Camila Brandalise Cauê Oliveira Gabriel Rosa Joana Neitsch Juliana Frandalozo Juliana Gomes Juliana Passos Juliana Sakae Leonardo Gorges Pedro Dellagnelo Pedro Santos
Colaboração Lívia Andrade Mayra Gomes Rodrigues Tarsia Paula Piovesan Farias Upiara Boschi
Edição Adriana Seguro Carolina Faller Moura Fernanda Dutra Jéssica Lipinski Luisa Frey Marina Ferraz Marina Veshagem Matheus Joffre Wesley Klimpel
Editoração Carolina Faller Moura Flávia Schiochet Jessé Torres Juliana Sakae Marcelo Andreguetti Paulo Rocha Azevedo Thiago Bora Wesley Klimpel
Ilustrações Alexandre Tcheto Felipe Parucci Guilherme Costa João Paulo Bernardes Marina Kinas
Coordenação Editorial Fernanda Dutra
Coordenação Gráfica Flávia Schiochet
P
arecia absurdo, diante do trabalho previsto para organizar a VII Semana do Jornalismo, fazer uma revista. As outras seis organizações devem ter pensado o mesmo quando deixaram de lado a idéia. Mas também era absurdo trazer cerca de quatro convidados por dia para o evento e, ainda assim, fomos em frente. Se queríamos mais conteúdo na Semana, era inevitável ter algo que nos preparasse para bancar perguntas e comentários em palestras e mesas-redondas. A revista veio, então, para localizar questões, apresentar convidados e trazer à tona alguns temas que passam despercebidos nas aulas. O desafio não é tão desafiador quando se conta o número de pessoas que ajudaram a concretizar o projeto. Estou há três anos no curso de Jornalismo da UFSC, e esta é a primeira publicação que conheço em que puderam e participaram alunos de todas as fases, sem reservas. Concepções de curso, histórias, gostos, estilos diferentes, assim como os convidados da Semana. Se há textos mais sisudos, como os artigos acadêmicos elaborados para a disciplina de Legislação e Ética por Tarsia Piovesan e Lívia Andrade, há também outros mais soltos como o perfil de Fred Melo Paiva, por Juliana Gomes e a matéria sobre crônicas de Luisa Frey. Dicas de livros também não faltam: os clássicos de Ruy Castro e do jornalismo investigativo, referências bibliográficas dos artigos e a resenha do livro de Arthur Dapieve, Morreu na contramão, feita por Gabriel Rosa. Só quando passar o dia 19 de setembro é que saberemos se os desafios foram vencidos ou não. Independente dos erros e acertos, este é mais um capítulo de uma história de sete anos do curso de Jornalismo da UFSC. História dentro de outra ainda mais bonita – antes de nós, tantos nomes, lutas, discussões e vitórias. A nossa VII Semana é mais uma contribuição, singela. E que, depois desta, a Semana do Jornalismo se torne ainda maior, desafiadora e inteligente. Fernanda Dutra
carta ao leitor
expediente
Reportagem
coordenação editorial
sumário
8 Uma voz diferente no esporte, José Geraldo Couto 10 A falta de ética na distorção do áudio de jogos de futebol 14 Os sofrimentos do jovem Vinícius, na revista 17 “Morreu na contramão”, o suicídio nos jornais 20 Entrevista com Fausto Macedo – sem ilusões na profissão 22 Sensacionalismo quer adestrar o público 24 Lembranças da época de foca 26 Quem investiga acha, o uruguaio Roger Rodríguez é a prova 28 Contabilizando, e lutando contra, a liberdade de imprensa 30 Uma lista não definitiva de reportagens investigativas Por Leonardo Gorges
Por Tarsia Paula Piovesan Farias Por Fernanda Dutra
Por Gabriel Rosa
Por Pedro Santos
Por Mayra Gomes Rodrigues Por Upiara Boschi
Por Adriana Seguro
Por Marina Veshagem Por Wesley Klimpel
Por Juliana Sakae e Juliana Passos
Federal dos Jornalistas, do Jornalismo, de quem? 32 Conselho Entenda a sigla CFJ
34 Como se regulamenta a profissão no exterior 37 O caso Nardoni: quando a mídia julga antes da Justiça 42 Um café fictício com Fred Melo Paiva 45 Ruy Castro, entre poucas linhas e muitas páginas 50 Currículos, ou por que você estuda o que estuda 54 Repórteres sem vergonha, CQC Por Marina Ferraz Por Lívia Andrade
Por Juliana Gomes
Por Luisa Frey e Camila Brandalise Por Joana Neitsch e Juliana Passos
Por Carolina Faller Moura e Marina Veshagem
VII Semana do Jornalismo - 15 a 19 de setembro de 2008
SEGUNDA 15/09 TERÇA 16/09 QUARTA 17/09 Fred Melo Paiva escreve atualmente no caderno Aliás, do jornal Estadão
9h-12h // Minicursos
13h-14h30 // Exibição de documentário
14h30-16h // Apresentação de trabalhos de conclusão de curso 16h30-18h30 // Mesa de Discussão: Jornalismo Esportivo: informação ou entretenimento? 19h // FRED MELO PAIVA // Palestra de abertura 9h-12h // Minicursos
13h-14h30 // Exibição de documentário
Ruy Castro é o autor das biografias de Nelson Rodrigues e Carmen Miranda
vii semana do jornalismo
Programação
14h30-16h // Apresentação de trabalhos de conclusão de curso 16h30-18h30 // Mesa de Discussão: O suicídio como notícia 19h // RUY CASTRO // Palestra sobre biografia e crônica 9h-12h // Minicursos
13h-14h30 // Exibição de documentário
Em ano de eleições , o repórter de política do Estadão, Fausto Macedo, conta os bastidores da cobertura.
14h30-16h // Apresentação de trabalhos de conclusão de curso 16h30-18h30 // Mesa de Discussão: Cobertura jornalística eleitoral 19h // CREMILDA MEDINA // Palestra sobre graduação em jornalismo *Grade de programação sujeita a alterações
vii semana do jornalismo
Programação *Grade de programação sujeita a alterações
QUINTA 18/09 SEXTA 19/09
9h-12h // Minicursos
13h-14h30 // Exibição de documentário
14h30-16h // Apresentação de trabalhos de conclusão de curso
Figura presente na história do curso, Dalton Barreto promove churrasco de integração
16h30-18h30 // Mesa de Discussão: Jornalismo Investigativo - quais os limites da investigação? 19h // CHURRASCO DO DALTON // Happy Hour 9h-12h // Minicursos
13h-14h30 // Exibição de documentário
14h30-16h // Apresentação de trabalhos de conclusão de curso
Marcelo Tas, apresentador do polêmico programa CQC da Band, discute a união entre jornalismo e humor
16h30-18h30 // Mesa de Discussão: Criação do Conselho Federal de Jornalistas 19h // DIEGO BARREDO E MARCELO TAS // Palestra sobre o programa de televisão CQC / Band
22h // FESTA DE ENCERRAMENTO // Balada louca no Hi-Fi com a banda Superpose e com os DJs Isaac e Andrew Getty
A dupla de electropop Superpose agita o Hi-Fi na festa de encerramento da Semana. Ingressos antecipados a R$10 poderão ser adquiridos com os organizadores do evento.
Esporte:
&jornalismo entretenimento
E
m agosto, as madrugadas foram olímpicas nas emissoras de TV. Mesmo assim, durante o dia, programas e sites não abandonavam o assunto. “Rússia invade Geórgia, seleção brasileira vence no vôlei masculino. Direto para Pequim!” O esporte vira espetáculo e as fronteiras do que é noticiário e o que é entretenimento se dissolvem. Mais difícil, assim, é manter os pés na ética. Nas próximas páginas, José Geraldo Couto comenta as mudanças que o jornalismo esportivo sofreu nos últimos anos e Tarsia Piovesan analisa a manipulação de áudio nos jogos de futebol, especialmente o caso Corinthians x Sport.
entrevista
Análise de um outsider por Leonardo Gorges, colaboração de Pedro Dellagnelo
H
á 20 anos na profissão, José Geraldo Couto deixou São Paulo há sete para curtir a tranqüilidade de Florianópolis. Daqui, ele escreve sobre esporte para Folha sem a euforia de quem acompanha jogos de futebol no estádio nem as amarras de comentários pontuais.
Semana Revista: Você se considera um “outsider” ao escrever sobre futebol, alguém que enxerga as coisas sem estar diretamente envolvido. Como você vê o choque entre a geração que está chegando ao mercado agora, que se baseia mais em estudos de jornalismo esportivo sem ter de fato chegado a competir, e a atual, que comenta mais baseada pela experiência pessoal? José Geraldo Couto: As duas coisas contam. Porém eu acho muito importante o fato de essa nova geração estar estudando o jornalismo esportivo, trazendo essa visão “de fora”, diferente. Houve uma grande evolução no jornalismo esportivo desde que cheguei ao mercado, há mais de vinte anos. Naquela época, a editoria de esportes era bastante menosprezada. Éramos considerados profissionais menos preparados. Isso mudou muito nos últimos anos; os jornalistas esportivos passaram a ser mais valorizados. O esporte em si deixou de ser marginalizado. Outra grande mudança positiva foi que pessoas de outras áreas começaram a escrever sobre esportes, como o Nando Reis (Estadão) e o José Roberto Torero (Folha de S.Paulo). Den-
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Acervo pessoal
tro da academia, isso também fez com que mais estudantes se interessassem pela área do jornalismo esportivo, sem qualquer tipo de condenação. A integração com as outras editorias hoje é muito maior. SR: Quais os maiores problemas atualmente na cobertura de esportes no Brasil atualmente? JGC: A cobertura cotidiana de esportes, em especial do futebol, ainda é bastante tímida. Gira-se sempre em torno sempre das mesmas questões, como transferências de jogadores, contusões e etc. Acredito que falte um pouco mais de investigação, reportagem mesmo. Gestão do esporte, problemas administrativos e políticos são assuntos com pouco destaque. A cobertura atual é muito superficial em sua grande maioria. SR: Estamos vendo hoje brigas entre os grandes grupos midiáticos para a aquisição dos direitos de transmissões dos eventos esportivos, há muito dinheiro em jogo. Ao mesmo tempo, VII Semana do Jornalismo - 15 a 19 de setembro de 2008
pouco se investe no esporte de base. geral, se tornaram produtos da indústria cultural. A espetacularização dos Há solução para esse dilema? JGC: A organização do esporte no eventos e a mitificação do atleta podem Brasil hoje é muito influenciada pela afastar o leigo do esporte do dia-a-dia? JGC: Acho que acontece o contrário. mídia, em especial a rede Globo. Isso é um abuso, uma distorção. A interferên- Acaba-se atraindo pessoas que não têm cia da televisão não deveria chegar a qualquer tipo de proximidade com o esse ponto, de mudar calendários e ho- esporte com essa espetacularização e rários de partidas. Quanto à questão do a mitificação dos atletas. Um exemplo investimento, acredito que um bom lu- grotesco disso seria o público feminino gar para se formar atletas, que gerariam em geral, que não acompanhava muito, resultados no futuro, sejam as escolas. mas hoje acompanha notícias que não necessariamente envolvam o esporte, Mas nem o seu papel mais mas sim as celebridades que deles fabásico – ensinar – elas têm zem parte. E acredito feito, então fica complicaque isso possa, de aldo. Há a questão, também, gum jeito, fazer com que de que surgem ícones para A falta de o esporte se dissemine. o desenvolvimento dos investimentos é um Talvez não da maneira esportes, como o Guga no sério entrave para mais correta. tênis, mas são casos efêo desenvolvimento SR: A “falação esmeros, que não têm uma continuidade. A falta de do esporte no Brasil, portiva”, conceito criado por Umberto Eco, investimento de base é sem dúvidas defende que o esporte um sério entrave para o passa a ser um longo desenvolvimento do esporte no Brasil, discurso da imprensa sem dúvidas. SR: Assim como cresce o número esportiva sobre ela mesma, entregande atletas brasileiros participando das do um produto pronto a um receptor Olimpíadas, a cobertura dos Jogos passivo. O aumento de programas tem cada vez mais estrutura e espaço. esportivos, em especial no modelo O COI, Comitê Olímpico Brasileiro, é talk-show, cria um espectador mais contra essa “gigantização” olímpica. ou menos crítico? JGC: Essa definição do Umberto Eco Há como ir contra essa tendência? JGC: É muito difícil. Cada vez os não deve ser interpretada como algo países mandarão mais atletas, os patro- absoluto. Na contramão dessas mesascínios também crescem. É um ciclo que redondas que giram em torno de si, tamdificilmente será quebrado. Acho que bém há tentativas de furar esse modelo. esse discurso do COI é puramente retó- O Rock Gol de domingo, da MTV, é um rico. Não vejo onde e como eles podem exemplo. Esse tipo de programa talvez coibir essa tendência, já que o esporte é, torne o espectador mais crítico, já que é a cada vez mais, uma grande fonte de ren- anti-mesa-redonda. Mas é aí que surgem vocês, estudantes de jornalismo, para proda e entretenimento. SR: Há autores que afirmam que por mudanças a este modelo. A imprensa o futebol brasileiro, e os esportes em deve estar em constante evolução.
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SEMANA 21 semana 09 REVISTA
revista da
VII Semana do Jornalismo - 15 a 19 de setembro de 2008
artigo
Deslize ético: o caso Corinthians x Sport
A
final da Copa do Brasil de Futebol aconteceu dia 11 de junho no Estádio Adelmar da Costa Carvalho em Recife (PE). Disputavam o título o Corinthians, de São Paulo, e o Sport Clube Recife, de Pernambuco. O Corinthians caiu para a série B no ano passado, e neste ano está lutando para voltar à primeira divisão. Já o Leão, como é conhecido o Sport, ocupava em junho uma posição melhor: estava em 15º lugar na classificação dos times da série A. Uma pesquisa CNT/Sensus realizada em outubro de 2007 revela que o Corinthians tem a segunda maior torcida brasileira, 10,5% da população, e perde só para o Flamengo. Já a torcida do Sport corresponde a 1%. A final foi transmitida pela rede Globo, e narrada pelo jornalista e locutor esportivo Cléber Machado. A transmissão dos campeonatos de futebol é uma operação jornalística, realizada pelo Departamento de Jornalismo Esportivo da Globo. O estádio recifense tem capacidade para 36 mil pessoas, das quais 35 mil eram torcedores do Sport. Mesmo assim, o que se ouvia pela televisão em São Paulo era o grito da torcida organizada do Corinthians. A operação foi feita graças à tecnologia e engenharia de som.
