorda. Ele não precisa ser lembrado. Depois de alguns minutos, ouvimos um barulho no topo da escada. Alex saí em direção à escada. Ele está na minha frente, caminhando para o corredor e eu não sei o que acontece, mas Lila tropeça e leva um tombo nas escadas. Felizmente Alex consegue pegá-la antes que ela termine por


quebrar seu pescoço, o que é bom, porque eu não acho que ela tenha um seguro de vida. Ela descansa contra ele por um segundo e eu mais uma vez fico ciente de como ela está agora, como ela cresceu, e mexo com a minha cabeça. Eles se abraçam e vejo que Alex também já percebeu que ela mudou, porque ele não tira os olhos dela e por um segundo eu sinto um desconforto, pois parece que ele está paquerando ela, mas então eu esqueço essa idéia porque isso seria totalmente absurdo já que Alex é praticamente um irmão para ela também, e também porque Alex nunca se apaixonou seriamente por qualquer menina, ou jamais se apaixonou o suficiente para se prender, logo seria estranho ele começar agora justamente com a minha irmã. Ele segue ela até a cozinha e eu juro que acho que ele estava olhando para a bunda dela. Será que eu realmente vi isso? Não, eu estou apenas paranóico. É o Alex. Além de que é a Lila e. . . espere. . . ela está usando maquiagem? Alex puxa uma cadeira para ela e eu viro minha atenção para o bife que eu estou cozinhando para o jantar porque é menos complicado do que lidar com qualquer um desses dois. Eu começo a virar o bife e quase queimo meus dedos quando eu ouço Alex perguntando para Lila porque ela está aqui. Eu pensei que ele seria mais sutil, como um bom investigador. Lila apenas murmura algo que não responde à pergunta, mas Alex vai pressionar um pouco mais, certo? Não. Ele decide parar e mudar o foco me perguntando quando Sara vai chegar. Eu olho para ele por cima da fumaça da panela. Genial. Lila está olhando entre nós, confusa. Sim, OK, eu sei que é provavelmente difícil para ela acreditar que eu tenho uma namorada, mas parece que eu acabei de dizer a ela que eu estou namorando Justin Bieber. É tão difícil assim de acreditar? - Você, você tem namorada? - Lila interroga. - Sim, eu tenho uma namorada - eu digo. Seu rosto se divide em um sorriso e ela pula para cima sobre o balcão e começa a me perguntar mais coisas e eu pergunto a Deus por que Alex não manteve a boca fechada. Alex tira Lila de cima do balcão para que ele possa pegar algo no armário atrás e por um breve segundo, ela para de falar, mas no momento seguinte, ela está de volta com o interrogatório. Ela não deixa mais em paz, querendo saber tudo sobre Sara, até seu tamanho de sutiã. Ela sorri quando eu digo à ela que Sara tem vinte e seis anos e, em seguida, ela dispara um milhão perguntas sobre em que nós trabalhamos. Eventualmente, eu viro o jogo.


- Então, falando em condições de vida... - Eu digo. Lila olha para o prato e começa a raspar. Ela corta um pedaço de carne na boca e começa mastigar. E mastiga. E mastiga. Alex e eu olhamos sem dizer nada. Então ela finalmente engole e pega a faca. - Lila, você vai nos dizer por que você está aqui? Eu vejo sua mente trabalhando freneticamente. Eu leio as mentiras se formando. Eu vejo quando ela formula uma explicação silenciosamente em sua cabeça e eu quero dizer-lhe para não se preocupar, porque ela tem a cara transparente do planeta. Ela é a pior mentirosa do mundo. Mesmo antes de ela abrir sua boca, eu sei que ela está mentindo. E mesmo assim ela ainda prossegue na mentira. Ela inventa alguma porcaria sobre época de recuperação e conferir faculdades e eu não me importo se é uma mentira, eu fico irado porque de jeito nenhum em um milhão de anos eu vou permitir que Lila volte aqui para a faculdade. Prefiro interná-la em um convento na Suíça do que permitir que ela volte aqui para a faculdade. Não vai acontecer. Eu tento dizer no melhor tom que posso explicar. Alex não disse uma palavra. Ele apenas observa em silêncio enquanto ela apunhala pedaços de bife em seu prato como se fosse pesca submarina. - É por causa de algum menino? - Eu digo. Lila fica totalmente muda diante da minha pergunta, mas então ela olha para seu prato e fica corada, mesmo quando ela gagueja em negação. Eu sabia! É por causa de um menino! Vou matá-lo. Alex me chuta por baixo da mesa, em busca do meu auto controle. Ele está certo. Preciso descobrir o nome do menino e ela nunca vai dizer se souber que eu vou dar uma surra nele. Eu tenho que agir de forma amigável. - Lila, você não pode simplesmente atravessar o mundo sem dizer nada a ninguém em primeiro lugar - eu digo, usando um tom que eu ouvi Rachel usar antes para instruir novos recrutas. Lila começa a discutir, mas eu a interrompo e logo ela está saindo para fora, furiosa. Olho para Alex. Ele está recostado na cadeira me encarando com as sobrancelhas levantadas e uma expressão divertida de “eu avisei” em seu rosto. - O quê? - Eu digo. Ele balança a cabeça para mim, em silêncio, em seguida, se levanta de sua cadeira e vai atrás dela. Eu deixo ele ir. Eu posso ver que Lila não vai me escutar, mas talvez ela vai dar ouvidos para Alex. Quando éramos crianças, ela costumava ter uma grande queda por ele. Foi muito engraçado. Ela seguia ele por todos os lugares. Uma vez eu encontrei um


