Diálogos Interiores - A Arte do Instante

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a arte do instante

diรกlogos interiores



a arte do instante música de câmara improvisada

dimos goudaroulis

violoncelo cello (Itália, ca.1730 Italy, c.1730)

eduardo contrera

set de percussão (prato, dois vasos, pequeno tambor, reco-reco, frigideiras), cuíca, voz e assobio, gongo, flauta percutida e mesa de vidro molhado percussion set (cymbal, two udus, small drum, reco-reco, frying pans), cuíca, voice and whistling, gong, percussed flute and wet glass table

diálogos interiores


bloco 1

1.

Improvisação 1 03:55

BRSC41500017

cello / set de percussão e voz cello / percussion set and voice 2.

Improvisação 2 02:37

BRSC41500018

cello / set de percussão e voz cello / percussion set and voice 3.

Improvisação 3 02:55

BRSC41500019

cello / set de percussão cello / percussion set 4.

Improvisação 4 03:58

BRSC41500020

cello / gongo e voz cello / gong and voice 5.

Improvisação 5 02:36

BRSC41500021

cello / cuíca cello / cuíca 6. Improvisação 4

6 05:02

BRSC41500022

cello / set de percussão e voz cello / percussion set and voice 7.

Improvisação 7 04:48

BRSC41500023

cello / cuíca e voz cello / cuíca and voice 8.

Improvisação 8 04:49 BRSC41500024

cello / set de percussão e cuíca cello / percussion set and cuíca 9.

Improvisação 9 02:09

cello / prato cello / cymbal

BRSC41500025


bloco 2

10.

Improvisação 10 02:27

BRSC41500026

cello / mesa de vidro molhado e voz cello / wet glass table and voice 11.

Improvisação 11 06:09 BRSC41500027

cello / set de percussão e flauta percutida cello / percussion set and percussed flute

12.

Improvisação 12 07:41

BRSC41500028

cello / set de percussão e voz cello / percussion set and voice 13.

Improvisação 13 04:32

BRSC41500029

cello / set de percussão e voz cello / percussion set and voice 14.

Improvisação 14 02:36

BRSC41500030

cello / cuíca, voz e assobio cello / cuíca, voice and whistling 15.

Improvisação 15 03:28

BRSC41500031

cello / cuíca e voz cello / cuíca and voice 16.

Improvisação 16 02:33

BRSC41500032

cello / set de percussão cello / percussion set 17.

Improvisação 17 02:23

BRSC41500033

cello / prato cello / cymbal 18.

Improvisação 18 04:26 BRSC41500034

cello / set de percussão e voz cello / percussion set and voice



instante e instante e essência essência Estimular a diversidade da produção musical é um dos pilares da atuação do Selo Sesc. Nosso catálogo é pensado de maneira a abarcar a amplitude da produção artística, indo do popular ao erudito, e passando nesse largo interim por diversas paletas de variações possíveis. Desta forma, jazz, rock, choro, samba, MPB, entre outros gêneros, convivem harmoniosamente em nossos discos e se completam, fornecendo ao público a possibilidade de contato com o maior número possível de tendências e estilos. Há, porém, obras que escapam dos rótulos. Afinal, como definir esse disco? O duo A Arte do Instante, formado pelo violoncelista Dimos Goudaroulis e pelo percussionista Eduardo Contrera, músicos com formações distintas, foi criado com um propósito: eles nunca tocariam nada que já fosse preconcebido. Na prática, isso significa que a música que surge de cada encontro dos dois músicos é nova, criada naquele momento único, para depois se perder nas vibrações do ar. Uma música que carrega o frescor daquele instante, criada a partir do diálogo interior e musical, dos dois artistas. “Diálogos Interiores” traz uma música que trabalha com a forma, deixando de lado ritmo, melodia ou harmonia. É a obra em sua essência, despida de definições, de gêneros, estilos. Boa música, afinal!


