www.pe.sebrae.com.br ano 42 • nº 4 • OUTUBRO/NOVEMBRO 2016
ano 42 • nº 4 • OUTUBRO/NOVEMBRO
Cidades inteligentes Inovadoras, criativas e sustentáveis, as smart cities já são uma realidade. E você pode fazer parte dessa revolução
Desenvolvimento
Empresas aliam responsabilidade ambiental à redução de custos
Entrevista
Marcelo Coutinho fala sobre a era digital e o comportamento do consumidor
EDITORIAL Conselho Deliberativo | Pernambuco 2015-2018 Associação Nordestina da Agricultura e Pecuária – Anap Banco do Brasil S/A – BB Banco do Nordeste do Brasil – BNB Caixa Econômica Federal – CAIXA Federação da Agricultura do Estado de Pernambuco – Faepe Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado de Pernambuco – Facep Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Pernambuco – Fecomércio Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco – Fiepe Instituto Euvaldo Lodi – Núcleo Regional de Pernambuco – IEL Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae Secretaria da Micro e Pequena Empresa, Trabalho e Qualificação de Pernambuco – SEMPETQ Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial do Estado de Pernambuco – Senac/PE Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Estado de Pernambuco – Senai/PE Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Estado de Pernambuco – Senar/PE Fundação Universidade de Pernambuco – UPE Presidente Josias Silva de Albuquerque Diretor-superintendente José Oswaldo de Barros Lima Ramos Diretora técnica Ana Cláudia Dias Rocha Diretora administrativo-financeira Adriana Côrte Real Kruppa Comitê de Editoração Sebrae Pernambuco Angela Miki Saito Carla Andréa Almeida Eduardo Jorge de Carvalho Maciel Fábio Lucas Pimentel de Oliveira Janete Evangelista Lopes Jussara Siqueira Leite Roberta de Melo Aguiar Correia Jornalista responsável Janete Lopes | DRT – 2232 Texto e edição Dupla Comunicação Revisão Betânia Jerônimo Capa Unidade de Marketing e Comunicação Sebrae Ilustração da capa Edson Figueiredo | Z.diZain Comunicação Projeto gráfico original Felipe Gabriele | Z.diZain Comunicação Diagramação Edson Figueiredo | Z.diZain Comunicação Tiragem 3.000 exemplares Periodicidade Trimestral Impressão CCS Gráfica
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Carta ao Leitor
cidade em que vivemos é, num conceito mais amplo, a extensão da nossa casa. E nada melhor do que morar num local organizado, limpo, seguro e onde tudo funcione, de maneira a tornar o nosso dia a dia mais fácil. O que parece ser um sonho ainda inacessível para quem vive nas grandes cidades brasileiras está, aos poucos, virando realidade. Inspirada no conceito de cidades inteligentes, as principais metrópoles do mundo têm apostado no desenvolvimento de soluções tecnológicas e inovadoras para os problemas que as afetam. Aos poucos, as cidades inteligentes têm ocupado a agenda dos municípios brasileiros. Esses novos modelos de centros urbanos são o destaque da reportagem de capa desta edição. Você vai poder conhecer o que já vem acontecendo no mundo e como as nossas cidades estão se adaptando a esse novo conceito. Mas o morar bem não está restrito apenas às tecnologias. As pequenas coisas do cotidiano podem ser melhoradas por meio de ações simples como fazer compras perto de casa, uma vez que ajudam na mobilidade, reforçam as relações entre as pessoas e revigoram a economia dos bairros. Para isso, o Sebrae vem, desde o ano passado, trabalhando o Movimento Compre do Pequeno Negócio. Numa reportagem nesta edição, você fica sabendo o que é essa ação e como participar deste movimento. As oportunidades estão aí para serem aproveitadas pelos empreendedores. Basta olhar, ficar atento e empreender. Pensando nisso, preparamos uma matéria para contar a história de um empresário de Caruaru que observou as características do mercado, do que faltava nele, e usou a inovação para ajudar na realização de um novo negócio. Boa leitura! Até a próxima edição.
Josias Albuquerque Presidente do Conselho Deliberativo Estadual do Sebrae
Capa
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Cidades inteligentes Buscando eficiência, centros urbanos se inspiram no conceito de smart cities e apostam em soluções inovadoras
Empreendedorismo Tecnologia
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Comércio de bairro movimenta a economia local, além de gerar empregos na região
Artesanato desperta espírito empreendedor e estimula a concretização de sonhos
Artigos
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Mercado de games amplia sua área de atuação e torna-se uma aposta favorável de investimento
Tendências
Histórias
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Produzir ou vender? Eis a questão
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Cadeia de valor estimula o consumo de produtos locais e desenvolve a economia da região
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Empresas aliam responsabilidade ambiental à redução de custos
Oportunidade
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Feira do Empreendedor capacita e estimula o desenvolvimento profissional
Inspiração
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Empreendedor de Caruaru cria ferramenta inovadora em e-commerce
Entrevista Zona de conforto pode ser fatal
Revista Direção Outubro/novembro 2016 Rua Tabaiares 360 Ilha do Retiro – Recife/PE 0800 570 0800
Desenvolvimento
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Marcelo Coutinho fala sobre a era digital e o comportamento do consumidor
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sebraepe
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CAPA
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Soluções urbanísticas inovadoras envolvendo criatividade, sustentabilidade, capacidade empreendedora e tecnologia aproximam cada vez mais o conceito de cidades inteligentes dos municípios brasileiros por
VALÉRIA OLIVEIRA
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ma cidade onde a mobilidade urbana é ágil e eficiente, o uso de energia é consciente, o transporte público é de qualidade e os espaços urbanos respeitam o conceito de sustentabilidade. Características que transformariam qualquer centro urbano do mundo em um lugar melhor para se viver. E essa realidade não está tão distante de nós. Inspiradas no conceito de cidades inteligentes (smart cities, em inglês), as principais metrópoles do mundo têm apostado no desenvolvimento de soluções tecnológicas e inovadoras para os problemas que as afetam, com o objetivo de melhorar a infraestrutura urbana e tornar os centros urbanos cada vez mais eficientes. Aos poucos, o conceito de smart cities tem ocupado a agenda dos municípios brasileiros.
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Edson Figueiredo
Cidades inteligentes já são realidade
CAPA
“O modelo de cidades inteligentes visa a posicionar estrategicamente as cidades em matéria de inteligência urbana, além de contribuir para a melhoria do desempenho da gestão através da geração de oportunidades de cooperação urbana orientadas para a criação de produtos, serviços e soluções criativas e inovadoras”, explica a diretora (Nordeste) da Rede Brasileira de Cidades Inteligentes e Humanas, Roseana Amorim. A ideia surgiu ainda nos anos 90 com o Smart Growth, um conceito urbanístico que propõe que as comunidades sejam um local onde as pessoas possam fazer tudo a pé, com redução do trânsito, em que haja um uso misto entre residências, empresas, comércio e muitas áreas verdes. Ele é voltado para novas políticas de planejamento urbano, mas ganhou destaque nos últimos anos, impulsionado pela construção do zero de cidades inteligentes como Songdo, na Coreia do Sul, e Masdar, em Dubai. A cidade sul-coreana, por exemplo, é vista como fonte de inspiração para centros urbanos de todo o globo que buscam soluções tecnológicas para se tornarem mais “inteligentes”. Em Songdo, o lixo é sugado diretamente das cozinhas dos prédios residenciais para unidades de tratamento; hardwares futuristas são testados, tais como sensores que monitoram a temperatura, o consumo de energia e o fluxo de tráfego pela cidade. A possibilidade de criar soluções urbanísticas inovadoras tem chamado a atenção de grandes empresas de tecnologia como IBM e Siemens, que criaram departamentos de pesquisa na área. Instituições de ensino como o MIT (Massachussets Institute of Technology) e seu centro de investigações e protótipos para cidades inteligentes, além dos governos, também têm apostado no conceito com investimentos em cinco principais áreas: meio ambiente, mobilidade, 8
interação cidadão-governo, qualidade de vida e economia/pessoas criativas. Embora sejam relativamente recentes, as smart cities já se consolidaram como tema fundamental no debate sobre desenvolvimento sustentável, movimentando um mercado global de soluções tecnológicas que, até 2020, deve atingir a marca dos US$ 408 bilhões. “O conceito de cidades inteligentes saiu do plano da utopia para virar uma nova e lucrativa indústria. Transpassou os escritórios de design, arquitetura e urbanismo às grandes corporações dos setores de tecnologia e serviços. Num curto espaço de tempo, muitas empresas já possuem unidades de negócios exclusivamente destinadas a pensar neste tipo de solução”, pontua Roseana Amorim. TRANSFORMAÇÃO DAS CIDADES NO BRASIL No Brasil, o governo federal instituiu por decreto, em maio deste ano, o projeto Minha Cidade Inteligente, parte integrante do programa Brasil Inteligente, que prevê uma série de ações no sentido de transformar “cidades comuns” em cidades inteligentes. E muitos municípios brasileiros têm aproveitado com mais inteligência as oportunidades de uma economia global e conectada. No ranking das 50 cidades mais inteligentes do país, divulgado pela Connected Smart Cities, São Paulo (SP) desponta no topo da lista, seguindo-se Rio de Janeiro (RJ), Curitiba (PR), Brasília (DF) e Belo Horizonte (MG). A capital pernambucana ocupa a nona colocação e foi a única cidade nordestina a integrar os 10 primeiros lugares. “Recife está no início da construção de uma cidade inteligente, mas já é uma cidade inovadora. Temos consciência que há muito ainda a se fazer, entretanto há a certeza de que estamos trilhando o caminho certo e que já temos referências importantes e com boas práticas de sucesso”, destaca Roseana Amorim.