livro escolar dela coberto de corações entrelaçados e suas iniciais junto com as de Alex. Eu mostrei para Alex esperando começasse a rir, mas ele não riu. Ele, na verdade, me deu um soco, pela primeira e última vez em nossa amizade. Mas o ponto é, Lila sempre fazia tudo que ele pedisse. Eu costumava explorá-la fazendo com que ela nos trouxesse comida e bebida quando nós estávamos jogando Playstation ou dando uns mergulhos na piscina. Levanto-me e olho para fora da janela para ver como ele vai lá fora. Alex está de pé parado atrás dela, protegendo-a e eu posso ver que ele tem a mão em seu ombro. Ele se vira um pouco e à luz da cozinha eu consigo ver a expressão no rosto de Lila e me pergunto se é possível que ela ainda tenha uma queda por ele. Mas então ela faz uma carranca para ele, exatamente da mesma maneira que ela fecha a cara para mim e eu começo a rir de mim mesmo. Alex claramente não teve muita sorte com ela também, e claramente a paixão é uma coisa do passado. O que é bom porque eu não acho que eu poderia lidar com minha irmã dando em cima do meu melhor amigo agora que ela tem peitos. Eu sei que é minha função consertar as coisas, e não deixar tudo isso nas costas de Alex. Então. Eu paro atrás de Alex e coloco a mão em seu ombro. Ele entende a dica e se afasta. Mas então eu não sei o que dizer. Eu só coloco meu braço em torno do ombro de Lila e depois de um minuto, ela se inclina para mim com um suspiro. Como estamos no escuro, olhando para as estrelas, eu sinto meu coração apertando e apertando e uma sensação de queimação vai enchendo minha garganta mais uma vez novamente. O jardim está coberto pelas sombras e eu tremo um pouco e puxo Lila para mais perto. Ela não tem idéia do quanto é perigoso ela estar aqui. E eu não tenho idéia de como vou mantê-la segura. A verdade é que eu nunca tive tanto medo em toda a minha vida de perder alguma coisa como eu tenho de perder ela.

Há oito nós. Uma equipe para encontrar uma menina. Imagens do circuito interno e uma entrevista com o porteiro confirmaram que ela está hospedada em um quarto do hotel. Alex estava certo. Não demorou muito para Suki começar a abusar do seu cartão de crédito. Recebi o telefonema logo após a meia-noite e deixei Alex na casa com Lila. Hicks está falando através do meu fone de ouvido. Normalmente eu tento fazer por mim mesmo, mas ele está no comando, em uma van estacionada no subsolo do prédio. Eles têm as imagens por satélite e câmeras infra-vermelhas em


posição, disparando imagens de todos os cantos do hotel. Nós bloqueamos todas as saídas. - Tenente, temos um movimento - Hicks avisa em meu fone de orelha. Eu sinalizo para os outros membros da minha equipe e saímos pela parte de trás da van, em direção à entrada de serviço do hotel. Faxineiras e garçons se afastam fora do nosso caminho enquanto os pontos infravermelhos em nossos rifles brilham como vaga-lumes contra seus uniformes. Eu tenho um mapa da área do hotel na tela que estou segurando na minha mão e então eu faço o caminho até a cozinha em direção à escada. O gerente do hotel está sendo informado por Rachel enquanto falamos, mas ninguém está disposto a discutir com uma dúzia de homens do exército carregando fuzis automáticos. À medida que corremos até as escadas de emergência até o quinto andar, uma explosão de adrenalina explode pelas minhas veias. Já passou pela minha cabeça que isso pode ser uma armadilha. Certamente ninguém é tão estúpido para dar o seu nome real e, em seguida, usar um cartão de crédito com o mesmo nome apenas algumas horas mais tarde, certo? Mas se Demos estivesse no hotel também, teríamos visto isso nas imagens do circuito interno. Eu aperto meu rifle mais perto, desejando que não estivesse carregado com dardos tranquilizantes, mas com balas verdadeiras. Na porta para o quinto andar, eu ergo minha mão e minha equipe fica em silêncio profundo atrás de mim. Eu os instruo a ficar em suas posições, mas só depois ouvimos alguém gritando alguma coisa no que parece ser alemão. Eu chuto a porta, gritando ordens e vejo um borrão na distância, alguém correndo em direção ao outro lado extremo do corredor, onde o elevador está. Nós atravessamos o corredor atrás dela. Parece ser uma menina, mas a minha primeira impressão é que ela não é Suki. Eu grito uma ordem para dois homens revistarem o quarto, enquanto o resto de nós corre atrás da garota que agora desapareceu na esquina. Eu invadi o hall do elevador e então notei uma porta aberta para outra escada. Nós entramos e com o canto do meu olho eu avistei um movimento. Alguém descendo correndo as escadas, de três em três, de quatro em quatro degraus até. Eu me desço as escadas atrás dela, meu capacete batendo na parede e os meus pés soando como um trovão no espaço confinado. Meu cérebro processa que não é Suki enquanto eu me jogo sobre o corrimão e salto 15 pés para lançar a garota no chão. Nós dois caímos, nos chocando contra a escada, meu cotovelo acertando seu rosto. Ela resmunga e eu envolvo meus braços em torno dela, enrolando-a, prendendo-a ao chão.


Ela começa uma luta, conseguindo dar um soco no meu ombro antes que eu possa conter ela. Eu não sei o que ela é ou quem ela é, mas eu sei que ela é um deles pelo olhar em seus olhos, aquele medo corajoso brilhante em saber que você está cara a cara com o inimigo e perdeu. Estou respirando ruidosamente, arfando, e o suor está escorrendo em minha testa. Hicks está no fone, gritando comigo. - Questão controlada - digo sem fôlego, enquanto resto dos membros da equipe se posicionam em torno de nós, puxando nós dois, prendendo os punhos da mulher, mantendo as suas armas apontadas para ela o tempo inteiro. Pontos vermelhos dançam sobre o seu peito, bem perto de seu coração. Ela me olha desafiante, enquanto tenta equilibrar. Um filete de sangue escorre pelo seu rosto. - É Suki? - Eu ouço Rachel perguntando em meu ouvido. - Não - eu digo - Não tenho idéia de quem ela é. A mulher joga a cabeça para trás para parar o sangue escorrendo em seu olho e me observa com um sorriso que me arrepia até o último osso. - Mas eu sei quem você é, Jack - diz ela. Meu coração salta e quase para. Ela sabe o meu nome. Ela segura meu olhar, aparentemente imperturbável mesmo diante do fato de que ela tem uma dúzia de caras com armas apontadas para ela. - Você não tem idéia do que ou com quem você está lidando - ela acrescenta – Está muito longe da sua compreensão. Os caras a afastam, até ela desaparecer e eu permaneço lá, meu peito arfando para cima e para baixo, encostado na parede, ouvindo Rachel e Hicks gritando no meu ouvido. Mas tudo que eu posso pensar é que ela sabia o meu nome. E ela sabia exatamente como eu estava me sentindo. Eu sinto que não sei nada, algo está completamente fora da minha compreensão.