Com este disco, o Selo Sesc abre espaço para uma produção que dificilmente encontraria abrigo em um mercado que busca a padronização, além de reforçar nossa certeza de que o contato com os mais diferentes gêneros musicais é essencial para o desenvolvimento da apreciação artística. Danilo Santos de Miranda Diretor Regional do Sesc São Paulo

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instant and essence To encourage the diversity of music production is one of the cornerstones of the actions of Sesc Label. Our catalog is conceived in such a way as to encompass the breadth of artistic production, ranging from popular to classical music, and passing in this wide scope several palettes of possible variations. Thus, jazz, rock, choro, samba and Brazilian popular music (MPB), among other genres, coexist harmoniously in our records and complete each other, providing the audience with the opportunity to contact as many trends and styles as possible. But there are works that are beyond labels – after all, how to define this CD? A Arte do Instante duo, formed by cellist Dimos Goudaroulis and percussionist Eduardo Contrera, musicians with different backgrounds, was created with a purpose: they would never play anything that was already


predesigned. In practice, this means that the music that emerges at each meeting of the two musicians is new, created in that one moment, only to disappear in the vibrations of the air. It is music that carries the freshness of that instant, created from the inner and musical dialogue of the two artists. Inner Dialogues brings us music that works with form, leaving aside rhythm, melody or harmony. It is the work in its essence, stripped of definitions, genres, styles. Good music, after all! With this CD, Sesc Label makes room for a product that would hardly find shelter in a market that seeks standardization. It also reinforces our certainty that the contact with the most varied musical genres is essential for the development of artistic appreciation.

Danilo Santos de Miranda Regional Director of Sesc S達o Paulo



diálogos diálogos interiores interiores Caro leitor/ouvinte: Olhe para a capa e contracapa desse CD. Nelas estão duas pinturas de Mark Rothko nas quais as cores puras, como mundos solitários, parecem gerar as formas por si mesmas através da força primal do gesto. Há como que o registro de uma busca, de um agon, um combate ao mesmo tempo intelectual e emocional, que busca exprimir o inexprimível: o vir a ser da forma. A escolha de Rothko não é casual. Esse CD registra dezoito improvisações que revelam a mesma luta para captar o momento vivo do surgimento da forma musical em sua criação. São improvisos a dois, sem temas pré-concebidos, capazes de levar os ouvintes em uma viagem sonora na qual embarcamos quase sem sentir. Tudo que você vai ouvir nesse CD é verdadeiramente improvisação livre, tudo criado e tocado no ato - sem regravação, edição, correção ou interferência, do jeito mais puro e espontâneo: uma arte do instante. Os improvisadores partem do silêncio para criar, em um estado de audição e atenção máximas, uma composição instantânea. É como se a divisão instrumentista/compositor se desfizesse, e os músicos – imersos num estado de


criação plena – assumissem a totalidade do fazer musical em conjunto, num diálogo de escuta e afirmação que é como um monólogo a dois: um diálogo interior.

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Diálogo que é a um tempo dionisíaco e apolíneo. Dionisíaco porque, como diz Nietzsche, “neste estado é impossível não reagir”. Atentos, concentrados, simultaneamente fluentes e responsivos, os músicos estão em um campo de percepção e atividade intensas, reagindo aos estímulos e ideias que um e outro propõe com total sintonia e espontaneidade. Apolíneo porque, sem prejuízo dessa espontaneidade, paira sobre essa “atividade aberta” uma consciência formal, crítica, construtiva, de natureza intelectual e cultural que vai percebendo e ordenando o material sonoro enquanto este surge, até que o silêncio venha definir a forma final da improvisação. Talvez, nesse sentido, “composição instantânea” seja, realmente, uma definição melhor que “improvisação livre”. É o difícil equilíbrio entre a espontaneidade, o que brota no momento, e o poder de observação, o controle que se exerce sobre aquele momento e aqueles sons. Isso não é algo que aconteça de repente. Há oito anos Dimos Goudaroulis e Eduardo Contrera realizam esse trabalho de forma contínua. Jamais tiveram preocupação comercial com o duo, fazendo


