LOSING LILA – LIVRO 2 – SÉRIE LILA – SARAH ALDERSON
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Alex e Lila estão fugindo, tratando de se manter um passo à frente da Unidade, a qual está, de todas as maneiras, sempre em seu encalço. Enquanto Alex está decidido em manter Lila à salvo e suas habilidades em segredo à qualquer custo, o único pensamento de Lila é regressar à Califórnia e encontrar uma maneira de resgatar seu irmão e sua mãe da Base Militar onde eles estão detidos. Lutando para controlar tanto o seu poder crescente como também seus sentimentos por Alex cada vez mais profundos, Lila decide que chegou o momento para finalmente deixar de fugir e começar a lutar. Junto com Alex, Demos e os demais, os quais ela veio a considerar também como uma família, os planos de Lila não são apenas salvar o seu irmão e sua mãe, mas também destruir completamente a Unidade e tudo o que ela representa. E esse plano requer que Lila retorne à Califórnia sozinha, para fazer amizade com o inimigo; e ao fazer, ela corre o risco de perder tudo: Alex, sua família, e inclusive a sua própria vida.
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Eu olhei para o meu reflexo no espelho do banheiro. Meu cabelo estava solto, os meus olhos com grandes círculos escuros. Eu estava pálida e um pouco magra. Alex estava de pé atrás de mim, com o peito nu e vestindo jeans, as mãos descansando levemente nos meus ombros. O hematoma na bochecha dele havia desaparecido e só havia o pequeno traço de uma cicatriz em um ângulo de sua bochecha até o seu olho. Ele parecia cansado também. Toda a tensão da semana passada estava começando a se refletir. - Apenas faça logo - eu disse a ele. Ele enrolou meu cabelo, torcendo como uma corda, e em seguida, pressionou a tesoura e cortou. Mechas loiras caíram no chão, mas eu mantive meus olhos em Alex, completamente concentrado no que fazia. A única coisa que me mantinha sã, me impedindo de fugir direto de volta para a Califórnia para encontrar minha mãe e Jack, era ele. Oito dias andando em ziguezague ao longo do sul da fronteira, tentando despistar a Unidade, sempre na nossa cauda, tinha nos trazido até aqui, ao calor sufocante da Cidade do México, e a este minúsculo quarto de hotel. Depois que Alex terminou, ele colocou a tesoura para baixo e se inclinou para beijar meu pescoço nu. Eu respirei profundamente, os arrepios ondulando pela minha coluna, e agarrei com força a borda da pia. Alex olhou para cima, me chamou a atenção no espelho e me deu um de seus meio-sorrisos. - Você está linda - disse ele. Olhei para mim mesma no espelho. Minha cabeça se sentia mais leve, de repente. Meus olhos estavam maiores diante do formato oval do meu rosto pálido. Eu esperava ficar mais ainda com cara de criança, mas na verdade, eu fiquei parecendo mais adulta. Os ângulos do meu rosto estavam nítidos, meu pescoço mais longo. Era como se eu tivesse perdido os últimos vestígios da infância, juntamente com o meu cabelo. Alex abaixou a cabeça mais uma vez, traçando beijos lentamente até o meu pescoço em direção à minha mandíbula, os dedos correndo pelo meu cabelo curto. Ele me virou e, segurando o meu rosto, me beijou nos lábios. 3
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Apesar de tudo o que eu estava sentindo - uma sinistra mistura de um medo difícil de controlar e uma esperança desesperada - eu não poderia deixar de responder. Envolvi meus os braços em volta de seu pescoço e me puxei para perto dele. Desde a noite no Joshua Tree quando tínhamos enfrentado a Unidade e Jack tinha sido baleado, eu sentia como se tivesse perdido o equilíbrio – como se o mundo estivesse rolando debaixo dos meus pés. Alex era o muro, a âncora que estava me impedindo de ser tragada para longe. Assim como ele tinha sido quando minha mãe morreu. Mas ela não estava morta, eu relembrei a mim mesma. Ela estava viva. E Jack também estava. Eu tinha me convencido disso, não sei se apenas para evitar os sentimentos de perda e o esmagamento da culpa que ameaçava me afundar sempre que eu pensava no que tinha acontecido. Não, eu disse a mim mesma pela milionésima vez. Ambos estão vivos e vamos encontrar uma maneira de resgatá-los. Alex de repente se interrompeu de me beijar, os músculos em seus ombros e braços enrijeceram. Olhei para ele, confusa. Ele estava olhando na direção da porta do banheiro, como se tivesse ouvido alguma coisa. - Fique aqui - ele disse, passando por mim e segurando a maçaneta da porta. Então eu também ouvi a mesma coisa - um barulho de pneus freando, o bater das portas de um carro. Meu coração começou a bater forte, meu estômago apertou. Alex me deixou em pé ali e correu para o quarto, com a mão automaticamente agarrando a sua arma, que estava presa na traseira de sua calça jeans. Olhei em volta no banheiro - notando a falta de lugares para me esconder e a falta de coisas para jogar - e, em seguida, o segui. Alex estava de pé ao lado da janela aberta, vestindo uma camiseta enquanto examinava a rua abaixo. Ele se virou para olhar para mim por cima do ombro. - Eles nos encontraram - disse ele. O muro sacudiu dentro de mim. Pela expressão em seu rosto, era óbvio que eles tinham nos encontrado. - Vamos, vamos! - Alex agarrou a minha mão e puxou-me para a porta. As palavras ficaram entaladas na minha garganta e meus pés se recusavam a se mover. - Lila, vamos lá! - ele gritou - Não há tempo, vamos! A Unidade tinha nos encontrado. Como, pelo amor de Deus, eles nos encontraram? Deixei Alex me puxar pela porta do nosso quarto de hotel. Ele jogou a nossa mala sobre seu ombro e começamos a correr para baixo do corredor em direção à saída de emergência na extremidade. 4
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Pouco antes ele foi em direção à um armário de limpeza. Ele abriu, pegou nossa mala, jogou para cima da prateleira mais alta, e em seguida, fechou a porta atrás dele. A mala continha o nosso dinheiro, duas armas de fogo e as nossas roupas. Antes que eu pudesse perguntar o que ele estava fazendo, ele tinha tomado a minha mão mais uma vez e me conduzia para a saída de incêndio. Ele abriu a porta um centímetro. O eco de passos correndo pela escada de emergência nos atingiu. Os homens da Unidade estavam cerca de dois andares abaixo de nós, e se movimentavam rápido em direção à nós. Alex praguejou baixinho e virou-se para olhar para mim, franzindo a testa. Eu odiava aquela carranca. Então ele respirou fundo, empurrou a porta e me puxou atrás dele. Com nossas costas rente à parede, nós tentamos subir as escadas tão silenciosamente como podíamos. Os homens estavam cada vez mais próximos de nós; o ruído das suas botas de bico de aço ecoavam no concreto, zumbindo nos nossos ouvidos. Minha respiração estava irregular na minha garganta. Eu abracei a parede, já esperando que, nos próximos passos, a minha cabeça explodiria de dor e minhas pernas caíram debaixo de mim. Eles usariam aquilo logo. Eu sabia, tinha certeza. E eu sabia que quando usassem, eu cairia de joelhos. O aperto de Alex em mim ficou mais forte como se ele estivesse esperando por isso também e já estivesse se preparando para me pegar. Subimos até o sexto andar, ao mesmo tempo que os homens abaixo de nós invadiam o nosso quarto, se dispersando pela saída que tinham acabado de usar. A porta voou de volta contra a parede com um estrondo e Alex abriu a porta para o telhado, ao mesmo tempo, o ruído foi abafado pelos gritos e passos abaixo de nós. Eu dei um passo à frente dele no telhado plano do hotel. À distância, eu podia ver a cúpula da catedral, mas não havia nenhuma maneira de descermos dali em direção à rua abaixo de nós. Estávamos presos em um firmamento de concreto do tamanho de uma quadra de basquete. - E agora? - Perguntei. Alex correu para a borda do edifício, caiu de joelhos e examinou o beco abaixo. Ele abaixou-se imediatamente, inclinando-se para trás contra a parede fora da vista de quem ou o quê estava abaixo. O resto da Unidade provavelmente estava lá, cobrindo as saídas. Estávamos como peixes em um barril. Olhei para Alex e vi um pânico tão verdadeiro no seu rosto, que meu sangue se dissolveu.
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Dei a volta no lugar. Não havia nenhuma maneira de sair do telhado. Corri de volta para a porta. Os passos já estavam vindo em nossa direção. Vozes estavam chegando cada vez mais perto, gritando ordens. Eles sabiam que estávamos aqui. Droga. Caramba. Eu olhei para a porta, focando minha mente, e a fechei com um estrondo. Havia uma prancha de madeira jogada há mais ou menos vinte metros de distância. Eu a fiz flutuar todo o telhado e a prendi com minhas próprias mãos abaixo da maçaneta da porta, esperando que isso nos desse mais alguns segundos. - Lila! Alex estava no outro lado do telhado. Eu corri até ele e olhei por cima da borda. Havia uma grande caçamba de lixo vazia na lateral do prédio. Não aparentava que a Unidade estivesse vigiando aquele ponto, mas seria quase impossível chegar até aquela caçamba de onde estávamos. Nós estávamos no 6º andar. Olhei para Alex, imaginando o que ele estava pensando. Ele não estava olhando para baixo, no entanto. Ele estava olhando a frente, para o telhado oposto. - Temos que saltar - disse ele. - Você está brincando? Ele não estava brincando. O baque de algo pesado batendo contra a porta de metal nos fez olhar. A prancha de madeira que eu tinha colocado contra a porta estava rompendo. Havia um exército de homens do outro lado da saída de incêndio. Teríamos uns dez segundos para sair do telhado antes de ter que olhar para os torturadores da minha mãe na cara. Andei para trás alguns metros, e em seguida, saltei, pulando desde a pontinha da borda, senti meus pés pedalando no vazio, até que eu senti novamente o contato com o chão. Eu tropecei e rolei deitada de costas, o vento batia forte em mim. Olhei para cima e vi o topo da cabeça de Alex. Ele estava olhando para mim, incrédulo. Então, ele saltou. Foi um salto fácil para ele. Ele aterrissou do meu lado, agachado. Ele balançou a cabeça para mim, me puxando e corremos em direção à uma porta do outro lado, nos abaixando atrás dela, assim que ouvimos o som forte de metais. A Unidade tinha quebrado a porta da saída de incêndio. Podíamos ouvir os passos por os lados do telhado do outro prédio, em busca de nossa rota de fuga. - Por que eles não estão atirando? - Eu sussurrei. Eu não estava falando de tiros. Eu estava falando da arma que fazia a minha cabeça explodir como se um enxame de vespas estivesse preso dentro do meu crânio.
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- Eles só conseguem fazer um disparo - Alex sussurrou de volta - Eles vão querer guardar até que você esteja à vista. Um único disparo. Isso já era o suficiente para me lançar de joelhos de qualquer maneira. E então eu teria um minuto antes que pudessem disparar novamente. Não que eles precisassem. Eu ficaria me contorcendo no concreto em agonia após o primeiro. - Por aqui - disse Alex. Nós caminhamos pela borda, ainda bem fora de vista. O telhado do edifício conduzia direto para o próximo, com apenas uma borda baixa separando ambos. Nós atravessamos para o outro lado e contornamos uma pilha de lixo até que estávamos no telhado adjacente. Havia uma saída de incêndio, mas estava trancada por dentro. Alex bateu com o punho, maldizendo novamente. - Ali ! - uma voz de homem gritou atrás de nós. Olhei de volta. Quatro homens no telhado do primeiro prédio estavam tomando impulso para saltar a distância para o próximo telhado. - Lila, você pode abrir a porta? Oh Deus. Eu olhei para ele. Era uma porta de metal de saída de emergência pesada. Simples, sem maçaneta do lado de fora. Eu normalmente necessitava focar em algo, a fim de mover aquilo. Tentei visualizar a alça do outro lado. Não aconteceu nada. - Você pode se apressar? - Estou tentando - eu assobiei. - Tente melhor - disse Alex rangendo os dentes. Ele estava de costas para a parede plana, sua arma embalada em ambas as mãos. Eu apertei os meus olhos fechados e tentei visualizar a alça novamente. Imaginei como seria a sensação de empurrá-la para baixo. A porta abriu com um som estridente. Eu sorri para Alex. Ele sorriu de volta e então nos lançamos no escuro da escada úmida. Bati a porta atrás de nós. Nós chegamos ao piso térreo depois de uma corrida e fizemos uma pausa, ofegantes, antes de alcançar a porta final para a rua. Eu balancei a cabeça para Alex. Ele empurrou uma pequena brecha da porta com o pé e olhou para fora. - Ok, está livre. Eu vou primeiro. Mantenha-se contra a parede, vamos para a esquerda. Ande rápido. O beco aonde entramos parecia um caminho de ratos, com poucos metros de largura. Olhei para cima. Estávamos cobertos por uma sombra parcial. Uma saliência se projetava acima das nossas cabeças, dando-nos cerca de quinze centímetros de cobertura. Uma pedra ou algo pesado caiu do telhado, jogando um pouco de lixo no meu pé.
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- Cuidado! - Alex gritou, enquanto eu percebi que não era uma pedra, mas uma bala. A Unidade estava no telhado, atirando para baixo em nós. O braço de Alex estava me prendendo contra a parede, apenas pelo caso de eu tentar brincar com uma semi- automática. - Não são balas reais. Elas são balas de borracha - disse ele - Eles não querem nos matar. Eles querem nos levar vivos. Olhei para ele. Ele estava tentando fazer eu me sentir melhor? Só então ouvimos gritos vindos da esquina. Eles estavam se aproximando de nós por todas as direções. Olhei sobre o ombro de Alex e fixei o meu olhar na caçamba de lixo de metal no final do beco. Imaginei que estava empurrando por todo o terreno irregular, e de repente, senti o tremor de quando ela rolou lentamente pelo beco. Quando eu senti que ela encostou na parede oposta, eu empurrei com mais força, prensando entre os dois lados do beco, criando assim uma barreira de metal entre nós e a Unidade. Eu sorri largamente para Alex enquanto o baque surdo das balas começaram a ricochetear contra o metal. - Corra! - Eu gritei, agarrando Alex pela mão. E nós tentamos ficar o mais próximo possível da parede, as balas dançando em torno de nossos calcanhares, cuspindo terra e cascalho. Viramos uma esquina, esta um pouco mais larga que a anterior. Após 30 metros Alex gritou para eu parar, e jogou seu peso contra uma porta de madeira que havia ali. A porta se abriu com um estrondo. Eu tropecei pela porta, e a minha boca caiu em queda livre. Dois homens semi-nus, com toalhas penduradas em volta de suas cinturas, estavam em frente de uma fileira de armários de metal. Havia um banco de madeira no centro do que era, obviamente, uma espécie de vestiário. Nuvens de vapor subiam para cima, mas eu mal notei. Alex tinha parado no meio da sala, olhando para mim e agora estava gritando comigo para me mover. Desviei, passando pelos dois homens, murmurando um pedido de desculpas enquanto passei, pulei em torno de uma pilha de toalhas sujas e agarrei a mão de Alex. Passamos por uma porta que dava para um largo corredor, passamos por várias pessoas usando o que parecia ser uniformes de empregadas domésticas, e, finalmente, atravessamos uma outra porta, adentrando no luxuoso e silencioso lobby de um hotel. Vários hóspedes que estavam sentados no bar ao lado olharam para nós, e o concierge gritou um aviso para pararmos. Do nada apareceu um homem da segurança, bloqueando nosso caminho. Olhei por cima do ombro, à beira das lágrimas, o pânico se enraizando dentro de mim, Alex agarrou minha mão com mais força, apontou a arma que ele estava segurando, e o homem da segurança saltou para o lado. 8
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Nós fizemos nosso caminho atravessando a porta giratória, saindo para uma rua que estava inundada de turistas, a maioria caminhando em direção ao Zócalo: uma praça gigante em frente à catedral. - Anda na minha frente - Alex murmurou, diminuindo o ritmo instantaneamente como se estivesse em um passeio e abaixando cabeça. - Mantenha-se próxima dessas pessoas. Ele apontou para um grupo de turistas logo à frente de nós que estavam seguindo um guia com um guarda chuva amarelo. Eu entrei no meio, mantendo minha cabeça abaixada e meus ouvidos atentos à qualquer grito ou tiros. Uma vez que chegamos à grande praça da catedral, Alex me segurou. Senti ele logo atrás de mim, sua respiração ardente na parte de trás do meu pescoço. - Continue caminhando, mantenha o ritmo - disse ele em voz baixa Siga o grupo dentro da catedral. Juntei toda a minha força de vontade para não correr. A praça era muito aberta, estávamos muito expostos no meio desses turistas distraídos com suas câmeras penduradas nos ombros, com seus guias turísticos em mãos. Eu queria ir em direção à uma das ruas escuras e desaparecer no caos da cidade, mas eu obedeci Alex, mantendo meu ritmo constante enquanto seguíamos em direção à catedral. A luz era pouca lá dentro, e fazia frio o suficiente para me fazer tremer. Parecia que eu estava presa em uma caverna subaquática. Meus olhos ainda estavam se ajustando à escuridão quando Alex enfiou a mão debaixo do meu cotovelo e começou a me guiar para um corredor lateral na extremidade da capela. Sem dizer uma palavra, ele me conduziu para o confessionário. Ficamos frente a frente na penumbra. Eu me pressionei contra seu peito e senti o braço dele em volta das minhas costas, suas mãos contra minha espinha. - Você está bem? - ele sussurrou. - Sim - eu assenti. - Eu não posso acreditar que você deu aquele salto. - Eu não posso acreditar que eles nos encontraram. O que nós vamos fazer? Ele não respondeu, ele apenas me segurou mais apertado. Ficamos ali por alguns segundos em silêncio. Meu coração estava batendo tão alto que quase não o ouvi falar novamente. - Deve ser um de nós - ele murmurou. - O quê? - Eu olhei para ele, sem entender. - Alguém nos acompanhou até aqui. Eles sabiam exatamente onde estávamos. Exatamente. Sabiam até qual era o quarto em que estávamos. Eles pararam no quarto andar.
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Eu balancei minha cabeça, saindo para fora de seus braços. Eu não entendia o que ele queria dizer. - Tem que ser um de nós. Ele estava pensando, seus olhos me encarando da cabeça aos pés. - Não pode ser você. Eles não tiveram a oportunidade de plantar qualquer coisa em você. Ele parou de falar, e em seguida, nós olhamos um para o outro. Eu entendi exatamente seu pensamento. Ele estava falando sobre ter um dispositivo de rastreamento. - Nas minhas roupas não poderia estar. Suas roupas e seu relógio eram novos, comprados há dois dias em uma cidade fronteiriça. - Não é a mala também. A mala estava no carro de Jack. Não pertencia à outra pessoa ou à Unidade. Era uma mala usada só para emergências. Eu conferi tudo. Alex parou por um segundo, pensando, e então ele me entregou a arma e, rapidamente tirou a camiseta pela cabeça. Nós dois inclinamos a cabeça para olhar para o seu braço. Na escuridão que estávamos podíamos apenas ver a tatuagem de espadas cruzadas, com as palavras Semper Fi com tinta indelével acima. Ele passou os dedos sobre a tatuagem. Eu fiz o mesmo. - Você está falando sério? Você acha que eles plantaram um dispositivo de rastreamento em você? Quero dizer, em você? - Aqui, aqui, sinta isso. Ele agarrou meus dedos e pressionou para dentro do músculo. Havia uma pequena saliência sob a pele, quase imperceptível, como uma cicatriz levantada. Arregalei os olhos. - Eu já vi isso ser feito - Alex sussurrou, pressionando novamente a erupção em sua pele com as pontas dos dedos - Não em nós, mas quando alguém vai como espião. Eles inserem um dispositivo dentro da pele para que eles possam encontrá-lo depois. É quase indetectável. Eu só não achava que... eu nunca pensei que... Ele abanou a cabeça, puxando a camiseta de volta. - Mas se eles foram capazes de rastrear você este tempo todo, por que eles não vieram atrás de nós desde o início? – Perguntei - Quando eles pensaram que Demos tinha nos feito reféns, quando nós dois desaparecemos, por que eles não seguiram os dados revelados pelo chip localizador? Por que esperar até chegássemos à outro país? Não fazia sentido. - Eu não sei. Alex balançou a cabeça, franzindo a testa.
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- O que você vai fazer? - Eu perguntei, passando a minha mão novamente por baixo da manga da sua camisa e sentindo a pequena erupção. Ele não respondeu. Em vez disso, ele puxou um canivete do bolso de trás. Dei um passo para trás. Alex rolou a manga de sua camiseta e levantou a lâmina para o braço. E, em seguida, a porta se abriu. Um sacerdote em vestes negras estava ali, sua boca parou aberta quando ele viu a cena diante dele - Alex segurando uma faca e eu segurando uma arma. Ele pegou o rosário pendurado em seu pescoço e começou a gritar em voz alta, em espanhol, com os olhos esbugalhados. Olhei para a capela atrás dele. Várias pessoas se viraram para olhar. - Desculpe - eu murmurei para o sacerdote enquanto nós passamos por ele correndo para fora da cabine. O sacerdote gritou alguma coisa pelas nossas costas enquanto nós saíamos da capela e fazíamos nosso caminho para o corredor central da catedral, que agora estava lotado de pessoas. Eu segurei a arma contra a minha coxa e tentei ser discreta, mas eu podia sentir a ondulação de olhos e os giros das cabeças, enquanto nós passávamos. Alex parou subitamente na minha frente, quase arrancando meu braço fora. Ele nos girou cento e oitenta graus e começou a ir para trás, para a mesma direção de onde havíamos fugido, em direção ao sacerdote furioso. Olhei sobre meu ombro para trás. Seis homens em roupas de combate pretas tinham aparecido no meio da multidão ali reunida. Eles pararam para permitir que seus olhos se ajustassem à escuridão e nós aproveitamos essa oportunidade para apressar nosso caminho e desaparecer no meio de um grupo de turistas que admirava o altar. Arrisquei um outro olhar para trás por cima do meu ombro. Dois dos homens da Unidade tinham se dirigido para as entradas laterais da capela, mais dois estavam indo para o outro lado da igreja, para longe de nós, e os dois últimos moviam-se pelo corredor central, em linha reta para nós. Um deles estava segurando um pequeno dispositivo na palma da mão o qual ele conferia a cada minuto. Em um último esforço, abrimos caminho no meio da multidão aos empurrões, em direção a uma porta lateral pequena atrás do altar. Alex pegou a maçaneta e eu dei um último olhar em volta da catedral. Avistei o que eu estava procurando do outro lado da capela, longe de onde as multidões estavam reunidas. A estátua de um santo estava em um ponto acima da entrada. Não havia ninguém abaixo dela, então eu fiz uma pequena oração e, em seguida, derrubei a estátua fora de seu pedestal. Aquilo causou um estrondo forte, que abalou o silêncio da capela como se uma onda gigante os houvesse atingido. Imediatamente as pessoas começaram a gritar e a correr para as saídas e, no meio do 11
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barulho e do caos, Alex e eu nos adentramos na porta pequena. O quarto onde entramos era uma espécie de quarto de vestir. Um crucifixo gigante ficava pendurado em uma parede e muitas vestes estavam penduradas em ganchos nas duas outras paredes. Várias velas foram acesas diante do crucifixo. - Eu vou acabar indo para o inferno - eu disse, olhando ao redor. - Bem, eu vou com você - respondeu Alex. Ele puxou a manga de sua camiseta uma vez mais e eu assisti com horror ele passar a lâmina rapidamente através de uma chama de vela antes pressionar a ponta da mesma na pele de seu braço. - Oh Deus. Encostei-me a porta, me sentindo de repente tonta, mas incapaz de tirar os olhos da faca. O sangue começou a escorrer pelo braço de Alex. Ele fez uma careta, e eu peguei um lenço longo que estava pendurado em um gancho atrás de mim e entreguei a ele. Alex levantou a faca para eu olhar. Em sua ponta sangrenta havia uma pequena bola de metal. - Isso é...? - Perguntei. - Sim - ele disse, soltando a faca e deixando a bola cair para aos seus pés. Ele esmagou com os pés antes de pegar o pano das minhas mãos e envolver em volta do seu braço, amarrando com um nó. - Bem, agora vamos - disse ele, assim que terminou. Corremos de novo, através de portas, embaixo dos arcos e passando por salas vazias, até que chegamos a uma pesada porta de madeira que dava para o lado da catedral. O sol estava começando a se pôr e as sombras se alongavam, enchendo a praça com sombras e formas do escuro. Ficamos juntos ali, nas sombras, esperando. Alex se apertou contra mim, me pressionando contra a parede. Depois de um minuto ele mudou de posição. - Eles estão vindo - disse ele sussurrando. Olhei para fora, de debaixo do seu braço, e pude ver quando os homens da Unidade saíram correndo para fora da catedral, como aranhas saem de um ninho. Eles rodearam a praça, procurando por nós, espalhando pânico nas pessoas em seus caminhos. O que segurava o dispositivo preto na mão agora estava franzindo a testa e balançando a cabeça. Vimos quando eles se dirigiram até uma van preta que havia estacionado logo acima no lado mais distante da rua, e subiram para dentro. Depois de mais um minuto, deram partida e desapareceram o meio do intenso fluxo de tráfego. - Para onde vamos agora? - Perguntei para Alex, percebendo imediatamente o quanto ele precisava descansar. 12
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- Vamos voltar para o hotel. Precisamos da mochila. Todo o nosso dinheiro está nela. Tecnicamente não era realmente o nosso dinheiro. Era o dinheiro que tínhamos conseguido com a venda do carro de Jack ainda na Califórnia. Mas era tudo o que tínhamos e íamos precisar de cada centavo para tentar fugir para algum outro lugar onde a Unidade não poderia encontrar-nos. - Você tem certeza que é uma boa idéia voltar para o hotel? Eles não vão vigiar o lugar por causa de nós? Ele balançou a cabeça. - Eles pensam que nós não somos tão estúpidos. O hotel é, provavelmente, o lugar mais seguro para ir agora. Eu suspirei. - Está bem. Então vamos voltar, pegar a mala e depois? Encontrar outro lugar para dormir? - Não. Sem dormir. Temos mais uma coisa para fazer esta noite. Estudei seu rosto. Ele parecia sombrio. Eu estava adivinhando que mais uma coisa provavelmente não era um jantar à luz de velas e um filme.
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Pegamos a mochila de volta de dentro do armário e reservamos um quarto vazio no último andar do hotel, com vista para a rua abaixo. Alex estava agora ocupado conferindo todas as coisas da mochila, colocando tudo para fora na cama ao meu lado. Eu estava olhando para ele. Haviam cerca de cinquenta mil dólares, mais ou menos; três armas; vários cartuchos de balas; nossos passaportes; e algumas mudas de roupas para nós dois. Alex guardou tudo, guardando uma pilha de dólares em sua carteira. Nós tínhamos feito um curativo em seu braço com uma fita cirúrgica e uma bandagem. Estendi a mão e acariciei o seu braço. Ele parou o que estava fazendo e olhou para mim. Em seguida, ele empurrou a mochila de lado e deitou-se na cama, colocando o braço ileso em volta de mim. Eu me enrolei nele. - Como vai você? Eu não respondi. Como eu estava? Eu não tinha certeza. Tentei buscar em meu cérebro alguma coisa, mas tudo oque eu podia sentir era cansaço. Eu estava tentando não pensar em outra coisa que não fosse Alex aqui, ao meu lado, me segurando. - Ele vai ficar bem, Lila. Jack. Ele estava falando de Jack. - Ei, não chore. Eu não tinha percebido que estava chorando, mas haviam lágrimas escorrendo pelo meu rosto e no peito. Eu tentei impedi-las, mas elas continuavam chegando. - Nós o deixamos. Nós o abandonamos, Alex. O aperto de Alex se fez mais forte. Seus dedos levantaram meu queixo e ele me forçou a olhar dentro de seus olhos. - Nós tivemos que fazer aquilo, Lila. Olhei para ele. Será que nós tivemos mesmo? - Era a única coisa que se podia fazer - disse ele - Se qualquer um de nós tivesse corrido para ajudá-lo, teríamos sido baleados também. Nós já conversamos sobre isso. Jack teria feito a mesma coisa. Ele gostaria que você estivesse segura.
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Uma parte de mim sabia que o que Alex estava dizendo era verdade, mas não era o suficiente para fazer parar a culpa que se retorcia dentro de mim. - Mas Alex, e se ele estiver... Pensei em Ryder morto no meio da sujeira e em Jack ao seu lado com uma ferida de bala no peito e com os olhos fechados. Ele não estava nada bem. Isso é o que Key também havia dito. Ele estava em coma. Ele poderia ficar paralitico. Ele podia estar morto. E eu não sabia porque eu ainda estava aqui. E Jack estava lá. E também a minha mãe. E ainda não havia nenhuma maneira de chegar a qualquer um deles, porque entre nós e eles havia a Unidade. Alex colocou as mãos em cada lado do meu rosto. Abri os olhos. Ele estava olhando diretamente para mim. - Jack está bem - ele disse - Eu sei disso. Ele é forte demais para não estar bem. E de qualquer maneira, Jack tem uma razão muito boa para permanecer vivo. - Minha mãe? Era um bom motivo. Pensamos o tempo todo que ela estava morta, mas ela não estava. - Isso também - disse Alex, com um sorriso no canto da boca - mas eu estava pensando mais que ele vai querer a oportunidade de chutar minha bunda. Eu ri em meio das minhas lágrimas. - Sim, ele não estava muito feliz, não é? - Não mais do que eu mereço. - Não, não diga isso- Me sentei - Você não pode fazer isso comigo de novo. Você não pode me deixar novamente por causa de Jack. Porque você está com medo do que ele pensa. Eu não posso... eu não vou passar por isso de novo Eu relembrei os dias que antecederam à tudo isso. A promessa de Alex de nunca me machucar, a maneira com que ele me deixou tão facilmente, pensando que estava fazendo a coisa certa. Quando eu relembrava destas coisas sentia uma dor tão forte, como se a Unidade estivesse usando suas próprias armas em meu coração. Alex sentou-se também e segurou minhas mãos nas dele. - Lila, eu prometo que eu nunca mais vou deixar você de novo, nunca. Eu prometo a você que eu vou mantê-la segura e que nós vamos encontrar Jack e a sua mãe, e eu prometo que, mesmo que Jack venha chutar a minha bunda, o que eu acho que ele vai fazer sim, mesmo assim, eu ainda nunca vou te deixar. Eu pesava suas palavras, tentando decifrar por dentro. Alex tinha me enganado uma vez, distorcendo o significado das coisas. Ele tinha me enganado desse jeito antes. Eu o analisei: o azul profundo de seus olhos, 15
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as sombras escuras abaixo deles, o cabelo loiro escuro crescendo, a suave curva de seus lábios, a linha familiar entre os olhos que sempre me fazia querer tocá-lo e acariciá-lo. - Eu prometo, Lila - disse ele – Sem nenhuma mensagem oculta. Eu não vou te deixar. Ele se inclinou e me beijou, ainda sorrindo. Todo o meu corpo derreteu, meus músculos relaxaram e ficaram moles como esponjas mergulhadas em água quente, toda a culpa e preocupação desapareceram em algum canto da minha consciência, onde eu preferia que elas ficassem. Depois de alguns minutos, Alex se afastou. Sentei-me a contragosto enquanto ele levantou da cama e fiquei olhando quando ele se abaixou para ligar a luz de volta do abajur. Tínhamos combinado de desligar equipamentos elétricos como uma precaução cada vez que nos hospedávamos em um novo quarto de hotel. Quando eu ficava muito perto de Alex, eu não conseguia controlar a minha habilidade e nós não precisávamos denunciar a nossa presença para a Unidade com uma apresentação estilo Las Vegas com shows de som e luz. - Falando sério, temos de nos concentrar - disse ele, arrumando sua camiseta e passando a mão em seu cabelo. - Em que nós temos que focar? Eu pensei que a cama era uma coisa muito boa para se concentrar naquele momento. - Levante-se - disse Alex. Apertei os olhos com desconfiança, mas lentamente me levantei da cama e fiquei na frente dele. - OK, precisamos praticar. Eu gemi. - Eu estou tão cansada. - Eu sei - ele disse - mas você realmente precisa ser capaz de defender a si mesma se você estiver em perigo. Então, não discuta, OK? Nós só temos mais uma coisa a fazer, então vamos sair da cidade e encontrar um lugar seguro para esperar Demos e os outros. Eu congelei, olhando para ele. - Temos que esperar aqui. Eles estão vindo para cá. Eu não conseguia esconder a nota de pânico na minha voz. Alex balançou a cabeça para mim. - Nós não podemos ficar na Cidade do México. A Unidade estará procurando por nós aqui - Ele suavizou sua voz - Não se preocupe, Nate e Key vão conseguir nos encontrar onde quer que estejamos . Eu esperava que ele estivesse certo. Eu esperava que eles não tivessem sido pegos. Quando nos separamos deles na Califórnia, eles estavam tentando chegar ao norte, para tentar atrair a atenção da Unidade para longe de nós. Um esforço completamente inútil já que 16
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através do microchip em Alex, a Unidade esteve nos rastreando o tempo todo. E haviam se passado já 8 dias desde que tivemos nosso último contato com Demos. Quando eu sugeri que deveríamos ter trocado números de telefone com eles, Alex tinha rolado os olhos e me deu uma rudimentar introdução de táticas de evasão-e-fuga, as quais incluíam se abster de qualquer aparelho tecnológico facilmente rastreável como o telefone. Faltou ele dizer também que deveria arrancar o próprio braço. Certamente eu ainda aparentava preocupação pois Alex pegou a minha mão. - Eles vão nos encontrar - repetiu ele – Eles já nos encontraram antes, não é? Ele me puxou. - Agora vamos praticar. Como eu poderia resistir a um cara como esse? Qualquer coisa que ele quisesse, eu certamente faria. Ele virou-se num piscar de olhos e pegou a arma do travesseiro. Seu dedo estava no gatilho, mas logo eu já tinha arremessado para fora de seu controle e de volta sobre o travesseiro. - Ótimo - disse ele, voltando para pegá-la – Mas você precisa ser mais rápida. Mais rápida, hein? Girei a arma fora de seu alcance, jogando-a no pé da cama. Ele olhou para mim com um sorriso irônico e eu sorri de volta. - Rápida o suficiente? Ele considerou por um longo momento e eu senti meu pulso começa a acelerar. Por fim, ele voltou e ficou logo atrás de mim. Eu fiquei onde eu estava, sentindo sua respiração fazer cócegas no meu pescoço e eu lutei para não me distrair. - Então, se alguém vem atrás de você, o que você faz? - Alex perguntou, dando um passo ainda mais perto, seus lábios roçando na beira da minha orelha. - Bato na cabeça dele com alguma coisa? Eu sugeri, tentando me concentrar na pergunta e não na sensação de seus lábios. - Não - disse ele - Você não pode deixar as pessoas saberem sobre a sua capacidade. Tente fazer isso. Ele pôs a mão no meu ombro e, em seguida, com a outra mão pegou a minha mão esquerda e colocou em cima da sua. - Agora faça assim. Ele me mostrou e eu pratiquei até ser capaz de me soltar sozinha de alguém me segurando. E então continuei praticando, simplesmente porque eu gostava da sensação de seus braços em volta de mim, embora
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eu disse à Alex que era porque eu estava tentando decorar firmemente o movimento. Alex finalmente quis finalizar a lição e veio para ficar na minha frente. - Você quer tentar me mover? - perguntou ele. Revirei os olhos. - Você sabe que eu não posso. Nós já tentamos. - Você pode. Eu sei que você pode fazer isso. Olha o que que você fez hoje, com a caçamba de lixo. Você só precisa tentar. Suspirei para ele. - Eu não sou Demos, Alex. Eu não posso travar as pessoas no meio caminho com apenas um olhar. - Talvez não, mas eu vi você mover objetos, grandes objetos. Ele estava falando dos Humvees – que são grandes carros, parecidos à tanques, que a Unidade usava. Eu não tinha certeza de como eu tinha feito isso, exceto que eu não tinha nenhuma opção quando vi aqueles monstros diante de nós. - Você pode mover um homem - disse ele - Você só precisa praticar. Ele estendeu o braço na minha frente. Olhei para ele. Mas tudo que eu vi foi o seu braço – bronzeado e suavemente musculoso - e tudo que eu conseguia pensar era no que eu sentia quando aquele braço me agarrava no meio da noite. Alex limpou a garganta. - É muito perturbador - eu disse, me encolhendo cheia de rubor - É o seu braço. Eu não consigo me concentrar. Ele tentou não sorrir. - OK, tente isso. Ele estava atrás de mim e colocou o braço em volta do meu pescoço como em um estrangulamento. - Ainda é o seu braço. Ele apertou um pouco, até que ficou bastante desconfortável. Concentrei-me em tentar quebrar o seu agarre. Não aconteceu nada. - Imagine que eu sou Rachel - Alex sussurrou no meu ouvido. Quase arranquei o braço dele fora do corpo apenas com o pensamento. Ele cambaleou para trás longe de mim. Olhei para ele. - Deus, me desculpe, você está bem? Droga, eu não queria... você apenas ... você realmente não deveria mais mencionar o nome dela. . . Alex estava massageando seu ombro, seus olhos arregalados em surpresa ou, eventualmente, em choque. Depois seu rosto se abriu em um sorriso largo. - Mais uma vez - disse ele, envolvendo os dois braços ao redor da minha cintura.
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Fechei os olhos e imaginei a Rachel, toda bonita, zombando de mim e o sorriso em seu rosto quando ela me disse que minha mãe ainda estava viva. Demorou alguns segundos, mas o aperto de Alex se soltou tão facilmente como se eu estivesse descascando uma banana. Abri os olhos e me virei. Alex estava me avaliando agora com algo parecido a admiração. Pelo menos eu esperava que fosse admiração. Ele deu um passo em minha direção com os braços esticados. Rachel . Eu soquei o braço com minha mente e ele sacudiu para trás. Isso foi divertido. Agora que eu consegui de verdade, ficou fácil. E Rachel acabou sendo a chave. Eu não tinha certeza por que eu ainda fiquei surpresa, ou por que eu não tinha tentando pensar assim mais cedo. Toda vez que eu ficava com raiva ou de alguma maneira emocional, eu perdia o controle da minha habilidade, por isso fazia sentido que Rachel fosse meu gatilho. Alex estava mantendo distância agora e seu sorriso se desvaneceu. Ele parecia quase demasiado nervoso para fazer outro movimento em direção a mim. E lá estava - era uma leve careta de irritação que eu peguei em seus olhos? Ela desapareceu tão rápido quanto havia aparecido e ele me deu um breve sorriso. Me perguntei, de repente, se eu poderia obrigá-lo à vir em minha direção. Colocar seus braços em volta de mim? Tirar a camisa? Deitar na cama de novo? Me beijar? Eu não conseguia tirar o sorriso que tomava conta do meu rosto. Um mundo inteiro de oportunidades de repente abriu-se, e nele haviam muito menos roupas entre Alex e eu. Não, Lila - eu disse a mim mesma - Maldade, pura maldade Lila. Controle-se. - Você não precisa me obrigar a fazer isso - Alex disse suavemente, movendo-se em minha direção e parando à apenas alguns centímetros de mim. A atração era muito grande. Inclinei-me para ele, correndo as minhas mãos para cima dos cumes de seu estômago e por seu peito até passar atrás de seu pescoço. - Meu Deus, você pode ler a minha mente – Eu murmurei. - Não. Eu apenas te conheço muito bem - ele sorriu e me beijou no ouvido, e em seguida no meu pescoço, e eu senti o tremor no meu corpo enquanto a minha pulsação acelerou. Eu empurrei minha testa contra seu ombro e respirei profundamente. Com toda essa confusão, com este pesadelo acontecendo ao redor de nós, pelo menos eu tinha isso.
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O taxista perguntou se tínhamos certeza. - Si - Alex respondeu. Eu só consegui entender um pouco da conversa, o meu espanhol não estava dos melhores. Eu apenas conseguia pedir um burrito e um quarto duplo no hotel e isso era tudo. - Por que ele continua perguntando se você tem certeza? - Eu sussurrei para Alex. - Porque os turistas não costumam pedir para vir para esta parte da cidade. - Eu não quero pensar por que - murmurei para mim mesma, olhando para fora da janela. Haviam um monte de luzes vermelhas e becos escuros. Eram quase duas horas da manhã e as ruas estavam estranhamente desertas. Até mesmo os moradores pareciam evitar sair depois de escurecer. Virei-me para encarar Alex do outro lado do banco de trás. - Então, lembre-me mais uma vez o que estamos fazendo aqui? - Nós dois precisamos de novos passaportes. E nós precisamos rápido. Nós não podemos usar os nossos velhos passaportes para atravessar de volta para os Estados Unidos. A Unidade certamente já conseguiu um mandando de prisão contra nós a essa hora. - E passaportes ilegais não são algo que eles vendem no supermercado. Eu entendi, mas por que estamos aqui ? Eu não estava vendo um sinal piscando indicando uma loja de passaporte. - Pedi ao motorista para nos levar para a pior parte da cidade. - OK - eu disse como se tivesse entendido. Alex virou-se para o motorista e falou com ele em espanhol fluente e eu olhei para ele com surpresa, me perguntando que outras habilidades ocultas ele tinha que eu não sabia. - Aquí? - o motorista disse, gesticulando na área em torno de nós como se fosse uma zona de peste. Eu estava do lado do motorista. Isso realmente não parecia um lugar seguro para se sair para um passeio, mesmo com Alex e sua arma. 20
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Eles falaram por mais alguns minutos quando então, o motorista, balançando a cabeça, pegou o dinheiro que Alex estava segurando para ele e desligou o motor. Estávamos parados no acostamento de uma via estreita, estacionados entre dois outros carros. Cerca de cinquenta metros abaixo da estrada havia um prédio com janelas com grades. Uma escura luz avermelhada estava escapando pelas frestas. Sentamos no escuro por mais dez minutos até que eu notei que Alex estava observando um homem meio escondido nas sombras. Ele estava encostado em uma porta, e de vez em quando um carro parava e o homem se inclinava para baixo para falar com o motorista. Uma troca acontecia e em seguida o carro ia embora. - Eu pensei que nós iriamos comprar passaportes, não drogas - eu sussurrei para Alex. - Siga o bandidinho de rua, que ele vai te levar ao revendedor local, o que te leva ao chefe. - Que tipo de chefe? Para quem trabalham? - A Máfia - Alex disse, sem tirar os olhos do homem nas sombras Na América Central há vários cartéis. Eles controlam tudo - as drogas, lavagem de dinheiro, armas e... passaportes. Eu olhei para ele, com os olhos arregalados, processando apenas a palavra máfia. Ele não se parecia com alguém que estava brincando. Eu balancei a cabeça lentamente. - Então, nós caminhamos até o bom homem na esquina - Eu disse, convencemos ele em espanhol à nos levar ao seu chefe da máfia, e quando chegarmos, pediremos educadamente que ele nos dê novos passaportes. Bom plano. - Obrigado - Alex disse, ignorando meu sarcasmo. - Ok - eu disse, respirando fundo – vamos ficar aqui a noite toda, ou vamos nos apresentar ao nosso colega traficante? Colocamos as mãos na maçaneta, mas, em seguida, Alex virou-se de repente de volta para mim, colocando a mão na minha coxa. OK, poderíamos ficar aqui a noite toda. Eu afundei de volta para o meu lugar. - Lila - Alex começou, depois parou. - O quê? Ele balançou a cabeça e tirou a mão. - Nada. Eu ia dizer fique perto de mim, mas eu não acho que eu preciso dizer-lhe como cuidar de si mesma. O mesmo olhar de irritação que eu tinha visto mais cedo brilhou em seus olhos, fazendo com que o azul de seus olhos momentaneamente escurecesse. Eu tive um instinto sobre o que estava causando isso. Me inclinei, colocando minha mão sobre a dele. - Eu ainda preciso de você, Alex – eu sussurrei.
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Ele me deu um sorriso em troca, mas isso não alcançou seus olhos, e então ele virou-se e abriu a porta. Sentei-me ali por alguns segundos antes de segui-lo. O táxi saiu em disparada com um cantar de pneus queimando assim que eu fechei a porta. Olhei para a rua escura e me preparei, seguindo Alex em direção ao homem parado na esquina. Ele nos viu chegando, e seus olhos dispararam para cima e para baixo da rua como se ele estivesse esperando a polícia saltar a qualquer momento de trás de algum carro estacionado. Paramos em frente a ele. Ele sorriu um tipo de sorriso nervoso, revelando um buraco negro, onde os dentes da frente deveriam estar. Seus pés estavam balançando nervosos. Eu o encarei de cima e para baixo em busca de qualquer sinal de uma arma ou de uma faca, percebendo que nas últimos vezes, a atitude de verificar se alguém que vejo pela primeira vez por acaso está portando uma arma tornou-se hábito corriqueiro. Eu vi um volume familiar sob sua camisa e sua perna direita da calça estava enrugada como se ele tivesse algo preso no tornozelo. Eu decidi que reagiria com a arma em sua cintura, se eu precisasse. Alex e o homem tiveram uma breve conversa. O homem parecia estar jogando bola. Ele se manteve balançando a cabeça o tempo todo. Vi Alex dando ao homem um bom número de dólares. O homem olhou para ele e então, finalmente, encolheu os ombros, murmurando algo sob sua respiração e começou a andar pela rua. Nós o seguimos. - O que ele disse? - Eu sussurrei para Alex. - Ele disse: "É o seu funeral ", mas ele nos levará até o seu chefe. - Genial - eu disse. - Eu não deveria ter trazido você – Alex murmurou, franzindo a testa enquanto olhava por cima do ombro. - Você não tinha escolha, Alex - eu lembrei ele, cutucando-o com o cotovelo - Você prometeu que não vai mais me deixar, lembra-se? Ele colocou o braço em volta de mim, em resposta, puxando-me apertado contra o seu lado, mas eu podia ver a forma como sua mandíbula estava apertada. Fomos até um beco e paramos em frente à uma pesada porta blindada. O traficante bateu com força três vezes. Um ferro deslizou do outro lado e, em seguida, a porta abriu uma parte. Vozes saíram de dentro - o traficante estava conversando com alguém atrás da porta. Quem quer que fosse não parecia muito feliz. Agarrei Alex com mais força e orei para que ele soubesse o suficiente em Espanhol para nos tirar disso. E que, se ele não soubesse, que ele pelo menos tivesse bastante balas em sua arma. A porta finalmente se abriu mais alguns centímetros e o traficante saiu do caminho, deixando a luz de dentro alcançar Alex e eu. Eu levantei meus ombros e tentei parecer tão relaxada quanto Alex estava. Ele estava 22
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parecendo indiferente, agindo como se estar diante de traficantes de drogas fosse algo que ele fazia todos os dias da sua vida. Houve um momento de silêncio e, em seguida, a porta se abriu completamente. Entramos para dentro e a porta se fechou atrás de nós com um sólido bumbumbum . Antes que eu pudesse olhar para o quarto onde estava, uma mão me empurrou grosseiramente contra a parede. Outras mãos começaram a dar tapinhas nas minhas pernas, trabalhando o seu caminho até meus quadris e minha cintura - onde os tapinhas tornaram-se mais como tateando. Deixei escapar um grito quando uma mão apertou minha bunda, então soltei uma profunda respiração, tentando lembrar o que Alex tinha dito sobre não revelar a minha capacidade a menos que fosse absolutamente necessário. A mão deslizou em volta das minhas costelas e eu cerrei os dentes, perguntando-me em que ponto chegamos. - La chica no tiene armas! - Alex gritou - Ela está desarmada! Nós dois estamos desarmados. Alex estava desarmado? Eu torci a cabeça para olhar para ele, esquecendo tudo sobre as mãos me apalpando. Alex estava encostado de costas contra a parede ao meu lado, enquanto o maior homem que eu já vi apontava uma arma suas costas e o revistava em busca de uma arma. Eu fiquei boquiaberta com Alex. Por uma semana inteira, ele tinha ficado praticamente grudado em sua arma e então, no momento em que vamos fazer uma visita a um chefe da máfia, ele decide que é hora de separar-se do armamento? Ele balançou a cabeça para mim levemente, com um olhar de advertência em seus olhos. O homem me segurando contra a parede finalmente me soltou. Eu estava pronta para atacar, podia sentir a raiva enrolando dentro de mim, enquanto eu tentava me livrar da persistente sensação de seus dedos gordos pressionando as minhas coxas, mas a raiva foi drenada imediatamente, substituída por um medo gelado que inundou o meu corpo assim que notei os quatro homens à nossa frente. Aquele que tinha me apalpado tinha uma cicatriz que ia por todo o comprimento de seu rosto. Era enrugada como um lenço de seda que havia se enroscado em um espinho. Ele estava olhando para mim, com olhos vidrados, a língua dele cutucando para fora, entre seus dentes. O outro homem que estava ao lado dele tinha uma tatuagem em seu peito que seguia até o seu pescoço, era a tatuagem de uma cobra enroscada em volta de uma mulher nua com um grande busto. O terceiro homem aquele que tinha revistado Alex - era uma montanha sólida de músculos. Eu me aproximei instintivamente de Alex enquanto os meus olhos finalmente enxergaram o quarto homem. Ele estava sentado atrás de uma mesa na parte de trás do lugar. Ele era mais velho do que os outros, a sua cabeça raspada, e ele tinha as 23
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maçãs do rosto acentuadas abaixo de olhos fundos e escuros. Sua camisa estava aberta até o umbigo e um grande crucifixo pendurado estava tatuado em seu peito. Ele não se parecia exatamente com Tony Soprano, mas ele era, sem dúvida, o que o meu pai teria chamado de criminoso persuasivo . Ele definitivamente tinha jeito de chefe da máfia. Ou de um assassino psicopata. Qualquer um dos dois. Alex deu um pequeno passo para a frente, como se pudesse de alguma forma me bloquear do homem-cobra com o olhar, sem piscar. - Americano? - o homem perguntou, olhando diretamente para mim. - Sim - respondeu Alex. - Você está procurando algo que eu tenho? – Seus olhos lentamente correram para Alex, se estreitando em pontinhos. - Sim - Alex disse novamente, mantendo a voz nivelada - Me disseram que você pode ser o homem à quem eu deveria procurar. - Eu poderia ser - disse o homem, esfregando uma mão pelo queixo barbado - Depende de quem está perguntando. E do quanto eles estão pagando. Quer beber? - ele disse, acenando com a cabeça para uma garrafa sem rótulo na frente dele na mesa. - Claro - respondeu Alex. Eu vi a sua cabeça virar, enquanto parecia estar estudando o ambiente. Ele estava procurando por outras saídas? Ou avaliando as chances de nós sairmos vivos? Eu não saberia dizer, mas eu estava começando a questionar sua decisão de virmos até aqui e, mais particularmente, a decisão de beber o que quer que fosse que contivesse naquela garrafa – parecia uma minhoca enrugada flutuando no fundo da garrafa? Alex finalmente caminhou até a mesa e eu o segui, sentando na cadeira ao lado dele, agudamente consciente dos três homens logo atrás nós. Todos eles estavam armados - dois com armas, um com uma faca do tamanho de uma espada. Nossa saída estava bloqueada. Só havia uma outra porta exatamente atrás da mesa, mas estava fechada e possivelmente trancada. O quarto em que estávamos era claramente o lugar onde se faziam os negócios. Eu não tinha certeza de que tipo de negócios, mas com base nos pedaços de papel alumínio e nas balanças colocadas na mesa em frente de nós não foi muito difícil deduzir o que era. Meu pé começou a bater e eu descansei minha mão na minha coxa para tentar parar. O homem derramou tudo o que restava na garrafa em três copos manchados. Ele empurrou um para mim. Eu olhei para Alex. Seus olhos estavam fixos no homem e, embora seu rosto estivesse neutro como sempre, eu podia sentir a tensão em seu corpo. Eu podia notar também
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na linha reta de sua mandíbula, nos seus lábios apertados, na contração de seus braços, descansando casualmente na mesa. - Salud - disse o homem, engolindo o líquido e batendo o copo sobre a mesa. Seus olhos nunca deixaram meu rosto e eu podia sentir minha pele começa a formigar como se formigas de fogo estivessem pastando no meu pescoço. Alex pegou o copo e bebeu de volta em um gole sem tirar os olhos do homem. - E você? - o homem perguntou, apontando para o meu copo intacto - Qual o seu nome, Señorita ? - Lila - eu disse, lançando um olhar nervoso para Alex, me perguntando se eu deveria ter dado o meu nome real. - Você não vai beber a sua bebida, Lila? – o homem perguntou, acenando com a cabeça para meu quase transbordante copo. Qual era a regra de etiqueta aqui? - Hum, eu não estou com sede - arrisquei. - Eu acho que você deveria beber - disse o homem. Era uma ordem. Eu pensei por um segundo, pronta para desobedecer, mas depois lembrei-me dos três homens atrás de mim, então eu peguei o copo e mandei tudo garganta abaixo. Queimando , queimando! Eu balbuciei e tossi. Alex começou me bater nas costas. O homem riu enquanto eu tentava respirar através dos vapores que enchiam a minha boca e nariz. - Meu nome é Carlos - disse ele. Genial. Agora um chefão do tráfico já me tratava pelo primeiro nome e bebia tequila comigo. O meu pai ficaria extasiado. - Então, você quer papéis? Passaportes? - Sim - disse Alex. Carlos resmungou. Então ele se virou para mim. - Você está fugindo de alguma coisa, Lila? Eu segurei seu olhar. - Não mais - eu respondi. Sua expressão se mostrou um instante perplexa até seus olhos mortos retornarem. - Dez mil dólares americanos – Carlos disse para Alex - Pagamos metade agora e a outra metade quando recebermos Alex rebateu. Carlos o encarou lentamente enquanto eu me sentei lá, agarrando o assento, desejando que Alex pagasse logo tudo de uma vez e nós saíssemos de lá, com todas as partes de nosso corpo, inteiras. Carlos finalmente riu baixinho.
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- Para um gringo você até que tem bolas. OK, sí , metade agora, metade mais tarde. Ele acendeu um cigarro, seus olhos caindo para mim enquanto ele soltou uma golfada de fumaça. - Quanto tempo? - Alex perguntou. - Eu suponho que você quer entrega expressa – assim digamos que 24 horas. Você tem fotos? Nomes, vocês não vão escolher. Vocês vão usar os que já temos guardados em estoque, mas eles são passaportes americanos. Realmente perfeitos. Você não terá nenhum problema. Alex enfiou a mão no bolso de trás e tirou um envelope. Tinha fotos de passaporte de nós dois as quais tiramos há apenas algumas horas atrás em uma estação de metro. Ele contou cinco mil dólares em notas de cem dólares e os colocou sobre a mesa. Carlos conferiu que tudo estava lá. Então ele disse algo a um de seus homens, o que tinha a tatuagem da cobra se retorcendo na mulher, e ele veio, pegou o dinheiro e as fotografias e desapareceu pela porta interna. - Amanhã, nós entregamos para você. - Meia-Noite, no McDonalds perto da catedral - Alex disse, levantando e empurrando a cadeira para trás. Eu fiz o mesmo, olhando nervosamente para a porta interna - como é que nós vamos saber que eles realmente vão cumprir o acordo e não apenas tomar o dinheiro? Eu realmente não quero ter que voltar e pedir de volta os nossos cinco mil dólares. - Você não vai ficar? - Carlos me perguntou - Tome outro drinque. - Não, nós estamos bem, obrigado - respondi, segurando a mão de Alex e caminhando de volta para a porta - Nós temos que ir. - OK, OK, eu vejo que têm uma coisa entre vocês acontecendo. Você é um homem de sorte, Sr. americano. Alex não disse nada. Virei-me para a porta. O homem que parecia um porco gigante estava abrindo as trancas, lentamente. O outro homem disse algo para Carlos em espanhol e o aperto de Alex na minha mão se fez mais forte quando ele me puxou para mais perto em direção a ele, com os olhos firmemente plantados na porta, que ainda não tinha sido aberta. Uma risada dura ecoou no meu ouvido e uma respiração fedorenta alcançou meu rosto. Eu gritei quando uma mão forte agarrou-me, dedos cavando em minha cintura, tentando me soltar livre do aperto de Alex. Alex gritou algo distante e eu ouvi a raspagem de metal, mas antes que alguém pudesse fazer qualquer movimento, eu lancei o cara com a tatuagem de cobra para longe de mim, no meio da sala. Ele caiu batendo a cabeça na parede distante em primeiro lugar, antes de cair no chão. Ele gemeu e rolou para o lado, segurando sua cabeça em suas mãos, o sangue escorrendo entre as lacunas em seus dedos. 26
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Ai-Ai . Eu não conseguia nem olhar para Alex. Eu não tinha certeza se ele concordava com o que tinha acontecido ou não, mas para mim tinha sido absolutamente necessário. Em vez disso, me virei para Carlos. Ele estava olhando para mim, sem piscar, seu copo de vidro balançando precariamente em sua mão. - Por favor, diga ao seu amigo para sair do meu caminho - eu disse, apontando para o enorme homem atrás de nós que estava barrando a porta - Eu não quero machucá-lo. Carlos me estudou por um momento e a sala ficou sinistramente silenciosa. Até o cara no chão parou de gemer. Então Carlos jogou a cabeça para trás e começou a rir como um louco, com os punhos martelando a mesa. - Você quer um emprego? - ele me perguntou quando ele finalmente se recompôs e enxugou as lágrimas de seus olhos. Eu pesei a minha resposta com cuidado. - Não obrigado. Ele desviou o olhar para Alex. - Agora entendi porque você trouxe ela aqui - disse ele, balançando a cabeça em aprovação - Ela é uma boa guarda-costas. - Sim - Alex disse, sorrindo com força - ela é praticamente um ninja. Você não iria querer vê-la nervosa.
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Levamos doze horas, dirigindo abaixo do limite de velocidade, para chegar à costa, um lugar tão bonito que parecia cenário para anúncio de protetor solar. A areia branca, o mar de topázio e o sol escaldante eram um contraste e tanto com o comércio de drogas de Carlos e da Cidade do México. Eu estava com meus dedos enterrados na areia, olhando para as três cabanas de palha aninhadas sob um bosque de palmeiras, esperando Alex que tinha ido nos reservar um quarto. Mesmo com a névoa da exaustão, eu não conseguia deixar de olhar por cima do ombro e fixar o olhar na praia deserta, convencida de que, à qualquer momento a Unidade iria aparecer, homens de uniformes preto correndo em minha direção. Me virei de volta, apertando os olhos contra o sol, e vi que Alex estava andando na minha direção sobre a areia quente, um braço levantado para proteger os olhos. Eu estava usando seus óculos Ray-Ban. Ele não havia pedido de volta. - Nós conseguimos um quarto - ele gritou. Apontou por cima do seu ombro para uma das cabanas com telhado de palha e uma rede esticada na varanda. Tinha uma visão perfeita do Caribe e dava de frente para a praia. As outras cabanas pareciam desocupadas também. Se alguém me houvesse dito há algumas semanas que eu estaria no México com Alex e que ele estaria andando pela praia com um sorriso no seu rosto, tendo acabado de nos reservar um quarto, eu teria caído morta de excitação. Eu precisaria de desfibriladores para me trazer de volta. Mas ali estava ele, caminhando na areia em minha direção, e ele era meu. E eu não caí morta. Pelo contrário, me senti muito, muito viva. - Eles só tinham um duplo – disse, quando ele me alcançou. Encontrei seus olhos, da cor do mar, brilhavam sobre o bronzeado. - Isso é muito ruim - eu disse, tentando soar irritada. - Aham - acenou, com uma sobrancelha levantada em diversão. Ele não estava caindo. Ah, o problema de não ter uma cara de pôquer. - Como é que você sabe sobre este lugar? – perguntei enquanto andamos de volta para o quarto.
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- Meus pais têm vindo aqui todos os anos desde lua de mel. Precisávamos de um lugar para descansar e esperar — Ele deu de ombros. — Este lugar veio à minha mente. - Então, quanto tempo nós vamos ficar? - Perguntei. Mesmo sendo tão lindo e paradisíaco, aqui não era onde eu queria estar. Eu precisava estar na Califórnia. Queria estar fazendo algo para trazer minha mãe e Jack de volta. Esperar era uma tortura. - Nós vamos ficar até que tenhamos um plano. E até Demos nos encontrar. Olhei para Alex. Ele estava tão confiante de que eles nos encontrariam, mas eles estariam procurando por nós na Cidade do México, não aqui em uma praia no meio do nada. Claro, eles tinham formas de encontrar-nos, mas Nate e Key não podiam voar ao redor do globo, como satélites tentando nos rastrear, e Suki e Alicia não podiam ler cada mente no mundo, até que nos encontre por acaso aqui, construindo castelos de areia. Alex evitou meu olhar e me levou até as escadas. - Venha e confira a rede - foi tudo o que ele disse. Deitamos juntos, balançando pacificamente e falando em voz baixa, até que o sol se dissolveu no mar e as estrelas iluminavam o céu. Era tão bonito e um contraste tão grande com as últimas semanas que eu tinha que apertar meus olhos e me beliscar para ter certeza de que não era tudo um sonho, que meu cérebro não tinha sido frito por uma das armas da Unidade na Cidade do México, e me deixado alucinando. - Por que eles não dispararam essa coisa para mim? – Eu perguntei, girando na rede para que eu pudesse ver o rosto de Alex - Quando estávamos fugindo... eles tiveram a chance, mas não fizeram. Por que? - Fiquei me perguntando a mesma coisa – Alex disse – e a única razão que eu posso pensar é que eles ainda não sabem sobre você. Nós não podemos ter certeza ao certo, não depois do que aconteceu em Joshua Tree, mas se eles não atiraram quando eles tiveram a chance, significa que eles não sabem que você é uma. Eu levantei uma sobrancelha e me apoiei sobre um cotovelo para olhar para ele. - Mas se eles não sabem sobre mim, sobre o que eu sou e o que posso fazer, então por que eles estavam atirando em nós, afinal? Por que eles se preocupam em nos perseguir? Uma expressão de dor atravessou seu rosto. Ele olhou para o lado, até o céu. - Eu quebrei meu juramento, Lila. Invadi a Base e sequestrei dois prisioneiros. - Não eram prisioneiros, eles eram reféns - respondi com raiva.
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- Não é assim que eles os vêem – ele suspirou – E eu atirei contra os meus próprios homens. Eu afundei de volta na rede. Não era justo. Que escolha ele tinha? Eu senti seus lábios pressionados contra a minha testa e eu sabia que ele estava tentando me dizer à sua maneira que não importava - mas ele fez. Ele havia sido obrigado a fazer todas essas coisas por causa de mim. Se A Unidade me pegasse, descobririam muito provavelmente o que eu era, e então fariam experiências em mim, mas se pegassem o Alex, o que fariam à ele? Não me atrevi a perguntar. Em vez disso, mudei o assunto. - Então agora você é John Bartlett e eu sou Emily Roberts - disse, me referindo aos novos nomes no passaporte - Tem certeza que não vão ser capazes de nos encontrar? - Sim - Alex respondeu - mas ainda vamos precisar ter cuidado quando atravessamos de volta para os Estados Unidos. Eles vão estar vigiando as fronteiras intimamente agora que sabem que estamos no México. Nos balançamos na rede silenciosamente por mais um minuto, em seguida, Alex virou o rosto para o meu. - Então, me conte novamente o que aconteceu quando você estava com Demos. Faço uma pausa, repassando a conversa na minha cabeça. Havia pensado tanto sobre isso enquanto estávamos fugindo. Já havia dito à Alex sobre Demos e minha mãe. Como ele buscava se vingar da Unidade por matá-la, de que ele a havia amado e ela tinha ido atrás dele quando ela precisava de ajuda, poucos dias antes da Unidade matá-la... ou fingiu matá-la. Eu ainda não conseguia entender como eles tinham fingindo o seu assassinato. Isso era uma das últimas coisas que queria me concentrar, no entanto. Dez dias atrás nem sequer sabia que pessoas como eu existia e, em seguida, no espaço de poucas horas, tudo que eu sempre havia acreditado tinham sido expostos como mentira. Imaginei ainda que era um choque para Alex também, o motivo pelo qual ele estava pedindo para ouvir novamente. - Demos a amava. Eu não podia acreditar até ele me mostrou a foto deles juntos. Então, tudo fazia sentido. Eu podia ler em seus olhos, Alex. A maneira como ele me olhava, como se eu o fizesse lembrar dela. Como se todo esse amor ainda estivesse ali. - Você se parece com ela. Eu te disse. Me sentei, de repente, jogando minhas pernas sobre o lado da rede, fazendo-a agitar descontroladamente. - O que estão fazendo com a minha mãe, Alex?
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Era uma pergunta que eu tinha muito medo de perguntar até agora. Esperei, meu estômago apertou duramente como uma pedra. Alex inclinou-se e colocou o braço em volta dos meus ombros. - Eu não sei – disse calmamente - Honestamente, nunca soubemos o que eles estavam experimentando. Pensávamos que estavam contendo apenas pessoas como... - ele parou. - Como eu? - terminei para ele. - Sim - suspirou - Sim, como você, mas pessoas que tinham cometido crimes, Lila, como acreditamos, e que não poderiam ser presas em uma instalação normal... - Eu vi ele - digo, interrompendo-o. Alex ficou em silêncio, mas eu sabia que ele estava pensando em Thomas também, no monte de trapo que Jack tinha retirado do carro, com forma de zumbi, arrastando os pés e encurvado. Thomas havia passado cinco anos contido - preso - na Unidade. Só Deus sabe o que eles haviam feito para entender como ele podia se projetar para fora de seu corpo. Já havia tentado imaginar como seriam esses experimentos, mas cada vez me sentia como se eu estivesse pressionando o meu rosto contra a janela em um acidente de carro. Eu não queria ver que horrores estavam lá dentro. Ouvi Alex suspirar novamente. Ele caiu para trás na rede atrás de mim e me virei para que assim pudesse vê-lo. Seu rosto estava assombrado e prata na luz da lua. - O que eles fizeram com Thomas é o que estão fazendo com ela também, não é? - perguntei. Ele hesitou antes de responder. Eu podia ver que seus olhos estavam fechados. - Sim, provavelmente - disse depois de um tempo. Levantei-me e caminhei trêmula até a borda na varanda, ouvindo as ondas arrebentar na praia como se estivessem tentando nos alcançar todo o caminho até aqui. Alex veio e juntou-se a mim, seus braços serpentearam em volta da minha cintura. - Ela está viva, Lila. Você tem que focar nisso. Uma semana atrás, achava que ela estava morta - Ele se inclinou para sussurrar no meu ouvido - Você vai vê-la novamente. - Como? - gritei, me contorcendo para fora de seus braços. Era impossível. Como é que nós iriamos voltar para a Base? Como é que nós iriamos chegar perto dela? A Unidade tinha um exército. Contra apenas nós. E mesmo se Demos e os outros nos encontrassem, ainda não eram o suficiente para parar a Unidade, o que havia sido provado em Joshua Tree. Ryder tinha morrido; quantas pessoas mais iriam arriscar suas vidas por uma luta que não era a sua própria? Demos tinha uma razão... ele amava a minha mãe. Mas Suki? Nate? Key? Amber? Por que Amber iria 31
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querer ter algo a ver com a gente agora que o homem que amava tinha sido morto? Lágrimas começaram a deslizar pelo meu rosto. Ryder tinha sido tão bom comigo. E agora ele estava morto. Morto pela Unidade, na minha frente. - Como vamos entrar na Base, Alex? É impossível. Alex estava olhando firme para o escuro do mar. - Há sempre um caminho - disse, girando lentamente para me encarar - Isso é o que eles nos ensinaram. Há sempre uma fenda na armadura. Nós só precisamos encontrá-la.