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Flávio Costa
Roseana Amorim, diretora (Nordeste) da Rede Brasileira de Cidades Inteligentes e Humanas, ressalta a criação de produtos, serviços e soluções criativas e inovadoras, no que se refere à inteligência urbana
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Bigstock
Songdo, na Coreia do Sul, é vista como fonte de inspiração para centros urbanos de todo o mundo que buscam soluções tecnológicas para se tornarem inteligentes
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CAPA
Flávio Costa
Berço de importantes centros de inovação, Recife ocupa o posto de maior polo tecnológico do Brasil. A cidade tem sido o local escolhido por muitas multinacionais para instalar fábricas e centros de pesquisa como as gigantes da tecnologia IBM, Microsoft, Accenture, HP e Samsung. E uma das iniciativas que pode ser apontada como responsável por esta ascensão é o Porto Digital, maior parque tecnológico do país, fundado em 2000 por meio de uma parceria público-privada para fomentar a área de tecnologia de informação no Nordeste. Eleito três vezes como o melhor parque tecnológico do Brasil pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), o Porto Digital representa um dos principais ambientes de inovação brasileiros e de economia criativa, com mais de 250 empresas e projetos inovadores, tais como o de carros elétricos e o primeiro laboratório aberto e gratuito de inovação focado em internet das coisas (o L.O.U.CO), além de um polo de pesquisa voltado para o desenvolvimento de novas soluções na cadeia de inovação em tecnologias da informação e comunicação (o Cesar). “Uma cidade mais inteligente é aquela que sabe aproveitar, através das suas políticas públicas, a capacidade empreendedora dos seus
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cidadãos. Os empreendedores do Porto Digital inovaram ao definir uma política diferenciada de implantação de um parque tecnológico em pleno centro urbano, ao invés de fazê-lo num campus universitário, como é na maioria das cidades. Foi esta decisão que fez uma aproximação virtuosa entre a inovação nos negócios e a revitalização urbana do Recife. Foi uma visão empreendedora e inteligente de transformação urbana”, afirma Cláudio Marinho, especialista em planejamento urbano e um dos fundadores do Porto Digital. Ainda segundo Marinho, o parque tecnológico é responsável pela revitalização de 80 mil metros quadrados de imóveis históricos (o Porto Digital fica localizado no Recife Antigo) e pela criação de 8.500 empregos qualificados. Trabalhos desenvolvidos por startups como a Epitrack também são responsáveis por colocar o Recife no mapa das smart cities. Criada em 2013, a empresa desenvolveu o projeto de vigilância participativa Guardiões da Saúde, um aplicativo para smartphone que prevê e detecta riscos de epidemias por meio da colaboração de usuários que informam sintomas que estejam sentindo. O programa é direcionado para mapear três principais síndromes: respiratória, diarreica e exantemática por arbovirus (neste caso, dengue, zika e chikungunya).
RIM Creation – www.flickr.com/photos/rimcreation
Masdar, em Dubai, é uma das cidades inteligentes que foi construída do zero
O Recife ocupa a nona colocação no ranking das 50 cidades mais inteligentes do Brasil
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Flávio Costa
Flávio Costa
CAPA
Para Cláudio Marinho, especialista em planejamento urbano, uma cidade mais inteligente é aquela que sabe aproveitar a capacidade empreendedora dos seus cidadãos por meio de políticas públicas
O projeto da Epitrack foi utilizado pelo Ministério da Saúde nas Olimpíadas Rio-2016 e é o único representante brasileiro finalista do The Venture 2016, competição mundial que contempla as melhores ideias na área de empreendedorismo social. “Essa abordagem crowdsourcing (colaboração coletiva, em tradução livre) cria um canal de comunicação entre a população e o governo, tendo as pessoas como formadoras de cenários epidemiológicos e participantes ativas da construção de comunidades saudáveis. Hoje existe uma grande preocupação em relação à gestão da saúde populacional. Oferece-se ao poder público uma via complementar aos seus sistemas tradicionais, permitindo uma identificação mais rápida da ocorrência de algum surto epidêmico”, explica Onício Leal, CEO da Epitrack. Para Cláudio Marinho, o movimento das cidades inteligentes é uma estratégia de venda de soluções e se configura como uma oportunidade para as pequenas empresas 14
inovadoras mostrarem o seu potencial criativo. “O desafio para a política pública não é o da “inclusão digital” dos cidadãos, é o de se incluir na vida digital e conectada dos cidadãos. Aí estão as oportunidades para os pequenos negócios: desenvolver soluções em rede para melhorar a vida dos cidadãos. Eu diria que a principal preocupação das empresas e dos governos deveria ser o aproveitamento do enorme potencial criativo dos jovens empreendedores, que desenvolvem soluções inovadoras para a nossa vida em comunidades urbanas”, ressalta o especialista. De acordo com o superintendente do Sebrae em Pernambuco, Oswaldo Ramos, esse novo modelo também deve gerar uma mudança no perfil empresarial e na relação das empresas com o mercado de consumo. O aperfeiçoamento de produtos e serviços se torna essencial nesse cenário, uma vez que agrega mais valor. Esse novo padrão também exige que o empresário esteja preparado para
Rodolfo Goud
Onício Leal é CEO da Epitrack, startup que desenvolve projetos responsáveis por colocar o Recife no mapa das smart cities. Um desses projetos é um aplicativo para smartphone que prevê e detecta riscos de epidemias
uma gestão mais complexa. “O modelo de cidades inteligentes está associado a vários fatores como integração, conectividade, mobilidade e planejamento. Isso vai impactar nas relações de negócios das empresas com o mercado, porque elas vão precisar se adaptar e qualificar seus serviços e produtos frente a esse perfil de cliente”, pontua. Ainda segundo Ramos, embora o movimento de cidades inteligentes represente oportunidades para os micro e pequenos empreendedores, existem alguns obstáculos a transpor. A baixa cultura inovadora, a deficiência de recursos humanos e ativos tecnológicos, e a disponibilidade de recursos financeiros são alguns dos problemas que o empreendedor pode enfrentar nessa nova realidade. “O grande desafio para integrar as micro e pequenas empresas a um ambiente de negócios de cidade inteligente é a dificuldade de acessar linhas de financiamento para inovação. A Lei de Inovação Tecnológica, por exemplo, é um grande instrumento de incentivo, mas os editais têm muita restrição à microempresa. Nas suas principais modalidades, considera apenas empresas com lucro real. Em pequenas empresas, são poucos casos. É necessário um
fortalecimento do ecossistema de inovação”, avalia. Para Oswaldo Ramos, isto pode gerar um estímulo ao surgimento e desenvolvimento de empresas com alto potencial de crescimento. INICIATIVAS PÚBLICAS Os gestores públicos também estão se empenhando na construção de cidades cada vez mais inteligentes. Na capital pernambucana, destacam-se iniciativas promovidas pela prefeitura da cidade, tais como o Conecta Recife, um programa que permite o acesso gratuito à internet em pontos espalhados pela cidade; o programa Robótica na Escola, considerado um dos mais avançados enquanto ferramenta pedagógica e que já vem mudando a realidade de milhares de alunos da rede municipal de ensino. Outras ações que se sobressaíram nesse contexto foram a distribuição de tablets para estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental da rede municipal; o Portal da Transparência, que é considerado um dos melhores do país pelo site Contas Abertas; e a gestão do trânsito, a partir da instalação de nobreaks e câmeras de segurança e controle do tráfego. OUTUBRO/NOVEMBRO 2016 15
EMPREENDEDORISMO
Modesto no tamanho, enorme na importância Os pequenos negócios ajudam no desenvolvimento econômico e geram empregos por
ERICKA FARIAS
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Marcela de Holanda
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e manhã cedinho, tem aquele cheirinho de pão e, aos poucos, a fila na padaria vai se formando de clientes que querem começar o dia com um café da manhã reforçado. Caso o arroz acabe antes do almoço, é só dar uma passadinha naquela mercearia que fica do outro lado da rua. O ambiente é modesto, mas tem uma infinidade de produtos. Pertinho de casa sempre tem aquela pequena loja. São 8,9 milhões de empresas espalhadas por todo o Brasil, segundo o Sebrae. Os itens vendidos são os mais variados, mas além de serem uma opção prática na hora da necessidade, o comércio de bairro pode trazer desenvolvimento para toda a área de abrangência. “No comércio de bairro, é possível tratar diretamente com o dono, aumentando as chances de se conseguir um bom desconto”, destaca o economista do Instituto Fecomércio Rafael Ramos. Em grandes redes, normalmente, os funcionários possuem um valor máximo pré-estabelecido pela gerência
para dar o abatimento. “No pequeno negócio, o proprietário sabe exatamente o custo dele e até onde pode ir”, explica. Além disso, a estrutura das grandes lojas costuma ser mais cara. A valorização da marca também pode influenciar negativamente no preço. Priorizar o comércio de bairro pode trazer benefícios que vão além do preço mais baixo. “Uma loja com um bom movimento pode atrair outros empreendimentos para a região. Isto traz desenvolvimento e gera empregos que podem ser preenchidos por moradores da área”, ressalta Ramos. As pequenas empresas empregam 52% da população que trabalha com carteira assinada no Brasil, segundo o Sebrae. No bairro da Imbiribeira, no Recife, a Quitanda da Vila é um desses comércios de bairro que se fortalecem por uma clientela fiel. O negócio abriu as portas em 2012, após Tatiana Rocha e seu esposo perceberem a dificuldade de encontrar perto de casa produtos que acabavam indo comprar em mercados de outros bairros. O que no início se restringia à ideia de vender frutas e verduras, com o tempo a expansão do negócio tornou-se necessária.
