O rei maltrapilho

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O rei Sheila SimĂľes Ilustrado por

CD D’ Vaz



O rei Esta história é dedicada às crianças, Sheila Simões que estão construindo o mundo no

Ilustrado porem cada um de nós. século XXI e à criança interior

CD D’ Vaz


© Sheila Simões, 2016 Gerência Editorial: Roseni Siqueira Kohlmann Ilustrações, Projeto gráfico: CD D’Vaz Design Sedenir Sotello Vaz Revisão: Victor Lorenço dos Santos Jr. Livraria e Editora Francisco Spinelli- FERGS Av. Travessa Azevedo, 88 - Floresta Fone (51) 3406.6464 90220-200 - Porto Alegre, RS, Brasil gerenciaeditorial@livrariaspinelli.com.br www.fergs.org.br Impressão: Gráfica Camaleão

Simões, Sheila O rei maltrapilho/Sheila Simões 1ª.ed. - Porto Alegre:Francisco Spinelli,2016. 23x21 cm. ; il. ; 32 p. 1. Espiritismo. 2. Infância. 3.Moral.. I, Título

ISBN: 978-85-61520-68-7


O rei Sheila Simões Ilustrado por

CD D’ Vaz

O rei Sheila Simões Ilustrado por

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O rei vivia no alto do seu castelo majestoso, rodeado de súditos que faziam todas as suas vontades. Se quisesse ficar vendo programas de TV, para dormir bem tarde, pronto...sem problemas. Se não quisesse tomar banho e escovar os dentes ou não trocar as meias de chulé por uma semana... o que é que tem? Comia de tudo o que tinha vontade, só o que era bom... até chuchu! “Argh...nãããããooo. Quem inventou o chuchu? É verde e sem gosto: não pode ser para comer!” Esta era a forma do rei levar a vida, pensava e fazia o que queria, sem pensar em ninguém.


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Certo dia, o súdito mais antigo do reinado, já bem velhinho, comentou entre os dentes, para quase ninguém ouvir: - Que rapaz tolo e ignorante... Ai, ai, ai, aquele rei tinha ouvidos afiados, quando ele se virou furioso para o velho súdito, até as paredes do castelo estremeceram: - O que estou ouvindo? O que o velhote falou? O reinado inteiro sabia que ninguém desafiava o rei daquele jeito. Mas, o velho súdito encheu o peito de ar e se aproximou com toda paciência: - Majestade, eu disse que o senhor é ignorante porque ignora as verdadeiras coisas boas da vida.


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- Como assim? Eu sou o rei, não está vendo a minha coroa? Eu sei TUDO o que acontece, TUDO o que existe, TUDO o que não existe. Eu conheço todas as coisas boas! E você, velho, o que sabe da vida? O rei falou desafiando o velho súdito, ele queria mesmo era mostrar sua superioridade.


8 O velho por sua vez, não se abalou, respondeu de forma calma, confiante e com a firmeza de quem sabe das coisas: - Eu já vivi bastante, mas posso dizer que aprendi de verdade quando saí pelo mundo, conhecendo as pessoas, como elas vivem umas com as outras, o que elas estão fazendo nas cidades, nos campos. Também aprendi com os animais e com as flores, com os rios e tudo o que existe na natureza. - Mas eu sou o rei, como vou sair por aí? Vão me reconhecer e pedir coisas que não estou disposto a dar! - Vossa majestade poderia se vestir de outro jeito, com uma roupa que ninguém iria reconhecê-lo! Deu a solução, o velho animado, que pensou ser uma brilhante ideia, mas para sua surpresa, deixou o rei ainda mais contrariado: - Ha, ha, ha... Como não vão me reconhecer? Só se eu saísse por aí vestido de mendigo! – Debochou a realeza, não se rendendo. - Exatamente!!! - Disse o velho.


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PRENDA ESTE VELHO QUE SÓ DIZ BOBAGENS!


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Aquela ideia, no entanto, ficou martelando na cabeça dele por dias. “Será que ele deveria colocar roupas estropiadas, usar chinelos remendados e chapéu furado para aprender estas tais verdadeiras coisas boas da vida? Como poderia ser isso, ainda mais com roupas esfarrapadas?”


