ARQUITETURA CRISTÃ ALÉM DA CONSTRUÇÃO DE TEMPLOS: centro de cultura e aprendizado cristão

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ARQUITETURA CRISTA ALEM DA CONsTRUCAO DE TEMPLOS

centro de cultura e aprendizado cristao autora camila cantu silva


Sobre a capa: A Imagem representada foi feita com base numa passagem bíblica que fala sobre a cura de um cego através das mãos de Jesus. Essa passagem pode ser interpretada como uma metáfora neste trabalho, pois ele pretende quebrar alguns paradigmas acerca do modo de vida dos cristãos e o modo como se relacionam com a sua propria cultura. A gravura foi feita com a técnica de xilogravura, portanto se trata de uma passagem bíblica, representada de uma forma popular que é muito comum na cultura nordestina: a literatura de cordel.


CAMILA CANTU SILVA

ARQUITETURA CRISTÃ ALÉM DA CONSTRUÇÃO DE TEMPLOS: Centro de Cultura e Aprendizado Cristão

Projeto de arquitetura apresentado como trabalho de conclusão de curso para graduação de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Senac

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Luis Silva

Novembro, 2017 São Paulo - SP


Dedicatória Dedico este trabalho à toda comunidade cristã evangélica que se compromete com o verdadeiro evangelho demostrado na Biblia Sagrada, que foi inspirada por Deus.


Agradecimenttos Agradeço primeiramente a Deus, que me permitiu chegar até aqui, me ensinando a ama-lo acima de todas as coisas e que é dono de toda a criatividade. Também agradeço aos meus familiares e professores que me educaram e apoiaram durante todo o processo de formação.


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Resumo Vivemos num país muito rico culturalmente, onde as pessoas são livres para escolher qual ou quais religiões seguir. Este, entre outros fatores, têm permitido que a comunidade evangélica cresça muito em número atualmente, chegando a aproximadamente 30% da população brasileira – o equivalente ao número de evangélicos do Reino Unido, França e Itália, por exemplo. Mas com o passar do tempo, parte dessa grande comunidade traduziu esse crescimento numérico em poder, então foram surgindo evangélicos em diversos cargos políticos, igrejas com denominações que entram para a lista das maiores do mundo e cantores que se tornaram verdadeiras celebridades; tudo isso, na maioria das vezes, baseando-se numa teologia que incentiva a crença da vitória certa, da prosperidade e da bênção sem medida. Dessa forma, o nosso “Brasil evangélico” – fazendo referência a Luiz Sayão, hebraísta, professor, editor e pastor da igreja Batista Nações Unidas em São Paulo – tem se construído e se definido mais pelas músicas que canta do que por suas escolas de teologia, fazendo com que esses cristãos cresçam apenas em número, num sistema que não os prepara para um papel dinâmico na cultura secular. Apesar disso, muitos teólogos e artistas cristãos têm se levantado contra essa realidade e se esforçado para dar valor às suas próprias cultura e fé ao mesmo tempo. Por isso, este trabalho traz consigo a tarefa de moldar tal discussão na linguagem arquitetônica, com base na teologia da cultura, que entende que a compreensão de Deus está além do espaço físico de um templo, mas que Ele também se revela nas manifestações culturais; envolvendo assim, questões que relacionam o indivíduo, a fé cristã evangélica e a cultura brasileira.

Palavras-Chave Arquitetura cristã; centro acadêmico; teologia da cultura; evangelicalismo; cultura brasileira; estudo religioso; casa de cultura; arte e cultura. | 7 |


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Sumário Parte 1 - Pesquisa

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Fontes......................................................... 15 O lugar do sagrado .................................... 16

Parte 4 - Projeto

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Implantação................................................ 54 Planta Baixa Térreo..................................... 55 Planta Baixa Subsolo....................................56 Planta Baixa Pav. 1......................................57

Parte 2 - Proposição

21 Cortes..........................................................58

Proposta ..................................................... 23 Fachadas .................................................... 64 Escolha do terreno...................................... 24 Átrio de acesso ........................................... 65 Entorno ....................................................... 25 Centro de Aprendizado ............................... 67 Área total da intervenção ............................ 31 Capela ........................................................ 69 Estudo de caso .......................................... 32 Biblioteca .................................................... 70 Considerações ............................................ 39 Casa de Cultura...........................................73 Áreas de lazer ............................................ 74

Parte 3 - Concepção

41 Estudo Solar................................................ 76

Especulações ............................................ 43 Memorial..................................................... 77 Partido ........................................................ 46 Considerações Finais.................................. 80 Programa .................................................... 48 Referências Bibliográficas .......................... 82 Distribuição final do Programa .................... 49

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Introdução Segundo Justo González (2011, p. 29-30), Ao estudar a história da igreja [na Europa], tornou-se claro que o protestantismo floresceu e triunfou principalmente nos territórios que não tinham feito parte do Império Romano. [...]. Isto pode ser visto claramente até os dias de hoje: onde se falam línguas românicas prevalece o catolicismo romano; e onde se falam línguas germânicas prevalece o protestantismo. Assim, Portugal, Espanha, Bélgica e Itália são países católicos, enquanto Holanda, Escócia e Escandinávia são protestantes. [...]. Por um longo tempo a Inglaterra esteve na balança [...]. A Alemanha se viu dividida entre muitos Estados, uns protestantes e outros católicos, até que, depois de guerras cruentíssimas, decidiu-se pela tolerância. [...] O caso de Calvino é interessantíssimo. O grande teólogo da tradição reformada era francês, francês de convicções patrióticas. [...]. Será que Calvino, como eu – também sem querer e, no caso dele, sem nem sequer o saber -, se viu obrigado a escolher entre ser francês e ser protestante? [...] Se Calvino não conseguiu que sua fé evangélica chegasse a se plasmar na cultura francesa, haveria esperança de que nossa fé, igualmente evangélica, se plasmasse em nossa cultura latino-americana?