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Agência Rodrigo Moreira
EMPREENDEDORISMO
Adriana Côrte Real, diretora administrativo-financeira do Sebrae/PE, destaca a importância de disseminar a ideia de comprar do pequeno negócio
“Fomos crescendo de acordo com a demanda. Os clientes não buscavam apenas frutas e verduras, então expandimos nossos produtos e começamos a trabalhar também com aves, enlatados e embutidos, por exemplo”, explica Tatiana Rocha. A proprietária destaca ainda a importância do negócio para a região: “Movimentamos a economia local e também empregamos os moradores das imediações dentro do negócio. Além disso, ajudamos a tornar o bairro mais conhecido”, completa. A comodidade de não ter que se deslocar por grandes distâncias faz com que as pessoas priorizem o comércio de bairro. “Observamos uma quebra na hegemonia da venda de certos produtos por grandes redes. Hoje em dia é muito mais fácil todos terem acesso a tudo”, destaca o sociólogo da 18
Faculdade Joaquim Nabuco Rodrigo Nery. A piora do trânsito nas metrópoles dificulta ainda mais essa locomoção. “As cidades cresceram. É mais fácil comprar em lojas onde o acesso seja feito a pé”, destaca. A Quitanda da Vila levou para a Imbiribeira uma forma de comércio mais prática, sem perder a qualidade do negócio. A concorrência com os atacadistas que vendem nos grandes mercados existe e é preciso buscar administrar o negócio driblando esses entraves. A empresa, desde o ano passado, passou a fazer consultoria com o Sebrae e este auxílio é um diferencial na hora da administração. “Fizemos alguns cursos como o de gestão de estoque, participamos de capacitações e buscamos sempre uma melhor forma de gerir o negócio. A concorrência dos atacadistas é difícil, mas
Luizito Fotografias
temos um público fiel e uma clientela próxima que, por nos conhecer, avisa, por exemplo, sobre algum produto”, completa Tatiana. COMPRE DO PEQUENO Para valorizar esses negócios e celebrar o Dia da Micro e Pequena Empresa, comemorado no dia 5 de outubro, o Sebrae lançou, em 2015, o Movimento Compre do Pequeno Negócio. A iniciativa visa a conscientizar a população sobre a grande influência do segmento para o desenvolvimento econômico e social do país. “Sempre comemoramos a data, mas queríamos disseminá-la para todos junto com a ideia de que todo dia é dia do pequeno”, destaca Adriana Côrte Real, diretora administrativo-financeira do Sebrae/PE. A estratégia central do movimento foi mostrar, tanto para a população quanto para os comerciantes, a importância de comprar do pequeno negócio. “Fizemos uma sensibilização para que o dono do mercadinho de bairro passasse a frequentar o salão de beleza que fica na rua da frente e vice-versa. Desta forma, o dinheiro podia circular naquele bairro, gerando empregos e trazendo desenvolvimento”, explica a diretora. INTERIOR Para a empresária Jossineide Nascimento, dona da Garbus Presentes, de Araripina, que vende artigos infantis na cidade, sua experiência durante o movimento foi positiva. “Tivemos um acréscimo de 15% nas vendas no ano passado”, opina. A loja é um exemplo de empresa que fortalece o comércio local, uma vez que grande parte dos seus clientes é da vizinhança e das cidades próximas. Segundo Jossineide Nascimento, a ação foi essencial para ajudar a manter o patamar de vendas em um período de crise. “A estratégia foi importante e acredito que reduziu as perdas que poderíamos ter nessa fase complicada”, opina.
À frente da Garbus Presentes, de Araripina, Jossineide Nascimento teve experiência positiva durante o Movimento Compre do Pequeno Negócio
De acordo com a gerente da Unidade Sertão do Araripe, Maria Lucélia Sousa, os negócios no município respiram novos ares com a ação. “Durante o movimento, realizamos consultoria em vitrinismo, de modo a preparar as lojas para que fiquem atraentes. A área é toda decorada com bandeirolas. Com esses gestos, os lojistas se sentem lembrados e incluídos”, destaca. Em 2016, 15 municípios receberam capacitações do movimento em todas as regiões do estado: Recife, Mata Norte (Goiana, Condado, Timbaúba e Carpina), Mata Sul (Cabo de Santo Agostinho), Agreste Meridional (Garanhuns, Jucati e Tupanatinga), Agreste Central e Setentrional (Caruaru), Sertão Central, Moxotó, Pajeú e Itaparica (Petrolândia e São José do Egito), Sertão do Araripe (Araripina e Ouricuri) e Sertão do São Francisco (Petrolina).. OUTUBRO/NOVEMBRO 2016 19
TECNOLOGIA
Aperte o “play” no mercado games de Gamificação, jogos sérios, “edutenimento”... Estas e outras tendências da indústria de jogos eletrônicos estão na mira de pequenos negócios locais, que vêm ganhando destaque e competitividade no cenário internacional Por
FAUSTO MUNIZ
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Game Franquia Brasil, desenvolvido através de parceria Sebrae e Associação Brasileira de Franchising
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o ano de 1972, uma caixa de metal com duas maçanetas em cada ponta e uma porção de botões chegou ao mercado pelas mãos do engenheiro e inventor alemão Ralph Baer. O estranho objeto era nada mais nada menos que o primeiro console de videogame da história, o Odyssey. De lá para cá, os jogos eletrônicos conquistaram a preferência de plateias de todas as idades e classes sociais. Para se ter uma noção, até 2017 o faturamento da indústria de games deverá superar o de Hollywood, atingindo a marca de US$ 100 bilhões, de acordo com o banco de investimentos de produtos digitais Digi-Capital. O Brasil é o 11º mercado de games no mundo e o líder na América Latina, com US$ 1,28 bilhão, como aponta pesquisa do instituto NewZoo. Os números impressionantes demonstram o poder desse mercado, que ultrapassa a simples produção de jogos eletrônicos e abraça uma série de outros produtos e serviços relacionados. Para Péricles Negromonte, analista de Negócios Digitais do Sebrae Pernambuco, as possibilidades de atuação no segmento incluem a chamada gamificação: o uso de mecânicas e dinâmicas de jogos com o objetivo de engajar pessoas
e gerar interatividade com uma marca ou ideia através da ludicidade. É fazer as coisas e tarefas de forma divertida. “O mercado de games é muito amplo. Podem-se gamificar problemas para solucionálos, para fins educacionais, principalmente no âmbito social, e podem-se criar games de mercado global. Vai depender muito do mercado em que se queira atuar. Todo game tem como base um propósito ou vem de um insight de alguém. O Pokémon GO surgiu em seus primeiros protótipos dentro da Google através de uma brincadeira interna. A Nintendo observou isso e lançou na frente. O mercado de games é muito aberto e cabe tudo”, conta. Assim como em todo tipo de empresa, ele acrescenta, o empresário precisa discutir um modelo de negócio que melhor se encaixe em sua proposta. GAMES PARA EXPORTAÇÃO Engana-se quem pensa que apenas grandes empresas estão faturando com o segmento. Para quem tem uma boa ideia e quer entender melhor sua viabilidade, vê-la ganhar corpo e se lançar, a dica é dar um pulinho no Portomídia, um dos braços do Porto Digital. Instalado no Recife, o espaço foi criado para oferecer OUTUBRO/NOVEMBRO 2016 21
infraestrutura e programas de qualificação para empreendedores das áreas de multimídia, games, cinema, design, música e fotografia. Foi de lá que nasceu, em 2006, o Manifesto Games, um estúdio de jogos que tem como principal estratégia a exportação de games para outras empresas, principalmente fora do país. Seu time de 30 funcionários é multidisciplinar, composto por programadores, artistas, designers, profissionais de marketing, vendas e outros. Toda essa equipe reunida, que trabalha num ambiente descontraído e criativo, já conseguiu desenvolver mais de 100 projetos, entre jogos educativos, e-books interativos e infográficos animados. Em 2014, a empresa conquistou o primeiro lugar no Prêmio de Desenvolvimento de Jogos de Educação Financeira do Sebrae, competindo nacionalmente com outros 223 inscritos. O jogo vencedor, Mercadinho do Seu Biu, permite ao usuário desenvolver um relacionamento com dinheiro, definir projetos, tomar decisões e apresentar conceitos básicos sobre orçamento e planejamento financeiro. Para ganhar maior competitividade, a empresa partiu para uma estratégia de mercado inversa ao modelo tradicional, como relata o diretor de produção Túlio Caraciolo: “Primeiro buscamos clientes fora daqui para depois conquistarmos nosso espaço na região. Mas, de fato, não existe mais isso de mercado interno e externo. O jogo que produzimos é desenvolvido para qualquer jogador dos Estados Unidos, Europa ou Brasil. Não há diferença. O que é consumido aqui é consumido no mundo inteiro. O marketing é pensado mundialmente”. Em função desse tipo de negócio, a empresa deve estar preparada para a alta competitividade do mercado global e a segmentação pode ser uma alternativa bastante rentável para ser explorada. “Os jogos podem ser aplicados para fins diversos. Os ‘serious games’ são jogos sérios e conseguem uma boa fatia de 22