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por Tarsia Farias
O áudio foi captado e divido em três canais – o do narrador, o da torcida do Corinthians e o geral do estádio. Bastou o diretor técnico aumentar o volume do canal da torcida do Corinthians e diminuir o volume geral do estádio. O resultado é que parecia que a torcida toda do Corinthians estava presente, o que aumenta a audiência do jogo em São Paulo. Mas também é possível aumentar a audiência nordestina, como foi feito no primeiro jogo da final da Copa do Brasil, em 4 de junho. Os leitores do site Blue Bus, especializado em jornalismo esportivo, disseram ter ouvido a torcida do Sport, minoria no estádio, gritar mais alto que a do Corinthians. Na ocasião, o Morumbi tinha 65 mil corinthianos e 1 mil torcedores do Sport. Em nota oficial enviada ao Blue Bus sobre o jogo em Pernambuco, a rede Globo nega ter falsificado o áudio e alega que “no início do jogo, a torcida do Sport estava mesmo mais apreensiva e, portanto, mais calada, fato inclusive destacado por Cléber Machado durante a transmissão. Esta situação imediatamente se reverteu, com a reação dos torcedores do Sport ao perceber que seu time havia adquirido confiança para buscar o título – o que também pôde ser visto durante a transmissão do jogo”. A versão desVII Semana do Jornalismo - 15 a 19 de setembro de 2008
considera o fato de que havia muito mais torcedores do Sport que do Corinthians no estádio do Leão. Pela capacidade de atrair telespectadores de todas as idades, níveis de instrução e condição social, o esporte passou a ser um bem-sucedido investimento financeiro para anunciantes. Uma pesquisa do CNT/Sensus, realizada em 2007 com duas mil pessoas das cinco regiões do país, revelou que a maioria das pessoas acompanha os jogos pela TV: 64,3%. A TV é o meio de comunicação com maior inserção física nos lares brasileiros e o veículo dominante no mercado publicitário. O poder simbólico que esta mídia agrega tem um peso considerável nos aspectos culturais de uma população, principalmente no caso brasileiro, já que foi a TV que, em certo sentido, unificou o Brasil. Ela domina o espaço público e fornece o código pelo qual os brasileiros se reconhecem como tais. Segundo Bucci (1997, p. 09), sem a representação imposta pela TV, tornase “quase impraticável a comunicação – e quase impossível o entendimento nacional”. O esporte é visto hoje como uma mercadoria a ser consumida no diaa-dia, principalmente na forma de espetáculo. A maneira como a televisão constrói os discursos sobre o esporte é chamada por Betti (1998, apud Mezzaroba, 2007, p. 28) de esporte telespetáculo: “a mediação dos eventos VII Semana do Jornalismo - 15 a 19 de setembro de 2008
esportivos é efetuada pelo enquadramento das câmeras televisivas, edição das imagens com sons e efeitos gráfico-computacionais acrescentados a elas”. A briga pela audiência conquista o telespectador de forma emocional pela conexão de imagens e sons. As motivações para a espetacularização podem ser a necessidade comercial ou a intenção de socialização e de entretenimento. O caso Corinthians x Sport atropela três artigos do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, divulgado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) em 2007. O artigo 2º, inciso II, diz que “a produção e a divulgação da informação devem se pautar pela veracidade dos fatos e ter por finalidade o interesse público”, o que não se cumpriu nesse caso. O artigo 4º diz praticamente a mesma coisa: “o compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos, razão pela qual ele deve pautar seu trabalho pela precisa apuração e pela sua correta divulgação”. O terceiro artigo a ser violado (12º, inciso V) é o que mais se aplica ao caso: “o jornalista deve rejeitar alterações nas imagens captadas que deturpem a realidade, sempre informando ao público o eventual uso de recursos de fotomontagem, edição de imagem, reconstituição de áudio ou quaisquer outras manipulações”. Além de passar por desvios pesso-
SEMANA REVISTA 11
artigo
ais como os previstos no Código de Ética dos Jornalistas, a ética na imprensa passa por questões institucionais e a discussão deve englobar não só os jornalistas, mas a direção da empresa também. Em busca de audiência, lucro e poder, as empresas muitas vezes sacrificam a independência do departamento editorial de um veículo. Apesar das dificuldades, buscar os valores éticos evita que se caia no “caminho do vale-tudo”. Bucci (2000, p. 33) faz um alerta: “É verdade que a atividade jornalística se converteu num mercado, mas, atenção, esse mercado é conseqüência, e não o fundamento da razão de ser da imprensa”. E continua: “A ética na imprensa é sim, a demarcação de limites para o pragmatismo, que, por si só, não conhece limites”. A ética deve ser discutida com a sociedade, pois o cidadão é a razão da prática jornalística, e é a ele que o jornalismo deve prestar contas, não ao anunciante ou às medições de audiência. As distorções deliberadas são mentiras conscientes, e têm uma origem estrutural no Brasil: o regime de propriedade dos meios de comunicação de massa, especialmente dos meios eletrônicos. Embora a legislação brasileira proíba que se formem monopólios ou oligopólios com os meios de comunicação, o que se vê na prática é o contrário. Só um grupo domina a maior emissora de TV, o maior jornal diário, a maior emissora de rádio, etc. Deste modo, explica Bucci (2000, p. 138), “o grupo que exerce o monopólio fala sozinho no espaço público, sem sofrer contestações e sem conhecer competidores econômicos, o que gera um ambiente propício para as distorções deliberadas de informação”.
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Segundo Abramo (2003, p. 42), uma das razões porque os empresários manipulam e distorcem a realidade se situa no campo econômico: “o empresário de comunicação distorce e manipula para agradar seus consumidores, e assim, vender mais material de comunicação e aumentar seus lucros”. O autor também classifica padrões de manipulação – o tipo em que o caso Corinthians x Sport se enquadra é o padrão de inversão: a inversão da forma pelo conteúdo, quando o ficcional espetaculoso troca de lugar com a realidade. A lógica de consumo dos dias de hoje abarca todas as instituições e é uma tendência dominante na mídia. O que vemos hoje é mais um perfil de jornalista cooptado pela lógica de mercado do que um jornalista a serviço do patrão. Mas isso não pode servir para justificar uma manipulação no áudio de uma partida de futebol transmitida por uma equipe jornalística. A alteração de um fato da realidade (como os gritos de uma torcida) não justifica a fome do lucro e da audiência. Bibliografia ABRAMO, Perseu. Padrões de manipulação na grande imprensa. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2003. BUCCI, Eugênio. Sobre ética e imprensa. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. FEDERAÇÃO NACIONAL DOS JORNALISTAS. Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros de 2007. Disponível no site da Fenaj: www.fenaj. org.br MEZZAROBA, Cristiano. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Programa de Pós-Graduação em Educação Física. Os jogos pan-americanos Rio/2007 e o agendamento midiático-esportivo: um estudo de recepção com escolares. Florianópolis, 2008.
VII Semana do Jornalismo - 15 a 19 de setembro de 2008
Suicídio como
notícia P
ouco se fala sobre suicídio na imprensa, e o mesmo ocorre no cotidiano, comenta Arthur Dapieve ao comentar seu estudo sobre o assunto, o livro Morreu na contramão. A questão é delicada, e, com isso em mente, os repórteres Marcelo Ferla, Eliane Brum e Marina Bessa decidiram contar a história de Vinícius Gageiro Marques, o Yoñlu. Descrever ou não como o garoto escolheu pôr fim à vida, elogiar seu talento, revelar detalhes, tomar posição contra? Os bastidores das reportagens feitas para Rolling Stone, Época e Capricho, respectivamente, estão nas próximas páginas.
reportagem
Um garoto incomum na mídia Por Fernanda Dutra
Rolling Stone, Época e Capricho retrataram a vida e o suicídio de Vinícius, Yoñlu na música.
V
inícius Gageiro Marques tinha rativa do suicídio de Vinícius, mas não uma história que o jornalista escolhi contá-la. Fiz o perfil de um gaMarcelo Ferla não queria con- roto músico, e o que o levou a compor tar. Aos 16 anos, o menino se suicidou, aquelas canções. Claro que isso passa em julho de 2006, deixando uma cente- pela depressão e o suicídio, mas não é o foco”, explica Ferla. na de músicas sob O mundo onde o pseudônimo Yoñlu era recoYoñlu. A pauta nhecido, a interera sugestão do net, foi um campo repórter Alex Ande pesquisa para tunes da revista Ferla. “A internet Rolling Stone, mas era como ele se Ferla temia que o comunicava com adolescente fosse o mundo, mas o estereótipo do não quis tomá-lo garoto de preto. como exemplo de “A música dele adolescentes vídesfez minha timas do mundo idéia inicial. Não virtual”, diz. Por era morbidez, O lançamento do CD Yoñlu foi o gancho para e-mail, conversim poesia”, diz. Junto com a retornar a história do suicídio de Vinícius, sou com amigos morto em julho de 2006 virtuais e parceicarta de suicídio, ros de trabalho Vinícius deixou um CD com algumas músicas suas. O da Europa. Seguiu os posts e comenpai Luiz Marques descobriu muitas tários do garoto nos fóruns de música delas no computador do adolescente e e de suicídio. A reportagem de sete páginas, Cana vontade de perpetuar a obra do filho o levou a uma gravadora e a uma dis- ções para viver mais, saiu na edição de tribuidora independente. O lançamento março da revista. Contar a vida de Viníde Yoñlu, em fevereiro deste ano, foi o cius foi emocionalmente doloroso para Ferla. “Quanto à família, nada é pior do gancho para o caso retornar à mídia. A revista Rolling Stone, ligada à mú- que eles já passaram. A privacidade desica e ao entretenimento, parecia um ve- les foi devassada pelo próprio suicídio. ículo interessante para divulgar Yoñlu. Mas guardei alguns detalhes irrelevanMarques mostrou-se disposto desde o tes que poderiam parecer sensacionaprimeiro contato com Ferla. “Há a nar- listas”, revela o jornalista.
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VII Semana do Jornalismo - 15 a 19 de setembro de 2008
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A mãe de Vinícius repórter da revista Época, de 2007, ThiaEliane Brum, passava uma go de Arruda, queria denunciar os temporada em sua cidade na- estudante de fóruns virtuais de tal, Porto Alegre, no inverno de 2006, Educação Físuicídios, onde ele para revisar o que seria seu segundo sica de Ponta encontrara instruções no livro, A vida que ninguém vê - coleção Grossa, e apoio para utilizar o de crônicas-reportagens sobre pessoas Paraná, se suimétodo CO2 anônimas já publicadas no jornal Zero cidou. Ele foi Hora. Um anônimo, então, se destaca- orientado por va por encerrar sua vida tragicamente. um internauta anônimo a usar o mesTalvez por ser mãe, Eliane se identifi- mo método que Vinícius, após sofrer difamações pelo Orkut. A jornalista cou com a dor dos pais. Algum tempo depois, recebeu uma viu sua pauta crescer em importância ligação da mãe de Vinícius, Ana Maria e interesse público. Tentou Ana Maria Gageiro. As duas não se conheciam, de novo, mas recebeu uma negativa. Em Porto Alegre, no começo desmas tinham contatos em comum. Ana Maria queria denunciar os fóruns vir- te ano, Eliane leu no jornal Zero Hora tuais de suicídios, onde o filho encon- que o CD Yoñlu seria lançado. “Liguei trara instruções e apoio para utilizar o para Ana Maria, expliquei que com método CO2 – em que são usadas gre- um lançamento nacional eu não poderia mais esperar”, lhas de churrasco conta. Combinaram para causar intoxi- Eliane apurou a partir do uma entrevista, mas cação por monóxi- inquérito policial. Junto com antes de a repórter do de carbono. ela, duas repórteres busembarcar, a conEliane voltaria a caram sites de suicídio do Porto Alegre para mundo inteiro e pessoas que versa foi cancelada. Desta vez, o motivo conversar com Ana conheciam Vinícius era o compromisso Maria e Luiz Marcom a revista Rolling ques. Mas pouco antes recebeu uma ligação do pai cance- Stone. Ainda que, em momento algum, lando a entrevista, pois o jornal Zero Hora o jornalista Marcelo Ferla tenha pedipublicaria a história do filho, o que aba- do exclusividade. Eliane apurou a partir do inquérito lou a família. Eliane postergou a matéria. A pedido dos pais, o nome de Viní- policial. Junto com ela, as repórteres cius foi omitido no jornal do dia 10 de Solange Azevedo e Renata Leal buscaagosto de 2006. O texto alertava para ram sites de suicídio do mundo inteios perigos da internet e transcrevia tre- ro e pessoas que conheciam Vinícius. chos da conversa do adolescente nos A principal entrevista de sua matéria fóruns de suicídio onde, no dia de sua é com o psicanalista do adolescente, morte, ele pede ajuda para suportar o Mário Corso. “Obviamente eu goscalor das grelhas. A Época não repercu- taria de ter conversado com os pais e conhecido o mundo do Vinícius mais tiu por respeito aos pais de Vinícius. Eliane ocasionalmente perguntava de perto. Esperava há um ano e meio, se Ana Maria já queria falar. Em março e tive de fazer tudo em uma semana e VII Semana do Jornalismo - 15 a 19 de setembro de 2008
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meia, já que o CD estava pronto para o lançamento. Foi um processo pessoal muito difícil para mim”, diz Eliane. Na edição de 11 de fevereiro da Época, saiu a reportagem de onze páginas, Suicidio.com, um alerta aos pais sobre os perigos da internet. Na redação da revista adolescente Capricho, era inevitável que o caso ganhasse repercussão. A então editora de comportamento Marina Bessa conversou com leitoras sobre depressão e muitas disseram já ter pensado sobre suicídio. “A idéia era passar palavras de conforto às meninas deprimidas”, conta Marina. A repórter pediu a dez blogueiras cartas que lembrassem Vinícius por que era bom viver. Três foram publicadas. Um texto introdutório descrevia a morte do garoto. Marina hesitou em contar detalhes e chegou a escrever
uma versão sem explicar como Vinícius se suicidou. “Explicar não é um estímulo [para outros suicídios], dá uma sensação ruim – importante para a matéria fazer sentido”, afirma. A reportagem de quatro páginas, Cartas a Vinícius, publicada na primeira quinzena de março, trouxe o lançamento de um blog de apoio à depressão no site da revista, o Papo de Amiga. A repercussão entre as leitoras foi intensa. Mas, com o tempo, a Capricho percebeu que a tristeza das adolescentes era muito diferente da que Vinícius sentia. Quilos a mais, briga com amigas ou término de namoro dificilmente levariam ao suicídio, a não ser que existisse um quadro complexo de depressão. O mais recente post do blog até o fechamento desta edição tinha o título “Não sei se transo com ele”.
Trechos das reportagens sobre a morte de Vinícius
Antes de começar a morrer, Vinícius, um gaúcho de 16 anos, deixou ao lado de seu computador um CD com algumas de suas músicas. Compor letras e melodias era o seu jeito de aliviar a dor imensa que sentia. Tão grande, tão forte que, algumas vezes, tirava a sua vontade de viver. Era isso que ele dizia nas conversas que tinha na internet, sempre com o nick de Yoñlu. Foi também no mundo virtual que, no auge do desespero, Yoñlu buscou todas as informações de que precisava. Entre elas, a melhor forma de morrer. Cartas a Vinícius
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No mundo virtual não há nenhuma perversão nova, apenas as velhas modalidades que já assombravam as ruas da realidade. A diferença é que, na internet, qualquer um pode exercer seu sadismo protegido pelo anonimato, na certeza da impunidade. Basicamente, a idéia é: “Se ninguém sabe quem eu sou, não só posso ser qualquer um, como posso fazer qualquer coisa”. Suicidio.com
“Apesar de ter sido uma efetiva interlocutora musical, Ana [mãe de Vinícius] confessou, antes mesmo de eu ligar o gravador, que não consegue ouvir o disco de Yoñlu – mais no final da entrevista admitiu que “aquilo ali pra mim é um inferno, né?”, referindo-se ao quarto do garoto, que o marido preferiu manter arrumado, como nos velhos tempos de convivência a três” Canções para viver mais
VII Semana do Jornalismo - 15 a 19 de setembro de 2008
Por Gabriel Rosa
resenha
Morreu na contramão
Dapieve analisa o histórico do suicídio na imprensa e discorda da teoria do contágio de Durkheim, que entende que a divulgação das mortes resultaria em outras.