fazendo referência a Zygmunt Bauman – onde as pessoas não conseguem pensar a longo prazo, traduzir seus desejos em um projeto de longa duração e buscam sempre o prazer individual. Se for assim, todo o conceito de transformação de vida, tanto do indivíduo quanto da sociedade em que ele está inserido – situação inerente à vida de todo cristão – se perde dentro das quatro paredes das “igrejas”, que se tornam apenas novas instituições lucrativas. Uma coisa que me irrita profundamente é essa mania que muitos evangélicos têm de achar que conhecer a Jesus é não conhecer mais nada de coisa alguma: nada de literatura e cinema, nada de psicologia e sociologia, nada de artes plásticas e música popular brasileira. [...]. (BORGES, 2016, p. 87)

A bíblia, em diversos trechos, fala sobre a grande preocupação que Deus demonstra quanto ao conhecimento do povo e como muitas vezes ele está descontente com os ensinamentos que os sacerdotes estavam servindo ao Seu povo. Oséias 4:6 relata um desses trechos: “O meu povo é destruído porque não me conhece, e a culpa é de vocês, sacerdotes, porque se recusam a me conhecer.”

(BORGES, 2016, p. 33-34, grifo do autor)

Dados do IBGE apontam que entre os anos de 2000 e 2010 o número de cristãos evangélicos cresceu de 15,5% para 22,4% da população do Brasil, ou seja, aumentou 61% nesse período. Além disso, quase metade dessa comunidade, com mais de 25 anos de idade, não apresenta um nível de instrução considerável ou possui o nível fundamental incompleto (Anexos 1, 2 e 3). Isto configura uma situação complicada, pois este crescimento pode ser apenas resultado do marketing realizado nos meios artísticos mais populares como a música, cinema e literatura, que está sendo bem aceito pela população; ou mesmo um reflexo de uma sociedade líquida –

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Segundo o sociólogo José Souza, “o Brasil não conhece o Brasil – só faz de conta” – revela o pastor Gerson Borges. “Se o brasileiro não conhece o brasileiro, imagina o evangélico. Que Brasil é esse que tem milhões de evangélicos? Que evangélico é esse que não aceita o Brasil como seu país?” (BORGES, 2016, p. 48) Dessa forma, tendo em vista a situação complicada de estudo dessa comunidade emergente e a falta de conhecimento da sua própria fé e cultura, este trabalho surge a partir do desafio de adotar um conteúdo que a incentive a crescer não só numericamente, mas também em entendimento. A intenção é fazer uma arquitetura que fale não apenas de Deus, mas também sobre o estudo de Deus e


sobre a verdade da vida cristã; uma arquitetura que esteja a serviço da comunidade como forma de ensino e lazer. Isso deve estar claro não só pela escolha do tema e do terreno,

mas também pela forma de abordagem, que visa estabelecer um vínculo harmonioso entre os programas envolvidos: Casa de Cultura e Centro de Aprendizado Cristão.

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Parte 1 Pesquisa



Fontes Cosmovisão Assim como o próprio termo sugere, cosmovisão é um modo de ver o mundo. “’É a Imago Mundi (imagem do mundo) que possuímos – ou que nos possui, já que ‘uma cosmovisão dá fundamentos pensantes sobre os quais construir nossos sistemas de explicação’. ” (BORGES, 2016, p. 27) O mesmo autor explica que existem alguns questionamentos importantes e cruciais na formação da cultura. Segundo ele, Franklin Ferreira e Alan Myatt sugerem que toda cosmovisão tenta responder a dez questões, as quais chamam ‘as perguntas principais da vida’ – e as respostas giram em torno do ‘problema de Deus’ e podem vir do ateísmo (Deus não existe), panteísmo (Deus é infinito e impessoal) e teísmo (Deus é infinito e pessoal): Por que algo existe em vez do nada? Por que o homem existe? Qual é a base da dignidade humana? Qual é a base da personalidade, o fato de que o homem pensa, escolhe e tem emoções? Qual é a base da racionalidade e lógica? Qual é a base dos sentimentos morais, isto é, a consciência? Qual o fundamento da ética, moral e valores? Por que existe o mal no universo? Qual é a base da alegria, prazer e estética do homem? Qual é o lugar do indivíduo no universo? [...]. Essas perguntas não são respondidas do nada e sobre um nada: cada geração de seres humanos aprende e apreende as respostas com a geração que veio antes: (BORGES, 2016, p. 31-32, grifo do autor)

Cultura Cultura é uma cosmovisão. Nossa cultura/cosmovisão define como vemos, compreendemos e interpretamos a realidade em nós, no nosso entorno e além de nós. Isso nos leva à ideia de religião. Religião, digamos, é a primeira cosmovisão de que se tem notícia, ou seja, uma primeira explicação da realidade a partir do sobrenatural, do metafísico. (BORGES, 2016, p. 31, grifo do autor)

Segundo a síntese registrada no Relatório de Willowbank, um desdobramento do Pacto de Lausane (1974 – 78) – base teológica fundamental à identidade evangélica/ evangelical – Cultura é: [...] um sistema integrado de crenças (sobre Deus, a realidade e o significado da vida), de valores (sobre o que é verdadeiro, bom, belo e normativo), de costumes (sobre como nos comportar, nos relacionar com os outros, falar, orar, vestir, trabalhar, jogar, fazer comércio, comer, trabalhar na lavoura etc) e de instituições que expressam essas crenças, valores e costumes (governo, tribunais, templos ou igrejas, família, escola, hospitais, fábricas, lojas, sindicatos, clubes etc), que unem a sociedade e lhes proporcionam um sentido de identidade, dignidade, segurança e continuidade. (Comissão Lausanne, 2007, p. 27)

Apesar disto, a palavra “cultura” possui um sentido extremamente abrangente na língua portuguesa. “No senso comum, [...] cultura quer dizer ‘o grau de estudos de uma pessoa’. [...] Fazendo uma apressada ligação entre capacidade intelectual e letramento, tempo de escola, leitura.” (BORGES, 2016, p. 29). Mas a cultura não se restringe a apenas isto. Como foi dito, o termo se refere a algo muito mais abrangente e com significado ainda maior. “Cultura abraça e envolve a nossa vida como um todo: todos produzimos e temos cultura! Bauman nos lembra que cultura relaciona-se, obviamente, com esse algo que ‘não pode ser plenamente definido sem a mediação das escolhas humanas’.” (BORGES, 2016, p. 29) | 15 |


