Tarô, o Caminho do Guerreiro - Cyddo de Ignis / Semente Editorial

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Rio de Janeiro 2013


© 2013 by Cyddo de Ignis 1ª edição julho 2013 Direitos desta edição reservados à semente editorial ltda. Av. José Maria Gonçalves, 38 – Patrimônio da Penha 29590-000 Divino de São Lourenço/ES Tel.: (28) 3551.1912 Rua Soriano de Souza, 55 casa 1 – Tijuca 20511-180 Rio de Janeiro/RJ Tel.: (21) 2567.2777 (21) 8207.8535 contato@sementeeditorial.com.br www.sementeeditorial.com.br Produção Editorial: Estúdio Tangerina Preparação de Originais: Constantino Kouzmin-Korovaeff Revisão: Mirian Cavalcanti, Tania Cavalcanti e Raisa Korovaeff Projeto Gráfico, Capa e Diagramação: Lara Kouzmin-Korovaeff Ilustração da Capa: Arcano VII do Tarot Namur/Martha Leyrós Editor Responsável: Constantino Kouzmin-Korovaeff e Lara Kouzmin-Korovaeff I24t Ignis, Cyddo de Tarô - O Caminho do Guerreiro/Cyddo de Ignis – Divino de São Lourenço, ES - Semente Editorial, 2013. 362p. : 23 cm ISBN 978-85-63546-13-5 1. Tarô. I. Título .

CDD: 133.32424

Esclarecimento do editor A presente obra foge aos padrões editoriais desta casa quanto à grafia de palavras, conceitos e títulos, que aqui vêm grafados com iniciais maiúsculas por obediência à Antiga Tradição esotérica. Não obstante, temos a convicção de que, destacando-se em meio à atual profusão de publicações irrelevantes e enganosas sobre o tema, este livro, bem escrito e bem organizado por um autor que vem dedicando sua vida ao estudo e desdobramento das lições proporcionadas pelo Tarô, tornar-se-á uma obra de referência no assunto.


Dedico esta OBRA à Vida... Dedico também a todos aqueles que se predispuseram a seguir O Caminho... cada qual conforme suas Concepções de Vida.



Agradeço ao Grande Mestre de Tarô Roberto Caldeira, por nos ter legado os Ensinamentos deste Caminho... Agradeço àquele que considero meu Mestre de Tarô, Rubens Lacerda, por ter me iniciado neste Caminho... Agradeço ao meu Amigo Namur Gopalla, por seu incentivo, por ter confiado em meu trabalho, tê-lo prefaciado e cedido seu Tarô para Ilustrá-lo... Agradeço ao meu Aluno e Amigo Ivan Mir, pela confiança, incentivo e contribuição com a divulgação do meu Trabalho... Agradeço à Lara Kouzmin-Korovaeff, a editora desta Obra, pela confiança no meu trabalho e empenho na editoração....

E uma Dedicatória e Agradecimento especiais a todos aqueles que um dia me criticaram e aos quais tentei expor minha visão; isso me incentivou a me empenhar cada vez mais em me aprofundar nos Conceitos, nos Ensinamentos e no Caminho do Tarô...



Os símbolos, os Arcanos são sempre sugestivos e são os intermediários entre o inconsciente e o consciente. E no universo mágico, simbólico, do Tarot, eles ganham um poder transcendente que nos exige uma mente aberta para os debates, mudanças de ideias, visões e interpretações diferentes e novas. Mas, num país sem tradição cultural como o Brasil e dominado pelo totalitarismo cristão, divergir de ideias parece que é divergir da pessoa ou de Deus. Somos historiadores das culturas europeia e norte-americana, não estabelecemos tradição, não respeitamos os antigos professores, tentamos ignorá-los e sentenciá-los pelos erros humanos. Vivemos no paradigma de estudar e ler sobre filósofos gregos, como também esotéricos, alquimistas europeus e norte-americanos. O Brasil e a América Latina não produzem cultura, somos colônia, e só nos cabe ser historiadores da Filosofia, da Arte, do Esoterismo e Religião. Não damos valor e reduzimos a importância dos nossos líderes, professores e mestres. Desde a década de 70, ainda bem jovem, fui iniciado nos mistérios e participei dos movimentos hippies e do naturalismo. Promovi e participei dos eventos, feiras culturais e esotéricas. Como decano em Tarot e presidente da Academia de Cultura Arcana, abriu-se a oportunidade de realizar cursos em todo o Brasil para público de milhares de pessoas, formando uma tradição e lançando o primeiro baralho de Tarot da América Latina, o Tarot Namur.



No Brasil, vive-se a traduzir livros e mencionar tarólogos estrangeiros, sem conhecer e valorizar os nossos tarólogos, mestres e pensadores da cultura mágica. Somos contemplativos do saber esotérico, da filosofia... Mas temos um poder intuitivo que nos fez mais comunicativos, livres, menos formais e lineares. Acredito na diversidade e riqueza espiritual e esotérica dos tarólogos brasileiros. Intuição, criatividade, fé, imaginação, poder de comunicação, espiritualidade e mente aberta são atributos que latinos, e em especial os brasileiros, têm para transmitir ao mundo. Cyddo de Ignis mostra-se um guerreiro espiritual que, com seus sonhos, seriedade e dedicação, adere ao bom combate cultural. Professor, pesquisador, crítico, que estuda o Tarot com seriedade, traz-nos, com sua força e fé, um estudo simples e importante de referência do baralho de Tarot.

