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O Evangelho Segundo Lucas

Anthony Lee Ash

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EDITORA VIDA CRISTÃ Caixa Postal 12166 01000 — SÃO PAULO - Capital


COMENTÁRIO BÍBLICO “VIDA CRISTÔ

Editor Alaor Leite Editor Associado Allen Dutton

O EVANGELHO SEGUNDO LUCAS


Título do original inglês: The Gospel According To Luke Copyright © 1972 by Sweet Publishing Company Primeira edição em Português: 1980 Tradução de Neyd V. Siqueira Revisão de Maria Dutton Todos os direitos reservados pela EDITORA VIDA CRISTÃ Caixa Postal 12166 01000 — São Paulo — Capital É proibida a reprodução total ou parcial sem permissão, por escrito, dos editores. Composto e impresso nas oficinas da Editora Betânia Rua Padre Pedro Pinto, 2435 Belo Horizonte (Venda Nova), MG Impresso no Brasil


ÍNDICE

I.

INTRODUÇÃO O autor Data e lugar onde foi escrito V Fontes Propósito Estudos Especiais Esboço de Lucas Bibliografia Selecionada

.

II. PRÓLOGO, 1:1-4 III. PREPARAÇÃO PARA O MINISTÉRIO DE JESUS, 1:5-4:13 Nascimento e Infância de João e Jesus, 1:5-2:52 O Ministério de João, 3:1-20 Início e Preparo, 3:21-4:13 IV. O MINISTÉRIO DE JESUS NA GALILÉIA, 4:14-9:50 Início do Ministério, 4:14-6:11 Prosseguimento do Ministério, 6:12-8:56 Consumado o Ministério, 9:1-50

7 7 9 1Q, 12 20 22 22 23 26 26 69 78 87 87 117 157


V.

A VIAGEM PARA JERUSALÉM, 9:51-19:27 O Primeiro Ciclo, 9:51-13:30 O Segundo Ciclo, 13:31-17:10 O Terceiro Ciclo, 17:11-19:27

175 176 226 253

VI. O MINISTÉRIO EM JERUSALÉM, 19:28-23-56 O Ministério Público em Jerusalém, 19:28-21:38 A Paixão em Jerusalém, 22:1-23:56

274

VII. A RESSURREIÇÃO E ASCENSÃO, 24:1-53 O Túmulo vazio, 24:1-11 No Caminho de Emaús, 24:13-35 A Aparição do Cristo Ressurreto, 24:36-49 A Ascensão, 24:50-53

329 329 331 336 338

274 298

NOTA DOS EDITORES: Os numerais romanos que seguem as seções deste comentário (e. g. Página 8) classificam o material segundo os temas básicos de Lucas. Para uma lista desses temas veja as páginas 14-15 da parte I do comentário do Dr. Ash.


Introdução O terceiro evangelho é geralmente encarado como uma obra-prima literária entre os livros do Novo Testa­ mento. Aqui encontramos a língua grega mais refinada do Novo Testamento. Um estudo comparativo com Mateus e Marcos revela muito material que poderia ter sido perdido se este evangelho não o tivesse preservado. Mesmo no texto em inglês foi mantido o estilo do autor, incluindo por exemplo, as suas inesquecíveis descrições de características. Realmente ele era um pintor com palavras.

O AUTOR Argumentos a fa v o r d e L ucas Apesar de terem havido citações prévias sobre o evangelho e extraídas dele, fontes que o atribuem a Lucas não foram descobertas até cerca de 180 A.D., com Irineu (Against H eresies, III, 1,14), o Canon Numatório e os Prólogos Anti-Marcionitas. Depois de 180 A.D. houve uma ampla, contínua e aparentemente incontestada tra ­ dição a favor de Lucas como autor (conforme Clemente de Alexandria, MisceJanies, 1,21; Tertuliano, Against Marcion IV, 2; Eusébio Church History III, XXIV, 5). Se o evangelho tivesse sido falsamente atribuído a qualquer outro além do seu autor real, não seria alguém tão insignificante quanto Lucas. Muito provavelmente teria sido ligado a um dos apóstolos ou outra figura de destaque na primeira igreja. Lucas, afinal de contas, ê


apenas casualmente nomeado em três referências do Novo Testamento (Cl.4:14; Fp. 2:4; 2 Tm 4:11). Apesar do próprio livro não dizer quem é o seu autor, o Novo Testamento suporta e aumenta a evidência tradicional, em grande parte por um processo de eliminação. O autor também escreveu o livro de Atos, como fica aparente comparando-se a introdução, linguagem, estilo e ênfase dos dois livros, ou mais simplesmente lendo o último capítulo do terceiro evangelho e o primeiro de Atos consecutivamente. Além disso, o autor foi companheiro de Paulo em muitas de suas viagens, como indica a primeira pessoa do plural em Atos 16:10-17; 20:5-21:17; e 27:2-28:16. Pressupõe-se que o autor não fala de si na terceira pessoa, portanto todos os que são descritos assim em Atos e no evangelho são dessa forma eliminados. Lucas 1:1-4 indica que ele não foi uma testemunha ocular de Cristo, portanto isso exclui outros. Além disso, o autor estava com Paulo em Roma (Atos 27:2], e isso delimita ainda mais o círculo. Filtrando as evidências chega-se à pessoa de Lucas como a mais provável. Ele não é mencionado no evangelho ou Atos na terceira pessoa; é razoável pressupor que ele não foi uma testemunha ocular da vida de Jesus e estava em Roma durante a prisão de Paulo (Cl 4:14; Fp 24). Outra evidência tem sido adotada para corroborar a tese de Lucas. Lucas era médico (Cl. 4:4) e W. K. Hobart (A linguagem m éd ica d e São Lucas, 1882) argumentou que o terceiro evangelho e Atos refletem o vocabulário médico. H. J. Cadbury, entre­ tanto, desafiou esta evidência, argumentando que a terminologia não é diferente da que seria usada por uma pessoa educada da época. Sem dúvida o caso de Hobart era exagerado, mas ainda aparecem no evangelho evi­ dências ocasionais de interesse médico (por exemplo, em Lucas 4:38, onde Lucas cita “febre alta”, comparada a simples “febre” em Marcos 1:30; ou então em Lucas 8:43 comparado à quase depreciativa anotação com respeito a médicos em M arcos 5:26). Esses fatos servem para corroborar as outras evidências para a autoria de Lucas.


Lucas — O Homem Colossenses 4:10-14 diferencia Lucas dos “homens da circuncisão” . Essa distinção é geralmente usada para mostrar que Lucas era um gentio, enquanto Ellis, entre outros, discorda (veja esse comentário mais adiante). Ellis vê Lucas como um judeu helénico e sugere que ele pode ser o mesmo que Lúcio (Romanos 16:21) que é identificado como “parente” de Paulo, e Filemon 24 o identifica como ajudante de Paulo no trabalho. É também aventada a hipótese de que Lucas poderia ser um cristão com o dom da profecia. Ele mostra interesse na profecia e nos profetas, e E. C. Selwyn (Expositor, 7, 1909, 552) vê um estilo profético em Atos 1:12. Os estudiosos mais proeminentes sugerem que Antioquia da Síria ou Filipos eram o seu lar. Outra conjetura é que ele era um convertido de Paulo. Os Prólogos Anti-Marcionitas, uma autoridade cheia de dúvidas, diz que ele nunca se casou e que morreu com 74 anos; outra tradição diz que ele era um pintor. DATA E LUGAR DOS ESCRITOS É impossível determinar com certeza quando Lucas escreveu. Aparentemente o livro foi escrito antes de Atos, mas é difícil fixar a data. Uma suposição é de que Atos termina de repente, sem discutir o julgamento de Paulo, porque foi escrito antes deste último acontecimen­ to, no começo dos anos sessenta, e Lucas deveria datar de pouco antes. Muitos estudiosos porém, datam o evangelho de prin­ cípios de setenta. É interessante notar que argumentos, tanto para a data anterior como para a posterior, são baseados na relação entre o evangelho e a destrui­ ção de Jerusalém. Os favoráveis aos anos sessenta afirmam que Lucas com seu interesse especial na profe­ cia não deixaria de implicar claramente a queda de Jerusalém, caso tal acontecimento tivesse ocorrido. Por outro lado, os favoráveis aos anos setenta argumentam com base numa comparação entre o discurso apocalípti­ co de Lucas (cap. 21) e M arcos 13. Eles indicam que as


minúcias descritas por Lucas quanto à queda da cidade mostrariam que o evento já era passado. Desde que os escritores do evangelho nem sempre transmitiam as palavras exatas de Jesus, é possível que as mesmas tivessem sido registradas por Lucas em termos do evento real. Não parece possível porém chegar a uma data conclusiva para o evangelho a partir desta linha de pensamento. Lucas indica que outros evangelhos tinham sido escritos antes do seu (1:1-4). Há boa razão para crer que Marcos foi um deles, sendo uma das fontes de Lucas — veja a discussão abaixo e consulte R. G. V. Tasker The N ature and Purpose o ft h e G ospels (Richmond:John Knox, 1962) ou G. E. Ladd, The N ew Testam ent and Criticism (Grand Rapids: Eerdmans, 1967), ou Ellis. Se a data de Marcos pudesse ser estabelecida, daria um limite antes do qual Lucas não poderia ter escrito, todavia a data de Marcos é também incerta, apesar de uma boa sugestão ser o final dos anos sessenta. Outras considerações para a datação de Lucas são inconclusivas, e assim a data do livro permanece incerta. Também incertos são o lugar em que foi escrito e o destinatário do livro. Presume-se que foi escrito para os que viviam no mesmo lugar que o autor, e esse lugar não parece ter sido a Palestina, pois a maneira como os nomes palestinos são usados implica que os leitores não estavam muito familiarizados com o país (veja 1:26; 2:4; 4:31; 8:26; 13:51 e 24:13). Sugestões também incluem Roma, Acaia (Prólogos Anti-Marcionitas) e Ásia Menor. FONTES P esqu isas d e L u cas De onde vem a informação abrangida por esta obra notável? Lucas, evidentemente, tinha à sua disposição material que os outros escritores dos evangelhos não tinham ou não quiseram usar. Quase um terço do evange­ lho era peculiar a Lucas, incluindo seis milagres, dezoito parábolas e grande quantidade de material discursivo.


O prólogo de Lucas (1:1-4) indica sua pesquisa cuida­ dosa e uso de fontes. Ele certamente conhecia e se apoiava em Marcos, desde que cerca de um terço de Lucas é idêntico a M arcos. Este material abrange mais da metade do conteúdo de M arcos. Tanto Lucas como Marcos estiveram com Paulo em Roma (Cl. 4:10,14; Fílemon 24), e sem dúvida travaram conhecimento literário e pessoal. Além de ter Marcos como fonte básica, muitos estudi­ osos dedicados da Bíblia acreditam que uma coleção das palavras de Jesus (chamada Q) pode ter estado em circulação no primeiro século e Lucas e Mateus se apoiavam nela. É evidente que em Mateus e Lucas são usadas frases de Jesus que não se acham em M arcos, e não é impossível que alguma fonte, escrita ou não, se ache por trás desse material comum. Ellis sugere que em vez de uma fonte contínua pode ter havido uma série de tratados cristãos contendo a tradição passada adiante desde a época do Senhor, que eram conhecidas por Mateus e Lucas. Mas, além de M arcos e do material partilhado com Mateus é evidente que Lucas tinha ainda outras fontes. Ele pode ter obtido alguma informação de Paulo. Pode-se supor também que Lucas pode ter entre­ vistado pessoas de seu conhecimento. Suas referências às lembranças de Maria (Lucas 2:19,51) podem muito bem indicá-la como tendo dado origem às mesmas. Outras possibilidades são Joana (Lucas 8:3) e Cleopas (Lucas 24:18). Ele pode ter usado o período de prisão de Paulo em Cesaréia (Atos 23:23-26:32) para fazer sua pesquisa. Além das entrevistas especiais, devemos consi­ derar o conhecimento geral que Lucas, como cristão, obteve em sua vida e suas viagens. O material comum a Lucas e João pode ser atribuído ainda a uma outra fonte. Outros estudiosos sugerem que o material hebreu origi­ nal pode ser a base dos dois primeiros capítulos, desde que possuem um estilo definitivamente semítico. Essas fontes forneceram a informação sobre o que realmente aconteceu e o que Jesus ensinou. Elas foram pois empre­ gadas por Lucas com propósitos definidos.


Uso d as Fontes Os quatro evangelhos nem sempre conservam as palavras exatas de Jesus. Apesar dEle geralmente falar aramaico, como a retenção de palavras aram aicas tais como “ab a” indica (Marcos 5 : 41 ; 16 : 36>), seus ensina­ mentos no Evangelho foram transmitidos em grego. Como todo estudante de línguas sabe, existem coerentes nuan­ ces de significado quando as palavras são traduzidas de uma para outra língua. Existe tambén* uma segunda consideração: os discursos de Jesus em qualquer impres­ são paralela dos evangelhos mostra que £ni muitos casos as palavras são exatamente as mesmas. Na melhor das hipóteses, então, só um relato poderia conter as palavras exatas do Senhor, enquanto os demais conteriam a essência delas. É também possível que todos os relatos possam, se t, até. çouto, uma ç a iá fta s e do original. Esses fatos apontados pela evidência, não significam que os evangelhos sejam incorretos ou qtfe foram feitas mudanças que alterem os ensinamentos centrais. Na verdade, a combinação singular de variedade e unida­ de nos evangelhos fornece um testemunho múltiplo da única realidade divina que é Jesus CristoA pergunta é então esta: Quem ou o que foi responsá­ vel pelas modificações e por quê? Várias razões podem ser sugeridas. Podem ser resultado de diversas tradições locais. Ou podem representar as mudanças de cada escritor incorporadas de modo a enqu^drar-se em seu propósito teológico. As necessidades das pessoas a quem era dirigida cada obra, sem dúvida pesavam na determi­ nação de como foi escrito o evangelho. PROPÓSITO A Singularidade de Lucas Nos quatro evangelhos nada ê dito sobre o período de quase trinta anos entre a infância e o batismo de Jesus, exceto por uma referência isolada quando tinha doze anos. Isto indica que um evangelho n#o registra tudo


sobre a vida de Jesus, como talvez o fizesse uma biografia moderna. A forma literária dos evangelhos aproxima-se mais da proclamação do que da narrativa histórica. Os evangelhos foram escritos por aqueles que criam em Jesus como o Cristo, o Filho de Deus. Esses homens de fé estavam escrevendo para produzir ou fortalecer a fé possuída por outros e não simplesmente para contar a história com base em qualquer interesse factual que pudesse conter. Assim sendo, há um sentido em que o evangelho não pode ser completamente compreendido, a não ser que o leitor tenha uma reação positiva e pessoal em relação a ele. Mateus, Marcos e Lucas. Cada um deles foi guiado por Deus para retratar a história de Jesus de modo algo diferente. De outra forma os evangelhos seriam idênti­ cos, e então haveria necessidade de apenas um. Lucas estava escrevendo para uma determinada audiência (ele nomeia Teófilo), em um cenário particular, com ênfases especiais em mente. Podemos determinar seus golpes especiais notando material que pertence só ao seu evan­ gelho, material encontrado em outros evangelhos (espe­ cialmente Marcos) que ele omite, diferenças em seu registro dos eventos comuns aos outros evangelhos, e como o esboço de Lucas difere do dos evangelhos. Como essas diferenças existem, elas convidam à explicação. Aprofundando-se para descobrir a colocação especial de Lucas, a pessoa é levada a apreciar cada vez mais a habilidade com que foi escrito o evangelho. O estudo do propósito de Lucas deve começar com 1:1-4. Lucas estabelece aqui os princípios de investiga­ ção por ele usados, para escrever uma “exposição em ordem” , a fim de que Teófilo tenha “plena certeza das verdades” em que foi instruído. Ê n fases E speciais Maiores detalhes do propósito de Lucas podem ser averiguados examinando as características especiais do evangelho. (Para completar o quadro, a pesquisa deve continuar através do livro de Atos, desde que provavel­


mente os dois livros tinham o mesmo intento). Primeiro, como Lucas nos mostra Jesus? Ele é descrito como o homem perfeito, submisso aos pais, mas reconhecendo uma relação prioritária com Deus (2:40-52); ele resiste à toda tentação em seu encontro com o diabo (4:1-13) e mesmo na sua crucifixão foi declarado inocente por seus inimigos (23:4,14,20,22,27,40-43 e 47). O título fa­ vorito que Jesus dava a Si mesmo era Filho do homem, que provavelmente tinha natureza messiânica (veja dis­ cussão em 5:24). Seu papel de Messias não era político, como as pessoas esperavam. O reino era uma entidade diferente (veja discussão do reino em 1:33). O título “Filho de Deus” é provavelmente messiânico em Lucas (veja discussão em 1:35). Note também as referências à palavra “Cristo” (veja discussão em 2:11). As passagens são marcadas com algarismos romanos. Elas se referem a grupos de referências na introdução, tratando de vários temas. A imagem que fazemos de Jesus pode ser grandemente enriquecida notando as passagens citadas na seção I, que se associam com o propósito da missão de Jesus na terra. Seu principal objetivo era a salvação do homem. As passagens ligadas a este ponto são encontra­ das na seção II. Jesus é representado freqüentemente no evangelho como aquele que conhece os corações huma­ nos (veja seção III). Para uma lista mais completa das passagens em que Cristo retrata Jesus, consulte as passagens na seção IV. A verdadeira natureza de Jesus estava oculta pela sua humanidade e só gradualmente é que os homens vieram a conhecer o segredo de sua verdadeira identidade (note o desenvolvimento de 4 :14­ 9:50). As passagens que tratam deste conceito de segre­ do e revelação estão na seção V. Finalmente, Lucas demonstra magistralmente as rea­ ções de Jesus durante o seu ministério, oferecendo um brilhante contraste de aceitação e rejeição, representan­ do o combate maior entre Deus e Satanás (veja a discussão em 4:12; 10:18). As passagens estão compila­ das na seção VI. Lucas também se preocupa bastante com relação à


história, como o cenário em que são apresentados os atos redentores de Deus. Isto envolve a história de Israel, assim como estabelece os eventos no contexto mais amplo do mundo romano (veja 2:1-3;3:1). O evangelho mostra claramente como Deus é o controlador da história. Grande ênfase é dada à realização dos propósitos de Deus, quer sejam expressos através dos profetas, dos anjos, de João, M aria, Simeão ou mesmo Jesus. As passagens relativas estão na seção VII. Jesus opera como um reflexo da necessidade divina, desde que Deus e não o homem controla os acontecimentos da sua vida ((2:49; 9:22,51; 12:50; 13:32; 18:31; 22:22,37,42; 23:46; 24:7,26 e 44). O evangelho também salienta a universalidade do interesse divino pela humanidade. Ele enfatiza a aceita­ ção dos gentios por parte de Deus. O nome Teófilo indica que ele era um gentio. Os gentios são especificamente incluídos no chamado de Deus (2:32; 24:47). A genealogia de Jesus é traçada até Adão, o pai de toda a humanidade (3:23-28), e não apenas até Abrão, pai de Israel, como em Mateus. Nenhum outro evangelho mostra tanto interesse nos samaritanos como Lucas (9:51-56; 10:25-37; 17:11-19) e Jesus é visto como aquele que se preocupa com os que são desprezados por outros. Isso inclui um pescador cheio de pecados (5:8; 22:54-62; veja também 22:31; 24:34), uma pecadora, provavelmente uma prostituta (7:36-50), um odiado cobrador de impostos (19:1-10), e um ladrão (23:39-43). Jesus fala do desejo de Deus de encontrar e restaurar o perdido (15:1-32; 19:1-10) e de um publicano cuja única súplica diante de Deus foi a confissão de sua indignidade e pecado (18:9-14). A ênfase que Lucas dá à universalidade do evangelho fica também evidente na preocupação de Jesus com o pobre, aliada a uma descrição clara da loucura de confiar nas riquezas (veja discussão em 4:18; 6:24 e as passagens reunidas em VIII). Lucas reforça também a importância das mulheres, uma evidência que é absolu­ tamente significativa num tempo que antecede a emanci­ pação da mulher (veja discussão em 1:5). O evangelho de


Lucas enfatiza, outrossim, o Espírito Santo e a oração no ministério de Jesus (sobre o Espírito Santo leia 1:15 e sobre a oração veja 1:10,13; 5:12). Complementando os ensinamentos de Jesus sobre as orações, que não são encontrados em nenhum outro lugar, apenas Lucas regis­ tra que Jesus orou em episódios importantes da sua vida, como no seu batismo, na grande confissão, na transfigu­ ração e na ascensão. Ê como se Lucas dissesse que a ação de Deus está presente no poder do Espírito Santo, e que a oração é essencial para o desenvolvimento espiri­ tual. Há outras ênfases no evangelho que. poderão ser observadas na leitura deste comentário. —Alguém que estivesse entre aqueles para quem este evangelho foi inicialmente escrito poderia entender me­ lhor a focalização do trabalho em relação à comunidade. Assim sendo, o leitor pode tentar fazer conjecturas sobre a situação apresentada ou ainda qualquer outra que possa imaginar. O desafio está lançado ao estudante aplicado na Bíblia, para continuar procurando entender mais profundamente porque Lucas escreveu e o que realmente desejou dizer.

D isposição A estrutura ou esboço do evangelho também pode dizer alguma coisa sobre a intenção do autor. Houve época em que era comum assumir que o conteúdo do evangelho tinha de ser estritamente cronológico para ser histórico. Estudos comparativos e um conhecimento me­ lhor dos padrões literários do primeiro século demons­ traram que não é mais necessário pensar assim. No decorrer do comentário serão evidenciados casos nos quais a ordem dos acontecimentos em Lucas difere daquela dos outros evangelhos. Embora não se possa dar uma solução definitiva em cada caso, é lógico assumir alguma razão para essas alterações. Estudos comple­ mentares desses casos podem ser produtivos para indi­ car cada vez mais a intenção de Lucas.


Estabelecimento do Propósito Alguns dos enfoques adotados por vários estudiosos para o propósito fundamental de Lucas mostram como o evangelho tem sido entendido. 1. O evangelho foi escrito para mostrar o fundamento histórico firme, sobre o qual a fé dos gentios estava baseada (1:1-4). 2. O declarado “propósito apologético” de Lucas — Atos vê nos livros uma tentativa firme de demonstrar que não havia na cristandade nada que fosse conflitante com a Lei Romana. Muito embora Jesus tenha sido crucificado por oficiais romanos, e embora a primeira igreja sofresse na mão dos magistrados locais (Ãtos 16), a evidência de cada incidente era que Cristo e os cristãos eram inocen­ tes de qualquer violação efetiva da Lei Romana. Tem sido assumido que tal matéria, que é mais freqüente em Atos, se destinava a ser usada na defesa de Paulo em seu julgamento perante Nero. 3. Muitos gentios imaginavam o cristianismo como uma seita judaica (por exemplo Gálio, Atos 18:12-17). Por que então vieram os judeus a rejeitá-la? Uma opinião é que Lucas estava respondendo a essa questão mostrando que se o judaísmo fosse desacreditado, a cristandade não cairia com ele. Nessa mesma corrente de pensamento, foi dada ênfase ao conceito de Lucas sobre a igreja, como sendo o novo e real Israel, revivendo a história do velho Israel. Assim, quando o judaísmo se for, um outro Israel permanece. Se este é ou não é um raciocínio total para os escritos de Lucas, certamente é um de seus propósitos. Este aspecto fica evidenciado pela maneira como ele trata a cidade de Jerusalém. No Velho Testamento, além de ser o centro religioso e político de Israel, os profetas também encaravam Jerusalém como o local das grandes bênçãos futuras de Deus — a era messiânica (veja, por exemplo, Israel 40:1; 9:11; 44:28; 46:13; 52:8; 62:11). Essas mesmas ênfases são vistas em Lucas 1 e 2. Aqui, a cidade é o centro da piedade judaica, e se faz referência ao consolo


de Israel (2:25) e à redenção de Jerusalém (2:38) que os judeus antecipavam. Mas, à medida que progride o livro, o papel da cidade muda e ela se torna o lugar de oposição a Jesus (9:51; caps. 20-23). Por rejeitar seu Messias, a cidade deve ser julgada e será destruída (10:30; 13:4,35; 19:27, 41-44; 21:5-36, especialmente 20,22,23; 23:28). Ainda assim, a cidade possui um novo futuro, como o ponto de origem do novo Israel (24:49; Atos 1,2). Assim, a história da cidade reflete a transição do evangelho para os gentios e a formação de um novo povo de Deus (veja as referências a Jerusalém em 2:22). 4. Conzelmann vê Lucas dividir a história da redenção em três períodos. A era de Israel finda com João Batista. O segundo período, complementando o primeiro, é a vida de Jesus. O último período é aquele da igreja estendendo­ -se desde a ascensão até a segunda vinda. Conzelmann argumenta que a primeira igreja esperava o retorno iminente do Senhor. Quando isto não ocorreu, era neces­ sário que alguém justificasse a demora. Lucas fez isso tomando os materiais à sua disposição e remanejando-os a fim de deslocar o retorno do Senhor para um futuro distante. A obra de Conzelmann é cuidadosa e não pode ser ignorada. Não pode, entretanto, ser aceita sem restrições. Um ponto, a proposição de que a igreja esperava um evento iminente, é questionável. Além disso, parece lógico que os primeiros cristãos tivessem a espé­ cie de fé que poderia acomodar um retorno adiado sem necessitar de um Lucas que explicasse a não-ocorrência do acontecimento. Em terceiro lugar, Conzelmann é por demais cético em relação ao valor histórico de Lucas. Parece que ele dá a algumas histórias somente valor simbólico. Será possível que um homem, escrevendo tão poucas décadas depois da morte de Jesus, e consideran­ do a persistência das tradições escritas e faladas acerca do Senhor, pudesse modificar tão radicalmente e sem objeções a matéria básica, como exige a teoria de Conzelmann? Todavia, a rejeição de muitas das posições defendidas por Conzelmann ainda assim não elimina a


necessidade de considerar Lucas como um “teólogo da história redentiva”. Lucas foi simultaneamente um historiador minucioso, e um teólogo. Embora seu trabalho como teólogo deva ser colocado na estrutura da supervisão de Deus através do Espírito; todavia, dentro desses limites, não há dúvida de que ele construiu sua matéria de tal maneira que alguns aspectos são exclusivamente seus. Este comentário ten­ tará registrar os indícios do esquema do autor, à medida que forem descobertos.

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depois de postar o material na Internet não tenho o poder de evitar que “ alguns a p ro veitadores' tirem vantagem do meu trabalho que é feito sem fins lucrativos e unicamente para edificação do povo de Deus. Criticas e agradecimentos para:

mazinhorodrigues(*)yahoo. com. br Att: M azinho Rodrigues.


1. A Missão de Jesus — 1:32,(68-75); 2:11, 31;(4:18), 43; 5:10, 20,32;(6:20-23); 9:24; 10:20, 22; 12:8, 51-53; 14:26, 33; 18:18,22,30; 19:9, 38, 42; 21:27; 23:34,42. 2. Perdão e Salvação — 1:47,68, 71,77-79; 2:11,30,38; 3:3-14; 4:18;5:20-24; 6:37; 7:43-50; 8:12-15; 9:24; 10:25­ 28; 11:4; 12:8-10; 13:3,5,23,34; 14:14; 15:3-10,24,32; 19:9; 20:36; 21:19,27; 23:34,42; 24:21,47. 3. Jesus Conhecendo os Corações — 4:23; 5:22,(27); 6:8; 7:40,50; 8:45; 9:22,47; 11:17; 12:1, (54-56); 14:3,5; 15:2; 16:15; 18:22; 19:5, 42; 20:3-8, 23, 46; 21:3; 22;31, 34, (40,46), 52, 57-60; 23:9; 24:28,38. 4. D escrição de Jesus — 1:32,35, 43; 2:10, 26, 34, 46, 51; 3:16, 21, 23-28; 4:3, 9, 14, 16-21, 23, 30, 32, 34-36, 39, 40-44; 5:3, 10, 13, 16, 22; 11:20-22, 31; 12:8-10, 49; 13:32, 34; 14:26, 33; 18:8, 31-33, 37-39; 19:38-40; 20:2,8, 13-15, 17, 41-44; 21:15, 27, 36; 22:15-17, 27, 37, 42, 67-71; 23:2, 35, 37-39, 46; 24:5, 7, 19, 21, 26, 39, 44, 46-49. 5. Revelação e Segredo — 1:13-17, 30-37, 41-43, 46-55, 67-79; 2:10-13, 15, 17, 26, 32, 35, 50; 3:2; 4:35, 41; 5:14; 8:8-10, 12, 16, 39, 56; 9:2, 20, 24; 18:34; 19:37-40; 20:2, 8, 41-44; 21:27; 22:16, 67-71; 23:2, 5, 9; 24:11, 27, 30, 38-41, 45, 46, 49. 6. Reações a Jesus — 2:34, 47; 3:19, 22; 4:2-13, 14, 20, 22-24, 28, 32, 34, 36, 37, 40-42; 5:1, 5, Ô-10, 11, 15, 17-19, 21, 25, 28-30, 33; 6:2, 7, 11, 16, 19, 22, 46, 47-49; 8:1-3, 11-15, 17, 19, 24, 27, 31, 33, 34-39, 40-44, 47, 49, 53, 56; 9:6-9, 11-13, 15, 19, 22, 24, 26, 31, 33, 36-38, 41, 43-45, 53, 57, 59, 61; 10:6-12, 13-15, 16, 25, 39; 11:1, 14-16, 28,38, 51, 53; 12:1, 8-10, 51-53; 13:13, 17, 23, 25, 28, 31, 34; 14:4, 6, 15-24, 25; 15:1; 16:14; 17:5, 13-15, 20, 22-25, 30, 37; 18:11, 14, 18, 23, 26, 28, 32, 38, 41, 43; 19:3, 6, 8, 16, 18, 20, 37-39, 42, 47; 20:2, 7, 13-15, 17-22, 26, 27-33, 29; 21:7, 12-17, 38: 22:2, 3-6, 12, 21-23, 24, 28, 33, 38, 45, 47, 49, 51-53, 55; 24:8, 11, 14, 18-24, 26, 31-35, 39-42, 52.


7. Profecia e Cumprimento Dos anjos: 1:13-17, 20, 24, 31-35, 38, 45, 60-64; 2:21. De Jesu s: 6:21-23, 25, 35; 9:22,26, 31,44; 10:14, 19; 11:9, 13, 31, 50; 12:2, 40, 42-48, 49-53, 59; 13:3, 5, 24-30, 32, 35; 14:14; 16:9, 11; 18:20, 22-37; 18:7, 31-33; 19:26, 43; 20:34-36, 47; 21:6-9, 10-19, 20-24, 25-28, 31, 34-36; 22:16, 18, 21, 29-32, 34, 61, 69; 23:28-31, 43; 24:6-8, 27, 44-47, 49. De Jo達o: 3:16. De M aria: 1:48. Do Velho T estam en to: 1:54, 67-79; 3:4-6; 4:10, 18, 21; 7:19-23, 27; 10:24; 18:31-33; 20:17; 20:41-44; 22:37; 24:25足 27, 44-47. . De Sim達o: 2:26; 29:31, 44-47. 8. Coisas Materiais: 1:52; 2:24; 3:11-14; 4:2-13, 18; 5:28; 6:20-22, 25, 30, 34, 35, 37; 7:22; 8:3, 14; 9:3; 10:4, 7; 11:40; 12:13-21, 22-31, 32-34; 13:21; 15:11-17, 31; 16:1-9, 10-13, 14, 19-31; 18:18-30; 19:1-10, 13-26; 21:1-4; 23:34.


ESBOÇO DE LUCAS I. Prólogo, 1:1-4 II. Preparação Para o Ministério de Jesus, 1 :5 -4 :1 3 À. Nascimento e Infância de João e Jesus, 1:5 - 2:52 B. O ministério de João, 3:1-20 C. A resposta de Jesus: Inauguração e Preparação, 3:21-4:13 III. O Ministério Galileu, 4:14 - 9:50 A. O Primeiro Ministério: Aceitação e Rejeição, 4:14­ 6:11 B. A Parte Central do Ministério, 6:12 - 8:56 C. O Ministério Galileu Completado, 9:1-50 IV. A Viagem a Jerusalém, 9:51 - 19:27 A. O Primeiro Ciclo, 9:51 - 13-30 B. O Segundo Ciclo, 13:31 - 17:10 C. O Terceiro Ciclo, 17:11 - 19:27 V. O Ministério em Jerusalém, 19:28 - 23:56 A. O Ministério Público em Jerusalém, 19:28 - 21:38 B. A Paixão em Jerusalém, 22:1 - 23:56. VI. A Ressurreição e a Ascensão, 24:1-53. BIBLIOGRAFIA SELECIONADA CAIRD, G.B. The gospel o f St. Luke. Pelican Gospel Commentaries. Baltimore: Penguin, 1963. CONZELMANN, HANS. Theology o f St. Luke. New York: Harper, 1961. ELLIS, E. EARLE. The G ospel o f Luke. The Century Bible, New Edition. London: Nelson, 1966. GELDENHUYS, NORVAL. Commentary on the G ospel o f Luke. The New International Commentary. Grand Rapids: Eerdmans, 1951. MILLER, DONALD G. The G ospel A ccording to Luke. The Layman’s Bible Commentary. Richmond: John Knox, 1959. ' PLUMMER, ALFRED. A Critical and Exegetical Commen­ tary on the Gospel According to St. Lulte. Internatio­ nal Critical Commentary. Edinburgh: T & T Clark, 1906.


n O Prólogo , 1:1-4 Como muitos autores de sua época, Lucas abre com uma introdução formal e, assim fazendo, fornece o mais requintado exemplo da língua grega no Novo Testamento. O restante dos dois primeiros capítulos é em estilo hebraico. Lucas é o primeiro escritor do evangelho a anunciar seus princípios de composição tão claramente. Ele trata do que Jesus “começou” a fazer e a ensinar (Atos 1:1), bem como em Atos, trata da continuação dos feitos e ações do Senhor através da igreja. (1) A identidade desses “muitos” compiladores não é conhecida, mas eles podem incluir as testemunhas ocula­ res do versículo 2. Provavelmente Marcos e talvez Ma­ teus possam ter estado entre eles. Esses compiladores com toda certeza forneceram a Lucas muito material, que ele complementou com a sua própria pesquisa (v. 3). Os “entre nós” de Lucas mostram que ele escreveu do ponto de vista da comunidade cristã. (2) A transmissão da mensagem de Cristo estava alicerçada na experiência pessoal (João 15:27; Atos 10:39; Hb 2:3) que a igreja sentia necessidade de manter, como indicado pela qualificação exigida de um futuro apóstolo (At 1:21). O material sobre Jesus foi provavel­ mente transmitido a princípio por via oral e mais tarde por escrito, apesar de que as duas espécies de material continuassem a circular ao mesmo tempo. (3) Lucas tinha decidido juntar-se aos “muitos” do versículo 1, como indicado pela sua declaração a mim me pareceu bem. Ele era um pesquisador cuidadoso, tendose ocupado de tudo desde sua origem — uma referência inicial ao estudo cristão. Assim como prejudica à Bíblia


1 Visto que muitos houve que empreenderam uma narra­ ção coordenada dos fatos que entre nós se realizaram, 2 conforme nos transmitiram os que desde o princípio foram deles testemunhas oculares, e ministros da pala­ vra, 3 igualmente a mim me pareceu bem, depois de acurada investigação de tudo desde a sua origem, dar-te por escrito, excelentíssimo Teófilo. 4 para que tenhas plena certeza das verdades em que foste instruído. negar o elemento divino no seu preparo, é também prejudicial negar a iniciativa pessoal do autor especifi­ cado. A orientação de Deus também operou na coleta e uso que o evangelista fez do seu material. É impossível saber a importância exata dos termos em ordem, mas não implicam necessariamente numa crítica aos outros relatos. O termo é peculiar a Lucas no Novo Testamento (L c 8 :l; At 3:24; 11:4; 18:23), e simples­ mente indica um arranjo de algum espécie, seja de tempo, de espaço ou de lógica. Teófilo (veja At 1:1) um nome comum, significa “ ami­ go de Deus” . Excelentíssimo era um termo geralmente usado para uma pessoa de posição (At 23:26; 24:3; 26:25). A formalidade do título poderia indicar que ele não era um irmão em Cristo apesar de alguns serem de opinião que Teófilo era um pseudônimo usado para proteger da discriminação um cristão influente. Todavia, apesar de ser “instruído” sobre a fé, sua religião decla­ rada deve permanecer em dúvida. Foi sugerido ser ele o patrono de Lucas. Talvez representasse os gentios cultos de quem Lucas desejava se aproximar. Outros pensam que o nome indicava uma classe, mas isso é pouco provável, em vista da precisão da linguagem de Lucas. O fato de ter sido dedicado a uma só pessoa, não impedia que o trabalho pudesse ser aplicado a uma audiência mais ampla. De fato, isso até fazia com que a obra ganhasse destaque na sua publicação. (4) Se este versículo implica em que Teófilo tivesse


obtido informação errada de outras fontes à sua disposi­ ção, nesse caso isso então indica que informes errados sobre Jesus já estavam circulando desde o começo. A expressão pode porém referir-se simplesmente a uma base mais sólida no ensino cristão, sem qualquer refe­ rência depreciativa às outras narrativas. Lucas pode ter achado que seus leitores precisavam de um fundamento mais sólido para o seu conhecimento do Senhor (veja João 20:31). Este deveria ser um tratamento consistente e sistemático do material até então conhecido de maneira parcial e esparsa. Instruído, vem da palavra grega “ catequizado” , ape­ sar de não trazer consigo as implicações que o termo viria a ter na prática religiosa posterior.


m Preparação Para o Ministério de Jesus 1 : 5 - 4:13

Nascimento e Infância de João e Jesus 1:5 - 2:52 Esta seção mostra o fim da era dos profetas à medida que se move em direção a Cristo. Os acontecimentos pertinentes são determinados pelo poder de Deus — um tema que se estende através de todos os escritos de Lucas (1:13, 19, 25, 26, 31, 35, 37, 38, 41, 58, 66, 67; 2:9, 13, 15, 25-27, 36). Ênfase é dada às promessas de Deus, seja quando são cumpridas ou quando devam ser ainda consumadas (1:13-17, 20, 24, 31-33, 35, 36, 45, 48, 50-55, 57, 68-79; 2:5, 10, 11, 21, 26-32, 34, 38; veja VII). É nas partes poéticas desses capítulos que o tema das ações de Deus é mais claramente especificado. Eles formam o núcleo da seção. Aqueles através de quem Deus opera e os que são mais receptivos às suas boas novas são os piedosos de Israel. É dada ênfase à vida religiosa devota dos princi­ pais personagens (1:6, 38, 45, 59; 2:22, 25-27, 36, 39,40). É neste cenário que vemos a primeira mostra da consciên­ cia que Jesus tinha de si mesmo (2:49). As pessoas recep­ tivas a Deus estão geralmente entre os pouco importantes da terra, tais como M aria e os pastores (veja discussão dos pobres 4:18). Em contraste com o prólogo e o restante do livro, esta seção se faz notar pelo seu tom hebraico. São muitas as


5 Nos dias de Herodes, rei da Judéia, houve um sacerdote chamado Zacarias, do turno de Abias. Sua mulher era das filhas de Arão, e se chamava Isabel. referências ao Velho Testamento e o estilo pode ter sido uma imitação consciente da Septuaginta. A P rom essa do N ascim ento d e João, 1:5-25 (5) Herodes, o Grande (37 AC - 4 DC) governava toda a Palestina, que é o significado de Judéia neste versículo (veja 7:17; 23:5; Atos 2:9; 10:37; e Lucas 4:44). Ele era um idumeu que adotou a religião judaica e dependia de Roma para governar. Foi o ancestral daquela linha dos Hero­ des encontrada no Novo Testamento e certamente foi bem conhecido dos leitores gentios de Lucas (veja Vol. 1 da série “O Mundo do Novo Testamento” , páginas 58-60). Assim Lucas alicerça sua historia na situação política da época. Em contraste a Herodes, a história centraliza-se em um sacerdote e sua esposa, Zacarias e Isabel. Esses nomes significam respectivamente “lembrado por Jeová” e “Deus é meu juramento” . A divisão de Abias era um dos vinte e quatro grupos de sacerdotes (I Cron. 23:6; 24:10; 28:13), cada um dos quais servia no templo durante uma semana duas vezes por ano (veja I Cron. 24:19; II Cron. 8:14; 23:8; 31:2; Neemias 12:4, 17). Leis específicas exigiam que um sacerdote casasse com uma virgem do seu próprio povo (Lev. 21:13-15). Era uma dupla distinção para Zacarias — ser um sacerdote e ser casado com a filha de um sacerdote. A menção de Isabel é o primeiro exemplo de uma ênfase especial dada às mulheres e que caracterizava o evangelho (veja a introdução). A palavra para mulher (guné) é peculiar a Lucas em 1:5, 13, 18, 24, 28, 42; 4:26; 7:28, 37, 39, 44, 50; 8:2, 3; 10:38; 11:27; 13:11, 12; 14:20, 26; 15:8; 17:32; 18:29. (6) O caráter de Zacarias e Isabel apresentava-os como prontos para serem usados por Deus. Um tributo à sua bondade era a ausência de amargura com relação à


6 “Ambos eram justos diante de Deus, vivendo irrepreen­ sivelmente em todos os preceitos e mandamentos do Senhor. 7E não tin h am filho, porque Isabel era estéril, sendo eles avançados em dias. 8 Ora, aconteceu que, exercendo ele diante de Deus o sacerdócio na ordem do seu turno, coube-lhe por sorte, 9 segundo o costume sacerdotal, entrar no santuário do Senhor para queimar o incenso” . esterilidade de Isabel, apesar de quanto intensamente eles devam ter desejado filhos. O termo grego aqui traduzido como justo é encontrado em Lucas 1:6,17; 2:25; 5:32; 12:57; 14:14; 15:7; 18:9; 20:20; 23:47, 50; e em Atos 3:14; 4:19; 7:52; 10:22; 22:14 e 24:15. (7) Desde que a ausência de crianças era um sinal de desprezo por parte de Deus, atribuíam grande importân­ cia ao fato de ter uma prole (Lev. 20:20; 1 Sam. 1:11; 2 Sam. 6:23; Salmos 127:3-6; 128:3; Jer. 22:30). Neste caso o contraste entre a esterilidade e a bondade do casal era incomum. Um homem vivia nos seus descendentes, e morrer sem filhos significava ser “apagado de Israel” (Deut. 25:5). Podemos imaginar como Isabel era alvo de comentários entre as pessoas de suas relações. Sua esterilidade continua seguindo o modelo das mulheres estéreis do Velho Testamento (Sara, Rebeca, Raquel, a mãe de Sansão, e Ana). O objetivo da narrativa era mostrar a grandeza e o poder de Deus, pois não havia dúvida de que isso tinha acontecido por intermédio de Deus. Assim Ele agia graciosamente para abençoar seu povo. (8, 9) O serviço de sacerdote inclui os deveres de cuidar do templo e observar os rituais do culto. No princípio, só o sumo sacerdote oferecia incenso (30:7), mas aparentemente, outros tiveram mais tarde permis­ são para isso. Tal honra ficava restrita a apenas uma vez na vida de um sacerdote, e muitos nem sequer conse­ guiam tal privilégio. Em vista desse acaso (ou providên­ cia conforme Atos 1:26), Zacarias foi colocado numa


lOE, durante esse tempo, toda a multidão do povo permanecia na parte de fora, orando. 11E eis que lhe apareceu um anjo do Senhor, em pé, à direita do altar do incenso. posição auspiciosa para os eventos importantes a serem consumados. A medida que Deus recebeu louvor, Ele revelou a Sua vontade. (10) Fogo era tirado do altar exterior, e o sacerdote esperava o sinal para ateá-lo ao incenso do altar que estava localizado no Lugar Santo, em frente à cortina que o separava do Lugar Mais Santo. Quando a fumaça do incenso subia, as pessoas se prostravam em prece silenciosa, geralmente de sete minutos de duração, (a oração estava ligada ao incenso, veja SI 141:2; Apoc. 5:8 e 8:3). Esta é a primeira menção de Lucas à oração. A palavra usada aqui [p roseu ch om ai) é encontrada tam­ bém em 3:21; 5:16; 6:12, 28; 9:18, 28, 29; l l r l (também 3:11); 18:1, 10, 11; 20:47; 22:41, 44, 46; Atos 1:24; 6:6; 8:15; 9:11, 40; 10:9, 30; 11:5; 12:12; 13;3; 14:23; 16:25; 20:36; 21:5; 22:17; 28:8. Complementando essa palavra, Lucas emprega ainda outras (conforme notas em 1:13; 5:12 e a introdução). O termo grego para multidão (plêthos) é encontrado vinte e cinco vezes em Lucas, e é encontrado apenas sete vezes no resto no Novo Testamento (no evangelho o termo se acha em 2:13; 5:6; 6:17; 8:37; 19:37; 23:1 e 27). (11) Em Atos 10:3 Lucas descreve uma resposta angé­ lica à oração. A palavra anjo pode também significar “mensageiro” . Este foi o principal papel desempenhado pelos anjos, principalmente nos evangelhos. O conceito é encontrado através do Velho Testamento, e a manifesta­ ção, ainda que terrível quando suportada particularmen­ te por Zacarias, era bem conhecida para a sua teologia (leia a respeito dos anjos em 1:13, 18, 19, 26, 28, 30, 34, 35, 38; 2:9, 10, 13, 15, 21; 4:10; 9:26; 12:8; 15:10; 16:22; 22:43 e 24:23). O la d o direito do alta r era o lugar de honra. Em Daniel 9:20-23 há uma situação similar.


12 “Vendo-o, Zacarias turbou-se, e apoderou-se dele o temor. 13 Disse-lhe porém, o anjo: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida; e Isabel, tua mulher, te dará à luz um filho, a quem darás o nome de João.” (12) Aqui são vistos ao mesmo tempo o profundo terror e a irresistível atração que o homem sente na presença da divindade. Lucas freqüentemente nota a reação temerosa dos homens aos atos de Deus (1:29, 65; 2:9; 5:8, 26; 7:16; 8:25, 35, 37; 9:34, 45; 21:26; 24:37; Atos 2:43; 5:5, 11; 10:4; 19:17). A emoção pode ser uma combinação de medo e reverência. (13) Não tenha medo é uma expressão encontrada também em Lucas 1:30; 2:10; 8:50; 12:4; 7:32; Atos 18:9; 27:24. A confirmação era para indicar que os propósitos de Deus eram bons, não maus. Veja Gênesis 17:19; Daniel 10:12 e Atos 10:31, onde é encontrada linguagem seme­ lhante. A oração de Z acarias pode ter sido a única oferecida enquanto o incenso queimava, e provavelmente teria sido para a redenção de Israel e a chegada do reino messiânico. Mas mais provavelmente era a petição do casal por uma criança. Se eles continuaram a oferecer essa prece, após anos sem filhos e com idade avançada, sua persistência era um grande testemunho da sua fé. Todavia, mesmo a fé mais forte pode fraquejar, como aconteceu com a de Zacarias por um breve momento. Talvez fosse a vontade de Deus adiar a sua resposta até o momento em que ela fosse uma clara e indubitável demonstração de seu poder e bondade. Certamente a resposta apresenta maior significância por ter vindo tão auspiciosamente. Lucas foi cuidadoso em registrar essas palavras, porque elas ajudam a construir seu ponto de vista especial sobre a oração e o seu poder. A palavra para oração aqui é dêesis e também é encontrada em 2:37 e 5:33 (veja 1:10 e a introdução). Que Isabel poderia conceber uma criança foi o pri­ meiro de uma série de avisos surpreendentes seguidos de mais detalhes impressivos. João significa “o dom de


14“Em ti haverá prazer e alegria, e muitos se regozijarão, com o seu nascimento. 15 Pois ele será grande diante do Senhor, não beberá vinho nem bebida forte, será cheio do Espírito Santo, já do ventre materno.” Deus” ou “Deus é bom” . A insistência posterior do nome (1:60-63] demonstra seu significado especial. Era, e poderia continuar a ser, um sinal da ação especial de Deus. Muitas pessoas eram chamadas de João, mas o significado do nome dessa criança seria mais impressio­ nante quando as circunstâncias sob as quais foi dado se tornassem conhecidas. (14) Esse primeiro versículo mostra a reação dos pais, seguida pela do círculo de conhecidos. A palavra prazer (chara] é encontrada oito vezes no evangelho (2:10; 8:13; 10:17; 15:7, 10; 24:41, 52], e todas as vezes exceto uma (8:13) é única para Lucas. Todas descrevem a alegria no céu e na terra causada pelo que Deus fez em Cristo. Alegria significa extremo prazer ou exultação e não é encontrada em qualquer outra parte do Novo Testamen­ to, m as a p e n a s em Lucas 1:44; Atos 2:46; Hebreus 1:9 e ludas 24. O termo implica na salvação que Deus dá e que produz extremo regozijo. Significa a alegria da comuni­ dade do último tempo, que é o reino de Deus. Regozijo é freqüentemente usado por Lucas para descrever reações às bênçãos do Messias (6:23; 10:20; 15:5, 32; 19:6, 37; e possivelmente 1:28). A idéia de alegria encontra um lugar importante nos escritos de Lucas. Compare tam­ bém “alegrar-se com”, 1:58. Não apenas seus pais, mas muitos seriam beneficia­ dos com a ação divina do início do ministério de João. O texto enfatiza a intenção de Deus em promover o bemestar do homem. (15) Há muitos paralelos à história de Samuel (I Samuel 1,2), que se tornam ainda mais significativos devido à similaridade da canção de M aria em versículos 46-55, à de Ana em I Samuel 2:1-10. Abstinência de vinho e bebidas fortes se referem ao


16 e converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus. 17E irá adiante dele no espirito e poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, converter os desobedientes à prudência dos justos e habilitar para o Senhor um povo preparado. voto nazireu (Núm. 6:2-21, especialmente 2-8; Jz. 13:4,7; 16:17; I Samuel 1:11; veja também Levítico 10:9 para a proibição do vinho para os sacerdotes). Entretanto, algumas facetas desse voto não são especificadas aqui. Desta maneira a idéia pode ser simplesmente que a criança era consagrada a Deus, e ao invés da bebida estimulante ela teria o Espirito Santo (veja 5:33; 7:33; e Efésios 5:18). Esta é a primeira das muitas referências de Lucas ao Espírito Santo. O Espírito é mencionado apenas cinco vezes em Mateus, quatro vezes em M arcos e João, mas setenta vezes em Lucas, e mais de cinqüenta vezes em Atos (Lucas 1:35, 41, 67; 2:25; 3:16,22; 4:1, 14, 18; 10:21; 11:13; 12:10, 12 e 24:49, conforme Atos 1:2, 8). Lucas indica claramente que sob esse poder os grandes aconte­ cimentos da fé cristã tomam lugar, e seu significado é revelado (1:41, 67; 2:25-27). Todos os casos da ação do Espírito mostram um sinal da chegada da era messiâni­ ca, de acordo com as expectativas dos judeus (veja Isaías 32:15; Ezequiel 11:19; 36:26; Joel 2:28). A possessão pelo Espírito no útero da mãe provavelmente refere-se à permanência do Espírito nele. Freqüentemente, no Velho T estam ento, um p ro feta e r a tem p orariam en te in sp irad o ou guiado por Deus. João os excedeu a todos (veja 7:28). Essa é a única referência atribuída especificamente a João, mas abrange todo o seu ministério. Assim, sua atividade posterior como pregador do arrependimento e precursor do Messias oferece o melhor exemplo no desempenho desse dom. Seu ministério cheio do Espírito o faz um símbolo dos últimos dias. (16, 17) O trabalho de João é descrito pelo profeta Elias, como apresentado em Malaquias 4:5 (veja também


18 Então perguntou Zacarias ao anjo: Como saberei isto? pois sou um velho e minha mulher avançada em dias. 19Respondeu-lhe o anjo: Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado para falar-te e trazer-te boas novas. Malaquias 3:1). Eclesiásticos 48:9, provavelmente sob a influência de Malaquias, tem linguagem semelhante. Porém a identificação de Elias e João não é tão explícita como em Mateus 11:14 e 17:10-13; Lucas apresenta o Batista como o Elias restaurador que estimulará o tempo de arrependimento que precede a vinda do Messias. O estilo rústico de vida de João tem muita semelhança com o de Elias. Veja outras referências a Elias em 4:25; 9:8, 19, 30, 33. Não apenas que Zacarias seria pai, mas o sexo da criança, nome, caráter, qualidades e missão foram espe­ cificados. Cada um desses pontos juntava-se a outros para aumentar a maravilha, e é fácil compreender como a fé do velho homem foi severamente testada pelo anún­ cio do anjo. Poder (dunamis) é uma palavra encontrada freqüentemente em Lucas (1:35; 4:14, 36; 5:17; 6:19; 8:46; 9:1; 10:13, 19; 19:37; 21:26; 22:69; 24:49; Atos 1:8; 2:22; 3:12; 4:7, 33; 6:8; 8:10, 13; 10:38; 19:11). No evangelho ela se refere em todos os casos (21:26) ao poder de Deus. Em muitos casos está estreitamente ligada ao trabalho do Espírito Santo (1:17; 1:35; 4:14; 24:49 e Atos 1:8). Muitas das referências do evangelho são em relação ao trabalho de Jesus, cujos sinais messiâ­ nicos são acompanhados pelo poder do Espírito (4:18). (18) Zacarias quando soube que Isabel poderia conce­ ber, ficou tão espantado que quis confirmação. Ele mesmo deu as razões pelas quais acreditava que o anjo pudesse estar errado (para reações semelhantes veja Gênesis 15:8; 17:17; 18:12; Êx. 4:1; Jz. 6:17, 36-40; II Reis 20:8 e Is. 38:22; conforme Isaías 7:11; 38:7; I Cor. 1:22 e Rom. 4:19-21). (19) O anjo e a mensagem foram sinais suficientes para Zacarias. Quando ele disse “Eu sou... velho”,


20Todavia ficarás mudo, e não poderás falar até ao dia em que estas cousas venham a realizar-se; porquanto não acreditaste nas minhas palavras, as quais a seu tempo se cumprirão.

Gabriel respondeu com outro Eu sou, oferecendo um grande contraste entre a incerteza humana e a seguran­ ça divina. Gabriel significa “homem de Deus” ou “Deus mostrou a si mesmo como é poderoso”. Daniel 8:16 e 9:21 mostram-no como um revelador. A Pseudepigrapha o mostra como um intercessor (I Enoque 9:1; 40:6; II Enoque 21:3) e como um destruidor (I Enoque 9:9; 54:6). O Novo Testamento o mostra como um revelador e portador de segurança (Lucas 1:11-20, 26-38; Heb. 1:14). Trazer boas novas em outras vezes no evangelho (2:10; 3:18; 4:18, 43; 7:22; 8:1; 9:6; 16:16; 20:21) sempre se refere à mensagem sobre Jesus e de Jesus. Era um sinal do seu messianismo (7:22) que era inspirado pelo Espírito (4:18). As boas novas são identificadas especifi­ camente como a chegada do reino (4:43; 16:16 e 1:33). De fato em 16:16 a pregação das boas novas é a marca da era de Jesus, que foi proclamada por João. Para os leitores de Lucas, do ponto de vista da sua vantagem de muitas décadas da história cristã e seu mais completo conhecimento de Cristo, o termo pode ter um rico signifi­ cado, como foi mostrado a Zacarias. (20) A aflição de Z acarias seria “um sinal” para ele e outros, de que o seu pedido foi cumprido através deste infortúnio. Se ele estivesse tentado a vacilar de novo, sua mudez serviria para lembrá-lo. Ele recebeu notícias ma­ ravilhosas, e agora não podia comunicá-las tão livremen­ te quanto desejava (sobre mudez veja Ezequiel 3:26 e Dan. 10:15). Lucas registra outras conseqüências terrí­ veis que acontecem a pessoas que duvidam de Deus (Atos 5:5; 13:11). __ Sobre as coisas que a seu tempo se cumprirão, apa­ rentemente se referem ao nascimento da criança, pois logo depois disso Zacarias falou de novo (1:64). Desde que agora a sua cura dependia disso, Zacarias estava


2 1 0 povo estava esperando a Zacarias e admirava-se de que tanto se demorasse no santuário. 22 Mas saindo ele, não lhes podia falar, então entende­ ram que tivera uma visão no santuário. E expressava-se por acenos e permanecia mudo. 23 Sucedeu que terminados os dias de seu ministério, voltou para casa. 24passados esses dias, Isabel, sua mulher, concebeu e ocultou-se por cinco meses, dizendo: 25 Assim me fez o Senhor, contemplando-me para anular o meu opróbrio perante os homens. duplamente ansioso pelo cumprimento da mensagem de Gabriel (VII). (21) De acordo com o Talmude, o sacerdote, para evitar ansiedade, deveria sair do templo o mais rápido possível, desde que algumas tradições mantinham que no lugar santo a pessoa podia incorrer no desfavor divino e ser morta (Lev. 16:13). Também era costume, após a queima do incenso (sendo noite), o sacerdote sair e abençoar o povo. A ausência de Zacarias, por essas razões, e porque o povo sabia que seus deveres não tomavam muito tempo, os espantou. A palavra maravilhado é uma das favoritas de Lucas (1:63; 2:18,33; 4:22; 7:9; 8:25; 9:43; 11:14,38; 20:26; 24:12,41; At 2:7; 3:12; 4:13; 7:31; 13:41). É geralmente usada no evangelho para descrever as reações das pessoas a Jesus. (22) Quando a mudez de Z acarias se tornou evidente, o povo queria informação, que poderia ao m esm o tempo aumentar a frustração dele e começar a fazer crescer a sua fé. Foi provavelmente através de uma linguagem improvisada que ficaram sabendo da visão. Não há indicação de que ele tenha contado o conteúdo da mensagem, e isso seria muito difícil a não ser que tivesse escrito a respeito imediatamente. Podem talvez nem ter sabido que havia qualquer espécie de mensagem. (23) Serviço (Leitourgein) no grego bíblico refere-se ao serviço sacerdotal no culto de Deus e também no


26 No sexto mês foi o anjo Gabriel enviado da parte de Deus, para uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, 27 a uma virgem, desposada com certo homem da casa de Davi, cujo nome era José e a virgem chamava-se Maria. serviço aos pobres. Dela surgiu a palavra liturgia. (24, 25) A declaração exultante de Isabel é outro exemplo da alegria que um ato de Deus pode trazer (veja 1:14). A censura de Isabel era a sua esterilidade, e não qualquer falha de caráter pela qual Deus a estivesse castigando (Gên. 30:23; 1 Sam. 1:5-8; II Sam. 6:23; Os. 9:11; especialmente a prece de Ana em I Sam. 1:11). A Anunciação a Maria, 1:26-38 (Mat. 1:18-25) (26) No sexto mês (da gravidez de Isabel) Gabriel apareceu a uma virgem aparentemente sem importância em Nazaré. Por isso Jesus e João têm quase a mesma idade. O intervalo possibilitou a M aria estar certa da condição de Isabel, confirmando assim a validade das promessas de Gabriel. Descrevendo Nazaré como uma cidade da Galiléia nota-se que Lucas escreveu a um povo para o qual a geografia da Palestina não era familiar. (27) A escolha de M aria não foi demandada por seu próprio mérito (apesar dela ter um excelente caráter), mas pela graça de Deus. A ênfase de Lucas na virginda­ de dela acentua o caráter sobrenatural do que viria a ocorrer. O noivado geralmente durava um ano. A propriedade da mulher revertia ao futuro marido, e qualquer infideli­ dade durante esse período, era punida, como o adultério, pela morte (Deut. 22:23). Um noivado era rompido por divórcio e se o homem morria, a mulher era considerada viúva. O Messias viria da família de Davi (II Samuel 7:12). Mas eram José ou Maria da casa de Davi? José sem dúvida era, mas alguns supõem que M aria era da casa de Levi, uma vez que ela era parente de Isabel (v. 36). Mas o parentesco não exige que as duas mulheres sejam


28E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Salve! agraciada; o Senhor é contigo. (Bendita és tu entre as mulheres). 29Ela, porém, ao ouvir esta palavra, perturbou-se muito e pôs-se a pensar no que significaria esta saudação. 30 Mas o anjo lhe disse: Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus. 31E eis que conceberás e darás à luz um filho a quem chamarás pelo nome de Jesus. da mesma tribo. Os versículos 32 e 69, juntamente com o fato de que José não era realmente o pai, parecem indicar que Maria deve também ter sido da descendência de Davi. (28) A saudação é interpretada por alguns como regozijo (veja nota em 1:14) e alguns acham que “Bendita és tu” poderia ser melhor traduzida como “cheia de graça” . O Senhor é contigo não era um relatório da intimidade de M aria com Deus, mas da maneira especi­ al pela qual Ele interviria em sua vida (Jz. 6:12). (29) Compare a reação de M aria (medo e curiosidade) com a d e Zacarias no versículo 12. Perturbou-se não ê usada em nenhum outro lugar do Novo Testamento e a palavra é mais forte que aquela que descreve a reação de Zacarias. Ela provavelmente considerou a razão de ter sido abordada de tal maneira, ou qual a mensagem que se seguiria a tão auspiciosa saudação. O detalhe psicológico que Lucas dá indica que ele provavelmente “entrevistou” M aria, como as próximas passagens irão confirmar. (30, 31) O anjo tranqüilizou a Maria, como havia feito com Zacarias (v. 13), pela confirmação do conceito do versículo 28. Do mesmo modo que com João, não apenas um nascimento foi profetizado, mas minuciosos detalhes foram fornecidos sobre a criança (sexo, nome, caráter, propósito); conforme Mateus 1:21-23. Esse versículo é virtualmente uma citação de Isaías 7:14, que é citado em Mateus 1:23, com “Emanuel” mudado para Jesus (confor­ me também Gênesis 16:11; Jz. 13:3). Se Jesus significa


32 Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; 33 e ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim. “Salvador” (o que alguns discutem), então, mais ainda que João, o nome adquiria um significado especial, (32) Altíssimo é usado sete vezes em Lucas (1:35, 76; 2:14; 6:35; 8:28; 19:38) e somente quatro vezes no resto do Novo Testamento. A idéia da filiação divina é repetida em “Filho de Deus” do versículo 35. O conceito de paternidade divina foi expresso várias vezes no Velho Testamento (Êx 4:22; Jer. 31:20; Oséias 11:1) e foi especialmente relevante no reinado de Davi (II Sam. 7:14; Salmos 2:7). Mas, a vida e os ensinamentos de Jesus dão idéia da sua grandeza (Marcos 11:9), e conseqüentemente a igreja veio a conhe­ cer a paternidade de Deus de uma maneira que nenhum hebreu tinha anteriormente conhecido. A herança do trono de Davi pela criança era uma idéia fascinante, uma vez que os judeus não tinham rei naquela época. A citação convida à reflexão sobre as promessas do Velho Testamento. O ato do Senhor, por­ tanto, envolvia mais do que apenas um homem, uma mulher e uma criança, englobando todo um complexo de eventos que deveriam vir com o restabelecimento do reino. (Para referências à missão de Jesus, veja introdu­ ção I; descrição de Jesus, veja introdução IV.) (33) A casa de Jacó, como posteriormente a história cristã mostrou, era maior que a extensão física de Israel. O reino eterno estava de acordo com a promessa em II Samuel 7:14 (veja também Dan. 2:44; 7:14; Miq. 4:7; Mat. 28:18-20 e Heb. 7:24). Esta é a primeira referência de Lucas ao reino (veja 4:5, 43; 6:20; 7:28; 8:1, 10; 9:2, 11, 27, 60, 62; 10:9, 11; 11:2, 17, 18, 20; 12:31, 32; 13:18, 20, 28, 29; 14:15; 16:16; 17:20, 21; 18:16, 17, 24, 25, 29; 19:11, 12, 15; 21:10, 31; 22:16, 18, 29, 30; 23:42, 51; Atos 1:3, 6; 8:12; 14:22; 19:8; 20:25; 28:23, 31). A mensagem do reino era a proclama-


34 Então disse Maria ao anjo: Como será isto, pois não tenho relação com homem algum? 35 Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso também o ente santo que há de nascer, será chamado Filho de Deus. ção básica do ministério galileu de Jesus (4:43; 8:1) e foi com ela que ele comissionou os doze (9:2) e os setenta (10:9-11). Em alguns casos Jesus falou do reino como futuro, apesar de (no geral) iminente (9:27). Em outros já estava presente (pelo menos em embrião) no seu ministé­ rio (11:20; 16:16; 17:20 — veja discussões e referências). Vemos assim que o ministério de Jesus foi a inauguração do reino — uma entidade que seria completada em tempos futuros (Atos 1:6-8; 2:1-4). Uma associação do reino com a cruz está implícita em 22:16, 18. Jesus viu sua morte e ressurreição como o cumprimento da sua missão messiânica, portanto o reino seria o corolário dela. Para o propósito do reino deve-se praticar a maior devoção (9:60, 62; 14:25-33; 18:24, 25, 29; 19:15). Bên­ çãos específicas do reino são indicadas em 6:20; 7:28; 12:31; 13:28; 19:17, 19, 24, 26; 22:30; 23:42. (34) Maria, como Zacarias, não buscou um sinal. Mas ela procurou outras informações (João 3:4,9). A sua declaração estava no tempo presente: “Não tenho rela­ ção com hom em algum", e em nenhum sentido implica na virgindade futura e perpétua de Maria. (35) Por meio dessa declaração sem precedentes, M aria começou a entender que o poder direto de Deus, e não uma união com um homem, poderia fazê-la conceber. No Espírito Santo (1:15); no poder (1:17). Sua sombra lembra a nuvem que obscureceu o tabernáculo durante a peregrinação no deserto. A palavra é também usada em todas as sinopses do evangelho em relação à nuvem que veio na transfiguração. A única outra vez que aparece no Novo Testamento é em Atos 5:15. O termo é também usado quanto ao poder divino. O conceito é reminiscente do Espírito que pairava sobre as águas em Gênesis 1:2.


36E Isabel, tua parenta, igualmente concebeu um filho na sua velhice, sendo este já o sexto mês para aquela que diziam ser estéril. 37 Porque para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas. Aqui o Espírito se torna ativo numa nova “criação” de Deus. A criança seria chamada santa, o Filho de Deus, por causa da ação divina que produziu essa união. Para os cristãos o termo santo, quando referido ao Senhor, significa livre de qualquer mancha. Mas Maria, naquele tempo, provavelmente entendeu que a criança seria consagrada de algum modo (veja também Ex. 13:12; Is 43). Outros usos do termo estão em 1:49,70,72; 2:23; 4:34 e 9:26. Filho de Deus é reminiscência de Salmo 2:7; Isaías 7:14 e 9:6. Apesar de Cristo poucas vezes tê-lo usado em relação a Si mesmo (Mat. 27:43; João 10:36); foi emprega­ do muitas vezes nos evangelhos sinópticos (Mat. 4:3; 16:16; Mc. 3:11; 5:7; e em Lucas 3:22; 4:3, 9, 41; 8:28; 9:35 e 22:70). Em Lucas a expressão se refere à missão messiânica de Jesus. Isto pode ser visto especialmente comparando-se o versículo com 1:32; 3:22 com 3:15, e 22:70 com 22:67-69. Também em Lucas 4:41 os demônios reconheceram Jesus como o Cristo chamando-o Filho de Deus. Em 4:9 o diabo usou Salmos 91, que os judeus interpretam messianicamente, em ligação com o título de Filho de Deus. Note que em Lucas 9:35 o Filho é eleito de Deus, enquanto em 23:35 o M essias é o eleito de Deus. Também compare Lucas 2:49; 23:34, 46. Em outros lugares do Novo Testamento esse título é usado mais particularmente para a natureza divina de Jesus (IV, VII). (36) A condição de Isabel deu a M aria um sinal que ela não pediu e reafirmou as ações de Deus. Aparente­ mente M aria não tinha sabido antes do fato de Isabel estar grávida. A natureza exata do parentesco entre as duas mulheres não é conhecida. (37) Esse versículo pode ser traduzido como “Para Deus


38 Então disse Maria: Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra. £ o anjo se ausentou dela. 39Naqueles dias dispondo-se Maria, foi apressadamente à região montanhosa, a uma cidade de Judá. 40Entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. 41 Ouvindo esta a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre; então Isabel ficou possuída do Espírito Santo.

nenhuma palavra é impossível” . A diferença no significa­ do não ê grande. A essência desta declaração está tam­ bém nas palavras do anjo à Sara em Gênesis 18:14. Lá uma raça eleita iria começar, e aqui, uma nova humani­ dade estava antecipada. Além disso, o filho de M aria deveria ser o último cumprimento da promessa a Abraão. Esse versículo é a declaração-chave das histórias da anunciação, como mostram as maravilhosas ações de Deus (veja Mt. 19:26; Mc. 10:27; Lc 18:27). (V) (38) Uma serva era uma escrava. A forma feminina é encontrada no Novo Testamento só aqui, em 1:48 e Atos 2:18. M aria ouviu notícias espantosas. Ela estava se arriscando muito se a lei de Deuteronômio 22:23 fosse seguida. Além disso, haveria uma grande possibilidade de escândalo quando a sua gravidez pré-conjugal se tornasse conhecida. Suas relações com José, se não fossem harmoniosas, estariam ameaçadas. Mesmo assim ela aceitou a missão (em contraste com Zacarias) e isso mostra uma fé muito forte. O texto não diz quando foi o momento da concepção. Em Mateus 1:18-21 vemos que ela não disse a José o que aconteceu, sendo necessário que um anjo lhe explicasse a gravidez de M aria (1:39-56). (39) A cidade em que Isabel morava deve ter sido Hebrom, já que muitos sacerdotes viviam ali. Maria sem dúvida foi partilhar a alegria com sua parenta, segundo as palavras de Gabriel. (40, 41) Lucas, um médico, deveria saber que uma ex­ periência emocional da mãe poderia causar movimento do


42 E exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre. 43 E de onde me provém que me venha visitar a mãe de meu Senhor? 44pois logo que me chegou aos ouvidos a voz da tua sauda­ ção, a criança estremeceu de alegria dentro de mim. 45 Bem-aventurada a que creu, porque serão cumpridas as palavras que lhe foram ditas da parte do Senhor. feto. Aqui isto estava ligado à sua recepção do Espírito Santo (veja 1:15). Parecia um sinal de Deus, um reconhe­ cimento especial das grandes provisões de Deus aos homens, através de Maria. Pela influência do Espírito, Isabel falou através de fontes além do seu conhecimento (16:7; 2:25-27 e 12:12) (42) A exclamação de Isabel não se parecia com uma manifestação incontrolável de comportamento extático. Lucas gosta de relatar tais manifestações de emoção (2:10; 4:33; 8:28; 17:15; 19:36; 23:23, 46; 24:52.) A natureza das palavras mostra que Maria já havia conce­ bido. Veja uma circunstância semelhante em 11:27 (so­ bre a bênção, Deut. 28:4 e Juizes 5:24). Aproximada­ mente 40% das vezes em que é usada a palavra aben­ çoado (eulogèo) ela se encontra em Lucas. Esses casos no evangelho são 1:42, 64; 2:28, 34; 6:28. 9:16; 13:35; 19:38; 24:30; 50, 51, 53. (43) Senhor sem dúvida refere-se ao Messias, já que obviamente não é em relação ao Pai (21:41-44), como no versículo 45. A questão assemelha-se à de II Samuel 24:21. (IV, V). (44) Isabel interpretou o movimento do bebê como um sinal das coisas que falou. Ela falou que a criança estremeceu de alegria, indicando sua compreensão do acontecido (1:14). (45) As breves palavras foram concluídas com uma oração pela fé possuída por M aria (veja Hb 11:11), contrastando muito com Zacarias. A mudança para a terceira pessoa indica que o versículo 45 é uma prece formal. Abençoada vem de uma palavra grega diferente


46 Então disse Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, 47e o meu espirito se alegrou em Deus, meu Salvador, 48porque contemplou na humildade da sua serva. Pois desde agora todas as gerações me considerarão bemaventurada. (maiíarios) da do versículo 42. O termo, empregado freqüentemente em outros lugares, é encontrado em Lucas 6:20, 21, 22; 7:23; 10:23; 11:27, 28; 12:37, 38, 43; 14:14, 15; 23:29. (VII). (46) Esse poema, mais uma meditação do que uma pre­ ce ou saudação à Isabel, é chamado Magnifiçat, de acordo com a primeira palavra do texto latino. É semelhante à canção de Ana em I Samuel 2:1-10. Ambos os poemas mostram como Deus ajuda os pobres e humildes em vez de aos ricos e poderosos (Sf 2:3; Mt. 5:3), e como Deus favoreceu Israel desde as promessas a Abraão (veja Deut. 7:6). A prece de M aria foi intensificada além de qualquer razão normal, pelo seu reconhecimento do que Ele estava fazendo através da sua pessoa. (47) Alegrar-se é uma palavra encontrada também em Lucas 10:21, mas veja a anotação em “ alegria” em 1:14. Aqui o conceito de salvação, não apresentado anterior­ mente no livro, está presente (veja também I Sam. 2:1; Hab. 3:18; e sobre a expressão Deus meu Salvador veja I Tim. 2:3; Tito 2:13; Judas 25). O restante do poema dá uma idéia mais explícita. (48) A linguagem de M aria é reminiscente de I Samuel 1:11 e 2:5. O versículo indica um pouco da sua situação humilde e sua auto-anulação quando ela agradecida reconhece o lugar que Deus lhe deu (veja Gen. 30:13; Lucas 1:42; 11:27). Este texto, apesar de mostrar a importância de M aria no plano de Deus, certamente não estimula o culto a ela ou os pedidos e promessas feitos por alguns. Realmente, a atitude dela em relação a si mesma contrasta com o que freqüentemente foi atribuído a ela nos anos subseqüentes.


49Porque o Poderoso me fez grandes cousas. Santo é o seu nome. 5 0 a sua misericórdia vai de geração em geração sobre os que o temem. 51 Agiu com o seu braço valorosamente; dispersou os que no coração alimentavam pensamentos soberbos. 52 Derrubou dos seus tronos os poderosos e exaltou os humildes. (49) Veja I Samuel 2:2; Salmos 111:9; 113:5, e os comen­ tários em 1:35. (VII). (50) Nesse ponto a canção de M aria muda de si mesma para um conceito mais universal (Veja SI 103:13,17). (51) Esse versículo inicia uma série de declarações expressas com o verbo grego no tempo aoristo (pondo a ação no passado). Podem se referir aos feitos passados de Deus ou às suas obras futuras, indicando como é certo o seu cumprimento, ou as ações que sempre caracteri­ zam a Deus. O braço de Deus é um símbolo freqüente­ mente usado para mostrar seu poder (Sl. 89:10). Sobre o orgulho, veja I Samuel 2:3; Salmos 138:6. A palavra orgulho foi sempre usada com um sentido negativo no Novo Testamento. Talvez as classes especificadas neste versículo e nos seguintes tenham sido indicadas porque alguns grupos tinham significado especial para os leitores de Lucas, ou tais expressões eram usadas por causa da sua familiari­ dade com o ambiente do Velho Testamento. Os temas de orgulho, humilhação, riqueza e pobreza são freqüente­ mente usados no evangelho. (52) Sobre a derrubada dos poderosos e exaltação dos humildes, veja I Sam. 2:4,7; Jó 5:11; 12:19 e Sl 147:6. Deus não está contra os homens porque eles conseguem situações de poder, mas sim quando eles as usam para maus propósitos. Essa indicação de revolução social pode ser tomada literalmente ou figuradamente. No Velho Testamento na descrição de Deus e das nações (Is 13-23; Jer. 46-51; Ezeq. 25-32; Amós 1,2) assim como no resultado final da história o sentido seria literal; mas na


53 Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos. 54Amparou a Israel, seu servo, a fim de lembrar-se da sua misericórdia, 55 a favor de Abraão e de sua descendência para sempre. história da época de Jesus e da igreja, o sentido espiritual é melhor, desde que o cristianismo não é uma entidade política nem uma teocracia. Os humildes podem ser os oprimidos, em oposição aos governos tirânicos; ou, no Velho Testamento podem representar Israel. (53) Lucas refere-se aos famintos também em 4:2; 6:3; e especialmente em 6:21,25. V eja também 1 Samuel 2:5; Salmos 34:10 e Salmos 107:9. Esta passagem é reminiscente do apelo à justiça social visto em alguns profetas do Velho Testamento, especialmente em Amós. Bens é pro­ vavelmente símbolo de bênçãos espirituais no nosso tempo. Os ricos eram provavelmente opressores, já que no Velho Testamento a riqueza era freqüentemente tida como um símbolo das bênçãos de Deus (Deut. 28) e normalmente seria vista dessa maneira a não ser que a maldade das pessoas fosse também conhecida (mas veja também Salmo 73, onde o escritor não pode entender como os maus podiam prosperar). A forma verbal em relação a ser rico é encontrada aqui e em Lucas 12:21. Veja também 6:24. (54) Aqui está resumida a história dos atos de Deus em relação ao povo, com as circunstâncias do cântico mos­ trando que o maior dos atos estava iminente. Deus ajudou, estava ajudando e ajudará. Sobre Israel como servo veja Isaías 41:8. (55) A graça de Deus em ajudar Israel é além disso explicada em conexão com a promessa a Abraão (veja Gen. 12:3;13:14-17; 15:5; e Miquéias 7:20; Lucas 1:73). Lucas menciona Abraão em 1:73; 3:8,34; 13:16,28; 16:22­ 25,29,30; 19:9; 20:37. A promessa era para sempre, o que significa literalmente, até a consumação do século.


56Maria permaneceu cerca de três meses com Isabel e voltou para casa. 57a Isabel cumpriu-se o tempo de dar à luz e teve um filho. 580uviram os seus vizinhos e parentes que o Senhor usara de grande misericórdia para com ela, e participa­ ram do seu regozijo. 59Sucedeu que no oitavo dia, foram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias. 60De modo nenhum, respondeu sua mãe: Pelo contrário, ele deve ser chamado João. 61 Disseram-lhe: Ninguém há na tua parentela com esse nome.

