Beatriz Aquino Bernardes
REQUALIFICAÇÃO DA PRAÇA WALDEMAR FRASSETO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Senac Campus Santo Amaro, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo Orientadora: Prof. Ms. Marcella de Moraes Ocke Mussnich
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a toda minha família, que sempre me apoiaram, tanto nos momentos fáceis, como nos difíceis, que me levantaram quando eu mesma já havia me dado por vencida. Meus agradecimentos aos amigos próximos e os distantes por falta de opção, eu agradeço do fundo do meu coração a minha querida amiga e xará Ana Beatriz, se não fosse sua ajuda, paciência, e companheirismo dificilmente teria chego até aqui. E por último porém não menos importante eu agradeço aos professores do senac, por repassarem o vasto conhecimentos de todos você, sem toda essa ajuda não seria possível chegar até aqui, e principalmente a minha orientadora, Marcella Ocke. Por fim só tenho a agradecer a todos, muito obrigada.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 2. OBJETIVO GERAL 3. JUSTIFICATIVA 4. FUNDAMENTAÇÃO 5. REFERENCIAL TEÓRICO 6. CONTEXTUALIZAÇÃO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO 7. REFERÊNCIAS DE PROJETO 7.1. PARQUE LINEAR DAS CORUJAS, VILA MADALENA 7.2. PLAZA DE LA BALSA VIEJA, TOTANA, ESPANHA 7.3. WATERPLEIN BENTHEMPLEIN 8. QUESTIONÁRIO 9. PARTIDO A SER ADOTADO NO PROJETO 10. PROJETO 10.1 PLANTA 10.2 AMPLIAÇÕES
09 10 11 12 16 19 23 27 30 33 38 39 40 41 42
LISTA DE FIGURAS Ilustração 1: Imagem retirada do livro Praças Brasileiras. Ilustração 2: Representação da Ágora Grega. Fonte: Enciclopédia Britânica Ilustração 3: Fonte: Prefeitura do Município de São Paulo – Atlas da Saúde (2001) Ilustração 4: Fonte Google Maps. Acesso em 30/09/2017 Ilustração 5: Fonte: Prefeitura doMunicípio de São Paulo -Atlas da Saúde (2011) Ilustração 6: Fonte: Prefeitura do Município de São Paulo – Atlas da Saúde (2011) Ilustração 7: Entorno da praça Waldemar Frassetto. Fonte: Google Maps (2017) Ilustração 8: Encenação teatral. Foto: Centro Cultural Palhaço Carequinha (2008) Ilustração 9: Córrego com lixo e entulho. Foto: Beatriz Aquino Ilustração 10: Descarte incorreto do lixo. Foto: Beatriz Aquino Ilustração 11: Descarte incorreto do lixo e deck destruído.Foto: Beatriz Aquino Ilustração 12: Descarte incorretodo lixo. Foto: Beatriz Aquino Ilustração 13: Estado atual do coreto. Foto: Beatriz Aquino Ilustração 14: Descarte incorreto do lixo, deck destruído e vegetação alta. Foto: Beatriz Aquino Ilustração 15: Balanço depredado e feira livre às terças feiras.Foto: Beatriz Aquino Ilustração 16: Parque Linear das Corujas e seu entorno. Imagem: Google Earth. Acesso em set/2017 Ilustração 17: Córrego interno ao parque. Foto: Marcela Ocke (2017) Ilustração 18: Brinquedos na praça e interação entre as crianças. Foto: Marcela Ocke (2017) Ilustração 19: Horta cultivada pelos próprios moradores do entorno. Foto: Horta das Corujas (2017) Ilustração 20: 2ª Edição da Galeria da Coruja, realizada por convidados. Foto: Marcela Ocke (2017) Ilustração 21: Plaza de La Balsa Vieja. Imagem: Google Earth. Acesso em set/2017 Ilustração 22: Os diferentes patamares da praça. Imagem: Joanaa Helm Ilustração 23: Desenhos do piso e diferentes usos para um só ambiente. Imagem: Joanaa Helm Ilustração 24: Sombreamento do pergolado. Imagem: Joanaa Helm Ilustração 25: A praça. Imagem: Joanaa Helm Ilustração 26: Diferentes usos da praça. Imagem: Joanaa Helm Ilustração 27: Vista de cima. Fonte: Google Earth. Acesso em out/2017 Ilustração 28: Edifícios do entorno da praça. Fonte: Google Earth. Acesso em out/2017 Ilustração 29: Vista de cima. Fonte: Google Earth. Acesso em out/2017 Ilustração 30: Waterplein Benthemplein. Foto: De Urbanisten
Ilustração 31: Waterplein Benthemplein. Foto: De Urbanisten Ilustração 32: Waterplein Benthemplein. Foto: De Urbanisten Ilustração 33: Waterplein Benthemplein. Foto: De Urbanisten Ilustração 34: A parede água. Foto: Jurgen Bals Ilustração 35: Esquema de funcionamento da parede de água. Fonte: De Urbanisten Ilustração 36: Estudo de topografia da praça. Elaboração: autora Ilustração 37: Estudo do Polo cultural como eixo de distribuição. Elaboração: autora Ilustração 38: Planta do porjeto Ilustração 39: Ampliação deck piquenique Ilustração 40: Ampliação food truck Ilustração 41: Ampliação food truck Ilustração 42: Ampliação quadra, horta comunitária. Ilustração 43: Ampliação área radical. Ilustração 44: Ampliação jardim de chuva, rua compartilhada. Ilustração 45: Ampliação jardim de chuva, lombo facha. Ilustração 46: Ampliação parquinho Ilustração 47: Ampliação academia. Ilustração 48: Ampliação cinema ao ar livre Ilustração 49: Ampliação museu ao ar livre.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Papel da praça em diferentes períodos. Elaboração: Autora Tabela 2: Questionário submetido aos moradores do entorno. Elaboração: Autora
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RESUMO
Este trabalho tem como objetivo principal um projeto de requalificação da Praça Waldemar Frasseto, parte do Polo Cultural do Grajaú, área localizada no bairro do de mesmo nome. A área de intervenção escolhida, que já passou por um processo de revitalização anterior, atualmente encontra-se degradada, com problemas de alagamento, além de pouca utilização devido ao abandono e à falta de cuidados, tanto do poder público quanto dos moradores do entorno. Interligada com o projeto está a recuperação do Rio das Pedras, extensão da Represa Guarapiranga, que se encontra no coração das praças. Além disso, a intenção principal deste projeto é trazer de volta a vida social do local, devolvendo à população uma área de lazer, cultura, esportes e interação entre outros. Palavras-Chave: Sustentabilidade; Infraestrutura Verde; Requalificação; Projeto paisagístico.