música para si mesmos e poucas vezes mostrando-a publicamente. Esta pode ter sido uma das chaves para a construção livre do trabalho. Sem prazos, só tinham (e ainda tem) um acordo tácito: nunca combinar nada antes de tocarem juntos, nunca trabalhar exercícios, ideias ou qualquer outra coisa pré-concebida. Desde o começo do duo eles perseguem uma arte rigorosa e disciplinada para com o improviso, uma arte que começa no silêncio interior, que é quase sua matéria-prima. Nesse processo, eles vêm experimentando com todos os elementos básicos da música - melodia, harmonia, ritmo e pulso regular - e de certa forma os “desconstruindo”. As melodias se fragmentam e desaparecem, as harmonias são sugeridas e logo transformadas, os ritmos combinam uma alusão ao “swing” da música popular com a não-repetição e o “tempo estendido” da música contemporânea, e sugerem uma multiplicidade de tempos simultâneos. Essa desconstrução leva à transformação desses elementos básicos da música em matéria bruta para criar uma linguagem original e pessoal, como o faz Rothko na pintura. Esse discurso musical árduo e aparentemente fragmentado adquire sentido e coerência narrativa pela importância central dada pelo duo à forma – essa forma musical efêmera que nasce ali, no ato da criação. No entanto a música deles não fica aprisionada


em nenhuma exigência ou dogma. A linguagem que praticam é contemporânea ao incluir tudo que os rodeia, de forma orgânica, e sempre com uma postura camerística: sonoridades instigantes, cuidado absoluto com os timbres e cores do som, desenvolvimento e rigor formais: uma música de câmara improvisada.

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Diálogos interiores também têm uma importante dimensão espiritual. Ouvindo-se de um jeito quase religioso, profundo, mergulhados no mundo do som, despindo-se de clichês, Dimos e Eduardo alcançam um estágio original da prática musical: a música em sua essência, em seu estado primal. A improvisação equivale ao frágil vôo da borboleta – curto, imprevisível, mas de grande beleza e plasticidade – um gesto de resistência num mundo como o nosso, que nos molda para valorizar as grandes obras escritas. pura pura abstração abstração

De um lado, o violoncelo; de outro, um set mínimo de percussão que jamais se alterou nesses oito anos: dois vasos, um tamborzinho de cerâmica, um reco-reco, três velhas frigideiras, um prato e uma cuíca. A cuíca é usada às vezes como instrumento do set, às vezes só em duo com o violoncelo. Impuseram-se essa limitação do instrumental, assim como jamais tocaram com amplificação. Outro princípio: não há a vontade do virtuosismo, ninguém


quer provar nada como instrumentista. A ideia é de pura abstração. Se há virtuosismo - e ele existe, é óbvio, pois estamos diante de dois músicos completos - ele permanece oculto. Aflora, percebemos, quando é tamanha a simultaneidade de sons que conseguem criar no instante, que dão a impressão de uma orquestra inteira. Às vezes não sabemos de onde vem o som, se é um harmônico do cello ou se é a cuíca, a voz do Eduardo ou alguma percussão. Eles transcendem os limites técnicos de seus instrumentos, indo além das técnicas estendidas típicas da música contemporânea. O cello de Dimos em cordas duplas, Eduardo cantando e tocando: parece que estamos diante de um quarteto. Mas não se esqueça: tudo foi registrado ao vivo, sem retoque algum. faixa a faixa a faixa faixa

Dimos Goudaroulis, 45 anos, e Eduardo Contrera, 54, registraram 90 improvisações no Estúdio Cachuera! durante três dias. As 18 finais que estão no CD constituem dois blocos de 9 faixas cada, simétricas, em espelho, com pausas diferentes entre si. Eles as escolheram com um espírito de construção de arcos formais mais amplos.