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Num belo dia de sol, o rei maltrapilho resolveu arriscar. Saiu pelas ruas do seu reinado vestindo uma roupa nova. Bem... era uma roupa nova para ele... Caminhou, caminhou... as pessoas da cidade não notaram aquele rapaz maltrapilho, e ele logo pensou: “será que agora estava invisível para os outros, pois ninguém lhe dava importância.” Mas, não estava invisível, não, o rei maltrapilho agora era uma pessoa comum, caminhando entre tantas outras.


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E não demorou uma mocinha perguntou se ele estava com fome, pois ela queria compartilhar um sanduiche de atum, que havia trazido de casa. “Ah...ela está prestando atenção em mim!”- Pensou o rei maltrapilho. - Puxa, senhorita, obrigado! Estou faminto! – Falou aceitando o sanduiche. Depois de comer, ele continuou caminhando por diversos lugares e começou a prestar atenção no que acontecia ao seu redor com outras pessoas, como elas viviam e o que faziam. O que será que elas necessitavam no dia a dia? Percebeu que algumas viviam felizes, outras que passavam necessidades e até sofriam.


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Encontrou pessoas que estavam pelas ruas, vestidas como ele, precisando de quase tudo. Foi aĂ­ que o maltrapilho descobriu o sentido da solidariedade. Lembrou-se que havia passado por um abrigo onde eles poderiam passar a noite e se alimentar.


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Mais adiante, o maltrapilho salvou um homem, que trabalhava arrumando o telhado, antes dele se esborrachar no chão. E para sua surpresa, sentiu vontade de continuar ajudando outras pessoas, no que estivessem precisando. Estranho, pois aquele não era seu jeito habitual. O que estava acontecendo? Não sabia, só sabia que... opa, uma menininha perdida na rua?... Onde estaria sua mãe? - Pode deixar comigo minha senhora, eu varro! – Disse o maltrapilho, animado em ajudar uma vovozinha passando dos 70 anos. Que maravilha, agora ninguém segurava esse maltrapilho!


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Recolheu o lixo do rio e separou em orgânico e reciclável. Caminhou por tantos lugares, até chegar ao mar, lá ele encontrou uma tartaruguinha presa no lixo da praia. “Como pode? As pessoas não percebem que estão prejudicando a natureza, quando jogam seus restos em qualquer lugar?” Pensou ao soltála das amarras do lixo.

Papel

metal

Plástico


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Ao final do dia, ele tinha feito muitos amigos por onde passava, pois o rei maltrapilho conversava com um e com outro. Aprendeu que hĂĄ momentos para rir e para chorar, se sentisse vontade. E o mais importante, ele descobriu que existem coisas para fazer e jeitos de ser na vida que eram, verdadeiramente, as coisas boas da vida. EntĂŁo, de repente, se lembrou do velho sĂşdito!


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Resolveu que voltaria correndo ao castelo, retomaria sua vida de rei, mas agora seria um rei diferente. E também iria agradecer àquele súdito, um velho muito sábio. Chegando ao castelo, tudo estava mudado. Os guardas que cuidavam dos altos portões não o reconheceram e não o deixaram entrar. O rei maltrapilho reclamou, mas de uma forma diferente, não mais mandão e impulsivo como antes, até ele se surpreendeu. O rapazinho estava mais calmo, falou tranquilo e com jeito de gente educada, pediu para chamar o súdito mais velho do castelo. Foi então que apareceu aquele velho que ele tinha mandado prender com uma coroa de rei na cabeça e roupas muito elegantes.


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- Olá, meu amigo, como foi sua descoberta? Cumprimentou o senhor muito entusiasmado. - Como assim? Você está no meu lugar? Retrucou assustado o rei maltrapilho. - Não, eu estou no meu lugar! Eu sempre fui o Rei aqui, este reino está sob o meu comando! O Rei explicou ao maltrapilho que antes de descobrir a verdade ele pensava que era o rei, porque esta era uma experiência necessária para aprender a reconhecer suas escolhas. -Por um tempo, você sentiu e pensou que estava dirigindo o reino. Completou o Rei. O rei maltrapilho estava muito surpreso e bravo, também. Abaixou a cabeça e ainda pensava numa forma de se contrapor ao Rei. Ele pensava que não podia ter acontecido aquilo como ele.