Flávio Costa
TECNOLOGIA
Jogos pensados para o mundo: pernambucana Manifesto Games, dirigida por Túlio Caraciolo, investe na segmentação de produtos e diversidade de talentos de seu time
mercado, tais como os ‘advergames’ para a publicidade, os jogos de treinamento que ajudam a fixar conteúdo de forma lúdica e interessante, e os simuladores, que são criados para objetivos específicos como capacitar motoristas e pilotos, envolvendo a segurança das pessoas”, Túlio detalha. CARREGANDO… O universo do “faz de conta” dos games também pode ser uma oportunidade para quem precisa aprender. Já existe até um termo para definir os jogos voltados para
fins educativos: edutainment (education entertainment) — no português, entretenimento educacional. E se você quer ser empresário ou já está empreendendo, que tal praticar as habilidades requeridas para conseguir sucesso no mundo dos negócios? O Sebrae oferece gratuitamente uma série de games que simulam o cotidiano de desafios e oportunidades, de acordo com a necessidade do empreendedor. Escolha o jogo que mais se encaixa no seu perfil, aperte o “start” e divirta-se, sem medo do game over. • Franquias Brasil: o que é preciso para abrir uma franquia, manter o empreendimento e fazê-lo crescer é ensinado no jogo, num total de 10 fases, nas quais diversas áreas de atuação — gestão de pessoas, marketing, finanças e desempenho — são trabalhadas. • Portal EAD Sebrae: na página, é possível jogar gratuitamente diversos títulos que ensinam a empreender e ter sucesso nos negócios, tais como Kart das 11 Habilidades, Trilha do Empreendedor e Pesquisa de Mercado.
naweb Quer montar uma produtora de games? Entre no site www.sebrae.com.br e digite no setor de busca a palavrachave games. A primeira opção a aparecer virá com orientações para os empreendedores do mercado digital.
Jogo Franquias Brasil
www.gamefranquiabrasil.com.br
Portal EAD Sebrae ead.sebrae.com.br
Tela do jogo Trilha do Empreendedor, que testa habilidades na gestão de uma empresa. Disponível no portal EAD Sebrae
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Edson Figueiredo (alguns Ãcones, Freepik)
DESENVOLVIMENTO
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Reduzir para crescer nos negócios Diminuir os custos com responsabilidade ambiental tem sido a preocupação tanto de empresas que já nascem com “DNA sustentável”, quanto das que querem adotar a sustentabilidade para adaptar-se ao mercado Por
PEDRO PAULO CATONHO
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egundo a consultoria internacional Euromonitor, 65% das pessoas procuram ter atitude positiva em relação à natureza. Os números da pesquisa realizada em 2014 mostram uma tendência que se reflete nos negócios. Certamente a seguinte pergunta já surgiu na cabeça de qualquer empresário: “Como reduzir custos e, ao mesmo tempo, proporcionar benefícios econômicos associados à melhoria do desempenho ambiental da empresa”? Economizar água e energia sem prejudicar a produção é uma boa saída. Na teoria, aparentemente, é fácil. Na prática, quais atitudes o empreendedor deve ter para gerar economia em seu estabelecimento sem atrapalhar o rendimento do negócio? Quem conseguiu diminuir gastos com simples mudanças foi o Portal do Pão, localizado no bairro da Madalena. Inaugurada em 2013, a loja sofria com as altas contas de energia. Era um “apaga luz daqui,
usa menos dali” e nada de resultados. Depois de diversas tentativas em vão, a empresária Ângela Cahu pediu ajuda. “No ano passado, procuramos o Sebrae. Eles vieram até a loja e aconselharam a troca da fiação, que estava muito antiga e gerava a elevação do consumo. Mudamos as instalações elétricas com a substituição de fios, tomadas, caixa de disjuntores etc. Nossa conta de energia reduziu 50% desde então”, ressaltou Cahu, participante do Programa de Agentes Locais de Inovação, que tem o objetivo de promover a prática continuada de ações de inovação nas empresas por meio da orientação de consultores do Sebrae. ENERGIA EM QUEDA As modificações promovidas pela empresária são apenas uma pequena parte das possibilidades existentes. As alterações mais comuns para quem deseja economizar na parte de energia ocorrem OUTUBRO/NOVEMBRO 2016 25
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DESENVOLVIMENTO
Paulo Bandeira, diretor de operações do Grupo Julietto, afirma que o estabelecimento reduziu as despesas de 10% a 15% com investimentos em separação de resíduos e instalações elétricas mais econômicas
através do uso intensivo das lâmpadas LED, em substituição das fluorescentes tubulares e compactas. Outra opção, no sistema de climatização, é a utilização de equipamentos com tecnologia “inverter” (inversor de frequência que controla a velocidade de compreensão do ar-condicionado), capazes de encurtar aproximadamente 25% dos gastos. “Existem vários caminhos e a análise individual das instalações elétricas poderá indicar a opção mais viável técnica e economicamente, devendo essa orientação partir de um especialista. Algumas ações de boas práticas, muitas vezes, nem exigem investimento, o que pode ser um bom começo no combate ao desperdício 26
para o empresário que não pode ou não quer gastar muito”, alertou Érico Brilhante, engenheiro elétrico e consultor do Sebrae em Pernambuco na área de eficiência energética. O Grupo Julietto, do segmento de alimentação, também tem se preocupado, cada vez mais, com essas questões. Mas ele conseguiu economizar. A empresa obteve ganhos com a separação dos resíduos e o investimento na parte elétrica. Um dos caminhos foi a instalação de caixas de gordura que impedem a passagem dos resíduos pela tubulação. No total, a diminuição de despesas oscilou entre 10% e 15%, de acordo com o diretor de operações do estabelecimento, Paulo Bandeira.
“Separamos os lixos para reciclagem e também investimos em duas caixas de gordura, que ajudam na preservação do meio ambiente já que recebem os despejos da cozinha. É um produto essencial para compor o sistema de esgoto. Na parte elétrica, redimensionamos os quadros de energia, reduzimos a quantidade de freezers e trocamos as suas borrachas, que não estavam vedando como deveriam e elevavam o consumo. Até a limpeza desses freezers interfere no consumo”, disse Bandeira. Está cada vez mais frequente o número de negócios que nascem preocupados com a origem de suas matérias-primas, a eficiência energética de suas produções, a qualidade de vida dos funcionários e o descarte dos excedentes. Para auxiliar os empresários que desejam seguir com este foco, o Sebrae possui metodologia própria para atender às demandas do empreendedor com orientação técnica no tema. “Uma simples ordenação da forma como você pode condicionar sua loja, com layout correto dos seus equipamentos, pode gerar redução dos custos de energia”, destacou a gestora de projetos na área de sustentabilidade do Sebrae em Pernambuco, Valéria Sousa. “Nós temos trabalhado com este assunto há 15 anos, mas só hoje as empresas estão colocando isso como prioridade: ou elas se enquadram na nova realidade ou não se mantêm. É uma necessidade do empresariado. A sustentabilidade está vivendo um momento de conscientização e a empresa vai perceber que isso estará em seu DNA naturalmente, no seu dia a dia”. Para o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, a ideia de diminuir custos com a preocupação ambiental pode ser resumida em cinco elementos. A “metodologia Sebrae 5 menos que são mais” trabalha com a proposta de redução de água, energia elétrica, matéria-prima, resíduos e poluição da qualidade do ar, a fim de gerar mais lucro, competitividade, satisfação do consumidor, produtividade e qualidade ambiental.