ABSTRACT
This work has as main objective a project of requalification of the Praça Waldemar Frasseto, part of the Cultural Pole of the Grajaú, area located in the neighborhood of the same name. The area of intervention chosen, which has undergone a previous revitalization process, is currently degraded, with problems of flooding, and low utilization due to abandonment and lack of care, both public and residents. Connected with the project is the recovery of Rio das Pedras, extension of the Guarapiranga Dam, located in the heart of the squares. In addition, the main intention of this project is to bring back the social life of the place, giving back to the population an area of leisure, culture, sports and interaction among others. Keywords:
Key Words: Sustainability; Green Infrastructure; Requalification; Landscape design.
1. INTRODUÇÃO O que é uma praça? Como bem caracterizam Macedo e Robba (2002), “Praças são espaços livres públicos urbanos destinados ao lazer e ao convívio da população, acessíveis aos cidadãos e livres de veículos, definidos pela malha urbana formal e que não ocupem mais 2 ou 3 quadras consecutivas”. Tendo passado por um processo de revitalização em 2008, quando recebeu pista de Cooper, quadra de bocha, playground, bancos, mesas, projeto paisagístico e calçadas permeáveis, a Praça Waldemar Frassetto, embora apresentasse os requisitos básicos elencados por Robba e Macedo, hoje se encontra em situação precária no que diz respeito à segurança de seus usuários, pontos de alagamento e mal uso por parte da população do entorno. Cabe lembrar que a situação da praça em questão não é um caso isolado entre as praças das periferias dos grandes centros urbanos brasileiros que assistem a fenômenos semelhantes. Porém, a Praça Waldemar Frassetto foi escolhida como recorte para se compreender situações semelhantes. O presente trabalho tem como objetivo identificar os motivos pelos quais a Praça, localizada no Parque América, bairro do Grajaú em São Paulo, se encontra hoje deteriorada e, a partir disso propor uma intervenção urbanística no sentido de atender as reais necessidades e aspirações da população do entorno com relação ao uso de espaços públicos para descanso, lazer e reflexão.
Para se atingir este objetivo será feita uma pesquisa que incluirá visitas ao local, documentação fotográfica e cartográfica e entrevistas com moradores do entorno. Além disso se procederá à uma pesquisa histórica da formação do bairro, a tipicidade de seus moradores quanto à origem, condição social, etc., além de pesquisa bibliográfica sobre a origem histórica das praças, seus objetivos, sua formação, desenvolvimento e evolução ao longo do tempo. Concluída a radiografia da praça, do seu entorno e do próprio bairro será executado um projeto de intervenção urbanística visando a revitalização da praça em questão, adequando seu uso ás características da população residente nas proximidades. Este trabalho se reveste de relevância na medida em que busca devolver a uma população carente de equipamentos públicos um espaço que foi pensado originalmente para servir de local destinado ao descanso, lazer e reflexão e que, por motivos que serão investigados, deixou de cumprir seu objetivo e foi deteriorado.
2. OBJETIVO GERAL
O objetivo do presente trabalho é investigar as causas da deterioração da praça Waldemar Frassetto e, a partir disso, propor uma intervenção urbanística que possa revitalizar seu uso.
3. JUSTIFICATIVA
O Parque América, localizado no Grajaú, como todo bairro da periferia de São Paulo, carece de locais onde a população possa usufruir de momentos de descanso, lazer e encontros. Em 2008, a Praça Waldemar Frassetto passou por uma intervenção urbanística visando sua revitalização completa, porém em 2017 já se encontra totalmente deteriorada e inadequada ao uso público. O que se busca neste trabalho é investigar as razões pelas quais este fato ocorreu e propor uma nova intervenção que propicie que a praça venha a ter uma forma de utilização mais adequada às novas realidades da população do entorno. O trabalho se reveste de especial relevância uma vez que a população predominantemente de baixa renda do bairro carece de equipamento públicos de lazer e descanso.
4. FUNDAMENTAÇÃO 4.1. DEFINIÇÃO DE PRAÇA Não há como se começar a falar em praças sem que retomemos seu primeiro conceito dentro do mundo civilizado, representado pela Ágora na Grécia antiga. A Ágora era um local de reunião, um espaço livre localizado entre os mercados e edifícios de uso público, e pontos de afluxo de pessoas dentro da cidade de Atenas. Era para lá que os cidadãos atenienses se dirigiam para ouvir os discursos dos sofistas e decidir pelo voto, assuntos de relevância para a pólis. O uso das assembleias soberanas foi fortalecido no governo de Péricles (V a.C) e passaram a constituir o coração do sistema democrático onde os cidadãos se reuniam para discutir os problemas da polis e criar as leis. Dentre estas assembleias, a principal delas era a Ekklésia, ou Assembleia do Povo, local onde todos os cidadãos tinham direto a palavra e ao voto e deliberavam questões ligadas a defesa do país, escolha de magistrados para cargos políticos, julgavam questões de traição e direitos políticos entre outras. Outra assembleia era dedicada aos “suplícios”, onde todos os cidadãos poderiam colocar assuntos de caráter público ou privado para discussão ou deliberação. Para que as sessões fossem válidas, as assembleias exigiam quórum mínimo de 6 mil cidadãos e as votações eram decididas de forma direta, por maioria simples, com cada votante levantando ou não a mão para o alto (MENEZES, 2010).
Portanto, a primeira praça importante do mundo civilizado tinha como característica reunir as pessoas, discutir seus problemas e deliberar sobre soluções que influíam na vida de todos. Era a democracia direta. Segundo Macedo e Robba (2002, p.5), “A praça pode ser definida, de maneira ampla, como qualquer espaço público urbano, livre de edificações que propicie convivência e/ou recreação para os seus usuários.” Partindo dessa definição básica, serão apresentadas algumas definições de praça e seus diferentes usos durante os tempos e o desenvolvimento histórico das mesmas. Sun (2004) afirma que os espaços públicos são adaptáveis, transformáveis e plásticos. Seus atributos devem ter relação com a vida pública, como lugar de sociabilidade e convivência e devem ser indissociáveis das formas assumidas pelas práticas sociais. Para ele, o sucesso de um espaço público é o acesso e as opções para sentar-se .