Namur Gopalla Tarólogo e Presidente da Academia de Cultura Arcanum



A Antiga Escola do Tarô, 14 Apresentação

Introdução, 17 O Tarô - A Origem do Tarô - A Constituição do Tarô

Os Arcanos Maiores, 35 O Louco, 38 O Mago, 50 A Sacerdotisa, 60 A Imperatriz, 70 O Imperador, 78 O Sumo Sacerdote ou o Papa, 86 O Enamorado, 96 O Carro, 106 A Justiça, 114 O Eremita ou O Ermitão, 122 A Roda da Fortuna, 132 A Força, 142 O Enforcado, 150 A Morte ou O Ceifador, 158 A Temperança, 168 O Diabo, 178 A Torre, 190 A Estrela, 200 A Lua, 208 O Sol, 218 O Julgamento, 228 O Mundo, 238



Os Arcanos Menores, 249 Os Naipes, 251 O Naipe de Ouros, 255 O Naipe de Copas, 257 O Naipe de Espadas, 260 O Naipe de Paus, 263

As Cartas Numeradas, 266 Os Ás - Os Dois - Os Três - Os Quatros - Os Cincos - Os Seis - Os Setes - Os Oitos - Os Noves - Os Dez

O Significado dos Números segundo a Tradição, 275 0 - 1 - 2 - 3 - 4 - 5 - 6 - 7 - 8 - 9 - 10

As Cartas da Corte, 285 Os Reis, 286 As Rainhas, 287 Os Cavaleiros, 289 Os Pajens, 290

As Cartas de As Cartas de As Cartas de As Cartas de

Ouros, 291 Copas, 304 Espadas, 317 Paus, 330

Considerações Finais, 343 Utilização e Manuseio do Tarô - O Jogo do Tarô - Dicas, Crendices e Superstições

Palavras do Autor, 359



Essa obra é um livro de referência que estuda o Tarô segundo a Tradição Antiga. A Antiga Escola do Tarô é uma escola iniciática, que tem como propósito direcionar o Caminhante através do Caminho do Tarô, rumo à sua Realização Espiritual Pessoal. Em nossa escola o fundamental é o Autoconhecimento. Seus conceitos e ideias estão respaldados em Sistemas Culturais Antigos, que foram a base para a elaboração do Tarô pelos seus idealizadores e criadores, os Mestres e Sábios da Antiga Atlântida. Nossa escola fundamenta seus ensinamentos sobre o Tarô na Jornada do Louco pelos Arcanos Maiores, que chamamos de “O Caminho do Louco”. No estudo e interpretação do Tarô, existem várias vertentes, cada qual com seus pontos de vista e suas verdades embasadas em pesquisas e tradições, e todas devem ser respeitadas. As duas principais divergências que nossa escola apresenta em relação a outras tradições conhecidas do estudo do Tarô, devem ser esclarecidas para não suscitar dúvidas ao leitor, são elas: a grafia designada para escrever Tarô; e os atributos relacionados aos Arcanos Menores nos naipes de Espadas e Paus. Usamos a grafia “Tarô” em vez de Tarot, para sairmos do convencionalismo que segue apenas o que já está definido como “verdade absoluta” em relação ao Tarô. Quanto aos Arcanos Menores, afirmo e ensino que o Naipe de Espadas está relacionado ao Elemento Ar e que este se refere aos Instintos, e não à Mente, como é comumente ensinado; essa afirmação é respaldada pela Cultura Indiana, principalmente o Tantra. E o Naipe de Paus, que se relaciona com o Elemento Fogo, está associado à Inteligência. Gostaria de mencionar, também, aos leitores e estudantes do Tarô, que os aspectos e símbolos contidos nos Arcanos Maiores e Menores, essencialmente são os mesmos, mas a ênfase ou omissão de alguns deles entre os diversos baralhos que existem são resultado da interpretação pertinente à época e cultura que os originou. Este livro, por exemplo, foi escrito tendo como referência o Tarô de Marselha; já as cartas que o ilustram são do Tarot Namur - primeiro baralho de Tarô brasileiro. Em meus cursos, por exemplo, ensino os alunos a interpretar qualquer Tarô disponível, pois, como disse, sua essência é o que importa e permaneceu viva através dos tempos.



Quando comecei a estudar o Tarô, nem eu mesmo imaginava aonde isso poderia me levar. Sabia que o Tarô era algo muito além do joguinho de adivinhação que estava acostumado a ver, ou muito além dos conceitos de autoconhecimento que ouvia de outras pessoas. Mas isso ainda estava muito longe daquilo que o próprio Tarô me mostrou. Desde muito cedo comecei a minha busca das coisas de Deus e do Espírito, e quando conheci o Tarô pela escola na qual fui iniciado, a Escola do Tarô Antigo, tive a certeza de que havia encontrado o Caminho. Certamente, não o caminho como o imaginava na época em que iniciei meu aprendizado – eu conhecia o Tarô desde os dez anos, quando ganhei meu primeiro baralho –, mas o Caminho que está além do baralho de Tarô e de seus jogos. Há muito intuía que havia um conhecimento único, original, que era a base de todos os sistemas de crenças, filosofias e religiões que existem. O Tarô me mostrou esse conhecimento. Desde então tenho encarnado o Louco, porque só o Louco pode acessar esse Conhecimento e seguir esse Caminho. Aprendi que só quem se perde nesse caminho pode ter uma chance de encontrar o conhecimento. Só quem perde suas “certezas” pode encontrar a verdade nas incertezas da sabedoria. Por isso me perdi no caminho para encontrar o conhecimento; não vivo de “certezas”, vivo das incertezas, pois para mim tudo é um mistério – o caminho é um mistério; o divino ser é um mistério, o universo é um mistério. E são, para mim, mistérios insondáveis. Não são nada do que me ensinaram. Simplesmente, São. Para mim, só resta seguir o Caminho, pois compreendi que o Caminho está em mim. Ainda não sou o Caminho, mas o Caminho sou Eu mesmo, da mesma forma que a meta também está em mim. Não foram à toa as palavras atribuídas ao Grande Mestre Jesus de Nazaré: “Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. O caminho, a verdade e a vida estão em todos e em cada um de nós; o que nos falta é despertar para esse fato e viver plenamente esta verdade. E o Tarô é o caminho, a verdade e a vida, e está em cada um do nós. Só precisamos realizar o Tarô em nós mesmos. Tarô não se aprende em livros; Tarô se aprende vivendo.


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Tarô - O Caminho do Guerreiro

O nome desta obra, Tarô – O Caminho do Guerreiro, refere-se justamente a isso: para penetrar nos caminhos do mistério, deve-se viver como guerreiro. Ser um “Guerreiro” não significa que se queira fazer guerra como as que fazem os homens comuns, mas sim a única forma de combate que vale a pena ser travada, o “Bom Combate”, ou seja, o combate interno, contra as nossas “imperfeições”. Só assim pode-se compreender o sentido das palavras citadas e viver o caminho a ponto de um dia tornar-se o Caminho. Não usei com frequência o termo “Guerreiro” ao longo do conteúdo da obra, por acreditar que, para ser realmente um guerreiro, o caminhante deva vencer a si mesmo, pelo menos em boa parte. Assim, utilizo mais comumente as palavras caminhante ou estudante. Até podermos afirmar que somos realmente “Guerreiros”, temos de dar mostras disso em nossas palavras, atos e pensamentos. Em nossa escola, que segue uma tradição muito antiga, perdida nas brumas do tempo, mas que tem sido recuperada aos poucos, ensina-se que o Tarô é constituído de 20 ciclos, onde cada ciclo é, por sua vez, constituído de 20 níveis; e cada nível, de 20 portais, em cada um dos quais passa-se pelos 22 Arcanos Maiores. Portanto, é necessário conhecer e compreender a essência dos ensinamentos dos Arcanos Maiores em toda sua profundidade. Nesses Arcanos estão as Chaves Secretas para a jornada. Cada Arcano contém em si as chaves para o Arcano seguinte, significando um passo na passagem dos portais, e também as chaves para transpor cada portal, trilhar cada nível e cada ciclo. O Tarô é tão vasto e complexo em sua estrutura e significação que é impossível querer ou pretender saber e conhecer tudo a seu respeito. Seria o mesmo que pretender, em nossa pequenez humana, insinuar que se tem conhecimento da sabedoria divina. Cada lâmina representa um conjunto de símbolos, cada qual associado a uma ideia que pode ser explorada ao máximo de suas significações, proporcionando um potencial de alcance inimaginável. Além disso, a cada lâmina corresponde um número que pode ser associado à ideia intrínseca da carta ou nos remeter a outros valores que vão abrindo cada vez mais o leque de probabilidades e possibilidades.


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Introdução

O Tarô não nos fala somente do caminho iniciático, mas também da atuação neste mundo do homem comum, do não iniciado, que, não conhecendo as forças que regem o destino de todos os homens, não passa, em geral, de mero marionete nas mãos dessas forças fabulosas, inimagináveis e misteriosas. É fundamental que o estudante compreenda que o Tarô, em suas simbologias, abrange todos os aspectos da vida, é atemporal, ou seja, é atual mesmo tendo sido criado há milhares de anos. Isso porque foi estruturado para desempenhar a função de um orientador espiritual, que independe de tempo, região, cultura, credo religioso, sistema de crenças, filosofia etc. Suas cartas, ou lâminas, contêm um conhecimento que transcende todas as pequenas concepções humanas. O Tarô contém em si todos os ensinamentos dos grandes mestres da humanidade, justamente porque estes não vieram falar por si próprios, mas em nome da consciência universal, que conheciam e viviam. O Tarô nos fala da própria divindade, da vida, da alma humana e de sua trajetória evolutiva, da formação da matéria e da natureza, das energias que constituem o mundo fenomênico, material ou natural. Para compreender isso é preciso aprofundar-se nos significados de seus Arcanos. Apesar de ser estudado seguindo bases que necessitem classificar as nuanças do conhecimento em conceitos isolados ou separados entre si, o Tarô não é sequencial, mas, sim, simultâneo. Melhor dizendo, o Tarô é simultaneamente sequencial e aleatório. Ou seja, todos os Arcanos Maiores contêm em si mesmos todos os outros, e cada um contém todo o conjunto, incluindo os Arcanos Menores. Como subsídio para as leituras e interpretações dos jogos, ofereço aqui alguns significados possíveis das cartas, lembrando aos candidatos a tarólogos que não se apeguem aos conceitos ora apresentados, mas que os usem para ampliar cada vez mais sua própria bagagem. Que busquem ampliar as informações dadas, procurando cada vez mais conceitos e significados para seus jogos. É preciso lembrar sempre que o Tarô não é a simples leitura das cartas, e sim todo um sistema de conhecimento que constitui, por si só, um caminho para a realização espiritual pessoal. Nossa escola distingue três tipos de pessoas que utilizam o Tarô:


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Tarô - O Caminho do Guerreiro

O taromante: aquele que se dedica apenas ao “joguinho de Tarô”, que usa o Tarô como jogo de adivinhação. Pode ser até um bom “jogador de cartas”, vidente, adivinho, se quiser considerar-se assim. Pode até ser um bom orientador, mas não conseguiu acessar a sabedoria oculta do Tarô, não se dedicou e nem se dedica a conhecer os mistérios do Tarô, não trilha O Caminho. O tarólogo: é aquele que estuda o Tarô, procura colocá-lo em sua vida, mas apenas de modo intelectual, tentando desvendar os mistérios do Tarô de forma racional, fazendo comparações e estudos psicológicos, esotéricos, associando seus símbolos aos arquétipos desta ou daquela cultura, filosofia ou religião. Ele também não vive o Tarô, é um estudante, pode até se tornar um expert em símbolos do Tarô, mas também não trilha O Caminho. O tarósofo: é aquele que busca viver o Tarô em toda sua plenitude, colocar sua vida no Tarô. Não procura “estudar racionalmente” os seus símbolos, mas compreender sua essência, procurando viver, vivenciar, experimentar e experienciar seus ensinamentos como aspectos de sua própria vida. É aquele que, em algum nível, procura trilhar O Caminho.

Extraí das mais diversas fontes as várias informações que utilizei para compor as explanações e elucidações dos aspectos e simbologias dos Arcanos, não apenas dos Maiores como dos Menores, bem como as possíveis significações nos níveis psíquico, psicológico e consciencial, tanto como forma de orientação para os nossos consulentes, quanto para os níveis oracular e divinatório. Deixei de acrescentar muitas coisas, não por desinteresse, mas por motivos de extensão do conteúdo. Na minha opinião, de todos os livros que falam do assunto, o mais profundo em significado é o Tarô dos Bohêmios, de Papus. Esse ocultista do século XIX escreveu um verdadeiro tratado sobre Tarô,


Arcanos Maiores 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

O Mago A Sacerdotisa A Imperatriz O Imperador O Papa Os Amantes O Carro A Justiça O Eremita A Roda da Fortuna A Força

12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

O Enforcado A Morte A Temperança O Diabo A Torre A Estrela A Lua O Sol O Julgamento O Mundo O Louco

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Introdução

mas, infelizmente, muito racional e pouco prático, considerando-se que o Tarô não é nem um pouco racional. Para não faltar totalmente ao meu propósito, apresentarei a diferença que existe entre a maneira como nossa escola estuda o Tarô e a maneira como ele é apresentado no Tarô Clássico. Nossa escola estuda o Tarô começando pelo Louco, por razões que serão elucidadas mais adiante, e, além disso, coloca os Arcanos Menores na seguinte sequência: Ouros, Copas, Espadas e Paus, e, dentro dessa ordem, na sequência numérica e na ordem das cartas da corte, ou seja, de Ás a Dez e de Rei ao Pajem (Rei, Rainha, Cavaleiro e Pajem). Já no Tarô Clássico, o Louco pode vir como o número 21, logo após a carta do Julgamento, ou com o número 22, após a carta do Mundo. Em cada caso há uma justificativa para a situação. Além disso, no Tarô Clássico, os Arcanos Menores são classificados na ordem: Espadas, Paus, Copas e por último Ouros, obedecendo ainda a uma sequência inversa à da nossa escola, ou seja, começando pelo Rei até o Pajem, e considerando as cartas numeradas em ordem decrescente, de Dez ao Ás. Assim, no Tarô Clássico, as cartas têm a seguinte sequência e respectiva numeração de ordem:


Arcanos Menores 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50

Rei de Espadas Rainha de Espadas Cavaleiro de Espadas Pajem de Espadas Dez de Espadas Nove de Espadas Oito de Espadas Sete de Espadas Seis de Espadas Cinco de Espadas Quatro de Espadas Três de Espadas Dois de Espadas Ás de Espadas Rei de Paus Rainha de Paus Cavaleiro de Paus Pajem de Paus Dez de Paus Nove de Paus Oito de Paus Sete de Paus Seis de Paus Cinco de Paus Quatro de Paus Três de Paus Dois de Paus Ás de Paus

51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78

Rei de Copas Rainha de Copas Cavaleiro de Copas Pajem de Copas Dez de Copas Nove de Copas Oito de Copas Sete de Copas Seis de Copas Cinco de Copas Quatro de Copas Três de Copas Dois de Copas Ás de Copas Rei de Ouros Rainha de Ouros Cavaleiro de Ouros Pajem de Ouros Dez de Ouros Nove de Ouros Oito de Ouros Sete de Ouros Seis de Ouros Cinco de Ouros Quatro de Ouros Três de Ouros Dois de Ouros Ás de Ouros


Tão antigo quanto a própria história da humanidade, o Tarô continua sendo um mistério que, mesmo estudado de diversas maneiras, não revela seus segredos a quem não se disponha a seguir seus caminhos. Muitos estudiosos e pesquisadores têm buscado decifrar seus símbolos, como se o Tarô fosse apenas símbolos, e não penetram na essência mais profunda deste maravilhoso compêndio de sabedoria. Assim, o Tarô atravessa os milênios sem ser compreendido pelos homens comuns. Não obstante, muitos sábios, mestres, iniciados, adeptos e magos, seguindo seus ensinamentos, desfrutaram desse conhecimento para sua realização pessoal. Para os que procuram viver sob os ensinamentos da Tradição Antiga do Tarô, este é um legado de uma das mais antigas e sábias civilizações que existiram, e suas origens perdem-se no passado. O Tarô traz em sua estrutura toda a sabedoria desse povo, contida em seus Arcanos Maiores e Menores, e que nos ensina sobre o homem, sua vida cotidiana, a vida em si, sobre o universo e sobre o espírito divino. Nossa escola ensina que o Tarô foi criado, desenvolvido e estruturado com dois objetivos principais: preservar todo o conhecimento e a sabedoria dos atlantes para que pudessem ser transmitidos para as gerações futuras e servir de guia para orientar seus adeptos, os que se propusessem a trilhar o Caminho do Conhecimento. Este sistema de conhecimento já deu origem a tratados, manuais, estudos psicológicos, filosóficos, místicos e esotéricos. Estudaram-no astrológica, numerológica e cabalisticamente. Tentaram codificá-lo e transformá-lo num complexo tratado, num conjunto de símbolos arquetípicos do “inconsciente” coletivo, supondo, com isso, chegar à sua profundidade cósmica. Isso quando não o relegaram ao plano de simples joguinho de “adivinhação”, uma reles ferramenta para “prever o futuro” ou “ver a sorte”, um instrumento de sortilégio atribuído à arte de pseudobruxos, ou mesmo a uma brincadeira inconsequente. O Tarô é mais que mero conjunto de símbolos do “inconsciente” coletivo e infinitamente mais que um joguinho de adivinhação.


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Tarô - O Caminho do Guerreiro

O Tarô é uma maneira de viver. É um estilo de vida, alicerçado num sistema de conhecimento, com um propósito definido e delineado, que visa levar o estudante ao encontro de sua realidade interior, à totalidade do seu ser, e, para tal, coloca à sua disposição um complexo conjunto de conceitos, sistemas e Ideias próprias que transcendem a esfera da razão objetiva. É mais que um baralho de cartas que se usa simplesmente como oráculo. É um Caminho de Vida; Tarô é vida, é um ser vivo, seu conhecimento é a essência da própria vida. Para se aprender Tarô, para saber a seu respeito é fundamental que ele seja vivido, e para desfrutar de seus benefícios o estudante deve aprender a usar suas potencialidades latentes, não de forma totalmente racional, mas adotando outros critérios, tendo como diretriz o vivenciamento a cada passo, usando a intuição como bússola, a vontade como combustível e tendo a liberdade como única meta a ser conquistada. Sem esses requisitos não existe Tarô, mas apenas um baralho de pouca utilidade. Tarô só é Tarô se for vivido em toda a sua plenitude, através da intuição movida pela vontade, para alcançar a liberdade e a felicidade. No Tarô tudo é amor, e o real veículo do amor é a felicidade. Deus é a felicidade eternizada. Os “manuais” e “tratados” de Tarô são ineficazes, pois no Tarô lidamos diretamente com a intuição, que transcende o plano racional. Estudiosos e pesquisadores, ao pretenderem estudar o Tarô sobre bases racionais, utilizando o intelecto frio e objetivo, não penetram em sua plenitude e assim nada conseguem. A única forma de aprofundar-se no estudo do Tarô é através da intuição, e a intuição é a harmonização de nossas instâncias internas, nossos instintos, sentimentos, emoções, inteligência e espiritualidade, tudo isso expresso pelo nosso coração. A intuição pode ser definida como a voz do nosso coração e não se apoia na razão cartesiana. O Tarô exige o autoconhecimento como premissa, e quem deseja se aventurar pelos seus caminhos deve utilizar como forma de aperfeiçoamento pessoal a sua própria experiência de vida – sua experiência do viver e vivenciar a vida a cada momento. Essa experiência é constituída de três


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planos: a vida física; a vida mental/emocional e a vida espiritual, que entendemos como partes distintas, mas que na realidade formam um todo no vivenciar cada momento da existência. O Tarô não é limitado por essas barreiras, interagindo simultaneamente nesses três planos. Com efeito, todos nós vivemos nesses três planos ao mesmo tempo, pois são ligados e interdependentes; apenas não temos consciência disso devido às limitações de nossa mente, de nossas percepções da realidade e de nossos condicionamentos, e assim nos identificamos geralmente com um deles – mais comumente com a vida física, sem prestar atenção em todas as nuanças que ela apresenta. Para o Tarô, tudo no universo é energia, conforme sempre foi ensinado pelos sábios, místicos, iniciados e magos da antiguidade; e isso já foi confirmado pela física quântica. A leitura do Tarô é toda feita com base nesse ponto: tudo no universo é energia, e energia é vida e consciência – pois não pode haver vida sem consciência; logo, tudo tem vida, tudo é vivo, e o Tarô identifica-se e comunica-se com toda e qualquer forma de energia, seja física, mental, emocional ou espiritual. Olhando-se por esse prisma já é possível fazer-se uma ideia da dimensão cósmica do Tarô. Ou seja, se essa dimensão está em sintonia e comunicação com as energias do universo, basicamente não há limites para sua interação e acesso a todo o registro akáshico. Isso extrapola os limites da lógica racional, pode-se apenas imaginar o que significa. Esse aspecto escapa a todo e qualquer processo racional, pois a razão não pode alcançar tão profundos mistérios. Apenas a intuição pode penetrar nesse campo, que, por sua dimensão, extrapola os limites do intelecto, da lógica e da razão cartesianas, e mergulha num universo onde a mente não pode chegar. Somente a intuição é método seguro e eficaz para interpretar os desígnios da vida. Para viver segundo essa ótica é necessário que o estudante esteja disposto a abandonar a lógica racional, intelectual e a aceitar viver e conviver com essa perspectiva. Para tanto, precisa ter autoconfiança, coragem e fé. Viver é correr riscos, viver é uma aventura. Viver é acreditar; crer é ter fé e ter fé é ter poder. Poder de ser o que se quiser ser.


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Viver o caminho do Tarô é viver pela fé e é por isso que foi dito que o Tarô é um caminho de vida. Os manuais de Tarô tornam-se inúteis quando se quer realmente penetrar nesse mundo onde a razão não mais vigora e os dogmas, tabus, conceitos, preconceitos e condicionamentos perdem o valor e passamos a ser de fato os mentores e dirigentes de nossos destinos.

Ensina a Tradição do Tarô que não se adivinha o futuro. O futuro não existe ainda e o passado não deve mais vigorar como fator decisivo em nossas vidas. A única coisa que temos é o momento presente. Isso já foi ensinado pelos grandes sábios, mestres e iniciados de todos os tempos. O karma é um conceito muito flexível se pudermos compreender toda sua significação. O futuro não é predeterminado; nosso karma não é um mal a ser vivido e nosso destino não é uma imposição de um deus qualquer; é gerado por um fator chamado “Livre-Arbítrio”, que é uma atribuição divina. Portanto, podemos, temos o direito e devemos ser os verdadeiros mentores de nossa existência, aprendendo a entregá-la ao dharma, com consciência, usando o passado apenas como referência, tendo o presente como suporte e o futuro como meta a ser alcançada. Nosso conceito de passado, presente a futuro vem da noção de tempo e espaço que nos foi imposta há milênios. Dessa forma o homem mede sua vida em tempo gasto e espaço percorrido. O Tarô mostra outra visão desse princípio de tempo / espaço. Sua leitura e interpretação desse conceito é feita com base no tempo em função de nossa felicidade, e o espaço passa a ser a consequência do viver. Assim, tudo se fundamenta no ponto em que estamos agora e no que nos afasta de nossa realização, de nossa felicidade (ou bem-aventurança, como dizem os orientais). A partir desse conceito e dessa forma de viver, o tempo passa a ser a estreita relação entre o que vivemos e o que ainda temos para viver, e o espaço torna-se a própria experiência do viver, o vivenciar a vida passo a passo, com suas experiências e infinitas variáveis. Quem compreende essa lógica percebe que não se adivinha nem se prevê o futuro. Viver, nesse contexto, significa ser livre, mas o que


ocorre é que nossa sociedade sempre procura impedir que sejamos livres e, por extensão, que “Vivamos”. Em geral somos resistentes a mudanças, dificilmente queremos abandonar nossos antigos conceitos e condicionamentos, pois eles nos dão a fictícia ilusão de segurança, porque o desconhecido nos apavora. Mas para ser livres temos que nos desapegar do passado; temos de estar prontos para, a qualquer momento, sacrificar o velho para que possa vir o novo, para que o novo possa entrar em nosso viver. Para aceitar essa forma de viver é preciso força, autoconfiança, fé e coragem. E a mais pura verdade é que viver é um ato de coragem; viver é uma aventura e viver o Tarô é criar seu próprio caminho, caminhar no escuro tendo a própria luz interior como única fonte de iluminação para clarear esse caminho, e lançar-se por ele em direção à felicidade e à liberdade.

A origem do Tarô perde-se nas brumas do passado e do tempo. Ninguém sabe ao certo sua procedência, apesar de haver diversas teorias que buscam elucidar esse mistério. Até hoje ainda persistem dúvidas quanto à sua origem. Alguns afirmam ter ele surgido no Egito, outros, na Pérsia; outros, que apareceu na Índia, e outros, ainda, na China. Os mais apegados ao convencionalismo “científico” e “histórico” chegam a afirmar que o Tarô tenha surgido mais recentemente, na Europa, na Idade Média. Na verdade existem vestígios do Tarô desde a mais remota antiguidade em diversas partes do mundo e em diversas culturas. Isso apenas demonstra o fascínio que o Tarô sempre exerceu sobre a humanidade através dos tempos. Assim, justifica-se o fato de ter sido tão estudado e pesquisado por tantos interessados e de terem surgido numerosas hipóteses sobre sua origem, sobre quais foram os motivos que levaram à sua criação e qual a sua finalidade. Mas a Tradição Antiga e a própria Tradição do Tarô dizem que sua origem remonta à antiga Atlântida, que na realidade o Tarô foi estruturado, criado e desenvolvido na Atlântida, uma das mais antigas

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e sábias civilizações que já passaram por este planeta, e que afundou no mar, num cataclismo que ocorreu aproximadamente 12.000 anos antes da era cristã. Isso nos dá uma ideia de sua antiguidade. Não vamos abordar neste estudo as diversas teorias e hipóteses, pois há uma farta literatura sobre todas elas. Vamos nos ater aqui ao que ensinam a Tradição Antiga e a própria Tradição do Tarô. Segundo essas tradições, os sábios da antiga Atlântida, cuja civilização chegou ao apogeu há milhares de anos, atingindo o mais alto grau de conhecimento, perceberam que o povo havia perdido as bases fundamentais dos princípios espirituais e começou a entrar em decadência. Os sábios observaram que a população estava se degenerando cada vez mais e, em consequência disso, seu vasto conhecimento estava ameaçado de deturpação. Além disso, os sábios tinham noção de que todo o continente atlante pereceria num cataclismo natural, afundando no mar e, preocupados com o destino de suas tradições e conhecimentos, resolveram buscar uma forma de preservar essa sabedoria para as civilizações e gerações futuras. Assim, convocaram um concílio de todos os sábios do continente para debater sobre o futuro do conhecimento atlante e encontrar uma forma de preservar toda sua sabedoria. Segundo a lenda, esse concílio durou vários dias e diversas hipóteses foram levantadas sobre a melhor forma de se guardar e preservar os ensinamentos para que não se perdessem. Uma dessas hipóteses foi a de inscrever em todas as paredes e muros dos templos e construções da nação atlante todos os aspectos de seu conhecimento; assim, quando no futuro alguém encontrasse suas ruínas, poderia decifrar a escrita e recuperar seu conhecimento. Essa ideia, porém, foi rejeitada, porque, sabendo-se que o país pereceria num terremoto seguido da submersão de todo o continente nas águas do oceano, era óbvio que seus muros e templos seriam destruídos e, consequentemente, seus registros se perderiam. Outra hipótese foi a de recrutar, entre as nações existentes àquela época, os 10 homens e mulheres mais inteligentes e dotados de cada uma delas, levá-los para a Atlântida e ensinar-lhes toda a vasta cultura atlante. Quando esses homens e mulheres estivessem preparados, seriam devolvidos às suas nações de origem, acreditando-se que dessa


“O que nunca desaparece da face da terra é o vício, principalmente o vício do jogo. Tudo perece: nações, reinos, impérios, civilizações e tradições; mas o vício do jogo persiste sempre, transmitido de geração para geração. Portanto, o que faremos é colocar todo nosso conhecimento em lâminas, formado com elas um baralho, que poderá ser usado como um jogo. O baralho deverá ser confeccionado de forma que todo nosso conhecimento seja colocado de modo simbólico; assim, em vez de ser escrito, será elaborado com gravuras que contenham símbolos que possam ser decifrados pelas gerações futuras. Dessa maneira nosso conhecimento ficará preservado para os sábios de qualquer época, mas ao mesmo tempo velado e inacessível a quem não tenha sido iniciado nos mistérios da sabedoria.” E assim o Tarô foi estruturado como um livro não escrito, mas que contém toda a sabedoria dos atlantes. Nos seus desenhos e símbolos

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forma o conhecimento atlante estaria preservado para ser transmitido às gerações futuras. Tal ideia, porém, foi igualmente rejeitada, pois é sabido que o homem tende a deturpar tudo que lhe é confiado, alterando segundo sua conveniência ou mesmo segundo sua capacidade de entendimento e compreensão, subtraindo ao conhecimento original aquilo que considere não corresponder à verdade ou ser contrário à sua formação ou índole, ou ainda por ignorância ou má-fé. Dessa forma, com o passar do tempo, toda a sabedoria dos atlantes estaria tão deformada, alterada e corrompida, que se perderia sua essência. O concílio arrastava-se sem que fosse encontrada uma solução para o problema. Até que um dia um dos mais sábios dos anciãos do conselho dos sábios disse ter encontrado um modo de resolver o impasse. Ao ter todas as atenções voltadas para si, propôs a todos a seguinte questão: “O que é que nunca desaparece da face da Terra? Civilizações surgem e desaparecem; reinos e impérios nascem e perecem, mas uma coisa nunca desaparece!”. Os sábios pensaram e debateram, mas não chegaram a um consenso sobre o que nunca desaparece da face do planeta. Mesmo que civilizações, impérios, reinos e nações surjam e desapareçam, sucessivamente, na passagem do tempo, algo permanece ali, presente através dos tempos. Foi o próprio sábio ancião que respondeu ao seu enigma:


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estão contidos todos os ensinamentos desses sábios sobre a jornada da alma humana pelo caminho do conhecimento; o conhecimento sobre o homem, sobre a vida, sobre o universo e sobre o espírito divino. Para a confecção das lâminas os atlantes usaram, como contribuição da cultura das outras nações existentes na época, um aspecto do acervo cultural de cada uma delas. Dos Vermelhos, que usavam muitos símbolos e desenhos geométricos, extraíram a utilização dessa forma de expressão; dos Amarelos, que sempre foram exímios desenhistas, usaram a arte das delicadas gravuras e desenhos, que pela harmonia e beleza de seus traços até hoje encantam quem quer que veja um quadro ou um desenho chinês ou japonês; dos Negros, que sempre apreciaram o uso das cores, sendo todas as suas expressões culturais marcadas pela profusão, harmonia e beleza do colorido, usaram a arte de combinar as cores para realçar aspectos de seus ensinamentos; finalmente, dos Brancos, aproveitaram o uso dos números, já que os brancos haviam aperfeiçoado o sistema de representar graficamente os conceitos de quantidades e valores numéricos. O Tarô, portanto, surgiu como um livro que, além de conter a sabedoria original e milenar da Atlântida, traz no seu conjunto aspectos culturais de outras nações ou raças, não apenas como contribuição, mas como homenagem dos atlantes aos que iriam sucedê-los no tempo. Esse livro, segundo a tradição, era composto por 78 lâminas de ouro, divididas em dois volumes. O primeiro volume está estruturado em um único bloco, abrangendo os Arcanos Maiores; o segundo volume é dividido em quatro seções ou naipes, abrangendo os Arcanos Menores. Conta a tradição que, com o início dos sinais dos acontecimentos que culminaram com a destruição da Atlântida, um grupo do conselho de anciãos –, o que guardava o Livro Sagrado – refugiou-se na região onde hoje é o Egito, que naqueles tempos era desértica, habitada por tribos dispersas de pastores nômades. Ali foi fundada uma colônia que posteriormente transformou-se numa poderosa nação, onde o Tarô era guardado pelos Sacerdotes do Memphis. Eles redesenharam-no em lâminas de papiro e entregaram o baralho ao domínio público como uma forma de jogo ou diversão, ficando os segredos da interpretação da simbologia de suas lâminas reservados apenas aos iniciados nos mistérios da tradição, que se tornaram os Guardiães do Tarô.


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Ainda segundo a tradição, os responsáveis pela divulgação do Tarô em todas as partes do mundo antigo foram os bohêmios, um povo que, por sua rebeldia, havia sido expulso de sua nação de origem, chamada Bhárata, situada onde hoje é a Índia. Ensina a tradição que os bohêmios eram servidores dos templos dessa nação e que, por estarem sempre em contato com os sacerdotes, auxiliando-os na realização dos rituais e cerimônias religiosas, e estudando as suas escrituras sagradas, adquiriram e desenvolveram um conhecimento profundo dos mistérios de sua tradição e passaram a exigir os mesmos direitos. Buscando o apoio do poder secular, os sacerdotes expulsaram-nos das terras de Bhárata, condenando-os a vagar pelo mundo com todos os seus pertences. Segundo a tradição os bohêmios são os precursores dos ciganos. Tendo deixado seu país, passaram a perambular pelo mundo de um local a outro, como nômades, e chegaram ao Egito. Ali tomaram contato com o Tarô e, como possuíssem um conhecimento bem avançado dos mistérios, conseguiram decifrar alguns dos símbolos e passaram a utilizar o baralho para fins divinatórios. Sendo nômades, continuaram a viajar pelo mundo levando essa forma de utilização do Tarô, criando variações do baralho original, até que, na idade média, ao chegarem à Europa, causaram sensação com seu baralho. O Tarô, então, atraiu a atenção de magos e cabalistas, além de estudantes de ocultismo, que cuidaram de decifrar os significados de seus símbolos. Cada estudioso analisava os símbolos segundo seus próprios conceitos, o que deu margem à criação de novas versões do Tarô e várias formas de interpretação do mesmo. Aparentemente, a primeira versão ocidental do Tarô foi o baralho chamado Mamaluk, precursor do famoso Tarô de Marselha. Este último foi criado na época da inquisição, diante da necessidade dos tarólogos daqueles tristes dias de escapar das perseguições do “Santo Ofício”. Para burlar os algozes da igreja, suas gravuras foram redesenhadas utilizando os padrões e costumes daquele tempo, procurando, no entanto, preservar o máximo possível da simbologia do Tarô original. Dessa maneira o Tarô tem atravessado milênios, chegando à nossa época diversificado, mas ao mesmo tempo inalterado e oculto, pois apenas aqueles que forem iniciados em seus mistérios serão capazes de decifrar seus símbolos, que são atemporais e tão complexos e


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profundos que o espaço de uma existência pode não ser suficiente para explorar todo o vasto universo contido nesse Livro Sagrado.