O Momento Uma breve história sob o ponto de vista de Alex.

A última vez que a vi foi em Washington. Há três anos atrás. Um pouco mais. Tenho uma lembrança daquela época da qual eu não consigo me livrar. Estamos nós três, Jack, Lila e eu, nós estamos jogando basquete no meu quintal. Acho que alguém tirou uma foto, talvez por isso eu me lembro tão claramente. Nenhum de nós estava falando muito. Nós estávamos jogando rápido e de maneira séria, suando apesar do frio que fazia. No carro, a caminho da minha casa, Jack tinha tido uma briga com o pai. Ele estava louco, ficava batendo a bola contra o aro como se ele estivesse tentando arrancar o aro da parede, não apenas querendo atirar a bola dentro dele. Lila estava tentando não chorar e eu estava tentando interceptar Jack, antes que alguém, ou o aro, terminasse ferido. A campainha toca e eu atravesso o corredor para abrir a porta para Jack. Eu sei que é ele porque ele sempre fica com o dedo apertando a campainha sem tirar até eu abrir a porta. - O que está acontecendo? - ele diz através do interfone - Você está com alguém? - Não - eu respondo secamente - Eu simplesmente só passei o dia inteiro contando os segundos que faltavam para eu ver você novamente, Jack. Eu desligo e enquanto espero ele subir pelo elevador até o meu apartamento eu caminho os poucos passos de volta pelo corredor em direção à cozinha para ligar a máquina de café expresso. Hoje vai ser um dia longo.


Jack está com um rosto sombrio e carrancudo quando eu abro a porta para deixá-lo entrar. Ele passa por mim para o corredor. - Droga, a minha irmã - diz ele. Eu começo a seguir ele em silêncio enquanto ele se dirige para a cozinha e começa a invadir a geladeira, jogando fora metade de um melão e agitando um pote de molho de salada como se pudesse conter algo mais além de azeite de oliva e vinagre. - Cara, você vive como um monge - ele murmura para as prateleiras vazias. Eu derramo a maior parte da embalagem do leite em uma caneca e coloco um pouco de açúcar e entrego a ele sem dizer uma palavra. Ele aceita, também sem dizer uma palavra, e começa a beber, seus olhos correndo para a janela, ainda se estreitando em uma carranca. - Meu pai vai pirar - diz ele. Eu começo a interromper Jack, antes que ele possa começar o que eu sei que vai ser um discurso longo. - Preciso tomar um banho - eu digo, drenando meu café com um gole amargo - Acabei de voltar de uma corrida. Eu deixo Jack para trás, com a cabeça encostada na porta da geladeira, resmungando com raiva para o melão sobre como ele tem mais razão do que Lila. Jack deveria ter sinais de advertência por escrito em seu rosto sempre que está em um estado de espírito assim. Assim, as pessoas saberiam quando deveriam dar-lhe tempo - e muito - para relaxar. O chuveiro está bom. Relaxa os músculos em meus ombros e pernas e ajuda a limpar a minha mente do que, desde que Jack me ligou, não sai da minha cabeça, que é o fato de que Lila está voltando. Jack está furioso, mas sua raiva decorre da preocupação do fato de Lila estar aqui, na Califórnia, e o risco que representa. Eu não acho que ele pensou em por que ela está vindo. Ou sequer processou o fato de que algo deve ter acontecido em Londres, para fazê-la abandonar tudo e reservar um vôo para Los Angeles sem aviso algum. Enquanto eu visto a toalha, eu analiso a situação um pouco mais. Jack tem o temperamento forte e Lila tem a impulsividade na família Loveday e eu sempre dei graças a Deus todos os dias por Ele não permitir que Jack tivesse herdado as duas características, impulsividade e temperamento forte, já que se assim fosse, ele já teria feito muito estrago até agora. Mas Lila nunca fez nada parecido com isso. Deve haver alguma coisa por trás disso. Eu me pergunto se ela vai confiar em mim, tanto quanto ela


costumava confiar e se vai me dizer do que ela está fugindo. E se eu ainda vou conseguir ler seus sentimentos estampados em sua face. Lila costumava ser transparente como um cristal. Faço uma pausa, lembrando-me de não deduzir nada apenas à partir de suas ações. Poderia ser algo trivial, talvez ela terminou com o namorado. Mas ela não tem namorado, pelo menos, não que eu saiba. Poderia ser a escola, mas ela é inteligente. Ela está indo bem nas aulas. Eu balanço minha cabeça. Estou brincando? Ela não está bem. Eu posso ter certeza disso por causa de seus e-mails. Ela não diz nada em palavras, mas está lá, escondido, entre as lacunas, na forma como ela evita responder as perguntas que eu faço. Deixando cair a toalha, eu puxo um jeans e uma camiseta, confirmo que meu revólver está completamente carregado de balas e, em seguida, coloco na parte de trás da minha calça jeans, com cuidado não marcar por cima da camiseta. Todo mundo neste prédio acha que eu trabalho como personal trainer de ricos, donas de casa entediadas. Se a minha vizinhança algum dia notasse que espécie de armas e munição eu carrego até quando vou correr, eles certamente se perguntariam que tipo de treinamento aeróbico é esse. Eu paro e fico olhando para mim mesmo no espelho, passando a mão sobre a minha cabeça e por cima do corte militar que eu tinha feito há dois dias. Como estará Lila? Será que ela vai me reconhecer? Nós não somos as mesmas pessoas que ela deixou para trás. Três anos se passaram desde que nos vimos pela ultima vez, dois anos destes passamos em treinamento na Marinha como Fuzileiros Navais e mais um ano trabalhando para a Unidade, caçando os assassinos de sua mãe. Quando eu me olho no espelho, eu sei que não sou o mesmo. Não são os grandes músculos que Jack e eu agora temos depois de tanto treinamento, ou as cicatrizes. Nem mesmo as tatuagens em nossos braços. É algo mais do que isso. Além do físico. Estamos sempre em alerta, sempre em vigia, sempre cautelosos, cuidadosos, desconfiados. Nos tornamos os mestres dos segredos e enganos, enquanto aprendemos ao mesmo tempo à decifrar as mentiras e segredos das pessoas. Nós nos tornamos mestres em nos afastar daqueles que amamos e mesmo daqueles que poderíamos amar, ocultando as nossas emoções, tornando todas as nossas vulnerabilidades invisíveis. Nós escondemos nosso verdadeiro eu tão bem que às vezes eu me preocupo de nunca mais encontrar o meu verdadeiro eu de novo. Eu continuo olhando com firmeza para o meu reflexo. Esta não é uma vida que Lila precisa compartilhar. Quando Jack e eu terminarmos


com isso, quando nós pegarmos o homem que matou sua mãe, então nós vamos contar tudo para ela. Algumas coisas, pelo menos. Nem todas. A verdade não tem bordas arredondadas, suaves. Ela tem na verdade garras afiadas. E a verdade completa só vai machucá-la.