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- Eu te amo - eu sussurrei. Eu tinha dito estas palavras apenas uma vez antes, a primeira noite em que corremos de Joshua Tree, deixando Jack deitado sangrando no chão e Ryder morto ao seu lado. Alex encostou o carro em uma parada de caminhão uma hora depois na estrada. Eu estava tremendo, meus braços em volta do meu corpo tentando conter os espasmos, os soluços presos em meu peito fazendo-me faltar o ar. Alex destravou o meu cinto de segurança, estendeu a mão e me puxou para o seu colo, me balançando, segurando-me, tentando me acalmar. Eu o agarrei de volta ferozmente, meus dedos pareciam garras, e ele tomou o meu rosto em suas mãos e com os seus lábios contra os meus sussurrou mais e mais que tudo ficaria bem. Demorou um tempo para os tremores pararem, para as minhas mãos afrouxarem o aperto nos ombros dele e para a minha respiração acalmar. Ele me segurou o tempo todo, a voz baixa e constante em meu ouvido, suas mãos quentes contra a minha pele, e quando eu encontrei a minha voz com os meus lábios contra o pescoço dele e o meu corpo caído contra ele eu sussurrei as mesmas palavras que eu sussurrei agora: Eu te amo. Mesmo que nos últimos 17 anos eu tenha sussurrado isso na minha cabeça – na verdade, eu tinha berrado isso, cantado isso, gritado isso em minha mente a maior parte do tempo - as palavras eram tão novas entre nós que ainda tinham uma etiqueta presa à elas. Calor inundou meu rosto e minhas pernas se tornaram geléia mesmo eu estando deitada. - Eu amo você - eu disse novamente, desta vez segurando seu olhar. - Eu sei - Alex respondeu, desligando a luz com a mão livre e me puxando perto. - Desde que você tinha cinco anos. Eu o soquei nas costelas. - Eu não posso acreditar que eu não percebi isso.
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Sim, e nem eu. Eu não poderia ter sido mais óbvia, só faltou eu ter tatuado seu nome e um coração de amor na minha testa. - Nunca em um milhão de anos esperava que você gostasse de mim também – eu murmurei, passando minha mão sobre o peito dele. Foi uma ação que eu nunca, nunca me cansaria de fazer. - Por quê? - Porque? - Dei de ombros. Como se fosse necessário explicar. Ele riu, em seguida passou o dedo na minha bochecha e em meus lábios, seus dedos deixando uma pequena quentura em seu rastro. - Você não tem ideia quão difícil foi resistir à você. Não quando você tinha cinco anos - acrescentou rapidamente. – Fofa como você poderia ter sido naquela época, eu tenho que dizer que eu nunca pensei em você dessa maneira até que você voltou algumas semanas atrás. - Sim, bem, você poderia ter me enganado. Você não agiu como se tivesse pensado qualquer coisa sobre mim. - O que posso dizer? - Alex encolheu os ombros - Eu sou treinado em subterfúgio. Você se lembra da noite em que você ficou comigo? Depois que o alarme disparou na Base? Fiquei acordado a noite toda. - Você está falando sério? - Eu ri e rolei sobre as minhas costas. Eu estive me torturando naquela noite com a certeza de que Alex gostava da Rachel e passei oito horas sem dormir desejando que Rachel desfilasse seu corpo perfeito na frente de um ônibus. - Mas, no dia seguinte ao jantar, no bar mesmo, você foi tão frio comigo - eu disse sentando-me para que eu pudesse olhar para ele melhor - Você agiu como se eu não existisse. - Sim, sinto muito. Ele fez uma expressão de culpa. – Eu estava tentando me distanciar. Eu nunca esperava que... – ele parou de repente. - Esperava o quê? - Perguntei. Ele respirou fundo antes de soprar um suspiro. - Isso - disse ele. Em seguida, depois de outra pausa - Você sempre esteve em minha vida, Lila. Eu te conhecia antes mesmo que você pudesse falar - Sua cabeça caiu para trás sobre o travesseiro - Deus, eu sinto falta daqueles dias. Eu lhe dei uma cotovelada nas costelas de novo. - O que eu quero dizer é - disse ele, voltando-se para me olhar de novo, pegando minha mão na sua e a mantendo firme. - Eu estava acostumado a pensar em você de uma única forma - como a irmã mais nova do Jack - e então... – ele riu baixinho - Lá estava você. Já não era pequena, já não era mais a irmã mais nova do Jack. Você tinha crescido. Seus olhos varreram o comprimento do meu corpo antes de se
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estabelecer em meus lábios. - E agora muito sexy para seu próprio bem – acrescentou – Isso eu não estava esperando. Ele correu a palma da sua mão pelo meu braço. - Eu acho que isso prova que você não pode lutar contra o inevitável - disse ele, com o mais fraco dos encolher de ombros. Apertei os olhos para ele. - O inevitável, não é? Ele fez uma pausa e deu-me um dos seus olhares, o tipo que me derretia como se eu fosse manteiga em uma panela quente. - Sim, o inevitável. Talvez você tenha razão. Talvez tenha sido no momento em que você tinha cinco anos, quando quebrou a perna. Você viu isso antes de mim, isso é tudo. Tentei suprimir o sorriso, deitando novamente e aninhando a minha cabeça sob o queixo dele. - Quando você sabia? - Perguntei - Foi minha grande entrada? Quando eu caí da escada? É isso o que você quis dizer? A última coisa que Alex tinha me dito antes de me deixar com Demos foi: Quando você caiu das escadas, esse foi o momento. - Porque, você sabe - eu continuei. - Que foi um movimento orquestrado de minha parte. Não tinha nada a ver com a minha falta de jeito ou nervos. Eu tinha toda intenção de cair aos seus pés. Alex riu baixinho. - Sim, isso é o que eu quis dizer. As escadas. Eu não queria deixá-la ir quando você caiu em mim. Seus dedos estavam levemente acariciando meu braço. - Mas você me deixou. - eu murmurei, fechando meus olhos. Ouvi Alex suspirar em meu cabelo. - Eu precisei. Jack estava lá. - Inevitável. - Eu brinquei com a palavra na minha boca. Me senti bem. Eu inclinei minha cabeça para trás para poder olhar para ele e sorri o que eu esperava ser um sorriso sedutor, embora no momento não teve o efeito desejado - Então, se isso é inevitável como você disse. Incontornável, completamente e totalmente destinado a ser - eu passei a ponta dos meus dedos nas linhas tensas dos músculos do estômago dele enquanto eu dizia cada palavra - Por que você está lutando agora? - O quê? Oh, isso era embaraçoso. - Você sabe o que quero dizer - eu murmurei, desejando pela primeira vez que eu ainda tivesse os cabelos compridos para me esconder por trás deles. Ele olhou para mim, confuso. Olhei para o lençol. Tinha um bordado de bom gosto. 35
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Ele finalmente descobriu. - Porque, Lila – ele disse, acariciando meu rosto - Você está cansada, há muita coisa acontecendo aqui. - ele bateu na lateral da minha cabeça ... é muito... e há um momento certo. Não é agora. Além disso acrescentou ele - Ainda é ilegal no estado da Califórnia. Você só terá dezoito anos daqui quatro meses. Debrucei-me sobre um cotovelo. - Não estamos na Califórnia - disse eu, franzindo o cenho para ele. E, além disso, por que ele estava se importando com as ilegalidades se já tínhamos quebrado pelo menos cinquenta outras leis e estávamos fugindo de uma equipe de operações especiais da Marinha que queriam nos matar? Não era como se eu estivesse indo fazer uma ocorrência sobre o acontecido. Mas Alex apenas riu de mim. - Você vai me agradecer mais tarde - disse ele. Eu não iria agradecê-lo mais tarde, mas não havia sentido em discutir.
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- Estamos interrompendo alguma coisa? - Suki! É a Suki! Alex já estava no meio da sala. Eu me arrastei como um caranguejo sobre a superfície da cama, puxando o lençol em volta de mim, em seguida, levantei depois dele. Ela estava batendo na porta. Alex abriu e ela avançou para dentro. Eu tropecei em direção à ela, empurrando Alex para fora do caminho e jogando meus braços em volta daquela pequena menina japonesa com óculos escuros do tamanho de pratos de jantar e um vestido tão curto que mal cobriria as pernas de uma boneca Barbie. - Suki! Você nos encontrou! Você veio! Ela me abraçou de volta. - Claro que encontramos você. O que você esperava? Ela puxou os óculos de sol para baixo e olhou para mim por cima deles. - O que você fez com o seu cabelo? - ela gritou. - Oi, Lila. Demos estava atrás dela, na porta. Eu me soltei dos braços de Suki e corri para Demos. - Oi - eu disse. Ele sorriu para mim. Havia pouca alegria nele, eu notei. Ele olhou para minha camisola e depois para Alex de calção. Um irônico sorriso se formou em seus lábios. Então ele puxou Suki. - Vamos, Suki – Ele a puxou para a porta – Esperaremos nas escadas - disse ele por cima do ombro. - Tchau - Suki gritou, com os olhos tão colados no peito nu de Alex que ela não conseguia prestar atenção para onde ela estava indo e quase foi direto para o corrimão da escada. Escutei ela rindo todo o caminho enquanto descia as escadas.
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- Onde está Nate? Onde está Key? - Eu perguntei, olhando ao redor e senti toda euforia imediatamente diminuir. Demos, Suki, Alicia e Harvey estavam sentados nas espreguiçadeiras à sombra de uma palmeira, descansando tranquilamente. Não havia nenhum sinal de Nate ou Key. Eu fiz uma careta e contei novamente. Amber e Bill não estavam também. Demos se levantou e caminhou em nossa direção. - Nate está em um quarto, descansando - disse ele – Key voltou para ver se ele pode descobrir o que está acontecendo com Jack . Ao som do nome de Jack, senti uma familiar guinada no meu estômago. Demos deve ter notado como eu estava me sentindo, porque eu senti sua mão no meu ombro. Eu olhei em seus olhos azuis gélidos e algo se passou entre nós, algum tipo de confiança que ele me passava e me fazia saber que tudo ficaria bem. Ou talvez ele estivesse usando um pouco de sua habilidade em mim. Eu não tenho certeza, mas eu me sentia mais calma. - Onde estão os outros? - Eu perguntei por fim. - Eles estão na Cidade do México - disse Demos. - O que eles estão fazendo lá? - Thomas precisava de ajuda médica. Ele olhou sombriamente na direção de Alex e eu me coloquei ligeiramente na frente dele como se eu pudesse apagar a raiva de Demos. Alex não sabia o que a Unidade fazia com Thomas, não era justo culpá-lo. - E Amber? Bill? - Perguntei. A expressão de Demos ficou mais sombria ainda. Ele olhou para mim. - Amber não está em um bom caminho. Bill está fazendo o seu melhor para cuidar de ambos. Claro que Amber não estava em um bom caminho. Ela tinha visto o homem que amava morto bem na sua frente. Eu não sabia o que dizer. - Demos. Eu olhei para cima. Alex deu um passo para a frente e estava estendendo a mão. - Eu sou Alex Wakeman. Nunca cheguei a te conhecer corretamente. Por um momento, ninguém respirava. Todos nós olhamos para Alex, imaginando o que Demos faria. Independentemente da forma como estavam as coisas agora, Alex e Demos tinham lutado por anos em lados diferentes da guerra até pouco mais de uma semana atrás. Ninguém tinha certeza se a trégua seria temporária ou se iria perdurar.
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Olhei para Demos. Seus olhos estavam fixos em Alex. Ele encarou Alex por alguns segundos antes de tomar a sua mão e sacudi-la. Todos nós sopramos em uníssono. - Obrigado por lutar com a gente lá atrás - Demos disse. Alex assentiu. - Era o mínimo que eu poderia fazer. Sinto muito. - Você não sabia de nada. Me desculpe por eu sequestrar Lila. A carranca cruzou o rosto de Alex. Então ele soltou uma respiração profunda e caminhou até onde Alicia estava sentada. Ela olhou para ele. A contusão em seu rosto ainda estava lá. Tinha amadurecido para uma cor amarelada, mas ainda era um enorme lembrete de sua prisão recente. Alex se ajoelhou na areia em frente a ela. - Me desculpe - disse ele. Alicia sorriu para ele. - Desculpas aceitas. E obrigado por me tirar daquele lugar. Acho que pode considerar que estamos OK. Alex sorriu de volta para ela e se levantou. Demos o apresentou para Harvey e eu assisti os três começarem um pequeno papo e logo a conversa se tornou mais calorosa, como se há duas semanas eles não estivessem tentando matar um ao outro. - Você que nos encontrou? - Eu perguntei, virando para Suki. Ela levantou uma sobrancelha perfeita. - Nós estamos aqui, não estamos? - Quero dizer, foi difícil? Tivemos que sair da Cidade do México. A Unidade nos encontrou. Havia um rastreador no braço de Alex. - Nós sabemos. Nate estava lá na catedral; ele não para de falar sobre isso. Fiquei de boca aberta. Nate tinha estado naquele momento com a gente? - Ele seguiu vocês até aqui também - Suki continuou, sem parar para respirar - mas depois ele voltou para nós, que estávamos bem atrás de você. Levou um tempo para conduzir até aqui e tivemos que parar na Cidade do México, é claro. Seu rosto enrugou. - Como está Amber? - Perguntei. - Não está nada bem - disse Suki com um suspiro - Ela está com raiva. Muito irritada. Com Demos. Com a Unidade. Com todos. Ela não queria vir com a gente. - Como é que vocês conseguiram despistar a Unidade? – Eu disse, mudando de assunto quando vi o lábio de Suki tremer. - Eles não vieram atrás de nós - disse ela - Nós dirigimos para o norte, mas eles foram para o sul quase imediatamente. Eles estavam seguindo vocês desde o começo. Uma vez que percebemos isso, voltamos 39
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direto para o sul também e tentamos chegar até você antes que eles chegassem, mas não foi tão fácil. Fomos parados três vezes pela polícia e tentaram nos deter na fronteira também. - O que aconteceu? – Perguntei - Como vocês conseguiram então atravessar a fronteira? - Demos - Suki encolheu os ombros - Ele simplesmente congelou todos eles e nós passamos. Não foi a primeira vez que eu senti uma pontada de inveja da capacidade de Demos. Ele faz as coisas acontecerem de modo muito mais fácil. Ele nunca precisaria ter que fingir querer fazer negócio com um traficante psicótico ou ter que enfrentar seus capangas. - Com quem? - Suki explodiu - O que você fez com um traficante de drogas da máfia e seus capangas? - Nada - Eu fiz uma careta para ela - Eu não disse nada. E eu comecei a perceber que não tinha razão de procurarmos desesperadamente por passaportes falsos. Era só ter esperado Demos e atravessamos a fronteira novamente com ele. - Do que você está falando? - Suki perguntou vincando a sua testa lisa. - Não importa - eu disse rapidamente - Venha, me mostre onde está Nate. Quero dizer oi. Ela saltou para cima, sorrindo, com o cabelo preto batendo como uma asa de corvo. - Espere, espere um segundo - disse eu, agarrando Suki pelo pulso o que vocês fizeram com a Rachel? Notei que todos tinham ficado em silêncio. Alex virou a cabeça ao som de nome de Rachel. A última vez que eu tinha visto Rachel ela estava lutando com unhas e dentes, enquanto era arrastada para dentro do ônibus. - Urgh, ela... - Suki gemeu - Sim, ela ainda está com a gente. E ela ainda é uma dor no culo . Eu estou aprendendo espanhol - disse ela animada - Culo significa bunda. - Sim, estou ciente disso. Vocês conseguiram arrancar alguma informação dela? - Eu perguntei, incapaz de manter a esperança da minha voz. Olhei ansiosamente para Demos e os outros. - Nada útil - disse Suki - Ela apenas continua cantando canções de ninar em sua cabeça toda vez que Alicia e eu tentamos ler sua mente. Se eu ouvir aquelas musiquinhas mais uma vez, eu acho que vou ter que matá-la. Então entra no fim da fila - pensei.
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- Nós sabemos onde eles estão prendendo a sua mãe, aliás - disse Demos - Temos que voltar. Ela ainda está na base de Pendleton, na ala de prisioneiros. Ele olhou para Alex. - Nós estávamos esperando que você pudesse ajudar com um mapa do edifício e talvez algumas senhas e códigos do sistema de entrada. Alex balançou a cabeça, com uma expressão sombria. - Eles mudaram os códigos e barraram meu acesso - disse ele - E nós vamos precisar de mais do que apenas uma planta do prédio. Precisamos de um plano de como vamos chegar lá. Eu não poderei chegar muito perto da Base. E todo o lugar é equipado com alarmes para que nenhum de vocês possa se aproximar - Ele fez uma pausa - Deixe-me falar com Rachel, ver se consigo alguma coisa com ela. E se isso não funcionar - eu pensei - deixe-me que eu resolvo com ela . Eu faria com ela algo que faria o que eu fiz com o mini tanque lá no Joshua Tree parecer caridade.
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- Oh, Nate, se você pudesse ver o que eu acabei de ver! Suki suspirou, jogando o corpo sobre a cama onde Nate estava esticado. Estávamos em um quarto ao lado do meu e de Alex. Os outros estavam todos do lado de fora, sentados sob algumas palmeiras, conversando. Podíamos vê-los pela porta que estava aberta, mas não podíamos ouvi-los sobre o barulho das ondas lá fora. Nate rolou sonolento e sorriu largamente quando ele me viu. - Ei - eu disse. - Ei - ele respondeu, esfregando os olhos. - O que está acontecendo? - Oh, apenas Alex seminu, isso é tudo – Suki sorriu. Nate sentou-se. - Eu perdi isso? - Ele suspirou e deitou-se. - Oh, bem, eu já o vi completamente nu. Eu pulei para fora da cama. - Por favor, não me diga que vocês estavam nos seguindo o tempo todo, Nate? – Eu implorei. Oh Deus, o que ele viu? Eu apertei meus olhos fechados, lembrando alguns dos momentos mais gráficos que Nate possa ter testemunhado, e deixei o rubor me devorar toda. O suspiro alto de Suki fez com que eu tapasse os meus ouvidos e os meus olhos fechados ainda mais apertados, como se isso pudesse parar de alguma forma as imagens que corriam de forma desenfreada pela minha mente. - La la la la la la la la la - Eu comecei a cantar, tentando imaginar uma parede em branco em vez de Alex em toda a sua perfeição, nú. - Nate tem seguido você o tempo todo - Suki disse, cortando o meu cantarolar- E sim, ele viu tudo. E reportou de volta para mim. Então, eu estou à par de tudo. Abri os olhos e comecei a procurar no quarto por algo que eu pudesse lançar em sua cabeça. - Bom trabalho, Lila - Suki continuou, abaixando sua voz – Que pena que você não conseguiu fazer, aquilo... você sabe... 42
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- Eu não posso acreditar, gente! - Eu gritei. - Tudo em nome do dever - Nate sorriu. - Alguém tinha que ter certeza de que não perderíamos vocês. Se não fosse eu seguindo vocês não saberíamos para onde vocês tinham fugido e provavelmente nunca encontraríamos você. E depois? Sério? Quem escolhe um passeio em uma praia romântica numa hora dessas? Eu olhei para ele. E para Suki. Uma conversa séria sobre os conceitos de privacidade e invasão teria que acontecer quando eu estivesse mais calma. - Nos desculpe, por favor, nos perdoe. - disse Suki, cutucando Nate, que assentiu com a cabeça, os cantos de sua boca virando para baixo quando ele tentou um olhar arrependido. - Bem, não façam isso de novo, OK? - Eu assobiei. - Vocês nos encontraram agora. Não há mais necessidade para espionar. Estamos de acordo? Nenhum dos dois disse uma palavra. Eles apenas atiraram um ao outro um olhar de canto de olho. - Estamos de acordo? - Eu rosnei. Nate abriu a boca para argumentar, mas Suki lhe deu uma cotovelada nas costelas e ele fechou a boca rapidamente e assentiu. - E você - disse eu, voltando-me para Suki – Fique fora da minha cabeça. OK? Está realmente começando a ficar irritante. - É mais fácil falar do que fazer, mas vou tentar. Eu segurei seu olhar, imaginando detalhes sangrentos do que eu faria com ela ou Nate se eles estivessem me espiando de novo, ou o Alex. Ou nós dois juntos. - OK, eu entendi! - Suki gritou, jogando as mãos para cima. Ela deu um tapinha na cama e, depois de alguns segundos, eu cedi e sentei sobre a cama. - O que aconteceu com o ônibus? - Eu perguntei me referindo ao ônibus gigante que eles estavam usando para viajar até agora. - Tivemos que nos livrar dele, era meio óbvio como Bat-móvel. Harvey está muito triste, mas Demos comprou um BMW para ele, na verdade ele roubou, ele não comprou. E ele também roubou uma van, porque precisávamos de um lugar para colocar a Rachel. Você sabe, não é uma boa ideia dirigir por aí com uma garota amordaçada no banco da frente de um carro. Nós não queríamos que as pessoas pensassem que estávamos tentando sequestrá-la. - Nós a sequestramos. - eu lembrei para Suki - Então, Onde ela está? Eu tentei soar como se não me importasse. Eu estava louca para ir ver Rachel naquele segundo, mas eu também sabia que se eu fizesse isso, eu não seria capaz de me controlar.
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- Eu acho que ela ainda está na van - disse Suki, seus olhos estreitando para mim no momento em que ela leu a minha mente - Ela não é muito compatível com os nossos desejos. Toda vez que tiramos a mordaça ela começa a gritar sobre como o pai dela irá nos matar quando nos encontrar. - Mas não antes que ele rasgue nossos cérebros e descubra o que nos torna tão malditamente especiais - Nate se intrometeu. - Nate! - Suki gritou, olhando para ele – Lila não precisa ouvir isso. - Opa, desculpe - disse ele, mordendo o lábio. Eu dei de ombros o melhor que pude e olhei através da porta aberta para onde eu podia ver Alex. Ele estava sentado em uma espreguiçadeira, em uma conversa com Demos, mas ele me sentiu olhando e olhou de volta. Ele disse algo rapidamente para Demos então se levantou e caminhou em nossa direção, hesitando na porta até Suki acenar para que ele entrasse. Ele andou para onde eu estava sentada na cama e caiu agachado ao meu lado. Suki e Nate ficaram em silêncio. Eu poderia jurar que ouvi Suki suspirar. - Nate, oi, prazer em conhecê-lo corretamente – Alex disse, estendendo a mão. Nate corou até as raízes de seu cabelo e eu tentei suprimir uma risada. - Olá - Suki respondeu por ele, com sua voz cantante - é bom conhecer você também, corretamente, quero dizer. Nate já o conhecia, por assim dizer. Ele lhe segue muito. Nate corou ainda mais, olhando para Suki. Alex riu, atirando-me um olhar confuso. Dei de ombros. Era melhor para todos não entrarmos naqueles detalhes. - Você tem certeza que quer fazer isso? – Alex me perguntou. Seu rosto de repente ficando sério. - Você está brincando? - Eu respondi ficando de pé. - É que a última vez que você viu Rachel você queria matá-la - disse ele, olhando para mim com dúvida. - Sim, eu ainda quero matá-la – eu disse - mas não antes que ela nos diga tudo o que precisamos saber. Ele parecia ainda mais preocupado. Dei de ombros. O que ele esperava? Que de repente eu me sentiria bem em dividir leite e biscoitos com a mulher? Esta era a pessoa que estava atrás da Unidade, estava por trás da prisão da minha mãe e provável tortura. Sim, eu queria matar ela. Alex me considerou por um minuto. Provavelmente tentando definir se ele podia ou não confiar em mim para me controlar. Eu ainda estava tentando trabalhar a mesma coisa, mas eu não estava prestes a dizer-lhe isso e eu esperava que Suki não falasse também. 44
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- OK, vamos fazer isso. - ele finalmente disse, claramente tendo decidido que ele poderia confiar em mim - Ela está na porta ao lado, no quarto de Demos. Rachel estava sentada na beira da cama, os tornozelos e as mãos presos juntos e uma mordaça em sua boca. Ela estava usando um moletom cinza feio, tênis branco barato e uma blusa três vezes o seu tamanho com o slogan 'Tijuana me faz feliz' estampado na frente em grandes letras vermelhas. A imagem inteira combinando me fazia muito feliz. Os olhos de Rachel estavam vagos, com o rosto branco. Ela parecia um manequim de loja, um onde o brilho não estava mais presente nos membros de plástico e a peruca assumiu vida própria. - OK, vá em frente e a descongele, Demos - Alex disse, e foi só então que eu notei que Demos pairava sobre ela, dando a ela um dos seus olhares: Você fará exatamente o que eu falar. Demos deu um passo para o lado e Rachel de repente piscou consciente. Um sorriso de escárnio instantaneamente substituiu o vazio, a expressão vidrada. Seus olhos arregalaram com a visão da minha presença e a de Alex em pé na frente dela. Meu instinto ficou em alerta; meu queixo tencionou tão forte que os meus dentes moeram-se uns contra os outros audivelmente. Ambos, Demos e Alex se viraram e me lançaram um olhar de aviso. OK, OK , eu sussurrei silenciosamente para mim mesma. Controle. Eu tenho tudo sob controle. Eu posso fazer isso. Eu não vou matá-la. Eu não vou matá-la. Pelo menos ainda não. Suki estava fortemente focada em Rachel, sua testa franzida em concentração. Eu gostaria de saber se Rachel estava cantando canções de ninar em sua cabeça, mas ela parecia muito distraída com a visão de Alex e eu na sala e seus olhos estavam correndo por todos os lados enquanto ela lutava para se concentrar. Eu notei seu olhar voar para o braço de Alex, onde o fundo de um curativo podia ser visto cutucando debaixo de sua manga, e uma carranca gratificante franziu a sua testa. Alex caminhou até ela e colocou a mordaça para baixo. - Rachel - disse ele em forma de saudação. - Alex - ela respondeu friamente – Que bom ver você. Seus olhos foram para mim como uma língua de serpente - Ainda é babá da menina mutante, posso ver. - Você não irá ser gentil, Rachel? - Alex perguntou em um tom agradável. Ela assoprou o cabelo do rosto, incapaz de usar as mãos. - Eu só não entendo, Alex – ela disse. - Você não entende o quê? - perguntou ele. - O que você vê nela. 45
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Eu senti seu olhar viajar até meu corpo como uma erupção cutânea. A vontade de ter algo pesado para bater na cabeça de Rachel estava crescendo. Havia uma televisão de tela plana fixada na parede. Fiquei imaginando se seria difícil arrancá-la de suas dobradiças e jogá-la em estilo Frisbee. Então o pensamento desapareceu, juntamente com qualquer desejo de violência. Senti-me flutuante. Olhei Demos com o canto do meu olho. Ele levantou as sobrancelhas para mim em advertência. Eu sabia que ele estava certo. Nesta situação eu era a única que podia ser um pouco benevolente. Eu era, afinal, aquela com Alex. Não aquela amarrada, amordaçada e vestindo roupas questionáveis. Mas ainda assim... - Você sabe o que eu não entendo? - Alex disse depois - Eu não entendo por que você está fazendo isso. - Fazendo o quê? - Rachel respondeu. - Você sabe o quê. Por que é que a Unidade está fazendo isso? - Ah, vamos lá, Alex, não seja ingênuo. Dinheiro faz o mundo girar. Ele deu um passo para trás, balançando a cabeça. - É sobre isso que se trata? Por que ele estava perguntando aquilo para ela? Nós sabíamos que tudo se tratava disso. Demos já havia me dito que a Unidade estava tentando encontrar uma forma de ajustar o código genético que nos fez desta forma para que pudessem criar novas armas, que seria então vendida a quem pagasse mais. - O que mais poderia ser? – Rachel riu. Um alto ruído, que poderia ter quebrado o vidro. - Você sequer considerou as consequências? - Oh, por favor, não venha dar uma de bom samaritano comigo. As guerras irão acontecer de qualquer maneira. O homem sempre encontra uma maneira de causar danos. Desse jeito temos que pelo menos escolher o lado vencedor. Temos que tornar o mundo mais seguro, Alex. Seus olhos estavam queimando brilhantemente, iluminados por algum tipo de fervor assustador. - Seguro de acordo com quem? - Alex retrucou. - De acordo com o louco que lhe paga mais? Rachel o considerou por um momento. - Hmmmm. Você sabe qual é o seu problema, Alex? - disse ela depois de um tempo - Você sempre se deixa atolar pela moralidade. Você poderia perder alguns escrúpulos. Você iria dormir mais fácil. - Eu estou dormindo muito bem, obrigado. – Alex disse – Estaria dormindo melhor ainda se eu soubesse que a Unidade não existisse. - Continue sonhando - ela zombou dele – Você acha que você e o seu grupo de Heróis medíocres e rejeitados possuem alguma chance de nos colocar fora de ação? 46
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Alex olhou para Demos e depois me olhou antes de se voltar para ela. - Acho que fizemos um belo e bom começo, não é? - disse ele - Nós estamos aqui, afinal. E você é a única amarrada como um Peru do Dia de Ação de Graças. - Então, você conseguiu colocar algumas equipes fora de ação. Rachel deu de ombros - Há muito mais de onde elas vieram. Você é só um soldado. Útil, mas dispensável. Ela tinha prazer em falar a última palavra, cuspindo sobre Alex e esperando avidamente por sua reação. Alex olhou para ela por alguns segundos. Seu rosto permaneceu inescrutável. Mas eu podia ver que seus olhos se transformaram em gelo. - Você não pode dar um passo nessa direção, Alex - Rachel continuou, o sotaque do sul de sua voz adicionando um calor que desmentia as palavras - Você será história. A polícia vai vir em cima de você com tanta força que você não vai saber o que o atingiu. Você atirou em seus próprios homens. Você acha que o que nós fazemos é ruim? Espere até que você esteja trancado em uma cela de seis por oito com um Fuzileiro Naval psicótico para o resto da sua vida, você estará desejando ter tido menos escrúpulos - Ela riu por um segundo. Ela parecia uma boneca Barbie demente. Em seguida o rosto apagou, o fogo morreu em seus olhos e o desdém sumiu de seu rosto. Olhei para Demos que agora estava lhe dando seu olhar de: Apenas fique quieta. Novamente eu invejava o homem. - O que você pegou? - Alex perguntou, virando-se para Suki. Suki fez uma careta. - Somente a mesma velha loucura. Ela tem algumas idéias interessantes sobre o que ela quer fazer com você e vamos apenas dizer que eles não são as mesmas ideias que Lila têm. - OK, a descongele novamente. - disse Alex para Demos. Mais uma vez Rachel piscou, então fez uma careta na direção de Demos, arreganhando os dentes brancos e perfeitos como se ela quisesse arrancar a jugular dele com eles. - A Unidade está trabalhando em que? - Alex perguntou. Sua voz suave, quase gentil. Eu balancei minha cabeça. Era assim que eles ensinavam a interrogar na Marinha? Talvez estivesse na hora de pularmos a nãoviolência de Gandhi e começar o método de Jack Bauer. Eu ficaria feliz em assumir a liderança. - Uau. Suki de repente cambaleou para trás. - O quê? - Eu perguntei, pensando que talvez ela estivesse escutando os meus pensamentos. 47
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- O que é isso? - Alex perguntou simultaneamente. - Eles estão fazendo alguns tipos de experimentos estranhos. Não tenho certeza, não é claro. - Suki estava branca como um lençol, com os olhos vidrados em Rachel. Rachel sorriu presunçosamente para ela. – Isso mesmo, você leu corretamente. Dê a menina uma estrela de ouro. Eu estava me perguntando se você era ou não uma leitora de mentes. Estamos experimentando e estamos muito perto de um avanço. Você sabe - disse ela, olhando para mim agora - sua mãe tem sido muito útil, Lila. Senti meu coração chegando a um impasse e estremecendo e a mão de Demos apertou o meu ombro em outro aviso. - Em breve, não iremos mais precisar dela. - Rachel continuou - Nós vamos experimentar outras aberrações. Talvez pudéssemos começar com você. Demos a interrompeu antes que pudesse dizer algo, congelando-a com a boca bem aberta e torcido em um grunhido. Alex andou para frente rapidamente e colocou a mordaça de volta. Eu girei e me dirigi para porta antes que me perdesse completamente. A televisão estava cambaleando no seu suporte, e eu não tinha certeza se eu poderia passar pela porta sem usá-la para decapitar Rachel. Fora da sala eu me virei para Alex. - Então, o que vamos fazer agora? - Eu perguntei, cruzando meus braços sobre o peito - Podemos usar Rachel como garantia? Oferecê-la em troca da minha mãe? Alex balançou a cabeça. - Eu pensei sobre isso já, mas não vejo como isso possa funcionar. Eu o conheço. Richard Stirling não colocaria Rachel à frente de seus interesses comerciais. - Quem é Richard Stirling? - Perguntei. - O pai de Rachel - respondeu Demos, aparecendo atrás de Alex Richard Stirling é o homem que criou a Unidade. Ele é o homem que subornou o Senador. Sua mãe estava trabalhando para quem ordenou o seu sequestro e quem forjou seu assassinato. Eu assisti a mandíbula de Demos ficar tensa enquanto ele falava e percebi o quão chocado e com raiva ele ainda estava. Ele parecia ser a única pessoa além de mim que se sentia da mesma maneira. Eu tinha tido uma semana para absorver a notícia de que minha mãe estava realmente viva, e eu ainda estava me recuperando com descrença. Parecia que Demos estava lutando para chegar a um acordo com isso também. Ele continuou falando. - Stirling tem um império de negócios de forma ampla e tão profundo que nem mesmo o Fisco pode seguir seus laços e trilhas. Ele tem interesses comerciais em todos os países da América até os que estão em 48
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guerra oficialmente ou extraoficialmente. Ele é o primeiro nomeado por metade dos ditadores militares no planeta. - Eu o encontrei uma vez - Alex falou - Dois anos atrás. Ele veio para a Base. Ele não apareceu muitas vezes depois disso, ele deixou Rachel encarregada dos negócios lá. Ele mora em Washington. - Nós não podemos usar Rachel como uma troca – Suki saltou – porque vamos enfrentá-lo, quem iria querê-la de volta? Então, o que fazemos? Como é que nós iremos resgatar a mãe de Lila? - E Jack - Demos acrescentou, antes que eu pudesse. Olhei em volta para todos, em seguida, tomei uma respiração profunda. - Eu tenho uma ideia – eu disse.
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- De jeito nenhum! Alex levantou-se de onde estava ajoelhando diante de mim e foi embora. Senti o puxar doloroso dos laços invisíveis - elétrons ou prótons ou o que quer que fosse - que me conectava a Alex. Eles estalaram e esticavam com cada passo que ele dava para mais longe de mim. Levanteime e fui atrás dele. Ele estava de costas para mim, de pé, na porta do nosso quarto, olhando para o oceano. Eu o puxei de volta aqui para falar com ele sobre a minha idéia. Agora eu estava feliz por haver falado. - Alex - eu disse, colocando os braços em volta de sua cintura e descansando minha bochecha contra suas costas - apenas me ouça. Ele passou o polegar ao longo do comprimento do meu braço e então se virou para mim, com expressão dura. Mas depois de alguns segundos sua expressão amoleceu e ele concordou. Fomos e nos sentamos na beirada da cama, lado a lado. Eu tomei uma respiração profunda. - Eles não sabem sobre mim. Apenas Rachel sabe o que eu sou. Eu parei abruptamente, relembrando os momentos no Joshua Tree, desejando nunca ter vacilado. Foi um grande erro. Eu poderia dizer pelos lábios franzidos de Alex que ele desejava o mesmo. - Você mesmo disse - eu continuei, segurando a sua mão - caso contrário, a Unidade teria disparado aquela coisa para mim. Eles não sabem nada, a não ser que Demos me sequestrou e que você e Jack resgataram Alicia e Thomas para fazer uma troca por mim. Eles não têm idéia de que eu sou um deles - que eu sou uma. . . psy. Eu odiava o uso da palavra; isso me fazia soar como se eu devesse estar trancada em uma cela acolchoada usando apenas uma camisa de força, mas por falta de outro termo, eu usei esse mesmo de qualquer maneira. - É muito perigoso - Alex disse, levantando-se e marchando pelo quarto mais uma vez – Se eles descobrem sobre você. . . Suas palavras se arrastaram enquanto ele girou para me encarar. 50
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- Eles não vão. - Eles vão. Assim que você der o primeiro passo para dentro da Base, você vai acionar o alarme. Eu fiz uma careta. - Você disse que o alarme só aciona se alguém usa o seu poder, bem, o que acontece se eu não usar? Eu podia vê-lo parar para pensar sobre isso. - É isso mesmo? - Eu pressionei - Consigo entrar? - Sim - ele finalmente concordou - mas é muito perigoso, Lila. Eu não posso deixar você fazer isso . Eu suspirei. - Eu tenho que fazer, Alex. Eu tenho que tentar. É o único caminho. Você disse que precisava de uma maneira para entrar lá. Talvez eu seja o caminho para entrarmos. Se eu estou na Base, então talvez eu possa achar uma brecha - talvez. Sei que é um grande risco, mas é a única opção que temos agora. Alex segurou o meu olhar, com seus olhos azul do mar me encarando. - O que você vai fazer se eu disser que não? - perguntou ele. Eu hesitei. Ele viu a resposta nos meus olhos e a raiva que atravessou seu rosto enviou uma pontada de dor para dentro de mim. - Por favor. Preciso voltar - eu disse, atravessando o quarto e pegando sua mão - Eu posso dizer para eles que você me deixou ir. Que eu estava te atrasando. Que você estava com medo deles se aproximarem de você. Eu vou dizer que você sabia que estava em problemas por quebrar as regras, por atirar em seus próprios homens, por isso está fugindo. Eles vão ter que me deixar ver Jack. Eu sou sua irmã. - Eles sabem que você estava com Demos. Eles vão presumir que ele disse à você sobre o que a Unidade está realmente fazendo, e sobre a sua mãe. - Vou agir como se ele não disse nada. Eu vou te dizer à eles que ele tentou me matar como ele matou minha mãe. - Você é a pior mentirosa do mundo – Alex argumentava, puxando sua mão da minha. Eu já tinha pensado nisso. Já havia planejado tudo isso há alguns dias. - Bem - eu disse - eu vou dizer a verdade, só não toda a verdade. Dessa forma, eu não vou ter que mentir. Ele levantou uma sobrancelha para mim. - Sara vai ver através de você. Ela é treinada para interrogar as pessoas que são muito mais qualificadas do que você em mentir. Eu afastei este pensamento.
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- Nós não sabemos o que Sara sabe - eu argumentei – ou o quão envolvida ela está. Ela pode ter sido enganada como você e Jack. Eu podia ouvir o desespero em minha própria voz e tentei me controlar já que eu precisava parecer confiante e não desesperada. - Podemos até colocar Sara do nosso lado. Ela ama Jack. Eu não acredito que ela é um deles. Alex suspirou. - Eu também não. Mas se você me dissesse há duas semanas o que a Unidade realmente está fazendo, eu não teria acreditado também. É muito perigoso, Lila. Tem que haver outra maneira. Eu dei um passo para mais perto dele. - Alex, você já sabe que não há. Se houvesse uma outra maneira, acredite, eu ia escolher a outra. Mas eu tenho que fazer isso. É da minha mãe e do meu irmão que estamos falando. Alex olhou para mim com ferocidade. - É sobre você que estamos falando. Eu senti minha determinação vacilar. - Eu vou com você - disse ele - Você não vai fazer isso sozinha. Eu sorri para ele. - Eu estava esperando que você dissesse isso.
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Key estava me esperando no quarto de Suki e Nate quando me juntei aos outros. Ele saltou para cima assim que me viu. - Seu pai está com ele - foram as primeiras palavras da sua boca. Olhei para ele, perguntando sobre o que ele estava falando. Olhei ao redor da sala para ver de quem ele poderia estar falando. O pai de quem estava com Jack? Mas quando eu olhei para trás, Key ainda estava olhando diretamente para mim. - Seu pai - disse ele - ele está no hospital com Jack. - O quê? - Alex interrompeu. - Eu acabei de voltar de uma outra ronda pela Base. Seu pai está no hospital. Eu não fiquei lá por muito tempo porque imaginei que você gostaria de saber. - O meu pai? - Uma bolha parecia estourar no meu cérebro. Oh Deus. - Você não falou com ele? - Alex perguntou, olhando para mim. Engoli em seco, de repente minha garganta seca como cinzas. - Não exatamente. Eu não consegui falar com ele, então eu deixei uma mensagem com Maria, a nossa empregada. Eu disse a ela que tinha ido para um acampamento em uma viagem para o Vale da Morte e que estaria de volta em uma semana. E então, talvez, eu meio que esqueci de ligar de novo. Eu dei um grande e falso sorriso. Alex não disse nada, ele apenas continuou a olhar para mim, seus lábios apertados, ficando lentamente branco. - Ele realmente acreditou - Key murmurou em voz baixa - Ele está na Califórnia. Na Base. E ele está se perguntando por que Jack levou um tiro e está preso e por que você está desaparecida. - Jack está preso? - eu explodi. - Bem, o que você achou que ia acontecer quando ele entrou em um tiroteio contra a Unidade? - Key perguntou, olhando para mim como se eu
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fosse estúpida - Ele atirou em seus próprios homens. Eles não vão premiálo com uma Medalha de Honra em breve. - Ei, ei, não a preocupe mais – Alex interrompeu . - Não me preocupar? Meu irmão está em coma, possivelmente paralitico e além disso está preso, e o meu pai acabou de entrar em tudo isto. E você está dizendo para eu não me preocupar ? O completo horror da situação manifestava em mim. - O que ele está fazendo aqui? - Eu perguntei, em pânico e sem fôlego - Ele sempre disse que nunca mais iria voltar aos Estados Unidos. Que ele nunca mais pisaria em solo americano novamente. Não depois do que aconteceu com a minha mãe. Eu senti o braço de Alex pousando nos meus ombros e eu me virei para ele. - Deus, ele não sabe sobre ela, Alex. Ele não tem idéia que ela ainda está viva. Por que ele tinha que voltar? Ele não pode estar envolvido em tudo isso - Eu pressionei minha cabeça no ombro de Alex - Essa é a minha família, Alex, e estão ali mesmo. A Unidade tem à todos eles agora. Houve um silêncio mortal. - O que o seu pai sabe sobre Unidade? - Harvey disse finalmente. Ele estava fumando um cigarro pela porta aberta. - Nada - eu disse, ainda me recuperando do choque, minhas pernas se sentindo trêmulas e minha voz vacilante - Ele não sabe nada sobre eles ou sobre nós. Ele não sabe nada. - Na verdade, isso não é bem verdade. Olhei para Demos. - O quê? Seu olhar piscou para Alex e depois para mim. Ele limpou a garganta. - Seu pai sabia sobre sua mãe, sobre ela ser uma telepata. - Ele o quê? - Ele sabe. E ele sabe sobre a Unidade também, mas ele acredita que a missão da Unidade é para conter pessoas como nós - conter psys porque somos perigosos. Ele acha que eu matei sua mãe, porque é isso que a Unidade disse a ele. Meu queixo caiu. O silêncio ficou mais pesado. Eu tentei absorver a informação nova de que meu pai sabia sobre os poderes da minha mãe todo esse tempo. De repente fazia sentido - por que ele me arrastou direto em um avião para Londres após o funeral da minha mãe. Por que ele tinha ficado tão bravo com Jack por ficar para trás. Porquê ele surtou quando eu voltei. Oh Deus. Eu coloquei a mão na minha cabeça para tentar conter todos os pensamentos batendo contra o meu crânio. Quanto mais em pânico ele deveria estar agora? Comigo desaparecida? 54
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Isso era tão ruim. Muito, muito ruim. - Há mais coisas - disse Demos, porque claramente ele parecia achar que eu não estava em pânico o suficiente. Eu olhei para cima cautelosamente, apoiando-me em mim mesma. - Seu pai está trabalhando em algo todo esse tempo. Eu esperei. - Ele tem feito pesquisas para descobrir o que faz nós sermos desta maneira. - Não, ele não fez - eu ri, mas minha risada soava vazia e falsa - Ele é um pediatra especialista. Ele investiga doenças da infância. Ele escreve livros. Ele está sempre em conferências e outras coisas. Eu conheço o hospital onde ele trabalha. Demos apenas deu de ombros. - Nos últimos cinco anos o seu pai está tentando encontrar uma cura medicinal para o que nós somos. - Mas não estamos doentes - Suki falou do canto da sala. - Não - disse Demos - Mas o pai de Lila acha que estamos sofrendo de um tipo de câncer e ele tem tentando descobrir o que se pode descrever como um tipo de quimioterapia, uma forma de cura para nós. Ninguém falou. Parecia que esta notícia era novidade para todos não apenas para mim. Eu respirei. Todo esse tempo. Todos os anos em Londres. As viagens ao exterior, as horas gastas em seu estudo, em seu laboratório, trabalhando, trabalhando, trabalhando. E nunca tendo suficiente tempo para mim. E lá estava eu pensando que meu pai estava trabalhando excessivamente na tentativa de esquecer da minha mãe, quando o tempo todo que ele tinha estado trabalhando na lembrança dela. Para ela. Porque ele certamente achava que se ele pudesse encontrar as respostas para a nossa cura, ele poderia o quê? Parar Demos? Desfazer o que tinha acontecido? Corrigir algo? É isso que a minha mãe queria também? Ser curada? Porque eu não tinha certeza de que era o que eu queria. - Como você sabe disso? - Alex perguntou. - Porque eu tenho mantido um olhar atento sobre todos eles Demos respondeu, seus olhos voltando-se para mim - Sobre Lila. E Jack. Prometi a Melissa que eu iria vigiar eles e protegê-los se alguma coisa acontecesse com ela. - Você nos espiava? Desde quando? – Eu gritei. - Lila - Demos disse, sua voz cheia de cansaço - eu só queria me em certificar de que você estava a salvo. Quando o seu pai levou você para Londres, eu respirei aliviado, mas eu ainda tive que garantir que a Unidade não tentasse alguma coisa. Felizmente eles não tentaram nada. - Por que não? - Exigi. 55
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Demos mordeu o lábio. Imaginei que ele estava tentando avaliar quantas surpresas mais eu poderia suportar, o que eu tinha que admitir não seriam muitas. - Nós achamos que a Unidade sabe sobre a pesquisa do seu pai. Faz sentido. Isso explica por que eles deixaram você em paz. Por que ainda estamos vivos , ele quis dizer. Suki bateu o pé. - Alguém pode me explicar por favor o que está acontecendo em palavras mais simples? Eu não estou conseguindo entender. Nada. E isso é muito chato. - Eles querem a pesquisa do pai da Lila – Alex disse, quase como se ele estivesse falando para si mesmo – porque ele pode ajudá-los a desbloquear os segredos sobre o que vocês são. Ele está ajudando a Unidade, sem querer . - Alex está certo - disse Demos - A Unidade só está esperando até que Michael desbloqueie as respostas para o código genético de o que nos faz ser assim. Não há melhor pessoa para fazer o trabalho. Ele é um especialista em doenças da infância – doenças hereditárias. Ele fez uma pausa e eu pensei sobre o que ele estava dizendo. O que quer que fosse que nos fazia ser assim, isso era genético. Todos pareciam concordar com isso. Mas ninguém sabia quantas pessoas tinham o gene, ou em quantas pessoas ele estava ativo. Eu por exemplo tinha, mas Jack não herdou – o por quê disso era um mistério total. Mas, talvez, não fosse um mistério para o meu pai. - E mais do que qualquer pessoa no planeta - Demos continuou Michael tem o incentivo para encontrar as respostas. Eles não têm sequer que pagar para ele. - Então, o quê? Eles estão esperando até que ele descubra a cura ou o que seja que nos faz ser assim e então eles vão roubá-lo? Eu não entendi. Eles não querem uma cura. Eles não querem destruir o gene, eles querem é multiplicar o gene. Eles querem criar mais pessoas como nós. - A ciência é a mesma - disse Alex, olhando para mim, mas seus pensamentos estavam a quilômetros de distância, avaliando a nova bagunça onde estávamos entrando - Para corrigir alguma coisa você tem que primeiro entender como funciona. Seu pai acha que está fazendo o que é melhor. Mas realmente ele está fazendo o pior. - Por que você não tentou detê-lo se você sabia que a Unidade estava querendo roubar o seu trabalho? - Eu gritei para Demos. - Parar ele como exatamente? - perguntou ele. - Er - Eu olhei para ele – sabia que você tem uma certa habilidade? Poderia ter sido útil, você não acha? Demos revirou os olhos para mim.
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- Eu não podia passar a minha vida seguindo seu pai de perto e o congelando. Eu tenho outras coisas para fazer. E, além disso, ele acha que eu matei sua mãe, então é provável que ele não fosse querer ouvir nada do que eu tenho à dizer, não é? Fiz uma careta para ele. Eu não queria ouvir mais nada. Levantei-me e caminhei cambaleando em direção à porta.
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Alex caiu na areia ao meu lado mantendo um metro ou mais de distância. Olhei para ele. Ele estava sentado como eu com os joelhos dobrados, seus braços em volta deles, olhando para o sol, que se inclinava no mar. A praia estava completamente deserta. Eu parei de brincar com a pulseira de couro enrolada em volta do meu pulso e me desloquei na areia em direção a ele até que eu pudesse descansar minha cabeça contra seu braço. Ele estendeu a mão e fechou os dedos nos meus. - Eu simplesmente não posso acreditar que o meu pai tem feito isso todo esse tempo - eu murmurei. Alex não disse nada. - E eu não sei como devo me sentir sobre isso. Ou diante do fato de que ele está tentando me curar. Eu não quero ser curada, Alex. Não há nada de errado comigo. Ele olhou para mim com o canto de seu olho, um sorriso se contraindo ao lado de sua boca. - Discutível - disse ele. Chutei areia nele e ele me puxou para baixo, de modo que ficamos deitados de costas, olhando para o céu. - Por que meu pai tinha que voltar? - Pela mesma razão por que você quer voltar. Mesmo razão por que eu quero. Quando você ama alguém, você não tem escolha. Virei a cabeça para olhar para ele e ele segurou o meu olhar. Senti as lágrimas picando a parte de trás dos meus olhos e me virei para olhar para o céu de modo que Alex não pudesse me ver. - Eu deveria voltar e pedir desculpas ao Demos por agir desse jeito eu disse, ainda me movendo para me levantar. - Amanhã - Alex respondeu - Eu conversei com os outros. Eu disse a eles o seu plano. Eles acham que poderia funcionar. Mas vamos discutir isso amanhã e também sobre o seu pai, porque em primeiro lugar, eu preciso fazer alguma coisa. Ele me puxou para mais perto dele até que nossos lábios estavam quase se tocando.
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- O que poderia ser? - Consegui falar, fechando os olhos, antecipando o calor de seus lábios contra os meus. Mas o beijo não veio. Abri os olhos. Alex havia saltado para cima. - Nadar - disse ele, sorrindo para mim – Venha. - Nadar? - Eu fiz beicinho, sem conseguir esconder a minha decepção ao perceber que ele queria nadar em vez de ficar comigo. Alex tirou sua camiseta em um rápido movimento. Meus olhos caíram imediatamente para seu peito - que estava bronzeado, suave e com um ligeiro músculo. Meus olhos voavam para as cavidades sombreadas onde seus quadris desapareciam na sua bermuda, provocando uma vibração em partes do meu corpo que há três semanas ainda estavam um pouco dormentes. As mãos de Alex caíram para o calção e ele começou a soltar seu cinto. Eu repensei a opção de nadar. Eu poderia nadar um pouquinho, com certeza. Ele tirou a bermuda, mas antes que eu pudesse dar um único olhar em qualquer coisa, ele estava longe, correndo em direção à água. Parei por um nanossegundo, pesando meu constrangimento em me desnudar contra o meu desejo de segui-lo. Com uma respiração profunda, eu arranquei minha blusa, em seguida, arranquei minha calça e comecei a correr em direção ao mar, orando para que Nate não estivesse fazendo um “passeio”. A água estava quente e plana como de uma banheira. Eu podia ver Alex já longe, sua pele brilhando no pôr do sol. Quando eu me aproximei dele, com a mão serpenteando sob a água, ele me envolveu em volta da minha cintura e me puxou em direção a ele. Eu não resisti, porque eu já tinha me esquecido até de nadar naquele momento. E então ele me beijou e eu orei em silêncio fervorosamente para que ele pensasse que meu estremecimento era por conta da água fria. Eu tentei me jogar em cima dele mas Alex conseguiu sair livre, segurando meus pulsos em sua mão para que eu não pudesse me impulsionar. Sua determinação era tão sólida quanto as paredes de um abrigo nuclear. Alex me dizia que em tudo sempre haviam fendas. Mas eu não conseguia enxergar as de sua armadura. Ele nadou duas largas braçadas para longe de mim. Olhei para a água e fiquei onde estava, sentindo-me confusa, e aliviada de que o início da noite já fosse o suficiente para esconder o meu rosto decepcionado. - Eu estou apenas tentando proteger a sua honra – ele disse, adivinhando o que eu sentia. Eu gemi e rolei os olhos. Quando é que ele ia entender que eu ficaria muito feliz que ele protegesse outras partes de mim, mas não a minha honra? Ele nadou silenciosamente de volta para o meu lado.
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- Eu sei que temos que partir - eu suspirei – mas parece que este é o único lugar no mundo agora onde estamos a salvo. Onde nada de ruim pode acontecer. - Vamos voltar - disse Alex, levantando a mão da água para me acariciar. - Você acha? - Eu olhei para ele, esperançosa. - Eu sei que sim - disse Alex, me puxando perto mais uma vez mais Eu vou te trazer de volta para cá. É inevitável. Eu não conseguia descobrir se era a água salgada que estava me fazendo flutuar como uma água-viva ou se era ele.
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- Eu gosto disso. Lila, é uma idéia genial. Eu não tinha dito nada. Eu tinha acabado de pensar, com os braços cruzados, seguindo idéias aleatórias na minha cabeça, enquanto os outros falavam sobre as Empresas Stirling e como iríamos destruí-los - como se derrubar uma corporação mundial fosse tão fácil quanto derrubar um castelo de cartas. - O quê? Que idéia? - Olhei para Suki. Ela estava pulando sobre os calcanhares e batendo palmas com suas mãos. - Carlos. O homem da máfia. Carlos? O que? - Eu não tive nenhuma idéia. Eu estava apenas pensando - eu soltei, de repente, temendo onde isso poderia chegar. - O que você estava pensando? - Demos perguntou virando para mim. - Você estava falando sobre como precisávamos derrubar a Stirling Enterprises - eu disse, me contorcendo no meu lugar - Não apenas destruir a Unidade, mas toda a empresa, e eu estava pensando em como fazer isso. - E ela pensou em um homem – Suki saltou para a frente Carlos. Com a cabeça careca e os olhos frios e o guarda costas tatuado. Eu gosto deste plano. - Não é um plano - eu quase gritei. - Não, mas é alguma coisa sim. Espere – Alex disse. Ele demorou alguns segundos pensando. Todos ficaram esperando. - É estúpido - eu interrompi antes que ele pudesse pensar mais no assunto - Eu apenas pensei que a única maneira de realmente destruir Richard Stirling e sua empresa seria se nós armássemos alguma armadilha. - E ela pensou em drogas - disse Suki, ainda saltando sobre seus pés.
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- Eu pensei em drogas e dinheiro - eu corrigi Suki - O que me fez pensar em Carlos. Mas não a sério. Foi apenas um acaso. Não era para a divulgação pública. - Esse cara, Carlos, ele é o cara que tem os passaportes? - Perguntou Demos. - Sim - respondeu Alex. - Ela está no caminho certo – Alicia falou, seu rosto brilhava. - Não, eu não estou em nada. Já estava na hora de todo mundo se acalmar. - DEA. Isso poderia funcionar - disse Harvey, assentindo. - DEA? - Perguntou Suki - O que é DEA? - Drug Enforcement Agency - disse Alex - Eles teriam que investigar. Se pudéssemos de alguma maneira ligar Stirling à drogas, à grandes quantidades de drogas... - O quê? Armarmos para parecer que as Empresas Stirling são na verdade um grande cartel de drogas? - Perguntou Key. - Sim - Alex assentiu - Exatamente. Stirling perderia todos os seus contratos com o governo, a Unidade seria fechada. E Richard Stirling iria enfrentar um julgamento e até prisão. - Eu gostei deste DEA. Viu, foi uma boa ideia - Suki estava radiante Eu te disse. Demos estava coçando seu queixo. - Eu acho que isso poderia funcionar. - Você está falando sério? - Eu perguntei, de pé - Qual é o plano? Nós invadimos o esconderijo de Carlos, pegamos seus capangas e roubamos todas as suas drogas? - E o dinheiro. Precisamos de dinheiro sujo também - Harvey disse, acendendo um cigarro - Muito. Dinheiro que pode ser rastreado até Carlos. - OK, e depois? - Eu perguntei sarcasticamente - Nós não somos os X-Men no caso de que vocês não tenham notado. - Não, somos muito melhores do que eles – Demos respondeu - E então? - ele disse, sorrindo - Nós plantamos a droga. - Onde? Certamente ele não se estava se referindo a realmente plantar na terra. - Em todo escritório e na casa de Stirling. Nós temos que vincular ele ao dinheiro e as drogas de forma tão clara que ele não poderá negar. Um caso sólido que nem ele nem o seu advogado poderão comprar um veredicto favorável. - E como você vai fazer isso? - Eu balbuciei. Alex olhou para Demos e eles sorriram um para o outro, como dois jovens universitários planejando a brincadeira do século. 62
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- Não podemos. Nós simplesmente não podemos fazer isso - eu disse, o pânico crescendo na minha voz, olhando em volta da sala em busca de alguém para me apoiar, mas todo mundo estava sorrindo como se estivessem convencidos. - Você tem uma idéia melhor? - Key me perguntou. - Não, ela não tem - respondeu Suki.
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- Precisamos de um tamizador - disse Demos, de sua posição na cabeceira da mesa. Ainda estávamos no quarto de Suki, que acabou por se tornar a sede oficial para a elaboração do estúpido e ridículo plano para derrubar a Stirling Enterprises. Já passavam das 03:00hs da manhã e eu podia sentir meus olhos começando a fechar, a minha cabeça inclinando perigosamente perto da mesa onde estávamos sentados em volta. - Vá se deitar - Alex sussurrou para mim. - Não, de jeito nenhum - disse eu, levantando e me dirigindo em direção ao mini-bar para buscar uma Coca-Cola. - Entrar e sair é fácil. O problema é como se livrar deles atrás de nós depois. Nós estávamos discutindo o plano referente a Carlos. Até agora tudo o que tínhamos era uma estratégia para entrar no lugar e roubar as drogas. O plano envolvia Alex dando as direções, Demos fazendo a sua coisa de controle da mente, Harvey e eu roubando todo o dinheiro e as drogas e levando para o carro usado na fuga, que Nate tinha decidido que ele dirigiria e o resto de nós tinha decidido que Harvey iria dirigir. Essa era a extensão do nosso plano. Mesmo eu tendo passado três horas discutindo com todos sobre a insanidade do referido plano e atirando pensamentos de morte para Suki por ter lido a minha mente mais uma vez, ninguém tinha me escutado. Nem mesmo Alex. E Suki estava me ignorando. O que significava que eu não tinha escolha a não ser finalmente sentar-me e me juntar ao plano, e, eu também tinha que admitir, embora não em voz alta, que o plano não era realmente tão ruim assim. Mas havia um grande problema – mais um entre todos os milhões de problemas menores – e Demos tinha lembrado bem disso. Como faríamos para evitar que a Máfia da América Central não ficasse nos perseguindo também depois do roubo? Já tínhamos a Polícia e a Unidade atrás de nós. Adicionar o chefão do tráfico de drogas mexicano à equação parecia implorar por problemas.
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O nome de Ryder pairava no ar como um fantasma que estávamos todos tentando evitar. Ele era um tamizador: capaz de reorganizar memórias, até mesmo remover lembranças inteiras. Sem ele, nós estávamos em problemas. - Eu conheço um tamizador. Demorou alguns segundos para que todos se virassem e olhassem para Key, sentado no chão perto da porta. Pensávamos que ele estava dormindo. Ele não estava. Ele estava observando tudo, com seus olhos amarelados, empoeirados. - Eu conheço um tamizador - disse ele de novo. - Quem? - Perguntou Harvey. - Minha mãe. - Vovó é uma tamizadora? - Nate gritou do outro lado da sala onde ele e Suki estavam amontoados fazendo algo em um laptop. - Sim, ela é - Key suspirou.
Eu não me lembro de adormecer, mas quando eu acordei, encontrei os braços de Alex enrolados em mim. Estávamos em nosso quarto – ele deve ter me levado para lá. Me estiquei e rolei. Alex ainda estava dormindo, seu rosto banhado na luz dourada que entrava através da janela. Observei ele, escutando o som suave de sua respiração e estudando seu rosto, tentando gravar sua imagem na superfície da minha mente. Como se já não estivesse impresso lá em caneta de tinta indelével. Então, uma lembrança brilhou na minha cabeça de repente – uma situação idêntica à esta, em um quarto de motel apenas algumas semanas atrás, eu novamente assistindo Alex enquanto ele dormia. Eu sorri para mim mesma, lembrando como seus olhos tinha se aberto como se ele tivesse sentido que eu estava observando. E como ele se inclinou na minha direção e me beijou pela primeira vez e eu soube, naquele momento, que as coisas nunca mais seriam as mesmas. Alex agitou-se e, finalmente, as suas pálpebras piscaram. Ele me deu um longo sorriso sonolento. - Bom dia, minha linda - disse ele, levantando a mão para empurrar um fio de cabelo fora dos meus olhos. Meu estômago contraiu e eu senti as picadas no fundo da minha garganta e atrás dos meus olhos. Esta seria a nossa última manhã acordando juntos - espero que não para sempre, mas por um tempo, pelo menos. Estes eram os últimos momentos. Amanhã eu não acordaria nestes braços. Eu poderia estar acordando em uma cela da Unidade, com
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alguém querendo abrir a minha cabeça, enquanto faziam todo o tipo de experimentos em mim. Sentei-me na cama, procurando a pulseira de couro no meu pulso com uma urgência que me surpreendeu. Eu precisava tirá-la. Eu puxei e puxei até que Alex agarrou meu pulso. - O que você está fazendo? - Eu quero tirar. - Porquê? Eu podia ver que ele estava confuso. A pulseira tinha sido como um ioiô entre nós durante anos, uma espécie de presente de despedida. Primeiro ele tinha dado a mim há cinco anos, quando fui para Londres, em seguida, eu tinha dado de volta para ele em seu aniversário apenas há algumas semanas, e então, ele tinha dado a mim antes de ter me deixado com Jack. E agora aqui estou eu, sentindo a necessidade de devolver a ele para um mais adeus. Eu tinha o sentimento louco que essa pulseira iria protegê-lo. Mantê-lo seguro quando eu não pudesse estar perto dele. - Eu quero que você fique com isso de novo - eu disse. - Espere, espere - disse ele, sentando-se. Ele saiu da cama e foi até a cadeira onde ele tinha jogado suas roupas. Ele se atrapalhou um pouco no bolso, mas logo voltou com seu canivete, porém nesse momento eu já tinha conseguido desatar o nó. - Aqui - ele disse –dê para mim. Eu percebi o que ele estava pensando e entreguei a pulseira para ele. Ele cortou o fio de couro, endurecido com a água salgada e desbotado para um castanho claro, e, em seguida, amarrou metade em volta do meu pulso. Quando ele terminou, ele pegou a outra metade e amarrou em seu próprio pulso. Eu o ajudei com o nó. Senti aquilo como algo solene. Como se estivéssemos fazendo um ao outro a promessa de que nada poderia nos separar de novo, e eu me agarrei a esse pensamento com todas as forças, esperando ele se fazer realidade.
Os outros estavam esperando por nós, sentados sob uma palmeira na varanda fora do quarto de Demos. Não havia nem sinal de Rachel e eu percebi que Alicia se sentou distante dos outros, com os joelhos até o peito, olhando em direção ao mar. Key também estava longe. Em seguida, o avistei ao longe, caminhando na praia, suas calças arregaçadas até o joelho. 66
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- Harvey, Alicia, Nate e Suki irão comigo para Washington, para tratar com Carlos - Demos disse. Olhei para Suki e Nate. Suki tinha uma pesada corrente de ouro pendurada em seu pescoço e estava usando um jeans rasgado com tênis branco. Eu não sabia que Suki tinha jóias tão chamativas ou algum sapato com menos de três centímetros de altura. Ela ficou incrivelmente baixinha e frágil daquela maneira. Nate tentou amarrar uma bandana em volta de seu cabelo afro, mas seu cabelo estava pulando para fora, pelos cantos, como se tentando escapar de uma prisão. Ele estava usando óculos de sol e uma blusa branca, o que só servia para enfatizar seus ombros e braços magros. Então passou pela minha cabeça que ele e Suki tinham provavelmente passado a noite pesquisando sobre a moda no mundo do crime mexicano e que esta era a sua tentativa de estar à paisana. - Alex vai com você de volta para Oceanside, Lila - Demos disse mas vocês tem que manter uma distância da Base. Key é o único de nós que não é conhecido pela Unidade de modo que ele vai de volta com você também - pelo menos ele vai se projetar. Ele não vai estar lá em pessoa. Sorri para Key. Isso me fez sentir muito mais segura, saber que Key seria literalmente minha sombra - como ter uma corda salva vidas invisível para os outros. - Vamos manter o seu corpo com a gente - Demos continuou - É mais seguro para ele e também assim ele pode voltar para nós imediatamente e nos avisar rápido se você está em perigo. - Mas lembre-se - Alex disse, puxando uma cadeira - Key não pode entrar na Unidade ou mesmo se aproximar menos de cinco metros da parede do perímetro ou ele vai acionar o alarme. Você vai ficar bem, você pode andar entrar pela porta da frente como todo mundo. Basta ter muito cuidado para não usar seu poder quando você estiver dentro ou mesmo nas proximidades. O alarme aciona mediante qualquer alteração no campo eletromagnético, por isso, enquanto você se manter sob controle, você vai ficar bem. Notei a ênfase extra que ele colocou na palavra sob controle e o olhar que ele estava me dando, seus olhos bastante sérios. - Sob controle – repeti - entendi. Embora dentro de mim, a primeira que pensei foi MERDA. - Segunda coisa - disse ele, movendo-se rapidamente - Se o alarme soar quando você estiver dentro, você não vai conseguir sair. Não apenas porque vai te derrubar, mas porque todo o prédio fica auto bloqueado. Eu balancei a cabeça para ele. - Sob controle. Eu ouvi você. - As celas estão no subsolo, em uma área chamada de “retenção de prisioneiros”. Eles estão fora de acesso. Antes, quando resgatamos Alicia e
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Thomas, usamos Rachel para nos levar lá. Usamos seus códigos de acesso. Só ela e algumas poucas pessoas têm esse tipo de privilégio. - Então, como é que eu entrar neste lugar? - Eu perguntei, tentando me focar novamente. - Você não vai entrar, Lila – Alex disse, me lançando um olhar escuro - Quando chegar a hora, vamos todos juntos. No momento nossa única opção para entrar é Sara - Ele franziu a testa quando ele disse o nome dela - Mas nós não sabemos se podemos confiar nela. Precisamos de você para tentar descobrir isso. - Lila - Demos interrompeu, com a voz em um tom de advertência Alex está certo. Você não vai tentar nada estúpido. Isso poderia atrapalhar tudo. Você vai nos esperar. Entendeu? Era como se ele tivesse lido minha mente. Senti minha mandíbula apertando e fechando com a força que fiz para assentir. - Sua prioridade é descobrir se podemos confiar na Sara e descobrir o que está acontecendo com Jack - ele disse, segurando meu olhar com firmeza - Eles estão tratando Jack no hospital militar que fica fora da Base da Unidade. Mas não faça nada suspeito, não tente fugir com ele, não tente resgatar sua mãe - não fazça nada, exceto manter seus olhos e ouvidos abertos. Descobrir todas as informações e esperar por nós. - OK, eu entendi desde a primeira vez - eu murmurei. Todos eles continuaram me olhando em silêncio, até mesmo Alex. - O quê? - Eu explodi - Eu prometo! Demos balançou a cabeça, um sorriso nascendo em seus lábios. - O momento certo deve coincidir exatamente com o que temos planejado em Washington. Não há espaço para erros neste processo. Ele olhou para mim quando ele disse isso. Caramba , pensei, já chega de tanta palestra. Suki riu atrás de mim. - Alex seguirá atrás de você, Lila – Demos disse. - E quanto a Rachel? – Perguntei – O que vamos fazer com ela? Eu tinha algumas idéias sobre o que fazer com Rachel, mas eu não acho que Demos gostaria de ouvir. - Vamos deixar Rachel na Cidade do México com Bill - disse ele - Ele vai ficar para cuidar de Thomas de qualquer maneira. Eles têm um apartamento lá. Ela vai estar presa e fora do nosso caminho. - E Amber? E a Amber? Ela vai ficar com Bill e Thomas? Ou ela vem com a gente? - Perguntou Nate. O resto de nós ficou em silêncio. - Vamos ver - Demos respondeu, sua boca se fechando em uma linha sombria. Key apareceu de repente na porta atrás de Demos. - Bem, nós agora temos uma tamizadora – ele anunciou. 68
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Eu continuei tendo alguns flashbacks enquanto nós dirigimos pelas ruas da Cidade do México em pleno entardecer, os meus olhos varrendo atentamente o trânsito, tentando identificar qualquer pessoa em uniforme de combate preto ou em um SUV com janelas escurecidas no nosso encalço. Alex estava no limite também, mal dizendo uma palavra enquanto atravessávamos a cidade na BMW com Harvey, Suki e Nate. Demos estava em uma van à frente de nós com Alicia e Rachel. O apartamento em que Bill e Amber estavam com Thomas ficava no décimo andar de um prédio cinza no centro da cidade. Harvey entrou no estacionamento subterrâneo e desligou o motor. Demos apareceu de repente e abriu a porta tão rápido que eu quase cai. - Vamos? - ele me perguntou. Olhei para Alex. Ele me deu um pequeno sorriso de encorajamento. Eu não tinha certeza se eu queria ir até lá e ver Amber. O que eu diria a ela? E então também veria Thomas. Eu realmente não tinha certeza se eu estava pronta para ver ele - para ver o que a Unidade havia feito com ele, ou pior, ouvir sobre isso em detalhes. Mas Demos estava à espera e os outros estavam olhando para mim, então eu soltei o cinto de segurança e o segui, arrastando meus saltos por todo o caminho até o elevador como se eu pudesse de alguma forma atrasar o momento. Alicia veio junto, e logo nós três atravessamos pelo saguão e tomamos o elevador para o décimo andar. Caminhamos silenciosamente ao longo do corredor acarpetado até que paramos diante da última porta. Batemos e, depois de alguns segundos, Bill abriu a porta. Ele nos conduziu para dentro, apontando com o dedo para os lábios para nós ficarmos em silêncio. - Como está o Thomas? - Alicia sussurrou. - Venha e veja por si mesma - Bill respondeu, nos conduzindo através de um pequena sala de estar e passando por um curto corredor. Ele abriu a porta para um dos quartos e eu olhei dentro, podendo apenas distinguir a forma de uma cama e uma pessoa deitada nela em meio à escuridão. Alicia cruzou direto para a cama. Eu sabia que deveria seguila. Metade de mim queria ver ele, mas eu não conseguia dar um único passo. Eu estava enraizada no mesmo lugar.