O cântico vai agora além de Maria, passando para a bondade geral de Deus, para Israel. Nota-se revoluções morais, sociais e econômicas. Não há uma referência direta ao filho de Maria, mas sua obra está implícita. (V, VII). (56) M aria provavelmente ficou até o nascimento de João, já que o nascimento não é mencionado a não ser no próximo parágrafo, desde que Lucas tem o hábito de encerrar cada assunto antes de mudar para outro (1:64, 67; 3:19; 8:37). O Nascimento do Batista, 1:57-80 (57,58) A reação popular reintroduz a idéia de alegria (1:14; veja 15:6,9; Rom.12:15) e misericórdia (1:50). É possível que a situação de Isabel não fosse conhecida de todos porque ela estava segregada. Não há indicação de que os vizinhos soubessem da natureza sobrenatural da concepção e do nascimento. (59) Gênesis 17:10-14 registra a instituição da circunci­ são, e Levítico 12:3 especifica o oitavo dia (Fp.3:5). Não há registro no Velho Testamento de um nome sendo dado no oitavo dia, mas isso aparentemente era costume na Palestina no tempo de Zacarias. O nome de Abraão foi mudado na circuncisão, mas isso não parece ter-se tornado um costume no tempo do Velho Testamento. No mundo helenístico uma criança recebia nome de sete a


62 E perguntaram, por acenos, ao pai do menino que nome queria que lhe dessem. 63Então, pedindo ele uma tabuinha, escreveu: João é o seu nome. E todos se admiraram. ^^Imediatamente a boca se lhe abriu e, desimpedida a língua, falava louvando a Deus. 65 Sucedeu que todos os seus vizinhos ficaram possuídos de temor e por toda a região montanhosa da Judéia foram divulgadas estas cousas. dez dias após o nascimento, e os judeus poderiam ter adotado tal costume e tê-lo ligado à circuncisão. (60,61) Presumia-se que a criança recebesse o nome do pai, de acordo com o costume judeu, especialmente um filho único de pais idosos. Mesmo assim Isabel insistiu em chamá-lo João. Na verdade, todo o episódio está desen­ volvido em torno dessa questão. Aparentemente Isabel partilhou da fé que seu marido tinha em relação à sugestão angélica do nome. (62) O povo poderia ter pensado que Isabel estava agin­ do simplesmente por sua própria iniciativa ou que Z acari­ as foi incapaz de comunicar adequadamente seus desejos, ou ainda que os dois tinham discordado. Os sinais mostraram que ele estava tanto surdo quanto mudo. (63) A tabuinha estaria coberta com pergaminho ou te­ ria uma parte oca na qual uma película de cera era derra­ mada. Sua resposta foi dada firmemente, portanto não havia dúvida. Assim, um ato de fé anulou sua falha anterior. Em toda a série de eventos, Lucas está pergun­ tando se os homens acreditarão nas promessas de Deus, e devido a Zacarias ter voltado a crer, sua fala retornou. As testemunhas maravilharam-se por ele ter concordado em ver modificada a tradição. (64) Com o cumprimento das coisas mencionadas em 1:13, a fala retornou ao pai. As outras predições do cântico de Gabriel seriam cumpridas posteriormente. Imediatamente é encontrado dez vezes em Lucas, seis vezes em Atos, e apenas duas vezes no resto do Novo Testamento.


66Todos os que as ouviram guardavam-nas no coração dizendo: Que virá a ser, pois, este menino? E a mão do Senhor estava com ele. 67Zacarias, seu pai, cheio do Espírito Santo, profetizou, dizendo: 68Bendito seja o Senhor Deus de Israel. A bênção de Zacarias (veja 1:12) pode ter sido a fala imediata ou alguma outra advertência. (VII) (65) Sobre temor veja notas de 1:12. Divulgadas é usa­ da no Novo Testamento apenas aqui e em Lucas 6:11. Essa declaração, e o próximo versículo, podem indicar algu­ mas das fontes de Lucas. Algumas dessas pessoas podem ter seguido João Batista e Jesus, e mais tarde se tornaram cristãs, portanto Lucas aprendeu delas. O fato das histórias terem se espalhado pode ter também ajudado Teófilo a adquirir melhor conhecimento (1:1,4). (66) O conhecimento de alguns ou de todos os eventos relacionados desde a aparição de Gabriel até a circun­ cisão de João iria aumentar o assombro em relação à criança. Parece lógico, em vista do retorno da fala e da necessidade de explicar o nome do menino, que Zacarias contasse suas experiências. Além disso a vida subse­ qüente do rapaz foi diferente do comum. Geralmente a mão do Senhor refere-se ao poder de Deus (o poder dos homens em Lucas 9:44; e a mão de Deus em Atos 4:28,30:11:21; 13:11). Isso é relacionado ao Espírito Santo em Lucas 1:15. Pode envolver também a proteção de Deus (Jer. 26:24) tanto quanto o trabalho e o poder dados a ele pelo Senhor. Como no parágrafo anterior, Lucas encerra este episódio antes de mudar para algo novo. (67) Zacarias é identificado como seu pai, talvez indi­ cando que agora o foco de atenção mudou para João. Além da fala, o Espírito (veja notas em 1:15) deu a Z acarias conhecimentos especiais. Ele elaborou as idéias finais do Magnificat. Suas palavras são chamadas de Benedictus, de acordo com a primeira palavra em latim. (68) Nos versículos 68-75 Zacarias dá ênfase ao cum­


primento das promessas de Deus através dos profetas e do juramento a Abraão. A linha de Davi está sendo conti­ nuada. A fala especifica a natureza das bênçãos resul­ tantes do cumprimento com palavras tais como visitou, redimiu, “salvação” , “misericórdia prometida” , “Santa Aliança” , “libertação” , “ concedeu” . Esta parte é uma delineação magnífica dos benefícios dos últimos dias que estão sendo introduzidos por João. Os versículos 76-79 continuam no assunto, especificando o papel singular de João nesses acontecimentos. Note os termos escatológicos “salvação” , “remissão” , “misericórdia” , “ alumiar” , e “dirigir para a paz” . As palavras são um compêndio de teologia em miniatura em relação às bênçãos dos últimos tempos. Sobre as bênçãos de Deus, veja Salmos 41:13; 72:18; 89:52 e 106:48. A visita de Deus refere-se geralmente no Velho Testamento às vezes em que Ele quis fazer conhe­ cida a Sua vontade, seja na misericórdia ou no julgamen­ to, participando da história. O termo hebreu é freqüen­ temente traduzido na Septuaginta pelo termo grego que Lucas usa aqui. Lucas adiciona uma nova feição à idéia associando-a com redenção e salvação, pois isso a torna messiânica. Lucas é o único escritor do Novo Testamento que usa o termo grego em relação à ação de Deus (1:78; 7:16; Atos 15:14; Heb. 2:6, Sl 8:4; Lucas 19:44]. O conceito de redenção não estava presente especifi­ camente no M agnificat. O termo é encontrado no Novo Testamento apenas aqui, em 2:38 e Hebreus 9:12. Como com muitos elementos deste poema, qualquer significado político aparente (tirado da linguagem tradicional mes­ siânica) que as palavras pareçam ter é transcendido pela mais profunda realização espiritual operada em Cristo. Para Lucas e seus leitores, palavras como “re­ denção” , povo, “inimigo” e “aliança” teriam um signi­ ficado cristão modificado, ainda que as esperanças judaicas do tempo de Zacarias pudessem tê-las visto nacionalmente. (II) (69-71) O conceito de salvação do versículo 69 é elaborado no versículo 71 (veja Sl. 18:17; 106:10). Em


69 e nos suscitou plena e poderosa salvação, na casa de Davi, seu servo, 70como prometera, desde a antiguidade, por boca dos seus santos profetas, 71para nos libertar dos nossos inimigos e da mão de todos os que nos odeiam. 72 Para usar de misericórdia com os nossos pais e lembrar-se da sua santa aliança e 73do juramento que fez ao nosso pai Abraão, 74de conceder-nos que, livres da mão de inimigos, o adorássemos sem temor, 75em santidade e justiça perante ele, todos os nossos dias. 76 Tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque precederás o Senhor, preparando-lhe os cami­ nhos. todos os que nos odeiam compare 6:22; 19:14; e 21:17. (II, VII). (72) Aqui é expresso o propósito da idéia começada no versículo 69 (veja Sl. 105:8, 42; 106:45; Miquéias 7:20). Neste versículo e no seguinte, Deus ê instado a cumprir sua misericórdia, sua aliança e seu “juramento”. (Veja Lev. 26:42; Atos 3:25). (73) O poema progrediu dos profetas aos pais, ao Sinai, a Abraão, com cada escala retornando mais ainda no esquema do cumprimento (veja Gên. 17:7; 22:16-18; 26:3; Êx. 2:24, Jer. 11:5; Lucas 1:55). Os versículos 77-79 indicam que estes versículos presentes devem ser enten­ didos no sentido espiritual. Mais do que mencionar a promessa direta a Abraão, o texto explica as conseqüên­ cias dessa promessa. (74) A libertação dos inimigos restabelece a idéia do versículo 71, onde está acrescido o resultado da liberta­ ção (veja Jer. 30:8,9). Não há indício de vingança contra os inimigos, mas apenas a idéia de libertação deles (conforme 6:27,35), em contraste com as freqüentes maldições do Velho Testamento sobre os adversários do escritor (Sl. 58:6-11; 137:7-9). (1,11)


77para dar ao seu povo conhecimento da salvação, no redimi-lo dos seus pecados; (76) Aqui o Benedictus se move em direção da profe­ cia específica sobre João. Jesus era o “Filho do Altíssimo” (veja vers. 32), e João seria o profeta do Altíssimo. Profecias não tinham mais ocorrido em Israel (veja I Mac. 4:46; 9:27; 14:41) mas João quebraria esse silêncio (1:16 também tem isso implícito). Num certo sentido Zacarias já tinha quebrado o silêncio (vers. 67, conforme Ana 2:36). João era também mais do que um profeta (Lucas 7:26). Sua tarefa incluía o papel de mensageiro do Senhor (veja Mal. 3:1; 4:5; Is. 40:3). Ele seria como aquele que vai pelas cidades anunciando e fazendo os preparativos necessários para a vinda do soberano. Nesse caso, sua tarefa era preparar o povo para o que Deus faria através de Cristo, como está explicado nos versículos 77-79. (77) Isto incluía perdão dos pecados — uma dimensão que o conceito de salvação não havia anteriormente contido em Lucas (cf. 3:3; M arcos 1:4). O batismo de João para o perdão era um sinal da era messiânica. E o cumprimento da sua tarefa forçou os judeus a verem a si mesmos — e não apenas aos gentios — como pecadores necessitados do perdão divino. A palavra perdão é encontrada cin co v ezes no evan gelho. T rês c a s o s refe­ rem-se à remissão dos pecados (aqui, 3:3; 24:47). Em outros dois casos (4:18) é traduzido como “liberto” e “colocado em liberdade” . Estes eram sinais messiânicos (de Is. 61:1). Assim a súplica de perdão era uma indica­ ção de ser Jesus o Cristo (veja 4:17-26). Em Atos o termo é encontrado cinco vezes (2:38; 5:31; 10:43; 13:38; 26:18) e todas se referem ao perdão dos pecados. Assim a expres­ são perdão dos pecados está oito vezes nos escritos de Lucas e a palavra para perdão é encontrada somente sete vezes no resto do Novo Testamento. Veja Jeremias 31:31-34. A palavra para pecados está em Lucas 3:3; 5:20,21,


78graças à entranhável misericórdia de nosso Deus, pela qual visitará o sol nascente das alturas, ?9para alumiar os que jazem nas trevas e na sombra da morte, e dirigir os nossos pés pelo caminho da paz. 80 o menino crescia e se fortalecia em espírito. E viveu nos desertos até ao dia em que havia de manifestar-se a Israel. 23,24; 7:47,48,49; 11:4 e 24:47, e está sempre num contexto onde perdão é oferecido. (78) A palavra entranhável significava o “âmago” e posteriormente passou a se referir ao centro das emo­ ções, tendo na palavra “coração” seu equivalente mais próximo. (79) Aqui a figura se refere a viajantes aterrorizados diante das trevas, quando estão à mercê dos inimigos e do ataque dos animais selvagens (veja Sl. 107:10-14). A idéia de luz é lembrança de Malaquias 4:2 e Isaías 9:2 (também conforme Is. 42:7; Mt. 4:16 e II Pedro 1:19). A expressão testifica a profundidade das necessida­ des humanas. Lucas coloca grande empenho no conceito de paz, usando a palavra no evangelho em 2:14, 29; 7:50; 8:48: 10:5,6; 11:21; 12:51; 14:32; 19:38, 42 bem como sete vezes em Atos. Os outros evangelhos usam a palavra somente nove vezes (também conforme Is. 59:8; Rom. 3:17). (II,V,VII.) (80) Cerca de trinta anos estão compreendidos neste versículo. Como Moisés, João foi ao deserto (Jz 13:24). Ele poderia ser considerado como preparando Israel para um novo “Êxodo”. O texto não especifica a idade na qual ele começou tal modo de vida, nem porque o fez, nem o que seus pais pensaram disso. Ele provavelmente viveu na desolada área do la d o ocid en tal do M ar Morto, embora alguns argumentem que deserto significa apenas longe de cidades e vilarejos. O dia de sua manifestação foi provavelmente quando Deus o enviou de lá para pregar (veja Mt. 3:1; cf. Lucas 3:23). A luz dos Manuscritos do Mar Morto e do pouco que se conhece dos Essênios, muitas teorias têm sido sugeri-


1 Naqueles dias foi publicado um decreto de César Au­ gusto, convocando toda a população do império para recensear-se. das relativamente ao relacionamento de João com esses povos. Ele pode ter vivido na mesma área e existe alguma semelhança em seus ensinamentos. Entretanto, há dife­ renças marcantes. É provável que João conhecesse e estivesse em contacto com tais grupos de pessoas, ele deve ser visto como um homem de Deus simplesmente como membro de uma comunidade^ sa. O N ascim ento d e Jesu s, 2:1-20 (Mt. 1(

(1) No seu apelo aos gentios, LueaMigoifo nascimento do Senhor com o reinado de C ésa^® jgusto (27 a.C. — 14 a.D.) e o cenário da históriaf@imana. Seu decreto (lit. “dogma” significando aqm ^ ^ ecreto público, ordenan­ ç a ” , veja Atos 16:4; 1-7*7; Ef>. 2:15; Col. 2:14) era para o império romano intei ò (todo o mundo). Esse alistamento, não mencionadoJífrv dá Bíblia, deve ter sido um registro com o fim (d i -ob^ r impostos e deve ter continuado por algum te^Tpp, I?ossivelmente trata de informações com relaçâ^r^Djhfes, famílias, profissões e bens, assim como c ;tí t ibcímento de impostos. V r de ser impossível estabelecer com certe ío nascimento de Jesus, ele provavelmente ocorreu \ to de 6 a.C. Os versículos 1 e 2 levantaram algumas ouvidas: primeiro, porque este recenseamento nao e mencionado fora da Bíblia; e segundo, com relação ao governo de Quirino (discutido com o v. 2). O problema anterior, apesar de não ter sido completamente resolvi­ do, foi tratado de maneira a sustentar a exatidão de Lucas como historiador. O estado confuso dos registros do período, combinado com a natureza precária dos argumentos silenciosos, não dá lugar a qualquer possibi­ lidade de duvidar de Lucas. A pesquisa histórica revela que Augusto fez um recenseamento dos cidadãos roma-


2 Este, o primeiro recenseamento, foi feito quando Quirino era governador da Síria. nos 8 a.C. e outro em 6 a.D. O primeiro deles pode ter sido adiado na Palestina até perto do nascimento de Jesus. (2) É sabido que Quirino foi governador da Síria no período 6, 7 a.D. Sabe-se, outrossim, que os governado­ res da Síria de 9. a.C. até 4 a.C. foram, respectivamente, Saturnino e Varus. Isto não deixa lugar para Quirino na época descrita no texto. Todavia, uma inscrição danifi­ cada, agora no Museu Luterano, e que parece se referir a Quirino, indica que ele serviu dois termos. Ramsay argumenta que seu primeiro termo teria sido 10 a.C, antes de Saturnino. Isto, porém, não resolve ainda o problema. Alguns sugerem que o recenseamento pode ter começado durante o seu primeiro governo mas foi adiada a sua execução na Palestina. Isto parece forçado, espe­ cialmente em vista da evidência acima (v. 1) de que o censo de Augusto começou em 8 a.C. Outros notam que a palavra traduzida como governador era um termo geral e poderia referir-se a qualquer posto de liderança. Dessa forma, Quirino pode ter tido outro posto quando Jesus nasceu, com ligação especial com o recenseamento. Sir William Ramsay notou que podem ser documentadas outras ocasiões quando dois homens com o título de “legados de César” foram indicados para uma província porque esperava-se que um deles se dedicasse inteira­ mente ao comando do exército. Este pode ter sido o caso aqui. Apesar de nenhuma dessas sugestões ser completa­ mente satisfatória, algumas coisas precisam ser lembra­ das. Primeiro, os acontecimentos descritos no texto po­ dem pelo menos ser mostrados como possíveis. Segundo, nem toda a evidência está agora à nossa disposição e portanto as conclusões precisam ser tentativas. Da mes­ ma forma, indicações de pesquisa cuidadosa e da vera­ cidade histórica de Lucas em outros pontos falam de sua fidedignidade neste particular. O conhecimento que Lu-


3 Todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade. 4josé também subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, para a Judéia, à cidade de Davi, chamada Belém, por ser ele da casa e família de Davi, 5a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. ^Estando eles ali, aconteceu completarem-se-lhe os dias, 7 e ela deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.

cas tinha dos recenseamentos é mostrado em Atos 5:37, e ele indica que o recenseamento aqui foi feito antes do de Atos (o qual se realizou no ano 6 a.D.}. (3, 4) Ao que parece, era um costume judeu voltar à casa ancestral, apesar de nem todos os detalhes deste procedimento serem conhecidos. Quando José foi para a cidade de Belém a oitenta milhas de distância, aparen­ temente os acontecimentos de Mateus 1:18-25 já tinham ocorrido. Belém era chamada de cidade de Davi porque o pai de Davi tinha vivido lá (I Sm. 17:12, 58). José era descendente de Davi (1:27). O maior rei da linha davídica nasceria na cidade do primeiro Davi. (5, 6) Maria não precisava viajar para o recensea­ mento e sem dúvida este ato foi penoso para ela. Mas, provavelmente, M aria e José não queriam ficar separa­ dos pelo fato do nascimento da criança estar próximo. Quer o mundo os visse como ainda prometidos ou já casados, eles não tinham até então consumado o seu casamento (veja Mt 1:25). O texto não especifica quanto tempo eles permanece­ ram em Belém. Podem não ter querido arriscar uma viagem de volta mesmo depois de terem-se submetido às exigências do alistamento. Alguns acham que permane­ ceram propositadamente a fim de cumprir Miquéias 5:2, com relação ao lugar do nascimento do Messias. (7) Com quanta simplicidade é narrado acontecimento tão profundo! As circunstâncias do nascimento forma-


8 Havia naquela mesma região pastores que viviam nos campos e guardavam o seu rebanho durante as vigílias da noite.

vam um contraste gritante com a verdadeira natureza da criança. Lucas mostra como foram ordinários os aconte­ cimentos em que Deus operou extraordinariamente. A referência ao primogênito de M aria, não é uma evidência conclusiva para atribuir-lhe outros filhos nascidos mais tarde. Faixas eram costumeiramente usadas para vestir os recém-nascidos. Um quadrado de tecido tinha uma ponta mais comprida unida a ele num dos cantos e esta era enrolada em volta da criança depois do quadrado ser posto no lugar. Uma manjedoura ou comedouro transformou-se em berço para a criança. Assim, um menino no comedouro de animais tornou-se o foco da história do mundo. José foi obrigado a alojar-se num estábulo porque a hospedaria estava lotada. Essas acomodações porém, apesar de inferiores segundo os padrões atuais, talvez não fossem tão más como se pensa, especialmente considerando-se os alojamentos pouco satisfatórios das hospedarias da época. O texto não diz porque a hospedaria estava tão cheia. Talvez fosse devido ao número de pessoas que se apresentou para o recenseamento. Outros sugerem que pode ter havido uma festa em Jerusalém e as acomoda­ ções de Belém estivessem tomadas por peregrinos. Este parágrafo da Bíblia começou com César e termi­ nou com Jesus. O mundo de então pode ter considerado o primeiro como muito mais importante, mas o Deus da história inverteu essa concepção. (8) O anúncio aos pastores continua enfatizando as circunstâncias “comuns” que cercaram o acontecimen­ to. Não era de se esperar que tais pessoas fossem as primeiras a ouvirem as notícias, todavia, elas podem ter ansiado mais pelo advento do M essias do que a elite religiosa do país (veja Mq 4:8). Foi sugerido que esses pastores podem ter guardado os rebanhos no templo. Enquanto popularmente a aparição é tida como tendo


9E um anjo do Senhor desceu aonde eles estavam e a glória do Senhor brilhou ao redor deles; e ficaram tomados de grande temor. 10o anjo porém, lhes disse: Não temais: eis aqui vos trago boa nova de grande alegria, que o será para todo o povo: H é que hoje vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. 12 E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada numa manjedoura. 13e subitamente apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial louvando a Deus e dizendo: surgido em dezembro, é impossível estabelecer a época certa do ano. (9) Anjos apareceram novamente (veja 1:11-20, 26­ 38), com uma menção adicional neste caso sobre a glória divina (palavra encontrada em 2:9, 14, 32; 4:6; 9:26, 31, 32; 12:27; 14:10; 17:18; 19:38; 21:27; 24:26). (10) Quanto a não temais veja 1:12. Nas palavras da mensagem surgem de novo dois temas favoritos de Lucas, alegria (veja notas sobre 1:14, 58) e universalismo. Sobre trago boa nova, veja notas em 1:19. (11) A anunciação tinha um tremendo significado, pois era exatamente aquilo que o povo aguardara tão ansiosamente. Ela contém as três grande reivindicações cristãs sobre Jesus. Ele é Salvador, Cristo e Senhor. Quanto a Jesus como Salvador veja 1:47, 69, 71, 77 e compare Mateus 1:21. O conceito teria significado tanto político como religioso para os judeus. Cristo era uma indicação daquele que foi ungido para ser rei. O termo é também encontrado em Lucas 2:26; 3:15; 4:41; 9:20; 20:41; 22:67; 23:2, 35, 39; 24:26, 46. Senhor é o título que o Velho Testamento dâ a Deus. (I, II, IV) (12) Um sinal foi dado aos pastores como aconteceu com Zacarias e Maria. Isto sustentava a verdade da anunciação, e também os ajudava a encontrar a criança. As faixas seriam coisa comum, mas a manjedoura não, sendo então este o principal elemento do sinal. (VII) (13) Depois do anúncio do anjo, os céus começaram a


l^Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens a quem ele quer bem. 15E, ausentando-se deles os anjos para o céu, diziam os pastores uns aos outros: Vamos até Belém e vejamos os acontecimentos que o Senhor nos deu a conhecer. lôForam apressadamente e acharam Maria e José, e a criança deitada na manjedoura.

louvar (a respeito de anjos e ministério angélico veja Mt 18:10; Lc 16:22; At 5:19; 12:7, 15; Hb 1:14; I Pe 1:2; veja também notas em 1:11). O verbo louvar é um favorito de Lucas (veja notas sobre 2:20). A palavra aqui empregada é encontrada sete vezes nos escritos lucanos e apenas duas no restante do Novo Testamento. A impressão feita sobre os pastores teria sido intensificada pelo cântico do coro celestial. (V) (14) Este livro é chamado de “Gloria in E x celsis” no texto latino (veja 1:46, 68). Em adição às palavras anteriores do anjo, paz aqui fazia parte intrínseca das notícias. O termo indica aquela completa harmonia de vida encontrada, perfeitamente, apenas em Deus. Veja notas em 1:79 e compare também com Isaías 52:7; 57:19; Atos 10:36; Efésios 2:17 e 6:15. Existem diferentes ver­ sões da expressão traduzida aqui como entre os homens a quem ele quer bem, mas o texto traduzido pela Socie­ dade Bíblica do Brasil, Edição Revista e Atualizada, que é provavelmente o melhor, indica a estima em que Deus tem os seus eleitos. (15, 16) A ida apressada deles mostra sua ansiedade em confirmar a mensagem. Foram com certeza necessári­ os esforços e inconveniência da parte dos pastores (i.e. providenciar a guarda das ovelhas) para que pudessem ir. O termo grego traduzido como acharam indica alguma intensidade, talvez até mesmo dificuldade na busca. Mas finalmente descobriram o lugar. Devem ter ficado sur­ preendidos com o contraste entre o esplendor da anuncia­ ção e a simplicidade da situação da criança. Além do cum­ primento da palavra do anjo, nada daquilo que viram ser­ via de confirmação às suas esperanças messiânicas. (V).


17E vendo-o, divulgaram o que se lhes havia dito a respeito deste menino. IBlodos os Que ouviram se admiraram das cousas referi­ das pelos pastores. l^Maria, porém, guardava todas estas palavras, medi­ tando-as no coração. (17, 18) Ele não passava de um bebê, e assim o reino não poderia vir no momento. De qualquer forma foi espalhada a notícia da visitação angélica, e talvez os ouvintes incluíssem Simeão e Ana (2:25-38). Todos os que ouviram se admiraram com as notícias. Tais narrativas, como preservadas, seriam relembradas e investidas de mais amplo significado à medida que a igreja passou a refletir mais sobre o seu Senhor. (19) O texto diz expressamente que Maria guardava as palavras (veja também 2:51). Ela, assim como outras, pode ter sido a fonte de informação de Lucas. Ela meditou (o termo é peculiar a Lucas), e podem ter sido suas reflexões continuadas que a fizeram lembrar-se tão bem a ponto de dar a Lucas tanta riqueza de detalhes tão íntimos. (20) Voltaram então os pastores, homens diferentes do que tinham sido antes. Veja como Lucas se alonga sobre a idéia do louvor (1:25, 38, 46-55, 64, 68-79; 2:13, 28; 5:25; 7:16; 13:13; 17:15, 18; 18:43; 19:37; 23:47; 24:53; Atos 2:47). O verbo para glorificar é usado em Lucas 2:20; 4:15; 5:25, 26; 7:16; 13:13; 17:15; 18:43 e 23:47. Em cada caso, menos um (com referência a Cristo), a idéia se relaciona com glorificar a Deus. Tais circunstâncias não seriam esquecidas, mas a tarefa deles era aguardar pacientemente até que viesse a plena fruição das pro­ messas de Deus. (V) A Circuncisão de Jesu s e a A p resen ta ç ã o no Templo, 2:21-40 A obediência das figuras centrais à lei do Senhor é especialmente destacada no restante do capítulo. A palavra “lei” é usada aqui cinco vezes, mais do que em


20Voltaram então os pastores glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes fora anunciado. 21 Completados oito dias para ser circuncidado o menino, deram-lhe o nome de Jesus, como lhe chamara o anjo, antes de ser concebido. 22passados os dias da purificação deles segundo a lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor, todo o restante do evangelho (2:22, 23, 24, 27, 39; também 10:26; 16:16, 17; 24:44). (21) Jesus, “nascido sob a lei” (G1 4:4) foi circuncida­ do como exigia a lei (veja notas sobre 1:59). Esta circun­ cisão difere daquela de João (1:59-63) pela ausência de amigos e parentes. Aqui, como lá, o significado do nome (veja 1:31), em lugar da própria circuncisão, tem o papel mais importante (veja Mt 1:21, onde o significado do nome é melhor explicado). (VII) (22) Nos versículos 22-24 e 27 duas coisas acham-se de tal forma entrelaçadas que o registro fica às vezes pouco claro. São elas: a purificação da mãe e a apresen­ tação do menino. A purificação como descrito em Levítico 12, era para limpar a mãe da impureza ritual devido ao parto. Não se tratava do fato do sexo ou a procriação serem coisas más em si, mas porque um fluxo do seu corpo a tornava impura (veja Lv 15:16-30). A apresenta­ ção era provavelmente o resgate do primogênito (Êx 13:2, 12; 22:29; 34:19; Nm 3:12; 18:15). Números 18:15 especi­ ficava que a oferta apropriada era cinco siclos de prata, a serem pagos quando a criança tivesse um mês de idade. Aparentemente, o costume permitia alguma de­ mora se o ato fosse realizado próximo à data especifica­ da. Aqui seriam quarenta dias, desde que esse era o período de tempo que a mulher tinha de esperar para a purificação depois do nascimento de um filho. Lucas usa k a th a rismos para a purificação, evitando o termo katharsis, que significava menstruação e poderia levar os leitores gentios a interpretarem erradamente a


23conforme o que está escrito na lei do Senhor: Todo primogênito ao Senhor será consagrado; 24e para oferecer um sacrifício, segundo o que está escri­ ta na referida lei: Um par de rolas ou dois pombinhos. situação. Existe um problema com a frase: “passados os dias da purificação deles” , pois nem o pai nem a criança eram normalmente considerados impuros depois do nas­ cimento. Talvez o termo fosse generalizado, pelo fato de toda a família ter sido indiretamente envolvida; ou ele pode ter sido usado abrangendo tanto a apresentação como a purificação. A viagem a Jerusalém foi curta, sem dúvida antes da visita dos magos (Mt 2:1-12), desde que provavelmente não iriam a Jerusalém depois da matança dos inocentes feita por Herodes. Assim também, o fato de Herodes ter mandado matar crianças de dois anos para baixo indica que Jesus pode ter tido cerca dessa idade quando aconte­ ceram as mortes. Esta é a primeira vez que o evangelho menciona Jerusalém pelo nome. Outras referências à cidade pelo nome são encontradas em 2:25, 38, 41, 43, 45; 4:9; 5:17; 6:17; 9:31, 51, 53; 10:30; 13:4, 22, 33, 34; 17:11; 18:31; 19:11, 28; 21:20, 24; 23:7, 28; 24:13, 18, 33, 47, 49, 52. Esta forma grega é encontrada uma vez em Mateus, não está nem em Marcos nem em João, e apenas onze vezes pode ser achada no restante do Novo Testamento, ex­ cluindo Atos (onde existem 35 referências). O tema de Jerusalém é muito importante na estrutura de Lucas. Isto se tornará cada vez mais claro mais tarde no evangelho, especialmente na última visita à cidade (começando em 9:51). Veja a discussão na introdução, pág. 17. Outras referências a Moisés no evangelho estão em 5:14; 9:30, 33; 16:29, 31; 20:28, 37; 24:27, 44. (23, 24) O versículo 23 é semelhante às referências do Velho Testamento citadas nos comentários sobre o versí­ culo 22, relativas ao resgate do primogênito. O versículo 24 descreve o sacrifício pela purificação oferecido por aqueles que não tinham recursos para levar um presente


25Havia em Jerusalém um homem chamado Simeão; homem este justo e piedoso que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele. 26Revelara-lhe o Espírito Santo que não passaria pela morte antes de ver o Cristo do Senhor. mais caro como o cordeiro (Lv. 12:6-8). Os animais a serem sacrificados eram vendidos no recinto do templo (Mt 21:12). Não se sabe porque se entrelaçam esses dois rituais no decorrer da narrativa. Os dois eram aparente­ mente simultâneos e talvez não fosse necessário que os leitores gentios de Lucas fizessem uma distinção precisa. (VIII) (25) Nada se sabe a respeito de Simeão além do que o presente contexto revela. A qualidade que mais se destacava no seu caráter e no de Ana era a piedade. Podem representar os israelitas dedicados que ansiavam pelo Messias e estavam preparados para aceitá-lo. Pie­ doso é uma palavra usada unicamente por Lucas no Novo Testamento (Atos 2:5; 8:2; 22:12). Seu reconhecimento da importância do menino mostra em microcosmo que os hebreus piedosos iriam encontrar em Jesus a coroação da sua fé, ordenada por Deus (veja Atos 24:14; 26:7). A consolação esperada por Simeão poderia refletir tradi­ ções que descreviam a era messiânica como um período de consolo para os aflitos (veja Is 40:1; 49:13; 52:9; e também Gn 49:18; Sl 119:66; Lc 1:68; 6:24 e 23:51). Note também nos versículos 25-27 mais referências ao Espírito Santo (veja notas sobre 1:15). Talvez fosse apenas durante a visita de Jesus, ou pouco antes, que essas revelações foram feitas a Simeão. (26) Simeão era aparentemente entrado em anos e esperava pela morte (veja 9:27 e cf. João 8:51; Hb 11:5). A revelação sobre o Cristo do Senhor pode ter ficado obscura para ele até a percepção que lhe foi dada à vista da criança. Nisto ele reconheceria o início da era messiâ­ nica. Esta passagem prepara para maiores sinais mes­ siânicos a serem descritos no evangelho. Simeão repre­ sentava aqueles em Israel cuja ardente espera pelo


27Movido pelo Espírito foi ao templo; e, quando os pais trouxeram o menino Jesus para fazerem com ele o que a lei ordenava, 28simeão o tomou nos braços e louvou a Deus, dizendo: 29Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, segundo a tua palavra; 30porque os meus olhos já viram a tua salvação, 31a qual preparaste diante de todos os povos: 32luz para revelação aos gentios, e para glória do teu povo de Israel. Messias estava prestes a terminar (sobre Cristo, veja 2:11). (IV, V, VII) (27, 28) Isto se refere à parte da apresentação no ritual. O contexto dá idéia de que Deus levou Simeão ao templo nessa ocasião e com esse propósito. Dessa forma, um santo de Israel abençoou aquele que traria a nova Israel, e a seguir aguardou a tão esperada morte. Sobre abençoou, veja 1:42. O templo, na apresentação de Lucas, desempenha um papel importante no início e no final da vida de Jesus, assim como no começo da vida da comunidade cristã (veja Atos 2). (29) Esta oração, chamada Nunc Dimittis em latim, usa a linguagem que o escravo poderia usar ao pedir pela sua liberdade. A palavra para senhor (d é sp o ta } implica a idéia de um líder absoluto, como um senhor de escravos. Simeão, terminada a sua longa vigília, almeja­ va a libertação, como o escravo anseia pela liberdade, nem sequer desejando aguardar pelo reino que viria (veja Gn 15:15; 46:30; Lc 3:6). A palavra salvação usada aqui acha-se também em 2:36; Atos 28:28, e em um único outro lugar no Novo Testamento. (II) (31, 32) O motivo exato pelo qual esta história foi incluída pode muito bem ser o de seu impacto universal. Aqui, como pode ser visto pela comparação com Isaías 42:6 e 49:6, a criança é tida como cumprindo a missão de servo de Israel. (I, V, VII)


33 e estavam o pai e a mãe do menino admirados do que dele se dizia. 34simeão os abençoou e disse a Maria, mãe do menino: Eis que este menino está destinado tanto para ruina como para levantamento de muitos em Israel, e para ser alvo de contradição 35(também uma espada traspassará a tua própria alma), para que se manifestem os pensamentos secretos de muitos corações. 36üavia uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, avançada em dias, que vivera com seu marido sete anos desde que se casara, 37e que era viúva de oitenta e quatro anos. Esta não deixa­ va o templo, mas adorava noite e dia em jejuns e orações. (33) 0 acontecimento súbito e inesperado, e a nature­ za da anunciação (apesar de seu conteúdo não ser novo para eles), provavelmente contribuirá para a surpresa dos pais. (34) Os versículos 34 e seguintes falam de Maria, indicando de novo que ela pode ter sido a fonte de Lucas. Essas são palavras sombrias, em contraste com a alegria da revelação do anjo. Tanto para a ruína como para levantamento provavelmente mostram as diferentes rea­ ções a Cristo, e as suas conseqüências. Compare a idéia da pedra que era pedra de tropeço e pedra angular (Is 8:14; Rm 9:33; Ef 2:20; I Pe 2:7; assim como Lucas 1:51-53). Sobre Jesus como alvo de contradição veja Mc 6:3; Lc 4:28; At 28:22; I Co 1:23; IICo 2:16eH b 12:3. Sobre abençoou veja 1:42. (35) A figura da espada descreve a aflição que o filho de Maria poderia causar a ela (veja João 19:25). No seu ministério, que sofreria oposição, Jesus figuraria como o grande revelador de segredos. As reações dos homens a ele revelariam suas verdadeiras naturezas. Veja a seção sobre Jesus descobrindo corações na introdução (III, IV, V). Sobre reações e rejeição a Jesus, veja a introdução (VI, VII). (36, 37) O texto não explica a natureza da profecia de


38E, chegando naquela hora, dava graças a Deus, e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém. 39Cumpridas todas as ordenanças segundo a lei do Senhor, voltaram para a Galiléia, para a sua cidade de Nazaré. 40Crescía o menino e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele. Ana (cf. Ex. 15:20; Jz 4:4) ou quanto tempo ela desfrutou desses poderes. Talvez o termo explique principalmente a maneira como ela falou nesta ocasião. Ana era uma verdadeira devota, da espécie enfatizada por Lucas neste capítulo. Ela estava constantemente no templo, praticando atos piedosos (cf I Tm 5:5). Lucas menciona especialmente as suas orações, como era de se esperar (veja notas em 1:10, 13). (38) As palavras de Ana eram sem dúvida alicerçadas na importância da criança e formavam um “ assim seja ” às palavras de Simeão. Ela pode ter tido uma.presciência do messianismo de Jesus. O conceito de redenção (veja 1:68; 24:21) acentua a ênfase de Lucas sobre Jerusalém como o centro do qual Deus espalharia a sua salvação (veja notas em 2:22). Parece que Ana continuou a falar sobre essas coisas nos dias que se seguiram, já que todos os que viram a redenção de Jerusalém não estavam presentes quando ela encontrou a família de José. (II) (39) Novamente aqui é enfatizado o cumprimento da lei. Cronologicamente, seria neste ponto que teria ocorri­ do a visita dos magos e a fuga para o Egito (Mt 2:1-23). O anterior, indicando a reação dos gentios ao nascimento do Senhor, poderia parecer o tipo d e coisa qu e Lucas contaria se soubesse. (40) O ideal da humanidade é satisfeito pela primeira vez em Jesus. Esse versículo mostra o seu crescimento físico e mental, assim como o versículo 52 mostra o desenvolvimento espiritual e social. O próximo parágrafo (vs. 41-51) é um comentário sobre a sabedoria do rapaz


41 Ora, anualmente, iam seus pais a Jerusalém, para a festa da páscoa. 42Quando ele atingiu os doze anos, subiram, segundo o costume da festa. 43Terminados os dias da festa, ao regressarem, perma­ neceu o menino Jesus em Jerusalém, sem que seus pais o soubessem. 44 Pensando, porém, estar ele entre os companheiros de viagem, foram caminho de um dia, e então passaram a procurá-lo entre os parentes e os conhecidos; (uma palavra encontrada em Lc 2:52; 7:35; 11:31, 49; 21:15). Jesus Aos Doze Anos, 2:41-52 (41) Esse é o único acontecimento nos evangelhos que retrata a infância de Jesus. Nessa época não havia mais o medo de que algum mal acontecesse às crianças de Jerusalém (veja notas em 2:22). A Páscoa é descrita em Êxodo 23:15 e Deuteronômio 16:18. De acordo com Deuteronômio 16:16 os judeus eram obrigados a celebrar três grandes festas (Festa dos Pães Asmos ou Páscoa, Festa das Semanas ou Pentecostes e Festa dos Tabernáculos) cada ano. Mas no tempo de Jesus os judeus palestinos apenas iam a Jerusalém uma vez por ano, geralmente na Páscoa. A lei não obrigava as mulheres a irem, como o fazem alguns ensinamentos rabínicos, e a ida de Maria era uma mostra da sua dedicação à lei. (42) Alguns argumentam que aos doze anos, Jesus era um “filho d a lei”, assumindo uma p osição de adulto em relação às ordenanças religiosas judaicas. Outros crêem que isso não era reconhecido até a idade de treze anos. Se isto fôr verdade, possivelmente no ano anterior o pai deu a conhecer ao filho os deveres e condições que logo seriam exigidos dele. De qualquer forma, o ponto parece ser que quando Jesus tomou uma decisão adulta a respeito de religião ou quando é dada uma percepção dos seus sentimentos, “lhe cumpria estar na casa do Pai” . (43, 44) Por que Jesus ficou em Jerusalém? Sua desa-


45e, não o tendo encontrado, voltaram a Jerusalém à sua procura. 46Três dias depois o acharam no templo, assen tad o no meio dos mestres, ouvindo-os e interrogando-os. 47e todos os que o ouviam muito se admiravam da sua inteligência e das suas respostas. parição foi um acidente? Talvez. Mas o versículo 49 parece indicar sua deliberada intenção de ficar. Se assim foi, tratava-se de um testemunho de que nesse estágio de sua vida ele reconhecia uma responsabilidade maior do que aquela que tinha para com os pais (veja 14:26). Os pais não perceberam a sua ausência. Como uma grande caravana de peregrinos deveria voltar à Galiléia, é provável que tenham suposto que ele estivesse em outra parte da mesma e se reuniria a eles quando fizessem a parada da noite. Ou, como sugerem alguns, as mulheres foram adiante por causa de seu ritmo mais lento de viagem, e tanto o pai como a mãe julgavam que o menino estivesse com o outro. (45, 46) Apesar de muitas explicações serem dadas sobre os três dias, é lógico ver-se o primeiro dia como o dia da viagem à cidade, o segundo como o dia da viagem de volta e o terceiro como o dia no qual Jesus foi encontrado. Onde ele esteve durante esse tempo? Será que o alojaram no templo e cuidaram dele? Qualquer que seja o caso, Ele foi encontrado entre os mestres (cf Mt 26:55). Os membros do Sinédrio ofereciam instrução religiosa durante os festivais e os sábados, e desde que a F esta dos Pães Asm os talvez estivesse ainda em progres­ so (veja Êx 12:15,18), este poderia ter sido o caso aqui. Será que algum dos membros do Sinédrio, mencionado mais tarde no Novo Testamento, estaria nesta reunião (Gamaliel, Nicodemos, José de Arimatéia)? Jesus respeitava aqueles de quem pudesse aprender. Eles, em troca, estavam admirados da sua inteligência (v. 47), tão estranha para um menino de doze anos, especialmente sem treino rabínico. (IV) (47-50) Jesus falou primeiramente sobre a necessida-


48Logo que seus pais o viram, ficaram maravilhados; e sua mãe lhe disse: Filho, por que fizeste assim conosco? Teu pai e eu, aflitos, estamos à tua procura. 49Ele lhes respondeu: Por que me procuráveis? Não sabíeis que me cumpria estar na casa de meu Pai? 50Não compreenderam, porém, as palavras que lhes dissera. 5lE desceu com eles para Nazaré, e era-lhes submisso. Sua mãe, porém, guardava todas essas cousas no cora­ ção.

de de estar onde se achava e alongou-se sobre seus sentimentos e caráter (cf 23:46). Essas palavras são sem dúvida a razão pela qual a história é registrada. O significado superficial da declaração poderia ser para inquirir porque eles não procuraram por ele no templo imediatamente, conhecendo seu caráter e como ele dese­ java estar lá (cf Sl 26:8;27:4). Mas era evidente que algo mais estava envolvido. Uma outra tradução pode ser: “Preciso cuidar dos negócios do meu Pai” , mas o ponto a destacar seria o mesmo. É interessante notar que desse dia em diante nem Maria nem Jesus falaram de José como sendo seu pai. (VI, IX) O contraste entre teu Pai do versículo 48 e meu Pai do versículo 49 é impressionante. Nesta declaração Jesus estava expressando a transcendência de um relaciona­ mento supremo, que se torna ainda mais surpreendente em comparação com o versículo 52. Mas seus pais tinham muitas ponderações a fazer sobre suas palavras, como aconteceria com outras mais tarde (9:45; 18:34). Isto apesar do que já sabiam dele a partir das circunstâncias do seu nascimento. Alguns elementos desta primeira Páscoa são seme­ lhantes aos da última Páscoa da vida de Jesus. São eles: perguntas no templo, a ausência de Jesus, seu reapare­ cimento após três dias, perplexidade (aqui de M aria, lá dos discípulos), e uma viagem de Jerusalém. (V). (51) Jesus não deixou de se amoldar ao ideal de um menino judeu. Seu pai é mencionado aqui pela última


52e crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens. lNo décimo quinto ano do remado de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da Judéia, Herodes tetrarca da Galiléia, seu irmão Filipe tetrarca da região da Ituréia e Traconites e Lisânias tetrarca de Abilene,

vez. Será que ele morreu durante o ministério pessoal de Jesus? Sobre as coisas no coração de Maria, veja 1:29; 2:19. (IV) (52) Este versículo resume o resto da vida de Jesus até ele completar trinta anos (2:40). Pode ter sido baseado em I Samuel 2:21,26 (cf Pv 3:1-4). (IV) O Ministério de João, 3:1-20 As atividades de João marcaram o final do período da lei e dos profetas e o início da era de Jesus (3:21). Os judeus esperavam que a vinda do rein o fo ss e precedida por um período de grandes perturbações. Israel teria de arrepender-se em vista do juízo iminente de Deus. O afastamento do pecado seria seu reconhecimento do juízo justo de Deus. João veio com esta palavra da ira iminente e um apelo para a transformação. Por causa disto foi tido como sendo o Messias (v. 15). Ele corrigiu este engano sobre a sua pessoa, mas confirmou a expectativa do reino, indicando aquele que o batizaria com o Espírito Santo e com fogo, e que iria proceder ao julgamento. Introduzido o Ministério d e João, 3:1-6 (Mt 3:1-6; Mc 1:1-6; Jo 19-23)

(1) João é colocado no contexto da história mundial da história judaica e da profecia. O décimo quinto ano do reinado de Tibério é geralmente datado a partir da morte de seu predecessor, Augusto, em meados de agosto do ano 28 A.D. e meados de agosto do ano 29 A.D. O método judeu de calcular o seu reinado atrasaria de um ano esta


2sendo sumos sacerdotes Anás e Caifás, veio a palavra de Oeus a João, filho de Zacarias, no deserto. data. Nessa época, ou pouco mais tarde, Jesus tinha “cerca de trinta anos” (3:23). Isto, ao que parece, coloca­ ria o início da era cristã cerca do ano zero, mas desde que outra evidência (citada sob os comentários em 2:1) indica que foi antes, deve ser aparentemente permitida alguma margem com respeito à idade exata de Jesus, como em 3:23. Pilatos foi governador de 26 a 36 A.D. A Judéia tinha estado sob a supervisão romana direta desde o ano 6 A.D., e Pilatos foi o quinto na série de oficiais romanos a administrarem o território. Herodes e Pilatos foram os dois desta lista de admi­ nistradores com quem Jesus se envolveria diretamente. O primeiro foi Herodes Antipas, filho de Herodes, o Gran­ de. Ele governou a Galiléia e a Peréia de 4 A.C. a 39 A .D ., sendo também mencionado em 3:19; 9:7 e 23:6. A palavra tetrarca usada apenas neste versículo no Novo Testa­ mento, primeiramente significava o governador de uma quarta parte d a região, mas mais tarde veio a indicar um “governante subalterno” cuja autoridade era sujeita a limitações e dependência de um soberano de categoria superior. Filipe, o melhor dos Herodes (mas não o Filipe de Marcos 6:14-29), era meio-irmão de Herodes Antipas. Filipe governou seu território de 4 A.C. a 34 A.D. Ele não aparece mais nos evangelhos. Ituréia e Traconites fica­ vam a noroeste da Galiléia. Lisânias recebeu seu território no ano 4.A.C., segun­ do uma inscrição grega en con trad a em Abila, do tem po de Tibério. Abilene era uma pequena região no alto das montanhas anti-Líbano a nor-nordeste da Galiléia. Lucas pode ter mencionado os dois últimos governantes a fim de completar as quatro áreas que implicam o significado oriental do termo tetrarca; ou talvez porque todas elas vieram a ser administradas por Herodes Agripa II, que era contemporâneo de Lucas. (VIII)


3Ele percorreu toda a circunvizinhança do Jordão, pre­ gando batismo de arrependimento para remissão de pecados. (2) Lucas menciona os oficiais gentios e judeus de importância naquela época. Anás tinha sido sumo sacer­ dote de 6/7 A.D. até 15 A.D., quando foi deposto por Valério Gratius, predecessor de Pilatos. Ele continuou sendo entretanto mantido em alta estima pelos judeus, e os sacerdotes subseqüentes eram seus parentes. Tão forte era a sua posição que os judeus continuavam a considerá-lo como sumo-sacerdote, apesar de não mais manter seu cargo aos olhos dos romanos. Caifás, sumo sacerdote de cerca de 18 A.D. até cerca de 36/37 A.D., era seu genro e teve parte importante na trama contra Jesus (Mt 26:3; Jo 11:49; 18:13, 24; cf At 4:6). Depois de muitos anos, as profecias relativas a João se realizaram (1:14-17; 76-79). Datando assim o apareci­ mento de João, Lucas marcou um ponto significativo dos atos de Deus na história (veja Atos 1:22; 10:37; 13:24). A palavra de João é descrita pelo termo grego que significa um pronunciamento particular em lugar de apenas uma mensagem geral. (V) (3) A descrição feita por Lucas sobre o itinerário de João é mais extensa do que a de Mateus, que indica o deserto da Judéia como o lugar da pregação. Lucas usa a palavra para batismo em 3:3; 7:29; 12:50; 20:4; At 1:22; 10:37; 13:24; 18:25 e 19:3,4 (veja notas em 3:7). A imersão feita por João daqueles que o procuravam não seria uma prática estranha, pois os judeus estavam familiarizados com a aplicação de água ao corpo para a purificação cerimonial. Os prosélitos do judaismo, saídos do mundo gentio, se submetiam a um batismo, que alguns judeus consideravam como um novo nascimento. Mas o batismo não tinha sido exigido anteriormente dos judeus, e assim o mandamento de João continha implicações significativas. Ele indicou que havia uma nova necessi­ dade com respeito aos israelitas para que entrassem


^conforme está escrito no livro das palavras do profeta Isaías: Voz que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. ^Todo vale será aterrado, e nivelados todos os montes e outeiros; os caminhos tortuosos serão retificados, e os escabrosos, aplanados; 6e toda a carne verá a salvação de Deus.

numa relação correta com Deus. Isto significava o adven­ to de uma nova era. João também exigia arrependimento. Esse substantivo era um dos favoritos de Lucas, sendo que é ele que faz uso do mesmo mais da metade d as vezes em qu e ê empregado no Novo Testamento (3:3, 8; 5:32; 15:7; 24:47; At 5:31; 11:18; 20:21; 26:20; e 13:24; 19:4 que falam do “batismo de arrependimento”). A mesma oferta de re­ missão (veja notas em 1:77) foi feita quando o Cristo ressurreto foi pregado pela primeira vez (Atos 2:38), mas ali o dom do Espírito Santo era um benefício adicional. (4) A citação de Lucas, basicamente a Septuaginta de Isaías 40:3-5, tratava primariamente da volta de Israel do exílio babilónico. As palavras recebem aqui uma aplicação cristã a João. João 1:23 indica que João Batista era responsável por esta interpretação da passagem. A idéia de uma voz no deserto era especialmente apropria­ da às circunstâncias de sua vida e ministério. Ele seria como um arauto, i.e., um oficial que tornaria públicas as proclamações do estado ou da realeza ou que transmiti­ ria mensagens de uma para outra autoridade. João anunciou as novas do grande Rei. A palavra Senhor substituiu “Deus” no original, provavelmente para fazer a escolha ajustar-se ao Messias. Nos Pergaminhos do Mar Morto esta passagem foi aplicada à comunidade de Qumran (Manual o f Discipline 8:13; 9:19). Ali, o caminho do Senhor era preparado pelo estudo da lei e separação do mundo. (5, 6) Lucas cita a Septuaginta com pequenas modifi­ cações, mas omite Isaías 40:5. O interesse de mostrar a universalidade do evangelho fez provavelmente com que


7Dizia ele, pois às multidões que saíam para ser batiza­ das: Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura? ^Produzi, pois, frutos dignos do arrependimento, e não comeceis a dizer entre vós mesmos; Temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão. Lucas estendesse a citação até toda a carne. Sobre salvação veja comentários em 1:69. (VII, VIII) A P reg açã o do Arrependimento F eita p o r João, 3:7-9 (Mt 3:7-10) (7) A popularidade de )oão mostra a receptividade do povo e seu sentido de necessidade. O verbo para batizar é encontrado também em 3:12, 16, 21; 7:29, 30; 11:38; 12:50. João fez uso de linguagem tão severa talvez por ter reconhecido a motivação errada de alguns que se aproxi­ maram dele. Eles podem ter procurado João por curiosi­ dade ou simplesmente para obedecer a um ato exterior, sem reconhecer suas implicações interiores. A linguagem de João era entremeada de metáforas do deserto. A víbora era um réptil que ali habitava. Chamálos de raça de víboras implicava em que Abraão não era pai deles, opondo-se assim propositadamente à confian­ ça deles na sua linhagem para obter segurança religiosa (versículo 8 e veja Mt 12:34; 23:33; os Hinos d e A g ra d e­ cim ento dos Qumran 3:17). A ira vindoura foi interpretada por alguns como a destruição de Jerusalém no ano 70 A.D., por outros como o dia do juízo, e outros ainda como a oposição permanen­ te de Deus ao mal (veja 21:23; Rm 1:18; Ef 5:16; Cl 3:6; 1 Ts 1:10). (III) (8) A salvação nacional só poderia vir mediante a volta à retidão. De outra forma a condenação era inevi­ tável. No período messiânico que estava para vir, a confiança dos judeus na descendência de Abraão seria inadequada. Note a rejeição cristã de uma confiança nacional ilícita em João 8:31-33, 39; Rm 2:28; 4:13; G1


9e também já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto, é cortada e lançada ao fogo. lOEntão as multidões o interrogavam dizendo: Que have­ mos, pois, de fazer? llRespondeu-lhes: Quem tiver duas túnicas, reparta com quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo. 4:21. A comunidade Qumran também viu o arrependi­ mento (veja notas em 3:3) como pré-requisito para o batismo (Manual o f Discipline 5:13). João pode ter enfati­ zado mais o seu ponto de vista, apontando para as pedras junto ao rio. Se estivermos certos em presumir as expressões aram aicas que ele teria usado, sua lingua­ gem envolvia um jogo de palavras com os termos pedras (abaním ) e filhos (banim ). (9) As árvores no oriente eram apreciadas principal­ mente pelos seus frutos e, quando infrutíferas, eram cortadas (13:6; cf Jo 15:6). O fogo (veja também v. 17) era freqüentemente empregado como um símbolo do julga­ mento (Mt 7:19; 13:40-42). Mesmo que o julgamento tivesse sido adiado anteriormente, agora era certo. (III) Pregação de João a Grupos Especiais, 3:10-14

(10) Os versículos 10-14 expandem a idéia dos “fru­ tos do arrependimento” do versículo 8. Lucas volta-se para aqueles que tiveram uma reação positiva a João. Foi pedido a cada grupo que se esquecesse do seu pecado habitual, e a todos foi dito que cumprissem seu dever para com o próximo. Na verdade, João lhes dizia que permitissem que as condições do reino fossem realizadas neles. Essas eram as demonstrações do comportamento justo que os judeus associavam com o reino. (11) Vemos novamente aqui a preocupação de Lucas com os pobres e os necessitados. A túnica (chitõn) era a vestimenta de baixo, distingüindo-se assim da de cima (cf 9:3; Mt 10:10). Nada é dito sobre abundância de


12Foram também publicanos para serem batizados, e perguntaram-lhe: Mestre que havemos de fazer? 13Respondeu-lhes: Não cobreis mais do que o estipulado. 14Também soldados lhe perguntaram: E nós, o que faremos? E ele lhes disse: A ninguém maltrateis, não deis denúncia falsa, e contentai-vos com o vosso soldo. ISEstando o povo na expectativa, e discorrendo todos no seu íntimo a respeito de João, se não seria ele, porventu­ ra, o próprio Cristo; alimento. Eles deviam simplesmente compartilhar aquilo que tinham. (12, 13) Os publicanos eram auxiliares judeus que recolhiam os impostos para seus empregadores romanos; que, por sua vez, tinham feito um contrato com o governo para proceder à coleta (veja outras referências em 5:27-32; 7: 34; 15:1; 18:9-14; e 19:1-10). Esses j ud eu s e r a m desprezados pelos seus conterrâneos, tanto porque os impostos romanos eram mal recebidos como pelo fato deles freqüentemente recorrerem à extorsão a fim de obter maiores dividendos para si mesmos. Era incomum tais pessoas se incomodarem a ponto de ir ouvir João, mas isto indica algo da sensibilidade moral que até mesmo pessoas como aquelas possuíam (Mt 21:31). O título “mestre” equivalia a “Rabi” , segundo uma inscri­ ção numa tumba judia do primeiro século. João não os condenava por fazer o seu trabalho, mas apenas insistia em que não abusassem dele. Sobre batismo, veja notas em 3:7. (14) Deviam ser soldados judeus, talvez a polícia. Podem ter ajudado os coletores de impostos intimidando o povo, provavelmente para obter parte do ganho injusto. Pregação Messi ânica de João, 3: 15-18 (Mt 3:11; M c 1:7) (15) Vários supostos Cristos mantinham altas as espe­ ranças messiânicas. Mas João, cujos atos seriam aqueles que anunciaram a era messiânica (veja comentários


16disse João a todos: Eu na verdade vos batizo com água, mas vem o que é mais poderoso do que eu do qual não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias; ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo. antes de 3:1), foi quem as elevou sobremaneira. )oão era porém um enigma. Apesar de ser um sinal da era messiâ­ nica, ele mesmo não levava sobre si nenhuma insígnia de realeza nem tinha descendência davídica (cf. João 1:24­ 28; 3:28). Sobre Cristo, veja notas em 2:11. Mais clara­ mente do que Mateus e Marcos, Lucas mostra a intensi­ dade da reação popular (veja João 1:19-22). (16) João tinha recebido esta informação provavel­ mente através de revelação. O uso do particípio presente “vem” , indica que o processo já estava iniciado. O escravo desatava os sapatos do senhor quando este chegava em casa. João se julgava incapaz de executar até mesmo essa humilde tarefa quando chegasse o mais poderoso (veja porém João 13:5). Uma das grandes virtu­ des de João foi a sua humildade ao aceitar o papel designado por Deus. Jesus traria um novo batismo. João estabeleceu a natureza do mesmo, mas não o seu propósito. Ele envol­ veria, aparentemente, mais do que simplesmente a re­ missão de pecados oferecida por João (veja Atos 1:5; 10:44; 11:16; e 19:4). O batismo do Espírito Santo foi evidentemente cumprido no Pentecoste (Atos 2:1-4), co­ mo profetizado em Joel 2:28. Várias explicações foram oferecidas para fogo. Uma delas são as línguas de fogo no Pentecoste, fazendo tanto o Espírito Santo como o fogo se relacionarem com o ato de Deus naquele dia. Outra é que havia dois batismos, e o fogo era o julgamento dos impenitentes (cf. v. 17). Outra ainda é que o fogo se refere à purificação que o batismo do Messias traria pela graça. Todavia, o batismo de João também oferecia purificação ou remissão. Outros pensam que a referên­ cia é relativa a fortes provações com perseguições (veja 12:50-52; Mc 10:38). Sobre Espírito Santo, notas 1:15; batismo, 3:7. (VI)


17a sua pá ele a tem na mão para limpar completamente a sua eira e recolher o trigo no seu celeiro; porém queimará a palha em fogo inextinguível. 18Assim, pois, com muitas outras exortações anunciava o evangelho ao povo; 19mas Herodes, o tetrarca, sendo repreendido por ele, por causa de Herodias, mulher de seu irmão, e por todas as maldades que o mesmo Herodes havia feito, 20acrescentou ainda sobre todas a de lançar João no cárcere. (17) Este versículo se refere indiscutivelmente ao juízo, e as opiniões diferem quanto à palavra fogo aqui ser a mesma do versículo 16. A limpeza era feita no cair da tarde ou da noite, quando o vento soprava. A pá tinha a forma de leque, e era usada para atirar o grão para o ar a fim de que o vento pudesse soprar a palha. Além disso, a palha aqui era também queimada. O fogo seria tão forte que não podia ser extinto, em lugar de ser do tipo que jamais se apagasse (cf. Mc 9:43). (III, IV, VII) (18) O evangelho (veja notas em 1:19) seria a mensa­ gem de perdão (v. 3) e o começo de um novo relaciona­ mento entre Deus e o homem (vs. 15-17). Este versículo confirma a opinião de que Lucas nos dá um sumário dos ensinos de )oão em lugar de um relato textual do que aconteceu em uma dada ocasião. A Prisão de João, 3:19,20 (Mt 14:3-12; Mc 6:17-30) (19) Foi muita coragem de João estender seu julga­ mento, pregando até mesmo ao governante. Herodes tinha roubado a mulher de seu irmão Filipe (não o tetrarca de 3:1). Somente Lucas nota que João também condenou as demais maldades do homem. (V, VI) (20) Josephus (Antiquities XVIII, v. 3) disse que Hero­ des aprisionou João por temer que a sua popularidade levasse o povo a revoltar-se. Josephus provavelmente deu as razões públicas para o aprisionamento, enquanto Lucas dá as razões particulares. João foi preso em


2lE aconteceu que, ao ser todo o povo batizado, também o foi Jesus; e estando ele a orar, o céu se abriu, M acaerus a nordeste do Mar Morto e, ironicamente, perto da zona onde passara uma boa parte de sua vida. Como fez antes (1:56), Lucas termina sua história antes de passar para outra. Ele faz mais tarde uma breve referência à morte de João (9:7-9). A RESPOSTA DE JESUS: INÍCIO E PREPARAÇÃO, 3:21-4:13 Esta seção apresenta Jesus em várias perspectivas. Seu batismo e especialmente a descida do Espírito, foram uma espécie de inauguração e introduziram sua vida como orientada pelo Espírito — cuja idéia é melhor desenvolvida em 4:14, 16-30. A genealogia traça o paren­ tesco de Jesus com toda humanidade através de Adão. A tentação aprofunda esta identificação com a humanida­ de. Esses três parágrafos mostram Jesus como Filho de Deus (3:22,38; 4:3,9). Ele é o homem aprovado por Deus e capacitado pelo Espírito (3:22; 4:1), que traz as boas novas (veja 4:14-30). A identidade de Jesus será melhor desenvolvida nos capítulos 4:14-9:51 (nota, e.g., 4:34,41; 5:24). O Batismo de Jesus, 3 : 2 1 , 2 2 (Mt 3:13-17; M c 1:9-11; cf. João 1:29-34)

(21) Este acontecimento formou um clímax para o ministério de batismo realizado por João. Jesus começa­ ria agora o seu ministério. Os evangelhos, naturalmente não associam o batismo de Jesus com a remissão de pecados, apesar de que na ocasião do batismo o povo não sabia que Jesus não tinha pecado. Mateus 3:15 diz que foi para “ cumprir toda justiça” . Jesus estava aceitando os atos de Deus na inauguração do reino e o seu batismo foi um ponto focal da obra de João. Significativa também foi a anunciação celestial e a descida do Espírito Santo.


22 e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea como pomba; e ouviu-se uma voz do céu: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo.” 23ora, tinha Jesus cerca de trinta anos ao começar o seu ministério. Era, como se cuidava, filho de José, filho de Heli; Depois, em seu batismo, Jesus identificou-se com o povo que veio para salvar. Somente Lucas registra que Jesus orou quando foi batizado, e este é um elemento significativo na compreen­ são de Lucas no que diz respeito à oração. Foi como homem de oração que Jesus foi assim separado por Deus (veja notas em 1:10). (22) Este versículo é o ponto focal do registro de Lucas (cf. João 1:33; também “meu Pai” em Lucas 2:49). As palavras celestiais derivam de Isaías 42:1, referindo-se ao servo do Senhor, e Salmo 2:7, referindo-se ao rei divinamente escolhido. Na última passagem o rei sofreu oposição das nações, mas foi vingado por Deus, que paira sobre todos os soberanos terrenos. No Velho Testa­ mento, a expressão “Filho de Deus” era usada em relação a anjos (Jó 1:6), à nação (Êx4:22), e ao rei (2 Sm 7:14). No judaísmo posterior o termo foi empregado em relação ao Messias (4 Esdras 7:28), que é o sentido aqui (veja notas em 1:35). Alguns textos gregos colocam “eu hoje te gerei”, sem dúvida sob a influência do Salmo 2:7. Quanto ao termo “amado” , veja 9:35; 20:13. A anuncia­ ção reveladora aqui foi o ato inaugural do ministério do rei e servo. O Espírito Santo foi a sua unção para a tarefa (veja notas em 1:15). (IV, VI) Vale a pena notar que o discípulo, como Jesus, recebe o Espírito Santo no batismo (Atos 2:38) e é proclamado filho (G1 3:26). A G enealogia d e Jesus, 3:23-28 (Mt 1:1-16) (23) A idade de Jesus dada aqui é aproximada (veja discussão em 3:1). Jesus começou sua obra com a mesma idade em que o rei Davi deu início à dele (2 Sm 5:4).


24Heli, filho de Matã, Matã filho de Levi, Levi filho de Melqui, este filho de Janai, filho de José; 25José filho de Matatias, Matatias filho de Amós, Amós filho de Naum, este filho de Esli, filho de Nagaí; 26Nagaí filho de Máate, Máate filho de Matatias, Mata­ tias filho de Semei, este filho de José, filho de Jodá; 27jodá filho de Joanã, Joanã filho de Resá, Resá filho de Zorobabel, este de Salatiel, filho de Neri; 28Neri filho de Melqui, Melqui filho de Adi, Adi filho de Cosã, este de Elmadã, filho de Er; 29Er filho de Josué, Josué filho de Eliézer, Eliézer filho de Jorim, este de Matã, filho de Levi, A genealogia de Lucas difere da de Mateus em comprimento, disposição, e em muitos dos nomes. Lucas apresenta a sua neste ponto do evangelho, em lugar de fazê-lo no início (como fez Mateus), porque deseja ligar a genealogia de Jesus com o começo do seu ministério (cf. Ex 6:14-25). Houve muitas tentativas de reconciliar Ma­ teus e Lucas desde que o problema foi primeiramente considerado cerca do ano 200 A.D. Elas incluem suposi­ ções de casamentos no sistema de levirato, opiniões de que as duas linhagens foram dadas de diferentes pontos de vista (e.g. legal e atual), ou que tanto a linhagem de Maria como a de José foram dadas (cf. 4:22; Jo 1:45; 6:42). Essas tentativas mostram que a reconciliação é possível, apesar de nenhuma resposta ser aceita com unanimidade. Para mais detalhes genealógicos veja Gê­ nesis 5:3-32; 11:10-26; Rute 4:18-22; 1 Crônicas 1:1-4, 24-28; 2:1-15. (24-27) Nesta lista de nomes, Mateus e Lucas só concordam em Zorobabel e Salatiel. Os nomes registra­ dos por Lucas são desconhecidos fora do seu relato. Zorobabel era provavelmente o verdadeiro filho de Pedaías e sobrinho de Salatiel (1 Cr 3:17-19), que se tornou herdeiro de Salatiel que não tinha filhos. Salatiel, por sua vez, foi chamado em Mateus 1:12 e 1 Crônicas 3:17 de filho de Jeconias, enquanto aqui ele é o filho de Neri. Jeconias não teve filhos (Jr 22:30), dessa forma, a linha-


30Levi filho de Simeão, Simeão filho de Judá, Judá filho de José, este filho de Jonã, filho de Eliaquim; 3lEliaquim filho de Meleá, Meleá filho de Mená, Mená filho de Matatá, este filho de Natã, filho de Davi; 32Davi filho de Jessé, Jessé filho de Obede, Obede filho de Boaz, este filho de Salá, filho de Naassom; 33Naassom filho de Aminadabe, Aminadabe filho de Admim, Admim filho de Arni, Arni filho de Esrom, este filho de Farés, filho de Judá; 34judá filho de Jacó, Jacó filho de Isaque, Isaque filho de Abraão, este filho de Terá, filho de Nacor; 35 Nacor filho de Serugue, Serugue filho de Ragaú, Ragaú filho de Fáleque, este filho de Éber, filho de Salá; 36Salá filho de Cainã, Cainã filho de Arfaxade, Arfaxade filho de Sem, este filho de Noé, filho de Lameque; 37Lameque filho de Metusalém, Metusalém filho de Eno­ que, Enoque filho de Jarete, este filho de Maleleel, filho de Cainã; 38 Cainã filho de Enos, Enos filho de Sete, e este filho de Adão, filho de Deus. gem de Davi através de Salomão terminou com ele. Seu herdeiro parece ter-se tornado então Salatiel, que era da descendência de Davi através de Natã (veja porém Esdras 3:2, que pode ter sido a fonte de Lucas). (28-38) Com pequenas adições em Lucas, esta lista coincide com Mateus até Abraão. Ligando Jesus à cria­ ção original de Deus, Lucas mostra seu interesse em toda humanidade, enquanto Mateus mostra seu especial inte­ resse judeu, pelo fato de voltar no tempo somente até Abraão. Lucas está dizendo assim que toda humanidade pode considerar o Messias como irmão (cf. 1 Co 3:23). Adão, o primeiro homem, é chamado de filho de Deus, talvez como um lembrete de que a raça humana era de origem divina mas, mais significativamente, para de­ monstrar um meio pelo qual Jesus era filho de Deus e, num certo sentido, um segundo Adão (cf. 23:43). (IV, VIII)


Ijesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão, e foi guiado pelo mesmo Espírito, no deserto, 2durante quarenta dias, sendo tentado pelo diabo. Nada comeu naqueles dias, ao fim dos quais teve fome. 3Disse-lhe então o diabo: Se és Filho de Deus manda que esta pedra se transforme em pão. As Ten ta çõ es de Jesus, 4: 1-13 (Mt 4:1-11; Mc 1:12} (1) O Espírito (veja 3:22; e notas em 1:15) assegurou Jesus da presença e ajuda de Deus. Todos os Evangelhos Sinópticos notam que Jesus foi guiado pelo Espírito, mas somente Lucas tem a expressão cheio do Espírito Santo (veja também At 2:4; 6:3, 5; 7:55; 11:24). (2) O período de quarenta dias pode ter precedido as tentações, ou as três tentações podem representar as lutas que continuaram durante todo o período. Sobre o número quarenta, compare os jejuns de Moisés e Elias (Ex 34:28; D t9:9; 1 Rs 19:8; e cf. Lv 12:1-4; Ez4:6; 29:11). Jesus foi levado para ser tentado (Mt 4:1). No deserto (em contraste a “ ao” em Mateus e Marcos) indica que foi na força do Espírito (cf v. 1) que ele venceu—i.e., foi guiado pelo Espírito através de toda a experiência. Nesta e nas duas próximas histórias (4:14-30), o ministério de Jesus é explicado pelo poder do Espírito (cf. 3:21). O fato de não ter pecado aqui é mediante a ajuda do Espírito. Tentado neste ponto indica “provar” ou “testar” , a fim de produzir perplexidade ou fracasso, i.e., pecado. Esta é a primeira referência ao diabo em Lucas. Outras referências se acham em 4:3,6,13; e 8:12. Veja também as referências a Satanás citadas em 10:18. No episódio da tentação, tanto Jesus como o diabo pressu­ põem o messianismo de Jesus e sua filiação divina (v. 3), a autoridade das escrituras para revelar a vontade de Deus (vs. 4,10), e a soberania de Satanás sobre o presente século (v. 6). As tentações tinham o propósito de fazer Jesus “provar” seu messiado e, dessa forma, pervertê-lo.


4Mas Jesus lhe respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá o homem. 5e elevando-o mostrou-lhe num momento todos os reinos do mundo. 6Disse~Ihe o diabo: Dar-te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem eu quiser. (3) O diabo atacou um ponto de especial sensibilidade — a fome de Jesus. O desafio exigia que Jesus empregas­ se sua filiação divina a fim de aliviar uma necessidade física. A coisa não era errada em si mesma e Jesus tinha poder para tal. Mas este não era o papel do Filho de Deus (veja notas em 1:35). Nem faria ele o seu primeiro prodígio à ordem de tal aliado, ou mesmo em associação com ele. Jesus superou a tentação sempre presente de colocar as coisas materiais à frente das espirituais, e também assim podem fazê-lo os seus seguidores. (IV) (4) Cristo não defendeu sua filiação divina; em vez disso deu uma resposta adequada a qualquer filho de Deus em tentação semelhante. Sua resposta foi uma citação literal de Deuteronômio 8:3, extraída da Septua­ ginta. O contexto do Velho Testamento descrevia a provisão do maná feita por Deus, talvez implicando que Jesus quis dizer: “Deus cuidou de Israel e cuidará de mim” . Além do mais, Jesus não veio suprir de pão a humanidade, mas satisfazer às suas necessidades mais profundas. (5) Lucas tem a segunda e terceira tentações na ordem inversa da que foi dada por Mateus. Não se pode saber a ordem primitiva, mas o conteúdo é o elemento principal. Mateus indica que o acontecimento deu-se em uma montanha muita alta. Este foi provavelmente um caso de experiência visionária em lugar de transporte corporal, desde que Satanás não teria controle sobre os movimentos do corpo de Jesus e desde que não havia um ponto físico de onde todos os reinos do mundo pudessem ser vistos.


7Portanto, se prostrado me adorares, toda será tua. BMas Jesus lhe respondeu: Está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele darás culto. 9Então o levou a Jerusalém e o colocou sobre o pináculo do templo e disse: Se és Filho de Deus, atira-te daqui abaixo; (6) Somente Lucas registra a declaração de Satanás de que o mundo é seu (cf. 4:2; 10:18). O mundo pode ter sido dado ao diabo por concessão de Deus ou pelos pecados do homem (cf. M t8:29; Jo 12:31; 14:30; 16:11; Ef 2:2; 1 Jo 3:8; 5:18; Ap 13:2,4). Mas, no final não seria seu e sim de Deus. Jesus podia então recusar, sabendo que um dia iria ter o mundo nos seus próprios termos, e não nos de Satanás. Pode ser que o diabo estivesse se oferecendo para promover o reino messiânico caso o Messias o seguisse. Ou ele pode ter estado influenciando Jesus para ser um Messias político, uma tarefa que o Senhor repudiou através de todo o seu ministério. De qualquer forma, aceitar a ajuda do diabo nas atividades do reino seria destruir a natureza íntima do mesmo. Autoridade é encontrada em outro ponto em Lucas 4:32,36; 5:24; 7:8; 9:1; 10:19; 12:5,11; 19:17; 20:2,8,20; 22:53; 23:7. (7) Adorar, seria reconhecer que o diabo tinha o poder final sobre o mundo, o que não era verdade (veja Dn 5:21). Assim sendo, em última análise, o mundo não lhe pertencia para que o pudesse dar. (8) Jesus, citando Deuteronômio 6:13, rejeitou o cami­ nho do messiado político, o que levou muitos judeus a rejeitá-10. O contexto da passagem do Velho Testamento era a entrada em Canaã e a necessidade de evitar envolvimentos com divindades estrangeiras. Israel deve­ ria lembrar-se da verdadeira fonte de suas bênçãos. Aqui, os reinos só no final seriam de Deus para os conceder. Satanás tinha usurpado esta autoridade e a rebelião precisava ser abafada. (9) Lucas coloca a tentação relativa a Jerusalém no


lOporque está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito que te guardem; H e: Eles te sustentarão nas suas mãos, para não trope­ çares nalguma pedra. 12Respondeu-lhe Jesus: Dito está: Não tentarás o Senhor teu Deus. 13passadas que foram as tentações de toda sorte, apar­ tou-se dele o diabo, até o momento oportuno.

ponto culminante, de acordo com sua ênfase especial sobre a cidade (veja notas em 2:22). Como na primeira tentação, a fé que Jesus tinha como Filho de Deus foi de novo desafiada (veja versículo 3). Como antes, esta pode ter sido uma experiência visionária (cf. Ez 8:3). (IV) (10,11) Aqui, pela primeira vez, Satanás fez uso das Escrituras. Os rabis deram uma interpretação messiâni­ ca ao Salmo 91:11 e seguintes. Jesus não argumentou contra o uso feito por Satanás dessa passagem, desde que esse não era o conflito básico. A tentação pedia que Jesus criasse uma situação de perigo, enquanto na primeira tentação a crise (fome) já existia. Era como se Satanás estivesse dizendo: “Você não poderá conhecerse, nem a veracidade da promessa de Deus, enquanto não fizer um teste’ ’. Sobre anjos, vej a notas em 1:11. (VII) (12) Pela terceira vez Jesus respondeu com passagens das Escrituras. Deuteronômio 6:16 referia-se ao fato de Israel ter tentado a Deus em M assá. Falando com simpli­ cidade, Jesus estava dizendo que tentar Deus é não confiar nele (veja 1 Co 10:9; mas cf. Is 7:12). Nenhum propósito seria servido se ele cedesse à tentação. (13) Foi salientado que o que aconteceu a Jesus pode ser comparado aos caminhos da tentação estabelecidos em 1 João 2:14-17 e à tentação original de Gênesis 3:6. Talvez esta história esteja afirmando que Jesus foi tenta­ do através de todos os meios pelos quais o homem pode ser tentado (veja Hb 4:15). Satanás apartou-se, mas não era para sempre (22:3). Sobre diabo, veja notas em 4:2; 10:18. (VI, VIII)


Em seguida a esta história, Lucas registra três mila­ gres, mostrando que Jesus tinha realmente poder mes­ siânico. Eles se encontram na ordem inversa das tenta­ ções. A am eaça no cume do monte corresponde à tenta­ ção do pináculo; a expulsão do demônio (4:35) ao desejo de Satanás ver-se adorado por Jesus; e a pesca (5:6) à tentação do pão.