De acordo com a definição de Eugene A. Nida, linguista, professor e missionário, cultura é um “Conjunto de comportamentos e ideias características de um povo, que se transmite de uma geração a outra e que resulta da socialização e aculturação verificadas no decorrer de sua história”. Além disso, segundo Edward Tylor, 1871, cultura também pode ser entendida como “este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade. ”

1) Instituição estudantil que congrega alunos, geralmente universitários, com a finalidade de defender seus interesses e promover atividades culturais, esportivas e políticas; 2) Sede onde os alunos se reúnem para exercerem determinadas atividades; diretório acadêmico. (Dicionário Michaelis online, acesso em 03 de abril de 2017)

O lugar do sagrado

Teologia 1) Ciência que se ocupa de Deus, de seus atributos e de suas relações com o Universo e o homem; 2) Tratado ou compêndio de teologia; 3) Curso de estudos teológicos; 4) Coleção das obras teológicas de um autor; 5) Doutrina religiosa, especialmente da religião cristã. (Dicionário Michaelis online, acesso em 03 de abril de 2017)

Cristão

“Senhor”, disse a mulher, “percebo que o Senhor é um profeta. Mas me diga uma coisa: Por que vocês, Judeus, insistem em que Jerusalém é o único lugar de adoração enquanto nós, os samaritanos, dizemos que é aqui neste monte, onde os nossos antepassados adoraram? ” Jesus respondeu: “Creia em mim, mulher: Está chegando a hora quando não nos preocuparemos mais em adorar o Pai nem neste monte, nem em Jerusalém. (João 4. 19-21. Nova Bíblia Viva, 2010)

1) Que declara sua fé em Cristo; 2) Que frequenta qualquer igreja seguidora do cristianismo; 3) Que age de acordo com os princípios do cristianismo; 4) Que foi influenciado pelo cristianismo. (Dicionário Michaelis online, acesso em 03 de abril de 2017)

Centro O espaço se estende a partir do centro com graus variáveis de continuidade (ritmo) e em diferentes direções. Naturalmente, as direções principais são a horizontal e a vertical, isto é, as direções da terra e do céu. Portanto, centralização, direção e ritmo são importantes propriedades do espaço concreto. (NESBITT, 2006, p. 450)

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Centro acadêmico

No Brasil, existe uma grande dificuldade em falar sobre a Teologia da adoração no que diz respeito ao lugar do sagrado ou ao local de adoração. Isso porque se trata de um assunto que envolve muitos anos de tradicionalismo. As pessoas têm uma visão, muitas vezes equivocada, que entende as igrejas e templos como a Casa de Deus. De fato ela é, mas não porque possui a presença de Deus ou que ela está naquele lugar específico. Este diálogo entre Jesus e a mulher samaritana descrito em João 4 começa tratando de água, quando Jesus encontra um poço para saciar a sua sede. Depois do reinado de Salomão, o que aconteceu gerações e gerações anteriores a esse diálogo, o reino havia sido dividido entre Reino de Israel (que também era chamado de Reino do Norte ou Samaria) e Reino do Sul (também chamado de Judá). Samaria foi atacada e com isso outros povos


pagãos vieram habitar na região, resultando numa mistura entre o povo de Israel e outros povos. Por essa razão, os samaritanos eram considerados impuros pelos Judeus. A separação dos reinos afetou consequentemente a questão da adoração. O templo ficava em Jerusalém e nele estava a Arca da Aliança – não uma representação da presença de Deus, mas a pura manifestação da presença de Deus na terra. Então, para que o povo de Israel não precisasse ir até lá, o rei estabeleceu outros lugares de adoração em seu reino e, posteriormente construiu um templo em Gerizim. Era essa questão que gerava dúvidas à mulher. A resposta de Jesus não tinha a ver com o passado, e sim sobre o futuro, depois de sua morte e ressurreição. Nesse novo tempo, ele inauguraria a Nova aliança, descrita no Novo Testamento. Tempo este em que o lugar geográfico de adoração não tem mais importância, em que Deus não está mais preso em templos humanos e em que não há lugar mais sagrado do que outro, pois a presença de Deus está dentro de templos vivos, em cada nascido de novo. Sendo assim, hoje os edifícios não comportam mais a presença de Deus. Vocês não compreendem que todos juntos são a casa de Deus, e que o Espírito de Deus vive em vocês, em sua casa? (1 Coríntios 3:16. Nova Bíblia Viva, 2010)

Neste trecho de Coríntios, o apóstolo Paulo explica que a igreja é muito maior do que um templo físico, e que, na verdade, ela é um ajuntamento de vários “templos vivos” em um mesmo lugar. Dessa forma, a igreja de Cristo não é formada de templos construídos, em várias cidades ou países. Ela é estabelecida em Cristo e formada por milhões e milhões de pessoas que constituem um único “templo”, que atinge todo o planeta. Isto é capaz de mudar completamente a concepção que se tem do lugar físico de igreja e a forma como um cristão se relaciona com Deus.