Trocas econômicas Substitua lâmpadas fluorescentes tubulares e compactas por lâmpadas LED. Mude o sistema de climatização tradicional por equipamentos com tecnologia “inverter”.
CENTRO SEBRAE DE SUSTENTABILIDADE Para quem deseja seguir os rumos do Portal do Pão e da Julietto em seu negócio, o Centro Sebrae de Sustentabilidade é uma boa opção para a consulta de informações. Inaugurado em 2010, a sede física fica localizada em Cuiabá (MT), porém o Centro é a unidade de referência nacional do Sebrae sobre o tema, uma vez que atua com a geração e a disseminação de conhecimentos em sustentabilidade aplicada aos pequenos negócios. Além do papel de mapear inovações, técnicas e práticas sustentáveis no Brasil e no mundo, o centro, através do seu portal, fornece conteúdo que apoia o atendimento do Sistema Sebrae em todos os estados. “É um acervo de informações – através de infográficos, cartilhas e metodologias – que servem como referência na produção de conhecimento voltado para a sustentabilidade. Nos reportamos ao centro quando temos uma necessidade, o que é muito comum”, explicou Valéria. Para acessar o portal do CSS, entre na página sustentabilidade.sebrae.com.br. OUTUBRO/NOVEMBRO 2016 27
OPORTUNIDADE
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Feira do Empreendedor: divisor de águas para empresários pernambucanos Evento é um dos maiores de empreendedorismo do Brasil e estimula a capacitação a partir do desenvolvimento das pessoas por
RACHEL MOTTA
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á quatro anos, Michelli Vecchione participou da Feira do Empreendedor. Na época, trabalhava apenas com locação de automóveis. A empresa estava no site Melhores Locadoras, mas nem sequer aparecia na busca. “Éramos empresários falidos. Não tínhamos caixa, pontuação e nem comentários na internet. Estávamos completamente no ‘vermelho’. Fomos procurar ajuda no Sebrae em Pernambuco e nos recomendaram a feira. Foi um divisor de águas”, lembra. Para Michelli, a feira foi útil para a sua capacitação, bem como do seu marido e dos enteados. “Todos nós participamos do evento.
Os meninos ainda eram bem jovens. Hoje eles não trabalham mais conosco, mas a feira serviu para estimular o empreendedorismo em seus próprios negócios”, completa. Oswaldo Botelho do Nascimento Júnior, da empresa Quem Indica, também tem boas lembranças da Feira do Empreendedor. “Participei há dois anos. Na época, trabalhava com um projeto para uma página na internet com indicação de prestadores de serviços. O evento serviu de vitrine e oportunidade para divulgação da marca”, conta. Segundo Oswaldo, a feira em si é ótima para a prospecção de negócios. “Conheci muita gente, ampliei muito a minha network e ainda mantenho a lista de contatos”, ratifica. OUTUBRO/NOVEMBRO 2016 29
OPORTUNIDADE
O EVENTO A Feira do Empreendedor é um dos maiores eventos de empreendedorismo do Brasil. Estimula a capacitação a partir do desenvolvimento das pessoas, tornando-as mais competitivas. “O Sebrae em Pernambuco e a sua rede de parceiros identificaram a necessidade de apresentar para os pernambucanos as possibilidades para abrir ou desenvolver negócios, estimulando a capacidade empreendedora. No evento, a apresentação de tendências, perfis de consumo, tecnologias e inovações. A feira também foca no desenvolvimento profissional com postura empreendedora, uma vez que
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está alinhada às exigências do mercado de trabalho”, afirma a diretora técnica do Sebrae/PE, Ana Dias. Entre os objetivos esperados, está o incentivo à geração de emprego e renda, além do esclarecimento dos serviços prestados pelo Sistema Sebrae. Devem circular no evento desde estudantes universitários e de cursos profissionalizantes até microempreendedores individuais. Neste ano, são esperadas aproximadamente 12 mil pessoas. “Iremos trabalhar 60 oportunidades de negócio baseadas nas seguintes cadeias de valor: alimentos e bebidas, bem-estar, construção civil, turismo e economia criativa e moda”, assegura Luciana Correia
A Feira do Empreendedor conta com a apresentação de tendências, perfis de consumo, tecnologias e inovações
Cerca de 25 mil pessoas estiveram na última edição da Feira do Empreendedor, realizada em 2014, no Centro de Convenções em Olinda
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Agência Rodrigo Moreira
Barbosa, da Unidade de Relacionamento com Clientes e Atendimentos. Com o tema “Oportunidades de negócios e empregabilidade”, o evento este ano acontece em Caruaru, no Agreste pernambucano, entre os dias 9 e 12 de novembro, no Senac. Na programação, palestras, seminários, oficinas, atendimento personalizado, orientação, tecnologia e inovação, espaços interativos e exposição de produtos e serviços. São mais de 160 atividades totalmente gratuitas, das 14h às 22h. Na última edição, em 2014, realizada entre os dias 8 e 11 de outubro, no Centro de Convenções, em Olinda, o evento recebeu a visita de cerca de 25 mil pessoas.
Agência Rodrigo Moreira
OPORTUNIDADE
O esclarecimento dos serviços prestados pelo Sebrae e o incentivo à geração de emprego e renda estão entre os objetivos da Feira do Empreendedor
Aproximadamente R$ 5,1 milhões foram gerados em negócios durante e após a feira, que foi criada há 22 anos pelo Sebrae Pernambuco. Em 2002, o projeto foi adotado pelo Sebrae Nacional para os 27 estados, devido às características de feira de negócios e educação empreendedora. PROGRAMAÇÃO O evento é dividido em vários salões. Um deles é o Fale com o Especialista, em que o visitante recebe informações estratégicas nas áreas de finanças, marketing, planejamento e organização, empreendedorismo e pessoas. Outra área de destaque terá como foco o mercado, a inovação e a sustentabilidade. “O Espaço Tendências trabalhará 60 oportunidades e modelos de negócio, além de perfis de consumidores atuais e futuros, apontando 32
como isso terá impacto nas micro e pequenas empresas”, comenta Luciana Barbosa. O evento traz ainda outros espaços como Arena Oportunidades de Negócio; Arena Empregabilidade; Sebrae Mais Perto de Você; Atendimento Governo; Educação Empreendedora; Startup Weekend Fashiontech; Salão Rede de Parceiros, Desenvolvimento Territorial/Políticas Públicas, além de capacitações em 11 salas, 13 laboratórios, um auditório e três miniauditórios. O Salão Expositores conta com 70 estandes de máquinas e equipamentos, além de produtos, serviços, franquias, negócios digitais e instituições bancárias e de microcrédito. A Feira do Empreendedor tem a realização e organização do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Pernambuco. O patrocínio é do Banco do Brasil com apoio da Fecomércio, Fiepe, Faepe, Facep e Governo do Estado de Pernambuco.
QUANDO
9 a 12 de novembro, das 14h às 22h ONDE Senac (Av. José Xavier Santiago, 140 - Indianópolis, Caruaru/PE)
ESPAÇOS OFERECIDOS
•Arena Oportunidades de Negócio •Arena Empregabilidade •Salão Expositores •Sebrae Mais Perto de Você •Atendimento Governo •Fale com o Especialista •Educação Empreendedora •Experience Day •Salão Rede de Parceiros •Desenvolvimento e Ambiente de Negócios •Centro Sebrae de Sustentabilidade •Salão Inovação e Tendências de Mercado •Lounge e Arena de Empregabilidade •Atendimento Governo do Estado
E MAIS...