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- Ele está cada vez melhor - Bill disse suavemente, passando para ficar ao lado de Alicia - Ele só dorme – ele quase não tem realmente acordado – mas os pesadelos pararam. Ele parece mais calmo. Notei Demos fazer uma cara feia para Bill, obviamente alertando-o para que ele fosse cuidadoso com o que dizer na minha frente. Bill limpou a garganta. - Ele vai ficar bem - disse ele - Dê-lhe mais uma semana mais ou menos e ele estará de volta ao normal. Dei um pequeno passo em frente na direção deles e da forma insubstancial na cama. Alicia estava bloqueando minha visão. Ela deu um passo para o lado e eu engoli em seco e coloquei a mão sobre a minha boca. Thomas estava branco como os lençóis, mais branco até do que isso, na verdade, e seu rosto estava banhado de suor. Sua respiração era tão superficial que, à primeira vista ele parecia estar morto e eu tive um súbito pensamento de que isso era algum tipo de teste que eles estavam fazendo comigo - me trazendo para ver um cadáver. Mas então eu observei o ligeiro aumento e queda de seu peito. E concluí que o que Bill disse que foi claramente apenas para em acalmar, porque com certeza não parecia que Thomas iria acordar e voltar ao normal na próxima semana, ou sequer nesta década. - O que eles fizeram com ele? - Perguntei sob minha respiração. Bill exalou alto. - Ele não esteve lúcido e coerente o suficiente para nos dizer alguma coisa. Nós não temos nem certeza se ele pode nos ouvir. Amber só vê branco nele, quando ela olha para ele . - Porém ele está bem agora. Ele vai ficar bem - disse Demos como se a convicção em sua voz pudesse fazer todos nós acreditar. Mas ninguém ninguém disse nada em resposta e por isso a sua mentira caiu vazia. Ele deveria estar no hospital, sendo cuidado - pensei com raiva de mim mesma. De que outra forma ele vai ficar melhor? - Não é seguro para ele ficar no hospital. A Unidade iria encontrá-loAlicia respondeu minha pergunta silenciosa - E Bill costumava trabalhar como enfermeiro. - Paramédico na verdade - Bill murmurou. Oh. Eu não sabia disso. Quem olhava para Bill poderia facilmente pensar que ele ganhava a vida na luta livre dentro de gaiolas. Ele tinha uma careca bem profunda na cabeça e um pescoço quase tão grande como o meu torso. Mas uma vez que você realmente o conhecesse , você perceberia que esse homem gentil de fala mansa era um perfeito exemplo de não julgar um livro pela capa. Eu então me lembrei dos vários crimes imputados à ele pela Unidade, incluindo assassinato, e eu conclui que 70
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realmente não poderia imaginar ele machucando sequer uma mosca. Mas então eu me lembrei como ele revirou um veículo da Unidade com a mente também. Estudei ele mais uma vez. Ele era um homem de contradições. - Alicia, você pode ouvir alguma coisa? O que está passando dentro de sua cabeça? - Bill perguntou de repente. - Nada - respondeu Alicia, quase demasiado rapidamente - Eu não consigo ouvir nada. Ela virou as costas para mim de modo que então eu não podia mais ver seu rosto, e isso me colocou imediatamente em alerta. Será que ela estava mentindo? Por quê? Olhei para Thomas. O que ela estava vendo em sua cabeça? Deus, isso era muito pior do que eu imaginava. Eu tinha esperado encontrar Thomas, pelo menos, sentado em sua cama, consciente e conversando. Era assim que a minha mãe provavelmente também estava? A raiva veio do nada - como um tornado estourando para fora de mim sem aviso. Tentei me controlar, mas já era tarde demais. Antes que eu conseguisse parar o que eu estava fazendo, os copos de água na mesa de cabeceira saíram girando ao chão, pulando da cabeceira da cama e quebrando em milhões de pequenos pedaços. Senti minha respiração arfando, vindo em grandes ondas. O braço de Alicia chegou em volta do meu ombro. - Não devia ter trazido você - ela disse. Dei de ombros. Não, eles não deveriam ter me trazido. Por que eles tinham trazido? Será que eles pensam que me fazer que ver e ouvir tudo isso me faria me sentir melhor? Eu só queria sair dali; o quarto era tão pequeno. Eu não conseguia respirar. Eu queria encontrar Alex. Eu precisava vê-lo. Me virei para o outro lado saí, instável, ciente de que eu estava cambaleando, e me dirigi para a porta, pronta para marchar de lá, quando de repente Amber apareceu, bloqueando meu caminho. Ela parecia terrível. Seu cabelo vermelho normalmente selvagem estava amarrado para trás em um rabo de cavalo, seu rosto era pálido e completamente limpo de maquiagem. Parecia que ela não dormia há um mês. Ela olhou diretamente para mim, e então seu rosto torceu em uma careta e ela desviou o olhar. Eu respirei. Qual a cor que ela tinha visto? Foi minha raiva que tinha refletido? Raiva era a cor vermelha. Eu provavelmente parecia uma bola gigante de fogo para ela. - Amber - disse Demos calmamente. Seus olhos cinzentos brilharam com raiva para ele, então, ela passou abruptamente por ele em direção à janela, puxando para trás a cortina. 71
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- Você sabe, Demos - disse ela, encarando a rua abaixo - Eu não sei o que é melhor, olhar para as pessoas lá fora, ou olhar para você. Lá fora, há tanta cor - Ela riu, mas foi um barulho tão amargo como bílis - O mundo continua - ela disse calmamente. Deixei escapar um longo suspiro, sentindo minha raiva dissipar com isso. Eu sabia sobre o que ela estava falando – sabia muito bem - a sensação de que o mundo deveria de alguma forma parar, deixar de girar, pois alguém que você amava já não estava nele. Foi assim que eu me senti depois que minha mãe morreu. Ou depois que eu pensei que ela tinha morrido. - Você sabe, eu não sabia que a compaixão tinha sua própria cor Ela olhou para mim enquanto ela disse e eu desviei o olhar, envergonhada, percebendo que era o que eu estava sentindo agora, em vez de raiva - Mas tu, Demos - ela continuou - Você tem sua própria cor. Você sabia isso? Não é pena que você está sentindo, não é? É outra coisa. Culpa. E isso tem a sua cor própria. Demos se aproximou, inquieto, para meu lado. Amber se levantou lentamente da cadeira e caminhou em direção a ele. - Por que você está aqui? - Amber, estamos preocupados com você – Demos respondeu. - Sério? Eu não acredito, Demos, por que isso exigiria que você se preocupasse com mais alguém que não seja Melissa e, que também estivesse pensando em outras coisas além de vingança. Senti Alicia endurecer ao meu lado. - Amber - Demos disse - trata-se de mais do que apenas Melissa. Você sabe disso. Se trata de parar a Unidade e impedi-la de capturar mais um de nós e fazer com outros o que eles fizeram com Thomas. Mas se você quiser falar sobre vingança, o que acontece com Ryder? Você não quer se vingar pelo que fizeram com ele? O rosto de Amber se contorceu por um segundo, mas em seguida, ela se afastou de Demos e se dirigiu para a janela, mais uma vez, de costas para nós. - Você não quer colocar um fim à tudo isso? - Demos perguntou com mais calma. Eu podia sentir a fúria crescendo dentro de Amber em ondas. Eu não preciso ver auras para poder sentir. Olhei para Alicia para ver o que ela estava pensando, mas ela estava apenas olhando para Demos com uma expressão que parecia ser em parte tristeza e em parte confusão. E Bill estava apenas olhando entre todos nós como um árbitro em uma partida de tênis, passando de pé para pé, obviamente desconfortável com toda a situação. Amber finalmente virou-se. Ela havia se recomposto um pouco.
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- Você sabe, Demos, você é tão ruim quanto Richard Stirling – ela disse - Tentando convencer as pessoas a fazerem o que você quer. Usando pessoas como nós. Não importa. Você fez Ryder acreditar que tínhamos que lutar. E você o fez pensar que tínhamos uma chance de ganhar a briga. Senti meu coração pular em minha boca. - Não podemos lutar contra a Unidade - disse Amber, sua voz ficando mais alta, chegando ao ponto em que eu tinha certeza de que, mesmo Thomas seria capaz de ouvi-la. - Não podemos ganhar. E todos vão morrer te seguindo, ou acabar como Thomas: sendo cobaias em experimentos como um rato em uma gaiola. Esta é a sua luta - ela disse - sua e dela - Ela balançou a cabeça para mim – Não é a minha luta. E não é a deles - disse ela, inclinando o queixo para Bill e Alicia. Eu senti como se algo estivesse contraindo meu peito. Demos não disse nada de volta. Ele apenas ficou ali, olhando para o chão, com a cabeça abaixada. Bill limpou a garganta: - Eu acho que talvez seria melhor se você...hum, saísse. Demos abriu a boca para dizer algo para ele, mas a mão de Alicia em seu braço o deteve. Ela balançou a cabeça para ele em silêncio. Com um último olhar sobre Amber, Demos caminhou até a porta, acenando para que eu seguisse. Eu fiquei lá por um momento, sem saber o que fazer. - Amber – eu disse, finalmente, e notei ela endurecer - Sinto muito eu sussurrei. Ela nem sequer olhou de volta.
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Um táxi freou no meio-fio quando saímos do lobby, o seu escapamento raspando o asfalto. Nós recuamos para fora do caminho quando o motorista abriu a porta em nosso caminho. Demos parou, jogando o braço sobre mim, e eu congelei instantaneamente. Mas o motorista só amaldiçoou em espanhol, ignorou todos nós, e marchou para o porta-malas, onde ele começou a lutar para conseguir tirar todo o conteúdo que ameaçava cair de uma vez em toda a calçada. Key saiu do lado do passageiro e tentou ajudá-lo. Olhamos confusos quando cinco maletas grandes foram retiradas e Key colocou várias notas nas mãos do motorista. O homem ainda estava gritando e apontando para o carro, que estava inclinado para um lado estranhamente, como uma gangorra. A porta se abriu, de repente, fazendo um ônibus que estava passando ter que desviar e buzinar. Em seguida, uma mulher saiu de dentro. Ela era tão redonda como uma bola de boliche e vestida com o que era claramente seu melhor conjunto de domingo – uma saia verde pálida, um chapéu de estilo Jackie O. com um pequeno véu, um terninho e, apertando em suas mãos gordas, ela segurava uma pequena bolsa branca. A mulher era como um mini planeta com sua própria força gravitacional - o carro se curvou no lado dela ela enquanto ela levantou-se para fora. Key correu para o lado dela e puxou-a pelo braço, arrastando-a para fora do caminho no meio do trânsito para a calçada ao lado de suas malas de viagem, empilhadas na calçada. - Este não é o Hilton, Joe Junior – a mulher observou, olhando para o edifício cinza - Você disse que me colocaria na melhor suíte no Hilton Ela olhou ao seu redor, para cima e para baixo da rua - Eu não vejo palmeiras balançando e nem o mar com aquela areia branca também. Key revirou os olhos para o céu. - Mamãe, eu disse que precisava de você para fazer um favor para nós em primeiro lugar e, em seguida, vou te dar as suas férias. Expliquei tudo isso pelo telefone e no táxi. Meia hora em um táxi com sua mãe tinha claramente cobrado um preço alto para Key - ele parecia esgotado. Eu fiquei sem palavras, sem 74
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saber como tal mulher poderia realmente compartilhar o mesmo código genético de Key e Nate que eram ambos tão magros mais pareciam com dois pontos de exclamação quando você os olhava de perfil. E esta mulher era uma completa bola. Redonda, cheia e, conforme essa minha primeira impressão, também era alguém que, obviamente, gostava de ter a última palavra. - Sra. Johnson, é um prazer conhecê-la - Demos disse, dando um passo para frente e dando o seu sorriso mais encantador, aquele que me fazia perceber o que a minha mãe tinha visto nele. A Sra. Johnson derreteu. Sua força gravitacional ameaçando por um momento sugar Demos como se ele fosse uma estrela moribunda caindo em um profundo buraco. Gostaria de saber se o seu poder tinha efeito sobre ela ou se não causaria nenhum impacto. Talvez seria como tentar gritar no espaço. Ela corou, alisou o chapéu e levantou sua mão estendida, batendo os cílios como se tivesse algo preso nos olhos. - Então, você é um dos amigos de Joe Junior? - ela ronronou. - Espero que sim - respondeu Demos. - Eu sou Lila - eu disse, estendendo a minha mão, tentando tirar a pressão de Key. A Sra. Johnson me encarou com uma expressão que parecia sugerir que eu precisava ter pelo menos um pouco de carne em meus ossos antes que eu fosse alguém com quem valesse a pena falar. - Eu sou Alicia, muito obrigado por ter vindo, Sra. Johnson - Alicia disse. Eu fiquei contente. O tom de Alicia e seu sorriso tinham um efeito muito maior. A Sra. Johnson sorriu largamente para ela. - Eu estava dizendo para Joe Júnior como estou feliz de estar aqui disse ela. - Mama, vamos, por aqui - Key disse, colocando uma mão sob o seu cotovelo – Nate está esperando para te ver. - Awwwwww, meu netinho! Onde está o meu bebê? Eu tenho estado tão loucamente preocupada. Você nem sequer pensou em chamar a sua velha mamãe. Rapaz, você acha que eu sou telepata ou alguma coisa? Você não poderia mesmo encontrar tempo para me ligar e dizer onde você estava? Eles caminharam, deixando a todos nós boquiabertos atrás deles. - Nathaniel, com o que eles andam alimentando você? - Sra. Johnson gritou quando viu Nate. Ela virou para Key - Com que você anda alimentando esse menino? Uma dieta de água e laxante? Ela agarrou Nate ao peito e eu me perguntei se ele ia sufocar.
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- Você está tão magro, meu filho, você vai quebrar em dois, se você não se cuidar. E o que você vestindo? O que é essa bandana? É melhor não estar envolvido em nenhum gangue, está me ouvindo? Suki estava pulando para cima e para baixo atrás deles, os pés mal tocando o chão quando Nate recuou dos braços da Sra. Johnson, tentando sair do seu abraço. Ela dançou para frente. - Avó de Nate, eu sou Suki e é um prazer em conhecê-la. Sra. Johnson soltou Nate e apertou Suki ao peito em seu lugar. Suki desapareceu quase completamente; apenas seus tênis branco e um pedaço de seu cabelo preto podia ser visto. - Você é a menina que é tão boa cuidando do meu Nate? Bem, Deus abençoe você meu anjo, você é tão gentil. Nate sempre me fala tudo sobre esta linda menina, Suki. Ela piscou para nós enquanto a cabeça de Suki permanecia enterrada em seu peito. Ela empurrou Suki para trás, segurando-a pelo ombros e olhou para os lados. - Espero que você também não seja membro de nenhuma gangue. Ouvi Nate e Suki começarem a protestar, mas então eu me distraí. Alex tinha entrelaçado seus dedos nos meus. Ele abaixou a cabeça para sussurrar: - Como foi com Amber? Eu balancei minha cabeça. - Amber não virá com a gente. Eu vi um traço de uma passagem de preocupação em seu rosto. Ele me puxou para fora da vista dos outros, para trás da van. - O que aconteceu? - Ela disse que era a luta de Demos. A luta de Demos e a minha. E ela disse que todos nós vamos morrer ou acabar como Thomas se nós continuamos - Eu hesitei - Você acha que isso é verdade? Alex balançou a cabeça. - Não, Lila, eu não acho. E não é apenas a sua luta, é a nossa luta. Não se trata apenas de vingança. Eu lhe disse antes... é algo maior. Trata de parar a Unidade. Eu iria lutar esta batalha, mesmo que não se tratasse de sua mãe. Ou de você. Ele tocou meu queixo levemente levantando para eu olhar para ele novamente. Mas eu não conseguia sorrir. Eu ficava vendo Thomas em minha mente, ali, preso na minha cabeça. - Você o viu? Thomas, quero dizer – Alex perguntou, no exato momento em que eu estava tentando apagar a memória dele. Eu balancei a cabeça. Alex pareceu entender que isso era tudo o que eu podia fazer - que eu não queria falar sobre isso - porque ele não
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me perguntou mais nada. Ele me puxou para perto e beijou o topo da minha cabeça.
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- Você com certeza sabe como tratar a sua mãe - Sra. Johnson ainda estava discursando para Key - A Senhora Williams ganhou uma televisão de plasma de seu filho Marlon Junior. Mas o que eu ganho? Eu ganho uma viagem para certas partes da Cidade do México que nem mesmo os missionários querem ir. E já são mais de 3 da manhã!! À quem vamos ver às 3 da manha? Porque não existe gente honrada, temente à Deus acordada às 3 da manhã. - Mamãe, eu te disse, uma vez que terminarmos o que viemos fazer aqui, você irá direto para o Hilton em Acapulco. Te reservamos o quarto mais bonito que você pode imaginar, com os doces sons do oceano do lado de fora, as palmeiras balançando, e a praia é tão branca que faz seus olhos doerem. Você vai adorar. - Eu só estou dizendo que eu não estou vendo nenhum palmeira balançando, Joe Junior. E nem TV de plasma - ela murmurou baixinho. A cabeça de Key estava jogada para trás. Ele encarava o telhado do carro de aluguel como se quisesse pular por ali com extrema violência. Eu estava ao lado dele, a Sra. Johnson em seu outro lado. Alex estava dirigindo e Suki estava no banco do passageiro. Os outros estavam na van à nossa frente, sem Rachel. Demos tinha deixado Rachel no mesmo apartamento com Thomas. Eu me preocupava com o fato de ela estar no mesmo ambiente de Amber, mas depois lembrei-me que Amber estava culpando Demos e não a Unidade pela morte de Ryder. E então me lembrei que eu não me importava com o que acontecesse com Raquel e desejei até que Amber tivesse uma repentina mudança sobre quem ela culpar. Estacionamos cerca de dois quarteirões para baixo do esconderijo de Carlos. As ruas estavam tão vazias quanto no dia em que Alex e eu tínhamos vindo aqui, algumas noites antes. - Como é que Joe Júnior ganhou o apelido de Key? - Eu perguntei, puxando conversa antes da Sra. Johnson se lançar em outro discurso ou perguntar sobre quando ela ia chegar a Acapulco.
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Ela se virou para mim, endireitando o chapéu que tinha deslizado um pouco para a esquerda, antes de colocar ambas as mãos em cima de sua bolsa. - Bem, veja só, quando ele era um menino, Joe Júnior sabia de tudo, descobria todos os segredos. Coisas que não deveria saber se ele tivesse um pouco de juízo na cabeça dele. E nós sempre dizíamos: Aquele menino, ele sabe todos os segredos, é como se ele tivesse uma chave, que pode destrancar as coisas que todos estamos escondendo . Por isso, apelidamos de Key - Ela acariciou o cabelo, certificando-se de que estava tudo no lugar - Claro que isso foi antes de nós descobrirmos o que Joe Júnior poderia fazer. - Demos quer saber se estamos prontos – Suki anunciou, inclinandose para nos enfrentar. Olhei para Alex. Ele estava olhando para mim pelo espelho retrovisor. Eu não podia ver sua boca, mas eu sabia que ele estava dando o seu sorriso tranquilo. - Nate já entrou? - Perguntei. - Sim - disse Suki, tendo ao mesmo tempo uma conversa silenciosa com Alicia que estava na van à nossa frente - Alicia disse que Nate contou quatro deles lá. Um gordo grande na porta, dois outros com armas e o homem, Carlos. Eu mal posso esperar para conhecê-lo. - Parece que são os mesmos homens de antes – disse Alex - Será que ele conferiu todos os quartos? Suki fez uma pausa, perguntando em sua mente e esperando por uma resposta. - Sim, ele olhou todo o edifício - ela concordou. - Oh, meu pobre Nate – Sra. Johnson exclamou - Eu não gosto do jeito que você está colocando ele em perigo. Por que você está deixando o meu pobre menino ir lá para fazer tudo por conta própria? - Ele está bem, mamãe. - Ele está bem, Sra. Johnson - disse Suki – E olha, ele está de volta já. Ela apontou para Nate, que estava na van em frente acenando para fora da janela de trás. - Ele está dizendo Oi. Sra. Johnson começou a acenar de volta. O carro balançava e eu abaixei quando sua bolsa oscilou em minha direção. - Eu prefiria que ele estivesse dizendo Oi da varanda do Hilton. Você entendeu o que eu estou dizendo? Alex saiu do carro e abriu a porta de trás, me liberando daquela conversa. Eu saí para fora e Alex se inclinou em direção a mim.
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- Fiquem aqui até eu avisar. Vigiem as portas - disse ele a Suki que parecia estar prestes a discutir com ele – Aqui – Alex disse, entregando uma arma para Key – por precaução. Os olhos da Sra. Johnson cresceram. - Senhor Jesus, o que você está fazendo com armas? Joe Junior, em que tipo de problemas você está metido? E por que você arrasta sua pobre mãe velha junto? O filho da Sra. Williams nunca se mete em apuros. E se o fizesse, ele não colocaria sua pobre mãe neles. Alex fechou a porta e nós caminhamos até o canto da estrada. Demos, Harvey e Alicia surgiram atrás de nós. - Tranque a porta - eu murmurei para Nate quando nós passamos por sua van. Ele parecia um pouco com um filhote de cachorro, esperando seus donos voltarem. - Eles vão ficar bem aqui? – Eu perguntei, olhando em volta para as ruas assustadoramente escuras. - Eles vão ficar bem - disse Alicia - Eu posso ouvir se alguma coisa der errado. Dois telepatas – pensei – Bastante prático . Como ter nossos próprios walkie-talkies durante 24 horas. Os outros recuaram à medida que se aproximava da porta. - Boa sorte - Alex sussurrou, antes de desaparecer em meio as sombras ao meu lado. Ouvi meus passos ficando mais alto, meu coração batendo como um tambor em meus ouvidos. Demos assumiu uma posição à esquerda da porta e acenou para mim. Eu respirei e bati. Uma parte de mim, a voz interior que tinha ficado tão tranquila ao longo dos últimos dias, começou a gritar para eu correr - para correr muito rápido para longe. Mas a porta se abriu antes que eu pudesse descolar meus pés do chão e obedecer aos meus próprios instintos de sobrevivência. O homem que atendeu era um que era enorme como um tanque. Esperava que Demos fosse muito bom. O homem olhou para mim, e logo em seguida, ele me reconheceu e seu rosto se contorceu em descrença. Ele encarou atento a rua atrás de mim. - É sobre o trabalho. . . Eu disse antes que ele pudesse notar o carro e a van estacionados. Ele olhou para mim, sem saber se eu era louca ou se ele tinha entendido mal o que eu havia dito, mas então, logo depois, ele sorriu um tipo de olhar malicioso e gritou por cima do ombro algo em espanhol que eu não consegui entender. Ele deixou a porta aberta. E Demos que estava oculto à esquerda, apareceu bem na minha frente.
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Todos nós entramos, após o homem tanque ser devidamente congelado por Demos, com seu sorriso lascivo ainda na boca, e logo nos deparamos com os outros dois que já tinham sido capturados por Demos e tinham expressões confusas em seus rostos. Carlos estava sentado atrás da mesa, com a mão sobre a arma que estava em cima da mesa e a outra mão sustentando um copo. Harvey e eu fomos direto para as armas, afastando-as do alcance de suas mãos e as fazendo flutuar para nós. Alex caminhou e revistou os homens congelados, retirando três facas e um facão. Ele jogou no canto da sala e pegou a arma que pairou na frente dele. Em cima da mesa na frente de Carlos haviam pilhas e pilhas de tijolos brancos envoltos em celofane. Um tijolo aberto derramava o pó branco como açúcar de confeiteiro, derramando o seu conteúdo ao redor. Também haviam uma lâmina de barbear e várias notas de cem dólares enroladas ao lado. Eu já tinha visto cenas como essa antes em CSI . - Chegamos na nave mãe - disse Demos com um sorriso, examinando o lugar. Alex sorriu de volta. - Fácil como roubar doce de um bebê. Lila, você pode ajudar? - Claro - eu disse, levantando as pilhas de tijolos com apenas um olhar na direção delas e depositando-as nos sacos que Alex estava segurando aberto. - Precisamos do dinheiro também - disse Alex para Demos. Não havia dinheiro à vista, exceto as notas de dólar enroladas na mesa. - Acorde ele ou seja lá o que for que você faz - disse Alex, acenando para Carlos. - Alicia, você está pronta? - Perguntou Demos. - Sim - ela concordou. Carlos piscou para nós, seus olhos focando imediatamente na arma que Alex estava apontando para ele. Ele agarrou sua própria arma, percebendo que não estava onde deveria estar e franziu a testa. Depois ele notou que seus homens estavam todos congelados e eu pude ver claramente o pânico em seu rosto. - Você! - ele rosnou para mim. - Sim, eu - Dei de ombros para ele - Olá, nós viemos recolher todo o seu dinheiro e todas as suas drogas também. Então, diga-nos onde está o dinheiro, ou então este homem aqui vai fazer coisas muito ruins para você - Eu apontei para Demos que estava ocupado focando nos capangas. Negociar com um chefe da máfia foi mais divertido do que eu esperei que fosse.
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- Onde está o dinheiro? - Carlos repetiu, rindo, batendo a mão na mesa - Você acha que eu vou dizer a você onde o meu dinheiro está? Jesus! - ele gritou. Eu pensei que ele estava xingando. - Jesus! – ele gritou mais uma vez, e então, aí foi quando eu percebi que ele não estava xingando, mas ele estava chamando um dos homens atrás de nós, cujo nome era certamente Jesus. - Seus amigos não podem ouvir - Alex respondeu. Carlos fez uma careta de novo, a confusão em seus olhos. - Está em um cofre - Alicia interrompeu. A boca de Carlos ficou parada aberta e notei o choque em seus olhos. Ele encarou Alicia. - Onde está o cofre, Carlos? - Alex exigiu. - Você acha que eu vou dizer a você? – Carlos gritou, bebendo todo o conteúdo de seu copo de vidro de uma vez. Ele estendeu a mão para a garrafa e notei que sua mão estava tremendo. - É aqui ao lado. Embaixo do chão – Alicia disse. - Ei, como você está fazendo isso? – Carlos gritou, saltando de seu assento. - Nã nã não - Demos estalou a língua, congelando Carlos. Carlos piscou, lutando contra a mão invisível de Demos. Eu queria ficar e assistir, mas Alex me arrastou para o quarto ao lado. Havia uma mesa no centro da quarto. Empurrei ela para um lado com um movimento dos meus olhos e assim ela parou contra a parede oposta. O tapete debaixo da mesa levantou e Alex segurou um anel de ferro fixado no chão e começou a puxar. Debrucei-me sobre seu ombro e ajudei. A porta no chão voou longe, revelando um buraco, de cerca de dois metros quadrados. Dentro do buraco havia cofre antigo com um cadeado com combinação. - Precisamos dos números. O código! - Alex gritou para Alicia. - Eu não vou dizer nada. Nada - Carlos cuspiu. - Você não precisa me dizer nada, eu posso ler sua mente - Eu ouvi Alicia dizer - 5 - 12 - 63-18 – 71 - ela gritou e Alex girou mostrador. O cofre fez um clique. Alex puxou e abriu. E oque vimos era espetacular. Haviam tijolos de dinheiro lá, esperando por nós, como presentes embrulhados. - Lila? Eu olhei para cima. Alex estava me cutucando. - Oh, desculpe - eu murmurei, entregando as mochilas. Começamos colocando todo o dinheiro dentro delas. Eu fiz o dinheiro flutuar para cima em torres de dólares e daí para dentro da
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minha mala e, quando a minha estava cheia, eu comecei a carregar uma mochila que Alex tinha trazido com ele. Ele ergueu as malas em seu ombro. - Permita-me - eu disse, fazendo-as sair de suas mãos antes que ele pudesse fazer qualquer coisa e então eu as fiz flutuar até o outro quarto. Eu deixei passar na frente de Carlos. - Como você está fazendo isso? Quem são vocês? - Carlos perguntou, seus olhos estavam esbugalhando e uma veia roxa saltava de seu pescoço - Vocês acham que vão se safar dessa? Alicia olhou para Demos, e depois para mim e para Alex, antes de voltar para Carlos. - Sim, acho que sim - ela sorriu para ele. - Eu já vi seus rostos. Eu sei o seu nome, Lila . Eu vou te caçar – Carlos assobiou - Você nunca vai dormir de novo, porque você sabe que eu vou estar lá em seus pesadelos. E então um dia...- sua voz caiu para um sussurro - boof , estarei lá de verdade. E aquele dia será o dia que você vai desejar nunca ter nascido. Uma risada interrompeu seu monólogo. Era Demos. - Você assistiu O Poderoso Chefão vezes demais, meu amigo - ele disse. Em seguida, ele se inclinou perto de Carlos e piscou - E além disso, você ainda não conheceu a Sra. Johnson.
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Podíamos ouvi-la chegando muito antes de nós conseguirmos realmente vê-la. - Eu quero um hotel com serviço 24 horas, Joe Junior - ela estava dizendo - E um robe. Eu quero um desses brancos, macios, de banho e uma jacuzzi também. Eu aposto que Oprah teve tudo isso. Ela parou quando ela entrou na quarto. - Como, em nome de Jesus, meu Salvador, vocês estão fazendo isso? - Ela olhou com os olhos arregalados a cena em frente a ela. - É o Demos. Como eu disse a você, mamãe, ele tem um poder muito especial. Ele pode impedir que as pessoas façam o que eles querem fazer. E fazer com que as pessoas façam coisas que normalmente não teria sentido que elas fizessem. - Bem, isso é uma coisa bastante notável – Sra. Johnson disse ofegante, as mãos vibrando. - Sra. Johnson - disse Alicia - eu sei que essa é uma cena incomum e um pedido estranho, mas nós gostaríamos que você, hum. . . usasse seu poder nas pessoas nesta sala. . . removendo todas as lembranças que eles têm de nós hoje à noite. - E também, qualquer memória que possam ter de Alex ou de mim – Eu me intrometi. - Sim, todas as lembranças que eles têm de Alex e Lila também Alicia concordou. A Sra. Johnson girou em direção a mim. - O que uma garota pequenina como você está fazendo se misturando com pessoas assim? - ela disse, apontando sua bolsa em direção à Carlos. - É complicado - eu respondi fracamente. - Lembra que eu disse a você um pouco do que estava acontecendo, Sra. Johnson? - Alicia disse docemente - Sobre como esses homens vão nos ajudar, de uma maneira indireta, a resgatar a mãe de Lila e também seu irmão de algumas pessoas ruins? Sra. Johnson parecia um pouco insegura em apoiar a Alicia. 84
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- O quê? Homens maus como este? Eu sei que você pediu minha ajuda, mas esse homem não parece o tipo de homem que eu quero ver tendo qualquer contato com meu Nate. O que haviam naquelas mochilas que eu vi flutuando? - Nada para se incomodar, Sra. Johnson. Apenas algumas coisas que precisávamos pegar emprestado - Demos falou, seu olhar ainda à distância, enquanto ele se concentrava em manter Carlos e seus homens congelados. Sra. Johnson mexeu os ombros, estufou o peito, e lançou um olhar para Demos que poderia descongelar uma pessoa. - Você acha que eu sou idiota, mocinho? - Não, senhora Johnson - disse Alicia, lançando um olhar de aviso para Demos - É só que nós sabemos o quanto você ama Nate e Joe Júnior e eles falam tão bem de você e da sua capacidade, e nossa pobre Lila aqui – ela apontou para mim e eu me obriguei a transparecer como uma menininha doce e inocente, que já não era tão doce e inocente como realmente era há um mês atrás - Lila precisa da nossa ajuda. Sra. Johnson me observou por um momento. - Você, pobre criança - disse ela, por fim - O que eles fizeram para a sua mãe... Ela balançou a cabeça e enfiou a mão na bolsa para pegar um lenço. - É um crime. Isso é o que é. Você precisa da minha ajuda, Nate me pediu para vir até aqui, e então, eu vou te ajudar. Ela virou rapidamente para Key. - Mas eu vou estar esperando por uma dessas grandes bebidas com pequenos guarda-chuvas e as cerejas em cima esperando por mim na varanda, quando eu chegar ao Hilton. Quero umas férias que façam a Sra. Williams parar de falar sobre aquele garoto de ouro do Marlon Júnior e que supere a viagem que ele deu para ela para a Flórida no último Natal. Com um esforço monumental, Key manteve sua boca fechada e acenou com a cabeça. Sra. Johnson virou seu corpo em direção a Demos. - Agora me diga, com quem tenho que resolver primeiro? Demos acenou com a cabeça em direção à Carlos. - Eu vou soltá-lo. Esteja pronta. - Senhor, tem piedade - ela murmurou enquanto ela caminhou até a mesa. Ela colocou a bolsa virada para baixo e eu esperava que ela não tivesse notado o pó branco que agora havia grudado na sua bolsa. Ela se inclinou sobre a mesa, resmungando para si mesma com desgosto, e colocou a mão sobre a testa de Carlos, como se ela estivesse sendo forçada a tocar uma cascavel morta. Vi Alex mover-se rapidamente para ficar atrás de Carlos e me perguntei o que ele estava fazendo. 85
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- OK - disse ele. Carlos voltou à consciência, imediatamente tentando se soltar das mãos da mulher enorme em sua melhor roupa de domingo que havia aparecido do nada e que estava agora segurando a cabeça dele como se fosse uma bola de boliche. Alex o segurou em sua cadeira, forçando seus ombros para que ele não pudesse se mover. A Sra. Johnson não soltou a sua cabeça. Eu vi os olhos de Carlos se ampliarem, e em seguida, eles nublaram Após cinco segundos, a Sra. Johnson disse: - OK, você pode congelá-lo novamente ou qualquer outra coisa que em nome de Jesus você esteja fazendo. Porque não tem sentido eu fazer isso e vocês permitirem que algum deles os veja novamente certo? Ela caminhou até os outros homens e repetiu a mesma coisa com cada um, até que os três tiveram suas memórias tão limpas como uma superfície desinfetada. Quando chegamos homem que parecia um tanque, Alex parou. - Lila, eu vou precisar de alguma ajuda com esse. Você pode segurar os seus braços? Eu olhei para os braços. - Farei o meu melhor. Concentrei-me nos braços, imaginando que eles eram apenas paus finos, galhos frágeis. Quando Demos o descongelou , ele deu um impulso instantâneo para frente e a Sra. Johnson foi deslizando para trás. Era como lutar contra a maré, mas depois eu consegui tê-lo sob controle, prendendo seus braços em seus lados. Notei Harvey e Alicia olhando para mim. Eles não conheciam muito a extensão do meu poder - que eu poderia mover as pessoas do mesmo jeito que fazia com objetos. Eu me perguntei naquela hora se talvez eu não fosse de uma nova categoria de sub-humanos. Eu não era como Demos, e eu sabia que Harvey e Bill não podiam mover as pessoas. - Certo, vamos lá - disse Alicia assim que a Sra. Johnson terminou de limpar memórias. Key aproximou-se para escoltar sua mãe para fora do edifício. Ela ainda estava falando sobre Acapulco quando ele a empurrou para dentro da van. Nós seguimos atrás deles, deixando Demos para mantê-los congelados até chegarmos aos carros. Suki abriu o carro e Alex e eu pulamos para dentro. Eu virei e verifiquei as mochilas. Tínhamos agora em nossa posse várias centenas de quilos de cocaína e provavelmente bem mais de um milhão de dólares. Demos subiu, sentando ao meu lado. - Eu adoro quando um plano dá certo – ele disse, piscando para mim.
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- Estou tão chateada por que eu não cheguei a conhecer este Sr. Carlos - Suki bufou, apertando o lábio inferior. - Não fique - eu disse enquanto eu deixava cair a última mochila no chão do quarto de hotel que tínhamos alugado usando parte do dinheiro que havíamos roubado. Tínhamos nos excedido um pouco, alugando toda a cobertura do Hotel Four Seasons apenas para nós. - Por que Alicia pôde ver dentro da cabeça dele? Eu queria fazer isso. - Porque, Suki, Alicia sabe falar espanhol e você não. Ela resmungou. - Eu sei como dizer culo - Ela fez cara de amuada - Eu sempre perco os melhores momentos. E então ela começou a vasculhar os tijolos brancos e verdes empilhados em cima da mesa. Harvey e Demos estavam fazendo torres do dinheiro e de drogas, contando e pesando tudo. Era mais do que esperávamos conseguir. Mais do que seria necessário. Suki leu minha mente instantaneamente. - Será que isso significa então que tem dinheiro sobrando para algumas compras? - ela perguntou para Demos – Porque eu preciso de sapatos novos. Demos riu, um som que eu nunca havia escutado antes. Quase me fez sorrir ao ouvi-lo. - Suki, você tem tantos sapatos quanto Imelda Marcos. - Quem? - ela perguntou, confusa. - Nós não te contamos até agora - disse Harvey – mas o verdadeiro motivo de porque abandonamos o mini ônibus foi porque você o transformou em um closet gigante. Todo mundo começou a rir enquanto Suki corou no centro da sala. Talvez fosse a tensão evaporando, talvez agora fosse uma hora boa
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para rir, mas eu não conseguia me unir à eles, e então, eu me levantei e fui ao banheiro. Eu estava na frente do espelho, olhando para o meu reflexo, encarando o meu cabelo curto estilo elfo e também as manchas escuras como sombra sob meus olhos. Será que algum dia, eu voltaria a parecer com uma menina feliz, normal e bem descansada de dezessete anos de idade novamente ou aquela antiga Lila havia desaparecido para sempre? Eu estava prestes a abrir a torneira quando ouvi a voz de Demos do outro lado da porta. Eu encostei na porta, na ponta dos pés e pressionei meu ouvido sob a placa de madeira. - Você ouviu alguma coisa, não é? - ele estava dizendo - Quando você leu a mente de Thomas - o que você ouviu? Ouvi alguém tomar fôlego. - Não foi o que eu ouvi, foi o que eu vi . Escutei Alicia falar. Me esforcei para conseguir ouvi-la, esperando que ela não sentisse a minha proximidade. - Demos, foi horrível - disse ela - Como estar preso em um pesadelo, haviam apenas imagens fragmentadas, flashes de coisas que fizeram com ele. Eu não posso nem explicar isso, eu não sei o que significam. Eu só vi quartos brancos e flashes de rostos. As coisas que eles estão fazendo lá, eu conseguia apenas ouvir gente gritando - Sua voz ficou abafada como se Demos estivesse abraçando ela - Isso poderia ter acontecido comigo – ela murmurou. - Você viu Melissa? - Perguntou Demos. - Sim - eu ouvi Alicia dizer, mais claramente agora - Eu a vi. Meu corpo inteiro ficou rígido, meu coração bateu tão descontroladamente que eu tinha certeza de que Alicia conseguiria ouvilo. - Ela está bem? - Perguntou Demos. Alicia parou de novo. Eu a escutei suspirar. - Não, Demos, ela não está bem. Precisamos tirá-la de lá. Fechei os olhos e notei de que eles tinham ficado em silêncio do outro lado da porta. Prendi a respiração e esperei alguns minutos, tentando me recompor. Quando saí do banheiro, Demos estava do lado fora, encostado na parede, esperando por mim. - Oi - eu disse, pulando assustada. Eu não esperava que ele ainda estivesse lá. - Você escutou - disse ele. Seu rosto estava sombrio naquele corredor. - Talvez - eu dei de ombros. - Sinto muito. - Sabe de uma coisa... - eu disse, engolindo saliva, que estava tão pesada como praticamente uma bola de golfe descendo pela minha 88
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garganta - Não é culpa sua. O que Amber disse antes... Não é verdade. Ela só quer alguém para culpar e você é a pessoa mais próxima. Mas nenhum de nós pensa que isso é verdade. Demos me estudou por alguns segundos. - Eu não sei, Lila, talvez ela esteja certa. Isso tudo começou porque eu queria vingança pelo que eles tinham feito com sua mãe. Como eu ainda posso pedir que eles continuem me ajudando agora, depois do que aconteceu com Ryder e Thomas? - Eu não acredito que você precise pedir alguma coisa, Demos. Nós não precisamos que você peça nada. Esta não é somente a sua batalha pessoal, ela pertence a todos nós. É a nossa luta. De cada um de nós Lembrei-me das palavras de Alex anteriormente. Demos ainda não disse nada. - E nós vamos vencer - eu disse em voz baixa, a convicção na minha voz me surpreendeu. E eu percebi que eu estava dizendo isso, me forçando a acreditar, porque perder não era uma opção.
Alex estava olhando para o relógio sobre a lareira, com o queixo apoiado nas mãos, quando Demos e eu voltamos, e, assim que ele me viu, levantou-se. Imaginei que nosso tempo havia terminado. Eu diminuí o ritmo, tentando esticar esses últimos segundos. Minhas pernas começaram a tremer. Como eu deveria dizer adeus dessa vez? E com todos em volta dessa vez? Eu conseguia sentir todos olhando para mim. Eu mantive meus olhos fixos em Alex. Ele estava vestindo uma camiseta preta de gola V e calça de brim escura, seus olhos azuis me estudando, milhares de diferentes emoções passavam por trás deles, e eu podia ler tão facilmente como se eu fosse Suki. Com um choque, eu percebi que, ou Alex estava perdendo sua capacidade de olhar neutro, disfarçando suas emoções ou eu estava aprendendo realmente a ler seus olhos. De qualquer jeito eu preferia dessa maneira. Ele iria viajar de carro com os outros para a fronteira. Eles conseguiriam atravessar o controle da fronteira, enquanto Demos congelava os guardas. A Unidade estava vigiando os aeroportos. Eles tinham que me ver voltando sozinha, por conta própria. Minha história tinha que ser transparente como água. 89
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Alex se aproximou de mim, me pegou pela mão e me levou para longe dos outros. - Por favor, não faça nada impulsivo - disse ele, uma vez que estávamos sozinhos no corredor. - Impulsivo? Eu? - Eu tentei fazer o meu melhor rosto inocente. Ele sorriu com tristeza. - Você sabe do que eu estou falando. - OK, eu prometo. Não farei nada nem remotamente imprudente eu disse, acariciando seu braço. Ele já havia tirado o curativo, mas o corte que ele tinha feito para remover o dispositivo de rastreamento ainda não tinha cicatrizado. Havia uma crosta fina e vermelha por toda a sua tatuagem. - Lembra do seu primeiro dia na escola? - Alex perguntou de repente. Minha mão ficou imóvel em seu braço. - Sim - eu disse, franzindo a testa para ele. Por que ele estava trazendo isso? - Você estava com muito medo - disse ele, vendo a minha expressão confusa - Você se lembra? Você não queria ir. Mas você não quis que a sua mãe ou seu pai te acompanhassem. Você insistiu em fazer tudo sozinha. Eu fiz uma careta. Eu me lembrava. Eu lembrava de como eu tinha ficado determinada a não parecer uma menininha assustada. Lembrava de estar usando uma mochila do Harry Potter. A lembrança me fez estremecer. Lá estava eu, parada nos degraus da escada, olhando para o prédio da escola, enquanto centenas de crianças mais velhas passavam por mim. Foi aterrorizante. - Nós estávamos lá - Alex disse, interrompendo a lembrança traumática na minha cabeça. Eu olhei surpresa para ele. - Jack e eu - continuou ele - Nós estávamos observando você o tempo todo, escondidos atrás dos carros dos professores. Nós estávamos observando você desde o minuto em que você desceu do ônibus. Você tinha uma mochila do Harry Potter, e um garoto disse alguma coisa sobre isso, zombou de você. Eles estavam lá? Alex viu isso? - Jack queria saltar de trás do carro e bater no garoto, mas eu segurei ele. E você disse algo para aquele menino, de qualquer maneira, e ele saiu com uma cara de quem teve o cachorro de estimação comido por zumbis. Eu ri baixinho. Ele estava certo. Isso tinha acontecido. Com exceção da parte do zumbi. - E então você caminhou até a porta sem olhar para trás. E, tanto quanto me lembro, você fez isso pelo resto do ano inteiro. 90
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Eu balancei a cabeça para Alex, maravilhada, em silêncio, ainda sem acreditar que ele realmente havia estava me observado desde ali e além de tudo ainda se lembrava daquilo. Ele sorriu para mim. - E quando você tinha 11 anos, no Halloween você saiu para pedir doces ou travessuras com alguns amigos. Eu me senti um balanço no meu estômago diante da memória de ter tido amigos, de ter vivido uma vez uma vida normal, fazendo coisas normais de menina. Um dia eu havia desembrulhado presentes em volta de uma árvore ao lado de toda a minha família, eu tinha comido peru no dia de Ação de Graças e inclusive havia estado em muitas festas do pijama que envolviam muito sorvete e Hannah Montana. As lembranças agora eram tão vagas e nebulosas que não pareciam reais. Era mais como lembrar de algum programa que eu assisti no Disney Channel. - Você estava vestida de pirata - disse Alex. Eu pisquei para ele, sem palavras. - Jack e eu te seguimos por todo o bairro. Ele estava vestido como Nacho Libre. Comecei a rir. - E você? - De Batman . - Por que você estava me seguindo? - Perguntei, embora eu já soubesse. - Para roubar os seus doces - Alex respondeu, sorrindo. Então, de repente, sua expressão voltou a ficar séria. Ele ergueu as sobrancelhas Por que você acha? Dei de ombros. - Porque você é um tanto super protetor ao ponto de precisar de tratamento para TOC? Ele me encarou por um momento, e em seguida, deu um passo mais perto me permitindo enxergar a barba em seu queixo e sentir o calor irradiando dele. - O que eu estou tentando dizer para você, Lila... - disse ele, sua voz rouca em sua garganta - é que eu sempre estive lá, olhando para você, mesmo quando você não sabia, mesmo quando você não podia me ver. Meu estômago virou. Alex pegou minhas mãos e apertou. - Nada mudou. Vou estar lá, eu prometo. Você pode não conseguir me ver, mas eu estarei lá.
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Eu passei pela imigração e imediatamente vi que Alex tinha razão. A Unidade não foi sequer sutil. Um homem em roupas de combate negra me seguiu para fora do terminal, praticamente pisando nos meus calcanhares. A Unidade precisava repensar em seu uniforme de camuflagem e também deveriam se esforçar mais em fazer serviços encobertos, mas, novamente, eu concluí que eles não estavam preocupados em se camuflar ou ser sutis. Este homem queria que eu visse ele e que eu soubesse claramente que estava sendo seguida. Eu fiz exatamente o que tinha sido dito e me fingi de ignorante, chamando um táxi para me levar direto para a Base. No portão de Camp Pendleton um oficial da Marinha inclinou-se na janela e perguntou o que eu queria ali. - Sou Lila Loveday. Sou a irmã do Tenente Jack Loveday - eu disse, dando à Jack seu pleno título - Eu acho que ele está aqui. Eu preciso vê-lo. O homem afastou-se e conversou por rádio com alguém e alguns segundos depois ele acenou para meu táxi amarelo. O edifício era um caminho para a Base. Ele era como um quadrado, uma verdadeira fortaleza espelhada e eu precisei tomar algumas respirações profundas, enquanto eu saí do táxi. As minhas pernas pareciam estar subitamente elásticas, incapazes de avançar, de prosseguir adiante. Mas eu me lembrei que minha mãe estava em algum lugar dentro dessa Base então eu tomei forças e me forcei a andar. As portas na parte da frente se abriram. Eu meio que esperava ver Rachel atravessando através delas assim como ela havia feito da última vez que eu estive aqui. Lembrei de como eu a odiei instantaneamente. E não apenas por causa da suas pernas infinitas de supermodelo, ou por causa de rosto simetricamente perfeito e por causa do jeito que ela tinha praticamente se jogado em cima de Alex como se ela fosse molho e ele um spaghetti suculento. Eu não tinha gostado dela porque eu tinha bons instintos. E de agora em diante eu ia começar a confiar neles. Eu subi ao prédio, esperando o alarme tocar a qualquer momento e a dor lancinante começar a raspar o osso de dentro do meu crânio. E se 92
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Alex estivesse errado? E se eu acionasse o alarme apenas por estar perto dele? Eu não tinha entendido uma palavra do que ele tinha falado sobre os campos electromagnéticos. Mas eu não tinha escolha a não ser confiar nele. Eu continuei andando em direção ao prédio. Dez metros, oito metros. Eu tomei uma respiração profunda. Cinco metros. E então, eu parei bem ali, fora, na distância de tocar as portas, e não havia alarme nenhum tocando. Eu ainda estava de pé. Eu estava bem. Eu estava OK . Eu olhei para o céu – será que Key estava por aqui? Esperava que, se ele estivesse, fosse mantendo uma distância segura. Me aproximei das portas e olhei, procurando por um interfone ou por uma campainha, mas enquanto eu estava ali em silêncio, um lado da porta automaticamente se abriu. Com um último olhar para cima, em direção ao céu, eu entrei. As portas se fecharam atrás de mim, me prensando por um instante dentro de um vácuo. Não havia mais um caminho de volta. O vidro na minha frente também abriu e eu adentrei dentro de um amplo hall de entrada com piso em mármore. Escutei passos ecoando sobre o piso em minha direção. - Lila! Eu olhei para cima bruscamente. Sara estava caminhando em direção à mim, seu rosto era uma imagem de alívio, aflição, preocupação e esperança, tudo misturado em uma única expressão que eu não tinha certeza de como ler. Era muito para confiar em meus instintos. Meus instintos eram morcegos em uma caverna no momento. Ela jogou os braços em volta de mim, me puxando para um abraço. - Lila! Lila! O que você está fazendo aqui? Deus, onde você estava? Minhas mãos estavam penduradas frouxamente para os lados. Com um grande esforço, eu me forcei a levantar os braços e abraçá-la de volta, dizendo a mim mesma que não havia nenhuma evidência de que ela soubesse o que a Unidade estava fazendo. Sara poderia ser a nossa única esperança, razão pela qual eu precisava agora atuar de maneira convincente. Eu precisava agir como se eu não suspeitasse de nada. - Eu só. . . Alex. . . ele me fez voltar - Eu gaguejei. Sara se afastou imediatamente. - Ele está aqui? Ele está com você? - ela perguntou sem fôlego. Ela ainda estava me segurando pelos ombros, seus grandes olhos castanhos procurando o meu rosto. - Não. Ele não está aqui. Ele me deixou. Depois de irmos para a Cidade do México, ele não me queria mais por perto. Eu disse essa última parte para o chão, esperando que ela não percebesse minhas bochechas queimando. - Ele disse que eu estava atrasando ele. 93
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Foi só então que eu notei os dois homens de pé, a poucos metros atrás dela - ou melhor, eu notei suas botas. Olhei para cima. Eles olhavam fixamente para mim, suas expressões em branco, como lápides. Eu fiz uma careta. Ambos me pareciam familiares - talvez eu os conheci antes, quando Alex me trouxe aqui para a Base para fazer uma corrida e me apresentou à sua equipe. Talvez eles fossem as mesmas pessoas que estavam nos perseguindo sobre os telhados da Cidade do México há apenas alguns dias. Possivelmente eles eram as mesmas pessoas que haviam atirado em Jack e matado Ryder. Eu não tinha idéia. Eu desviei meus olhos para longe deles. - Vamos, por aqui - Sara anunciou, virando e caminhando adiante, pelo lobby. Comecei e agarrei a sua mão, puxando ela de volta. - E Jack? Jack - onde está ele? Ele está bem? – eu perguntei - Você está me levando para ver ele? Ela fez uma pausa, olhando para mim de forma estranha. - Você não sabe? Por que ela acha que eu sabia de alguma coisa? Será que isso era algum tipo de teste? - Não - eu gaguejei - Como ele está? Ela passou o braço pelo meu e começou a caminhar em direção aos elevadores. - Ele não está bem. Ele foi baleado. Você estava lá, certo? Você viu o que aconteceu? - Sim. Eu vi. E eu não iria esquecer nunca mais. Jack correndo para o lado de Ryder e a expressão de descrença no seu rosto quando o tiro o acertou. Ele olhou diretamente para mim. - Ele está inconsciente, Lila. Os médicos estão fazendo tudo o que podem. - Ele vai ficar bem? Sara hesitou, olhando por cima do ombro para os homens atrás de nós. - Eles dizem que sim, mas Lila, não será tudo tão fácil e rápido. Quando ele acordar, vão haver perguntas. Muitas perguntas. Cavei meus saltos no chão, Eu não queria entrar em um elevador. Onde ela ia me levar? - Onde ele está? - Eu perguntei, tentando ganhar tempo - Posso vêlo agora? - Ainda não. Precisamos te interrogar primeiro. - Isso não pode esperar? - Eu perguntei, minha voz se elevando claramente - Eu preciso ver Jack.
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Eu não queria ser interrogada. Eu não conseguia mentir muito bem e eu não tinha certeza se seria apenas um interrogatório ou se eu seria submetida à algum teste genético ou à um detector de mentiras. - Eu sinto muito Lila. Olhei para Sara. Seus olhos estavam brilhando com lágrimas. Pareciam bastante verdadeiras. - Seu pai está aqui também. Ele voou direto pra cá. Ele disse que você tinha chamado e deixado uma mensagem que estava indo para um acampamento? - Sim, Alex me fez dizer isso. Sara lançou-me um olhar. Como se Alex sequer precisasse me obrigar à fazer alguma coisa. Ela sabia disso. Caramba. Ela me levou em um elevador. Olhei para o painel iluminado de números. Alex me disse que os prisioneiros ficavam no nível -4. Quatro andares inteiros abaixo do lobby e tão impenetrável como um bunker nuclear. Por uma fração de segundo, enquanto todos nós lotávamos o estreito espaço, eu me imaginei acertando os dois soldados atrás de nós e batendo em Sara com um dos movimentos que Alex tinha me ensinado. Mas sem usar o meu poder, eu não tinha esperança. Eu era uma menina de dezessete anos de idade contra dois oficiais de elite e Sara – quais movimentos ela deveria saber? - E se por algum grande milagre eu realmente conseguisse chegar até a detenção de prisioneiros - o que eu faria depois? Eu iria perguntar sobre o horário de visita ou qualquer coisa assim? Então, eu não fiz nada. Eu só fiquei lá no elevador sentindo o aumento da histeria dentro de mim e tentando me concentrar no que Alex havia dito, mas suas palavras eram agora imprecisas na minha cabeça. Eu não me lembrava de praticamente nada do que ele disse. Deixei Sara levar-me para fora do elevador e entramos em quarto branco com painéis. Havia um gravador sobre a mesa e um grande espelho, em forma de janela, na parede do fundo. Isso era uma sala de interrogatório? Me senti fria e cruzei os braços sobre o peito. Meus olhos continuaram encarando o espelho enfumaçado. Havia alguém do outro lado me observando? Me estudando e julgando meus movimentos em busca de mentiras? Sara puxou uma cadeira e me apontou, para que eu me sentasse em frente à ela, em frente ao espelho. A porta abriu quando eu estava prestes a me sentar e outra pessoa entrou. - Este é o Dr. Pendegast - disse Sara, apresentando ele. - Ethan - disse ele, estendendo sua mão pálida. Me senti como se fosse uma criatura estranha recém descoberta. Porque um médico precisava me interrogar?
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Dr. Pendegast sentou-se, indicando que eu fizesse o mesmo. Sentei no meu lugar como se fosse uma cadeira elétrica, minhas mãos segurando as bordas para me forçar a ficar sentada. - Lila - Dr Pendegast disse - só precisamos te fazer algumas perguntas. Para nos ajudar a compreender melhor o que se passou antes do tiroteio em Joshua Tree e entender porque Alex e você preferiram fugir ao invés de voltar para cá onde vocês estariam mais seguros. Nós teríamos entendido tudo. Ainda entendemos. Eu balancei a cabeça lentamente e olhei para Sara, mas ela estava com a cabeça para baixo, o cabelo caindo como um véu na frente de seu rosto. Ela estava rabiscando notas em um bloco na frente dela. Em seguida, ela estendeu a mão e apertou um botão no gravador, antes de olhar diretamente para mim, usando o rosto de uma profissional agora, precisa e concentrada. Eu a observei. Seus olhos estavam com anéis escuros. Será que ela ficou sentada na cama ao lado de Jack todas as noites, segurando sua mão, esperando ele acordar? Esperando que ele sobrevivesse? Ou ela tinha apenas vindo trabalhar incansavelmente durante todos os dias tentando nos encontrar? Será que eu poderia confiar nela? - Diga-nos o que aconteceu na noite do aniversário de Alex - disse ela, dando-me um breve sorriso - Você deixou o bar. Uau, ela foi direto ao ponto. Eu levei um momento para me estabilizar e lembrar do que eu tinha ensaiado. - Er, sim - eu disse - Eu peguei um táxi. Voltei para a casa de Jack. - Porquê? - Porque eu. . . - Olhei para o homem, o Dr. Pendegast. Ele não estava escrevendo nada. Ele estava sentado com uma perna cruzada sobre a outra e se inclinava para trás na cadeira. Ele tinha por volta de trinta anos, eu imaginei, com um cabelo castanho fino e óculos redondos, de aros transparentes que faziam seus olhos parecerem com vidros duplos. Ele estava mordendo uma caneta e olhando para mim com indisfarçável interesse. - Eu vi Alex com Rachel - eu disse, me sentando em linha reta - Eu não queria ficar depois disso. Sara olhou para cima e deu um leve aceno de cabeça. Ela tinha entendido. Ela sabia como eu me sentia sobre Alex. Ela tinha sido a primeira pessoa para quem eu havia admitido. Meu Deus, ela até me incentivou a falar com ele, nos tempos em que dizer “eu te amo” em voz alta me faria ficar gelada e querer enterrar à mim mesma em um buraco profundo. - Então, você voltou para casa - disse Sara, sem me questionar nada sobre Rachel, o que me surpreendeu - E então o que aconteceu?
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Eu tomei uma respiração profunda. Meu coração estava perfurando um buraco dentro da minha caixa torácica. - Eu voltei para casa e fiquei apenas à toa, passando o tempo - Eu não ia dizer a ela que eu tinha voltado para casa, hackeado o computador de Jack, descoberto o que a Unidade realmente era, e que eu estava prestes a fazer as malas e fugir antes que eles descobrissem que eu era o que eles estavam procurando, quando, de repente, Key irrompeu pela casa para me avisar que Demos estava chegando. - O que aconteceu, Lila? - Sara perguntou novamente. - Então, Alex veio - respondi. Alex tinha me seguido até em casa, desde o bar e tinha arrastado Key e eu para fora de casa apenas alguns segundos antes de Demos chegar. Claro que tinha sido antes de sabermos a verdade sobre Demos e a verdadeira missão da Unidade - antes de descobrir que os vilões não eram Demos e seu bando, mas sim a Unidade. - Por quê? Por que Alex deixaria a sua própria festa de aniversário para ir atrás de você? - Perguntou Sara. Dei de ombros. - Eu não sei. Porque ele se sentiu mal? Porque ele viu que eu tinha ido e ele queria se assegurar de que eu estava bem? - Tentei segurar o seu olhar sentindo a minha pele começar a formigar como se eu tivesse brotoeja. - Você sabe como Alex e Jack são similares. Ele estava, provavelmente, preocupado de que Jack ficaria furioso se ele descobrisse que eu tinha fugido e ido para casa sozinha. - Então, o que aconteceu depois? - Eu não me lembro de nada. Demos chegou. Ele fez alguma coisa na minha cabeça. Sara olhou para mim. Dr. Pendegast me encarou. Seus olhos se estreitaram e eu senti meu pulso acelerar. Eu senti vontade de vomitar todos os meus nervos em cima da mesa. - Vamos parar de rodeios, Lila - Dr. Pendegast falou - Você sabe agora tanto quanto nós, possivelmente mais, sobre essas pessoas. Nós os chamamos de psicogenes – psicos para abreviar. Eu não disse nada. - Estamos estudando-os há algum tempo. Seu irmão e Alex têm nos ajudado à contê-los, para que possamos encontrar uma maneira de curálos. A maneira como ele disse cura com uma onda pequena de seu lábio fez meu estômago dar voltas. - Nós estávamos esperando que você pudesse nos dar mais informação sobre o grupo de pessoas que estava sequestrando você. Com a sua ajuda, podemos parar aquele grupo. Você não gostaria de ajudar? 97
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Me perguntei se o Dr. Pendegast falava sempre com aquele tom paterno. - Sim. Eu quero ajudar - Eu balancei a cabeça e sorri tentando demonstrar que estava ansiosa - Mas primeiro eu quero saber o que está acontecendo com Jack. - Vamos falar sobre Jack logo – ele disse bruscamente - Você sabe quem é Demos, Lila? - ele perguntou, a caneta sobre papel. Era uma pegadinha. Hesitei um momento. - Eu sei que ele matou a minha mãe. - Como você sabe disso? Ele disse a você? - Não. Alex me contou. Ele disse que a Unidade estava perseguindo Demos há anos. Sara franziu a testa. - Vamos voltar para a história, então - disse ela, olhando para suas anotações - Você disse que Demos chegou à casa e a partir desse ponto você não se lembra do que aconteceu. Eu engoli em seco. - Então, em que ponto você começou a se lembrar? - Ela olhou com expectativa. - Hum, eu não tenho certeza de quanto tempo depois, mas a próxima coisa que eu sabia era que estávamos em seu ônibus e nos dirigindo para algum lugar. Em seguida, o ônibus parou e Demos disse que Alex teria que voltar para a Base para resgatar um prisioneiro e ele disse que se Alex fizesse isso, ele nos deixaria ir. - Certo. E Alex disse que sim? - Ele teve que... - eu soltei - Eles iriam me matar se ele não aceitasse. Sara mordeu o lábio e me estudou por alguns segundos. - O que aconteceu com o carro de Jack? Ele desapareceu e só o encontramos em uma concessionária de veículos usados fora de Palm Springs. O proprietário disse que um jovem casal à caminho de Las Vegas para se casar tinha vendido – Ela levantou uma sobrancelha - Sabe alguma coisa sobre isso? - Sim, fomos nós - Eu tinha a minha mentira pronta - Demos nos fez fazer isso. Ele queria o dinheiro. Sara estava mordendo o lábio. Este era o ponto mais fraco da história. Ela sabia tão bem como eu que Demos não precisava de dinheiro. Ele roubava bancos para viver. - E eu acho que ele queria deixar uma pista falsa como se nós só tivéssemos fugido por conta própria. Sara assentiu e escreveu algo.
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- Então, nos dois dias que você esteve com Demos - ela disse, continuando - você teve alguma chance de falar com ele? Ele disse alguma coisa para você? - Na verdade, não. Olhei para a mesa. - Ele não falou comigo. Ele só falou com Alex. Mais rabiscos. Sentei-me em silêncio, respirando, engolindo em seco, segurando meus pés para não saltarem para cima e para baixo. - E Jack? Como Jack veio parar nisso? Por que Alex chamou Jack e mandou ele ir encontrá-los? - Demos disse para ele. - Porquê? - Porque Alex disse que não poderia entrar na Base sozinho. Que ele precisava de ajuda. Deixaram então ele chamar Jack . - E quando Jack chegou e percebeu, o que foi que ele disse? - Ele queria matar Demos. Ele tentou, mas você não pode lutar com Demos. Ele é impossível. Ele faz você fazer coisas. Coisas que você não quer fazer. Eu estava esgotada com a visão de seus rostos inexpressivos. - Então, Demos fez Jack e Alex voltarem à Base para resgatar dois prisioneiros – Dr Pendegast disse - E quando eles trouxeram os dois prisioneiros de volta e Rachel, o que aconteceu então? - Eles fizeram a troca. Demos exigiu Rachel também. Eles não queriam entregá-la, mas ele apenas a levou. Em seguida, a Unidade apareceu e acabamos ficando no meio de um tiroteio enorme. Foi muito assustador. Até para os meus próprios ouvidos eu parecia a pior mentirosa do mundo, como a criança na peça da escola que só lhe dão um pequeno papel secundário por pena e até mesmo nesse personagem secundário ele consegue fazer tão mal que todo o público se encolhe. Sara não encolheu, ela apenas acenou. Engoli em seco novamente. Ela inclinou-se sobre a mesa e pegou minha mão. - Lila, Jack e Alex dispararam contra seus próprios homens. Foi Demos que os forçou a fazer? Eu não gosto de culpar Demos, mas não faria mesmo nenhuma diferença acusá-lo de mais um crime. A Unidade já o condenou à morte. O que algumas sentenças à mais como culpado iriam mudar? Aumentar a potência da voltagem da cadeira elétrica? E além disso, eu estava protegendo Jack e Alex. - Sim - eu respondi. Sara recostou-se pesadamente na cadeira. - Mas você tem que entender - eu continuei - eles não tinham escolha. Eles estavam sendo controlados. Demos, ele tem esse poder 99
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incrível. Eu estou lhe dizendo que ele pode fazer você fazer coisas. Qualquer coisa! - Nesse caso, como você conseguiu ir embora? - Perguntou Dr. Pendegast. - Depois que Ryder foi baleado e Jack. . . – Fechei meus olhos, tentando afastar a imagem da lembrança - Depois disso, ficou um caos. Acho Demos perdeu um pouco o controle, ou algo assim, porque Alex me empurrou para dentro do carro e conseguimos fugir. Mais uma vez houve silêncio. Os dois estavam apenas acenando para mim, pensativos. - E Rachel? O que aconteceu com ela? Você a viu? Olhei para ambos, e em seguida, sacudi a minha cabeça. - Eu a vi sendo empurrada para dentro do mini bus por Demos. Mas eu não tenho idéia do que aconteceu depois disso. - Aqui está a coisa, Lila - disse o Dr. Pendegast, descruzando as pernas e inclinando-se para a frente do outro lado da mesa - O que não podemos compreender é por que vocês deixariam Jack para trás e por que vocês dois não quiseram voltar para a Base. Ao invés disso, vocês estão em fuga há mais de uma semana e quando a Unidade chegou perto de encontrá-los - para trazê-los em segurança - vocês novamente fugiram de nós. Você pode explicar por quê? O labirinto de mentiras estava ficando muito mais profundo. Eu não tinha certeza se seria capaz de encontrar o meu caminho para fora. Eu tomei uma respiração profunda. - Alex sabia que ele não poderia voltar aqui. Não depois do que aconteceu. Ele sabia que vocês estariam com raiva dele por resgatar os prisioneiros. Tentei convencê-lo, eu disse a ele que tinha que voltar, que vocês entenderiam. Disse-lhe que tinha que descobrir o que aconteceu com o Jack, mas ele não quis ouvir. E então, quando nós chegamos no México e vocês quase nos pegaram, ele me disse que estava ficando muito perigoso e que ele não me queria por perto mais. Ele meio que só não sabia como dizer aquilo - Olhei para Sara, minhas mãos apertando no meu colo, em seguida, procurei diretamente nos olhos de Sara - Então, eu voltei - eu disse. - Por que você demorou tanto tempo para tomar essa decisão? Sara sussurrou, com mágoa em seus olhos.