O MINISTÉRIO DE JESUS NA GALILÉIA 4:14

9:50

O INÍCIO DO MINISTÉRIO, 4:14-6:11 ESTA SEÇÃO MOSTRA Jesus à medida que entrava em seu ministério, e começa realmente o “período do Senhor” . Ele é o mestre capacitado pelo Espírito (4:14; cf. 4:43) e aquele que cura (4:18), que cumpre o propósito messiânico de Deus (4:21). Vários fatores são enfatizados em 4:14-6:11. Salientam-se as reações a Jesus, da rejei­ ção em Nazaré (4:29) à fúria na sinagoga (6:11), com várias outras reações intermediárias. O tema da aceita­ ção e rejeição do evangelho é plenamente introduzido neste ponto. (VI) Também é introduzida a autoridade de Jesus para ensinar (4:32), sobre demônios (4:35), sobre doenças (4:39; 5:13, 24), e sobre as tradições religiosas (5:36-39; 6:1-11). O leitor é chamado a considerar a reivindicação de tal personagem. Todavia, em tudo isto o conteúdo dos ensinamentos de Jesus permanece relativa­ mente um segredo para os leitores de Lucas. A seção se concentra na pessoa de Jesus e na maneira como o povo reage a ele. A divisão seguinte (esp. 6:17-49) apresentará os seus ensinamentos em detalhe. (VI, VIII) A Primeira Pregação na G aliléia

(14) Apesar do evangelho de João indicar um primeir ministério na Judéia, nos Sinópticos a pregação começou na Galiléia, e foi aqui que a fama de Jesus começou a se espalhar. Lucas quer que seus leitores reconheçam a


14Então Jesus, no poder do Espírito, regressou para a Galiléia, e a sua fama correu por toda a circunvizinhan­ ça. 15E ensinava nas sinagogas, sendo glorificado por todos. 16Indo para Nazaré, onde fora criado, entrou, num sá­ bado, na sinagoga, segundo o seu costume, e levantou-se para ler. fonte do poder de Jesus (veja notas em 1:17; veja 3:22; 4:1,2,18; cf. também 6:19), e salienta então que a prega­ ção e as curas de Jesus (veja 4:18) eram atividades motivadas pelo Espírito (1:15). Assim sendo, quando essas atividades são descritas no restante do evangelho, o leitor sabe sob que poder elas são realizadas. (15) Esta nota é seguida de dois incidentes na sinago­ ga que lhe servem de apoio (16-30, 31-37). Lucas enfatiza neles as reações para com Jesus. O conceito de glorifica­ ção é freqüente em Lucas (notas, 2:20). Vemos aqui a popularidade inicial de Jesus antes que a rejeição a substituísse (mas note o v. 29). (IV, VI) A R ejeição em N azaré, 4:16-30 (Mt 13:53-58; Mc 6:1-6) (16) Este é o primeiro entre vários incidentes ocorri­ dos no sábado nesta seção de Lucas (4:31-37, 38, 40; 6:1-11; veja outras referências ao sábado em 13:10,14, 15,16; 14:1,3,5; 23:54,56; 24:1). Lucas salienta primeiramente o caráter e a obra de Jesus e mais tarde começa a enfatizar os seus ensinamen­ tos (4:43; especialmente a partir de 6:20, mas veja 4:21). Lucas também nota as primeiras reações a Jesus e consegue um contraste interessante fazendo seguir o seu louvor (4:15) por uma história de rejeição. Note que tanto o ministério galileu (texto presente) quanto o não-galileu (9:51-56) começam com rejeição. A implicação das palavras fora criado aqui, e em 4:23, é que Jesus não vivera em Nazaré durante algum tempo. Tratava-se da mesma pessoa que tinham conheci­ do antes, mas ele passara por algumas experiências


17 Então lhe deram o livro do profeta Isaías, e, abrindo o livro, achou o lugar onde estava escrito: 180 Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar aos pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, p ara pôr em liberdade os oprimidos, 19e apregoar o ano aceitável do Senhor.

notáveis e sofrera algumas transformações desde a últi­ ma vez que tinham estado com ele. Foi pedido a Jesus que lesse ou ele se levantou, indicando seu desejo de fazer isso. O costume era ficar de pé durante a leitura e sentar-se para fazer comentá­ rios (vs. 20; Mt 5:1; Mc 4:1; Jo 8:2; mas note um procedi­ mento diferente em At 13:16]. A lição foi lida em hebrai­ co, com a interpretação subseqüente em aramaico ou grego. (17) Alguns sugerem que poderia estar havendo n ocasião um ciclo de leitura de passagens das Escrituras, e o texto era o correspondente àquele dia. Isso explicaria porque uma passagem tão adiantada no rolo (a forma de livro não fora ainda adotada) foi lida. Se, por outro lado, Jesus desenrolou quase todo o rolo até a passagem em questão (Is 61:1), o fato dele preocupar-se em ler aquele texto especial iria com certeza impressionar o povo. (18, 19) Esta referência indica a compreensão de Jesus com respeito à tarefa em que estava empenhado. O Espírito era o poder no qual Jesus executaria o seu ministério de cura, assim como o de ensino em 41:14 (sobre Espírito Santo, veja notas em 1:15). Isaías 61:1 assemelhava-se aos cânticos do servo em Isaías (caps. 42-53). Também foi usada linguagem semelhante à que descreve o ano do Jubileu (Lv 25), apesar de identificação com aquele evento parecer duvidosa por causa de algu­ mas diferenças em detalhes entre Levítico e Isaías. O texto é uma citação bastante livre da Septuaginta. Para um fenômeno similar veja Mateus 15:8; Atos 7:37; e Romanos 13:9. A última frase do v. 18 é uma inserção de Isaías 58:6. A questão é se isto foi obra de Jesus ou de


20Tendo fechado o livro, devolveu-o ao assistente e sentou-se; e todos na sinagoga tinham os olhos fitos nele. 21 Então passou Jesus a dizer-lhes: Hoje se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir. Lucas, adicionando seu próprio comentário com relação ao ministério do Senhor. Vemos novamente aqui o interesse de Lucas nos pobres. O termo grego sempre teve uma conotação nega­ tiva antes dos evangelhos, indicando pobreza abjeta. Aqui, todavia, ele sugere mais provavelmente aqueles que eram receptivos ao evangelho (veja 6:20; 7:22; 14:13, 21; 16:20,22; 18:22; 19:8; 21:3; cf. também Is 57:15; 1 Co 1:27; Tg 2:5). Essas bênçãos eram tanto espirituais como físicas. Os cativos eram, literalmente, os prisioneiros de guerra. Libertação é a mesma palavra traduzida em outro lugar como perdão (veja notas em 1:77). Talvez os cegos, oprimidos, etc. devessem ser tomados simbolicamente, e não literalmente, apesar de Jesus ter também prestado ajuda literal em alguns desses casos. O ano aceitável era aparentemente a época em que o Senhor iria agir, a fim de realizar aquilo que foi descrito, i.e., um dia do Messias, que seria o momento grandioso em que as bênçãos de Deus cairiam sobre o seu povo (cf. 2 Co 6:2). Sobre a idéia de unção, veja Atos 4:27; 10:38. Para proclamar veja notas em 1:19. (I, II, VII) (20) Jesus iria na verdade enrolar o pergaminho em lugar de fechar o livro (veja v. 17). O assistente (de uma palavra significando literalmente um “remador subalter­ no”), é geralmente tido como sendo o chazzan, um funcionário da sinagoga. A expectativa do povo se devia ao fato do ensino começar nesse ponto (cf. At 3:4; 6:15). (VI) (21) A alegação de Jesus era audaciosa. Ele estava dizendo que a idade messiânica tinha chegado e con­ cluído que ele mesmo cumpria a esperança messiânica (cf. Mt 5:17; 2 Co 6:2). Em Mateus 11:2-6 e Lucas 7:22,


22Todos lhe davam testemunho e se maravilhavam das palavras de graça que lhe saíam dos lábios, e pergunta­ vam: Não é este o filho de José? 23Disse-lhes Jesus: Sem dúvida citar-me-eis este provér­ bio: Médico, cura-te a ti mesmo; tudo o que ouvimos ter-se dado em Cafarnaum, faze-o também aqui na tua terra. Jesus aplicou claramente Isaías 61 a si mesmo. Ele argumentou que pelo fato de operar os sinais, deveria então ser o Messias. Tendo rejeitado falsos conceitos de messiado nas tentações, Jesus estabelece agora o ponto de vista apropriado à missão messiânica. (IV, VII) (22) Deve ter sido uma grande surpresa o fato de alguém criado em Nazaré dizer tais coisas. Afinal de contas, José era um homem comum, de pouca cultura. Onde o seu filho tinha adquirido essa informação? Todos lhe davam testemunho pode referir-se à reação inicial dos que se encontravam na sinagoga, ou poderia ser uma descrição geral de sua reputação antes dos acontecimen­ tos que precipitaram a sua rejeição. A pergunta do povo pode muito bem resumir o ceticismo geral dos nazarenos, e a dúvida implícita pode ter causado os comentários seguintes de Jesus. (23) Lucas não registou qualquer dos milagres de Jesus até este ponto (o primeiro está em 4:33), mas eles tinham sido aparentemente realizados (sobre milagres em Cafarnaum veja 4:31-35, 40; 7:1-10). Jesus pode estar respondendo ao comentário do v. 22, mas mais provavel­ mente referia-se a queixas anteriores. Deve ser também lembrado que ele muitas vezes mostrou ter conhecimento dos pensamentos dos homens. (III) Daí o provérbio, que na sua forma original era provavelmente “Cura o teu próprio aleijão” . A implicação de Jesus era que os naza­ renos alegavam que só creriam depois de ter visto os sinais. (Para outros pedidos de um sinal veja 4:3; 11:16; 22:64; 23:8, 35). Mas Jesus inverteu a ordem: não tinha havido sinais porque eles eram um povo incrédulo. Ele ilustrou isto referindo-se à infidelidade de Israel no Velho


2 4 e prosseguiu: De fato vos afirmo que nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra. 25Na verdade vos digo que muitas viúvas havia em Israel no tempo de Elias, quando o céu se fechou por três anos e seis meses, reinando grande fome em toda a terra; 26e a nenhuma delas foi Elias enviado, senão a uma viúva de Sarepta de Sidom. 27 Havia também muitos leprosos em Israel nos dias do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro.

Testamento — uma comparação que sem dúvida causa­ ria impacto nos ouvintes. Existe uma dúvida sobre quando Jesus foi para Cafarnaum. Mateus 4:13 indica que ele já tinha ido para lá, enquanto Lucas 4:31 indica que foi depois deste inciden­ te. Lucas pode não ter sido cronológico, colocando este incidente no início do ministério a fim de esboçar seu caráter e sua recepção pelo povo. (IV) (24) Este ditado, com toda probabilidade também proverbial (veja Jo 4:44), explicava a razão do seu comentário anterior. Na verdade é a forma grega de “ amém” (veja 9:27; 12:44; 21:3). O material que se segue a esta declaração geral deriva dele e deduz da história de Israel que espécie de pessoas eram os nazarenos. Eles eram incrédulos, e Jesus não operaria um sinal para satisfazê-los. Jesus também se mostra aqui como profeta, em adição a uma referência prévia a si mesmo como ungido pelo Espírito (4:18). (VI) (25, 26) A história de Elias é encontrada em 1 Reis 17 e 18. Em 1 Reis 18:1 é dito que a chuva veio depois de três anos, em contraste com três anos e seis meses em Lucas. Talvez Lucas também incluísse a época da fome, que foi mais longa do que a seca (veja também Tg 5:17). Israel, por não ter recebido um profeta ficou sem a bênção que foi para um gentio que se mostrou receptivo. (VIII) (27) Jesus enfatizou o mesmo ponto com a segunda ilustração (veja 2 Reis 5:1-14). Parte da ofensa sentida


28Todos na sinagoga, ouvindo estas cousas, se encheram de ira. 29e levantando-se, expulsaram-no da cidade e o levaram até ao cume do monte sobre o qual estava edificada, para de lá o precipitarem abaixo. pelos ouvintes era a implicação que tinham menos mérito do que um gentio para receber as bênçãos de Deus. Já tinham ficado bastante chocados por ele lhes falar de sua incredulidade, mas uma comparação assim, com a possível inferência de que Jesus poderia eventualmente ir para os gentios, seria ainda mais perturbadora e expli­ caria sua ira subseqüente. (III, VIII) (28) A ira deles pode ter sido devida à condenação de sua infidelidade por parte de Jesus; ou pela sua aceita­ ção implícita dos gentios; ou por causa das reivindica­ ções de Jesus (ungido, profeta, comparável a Elias e Eliseu); ou ainda por outras razões. As acusações seriam ainda mais difíceis de aceitar por virem de alguém que tinha sido criado em Nazaré. (29) Este era um tratamento violento (cf. Jo 8:59; 10: 31), especialmente considerando que a primeira rejeição de Jesus notada por Lucas vem daqueles que logicamente deveriam aceitá-lo (cf. Mt 23:37). Alguns sugerem que esta era a forma de castigo conhecida como “espanca­ mento do rebelde” , que era semelhante à lei do lincha­ mento. Era administrada pelo povo, sem julgamento e imediatamente, a quem fosse apanhado em flagrante violação da lei ou da tradição. Ou, se se tratasse de um apedrejamento (Sinédrio 6:4), implicaria em que o povo julgou Jesus culpado de blasfêmia. Este acontecimento foi um precursor da perseguição que Jesus sofreria mais tarde em seu ministério. É um tanto difícil localizar um cume sobre o qual Nazaré tivesse sido edificada. A cidade ficava numa ravina localizada no alto, contra os declives de uma montanha e era cercada nos três lados pelas partes mais elevadas da montanha. (VI)


30jesus, porém, passando por entre eles, retirou-se. 31E desceu a Cafarnaum, cidade da Galiléia, e os ensinava no sábado. 32e muito se maravilhavam da sua doutrina, porque a sua palavra era com autoridade. (30) É difícil determinar se isto significou ou não um milagre (cf. Jo 10:39). Parece difícil explicar como Jesus escapou, a não ser que houvesse tanta confusão que ele conseguiu esgueirar-se por entre o povo. A morte de Jesus não viria senão na hora certa (13:31-34). Esta história forma uma espécie de prólogo para a ocasião em que Jesus seria mais tarde levado para fora de Jerusalém e morto num monte. Mesmo então ele escapou dos grilhões da morte. (IV) Jesu s na Sinagoga de C afarnaum , 4:31-37 (Marcos 1:21­ 28; veja também Mt 7:28) (31) D este ponto até 5:26 Lucas apresenta uma série de histórias de milagres, mostrando o poder e autoridade de Jesus. Todavia, é dada mais ênfase às reações a essas obras do que à maneira com que foram feitas (veja 4:36, 41; 5:11, 15, 25). Esta é a segunda história consecutiva de Lucas relati­ va ao sábado, apesar desta cura não ter provocado críticas em contraste com atividades sabáticas posterio­ res (6:1-11). O contraste entre esta cura e aquelas controvérsias fornece uma boa indicação da mudança de atitudes em relação a Jesus. Cafarnaum era a principal cidade judia da região (extremidade noroeste do Mar da Galiléia) e portanto um bom centro para as obras de Jesus. Sua descrição como uma cidade da Galiléia destinava-se provavelmente aos leitores gentios de Lucas, que teriam necessidade de tal identificação. Em contraste à sua recusa em Nazaré, Jesus operou um sinal em Cafarnaum. (32) A autoridade de Jesus mostra algo do seu impacto sobre os ouvintes (veja notas em 4:6). Ele não precisou


33 Achava-se na sinagoga um homem possesso de espírito de demônio imundo, e bradou em alta voz: 34Ah! Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste para perder-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus! apoiar-se no testemunho exterior para confirmar sua mensagem (cf. Mt 5; 7:28). (IV, VI) (33) A reação na sinagoga de Cafarnaum contrasta grandemente com a de Nazaré. Na primeira, até mesmo o demônio, ao contrário dos nazarenos, acreditou, e um sinal foi feito. Esta é a primeira referência a um demônio em Lucas (outros exemplos são 4:41; 6:18; 7:21; 8:27-39; 9:1, 37-43, 49; 10:17; 11:14, 19, 24; e talvez 13:10-17). Os demônios eram seres espirituais malignos que podiam habitar corpos físicos com diversos resultados catastróficos. Os homens tinham verdadeiro pavor deles, pois não podiam defender-se. Essa a razão pela qual o poder de Jesus sobre eles impressionou tanto. Tais vitórias não passa­ ram de conflitos menores na luta maior com a personifi­ cação suprema do mal, Satanás (veja vs. 35). A ênfase desta história está mais no confronto com o mal do que na própria cura. De espírito de pode simplesmente significar uma influência pertencente a um espírito imundo. Alguns acham que imundo indicava que o homem possesso não podia adorar a Deus, como se tivesse alguma espécie de impureza cerimonial. A doença específica do homem é desconhecida. Era estranho o fato de encontrar-se na sinagoga. Talvez ele tivesse entrado sem que ninguém percebesse, ou talvez sua aflição estivesse em estado latente até que a presen­ ça de Jesus forçasse uma crise e o mal se manifestasse. (34) Note o uso intercambiável do singular e do plural (nós, nos, sei). O espírito parece que falava através do mecanismo vocal do homem, e assim tanto o singular como o plural podiam ser usados. A pergunta significava: “O que temos em comum?” O espírito parecia temer Jesus.


35 Mas Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te, e sai desse homem. O demônio, depois de o ter lançado por terra no meio de todos, saiu dele sem lhe fazer mal. 36Todos ficaram grandemente admirados e comentavam entre si, dizendo: Que palavra é esta, pois, com autori­ dade e poder ordena aos espíritos imundos, e eles saem? O Santo de Deus é encontrado somente aqui, em Marcos 1:24, e João 6:69. Esta declaração era sem dúvida uma designação messiânica, tendo sido incorporada por Lucas à medida que revela a identidade de Jesus (veja João 6:69 e cf. Mt 16:16). É significativo que Jesus fosse reconhecido por um espírito imundo enquanto seus próprios conterrâneos de Nazaré não o reconheceram (cf. Tg 2:19). Talvez o reconhecimento demoníaco tenha sido oferecido como um testemunho contrastante com a tragédia da incredulida­ de do homem. (VI) (35) De acordo com a tradição judaica o poder demoníaco seria esmagado quando viesse a era messiâ­ nica (cf. Test. Zebulun 9:8). Este ato foi portanto um sinal (veja 2:12). Jesus, usando um verbo freqüentemente usado para censurar a violência, disse ao espírito que se calasse, ou, literalmente, “ficasse amordaçado”. A re­ preensão é também encontrada em 4:39, 41; 8:24; 9:21, 42, 55; 17:3; 18:5, 39; 19:39; 23:40. Jesus pode ter proibido o espírito de falar porque não queria reconheci­ mento público de tal fonte. As pessoas poderiam ligar o seu poder com o do demônio. Jesus também não queria fazer uma revelação completa de si mesmo na ocasião. (I) Apesar do demônio não poder controlar sua vítima fisicamente, foi obrigado a obedecer à palavra de ordem de Jesus. O fato de não ter acontecido nenhum mal ao homem foi provavelmente mencionado por ser pouco comum. As convulsões e gritos teriam feito os espectado­ res esperarem que acontecesse algo de mau. (V) (36) A audiência em M arcos perguntou se Jesus tinha “uma nova doutrina” (1:27). Aqui seus feitos, assim como


37 £ a sua fama corria por todos os lugares da circunvizi­ nhança. 38Deixando ele a sinagoga, foi para a casa de Simão. Ora, a sogra de Simão achava-se enferma, com febre muito alta; e rogaram-lhe por ela. as suas palavras (32) tinham autoridade (veja notas em 4:32). Os espectadores admirados aparentemente não tinham ouvido falar até então que Jesus praticava o exorcismo. Ele fez isso com uma palavra, evitando quais­ quer técnicas elaboradas. A palavra poder usada aqui era uma favorita de Lucas (veja notas em 1:17). (IV, VI) (37) Este versículo é semelhante a 4:14 e seguintes (veja também 5:15), Lucas apresenta aqui uma pequena seção sobre a sinagoga nos versículos 14-37, com uma fórmula de abertura e encerramento. Os versículos 16-37 são uma expansão do “título” nos versículos 14 e seguin­ tes. (IV, VI) A Cura da Sogra de Pedro, 4:38, 39 (Mt 8:14; Mc 1:29-31) (38) Segundo M arcos, Tiago e João estiveram presen­ tes neste acontecimento. Eles entretanto não foram ainda introduzidos em Lucas (veja 5:1-11 — os acontecimentos não estão necessariamente em ordem cronológica). Lu­ cas dramatiza indicando que eles rogaram a Jesus por ela, enquanto Marcos diz simplesmente que eles falaram a Jesus a respeito dela. Esta é a primeira introdução de Simão em Lucas. Ele é porém tratado como alguém conhecido dos leitores, assim como o era a sua situação familiar. Simão, que aparente­ mente vivia em Cafarnaum, tinha anteriormente morado na cidade vizinha de Betsaida (João 1:44). O nome Simão é encontrado em 5:8; 6:14; 8:45, 51; 9:20, 28, 32, 33; 12:41; 18:28; 22:8, 34, 54, 55, 58, 60, 61; 24:12. Argumenta-se que se tratava da madrasta de Simão. Todavia, se fosse esse o caso teria sido usado um termo diferente em grego. Somente Lucas descreve a febre dela como muito alta (em contraste com febre baixa), talvez indicando uma exatidão profissional. (VI)


39inclinando-se ele para ela, repreendeu a febre, e esta a deixou; e logo se levantou passando a servi-los. 40 Ao pôr-do-sol, todos os que tinham enfermos de dife­ rentes moléstias, lhos traziam; e ele os curava, impondo as mãos sobre cada um. 4lTambém de muitos saiam demônios, gritando e dizen­ do: Tu és o Filho de Deus! Ele, porém, os repreendia para que não falassem, pois sabiam ser ele o Cristo. 42 Sendo dia, saiu e foi para um lugar deserto; multidões o procuravam e foram até junto dele, e insta­ vam para que não os deixasse. (39) Lucas é o único que enfatiza quão repentinamen­ te ela ficou boa. No geral uma pessoa com febre alta ficaria fraca por algum tempo (cf. Jo 4:52; At 28:8). Podemos traçar uma espécie de tema de “censura” até este ponto no capítulo 4, apesar do termo grego ser aplicado apenas duas vezes. Satanás foi repreendido em 1-13; os nazarenos em 16-30; o demônio em 31-37; e agora a febre (veja notas 4:35). Como é notável que Jesus pudesse ter controle sobre a febre da mesma forma que dominou o demônio. (IV) Cura dos D oentes no Cair da T ard e, 4:40,41 (Mt 8:16; Mc 1:32-34) (40) O pôr-do-sol anunciava o fim do sábado, quando o povo podia viajar novamente. A multidão, ao contrário de Jesus, seguia a interpretação que proibia curas no sábado e aguardava até o pôr-do-sol. Sua fama se espalhara de modo que os doentes eram trazidos a ele. Jesus dava atenção a cada indivíduo; tratava-se de cura pessoal e não em massa. (41) Note aqui a semelhança com o v. 34 e seguintes, e veja as notas. Compare também com Mateus 8:29; M ar­ cos 3:11; Atos 16:17; 19:15. Sobre Filho de Deus, notas 1:35; sobre Cristo notas 2:11. Note também aqui outro exemplo da idéia de “censura” vista neste capítulo (veja notas sobre o vs. 39). (V)


43Ele, porém, lhes disse: É necessário que eu anuncie o evangelho do reino de Deus também às outras cidades, pois para isso é que fui enviado. 44 e pregava nas sinagogas da Judéia. 1 Aconteceu que, ao apertá-lo a multidão para ouvir a palavra de Deus, estava ele junto ao lago de Genesaré. Jesus Deixa C afarnaum , 4:42-44 (Mc 1:35-39] (42) Marcos diz que Jesus saiu “alta madrugada” para orar. É bastante estranho que Lucas omita a referência à oração, mas isto pode indicar a suposição de que seus leitores conhecessem Marcos. Em numerosos outros casos Lucas se interessa mais pela oração do que os demais evangelhos (veja notas sobre 1:10,13). (VI) (43) Jesus revelou que tinha sido enviado com uma missão (cf. 4:18, onde o ungido fora mandado para proclamar; 8:1). Suas palavras eram uma censura aos que tentavam monopolizá-lo, impedindo assim que outros fossem abençoados. Lucas usa aqui a expressão reino de Deus pela primeira vez, mas ela se repete freqüentemen­ te no evangelho (veja notas sobre 1:33). (I, VII) (44) Ao que parece tornou-se o costume continuado de Jesus ensinar nas sinagogas, apesar de seu ensino não ser de forma alguma restrito a elas. Era de se esperar que Lucas, neste ponto, fizesse referência ao ministério na Galiléia, como em Marcos 1:39 e Mateus 4:23-25. Judéia significa todo o país dos judeus em várias outras referências lucanas (1:5; 7:17; 23:5; At. 2:9; 10:37; 11:1; cf. G11:22), e não deve ser tomado aqui em um sentido restrito. (IV) A P esca Milagrosa, 5:1-11 (paralelos possíveis: Mt 4:18­ 22; Mc 1:16-20) Existe uma simetria na seção a partir de 5:1 até 6:11. Na primeira metade, a chamada de um discípulo impor­ tante (5:1-11) é seguida de duas curas que provocam controvérsia (5:12-16,17-26). A segunda metade começa com outro chamado (5:27-39), seguido de duas controvér­ sias sobre o sábado (6:1-11). (1) Os milagres (4:31-44) anteriores a esta história


2 e viu dois barcos junto à praia do lago; mas os pescado­ res, havendo desembarcado, lavavam as redes. ^Entrando em um dos barcos, que era o de Simão, pediu-lhe que o afastasse um pouco da praia; e, assen­ tando-se, ensinava do barco as multidões. ^Quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao largo, e lançai as vossas redes para pescar.

p 3m ter s para exj ar como um mem na co . ção de Pedro iria responder sem vacilar a Jesus quando chamado. Uma série de episódios de pregação tem íní io com este incidente, com uma mudança da sin £ ç?a^&ra o campo. Jesus estava experimentando cresce v i jíópularidade (veja 4:15, 32, 37, 40, 42). A Fa } Í3^r!yersículo é que o povo apertou-o para ouvir a não para ver os sinais. O lago de Genesaré ô \0 ? >i da Galiléia. A palavra de Deus em Lucas r e 0 m 4 e à proclamação do reino (5:1 com 4:43; Bjlíj^lN etím 8:10; 11:28, cf. 11:20), que faz uma exigéáíi aqueles que ouvem (8:11, 21; 11:28). Em Atos ela sVjJretna, além da palavra do reino (8:14 com 8:í2)v\a palavra sobre Jesus. Note p a rticu larm en t^ S í^ ^ í^ l como explicado pelos sermões em Atos 2:14-39 e 3; 12-26. Veja também Atos 6:2,7; 11:1; 12:24; 1 3 :5 ^ 4 4 ,4 6 ,4 8 ; 17:13 e 18:11. Foi em Jesus, naturahnentó^mip a mensagem do reino foi cumprida. (VI) C Í 2 f ò W 0 para redes aqui é o mais geral usado com ri 1 lá^êsoia a redes de toda espécie. Elas eram limpas de pedrinhas e outros resíduos e penduradas para secar. \_\jj Jesus ja conhecia uimau jJ ) , poderia lci acabado de lavar as suas redes quando Jesus requisitou o seu barco. Como em outras ocasiões, Jesus sentou-se para ensinar (veja notas em 4:20). O fato de ter-se afastado da praia pode ter sido para evitar o aperto da multidão, e a fim de ser ouvido e visto com mais facilida­ de. O barco seria provavelmente uma embarcação aber­ ta de 6 a 9 metros (IV) (4) Jesus parecia ter conhecimento da noite de pesca infrutífera, mas mesmo assim deu uma ordem que Simão


5 Respondeu-lhe Simão: Mestre, havendo trabalhado to­ da a noite, nada apanhamos, mas sobre a tua palavra lançarei as redes. 6lsto fazendo, apanharam grande quantidade de peixes, e rompiam-se-lhes as redes. 7Então fizeram sinais aos companheiros do outro barco, para que fossem ajudá-los. E foram e encheram ambos os barcos ao ponto de quase irem a pique. SVendo isto, Simão Pedro prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador. considerou surpreendente (cf. Jo 21:6). Jesus bem cedo testou a espécie de fé possuída por este seguidor em potencial.

(5) Para crédito de Simão, ele passou pela primeira prova de fé, apesar de sua compreensão a respeito de Jesus ser limitada (cf. Jo 21:3). Houve obediência apesar dos homens terem trabalhado duramente (como implica o termo grego) n a noite an terior. As h o r a s da noite eram as melhores para pescar, enquanto as piores eram as da manhã quando o sol brilhava na água. Mesmo assim Simão atendeu, apesar de sobre a tua palavra poder ter sido uma frase algo cética. Mestre é um termo que somente Lucas aplica no Novo Testamento (8:24, 45; 9:33,49; 17:13). Ele indica autoridade de qualquer espé­ cie, estando aqui implícito o direito de Jesus de dar ordens. (VI) (6, 7) Saindo da praia, chegaram ao ponto em que Jesus sabia haver muitos peixes para serem apanhados. Os cardumes de peixe eram especialmente densos na Galiléia. O barco dos sócios poderia estar ainda próximo à praia. É interessante notar como Lucas, com vários toques (grande quantidade, rompiam-se-lhes as redes, o chamamento dos companheiros, encheram ambos os barcos, ao ponto de quase irem a pique [afundarem]), enfatiza a grandiosidade deste acontecimento. Existem outras ocasiões no evangelho onde sua habilidade como artista de palavras é evidente.


9Pois, à vista da pesca que fizeram, a admiração se apoderou dele e de todos os seus companheiros, lObem como de Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram seus sócios. Disse Jesus a Simão: Não temas: doravante serás pescador de homens. HE, arrastando eles os barcos sobre a praia, deixando tudo, o seguiram.

(8) Esta é outra da interessante série de reações Jesus traçada nas histórias a partir de 4:1. Na presença do santo, Pedro tornou-se dolorosamente cônscio de sua depravação. Por que, então, esta experiência foi tão traumática que ele até mesmo prostrou-se no barco cheio de peixes escorregadios? Talvez uma nova percepção da natureza de Jesus fizesse uma profunda impressão nele na ocasião, especialmente porque havia risco para ele e sua propriedade. De qualquer forma, a preocupação básica que tinha em mente era a sua pessoa, e não o milagre. (VI) (9, 10) Pode ter havido outras pessoas presentes com Simão além de Tiago e João (veja outras referências a Tiago em 6:14, 15; 8:51; 9:28, 54; 24:10; e a João em 6:14; 8:51; 9:28,49,54; 22:8). Jesus não liberou Simão, mas tranqüilizou-o (notas 1:12) com respeito a outra tarefa: a pesca de homens. Esta foi a forma em que Jesus respon­ deu à consciência que Simão teve do seu pecado. Ele não seria condenado, mas receberia ajuda para tornar-se útil. Se Pedro não sabia o que envolvia a pesca de homens, tinha com certeza conhecimento do que Jesus podia fazer. E se a pescaria de homens fosse feita com tanto êxito quanto a de peixes, isto seria um sucesso evidente. (I, IV, VI) (11) O produto da pesca, os barcos, os empregos, o seu meio de vida, suas casas, e assim por diante, foram deixados para trás (cf. Mt 19:27). Jesus podia cuidar deles. Não apenas Pedro, mas os demais também O seguiram. Suas vidas passaram a ser orientadas em torno de um novo centro. A disciplina uma vez dedicada à pesca era agora devotada a fins espirituais. Existe aqui


12 Aconteceu que, estando ele numa das cidades, veio à sua presença um homem coberto de lepra; ao ver a Jesus, prostrando-se com o rosto em terra, suplicou-lhe: Se­ nhor, se quiseres, podes purificar-me. 13E ele, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: Quero, fica limpo! E no mesmo instante lhe desapareceu a lepra.

um sinal notável de confiança, baseada na suposição de que Jesus podia suprir quaisquer necessidades, assim como supriu o peixe. Note a espécie de homens que Jesus chamou: estavam dispostos a trabalhar (v. 2), obedientes às suas ordens (v. 5), sinceros em sua auto-avaliação (v. 8), e dispostos a fazer qualquer sacrifício que seu trabalho exigisse (v. 11]. (VI) A Cura de Um Leproso, 5:12-16 (Mt 8:1-4; Mc 1:40-45] (12) Aqui, novamente, a ênfase de Lucas está no sinal e na reação, em lugar de na pessoa curada. O termo grego para lepra era generalizado, incluindo várias doenças de pele; por isso é impossível conhecer a nature­ za exata do mal que afligia o homem. Talvez Lucas quisesse indicar que era de natureza grave com as palavras coberto de. Sobre a cura de leprosos veja Números 12:13; Mateus 10:8; 11:5; e Lucas 17:12. Levítico 13:1-59 descreve as provisões da lei para as doenças geralmente chamadas de lepra (o termo hebraico tinha o mesmo significado vago do grego), e o capítulo seguinte prescreve os rituais para a purificação. Qualquer que seja a natureza do caso, Jesus teve compaixão do patéti­ co homem. (VI) Suplicou-lhe, algumas vezes traduzido como “orar” , é encontrado em outros pontos de Lucas, 8:28,38; 9:38,40; 10:2; 21:36 e 22:32. Mais da metade do uso desta palavra feito no Novo Testamento está nos escritos lucanos. Veja discussão em 1:10. (13) Pode parecer estranho que Jesus tenha tocado tal homem. Ele poderia tê-lo curado sem isso, mas o toque


140rdenou-lhe Jesus que a ninguém o dissesse, mas vai, disse, mostra-te ao sacerdote e oferece pela tua purifica­ ção segundo o que Moisés determinou, para servir de testemunho ao povo. 15 Porém, o que se dizia a seu respeito cada vez mais se divulgava, e grandes multidões afluíam para ouvi-lo e serem curadas de suas enfermidades. lôEle, porém, se retirava para lugares solitários e orava. mostrou claramente seu domínio da doença e compaixão pelo homem. (14) A palavra traduzida como ordenou tem origem num verbo usado algumas vezes com relação a coman­ dantes cujas ordens eram passadas ao longo da linha de soldados (veja 17:14). A curiosidade está no fato de Jesus ter proibido ao homem que dissesse. Várias sugestões foram oferecidas. Talvez a lei tivesse de ser obedecida antes que o homem fizesse qualquer outra coisa (Marcos afirma que Jesus deu-lhe uma ordem severa e mandou-o embora imediatamente); ou devia ser evitado que o homem ficasse muito orgulhoso, gabando-se de sua cura; ou ainda houvesse a intenção de impedir excitação desnecessária entre o povo (esta a implicação de Marcos 1:45). O ritual da purificação deveria seguir o procedimento descrito em Levítico 14:1-32. Nada foi dito ali, porém, sobre um testemunho. Jesus provavelmente sabia que o povo iria sem dúvida ouvir falar da cura, e assim queria que também soubessem do seu respeito pela lei. (IV, V) (15) Marcos nota que Jesus não podia entrar numa cidade sem ser rodeado pela multidão e implica que mesmo no campo ele nem sempre era deixado a sós. Foi este o motivo (como nota Marcos) pelo qual o leproso desobedeceu a espalhou a notícia (cf. 4:14,37). (V, VI) (16) Marcos menciona o afastamento para orar antes da cura do leproso (1:35). Alguns acham que este versí­ culo se refere à prática de Jesus neste caso particular, enquanto outros tradutores indicam tratar-se de uma


17 Ora, aconteceu que num daqueles dias, estava ele ensinando, e achavam-se ali assentados fariseus e mes­ tres da lei, vindos de todas as aldeias da Galiléia, da Judéia e de Jerusalém. E o poder do Senhor estava com ele para curar. lBvieram então uns homens trazendo em um leito um pa­ ralítico; e procuravam introduzi-lo e pô-lo diante de Jesus. coisa que ele fazia habitualmente. Ambas as sugestões poderiam ser perfeitamente verdadeiras. O texto indica provavelmente que as multidões estavam chegando, mas ele estava ocupado em oração (estando portanto inaces­ sível). Jesus estabeleceu prioridades em sua vida, e apesar da pregação e da cura serem de grande impor­ tância, algumas vezes a oração e o afastamento eram ainda mais importantes (veja notas em 1:10). A Cura do Paralítico, 5:17-26 (Mt 9:1-8; Mc 2:1-12)

(17) Esta história forma um clímax para a série do milagres, reportando-se a 4:31. O perdão de pecados foi o maior de seus poderosos feitos. Neste episódio e nos incidentes até 6:11 está envolvida a lei ou a tradição religiosa dos judeus. Este é também o primeiro de cinco incidentes (todos com paralelo em Marcos) que mostra­ ram a autoridade de Jesus. Enquanto as histórias prece­ dentes, desde 4:13, evidenciaram a popularidade de Jesus (mas cf. 4:28), nessas cinco histórias a narrativa abrange conflitos. Marcos situa este acontecimento em Cafarnaum. So­ mente Lucas nota que fariseus e mestres da lei estavam presentes. Nos escritos rabínicos mestres da lei eram aqueles que davam interpretações das Escrituras com autoridade. Josephus diz que a seita dos fariseus tinha seis mil membros nessa ocasião, sendo eles admirados por quase todos os judeus. Havia ali gente da Galiléia e da Judéia, mostrando como a reputação de Jesus se espalhara. Sobre Jerusalém, veja notas em 2:22; sobre, poder, veja notas em 1:17. (IV)


19E não achando por onde introduzi-lo por causa da multidão, subindo ao eirado, o desceram no leito, por entre os ladrilhos, para o meio, diante de Jesus. 20 Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Homem, estão perdoados os teus pecados. 21E os escribas e fariseus arrazoavam, dizendo: Quem é este que diz blasfêmias? Quem pode perdoar pecados senão só Deus? (18,19) Esses versículos indicam até que ponto o povo chegava para aproximar-se de Jesus. É irônico pensar que tantas pessoas queriam ver Jesus que impediram que o paralítico (a princípio) chegasse até ele. (VI) (20) Se houvesse uma crença popular no sentido de que o pecado causava a doença, então a pessoa jamais poderia saber que estava perdoada até que fosse cura­ da. Todavia, não há qualquer certeza de que esta fosse a opinião prevalente. Jesus pode ter sabido que o pecado era a origem da paralisia do homem, ou a causa da doença pode não ter tido qualquer importância. A afirmação de uma ligação pode ter sido apenas genérica, isto é, Jesus estava simplesmente dizendo que ele veio para fazer mais do que apenas curar o corpo. De qual­ quer forma, a resposta de Jesus foi estranha e inespera­ da. Ele certamente sabia que suas palavras iriam causar reflexões e comentários. E Lucas dá aqui um importante elemento em sua descrição de Jesus (veja notas em 1:77; 3:3). Jesus sabia que os homens de fé estariam dispostos a pelo menos considerar a idéia de aceitá-lo como alguém que pode perdoar pecados além de curar (veja 7:48). Para outros usos da palavra fé veja 7:9,50; 8:25,48; 17:5,6,19; 18:8,42; 22:32. (I) (21) Os escribas eram advogados profissionais, cuja principal tarefa era ensinar e interpretar a lei. A primei­ ra pergunta no relato de Marcos foi esta: “Por que fala ele deste modo?” Mas Lucas, cuja narração do incidente focaliza mais a identidade de Jesus, faz a pergunta: “Quem?” A segunda pergunta não foi inoportuna, mas os indagadores não estavam dispostos a aceitar toda evi-


22jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disselhes: Que arrazoais em vossos corações? 23Qual é mais fácil dizer: Estão perdoados os teus pecados, ou: Levanta-te e anda? 24 Mas, para que saibais que o Filho do homem tem sobre a terra suficiente autoridade para perdoar pecados — disse ao paralítico: Eu te ordeno: Levanta-te, toma o teu leito, e vai para casa. dência que levava a uma resposta (Veja 7:49). (IV, VI) (22) Ao que parece eles não levaram suas dúvidas diretamente a Jesus, pelo menos é o que a palavra arra­ zoavam (“pensamentos” e não “discussões”) implica. Mas Jesus conhecia os pensamentos deles. O termo conhecendo-lhes indica mesmo um conhecimento perfeito e acurado. (III, VI) (23) Falar é fácil, mas fazer é mais difícil. Se Jesus podia fazer o que estava visível, a suposição seria que pelo menos teria poder para fazer o que estava invisível. Não se tratava do caso de que todo fazedor de milagres pudesse perdoar pecados, mas quem conheceria melhor seu próprio poder do que o possuidor desse poder? Um milagre iria pelo menos exigir que dessem cuidadosa atenção à reivindicação de Jesus de que podia perdoar (cf. Jo 5:36). (24) Este é o primeiro caso em que Lucas menciona o título muito usado, Filho do homem (outras referências são 6:5, 22; 7:34; 9:22,26,44,58; 11:30; 12:8,10,40; 17:22, 24,26,30; 18:8,31; 19:10; 21:27,36; 22:22,48,69; 24:7). Várias sugestões têm sido feitas a respeito da base para o termo. No Velho Testamento foi bastante usado com referência a Ezequiel (2:1 e mais 92 vezes). Também é encontrado no sentido de “ser humano” nos Salmos (8:4; 80:17; 144:3; 146:3). O Livro d e Enoque intertestamental fez uso do termo com relação a uma figura sobrenatural. Mas a base mais provável da aplicação de Jesus foi a figura de Daniel 7:13 que subiu ao Ancião de Dias e recebeu um reino. É também possível que em algumas ocasiões o termo


25 Imediatamente se levantou diante deles, e tomando o leito em que permanecera deitado, voltou para casa, glorificando a Deus. 26Todos ficaram atônitos, davam glória a Deus, e possuí­ dos de temor, diziam: Hoje vimos prodígios. 27passadas estas cousas, saindo, viu um publicano, chamado Levi, assentado na coletoria, e disse-lhe: Se­ gue-me! fosse aplicado a Jesus como um ser humano típico. O problema é que Jesus nem sempre tornou seu significado claro, apesar de que algumas passagens revelam signifi­ cados distintos. Jesus talvez tenha escolhido deliberada­ mente uma palavra algo ambígua a fim de moldá-la ao sentido que desejasse. Como um termo messiânico talvez estivesse mais livre de tonalidades políticas do que muitos outros. Se examinarmos a referência em Lucas, surge uma imagem do Filho do homem que envolve os seguintes elementos. Era um personagem com autoridade que tinha poder para perdoar pecados (5:24) e era senhor do sábado (6:5). Era um sinal para a sua geração (11:30). Ele veio buscar e salvar os perdidos (19:10). Iria sofrer, ser morto, e levantado no terceiro dia (9:22); seus seguidores também sofreriam (6:22). Tendo ressuscitado, ele se sentaria à mão direita do Pai (22:69), de onde um dia iria voltar como juiz (9:26; 12:8). (IV) Jesus freqüen­ temente se referia a si mesmo como Filho do homem, mas a descrição não é usada nos outros evangelhos com relação a ele (mas veja Atos 7:56; Ap 1:13; 14:14). (II) Sobre autoridade, veja notas em 4:32. (25,26) Não foi perdido tempo na realização do prodí­ gio (veja Jo 5:8). Lucas, caracteristicam ente, enfatiza as reações. Todos ficaram surpresos (inclusive os críticos?), mas se creram em Jesus não está indicado. O homem curado teria glorificado a Deus pela cura e pelo perdão. Com a impressiva reação registrada no versículo 26, esta seqüência de milagres (4:31—5:26) chega ao fim. Sobre


28Ele se levantou e, deixando tudo, o seguiu. 29 Então lhe ofereceu Levi um grande banquete em sua casa; e numerosos publicanos e outros estavam com eles à mesa. 30Os fariseus e seus escribas murmuravam contra os discípulos de Jesus, perguntando: Por que comeis e bebeis com os publicanos e pecadores? temor, veja notas em 1:12; sobre glorificação, veja notas em 2:20. (VI) O Chamado de Levi 5:27-32 (Mt 9:9-13; Mc 2:13-17) (27) Esta é a segunda história consecutiva em que Jesus desafiou a maneira de pensar ortodoxa de sua época. Levi foi chamado Mateus no primeiro evangelho. Marcos o identifica como filho de Alfeu. Parece estranho que Jesus o tivesse chamado, mas o Senhor viu algo nesse coletor de impostos (veja notas em 3:12). A chama­ da de um homem como esse era parte do novo ensina­ mento que não se amoldava aos velhos padrões (v. 36 e seguintes). Não existe indicação de que Jesus o tenha conhecido antes, mas as circunstâncias desta passagem podem ser melhor entendidas se tivesse havido um en­ contro anterior. Todavia, não é totalmente impossível que um homem deixasse tudo por Jesus, mesmo no primeiro encontro. (III, IV) (28) Somente Lucas diz que Levi deixou tudo para segui-lo. (VI, VIII) (29) Somente Lucas indica que o banquete foi na casa de Levi. Se Levi demitiu-se de seu posto, este pode ter sido um banquete de despedida para os colegas. Foi uma refeição estranha, com aquele que alegava perdoar os homens associado com todas aquelas pessoas “erradas” (Mateus e Marcos dizem “pecadores”). (VI) Este é o primeiro de um certo número de casos em Lucas que envolve uma refeição. Outros são 5:33-35; 7:34,36-50; 9:12-17; 10:7,38-42; 11:37; 12:35-38,41-43; 13:24,26,29;


3lRespondeu-lhes Jesus: Os sãos não precisam de médi­ co, e, sim, os doentes. 32Não vim chamar justos e, sim, pecadores ao arrependi­ mento.

14:1,7-11,12-14, 15-24; 15:2,22-30; 22:7-23,29,30; 24:30­ 32,41-43. (30) Pela primeira vez em Lucas os discípulos de Jesu são mencionados como tais. Enquanto em Mateus e Marcos Jesus foi criticado diretamente, em Lucas os críticos falaram com os seguidores (veja 15:1, 19:7; cf. também 7:34). É quase como se os fariseus estivessem tentando demonstrar para eles porque um homem como Jesus não merecia ser seguido. Os escribas dos fariseus eram assim chamados para distingui-los dos escribas de outros partidos judeus (veja notas em 5:21). Apesar dos fariseus duvidarem de que Jesus pudesse perdoar pecados, este é o seu primeiro ato de agressão registrado por Lucas. Esses críticos prova­ velmente não foram convidados, nem teriam compareci­ do se o fossem. O Mishnah (Berakoth 43) afirma que os discípulos dos e s c r ib a s n ão podiam ter com unhão à m esa com tais pessoas. Não se sabe exatamente quando come­ çou esta tradição, mas estava provavelmente em efeito no tempo de Jesus. Desde que hóspedes não-convidados freqüentemente se postavam de pé nas vizinhanças das festas orientais, os críticos podiam achar-se ali nessa condição. Suas críticas implicavam em que nenhum homem justo iria associar-se com pessoas como aquelas, como Jesus fazia. Em sua preocupação com as regras, os fariseus e escribas esqueciam uma preocupação maior, a qual Jesus enfatizou: interesse pelas pessoas. (VI) (31,32) Esta é uma declaração importante com respei­ to à missão de Jesus, como foi 4:43. O chamado, à luz do contexto da refeição, pode ter implicado a idéia de um convite à festa messiânica. A expressão ao arrependi­ mento não é encontrada nos paralelos, e está de acordo com a ênfase de Lucas (veja notas em 3:3). Jesus aceitou a responsabilidade pelas pessoas pre-


33 Disseram-lhe eles: Os discípulos de João e bem assim os dos fariseus, freqüentemente jejuam e fazem orações; os teus, entretanto, comem e bebem. sentes ao banquete, aliviando Levi da culpa. É possível que alguns dos convidados específicos estivessem ali por sugestão sua. Era evidente que os convidados eram pecadores. Além disso, Jesus pode ter indicado que os justos (veja notas em 1:6) eram os cheios de justiça própria que, se reconhecessem isso, eram pecadores ainda maiores do que os que se achavam na festa. Se percebessem a sua necessidade, Jesus também os ajuda­ ria. Ele pode estar dizendo também aos críticos: “Se vocês são médicos espirituais, por que não estão ajudan­ do esses que se acham evidentemente enfermos em lugar de evitá-los?” Os estudiosos judeus indicam que uma coisa nova que Jesus introduziu no judaismo de sua época foi a procura de pecadores e não o afastamento deles. (I, IV) A Questão do Jejum, 5:33-39 (Mt 9:14-17; M c 2:18-22)

(33) Esta é uma te rc eira con trov érsia cen tralizad a n tradição religiosa judaica. Se Jesus era religioso por que não guardava as tradições religiosas do povo? Se este diálogo não faz parte do contexto do banquete na casa de Levi, então Lucas provavelmente o incluiu aqui porque ele se adapta ao tema do contexto. Somente Lucas menciona a oração dos discípulos de João e Jesus. Era de se esperar que fizesse isso (notas em 1:13), apesar de na discussão posterior a idéia de oração desaparecer. Talvez os discípulos de Jesus não mantives­ sem o ritual fixo dos períodos de oração que caracteriza­ va os judeus piedosos. Eles porém seriam instruídos por Jesus sobre novas dimensões da oração (11:1-4). Os jejuns podem ter sido os jejuns regulares dos judeus de segunda e quinta-feira (Lc 18:12; Didache 8:1). Esses eram tradicionais, desde que os únicos jejuns universalmente obrigatórios exigidos pela lei estavam ligados ao Dia da Expiação (Lv 16; 23:26-32). Sobre


34jesus, porém, lhes disse: Podeis fazer jejuar os convi­ dados para o casamento, enquanto está com eles o noivo? 35 Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo; naqueles dias, sim, jejuarão. 36Também lhes disse uma parábola: Ninguém tira peda­ ço de veste nova e a põe em veste velha; pois que rasgará a nova e o remendo da nova não se ajustará à velha. outros jejuns comparar com Zacarias 7:5; 8:19. Jesus praticava ocasionalmente o jejum (4:2) e permitia que fosse feito como uma disciplina espiritual voluntária, mas não fez dele uma ordenança obrigatória. Sobre refeições, veja notas em 5:29. (VI) (34,35) Um casamento seria uma exceção mesmo para a lei regular do jejum. O jejum podia ser então quebrado, como Jesus sugeriu ser o caso com relação à sua presen­ ça. A sua vinda era ocasião de alegria e não de tristeza.

(iv)

A referência a um jejum futuro dos discípulos poderia ser uma insinuação de sua morte e partida próximas (cf. 17:22). Se for assim, esta é a primeira indicação neste sentido no evangelho, mas era apropriada em relação ao registro da primeira oposição aberta por parte dos líderes judeus (veja notas em 9:22). (IV) (36) O registro de Lucas salienta o dano causad tanto ao novo (rasgará) como ao velho (não se ajustará) se for feito um remendo desse tipo. O problema é que Jesus não explicou essas parábolas, e ao explicá-las o leitor moderno não deve tentar extrair demasiado do texto. Todavia, elas evidentemente estão ligadas à impo­ sição dos velhos hábitos de jejum e oração sobre o novo ensinamento trazido por Jesus. Quer o velho se refira aos costumes dos fariseus ou aos dos discípulos de João, Jesus trouxe algo novo, que pode ter uma certa semelhan­ ça e ser até mesmo em parte fundamentado sobre o velho, mas deve ser julgado por seus próprios padrões. Obrigar os discípulos de Jesus a jejuarem e orarem segundo os costumes judeus seria negar o sistema pelo qual estavam sendo treinados. Assim sendo, por estas


37e ninguém põe vinho novo em odres velhos, pois que o vinho novo romperá os odres; entornar- se- á o vinho e os odres se estragarão. 38pelo contrário, vinho novo deve ser posto em odres novos (e ambos se conservam). 39e ninguém, tendo bebido o vinho velho, prefere o novo; porque diz: O velho é excelente.

duas parábolas, Jesus indicou algo de sua autoridade e do fato de estar dando início a um novo estado na relação entre o homem e Deus. (37,38) Esta parábola continua a idéia da primeira. Aqui o vinho representava todo o novo costume, enquan­ to a veste era apenas um fragmento dele. Assim também as vestes ficavam apenas estragadas, enquanto as peles eram destruídas e o vinho se perdia (cf. Jó 32:19). Final­ mente, Jesus não condenou aqui apenas o método mas ofereceu o sistema certo. Os odres de vinho eram feitos de uma única pele de cabra, da qual se tirava a carne e o osso sem rasgar a pele. O pescoço da cabra se tornava o pescoço da “garrafa” . A pele era macia e flexível e podia expandirse com a fermentação do vinho novo. Mas uma pele velha se tornava seca e não expandia. Ela arrebentaria se fosse sujeita à pressão do processo de fermentação. Assim sendo, o ponto salientado parece ser de que um sistema novo e em desenvolvimento não podia ser forçado a manter-se dentro dos moldes de um sistema antigo. O poderoso princípio da nova vida iria rebentar as velhas formas (como certamente a presença de Jesus parecia estar fazendo dos versículos 5:17 até o presente). (39) Esta parábola só aparece em Lucas. O ponto não é o mérito relativo dos vinhos, como alguns poderiam deduzir pela comparação com os v.37 e seguintes: mas trata-se de uma ilustração de “tradicionalismo piedoso” . Para eles, o certo era o antigo. Isto explicava porque os fariseus e outros críticos de Jesus não suportavam as suas atividades e sua mensagem e porque não estavam dispostos a aceitar qualquer mudança.


1 Aconteceu que, num sábado, passando Jesus pelas searas, os seus discípulos colhiam e comiam espigas, debulhando-as com as mãos. 2E alguns dos fariseus lhes disseram: Por que fazeis o que não é licito aos sábados? 3 Respondeu-lhes Jesus: Nem ao menos tendes lido o que fez Davi, quando teve fome, ele e seus companheiros? Essas parábolas, apresentadas depois de uma série de controvérsias e antes de duas outras (6:1-11), indicam que )esus tinha uma coisa nova a oferecer e que iria encontrar oposição por parte daqueles para quem o velho era o bom. O evangelho desenvolve dramaticamen­ te este conflito até que finalmente leva à cruz. Colhendo Espigas no S ábad o, 6:1-5 (Mt 12:1-8; Mc 2:23-28) (1) O desafio de Jesus aos conceitos religiosos tradi­ cionais dos judeus de seu tempo foi desta vez em relação ao sábado e ao que era legal (vs. 2,4,9). Os discipulos poderiam estar com ele numa viagem de pregação e aparentemente tinham muita fome. Assim, sua missão teve precedente sobre o ritual judaico. Êxodo 20:8-11 proibia o trabalho no sábado. Os judeus tinham elabora­ do as exigências do sábado a fim de definir precisamente o que era trabalho, e tinham organizado essas exigências em 39 categorias. Segundo essas elaborações, os discí­ pulos eram culpados de colher, debulhar, limpar e preparar uma refeição. Eles provavelmente não violaram os limites de uma viagem no sábado, desde que isso não foi mencionado. Deuteronômio 23:25 permitia que se colhessem espigas, portanto o seu erro não era o roubo. As espigas eram provavelmente as pontas do caule, e o debulhamento seria para retirar a palha. (2) Lucas, em contraste com Mateus e Marcos, inclui Jesus nas críticas dos fariseus. (VI) (3, 4) O sacerdote deu o pão a Davi, investindo assim o ato com a sua autoridade (1 Sm 21:1-7). Os judeus achavam que as regras do sábado podiam ser suspensas


4 Como entrou na casa de Deus, tomou e comeu os pães da proposição, e os deu aos que com ele estavam, pães que não lhes era lícito comer, mas exclusivamente aos sacerdotes? 5E acrescentou-lhes: O Filho do homem é senhor do sábado. 6 Sucedeu que, em outro sábado, entrou ele na sinagoga e ensinava. Ora, achava-se ali um homem, cuja mão direita estava ressequida. 7Os escribas e fariseus observavam-no, procurando ver se ele faria a cura no sábado, a fim de acharem de que o acusar.

quando a vida estava em risco (Shabbaíh 132a; Yom a 8:6) e que o caso de Davi se ajustava a essas exceções, apesar de não envolver o sábado. A lei do pão em Levítico 24:5-9, apesar de especificar que o alimento devia ser comido por Arão e seus descendentes num lugar santo, não proibia especificamente outras pessoas de comê-lo. Numa emergência era reconhecido como permissível ultrapassar a lei, debaixo do princípio de que a necessidade humana transcendia a exigência cerimo­ nial. Desde que o pão deveria prover, em parte, a necessidade humana (i.e., a do sacerdote), seria uma violação do espírito da lei recusá-lo a Davi e aumentar assim, em lugar de aliviar, a necessidade. Jesus não considerava insignificante a letra da lei, mas não queria que o espírito fosse violado mediante uma insistência meticulosa na letra. (5) A defesa predominante de Jesus neste ponto fo uma afirmação de sua autoridade. Jesus, por ser o que era, tinha o direito de fazer o que fez (veja 5:17). Isto é acentuado pelo fato de senhor vir em primeiro lugar na frase grega, enfatizando-a. Jesus, alegando domínio so­ bre o sábado, estaria assim confirmando indiretamente que a idade messiânica tinha chegado. Note a sua autoridade sobre a lei de Moisés aqui, como sobre o pecado em 5:24. Sobre Filho do homem, veja notas 5:24 (IV)


8Mas ele, conhecendo-lhes os pensamentos, disse ao homem da mão ressequida: Levanta-te e vem para o meio; e ele, levantando-se, permaneceu de pé. ^Então disse Jesus a eles: Que vos parece? É licito no sábado fazer o bem ou mal? salvar a vida ou deixá-la perecer?

A Cura do Homem com a Mão Ressequida, 6:6-11 (Mt 12:9-14; Mc 3:1-6) (6, 7) Jesus entrou na sinagoga primeiramente para ensinar. Somente Lucas nota que era a mão direita do homem que estava ressequida. Este acontecimento foi depois do precedente, apesar dé Mateus e Marcos pode­ rem indicar, numa leitura superficial, que ambos se deram no mesmo dia. O homem não pediu para ser curado. Foi quase como se Jesus deliberadamente provocasse seus críticos, para que pudesse demonstrar o seu ponto de vista. O propósito do milagre foi confirmar a opinião de Jesus sobre a compaixão e o sábado. Os críticos, talvez presumindo que Jesus curasse qualquer pessoa doente ao seu redor, observavam-no (o verbo implica em observar com inten­ ção sinistra) para verificar se ele violaria a tradição do sábado (cf. 14:1; 20:20). (VI) (8) Jesus possuía a desconcertante capacidade de conhecer os pensamentos alheios (III; veja também Mt 9:4; 12:25; João 2:25). Foi dito ao homem que se levantas­ se, e podemos imaginar os críticos de Jesus tornando-se alertas. Ele não fez segredo do que pretendia fazer, sendo tão franco quanto eles eram fingidos. (9) Os escribas e fariseus encontraram-se repe namente no papel de caça em lugar de caçadores. Da mesma forma como lhe fora perguntado: “É lícito?” (v.2), ele devolveu a pergunta aos seus supostos críticos. Eles sabiam que um certo número de doenças “perigosas” podia ser curado no sábado sem violação dos costumes. Se a vida podia ser salva, o bem não poderia ser da mesma forma praticado? Como poderiam negar a Jesus este direito quando estavam fazendo o mal de observar


10 e , fitanto a todos ao redor, disse ao homem: Estende a mão. Ele assim o fez, e a mão lhe foi restaurada. HM as eles se encheram de furor e discutiam entre si quanto ao que fariam a Jesus.

Jesus com más intenções no sábado? Não tinha Jesus mais direito de fazer o bem do que eles de fazer o mal? Salvar é encontrado também em Lucas 7:50; 8:12,36,48, 50; 9:24,56; 13:23; 17:19; 18:26,42; 19:10; 23:35,37,39. (10,11) Jesus fitou as pessoas (Marcos nota “indigna­ do”], que não tinham respondido à sua pergunta, talvez por saberem que estavam presas numa armadilha. O homem não recebeu um toque de cura, mas foi-lhe ordenado que estendesse a mão. Falando em termos estritos, as palavras não constituiam uma fórmula de cura, e assim qualquer acusação contra Jesus teria de basear-se em implicações relativas ao seu poder. Os críticos ficaram insensíveis ao feito maravilhoso e à alegria do homem curado. Em vez disso reagiram com furor, fazendo assim mal no sábado (veja especialmente Mateus e M arcos). Isso pode ter sido causado pelo seu zelo em relação ao sábado, mas tratava-se mais prova­ velmente de frustração porque Jesus conseguira anular tão bem suas críticas silenciosas. Começaram a planejar o que fazer com ele, e o padrão de rejeição que Lucas apresenta com tanta habilidade se move para uma intensidade ainda maior do que antes. (IV, VI) PROSSEGUIMENTO DO MINISTÉRIO — 6:12-8:56 A presente seção salienta ainda mais as idéias encon­ tradas em 4:14-6:11. O foco dos ensinamentos de Jesus é finalmente apresentado (6:20-49). A seguir, dois milagres são realizados e o ensinamento sobre João. Este último pode ser perfeitamente a chave para a seção, desde que os sinais messiânicos ali descritos (7:22; veja 4:18) são também encontrados em sua pregação (6:20-49, note especialmente a menção inicial aos pobres; 8:5-21, com


12 Naqueles dias, retirou-se para o monte a fim de orar, e passou a noite orando a Deus. 13e quando amanheceu, chamou a si os seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu também o nome de apóstolos: ênfase em como as pessoas ouvem), curas (7:1-10, 11-17; 8:26-39,40-56), e um milagre da natureza (8:22-25). As reações em relação a )esus têm lugar proeminente (espe­ cialmente 7:16,19,49; 8:25,37,47,56). A seção mostra a universalidade do interesse de Jesus (um gentio, 7:1-10; uma mulher pecadora, 7:36-50; e sua compaixão 7:13). Todas essas coisas são colocadas no cenáro da esco­ lha dos doze (6:12-16). Em ambas as seções de ensino (6:20-49 e 8:5-21) histórias de milagres se seguem imedia­ tamente, e em ambos os casos quatro histórias seguem a seção de ensino antes do início do próximo período. Também, em ambas as seções, depois das histórias de milagres há uma história salientando a importância da fé (7:50; 8:48). O C ham ado dos Doze, 6:12-16 (Mt 10:1-4; Mc 3:13-19) (12) No restante do capítulo seis e no capítulo sete, Lucas enfatiza o caráter e os recipientes da idade vindoura. Esta oração feita durante a noite inteira que precedeu a escolha dos doze e o sermão do monte é mencionada apenas em Lucas (mas cf. Mt 14:23). Sobre oração, veja notas em 1:10. (IV) (13) Os doze podem ser vistos como correspondendo à estrutura das doze tribos da primeira Israel (cf. 22:30) e, num certo sentido, como a base da nova Israel. Lucas torna a sua escolha dentre um grupo maior de discípulos mais explícita do que Mateus e Marcos. Este grupo escolhido teria tarefas especiais e autoridade dadas por Jesus e estaria mais ligado a ele do que os demais seguidores. Era um grupo variado, incluindo homens como um coletor de impostos e um zelote, incorporados na mesma íntima comunhão.


14Simão, a quem acrescentou o nome de Pedro, e André seu irmão; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; l 5Mateus e Tomé; Tiago, Filho de Alfeu, e Simão chama­ do Zelote; 16 Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que se tornou traidor. 17 E, descendo com eles, parou numa planura onde se encontravam muitos discípulos seus e grande multidão do povo, de toda a Judéia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e de Sidom, 18que vieram para ouvi-lo e ser curados de suas enfermi­ dades; também os atormentados por espiritos imundos eram curados. (14-16) Simão vem em primeiro lugar nas listas dos evangelhos, da mesma forma que Judas aparece em último. Todas são arranjadas em três grupos, com os mesmos quatro nomes no primeiro grupo. A partir deste ponto Lucas usa o nome Pedro em lugar de Simão (22:31 e 24:34 são citações de outros). Antes disto ele nunca foi chamado apenas de Pedro. Era costume dos rabis judeus darem sobrenomes aos discípulos [Pirke Aboth 2:10). Somente João dá informação sobre André (1:40,44; 6:8; 12:22), Filipe (6:5,7; 12:21; 14:8), e Tomé (11:16; 14:5; 20:24-29). Tiago, filho de Alfeu, era provavelmente o mesmo Tiago, o menor, de Mateus 27:56 e M arcos 15:40. Simão era também chamado de cananeu, que era o equivalente aramaico de zelote (não o nome de um lugar). Zelote provavelmente indicava alguém com um zelo particular pela lei e que poderia ter um ponto de vista nacionalista arraigado. É na verdade impossível saber se o termo tinha um significado religioso ou patrió­ tico aqui. Ele foi provavelmente chamado assim para distingüi-lo de Simão Pedro. Judas, filho de Tiago (talvez seu irmão, mas mais provavelmente seu filho) era com certeza o mesmo Tadeu de Mateus e Marcos. Iscariotes, com referência ao outro Judas, é um termo de significado incerto; uma das explicações lógicas é de que se tratava do nome de um lugar.


19E todos da multidão procuravam tocá-lo, porque dele saía poder, e curava a todos. 20 Então, olhando ele para os seus discípulos, disse-lhes: Bem-aventurados vós os pobres, porque vosso é o reino de Deus. Jesus Cura Muitos En/ermos, 6:17-19 (possíveis paralelos, Mt 12:15-21; Mc 3:7-12; veja também Mt 4:23-5:1) (17, 18) O povo aqui estava esperando por ele quando desceu do monte (sobre multidões, veja notas em 1:10). O grupo viera de uma interessante variedade de locais. Lucas não mencionou anteriormente Tiro e Sidom. Talvez gentios fizessem parte dele. É provável que nem todos os presentes fossem discípulos de Jesus, apesar dele ter-se dirigido aos seus seguidores (reais e em potencial) (v. 20). A natureza dupla do ministério de Jesus é novamente indicada: ensino e cura. (VI) (19) É duvidoso que houvesse uma qualidade especial no contacto com Jesus. Pelo contrário, ele sem dúvida exercia a sua vontade para curar quando tocado (veja Marcos 5:27-30). Sobre poder veja notas em 1:17. (IV, VI) O S erm ão na Planície: As Bem-Aventuranças, 6:20-23 (Mt 5:3,4,6,11,12) (20) Apesar desta passagem (20-49) poder ser identi­ ficada com o Sermão do Monte (Mt 5-7), é possível que Jesus tenha ensinado coisas semelhantes em diferentes ocasiões, ou que tanto Mateus como Lucas tenham usado as ocasiões desses grandes sermões para apresentar um complexo dos ensinamentos do Senhor, de maneira har­ moniosa com os propósitos de seus respectivos evange­ lhos. Quarenta e um versículos do Sermão do Monte não têm paralelo em Lucas. Todavia o plano de ambos é o mesmo, com um movimento geral partindo das qualifica­ ções dos discípulos para os seus deveres, e para a idéia do juízo. Em Mateus, as palavras de Jesus são apresenta­ das na terceira pessoa, enquanto o uso da segunda pessoa por Lucas mostra Jesus endereçando pessoalmen­ te sua audiência.


2lBem- aventurados vós os que agora tendes fome, por­ que sereis fartos. Bem-aventurados vós os que agora chorais, porque haveis de rir. Este sermão inclui a substância da mensagem que Jesus tinha estado ensinando. A bênção dos pobres era um sinal messiânico (4:17; 7:22). Mas, quem eram eles? Alguns argumentariam que o significado era basicamen­ te o mesmo dos “pobres de espírito” em Mateus. Toda­ via, um estudo do conceito que Lucas faz dos pobres (veja notas em 4:18; cf. 1:53; 6:24; VI) indicaria que ele tem em mente os literalmente pobres. Nos séculos antes de Cristo, os judeus viam como pobres os santos ou piedosos (Is 66:1; cf. Tg 2:5). Talvez a referência fosse aos que, naquela sociedade, não tivessem justiça humana. Para­ lelos nos P ergam inhos do M ar M orto indicam qu e p obres pode indicar os que desprezavam os bens terrenos e aceitavam voluntariamente a pobreza. Mas se os homens aceitassem tal tipo de vida por causa do Senhor, isto seria mais do que compensado pela sua possessão do reino de Deus (cf. Is 57:17; notas em 1:33). (I)

(21) Apesar de Mateus 5:6 especificar os que têm fome e sede de justiça, nós os vemos como literalmente famintos, e pelas razões acima expressas (v. 20). A satisfação (fartos) provavelmente se refere à satisfação espiritual que compensaria aqueles que estivessem dis­ postos a aceitar fome por causa de Deus (paralelo ao reino de Deus). (VIII) A segunda bem-aventurança no versículo 21, apesar de semelhante a Mateus 5:4, é única em sua expressão particular. Poder-se-ia presumir o choro como sendo literal e que a interpretação fosse a mesma, feitas as necessárias mudanças, como nas duas bem-aventuranças anteriores. Os homens que choram por causa de seu serviço a Deus, ou por causa da recusa do mundo em servi-lo, ou por causa de sua própria tristeza ou neces­ sidade, ou por causa da perseguição, vêm a experimen­ tar alegria (cf. SI 126:5; veja notas em 1:14,47,58).


22uem- aventurados sois quando os homens vos odiarem, e quando vos expulsarem da sua companhia, vos injuria­ rem e rejeitarem o vosso nome como indigno, por causa do Filho do homem. 23Regozijai-vos naquele dia e exultai, porque grande é o vosso galardão no céu; pois dessa forma procederam seus pais com os profetas. 2 4 Mas ai de vós, os ricos! porque tendes a vossa consolação. (22) Apesar de todas as bem-aventuranças envolve­ rem um paradoxo, ele é mais evidente aqui do que nas três anteriores. Ninguém esperaria que um homem po­ bre, faminto, choroso ou perseguido fosse abençoado ou feliz. Jesus porém inverte as expectativas normais, falan­ do de um plano mais alto de atividades. Essas pessoas insatisfeitas e rejeitadas no presente, são todavia os maiores beneficiários da abundância de Deus. (23) Os que são odiados irão gozar tanto da recom­ pensa de Deus como da segurança da comunhão em companhia santa. Sobre “regozijai-vos” , veja notas em 1:14. Não houve promessa de remoção do sofrimento, mas ele seria finalmente esquecido na recepção de grandes bênçãos. O sofrimento, sem levar em conta a avaliação dos que o consideram superficialmente, pode ser suportado alegremente quando a mente é transfor­ mada, fixando-a em objetivos e valores maiores (cf. Rm 5:1-5). (I, VII) O Sermão na Planície: Os Ais, 6:24-26 (24) Esses ais, que são o inverso das bênçãos, não têm paralelo em Mateus. Ai (ouaij expressava lamentação e não acusação (veja Tg 5:1). Todavia o fato dos ricos estarem fartos, rirem e serem tidos em consideração não é algo errado em si mesmo. Devemos então presumir algumas outras condições como implícitas nas palavras de Jesus. Talvez aquelas pessoas fossem as que perse­ guissem os que estavam no reino. Mas, mais provavel-


25Ai de vós os que estais agora fartos! porque vireis a ter fome. Ai de vós os que agora rides! porque haveis de lamentar e chorar. 26Ai de vós, quando todos vos louvarem! porque assim procederam seus pais com os falsos profetas. mente, eram aqueles para quem essas coisas tinham mais valor do que o relacionamento mantido com o Senhor. Cada homem deve escolher a sua recompensa. Ela pode ser tanto deste mundo (vs. 24-26) como do mundo vindouro (vs. 20-23). Compare Mateus 6:1-17. O substantivo para rico é também encontrado em Lucas 12:16; 14:12; 16:1,19,21,22; 18:23,25; 19:2; 21:1; veja o verbo em 1:53. (25) Os fartos, isto é, os que se satisfazem somente com a plenitude física, iriam eventualmente conhecer a fome do alimento espiritual. Esses poderiam ser indiví­ duos insensíveis às necessidades dos que os rodeavam (cf. 12:19; 16:25; Tg 5:1-5). (VIII) Os que riam, mas eram indiferentes às coisas do reino, iriam descobrir que tinham passado por cima da verdadeira fonte da alegria e experimentariam tristeza e choro (cf. Tg. 4:9; sobre alegria veja notas em 1:14,47,58). (VII) (26) Desde que o fato de ser louvado não era um mal em si mesmo, Jesus pode ter indicado aqueles que procuram lisonjas a todo custo e que alcançavam seu objetivo imediato, mas não eram o povo de Deus da mesma forma que os falsos profetas (veja Miquéias 2:11). Em alguns casos os homens que eram louvados por todos, só recebiam esse louvor por terem comprometido o reino (veja Tg 4:4). O Sermão na Planície: Amor aos Inimigos, 6:27-36 (Mt 5:39-42, 44-48; 7:12) (27,28) Mateus 5:44 é semelhante a esses versículos. Todavia, neste parágrafo Lucas combina declarações dos dois últimos contrastes em Mateus 5 (38-42,43-48),


2 7 Digo-vos, porém, a vos outros que me ouvis: Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam; 28bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam. 29Ao que te bate numa face, oferece-lhe também a outra; e ao que tirar a tua capa, deixa-o levar também a túnica;

com a regra de ouro (Mt 7:12). Nos versículos presentes, a segunda e terceira declarações (bendizei... orai...) não são encontradas em Mateus. O comportamento nesses versículos é ativo, enquanto o indicado em 29 e seguintes é mais responsivo. Lucas orienta a discussão em termos de amor mais do que Mateus. Uma coisa distinta sobre o amor cristão era o amor pelos inimigos. Aqui, pela primeira vez, este evangelho usa o verbo agapaõ, que descreve um amor não-seletivo baseado na própria natureza de Deus. Ele não é concedido pelo fato do objeto amado ser digno de amor, mas por causa da natureza amorosa daquele que o concede (veja Mt 5:43-48; também Lucas 14:12-16). Ou­ tros usos lucanos deste verbo são 6:32,35; 7:5,42,47; 10:27; 11:43; 16:13. Este amor se torna o ponto focal da ética cristã (veja Rm 12:17; 13:8-10). Aquele que o adota não se torna simplesmente obediente às advertências morais, mas é transformado na própria natureza de Deus. É natural amar aos “entes amados”, mas é neces­ sário um ato de uma vontade transformada para poder amar um inimigo. Numa sociedade onde o poder romano era odiado, e onde as expectativas do reino seriam vistas em tal conceito político, palavras como estas partidas de um Messias eram sem dúvida dignas de nota. Uma outra amplificação deste imperativo envolvia fazer o bem aos que nos odeiam, abençoar aos que nos maldizem e orar pelos que nos caluniam (veja notas em 1:10). )esus demonstraria isso de maneira notável em sua vida (23:34). (29) Esta é uma outra explicação da ética do amor Mateus 5:39 e seguintes estabelece as declarações em


30(Já a todo o que te pede; e se alguém levar o que é teu, não entres em demanda. 31Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles. 32 Se amais os que vos amam, qual é a vossa recompen­ sa? Porque até os pecadores amam aos que os amam. 33 Se fizerdes o bem aos que vos fazem o bem, qual é a vossa recompensa? Até os pecadores fazem isso. um contexto legal e na discussão de revide. A capa era a veste externa e mais cara, com mais probabilidade de ser tomada, enquanto a túnica era a que ficava debaixo dela. Jesus ensinou que revide ou proteção de bens materiais é menos importante do que as relações huma­ nas cheias de amor. Apesar de ser difícil amar a pessoa que inflingia o mal, era isto que tornava diferente o ensino de Jesus. (30) O paralelo deste versículo está em Mateus 5:42, onde a declaração é colocada no parágrafo sobre amor. Jesus não estava falando de ofertas superficiais aos pobres, mas de uma preocupação moral que se expres­ sava em auto-negação por causa de outros. O amor dá porque quer dar, e não por desejar receber algo de volta. Quando é preciso escolher entre bens e pessoas, as pessoas são mais importantes. Todavia, é possível recu­ sar dar esmola em dinheiro a um mendigo profissional se ele for usá-lo em seu próprio prejuízo, e dar assim maior prova de amor do que se se desse a esmola (veja 2 Ts 3:10-12). Jesus não estava pensando naqueles que tiram proveito de outros em sua letargia autodestrutiva, mas sim nos verdadeiramente necessitados. (31) O paralelo está em Mateus 7:12. A regra de ouro tem significado apoiada no pano de fundo da ética do amor. De outra forma um masoquista poderia punir outros a fim de ser punido de volta. Jesus foi aparentemente o primeiro a expressar esta idéia de forma positiva, apesar de uma forma negativa poder ser documentada antes, como, por exemplo, nos ensinos de Hillel (“O que lhe for odioso não faça a seu


34E se emprestais àqueles de quem esperais receber* qual é a vossa recompensa? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para receberem outro tanto. 35Amai, porém os vossos inimigos, fazei o bem e empres­ tai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus. próximo; essa é toda a Torah, enquanto o resto é comentário” , Sanhedrim 31a). (32, 33) Existe um amor natural (veja notas em 6:27) que é inato e portanto não virtuoso no sentido especial da ética do reino (mas cf. 1 Tm 5:58). A virtude é aquilo que desenvolvemos além da natureza. Os discípulos tinham de ser mais do que os pecadores. (34) Não existe paralelo em Mateus para esta decla­ ração (mas veja Lv 25:35-38). O empréstimo aqui era aquele feito com juros. Jesus não estava condenando o empréstimo com juros mais do que condenou o amor natural no verso precedente. Ele estava falando de relações éticas humanas. É preciso agir quando não existe qualquer proveito a ser tirado de outrem. O amor é concedido pelo benefício que pode propiciar ao ser amado, e não por interesses egoístas. De fato, o amor não pode ser concedido em troca de ganhos materiais. (VIII) (35) Jesus volta à declaração do v. 27, acrescentando agora uma discussão dos benefícios reais e da razão que nos leva a tal ato de amor. Sem esperar nenhuma paga tem uma interpretação alternativa, “não desesperando de homem algum”, que indicaria a necessidade de paci­ ência mesmo quando a reação mais negativa é recebida em relação aos nossos atos de bondade. A passagem, como está, poderia implicar que um empréstimo deveria ser feito mesmo quando o capital não fosse devolvido e, se assim fosse, seria uma continuação do v .34. O galar­ dão (cf. Mt. 6:1,2,4, etc.) viria tanto no serviço como em seqüência a ele. A razão para o ato de amor é a natureza de Deus, que abençoa a todos imparcialmente. O fato de amar faz com que a pessoa participe da natureza de


36Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai. 37 Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados; Deus (i.e., um filho do Altíssimo]. Jesus repudiou a doutrina de que Deus pune os perversos nesta vida, retendo especificamente as bênçãos da natureza. Sobre amor, veja notas em 6:27. (VII, VIII) (36) Mateus 5:48 diz, “sede vós perfeitos” em lugar de “sede misericordiosos”. Lucas estabelece ainda mais basicamente o que disse o verso precedente e qual a razão de todo o parágrafo. Ninguém pode exemplificar plenamente a misericórdia de Deus, mas a pessoa vive debaixo deste ideal se estiver no reino. O Sermão da Planície: Sobre o Julgam ento, 6:37-42 (Mt 7:1-5; 15:14; 10:24) (37) Mateus 7:1 e seguintes apresenta a declaração relativa ao julgamento, mas a que diz respeito à conde­ nação é única em Lucas. O que constitui julgamento, e de quem vem o juízo recíproco? Com respeito à primeira pergunta talvez o significado seja o de evitar motivos para julgar, ou evitar o juízo rigoroso (apoiado pelo termo condenados que vem a seguir), ou abster-se de agir como Deus por tentar determinar a posição final do homem diante do seu Criador. O homem não é suficiente­ mente bom ou sábio para julgar. Todavia, o Novo Testa­ mento permite a admoestação, assim como a declaração de fatos, exigindo até mesmo isso em certas ocasiões (At 13:44; Rm 1:32; 1 Co 5:11). O controle é motivado pelo amor, como indicado na primeira parte do discurso de Jesus. Se o julgamento for inevitável, deve ser feito com um motivo redentor (veja Rm 2:1; 14:4; Tg 4:10; 5:9). Não julgueis poderia incluir outras pessoas, que pagam na mesma moeda a falta de amor para com elas, ou eventualmente, o próprio Deus. Jesus não estava naturalmente proibindo a adminis-


38dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também. 39Propôs-lhe também uma parábola: Pode porventura um cego guiar a outro cego? Não cairão ambos no barranco?

tração da justiça nas cortes (cf. Rm 13:1-7]. No contexto imediato, ele poderia estar se referindo aos “religiosos” da época que não eram caridosos com os pecadores (veja 5:29-32; 7:39). O recebimento do perdão de Deus depende de um espírito de perdão em relação a outros (veja notas em 4:39), embora os homens jamais possam conceder perdão de maneira tão perfeita quanto Deus. Além disso, os outros homens terão mais facilidade em perdoar alguém que lhes tenha concedido perdão (cf. Mt 6:14; 18:32). (II, VIII) (38) O amor deve ser sem medida. A idéia é provave mente tirada da pesagem de cerais. A medida era feita com um pedaço de tecido formando uma espécie de saco, pendendo de um cinto (veja Rute 3:15). Os homens tratam geralmente os outros como são tratados. Ainda mais, Deus dará sem medida quando amamos sem medida. E Deus tem uma medida maior do que o homem! O efeito do amor cristão na vida de uma pessoa está em proporção com a sua prática do mesmo. É surpreendente observar como os homens do reino devem entregar-se por outros. Todavia, os discípulos de Jesus não dão ou perdoam apenas na esperança daquilo que vão receber em troca, pois isto iria contrariar toda a ética do Senhor. (VIII) (39) Poços abertos e barrancos desguarnecidos eram comuns na Palestina. O sentido literal das palavras de Jesus é claro. A aplicação é um tanto mais difícil. Em Mateus 15:14 ela se referia aos fariseus. Aqui poderia significar não ser possível ensinar a outros se não estivermos dispostos a aprender de Jesus. O fato de aprender e praticar os seus ensinamentos iria evitar que a pessoa se tornasse um líder cego, levando outros para


40o discípulo não está acima do seu mestre; todo aquele, porém, que for bem instruído será como o seu mestre. 41Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? 42 Como poderás dizer a teu irmão: Deixa, irmão, que eu tire o argueiro do teu olho, não vendo tu mesmo a trave que está no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e então verás claramente para tirar o argueiro que está no olho do teu irmão. a destruição. Um verdadeiro discípulo e líder deve pri­ meiro reformar a sua própria vida. Jesus descreve um quadro irônico de uma pessoa que não foi ensinada ou de um hipócrita tentando liderar outros. (40) Este ditado proverbial significa o mesmo que os outros aforismos no contexto: Não exalte a si mesmo! O discípulos não podem aproximar-se da verdade além do ponto a que o professor os leva, e assim devem reconhe­ cer sua verdadeira posição como aprendizes. (41) O paralelo em Mateus 7:1-5 está no contexto de não exercer julgamento. Os temas dos versículos prece­ dentes (julgamento e responsabilidades dos aprendizes) estão aqui combinados. O argueiro poderia indicar qual­ quer coisa pequena e seca, como cisco, ou lasquinhas de madeira. Reparas indica atenção prolongada ou obser­ vação. A trave era um suporte ou viga-mestra que recebia as demais vigas no telhado ou assoalho. (42) Jesus, neste quadro, cujas imagens eram também usadas pelos rabis, mostra novamente o seu senso de humor. Dificilmente se pode imaginar alguém tendo uma trave no olho, e muito menos ignorá-la a ponto de observar um argueiro no olho de outra pessoa. Além do mais, seria ridículo ver tal pessoa aproximar-se suficien­ temente da outra a fim de remover um argueiro. A natureza bizarra da idéia apresentada por Jesus estava dizendo que quem quer que não praticasse a auto-análise e a correção antes de se tornar mestre iria mostrar-se um guia cego. Não podemos avaliar a vida de outros antes de avaliar a nossa.