Jesus nos ensina que a adoração neotestamentária não depende de lugar físico para ocorrer. Por isso que é lindo quando pensarmos que, quando nossos irmãos africanos se reúnem embaixo de árvores para cultuar, porque não possuem edifícios como os nossos, aquele lugar se torna um grande templo de adoração. Nossos irmãos perseguidos, que se reúnem nas casas, também experimentam dessa verdade. [...] O ser igreja é mais importante do que ir à igreja. Nós continuamos a nos reunir porque, quando estamos em comunhão, a presença do Senhor se manifesta de forma especial no meio da Sua igreja, não importando o lugar em que isso ocorra. (MARINONI, 2017. P. 40 - 41)

Imago Dei e Graça Comum Esses dois conceitos teológicos se completam e podem nortear essa conversa sobre evangelicalismo e brasilidade. O primeiro refere-se à doutrina da imagem de Deus. Este entende que, segundo a bíblia, o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus, como descreve Gênesis 9:6. Isso quer dizer que a arte, querendo ou não, é religiosa em sua natureza íntima e tem sempre um fundamento teológico, por mais remoto que seja, independente do conteúdo – como disse a poeta Adélia Prado. De acordo com Jorge Camargo, poeta, músico, intérprete, compositor e tradutor cristão, “A revelação não está somente onde a igreja diz estar. Está mais além, nos lugares onde a igreja pouco se interessa em ir, nos cenários e figuras que a igreja pouco se interessa em contemplar e nos sons que ela pouco se interessa em ouvir.” O segundo termo trata do conceito de Graça Comum. Ele consiste na ideia de que a Graça pode ser vista em todo lugar, assim como o sol nasce e a chuva, quando vem, cai sobre todos. (Mateus 5:45). Como conclui Gerson Borges em Ser evangélico sem deixar de ser brasileiro,

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“Graça comum é o que nos preserva de não sucumbirmos como sociedade à mentira, ao egoísmo e à irracionalidade humana (João 1:9).”.

A Graça da/ na cultura Feijoada e samba, viola caipira e pamonha, frevo e cupuaçu. O churrasco de costela gaúcha, depois um bom chima e tome prosa, pururuca e feijão tropeiro em Minas. Depois um cafezinho sem pressa. A gentileza e alegria do carioca, que ultrapassa o Carnaval, que não deixa ‘tudo se acabar na Quarta-feira’ (para citar Vinícius). O empreendedorismo paulista (São Paulo é São Paulo por causa do café, o ouro verde, e dos imigrantes). A moqueca capixaba que, ‘nem Salomão em toda sua glória...’, o verão o ano todo do Nordeste, que tem acarajé, vatapá, depois feijão-verde, carne de sol. E, então, os violeiros do Pantanal, Goiás, açaí e guitarrada de Belém, tambaqui e graviola em Manaus. E tudo isso sem falar nas sombras... E na nossa cara-do-mundointeiro: somos brancos, somos pretos, somos índios, somos mulatos. E somos Japão e China, Alemanha e Rússia. Somos o mundo. ‘O Haiti é aqui’ – cantou Caetano. O Brasil de Graciliano em Vidas Secas. O Brasil de Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas. Ou o de Machado de Assis, carioca, urbano? Ou o de Érico Veríssimo, rural e sulista? Brasil da literatura canônica ou da telenovela barata? Brasil de Brasília ou do resto do Brasil? Brasil de direita ou de esquerda? Brasil-ditatura ou Brasildemocrático? Brasil da cultura popular ou da elite? Cordel ou concretista? De São Paulo caipira, do Jeca Tatu de Monteiro Lobato? Brasil ou brasis, como diria meu amigo Carlinhos Veiga? ‘O Brasil é plural sim [brasis], mas não caótico. O mapa das subculturas e interculturas do Brasil colocase sobre as linhas de força da nossa divisão social’ – escreveu Alfredo Bosi. (BORGES, 2016, p.48)

Existe um raciocínio arraigado nas igrejas de que cristãos devem produzir apenas arte com conteúdo cristão e é por conta dessa falta de influência na linguagem das artes que os cristãos têm, também, uma influência tão | 18 |

limitada no mundo. Quando o assunto é arte, muitos líderes parecem se posicionar contra qualquer expressão secular ou se apossam totalmente dessas linguagens para comunicar um conteúdo explicitamente cristão no contexto eclesiástico. Isso gera uma dicotomização que acaba caracterizando os cristãos, pois entre eles, surge uma segmentação de vida entre o religioso e o mundano “[...] como se as verdades reveladas no ambiente eclesiástico fossem superiores àquelas que descobrimos em outros âmbitos. ” – Revela Mark Leo Carpenter, escritor, poeta e presidente da Editora Mundo Cristão no prefácio do livro Cristianismo Criativo? de Steve Turner. Gerson Borges conclui que [...] o Brasil não é só europeu, ocidental. Antes, era índio. Depois, negro. Hoje, é uma nação mestiça, com todas as cores e injustiças dessa miscigenação – indígena, africana e branca [...] (BORGES, 2016, p.27) Se aceitar sem reservas a cultura é tolice e muita ingenuidade, demonizá-la e rejeitála, pura e simplesmente, é ignorância. O problema é que não nos damos ao árduo trabalho de examinar nossa cultura, nosso jeito de ser gente em sociedade, [...] (BORGES, 2016, p.57).

Por isso, segundo o desenvolvimento das ideias de Gedeon Alencar sobre a cultura da negação, os cristãos evangélicos acabam se tornando conhecidos pelo que são proibidos de praticar. Para os primeiros missionários, levar o evangelho era simplesmente salvar as culturas pagãs (ou salvar as pessoas das mesmas), desfazendo-as, negando-as. [...] A vida evangélica acaba sendo, por assim dizer, uma vida de gueto, vida de redoma, encavernada numa subcultura religiosa e ensimesmada, demonizadora de tudo o que não é sacro, ou, nas palavras ácidas de Walter Kirn, editor da revista GQ, uma cultura da arca.


(BORGES, 2016, p.59 - 61, grifo do autor).

Como nos lembra o mexicano Alfredo Tepox Verela, A mensagem do evangelho não é exclusiva de uma cultura em particular, mas, sendo de caráter universal, pode e deve ser vivida na particularidade de cada cultura específica.

Por isso, essa comunidade deve ter conhecimento profundo sobre a relevância da sua fé, entendendo qual é a situação do local onde vive, já que vivemos num país de tantas injustiças e vergonhosas e injustificáveis demandas sociais. Só assim, poderão realizar projetos mais relevantes de fato, se envolvendo de forma responsável com a política, fazendo uma arte de melhor qualidade ou até mesmo aproveitando seu tempo livre com a família.