Jack está esparramado no sofá assim que eu entro na sala de estar. Ele já ligou o meu IPod e eu faço uma pausa na porta, tentando esconder meu sorriso. - O que é isso? - Jack pergunta, apontando para os alto-falantes - Eu não ouvi isso antes. - Só uma coisa nova - eu digo, sentando na poltrona à sua frente. É uma lista de músicas que Lila me enviou algumas semanas atrás, mas eu não acho que é uma boa idéia trazer o nome dela à frente de novo, agora que Jack se acalmou. - É bom - Jack murmura, balançando junto com a música. - Você avisou à Base? - Eu pergunto, mudando o assunto. - Sim, eu informei Sara do que está passando. Disse-lhe que voltaria um pouco tarde. Você provavelmente deveria ligar para Rachel - diz, ele, referindo-se à nossa chefe. - Eu já avisei - eu respondo – Deveríamos ir agora. Rachel me disse que eles localizaram um novo movimento. Possivelmente Demos em LA. Com isso, a cabeça de Jack se levanta. Ele balança as pernas para fora do sofá e se senta. - E você está me contando isso agora? - pergunta ele - Você entende? É por isso que ela não pode voltar. Ele está super perto. É muito perigoso. Ele xinga baixinho enquanto ele salta para se levantar. Eu me levanto e pego as chaves da minha moto. - Ela vai voltar para Londres, Jack, e tudo vai para ficar bem - eu digo - Nós vamos falar sobre isso mais tarde. Agora precisamos começar a trabalhar.

Nós paramos em frente ao Quartel da Stirling Enterprises, localizado em Camp Pendleton na Base da Marinha, ao norte de San Diego. O edifício se parece à uma nave espacial gigante em meio às instalações militares


mais simples da Base, e até diante do Hospital Militar, ofuscando tudo ao seu redor. Nós fizemos a nossa formação com a Primeira Recon de Fuzileiros de Pendleton, portanto, aqui nos sentimos já praticamente em casa. Dito isto, quando eu encosto a minha moto ao lado de um enorme sargento com veias de cor púrpura saltando como cobras sob sua pele e escuto ele gritando com um grupo de novos recrutas que estão suando valentemente no calor do meio-dia, eu posso dizer que eu sinto falta daqueles dias. A maioria dos funcionários da Unidade são treinados como fuzileiros, pelo menos os soldados são; os cientistas apenas não são. Mas nós não estamos trabalhando sob o mandato do exército norteamericano. Nossa cadeia de comandantes está envolta em camadas de mistério, mas acredita-se que apenas uma ou duas pessoas-chave nos mais altos escalões do governo sabe o que estamos realmente fazendo. Nós somos o nosso próprio enclave secreto. E aquele edifício aonde Jack e eu estamos entrando externa exatamente aquele ar de segredo: seu exterior inteiro de vidro e aço, a certeza de que ninguém fora da Unidade jamais pode contemplar o que nós vemos agora. Eu olho para cima à medida que caminhamos para dentro. Não há guardas com armas montados no teto, mas existem outras formas invisíveis de proteção do edifício para repelir inimigos e eu sempre sinto um ligeiro diminuir de tensão, uma vez que adentro no interior do lobby. Sessenta metros abaixo de nós agora, enquanto nós atravessamos o lobby com piso de mármore deste edifício impenetrável, encontra-se uma fileira de celas vazias, exceto por uma. Toda vez que eu cruzo este lobby, eu penso nisso. Nas celas vazias e no fato de que até agora só temos capturado apenas um. Durante os últimos cinco anos Stirling Empresas tem trabalhado para o governo norte-americano em um projeto considerado muito delicado para o público tomar conhecimento. Nossa missão é conter um grupo de pessoas chamadas psygens - pessoas com uma anomalia genética incurável que os torna não só diferentes de qualquer coisa já vista, mas também dotados de habilidades especiais, como telecinese e telepatia, e isso os torna incapazes de empatia ou um sentimento humano racional. Os psiquiatras da Unidade afirmam que estas pessoas estão acima da escala como sociopatas. Como se Jack e eu precisássemos dessa informação extra, nós já tivemos uma boa prova disso. Não há cura. Existe apenas a Contenção, como é chamada. O único problema é que eles são rápidos, eles nos vêem chegando e sempre


conseguem nos superar em suas táticas, permanecendo sempre um passo à frente. Eles têm poderes, formas de comunicação e espionagem e até o poder de nos congelar em nosso caminho, o que faz a contenção deles ser um desafio. Estamos fechando o cerco sobre eles, embora, temos um grupo especifico como alvo, e uma vez que eles estejam contidos, talvez então seja seguro para Lila para voltar. E talvez então Jack e eu poderíamos ter uma chance de viver uma vida normal também. Olho para Jack, que está batendo o pé, impaciente, à espera das portas do elevador se fecharem. Talvez não sejamos nunca mais normais novamente, eu penso. Para Jack, a vingança está em seu sangue, tem se tornado uma parte muito importante de quem ele é, duvido que ele vai parar de persegui-los, mesmo depois de pegarmos Demos e sua gangue. Ele não vai parar, enquanto ainda restar algum deles solto por aí.