43 Não há árvore boa que dê mau fruto; nem tão pouco árvore má que dê bom fruto. 44porquanto cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto. Porque não se colhem figos de espinheiros, nem dos abrolhos se vindimam uva. 45 o homem bom do bom tesouro do coração tira o bem; e o mau, do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o coração. 46Por que me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando? 47 Todo aquele que vem a mim e ouve as minhas palavras e as pratica, eu vos mostrarei a quem é semelhante. 48é semelhante a um homem que, edificando uma casa, cavou, abriu profunda vala e lançou o alicerce sobre a rocha; e, vindo a enchente, arrojou-se o rio contra aquela casa, e não a pôde abalar, por ter sido bem construída. 49Mas o que ouve e não pratica é semelhante a um homem que edificou uma casa sobre a terra sem alicer­ ces, e arrojando-se o rio contra ela, logo desabou; e aconteceu que foi grande a ruína daquela casa. O S erm ão na Planície: Uma Prova d e B on dade, 6:43-46 (Mt 7:16-21; 12:33-35) (43, 44) Esses versos ampliam ainda mais a idéia geral dos vs. 39 e seguintes. Mau fruto é tradução de uma palavra grega que indica algo estragado, podre e inútil. Uma vida não pode ser externamente aquilo que não é por dentro. Jesus deseja devoção interior e prática exterior, e não apenas a última em separado da primeira. (45) Jesus passa agora ao princípio básico que dá informação sobre a vida da pessoa. A bondade ou maldade do homem tem origem no seu coração. Este verso aplica a ilustração da precedente e forma um elo com a seção seguinte, que é uma parábola de aplicação direta aos ouvintes de Jesus. (46) Este versículo une como um todo a seção inteira de 39-46, apreendendo especialmente a idéia dos vs. 42 e


1 Tendo Jesus concluído todas as suas palavras dirigidas ao povo, entrou em Cafarnaum. 2e o servo de um centurião, a quem este muito estimava, estava doente, quase à morte. ^Tendo ouvido falar a respeito de Jesus, enviou-lhe alguns anciãos dos judeus, pedindo-lhe que viesse curar o seu servo. 45 com relação ao tema de “ser” versus “pretender” ou “dizer” (cf. Mt 21:28-32; Tg 1:22-25). Normalmente, o reconhecimento da soberania implica em obediência, mas pode ter havido seguidores que apreciaram os milagres e os ensinamentos, não tendo porém se envolvi­ do suficientemente para alcan çar o pleno discipulado. (VI) O S erm ão na Planície: Ouvintes e P ratican tes d a P alavra, 6:47-49 (Mt 7:24-27) (47-49) A idéia é a de uma inundação provocada por um rio. A palavra-chave é alicerce. As crises da vida mostrarão a verdadeira natureza do nosso discipulado. Ouvir apenas os ensinamentos de Jesus não basta para suster-nos, mas ser a espécie de pessoa descrita por ele bastaria. A ruina seria grande, porque simbolizava a ruína de uma pessoa. (VI) O S ervo do Centurião, 7:1-10 (Mt 8:5-13; cf. também João 4:46-53) (1, 2) A narrativa de Lucas dá mais ênfase do que a de Mateus ao caráter do soldado. A história mostra como um gentio podia participar das bênçãos do Senhor. Um centurião comandava aproximadamente cem soldados (sejam tropas romanas ou nativas). Tais homens são freqüentemente mencionados com bondade no Novo Tes­ tamento (cf. Lc 23:47; At 10:1; 27:43). Neste ponto, sua compaixão pelo servo era meritória. Este homem prova­ velmente tinha aceito os princípios e ensinamentos do


4Estes, chegando-se a Jesus, com instância lhe suplica­ ram, dizendo: Ele é digno de que lhe faças isto; 5porque é amigo do nosso povo, e ele mesmo nos edificou a sinagoga. 6Então Jesus foi com eles. E já perto da casa, o centurião enviou-lhe amigos para lhe dizer: Senhor, não te incomo­ des, porque não sou digno de que entres em minha casa. 7Por isso eu mesmo não me julguei digno de ir ter contigo; porém manda com uma palavra, e o meu rapaz será curado. BPorque também eu sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados às minhas ordens, e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu servo: Faze isto, e ele o faz. judaismo, apesar de não ter-se convertido por completo (note o v.5). (3) Os vs. 3-5 só aparecem em Lucas. Mateus diz que o próprio centurião procurou Jesus, enquanto em Lucas ele não chega a encontrar-se com o Senhor. Talvez Lucas faça o relato mais específico, enquanto Mateus simples­ mente generaliza. Os anciãos eram os líderes da comuni­ dade, e o centurião pode ter pensado que exerceriam mais influência sobre Jesus. É um tributo ao soldado o fato deles se disporem a ir, especialmente quando havia freqüentes hostilidades entre os judeus e romanos (parti­ cularmente com os soldados). (4, 5) Os detalhes salientam de novo o caráter do centurião. Os anciãos podem ter pensado que Jesus partilhava dos preconceitos comuns aos judeus em re­ lação aos romanos, e portanto insistiram com ele. O soldado tinha provavelmente subsidiado a construção da sinagoga. Sobre amor veja notas em 6:27. (VI) (6, 7) Talvez o centurião não tenha ido pessoalmente por respeitar a relutância judia em associar-se com os gentios e entrar na casa deles (veja Atos 11:3 e cf. Atos 16:15). O homem além de ter fé mostrava notável humil­ dade (contraste o seu não sou digno com o fato dos judeus o chamarem “digno” no v.4).


^Ouvidas estas palavras, admirou-se Jesus dele, e vol­ tando-se para o povo que o acompanhava, disse: Afirmovos que nem mesmo em Israel achei fé como esta. lOE, voltando para casa os que foram enviados, encon­ traram curado o servo. 11 Em dia subseqüente dirigia-se Jesus a uma cidade chamada Naim, e iam com ele os seus discípulos e numerosa multidão. 12Como se aproximasse da porta da cidade, eis que saía o enterro do filho único de uma viúva; e grande multidão da cidade ia com ela.

(8) Ele acreditava que o poder de Jesus podia trans cender barreiras de tempo e espaço (veja 4:6). Uma cura em tal caso poderia ser notavelmente impressiva, não podendo haver qualquer acusação de charlatanismo. Era preciso grande fé para crer que Jesus podia controlar a doença com a mesma facilidade com que o centurião dominava seus subordinados. Ele estava dizendo com efeito: “Eu mando em meu escravo, mas o Senhor coman­ da a sua doença” . (VI) (9, 10) O primeiro incidente depois de Jesus ter apresentado os ensinamentos sobre o reino (6:20-49) mostra um gentio manifestando a espécie de fé que faria de alguém um membro do mesmo. (VIII) Somente duas vezes Jesus fez elogios a uma fé notável, e em ambas as ocasiões tratava-se de gentios (aqui e em Mt 15:21-28; Mc 7:24-30; mas cf. Lc 8:42-48). A fé possuída pelo centurião é enfatizada ainda mais pela referência de Lucas à surpresa de Jesus. O Filho da Viúva de Naim, 7:11-17 (11, 12) Jesus é mostrado aqui como aquele que pode vencer a morte, e a história aparece assim como um prelúdio da sua ressurreição (veja também Mc 5:21-24, 35-43; João 11:1-44; 1 Rs 17:17-24; 2 Rs 4:32-37). Esta história só aparece em Lucas. Naim, somente menciona­ da aqui na Bíblia, ficava a oito quilômetros de Nazaré, a cavaleiro do vale de Jezreel. A mãe estaria na frente do


13Vendo-a, o Senhor se compadeceu dela e lhe disse: Não chores! 14 Chegando- se, tocou o esquife e, parando os que o conduziam, disse: Jovem, eu te mando: Levanta-te. 15Sentou-se o que estivera morto e passou a falar; e Jesus o restituiu a sua mãe. l^Todos ficaram possuídos de temor, e glorificavam a Deus, dizendo: Grande profeta se levantou entre nós, e: Deus visitou o seu povo.

esquife (uma cesta de vime comprida), e portanto o Senhor naturalmente dirigiu-se a ela em primeiro lugar. Uma viúva poderia encontrar-se em grandes dificulda­ des, e se não tivesse outros parentes, ninguém teria a obrigação legal de sustentá-la. Da mesma forma, a extinção da linhagem familiar, se fosse este o caso, faria daquele um funeral verdadeiramente triste (cf. 9:38). (VI) (13, 14) Este é um dos poucos pontos em que o fator compaixão é notado como um motivo específico para um milagre (cf. 10:33). Por estar absolutamente certo do que podia fazer, Jesus estava em posição para dizer: Não chores (veja Ap 5:5; cf. Lc 23:28). Ele tocou o esquife: um costume que parece ter tido origem nas curas realizadas por Elias e Eliseu (1 Rs 17:21; 2 Rs 4:34; 13:21; cf. também Lc 8:46). Em suas palavras ao jovem, o te foi enfático. (15, 16) O rapaz foi restituído à mãe, reminiscente de 1 Reis 17:24. Neste caso, Jesus não pediu ao homem que o seguisse, talvez devido à necessidade da mãe ser susten­ tada pelo filho. Este foi o primeiro reconhecimento popu­ lar de Jesus como profeta, talvez por causa da associa­ ção com Elias no milagre. Este foi também um dos sinais messiânicos (7-.22; veja notas em 1:70; também Mt 16:14; 21:46; Mc 6:15; Lc 7:39; 24:19; Jo 7:52). (IV) (17) Quanto ao fato da fama de Jesus ter-se divulgad veja 4:14,37; 5:17. Esta notoriedade explicaria uma das razões pela qual os discípulos de João teriam ouvido falar de suas obras. (VI)


l?Esta notícia a respeito dele divulgou-se por toda a Judéia e por toda a circunvizinhança. 18 Todas estas cousas foram referidas a João pelos seus discípulos. E João, chamando dois deles, 19enviou-os ao Senhor para perguntar: És tu aquele que estava para vir, ou havemos de esperar outro? 20Quando os homens chegaram junto dele, disseram: João Batista enviou-nos para te perguntar: És tu aquele que estava para vir, ou esperaremos outro? 2lNaquela mesma hora curou Jesus a muitos de moléstias e flagelos e de espíritos malignos; e deu vista a muitos cegos. 22Então Jesus lhes respondeu: Ide, e anunciai a João o que vistes e ouvistes: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres anuncia-se-lhes o evangelho. A Pergunta de João a Jesus, 7:18-35 (Mt 11:1-19) Este episódio está dividido em três partes: vs. 18-23 correspondem à pergunta de João Batista e sua resposta, 24-28 descrevem seu papel na história da redenção, e 29-35 dão o significado de sua rejeição pelo povo. (18, 19) És tu aquele que estava para vir tinha base em Malaquias 3:1 (veja Lucas 7:27). Foi Jesus o Elias que curava, o Elias predito por Malaquias, que viria trazendo juízo (MI 3:2-4; 4:5)? Em resposta a este significado implícito da pergunta de João, Jesus interpretou sua missão, não nos termos de Malaquias, mas do conceito de Isaías sobre o servo do Senhor (42:6; e cf. 29:18; 35:5; 61:1) e esperou que João não se ofendesse (v. 23). (20-22) Jesus respondeu mais com obras do que com palavras. Compare as similaridades com Lucas 4:18 e seguintes, assim como as passagens de Isaías ali mencio­ nadas. Jesus não deu sinais de um reino físico, mas apelou no sentido de que João e seus discípulos acreditas­ sem que os propósitos de Deus estavam sendo realizados. Lucas referiu-se anteriormente a curas dos cegos (v. 21) e leprosos (5:12-16); à ressurreição de mortos (7:11-17);


23e bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço. 24jendo-se retirado os mensageiros, passou Jesus a dizer ao povo a respeito de João: Que saístes a ver no deserto? um caniço agitado pelo vento? 25Que saístes a ver? um homem vestido de roupas finas? Os que se vestem bem e vivem no luxo assistem nos palácios dos reis. 26sim, que saístes a ver? um profeta? Sim, eu vos digo, e muito mais que profeta. 27£ste é de quem está escrito: Eis aí envio diante da tua face o meu mensageiro, o qual preparará o teu caminho diante de ti. e talvez ao fato dos coxos andarem (5:17-26), apesar da primeira doença ter sido a paralisia. Nas passagens do Veího Testamento a lepra e a ressurreição não foram mencionadas como sinais a serem feitos. É interessante que a pregação aos pobres fosse um sinal tão messiânico quanto os demais (sobre pregação de boas novas, veja notas em 1:19). (VI, VIII) (23) O tropeço implicava a idéia de logro (passar rasteira) ou armadilha. Provavelmente indica que o conceito de João sobre o Messias era diferente da apre­ sentação de Jesus, e João não devia ficar ofendido com esta correção. (IV, VI, VII) (24, 25) Essas são as primeiras palavras de Jesus em Lucas, a respeito de João (mas cf. 1:17), e ele é mais amável do que se poderia esperar pelos seus comentários anteriores. Suas palavras indicam que eles saíram para ver algo que não podia ser visto em outro lugar e que definitivamente valia a pena. (26) Jesus avança em sua descrição, de caniço para homem, deste para profeta, e de profeta para muito mais do que profeta. Ele endossou a tarefa de João e agora mostra seus envolvimentos adicionais. (27) Jesus explica aqui de que forma João excedia aos demais (v. 26). Ele prepararia o caminho para o Senhor de um modo que nenhum outro profeta tinha feito. João


28 e eu vos digo: Entre os nascidos de mulher, ninguém é maior do que João; mas o menor no reino de Deus ê maior do que ele. 29Todo o povo que o ouviu, e até os publicanos, reconhe­ ceram a justiça de Deus, tendo sido batizados com o batismo de João; 30mas os fariseus e os intérpretes da lei rejeitaram, quanto a si mesmos, o desígnio de Deus, não tendo sido batizados por ele. era a figura de Elias, segundo esta citação de Malaquias 3:1 (veja Ml 4:5). Assim sendo, João, num certo sentido, cumpria a passagem que ele esperava que Jesus cum­ prisse (veja discussão v. 19). A citação de Malaquias como dada aqui difere em sua forma tanto do texto hebreu como da Septuaginta. Esta forma pode ter sido uma que se tornou estereotipada antes dos evangelistas fazerem uso dela, desde que todos eles concordam nas diferenças (Mt 11:10; Mc 1:2). Talvez, com base na semelhança com Êxodo 23:20, Jesus estivesse ligando os temas do êxodo e da salvação profética. Esta é a segunda vez em Lucas que Jesus dá uma interpretação das escrituras (veja 4:18; também 24:27,45). (VII) (28) Apesar de num certo sentido os profetas estarem no reino (13:28), João porém não se encontrava nele durante a sua vida, desde que reino não tinha ainda chegado completamente. Jesus salientou assim a grandio­ sidade do reino (veja notas em 1:33). (29, 30) Estas palavras são provavelmente de Lucas, inseridas aqui para explicar o contexto. Dão uma idéia da maneira como ele via o ministério de João. O contraste é feito entre os que justificaram a Deus no v. 29 e os que rejeitaram o seu desígnio no v. 30 (cf. uma polaridade semelhante com relação a Jesus nos vs. 36-50). Justifi­ car a Deus significava que eles aceitaram o que Deus fez através de João, com a sua pregação de juízo e arrepen­ dimento como indicações da iminência do reino (veja a idéia de justificar Deus como a de considerá-lo justo, Salm os d e S alom ão 2:15; 3:3,5; 4:8). Segundo uma tradu-


3lA que, pois, compararei os homens da presente gera­ ção, e a que são eles semelhantes? 32são semelhantes a meninos que, sentados na praça, gritam uns para os outros: Nós vos tocamos flauta, e não dançastes; entoamos lamentações e não chorastes. 33p0is veio João Batista, não comendo pão nem bebendo vinho, e dizeis: Tem demônio. 34Veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizeis: Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores! 35\las a sabedoria é justificada por todos os seus filhos. ção, eles “reconheceram o plano de Deus”. O verbo para rejeitar é forte. Sua recusa do batismo não só implicava má vontade em arrepender-se, como também constituía uma rejeição dos atos de Deus em trazer o reino. . (31, 32) A idéia aqui é a de pessoas que não ficarão satisfeitas qualquer seja a maneira em que forem abor­ dadas. Críticas anteriores feitas por Jesus sobre a insen­ sibilidade religiosa do povo são encontradas em 4:23; 5:23, 31; 6:3-5,7. (33) Os hábitos de João e essas reações a ele não são revelados em nenhum outro lugar. A recusa de vinho (veja 1:15) pode sugerir um voto nazireu. A abstinência de João era atribuída à possessão demoníaca. Além de explicar o comportamento anormal (cf. Mt 11:18; Mc 3:22; Lc 8:27), apelava-se para a possessão demoníaca para justificar atitudes consideradas basicamente falsas (João 7:20; 10:20). Esta acusação era uma maneira em que os que não podiam suportar a verdade da sua mensagem, exteriormente evadiam essa responsabili­ dade. (34) Essas acusações contra Jesus não eram verdadei­ ras, apesar de relacionadas com fatos reais. Jesus bebia vinho e comia com publicanos e pecadores (cf. 5:29-32), mas não era glutão nem bêbedo. Essas comparações podem implicar alguma diferença significativa entre as missões de Jesus e de João. Sobre Filho do homem, veja notas em 5:24. (VI)


36Convidou-o um dos fariseus para que fosse jantar com e­ le. Jesus, entrando na casa do fariseu, tomou lugar à mesa. 37 e eis que uma mulher da cidade, pecadora, sabendo que ele estava à mesa na casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com ungüento; 38e, estando por detrás, aos seus pés, chorando, regavaos com suas lágrimas e os enxugava com os próprios cabelos; e beijava-lhe os pés e os ungia com o ungüento. (35) Filhos da sabedoria (cf. Pv 1:20; 8:22), ou do Deus supremamente sábio, apreciam e acatam as palavras de Deus. Eles vêem as coisas que são realmente importantes (como os vs. 36-50 irão mostrar). São aqueles que justifi­ cam a Deus (v. 29), em contraste com os que o rejeitam (v. 30), ou se recusam a satisfazer-se com o que quer que seja (vs. 32-34). (VI) A Mulher com o Ungüento, 7:36-50 (36) Alguns identificaram esta história com Mateus 26:6-13; M arcos 14:3-9; e João 12:3-8, mas existem muitas diferenças para que possa ser feita essa identificação. O contraste entre o caráter desta mulher aqui e M aria na outra história não é a menor dessas diferenças. As semelhanças podem ser devidas ao fato das duas histó­ rias influenciarem uma à outra ao serem contadas. A presente história é poderosamente descritiva, elaboran­ do através de um caso concreto os princípios expressos por Jesus nos vs. 29-35. O motivo do convite do fariseu pode ter sido muito bem a curiosidade, pois admitiu que Jesus talvez fosse profeta. Pela falta de hospitalidade mostrada a Jesus, é duvidoso que a refeição tivesse o propósito de homenageá-lo. Os convidados se sentavam à mesa reclinados em sofás baixos, apoiados no braço esquerdo e mantendo o direito livre. Sobre refeições, veja notas em 5:29. (37, 38) Esta mulher era provavelmente uma prostitu­ ta, apesar de poder ter sido a mulher de uma pessoa não religiosa. Tinha provavelmente tido contato anterior com Jesus, e a experiência a levara ao profundo arrependi-


39A o ver isto, o fariseu que o convidara disse consigo mesmo: Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, porque é pecadora.

mento. No Oriente, as casas pareciam estar mais ou menos sujeitas a esta espécie de intrusão (veja Mt 9:10; Lc 5:29 e a discussão ali mencionada). Mas de todos os lugares a que tal mulher pudesse ir, a casa de um fariseu pareceria o menos provável. Sua presença causou algu­ ma surpresa (veja eis). O conceito em que todos a tinham não poderia ter sido elevado. A experiência pode ter sido ainda mais embaraçosa caso Jesus estivesse ocupando um lugar proeminente na refeição. Talvez a mulher quisesse apenas ungir os pés dele, mas cheia de gratidão deixou-se vencer pela emoção e estendeu suas ministrações (cf. 5:32). As sandálias eram tiradas na hora da refeição, e no seu trauma ela chorou sobre os seus pés e lavou-os com suas lágrimas, além de ungi-los com o ungüento do frasco de alabastro (o termo era usado com relação a caixas e vidros mesmo quando não fossem realmente de alabastro). Era vergonhoso para os judeus que uma mulher soltasse o cabelo em público. A moça judia o prendia no dia de seu casamento e jamais aparecia de cabelos soltos. Mas esta mulher transgrediu o costume, no que foi talvez um ato espontâneo. Devoção ainda maior foi demonstrada pelo fato de beijar os pés de Jesus. O verbo indica beijos afetuosos e continuados. É o mesmo usado para descrever o beijo de Judas Iscariotes (22:47 — uma alteração irônica), do pai do filho pródigo (15:20), e dos anciãos de Éfeso (Atos 20:37). (VI) (39) O fariseu tinha o conceito de que nenhuma pessoa religiosa permitiria tal contato por parte de um pecador. O profeta tinha a obrigação de saber quem eram os pecadores, a fim de que fossem evitados (veja 7:16). Evidentemente, então, Jesus não poderia ser um profeta. Ironicamente, Jesus passa pelo teste do fariseu, pois ele sabia quem ela era. Mas ele negou a premissa do fariseu no sentido de tais pessoas serem intocáveis. Para completar a ironia, o fariseu iria descobrir que Jesus


40Dirigiu-se Jesus ao fariseu e lhe disse: Simão, uma cousa tenho a dizer-te. Ele respondeu: Dize-a, Mestre. 41 Certo credor tinha dois devedores: um lhe devia qui­ nhentos denários, e o outro cinqüenta. 42Não tendo nenhum dos dois com que pagar, perdooulhes a ambos. Qual deles, portanto, o am ara mais? 43Respondeu-lhe Simão: Suponho que aquele a quem mais perdoou. Replicou-lhe: Julgaste bem. 44 e voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; esta, porém, regou os meus pés com lágrimas e os enxugou com os seus cabelos. 45Não me deste ósculo; entretanto ela desde que entrei não cessa de me beijar os pés. 46Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta com bálsamo ungiu os meus pés.

sabia que espécie de homem era ele. Ele não percebeu em absoluto o verdadeiro drama humano que estava tendo lugar e a razão da emotividade da mulher. (VI) (40) Jesus leu a sua mente (III), ao dirigir-se a Simão Seu pedido para falar iria atrair maior atenção ao que tinha a dizer. (41, 42) O denário de prata era uma unidade básica da moeda romana. Em alguns casos equivalia a um dia de trabalho (Mt 20:2), o contraste sendo então de um sálario de cinqüenta dias versus aquele de um ano e um terço. O perdão por parte do credor foi uma demonstração de graça genuína (cf. Mt 18:27). Em ambos os casos o perdão foi total, mas a reação variou com a quantia perdoada. A gratidão foi provavelmente em proporção ao cálculo da quantia por parte do devedor e a dificuldade do pagamento, em lugar da importância em si. Ambos sabiam que eram insolventes, mas poderiam ter sentido isso em graus variados de percepção. Sobre amor, veja notas em 6:27. (43) Simão tinha caído na armadilha de Jesus e admitiu a validade do ponto antes de Jesus ter feito a aplicação (cf. 10:28). A implicação da história era no


47por isso te digo: Perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama. 48Então disse à mulher: Perdoados são os teus pecados. sentido de que o perdão precedia a gratidão. (44, 46) O comportamento comparativo da mulher e do hospedeiro oferece um contraste impressivo entre a verdadeira devoção e uma certa rudeza. Talvez a mulher tivesse buscado uma oportunidade para mostrar sua gratidão ao Senhor, e a falta de hospitalidade por parte de Simão forneceu-lhe a oportunidade desejada. Tais amenidades, como as indicadas por Jesus, eram necessá­ rias devido ao efeito do vento e do sol sobre a pele, assim como o fato de viajar somente de sandálias iria exigir a lavagem dos pés (sobre lavagem de pés, cf. Gn 18:4; Jo 13:5; 1 Tm 5:10]. O beijo era uma forma cortês de cumprimento. Lucas não diz porque Simão ignorou essas delicadezas. Talvez ele fizesse favores apenas àqueles que poderiam retribuir com algum serviço. Mas seria de se esperar que ele oferecesse hospitalidade, enquanto tal obrigação social não incidia sobre a mulher. A unção era algumas vezes feita com óleo de oliva, mas aqui foi usado um ungiiento mais caro. A mulher, preocupada em oferecer mais do que as cortesias costu­ meiras, estava expressando o verdadeiro amor. E não se tratava de um ato superficial, mas de uma devoção continuada. Simão não realizou sequer o ritual das simples formalidades. E mais tarde ele não parece ter sentido qualquer embaraço pela sua negligência. (47, 48J Jesus não estava certamente dizendo que seu amor ganhou para ela o perdão, pois se assim fosse ele estaria contradizendo toda a moral de sua história. A fé a salvou (v. 50]; a grandeza de seu amor era uma prova da grandeza do seu perdão. A referência aos muitos peca­ dos dela pode ser um reflexo da opinião que Simão tinha a seu respeito (sobre pecados, veja notas 1:77; 3:3). Ela sabia o significado do perdão, enquanto o hospedeiro não


490s que estavam com ele à mesa, começaram a dizer entre si: Quem é este que até perdoa pecados? 5ÜMas Jesus disse à mulher: A tua fé te salvou, vai-te em paz. 1 Aconteceu depois disto que andava Jesus de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus, e os doze iam com ele, 2e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chama­ da Madalena, da qual saíram sete demônios; o conhecia. Simão com certeza necessitava dele, mas estava insensível à sua necessidade. (49) Esta é a segunda vez em que Jesus é criticado por perdoar pecados (veja 5:20). Os críticos de Jesus não eram bastante corajosos para expressar abertamente sua opinião. Talvez estivessem racionalizando sua falha em aceitar o ponto de Jesus. (VI) (50) Novamente neste ponto Jesus respondeu àquilo que as pessoas estavam pensando, ou pelo menos àquilo que não estavam expressando abertamente a ele (III). A mulher acreditava no que Jesus podia fazer, em agudo contraste com aqueles no v. 49 que não criam. Ao elogiar a mulher, ele estava provavelmente implicando que ela tinha o que faltava a eles, i.e., fé (veja notas em 5:20, e cf. Mt 9:22; Mc 10:52; Lc 17:19; 18:42; Rm 10:9). Sobre paz, veja notas em 1:79. (II) As Mulheres que serviram a Jesu s, 8:1-3 (Mt 4:23; 9:35) (1) A presente seção (especialmente 8:4-21), junta­ mente com 6:40-49, é uma das coleções de ensinamentos que precedem o corpo principal do material de ensino no livro (9:51-18:14). Esses três versículos preparam o leitor para a parábola do semeador que se segue. Sobre pregação veja notas em 1:19; sobre reino, veja notas em 1:33. (2) Esta seção indica a importância das mulheres na apresentação do evangelho feita por Lucas (veja notas em 1:5; e cf. Atos 1:14,21). É possível que as mulheres


3e Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Suzana e muitas outras, as quais lhe prestavam assistên­ cia com os seus bens. 4 Afluindo uma grande multidão e vindo ter com ele gente de todas as cidades, disse Jesus por parábola: SEis que o semeador saiu a semear. E, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho; foi pisada e as aves do céu a comeram. nomeadas especificamente fossem conhecidas dos leito­ res de Lucas. Parece estranho que viajassem com este grupo. Elas proviam ajuda material (também pouco co­ mum), mas suas outras razões não são dadas. Talvez fosse sua devoção a Jesus, em alguns casos, intensificada por ele as ter curado. Nã é necessário inferir que todas essas mulheres fizessem parte do grupo todo o tempo. Os sete demônios de M aria podem indicar que sua possessão fosse da mais extrema malignidade. Alguns a veriam mesmo como indicando uma série de recaídas. Sobre a devoção de M aria a Jesus veja Marcos 15:40; 16:1; Lucas 23:55-24:11; João 19:25; 20:11-20. Magdala, uma cidade predominantemente gentia, ficava ao sul da planície de Genesaré. Não há qualquer indicação de que Jesus tivesse estado ali, apesar de ter visitado a região (Mt 14:34; Mc 6:53). (3) Jesus estava aparentemente disposto a aceitar essa ajuda. Apesar de possuir o poder, ele não operou milagres para prover o seu sustento físico (mas veja a alimentação dos cinco mil e dos quatro mil). Suzana não é mencionada em nenhum outro ponto, e Joana apenas em 24:10. Cuza, marido de Joana, talvez fosse um adminis­ trador doméstico. Herodes era provavelmente Antipas. A influência de Jesus tinha penetrado até mesmo na corte do governador. (VI, VIII) A P aráb ola do S em ead or, 8:4-8 (Mt 13:1-9; Mc 4:1-9) (4, 5) Esta parábola, ao comparar algo conhecido com aquilo que não é tão bem conhecido, teve o efeito de peneirar os seguidores de Jesus a fim de verificar quem


6 Outra caiu sobre a pedra; e, tendo crescido, secou, por falta de umidade. 7Outra caiu no meio dos espinhos; e estes, ao crescerem com ela, a sufocaram. BOutra, afinal, caiu em boa terra; cresceu e produziu a cento por um. Dizendo isto clamou: Quem lem ouvidos para ouvir, ouça. 9E os seus discípulos o interrogaram, dizendo: Que parábola é esta? lORespondeu-lhes Jesus: A vós outros é dado conhecer os mistérios do reino de Deus; aos mais fala-se por parábo­ las, para que vendo não vejam, e ouvindo não entendam. era sincero. A cena do lavrador jogando a sua semente era comum. O caminho deveria ser compacto e duro. não permitindo que a semente germinasse. Existe uma mu­ dança gráfica de preposições nesta parábola, movendose de à beira do caminho, para “sobre a pedra”, para “no meio dos espinhos”, para “em boa te rra ”. (6) A referência é a um substrato de pedra coberto de uma camada de solo que permitiria germinação, mas secaria rapidamente ao sol. As plantas, incapazes de penetrarem a pedra a fim de encontrar umidade, morre­ riam. Todavia, na superfície, antes do solo secar, essa plantas pareceriam iguais às outras. (7, 8) Quem tem ouvidos para ouvir pode indicar: “Ouçam, isto é importante!” Ou, com mais probabilida­ de, era um pedido de compreensão do significado mais profundo da parábola e, em conseqüência, dos ensinos de Jesus (veja 8:18). A Razão para Falar em P aráb olas, 8:9,10 (Mt 13:10-15; Mc 4:10-12) (9, 10) Esta pergunta, segundo M arcos, foi feita quando Jesus estava sozinho. A sua resposta divide os discípulos, separando-os dos “de fora” (Marcos), toda­ via ambos os grupos precisam de mais entendimento


11 Este é o sentido da parábola: A semente é a palavra de Deus. 12 A que caiu à beira do caminho são os que a ouviram; vem a seguir o diabo e arrebata-lhes do coração a palavra, para não suceder que, crendo, sejam salvos. 13 a que caiu sobre a pedra são os que, ouvindo a palavra, a recebem com alegria; estes não têm raiz, crêem apenas por algum tempo, e na hora da provação se desviam. 14 a que caiu entre espinhos são os que ouviram e, no decorrer dos dias, foram sufocados com os cuidados, riquezas e deleites da vida; e os seus frutos não chegam a amadurecer. 15 a que caiu na boa terra são os que, tendo ouvido de bom e reto coração, retêm a palavra; estes frutificam com perseverança. (veja Is 6:19; Jr 5:21; Ez 12:2). A forma de parábola impedia algumas pessoas de verem, por não desejarem fazê-lo. Para os que queriam saber, a lição foi tornada ainda mais clara. Em cada caso a disposição ou falta de disposição para pensar iria dividir os seguidores, sepa­ rando os verdadeiros dos demais. Além do mais, o que os pouco dispostos ouvissem sem compreender iriam lem­ brar-se pela sua forma, e pode ser que mais tarde viessem a entender o seu significado. A parábola, ocul­ tando e revelando, torna-se um sinal de julgamento — contra a incredulidade. (V) Sobre reino, veja notas em 1:33. A E xplicação da P aráb ola do S em eador, 8:11-15 (Mt 13:18-23; Mc 4:13-20) (11-15) Lucas, aparentemente interessado no fato da produtividade e não em graus do mesmo, omite os cem, sessenta e trinta por um de Mateus e Marcos. Os que aceitarem o reino e entrarem nele acharão o processo proveitoso. Bom e reto (cf. Mt 7:21-23) repete a descrição grega de um verdadeiro cavalheiro. Pode ser que Lucas estivesse especialmente preocupado em encorajar sua


16/vinguém, depois de acender uma candeia, a cobre com um vaso ou a põe debaixo duma cama; pelo contrário coloca-a sobre um velador, a fim de que os que entram vejam a luz. 17]Vada há oculto, que não haja de manifestar-se, nem escondido, que não venha a ser conhecido e revelado. 18Vêde, pois, como ouvis; porque ao que tiver, se lhe dará; e ao que não tiver, até aquilo que julga ter lhe será tirado. 19 Vieram ter com ele sua mãe e seus irmãos, e não podiam aproximar-se por causa da concorrência de povo. 20 e lhe comunicaram: Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem ver-te. 2lEle, porém, lhes respondeu: Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a praticam. audiência, ajudando-a a enfrentar seus recuos na fé. (II, V, VI, VIII) O Propósito das P aráb olas, 8:16-18 (Mc 4:21-25; cf. também Mt 5:15; 13:12) (16) O que foi feito para iluminar não deve ser ocultado, como )esus salienta com humor. A luz que Ele acendeu dentro dos discípulos não devia ser ocultada, seja pela falha na conduta ou, especialmente, na procla­ mação. (17) Compare as frases semelhantes em Mateus 10:26 e Lucas 12:2. A palavra escondido provavelmente está ligada aos “mistérios” do v. 10. As parábolas podem parecer obscuras, mas a verdade que ensinam se torna­ rá conhecida com o tempo. Da mesma forma que a luz deve ficar à mostra para fazer o seu trabalho, o evange­ lho também deve ser conhecido, e então cumprirá o seu propósito. (V) (18) Existem expressões similares em Mateus 25:29; Lucas 19:26, e os paralelos mencionados. O homem que não tem é também o homem que não quer. As buscas


22 Aconteceu que, num daqueles dias, entrou ele num barco em companhia dos seus discípulos, e disse-lhes: Passemos p ara a outra margem do lago; e partiram. 23 Enquanto navegavam, ele adormeceu. E sobreveio uma tempestade de vento no lago, correndo eles o perigo de soçobrar. m 24chegando-se a ele, despertaram-no dizendo: Mestre, Mestre, estamos perecendo! Despertando-se Jesus, re­ preendeu o vento e a furia da água. Tudo cessou e veio a bonança. espirituais irão multiplicar as bênçãos, enquanto os benefícios adquiridos egoisticamente eventualmente se perderão. (VI) A Fam ília d e Jesu s, 8:19-21 (Mt 12:46-50; Mc 3:13-35) (19-21) Para uma frase semelhante veja Lucas 11:27 e seguintes. Lucas coloca a frase aqui para fortalecer o ponto a respeito da forma adequada de ouvir e responder a Deus. Esta é a primeira apresentação dos irmãos de Jesus (veja Mc 6:3) feita por Lucas, e a primeira menção de sua mãe desde o capítulo dois. Alguns acham que José morreu cedo e que Jesus teve de sustentar a família, mas Lucas 4:22 pode ser um argumento contrário a esta teoria. Segundo João 7:5 (cf. Mc 3:21) os irmãos de Jesus eram céticos e não acreditavam nele durante a sua vida (mas veja Atos 1:14). Sendo este o caso, talvez eles tivessem ido em busca de um sinal, e a resposta de Jesus sobre a necessidade da obediência foi uma advertência para todos os que se apresentaram pelo mesmo motivo. O ponto a ser salientado é que a identidade espiritual é mais importante do que o parentesco físico (cf. Lc 14:25). Também, o parentesco físico por si só não iria garantir a entrada no reino de Deus (cf. Rm 8:29; Hb 2:11). (VI) Jesu s A calm a uma T em p estad e, 8:22-25 (Mt 8:18; Mc 4:35-41) (22-24) Com esta história (e até 9:17) Lucas volta a um


25Então lhes disse: Onde está a vossa fé? Eles, possuídos de temor e admiração, diziam uns aos outros: Quem é este que até aos ventos e às ondas repreende, e lhe obedecem?

esboço de acontecimentos idêntico a M arcos. É muito compreensível que Jesus estivesse axausto e assim ador­ meceu, confiando nos barqueiros e no cuidado de Deus. O Mar da Galiléia era sujeito a tempestades repentinas e violentas, que varriam as barran cas junto à água. As rajadas eram tão fortes que o barco estava afundando. Jesus, exausto, continuava dormindo, até que foi acorda­ do. Cada um dos evangelhos, ao registrar as palavras dos discípulos, usa uma forma diferente de aproximação. Em Marcos é no original professor (didasltale); em M a­ teus Senhor (KurieJ; e em Lucas mestre (epistata). A palavra para bonança, apesar de comum em outros lugares, é usada somente aqui no Novo Testamento e torna o milagre mais impressionante, desde que o mar normalmente continuaria agitado depois de uma tempes­ tade. Os pescadores seriam os primeiros a notar tal coisa. Jesus falou então à natureza como a um filho rebelde, e ela o obedeceu. (25) Em tudo isso Jesus mostrou extrema calma. A razão pela qual ele censurou a falta de fé (note 5:20) que eles tinham não está completamente clara. Talvez fosse por não confiarem no seu poder de cuidar deles, como 5:10 indicou que ele podia; ou talvez porque a sua fé naquilo que ele poderia fazer mesmo depois de tê-lo acordado fosse inadequada. Em qualquer desses casos, Jesus estava ajudando aqueles homens a desenvolver a espécie de confiança de que iriam precisar desespera­ damente no futuro. Este m ilagre impressionou os discípupulos ainda mais do que antes. Aquilo era algo que não podia ser imitado por curandeiros ambulantes ou exor­ cistas, que poderiam dar a impressão de ter feito curas como Jesus. Sua reação mostra como os discípulos se achavam ainda no processo de formular sua opinião a respeito de Jesus (IV, VI)


2 6 Então rumaram para a terra dos gerasenos, fronteira da Galiléia. 27Logo ao desembarcar, veio da cidade ao seu encontro um homem possesso de demônios que, havia muito, não se vestia, nem habitava em casa alguma, porém vivia nos sepulcros. 28e quando viu a Jesus, prostrou-se diante dele, excla­ mando, e disse em alta voz: Que tenho eu contigo, Jesus Filho do Deus Altíssimo? Rogo-te que não me atormentes. 29porque Jesus ordenara ao espírito imundo que saísse do homem, pois muitas vezes se apoderara dele. E embora procurassem conservá-lo preso com cadeias e grilhões, tudo despedaçava e era impelido pelo demônio para o deserto. % A Cura do Endem oninhado Geraseno, 8:26-39 (Mt 8:28-34; Mc. 5:1-20) (26) Este é o primeiro incidente trans-galileu registra­ do por Lucas. Um olhar para as variações da nota de rodapé de várias traduções, indica a dificuldade em localizar este lugar. Não existe na verdade qualquer certeza quanto ao local. Seria, evidentemente, um ponto qualquer ao longo da costa. (27) Mateus indica dois endemoninhados, enquanto M arcos e Lucas falam de um único, talvez o mais importante dos dois. Os demônios parecem ter produzido insanidade, com seus vários sintomas. Não era incomum na literatura grega e judaica encontrar espíritos malig­ nos mostrando uma predileção por lugares como os freqüentados por este homem.

(28) Marcos diz que o homem viu Jesus de longe e correndo prostrou-se diante dele para adorá-lo. Os leito­ res de Lucas sabiam que as desordens mentais podiam ter causas orgânicas e psicológicas, e ele então torna claro aqui que havia ainda uma outra causa. Os demô­ nios, ao que parece, se dirigiram a Jesus através do homem, reconhecendo-o e sabendo que ele tinha poder para atormentá-los (veja 4:34, 41) (IV, VI)


30perguntou-Ihe Jesus: Qual é o teu nome? Respondeu ele: Legião, porque tinham entrado nele muitos demônios. 3lRogavam-lhe que não os mandasse sair para o abismo. (29) Jesus tinha aparentemente usado palavras de exorcismo, e os demônios pediram clemência. Lucas examina então o estado do homem sob essa influência maléfica. Os acessos eram freqüentes. A palavra para acesso (apoderar-se) se encontra apenas em Lucas. Muitas vezes pode indicar que, apesar da possessão poder ser permanente, havia períodos espasmódicos de maior aflição. Uma manifestação era força acima do normal, fazendo com que o homem quebrasse as cadeias que o prendiam. (30) A pergunta de Jesus pode ter sido feita para lembrar ao homem a sua identidade pessoal, a fim de que soubesse que havia uma diferença entre ele e os poderes malignos que o possuíam. Ele pode também ter esperado edificar a fé dos seus discípulos, estabelecendo a gravi­ dade da possessão, ao testemunharem o exorcismo. A resposta do homem pode indicar que era de tal forma atormentado que só podia clam ar em termos da sua aflição; ou pode ser que os demônios estivessem no controle e respondessem, como a expressão “somos muitos” (Marcos) pode indicar. Uma Legião era uma unidade do exército contendo de quatro a seis mil solda­ dos. Em lugar de tomar o termo como referindo-se a um número específico de demônios, ele pode indicar a gravi­ dade da aflição (como se esse número de espíritos possuísse o corpo do homem). (31) Os demônios reconheceram que deviam obedecer às ordens de Jesus, e que o abismo era o seu destino (cf. Ap 9:1-11; 11:7; 17:8; 20:1-3). O abismo simbolizava o caos em oposição ao qual o mundo fora formado (Gn 1:2) e pelo qual era sempre ameaçado. Jesus trouxe liberta­ ção desta ameaça enviando os demônios de volta ao seu reino. (VI)


32()ra, andava ali, pastando no monte, uma grande manada de porcos; rogaram-lhe que lhes permitisse entrar naqueles porcos. E Jesus o permitiu. 33Tendo os demônios saído do homem, entraram nos porcos, e a manada precipitou-se despenhadeiro abaixo, para dentro do lago, e se afogou. 34 Os porqueiros, vendo o que acontecera, fugiram e foram anunciá-lo na cidade e pelos campos. 35Então saiu o povo para ver o que se passara, e foram ter com Jesus. De fato acharam o homem de que saíram os demônios, vestido, em perfeito juízo, assentado aos pés de Jesus; e ficaram dominados de terror. (32, 33) A manada tinha cerca de dois mil porcos (Marcos). Sua ação seria uma evidência decisiva do exorcismo. Nem todos os porcos foram necessariamente afetados. Se alguns deles começassem sua corrida para o mar, toda a manada pode ter "estourado” seguindo-os. (IV) Como poderia Jesus concordar com essa destruição, quando o sustento de tantas pessoas estava sendo amea­ çado? Existem várias soluções possíveis: (1) O ato envol­ via o mistério inexplicável do mal tio mundo. (2) Desde que tudo é finalmente de Deus, ele tinha liberdade para fazer o que quisesse. (3) O acontecimento era necessário para demonstrar a realidade e inteireza da cura, e animais podiam ser sacrificados a favor da salvação de um ser humano. (4) Os guardadores eram judeus, cui­ dando de porcos em violação da lei. A segunda sugestão parece a melhor, mas é realmente impossível considerar por completo o problema ético, sem saber as demais conseqüências desta perda. Este e a destruição da figueira (Mt 21:18-22; Mc 11:12-14,20-25) são os dois únicos incidentes no ministério de Jesus em que proprie­ dade foi destruída. (34, 35) Os porqueiros estavam mais preocupados com o que aconteceu com o homem ou com os porcos, quando espalharam as notícias? Aqui também, Jesus atraiu multidões. Eles vieram antes dele ter entrado em qualquer cidade ou feito qualquer pregação. Eles apa-


36e algumas pessoas que tinham presenciado os fatos contaram-lhes também como fora salvo o endemoninhado. 37Todo o povo da circunvizinhança dos gerasenos rogoulhe que se retirasse deles, pois estavam possuídos de grande medo. £ Jesus, tomando de novo o barco, voltou. 38o homem de quem tinham saído os demônios, rogou-lhe que o deixasse estar com ele; Jesus, porém, o despediu dizendo: 39volta para casa e conta aos teus tudo o que Deus fez por ti. Então foi ele anunciando por toda a cidade todas as cousas que Jesus lhe tinha feito. rentemente reconheceram o homem. Seu comportamen­ to, retratado tão vividamente por Lucas, mostra marcadamente o contraste entre a influência do demônio e a do Senhor sobre ele (libertado; sentado, em lugar de inquie­ to; não mais anti-social; vestido; em perfeito juízo). A reação temerosa do povo liga esta história à prece­ dente (v. 25). Eles temiam o poder especial de Jesus, ou o homem curado, ou a possibilidade de maiores perdas econômicas (v.37)? Sobre medo, veja notas em 1:12. (36, 37) A evidência do acontecimento foi aumentada pela evidência das testemunhas oculares (Lucas conhe­ cia algumas delas?). Em nenhum outro ponto de seu ministério foi pedido a Jesus que fosse embora. (Se retirasse deles, v. 37) (38, 39) Se o homem estivesse com medo que os demônios voltassem, as palavras de Jesus lhe deram segurança. Apesar de Jesus evitar sempre revelar sua identidade ao público (4:35,41; 5:14; mas cf. 7:22), ele pode ter ordenado ao homem que falasse aqui porque a proclamação não seria da identidade de Jesus, mas de suas obras. Ou, a ordem de Jesus pode ser explicada pela possibilidade de tratar-se de um distrito pagão; ou pelo fato do homem não estar capacitado para trabalhar em nenhum outro lugar; ou pelo fato do milagre não poder ser usado com fins políticos. Apesar de Jesus ter decidido ir embora sem exercer qualquer outra atividade naquela área, muito tinha sido realizado pelo impacto da cura. O


40 Ao regressar Jesus, a multidão o recebeu com alegria, porque todos o estavam esperando. 4lEis que veio um homem chamado Jairo, que era chefe da sinagoga, e, prostrando-se aos pés de Jesus, lhe suplicou que chegasse até a sua casa. 42pois tinha uma filha única de uns doze anos, que estava à morte. Enquanto ele ia, as multidões o aperta­ vam. 43Certa mulher que, havia doze anos, vinha sofrendo de uma hemorragia, e a quem ninguém tinha podido curar (e que gastara com os médicos todos os seus haveres), 44veio por trás dele e lhe tocou na orla da veste, e logo se lhe estancou a hemorragia. homem que fora curado iria espalhar a palavra e, num certo sentido, continuar o ministério de Jesus (V, VI) A Filha de Jairo e a Fé Possuída p o r Uma M ulher, 8:40-56 (Mt 9:18-26; Mc 5:21-43) (40-42) Lucas apresenta aqui a primeira de três histórias envolvendo o número doze (até 9:6). Somente Lucas conta que a multidão estava esperando, indicando que tinham pleno conhecimento dos movimentos de Jesus. O povo parecia estar onde quer que ele fosse (veja Mc 1:37). Muitos deles pediam atenção especial. Talvez este caso tivesse sido destacado por causa de seu lado patético. O chefe deveria ter tido provavelmente mais facilidade de acesso a Jesus devido à sua posição como presidente da sinagoga que conduzia os serviços e esco­ lhia os participantes. Aparentemente nem todos os líde­ res religiosos eram hostis a Jesus. Somente Lucas nota que a menina era filha única de Jairo (veja 7:12; 9:38). O relato de Mateus diz que a menina tinha morrido, en­ quanto o presente texto diz que ela estava morrendo. O relato de Mateus é mais breve, ele pode ter visto as coisas à distância, de maneira telescópica. (43, 44) A hemorragia pode ter sido um fluxo mens­ trual contínuo. Marcos diz que ela sofreu às mãos de


45Mas Jesus disse: Quem me tocou? Como todos negas­ sem, Pedro (com seus companheiros) disse: Mestre, as multidões te apertam e te oprimem (e dizes: Quem me tocou?). 46Contudo Jesus insistiu: Alguém me tocou, porque senti que de mim saiu poder. 47Vendo a mulher que não podia ocultar-se, aproximouse trêmula e prostrando-se diante dele, declarou, à vista de todo o povo, a causa por que lhe havia tocado e como imediatamente fora curada. 48Então lhe disse: Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz. muitos médicos. Lucas, talvez pelo fato de ser médico, usa termos diferentes. A hemorragia tornaria a mulher impura (Lv 15:19-30). Talvez seja esse o motivo porque ela veio por trás dele. Ou ela pode ter ficado em baraçada em declarar publicamente a natureza do seu mal. Em Números 15:38-41 a orla indicava a consagração da pessoa a Deus. Talvez fosse esse o caso de Jesus. (VI) fosse esse o caso de Jesus. (VI) (45) Jesus parou, pois sabia que podia curar a filha de Jairo a qualquer tempo. Ele tinha sem dúvida querido que a mulher com hemorragia ficasse curada, mas desejava que ela confessasse o seu ato, tanto para que pudesse ensinar uma lição sobre a fé como também para que a mulher percebesse que não era mais impura. (III) (46-48) As palavras específicas de Jesus (contidas apenas em Lucas) indicam que ele sabia que estava curando a mulher (a não ser que se presuma que o poder saiu involuntariamente). Jesus distinguiu este toque dos demais somente por causa do que fizera a respeito dele. Lucas faz uma descrição vívida da reação psicológica da mulher enquanto ganhava coragem para apresentar-se. Em face do pedido de Jesus e seu conhecimento do que tinha acontecido, seria difícil agir de outro modo. A implicação é que Jesus conhecia a fé possuída pela mulher e a chamou a fim de que pudesse expressá-la publicamente, dando-lhe oportunidade para ensinar uma


49f alava ele ainda, quando vem uma pessoa da casa do chefe da sinagoga, dizendo: Tua filha já está morta, não incomodes mais o Mestre. SOMas Jesus, ouvindo isto, lhe disse: Não temas, crê somente, e ela será salva. 51 Tendo chegado à casa, a ninguém permitiu que entras­ se com ele, senão Pedro, João, Tiago e bem assim o pai e a mãe da menina. 52 e todos choravam e pranteavam. Mas ele disse: Não choreis; ela não está morta, mas dorme. 53e riam-se dele, porque sabiam que ela estava morta. 54Entretanto ele, tomando-a pela mão, disse-lhe em voz alta: Menina, levanta-te. 55Voltou-lhe o espírito, ela imediatamente se levantou, e ele mandou que lhe dessem de comer. 56seus pais ficaram maravilhados, mas ele lhes advertiu que a ninguém contassem o que havia acontecido. lição (cf. 7:9; 8:25; 17:19; 18:42). Sobre paz, veja notas em 1:79; fé, veja notas em 5:10. (VI) (49-50) As quatro histórias de milagres neste capítulo de Lucas apresentam a idéia de medo. A primeira, terceira e quarta delas contêm também em Marcos a mesma indicação de medo. O grego coloca a palavra morta em primeiro lugar para dar ênfase ao ponto. Jesus podia sem dúvida curar, mas o mensageiro não poderia imaginá-lo ressuscitando mortos. Marcos diz que Jesus ignorou as palavras do mensageiro. Podemos imaginar a aflição do pai com a demora de Jesus enquanto sua filha estava prestes a deixar esta vida (cf. João 11:6). (VI) (51, 52) As palavras de Jesus aos pais aflitos parece­ ram tão impróprias e presunçosas em seu contexto que, se a criança não tivesse sido ressuscitada, elas teriam sido absolutamente cruéis (cf. notas 7:13). Mas da pers­ pectiva de Jesus, a morte física não era uma barreira mais séria do que acordar alguém do sono. O aconteci­ mento, um tremendo testemunho do poder de Deus, teria


um significado ainda maior quando visto pela igreja à luz da ressurreição de Jesus. (53-56) O riso incrédulo se opõe ao não choreis que exigia fé. M arcos diz que as pessoas foram mandadas para fora depois de sua zombaria. O Senhor entrou e tocou a mão dela, apesar do contato com um cadáver tornar a pessoa impura (cf. o leproso em 5 :13). Este é por si mesmo um testemunho mudo do que ele faria, desde que dentro em breve o regulamento da lei não seria aplicado. Ele falou com a menina como se a estivesse acordando com gentileza. Aquele que expele espíritos imundos também trouxe de volta o espírito da criança. Em sua alegria e surpresa foi preciso lembrar os pais de alimentarem a filha. Então, como fizera antes, Jesus proibiu que a notícia se espalhasse. Talvez desejasse que os detalhes fossem mantidos em segredo, ou, mais prova­ velmente, queria um mínimo de publicidade, desde que já estava sendo seguido pelas multidões. Ele estava mais interessado em discípulos e seguidores do que nos que apenas desejavam ver os sinais que fazia.

CONSUMADO O MINISTÉRIO, 9:1-50

Esta seção registra o apogeu do ministério galileu de Jesus. Seu ministério foi ampliado através dos doze (1-6), e as reações a Ele alcançaram o clímax (7-9, 20), levando Jesus a uma revelação mais ampla de si mesmo (20,22, 28-36) e de suas palavras sobre a sua paixão (22, 31, 44). As exigências do discipulado se tornaram mais rigorosas (23-27, 48) à medida que o reino se aproximava (27). Todavia, os discípulos ainda não tinham compreensão (45). Existe um número notável de correspondências entre esta seção e a narrativa da paixão em 22:7-23:16. São elas: 9:1-6 com 22:35-38; 9:7-9 com 23:6-16; 9:10-17 com 22:7-19; 9:20 com 22:31-34; 9:23-27 com 22:28-30; 9:28-36 com 22:39-46; 9:37-43 com 22:47-53; 9:43-45 com 22:21­ 23; e 9:46-48 com 22:24-27. Parece evidente que Lucas


1 Tendo Jesus convocado os doze, deu-lhes poder e auto­ ridade sobre todos os demônios, e para efetuarem curas. 2 Também os enviou a pregar o reino de Deus e a curar os enfermos. 3E disse-lhes: Nada leveis para o caminho, nem bordão, nem alforje, nem pão, nem dinheiro, nem deveis ter duas túnicas. quer que o leitor associe essas seções. Ele está então afirmando que o Jesus do ministério galileu (pregação e cura) é o mesmo Jesus que morreu, ressuscitou e subiu aos céus em Jerusalém. Existe também uma série de correspondências notáveis entre Lucas 9:1-50 e Atos 1, confirmando o mesmo ponto.

As In stru ções p a r a os Doze, 9:1-6 (Mt 9:35; 10:1,9-11; Mc 6:6-13) (1, 2) A escolha dos doze foi registrada em 6:12-16. A ida deles iria prepará-los para a sua missão após a ascenção (veja 5:10). Eles partiram para pregar o reino de Deus (notas 1:33) — somente para Israel, como notado por Mateus. Este episódio se torna o cenário das duas seções que se seguem, e permite que o leitor as veja como reações ao reino de Deus. Sobre autoridade, veja notas em 4:32; sobre poder, veja notas em 1:17. (V) (3) Os doze deveriam seguir viagem dependend completamente de Deus. Sua missão era urgente e o tempo era curto, não deviam pois demorar-se em prepa­ ros especiais (veja 10:4). M arcos diz que receberam ordens de não levar nada exceto um bordão (contras­ tando com o nem o bordão de Lucas). Uma reconciliação engenhosa sugere que as palavras para “exceto” (Mar­ cos) e nem (Lucas) representam termos aramaicos simi­ lares, e que na transmissão as palavras exatas de Jesus se confundiram de alguma forma nessas duas variantes. Uma solução mais fácil seria que o relato de Marcos indicava que deveriam levar apenas o seu próprio bor­ dão, enquanto o de Lucas se referia a levar outro bordão.


4lVa casa em que entrardes ali permanecei, e dali saireis. SE onde quer que não vos receberem, ao sair daquela cidade, sacudi o pó dos vossos pés em testemunho contra eles. ^Então, saindo, percorriam todas as aldeias, anunciando o evangelho e efetuando curas por toda parte. 7 Ora, o tetrarca Herodes soube de tudo o que se passava, e ficou perplexo, porque alguns diziam: João ressuscitou dentre os mortos; ^outros: Elias apareceu, e outros: Ressurgiu um dos antigos profetas. O significado básico nos três evangelhos é este: “ vão co­ mo estão” . O alforje pode ter sido uma sacola de pedinte. Não deveriam pedir esmolas, como faziam algumas vezes os missionários pagãos daquela época. A túnica (“cap a” em 3:11 e 6:29) era uma peça de mangas curtas, que chegava à altura dos joelhos, presa com um cinto na cintura. A idéia era não levar uma muda de roupa. Josephus (Wars II, viii, 125 e seguintes) registra práticas semelhantes entre os essênios daquela época. Chegaria a ocasião em que os discípulos de Jesus, prestes a enfren­ tar dificuldades, iriam requerer um alforje e uma espa­ da (22:36). (VIII) (4-6) Essas instruções são registradas em mais deta­ lhes por Mateus. Os discípulos deveriam depender da hospitalidade ao longo do caminho (cf. 10:5-7). Isto não era difícil na Palestina, onde prevalecia a idéia oriental da necessidade da hospitalidade; Jesus porém advertiu­ -os de que poderiam ser rejeitados. Eles deveriam sacudir o pó daquelas cidades que os rejeitassem, como um sinal (veja notas em 5:14). Os judeus faziam isto quando voltavam à Palestina depois de terem estado numa região de gentios. As pessoas que rejeitassem a mensagem deveriam ser tratadas como se não tivessem parte no povo de Deus. O ministério deles era pregar e curar, como uma extensão da obra de Jesus.


^Herodes, porém, disse: Eu mandei decapitar a João: quem é, pois, este a respeito do qual tenho ouvido tais cousas? E se esforçava por vê-lo. Herodes Pensa que Jesus é João, Ressurreto, 9:7-9 (Mt 14:1; Mc 6:14-16)

(7, 8) Este episódio foi chamado de “o poder de uma consciência culpada”. Talvez Herodes tenha ouvido falar de Jesus devido ao esforço dos doze. A notícia foi bastante surpreendente para deixá-lo perplexo (palavra esta só usada por Lucas no Novo Testamento: Atos 2:12; 5:24; 10:17). Segundo Mateus, Herodes pensou que João, a quem tinha mandado matar, havia ressuscitado. Lu­ cas, que não registra a morte de João, apenas seu encarceramento (3:18-20), atribui a notícia a outros. Apesar de João não ter operado milagres, seria de esperar que se voltasse do túmulo teria a espécie de poder sobrenatural que Jesus estava manifestando. Ha­ via também uma semelhança de mensagem que poderia encorajar a identificação João-Jesus. Outra opinião era de que Jesus fosse Elias (veja Ml 4:5). Elias não morreu, mas foi levado para o céu num carro de fogo. Alguns sugeriram que Jesus era um dos antigos profetas. (9) Devido à sua responsabilidade pela morte de João Herodes estava especialmente interessado em Jesus, para ver se ele era ou não João. Seu desejo prepara o leitor para o episódio em 23:8-12. Como Lucas ficou sabendo todos esses detalhes sobre Herodes? Eles se tornaram aparentemente parte da tradição da igreja, talvez aprendidos através de pessoas como Cuza (8:3). (IV, VI) A lim entando os Cinco Mil, 9:10-17 (Mt 14:13-21; Mc 6:31-44; Jo 6:1-13) (10, 11) Este é o único milagre comum aos quatro evangelhos, e constituiu o clímax do ministério galileu. Subseqüentemente, apesar de faltar ainda um ano para a sua morte (segundo a indicação de João este milagre foi


Ao regressarem, os apóstolos relataram a Jesus tudo o que tinham feito. E, levando-os consigo, retirou-se à parte para uma cidade chamada Betsaida. UM as as multidões, ao saberem, seguiram-no. Acolhen­ do-as, falava-lhes a respeito do reino de Deus e socorria os que tinham necessidade de cura. 12Mas o dia começava a declinar. Então se aproximaram os doze e lhe disseram: Despede a multidão, para que indo às aldeias e campos circunvizinhos se hospedem e achem alimento; pois estamos aqui em lugar deserto. l^Ele, porém, lhes disse: Dai-lhes vós mesmos de comer. Responderam eles: Não temos mais que cinco pães e dois peixes, salvo se nós mesmos formos comprar comida para todo este povo. 1 4 Porque estavam ali cerca de cinco mil homens. Então disse aos seus discípulos: Fazei-os sentar-se em grupos de cinqüenta. l^Eles atenderam, acomodando a todos. 16 E, tomando os cinco pães e os dois peixes, erguendo os olhos para o céu, os abençoou, partiu e deu aos discípu­ los para que os distribuíssem entre o povo. l 7Todos comeram e se fartaram ; e dos pedaços que ainda sobejaram foram recolhidos doze cestos. feito na Páscoa), Jesus falou mais de sua próxima paixão. Os doze voltaram (cf. 10:17), mas nenhum dos evangelhos registra a reação de Jesus ao trabalho deles. Betsaida era uma cidade pequena que ficava ao norte do mar da Galiléia, do outro lado do Jordão, a leste da jurisdição de Herodes. Sobre reino, veja notas em 1:33. (12-15) Marcos menciona que o alimento custaria duzentos denários. Nenhum comerciante teria provisões para tanta gente mesmo que pudesse ser encontrado, e o preço seria proibitivo — mais da metade do salário de um ano (veja Mt 20:2). Jesus pode ter feito isto acontecer a fim de lembrá-los do que o poder de Deus podia efetuar, assim como a pesca (5:1-10) maravilhosa destacou o mesmo ponto em relação a Pedro- e seus companheiros, (cf. 2 Reis 4:42-44.) (VI)


18 Estando ele orando em particular, achavam-se presen­ tes os discípulos, a quem perguntou: Quem dizem as multidões que sou eu? 19Responderam eles: João Batista, mas outros, Elias; e ainda outros dizem que ressurgiu um dos antigos profe­ tas. (16, 17) Jesus pode ter empregado a bênção usual às refeições (geralmente proferida pelo anfitrião numa re­ feição), mas o texto parece implicar aqui que ela liberou um poder especial. A palavra para cestos (Jtophinos) indica uma sacola comumente usada pelos judeus a fim de evitar que tivessem de comprar pão dos gentios. Na história da alimentação dos quatro mil, a palavra é spuris, um cesto muito maior, grande o bastante para carregar um homem (Mt 15:37; Mc 8:8). Este prodígio poderia fazer com que o povo se lem­ brasse do maná no deserto, e João torna a ligação específica. A primeira igreja pode muito bem ter associa­ do isto de alguma forma com a Ceia do Senhor (veja João 6). Lucas salienta freqüentemente em seu evangelho o tema da refeição (notas 5:27). A C onfissão e a Prim eira P red ição d a Paixão, 9:18-22 (Mt 16:13-23; Mc 8:27-33) (18, 19) O ministério galileu alcançou o clímax, con­ forme registrado por Lucas, com a alimentação dos cinco mil. Segue-se a isto a grande confissão, que foi o apogeu da carreira de Jesus. Lucas passa por alto certos aconte­ cimentos registrados em Marcos 6:45-8:26, aparente­ mente por não serem adequados aos seus propósitos. Assim sendo, ele não apresenta um cenário geográfico ou outro qualquer para a grande confissão. João e Lucas concordam em colocar a confissão imediatamente depois da multiplicação de alimentos (João 6:66-69). Somente Lucas registra que Jesus estava orando na ocasião, como para dizer que foi esta uma das razões pela qual eles reconheceram quem ele era — a sua vida de oração (veja notas em 1:10 e cf. 24:30). Quando pergun-


20Mas vós, perguntou ele, quem dizeis que eu sou? Então falou Pedro e disse: És o Cristo de Deus. 2lEle, porém, advertindo-os, mandou que a ninguém declarassem tal cousa, 22dizendo: É necessário que o Filho do homem sofra muitas cousas, seja rejeitado pelos anciãos, pelos princi­ pais sacerdotes e pelos escribas; seja morto e no terceiro dia ressuscite. tou qual a opinião popular a seu respeito, Jesus recebeu as mesmas respostas que no incidente de Herodes (9:8). Nenhuma especulação popular o viu como o Messias. Jesus sabia as respostas para as suas perguntas, mas queria que os discípulos pusessem em palavras o fato de o terem reconhecido. (VI)

(20) Jesus perguntou então: “ M as vocês” (o grego d esta ênfase), “ o que vocês dizem?” Era importante que os discípulos o compreendessem. Sua pergunta implicava em que havia mais coisas a serem ditas do que aquelas já reveladas ou refletidas na opinião do povo. Eles tinham lido corretamente os sinais, especialmente em vista do que deveriam enfrentar por ele? Quanto arriscariam no seu conceito de Jesus?

Pedro apressou-se a responder, talvez fazendo isso mediante um lampejo de percepção interior. Esta pergun­ ta associou as impressões em sua mente, produzindo naquele momento um reconhecimento crucial? Ou, talvez o grupo estivesse chegando a essa conclusão e Pedro falasse em nome de todos. De qualquer forma, o impacto da confissão deve ter sido grande. A confissão em Marcos estabelece o simples fato de que ele era o Cristo. Lucas é mais detalhado, e a declaração de Mateus “o Filho do Deus Vivo” é a mais completa. Esta é a primeira apresentação feita por Lucas de Jesus adulto como o Cristo (veja notas em 2:11), em que o próprio Jesus encorajou e aprovou o reconhecimen­ to. Note as confissões anteriores a respeito de Jesus em Lucas 3:16, 22; 4:3, 9, 18-21, 22, 32, 36, 41; 5:5, 8, 15, 21, 24, 6:5; 7:16, 20-23, 34, 49; 8:28; 9:1, 7. O reino não


envolve a recitação de um credo, mas o conhecimento de uma pessoa. Assim foram cumpridas as palavras de 8:10. (V) (21, 22) Novamente aqui Jesus proibiu que falassem sobre ele. Uma das razões pode ter sido que um messiado envolvendo sofrimento não seria aceito nem compreendi­ do pelos judeus. Mateus é mais detalhado neste ponto. Depois da paixão de Jesus, sua verdadeira natureza seria mais completamente revelada e compreendida. Neste ponto Jesus referiu-se novamente a si mesmo como o Filho do homem (veja notas em 5:24), ligando a idéia ao sofrimento. Esta ê a primeira referência clara à paixão em Lucas (mesmo assim compare 5:35). Outras referências à paixão são encontradas em 9:31, 44, (51) 12:50; 13:32; (16:30); 17:25; 18:31-34; (20:13-15); 22:15, 19, 21, 37, 42; (24:6). Essas palavras iriam forçar os discípulos a reconsiderar seu conceito messiânico. Toda­ via, mesmo assim eles continuavam sem compreender (9:44). Jesus indicou que seu sofrimento era uma necessi­ dade divina (É necessário... (que) sofra). Ele seria rejei­ tado, uma palavra com a mesma raiz daquela usada com relação ao escrutínio a que um magistrado eleito tinha de submeter-se em Atenas, a fim de verificarem sua apti­ dão para o cargo. Jesus foi examinado — e rejeitado. Ele sabia o que iria acontecer e tinha de suportar o fardo psicológico adicional de ter de aguardar tal coisa. Mas, aceitando a rejeição, Jesus fez do discipulado algo que o homem deve escolher livremente, conhecendo o seu custo. Os propósitos de Deus eram tais que aquilo que parecia derrota iria tornar-se vitória, pois Jesus seria levantado no terceiro dia. Os líderes religiosos que tentariam eliminar Jesus, eram aqueles que deveriam ter sido os primeiros a aceitá-lo. (II, III, IV, V, VI, VII) As Condições do D iscipulado, 9:23-27 (Mt 16:24-28; Mc 8:34-9:1)

(23) Apesar de ditas a todos, essas palavras tinham um significado especial para os apóstolos, por causa da


23 Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me. 24p0is quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; quem perder a vida por minha causa, esse a salvará. revelação na grande confissão. Os que quisessem seguir um Messias sofredor, deveriam estar preparados para enfrentar experiências semelhantes. A negação de si mesmo (a mesma palavra seria usada mais tarde sobre a negação do Senhor feita por Pedro) tem como seu protótipo o próprio Jesus (veja Fp 2:5-11). Esta é a primeira menção da cruz em Lucas. Os judeus tinham conhecido centenas de rebeldes crucificados na Palestina (Josephus, Antiquities XVII, x, 295). Cícero disse que o próprio nome da cruz não deveria ser falado, visto, ou ouvido na boa sociedade romana. Era um instrumento cruel de tortura, reservado para a pior espécie de criminosos. Jesus tornou assim implícita a maneira de sua morte, apesar dos discípulos não terem compreendido a idéia até mais tarde. A cruz deveria ser suportada diariamente (apenas em Lucas). Jesus sem dúvida quis indicar coisas suportadas por causa dele que seriam tão difíceis quanto carregar literalmente uma cruz, ou coisas que levassem a uma morte tão ignominio­ sa. Dia a dia implica na persistência do discipulado. Não se tratavam das dificuldades diárias da vida, como supõe algumas vezes o pensamento popular, mas sim da dispo­ sição de aceitar problemas por causa de Cristo. Cf. Mateus 10:38; Lucas 14:27.

(24) As idéias apresentadas nos comentários do versí culo anterior são aqui expressas por Jesus de outra forma (note paralelos em Mt 10:39; Lc 17:33; e Jo 12:25). A linguagem é paradoxal. A pessoa parece ir contra um objetivo a fim de alcançá-lo. Mas as palavras de Jesus são verdadeiras porque ele argumenta de um plano transcendental. A pessoa orientada no sentido do reino espiritual conheceria a verdade nelas contida, pois suas palavras podem ser entendidas mediante a fé. Tal pessoa


25Q ue aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se

vier a perder-se, ou a causar dano a si mesmo? 26porque qualquer que de mim e das minhas palavras se envergonhar, dele se envergonhará o Filho do homem, quando vier na sua glória e na do Pai e dos santos anjos. 27verdadeiramente vos digo: Alguns há dos que aqui se encontram que de maneira nenhuma passarão pela mor­ te até que vejam o reino de Deus. 2 8 Cerca de oito dias depois de proferidas estas palavras, tomando consigo a Pedro, João e Tiago, subiu ao monte com o propósito de orar. 29 e aconteceu, que enquanto ele orava, a aparência do seu rosto se transfigurou e suas vestes resplandeceram de brancura. seria enxertada no ser ressurreto de Cristo, salvando assim a sua vida. (I, II, VI) (25) A essência de nosso ser, nosso lado espiritual mais elevado, é mais importante do que todas as posses­ sões. Essas palavras poderiam referir-se a qualquer esperança de um reino físico, mas seu significado era com certeza mais amplo ainda. Elas oferecem encoraja­ mento àqueles que viriam a aprender que é difícil seguir a Jesus. A busca valeria perfeitamente o preço pago. (26) A vinda de Jesus (mencionada aqui pela primeira vez em Lucas) seria na sua glória e na do Pai e dos santos anjos (sobre glória veja notas em 2:9). Os discípulos deveriam saber que quando se tornasse difícil confessar Jesus e suas palavras as suas ações teriam conseqüên­ cias eternas. Não importa o que lhes acontecesse, have­ ria um apogeu de vitória para os que perseverassem. So­ bre Filho do homem, veja notas em 5:24. (IV, VI, VII) (27) M arcos acrescenta que o reino viria “com po­ der” . Lucas menciona o reino vindo com poder em Atos 1:5-8. Não são dados sinais neste ponto sobre as manei­ ras como o reino poderia ser reconhecido, mas esses sinais seriam dados mais tarde (24:49; Atos 1:5-8). Atos 1:5-8 e 2:1-4 indicam o Pentecoste como um cumprimento


30eís que dois varões falavam com ele, Moisés e Elias. 31 Os quais apareceram em glória e falavam da sua partida, que ele estava para cumprir em Jerusalém. das palavras de Jesus. Isto preencheria o requisito de que alguns dos que então viviam veriam o reino. (IV) A transfiguração que se segue era uma antecipação da glória de Jesus no reino. A T ran sfigu ração, 9:28-36 (Mt 17:1-8; Mc 9:2-8) (28, 29) Mateus e M arcos mostram a transfiguração seis dias depois da confissão, em lugar de oito. Eles provavelmente contam apenas os dias de intervalo, en­ quanto Lucas conta também os dias dos dois aconteci­ mentos finais. A palavra cerca usada por Lucas cancela a necessidade de qualquer precisão científica. A monta­ nha não é conhecida, apesar de tanto o monte Hermon como o Tabor terem sido sugeridos. Os discípulos tinham confessado a verdadeira n atu reza de Jesus, e ag o ra três deles (cf. 8:51) iriam vê-la. Somente Lucas diz que Jesus subiu para orar (veja notas em 1:10). Ele orou e foi transfigurado em um ser glorioso — pode-se dizer que a sua glória se tornou visível (cf. ê x 34:29-35; Atos 9:3). Como no original, Lucas não faz uso do termo “transfigurado” para nomear esta experiência, ele a descreve em mais detalhes. Ele provavelmente evitou o termo m etam orphoõ porque os leitores gentios poderiam associá-lo erradamente com as metamorfoses das divin­ dades pagãs. (VI) (30, 31) Este acontecimento misterioso mostrava o outro mundo comunicando-se com este para trazer uma mensagem. A lei (Moisés) e os profetas (Elias) voltam-se agora para a realização da obra de Jesus. A não ser que fosse dado aos apóstolos poder para reconhecer Moisés e Elias, todo o acontecimento perderia o seu significado. Note que nos versículos 8 e 19 Jesus foi tido como sendo Elias, mas Elias dá aqui testemunho de Jesus. O v. 31 só aparece em Lucas, fazendo da passagem


32pedro e seus companheiros achavam-se premidos de sono; mas, conservando-se acordados, viram a sua glória e os dois varões que com ele estavam. 33Ao se retirarem estes de Jesus, disse-lhe Pedro; Mes­ tre, é bom estarmos aqui; então façamos três tendas: uma será tua, outra de Moisés e outra de Elias, não sabendo, porém, o que dizia. uma declaração de paixão e vitória (cf. 9:22). A partida seria um “êxodo” (termo grego). Isto sugere todo o aglomerado de idéias em torno desse acontecimento no Velho Testamento, inclusive vendo Jesus como um novo Moisés salvando o povo do seu cativeiro ao pecado. O êxodo também incluía a ressurreição de Jesus, pois foi através dela que ele obteve liberdade da morte e do pecado. A viagem para Jerusalém não era então apenas casual, mas tinha tanto significado quanto a marcha dos israelitas ao sairem do Egito. A referência que Jesus faz a Jerusalém foi a primeira ligação da cidade com a paixão, e parece apontar para 9:51 (veja notas 2:22). Os discípu­ los foram novamente informados da ligação entre sofri­ mento e glória. (IV, VI, VII) (32) Este versículo, que só aparece em Lucas, parece indicar que a experiência teve lugar à noite. Ou os discípulos ficaram acordados ou despertaram por com­ pleto devido aos acontecimentos (cf. Mt 26:43). A palavra glória é usada caracteristicam ente no Novo Testamento para referir-se à realidade da nova era (veja notas em 2:9; cf. Jo 1:14; Rm 8:18; 2 Co 4:17; Hb 2:9; 1 Pe 1:21; 4:14; 5:4). (33) A maneira como Pedro se referiu a Jesus é diferente em cada um dos evangelhos. Lucas usa epistata (veja notas em 5:5), Marcos “ra b i” e Mateus ku rie (Senhor). T alvez Pedro quisesse construir tendas para estabelecer a permanência da cena e preservar a glória e êxtase, pois a glória estava associada com o Taberná­ culo na história do Êxodo. Outra sugestão é de que estava na época da Festa das Tendas, e Pedro queria realizar a festa na montanha com Moisés e Elias — um


34Enquanto assim falava, veio uma nuvem e os envolveu; e encheram-se de medo ao entrarem na nuvem. 35 e dela veio uma voz, dizendo: Este é o meu Filho, o meu eleito: a ele ouvi. 36Depois daquela voz, achou-se Jesus sozinho. Eles cala­ ram-se, e, naqueles dias, a ninguém contaram cousa alguma do que tinham visto.

pensamento que entusiasmaria qualquer israelita (ape­ sar de tratar-se de uma celebração típica de Jerusalém). Mas ele não sabia o que dizia — talvez indicando que não compreendesse estar contemplando um mistério celestial que não podia ser contido em formas terrenas. (VI) (34, 35) A nuvem veio, como se dissesse: “não numa tenda, mas na glória, eles habitam” . O conteúdo total da experiência ilustra perfeitamente a grandiosidade daqui­ lo que é santo quando interfere na experiência humana (cf. a reação de Pedro em 5:8; e veja notas em 1:12). Em lugar de meu eleito, Mateus, Marcos e alguns textos de Lucas dizem “meu amado” . O significado não é alterado drasticamente em qualquer dos eventos (con­ traste 23:35). Por trás dessas palavras estavam os qua­ dros messiânicos em Salmo 2:7 e Isaías 42:1, assim como na anunciação do batismo (veja notas em 3:22; e cf. Jo 12:28-30; 2 Pe 1:17). O mandamento para ouvir pode ter seu fundamento no “profeta” de Deuteronômio 18:15-19, desde que Cristo é identificado com essa figura várias vezes no Novo Testamento (Jo 6:14; At 3:22; 7:37]. O ponto era: “Ouçam agora a Jesus como a voz suprema de autoridade” . O decreto não anulava necessariamente a lei e os profetas, mas indicava a importância a ser dada aos ensinamentos de Jesus. Grande atenção deveria ser-lhe dada, supe­ rando mesmo os importantes docu m entos da fé judia. A anunciação celestial pode ter sido também uma expres­ são de prazer divino pelo Filho ter escolhido o caminho do sofrimento. (IV) (36) Depois de dada a lição, Jesus foi novamente visto na forma da sua humilhação. Em Mateus e M arcos


37 No dia seguinte, ao descerem eles do monte, veio ao encontro de Jesus grande multidão. 38e eis que, dentre a multidão, surgiu um homem, dizendo em alta voz: Mestre, suplico-te que vejas meu filho, por que é o único; 39Um espírito se apodera dele e, de repente, grita e o ati­ ra por terra, convulsiona-o até espumar, e dificilmente o deixa, depois de o ter quebrantado. 40Roguei aos teus discípulos que o expelissem, mas eles não puderam. a seção seguinte diz que Jesus ordenou que silenciassem até a sua ressurreição. Lucas afirma simplesmente que “naqueles dias, a ninguém contaram cousa alguma do que tinham visto” . (V) A Cura d e um M enino P ossesso, 9:37-43 (Mt 17:14-21; Mc 9:14-29) (37-39) Este exorcismo teve lugar no dia seguinte, porque a transfiguração foi à noite (cf. 6:12, 17; 19:37; 22:39 para outras experiências de Jesus na montanha). Do alto da montanha eles voltaram a um mundo de sofrimento e necessidade. Se o pedido de Pedro para que ficassem lá em cima tivesse sido atendido, esta cura não se realizaria. O Senhor precisava continuar tomando parte no drama da existência humana. Assim sendo, depois de dois episódios no isolamento, Jesus voltou a misturar-se com as multidões. Somente Lucas registra tratar-se de um filho único (veja 7:12; 8:42), e este detalhe acrescenta drama à história. O registro de Lucas diz que o menino gritava, enquanto Marcos fala de um espírito mudo. Provavel­ mente a criança pronunciava sons indistintos. Mateus o descreve com o um epilético. A s con vulsões s e apodera­ vam do menino (dificilmente o deixam). Nesta história, como no restante do capítulo, vemos a hábil descrição feita por Lucas a respeito do contraste entre a confirma­ ção e a rejeição das reivindicações de Jesus. Sobre suplico-te, veja notas em 5:12. (VI)


41 Respondeu Jesus: Ó geração incrédula e perversa! até quando estarei convosco e vos sofrerei? Traze o teu filho. 42 Quando se iam aproximando, o demônio o atirou no chão e o convulsionou; mas Jesus repreendeu o espírito imundo, curou o menino e o entregou a seu pai. 43e todos ficaram maravilhados ante a majestade de Deus. (40] O homem pode ter procurado a ajuda de Jesus e, não o encontrando, voltou-se para os que estavam mais próximos. Não é necessário pensar que ele apelou para os nove apóstolos que ficaram em baixo. Todavia, se foram eles que não puderam exorcisar, podemos supor que sua falta de fé tornasse impossível o exercício do poder que Jesus lhes concedera antes (9:1). Enquanto Cristo era visto em sua forma sobrenatural, seus discípu­ los estavam sendo derrotados pelos poderes das trevas. Sobre roguei, veja notas em 5:12. (41) É possível que Jesus tenha repreendido todos os presentes (especialmente a multidão que se reunia ape­ nas por curiosidade). Sobre a linguagem usada compare com Números 14:27; Deuteronômio 32:5; e Mateus 16:4. Ou a repreensão pode ter sido principalmente para os discípulos (desde que geralmente os que buscavam a cura tinham de ter fé para isso), com a implicação de que se eles cressem teriam curado o menino. M arcos 9:29 indica que a falha em curar era devida a uma atitude inadequada — preferiam o argumento à oração. Jesus pode muito bem ter ficado preocupado pelo fato do interesse deles em sinais e prodígios impedir que perce­ bessem o significado da sua missão e da mensagem do reino. O seu até quando... parece um suspiro impaciente pela chegada da hora em que sua tarefa terrena estaria terminada e sua vitória fosse completa. (VI) (42, 43) Grande parte do material omitido por Lucas é encontrado em M arcos neste ponto. O foco da história de Marcos está concentrado na fé, enquanto Lucas está mais interessado neste sinal messiânico antes de outras referências à paixão (vendo a mão de Deus no ato, cf.