(GONZÁLEZ, 2011, p. 9)

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Parte 2 Proposição



Proposta Mediante a necessidade de um local de pesquisa e reflexão para essa comunidade, a proposta deste trabalho é criar um centro de cultura e aprendizado cristão. Ele busca envolver um programa arquitetônico que permita a interação entre pessoas engajadas em seu aprimoramento pessoal de forma humana e que procurem estabelecer uma relação mais saudável com o resto do mundo. Eu não estava enganando a mim mesmo, no sentido de que havia algo original para dizer, mas sabia que ainda havia muitas pessoas no mundo que precisavam ouvir que era possível incorporar sua fé à arte. (TURNER, 2006, p. 11)

O modo escolhido para abordar essa questão busca afinar o relacionamento entre a comunidade cristã evangélica e a cultura brasileira unindo programas que envolvam educação, aprimoramento da fé, contato com a cultura brasileira e algumas formas de lazer

da comunidade. Dessa forma, este projeto arquitetônico tem a intenção de proporcionar aos estudantes um espaço educador onde possam vivenciar e praticar os ensinamentos teóricos. [...] a verdadeira contextualização na missão tanto diz respeito às necessidades das pessoas na sociedade quanto às necessidades do seu relacionamento com Deus [...] A contextualização envolve o ministério tanto do profeta quanto do evangelista [...] A verdadeira e fiel comunicação do evangelho começa com a contextualização do próprio evangelho na vida do comunicador. [...]. (NICHOLLS, 1983, p. 93-95)

Dessa forma, esta proposta visa fazer uma arquitetura baseada no sentido de amplitude da fé cristã descrita em Pedro: “Por isso, vocês precisam acrescentar à sua fé a virtude; à virtude o conhecimento; ao conhecimento o domínio próprio; ao domínio próprio a perseverança; à perseverança a piedade; à piedade a amizade cristã; e à amizade cristã o amor. ” (2 Pedro 5:7, Nova Bíblia Viva, 2010)

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Escolha do terreno O terreno escolhido está localizado na Avenida Presidente Tancredo Neves, 915 - Vila Nancy, São Paulo – SP. Porém, também possui acesso pelas ruas Vergueiro, Abagiba e Abrahão Calux. O principal meio de transporte público de acesso ao terreno se dá pela estação Sacomã do metrô e do Terminal Sacomã de ônibus, que estão a aproximadamente 1,5km de distância.

Vista aérea do terreno escolhido. Observa-se que ele possui uma topografia suave e que existe apenas um galpão e um muro a serem demolidos para que possa abrigar o programa. Fonte: imagem autoral.

Trata-se de uma área desocupada de 12.350m² que, de acordo com o mapa de uso e ocupação do solo da subprefeitura do Ipiranga, tem a sua área determinada como Zona Especial de Interesse Social do tipo 2 (ZEIS 2), ou seja, faz parte do instrumento de política fundiária para inclusão e manutenção da habitação de interesse social nas áreas urbanas da cidade. | 24 |

Apesar disso, segundo o Plano Diretor da Cidade revisto em 2014, existem algumas exceções à destinação obrigatória de área construída para HIS. Uma delas é a utilização dessas áreas por imóveis públicos destinados a equipamentos sociais de educação, saúde, assistência social, cultura, esportes e lazer, bem como à infraestrutura urbana.


Entorno De acordo com o mapa de uso e ocupação do solo da subprefeitura de São Paulo a seguir, a região circulada é caracterizada por

uma predominante zona mista, de média ou alta densidade, porém possui uma grande área exclusivamente residencial de baixa densidade próximo ao terreno, do lado oposto da Avenida Presidente Tancredo Neves. Os gabaritos variam de 1 a 2 pavimentos.

Fonte: Site da prefeitura de São Paulo | 25 |


Trecho do mapa de uso e ocupação do solo da subprefeitura do Ipiranga. O terreno encontra-se na região circulada em vermelho. Fonte: Site da prefeitura de São Paulo

Esta área também está próxima a alguns pontos muito importantes da região e da cidade, como o Parque da Independência, onde está localizado o museu do Ipiranga, a Cidade Nova Heliópolis e uma grande Zona Especial de Preservação da cidade, o Parque do Estado. Além disso, o terreno está próximo de duas importantes instituições de ensino do bairro: a Fatec Ipiranga e a UNIP.

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A escolha do local aconteceu tanto pelo tamanho do terreno, ideal para o programa, quanto pela sua localização e seu vizinho direto: O terreno da Casa de Cultura Chico Science – considerada como uma área de parque e área municipal de acordo com o mapa de Uso e ocupação do solo.


A Casa de Cultura As casas de cultura da cidade de São Paulo são locais de entretenimento, criadas para garantir o acesso da população à cultura, à reflexão, debate e crítica. Elas oferecem diversas atividades para a população e reúnem um público de várias idades. De acordo com a Lei nº 11.325 de 29.12.92, considera-se atividade do setor artísticocultural tudo o que deriva de atividade humana, como resultado de criação, interpretação ou execução de obra artística, científica ou tecnológica. As Casas de Cultura oferecem oficinas culturais, espaço de leitura, cessão de espaço para atividades afins, acervo histórico da região etc. A Casa de Cultura Chico Science faz parte do projeto de incentivo e acesso à cultura de São

Paulo e está localizada na Avenida Presidente Tancredo Neves, 1265 – Ipiranga, São Paulo – SP. Seu terreno possui vasta área externa e fácil acesso pela avenida e pelas ruas Abagiba e Abrahão Calux. A casa também é integrada a uma praça, com palco externo, playground e quadra de basquete. Sua área total é de 9.680 m². Ela surgiu depois que teve seu espaço apropriado pela população do entorno e artistas da região, com o apoio do presidente do Sindicato dos Artistas Plásticos por falta de recursos culturais no bairro. Foi criada pela Secretaria Municipal da Cultura e inaugurada em abril de 1991. Assim, em 1998, por meio da lei municipal 12.590, de autoria do vereador Alberto Hiar, passa a ser denominada Casa de Cultura Chico Science para homenagear o músico que havia acabado de morrer.

