É sabido que bons discos geram bons shows, mas no caso deste disco, podemos fazer o caminho inverso. “Donato Elétrico” começou a tomar forma a partir de um espetáculo feito pelo artista em 2014, no Sesc Pinheiros. Na ocasião, o músico lançava nos palcos, com um atraso de mais de 40 anos, o emblemático disco “Quem é Quem”. Para este lançamento temporão, Donato convidou jovens músicos paulistanos, com quem já vinha trabalhando na ideia de um novo projeto, e que o ajudaram a recriar a atmosfera original de “Quem é Quem”, repleta de grooves, cuja essência estava no piano elétrico de João. Passado o show, ficou a certeza de que aquele encontro poderia render muito mais. O resultado pode ser ouvido em “Donato Elétrico”, uma coleção de temas que remetem a uma sonoridade que Donato havia deixado para trás, em seus trabalhos dos anos 70. Com esse lançamento, o Sesc São Paulo corrobora sua política de valorização da cultura brasileira e de seus artistas, difundindo e registrando as múltiplas vertentes da música de nosso país.
Danilo Santos de Miranda
Diretor Regional do Sesc São Paulo
Se for pra lembrar, este disco começou a nascer em uma visita à casa de João Donato, na Urca, em 2013. Amigos de já alguns anos, começamos a conversar sobre a ideia de produzir um novo disco. Quando João comentou que o que mais gostaria seria lançar músicas novas, o plano estava formado: gravaríamos um álbum inédito, à moda de seus LPs dos anos 70 como “A Bad Donato” e “Donato/Deodato”, com intenção elétrica e instrumentos analógicos, ao vivo em estúdio com detalhes de cobertura, feito em São Paulo, com músicos com forte influência de Donato e novos truques na manga – incluindo integrantes do Bixiga 70 (e com base no estúdio deles), mais músicos que tocam com Céu, Anelis Assumpção, Curumin, Tulipa Ruiz, Metá Metá, Otis Trio. Ainda jazz, ainda brasileiro, mas com aquela pegada ressaltando funk, afro, latin – como Donato gosta: um pouco de tudo, tudo a seu modo. Os sons foram pintando em alguns encontros, de música e de papos e passeios. João aos 80 anos, com mais pique que a maioria dos garotos, animadíssimo com as ideias, encontros, sessões, criações, músicas, todo elétrico. Sem pressa, mas sem perder o foco, as sessões foram acontecendo no estúdio Traquitana, com algumas visitas ao Minduca de Bruno Buarque e ao Navegantes de Zé Nigro, mais detalhes nos estúdios caseiros de Guilherme Kastrup, Gustavo Ruiz, Mauro Refosco (este via Skype de Nova York), sempre privilegiando o ao vivo, buscando timbres quentes e som de fita, com instrumentos e microfones antigos e astral máximo. Junto com o parque de diversões que eram os diversos teclados (como piano elétrico Fender Rhodes, órgão Farfisa, Clavinet Hohner e sintetizadores Pro-One e Moog) à disposição para Donato tocar,
vinha todo o aspecto de frescor de gravar em um estúdio diferente, com músicos que ia conhecendo aos poucos, totalmente focado em criar coisas novas. João guiando com sua musicalidade natural o caminho dos grooves, com as linhas espertas de baixo na mão esquerda acompanhando os ricos acordes da mão direita e os ritmos malandros em cada compasso, esbanjando frases melódicas que iam virando arranjos e temas, a banda funcionando como uma máquina de ritmo, potencializando ideias, o combustível especial para as músicas levantarem voo. Uma tarde, entre passeios, papos e sons pelo bairro do Bixiga, Donato lembrou da vez que recebeu uma ligação de Claus Ogerman certa madrugada em 1965, às vésperas da gravação do álbum “The New Sound of Brazil”. O grande arranjador alemão fazia tranquilamente uma pergunta ou outra sobre as composições de Donato para quais preparava as partes de orquestra, e João ficou surpreso: “Mas Claus, vamos gravar amanhã, como você vai fazer quatro arranjos tão rápido?” “É simples, João: eu escrevo a primeira coisa que me vem à cabeça”. Exatamente 50 anos depois, João oferecia a lembrança com uma lição em sua conclusão: “Tem que estar pensando bem o tempo inteiro.” Sempre guiados pela espontaneidade, as próprias músicas iam sendo batizadas com citações, homenagens, referências, lembranças, piadas, fotografias dos momentos. “Resort” pintando no último ensaio antes de viajarmos para show em uma cidade onde ficaríamos hospedados em um resort; “Urbano” graças a uma ligação ruim que entre ruídos transformou “Muy bueno!” em “Urbano?”; “Tartaruga” nascendo de João cantarolando o bicho de brincadeira; “G8” da lembrança do carro Pontiac de um amigo estacionado em Onça de Pintagui.
