Como criar uma coleção de artesanato?

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COMO CRIAR UMA COLEÇÃO DE ARTESANATO?



COMO CRIAR UMA COLEÇÃO DE ARTESANATO? Você já pensou em criar seus produtos de uma forma organizada, seguindo os mesmos conceitos artísticos, de forma que o conjunto tenha coerência, unidade e apelo comercial? Uma coleção bem feita gera uma boa harmonia entre suas peças e faz com que elas sejam reconhecidas como partes de um todo, o que agrega valor à sua arte. Nesta cartilha você encontra informações valiosas, que vão lhe permitir fazer sua coleção de arte, algo importantíssimo para seus negócios. São quatro tópicos, que vão desde o conceitual do trabalho até questões práticas. Aproveite a leitura e bons negócios!

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CRIANDO SUA COLEÇÃO VOCÊ SABE O QUE É UMA COLEÇÃO? SEGUNDO O DICIONÁRIO HOUAISS, A DEFINIÇÃO MAIS SIMPLES É DE UMA REUNIÃO DE OBJETOS DA MESMA NATUREZA.

Uma coleção bem feita deixa essa identidade comum bastante clara e harmonizada. Por isso, não se trata somente de juntar objetos para vendê-los, mas de criar obras que compartilhem de uma ideia central, que se complementem e que faça sentido serem apresentadas juntas. Uma coleção conta

Isso já traz uma implicação: todos os itens de

uma história, explora um contexto ou um conceito.

uma coleção têm algo em comum. Seja o material, o tema, as cores ou o objeto em si (como em uma coleção de brincos, por exemplo).

Por exemplo, pense na artista brasileira Tarsila do Amaral (1886 – 1973). A pintora e escultora teve uma fase conhecida como antropofágica, na qual utilizava elementos da cultura brasileira e os misturava com tendências europeias de arte (como o cubismo) de forma livre, mantendo seus traços e cores característicos. Ela sabia que apenas um quadro com essa temática seria pouco para traduzir sua mensagem e seus anseios artísticos. Por isso, criou uma coleção de 18 quadros, todos diferentes entre si, mas que expressavam o mesmo conceito central, que norteou a Semana da Arte Moderna de 1922.

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Se ela se mantivesse com apenas um quadro, a profundidade artística de sua obra seria menor; se ela não representasse o mesmo conceito em todos eles, entretanto, não haveria uma boa harmonia. Os quadros de sua coleção antropofágica se valorizam por estarem juntos, sendo que o mais conhecido de todos é o Abaporu. Para saber mais da coleção antropofágica de Tarsila do Amaral, consulte http://tarsiladoamaral.com. br/obras/antropofagica-1928-1930/. Ao seguir em uma direção clara e definida, você tem algumas vantagens: além de poder se apro-

fundar em um tema e explorar todas as suas particularidades, você cria uma identidade para o seu trabalho e diminui o risco de se perder em um mar de possibilidades. Nas próximas seções, você vai encontrar, de forma mais específica, informações úteis na hora de montar sua coleção. São cinco temas: definição de clientes, inspiração, criação de marca, planejamento e produção. Boa leitura! 5


DEFININDO SEUS CLIENTES Como decidir qual o tema da coleção, qual o ca-

Investigue, reflita e chegue a uma resposta sobre

minho a seguir e, principalmente, qual não se-

qual o perfil das pessoas que você quer atender

guir? pensando no seu cliente, é claro! Essa é

com sua arte. O ideal é que, após uma reflexão,

uma preocupação fundamental, afinal, são eles

você escreva um parágrafo sobre seus clientes.

quem irão consumir seus produtos, indicá-los

As informações contidas nele serão sua bússola

para outras pessoas ou voltar para comprar mais.

para nortear seu trabalho.

Eles são sua fonte de renda final e, pensando em termos de negócios, todo seu trabalho deve estar voltado para melhor atendê-los.

QUAL O PÚBLICO QUE VOCÊ QUER ATENDER? ESSA É UMA PERGUNTA IMPORTANTE, CUJA RESPOSTA DEPENDE DE VÁRIOS FATORES. QUAIS PESSOAS VÃO VISITAR SUA FEIRA OU ATELIÊ? ESTARÃO DISPOSTAS A GASTAR QUANTO? ELES IRÃO VISITÁ-LO POR ESTAREM PROCURANDO ARTESANATO OU SEU ESTANDE SERÁ SECUNDÁRIO, COMO NUMA FEIRA GASTRONÔMICA, POR EXEMPLO?