bloco 1. as primeiras quatro improvisações podem ser enca-

radas como se fossem movimentos contrastantes de uma sonata barroca:


faixa 1. uma música interior, introspectiva, um prelúdio sem ritmo, como um alap na música indiana, que funciona como abertura e chama o ouvinte a mergulhar dentro do som e do CD. Note o violoncelo simultaneamente tocado com arco e pizzicati (com os dedos). Materiais: cello, set de percussão e voz. faixa 2. parece, e pode mesmo ser entendida como segundo movimento da sonata, inquieto e agitado, mas ainda surgindo, sussurrando. Materiais: cello, set de percussão e voz. faixa 3. um raro momento lírico, quase tonal. Fragmentos de melodias despontam, há certo lirismo. Seria o Larghetto da sonata – uma balada. Materiais: cello e set de percussão. faixa 4. o gongo e o violoncelo percutido, ou tocando pizzicati e arco col legno, proporcionam sonoridade instigante e similitudes com o ambiente sonoro típico da ópera chinesa a este que seria o quarto movimento. Materiais: cello, gongo e voz. faixas 5 a 9. cinco viagens, cinco movimentos, que comungam

um espírito exploratório inteiramente livre, ora contemporâneo, ora jazzístico, ora “free” e mesmo com pitadas intensamente líricas: faixa 5. uma das mais instigantes, talvez por causa do uso originalíssimo da cuíca, e outro tanto pelo clima jocoso que remete às linguagens stravinskyanas. Materiais: cello e cuíca. faixa 6. é uma das mais abstratas, brinca com


percussão, sons e vozes. Dimos toca pizzicati embaixo do cavalete e percute o corpo do cello, a percussão de Eduardo é frenética. Materiais: cello, set de percussão e voz. faixa 7. outro momento lírico, uma canção nostálgica, melancólica. Dimos toca cordas duplas quase o tempo todo, o conjunto soa quase como um quarteto de cordas. Materiais: cello, cuíca e voz. faixa 8. reminiscências e fragmentos da harmonia de Autumn Leaves poderiam sugerir a canção conhecida. É a faixa mais jazzística do disco. Materiais: cello, set de percussão e cuíca. faixa 9. a conclusão do primeiro bloco explode em sonoridades brilhantes, exploração dos agudos e do prato: o cello persegue o agudíssimo, o prato riscado cria sons muito particulares. Materiais: cello e prato. bloco 2. faixas 10 a 12. uma hipotética sonata clássica em

três movimentos: faixa 10. Edu toca uma mesa de vidro molhado, com sonoridades que lembram vozes, um coral bizarro em que ele também canta. Dimos toca no corpo do cello, tira sons da madeira, nas costas, no estandarte do instrumento. Gritos, guinchos, selva... Materiais: cello, mesa de vidro molhado e voz. faixa 11. interligada com a improvisação 10, esta segue a ideia da abertura e esculpe um primeiro movimento quase em forma sonata. Sonoridades percussivas e muita fluidez. Dimos toca no corpo do


cello e faz pizzicati invertidos. Materiais: cello, set de percussão; em gesto raro e inesperado, Eduardo também percute a flauta. faixa 12. seria o terceiro movimento da sonata, evocando um tema com variações, a improvisação mais longa e desenvolvida do CD. Dimos toca simultaneamente notas graves e harmônicos agudos na corda do lado, criando duas vozes muito distantes entre si o tempo todo. Materiais: cello, set de percussão e voz. faixas 13 a 17. uma terceira sonata, ou uma Suíte, em cinco

movimentos: 18

faixa 13. um mergulho poético e melancólico no som, estática, como se fosse uma tela. Ruídos, sons e timbres explorados em dinâmicas entre o pianíssimo e o piano. Materiais: cello, set de percussão e voz. faixa 14. um scherzo como segundo movimento. Materiais: cello, cuíca, voz e assobio. faixa 15. nessa improvisação abstrata, mas ao mesmo tempo com forma concisa e clara, Eduardo faz um uso muito original da cuíca dialogando com o cello. Materiais: cello, cuíca e voz. faixa 16. improvisação curta, quase de passagem, entre a anterior e a seguinte. Dimos faz o arco andar do cavalete para o espelho do cello, fazendo ciclos grandes, criando música quase ruidista, tendo como eixo o timbre. Materiais: cello e set de percussão. faixa 17. movimento conclusivo da Suíte, que parece