Com seu ritmo inabalável, a cada presença João transbordava o comportamento zen para a música. Entre as diversas sessões de criação e gravação em estúdio e um total de 25 músicos participando, foram muitos momentos sublimes, como a diversão de Donato nos intensos solos de sintetizador e a beleza de basicamente todos os momentos em que simplesmente tocava seus acordes no Rhodes; todos os solos do disco (piano, synths, trombone, saxes, flautas, trompetes, vibrafone, guitarra) sendo gravados em um take; o nascimento de vários temas em sessões com a cozinha do Bixiga 70 (Décio 7, Marcelo Dworecki, Mauricio Fleury, Cuca Ferreira, mais Guilherme Kastrup, Anderson Quevedo, Richard Fermino); a sintonia e naturalidade de tocar algumas faixas com Zé Nigro e Bruno Buarque; a emoção de ver Laércio de Freitas conduzindo seu arranjo para quarteto de cordas em “Frequência de Onda”. Cereja foi a mix de Victor Rice, encharcando de brindes para aquela audição no fone de ouvido. No meio do caminho da criação do álbum novo, acabamos fazendo pela primeira vez show do clássico disco “Quem é Quem”, lançado em 1973, coincidência feliz que ajudou a entender mais profundamente não só a criatividade dos arranjos originais como o processo criativo de Donato e contribuiu com o mergulho no som da época. No fim, a intenção original foi cumprida com gosto: só criações originais de Donato, com inspiração e influência mútua de novos músicos que adoram seu som, criado e gravado como se vive - em noites de música muito à vontade. Ronaldo Evangelista Produtor Musical do álbum Donato Elétrico
1. HERE 'S JD (João Donato) (6:13) BRSC41500175
arranjo de sopros: João Donato João Donato, Fender Rhodes;
Décio 7, bateria; Marcelo Dworecki, contrabaixo elétrico; Mauricio Fleury, guitarra; Guilherme Kastrup, percussão; Beto Montag, vibrafone e percussão; Mauro Refosco, percussão; Cuca Ferreira, sax barítono e flauta; Anderson Quevedo, flauta; Richard Fermino, trombone e flauta
2. URBANO (João Donato) (5:38) BRSC41500176
arranjo de sopros: Bixiga 70 João Donato, Fender Rhodes, Farfisa e Pro-One; Décio 7, bateria; Marcelo Dworecki, contrabaixo elétrico; Mauricio Fleury, guitarra (solo); Cris Scabello, guitarra; Rômulo Nardes, percussão; Gustavo Cecci, percussão; Cuca Ferreira, sax barítono; Daniel Nogueira, sax tenor; Daniel Gralha, trompete; Douglas Antunes, trombone (solo)
3. FREQU ^ENClA DE ONDA (João Donato) (4:59) BRSC41500177
arranjo de cordas: Laércio de Freitas
João Donato, Fender Rhodes, Moog e Farfisa; Bruno Buarque, bateria; Zé Nigro, contrabaixo elétrico; Décio 7, percussão; Mauricio Fleury, guitarra; Aramís Rocha, violino; Robson Rocha, violino; Daniel Pires, viola; Renato de Sá, violoncelo
4. ESPALHADO (João Donato) (4:09) BRSC41500178
arranjo de cordas & sopros: João Donato João Donato, Fender Rhodes; Décio 7, bateria; Marcelo Dworecki, contrabaixo elétrico; Mauricio Fleury, guitarra; Guilherme Kastrup, percussão; Cuca Ferreira, flauta (solo); Anderson Quevedo, flauta; Richard Fermino, flauta; Aramís Rocha, violino; Robson Rocha, violino; Daniel Pires, viola; Renato de Sá, violoncelo
5. TARTARUGA (João Donato) (4:42) BRSC41500179
arranjo de sopros: Cuca Ferreira
João Donato, Fender Rhodes, Farfisa e voz; Décio 7, bateria; Marcelo Dworecki, contrabaixo elétrico; Mauricio Fleury, guitarra; Guilherme Kastrup, percussão; Cuca Ferreira, flauta (solo); Anderson Quevedo, flauta e sax tenor; Richard Fermino, trombone e flauta
6. SONECA DO MARRECO (João Donato) (3:59) BRSC41500180