Capacitações em 11 salas, 13 laboratórios e eventos nos auditórios
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HISTÓRIAS
Artesanato em forma de amor e superação Empreendedores enxergam na arte motivo de realização pessoal e profissional por
MAYARA PAREJA
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pós ser diagnosticada com lúpus, uma doença autoimune rara, a administradora Adriana Veiga deixou de exercer a sua profissão e se aposentou. Formada pela Faculdade Frassinetti do Recife (Fafire), ela trabalhou com vendas no setor administrativo por 20 anos. Filha de costureira e ferreiro, Adriana sempre teve interesse pelo artesanato. “Meu problema de saúde me fez realizar o que sempre quis, pois foi a partir disso que entrei de cabeça no artesanato”, comenta. Quando tudo parecia estar perdido, ela se reinventou. Iniciou a vida como artesã, em 2004, através de capacitações. Hoje suas especialidades são a latonagem, a decoupage e a cartonagem em peças de ferro, alumínio e materiais em MDF. “Ao fazer um curso de decoupage por indicação de uma amiga, comecei a vender minhas obras na própria clínica onde estava fazendo tratamento”, conta. E deu certo! Depois de ver o resultado positivo em relação às suas vendas, Adriana nunca mais parou. CRIANDO HISTÓRIA Segundo a empreendedora, o Sebrae em Pernambuco já faz parte da sua vida há 34
bastante tempo. “Eu o conheci na época em que trabalhava no setor administrativo de uma empresa, no Shopping Recife”. Para alavancar a vida como artesã, ela decidiu investir em vários cursos como Sei Vender, Sei Cobrar e Negociação de Vendas, além de consultorias também. “Eu moro no Recife há 24 anos, mas sou de Garanhuns. Sempre recebi muita capacitação através de palestras, oficinas, consultorias. E foi a convite da instituição que pude participar do Festival de Inverno de Garanhuns (FIG) pelo nono ano consecutivo”. Adriana marcou presença no Armazém de Arte e Negócios, que esteve aberto para visitação de 22 a 31 de julho, no Agreste pernambucano. Em seu ateliê, localizado na Várzea, foram confeccionadas 335 peças para o festival e foram vendidas mais da metade delas. “Cada ano tem sido muito gratificante em relação ao público e às vendas. Até hoje nunca deixei de alcançar o meu objetivo”. Além de realizar a restauração das peças, Adriana viu no mercado de festas outra forma de empreender. “Trabalho também com lembranças de casamento, aniversários em geral e outros tipos de artesanato em MDF”. Adriana acredita que o seu diferencial é o acabamento. “Uso sempre produtos de qualidade, desde o pincel até a tinta.” Para as vendas, plataformas sociais como
Agência Rodrigo Moreira
Adriana Veiga, que encontrou-se no artesanato após diagnosticada com uma doença autoimune, participou pelo nono ano consecutivo do Armazém de Arte e Negócios durante o Festival de Inverno de Garanhuns
Facebook e WhatsApp são fundamentais para a empreendedora. “Isto é prático. É a melhor coisa do mundo para quem souber usar”. TRANSPONDO OBSTÁCULOS Adeildo Monteiro também esteve presente no Armazém de Arte e Negócios do FIG 2016. Descoberto pela professora ainda no tempo colegial, passou a receber incentivo para investir na arte. “Minha professora disse que eu tinha um talento que me diferenciava dos outros”, lembra. Mesmo que por um lado tenha se realizado profissionalmente, aos 19 anos, quando passou em um concurso público federal, ainda faltava algo. Foi então que, aos 28 anos, o servidor decidiu tornar-se também artesão. “Comecei com esta idade a fazer arte no papel. Eu sempre quis trabalhar com isso”. Após assistir a algumas palestras do Sebrae, Adeildo teve o seu trabalho
aprimorado e reconhecido. Este ano foi a 11ª vez que ele exibiu suas peças no FIG. “Foram confeccionadas em torno de 45 obras. Vendemos todas”, comemora. Usando o Facebook como forma de divulgação do trabalho, o empreendedor investe na produção de vídeos. “O cliente gosta de ver como é que eu faço meus artigos. Às vezes, até compra para revender em outros estados”. São vendidos em torno de 20 por mês, segundo o artesão. Adeildo acredita ter um diferencial: “Todas as minhas obras são feitas à mão, sem repetição. Já cheguei a produzir mais de 200 peças únicas. O papel, o arame e a tinta são as minhas matérias-primas”. Com um ateliê localizado em Garanhuns, ele divide seu tempo entre um trabalho e outro. Das 14h às 22h, encontra-se na Rua São Miguel, fazendo o que mais ama. “Eu decidi investir nisso porque é o que eu realmente gosto”, finaliza. OUTUBRO/NOVEMBRO 2016 35
TENDÊNCIAS
Cadeia de valor: tendência é eliminar atravessadores Empresários estimulam economia local a partir da compra de ingredientes do próprio estado por
RACHEL MOTTA
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m casa ou em cafeterias, entre um gole e outro de café, você já parou para pensar em todos os caminhos que o grão levou até chegar à sua xícara? Ainda que a produção seja do seu próprio estado, certamente a “viagem” foi longa e pode configurar uma cadeia de valor. Para explicar este termo, vale ilustrar os caminhos do café Yaguara, da empresária Tatiana Peebles, até a cafeteria “A vida é bela”, da empresária Isabele Almeida.
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Flávio Costa
Até chegar ao cliente da cafeteria A Vida é Bela, o café Yaguara passa por várias etapas de valorização do produto
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TENDÊNCIAS
Das montanhas do Nordeste, no município de Taquaritinga do Norte, localizado a pouco mais de duas horas do Recife, vem o grão que é comercializado na capital pernambucana, em estabelecimentos como o “A vida é bela”, no bairro da Várzea. Alguns processos são necessários, porém, até que o grão chegue ao consumidor final. São muitas as etapas que colaboram para a valorização do produto. Todos esses caminhos percorridos da matéria-prima à entrega e ao consumo do produto final integram uma poderosa teia com a participação de diversos atores fundamentais para o processo. Trata-se da cadeia de valor, um termo relativamente novo e que exige uma visão empreendedora dos agentes envolvidos. Quanto mais atributos o produto possui, sem que isso altere a sua precificação, mais competitivo ficará no mercado e, consequentemente, maior será o seu valor agregado. Dessa forma, o valor agregado ao café Yaguara deve-se, em primeiro lugar, à maneira como ele é cultivado. Colhido na fazenda Várzea da Onça, desde 1978, este café não utiliza agrotóxico ou fertilizante na sua produção. A plantação fica sob a sombra de árvores frutíferas, o que confere um sabor diferenciado, graças ao desenvolvimento lento e pleno de açúcares naturais. A colheita é manual, o que permite a seleção apenas dos grãos maduros. Em seguida, o cuidado permanece durante a secagem, o processamento e a torrefação. Os grãos selecionados com tanto critério beneficiam desde os funcionários da fazenda, até os empresários que adquirem o produto. Segundo o gerente da Unidade de Setores Econômicos do Sebrae/PE, Alexandre Alves, “uma cadeia de valor refere-se à soma de todas as atividades existentes desde a produção primária, passando pelo beneficiamento de um produto, sua distribuição e comercialização, indo até o consumidor final”. 38
Nós apostamos que o café pode fazer sucesso mesmo em um bairro da periferia. Fazemos questão de apoiar o produtor de Pernambuco e valorizar os ingredientes locais, entre eles o café Yaguara, cuja fazenda tive o prazer de conhecer com o apoio do Sebrae, participando de aulas com a barista
Isabele e Tatiana estão em posições distintas da cadeia de valor de um mesmo segmento, o de alimentação. Cada qual com a sua expertise, levando o café para a mesa do consumidor. Há cinco meses, Isabele inaugurou a sua cafeteria no bairro da Várzea, lugar onde cresceu e seus pais ainda mantêm residência. Tem o irmão como sócio, a mãe também atua na produção das tortas e juntos – a família inteira - contribuem para o sucesso do negócio. “Nós apostamos que o café pode fazer sucesso mesmo em um bairro de periferia. Fazemos questão de apoiar o produtor de Pernambuco e valorizar os ingredientes locais, entre eles o café Yaguara, cuja fazenda tive o prazer de conhecer com o apoio do Sebrae, participando de aulas com a barista”, comenta.
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Flávio Costa
Isabele Almeida inaugurou este ano a cafeteria A Vida é Bela e, junto com a família, mantém o negócio valorizando produtos locais
Para Isabele, a participação nos eventos do Sebrae, tais como o Festival Recife Coffee, realizado poucos meses depois da inauguração da cafeteria, trouxe muitos resultados. “Ajudou muito como ferramenta de divulgação e marketing”, conclui. Uma particularidade chama a atenção nos processos realizados pelo café Yaguara: não há intermediários. O café é processado, secado, torrado, embalado e distribuído por eles. Aliás, isso é uma tendência: a redução ou inexistência de atravessadores, possibilitando um lucro maior para o produtor e preços reduzidos para o comprador. No entanto, vale ressaltar que, apesar da escolha do café Yaguara, a existência de atravessador não é necessariamente negativa. O produtor pode, por exemplo, concentrar esforços na produção do produto e terceirizar a entrega. “Ao assegurarmos a aproximação e a geração de interações entre os principais agentes empresariais da cadeia de valor, teremos como uma das consequências a possibilidade concreta de realizar negócios por meio, sobretudo, de acordos e parcerias comerciais, onde todos possam ganhar - do produtor ao consumidor final”, afirma Alexandre Alves. Segundo Tatiana Peebles, todo mundo trabalha em todas as fases da produção do Yaguara. “Aqui não tem ninguém no meio. Até entregas eu faço. Tenho 16 funcionários fixos, que trabalham não só no café como nas demais atividades da policultura. Durante a safra, costumo contratar ainda de cinco a dez pessoas para ajudar”, comenta. O café é distribuído para o Recife e outras cidades brasileiras. O consumidor final também pode comprar via site. “Nós produzimos, processamos e entregamos”, completa. AGREGANDO VALOR O Sebrae tem desenvolvido estratégias que possibilitam aos clientes agregar valor aos seus produtos e serviços. “Dentre essas 40
Tatiana Peebles
TENDÊNCIAS
A forma como é cultivado agrega valor ao café Yaguara, que não utiliza agrotóxico ou fertilizante na sua produção
iniciativas, o fomento e o apoio à inovação tecnológica e ao acesso a novos mercados, por meio de encontros de negócios e seminários temáticos. Promover ações que permitam a aproximação entre as diversas camadas da cadeia de valor constitui uma das principais estratégias”, analisa Alexandre Alves. Ainda de acordo com ele, conforme estudos realizados pelo Sebrae, as empresas de pequeno porte predominam entre os negócios participantes das principais cadeias de valor levantadas. “Portanto, conhecer as caraterísticas de cada uma dessas cadeias, suas demandas e gargalos é fundamental para que os pequenos negócios possam aproveitar as oportunidades e agregar valor aos seus produtos e serviços”, afirma.