fechar o cd. É o limite sônico do duo, a partir do derradeiro gesto da improvisação anterior. Um grito, metálico e muito agudo. Eduardo toca apenas o prato riscado, Dimos lembra Hendrix no cello. Materiais: cello e prato. faixa 18. a viagem termina melancólica, como se iniciou. Um epílogo introspectivo que às vezes soa quase como uma canção cambaleante, terminando porém com um fiapo de esperança de vida após a morte. Dimos toca o cello com som velado, com o arco sul tasto (no espelho) e Eduardo usa percussão e voz. Terminando a audição, percebemos que essas improvisações remetem não apenas à natureza e ao gesto original da música, mas trazem também em si todas as músicas que fizeram e fazem parte da história desses músicos. Nas palavras deles: “Nosso encontro ocorreu num momento de maturidade de nossas trajetórias musicais, entre as quais descobrimos grande afinidade — temos os dois vivência e uma ligação muito forte com o jazz e a improvisação, mas também com a música erudita e contemporânea e com várias músicas do mundo; esse trabalho é para nós como que uma síntese única dos vários ‘mundos’ que nossa prática musical abrange. Assim, em memórias, fragmentos e reminiscências transformadas em discurso pessoal, toda a música que vivemos faz-se presente nessa que chamamos de a Arte do Instante.”


Desse modo estão presentes aqui a música barroca que Dimos toca com grande propriedade, as lições de seus professores e a figura de seu modelo nesse campo, o grande violoncelista Anner Bylsma; a lembrança do aprendizado dos ritmos do candomblé de Eduardo; os mestres de ambos no jazz: Charlie Mingus, Thelonious Monk, Steve Lacy, Don Cherry e tantos outros... Na improvisação livre propriamente dita, os dois reverenciam a memória de Derek Bailey.

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Mas além de todas essas influências e encontros, há também a forte presença da música contemporânea, com a qual a estética do duo tem muitos pontos em comum. Ligeti, Schnittke, Scelsi, Lachenmann... e a respeito disso, uma história curiosa: ainda adolescente, Eduardo ouviu uma peça para percussão solo que revelou um mundo novo para ele, e que influiu em sua decisão de tornar-se percussionista; era King of Denmark de Morton Feldman - esse mesmo Morton Feldman que compôs Rothko Chapel em homenagem ao pintor. E voltamos assim ao nosso começo, como uma forma musical em que um ciclo se completa. A viagem, sempre diferente, pode começar novamente. João Marcos Coelho Jornalista e crítico musical


eduardo contrera


dimos goudaroulis


inner inner dialogues dialogues Dear reader/listener: Look at the front and the back cover of this CD: on them are two paintings by Mark Rothko in which pure colors, as lone worlds, seem to generate forms by themselves through gesture’s primal force. There is this thing like the record of a search, an agon, a combat at the same time intellectual and emotional, which seeks to express the inexpressible: the coming to be of form. Rothko’s choice is not casual. This CD registers eighteen improvisations that reveal the same struggle to capture the live moment of the emergence of musical form in its creation. There are duo improvisations without predesigned themes, able to take the audience on a sound journey on which we board almost without feeling it. All you will hear on this CD is truly free improvisation, everything is created and performed on the spot – no re-recording, editing, corrections or interferences, in the purest and more spontaneous way: an art of the instant. Improvisers start from silence to create, in a maximum attention and listening state, an instant composition. It is as if the instrumentalist/composer division fell apart, and the musicians – immersed in a state of full creation – took over the entire music making together, in a listening and affirmation dialogue that is like a monologue by two: an inner dialogue. It’s a dialogue that is Dionysian and Apollonian at the same time: Dionysian because, as Nietzsche says, “in this state it is impossible not to react.” Attentive, concentrated, simultaneously fluent and responsive, the musicians are in a field of intense perception and activity, reacting to stimuli and ideas


that either one offers with total attunement and spontaneity. Apollonian because, with no harm to that spontaneity, a formal, critical, constructive awareness, intellectual and cultural in nature, that realizes and orders the sound material as it arises, hangs over this “open activity” until silence sets the final form of improvisation. Perhaps in this sense “instant composition” is, indeed, a better definition than “free improvisation” – it is the difficult balance between spontaneity, which arises in the moment, and the power of observation, the control that is exercised over that time and those sounds.