Fachada da Casa de Cultura Chico Science. Fonte: imagem autoral. | 27 |


Vistas dos principais acessos da praça da Casa de Cultura Chico Science. A primeira pela Rua Abagiba e a segunda pelo fast food Burger King da Avenida Presidente Tancredo Neves. Fonte: imagens autorais.

Vistas da praça de acesso ao galpão da Casa de Cultura Chico Sience. A primeira mostra o playground e a segunda o palco externo. Fonte: imagens autorais.

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É possível perceber a má conservação da praça e das áreas de lazer ao longo dela. Fonte: imagem autoral.

Fachada e acesso laterais do galpão pela Rua Abagiba. Podemos perceber a forte presença da elementos de grafite com cores vivas que caracterizam o local com aspecto jovem e dinâmico. Isso mantém as fachadas mais conservadas com relação ao restante da praça. Fonte: imagem autoral | 29 |


O galpão não possui muitas divisões internas, pois ele é formado apenas pela administração, sala para ajustes de som, um par de sanitários de uso geral, palco interno e um pátio coberto.

Imagem interna do galpão da Casa da Cultura em uso. Neste local ocorrem diversas oficinas e eventos culturais, dos quais, muitos são encontros de capoeiristas. Fonte: imagem autoral

A falta de infraestrutura adequada para os usuários faz com que alguns espaços que deveriam ser mais restritos, como este palco, percam a sua função dependendo do evento. Isto pode gerar mau uso e degradação destes espaços. Fonte: imagem autoral | 30 |


O galpão não está em boas condições de uso, pois está degradado e demonstra sinais de perigo para os usuários. Fonte: imagem autoral.

Área total da intervenção O perímetro total da intervenção soma as áreas do terreno desocupado (12.350 m²) e do terreno ocupado pela Casa de Cultura Chico Science (9.680 m²). Dessa forma, a área total a ser trabalhada é de 22.030 m².

A imagem representa o terreno completo que será objeto de estudo deste trabalho: Terreno desocupado, estacionamento, galpão da casa de cultura e praça, com palco, playground e quadra. Fonte: Google Maps | 31 |


Estudo de caso Biblioteca Pública Municipal e Parque de Leitura em Torre Pacheco Ficha técnica Localização: Torre Pacheco, Murcia, Espanha

Segundo o arquiteto, os alicerces de reflexão utilizados na concepção do projeto foram as próprias características de crescimento e desenvolvimento que a cidade está vivendo. Isso inclui os aspectos raciais, o crescimento demográfico, socioeconômico, cultural turismo, entre outros; o que acaba mostrando uma nova alternativa de modelo urbano para o que era conhecido na cidade até então.

Construção: 2005 – 2007 Promotor: Prefeitura de Torre Pacheco Arquiteto: Martín Lejarraga Área: 2.500 m² (biblioteca) + 18.500 m² (parque)

O projeto se trata de uma intervenção urbana realizada pela prefeitura de Torre Pacheco com o objetivo de proporcionar uma nova opção cultural e de lazer para a população. Ele está localizado numa zona de expansão da cidade espanhola e possui uma topografia muito característica que o qualifica – fato que foi determinante para concepção do projeto.

Ele adota um conceito de arquitetura sem fronteiras, que entende a cidade como um acúmulo contínuo interminável de eventos, sem barreiras, cercas, mas que integra tudo em seu caminho. Por isso, o terreno foi explorado de maneira que pudesse ser uma mistura entre o natural e o artificial, atendendo não só à demanda já existente, mas também criando uma nova topografia que emerge na paisagem e proporciona muito mais possibilidades de usos do que o esperado.

Vista aérea do projeto. Fonte: Site oficial do arquiteto. | 32 |


Sendo assim, os dois equipamentos que ocupam a parcela, biblioteca e parque configuram os locais mais resguardados de acolhimento e também os de comunicação, otimizando os espaços e serviços e fazendo com que as opções reais de uso e lazer sejam ampliadas. Isso foi possível porque o projeto propõe uma forma muito interessante de apropriação do espaço urbano pelos edifícios públicos.

A imagem mostra a relação direta entre a biblioteca e o parque nesse trecho do projeto. Fonte: Site oficial do arquiteto.

Martín entende que o projeto deve configurar parte de uma cidade amigável, por isso tem a intenção de criar uma arquitetura “gentil”, de baixo custo, baixa tecnologia, baixo consumo, baixa manutenção, apropriado à escala de uma pequena cidade que deve considerar diversos fatores a curto e a longo prazo. Isso porque o que é verdadeiramente sustentável age com critérios mínimos, reconsiderando desde o início o que é realmente necessário e sem mais. Para ele, arquitetura e urbanismo devem produzir efeitos que nos fazem perceber uma cidade diferente, em que, mesmo sem saber exatamente o motivo, os cidadãos possam se sentir melhor. Além disso, o espaço público deve ser um respeitoso espaço comum que reúne pessoas e emana a ideia de educação, apoio, defesa e conforto. | 33 |


Cortes transversais sem escala. Fonte: Site oficial do arquiteto

Corte longitudinal sem escala. Fonte: Site oficial do arquiteto

| 34 |


Biblioteca Além de salas de aula, leitura, reunião e videoteca, o programa de usos e seus volumes construídos são completados por um outro volume, único espaço que

surge acima da topografia geral da parcela projetada, destinado a abrigar uma galeria de exposições. Ele possui acesso independente, porém os seus elementos são integrados em um conjunto concebido a partir de uma escala global, onde cada um deles perde o sentido sem a presença do outro.

Implantação. Podemos perceber que o programa é disposto no terreno de uma forma contínua, onde cada parte é conectada à outra formando uma figura assimétrica e, na maioria das retas, não ortogonal. Fonte: Site oficial do arquiteto.

| 35 |


Vista interna do espaço contemplativo. Esta é a sala que possibilita mais liberdade aos usuários da biblioteca. Ela possui um espaço amplo e mobiliários variados, que algumas vezes chegam a invadir literalmente o espaço externo. Fonte: Site oficial do arquiteto.