Além de um espaço público urbano livre de edificações, a praça traz como função principal a vivência na cidade, a troca de experiências – assim como de mercadorias e de um espaço para discussões e onde o indivíduo consiga exercer sua cidadania.
Ilustração 1: Imagem retirada do livro Praças Brasileiras.
A praça, juntamente com as ruas, consiste em um dos mais importantes espaços públicos urbanos da história no país, tendo, desde os primeiros tempos da Colônia, desempenhando um papel fundamental no contexto das relações sociais em desenvolvimento. “[...] a praça é, portanto, um centro, um ponto de convergência da população que a ela acorre para o ócio, para comerciar, trocar idéias, e ainda, para encontros românticos ou políticos. Enfim, para o desempenho da vida urbana ao ar livre.” (SILVA, 2009, p.01.) Mais uma vez, a praça aparece como ponto importante para o desenvolvimento das relações sociais básicas
necessárias para o desenvolvimento da cidade. “A praça é um elemento urbano. Foi sempre celebrada como um espaço de convivência e lazer dos cidadãos.” (MACEDO e ROBBA, 2002, p.03). A definição de parques, para Carneiro e Mesquita, se dá por serem espaços (...) livres públicos com função predominante de recreação, ocupando na malha urbana uma área em grau de equivalência superior à da quadra típica urbana, em geral apresentando componentes da paisagem natural – vegetação, topografia, elemento aquático – como também edificações destinadas a atividades recreativas, culturais e/ ou administrativas. (CARNEIRO e MESQUITA, 2000, p.28)
Como na Ágora grega, a praça deve se revestir de um caráter democrático e de respeito ao direito de seu uso por todos. (...) Se espera um tipo específico de interação e uma disposição a se submeter a determinadas situações sociais, como expor-se a diferentes pessoas (uma vez que se trata de um espaço aberto a todos) e a certas convenções, como respeitar o direito do outro ao uso desse mesmo espaço. (ANDRADE, JAYME E ALMEIDA, 2009, p. 133)
Vale por fim, destacar o que Balman afirma com relação aos espaços públicos: Um espaço é público à medida que permite o acesso de homens e mulheres sem que precisem ser previamente selecionados. Nenhum passe é exigido, e não se registram entradas e saídas. [...] Trata-se em outras palavras, de locais onde se descobrem, se aprendem esobretudose praticam os costumes e as maneiras de uma vida urbana satisfatória. BAUMAN (2009,p.69-70) Com isso, podemos concluir que a praça é o local democrático ideal para a vivência da cidade, a troca de experiências com o outro e para a prática da alteridade, ou seja, a prática da sociabilidade e a percepção da diferença entre o indivíduo em conjunto e o mesmo na unidade, além do respeito para com o próximo. A praça inicialmente no Brasil servia como lugar de contemplação, vida social, comércio e se dava a partir das igrejas, como espaço de convivência. Mais a frente, passa a ser um centro simbólico, se desenvolvendo naturalmente a partir do primeiro uso da Praça no Brasil.
Do século XVII adiante, a praça brasileira vai adquirindo o papel de gerador do traçado e passa a ser concebida como “centro simbólico, funcional e formal da cidade”, onde se implantam os principais edifícios institucionais – nomeadamente a Casa de Câmara e Cadeia, a Santa Casa de Misericórdia e a Igreja Matriz Essas edificações importantes articulam-se à geração de um espaço livre destinado à aglomeração popular e à reunião cívica – as funções administrativas se concentram em locais específicos, conferindo às ruas as funções de ligação e acesso a esses pontos principais. O padrão de configuração das praças em geral dava-se então, a partir das edificações do seu entorno, elas eram configuradas pelo casario ao seu redor. Podemos inferir que nesse momento aparecem as primeiras composições espaciais que originam nossas praças cívicas (CALDEIRA, 2007).
5. REFERENCIAL TEÓRICO Podemos remontar a origem das praças à Grécia dos tempos de Sócrates ou Platão (anos 400 a.C.). Como explicam De Angelis et al (2005), sobre a Ágora grega: “centro dinâmico da cidade grega, a ágora é a antecessora remota de nossas praças”. (DE ANGELIS et al, 2005, p. 04). a história demonstra que a praça ocidental tem sua origem na ágora ateniense, local de reunião e discussão dos destinos de muitas das cidades gregas. Com um sentido político, mas não apenas, a ágora era um espaço público de muita visibilidade e um dos espaços mais valorizados da cidade grega que não tinha uma forma definida ou regular (DE ANGELIS et al, 2005, p. 4).
Ilustração 2: Representação da Ágora Grega. Fonte: Enciclopédia Britânica
As praças também costumam ser palco de acontecimentos históricos como bem lambram De Angelis e De Angelis Neto (1999): Na ágora, Sócrates fora colocado sob processo. No Fórum de Roma, nasceu o Império homônimo. A Praça de São Petersburgo foi o berço da Revolução Comunista na extinta União Soviética. Na Plaza de Mayo, Buenos Aires, surgiu e resiste o movimento de mães que buscam seus filhos desaparecidos durante o regime militar. A Praça de Tiananmen - ou T’ien-Na-Men -, (Praça da Paz Celestial), em Pequim, é símbolo e testemunha da agonia e morte dos que buscavam democracia e liberdade na primavera de 1989. (DE ANGELIS e DE ANGELIS NETO, 1999, p. 1)
Segundo Rigotti (2005), “As praças são locais onde as pessoas se reúnem para fins comerciais, políticos, sociais ou religiosos, ou ainda, onde se desenvolvem atividades de entretenimento” . (RIGOTTI, 2005) Ainda, segundo Lamas apud De Angelis (2005), “a praça é o lugar intencional do encontro, da permanência, dos acontecimentos, de práticas sociais, de manifestações da vida urbana e comunitária e, consequentemente, de funções estruturantes e arquiteturas significativas” (LAMAS apud DE ANGELIS, 2005, p. 2) Porém, o mundo contemporâneo onde tudo está em constante transformação vem alterando o modo como vimos as praças não só no Brasil, como no mundo inteiro, como nos mostra Sun (2008): Os espaços livres como as praças, nos dias atuais, passaram a ser valorizados para a vida urbana, com atributos ambientais, estético, e simbólico, em contraste a caótica vida urbana das cidades e a outros espaços característicos da atualidade, como shoppings centers, espaços impessoais opostos aos das praças. Porém, as praças contemporâneas, apesar de deverem propiciar o encontro, o convívio social e o lazer, têm sofrido com o uso seletivo ou desuso, em função de projetos inadequados, apropriações indevidas e perda do significado urbanístico (SUN, 2008).