Rachel já está fazendo um enorme discurso enquanto entramos na reunião da equipe tática. Ela acena com a cabeça para nós, mas não perde o ritmo, continuando a narrar sobre uma onda de imagens projetadas na parede atrás dela: mapas de centro de Los Angeles, algumas fotos em preto-e-branco esboçando desenhados a partir de câmeras de segurança de algum lugar. Imagens de Demos e seu braço direito Harvey - mas eles estão completamente fora de foco, é difícil dizer com certeza. Rachel se firma com um lembrete para todos nós para ficarmos atentos. Como se nós já não estamos, eu penso sombriamente para mim mesmo, olhando-a com o canto de meu olho. Rachel trabalha duro para provar que ela não está em sua posição apenas por causa de quem ela é, apesar do fato de que seu nome é Rachel Stirling e seu pai é dono da empresa. Mas às vezes ela é muito difícil. Ela é boa em seu trabalho. Todo mundo sabe isso. Ela não precisa mais provar isso. Quando Jack e eu nos levantamos , ela levanta a mão e nos chama para ficar. Eu suspiro. Jack fala novamente. - Desculpe, mas está tarde - diz ele. - Probleminhas de família? - Rachel pergunta levemente, embora seus olhos, grandes e azuis enganosamente inocentes, se estreitam na forma de agulhas.


- Minha irmã me disse que ela está vindo - diz Jack - Seu vôo chega amanhã na hora do almoço. - Isso é inesperado - diz Rachel. Ela ainda está sorrindo, mas por trás do sorriso, há uma nota de irritação. Seus olhos se estreitam ligeiramente. - Eu vou lidar com isso - diz Jack, ciente de que Rachel está encarando ele - Não vai ser um problema. Rachel o encara por mais um momento, o maço de papéis que ela está segurando pressionado contra o peito. - Esperemos que não - diz ela com um sorriso apertado - Precisamos nos focar agora, Tenente. - Absolutamente - Jack diz, segurando seu olhar de forma constante. Ela se vira para mim. - Podemos contar com você Alex - diz ela e vejo que ela está optando ultimamente me chamar sempre pelo primeiro nome ao invés de Tenente. Eu olho para cima e vejo Jack piscando para mim sobre o ombro de Rachel. Eu mantenho meu rosto em branco enquanto Jack sai da porta, sorrindo. Rachel deixa ele ir. Ela dá um minúsculo passo em minha direção, quase se pressionando contra mim, e eu fico preso entre a mesa e ela. Quando eu olho para baixo, eu pego um vislumbre do sutiã de renda. Eu olho para cima rapidamente. - Ocupado hoje? - pergunta ela. Eu posso dizer pela forma como ela inclina a cabeça para um lado, casualmente sacudindo o cabelo sobre o ombro e mordendo o lábio pegajoso com brilho, entre os dentes, que ela não está perguntando se eu estou ocupado para me encarregar de alguma missão. Ela sabe que eu não estou ocupado em nenhuma missão. É ela mesma quem distribui todas as missões. Eu poderia morder a isca e convidar Rachel para sair. Não é a primeira vez que ela dá sinais claros disso, mas eu sempre me faço de desentendido. Se Jack soubesse que eu tenho ignorado a dica, ele nunca me deixaria em paz. Ele iria querer saber por que não saio com ela, mas a única razão pela qual eu poderia dar a ele é que eu não estou sentindo de fazer isso. Rachel é o tipo de garota que é muito acostumada a fazer apenas a sua vontade, a possuir as coisas que quer sempre e fazer todas as pessoas cumprirem com seus desejos. E além disso, eu não quero misturar negócios com prazer. A última vez que fiz isso, arruinei minhas notas na universidade. - Eu vou sair com Jack esta noite - eu digo finalmente.


Rachel segura meu olhar por um longo momento e tenta entender a minha expressão em branco, à qual eu fui treinado para fazer quando estivesse sob interrogatório e em seguida, me afasto dela e caminho até a porta. - Eu tenho que conversar com ele. Ele está preocupado sobre sua irmã voltar. - Lila? Me viro, me perguntando como Rachel sabe que seu nome é Lila, então me lembro que provavelmente está tudo no registro de Jack e Rachel certamente andou fazendo seu dever de casa. Ela sempre faz o dever de casa. - Sim - eu digo – Lila. Rachel me despede com um breve aceno de cabeça e com um sorriso forçado e avança pela porta na minha frente, seus saltos ecoando em voz alta, como réplicas de metralhadoras.

Jack acena com a cabeça em direção à uma garota que veio sentar quase ao nosso lado no bar. - Olha só que menina bonita - diz ele. - Eu pensei que você agora fosse um cara fiel - eu dou risada - Eu pensei que você tinha virado uma nova pessoa. Pela primeira vez em sua vida Jack tinha uma namorada, ao contrário de ter uma garota apenas para passar uma noite e logo depois esquecer o nome dela e nunca mais telefonar novamente. Foi uma grande surpresa para mim - uma divertida e engraçada surpresa. Jack apaixonado me fazia acreditar que tudo é possível, até que os macacos podem criar asas e voar, que a paz mundial pode ser alcançada e que um dia o nosso trabalho com a Unidade estará terminado. O lado positivo da metamorfose de Jack em borboleta do amor é que eu tenho sido a testemunha mais próxima de tudo isso e posso rir pra caramba. - Virei uma nova página - diz Jack - Eu estou olhando para você. É hora de você ficar com alguém. Já faz tempo que você não sai com ninguém. - Você conhece as regras - eu respondo. Se alguém conhece as regras, esse alguém é Jack. Ele automaticamente decorou todas, principalmente para que ele possa fazer as suas e encontrar uma maneira de quebrá-las.