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Por exemplo: seus clientes são mulheres com idade acima de 40 anos. São vaidosas, discretas ou elegantes. Gostam de se arrumar, usar brincos, colares, pulseiras e anéis para sair com os filhos, o marido e as amigas. Querem se sentir jovens, mas sem forçar a barra para esconder os traços da idade. Gostam de comprar artesanato, mas não estão dispostas a gastar muito. Avaliam a relação custo x benefício e preferem itens que fujam do padrão, mas sem muita extravagância.


INSPIRAÇÃO Agora que você já sabe o que é uma coleção e

A inspiração é o momento de buscar referências,

conhece seu cliente, é hora de se inspirar. É o

afinal, nada surge do nada. Um artista sempre se

momento de liberar seu lado artista para criar,

ergue a partir de outros artistas, melhorando ou

ter ideias. Usar a imaginação para atender seus

adaptando suas características. Que tipo de arte

clientes aproveitando suas habilidades, conheci-

ou artista você admira e que pode servir de ins-

mentos e técnicas adquiridas ao longo da expe-

piração? Essa pesquisa referencial não precisa

riência no artesanato.

ser somente em termos de artes plásticas. Você pode expandir para outras artes, como música,

O momento da inspiração pode ser chamado de

teatro, história, literatura, arquitetura, cinema,

brainstorming, uma palavra em inglês que signi-

tecnologias etc.

fica chuva de ideias. É deixar sua mente livre para pensar e criar, expandir seus horizontes. O importante nesse momento é ter o máximo de ideias possíveis, sem criticá-las, sem refletir se são boas ou não. Essas tarefas serão feitas em outra hora.

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A ideia é começar na internet e, logo em seguida, Pense, por exemplo, na enorme quantida-

partir para lugares da sua cidade. Com as ideias

de de opções de inspiração se você decidir

mais claras, você pode procurar exposições dis-

fazer uma coleção de esculturas de barro

poníveis, artistas de referência, livros, filmes em

com o tema “tropicália”. Existem peças

cartaz etc. Seguem algumas sugestões de sites

teatrais e shows musicais, como o Rei da

para sua inspiração.

Vela, de Zé Celso Martinez, que trazem no enredo, no figurino e no cenário as características do estilo; Cacá Diegues e Glauber Rocha, famosos cineastas do Cinema Novo, mostram em seus filmes o cotidiano e os valores do movimento; o artista plástico Hélio Oiticica criou várias obras com o tema tropicália – em especial, a instalação que leva o nome do movimento.

Para pesquisar as referências, você pode seguir por alguns caminhos. O mais prático e fácil é a pesquisa no Google. Busque por temas... procure procurar por “tendências de moda 2016” e você vai se surpreender com a quantidade de links disponíveis. A internet permite que você escolha se vai assistir a vídeos, ler textos, ouvir áudios etc. A escolha do formato é sua. Se você quiser se aprofundar em um tema, vai conseguir. Por isso, navegue com calma e mente aberta.

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WEBSITE

CATEGORIA

DESCRIÇÃO

http://donaengenhosa.com.br

Novos materiais/ tendências

Blog com inúmeras fotos de artesanato, sempre com criatividade e bom gosto.

http://benditolixo.blogspot.com.br

Novos materiais

Blog que mostra exemplos de artesanato feito com materiais recicláveis.

https://www.google.com.br/trends/

Tendências

Quer saber o que andam procurando no Google? Esse site oficial lhe dá várias informações sobre as pesquisas. Ideal para quem quer descobrir mais sobre tendências.

https://br.pinterest.com

Tendências

É a maior rede social do mundo para compartilhamento de ideias. Busque por artesanato ou alguma técnica em especial.

http://www.archdaily.com.br/br

Tendências

O site é um depositório de fotos de projetos arquitetônicos. Ideal para quem busca também design de interiores.

http://www.revistaartesanato.com.br

Tendências

Site com informações ricas sobre artesanato, técnicas, materiais, ideias inovadoras etc.

http://www.sitedebelezaemoda.com.br

Tendências

Site que abrange diversas tendências de moda, tecnologia e arte.

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PLANEJAMENTO A passagem mostra o quanto o trabalho Michelangelo, escultor e pintor do Renascimento

de um artesão vai além de colocar a mão

italiano, costumava passar dias e dias observan-

na massa para moldar, cortar, girar, medir

do um bloco de mármore bruto. Certo dia, alguém

e pintar. É necessário, antes de tudo, pla-

lhe perguntou: “O que está fazendo, Michelangelo?

nejamento. Sem saber para quem se está

Você tem que terminar logo sua escultura”. O gê-

fazendo, qual o tempo de preparo das pe-

nio, então, respondeu sem levantar a voz nem

ças, seus materiais e custos, a chance de

estranhar a situação: “Estou esculpindo”.

algum imprevisto acontecer e pôr tudo a perder é alta.