Ribeiro (2010) acrescenta:
Estudos feitos no Brasil demonstram que, nas grandes cidades, as praças vêm perdendo “espaço” e “público”. Isso ocorre porque a população dessas cidades tem encontrado outras opções de lazer em espaços fechados como shoppings, teatros e museus. Outro fator que afasta o público das praças é a falta de manutenção adequada e a falta de segurança, que levam antigos frequentadores a abandonarem. (RIBEIRO, 2010, p.1).
Para Silva e Versiani (2011, p.3), a falta de planejamento e a escassez de recursos se refletem “(...) diretamente nos espaços públicos destinados ao lazer. [...] O que explica a situação de descaso e abandono em que se encontram tais espaços, como se vê atualmente na grande maioria das cidades brasileiras”. Além disso, cabe destacar que principalmente os grandes centros urbanos passaram por transformações físicas motivadas em grande parte pelo medo e pela insegurança. A arquitetura do medo e da insegurança - uma arquitetura hostil, cujo aspecto é semelhante ao de uma fortaleza, com suas guaritas e seus ornamentos provocadores e caros - se espalha pelo espaço público das cidades e o transforma em áreas extremamente vigiadas. Alguns dispositivos também são utilizados para afastar desocupados, mendigos e toda a sorte de os usuários dificultando a permanência nesse espaço, como por exemplo, a eliminação de bancos e áreas cobertas. (FERNANDES, 2011, p.39).
A evolução das praças, mostra que a diversidade de usos A tabela abaixo compara o papel da praça em seus diferentes períodos:
dado
à
praça
vêm
crescendo
gradativamente.
Tabela 1: Papel da praça em diferentes períodos.
Fonte: Livro Praças Brasileiras
Para Gomes (2002) “o abandono dos espaços públicos se deve a um confinamento dos terrenos de sociabilidade, com a vivência ocorrendo cada vez mais em espaços fechados. Existe uma multiplicação de espaços comuns, mas esses, não são públicos, desta forma produz o esvaziamento do espaço público”. Fica claro, portanto, que o esvaziamento desses locais de uso público é um fenômeno dos dias atuais. Para Bauman (2001), vivemos tempos de modernidade líquida ou vida líquida em que tudo que é sólido escorre pelas mãos, ou seja, as transformações ocorrem tão rapidamente que se perde a essência das coisas. Tudo é feito para durar pouco e de forma mutável. As pessoas atualmente voltam sua atenção para o agora, se ocupando com várias tarefas e deixando a vida de lado.
6. CONTEXTUALIZAÇÃO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO O Grajaú é um distrito do município de São Paulo, localizado na Zona Sul e administrado pela subprefeitura da Capela do Socorro. Seus limites são os distritos de Pedreira, Cidade Dutra, Parelheiros e os municípios de São Bernardo do Campo e Diadema. Pelos dados da Prefeitura de São Paulo (2010), fica a 26 km da Praça da Sé, e a 14 km dos principais bairros da zona sul da cidade como Santo Amaro e Jabaquara. Sua área, segundo a Seade (2017) é de 1521,11km² Ainda, de acordo com a Seade (2017), o Grajaú possui uma população de aproximadamente 381 mil habitantes, sendo o distrito mais populoso da capital. Sua densidade demográfica, é de 7689,18 hab./km² (no Estado a densidade é de 175,95 hab./km²). A ocupação é dos anos 50 e 60 quando a cidade de São Paulo vivia um intenso processo de desenvolvimento, tanto industrial quanto demográfico. Com a instalação do polo industrial de Santo Amaro ocorre o aumento da oferta de emprego e de terras abaixo do custo culminando em um aumento populacional no lado sul. O distrito do Grajaú é uma das regiões mais pobres da capital paulistana. Segundo dados do Seade (2017), a renda per capita é de apenas R$450,70. Segundo a (SEHAB/HABI, 2008), entre 1991 a 2000 a ocupação na área urbana aumentou 180% e na área rural em torno 410%. Como consequência, o número de favelas é de 73, sendo, portanto, o terceiro distrito, proporcionalmente, com mais favelas e mais moradores por domicílio (6) na zona sul. De acordo com PONCIANO, 2004 p.102), “A prefeitura paulistana nos ensina que o distrito do Grajaú apresenta uma elevada taxa de crescimento, uma das cinco maiores de São Paulo. Além de ser o mais populoso, é também o que possui o maior número de pessoas vivendo em favelas.” De acordo com a Seade (2000), havia em 2000 mais de 3 mil famílias sem habitação no distrito. De acordo com o Atlas Saúde (2011), o Grajaú é considerado um distrito predominantemente pobre, tendo apenas 39% de seus domicílios ligados a rede geral de esgoto sanitário, sendo um dos distritos com maior necessidade de atendimento à saúde.
Ilustração 3: Fonte: Prefeitura do Município de São Paulo – Atlas da Saúde (2001)
Conforme informações do Coletivo Imargem (2007), o Grajaú é considerado um distrito ilegal, já que boa parte dos moradores não possui escritura de posse. Além disso, a ocupação é irregular por estar localizada dentro de uma área de mananciais hídricos pertencente à represa Billings, responsável pelo abasteimento de 30% dos domicílios paulistanos.
Ilustração 4: Fonte Google Maps. Acesso em 30/09/2017
Ilustração 5: Fonte: Prefeitura doMunicípio de São Paulo -Atlas da Saúde (2011)
Ilustração 6: Fonte: Prefeitura do Município de São Paulo – Atlas da Saúde (2011)
Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego - Relação Anual de Informações Sociais – Rais (2010), apenas algo em torno 40% dos negros no Grajaú trabalha com carteira assinada. O analfabetismo atinge mais de 25% da população. Embora tenha tido queda de 10% nos últimos dez anos, ainda é o terceiro no ranking.