43 Como todos se maravilhassem de quanto Jesus fazia, disse aos seus discípulos: 44Fixai nos vossos ouvidos as seguintes palavras: O Filho do homem está para ser entregue nas mãos dos homens. 45Eles, porém, não entendiam isto, e foi-lhes encoberto para o que não compreendessem; e temiam interrogá-lo a este respeito. Atos 2:22). Lucas também omite as palavras subseqüen­ tes de Jesus com relação à fé. Ele é porém o único escritor a mencionar a reação da multidão, indicando que seu relato se concentra mais no impacto da pessoa de Jesus. Ao partir, em um último gesto de maldade, o demônio atirou no chão o menino. Atirar é uma palavra usada às vezes para os boxeadores e lutadores quando castigam seus adversários. O demônio saiu, mas o menino ainda precisava ser curado (cf. 4:35). M ais Uma P red ição d a Paixão, 9:43-45 (Mt 17:22; Mc 9:30-32).

(43, 44) As palavras de Jesus: fixai nos vossos ouvi­ dos... deram ainda maior ênfase à falta de percepção de­ les, como se ouvissem o que dizia sem compreender o sen­ tido das palavras. Ele deu assim esta nova predição da paixão a um grupo maior de discípulos (veja notas em 9:22). (VII) (45) Várias explicações podem ser oferecidas para o encobrimento, que é simplesmente outra maneira de des­ crever sua falta de compreensão (veja 18:34; 24:45; e 2:50; Jo 16:18). Pode ser que eles não pudessem conceber um Messias de tal forma e pensassem que Jesus estava errado. No pensamento judeu o Messias não era um ser mortal. Eles talvez tivessem medo de suas palavras mis­ teriosas e de sua conduta. É possível que não quisessem ouvir mais, desde que a mensagem era tal que não queriam crer nela. Qualquer que seja a explicação, a oscilação entre a aceitação e a rejeição continuou, até mesmo entre os discípulos. (V, VI)


46Levantou-se entre eles uma discussão sobre qual deles seria o maior. 47Mas Jesus, sabendo o que se lhes passava no coração, tomou uma criança, colocou-a junto a si, 48e lhes disse: Quem receber esta criança em meu nome, a mim me recebe; e quem receber a mim, recebe aquele que me enviou; porque aquele que entre vós for o menor de todos, esse é que é grande. Discussão sobre a Grandeza, 9:46-48 (Mt 18:1-5; Mc 9:33-37; cf. tam bém Lc 22:24-27) (46) A discussão pode ter surgido por causa do priv légio especial concedido a Pedro, Tiago e João na transfi­ guração. Toda a situação ilustra a obtusidade de que Jesus falou no parágrafo precedente. Se os discípulos tivessem compreendido o verdadeiro significado das de­ clarações sobre a paixão, tal disputa não teria tido lugar. Eles, ao que parece, continuavam pensando em um reino físico (cf. Mt 18:1). (47,48) Receber uma criança poderia significar que discípulo honrado é aquele que se humilha a ponto de preocupar-se com uma criança, ou que eles deviam ser como crianças, e assim quando fossem recebidos por causa de Cristo isso bastaria. Veja Mateus 10:40, assim como outras declarações sobre “crian ças” em Marcos 10:15; Lucas 10:21; e 17:2. Até mesmo uma criança seria adequada para dar testemunho se fizesse isso em nome de Cristo e sob a comissão de Deus. Em meu nome significa com consideração por Jesus e por quem ele é. Eles deveriam pensar no nome que usavam, e não em si mesmos. Para salientar o ponto, Jesus enfatiza o uso da palavra mim. O verdadeiro segredo da grandeza era jus­ tamente o oposto daquilo que eles buscavam. Jesus não poderia tê-los refutado mais frontalmente. (III) O E stranho Exoreis ta, 9:49, 50 (Mc 9:38-41)

(49) Este poderia ser um discípulo secreto a quem Jesus tivesse concedido poder (cf. 10:17) e a quem os


49Falou João e disse: Mestre, vimos certo homem que em teu nome expelia demônios, e lho proibimos, porque não segue conosco. 50Mas Jesus lhe disse: Não proibais; pois quem não é contra vós outros, é por vós.

outros não conheciam. Mateus 7:21 nota pessoas que alegavam exorcisar em nome de Jesus e a quem ele não conhecia. Mas elas não tinham feito a sua vontade, e aqui o versículo seguinte implica o contrário. (50) O relato de Marcos indica que o homem exorcisa va realmente. Contraste esta passagem com Mateus 12:30 e Lucas 11:23. Cada uma dessas declarações tem de receber o seu significado no seu contexto específico. O homem no caso presente não era neutro, como nas outras passagens, apesar de seu discipulado poder estar ainda incompleto. Em Mateus 12 e Lucas 11 Jesus deu um teste pelo qual o discípulo poderia provar a si mesmo, enquan­ to aqui o teste é uma prova através da qual medimos os outros. A idéia é que a não ser que haja franca hostilidade, a pessoa deve ser considerada como um aliado. Com os fatos encaminhando-se rapidamente para um final, e a oposição intensificando-se, os discípulos precisariam da ajuda de todo amigo, pois não seria fácil manter-se a favor de Cristo. Lucas salienta assim o tema aceitaçãorejeição deste capítulo. Com isto termina o ministério galileu. Neste ponto, a missão de Jesus e a natureza do reino continuavam ainda enigmáticas até certo ponto. As palavras de Jesus escla­ recendo a situação tinham sido na maior parte mal interpretadas.


A Viagem Para Jerusalém 9:51 - 19:27 Esta longa seção tem como cenário a viagem para Jerusalém. Jesus foi apresentado e considerado anterior­ mente no evangelho e portanto esta seção não focaliza a sua identidade como faz a anterior. Ela se preocupa mais com os seus ensinamentos, com a extensão da sua missão, e com as várias reações a Ele. É difícil enquadrar o material em um esboço generali­ zado, desde que a ligação interior entre todas as partes e seu desenvolvimento racional nem sempre é clara. Gran­ de parte do material se encontra somente em Lucas e o esboço de M arcos é abandonado. Por este motivo, a seção é chamada “ a grande interpolação” (9:51-18:14). Algumas das idéias desenvolvidas são o tema da aceita­ ção e da rejeição, a vitória sobre Satanás, o segredo messiânico, a importância da obediência à vontade de Deus, a necessidade da fé e confiança em Deus, e a oração. É dada maior atenção do que anteriormente ao tema do juízo e à importância da vigilância e perseveran­ ça à luz do mesmo. Em algumas seções Jesus é visto como a autoridade a quem são levadas algumas questões para obter respostas. Ele é também severo em sua censura da hipocrisia e pecaminosidade dos fariseus e escribas (advogados). A geografia desses capítulos é indistinta (notas sobre as localidades estão em 9:51,53; 10:1; 13:22,33; 17:11; cf. também 19:28). Jesus está sempre a caminho, mas não está mais perto de Jerusalém no final do que estava no começo.


51E aconteceu que, ao se completarem os dias em que devia ele ser assunto ao céu, manifestou no semblante a intrépida resolução de ir para Jerusalém, 52e enviou mensageiros que o antecedessem. Indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos para lhe preparar pousada. 53 Mas não o receberam porque o aspecto dele era de quem decisivamente ia para Jerusalém. O PRIMEIRO CICLO, 9:51 -13 :3 0

Os A ld eões Sam aritanos, 9:51-56 (51) Os cognatos de assunto (assunção) são freqüen temente usados na Bíblia para indicar a subida ao céu (Mc 16:19; At 1:2,11,22; 10:16; 1 Tm 3:16). Lucas, porém, usa provavelmente o termo com um significado mais amplo, incluindo a paixão (veja notas em 9:22), ressurrei­ ção, e ascensão de Jesus. Manifestou no semblante, indicava uma determinação divina de propósito. Jesus foi para Jerusalém, não como um turista, mas sabendo perfeitamente o que o esperava (cf. 9:22, 41, 44). (52,53) Os mensageiros foram provavelmente envia­ dos para preparar um lugar e comida, ou para ver se a cidade receberia um viajante judeu. Sobre os samarita­ nos em Lucas, veja 10:33; 17:11, 16. Foi pouco usual o fato de Jesus dirigir-se a tal lugar, pois havia forte inimi­ zade entre judeus e samaritanos devido à rivalidade entre Jerusalém e o Monte Gerizim (veja Jo 4:4-9; também 8:48). Os samaritanos não iriam apoiar judeus que esti­ vessem a caminho de uma festa no santuário “errado” . A presença de Jesus em Sam aría mostra a universalidade do seu interesse. Note como Lucas apresenta certas fases principais do ministério de Jesus, todas começando com rejeição: em Nazaré (4:16-30); os gentios na terra dos gerasenos (8:37); o presente texto; e os líderes de Jerusalém (13:34; 23:1,18). Jesus foi finalmente para a cruz rejeitado por quase todos, e morreu para salvar a todos. (VI)


54Vendo isto, os discípulos Tiago e João perguntaram: Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir? SSjesus, porém, voltando-se os repreendeu (e disse: Vós não sabeis de que espírito sois). 56(Pois o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las.) £ seguiram para outra aldeia. 57Indo eles caminho fora, alguém lhe disse: Seguir-te-ei para onde quer que fores. 58Mas Jesus lhe respondeu: As raposas têm seus covis e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça. (54-56) Esta história mostra novamente a obtusidade dos discípulos. Tiago e João podem ter pensado que estavam defendendo a honra do seu mestre (note que eles eram chamados “filhos do trovão” em Mc 3:17; cf. notas em 5:10). Eles tinham fé no poder dele, apesar de querer fazer uso errado do mesmo. Alguns sugeriram que eles podiam ter em mente as atividades de Elias em 2 Reis 1:9-16 (como sugere a nota do rodapé). Da mesma forma que este chamou fogo do céu, eles podiam fazer outro tanto, como precursores de Jesus semelhantes a Elias (veja Ml 4:5). Jesus, que ia na frente, voltando-se os repreendeu (sobre repreender, veja notas em 4:35). Esta é a quarta censura consecutiva neste capítulo, reportan­ do-se ao versículo 41. E seguiram para outra aldeia, tendo aprendido algo a respeito da tolerância. A Natureza do Discipulado, 9:57-62 (Mt 8:19-22) (57,58), Jesus pode ter sido freqüentemente abordado desta forma. Ele se dirigia a Jerusalém para sofrer, e as exigências estritas do discipulado precisavam ser escla­ recidas. O homem provavelmente não tinha idéia do que as suas palavras para onde quer que fores envolviam. O seu caso, e os dois que se seguem, pode ser típico da espécie de racionalização que muitos estavam oferecen-


59A outro disse Jesus: Segue-me. Ele, porém, respondeu: Permite-me ir primeiro sepultar meu pai. 60Mas Jesus insistiu: Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos. Tu, porém, vai, e prega o reino de Deus. do à medida que o caminho do discipulado se tornava menos suave. Era quase como se Jesus desanimasse os seguidores. Ele estava dizendo que eles deveriam segui-lo segundo o seu preço e não o deles. Ninhos significa literalmente acampamentos e provavelmente indica po­ leiros (abrigo), desde que os pássaros se aninham só por um curto período do ano. As palavras para reclinar a cabeça, por estranha ironia, reaparecem em João 19:30 onde Jesus inclina a cabeça sobre a cruz, na morte. Jesus não exige então dó provável seguidor mais do que ele próprio está disposto a dar. A passagem, como no restan­ te do parágrafo, torna-se uma espécie de declaração velada da paixão. Jesus não falava aqui de pobreza mas de sua peregrinação, parcialmente motivada pelo fato de ser rejeitado. (VI) (59,60) Jesus tomou aqui a iniciativa. O fato de um homem sepultar o pai (ou despedir-se dos de casa, v. 61), não era errado em si. Nos ensinos rabínicos, o sepultamento de parentes mortos trazia benefícios nesta vida e na vida futura (Peah 1:1). O sepultamento dos mortos era o ato supremo de piedade do judaísmo. As exigências do reino têm precedência até sobre este dever. O ato de to­ car o corpo morto iria tornar o homem ritualmente impu­ ro, e depois de ter esperado e oferecido o sacrifício para a purificação, Jesus já teria ido embora, e o homem poderia não mais desejar segui-lo. Por outro lado, o pai poderia estar vivo, talvez doente, pois se já estivesse morto o homem estaria provavelmente em casa fazendo os preparativos para o sepultamento. Se fosse esse o caso, um adiamento indefinido estava sendo proposto. Jesus, sabendo que alguém realizaria o funeral, os cha­ mou de mortos, i.e., os espiritualmente mortos, e desa­ fiou o homem, já que não podia ajudar os mortos, a


610utro lhe disse: Seguir-te-ei, Senhor; mas deixa-me primeiro despedir-me dos de casa. 62Mas Jesus lhe replicou: Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás, é apto para o reino de Deus. iDepois disto o Senhor designou outros setenta; e os enviou de dois em dois, para que o precedessem em cada cidade e lugar aonde ele estava para ir. unir-se a Jesus na ajuda aos vivos. O grego dá ênfase a tu, porém, i.e., “você não está morto” . Jesus ia para a morte a fim de destruir o poder da morte. Sobre reino, veja notas em 1:33. (VI) (61, 62) Da mesma forma que o primeiro, este homem disse que iria. Ele achava que os vivos eram mais importantes do que os mortos ou que estivessem morren­ do. Mas Jesus indicou que o reino de Deus era ainda superior a isso. O pedido do homem não seria exagerado em circunstâncias comuns. Mas Jesus ia morrer, um caso extraordinário. Jesus não proibiu que o homem voltasse, mas tornou claro que desejava lealdade integral (cf. 14:33; e 1 Reis 19:20). Como o lavrador não pode arar corretamente com a cabeça voltada para trás, ninguém poderia seguir realmente a Jesus sem tomar uma decisão final (veja Jo 6:66). Se voltasse para casa, ele poderia perfeitamente ficar preso ali, impedido de retornar a Jesus. Sobre Reino veja notas em 1:33. (VI) A Missão dos Setenta, 10:1-16 (1)A missão dos setenta só se encontra em Lucas (cf. 9:1-6). Em contraste aos prováveis discípulos de 9:57-62, estes são verdadeiros seguidores cujo discipulado exigia pregação (veja 9:60). Neste episódio Jesus dá instrução aos missionários (1-12), amaldiçoa as cidades que os rejeitarem (13-16), e explica o significado da missão (17-20). Os versículos 57-62 do capítulo nove podem implicar o processo da escolha. A palavra escolha é encontrada em outro lugar do Novo Testamento somente em Atos 1:24.


2e lhes fez a seguinte advertência: A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara. 3lde. Eis que eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos. 4Não leveis bolsa, nem alforje, nem sandálias; e a ninguém saudeis pelo caminho. 5Ao entrardes numa casa, dizei antes de tudo: Paz seja nesta casa! 6Se houver ali um filho da paz, repousará sobre ele a vossa paz; se não houver, ela voltará sobre vós. (2) Apesar da rejeição que Jesus estava recebendo, a seara era ainda grande. Alguns acham que Jesus falou essas palavras no tempo da colheita, mas a linguagem era de tal forma comum que um ponto como esse não pode ser estabelecido (sobre rogar, veja notas em 5:12). A petição para mais trabalhadores seria na verdade para mais discípulos, desde que o chamado para o reino é um chamado para pregar (cf. Mt 9:37; Jo 4:35). O crescimento do reino, portanto, fica dentro do poder de Deus. O verbo para mande expressa necessidade urgente ou pressa; ou a determinação com que foram enviados ao seu destino. (3) Este versículo tem um leve paralelo com Mateus 10:16, que mostra os riscos da missão dos doze. Os setenta partiriam como cordeiros indefesos, dependendo de outros para a sua hospedagem, mas confiando em última análise no cuidado do Grande Pastor (cf. Salm os de S alom ão 8:28). (4) O termo para bolsa só é usado por Lucas no Novo Testamento (12:33; 22:35). Era para levar dinheiro. O alforje destinava-se às provisões. Eles não deveriam levar outras sandálias além daquelas que calçavam. A proibição: a ninguém saudeis, era provavelmente para evitar qualquer demora em seu trabalho urgente (cf. 2 Reis 4:29). (VIII) (5, 6) Este era um bom modo de testar a receptividade inicial de um hospedeiro em potencial (veja 9:4). Se não


^Permanecei na mesma casa, comendo e bebendo do que eles tiverem; porque digno é o trabalhador do seu salário. Não andeis a mudar de cada em casa. BQuando entrardes numa cidade e ali vos receberem, comei do que vos for oferecido. 9Curai os enfermos que nela houver, e anunciai-lhes: A vós outros está próximo o reino de Deus. lOQuando, porém, entrardes numa cidade e não vos receberem, saí pelas ruas, e clamai: llA té o pó da vossa cidade, que se nos pegou nos pés, sacudimos contra vós outros. Não obstante, sabei que está próximo o reino de Deus. fossem bem recebidos, os discípulos podiam continuar viagem. O termo paz tornou-se ainda mais significativo pelas implicações da paz messiânica (veja notas em 1:79). A saudação seria pronunciada ao cruzar os um­ brais e teria valor objetivo quando concedida e recebida. Um filho da paz era uma pessoa pacífica e receptiva. No versículo 5 compare com 1 Samuel 25:6. (7) Se aceitassem muitos convites (o que poderia ser esperado segundo o costume oriental), isso lhes tomaria tempo, e assim deviam então ficar hospedados em um único lugar. Compare Deuteronômio 24:15; 1 Coríntios 9:9-14; e 1 Timóteo 5:18. (VIII) (8) Os setenta não deviam ser nem cobiçosos nem difíceis de contentar. Jesus estava dizendo: “Não se preocupem com os arranjos. Vocês estão ali para pregar. Serão cuidados” . Essas palavras podem também impli­ car que deveriam ignorar o ritual judeu com respeito a comidas puras. (9) A comissão dos doze também mencionava cura, e Mateus indica que os doze pregaram a proximidade do reino (veja Mt 3:2; Lc 9:2). A cura iria demonstrar que o reino estava próximo (veja 7:21). Este é o único lugar em Lucas onde o reino de Deus é descrito como próximo (veja notas em 1:33). Existe então aqui uma nova urgência. A proximidade pode estar mais no sentido das obras que anunciavam o reino do que no cronológico.


12Digo-vos que naquele dia haverá menos rigor para Sodoma, do que para aquela cidade. 13 aí de ti, Corazim! ai de ti, Betsaida! porque se em Tiro e em Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas teriam se arrependido, assentadas em pano de saco e cinza. 14Contudo, no juízo, haverá menor rigor para Tiro e Sidom, do que para vós outros.

(10, 11) Essas são basicamente as mesmas palavras ditas aos doze (veja comentários sobre 9:5). Quer uma cidade os aceite ou rejeite, deve ficar sabendo (note a urgência) que o reino está próximo (veja v.9 e cf. notas em 1:33). Se a cidade os rejeitar, a tragédia é maior, desde que seria uma recusa da proximidade do reino. Sobre pó... que se pegou aos pés, compare Atos 13:51; 18:6. (12) A resposta à missão dos setenta se torna um assunto de vida ou morte. Sodoma (Gn 14:24; cf. Mt 11:24), apesar de sua iniqüidade, não tinha rejeitado algo tão grande como o que foi recusado por aquela cidade. O dia deste versículo é provavelmente o dia do juízo, com base no v. 14 e Mateus 10:15. (13, 14) Esta passagem é virtualmente idêntica a Mateus 11:21-23, exceto que Mateus coloca as palavras em um contexto diferente. Compare os ais em Lucas 6:25-26. Lucas falou pouco sobre as atividades do Senhor nesses lugares. Corazim é mencionada apenas aqui no Novo Testamento e no paralelo de Mateus, o que mostra quanto da obra de Cristo ficou sem ser registrado. Betsaida é mencionada em Marcos 6:45; 8:22; Lucas 9:10; João 1:44; e 12:21 (?). Há muito pode indicar que fazia algum tempo que Jesus tinha pregado ali. Pano de saco, comumente usado para indicar luto ou arrependi­ mento, era feito da pele de cabras e outros animais e utilizado para fazer sacos e algumas outras roupas. Tiro e Sidom eram cidades fenícias costeiras, freqüentemente condenadas no Velho Testamento (Is 23; Jr 25:22; 47:4; Ez 26:3-7; 28:12-22; Amós 1:9). Este é o primeiro uso lucano


15T u, Cafarnaum, elevar-te-ás, porventura, até ao céu? Descerás até o inferno. l^Quem vos der ouvidos, ouve-me a mim; e, quem vos rejeitar, a mim me rejeita; quem, porém, me rejeitar, rejeita aquele que me enviou. l^Então regressaram os setenta, possuídos de alegria, dizendo: Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome! do verbo para arrepender-se, apesar do substantivo ter sido usado (veja notas em 3:3). Quase metade do uso do verbo feito no Novo Testamento se acha nos escritos de Lucas. Outros casos no evangelho são encontrados em 11:32; 13:3,5; 15:7,10; 16:30; 17:3,4. As palavras soam aqui quase como se o arrependimento global das cidades fosse esperado. Sobre milagres (poder), veja notas em 1:17. (15) Este versículo repete a linguagem de Isaías 14:13-15, 19. Jesus tinha vivido e pregado em Cafarnaum (Mt 4:12-16; Lc 4:23,31-43; 7:1-10; João 2:12). Talvez o povo da cidade achasse que m erecia bênçãos simples­ mente por esse fato. Caso positivo, teriam de perder as suas ilusões. Céu e inferno representam os extremos da glória e da vergonha, o inferno era o reino da morte (cf. Mt 16:18; Atos 2:27). Jesus predisse a morte da cidade. Foi um momento trágico aquele em que Jesus deixou a Galiléia e só pôde falar em termos de condenação. (VI, VII) (16) Mateus 10:40 é virtualmente um paralelo a este verso, mas num contexto diferente (a missão dos doze). Este versículo identifica a mensagem dos setenta com o Filho e o Pai, a fim de encorajá-los em sua missão. (IV) A Volta dos Seten ta, 10:17-20 (17) De maneira muito sumária, Lucas conclui a missão dos setenta. Eles provavelmente regressaram gradualmente, e as palavras aqui seriam um relatório unânime, um consenso geral. Apesar de alguns argumen-


IBMas ele lhes disse: Eu via a Satanás caindo do céu como um relâmpago. 19Eís aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo, e nada absolutamente vos causará dano. tarem que o exorcismo não era uma bênção prometida, ele estava implicado no seu poder para curar os doentes (v.9). Foram dados aos doze poderes para exorcisar (9:1), e é lógico pensar que os setenta possuíssem o mesmo dom (contraste 9:49). Eles podem ter tido algu­ mas experiências extraordinárias em que demônios des­ sem uma resposta verbal ao nome de Jesus (cf. 4:35, 41; e Atos 19:13). Lucas nada diz sobre o sucesso da missão deles. O que parece importante é a declaração sobre Satanás nos vs. 18-20. Sobre alegria, veja notas em 1:14. (IV, VI) (18) O tema de Satanás em Lucas é retomado aqui, apesar de ser este o primeiro uso da palavras Satanás (veja notas sobre o diabo em 4:2). Outros usos estão em 11:18; 13:16; e 22:3,31. Caindo é um tempo aoristo e se refere a um fato que foi estabelecido (cf. a linguagem de Is 14:12 sobre o rei da Babilônia; e veja João 12:31). Céu refere-se ao auge da prosperidade e poder gozados por Satanás, que Jesus iria destruir. Nesta missão dos seten­ ta, esse processo foi parcialmente executado pela expul­ são dos demônios, servos de Satanás, que constituiu uma garantia da completa derrota de Satanás (apesar de eventos subseqüentes na carreira de Jesus fazerem algu­ mas vezes parecer que o oposto era verdade). (19) As serpentes no pensamento judeu da antigüida­ de eram um símbolo ou equivaliam aos demônios (cf. Gn 3:15; e o sentido literal em Atos 28:3). A linguagem pode ser baseada no Salmo 91:13, onde o sentido é que nenhuma fraude ou traição iria prevalecer contra os que estavam debaixo dos cuidados de Deus. O significado aqui era sem dúvida espiritual. Jesus, que lhes dera este poder de exorcisar, é superior em poder ao inimigo. Por isso, não temam! Mas se os seus poderes eram uma


20]\Jão obstante, alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e, sim, porque os vossos nomes estão arrtflados nos céus. 21 Naquela hora exultou Jesus no Espírito Santo e excla­ mou: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas cousas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado. grande verdade, eles deviam então aprender que a maior bênção de Deus estava ainda para ser revelada (v. 20). Sobre autoridade, veja notas em 4:6; sobre poder veja notas em 1:17. (VII) (20) Os exorcismos eram um sinal apontando para uma verdade maior — o bem-estar espiritual dos discípu­ los. Por causa disto eles deviam alegrar-se (veja notas em 1:14). Nomes arrolados nos céus pode extrair o seu significado do fato de escrever o nome de uma criança ao nascer nos registros oficiais. Aqui foi usado como um símbolo do fato estabelecido da redenção dos fiéis (veja Is 4:3; Ez 13:9; Dn 10:21; Fp 4:3; Ap 3:5; 21:27). (I) A G ratidão d e Jesu s ao Pai, 10:21,22 (Mt 11:25-27) (21) Este é o único lugar em que é dito que Cristo exultou no Espírito Santo (veja notas em 1:15). Desde que o Espírito em Lucas é o agente para a realização podero­ sa dos propósitos de Deus entre os homens, esta frase indica a alegria por esses propósitos terem sido cumpri­ dos na missão dos setenta. Veja notas em 1:47. Este foi o primeiro lugar no evangelho em que Jesus dirigiu-se a Deus como Pai (mas veja 2:49). Pai, no Velho Testamento designava Deus como Criador e Autoridade absoluta (Dt 32:6; Ml 2:10), mas também ilustrava a sua compaixão e ternura (Is 63:15; Jr 31:9,20; Os 11:3,8). O uso do título feito por Jesus descrevia seu relacionamento ímpar com Deus, aqui expresso em termos da revelação especial através do Filho. Era sobre isto que repousava a autoridade de Jesus (cf. a autoridade de Jesus desenvol-


22Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém sabe quem é o Filho, senão o Pai; e também ninguém sabe quem é o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. 23E, voltando-se para os seus discípulos, disse-lhes particularmente: Bem-aventurados os olhos que vêem as cousas que vós vedes. 24p0is eu vos afirmo que muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes, e não viram, e ouvir o que ouvis, e não o ouviram.

vida em 4:14-6:11). As referências de Jesus a Deus como Pai estão em 2:49; 6:36; 10:21; 11:2,13; 12:30,32; 22:29; 23:34,46; e 24:49. Os sábios e entendidos eram provavelmente os opo­ nentes de Jesus, tais como os líderes religiosos judeus (cf. Jo 7:49; 9:40). Pequeninos, então, seriam os que respon­ dessem ao seu ministério, especialmente à missão dos setenta. A idéia básica era sem dúvida salientar a humildade necessária para receber a revelação do reino de Deus. Esta passagem, com os três versículos seguin­ tes, responde à pergunta: “quem reconhece e recebe o reino de Deus?” Cada um mostra que ninguém percebe a natureza da obra de Jesus exceto à medida em que é revelada por Deus. O paralelo em Mateus, apesar de virtualmente idêntico, acha-se num contexto diferente. (22) Este versículo continua o tema da revelação do contexto. Sem o Filho o homem não pode conhecer o Pai (veja João 17:25). Também, Jesus e seus discípulos esta­ vam livres da tradição dos antepassados (um tema continuado pelos vs. 25-29). (I, IV, V) A B ên ção dos Discípulos, 10:23,24 (Mt 13:16) (23, 24) O paralelo em Mateus, como costumeiro nesta seção, se encontra em um contexto diferente. Esta é outra bem-aventurança, (cf. 6:20-23), com o propósito de mostrar a bênção dos pequeninos. Eles conheciam uma exaltação negada até mesmo aos profetas e reis. Jesus


25 e eis que certo homem, intérprete da lei, se levantou com o intuito de pôr Jesus em provas, e disse-lhe: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? 26Então Jesus lhe perguntou: Que está escrito na lei? Como interpretas? 27 a isto ele respondeu: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento: e amarás o teu próximo como a ti mesmo. falou assim da percepção espiritual como resultado da revelação e do cumprimento do propósito de Deus que em épocas anteriores não passava de uma esperança (cf. Jo 8:56; Rm 16:25; Hb 11:13; 1 Pe 1:10-12). Todavia, o segredo agora revelado, não foi ainda compreendido pelos discípulos (9:45; cf. 18:34; 24:45). (V, VII) A Pergunta do A dvogado, 10:25-28 (Mt 22:34-40; Mc 12:28-31; assim como Mt 19:16-30; Mc 10:17-31; Lc 18:18-30)

(25) O intérprete da lei (advogado) seria um teólog versado na lei judaica e sua interpretação. Tais homens agiam como juizes nas cortes e treinavam jovens como discípulos. O verbo para provas tem em geral um signifi­ cado desfavorável no Novo Testamento. A pergunta do jurista não foi feita com base numa necessidade espiri­ tual. Ele se aproximou de )esus com o intuito de fazer um exercício intelectual, mas Jesus acabou abrindo uma nova dimensão quanto ao significado das palavras que o homem podia repetir. Ele não esperava uma resposta ortodoxa de Jesus, pois já a conhecia e não teria ido ouvir uma repetição da mesma. O judaísmo rabínico tentava reduzir a lei ao mandamento maior ou global. Com efeito, o advogado estava, ao que parece, perguntando algo assim. (VI) (26, 27) Jesus pode ter apontado para o filactério do advogado ao fazer a pergunta do versículo 26. Nele estariam escritas Deuteronômio 6:4, e talvez outras


28Então Jesus lhe disse: Respondeste corretamente; faze isto, e viverás. 29Ele, porém, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: Quem é o meu próximo? 30jesus prosseguiu, dizendo: Certo homem descia de Jerusalém para Jericó, e veio a cair nas mãos de saltea­ dores, os quais, depois de tudo lhe roubarem e lhe causarem muitos ferimentos, retiraram-se deixando-o semimorto. 31Casualmente descia um sacerdote por aquele mesmo caminho e, vendo-o, passou de largo. passagens. A resposta do homem foi Deuteronômio 6:5 e Levítico 19:18 (note Rm 13:9; G1 5:14; Tg 2:8). No Velho Testamento, a obediência a esses mandamentos trazia sobre a pessoa as bênçãos da aliança da lei (cf. Dt 6:3). Jesus forçou o homem a responder, levando-o a supor que tivesse mais alguma coisa a dizer. Ele sondou desta forma a verdadeira razão do homem para procurá-lo. Sobre amor, veja notas em 6:27. (28) Jesus disse faze isto, e o tempo do verbo indica que era para ser feito continuamente. A resposta de Jesus aprovou o resumo dos mandamentos feito pelo advogado (veja Lv 18:5; cf. Lc 7:43), mas este nada aprendeu de novo. Jesus não disse que era possível fazer o que o advogado tinha respondido, mas lhe deu uma resposta em seus próprios termos. Neste ponto o advoga­ do podia deixar o assunto de lado, provavelmente insatis­ feito, ou continuar pesquisando. (II) A P aráb ola do Bom S am aritan o, 10:29-37 (29) O advogado recusou admitir que não podia, ou não queria guardar os mandamentos que anunciara, e tentou assim justificar-se (fazer-se de justo diante de Deus) com uma nova pergunta. Ele queria definir os limites do seu dever, e depois mostrar que agira nessa conformidade. Estava tentando descobrir a quem devia amar, e os que não devia. Mas tal distinção era contrária à ética de Jesus (veja 6:27, 35)


32 Semelhantemente um levita descia por aquele lugar e, vendo-o, também passou de largo. 33Certo samaritano, que seguia o seu caminho, passoulhe perto e, vendo-o, compadeceu-se dele. 34 e , chegando-se, pensou-lhe os ferimentos, aplicandolhes óleo e vinho; e, colocando-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e tratou dele. 35No dia seguinte tirou dois denários e os entregou ao hospedeiro, dizendo: Cuida deste homem, e, se alguma cousa gastares a mais, eu to indenizarei quando voltar. (30, 31) A resposta indireta de Jesus mostrou que a vida eterna não era obtida através de obras como concebido pelo advogado. O assunto tem de ser abordado de forma diferente. Alguns pensam que Jesus estava na estrada de Jericó quando a história foi contada, desde que o episódio seguinte foi presumivelmente em Betânia, alguns quilômetros além no caminho para Jerusalém. Jericó ficava a 270 quilômetros de Jerusalém, numa elevação menor, e a estrada que descia era estreita, pedregosa, tortuosa e infestada de salteadores. Cerca de metade das ordens sacerdotais vivia em Jericó e os sacerdotes viajavam com freqüência de e para Jerusa­ lém. O homem ferido era provavelmente judeu.

O sacerdote estava provavelmente voltando de Jeru­ salém (estivera ele cumprindo deveres religiosos?). A compaixão normal por qualquer pessoa iria exigir a ajuda a alguém em condições como a do sofredor ferido, e seria preciso então que houvesse uma repressão de algo basicamente humano para passar de largo. Além do mais, se se esperasse a ajuda de alguém, essa seria a de um sacerdote. Mas ele falhou. Talvez ele se justificasse argumentando que não podia tocar um cadáver (o homem pode ter parecido morto) contaminando-se cerimonialmente (Lv 21:11). (32) Um levita era o ajudante do sacerdote. Ele poderia muito bem desempenhar o papel de ajudar na instrução da lei e da tradição dos judeus. A ajuda de


36Qual destes três te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores? 37Respondeu-Ihe o intérprete da lei: O que usou de misericórdia para com ele. Então lhe disse: Vai, e procede tu de igual modo. alguém como ele seria também especialmente esperada. (33-35) Para outras referências sobre os samaritanos veja 9:52. Os judeus não consideravam os samaritanos como seu próximo, Lucas todavia, com muitos toques, mostra a bondade e interesse desse homem. Sua caracte­ rística básica era a compaixão. O advogado era frio e calculista, mas o amor é caloroso e compassivo. Óleo e vinho eram remédios domésticos comuns, usados algu­ mas vezes como bálsamo (Gn 28:18; Js 9:13; Is 1:6; Mc 6:13; Tg 5:14). Colocando-o sobre o seu próprio animal, o que pode indicar que o samaritano teve de andar. Ele deu dois denários — o salário de dois dias (cf. Mt 20:2) para a sua manutenção. E ofereceu-se para tratar dele en­ quanto tivesse necessidade. O beneficiário poderia ter ido embora quando voltasse, talvez sem sequer saber a identidade do seu benfeitor. Isso porém não importava ao samaritano, desde que não estava buscando gratidão mas esperando aliviar a necessidade humana. O fato do hospedeiro estar disposto a confiar nele pode ser uma prova de sua idoneidade, ou a bondade do samaritano pode ter dado lugar a essa confiança. (36, 37) O advogado tinha caído na armadilha e não podia dar qualquer outra resposta sincera além da que foi dada. Para seu crédito, ele respondeu com honestida­ de, o que foi mais do que alguns oponentes de Jesus fizeram algumas vezes (veja 20:1-8). O ponto de Jesus era que não se deve perguntar sobre o próximo e sobre a sua identidade, até que se esteja pronto para agir como próximo (Tg 1:25; cf. Jo 13:17). O jogo de palavras teológico era irrelevante, mas a conduta era de primeira importância. Jesus não disse que o advogado podia alcançar a vida eterna dessa forma, mas esta era uma preocupação que não deveria inquietá-lo até que apren-


38Indo eles de caminho, entrou Jesus num povoado. E certa mulher, chamada M arta, hospedou-o na sua casa. 39 Tinha ela uma irmã, chamada Maria, e esta quedavase assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensina­ mentos. 40Marta agitava-se de um lado para outro, ocupada em muitos serviços. Então se aproximou de Jesus e disse: Senhor, não te importas de que minha irmã tivesse deixado que eu ficasse a servir sozinha? Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me. 41 Respondeu-lhe o Senhor: M arta! Marta! andas inquie­ ta e te preocupas com muitas cousas. 42Entretanto, pouco é necessário, ou mesmo uma só cousa; Maria, pois, escolheu a boa parte e esta não lhe será tirada. desse a amar. O advogado, em sua resposta, evitou a odiosa palavra Samaritano. Depois de Jesus lhe dizer: Vai, e procede (o tempo do verbo indica ação continua­ da), não ficamos sabendo qual a resposta do advogado. M aria e M arta, 10:38-42 (38-40) O povoado dessas irmãs era Betânia (Jo 11:1), mas Lucas não se preocupa com a especificação de locais, e sim com o fato de que Jesus estava indo para Jerusalém. Esta é a primeira introdução de Lucas a Maria e M arta (sobre mulheres, veja notas em 1:5). Não era incomum que um rabi ensinasse mulheres. Apesar delas serem rejeitadas no sistema social daquela época, Jesus se interessava pelas mesmas. O contraste entre as mulheres era surpreendente. M arta agitava-se, ocupada (a palavra significa ser puxa­ da em direções diferentes), preocupada em mostrar-se uma boa hospedeira, enquanto M aria preferiu ser uma boa ouvinte. M arta se parece com muitos cuja atividade bloqueia as preocupações espirituais. Ela presumiu que Jesus concordaria com a sua filosofia, e em termos do conceito de hospitalidade naquele tempo ela poderia ter o direito de pensar assim. Mas Jesus, que tão freqüente-


iDe uma feita estava Jesus orando em certo lugar; quando terminou, um dos seus discípulos lhe pediu: Senhor, ensina-nos a orar como também João ensinou aos seus discípulos. 2 Então ele os ensinou. Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; mente invertia os pontos de vista normais, não apoiou o seu pedido. (VI) (41, 42) Uma só cousa é necessária pode indicar que uma refeição muito elaborada não era exigida — que um prato substancial seria suficiente. Isso implicaria que ela estava assim ocupada por sua própria escolha, e se tivesse feito menos (mas o suficiente) ela também poderia ouvir como Maria havia feito. Ou o significado pode ter sido de que a coisa realmente necessária era espiritual, e Maria tinha feito a melhor escolha (veja Mt 6:33). O alimento duraria pouco, mas o que Maria obteve seria permanente. A palavra descrevendo a parte de Maria poderia descrever uma parte de alimento. Marta poderia estar deixando que o seu apetite por um alimento físico estragasse a sua fome do verdadeiro alimento. Jesus, portanto, não está apenas sendo alimentado, mas alimen­ tando. Ele pediu a Marta, na verdade, que permitisse que ele também a alimentasse. Sobre refeições, veja no­ tas em 5:27. A o r a ç ã o do Senhor, 11:1-4 (Mt 6:9-13) (1) Esta introdução salienta a vida de oração de Jesus como um preparo para o seu ensino sobre a oração (veja notas em 1:10). É o terceiro incidente consecutivo em que pessoas buscam Jesus para receber instrução. Não existe evidência específica de uma fórmula de oração ensinada por João (cf. 5:33), mas os rabis algumas vezes escreviam orações para os seus discípulos. (VI) (2) No paralelo de Mateus é dado um exemplo de oração, enquanto aqui trata-se de uma fórmula a ser usada (note a terceira e segunda pessoas). Jesus não sò se referiu a Deus como “Pai” (10:21), mas os discípulos


3 o pão nosso cotidiano dá-nos de dia em dia;

também mantém esta relação intima com Deus. Eles conheceriam Deus dando-lhes o perdão, cuidando deles, e concedendo-lhes todas as bênçãos da idade messiâni­ ca. O destinatário desta oração pode perfeitamente ter-se tornado o A b b a da comunidade cristã (veja Gl 4:6; Rm 8:15). Veja a discussão em 10:21 e seguintes. Santificar o nome de Deus é venerá-lo, tratá-lo como santo. No final, e inevitavelmente, o nome de Deus será santificado. Mas a oração indica que a pessoa que ora pode fazer párte do processo. Isto, que traz ao homem bênção e glória, é todavia finalmente para a glória de Deus. O nome de Deus sugere todo o seu ser. Quando o nome de Deus é santificado, o reino virá. Alguns argu­ mentam que reino deveria ser traduzido como “domínio” , e a oração seria então para que o domínio de Deus con­ trolasse e purificasse um mundo presentemente governa­ do pelo inimigo. Existe um sentido em que o reino virá em qualquer idade, desde que nem todos reconhecem a soberania de Deus. Todavia, nos tempos de Jesus ele estava próxi­ mo de um modo especial. Mesmo depois do reino ter vindo em Pentecoste (Atos 1:5-8; 2:1-4), a oração conti­ nuou válida para os cristãos. Se assim não fosse, Lucas não a teria preservado num evangelho escrito para os discípulos após-Pentecostes. E se a oração era válida para eles continua assim para os cristãos de qualquer idade. (3) O pão pode vir com ou sem o auxílio da oração, mas o discípulo reconhece a sua origem e a necessidade constante de depender do Pai para o seu sustento. Esta petição pode ter suas raízes nos episódios do maná no Velho Testamento. O pão pode ser um símbolo de todas as necessidades materiais. De dia em dia oferece um certo problema, desde que é usado somente aqui (e no paralelo de Mateus) no Novo Testamento e foi encontrado em apenas mais um lugar em toda a literatura do mundo antigo. Foram oferecidas


4perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoa­ mos a todo o que nos deve. E não nos deixes cair em tentação. 5 Disse-lhes ainda Jesus: Qual dentre vós, tendo um amigo e este for procurá-lo à meia-noite e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, 6pois um meu amigo, chegando de viagem, procurou-me, e eu nada tenho que lhe oferecer. 7E o outro lhe responda lá de dentro, dizendo: Não me importunes: a porta já está fechada e os meus filhos comigo também já estão deitados. Não posso levantar-me para tos dar;

duas sugestões principais quanto ao seu significado. Uma delas é que se refere ao nosso pão para hoje, como as rações diárias para os soldados, escravos ou trabalha­ dores. A outra é que significa “pão para o dia de amanhã” . Em qualquer caso, deve haver dependência constante de Deus, e o pedido é apenas para um dia de cada vez, seja o dia de hoje ou o de amanhã. (4) Mateus escreve “dividas” em lugar de pecado veja notas em 1:77; 3:3. Esta é uma bênção da era messiânica: um perdão mais completo do que o que poderia ser conhecido sob a lei de Moisés. Tendo recebi­ do isto de Deus, o discípulo o dá aos seus semelhantes, como uma reação à iniciativa de Deus. Veja Mateus 18:35; Marcos 11:25. (II) Mateus acrescenta no tópico da tentação, “mas livranos do mal” . Lucas usa o verbo deixar cinco vezes, enquanto ele se encontra apenas três vezes no restante do Novo Testamento. Em lugar de indicar que Deus levaria os homens à tentação se não orassem (veja Tiago 1:13-15), o texto provavelmente significa algo como “não permita que sejamos vencidos pela tentação” . O pedido é para que Deus não permita que seu povo seja tentado além das suas forças (cf. 1 Co 10:13). As tentações se apresentam sempre, mas podem ser vencidas com a fé adequada em Deus, como mostrado pela tentação de Jesus (4:1-13).


8digo-vos que, se não se levantar para dar-lhos, por ser seu amigo, todavia o fará por causa da importunação, e lhe dará tudo o de que tiver necessidade. O Amigo Importuno, 11:5-8

(5-7) A história de Jesus, contada com um toque de humor, pode reportar-se a cenas anteriores de sua vida em casas apertadas na cidade de Nazaré. O pão era cozido de manhã. Se o suprimento do dia acabava, havia necessidade de medidas de emergência, tal como pedir emprestado. No oriente, a porta das casas era mantida aberta durante o dia e fechada à noite. A pessoa só batia em uma porta fechada em casos de grande necessidade. Do lado de dentro, havia uma parte mais alta no recinto, onde os habitantes se deitavam em tapetes ou ao redor do fogo. O fato de alguém levantar-se perturbaria todos os demais, até mesmo os animais, se eles tivessem sido levados para dentro à noite. As pessoas freqüentemente viajavam à noite para evitar o calor. Esse o motivo pelo qual o amigo, cujos hóspedes tinham sem dúvida chegado à noite, fez o pedido. Somente a urgência da necessidade e a fé na boa-vontade de um amigo permitiria tal pedido. O amigo provavelmente não se importou tanto em dar o pão quanto em ter de levantar-se. O ponto era este: se um ser humano comum iria agir dessa forma, quanto mais se pode esperar uma resposta de Deus, quando abordado em oração urgente. Se Deus mandara que pedissem (v.9), ele certamente responderia. (8) A principal razão pela qual o pão foi emprestado foi a importunação. O termo, usado apenas aqui no Novo Testamento, significa literalmente “sem-vergonhice” . A­ qui ele implica, com referência à oração, a necessidade do discípulo e sua confiança em Deus. Sua importunação mostra como a questão é importante para ele. O homem não estava disposto a ser desanimado com desculpas. Se não satisfizesse às necessidades de seus hóspedes, eles ficariam com fome. Da mesma forma Deus não pode responder ligeiramente ou com desprezo ao desejo indife-


9Por isso vos digo: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e acha­ reis; batei, e abrir-se-vos-á. lOPois todo o que pede recebe; o que busca, encontra; e a quem bate, abrir-se-lhe-á. HQual dentre vós é o pai que, se o filho lhe pedir (pão, lhe dará uma pedra? ou se pedir) um peixe, lhe dará em lugar de peixe uma cobra? 12 Ou, se lhe pedir um ovo lhe dará um escorpião? I3 0 ra , se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem? rente por parte do homem. Uma vez transmitido o ensina­ mento principal, a história de Jesus não deve ser torcida de modo a dizer coisas que não era sua intenção dizer. Os versículos subseqüentes também enfatizam a impor­ tância da fé na oração. A R esposta à O ração, 11:9-13 (Mt 7:7-11) (9, 10) As palavras de Mateus são encontradas no Sermão do Monte, em um contexto diferente. Os discípu­ los de Jesus deviam ser tão ousados quanto o visitante da meia-noite, sabendo da disposição de Deus em respon­ der. Não deviam deixar de pedir, nem interromper o pedido depois de iniciado. A surpreendente oferta de Jesus parece referir-se especialmente às petições dos v. 2-4. Os termos pedir, buscar e bater estão todos implíci­ tos na história contada por Jesus, o que poderia indicar ter sido Lucas e não Mateus que apresentou o contexto original desta declaração. (VII) (11-13) O tema da petição continua, salientando aqui a natureza da bênção a ser recebida. O argumento é este: “Se A é verdadeiro, então quanto mais B será tam­ bém verdadeiro” . Esta espécie de argumento quanto mais (usado pelos rabis) foi muitas vezes empregado por Jesus, seja explícita ou implicitamente. A aqui são as boas dádivas e B o Espírito Santo. Alguns dos contrastes mencionados por Jesus nos vs. 11 e seguintes, podem ter sido proverbiais e envolvido semelhanças, como, por


14 De outra feita estava Jesus expelindo um demônio que era mudo. E aconteceu que ao sair o demônio o mudo passou a falar; e as multidões se admiravam. 15Mas alguns dentre eles diziam: Ora, ele expele os demônios pelo poder de Belzebu, o maioral dos demônios. 16e outros, tentando-o, pediam dele um sinal do céu. exemplo, o fato de um escorpião, com suas pernas fechadas ao seu redor, assemelhar-se a um ovo. Mateus tem “boas dádivas” onde Lucas tem o Espírito Santo. As expressões podem ser equivalentes, mas o texto presente deve ser visto com relação à ênfase especial de Lucas sobre o Espírito (veja notas em 1:15). Ele era agora prometido como uma resposta à oração dos seus discípulos (veja 3:16). O papel do Espírito é assim continuamente expandido em relação à obra de Deus. O processo alcança o seu clímax em Atos. (VII)

A C ontrovérsia s o b r e B elzebu , 11:14-23 (Mt 12:22-30; Mc 3:22-27) (14, 15) Mateus indica que o endemoninhado era também cego (cf. também Mt 9:32-34). Este é o último exorcismo registrado em Lucas (a não ser que 13:10-17 seja assim considerado). Lucas não conta o motivo da acusação contra Jesus (veja Mt 10:25; e Jo 8:48). O significado exato de Belzebu é incerto. Significações sugeridas incluem “Senhor do Alto Lugar” , “Senhor do Excremento” e “Senhor da Casa divina” (veja 2 Reis 1:2). Em qualquer caso, o termo parece implicar aliança diabólica (v. 18). (16) Esta é a terceira reação registrada neste pará grafo. Era um pedido de mais poder do alto, em contraste à atribuição do seu poder a forças inferiores (cf. Mt 12:38; 16:1-4; Mc 8:11; Jo 2:18; 6:30; 1 Co 1:22). Havia semelhança entre a busca de sinais e a terceira tentação (4:9-12). Mas que espécie de sinal os convenceria, se não estavam dispostos a aceitar os que já tinham sido dados (e.g., o exorcismo)? (VI)


17 e , sabendo ele o que se lhes passava pelo espírito, disse-lhes: Todo reino dividido contra si mesmo ficará deserto e casa sobre casa cairá. 18Se também Satanás estiver didivido contra si mesmo, como subsistirá o seu reino? Isto porque dizeis que eu expulso os demônios por Belzebu. 19 E, se eu expulso os demônios por Belzebu, por quem os expulsam vossos filhos? Por isso eles mesmos serão os vossos juizes. 20se, porém, eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós. (17, 18) Os versículos 17-23 são a resposta de Jesus à acusação a respeito de Belzebu, e os versículos 29-32 ao pedido de um sinal. A resposta de Jesus significava que os demônios são agentes satânicos, e Belzebu não iria opor-se a si mesmo exorcisando-os. (III) Sobre reino veja notas em 1:33; sobre Satanás veja notas em 10:18. (19) Jesus usou então um argumento diferente. Os exorcismos não estavam limitados a ele e aos seus discípulos (7:22; Mc 9:38; At 19:13-19) mas eram pratica­ dos pelos filhos (provavelmente os discípulos, 1 Pe 5:13) de seus antagonistas. O sucesso dos exorcistas judeus não era o ponto em foco, mas a fonte do seu poder. Qualquer que fosse a origem alegada (e certamente não seria satânica), Jesus podia logicamente reivindicar o mesmo. Naturalmente, os filhos poderiam por sua vez perguntar porque os exorcismos deles não eram também sinais da atuação de Deus como os de Jesus. Mas as obras de Jesus eram sinais do reino, e ele tinha também outras credenciais a serem acrescentadas a elas. Entre outras coisas, ele podia operar prodígios que exorcista algum saberia duplicar (acalmar a tempestade, alimen­ tar as multidões). (20) Este é um dos poucos lugares em que é estabeleci­ do o propósito dos milagres (i.e., como sinais do reino). A expressão dedo pode referir-se a Êxodo 8:19 (cf. também SI 8:3). Talvez Jesus se tenha visto aqui como um novo Moisés liderando uma nova Israel. Lucas escreve dedo


21 Quando o valente, bem armado, guarda a sua própria casa, ficam em segurança todos os seus bens. 22Sobrevindo, porém, um mais valente do que ele, venceo, tira-lhe a armadura em que confiava e lhe divide os despojos. 23Quem não é por mim, é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha.

onde Mateus tem “Espírito de Deus” . A omissão do Espírito por parte de Lucas é compensada pelo fato de que ele apresenta todo o ministério de Jesus como reali­ zado sob o poder do Espírito (4:14,18). É chegado é a forma aorista do verbo grego phthan õ. O aoristo, no Novo Testamento, quase sempre se refere àquilo que chegou, mesmo se apenas num estágio inicial (veja Rm 9:31; 2 Co 10:14; 1 Ts 2:16; Fp 3:16). O reino estava presente no ministério de Jesus, provavelmente no sentido de que a sua presença garantia a sua plena realização. Todavia, ele era também futuro (veja notas sobre o v. 2; reino, 1:33). De modo semelhante, a Bíblia fala da ira como presente (1 Ts 2:16), mas também como sendo futura (1 Ts 1:10). (21, 22) A fonte literária desta parábola pode ser Isaías 49:24-26. Também no T estam en to d e Levi 18:12 uma profecia semelhante é encontrada, referindo-se a um sacerdote messiânico que estava para vir. O ponto das palavras de Jesus parece ser que Satanás é mais forte do que os homens, mas Jesus é mais forte que Satanás. Ele não apenas renunciou à inspiração satânica como também alegou ser superior a ela. Sobre diabo e Satanás, veja notas em 4:2; 10:18; e compare Colossenses 2:15; 1 João 4:4. (IV) (23) Jesus apelou a seus ouvintes a fim de qu fizessem uma escolha. Podemos atrair homens para o reino (ajunta) ou lançá-los fora dele (espalha), opondonos a ele (cf. Jo 10:12). Em uma réplica aguçada aos seus acusadores do v. 15, ele claramente indicou que a neutra­ lidade iria tornar-se impossível.


24 Quando o espirito imundo sai do homem, anda por lugares áridos, procurando repouso; e, não o achando, diz: Voltarei para minha casa donde saí. 25E, tendo voltado, a encontra varrida e ornamentada. 26Então vai, e leva consigo outros sete espíritos, piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado daquele homem se torna pior do que o primeiro. 27 Ora, aconteceu que, ao dizer Jesus estas palavras, uma mulher, que estava entre a multidão, exclamou e disse-lhe: Bem-aventurada aquela que te concebeu e os seios que te amamentaram! 28Ele, porém respondeu: Antes bem-aventurados são os que ouvem a palavra de Deus e a guardam! A Volta do Espírito Maligno, 11:24-26 (Mt 12:43-45)

(24, 25) Depois do exorcismo, o demônio precisa ter um lugar onde morar. Isaías 13:21 e seguintes e 34:14 podem implicar que os lugares áridos eram a habitação favorita dos demônios (cf. também Tobit 8:3; e Lc 8:33). A cura capacitava o homem a fazer uma decisão racional e livre, mas não o fortalecia contra a volta do demônio. Ele não encheu sua vida com bens positivos quando o demô­ nio foi expulso (varrida e ornamentada), e este então voltou (pior do que antes). O ponto era mostrar a tragédia que sobreviria àqueles que rejeitassem a opor­ tunidade oferecida por Jesus. Como no v .23, a neutrali­ dade é impossível, desde que se tornava uma oportuni­ dade para o mal. (26) Sete (cf. 8:2) pode simbolizar plenitude, i. e. maldade de toda espécie, ou gravidade da possessão. A Bem -A venturança da M ãe d e Jesus, 11:27,28 (27,28)A mulher clamou em um momento de emoção, e Jesus levou-a de volta à rotina da obediência diária. Ser mãe de Jesus não implicava mais do que a participação na sua humanidade. Ouvir e obedecer a palavra de Deus era ter comunhão com a divindade (cf. Tg 1:22-25). O


29 Como afluíssem as multidões, passou Jesus a dizer: Esta é geração perversa! Pede sinal; mas nenhum sinal lhe será dado, senão o de Jonas. 30pOrque assim como Jonas foi sinal para os ninivitas, o Filho do homem o será para esta geração. 3lA rainha do Sul se levantará no juízo com os homens desta geração, e os condenará; porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis aqui e ' á quem é naior do que Sal não 32Ninivitas se levantarão no juízo com esta geração. e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis aqui está quem é maior do que Jonas>

.J parentesco espiritual transcende até nie co físico (cf. Lc 8:19-21).

i-parentes-

O Sinal p a ra Esta G eração, 11^29^3^tcf. Mt 12:38-42)

(29, 30) Como afluíssétít 1 3 multidões, Jesus expandiu o que estava dizendo. O ^ v è. 29-32 se referem aos oponentes de Jesus/enbjuanto 33-36 são para os seus discípulos. Em <\Mareu&'o sinal de Jonas se refere à experiência ntCèsVv 'ngo do peixe, e a referência parece ser então^^v^eásnrreição. Aqui, a idéia básica está associada] çom a pregação de Jesus. Era um sinal no s nl i'i' • ; que condenava um povo perverso. 'não operará sinais para satisfazer os caprichos íomens. Se eles não queriam aceitar os que tinham sido dados, por que fazer outros? Se os ninivitas se arrependercmi mediante d p i u c juna», pui que não poderiam fazer o mesmo os ouvintes de Jesus? O fato de Jesus empregar o tempo futuro (será dado e será) indica que ele incluía algo mais do que simplesmente sua pregação anterior. Talvez indicasse a totalidade do seu ministério, incluindo a sua ressurreição final. (VI) (31, 32) Mediante uma comparação de comportamen­ to Jesus acusou a sua geração. Os homens de Nínive (ninivitas) como juizes (veja Jonas 3:5) se enquadram no contexto, mas a rainha do Sul é também introduzida (cf 1


33Ninguém, depois de acender uma candeia, a põe em lugar escondido, nem debaixo do alqueire, mas no vela­ dor a fim de que os que entram vejam a luz. 34são os teus olhos a lâmpada do teu corpo; se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; mas se forem maus, o teu corpo ficará em trevas. 35Repara, pois, que a luz que há em ti não sejam trevas. 36Se, portanto, todo o teu corpo for luminoso, sem ter qualquer parte em trevas, será todo resplandecente como a candeia quando te ilumina em plena luz. Rs 10:1-10; 2 Cr 9:1-9]. Em ambos os casos o contraste era entre gentios e judeus e seria um golpe aos ouvidos judeus quando percebessem a implicação de que eles estariam em pior posição no juízo. Quem é maior, sendo neutro, pode referir-se mais à mensagem de Jesus do que particularmente à sua pessoa. Sobre arrependimento, veja notas em 10:13. (IV, VII] A Respeito da Luz, 11:33-36 (Mt 5:15, 6:22; Mc 4:21)

(33) Esta seção pode combinar várias declarações in dependentes de Jesus sob a palavra-chave luz. Aqui, como em Lucas 8:16 e Marcos 4:21, ela parece referir-se à manifestação do evangelho, desde que o contexto trata da maneira como as pessoas recebem a mensagem. Jesus é aquele que acende a lâmpada. Este era o sinal (v. 16) perfeitamente visível a todos os que pudessem ver. Nos três versículos seguintes Jesus exorta os discípulos a se certificarem de que podem ver. (34, 35) Em Mateus essas palavras se referem aos valores principais do indivíduo (6:22). Aqui elas parecem referir-se também à recepção da mensagem de Jesus. A palavra candeia (lâmpada) é usada em dois sentidos nos versículos 33 e seguintes. O discípulo deve deixar que a sua lâmpada receba luz daquela lâmpada; e assim, se o indivíduo não é iluminado por essa fonte, toda a sua vida é afetada. Os olhos sem dúvida representam o valor principal no coração. (36) A aceitação ou rejeição de Jesus era uma coisa


37 Ao falar Jesus estas palavras, um fariseu o convidou para ir comer com ele; então, entrando, tomou lugar à mesa. 38o fariseu, porém, admirou-se ao ver que Jesus não se lavara primeiro, antes de comer. 39o Senhor, porém, lhe disse: Vós, fariseus, limpais o exterior do copo e do prato; mas o vosso interior está cheio de rapina e perversidade. maior do que muitos suspeitavam. Os que tivessem a completa iluminação em que ele insistia, não precisavam pedir qualquer sinal. O pedido em si mostrava que os pedintes não tinham os valores certos e havia neíes trevas. Discurso con tra os F ariseu s, 11:37-12:1 (Mt 23:1-36) (37, 38) Esta seção pode ser associada à precedente, porque havia pessoas cujos olhos e corpos estavam nas trevas. Com isto o choque entre Jesus e os fariseus se torna cada vez mais violento. Lucas registrou vários contatos anteriores de Jesus com os fariseus (veja notas em 5:17), e até mesmo uma refeição com um deles (7:36-50; veja também sobre 5:27). Esta refeição era a segunda do dia, geralmente cerca do meio-dia. É bem possível que Jesus tivesse estado tocando pessoas doen­ tes e fosse esperado que se lavasse depois disso (cf. Mt 15:2). O fato do fariseu esperar que fizesse isso indica que não houve segunda intenção no convite. Entretanto, ao que parece, Jesus omitiu deliberadamente as abluções a fim de estimular discussão subseqüente. (VI) (39) O fariseu não replicou, mas, como em outros lugares, Jesus respondeu aos seus pensamentos. (III) Ele nem sempre era assim rude. Ele lhes disse que estavam preocupados com a sua própria pele e não com o seu coração. Se fossem tão cuidadosos em limpar o coração como o eram com os seus utensílios (e eram muito meticulosos a esse respeito), seriam homens melhores. Rapina indica cobiça ou rapacidade e em outros contex­ tos refere-se a roubo ou pilhagem.


40insensatos! quem fez o exterior não é o mesmo que fez o interior? 41 Antes dai esmola do que tiverdes, e tudo vos será limpo. 42]Vfas ai de vós, fariseus! porque dais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as hortaliças, e desprezais a justiça e o amor de Deus; devíeis, porém fazer estas cousas, sem omitir aquelas. 43Ai de vós, fariseus! porque gostais da primeira cadeira nas sinagogas, e das saudações nas praças. (40, 41) Insensatos, uma palavra muito forte, usada no Novo Testamento somente em Lucas e Paulo. Os homens deveriam deixar que suas boas obras fossem motivadas por razões apropriadas. Seria melhor que mantivessem suas refeições incontaminadas praticando a verdadeira generosidade (note o contraste de dar no v.41 e rapina no 39) do que através do ritualismo. Então tudo ficaria limpo, i.e., os utensílios não iriam contami­ nar se o coração estivesse puro. Os rabis reconheciam a impropriedade da religião exterior, e portanto, logica­ mente, teriam de concordar com Jesus. (VI, VIII) (42) A palavra traduzida como ai expressa uma combinação de ira e piedade. O dízimo dessas ervas seria extremamente pequeno (cf. Lv 27:30 sobre dízimos). De fato, o Talmude diz que a arruda era uma erva pela qual não havia necessidade de pagamento do dízimo. Os fariseus, porém, preocupados com tais minúcias, deixa­ vam de lado os grandes princípios básicos. Justiça é a distinção entre certo e errado, envolvendo o trato justo com todos os homens, especialmente os pobres. Amor é a g ap ê, e este é o único lugar em que Lucas usa a palavra desta forma (veja notas em 6:27). Jesus não estava condenando a atenção aos detalhes. De fato, ele até insistia nisso. Mas era preciso que houvesse tanto letra como espírito. Qualquer um sem o outro seria uma violação da ética do reino. (43) A primeira cadeira provavelmente se refere a um banco semi-circular que rodeava a arca, de frente para


44 Ai de vós! que sois como as sepulturas invisíveis, sobre as quais os homens passam sem o saber. 45Então respondendo um dos intérpretes da lei disse a Jesus: Mestre! dizendo estas cousas, também nos ofendes a nós outros. 46Mas ele respondeu: Ai de vós também, intérpretes da lei! porque sobrecarregais os homens com fardos superi­ ores às suas forças, mas vós mesmos nem com um dedo os tocais. 47Ai de vós! porque edificais os túmulos dos profetas que vossos pais assassinaram. 48 Assim sois testemunhas e aprovais com cumplicidade as obras dos vossos pais; porque eles mataram os profetas e vós lhes edificais os túmulos.

a congregação (veja 20:46; Mc 12:39). As cadeiras e saudações não eram erradas em si se verdadeiramente merecidas, mas não deviam ser o alvo principal do indivíduo. Jesus condenava o orgulho e a auto-exaltação. (44) Os judeus geralmente caiavam as sepulturas a fim de torná-las bem visíveis, para que ninguém se contaminasse ao seu contato (veja Nm 19:16). Os homens passam pelos fariseus, julgando-os bons, e inconsciente­ mente são afetados pelos seus vícios, afastando-se assim de Deus sem que percebam. Este foi o pior ai contra os fariseus, i.e ., desviar da verdade de Deus o povo confian­ te (cf. o pior ai contra os advogados no v. 52). (45, 46) Nem todos os advogados (intérpretes da lei) eram fariseus, mas eles evidentemente viram a aplicação de tudo o que Jesus tinha acabado de dizer. Talvez se julgassem acima de qualquer crítica. Ofendes implica tratamento ultrajante. Em resposta, Jesus proferiu uma série especial de ais contra eles. Fardos poderiam ser exigências legais, despidas de motivação mais profunda, desenvolvidas para reforçar a lei e impedir que os homens a desobedecessem (contraste com o jugo de Jesus, Mt 11:28). Não era errado para eles ensinar isso, mas falhavam em praticar os seus próprios ensinamen­ tos.


49por isso também disse a sabedoria de Deus: Enviarlhes-ei profetas e apóstolos, e a alguns deles matarão e a outros perseguirão, 50para que desta geração se peçam contas do sangue dos profetas, derramado desde a fundação do mundo; Sldesde o sangue de Abel até ao de Zacarias, que foi assassinado entre o altar e a casa de Deus. Sim, eu vos afirmo, contas serão pedidas a esta geração.

(47, 48) Em Mateus (23:29) o povo negou especifica­ mente ter tomado parte no derramamento do sangue dos profetas. Tradições sobre a morte dos profetas podem estar provavelmente por trás dessas palavras (cf. Atos 7:51-53; 8:1; 22:20). Não foi a construção de sepulturas que Jesus condenou especificamente, mas as circunstân­ cias e o motivo em que isso era feito. Em primeiro lugar, eles não estavam guardando os mandamentos dados por aqueles profetas. Segundo, eles construiam túmulos para aqueles que estavam mortos e não podiam mais pertur­ bá-los, mas tratavam os profetas vivos como seus pais tinham tratado os que tinham morrido desde então. Tentavam emendar as coisas construindo sepulturas mas, ironicamente, tinham a mesma mentalidade de seus pais. Deveriam ter sabido como reconhecer os sinais de um profeta (vs. 29-32). Não tinham aprendido mediante as lições de sua herança profética. (49) A sabedoria de Deus pode ser equivalente a “ Espírito Santo diz” ou “o Senhor diz”, ou pode referir-se ao próprio Jesus, com sua interpretação dos decretos de Deus. Esses pontos de vista são mais prováveis do que supor que se trate de um livro perdido e de outra forma desconhecido. (50, 51) Esses versículos parecem explicar os versícu­ los 47 e seguintes. Tinha chegado um momento crítico, e assim, rejeitar Jesus seria o clímax das rejeições de Deus através das idades. Constituía uma recusa do passado e do presente e, também assim, do futuro. O judaísmo estava perdendo a sua última oportunidade como povo. A culpa de sua longa história seria exigida deles, a não ser


52 a í de vós, intérpretes da lei! Porque tomastes a chave da ciência; contudo, vós mesmos não entrastes e impedis­ tes os que estavam entrando. 53Saindo Jesus dali, passaram os escribas e fariseus a argüi-lo com veemência, procurando confundi-lo a res­ peito de muitos assuntos, 54com o intuito de tirar das suas próprias palavras motivos para o acusar. que aceitassem o reino (e o perdão que este lhes traria). Abel e Zacarias são mencionados em Gênesis 4:8, e 2 Crônicas 24:20. Esses dois nomes foram provavelmente escolhidos por se encontrarem no primeiro e no último livros do Velho Testamento segundo a disposição judia, que difere da Bíblia em português. Jesus estava então dizendo: “Vocês mataram todos os profetas, do primeiro ao último!” (VI, VII) (52) Quando o homem comum não tinha escrituras à quais consultar, ele ficava muito mais dependente dos professores. Mas os advogados tinham falhado, traindo os que confiavam neles. Eram culpados de oposição à religião em nome dessa mesma religião. Tendo tomado a chave, nem eles nem outros podiam obter conhecimento. A chave (mencionada em outro lugar somente em Mt 16:19) era o caminho para obter o conhecimento adequa­ do do propósito de Deus. (53, 54) A inimizade em relação a Jesus era tão grande que os escribas e fariseus o seguiram ao sair da casa do fariseu. Com respeito à atitude cada vez mais endurecida dos inimigos de Jesus (traçada por Lucas em mais detalhes do que em Marcos) veja 6:11; 19:48; 20:19 e 22:2. Argüi-lo com veemência, significa observar aten­ tamente, estar em posição de alerta contra. Dois termos fortes, intuito e tirar, descrevem ainda melhor as suas atividades. O primeiro se encontra em outro lugar do Novo Testamento somente em Atos 23:21. O segundo, somente aqui no Novo Testamento, traz consigo a idéia de um professor enchendo um aluno de perguntas a fim de provocar uma resposta. Os inimigos de Jesus podem


IPosto que uma multidão de miríades de pessoas se aglomeraram, ao ponto de uns aos outros se atropelarem, passou Jesus a dizer antes de tudo aos seus discípulos: Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocri­ sia. 2 Nada há encoberto que não venha a ser revelado; e oculto que não venha a ser conhecido. 3Porque tudo o que dissestes às escuras, será ouvido em plena luz; e o que dissestes aos ouvidos no interior da casa, será proclamado dos eirados. 4Digo-vos, pois, amigos meus: Não temais os que matam o corpo e, depois disso, nada mais podem fazer. 5Eu, porém, vos mostrarei a quem deveis temer: Temei aquele que depois de matar, tem autoridade para lançar no inferno. Sim, digo-vos, a esse deveis temer.

ter pensado que sendo-lhe dado tempo e oportunidade, ele iria enredar-se. O aumento da hostilidade contra Jesus levou-o a proferir as palavras do p a r á g r a fo seguin­ te. (VI) (1) Nesta passagem (com um paralelo parcial em M 16:5; Mc 8:14), Lucas mostra como Jesus era extrema­ mente popular. Jesus dirigiu-se antes de tudo aos seus discípulos, mas outros também ouviriam enquanto levava o caso contra os fariseus a uma audiência maior. O discipulado envolvia a vigilância contra a hipocrisia, o fermento dos fariseus. Fermento, em virtualmente todos os casos no Novo Testamento, exceto na parábola do fermento, indica o mal (cf. 1 Co 5:6; G1 5:9). (III, VI) Exortação à Confissão Ousada, 12:2-12 (cf. Mt 10:26-33) (2, 3) Lucas 21:12-19 é semelhante a e sta passagem (cf. também 8:17; Mc 4:22). Isto indica o tempo em que a proclamação apostólica seria conhecida publicamente e os homens a compreenderiam perfeitamente. Nenhum poder podia evitar a pregação do evangelho, como mos­ trado em Atos. (V, VII) (4, 5) Se viessem a sofrer pela sua proclamação, Jesus


6Não se vendem cinco pardais por dois asses? Entretanto nenhum deles está em esquecimento diante de Deus. 7 Até os cabelos da vossa cabeça todos estão contados. Não temais! Bem mais valeis do que muitos pardais. ^Digo-vos ainda: Todo aquele que me confessar diante dos homens, também o Filho do homem o confessará diante dos anjos de Deus; 9mas o que me negar diante dos homens, será negado diante dos anjos de Deus. diz aos discípulos que devem ter coragem e lhes assegura o cuidado constante de Deus. A perda do corpo seria comparativamente sem importância. Aquele que pode lançar no inferno tem sido entendido por alguns como Deus e por outros como Satanás. A construção grega é aquela geralmente usada para o temor de Deus. Inferno, exceto aqui e em Tiago 3:6, é usado somente por Mateus e Marcos no Novo Testamento. Para evitar ser lançado no inferno, é preciso aprender que os homens e as circunstâncias não são as coisas que se deve temer em última análise, desde que não têm autoridade final sobre o homem. (6, 7) Deus tem infinito cuidado pelos seus filhos. Os pardais custavam tão barato que quando alguém com­ prava dois asses deles um pássaro extra era acrescenta­ do [Mateus diz que eram ven didos dois p o r um asse). Deus conhece a cada um desses pássaros insignificantes. Ele sabe até quantos cabelos há na cabeça de um homem. Portanto, é possível confiar nele nas provações (veja Mt 6:26; 12:12). (8, 9) Esta é a recompensa da confissão ousada. Os resultados da mensagem proclamada por Jesus e seus discípulos eram mais graves do que os homens geralmen­ te reconheciam. Os dois grupos retratados nesses versí­ culos mostram as conseqüências eternas do tema da aceitação-rejeição que Lucas desenvolveu através do seu evangelho. Confessar Jesus seria confessar a sua identi­ dade com as suas respectivas implicações para a vida do indivíduo. Negar é a mesma palavra usada para a


lOTodo aquele que proferir uma palavra contra o Filho do homem, isso lhe será perdoado; mas, para o que blasfemar contra o Espírito Santo, não haverá perdão. Quando vos levarem às sinagogas e perante os gover­ nadores e as autoridades, não vos preocupeis quanto ao modo por que respondereis, nem quanto às cousas que tiverdes de falar. 12Porque o Espírito Santo vos ensinará, naquela mesma hora, as cousas que deveis dizer.

negação de Pedro (cf. 9:26; 10:16; 11:23). Sobre Filho do homem, veja notas em 5:24. (10) Mateus (12:32) e M arcos (3:28) colocam esta declaração em um contexto diferente (cf. também Lv 24:16). M arcos diz que ele “é réu de pecado eterno” e associa isso com os que acusaram Jesus de estar posses­ so de um espírito imundo. Lucas vê isto como o clímax da apostasia (cf. vs. 5,9), o terrível final do processo inicia­ do com a rejeição de Jesus. Todavia, quando Jesus se fosse, o Espírito Santo (veja notas em 1:15) viria (cf. 24:29; At. 1:5-8; 2:1-4) e haveria ainda oportunidade na “era do Espírito”. Mas, depois disso, a salvação não seria oferecida por nenhum outro meio. A pessoa podia rejeitar Jesus durante o seu ministério pessoal e mesmo assim aceitá -lo p ela a c e ita ç ã o d a p r eg a ç ã o inspirada pelo Espírito. Mas se este for rejeitado não haverá qualquer outra abordagem por parte de Deus quanto à maneira de revelação. As escolhas são perfeitamente claras. Rejeite o Espírito Santo e não tenha perdão, ou aceite o Espírito Santo e tenha perdão e ajuda em tempos de perseguição (v. 12). O indivíduo não precisa continuar blasfemando, mas pode modificar-se. Assim sendo, o pecado contra o Espírito não era qualquer erro particu­ lar mas sim uma atitude de impenitência. A pessoa que teme ter cometido o pecado imperdoável é justamente aquela que não o fez, como mostra a sua consciência sensível (II, IV, V, VI) (11, 12) O paralelo a este está em Mateus 10:19 e


13 Nesse ponto, um homem que estava no meio da multi­ dão lhe falou: Mestre, ordena a meu irmão que reparta comigo a herança. 14Mas Jesus lhe respondeu: Homem, quem me constituiu juiz ou partidor entre vós? l^Então lhes recomendou: Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui. seguintes. Também similar é M arcos 13:9-11, que, po­ rém, tem seu paralelo em Lucas 21:14 (cf. 2 Tm 4:17). A ligação dos presentes versículos com o v. 10 pode ser que os discípulos não devessem temer a possibilidade de cometer pecado contra o Espírito Santo (veja notas em 1:15) sob perseguição, desde que o Espírito Santo os guiaria nessa circunstância. Os anciãos, nas sinagogas, eram os responsáveis pela disciplina, seja excomunhão (6:22; Jo 9:22; 12:42; 16:2) ou açoitamento (Mt 10:17). (V)

A P aráb ola do Avarento, 12:13-21 • (13) Esta passagem pode ser associada à precedente pelo tema da confiança em Deus. Não era incomum na Judéia os rabis serem consultados com respeito a deci­ sões, desde que o povo era guiado basicamente pela religião. Apesar da lei (Dt 21:17) dizer que o irmão mais velho devia receber o dobro da porção do mais novo, é impossível saber neste caso que irmão estava certo ou se o suplicante estava fazendo uma reclam ação injusta. Ele não estava pedindo que Jesus decidisse entre eles, mas sim que o favorecesse. (14, 15) Avareza, ou cobiça de possuir sempre mais, era uma atitude imprópria para aquele que buscava o reino. Deve ter sido um choque para quem estava tão preocupado com uma herança, ficar sabendo que a mesma tinha tão pouca importância. Jesus recusou-se a tomar o partido do homem, a fim de forçá-lo a considerar pontos mais importantes. Ele iria aprender a diferença entre vida e posses (cf. 1 Tm 6:6-10).