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Senti um soluço no meu peito fazendo o seu caminho para a minha boca e de repente eu estava chorando. Chorando de verdade. Lágrimas de verdade rolavam pelas minhas bochechas. - Porque eu queria ficar com Alex. Eu amo ele. Foi a única coisa verdadeira que eu tinha dito até agora. Sara entregou-me um lenço de papel, levantou e sentou ao meu lado, colocando o braço em volta dos meus ombros. - Coitadinha. Sinto muito por todas as perguntas. Estamos apenas tentando entender o que aconteceu. Eu balancei a cabeça em meio aos meus soluços. - Lila, só mais uma coisa - disse ela - Você sabe onde Alex está agora? Eu sei que você provavelmente não quer nos dizer, que você quer protegê-lo, mas nós realmente precisamos falar com ele. Se você pode nos dizer onde ele está, seria realmente útil. Ela apertou meu braço. Com certeza... - pensei. Vocês pode me atirar com um milhão de armas fritadoras de cérebro que eu não direi nenhuma palavra. - Nós só precisamos falar com ele - disse Sara com um sorriso cansado - para verificar a sua versão dos eventos. - Você está duvidando de mim? Você acha que eu mentiria? Por que eu mentiria? Ela parecia desconfortável por um instante. - Não, Lila, não é isso que eu quis dizer. Olha, honestamente, nós só queremos falar com ele, e também com Jack, quando ele acordar. Entendemos que não podem ter agido por conta própria. Nós percebemos que eles estavam sob a influência de Demos. Você sabe onde Alex está agora? - ela perguntou de novo. - Não, eu não sei onde ele está - eu disse – A última vez que o vi ele estava me colocando em um avião na Cidade do México. Consegui derramar mais lágrimas naquele ponto. Depois de alguns minutos eu limpei meus olhos e olhei para cima. O gravador ainda estava gravando. Dr. Pendegast ainda estava escrevendo notas, sua caneta rabiscando o papel furiosamente. Sara estava apenas me olhando e através do vidro cinza esfumaçado do espelho, eu tive certeza que eu vi uma sombra se movendo. - Posso ver Jack agora? - Eu perguntei, empurrando a minha cadeira para trás e me levantando - Posso ver o meu pai?
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- Lila. Ele caminhou em minha direção, seu rosto estava sombrio, com raiva. Mas então ele me abraçou com força em seus braços e eu não senti mais nenhuma raiva, apenas ondas de alívio e amor. - Desculpe, pai - eu murmurei. Ele não me deixou ir. - Deus, você me deixou tão preocupado - ele sussurrou em meu ouvido. Então ele fez um balanço de mim. Eu não o via há quase um mês, e eu estava consciente do quanto certamente eu havia mudado, de todas as maneiras, além de que, fisicamente, o meu cabelo agora estava cortado curto. Ele balançou a cabeça e, em seguida, me puxou de volta contra seu peito. Me senti bem. Isso acabou por acalmar a dor que eu estava sentindo entre as minhas costelas. Estávamos em um quarto de hospital reservado para família na Unidade de Terapia Intensiva. Era um hospital militar, localizado no centro da Base. Se podia notar nitidamente que Jack estava sendo vigiado. Todo o lugar estava cheio de homens de uniforme. Mesmo os médicos eram fuzileiros navais, vestindo uniformes sob seus jalecos brancos. Havia um guarda armado fora do quarto de Jack, certamente para o caso de ele acordar do coma, descobrir que não estava paralisado e de repente, decidir escapar, eu presumi. - Onde você esteve? - o meu pai disse, sentando em uma cadeira. Notei agora o quão horrivelmente cansado ele parecia. Como se ele não dormisse há dias. Como se ele estivesse vivendo à base de café e salgadinhos de máquina. - E o que aconteceu com o seu cabelo? Por que você cortou? - Eu explico depois - eu disse, varrendo os olhos sobre o lugar. Alex tinha me avisado que a Unidade provavelmente tinha grampeado todo o quarto de Jack e que eles provavelmente tentariam colocar um microfone em mim também. Algo em minha roupa, porque eles não podiam me embebedar e me tatuar como tinham feito com ele e 102
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Jack. Eu não tinha certeza se já haviam colocado escutas ali, mas eu não poderia me arriscar de contar tudo para o meu pai ali. - Você o viu? Como ele está? – Perguntei tentando mudar de assunto, antes que ele perguntasse onde eu havia estado. - Ele está bem. Eles estão fazendo tudo o que podem. Nós apenas temos que esperar. Ele tem sorte. O tiro só atingiu o baço, mas mais alguns centímetros e a bala teria atingido sua coluna vertebral. A bala se alojou muito perto das suas vértebras. Eles tiveram que operar para remover. Fechei os olhos e soltei um suspiro ou dois. Quando abri os olhos, o meu pai estava olhando para mim, esperando, a expectativa era nítida e pesada como a poluição no ar. - Você vai me dizer o que aconteceu? - disse ele - Eles não me dizem nada. Sara tem sido espetacular, mas ela não pode dizer nada. Medidas de segurança estúpidas. Eu senti que o esforço de não falar iria me matar. A voz na minha cabeça estava gritando: mamãe está viva. Mamãe está viva. Ela está aqui. Ela está aqui. Mas eu não podia abrir a minha boca. A gritaria teria que continuar presa na minha cabeça. - Posso vê-lo? Posso ver Jack? – Eu murmurei, incapaz de olhar os olhos de meu pai. Ele deu um suspiro e me levou para o quarto de Jack. A primeira coisa que notei foi o insistente sinal sonoro de uma máquina. Então o barulho de um ventilador. Caminhei lentamente até a cama e lá estava Jack, aparentando como se estivesse dormindo e sonhando com gatinhos. Seu rosto estava tão pacífico, sem um traço de suas sobrancelhas levantadas e seu habitual meio sorriso irônico. Peguei a mão dele na minha. Estava quente, mas sem vida. Os hematomas em suas juntas, onde ele tinha socado a árvore depois de descobrir que eu era uma psy, estavam agora pouco visíveis. Eu me preparei e olhei para baixo em seu corpo. Havia uma grande gaze curativa cobrindo seu abdômen até seu peito. Abaixei-me. - Hey, Sou eu, Jack. É a Lila. Eu estou aqui - eu sussurrei baixinho em seu ouvido. Nada. A máquina manteve seu bip rítmico e o ventilador continuava a girar suas asas. Depois do que pareceram apenas alguns minutos, meu pai me deu um tapinha no ombro. - Vamos, vamos embora daqui. Está tarde. Olhei para cima. O relógio apontava que eram 21:23 hs. Eu tinha estado acordada direto por volta de 36 horas e, de repente, senti o peso disso. Já haviam se passado mais de 12 horas desde que eu tinha dito
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adeus à Alex. Eu me perguntava onde ele e os outros estavam agora. Ele disse que levariam pouco mais de um dia para atravessar a fronteira. - Você precisa comer alguma coisa e nós precisamos conversar meu pai disse, parando perto da porta. Eu dei um beijo de adeus em Jack, acariciei sua mão e fui embora. - Sara vem sempre ver Jack? – Perguntei para meu pai enquanto fizemos o nosso caminho para fora da área hospitalar. - Ela tem vindo aqui todos os dias. Presumo que ela e Jack são... ele fez uma pausa, limpou a garganta – Namorados? Eu balancei a cabeça. - Ela parece uma menina adorável. Eu balancei a cabeça novamente. Eu tinha pensado assim antes também. Agora eu não tinha idéia se ela era adorável mesmo ou uma safada duas caras. E eu não tinha idéia de como faria para descobrir isso também. - Para onde vamos? - Perguntei ao meu pai. - Eu pensei que nós poderíamos voltar para a casa de Jack. Eu tenho ficado aqui no quarto dos visitantes – ele apontou para uma porta à direita - mas eu adoraria descansar em uma cama decente hoje à noite e além disso, eu acho que todas as suas coisas ainda estão na casa de Jack. Deixei escapar um suspiro de alívio. Era exatamente para onde eu queria ir. Onde eu sabia que Alex buscaria por mim. Mas será que a Unidade iria nos deixar simplesmente sair da Base? - Como nós faremos para chegar lá? - Perguntei ao meu pai. - Sara providenciou um carro. Eu disse a ela o que gostaria de fazer e ela disse que estava bem. Eles colocaram alguns seguranças ao redor da casa, além de tudo. - Porquê? - Eu perguntei, fingindo inocência. Meu pai parou de andar e olhou para mim. - Lila, você quase foi sequestrada há apenas um mês atrás naquela mesma casa. Até que eles consigam pegá-lo. . . até que o peguem estaremos sendo protegidos por seguranças nas 24 horas do dia. Ele estava se referindo à Demos. Desviei meu olhar, meus dentes se cerraram com tanta força que senti até a minha mandíbula doer.
Levantei-me caminhando para um lado no corredor, observando meu pai com cuidado. Seus olhos brilharam pela primeira vez ao entrar. Ele ficou lá assustado, piscando em confusão. Então seu olhar caiu exatamente sobre uma pintura pendurada na parede e ele fez uma 104
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careta. Eu deveria tê-lo avisado que metade dos móveis aqui eram da nossa antiga casa em Washington, mas eu não tinha conseguido abrir a minha boca no carro. Eu estava tão assustada de falar algo e acabar deixando escapar alguma coisa. Meu pai caminhava pela sala. Eu o segui e vi quando ele parou na frente da estante, olhando para a fotografia de minha mãe. Ela não está morta! Eu queria gritar com toda a minha força. Em vez disso eu mordi meu lábio e fui até a cozinha para colocar a água para ferver. Depois de alguns minutos, meu pai se juntou a mim. - Então, você vai me dizer onde você tem estado? - ele disse quando eu coloquei uma xícara de chá em frente dele. - Eu estava preocupado, Lila. Eu pensei que tinha perdido você. Que aconteceu afinal? Eu recebi uma mensagem dizendo que você tinha ido acampar. Eu liguei para a Unidade e eles me disseram que Jack e Alex estavam em uma missão. Então eu venho até aqui e encontro meu filho em coma e a minha filha desaparecida. Então, de repente, você está de volta e agindo como se nada tivesse acontecido. Eu não disse nada. Eu apenas continuei balançando a colher no meu chá. - Lila, você não pode fazer isso comigo - disse ele, e abaixo da raiva em sua voz eu também consegui notar uma nota de desespero total, uma tristeza que fazia lágrimas arderem em meus olhos. - É por isso que eu não queria que você voltasse - ele disse. - Eu sei - eu disse, olhando para ele. - Não é seguro. Bem, ele estava certo sobre isso. Houve uma pausa. Meu pai olhou para baixo e estudou a mesa. - Mas eu acho que você já percebeu isso. Outra pausa. - Eles me disseram que ele tinha sequestrado você - disse ele com uma voz tensa - Ele machucou você? Eu estava assustada. - Huh? - Ele machucou você? - ele repetiu, desta vez com os dentes cerrados. - Não, pai. Eu balancei minha cabeça. Ele não me machucaria; assim como ele não machucou a mamãe. Demos é um bom homem. - O que eles disseram? - Eu perguntei, tensa - O que a Unidade disse que aconteceu?
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- Quando cheguei à Base, eles disseram que você tinha fugido para algum lugar com Alex. Eles não sabiam para onde. Me disseram que você havia sido sequestrada por...- ele não conseguia dizer o nome de Demos. Eu me estiquei sobre a mesa e tomei a sua mão. Ele olhou para mim e me deu um sorriso rápido. - Sara me disse que a Unidade havia ido atrás de você e que Alex e Jack tinham te resgatado. O que eles não querem me dizer é como é que Jack foi baleado. E eles não me dizem também onde você e Alex estiveram. Eu balancei a cabeça, tentando ganhar tempo. Meu pai não sabia absolutamente nada de relevante. - Onde você estava? - ele perguntou de novo, desta vez implorando - Por que você não voltou? Eu precisava contar a mesma história que eu havia contado para Sara, já que eu ainda não sabia se a Unidade estava ouvindo essa conversa. - Alex estava com medo de voltar - eu disse - Depois. . . depois do que Demos obrigou ele à fazer. Diante da simples menção do nome de Demos meu pai se levantou da mesa, a cadeira raspando o chão. Ele parou de costas para mim, suas mãos apoiadas na borda da pia. - Eu tentei convencer ele a voltar - eu disse. - Eu não entendo isso. Eu vou falar com quem está no comando. Isso é ridículo. Alex e Jack salvaram a sua vida e agora eles estão em apuros. É ultrajante. Ele virou-se de volta para mim. - Não se preocupe, Lila, eu vou resolver isso. Eles não terão nenhum problema. Ele se aproximou e ajoelhou na minha cadeira. - Você sabe onde Alex está? Eu pressionei meus lábios e balancei a cabeça. - Não. - Eu não queria que você soubesse de nada disso, Lila. Olhei para ele, confusa. - Eu esperava que você nunca descobrisse quem foram as pessoas que mataram sua mãe. Eu estava tentando te proteger. Ele empurrou as mãos pelos cabelos. - Eu sei - eu disse. Ele sentou-se de novo à mesa. - Então, você agora sabe sobre Demos. Eu acho que você sabe sobre tudo. Eu sabia mais do que ele jamais poderia supor. - Você sabe o que ele pode fazer? 106
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Eu balancei a cabeça. E eu sei sobre o que mamãe pode fazer também. Sou um deles. Meu pai levantou-se mais uma vez e foi novamente para perto da janela, olhando para fora. - A Unidade tem que detê-lo - ele murmurou para seu próprio reflexo.
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O sinal sonoro da máquina estava me deixando insana. Anda homem, acorde. Eu preciso de você. A porta se abriu e eu olhei por cima do ombro. Era Sara. Seu rosto estava tenso, endurecido por um nítido stress que deixava linhas marcando ao redor de sua boca. Ela cruzou direto para o lado de Jack e tomou a mão dele, inclinando-se e beijando a sua testa. Observei-a pelo canto do meu olho. - Como ele está? - perguntou ela. Meu pai estava de pé na ponta da cama, estudando os gráficos de Jack. - Sem mudança. Os sinais vitais estão bons, no entanto. - Quanto tempo ele ficará em coma? – ela perguntou. - Quem sabe? Os médicos não me dizem praticamente nada. Uma pequena carranca enrugou a testa de Sara. Ela afundou em uma cadeira. - Essa burocracia é uma loucura. - O que eles vão fazer quando ele acordar? - meu pai perguntou para Sara. Ela pegou a mão de Jack novamente e começou a acariciar seu cabelo. - Eles vão removê-lo para o Quartel da Unidade. - Porquê? - Porque eles precisam interrogar Jack, Dr. Loveday. - Michael, por favor, me chame de Michael. - OK, Michael. Jack está em apuros. Ele atirou em seus próprios homens. Vários homens foram feridos, três foram mortos. Mesmo que ele estivesse agindo sob coação, eles ainda precisam seguir protocolo e investigar o caso. Meu pai pendurou o gráfico de Jack de volta. - Isso é ridículo - disse ele, usando sua voz de médico. - É claro que ele estava agindo sob coação. Lila já lhe disse isso. O que mais ele poderia ter feito? Pelo amor de Deus, isso é absurdo. Ele
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deveria ser condecorado por sua bravura e não tratado como um criminoso comum. - Dr Loveday... Michael... Eu sei. Não é minha decisão. Ela parecia genuinamente chateada. - Nós vivemos sob regras militares. Tem que haver uma investigação. - Bem - meu pai disse, movendo-se para a porta – eu quero falar com quem quer que esteja no comando. Sara olhou para mim rapidamente antes de olhar de volta para o meu pai. - Na verdade, é por isso que eu vim - ela disse - Há alguém que quer falar com você. Ele está esperando no Quartel.
Eu fui deixada sozinha com um Jack completamente silencioso e com a minha mente inquieta. Eu cruzei em direção a porta e abri uma fresta. A primeira visão era de um homem vestido de negro parado como uma estátua na frente da porta. Sem nenhuma maneira de fugir, eu concluí. Como eu conseguiria tirar Jack daqui? Eu cruzei para a janela. Estávamos no segundo andar. E mesmo que Jack estivesse consciente, eu duvidava que ele seria capaz de praticar rapel. Talvez ele nunca pudesse sequer voltar a andar de novo. Quando eu perguntei ao meu pai sobre isso, ele me disse para não me preocupar, que enquanto Jack não acordar ninguém sabe de nada, porém eu tinha notado o jeito com que ele ficou olhando para as pernas de Jack. Ele estava tão preocupado quanto eu estava. Sentei-me novamente e fiquei olhando para o sinal sonoro da máquina, os tubos emaranhados como um intestino saltando para fora de Jack, e tentei pensar em uma maneira de sair dessa.
- O que foi aquilo? Quem queria falar com você? - Eu perguntei, assim que meu pai entrou pela porta. 109
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- Richard Stirling. - Quem? - Richard Stirling. Ele é dono de Stirling Enterprises. A Unidade é uma divisão disso. Eu me virei, tentando mascarar o meu horror. Depois de alguns segundos lutando para me recompor, minha expressão voltou ao habitual. O meu pai estava analisando o gráfico de Jack como se na última meia hora sua condição pudesse ter mudado. - O que ele queria? - Perguntei. - Ele me ofereceu um emprego. Por alguns segundos eu fiquei ali, incapaz de falar. - Ele fez o que ? - Eu perguntei, consciente de que minha voz saía estrangulada. - Ele me pediu para vir e trabalhar para ele. Eu continuei a olhar para ele. - O que você disse? - Eu lhe disse que ia pensar no assunto. Minha prioridade agora é a sua segurança. Ele veio e colocou o braço em volta de mim. - Eu não quero você na Califórnia, onde Demos pode encontrála. Ele está em busca de vingança, Lila. E eu não vou dar a ele uma segunda chance - Ele fez uma pausa antes de acrescentar - Richard disse que eles poderiam cuidar da nossa segurança. Eu me encolhi com o uso do primeiro nome. Aposto eles poderiam organizar a segurança para nós. O que incluiria provavelmente ter algum soldado da Unidade grudado em mim pelo resto da minha vida. - Por que eles querem que você trabalhe para eles? - Perguntei. Eu já sabia que eles queriam a sua pesquisa, mas não havia necessidade que ele trabalhasse para eles. Eles já estavam roubando a pesquisa mesmo. Então, o que isso significava? - Eles precisam da minha ajuda, Lila - meu pai respondeu. - Com o quê? Ele se sentou em uma cadeira perto da janela e deu um tapinha na cadeira ao lado dele. Fui até ele, sentindo o chão balançando levemente abaixo de mim. - Bem, nos últimos anos, Lila, eu venho tentando encontrar uma cura para o que quer que Demos, por exemplo, tenha. E para o que minha mãe tinha. E para o que eu tenho – eu pensei, afundando na cadeira. - Uma cura? - Sim. Estive pesquisando os genes, tentando encontrar uma maneira de desbloquear o DNA de modo que possa impedir pessoas como ele. Ou torná-los melhores. 110
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- Melhores? Portanto, é uma doença, então? Meu pai franziu o cenho para mim. Meu tom era um pouco agressivo. Eu tive que me conter. - Não exatamente - disse ele - é como a fibrose cística ou a anemia falciforme. Há um gene que se encontra adormecido em uma pequena porcentagem da população. E então às vezes esse gene pode se ativar e você terá alguém como Demos. E como minha mãe. Será que ele esqueceu? - Certo. Então, você está tentando corrigi-lo, como se fosse um tipo de câncer? - Perguntei. - Sim - ele acenou com a cabeça, satisfeito ao ver que eu tinha entendido. Levantei-me e fui ficar perto de Jack, descansando minhas mãos sobre a cama. - Então, você vai trabalhar para a Unidade? - Bem, parece que nós dois estamos tentando conseguir a mesma coisa. Parece besteira se não trabalhássemos juntos nisso. - Mas você disse que nunca ia voltar aqui - eu disse, virando-me para ele. - E talvez eu estivesse errado. Jack ficou. Ele ficou, pois queria descobrir quem matou sua mãe. Eu fui embora. Eu queria te proteger. Eu tinha que ir. - Sim, eu sei - eu disse, observando o peito de Jack subir e descer no tempo de sua respiração - Mas você ficou tão irritado por Jack se juntar à eles. Meu pai suspirou e veio ficar ao meu lado, olhando para Jack. - Porque eu estava com medo que algo assim acontecesse. Ele era apenas uma criança, ainda na faculdade, é claro que eu fiquei irritado. E, além disso - ele disse - não era seu trabalho parar Demos. Era o meu. Eu apertei minha mandíbula. - Há algo mais, Lila. . . Eu me virei, meu estômago já se retorcendo e meu corpo tenso com um mau pressentimento. - Eles vão retirar as acusações contra Jack – meu pai disse - fechar o inquérito, não será mais julgado como um crime. Ele estará livre. Ele deu de ombros. Eu notei que sua roupa estava toda amassada. - Tudo o que eu preciso fazer é concordar em trabalhar para eles. Eu olhei para ele e não disse uma palavra. Eu não podia. - E eu farei qualquer coisa para proteger vocês - disse ele finalmente.
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Olhei para o relógio na parede, em seguida, fiz o cálculo. Se passaram mais de 24 horas desde que eu tinha voltado, o que significava que Alex tinha que estar em algum lugar próximo para me encontrar. Eu me lembrei do que ele me disse, sobre estar lá, mesmo quando eu não podia vê-lo, e as borboletas começaram a revirar no meu estômago. E eu me senti tão corajosa de repente, como se do nada o impossível se tornou possível. Fechei os olhos e imaginei o seu rosto, relembrando como eu me sentia quando seus braços estavam envolvidos em volta de mim, fechando o mundo. Como suas mãos acariciavam as minhas costas e faziam a minha espinha aquecer. Eu sentia como se fosse uma enguia elétrica com cardumes de peixes me atravessando. Eu respirei diante da lembrança dos seus lábios, a suavidade deles, e como eles sentiam, me causando até arrepios. - O que está acontecendo? - Perguntou meu pai - Você acabou de soltar um gemido. Você está com dor de cabeça? - Não, não - eu disse, sentindo calor irradiando do meu rosto como uma nuvem - Eu estou bem - Eu me contorci em direção à porta dos fundos - Eu vou subir para o quarto - eu disse, deixando a porta bater atrás de mim. Eu andei pelo corredor, deixando meu pai na varanda do lado de fora repassando suas anotações e pesquisas. Eu me joguei em cima da cama no meu quarto e enterrei minha cabeça em um travesseiro. Como Alex vai chegar perto de mim com a Unidade na porta da frente e com a vigilância em volta de todo o lugar? Sentei e olhei em volta, imaginando se haviam câmeras escondidas por algum lugar. Foi então, quando eu notei, a camiseta de Alex - a que eu tinha usado na primeira noite em Oceanside, quando eu desci as escadas para buscar um copo de água e ele me assustou na cozinha. A razão pela qual eu quase morri de humilhação. Ela estava em cima na cama, dobrada cuidadosamente. Eu não tinha deixado lá. Eu certamente não tinha dobrado tão cuidadosamente também. 112
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Era um sinal. Alex tinha estado aqui. Levantei-me e corri para o armário, abrindo a porta, não sabendo exatamente o que eu estava procurando, mas sentindo a cotovelada de decepção quando eu não encontrei Alex escondido lá no meio dos uniformes e caixas de sapatos velhos de Jack. Eu levantei as cobertas da cama. Nada. Então eu joguei os travesseiros de lado. E lá estava. Um pedaço de papel. Eu sorri largamente e peguei. Só tinha uma frase escrita nele e era a caligrafia de Alex. 01:00 hs pela rota de fuga anterior. Eu fiz uma careta. Rota de fuga anterior? O que isso significa? Então eu sorri, relembrando. Quando eu fugi dele antes, eu tinha saltado o muro em direção ao jardim dos vizinhos. Eu me deitei na cama, sorrindo para o teto. Eu ia ver Alex muito em breve.
Meu pai ficou até tarde trabalhando. Eu me ofereci para preparar um leite quente, mas ele apenas olhou para cima em meio ao monte de seus papéis e me encarou com desconfiança. Eu até pensei em procurar alguns Valium no armário do banheiro para colocar no seu jantar, mas Jack não usa drogas – nem se forem medicadas - então eu tive que riscar a idéia. Pouco depois da meia-noite, quando eu pensei que ia ter de bater na cabeça dele com uma frigideira para nocauteá-lo, ele finalmente subiu para a cama. Eu esperei, completamente vestida, sob as cobertas, por mais 50 minutos, antes de escorregar para fora da cama e me esgueirar para o andar de baixo. Dois carros ainda estavam estacionados na frente de casa. Eu rogava a Deus para que a segurança da Unidade não estivesse rondando em volta do bairro em plena escuridão. O jardim que dava para os outros jardins era praticamente impossível de se estacionar um carro, o que significava que era, provavelmente, o mais seguro caminho para sair da casa. Eu tinha a esperança de que Alex tivesse pensado sobre isso - ele foi treinado em reconhecimento, então eu assumi que era provável que sim.
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Eu segui na ponta dos pés atravessando todo o piso de linóleo estridente na cozinha e destranquei a trava na parte inferior da porta. Estava uma noite escura, a lua estava coberta por uma nuvem. Esperei meus olhos se ajustarem à escuridão, focando no muro na parte de trás do jardim, o qual eu teria que escalar. Uma mão de repente me agarrou do meio das sombras, me pegando pela cintura. Antes que eu pudesse gritar, outra mão cobriu minha boca. Em seguida, seus lábios substituíram sua mão, e eu então me dei conta de que estava nos braços de Alex, beijando-o de volta com tanta força que eu sequer conseguia respirar, minhas mãos segurando ele com força e puxando para mais perto. Ele se afastou e eu estava prestes a falar quando ele colocou um dedo contra meus lábios. Depois suas mãos desceram para minha cintura, e seus dedos foram subitamente puxando minha calça jeans, abrindo os botões. Eu olhei para ele surpresa. O que, aqui na varanda? Com a Unidade logo à frente e meu pai descansando no andar de cima, além das leis ainda em vigor da Califórnia? Ele tinha escolhido um momento engraçado para tanta determinação. Então eu percebi que ele estava fazendo e com uma pontada de decepção comecei a ajudar, arrancando a minha camiseta sobre a minha cabeça e sacudindo meu jeans, até que eu estava de pé sob a luz da lua rasa no deck, completamente nua. Alex me entregou uma pilha de roupas e, em seguida, segurou o meu olhar com um sorriso, seus olhos não se desviaram nem por um único momento enquanto eu me atrapalhava para vestir uma calça de corrida. Sem roupa e ainda correndo risco - pensei, enquanto eu observava Alex se ajoelhar e começar a vasculhar minhas roupas antigas. Ele segurava alguma coisa perto do meu rosto. Eu pude ver que era algo de metal, semelhante ao que ele tinha arrancado de dentro de seu braço. Quando eles tinham plantado isso em mim? Eu vi quando ele colocou de volta no bolso da frente da minha calça jeans. Em seguida, ele dobrou a minha calça e colocou em uma pilha com o resto das minhas roupas debaixo da mesa. Atravessamos o jardim e nos escondemos atrás uma árvore. Alex juntou as duas mãos e eu coloquei um pé dentro delas e dei impulso para subir por cima do muro. Ele pulou ao meu lado meio segundo depois, pegou a minha mão e em silêncio começou a me puxar para o lado da cerca. Nós pulamos mais três cercas, caindo silenciosamente em arbustos, antes de sair correndo através de gramados, móveis para decks e até brinquedos, quando finalmente pulamos a cerca final, que dava para um beco cheio de latas de lixo. Olhei em volta.
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- Você com certeza escolhe os lugares mais românticos para um encontro - eu disse. Alex empurrou-me contra o muro, passou um braço em volta da minha cintura e o outro segurando a parte de trás da minha cabeça, e então, ele me beijou. - Ok, eu retiro o que disse - eu murmurei contra seus lábios - Deus, eu estou tão feliz por você estar aqui. - Eu também. Vamos, vamos sair daqui – ele disse, pegando a minha mão e me puxando o beco. - Para onde vamos? - Perguntei. - Para longe daqui, para que possamos conversar. Nós paramos atrás de uma enorme lixeira e eu explodi em risadas. - Excelente - eu disse, sorrindo de alegria em meio à visão de uma lustrosa moto preta. Alex me entregou um capacete. Eu coloquei e então subi atrás dele, envolvendo meus braços em volta de seu estômago. - Você sabe, você prometeu para Jack que você nunca me deixaria andar em uma moto de novo. - Eu nunca prometi - Alex disse, sorrindo para mim. Um repentino apito de sirenes quebrou o silêncio da noite. Alex acelerou e nos levou para fora do beco.
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- Você tem certeza que eles não seguiram a gente? – Eu perguntei, olhando por cima do meu ombro mais uma vez. Nós só tínhamos percorrido cerca de meio quilômetro. Alex tinha estacionado no píer e nós descemos da moto e agora estávamos andando ao longo do píer. - Sim, eu deixei uma distração para eles. Olhei de soslaio para ele. - Que tipo de distração? - Eu fiz um telefonema para o departamento de polícia local, fingindo ser um preocupado cidadão que tinha visto dois veículos suspeitos estacionados na sua rua. - Inteligente - eu disse, meus olhos estudando seu rosto, sentindo a atração magnética de seus lábios. Caminhamos em silêncio até o fim do cais, nossos corpos próximos, a mão de Alex em volta de meu ombro, minha cabeça apoiada contra seu corpo. Tudo parecia mais leve, de repente, mais fácil. As dúvidas e os temores que tinham começado a me atormentar foram ofuscados apenas pela simples visão dele. - Então, o que aconteceu quando você voltou para a Base? - Alex perguntou enquanto nós sentávamos na borda do cais e balançávamos as pernas. Não havia mais ninguém aqui à esta hora da noite e estávamos escondidos da vista de qualquer um na praia. - Key não te disse? Eu achei que ele estava aqui - Perguntei. Meus olhos foram atraídos até o céu escuro acima de nós. Ele estava aqui agora mesmo nos olhando? Será que ele estava ouvindo essa conversa? - Ele viu você entrar na sede e em seguida, teve que sair. Ele recebeu um telefonema de Demos e foi chamado de volta - disse Alex - O que aconteceu - eles te interrogaram? Você viu Sara? Voltei minha atenção de volta para Alex.
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- Sim, ela estava lá, ela me recebeu assim que eu entrei pela porta. Ela foi a que me interrogou. E havia um homem com ela, o Dr Pendegast. Ele só fez um monte de anotações. Acho que fiz tudo certo. É difícil dizer no que eles acreditaram. Mas eles me deixaram ir embora; o que tem que ser um bom sinal, certo? Alex assentiu. Ele estava olhando para o oceano, a linha que tinha entre os olhos denunciava a sua ansiedade. - Você já ouviu sobre oferta de trabalho do meu pai? Ele olhou para mim. - Sim. Key ouviu você e seu pai falando sobre isso - Ele acenou com a cabeça para si mesmo - Então, Richard Stirling está aqui. Você o conheceu? - Não - eu disse, balançando a cabeça. Se eu já conhecesse Richard Stirling, eu provavelmente acabaria matando ele, sem querer. Ou talvez não tão sem querer. Eu olhava para as ondas negras batendo no cais abaixo de nós. Então meus olhos brilharam em uma bóia laranja abandonada no oceano há cerca de cinquenta metros de distância e então, logo ela começou a se mover, como se fosse um jet ski, rasgando a massa escura da água até que se tornar um ponto distante desaparecendo no horizonte. - Hey, hey, Lila. . . Eu levantei meu olhar das ondas e olhei para Alex. Ele parecia preocupado. Levantei a mão, sem pensar, e acariciei a linha entre os seus olhos até que desaparecesse. Ele pegou meus dedos. - Você não pode perder o foco, Lila. Você tem que controlar seu poder. Especialmente, e quero dizer especialmente mesmo , em torno da Unidade. Se você for apresentada à Richard Stirling, você não pode deixar ele perceber como você se sente. Você não pode se entregar. Prometa para mim. - OK - eu sussurrei. Ele segurou o meu olhar por mais alguns segundos, os lábios franzidos de forma ansiosa. Ele tinha o direito de se preocupar. Meu autocontrole com relação a ele e com relação ao meu poder era muito terrível. - Você sabe alguma coisa de Demos e dos outros? - Eu perguntei, na esperança de desviá-lo de mais uma palestra sobre controle. - Eles estão bem - disse Alex - Eles devem estar Washington em breve. - Quanto tempo eles vão precisar para fazer tudo ? - Um ou dois dias. Mordi meu lábio inferior, pensando em quanto tempo eu teria para criar um plano. - Eu não sei como nós vamos conseguir tirar Jack da Base, Alex - eu finalmente admiti - Há soldados por todo o lugar. E a sede é como uma 117
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espécie de Fort Knox - há segurança por todos os cantos, até dentro do elevador. - Eu sei - Alex disse calmamente. - Então, como é que vamos entrar? E como é que vamos sair depois? - Talvez ter o seu pai trabalhando para eles não seja uma idéia tão ruim - Alex disse calmamente. Eu olhei para cima, assustada, tirando a minha mão da dele. - O quê? Alex não disse nada por um tempo, então, ele virou-se para mim e eu vi a luz da lua refletindo em seus olhos uma cor topázio azul pálido. - Poderia ajudar ter alguém do lado de dentro - ele disse. - De jeito nenhum! - Eu gritei - Ele precisa saber, Alex. Imagine se fosse eu e você pensasse que eu estava morta? Está me matando não poder dizer a ele. É como se uma voz na minha cabeça estivesse gritando durante todo o dia para contar a ele. Nós temos que falar! Não podemos deixá-lo trabalhar para eles. É simplesmente horrível demais. Alex balançou a cabeça para mim. - Se você contar a ele, ele pode não reagir muito bem. Eu sei que é complicado ter que agir racionalmente nesta situação. Mas não podemos correr o risco de ele nos expor. Neste momento, precisamos ser capazes de controlar a situação tanto quanto pudermos. Ele é útil, mas nós temos que mantê-lo no escuro até chegar o momento em que possamos fazer uso dele. Eu soquei o píer com o meu punho fechado. Essa era com certeza a coisa certa a fazer. Mas eu me sentia doente apenas de imaginar o meu pai trabalhando para a Unidade. Porém Alex foi treinado - e, embora eu não gostava de admitir, talvez ele estivesse certo. Se o meu pai descobrisse tudo agora, ele provavelmente faria algo louco ou estúpido como chamar a polícia - ou, talvez, ele até não acreditasse em mim. Alex colocou a mão no meu braço. - Nós vamos apenas mantê-lo no escuro por mais alguns dias. E de qualquer maneira, se ele aceita o trabalho, ele também acaba despistando qualquer suspeita sobre você - disse ele - Eles vão assumir que se você soubesse sobre o que realmente é a Unidade, ou sobre o fato de que eles estão prendendo a sua mãe, você teria dito a ele. Eu suspirei. Eu podia ver que ele estava certo. - Eu suponho que sim. Sentamos pensando em silêncio por um minuto, as ondas batendo nas bordas do cais abaixo de nós como se pudessem sentir os meus próprios sentimentos de frustração e raiva.
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- E quanto a Jack? - Eu perguntei por fim - Eles vão transferi-lo para a ala de prisioneiros mesmo com meu pai aceitando o trabalho. Eles disseram que ainda precisam interrogar ele para retirar as acusações. Olhei para Alex. - Você realmente acha que eles vão deixá-lo ir como meu pai diz? Você acha que eles estão dizendo a verdade? - Não - Alex balançou a cabeça - Não há nenhuma maneira disso acontecer, não se acharem que ele pode saber a verdade sobre o que eles estão realmente fazendo. É muito perigoso para eles arriscar. - Então, não deveríamos tentar resgatá-lo agora enquanto ainda podemos? Alex balançou a cabeça novamente, fazendo uma careta. - Eu acho melhor deixar eles levarem Jack para a ala de prisioneiros. É mais fácil ter apenas um alvo. Se nós estamos tentando tirar Jack do hospital e sua mãe da sede, o nosso foco fica dividido, assim como os nossos recursos. E simplesmente não há o suficiente de nós. Seria mais fácil montar apenas uma única ofensiva contra a sede. Ele viu a expressão no meu rosto. - Lila, esta foi meu trabalho. Foi para isso que eu fui treinado, lembra-se? - Mas e se não pudermos entrar na sede? - Nós vamos - Alex respondeu calmamente - Quando chegar a hora certa. Você precisa confiar em mim. Inclinei-me em seu ombro. - Eu confio em você - Eu sussurrei. Era tudo tão frustrante. Eu não entendia como ele poderia estar tão calmo. - Você confia em Sara? - Alex perguntou. Virei-me para ele. - Eu não sei. Na maior parte do tempo ela parece sincera. Eu realmente quero confiar nela, mas. . . - Mas o quê? - Eu não sei. Eu simplesmente não sei. - Sempre escute os seus instintos, Lila. Se você não tem certeza, ela fica fora disso. Não diga a ela nada, OK? Eu balancei a cabeça e enterrei minha cabeça mais uma vez em seu ombro.
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- Eu acho que você deveria aceitar o trabalho, pai. Meu pai olhou sobre os papéis e colocou sua caneca de chá em cima da mesa. - Você acha? - disse ele. - Sim. Peguei um pedaço de pão e comecei a espalhar manteiga. - Como você sempre diz, Demos precisa ser parado. Se você pode ajudar, você deveria. Mentir, mentir, mentir. Eu estava realmente ficando cada vez melhor com toda a prática. Meu rosto não ficava mais tão vermelho como um sinal de trânsito e a minha voz não subia um tom acima. - Bem, eu ainda não sei - meu pai disse – Isso significaria mudar para cá, e eu não tenho deixei aviso de não voltar à Londres . - Você poderia pedir licença. Por Jack. Tenho certeza de que o hospital iria entender. Ele fez uma pausa. Eu sabia que ele já teria feito as contas sobre isso. Eu estava apenas dando-lhe meu endosso. - Bem, se você tem certeza. Eu não quero você aqui, mas por outro lado, eu realmente acho que nós poderíamos estar melhor perto da Unidade, com a segurança que eles podem nos oferecer. E eu não vou a lugar nenhum até ter o Jack bem novamente. Ele parou de repente ao perceber o que tinha acabado de falar. Eu continuei a espalhar a manteiga. - Você deveria dizer a eles hoje. Você sabe; fazer a bola rolar. Se manter ocupado. – acrescentei dando uma mordida na torrada que imediatamente se alojou como um zumbido em minha garganta. Meu pai assentiu para si mesmo e em seguida colocou os papéis sobre uma pilha solta e caminhou até a sala para fazer uma chamada. Eu o assisti ir, em seguida baixei a minha torrada e sentei com a minha cabeça apoiada em minhas mãos. - Você vai ficar bem se eu deixá-la aqui por um momento? – meu pai perguntou - Eu preciso falar com alguém sobre começar o trabalho. Eu
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preciso ir para o laboratório. Existem algumas coisas que eu preciso organizar. - Eu vou ficar bem - respondi fracamente - Eu tenho um guarda armado na porta lembra? - Eu olhei para o vidro opaco da porta do hospital, onde um vulto negro ondulado de um soldado podia ser visto. Meu pai veio e bagunçou meu cabelo. - A proposito, eu gosto do seu cabelo. Combina com você - ele disse antes de virar para abrir a porta. - Volto em breve. Girei para enfrentar Jack. Mesmo jeito; mesmo estado crítico. O maldito bip das máquinas e o silencioso ofegar do ventilador. - Acorde por favor - eu assobiei - Eu preciso que você me escute. Nada. - Você precisa fazer a barba. Nada. - O papai trabalha para a Unidade. Nada. - Ele está à procura de uma cura para pessoas como Demos. Nada. Suspirei, e então, me inclinei para frente até que eu estava bem perto do seu ouvido. - Estou loucamente apaixonada por Alex e enquanto você estava dormindo ele me sequestrou e me levou para o México e fomos nadar nus. E me permita te dizer, foi Muito Divertido. Tenho certeza que você quer chutar a bunda dele, mas oh, que pena, você está em coma. Nada. Em seguida, o bip da máquina começou a ficar mais rápido. Foi momentâneo, mas o leitor mostrou um aumento em sua frequência cardíaca. - Você pode me ouvir - eu disse, piscando diante do corpo inerte de Jack com espanto. Eu estava imaginando ou a expressão pacífica do rosto dele havia mudado? Aquilo foi um músculo contraindo em seu olho? Abaixei-me de novo para que os meus lábios estivessem pressionados contra sua orelha. - Será que eu te disse sobre o quarto de casal? A máquina definitivamente subiu por um segundo. Beep. Beep. BEEP. Eu ri baixinho, me perguntando se eu deveria continuar para ver se eu poderia fazer com que ele acordasse. Então eu me sentei firmemente de volta no meu lugar. Eu não queria dar-lhe um AVC. Eu me inclinei para me afastar mais uma vez. - Por favor, a proposito, não chute ele. - Você deve ser a irmã de Jack.
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Eu quase caí da cadeira. Girei em volta. Um homem estava em pé na porta. Ele estava vestindo uniforme militar debaixo de um casaco branco de médico. Eu peguei o flash de medalhas penduradas em seu peito. Ele tinha uns trinta e poucos anos, eu imaginei, com cabelo escuro curto e olhos castanhos rápidos. Ele andou até a cama e pegou o prontuário de Jack. - Eu sou o Dr. Roberts. O médico do seu irmão – ele disse. Eu o estudei enquanto ele lia o prontuário. Ele tinha cerca de um metro e setenta e oito de altura. Ele não tinha a musculatura quadrada dos soldados da Unidade, nem estava vestindo preto, mas nunca se sabe. Eu não ia confiar em qualquer um, especialmente neste lugar. Ele desembrulhou o estetoscópio de onde ele tinha enrolado, colocou em volta do pescoço e apertou contra o peito de Jack, esperou algumas batidas então anotou algo no prontuário. Então ele foi até as máquinas e começou a verificar os leitores. Após alguns segundos ele olhou para o Jack e em seguida de volta para o prontuário. - Algum problema? - Perguntei. - Não - ele respondeu, ainda estudando o leitor - Parece que ele teve um pico em sua frequência cardíaca um ou dois minutos atrás. Eu não tenho certeza o que tenha causado isso. Ele franziu o cenho para o limite de leitura e em seguida, ele franziu a testa diretamente para mim. Eu arregalei os meus olhos, sorri de forma inocente e olhei para o Jack. - Como ele está? - Ele está se curando bem. Muito bem. Nós vamos dar uma olhada em como a ferida estará amanhã. Seus sinais vitais estão bem apesar de tudo. Você deve continuar falando com ele. Há uma chance de que ele possa ouvir a sua voz, isso irá ajuda-lo a voltar. Ou induzir um ataque cardíaco. - Será que ele vai ser capaz de andar? - Eu perguntei, limpando minha garganta. O médico olhou para mim com o que eu imaginei ser a expressão que ele usava quando estava indo dar uma má notícia para os parentes. - É impossível dizer nesta fase a gravidade do dano. - disse ele - A bala entrou aqui - ele apontou para o estômago de Jack - Ela cortou a costela aqui na frente e em seguida alojou-se contra a sua medula espinhal aqui na parte de trás. Até que ele acorde e possamos fazer testes não sabemos se ele perdeu ou não os movimentos de suas pernas. Fechei os olhos por um momento. - Quando é que ele irá acordar? - Perguntei. - Quem sabe? Ele foi fortemente sedado no início, mas nós já aliviamos isso. Esses caras - disse ele apontando para a sombra volumosa do Soldado da Unidade de pé do outro lado da porta - Eles o queriam em 122
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pé na semana passada já. Eles estão colocando pressão sobre mim para trazê-lo de volta, mas há pouco que eu possa fazer, ele vai acordar quando ele acordar, seu corpo precisa de tempo para se recuperar de todo o trauma. Mas agora eles estão falando em remover ele em breve para a sua sede. Eles não se importam se ele está consciente ou não. Eu não sei o que estas pessoas pensam que são, mas... - Ele murmurou algo sob sua respiração. Meu coração estava batendo. A Unidade iria levar o Jack? Eu sabia que Alex havia dito que poderia ser o melhor – todas essas coisas de dividir os bens e recursos – mas agora estava realmente acontecendo isso e de repente não parecia ser a melhor ideia. Eu percebi que o médico ainda estava falando comigo e em transe virei de volta para encará-lo. - Eu só estou ainda um pouco preocupado com a maneira como as suas estatísticas vacilam - ele disse - Se isso continuar acontecendo, eu vou ter que mantê-lo aqui em observação. Ele estava me olhando atentamente e de repente ele virou e saiu. Fiquei olhando para ele, piscando, me perguntando se eu poderia ter ouvido mal ou interpretado mal o olhar fixo dele. Mas não, ele claramente veio oferecer uma sugestão. - uma forma de ajudar a manter Jack aqui no hospital sob observação. Eu sorri para mim mesma. Talvez, com um pouco mais de sorte e mais algumas insinuações sussurrando no ouvido de Jack, eu poderia encontrar uma maneira de tirar meu irmão daqui antes que eles o transferissem. Mas isso era o melhor plano? Ou eu estava apenas em pânico? Levantei-me e caminhei até a porta, sentindo-me frustrada. Eu abri a porta e o homem guardando-a virou para mim, impedindo a minha saída, segurando uma arma contra o peito do tamanho do meu braço. Olhei para cima com um olhar raivoso, pronta para exigir que ele saísse quando eu parei rapidamente e puxei uma respiração. - Jonas? - Eu gaguejei. O homem na minha frente era realmente um menino. Ele era apenas um ou dois anos mais velho do que eu. Ele tinha olhos e pele castanha como cobre polido. Em outra vida, num mundo em que Alex não existisse, eu poderia tê-lo achado lindo. - Lila - disse ele, sorrindo. Ele deu uma rápida olhar para cima e para baixo no corredor que estava vazio. - Eu não queria perturbar você. - Então, você está em que? Em serviço? - Perguntei. Ele me deu um sorriso que mostrou o branco de seus dentes e o fez parecer um príncipe, vestindo uma roupa de combate.
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- Sim. - Ele parecia envergonhado, pelo menos era o que eu acreditava - Essa coisa toda com seu irmão e o Tenente Wakeman, é meio grande. Eles estão apenas querendo se certificar que ele está seguro. Certo. Até que possa transferi-lo para prisão e mantê-lo lá por tempo indeterminado. Esse tipo de seguro. Ele me viu estremecer porque ele começou a murmurar. - Quero dizer, eu não acho que Jack fez alguma coisa errada. Não foi como se ele tivesse escolha... Com você sendo capturada e em seguida Demos e... O que mais ele poderia fazer? - Ele começou a arranhar o chão com a ponta do seu coturno. Eu não queria ouvir aquilo. Ter uma conversa fiada com um garoto segurando uma arma e que iria atirar em mim sem pensar duas vezes se ele soubesse o que eu era; não estava exatamente no topo da minha lista de prioridades. Eu me espremi para passar por ele. - Eu estou indo pegar um café - eu disse o mais educadamente que pude antes de começar a andar rápido pelo corredor. - Lila - ele gritou atrás de mim. Virei-me esboçando um sorriso em meu rosto. - Eu estava só pensando, querendo saber na verdade, se você gostaria de tomar um café comigo mais tarde? Fiquei ali, no meio do corredor, tentando processar seu pedido. Parecia mais uma pergunta estranha, dadas as circunstâncias. Estávamos na calmaria de uma unidade de terapia intensiva. Ele estava efetivamente guardando o meu irmão, que estava deitado, prisioneiro de um coma do outro lado da porta. Eu poderia, se assim quisesse, arrancar a arma de suas mãos antes que ele tivesse tempo de reagir e voltá-la contra ele. Será que ele estava mesmo me chamando para um encontro? Eu comecei a abrir minha boca, o meu cérebro formulando uma desculpa esfarrapada sobre Jack e o meu pai não me deixarem namorar alguém de uniforme quando percebi que eu estava recebendo um presente. Um presente banhado a ouro e diamante encrustado. Eu estava destinada a conseguir informação de tudo. Jonas seria talvez o calcanhar de Aquiles que estávamos procurando. - Claro - eu disse para Jonas, sorrindo amplamente – Isso seria legal.
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Na hora do almoço Sara chegou. Ela parecia estressada. Ela estava vestindo uma blusa de seda cinza e uma saia lápis preta. Ela foi direto para Jack e seguiu com sua rotina habitual, acariciando seu rosto e segurando a sua mão antes de beijá-lo. Eu estava sendo tão cética e injusta. Talvez ela fosse realmente a namorada sofrida. Eu realmente esperava que fosse mesmo porque eu não queria ver Jack acordar de um coma e descobrir sua namorada era uma malvada psicótica de duas caras. Isso pode afetar sua reabilitação. - Sara? - Eu disse, sentando na cadeira em frente dela. Ela olhou para mim e eu senti de novo uma pontada de culpa ao notar como ela parecia cansada. Os círculos sob seus olhos estavam escurecendo, deixando em seu rosto um olhar cinza, enquanto os olhos estavam vermelhos. Ela parecia ter chorado a noite toda. Senti minhas palavras estacionarem na minha garganta. Seria bom contar-lhe tudo. Eu pressionei meus lábios com força para parar. Eu estava sendo impulsiva de novo. Eu tinha prometido para Alex não ter nenhum comportamento imprudente. Além do fato de que Sara poderia ser uma das asseclas do mal de Richard Stirling, nós também provavelmente estávamos sendo vigiadas por alguma escuta. Eu tinha encontrado uma pequena lasca de metal dentro do meu jeans novo. Só Deus sabia quem andava invadindo a minha casa todos os dias e colocando as pequenas escutas dentro das minhas roupas - espero que não seja Jonas - porque, apesar de lavar minha roupa diariamente, as escutas continuaram a reaparecer. Eu precisava pesar cuidadosamente as minhas palavras. - Você acha que Jack vai ficar bem? - Perguntei. - Sim - ela disse - sim, ele vai ficar bem. Ele tem que ficar. Haviam lágrimas brilhando em seus olhos. De repente, ela deixou escapar um soluço que me assustou. - Você não tem idéia de como eu estava com medo, Lila, quando o trouxeram de volta para a Base. Quando ele desapareceu, eu fiquei apavorada. Ele não me disse para onde estava indo. Eu acho que ele não confiava em mim. 125
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Ela enxugou os olhos com um lenço e eu me mexi desconfortavelmente na minha cadeira. - E então, quando descobrimos que ele tinha resgatado os prisioneiros e levado Rachel. Eu fiquei debaixo de tanto escrutínio. Eles pensavam que eu devia saber. Que eu era parte disso. Eu lhes disse que não sabia de nada. Eu nem tenho certeza de que acreditam em mim agora. Ela apoiou a cabeça nas mãos. - Mas você não tem nada a ver com isso - eu disse. - Eu sei. Mas eu quero - ela fez uma pausa, olhando para cima e segurando meu olhar – eu queria que Jack tivesse confiado em mim. Eu faria qualquer coisa para Jack – ela disse, seu lábio inferior tremendo Qualquer coisa. Senti meu coração travar. - Você sabe sobre a minha mãe? - Eu perguntei, respirando profundamente. Estava bastante neutra a maneira como a pergunta foi feita. Eu não estava perguntando a ela diretamente se ela sabia que a minha mãe estava viva e sendo objeto de experimentos. Eu queria ver se registrava algum tipo de faísca, algo passando no rosto de Sara que apontasse que ela soubesse sobre minha mãe estar viva, mas seu rosto ficou sem expressão, inocente, e ela simplesmente perguntou: - O que tem ela? - Sobre o que aconteceu com ela? - Eu disse. - Eu sei porquê ela foi morta - respondeu Sara cautelosamente, franzindo a testa para mim como se ela não tivesse certeza de que entendeu a pergunta - Eu sei porquê Jack e Alex se uniram a Unidade para encontrar os assassinos. E que Jack faria qualquer coisa para detêlos. Como eu também faria... - Novamente ela me encarou. Sentei-me na cadeira e olhei para Jack. Se Sara sabia sobre a minha mãe sendo presa pela Unidade, ela merecia um Oscar por este desempenho. Foi impecável. Mas por que, então, o meu instinto continuava lutando contra o meu desejo de contar tudo para ela? Era porque havia muito em jogo? Ou porque eu sabia que estávamos sendo vigiadas e grampeadas? Ou será que era porque eu simplesmente não acreditava nela?
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Meu pai estava olhando para mim como se eu tivesse acabado de entrar no quarto falando japonês fluente e vestindo um traje de palhaço. - Ele te chamou para tomar alguma coisa? - ele balbuciou. - Não tenha um aneurisma, pai, é só um café. - Er, bem. . . Meu pai nunca teve de lidar com a questão entre eu e os meninos antes porque eu nunca tinha tido um namorado - até agora. Mas ele não sabia ainda sobre Alex. É verdade, nós ainda não conseguimos ver juntos um filme inteiro, com direito a pipoca, primeiro beijo, dança no baile, mas Alex ainda se qualificava como meu namorado. Talvez. Não era como se tivéssemos tempo para discutir o assunto. Talvez um dia pudéssemos fazer algo normal como ir a um encontro real. E agir como se fôssemos um casal normal, ao invés de uma adolescente mutante com o super controle da mente e lutando contra agente das forças especiais treinados para matá-la. - Não é nada sério - eu sussurrei para o meu pai, ciente de que Jonas estava do outro lado da porta. - Sim, bem, bem. . . Eu podia ver o meu pai lutando para lidar com a idéia de ter sua filha e meninos na mesma frase e mais ainda, na mesma sala, bebendo café. - Eu acho que está bem. Quer dizer, pelo menos você estará segura. Você não vai para fora da Base, não é? - Não, pai, vamos ficar aqui. Apenas vamos na cafeteria. - OK, então. Ele acenou para mim e eu me contorci. Eu me perguntava que tipo de reação ele teria se imaginasse o que eu estava fazendo com Alex apenas alguns dias atrás. Inclinei-me para dizer adeus a Jack. Ainda Beep- beep. Ainda sem resposta. Então eu abri a porta. Jonas estava lá esperando, arma pendurada sobre o peito. - Oi, Lila – disse ele, sorrindo para mim.
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Mais uma vez eu fiquei impressionada com o contraste entre o seu sorriso doce e a enorme metralhadora preta que ele estava segurando contra o peito. Ele parecia uma criança de cinco anos de idade, vestindo um traje de GI Joe. Por que eles precisam recrutar alguém tão jovem? Então me ocorreu que Jack e Alex também não eram tão mais velhos quando a Unidade tinha recrutado eles. - Ei - eu disse de volta. - Eu só tenho que esperar para ser substituído - disse ele, apontando para a porta. - OK, eu vou indo na frente e já peço o café. Vejo você lá em baixo eu sorri. Eu esperava um sorriso caloroso e sedutor, mas eu tinha a sensação de que parecia mais como se eu tivesse engolido o meu próprio vômito. A cafeteria estava no piso térreo. Haviam mais ou menos umas dez mesas de plástico e uma lanchonete no centro. Eu vi o Dr. Roberts em uma mesa mais distante. Ele sorriu para mim antes de voltar em uma conversa com um casal de enfermeiros. Eu comprei café e, em seguida, por capricho, alguns biscoitos. Eu não acho que eu poderia realmente encontrar a frieza para flertar com Jonas, então eu pelo menos poderia lhe dar cookies - como uma aluna da terceira série. Eu não sabia como flertar. Isso era facilmente provado no que diz respeito às minhas tentativas fracassadas de seduzir Alex ao longo dos últimos anos, não apenas durante as últimas semanas. E, além disso, me senti mal. Era tão errado. Mesmo com a atenuante circunstância, parecia uma traição. Uma arma apareceu em cima da mesa – acima dos cookies. Eu automaticamente examinei a arma olhando para a trava de segurança, pensando em como era estranho que algumas semanas atrás Alex teve que me mostrar como se usava uma arma, apontando em linha reta, e agora eu já me sentia como uma profissional. - Hum, que você vem com a sua arma para um encontro? - Eu disse, olhando para Jonas. - E isso é? Um encontro? - ele perguntou, piscando um enorme sorriso para mim. Por um momento, eu me senti muito triste por ele. Eu estava sendo tão injusta com ele desse jeito. Depois eu me lembrei para quem ele estava trabalhando, e nessa mesma hora a culpa se dissipou. Jonas caiu na cadeira, movendo a arma para fora da mesa e colocando-a em posição vertical contra a perna da mesa. Eu empurrei o seu café para o outro lado da mesa em direção a ele. - Então, como está o seu irmão? - perguntou ele. - Ele está bem, eu acho. 128
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- Ouvi dizer que o seu pai vai começar a trabalhar para a Unidade. Legal. Sim, era muito, muito legal . - Sim – eu disse. - No que ele está trabalhando? - Perguntou Jonas. Parei por um segundo. Eu tinha que deduzir que Jonas estava em uma posição mais baixa do que o Alex ou Jack, o que significava que ele não sabia muito, se é que soubesse mesmo alguma coisa sobre o verdadeiro trabalho que a Unidade estava fazendo. - Ele realmente não me disse muito. Eu não tenho certeza. Eu dei de ombros. - Você sabe... - Jonas disse, inclinando-se sobre a mesa, e deixando cair sua voz: - Eu ouvi outro dia que eles estão fazendo testes com eles. Engoli um pouco de café e queimei minha língua. - Demos e seu povo... Quando a Unidade pegá-los. Eles estão testando uma maneira de corrigi-los. - Sério? - Eu perguntei, a raiva inundando através meu corpo. Olhei para o cookie e ele se moveu um centímetro sobre a mesa. Meu coração afundou. Droga. Olhei para cima, aterrorizada. Mas Jonas não tinha notado, seus olhos estavam fixados em meu rosto. - Então, como ele era? - Como era quem? - Gaguejei. - Você estava com ele, certo? Demos? - Ele disse o seu nome em um tom abafado, como se Demos fosse uma celebridade e ele não pudesse acreditar que eu o tivesse conhecido. - Como ele é? Eu não posso acreditar que você pôde, tipo, conhecêlo. A Unidade vem tentando pegá-lo por anos. Ele é como o poderoso chefão. Você chegou a falar com ele? - Bem, ele me sequestrou, então eu acho que conta como conhecêlo - O que ele fez para você? Ele usou seu poder em você? - Sim. Seus olhos se arregalaram. - Uau, o que você sentiu? - Não foi muito bom - eu disse, lembrando a sensação que eu tinha de ser laçada em volta dos tornozelos e bater contra um muro invisível. - Como você escapou? - Ele estava ocupado lutando com a Unidade. Ele não conseguia segurar todos, portanto, consegui escapar. Jonas estava ouvindo, de olhos esbugalhados, a boca aberta. - Você estava lá? – Perguntei – No Joshua Tree?
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- Eu estava no terceiro veículo - disse ele – Eles o moveram. Estávamos todos lá dentro. Foi bem desagradável. Eu corei. - Mas você ficou bem? Isso me deixou preocupada. Só um pouco. Não tanto quanto por minha mãe ou por Jack ou diante do pensamento de ser capturada, mas a culpa de ter machucado pessoas, de que Alex tinha talvez matado pessoas, estava lá – como um monstro à espreita no recesso da minha mente, estimulando com os dedos de raiva, tentando me fazer encarálo. Até agora eu tinha me mantido de costas para ele. Haviam muito mais coisas para lidar além disso. - Eu fiquei bem - ele sorriu para mim, olhando por trás de seus ombros - alguns outros da minha equipe saíram um pouco pior. Uma perna quebrada, uma clavícula quebrada, esse tipo de coisa. Mas a equipe Alpha que foi atingida duramente. Eles perderam três homens. Seus olhos estavam brilhando com lágrimas e eu desviei o olhar e comecei a mexer nos cookies, quebrando e juntando sobre a mesa. Alex tinha tentado me consolar dizendo que sempre haviam vítimas na guerra. E que esta era uma guerra. E ele sempre dizia que voltaria a atirar em cada um deles, se isso significasse me proteger. Suas palavras tinham se registrado em algum nível, mas a um nível afastado. Tudo o que importava agora eram Jack e minha mãe. Os homens da Unidade não me importavam. Nunca me importaram até agora. Mas aqui estava a realidade. Houveram pessoas mortas. Pessoas mortas por causa de mim e por causa de Alex. Pessoas que talvez nem conheceram a verdade, eram apenas mais um nas Empresas Stirling . Não, eu me lembrei severamente, eles não estavam mortos por minha causa ou por causa de Alex. Eles foram mortos por causa de um homem e apenas por causa de um único homem - Richard Stirling. Concentrei-me novamente em Jonas que parecia ter contido as lágrimas e estava agora descrevendo a carnificina que eu tinha causado. - . . . totalmente destruídos os tanques. Não tinha nem idéia de que poderiam fazer isso. É incrível. Imagine ser capaz de fazer isso. Só de olhar para alguma coisa. É. Eu realmente imagino. Bebi meu café. - Nós matamos um deles também - Jonas ainda estava falando. Um respingo escaldante de café caiu sobre a minha mão. Era de Ryder que ele estava falando. Ryder . Eu queria sacudi-lo pelos braços e gritar o nome de Ryder bem na sua cara, mas eu não podia fazer isso. Eu sentei firme e cerrei os dentes, tentando não perder o meu precário controle.
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- Sofremos um impacto gigante. Estamos reduzidos a apenas quatorze homens. Eles estão treinando alguns mais, muitos mais, eu ouvi falar sobre mais quatro equipes, mas eles só vão estar prontos na outra semana ou algo assim. Eu olhei para o meu café e ele mexeu. As chances não estavam se movendo à meu favor. - De onde eles recrutam esse pessoal? - Eles pegam os melhores recrutas do exército - Seu peito estufou Nós somos os melhores dos melhores. Pensei em Suki, em Nate e em Amber, e também nos outros. Eles poderiam ter todo o tipo de poderes da mente, mas não ia ser suficiente. Eles eram verdadeiros soldados. Olhei Jonas novamente. Ele parecia um quarterback do ensino médio e não um dos melhores soldados treinados em operações especiais. - Quantos anos você tem? - Perguntei. - Dezenove - ele respondeu, levantando o queixo - quase vinte anos. E como eu disse, nós somos a melhor força treinada da Marinha no mundo. Você tem a melhor proteção que você poderia querer. Huh. Genial . Isso era ótimo . Eu tentei parecer aliviada e não totalmente devastada com a notícia. - E os caras no laboratório estão fazendo um grande avanço acrescentou, porque ele pensou obviamente que eu ainda estava em pânico. Eu olhei para cima. - Estão? - Sim, foi oque eu escutei. - Que tipo de avanço? - Eu não tenho certeza, alguma forma de poder rastreá-los melhor para que possamos encontrá-los mais rápido. Esse é o maior problema. Eles estão sempre um passo à frente o tempo todo; não conseguimos chegar perto. - Oh sim? - Sim, não tenho certeza o que é, mas sei que vai ser grande. Os caras estão falando sobre isso. Meu estômago embrulhou. - Você não tem nenhuma idéia do que poderia ser? - Eu disse, tentando não parecer como se eu realmente me importasse, quando na verdade eu estava tão perto de pegar sua arma com o poder da minha mente e segurar apontada para a sua cabeça até que ele me dissesse ou eu descobrisse. - Não, mas é emocionante, não é?
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Eu fiz algum tipo de ruído, um estrangulado sussurro, como se estivesse concordando. - Então, em breve você não terá que se preocupar com mais nada. Isso vai acabar antes mesmo que você perceba. Ele estendeu a mão sobre a mesa e pegou minha mão. Levou um momento para eu registrar e outro momento para lutar contra o desejo de arrancar a minha mão de perto. Controle-se, controle-se , eu repetia mais e mais na minha cabeça. Sua mão estava quente e pesada em cima da minha. - Então, você quer ir ver um filme algum dia ou sair para noite de pizza? Quero dizer. . . se você quiser. . . - Hum, eu preciso ver com meu pai. Ele é tipo de super protetor. Como Jack. Eu vi a decepção em seu rosto enquanto ele escutava. - OK, bem, me avise. Ele sorriu, envergonhado, suas bochechas corando. - Porque eu realmente gostaria de sair com você um pouco mais. Eu balancei a cabeça e tentei sorrir. - Eu tenho que voltar para o quartel - disse ele - Desculpe. Vejo você hoje à noite, no entanto. Eu balancei a cabeça, distraída, então dei uma segunda olhada. - Hoje à noite? - Sim, eu estou de serviço para a primeira parte da noite. Eu estarei do lado de fora de sua casa, a sua própria equipe de segurança, assim como o Presidente tem uma, hein? - Bem, nesse caso, eu te vejo mais tarde - eu disse, forçando-me a manter um sorriso quando tudo que eu realmente queria fazer era descansar minha cabeça na mesa e chorar. Depois que ele se foi eu me sentei por alguns minutos olhando em silêncio para a mesa até que um dos cookies levantou alguns centímetros fora da mesa e foi arremessado para o chão.