Ostenta, ainda segundo o Ministério, menos de 10% das crianças entre 0-6 anos matriculadas em estabelecimentos escolares e creches. Há apenas um Hospital com apenas 240 leitos disponíveis para a população. Como vemos, o Grajaú é um dos distritos mais desprovidos de atendimento à saúde do município de São Paulo. A cena cultural é forte com presença marcante do rap, graffiti, pixo, skate, por exemplo, que, entre outros, dão um caráter super original ao Hip Hop local. Os bonés, camiseta e calças largas, cabelo trançado, black ou dred contrastam com outros estilos presentes como o punk. A melhor tradução desse fenômeno é Santos (2001) quem nos dá: riedade. E desse modo que, gerada de dentro, essa cultura endógena impõe-se como um alimento da política dos pobres, que se dá independentemente e acima dos partidos e das organizações. Tal cultura realiza-se segundo níveis mais baixos de técnica, de capital e de organização, daí suas formas típicas de criação. Isto seria, aparentemente, uma fraqueza, mas na realidade é uma força, já que se realiza, desse modo, uma integração orgânica com o território dos pobres e o seu conteúdo humano. Daí a expressividade dos seus símbolos, manifestados na fala, na música e na riqueza das formas de intercurso e solidariedade entre as pessoas. E tudo isso evolui de modo inseparável, o que assegura a permanência do movimento. (SANTOS, 2001, p.70)
O Grajaú vem apresentando um forte desenvolvimento com grandes construções tanto na área residencial quanto comercial. Bairros como Parque Residencial Cocaia, Jardim Novo Horizonte, Jardim Eliana, Parque Grajaú, Jardim Varginha e Vila Natal contam com uma grande área comercial, enquanto bairros como Jardim São Bernardo, Jardim Shangrila, Jardim Marilda, Palmares, Jardim Noronha e Parque América, são estritamente residenciais. No ano de 2016 o Grajaú ocupava a 7º posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da cidade. Diariamente ocorrem muitos conflitos relacionados à densidade e assentamentos irregulares nessa região causados por interesses econômicos, desigualdade social, degradação ambiental e da paisagem urbana. Alguns problemas principais identificados na área do projeto através de visitas ao local e da experiência já obtida por ser moradora da área em questão, são:
- Abandono do Governo - Assaltos - APM (Áreas de Proteção Ambiental) - Área Alagável - Ocupações Irregulares de Baixa renda - Altíssima densidade (ressalta a importância de uma área verde e de convivência no local)
6.1 IMPLANTAÇÃO
A praça, localizada à rua José Antunes Cerdeira - Parque América, parte do Pólo Cultural do Grajaú, composto pela Casa de Cultura Palhaço Carequinha, o Cine Clube Grajaú, o Ponto de Leitura Graciliano Ramos, o Calçadão Cultural (que abriga a Escola de Samba Estrela do Terceiro Milênio), os CDMs Tancredo Neves e Sebastião Zillig, o Centro de Cidadania da Mulher e a Praça Waldemar Frasseto.
Ilustração 7: Entorno da praça Waldemar Frassetto. Fonte: Google Maps (2017)
Ilustração 8: Encenação teatral. Foto: Centro Cultural Palhaço Carequinha (2008)
Inicialmente, o Pólo Cultural, revitalizado e entregue em 17/02/2008, oferecia as seguintes atividades: Afromix Dança, Histórias Brincantes, Fotografia Urbana Experimental, Zumba, Dança do ventre, Capoeira Angola, Bem estar Dance, Pintura em Vidro e Tecido, Ballet Infantil, Boxe, Teatro Infanto Juvenil, Tricô, Judô, Arte Plástica em EVA, Crochê, Teatro, Samba Rock, Encontro de dança de rua, Dança Axé, Capoeira para 3°Idade, Ballet Infantil, Oficina de hip hop, Dança Zouk, RPG.
Atualmente, a praça se encontra em estado de abandono, tanto por parte do governo, quanto pela própria população, o que acaba por afastar os antigos e os possíveis novos usuários por conta de sua deterioração.
Ilustração 9: Córrego com lixo e entulho. Foto: Beatriz Aquino
Em diversos meios de comunicação como jornais e o site da prefeitura, por exemplo, são encontradas queixas de moradores e da população flutuante sobre o estado de conservação da praça, a falta de manutenção, falta de lixeiras (e a coleta das mesmas) falta de uso e programações, entre outros.
Ilustração 10: Descarte incorreto do lixo. Foto: Beatriz Aquino
O Rio das Pedras, um braço da Represa Guarapiranga, corta uma parte da praça. Apesar do Rio das Pedras ter sido despoluído no ano de 2008, pelo programa córrego limpo as condições do Rio hoje são bastante precárias. Com o abandono do governo e má gerenciamento dos provenientes de dejetos jogados nas ruas, calçadas que colaboraram para a poluição em que novamente ele se encontra, e está cada vez pior. A intenção é promover uma maior proximidade e interatividade com os moradores da proximidade, com os usuários da praça, e a implementação de programas educacionais de conscientização a respeito da preservação do Rio da Pedras. Além disso é necessário que se trate da questão da poluição, o governo precisa retomar as obras antes realizadas de recuperação e investimentos em saneamento de despoluição que eram efetuadas a margens e do leito do Rio com o apoio do programa Córrego limpo.
Ilustração 12: Estado atual do coreto. Foto: Beatriz Aquino
Ilustração 11: Descarte incorreto do lixo e deck destruído.Foto: Beatriz Aquino
Ilustração 13: Descarte incorreto do lixo. Foto: Beatriz Aquino
Ilustração 14: Descarte incorreto do lixo, deck destruído e vegetação alta. Foto: Beatriz Aquino
Ilustração 15: Balanço depredado e feira livre às terças feiras.Foto: Beatriz Aquino
7. REFERÊNCIAS DE PROJETO Para se propor um partido para o projeto de revitalização da Praça Waldemar Frasseto, faz-se necessário conhecer e estudar outras praças que podem servir como modelo ou referência para tal. Elencou-se três praças para o presente estudo.