16E lhes proferiu ainda uma parábola, dizendo: O campo de um homem rico produziu com abundância. 17e arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei, pois não tenho onde recolher os meus frutos? 18E disse: Farei isto: Destruirei os meus celeiros, recons­ truí* los-ei maiores e aí recolherei todo o meu produto e todos os meus bens. 19 Então direi à minha alma: Tens em depósito muitos bens para muitos anos: descansa, come e bebe, e regalate. 20Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? 2lAssim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus. 22 a seguir dirigiu-se Jesus a seus discípulos, dizendo: Por isso eu vos advirto: Não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer, nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. 23porque a vida é mais do que o alimento, e o corpo mais do que as vestes.

(16-19) Jesus não condenou o progresso ou a poupan­ ça. Mas aquele homem era cobiçoso. Ele já era rico (veja notas em 6:24). Ele não pensou em usar o seu dinheiro para outros. Sua linguagem estava cheia do pronome na primeira pessoa. O seu alvo na vida era descanso e gozo, e seu método de alcançar isso, em lugar de fé em Deus, era fé nos bens. Jesus estava mostrando, com esta vívida parábola, a loucura de depender das riquezas nesta vida. (20,21) Este o ponto da história (cf. Jr 17:11; Lc 12:33) A alma é um empréstimo de Deus e deve ser cuidada sob tais condições. O homem estava na verdade cuidando apenas do corpo, que viveria por pouco tempo. Ele fez o erro de pensar que tinha absoluta soberania sobre os seus bens. Sobre louco, veja notas em 11:40 (VIII) Preocupações com as Coisas Terrenas, 12:22-34 (Mt 6:25-33) (22,23) Jesus continua sua discussão da confiança,


24observai os corvos, os quais não semeiam nem ceifam, não têm despensa nem celeiros; todavia Deus os susten­ ta. Quanto mais valeis do que as aves! 25Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso de sua vida? 26Se, portanto, nada podeis fazer quanto às cousas mínimas, por que andais ansiosos pelas outras? 27 observai os lírios; eles não fiam nem tecem. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. 28ora, se Deus veste assim a erva que hoje está no campo e amanhã é lançada no forno, quanto mais tratando-se de vós, homens de pequena fé.

estruturando-a em termos de ansiedade pelas coisas materiais. Abandonando as parábolas, ele falou clara­ mente a seus discípulos. Eles não deveriam preocupar-se com as coisas materiais, desde que Deus, e não os bens deste mundo, é a fonte da vida. Esta era uma declaração dura por ser feita aos que “ agora tendes fomè” (6:21). (24) Esta passagem apresenta idéias encontradas antes nos vs. 6 e 17. Corvos era um termo que abrangia toda a família das aves de rapina, muito abundantes na Palestina. Elas procuravam suas provisões diariamente, e não lhes faltava alimento (cf. SI 147:9). Por que deveria então o homem fazer preparações tão febris para o futuro, como se tudo dependesse dele? (25,26) A ansiedade não beneficia o indivíduo um côvado (cerca de 45 cm) sequer. Esta tradução indica que a duração da vida não pode ser prolongada. O termo grego podia também referir-se à estatura, mas a estatura de uma pessoa iria aumentar de qualquer forma, não obstante o controle da ansiedade. O indivíduo devia preocupar-se, pelo contrário, com relação a quanto tempo iria viver. Assim sendo, a tradução da Sociedade Bíblica do Brasil parece ser correta. Mesmo que através da ansiedade o homem pudesse viver mais tempo, a longevidade seria ainda assim insignificante quando


29Não andeis ansiosos, pois, a indagar o que haveis de comer ou beber, e não vos entregueis a inquietações. 30pOrque os gentios de todo o mundo é que procuram estas cousas; mas vosso Pai sabe que necessitais delas. 3lBuscai, antes de tudo, o seu reino, e estas cousas vos serão acrescentadas. 32]Vão temais, ó pequenino rebanho; porque vosso Pai se agradou em dar-vos o seu reino. comparada com o que Deus poderia fazer por ele. Mas o homem nem mesmo pode fazer isso.

(27,28) A anémona escarlate, que floria depois d chuva, cobrindo as colinas e morrendo no mesmo dia, era possivelmente a flor a que Jesus se referia. Ela era bela por si mesma, e fazia uma bela coberta para a erva. A erva pode parecer insignificante, mas Deus cuida da mesma e cuidará dos homens. O forno do v.28 refere-se a um fogão portátil em que se usava freqüentemente a erva como combustível. Sobre glória de Salomão, compare 1 Reis 10:1-10. (29-31) O reino de Deus iria diferir dos gentios de todo o mundo em sua estimativa dos conceitos primários da vida. Sua m arca de distinção seria um interesse pelas coisas espirituais e não a preocupação com as coisas materiais. Jesus não condenou o fato de alguém traba­ lhar para viver, mas o bem-estar espiritual é a raiz de todos os outros tipos de verdadeiro bem-estar. Deus pode abençoar os que confiam nele, na medida das necessida­ des de cada um. A preocupação material dos gentios não lhes daria maior segurança do que aquela possuída pelos santos. Sobre reino veja notas em 1:33 (VIII) (32) Este é o único verso nesta seção que não tem paralelo em Mateus. No v.31 os homens procuraram o reino, enquanto aqui ele é dado (cf. 22:29). Ambas as coisas são possíveis, desde que Deus dá aos homens a possibilidade de buscar, e a descoberta é dom de Deus. Sobre reino, veja notas em 1:33.


33Vendei os vossos bens e dai esmola; fazei para vós outros bolsas que não desgastem, tesouro inextinguível nos céus, onde não chega o ladrão nem a traça consome. 34Porque onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. 35Cingidos sejam os vossos corpos e acesas as vossas candeias. 36Sede vós semelhantes a homens que esperam pelo seu senhor, ao voltar ele das festas de casamento; para que, quando vier e bater à porta, logo lha abram. 37Bem-aventurados aqueles servos a quem o senhor quando vier os encontre vigilantes; em verdade vos afirmo que ele há de cingir-se, dar-lhes lugar à mesa e, aproximando-se, os servirá. 38Quer ele venha na segunda vigília, quer na terceira, bem-aventurados serão eles, se assim os achar. (33,34) A maneira certa de usar as coisas materiais é indicada aqui (cf. v.17 e Mc 10:21; Lc 18:22; At 2:45; 4:32-35). Jesus estava preocupado com o abuso e não com a posse de propriedade. Não devemos deixar que o medo da pobreza prejudique a benevolência. Bolsas que não desgastem significa o mesmo que tesouros no céu. Tratase de riqueza que não está sujeita aos tipos de perda a que os tesouros estão normalmente sujeitos. A traça iria atacar roupas caras, ou tapeçarias ou tapetes, que eram as formas favoritas de riqueza no oriente próximo. Jesus não sugere que o céu pode ser comprado, mas a benevo­ lência é uma característica necessária àquele que per­ tence ao reino. O ponto está no homem usar a sua riqueza ou esta fazer uso dele. (VIII) Vigilância e F idelidade, 12:35-46 (Mt 24:43-51) (35-38) Esses versos também só se encontram em Lucas. A segunda e terceira vigílias da noite, segundo o cálculo judeu, seriam de 22 horas até 6 horas da manhã. Seria incomum o senhor servir os servos (cf 17:7). Isto provavelmente se refere às bênçãos especiais devidas ao


39Sabei, porém, isto: que, se o pai de família soubesse a que hora havia de vir o ladrão, (vigiaria e) não deixaria arrombar a sua casa. 40Ficai também vós apercebidos, porque, à hora em que não cuidais, o Filho do homem virá. 4lEntão Pedro pereguntou: Senhor, proferes esta pará­ bola para nós ou também para todos? 42 Disse o Senhor: Quem é, pois, o mordomo fiel e prudente, a quem o senhor confiará os seus conservos para dar-lhes o sustento a seu tempo? 43Bem- aventurado aquele servo a quem seu senhor, quando vier, achar fazendo assim. 44 Verdadeiramente vos digo que lhe confiará todos os seus bens. discípulo perseverante quando o Senhor voltar. O ponto principal é então este: a pessoa preparada recebe as bênçãos. Compare João 13:3-5:1; 1 Tessalonicenses 5:1­ 10 e Apocalipse 3:21 e seguintes. Sobre refeições, veja notas em 5:27. (39,40) O ponto desta parábola é: a pessoa preparada evita perdas. A imagem é a de um ladrão entrando numa casa, talvez escavando as paredes de barro (cf. 1 Ts 5:2; 2 Pe 3:10; Ap 3:3; 16:15). O pai de família não sabe quando isso pode acontecer, enquanto os servos da história anterior tinham uma idéia generalizada de que o seu senhor voltaria. A menção da vinda do Filho do homem deve ter surpreendido os discípulos que ainda não conseguiam aceitar as declarações da paixão (9:45). (VII) (41) Este verso é peculiar a Lucas. Jesus tinha falado às multidões (v.13) e aos discípulos (v.22). Pedro sabia que os doze estavam incluídos, mas se perguntava quan­ to maior alcance teriam essas palavras. Alguns sugerem que, por causa dos problemas espe­ ciais enfrentados pela comunidade à qual Lucas estava escrevendo, ele desejava que certos indivíduos notassem especialmente essas palavras de Jesus. Note que na história subseqüente é usada a palavra “mordomo” em


45Mas se aquele servo disser consigo mesmo: Meu se­ nhor tarda em vir, e passar a espancar os criados e as criadas, a comer, a beber e a embriagar-se, 46virá o senhor daquele servo em dia em que não o espera, em hora que não sabe, e castigá-lo-á, lançandolhe a sorte com os infiéis. 47 Aquele servo, porém, que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade, será punido com muitos açoites. 48Aquele, porém, que não soube a vontade do seu senhor, e fez cousas dignas de reprovação, levará poucos açoites. Mas àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito se confia, mui to mais lhe pedirão. lugar de “servo” , como em Mateus. (42-44) Esta é a terceira parábola de Jesus nesta série. Jesus não responde diretamente à pergunta de Pedro (v.41), mas antes lhe diz o que deseja que saiba. Ele pergunta quem será fiel a tal legado. Cada discípulo deveria ver sua própria responsabilidade como mordo­ mo, sem se preocupar com o resto. (45,46) Jesus poderia estar implicando que ele estaria fora tempo suficiente para o desenvolvimento de proble­ mas como os aqui simbolizados. O espancamento conti­ nuaria até que o Senhor viesse interrompê-lo, segundo o tempo do verbo. O servo não só falhou na sua mordomia como abusou dela. A idéia de castigo pela infidelidade é então acrescentada aqui aos ensinamentos das parabo­ las anteriores, contrastando com as bênçãos do v .37. Talvez o perigo da apostasia tivesse importância especial para a audiência de Lucas. Sobre refeições, veja notas em 5:27. O Salário do Servo, 12:47 ,4 8

(47,48) Esta passagem pode ser outra resposta à pergunta do v.41 e indica que o conhecimento produz responsabilidade. Jesus falou a todos, mas especialmente ao que conheceu, portanto os doze estavam sob obriga-


49E u vim para lançar fogo sobre a terra e bem quisera que já estivesse a arder. 50Tenho, porém, um batismo com o qual hei de ser batizado; e quanto me angustio até que o mesmo se realize. ção especial. Neste ponto é indicado algo a respeito do padrão de julgamento (cf. 10:12,14). O Senhor fala apenas dos infiéis a uma obrigação, compreendida ou não. Sobre ignorância como uma circunstância atenuan­ te, compare Lv 5:17-19; Nm 15:29; Dt 25:2; Lc 8:18; 23:43. (VI, VIII) Os Sino is dos Tem pos, 12:49-56 (Mt 10:34-36; 16:2) (49) Jesus se move da necessidade da preparação para uma afirmativa que envolve a paixão e subseqüente divulgação do reino. Ele indica as dificuldades que iriam facilitar a sua apostasia. Foi sugerido que fogo simboliza o juízo, como em 3:11 (cf. também Mt 3:11; 7:19; Mc 9:48); ou divisão; ou purificação; ou a chama da justiça em um movimento nacional de arrependimento para com Deus (que na verdade nunca ocorreu com a nação inteira); ou a vinda do Espírito Santo (veja notas em 3:16). Pode ser um paralelo ao batismo do versículo seguinte. Mais provavelmente se refere a um complexo de coisas, incluindo a vinda do Espírito Santo e a divulga­ ção do evangelho com as conseqüências atinentes: arre­ pendimento, justiça e juízo final. (50) O fogo era o efeito das obras de Jesus sobre o mundo, enquanto o batismo (veja notas em 3:3,7) era o seu efeito sobre ele mesmo (cf. Ps 42:7; 61:2; 124:4; 144:7; e Is 43:2). Jesus iria ser envolvido pelo sofrimento e a morte, se batismo se refere à paixão. Os discípulos de Jesus, sabendo do seu batismo por João, ficariam surpre­ sos com as suas palavras. Mas Jesus estava disposto a passar pela paixão (veja notas em 9:22) a fim de realizar o seu propósito — a redenção do homem. O horror de antecipar o seu futuro pode ter sido mais agonizante


SlSupondes que vim para dar paz à terra? Não, eu vo-lo afirmo, antes, divisão. 52porque daqui em diante estarão cinco divididos numa casa, três contra dois, e dois contra três. 53 Estarão divididos: pai contra filho, filho contra pai; mãe contra filha, filha contra mãe; sogra contra nora, e nora contra sogra. 54oisse também às multidões: Quando vedes aparecer uma nuvem no poente, logo dizeis que vem chuva, e assim acontece; 55e quando vedes soprar o vento sul, dizeis que haverá calor, e assim acontece. 56 Hipócritas, sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu e, entretanto, não sabeis discernir esta época? para ele do que a dor da crucificação em si. A tensão e a pressão estavam crescendo dentro dele. Compare M ar­ cos 10:38; Lc 22:37,44; Jo 12:27. (IV) (51-53) Esta passagem é baseada em Miquéias 7:6, cuja forma é seguida mais de perto em Mateus 10:34-36. Em Miquéias e Mateus a dissensão é estimulada pela geração mais jovem, enquanto aqui é mútua. Essas pala­ vras mal se parecem com a paz e tranqüilidade espera­ das do reino messiânico ou o reino pacífico promovido por Jesus (sobre paz veja notas em 1:79). Mas mesmo que os discípulos fossem pacíficos e promotores da paz, isto não iria garantir que todos os homens os aceitassem em paz. P ara os que não tivessem essa atitude, haveria perturbação e divisão. Jesus preparou assim então os seus discípulos para certos desapontamentos, desilu­ sões. (I, VI, VII) (54-56) Jesus fala agora às multidões (veja paralelo em Mt 16:2). Note a diferença nos ouvintes citados neste capítulo (vs. 1,22,41). O vento sul (somente Lucas usou o termo grego com este significado) vinha do deserto. Esta época poderia referir-se a qualquer dentre vários acon­ tecimentos, tais como a vinda de João, a pregação de Jesus, sinais e proclamação do reino. Sobre a idéia de época compare Lucas 4:13; 10:21; 19:44; 21:24; João 4:23;


57 E por que não julgais também por vós mesmos o que justo? SÕQuando fores com o teu adversário ao magistrado, esforça-te para te livrares desse adeversário no cami­ nho; para que não suceda que ele te arraste ao juiz, o juiz te entregue ao meirinho e o meirinho te recolha à prisão. 59üigo-te que não sairás dali, enquanto não pagares o último centavo. 1 Naquela mesma ocasião, chegando alguns, falavam a Jesus a respeito dos galileus, cujo sangue Pilatos mistura­ ra com os sacrifícios que os mesmos realizavam. 2 Ele, porém, lhes disse: Pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem padecido estas cousas? 5:25; 2 Coríntios 6:2; e Hebreus 37 e seguintes. Essas pessoas eram hipócritas, pois apesar de bons profetas a respeito das variações do tempo, ignoravam evidência que deveria dispô-los mais favoravelmente em relação a Jesus. (III, V) A cordo com o Acusador, 12:57-59 (Mt 5:25) (57-59) O paralelo em Mateus está ligado à correção de erros cometidos uns para com os outros. A pessoa deve acertar as coisas antes de ir para a prisão. A palavra para meirinho (v. 58) não se encontra em nenhum outro lugar no Novo Testamento. Centavo (lepton) referese a uma moeda com valor de um oitavo de asse (12:6). Eram necessários 128 lep ta para fazer um denário (o salário de um dia em Mt 20:2). Como poderia alguém pagar um débito na prisão, desde que ali nada ganha? A situação era praticamente desesperadora. O conceito de arrependimento introduzido nesses versículos leva muito naturalmente às palavras de 13:1-5. Sobre justo veja notas em 1:6. (VII) A rrependim en to ou D estruição, 13:1-9 (1,2) Nenhuma outra fonte registra os dois incidentes


3 Não eram, eu vo-lo afirmo; se, porém, não vos arrepen­ derdes, todos igualmente perecereis. 4 Ou cuidais que aqueles dezoito, sobre os quais desabou a torre de Siloé e os matou, eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? 5 Não eram, eu vo-lo afirmo; mas, se não vos arrepender­ des, todos igualmente perecereis. nos vs. 1 e 4. Os galileus eram conhecidos por seu patrio­ tismo feroz e inclinações sediciosas (veja At 5:37). Eles estavam sem dúvida em Jerusalém para uma festa reli­ giosa. Pilatos, temendo uma revolta, pode tê-los mandado matar na parte externa do templo na ocasião em que os sacrifícios de animais estivessem sendo oferecidos.

(3) Jesus não condenou nem os galileus nem Pilatos nem considerou as razões porque os desastres naturais recaem sobre alguns e não sobre outros, apesar de que em Mateus 5:45 ele parece argumentar a respeito de uma dissociação entre o que é natural do que é moralmente bom ou mau. Sabendo que algumas pessoas interpreta­ vam tais tragédias como justiça retributiva, Jesus afir­ mou aqui e no versículo 5 que não havia maior pecado por parte daqueles que tinham passado pelo sofrimento. Mas o seu ponto, sem considerar a causa da calamidade, era que seus ouvintes pereceriam como tinham perecido os galileus, se permanecessem impenitentes. (II, VII) (4,5) A torre pode ter ficado próxima ao poço de Siloé, na parte sul dos muros de Jerusalém (cf. Jo 9:7,11). Alguns sugerem que fosse parte da defesa da cidade. Se os galileus (1-3) fossem zelotes, poderiam perfeitamente ser condenados como pecadores pelos fariseus; os que foram mortos pela torre seriam condenados pelos zelo­ tes, se tivessem morrido enquanto construíam uma parte das defesas romanas da cidade. Esta foi a primeira vez que Jesus chamou de pecadores o povo de Jerusalém, apesar de algo semelhante pode estar implícito em 10:31. Ele iria julgar a cidade com muito mais dureza posterior­ mente (sobre arrependimento veja 3:3; 10:13). (II,VII)


6 Então Jesus proferiu a seguinte parábola: Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha, e vindo procurar fruto nela, não achou. 7 Pelo que disse ao viticultor: Há três anos venho procu­ ra r fruto nesta figueira, e não acho; pode cortá-la; para que está ela ainda ocupando inutilmente a terra? 8 Ele, porém, respondeu: Senhor, deixa-a ainda este ano, até que eu escave ao redor dela e lhe ponha estrume. 9 Se vier a dar fruto, bem está; se não, mandarás cortá-la. 1 0 Ora, ensinava Jesus no sábado numa das sinagogas. 11E veio ali uma mulher possessa de um espírito de enfermidade, havia já dezoito anos; andava ela encurva­ da, sem de modo algum poder endireitar-se. 12Vendo-a Jesus, chamou-a e disse-lhe: Mulher, estás livre da tua enfermidade; 13 e, impondo-lhe as mãos, ela imediatamente se endire tou e dava glória a Deus. (6-9) As árvores plantadas em uma vinha receberiam cuidado especial. Se uma delas não amadurecesse em três anos, seria provável que permanecesse infrutífera, ocupando inutilmente a terra. Nesta parábola, parece provável que os três anos indicassem as oportunidades de arrependimento para os judeus. O ensinamento é que Deus tinha sido longânimo, caso contrário os desobedien­ tes já teriam perecido (vs. 3,5), mas chegaria o tempo em que as oportunidades cessariam para sempre (veja 2 Pe 3:9,15). Não é necessário identificar o homem e o viticul­ tor, apesar de ser natural sugerir Deus e Cristo. A Cura da Mulher com um Espírito de Enfermidade, 13:10-17 (10-13) Este é o último ensinamento de Jesus na sina­ goga em Lucas e o único caso citado na última parte do seu ministério. Os atos de Jesus, mostrando as operações do reino, resultam em uma transição para a seção que começa com o versículo 18. Para outros incidentes do sábado, veja 4:16. A expressão espírito de enfermidade


14 o chefe da sinagoga, indignado de ver que Jesus curava no sábado, disse à multidão: Seis dias há em que se deve trabalhar; vinde, pois, nesses dias para serdes curados, e não no sábado. 15 Disse-lhe, porém, o Senhor: Hipócritas, cada um de vós não desprende da manjedoura no sábado o seu boi ou o seu jumento, para levá-lo a beber? 16Por que motivo não se devia livrar deste cativeiro em dia de sábado esta filha de Abraão, a quem Satanás trazia presa há dezoito anos? 17Tendo ele dito estas palavras todos os seus adversá­ rios se envergonharam. Entretanto o povo se alegrava por todos os gloriosos feitos que Jesus realizava.

pode indicar possessão demoníaca, mas a maneira de curar e a descrição do mal não coincidem com os exor­ cismos usuais. Jesus teve a iniciativa da cura, talvez para incitar o diálogo subseqüente. Sobre louvor, veja notas em 2:20. (VI) (14) O Velho Testamento não deu uma definição estrita do que constituía trabalhar no sábado, mas a tradição judia fez isso. (Veja notas em 6:1.) A crítica aqui foi feita ao povo, mas incluindo também Jesus. (15, 16) Jesu s respondeu em termos do boi e do jumen­ to (veja 14:5). O Talmude não permitia que se levasse água a um animal no sábado, mas o animal podia ser levado até a água. Os críticos permitiam que fosse feito mais a um animal do que permitiriam que Jesus fizesse a um ser humano. Mas seria mais importante desprender um animal ou uma pessoa (note o paralelo entre despren­ der e livrar)? Jesus tornou o caso mais vívido chamando a mulher de filha de Abraão e notando há quanto tempo ela vinha sofrendo. A cura foi uma vitória sobre Satanás (veja notas em 10:18), e outra indicação do triunfo do reino de Deus que estava iminente. Como poderiam seus adversários rejei­ tar tal triunfo sobre o mal? Jesus não só podia como devia livrar a mulher (veja 4:18). (17) O tema da aceitação-rejeição que Lucas vem


18E dizia: A que é semelhante o reino de Deus, e a que o compararei? 19 é semelhante a um grão de mostarda que um homem plantou na sua horta; e cresceu e fez-se árvore; e as aves do céu aninharam-se nos seus ramos. 2 0 Disse mais: A que compararei o reino de Deus? 21É semelhante ao fermento que uma mulher tomou e escondeu em três medidas de farinha, até ficar tudo levedado. 22 Passava Jesus por cidades e aldeias, ensinando, e caminhando para Jerusalém. 23 e alguém lhe perguntou: Senhor, são poucos os que são salvos? construindo através do evangelho surge novamente aqui. É provável que casos como este fizessem aumentar a hostilidade contra Jesus, especialmente se seus inimigos recusassem aceitar o seu ponto de vista. Sobre alegria veja notas em 1:14. (VI) P aráb olas do Grão de M ostarda e do Ferm ento, 13:18-21 (Mt 13:31-33; Mc 4:30-32)

(18,19) A natureza inerente do reino faria com que crescesse até um final surpreendentemente diverso do seu início (sobre reino veja notas em 1:33). A árvore da mostarda podia alcançar de três a sete metros de altura, dependendo do tipo e das circunstâncias. Sobre as aves do céu se aninharem, veja Ezequiel 17:22; 31:6; Daniel 4:9. (20,21) Esta parábola salienta a influência universa do reino (veja notas em 1:33) em lugar de um crescimento externo. O fermento proporciona uma nova qualidade à refeição. Jesus referiu-se assim à transformação indivi­ dual e ao efeito interior do reino na sociedade. Suas palavras pareceriam estranhas para quem estivesse esperando um reino exterior, político. Apesar do fermen­ to significar geralmente o mal para os judeus (veja 12:1), Jesus fez com que significasse aqui algo bom.


24Respondeu-lhes: Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos procurarão entrar e não poderão. 25 Quando o dono da casa se tiver levantado e fechado a porta, e vós, do lado de fora, começardes a bater, dizendo: Senhor, abre-nos a porta, ele vos responderá: Não sei donde sois.

Exclusão do Reino, 13:22-30 (Mt 7:13; 25:10-12; 7:22; 8:11; 19:30; 20:16) (22,23) Esta é uma outra nota relativa à viagem d Jesus ao seu destino (sobre Jerusalém veja notas em 2:22; e cf. 9:51). Esta pergunta pode ter presumido que apenas os judeus seriam salvos, o que tornaria a resposta de Jesus especialmente apropriada para os leitores gentios de Lucas. Os teólogos judeus se dividiam com respeito ao assunto, e assim a resposta de Jesus podia atrair consi­ derável interesse. Sobre salvo, veja notas em 6:9. (II, VI) (24,25) Esta resposta pode ser tomada como implican­ do que alguns poucos é que seriam salvos, mas a verda­ deira réplica de Jesus não foi à pergunta mas a quem perguntava (ou, de fato, a uma audiência maior, eles). Ele sugeriu algo prático: “Não fiquem discutindo a salva­ ção, mas procurem salvar-se” . Compare Mateus 25: 10- 12 .

Esta história menciona tanto uma porta estreita como uma porta fechada, mas talvez ambas tenham o mesmo significado. O cenário pode ser o banquete messiânico e a admissão ao mesmo. As bênçãos da nova era foram algumas vezes ilustradas como uma refeição com o Mes­ sias (veja 12:37; 14:15-24; 22:15,18; M t 8 :l l; 22:1-10; Ap 3:20). As palavras sobre a porta fechada parecem indi­ car (como no v.9) um fim das oportunidades. A pessoa devia então esforçar-se para entrar pela porta estreita. Isto seria especialmente necessário se o v.25 se refere à rejeição no fim da idade. Esforçar-se significa usar todos os nervos (cf Fp 3:12; 1 Tm 6:12; 2 Tm 4:7); aplicar grande força, como faria um atleta numa competição (cf. 1 Co 9:24-27).


26Então direis: Comíamos e bebíamos na tua presença, e ensinavas em nossas ruas. 27 Mas ele vos dirá: Não sei donde vós sois, apartai-vos de mim, vós todos os que praticais iniqüidades. 28 Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes, no reino de Deus, Abraão, Isaque, Jacó e todos os profetas, mas vós lançados fora. 2 9 Muitos virão do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul, e tomarão lugares à mesa no reino de Deus. 30 Contudo, há últimos que virão a ser primeiros, e primeiros que serão últimos.

(26-29) O hospedeiro é provavelmente o Messias. Os que tinham comido e bebido com ele achavam, errada­ mente, que isso garantia a sua entrada no banquete messiânico. Mas ele só reconhece os obedientes. A tristeza tão claramente apresentada no v. 28 foi causada tanto pela exclusão do banquete como pela aceitação dos que pareciam não ter direito a estarem ali, provavelmen­ te os gentios (cf. SI 107:3; Is 45:6; 49:12). A tragédia dos judeus se mostra especialmente dolorosa pelo fato de Jesus ter vindo para torná-la desnecessária, se aceitas­ sem a sua mensagem do reino (sobre reino, veja notas em 1:33). (VI) (30) Esta foi uma inversão chocante do juízo contem porâneo (cf. Mt 19:30; 20:16; Mc 10:31). O pronuncia­ mento pode refletir o antigo costume cristão de pregar primeiro aos ouvintes judeus numa cidade. No final, Jesus não respondera tanto à pergunta que lhe fora feita como admoestara seus ouvintes para que estivessem entre aqueles que seriam salvos. Sobre refeições, veja notas em 5:27 (VII)

O SEGUNDO CICLO, 13:31-17:10 A maior parte do material nesta seção pertence exclusivamente a Lucas. O texto pode ser geralmente dividido em cinco blocos: (1) histórias sobre refeições


31 Naquela mesma hora, alguns fariseus vieram para dizer-lhe: Retira-te, e vai-te daqui, porque Herodes quer matar-te. (14:1-24); (2) condições do discipulado (14:25-35); (3) o cuidado amoroso de Deus pelos pecadores (15:1-32); (4) atitudes em relação à riqueza (16:1-31); e (5) caracterís­ ticas diversas do discipulado (17:1-10). Alguns dos temas que caracterizam especialmente a seção anterior (veja discussão antes de 9:51) se encontram também aqui, inclusive o motivo aceitação-rejeição e a importância da obediência a Deus. Existe uma recorrência freqüente da rejeição daqueles que não se dedicam ao verdadeiro discipulado. De modo geral, este material estabelece as qualidades que é necessário possuir para habitar o reino: humildade, amor abnegado e consideração frater­ nal, disposição para dar o primeiro lugar a Deus, autonegação, uma atitude adequada em relação às riquezas, espírito de perdão e fé. A seção continua tendo como cenário a viagem de Jesus a Jerusalém, apesar das notas sobre os locais serem ainda em menor número do que na seção anterior.

A Ameaça de Herodes, 13:31-33 (31) O tema da rejeição de Jesus continua. Todavia, a atitude dos fariseus em relação a Jesus se modificou. Eles tinham criticado Jesus (5:21,30; 7:30) e foram severamen­ te condenados por ele (7:30; 11:37-44). Ficaram furiosos com ele (6:11), todavia aqui estavam preocupados com o seu bem-estar. Herodes podia estar ainda pensando que Jesus era João Batista e ter feito a sua am eaça (quer pudesse ou não executá-la) a fim de evitar tumulto no reino. Jesus estava ainda em território de Herodes (Gali­ léia e Peréia). Lucas não se preocupa tanto com a geografia da jornada quanto com o seu significado em termos da paixão iminente. A presente seção acrescenta drama ao significado da viagem, de uma perspectiva teológica. As palavras seguintes de Jesus sobre Jerusa-


32 Ele, porém, lhes respondeu: Ide dizer a essa raposa que hoje e amanhã expulso demônios e curo enfermos, e no terceiro dia terminarei. 33 importa, contudo, caminhar hoje, amanhã e depois, porque não se espera que um profeta morra fora de Jerusalém. 34 Jerusalém, Jerusalém! que matas os profetas e apedre­ jas os que te foram enviados! quantas vezes quis eu reunir teus filhos como a galinha ajunta os do seu próprio ninho debaixo das asas, e vós não o quisestes! lém, podem ter sido motivadas por reflexões sobre a sua rejeição, e tendo Jerusalém como o centro dela. (VI) (32, 33) Hoje, amanhã e depois, talvez seja uma expressão idiomática para “dia a dia”. Jesus tinha uma missão divina a realizar. Seguro de si mesmo, ele iria por causa do decreto divino, e não por medo de Herodes. Terminarei, na Septuaginta é usado com relação à consagração de sacerdotes, e em Hebreus 2:10; 5:9; 7:28 refere-se à consagração de Jesus ao sumo sacerdócio, mediante a morte e a ressurreição. O termo pode ter então um sentido mais amplo em Lucas. Sobre Jerusalém, veja notas em 2:22 (IV, VII) O fecho proverbial do v. 33 se baseia na idéia do Velho Testamento da rejeição continuada de Jerusalém em relação aos profetas. Por causa deste padrão constante, que culminou no tratamento dado a Jesus, a cidade seria amaldiçoada e não abençoada. Jerusalém recusou seu papel como amada de Deus e matou seus emissários. Ira contra ela, acumulada através dos séculos, irá encher agora a sua taça até as bordas. O Lamento Sobre Jerusalém, 13:34,35 (Mt 23:37-39) (34) Quantas vezes parece implicar que todos os erro da nação estavam relacionados com Jerusalém, desde que todos os judeus em um certo sentido eram filhos dessa cidade (cf. Jr. 22:5; Lc 11:49-51). A semelhança a uma galinha, que não é encontrada no Velho Testamento,


35Eis que a vossa casa vos ficará deserta. E em verdade vos digo que não mais me vereis até que venhais a dizer: Bendito o que vem em nome do Senhor. 1 Aconteceu que, ao entrar ele num sábado na casa de um dos principais fariseus para comer pão, eis que o estavam observando. 2 Ora, diante dele se achava um homem hidrópico. 3Então Jesus, dirigindo-se aos intérpretes da lei e aos fariseus, perguntou-lhes: É ou não é licito curar no sábado? 4Eles, porém, nada disseram. E tomando-o, o curou e o despediu.

se acha freqüentemente na literatura rabínica. Sobre Jerusalém veja notas em 2:22. (II, IV, VI) (35) Este versículo provavelmente vaticina a destrui ção de Jerusalém e que Israel não seria mais o povo escolhido de Deus (veja 19:27,41-44; 21:20,22; 23:28). Ficará deserta indicaria que Deus não mais "h ab itaria” nela e a protegeria. Esta passagem assinala uma mudan­ ça significativa no desempenho de Jerusalém. Não sendo mais o lugar onde a esperança messiânica segundo a concepção popular será cumprida, a cidade será julgada por sua rejeição de Cristo. Para maiores detalhes, veja a discussão da introdução. O final do v. 35 indica que a única esperança para Jerusalém seria aceitar Jesus como aquele que vem em nome do Senhor. E isto deve ser feito nos termos dele e não nos dela. Note como Jerusalém assume este novo papel no Livro de Atos, especialmente nos capítulos 1-12, e 15 (VII) A Cura de um Hidrópico, 14:1-6 (1, 2) Jesus estava sendo observado (cf. 11:53). A presença do homem hidrópico ali pode ter sido permitida para tentá-lo? Hidrópico (somente aqui no Novo Testa­ mento), a hidropsia era caracterizada pelo excesso de água nas cavidades e tecidos do corpo, sendo sintoma de alguma doença mais grave, não indicada no texto.


5 A seguir lhes perguntou: Qual de vós, se o filho ou o boi cair num poço, não o tirará logo, mesmo em dia de sábado? 6 A isto nada puderam responder. 7 Reparando como os convidados escolhiam os primeiros lugares, propôs-lhes uma parábola: 8 Quando por alguém fores convidado para um casamen­ to, não procures o primeiro lugar; para não suceder que, havendo um convidado mais digno do que tu, 9 vindo aquele que te convidou e também a ele, te diga: Dá o lugar a este. Então irás, envergonhado, ocupar o último lugar. (3, 4) Jesus forçou a questão de sua concepção do sábado e sua relação com a necessidade humana, toman­ do a iniciativa através de uma pergunta. Se tivessem respondido afirmativamente estariam violando as suas tradições, mas se negativamente estariam negando mise­ ricórdia. O silêncio deles mostrou que reconheciam o impasse em que estavam. Jesus continuou, curando o homem, e o despediu (i.e., mandou-o embora, desde que ele não era provavelmente um convidado no banquete). (III, VI) (5, 6) Jesus dirigiu-se então aos presentes (o vós é enfático) na declaração sobre o filho ou o boi (cf. Mt 12:11; Lc 13:15). A maioria dos judeus iria concordar com Jesus sobre um animal, e ele mostrou assim que aquilo que os fariseus permitiam a si mesmos para seu próprio benefício, deveria ser permitido em benefício de outros. O trabalho de sábado deles era egoísta, enquanto o seu não o era. Eles nada puderam responder. Sobre sábado, veja notas em 4:16; sobre refeições veja 5:27. (III, VI) Ensinamento sobre a Humildade, 14:7-11 (7-9) Sua parábola dificilmente aumentaria a popula­ ridade de Jesus junto aos interesseiros que estavam no banquete. O quadro do homem forçado a mudar de lugar


10 Pelo contrário, quando fores convidado, vai tomar o último lugar; para que, quando vier o que te convidou, te diga: Amigo, senta-te mais para cima. Ser-te-á isto uma honra diante de todos os mais convivas. 11 Pois todo o que se exalta será humilhado; e o que se humilha será exaltado. 12 Disse também ao que o havia convidado: Quando deres um jantar ou uma ceia, não convides os teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem vizinhos ricos; para não suceder que eles, por sua vez, te convidem e sejas recompensado. á tão vivo que a leitura é quase embaraçosa (cf. Pv 25:6). Não só os seus sentimentos estão envolvidos, com o tam ­ b ém sua humilhação foi à vista dos demais convidados. Ele aprendeu que não era tão importante aos olhos dos outros como aos seus próprios (cf. Mt 23:6). A palavra usada por Jesus, envergonhado, foi branda demais para o caso. Um convidado mais digno do que tu é uma expressão bastante irônica, pois uma pessoa vaidosa detestaria admitir a existência de tal indivíduo. (10) Jesus não aconselhou uma falsa demonstração de humildade, mas insistiu na modéstia sincera e despreo­ cupação com a auto-exaltação. A exaltação viria como um benefício de valor e merecido quando não fosse buscada. (11) Este o princípio ao redor do qual toda a parábola foi construída (veja também Mt 23:12; Lc 18:14; e cf. Fp 2:8; Tg 4:6; 1 Pe 5:5). Jesus adverte que a natureza dos que buscam o reino deve ser absolutamente oposta à arrogância. Os qu e se d ev e Convidar p a r a um B an qu ete, 14:12-14 (12) Foi corajoso da parte de Jesus dizer isto, desde que um convidado geralmente não informava o anfitrião a quem devia convidar e desde que suas palavras poderiam parecer uma crítica à lista de convidados do mesmo. Jesus falou mais da razão pela qual as pessoas eram convidadas do que a quem convidar. Era errado


13 Antes, ao dares um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos; e 14serás bem-aventurado, pelo fato de não terem eles com que recompensar-te; a tua recompensa, porém, tu a receberás na ressurreição dos justos. 15 Ora, ouvindo tais palavras, um dos que estavam com ele à mesa, disse-lhe: Bem-aventurado aquele que comer pão no reino de Deus. 16Ele, porém, respondeu: Certo homem deu uma grande ceia e convidou a muitos. 17 A hora da ceia enviou o seu servo para avisar aos convidados: Vinde, porque tudo já está preparado. negligenciar os necessitados e fazer o bem apenas pela recompensa que se poderia esperar disso. Os que Jesus insistiu que fossem convidados eram aqueles de quem os ambiciosos iriam afastar-se com repugnância (cf. Mt 5:43-48; Tg 2:2-4). Sobre ricos, veja notas em 6:24. (13, 14) Compare os sinais messiânicos de 4:18; 7:22. A palavra para aleijados é intensiva, i.e., os muito deficientes. Serviço ao próximo é serviço a Deus (cf. Dt 14:29). Jesus prometeu que o serviço de amor seria recompensado na ressurreição dos justos (sobre justo, veja notas em 1:6). Esta última expressão é usada somente aqui por Jesus, antecipando sua própria obra, apesar da idéia de uma ressurreição não ser desconheci­ da ao pensamento judeu da época (veja Lc 20:27-40; Jo 5:28; 11:24; e cf. At 24:15). Todavia, a pessoa não devia praticar o bem apenas na esperança da ressurreição, mas pelo seu interesse e amor pelos necessitados. Sobre pobres, veja notas em 4:18; sobre abençoados, veja 1:45; sobre refeições, veja 5:27. (II, VII, VIII) A P aráb ola d a Grande Ceia, 14:15-24 (Mt 22:1-10) (15-17) Nas quatro histórias sobre refeições em 14:1­ 24, existe uma interação interessante entre os hóspedes convidados e os que não tinham sido convidados inicial­ mente. A referência à ressurreição dos justos pode ter


18Não obstante, todos à uma começaram a escusar-se. Disse o primeiro: Comprei um campo, e preciso ir vê-lo; rogo-te que me tenhas por escusado. 19 Outro disse: Comprei cinco juntas de bois e vou experi­ mentá-las; rogo-te que me tenhas por escusado. 20 e outro disse: Casei-me, e por isso não posso ir. 21 Voltando o servo, tudo contou ao seu senhor. Então, irado, o dono da casa disse ao seu servo: Sai depressa para as ruas e becos da cidade e traze para aqui os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos. 22 Depois lhe disse o servo: Senhor, feito está como mandaste, e ainda há lugar. sugerido a Jesus a idéia dos que iriam participar do banquete messiânico, enquanto a declaração do v. 15 estimulou seus comentários. Em sua resposta, a ceia é aparentemente comparada ao reino (veja notas em 1:33; Mt 26:29; Lc 22:16,18,28-30). Nem todos os que espera­ vam por isso iriam comer pão no reino de Deus (cf. 13:22-30), pois rejeitariam a Jesus, justamente aquele que tornaria tal coisa possível. Muitos (v. 16), talvez os judeus exteriormente piedosos, foram convidados para a festa. O dia da ceia seria indicado.no primeiro convite e a hora no segundo. Se alguém não quisesse ir, deveria declarar isso quando convidado pela primeira vez, antes que fossem feitos os preparativos. Era esperado que o anfitrião fizesse um novo convite e seria rude da parte do convidado recusá-lo, depois de ter aceito o primeiro. (18-20) As desculpas parecem muito frágeis e trans­ parentes (cf. 9:57-62), desde que ninguém compraria geralmente um campo ou uma junta de bois sem prévio exame. O homem que se casou pode ter achado válida sua desculpa com base nas implicações de Deuteronômio 24:5 (cf. também Dt 20:7), mas deveria ter tomado outras providências para o casamento, tendo aceito o primeiro convite. As recusas mostraram desrespeito pelo anfi­ trião, e quebraram promessas implícitas na aceitação do primeiro convite. (21, 22) O servo recebeu ordem para ir às ruas e


23 Respondeu-lhe o senhor: Sai pelos caminhos e atalhos e obriga a todos a entrar, para que fique cheia a minha casa. 24Por que vos declaro que nenhum daqueles que foram convidados provará a minha ceia. becos, i.e., os lugares públicos da cidade onde os que não tinham casas confortáveis seriam encontrados (cf. vs. 12-14). Os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos podem simbolizar os judeus que não eram exteriormente piedosos. Após o convite, eles estavam mais preparados para responder prontamente do que os líderes religiosos (como testificado por todo o ministério de Jesus). Não tendo bens a prendê-los, e não possuindo qualquer orgulho egoísta, eles compareceram (cf. 1 Co 1:26-29). Algum tempo mais tarde o servo, tendo feito a sua tarefa, anunciou que ainda havia lugares para a ceia. (VIII) (23, 24) Este terceiro grupo pode simbolizar os nãojudeus. Obrigá-los a entrar não justifica a força do evangelismo. Se fosse assim, Jesus teria então usado tais medidas primeiro com os judeus. O significado é prova­ velmente que haveria necessidade de persuasão devido a uma reticência compreensível em aceitar tal convite. O fato de encher a casa era uma condenação dos que se recusaram a princípio. Não sobraria lugar para eles, talvez implicando que a pessoa podia chegar ao ponto de uma rejeição irrevogável da graça (cf. Mt 8:11 e seguin­ tes). A necessidade de uma casa cheia pode indicar a vontade de Deus para que todos sejam salvos. O plural vos no v.24 é difícil, porque o anfitrião estaria falando apenas ao seu servo. Talvez Jesus, sobrepondo a história e sua aplicação, dirigiu-se aos ouvintes através das palavras do hospedeiro. Os ouvintes ficariam impressio­ nados se reconhecessem que Jesus, usando o plural, estava se dirigindo a eles (cf. 11:8; 15:7,10; 18:14; 19:26). Os pontos essenciais da história são: (1) que somente a convite de Deus alguém pode entrar no reino de Deus; e (2) que uma vez feito o convite, o homem só fica do lado de fora por sua própria escolha. O homem não pode


25 Grandes multidões o acompanhavam, e ele, voltandose, lhes disse: 26Se alguém vem a mim, e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. 27 e qualquer que não tomar a sua cruz, e vier após mim, não pode ser meu discípulo. 28 Pois, qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir? 29para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a virem zombem dele, 30 dizendo: Este homem começou a construir e não pôde acabar. salvar-se a si mesmo, mas pode condenar a si mesmo. (VI) O Custo do Discipulado, 14:25-35 (Mt 10:37) (25, 26) O parágrafo poderia ser intitulado: “Quem se qualifica como discípulo?” (vs. 26,27,33). Essas palavras foram ditas em vista da paixão de Jesus que estava próxima e deveriam separar o verdadeiro discípulo dos seguidores indiferentes. O primeiro teste do discipulado se referia aos parentes mais próximos (cf. 18:29). Jesus apoiava o amor familiar, mas mesmo este precisa ser subordinado ao amor a Deus. Aborrece é um termo duro, mas o paralelo em Mateus 10:37 indica que significa “amar menos” (também Gn 29:30; Dt 21:15). Além da família, a pessoa precisa amar a sua própria vida menos do que ama Jesus. Vida abrange todos os interesses mundanos, até mesmo o nosso próprio ser (cf. Jo 12:25) (I, VI) (27) A cruz, sugerindo um criminoso desprezado seguindo para a sua morte terrível, amplia a idéia de aborrecer a própria vida (veja notas em 9:23). É preciso


31 Ou, qual é o rei que, indo para combater outro rei, não se assenta primeiro para calcular se com dez mil homens poderá enfrentar o que vem contra ele com vinte mil? 32 Caso contrário, estando o outro ainda longe, envia-lhe uma embaixada, pedindo condições de paz. 33 Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo. 34o sal é certamente bom; caso, porém, se torne insípido como restaurar-lhe o sabor? 35Nem presta para a terra, nem mesmo para o monturo;: lançam-no fora. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. estar disposto, se necessário, a sofrer um destino assim horrível por causa de Jesus. Essas palavras teriam ainda maior significado para os cristãos depois da crucificação e ressurreição de Jesus (cf. G1 2:20; 6:14). (I, IV) (28-30) Esses exemplos podem referir-se a eventos recentes conhecidos pelos ouvintes de Jesus. Plummer diz que era uma época de construções aparatosas e guerras temerárias. Jesus estava dizendo: “Não me siga sem compreender o que isso envolve”. Ele não escondia o fato de que as bênçãos do reino seriam apenas para aqueles que estavam dispostos a pagar o preço, e assim lhes disse para calcular a despesa, usando uma palavra que impli­ cava em consideração longa e grave. (31-33) Jesus indicou um outro teste no v. 33, isto é, a renúncia a tudo. Apesar de Jesus não estar exigindo pobreza, o discípulo deve estar disposto a deixar tudo pelo Senhor, o que quer que isso envolva (cf. 9:61; 12:33; Fp 3:7). (I, IV) (34, 35) Em Mateus 5:13 este ditado está ligado à influência dos discípulos (também cf. Mc 9:49). O sal tinha diferentes usos, inclusive preservação, tempero, ação anti-séptica, fazer com que o óleo brilhasse com mais força nas lâmpadas, e para selar tratados. É difícil saber qual o uso indicado aqui, mas o ponto é que o sal representava os discípulos que calculavam o custo e pagavam o preço. Os que não fizessem isso tinham tão


1 Aproximavam-se de Jesus todos os publicanos e pecado­ res para o ouvir. 2 e murmuravam os fariseus e os escribas, dizendo: Este recebe pecadores e come com eles. 3 Então lhes propôs Jesus esta parábola: 4 Qual, dentre vós, é o homem que, possuindo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e vai em busca da que se perdeu, até encontrá-la? 5 Achando-a, põe-na sobre os ombros, cheio de júbilo. 6 e , indo para casa, reúne os amigos e vizinhos, dizendolhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. 7 Digo-vos que assim haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento. pouco sabor quanto o sal, que não tinha valor nem como fertilizante. A O velha P erdida e a Dracma Perdida, 15:1-10 (Mt 18:12-14)

(1, 2) Jesus, em defesa de sua associação com cobra­ dores de impostos e pecadores, desenvolveu mais ainda o conceito do arrependimento, que Lucas tinha apresen­ tado previamente nos capítulos 13 e 14. O Novo Testa­ mento usa a palavra para murmuravam apenas aqui e em 19:7. Comer com essas pessoas era considerado mais sério do que recebê-las (veja G1 2:12; e cf. Atos 11:3). Os fariseus aceitariam os pecadores de volta, depois da penitência, mas não os procurariam como Jesus fazia. Eles alegavam religião, mas tratava-se de uma religião de exclusivismo rígido em lugar de amor. Sobre refei­ ções, veja notas em 5:27. (III, VI) (3-7) Jesus respondeu às críticas, apesar de não ter havido uma queixa direta a ele. Jeremias 31:10-20 e Ezequiel 34:11-16, descrevendo Deus como pastor do seu povo, fornecem uma base para o exemplo dado por Jesus.


8 Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma, não acende a candeia, varre a casa e a procura diligentemente até encontrá-la? 9 e , tendo-a achado, reúne as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque achei a dracma que eu tinha perdido. 10 Eu vos afirmo que, de igual modo, há júbilo diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende. 11 Continuou: Certo homem tinha dois filhos; 12 o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte que me cabe dos bens. E ele lhes repartiu os haveres. 13 Passados não muitos dias, o filho mais moço, ajuntan­ do tudo o que era seu, partiu para uma terra distante, e lá dissipou todos os seus bens, vivendo dissolutamente. A busca intensa de uma ovelha, e o fato de ter sido levada de volta, mostra a preocupação e ternura de Deus. O pastor, todavia, não expôs necessariamente as outras noventa e nove ao perigo pelo fato de deixá-las. O argumento de Jesus implicava no maior mérito do homem sobre a ovelha, e ele respondeu aos seus críticos dizendo, com efeito: “Sim, eu me associo com tais pessoas — e faço isso porque Deus se preocupa muito com elas” (cf. 19:10). Deus procura aqueles que não têm a capacidade necessária para buscá-lo. O arrependimento (veja v. 7; cf. notas em 3:3; 10:13) traz alegria (júbilo) ao coração de Deus (veja notas em 1:14,58). Note como a atitude no v .2 contrasta com a dos v. 6 e seguintes. (II, III) (8-10) As casas orientais muitas vezes não tinham janelas, exigindo que fosse acesa uma luz mesmo durante o dia. O assoalho era de terra, coberto de palha ou junco, e portanto encontrar uma moeda (dracma) não era tarefa simples. A dracma representaria uma soma avul­ tada para a mulher. Apesar de não haver um grau de júbilo (veja notas em 1:14) expresso aqui, esta história também descreve um final feliz e mostra dram atica­ mente Deus demonstrando interesse pela espécie de pessoas com que Jesus estava se associando (vs. 1 e seguintes). (II)


14 Depois de ter consumido tudo, sobreveio àquele país uma grande fome, e ele começou a passar necessidade. 15 Então ele se foi e se agregou a um dos cidadãos daquela terra, e este o mandou para os seus campos a guardar porcos. 16 Ali desejava ele fartar-se das alfarrobas que os porcos comiam; mas ninguém lhe dava nada. O Filho Pródigo, 15:11-32 (11-13) Esta história mostra a natureza do arrependi­ mento. O mais moço pode representar os judeus pecado­ res (vs. 1,7,10) e o mais velho, os que criticavam Jesus. O pai provavelmente não representa Deus (note que ele é distinguido do “céu” nos vs. 18,21), mas demonstra semelhança com Deus. A lei garantia ao filho mais velho uma porção dupla da herança (veja Dt 21:17; cf. Lc 12:13). Os bens do mais moço podem ter sido um presente do pai, mas tratava-se mais provavelmente de uma doação testamentária entregue antes da morte do pai. Qualquer seja o caso, o pai estava disposto a dar, apesar de haver uma certa demonstração de falta de sentimen­ tos no pedido. O rapaz ajuntando tudo, nada deixou para garantir sua volta, e gastou sua fortuna dissolutamente (cf. Pv 29:3), rebelando-se assim contra o amor do pai. (14-16) O texto descreve com vigor quão rápida e completa foi a sua degradação. A fortuna foi gàsta como se o filho jamais pensasse que poderia ficar sem haveres, talvez por ter sido tão bem cuidado em casa. Mas ele ficou sem tostão e com fome, aceitando um emprego que era física como religiosamente censurável (o porco era impuro para os judeus). Os porcos estavam provavelmen­ te comendo o fruto da alfarrobeira (que ainda pode ser encontrado em abundância na Palestina), que é bem pouco agradável como uma dieta constante. Sua prodiga­ lidade também não lhe proporcionou um amigo na hora da dificuldade. Pela descrição que Lucas faz da sua humilhação, não é difícil compreender o seu arrependi­ mento subseqüente.


17Então, caindo em si, disse: Quantos trabalhadores de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui morro de fome? 18Levantar-me-ei e irei ter com meu pai e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; 19já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores. 20 e , levantando-se, foi para seu pai. Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou e, compadecido dele, correndo, o abraçou e beijou. 21E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. 22 o pai, porém, disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa; vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés; 23 Trazei também e matai o novilho cevado. Comamos e regozijemo-nos. 24 Porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. E começaram a regozijar-se. (17-19) Com o ego despedaçado, o filho mais moço venceu seu orgulho no extremo da sua necessidade. Seu arrependimento não se dirigiu apenas ao pai, mas tam­ bém ao céu. Ele voltou sem quaisquer direitos a reclam ar e não teria protestado se o pai o recusasse. Sua única virtude foi o reconhecimento de não possuir virtudes. Podia apenas suplicar piedade. Um trabalhador (somen­ te aqui no Novo Testamento), que podia ser demitido sem aviso prévio, não tinha nem sequer os mesmos direitos do escravo. (VIII) (20, 21) Lucas descreve vividamente a reação do pai. Sua vigilância indica a ansiedade pela qual passou. Quando o filho apareceu sua fé foi recompensada. Ele não sabia com que disposição o filho vinha — apenas que voltara — e correu ao encontro dele. Sua acolhida foi tão exuberante que o rapaz não teve sequer oportunidade de pedir a posição de servo. O contraste entre o que o filho esperava e o que recebeu é surpreendente. A atitude do pai ilustra perfeitamente o amor de Deus pelos que se arrependem.


25 Ora, o filho mais velho estivera no campo; e, quando voltava, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. 26 Chamou um dos criados e perguntou-lhe o que era aquilo. 27 e ele informou: Veio teu irmão, e teu pai mandou matar o novilho cevado, porque o recuperou com saúde. 28 Ele se indignou e não queria entrar; saindo, porém, o pai procurava conciliá-lo. 29Mas ele respondeu a seu pai: Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos; 30vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado. (22-24) A reação do pai se harmoniza com a nota de alegria divina já indicada nos vs. 7, 10. Apesar do rapaz ter desperdiçado muito e ferido profundamente algumas pessoas, não houve recriminação, castigo ou lembrança por parte do pai; apenas puro amor e perdão. O pai percebeu a tristeza do filho, e assim não houve necessi­ dade de condenação. A roupa nesse caso era uma peça comprida e impo­ nente, tal como aquela que os escribas gostavam de usar. O anel (a palavra se encontra apenas aqui no Novo Testamento) pode ter sido um sinete, indicando uma pessoa de posição ou autoridade na casa (cf. Gn 41:42). As sandálias eram a marca de um homem livre, desde que os escravos andavam descalços. O novilho cevado era um animal reservado para ocasiões especiais de alegria e hospitalidade. Sobre “reviveu” como um símbo­ lo da conversão cristã, veja Romanos 6:13; Efésios 2:1,5. Sobre refeições, veja 5:27. (II) (25-27) O foco da história se volta agora para o filho mais velho. Esta cena retrata a diferença entre o perdão amoroso de Deus e a complacência egoísta que não apenas negava o amor, mas também não podia compre-


31 Então lhe respondeu o pai: Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que é meu é teu. 32 Entretanto, era preciso que nos regozijássemos e nos alegrássemos porque esse teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. endê-lo. A música era provavelmente tocada por flautis­ tas. O irmão mais velho talvez suspeitando as razões para a celebração, não entrou (o grego indica recusa continuada) mas chamou um servo. (28-30) Porém, o pai procurava conciliá-lo. A mentali­ dade acusadora do irmão não só castigou o outro, como também voltou-se contra o pai. Ele queixou-se por não ter recebido sequer um cabrito, que valia muito menos do que um novilho cevado. Ele provavelmente quis dizer que se alguém deveria ganhar algo seria ele (o me no v. 29 é enfático no grego). Não tinha havido celebração com os seus amigos, (provavelmente indicando a presença de amigos do irmão mais moço). Ele não disse “meu irmão” , mas teu filho — uma declaração que o pai gentilmente censurou no v. 32. Da mesma forma que o irmão pródigo, o mais velho não alcançou o verdadeiro significado da filiação. Mas o pai amava a ambos e aceitou a crítica, o que pode simbolizar o amor continuado de Deus pelos fariseus e até mesmo pelos que criticavam Jesus. O irmão mais velho, exibindo suas próprias virtudes (cf. 18:11), era uma demonstração clara do indivícuo que não apreciava o fato de Jesus comer com cobradores de impostos e pecadores (v. 1 e seguintes). (31, 32) O pai apreciava na verdade as qualidades do filho mais velho e tentou dizer-lhe que possuía muito mais do que ele em sua ira tinha imaginado. Insistiu gentilmen­ te para que considerasse que tinha recebido de volta um irmão, como se ressuscitasse dentre os mortos. A reação final do irmão mais velho não é descrita. Jesus também não fez uma aplicação da parábola. Ele deixou a história em suspenso a fim de que os ouvintes criassem o seu próprio final. Ele estava preocupado com a ação e não


1 Disse Jesus também aos discípulos: Havia um homem rico que tinha um administrador; e este lhe foi denuncia­ do como quem estava a defraudar os seus bens. 2 Então, mandando-o chamar, lhe disse: Que é isto que ouço a teu respeito? Presta contas da tua administração, porque já não podes mais continuar nela. 3 Disse o administrador consigo mesmo: Que farei, pois que o meu senhor me tira a administração? Trabalhar na terra, não posso; também de mendigar tenho vergonha. 4 Eu sei o que farei, para que, quando for demitido da administração, me recebam em suas casas. 5 Tendo chamado cada um dos devedores do seu senhor, disse ao primeiro: Quanto deves ao seu patrão? 6 Respondeu ele: Cem cados de azeite. Então disse: toma a tua conta, assenta-te depressa e escreve cinqüenta. 7 Depois perguntou a outro: Tu, quanto deves? Respon­ deu ele: Cem coros de trigo. Disse-lhe: Toma a tua conta e escreve oitenta. com a argumentação. Sobre regozijássemos (rejubilar), veja notas em 1:14. (II, IV, VIII) O Administrador Injusto e a H ipocrisia dos F ariseus, 16:1-15

(1,2) Essas palavras aos discípulos podem referir-se à sua administração especial. Na acusação, teu está na posição enfática, indicando a surpresa do senhor de que seu administrador dentre todos, fosse tão infiel. Defrau­ dar é a mesma palavra usada na história do pródigo (15:13), talvez explicando a sucessão das histórias. Foi pedido ao administrador que desse contas, talvez uma prestação final de contas antes de ser demitido, ou talvez para verificar se as acusações eram corretas. O uso da expressão grega para contas em outro lugar do Novo Testamento indicaria a segunda interpretação. Sobre rico, veja notas em 6:24. (3-7) Lucas mostra vividamente os esforços tanto físi­ cos como mentais do administrador para garantir o seu futuro. O homem não podia nem trabalhar nem mendi-


Be elogiou o senhor o administrador infiel porque se houvera atiladamente, porque os filhos do mundo são mais hábeis na sua própria geração do que os filhos da luz.

gar, talvez por ter sido estragado por uma vida dissoluta e abundante. Decidiu então que faria com que as pessoas tivessem obrigações para com ele, a fim de que pudesse beneficiar-se da sua riqueza ou para que o empregas­ sem. Ele fez isso permitindo um desconto na conta dos devedores. Conjetura-se que a medida do óleo deve ter chegado a pouco menos do que nove galões e a do trigo era entre dez e doze alqueires. Existem várias idéias a respeito da natureza das transações. O administrador equilibrou o déficit do seu próprio bolso? As reduções do montante do seu lucro que ele estava disposto a descontar seriam em seu próprio benefício? Seriam dívidas que poderiam jamais ser rece­ bidas sem um desconto? Ou, tinha o administrador cobrado antes mais do que registrou, e ele estava dando agora o cálculo por escrito a fim de reduzir a quantia? O devedor ganharia assim no último pagamento, mas o administrador tinha lucrado nas transações anteriores. O que quer que tenha realmente acontecido, é evidente que o administrador serviu-se livremente de dinheiro que não era seu. (8) A primeira parte deste versículo provavelment mostra que os filhos do mundo têm um interesse mútuo, presumindo que os princípios do senhor não estavam muito acima dos do administrador. O administrador foi elogiado por cobrar dívidas difíceis, por garantir o seu futuro (como o senhor saberia disto?], por receber bas­ tante dinheiro no final, ou mesmo por sua astúcia? É impossível saber com certeza. Ellis fez um estudo da palavra infiel, que possui uma forma cognata em cada versículo desde o 8 até o 11 (também 13:27; 18:6). Ele argumenta que se refere ao caráter universal dos homens desta “idade” . Assim sendo, o administrador ou o juiz de 18:6, não eram nem


9E eu vos recomendo: Das riquezas de origem iníqua, fazei amigos; para que, quando estas vos faltarem, esses amigos vos recebam nos tabernáculos eternos.

melhores nem piores do que quaisquer outros homens do mundo, desde que pertenciam aos filhos do mundo, e os princípios deste mundo orientavam sua vida. O senhor pode ter sido também um filho do mundo, apesar de que mesmo assim não podia permitir que o administrador defraudasse os seus bens. O final do versículo 8 parece ser o comentário de Jesus sobre a história e não parte dela. O ponto pode ser que os filhos do mundo são mais judiciosos em usar seus bens para os seus próprios fins do que os filhos da luz (pessoas espirituais, orientadas no reino — Jo 12:36; Ef 5:8; 1 Ts 5:5) o fazem ao usar seus bens para os seus propósitos básicos. Ou, os filhos da luz sendo menos ligados ao mundo, não são tão sábios no uso de seus bens para fins materiais como os filhos do mundo. Isto seria um elogio aos filhos da luz, mas pareceria uma conclusão bastante estranha a ser extraída da história, desde que ela aparentemente exige o uso adequado dos bens em algum propósito. (9) Quem quer sejam os amigos, o ponto principal é claro. O uso adequado das posses materiais é obrigação do discípulo. A riqueza em si ê amoral, mas o uso feito dela envolve decisões morais. Apesar de não podermos comprar nosso lugar no céu, os bens devem ser investi­ dos apropriadamente em vista dos interesses espirituais (12:33; cf Mt 6:20; 19:21; Lc 14:14). Investimentos ina­ dequados indicam uma perspectiva completamente erra­ da da vida (cf. vs. 10-13). Mamon (Ed. Revista e Corrigida) (na Bíblia, somente em Mt 6:24; Lucas 16:9, 11,13), é uma palavra de origem incerta mas que se refere a riqueza ou lucro de alguma espécie. Iníqua indica, se a discussão no versículo 8 for correta, a riqueza reconhecida como uma característi­ ca desta era, e assim o termo não passa julgamento moral sobre a riqueza em si. Tabernáculos (em Lucas


10 Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco, também é injusto no muito. 11 Se, pois, não vos tornastes fiéis na aplicação das riquezas de origem injusta, quem vos confiará a verda­ deira riqueza? 12 Se não vos tornastes fiéis na aplicação do alheio, quem vos dará o que é vosso? 13 Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar o outro; ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.

somente aqui e 9:33) em geral se refere a habitações temporárias, o que torna o seu uso aqui com eterno particularmente surpreendente. (VII, VIII) (10) Os vs. 10-13 podem ser ditados sobre “dinheiro” adicionados aos vs. 1-9 na base de um assunto comum. O texto dá a impressão de um filho aprendendo através de pequenas responsabilidades a cuidar de uma fortuna maior que eventualmente lhe caberia. O caráter e não a quantia é o ponto importante com relação à riqueza. Espiritualmente, as palavras implicam em que tudo que é possuído nesta vida representa pouco, quando compara­ do ao muito dos tabernáculos eternos. (11,12) Sobre verdadeira (usada somente aqui em Lucas) compare as idéias de )oão 6:32; Hebreus 8:2 e 9:24. Esta é outra comparação entre a riqueza deste mundo e a vindoura, mostrando que a nossa riqueza não só é transitória como também nem sequer é nossa. Se for mal empregada, não haverá verdadeira riqueza a ser absolutamente usada. Diferentemente do administrador, não haverá i^inguém mais em quem confiar depois do acerto de contas por fraude. (13) Este versículo é comparável a Mateus 6:24. A natureza de mamom (riqueza), muito freqüentemente, é que ela tende a tornar-se senhora do homem. Deus enfrenta assim um competidor, e esta competição pode destruir o verdadeiro discipulado. Sobre amor, veja 6:27. (VIII)


14 Os fariseus, que eram avarentos, ouviam tudo isto e o ridiculizavam. 15 Mas Jesus lhes disse: Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece os vossos corações; pois aquilo que é elevado entre os ho­ mens, é abominação diante de Deus. 16 a lei e os profetas vigoraram até João; desde esse tempo vem sendo anunciado o evangelho do reino de Deus, e todo homem se esforça por entrar nele. (14,15) Se Deus abençoasse os justos, como a teologia da aliança ensinava (Dt 28), então a riqueza dos fariseus podia ser usada como uma demonstração de sua pieda­ de, e, por contraste, a pobreza dos seguidores de Jesus indicaria sua falta de justiça. Mas o evangelho de Lucas, com sua ênfase nos “santos pobres” (veja notas em 4:18) e advertência contra a armadilha do materialismo, apre­ senta um quadro diferente. Além disso, Jesus sabia que as motivações dos fariseus não eram simplesmente reli­ giosas. Mesmo que houvessem fariseus genuinamente espirituais, nem todos eles poderiam resistir à tentação material que sua posição lhes ofereceria. (III, VIII) O termo ridiculizavam significa torcer o nariz para algo. Diante dos homens, no v. 15, está na posição enfática, como se implicando que esta era toda a justifi­ cação que os fariseus iriam obter (veja Mt 6:1-18). Note também elevado entre os homens. Os fariseus queriam isto e obtiveram aquilo que desejavam (cf. 18:9-14). (VI) Sobre a Lei e o Divórcio, 16:16-18 (Mt 5:18,32)

(16) Esses versículos descrevem as duas épocas (d João e do reino) que se refletem nas duas atitudes em relação às riquezas descritas em 10-13. Também, na história seguinte (19-31) o testemunho do Velho Testa­ mento é visto como adequado para a aceitação da mensagem do reino. Os fariseus ficaram ofendidos por reconhecer como os ensinamentos do reino eram diferen­ tes dos da lei e dos profetas. O verbo traduzido como esforça pode significar que o


17 é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til sequer da lei. 18 Quem repudiar sua mulher e casar com outra, comete adultério; e aquele que casa com a mulher repudiada pelo marido, também comete adultério. 19 Ora, havia certo homem rico, que se vestia de púrpura e de linho finíssimo, e que todos os dias se regalava esplendidamente. 20Havia também certo mendigo, chamado Lázaro, cober­ to de chagas, que jazia à porta daquele; 21 e desejava alimentar-se das migalhas que caíam da mesa do rico; e até os cães vinham lamber-lhe as úlceras. reino está sendo oprimido, seja por poderes malignos ou pelos oponentes de Jesus; ou que pretendentes políticos excessivamente zelosos tentavam forçar a sua vinda pela violência; ou que os crentes entram nele com dificulda­ des, enquanto outros simplesmente ouvem, sem arriscarse a aceitá-lo. Sobre a pregação do evangelho, veja 1:19; sobre reino veja 1:33. (17) As palavras aqui têm o mesmo significado básico de Mateus 5:18, i.e., “nem um i ou um til jamais passará da lei, a té qu e tudo se cumpra” . Os propósitos de Deus, operados através da lei e dos profetas, e agora, mais plenamente, através de Jesus e sua pregação do reino, deverão imutavelmente realizar-se, enquanto existir a presente criação. Os ensinamentos de Jesus são um novo estágio nessa revelação de Deus, em que um estágio anterior incluiu a lei e os profetas. (18) Esta é a única referência em Lucas sobre o divórcio. O versículo parece uma intrusão, mas é prova­ velmente um exemplo dos princípios estabelecidos nos versículos 16 e seguintes. Esta passagem, apesar de não ensinar explicitamente a monogamia, indica que o casa­ mento é para a vida inteira ou, pelo menos, que não deve haver um novo casamento. O erro não está na separa­ ção, mas em unir-se a uma outra pessoa. Mateus 19:8 indica que Deus permitiu o divórcio a Israel devido à dureza dos seus corações, mas no início não era assim.


22 Aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos para o seio de Abraão; morreu também o rico, e foi sepultado. 23 No inferno, estando em tormentos levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio. Talvez a implicação aqui seja que o reino iria reproduzir, em um certo sentido, um Éden restaurado. Apesar de Lucas não apresentar excessões à regra, em Mateus 5:32 e 19:9 a infidelidade do cônjuge é reconhecida como tal. 0 Homem Rico e L ázaro, 16:19-31 (19-21) A descrição da vida futura dada nesta histó­ ria, reflete as idéias correntes no pensamento judeu da época. A história não tinha a finalidade de ensinar a respeito da natureza do outro mundo, mas de mostrar a necessidade do comportamento adequado nesta vida. Se é possível construir uma anatomia correta do outro mundo baseado nesses detalhes é impossível determinar. Jesus estava contando exatamente o que aconteceria, ou simplesmente se serviu de conceitos conhecidos em seu meio? Nesta história, o homem rico (chamado Dives, do latim) descobriu que suas riquezas não atendiam às suas mais profundas necessidades. O dom de Lucas para uma descrição vívida é de novo evidente nesta história. Púr­ pura e linho finíssimo eram as vestes de cima e de baixo, de alto preço. Regalava indica um gourmet ou alguém que se alimenta vorazmente de pratos exóticos e caros. A descrição de Lázaro é especialmente patética. Se Dives notou-o, não se preocupou com sua condição, e viu-se reduzido a comer migalhas, que algumas vezes eram usadas pelos convidados para limpar as mãos antes de jogá-las para baixo da mesa. As feridas não estavam provavelmente cobertas, pois os cães as lambiam. (22, 23) O seio de Abraão pode ser equivalente a “reunido a seu povo” (Gn 15:15; 25:8); ou pode refletir a esperança judia de ser recebido por Abraão ao morrer (cf. 4 M acabeus 13:17); ou pode estar relacionado com a idéia do banquete messiânico (cf. 13:28). Este é o único


24Então, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim! e manda a Lázaro que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. _ 25Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que rece­ beste os teus bens em vida, e Lázaro igualmente os males; agora, porém, aqui, ele está consolado; tu, em tormentos. 26E, além de tudo, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que querem passar daqui para vós outros não podem, nem os de lá passar para nós. 27 Então replicou: Pai, eu te imploro que o mandes à m nha casa paterna, 28porque tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemu­ nho a fim de não virem também para este lugar de tor­ mento.

caso no Novo Testamento onde o Hades (inferno) contém tanto os fiéis como os injustos (para base cf. Is 14:8-11). Sobre rico, veja 6:24. (24) A extensão da agonia do homem rico é poderosa mente ilustrada, pois ele que antes não considerava qualquer prazer demasiado extravagante implora o me­ nor benefício. O que mostrou pouca misericórdia, pede agora por ela. Sua súplica é feita com base na descen­ dência abrâm ica, mas um verdadeiro filho de Abraão teria tratado Lázaro de outro modo (cf. )o 8:39). (25, 26) A passagem enfatiza graficamente a irrevocabilidade do juízo, a tragédia de não fazer uso das oportunidades na vida, e a loucura de aceitar um sistema de valores materiais às custas dos espirituais (cf. 6:24). (27, 28) O homem rico volta-se para as preocupações com a família, talvez implicando que não estaria em tal condição se fosse avisado a tempo. Caso positivo, os versículos 29-31 destróem esse raciocínio. É preciso fazer o melhor uso das oportunidades presentes em lugar de se envolver em pensamentos inúteis sobre o que poderia ter sido. Aparentemente não havia conceito de um abismo entre o Hades (inferno) e este mundo, e o homem rico não se espantou com a idéia de uma ressurreição.


29 Respondeu Abraão: Eles têm Moisés e os profeta ouçam-nos. 30Mas ele insistiu: Não, pai Abraão; se alguém dentre os mortos for ter com eles, arrepender-se-ão. 31 Abraão, porém, lhe respondeu: Se não ouvem a Mois e aos profetas, tão pouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos. 1 Disse Jesus a seus discipulos: É inevitável que venham escândalos mas ai do homem pelo qual eles vêm! 2 Melhor fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho, e fosse atirado no mar, do que fazer tropeçar a um destes pequeninos. (29-31) Pode-se imaginar nessas palavras uma refe­ rência à ressurreição do próprio Jesus (veja 9:22). Ape­ sar de alguns israelitas pecadores poderem convencer-se com essa evidência, Jesus provavelmente falou aqui daqueles com as mentes cerradas, que iriam rejeitar qualquer evidência que exigisse uma modificação de conduta de sua parte. A introdução de Moisés e os profetas liga esta história com os vs. 16-18. Mais tarde, Atos associa a ressurreição de Jesus com evidência do Velho Testamento (veja 17:3), como se para dizer que a aceitação de Moisés e dos profetas levasse à aceitação de Cristo. Sobre arrepender-se, veja 10:13. (VIII) Sobre Provocar Pecados, 17:1,2 (Mt 18:6; Mc 9:42) (1, 2) Diferentemente de Dives em Lucas 16, os discípulos devem reconhecer uma responsabilidade mo­ ral em relação a outros. A palavra para escândalos (skandalon somente aqui em Lucas, mas veja 21:8, e cf. Rm 14:13; 1 Co 8:12) combina as idéias de armadilha e engano. Uma morte violenta seria melhor do que fazer tropeçar uma só pessoa. Apesar de Mateus e Marcos indicarem uma “grande pedra” , seu significado é prova­ velmente o mesmo de Lucas. Os pequeninos podem ser judeus que sofreram pela rapacidade dos fariseus ou, como em Mateus e Marcos, discípulos, talvez aqueles especialmente sujeitos à tentação.


3 Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti, repreendeo; se ele se arrepender, perdoa-lhe. 4 Se por sete vezes no dia pecar contra ti, e sete vezes vier ter contigo, dizendo: Estou arrependido, perdoa-lhe. 5 Então disseram os apóstolos ao Senhor: Aumenta-nos a fé. 6 Respondeu-lhes o Senhor: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: Arranca-te e trans­ planta-te no mar; e ela vos obedecerá.

Sobre o P erdão, 17:3,4 (Mt 18:15,21) (3, 4) Uma vez cometido o pecado, esses princípios indicavam qual a atitude a ser tomada. A pessoa que faz a censura deve acautelar-se a fim de não irritar desne­ cessariamente ou agir com rancor. Somente uma pessoa inteiramente entregue ao serviço do Senhor saberia como repreender com o espírito apropriado (cf. 9:21). A dispo­ sição para perdoar deveria estar sempre presente, mas a concessão do perdão seria contingente ao arrependimen­ to. A expressão sete vezes significa “sem limite” (cf. Sl 119:164). Sobre perdão, veja notas em 1:77. Sobre Fé, 17:5,6 (Mt 17:20) (5, 6) JA inclusão desses versículos aqui pode ter sido porque é preciso ter fé (veja notas em 5:20) para repre­ ender e perdoar (v. 3, cf. 22:32). Também, o tema da fé tem destaque nos parágrafos que se seguem. Pode impli­ car a idéia de que se pudessem ver o que a fé podia fazer, poderiam também ver como seria possível aumentá-la. A amoreira é uma árvore com raízes fortes que seria difícil desarraigar. A qualidade da fé era tal que até mesmo um pouco realizaria grandes coisas. (VI) O Salário do Servo, 17:7-10 (7-10) Colocando esta história neste cenário, Lucas pode estar indicando que a fé é um dever que temos para


7 Qual de vós, tendo um servo ocupado na lavoura ou em guardar o gado, lhe dirá quando ele voltar do campo; Vem já e põe-te à mesa? 8E que antes não lhe diga: Prepara-me a ceia, cinge-te, e serve-me, enquanto eu como e bebo; depois comerás tu e beberás. 9 Porventura terá de agradecer ao servo por este ter feito o que lhe havia ordenado? 10 Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer. com Deus (v. 5 e seguintes). Todavia, a ligação desses versículos com o contexto não é inteiramente clara. É concebível que houvesse um grupo especial entre os leitores de Lucas (talvez líderes da igreja) a quem todas as declarações dos vs. 1-10 fossem especialmente apro­ priadas. Os escravos, sendo propriedade de seus senho­ res, deveriam servir sem pensar em seus desejos ou recompensa. Jesus, sem endossar ou condenar o costu­ me, usou-o como ilustração. A história argumenta contra o orgulho da pessoa em suas realizações religiosas (cf. 16:14). O homem foi criado para servir a Deus. Ele jamais pode retribuir as bênçãos naturais de Deus, e muito menos aquelas concedidas pela graça. As reivindicações do amor nunca podem ser completamente satisfeitas. O homem não pode ganhar o céu. O TERCEIRO CICLO, 17:11-19:27 Este ciclo é reservado para declarações de outra “viagem a Jerusalém” (v. 11). O material leva à entrada triunfal, durante a qual a aceitação de Jesus pelo povo chega ao seu auge (19:28-40). Em contraste a qualquer equívoco geral quanto ao reino, Jesus dá nesses capítulos os preparativos especiais para a entrada no mesmo. A pergunta é esta: “Os homens terão a fé adequada para entrar e permanecer no reino de Deus?” A necessidade


H De caminho para Jerusalém passava Jesus pelo meio de Samaria e da Galiléia. 12 Ao entrar numa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez leprosos, 13 que ficaram de longe e lhe gritaram, dizendo: Jesus, Mestre, compadece-te de nós! 14 Ao vê-los disse-lhes Jesus: Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes. Aconteceu que, indo eles, foram purificados. 15 Um dos dez, vendo que fora curado, voltou, dando glória a Deus em alta voz, 16 e prostrou-se com o rosto em terra aos pés de Jesus, agradecendo-lhe; e este era samaritano. de estar preparado é mostrada perfeitamente pela discus­ são de Jesus sobre o dia do Filho do homem (18:20-37), as­ sim como pela parábola das dez minas (19:11-27). Os que têm realmente fé são um samaritano (17:11-19), um men­ digo cego (18:35-43), e um maioral dos cobradores de impostos (19:1-10). Devemos entrar no reino como crian­ ças (18:15-17).

A Cura dos Dez Leprosos, 17:11-19 (11-13) Esta é a terceira referência à viagem para Jerusalém (veja 9:51; 13:22 também notas em 2:22). Jesus poderia estar se movimentando ao longo da fronteira Galiléia-Samaria. Ele tinha antes pensado em entrar num povoado samaritano (9:52). Um mal comum tinha unido os judeus e samaritanos. Os leprosos tinham de cobrir o rosto, ficar de longe e gritar para os que se aproximavam: “Impuro!” a fim de evitar contaminá-los (veja Lv 13:45; sobre lepra cf. notas em 5:12). (VI) (14) Nesta história, como em 5:12-16, Jesus mostrou seu respeito pela lei (veja Lv 13:12; 14:2-32), apesar de que aqui ele não tocou os leprosos. Os samaritanos aparentemente seguiam os mesmos procedimentos de purificação dos judeus, desde que aceitavam uma forma modificada do Pentateuco, e apesar de que iriam a um sacerdote samaritano.