A
pós publicar o livro Os sofrimentos do jovem Werther, em 1774, o alemão Wolfang Goethe teve uma triste surpresa: uma onda de suicídios atingiu a Alemanha, e vários jovens se mataram como o protagonista do livro, atirando com uma pistola na própria cabeça. Em muitos dos casos, um exemplar da obra de Goethe era encontrado ao lado do corpo. A imitação foi apelidada, posteriormente, de efeito Werther. Esse é um dos exemplos mais utilizados para explicar o chamado contágio que o suicídio pode causar – tema explorado por Arthur Dapieve, colunista do jornal O Globo e professor da PUC-Rio, no livro Morreu na contramão: o suicídio como notícia. “Cópias de tais notícias [sobre suicídios] são, frequentemente, encontradas ao lado de corpos de outros suicidas”, explica o autor, “do mesmo modo como, no século XVIII, acontecia com os exemplares de Werther”. Escrito como tese de mestrado do jornalista, foi adaptado e lançado pela editora Jorge Zahar, em 2007. Apesar de ser um texto acadêmico, o livro é acessível, mesmo para pessoas que não têm intimidade com o jornalismo. As questões são elaboradas a partir de acontecimentos, tratando com realismo um tema delicado como o suicídio. Dapieve procura relacionar a filosofia e a sociologia. A partir de Émile Durkheim, Karl Marx e Albert Camus, VII Semana do Jornalismo - 15 a 19 de setembro de 2008
Adaptado da tese de mestrado do jornalista, “Morreu na contramão” foi editado pela Ed. Jorge Zahar, tem 196 páginas e custa R$ 42
o autor mostra que, apesar de ser uma pauta evitada pelo jornalismo, o suicídio sempre foi visto com curiosidade por aquelas duas áreas. O suicídio (1897), de Durkheim, é considerado um estudo pioneiro da então desprezada área da sociologia, a suicidologia. Até a publicação da obra, grande parte das abordagens sobre a morte voluntária era baseada em preconceitos medievais ou relatos feitos por médicos. O suicídio de um casal em 1732, em Londres, foi amplamente explorado pela imprensa inglesa. Após matar o filho de dois anos, marido e mulher se enforcaram lado a lado – não sem antes deixar dinheiro reservado para os cuidados com um cão e um gato, como explicitado num bilhete. A frieza do ato é considerada por muitos estudiosos do assunto, e também por Dapieve, um marco na relação entre a imprensa e o tema: deve-se tratar os suicidas como pessoas racionais? A humanização dos
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resenha
que optaram a morte voluntária, afinal, criadores da realidade em que se inserem, eles têm as mesmas dificuldades de pode incentivar novos suicídios? A solução implícita encontrada pelas tratar do tema”, conclui Dapieve. Na política editorial da rede de comuredações foi, então, tratar os suicidas da mesma maneira que na Idade Média: nicação RBS, por exemplo, aconselha-se como loucos, fanáticos religiosos ou pes- o seguinte: “As notícias sobre suicídios soas com problemas amorosos, financei- – a não ser em casos excepcionais – não ros e familiares. Dapieve mostra, através devem ser divulgadas ou destacadas. de uma minuciosa análise em notícias (É fato comprovado que a divulgação do jornal O Globo, como o estereótipo de suicídios estimula a morte de suicido suicida enlouquecido foi construído das potenciais)”. Casos excepcionais através da história da imprensa: o terro- incluem mortes em situações inusitadas rista islâmico que explode dez pessoas ou de pessoas famosas, como o ex-presinão é incluído na contagem de mortos; o dente Getúlio Vargas. pai que mata os dois filhos e depois atira Dapieve mostra como o estereótipo do suicida em si mesmo é chaenlouquecido foi construído pela imprensa. mado pela imprenAo isolar o suicida, bloqueia-se a idéia de que sa de “colecionador alguém faria o mesmo. de armas”; o famoso estilista carioca que É impossível delimitar as ações supostamente se enforca na sacada do apartamento pode ter sido assassinado, do jornalista que precisa lidar com o ao invés de ter se matado. Ao separar suicídio, já que cada veículo cria suas os suicidas do resto da sociedade, blo- próprias regras para a cobertura dos queia-se a idéia de que qualquer pessoa fatos. Mas Dapieve, na conclusão do livro, recomenda, embasado em um poderia fazer o mesmo. Dapieve discorda da idéia de contá- artigo da radialista norte-americana gio: “Ninguém que já não pensasse em Cindi Deutschman-Ruiz: não tratar se matar vai se matar ao ler ou ouvir o suicida como louco (já que, desde sobre algum suicídio. Um caso público Durkheim, têm-se provas concretas de apenas pode servir como gatilho para que a morte voluntária e a loucura não desencadear processos já latentes”. Mas, estão necessariamente conectadas); apesar disso, a maioria dos veículos não detalhar os procedimentos utiliacredita que uma descrição detalhada zados pelo suicida; prezar pela saúde dos procedimentos usados pelo suici- dos leitores, pois como afirma Deutsda possa influenciar outras mortes. As chman-Ruiz, “a cobertura de suicídios empresas jornalísticas, então, evitam o é uma oportunidade de fornecer ao tema e abrem mão de divulgar a infor- público informações e recursos que mação completa, esquivando-se assim podem salvar vidas”; e não dar inforde processos judiciais e questões morais mações desnecessárias sobre o morto, complexas. “Há gente que sequer gosta como sua preferência sexual ou sua de conversar sobre o assunto. Como os vida familiar, se não forem diretamenjornais são muito mais reflexos do que te ligados ao fato.
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Cobertura
jornalística
eleitoral O
jornalismo de declarações está disseminado na imprensa brasileira. A culpa, segundo Fausto Macedo - repórter de política do Estadão e convidado para esta mesa-redonda - é a indústria das indenizações. O repórter é reprimido com a ameaça de que a matéria o leve à Justiça e haja perda financeira. Começar nesse universo de intrigas e discursos carregados de segundas intenções é difícil. Que o diga o exaluno do curso Upiara Boschi: tinha menos de um ano de formado quando teve que entrevistar os candidatos ao governo de Santa Catarina.
entrevista
Sujar os sapatos, sem ilusões por Pedro Santos
C
om 34 anos dedicados ao jornalismo, Fausto Macedo não se ilude quando o assunto é política editorial, e acredita que a liberdade de imprensa não é absoluta. Mesmo assim, há margem de manobra.
Semana Revista: Vivemos hoje um jornalismo político mais baseado em declarações oficiais do que em pesquisa, imersão, aprofundamento. O senhor mesmo disse, em outras entrevistas, que são raros os repórteres que têm coragem em assumir uma denúncia. Como chegamos a esse ponto? Fausto Macedo: Um dos motivos é a indústria da indenização. Os processos são realizados não exatamente contra o repórter, mas contra o jornal para o qual ele trabalha. E isso provoca um recuo das redações, intimida. É um dos motivos desse jornalismo declaratório. De dez anos para cá essa indústria da indenização se fortaleceu. SR: Por sua experiência, como o repórter deve lidar quando se depara com interesses políticos que nem sempre estão explícitos? FM: A maior parte dos grupos de comunicação são empresas, têm interesses políticos. Nós, repórteres, trabalhamos de acordo com a linha editorial defendida pelo jornal. É o interesse empresarial, diferente da censura que exercia a Polícia Federal nos anos 70. Ali, você sabia exatamente que era o censor que chegava à redação ali por
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Valéria Gonçalvez/AE
volta das cinco da tarde, pegava os textos e cortava o que achava que tinha que cortar. Era a censura do regime que a gente atravessava naquela época. Hoje é o regime empresarial, uma censura mal-disfarçada. Não há campo para romantismos, sabe? Para dizer que a imprensa é absolutamente livre. Não é! SR: Existe alguma margem de manobra do repórter para driblar esse interesse político superior, do patrão? FM: Tem gente que está tentando driblar isso aí. Nossa profissão é essencialmente social, preocupada em informar. Quando a gente corre atrás de uma informação, é um serviço para o público, e não um motivo espúrio. Até houve o episódio de uma colega nossa, da Folha, que fez nada mais nada menos que dar um furo de reportagem. Ela publicou, no dia 28 de abril, que existia uma investigação contra Daniel Dantas. Para a Polícia Federal, a reportagem foi criminosa. Até nisso a gente corre o risco de ser enquadrado, por VII Semana do Jornalismo - 15 a 19 de setembro de 2008
um delegado que achou que, ao publi- tipo de neutralidade ou é mais respeicar a reportagem, havia interesse em to à fonte? FM: Neutralidade. Quando digo avisar a tal da organização criminosa. No dia-a-dia, a gente vai tentando dri- que o repórter não deve se apaixonar blar essa pressão interna, dos veículos; pela fonte é que ele não deve ir com e externa, que vem das ações. Isso pro- muita sede ao pote. Porque a fonte voca intimidação nas redações. Mas, também tem interesses. SR: Certa vez o senhor disse que por outro lado, é bom para que o reseus piores momentos profissionais pórter tome cada vez mais cautela. SR: O senhor acredita que de modo eram quando suas matérias eram engeral as pessoas vêem o jornalismo gavetadas inexplicavelmente. Como a político fora do cotidiano delas e pre- empresa jornalística, como o Estadão, influencia na produção das pautas ferem ler outros caderpara a editoria de Política? nos, como o de cultura e FM: É nessa apurao esportivo? ção do dia-a-dia que FM: Não posso dizer você esbarra às vezes que o jornalismo políQuando a gente em algum tema que ou tico seja rejeitado, mas corre atrás de uma não é de interesse do não tem o apego que informação, é um jornal ou porque atinge devia ter do leitor. Eles serviço para o alguém das relações da preferem mesmo outros público, e não um empresa. Em qualquer cadernos, o de Cultura, motivo espúrio veículo de comunicade Esportes, o noticiário ção é assim. policial, que tem apelo. SR: Nesses casos, Pelo descrédito que vive a política, o quando você chega leitor não se interessa pelo que deveria com a matéria pronta e ela é engavese interessar. SR: E como fazer para mostrar para tada: os motivos não são realmente as pessoas que a política vai além dos inexplicáveis, não é? FM: Há casos em que logo no comeanos de eleição, da festa partidária, ço da apuração você já recebe a oriendos presentinhos dos políticos? FM: É, não pode realmente ficar na- tação do que não interessa para o jorquele jornalismo declaratório idiota, nal. O repórter tem que entender que é de ir ao Congresso pegar a mera de- funcionário da empresa. Nós não temos claração de político. Tem que buscar essa liberdade que as pessoas de fora do formas de captar o leitor. E tem de pu- nosso meio imaginam que existe. Ainblicar com precauções. Mesmo porque da assim, não podemos ignorar que há nós não somos juízes, somos repórte- jornais, tevês, rádios e sites que fazem res. Não temos o direito de julgar nin- um bom trabalho, apesar das amarras, guém, nem de nos apaixonar por uma das limitações por interesses políticos fonte ou de odiar um investigado. Não dos patrões. Salvo aí as exceções das nos cabe fazer juízo de valor. Nos cabe pequenas municipalidades, onde os veículos locais não têm a autonomia que apenas informar. SR: O senhor está defendendo um os maiores têm nas capitais.
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artigo
A Força Disciplinar no Sensacionalismo
Por Profª. Drª. Mayra Rodrigues Gomes Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes da USP
V
amos considerar as matérias que são rotuladas como sensacionalistas sob o viés de alguns vetores que constituem a natureza do jornalismo. A confirmação do laço social, que faz povo e nação, ao lado da vigilância, que resguarda as democracias, têm norteado a produção jornalística e alimentado o ideário dos que a tomam como responsabilidade social. Ora, tal orientação determina que a tarefa narrativa do jornalismo se desdobre em apontamentos sobre os modos corretos de ser, sobre as atitudes desejáveis em nome do equilíbrio social. Lembrando o pensamento de Michel Foucault, pensamos essa condição enquanto função disciplinar. O número de matérias que cobram atitudes justas confirma a disposição disciplinar. Nesse caso, quando falamos sobre a pauta jornalística em termos de acaso, de sedução ou de interesses do mercado escamoteamos sua outra razão de ser. Na pauta estamos comprometidos, como já nos alertou Pierre Bourdieu, com duas lógicas que comandam o jornalismo. Por um lado, a lógica do furo, que gera a procura da notícia mais quente, por outro, a do julgamento dos pares, uma vez que os próprios jornalistas se tornam avaliadores das figuras proeminentes em seu meio. Assim posta, a pauta é dimensionada por mecanismos internos ao campo do jornalismo. Mas a estes mecanismos
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se sobrepõe a natureza disciplinar, pois as escolhas são norteadas pelos acontecimentos que chamam a atenção, justamente por infringirem ditames sociais. O princípio da escolha é de ordem normativa o que a torna instrumento disciplinar. Desde a expansão do jornalismo no século XIX vemos a priorização de temas hoje rubricados como sensacionalistas. Por esta época, face ao nascimento da população (as grandes concentrações urbanas) e face à instalação das Nações (enquanto Estados), há uma política de contenção para que um e outro se submetam à or-
dem, para que a primeira se veja refletida na segunda e, assim, conforme-se à administração imposta. Nascem as sociedades disciplinares, movimento que o jornalismo acompanha. “Evidentemente por uma moral rigorosa: daí esta formidável ofensiva de moralização que incidiu sobre a população do século XIX (...) foi absolutamente necessário constituir o povo como um sujeito moral, portanto separando-o da delinqüência, portanto separando-o nitidamente do grupo dos delinqüentes, mostrando-os como perigosos não apenas para os ricos, mas também para os pobres, mostrando-os carregados de to-
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dos os vícios e responsáveis pelos maiores perigos. Donde o nascimento da literatura policial e da importância nos jornais, das páginas policiais, das horríveis narrativas de crimes”
(FOUCAULT, 2001, p. 133) Ora, somos despistados da natureza dessas “horríveis narrativas de crimes”, no que diz respeito a sua função social, quando as reduzimos ao vetor do furo, ou a um subproduto da sociedade de espetáculo. Como ponto de reflexão, tomamos o recente caso do assassinato da menina Isabella Nardoni. Todos os veículos se concentraram na tragédia, explorando os detalhes da família e suas conexões. A opinião pública, dizem que por influência das mídias, logo se colocou contra o pai e a madrasta. A televisão foi exímia em mostrar a população reunida em ato de protesto, acusando-os de assassinos e clamando por justiça. Esse é o quadro do espetáculo, incentivado e explorado pelas mídias. Contudo, é também o quadro em que materializam os dispositivos disciplinares. O povo sai às ruas porque esse é um crime que mexe com um dos eixos sagrados da estrutura social, a saber, a família. A família, enquanto idéia fonte, é depositária de anseios, esperanças, idealizações. A reação do povo, tanto quanto dos VII Semana do Jornalismo - 15 a 19 de setembro de 2008
espectadores de jornais televisivos, se constrói como resposta à afronta direcionada a um dos principais focos, afinal, de disciplinaridade. “De modelo, a família vai tornar-se instrumento, e instrumento privilegiado, para o governo da população e não modelo quimérico para o bom governo”
(FOUCAULT, 2001, p. 289) Além disso, ao pensarmos a exposição da criminalidade, devemos lembrar que a própria construção narrativa é repleta de indicações, organizadas em torno das figuras do vilão e do herói, que pontificam sobre o bem e o mal. Não faltaram, na história de Isabella, os ditames sobre os modos de agir dos pais, da polícia, os modos da coleta de testemunhos e provas etc. Em todos estes casos, todo o tempo, a norma foi apontada e invocada. Sob a ótica que expusemos, essas notícias, um tanto espalhafatosas, têm uma função de adestramento. Elas prescrevem sobre certo e errado, sobre falta e punição, configurando os modos de ser, veia mestra dos dispositivos disciplinares. Bibliografia BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão. A influência do jornalismo. Rio de Janeiro, Zahar Editor, 1997. FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro, Edições Graal, 2001.