7.1. PARQUE LINEAR DAS CORUJAS, VILA MADALENA ARQUITETURA: ELZA NIERO
Ilustração 16: Parque Linear das Corujas e seu entorno. Imagem: Google Earth. Acesso em set/2017
O Parque Linear das Corujas foi projetado em 2008 pela arquiteta Elza Niero com enfoque na sustentabilidade. O partido do projeto considerou a preservação do córrego onde foi implantado um sistema de drenagem verde (“biovaletas”), que tem a função de reter, filtrar e tratar as águas fluviais. As quatro entradas da praça foram caracterizadas como jardim de chuva por receberem as águas que escorrem pelas ruas que nela desembocam. Daí em diante as águas pluviais seguem caminho até as biovaletas. Os moradores do entorno, usuários da praça, criaram uma horta comunitária aberta ao público em geral. A praça conta ainda com mobiliários urbanos, brinquedos para as crianças, e jardins floridos.
Ilustração 18: Brinquedos na praça e interação entre as crianças. Foto: Marcela Ocke (2017)
Ilustração 17: Córrego interno ao Parque. Imagem: Marcela Ocke. (2017)
A praça em questão, a exemplo da Praça Waldemar Frasseto também possui um córrego que o atravessa. Pode-se observar pela Fig. 18 que, embora haja folhas caídas, o curso d'água permanece limpo evido às biovaletas. A praça em questão, a exemplo da Praça Waldemar Frasseto também possui um córrego que o atravessa. Pode-se observar pela Fig. 18 que, embora haja folhas caídas, o curso d’água permanece limpo evido às biovaletas.
Ilustração 19: Horta cultivada pelos próprios moradores do entorno. Foto: Horta das Corujas (2017)
Ilustração 20: 2ª Edição da Galeria da Coruja, realizada por convidados. Foto: Marcela Ocke (2017)
Periodicamente há eventos no parque como o da Fig. 21 que mostra intervenções artísticas feitas por convidados. Outro diferencial do Parque Linear das Corujas é a horta comunitária mantida pelos moradores do entorno (fig. 22). O Parque Linear das Corujas é um bom exemplo de como uma praça ode ser frequentada e mantida pelos moradores de seu entorno, desde que haja ofeta de uma variedade de equipamentos para seu uso.
7.2. PLAZA DE LA BALSA VIEJA, TOTANA - ESPANHA ARQUITETURA: HENRIQUE MÍNGUES MARTINEZ
A Plaza de la Balsa Vieja foi projetada em 2010 com o partido de priorizar a vivência, revitalizar e fortalecer o uso deste grande espaço de 2975m² de superfície. A ideia é incentivar os usos misto e múltiplo. O sombreamento foi obtido com pergolados e com a vegetação já existente. Os espaços abertos ou mais reservados são para todos os tipos de usos. As escadas e rampas dão suporte aos diferentes desníveis. A vegetação implantada também serve como proteção para o tráfego próximo, proteção acústica, e conforto térmico. Ilustração 21: Plaza de La Balsa Vieja. Imagem: Google Earth. Acesso em set/2017
Percebe-se pela Fig. 29 que a Plaza de la Balsa Vieja encontra-se confinada em uma área urbana de muito pouca vegetação.
Ilustração 22: Os diferentes patamares da praça. Imagem: Joanaa Helm
Ilustração 23: Desenhos do piso e diferentes usos para um só ambiente. Imagem: Joanaa Helm
Os diferentes patamares mostrados na Fig. 30 dão uma ideia de dinamismo e movimento à praça que, embora não pareça, pelas fotos aéreas, possui áreas verdes. Trabalhar com diferentes desenhos de piso proporcina uma quebra de homogeneidade e, consequentemente de monotonia, como mostra a Fig. 31.
Ilustração
25:
A
praça.
Imagem:
Joanaa
Helm
Ilustração 24: Sombreamento do pergolado. Imagem: Joanaa Helm
Ilustração 26: Diferentes usos da praça. Imagem: Joanaa Helm
A praça também é um local de recreação e pela Figs. 34, temos uma boa ideia disso. Todos esses elementos de projeto encontrados nessas três praças tão diferentes entre si podem ser reproduzidos no partido do presente trabalho.
7.2. WATERPLEIN BENTHEMPLEIN, ROTTERDAN - HOLANDA ARQUITETURA: URBANISTEN
Ilustração 27: Vista de cima. Fonte: Google Earth. Acesso em out/2017
O olhar do Arquiteto se dirige para as carências urbanísticas da cidade, imagina soluções, mas ao mesmo tempo identifica propostas que se assemelham àquilo que considera ideal para a elaboração de seu próprio projeto, as relaciona com sua realidade, as filtra e delas extrai o que podem apresentar de melhor. Assim é que o olhar do Arquiteto percorreu a praça Waldemar Frasseto, detectou inúmeros problemas já elencados anteriormente e para os quais apresentou propostas de solução. Como foi visto, o córrego Rio das Pedras é objeto de constantes alagamentos. Existem várias maneiras de solucionar esse problema. Muitas passam pela sua destruição, outras pregam seu esquecimento e outras, ainda, defendem escondê-lo. Aliás, São Paulo sempre foi muito pródiga em esconder córregos e rios durante sua história. Porém, ao invés de caracterizar o córrego como um acidente geográfico inútil e um empecilho à convivência das pessoas dentro da praça, o olhar do Arquiteto desconfia que possa haver uma utilidade para o mesmo. Para comprovar isso, o Arquiteto se apoia em um exemplo em que a água, ao invés de ser um elemento prejudicial ao espaço público, torna-se aliada dele e dele participa de maneira especialmente benéfica. Um estudo de caso se tornou muito útil para embasar um projeto que visa integrar o córrego à praça ao invés de escondê-lo ou destruí-lo. Para o estudo de caso em questão, identificou-se uma praça localizada em Rotterdan, Holanda, chamada Waterplein Square Benthemplein, a praça de água.