- Quem está dizendo que você tem que namorar alguém? - Jack sorri. Eu faço uma careta. - Não é meu estilo, Jack. Ele diz alguma coisa, algo sobre Rachel e eu prefiro redirecionar a conversa para outros temas. - O que o e-mail diz? - Eu pergunto, apontando seu iPhone, que ele está segurando em sua mão. Jack entrega para mim. “Surpresa! - o e-mail de Lila diz - Eu estou indo para LA. Meu vôo chega por volta do meio-dia. Lila”. - Algo está acontecendo - digo, entregando o telefone de volta. - Não necessariamente - diz Jack - Você acha que essa é a primeira vez que Lila age de cabeça quente? Francamente, cara, você se lembra de minha irmã, certo? Baixinha, loira, impulsiva como terapia de choque? Teimosa como uma mula que não suporta um não como resposta? Será que Jack nunca olhou para si mesmo? Ele tem alguma idéia da ironia desta declaração? Eu balanço a cabeça para ele com admiração. - Ei, eu não sou baixinha ou loira - Jack protesta assim que entende o olhar no meu rosto. - Poderia ser por causa de um menino - eu me arrisco. Jack olha para mim sem entender. - Um o quê? – ele pergunta. Eu sufoco o riso. - Um menino. Você sabe? O titular do cromossomo Y? Você não observa esses tanto quanto você costuma observar as espécies do cromossomo X. - Do que você está falando? - Jack pergunta – Um menino? Ela é apenas uma criança. Hesito, me perguntando se Jack é capaz de fazer as contas. - Ela tem 17 anos. Ela não é mais uma criança. Jack fica verde, como o Incrível Hulk fica quando rasga suas roupas . Ele pula da cadeira. - Se algum menino já colocou as mãos na minha irmã, eu vou matálo - diz ele. Mais uma vez eu fico olhando para ele em silêncio, pensando em todas as meninas nas quais Jack colocou as mãos e muito mais. Pobre Lila. Se ela quiser ter uma vida normal, uma que não inclua um voto de celibato, ela precisa ficar em Londres. Jack se senta novamente. - Você acha que pode ser isso? - pergunta ele, aflito.


- Estou apenas especulando - eu digo, não querendo ser alvo de sua raiva. Eu começo a relembrar o tempo em que Lila tinha uma queda por mim quando tinha cerca de sete anos. Ela colocou um cartão de namorados na minha mochila. Como a mochila estava jogada no corredor de sua casa, a minha lista de suspeitos ficou reduzida a apenas dois: ela ou Jack. Corações e pôneis rosinhas desenhados à mão não eram realmente coisa de Jack, então deduzi naturalmente que só poderia ser Lila. Eu nunca disse nada a ela sobre isso, não queria constrangê-la, mas para ser honesto, foi também porque até então eu já sabia como Jack reagiria. - Quando foi a última vez que você falou com ela? - Eu pergunto. - Algumas semanas atrás - Jack responde – Ela parecia OK. - Ela parecia um pouco deprimida para mim. - Quando você falou com ela? - Jack pergunta se sentando ereto. Eu me xingo mentalmente por ter deixado esse fato escapar. - Ela mandou um email há uns dias atrás - eu digo com cuidado. Em seguida, adiciono rapidamente - Vá com cuidado, OK? Ela passou por muita coisa. Jack olha para mim. - Ela não vai ficar. Ela precisa voltar para Londres. Eu vou mandá-la de volta. - Você não pode, Jack. Deixe-a ficar alguns dias, uma semana. Descubra o que está acontecendo. Você deve isso a ela. Devemos isso. Acho que da última vez que ela esteve aqui tem uma foto de nós jogando basquete. Me lembro disso agora. Lila parecia perdida, com medo. E nós ignoramos. Estávamos tão obcecados por entrar na Unidade que não paramos para pensar em como ela estava ou como ela se sentia. Agora eu relembro mais coisas, de um tempo mais antigo. Ela tinha acabado de perder a mãe e a única coisa que ela precisava naquele momento era do apoio de Jack. Mas Jack tinha virado as costas e saído. Eu fiquei com ela no lugar dele, em parte porque não havia mais ninguém para cuidar dela - o pai dela estava inconsolável, sob o peso de sua própria tristeza - mas principalmente porque eu queria. Mas desde então eu não tinha cuidado mais dela o suficiente. E nem Jack. Nós estivemos tão focados em vingança e na situação toda que acabamos deixando Lila no esquecimento. - Não é seguro para ela aqui - Jack diz, interrompendo meus pensamentos.


- Vamos ficar de olho nela. Ela vai ficar bem – eu murmuro, quase para mim mesmo. Vou ficar de olho nela e eu não vou deixar nada acontecer com ela, não só porque ela é como uma irmã para mim, como ela é para Jack, mas porque, sinceramente, eu estou com medo do que Jack faria se alguma coisa acontecesse com ela. Quando sua mãe morreu, ele se perdeu completamente. Perder Lila o lançaria ao limite. Provavelmente, eu acho, lançaria a nós dois. A menina encostada no bar atrás de Jack, de repente fala. - O que uma pessoa tem que fazer para conseguir beber algo por aqui? – ela ronrona- Me despir e dançar no bar? Jack se transformou ao escutar a palavra “despir”. Ela está usando um vestido tão curto e apertado que convida exatamente à isso. Tenho certeza de que essa é a intenção e eu olho para longe. Mas Jack, é claro, olha direto para ela como um tiro. Mesmo que ele esteja obcecado com Sara e nunca faria nada para magoá-la, é como se ele estivesse geneticamente programado para flertar com todas as mulheres. E todas as mulheres parecem ser incapazes de resistir aos seus encantos. - Você poderia tentar isso - diz ele - Nós não vamos te impedir. - Jack - eu digo em tom de aviso. Precisamos nos concentrar no que faremos com Lila e não em conversar com meninas aleatórias que parecem ter saído de um desenho animado de mangá. Eu faço um sinal para o barman e a menina se vira para mim e pergunta se eu gostaria de qualquer coisa. Pergunto-me qual será a idade dela. Ela está usando um monte de maquiagem e um salto de no mínimo 10 centímetros, mas mesmo assim ela ainda é pequena e não acredito de jeito nenhum que ela tem idade suficiente para beber. - Não, obrigado - eu digo educadamente, meus pensamentos ainda em Lila. Eu posso ouvir Jack puxar conversa, mas eu não me envolvo. Até que eu escuto a menina dizer algo que faz minha cabeça travar. Jack e eu olhamos para ela, confusos. Eu juro que ela nos disse que ela era uma leitora de mente. - Ha ha, estou brincando! - agora ela está dizendo, rindo alto - Eu só sei que aqui é onde todos os rapazes Fuzileiros Navais gostam de vir - ela acrescenta. A turma da Marinha. Genial. Me endireito no meu lugar e olho para a TV sobre o bar, fingindo interesse no jogo. Jack faz algumas insinuações e eu escuto o meu nome envolvido na frase. Sim, eu decido com um suspiro, eu vou matá-lo mais tarde. Quando estiver dormindo. A menina