arranjo de cordas & sopros: João Donato João Donato, Fender Rhodes, Clavinet e Farfisa; Bruno Buarque, bateria; Zé Nigro, contrabaixo elétrico; Gustavo Ruiz, guitarra; Décio 7, percussão; Cuca Ferreira, flauta; Anderson Quevedo, flauta e sax tenor; Richard Fermino, trombone; Aramís Rocha, violino; Robson Rocha, violino; Daniel Pires, viola; Renato de Sá, violoncelo
~ 7. COMBUSTAO ESPONT ^ANEA (João Donato) (4:41) BRSC41500181
arranjo de sopros: Anderson Quevedo João Donato, Fender Rhodes, Pro-One e Farfisa;
Décio 7, bateria; Marcelo Dworecki, contrabaixo elétrico; Guilherme Kastrup, percussão; Cuca Ferreira, sax barítono e flauta; Anderson Quevedo, sax tenor e flauta; Richard Fermino, trombone e flauta
8. RESORT (João Donato) (4:19) BRSC41500182
arranjo de sopros: João Donato e Anderson Quevedo João Donato, Fender Rhodes e Clavinet; Décio 7, bateria; Marcelo Dworecki, contrabaixo elétrico; Guilherme Kastrup, percussão; Cuca Ferreira, flauta-baixo; Anderson Quevedo, flauta-baixo e sax tenor; Richard Fermino, flauta em sol e clarone
9. XAXADO DE HERCULES (João Donato) (5:51) BRSC41500183
arranjo de sopros: Bixiga 70 João Donato, Fender Rhodes e Farfisa; Décio 7, bateria; Marcelo Dworecki, contrabaixo elétrico; Mauricio Fleury, guitarra (solo); Cris Scabello, guitarra; Rômulo Nardes, percussão; Gustavo Cecci, percussão; Cuca Ferreira, sax barítono; Daniel Nogueira, sax tenor (solo); Daniel Gralha, trompete (solo); Douglas Antunes, trombone
10. G8 (João Donato) (5:17) BRSC41500184
arranjo de cordas: Marcelo Cabral João Donato, Fender Rhodes, Pro-One, Farfisa e voz; Décio 7, bateria; Marcelo Dworecki, contrabaixo elétrico; Mauricio Fleury, guitarra; Douglas Antunes, trombone; Beto Montag, vibrafone; Mauro Refosco, percussão; Aramís Rocha, violino; Robson Rocha, violino; Daniel Pires, viola; Renato de Sá, violoncelo
Produzido por Ronaldo Evangelista Produção Executiva de Emilie Bloch e Tatiana Dascal / Agogô Cultural Gravado em São Paulo em fins de janeiro e entre junho e agosto de 2015 por Cris Scabello no Estúdio Traquitana, exceto Rhodes, Moog, Clavinet, baixo, bateria em “Soneca do Marreco” e “Frequência de Onda” gravados por Fernando Narcizo, Bruno Buarque e Cris Scabello no Estúdio Minduca; Clavinet em “Resort” e voz em “G8” gravados por Zé Nigro no Estúdio Navegantes; percussões em “Resort”, “Tartaruga”, “Here’s J.D.”, “Combustão Espontânea” e “Espalhado” gravadas por Guilherme Kastrup no Estúdio Toca do Tatu; guitarra em “Soneca do Marreco” gravada por Gustavo Ruiz no Estúdio Brocal; e vibrafone e percussões em “Here’s J.D.” e “G8” gravados por Mauro Refosco no Estúdio SuperLegal, NY. Mixado por Victor Rice no Estúdio Copan, SP, e masterizado por Felipe Tichauer no Estúdio Red Traxx Mastering, Miami. Fotografia de Caroline Bittencourt Projeto Gráfico de Rodrigo Sommer www.donatoeletrico.com.br
SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO Administração Regional no Estado de São Paulo Presidente do Conselho Regional Abram Szajman Diretor Regional Danilo Santos de Miranda Superintendentes Comunicação Social: Ivan Paulo Giannini Técnico-Social: Joel Naimayer Padula Administração: Luiz Deoclécio Massaro Galina Assessoria Técnica e de Planejamento: Sérgio José Battistelli Selo Sesc Gerente do Centro de Produção Audiovisual: Silvana Morales Nunes Gerente Adjunta: Sandra Karaoglan Coordenador: Wagner Palazzi Produção: Igor Pirola, Ricardo Tifona Comunicação: Alexandre Amaral, Raul Lorenzeti, Renata Wagner Administrativo: Katia Kieling, Thays Heiderich, Yumi Sakamoto
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