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Depois de esgotar momentaneamente suas ideias,

O ideal é você criar uma forma de controle, como

chegou o momento de escolher as melhores. É no

um caderno de anotações ou uma planilha ele-

planejamento que você define quais peças são

trônica, na qual estrão descritas todas as infor-

boas para atender seu público e quais não são.

mações necessárias para sua coleção. As peças

Quais pensamentos são bons e práticos e quais

escolhidas como as melhores, dentre inúmeras

aqueles que são impraticáveis no mundo real.

imaginadas na chuva de ideias, vão atender seus

É O MOMENTO DE COLOCAR NOVAMENTE OS PÉS NO CHÃO E TRATAR DE ASSUNTOS COMO MATERIAIS PARA FABRICAÇÃO, TEMPO DE MANUFATURA PARA CADA PEÇA, CUSTO UNITÁRIO, PREÇO SUGERIDO E A MELHOR FORMA DE APRESENTÁ-LAS PARA O PÚBLICO.

clientes? Você tem capacidade de produzi-las?

O artista Vik Muniz tem como característica utilizar materiais pouco convencionais para suas obras. Uma de suas principais coleções tem o uso de alimentos como ponto comum para criação da arte, como calda de chocolate, feijões e espaguete. Sem um planejamento de como criar cada peça, ele correria riscos de estragar a comida e inviabilizar sua realização.

A saída final da fase de planejamento é toda a estrutura de sua coleção, todas as peças descritas para que você possa produzi-las. Se tudo deu certo até aqui, elas estarão alinhadas com o tema que você escolheu e, principalmente, com o gosto de seu público-alvo. 11


CRIANDO SUA MARCA Antes de sair colocando a mão na massa, você

Quando uma marca faz sucesso, ela passa a ser

deve parar para pensar em mais um ponto: a sua

copiada por muitos, alguns com adaptações, ou-

marca. Como você quer que seu trabalho seja

tros não. Isso é natural, um sinal de sucesso de

conhecido? Como quer que ele seja lembrado?

crítica e público.

A marca é o que identifica seu trabalho e o faz diferente dos outros artistas. A marca de um artista é como se fosse sua assinatura.

A MARCA FACILITA SUA IDENTIFICAÇÃO E, QUANDO BEM EXPLORADA E CONSTRUÍDA, AGREGA VALOR À COLEÇÃO. ISSO PORQUE CADA PEÇA VAI CONTAR, À SUA MANEIRA, UMA FACE DO CONCEITO A SER EXPLORADO.

Pense em um quadro do Romero Britto, artista pernambucano. Independentemente da obra escolhida, virão à sua mente seus traços assimétricos, suas cores vibrantes e sombras coloridas. Essa é a marca de Romero Britto, que, embora muito copiada, sempre remete a ele.

Qual a sua marca? O que você faz que o torna único? Pense nisso e explore sua habilidade para se destacar dos demais em sua coleção.


PRODUÇÃO Finalmente, depois de muito planejamento, che-

Depois da produção concluída, reveja o preço

gou a hora de colocar a mão na massa. É o mo-

com que você vai oferecer as peças. Lembre-se

mento de você sentar e produzir suas peças, que

de que ele deve ser sempre acima do que a peça

serão vendidas para seus clientes. Você reparou o

custou e dentro do que o cliente supostamente

quanto teve de pensar – tema, referências, mate-

estaria disposto a pagar.

riais, marca própria – para finalmente produzir? Esperamos tê-lo ajudado para montar sua coComo você já sabe quais materiais vai usar e

leção da melhor forma. Para se aprofundar

qual a quantidade (informações geradas na fase

mais em gestão e empreendedorismo, acesse

de planejamento), procure comprar no atacado,

www.sebraesp.com.br e procure por mais carti-

para diminuir seus custos unitários. Outra pre-

lhas informativas.

ocupação importante é com a organização do local. É muito fácil se perder no meio de tanta

Bons negócios!

complexidade de componentes minúsculos, ferramentas específicas e tintas em quantidade.

Texto: Paulo Eduardo Nunes de Sousa – Setec Consulting Group | Apoio técnico: André Lazcano da Luz (Unidade de Atendimento Individual) e Maria Augusta Pimentel Miglino (Unidade Cultura Empreendedora) | Projeto gráfico e diagramação: Gisele Resende Costa | Set 2016

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ANOTAÇÕES

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