Edson Figueiredo
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Cadeia de valor do café Yaguara 1 Plantação de café sob a sombra de árvores 2 Colheita 3 Seleção de grãos 4 Secagem em estufa 5 Processamento e torrefação 6 Armazenagem para distribuição 7 Transporte 8 Cafeteria e cliente
Cafés Lanches
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3 4 1000L
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Ilustração original: Freepik Montagem sobre fotos de Flávio Costa
ARTIGO
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Produzir ou vender? Eis a questão! por
GILSON GONÇALVES
O polo de confecções de Pernambuco possui uma importância singular para a economia e a sociedade do estado. Segundo estudo publicado em 2012, pelo Sebrae em Pernambuco, nos 10 maiores municípios, em número de unidades produtivas, há uma estimativa de mais de 18 mil empreendimentos produtivos que empregam mais de 100 mil pessoas. Como parâmetro, toda a indústria pernambucana emprega formalmente 200 mil trabalhadores. Podemos perceber o impacto desse Arranjo Produtivo Local (APL) na pulverização da renda, o que impacta de forma significativa na região. O polo de confecções do Agreste pernambucano possui grande amplitude de nível de maturidade gerencial dos negócios, além de empreendimentos com foco em modelos de negócios distintos. Pensemos no polo como uma gangorra. Em um dos lados, situam-se algumas empresas com seu modelo de negócio centrado estritamente na gestão da marca e na comercialização dos produtos aos clientes e consumidores finais. No outro extremo, temos um grande quantitativo de empresas com sua estratégia de negócio centrada exclusivamente na produção, prestando serviço para outras empresas produtoras. Obviamente esses dois exemplos não são os únicos modelos
de negócio existentes, apesar de serem os de maior representatividade em número de estabelecimentos. Desse modo, somos levados a refletir sobre qual modelo de negócio, de fato, é o mais assertivo: focar na produção ou focar na comercialização? Considerando a amplitude do mercado e as diversidades de nível de serviço que os clientes querem e estão dispostos a pagar, ambos os modelos possuem mercado com possibilidade de ganhos. A estratégia central deve ser a preservação dos pilares de gestão, ou seja, as empresas estarem bem ajustadas nas áreas de finanças, marketing, pessoas, dentre outras. O caminho mais adequado, entre produzir ou vender, será através do alinhamento do empresário ao modelo de negócio mais adequado ao perfil e à estrutura da empresa. Sabendo que os clientes, em todos os aspectos, estarão sempre dispostos a ter seus anseios e demandas atendidos, cabe ao empresário adequar esses anseios ou esse nível de serviço demandado por seu cliente ao preço adequado e que remunere o capital da empresa. Enfim, há mercado para ganhar dinheiro nas duas estratégias. O segredo do sucesso recai sobre a empresa bem gerida e com planejamento adequado e focado nas reais demandas dos clientes.
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ARTIGO
A zona de conforto pode ser fatal por
JOÃO PAULO ANDRADE
Na Psicologia, a zona de conforto é uma condição na qual o indivíduo tem a sensação de segurança, ao mesmo tempo em que evita situações de esforço e estresse. Nos negócios, se reflete em empresas que não promovem mudanças na sua estrutura e na sua oferta por usufruírem de um sucesso momentâneo. Toda empresa está inserida num universo que compreende diversos ambientes: cultural, social, político, econômico, legal, tecnológico etc. Todos esses cenários são interdependentes e estão em constante mudança. Isto quer dizer que a alteração em um afeta os demais. Em maior ou menor escala, tais mudanças impactam no ambiente de consumo. Mudanças no ambiente tecnológico, por exemplo, modificaram os hábitos de consumo de filmes, fotografias, transportes, entre tantos outros. As transformações no meio ambiente, por sua vez, provocaram mudanças no comportamento das pessoas, que têm se preocupado, cada vez mais, com o ecossistema e os recursos naturais. Tais comportamentos se refletem num aumento da procura por produtos orgânicos e por empresas com práticas sustentáveis. O surgimento da internet e, posteriormente, de aplicativos de troca de mensagens por dados como o WhatsApp causou mudanças na forma como as pessoas se comunicam. O Uber mudou o modelo de negócios de transportes. A popularização dos carros autônomos mudará 44
a forma das pessoas se locomoverem. E a moda dita e continuará pautando como as pessoas se vestem ao longo dos anos. Os casos da Blockbuster e da Kodak são emblemáticos. Foram líderes e pioneiras nos seus respectivos segmentos. Porém, com a mudança no ambiente tecnológico, surgiram novos produtos e novos concorrentes que exploraram melhor e mais rapidamente essas mudanças. Mais recentemente assistimos ao declínio de grandes empresas de telefonia, afetadas pelo surgimento de plataformas de comunicação por dados que vêm substituindo a comunicação por voz e por mensagens SMS. Sem esquecer dos impactos causados no ambiente legal, que podem criar oportunidades para uns ao mesmo tempo em que criam obstáculos para outros. Exemplo disso são as regulamentações de determinadas atividades. Como integrante desses ambientes e por eles impactadas, as empresas precisam responder a essas mudanças o mais rápido possível. Uma empresa de sucesso cujo modelo servia para um determinado momento, ajustado em função de determinadas variáveis, torna-se obsoleta ou inadequada, à medida que esse ambiente e essas variáveis não são mais os mesmos. Essa falta de ajuste pode trazer impactos pequenos e imperceptíveis em curto prazo, mas pode tornar a empresa (e a sua oferta) irrelevante mais rápido do que o tempo necessário
permanecerem atentas e de monitorarem as tendências com a obstinação dos novatos. Problemas novos exigem soluções novas. É evidente que essas soluções não são necessariamente providas por novas organizações. Porém, cabe às antigas saírem da zona de conforto e ligarem o radar para rastrear mudanças, riscos e oportunidades, sob pena de desaparecerem. Nesse contexto, os pequenos negócios têm um trunfo: são mais ágeis. Portanto, podem se adaptar mais rápido.
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Ilustração original: Dooder - Freepik.com
para se adaptar. Daí a importância de não seguir tendências, mas antecipar-se a elas. Exemplos de grandes organizações, outrora pioneiras, que se tornaram insignificantes em novos cenários não faltam. Tudo porque elas se acomodaram com um sucesso momentâneo, na crença de que perdurariam por décadas. Essas empresas enxergaram o sucesso como linha de chegada, em vez de encará-lo como um exercício constante e interminável. Estar na zona de conforto as impediu de
INSPIRAÇÃO
Inovação na compra online Empreendedor de Caruaru viu no mercado de moda local a oportunidade de colocar em prática um aplicativo que torna a compra digital mais segura e mais rápida por
NATÁLIA SIMÕES
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FLÁVIO COSTA
mpreender não é fácil, requer esforço e muita determinação. Neste caminho seguiu o empresário caruaruense Édrio Carvalho, 38 anos. Ele trabalhava desenvolvendo sites, de forma autônoma. Era o que se chama de freelancer (termo em inglês que caracteriza o profissional sem vínculo com uma única empresa). Édrio, entretanto, sempre teve em mente uma criação que o levaria a trilhar os caminhos do empreendedorismo. Com o mercado da moda forte na cidade, a ideia era facilitar o contato entre as empresas desse ramo e seus fornecedores. “Eu já estava desenvolvendo e estudando o que seria meu produto quando o Porto Digital chegou a Caruaru. Foi uma coincidência que deu muito certo”, revela. Quando recebeu a notícia da instalação do Porto Digital na sua cidade, com o Armazém da Criatividade, decidiu pôr em prática sua criação e a inscreveu no edital de incubação, no qual passou e hoje faz parte. Édrio observou as mudanças no mercado local e percebeu que muita gente realizava
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compras de roupas utilizando a ferramenta do WhatsApp. “Essas empresas vendem muito por meio do aplicativo digital por conta da facilidade que ele oferece, já que as novidades da loja podem chegar até o cliente sem ele precisar fazer esforço. Porém, ele não é feito para a venda e a realidade do produto muitas vezes não consegue ser passada de forma completa, já que aqui temos muita variação de cores e estilos. Com tantos consumidores exigentes, isto acaba gerando confusão e demora”, explica Édrio. Além dessa problemática, há a questão do pagamento que, segundo o empreendedor, quando é feito por meio de cartão de crédito, as pessoas precisam enviar os dados para os lojistas e eles ficam armazenados no aplicativo. Sendo assim, ao lado do sócio Luiz Augusto ele desenvolveu o Vendmoda, que tem as características do WhatsApp, mas funciona como e-commerce: as empresas colocam o produto disponível para venda e, ao mesmo tempo, o cliente cadastrado no aplicativo recebe uma notificação no celular, seleciona o produto que ele tem interesse em comprar, coloca no carrinho e finaliza com o pagamento dentro de
Os sócios Édrio Carvalho e Luiz Augusto desenvolveram o Vendmoda, um aplicativo com características de WhatsApp, mas voltado para e-commerce
um sistema fechado, sem ser necessária a exposição dos dados. “Nós identificamos os pontos positivos de cada forma digital de compra e colocamos tudo em um único aplicativo, que tem a segurança que as páginas de compra e venda na internet oferecem, além da agilidade e facilidade de comunicação do WhatsApp”, esclarece Édrio. Para ajudar na concretização do projeto, os sócios contaram com a ajuda das capacitações. Uma delas foi o curso do Empretec, do Sebrae, em agosto de 2015. Em seis dias, a capacitação desenvolve as características do comportamento empreendedor para a identificação de novas oportunidades de negócios. Isto foi essencial para o andamento do projeto. “Os cursos dos quais tivemos a oportunidade de participar foram muito importantes. Eles foram intensivos e de alta qualidade. Trouxeram para nós a agilidade daquilo que precisávamos”, reforça o empresário.