Vista interna da sala de leitura. Apesar de estar localizada numa parte mais reservada do projeto, ela possui o mesmo aproveitamento de luz natural do restante. Fonte: Site oficial do arquiteto | 36 |


Parque de leitura Esquema de organização dos usos

Fonte das informações: Site oficial do arquiteto

Vista da cobertura da biblioteca e parque das flores. Quadra esportiva ao fundo. Fonte: Site oficial do arquiteto | 37 |


Vista da cobertura da biblioteca. Estre trecho possui bancos fixos de alvenaria, feitos do mesmo material e cor dos guarda-corpos que contornam o projeto. Fonte: Site oficial do arquiteto

Vista da รกrea das dunas, um espaรงo livre, muito convidativo aos skatistas, ciclistas, etc., por conter esses relevos artificiais. Fonte: Site oficial do arquiteto | 38 |


garantindo um ótimo aproveitamento da luz solar através das fachadas de vidro;

Considerações O projeto escolhido como estudo de caso teve grande influência para a idealização do complexo de estudos e cultura descritos nas próximas páginas. À seguir estão relatados os pontos de reflexão utilizados pelo arquiteto que foram mais relevantes ao longo da concepção deste trabalho. •

Otimização máxima do espaço alcançada através da exploração do volume. A cobertura da construção é muito bem aproveitada como complemento do programa do parque de leitura, permitindo, dessa forma, que haja muito mais possibilidades de usos, sem espaços desperdiçados ou subutilizados;

A proximidade com o tema tratado, pelo fato de ser uma proposta que possibilita a dialética entre os dois programas envolvidos;

Assim como deve acontecer nesta intervenção, existem diversas formas de acesso ao terreno. Isso porque o projeto funciona como uma continuação da cidade, conectando todas as ruas que formam seu perímetro. Essa forma de abordagem é interessante porque em se tratando de um equipamento público, ele demonstra uma grande responsabilidade social e incentiva a contemplação pelo usuário;

A maneira como solucionou a questão da segurança em algumas áreas da biblioteca que necessitam de mais privacidade e restrição. A biblioteca prevê um controle de acesso recuado, apenas onde ele é necessário, permitindo a permeabilidade dos visitantes nas outras áreas do parque;

O espaço contemplativo da biblioteca é um local amplo, que permite maior contato com o parque e que possibilita mais liberdade aos usuários que estão dentro dela. Isso acontece porque ele contém estantes de livros para consulta, poltronas para leitura, computadores e mesas que invadem o espaço externo, ultrapassando a barreira do vidro;

Organização dos usos externos em setores bem marcados pelo desenho de piso, bem como a exploração das cores no projeto.

Os alicerces de reflexão utilizados pelo arquiteto com a intenção de fazer uma arquitetura sem fronteiras, gentil e sustentável. Podemos perceber isto quando se propõe: um tipo de mobiliário que se adequa às necessidades dos usuários; acesso livre ao terreno, sem a existência de grades; aplicação de conceitos que visam a sustentabilidade real do projeto,

| 39 |



Parte 3 Concepção



Especulações Estudo Preliminar de distribuição das atividades

Plano de massas sem escala, feito à mão na proporção do terreno real. No desenho observa-se a topografia, as intenções de acessos e uma possibilidade de distribuição

do programa no terreno.

Análise A partir da análise do terreno, foi feita uma proposta em que os novos programas pudessem ser distribuídos sem haver alteração nos fluxos originais da praça. Isso foi possível porque o desenho original e a disposição de seus elementos construídos – o galpão da Casa de Cultura, o palco externo e a quadra – aceitam melhorias e não interferem na nova proposta. O galpão ocupado atualmente pela Casa de Cultura é um ponto de referência para a região, por isso, não seria interessante que as suas características fossem perdidas neste processo. Apesar disso, ele não possui a infraestrutura necessária para sediar a Casa de Cultura de maneira adequada, então foi tomada a decisão de mantê-lo, porém com outro uso.

Nesta proposta, ele passa a abrigar a praça de alimentação, que é um dos pontos de encontro previstos no projeto. Assim o galpão, juntamente com a praça que se forma do lado esquerdo, ganham a função de distribuição dos novos fluxos, dividindo o terreno em dois setores: de um lado os equipamentos ligados à educação e cultura – salas de aula, casa de cultura, galeria de exposições e biblioteca; e do outro lado os equipamentos de lazer – praça de alimentação, palco externo, playground e quadra. Os alojamentos foram colocados na parte mais reservada do terreno. Eles estão próximos dos estacionamentos e do bloco de estudos, que por sua vez encontra-se na região de maior visibilidade e fácil acesso por todas as ruas à sua volta.

| 43 |


Volumetrias

Alojamento

Centro de estudos / Casa de cultura / Biblioteca

Alojamentos: lâmina única e elevada. Os apartamentos são unidos pela varanda (principal eixo de circulação). Fonte: imagem autoral.

Centro de Congressos de Trípoli, projeto de Tabanlioglu Architects. Fachada assimétrica, com fechamentos em madeira e vidro. Fonte: Imagem autoral.

Capela Para um cristão, o altar, lugar de sacrifício e de consagração, é parte do templo. Uma vez que o templo é o próprio cristão, o altar também está nele. [...] se nossos prédios não são templos, [...] nossas plataformas também não devem ser sacralizadas. [...]. Sendo assim, nossas plataformas têm apenas uma função estética e prática: permitir que as pessoas que estão assentadas no auditório enxerguem melhor quem está à frente. (MARINONI, 2017, p. 39 - 40)

Centro de Arte e Cultura de Besancon, projeto de Kengo Kuma. Representação do vão entre os dois volumes. Cobertura e brises de madeira, vazados para a entrada de luz natural. Fonte: imagem autoral.

| 44 |

Capela: estrutura representada em madeira e cobertura de vidro. Permeável em todos os lados e acesso principal por um espelho d’água. Fonte: imagem autoral.