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O problema era que eu estava sendo grampeada. E eu não tinha telefone. E eu não podia ir a lugar nenhum sem um guarda armado. Então, tecnicamente, era mais do que um problema que eu teria que resolver. Eram vários. Eu me lembrei do que me havia dito Demos sobre o potencial que a Unidade tinha para fazer um grande avanço. O que não significava exatamente a paz mundial. Stirling Enterprises fez a sua fortuna através do negócio de armas, legítimo ou não. Eles vendiam suas armas com os melhores compradores e adeus mundo como o conhecíamos. Olá nova e louca ordem mundial. Eu podia ouvir Jack na minha cabeça me chamando de melodramática, mas sentada ali refletindo, parecia uma boa explicação. E Jack ? Ele estava em coma. O que ele sabia? - Senhorita Loveday? Eu olhei para cima, assustada. Um homem de preto me chamava. Eu me senti em uma queda livre do medo. Era isso? Era este o momento que eu estava esperando? Comecei a avaliar seu tamanho e suas armas. Eu poderia vencê-lo. Com certeza eu poderia. Se ele me tocasse, eu puxaria sua arma. Em seguida, correria para longe dele. - Senhorita Loveday? - ele disse novamente. - Sim - eu disse o mais desafiadoramente quanto eu conseguia. - Você se importaria de vir comigo, senhorita? Estudei-o. Ele tinha cerca de 1,90 m de altura, forte, musculoso, inclusive a sua cabeça era um corte diferente na parte da frente. Seu rosto era inexpressivo. Ele me lembrava o Robocop. Olhei em volta do refeitório. Estava vazio, exceto por um garçom retirando os copos das mesas.. Olhei para o homem. - Para onde? - Eu perguntei. Eu já sabia, é claro. Ele não estava ali para me acompanhar à uma excursão ao zoológico de San Diego. - Há alguém que quer vê-la. Esperei um instante, mas ele não disse mais nada. 133
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- Quem? - Perguntei. - Eu apenas gostaria que você me acompanhasse, por favor - disse ele, puxando a parte de trás da minha cadeira. Levantei-me, segurando a borda da mesa para me apoiar. - Hum, eu acho que eu preciso dizer ao meu pai para onde estou indo para que ele não se preocupe. - Isso já foi resolvido. Resolvido? Isso não parece bom. Será que prenderam meu pai também? Minha mente dava voltas, tentando descobrir se eu deveria fugir ou esperar. Se ele me levasse para a sede da Unidade, seria tarde demais. Mas eu não podia agir agora. E se eles ainda estivessem completamente inocentes sobre mim? Eu iria colocar tudo a perder revelando quem sou. Antes que eu pudesse decidir o que fazer, nós já estávamos para fora e o homem foi me guiando pelo cotovelo para um jeep. Fugir? Esperar? Eu pensei novamente sobre tomar sua arma, arremessá-lo para trás e, em seguida, pular no jeep e fugir. Mas eu sabia que não iria longe dentro de uma base militar com um Jeep roubado. Ele me empurrou para o banco do passageiro antes que eu pudesse decidir o que fazer. Talvez ele estivesse me levando de volta para ver o Dr. Pendegast. Talvez eles querem me interrogar de novo? Agarrei o assento e tentei pensar direito. Menos de um minuto depois, paramos em frente à sede da Unidade. Eu desci do carro e segui o homem como se ele fosse meu carcereiro. Eu tinha que entrar. Seria muito arriscado fazer um movimento. Entramos em uma das entradas, roçando os braços enquanto nós andávamos, e eu senti que começava a suar, minha pele estava formigando, mesmo com o ar condicionado. A porta automática se abriu e nós andamos no hall de entrada. Era tarde demais para agir. Eu congelei, imóvel, no meio do lobby, o meu coração vibrando na minha garganta, me fazendo sentir vontade de vomitar. Eu deveria ter tentado fugir. E agora já era tarde demais. Meu guarda olhou de cara feia por cima do ombro e, em seguida, me fez um sinal para que o seguisse. Eu impulsionei meus pés e segui em frente. Entramos em um elevador e outro guarda autorizou a nossa entrada para o piso superior – o quinto andar. Pelo menos ele não estava me levando para baixo, onde ficava a ala de prisioneiros. Embora - meu estômago cambaleou - era onde minha mãe estava. Mas agora haviam nove andares entre ela e eu. Isso pode muito bem ser nove sistemas solares para o quão longe se sentia e quão impossível parecia ser de entrar.
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O homem me levou por um corredor e através de uma porta em um quarto que tinha janelas em dois lados e uma enorme mesa oval no centro. Um homem em um terno cinza escuro estava de pé no outro lado da sala, de costas para mim, olhando para fora da janela. A porta se fechou com um clique e olhei para trás. Meu guarda havia ido embora. Virei lentamente de volta para a sala. O homem tinha se virado e agora estava olhando diretamente para mim, me avaliando. Ele deveria ter quase sessenta anos, por volta de 1,80 m de altura, cabelo tingido e o bronzeado de alguém que passou os fins de semana velejando nas Bahamas. Ele parecia vagamente familiar. Eu olhei pra ele com cuidado, tentando relembrar. Havia algo no azul penetrante dos seus olhos e na arrogância de seu porte, que me fazia lembrar de alguém. Ele não se parecia com um médico. E muito menos com um soldado. A respiração travou mim quando eu percebi. Ele parecia exatamente como eu imagino que o chefe de uma empresa de vários bilhões de dólares se parece. - Senhorita Loveday, muito obrigado por vindo - disse ele, caminhando em minha direção. Richard Stirling. O pai de Rachel. O homem por trás de tudo isso. O homem responsável pelo assassinato de mentira da minha mãe. O homem que orquestra os experimentos. Esse é o homem andando em minha direção e estendendo a mão. E fiz força para apertar a sua mão sem arremessá-lo pela janela. Meu corpo todo ficou tenso com o esforço para controlar a raiva. - Eu não tive muita escolha - eu disse cerrando os dentes. Ele parou, franzindo a testa um pouco. Depois ele se recuperou, dando-me um aceno de desculpas com a cabeça. - Ah sim, os meninos da Unidade, não são os mais sutis, eu receio. Sinto muito se meu pedido para vê-la a deixou ofendida. Eu sabia que tinha que me comportar. Que eu precisava jogar o jogo, como Alex diria, e usar tudo que pudesse para obter informações, mas meu cérebro não estava nada estratégico. Tudo o que eu conseguia pensar era no quanto eu queria matá-lo. Tomei uma profunda respiração, me forcei a sorrir, apesar de doer sorrir para ele, e então eu falei: - Não, não tem problema. Eu só queria voltar para Jack, isso é tudo. - Sim, claro, eu entendo. Bem, obrigado pelo seu tempo. Eu vou liberar você em breve. Aqui – ele puxou uma cadeira pesada - sente-se. Eu pensei um pouco e, em seguida, me sentei, bem na borda. Ele ficou em pé. - É sobre a minha filha. Eu sei que você foi uma das últimas pessoas a vê-la... - Sim - eu respondi. 135
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Eu segurei seu olhar e me perguntei se ele podia ver o ódio ardente nos meus olhos. - Você pode me dizer o que aconteceu? - Hum, eu já disse à Sara e ao médico o que aconteceu - disse eu, me agarrando em minhas mentiras, tentando lembrar o que eu disse a eles. - Eu sei, eu li o relatório - Ele sorriu embora seus olhos estivessem frios - Obrigado por todas as informações, foi muito útil. Eu estava apenas querendo saber se você de repente não teria lembrado de algo mais por acaso? Er, como o fato de sua filha estar presa, amarrada e escondida em um quarto de hotel na Cidade do México? E que um dia eu vou matar você? - Não. Nada - eu disse, balançando a cabeça - Sinto muito. Seus olhos se estreitaram ligeiramente. Então, você não tem nenhuma idéia de onde eles poderiam tê-la levado ou o que querem com ela? - Desculpe, não faço idéia. Ele olhou para mim, um pouco intrigado, obviamente nada acostumado a estar diante de uma pessoa que não lhe desse exatamente a resposta que ele queria. Ele se aproximou, apoiando-se contra a mesa em direção à minha cadeira. - Então, como foi sua estadia com Demos e seus amigos? Agradável? Meu coração agora já estava mais pulando do que batendo. Será que ele sabia? - Obviamente, eu tenho certeza que deve ter sido muito traumático para você. Eu balancei a cabeça lentamente, incapaz de tirar os olhos de seu rosto. - Então - ele continuou - você deve entender a urgência absoluta de prender Demos e todas as pessoas como ele antes que as coisas fiquem mais fora de controle. Ele esperou mais uma vez para eu mostrar algum sinal de acordo. Eu balancei a cabeça mais uma vez. Ele sorriu e, em seguida, veio mais perto de mim, sua perna roçando na minha. Olhei para suas mãos cuidadosamente cuidadas, descansando em seu joelho. - Porque - disse ele - nós não gostaríamos que qualquer outra pessoa da sua família se machucasse agora, não é? Meus olhos voaram de volta para seu rosto. Isso foi uma ameaça? Ele apenas levantou as sobrancelhas e deu o mais ínfimo dos encolher de ombros, quase imperceptível através de seu terno. Sentei-me na borda da cadeira, brincando com a idéia de arremessá-lo com força
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pela janela de vidro atrás dele. Bastaria apenas um piscar de olhos. Mas então ele se virou e sua pergunta quase me empurrou fora da cadeira. - Seu pai contou-lhe tudo sobre a missão da Unidade, tenho certeza. Na verdade, você provavelmente sabia tudo sobre a nossa missão antes que ele dissesse, não é? Fiquei sem palavras. À que missão ele estava se referindo? A farsa que meu pai acreditava, onde eles estavam trabalhando para encontrar uma "cura", ou a missão verdadeira, de criar novas armas de destruição em massa? Ele sorriu como se entendesse minha confusão. - Ainda é cedo - continuou ele - Nós não estamos tão avançados como eu gostaria de estar, mas estamos fazendo progressos. Ótimos progressos. Com a ajuda de seu pai, nós vamos conseguir mais, em breve. É. - Estamos começando a desvendar os segredos do gene telepata. Meu Deus. Isso tinha que ser o que Jonas tinha mencionado. Meus olhos correram em volta da sala como uma borboleta tentando encontrar um pedaço de terra firme. - Se nós pudermos ouvir os pensamentos, então ficaríamos muito mais fortes. Nós ainda estamos tentando dominar o gene, mas a boa notícia é que graças a toda a nossa pesquisa, e também a pesquisa de seu pai, obviamente, tivemos um grande avanço. Meu olhar viajou de volta para o rosto de Richard Stirling. Ele esperou até ter a minha atenção. - Nós encontramos uma maneira de bloquear telepatas. Não é isso um grande avanço? Olhei para ele sem entender. - Você sabe - disse ele – são os telepatas que nos ouvem quando estamos indo apanhá-los. Agora vai ser como estar pressionando o botão mudo em um telefone. Eles não podem nos ouvir, não poderão saber quando estivermos chegando. É uma ferramenta muito útil para nós. Logo seremos capazes de ler a mente também. Parecia que a cadeira estava subindo, como se o chão estivesse inclinando debaixo de mim. - É incrível a investigação que temos feito - Ele fez uma pausa Obviamente, ajuda ter dois telepatas como cobaia. Bem, apenas uma agora. . . já que seu irmão Jack soltou Alicia. . . . Mãe. . . minha mãe. . . Olhei para os seus olhos. E meu coração parou naquele instante. Ele sabia. Ele sabia que eu sabia sobre a minha mãe. Era evidente no sorriso se contorcendo em sua face. - Embora, por razões óbvias seu pai vai ser mantido no escuro quanto à situação da nossa cobaia. Mas, uma vez que ele comece a 137
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trabalhar em nossos laboratórios, vai demorar nada para decifrar o código do gene telecinético – Ele olhou para mim sem piscar - Nós só precisamos trabalhar bem. Eu me encolhi na minha cadeira, antes que eu pudesse parar. Ele fez outra pausa, sorrindo diante da minha reação. - Mas é claro que isso é tudo para um fim. Como você sabe. Para pegar Demos – ele fez outra pausa - e o seu povo. E o seu povo. Leia-se “EU”. A mesa parecia se inclinar em um ângulo de quarenta e cinco graus. Não, isso não aconteceu. Era a minha cabeça, deslizando pelo meu braço. Parecia que eu estava saltando de um penhasco. Puro pânico e uma parede de terror apressando-se para me pegar. Eles sabiam sobre mim. Minha respiração chegava aos trancos e barrancos. Meus pulmões estavam gritando. Eu não conseguia inalar ar para eles. Eu apertava minha mão na borda da mesa, tentando me equilibrar enquanto a sala girou em torno de mim. - Você deveria voltar para o seu pai, Lila. Ele vai ficar preocupado. Eu olhei para cima. Richard Stirling parecia nebuloso, como se ele tivesse sido pintado em aquarela. Eu sabia era por causa das lágrimas inundando os meus olhos e tentei desesperadamente contê-las. Segurei a borda da mesa com força e me levantei, de repente, não tendo certeza de como andar. Ele iria me deixar ir? Por que ele me deixaria ir? - Ah, Lila - ele chamou quando já estava pegando a maçaneta da porta - Tenho certeza de que você sabe o quanto valorizamos a contribuição de sua família em nosso pequeno projeto. Segurei a alça da maçaneta. - Sua cooperação é algo do qual estou muito grato. Eu entendo que deve ser difícil para você. Mas eu sei que você quer que Jack tenha o melhor tratamento médico e eu sei que deve ser um alívio ter o seu pai por perto também - Outra pausa, enquanto esperava eu dar algum sinal de que tinha entendido seu verdadeiro significado - E a proteção que podemos oferecer à você e seu pai é essencial. Nós não queremos que o que aconteceu com a sua mãe aconteça à qualquer um de vocês, não é mesmo? Fiquei ali imóvel como se Demos estivesse na sala me congelando e vi quando Richard Stirling caminhou em minha direção. - Ninguém pode te machucar agora - disse ele em voz baixa - Você está totalmente segura. Então você não deveria se preocupar. Isso tudo vai acabar em breve. Então era por isso que ele estava me deixando ir. Foi um aviso. Se eu fizer alguma coisa estúpida, ele iria ferir Jack e meu pai, assim como eu. Algo ia quebrar. A porta, seu pescoço, o meu controle sobre a minha sanidade e meu domínio sobre minha própria habilidade. Se eu ficasse 138
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mais um segundo, eu não seria capaz de me controlar. Eu podia sentir meu auto controle escorregando. Eu precisava sair daqui. - Lila, foi um prazer - disse ele, colocando sua mão sobre a minha, enviando arrepios por todo o meu braço. Ele abriu a porta. - Vamos nos encontrar de novo algum dia. Eu gostaria de conhecê-la melhor. E com isso ele fechou a porta na minha cara.
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Meu pai estava sentado na cama de Jack. Ele olhou enquanto eu tropecei pela porta. - Deus, o que aconteceu? Você está bem?- ele disse, pulando da cadeira e cruzando o quarto, vindo em minha direção rapidamente. Caí em seus braços. - Lila, Lila, qual é o problema? - ele perguntou, tentando me afastar dele para que pudesse olhar para mim. Eu não me mexia. Ele desistiu e apenas me segurou. Eu amassei meu rosto em sua camisa e respirei até meu peito doer. Qual era o problema? Richard Stirling sabe tudo. Ele sabe o que eu sou. Ele sabe. Meus pulmões pareciam estar se enchendo de ácido. Doeu muito para respirar. Após um minuto ou um pouco mais do que isso, meu pai me puxou novamente para olhar para ele. - O que está acontecendo? Eu olhei para ele – dentro de seus profundos olhos verdes, olhei sua testa alta marcada com linhas de expressão. Suas mãos ainda estavam descansando em meus ombros. Olhei para elas também. Ele ainda usava seu anel de casamento, uma aliança de ouro, recordação de outro tempo para nós dois. - Nada - eu disse, afastando-me dele asperamente. Nada que eu possa dizer-lhe. Sentei-me na cadeira ao lado de Jack e encarei seu rosto branco. Por que eu não poderia ser a que estava inconsciente, felizmente ausente, enquanto os outros teriam que encontrar uma forma de lidar com a situação? - Você não vai falar comigo, Lila? Olhei para o meu pai, com o rosto tenso. Eu tomei uma respiração profunda. - Você pode transformar alguém em telepata? Você está ajudando eles à fazer isso?
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Meu pai deu um passo para trás como se eu tivesse lhe dado um tapa. - O que? Não, isso é absurdo. Por que você acha isso? - Er..., porque Richard Stirling me disse sobre seu pequeno avanço. - Avanço? - Isso que você pode bloquear telepatas. - Oh, isso. - Sim, isso. - Isso é para que possamos detê-los, Lila - meu pai disse, balançando a cabeça em confusão – Só assim podemos pegá-los. Não podemos impedi-los se não conseguirmos nunca pegá-los. Mas não fazemos de qualquer um telepata. Não é isso que Stirling está fazendo - Ele riu - Não é mesmo possível. Minha cabeça estava inclinada, mas eu olhei para cima, atordoada, a esperança explodindo dentro de mim. - Não é? - Bem, suponho que, teoricamente, é possível. Meu coração se afundou de volta para onde estava, em algum lugar no fundo do meu peito. Meu pai continuou falando, ignorando minha expressão. - Você apenas tem que inverter a lógica do processo que estou trabalhando. Mas por que eles fariam isso de qualquer maneira? Estamos tentando encontrar uma cura, Lila. Para que possamos detê-los antes que mais alguém se machuque. Tudo oque o meu pai estava fazendo era simplesmente acelerar o processo para a nossa eliminação – e para a sua própria. Porque uma vez que ele lhes houvesse dado tudo que eles precisavam, seria adeus, Dr. Loveday. E adeus à Jack e à mim – mas não antes eles tivessem feito todos os testes em mim, os mesmos que tinham feito em Thomas e continuavam fazendo na minha mãe. A única razão para Richard Stirling não ter me prendido e começado os seus experimentos em mim já, era porque ele precisava do meu pai. Olhei para ele agora, olhando para mim em confusão, e suspirei. Porquê que ele não podia ter pesquisado uma cura para o câncer, pelo amor de Deus?
Richard Stirling era tão bom quanto sua palavra. Quando saímos do hospital, haviam dois carros esperando por nós. Nosso proteção tinha sido duplicada. Ele estava fazendo o seu melhor para transparecer claramente 141
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a mensagem de que não havia chances de resistir ou de tentar enfrentar, apenas no caso de suas advertências descaradas não terem surtido o efeito. Isso é o que os oito homens com seus óculos espelhados transpareciam para mim. Mas o único erro de cálculo que ele tinha feito era que eu nunca, nunca mesmo, jamais, reagia bem quando alguém queria me dizer o que eu deveria fazer. Meu pai parecia um pouco intrigado com o aumento no número de seguranças, principalmente depois que um terceiro carro apareceu para também nos escoltar. Jonas estava no banco do passageiro do nosso carro e eu peguei ele olhando por cima do ombro para mim. Eu me virei e olhei para fora da janela, recusando-me à devolver-lhe o olhar. - Por que o carro extra hoje? - meu pai perguntou para o cara dirigindo. - Nada para se preocupar, o Dr. Loveday – ele respondeu - Nós só queríamos que você ficasse ciente do quanto levamos a sério a sua segurança. E a da sua filha. Minha cabeça virou em sua direção. Ele estava olhando para mim pelo espelho retrovisor, seus olhos protegidos pelo brilho espelhado de seus óculos de sol. Segurei a maçaneta da porta mais apertado. Será que ele sabia que eu sou uma psy? Será que todos eles sabem? Se Richard Stirling sabe, será que todas as pessoas da Unidade também sabiam? Minha respiração ficou tensa diante do pensamento. - Eu percebi - meu pai murmurou. Ele olhou nervosamente por cima do ombro como se esperasse ver Demos saltando do meio dos arbustos na beira da estrada. Eu apertei o meus dentes e pressionei minha testa contra o vidro frio, observando as listras brancas da estrada passando. Quando paramos em frente a casa de Jack, Jonas saltou imediatamente para fora do carro, abrindo a porta para mim. - Não se esqueça de ligar o alarme - ele me disse logo que eu saí Ah, e a propósito, nós temos homens para fora na parte de trás também. Cobrindo cada quadra do bairro e a estrada logo atrás. Eu olhei para ele - esta era alguma outra ameaça velada? Mas ele pareceu genuinamente confundido pelo olhar mortal eu estava lhe dando. Eu me apressei no caminho para a casa, fazendo uma pausa apenas uma vez para olhar para trás e ver Jonas sentado no carro. Ele ainda estava olhando para mim, mordendo o lábio. Seu rosto se iluminou, logo que ele me notou procurando por ele. Eu tropecei. Ele não sabia de nada, eu percebi. Se Jonas soubesse quem eu era - o que eu era - não havia nenhuma maneira de que ele estivesse agindo desta forma, me convidando para jantares, abrindo as portas do carro. Ele era muito transparente. E se ele não sabia, isso significava que os outros provavelmente também não. Pelo menos eu esperava que fosse assim. 142
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Uma vez dentro da casa, eu deliberadamente ignorei o alarme e entrei na sala de estar. Olhei para fora novamente. Os carros da Unidade estavam estacionados um atrás do outro, formando uma barreira de metal na frente da casa. Eu fechei as cortinas e fui até a estante. Meus olhos foram atraídos imediatamente para a foto da minha mãe. Sempre, quando eu via a foto dela, eu sentia como se um êmbolo tivesse sido colocado sobre o peito e estivesse tentando tragar o meu coração através das lacunas entre as minhas costelas. Olhei para a foto ao lado, de Jack, Alex e eu quando crianças, uma foto tirada no lago em algum verão, nós estávamos sorrindo, ignorando o que aconteceria no futuro. Eu desenhei o rosto de Jack com os meus dedos. A foto tinha sido tirada no verão que eu tinha tentado atravessar a nado o lago atrás de nós e quase me afoguei. Jack e Alex então tinham conseguido me retirar do lago e me carregar para a margem. Eu senti uma onda de frustração, que eu sempre sinto quando Jack faz alguma coisa melhor do que eu, mas desta vez se mesclou em outro tipo de emoção - o desafio. Você acha que eu sou apenas uma garota e que eu não posso fazer melhor do que você e Alex? - pensei enquanto olhava para o rosto de Jack. Vou provar à você o contrário logo. Então meus dedos se moveram em direção a imagem de um Alex de treze anos de idade, cabelo molhado e os olhos azuis brilhando. Ele estava sorrindo amplamente para a câmera e apertando os olhos contra o sol. Ele tinha um braço jogado em volta dos meus ombros magros de oito anos de idade, e o outro no pescoço de Jack. Eu não estava olhando para a câmera. Eu estava olhando para Alex com um olhar de adoração no rosto. O tipo de expressão normalmente retratada em pinturas medievais escrevendo os profetas quando viam o rosto de Deus. Voltei para a janela e olhei para fora. Os homens no carro mais próximo notaram o movimento da cortina e como robôs olharam para mim. Olhei por alguns segundos antes de deixar cair a cortina. As ameaças de Richard Stirling ainda ecoavam na minha cabeça. Aquele homem tinha destruído e separado minha família e agora estava ameaçando fazer pior. Exceto pelo fato de que - eu respirei fundo –desta vez eu não vou deixá-lo. Estava farta de fugir - de ser caçada. E eu estou realmente farta de esconder quem eu sou. Eu estava farta de ser a vítima, a criança, aquela que sempre precisava ser resgatada. Havia uma raiva queimando em mim que Richard Stirling tinha acabado de fazer crescer em uma grande proporção. Mas não era a raiva quente que eu estava acostumada à sentir, a raiva que me deixava cega e sem controle, o tipo de raiva que me faz fazer biscoitos girar em uma mesa, camisetas voarem e bóias flutuarem para o mar. Não. Esta era uma raiva fria como nitrogênio. Era uma raiva focada e intensa como uma arma apontada para um alvo. 143
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Richard Stirling poderia ver apenas uma pirralha de dezessete anos de idade, a menina assustada na sua frente, com muito medo para lutar, em pânico para fazer qualquer coisa, com a opção apenas de obedecer. Mas aí era onde ele estava errado. Richard Stirling ia precisar de todo o exército dos Estados Unidos para protegê-lo. Nada me impediria de dar uma lição nele. Uma boa e verdadeira lição. E eu não ia estender-lhe a cortesia de uma ameaça em primeiro lugar. Eu simplesmente agiria. Eu corri para cima e fiquei na frente do espelho no meu quarto. Os olhos que olhavam para mim eram verde-mar; meu rosto estava levemente bronzeado do sol, do México, um pouco de cor saudável acima do meu nariz. Eu ainda era a mesma, mas não exatamente igual. Havia algo diferente que eu não podia identificar em primeiro lugar. Não estava exatamente mais velha. Nem mais magra. Nem o cabelo curto. Apenas estava diferente . Talvez fosse a inclinação do meu queixo, me fazendo lembrar também a forma com que Jack fazia quando ele não estava pronto para desistir de um argumento. Eu dei um passo mais perto do vidro, segurando meu próprio olhar com firmeza. Era isso. Lá. Meus olhos. A expressão neles. Antes eles estavam febris, intensos como lutando contra rajadas de vento. Agora eles estavam diferentes. Completamente calmos e transparentes, mas ainda como o oceano pouco antes da maré mudar. Meia hora atrás, eu estava em pedaços, agora eu estava inteira novamente, completamente inteira. E me senti bem. O medo tinha desaparecido. O remexer de minhas entranhas tinha ido. Os pensamentos que tinham marchado como formigas estavam correndo livre. Era hora de começar a ser quem eu era. Eu levantei meus ombros e respirei fundo. Era hora de voltar a praticar. Sentei-me na cama e encarei o rádio no parapeito da janela da cozinha, e então eu girei o botão de volume. A música alta invadiu a casa. Ouvi os passos do meu pai na cozinha e, em seguida, o rádio foi desligado. Sorri para mim mesma, sentindo um zumbido de excitação começar a borbulhar no meu intestino. Eu lancei um olhar em volta do quarto, me perguntando no que mais eu poderia praticar. Pensei no banheiro. Instantaneamente, o som da água respingando na banheira ecoou pelo corredor. - Lila? - meu pai chamou enquanto subia as escadas. - Sim, eu estou indo para o chuveiro – eu respondi, meu coração batendo. Eu entrei no banheiro e fechei a porta com os olhos fechados. Era bom usar o meu poder novamente - praticar – se sentia como uma espécie de liberdade. E eu percebi com um susto que eu estava ficando boa. Muito boa. E o meu auto controle estava melhor também. O encontro com Richard Stirling tinha sido o teste decisivo. Se eu consegui 144
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passar por isso sem arremessar uma mesa, então eu poderia me sentir muito confiante na minha capacidade de manter o controle em qualquer situação. Nunca mais facas encostadas nos olhos de alguém, a não ser que a situação absolutamente exigisse. Sentei-me ao lado da banheira, um jato fino do chuveiro acertou no meu cabelo. Me senti imaginando o oceano, à alguns quilômetros de distância, as ondas batendo no cais, golpeando com força até atravessar. Eu não precisava de ver as coisas mais. Eu só tinha que pensar com a concentração suficiente e estaria feito. Eu balancei minha cabeça. Eu estava sendo estúpida. Isso já era ridículo. Eu sabia que podia mover objetos - até tanques de guerra mesmo. E também podia dominar os movimentos das pessoas - embora eu não tive muita oportunidade de praticar a não ser com Alex e com um mafioso mexicano - mas agora eu já estava achando que eu poderia manipular até a natureza. Como se fosse possível . Mas, novamente, talvez, apenas talvez, eu realmente pudesse e fosse realmente possível. Afastei-me do chuveiro e caminhei para o fim do banheiro. Eu imaginei então a água do chuveiro batendo no teto. De repente não escutei mais a água bater no chão e quando me dei conta um jato partiu exatamente para cima, em direção ao teto. Virei lentamente. Fechei os olhos e abri uma vez mais. A água estava desafiando a gravidade. As leis da física. . . Eu fiz aquilo acontecer. Toma essa, Newton. Com mais um traço de um pensamento, o jato da água mudou de direção, disparando em direção à janela como um jato de lava-carros. Eu desviei fora de seu caminho e a água se separou em volta de mim, curvando-se em meus braços e voltando para o banho. Eu olhei para a torneira e ela desligou. Então, eu afundei no chão, joelhos molhados nas poças deixadas para trás. Meu Deus !!! Eu fiz tudo aquilo.
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Dr. Roberts estava junto das enfermeiras quando entrei na ala da UTI. Ele estava conversando com a mesma enfermeira que eu tinha visto na cantina com ele e de do jeito que ela tocava seu ombro e ria, eu poderia dizer que ela queria tocar muito mais do bom doutor. Ela franziu o cenho para mim com irritação quando eu apareci ao seu lado. - Oi - eu disse. - Oi - Dr. Roberts respondeu - Você está aqui tarde. Não está no fora de horário de visitas. Eu sabia disso. Era meia-noite. Mas eu precisava ver Jack. - Posso apenas vê-lo? – Implorei com um sorriso. O médico balançou a cabeça, sorrindo de volta. - Claro, mas não por muito tempo. Quinze minutos, OK? - OK - eu disse, já correndo pelo corredor. Eu encarei o guarda de pé como um pilar na frente do quarto de Jack, até que ele saiu do meu caminho. Abri a porta, entrei, fechei a porta atrás de mim e, em seguida, congelei. A cama estava vazia. Os lençóis abarrotados e um soro que estava anteriormente preso ao braço de Jack estava jogado, agora a solução salina escorria pelo chão. O zumbido do inalador tinha parado. A máquina do lado esquerdo do leito estava em silêncio. Eu me virei lentamente, respirando pausadamente, os meus joelhos tremendo. O quarto estava vazio. Tinham levado Jack. Eles haviam levado Jack . Senti meus joelhos cederem. Mas então algo surgiu no meu pensamento. Por que eles estariam ainda vigiando a porta se o tivessem levado? Eu ouvi a maçaneta do banheiro girar, dando meia-volta olhei para o vaso em cima da mesa e peguei ele, me preparando para arremessá-lo em direção à porta assim que se abrisse. Lancei, apenas conseguindo segurar o vaso antes de ser esmagado na cabeça de Jack. Ele abaixou-se de qualquer maneira, e olhou para a forma de cristal flutuante desenhado com flores e, em seguida, olhou para mim. Ele levantou uma sobrancelha, como se dissesse “você está tentando me matar?”
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Olhei para ele. Ele estava em pé, sem apoio nenhum, de cueca, parecendo ter passado dez dias em um spa, não em um coma profundo. Como isso era possível? O médico havia mencionado a possibilidade dele ficar paralítico, na cadeiras de rodas, em sessões de fisioterapeuta, e aqui ele estava andando como se estivesse se aquecendo para uma maratona. Meu olhar caiu para o peito, para o lugar onde ele tinha levado um tiro. Não haviam curativos. Sem ferida. Nada. Simplesmente limpa, desnuda e sem marca alguma. Eu me perdi em meus pensamentos. O vaso vôou em direção ao chão. Jack reagiu antes que eu pudesse piscar, mergulhando para pegá-lo antes que ele virasse pedaços de vidro apenas. Ele se endireitou, me encarando, e acenando com a cabeça para porta e para a sombra enorme atrás dela. Eu não segui o seu olhar. Eu não conseguia desviar meus olhos longe de seu peito. Do lugar onde deveria haver um grande buraco, ou pelo menos uma sangrenta ferida, uma cicatriz, e em lugar disso, tudo oque havia ali era uma pele intacta. Eu não conseguia raciocinar. - Que? Antes que eu pudesse terminar , Jack levantou um dedo aos lábios, me lembrando e ficar em silêncio. - Microfones - ele murmurou – Guardas. Ele pôs o vaso de volta no parapeito da janela. - Você levou um tiro! - Eu murmurei de volta - Jack. Você foi baleado. Onde está o furo do tiro? – Apontei para o estômago para dar mais ênfase, desenhando um círculo no ar para indicar um buraco gigante. Eu tinha visto a bala atingi-lo, tinha ouvido disparar nele. Eu tinha visto com meus próprios olhos o sangue jorrando e Jack caindo de joelhos no chão. Eu não tinha imaginado tudo aquilo. Então, onde, em nome de Deus, estava o buraco de bala? Jack inclinou a cabeça para olhar e colocou as mãos sobre sua barriga, no ponto onde havia sido atingido. Então ele olhou de volta para mim e balançou a cabeça. Ele parecia tão confundido como eu estava. Ele estendeu a mão, pegou a minha mão e me puxou para o banheiro, fechando a porta atrás de nós. Ele então abriu todas as torneiras. Eu já tinha descartado o microfone que tinha reaparecido no meu jeans – colocando na parte de trás do banco de um dos carros da Unidade. Felizmente, eles iriam achar que havia caído. Sentei-me na borda do assento do vaso sanitário. Jack se ajoelhou na frente. - O que , por Deus, está acontecendo? - disse ele. - Eu ia te perguntar a mesma coisa. Você foi baleado. Como você está andando normalmente? 147
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Eu não conseguia tirar os olhos de seu estômago. - O que você está fazendo aqui? Onde está o Alex? - Jack perguntou - Eu pensei que vocês haviam conseguindo sair de lá... - Nós conseguimos. Mas voltamos. Alex está por perto. Ele não podia voltar para a Base. A Unidade está atrás dele. Vocês estão em apuros. Jack fez uma careta para o chão, em seguida, seus olhos correram de volta para mim. - Quanto tempo eu estive inconsciente? - Cerca de duas semanas. Ele franziu a testa mais uma vez, com as mãos em movimento para seu estômago. - Só duas semanas? - ele perguntou com assombro. Em seguida, ele pareceu lembrar de alguma coisa - Por que você voltou? - ele perguntou. Seu tom era acusador e eu senti uma revolta em resposta. - Por você, seu idiota. E para resgatar a mamãe. Os olhos de Jack escureceram. - Alex deveria ter levado você para longe daqui. O que ele estava pensando ao trazer você de volta? - Desculpe-me por ter livre arbítrio! Não cabe à Alex decidir isso. Ou à você. Foi minha decisão voltar. Os outros estão vindo também. - Os outros? - Sim, os outros, Demos e os outros. Todos nós voltamos para resgatar você e mamãe. Notei a sua mandíbula apertar, embora eu não sabia dizer se era pela memória do nome da mamãe ou do nome de Demos. Ele não havia tido muito tempo para processar as notícias sobre nossa mãe ou sobre Demos antes de ele terminar deitado no chão com uma bala no estômago. - Os outros estão em Washington - disse eu – Nós temos um plano. É complicado e eu não tenho tempo para explicar. O médico está vindo examinar você em dez minutos. . . Meu olhar caiu em seu peito novamente. Estiquei um dedo e passei onde a bala tinha atingido. - Isso é estranho. - Vindo de você. . . - Ele olhou para mim, arqueando as sobrancelhas. Meu Deus. Meu queixo caiu. O que ele estava dizendo? Minha mente tinha automaticamente procurado uma razão médica para explicar a falta de cicatriz ou paralisia, buscava uma explicação para a cura maravilhosa por talvez alguma droga milagrosa, algum tratamento novo, talvez uma placa enxertada sobre o buraco. Mas e se, a verdade não fosse nenhuma das opções acima? E se Jack tinha uma habilidade também? E se ele podia curar a si mesmo? 148
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Meus olhos voaram para sua mão, a mão que ele tinha usado para socar uma árvore. Ela também não mostrava sinais de hematomas. Os nós dos dedos tinham ficado tão inchados como balões há apenas duas semanas e agora eles pareciam totalmente normais, sem nenhum arranhão sobre eles. Não. De jeito nenhum. Será? Jack – poderia ser um de nós? Um psy? Não era possível. Seria a piada mais irônica que o Universo poderia fazer. Porém, era possível. Eu tinha visto coisas estranhas. Eu testemunhei pessoas que podem se projetar para o outro lado do mundo, enquanto a seus corpos caíam na minha frente. Eu tinha visto coisas bastante convincentes, senhoras adoradoras da Oprah removendo as memórias de barões da droga, e uma pequena menina japonesa espionando os mais íntimos pensamentos alheios. Eu mesma havia desviado o curso da água, indo contra as leis da gravidade. Por que eu estava ainda querendo duvidar de meu irmão ser capaz de curar a si mesmo? Talvez porque essa era a mesma pessoa que havia passado cinco anos tentando caçar pessoas como nós, o cara que tinha ficado tão bravo quando descobriu o que eu conseguia fazer, que Alex teve que formar uma barricada humana entre nós para ele não me matar. A pessoa que tinha socado um pinheiro para aliviar a sua frustração. Mas ele já não estava socando árvores, no entanto. Pelo contrário, ele parecia com alguém que ganhou na loteria e estivesse apenas assimilando o valor do cheque. Jack levantou-se, deixando-me olhando para ele paralisada no assento do vaso sanitário. - Ok, vamos sair daqui. Ele estendeu a mão para agarrar-me. - Não! - Eu gritei, jogando o seu braço para trás com um olhar. Eu gostei da surpresa que iluminou seu rosto - Você não pode ir! - Eu soltei Temos que esperar. A Unidade está te vigiando. E eles sabem tudo sobre mim. Richard Stirling me ameaçou. E tem o papai. Nós não podemos ir sem nosso pai. - Pai? - Sim, papai. - Do que você está falando? - Papai. Ele está aqui. Ele está trabalhando para eles. Eu te contei tudo isso. - Se por acaso escapou a sua atenção, eu estava em coma, Lila. Aumentei o fluxo da água com um piscar de olhos, para que o borbulhar da água cobrisse os gritos de Jack. - Papai esteve aqui o tempo todo. Ele veio assim que ele soube que alguma coisa tinha acontecido com você. Jack baixou a cabeça. 149
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- Eu ouvi ele falando comigo. Eu apenas pensei. . . Eu pensei que eu estava sonhando. - Não, não estava sonhando. Foi real. E ele está trabalhando para eles. . . - Fiz uma pausa, tentando parecer inocente - E você teve quaisquer outros sonhos? Jack estava olhando para o chão, mas agora ele olhou para mim. Isso foi uma carranca. Definitivamente, uma carranca. - Oh sim - disse ele. E isso era raiva. Definitivamente raiva - Quando eu terminar de resolver com a Unidade, Alex e eu vamos ter uma conversinha. - Sobre o meu cadáver. - Estou pensando sobre o seu cadáver. Ele me encarou um pouco mais. Pensei em fazer ele dar um tapa em si mesmo. Não causaria nenhum dano. Tentador. - Olha, espera - Jack sussurrou – Você disse que nosso pai está trabalhando para a Unidade? Do que você está falando? Ele me segurou pelos ombros. - Não é o que você pensa, Jack. Papai tem tentando encontrar uma maneira de parar Demos este anos todos. Ele não sabe sobre mamãe estar viva. Ele não tem idéia do que a Unidade está realmente fazendo. Seus olhos arregalaram. - Bem, e por que você não disse à ele? Como você pode deixá-lo trabalhar para eles? - Porque Alex disse que poderíamos tirar vantagem. Ele acha que isso nos daria acesso à sede. Jack passou a mão pelo cabelo e caminhou pelo banheiro minúsculo. - OK, nós podemos discutir isso mais tarde - ele finalmente disse, voltando-se para mim - Vamos sair daqui primeiro. Eu pulei na frente da porta, impedindo-o com meu corpo. - Não podemos simplesmente sair daqui - eu disse, a frustração se tornando irritação - Nós nunca vamos conseguir sair da Base assim facilmente. Metade da Unidade está esperando por mim lá fora. Com armas. Nós vamos acabar sendo presos e depois o quê? Jack parecia estar prestes a abrir sua boca e argumentar de volta. - Está tudo bem - eu me apressei – vou me encontrar com Alex em poucas horas e ele vai ter planejado alguma coisa. Um plano. Ele disse que ele estava trabalhando em um plano. Precisamos confiar nele. Jack estreitou os olhos para mim, enquanto simultaneamente levantava uma sobrancelha. Ele balançou a cabeça, finalmente. - Eu não gosto disso. Eu não quero esperar até a manhã para Alex para chegar com um plano. Eu digo para sairmos agora, você sai da Base e vou direto para a Unidade e resgato a mamãe. 150
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Revirei os olhos para ele. - Primeiramente, você não vai fazer nada sem mim. E em segundo lugar, você está louco? Você e qual exército vão resgatar a mamãe? Você acha que pode simplesmente entrar lá e eles vão entregá-la? Você... nós... não podemos ir agora. Além disso, você vai disparar o alarme. Se esperarmos por Demos e os outros então estaremos mais equilibrados. E eles estão em Washington agora. Demos está plantando uma coisa nas Stirling Enterprises. Tudo tem de coincidir ou não vai funcionar. - O que não vai funcionar? O que Demos está fazendo em Washington? Do que você está falando? De um traficante de drogas mexicano – pensei - de milhões de dólares de cocaína roubada e dinheiro de drogas. Uma mega operação. Você sabe, esse tipo de coisa . - Eu não tenho tempo para dar detalhes - Eu balbuciei - Você precisa voltar para a cama e fingir que ainda está dormindo ou algo assim. - Eu não gosto deste plano - Jack murmurou, endurecendo os ombros. - Não importa - eu disse - Você vai ir dormir. Eu vou resolver as coisas. Estarei de volta logo pela manhã. Eu prometo. - E Sara? - Jack perguntou - Onde ela está? Eu me preparei para conter Jack, deixando cair o meu olhar para suas mãos. - Eu não sei se podemos confiar nela. - Do que você está falando? - Os olhos de Jack piscavam descontroladamente - Claro que podemos confiar nela. Por que você não disse a ela já? Ela vai nos ajudar. - Não, Jack! Você não pode ir dizendo tudo. Não sabemos se ela é parte disso ou não. Ela poderia ser. . . ela me interrogou quando eu voltei. Ela age como se não soubesse nada, mas como pode não saber? - Você está louca? Eu trabalhei para a Unidade e eu não tinha idéia. É da Sara que estamos falando. Ele tentou agarrar a maçaneta da porta. - Eu tenho que vê-la. - Não, Jack. Desviei para o lado, bloqueando ele, fechando a porta com um clique em silêncio. - É muito perigoso. - O quê? - Não diga nada para Sara. Prometa-me. Ele franziu o cenho um pouco mais, com a boca torcendo em uma careta. Mas ele não discutiu, o que era o máximo que eu conseguiria da concordância de Jack.
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- Olha, eu vou te contar tudo amanhã – Eu disse - Só que agora volte para a cama. Por favor. Antes do médico chegar. Você tem que fingir. Se ele ver você, ele vai pirar. - Você acha que sou eu, então? Eu fiz isso? - Jack perguntou, seus olhos enormes, sua mão acariciando seu estômago como se fosse um bebê recém-nascido. Ele olhou para mim de repente. - Você acha que eu realmente sou como você? Eu levantei uma sobrancelha. Que outra explicação haveria? - Quero dizer - Jack prosseguiu, sacudindo a cabeça – É estranho. Eu posso tipo sentir isso acontecendo. . . dentro de mim. . . mas é fantástico. Quero dizer. . . Como? Eu não era assim antes. Eu atirei-lhe um olhar mortal. Há duas semanas atrás, ele pensava que as pessoas como eu eram loucos sociopatas que precisavam ser contidos, mas agora que ele conseguia fazer algo legal, sua visão magicamente mudou. Que vontade de gritar! - É genético - eu disse - Você sabia disso. Pode ser desencadeado por eventos traumáticos, eu acho. Olha, eu vou explicar mais tarde. Abri a porta. Sim, eu vou explicar tudo sobre isso, e sobre mamãe também. Ah, essas famílias mutantes felizes! - Ouça - eu disse – o que quer que você faça, não deixe eles te levarem para a ala de prisioneiros. O doutor disse que a Unidade queria transferi-lo, mas se eles te levarem para lá, então eles vão descobrir sobre você e eles provavelmente vão começar a te cortar todinho até descobrir o que exatamente você pode curar. Jack começou a franzir a testa quando a realidade da situação veio em sua mente. - Você precisa fingir que está morrendo. O médico disse que enquanto seus batimentos se mantiveram instáveis, ele tem que manter você aqui. Você pode lidar com isso? Faça algum truquezinho quando ninguém estiver olhando. E não fale com Sara. Eu falo sério. Não até que termos certeza se podemos confiar nela. Ele abriu a porta e deu um passo em direção à cama, e em seguida, virou-se e correu de volta para mim. Em silêncio, ele me agarrou em um abraço de urso, então me deixou tão de repente como havia vindo e mergulhou na cama. A porta começou a abrir. Eu olhei para a cama e para o lençol sobre o corpo inerte de Jack e a intravenosa conectada novamente em seu braço. Os cabos também já estavam de volta em seu peito. - Como está indo as coisas por aqui? Tudo tranquilo? - Dr. Roberts perguntou, fechando a porta atrás de si.
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- Mmmm, tudo tranquilo. Nada de novo – Eu disse - Eu não acho que ele vá acordar agora mesmo. O médico sorriu para mim e caminhou para a cama. Ele parou por um segundo, olhando para a linha horizontal no monitor e, em seguida, para os fios presos aleatoriamente. - Por que seus fios estão tão dispersos? – ele perguntou, olhando para mim - Você mudou eles? Mordi o interior da minha bochecha. - Hum, eu estava apenas tentando descobrir como eles funcionavam. - Quer ser uma médica, um dia, hein? – ele disse, soltando um por um e colocando nas posições certas. A máquina começou a sua batida rítmica. - Er, sim, talvez. Eu não sou muito boa em ciências, no entanto. E, além disso - eu disse, olhando para a cara de Jack - Eu acho que Jack é o médico da família. Dr. Roberts olhou para mim e sorriu, mas, em seguida, o sorriso desapareceu. - Lila, alguém da Unidade ligou – Ele pausou - Eles vão levar Jack amanhã. O meu próprio sorriso morreu nos meus lábios. - Mas você disse que, se as estatísticas se mantivessem instáveis, ele seria mantido e as suas estatísticas continuam quicando, vacilando muito. Veja! Eu apontei para a tela de leitura onde linhas estavam saltando em todo o lugar. - Elas estão pulando como loucas. Dr. Roberts sacudiu a cabeça. - Eu sei. Desculpe. Ele continuaria aqui, se eu pudesse deixar. Eles queriam transferi-lo esta noite e eu parei eles, mas eles voltarão na primeira hora amanhã. Não há mais nada que eu possa fazer para impedir. Olhei para Jack. Ele não estava fingindo mais. Sua testa estava vincando, lábios apertados, o monitor de freqüência cardíaca estava como uma cadeia de montanhas. - Ele não está acordado ainda - eu chorei. O médico franziu os lábios e tomou uma profunda respiração. - Eles não se importam. Dizem que têm o equipamento médico necessário para cuidar dele agora. Eu realmente não entendo por que eles o querem tanto mesmo nesse estado ainda, mas eles querem. Claro que eles querem. E eles iam querer muito mais quando eles descobrissem o que ele agora podia fazer. - Você vem? A hora de visita já terminou.
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Eu olhei para o médico que estava segurando a porta aberta. Então eu olhei para trás, freneticamente, em direção à Jack. Abaixei-me, peguei sua mão e sussurrei em seu ouvido. - Eu estarei de volta logo manhã. Eu prometo.
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Não é novidade que eu não dormi. Em vez disso, me sentei na beira da minha cama, no escuro tentando colocar meus pensamentos em algum tipo de ordem. Não era como se eles pudessem ser catalogados e arquivados, no entanto. Minha mente estava rodando de um lado para o outro como se estivesse realizando uma rotina Olímpica. Continuei pensando em Jack. Como era possível? Como ele pôde curar a si mesmo? E por que razão isso de repente havia aparecido do nada? Talvez o tiroteio tivesse desencadeado tudo isso. Era uma possibilidade. Não foi um trauma que desencadeou qualquer que seja o raio de gene que ambos tínhamos? Eu realmente queria começar a experimentar - ver se conseguia descobrir que tipos de lesões Jack poderia sustentar e ainda curar. A bala foi muito pesada. Que tal um machado? Será que ele sentia dor também? Minha cabeça se ergueu... ele poderia morrer? Outro pensamento inquietante passou – o seu poder era melhor do que meu? De jeito nenhum. Seria tão injusto. Pela primeira vez na minha vida eu era melhor do que ele em alguma coisa. Eu me recompus. Ele poderia ser capaz de curar a si mesmo, mas eu poderia controlar a natureza. Ou pelo menos a água... Ou pelo menos eu achava que podia. Eu não tinha tido quaisquer outras chances para experimentar desde as inundações no banheiro. Sentei-me e puxei meus joelhos para o meu peito, perguntando o que Key teria dito para Alex agora. Key não teria visto o meu encontro com Richard Stirling, uma vez que estava dentro da Sede, mas ele esteve no hospital e viu que Jack foi para cima e ele também sabia sobre a recente descoberta das habilidades de Jack e sobre a Unidade o removendo na manhã seguinte. E Alex iria concordar que nós não podíamos deixar que a Unidade o levasse agora. Então, nós teríamos que mudar o plano e resgatá-lo do hospital, depois voltar para a minha mãe e chutar o traseiro de Richard Stirling mais tarde.
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O que quer que Alex havia planejado, tudo o que ele havia dito antes sobre separação de recursos, as circunstâncias haviam mudado, de modo que o plano precisava mudar também. E Alex iria descobrir também. Eu não precisava me preocupar. Eu ia encontrá-lo em algumas horas e então nós faríamos o nosso movimento. A Unidade não saberia o que os atingiu. Esperávamos que Demos e os outros também estivessem de volta até lá. Mas onde isso deixava o meu pai? Pensei sobre isso. Eu não poderia deixar o meu pai para trás. Mas então, eu puxei o lençol em cima da cama, apertando-o entre os punhos, o que dizer da minha mãe? Como seria possível salvar ela, o Jack e o meu pai ao mesmo tempo de lugares diferentes - quando estavam todos sob aos cuidados da Unidade? Oh Deus, eu precisava da ajuda de Alex. Eu não era conhecida pelo meu planejamento tático. Eu parecia mais uma erupção cutânea, impulsiva, apenas fazia e deixava para me preocupar mais tarde. Eu era esse tipo de garota. É por isso que eu estava aqui, em primeiro lugar, não era? Quase esfaquear alguém nos olhos? Impulsivo. Roubos de cartão de crédito do meu pai e pulando em um vôo para a Califórnia. Também impulsivo. Eu tinha prometido para Alex. Eu não faria nada mais imprudente - mas qual era a alternativa: ficar de lado e deixá-los pegar o Jack e cortá-lo em pequenos pedaços para ver se ele voltaria a crescer? Eu olhei para o teto, esperando que Deus e que Key estivessem lá em cima sem fazer uma pausa de descanso. - Se você estiver aí - Eu murmurei - Informe ao Alex para descobrir alguma coisa. E rápido. Eu estava deitada na cama olhando para o despertador sobre mesa de cabeceira. Quando ele piscou 05:51 hs, eu saí da cama. Havia uma pilha de roupas escondidas debaixo da cama. Um par velho dos calções e uma T-shirt de Jack, roubados do armário em seu quarto e lavadas duas vezes. Eu os puxei e em seguida me sentei na beira da cama para colocar os meus tênis de corrida. Olhei de novo para o relógio sobre a cabeceira. 05:57 hs. Levantei-me da cama e me arrastei até a porta, abrindo com facilidade e em seguida atravessei o terreno na ponta dos pés no meio da escuridão. Eu me inclinei e coloquei um pedaço de papel debaixo da porta do meu pai. Seu alarme estava programado para 06:15 hs. A nota dizia para ele me encontrar no hospital às sete da manhã, eu tinha sublinhando o URGENTE três vezes. Desci as escadas, pulando a rachadura, pousando no corredor perto da porta da frente. Eu fiz uma pausa. O tempo era crucial. Às seis da manhã a Unidade faria a troca. Eu precisava sair pouco antes de os carros novos chegaram, quando os homens que tinham passado a noite toda na casa estivessem cansados e esperando por um descanso, e esperando o 156
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momento que causaria mais confusão. Alex tinha repassado o plano comigo pelo menos uma dúzia de vezes no momento em que nos encontramos no cais. Abri a porta, olhando para trás até as escadas para onde o meu pai ainda estava dormindo. Eu pisei na varanda, fechando a porta atrás de mim, e depois desci os degraus da escada e comecei o alongamento, acenando para os homens nos carros que guardavam a casa. Não poderia parecer que eu estava prestes a fugir. Até onde eles sabiam eu estava indo fazer a minha corrida matinal. Notei que os dois homens na parte de trás do primeiro carro estavam dormindo, os rostos pressionados como massa de modelar contra as janelas. O cara ao volante praguejou quando me viu. Ele cutucou o cara ao lado dele nas costelas e eu o vi esfregar a mancha de seus olhos e em seguida conferir, olhando por cima do ombro, obviamente, tentando avaliar se já tinha passado pelos carros de ajuda que ainda não haviam aparecido ou para o carro atrás deles cujos ocupantes estavam claramente fazendo exatamente os mesmos cálculos. Antes que eles pudessem fazer suas mentes a trabalharem, virei à esquina da rua eu ouvi o som de um motor e um SUV preto parou ao meu lado. Isso era o que tínhamos previsto. Alex tinha ido muito bem. O tempo foi perfeito. Assim que cheguei à Main Street, meu coração estava pulando em meu peito enquanto meus pés batiam na calçada. Será que os soldados da Unidade sabiam sobre mim? Será que Richard Stirling disse a eles? Isso poderia dar terrivelmente errado se eles já sabiam. Mas só então o rosto de Jonas brilhou na minha mente. Ele não tinha idéia do que eu era, eu estava certa disso. Eu tinha que assumir o risco de que os outros também não. Não havia outra escolha. Olhei para a estrada à frente. Já havia algum tráfego, mas ainda era cedo e eu precisava que houvessem um pouco mais de carros na estrada, carros grandes, ou não iria funcionar. Eu diminuí meu andar uma fração de tempo, avistando uma luz vermelha centenas de metros à frente. Parei em um poste e comecei a alongar os músculos da panturrilha, espiando por cima do meu ombro. A Unidade encostou e o motorista baixou ao lado de sua janela para olhar para mim. Ele tinha ficado nos vigiando pelas últimas 12 horas e parecia que ele precisava muito mais ir para a cama do que perseguir uma corredora da madrugada. Eu sorri docemente para ele e comecei correr enquanto ele abriu a boca para dizer alguma coisa. A luz ficou verde à frente. Um caminhão apareceu no horizonte. Lancei um rápido olhar por cima do meu ombro novamente, verificando se a SUV ainda estava bem atrás de mim, e então, com meus olhos sobre o tráfego em sentido contrário, eu pisei a direita para fora da frente do carro da Unidade. O motorista pisou no freio e eu corri para o outro lado da estrada, onde as luzes da Seven-Eleven piscavam. 157
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Uma vez que o meu pé bateu na calçada, eu voltei meus olhos para o caminhão em direção a nós e obriguei ele a se lançar na faixa do outro lado da estrada. Era mais pesado que o mini tanque da Unidade, mas para mim foi mais fácil do que empurrar um pedaço de papel em uma mesa com o meu dedo. A extremidade traseira do caminhão balançou toda em ambas as faixas de tráfego, bem no caminho do carro da Unidade. Eu vi o motorista da Unidade freneticamente tentando engatar o carro em marcha à ré para evitar uma batida e eu o desviei uns poucos metros, com medo de que a força da batida fosse muito grande e que alguém terminasse se machucando. Os pneus cantaram, se arrastando no asfalto. Eu não esperei para ver o impacto. Me apressei e corri para o Seven-Eleven, e já estava lá dentro quando o som de metal contorcendo rasgou o ar. Corri para baixo em um corredor de produtos enlatados e macarrão, lugar onde Key me havia abordado pela primeira vez, o que passaria ter acontecido há um ano atrás, passei pelos frigoríficos que sopravam um condensado ar fresco, em direção à saída de incêndio grande logo ao fundo e foi aí que eu caí. A dor era tão intensa que eu me enrolei imediatamente, de lado e tentei envolver meus braços em volta do meu crânio para evitar que os ossos da minha cabeça terminassem em milhões de pedaços. Eu me perguntava de onde o machado tinha vindo e se estava ainda balançando na minha cabeça. Só que não era um machado. Eu sabia o que era. Eu tinha sentido isso antes, só não assim, com tamanha intensidade. Tudo o que eu pude concluir foi que eles sabiam. Eles sabiam. Eles sabiam. Que estúpida eu tinha sido de pensar que Richard Stirling não avisaria. É claro que eles sabiam! Eu tentei rolar, vagamente ciente de que havia um homem gritando à alguma distância ou talvez ele estivesse gritando junto ao meu ouvido. Eu não conseguia nem compreender o que ele estava gritando. Ele era da Unidade? Eu tinha que levantar, mas não consegui encontrar o chão. Ou meus pés. O lugar estava girando, girando como uma gaiola. Eu soluçava, percebendo que estava de joelhos, com a minha cabeça apoiada no chão. Eu precisava sair daqui. Eu precisava chegar ao Alex. Com um braço instável, eu estendi a mão e encontrei algo sólido para me apoiar, uma prateleira talvez. Mas então a prateleira virou e eu caí com ela, entre os pacotes de macarrão caído, sentindo as lágrimas deslizarem pelo meu rosto. Então fui levantada. Meus braços caíram sobre as costas de alguém, minha cabeça bateu contra algo duro e eu gemi. Ponha-me no chão. Deixe-me ir. Mas as palavras não saiam pelos meus lábios. Por favor. Algo bateu na minha perna e então eu fui colocada de cabeça para
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baixo. Não, eu estava de pé. Não. Eu não podia sequer dizer em que posição eu estava. - Lila, Lila. . . Eu tentei levantar minha cabeça. - Lila, você pode se sentar? Você precisa andar. Você consegue? Abri um olho. Era Alex. Ele estava gritando comigo. Eu fiz uma careta, estremecendo com a dor que vibrava na minha cabeça. - . . . aguente. . . O que ele estava dizendo? Ele agarrou os meus braços e então me puxou como um saco de batatas, algo instável, e eu balançava e queria cair no chão. Mas ele não deixava. Ele estava me puxando e ele não soltava meus pulsos. Ele estava de costas para mim e eu descansei minha cabeça entre suas omoplatas. Em seguida, a perfuração no meu crânio veio acompanhada por uma pulsação que fez todo o meu corpo vibrar violentamente. Minha cabeça pendeu para um lado e foi preciso muito esforço para levantá-la de volta, enquanto eu sentia a tração dos músculos gritando em meus braços e ombros. Alex estava gritando ainda e eu não sabia por que. Logo, em seguida, a perfuração parou e a dor cedeu lentamente. Ergui a cabeça para trás a partir de sua dolorosa posição curva e senti o vento me golpear. O soluço que tinha ficado esmagado na minha traquéia explodiu livre e eu empurrei meu rosto para a frente de Alex, quase me sufocando em seu peito. Me equilibrei na moto, apertando Alex ainda mais apertado do que ele estava me agarrando. - Você está bem? As palavras se misturaram com o vento enquanto ele dizia. Eu balancei a cabeça contra suas costas, esperando que ele pudesse sentir isso. Falar estava fora de questão. Em algum momento ele diminuiu a velocidade da moto e o barulho da trepidação do ar em meus ouvidos diminuiu. Minha cabeça parecia como a de alguém com ressaca pesada, como se eu estivesse tentando equilibrar uma bola de canhão em cima de uma folha de grama. Deixei Alex colocar uma mão em volta das minhas costas e outra debaixo de mim e me levantar, e eu me enrolei nele, encaixando minha cabeça em baixo de seu queixo. Mas vaga lembrança dos fatos começava a cutucar meu cérebro machucado. Tentei ignorar. Me senti bem ali, agarrada contra Alex, escutando seu pulso sob meu ouvido, alto e constante. Estávamos andando na madeira. E eu conseguia ouvir a água abaixo de nós. O cais de novo? Eu torci a cabeça para ver e tentei abrir um olho. Haviam filas e filas de barcos. Barcos à vela, lanchas, botes e um ou dois super iates destacando-se sobre o resto, fazendo o restante parecer brinquedos de banho. O que estávamos fazendo aqui? Eu precisava estar em algum lugar. 159
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- Key! A voz de Alex vibrou contra minha bochecha. - Ligue o motor. Precisamos ir. Agora! Key? Ele acabou de dizer Key? Eu olhava para o sol nascendo brilhante e vi uma silhueta acima de nós de pé sobre a plataforma de um enorme barco. - O quê? Por que ela está aqui? O que aconteceu? Era a voz de Key. Mas o que Key está fazendo aqui? Por que não foi para Washington? Por que ele não estava flutuando por ai? - Temos que ir - disse Alex – A Unidade já sabe sobre Lila. Eles vão estar na nossa cola. Temos tenho que ir agora. O que Alex está dizendo? Nós não poderíamos ir. Eu preciso ir para algum lugar. Eu simplesmente não consigo me lembrar para onde. - O que aconteceu? - Key repetiu. - Eu não sei. Mas precisamos cair fora daqui. Não. Não, não, não. Não vamos cair fora. Esse não era o plano. O hospital. Esse era o plano. Eu precisava chegar ao hospital e resgatar Jack. Eu me afastei do peito de Alex e joguei as pernas para fora em uma dança de marionetes, em um esforço para descer. - Não, não. Volte. Volte! Me solte! O rugido de um motor cortou todas as linhas de comunicação. Alex me abraçou forte, controlando minhas pernas. - Whoa, acalme-se. Nós já vamos, Lila. Nós temos que ir. Ele começou a mudar meu peso para que ele pudesse me jogar sobre o ombro e me içar para o barco, mas eu lutei com ele, tirei seus braços de cima de mim com um enorme esforço, forçando eles com a minha mente. Eu deslizei para o cais, batendo os joelhos enquanto ele me soltou. Alex cambaleou para trás, esfregando o ombro, uma linha de irritação surgindo nítida entre os olhos. - Que horas são? - Eu perguntei, olhando para ele da minha posição de joelhos, gritando para ser ouvida sobre o som do motor. - 06:20 hs. Por quê? - ele gritou - Vamos, temos que ir. Sua mão estava ali, debaixo do meu braço, me puxando para cima. Deixei, me apoiando nele. Seis e vinte? Apenas seis e vinte da manhã? O que tinha acontecido com o tempo? Parecia que já haviam passado todas as horas do universo. Eu sentia como se houvessem passado oitenta vidas antes de Alex me arrastar fora da Seven-Eleven, e depois outras oitenta vidas na moto, e na verdade tudo tinha mas sido menos de dez minutos atrás. - Eu preciso voltar. Eu não posso me atrasar. Porquê ele não entendia? - Do que você está falando? Tarde para o quê? - Alex estava olhando para mim como se eu tivesse um ferimento na cabeça - Você não pode 160
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voltar. Eles sabem sobre você, Lila. A arma, é para paralisar você, o que significa que eles devem saber sobre você, sobre o que você é. Nós precisamos sair daqui enquanto ainda podemos. Ele me puxou. - Tudo mudou agora. Foi quando eu percebi que Alex não sabia. Ele não sabia sobre Jack estar acordado ou sobre ele ser um psy. Ele não sabia que Richard Stirling me ameaçado. Como ele poderia saber? Key estava aqui, em pessoa , não estava flutuando no éter e me observando. Quando cheguei finalmente a essa conclusão, saí cambaleando, segurando a mão para minha garganta que contraia. Se Alex não sabia sobre Jack então não havia um plano para resgatá-lo. Tudo isso tinha sido inútil. Eu deveria ter levado Jack desde a noite passada. - Eu sei que eles sabem sobre mim, Alex – Eu gritei - Mas eles têm Jack. Eles estão se removendo ele esta manhã para a ala de prisioneiros. Ele deixou cair sua mão. - De que você está falando? Como é que eles sabem sobre você? Eu balancei minha cabeça. - Eu não tenho tempo para explicar. Mas eles estão se removendo Jack esta manhã e eu prometi que iria voltar para ele, que eu não deixar levarem ele. Alex estava tentando manter a calma, mas sua voz estava denunciando que ele estava nervoso. - Lila, se eles sabem sobre você, não há nenhuma maneira que você volte lá. E nós conversamos sobre isso. Nós concordamos que iríamos deixar a Unidade removê-lo. Eu não vejo qual é o problema. Vamos voltar para ele e sua mãe. Quando Demos chegar aqui. Nós vamos descobrir alguma coisa, eu prometo. - Não! - Eu torci debaixo de seus braços - Não existe mais esperar. Você não entende. Nós não podemos deixar eles removerem Jack. Temos que voltar agora. - Ele vai ficar bem - disse Alex, demonstrando frustração em suas palavras. - Não. Ele não vai ficar bem - eu disse, balançando a cabeça - Ele vai ser dissecado. Alex parou, franzindo a testa para mim. Ele não entendia e eu não tinha tempo para explicar. - Eu não vou ficar esperando por Demos e pelos outros. Não vou esperar até você chegar a um outro plano - eu disse, sem fôlego – Vou agora. E eu vou sozinha, se for preciso. Os olhos de Alex brilharam com fúria, seu rosto endureceu. Seu olhar me fez encolher como se a arma da Unidade tivesse sido disparada novamente. 161
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- Eu vou com você. Não foi Alex que falou. Eu olhei para cima. Key estava inclinado sobre o convés do barco. - Não. Ninguém vai a lugar nenhum - Alex rosnou em resposta. - Jack é um de nós agora - eu soltei - Ele é como eu. Não podemos deixar levarem ele. Eu acho que tudo bem eu ter curiosidade sobre até quantas feridas Jack aguentava, mas a Unidade não teria apenas a curiosidade. Alex estava olhando para mim de boca aberta. A raiva tinha dado lugar a confusão. - Jack é um de vocês? O que você quer dizer? Ele está acordado? Ele está bem? Eu balancei a cabeça, pronta para correr, o meu coração saltando descontroladamente enquanto a adrenalina inundou meu sistema. Notei que Key tinha descido a escada e parou apenas atrás de Alex. Em seguida, Alex se aproximou, agarrou meu cotovelo e me puxou para o barco. - Você não vai voltar, Lila. É muito perigoso. Eu não vou deixar você. Eu não concordo. Eu apenas reagi. Para um estranho qualquer deve ter parecido que uma mão invisível tinha arrancado Alex e lançado ele pelo ar, jogando-o contra a lateral do barco. Seu ombro bateu na grade de metal e ele caiu de joelhos. Ele gritou e eu dei um vacilante passo na direção dele, ele porém levantou a cabeça, olhando para mim, e seu olhar me travou. Em seguida, toda a emoção desapareceu e seu rosto se transformou em pedra. Ele se levantou calmamente e recuou uns poucos passos, ainda segurando seu ombro. Senti meu peito apertar, como se alguém tivesse arremessado um tijolo em mim de uma grande altura. - Lila, vamos lá, vamos lá - Key murmurou. Ele olhou para Alex e deu um pequeno encolher de ombros. Fiz uma pausa, ciente de que aquele era um momento decisivo, dividida entre o desejo de correr para Alex e necessidade de salvar meu irmão. Ciente de que se eu ficasse, eu poderia perder Jack, mas se eu fosse, eu quase certamente perderia Alex. Por um longo momento nos encaramos, os olhos de Alex me queimando com sua fúria, e eu me vi refletida neles, um vulto que se virou e correu.
