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“Juntos e misturados”
from Seafood Brasil #47
Festa de encerramento da divisão de pescado da Fiesp em 2022 teve apelo à união e manifestação de representantes de todos os elos da cadeia
Omote ficou claro desde o convite: o Departamento de Agronegócio (Deagro) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) encerrou oficialmente os trabalhos da Divisão da Cadeia Produtiva da Pesca e da Aquicultura (informalmente chamada de Compesca) na segunda-feira (19/12), com a última plenária do ano e um happy-hour comemorativo. Em virtude da agenda apertada do ano passado, a organização decidiu passar o evento, tradicionalmente realizado em novembro, para dezembro.
Roberto Kikuo Imai, diretor titular adjunto do Deagro, preparou um misto de assembleia multissetorial e experiência gastronômica que procurou dar representatividade a todos os elos do segmento. A proposta foi ampla e inclusiva, mas a adesão foi menor que no período pós-pandemia, principalmente em função das dificuldades causadas pela greve dos aeronautas em São Paulo, que aconteceu justamente naquela semana.
Ainda assim, a reunião teve participação de representantes da aquicultura, maricultura, pesca extrativa e esportiva, comercialização, industrialização, pesquisa e eventos para o setor. “Sempre digo que nenhum elo da cadeia é mais forte que seu elo mais fraco. Por isso, como é tradição do Compesca, procuramos sempre reunir todos os elos da cadeia produtiva para registrar nossos entraves e apontar soluções”, diz Imai.
O diretor fez referência ainda ao que considerou um período de “polarização nociva” ao Brasil, em virtude das Eleições. “Passamos um período muito difícil de polarização, mas já é hora de superarmos nossas diferenças em prol do desenvolvimento do setor.” O ex-ministro e diretor do IFC, Altemir Gregolin, participou virtualmente do encontro e relatou sua experiência na condução do GT da pesca e aquicultura, que acabou por
Diretoria da Amesp diz que a legalização de áreas é um dos maiores entraves para o desenvolvimento da maricultura em SP determinar a recriação do ministério com quatro secretarias principaismodelo adotado pela nova estrutura (leia mais na reportagem de Capa desta edição). Na ocasião, ainda se cogitava o nome do próprio Gregolin como um potencial ministro.
O então secretário de Agricultura de São Paulo, Francisco Maturro, participou do evento e destacou a importância da união da cadeia produtiva do pescado e da retomada das Câmaras Setoriais da Pasta. Seu antecessor, o deputado estadual Itamar Borges, referiu-se ao pescado como “um mundo de oportunidades; precisamos acordar”, provocou. Na oportunidade, Maturro, outras autoridades e lideranças setoriais aproveitaram para homenagear Imai por meio da entrega de uma placa comemorativa dos serviços prestados ao setor.
Setor a setor
Patrícia Barros, Juliano Mathion e Lucas de Castro Navarro, da Associação dos Maricultores do Estado de São Paulo (Amesp), apresentaram as dificuldades de desenvolvimento da maricultura no Estado, cujos entraves no licenciamento forçam os produtores a desenvolverem suas atividades do litoral sul do Rio de Janeiro. Ainda assim, a entidade passa por um novo momento com a inauguração da sede institucional, na Barra da Lagoa, em Ubatuba (SP), para organizar ainda mais as demandas do segmento e solucionar outros entraves, como a disponibilidade de sementes e alevinos.
Outra linha de trabalho apresentada foi o Projeto Mar é Cultura, realizado pela associação com apoio da Petrobras Socioambiental. O objetivo
Cardápio musical e gastronômico afinados
Ao som de um grupo de samba e MPB, o happy hour que sucedeu a plenária trouxe uma mescla de estilos culinários e proteínas animais além do pescado. Dois dos exemplos mais destacados foram o magret de pato misturado a atum selado e o tartare de filé mignon com ovas de peixevoador (tobiko).
do programa, contemplado em edital da estatal petrolífera, é incentivar o turismo de base comunitária em áreas marinhas, a partir de cursos de capacitação de produção de espécies, divulgação da maricultura e seus produtos e educação ambiental. Segundo eles, o projeto se dedica a mapear os maricultores e maricultoras do litoral norte do Estado de São Paulo para produzir um diagnóstico socioeconômico da atividade e das áreas de pequenos produtores que necessitam ser regularizadas. A expectativa deles é de que o projeto permitirá a regularização de ao menos 40 áreas aquícolas do litoral norte do Estado de São Paulo.
Outro segmento com inúmeras dificuldades é o de criação do jacaréde-papo-amarelo. Por enquanto, apenas um frigorífico está apto (Abatedouro Aruman, em Porto Feliz - SP) para beneficiar o produto, mas ainda assim há dificuldades na harmonização dos processos sanitários associados ao abate e beneficiamento do animal, que ainda não dispõe de uma legislação específica para seus cortes e subprodutos. Segundo o médico-veterinário do Criatório Caiman, Luís Bassetti, há mercado para os produtos, principalmente no food service, mas o volume produtivo ainda está aquém do que os compradores precisam.
Os comentários sobre a pesca industrial ficaram a cargo de Gabriel Calzavara, presidente da Associação Brasileira dos Armadores de Pesca (PescaBR) e do Sindicato da Indústria de Pesca do Estado do Rio Grande do Norte (Sindipesca-RN). Ele considerou o histórico de gestão pública da pesca “um desastre”, já que não há estatísticas oficiais há mais de 10 anos e o setor mal sabe o tamanho que têm os estoques pesqueiros. Um caminho para a resolução do problema, segundo ele, é desenvolver uma “mentalidade marítima”, com incentivos à renovação da frota para ocupar, de forma estratégica, o Atlântico Sul.
Já Eduardo Lobo, da Abipesca, reforçou que o Brasil é o único país do universo de produtores relevantes de pescado que não exporta para a União Europeia. Ele reforçou que esta deve ser uma prioridade do novo governo. Em contraste, o presidente da Associação dos Comerciantes Atacadistas de Pescado no Estado de São Paulo (Acapesp), Jiro Yamada, pediu prioridade para reverter o cenário de decadência, informalidade e abandono gradual da área de pescado na Ceagesp.
Outras manifestações relevantes foram do presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Camarão (ABCC), Itamar Rocha, que mencionou as dificuldades na expansão da carcinicultura brasileira em função da falta de legalização de áreas produtivas, mas disse que a carcinicultura ensaia uma retomada com aumento da produção, apesar dos preços represados. Representando o grande varejo, Meg Felippe, diretora comercial de peixarias do Grupo Carrefour, atestou a necessidade de a rede aprimorar ainda mais a sua competitividade. Ela fez um apelo à cadeia para disponibilidade de produto, de forma a evitar quebras e manter o consumidor focado nos produtos de pescado.