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crônica
Lembranças de um repórter semi-experiente
Upiara Boschi, ex-aluno do curso de jornalismo da UFSC, há dois anos era foca, hoje é quem está há mais tempo na editoria de política do jornal A Notícia
À minha frente, os oito candidatos a governador de Santa Catarina. Ao lado, os 16 vereadores e o prefeito de Florianópolis, além de outros três jornalistas convidados. Apertado em uma camisa que não usava há meses, nervoso e sem ter certeza sobre o que perguntar, eu praticamente fazia a minha estréia na cobertura de política do jornal. Não fazia um mês que o editor me chamou para conversar sobre a vaga que estava aberta, na editoria de política. “Se você não se adaptar, a gente pode tentar remanejar mais para frente”, disse. Eu tinha uma pequena passagem pela editoria de geral e uns cinco meses de esporte no meu currículo de jornalista iniciante e via a política como um lugar em que chegaria quando tivesse mais experiência. Foi desnecessário. Poucas vezes me senti tão foca quanto naquela noite em que a Câmara de Vereadores promoveu o debate com os candidatos ao governo estadual. Acabei sendo escolhido para representar o jornal naquele evento – que foi transmitido pelo canal de TV da instituição. Quem assistiu, certamente lembra que o debate foi morno até que um jornalista (não eu) perguntasse algo que resultou em troca de farpas entre o ex-governador e o prefeito Dário Berger, que assistia ao debate ao lado de seu então líder de governo, vereador Juarez Silveira. As farpas se transformaram em bate-boca, que acabou com os dois registrando boletins de ocorrência. Ninguém vai lembrar do repórter de nome estranho, sorteado para fazer uma pergunta para o candidato Mano-
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el Dias – justo um dos que ele não tinha preparado nada. Lembro vagamente da pergunta que fiz, só de que gaguejei muito e saí vivo. A missão estava cumprida e a matéria sobre a briga de Amin e Berger impressa no jornal do dia seguinte. Naqueles primeiros dias, qualquer posse de secretario em São José me tirava o sono. Se tivesse que falar com deputado ou prefeito, ficava nervoso. Aí, olhava para a colega mais experiente e pedia o telefone do assessor. Ela respondia com a frase que eu passaria a dizer tempos depois para quem fazia pedidos semelhantes. “Liga direto pra ele, o telefone é tal”. Ligar direto pro deputado? Calma, eu sou novo aqui, dava vontade de dizer. Pouco tempo depois eu acabei promovido para a cobertura estadual tchau, São José! - e recebia na redação o governador reeleito Luiz Henrique da Silveira, em entrevista exclusiva após a vitória. A outra repórter estava de férias e a “missão” caiu no meu colo. Assim, 2006 foi o ano em que comecei desempregado e sem experiência profissional e acabei entrevistando o governador. Dois anos depois, a diferença é que agora sou o repórter mais antigo da editoria. Não vejo vantagem ou mérito nisso, sinto muita falta daquela colega a quem eu perguntava muito mais do que o telefone do assessor – e ela sempre sabia o que responder. Infelizmente, é a tendência: redações cheias de gente jovem ligando diariamente para os mais experientes, os assessores. Isso explica muita coisa. VII Semana do Jornalismo - 15 a 19 de setembro de 2008
Limites
do
jornalismo investigativo A
partir da experiência profissional e do conhecimento de casos históricos, os convidados discutirão algumas questões acerca dos limites do jornalismo investigativo. Qual a fronteira entre o papel do jornalista investigativo e do Estado? Até que ponto a ética profissional limita o investigador? A que meios pode o jornalista recorrer para perseguir os objetivos da pauta? A mesa abordará também temas como a coerção social e jurídica a que são submetidos alguns profissionais, as técnicas e instrumentos do jornalista investigativo, a relação com as fontes, o off, a segurança do repórter durante a apuração, os acordos e parcerias, etc.
perfil
Olho de repórter e coração de mãe Por Adriana Seguro
A
ditadura não acabou para Roger Rodríguez. Sua consideração pelas famílias que sofreram, o desejo de encontrar a verdade e o faro para a sujeira o levam a vasculhar uma época que muitos preferem esquecer.
Como bom investigador, ele quer preencher todas as lacunas de informação. Quando interrogado, fornece respostas completas, talvez como ele gostaria que suas fontes lhe dessem. Na entrevista por e-mail, perguntado sobre sua idade, responde: “Tenho 48 anos, estou casado há 30 com minha companheira Sara, tenho três filhos (Natalia, de 27, Sebastian, de 26 e Virginia, de 15) e um neto de um ano e meio chamado Renzo.” Juan Roger Rodríguez Chanadari é jornalista há 30 anos e repórter do jornal La República desde 2001. Rodríguez tem um histórico de resistência e se sente honrado por ser o último processado e o primeiro anistiado pela justiça militar da ditadura uruguaia (1973-1985). Ele ficou preso durante três semanas em 1984 por denunciar, no semanal La Voz, maus tratos às presas políticas do país. Como sanções às “Hoje, como nadescobertas que quela época, inpublicou, além de ser vestigo as violapreso, Rodríguez foi ções aos direitos ameaçado diversas humanos, por vezes, sem contar os que entendo que não é passado, e processos. sim presente. Os desaparecidos seguem desaparecidos a cada dia. O delito continua sendo cometido e não pode haver futuro se não se sabe a verdade do que ocorreu e ocorre.” Há 25 anos, o jornalista pesquisa como foi o processo repressivo uruguaio. “Analiso
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por quais irracionalidades as vítimas foram escolhidas. Isso me permite chegar a importantes conclusões que derrubam as histórias oficiais, criadas pela própria ditadura e pelos governos permissivos que a sucederam.” No último dia 13 de agosto, Rodríguez compareceu a um Tribunal de Apelação, para responder em segunda instância a um processo de difamação e injúria, no qual o juiz lhe havia sido favorável em março. A história começou em 30 de novembro de 2007, no julgamento do general Gregório “Goyo” Alvarez. O repressor Iván Paulós era testemunha e aparecia pela primeira vez ante a justiça. Paulós veio acompanhado de dois guarda-costas. Um era o coronel Eduardo Ferro, que seqüestrou a ativista uruguaia Lilian Celiberti e o estudante Universindo Rodríguez em Porto Alegre, em 1978. O outro poderia se passar por um desconhecido, se não fosse a observação aguçada de Rodríguez. O anônimo levava uma arma embaixo do casaco, flagrada por um fotógrafo do La República. “Comecei a investigar quem era e pude confirmar que tinha um passado obscuro”, afirma o jornalista. O major aposentado Enrique Mangini havia sido, quando estudante, integrante de um grupo de ultradireita, o Juventud Uruguaya de Pie (JUP). Tinha participado da invasão a uma escola em 11 de agosto de 1972, que terminou no assassinato do estudante Santiago Rodríguez Muela. A VII Semana do Jornalismo - 15 a 19 de setembro de 2008
denúncia foi publicada no diário e Man- de vida. Somente em 2002, como resulgini indiciou Rodríguez. O jornalista saiu tado paralelo da investigação de mais de um ano que Rodríguez fazia para a revisnovamente ileso da última apelação. Como sanções às descobertas que ta Posdata, aconteceu o reencontro. Pelo publicou, além da prisão, Rodríguez foi trabalho, recebeu o XIX Prêmio Direitos ameaçado diversas vezes, sem contar os Humanos de Jornalismo, do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, organizaprocessos. “Não as considero ção não governamental de Porto Alegre. penalidades, e sim condecoraEntre outras coisas, o jornalista também ções. Meu único sofrimento é denunciou o “seguno fato de não se saber toda a Hoje, como naquela do vôo”, um traslado verdade. Minha pena é que época (da ditadura clandestino de opohaja mães que morram sem sitores seqüestrados uruguaia), investigo saber onde estavam seus na Argentina para o filhos e filhos sem saber o as violações aos Uruguai, onde eram que aconteceu com seus direitos humanos, executados. A descopais. Estou convencido de porque entendo que que encontrar a verdade é não é passado, e sim berta do vôo secreto permitiu ainda revelar parte da cura dessas penas. presente. a existência de uma E isso, trato de ajudar a faprisão clandestina na zer.” província de Córdoba, Rodríguez conta que a situação mais na Argentina, conhecida difícil que já enfrentou em trabalho foi manter, durante seis meses, uma relação como Valparaíso. Outro furo do repórter, que envolve profissional com um repressor argentino, que aceitou ser seu informante. “Por o Brasil, foi sobre o assassinato do exmuito tempo, ele jogou comigo um jogo presidente João Goulart (1961-1964). Em cruel pelo qual só respondia às pergun- 2002, ele publicou no La Republica uma tas ‘corretas’, mas não me ajudava com as entrevista com o ex-agente secreto do dúvidas. Foi desgastante. Até que um dia Uruguai Mario Barreiro Neira, realizaeu lhe disse: ‘O que eu quero, você tira da num presídio de segurança máxima de mim só com cinco minutos de cho- perto de Porto Alegre, que levantaram que elétrico, mas faz oito horas que eu suspeitas sobre a morte de João Goulart. estou falando para que você diga o que Segundo Neira, medicamentos de Jango eu quero.’ Acho que esse dia ele deixou foram envenenados, quando suspeitoude me ver como um inimigo e começou se que ele planejava voltar de surpresa a colaborar.” O jornalista foi persistente e para o Brasil. Jango morreu dia 6 de colheu bons frutos. Através dos detalhes dezembro de 1976, na Argentina, oficialfornecidos pela fonte, Rodríguez teve mente de ataque cardíaco. No início de papel fundamental na localização de Si- 2008, a declaração sobre o assassinato foi món Riquelo, filho da presa política Sara feita em público e reacendeu o interesse da imprensa e da família sobre o caso. Méndez. Simón Riquelo estava desaparecido Uma comissão especial procedeu inveshá 26 anos. O rapaz havia sido tomado tigações que apontaram fortes indícios das mãos da mãe em 1976, com 22 dias para o assassinato.
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revista da semana
reportagem
ONG luta pelo direito de informar Por Marina Veshagem
Conhecida por manifestações e declarações polêmicas, a ONG Repórteres Sem Fronteiras também oferece auxílio a jornalistas que sofrem repressão
O
site da ONG Repórteres Sem Fronteiras assim resume o motivo de sua criação: “em alguns países um jornalista pode passar vários anos na prisão, por uma palavra ou uma foto. Porque aprisionar um jornalista é eliminar uma testemunha essencial e ameaçar o direito de todos à informação. Repórteres sem Fronteiras, fundada em 1985, trabalha diariamente pela liberdade de imprensa.”
Para a RSF, enquanto o mundo estivesse atento aos Jogos, centenas de jornalistas e blogueiros estariam presos. Em dezembro de 2007, cerca dos 30 mil jornalistas credenciados para a cobertura dos jogos foram fichados para identificação dos “falsos jornalistas”. A Repórteres Sem Fronteiras move campanhas no mundo todo pela defesa de jornalistas, escritores, usuários de internet e outros que possam ser vítimas de perseguição pelo exercício do direito à expressão. Também se propõe a lutar para a diminuição da censura e combater as leis destinadas a restringir a liberdade de imprensa, assistir jornalistas ou meios de comunicação em dificuldades (gastos com advogados, médicos, etc) e as famílias dos repórteres presos, além de traba-
O relatório anual da ONG Anistia Internacional fez, em 2008, um balanço entre o que foi prometido pela Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e o que foi cumprido até agora. Uma das conclusões a que chegou a organização é que, 60 anos depois de a Declaração ter sido adotada pelas Nações Unidas, pessoas não têm direito de se manifestar livremente em 60 anos após a Declaração Universal dos Direitos Humanos ter sido adotada, as pespelo menos 77 países. Em outubro de 2007, soas ainda não têm direito de se manifestar livremente em pelo menos 77 países. a instituição Repórteres Sem Fronteiras (RSF) iniciou uma campanha pela liberdade lhar pela melhoria da segurança dos de imprensa na China inspirada nos jornalistas, principalmente nas zonas jogos Olímpicos de 2008, em Pequim. de conflito. Há seções nacionais da RSF em A página inicial do site da organização (www.rsf.org) contém referência dire- nove países, o que permite que ela se ta à reivindicação, que incluiu também estenda pelo mundo. São elas: Aleuma petição. A China mantinha pre- manha, Áustria, Bélgica, Canadá, Essos, em outubro, aproximadamente panha, França, Itália, Suécia e Suíça. 100 jornalistas e ativistas pela liberda- A organização é composta por uma rede de mais de cento e vinte corresde de imprensa.
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pondentes e trabalha em colaboração no mundo por expressarem-se na incom associações locais ou regionais ternet. O Brasil está na 84ª posição na de defesa da liberdade de imprensa. A RSF registra os atentados à li- classificação, o que o inclui nos paberdade de imprensa no mundo e, íses com problemas na liberdade de então, organiza cartas de protestos, imprensa. A colocação se deve ao reque são enviadas aos governos, e gistro do assassinato de dois jornacomunicados aos meios de comuni- listas brasileiros em 2007: Luiz Carcação, como forma de mobilização e los Barbon Filho e Robson Barbosa Bezerra, sendo informação do púO Brasil é o 84° país na classi- que o último não blico. No site há sempre um “barô- ficação dos países com melhor foi tratado como liberdade de imprensa, o que assassinato ligametro” atualizado preocupa a ONG. A organiza- do à profissão. sobre os atentados ção afirma ainda que o país A organização a jornalistas (ver afirma ainda que quadro). ainda não conseguiu acabar o país ainda não A organização com agressões nem com as faz ainda um ba- tentativas de atentado contra a conseguiu acabar com as agressões lanço anual da imprensa. nem com as tenliberdade de imprensa no mundo. Diversas pessoas tativas de atentado contra a imprene grupos - como organizações colabo- sa, representadas por medidas de radoras, correspondentes, jornalistas, censura prévia e garantidas pela Lei investigadores, juristas ou militantes de Imprensa outorgada em 1967. A Repórteres sem Fronteiras se dos direitos humanos - respondem um questionário de cinqüenta per- financia pela venda de álbuns de guntas. São levantados dados de 169 fotografias, calendários, leilões, donações, as demais não dispõem de ações, colaborações com empresas privadas, dentre outros. É registrainformações suficientes. Os 14 primeiros países da classifi- da na França como organização sem cação de 2007 – com melhores índices fins lucrativos e, em 2005, recebeu de liberdade de imprensa – são euro- do Parlamento Europeu o Prêmio peus. Já dentre os últimos 20, apenas Sakharov para a Liberdade de Penum é americano, Cuba, e sete são asi- samento. áticos. Dentre eles está a China, com 50 - dos 64 - casos de pessoas detidas *Veja o site www.rsf.org para saber mais.
O barômetro de liberdade de imprensa (2008)
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jornalistas colaboradores mortos mortos
jornalistas presos
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colaboradores cyberdissidentes presos presos
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drops
Os cinco mais do momento Por Wesley Klimpel
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sta não é uma lista definitiva dos melhores livros – não acreditamos nisso. Elaborada a partir das dicas de professores e profissionais, apresenta livros de jornalismo investigativo que devem ser lidos. Confira. Instinto de Repórter, Elvira Lobato O livro, de 2005, mostra os passos da produção de 11 grandes reportagens. “É importante por refletir sobre os limites éticos no trabalho.” Mauro Silveira. Também indicado por Carlos Lins Cabeça de turco, Günter Wallraff Jornalista se passa por turco para mostrar a discriminação sofrida pelos imigrantes na Alemanha da década de 80. “O recurso de se disfarçar foi eticamente justificável.” Dauro Veras Jornalismo Investigativo, Dirceu Fernandes Lopes e José Luiz Proença (org) Mestrandos e doutorandos entrevistam vários jornalistas do país, para saber os bastidores e técnicas de grandes reportagens investigativas. “Traz boas visões, algumas antagônicas, sobre o tema.” Luis Eblak
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Narcoditadura, Percival de Souza - Vencedor do Prêmio Wladimir Herzog Conta a história do assassinato de Tim Lopes, do desenvolvimento do crime organizado e da evolução do jornalismo investigativo no país. As garras do Condor, Nilson Cesar Mariano Revela os bastidores da operação que abalou o Cone Sul durante as décadas de 70 e 80. “A obra mostra um trabalho investigativo significativo na luta contra a violação dos direitos humanos na América Latina.” Mauro Silveira Leia também: Jornalismo Investigativo, Leandro Fortes Jornalismo Investigativo, O fato por trás da notícia, Cleofe M. de Sequeira Todos os Homens do Presidente, Robert Woodward e Carl Bernstein Rota 66, Caco Barcellos Os donos do Congresso, Elvis Bonassa/ Fernando Rodrigues/Gustavo Krieger Participaram na elaboração dessa lista os jornalistas Carlos Lins, Dauro Veras, Diane Duque, Luis Eblak, Mauro Silveira e Percival de Souza.