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That is not something that happens suddenly. For eight years Dimos Goudaroulis and Eduardo Contrera have been carrying out this work continuously. They never had commercial concerns about their duo, playing music for themselves and rarely showing it publicly. This may have been one of the keys to the free building of their work. With no deadlines, they just had (and still have) a tacit agreement: never to agree on anything before playing together, never to work on exercises, ideas or any other preconceived thing. Since the beginning of the duo they pursue a rigorous and disciplined art regarding improvisation, an art that begins in inner silence, which is almost its raw material. In that process, they are experimenting with all the basic elements of music – melody, harmony, rhythm and regular pulse – and to some extent “deconstructing” them. Melodies get fragmented and disappear, harmonies are suggested and soon transformed, rhythms combine an allusion to popular music’s “swing” and contemporary music’s nonrepetition and “extended time”, and suggest a multiplicity of simultaneous tempi. That deconstruction leads to the


transformation of those basic elements of music in raw materials to create a unique and personal language, in the same way Rothko does in painting. This arduous and seemingly fragmented musical discourse gains sense and narrative coherence because of the central importance given by the duo to form – that ephemeral musical form born there, in the act of creation. However, their music is not trapped in any requirement or dogma. The language they practice is contemporary because it includes everything that surrounds them, organically, and always with a chamber music approach: compelling sonorities, absolute care regarding the sound’s timbres and colors, formal development and rigor: an improvised chamber music. Inner dialogues also has an important spiritual dimension. Listening in a deep, almost religious way, immersed in the world of sound, stripping themselves of clichés, Goudaroulis and Contrera reach an original stage of musical practice: music in its essence, in its primal state. Improvisation is equivalent to a fragile butterfly flight – short, unpredictable, but of great beauty and plasticity –, a gesture of resistance in a world like ours, that shapes us to value the great written works. pure abstraction

On the one hand, the cello; on the other, a minimal percussion set that never changed in these eight years: two udus, one small ceramic drum, a reco-reco (an idiophone whose sound is produced by scraping), three old frying pans, a cymbal and a cuíca (a kind of Angola drum used in Brazil). The cuíca is sometimes used as a set instrument, sometimes alone in duo with the cello.


They self-imposed the instruments’ limitations, and they never played with amplification. Another principle: there is not a wish for virtuosity, nobody wants to prove anything as an instrumentalist – the idea is pure abstraction. If there’s virtuosity – and there is, of course, because we are facing two complete musicians –, it remains hidden. It arises, we realize, when there is such a simultaneity of sounds created in an instant, that they seem to be an entire orchestra. Sometimes we do not know where the sound comes from, whether it is a harmonic from the cello or if it is the cuíca, Contrera’s voice or some percussion.

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They transcend the technical limits of their instruments, going beyond the typical extended techniques of contemporary music. Goudaroulis’ cello with double strings, Contrera singing and playing: it seems we are listening to a quartet. But do not forget: everything was recorded live, without amends. track by track track by track Dimos Goudaroulis, 45, and Eduardo Contrera, 54, recorded ninety improvisations in Estúdio Cachuera! during three days. The final 18 that are on the CD form two blocks of 9 tracks each, symmetrical, like a mirror, with different pauses among them. They did this trying to build wider formal arcs. block 1 the first four improvisations can be seen as if they were contrasting movements of a baroque sonata: 1. An inner, introspective music, a prelude with no rhythm, as an alap in Indian music, which acts as an opening and draws the listener to dive into the sound and the CD. Notice the cello simultaneously played with the bow and pizzicati (plucking the strings with fingers). Materials: cello, percussion set and voice.


