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b) Secretária-Geral Ibero-Americana, Rebeca Grynspan

PALAVRAS DE REBECA GRYNSPAN, SECRETÁRIA-GERAL IBERO-AMERICANA SOLDEU, ANDORRA, 21 DE ABRIL DE 2021

Sua Majestade, Rei Felipe VI; Excelentíssimo Chefe de Governo, Xavier Espot; Excelentíssimos Chefes de Estado e de Governo da Ibero-América; Secretaria Geral e Secretários-Gerais dos organismos ibero-americanos; Senhoras e Senhores Ministros das Relações Exteriores, representantes de organizações internacionais e países observadores, ilustres convidadas e convidados:

Provavelmente, todos os que estamos aqui perdemos alguém, próximo ou conhecido, nesta pandemia. E gostaria de iniciar esta cerimónia inaugural lembrando todas as pessoas que vivem, para além da doença, nos nossos corações, na nossa memória e no nosso trabalho.

E ao recordá-los, penso na coincidência de um abril de 1695, exatamente há 326 anos, onde se apagou uma das luzes mais brilhantes das letras ibero-americanas na Cidade do México. Juana de Asbaje, mais conhecida como Sóror Juana Inés de la Cruz, morreu no convento de São Jerónimo, no meio de uma terrível epidemia de tifo, um abril na primavera não muito diferente daquele em que nos reunimos hoje.

Num dos seus sonetos, Sóror Juana escreve:

“Não valorizo tesouros nem riquezas; por isso, fico sempre mais feliz por colocar riquezas no meu pensamento e não o meu pensamento nas riquezas. “

Recordo hoje Soror Juana porque 300 anos depois daquela epidemia que a levou, o que nos resta dela não é a doença, mas sim a poesia.

Recordo-a para através dela valorizar o essencial, porque Sóror Juana é um exemplo de sabedoria, de humanidade e de superação. É um exemplo de uma mulher que não se deixou abater pela adversidade, que aproveitou grandiosamente as poucas oportunidades que teve e deixou-nos um legado contra toda a desigualdade, toda a censura e todos os prognósticos.

A vida de Sóror Juana lembra-nos que, nesta nossa região, tão bela e tão complexa, tão mágica e tão desigual, não estamos condenados nem ao fracasso nem ao silêncio. Porque o futuro ainda está nas nossas mãos, porque o futuro continua a depender de nós e do que fizermos. Juntos!

Porque a possibilidade, tão temida, de mais uma década perdida, pode ser apenas uma previsão entre muitas. E nas nossas mãos, caros mandatários, e na solidariedade internacional, continua a estar a chave para que este prognóstico não se cumpra, existe ainda a possibilidade de aproveitar as oportunidades para uma recuperação mais rápida, mais equitativa e mais sustentável.

A oportunidade, por exemplo, de aprender as lições certas desta pandemia. A oportunidade de nos vermos refletidos e de ver também o que antes não se via: o valor dos cuidados, o custo das desigualdades, a inevitabilidade das nossas interdependências.

A oportunidade de reabrir melhores escolas do que aquelas que fecharam. A oportunidade de tirar mais pessoas da pobreza do que a que entrou. A oportunidade de recuperar o emprego, mas já formal, já digital, já resiliente.

A oportunidade de urdir novamente o tecido empresarial, mas com fios novos, mais inclusivos, mais sustentáveis e mais fortes. A oportunidade de universalizar a saúde e a proteção social. A oportunidade de regenerar a nossa democracia com os nossos jovens e as nossas mulheres.

Caros Chefes de Estado e de Governo,

Estamos, de facto, numa conjuntura difícil. Uma situação que forçou cada um de vós a tomar inúmeras decisões, sem informação, sem certezas, sem ferramentas, sem recursos e sem descanso.

Eu, que tive o honra e o dever de trabalhar ao vosso lado, reconheço todo o esforço realizado. e, apesar das divisões e ruturas que sem dúvida nos atravessam, é certamente necessário que nos vejamos refletidos nesse esforço que precisamos fazer e continuar juntos. Assim, podemos aproveitar a primeira oportunidade que esta Cimeira nos dá: a oportunidade de nos encontrarmos no mesmo espaço, a oportunidade de dialogar e encontrar soluções concretas para os problemas que importam às pessoas.

Mas esta é apenas a primeira de uma longa lista de oportunidades que nos oferece a Cimeira. Mais adiante, no meu Relatório de Atividade, vou revê-las em detalhe. Mas posso adiantar-vos que há muitas, e que também são concretas, consensuais e diretas, fruto do imenso trabalho prévio à Cimeira que temos feito, com as universidades, os ministérios, as empresas, a juventude, as multilaterais...

Poucas vezes vi, nestes anos em que fui Secretária-Geral, tanta participação a todos os níveis, em todas as reuniões da Conferência; tanta vontade de debater, de contribuir com ideias, com projetos, com iniciativas e propostas.

Vossa Majestade, Excelentíssimos Chefes de Estado e de Governo,

Este trabalho só foi possível graças a Andorra, caro Cap de Govern, ao seu Ministério de Relações Exteriores e à sua equipa governamental. Graças a Andorra, este espaço foi capaz de adaptar-se à pandemia e aos confinamentos com grande agilidade e flexibilidade, permitindo-nos cumprir todos e cada um dos encontros do calendário oficial da Cimeira.

Esta transformação digital do Espaço Ibero-Americano, uma transformação que aconteceu com uma velocidade quase impercetível, é uma grande conquista para esta comunidade, e será sem dúvida uma das principais contribuições e legados que Andorra deixará no Espaço Ibero-Americano. Por isso, caro Cap de Govern, quero deixar-lhes a minha última palavra: obrigada.

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