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A espelho
profissão no
D
esde que foi proposta, em 2004, a criação do Conselho Federal de Jornalismo divide opiniões. O Conselho teria como fun ção “orientar, disciplinar e fiscalizar” o exercício da profissão e das ativida des de jornalismo - inclusive com pos sibilidade de cassação dos registros profissionais. Em 2006, o projeto de lei que criava o CFJ foi vetado e abriu-se espaço para debates. Outra forma de regulamentar a profissão é a exigência ou não do diploma de graduação, assunto também polêmico. A decisão final do Supremo Tribunal deve sair em breve, mas a julgar pelo histórico de discussões, o tema continuará sendo pauta.
reportagem
A confusão que deixou marcas por Juliana Passos e Juliana Sakae
A
entrada do projeto de lei que cria o Conselho Federal dos Jornalistas, em 2004, foi repercutida com revolta na mídia. Até hoje, a questão é mal compreendida
em sindicatos, audiências públicas, universidades e câmaras municipais e, em 2002, enviado formalmente ao Governo Federal. Após dois anos de espera o projeto chegou à Câmara dos Deputados e os principais veículos de comunicação do país posicionaram-se contra As exigências do diploma e de uma a aprovação do projeto. A edição da atuação profissional e ética no Jorna- revista Veja da semana seguinte trazia lismo são os pilares da discussão mais na capa: “A tentação autoritária: as inantiga da área. De um lado, entidades vestidas do governo do PT para vigiar e profissionais defendem a criação de e controlar a imprensa, a televisão e a cultura”. Nas págium órgão fiscalizanas internas, declador – o Conselho rava: “Lula se deixa Federal dos Jorenganar por uma nalistas (CFJ) – do associação de assesoutro, jornalistas e sores de imprensa empresários desade empresas estaprovam a proposta tais que se fazem em nome da liberpassar por jornalisdade de expressão. tas e manda para “Qualquer órgão o Congresso um que represente projeto de lei que ameaça à liberdarepresenta o mais de de informação, sério ataque à liberprecisa ser rejeitadade de expressão do enfaticamente no Brasil desde o pela sociedade e A edição de 14/08/2004 trouxe a posição regime militar”. por seus represen- contrária da revista à criação do CFJ A Federação Nacional dos Jornatantes democráticos”, disse William Bonner em 2004, em uma entrevista listas (FENAJ), entidade que representa todos os Sindicatos dos Jorpara à revista Veja. O projeto de lei para a criação do nalistas do país e responsável pelo CFJ, baseado na lei que cria a Ordem projeto de lei, respondeu publicados Advogados do Brasil (OAB), foi mente os ataques recebidos: “Muitos colocado em pauta pela primeira jornalistas e parlamentares não se devez em Florianópolis, no Congres- ram ao trabalho de ler o projeto de lei so Nacional de Jornalistas, em 1990. enviado ao Legislativo. Lá não consta O texto foi discutido durante anos nenhum artigo que limite a liberdade
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de imprensa ou institua a censura. Ao sentação do diploma e a obrigatoriecontrário, propugna-se a garantia da dade do registro das empresas não liberdade de imprensa e de expres- consta mais no projeto, mas já está são” (Tendências/Debates: Folha de S. prevista por lei para todas as atividades regulamentadas por conselhos de Paulo, 18 de agosto de 2004). O debate da criação do CFJ passa fiscalização profissional. Depois das acaloradas discussões também pela discussão de como se dará este processo. O jornalista Mau- em torno da criação do CFJ em 2004, rício Tuffani, ex-editor e redator-che- o debate continua. No dia 27 de julho deste ano o Ministério do fe da revista Galileu, criTrabalho criou um grupo tica a redação do projeto de estudos para discutir a de lei: “Ser contra o CFJ Ser contra o CFJ profissão e viabilizar sua não significa necessarianão significa mente ser defensor dos necessariamente ser regulamentação. Os nove barões da mídia nem ser defensor dos barões membros serão represen. tantes de três categorias, contra qualquer tipo de da mídia nem ser patrões, trabalhadores e regulamentação, assim contra qualquer tipo funcionários do Ministécomo ser a favor dessa proposta não implica ser de regulamentação rio do Trabalho e Emprego, e deverão entregar um teleguiado dos minisrelatório até outubro. tros José Dirceu ou Luiz Além da criação do Conselho, será Gushiken”. No mesmo ano que entrou na Câ- julgado neste ano no Supremo Trimara o projeto sofreu alterações, rea- bunal Federal a obrigatoriedade do lizadas não só pela FENAJ como pelos diploma (leia mais na página 35) e a relatores do projeto. A idéia inicial da reformulação ou anulação da Lei de Federação de vincular a emissão do Imprensa. registro profissional – que deixaria de Leia mais: ser função do Ministério do Trabalho www.semanadojornalismo.ufsc.br e ficaria a cargo do Conselho – a apre-
“
”
Qual o papel de um conselho? Considerada uma autarquia federal, os conselhos tëm como função defender os direitos não apenas da categoria, mas principalmente da sociedade em relação aos profissionais. Conheça o papel dos conselhos de outras áreas: > Conselho de Farmácia: defende que a farmácia não seja um estabelecimento comercial, mas que dê prioridade à saúde, proibindo a ven-
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da de revistas, refrigerantes e balas e obrigando a permanência de um farmacêutico em todo período de funcionamento. > Conselho de Engenharia, Arquitetura e Agronomia: fiscaliza as construções e interdita os locais quando existe risco à população. > Conselho de Medicina: caça o registro do médico que não age de acordo com o Código de Ética da profissão, como acontece quando profissionais do SUS cobram por atendimento.
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reportagem
Diploma, esse desconhecido por Marina Ferraz
A
guerra da obrigatoriedade ou não da graduação em Jornalismo parece não ter fim. E os profissionais das redações não cansam de lutar.
O diploma para o exercício da profissão de jornalista deixou de ser obrigatório no Brasil entre outubro de 2001 e 2005. Com isso, a discussão sobre a necessidade de formação superior para trabalhar na área tornou-se assunto polêmico. Em grande parte dos países europeus não é obrigatório um diploma em jornalismo para exercer o ofício. Porém em todos existe uma regulamentação e alguma maneira de selecionar quem poderá gerar conteúdo para os veículos de comunicação. As primeiras publicações surgiram no Brasil com a vinda da corte portuguesa para o país, em 1808. O jornal que surgiu era considerado oficioso, ou seja, tratava de assuntos de interesse da família real. Com a República, o jornalismo deixou de ser artesanal e se profissionalizou. O número de publicações aumentou e se segmentou. Até a criação da primeira faculdade de Jornalismo do Brasil – a Fun-
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dação Cásper Líbero, em São Paulo, em 1947 – os profissionais se formavam dentro das redações. Em 1969, foi criada a primeira lei de regulamentação da profissão. Dez anos depois, em março de 1979, o decreto foi revisto e aprimorado. A nova versão, o decreto nº 83.284, propõe que “o exercício da profissão de jornalista requer prévio registro no órgão regional do Ministério do Trabalho”, para o qual o diploma é exigido. Além da obrigatoriedade de formação superior, é também através desse texto que as funções exercidas pelo jornalista foram definidas – redator, noticiarista, repórter, rádio repórter, repórter de setor, arquivista-pesquisador, revisor, ilustrador, repórter fotográfico, repórter cinematográfico e diagramador. Em 2001, a juíza Carla Rister expediu uma liminar, na qual extinguiu a obrigatoriedade de formação superior para o exercício da profissão. Em 2005, a decisão foi revogada e o diploma voltou a ser obrigatório. A votação definitiva deve acontecer ainda este ano.
O diploma pelo mundo
//
Assim como o Brasil, muitos países regulamentaram o ofício apenas no século XX. O Conselho Europeu de Deontologia do Jornalismo estipulou em 1993 que os profissionais da área devem ter uma formação adequada. Essa formação varia de país para país, podendo ser horas de trabalho ou cursos.
Itália: não há obrigatoriedade de formação superior mas é necessário o registro na ordem dos jornalistas.
Bélgica: o diploma não é obrigatório mas existem vantagens salariais para os diplomados.
Espanha: as regras no país são ter nacionalidade espanhola, inscrição no registro de jornalistas, diploma em ciências da informação ou experiência profissional entre dois e cinco anos.
Dinamarca: o acesso ao ofício é condicionado à licença emitida pelo sindicato nacional dos jornalistas.
Alemanha: regulamentada
França: não há
por meio do reconhecimento das empresas jornalísticas e das organizações profissionais, por um período de aprendizado prático de 18 a 24 meses.
obrigatoriedade de qualquer formação superior.
Grã-Bretanha: é necessário um estágio em empresa jornalística ou curso preparatório do Conselho Nacional de Treinamento de Jornalistas.
Grécia: no país, existem duas opções diploma em Jornalismo ou experiência de três anos na área. VII Semana do Jornalismo - 15 a 19 de setembro de 2008
Argentina: para trabalhar como jornalista não é necessário diploma universitário em nenhuma área, basta provar que se atua na profissão.
Chile: não é necessário estar ligado a nenhum órgão de imprensa para exercer o Jornalismo nem ter diploma universitário para desempenhar a função.
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artigo
O não-sensacionalismo de Veja
A
revista Veja é a publicação semanal de maior circulação no país e possui um caráter de legitimidade e veracidade. Em seu discurso, porém, encontram-se fatores considerados de jornalismo sensacionalista. No entanto, Veja não se assume como tal e, para isso, constrói suas reportagens sob as prescrições jornalísticas. O artigo pretende revelar pontos sensacionalistas encontrados no discurso de Veja e como a mesma se posiciona no jornalismo brasileiro como publicação séria, verdadeira e confiável, analisando uma reportagem sobre o caso Isabella Nardoni. O conceito de sensacionalismo pode ser definido como:
“Modo de produção discursivo da informação da atualidade, processado por critérios de intensificação e exagero gráfico, temático, lingüístico e semântico, contendo em si valores e elementos desproporcionais, destacados, acrescentados ou subtraídos no contexto de representação ou reprodução de real social”
(Pedroso apud Angrimani, 1995, p. 14) O termo vem de “provocar sensação”, através da abordagem do tema, seja pelo texto, foto, ilustrações. Logo, a mesma notícia pode ser sensacionalista ou não, dependendo do modo de produção e veículo que a publica. Marcondes Filho descreve a prática sensacionalista como: “o grau mais radical da mercantilização da informação: tudo o que se vende é apa-
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Por Lívia Andrade
rência e, na verdade, vende-se aquilo que a informação interna não irá desenvolver melhor do que a manchete. (...) O jornalismo sensacionalista extrai do fato, da notícia, a sua carga emotiva e apelativa e a enaltece. Fabrica uma nova notícia que a partir daí passa a se vender por si mesma”
(Marcondes Filho apud Angrimani, 1995, p. 15) Um dos pontos altos do discurso sensacionalista é a sua narrativa. O relato transporta o leitor, é como “se ele estivesse lá, junto ao estuprador, ao assassino, ao macumbeiro, ao seqüestrador, sentindo as mesmas emoções” (Pedroso
apud Angrimani, 1995). É preciso narrar a notícia em tom dramático, dar detalhes, voz à testemunha e principalmente à vítima ou parente desta. A linguagem utilizada não admite neutralidade ou distanciamento. É uma linguagem mais coloquial, clichê, que faz com que o leitor se entregue às emoções.
“A linguagem editorial precisa ser chocante e causar impacto. O sensacionalismo não admite moderação”
(Angrimani, 1995, p. 40) A violência é um tema recorrente tanto em jornais considerados sérios quanto aos sensacionalistas. A reportagem estudada traz morte e violência, assuntos comuns em veículos sensacionalistas. Esses temas atraem leitores independentemente do nível cultural ou econômico (Angrimani, 1995). O que difere os jornais sensacionalistas é a valorização do assunto, já que o veículo sensacionalista coloca uma “lente VII Semana do Jornalismo - 15 a 19 de setembro de 2008
de aumento” sobre o fato (Angrimani, rados sensacionalistas podem ter algumas vezes na sua produção momentos 1995). de sensacionalismo. A cobertura da violênOs veículos tentam se afascia na mídia tar dessa nacional denomiapresenta nação problemas de pelo fato informação, de que os ao tratar susleitores peitos como associam condenados e o termo apresentar boa fatoletins de ocorres como rências como erro de sentenças judiapuração, ciais (Agência de distorção, Notícias dos Dideturpação, reitos da Infância, editorial 2001). O atual jor- O caso Isabella ganhou capa da Veja duas agressivo, ennalismo não con- vezes: em 9/04 e duas semanas depois, tre outros, que, textualiza, não com destaque em 23/04 para Angrimani, explica; limita-se a entrevistar testemunhas e narrar os são acontecimentos isolados que podem ocorrer também dentro de jornais atos de violência (ANDI, 2001). Luís Nassif escreveu sobre o pro- informativos comuns. Por causa dessa blema do timing ao entrar e sair de as- associação, a publicação considerada sensacionalista é coloca à margem, suntos polêmicos: afastada da mídia “séria” (Angrimani, “O primeiro a avançar um pouco mais, 1995). Em 23 de abril de 2008, Veja publimesmo que não haja elementos consiscou uma reportagem especial de capa tentes para comprovar a acusação, faz o sobre a morte de Isabella Nardoni, alarde para firmar a posição de pioneirisocorrida três semanas antes. Naquela mo, caso as acusações tenham fundamento. semana, o pai e da madrasta da meniDepois, quando as acusações começam a se na haviam sido indiciados. Na capa, dissolver, há uma resistência em se render foi publicada uma foto do casal, na aos fatos” qual apenas parte dos rostos aparece (Nassif apud Benette, 2002, p. 71) em meio ao escuro, foto comum tirada Angrimani (1995) descreve que o de criminosos dentro do carro de polísensacionalismo pode ser visto como cia. Para completar o ar de bandidos, uma forma diferente de passar infor- a manchete é dada em fonte chamatimação, como uma opção de estratégia va: “Foram eles”. A revista coloca uma usada pelos meios de comunicação. linha fina em cima da manchete, em Assim, mesmo veículos não conside- letras amarelas, em uma fonte muito VII Semana do Jornalismo - 15 a 19 de setembro de 2008
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artigo
menor: “Para a polícia, não há mais dúvidas sobre a morte de Isabella”. A reportagem especial em oito páginas recebe como título dois adjetivos nada imparciais: “Frios e Dissimulados”. Dessa vez a conclusão é a opinião clara da revista. O texto traz informações sobre acontecimentos na família horas antes do crime. É seguido de um relato da vida do pai e da madrasta, bem com sua relação, fazendo juízo de valor dos dois personagens através da voz de amigos e parentes não identificados no texto. A reportagem aborda ainda a avó materna e a mãe da menina, através de relatos de amigos também não identificados, narrados com forte teor sentimental, além de fotos e uma ilustração dos fatos descritos naquela noite. Apenas no último parágrafo a reportagem explica que agora a polícia pode pedir a prisão preventiva e que o casal deverá ser julgado. Ao contrário de veículos vistos como sensacionalistas, a revista apre senta alguns pontos em sua linha editorial que a caracterizam como fonte fiel à verdade, mesmo que a revista assuma sua linha opinativa. Para isso, a revista de maior circulação nacional se mostra como “uma instituição que está
autorizada a falar, porque é detentora de um poder legitimado pelo seu status” (Au-
gusti, 2005, p. 80). Nilton Hernandes afirma que Veja tem uma ideologia e “vai construir o real em função dessa ideologia, e não o contrário”. O dono da revista, Roberto Civi-
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ta, assume a publicação como aquela que dá a verdade última sobre tudo. Hernandes afirma que Veja transforma o problema de ser a última mídia a noticiar a seu favor, já que assim pode dar a última verdade, julgando o que é verdade e o que é mentira. E de onde vem essa legitimidade atribuída a Veja? Uma das estratégias é o uso de fontes oficiais para justificar as suas teses. A impressão que o leitor fica é que a revista ouviu tantas pessoas, e dessas, tantos especialistas, que o que ela diz só pode ser verdade. Muitos leitores não percebem que, muitas vezes, as fontes defendem o mesmo ponto de vista, por mais numerosas que sejam. Na reportagem analisada, a tese é que o pai e a madrasta mataram Isabella, mesmo antes de isso ser julgado pela Justiça. Para isso, a repórter coloca na boca de policiais os fatos afirmados como verdades finais. “A polícia está convencida de que Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá combinaram jogar Isabella pela janela...”. Outro fator que dá credibilidade ao discurso da revista é o caráter explicativo que o veículo possui em seus textos, como se esses não fossem abertos à discussão ou interpretação. O texto analisado traz a linguagem como a de um jornal sensacionalista. As frases e termos são recheados de adjetivos, figuras de linguagem e outros elementos que “mostram, a todo o momento, a opinião do jornalista” (Augusti, 2005). A narrativa procura envolver o leitor, levá-lo ao crime num tom dramático e assume um tom sentimental ao tratar da mãe e avó da vítima. O título da matéria traz apenas dois adjetivos: “Frios e Dissimulados”. A linha-fina confirma a tese a ser deVII Semana do Jornalismo - 15 a 19 de setembro de 2008
fendida: “Pai e madrasta mataram Isabella, numa seqüência de agressões que começou ainda no carro, conclui a polícia”. Ao longo do texto são constatados termos como “tranqüilos, filhinho de papai, esquentada, relação tumultuada, família harmoniosa, provavelmente aterrorizadas”, “espetáculo de frieza e dissimulação”, etc. A publicação utiliza-se de formas opinativas, mas apresenta-se sob as prescrições jornalísticas (Nascimento, 2002). Para isso, usa a impessoalidade da terceira pessoa (“Não se sabe ainda o que motivou o crime...”); fontes oficiais (“Pai e madrasta mataram Isabella, numa seqüência de agressões que começou ainda no carro, conclui a polícia”); e coloca as acusações na boca das fontes na narrativa (“Em determinado momento, como disseram à polícia testemunhas presentes à festa, a menina fez algo que enfureceu o pai”). Apenas no último parágrafo da reportagem, Veja esclarece que os suspeitos ainda não foram condenados: “A polícia tenciona pedir a prisão preventiva de Nardoni e Anna Carolina. Se condenados ao final do processo...” Faz parte da tradição das revistas nacionais terminar suas reportagens com a opinião do jornalista (Augusti, 2005). Logo, o texto transcorre entre informações concretas e teses defendidas pela revista. “Nessa transposição de linguagem é que pode ocorrer o sensacionalismo” (Angrimani, 1995, p. 41) O leitor precisa ter espírito crítico para saber quando se passa da linguagem objetiva para a sensacionalista, devendo estar atento às intenções discursivas presentes na notícia. Veja é fonte de diversas pesquisas VII Semana do Jornalismo - 15 a 19 de setembro de 2008
e ataques críticos. Encaixada dentro dos conceitos jornalísticos, ela se mostra verdadeira ao leitor “formador de opinião” do país. Foi aqui mostrado que para repercutir do jeito que o faz, a publicação faz uso de diversos elementos presentes no jornalismo sensacionalista. O erro do sensacionalismo é o exagero e a condução do leitor à conclusão de algo que não é real. Na reportagem analisada, recursos sensacionalistas fazem o leitor concluir a tese defendida por Veja: o pai e a madrasta da menina são culpados, mesmo antes de um julgamento.