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Aos poucos foi se acalmando e não reclamava mais. Aceitou que enquanto pensava que era o rei, parecia que estava vivendo a vida como se fosse a majestade no seu castelo. Como se estivesse num lindo sonho e agora estava acordado.

SE, SE, SE VOCÊ É O REI... QUEM SOU EU, AFINAL?


23 “Ah... esta é a pergunta que cedo ou tarde, todos nos fazemos”. Pensou o Rei e continuou explicando com muita alegria:

VOCÊ PODE SER MEU OFICIAL REAL!

- Sua tarefa será receber a todos que chegarem ao castelo para falar comigo. Vai decidir quem poderá entrar ou não. Vai intermediar as conversas entre duques, príncipes, princesas, condes e viscondes, além de comandar os cavaleiros e escudeiros. Aceite! É uma posição muito importante!


24 E, assim, aquele que era um rei maltrapilho longe do seu reinado tornouse o oficial real mais respeitado do reino. Todos se dirigiam a ele para levar as necessidades do reinado e, também, as recomendações do Rei. Com muito esforço, mas sentindo-se feliz, o oficial conseguia manter o equilíbrio do Reino.


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LEMBRE-SE:

as verdadeiras coisas boas da vida estão nas relações com todos e tudo o que está em nosso caminho. Algumas coisas vêm de fora, sejam pessoas, animais e a natureza. Outras vêm de dentro, como pensamentos e sentimentos. Vamos descobrir uma forma de lidar bem com tudo isso e tentar ser uma pessoa melhor a cada dia!


AO LEITOR, MÃES, PAIS E EDUCADORES Esta história quer provocar a sua imaginação. Imaginação é a natureza da nossa mente que nos torna criativos. Não é uma parte física, mas é uma substância emocional. Ela nos conecta com nossas partes saudáveis e aciona nosso poder de mudança, de transformação para o melhor. Quando estamos imaginando, criamos a vida. Baseada nos conceitos da Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung e da Psicologia Espírita de Joanna de Ângelis, com esta história, venho chamar sua atenção para um reino muito parecido com o nosso mundo interno, que conhecemos por Alma. Será que somos o senhor todo poderoso em nossas vidas? Ou estamos mais próximos de um rei maltrapilho – Ego – que precisa lidar com o que vem de fora, nas relações com o meio social, além de prestar atenção ao que acontece dentro do reino, onde o Rei – Self ou Si mesmo – é o senhor que comanda a vida. Espero que a substância da imaginação comece a se movimentar dentro de você, para promover o autoconhecimento. “(O ego) É a parte pequena de nós que se apercebe das coisas e ocorrências, a personalidade, numa visão que seja detectada pela consciência.” (Franco, D.P.- espírito Joanna de Ângelis- Vida, desafios e soluções. Cap.07, 2011) “O eu (ego) é o centro do campo da consciência (...) é o sujeito de todos os atos conscientes da pessoa (...) e constitui uma aquisição empírica da existência individual (...).” (Jung, C.G. Aion: estudos sobre o simbolismo do si-mesmo, Ed. Petrópolis, 1988)


AUTORA Sheila Simões é psicóloga clínica de indivíduo, casal e família. Integra a equipe de coordenadores do Grupo de Estudos da Psicologia Espírita de Joanna de Ângelis, na AMERGS; faz palestras sobre assuntos variados na temática da psicologia espírita. Foi evangelizadora e coordenou grupos de adolescentes, gestantes e adultos em diversas temáticas voltadas ao autoconhecimento. sheilasimoes@yahoo.com



O rei Sheila SimĂľes Ilustrado por

CD D’ Vaz


O rei todo poderoso, vivia como bem queria, comandava o reino para sua alegria e satisfação. Até que chegou um momento decisivo naquele reinado: ele precisava descobrir o que verdadeiramente importava na vida. Venha soltar sua imaginação junto com o rei maltrapilho!


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