está interrogando-o agora sobre os malvados. Se ela soubesse - eu penso comigo mesmo – que estamos prestes a pegar um cara muito ruim. Muito em breve. E quando o fizermos, vamos finalmente fazê-lo pagar por tudo que ele fez. - Logo? - a garota pergunta, sua voz praticamente um guincho Como assim? Logo como amanhã? O que ele fez, esse cara é muito ruim? Eu me viro para olhar, uma injeção de adrenalina já inundando o meu sistema como eu me levanto da cadeira. - Eu não disse isso em voz alta - eu digo. A idéia levou apenas um segundo para processar. Ela é um deles. Ela é uma psy. Como mais ela leu minha mente? Fecho mão instantaneamente buscando a minha arma, puxando do coldre na cintura. Jack reage também, erguendo um braço para agarrá-la, mas ela se foi, correndo no meio da multidão mais rápido do que um chacal, agitando os braços e girando pela porta para fora. Nós estamos logo atrás, atravessando através da massa de pessoas no bar, os outros da nossa Unidade conscientes dos nossos gritos e se unindo à nós também, em debandada, gritando um para o outro, e todos nós corremos para fora ao tempo de ver quando ela se joga em um carro que está acelerando para longe, a porta ainda paira aberta. E há uma sombra no banco da frente. Um rosto que eu reconheceria em qualquer lugar, que assombra cada momento da minha vida e da vida de Jack. É Demos. Então, tudo fica em branco.

Vinte e quatro horas mais tarde e ainda não conseguimos pegá-la. Mas temos o nome dela. Suki Nakamura. Todos os dias eu digito o nome dela e busco no sistema alguma atualização sobre ela. Ela é uma nova. Recrutada por Demos e enviada para se infiltrar, nós acreditamos. Embora, se isso foi uma tentativa de infiltração, gostaria de saber de saber qual o critério de Demos em recrutamento e técnicas de espionagem. - Esta menina gasta mesmo - diz Jack. Ele está em pé na mesa da cozinha debruçado sobre a papelada. Trouxe mais coisas: todos os extratos do banco, contas de cartão de crédito, passagens aéreas, recibos de serviços de quarto, registros escolares, as informações sobre imigração e fotos de identidade. Passei o dia conferindo enquanto Jack foi buscar Lila no aeroporto.


- Ela certamente pode. A quantidade de sapatos que ela comprou nos últimos três meses sozinha poderia afundar um navio de guerra. Eu mantenho meus olhos na porta, minha audição atenta para qualquer movimento do andar de cima onde Lila ainda está dormindo. Eu não a vi ainda e eu estou ciente de que meu foco não está na papelada que Jack vasculhando. Eu estou bem distraído e meus dedos estão batendo a mesa. É como se houvesse um zumbido elétrico no fundo, criado por ela, e do som dele, a vibração dele, me ensurdece, não permitindo que eu me concentre totalmente no que Jack está dizendo. - Então, o que mais você descobriu? – Jack repete. Eu tento apagar o zumbido e me concentrar na papelada. Eu começar a narrar o que eu descobri sobre Suki Nakamura, a mais recente aliada de Demos. - Vinte anos de idade. Cresceu em Tóquio. Seu pai é um homem de negócios. Ele está financiando seus "estudos" aqui nos EUA. Eu duvido que ele saiba que sua filha é uma psy ou que ela está atualmente quase falindo ele, causando quase que um Armageddon financeiro. Jack me lança um olhar irônico, impaciente. - Mas nós não tivemos nenhum sinal dela desde ontem - eu termino – É como se ela houvesse sido tragada pela terra. Jack franze a testa e eu entendo ele. Suki foi a nossa primeira quase prisioneira em meses e nós a deixamos escapar por nossas mãos. - Ela vai aparecer novamente - Eu tranquilizo Jack, que está estudando as fotografias de Suki agora. Cada uma das fotos de passaporte mostram uma menina com franja de corte reto, olhos brilhantes e o sorriso do Gato Risonho da Alice. - Você acha que ela seria tão estúpida? - pergunta ele. - Ela se entregou rapidamente no bar, não é? - Eu respondo - Eu não acho que estamos lidar com uma mente super dotada aqui. Jack suspira. - Ele estava lá. Ele estava bem ali. Ele está falando sobre Demos. - Meu Deus, Alex, eu poderia tê-lo pego. Ele está brincando com a gente. É apenas um jogo para ele. - Um deslize, Jack - eu digo baixinho - isso é tudo o que precisamos. Da próxima vez, vou estar pronto. Vamos ter mais uma chance, eu sinto isso. Estão rastreando Suki, assim que ela usa qualquer forma de identificação, gastar um centavo em seu cartão de crédito, registrar seu nome em um motel, atualizar seu Facebook, nós estaremos lá para pegá-la.


Jack faz uma carranca para a fotografia de Suki, antes de jogá-la na pilha. - Eu estarei de plantão esta noite - diz ele. - Você quer que eu venha dormir aqui? - Eu pergunto. Em seguida, adiciono rapidamente – Apenas no caso de Lila acordar e você não estiver aqui? - Isso seria ótimo. Obrigado. E só depois ouvimos um barulho. Lila finalmente acordou. Jack imediatamente começa a recolher os papéis em cima da mesa e guarda dentro da pasta, que ele em seguida, leva e desliza para dentro de uma gaveta debaixo de uma bandeja de talheres. Ele cruza para o fogão e olha para mim. - Lembre-se - diz ele - nós não vamos dizer nada para Lila, OK? Concordo com a cabeça. Depois de mais alguns minutos, ouvimos um rangido no topo da escada e, em seguida, uma pausa enquanto ela parece estar hesitando. Jack e eu cruzamos até a porta e saímos para o corredor. Eu chego ao fundo das escadas antes de Jack e olho para cima. E lá está ela. Lila. Descendo as escadas de dois em dois, a cabeça baixa, cabelo balançando, olhando como se ela estivesse sendo perseguida. Ela olha para cima e, em seguida, eu enxergo seu rosto, e fico instantaneamente impressionado pela maneira como ela está, não é mais a mesma Lila da qual eu me lembrava, mas antes que eu possa processar a mudança, do quanto ela está diferente, ela tropeça no próximo passo e vem voando para mim. Eu consigo agarrá-la pelos seus braços e firmá-la. Ela fica imóvel, a cabeça contra o meu peito, sem se mover. Seu cabelo está fazendo cócegas na minha mandíbula, suas mãos pressionando contra o meu estômago. Por alguns segundos nenhum de nós se move. E então ela se afasta bruscamente e deixo os braços caírem para os lados e percebo chocado que eu não queria deixá-la ir. Afasto o pensamento quase tão rápido quanto ele veio. É só um sentimento diferente porque eu senti saudades dela e aqui está ela. Bem aqui na minha frente. Mas, ao mesmo tempo, vê-la de novo se sente exatamente como eu me sentia quando o verão finalmente chegava após um inverno sem fim. Você percebe o quanto é bom o calor e o quanto sentiu falta da sensação e do cheiro daquilo. - Lila – digo - é bom ver você – Abro os braços - Eu não mereço um abraço?