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Key destrancou a porta traseira de uma caminhonete preta estacionada. - Quando foi que você conseguiu isso? - Perguntei. - Alex comprou ontem, íamos usá-la como nosso carro de fuga quando chegasse a hora. Acho que a hora é agora. Eu tomei uma respiração profunda. Eu estava realmente brincando a sorte. Eu estava arruinando qualquer plano Alex tivesse feito - e se o meu plano desse errado? Será que eu deveria esperar? E se indo agora não conseguíssemos resgatar a minha mãe? E se Alex está certo e eu acabar sendo pega? Mas pelo menos eu terei a chance de resgatar Jack agora, e isso era algo que eu não poderia deixar de tentar. Eu tinha prometido. Se a situação fosse ao contrário, eu sabia que Jack faria o mesmo por mim. Key abriu a porta da van. Dentro havia um banco de madeira que corria ao longo de um lado. No centro estava uma mesa de aço com pés de metal fixos no chão. Em cima da mesa havia um caixão. - Qual era o plano? - Eu perguntei, virando confusa para Key. - Funerária particular. Alex acredita que é a única maneira de entrar na Base. Ele falsificou a papelada, e aqui diz que eu estou transportando um corpo. Eu olhava para o caixão. Quantos de nós caberiam espremidos ali? - Nós temos que levá-la escondida - disse Key, entrando na caminhonete. - Escondida? – Perguntei - Onde é que eu vou me esconder? Key acenou para o interior da van. Lá estava. O caixão de carvalho maciço. Sorrindo para mim. - Eu não vou me esconder nessa coisa! - Eu contive o grito querendo sair da minha garganta e soltei apenas um sussurro. - Bem, as nossas opções são meio limitadas agora. Mas tão limitadas? Tinha que haver outra saída. Olhei para todos os lados da van. Não havia mais nada. Só o caixão. - Isso é horrível. 163
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- Há buracos de ar perfurados nas laterais, você não vai sufocar. Ele ergueu a tampa do caixão. Dentro dele era forrado com seda carmesim. - De jeito nenhum. - Lila, vamos, estamos atrasados. É apenas um caixão. Já dormi em lugares piores. Eu olhei para ele na penumbra da van. - Tudo bem - eu desisti. Eu me virei para olhar para o caixão. Oh Deus. - Você precisa de uma mão? - Não, eu estou bem - eu rebati, balançando uma perna para o lado. Ele segurou meu cotovelo. Eu subi e me deitei. A seda era sintética. Era fria e áspera arranhando na parte de trás das minhas pernas e braços. Oh Deus. Oh Deus. Oh Deus. Jack me devia muito por isso. O rosto de Key pairava sobre mim. - OK, você vai ficar bem. Estaremos lá em dez minutos. Menos – acrescentou quando viu o olhar de horror no meu rosto. - Eu voltarei e abrirei na hora – Key me deu um último sorriso semireconfortante e depois deslizou a tampa. Eu não estava preparada para a escuridão. Era intensa, como se eu tivesse sido embalsamada em alcatrão. Imediatamente eu comecei arranhar a tampa e bater nos lados, sentindo falta de ar. Os meus olhos estavam abertos ou fechados? Estava tão escuro que eu não poderia dizer. Então eu senti o tremor de um motor quando Key ligou o carro e seguiu para fora do estacionamento. Minha respiração era tão alta que ecoava da madeira 10 centímetros acima meus lábios como se estivesse tentando levantar a tampa do caixão. Eu estava começando a suar. Gotas de suor arrepiavam na parte de trás do meu pescoço, encharcando o forro sintético de seda. Eu cantarolava para mim e tentei imaginar que estava deitada na cama com Alex. Não funcionou. Tudo o que fez foi me deixar pior. Eu me perguntava se conseguiria chegar perto dele alguma vez mais novamente, se ele falaria comigo novamente. Essa raiva, eu nunca tinha visto ele assim por nada. Eu não podia chorar. Não agora. Ainda não. Mas por dentro, eu já sabia que não havia maneira de voltar a ser como antes. Eu traí ele. Eu machuquei ele. E pior, eu queria tanto estar com ele mais uma vez. Nós desaceleramos. Senti a guinada da van. Estávamos na entrada da Base? Nós paramos. Eu podia ouvir o som abafado de vozes. Orava para que eles não abrissem a van e quisessem inspecionar no caixão. 164
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A parte de trás da van abriu com um estrondo. Ouvi a voz de Key, mais alto agora, mas eu não conseguia discernir o que ele estava dizendo. O suor começou a escorrer por minha testa. Os mortos não deviam suar. Eu orei ainda mais para que eles não abrissem mesmo aquele caixão. A voz de Key se aproximou, mais clara ainda. Passos perto do caixão. E de repente, um estrondo acima do meu rosto como uma mão levantando a tampa. É de carvalho e muito pesado - Key dizia. Tomei um grande gole de ar quente, passei minhas mãos sobre o peito e tentei parecer morta, embora eu tinha certeza que se eles abrissem aquele caixão, o meu coração literalmente pararia ou eu daria uma bofetada na cara de alguém. Passos. Um bater de porta. Vozes embaçadas. Gritos indistintos. Motor gemendo. Pneus se movendo. Aumento da nossa velocidade. Deixei escapar um suspiro. Um ou dois minutos depois, diminuiu, em seguida, acelerou novamente e finalmente parou. Ouvi o motor desligar. As portas na parte de trás se abriram após um segundo e a van balançou. Um clarão ofuscante de luz me atingiu, uma montanha de cores que fez meus olhos lacrimejarem. Novos ares, ar doce e fresco. Traguei com toda a força de meus pulmões. Tinha um gosto rico, fresco e suculento. Eu inspirei mais uma vez e me levantei para fora do caixão. Key me pegou em meus braços e me ajudou a ficar de pé. - Eu quero ser. . . cremada. . . - Eu disse ofegante - Lembre-se disso. Se alguma coisa der errado. . . - Certo, você está pronta? - Perguntou Key. Eu balancei a cabeça, inspirei mais algumas respirações profundas e limpei o suor do meu rosto com as costas do meu braço. Estávamos estacionados em uma baía, numa rampa, atrás do hospital. Uma porta dupla larga estava diante de nós - fechada e impenetrável. - Boa sorte - disse Key - Eu vou estar aqui esperando. Não demore muito. Ele se afastou e olhou por cima seu ombro. Eu sorri para ele. - Obrigado por isso, Key. Eu te devo mais uma. - Não se preocupe - disse ele, piscando para mim.
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Parei diante das portas duplas e elas logo se abriram. Olhei para o brilho neon de um corredor de azulejos verdes. À essa hora, tão cedo, ainda estava vazio. Eu entrei, deixei fechar a porta atrás de mim, e em seguida, comecei a andar, minhas pernas pareciam elástico e um choque de adrenalina e de medo começou a invadir meu corpo. No meio do corredor havia uma porta de um vestiário. Entrei rapidamente. Pequenos armários rodeavam as duas paredes. Eu varri meus olhos ao longo deles, cinqüenta ou mais portas se abriram de repente em um estrondo super poderoso. Eu olhei por cima do meu ombro, me encolhendo, mas o corredor permaneceu vazio. Corri para o armário mais próximo, saqueando tudo, procurando algo que eu pudesse usar. Uniforme de enfermeira. Perfeito. Me abaixei atrás da porta e tirei a roupa em tempo recorde, empurrando minha calça dentro do armário onde eu tinha roubado a roupa da enfermeira. Os sapatos que achei eram tamancos brancos, um tamanho muito maior que o meu, mas eles teriam que dar conta da missão. Eu parei na frente do espelho e coloquei o chapeuzinho de enfermeira na minha cabeça, minhas mãos estavam trêmulas. E eu não parecia uma enfermeira, eu parecia uma stripper. Como é que enfermeiros trabalham com dignidade usando esse uniforme? Eu encolhi os ombros. Isso tinha que funcionar. Retirei uma última coisa de outro armário – uma bata branca de um médico. Jack ia precisar de um disfarce também. O corredor ainda estava vazio quando eu coloquei minha cabeça pela porta. Saí tranquilamente, balançando os braços, os sapatos com sua sola de borracha rangendo no chão de linóleo. Tentei andar como uma enfermeira. Como se eu soubesse para onde deveria ir. Como se eu estivesse à caminho para operar alguém. Eu comecei a correr, então, quando me dei conta, desacelerei. Isso foi muito óbvio. Talvez eu devesse fingir que estava apertada para fazer xixi. Eu diminuí o ritmo como se estivesse dando um passeio, mas eu me sentia muito lenta. Eu sabia para onde eu estava indo, pelo menos. Isso já era um bônus. Eu tinha mapeado todo este lugar em minha busca por uma máquina de biscoitos automática. Quando eu estava perto da escada que 166
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eu planejava subir, um homem saiu do nada. Ele estava arrastando um esfregão e um balde atrás dele e quase colidiu comigo. Eu passei por ele, enquanto notei uma certa dúvida em seu rosto. Droga. Eu não podia usar as escadas agora. Era muito arriscado. Ele estava começando a limpar o corredor justo ao lado delas. Eu conseguia ouvir o barulho de água e esfregão. Eu continuei andando, lembrando à mim mesma que eu era poderosa, podia mover o fluxo da água e enfiar a cabeça de um homem em seu próprio traseiro. Eu era invencível. Mais ou menos. E invisível seria melhor nesta situação. Mas eu tinha que trabalhar com o que eu tinha. Passei pelo necrotério. Plásticos amarelos estavam pendurados no lugar de portas e eu mudei o meu ritmo para um trote rápido. Era calmo aqui. Só eu e os mortos. E o zelador ao virar da esquina. Assim que alcancei o final do corredor sem fim, eu encontrei o elevador. Era arriscado usar o elevador. O elevador parava junto ao posto de enfermagem na unidade de terapia intensiva, ao contrário da escada que estava na outra extremidade. E se eu desse de cara com uma das enfermeiras ou com o Dr. Roberts? Isso seria muito difícil de explicar. Mas não havia outra maneira de chegar lá, no entanto. Era o elevador ou voltar para a escada, passando pelo zelador suspeito. Eu pressionei o botão e esperei que o elevador. Estava vazio felizmente. Eu entrei e apertei o botão para o segundo andar, orando para que ele não parasse em qualquer um dos pisos no meio. Minha oração não foi atendida dessa vez. O elevador desacelerou e tremeu a uma parada no primeiro andar. Olhei em volta em busca de um lugar para me esconder. As portas começaram a abrir e eu estanquei em um momento de pânico, me concentrando para ficarem unidas como as páginas de um livro. Alguns dedos apareceram na abertura, tentando forçar a porta à abrir. Eu podia senti-los na minha cabeça, como se estivessem pressionando meu cérebro, e eu apertei as portas mais ainda, até quem quer que fosse, puxou sua mão para trás, xingando. - Droga de elevador - eu ouvi dizer. Eu mantive o meu dedo no botão, pressionando para baixo, e depois de alguns segundos eu senti o impulso do elevador subindo. No segundo andar eu fiz o mesmo truque, mantendo as portas fechadas enquanto eu pressionava meu ouvido na porta, ouvindo passos ou vozes do outro lado. Não havia ninguém, então eu abri um pedacinho das portas uma fração e olhei através da fenda. Eu podia ver a parte de trás das pernas de alguém a poucos metros de distância à esquerda, no posto de enfermagem. O quarto de Jack estava à direita. O que havia na extremidade do corredor? Tentei pensar. Haviam quartos em ambos os lados e, em seguida, na outra extremidade, havia uma máquina automática de café. Eu me distraí um pouco. E então, houve 167
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um leve puxão, como um peixe pegando uma linha - e então eu me senti cair. O barulho ecoou, e em seguida, o som de passos se aproximaram ficaram mais evidentes, exatamente nessa direção. Deixei as portas abrirem e sai, virando à direita, já esperando encontrar algum guarda enorme do lado de fora do quarto de Jack, e mantendo a cabeça para baixo. Mas o guarda não estava lá. Ele estava bem na minha frente, no final do corredor. Eu quase me choquei com ele. Ele estava segurando a arma com as duas mãos. Era tarde demais para voltar para o elevador assim que a única coisa que eu podia fazer era continuar caminhando e esperar que ele não me reconhecesse. - Lila? Eu congelei e olhei para cima. Jonas estava piscando para mim com espanto, de boca aberta. - Oi! - Eu gritei. - Por que você está vestida como uma enfermeira? – ele perguntou. Notei que a arma não estava apontada para mim. - Er. . . Essa era a sua única pergunta? Porquê ele não estava apontando a arma para a minha cabeça? Eu esperei. Mas ele não fez nenhum movimento para me deter, estava apenas olhando para o meu chapéu. Eu podia ver as engrenagens de seu cérebro girando. - Bem. . . - Eu disse, tentando pensar. Sua testa estava enrugando agora, sua pele dobrou em vincos, a suspeita começando a nublar os olhos. - Eu pensei. . .que talvez. . . você fosse gostar. . . da roupa de enfermeira. . . - Eu gaguejei, incapaz de acreditar nas palavras que saiam da minha boca. E, ao que parecia, nem Jonas conseguia acreditar. Seus olhos arregalaram como pratos de jantar. - Para mim? - ele sorriu. - Sim, eu vi o jeito que você olha para as enfermeiras e eu pensei que talvez você gostaria de uma visita da enfermeira Lila. Enfermeira Lila? Oh Deus. Eu queria pegar a arma e atirar em mim mesma. Os olhos de Jonas se iluminaram como uma árvore de Natal. Ele olhou para cima e para baixo no corredor. Em seguida, para o meu vestido. - Você está falando sério? - perguntou ele. Claro que eu não estou falando sério, idiota – eu pensei, olhando para ele, incrédula. Mas um outro pensamento veio simultaneamente. Ele não sabia. E tudo estava certo. Jonas, por qualquer razão, motivo, idade ou simplesmente sorte - não sabia sobre mim.
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- Mas como você sabia que eu estava aqui? - ele perguntou de repente. - Hum, os homens de plantão me disseram? – Eu respondi, sentindo meu estômago apertar em uma contração de nós que eu não sentia que não iam jamais se desfazer. Jonas ponderou por um segundo e em seguida, empurrou a arma com pressa, pegou meu braço e começou a me guiar pelo corredor. Nós passamos pela porta do quarto de Jack. Para onde ele estava me levando? Será que ele iria me prender? Então ele me puxou para a sala de espera dos visitantes. - O que estamos fazendo aq. . . Minhas palavras sumiram quando eu vi que ele tinha fechado a porta, jogado a arma no sofá e parou na minha frente, cheio de luxúria. - Cara, isso é a coisa mais legal do mundo – ele disse, colocando um braço em volta da minha cintura. Eu estava chocada demais para protestar; meu cérebro estava ainda tentando processar o fato de que ele acreditava que eu fui capaz de me vestir como uma stripper para ele e não estava falando por um rádio, pedindo reforços. Talvez ele não tinha ouvido falar sobre a minha grande fuga de meia hora atrás. Esse foi um golpe de sorte, caso contrário eu provavelmente estaria no chão até agora. Mas, na verdade, parecia que era aí que Jonas me queria de qualquer maneira. - O que é essa coisa? - Ele pegou a bata de médico da minha mão. Meu coração bateu até querer parar no meu peito. Ele certamente ia descobrir tudo agora. Era como um jogo de Detetive – a roupa de enfermeira, no quarto do hospital, com a bata do médico. No entanto, por alguma razão que não dava para entender, o garoto simplesmente não conseguia ligar os pontos. - O médico e a enfermeira. . . uau - disse ele, me olhando para cima e para baixo de novo, já me despindo mentalmente de uma maneira tão óbvia que eu me contorcia. - Isso é totalmente. . . legal. . . - Er - eu disse, abaixando-se para trás da mão que tinha vindo para descansar no meu ombro e estava acariciando uma mecha úmida de cabelo para trás do meu pescoço. - Você não vai ter problemas? Você está de plantão - Apontei para a porta. - É cedo. Ninguém vai perceber. Seus olhos estavam correndo por cima do meu vestido. Olhei por cima do ombro. Havia uma cesta de papéis no canto. Levantei-a e a trouxe em um deslizamento silencioso até que estava pairando cerca de um metro sobre sua cabeça. Teria que ser um golpe muito forte para
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nocauteá-lo e eu não tinha certeza se estava pesada o suficiente. Seu crânio era obviamente muito duro. Antes que eu pudesse cogitar algo mais, os braços de Jonas surgiram do nada, enrolando em volta da minha cintura como um polvo, me puxando para ele. Ele era forte. Bem mais forte do que eu esperava. E o choque de seu toque em comparação ao de Alex me deu uma sacudida. Ele entendeu a sacudida como animação, porque antes que eu pudesse pensar de novo, seus lábios estavam nos meus, quentes, mentolados, molhados, sua língua tentando entrar na minha boca. A cesta fez um som de estrondo quando acertou ele. Jonas cambaleou e cambaleou, os braços soltos e eu pisei para trás, pronta para lançar ele na parede. Mas eu não fiz. Jack tinha aparecido do nada e estava bem na minha frente. Ele pegou Jonas pelo cangote e o arrastou na posição vertical. Ele esperou até que Jonas se estabilizasse e em seguida fechou o punho em Jonas. Eu estremeci. - Essa é a minha irmã, e você está agarrando ela! - Jack gritou Nunca. Mais. Toque. Na. Minha. Irmã! Em seguida, seu punho fez contato o queixo de Jonas. A nevasca de confusão no rosto de Jonas virou surpresa e ele caiu no chão aos pés de Jack. - Eu pensei que você estava vindo para me resgatar ? - Jack disse, flexionando os dedos e olhando para mim. - Eu vim - eu respondi - Eu tinha tudo sob controle. - É, estava bem óbvio. Eu olhei para ele. - Vamos, vamos sair daqui. Coloque isso. Eu joguei a bata de médico para ele. - E quanto a roupa? Será que você não poderia lembrar de trazer algo de roupa? - perguntou ele. Ele estava usando uma calça verde que ele deve ter roubado de algum lugar, mas realmente ele estava sem camisa e descalço. - As coisas não aconteceram conforme o planejado – Eu encolhi os ombros. - O que aconteceu? - ele perguntou, puxando a bata sobre o peito nu e inclinando-se para pegar a arma que Jonas tinha deixado no sofá. - Eu explico depois. Temos que ir - eu disse, correndo a porta aberta. - Oh, espere! Fechei a porta e virei, abaixando ao lado de Jonas e remexendo nos bolsos dele. - Precisamos de uma faca. Eu puxei um canivete do bolso do uniforme de Jonas e me levantei. Jack olhou para mim. 170
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- O que você está fazendo? Ele se afastou de mim enquanto eu caminhava em sua direção com a faca erguida. - Nós precisamos nos livrar do rastreador. - O que? - Ele me evitou novamente – Que rastreador? - No seu braço, sob a sua tatuagem. . . eles implantaram um rastreador. Precisamos tirá-lo. Jack parou por um segundo, em seguida, puxou a manga da bata e passou as mãos sobre seu braço, sobre a imagem das espadas cruzadas. - Onde? - perguntou ele. - Aqui - eu disse, apertando meus dedos num músculo do braço, tentando sentir o pequeno solavanco. - Droga - Jack sussurrou baixinho - Dê-me a faca. Isso foi bom pra mim. Entreguei a faca e virei de costas. Houve um segundo de silêncio e, em seguida, uma ingestão aguda de ar. Olhei sobre meu ombro. - Dói? - Eu perguntei, observando o sangue que escorria para baixo do braço. - Claro que dói. Me dê alguma coisa para parar o sangue. Eu rodei em torno do quarto tentando encontrar alguma coisa. Jonas estava esparramado em todo o chão, seu pé apoiado por uma pequena mesa na parte superior. - Espere. . . - Voltei-me para Jack – Acho que não precisamos disso. Ele estava olhando para seu braço. O sangue havia parado de correr. O corte tinha fechado sozinho, deixando apenas uma leve linha rosa sobre a palavra Semper . - Viu? Você agora só precisa de algo para limpar isso. Ele acenou com a cabeça olhando para seu braço, onde o sangue escorrido já tinha secado. - Talvez até mais tarde – acrescentei. Eu balancei minha cabeça, tentando espantar o assombro. Minha mente já tinha saltado em frente para a próxima questão lógica. “Se ele decepasse seu braço, ele iria voltar a crescer?” Eu joguei um guardanapo de pano em sua direção. Ele pegou e, franzindo a testa, começou a limpar a mancha de sangue de seu braço. - Dê-me o rastreador - eu disse, pulando de um pé para o outro. Estávamos perdendo tempo, a Unidade estaria aqui a qualquer segundo. Nós tínhamos que ir. - Porquê? - Jack perguntou, puxando a manga da bata de médico e pegando a arma novamente. - Porque eu vou me livrar dele - eu disse.
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Eu ia esconder no elevador e deixar ele ficar passeando entre os andares. Isso deveria mantê-los confundidos por um tempo, quando eles viessem à nossa procura. Jack entregou e eu segurei entre o polegar e o indicador antes de fazê-lo flutuar baixo. Fechei os olhos, tentando visualizar o corredor e o elevador. Com um pensamento, eu apertei o botão para chamar o elevador e ouvimos o distante ping de quando o elevador chega e as portas se abrem. Eu flutuei o rastreador no elevador, deixando rolar em um canto e, em seguida, pressionei todos os botões de todos os andares. - Vamos lá, então - disse Jack, passando por cima do corpo inerte de Jonas. Eu agarrei o braço de Jack apenas antes de virar a maçaneta da porta. - O que agora? - ele sussurrou furiosamente. - Eu esqueci. Precisamos esperar o papai. O queixo de Jack parecia que ia cair ou ter uma luxação. Ele fechou os olhos, em seguida, abriu novamente. - Você pode fazer tudo isso - ele acenou com a mão para a roupa de minha enfermeira e, em seguida, para Jonas aos nossos pés – mas agora você quer se sentar e esperar pelo papai? - Ele revirou os olhos – Posso então te trazer uma xícara de café enquanto nós esperamos? Eu poderia ligar para a Unidade e perguntar se podem trazer açúcar e também alguns donuts. Eu fiz uma careta. - Eu disse para papai vir às sete. Ele deve chegar a qualquer minuto. - Oh, essa foi uma ótima idéia, Lila. De verdade, você deveria trabalhar no exército como estrategista. Por que você marcou com ele para nos encontrar aqui? Dei de ombros e fiz uma careta. - Parecia a maneira mais fácil. Jack balançou a cabeça para mim como se ele não conseguisse entender como poderíamos ser irmãos. Em seguida, ele avançou para abrir a porta e olhou ao redor. Eu sabia que Jack e meu pai tinham problemas, mas deixa-lo à mercê da Unidade já era demais. Ele não podia estar falando sério. Eu empurrei a porta, fechando com um olhar, mas Jack já estava fechando ele mesmo. Sem uma palavra, ele agarrou meu braço, me arrastou , passando por Jonas inconsciente e entramos em seu quarto. - O quê? O que foi isso? É a Unidade? – Perguntei quando ele me empurrou para o canto do quarto. Ele me ignorou. Ele estava muito ocupado apontando a arma para a porta. - Não, não é um médico - ele respondeu. 172
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Eu pulei na frente dele. - Pode ser o Dr. Roberts. Ele é um cara bom. Não um médico mau. - Lila, saia do caminho. Eu mantive minha posição. - Não. Com uma rápida olhada, eu puxei a arma de forma o cano ficasse apontando para o teto. Eu ouvi a porta abrir atrás de mim e virei para olhar. Dr. Roberts estava em pé na porta. Ele olhou de um para o outro, a confusão tomando conta de seu rosto, seguida por assombro e depois novamente um segundo turno de confusão. Os olhos do médico correram desde a arma nas mãos de Jack para mim. Ele abriu a boca e fechou mais uma vez quando ele notou o uniforme de enfermeira. Eu me contorci. Mas a sua atenção já estava de volta ao Jack. Ele parecia ter visto sua vida passar diante dos seus olhos, mas não era para a arma que ele estava olhando. Ele não podia tirar os olhos do peito nu e sem cicatrizes de Jack. Eu o vi tentando concluir para onde a cicatriz tinha ido e como seu paciente em coma estava agora desperto e saudável, vestido com um casaco de médico e portando uma arma. Senti Jack puxando a arma e virei de volta para ele. - Jack, ele não é mau. Ele não é da Unidade. Você não precisa usar a arma. O médico levantou os braços lentamente e entrou no quarto. Olhei para a porta e, silenciosamente, a fiz fechar. - Tenente Loveday - disse o Dr. Roberts em uma voz baixa - Eu acho que você deveria ouvir sua irmã, você não precisa usar a arma. Eu não vou te machucar. Ele deu um passo mais perto de Jack, os olhos caindo para o abdômen novamente. - Eu gostaria de examiná-lo apenas. - Não há tempo para isso, doutor - Jack disse, deixando a arma baixar. Eu apenas consegui pegar antes que batesse no chão. Pairou na altura do joelho. Os olhos do Dr. Roberts voaram para a arma no ar, como se estivesse presa por cordas invisíveis no teto, então os seus olhos cravaram em mim e sua boca caiu amplamente aberta. Jack não lhe deu a chance de dizer nada. Ele agarrou o médico pelo jaleco branco e arrastouo para a sala de visitas. Peguei a arma e, em seguida, corri em volta dos dois e bloqueei seu caminho. - Nós não precisamos prendê-lo - eu disse para Jack, esperando que meu instinto estivesse certo. Virei para enfrentar o médico.
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- Dr. Roberts, eu sei que isso parece realmente. . . estranho. . . e você não tem razão para acreditar em mim. . . mas por favor, só me escute. . . Ele não disse nada. Seus olhos continuavam voando entre Jack e eu. Me apressei em explicar: - A Unidade não está tentando prender Jack. Eles querem fazer experimentos nele. E em mim. E eu não estou falando de um simples exame de sangue e teste ocular. Você entende? Eles não são o que você acha que eles são. Os olhos do médico voaram para o estômago de Jack mais uma vez e vi as perguntas começando a se inflamar e incendiar neles. - Meu pai vai estar aqui a qualquer minuto. E a Unidade também. Por favor - eu perguntei - você pode nos ajudar? Os olhos do Dr. Roberts brilharam para a arma que eu estava segurando como se ele estivesse fazendo um cálculo rápido probabilidade de risco X probabilidade de insanidade. Com certeza a roupa de enfermeira e arma não estavam colaborando muito. Suas sobrancelhas se uniram, vincaram no meio, e meu coração afundou. Eu ia ter que nocauteá-lo, justo quando eu pensei que nós poderíamos contar com ele. - O que você quer que eu faça? - perguntou ele. Eu respirei pela primeira vez depois de cerca de sessenta segundos. - Hum, quando eles chegarem aqui, você consegue atrasá-los para que possamos sair com o meu pai? Jack balançou a cabeça e deu um passo adiante. - Precisamos ter certeza. Eles têm uma arma que pode nos paralisar. Precisamos colocar o máximo distância entre nós e eles, o mais rapidamente possível - Ele se virou para mim - Onde está o carro de fuga? - perguntou ele - Diga-me há um. Por favor, me diga isso. Eu balancei a cabeça, agradecida, finalmente, por ter feito algo certo. - Sim, há uma van. Está lá fora. Jack virou-se para o médico. - OK, nós vamos descer as escadas, então. Quando eles chegarem aqui, você manda eles para outro andar e... Ele foi interrompido pelo som de pés ecoando pelo corredor. Falando neles - eu pensei – eís que eles aparecem...
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Jack me puxou para trás na sala de visitas. Eu tropecei na cabeça de Jonas e ele gemeu em resposta. Eu o ignorei, me agachando ao lado de Jack, segurando a faca que Jack tinha deixado cair pelo chão na minha mão estendida. - Onde ele está? - uma voz abafada perguntou. Soava como a voz do Robocop que tinha me levado para ver Richard Stirling. Houve um momento de silêncio. Senti um pequeno movimento quando Jack mudou seu peso para equilibrar melhor a arma. Então a voz do Dr. Roberts apareceu - tranquila, calma, convincente. - Eu o mandei para uma ressonância magnética. Sua pressão arterial estava elevada. Eu precisava me assegurar de que não tinha perdido alguma coisa nos outros exames. - Ele está bem? Essa era a voz do meu pai. Ele estava do outro lado da porta. Ao meu lado, Jack ficou tenso. - Em qual andar ele está? - o mesmo cara da Unidade exigia saber. - 3º andar - Dr Roberts respondeu. Passos irritados correram para fora da porta e pelo corredor, ouvimos alguns gritos também - Dr Loveday? - ouvimos o Dr. Roberts chamar. Houve uma pausa Você se importa de ficar por um momento? Eu preciso de você para assinar alguns documentos. Passos se aproximaram de nós e Jack levantou-se assim que o Dr. Roberts abriu a porta. Meu pai levou alguns segundos para assimilar o que viu. Ele piscou para nós, confuso, tentando entender alguma coisa, então a expressão em seu rosto se transformou em um franzir de testa quando ele viu meu uniforme de enfermeira. O sorriso que começava a surgir em seu rosto assim que ele viu Jack acordado se transformou em horror assim que ele olhou para o estômago de Jack. - Ei, papai - Jack sorriu - Nós temos que ir. Vamos? Meu pai vacilou, abrindo a boca e fechando. 175
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- Mas, você... - ele gaguejou, olhando para o médico - Eu pensei que você disse que ele estava fazendo uma ressonância magnética. O que está acontecendo? - Pai, não há tempo para explicar – eu interrompi - Você tem que vir com a gente agora. Meu pai olhou para mim com o rosto branco e imóvel. - Agora! - Eu gritei, pegando-o pelo braço e puxando-o para a porta.
Fugíamos pela escada de incêndio, o meu pai perguntando a cada volta para onde estávamos indo. A bata branca de Jack balançando, os seus pés descalços ecoando no chão; meu coração praticamente em combustão, a respiração vinha vindo em ondas rasas. Eu esperava que a qualquer momento a minha cabeça travasse e paralisasse, quando a Unidade descobrisse a nossa fuga e disparasse uma de suas armas. - Para onde vamos? – Meu pai perguntou. - Por aqui, vamos - disse eu, tomando-o pela a mão e acelerando a corrida. No final do corredor eu empurrei a porta de trás com a minha mente e ela abriu à nossa frente, batendo forte contra a parede de concreto. Eu quase chorei de alívio quando eu vi Key de pé com as portas da van já abertas. Ele parecia nervoso e tenso, com os olhos cheios de preocupação na cabeça, os pés dançando na calçada. Seu rosto se dissolveu em alívio quando nos viu. Em seguida, com o canto do meu olho eu notei uma sombra pequena e escura ao meu lado. Apenas deu tempo de ver Jack apontando a arma para a cabeça de Key. Que ele estava fazendo? Ele parecia prestes a atirar no Key. Eu agarrei o cano e torci na mão de Jack. - O que você está fazendo?' Eu gritei – Esse é o Key! Ele é o nosso amigo e também o motorista do nosso carro de fuga. Seu idiota. - Como é que eu ia saber? – Jack sussurrou de volta. - Vamos, andem, entrem . . . – Key gritou , abaixando a cabeça, acenando para a parte de trás da van. Meu pai subiu primeiro, em seguida, cambaleou para trás. - Por que tem um... - Temos que sair da Base - eu o interrompi enquanto eu subia no lado dele. 176
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Jack pulou logo atrás e Key bateu as portas, sepultando-nos na escuridão. - Isso é para mim? - Jack perguntou, apontando para o caixão. - Sim - respondi. - Boa idéia - disse Jack, caminhando em direção ao caixão - Alex, certo? Eu balancei a cabeça. Tinha sido idéia de Alex. Mas me senti um pouco insultada ele já logo achar que toda boa idéia tinha que ter saído de Alex. - Apertem os cintos! - Key gritou do assento do motorista. O motor acelerou. Jack jogou uma perna no caixão e subiu, levando, a arma com ele. - Tudo pronto? - Eu perguntei a ele. Ele abriu um sorriso para mim. - Vejo você em breve. - O que você está fazendo? - Meu pai cambaleou mais uma vez, enquanto a van começou a se mover. Jack olhou para mim e piscou. - OK, faça. Eu estava ciente, de modo consciente, que o meu pai estava de pé ao meu lado e que o que eu estava prestes a fazer ia, na escala Richter, colocá-lo do nível quatro onde ele estava, para talvez um vinte. Mas que escolha eu tinha? - Estamos chegando nos portões principais. Preparem-se - Key gritou para nós. Eu respirei e virei a tampa sobre o caixão, com a mente, fechando Jack no interior. Houve um silêncio de cemitério. Eu virei lentamente. Meu pai estava olhando para o caixão. Então seus olhos se levantaram devagar para encontrar com os meus e um longo olhar de reconhecimento passou entre nós. Não foi tão ruim quanto foi com Jack. Jack tinha sofrido uma lavagem cerebral para nos odiar e Jack tinha um temperamento forte também. E haviam árvores para socar. Meu pai, bem, eu não tinha certeza do que meu pai pensava exatamente sobre gente como nós, mas eu sabia que ele pensava que pessoas como eu estavam doentes e poderiam ser curadas. E meu pai realmente não parecia estar com raiva. Apenas chocado, no entanto. A cor de seu rosto drenou, tornando-se tão pálida que eu pensei que ele ia desmaiar. O carro virou numa curva e ele caiu no banco. Sentei-me e coloquei meu braço ao redor dele. Isso poderia funcionar. Isso poderia dar a impressão de um pai em luto sendo consolado por uma enfermeira. Nós desaceleramos. Eu segurei minha mão apertada no ombro do meu pai, 177
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mantendo minha cabeça inclinada em direção a ele, porém meus ouvidos estavam sintonizados na conversa entre Key e o guarda no portão de saída. - Estamos em alerta, senhor. Se pudéssemos olhar dentro. - Bem, tenente. . . - Key começou a protestar. - Eu sou um soldado, senhor - interrompeu o guarda. - Bem, soldado, eu tenho um pai de luto em volta do caixão de seu filho. Eu acho que seria mais apropriado se você nos deixasse passar. - São ordens, senhor. Eu não posso desobedecer ordens. Estamos em alerta máximo. A parte de trás está aberta? Oh Deus. Meu coração estava tão alto que eu conseguia escutar. Key hesitou. Pense em algo - eu gritei em silêncio - Não deixe eles abrirem. - Sim - disse Key. Oh, genial! -Não se mova - murmurei para o meu pai. Ele não pareceu me ouvir. Sua cabeça ficou dobrada, os cotovelos sobre os joelhos. Eu mudei para seu outro lado, de modo que fiquei mais escondida na escuridão, e endireitei meu chapéu de enfermeira. Vamos conseguir. Desde que eles não abram o caixão. As portas traseiras de repente se abriram, deixando entrar uma faixa de luz. Eu pisquei ao ver a forma de dois fuzileiros navais, vestidos em uniforme de combate completo, com armas na mão. - Desculpe-nos, senhor - um deles disse para o meu pai – Sentimos muito pela sua perda, mas temos ordens para verificar cada veículo que sair da Base. Nos desculpe, mais uma vez. . . Ele fechou as portas. Percebi que eu estava apertando o joelho do meu pai com tanta força que era como se eu estivesse tentando abrir uma noz. - Espere - uma voz gritou de algum lugar lá fora. Paramos assustados. Ouvi Key xingar em voz baixa. Meu pai olhou para cima. Olhei para ele. O guarda voltou-se para nós, mudando sua postura enquanto eu observava. Sua mão soltou da porta da van e se mudou para o gatilho do rifle. Eu não esperei para ver até onde ele iria. Bati a porta na sua cara, gritando simultaneamente para Key: - Vai, vai, acelera! Ele não hesitou, o motor gemeu quando ele pisou no acelerador e meu pai e eu voamos para baixo no banco, apoiando no caixão para nos equilibrar. Houve um alto eco seguido por uma rachadura que eu reconheci como tiros. Um buraco do tamanho do meu punho cravou no lado da van, dois centímetros acima da minha cabeça. Eu me levantei e me joguei para frente, para ver pela janela. Havia uma barreira de madeira de cerca de cinco metros à frente de nós na estrada. Key estava 178
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conduzindo diretamente em direção à ela. Eu atirei aquilo para um lado com uma rápida olhada antes de voltar a minha atenção para os dois fuzileiros, apontando as armas em linha reta com os braços estendidos em meio aos arbustos. Key estava orando. Suas mãos estavam rígidas no volante, a cabeça inclinada para a frente, o seu pé plano firme no acelerador, a van acelerando ruidosamente. Eu coloquei minha mão em seu ombro. - Está tudo bem. Continue dirigindo. Basta manter o controle. Ele continuou a orar. Tínhamos a vantagem de um minuto e precisávamos de pelo menos dez minutos para poder chegar ao cais, eu calculei. Eu precisava criar um obstáculo. Eu tropecei para a parte de trás da van, atravessando os corredores de metal, e abri a porta. O vento forçou ela à fechar, como o mar quando está forte a maré, batendo de volta para o meu rosto. Eu me concentrei e mudei a direção do vento. Funcionou. A porta agora pendia inerte e o vento parou. Por um segundo eu estava ali, sentindo uma corrente de energia surgindo através do meu corpo. - Lila! Eles estão na nossa cola. Faça alguma coisa - A voz de Key veio alta e clara, ecoando através da van. Parei maravilhada com o que eu tinha acabado de fazer e olhei para cima. Três jipes estavam atrás de nós na estrada vindos da Base. Eu suspirei. Eu estava ficando cansada de destruição. Havia um fluxo de caminhões na pista agora. Conduzíamos paralelo com um agora. Vi o motorista, gorro puxado baixo contra o sol da manhã. Ele estava olhando para fora de seu lado da janela para mim, gesticulando com a mão. - Desculpe! - Eu murmurei para ele antes de mudar meu foco para as rodas debaixo de seu automóvel. Eu só vi quando a parte de trás do caminhão deslizou nas quatro faixas de tráfego. O caminhão virou cento e oitenta graus, os pneus deixando barras pretas por toda a estrada. Houve um único momento de silêncio seguido por ecos de freios sendo acionados, seguido pelo estrondo violento de metais se torcendo. Em seguida, finalmente, veio o estrondo de vidros se quebrando no asfalto. O acidente pareceu nos colocar em órbita antes de nos fazer voltar para a realidade. - O que está acontecendo? - Eu ouvi Jack gritando e batendo de dentro do caixão e virei minha cabeça para levantar a tampa. Ele se sentou ereto, a arma agarrada com as duas mãos e apontou para mim. - Apenas um pouco de distração – eu respondi por cima do meu ombro, com a minha atenção já de volta na carnificina eu tinha deixado com nosso rastro. - Eles estavam bem atrás de nós.
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Eu olhei para o meu pai. Ele estava olhando para mim como se ele tivesse acabado de presenciar um poltergeist em ação. O vento começou a soprar de novo, chamando minha atenção, estalando na porta da van. Eu fiz a porta fechar com um estrondo, ignorando o olhar no rosto do meu pai. Eu cambaleei para a frente e falei com Key que estava conduzindo a van usando três faixas de pista, como se ele estivesse bêbado. - Whoa, Key, fiquei firme aí - eu disse, colocando minha mão em seu ombro - Isso deve pará-los. Por um tempo. . . Olhei. A estrada atrás de nós estava vazia graças à barreira de metal que eu tinha criado atrás de nós. - Você está ficando boa nisso - Key murmurou com um riso nervoso, balançando a cabeça vendo a destruição pelo espelho. - Ahan - eu respondi. Sim, expert em destruição. Algo em que era boa mesmo. Algo para se orgulhar. Olhei para o meu pai. Parecia que ele não concordava nada com isso.
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O som de passos me fez virar a cabeça. Alex estava correndo em nossa direção pelo caís. O alívio que me inundou instantaneamente fez meus joelhos tremerem, embora isso também poderia ter sido até o excesso de adrenalina saindo fora do meu corpo. Eu tropecei descendo os degraus de madeira para o cais, deixando meu pai de pé em frente a van com Jack e Key. Dei alguns passos até finalmente alcançar Alex. Eu esperava sentir seus braços em volta de mim, esperava que ele murmurasse algo sobre o perdão enquanto me beijasse. Eu queria que ele me beijasse e me levasse de volta para o barco e. . . tudo ele fez foi passar direto por mim e correr para Jack. - Será que eles seguiram vocês? - ele perguntou. - Não - Jack respondeu, olhando para ele. Alex ficou tenso e parecia que ele estava prestes à dizer outra coisa para Key, mas depois ele virou-se para o meu pai. - Dr Loveday - ele disse, sua voz estava controlada e calma - por favor, por aqui. Meu pai apenas olhou para Alex como se ele fosse um fantasma. Observei-o contemplar o homem em frente dele. A última vez que ele tinha visto Alex foi há três anos atrás. Ele era apenas um menino e agora Alex estava mais alto que meu pai. O meu pai encarou ele, tendo que levantar a cabeça para olhar em seus olhos. Então ele olhou em volta, obviamente se perguntando o que estávamos fazendo em um píer. Finalmente ele olhou para Alex e o seguiu, cansado, descendo os degraus. Ambos passaram por mim sem dizer uma palavra ou dar sequer um olhar em minha direção. Key apenas deu de ombros e correu atrás deles com Jack na retaguarda, ainda carrancudo. - Vamos, Lila - ele chamou por cima do ombro. Mas eu não podia me mover. Alex não tinha ainda nem olhado para mim. Senti um soluço subindo no meu peito, ameaçando esmagar-me. Eu engoli em seco e me forcei a colocar um pé na frente do outro até que eu alcancei os degraus até o barco. Olhei para cima e vi Alex logo ao lado, me oferecendo sua mão.
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O pânico se dissipou assim que o vi. Eu sorri para ele. Foi tudo um grande mal entendido. Ele não estava com raiva de mim. Ele tinha apenas me evitado para disfarçar, porque Jack e meu pai estavam lá. Isso fazia sentido. Uma onda de eletricidade subiu no meu braço enquanto eu pegava a mão dele e ele me puxou para cima. Caí contra ele enquanto ele me conduziu para o convés, senti a dureza de seu peito e seu calor, e então comecei, subitamente, a chorar de alívio. Mas, no instante seguinte, Alex puxou sua mão para fora da minha. Seus lábios se curvaram com raiva e seus olhos, ao contrário de seu corpo, estavam desprovidos de calor. Era como se ele não pudesse suportar me tocar. Meu sorriso morreu. Alex nem percebeu. Ele virou-se e já estava subindo a outra escada para a casa do leme acima. Alguns segundos depois, os motores foram ligados e começamos a nos mover, o barco saindo do porto, pegando velocidade enquanto dávamos a volta no porto em direção ao mar. Olhei para cima e vi Alex dando instruções à Key sobre como dirigir o barco. - Lila. Virei de uma vez. Jack estava de pé ao meu lado. - Papai está nas escadas. Precisamos contar a ele o que está acontecendo. Oh Deus. Eu queria cair no chão e me enrolar em uma bola. Eu não podia lidar com isso agora. Todo o meu corpo parecia estar em choque. Eu podia sentir o quanto estava tremendo e minha cabeça estava muito confusa. Toda vez que eu olhava para Alex, eu sentia uma lâmina afiada de pânico perfurando meu coração. Foi isso? Estávamos separados agora? Havíamos terminado antes de sequer começar direito a relação? Eu estava de volta e eu estava segura. Por que ele ainda estava tão irritado? Eu tinha resgatado Jack. E nós não fomos capturados. Por que ele não estava feliz? Uma sombra caiu sobre mim. Eu olhei para cima. Alex tinha aparecido. Eu vi seus olhos correrem para o estômago de Jack e o vi arquear as sobrancelhas para cima. Eu me perguntava porque Jack não podia simplesmente vestir uma camiseta e deixar de ser tão exibido. Jack endireitou os ombros e estreitou os olhos em resposta ao olhar de Alex. Alex levantou a cabeça e começou a olhar Jack de frente, recusandose a desviar o olhar. Eu enruguei a testa, intrigada. O que estava acontecendo? Tudo isso era por causa de mim ? Se fosse, era tão ridículo. Eu queria gritar com os dois. Tínhamos muitas coisas mais importantes para tratar do que isso para resolver agora. Além disso, eu já nem sei se há alguma coisa entre Alex e eu. Não mais. - Vamos, precisamos explicar ao papai – Eu disse, puxando a manga de Jack - E nós precisamos pensar em um jeito de resgatar a mamãe.
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Alex passou por nós, o maxilar apertado, ainda recusando-se a me olhar. Eu deveria ter sido capturada – pensei – teria sido melhor. Eu peguei o braço de Jack quando ele estava prestes a seguir Alex. - Por favor, deixe ele ir - eu pedi. - Deixar ele ir? - Jack perguntou inocentemente. - Você sabe porque! Esta coisa sobre Alex e eu. Não tem nada a ver com você. - Você é minha irmã - Jack rosnou - Ele é meu melhor amigo. E ele te trouxe de volta aqui. Eu vou matá-lo. Ele deveria ter cuidado de você, não. . .- ele lutou para encontrar uma palavra apropriada - fazendo o que quer que seja que ele estava fazendo com você. Eu nunca deveria ter aberto a boca quando ele estava em coma. Deixei a minha voz baixa para que ninguém pudesse ouvir. - Jack, pelo amor de Deus, você não acha que temos coisas mais importantes para tratar agora? Jack olhou para mim, sua boca torcendo com o esforço que ele fazia para mantê-la fechado. - OK - ele finalmente disse - vamos falar com o papai. Ele ficou para trás para me deixar andar na frente dele - Eu ainda vou me resolver com ele, Lila. Você é minha irmã - ele murmurou nas minhas costas. Mas será que ele nunca vai parar isso? Parei e dei um passo para trás em direção à ele. - Jack, eu sei que você acha que você tem que estar sempre de olho em mim e cuidar de mim, mas você realmente não tem que fazer isso mais. Eu posso cuidar de mim mesma. Eu acho que eu já provei isso. E não me interprete mal - eu continuei - eu te amo por querer cuidar de mim, mas eu amo Alex também. Ouvi a minha voz fraquejar e se cortar, como se amor fosse uma palavra que cortasse como serra. Jack vacilou no degrau acima de mim. - Amor? - ele perguntou, incrédulo. - Sim - eu olhei para ele - Palavra de quatro letras, Jack. Uma palavra diferente das que você normalmente usa. Então, por favor, apenas deixe Alex em paz. Agarrei o corrimão e desci os últimos três degraus para a cabine do barco. Alex estava sentado em uma mesa, em frente ao meu pai, que estava tomando uma bebida. Eu esperava que fosse algo mais forte do que água. Meu pai tinha a mão apertada com força no copo e ele estava olhando para dentro da bebida, como se ali estivessem contidas todas as respostas que ele precisava. Ele não se incomodou de olhar para cima quando Jack e eu entramos na cabine. Era um espaço deslumbrante, tão elegante como o outro lado do barco. Haviam sofás de couro preto, um bar no canto, armários de 183
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madeira polida em torno de duas paredes e um tapete branco tão suave que me fez instintivamente querer falar em um sussurro. O motor apenas fazia um leve barulho abaixo de nós. Não havia nenhum sinal real de que estávamos nos movendo. Eu me perguntava se Carlos aprovaria o meio como gastávamos o seu dinheiro. Ele provavelmente aprovaria, embora se ele estivesse aqui, provavelmente iria decorar o local com algumas fotos da Madonna e uma tonelada de mulheres de biquíni. Eu esperava que Demos ainda tivesse dinheiro suficiente para descansar também em um palácio flutuante depois de colocar suas armadilhas em Washington. Eu cruzei para o lado dos sofás do outro lado da sala, tão longe do meu pai e de Alex como eu poderia ficar. - Hey - disse Jack. Meu pai olhou para ele. - Então, você vai me dizer o que está acontecendo? – ele disse, acenando com o braço para indicar o barco, eu, Alex e, possivelmente, também, o fato de que seus filhos talvez não fossem exatamente “normais”. - Por onde você quer que eu comece? - Jack disse. - Bem, para começar, quando vocês iam me contar? - Sobre o que? - Jack respondeu. - Sobre você. Sobre o que você pode fazer? - Bem, papai - Jack suspirou - Eu acabei de descobrir que faço isso. Meu pai virou-se para olhar para mim. - E você, Lila? - Eu. . . - Há quanto tempo você sabe? Tomei uma respiração profunda. - Há alguns anos. Suas sobrancelhas se levantaram para cima. - Há alguns anos? E você não me disse? Por que não me disse? Por que não disse? Boa pergunta. Porque eu pensava que eu era uma aberração? - Porque eu não contei a ninguém - eu murmurei - Porque eu não queria que ninguém soubesse. E graças a Deus eu não lhe disse. Eu podia ouvir o tom de acusação na minha voz, tentei até controlar um pouco, mas eu estava simplesmente explodindo. - Porque, o que você teria feito? Me curado? Feito experimentos para me consertar? Eu estava gritando agora. - Do que você está falando? - o meu pai perguntou em voz baixa, totalmente atordoado. - Não é isso que você quer fazer? Corrigir a gente? Como se fossemos portadores de uma doença? 184
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Eu vi a confusão clara em seu rosto. - Não, Lila, não é assim. Ele fez uma pausa, em seguida, sua voz tornou-se mais macia. - Você deveria ter me contado. - Como você nos contou sobre mamãe? Ele fez uma careta. - O que você quer dizer? - Eu sei sobre mamãe ser uma psy. Que ela era telepata. Ela é. É. É. É. Não era. - O quê? Eu virei ao som da voz de Jack. Ele estava olhando para mim. Oh Deus. Eu meio que esqueci de compartilhar esse pequeno detalhe com ele. - Lila, do que você está falando? – Jack repetiu. - Ela era telepata, Jack. Mamãe podia ler mentes. A reação de Jack foi semelhante ao que eu tive quando Demos me contou: total descrença seguida de choque. Ele piscou algumas vezes, balançou a cabeça, em seguida, olhou para o meu pai, e em seguida, para mim. - Como você sabe disso? - meu pai perguntou sem fôlego. - Demos me contou. - Demos? À menção de seu nome, a expressão do meu pai mudou, escureceu, um músculo ficou pulsando em seu olho. - Sim. - Por que você não me contou? - Jack explodiu. Olhei para ele novamente. - Quando? Quando exatamente eu te contaria? Você estava em coma. Eu esperava que ele não me lembrasse do fato de que eu tinha conseguido comunicar um monte de outras coisas enquanto ele estava inconsciente. - O que mais Demos contou? - meu pai interrompeu. Ele olhou para mim por um segundo e depois seus olhos brilharam para Jack. - Ele me contou sobre ele e mamãe. - Ele lhe disse o quê?- A voz do meu pai era trêmula. - Apenas sobre como eles se conheceram. . . Eu não podia continuar. Eu não tinha certeza que eu sabia o que deveria dizer. Bem, eu sei que ele a amava e que talvez ele ainda a ama e que ele está tentando resgatá-la e, oh, a propósito, eu esqueci de te dizer, ela ainda está viva. Não.. Não dava para dizer mais nada. 185
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- Ele não a matou, o Dr. Loveday - Alex interrompeu agora - Melissa está viva. Sua esposa está viva - disse ele em voz baixa. Eu soltei a respiração que eu estava segurando. Meu pai ficou paralisado, como se houvesse faltado ar no ambiente. Ele piscou para Alex. - O quê? O que você está dizendo? - Ela está viva. A Unidade têm mantido ela presa o tempo todo. Meu pai virou-se para olhar para Jack e eu, buscando a confirmação de que Alex tinha ficado louco e estava tendo alucinações. Eu não sabia se deveria apenas acenar com a cabeça ou balançar confirmando com a minha cabeça. Então, eu só fiquei completamente imóvel. - A Unidade não é quem você acha que eles são, Dr. Loveday - Alex continuou - Jack e eu fomos recrutados pela Unidade de propósito. Nós não tínhamos idéia do que eles estavam realmente fazendo. Como você, nós pensávamos que eles estavam tentando parar Demos. É por isso que nos unimos à eles, em primeiro lugar, como você sabe. Ele deu de ombros e eu só queria poder ir até ele e tomar a sua mão. Mas eu fiquei onde estava, observando o rosto de meu pai ficar preocupantemente pálido. Alex continuou falando: - Mas nós descobrimos que tudo isso é uma mentira. Tudo o que a Unidade nos disse é uma mentira. Demos nunca matou Melissa. Eles culparam ele por assassinato e prenderam Melissa, e desde então eles estão tentando conter outros como ela, pessoas como Lila; - Por quê? Por quê? Eu não entendo - meu pai finalmente conseguiu dizer algo. - Porque - Alex disse - eles estão tentando decifrar o código genético que faz com que ela, Lila e Jack e todos os outros sejam como são. - Sim, claro, eles querem corrigi-lo - o meu pai interrompeu Alex mas eles não são. . . eles não podem estar contendo pessoas. . . por que eles fariam isso? Isso é impossível. O que você está dizendo. . . - Eles estão nos contendo para realizar em nós diversos experimentos. Para que eles possam criar armas. Novas armas. Meu pai pareceu querer começar a rir. Eu reconheci os sinais. O canto de sua boca estava se contorcendo em um sorriso. O rosto de Alex permaneceu impassível, como se ele estivesse explicando uma fórmula de álgebra. - É uma guerra genética, por assim dizer. O sorriso desapareceu. Meu pai fechou os olhos e balançou a cabeça. - Sinto muito. . . Eu não. . . - Para eles, a Stirling Enterprises – interrompi – somos ratos de laboratório. Como a mamãe está sendo feita. Meu pai voltou sua atenção para mim. 186
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- Pai - eu disse - eles estão fazendo testes em nós. Tentando descobrir maneiras de fazer as pessoas serem telepáticas ou telecinéticas e. . . o que quer que seja. . . e, em seguida, uma vez que descubram isso, eles vão vender os segredos pelo maior lance. Ele continuou a olhar para mim sem entender. - Imagine isso. Pessoas loucas capaz de ler sua mente. O rosto de Suki passou diante de mim. - Exércitos de homens que podem mover tanques com piscar de olhos. Eu tomei uma respiração profunda. - Imagine o que poderia acontecer se esse poder cair em mãos erradas. E vai acontecer. O vazio começou a desvanecer-se. Finalmente, a descrição de uma nova ordem mundial começou a ganhar vida dentro de sua mente. - E, graças à sua pesquisa, papai, eles já estão bem perto de fazer a grande descoberta. Eu vi o rosto de meu pai de repente se contorcer. - O que você quer dizer? - Eles estão roubando sua pesquisa – Eu disse - Todo o tempo que você pensou que estava ajudando, adivinhe? Você estava. Só não exatamente como você pensava que estava. - Não. Isso não pode estar certo - meu pai disse, sacudindo a cabeça. - Ela está certa - Alex confirmou. Algo de repente pareceu penetrar através da névoa de sua negação. - Melissa está viva? - meu pai sussurrou. Havia um nítido assombro em seu tom de voz. Eu vi como um sorriso começou a nascer em seus lábios. Mas, então, se transformou em uma carranca. Ele virou-se para mim bruscamente. - Há quanto tempo você sabia disso? A raiva na voz dele me pegou de surpresa, me paralisando. - Há algumas semanas - Alex respondeu por mim – Desde que Demos pegou Lila. Eu vi meu pai fazer as contas, e em seguida, notei com espanto como o rosto dele começou a brilhar. - Como é que você não me contou? - ele gritou para mim. Ele olhou para Jack. - Precisamos retornar com esse de barco agora e voltar para lá. Nós precisamos chamar a polícia. Precisamos. . . Preciso. . . Ele de repente foi para as escadas. - O que você está esperando? - ele gritou. - Pai! - Jack chamou, pegando-o pelo braço enquanto caminhava. 187
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- Dr. Loveday. . . - Alex estava de repente na frente de ambos, bloqueando as escadas – Eu sei que é um choque para você, mas você precisa escutar. Não podemos voltar ainda. Temos feito um plano todo este tempo para tirar Melissa de lá e destruir a Unidade, mas quando descobrimos que eles iriam conter Jack, Lila agiu antes. Isso acabou bagunçando um pouco do plano. Eu olhei para Alex. Então, ele estava me culpando agora. - Mas vamos voltar para resgatá-la - Alex continuou com uma voz bastante calma - Em breve. Prometemos isso para você. - Não. Precisamos voltar agora! - o meu pai gritou e tentou passar por ele. Alex bloqueou ele facilmente. - Nós não podemos, Dr. Loveday. Meu pai jogou os ombros para trás e olhou para Alex. Eu podia ver que ele estava assombrado. O menino que tinha conhecido quando era apenas um garoto estava dando-lhe ordens. Meu pai, o médico, não estava no comando. Alex estava. - Estamos esperando por Demos e os outros – eu disse. - Demos? - Meu pai olhou para mim perplexo. - Sim, Demos - Alex disse, me jogando um olhar. Eu acho que ele pensava que eu poderia dar a noticia com um pouco mais de suavidade. “Sua esposa está viva e o seu ex-namorado não a matou e. . . oh sim. . . ele está vindo para nos ajudar”. - Porquê? - Perguntou meu pai - Ele... - Porque nós precisamos dele - eu interrompi - Ele é o único que consegue tirar a mamãe de lá. Eu percebi, depois que eu disse, que a maneira como eu disse, tinha saído mal. Meu pai e Alex se viraram para olhar para mim, ambos me olharam como se fossem me matar. Me encolhi, pressionando meus lábios juntos. Eu não tinha a intenção de sugerir que Alex não era de nenhuma ajuda, que ele era irrelevante e eu só precisava de Demos, mas pelo olhar em seu rosto, isso foi exatamente o que ele entendeu. Ele acenou para mim lentamente, como se ele de repente percebesse alguma coisa, balançou a cabeça suavemente e, em seguida, virou-se e caminhou para longe.
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O barco tinha uma outra parte mais impressionante do que a que está na popa. Haviam duas espreguiçadeiras, dispostas com uma pilha de toalhas brancas empilhadas sobre as mesmas, como se a qualquer momento duas supermodelos bronzeadas fossem aparecer em seus biquínis e começar a posar para uma sessão de fotos. Mas não havia ninguém, era apenas eu, vestindo uma roupa de enfermeira estúpida que me fazia parecer uma stripper. Atrás de mim havia uma porta de madeira que leva para o que parecia ser uma sauna, mas eu queria sair dali, ir para algum lugar onde eu poderia pensar. Esta situação com Alex estava ficando no caminho da única coisa que realmente importava – trazer minha mãe de volta. Acima de mim havia um outro deck. Eu contornei a borda do barco, procurando um caminho para cima, e encontrei uma pequena escada de metal. Segurei-a firmemente e subi. Uma vez no segundo pavimento, eu sentei sobre uma almofada e enterrei minha cabeça nos joelhos, me sentindo completamente derrotada e desfeita. Foi quando eu ouvi as suas vozes. Eram Jack e Alex. Eu fiquei na ponta dos pés até a borda do convés e olhei de cima. Eles estavam embaixo de mim, parcialmente obscurecidos pela saliência do pavimento. - Você não sabe disso. Você está supondo coisas! - Jack estava gritando. - Jack, não podemos confiar nela. - Quem é você para me dizer que eu não posso confiar na minha namorada? Jack disse mais alguma coisa que eu não podia ouvir. Alguma palavra de poucas letras. E não era amor. A voz de Alex estava começando a ficar mais alta. - Até termos certeza de que podemos confiar nela, você não pode envolver Sara nisso. - Mas está tudo bem para você envolver a minha irmã – Jack retrucou. - O que é que isso quer dizer? 189
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- Você não deveria tê-la trazido de volta. Inclinei-me mais, esforçando-me para ouvir Alex. - Você acha que eu poderia ter parado ela? Você conhece ela muito bem, assim como eu. - Aparentemente, não. Eu estremeci. - Jack, vamos lá. Resolvemos isso já. Eu não vou me explicar para você de novo. - Ela é minha irmã, Alex. Você devia estar cuidando dela. Não se aproveitando dela. Ela te ama. . . ela disse que ama você. - Eu sei. Eu sei? Essa foi a sua resposta? Que tal Eu a amo muito também? O que aconteceu com aquela resposta? - Você a ama? Boa pergunta, Jack . Minha mão agarrou o corrimão. Esforcei-me para ouvir com tanta determinação que meus ouvidos quase sangraram, mas o que Alex disse em resposta foi abafado pelo motor e pelo vento. Eu torci a cabeça e tentou fazer o vento se mover, mudando de direção. Eu precisava de silêncio por aqui. O vento parou, mas não foi suficiente para eu saber o que havia sido dito. A voz de Jack soou claramente novamente. - Você deveria simplesmente ir embora, então. O que? Eu cambaleei para a frente, e em seguida, cai em uma pilha no convés, as minhas pernas pareciam elásticas. Por que Jack estava dizendolhe para ir embora? O que Alex disse? Ele disse que não, que ele não me ama? - Eu prometi a ela que eu não iria deixá-la – Alex disse laconicamente. Houve um momento de pausa. Inclinei a cabeça para pegar a resposta de Jack, sentindo que ia começar a hiperventilar. - . . . se você realmente quer fazer a coisa certa agora também, você realmente deveria ir. Nós não precisamos mais de você. Não é a sua luta. É a minha mãe. É minha irmã. Eu cambaleei na vertical e me lancei para a escada. Eu ia pular do convés e empurrar Jack no mar. Então eu faria ele ser engolido por uma onda gigante. Mas eu congelei com um pé no topo do degrau. Eu não me movi. Eu não saltei e joguei Jack no mar. Porque se Alex não me ama mais, então, qual era o ponto? Fiquei onde estava, uma perna balançava sobre o lado do barco, imóvel, olhando fixamente para o oceano, me perguntava como teria 190
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forças para caminhar de volta. Como é que eu ia me levantar de novo. A paralisação era total. Alex não me amava. Alex queria me deixar. Ele só estava ainda aqui, porque ele me prometeu, foi tudo por causa de um senso de dever, não por amor. E então a raiva surgiu como uma piranha com raiva, mordendo frenética. Eu balancei minha perna de volta e comecei a andar no convés furiosamente. A raiva era dirigida principalmente para Jack, mas haviam chamas queimando para Alex. Eu estava irritada com ele também. O que tinha acontecido com o amor? Por que ele de repente deixou de me amar? Porque eu voltei para buscar Jack? Porque eu estraguei o seu plano? Era tão irritante. O que é que eu deveria fazer? Deixar a Unidade levar Jack? Qual parte que ele não conseguia entender que eu fiz aquilo porque não havia outra opção? Eu estava tão ocupada que eu não notei, a princípio, a onda vindo em nossa direção, uma verdadeira parede de água, de quase vinte metros de altura, que havia aumentado quanto mais se aproximava. Parei no meio do caminho e olhei para ela, não acreditando realmente no que eu estava vendo. De onde aquilo surgiu? O resto do oceano estava calmo, exceto por aquela onda de vinte metros, um mini tsunami que estava vindo direto para nós. Eu tive um momento de euforia, uma descrença selvagem, que me fez suspirar em voz alta. Eu fiz isso. Eu fiz isso acontecer. Então eu percebi que iriamos todos nos afogar. Eu tentei empurrá-la. Eu apertei meus olhos fechados e agarrei o corrimão, implorando a Deus que me ajudasse. Era como segurar um pote untado com minhas mãos amarradas nas minhas costas. Eu não conseguia controlar aquilo. Debaixo do rugido, ouvi alguém gritar. Concentrei-me na onda, agora à quarenta metros de distância, o meu pânico crescente aumentando mais. Tentei invertê-la para baixo, tentei imaginar um mar plano, calmo e, quando isso falhou, a água surgiu mais perto ainda. Mas, de repente, obedeceu, caindo diante da minha habilidade. Eu a fiz parar, estendendo-a como uma toalha de mesa que alguém tivesse sacudido e deixei ela se unir novamente ao oceano. Fiquei olhando para a água, onde a onda tinha se formado, tremendo. Como eu tinha feito isso? Eu tinha pensado que o meu poder estava sob controle e agora parecia que eu estava ainda mais fora de controle do que nunca estive. Com este tipo de poder, eu que podia causar desastres naturais sem sequer me dar conta. Talvez eu não devesse olhar para a água.
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Eu apertei meus olhos fechados, enfiei os braços na minha frente e tropecei cegamente em direção à porta. - Foi você? Eu pulei cerca de um quilômetro ao som da voz de Key, quase me colocando em órbita. Meus olhos se abriram. Ele estava de pé, carrancudo para mim. - Foi você - disse ele, balançando a cabeça para mim. Ele olhou para o oceano e murmurou algo sob sua respiração. Mordi o lábio. - Sinto muito. Eu não sei como... - Você pode se controlar? - ele perguntou, me interrompendo. Não havia nenhuma vantagem em tentar mentir. - Lila, por favor, tente controlar - ele suspirou - Eu não estou tão bom em dirigir um barco e Alex está muito distraído para me mostrar. Então, por favor, iria me ajudar se você pudesse se concentrar em não colocar obstáculos como esse no meu caminho. Eu balancei a cabeça lentamente. - OK, vou tentar. - Ah, a propósito, Lila, não me interprete mal, essa roupa de enfermeira ... - ele corou e balbuciou - se você gosta desse tipo de coisa, tudo bem, mas se você quiser trocar de roupa, Alex colocou algumas roupas no guarda-roupa da cabine principal. - Oh, obrigado - eu disse, olhando para o meu uniforme de enfermeira. Poderia ter funcionado em Jonas, mas com certeza não tinha feito o menor efeito para Alex. De repente eu não aguentava mais estar vestindo aquilo. - A propósito - eu disse a Key – para onde estamos indo? - Marina del Rey, perto de Santa Monica. Não que eu tenha alguma idéia de como vamos encostar um barco desse tamanho sem que ninguém nos perceba. Mas é aí que vamos nos encontrar com os outros. Ele saiu e eu cruzei de volta e olhei para o firmamento plano do oceano indo em direção à costa. Será que Alex vai partir, uma vez que chegarmos lá? Como eu poderia parar ele? Será que ele ainda quer ser convencido a ficar? Ou ele desistiu de mim completamente? Eu precisava tirar essa roupa ridícula e depois eu ia tentar falar com ele. Ele não podia partir. Nós precisávamos dele. Eu precisava dele. Resolvida, eu entrei pela porta de onde Key havia surgido. Havia uma enorme cabine com uma cama suficientemente grande para seis pessoas dormirem tranquilas. Haviam espelhos ao redor de todo o lugar, um grande closet, televisão, uma mesa e duas poltronas. Imaginei que essa era a cabine principal e caminhei até os espelhos, abrindo a porta de espelhos de um enorme guarda-roupa, tão grande que provavelmente 192
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seria grande o suficiente para conter uma coleção de sapatos, até mesmo a coleção de sapatos de Suki. Em uma gaveta havia uma pilha de roupa dobrada, roupa íntima, novas calças jeans, um par de vestidos, algumas blusas, alguns tops. Tudo no meu tamanho, até mesmo a lingerie. O susto original deu lugar às cólicas, eu sentia o sedoso material roçar em minhas mãos. Então, com um movimento rápido, tirei o vestido estúpido de enfermeira e coloquei uma bermuda cinza. Eu estava passando uma camiseta preta em cima da minha cabeça, quando Alex entrou de repente. Ele pareceu surpreso ao me ver, mas não parecia feliz. Ele girou para sair. - Alex - eu chamei - Espere! Ele virou-se lentamente, com os olhos percorrendo ao redor da sala, olhando para todos os lugares, menos para mim. - Sinto muito, eu não sabia que você estava aqui. Eu estava procurando por Key. - Acabou de sair - eu gaguejei. Uma expressão que eu não conseguia entender passou em seu rosto. Poderia ter sido saudade, assim como poderia ter sido desdém. Senti como se estivesse andando na corda bamba, que balançava em um momento que, se eu dissesse ou fizesse a coisa errada, eu cairia e tudo estaria acabado. Alex me deu um aceno de cabeça e, novamente, ele se virou e saiu. - Alex! – Gritei para ele. Ele virou-se lentamente e quando o fez, eu pude ver sua mandíbula apertada, a linha dura de sua boca e a frieza em seus olhos, fazendo eu me sentir como se estivesse sendo esbofeteada. - Você está indo embora? - Eu disparei. Uma sombra passou pelo rosto dele. Ele balançou sua cabeça. - Não. Eu prometi à você que eu nunca iria deixar você de novo disse ele, com a voz estranhamente plana. O alívio correu através de mim como um raio. Ele não estava me deixando. Eu tinha entendido errado. Mas, então, o alivio evaporou. Eu o encarei por alguns segundos. Ele não tinha sequer se mudado de posição junto à porta. Eu tomei uma respiração profunda. - Você vai ficar – eu perguntei - porque você prometeu, ou porque você quer? Ele hesitou, seus lábios pressionando juntos. E nesse momento de hesitação tudo ficou claro, como se alguém tivesse deixado cair sabão na bagunça oleosa do meu cérebro. Ele não queria ficar. Eu cerrei meus dentes. Eu não ia chorar. Eu não ia fazer uma cena. Estava tudo bem. Eu poderia lidar com isso. Mas Jack estava certo, se ele não tinha sentimentos por mim mais, ele deveria ir. Na verdade, ele poderia desaparecer para sempre. Eu não precisava dele. 193
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- Você pode ir. Simplesmente vá - eu disse, minha voz seca - Eu libero você da sua promessa. Você não precisa ficar comigo. Estou bem sozinha. Eu posso cuidar de mim mesma. Eu não preciso de você. Assim que eu disse essas palavras, eu queria colocar a minha mão sobre a minha boca. Eu queria pressionar um botão de rebobinar. Esperei por um segundo, querendo desesperadamente que ele começasse a rir e me puxasse para seus braços, me dizendo para parar de ser estúpida. Esperei ele sussurrar no meu ouvido que me amava, que eu tinha ouvido mal, e que Jack era um idiota. Mas ele não o fez. Ele simplesmente balançou a cabeça em entendimento. - Olha, eu tenho que ir ajudar Key - ele disse, sua expressão em branco, os olhos quase fechando - Estamos quase lá e eu não tenho certeza se ele sabe como atracar um barco. E virou-se, e simplesmente assim, ele se afastou. E eu caí no chão e comecei a chorar.