Bibliografia AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DOS DIREITOS DA INFÂNCIA. Balas perdidas: um olhar sobre o comportamento da imprensa brasileira quando a criança e o adolescente estão na pauta da violência. Brasília: ANDI, 2001. ANGRIMANI, Danilo. Espreme que sai sangue: um estudo do sensacionalismo na imprensa. São Paulo: Summus, 1995. AUGUSTI, Alexandre. Jornalismo e comportamento: os valores presentes no discurso da revista Veja. Dissertação – UFRGS – Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação. Porto Alegre, 2005. BENETTE, Djalma Luiz. Em branco não sai: um olhar semiótico sobre o jornal impresso diário. São Paulo: Códex, 2002 BUENO, Marina. Leituras de Veja. Observatório de Imprensa, Seção Aspas. Disponível em http:// www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/ asp080520026.htm. Acesso em 07/07/2008. CASTILHO, Carlos. Quem tem medo da leitura crítica? Observatório de Imprensa, seção Código Aberto. Disponível em: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id_ blog=2&id={04164B36-5C80-4F4C-A1F5-612EC37BA B95}&data=200701. Acesso em 07/07/2008. LINHARES, Juliana. Frios e Dissimulados. Veja, São Paulo: Abril, ano 41, n. 2057, p. 84-91, 23 de abril, 2008. NASCIMENTO, Patrícia Ceolin. Jornalismo em revistas no Brasil: um estudo das construções discursivas em Veja e Manchete. São Paulo: Annablume, 2002.
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opinião
CFJ em pauta no curso da UFSC Felipe Seffrin
Mauro Cesar Silveira professor-doutor em História
Desde que seja assegurada sua independência, sobretudo em relação ao poder político do país, a criação do CFJ é mais do que necessária. Como em relação a outras profissões, a sociedade precisa contar com mecanismos efetivos para a responsabilização dos maus profissionais, independentemente da possibilidade de recurso à Justiça. O Código de Ética dos jornalistas brasileiros apresenta um texto que contempla as questões mais relevantes do exercício profissional, mas se depara com um obstáculo grande - sua inaplicabilidade para muitos casos. O fato de atingir apenas os jornalistas filiados aos sindicatos, com a penalidade máxima de exclusão da entidade para os transgressores condenados, deixa de fora muito jornalista antiético, que nem tem interesse em se filiar no órgão de representação da categoria.
Maria José Baldessar professora-doutora em Ciências da Comunicação
Nós, jornalistas, não podemos fiscalizar o exercício profissional – e não só o exercício irregular, mas o bom exercício, o exercício ético. Legislar acerca da profissão não resulta em censura, resulta numa jornalismo melhor.
Eduardo Meditsch professor-doutor em Comunicação
recém-formado em Jornalismo na UFSC
O CFJ pode fortalecer e qualificar os jornalistas e, ao mesmo tempo, valorizar o jornalismo perante a sociedade, já que as suas principais propostas são ter a responsabilidade de expedição de registros profissionais (hoje em dia tarefa do Ministério do Trabalho) e a elaboração e aplicação de um Código de Ética. Porém, acredito que a criação só será válida se realmente houver uma ampla discussão sobre o tema nas universidades e empresas jornalísticas, se ele tiver total isenção financeira e se for uma entidade independente e apartidária.
Francisco Karam professor-doutor em Comunicação e Semiótica
Ainda hoje o registro profissional dos jornalistas é concedido pelo governo, minha opinião é a de que os jornalistas, por meio de um Conselho, devem fornecer o registro. As discussões e possíveis abusos no exercício profissional passariam para comissões de ética vinculadas ao Conselho.
A legitimação de uma profissão só ocorre quando ela própria tem o controle sobre o seu mercado de trabalho, determinando quem pode ou não pode ingressar neste mercado, e quem deve ser excluído dele porque não tem ética ou comportamento profissional: ou seja, é quem diz como e por quem a profissão deve ser exercida. É o que ocorre na Medicina, no Direito, nas Engenharias e até nas Relações Públicas, algumas das muitas profissões que já tem os seus Conselhos. No Jornalismo, as empresas pressionam contra o Conselho Federal porque elas querem continuar sozinhas com este controle, que deveria ser dos profissionais. Felizmente, para os brasileiros, os donos de hospitais, de planos de saúde e de construtoras não têm o poder que têm os conglomerados de mídia. Os conselhos profissionais são um instrumento que a civilização desenvolveu para limitar o arbítrio do poder econômico.
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Lugar em
comum S air do estilo convencional é abandonar os pilares éticos? Fred Melo Paiva, editor do ca derno Aliás, do Estadão, e a equipe do programa CQC, da Band, procuram outros caminhos para fazer jornalis mo – com humor e adjetivos –, têm respeito dos leitores e da audiência e dizem sempre se preocupar com a ética. Ao biografar alguém, o que se deve deixar de fora em respeito à pessoa? Ruy Castro biografou Carmen Miranda, Nelson Rodrigues, Garrincha e é reconhecido como um dos melhores do gênero no Brasil. Extra, a Semana Revista traz a opinião do autor sobre outro gênero popular nos jornais: a crônica. Diante de tantos desafios éticos, o quê é primordial na formação jornalística? Cremilda Medina, professoradoutora de Comunicação da Universidade de São Paulo, virá à VII Semana do Jornalismo dar a sua opinião. Por aqui, você lê o quanto essa discussão já rendeu entre profissionais e professores brasileiros.
perfil
Eu não sou Cruzeirense, não Por Juliana Gomes
Um papo com o jornalista atleticano que favorece o tipo de texto não encontrado em outras partes do Estadão
S
onhei que tomava um expresso descafeinado com Fred Melo Paiva em uma daquelas tardes paulistanas sem cor e sem graça. Era domingo, dia de publicação do anexo mais adverbial do jornalismo tupiguarani, o Aliás, publicado no Estadão. Sentado em uma mesa de canto, o jornalista vestia uma camisa branca com listras verticais cinzas, de gola meio aberta e um jeans básico. Olhava pra um livro de capa escura que tinha em mãos quando me aproximei. Reconheci-o rapidamente dos tempos em que estudava na UFSC e este foi convidado para uma palestra na Semana do Jornalismo. Fred Melo Paiva abriu o evento com uma conversa informal sobre as passagens por Playboy, Veja, IstoÉ, Trip, respectivamente, e pelo jornal paulistano onde agora trabalha. Naquela época, já era sua fã. Fã, não, porque estudante de jornalismo não admite tietagem. Então, já admirava seu trabalho no caderno Aliás, considerado muito ousado em vista do conser-
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vadorismo do jornal que o publica. Aproveitei o encontro inusitado nesta tarde para me oferecer a uma vaga qualquer, nos tempos de vaca magra dos jornais impressos, seja no Estadão, seja em qualquer veículo que tivesse um amigo. Embora haja controvérsias, Fred Melo Paiva não segue regras comuns a que estamos acostumados no jornalismo. Em seus textos, as fontes não afirmam, rosnam. O gerúndio não predomina, mas é usado sem restrições. Expressões piegas que aprendemos a ter ojeriza, Fred utiliza com charme e ironia: “foi a gota d’água” ou “errar é humano”. Em contrapartida, cada detalhe de seus extensos parágrafos é pensado minuciosamente, como ele próprio confessa. Os adjetivos são a bola da vez: - Acho o preconceito com o adjetivo apenas um preconceito - e, como todos, idiotas. Não acho que os utilizo exacerbadamente. Eu os utilizo quando cabe e se necessários, mas realmente sem preconceito com ele, coitado. Suas contracapas já humanizaram
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Boris, um labrador americano e virgem que está no Brasil a trabalho; e a Acho o preconceito com o uma cadela que também “jamais deu adjetivo apenas um preconceito uma trepadinha” funcionária do Corpo de Bombeiros de São Paulo. Cláu- e, como todos, idiotas. Não dio Lembo, ex-governador paulistano, acho que os utilizo exacerbaconfessou ao jornalista que só anda damente. Eu os utilizo quando com seu Ford Ka preto, mesmo tendo cabe e se necessários, mas direito a um carro oficial. realmente sem preconceito com Dos textos mais comentados na seele, coitado. gunda-feira, aquele sobre os quarenta moradores da favela Funchal que trabalharam na construção do prédio neste compromisso com a semana, da Daslu, junto à Margem do Rio Pi- mas não apenas com isso. Sua pauta nheiros. Fred passou uma semana na deve ser menos noticiosa e mais dada favela e foi o primeiro a colocar um à reflexão, à crítica, à opinião. Da dedo de hipocrisia na repercussão que mesma forma, no caso da reportagem a mídia vinha dando à inauguração da publicada na contracapa, procuramos loja. Foi comparado a Gabriel Garcia marcar diferença com relação às reMárquez em artigos do site Obser- portagens diárias. O assunto desta última página é muitas vatório da Impren* imagem disponível em https://pandabooks.websitevezes tema que já foi sa por resgatar uma seguro.com/autores.php?id=139 noticiado nos últiqualidade perdida mos dias, mas que o do jornalismo, a cacorre-corre do jornal pacidade de contar não permite maior histórias pela palaaprofundamento. vra dos seus protaEm outras oportunigonistas, e não pelo dades, a contracapa é viés do jornalista. dedicada a perfis de O caderno de dopersonagens da semingo em que trabamana, celebridades lha, o Aliás, é o que a ou não. imprensa internacioA apuração das nal chama de Week reportagens de Fred Review. As reuniões Melo Paiva também de pauta são feitas na não campeia o pasegunda e terça-feira de cada semana, mas como ainda não drão. Se a pauta é sobre uma família aconteceu muita coisa nesses dias, as cuja casa é inundada constantemente discussões acabam sendo uma tenta- pelas enchentes, Fred não pergunta tiva de intuir o que prevalecerá como apenas a que altura a água alcançou. tema principal e o que desaparecerá Uma das peculiaridades de apuração está no que ele mesmo confessa chado noticiário até o fim de semana: - A seleção das pautas se baseia mar de “perguntas absurdas”, mesmo
“
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se o personagem for um estuprador ou um poeta: - Para que time torce? Você gosta de Bossa Nova? Assiste novela? Que disco tem na sua vitrola? Gosta de carro antigo? Depois de gravar as respostas, Fred ouve cada detalhe para entender até como cada pessoa pronuncia uma palavra. Nada daquela pressa e das cinco mil pautas que o jornalista de hardnews está acostumado. Fred adora parágrafos e escreve muito devagar. Pensa meticulosamente cada legenda de foto, cada intertítulo. Por fim: - Gasto muitas horas tentando achar o título ideal. Jamais utilizei nome de filme ou de música. Eu me proíbo muitas coisas e estas são duas delas. Fred foi punk. Depois, virou ateu e comunista, mas continua sendo des-
ses que não gosta de governo. Já foi petista, não é mais, e continua não gostando de governo. Não escapou do batismo na igreja, até teve uma avó que foi freira, e é da cidade grande, a sexta mais populosa do país, Belo Horizonte. Não perguntei como chegou a São Paulo, já que a maioria dos jornalistas – Fred trabalha há 12 anos – almejam pelo menos um freela e uma vaga no trânsito paulista. É flexível, gosta de jazz e samba, de Jimi Hendrix. No esporte, não tem negócio. Perguntei se torcia pro Cruzeiro, ele rosnou: - Eu não sou cruzeirense não. Sou Galo e ponto. Filho meu que quiser ser Cruzeiro terá de sair de casa. E cortarei a mesada! E o retirarei de meu rico testamento.
“
A seleção das pautas se baseia neste compromisso com a semana, mas não apenas com isso. Sua pauta deve ser menos noticiosa e mais dada à reflexão, à crítica, à opinião. ilustrações: Alexandre Tcheto
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”
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Trechos de Fred Melo Paiva:
Abre as portas a nova Daslu
“
A gente é pobre mas é limpinho. O problema é que aqui não tem rede de esgoto e são mais de 200 barracos, espalhados pelo beco, e mais oito vielas. Já viu a merda que isso dá, né? A senhora deve estar estranhando a quantidade de fio que sai daquele poste e se divide em vários outros, interligando tudo. É gato, menina. Tudo gato. E tem cachorro também. A senhora consegue ver aquele pit bull branco? É o Dólar. E o rottweiller? É o Fidel. Agora veja só que confusão: gato com cachorro, pit bull com criança, o esgoto passando no meio, música alta, vizinho fazendo churrasco na viela, todo mundo na rua em pleno dia de semana. Pois é. Isso aqui tem nome. Chama favela. E a gente gostaria de apresentar ela à senhora como uma forma de lhe dar as boas-vindas: Eliana Tranchesi, favela. Favela, Eliana Tranchesi.