2. It may even be understood as the second movement of the sonata and seems restless and agitated, but still emerging, whispering. Materials: cello, percussion set and voice. 3. A rare lyrical moment, almost tonal. Melody fragments emerge and there is a certain lyricism. That would be the sonata’s larghetto: a ballad. Materials: cello and percussion set. 4. The gong and percussed cello, or pizzicati and bow col legno, provide a provoking sonority and some similarities with the typical Chinese opera soundscape to this possible fourth movement. Materials: cello, gong and voice. tracks 5 to 9 five journeys, five movements, which share an entirely free exploratory spirit, sometimes contemporary, sometimes jazzy, sometimes “free” and with even some intensely lyrical sprinkles: 5. One of the most provoking tracks, maybe because of the very original cuíca use, and also because of the playful atmosphere that evokes Stravinskian languages. Materials: cello and cuíca. 6. One of the most abstract tracks, playing with percussion, sounds and voices. Goudaroulis plays pizzicati under the bridge and then percusses the body of the cello. Contrera’s percussion is hectic. Materials: cello, percussion set and voice. 7. Another lyrical moment, a nostalgic, melancholic song. Goudaroulis plays on double strings almost the whole time – the duo sounds almost as a string quartet. Materials: cello, cuíca and voice. 8. Reminiscences and harmony fragments from Autumn Leaves might suggest the well-known song. It’s their jazziest track. Materials: cello, percussion set and cuíca. 9. This first block finale explodes in bright sonorities and an exploration of high notes and of the cymbal: the cello chases the higher notes, the scratched cymbal creates very peculiar sounds. Materials: cello and cymbal.



block 2 tracks 10 to 12: a hypothetical classical sonata in three movements: 10. Contrera plays a wet glass table, with sonorities that resemble voices: a bizarre choir in which he, too, sings. Goudaroulis plays on the cello body, draws sounds from the wood, the back, the tailpiece. Cries, shrieks, a jungle... Materials: cello, wet glass table and voice. 11. Linked to improvisation 10, this one follows the opening idea and sculpts a first movement almost in sonata form, with percussive sounds and a lot of fluidity. Goudaroulis plays percussion on the cello body and plays reversed pizzicati. Materials: cello, percussion set, and in a rare and unexpected gesture, Contrera also percusses the flute. 12. This would be the third movement of the sonata, evoking a theme with variations – the longest and most developed improvisation on the CD. Goudaroulis simultaneously plays low notes and high harmonics on two strings, creating the whole time two very distant voices. Materials: cello, percussion set and voice. tracks 13 to 17 a third sonata or a suite, in five movements: 13. A poetic and melancholic dive into sound, static, as on a screen. Noises, sounds and timbres explored in dynamics between pianissimo and piano. Materials: cello, percussion set and voice. 14. A scherzo as the second movement. Materials: cello, cuíca, voice and whistling. 15. In this abstract improvisation – notwithstanding a concise and clear form – Contrera makes a very original use of the cuíca in a dialogue with the cello. Materials: cello, cuíca and voice. 16. A short improvisation, almost in passing, between the previous and the next one. Goudaroulis makes the bow go



from the bridge to the fingerboard, in great cycles, creating an almost noisy music, having timbre as an axis. Materials: cello and percussion set. 17. A final movement to the suite, which seems to end the CD. It is the duo’s sonic limit, starting from the last gesture of the previous improvisation. A cry, metallic and sharp. Contrera plays and scratches the cymbal; Goudaroulis reminds us of Hendrix on the cello. Materials: cello and cymbal. 18. The journey ends as melancholic as it started. It’s an introspective epilogue that sometimes sounds almost as an unsteady song, though ending with a shred of hope for life after death. Goudaroulis plays the cello with veiled sound, with a sul tasto bow (on the fingerboard) and Contrera uses percussion and voice. As we finish hearing the works, we realize that these improvisations refer us not only to the nature and to the original music gesture, but they also carry inside them all the songs that have been part and are part of the history of these musicians. In their words: “Our meeting took place in a moment of maturity of our musical paths. Between those paths we found great affinity – we both have experience and a very strong connection to jazz and improvisation, but also to classical and contemporary music and to different music from the world. This work is for us a unique synthesis of the many ‘worlds’ our musical practice covers. So in memories, fragments and reminiscences turned into personal discourse, all the music we lived is made present in that which we call the Art of Instant.”