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- Buuuuuu! Sou eu. Sentei-me na cama, e chutei para longe a barricada de lençóis amassados. Suki tinha pulado para dentro do quarto e estava de pé, usando saltos de 10 centímetros um vestido que aparentava ser de alta costura. - Você sentiu minha falta, Lila. Eu posso dizer que sim. Ela pulou para a cama, mas de repente olhou e vacilou. Ela inclinou a cabeça e fez uma carranca. - Por que você está chorando? Espere! - ela disse, fechando os olhos e descansando as costas do braço dramaticamente contra sua testa. Seus olhos dourados brilharam abertos novamente. - Você fez o que ? Por que você disse isso para ele? Você é estúpida? Você está totalmente louca? Eu comecei a levantar da cama. Eu não queria ter essa conversa. Eu queria encontrar Demos. Precisávamos começar a formular um plano para voltar para a Base. - O que ela fez? - Nate disse, de repente aparecendo atrás dela - O que aconteceu? - Lila aqui terminou com Alex. É por isso ele estava tão malhumorado quando chegamos. Não foi porque ele estava sentindo falta de você, Nate. - Eu não terminei com ele - eu interrompi. - Ela disse que ele deveria ir embora - Suki informou Nate, uma vez que ambos sentaram na borda da cama. - Por que você faria isso? - Nate gritou, olhando para mim como se eu fosse louca. - Porque ela é estúpida. - Eu não sou estúpida - murmurei sem convicção. - Bem, por que mais você diria para Alex ir embora? Como vamos fazer para ter outro colírio para os olhos agora? Você pensou em mim? Acho que você é incrivelmente egoísta, Lila.
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Ela começou a fazer beicinho e Nate colocou um braço em volta do meu ombro. Mas ela estava certa, eu fui egoísta. Eu me joguei para trás na cama. Os lençóis estavam úmidos onde eu molhei com lágrimas. - Você não estava aqui, eu não tenho a menor idéia do que estava acontecendo com ele. Eu não sei o que ele está pensando. Ele contou para Jack. . . bem, ele não disse à Jack. . . Eu não sei. Eu não sei de nada. Ele não me ama mais. Eu não conseguia dizer em voz alta. Agora mesmo, eu não podia lidar com o processamento deste fato, não com tudo que estava acontecendo. - É claro que ele ainda te ama - disse Suki, revirando os olhos. Eu me levantei na posição vertical. - Ele ama? Você tem certeza? O que ele está pensando? O alívio me encheu como toxina no meu sistema nervoso. Suki olhou para mim. - Ele está pensando o que levar e o jeito mais rápido de sair daqui. - O quê? - Eu gritei. - Ele está pensando sobre levar nas malas e... - Eu ouvi da primeira vez. Eu pulei para fora da cama. - Por que ele está fazendo as malas? - Sinto muito, Lila, mas você está sendo estúpida de propósito? Ele está indo embora, porque você disse a ele para ir. Eu acabei de dizer isso. Sério, a Unidade andou removendo o seu cérebro ou algo assim? Você disse a ele que você não precisa dele. E Jack também falou a mesma coisa. Por que ele iria ficar? - Mas eu não quis dizer isso - eu lamentei. Ela colocou a mão no quadril. - Alex é um leitor de mentes? - Ela perguntou, e em seguida, respondeu por mim - Não. E que bom que ele não é, porque ele já teria te deixado se pudesse ouvir tudo o que acontecendo aí dentro - disse ela, apontando para minha cabeça. - Você disse a ele que não precisava dele? – Nate de repente gritou Por que você disse isso a ele? - Ele estava olhando para mim horrorizado Nós precisamos dele. De que outra forma vamos resgatar sua mãe? - Eu sei - Suki franziu os lábios - Nós precisamos dele. Quem mais vai ser capaz de arquitetar os planos? - Demos? – Nate respondeu, confuso. Suki franziu o cenho para ele. - Sim, mas ele não é lindo, Nate. Nós já conversamos sobre isso. - Eu não quis dizer isso - eu disse calmamente. Eu não podia acreditar que Alex tinha realmente me levado a sério. Ele tinha que saber o quanto eu precisava dele. - Eu preciso corrigir isso - eu disse, olhando para Suki. 196
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Ela fechou os olhos novamente, mordendo o lábio superior. Então seus olhos se abriram surpresos. - . . . Jack! Você não me contou sobre Jack. . . - ela engasgou. - Jack o quê? - Nate estava pulando na cama. Suki se virou para ele, radiante. - Jack é como nós também. Ele pode se curar em segundos. Os olhos de Nate iluminaram como velas. - Ele pode? Uau! - Ele pulou da cama - Vamos ver ele. - Não. Não, espere - Eu agarrei o braço de Suki quando ela estava prestes a correr atrás de Nate - O que devo fazer? Como faço para corrigir isso? Sacudi Suki pelos ombros. Seus olhos de repente reviraram. - Espere. Você empurrou ele! - ela gritou - Eu não posso acreditar que você empurrou ele! - Ela empurrou? Eu me virei para olhar para Nate. - Sim. E ela está sempre fugindo dele - Suki balançou a cabeça para mim – Eu cuidaria melhor dele se fosse meu namorado... - Suki! - Eu gritei - Por favor. Me ajude! Ela apertou os lábios e fechou os olhos. - Eu não tenho certeza do que você pode dizer, Lila. Mas eu sei que você deveria começar com “Me Desculpe”. E você deveria se apressar porque ele já está no convés. Ele está apenas dizendo adeus para Jack. E... Eu não esperei para ouvir o resto da frase. Eu já estava correndo pelo caminho. Eu pulei para baixo as escadas, cheguei no outro corredor e entrei na cabine principal. Demos e Harvey estavam na escada conversando com Alicia. Olharam bruscamente quando eu corri. - Lila - disse Demos. - Oi, oi - eu disse, correndo por eles. Subi as escadas de dois em dois. Eu tinha que encontrar Alex. Eu corri o convés. Mas, então, fiz uma pausa. Alex não estava em lugar nenhum.
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- Você vai à algum lugar? Me virei abruptamente. Alex estava de pé atrás de mim no convés. Havia uma mala deixada em seu pé. Encarei e, em seguida, olhei para o seu rosto. Estava cauteloso. Mas isso era melhor do que aquela habitual expressão em branco. Era melhor do que frieza. Foi quando notei Jack se ocultando no canto. Ele evitou meus olhos, assentiu friamente para Alex e desapareceu descendo as escadas. Eu olhei ele sumir, em seguida, virei para Alex, minhas mãos estavam tremendo. - Suki disse que você estava indo embora. - Eu não estou - ele respondeu. Eu respirei lentamente. - Então, por que a mala? - Eu perguntei, apontando para a mala. Ele estremeceu um pouco. - Eu estava prestes a sair. Mas Jack me pediu para ficar. Jack? Olhei para Alex. Jack pediu para ele ficar? Eu não entendi. - Não há nenhuma outra razão para você querer ficar? - Eu perguntei, mordendo meu lábio inferior. Eu poderia dar aulas em sutileza. - Que outra razão poderia ser? Olhei para cima e me senti momentaneamente atordoada. Alex tinha dado um passo para a frente e tudo o que consegui ver foi o azul ártico de seus olhos, e seus lábios, entreabertos, o esboço de um sorriso na borda deles. - Eu? – Eu falei meio que sufocando a palavra. Ele deu mais um passo para a frente. - Eu pensei que você não me queria mais por perto. Eu não acho que você precisa de mim. Seus olhos brilharam e minha respiração ficou presa. Peguei a mão dele, sentindo a centelha viajar para dentro de mim. - Eu não quis dizer o que eu disse, Alex. É claro que eu preciso de você. Eu não posso acreditar que você não saiba isso. Eu preciso tanto de você que quando você não está perto de mim, dói. Chego a sentir fisicamente. Aqui.
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Eu me cutuquei entre as costelas, onde eu podia sentir meu coração martelando. - Eu só consigo fazer tudo isso com você. Só cheguei até aqui por sua causa. Ele estava balançando a cabeça suavemente. - Então, por que me disse para ir embora? - Porque eu ouvi você falar com Jack. O sulco entre os olhos apareceram. - Você ouviu isso? Eu balancei a cabeça. - Você não discutiu com ele quando ele pediu para você ir embora. E eu acho que você disse à ele que você não me amava. Eu achei que foi por isso que ele lhe disse para ir. De repente, ele sacudiu a cabeça e virou-se. Depois de um segundo, ele olhou para mim. - Lila, sua idiota, é claro que eu disse à ele que te amava. É por isso que ele me disse para ir. - Oh. Eu não conseguia tirar o sorriso do meu rosto. - Você estava tão frio comigo. E a roupa de enfermeira não pareceu ter o menor efeito. Então eu pensei. . . Olhei para o chão. - Eu pensei que você estava aqui apenas porque você tinha me prometido e, em seguida. . . quando perguntei à você, você não negou isso. - Você não me deu a chance de... - disse ele, sacudindo a cabeça para mim. Ele deu um passo. - E acredite em mim, a roupa da enfermeira teve um efeito. Ele deu mais um passo e, então, ele estava a apenas alguns centímetros de distância. - Uma grande impressão. Eu tive que inclinar minha cabeça agora para olhar em seus olhos. Ele estava sorrindo. Meu estômago tremeu. Eu fiquei feliz por ter guardado a roupa de enfermeira em uma das gavetas, e não jogado ao mar. - Então, você vai ficar por minha causa? – Eu gaguejei. - Claro que é por causa de você. Ele colocou a mão debaixo do meu queixo. Ele estava sorrindo lentamente. Eu senti o tremor correr dos meus joelhos até os ombros e suspirei. O barco balançou e eu fiquei na ponta dos pés, deixando meus lábios tocar os seus. Por alguns minutos não me mexi. Tudo o que eu estava ciente era da mão de Alex massageando minhas costas, me puxando contra ele, e a 199
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outra segurando suavemente meu rosto. E os seus lábios. Eu estava ciente de seus lábios. Como se eles tivessem a resposta para todas as perguntas do mundo inteiro e de repente eu queria ser o oráculo e saber tudo. Eventualmente, nos separamos, respirando com dificuldade, o ar em torno de nós quase imperceptível. Eu fui para trás para poder olhar para ele. Seus olhos estavam de volta ao jeito que estavam antes. Não havia mais aquela frieza, aquele gelo. As manchas âmbar estavam brilhando. A linha de carranca tinha desaparecido. - Alex - eu disse - não é só eu que quero você aqui conosco - Eu pensei em Nate e Suki e sorri - Nós não podemos fazer isso, nada disso, sem você. Alex estreitou os olhos, desconfiado, para mim. - Você andou conversando com uma certa japonesinha por acaso? - Talvez - eu disse, arrastando o meu pé descalço no convés. Ele balançou a cabeça com uma careta. - Aquela garota. . . - Não, não fique bravo com ela - Peguei sua mão. Ele estava franzindo a testa novamente - Alex, ouça. Você não pode pensar que não precisamos de você. Jack é um idiota. E você é um idiota também, se você acredita nele. Você fez tudo isso - Eu apontei para o barco - Você arquitetou o plano sobre Carlos e você me resgatou uma centena de vezes. E eu não acho que nós podemos resgatar a minha mãe sem você. Quem mais vai planejar tudo tão bem? - Eu vi a preocupação em seu rosto e tentei ignorar - E eu sinto muito por ter praticamente fugido - eu disse, falando tão rápido que eu estava sem fôlego – Eu te juro que foi a última vez - Eu respirei fundo, tentando falar mais devagar – Eu deveria ter pensado em como você se sentiria, mas não o fiz. Eu fui egoísta. Mas eu tinha que voltar por Jack. Eu precisava. - Eu entendo - Alex interrompeu - Eu estava tão assustado, com medo de te perder. Você percebe o quão importante você é para mim? Eu tive que ver você ir, eu não poderia impedi-la, e eu não sabia se eu te veria de novo. Você tem alguma idéia do que é sentir uma coisa assim? Eu pressionei meus lábios. Sim, eu sabia exatamente o que isso era. Era o mesmo que eu senti quando tive que deixar Alex e também pensei nunca iria vê-lo novamente. E tinha sido um dos piores sentimentos que eu já experimentei. Eu balancei a cabeça. - Sinto muito - eu disse. Alex abriu a boca para falar e eu balancei a cabeça para detê-lo. - Alex, apenas me escute. Eu preciso que você me entenda completamente. Quando eu pensei que a minha mãe estava morta . . . seu funeral. . . e os dias depois, eu só suportei por causa de você, porque você estava ao meu lado, cuidando de mim. E quando meu pai me levou para Londres, a única coisa que me tirou da cama pela manhã, e que me deu 200
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força durante todos os dias, foi o pensamento de que um dia eu chegar a ver você de novo. Saber que você estava bem era suficiente. Assim, mesmo antes disso, mesmo antes que você realmente começasse a me salvar de homens maus com grandes armas, eu precisava de você. Eu tenho tido atitudes impulsivas e loucas durante a minha vida, porque eu sempre soube que você vai estar lá quando algo der errado. E você está. Sempre. Lembre-se do lago? O incidente do trenó? A árvore no quintal? E eu ainda nem cheguei na parte de ser capturada pela Unidade em um Seven-Eleven ou levar um tiro no Joshua Tree. E cada uma dessas vezes foi você que me salvou. Toda vez, você está lá. Você é como a minha rede de segurança. Ele sorriu, mas ao vê-lo a minha respiração acelerou. - Eu sempre vou precisar de você. Por toda a minha vida - eu disse em um sussurro. Seu sorriso aumentou, seu polegar acariciou minha mandíbula. - Oh, e também Suki e Nate sentem o mesmo. Ele ergueu as sobrancelhas. - Vai me empurrar para fora do caminho de novo se eu discutir com você? - Eu vou tentar não fazer isso - Eu sorri para ele - Eu estou tão envergonhada. Desculpe. Eu estou tentando ter mais auto controle. Ele sorriu de volta e foi como um tiro de pura adrenalina com talvez um pouco de hélio jogado na mistura. - O que Jack disse para você? - De repente eu perguntei - Por que ele lhe pedir para voltar? Ele parecia muito louco mais cedo. - Bem, ele não foi tão eloqüente quanto você - Ele fez uma careta Ele disse que tinha pensando melhor. Não explicou o porquê. - Como foi isso? - Não faço ideia. Mas ele pediu desculpas. - Jack pediu desculpas? Você está brincando? – Tentei parar a risada engasgada irrompendo de dentro de mim. Alex balançou a cabeça, sorrindo. - Sim, ele se desculpou pelas coisas que ele disse. Ele ainda está louco comigo por não confiar em Sara, mas ele me pediu para voltar. - E nós? Ele falou alguma coisa? - Sim, ele disse que estava tudo bem com ele. - Você está brincando? - Eu me afastei para verificar se ele estava tentando ser engraçado. - Não.. Mas ele disse isso cerrando os dentes e me avisou que se eu te machucasse, ele me mataria. Está bem. Isso foi o progresso .
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- Eu posso viver com isso - disse Alex, enrolando os braços em minha cintura e me puxando para perto dele - Além disso, eu acho que a única pessoa que poderia me machucar é você. Você está ficando forte. - Sim, e você não vai acreditar no que eu posso fazer. Eu queria contar tudo sobre a água, mas Alex me interrompeu com um beijo, um gentil e suave toque de seus lábios contra os meus. Alguém limpou sua garganta atrás de mim. - Oh, desculpe-me. Atirei-me longe dos braços de Alex, cambaleando na plataforma. Alex se afastou de mim também, mantendo distância, alisando sua camiseta, correndo uma mão pelo cabelo. - Pai! - Eu gritei - Er. . . - Desculpe. . . hum, interromper. . . Eu. . . um. . . Os olhos do meu pai estavam voando por todo o convés. Ele virou 360º como se procurasse alguma coisa. Seus óculos, talvez. - Eu só. . . Eu só queria falar com você, Lila, se estiver tudo bem? Meu pai olhou para trás, para Alex. Alex pegou a dica. - Eu vou encontrar os outros. Ele abaixou a cabeça e desapareceu pelas escadas. Eu observava ele, sentindo um sorriso iluminando meu rosto. Ele iria ficar. Ele era meu. E meu pai tinha acabado de entrar e nos flagrar. Hmmm. Isso foi impróprio. Virei-me para ele, sentindo o sangue quente que tinha queimado em outras partes do meu corpo se concentrar agora na minha cara. - Então, você e Alex, então. . . isso é, um. . . - Sim. . . - Eu o interrompi antes que ele pudesse terminar a frase. - OK, ele é um bom menino. Eu o vi tropeçar um pouco na palavra menino. Alex claramente não era mais um menino. Ele ia dizer algo sobre a diferença de idade? - Jack não disse nada? - meu pai perguntou com um pouco de preocupação em sua voz. Oh sim. Falou até demais. - Ele disse que está tudo bem para ele – Eu disse. Meu pai concordou. - De qualquer forma, não é isso o que eu vim falar com você. Eu esperei. Meu pai respirou fundo. - Er, eu realmente não sei por onde começar. Ele se sentou com um suspiro sincero e indicou a cadeira ao lado dele. Sentei-me e esperei. - Sinto muito. Eu olhei para o meu pai.
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- Sinto muito. Eu não deveria ter reagido como reagi quando eu descobri sobre a sua habilidade – Eu mordi o lábio em resposta - Foi um choque. Eu não suspeitava. Quer dizer, eu sempre pensei que havia uma possibilidade já que isso é uma herança genética, mas eu pensei que eu iria saber. Que você iria me dizer. Eu desviei o olhar. - Sua mãe. . . - Sua voz se quebrou. Olhei para cima. Ele estava com os olhos fechados - Eu não acredito que ela ainda está viva. Eu simplesmente não posso. . . - Eu sei. Peguei a mão dele. Ficamos assim por uns bons cinco minutos. A água estava batendo na lateral do barco e balançávamos suavemente contra o molhe de madeira onde tínhamos ancorado. - Eu queria que você tivesse me contado - disse ele eventualmente. - Eu sei. Eu queria, papai, eu realmente queria, mas nós pensamos que seria melhor esperar um pouco. Alex achou que poderia ser útil ter você na Unidade. E Richard Stirling me ameaçou. Se eu te dissesse, eles machucariam Jack e à você. Houve uma pausa carregada enquanto nós dois pensávamos de tudo o que tínhamos escapado. Não sentíamos alívio, porque o fato é que deixamos a minha mãe para trás. - Você já viu Demos? Os outros? – Eu perguntei, meu intestino torcendo dolorosamente. Havia tanta coisa para perguntar. - Não. O rosto do meu pai escureceu. - Ele é bom, pai. Sua expressão ficou ainda mais escura. - Eu ainda não entendo por que ele precisa estar envolvido. - Pai, seja o que for que você pense de Demos, tudo o que se passou entre ele e minha mãe, isso foi há anos e ele está do nosso lado. Ele tem estado lutando por ela o tempo todo. Como você esteve. Como Jack esteve. Estamos todos tentando conseguir a mesma coisa e faz sentido trabalharmos em conjunto. Além disso, você deveria ver o que ele pode fazer. - Eu sei o que ele pode fazer. Tive o prazer de encontrá-lo uma vez. Oh. Demos não tinha me contado essa parte. - Você vem? - Eu disse, levantando. Ele suspirou e se levantou. - Eu não acho que eu tenha muita escolha.
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Suki e Nate estavam enrolados como gatinhos aos pés de Alex. Não. Mais como esfinges, eu percebi. Guardando ele. Provavelmente tentando se assegurar de que eu não diria mais nada que o pudesse fazer querer ir embora. Isso não iria acontecer. Os olhos de Suki se estreitaram em minha direção quando me viu. Nate piscou para mim e me deu um polegar para cima. Eu balancei a cabeça para eles. Eu não podia parar de sorrir. Eu poderia respirar novamente. Eu podia respirar de novo sem sentir como se houvesse um anzol prendendo no meu diafragma. Mas, em seguida, congelei. Amber estava sentada em um canto. Ela parecia mais magra do que antes e havia uma frieza em seu olhar, que me impediam de correr e abraçá-la. - Amber - foi tudo o que eu disse, surpresa - O que você está fazendo aqui? - Eu estou fazendo exatamente o que eu acho que Ryder gostaria que eu fizesse - disse ela em voz baixa. Eu não sabia o que dizer, então eu não disse nada. Eu apenas assenti e me sentei ao lado de Alex. Foi só então que eu notei o silêncio no quarto e a tensão, tão pesada que era quase tangível. Eu me virei. Meu pai, que tinha entrado na sala comigo e estava agora parado na frente de Demos. Nenhum dos dois estava falando. Nenhum dos dois estava sorrindo. Eles estavam apenas olhando para o outro como dois lutadores prestes a entrar no ringue. Alicia estava parada no canto do quarto. Ela parecia nervosa, amassando as mãos enquanto observava. Eu temia imaginando o que ela estaria lendo em suas mentes, e pela expressão de ansiedade no seu rosto, eu poderia dizer que não era nada agradável. Harvey estava sentado à mesa, caneca de café na mão, observando tudo com uma expressão divertida. Eu me perguntei, de repente, se foi uma boa idéia tentar fazer o meu pai e Demos trabalharem juntos e eu já estava prestes a me levantar e dizer alguma coisa - qualquer coisa para quebrar a tensão - quando de repente Alex levantou. 204
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- Dr Loveday, este é Demos - disse ele, passando por Suki e movendo-se para ficar ao lado do meu pai. - Nós já nos conhecemos - meu pai disse, não tirando os olhos de Demos. - Michael - disse Demos, acenando para o meu pai em saudação. - Você tinha que trazer meus filhos para isso? – meu pai perguntou. Eu me encolhi. Demos arqueou uma sobrancelha escura. - Eles não são mais crianças, Michael. E, além disso, Jack já estava envolvido nisso. - Talvez devêssemos concordar em deixar o passado esquecido e seguir em frente? - Alex interrompeu se colocando entre os dois homens e finalizando a conversa - Precisamos agir rápido - disse ele - antes de a Unidade descobrir o que fizemos em Washington. Precisamos nos programar para que o flagrante na casa e no escritório de Stirling aconteça ao mesmo tempo em que entramos na Base. Isso vai ser uma distração para desviá-los de nós. - Precisamos de um plano - disse Harvey, lambendo a extremidade de um papel de cigarro. Eu estava tão cansada de ouvir essas palavras. Porquê não conseguíamos nunca ter um plano já em andamento? Por que não fomos capazes de encontrar uma solução, nem que seja buscando no Google? Por que sempre aparecem um conjunto de idéias malucas, geralmente roubadas a esmo da minha cabeça, até nos convencermos à fazer algo estúpido e suicida fadado ao fracasso? Mas ainda não havíamos falhado, eu lembrei à mim mesma. Embora ainda parecia ser uma palavra nada duradoura. Estávamos andando na corda bamba da sorte e com todo o nosso peso nela, uma hora ela iria partir. Olhei em volta da sala. Alex estava mordendo o lábio. Suki e Nate estavam de olhos esbugalhados, nos observando do chão, Alicia estava olhando para Demos e para meu pai. Eu pensava em como Alicia se sentia, estando em uma missão para salvar a ex-namorada do seu namorado. Ex-namorada que talvez ele ainda amasse. Eu cortei o pensamento antes que ela pudesse ler, mas acho que não fui rápida o suficiente, porque ela lançou um olhar sombrio na minha direção. - Se você me deixar falar com Sara, teríamos uma chance de entrar na Base - disse Jack. - Jack, não podemos confiar nela. Há muito em jogo - Alex retrucou. Jack olhou com raiva para ele e notei Suki se encolher como se uma bomba fosse explodir em Jack. - Alex está certo - disse Demos - Podemos usar essa opção apenas em último caso? A menos que nós estejamos 100% de que Sara é de confiança. 205
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- Talvez Suki ou Alicia possam tentar ler a mente dela - Nate sugeriu. - Elas não podem entrar na Base – eu rebati. - E se Sara for um deles e se o que Richard Stirling disse é verdade, então ela pode provavelmente bloquear a entrada das meninas em sua mente. - Ela pode não ser capaz de bloquear Amber - Alicia disse. - O quê? Você quer que eu vá para a Base e pergunte à ela se ela não se importa de responder algumas perguntas enquanto eu verifico sua aura para ver se ela está mentindo? - Amber perguntou. - Esperem - Alex interrompeu - Talvez não importe se nós confiamos em Sara ou não. Nós ainda podemos usá-la. Todos nós olhamos para ele. - Pensem nisso - ele continuou com a voz baixa, fazendo com que todos se inclinassem para ele - E se a gente fizer ela pensar que nós confiamos nela? Olhei para Jack. Ele abriu a boca como se fosse dizer que não, mas depois ele pareceu mudar de idéia. - Continue - disse ele. - De qualquer maneira, Sara vai nos deixar entrar no edifício. Ela vai nos levar até a ala de prisioneiros. Houve um momento de silêncio gelado. - Mas se ela estiver do lado deles, então eles vão montar uma armadilha. E nós estaremos indo direto para ela - disse Suki. - Não é uma armadilha, se temos um caminho para sair dela - Alex sorriu de volta para ela. Suki pareceu confusa por um momento, em seguida, arregalou os olhos quando leu seus pensamentos. - Oooh! - Ela juntou as mãos em alegria – Tiro Duplo! Eu gosto deste plano. É audacioso. Que plano? Eu não tinha ouvido nenhum plano, apenas algo que soou como andar em uma prisão, trancando a porta atrás de nós. Isso não era audacioso. Isso era estúpido. - Espere, espere! - Eu falei - Eu não entendi. Eu era a única que não entendeu? - Se Sara não está do nosso lado - eu disse, olhando nervosa na direção de Jack – então eles vão estar lá esperando por nós. - Sim - Alex acenou para mim, ainda sorrindo – mas eles nos subestimam. Nós vamos dizer para Sara que Demos e os outros estão em Washington. A Unidade irá mandar pelo menos três equipes para a costa leste. Mas Demos e os outros estarão na verdade logo atrás de nós. - Nós? - Perguntei. - Você, eu e Jack.
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- Não, a Lila não - Jack interrompeu, sacudindo a cabeça - Lila não vai para a Base. Alex virou-se para ele. - Eu não acho que nós temos o direito de dizer à Lila o que ela pode e não pode fazer. Eu sorri para ele. O tom de Alex suavizou. - Mas, pelo menos, assim, nós dois estamos com ela - disse ele ainda para Jack. - E eu. Eu vou também. Olhei para o meu pai. Ele estava limpando sua garganta. - Papai. . . - Jack suspirou. - Não discuta comigo, Jack - meu pai disse, levantando-se - Eu não vou deixar você e sua irmã irem lá enquanto eu me sento aqui, estalando meus dedos. Jack rangeu os dentes e desviou o olhar. Então eu repensei. - A Unidade estará dentro esperando por nós - eu disse novamente. - Sim. E eles vão nos trancar na ala de prisioneiros - Alex balançou a cabeça, ainda sorrindo. - Sim? E se eles fazem isso, como é que vamos sair? Não seria essa uma pequena falha nesse grande plano? - Eles não vão nos trancar. Vocês já estão agindo como se tivessem certeza que Sara não é confiável – Jack interrompeu. - Temos que planejar diante da pior das hipóteses, isso é o que somos treinados para fazer, Jack – Alex respondeu calmamente - Se ela está do nosso lado, genial, mas se não está, temos que ter um plano para lidar com isso. - Podemos desativar o bloqueio. Pode ser que haja uma forma de destrancar desde dentro. Por um momento, eu não sabia quem tinha falado, porque Harvey era geralmente tão tranquilo. Ele fez uma pausa para exalar um anel de fumaça. Nós assistimos ele tragar e soltar, como se com isso estivesse formulando também as suas palavras. - De dentro vai ser fácil - disse ele quase despreocupadamente - E se você pode convencê-la a desativar o sistema de alarme para entrar com Lila e Jack, eu poderia ter um caminho de ficar dentro. O quê? O que ele estava falando? - Harvey é o mestre dos ladrões - Suki sussurrou, ouvindo a pergunta na minha cabeça. Harvey deu-lhe um olhar de soslaio. - Não sou tudo isso, Suki, eu já fui preso, lembra? Minha mente voltou para o que eu tinha lido no computador de Jack. Harvey tinha estado na prisão por assalto a banco. E ele também escapou. Eu olhei para ele. Ele era um ladrão de banco. Um assaltante 207
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foragido. Bem, nós éramos todos foragidos de certa forma. Mas ainda assim, eu estava andando com um ladrão de banco! Olhei instintivamente para o meu pai. Ele estava olhando para Harvey com um horror disfarçado. Ele não achava aquilo tão emocionante como eu achei. Mas, novamente, ele não tinha tido a oportunidade de conhecer Harvey. - Se você conseguir ir para dentro do edifício, seria também capaz de desativar o alarme? - Alex perguntou para ele. - Não, se ele já está desativado - disse Harvey ironicamente – Me conte mais sobre esse sistema de alarme e eu vou te dizer o que é possível. - OK - disse Alex - O sistema de alarme dispara ao detectar qualquer mudança no campo eletromagnético dentro de um raio de cinco metros de proximidade do prédio. Então, se alguém usa qualquer tipo de poder ou habilidade dentro desse perímetro, ele envia uma onda elétrica que bloqueia o poder e derruba a pessoa , e também bloqueia todo o prédio, todos ficam presos, ninguém pode entrar e ninguém consegue sair. O sistema está configurado para disparar uma onda de choque por minuto e só em rajadas de 10 segundos por causa do dano que ele também pode causar aos sistemas de computador. Também por essa razão, esse tipo de armas não podem ser levados para dentro do edifício. Os guardas lá estão armados, mas com armas comuns. - OK - disse Harvey – Me passe tudo o que você sobre os sistemas da Unidade. Vou precisar fazer alguma pesquisa. - Entrar e sair é uma coisa, mas como é que vamos destruir os laboratórios? - Perguntou Alicia - Eu não vou sair de lá sem destruir cada último pedaço de informação que eles têm sobre nós. E toda a sua pesquisa idiota. Ela lançou um olhar venenoso para o meu pai. Ouviram-se murmúrios de concordância vindo dos outros. - E quanto à Lila? E eu? Olhei para Key. - E quanto à Lila? - ele disse novamente – Aquilo que ela consegue fazer com a água, não pode também ser útil? - O que ela pode fazer com a água? – Alex perguntou. Todo mundo estava olhando para mim agora. - Nada. Eu não posso fazer nada com água – Eu respondi. - Ela pode movê-la. Key falava como se eu fosse como Moisés ou algo assim. - Eu não posso - não é verdade! - Eu balbuciei. Alex se levantou e foi até mim. Ele parou e ajoelhou-se para ficamos nível. - Mostre-me - disse ele, pegando a minha mão e me puxando para cima. 208
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Ele me levou para a mesa e colocou um copo de água na minha frente. - Sem pressão nem nada - eu murmurei, desviando meu olhar longe do copo de vidro - Eu não sou muito boa nisso. Concentrei-me no vidro e a água dentro pulou para cima como um gêiser. Apenas o teto parou sua trajetória. Alex pulou para longe. - Eu te disse - eu disse, encolhendo os ombros. Todo mundo estava agora olhando para a piscina de água sobre o tapete. Havia uma expressão de assombro na maioria dos seus rostos. Esperei por alguma outra reação, mas nenhuma outra transpareceu. Demos foi o primeiro a falar. - E se fosse com o fogo? - ele perguntou, com um brilho nos olhos – Será que você faz o mesmo com o fogo?
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Eu me deixei cair na cama, olhando para o círculo de umidade no teto. Alex deitou ao meu lado e uma onda de energia viajou pelo meu corpo. Se Amber estivesse conosco no quarto, eu tinha certeza de que ela teria sido visto um arco-íris. Rolei imediatamente contra ele e senti seu braço em volta de mim. - Eu não sei se eu posso fazer isso - eu murmurei em seu ombro. - Você pode fazer isso, eu sei que você pode – Alex sussurrou de volta - Você é a pessoa mais teimosa que eu conheço. Você nunca desiste de nada. Você só precisa praticar. - Não - eu disse, me pressionando mais apertado contra ele. - Lila, estamos falando de destruir um edifício inteiro. Acho que você precisa praticar – ele disse, tentando me arrancar do peito. - Sobre o quê? Não havia exatamente nada ao redor que eu poderia tentar explodir. - Vamos começar com velas. Por que eu tinha que ser encarregada de destruir um edifício em uma base da Marinha, eu não tinha idéia. Certamente um lançador de foguetes seria mais eficiente, mas aparentemente explosivo C-4 e lançadores de foguete eram difíceis de encontrar. - Você sabe, eu não tenho certeza se a idéia de Demos é realmente boa. Acho que deveríamos pensar em outra coisa. Alex sentou-se. - Nós não temos tempo, Lila. Nós precisamos fazer amanhã. E ele está certo. Nós falamos o tempo todo sobre destruir toda a Stirling Enterprises. Precisamos destruir toda a sua investigação e todos os seus dados. Dessa forma, sabemos que eles não podem vir atrás de você. - E ele? - Eu perguntei, me referindo à Richard Stirling - Ele vai ficar dentro do prédio? - Não. Nós não vamos machucar ninguém – Alex disse com um tom de aviso. Eu levantei uma sobrancelha para ele.
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- A não ser que seja absolutamente necessário - ele concluiu - A imprensa vai sujá-lo o suficiente. Nós não somos ele, Lila, não importa o que ele fez ou o que você quer fazer com ele, nós vamos deixar os tribunais decidirem o que acontece com ele. - Os tribunais vão processá-lo por um crime que ele jamais cometeu. E o que ele fez com Thomas? E o que ele tem feito para a minha mãe? Para todos nós? Ele não merece viver. Alex colocou a mão no meu pulso. - Isso não cabe à você decidir. E se a verdade do que Unidade e as Stirling Enterprises fazem, se tornassem de conhecimento público, o que você acha que aconteceria então? Você não acha que há outros homens lá fora, como Richard Stirling, outras pessoas possam tentar fazer o mesmo? - E se nós o deixamos vivo, você não acha que isso é perigoso demais? - Lila - Alex disse gentilmente - você não é uma assassina. - Mas você é - eu disse, as palavras voando para fora da minha boca antes que eu pudesse detê-las. Alex estremeceu como se eu tivesse lhe dado um tapa. - Quero dizer. . . Quero dizer que você é um soldado treinado. - Olha, Lila - Alex disse e eu notei o leve tremor em sua voz - eu tenho que viver com o que eu fiz em Joshua Tree para o resto da minha vida. Mas eu não me arrependo. Eu estava protegendo você. E eu gostaria de fazer o mesmo novamente, se eu tiver que fazer. Ele parou, vendo o olhar aflito em meu rosto, e deitou-se novamente, me puxando para perto. - Ei, tudo vai ficar bem – ele murmurou. Minha respiração parou quando seus lábios encontraram os meus. Eles estavam quentes e perfeitos e um milhão de milhas melhor do os de Jonas quando me beijou. Eu senti os braços de Alex me puxando mais perto, até que eu estava quase deitada em cima dele. Sua respiração foi ficando mais rápida, suas mãos subindo pela minha espinha, enredando no meu cabelo enquanto meus dedos foram agarrando sua camiseta, enquanto minha mente já estava um passo à frente e a camiseta foi sozinha subindo, para que eu pudesse correr minhas mãos sobre os músculos rígidos de seu estômago. Havia uma urgência em seu beijo que eu não tinha sentido antes, algo me fazia querer ir mais fundo, e eu estava indo. Talvez a sua determinação estava finalmente vacilando. Talvez ele tivesse esquecido as leis do Estado da Califórnia. Eu não estava disposta a parar e perguntar, meus lábios estavam ocupados e as mãos de Alex que estavam na minha cintura, agora estavam acariciando toda a minha barriga e subindo para cima. E então ele parou. Assim mesmo. E eu quase murchei e cai ali mesmo em cima dele.
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- O quê? O que é isso? - Eu sussurrei, meus olhos piscando, meu rosto à centímetros do seu. Em resposta ele puxou minha camiseta para baixo e me rolou na cama ao seu lado. Eu fiquei ali, olhando para o teto, sentindo meu pulso ainda correndo em um ritmo perigoso. Ele balançou um pouco a cabeça e sorriu. - A porta está aberta e você vai me obrigar a fazer algo que eu não deveria. A porta se fechou quase em silêncio e ele riu baixinho. Eu queria com todos os ossos do meu corpo rolar em cima dele de novo e fazer algo que não deveria. Mas Alex era Alex. Ele respirou fundo e levantou-se, sacudindo os ombros e passando a mão sobre seu cabelo, o que eu notei, estava ficando cada vez mais recorrente. Em seguida, ele foi até a porta e abriu novamente. Que chatice de honra. Que chatice de consideração para com o meu pai e Jack. Ele se virou para mim, sorrindo, como se ele escutasse meus pensamentos. - Eu não quero estragar a minha sorte com Jack. Fiz uma careta para ele. - Eu pensei que Jack estava conformado e bem com a gente. - Eu não diria que bem . Ele está só conformado. Ele sentou-se na cama, mantendo distância. - Eu descobri por que ele mudou de idéia sobre eu ficar. Sentei. - Key. Alex disse, me deixando surpresa. - Temos de agradecer à Key. Ele, aparentemente, tomou partido nosso e disse para Jack que às vezes você tem que deixar as pessoas que você ama fazerem as suas próprias escolhas. Que você tem que perceber que você não pode protegê-los sempre. Alex falou em um tom sombrio essa última parte. - Uau. Eu balancei a cabeça com espanto. - Você sabe, quando eu o conheci, eu pensei ele era apenas um mendigo me assediando e segurando um macarrão. Eu totalmente o ignorei. E ele fez muito por mim. Por todos nós. Eu não sei como poderei agradecê-lo um dia. Alex levantou-se. Havia um traço de culpa em seu rosto. - Bem, pelo menos você não socou ele. Ele se dirigiu mais uma vez para a porta e eu exalei alto em protesto. Ele me ignorou.
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- Você pode voltar aqui mais tarde esta noite? - Perguntei, tentando unir inocência e sedução na mesma frase. Ele estreitou os olhos para mim e balançou a cabeça. - Não. Você está dividindo o quarto com Suki. Oh Deus. E o pior é que agora eu não podia nem pensar em Alex ou sonhar com Alex porque Suki estaria lá para pegar carona no passeio. Eu caí para trás na cama. - Está certo. Você está morando hoje comigo! Saltei para cima. Suki tinha aparecido na porta. Pelo brilho nos olhos e pelo sorriso malicioso nos lábios, ficou claro que ela estava esperando o momento para vigiar dentro da minha cabeça. Imaginei que deveria apenas agradecer pelos cinco minutos de privacidade anteriores. - E, Lila, sinta-se livre para sonhar - disse ela, pulando pelo quarto e sentando-se ao meu lado na cama.
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- É tão injusto. Eu nunca vou ter alguma diversão - Suki bateu o calcanhar. - Nem eu - murmurou Nate, olhando para ela, de sua posição de bruços, esparramado na cama. - Sim, você tem. Você consegue sair do corpo e pode voar, e espionar as pessoas - ela retrucou para ele. - Você espiona as pessoas o tempo todo, Suki. No meio dos seus pensamentos - disse eu, me sentando e trazendo meus joelhos até meu peito. Ela me olhou de má vontade. Em seguida, ela pesou o que eu estava dizendo e decidiu que estava certa. Seus ombros se ergueram, ela bufou e, em seguida, deitou de novo. - Bem, ainda não é justo. Eu quero entrar na Base também. Eu quero ver esta Sede, onde eles fazem essas coisas ruins. Eu estremeci. As coisas ruins das quais ela estava falando, eles estavam fazendo com a minha mãe. - Desculpe - ela disse baixinho, olhando para mim através de seus cílios espumantes. - Tudo bem. Eu só quero ir. Eu quero ir agora - eu disse, saindo da cama e indo olhar para fora da janela. Estava ficando escuro lá fora, as luzes de outros barcos acendiam e brilhavam no cais, como velas no escuro. Eu tinha adormecido por uma hora. Suki e Nate tinha me acordado. - Harvey precisa terminar sua pesquisa – Nate disse, olhando para mim com seus olhos castanhos afiados. - Eu sei, eu sei - eu disse. Mas isso não diminuía a minha impaciência. Harvey estava ocupado tentando decorar e planejar esquemas nos sistemas de segurança, descobrir quais ferramentas ele deveria levar com ele. Ele alegou que estava um pouco fora de sintonia após ter estado tanto tempo na prisão e não ter roubado bancos durante os últimos anos. Jack, Demos, Alex e meu pai estavam ocupados revendo a estratégia de fuga. Jack estava se recusando a aceitar a idéia de que uma estratégia de 214
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fuga seria necessária, porque, segundo ele, Sara era tão confiável quanto um santo, mas Alex insistiu na necessidade de um plano de emergência. Sentei-me na cama. - Então, me contem, o que aconteceu em Washington? Eu não tinha sequer me preocupado em perguntar, até agora, pois haviam coisas mais importantes acontecendo. Suki parou com um beicinho e começou a pular, batendo palmas. - Foi muito divertido. Nós fomos às compras. Olha, sapatos! Ela apontou para o sapato de dez centímetros de salto com cristais incrustados que ela usava. Olhei para ela, perguntando se ela estava brincando. - Oh, desculpe, você quer dizer com as drogas e essas coisas - ela riu. Sim, é claro que eu queria saber disso . - Bem, eu queria ficar com um pouco. - Drogas? - Não, o dinheiro! Mas Demos não deixou pegarmos. Ela fez uma careta e depois baixou a voz, os olhos piscando. - Mas eu acho que ele escondeu um pouco para si mesmo. E eu não acho que Alex comprou este barco com o próprio cartão de crédito, se você sabe o que estou dizendo? Eu sufoquei uma risada. Era verdade. Mas eu não me importava de que maneira ele havia comprado aquele iate, eu só me importava de um dia depois de tudo isso, sairmos por ai, velejando ao pôr do sol, para longe das invasões mentais de Suki e dos vôos invisíveis de Nate. - Mas eu nunca posso ter alguma diversão, Lila. Porquê não posso ir também? - Você pode, por favor, sair da minha cabeça? - Ir para onde? - Nate perguntou, confuso. Suki ignorou. - Oh, oh, mas tudo bem, então, não queira mais que te conte como anda a cabeça de Alex... Ela levantou o queixo e descansou a mão em seu quadril. Eu a ignorei e virei para Nate. - Onde você colocou as drogas? Como você escondeu tudo? - Nós invadimos a casa de Richard Stirling - Nate disse, rolando de costas. - Como? Como você entrou? - Eu o interrompi. - Richard Stirling não vive em uma fortaleza? Eu quero dizer, ele é um bilionário. - Sim. Uma grande casa. Exércitos de guardas. - E os cães. Não se esqueça dos cães – Nate acrescentou. - Como você entrou, então? - Perguntei novamente. - Harvey agiu - disse Suki. 215
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- Harvey invadiu? - Sim. É pão comido para ele. Eu te disse, ele é o mestre dos ladrões de bancos. Casas são fáceis. Como brincar no jardim de infância. Eu balancei a cabeça, fascinada. - Nós mudamos o alarme primeiro - disse ela, lendo minha mente Isso foi eu que fiz. Sou muito inteligente - disse ela, respondendo ao meu silencioso “como?” – Li a mente de um guarda tonto. Quer dizer, como você pode ser tão estúpido de dizer a senha aos seus guardas, sabendo que há leitores de mente espalhados por aí? A estupidez merece punição. Merecia mesmo. - E então o que você fez? - Nós escondemos tudo em seu cofre. Harvey conseguiu abrir também. - Ele é um gênio - Nate saltou. - Bem, nesse caso, como foi ele acabar na prisão? Quero dizer antes, com seu poder e tudo, como é que ele foi pego? Eu precisava saber. Apenas no caso de tentarmos evitar cometer o mesmo erro duas vezes. - Ele ficou bêbado uma noite, desmaiou em um bar - Suki balançou a cabeça, rindo. Está bem. Erro fácil de evitar então. Só é preciso esconder todo o álcool. - Como ele escapou? - Demos. - Demos? - Sim, ele o tirou da prisão. Simplesmente entrou e saiu com ele. - O quê? Por quê? - Perguntei. - Porque ele precisava de alguém que pudesse invadir um quartel da Unidade. Isso foi há uns anos atrás, quando ele estava tentando resgatar Thomas. Quando ele pensou que Thomas ainda poderia estar vivo. E Demos e Harvey se conheciam já, eles costumavam trabalhar juntos, então Demos o tirou da prisão. Fechei os olhos e tentei juntar todas as coisas. Thomas tinha sido apanhado pela Unidade tentando descobrir o que tinha acontecido com a minha mãe. Demos vinha tentando destruir a Unidade desde então, e para isso ele buscou a ajuda de Harvey. Isso fazia sentido. - Espera aí, você disse que Demos e Harvey costumavam trabalhar juntos? - Eu perguntei, apenas para descobrir algo. Suki olhou para mim e fez uma careta. Meu queixo caiu. - Demos? Ele. . . ? - Sim. Ele roubava bancos também - disse ela brilhantemente. - Eles eram. . . ? - Sim. Amigos e ladrões de Bancos. 216
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Ela sorriu para mim, feliz de eu ter entendido tão rapidamente. - Não é à toa que seu pai não queria que você se juntasse com ele eu disse para Nate. - Não é à toa que seu pai o odeia - disse Suki, olhando para mim com conhecimento de causa. - Sim, é uma das razões - eu disse. Era verdade. Meu pai tinha muitos motivos para não gostar de Demos depois do que tinha acontecido entre a minha mãe e ele. - Sim, isso é difícil para ele. Ainda mais sabendo que Jack nem é seu filho e tudo mais – Suki disse, com a voz cheia de simpatia. Eu fiz uma careta para ela. - Desculpe? Seu rosto congelou. - Nada. Nada. Ela jogou o cabelo para que ele caísse como uma cortina preta na frente dela. - Suki. . . o que foi que você disse? - Nada. Eu não disse nada - disse ela, pulando fora da cama - Você está ouvindo coisas. Vozes loucas estão falando na sua cabeça. - Não , você disse algo sobre saber que Jack não é seu filho. O que você quer dizer? - Eu não sei. Olha, é apenas algo que eu ouvi. Ela estava contra a parede, suas mãos apertada. Sua voz tornou-se chorona. - Não é minha culpa, eu não posso fazer nada. Eu não posso filtrar o que leio. Eu apenas ouvi o pensamento mais cedo. - De quem Jack é filho? - Exigi. - Sinto muito - Suki gritou - Eu não deveria ser à que vai te contar isso. Ela correu atravessando o quarto e desapareceu pela porta antes que eu pudesse detê-la.
Cada passo que eu dava parecia acelerar ainda mais as batidas do meu coração. Como uma bomba-relógio. Agarrei o corrimão e desci as escadas. Logo cheguei na sala onde todos amontoados em volta da mesa, cabeças curvadas, planejando. E lá estava Jack. Ele estava sentado ao lado de Demos e eles estavam bem próximos planejando. Ambos tinham os cabelos escuros. Também tinham a mesma altura. Eu soltei uma 217
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respiração pesada de ar, e em seguida, virei minha cabeça lentamente para o meu pai. Ele estava olhando de Jack para Demos e eu notei a expressão triste, perturbada em seus olhos e isso me deixou sem ar. Meu pai olhou para cima e me viu, e eu então sentei no sofá. Eu não podia acreditar que eu não tinha reparado isso antes. Jack era a perfeita imagem de Demos, com exceção de seus olhos, que eram os olhos da minha mãe e do fato de que Jack tinha uma aparência melhor. Mas à parte disso, eles eram quase idênticos: eram talvez completamente idênticos; a maneira com que os dois arqueavam a sobrancelha esquerda quando algo era divertido. Senti de repente como se o mundo estivesse cedendo ou o barco estivesse afundando. Eu mirei meus olhos para longe. Levantei-me e agarrei o corrimão, subindo as escadas, sentindo o balanço do barco aos meus pés. Jack era filho de Demos. Suki e sua boca grande. Ela deve ter ouvido de alguém. Meu pai sabia, então. É claro que ele sabia. É por isso que ele não queria Jack perto de Demos. Talvez seja essa a razão de tanta animosidade entre os dois. Ou pelo menos, a razão de parte dela. Então, todo mundo sabia. Todos, com exceção de Jack. Meu quarto estava vazio agora. Suki e Nate haviam sumido. Senteime na cama e coloquei minha cabeça entre minhas mãos. Demos tinha sido o homem Jack tinha sido caçado por anos. Oh Deus, era tipo Édipo ou alguma coisa do gênero. Jack não poderia descobrir isso. Olhei para cima e caminhei até o espelho. E se? Não. E se? Não. Não. Não. Não. Havia pedaços de meu pai na minha aparência. Eu tinha o seu nariz. Seu queixo. - Você está bem? Era Alex. Ele estava de pé na porta. Eu me virei e olhei para ele, sem palavras. Então eu me virei de volta para o espelho. Alex veio atrás de mim e colocou as mãos sobre os meus ombros e eu olhei para o seu reflexo. - Eu pareço com o meu pai? - O quê? - Eu pareço com o meu pai? - Não, você parece com sua mãe. Você sabe disso. Eu já lhe disse. Virei-me em seus braços, inclinando meu queixo. - E Jack. Com quem ele se parece? Ele sorriu para mim, balançando a cabeça, confuso. - Onde você quer chegar com isso? 218
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- Eu acho que Demos pode ser o pai de Jack. Alex começou a rir, mas parou quando viu que eu não estava rindo, o sorriso morreu em seus lábios. - O quê? - Suki deixou escapar. Mas olhe para eles. Vá e olhe para eles. Eles são tão parecidos. Eu vi a compreensão inundar sua mente. Eu me virei novamente para o espelho. - E quanto a mim? Será que ele é meu pai também, que você acha? - Não. De jeito nenhum. Eu me lembro quando você nasceu. - Você lembra? Olhei para ele, surpresa. Ele tinha apenas quatro, quase cinco anos. - Sim, é claro. Seu pai é o seu pai. Você tem seu nariz. E sua sobrancelha. - Isso é o que eu pensava. Olhei para o reflexo de Alex. - Então, como é que ele é o pai de Jack? - Você disse que sua mãe e seu pai se conheceram enquanto ela estava namorando Demos. Talvez ela já estava grávida? Oooh, que genial . Eu enruguei meu nariz. É por isso que eles se encontraram em Washington? Demos sabia? Olhei para Alex. - Nós não podemos dizer para Jack. Alex franziu o cenho para mim. - Eu acho que o seu pai precisa dizer a ele. Jack precisa saber. - Não agora. Não com Sara e minha mãe e tudo mais. Ele já está no limite. Acordou de um coma. Descobriu que pode curar à si mesmo. Talvez sua namorada seja uma vilã. E além disso, descobrir que seu pai não é seu pai, mas o homem que você estava tentando matar. Não, não é uma boa idéia para contar para ele. Não antes de hoje à noite. Alex assentiu com a cabeça. - OK, depois, então. Mas ele tem que saber.
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Encontrei Suki escondida na cozinha. Ela foi sentar atrás de uma porta do armário aberta para comer uma tigela de cereais secos. - Desculpe - disse ela, olhando para cima, com cara de culpada. - Está tudo bem - eu disse - Não é culpa sua. Eu estou feliz por saber. - Você disse à Jack? - perguntou ela. - Não, e você também não vai dizer nada. E nem Nate, e eu conheço bem a boca grande que ele tem. Mas eu acho que se o meu pai ou Demos quiserem que Jack saiba, ele já saberia. De qualquer forma - eu disse - não é por isso que eu estou aqui. Alex quer que você me ajude a praticar. - Praticar o quê? - Suki perguntou alegremente - Leitura da mente? Japonês? Fazer splish splash com as ondas? Você decide, eu estou aqui para você. Eu balancei minha cabeça. - Não, nenhuma das opções acima. Fazer fogo. - Oooh, como homens das cavernas? - ela riu – Nós deveríamos convidar seu irmão. - Ha ha – respondi - Bem, pelo menos sabemos agora de quem ele herdou. Suki passou o braço pelo meu e nós voltamos para nosso quarto.
Convidar Suki para me ajudar a praticar o controle do fogo foi como colocar uma criança para supervisionar uma missão espacial. - É só fogo, Lila - disse Suki - Não seja tão medrosa.
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Eu estava em pé na frente de uma vela e mal conseguia ser capaz de disfarçar o meu terror. Não conseguia demonstrar confiança de jeito nenhum, menos ainda com Suki ao lado, capaz de ler minha mente. - Basta tentar - ela insistiu – Pense no lado positivo: se você causar um incêndio, você também tem habilidade para resolver com um maremoto. - Muito engraçado - eu atirei - Eu simplesmente não consigo entender porque todo mundo está confiando em mim. É tão injusto. Eu nunca fiz isso antes. Eu controlei uma grande onda. . . isso é completamente diferente de fazer o fogo ser controlado. Eu não posso agir como se fosse tudo um espetáculo de circo. Suki colocou a mão em seu quadril e levantou as sobrancelhas. - Terminou? Eu bufei. - Espere aqui - ela me disse e saltou para fora da porta. Ela voltou um minuto depois segurando um extintor de incêndio em uma das mãos. - Obrigado pelo voto de confiança – eu murmurei. - Bem, eu não quero me transformar em uma bola de fogo. - Não me tente. - OK - disse ela, acendendo a vela - agora tente fazer alguma coisa. Eu olhei para a pequena chama bruxuleante. - Como o quê? - Perguntei. - Eu não sei. Tente mover a chama. Olhei fixamente para a chama, observando a cor azul no meio, o negro circundando e o laranja e amarelo em volta do pavio. A chama parecia tremer, mas eu posso estar imaginando. Eu me concentrei mais fortemente. Eu tentei sentir o ar em torno da chama, pareciam como alfinetes e agulhas ou como aqueles respingos de gordura que saltam em uma panela. Tentei focar em uma parte da chama que eu senti mais próxima. A chama se esticou diante de nós, estendendo-se longa e fina, até chegar ao nível dos olhos. Ouvi Suki respirar profundamente. - Agora faça algo de bom. Eu senti o meu domínio sobre o fogo ir embora. E eu voltar à estaca zero. Eu torci a cabeça para Suki e olhei para ela. - Você deveria estar ajudando. - Eu estou - ela disse brilhantemente, segurando o extintor. Seu bico estava apontado na minha direção. Virei-me, tentando ignorá-la, e voltei a me concentrar na chama. - Você pode fazer isso. Sorri para mim mesma e virei lentamente. Alex estava de pé atrás de mim. - Você pode fazer isso - disse ele de novo. 221
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Voltei-me para a vela, tentei me fixar no interior azul da chama. Então, logo, eu senti formigar e as faíscas surgiram na minha mente. Me concentrei e ordenei à chama para saltar. A chama saltou para cima, quase acertando o teto, e em seguida, caiu de novo. Eu a girei para o lado, para baixo, para cima, para o outro lado. Deitei em uma diagonal. Era como um pequeno show pirotécnico. Eu dei um pequeno grito eufórico e a vela capotou para fora da mesa e caiu aos meus pés. Suki deu um grito também e cobriu os nossos pés e o tapete com espuma de extintor. Olhei para Alex. - Eu disse que você poderia fazer isso - disse ele. Mordi o lábio e olhei para o pedaço carbonizado de carpete coberto de espuma branca. Eu esperava que ele estivesse certo. Ou todos nós terminaríamos queimados. Alex pegou a minha mão. - Eu tenho que ir agora. Eu olhei para ele, tentando apagar o medo nos meus olhos. - Tenha cuidado - eu disse. Ele e Jack estavam indo se encontrar com Sara para resolver a questão de como entrar no quartel. Eles estavam levando Amber junto ao passeio, para, de uma vez por todas, resolver a questão de saber se Sara era de confiança ou não - Está tudo bem -disse Alex, acariciando minha bochecha - Sara virá sozinha. Eles vão querer saber o que estamos planejando. Por que se contentar com apenas Jack e eu quando eles podem esperar um dia mais e pegar então todos nós?
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- Suki? - Eu sussurrei na meia-luz da manhã - Eles estão de volta? - Hmmmmm? - ela murmurou, rolando ligeiramente na minha direção e empurrando uma máscara de olhos de seda roxa de seu rosto. - Jack e Alex já estão de volta? Ela ficou em silêncio um minuto e apenas as batidas do meu coração encheram o silêncio. - Mmmm - ela suspirou - Eu posso ouvir Jack - Ela esfregou sua testa - Ow, ele está nervoso. Ele está com raiva. Eu não quero acabar de acordar e já lidar com isso. - Por que ele está com raiva? - Eu perguntei, já sabendo e sentindo o que aquilo significava. - Sara - ela murmurou e rolou, puxando um travesseiro sobre sua cabeça. - O que aconteceu? - Eu disse, sentando. - Eu não sei. Estou dormindo, Lila. Vá e pergunte ao seu namorado.
Eu coloquei a minha cabeça na porta da cabine principal. O sol estava entrando pelas vigias fazendo com que a luz que entrava fizesse sombras sobre o chão. Amber estava de pé no centro da sala, enquanto Jack andava na frente dela. Alex e Demos estavam sentados à mesa. - Ela estava mentindo - disse Amber. - Tem certeza? - Demos perguntou rapidamente. Amber lançou-lhe um olhar tão venenoso que eu me encolhi. Seu cabelo estava solto, caindo como uma chama ardente em volta seu rosto, que ainda estava pálido, mas um pouco mais animado do que antes. Ela ainda parecia angustiada, mas havia um tom de dureza em seus olhos cinzentos. Eu reconheci bem. Ela estava atravessando todos os estágios do luto. Ela atravessou descrença e raiva, passando finalmente para a 223
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aceitação e chegando finalmente na vingança, onde o resto de nós já estava preso há algum tempo. Entrei no quarto. Alex sorriu palidamente quando me viu. Ele parecia totalmente exausto e seus olhos não desviaram de mim antes de precipitadamente voltar para Jack que ainda estava caminhando para trás e para a frente da sala. - O que aconteceu? - Eu perguntei cautelosamente, os meus olhos em Jack. - Amber diz que Sara estava mentindo - Jack grunhiu - Porque ela tem a cor errada. - Sua aura tinha a cor errada – Amber corrigiu. - E isso é parecido com o que? - Jack gritou – É tão correto quanto um detector de mentiras? - Melhor do que isso - Amber respondeu friamente. - Certo, então porque você viu um pouco de cor em uma aura , você está dizendo a minha namorada é o quê? Cúmplice de tudo isso? - Eu não a chamaria mais de namorada, se eu fosse você. Eu não acho que ela sente o mesmo. E sim, eu estou dizendo que ela é cúmplice. Ela estava mentindo sobre não saber que a Unidade está com a sua mãe. Ela estava mentindo sobre não saber o que a Unidade realmente está fazendo também. Ela sabe. Acredite em mim, ela sabe. Jack parou. Ele fechou os olhos por um longo segundo. - Olha, eu sinto muito, Jack, eu sei que não é o que você quer ouvir disse Demos, caminhando para ele e colocando uma mão em seu ombro. Os olhos de Jack se abriram. Ele girou, deixando Demos paralisado apenas diante de seu olhar furioso. Tal pai, tal filho , eu pensei comigo mesma. - Eu vou dar para Sara um crédito por uma coisa - Alex disse, balançando sua cabeça - ela é uma grande atriz. Ela ainda chorou quando viu Jack. Disse que ela faria tudo o que ele pedisse. Ela tinha me enganado completamente. Jack não disse nada. Eu podia ver os sulcos profundos se formando em sua testa e sua mandíbula estava pulsando furiosamente. - Amber está sempre certa sobre essas coisas, Jack - disse Demos Eu confio em seu julgamento. Jack olhou para ele mais uma vez e, em seguida, ele olhou para Amber. Seu rosto era tão legível que eu senti meu coração assistindo e sentindo dentro dele, ele tentando reunir seus sentimentos e escondê-los do resto de nós. - Quando formos para a Base, quando chegarmos - Jack disse, seus olhos brilhando com raiva – Deixem Sara comigo. Eu lido com ela. Ele olhou para Demos. E depois para Alex. - Entendido? 224
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Alex atirou para Demos uma olhada rápida. Em seguida, ambos assentiram. Jack caminhou até o bar e serviu-se com uma dose dupla de alguma coisa. Ele lançou goela abaixo de uma só vez. E então ele se serviu de um segundo copo. Ninguém fez sequer menção para impedi-lo. Eu imaginei que eu faria o mesmo se eu tivesse descoberto que Alex tinha me traído e que torturava a minha mãe. - Então, o que exatamente você disse para a Sara? – Eu sussurrei para Alex, que estava mantendo os olhos fixos em Jack. - Dissemos a ela que precisávamos de sua ajuda para invadir o prédio. Nós dissemos que estávamos apenas você, seu pai, Jack e eu nisso. Ela concordou. Ela vai desligar os sistemas de alarme até que estejamos em segurança lá dentro. Eu lhe disse que estava preocupado que você acionasse os alarmes, disse que você ainda estava lutando para controlar sua habilidade. Isso vai permitir que Demos e Harvey nos sigam dentro. - Então, está tudo pronto? Estamos prontos para hoje à noite? Ele acenou com a cabeça. - Nós só precisamos alertar a imprensa sobre o estoque de drogas em Washington. - E então eu vou chamar o DEA - Demos acrescentou. - Os agentes da Narcóticos, certo? - Sim - Alex respondeu. Eu queria ouvir essa ligação. O que ele ia dizer? Quem ele iria chamar? 911? “- Qual é a sua emergência? - Há um estoque de drogas e dinheiro de tráfico na casa de Richard Stirling. Aqui está o endereço. Não, isto não é uma brincadeira.” Oh, bem, Demos era o único homem na planeta que tinha a habilidade de fazer os outros fazerem o que ele quer, então eu imaginei que ele iria fazer dar certo. - E uma vez que nós tenhamos causado tumulto em Washington, vamos para a Base. Vai ser uma grande notícia. A DEA invade as Stirling Enterprises e seu quartel general explode uma hora depois. Vai ser o furo de reportagem do ano. A imprensa em ambas as cidades vai enlouquecer. Richard Stirling não será capaz de simplesmente se safar com isso. Não, ele não vai - eu pensei - não, se eu tiver qualquer coisa a ver com isso. Ele nunca sequer voltará a aparecer; ele vai ser enterrado nos escombros . Olhei para Jack, que ainda estava curvado, olhando para o fundo de um copo. Parecia que Sara também não teria o melhor dos destinos.
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Olhei no espelho retrovisor e peguei Alex me encarando. Um olhar passou entre nós e uma pontada me atingiu. Se eu morresse hoje, ou fosse contida, eu nunca iria chegar a ser a Sra. Wakeman. Alex e sua honra. Se eu morresse virgem, eu nunca mais iria perdoá-lo. Alex virou-se em sua cadeira. - Então, deixem eu falar, ok? Eu olhei para fora da janela de trás. Demos e Harvey estavam nos seguindo em um Toyota alugado de cor preta. Alicia e Amber estavam com eles. Ninguém tinha dito explicitamente por que eles estavam vindo, mas era óbvio. Alicia queria ter certeza que a sede foi destruída e Amber queria se vingar das pessoas que tinham matado Ryder. Ela estava lá para ter certeza que a vingança foi feita. Key estava em algum lugar no éter. Talvez ele estivesse flutuando sobre o carro agora. Possivelmente Nate também estava. Eu não estava muito segura de que ele e Suki fossem conseguir obedecer a ordem que Demos havia dado para eles ficarem quietos esperando no barco. Era querer problemas. Demos ia dirigir direto para a Base com os outros. Era improvável que ele tivesse quaisquer problemas para passar pela entrada. Ele poderia simplesmente congelar os soldados à distância e, em seguida, entrar tranquilamente. - Então, nós temos que permitir à Demos e Harvey o máximo de tempo possível - Alex estava dizendo – Nossa missão é chegar na ala de prisioneiros, encontrar a sua mãe, resgatá-la e sair novamente. Harvey vai desativar o alarme para que Demos possa abrir caminho enquanto saímos. Temos que entrar na ala de prisioneiros, antes de eles fazerem qualquer movimento. - Você está bem, papai? - Perguntei. Ele não tinha dito uma palavra até agora. Ele me deu um sorriso amarelo. Ele não estava acostumado à esta vida de fugitivo cheia de subterfúgios na qual nós já vivíamos. Eu queria chegar perto dele, segurar sua mão e dizer-lhe para não se preocupar, que ele se acostuma rápido, mas Alex disse algo que fez todos nós olharmos para cima. 226
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- Ela está esperando - disse ele. Eu levantei minha cabeça e examinei a estrada. Nós tínhamos chegado. E lá estava Sara, de pé ao lado de um SUV preto, com os braços cruzados sobre o peito, o rosto demonstrando aflição. Olhei para cima na rua e em casa. Jack olhou também. Era a primeira vez que ele tinha visto a sua casa desde que tudo aconteceu no Joshua Tree. - Vamos - disse Alex, abrindo sua porta. Sara correu para o carro e jogou os braços em volta de Jack antes que ele pudesse sair. Uau, ela era uma boa atriz. Eu senti Alex segurar meu pulso, enquanto um calor escaldante como fogo corria pelas minhas veias. - Lila! - Alex assobiou uma advertência sob sua respiração como se tivesse lido minha mente ou sentido minha raiva irradiando como eletricidade através da minha pele. Eu respirei fundo e tentei sorrir, enquanto eu vi as mãos de Jack acariciando as costas de Sara em traços reconfortantes. Sua atuação não foi ruim também. Ele até conseguiu não estrangulá-la quando ela começou a beijá-lo. Ela se afastou depois de um tempinho e correu para mim. - Lila! Você está a salvo! Estou muito feliz - ela gritou, me puxando para um abraço enorme. Eu vi Jack encarando por cima do ombro. Parecia que ele estava tentando disparar feixes de laser nas suas costas. - Mmmm - eu disse. Não graças a você. Eu lhe dei uma palmadinha no ombro, e logo vi o olhar de advertência de Alex e então a abracei com força. - Eu gostaria que você tivesse confiado em mim - ela sussurrou em meu ouvido. Felizmente, ela virou-se para o meu pai e Alex me segurou e me acalmou. - Dr Loveday - disse Sara, colocando a mão de meu pai entre as suas - Eu não sei o que dizer - ela engasgou - Eu sinto muito. Ele ficou pálido, olhando para ela com uma aversão indisfarçável, e Jack se colocou rapidamente entre eles, puxando Sara para longe dele antes que ela percebesse. - Onde estão as equipes da Unidade? - Jack perguntou rapidamente. - As equipes Alpha e Beta estão a caminho de Washington. Acabamos de ser avisados de algo - disse Sara com uma careta - Vocês estavam certos. Pensamos que Demos está lá. Lancei para Alex uma olhada. Então, o jogo estava funcionando. O DEA deve ter invadido Stirling Enterprises já. 227
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- OK, vamos lá - disse Jack, marchando em direção ao SUV. Sara abriu a porta do motorista. Nós subimos em silêncio e eu sentia como se estivesse entrando em meu próprio caixão novamente. - Como é que vamos entrar? – Jack perguntou enquanto Sara se afastou do meio-fio. Eu mantive meus olhos na mão de Alex segurando a minha. Eu podia sentir o seu polegar pressionando na minha palma e me concentrei nisso e não no fato de que estávamos embarcando em uma missão suicida como se fosse apenas um piquenique no parque. - Nós vamos pela entrada dos fundos – Sara respondeu - A entrada de mercadorias. É uma entrada com identificador digital. Eu tenho o código. Vai haver apenas algumas poucas pessoas por perto, somente técnicos do laboratório. Podemos entrar e pegar o elevador de serviço até a ala de prisioneiros. Seus olhos estavam de repente em mim pelo espelho retrovisor. - Eu sinto muito sobre sua mãe - ela disse - Eu não posso acreditar que é verdade. Eu olhei para longe, para fora da janela, e tomei uma respiração profunda. Eu não queria causar outro acidente. - É verdade - Jack respondeu por mim. Sua mão estava fechada com força ao seu lado e sua voz saía apertada, como se ele estivesse sendo estrangulado. Avistamos a entrada da Base um minuto depois. Sara abaixou o vidro da janela e mostrou sua identificação para o guarda. O guarda de plantão apenas acenou. Não nos parou e nem revistou o carro como ontem de manhã. Eles obviamente já haviam sido instruídos para nos esperar e nos deixar passar. A barricada foi levantada. Eles já tinham trocado após eu ter destruído uma no outro dia. A noite caía, a luz era pouca e eu não podia deixar de imaginar se esse seria o último pôr do sol que eu veria. Passamos a sede da Unidade e tomamos a próxima à direita, fazendo a volta do lado do edifício. A parte de trás do prédio parecia tão impenetrável como a frente, uma fortaleza de aço e vidro sólido. - OK, temos que nos apressar - disse Sara enquanto ela estacionou o SUV em frente a porta dos fundos. Todos nós saltamos, Alex e Jack ficaram em pé como sentinelas, examinando os arredores, empurrando meu pai e eu atrás deles. Sara se aproximou de duas portas de aço que me lembravam aquelas gavetas de mortuários e digitou alguns números em um painel. Eu esperava que Harvey tivesse feito o seu dever de casa. Ele tinha apenas tragado e soltado a fumaça de seu cigarro quando eu lhe perguntei se ele estava confiante sobre romper o alarme, eu não estava segura sobre que
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tipo de resposta aquilo quis significar, mas eu acho que ele estava confiante.
