3 minute read

Com o aval do mestre

Docente da UFRPE, a engenheira de pesca Flávia

Aos 16 anos, Flavia Frédou ingressou no curso de Engenharia de Pesca da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) , berço da graduação dos três secretários técnicos do novo MPA. Um de seus professores acompanhou toda a trajetória, que incluiu passagens por outras instituições renomadas do Brasil, Reino Unido e França, de onde ela retornou para pleitear uma vaga como professora titular do curso da mesma UFRPE. Na presidência da banca de avaliação, estava o mesmo mestre que tanto confiava naquela aluna.

Já como docente titular da instituição, Frédou ouviu mais uma das provocações positivas do professor Hazin. “Dois anos atrás, ele chegou pra mim e disse: ‘Flavíssima’, você já está pronta para ir para a gestão. O que é que você ainda está fazendo dentro da universidade?” Parecia um prenúncio do que aconteceria logo após a conclusão dos trabalhos do grupo de transição para o novo Governo. “Sempre digo que ele deve estar dando risada ali de mim, porque se estivesse vivo, provavelmente seria ele que estaria aqui. Mas ele vem comigo. Ele está segurando a minha mão”, completa, emocionada.

A responsabilidade de honrar a memória do mentor só complica a já difícil missão da nova Secretária de Registro, Monitoramento e Pesquisa do MPA. É nesta secretaria, por exemplo, que ficarão concentradas as demandas de produção estatística aquícola e pesqueira. Lá também é que serão criadas ou modificadas as políticas de gestão de estoques pesqueiros e políticas de mitigação de riscos. Será também a equipe de Frédou que irá cuidar do registro de mais de 1 milhão de pescadores artesanais, bem como as 26 mil embarcações existentes no País, segundo os dados mais recentes do SisRGP - fora os que estão à sombra do sistema.

A Secretária tem experiência no tema, mas procurou se cercar de outros expoentes nos assuntos correlatos. Para atuar como diretor do Departamento de Pesquisa e Estatística, ela convidou o biólogo Marcelo Vianna, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que foi pesquisador do Instituto de Pesca em São Paulo e atuou na coleta de dados de desembarques no litoral paulista. Outro convidado é o oceanógrafo Jocemar Tomasino Mendonça, hoje responsável pela sistematização dos dados dos desembarques do Paraná dentro do Programa de Monitoramento da Atividade Pesqueira Marinha (PMAP) e que irá trabalhar com o secretário Cristiano Ramalho.

Flavia Frédou quer mapear sistemas vigentes de estatística pesqueira no País para aprimorá-los, harmonizá-los e estendê-los a todo o território nacional

Ainda sobre a estatística, Flavia Frédou disse que o objetivo é mapear as diferentes iniciativas que surgiram desde o colapso estatístico dos boletins oficiais, para depois fazer uma consolidação e aprimoramento de todas elas, com vistas ao retorno de uma única fonte estatística mais fidedigna de dados sobre o setor. “Temos de entender as falhas e os problemas. As unidades de conservação, que também têm levantamentos, e o automonitoramento. Eu quero chegar ao final deste ano sabendo o que eu tenho de dados.”

Ela reconhece ainda o que foi feito de aprimoramento na gestão anterior para o levantamento estatístico de recursos pesqueiros sensíveis, como os atuns, tainha e pargo. “Tiveram resultados extraordinários em relação aos status dos principais estoques em todas as regiões do Brasil.”

No campo do registro e monitoramento, a engenheira de pesca Elielma Ribeiro Borcem, que atua no MPA e SAP desde 2011, foi mantida e nomeada como diretora do departamento. Frédou enxerga um desafio grande que ela terá de afrontar. “Os sistemas de registro de pescador, de embarcação e de monitoramento de frota não estão integrados. E estão completamente relacionados, porque existe o mapa de bordo, na qual você recebe a estatística do produtor, que por sua vez, já é o embrião da estatística.” Sobre o Programa Nacional de Rastreamento de Embarcações Pesqueiras por Satélite, que tanta polêmica acumulou nos últimos anos, ela é direta. “O Preps não dá conta mais. Precisamos recomeçar.”

As entregas pontuais já estão em definição. Uma delas são os mapas de bordo digitais, que iniciaram na última gestão e a secretária quer concluir até abril para outras pescarias além da tainha. Outro ponto são os painéis em tempo real que permitirão a gestão do estoque pesqueiro com cotas definidas, como os atuns. Outra intenção dela é retomar o programa de Observadores de Bordo, uma demanda internacional. “ É um programa extraordinário do ponto de vista de pesquisa e de exigência internacional. Eu faço parte da ICCAT e estamos sendo muito cobrados por organizações internacionais para esta retomada.”

Retomada é uma palavra de ordem que o novo orçamento do MPA permite voltar a ser usada, mas outro termo comum no discurso da nova Secretária é o famoso “pé no chão”. “Eu sempre digo que a gente não vai conseguir resolver tudo com a expectativa de três meses ou seis meses. Mas se conseguirmos entender o cenário e encaminhar as soluções nos quatro anos que acolham a demanda da comunidade científica e de pescadores, já estaremos bem contentes.” A tarefa não é simples, mas a Secretária tem respaldo do ministro, do setor e do saudoso mestre Hazin.

This article is from: