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PRINCIPAIS SEITAS DOS DIAS DE JESUS

HERESIOLOGIA I

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PRINCIPAIS SEITAS DOS DIAS DE JESUS

Três grupos religiosos surgiram dentro do Judaísmo no período interbíblico, nos dias de João Hircano, da família dos Macabeus, no período asmoneu9 por volta da metade do século II, a.C. Foram eles os fariseus, os saduceus e os essênios, cada qual com características próprias.

2.1 OS FARISEUS

O nome fariseu, do grego “farisaios”, vem por sua vez do hebraico “prushim”, que significa “separado”, “segregado”, “dividido”. Talvez esse nome lhes fora dado pelos inimigos – os saduceus, ou em virtude do fariseu viver separado do povo temendo a imundície. Eles mesmos gostavam de chamar-se de “haberim” = companheiros, ou “qedosim” = santos.

Esdras entregou-se a sublime tarefa de ensinar a Lei ao povo, após sua partida, foi por seus legítimos discípulos dado prosseguimento a essa importante missão. Aqueles que prosseguiram ensinando a Lei ao povo, foram chamados de “hasidhim” que significa “leais a Deus”.

O Novo Dicionário da Bíblia diz que “o nome ‘fariseu’ aparece pela primeira vez nos contextos dos primeiros reis-sacerdotes hamoneanos”.10 Apesar de serem minoria na sociedade pré-cristã, eram ferrenhos guardiões da Lei de Moisés, acabando no tempo de Herodes, o grande, sendo chamados de “separados”. A este grupo pertencia os “escribas”, homens que copiavam, e, portanto, conheciam a Lei. Reconhecidos como os “separados”, os “puritanos”, os “zelotes”, evoluíram

* Após a revolta dos macabeus, a dinastia dos asmoneus passou a governar a Judéia. 10. DOUGLAS, J. D. O Novo Dicionário da Bíblia. 2ª ed. São Paulo: Edições Vida Nova, 1997, p. 604.

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até chegarem ao fariseu tradicionalista e exclusivista da época de Jesus. Atualmente a palavra fariseu tornou-se sinônimo de hipócrita e fingido, até os dias de hoje.

O historiador judeu Flávio Josefo diz que “a maneira de viver dos fariseus não era nem mole nem cheia de delícias; era simples. Eles se apegam obstinadamente ao que se persuadem dever abraçar. Honram de tal modo os velhos que não ousam nem mesmo contradizê-los. Atribuem ao destino tudo o que acontece, sem, todavia tirar ao homem o poder de nele consentir; de sorte que, tudo sendo feito por ordem de Deus, depende, no entanto, da nossa vontade, entregando-nos à virtude ou ao vício. Eles julgam que as almas são imortais, que são julgadas em outro mundo e recompensadas ou castigadas segundo forma neste, viciosas ou virtuosas; que umas são eternamente retidas prisioneiras nessa outra vida e que outras voltam a esta. Eles granjearam por essa crença, tão grande autoridade entre o povo, que segue os seus sentimentos em tudo o que se refere ao culto de Deus e às orações solenes que lhe são feitas. Assim, cidades inteiras dão testemunho de sua virtude, de sua maneira de viver e de seus discursos”.11

2.2 OS SADUCEUS

No grego lemos “saddoukaíoi”; no hebraico “sadduquím”. O nome parece derivar de Sadoq que na Septuaginta se lê Saddouk, nome de vários sacerdotes, um dos quais vivia já no reinado de Davi (2 Samuel 15.24; 17.15; 19.11) e também depois com Salomão: “... e a Zadoque, o sacerdote, pôs o rei em lugar de Abiatar” (1 Reis 2.35). A linhagem de Zadoque permaneceu no sumo-sacerdócio até o cativeiro babilônico (1 Crônicas 6.8-12). Mesmo assim, a identificação dos saduceus com os zadoquianos não é certa, de modo algum, e há tradições conflitantes quanto à origem deles.

Seus pontos de vistas religiosos e teológicos resultaram do seu manuseio conservador e literal da Lei do Antigo Testamento (o Pentateuco). Eram oponentes amargos dos fariseus, tinham suas próprias tradições e métodos de hermenêuticos, recusando os preceitos orais tradicionais dos fariseus, a recompensa como o castigo

11. JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. Obra Completa. 5ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2001, p. 415.