Conforme já foi dito, o Tarô sofreu várias alterações ao longo dos milênios, tendo sido quase perdido, inclusive, o objetivo com o qual foi criado. Não há certeza sequer sobre o que significa a palavra “Tarô”. Alguns autores afirmam que a palavra “Tarô” vem de “Ta-Rosh”, outros, que vem de “Tar-Rosh”, e também não há um acordo sobre a procedência dessas palavras, pois na opinião de alguns são originárias do Egito, outros remontam a origem à própria Atlântida. Em um ponto, único, há concordância: quaisquer que sejam a grafia correta ou a origem, a palavra significa “Caminho Real” – Caminho Real não no sentido de algo relacionado à realeza mundana, mas com a palavra “Real” empregada no sentido mais profundo, de verdadeiro, portanto, Caminho Verdadeiro. É interessante observar o que se pode extrair do seu próprio nome, pois fazendo-se anagramas com as letras que formam Tarô são obtidas palavras que sugerem o que vem a ser o Tarô e qual a sua finalidade. Com a palavra Tarô forma-se: ATOR = Aquele que Atua ROTA = Caminho, Direção TORA = Conhecimento, Lei Ou seja: “Aquele que Atua no Caminho do Conhecimento”. Observe-se que foi dito “Aquele que Atua” e não “aquele que age”, pois os conceitos diferem. Segundo a tradição quando se age cria-se karma, quando se “Atua”, não se cria karma. A explicação para tal forma de expressão baseia-se no ensinamento que afirma que “agir” é função do ego, enquanto “atuar” é função da consciência do ser. O ser interior (espírito ou consciência, a divindade que habita no âmago, no mais profundo de nosso ser total) de cada um de nós é que deve ser o ator, representando um personagem (personalidade ou ego) neste drama terreno. Portanto, quando se “Atua” é a própria expressão


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divina que o faz, e quando se age, é o ego desejando assumir o papel principal, quando personagem e ator se confundem. Desse modo, Tarô pode ser definido como: “Atuação no Caminho do Conhecimento”, mediante o uso das mensagens e ensinamentos de suas lâminas, ou cartas, como fonte de inspiração e sabedoria durante esse percurso. Seus ensinamentos são como um mapa que o caminhante pode utilizar para orientar-se quanto à trilha a seguir, a direção a tomar; para saber onde está e o que a vida lhe diz, que ensinamentos estão sendo transmitidos, o que o eu deve aprender, que atitudes tomar e em que estágio da jornada encontra-se no momento. É imprescindível dizer que não se trata de “caminho para o conhecimento”, e sim de “Caminho do Conhecimento”, porque não é um caminho que levará o estudante para o conhecimento ou até o conhecimento, e sim, que o Conhecimento é o próprio Caminho. O Tarô é um instrumento de acesso ao conhecimento. Para poder realizar esse objetivo é necessário que o tarólogo ou o estudante do Tarô saiba interpretar as mensagens contidas nas suas cartas. Tarô não é a simples classificação e decodificação mental, racional ou intelectual dos símbolos, mas a compreensão profunda das mensagens e ensinamentos que estão para além dos símbolos. No Tarô as cartas não têm um significado divintório, fixo, definido e predeterminado, e sim um significado filosófico, esotérico, que, uma vez compreendido, abrange o próprio infinito. A partir de cada carta do Tarô seria possível escrever um livro, principalmente a partir das cartas dos Arcanos Maiores, que são as que trazem as mensagens mais profundas, do mundo da alma, do espírito. Ao entrar no âmbito dos Arcanos do Tarô, precisamos antes saber o que são esses Arcanos, saber o que significa esse nome. A palavra “Arcano” vem do grego “Arcanum” e significa “segredo”, “mistério”. Pode-se dizer então que o Tarô é um livro formado por dois volumes, os Arcanos Maiores, mistérios maiores, e os Arcanos Menores, ou mistérios menores, que juntos somam 78 lâminas ou cartas – 22 Arcanos Maiores e 56 Arcanos Menores – com mensagens que têm por finalidade instruir e orientar o estudante no seu caminho de vida, em sua jornada em direção à própria liberdade e, consequentemente, à própria bem-aventurança ou felicidade. O Tarô poderia ser conside-


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rado o primeiro compêndio, ou mesmo Livro Sagrado, a ser escrito pelo homem. Não foi, entretanto, escrito com palavras, mas sim com símbolos, que têm uma abrangência muito maior do que a alcançada pelas palavras.




O Louco é o único Arcano que não tem número e, por isso mesmo, significa liberdade. Sendo assim, não tem posição definida dentro do Tarô, pois representa o caminhante, o que faz a jornada pelo caminho em busca da realização pessoal. O Louco é ao mesmo tempo o mais desconcertante e um dos mais profundos de todos os Arcanos Maiores. Carta ambígua, é o símbolo da inocência e também da extravagância. É o Arcano zero porque é o coringa do baralho, é a alma humana em sua jornada evolutiva; é quem faz a jornada sagrada pelo caminho do conhecimento. O Louco é tudo dentro do Tarô, contém em si tudo e o todo. É o início, o fim e o meio; é o princípio e o fim. É a essência do Tarô; o Tarô existe em função do Louco. Não fosse pelo Louco, o Tarô não teria necessidade de existir. Assim nos deparamos com o herói de nossa caminhada pela vida. A carta nos mostra um jovem vestido de bufão (ou palhaço), com roupas extravagantes, vagando por uma estrada que o leva a um abismo, carregando às costas uma trouxa com seus pertences, atada a uma vara que segura com uma das mãos; essa trouxa representa as posses e bens, tanto materiais como espirituais, que constituem seu maior tesouro; são todas as tendências e atributos que traz consigo de suas experiências passadas. A única coisa que pode levar deste mundo, seu conhecimento acumulado, que até poderia utilizar se quisesse ou se tivesse consciência dele. Mas ainda não sabe o que são ou para que lhe servirão em sua jornada; são o que traz no seu registro akáshico. Tem na outra mão um pequeno cajado, no qual ele se apoia ao caminhar, que simboliza o conhecimento que adquiriu até agora. O cajado é curto porque seu conhecimento ainda é pequeno. Um cachorro o persegue, e esse cachorro simboliza sua consciência, que, segundo ele, o atormenta. O cão tenta trazê-lo de volta ao caminho “Real”, porém, ele insiste em sua caminhada louca e cega, julgando que o cachorro quer molestá-lo, tolhê-lo em suas atividades, privá-lo


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