O herói resgatador
“
”
Quinze pessoas estavam tomando o café da manhã quando ouviram o barulho do motor se desacelerando - na ensurdecedora sinfonia de um Boeing 707, era apenas mais um barulho no meio dos outros barulhos. De modo que ninguém se importou com ele, à exceção de uma senhora. Ela tinha escutado o barulho e visto lá fora um clarão. “Aconteceu alguma coisa?”, perguntou ela a um dos comissários de bordo. Na cabine da aeronave, o mecânico de vôo acabava de detectar um problema: o motor havia pegado fogo e ele pôde observar “nitidamente o efeito de pós-combustão por 3 ou 4 segundos”. A peça tinha de ser isolada do resto do equipamento, sob pena de provocar um incêndio. O avião precisava descer.
”
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reportagem
Cronicando Por Luisa Frey
“O que eu tenho, doutor? Você está com uma doença crônica, sinto muito”.
N
ão. O assunto não é esse tipo de “cronicidade”. A crônica em questão é aquele texto leve e curto, sobre um fato cotidiano, que se lê no jornal. Ou então em um livro que traz uma coletânea desses textos. É o caso de Ungáua!, o recém lançado volume que reúne 101 crônicas de Ruy Castro, publicadas na Folha de S. Paulo entre fevereiro de 2007 e março de 2008. E não é só o nome dado à obra que intriga em Ruy. Sua visão jornalística e sobre o gênero crônica também é bastante particular. Comecemos pelo curioso nome “Ungáua”. É o que o Tarzan, interpretado por Johnny Weissmuller no cinema, dizia ao macaco, ao elefante e aos outros bichos quando queria lhes dar alguma ordem. “Falava apenas ‘Ungáua!’ e o bicho entendia imediatamente o que tinha de fazer”, explica Ruy. Talvez essa seja uma analogia com a espontaneidade e a fácil compreensão da crônica. Mas escrevê-la é bem mais complexo do que parece. A crônica exige um grande exercício de observação e síntese. “Me obriga a ficar atento ao que está se passando,
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o que é bom, porque tendo a ser meio desligado da vida real”, diz Ruy. Ele conta também que quando começa uma crônica só tem uma idéia vaga do assunto, que vai tomando forma à me*foto: editora objetiva dida que escreve. O cronista leva cerca de duas horas para escrever aqueles 1777 caracteres permitidos pela Folha, incluindo todas as mudanças feitas no texto. Mas não só redigir essa criaturinha é difícil. Defini-la também o é: afinal, o que é uma crônica? A professora de português, mestre em Teoria da Literatura e cronista Regina Carvalho diz que a característica principal do gênero é justamente não ter característica nenhuma: tudo pode ser crônica. “A única definição possível é a de que ela é um texto literário para jornal. E assim, como texto literário, tem toda a liberdade de linguagem, estilo, temática. As limitações lhe vêm impostas pela publicação”, afirma Regina. Ruy, por sua vez, define a crônica como um comentário bem escrito, que leva em conta os mandamentos imutáveis do jornal: o quê, como, quem, quando, onde. O cronista brinca que sua inspi-
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ração para escrever vem do horário de fechamento do jornal e que o cenário carioca é quase sempre um bom ponto de partida, mas não é o único. Ele explica que em Ungáua! há poucas crônicas que se passam no Rio, mas a maneira de ver o mundo, esta sim, é sempre carioca. “Todos aqueles cronistas capixabas (Rubem Braga, Carlinhos Oliveira), mineiros (Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos), pernambucanos (Nelson Rodrigues) e até paulistas (Elsie Lessa) só se tornaram cronistas no Rio. Só uma metrópole em que se possa andar a pé fornece material para crônica”. Aqui entra em questão também a brasilidade da crônica. Para o cronista carioca, não há dúvidas de que esse é um gênero tipicamente brasileiro. E muitos também o dizem. A professora Regina lembra, entretanto, que há crônicas em outros países, mas com características diferenciadas. Cita como exemplo o Uruguai e seu popular escritor Eduardo Galeano. Ele ficou famoso não só por sua obra As veias abertas da América Latina, mas também por seus livros de crônicas, como Bocas do Tempo, publicado em português. Segundo ela, o que houve no Brasil é que a crônica atingiu uma popularidade muito grande. E por falar em popularidade, para
Ruy Castro, um romancista tende a ser bem mais valorizado que um cronista por o romance ser coisa mais séria, que dá muito mais trabalho. Ele mesmo foi consagrado por seus livros de reconstituição histórica e biografias. Era no tempo do rei - Um romance da chegada da Corte, por exemplo, tomou dez meses do autor para ser escrito após um ano de estudos sobre o cenário do século XIX. Regina cita o romancista Cristóvão Tezza, e sua idéia de que todos amam um cronista, mas ninguém conhece um romancista. “E olhem que o Tezza tem renome nacional! Mas o que se pode esperar num universo em que se lê pouco?”, diz a professora. Ela afirma não saber se as pessoas lêem o jornal, mas ter certeza de que as crônicas elas lêem. Regina acredita que a crônica deve falar do cotidiano com leveza e humor. E também bronquear quando preciso, porque há coisas que revoltam até o cronista mais bem-humorado do mundo. A professora acrescenta que a crônica tem como função trazer um pouco de beleza e reflexão para a vida das pessoas, de uma forma que elas possam assimilar e ter prazer com isso. Sem rodeios, Ruy Castro diz que uma boa crônica deve ser simplesmente interessante de ler.
Ungáua! O livro recém-lançado reúne 101 crônicas publicadas por Ruy Castro na página 2 da Folha de São Paulo, entre fevereiro de 2007 e março de 2008. O autor aborda com leveza e ironia temas cotidianos como futebol, música, cinema e também aqueles menos prazerosos como política, drogas e violência. Tudo isso com seu jeitinho carioca de ver o mundo. Um exemplo do estilo genial é Ungáua!, crônica que dá título ao livro. A palavra era dita por Tarzan no cinema diante de qualquer situação uma espécie de “Vamos lá, macacada!”. Segundo o cronista, é exatamente essa a estratégia do presidente Lula.
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resenha
Onde não sobram nem faltam caracteres Por Camila Brandalise com colaboração de Cauê Oliveira e Gabriel Rosa
Apuração minuciosa, texto irretocável e personalidades marcantes tornaram clássicas essas obras de Ruy Castro O anjo pornográfico Companhia das Letras, 1992 464 p.
O Anjo Pornográfico
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o caminhar no Rio de Janeiro dos anos 50, o jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues se deparou com um marido dando uma sova na mulher por, diziam as vizinhas, ser tratado como cachorro por ela. As mulheres o animavam: “bate mais! Bate mais!”. Depois da surra, a esposa se jogou aos pés do marido e suplicou perdão. Dali, Nelson criou uma de suas mais famosas máximas: “mulher gosta de apanhar”.
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Chega de Saudade Companhia das Letras, 1990 464 p.
Chega de Saudade
e João Gilberto deu o nome, Ruy Castro contou a história. A Bossa Nova, para quem a musicava, com certeza daria um belo romance, tão instigante são os seus bastidores, recheados de amores, paixões e traições. No livro Chega de Saudade, a composição do autor foi juntar os personagens famosos, os amigos e os inimigos, e colocar o período na linguagem das
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A sensibilidade em analisar a realidade cotidiana de Nelson Rodrigues trouxe o reconhecimento público e literário. Em O Anjo pornográfico, Ruy Castro conta com minúcia a vida de Nelson, do jornalismo policial aos palcos do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Mais do que qualquer conto ou peça ou noticia escrita por ele, espetacular mesmo foi sua própria historia.
estórias. O cenário, a boemia carioca, é o palco das tragédias, dramas e comédias vividas no tempo da Bossa. O livro já é um sucesso só pelos protagonistas: Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Nara Leão, Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Maysa, Johnny Alf, Elis Regina. É pra quem gosta de música, de história e de Brasil.
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Carmen - Uma Biografia
A
o ler Carmen, não se mergulha somente na vida da “pequena notável”, mas também no ambiente do Rio de Janeiro das primeiras décadas do século XX e em Hollywood. Exímio na pesquisa, Castro passou cinco anos vasculhando a vida de Carmen Miranda e a descreve desde o nascimento em Portugal – por aciden-
Carmen – uma biografia Companhia das Letras, 2005 632 p.
te, como enfatiza o autor-, até a morte em 1955, nos Estados Unidos. A elegante baiana estilizada, que se tornou ícone tropicalista, não pelas suas músicas mas sim pela figura, estereotipa do Brasil e pelos seus trejeitos, é revivida no livro em seu mundo despudorado, como se ainda continuasse cantando: “Sou brasileira, vivo feliz, gosto das coisas de meu país”. Estrela Solitária Companhia das Letras, 1995 536 p.
Estrela Solitária
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ão é com freqüência que ouvimos o nome de Manuel dos Santos. Mas Garrincha todos conhecem. Mesmo pra quem não acompanhou os jogos de futebol, o mito permanece. O “demônio das pernas tortas” é o personagem principal da biografia Estrela Solitária. As várias glórias e tragédias que per mearam a vida do famoso Mané ren-
dem bela obra. É importante sabermos hoje, tanto quanto nossos pais que o viram atuando, quem foi o grande herói do bicampeonato no Chile. E mais do que isso, a história confronta a força dessa imagem heróica com as engrenagens da vida do Manuel dos Santos, o homem simples do interior que ganhou o país com suas pernas.
Tempestade de Ritmos
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epois da Bossa Nova e do samba, Ruy Castro levou o jazz às prateleiras das livrarias. A coletânea de artigos lançados na Istoé, Folha, Veja e no Estadão e escritos entre 1978 e 2006 é um reflexo do gosto musical de Ruy, ainda que essa não seja a proposta inicial do livro. Com histórias no mínimo curiosas
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Tempestade de Ritmos Companhia das Letras, 2007 440 p.
sobre Louis Armstrong ou Ray Charles, e informações sobre o surgimento dos filmes falados, entre outras curiosidades, Tempestade de Ritmos merece respeito de qualquer jazzista de plantão. Ah, vá lá, e não só dos jazzistas. Afinal, mesmo dando alguns discretos puxões de orelha nos roqueiros, Ruy Castro fala de música como poucos brasileiros.
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reportagem
Entre a técnica e a teoria por Joana Neitsch e Juliana Passos
N
a cabeça uma toca de banho para ser identificada como caloura – brincadeira dos veteranos na primeira semana de aula –, olhos brilhantes e bem focados na entrevistadora, Carolina Azevedo gesticula ansiosamente ao falar o que espera aprender no curso de jornalismo da UFSC. Confessa que ainda não sabe exatamente o que deve aprender entre teoria e prática da profissão. Carolina leu a grade de horários, sabe as funções básicas de um jornalista, mas admite: “Não dá para colocar na cabeça de um calouro o que é o curso. Eu só vou saber o que preciso e o que faltou quando estiver lá na frente, trabalhando e souber realmente o que é a profissão”. Aqueles que já passaram pela universidade, pelo mercado de trabalho e hoje estão na academia entendem que para criar o currículo é preciso, antes, definir
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Currículos de jornalismo no Brasil tentam conciliar idéias e práticas. o perfil de profissional que se pretende formar. A formação essencialmente teórica, ainda presente em diversos cursos do Brasil, muitas vezes não prepara para as demandas do mercado. Os cursos encaram a questão de se reformular para que seus alunos tenham condições de entrar no mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, têm a responsabilidade de formar jornalistas com conhecimento. “Nós não vemos o mercado como um inimigo”, afirma a professora Márcia Marques sobre a postura adotada na Universidade de Brasília (UnB). A professora diz que o propósito traçado pelo curso brasiliense é “mais do que preparar pessoas para escrever em jornalismo, é formar cidadãos capazes de pensar, elaborar, avaliar, propor mudanças nos meios de comunicação”. Foram dois anos de encontros em que os professores discutiram autores como Paulo Freire e Edgard Morin e fizeram debates e pesquisas com os alunos até chegarem ao modelo do novo currículo, implantado em 2005. Na nova grade, a divisão de dois anos práticos e dois teóricos não existe mais. Nas aulas práticas, os profesVII Semana do Jornalismo - 15 a 19 de setembro de 2008
sores se revezam durante o semestre ao sil foi tamanha que o segundo currículo ministrarem disciplinas em diferentes la- mínimo de jornalismo foi elaborado duboratórios, abordando os mesmos temas rante o regime militar por Celso Kelly, de pauta. A medida está em fase de expe- técnico treinado no Ciespal. Esse novo rimentação, na tentativa de interagir com currículo, apresentado em 1969, enfatiza diferentes mídias e aprofundar a reflexão a tecnificação do ensino e cria a figura do comunicador polivalente ou comunicateórica durante as experiências práticas. A primeira proposta de um curso de dor social, capaz de dominar técnicas de jornalismo no Brasil foi feita em 1918, no jornalismo, relações públicas, publicidade e propaganda, de Congresso Brasileiro acordo com as necesde Jornalismo, de acorsidades do mercado. do com a dissertação O primeiro curso de O diploma passou de Eduardo Medistch. ser obrigatório para o jornalismo fundado no A idéia era um curso voltado à prática, ba- país pela Fundação Cásper exercício da profissão. Recomendava-se aos seado em um jornal-laLíbero ia de encontro à cursos de jornalismo boratório – influências proposta de focar mais nos países sul-amerido modelo que ganhana prática do Congresso canos que passassem va força nos Estados Brasileiro de Jornalismo e a se ser chamados de Unidos. abordava questões éticas, comunicação social. Mas o primeiro jurídicas e literária Discussões e descurso de jornalismo, contentamentos com fundado em 1947, seguiu um caminho inverso. O currículo as mudanças de 1969 deram origem à elaborado pela Fundação Cásper Líbero criação de um novo currículo em 1979. A era predominantemente humanístico, nova proposta pretendia voltar-se para a com ênfase em estudos éticos, jurídicos e reflexão crítica, mas o que acabou ocorliterários. O governo passou a influenciar rendo foi uma burocratização e a responna concepção dos currículos com a cria- sabilidade do ensino técnico-profissional ção do Conselho Federal de Educação. foi transferida para os estágios nas emEm 1962, o Conselho elabora o primeiro presas. A partir da década de 80 a tecnificação currículo mínimo, com uma grade de disciplinas obrigatórias para todos os imposta pelo governo militar é reforçada pelas exigências do mercado. Empresácursos de jornalismo do país. Fatos como a Revolução Cubana ge- rios reclamavam que a formação do jorraram uma preocupação sobre a postura nalista era incompatível com as funções de resistência que o jornalismo vinha to- que exerceriam depois de terminada a mando no terceiro mundo diante da po- faculdade e usavam isso como argumenlítica dos Estados Unidos. Essa situação to para não haver obrigatoriedade de dilevou a Unesco a criar em 1959 o Centro ploma. Em 1984 foi formulado o currículo Internacional de Estudos Superiores de Jornalismo para a América Latina (Cies- mínimo que estabelecia um tronco comum de disciplinas para a formação do pal), com sede em Quito, Equador. A influência da organização no Bra- comunicador social e seis habilitações esVII Semana do Jornalismo - 15 a 19 de setembro de 2008
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reportagem
pecíficas, sendo uma delas o jornalismo. Curriculares Nacionais. De acordo com A parte técnica da profissão deveria ser as novas diretrizes, o curso ainda é clasensinada em laboratórios, mas em mui- sificado como uma habilitação da área tas universidades ficou comprometida de Comunicação Social, e o ensino deve ser focado na produção e disseminação devido à falta de estrutura. Durante a década de 90 os cursos fo- das informações do momento presente. ram fazendo ajustes de acordo com as A graduação também deve se relacionar necessidades que detectavam. Na UFSC com outras áreas sociais, culturais e ecoadotou-se a nomenclatura jornalismo em nômicas. “Os cursos antigos têm agora a 2000. A publicação do comunicado em oportunidade e o compromisso de pro5 de julho, pelo então chefe de departa- moverem as adequações necessárias às mento Hélio Schuch, justifica: “A forma- expectativas e ao dinamismo da sociedação de jornalistas não cabe em apenas de” avaliam os professores Eron Brun e Jorge Ijuim em artigo levadois anos, como simples Para Meditsch, a do ao Intercom em 2003. habilitação. Com um mermaior deficiência A flexibilidade radicado de trabalho cada vez do estudante de cal na grade curricular é mais exigente e dinâmico, a graduação deve ampliar jornalismo é a falta defendida pelo professor da UFSC, Mauro Silveira. e qualificar a capacidade de conhecimento Desde que entrou na grados alunos, com um ensisobre a realidade duação na Universidade no de enfoque profissiobrasileira e nem nal, e isso demanda um mesmo a formulação Federal do Rio Grande do Sul, nos anos 70, ele acretempo bem maior”. dos currículos a partir dita que a função da uniA utilização do tronco de um tronco comum versidade é potencializar comum na estrutura do soluciona esse vocações. Para o professor currículo não resolve o problema os estudantes deveriam ter que para o professor doutor Eduardo Meditsch é uma das maiores uma boa base teórica e a opção de cursar deficiências dos estudantes de jornalismo: disciplinas técnicas de acordo com suas a falta de conhecimento sobre a realidade áreas de maior interesse no jornalismo. brasileira. Meditsch conta que foi procu- “Eu percebi no próprio exercício da prorado por uma grande empresa de comu- fissão que muitas coisas que vi na faculnicação para dar um curso sobre o tema dade não me serviram de nada” explica aos jornalistas. O professor é autor do li- ele, mas reconhece que isso exigiria mais vro O conhecimento do Jornalismo e chegou recursos e uma melhor estrutura na unia propor para o currículo da UFSC que versidade brasileira. Formado no curso de jornalismo em cada fase fosse abordado um mesmo tema sobre a realidade do Brasil em todas da UFSC no final de 2007 e primeiro as disciplinas, como economia, meio-am- lugar no trainee do jornal Estadão no mesmo ano, Vitor Hugo Brandalise biente e política. O Conselho Nacional de Educação de- Júnior percebe em seu pouco tempo finiu em 2001 novas diretrizes, com mais no mercado que o ensino técnico lhe flexibilidade, para a formação de um pro- foi muito bem ensinado. Ele também fissional do jornalismo nos Parâmetros reconhece as deficiências em sua for-
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mação. “Falta conhecimento periférico sobre tudo. Falta estudo. E, sinceramente, de dentro do mercado, ao menos da grande mídia, não é fácil corrigir essas falhas na formação”.