17Então Jesus lhe perguntou: Não eram dez os que foram curados: Onde estão os nove? 18Não houve, porventura, quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro? 19E disse-lhe: Levanta-te e vai; a tua fé te salvou. 20 e interrogado pelos fariseus sobre quando havia de vir o reino de Deus, respondeu-lhes, e disse: O reino de Deus não vem com aparência exterior.

(15, 16) Os leprosos judeus podem ter ficado conten­ tes ao ver o samaritano voltar, desde que a sua doença comum não mais os unia. Do mesmo modo como aconte­ ceu com o bom samaritano (10:29-37), o comportamento de um estrangeiro envergonhou os judeus, que poderiam ter pensado, como povo escolhido de Deus, que a cura lhes era devida (cf. vs. 7-10). (17-19) A surpresa de Jesus prendia-se à ingratidão dos nove. Eles eram um perfeito exemplo dos judeus que não apreciavam a missão de Jesus, enquanto o sam arita­ no simbolizava a aceitação futura da missão cristã pelos gentios. Os comentários do Senhor mostram que a grati­ dão completa a fé (veja notas em 5:20). As bênçãos de Deus (os dez foram curados) deveriam produzir gratidão em qualquer contexto. É provável que os dez tivessem fé, mas Jesus elogiou apenas a fé que disse “obrigado” (cf. Lc 8:47; 18:42).

A Vinda do Reino de Deus, 17:20,21 (20) A pergunta dos fariseus sobre o reino indicava que Jesus tinha dito muito mas mostrado pouco (pelos padrões deles). O pedido de sinais significava uma rejeição daqueles realizados por Jesus e do que ele tinha dito sobre o assunto. Jesus lhes falou, com efeito, que tinham olhado em toda parte menos no lugar certo. A discussão do reino e dos dias do Filho do homem (v. 22-37) fornece uma alternativa entre as perspectivas do presente e do futuro, como em outros pontos do evange-


21 Nem dirão: Ei-lo aqui, ou, Ei-lo ali; porque eis que o reino de Deus está entre vós. (Ed. Revista e Corrigida) 22 a seguir dirigiu-se aos discípulos: Virá o tempo em que desejareis ver um dos dias do Filho do homem, e não o vereis. lho (3:16; 11:2, 31 e seguintes; 16:16). Lucas vem apre­ sentando a alternativa entre a aceitação e a rejeição entre o povo, e estas agora se estendem até abranger o período do reino e o fim dos tempos. (VI) (21) A expressão aqui, somente em Lucas, ocasionou muita discussão, centralizada em entos, entre. O termo poderia legitimamente ter um dentre dois significados. Um deles é “interior, intimamente” como em Mateus 23:26 (o outro único uso do termo no Novo Testamento). Isto significaria que o reino era de natureza interior, isto é, dentro do coração deles. Apesar de não estar certa­ mente dentro do coração dos fariseus, ele tem inegavel­ mente uma natureza interior (veja Jo 18:36), e Jesus pode ter-se referido apenas aos que o aceitaram. Em oposição a este ponto de vista está o fato de que Jesus falava da época em que o reino viria, e não do lugar. O segundo significado é “dentro, entre”. Alguns argumentam que isto tem uma referência futura, i.e., haveria sinais a serem observados, mas o reino surgiria repentinamente entre eles. Outros vêem este significado como se referindo ao presente, como se em algum sentido o reino estivesse presente em seu meio. Assim, apesar de Lucas apresentar o reino como futuro (veja discussão em 1:33), todavia de alguma forma o futuro tinha chegado com Jesus, se esta interpretação for correta. Compare a discussão em 11:20. O que eles estavam pedindo se encontrava no ministério dele. Estava ao seu alcance, se o reconhecessem e buscassem. (V, VII) O Dia do Filho do Homem, 17:22-37 (22) A idéia-chave nesses versículos é os dias do Filho do homem (vs. 22,24,26,30), que parecem, depois de


23 E vos dirão: Ei-lo aqui! ou: Lá está! Não vades nem os sigais; 24 porque assim como o relâmpago fuzilando, brilha de uma à outra extremidade do céu, assim será no seu dia o Filho do homem. 25 Mas importa que primeiro ele padeça muitas cousas e seja rejeitado por esta geração. 26 Assim como foi nos dias de Noé, será também nos dias do Filho do homem; 27Comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio e destruiu a todos. 28 o mesmo aconteceu nos dias de Ló: Comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam; 29mas no dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu do céu fogo e enxofre, e destruiu a todos. 30 Assim será no dia em que o Filho do homem se manifestar. analisados, ser a volta de Jesus (note Dn 7:13; que indica a entrega do reino antes da volta). Ele reapareceria, como estivera com eles durante os primeiros dias do Filho do homem — seu ministério. Lucas 12:35-48 e 19:11-27 indicam que Jesus esperava por um período de tempo considerável e desconhecido até a sua volta. Quando viesse seria para uma sociedade como aquela em que estava fazendo sua pregação imediata do reino. Ambas as aparições seriam atos de Deus, envolvendo julgamento e chamado para a aceitação da vontade de Deus por parte do homem. (23, 24) Jesus desanima os que querem ver falsos sinais (cf. vs. 20 e segtes.). Os sinais corretos não seriam aqueles antecipados, nem da espécie pela qual a hora poderia ser estabelecida. Ei-lo aqui! ou, lá está! poderia referir-se a falsos Messias e seus seguidores. Mas quan­ do o Filho do homem viesse, seria como o relâmpago, visível a todos. Os sinais particulares deveriam ser rejeitados pela sua própria natureza. (V) (25) Esta declaração da paixão é única em Lucas (veja


31 Naquele dia quem estiver no eirado e tiver os seus bens em casa, não desça para tirá-los; e de igual modo quem estiver no campo não volte para trás. 32 Lembrai-vos da mulher de Ló. 33Quem quiser preservar a sua vida, perdê-la-á; e quem a perder, de fato a salvará. 34Digo-vos que naquela noite dois estarão numa cama; um será tomado e deixado o outro; 35 duas mulheres estarão juntas moendo; uma será toma­ da, e deixada a outra.

9:22). Aqui, como em outros pontos, trata-se de uma estranha justaposição de glória e sofrimento. Esta decla­ ração paradoxal se tornaria significativa somente à medida que o ministério de Jesus fosse cumprido. (VI) (26-30) Como nos tempos de Noé e Ló (veja Gn 6:5-8; 7:6-24; 18:16-19,28), a volta se daria quando os homens estivessem exercendo as suas atividades normais (casa­ mento, finanças, alimentação, agricultura, construção), aparentemente despercebidos de Deus. Eles inaugura­ riam novos projetos esperando completá-los. Seriam os “filhos” típicos “desta idade” , apresentados por Lucas em 16:8,14,19. Mas a revelação do Filho do homem causaria uma inversão drástica das coisas e fecharia a porta para os que tivessem ignorado a Deus. (VI) (31, 32) Por que alguém, como a mulher de Ló, haveria de voltar-se para aquilo que não tinha mais valor (cf. 9:62)? Todavia, as pessoas cujas vidas tivessem sido sempre ligadas a coisas transitórias, achariam quase impossível não se preocupar com elas numa crise. Os homens que tivessem entregado tudo pelo reino não enfrentariam este dilema. (33) Somente os que aceitam a ameaça da destruição irão encontrar a vida. Os que avaliam a vida em termos de bens terrenos (v. 31) precisariam esquecer-se deles para salvar sua vida, desde que esta depende realmente de uma fonte superior em lugar daquilo que está na casa. (34, 35) O cenário desta passagem parece ser a hora antes do amanhecer quando alguns dormiam e outros se


36 (Dois estarão num campo; um será tomado e o out deixado.) 37Então lhe perguntaram: Onde será isso, Senhor? Res­ pondeu-lhes: Onde estiver o corpo, aí se ajuntarão os abutres. 1 Disse-lhes Jesus uma parábola, sobre o dever de orar sempre e nunca esmorecer. 2 Havia em certa cidade um juiz que não temia a Deus nem respeitava a homem algum. 3 Havia também naquela mesma cidade uma viúva, que vinha ter com ele, dizendo: Julga a minha causa contra o meu adversário. 4 Ele por algum tempo não a quis atender; mas depois disse consigo: Bem que eu não temo a Deus, nem respeito a homem algum, 5 todavia, como esta viúva me importuna, julgarei a sua causa, para não suceder que, por fim, venha a moles­ tar-me. levantavam para preparar o pão. As palavras podem não ter sentido literal, mas são simplesmente uma maneira vívida de descrever a diferença que o reino faz entre os homens. A maior intimidade nesta vida não é uma garantia de igualdade de condições na segunda vinda. Apesar de ambas as pessoas parecerem iguais externa­ mente, uma é tomada, a outra deixada (cf. Mt 24:40). (37) Esta declaração pode ter sua raiz em algum provérbio corrente (mas cf. Jó 39:30; Hb 1:8; Ap 19:17). Águias (Revista e Corrigida) provavelmente se refere ao abutre fusco, desde que águias não voam em bandos nem se alimentam de cadáveres. Assim sendo, a referência não seria às águias da bandeira romana, como alguns afirmam. Para aqueles que queriam saber onde o M essias e seus seguidores apareceriam, Jesus respondeu que da mesma forma que um cadáver atrairia as aves de rapina, o pecado atrairia o julgamento, e ali seria encontrado o Messias. Dessa forma, a coisa importante era prepararse, a fim de não temer a sua vinda. (VI, VII).


6 Então disse o Senhor: Considerai no que diz este juiz iníquo. 7 Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defen­ dê-los? 8 Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Contudo, quan­ do vier o Filho do homem, achará porventura fé na terra? A P aráb ola do Juiz Iníquo, 18:1-8 (1) Somente aqui e no v.9 Lucas indica uma parábola pelo seu significado. Talvez a demora até o dia do Filho do homem (17:20-37) faria os discípulos esmorecer. Seria este um problema especial para os leitores de Lucas? A história os aconselha a continuar confiando apesar de não haverem sinais (cf. Rm 12:12). (2-5) Esta história pateticamente humorística apre­ senta um juiz que pouco se preocupava com as pessoas pobres e insignificantes. Ele foi abordado por uma viúva, que provavelmente tinha uma boa causa. Seu pedido indicou que queria ser poupada dos ataques de seu adversário. Sua única arma era a sua insistência, mas ela fez uso da mesma com proveito, como indica o monólogo do juiz. Ela não estava reagindo emocionalmen­ te, mas simplesmente deseja justiça sob a lei. O importu­ na do juiz pode ter sido uma referência irônica de Jesus a alguns rabis que ensinavam que Deus não devia ser aborrecido com muitas orações — três vezes por dia era suficiente. Sobre oração, veja notas em 1:10. (6-8) Esses versículos indicam uma igreja perseguida (veja Ap 6:10). Jesus enfatiza o ponto pela agudeza dos contrastes que apresenta. Se um juiz iníquo atenderia aos pedidos insistentes de uma viúva insignificante, quanto mais um Deus amoroso responderia ao clamor contínuo dos seus escolhidos. Iníquo provavelmente indica simplesmente uma pes­ soa desta época (cf. discussão em 16:8). Embora pareça demorado em defendê-los traduz uma difícil frase grega. Apesar dos desacordos entre os estudiosos sobre a


9 Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos por se considerarem justos, e desprezavam os outros: 10 Dois homens subiram ao templo para orar; um fariseu e o outro publicano. 110 fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; 12jejuo duas vezes por semana e dou o dizimo de tudo quanto ganho. tradução apropriada, a idéia parece ser que apesar da resposta poder demorar, a oração perseverante seria respondida. Os que clamam são aconselhados a ter paciência, pois Deus conhece a sua situação. Depressa é também uma palavra-problema, desde que a perseguição nem sempre era vingada com rapidez. A maioria dos comentaristas afirma que o termo indica a perspectiva de Deus, apesar de que depressa para Deus possa não parecer assim ao homem. Ellis sustenta que o termo tem a idéia de “repentinamente”, ficando o tempo indefinido. Um elemento que deve caracterizar a oração persis­ tente é a fé (veja notas em 5:20). Apesar das respostas de Deus, a fé possuída pelo homem iria manter-se até a vinda do Filho do homem? (veja notas em 5:24; cf. 17:26-29,31-35.) Não é necessário supor que esta vinda é a mesma que a defesa do v. 7. (IV, VII) A P aráb ola do Fariseu e do Publicano, 18:9-14 (9, 10) Os temas da oração e do juízo (18:1-8) (17:22­ 37) são continuados nesta história. Justos (v.9, veja notas em 1:6) pode referir-se ao ritual de guardar a lei e os costumes (cf. Mt 5:20). Jesus condenou aqui os que construíam suas vidas sobre o alicerce do ego. Despreza­ vam (v. 9) é uma palavra forte que indica “desprezar completamente”, “tratar como se fosse nada” . Sobre publicano, veja notas em 3:12. (11, 12) As palavras do fariseu eram mais de ostenta-


13 o publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador! 14Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta, será humilhado; mas o que se humilha, será exaltado. 15Traziam-lhe também as crianças, para que as tocasse; e os discípulos, vendo, os repreendiam. 16Jesus, porém, chamando-as para junto de si, ordenou: Deixai vir a mim os pequeninos e não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus. 17Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criança, de maneira alguma entrará nele. ção do que de oração (cf. Mt 6:5; Lc 16:15). Ele orava de si para si mesmo, significando que ele orava silenciosa­ mente ou com o significado mais vigoroso de que Deus não aceitou a sua oração. Ele pode ter desprezado o publicano injustamente, desde que o fato deste ter ido orar pode ser uma indicação de que era melhor que a maioria. Além de exibir os males que tinha evitado, o fariseu também contou a Deus como tinha excedido as exigências normais de jejum e dízimos. A única ocasião de jejum ordenada pelo Velho Testamento era o Dia anual da Expiação (Lv 23:27). Todavia, a tradição judia tinha acrescentado jejuns nas segundas e terças-feiras. Os dízimos eram sobre a renda e não o capital. Mas alguns pagavam o dízimo até sobre o que compravam, para não comer algo cujo dízimo não tivesse sido pago (cf. Mt 23:23). Com tudo isto, nada foi dito sobre o coração do fariseu, como se ele não avaliasse a sua religião nesses termos. Ele pode ter tido convicções sinceras, baseadas numa observação meticulosa da lei como a via, mas seu ponto de vista era bastante incorreto. (VI) (13, 14) Lucas contrasta impressivamente os dois homens. O publicano ficou de longe, talvez sentindo não ter mérito para aproximar-se do fariseu, batia “no


18Certo homem de posição perguntou-lhe: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna? 19Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas bom? Nin­ guém é bom senão um só, que é Deus. peito” , pedindo misericórdia. Ele foi justificado, não pelo seu passado, mas pela sua atitude presente (veja 14:11). Ele sabia que sua única reivindicação era a bondade de Deus. (II, VI) Jesu s A ben çoa as C rianças, 18:15-17 (Mt 19:13-15; Mc 10:13-16) (15-17) O material encontrado somente em Lucas chega ao fim neste ponto, e o evangelho volta ao esboço contido também em Marcos. O fator comum nesta histó­ ria e na anterior é a humildade, uma qualidade possuída pelas crianças e pelo publicano. As crianças judias eram algumas vezes levadas ao rabi para serem abençoadas no seu primeiro aniversário. A repreensão dos discípulos pode estar ligada à idéia de que tal coisa faria o Mestre perder tempo, sendo também um abuso da sua bondade. Todavia, apesar da opinião deles, é tocante ver que Jesus deu atenção às crianças, aos pequeninos, em seu cami­ nho para a morte. Ele fez uso da ocasião para salientar que aqueles que se humilhassem como crianças seriam os candidatos ao reino (veja notas em 1:33; veja também Mt 18: l-4;Lc 9:47). O Jovem Rico, 18:18-30 (Mt 19:16-30; Mc 10:17-31) (18, 19) Este parágrafo que trata da vida eterna, continua o tema do precedente, sobre quem entraria no reino. O homem de posição (um termo de significado incerto) parece ter verificado que as riquezas não supri­ am todas as suas necessidades. Jesus, em sua resposta, não estava pedindo reconhecimento de sua divindade (a palavra bom no v. 19 é enfatizada e não me) nem indican­ do que era errado chamá-lo bom. Ele estava verificando se o jovem iria depender de Deus e confiar em Jesus para


20Sabes os mandamentos: Não adulterarás, não mata­ rás, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra a teu pai e tua mãe. 21 Replicou ele: Tudo isso tenho observado desde a minha juventude. 22 Ouvindo-o Jesus, disse-lhe: Uma cousa ainda te falta; vende tudo o que tens, dá-o aos pobres, e terás um tesouro nos céus; depois vem, e segue-me. 23 Mas, ouvindo ele estas palavras, ficou muito triste, porque era riquíssimo. 24 e Jesus, vendo-o assim triste, disse: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! 25Porque é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus. dar-lhe a resposta de Deus. Se o jovem tivesse encerrado ali a entrevista, Jesus teria visto que lhe faltava um interesse real. (I, VI) (20, 21) Segundo referências talmúdicas freqüentes, os judeus da época criam que era possível guardar toda a lei. Mas Jesus queria ver se o jovem reconheceria que guardar os mandamentos não bastava. Ele respondeu então a princípio em termos dos dez mandamentos (se­ guindo a ordem da Septuaginta de Dt 5:16-20; veja ê x 20:12-16). Dos seis últimos mandamentos, Jesus omitiu o que proibia a cobiça (mas veja discussão no v. 22). Talvez a referência a Deus no v. 19 fosse tomada como cobrindo os três primeiros mandamentos, e assim apenas a lei do sábado foi deixada fora. Compare também Romanos 13:9 e Tiago 2:11, onde a ordem dada aqui se repete parcial­ mente, talvez refletindo o uso cristão do decálogo. (I, II) (22, 23) Vende tudo o que tens era o desafio do reino de Deus (cf. 12:33). A vida eterna valia mais do que qualquer outra coisa, e portanto era preciso renunciar a tudo para obtê-la. Jesus referiu-se então, em essência, ao mandamento contra a cobiça. Conhecendo o coração do jovem, Jesus pediu-lhe que ultrapassasse o decálogo, enquanto lhe assegurava que continuaria tendo um te­ souro, que, apesar de diferente, era muito maior (veja Mt


26E os que ouviram disseram: Sendo assim, quem pode ser salvo? 2 7 Mas ele respondeu: Os impossíveis dos homens são possíveis para Deus. 2Be disse Pedro: Eis que nós deixamos as nossas casas e te seguimos. 29 Respondeu-lhes Jesus: Em verdade vos digo que nin­ guém há que tenha deixado casa, ou mulher, ou irmãos, ou pais, ou filhos por causa do reino de Deus, 30que não receba no presente muitas vezes mais, e no mundo por vir a vida eterna. 6:20). A tristeza do homem, aparentemente, mostrou que já era prisioneiro da sua riqueza. (I, II, III) Sobre pobres, veja notas em 4:18; sobre rico, veja notas em 6:24. (VI) (24, 25) P ara mostrar quão dificilmente um hom em rico seria salvo, Jesus fez a famosa declaração sobre o fundo de uma agulha. A palavra para camelo, usada apenas aqui no grego bíblico, foi traduzida por alguns como “cabo” ou “corda” . Mas Jesus estava provavel­ mente falando literalmente, fazendo uma declaração absurda e usando de humor para reforçar o seu ponto. O talmude contém histórias de um elefante passando pelo fundo de uma agulha e de um camelo dançando sobre uma medida insignificante de milho. Os que ouviam Jesus, certamente se lembrariam da sua lição, e sem dúvida iriam refletir longamente sobre o seu significado. (26, 27) Considerando a ilustração de Jesus sobre o camelo, a pergunta dos ouvintes foi muito natural. Jesus respondeu em termos do poder de Deus (cf. Gn 18:14; Lc 1:37). Deus podia fazer passar um camelo literalmente pelo fundo de uma agulha se assim o desejasse. Assim sendo, a atração de qualquer força, até mesmo as riquezas, pode ser compensada pelo poder de Deus. O homem passa a compreender que existem valores mais altos do que as riquezas, e pela graça o indivíduo pode qualificar-se para o reino de Deus. Zaqueu se enquadra­ ria neste ponto (19:1-10). (VI) (28-30) Pedro poderia estar perguntando: “estamos


31 Tomando consigo os doze, disse-lhes Jesus: Eis que subimos para Jerusalém e vai cumprir-se ali tudo quanto está escrito por intermédio dos profetas, no tocante ao Filho do homem; 32 pois será ele entregue aos gentios, escarnecido, ul­ trajado e cuspido; 33e, depois de o açoitarem, tirar-lhe-ão a vida; mas ao terceiro dia ressuscitará. nós entre aqueles a quem Deus tornou isto possível?” Ou pode estar afirmando que eles eram realmente aqueles (cf. Mt 5:1-11,27). Jesus respondeu que as bênçãos espirituais e a comunhão no presente e no mundo por vir iriam mais do que compensar qualquer perda, por causa do seu valor mais alto (cf. 14:26). Sobre reino, veja notas em 1:33. (I, VI, VIII) Jesu s Prediz Sua Paixão, 18:31-34 (Mt 20:17-19; Mc 10:32-34)

(31) Aqui, novamente, ao aproximar-se de Jerusalém (veja notas em 2:22), Jesus expressou sua sensação de que seus atos eram parte de um plano divino (veja 13:33; 22:22; Atos 2:23). Outras referências aos profetas são encontradas em 24:25-27,44-47; Atos 3:18,24. 8:32-35; 13:27 e 26:22. Não se pode saber com exatidão quais passagens Jesus tinha em mente, mas as usadas pela igreja em Atos podem fornecer uma chave, presumindo que o seu uso era baseado na própria interpretação de Jesus sobre o Velho Testamento (veja Lc 24:24,27,45). (32,33) Nesta predição da paixão (veja notas em 9:22), o relato de Lucas dá os detalhes desde escarnecido até açoitarem pela primeira vez. Lucas tinha mencionado anteriormente a ressurreição apenas em 9:22, apesar de 17:22-37 ter implicado a mesma. Esta é a indicação inicial da parte que os romanos desempenhariam no sofrimento de Jesus. A predição inteira foi feita de maneira íntima, e deve ter sido para Jesus um grande peso mental antecipar aquilo a que se submeteria volun­ tariamente. Sobre Filho do homem, veja 5:24. (IV, VI, VII)


34Eles, porém, nada compreenderam acerca destas cou­ sas; e o sentido destas palavras era-lhes encoberto, de sorte que não percebiam o que ele dizia. 35 Aconteceu que, ao aproximar-se ele de Jericó, estava um cego assentado à beira do caminho, pedindo esmolas. 36 e , ouvindo o tropel da multidão que passava, pergun­ tou o que era aquilo. 37 Anunciaram-lhe que passava Jesus, o Nazareno. 38Então ele clamou: Jesus, Filho de Davi, tem misericór­ dia de mim! 39E os que iam na frente o repreendiam para que se ca­ lasse; ele, porém, cada vez gritava mais: Filho de Davi, tem misericórdia de mim! 40 Então parou Jesus e mandou que lho trouxessem. E, tendo ele chegado, perguntou-lhe: 41 Que queres que eu te faça? Respondeu ele: Senhor, que eu torne a ver.

(34) Somente Lucas tem este versículo, que é espe cialmente vívido por causa de sua repetição do mesmo pensamento, por três vezes. Apesar de tudo o que Jesus tinha dito, os discípulos tiveram dificuldade em entendêlo (veja 9:45). Poderia tal coisa acontecer a um M essias? Os atos de Deus teriam de penetrar a sua incapacidade de entender as palavras de Jesus, levando-os a compre­ endê-las. (V) A Cura de Um Cego, 18:35-43 (Mt 20:29-34; Mc 10:46-52) (35-38) A história de um cego que recuperou a vista segue-se à da “cegueira” dos discípulos (v. 34). A multi­ dão pode ter sido uma caravana seguindo para Jerusalém para a Páscoa. Jericó é o primeiro lugar específico citado na jornada para Jerusalém e indica uma aproximação do oriente (leste). Isto implicaria em que a passagem da Galiléia para a Judéia foi feita no lado oriental do Jordão. (39-41) Os que repreendiam o mendigo podem ter pensado que Jesus não iria ajudá-lo ou que não devia ser perturbado por ele. Mas em meio a tanto ruído, Jesus


42 Então Jesus lhe disse: Recupera a tua vista; a tua fé te salvou. 43imediatamente tornou a ver, e seguia-o glorificando a Deus. Também todo o povo, vendo isto, dava louvores a Deus. 1 Entrando em Jericó, atravessava Jesus a cidade. 2 Eis que um homem chamado Zaqueu, maioral dos publicanos, e rico, 3 procurava ver quem era Jesus, mas não podia, por causa da multidão, por ser ele de pequena estatura. 4Então correndo adiante, subiu a um sicômoro a fim de vê-lo, porque ali havia de passar. distinguiu essa voz. “Clamou” no v. 38 indica um pedido de ajuda inteligente, enquanto uma palavra diferente é usada no v.39, que freqüentemente indica um grito ins­ tintivo ou uma expressão de emoção em voz alta. O último termo era geralmente usado em relação ao grito dos animais. Aparentemente, portanto, a tentativa de silen­ ciá-lo, apenas tornou o apelo do homem mais apaixona­ do. Parando para falar com ele, quando poderia tê-lo evitado, Jesus pareceu levar em conta as implicações de ter sido chamado Filho de Davi. Ele aceitou assim respon­ sabilidade pela demonstração que se seguiria à entrada triunfal. A confissão messiânica, porém, não parece ser o único ponto da história. Destaca-se também a fé que o homem tinha, e o fato de ter seguido Jesus. Tendo chama­ do a atenção de todos para o homem, Jesus o interrogou; não para extrair informações, mas para poder apresen­ tar o ponto sobre a fé (veja notas em 5:20) e para demonstrar seu poder da maneira mais eficaz. O mendi­ go não desistiu, em contraste com o jovem rico em 18:23 (IV, VI) (42-43) Lucas nota a reação do povo em 43. Note o contraste entre os louvores do povo e o que Jesus tinha dito que lhe aconteceria. Os capítulos seguintes muitas vezes contrastam a atitude do povo com a dos seus líderes. (IV)


5 Quando Jesus chegou àquele lugar, olhando p ara cima, disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, pois me convém ficar hoje em tua casa. 6 e ele desceu a toda a pressa e o recebeu com alegria. 7 Todos os que viram isto murmuravam, dizendo que ele se hospedara com homem pecador. 8 Entrementes, Zaqueu, se levantou e disse ao Senhor: Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma cousa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais.

Zaqueu, 19:1-10 (1-4) Esta história é outra que responde à pergunta: “Quem recebe o reino de Deus?” Esta é a sexta vez que Lucas menciona um publicano (veja notas em 3:12), e em cada caso o comentário foi de alguma forma favorável. 0 maioral dos publicanos (um termo usado somente aqui na Bíblia) poderia estar encarregado da cobrança de todos os impostos na zona e recebido uma parcela da arreca­ dação. Lucas descreve esse digno cavalheiro fazendo algo pouco digno — subindo numa árvore para ver Jesus. Esta era uma figueira-amoreira com frutos como a primeira e folhas como a segunda. Sente-se uma grande expectativa no ar com relação ao que Jesus poderia fazer em Jerusa­ lém. Para muitos, porém, por ser um cobrador de impos­ tos, Zaqueu seria excluído dos benefícios da vinda do Messias (cf. 5:27-32). Sobre rico, veja notas em 6:24. (VI) (5-7) O pedido no v. 5 deve ter surpreendido tanto Za­ queu como a multidão. Da mesma forma que o cego tinha sido escolhido, aqui também aconteceu agora a mesma coisa. (III) A alegria de Zaqueu superou seu senso de dignidade, e ele desceu a toda a pressa da árvore (sobre alegria, veja notas em 1:14,58). Jesus foi para a casa dele, tendo como pano de fundo a murmuração do povo por causa da associação entre eles. (VI) (8) Havia um tremendo contraste entre os críticos do lado de fora e a profunda mudança que se realizava no


dEntão Jesus lhe disse: Hoje houve salvação nesta casa, pois que também este é filho de Abraão. lOPorque o filho do homem veio buscar e salvar o perdido. 11 Ouvindo eles estas cousas, Jesus propôs uma parábo­ la, visto estar perto de Jerusalém e lhes parecer que o reino de Deus havia de manifestar-se imediatamente. 12 Então disse: Certo homem nobre partiu para uma terra distante, com o fim de tomar posse de um reino, e voltar. 13 Chamou dez servos seus, confiou-lhes dez minas e disse-lhes: Negociai até que eu volte. 14Mas os seus concidadãos o odiavam, e enviaram após ele uma embaixada, dizendo: Não queremos que este reine sobre nós. íntimo de Zaqueu. O encontro o transformou, apesar da história indicar que estava preparado para uma mudan­ ça. Sua promessa da metade dos bens aos pobres (veja notas em 4:18) provavelmente indicou qual seria e não qual tinha sido a sua política. Se já estivesse dando a metade é duvidoso que pudesse ser tão rico. Ele prome­ teu então esta oferta em gratidão a Jesus (cf. 18:24). Sua linguagem, se tenho defraudado, implicando em extor­ são pela intimidação, indica certo senso de culpa. Quatro vezes era quase o reembolso máximo exigido pela lei (cf. Ex 22:1; 2 Sm 12:6; mas cf. Pv 6:31), apesar de que aqui o homem não estava simplesmente preenchendo uma exi­ gência legal. (VI) (9,10) Com essas palavras, este incidente se torna, em microcosmo, a reprodução do ministério de Jesus (cf. 15:3-10; 1 Tm 1:15). Esta é uma importante declaração do propósito de Jesus. Hoje confirma a conclusão de que as decisões financeiras de Zaqueu tinham acabado de ser feitas. Filho de Abraão pode ter sido uma repreensão aos judeus que criticavam Zaqueu e queriam exclui-lo dos plenos privilégios judeus. Salvação aqui equivale à vida eterna (18:18) e ao reino de Deus (18:17). Sobre Filho do homem, veja notas em 5:24. (I, II, VIII)


15 Quando ele voltou, depois de tomar posse do reino, mandou chamar os servos a quem dera o dinheiro, a fim de saber que negócio cada um teria conseguido. 16 Compareceu o primeiro e disse: Senhor, a tua mina rendeu dez. 17 Respondeu-lhe o senhor: Muito bem, servo bom, por­ que foste fiel no pouco, terás autoridade sobre dez cidades. 18 Veio o segundo, dizendo: Senhor, a tua mina rendeu cinco. 19A este disse: Terás autoridade sobre cinco cidades. A P aráb ola d a s Minas, 19:11-27 (11-14) Esta história se assemelha a Mateus 25:14-30. A parábola trata de um rei rejeitado e da significação do discipulado. Esta última foi mostrada na história de Za­ queu, enquanto o primeiro caracteriza o texto que se segue a esta parábola (vs. 39, 47). A expectativa do reino (veja notas em 1:33) e a aproximação de Jesus de Jerusalém (veja notas em 2:22) inspiraram esta história (cf. 17:20; 21:31) e devem ser levadas em consideração ao interpretá-la. O povo espe­ rava que grandes coisas acontecessem quando Jesus ali chegasse, mais provavelmente em termos de progresso material (expulsão dos romanos, etc.). Mas Jesus contra­ disse esse mal-entendido. O nobre era como Jesus nos pontos pertinentes da história (veja 1:33; 19:38; 22:29; 23:3,37). O nobre ia partir para tomar posse do seu reino (talvez implicando em que Jesus iria tornar-se rei longe de Jerusalém). Haveria também um intervalo, em oposição ao imediata­ mente do v. 11, que deveria ser empregado em atividades úteis, e não desperdiçado em espera ociosa. O nobre estava preocupado tanto com os concidadãos como com os servos (cf. v. 27). O primeiro grupo pode representar os judeus, e o segundo os discípulos com suas responsabilidades. O v. 14 implica na rejeição de Jesus como rei, provavelmente porque o seu reino não era o que eles esperavam (cf. Mt 21:38). Sua oposição,


20 Veio então outro, dizendo: Eis aqui, senhor, a tua mina, que eu guardei, embrulhada num lenço. 21 Pois tive medo de ti, que és homem rigoroso; tiras o que não puseste e ceifas o que não semeaste. 22 Respondeu-lhe: Servo mau, por tua própria boca te condenarei. Sabias que eu sou homem rigoroso, que tiro o que não pus e ceifo o que não semeei; 23 por que não puseste o meu dinheiro no banco? e então, na minha vinda, o receberia com juros. 24 e disse aos que o assistiam: Tira-lhe a mina, e dai-a ao que tem as dez. 25 Eles ponderaram: Senhor, ele já tem dez. 26Pois eu vos declaro: A todo o que tem dar-se-lhe-á; mas ao que não tem, o que tem lhe será tirado. porém, não iria impedir que ele voltasse depois de haver tomado posse do reino a fim de exercer julgamento. (15-19) A história ilustra o princípio em 16:10 e seguintes. Os que tinham diferentes capacidades e opor­ tunidades investiram conforme sua habilidade, com fun­ dos iguais. Talvez o acordo original especificasse que receberiam em proporção à sua fidelidade na mordomia. A pequena responsabilidade de uma mina trouxe a maior responsabilidade da autoridade sobre cinco cidades. Talzez isso implique em que o Senhor irá recompensar cada seguidor conforme a sua capacidade de gozar uma recompensa. (VI) (20-23) Esses três podem tipificar os dez, e assim não são dadas outras respostas. Este homem, ao desobedecer a ordem para negociar, deu também desculpas e insultou ao seu senhor. Em seu medo ele agiu como se fosse o senhor, talvez pela sua falta de fé e medo de uma perda. Ele poderia ter feito pelo menos um investimento. Isto não teria exigido maior esforço e teria mantido o dinheiro tão seguro como se estivesse num lenço. O problema não era então a energia necessária, mas a atitude incorreta com relação ao senhor. (VI) (24-26) Quem não faz uso de suas oportunidades pode perdê-las (cf. Mt 13:12; Mc 4:24; Lc 8:18). Fazer uso


27 Quanto, porém, a esses meus inimigos, que não quise­ ram que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui e execu­ tai-os na minha presença. delas pode trazer ainda maiores bênçãos. O protesto no v.25 enfatiza este ponto. (VII, VIII) (27) Este versículo volta ao assunto do v. 14. Na parábola, todos foram julgados, mas somente os inimigos foram efetivamente castigados. A sua execução pode referir-se em análise final à destruição de Jerusalém. Por trás desta história está a idéia solene de que a vinda de Jesus é um teste para todo homem, e força todo homem a tomar uma grave decisão. Com esta história a parte principal dos ensinamentos de Jesus terminou, apesar dele ter respondido a pergun­ tas em Jerusalém. Ele estava prestes a entrar na cidade e os acontecimentos subseqüentes mostrariam o significa­ do daquilo que tinha ensinado.


O Ministério em Jerusalém 19:28

23:56

O MINISTÉRIO PÚBLICO EM JERUSALÉM, 19:28-21 -.38

Com a declaração pública do seu messiado, na entra­ da, ficou claramente esboçada a situação relativa a Jesus. A hostilidade contra ele se intensifica e é consoli­ dada em planos de morte. As reações à entrada em 19:39, 47 e as controvérsias no capítulo 21 mostram isto claramente. Mas Jesus também profere palavras terrí­ veis de advertência e julgamento em face desta animo­ sidade (19:41-46; 20:9-18,45-47), culminando no discurso apocalíptico de 21:5-36. As três partes principais desta seção são: (1) a entrada (19:28-48); (2) os discursos e controvérsias (20:1-21:4); e (3) o discurso apocalíptico (21:5-38). A Entrada em Jerusalém, 19:28-38 (Mt 21:1-9; Mc 11:1-10) (28,29) O drama do evangelho foi intensificado pela série de episódios próximos à cidade, antes da entrada. Os vs. 28-44 formam uma transição da seção central de Lucas (9:51-19:27) aos acontecimentos finais em Jerusa­ lém. Mas a entrada em si foi de considerável importância para Lucas (veja notas sobre Jerusalém, 2:22). Jesus aproximou-se de Betfagé que é mencionado apenas aqui e nos paralelos, sendo incerta a sua localização; e de


28e dito isto, prosseguia' Jesus subindo para Jerusalém. 290ra, aconteceu que, ao aproximar-se de Betfagé e de Betânia, junto ao Monte das Oliveiras, enviou dois de seus discípulos, 30dizendo-lhes: Ide à aldeia fronteira e ali, ao entrar, achareis preso um jumentinho em que jamais homem algum montou; soltai-o e trazei-o. 31 Se alguém vos perguntar: Por que o soltais? responde­ reis assim: Porque o Senhor precisa dele. 32e indo os que foram mandados, acharam segundo lhes dissera Jesus. 33Quando eles estavam soltando o jumentinho, seus donos lhes disseram: Por que o soltais? 34Responderam: Porque o Senhor precisa dele. 35Então o trouxeram e, pondo as suas vestes sobre ele, ajudaram Jesus a montar. 36indo ele, estendiam no caminho as suas vestes. Betânia. Betânia ficava a sudeste do Monte das Olivei­ ras, cerca de três quilômetros de Jerusalém. (Na Ed. Revista e Corrigida o texto diz no v. 29 “chegando perto de Betfagé e de Betânia, ao monte chamado das Olivei­ r a s ...” , esse chamado pode indicar que Lucas estava escrevendo para pessoas que não conheciam bem a área). (30-34) Mateus associa esses acontecimentos, num contexto de cumprimento, com Zacarias 9:9. Jesus tinha aparentemente feito arranjos prévios sobre o jumenti­ nho, como indicado pela pergunta e subseqüente entrega do animal quando os proprietários ficaram sabendo da necessidade de Jesus. Jamais homem algum montou antes o animal. Uma coisa nova estava acontecendo, com esse animal solicitado para ser montado pela primeira vez em circunstâncias especiais (cf. Nm 19:2; Dt 21:3; e 1 Sm 6:7). (35,36) A expressão de 1 Reis 1:33, descrevendo a entrada de Salomão para ser coroado, é usada aqui com referência a Jesus montado no jumentinho. Os reis mon-


37e quando se aproximava da descida do Monte das Oliveiras, toda a multidão dos discípulos passou, jubilo­ sa, a louvar a Deus em alta voz, por todos os milagres que tinham visto, 38dizendo: Bendito é o Rei que vem em nome do Senhor! paz no céu e glória nas maiores alturas! tavam jumentos quando em missão de paz. As vestes no caminho eram para honrá-lo quando viesse (veja 2 Rs 9:13]. Ele não se caracterizava por nenhuma das coisas que poderiam ser esperadas de um Messias triunfante e somente o povo comum o louvava. Sua ênfase era na humildade, aplicando assim uma lição que ele ensinava freqüentemente. Este era um passo a mais na revelação pública de seu messiado, que iria culminar em 22:67-71. O “ segredo” (9:20) estava sendo tornado público (veja 23:38). (37,38) Quando Jesus se aproximou do alto do morro pôde ver as multidões (veja notas em 1:10), assim como o lado sudoeste de Jerusalém (mas não o templo). Havia uma crescente excitação entre o povo, e os louvores se sucediam ao aproximar-se da cidade. A natural emoção da chegada de Jesus foi intensificada pelo fato de que era o tempo da Páscoa. A expectativa dos peregrinos ao chegar perto da cidade, cantando salmos, era aumenta­ da pela natureza redentora da festa. Durante a celebra­ ção era dada grande ênfase ao poder redentor de Deus (cf. esta ênfase em Salmos 113-118, que eram cantados na festa). A medida que as crises e libertações do povo de Deus eram relembradas, a refeição, na época de Jesus, iria incluir oração para libertação da ocupação romana. Dado o comportamento da época de Páscoa e o grande interesse em Jesus, não é difícil entender os acontecimentos da entrada do Senhor. A maneira hábil como Lucas conta a história aumenta a apreciação por parte do leitor quanto às emoções. As esperanças dos galileus que faziam parte da multidão teriam sido espe­ cialmente intensas. O povo exultava porque aquele que


39 Ora, alguns dos fariseus lhe disseram em meio à multidão: Mestre, repreende os teus discípulos. 40Mas ele lhes respondeu: Asseguro-vos que, se eles se calarem, as próprias pedras clamarão. 41 Quando ia chegando, vendo a cidade, chorou, 42 e dizia: Ah! se conheceras por ti mesma ainda hoje o que é devido à paz! Mas isto está agora oculto aos teus olhos. deveria cumprir as esperanças que tinham abrigado através dos séculos, tinha chegado enquanto viviam. Sobre alturas veja notas em 1:32. Eles o louvavam pelos seus milagres (sobre poder, veja 1:17). Em Lucas os milagres são sinais messiânicos (cf. 4:18; 7:21). Esta é a primeira vez em Lucas em que o povo proclamou clara­ mente Jesus como rei, e o título liga este episódio com a parábola do rei rejeitado (19:11-27). Eles também clama­ vam por paz (veja notas em 1:79), todavia, Jerusalém rejeitara a paz (19:24; e cf. 2:14). Pareceria estranho a eles quando ele entrasse na cidade e fizesse coisas completamente diferentes daquelas que esperavam e não houvesse uma revolta nacional. Sobre jubilosa, veja notas em 1:14; sobre bendito, veja notas em 1:42. (I, II, V) P rofecia sobre a D estruição d e Jeru salém , 19:39-44 (39, 40) Os fariseus podem ter ficado com medo de dificuldades com Roma e queriam colocar sobre Jesus a responsabilidade relativa a qualquer perturbação havi­ da. Ou podem ter ficado enciumados com respeito ao seu próprio prestígio ou crido que os clamores do povo não eram verdadeiros. A resposta de Jesus (v. 40) disse com efeito que se os homens não o reconhecessem, então até mesmo a natureza muda descobriria um meio de procla­ mar a sua identidade. O Messias tinha chegado e sua vinda precisava ser anunciada. Israel deveria aceitá-lo ou rejeitá-lo. (IV, V, VI) (41, 42) Os vs. 38-41 oferecem um contraste notável entre os discípulos que louvavam, os fariseus que rejeita-


43 Pois sobre ti virão dias em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, e por todos os lados, te aperta­ rão o cerco; 44 e te arrasarão e aos teus filhos dentro de ti; não deixarão em ti pedra sobre pedra porque não reconhe­ ceste a oportunidade da tua visitação. vam, e Jesus chorando. O efeito total da cena é bastante dramático. Esta é também uma demonstração notável da humanidade de Jesus. Neste ponto alto do seu ministério, em meio ao louvor, Jesus compreendeu a verdadeira condição de Israel e teve de chorar (cf. Jo 11:35). A palavra usada é forte, sugerindo arfar do peito e o soluço de uma alma em agonia (também em 7:13,38; 8:52). Paz é uma referência que se reporta ao v. 38. Parte da tragédia estava em que exatamente aquilo pelo qual o povo clamava ele não queria aceitar nos únicos termos reais em que podia ser concedido (cf. 13:34). (I, III, VI)

(43, 44) Jesus predisse a destruição de Jerusalém — o julgamento de Deus sobre a rejeição de Jesus por parte deles (veja 21:6). A destruição é apresentada largamente na fraseologia da Septuaginta de Isaías 29:3; 37:33 e Ezequiel 4:1-3. As trincheiras eram os montículos edifi­ cados para facilitar o assalto sobre os muros. Todos os lados mostrava quão completo seria o assalto dos roma­ nos; durante o qual, segundo Josephus, milhares morre­ ram de fome antes da queda da cidade em 70 A.D. Arrastão mostra a violência da batalha. Teus filhos, seriam os habitantes da cidade. A oportunidade da tua visitação refere-se aqui provavelmente ao ministério de Cristo, e tentativas posteriores de persuadir Israel a aceitá-lo depois da ressurreição. Lucas encerra repentinamente a história da procis­ são, sem registrar a entrada na cidade. Esses aconteci­ mentos coroam de certa forma o tema da “jornada para Jerusalém” no evangelho. As decisões a respeito de Jesus foram fixadas neste ponto. (VII)


45 Depois, entrando no templo, expulsou os que ali ven­ diam, 46 dizendo-lhes: Está escrito: A minha casa será casa de oração; mas vós a tranformastes em covil de salteadores. 47 Diariamente Jesus ensinava no templo; mas os princi­ pais sacerdotes, os escribas e os maiorais do povo pro­ curavam eliminá-lo; 48 contudo não atinavam em como fazê-lo, porque todo o povo, ao ouvi-lo, ficava dominado por ele.

A P u rificação do Templo, 19:45-48 (Mt 21:12,13; Mc 11:15-19)

(45, 46) Note o significado do templo na apresentação da missão do M essias por Lucas (1:13; 2:27,41; 4:9; 21:6,37; 22:53; Atos 6:13; 7:47; 15:16). Os animais aceitos como sacrifício estavam sendo vendidos a preços maiores do que o normal. lesus agiu contra a motivação que fazia de um lugar sagrado oportunidade para extorsões e práticas gananciosas. Seus atos deveriam ser apreciados pelos peregrinos que estavam ressentidos pelo fato dos vendedores tirarem proveito deles. Jesus tinha o direito de agir como agiu, mas os que rejeitavam as suas reivindicações consideraram odiosas as suas atividades no templo. (47, 48) A partir deste ponto o Sinédrio tornou-se o maior inimigo de Jesus. A popularidade de Jesus permitiu que continuasse ensinando mesmo depois de ação tão radical (cf. 20:19,26,45; 21:38). Ficava dominado por ele mostra como Jesus era popular. Enquanto Jesus ensinava uma multidão interessada, seus inimigos planejavam a sua destruição. Era o povo contra os líderes, e toda Jerusalém estava se tornando dividida com essa luta. Lucas enfatiza a frustração dos lideres, como se eles não pudessem fazer nada contra o Messias, até que Deus permitisse tal coisa (cf. 13:32). (VI)


1 Aconteceu que, num daqueles dias, estando Jesus a ensinar o povo no templo e a evangelizar, sobrevieram os principais sacerdotes e os escribas, juntamente com os anciãos, 2 e o argüiram nestes termos: Dize-nos: Com que autori­ dade fazes estas cousas? ou quem te deu esta autorida­ de? 3 Respondeu-lhes: Também eu vos farei uma pergunta; dizei-me: 4 O batismo de João era dos céus ou dos homens? 5 Então eles arrazoavam entre si: Se dissermos: Dos homens, o povo todo nos apedrejará; porque está convic­ to de ser João um profeta. 7 Por fim responderam que não sabiam. A Q uestão d a A utoridade, 20:1-8 (Mt 21:23-27; Mc 11:27­ 33) (1, 2) Esta passagem é um comentário sobre 19:47. Mesmo depois da purificação, Jesus foi ao templo, e este incidente foi o primeiro de uma série de controvérsias em que ele se envolveu. Os líderes queriam desacreditá-lo ou condená-lo (cf. Jo 2:18-22). Estas cousas provavelmente se referiam principalmente, mas não exclusivamente, à purificação do templo. Eles poderiam estar tentando extrair uma declaração messiânica mais explícita a fim de ter acusações precisas contra ele. Sobre evangelizar, veja notas em 1:19. (IV, V, VI) (3, 4) A lógica aplicada a João era também aplicável a Jesus. E se eles o tinham aceito, também aceitariam seu testemunho com relação a Jesus. Jesus também tinha intenção de forçar o povo a fazer uma auto-análise para demonstrar a insinceridade de suas perguntas. (5-7) Os oponentes de Jesus poderiam dar qualquer resposta que achassem conveniente, mas, infelizmente para eles, nada puderam responder. Na sua tentativa de enredá-lo, precisavam ser cuidadosos a fim de não cairem eles mesmos na armadilha. Lucas retrata o dilema do Sinédrio muito claramente. Eles na verdade


8 Então Jesus lhes replicou: Pois nem eu vos digo com que autoridade faço estas cousas. 9 A seguir, passou Jesus a proferir ao povo esta parábola: Certo homem plantou uma vinha, arrendou-a a lavrado­ res e ausentou-se do país por prazo considerável. 10 No devido tempo mandou um servo aos lavradores para que lhe dessem do fruto da vinha; os lavradores, porém, depois de o espancarem, o despacharam vazio. 11 Em vista disso, enviou-lhes outro servo; mas eles também a este espancaram e, depois de o ultrajarem, o despacharam vazio. 12 Mandou ainda um terceiro; também a este, depois de o ferirem, expulsaram. não acreditavam que João fosse profeta (7:26). A sua preocupação não era com a verdade mas com a conveni­ ência (cf. 22:67). Alegaram então ignorância, talvez em particular, pois negar conhecimento em público poderia ter ofendido o povo tanto quanto seria negar que João era profeta. (VI) (8) Os que não tinham competência para julgar João também não eram competentes para julgar Jesus. Jesus estava disposto a admitir a sua autoridade, mas não para essas pessoas. A evidência do seu ministério e da entra­ da era bastante. (III, IV, V) A P arábola dos Lavradores Maus, 20:9-18 (Mt 21:33-46; Mc 12:1-11)

(9) A parábola, tanto uma reivindicação messiânica como uma predição da paixão, respondeu a questão relativa à autoridade (v. 2). A autoridade de Jesus era aquela do Pai que o enviou. Mas o ponto principal era a rejeição e julgamento subseqüente. Existem várias inter­ pretações dos lavradores (hierarquia ou nação judia), e da vinha (povo judeu). Mas como Jesus não explicou esses elementos, é preciso contentar-se em ver o ponto central da parábola e deixar os detalhes sem identifica­ ção específica.


13 Então disse o dono da vinha: Que farei? Enviarei o meu filho amado; talvez o respeitem. 14Vendo-o, porém, os lavradores arrazoavam entre si, dizendo: Este é o herdeiro; matemo-lo, para que a herança venha a ser nossa. 15E, lançando-o fora da vinha, o mataram. Que lhes fará, pois, o dono da vinha? 16 Virá, exterminará aqueles lavradores e passará a vinha a outros. Ao ouvirem isto disseram: Tal não aconteça! 17Mas, Jesus, fitando-os, disse: Que quer dizer, pois, o que está escrito: A pedra que os construtores rejeitaram, esta veio a ser a principal pedra, angular? 18Todo o que cair sobre esta pedra, ficará em pedaços; e aquele sobre quem ela cair, ficará reduzido a pó. (10-12) Os lavradores agiram com arrogância ao presumirem que uma coisa pertencente a outros lhes pertencia, e ao maltratarem tanto os servos. O proprietá­ rio, todavia, apesar da indignidade deles, deu-lhes vá­ rias oportunidades. Com respeito aos maus tratos dos servos, compare com a perseguição dos profetas (e.g. 1 Rs 18:4; 22:24-27; 2 Cr. 36:15; Ne 9:26; Jr 37:15). (13-16) Depois de esgotar todos os recursos, o dono enviou seu filho, esperando que os lavradores agissem corretamente, apesar de ter poder suficiente para casti­ gá-los (v. 6). Jesus implicou aqui ser ele o Filho de Deus, apesar da idéia não ser talvez compreendida pelos ouvintes. Os lavradores pensavam que matando o herdei­ ro (representando Jesus?) eles ficariam com a vinha. IV, VI) O dono destruiu os lavradores e passou a vinha a outros (cf. levar o evangelho aos gentios, At 13:46; 18:6; 28:28). Tal não aconteça! (usado em outro ponto apenas por Paulo no Novo Testamento) pode indicar a aversão do povo pelos lavradores, ou pode significar que eles com­ preenderam as implicações da parábola com relação a Israel (v. 19). (VII) (17,18) O Salmo 118:22 é também citado em Atos 4:11 e 1 Pedro 2:7 (cf. também Is 8:14; Dn 2:34,44). Pedra


l^Naquela mesma hora os escribas e os principais sacerdotes procuravam lançar-lhe as mãos, pois perce­ beram que em referência a eles dissera esta parábola; mas temiam o povo. 20 Observando-o, subornaram emissários que se fingiam de justos para verem se o apanhavam em alguma pala­ vra, a fim de entregá-lo à jurisdição e à autoridade do governador. 21 Então o consultaram dizendo: Mestre, sabemos que falas e ensinas retamente, e não te deixas levar de respeitos humanos, porém ensinas o caminho de Deus segundo a verdade; 22 é lícito pagar tributo a César, ou não? angular poderia referir-se à pedra na base do canto, ou à última pedra colocada na parte de cima dele. O ponto de Jesus era que se as coisas não eram como ele dizia, como poderiam eles explicar o texto, que ele usou como ilustra­ ção do ponto destacado na parábola? O v. 18 enfatizou a finalidade do juízo de Deus e mostrou aos ouvintes que deviam tomar cuidado, pois as coisas não seriam aquilo que pareciam. Em análise final, a oposição ao Messias mostrou-se destrutiva. (Cf. 7:23.) (IV, VII) A Q uestão do Tributo a César, 20:19-26 (Mt 21:15-22; Mc 12:12-17) (19, 20) A hierarquia estava experimentando conside­ rável frustração por essas coisas serem ditas em referên­ cia a eles em público e por não poderem aprisionar Jesus (veja 19:48; 22:2; cf. At 5:26). Nesta segunda controvér­ sia com Jesus, eles tentaram embaraçá-lo com um dile­ ma, como ele os em baraçara com outro (1-8), e enredá-lo em uma declaração sediciosa. Apesar de não gostarem das autoridades romanas, fariam uso de qualquer meio para se livrarem de Jesus. Enviaram pois emissários (a palavra só se encontra aqui no Novo Testamento) que se fingiam de justos (veja notas sobre justo em 1:16). (21, 22) É interessante que Jesus tenha dito tão pouco


23 Mas Jesus, percebendo-lhes o ardil, respondeu: 24 Mostrai-me um denário. De quem é a efígie e a inscrição? Prontamente disseram: De César. Então lhes recomendou Jesus: 25 Dai, pois, a César, o que é de César, e a Deus o que é de Deus. 26Não puderam apanhá-lo em palavra alguma diante do povo; e, admirados da sua resposta, calaram-se. 27Chegando alguns dos saduceus, homens que dizem não haver ressurreição, 26perguntaram-lhe: Mestre, Moisés nos deixou escrito que, se morrer o irmão de alguém, sendo casado, e contudo não deixar filhos, seu irmão case com a viúva e suscite descendência ao falecido. num sentido político que foi preciso perguntar qual a sua posição. Se tivesse respondido negativamente, podia ser acusado de sedição. Se positivamente, perderia seguido­ res. Se os seus adversários não pudessem apanhá-lo na primeira acusação, poderiam pelo menos lançar uma barreira entre ele e os discípulos. (VI) (23-26) Jesus mostrou de novo conhecer os corações dos homens (III). As moedas que ainda existem do tempo de Jesus levam a imagem de César (Tibério). O erro dos críticos de Jesus era supor que fidelidade a César e a Deus eram alternativas que excluiam uma à outra. O que Jesus estava dizendo, na verdade, era que se estavam dispostos a aceitar o dinheiro de César e fazer uso dele, estariam obrigados a aceitar os seus impostos (cf. Rm * 13:1-7; 1 Pe 2:13-17). A tentativa de desacreditar Jesus tinha falhado, e os inquiridores não só deixaram de apanhá-lo, como também passaram pelo embaraço de não poder replicar ao seu argumento. (VI) A Questão Relativa à Ressurreição, 20:27-40 (Mt 22:23­ 33; Mc 12:18-27) (27, 28) Esta foi a terceria controvérsia de Jesus, mas seu primeiro envolvimento com os saduceus (cf. At 4:1; 5:17; 23:6-8). Sua negativa da ressurreição não era o


29 Ora, havia sete irmãos: o primeiro casou e morreu sem filhos; 30o segundo e o terceiro também desposaram a viúva; 31 igualmente os sete não tiveram filhos, e morreram. 32 Por fim morreu também a mulher. 33 Esta mulher, pois, no dia da ressurreição, de qual deles será esposa? porque os sete a desposaram. maior ponto de discórdia entre eles e os fariseus, mas, sim, a negativa por parte dos saduceus da autoridade obrigatória da tradição oral. Desde que os fariseus concordavam em que a doutrina da ressurreição não fazia parte da lei escrita, os saduceus mantinham que ela não era obrigatória, não tinha autoridade. Eles então faziam charadas a respeito da ressurreição com o fim de em baraçar os fariseus. Todavia, Josephus indica (Anti­ quities XVIII, i, 17) que quando os saduceus se tornaram magistrados eles se conformaram, pelo menos exterior­ mente, aos pontos de vista farisaicos, a fim de serem tolerados pelo povo. Ao que parece, os interesses políti­ cos geralmente se sobrepunham aos religiosos para eles. (29-32) Esta situação bastante improvável era basea­ da na lei do levirato dada em Deuteronômio 25:5-10 (veja também Gn 38:8). O texto aqui dá'a substância, em lugar das palavras exatas, da passagem do Velho Testamento. (33) A questão aparentemente supunha que a doutri­ na da ressurreição não poderia ser verdadeira caso apresentasse problemas insuperáveis. A questão era mais para fazer de Jesus um contraste para as alegações dos saduceus. Todavia, se não tivesse respondido pode­ ria causar embaraço e uma diminuição dos seus seguido­ res. O dilema era igualmente eficaz contra o ponto de vista comum de que a vida ressurreta era uma extensão desta vida. Uma resposta tinha sido na verdade prepara­ da por aqueles com quem os saduceus discutiam. Ela deveria ser esposa do primeiro irmão. Jesus poderia ter dado essa resposta, exceto que tinha coisas a dizer sobre o erro do seu entendimento básico sobre a ressurreição. (VI)


34 Então lhes acrescentou Jesus: Os filhos deste mundo casam-se e dão-se em casamento; 35 mas os que são havidos por dignos de alcançar a era vindoura e a ressurreição dentre os mortos, não casam nem se dão em casamento. 36 Pois não podem mais morrer, porque são iguais aos anjos, e são filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição. 37 E que os mortos hão de ressuscitar, Moisés o indicou no trecho referente à sarça, quando chama ao Senhor, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó. 38 Ora, Deus não é Deus de mortos, e, sim, de vivos; porque para ele todos vivem. (34-36) Jesus indicou que o dilema deles era irrelevan­ te. Sua resposta autoritária deve ter surpreendido os adversários. Ele indicou que a abolição da morte signifi­ cava a abolição do casamento. Os homens são parte deste mundo pelo nascimento físico e parte da era vindoura pela ressurreição. Apesar de não ser necessá­ rio ao seu argumento, Jesus acrescentou o comentário sobre anjos como uma nova refutação da teologia dos saduceus (que negava a existência de anjos, At 23:8). O ponto em destaque era a imortalidade dos anjos, e não o fato de serem assexuados ou a sua imaterialidade. (II, VII) (37, 38) Jesus respondeu a pergunta sobre a mulher e a seguir passou a provar a ressurreição no próprio campo dos saduceus. O trecho referente à sarça ( ê x 3:1-6) era provavelmente uma maneira conveniente de localizar a passagem, desde que a Bíblia não tinha capítulos e versículos nos dias de Jesus (cf. Rm 11:2; Hb 4:7). Uma prova extraída do Pentateuco representava um apelo à maior fonte de autoridade para os saduceus. Os mortos podiam ter um criador e um governante, mas somente os entes vivos poderiam ter um Deus. Assim sendo, argumentou Jesus, Abraão, Isaque e Jacó estavam vivos quando Deus falou com Moisés. Isto só poderia acontecer se eles tivessem vida depois da morte física, o que implicava na sua ressurreição. Ou, se não tivessem


39 Então disseram alguns dos escribas: Mestre, respon­ deste bem. 40Dali por diante não ousaram mais interrogá-lo. 41 Mas Jesus lhes perguntou: Como podem dizer que o Cristo é filho de Davi? 42 Visto como o próprio Davi afirma no livro dos Salmos: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, 43até que eu ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés. 44 Assim, pois, Davi lhe chama Senhor, e como pode ser ele seu filho? sido ressuscitados, viriam a sê-lo, e tinham assim vida em perspectiva, se não na realidade. JDs rabis tinham argumentos semelhantes para a ressurreição dos mortos. Porque para ele todos vivem é algo verdadeiro em relação aos homens no que se refere a Deus (cf. Rm 14:8). A declaração pode também significar que o propósito da existência do homem é viver para Deus, e esta vida é muito curta para realizar esse propósito. (39, 40) Os escribas que discordavam dos saduceus ficaram provavelmente satisfeitos por Jesus tê-los refuta­ do. Esta é a última controvérsia apresentada por Lucas, e assim as palavras do v. 40 encerram a seção começando com o versículo um do capítulo. As controvérsias de Jesus não só falharam em desacreditá-lo, como na verdade mostraram sua grandeza como professor, sua habilidade no debate, e sua autoridade. Ele certamente não podia ser vencido pela retórica. (VI) O Filho de Davi, 20:41-44 (Mt 22:41-46; Mc 12:35-37) (41-44) Jesus mostrou aqui que se eles não compreen­ diam a verdadeira natureza do messiado, não estavam qualificados para julgá-lo. Ele pode ter apresentado este problema por sentir que alguns de seus ouvintes podiam ser convencidos (veja v.39). Sua citação do Salmo 110:1 (também citado em At. 2:34; e Hb 1:13) foi considerada


45 Ouvindo-o todo o povo, recomendou Jesus a seus discípulos: 46Guardai-vos dos escribas, que gostam de andar com vestes talares, e muito apreciam as saudações nas praças, as primeiras cadeiras nas sinagogas e os primei­ ros lugares nos banquetes; 47os quais devoram as casas das viúvas e, para o justificar, fazem longas orações; estes sofrerão juízo muito mais severo. messiânica. O primeiro Senhor era Deus, e o segundo, o Messias. Como poderia o Messias ser tanto Senhor como filho de Davi? Eles ficaram confusos porque não espera­ vam que o Messias fosse divino, ou, pelo menos, maior do que Davi. Jesus tinha passado para um nível superior de realidade, além daquele reconhecido pelos seus oponen­ tes. Sobre Cristo, veja notas em 1:11. {IV, V, VII) Jesu s Censura os E scribas, 20:45-47 (Mt 23:1,6; Mc 12:37-40) (45-47) As vestes eram trajes resplendentes, acadê­ micos e clericais. As primeiras cadeiras nas sinagogas eram as que ficavam na frente, olhando para a congrega­ ção (veja Tg 2:2). Os primeiros lugares nos banquetes eram os divãs na mesa do hospedeiro (cf. 14:7-11). Existem várias sugestões relativas à expressão “casas das viúvas”. Eram propriedade das viúvas dedicadas ao serviço do templo; ou propriedades administradas pelas autoridades do templo; ou ricos presentes que os líderes ganhavam das viúvas ricas por sua pretensa piedade; ou a hospitalidade dessas mulheres que os escribas explora­ vam. Especialmente censurável era o emprego de atos piedosos para disfarçar a extorsão e a rapacidade. Assim sendo, em lugar da maior consideração que podi­ am esperar ou que o homem comum poderia supor que receberiam como líderes religiosos, eles sofreriam juízo muito mais severo. O juízo muito mais severo pode significar maior do que o louvor que estavam então


1 Estando Jesus a observar viu os ricos lançarem suas «ofertas no gazofílácio. 2 Viu também certa viúva pobre lançar ali duas pequeni­ nas moedas; 3 e disse: Verdadeiramente vos digo que esta viúva pobre deu mais do que todos. 4 Porque todos estes deram como oferta daquilo que lhes sobrava; esta, porém, da sua pobreza deu tudo o que possuía, todo o seu sustento. recebendo, ou maior em proporção à sua hipocrisia. Sobre orações, veja 1:10. Essas palavras inflexíveis aguçaram a inimizade en­ tre Jesus e os líderes religiosos, preparando o cenário para os acontecimentos que levaram à cruz. (III, VII, VIII) A O ferta da Viúva, 21:1-4 (Mc 12:41-44) (1-4) A viúva contrasta agudamente com os escribas de 20:47 que devoravam as casas das viúvas. O gazofílá­ cio era composto de treze caixas com boca em forma de trombeta que ficavam no Pátio das Mulheres. Em cada uma estava escrito o propósito para o qual seria usado o dinheiro colocado na mesma. As pequeninas moedas (veja 12:59) eram as menores moedas gregas em circula­ ção. A história demonstra que a verdadeira generosida­ de não deve ser medida pela quantidade mas pelo motivo (veja 2 Co 8:12). Ela foi louvada, enquanto os ricos não foram condenados nem elogiados. A dádiva da mulher representava um verdadeiro sacrifício. Sobre pobre, veja notas em 4:18. Sobre ricos, veja notas em 6:24. (III, VIII) P rofecia so b re a D estruição do Templo, 21:5-7 (Mt 24:1-3; Mc 13:1-4) Este capítulo fala da destruição de Jerusalém e da parousia (a segunda vinda) do Filho do homem. A chave


para uma melhor compreensão é perceber a intenção de Jesus em seu discurso. O Senhor estava principalmente interessado em encorajar os discípulos a perseverarem na fé, especialmente em vista dos tempos difíceis que viriam antes do fim. Eles deviam estar na verdade preparados! Note especialmente as exortações nos vs.8, 9,13-15,19,21,28,34 e 36. Ele ofereceu uma descrição das coisas que estavam para vir, grande parte da qual foi feita na linguagem de estilo poético-simbólico caracterís­ tica dos escritos do Velho Testamento, tal como em Daniel 7-12, Ezequiel 38-48, e Zacarias 9-14. Elementos deste estilo literário são vistos nos temas da apostasia, tribulação, e nas dimensões nacionais e cósmicas do mal, que são um prelúdio para a vitória final na vinda do Filho do homem (v. 28). Assim sendo, a descrição do futuro feita por Jesus não era uma tabela de acontecimentos a ser interpretada com exatidão literal (apesar de poder haver cumprimento literal em alguns casos), mas sim uma indicação dos tipos de acontecimentos que iriam caracterizar os últimos dias (At 2:17) até a volta do Senhor e que poderiam pôr em perigo a fé possuída pelos seus seguidores. Tentar dispô-las em ordem cronológica não refletiria o propósito do evangelho. De fato, os acontecimentos desde a destruição de Jerusalém até a parousia (25-28) parecem ser passados num telescópio, pois Jesus não estava interessado no tipo de ocorrência, mas na ocasião da mesma. Suas palavras introdutórias sobre o templo (v. 6) destinavam-se a introduzir o tema mais amplo das dificuldades que viriam antes do fim e para encorajar os santos a enfrentá-las fielmente. A queda de Jerusalém era apenas uma dessa série de dificuldades. O discurso teria também um significado especial para os leitores de Lucas. Se o livro foi escrito depois de Jerusalém ter sido destruída (veja introdução), então os leitores saberiam que os sinais dos últimos tempos já estavam sendo cumpridos. De fato, eles poderiam ver tudo o que foi descrito nos vs. 8-24 como tendo ocorrido. Eles achariam assim que as exortações diziam respeito


^Falavam alguns a respeito do templo, como estava ornado de belas pedras e de dádivas; 6então disse Jesus: Vedes estas cousas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra, que não seja derrubada. 7Perguntaram-lhe: Mestre, quando sucederá isto? e que sinal haverá de quando estas cousas estiverem para se cumprir? ^Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não vos assusteis; pois é necessário que primeiro aconteçam estas cousas, mas o fim não será logo. às suas próprias necessidades, e veriam nos aconteci­ mentos testemunhados uma confirmação da verdade da palavra de Deus sobre a história. Deus estava agindo! O cumprimento iria assegurar a p arou sia eventual, com sua esperança de redenção e a revelação mais completa do reino. E se estavam desapontados porque o Senhor ainda não viera, essas palavras serviriam para preparálos para uma espera mais longa (cf. v.9]. (5-7) A declaração de Jesus relativa ao templo foi um clímax chocante à seqüência de acontecimentos referen­ tes ao templo daqueles dias (cf. Jr. 26:6; Mc 14:58; 15:29; Lc. 19:44; At 6:14). A estrutura que ocasionou tanta admiração foi completamente renovada de 19 A.C. — 64 A.D. As pedras que não tinham sido recobertas de ouro ou prata eram tão brancas que o conjunto se assemelha­ va à distância a um pico nevado de montanha. Elas eram enormes, algumas tinham mais de doze metros de altura. Jesus não explica porque a cidade seria derrubada até o v.22. O sinal indicando quando seria a queda de Jerusa­ lém não é dado até o v. 20. (VI, VII) Os Sinais Antes do Fim, 21:8-11 (Mt 24:4-8; Mc 13:5-8) (8, 9) Depois do princípio das perseguições (12-19) e antes do fim (9), apareceriam falsos Messias e haveriam notícias de guerras e revoluções. Os que consideram


lOEntão lhes disse: Levantar-se-á nação contra nação, e reino contra reino; Hhaverá grandes terremotos, epidemias e fome em vários lugares, cousas espantosas e também grandes sinais no céu. 12 Antes, porém, de todas estas cousas, lançarão mão de vós e vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e aos cárceres, levando-vos à presença de reis e governado­ res, por causa do meu nome; 13e isto vos acontecerá para que deis testemunho. l^Assentai, pois, em vossos corações de não vos perocupardes com o que haveis de responder; iSporque eu vos darei boca e sabedoria a que não poderão resistir nem contradizer todos quantos se vos opuserem.

o fim como a destruição de Jerusalém encaixam os detalhes de 8-17 an tes do an o 70 A.D., enquanto os que o vêem como o final do mundo exercitam uma latitude histórica maior. O ponto da passagem é o encorajamento para vigiar a fim de não ser desviado. (VIII) (10, 11) Estes eram outros sinais, que também prece­ deriam provavelmente o fim. Desde que Lucas não torna clara a exata ligação histórica desses versículos (exceto que seguem o começo das perseguições), é preciso caute­ la em interpretá-los. Sua natureza pode ser perfeitamen­ te simbólica, indicando tempos difíceis em um mundo que perseguia os discípulos (vs. 12-19). Epidemias e fome representa um jogo de palavras em grego (loim oi e limoi). As Perseguições, 21:12-19 (Mt 24:9-14; Mc 13:9-13) (12, 13) Em tempos de perseguição os discípulos deveriam dar testemunho de sua fé. Novamente o propó­ sito é eminentemente prático. A respeito desses versícu­ los compare João 16:2 e Atos 25:24. (14,15) Eles não deveriam preocupar-se, desde que a verdadeira fonte de suas palavras seria Jesus (eu no v. 15 está na posição enfática; cf. Lc 12:11). Ele daria sem


16e sereis entregues até por vossos pais, irmãos, paren­ tes e amigos; e matarão alguns dentre vós. 17De todos sereis odiados por causa do meu nome. 18Contudo, não se perderá um só fio de cabelo da vossa cabeça. 19é na vossa perseverança que ganhareis as vossas almas. 20 Quando, porém, virdes Jerusalém sitiada de exércitos, sabei que está próxima a sua devastação. 2lEntão os que estiverem na Judéia fujam para os montes; os que se encontrarem dentro da cidade, reti­ rem-se; e os que estiverem nos campos não entrem nela. 22porque estes dias são de vingança, para se cumprir tudo o que está escrito. dúvida palavras, coragem, e uma apresentação eficaz (cf. At 4:8,13; 6:3,10). (IV)

(16-19) Nessa época terrível até mesmo os laços mais próximos seriam ignorados, e o preço a ser pago pelo discipulado seria a morte (cf. Jo 15:18-25; Lc 12:52; 14:26). À luz do v. 16, o v. 18 deve ser tomado como significan­ do que mesmo que os discípulos sofressem a morte física eles não seriam destruídos, porque Deus os salvaria. Isto implicava na ressurreição ou vida eterna que os santos receberiam na volta do Senhor. Essas palavras deveriam sustentar a igreja em seu sofrimento. (II, VI, VII) Jeru salém C ercad a p elos Exércitos, 21:20-24 (Mt 24:15­ 22; Mc 13:14-20

(20,22) Este parágrafo se refere à destruição de Jerusalém (veja notas em 2:22), em resposta ao pedido de um sinal (v. 7). O que Mateus e Marcos chamam de “o abominável da desolação” (Dn 9:27; 12:11), Lucas retra­ ta como o cerco da cidade pelos exércitos romanos. O acontecimento marcou o fim de uma velha ordem, orien­ tada em termos do templo. Euzébio, Church History III,


23Ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias! porque haverá grande aflição na terra, e ira contra este povo. 24Cairão ao fio da espada e serão levados cativos para todas as nações; e, até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém será pisada por eles. v.3 fala de cristãos fugindo em segurança para Pella (do outro lado do Jordão, a sudeste do Mar da Galiléia) antes da queda da cidade. A queda da cidade eram os dias de vingança — do juízo de Deus sobre um povo desobediente. Isto cumpria o que estava escrito, pois Jerusalém tinha desobedecido à aliança deuteronômica, e tinha de ser punida. Veja Deuteronômio 32:35; Oséias 9:7 e Jeremias 5:29 onde a linguagem do juízo fornece o fundamento para as pala­ vras de Jesus. Por causa do seu interesse em Jerusalém, Lucas dá maior atenção à sua destruição do que os demais evangelhos. (VI] (23, 24) Os toques seguintes de Lucas retratam o horror de uma nação espalhada pela ira de Deus (cf. Dt 28:64). O cerco seria mais duro para as mulheres grávi­ das, e as que estivessem amamentando. Josephus disse que 1.100.000 pereceram no cerco da cidade e 97.000 foram levados cativos. Este total, por ser tão grande, tem sido posto em dúvida. Durante muitos anos depois de 70 A.D., nenhum judeu teve permissão para entrar na cidade ou mesmo permanecer nas vizinhanças. Os ju­ deus, no aniversário da sua destruição, se lamentavam nas colinas vizinhas. Os primeiros a voltarem foram os judeus cristãos de Pella. A expressão tempos dos gentios tem apresentado certa dificuldade aos intérpretes. As explicações incluí­ ram: (1) o período em que os gentios teriam as mesmas oportunidades espirituais uma vez concedidas aos judeus (Mc 13:10; Rm 11:25; cf. Lc 20:16); (2) a época em que Deus executaria o seu juízo sobre os judeus; (3) o período em que os gentios permaneceriam na terra; e (4) a época em que os próprios gentios iriam ser submetidos ao


25 Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas; sobre a terra, angústia entre as nações em perplexidade por causa do bramido do mar e das ondas; 26haverá homens que desmairão de terror e pela expec­ tativa das cousas que sobrevirão ao mundo; pois os poderes dos céus serão abalados. 27Então se verá o Filho do homem vindo numa nuvem, com poder e grande glória. 280ra, ao começarem estas cousas a suceder, exultai e erguei as vossas cabeças; porque a vossa redenção se aproxima. julgamento divino. Mas uma explicação mais simples é que se trata do período em que os gentios estariam de posse de Jerusalém (veja notas em 2:22). (VII) A Vinda do Filho do Homem em Glória, 21:25-28 (Mt 24:29-31; Mc 13:24-27) (25, 26) Este parágrafo dá outros sinais e descreve um segundo ato decisivo de Deus — a vinda do Filho do homem (veja notas em 5:24; cf. 17:20-37; 21:9). Nenhuma indicação é dada sobre a relação de tempo existente entre a destruição de Jerusalém e a segunda vinda, salvo que a última deve evidentemente seguir a primeira. Ambos os atos de Deus iriam envolver o final de uma ordem e julgamento. As imagens são semelhantes às do v. 11. A linguagem é melhor compreendida simbolicamente (para linguagem similar veja Is 13:10; 34:4; Ez 32:7; Joel 2:10; Amós 8:9; e Sf 1:15). Jesus não estava dando um programa para a determinação de quando ele viria (cf. 21:34), não obstante o v.28. Os poderes dos céus (cf. Hb 12:26) com toda probabilidade se referem aos corpos celestiais. (27, 28) Exultai no v. 28 é usado aqui somente no Novo Testamento no sentido de alegria depois da tristeza. Sobre redenção compare Atos 2:38; Romanos 8:23; e Efésios 4:30. Ao começarem essas cousas poderia ser o início dos sinais, mesmo voltando ao v.8. Quando os seus segui­ dores anos mais tarde vissem o cumprimento das palavras


29 Ainda lhes propôs uma parábola, dizendo: Vede a figueira e todas as árvores. 30Quando começam a brotar, vendo-o, sabeis por vós mesmos que o verão está próximo. 3lAssim também, quando virdes acontecer estas cousas, sabei que está próximo o reino de Deus. 33passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão.

de Jesus, eles saberiam que a sua promessa de voltar seria mantida. E os que estavam com Jesus quando falou, poderiam ganhar ânimo, pois apesar de todas as aparên­ cias em contrário ele voltaria. Sobre Filho do homem veja notas em 5:24. (I, II, IV, V, VII) A P aráb ola da Figueira, 21:29-33 (Mt 24:32-36; Mc 13:28-32) (29-31) O reino de Deus é mencionado agora pela primeira vez no contexto (v. 31). Há problemas neste versículo para a determinação do significado de estas cousas e está próximo. A interpretação dada a essas palavras está ligada à significação da expressão reino de Deus. Em Mateus e Marcos, em lugar de reino de Deus os textos dizem: “está próximo, às portas”. Isto se refere à p arou sia, e Lucas indica por reino a sua manifestação mais ampla quando o Senhor voltar (apesar de Lucas mostrá-lo como já presente num sentido real — veja notas em 1:33). Então, essas coisas seriam os sinais do fim (vs. 25-27), mas poderiam ser sinais de todo o período do fim ou os últimos dias (Atos 2:17). Está próximo então seria um paralelo de a “redenção se aproxima” do v. 28. A proximidade não tem um significado cronológico. (VII) (32, 33) A interpretação desta passagem depende do significado de geração e tudo. Geração deve significar mais do que os que estavam vivos quando Jesus falou ou, caso negativo, tudo deve incluir apenas aqueles aconte­ cimentos que não estão ligados à parousia de que Jesus


34 Acautelai-vos por vós mesmos, para que nunca vos suceda que os vossos corações fiquem sobrecarregados com as conseqüências da orgia, da embriaguez e das preocupações deste mundo, e para que aquele dia não venha sobre vós repentinamente, como um laço. 35p0is há de sobrevir a todos os que vivem sobre a face de toda a terra. 36vigiai, pois, a todo tempo, orando, para que possais escapar de todas estas cousas que têm de suceder, e estar em pé na presença do Filho do homem. falou neste capítulo. A alternativa seria dizer que Jesus esperava que seu retorno fosse iminente, o que iria contrariar Mateus 24:36 e M arcos 13:32. As explicações geralmente trataram da palavra geração. As interpreta­ ções cronológicas sugeriram: (1] A geração de Jesus; ou (2) a geração dos sinais do fim. As explicações nãocronológiças sugeriram: (1) crentes: (2) judeus incrédu­ los; ou (3) humanidade. Ellis argumenta convincentemen­ te a favor do segundo dos significados cronológicos e sustenta que o período dos sinais do fim se estende através de toda a idade cristã, desde o período da préressurreição até a segunda vinda. O ponto de vista de Ellis oferece uma explicação satisfatória da passagem, i.e., os últimos dias irão continuar até que todos os sinais sejam cumpridos. Todavia, não se pode pretender ser dogmáti­ co com matéria dessa espécie. O v.33 empresta segurança ao que Jesus tinha dito. Se os homens fossem colocar sua confiança na estabilidade do céu e da terra, seu fundamento seria menos seguro do que as palavras de Jesus (cf. 16:17). O discípulo tem grande segurança! A N ec essid a d e da P rep a ra çã o , 21:34-36 (34-36) Orgia refere-se à repugnância sentida após um ato de libertinagem e é usada somente aqui no Novo Testamento. O laço indicava originalmente aquilo que mantinha unido. O juízo do v. 35 e seguinte seria univer-