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pós-morte, a existência de anjos, espíritos e a ressurreição. Esses motivos despertavam os saduceus à oposição contra Jesus.

No livro História dos Hebreus diz que “a opinião dos saduceus é que as almas morrem com o corpo; que a única coisa que nós somos obrigados a fazer é conservar a lei e é um ato de virtude não querer exceder em sabedoria aos que no-la ensinam. Os desta seita são em pequeno número, mas é composta de pessoa da mais alta condição”.12

2.3 OS ESSÊNIOS

No grego “Essênoi, Essaioi, Ossaioi”; no aramaico “asên, asayyâ”, plural de “asê, asyâ”, “curador”. O nome se justifica porque possuíam realmente um conhecimento avançado da medicina.13 Estabeleceram-se na praia ocidental do mar Morto, vivendo em comunidade, constituindo-se importante movimento judaico. Provavelmente, floresceram entre o século II a.C. e o século II d.C. ou mais, embora não apareçam no Novo Testamento, pois viviam no deserto. Eram separatistas, no sentido radical de se considerarem os únicos verdadeiros filhos de Israel, mantendo-se completamente isolados dos seus compatriotas.

O Novo Dicionário da Bíblia se utilizando Plínio declara que os essênios vivam no lado ocidental do Mar Morto, acima de Engedi.14 Esta localização entre Jericó e Engedi, é desértica onde se localizavam as ruínas de Qumran. A referência de Plínio é decisiva para identificação da seita de Qumran como os essênios, na ausência de contra-argumentos consistentes. Não se conhece nenhuma outra seita surgida no século II a.C. que possa ser associada à comunidade do deserto. A arqueologia não revelou nenhuma outra povoação no período em estudo.

Hershel Shanks, presidente da Sociedade Bíblica de arqueologia nos diz que “os essênios de Qumran eram um grupo sacerdotal; seu chefe era sacerdote; o arquiinimigo da seita era um sacerdote, usualmente designado como o Sacerdote Ímpio. Existem razões para se acreditar que a seita adotava um esquema de sacri-

12. JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. Obra Completa. 5ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2001, p. 415. 13. SILVA, Esequias Soares da. Manual de Apologética Cristã. São Paulo: CPAD, 2002, p. 24. 14. DOUGLAS, J. D. O Novo Dicionário da Bíblia. 2ª ed. São Paulo: Edições Vida Nova, 1997, p. 550.

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fícios em sua comunidade de Qumran. De qualquer forma, a comunidade estava atenta às tradições sacerdotais, às leis cerimoniais, às ordens dos sacerdotes e ao calendário litúrgico; muitas de suas composições refletem seu interesse quase obsessivo pela ortopraxia sacerdotal (ou seja, a correta prática e observância ortodoxa). A comunidade se referia aos seus sacerdotes como ‘filhos de Zadoque’, isto é, membros da antiga linhagem de sumos sacerdotes estabelecida nas escrituras”.15

Segundo Josefo “a terceira seita, atribuem e entregam todas as coisas, sem exceção, à providência de Deus. Crêem que as almas são imortais, acham que se deve fazer todo o possível para praticar a justiça e se contentam em enviar suas ofertas ao templo, sem lá ir fazer os sacrifícios, porque eles o fazem em particular, com cerimônias ainda maiores. Seus costumes são irreprocháveis e sua única preocupação é cultivar a terra. Sua virtude é tão admirável que supera de muito a de todos os gregos e os de outras nações, porque eles fazem disso todo o seu empenho e preocupação, e a ela se aplicam continuamente. Possuem todos os bens em comum, sem que os ricos tenham maior parte do que os pobres; seu número é de mais de quatro mil. Não tem mulheres, nem criados, porque estão persuadidos de que as mulheres não contribuem para o descanso da vida; quanto aos criados, é ofender a natureza, que fez todos os homens iguais, querer sujeitá-los; assim, eles se servem uns dos outros e escolhem homens de bem da ordem dos sacrificadores, que recebem tudo o que eles recolhem do seu trabalho e têm o cuidado de dar alimento a todos”.16

15. SHANKS, Hershel. Para compreender os manuscritos do Mar Morto. Rio de Janeiro: Imago, 1993, p. 27. 16. JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. Obra Completa. 5ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2001, p. 415.

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