Nós identificamos os pontos positivos de cada forma digital de compra e colocamos tudo em um único aplicativo
Hoje, com um mês de funcionamento, o Vendmoda já passou pela fase de modelagem de negócio e chegou ao lançamento do produto, com parceria fechada com algumas lojas da cidade como Rota do Mar, Camboriú e Dijolly. De acordo com Édrio, nesse primeiro mês eles já alcançaram um faturamento de R$ 3 mil e esperam ter, até o final de setembro, 12 empresas parceiras. OUTUBRO/NOVEMBRO 2016 47
ENTREVISTA
“A integração da experiência digital com a loja física é a grande oportunidade para as marcas no futuro próximo” Por
EDUARDO SENA
Entender sobre o comportamento do consumidor na era digital tornou-se não apenas um diferencial estratégico como uma obrigação. É fundamental buscar táticas para gerar valor para o negócio. E, para entender como se posicionar nesse novo momento, a revista Direção conversou com o professor de Estratégia e Comunicação, da Fundação Getúlio Vargas, Marcelo Coutinho. Ph.D em Sociologia, Coutinho é membro do Comitê Técnico da Mídia no Conselho Executivo das Normas-Padrão (Cenp) e da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa (Abep).
A internet é a segunda mídia mais utilizada no Brasil. Como isso interfere no comportamento do consumidor? A internet reduz o custo para o consumidor se informar sobre marcas e produtos. Isto aumenta o seu poder na relação com as empresas. De forma indireta, contribui para uma equalização dos preços, pois é fácil verificar alternativas de custo mais em conta. Ainda temos potencial para crescer em termos de utilização da internet enquanto ferramenta voltada para o consumidor? Sem dúvida. No curto prazo, principalmente com o desenvolvimento de aplicativos para mobile. No médio prazo, através da integração da internet com a loja física e aparelhos que combinam sua navegação na rede com ofertas personalizadas na loja. No longo prazo, a realidade virtual vai permitir que o consumidor 48
“visite” uma loja ou veja como fica uma roupa sem sair do sofá. Estar mais tempo conectado significa necessariamente gastar mais e comprar mais? Não necessariamente, embora exista uma correlação. Mas passar mais tempo conectado significa ter mais oportunidade de receber uma oferta ou descobrir novos produtos. No caso brasileiro, os cerca de cinco milhões de domicílios mais ricos já estão razoavelmente conectados desde meados da década passada. O crescimento da base de usuários vai ocorrer na baixa renda. Nos Estados Unidos, o tempo de uso da internet aumentou durante a recessão. O Brasil enfrenta uma grave crise econômica e política. Como tem sido o reflexo no nosso país?
Os dados mostram que não somente nos EUA, mas em qualquer país a recessão econômica leva a um aumento do tempo de uso da Web. As pessoas tendem a ficar mais tempo em casa e navegar é uma forma barata de lazer e contato com amigos. No Brasil, dados da Comscore, principal provedora de informações sobre comportamento da audiência na internet, mostram que o tempo total de uso subiu 207% desde 2014. Em um momento de redução da renda domiciliar, a internet pode ajudar a reduzir custos por facilitar a busca por produtos e serviços mais baratos. Os acessos a partir de dispositivos móveis também têm trazido impacto? Um impacto enorme. O acesso via mobile responde por mais de 2/3 do tempo total navegado no nosso país. A tendência hoje é as empresas dedicarem cada vez mais tempo para melhorar seus sites e aplicativos mobile.
Quais as grandes oportunidades geradas para as marcas atualmente? A integração da experiência digital com a loja física. Esta é a grande oportunidade no futuro próximo. Como podemos aperfeiçoar o relacionamento com o consumidor utilizando dados para gerar valor? Existem hoje dezenas de ferramentas que permitem associar comportamentos de compra de bens e serviços com o consumo de conteúdo e a identidade “real” das pessoas. Uma empresa razoavelmente estruturada consegue utilizar esses dados para fazer análises preditivas, que permitem ajustar melhor demandas e ofertas. Hoje isso ainda é um diferencial, amanhã será uma obrigação.
A internet é utilizada para informação de preço ou compra?
Para Marcelo Coutinho, o desenvolvimento de aplicativos para mobile é uma das formas de crescimento do potencial da internet enquanto ferramenta de consumo
OUTUBRO/NOVEMBRO 2016 49
Divulgação
Diria que o uso para informação (preço e características dos produtos) ainda supera um pouco o de compra.
Sino e velas: Freepik
DICAS
Como aumentar as vendas no período natalino A revista Direção lança o quadro “Dicas”, onde você pode encontrar algumas informações sobre como melhorar a administração do seu empreendimento. Nesta edição, Sílvio Broxado, analista do Sebrae em Pernambuco, explica como se preparar para aumentar as vendas durante o Natal e o Ano-Novo. As festas natalinas já são conhecidas pelo aumento da procura dos consumidores, mas é preciso que os empreendedores comecem a se planejar com antecedência para aproveitarem os benefícios desta época do ano. Se você acha que ainda está cedo para começar a pensar no Natal, é melhor prestar atenção nas seguintes dicas.
Prepare-se com antecedência
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O Natal parece distante, mas quem é empreendedor precisa se preparar com antecedência. De acordo com Sílvio Broxado, oferecer vantagens aos clientes e ajudá-los a organizar melhor o seu dinheiro auxiliam a própria empresa. “Enfatizar os benefícios de organizar as compras antes do período de Natal pode ajudar a clientela a controlar melhor o orçamento. Desta forma, os empresários também podem planejar melhor a quantidade de suas compras, entre outros benefícios”, alerta Sílvio.
A experiência do cliente
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Sílvio explica que é preciso entender a mente do consumidor. “O cliente não quer ficar com dívidas para janeiro. Ele quer comprar com preço justo e sem aquela agonia do mês de dezembro”, explica. Além de querer agradar a família e os amigos, estreitando seus laços sociais, é importante proporcionar uma experiência emocional com a marca, no contato com vendedores gentis, pacientes e treinados.
Preparando os funcionários
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Antes de procurar novos funcionários, é importante prestar atenção naqueles que já trabalham em seu empreendimento. “As empresas, antes mesmo de contratarem,
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devem treinar todos os que já pertencem ao quadro de funcionários para entenderem cada produto ou serviço; e promover cursos, palestras e oficinas voltadas para o aprimoramento do contato e da hospitalidade. Os clientes gostam de atenção exclusiva, de ouvir o próprio nome, de perceber o ‘algo mais’”, conta Sílvio.
Fidelizando clientes antigos
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Toda empresa tem clientes que consomem seus produtos há algum tempo. Porém, não é só gostarem da marca e deixarmos eles de lado. É preciso reforçar esse laço. “É vital para toda empresa profissionalizar e estreitar a relação com quem já comprou e positivou a qualidade dos serviços, a fim de manter contato e oferecer novidades para as compras de Natal”, diz Sílvio Broxado.
Catálogo de lembrancinhas
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O empreendedor, deve separar, dentre os seus produtos, aqueles que podem ser considerados lembrancinhas. Sílvio dá a dica: “lembrancinhas são presentes entre R$ 20 e R$ 80. Todas as empresas poderiam criar um catálogo para os tipos de clientes por gênero, faixa etária, etc. Quanto mais faixas de classificação, mais chances de vender”.
www.pe.sebrae.com.br ano 42 • nº 4 • OUTUBRO/NOVEMBRO 2016
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