37 Jesus ensinava todos os dias no templo; mas à noite, saindo ia pousar no monte chamado das Oliveiras, 38e todo povo madrugava para ir ter com ele no templo, a fim de ouvi-lo. sal, indicando que aquele dia seria a parousia. Quando Jesus referiu-se à sua volta, ele procurou impressionar os discípulos com a idéia de vigilância (veja 12:45; 17:27-37). Compare advertências similares em Mateus 24:49; Roma­ nos 13:13; e 1 Tessalonicenses 5:3. Este parágrafo reitera o ponto principal de todo o discurso de Jesus — sua intensa preocupação no sentido de que seus seguidores não se desviem. Se dividirmos este capítulo nas seguintes unidades: 5-9; 10-19; 20-24; 25-28; e 34-36, descobrire­ mos que cada uma é mais ou menos independente, e cada uma termina com a menção de um juízo vindouro ou redenção. O efeito de cada uma, portanto, é promover a vigilância e a preparação. Resum o dos Dias P assad os em Jeru salém , 21:37,38 (37, 38) Depois do v. 37 alguns manuscritos inserem João 8:2-11, talvez por causa da semelhança do v.37 com João 7:53; 8:1. Jesus provavelmente passava a noite na casa de Maria, M arta e Lázaro (cf. 22:39, sobre Oliveiras; Jo 18:2), apesar de um incidente na casa de Simão, o leproso, ser indicado por Mateus 26:6 e Marcos 14:3. Ele não passou noite alguma em Jerusalém até que foi capturado. Este é o último sumário das atividades de Jesus antes da Ceia do Senhor e da paixão. Esses versículos con­ cluem toda a seqüência das cenas do templo de 19:45 e 21:38. (VI) A PAIXÃO EM JERUSALÉM, 22:1 - 23:56 Esta seção conta a conhecida história do sofrimento de Jesus desde a Ultima Ceia até o seu sepultamento. A narrativa de Lucas apresenta vários detalhes singulares,


1 Estava próxima a festa dos pães asmos, chamada páscoa. 2Preocupavam-se os principais sacerdotes e os escribas em como tirar a vida de Jesus; porque temiam o povo. que podem ser notados pelo comentário. O evangelho continua sua descrição magistral das reações a Jesus. Em 22:3-62 os discípulos de Jesus são principalmente focalizados em suas últimas horas na terra, enfatizando a rejeição por parte deles (3-6, 21-23, 31-34, e 54-62), seu companheirismo com ele (7-13, 14-19), sua falta de entendimento a respeito dele (24-27, 47-53), e as dificul­ dades que iriam enfrentar (28-30, 35-38, e 39-46). Judas e Pedro recebem a maior parte da atenção. O capítulo 23 salienta a inocência de Jesus. O julgamento perante Pilatos, Herodes, e novamente Pilatos (três discursos); as palavras de Jesus às mulheres (28); a oração pedindo perdão (34); e as palavras do ladrão (40), tudo isso prepara para a declaração apoteótica do centurião: “Verdadeiramente este homem era justo” . A Conspiração con tra Jesus, 22:1,2 (Mt 26:1-5; Mc 14:1,2) (1, 2) A Páscoa começou no dia 14 de Nisan (nosso mês de abril), enquanto a festa dos Pães Asmos, que durava uma semana, começou no dia seguinte. Lucas combina as duas com uma explicação para os leitores não familiarizados com os costumes judeus. Lucas não deu a Páscoa como uma razão para a viagem de Jesus a Jerusalém, mas destacou a jornada como cumprindo o propósito de Jesus na terra (9:31,51; 13:22). Por que os principais sacerdotes e escribas deseja­ vam matar Jesus (veja 19:47; 20:19,26)? Várias razões eram plausíveis. Eles poderiam temer que os galileus estivessem prestes a revoltar-se, o que traria grandes dificuldades com os romanos, como João 11:48 e seguintes implicam. Eles talvez temiam o povo, pensando que pudessem lutar para proteger Jesus. Jesus tinha também embaraçado os líderes religiosos expondo as suas preten-


3 Ora, Satanás, entrou em Judas chamado Iscariotes, que era um dos doze. 4£ste foi entender-se com os principais sacerdotes e os capitães de como lhes entregaria a Jesus; 5então eles se alegraram e combinaram em lhe dar dinheiro. 6judas concordou e buscava uma boa ocasião de lho entregar sem tumulto. sões religiosas. As multidões que o seguiam poderiam significar uma diminuição dos seguidores deles. " podem ter também temido o poder que ele p a r ç i if obtendo. (VI) A T ra içã o d e Ju das, 22:3-6 (Mt 2f

)14:10)

lé Satanás (veja (3-6) Lucas retorna aqui ao notas em 10:18). Sataná: nha sido combatido desde a tentação, mas aqui ele fenipvQU/a ofensiva (veja 4:13). Veja também Atos 5:3 e KM 0, cujos casos enfatizam o poder do evangelho sobre Satanás. Tanto nas tentações como na paixãoCJ^wsdM tentado a preservar a sua vida (4:3; 22:42), a cet’‘}r ao apelo de um reino político (4:5; 22:38, 49) ' KüDir espetacularmente o seu messiado (4:9; 2^ 64 ; 0 y Luc^' apresenta Judas como o instrumento de Sata6:70; 13:2,27). Em outro ponto do evangelho desem penha um papel pouco significativo. Os i. íentaristas sempre se sentiram perplexos com relação __ ________ q___ _______ _ ____ agiu. __ sugeriram que ele fosse um mercenário. Outros acham que desiludido com a atitude política de Jesus, ele quisesse forçá-lo a dar início ao reino, sem sequer imaginar que o resultado de seus atos fosse a crucifixão. Outros sugerem que lhe faltou coragem quando viu o perigo ao redor de Jesus. Sobre alegraram veja notas em 1:14. Os capitães seriam os líderes dos levitas que guarda­ vam o templo. Somente Lucas faz menção a eles. Talvez o


7 Chegou o dia dos pães asmos em que importava come­ morar a páscoa. 8jesus, pois, enviou Pedro e João, dizendo: Ide prepararnos a páscoa para que a comamos. 9Eles lhe perguntaram: Onde queres que a preparemos? lOEntão lhes explicou Jesus: ao entrardes na cidade encontrareis um homem com um cântaro de água; segui-o até à casa em que ele entrar, H e dizei ao dono da casa: O mestre manda perguntar-te: Onde é o aposento no qual hei de comer a páscoa com os meus discípulos? 12 Ele vos mostrará um espaçoso cenáculo mobilado; ali fazei os preparativos. 13 e , indo, tudo encontraram como Jesus lhes dissera, e prepararam a páscoa. seu relato do acordo tenha sido obtido por parte de alguém que mais tarde se converteu a Cristo. Os líderes podem ter tido a intenção de aguardar até depois da festa para proceder à captura, mas mudaram de plano quando se apresentou essa boa ocasião. O pagamento era entregar Jesus sem tumulto, na ausência do povo, cuja influência sobre os atos do Sinédrio é de novo enfatizada (veja 19:39,47; 20:19,26; 21:38; 22:1]. (VI] A P r e p a ra çã o d a P áscoa, 22:7-13 (Mt 26:17-19; Mc 14:12-16] (7, 8) Lucas retrata a vida adulta de Jesus como tendo início e terminando na páscoa (2:41 e aqui] e não menciona quaisquer páscoas intermediárias. No dia dos pães asmos todo fermento era tirado de casa pela manhã. A matança dos animais para a páscoa começava cerca das três horas da tarde. Isto era feito com um ritual exato, depois do qual os animais eram devolvidos aos adoradores para a refeição da noite. A festa come­ morava tanto o êxodo (veja ê x 14:14-20] como antecipava a próxima libertação messiânica. (9-13) Jesus tinha provavelmente feito arranjos pré-


14Chegada a hora, pôs-se Jesus à mesa, e com ele os apóstolos. 15e disse-lhes: Tenho desejado ansiosamente comer con­ vosco está páscoa, antes do meu sofrimento. 16 Pois vos digo que nunca mais a comerei, até que ela se cumpra no reino de Deus. vios com relação à casa (cf. 19:31) com um simpatizante ou discípulo (note Mestre no v. 11). O homem com um cântaro de água seria facilmente notado, pois esse era um trabalho de mulher. Pode ter sido providenciado de modo que o lugar da reunião não fosse conhecido dos inimigos de Jesus. Os hospedeiros costumavam oferecer suas casas durante a festa, em troca das peles de animais e utensílios usados para a refeição. O preparo da páscoa incluiria a busca de fermento na casa e o preparo dos vários elementos da refeição. Sobre refei­ ções, veja notas em 5:27. (VI) A Instituição d a Ceia do Senhor, 22:14-20 (Mt 26:20, 26-29; Mc 14:17, 22-25) (14, 15) A refeição seria realizada depois do pôr-dosol na noite de quinta-feira. Assim como a páscoa no Velho Testamento indicava a libertação do sofrimento, esta páscoa deveria simbolizar um novo tipo de liberta­ ção, mediante o sofrimento. Jesus sabia, apesar dos discípulos não terem este conhecimento, quão próximo estava o fim. Isso todavia não diminuiu o seu desejo de fazer a refeição. Ele previu, embora com desgosto, a luta apoteótica com Satanás. O evangelho inteiro tem estado preparando o leitor para este conflito. Sobre paixão, veja notas em 9:22. (16) Estas palavras, ditas aqui a respeito de toda a refeição, são também encontradas em todos os sinópticos em referência ao cálice. O cumprimento poderia referirse a Jesus como o novo cordeiro da páscoa (1 Co 5:7) e o novo significado que a páscoa passaria então a ter — i.e., libertação do pecado (veja Mt 26:28). Jesus seria daí


17E, tomando um cálice, hevendo dado graças, disse: Recebei e reparti entre vós, 18 pois vos digo que de agora em diante não mais beberei do fruto da videira, até que venha o reino de Deus.

por diante o participante oculto na festa. Note outras referências em Lucas ligando o reino e o banquete messiânico (13:28; 14:15; 22:28-30). Sobre reino, veja notas em 1:33. (V, VII) (17, 18) Em Lucas este cálice vem antes do pão. Na celebração da páscoa parece ter havido cálices de vinho tanto antes como depois da refeição. Assim sendo, o primeiro cálice de Lucas pode estar ligado ao primeiro e o segundo cálice com o último. As palavras ditas com este primeiro cálice repetem, essencialmente, o que foi dito no v.16 e são basicamente as mesmas de Mateus e Marcos na última parte das palavras de Jesus ao ofere­ cer o cálice depois do pão. Por que a ordem em Lucas é diferente, e por que as palavras de instituição de Mateus e Marcos são divididas em duas declarações aqui? É difícil dizer. Talvez Lucas refletisse o costume de algu­ mas igrejas (uma ordem também refletida em 1 Co 10:16,21, mas veja 1 Co 11:23-25; e em D idache 9:2) e Mateus e Marcos de outras. Outros argumentam que o cálice do v. 17 não era parte da instituição na Ceia do Senhor (i.e., não simbolizava o sangue da aliança), mas um voto em separado para abster-se até a chegada do reino (sendo então primariamente uma declaração do reino) ou parte da páscoa em si. Se este ponto de vista é certo, Lucas omite então o cálice eucarístico (a não ser que 19,20 sejam admitidos como genuínos — veja discus­ são abaixo). Pode ser que a ordem dos elementos não fosse considerada importante, mas foi importante que Jesus tivesse transformado esta refeição judia devocional em um memorial perpétuo do que ele era e estava fazendo. O dar graças era tradicional. Alguns argumentam que Jesus não bebeu neste ponto, mas as palavras de agora em diante parecem implicar que ele o fez. A


19E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim. 20Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós.

perspectiva de uma refeição no reino de Deus indicava uma comunhão continuada de Jesus com seus discípulos às refeições, que eles podem ter achado difícil de conci­ liar com as predições da paixão de Jesus. Sobre reino, veja 1:33. (IV, VII] (19) As palavras de instituição de Lucas são paralelas às de 1 Coríntios 11:23-25. Novamente, a ação de graças era tradicional, assim como era o partir do pão (cf. Lucas 9:16; 24:35; Atos 2:42). A declaração de Jesus sobre o seu corpo foi bastante surpreendente, desde que estava presente com eles em pessoa (cf. 24:30). Era impossível aceitar literalmente a expressão, e portanto as palavras exigiriam que os apóstolos pensassem. O pão deveria simbolizar de alguma forma o corpo de Jesus, o seu alimento espiritual (veja 1 Co 10:16). Sobre paixão, veja notas em 9:22. Os vs. 19,20 foram colocados na nota de rodapé na “Revised Standard Version” . A leitura mais longa tem na verdade evidência manuscrita melhor do que a mais curta. Todavia, os tradutores julgaram que a leitura mais longa fosse um acréscimo harmonístico, baseado em 1 Coríntios 11:24 e inserido por algum escriba a fim de comparar Lucas a Mateus e Marcos. Eles trabalharam na premissa de crítica textual no sentido de que a leitura mais curta e simples deve ser preferida à mais longa. Os que argumentam a favor da omissão também destacam o problema dos dois cálices. O caso da inclusão de 19,20, em adição à evidência do manuscrito, está baseado em (1) a falta de qualquer mandamento para comer o pão quando esses versículos são omitidos; (2) a transição repentina do v. 19 para o 21; e (3) a ordem diferente dos


21 Todavia a mão do traidor está comigo à mesa. 22Porque o Filho do homem, na verdade, vai segundo o que está determinado, mas ai daquele por intermédio de quem ele está sendo traído! 23Então começaram a indagar entre si sobre quem seria dentre eles o que estava para fazer isto. 24 Suscitaram também entre si uma discussão sobre qual deles parecia ser o maior. 25Mas Jesus lhes disse: Os reis dos povos dominam sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados benfei­ tores. 26\fas vós não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve. 27p0is qual é maior: quem está à mesa, ou quem serve? Porventura não é quem está à mesa? Pois, no meio de vós, eu sou como quem serve. elementos. Qualquer uma dessas possibilidades é plausí­ vel, devendo ser evitado o dogmatismo. Predita a Traição, 22:21-23 {Mt 26:21-25; Mc 14:18-21) (21-23) Este é o primeiro lugar em Lucas em que Jesus indicou um discípulo como sendo o instrumento de sua morte (cf. SI 41:9). Determinado indica propósito e cum­ primento divino. Em Atos 1:16 o destino de Judas foi também determinado. Imagine a reação de Judas quando Jesus falou (cf. 17:1} e quando a discussão tomou o ca­ minho indicado no v.21. Sobre paixão, veja notas em 9:22; sobre Filho do homem, veja notas em 5:24. (VI, VII) Grandeza no Reino d e Deus, 22:24-30 (cf. Mt 20:25-28; Mc 10:42-4 5) (24-27) Lucas 9:46-48 registra um argumento anterior parecido com este. Benfeitores era um título que os reis helenistas geralmente adotavam. As palavras de Jesus inverteram os valores normais e ofereceram uma repre-


26vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tentações. 29Assim como meu Pai me confiou um reino, eu vo-lo confio, 30para que comais e bebais à minha mesa no meu reino; e vos assentareis em tronos para julgar as doze tribos de Israel. ensão ao argumento dos discípulos. A grandeza deles no reino não seria reconhecida da maneira como a grandeza é geralmente medida. Nem a liderança seria mantida nos mesmos termos que em outras esferas da vida. Lucas pode ter tido em mente alguns líderes de igreja entre os seus leitores a quem essas palavras se adaptavam espe­ cialmente. Os seus termos também incluíam uma negati­ va implícita de que o reino de Jesus fosse de uma natureza material, política. Compare João 13:4-14 com as palavras do v.27, que deveria ter tido lugar na mesma ocasião. Os atos de Jesus durante a refeição, como em todo o seu ministério, tinham sido de prestar serviço, com o maior serviço ainda por vir. Os valores dos discípulos eram então baseados nas obras do Mestre, assim como em seus ensinamentos. (IV) (28-30) Aqui, como no v. 16, foram combinadas idéias do reino e de refeições. Essas palavras foram um contra­ peso à censura acabada de proferir. Jesus seria rei, e eles teriam tronos, mas com base nos Seus padrões. Os apóstolos teriam um lugar garantido no reino porque tinham permanecido com ele nas suas tentações. Muitos se afastaram desde o período do ministério galileu. A mesa, provavelmente indicando o banquete messiâ­ nico, simbolizava bênçãos (sobre refeições, veja notas em 5:27). Os tronos não precisam ser tomados literal­ mente. Julgar pode ter o significado de que a mensagem apostólica levava com ela uma palavra de juízo em potencial, dependendo da reação de cada um à mesma. As doze tribos foram interpretadas como Israel, mas alguns argumentam a favor de uma Israel ideal, i. e ., os


31 Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo. 32Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos. 33Ele, porém, respondeu: Senhor, estou pronto a ir contigo, tanto para a prisão, como para a morte. 34Mas Jesus lhe disse: Afirmo-te, Pedro, que hoje três vezes negarás que me conheces, antes que o galo cante. remidos. A referência aos doze, desde que Judas deserta­ ria, prenunciou a escolha de M atias (Atos 1:15-26). Sobre reino, veja notas em 1:33. (IV, VI, VII) P redita a N eg ação d e Pedro, 22:31-34

(31,32) Esta passagem mostra a necessidade especia de Simão, assim como a sua oportunidade especial. O plural vos em ambos os casos no v.31 mostra que Satanás (veja notas em 10:18) tinha pedido todos os discípulos (ou talvez Judas e Simão). Mas Jesus orou por Simão (ti no v.32 é singular em ambos os casos). Compare com João 17, onde Jesus orou pelos doze. Lucas enfatiza novamente o ataque de Satanás sobre o propósito de Deiis, ao tentar interromper a comunhão entre os doze e Jesus. A oração mostrou o conhecimento que Jesus tinha do potencial de liderança de Simão. Deus o ajudaria a auxiliar os demais na resistência aos ataques de Satanás. Pareceria por algum tempo que Satanás tinha na verdade peneirado Simão (i.e., feito com que perdesse a fé), mas isto, da mesma forma que a crucificação, não passava de uma vitória ilusória. Sobre oração, veja notas em 5:12. (III, VII) (33,34) Esses dois versículos têm seu paralelo em Mateus 26:33-35 e Marcos 14:29-31. Lucas escurece o quadro. As palavras de Jesus estavam cheias de pressen­ timentos, indicando uma grave crise. Pedro, mesmo admitindo sua disposição de enfrentar a morte, não tinha realmente idéia do que o aguardava no futuro imediato (o


35 A seguir Jesus lhes perguntou: quando vos mandei sem bolsa, sem alforje e sem sandálias, faltou-vos porventura alguma cousa? Nada, disseram eles. 36Então lhes disse: Agora, porém, quem tem bolsa, tome-a, como também o alforje; e o que não tem espada, venda a sua capa e compre uma. 37pois vos digo que importa que se cumpra em mim o que está escrito: Ele foi contado com os malfeitores. Porque o que a mim se refere está sendo cumprido. 38Então lhe disseram: Senhor, eis aqui duas espadas: Respondeu-lhes: Basta. hoje de Jesus é bastante expressivo), apesar dele reco­ nhecer pela primeira vez a possibilidade da morte de Jesus. O fato de chamá-lo Pedro (significando rocha) era apropriado, desde que ele seria na verdade uma rocha (cf. Atos 2). (III, VI, VII) As Duas E spadas, 22:35-38 (35,36) Esta passagem continua a idéia das provações (vs. 28,31-34). Os discípulos deveriam estar preparados para encontrar oposição. A bolsa, alforje e sandálias são descritos na mesma linguagem que em 10:4 (cf. 9:3). (37) Esta foi outra declaração da paixão (veja notas em 9:22). Jesus, citando Isaías 53:12, indicou pela pri­ meira vez em Lucas que seria contado com os malfeitores (cf. v.52). Ele também mostrou de novo seu senso do propósito divino operando inexoravelmente em direção ao fim na sua vida. (IV, VII) (38) Os discípulos provavelmente pensaram que duas espadas seria um início para o cumprimento das pala­ vras de Jesus. A atitude posterior de Pedro (v.49) de­ monstra a sua crença em que Jesus tinha falado de defesa física. Tendo entendido Jesus em termos mate­ riais, o fato de ter-lhes respondido que duas eram o suficiente (basta) deve tê-los chocado. Ele novamente implicou a natureza apolítica do seu reino. (VI)


39 E, saindo, foi, como de costume, para o Monte das Oliveiras; e os discípulos o acompanharam. 40Chegando ao lugar escolhido, Jesus lhes disse: Orai, para que não entreis em tentação. 4lEle, por sua vez, se afastou, cerca de um tiro de pedra, e, de joelhos, orava, 42dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, e, sim, a tua. 43Então lhe apareceu um anjo do céu que o confortava. 44e, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra.

Jesus no Getsêmani, 22:39-46 (Mt 26:30,36-46; Mc 14:26, 32-42) (39,40) Jesus poderia provavelmente ter evitado a su prisão por mais tempo se assim o desejasse. Era Ele, e não Judas, nem as autoridades, que controlava a situa­ ção. Mas desde que não mais cuidava em ocultar-se, foi para o lugar costumeiro (cf. Jo 18:1). Somente Lucas contém a instrução inicial aos discípulos para que orem, de acordo com sua ênfase na oração (1:10). Jesus, neste chamado urgente, mostrou grande interesse pelos seus seguidores, apesar de sua perturbação íntima. Satanás estava aqui desejando apossar-se dos discípulos a fim de peneirá-los. (III) (41,42) Lucas dá mais ênfase do que Mateus e Marco à agonia da luta solitária de Jesus. Em nenhum outro ponto, nem mesmo em suas lágrimas sobre Jerusalém, pode-se perceber tão perfeitamente a tristeza de Jesus. Tendo dito aos discípulos que orassem para evitar as tentações, ele orou a fim de vencer a sua própria. O cálice (uma metáfora para o seu destino na vida — veja SI 11:5; Is 51:17; Jr 25:15; e Ap 16:19) incluiu aqui os ingredientes de sua paixão. Seria necessário, perguntou ele, que bebesse deste cálice a fim de beber daquele outro cálice no reino (22:18)? Mas sua submissão a Deus prevaleceu (Hb 5:7). (IV) (43,44) Como se os esforços humanos não bastassem


45Levantando-se da oração, foi ter com os discípulos e os achou dormindo de tristeza, 46e disse-lhes: Por que estais dormindo? Levantai-vos, e orai, para que não entreis em tentação. 47 Falava ele ainda, quando chegou uma multidão; e um dos doze, o chamado Judas, que vinha à frente deles, aproximou-se de Jesus para o beijar. 48jesus, porém, lhe disse: Judas, com um beijo trais o Filho do homem? para as necessidades de Jesus, o confortador angélico veio (cf. 1:11), mostrando a preocupação do Pai com a perturbação do Filho. Mas mesmo isto não resolveu o problema, como indica a oração e agonia renovadas (a palavra agonia é usada somente aqui no Novo Testamen­ to). O que mais surpreende é o suor como gotas de sangue. Apesar dos comentaristas diferirem sobre o que era isto realmente, é geralmente mantido que as pessoas podem na verdade transpirar sangue em condições ex­ tremas. Se não se tratava realmente de sangue, por que comparar o suor com ele em vez de qualquer outra coisa? (45,46) O registro de Lucas não é tão severo em relação aos discípulos como Mateus e Marcos. Dormindo de tristeza provavelmente significa que se tornaram fisicamente exaustos sob uma grande tensão mental. Quando Jesus voltou, ele advertiu-os porque sua tentação (de negá-lo) estava mais próxima, apesar da dele mesmo ter sido vencida. Através da oração foi feita a sua escolha final. O dado tinha sido irrevogavelmente lança­ do e o Gólgota era uma certeza. (III, VI)

A Prisão de Jesus, 22:47-53 (Mt 26:47-56; Mc 14:43-52) (47,48) João 13:30 e 18:2-11 registram as atividades de Judas naquela noite. No esquema de Lucas, Satanás, e não Judas, é o principal adversário. Assim sendo, uma comparação das passagens de Lucas sobre Judas com as de Mateus e Marcos, mostram Lucas diminuindo a culpa do traidor. O v. 48 quase implica que Jesus deu a Judas uma oportunidade para que se arrependesse.


49Os que estavam ao redor dele, vendo o que ia suceder, perguntaram: Senhor, feriremos à espada? 50Um deles feriu o servo do sumo sacerdote, e cortou-lhe a orelha direita. 5lMas Jesus acudiu, dizendo: Deixai, basta. E, tocandolhe a orelha, o curou. 52Então, dirigindo-se Jesus aos principais sacerdotes, capitães do templo e anciãos que vieram prendê-lo, disse: Saistes com espadas e cacetes como para deter um salteador? ^Diariamente, estando eu convosco no templo, não pusestes as mãos sobre mim. Esta, porém, é a vossa hora e o poder das trevas. As três declarações, nos vs.48,51 e 52 são distinta­ mente lucanas. É dada mais ênfase ao ensinamento do que à ação, e as declarações dão o significado da história. A afirmação do v.48 deve ter sido absolutamen­ te devastadora para Judas, caso tivesse qualquer tipo de consciência. Sobre Filho do homem, veja notas em 5:24. (VI)

(49,51) O v.49, exclusivo em Lucas, explica porque a orelha foi cortada. Pedro, que João diz ter empunhado a espada (18:10), provavelmente recordou-se (e interpre­ tou mal) as palavras de Jesus no v .36. Se o ato de violência confirmou quaisquer impressões de que Jesus e seus discípulos eram perigosos, a cura teria desfeito qualquer interpretação nesse sentido. A resposta de Jesus também corrigiu a falta de entendimento por parte de Pedro (e dos outros discípulos presentes). A cura demonstrou o amor de Jesus, a aceitação voluntária de sua missão, e sua política de não-violência. (VI) (52,53) Em 22:4 Lucas tinha mencionado os principais sacerdotes e capitães, e aqui ele nota também os anciãos (veja também 19:47; Jo 18:3). A agonia de Jesus o levara a uma notável resolução e calma. Sua pergunta parecia im­ plicar: “Qual é o meu crime, para que tenham vindo des­ sa forma?” Sua resposta, estranha para as pessoas que esperavam uma luta, indicou que ele não era a espécie


54Então, prendendo-o, o levaram e o introduziram na casa do sumo sacerdote. Pedro seguia de longe. 55e quando acenderam fogo no meio do pátio, e juntos se assentaram, Pedro tomou lugar entre eles. 56Entrementes uma criada, vendo-o assentado ao fogo, fitando-o, disse: Este também estava com ele. 57Mas Pedro negava, dizendo: Mulher, não o conheço. 58p0uco depois, vendo-o outro, disse: Também tu és dos tais. Pedro, porém, protestava: Homem, não sou. de revolucionário que tinham em mente. Ele os envergo­ nhou por se apresentarem armados em um lugar solitário, à noite, e ao mesmo tempo deu a entender a força que tinha no apoio do povo. Vossa hora, mostra Jesus nova­ mente envolvido em conflito com os agentes de Satanás e coloca os acontecimentos em uma estrutura mais ampla do que seus inimigos tinham considerado. (III) Pedro nega a Jesus, 22:54-62 (Mt 26:57, 69-75; Mc 14:53, 66-72J (54,55) Em muitos pontos dessas narrativas da pai­ xão, Lucas apresenta os discípulos a uma luz mais favo­ rável do que Mateus e Marcos. No caso presente, Lucas omite a história da fuga dos discípulos do jardim. A razão deste ponto de vista lucano, como indicado em outro ponto, é que ele vê Satanás, e não o pecado humano, como o fator principal nesses episódios. Mateus identifi­ ca a casa como sendo de_Caifás. (56-58) Ao que parece, a conversa do redor do fogo veio a centralizar-se em Jesus. A declaração da criadá pode ter indicado que Pedro, assim como João, estava com Jesus, desde que João se achava também presente (Jo 18:15-17). Ironicamente, uma simples criada foi o instrumento pelo qual o auto-confiante Simão foi levado a uma negativa, por sentir-se atemorizado. Por que Pedro negou Jesus? Foi de medo, de vergonha? Ele provavel­ mente mantinha ainda uma visão do reino que não tinha lugar para um Messias crucificado (veja Atos 1:6). No esquema de Lucas o poder de Satanás era porém a causa


59e , tendo passado cerca de uma hora, outro afirmava, dizendo: também este verdadeiramente estava com ele, porque também é galileu. 60Mas Pedro insistia: Homem, não compreendo o que dizes. E logo, estando ele ainda a falar, cantou o galo. 61 Então, voltando-se o Senhor, fixou os olhos em Pedro, e Pedro se lembrou da palavra do Senhor, como lhe dissera: Hoje três vezes me negarás, antes de cantar o galo. 62Então Pedro, saindo dali, chorou amargamente. 63 Os que detinham Jesus zombavam dele, davam-lhe pancadas e, 64vendando-lhe os olhos, diziam: Profetiza-nos quem é o que te bateu. 65e muitas outras cousas diziam contra ele, blasfeman­ do. final (31-34). Nesta negativa, a palavra de Jesus foi cumprida apesar dos protestos de fidelidade que Pedro fizera anteriormente ao Senhor (33). (59,60) Mateus indica que Pedro foi traído pelo seu sotaque. Os galileus falavam de maneira diferente. Ma­ teus e Marcos dizem que Pedro praguejou e jurou, negando absolutamente conhecer Jesus, enquanto Lucas não é tão severo. Lucas adiciona drama, notando que estando ele ainda a falar cantou o galo. Pedro, chamado a negar a si mesmo, negou pelo contrário ao Senhor. O julgamento de Pedro forma um fundo irônico para o julgamento de Jesus. Todavia, mesmo com as suas nega­ tivas, Pedro se interessava o bastante por Jesus para ficar junto dele, o que não pode ser dito com relação aos outros apóstolos, salvo João. (III) (61,62) Somente Lucas menciona esta cena pungente. É possível que Jesus estivesse em algum lugar da casa, numa porta ou janela, ou numa varanda, de onde visse Pedro, quer tenha ou não ouvido suas palavras. Há grande drama no olhar de Jesus e na recordação de suas palavras por parte de Pedro. O remorso caiu como um raio sobre o apóstolo, fazendo-o chorar amargamente.


que amanheceu, reuniu-se a assembléia dos anciãos do povo, assim os principais sacerdotes como os escribas, e o conduziram ao Sinédrio, onde lhe disseram: 67Se tu és o Cristo, dize-nos. Então Jesus lhes respondeu: Se vo-lo disser, não o acreditareis; 68também, se vos perguntar, de nenhum modo me res­ pondereis. 69Desde agora estará sentado o Filho do homem à direita do Todo-poderoso Deus. 66Logo

Lucas provavelmente focalizou a luta de Pedro por ser ele mais tarde mostrado como figura central em Atos. (VI, VII) Jesus Perante o Sinédrio, 22:63-71 (Mt 26:67, 63-66; Mc 14:65, 61-64) (63-65) Jesus foi submetido a zombarias devido ao seu desempenho profético. Marcos estabelece especifica­ mente que o Sinédrio foi responsável por este tratamen­ to. Algumas das coisas preditas por Jesus foram cumpri­ das desta forma (cf. 9:22). O aspecto desumano desses acontecimentos se destaca em agudo contraste com a vítima passiva e inocente. (VI) (66-68) Mateus e Marcos mostram o julgamento como sendo feito à noite, enquanto Lucas o coloca logo que amanheceu. Ou existem dois relatos do mesmo julgamen­ to, colocados em pontos diferentes no tempo pelos evan­ gelistas, ou houve dois julgamentos separados. A ausên­ cia de muitos dos detalhes encontrados em Mateus e Marcos, e o tom mais formal de Lucas, indica que seu relato mostra uma repetição da atividade da noite ante­ rior. A assembléia noturna foi como um inquérito prepa­ ratório para a apresentação de acusações formais pela manhã. Lucas omite as referências às testemunhas fal­ sas dadas em Mateus e Marcos. Elas não seriam neces­ sárias numa segunda convocação. Quando foi feita a pergunta sobre a sua identidade messiânica, Jesus res­ pondeu de modo a demonstrar a estreiteza de mente de


70Então disseram todos: Logo tu és o Filho de Deus? E ele lhes respondeu: Vós dizeis que eu sou. 71chamaram, pois: Que necessidade mais temos de testemunho? porque nós mesmos o ouvimos da sua pró­ pria boca. seus inquiridores (cf. 20:7; Jr 38:15). Com base nos acontecimentos da noite precedente, sua resposta era justificada. Eles não queriam aceitar sua palavra com respeito à sua verdadeira natureza, nem testemunha­ riam quanto a ela se fossem chamados a identificá-lo. Por que perder tempo expondo novamente suas reivindica­ ções para aqueles que não queriam reconhecê-lo? Sobre Cristo, veja notas em 2:11. (VI) (69) A resposta de Jesus incluiu o familiar Filho do homem (veja notas em 5:24) usado em relação a si mesmo e destacou a sua exaltação. Sobre a referência à direita do Todo-poderoso, compare Salmo 110:1; Atos 2:33; 7:55; Romanos 8:34; Hebreus 1:3,13; 10:12; e 1 Pedro 3:22. Lucas dá maior ênfase à natureza de Cristo do que Mateus ou M arcos. Isto fica evidente pela questão dupla, enquanto em M ateus e M arcos as perguntas sobre Cristo e Filho de Deus são unidas em uma só. (VII)

(70,71) O Filho de Deus tem uma conotação messiâni­ ca em Lucas (veja notas em 1:35), mas à medida que os escritos de Lucas progridem surge uma mudança do título de Filho de Deus para Cristo (veja 24:26,46; e At 2:35). O Sinédrio pode estar tentando esclarecer a ambi­ güidade da conversação nos vs.67-69. Mas podem tam­ bém estar tentando confirmar uma acusação de blasfê­ mia (cf. Mt 26:65; Mc 14:63), que apesar de não signifi­ car muito para os romanos, teria algum peso em relação ao povo judeu. O inquérito da noite anterior, se é que houve dois, já tinha extraído essas identificações de Jesus. Em algum ponto do processo, quando as reivindica­ ções de Jesus tivessem sido feitas, a justiça e preocupa­ ção com a verdade teriam ditado o uso de um método pelo qual a sua veracidade pudesse ser verificada. Porém,


1 Levantando-se toda a assembléia, levaram Jesus a Pilatos. 2E ali passaram a acusá-lo, dizendo: Encontramos este homem pervertendo a nossa nação, vedando pagar tribu­ to a César e afirmando ser ele o Cristo, Rei. 3 Então lhe perguntou Pilatos: És tu o rei dos judeus? Res­ pondeu Jesus: Tu o dizes. ^Disse Pilatos aos principais sacerdotes e às multidões: Não vejo neste homem crime algum. suas declarações foram simplesmente tidas como erra­ das, sem qualquer verificação da evidência. Foi esta a injustiça do julgamento. (IV, V, VI) Jesu s P eran te Pilatos, 23:1-5 (Mt 27:2,11-14; Mc 15:1-5; cf. tam bém Jo ã o 18:19-32) (1,2) Somente Lucas registra essas acusações iniciais feitas diante de Pilatos porque a pena de morte só podia ser ratificada e executada pela autoridade romana. Desde que ele não julgaria a blasfêmia como sendo sujeita à pena de morte, os judeus precisavam apresen­ tar algumas outras acusações. As que foram dadas, exceto possivelmente a última, não foram aquelas pelas quais o Sinédrio o tinha julgado culpado (22:67-71), apesar de Ellis acreditar que os judeus também apresen­ taram a Pilatos a acusação de blasfêmia. A primeira acusação, talvez envolvendo a sedição, não era válida, e pode ter surgido de uma incompreensão popular quanto ao seu messiado. A segunda, lesus já tinha refutado especificamente (20:25). A terceira também interpretava mal as reivindicações de Jesus. O termo Rei era para interpretar provavelmente Cristo (veja notas em 2:11) a Pilatos, a fim de indicar traição contra Roma. Pilatos, porém, sabia que os judeus seguiriam um rei, em lugar de entregá-lo. lesus continuou sem fazer qualquer protesto, sabendo o que aconteceria finalmente, e estando prepa­ rado. Í3,4) Para maiores informações veja João 18:33-37.


5 Insistiam, porém, cada vez mais, dizendo: Ele alvoroça o povo, ensinando por toda a Judéia, desde a Galiléia, onde começou, até aqui. 6 Tendo Pilatos ouvido isto, perguntou se aquele homem era galileu. 7Ao saber que era da jurisdição de Herodes, estando este naqueles dias em Jerusalém, lho remeteu. Pilatos pode ter achado a resposta de Jesus pouco clara, ou ter duvidado da validade da acusação, ou ter ainda desejado em baraçar os judeus. Onde estava a evidência de qualquer insurreição? Jesus não agia como um Mes­ sias político, e Pilatos recusou-se a interpretar dessa forma a sua soberania. Lucas mostra Pilatos buscando libertar Jesus (vs. 14-16,22; cf. Mt 27:24; Jo 19:4; At 13:28), mas ele perdeu tempo e vacilou, acabando final­ mente por ceder à pressão, talvez por razões políticas. A declaração de inocência feita por Pilatos é seme­ lhante a casos posteriores em Atos onde Lucas mostra os cristãos inocentes de qualquer crime contra Roma (16: 35-39; 18:12-15; 19:28-31). (IV, V) (5) Os líderes, pouco dispostos a dispensar o caso tão facilmente, mantiveram a acusação de revolta. A pala­ vra Galiléia era especialmente significativa, desde que muitos movimentos de sedição tinham se originado ali. (V, VI) Jesus P eran te Herodes, 23:6-12

(6,7) Pilatos viu um modo de livrar-se do caso d Jesus, assim como de realizar uma reconciliação política. Herodes pode ter ido a Jerusalém para guardar a festa. Se Jesus fosse realmente um rebelde, Herodes teria conhecimento do fato. Mas se achasse Jesus inocente, a causa de Pilatos seria fortalecida. Herodes, ao que parece, não mais pensava que Jesus era João, ressusci­ tado (9:7-9). Assim também, os rumores de suas más intenções sobre a vida de Jesus (13:31), se verdadeiros, tinham desde então se modificado.


8 Herodes, vendo a Jesus, sobremaneira se alegrou, pois havia muito queria vê-lo, por ter ouvido falar a seu respeito; esperava também vê-lo fazer algum sinal. SE de muitos modos o interrogava; Jesus, porém, nada lhe respondia. lOOs principais sacerdotes e os escribas ali presentes o acusavam com grande veemência. llM as Herodes, juntamente com os da sua guarda, tratou-o com desprezo e, escarnecendo dele, fê-lo vestirse de um manto aparatoso, e o devolveu a Pilatos. 12Naquele mesmo dia Herodes e Pilatos se reconciliaram, pois antes viviam inimizados um com o outro. (8,9) Herodes estava curioso a respeito de um fazedor de milagres, e assim aparentemente não via Jesus como um revolucionário. As perguntas de Herodes podem ter sido relativas a comentários sobre Jesus ouvidos na Galiléia, sobre as acusações feitas, ou sobre a fonte do poder e autoridade de Jesus. A recusa de Jesus em responder, por mais surpreendente que fosse, pode ter feito Herodes pensar que ele não tinha defesa (cf. Mc 15:5; Jo 19:9). (10-12) Os maus tratos de Herodes a Jesus parecem ter sido causados pelas acusações veementes (a palavra é usada somente aqui e em Atos 18:28) dos judeus, ao dirigirem seu veneno contra Jesus. Lucas torna o quadro especialmente vívido, retratando os diferentes grupos (os principais sacerdotes, os escribas, Herodes e sua guar­ da). Herodes pode ter achado que Jesus estava obcecado com ilusões de grandeza sendo portanto um ótimo alvo de ridículo. O manto aparatoso provavelmente indica uma peça de vestuário como a usada caracteristicamente pelos altos oficiais e que foi colocada em Jesus para zombar de suas elevadas reivindicações. A devolução de Jesus por parte de Herodes indicou, todavia, que ele acreditava na sua inocência. A brecha entre os dois governantes pode ter sido sobre alguma disputa relativa às suas juridisções. (VI)


l^Então, reunindo Pilatos os principais sacerdotes, as autoridades e o povo, 14disse-lhes: Apresentastes-me este homem como agita­ dor do povo; mas, tendo-o interrogado na vossa presença, nada verifiquei contra ele dos crimes de que o acusais. 15 Nem tão pouco Herodes, pois no-lo tornou a enviar. Ê, pois, claro que nada contra ele se verificou digno de mor­ te. ISPortanto, após castigá-lo, soltá-lo-ei. 1?E era-lhe forçoso soltar-lhes um detento por ocasião da festa. 18Toda a multidão, porém, gritava: Fora com este! Solta-nos Barrabás! l^Barrabás estava no cárcere por causa de uma sedição na cidade, e também por homicídio. Outra Vez P eran te Pilatos, 23:13-16 (13-16) Pilatos repetiu apenas uma acusação contra Jesus, desde que as três que tinham sido feitas previa­ mente envolviam sedição. Pilatos parece ter implicado que iria processar Jesus se houvesse qualquer evidência adequada. Pilatos ofereceu castigo, pensando talvez que isso apaziguaria os judeus e eles não pediriam mais nada. O castigo era provavelmente uma surra leve, geralmente dada com intenção de advertir a vítima a ter mais cuidado no futuro. A fraqueza de Pilatos foi porém notada pelos judeus e eles insistiram até que a pena de morte fosse obtida. (VI). A Sentença de Morte, 23:18-25 (Mt 27:15-26; Mc 15:6-15) (18,19) Havia provavelmente alguma desilusão do povo com respeito a Jesus por ele não ter estabelecido um reino material, mas isso dificilmente bastaria para que o povo clamasse pela sua morte. Desde que os líderes judeus persuadiram o povo a pedir a soltura de Barrabás (veja Marcos 15:11), eles podem ter também subornado alguns para incitar os gritos de crucifixão (v. 21). João 18:40 acrescenta que Barrabás era ladrão. A disposição de Pilatos em soltar Barrabás era uma con-


20Desejando Pilatos soltar a Jesus, insistiu ainda. 21 Eles, porém, mais gritavam: Crucifica-o! Crucifica-o! 22 Então, pela terceira vez, lhes perguntou: Que mal fez este? De fato nada achei contra ele para condená-lo à morte; portanto, depois de o castigar, soltá-lo-ei. 23Mas eles instavam com grandes gritos pedindo que fosse crucificado. 24Então Pilatos decidiu atender-lhes o pedido: 25Soltou aquele que estava encarcerado por causa da sedição e do homicídio, a quem eles pediam; e, quanto a Jesus, entregou-o à vontade deles.

cessão ao tipo de espírito que iria finalmente resultar na destruição da nação. O v. 17 foi provavelmente acrescen­ tado para reconciliar Lucas com o material em Mateus e Marcos, e a fim de preparar caminho para o v. 18. (20,21) O segundo apelo de Pilatos foi recebido com mais gritos. Muitos podem ter sido vítima da psicologia de massa, desde que parece difícil que todos eles tives­ sem tanto ódio de Jesus. A crucificação era uma espécie de morte reservada para os piores criminosos. É possível que uma outra forma de morte, menos cruel, tivesse sido aplicada a Jesus se não fosse por causa da multidão. Quando Pilatos cedeu, não foi apenas em relação à morte dele, mas também à forma que ela tomaria segundo exigido por eles. (22,23) Desta terceira vez Pilatos não só pronunciou Jesus inocente como também pediu maiores evidências, caso possível, declarando assim inválidas as acusações anteriores. Ele estava na verdade dizendo: “Ao pedir a morte, vocês estão desejando mais do que deviam. Por que não satisfazer-se com açoites?” Mas sua lógica perdeu-se. Era uma hora em que só o ruído tinha valor. A exigência repetida e espalhafatosa finalmente intimidou Pilatos, forçando-o a submeter-se (veja Mc 15:15; mas cf. também Mt 27:24; Jo 19:7,12,15). (23,25) Lucas repete as acusações contra Barrabás intensificando assim o contraste entre ele e Jesus. O destino de Jesus foi assim selado antes do ultimo processo


26 e como o conduzissem, constrangendo um cireneu, chamado Simão, que vinha do campo, puseram-lhe a cruz sobre os ombros, para que a levasse após Jesus. 27 Seguia-o numerosa multidão de povo, e também mulhe­ res que batiam no peito e o lamentavam. 28porém Jesus, voltando-se para elas, disse: Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai antes por vós mesmas e por vossos filhos. judicial que poderia tê-lo salvo, não por causa da lei e da evidência, mas devido a um governante fraco que não resistiu à pressão. (VI) O Caminho p a r a o Gólgota, 23:26-31 (Mt 27:32; Mc 15:21) (26) O costume romano era que a execução tivess lugar imediatamente após a sentença. João 19:17 diz que Jesus a princípio levou a sua cruz. Aparentemente ele não suportou o peso, e os soldados obrigaram um tran­ seunte, Simão, a fazer a tarefa. Se a cruz fosse composta tanto da trave horizontal como da transversal, elas não seriam unidas senão no lugar da crucifixão. Mas pode ter sido apenas a trave da cruz. Os filhos de Simão, Alexan­ dre e Rufus são mencionados em Marcos 15:21, indican­ do que podem ter-se tornado discípulos de Jesus. Isto abre a remota possibilidade de que seu pai também o fosse. Se assim for, pode ser ainda que ele só se tornou discípulo depois de ter carregado a cruz. Simão pode ter ido à cidade por causa da festa. (27,28) Os lamentos podem ter sido tanto de simpatia como um ato de piedade (lamentar os mortos era conside­ rado como tendo mérito religioso). Jesus não queria tanto a sua simpatia como a sua conversão. A grande tragédia não era a de Jesus mas a de Jerusalém (veja notas em 2:22). Seu sofrimento seria curto e depois o caminho da glória. O deles seria prolongado, terminando em vergo­ nha e destruição, a não ser que viessem a se arrepender. E nas agonias que viriam sobre Jerusalém, ninguém so­ freria mais do que as mães com filhos pequenos. Note quantas vezes Lucas indica o lugar das mulheres nesses


29p0rque dias virão em que se dirá: Bem-aventuradas as estéreis, que não geraram nem amamentaram. 30Nesses dias dirão aos montes: Caí sobre nós, e aos outeiros: Cobri-nos. 31Porque, se em lenho verde fazem isto, que será no lenho seco? 32 E também eram levados outros dois, que eram malfei­ tores, para serem executados com ele. 33Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, ali o crucificaram, bem como aos malfeitores, um à direita, outra à esquerda. dois últimos capítulos (23:49,55; 24:1-11) e como elas eram devotadas a Jesus. (29,30) Naquela época a sorte da mulher era melhor quando não havia filhos. Todavia a esterilidade era tida como uma maldição no judaísmo. O v.30 é provavelmente apocalíptico e não deve ser entendido literalmente (cf. Os 10:8; Ap 6:16). O significado era que ser morto por uma avalanche seria preferível ao terror e miséria do que aconteceria a Jerusalém. Sobre a queda de Jerusalém, veja 11:49-51; 13:1-9,34; 19:41-44; 21:20-24; e cf. 20:16. (31) Este ditado geralmente indicava que as circuns­ tâncias eram menos extremas do que viriam a ser. Se o lenho verde (os inocentes) que não deviam ser queimados eram queimados, que dizer do lenho seco (os verdadeira­ mente culpados)? Jesus pode estar dizendo que punição ainda maior recairia sobre os judeus no futuro, ou que a sua perversidade iria crescer mais tarde, ou que os seus discípulos passariam por sofrimentos ainda maiores. (VI, VII)

A Crucifixão, 23:32-38 (Mt 27:33-43; Mc 15:22-32) (32,33) Calvário (caveira) pode referir-se a algumas características físicas do lugar. Lucas descreveu o local pelo termo grego e não hebreu. Lucas introduz aqui os malfeitores pela primeira vez. Eles podem ter sido leva­ dos para ali pelo fato de também terem acabado de ser sentenciados. Talvez houvesse uma tentativa de associar


34Contudo Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. Então, repartindo as vestes dele, lançaram sortes. 35o povo estava ali e a tudo observava. Também as autoridades zombavam e diziam: Salvou os outros; a si mesmo se salve, se é de fato o Cristo de Deus, o escolhido. 36igualmente os soldados o escarneciam e, aproximandose, trouxeram-lhe vinagre, dizendo: 37Se tu és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo. 38jambém sobre ele estava esta epígrafe (em letras gregas, romanas e hebraicas): ESTE E O REI DOS JU­ DEUS.

Jesus com tipos dessa espécie na opinião do público. A crucifixão incorria em grande dor, dificuldade de respi­ rar e falar, dor de cabeça, incapacidade de manter os insetos à distância, insultos, e exposição aos elementos. A morte era lenta e agonizante. Uma vítima podia ficar pendurada por vários dias antes de morrer, completa­ mente enlouquecida. (34) Essas palavras, contidas apenas em Lucas, cons­ tituíam um clamor notável, especialmente quando qual­ quer esforço para falar custava sofrimento. Elas con­ firmaram o significado de tudo que Jesus tinha dito sobre o perdão (cf. 1:77 e At 7:60). Jesus salientou a ignorância daqueles por quem orava (cf At 3:17; 13:27; 17:23,30). Todos os que tomaram parte na crucifixão deixaram de compreender o verdadeiro significado dos atos de Deus em Cristo (cf. Is 53:5,12). (I, II, V) (34,35) As vestes eram aparentemente parte do paga mento pelo trabalho dos soldados (cf. Jo 19:24, onde é dada uma citação de SI 22:18). O povo, mesmo que simpatizasse com Jesus, não tentou salvá-lo pela violên­ cia ou revolta. As autoridades parecem ter tomado sua falha em salvar-se a si mesmo como prova da falsidade de suas alegações messiânicas. Sobre Cristo, veja notas em 2:11. (IV, VIII) (36-38) Lucas apresenta a completa rejeição de Jesus por vários grupos. Os soldados podem ter sido mencio-


39Um dos malfeitores crucificados blasfemava contra ele, dizendo: Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também. 4 0 R e s p o n d e n d o - l h e , porém, o outro, repreendeu-o, di­ zendo: Nem ao menos temes a Deus, estando sob igual sentença? 4lNós na verdade com justiça, porque recebemos o castigo que os nossos feitos merecem; mas este nenhum mal fez. 42e acrescentou: Jesus, lembra-te de mim quando entra­ res no teu reino. 4 3 Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso. nados para mostrar a cumplicidade de todos os homens (inclusive os gentios) na morte de Jesus e o perdão dado por ele a todos. Todavia o tempo do verbo escarneciam indica que eles eram menos persistentes do que as autoridades. Pelo fato de não compreender o seu tipo de soberania, eles podem tê-lo ridicularizado porque ne­ nhum de seus seguidores apareceu para salvá-lo. Eles podem ter também zombado dos judeus pelas suas pala­ vras. O desafio de Satanás foi repetido em sua zombaria (4:3,9). Lucas mostra que ele tinha voltado (veja 4:13), no que parecia o seu momento de vitória. Vinagre pode ter sido a posca romana, composta de vinagre, água, e ovo, costumeiramente bebida por solda­ dos e escravos. Se assim for, o oferecimento era um ato de piedade (cf. Mt 27:34; Mc 15:23). O ato era, apesar de em menor grau, ainda assim uma zombaria adicional. (IV, VI) Os Dois M alfeitores, 23:39-43 (Mt 27:44; Mc 15:33)

( 3 9 ,4 1 ) O criminoso em agonia atacou Jesus, aparen temente criticando as reivindicações do Senhor. Sua atitude aparece em agudo contraste com a oração de Jesus pedindo perdão. O segundo criminoso, penitencian­ do-se em seus últimos momentos, confessou a inocência de Jesus (cf. 23:14, 22,47).


44já era quase a hora sexta e, escurecendo-se o sol, houve trevas sobre toda a terra até à hora nona. 45e rasgou-se pelo meio o véu do santuário. 46Então Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! E, dito isto, expirou.

(42,43) O pedido do malfeitor parece implicar algum conhecimento dos ensinamentos feitos por Jesus com relação ao reino (cf. 21:27; At 1:6; veja notas em 1:33). Fazer tal pedido a um homem agonizante que parecia tudo menos rei foi um grande ato de fé. Em resposta, Jesus prometeu o paraíso ao ladrão (cf. seio de Abraão em 16:22). A palavra significava literalmente um parque ou jardim. No Velho Testamento foi usada para Éden. Em alguns elementos do judaísmo do primeiro século ela descrevia a habitação celestial da alma entre a morte e a ressurreição. A promessa do paraíso era próxima — hoje. Este é outro caso em que Lucas mudou de uma manifestação futura para uma manifestação presente do reino. (I, II, VI, VII) A Morte na Cruz, 23:44-49 (Mt 27:45-56; Mc 15:33-41)

(44,45) Mateus, Marcos e João dão outros detalhes das palavras de Jesus na cruz (veja os paralelos e João 19:26). A hora sexta seria o meio-dia. Nem Mateus, nem Marcos, nem Lucas descrevem as primeiras três horas na cruz (veja Mc 15:25). Alguns interpretavam as trevas como o lamento da natureza pela morte de Jesus. Outros a consideram um símbolo das trevas de um mundo que matou o seu Salvador; ou o peso do pecado que ele carregou. Quando o véu rasgou-se, a entrada do Lugar Mais Santo ficou exposta, e os homens puderam ver o lugar em que ninguém podia entrar senão o sumo sacerdote. Isto poderia simbolizar a abertura de um novo acesso a Deus através do sacrifício de Jesus (veja Hb 10:19). Poderia mostrar também que o templo e o seu ritual não eram mais necessários para a verdadeira adoração de Deus. (46) As palavras deste clamor são encontradas ape-


47Vendo o centurião o que tinha acontecido, deu glória a Deus, dizendo: Verdadeiramente este homem era justo. 48e todas as multidões reunidas para este espetáculo, vendo o que havia acontecido, retiraram-se a lamentar, batendo nos peitos. 49Entretanto todos os conhecidos de Jesus, e as mulheres que o tinham seguido desde a Galiléia, permaneceram a contemplar de longe estas cousas. 50 e eis que certo homem, chamado José, membro do Sinédrio, homem bom e justo 51 (que não tinha concordado com o desígnio e ação dos outros), natural de Arimatéia, cidade dos judeus, e que esperava o reino de Deus, 52 tendo procurado a Pilatos, pediu-lhe o corpo de Jesus, 53 e, tirando-o do madeiro, envolveu-o num lençol de linho e o depositou num túmulo aberto em rocha, onde ainda ninguém havia sido sepultado.

nas em Lucas (cf. Jo 19:30). A alta voz mostra que Jesus não morreu de exaustão. Entrego indica a natureza voluntária do seu sacrifício. Ele tinha feito uso da vida que lhe fora dada, realizado o seu propósito, e agora devolvia a vida a Deus. Suas palavras, extraídas do Salmo 31:5, eram a oração noturna aprendida pelos judeus desde a infância. Foi tocante que Jesus fizesse essa oração ao morrer (At 7:59). No assalto final de Satanás, quando tudo parecia perdido, Jesus entregou-se a Deus. (IV) (47) Um soldado romano compreendeu que fora feita uma injustiça. Lucas mostrou assim que tanto um crimi­ noso como um soldado aceitaram Jesus, até certo ponto. Jesus veio para todos os homens. Sobre justo (inocente), veja notas em 1:6. (48,49) Lucas retratou neste parágrafo os ladrões, o soldados, e agora as multidões. A tristeza dos especta­ dores, aparentemente maior do que a normal, pode indicar que os presentes passaram a ter um sentimento diferente sobre Jesus (como fez o centurião). Somente Lucas menciona os conhecidos. Eles, e as mulheres (cf.


54Era o dia da preparação e começava o sábado. 55As mulheres que tinham vindo da Galiléia com Jesus, seguindo, viram o túmulo e como o corpo fora ali deposi­ tado. 56Então se retiraram para preparar aromas e bálsamos. E no sábado descansaram, segundo o mandamento. 8:1-3; 23:55), podem perfeitamente ter suprido Lucas com parte desta informação. A presença do v.49 e a clareza do relato, dando alguns detalhes não encontra­ dos nos outros evangelhos, dá crédito a tal opinião. (VI) O Sepu]tamento de Jesus, 23:50-56 (Mt 27:57-61; Mc 15:42-47) (50-53) José, se foi desapontado em suas esperanças do reino (veja notas em 1:33), pelo menos se preocupou com o corpo de Jesus. João 19:38 e seguintes indica que ele era um discípulo secreto de Jesus (da mesma forma que Nicodemos). Arimatéia, a casa de José, não pode ser especificamente localizada. Todo o processo deve ter sido excessivamente difícil para José. Sobre justo, veja notas em 1:6. Aparentemente os romanos deixavam os corpos na cruz para apodrecerem. Os judeus, porém, eram conhe­ cidos pelo cuidado que tinham com os seus mortos (cf. Dt 21:22). Se José não tivesse oferecido este serviço, o corpo de Jesus poderia ter-se deteriorado consideravelmente antes do fim do sábado, pouco mais de vinte e quatro horas mais tarde. O túmulo novo (cf. Is 53:9) era a marca de um favor especial em contraste à natureza vergonho­ sa da morte. José aceitou os riscos incorridos pelo uso do sepulcro de sua família (Mt 27:60). O fato do túmulo ser novo evitou a possibilidade de confundir o corpo de Jesus com outro cadáver. O corpo foi envolvido em um lençol de linho com aromas (João 19:39). O lençol seria cortado em tiras para o sepultamento, e os aromas (v. 56) seriam provavelmente espalhados sobre ele ao ser enrolado no corpo. Este pode ter sido um preparativo inicial, a ser completado


quando as mulheres se apresentassem depois do sábado. (VI) ^ (54-56) O dia da preparação aqui parece ter sido o dia anterior ao sábado quando eram feitos preparativos a fim de que o sábado pudesse ser observado adequada­ mente. Um corpo podia ser embalsamado no sábado, mas era ilegal comprar e preparar os aromas e bálsamos, e outras coisas necessárias (sobre exigências do sábado, veja Éx. 12:16; 20:10). As mulheres, identificadas em Mateus 27:61 e Marcos 15:47 como M aria Madalena e Maria, mãe de José, foram as últimas a deixar o túmulo antes do sábado, e as primeiras a chegarem ali quando ele terminou. (VI)


A Ressurreição e Ascensão 24 : 1-53 Lucas menciona aparições após a ressurreição nos vs. 15, 34, 36 e 50 (os vs. 44 e 45 possivelmente indicam aparições separadas). Além do prodígio e significado da ressurreição em si, as ênfases desta seção, como notado no comentário, incluem um destaque da obtusidade dos discípulos (11,16,25,31,37-39,41), cumprimento (6,21,25, 32,44,45-47,49), os temas da refeição e oração (30,35), a necessidade da paixão de Cristo (7,26,46), e o Senhor ressurreto levando os discípulos a uma verdadeira com­ preensão do Velho Testamento (26,44). Os acontecimen­ tos deste capítulo levaram ao testemunho apostólico de Atos (veja 2:32; 3:15) e tornaram possível aos discípulos pregar como pregaram. O capítulo se movimenta do desespero à antecipação de uma nova história. Lucas também omite qualquer referência às aparições de Jesus na Galiléia (contraste com Mt 28:7, 10,16-20; Mc 16:7). O TÚMULO VAZIO, 24:1-11 (Mt 28:1-10; Mc 16:1-8) (1-3) A pedra, provavelmente circular, foi removida para longe da entrada do túmulo. Apesar do descanso do sábado terminar ao pôr-do-sol na tarde de sábado, as mulheres (23:55) esperaram até a manhã seguinte para ir ao sepulcro. Ao chegarem ah, sua tristeza transformouse em surpresa. O que quer que tivessem planejado devido à morte de Jesus, os seus planos foram profunda­ mente afetados pelo túmulo vazio.


iM as, no primeiro dia da semana, alta madrugada, foram elas ao túmulo, levando os aromas que haviam preparado. 2e encontraram a pedra removida do sepulcro; 3mas, ao entrar, não acharam o corpo do Senhor Jesus. ^Aconteceu que, perplexas a esse respeito, apareceramlhe dois varões com vestes resplandecentes. 5 Estando elas possuídas de temor, baixando os olhos para o chão, eles lhes falaram: Por que buscais entre os mortos ao que vive? 6Ele não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos de como vos preveniu, estando ainda na Galiléia, 7quando disse: Importa que o Filho do homem seja entregue nas mãos de pecadores e seja crucificado e ressuscite no terceiro dia. BEntão se lembraram das suas palavras. 9E, voltando do túmulo, anunciaram todas estas cousas aos doze e a todos os mais que com eles estavam. lOEram Maria Madalena, Joana, Maria mãe de Tiago; também as demais que estavam com elas confirmaram estas cousas aos apóstolos. llT ais palavras lhes pareciam um como delírio, e não acreditaram nelas. O u t r a s a u t o r i d a d e s a n t i g a s i n c l u e m o v e r s o 12 no t ex to ori g in al.

(4-5) Como aconteceu no seu nascimento, os anjos anunciaram a ressurreição de Jesus (cf. At 1:10). Esta mensagem surpreendente de que ele estava vivo oferecia uma censura branda aos que não tinham compreendido as implicações de suas palavras sobre a paixão. (IV) (6,7) Jesus tinha predito o que foi anunciado pelos anjos (9:22), mas os discípulos não conseguiram captar o seu significado. Lucas enfatiza a necessidade do sofri­ mento de Cristo (cf. vs.26,46). Assim também, ao retratar a incredulidade após-ressurreição, ele nota o tema da rejeição até o final antes de fazer soar plenamente a nota triunfante do Senhor ressurreto. Foi a partir deste ponto que uma reinterpretação do ministério e sofrimento de Jesus pôde começar para os discípulos. Quando vieram a


13 Naquele mesmo dia, dois deles estavam de caminho para uma aldeia, chamada Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios. 14e iam conversando a respeito de todas as cousas sucedidas. 15Aconteceu que, enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e ia com eles. entender perfeitamente o que Deus tinha feito em Cristo, esse fato produziu a corajosa proclamação descrita em Atos (2:24,32; 3:15; 4:8-12. 5:29-32). Sobre Filho do homem, veja notas em 5:24. (IV, VII) (8-11) As mulheres levaram as notícias a um grupo maior que tinha permanecido reunido. Mas sua mensa­ gem foi tida como um delírio. A palavra grega significa “disparate” e na terminologia médica era aplicada ao falar sem sentido das pessoas com febre muito alta. O seu ceticismo demonstra que a aceitação final da ressur­ reição precisou vencer uma má vontade natural em crer. Foi preciso um acontecimento de considerável magnitude para convencê-los. Desde que os tribunais daquele tempo não aceitavam o testemunho de mulheres, a igreja dificil­ mente teria inventado esta história se não tivesse base em fatos. Joana foi mencionada em 8:3. Alguns identificaram Maria, mãe de Tiago, com a esposa de Clopas (João 19:25). Também presente estava Salomé (Mc 16:1), e talvez Suzana, que fazia parte do grupo em 8:3. O v.12 possivelmente introduziu-se em algum texto sob a influ­ ência de João 20:3-10 (cf. Lc 24:24). (V, VI, VII) No cam inho d e Emaús, 24:13-35 (13-15) A primeira aparição de Jesus após a ressur­ reição, em Lucas, foi a homens a quem o evangelho não menciona previamente. A passagem mostra surpreen­ dentemente o que estava no coração dos discípulos e como Jesus se revelou a eles. Os dois homens estavam saindo de Jerusalém (veja


16os seus olhos, porém, estavam como que impedidos de o reconhecer. l?Então lhes perguntou Jesus, Que é isso que vos preocu­ pa e de que ides tratando à medida que caminhais? £ eles pararam, entristecidos. 18Um, porém, chamado Cléopas, respondeu, dizendo: És o único, porventura, que, tendo estado em Jerusalém, ignoras as ocorrências destes últimos dias? l^Então lhes perguntou: Quais? £ explicaram: O que aconteceu a Jesus, o Nazareno, que era varão profeta, poderoso em obras e palavras, diante de Deus e de todo o povo, 20e como os principais sacerdotes e as nossas autorida­ des o entregaram para ser condenado à morte, e o crucificaram. notas em 2:22) apesar das notícias sobre o túmulo vazio. Emaús ficava na direção oeste noroeste, apesar do local exato ser agora incerto. Quando Jesus se juntou a eles, provavelmente pensaram que era apenas outro viajante ao longo do caminho. (16,17) De algum modo Jesus preferiu não revelar-se aos homens, mas havia algo a respeito dele que os impressionou (v. 32). O desconhecimento de sua identida­ de aumenta o efeito, à medida que Lucas prepara o momento culminante em que os discípulos finalmente vêm a aceitar a ressurreição. (18-20) Cléopas pode ter sido conhecido de Lucas, ou dos seus leitores. A identidade do segundo homem per­ manece desconhecida. A pergunta de Cléopas mostra a intensidade do interesse popular nos acontecimentos relativos a Jesus. Ele estava surpreso por que o estranho ignorava os mesmos (o tu no v. 18 é enfático). Os homens descreveram Jesus como profeta poderoso. O livro de Atos mostra como a ressurreição ampliou a compreensão que os discípulos tinham do Senhor (veja, e.g., At 3:13­ 15). Os vs. 19 e 20 retratam como variavam grandemente as opiniões sobre Jesus mantidas pelos seus contemporâ­ neos. (IV)


ZlOra, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais cousas sucederam. 22é verdade também que algumas mulheres, das que conosco estavam, nos surpreenderam, tendo ido de ma­ drugada ao túmulo; 23e, não achando o corpo de Jesus, voltaram dizendo terem tido uma visão de anjos, os quais afirmam que ele vive. 24De fato alguns dos nossos foram ao sepulcro e verifica­ ram a exatidão do que disseram as mulheres; mas a ele não no viram. 25Então lhes disse Jesus: Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! 26porventura não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória?

(21-23) As esperanças dos dois se assemelhavam a uma porta que tinha sido fechada e depois parcialmente reaberta. Eles tinham esperado a redenção de Israel, tinham sido desapontados, e depois novamente animados pelo relato surpreendente das mulheres (cf. a idéia de redenção em 1:68; 2:32,38; 22:30; Atos 1:6 e 28:19). Os dois mantinham ainda um certo sentimento de grupo (das que conosco estavam) apesar de duvidarem suficiente­ mente para deixar Jerusalém. O terceiro dia traz de novo o tema do cumprimento. (II, IV). (24) Esta é a primeira indicação de Lucas de que outros tinham ido ao sepulcro (mas v e ja n o ta sn o v .il). Os paralelos indicam que foram Pedro e João. Os dois via­ jantes parecem ter aceito a palavra das mulheres como um simples relato surpreendente a ser explicado, mas não uma realidade. (VI) (25,26) Néscios é uma das palavras mais branda para tolo no Novo Testamento. Jesus salientou que deve­ riam ter crido em tudo o que os profetas disseram. As passagens a que ele poderia ter-se referido são Salmos 22:17 e seguintes (Lc 23:34); Salmos 118:22 (Lc 20:17); Isaías 53:4,9 (Lc 22:37; At 8:31-35); Salmos 16:8-11,


27e , começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constavam em todas as Escrituras. 28QUando se aproximavam da aldeia para onde iam, fez ele menção de passar adiante. 29Mas eles o constrangeram, dizendo: Fica conosco, porque é tarde e o dia já declina. E entrou para ficar com eles.

especialmente 10 (At 2:27); e compare também Isaías 9:14; Oséias 6:2; e 12:10; 13:7. Lucas presume que seus leitores tivessem conhecimento dessas escrituras e indi­ ca que seu uso na igreja podia ser traçado originalmente a Jesus. Jesus cumpriu um plano de séculos ordenado por Deus. Essas coisas eram necessárias (convinha), como Atos 2:23 confirma enfaticamente. O que os discípulos permitiram que destruísse as suas esperanças seria na verdade uma confirmação das mesmas. Como aconteceu antes com os anjos (vs.5-7), Jesus censurou os homens que não compreenderam suas predições sobre a paixão. A vitória de Cristo sobre a morte tornou o triunfo político insignificante em comparação. Sobre Cristo, veja notas em 2:11. (VI) (27) Sobre referência a Jesus em Moisés veja Ato 3:22 (Dt 18:18); Atos 28:23. No Velho Testamento hebreu os profetas incluíam Josué, Juizes, Samuel, Reis, Isaías, Jeremias, Ezequiel, e os doze profetas menores. Jesus teve de interpretar (discorrendo) a evidência para os dois “do alto” por causa da sua incredulidade. Eles permanecem como um microcosmo da obtusidade de todo o grupo dè discípulos. (IV, V, VII) (28, 29) Esse pode ter sido o lugar onde um dos homens vivia, ou, mais provavelmente, uma estalagem. Jesus com certeza sabia que eles o convidariam para ficar, desde que sua curiosidade tinha sido despertada a ponto de desejarem continuar a conversa. Se o seu propósito era revelar a sua ressurreição, dificilmente teria continuado sozinho. (III) Detalhes como os revela-


30e aconteceu que, quando estavam à mesa, tomando ele o pão, abençoou-o, e, tendo partido, lhes deu; 31então se lhes abriram os olhos, e o reconheceram; mas ele desapareceu da presença deles. 32e disseram um ao outro: Porventura não nos ardia o coração, quando ele pelo caminho nos falava, quando nos expunha as Escrituras? 33 E, na mesma hora, levantando-se voltaram para Jeru­ salém onde acharam reunidos os onze e outros com eles, 34 os quais diziam: O Senhor ressuscitou e já apareceu a Simão! 35Então os dois contaram o que lhes acontecera no caminho, e como fora por eles reconhecido no partir do pão. dos por esses versículos certamente parecem ter sido fornecidos por testemunhas oculares. (30, 31) Jesus presidiu à refeição com toda naturali­ dade. Lucas tem cuidado em mostrar que foi a refeição com os discípulos e a oração (ambos temas do evangelho; veja 1:10 e 5:27) que identificaram Jesus aos discípulos. Este acontecimento nos faz lembrar especialmente da instituição da Ceia do Senhor (22:14-23). Os dois não tinham estado presentes naquela refeição, mas tinham sem dúvida ouvido a descrição da mesma por aqueles que a presenciaram. Existe também uma semelhança com a alimentação dos cinco mil feita anteriormente (9:16). Sobre abençoou-o, veja notas em 1:42. (V) (32-35) Jesus tinha exposto as escrituras (cf. v.45), e os olhos dos discípulos foram então abertos (v. 31). Expu­ nha em ambos os casos é o mesmo verbo no grego. A viagem de volta de cerca de onze quilômetros até Jerusa­ lém (veja notas em 2:22), no fim da tarde, ou à noite, mostra como a aparição de Jesus os impressionou. Eles chegaram e encontraram os onze já acreditando, devido em parte à aparição prévia a Simão, que Lucas não tinha mencionado (cf. 1 Co 15:5; Mc 16:7). Podemos imaginar como esta aparição ajudou a firmá-los (cf. 22:31-34). (VI)


36 Falavam ainda estas cousas quando Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: Paz seja convosco. 37Eles, porém, surpresos e atemorizados acreditavam estarem vendo um espírito. 38Mas ele lhes disse: Por que estais perturbados? e por que sobem dúvidas aos vossos corações? 39vêde as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e verificai, porque um espírito não tem carne nem ossos, como vêdes que eu tenho. 40Dizendo isto, mostrou-lhe as mãos e os pés. 4lE, por não acreditarem eles ainda, por causa da alegria, e estando admirados, Jesus lhes disse: Tendes aqui alguma cousa que comer? 42Então lhe apresentaram um pedaço de peixe assado (e um favo de mel). 43e ele comeu na presença deles. A APARIÇÃO DO CRISTO RESSURRETO . EM JERUSALÉM, 24:36-49 (36, 37) Esta é a terceira aparição mencionada por Lucas (cf. também Mc 16:14-18; Jo 20:19-25; 1 Co 15:5). Apesar de tudo, os discípulos ainda reagiram com dúvi­ das quando viram Jesus pela primeira vez. O aconteci­ mento foi explicado tentativamente como um encontro com um espírito, até que esse engano fosse corrigido (39). (38, 39) Jesus conhecia o coração deles. (III) Ele os convidou a verificar que era mesmo ele e não outro, vendo (mesmo verbo que em 1 João 1:1) as feridas. Apesar do texto não exigir, Jesus pode ter mostrado as marcas dos pregos em seus pés assim como em suas mãos. Ele não era certamente um fantasma, mas um ser de carne e sangue. Qualquer fosse a natureza do seu cor­ po (cf. o corpo espiritual em 1 Co 15:44), ele era reconhe­ cível pelas mesmas características de sua condição de antes da ressurreição. (IV) (41-43) As notícias eram boas demais para serem acreditadas, e na sua alegria, eles não podiam compre­ ender (sobre alegria, veja notas em 1:14). Sua jornada do


44 a seguir Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco, que importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. 45Então lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras; 46e lhes disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer, e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia, mais profundo desespero para um auge de júbilo não pôde deixar de causar algum trauma. Jesus acrescentou portanto à evidência anterior o ato de comer peixe. Um espírito não necessitaria de alimento. O fato de Jesus estar ou não com fome não tinha importância, mas fazer o que carne e ossos precisam fazer foi significativo. Sobre refeições, veja notas em 5:27. (V, VI] (44) Os vs.44-49 podem descrever uma ocasião poste­ rior, que Lucas associa aos acontecimentos anteriores. Se esses acontecimentos foram no dia da ascensão, devem ter sido mais tarde (veja v.50; At 1:3,9). Jesus referiu-se a palavras ditas durante o seu ministério (cf. especialmente 24:25-27). Ainda convosco indica que a presença pré-ressurreição de Jesus diferia da sua condi­ ção pós-ressurreição. Este é o único lugar em que o Novo Testamento faz uma clara divisão tripartida do Velho Testamento (veja lei e profetas no v. 27). A lei provavelmente incluía todo o Pentateuco. Os Salmos eram a abertura e a parte mais longa da terceira divisão da Bíblia hebraica. (IV) (45, 46) Alguns sugerem que esta pode ser ainda uma outra ocasião além daquela indicada no versículo ante­ rior, desde que há uma interrupção no diálogo. Esses versículos continuam porém os temas notados antes. Jesus estava dizendo que a pessoa não tinha compreen­ dido realmente o Velho Testamento até que tivesse visto o seu testemunho em relação a Cristo. Note novamente como era necessário que a cruz fizesse parte do plano de redenção de Deus (cf. vs.7,26; At 2:23). Lucas 24:26,32 são, em ordem inversa, bastante similares aos versículos


47e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados, a todas as nações, começando de Jerusalém. 48vós sois testemunhas destas cousas. 49eís que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder. 50Então os levou para Betânia e, erguendo as mãos, os abençoou. SlAconteceu que, enquanto os abençoava, ia-se retiran­ do deles, sendo elevado para o céu. presentes. Sobre o v.46 cf. Oséias 6:2; e 1 Coríntios 15:3 (VI) (47, 48) Jesus falou sobre o propósito de sua vinda. Sobre arrependimento, veja notas em 3:3. O sofrimento e a ressurreição tornariam possível tal pregação. Todas as nações participariam dela, começando com a cidade que matara o Senhor. Jerusalém (veja notas em 2:22) seria o ponto inicial em que haveria o cumprimento da missão de Jesus, renovada e aprofundada, (note as comissões ante­ riores em 9:1-16 e 10:1-12). Este é o ponto alto do desenvolvimento do tema de Jerusalém em Lucas, mas ele é explicado ainda outra vez em Atos. Sobre remissão, veja notas em 1:77). (49) Eles deveriam dar testemunho, mas Deus os capacitaria com poder (veja notas em 1:7) para isso (cf. notas em 1:15). A ordem era: espere Deus agir e depois vá! Atue no poder dEle! O Espírito Santo era quem capacitava, como indica Atos 1:4-8 (veja At 2:1-4; Joel 2:28-32; cf. Jo 20:21-23). (IV, V, VII)

A ASCENSÃO, 24:50-53 (50, 51) Jesus orou, erguendo as mãos na posição da bênção sacerdotal (Lv 9:22). Jesus tinha desaparecido


52Então eles, adorando-o, voltaram para Jerusalém, to­ mados de grande júbilo; 53e estavam sempre no templo, louvando a Deus. antes (24:31), mas neste caso os anjos indicaram que seria a última vez até sua volta (At 1:10). Eles deveriam reconhecer que sua obra na terra não estava terminada, e que precisavam continuar o seu ministério. (52, 53) O desafio era jubiloso, e assim, em lugar da esperada tristeza pelo fato de tê-los deixado finalmente, eles sentiram enorme alegria. Sobre júbilo, veja notas em 1:14; compare João 16:22. Tendo sido abençoados por Jesus, eles foram ao templo e continuamente louvavam a Deus. Como poderia ser de outra forma? Lucas então começa e termina no templo, rendendo culto de adoração. O livro chega ao seu término, mas não se trata de um final. A promessa de poder não tinha sido cumprida, e o leitor sabe assim que um grande capítulo deve ainda ser escrito, ficando bem preparado para Atos 1 e os podero­ sos feitos registrados nesse livro.


41 Ora, anualmente, iam seus pais a Jerusalém, para a festa da páscoa. 42Quando ele atingiu os doze anos, subiram, segundo o costume da festa. 43Terminados os dias da festa, ao regressarem, perma­ neceu o menino Jesus em Jerusalém, sem que seus pais o soubessem. 44 Pensando, porém, estar ele entre os companheiros de viagem, foram caminho de um dia, e então passaram a procurá-lo entre os parentes e os conhecidos; (uma palavra encontrada em Lc 2:52; 7:35; 11:31, 49; 21:15). Jesus Aos Doze Anos, 2:41-52 (41) Esse é o único acontecimento nos evangelhos que retrata a infância de Jesus. Nessa época não havia mais o medo de que algum mal acontecesse às crianças de Jerusalém (veja notas em 2:22). A Páscoa é descrita em Êxodo 23:15 e Deuteronômio 16:18. De acordo com Deuteronômio 16:16 os judeus eram obrigados a celebrar três grandes festas (Festa dos Pães Asmos ou Páscoa, Festa das Semanas ou Pentecostes e Festa dos Tabernáculos) cada ano. Mas no tempo de Jesus os judeus palestinos apenas iam a Jerusalém uma vez por ano, geralmente na Páscoa. A lei não obrigava as mulheres a irem, como o fazem alguns ensinamentos rabínicos, e a ida de Maria era uma mostra da sua dedicação à lei. (42) Alguns argumentam que aos doze anos, Jesus era um “filho d a lei”, assumindo uma p osição de adulto em relação às ordenanças religiosas judaicas. Outros crêem que isso não era reconhecido até a idade de treze anos. Se isto fôr verdade, possivelmente no ano anterior o pai deu a conhecer ao filho os deveres e condições que logo seriam exigidos dele. De qualquer forma, o ponto parece ser que quando Jesus tomou uma decisão adulta a respeito de religião ou quando é dada uma percepção dos seus sentimentos, “lhe cumpria estar na casa do Pai” . (43, 44) Por que Jesus ficou em Jerusalém? Sua desa-


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