O corredor em que entramos estava vazio e iluminado por fortes luzes brancas. Parecia um set de algum filme de Hollywood. Nossos passos ecoavam como trovão. Olhei para o lugar, tentando lembrar o mapa que Jack tinha desenhado para nós. A sala de controle para onde Harvey e Demos deveriam ir estava ao lado direito antes do elevador. De repente, tive um momento de clareza. Estávamos loucos. Meu pai estava completamente certo. Somente pessoas loucas tentariam o que estávamos tentando. Mas, por outro lado, talvez fosse tão insano que a Unidade jamais suspeitaria de nosso plano. Eu tinha que confiar nisso. Chegamos no elevador no final do corredor. Era isso. Eu estava a poucos minutos de ver minha mãe novamente e a adrenalina inundou o meu coração, pulsando através do meu corpo. Sara pressionou seu cartão de identificação contra um leitor e, em seguida, apertou o botão para o nível 4. Nenhum de nós respirava. Alex segurou a minha mão com força. O corredor em que saímos estava vazio. Os tetos eram baixos, as luzes fluorescentes eram tão surpreendentemente brilhantes que eu tive que piscar. Caminhamos em direção a uma porta de vidro dupla no final. Havia um outro comando à direita. Sara digitou um código. A porta abriu e nós entramos. Ela se fechou atrás de nós, nos trancando no interior de um lugar que só poderia ser a ala de detenção de prisioneiros. O quarto em que estávamos estava deserto. Vários computadores estavam em uma mesa de trabalho, suas telas em branco. De um lado da sala haviam várias portas brancas, cada uma delas não tinha maçaneta e aparentava ser bastante pesada. A única indicação de que eram portas era o contorno preto fino e o alarme piscando à direita de cada uma. Eram essas as celas? A minha mãe estava dentro de uma? Meu pai deve ter pensado o mesmo, porque ele cruzou direto para elas e começou a bater, chamando o nome dela. - Onde ela está? Onde está Melissa? - o meu pai gritou, o desespero era transparente em sua voz. Um lento sorriso aliviado apareceu no rosto de Sara. - Onde ela está? - Jack exigiu. Eu vi o rosto de Sara registar o seu tom e seus olhos castanhos estreitaram-se ligeiramente para ele. Em seguida, enquanto eu observava, ela deu um passo para trás tropeçando, os olhos cada vez mais 229
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arregalados. Suas mãos voaram para o peito, palmas para fora. Olhei para Jack novamente e vi. Sua arma estava em sua mão e ele estava apontando diretamente para Sara. - Onde ela está, Sara? - ele perguntou calmamente. Eu vi Sara de repente perceber toda a situação, finalmente ela começou a entender que nós estávamos jogando com ela, que ela estava sendo traída como Suki tão eloquentemente descreveu. Os olhos de Sara correram para Alex e, em seguida, para mim e, finalmente, para meu pai, que tinha parado de chamar o nome de minha mãe e estava olhando diretamente para ela, com um olhar de ódio puro. - O que você está fazendo? - Sara perguntou, tentando aparentar inocência em uma última tentativa. - Corta essa, Sara. Eu sei que você está mentindo. Apenas me diga onde ela está, antes de eu atirar em você. - Você não vai atirar em mim, Jack – ela disse, olhando para ele como se ele estivesse sendo ridículo - Além disso, é muito tarde para isso. Ela inclinou a cabeça para a câmera no canto do quarto. - Abaixa a arma - ela ordenou em uma voz que eu desconhecia completamente. Seus olhos endureceram, a suavidade em seu rosto derreteu, deixando apenas uma estranha, frágil, mas com um olhar duro. Eu respirei. Até então eu tinha esperado que Amber talvez tivesse entendido errado, que a cor de sua aura era apenas consequência de seu grande stress. Olhei para Jack. Eu podia ver que ele estava tão abalado quanto eu. Uma parte dele estava esperando e orando que Amber estivesse errada também. Mas, em seguida, sua expressão ficou fria e ele levantou a arma, apontado diretamente para a cabeça de Sara. Ela não reagiu. Ela apenas sorriu casualmente. - Você não pode sair, Jack. É tarde - ela disse. - Porquê? - Jack perguntou. - Porque, Jack - ela suspirou - a sua antiga equipe está toda lá fora. Bem, o que resta deles. Os que você não matou. Eles estão assistindo tudo pela câmera ali e esperando por minha ordem. Ela assentiu com a cabeça para a câmera no canto da sala. - Você não vai a lugar nenhum. Nem a sua mãe. E eu gostaria de agradecer a você por também entregar a sua irmã mutante para nós. Jack parou por uma fração de segundo e então levantou a arma e atirou na câmera no canto da sala, deixando um emaranhado de fios e metais retorcidos. - Eu quis dizer - disse ele, apontando a arma para Sara, mais uma vez - por que você está fazendo isso? Ela bufou. 230
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- Bem, eu já terminei de fazer. Agora eles estão vindo. - Responda a pergunta - Jack exigiu. - Oh, Jack, não é pessoal. Nunca foi pessoal. - É a minha mãe - Jack rosnou – Acho que fica bastante pessoal. - É a ciência, Jack. É o progresso. Você não pode lutar contra isso. - Ciência? - Eu gritei - Ciência? Você pensa que sequestrar pessoas e torturá-las é progresso? Sara olhou para mim e riu. - Oh, Lila, você me faz rir. A ciência é o futuro. E se uma ou duas pessoas são sacrificadas para o bem maior, bem, que assim seja. Estamos aprendendo tanto de sua mãe. Vamos aprender ainda mais de você, Lila. E imagine como o mundo vai se beneficiar desse conhecimento. - Benefício? - Eu gaguejei, dando um passo em direção à ela. Alex esticou o braço e me pegou em volta da cintura antes que eu pudesse alcançá-la. Ela vacilou um pouco, mas se esforçou para encobrir seu medo. Notei que Alex também tinha uma arma na sua mão e que estava apontada para ela. Pelo canto do meu olho eu podia ver meu pai, paralisado, quase sem expressão, os olhos sem piscar. Ele parecia atordoado demais para sequer se mover. - Está tudo bem, Alex, solte ela. Deixe-a fazer o seu pior! - Sara disse com toda a calma - Vá em frente, Lila - ela provocou - Use o poder que você tem. Isso vai disparar o alarme, que foi reativado no momento que você pôs os pés aqui. Você só vai machucar à si mesma. Olhei para ela, a repugnância escoava por cada poro do meu corpo. - Oh, você honestamente acha que nós não sabíamos sobre você? Sobre o que você fazia? Lila, nós sabemos sobre você há anos. Desde de um certo episódio com uma tesoura, na sua escola, lembra-se? Eu não podia esconder a minha surpresa. Isso foi há três anos atrás. Como eles tinham conhecimento sobre isso? Meus pulmões apertaram como se minhas costelas tivessem investido contra eles. - Nós sabíamos sobre você o tempo todo, Lila. Sobre o que você é. Acabamos preferindo esperar o momento certo para pegá-la. Se fosse por mim, eu teria contido você assim que você saiu do avião vindo de Londres, mas Rachel queria ver o que iria acontecer. Ela queria ver se Demos iria atrás de você, o que ele fez, de maneira bastante previsível. Sabíamos onde Alex estava todo o tempo que vocês dois estiveram em sua romântica fuga; poderíamos ter surpreendido você, em Palm Springs, mas nós queríamos esperar até que eu tivesse você e Demos em um lugar para então surpreendê-los. Senti a mão de Alex apertar o controle sobre o meu braço.
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- Nós estávamos preparados para conter vocês dois no Joshua Tree, faríamos parecer que você foi atingida por um tiro, então conteríamos você e ninguém saberia de nada. Você vê, nós precisamos de alguém que é telecinética - Ela apertou os lábios – Só que você fugiu. Obrigado, Alex ela disse, sua voz cheia de sarcasmo - Mas então você voltou - Ela balançou a cabeça como se ainda não pudesse acreditar na minha estupidez - O que estava pensando? - Se você pensa que vai conseguir pegar ela, é melhor você mudar de idéia – Alex rosnou, dando um passo na direção dela. - Oh, Alex - disse Sara, rindo - Você não acredita realmente que vai nos parar, não é? A bala passou zunindo por meu ouvido. Eu ouvi o zumbido dela antes que ela se chocasse contra a parede de azulejos atrás da cabeça de Sara. - Já chega! - meu pai rugiu - Onde está a minha mulher? Minha mandíbula se abriu. Meu pai estava segurando uma arma. Eu não tinha certeza onde ele havia arrumado uma arma e nem se ele havia errado o tiro não acertando a cabeça de Sara ou se ele havia errado de propósito. Sara parecia tão atônita quanto eu. - Dr Loveday, abaixe a arma - disse ela em um tom desigual. - Ela está aqui. Virei a cabeça. Alex estava inclinado sobre a fila de monitores no centro da sala. Ele havia ligado todos os monitores. Cada tela exibia uma imagem em preto-e-branco de uma cela. Eu conferi cada uma delas, todos estavam vazias e, por um momento meu coração parecia rasgar meu peito. Eu não conseguia respirar ou ver. Pontos pretos e brancos estavam dançando por toda a minha visão. Então, eu percebi que era apenas a estática das telas. Logo notei um movimento. Na tela mais distante . Uma forma branca, magra, se sacudindo e se apertando na frente da câmera, parecendo, à primeira vista, com um fantasma diante da lente da câmera. Eu me aproximei, me inclinando do outro lado da mesa, segurando o braço de Alex. Mesmo com a estática da tela, eu podia ver os olhos. Seus olhos. Olhando fixamente para nós. Eu podia ver a boca fazendo formas. Michael . Ela estava dizendo Michael . - Papai, papai, é mamãe. É mamãe! - Eu gritei. Com o canto do meu olho eu peguei um flash de movimento. Sara tinha se jogado para um lado, e enquanto eu observava, seu punho quebrou uma caixa de vidro quadrada presa na parede e ela deu um soco para baixo em um botão vermelho. Lascas de vidro perfuraram meu cérebro. Senti minha bochecha tremer e um parafuso parecia querer abrir minha cabeça. Ouvi gritos e o barulho de um tiro passando por meu ouvido. Jack estava deitado perto, 232
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com os joelhos dobrados até seu peito. Eu tentei estender a minha mão para socorrê-lo, mas não consegui mover os meus dedos. Pensamentos vagos, como gotas de ácido gritavam pelo meu cérebro. O Alarme. Harvey e Demos não tinham conseguido desativá-lo. Outra bala assobiou pela minha orelha. Pareceu ricochetear dentro do meu crânio. Tentei me forçar a ficar de pé, tentei abrir os olhos pelo menos. Para lutar. Eu não poderia perder agora. Eu não seria vencida agora. Uma mão começou a me puxar. - Lila, venha! Eu preciso de você. Lila! Abri um olho, olhando através de um filme de lágrimas, e vi Alex com o braço em volta de mim, ele estava tentando me convencer a suportar. Meus pés foram se arrastando no chão, meu corpo pendia flácido. - Venha! - ele gritou de novo. Minha cabeça inclinou para trás de surpresa com seu tom, mas meus pés encontraram o chão e eu fiquei trêmula, sentindo minha cabeça oscilar e ao mesmo tempo presa por um fio desgastante. A dor era nebulosa agora, perfurando, pulsando em minhas têmporas, enviando ondas de choque que percorriam a minha espinha. - Lila, foco! Meus olhos se abriram. Eu não tinha percebido que eu os tinha fechado novamente. A sala parou de tremer. As paredes se ampliavam para trás. Um som forte ecoava em meus ouvidos. A dor foi arrancada para fora de mim como se alguém houvesse injetado uma seringa. Eu vi Jack ajoelhando-se aos meus pés, com a cabeça curvada, mãos espalmadas no chão. Eu me abaixei, querendo ajudá-lo, mas Alex me balançou mais uma vez, me colocando de frente para a porta. - Lila, eu preciso de sua ajuda aqui, por favor. Eu forcei meus olhos para me concentrar. Mas tudo o que pude distinguir foi uma massa preta se aproximando do corredor em direção à nós como um enorme enxame de abelhas que lentamente formavam uma forma sólida. Eram eles. A Unidade. Eles estavam vindo nos pegar, pelo menos meia dúzia de homens corriam em nossa direção. - Faça alguma coisa! - Alex gritou. Então eu percebi o que ele estava me pedindo para fazer e tentei me concentrar. Haviam manchas vermelhas nas paredes do corredor que corriam. Extintores de incêndio. Eu arranquei todos fora das paredes, sentindo a acentuada explosão de dor na minha cabeça, enquanto eu fazia, e eu lutei para unir a última reserva de energia dentro de mim e arremessar os extintores encima daqueles homens. Dois deles caíram no chão, mas os outros já estavam na porta, falando em um código. Olhei para a sala rapidamente. Sara estava esparramada no chão aos pés de Jack 233
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e meu pai não estava à vista, mas meu cérebro não teve tempo de processar isso. Alex disparou, correu para o painel de controle, travando a entrada. A porta fez um barulho crepitante em resposta. Um homem do outro lado deu murros na porta. Ele desistiu e enquanto um outro homem batia sua pistola na maçaneta da porta, tentando forçá-la. Um terceiro homem disparou contra o vidro. - A porta, segure a porta fechada. É à prova de balas - Alex gritou comigo. Só então a porta fez um barulho. Ela vibrou, chiou e começou a abrir. Eu a forcei a fechar buscando todas as minhas forças. Eu olhava, indefesa, rangendo meus dentes enquanto soldados da Unidade dispararam suas armas repetidamente na parede de vidro na frente de nós. O vidro parecia com flocos de neve e eu senti as lágrimas começarem a escorrer como ácido quente nas minhas bochechas. Quanto tempo ainda tínhamos antes que eles estourassem tudo? Mesmo que o vidro fosse inquebrável, eu sabia que não podia segurar a porta por muito mais tempo e, certamente, não se eles disparassem o alarme novamente. Que faria? Trinta segundos apenas para um outro alarme paralisante me acertar. Onde estavam Demos e Harvey? Eles foram capturados? - Alex. . . Eu não posso segurá-la por muito tempo - eu chorei mais diante do barulho do vidro quebrando. Eu estava vagamente consciente de Alex ajudando Jack a ficar em pé. Jack levantou, equilibrando-se contra a mesa, ainda tonto. Foi a primeira vez que ele tinha experimentado um desses tiros - ele não sabia ainda como era sentir aquela dor pungente. - Vamos. A mão de Alex estava de repente no meu ombro. Arrisquei um olhar de soslaio. Meu pai estava em pé na porta da cela e ele estava carregando alguém em seus braços. - Lila, a porta! - Alex gritou. Bati, fechando novamente e então, ouvi um grito estridente. Ignorei o som, lutando para manter a minha atenção na porta quando o que estava atrás de mim era tudo o que importava. - Vamos, por aqui! - Alex estava puxando meu braço. Eu dei um passo para trás, para uma porta ao fundo, que levava à um outro corredor, o tempo todo mantendo meu foco na porta de vidro crivada de balas na minha frente. - Espere aqui - Alex disse, passando por mim e voltando para a sala. Com um rápido movimento, ele inclinou-se e levantou Sara sobre seu ombro. Então ele correu agachado de volta para mim. Jack esperou até que ele chegasse e então fechou a segunda porta antes, disparando no painel de controle. Com um suspiro, eu soltei a
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primeira porta. A Unidade avançou em segundos, correu pela sala e começou a atirar na segunda porta. Jack pegou meu braço e começou a correr. Não me atrevi a olhar por cima do ombro para ver. Cada passo que eu dava, eu me preparava para a dor e para a queda, a minha atenção estava no meu pai, à frente de nós. Contanto que ele saísse, contando que ele conseguisse salvar a minha mãe, nada mais me importava. O aperto de Jack no meu braço ficou mais forte. Chegamos na porta no final do corredor logo atrás de Alex. - Pai? - Jack gritou, chegando até as escadas à frente de nós dois. - Aqui! - meu pai gritou. Corremos para a escada, subindo para o andar de cima e encontramos meu pai ajoelhado diante de um corpo. Corri em direção a ele e ele me pegou pelo ombro. - Cuidado, cuidado. Ela estava morta. Minha mãe estava morta. Ela estava sem vida, mais branca do que o branco, os lábios pareciam vidro de tão claros. Ela estava deitada no colo do meu pai, usando um vestido branco do hospital que combinava bem com a cor de sua pele. Jack caiu ao meu lado e pegou a mão dela. - Mamãe? - ele disse, com a voz engasgada. Seus olhos se abriram, me assustando. Parecia que toda a cor em seu corpo tinha se concentrado somente em seus olhos. Eles estavam super verdes, cheios de vida, com memórias, com esperança, com alívio e alegria. - Jack - ela sussurrou e um sorriso surgiu em seus lábios. Seus olhos viajaram por Jack e, em seguida, para mim. Atirei-me para a frente, sentindo Jack ao meu lado, com os braços do meu pai ao redor. - Mamãe, mamãe, mamãe, eu senti tanto sua falta - eu soluçava. Ela estendeu a mão e acariciou meu cabelo, minha bochecha, e gentilmente afastou as lágrimas que estavam caindo. E então eu senti uma mão no meu ombro me puxando para trás. - Lila, vamos, temos que sair daqui - meu pai disse, inclinando-se para levantar com a minha mãe mais uma vez. Percebi só então ainda estávamos na escada. Alex estava encostado na parede, descansando do peso de Sara. Seu rosto estava apertado; gotas de suor escorriam por sua face. A arma em sua mão apontada para a porta. Jack me empurrou pelas escadas atrás de meu pai. - Vai, vai! - ele ordenou. Eu comecei a correr, fazendo uma pausa para me certificar de que os outros estavam logo atrás. Jack estava logo atrás de Alex. Eu desejava que Alex deixasse Sara cair ali de cabeça, assim ele poderia ir mais rápido. 235
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Ouvi Alex gritar comigo para esperar, mas já era tarde demais, eu já tinha entrado pela porta dos fundos. - Ahhh, você está aí. Eu cambaleei para trás. Richard Stirling estava em pé na frente de nós. Ao seu lado estava Robocop. Ele estava apontando uma arma em linha reta para a cabeça do meu pai. Meu pai ficou congelado, segurando minha mãe em seus braços como se fosse uma oferenda sagrada. Sua cabeça estava jogada para trás contra o ombro do meu pai, seus olhos estavam fechados e um braço estava pendurado tão baixo que parecia que ia arrastar no chão. - Indo a algum lugar? - Perguntou Stirling. Os outros irromperam atrás de mim. Eu escutei Jack xingar e então eu senti Alex ao meu lado, respirando com dificuldade, o corpo de Sara ainda pendurado por cima do ombro como um saco mole. Eu olhei para ele e nossos olhos se encontraram por um segundo, pude ler um aviso. Não faça nenhuma loucura, era o que ele estava me avisando. Alex virou-se para Richard Stirling e a expressão em seu rosto mudou, escurecida. Ele levantou a arma em sua mão livre e apontou na cabeça de Stirling. Quando ele fez isso, ele deu um passo à frente de mim. Jack se moveu para ficar na frente de meu pai, protegendo ele e minha mãe. Ele tinha sua arma apontada diretamente para Robocop. Eu tomei uma respiração profunda. Em seguida, passei por Alex. - Somente deixe os outros irem - eu disse, caminhando para Stirling. - Lila - Ouvi Alex dizer baixinho. - Deixá-los ir? - Stirling respondeu com um sorriso - Por que eu faria isso? Bem aqui na minha frente, eu tenho vários mutantes que valem milhões de dólares. Alguns ajustes aqui, um pouco de experimentos lá e... - E você pode ir para o inferno, talvez? – Terminei a frase para ele. - Oh, Lila, temos temperamento, não temos? É uma luta para você, não é? Manter o controle? Nós precisamos cuidar disso. Eu tenho que dizer, porém, que eu estou impressionado. Eu completamente negligenciei você, mas sua habilidade me confunde assim - Ele voltou sua atenção para Jack - E você, Jack - ele disse - você é algo que eu nunca, sequer havia imaginado. Quando finalmente conseguimos fazer o Dr. Roberts falar, estávamos todos bastante intrigados e ansiosos para colocar nossas mãos em você - Ele balançou a cabeça, seus olhos fixos no peito de Jack. A resposta de Jack me fez estremecer. A resposta do meu pai fezme estremecer ainda mais. Eu pensei no Dr. Roberts e no que eles poderiam ter feito com ele e de repente senti como se fosse vomitar. Richard Stirling apenas riu. Era um som assustador, que ecoava desde o teto alto até o piso de mármore. 236
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- Olha, você jogou com as cartas, mas você perdeu. Eu sou um exímio jogador de poker. Quando Demos e seus amiguinhos chegarem logo mais, ah, aí terei a minha casa cheia. Esperança explodiu pelo meu peito. Richard Stirling não sabia que Demos já estava no edifício. Ele pensou que ele ainda estava em Washington. Nosso blefe tinha funcionado! E o alarme não tinha sido ativado novamente. Eu não estava me contorcendo no chão em agonia. O que poderia significar apenas uma coisa: Demos e Harvey tinham desativado ele. - O prédio está todo bloqueado, tenente - Stirling continuou - e bem atrás de você, chegando pelas escadas está a sua antiga equipe. Então eu acho que talvez seria mais sábio vocês entregarem suas armas, virarem e caminharem de volta à ala de prisioneiros. Alex suspirou alto, em seguida, deu um passo ficando de pé ao meu lado. - Eu tenho uma sugestão - disse ele - Que tal você se virar e sair daqui pelo mesmo caminho que você veio e nós também vamos embora. Richard Stirling olhou para ele, atordoado, antes de sorrir com força. - Sim, OK, quando você terminar de ser engraçado, você pode fazer o que eu digo ou eles podem atirar em você. Um sorriso malicioso começou a se formar nos lábios de Alex. - Você poderia tentar - disse ele. Os olhos de Richard Stirling se estreitaram mais uma vez, a confusão passava por seu rosto. Mas, então, tudo parou. Seus olhos paralisaram. Ao lado dele, Robocop congelou. Eu olhei para cima, assustada. Demos estava de pé na porta. Harvey saiu das sombras atrás dele. - Você demorou - eu disse. - Mas estamos aqui, não é? - Demos respondeu com um sorriso triste.
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Demos passou por Richard Stirling e caminhou em direção ao meu pai, focando toda a sua atenção só por um segundo, enquanto ele abaixou a cabeça para olhar para a minha mãe. Eu não poderia deixar de notar como seu rosto se suavizou quando a viu ou na forma como as mãos de meu pai apertaram fortemente minha mãe. Então, com um rosto sombrio, Demos voltou em direção à Richard Stirling. Foi só então que eu notei Alicia de pé no meio do caminho entre nós e a porta, olhando, com as mãos juntas. Ela estava olhando para Demos e seu olhar era como se ela tivesse acabado de tomar uma bala no seu coração. Minha atenção foi desviada por Jack que marchou até Robocop. Ele deixou cair o clipe da arma de Robocop em seu bolso. - E os homens lá embaixo? - ele perguntou, atravessando a porta por onde nós viemos com a arma apontada. Era uma boa pergunta. Eles certamente já deveriam ter conseguido passar pela porta que eu bloqueei. - Eles estão presos lá embaixo. Eu ativei o bloqueio no andar - disse Harvey com um pouco de tosse. - Mas não podemos deixá-los lá – eu disse - eles não vão sobreviver. - É um bunker nuclear. Todo mundo vai ficar bem - Jack respondeu laconicamente. Olhei para ele. - O quê? - respondeu ele, encolhendo os ombros para mim - Eles vão ficar bem. Os bombeiros vão encontrá-los em alguns dias, assim que esfrie. - Ele está certo - Alex falou, olhando para mim de maneira tranquilizadora - Eles vão ficar bem lá em baixo. Isso foi construído para resistir a muito mais do que um incêndio. - Todo mundo feliz, então? – Demos interrompeu - Ótimo, então saiam daqui e caiam fora dessa Base antes de todos os militares descobrirem o que está acontecendo aqui. Eu vou segurar esses caras até que vocês estejam com tudo pronto. 238
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Ele acenou para Richard Stirling e seu guarda-costas. - Lila, você está pronta? - Sim - eu respondi, dando um passo a frente. - Eu vou ficar com ela - Eu ouvi Alex dizer atrás de mim. - Eu também - disse Jack. É claro que eles ficariam. Vi quando Alex colocou Sara fora de seu ombro e foi só então que eu notei as gotas de carmesim manchadas na sua camiseta e escorrendo até seus pés. Meus olhos voaram para seu rosto, meu coração balançando. Sua camiseta estava com manchas vermelho escuro logo em cima do ombro esquerdo e por um momento eu pensei que ele tinha sido baleado, mas, em seguida, ele entregou Sara para Harvey e eu vi que a blusa branca de Sara estava encharcada com sangue. Harvey olhou para ela como se ela fosse um animal atropelado, seus lábios dobrando em desgosto. Ele deu um longo trago em seu cigarro e, finalmente, concordou. Alex a soltou e Harvey segurou, deixando-a pairar meio metro do chão, suas unhas arrastando no chão de mármore, com a cabeça dobrada, curvada sobre o tronco esbelto. Alex caminhou para mim, seus olhos segurando os meus, verificando se eu estava bem, tentando me ler. - Seja cuidadosa. Virei para olhar para o meu pai, os seus braços fechados em volta de minha mãe. - Tenha cuidado – ele disse novamente. Eu balancei a cabeça para ele em resposta e ele sorriu para mim. Eu o vi sair, seguindo logo depois por Harvey. Poucos segundos depois de terem desaparecido, alguém apareceu na porta. Uma ruiva vestindo um elegante jeans preto, botas e uma camisa de seda preta. Amber esquadrinhou o quarto rapidamente e, em seguida, caminhou em direção a nós, seus calcanhares clicando no chão, com os olhos cinza escuro mais profundos do que o habitual. Ela parou na frente de Richard Stirling. - O que você está fazendo, Amber? – Demos perguntou em voz baixa. - Eu queria ver o homem por trás da Unidade - ela respondeu, sem tirar os olhos de cima Richard Stirling - O que você vai fazer com ele? - Nós vamos levá-lo daqui e entregá-lo à polícia. Amber virou para enfrentar Demos. - É isso? Essa é a sua grande vingança? Depois tudo que ele fez. Você acha que é justiça? - Amber - Alex disse com uma voz tão suave quanto chuva - Amber, nós conversamos sobre isso. Tudo isso já vai destruí-lo. Ela olhou para ele quase com pena, como se ele não pudesse entender. 239
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- Não é suficiente, Alex. Como você pode pensar que é suficiente? Ela olhou para mim e minha respiração ficou presa no meu peito. Eu não conseguia argumentar. Porque no fundo, eu estava do seu lado. Eu queria vingança também. Eu olhei para a arma na mão de Alex. Seria tão fácil trazê-la até mim e disparar um tiro. Somente um tiro. Isso seria o suficiente. Apenas uma concentração leve na minha mente e tudo estaria feito. Toda a dor que Richard Stirling causou, toda a maldade, destruída de verdade, com apenas um pensamento meu, na menor das intenções. Meus olhos se encontraram os de Amber, eram olhos cinza como um céu úmido inverno. Eu poderia fazer isso por ela, por Ryder. E por minha mãe. E por Thomas. Então eu senti o calor do olhar de Alex sobre mim. Senti sua mão descansar suavemente no meu braço e meus olhos foram atraídos para o rosto dele. Ele sabia exatamente o que eu estava pensando. Ele podia ler em meus olhos e mais do que isso: ele me conhecia. Ele sabia como minha mente trabalhava. Ele não estava tentando me parar, no entanto. Não havia reprovação na forma com que ele estava me olhando, só calma e segurança de que ele estava lá. Ele estava deixando a decisão para mim. Mas seu toque fez o que sempre fez. Ele me devolveu equilíbrio. Ele me trouxe de volta. Alex estava certo. Eu não poderia deixar Richard Stirling me transformar em algo que eu não era. Eu sabia quem eu era agora e o que eu era. Eu não ia ser caçada nunca mais. Mas também não queria ser assombrada por memórias. - Amber - eu disse, voltando para encará-la, soltando uma respiração profunda - Não vale a pena. Ele não vale a pena. Já vencemos ele. Seus olhos se estreitaram por um momento, como se minha traição tivesse partido seu ser e rasgado um pedaço de seu coração. Então, com seu lábio trêmulo, ela voltou-se para o rosto congelado de Richard Stirling. Por um momento eu pensei que ela tinha me ignorado e ia matá-lo de qualquer maneira. A arma tremeu em sua mão. Olhei para Demos. Será que ele vai parar ela? Mas seu olhar estava focado em Richard Stirling e seu guarda, sua atenção toda em mantê-los congelados. Eu me perguntava se eu poderia girar a arma para fora de sua mão. Mas antes que eu pudesse, Amber baixou o braço e deixou cair a arma para o lado dela. Jack foi o primeiro a se mover. Ele colocou o braço em volta dos ombros de Amber e se inclinou para sussurrar algo em seu ouvido. Ela deu meia volta, cambaleando. Jack envolveu ambos os braços ao redor de sua cintura para ela não cair. Ele segurou-a até os seus ombros pararem de se agitar, com uma mão na parte de trás de sua cabeça.
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Alicia em seguida aproximou-se e gentilmente puxou Amber de seus braços antes de conduzi-la para fora da sala. Quando ela foi embora, Demos falou comigo. - Lila, você está pronta? Eu tomei uma respiração profunda. - Sim - eu disse, acenando com a cabeça - Mas você deve sair daqui, Demos. - Vou esperar até que os outros estejam a salvo – ele respondeu. Eu ia discutir, mas eu senti Alex puxando meu braço. - Para onde vamos? - Perguntei enquanto corríamos pelo saguão. - Terceiro andar. Onde os laboratórios e o servidor deles está. Eu balancei a cabeça. Jack se juntou a nós no elevador. - Eu não tenho certeza de que é seguro para você dois ficar comigo enquanto eu faço isso - eu disse. - É mesmo? - Alex perguntou quando as portas do elevador se abriram - Bem, eu acho que nós vamos correr o risco. Ele me empurrou para dentro do elevador e apertou o botão para o terceiro andar. Fiquei ali, entre Jack e Alex, e fechei os olhos, sentindo o calor deles contra os meus ombros. Desse jeito que eu sempre quis estar onde eu sempre me senti mais segura. Entre os dois. É como sempre deveria ser, mas eu tive uma súbita sensação de mau agouro que essa poderia ser a última vez. As portas do elevador se abriram para outro corredor e eu empurrei o pensamento longe. Nós tínhamos chegado tão longe, estávamos quase terminando. Nós estávamos conseguindo. Eu ia fazer isso. Corremos para outro longo corredor, passando por uma dúzia de portas de vidro. Avistei uma bancada de aço inoxidável, filas de computadores e umas máquinas de aspecto futurista, algo que parecia uma máquina de raio-X e uma outra que parecia um scanner de ressonância magnética. A última sala à nossa esquerda me fez tropeçar. Ela estava vazia, exceto por uma maca metal. Tiras brancas pendiam por cada lado, como ataduras de zumbis. Próximo a maca, havia uma bandeja de metal brilhante com instrumentos médicos e uma máquina como a que Jack tinha sido conectado no hospital. Esse era o lugar onde eles faziam seus testes. Minha mãe certamente havia sido amarrada nessa mesma maca. Alex puxou-me para a frente, passando pelo quarto. À nossa frente havia uma porta com cadeado. Quando estávamos há cerca de cinco metros de distância dela, Jack atirou no cadeado. Eu chutei a porta com uma rápida olhada. Dentro havia uma sala de tamanho do meu quarto na casa de Jack. Estava cheio de luzes de neon piscando e vários servidores de computador. Esse era o coração da Stirling Enterprises, onde todos os dados que eles tinham era arquivado. Se destruirmos aquele lugar, nós 241
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destruiríamos todos os dados que eles tinham sobre nós, todas as suas pesquisas e as suas conclusões. Já era um começo. Então eu destruí os laboratórios, começando pelo quarto que eu tinha acabado de ver, com a maca e os instrumentos médicos. Jack não esperou por mim para pegar um isqueiro seu e tentar direcionar a chama. Ele atirou em direção aos computadores. Eles viraram apenas cinza e fumaça. - Isso não vai funcionar - disse Alex. Ele virou-se e correu pelo corredor. - Você tem certeza que você pode lidar com isso? – Jack disse, olhando para mim nervosamente. Eu virei minha cabeça lentamente para olhar para ele. - Você está duvidando de minha capacidade? Porque, você sabe, é totalmente a sua cara isso. Alex estava de volta ao nosso lado. Ele estava segurando uma pequena garrafa de vidro em sua mão. Estava cheio de um líquido claro álcool ou algo de um dos laboratórios. Notei que havia uma etiqueta com a imagem de uma caveira e dois ossos cruzando . - Para trás! – Alex gritou, empurrando Jack e eu para trás dele. - Espere! - Eu gritei. Haviam tubos no teto da sala. Como aquelas torneiras de sistemas anti-incêndio. Eu foquei toda a minha atenção naquilo e todos pularam, sendo arrancados. Eles ecoavam caindo no chão e todos nós cobrimos nossos ouvidos. Alex sorriu para mim com orgulho e, em seguida, jogou o líquido na sala, disparando um tiro direto na direção da maior poça de líquido. Em um segundo diante de nós nascia uma gigante bola de fogo. Imediatamente as chamas começaram ao longo do corredor e a fumaça preta começou a ondear ao nosso redor. O sistema de irrigação acima de nós se acessou, encharcando-nos em segundos. Droga - pensei, olhando para os tubos. Eu deveria ter arrancado os tubos inteiro também, quando eu tive a chance. Ficava muito mais difícil se concentrar com água vertendo nos meus olhos e me encharcando. - Harvey poderia ter desativado o sistema anti incêndio quando ele desativou o alarme? – Eu perguntei sobre o chiado da água. - Pode parar com isso? - Alex gritou de volta. Eu olhei para cima, olhando através para os tubos acima de nós, meu cabelo escorrendo e grudando no meu rosto. Eu tentei sentir as bordas da água como eu tinha feito no chuveiro e também com a onda gigante levantando antes em direção à nós, no barco. Eu tentei me concentrar para que ela retornasse para o teto ou para qualquer lugar que 242
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não fosse para nós e menos ainda para o fogo. As chamas já estavam diminuindo, se encolhendo de volta para o quarto. Desse jeito, não conseguiríamos incendiar nada. Retroceda - eu vibrava em minha cabeça, sentindo uma onda de energia começar a nascer dentro de mim como se milhares de células em meu corpo estivessem despertando. A água parou repentinamente. Estava funcionando. Ela estava voltando para dentro dos tubos. Empurrei como se estivesse tocando com o meu dedo a ponta da mangueira. - OK, Lila, o fogo! Concentre-se no fogo. Nós precisamos do fogo para destruir esse lugar. Nós precisamos dele para queimar isso rápido. As chamas estavam fazendo um caminho para fora da sala mais uma vez, sibilando onde estavam trilhas das superfícies molhadas. Uma única chama surgiu ao longo do chão, correndo azul e laranja para nós. Jack se esquivou para fora de seu caminho e eu peguei nela como se pegasse a cabeça de uma cobra e a segurei para trás, longe de nós, torcendo-a e forçando-a a voltar para a sala com os servidores. Um denso fumo preto encheu o corredor, pairando em cima de nós como um cobertor de lã grossa por onde eu não conseguia respirar e menos ainda enxergar. - Vamos, por aqui! - Jack começou a me puxar de volta para a saída de incêndio. - Espere - eu disse - Espere. Eu podia sentir a água começando a voltar ao seu curso normal mais uma vez, como se a minha mente fosse a represa e a represa estivesse prestes a ceder. Empurrei-o para trás novamente, e forcei as chamas a saltarem fortes para cima. Os tubos começaram então a retorcer e derreter sob o calor, o vapor evaporando em meio à fumaça. Meu rosto se sentia como plástico queimado. Eu estava consciente de Jack e Alex me chamando, de alguém puxando meus braços, mas eu cavei meus calcanhares e fiquei onde eu estava. Eu precisava ter certeza que tudo foi destruído. Que tudo seria queimado. Eu queria ter certeza de que nada seria deixado. Eu arremessei uma chama contra a parede de vidro do laboratório e ouvi o estalo do vidro se rompendo e também o barulho avassalador do fogo consumindo tudo. Ouvi um estalo e outra enorme explosão que me fez pular do chão, me jogando de costas. Chamas passaram por cima da minha cabeça e uma bola de fogo correu em nossa direção. No instante seguinte, eu senti Alex se jogando em mim, seu peito colidindo com o meu, me lançando contra o chão, com os braços enrolando na minha cabeça. Fechei os olhos, enrolada nele e forcei o fogo a voltar, voltar, voltar. Longe dele.
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Um segundo depois, Alex estava de pé, me empurrando para longe enquanto as chamas passavam furiosas por sua cabeça. Tossindo e cuspindo, ele me empurrou os últimos passos para a escada. A porta se fechou atrás de fogo nós e eu senti a explosão de ar fresco me acolhendo. Olhei para Jack e Alex. A camiseta de Alex estava agarrada à ele, as costas de seus braços estavam com queimaduras, com listras pretas de fumaça. Jack estava curvado, tossindo, uma mão pressionada contra o peito, a outra segurando o corrimão. - Vamos, vamos - disse Alex, respirando asperamente e pegando a minha mão. - Não, não! - Eu disse, saindo de seu alcance e voltando para a porta - Eu tenho que ficar. Temos que ter certeza que está queimando. - Está queimando! - ele gritou de volta para mim. A mão de Jack estava nas minhas costas, pedindo-me para descer as escadas. - Lila, você fez isso. Está queimando. Precisamos sair daqui. Eu permiti eles me puxarem para as escadas, meus olhos lacrimejando pela fumaça, meus pulmões ardiam como se fossem explodir, mas ainda assim, eu ficava olhando para trás o tempo todo, querendo saber se o fogo realmente havia reduzido tudo à cinzas. Nos lançamos em cima da porta para o saguão, deixando-a bater logo que passamos. Demos não se moveu. Ele ainda estava em pé no centro da sala, com o olhar firme em Richard Stirling, os ombros ligeiramente curvados, certamente devido a concentração que se exigiu dele para manter Stirling e o Robocop congelados. - Você conseguiu? - ele gritou para nós. - Sim, nós temos que sair daqui – Jack respondeu, correndo por ele Deixe-os ir - ele disse, acenando com a arma na direção do Richard Stirling e Robocop. - Você está pronto? - Demos perguntou, puxando uma arma de dentro de sua jaqueta. - Sim, faça isso - Jack respondeu. Richard Stirling piscou, e então franziu o cenho. Ele abriu a boca e fechou-a novamente ao ver a arma de Demos. Robocop disparou, mas nada saiu, sua arma apenas tremeu debilmente em sua mão. Ele olhou para ela com nojo e depois disse algo em nossa direção. Ele olhou para Jack. Jack sorriu calorosamente para ele. Demos firmou o olhar em Stirling por mais alguns segundos. Em seguida, marchou em direção a Stirling e apontou sua arma direto para sua testa. - Demos! - Alex gritou - Não. Nós concordamos em levar ele conosco e depois entregá-lo para a polícia.
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Demos fez uma pausa, seus olhos perfurando Richard Stirling. Seu dedo forçava o gatilho. - Demos! - Eu gritei - Venha! Vamos sair antes que o lugar todo pegue fogo. Richard Stirling virou-se para mim, uma carranca formou um sulco entre os olhos. Então, ele olhou por cima do ombro para a porta. A fumaça preta estava começando a aparecer, fazendo seu caminho para nós. As paredes estavam começando a formar bolhas de tinta. Demos ainda não se mexeu. Alex esperou um segundo, em seguida, ele pegou minha mão e me puxou em direção à porta. - Vamos, Jack! - ele gritou por cima do ombro. Jack empurrou a arma nas costas de Robocop e seguiu para a porta. Ele olhou para Demos. - Você vem? – ele gritou. Demos ainda não respondeu. Ele continuava lá com a arma apontada contra a testa de Stirling. Os dois homens olharam-se mutuamente enquanto a fumaça começou a se tornar uma nuvem envolta deles. Parei na porta. - Não podemos deixá-lo. - Nós não vamos ficar - Alex gritou de volta enquanto uma enorme explosão de fogo eclodiu pela porta. Parei de discutir com ele. Gesso e concreto tinham começado a chover em cima de nós e as chamas da escada pareciam ficar mais intensas exatamente onde Demos estava parado, envolvendo–o em fumaça negra. Jack empurrou Robocop através da porta. Alex me empurrou e eu depois segui ele, puxando minha camiseta para cobrir minha boca, ao mesmo tempo olhando para trás, tentando pegar um vislumbre de Demos através das chamas. O que ele estava fazendo? Alex estava agora logo atrás de mim, pedindo-me para seguir a frente. A fumaça no corredor era pesada, e se sentia como se estivéssemos correndo através de um túnel subterrâneo. Meus olhos ardiam, o ar dentro de meus pulmões era espesso e acre. Eu apenas conseguia ver uma sombra de Jack há uns dez metros de distância. Tentei soprar a fumaça para trás, a força a fez recuar um pouco, ficando fina em alguns lugares, ondulando para os lados, como uma capa. Poderíamos, pelo menos, ver para onde estávamos indo agora, o longo corredor que se estendia à frente de nós. A entrada dos fundos por onde Sara nos tinha trazido, estava aberta, mostrando um faixo de luz. Então ouvimos um estalo, abafado entre os rugidos das chamas e pelo alarme crescente de sirenes do lado de fora. Alex sacudiu os braços voando para o lado, me segurando. Eu agarrei o braço dele para me manter de pé. À frente, vi Jack tropeçar, e então cambalear, seu ombro
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batendo na parede. Em um movimento lento, com um grito brotando dentro de mim, eu vi Jack deslizar para o chão. - Jack! - Eu gritei, minha garganta queimava, enquanto eu passava por Alex para chegar até Jack. A fumaça engoliu Jack inteiro e eu lancei novamente tudo para trás com tanta força que recordou um furacão avançando no estreito corredor, rompendo pela porta aberta e deixando inundar a luz. Uma sombra apareceu, caminhando em meio à fumaça, em direção à nós. Eu mal consegui registrar que era Robocop. Eu não consegui enxergar a arma em suas mãos, não até que eu ouvi o segundo disparo. Em seguida, foi automático. Eu arremessei Alex para fora do caminho com tanta força e tão rápido que escutei o som quando ele colidiu com a parede atrás de mim que abafou o som do tiro me acertando.
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A força do impacto foi assustadora. Senti como se uma lança tivesse sido arremessada em minhas costelas. Aquilo pareceu romper por dentro meu osso, torcendo e entrando, até que eu senti seu calor invadindo com força meu pulmão. Meus joelhos colidiram com o chão, com força. A voz de Alex gritando no meu ouvido tornou-se fraca e distante, como se ele tivesse sido transportado para outra dimensão. Ouvi um outro crack, este me lançou caída de frente, minha testa bateu no chão. Um ar grosso e pesado de fumaça caiu sobre mim, enchendo minhas narinas e minha boca. Uma imagem de minha mãe surgiu na minha frente. Não era a imagem dela de alguns minutos antes, deitada como um cadáver nos braços do meu pai, mas uma imagem de antes, de muitos anos atrás. Ela estava ajoelhada na beira da piscina de nossa casa velha em Washington, com uma toalha em seus braços estendidos. Ela sorria, dizendo algo que eu não podia ouvir. Ela estava esperando por mim. Querendo que eu saísse da piscina para que ela pudesse me envolver na toalha e me secar. Eu senti minhas pernas pesadas e frias como se estivesse pisando em um lago de areia movediça. Eu não podia alcançá-la e um pânico tomou conta do meu coração e me apertou com todo o seu poder. A imagem ficou nebulosa e dissolvida. E então um pensamento surgiu na escuridão, inundando minha cabeça. Jack . Ele está bem? Tentei virar a cabeça para olhar, mas manchas pretas e vermelhas pulavam na frente dos meus olhos. Tentei chamar por Alex, mas minha boca parecia estar cheia de moedas enferrujadas. Engasguei com um intenso fluxo de bile que jorrou até a minha garganta e depois de volta para baixo. Um choque repentino veio contra minha bochecha. Haviam mãos debaixo de mim. Mãos segurando. Então passos batendo, me sacudindo a cada passo, enviando rios de fogo em minhas veias. E, em seguida, o ar frio dentro de mim, pungente e cruel contra a minha pele. A suavidade de braços foi substituída por um chão duro, implacável. As mãos se soltaram de uma vez de mim e vozes chamavam meu nome, dando ordens para mim. Então, assim quando a escuridão começou a se desfazer e a dor 247
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começou a diminuir, senti como se um fluxo de lava estivesse sendo derramado diretamente no buraco em meu peito. Um grito saiu da minha garganta, cortando o ar da noite, e parecia separar meu corpo em dois. A lava resfriou instantaneamente, parecendo haver se transformado em rocha, pressionando pesadamente no meu peito de maneira que eu não podia mais respirar e a escuridão surgiu de novo, mais pesada, desta vez, uma tempestade de gelo negro que estava lentamente me enterrando. - Volte para mim, Lila! Isso foi Alex que disse. Eu iria voltar para ele. O que ele estava falando? Eu sempre voltaria para ele. Eu sempre o faria. - Fique acordada. Vamos, acorda, Lila! Ele balançou os meus ombros. - Não ceda ao sono. Abra os olhos. Lila, ouça-me, eu estou bem aqui. Eu não vou a lugar nenhum, mas você tem que ficar também. Você não pode simplesmente desistir. Sua voz estava rouca, revestida de pânico. Eu tentei sorrir. Por que ele estava em pânico? Alex nunca entrou em pânico. Eu não ia a lugar nenhum. Eu só precisava dormir um pouco. Se ele pudesse apenas me segurar, eu poderia dormir um pouco agora. Mas ele precisa me abraçar bem apertado porque está tão frio. Congelando na verdade. O ar condicionado vai explodir. Ou talvez fosse porque as minhas roupas estavam molhadas. Oh. OK. Entendi. E então de repente eu estava em queda livre para trás, caindo em um buraco de veludo preto. - Lila! Isso soou como Jack. Ele havia sido baleado, não tinha? Eu tinha visto ele cair. Ele estava bem? Ele tinha que estar bem. Ele estava aqui e ele estava falando. Isso era bom. Mas ele podia se curar. Então, é claro que ele estava bem. Consegui sorrir e algo quente e úmido derramou sobre meus lábios e escorreu pelo meu queixo. - Fique comigo - Jack gritou - Você não vai a lugar nenhum, Lila. Você nunca me escuta! Eu tentei sorrir de novo, mas algo estava borbulhando. Eu queria cuspir. Mas eu não podia levantar a cabeça. Jack estava me pedindo para ficar. Ele finalmente concordou que eu não ia para nenhum lugar. Isso era tão engraçado. E eu queria muito dizer-lhe o quão divertido era. Suspirei e deixei a escuridão vir sobre mim. É realmente uma pena que eu não possa ficar.
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Então era isso era o que as pessoas queriam dizer quando falavam sobre uma luz branca brilhante. Você sabe que está morrendo. Esta é a morte. Isso registrou em algum pequeno recesso do meu cérebro, onde a luz ainda estava acesa. Era quente e escuro como um útero. Eu estava flutuando, lânguida e pacífica, a dor no meu peito desapareceu. E de repente um pontinho de luz na escuridão surgiu, um espaço, abrindo e alargando, através do qual a luz solar disparou. E alguém estava me beijando. Não. Não era alguém qualquer. Alex estava me beijando. Me beijando com força, com os lábios me apertando, seu hálito quente na minha boca, o hálito com gosto de fumo. - Respire. Respire! - ele estava aos gritos. Em seguida, seus lábios estavam nos meus novamente e ele estava forçando o meu peito, soprando ar em minha boca e pulmões. O turbilhão de luz em volta de mim começou a ficar mais brilhante e mais quente. Estava piscando, correndo em fitas elétricas até as minhas pernas, descendo por meus braços, girando através do buraco no meu peito, onde a bala tinha passado. Os ossos estavam se unindo, ficando juntos novamente como se fosse colado. E então veio uma enorme trepidação, uma explosão de luz, um ruído e um baque, um tambor batendo no meu peito. E minha cabeça voltou a sua consciência normal. Meus olhos se abriram. Alex estava apenas à alguns centímetros de mim, seus lábios bastante acessíveis. Eu sorri para ele. Ele estava tão lindo. Mesmo manchado com sujeira, suor e sangue. Ele balançou para trás. Ele estava respirando com dificuldade, sua camiseta estava encharcada de sangue, as mãos cruzadas como pedra em cima do meu peito. Isso foi bom. Elas poderiam ficar lá. Eu não me importava. - Jack, você pode parar agora. Ela está de volta. Sua voz era rouca, um pouco quebrada. Virei a cabeça. Jack estava ajoelhado no meu outro lado. Seus olhos estavam fechados, sua cabeça curvada. Então eu percebi sua mão, o calor da palma da sua mão, descansando sobre o meu peito. Eu olhei para ele. O que ele estava fazendo? Ele gentilmente levantou a mão e o calor evaporou imediatamente. Eu tremia e minha cabeça caiu para trás. Lentamente eu deixei meus dedos traçarem o seu caminho através do meu estômago e até meu peito, sentindo o local onde o tiro me acertou. Nada. Não havia nenhum buraco, nenhum fragmento de ossos quebrados, nem pele rasgada. Minhas costelas nem sequer se sentiam machucadas. Porém, 249
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havia sangue em todos os lugares. O lugar todo estava encharcado de sangue. Minha blusa, que havia sido empurrada para cima, estava encharcada de sangue. De repente, a mão de Alex estava em cima da minha, achatando sobre o meu coração. - Não há nenhum buraco. Meus olhos se arregalaram. - Jack fez isso em você. Voltei a olhar para Jack. Seus olhos estavam brilhando, como se estivesse pegando fogo por dentro. Ele sorriu de repente. - Você vai admitir isso agora? Meu poder bate totalmente o seu disse ele. Consegui sorrir. Neste momento eu não ia discordar. Havia um buraco manchado de sangue e também bastante partes queimadas em sua camiseta, por cima do ombro direito. Aonde ele tinha sido baleado. Ele não pareceu ter notado, no entanto. - Vamos lá, precisamos sair daqui – ele disse, pulando de pé. De repente ele estava logo à frente de um fogo novamente intenso. Chamas subiam para o céu, deixando torres de fumaça preta no ar. Eu tinha feito isso. Isso é realmente muito legal - eu pensei em admiração silenciosa. Então eu sacudi a mim mesma. O que eu estava dizendo? Eu era uma incendiária. Não havia nada de legal sobre isso. - Vá pegar o carro, Jack - Alex disse, olhando para mim - Ela perdeu muito sangue. Eu não tenho certeza se ela pode andar. Jack parecia prestes a dizer algo, mas então ele se levantou e correu para fora, na direção por onde Sara tinha nos trazido. Alex colocou um braço por baixo de mim e me colocou suavemente em seu colo. Minha cabeça caiu contra seu ombro e eu inclinei meu queixo para cima para que eu pudesse olhar para ele. Ele estava imundo, o azul de seus olhos ardendo através da sujeira. Tracei um dedo entre as sobrancelhas. Elas estavam chamuscadas. Só Deus sabia como eu deveria estar agora. Eu não sentia nenhuma dor, no entanto. Eu ainda estava flutuando. Se era assim que Jack se sentia o tempo todo, é, eu tinha que admitir que seu poder era definitivamente melhor que o meu. Alex acariciou uma linha na minha bochecha seguindo até meus lábios e eu comecei a flutuar através da estratosfera. - Você me deu uma bronca por eu ter te deixado. . . - disse ele – Mas você agora, nunca mais faça isso comigo de novo. Eu encontrei a minha voz. Estava rouca. - Combinado. Ele me encarou por um momento. - E já que estamos no assunto, você também prometeu que não ia me empurrar mais. Você não deveria ter feito isso – ele disse, balançando a cabeça suavemente, com a boca apertada. 250
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- Já estava na hora eu salvar você - eu disse - Você sabe, devolver o favor. Ele levantou uma sobrancelha chamuscada, os olhos brilhando, o âmbar irradiando neles. E então ele inclinou a cabeça e me beijou. Os feixes de luz surgiram mais uma vez, minhas pernas paralisaram e meu coração reiniciou mais uma vez.
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- Eu não posso acreditar nisso. - Shhh, aumenta o volume. Alguém apertou o botão de volume. Todo o mundo ficou em silêncio. O rosto de Suki apareceu radiante na tela da televisão. O repórter virou para ela. - Senhorita Nakamura, eu fiquei sabendo que você viu toda a explosão. - Sim, eu só estava passeando quando passei em frente a Base da Marinha com o meu amigo Nate. . . – o rosto de Nate de repente saltou diante da tela. Ele estava sorrindo de orelha a orelha. Suki acotovelou, tirando ele do caminho para que apenas metade de seu rosto aparecesse em cena. - E Bum ! O lugar inteiro explodiu. - Eu não posso acreditar que você me deu uma cotovelada para sair do caminho - Nate gritou de onde ele estava sentado, observando a si mesmo na tela. - Nate, eles queriam alguém muito bonito e atraente na entrevista. É por isso que me entrevistaram. - Shhhh - Demos interrompeu. Todo mundo ficou em silêncio novamente. Eu levantei minha cabeça do peito de Alex. Estávamos enrolados no sofá na sala principal do barco. Sua mão estava acariciando minha espinha, parando de vez em quando por onde a bala tinha me acertado. Ele estava me fazendo estremecer, me distraindo da notícia. O repórter finalizou, devolvendo a tomada ao estúdio. Um homem de terno e com uma gravata vermelha estava olhando sério para a câmera, sua voz grossa com falando gravidade. - Esse filme foi rodado no início desta noite na Base de Fuzileiros de Camp Pendleton nos arredores de San Diego - ele anunciou – onde a Sede das Stirling Enterprises foi significativamente danificada em um incêndio. Os relatórios iniciais não sabem sobre as causas do fogo, embora até a hipótese de alguém fazendo pirotecnia não foi descartada. Demos me jogou um sorriso por cima do ombro. Eu sorri de volta. 252
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- Incendiária - Alex sussurrou em meu ouvido. Novamente estremeci. - O que danificada significativamente significa? Será que conseguimos destruir ou não? - Jack perguntou. Ele estava sentado no braço do sofá perto da minha perna. - Espere, escute - Eu o fiz calar. - E quanto a mim? Por que eles não estão me mostrando mais? Suki lamentou. - Você não deveria sequer ter estado lá - Demos fez uma careta para ela. Ela mostrou a língua para ele, mas ele não percebeu. Ele estava ouvindo a notícia. - O incêndio coincide com a descoberta de alta quantidade de drogas nos escritórios da Stirling Enterprises em Washington DC. Uma quantidade de drogas avaliada em milhões de dólares, além de uma quantia não revelada de dinheiro foram encontrados no escritório de Richard Stirling e também em sua casa. Quatro outros membros do grupo foram presos em conjunto pelo DEA e pelo FBI após uma denúncia anônima para a polícia. O governo reagiu, tentando se distanciar das Stirling Enterprises, que detém vários contratados de defesa avaliados em bilhões de dólares. A Casa Branca emitiu um comunicado mais cedo esta noite anunciando uma investigação completa sobre a natureza altamente secreta da trabalho de defesa que estava sendo realizado na Base. Certamente, o suspeito incêndio também levanta muitas suspeitas sobre a natureza do que estava acontecendo nesta Base. Uma fonte de confiança de dentro do DEA disse que também já foi provado que há uma ligação entre a Stirling Enterprises e um poderoso narcotraficante da Cidade do México... Uma foto de Carlos apareceu na tela. A mão de Alex congelou nas minhas costas. - A filha de Richard Stirling, Rachel Stirling, uma funcionária da empresa, foi presa ainda essa noite na Cidade do México, depois de mais uma denúncia anônima, sugerindo que a ligação entre as drogas encontradas na Stirling Enterprises e o conhecido chefe do cartel Carlos Mendoza pode ser mais do que apenas uma simples coincidência. Sentei-me quando uma imagem de Rachel surgiu na tela. Era a imagem dela sendo algemada por quatro policiais mexicanos fortemente armados e sendo colocada na traseira de um carro da polícia. Senti uma leve satisfação, mas não o suficiente. O apresentar do jornal continuou. - Richard Stirling não foi visto desde a invasão em sua casa e escritórios, mas várias testemunhas afirmaram que ele estava na Base no momento da explosão. Ele é procurado para interrogatório pela polícia.
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Demos apertou o botão mudo. Todos nós olhamos para ele, em silêncio. Finalmente Alex falou: - Onde ele está? Você matou ele? Demos olhou para Alex inexpressivamente por um segundo, e então ele sacudiu a cabeça. - Não. - Onde ele está, então? - Perguntei. Minha garganta ainda se sentia rouca por causa da fumaça e todo o sangue que eu tinha engasgado. - Eu deixei ele ir, quando ouvi os tiros. Quando Jack foi baleado. - Você o deixou ir? - Jack deixou escapar. - Sim. Olhamos para Demos em um silêncio sombrio. Até mesmo Suki ficou quieta. - Para onde ele foi? – Jack perguntou, com a voz tensa. - Eu não sei - Demos respondeu calmamente. Eu afundei de volta contra o peito de Alex. Tudo isso para nada? Ele fugiu? - Nós destruímos as Stirling Enterprises – Alex disse - Mesmo que ele não morreu no incêndio, não há nenhuma maneira de ele conseguir se recuperar depois disso. Ele perdeu tudo. A polícia vai pegar ele em breve. Para onde é que ele vai? Seu rosto está em todos os noticiários. Ninguém disse nada. Eventualmente, Demos virou, olhando para todos nós, e em seguida, ele saiu da sala em silêncio. Eu observei ele ir, minha respiração presa na minha garganta. Alguém deveria ir atrás dele. - Onde está Alicia? - Eu perguntei, olhando ao redor. - Ela se foi - Amber respondeu calmamente. Ela estava sentada no chão, ao pé de Jack. - Porquê? - Perguntei. Amber virou e me deu uma olhada. Oh. Demos e minha mãe. Não era só Alicia que tinha visto o rosto de Demos no lobby. Eu me perguntava se ela tinha lido a mente de Demos. Eu não conseguia ler mentes, e mesmo assim os pensamentos dele naquela hora foram tão óbvios. Ele ainda estava claramente apaixonado pela minha mãe. - Lila? Jack? Eu olhei para cima. Meu pai estava na porta. Seu rosto estava diferente. Como se a vida tivesse voltado com toda a força em seus olhos. - Sua mãe acordou. Vocês querem vir ver? Eu fiquei de pé, um pouco trêmula. Eu já havia tomado banho e vestido roupas limpas, mas ainda me sentia nervosa e com tontura por causa da perda de sangue. E já faziam cinco anos. O que ela acharia de mim? O que diríamos uma à outra?
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Olhei para Alex e depois em volta, para os outros, e de repente me lembrei que eu tinha tanta coisa para contar para ela.
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O rosto de Nate refletia a tragédia. - Nós temos que ir e ficar com a vovó. - No Hilton em Acapulco? - Perguntei esperançosa. - Não. Em Atlanta. Mordi o lábio e tentei não rir. Isso era ruim. Muito, muito ruim. - A única boa notícia é que eu vou com ele. Suki tinha aparecido do meu lado. - Lila, você poderia me ajudar com as malas? Olhei para os seis bolsas Louis Vuitton empilhadas na sala. Virei novamente para ela. - Eu não posso permitir que esta mulher, Imelda Marcos, seja ela quem for, me ultrapasse - Suki encolheu os ombros. E então ela sorriu Adeus, Lila. Vou sentir sua falta. Um caroço se materializou na minha garganta. Suki me puxou para um abraço apertado. Nate lançou um braço em volta de mim também. - Nos vemos nas férias de verão, OK? Eu me afastei. - Isso seria ótimo. Eu não tenho certeza se eu vou estar aqui, no entanto - disse eu hesitante, imaginando se agora o meu pai gostaria de voltar para Londres ou se ficaremos aqui. Alex tinha me prometido que ele iria para onde eu estava indo, então realmente, eu não me importava mais para onde iria. Eu queria pelo menos um tempo no iate, no entanto. Ele parecia um lugar bom o suficiente para viver pelo resto da minha vida. Enquanto eu pudesse estar em um quarto com Alex e navegássemos em mares internacionais. - Eu posso ir te ver antes que você me veja – Nate riu. Eu dei um soquinho nele. - E o que os outros vão fazer? - Bem - respondeu Suki – Harvey está se arrumando. Ele quer voltar logo. - Voltar para onde? - De volta ao trabalho, sua boba. 256
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- Harvey tem um emprego? - Eu não consegui disfarçar o tom de surpresa na minha voz. - Eu acho que você pode chamar assim – ela respondeu, encolhendo os ombros. Meus olhos se arregalaram. Eu levantei a mão, não querendo saber mais. - E Amber? Suki sorriu maliciosamente. - Eu acho que ela vai ficar. - Ela vai ficar? - Eu me animei imediatamente - Porquê? - Porque Jack convidou. Ela precisa de um ombro amigo para se lamentar. - E Bill? – Perguntei - E Thomas? E quanto à Thomas? Ele está bem? - Eles estão na Cidade do México ainda. Thomas está melhor, mas falta muito para voltar ao normal. Seu irmão poderia fazer uma visitinha, para fazer aquela mesma mágica que ele fez em você em Thomas também. Não era realmente uma má idéia, Jack tentar usar seu poder em Thomas. Ele tinha feito isso na minha mãe e parecia estar funcionando. É claro, se ele pode me trazer de volta dos mortos, ele poderia ajudar muito Thomas. Suki voltou-se para as malas. - Então, não vai ajudar? Ou eu tenho que chamar o Harvey?
Demos estava parado no cais de costas para mim. Eu pulei e caminhei até seu lado. - Como está a sua mãe? - perguntou ele. Olhei em seus olhos azuis profundos, eles estavam mais leves e claros dos que o Alex, e eu ainda via a lasca de dor enterrada profundamente neles. - Ela está indo bem - eu disse, tentando engolir a tristeza e gratidão que quase me engasgava - Jack fez a sua coisa com ela. Bastante legal, hein? Meu pai diz que ela voltará ao normal em breve. Ela só precisa de descanso agora. Demos balançou a cabeça e virou-se para olhar para o oceano. - Ela me pediu para lhe dizer obrigado - eu disse em voz baixa. Ele não respondeu. - Ela me pediu para fazer isso também. 257
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Eu fiquei na ponta dos pés e dei um beijo na sua bochecha. Sua mandíbula se apertou. Ele respirou fundo e virou na minha direção. Seus olhos estavam escuros, um céu nublado. - Cuide do seu irmão por mim, Lila - Eu levantei uma sobrancelha e ele riu. Nós dois sabíamos que manter Jack seguro já não era tão necessário. - Eu vou te ver de novo? - Perguntei. Minha voz se quebrou. De alguma forma, em algum lugar ao longo do caminho, o amor e o apego surgiram na equação e isso me assustou um pouco. - Sim - Demos riu baixinho, colocando um braço em volta de mim Nós somos uma família, não somos? Ou próximo disso, pelo menos. Ele me girou, de forma que eu fiquei em pé na frente dele, e me segurou com as mãos apoiadas nos meus ombros. Sua expressão era séria, seu olhar fixo em mim. - Lila, não diga a ele, OK? Ele não precisa saber. Eu respirei o ar do mar, deixando ele encher meus pulmões. Olhei para Jack. Ele e Amber estavam sentados no deck superior. Ele levantou enquanto eu estava olhando e pegou uma manta, que depois colocou em volta dos ombros de Amber. Ele notou que eu estava olhando e sorriu, levantando a mão em despedida para Demos, que retornou com um aceno de cabeça e um sorriso tão fugaz que já tinha ido embora no momento em que pude limpar minha garganta e sussurrar: - OK. - Como ele está com relação à Sara? - Demos perguntou depois de um tempo, balançando a cabeça em direção a Jack. Dei de ombros. - Ele não tem realmente dito nada. Ele perguntou para Harvey se ela chegou ao hospital, mas ele não demonstrou se importar se ela estava bem. Não que eu me importe também. Você sabe, foi o meu pai que atirou nela. Eu ainda estava surpresa com o fato de meu pai saber manejar uma arma. - Sim, eu ouvi sobre isso. - Ela mereceu. - Pensei que pararíamos com essa coisa de vingança, Lila. Não aprendemos a lição ainda? Eu sorri para ele. - Vejo você por aí, Lila - disse ele finalmente. Depois ele pegou sua mala e saiu andando para baixo do cais. Eu fiquei olhando ele partir. Uma sombra solitária, desaparecendo como um fantasma em meio à noite. 258
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Alex me encontrou assim, de pé sobre o cais, olhando para a escuridão, que parecia mais pesada, de repente. - Oi - disse ele. - Oi - eu respondi, girando e deslizando meus braços em volta de sua cintura. - Estamos prontos - ele murmurou, acariciando meu cabelo atrás da orelha. - Para onde vamos? - Eu perguntei, não realmente me importando com isso, desde que ele não fosse a Cidade do México e desde que demorasse alguns meses para chegar lá. Meses em um barco no meio do oceano, onde ninguém poderia nos encontrar. Eu poderia até vencer a determinação de Alex. - Há uma linda praia no México - A voz de Alex estava tão baixa que fez minhas pernas tremerem. Eu olhei para o azul de seus olhos piscando na luz. - Eu acho que eu sei que praia é. Ele riu suavemente. - Eu disse que ia te levar de volta lá um dia - disse ele, levantando meu queixo com o dedo, os lábios tão perto que eu podia sentir seu calor. Por fim, inevitavelmente, ele fechou a distância e me beijou. As sinapses no meu cérebro me davam choque, iniciando um pequeno incêndio elétrico na minha cabeça. Mas tudo bem. Pelo menos agora eu sabia que eu podia controlar bem tudo isso.
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Depois de ter passado a maior parte da sua vida em Londres, Sarah deixou seu emprego num setor sem fins lucrativos em 2009 e partiu em uma viagem ao redor do mundo com seu marido e sua filha, obcecada por princesas, com a missão de encontrar um novo lugar para chamar de “lar”. Depois de vários meses na Índia, EUA, Cingapura e Austrália, eles se estabeleceram em Bali, onde Sarah agora passa os seus dias escrevendo perto da piscina e tomando toneladas de litros de água de coco. Ela terminou o seu primeiro livro “Hunting Lila” um pouco antes de deixar o Reino Unido, escreveu a sequência dessa série em uma praia na Índia, e agora acertou um contrato com a Simon & Schuster para um novo projeto. Seu terceiro livro, “Fated”, sobre um adolescente caçador de demônios, que foi escrito durante a sua estadia na Califórnia, foi publicado em Agosto de 2013 pela Simon Purse (uma derivada editorial da Simon & Schuster) e logo após ela lançou o aclamado “Out of Control” em maio de 2014. Atualmente, ela está trabalhando em vários projetos bastante interessantes, e seu próximo livro “Conspiracy Girl” deve ser lançado em Fevereiro de 2015. Ela também escreve romances “new adult” sob o pseudônimo de Mila Gray para as editoras Pan Macmillan (UK) e Simon & Schuster (EUA).
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