Cronologia
Leia mais O professor de jornalismo da UFSC Hélio Schuch fala da mudança de nomenclatura do curso http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/ da05072000.htm O conhecimento do jornalismo: o elo perdido no ensino da comunicação, Eduardo Barreto Vianna Meditsch. Editora da UFSC.
1918 Primeira proposta de um curso de jornalismo no Brasil, no Congresso Brasileiro de Jornalismo
1947 Criação do primeiro curso de jornalismo do Brasil na Fundação Cásper Líbero, em São Paulo
1959
A UNESCO funda o Centro Internacional de Estudos Superiores de Jornalismo para a América Latina (Ciespal)
1962
Criação do primeiro currículo mínimo para cursos de jornalismo no Brasil
1969
Um novo currículo mínimo é elaborado por Celso Kelly (técnico treinado no Ciespal), com ênfase nos aspectos técnicos do ensino de jornalismo
1979
É criado um currículo com o objetivo de incentivar a reflexão-crítica do jornalismo
1984
O curso de comunicação social surge com um tronco comum às diversas áreas de comunicação e seis habilitações, sendo uma delas jornalismo
2001
Conselho Nacional de Educação define novas diretrizes de ensino nos Parâmetros Curriculares Nacionais, e o jornalismo continua sendo uma habilitação de comunicação social VII Semana do Jornalismo - 15 a 19 de setembro de 2008
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De séria já basta a realidade por Carolina Moura, colaboração Juliana Frandalozo
C
QC, o programa jornalístico mais comentado do momento, onde os repórteres usam terno e gravata mas vivem perdendo a elegância.
No início deste ano, uma seleção inusitada de personalidades recebeu uma visita em comum. Gretchen, Padre Quevedo, Leão Lobo, Raul Gil, Datena e Marcelinho Carioca tiveram de enfrentar um dos problemas da fama: dar entrevista a um repórter inexperiente. Cada um à sua vez, inadvertidamente viu o microfone cair, ouviu os comentários gaguejados e respondeu às perguntas mais inoportunas disfarçadas de ingenuidade. Mas o disfarce caiu no dia 17 de março, quando estreou o Custe o que Custar, ou simplesmente CQC. O repórter Danilo Gentili demonstrou que, quando se trata de enganar seus entrevistados, não tem nada de inexperiente. Criado em 1995 na Argentina pela produtora Cuatro Cabezas, que hoje realiza também a versão transmitida pela Band, o CQC (originalmente “Caiga Quien Caiga”) faz sucesso em países como Chile, Espanha, França e Itália. E aqui não foi diferente: em pouco mais de dois meses a audiência no horário (segundasfeiras às 22h15) dobrou, passando de 3 para 6 pontos. O
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número pode não parecer extraordinário, porém, não expressa o público total. Mais de oitocentos vídeos, só da versão brasileira, estão disponíveis no YouTube. “Isso é muito positivo. Não está refletido no IBOPE, mas esse não é nosso principal objetivo. Temos vontade de falar as coisas”, considera o argentino Diego Barredo, diretor do Custe o Que Custar. E milhares de pessoas estão ouvindo o que eles têm a falar. Os apresentadores são Marcelo Tas, Marco Luque e Rafael Bastos, sendo que o último também integra a equipe de repórteres, junto com Oscar Filho, Felipe Andreoli, Rafael Cortez e Danilo Gentili. De eventos sociais ao Congresso NaVII Semana do Jornalismo - 15 a 19 de setembro de 2008
cional, do Museu de Arte Moderna superfície apaziguadora mas ferina, às Olimpíadas na China: tudo isso é sutil e sarcástica”. A piada não culpauta para o CQC. O que identifica e tua o homem; desmascara-o, mostradiferencia o programa são as repor- como ele é. Ninguém está protegido da sátira. tagens que divertem e criticam ao As figuras de poder, sérias e consermesmo tempo. A associação entre humor e jorna- vadoras, podem se tornar as mais cômicas. E o programa lismo não é algo recenamericano The Daily te. A charge é um gêneO que identifica e ro consagrado no Brasil, diferencia o programa Show prova isso desde que tem origem nas casão as reportagens 1996. São clássicas as críticas ao presidente ricaturas do século XIX. que divertem e Bush, tratando até asA principal caracteríscriticam ao mesmo suntos como a Guerra tica dessas ilustrações tempo do Iraque de forma é a sátira em relação à política e aos costumes da época. A bem-humorada. Adam Chodikoff, charge brasileira tem grandes nomes responsável por assistir a horas de como Angeli, que já foi publicado em noticiários para usar de material para o programa, afirmou em entrevários países. Marcio Acselrad, professor do vista ao Washington Post que não se curso de Comunicação Social – Jor- trata de uma perseguição: “Eu quenalismo, na Universidade de Forta- ro fazer o programa o mais sagaz, o leza, escreveu que o humor é uma mais engraçado possível. Não acorestratégia cultural capaz de apro- do toda manhã dizendo ‘eu tenho ximar o homem da consciência de que pegá-lo, eu tenho que pegá-lo!’”. sua realidade. No artigo “O humor O produtor-executivo David Javercomo estratégia de comunicação”*, baum considera os noticiários muito ele apresenta o riso como “uma for- ruins no que fazem (“My opinion is ma de lidar com as questões mais they suck at their jobs”). Nesse cenágraves e profundas a partir de uma rio, o Daily Show faz conexões e dá VII Semana do Jornalismo - 15 a 19 de setembro de 2008
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destaque a informações que ficam e não tem importância jornalística, perdidas em meio ao turbilhão de não vai ao ar. Por isso eles foram tão notícias diárias. Barredo, diretor do convictos na campanha para entrar CQC, faz uma avaliação parecida, no Congresso, após serem proibiainda que não tão dura, da mídia no dos de gravar no local: “não houve Brasil e na Argentina. “O jornalis- desrespeito. É tudo verdade, o mensalão, o caixa dois. Está mo tem uma solenidade às vezes absurda, que Entre jornalismo provado”. A maior dificuldade oculta certas críticas da e humor, onde realidade e expõe com reside a ética? Do em produzir o CQC, para o diretor, é ser sempre naturalidade coisas ininício ao fim original. Esse é um projustas”, comenta. É aí que o humor entra: para falar sem blema identificado por ele no jornarodeios e desmoralizar com senso lismo tradicional ao seguir mecaniscrítico. “É uma ferramenta para der- mos que acabam gerando repetições, rubar barreiras, chegar às pessoas. sempre fazendo as mesmas pergunEle está muito ligado à inteligência, tas. Que pergunta um repórter do CQC lhe faria em uma entrevista? quebra paradigmas.” Apesar de a mistura não ser novi- “Provavelmente perguntaria quando dade, ainda surge a pergunta: entre teria um salário mais alto. Eu manjornalismo e humor, onde reside a daria ele trabalhar mais se quisesse ética? Segundo Barredo, do início ao ganhar o aumento”. fim. Toda a equipe de produção do programa é formada por jornalistas, * O humor como estratégia de comuinclusive profissionais que vieram nicação, de Marcio Acselrad. Disponível de importantes veículos impressos no site www.compos.org.br do país. A ética do jornalismo vale para o CQC. Questionado sobre Humor censurado o off no caso da Em abril, o Congresso Nacional proibiu as gravações do CQC na repartição federal entree trouxe a discussão sobre o humor no jornalismo, questão capa da revista Imprensa vista em julho. A matéria de Danilo Gentili sobre c o m a reforma tributária foi o que desencadeou a reação do Congresso, que justificou sua deM ã e cisão dizendo que o conteúdo do CQC era humorístico, e não jornalístico. Diná, na O repórter, que não é formado em jorqual ela fala sobre nalismo mas tinha credenciais de imprensa, começou uma campanha para que pudesse o presidente Lula voltar a gravar no local. “Não é uma ditadura, mas a censura está aí”, disse Gentili. ao pensar que o miA equipe do programa se mobilizou e lancrofone está desliçou uma campanha em TV, rádio e internet, onde juntou 260 mil assinaturas de apoio. O gado, Barredo diz que CQC só pôde voltar ao Congresso no dia 30 de junho, quando recuperou a autorização o limite é o respeito às do Senado. pessoas. Quando algo pode prejudicar alguém
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por Marina Veshagem
E
rnesto Varela fazia perguntas simples, ingênuas e diretas para os personagens da história de verdade.
Anos 80, período de abertura política, pós ditadura. Perído conturbado, bombas e censura. É nesse contexto que uma pergunta a Paulo Maluf torna célebre um repórter: “Muitas pessoas não gostam do senhor, dizem que o senhor é corrupto. É verdade isso, deputado?”. Se tratava de Ernesto Varela, personagem interpretado por Marcelo Tas, que ironizava personalidades políticas da época com questionamentos diretos e desconcertantes. O repórter fictício surgiu em 1983 no programa Olhar Eletrônico, da TV Gazeta, no desespero para preencher as duas horas semanais do programa. “Começamos com uma reportagem que explicava a dívida externa brasileira num terreno abandonado na Avenida Paulista. Foi calculado o preço de cada cacho de banana plantado ali no metro quadrado mais caro do Brasil. E assim sugerimos às autoridades a saída para a crise nacional: derrubar todos os prédios dos bancos da Paulista para a produção daquele tipo de banana. O governo militar não aceitou a sugestão e a dívida externa está aí até hoje. Mas a televisão ganhou um novo personagem: o repórter Ernesto Varela”, contou Tas no livro Made in Brazil – Três Décadas do Vídeo Brasileiro. Varela falou de economia, política, esportes e entrevistou personalidades de verdade. Com seus óculos de armação vermelha – adereço improvisado, mas que se tornou marca registrada - saía para fazer as perguntas que todo mundo tinha na cabeça, mas não tinha coragem de fazer. Existia um roteiVII Semana do Jornalismo - 15 a 19 de setembro de 2008
memória
O repórter politicamente correto
ro bem elaborado, entretanto, com a câmera ligada, o improviso era a lei. Foram muitos os entrevistados, como Pelé, Nelson Piquet, o vice-presidente da República Aureliano Chaves, o deputado federal Fernando Henrique Cardoso, a Guarda do exército vermelho na União Soviética e Chico Buarque em cima do palanque das Diretas-Já. O fiel câmera Valdeci era personagem importante no quadro, Varela pensava alto e conversava com o cinegrafista, que foi vivido primeiramente por Fernando Meirelles. Toniko Melo assumiu o papel durante a “Copa do Mundo” e em “Cuba”, e Henrique Goldman foi o Valdeci em “Varela em Nova York”. O quadro deu tão certo que, em 1984, a convite da Abril-vídeo, a equipe criou o programa Crig-Rá, com experimentação de vários formatos e participação de muitas outras pessoas. Em 1987 Tas foi morar nos Estados Unidos e marcou o fim da temporada do Varela, mas ele ainda voltou a aparecer na televisão, rádio e teatro. Hoje, Ernesto Varela está adormecido, mas Marcelo Tas afirma que o repórter politicamente correto pode voltar a qualquer momento.
Melhores momentos: Entrevista com Nelson Marchezan – deputado federal Nelson - Eu represento bem o povo que sofre. Varela - Deputado, o senhor acredita no que o senhor diz? Entrevista com Nabi Abi Chedid – deputado e vice-presidente da CBF Nabi - Brasileiros como você são responsáveis pelo desvirtuamento das coisas, vamos falar de futebol, não vamos falar de política, eu não falo de política aqui. Varela - Então uma pergunta futebolística para terminar a entrevista. Qual é a sua próxima jogada? Para Maluf : “Você acha que a beleza física do senhor prejudicou-o nessa campanha?”
SEMANA REVISTA 57
OOOOoooo TOP FIVE!
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Procure e assista na internet os melhores momentos dos repórteres e apresentadores, escolhidos em votação exclusiva para a Semana Revista:
Marco Luque
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Fala “xoxota” no top five As várias possessões para chamar “OOooo TOP FIVE!” Com Ronaldo Fenômeno Fala que os travestis querem aumento de pênis Mandando um tiajjjuan
Felipe Andreoli
Marcelo Tas
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Oscar Filho
Rafael Cortez
Link da China (e “comendo iguarias chinesas”) Fala que Marta Suplicy é interesseira Com Lula, na China e em Heliópolis Showmissa do padre Marcelo Vernissage do Chico Anysio
Repórter inexperiente com padre Marcelo Rossi Lançamento da biografia do Maluf Danilo sendo expulso do Congresso Leitura com Carla Perez Exposição de Duchamp no MAM
Rafinha Bastos
Danilo Gentili
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58 SEMANA REVISTA
Luque imitando o Tas Tas rindo do Luque, sempre O beijomeliga Entrada de motoboy no intervalo Fala que “seu pau é uma vela preta”
Cemitério em Brasília Jogando lixo na prefeitura Rafinha pit-bull, em Brasília “Proteste Já” da Sabesp Com o prefeito de Mairiporã
Com Daniel Dantas Cortez na Cumbre CQTeste Inauguração da ponte Otávio Frias de Oliveira Cortez entrega óculos para o Lula
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No palco com Tihuana Oscar apanhando do Babenco Esporro do Zé do Caixão Feira erótica Parada gay
VII Semana do Jornalismo - 15 a 19 de setembro de 2008