Ilustração 28: Edifícios do Earth. Acesso em out/2017
entorno da praça. Fonte: Google
Ilustração 29: Vista de cima. Fonte: Google Earth. Acesso em out/2017
Observa-se que a praça se encontra incrustada dentro de uma pequena área com alguns edifícios em seu perímetro, mas com muitos outros edifícios residenciais de poucos andares localizados num raio um pouco maior, com muita vegetação em seu entorno. A Praça de Água, como é chamada, em Rotterdam, foi inaugurada em 2013 e projetada pelo escritório De Urbanisten, com a intenção de combinar o armazenamento de água com a qualificação de um espaço público. O uso que seria dado à praça foi determinado, em parte, pelos locais mais visitados que há no entorno. A intenção foi criar um local de encontro para os jovens, aliando à necessidade de gerir de melhor forma a água, sem investir grandes quantidades em estruturas que não teriam um maior uso. Para isso, optou-se por dedicar a maior superfície para recolher as águas pluviais e separá-las em uma série de reservatórios mistos, que integram a praça e que servem para irrigação da vegetação local. Pode-se perceber um grande colégio de ensino médio, o Zadkine College que abraça de certa forma, a praça. Há também outro edifício, uma repartição pública. Percebe-se pela imagem que as soluções arquitetônicas dos edifícios do entorno da praça não são das mais felizes.
Porém, a praça em si é um achado arquitetônico, com vários níveis e um desenho muito bonito. Segundo o site https://landarchs.com, “Waterplein Benthemplein é uma praça que funciona como um local de encontro atraente para os residentes da cidade. Ela possui três bacias de concreto de diferentes profundidades que são utilizadas para diferentes atividades de lazer em tempo seco. No entanto, durante chuvas pesadas, essas bacias são temporariamente submersas para aliviar o sistema de esgoto de Roterdam. A água das superfícies circundantes e os telhados são coletados nas bacias formando três pequenos lagos no meio da praça.” Fonte: https://landarchs.com/waterplein-benthemplein-reveals-the-secret-of-versatile-water-squares/. Acesso em out/2917 Vemos na ilustração uma das bacias criadas para armazenamento de água. Ainda, segundo o https://landarchs.com, “No momento em que o sistema do canal da cidade tem capacidade suficiente para permitir o deslocamento para a água aberta mais próxima novamente, a água armazenada lentamente desaparece, para dar espaço para os vários usuários mais uma vez. Além disso, este conceito de praça de água também melhora a qualidade das águas abertas em ambientes urbanos, pois impede que a água não purificada corra diretamente para o rio Maas. Mas as soluções arquitetônicas não precisam ser meramente técnicas pois não costumamos eleger somente o tecnicismo como nosso bem maior. A estética sempre foi muito importante para o ser humano. Portanto, o sistema de controle de inundação também foi pensado para ser esteticamente apreciado. As três bacias de concreto de Benthemplein são pintadas em vários tons de azul em um padrão vagamente parecido com as escalas de cores dos mapas meteorológicos. As calhas de ziguezague em aço inoxidável aberto e as tiras de luz finas estão integradas no chão da praça. Elas transportam a água, além de funcionar como barras de patinação. A bacia mais profunda possui um interessante mecanismo de enchimento. A água submerge a bacia através de uma queda d'água. Além disso, o ritmo das quedas d'água é direcionado em relação à quantidade de água que cai das chuvas.
Ilustração 30: Waterplein Benthemplein. Foto: De Urbanisten
Ilustração 31: Waterplein Benthemplein. Foto: De Urbanisten
Cada bacia tem uma função diferente no tempo seco; uma delas apresenta uma pequena ilha que pode servir de palco ou apenas como um lugar para se sentar e desfrutar das raras horas de sol. Outra é feita para que os jovens brinquem de patins ou skate e para que todos possam assisti-los. Waterplein Benthemplein é a primeira praça em grande escala que ajuda Rotterdam a lidar com o aumento das massas de água, já que a cidade se localiza na Holanda, país que se encontra abaixo do nível do mar. Ela é utilizada como área de lazer e esportes convencionais durante o tempo bom, mas quando vêm as chuvas fortes, serve como uma bacia de captura não convencional para águas superficiais. Portanto, assim como o projeto de Benthemplein Watersquare optou por não esconder suas águas advindas das enchentes, ao mesmo tempo em que adotou um sistema que funciona como elemento de design, torna-se interessante considerar este exemplo para a solução das inundações causadas pelo córrego rio das Pedras da Praça Waldemar Frasseto. Na figura 42 vemos o uso intenso da praça Benthemplein Watersquare durante o tempo bom. Ilustração 33: Waterplein Benthemplein. Foto: De Urbanisten
Ilustração 32: Waterplein Benthemplein. Foto: De Urbanisten
Ilustração 34: A parede água. Foto: Jurgen Bals
Ilustração 35: Esquema de funcionamento da parede de água. Fonte: De Urbanisten
8. QUESTIONÁRIO Para se procurar obter a opinião dos moradores do entorno da Praça Waldemar Frassetto, procedeu-se elaboração do seguinte questionário:
Tabela 2: Questionário submetido aos moradores do entorno
Foram entrevistadas ao todo 80 pessoas. Para que se pudesse ter um panorama o mais fidedigno possível, as entrevistas ocorreram em um dia típico de semana (sexta-feira) e em dois dias de final de semana quando o uso da praça é mais intenso (sábado e domingo). Pela tabela, percebe-se que a maioria (61%) das pessoas entrevistadas não frequenta a praça. Talvez porque ela se encontre deteriorada. As pessoas têm plena consciência do que precisa ser melhorado. O que mqais salta aos olhos é o fato de nenhuma das pessoas ouvidas participou da última reforma, o que certamente indica que elas não se apropriaram da praça, ou seja, não sentem nenhum envolvimento com ela. A falta de envolvimento e participação na execução das reformas parece demonstrar que é fator preponderante para a falta de cuidado e desleixo com que os moradores tratam a praça. Parece que não é deles. Não pertence a eles. Há uma cultura antiga arraigada entre a população brasileira como um todo que o bem público deva ser cuidado e preservado pelo poder público, já que impostos são arrecadados para este fim. Por isso, a requalificação da Praça Waldemar Frassetto passa por um trabalho de conscientização dos moradores em preservar seu próprio espaço público e pela participação popular nas obras através de mutirões que deverão ser organizados junto ao polo cultural do bairro.