Ela dá um passo em frente para os meus braços, desta vez pressionando as mãos levemente pela minha cintura, e eu puxo-a com força e sinto a tensão em seu corpo quando ela respira fundo e aperta-se mais perto. Desta vez eu me afasto primeiro. Eu a encaro. A menina, que deixei há três anos atrás não é a mesma menina que está na minha frente agora. Isso, aquela menina super magra com franja e suspensórios, que parecia estar usando roupas vários números maiores do que os seus, foi substituída por uma menina que eu não sei nem como definir, mas provavelmente se enquadra em alguma categoria entre linda ou deslumbrante. A voz na minha cabeça chega em alta, lembrando-me de que ela é a Lila. Ela é a irmã de Jack. Eu nem deveria estar olhando ela dessa forma. É Lila. Esqueça sobre ela ser irmã de Jack, ela é praticamente minha irmã. E, no entanto. . . Eu não consigo olhar de outra forma para ela. Você teria que ser cego para não notar no quanto ela ficou atraente, linda mesmo. Eu posso ser o melhor amigo de seu irmão, eu posso conhecê-la desde que ela nasceu, mas eu ainda sou um cara. E eu definitivamente não sou cego. Eu segui Lila até a cozinha, muito consciente que eu não consigo parar de olhar e que eu preciso focar os olhos para o norte e meu pensamento também para outro local. Eu vou. Eu só preciso de tempo para absorver. Para absorver e processar as mudanças e então eu vou ser capaz de enxergar normalmente mais uma vez, como a irmã de Jack. - Faz muito tempo - eu digo quando entrando na cozinha - Você está muito bem. Lila me dá um pequeno sorriso, seus olhos...são lentes de contato? Porque eu tenho certeza que eles não eram tão verdes. Ela está olhando para o chão, com as mãos se movendo conscientemente para dobrar seu cabelo atrás da orelha e depois puxa para cima a alça da sua blusa, que deslizou para baixo sobre um ombro. Não usa mais camisetas maiores que ela mesma, eu noto. Ela ainda está com um pouco de sono, e pálida, mas ainda assim eu posso ver as sardas em cima de seu nariz desbotadas. Seu cabelo está mais escuro do que costumava ser também, e combina com ela. Eu puxo uma cadeira para ela e ela se senta e eu encosto no balcão, ansioso para observá-la, interessado para ver se eu posso ler o que está acontecendo a partir de sua linguagem corporal. Ela está bem cuidadosa. Definitivamente está escondendo algo. Ela não encara meu olhar por muito tempo e mantém suas mãos voando para suas coxas e eu tenho que forçar o meu próprio olhar para parar de segui-las. Ela já não é


mais transparente como costumava ser, eu percebo. É claro que há algo refletindo na superfície, mas eu não consigo definir o que é. Ainda. - Então, qual é o problema, então? - Eu pergunto - Por que fugir para o sul da Califórnia? Londres não tinha agito o suficiente para uma adolescente, então você tem que vir conferir as novidades em entretenimento de uma cidade militar? Mesmo quando eu digo isso, eu vejo o jeito que ela estremece e seus olhos correm para Jack, que está ocupado fritando bifes mas claramente ouvindo cada palavra. Ele segurou sua ansiedade, ainda não lhe perguntou por que ela está aqui. E, para seu crédito, depois de muita persuasão, ele não lhe entregou uma passagem de volta assim que ela saiu do avião. - Mais ou menos, algo parecido com isso – Lila murmura em resposta. E então ela olha para mim encarando meu olhar e ela sorri. É um sorriso tão cheio de felicidade indisfarçável que todo o seu rosto se ilumina com ele e me faz perder o fôlego. E foi aí que eu tive a certeza que eu realmente agora estou em apuros.

Fim


Depois de ter passado a maior parte da sua vida em Londres, Sarah deixou seu emprego num setor sem fim lucrativos em 2009 e partiu em uma viagem ao redor do mundo com seu marido e sua filha, obcecada por princesas, com a missão de encontrar um novo lugar para chamar de “lar”. Depois de vários meses na Índia, EUA, Cingapura e Austrália, eles se estabeleceram em Bali, onde Sarah agora passa os seus dias escrevendo perto da piscina e tomando toneladas de litros de água de coco. Ela terminou o seu primeiro livro “Hunting Lila” um pouco antes de deixar o Reino Unido, escreveu a sequência dessa série em uma praia na Índia, e agora acertou um contrato com a Simon & Schuster para um novo projeto. Seu terceiro livro, “Fated”, sobre um adolescente caçador de demônios, que foi escrito durante a sua estadia na Califórnia, foi publicado em Agosto de 2013 pela Simon Purse (uma derivada editorial da Simon & Schuster) e logo após ela lançou o aclamado “Out of Control” em maio de 2014. Atualmente, ela está trabalhando em vários projetos bastante interessantes, e seu próximo livro “Conspiracy Girl” deve ser lançado em Fevereiro de 2015. Ela também escreve romances “new adult” sob o pseudônimo de Mila Gray para as editoras Pan Macmillan (UK) e Simon & Schuster (EUA).


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