Here we have the Baroque music which Goudaroulis plays with great propriety, the lessons of his teachers and the figure of his model in that field, the great cellist Anner Bylsma; Contrera’s memories of learning candomblé rhythms; the masters of jazz for them both: Charlie Mingus, Thelonious Monk, Steve Lacy, Don Cherry and so many others... In free improvisation, they both revere the memory of Derek Bailey.

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But besides all those influences and meetings, there is also the strong presence of contemporary music, with which the duo’s aesthetic has many points in common. Ligeti, Schnittke, Scelsi, Lachenmann... And about that, a curious story: as a teenager, Contrera heard a piece for solo percussion which revealed a new world to him and which influenced his decision to become a percussionist: it was King of Denmark, by Morton Feldman – the same Morton Feldman who composed Rothko Chapel as a tribute to the painter. And thus we return to the beginning, just as a musical form in a cycle which is completed. The journey, always different, may begin again.

João Marcos Coelho Journalist and music critic


a arte do instante the art of instant Dimos Goudaroulis violoncelo cello (Itália, ca.1730 Italy, c.1730) Eduardo Contrera set de percussão (prato, dois vasos, pequeno tambor, reco-reco, frigideiras), cuíca, voz e assobio, gongo, flauta percutida e mesa de vidro molhado percussion set (cymbal, two udus, small drum, reco-reco, frying pans), cuíca, voice and whistling, gong, percussed flute and wet glass table Direção musical Music Direction a arte do instante Gravado em Recorded in São Paulo, nos dias 5, 6 e 7 de novembro de 2014 on November 5, 6 and 7, 2014, no at Estúdio Salaviva do Espaço Cachuera! Gravação, mixagem e masterização Recording, mixing and mastering Ulrich Schneider Texto Text João Marcos Coelho Tradução e Revisão de textos Translations and proofreading Gabriela Maloucaze Arte gráfica Graphic design Alexandre Amaral Fotos Photos Laura Rosenthal Obras de Paintings by Mark Rothko Yellow and Blue (Yellow, Blue and Orange), 1955 Light Red over Black, 1957 @ Rothko, Mark / AUTVIS, Brasil, 2015 Akg-Images/Latinstock


SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO SOCIAL SERVICE OF COMMERCE Administração Regional no Estado de São Paulo Regional Administration in the State of São Paulo Presidente do Conselho Regional Regional Council President Abram Szajman Diretor Regional Regional Director Danilo Santos de Miranda Superintendentes Assistant Directors Comunicação Social Social Communication Ivan Paulo Giannini / Técnico-Social Technical-Social Joel Naimayer Padula / Administração Administration Luiz Deoclécio Massaro Galina / Assessoria Técnica e de Planejamento Technical Consulting for Planning Sérgio José Battistelli

Av. Álvaro Ramos, 991 São Paulo / SP CEP 03331-000 Tel: (11) 2607-8271 selosesc@sescsp.org.br sescsp.org.br/selosesc sescsp.org.br/livraria

Selo Sesc Sesc Record Label Gerente do Centro de Produção Audiovisual Audiovisual Production Center Manager Silvana Morales Nunes / Gerente Adjunta Deputy Manager Sandra Karaoglan / Coordenador Coordinator Wagner Palazzi / Produção Production Igor Pirola, Ricardo Tifona / Comunicação Communication Alexandre Amaral, Raul Lorenzeti, Renata Wagner / Administrativo Administration Katia Kieling, Thays Heiderich, Yumi Sakamoto



música de câmara improvisada

dimos goudaroulis eduardo contrera


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