9. PARTIDO A SER ADOTADO
Observando-se as referências de projeto as praças Linear das Corujas, Victor Civita, De la Balsa Vieja e Waterplein Benthemplein e fazendo-se uma leitura das razões do sucesso de seus projetos, identificou-se principalmente: 1 – Possuem um belo projeto; 2 – Propõe vários usos, a saber, passeio, contemplação, estar, atividades físicas, recreação, arte e horta; 3 – Desenvolveram soluções inovadoras quanto à sustentabilidade como uso de materiais reciclados e certificados, reaproveitamento da água da chuva; 4 – Preservação de córrego com implantação de biovaleta; 5 – Implantação de mobiliários e equipamentos urbanos como bancos, brinquedos, equipamentos de ginástica e musculação, espaço para animais de estimação, etc.. O partido, pois, adotado para o presente projeto vai considerar todos esses itens elencados, visando transformar a praça por meio de sua requalificação, com consequente revitalização e recuperação do Rio das Pedras para trazer as pessoas de volta. Busca-se um projeto para devolver aos moradores e à população flutuante do local um espaço de qualidade, onde quem ali habitar possa ter experiências na cidade. O local onde se encontra a praça tem muito potencial. Segundo a prefeitura, em sua abertura após a revitalização, cerca de 2.000 cidadãos compareceram ao evento, tornando a praça em questão a mais importante da região do Parque América. Entretanto, ela não tem sido bem aproveitada ou bem cuidada.
Como dito anteriormente, anos atrás foram executadas melhorias nas praças, porém a área continuou marginalizada, sem uso, e o córrego continuou transbordando. Os moradores sentem falta de atividades no bairro, apesar do fato da praça estar inserida em um Polo Cultural. Outro ponto importante é a Escola Estadual Professor Carlos Ayres, próxima a praça, da qual os alunos gostariam de desfrutar; ter um lugar para ficar, conversar, se divertir, um lugar com atividades noturnas e até mesmo um lugar que incentive o esporte coletivo ou individual. Além disso, o Pólo Cultural será fortalecido com a implantação de um espaço para a realização das manifestações artísticas típicas da periferia que estão deterioradas, tais como a Afromix Dança, Zumba, Capoeira Angola e as demais manifestações da dança de rua. Outro espaço será destinado a outras atividades artística importantes como Histórias Brincantes, Fotografia Urbana Experimental, Pintura em Vidro e Tecido, Tricô, Arte Plástica em EVA, Crochê, RPG, etc.. Pela pesquisa, conclui-se que todo esse trabalho só alcançará bons resultados se os moradoresdo entorno forem envolvidos nos trabalhos de requalificação, organizando-se mutirões junto ao Polo Cultural.
10. PROJETO A elaboração dos primeiros croquis fez-se necessária para se ter uma adequada interpretação da praça. Da sua topografia, e do centro cultural.
Ilustração 36: Estudo de topografia da praça. Elaboração: autora
Ilustração 37: Estudo do Polo cultural como eixo de distribuição. Elaboração: autora
Para o projeto foram pensados alguns eixos condutores iniciais: • Recuperação do Rio das Pedras, “que ja foi feito anteriormente” • Reativação e proposição de novas atividades culturais • Desenho de piso conectando as praças • Mobiliário Urbano • Iluminação noturna • Horta comunitária • Sistema de irrigação • Sistema de filtragem • Piso permeável e reciclável • Drenagem verde (Essa recuperação é prevista por meio da utilização de Infra-estrutura verde, que será aplicada no projeto por meio de jardins de chuva que são depressões, e biovaletas preenchidas com vegetação, proposta que ajuda a filtrar a água ao mesmo tempo em que aumenta seu tempo de escoamento da água pluvial do local.) Além disso, como proposta principal do trabalho está o resgate das atividades oferecidas anteriormente, como meio de propor usos, que resultariam em uma visível melhora e cuidado inicial com a praça.
10.2. AMPLIAÇÕES 3D
Ilustração 39: Ampliação deck piquenique A área das mesas foi pensada para momentos de lazer em familia, como piquenique, refeições rapidas, e até mesmo para sentar e estudar. As mesas ficam proximas a area destinada a feiras artesanais, e de food truck. O deck é feito de madeira plástica, que fica elevado do chão 30cm.
Ilustração 40: Ampliação food truck A área destinada a pequenos eventos artesanais e food truck, tem o intuito de trazer mais pessoas para o local, tanto matutino como noturno.
Ilustração 41: Ampliação food truck
A praça contém dois decks um para o uso das mesas e este para descanço e contemplação, também feito do mesmo material pastico, e redes para descanço.
Ilustração 42: Ampliação quadra, horta comunitária.
As quadras As quadras poliesportivas servem como grandes bolsões que retém a água em dias de chuva muito forte, assim dando o tempo necessário pra a água ir para o solo, desafogando a área mais baixa da praça que sempre alaga. A ideia é que a tinta seja bem resistente e permeável, as travas do gol em aço inox, afim de não enferrujar com o tempo. A rampa que se encontram nas duas pontas das quadras seguem a norma de acessibilidade, ou seja com inclinação de 5%.
Ilustração 43: Ampliação área radical. A área radical pensada e ilustrada com grafites feito por artistas da região, que frequentão a praça, sendo assim mais uma forma de integrar as pessoas no projeto des do começo, acredito que assim as pessoas tenham mais apreço e cuidado.
Ilustração 44: Ampliação jardim de chuva, rua compartilhada.
Ilustração 45: Ampliação jardim de chuva, lombo facha.
Os jardins de chuva tem como papel de reter o fluxo de aguá, para que ela não chegue com tanta força no nível mais baixo. Os jardins também servem para lazer, descanço e contemplação. A ideia era dar mais de um uso para os lugares. Inclusive as ruas, antes só para carros, e como da pra ver na imagem, em amarelo são as ruas compartilhadas, e lombo faixa. Como algumas ruas são mais calmas e outras com fluxo mais intenço o projeto tem dois tipos, o de via compartilhada, onde carro anda a 10km/h, e outros lugares só a lombo faixa.
Ilustração 46: Ampliação parquinho
Ilustração 47: Ampliação academia. O payground com cores e brinquedros de tiverços tipos, parede de escalada um escorrega que usa a topografia mais alta ate a mais baixa do parquinho, o piso emburrachado proprio para a correria das criancas, e a mesma coisa na area da academia ao ar livre.
Ilustração 48: Ampliação cinema ao ar livre O centro cultural retoma suas ativdades culturais, ganha uma sede de biblioteca que ficará proxima a área de exposição. Na fachada cega terá cinema ao ar livre, o gramado pode ser usado e a escadaria.
Ilustração 49: Ampliação museu ao ar livre.
A área mas alta da praça ficou a sede da biblioteca junto com as obras de artes feita por moradores da região, o desenho de piso segue o mesmo por toda a extenção da praça.
11. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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