Roberto Burle Marx (1909-1994) foi um dos artistas brasileiros mais influentes no mundo. Suas obras foram fundamentais para definir a Arquitetura Moderna Brasileira, identificandose com as vanguardas artísticas de arte abstrata, concretismo e construtivismo. Seus projetos eram reconhecidos pela exploração da vegetação nativa, além da utilização de uma linguagem orgânica e de formas sinuosas; um deles foi considerado como um marco de ruptura para o paisagismo Brasileiro: o terraçojardim que projetou para o Edifício Gustavo Capanema.

Estudo dos volumes dos alojamentos e da capela em planta. Acesso pela mesma praça, com presença de um espelho d’água que os permeia. Fonte: imagem autoral.

Com base nos trabalhos realizados pelo artista, foi realizado um estudo de formas e cores que podem futuramente configurar o desenho de piso do projeto. Este desenho deve caracterizar o local e manter a vivacidade das áreas públicas, além de auxiliar na setorização dos usos da praça:

Praça

Representação de um trecho do Largo Carioca, Roberto Burle Marx. Fonte: imagem autoral.

Estudo de formas e cores. Fonte: imagem autoral

| 45 |


Partido Espera-se desse lugar um conjunto de ambientes nos quais as pessoas possam se ver de formas diferentes (de perto ou de longe; em movimento ou em estado de contemplação; etc.). Uma edificação de fácil leitura, pela qual os indivíduos possam caminhar e perceber a cidade de uma maneira diferente. O desenho foi estabelecido respeitando o gabarito predominante da região, que é baixo, de 1 a 2 pavimentos garantindo a acessibilidade dos usuários em todo o complexo. Para isso, o centro do novo terreno foi rebaixado, de maneira que a altura das edificações não comprometessem a relação dos pedestres com a calçada e ao mesmo tempo ganhassem mais um pavimento e uma nova praça central. Assim, essa praça ganha uma sensação de proteção e introspecção, separada da poluição visual e sonora da avenida, local ideal para a implantação da capela, garantindo o conforto ambiental. O alojamento tem a sua particularidade por estar integrado à praça, ao complexo e ao estacionamento ao mesmo tempo, através da implantação e das passarelas. A volumetria do complexo foi determinante para o desenho da paisagem e demarcação

| 46 |

do terreno. A ideia que norteou o projeto desde o início foi a preocupação de estabelecer um dialogo entre os cristãos e a cultura. Por isso, a produção de uma forma única que abriga todas as atividades de estudo e cultura previstas no programa. Assim, esse diálogo pode acontecer não apenas de maneira simbólica, mas espacialmente também. Nesta proposta, as atividades da Casa de Caltura Chico Science são abrigadas pelo novo complexo e o antigo galpão recebe um novo uso sem que as suas características originais sejam afetadas. Para que essa edificação não fosse uma barreira para os pedestres, as suas duas extremidades foram rebaixadas no nível da calçada. Isso cria novas perspectivas para quem caminha por ela e faz com que o complexo se torne parte da cidade. Apesar da integridade volumetrica do complexo, os programas exigiam certas divisões internas para que pudessem funcionar bem. Então, para que os indivíduos não perdessem essa relação, o o momento de encontro da forma arquitetônica em “L” foi explorado para que se tornasse um átrio de acesso único e, à partir dele, houvesse a dispersão dos fluxos. Assim, os alunos da escola de teologia, bem como os usuários da biblioteca e da casa de cultura entram no complexo pelo mesmo local.


Apropriação do terreno

Volumetrias

Iluminação

Acessos e Conexões | 47 |


Programa &DVD GH &XOWXUD

ร UHD Pรฐ

%LEOLRWHFD

5HFHSomR

Pรฐ

5HFHSomR HPSUpVWLPR

Pรฐ

$GP GLUHWRU

Pรฐ

(VSDoR GH HVWXGR OLYUH

Pรฐ

(VSDoR FREHUWR OLYUH

Pรฐ

$FHUYR YLGHRWHFD

Pรฐ

6DOD GH MRJRV

Pรฐ

'HSyVLWR

Pรฐ

$OPR[DULIDGR

Pรฐ

$UPiULRV

Pรฐ

'HSyVLWR

Pรฐ

6DQLWiULRV

Pรฐ

6DQLWiULRV

Pรฐ

7RWDO

Pรฐ

9HVWLiULRV

Pรฐ

(QIHUPDULD

Pรฐ

$ORMDPHQWRV

ร UHD Pรฐ

7RWDO

Pรฐ

5HFHSomR

$SDUWDPHQWRV XQL &HQWUR GH HVWXGRV

+DOO FLUFXODomR

Pรฐ

$OPR[DULIDGR

Pรฐ

6DOD GR GLUHWRU

Pรฐ

'HSyVLWR

Pรฐ

6DOD GR FRRUGHQDGRU

Pรฐ

5HIHLWyULR

Pรฐ

6DOD GH UHXQLmR

Pรฐ

&R]LQKD

Pรฐ

6DOD GRV SURIHVVRUHV

Pรฐ

7RWDO

Pรฐ

&RSD SURIHVVRUHV

Pรฐ

3UDoD

ร UHD Pรฐ

/HLWXUD FRPSXWDGRUHV

Pรฐ FG Pรฐ

3URMHomR H ILOPHV

Pรฐ

4XDGUD SROLHVSRUWLYD

Pรฐ

(VW~GLR

Pรฐ

$UTXLEDQFDGD S

Pรฐ

'HSyVLWR SDUD LQVWUXPHQWRV

Pรฐ

*DOHULD GH H[SRVLo}HV

Pรฐ

6DQLWiULRV

Pรฐ

3DOFR H[WHUQR

Pรฐ

'HSyVLWR

Pรฐ

3UDoD GH $OLPHQWDomR

Pรฐ

$XGLWyULR S

Pรฐ

(VWDFLRQDPHQWR YDJDV

Pรฐ

)R\HU

Pรฐ

&DSHOD S

Pรฐ

6DQLWiULRV DXGLWyULR

Pรฐ

3iWLR GH OHLWXUD

Pรฐ

7RWDO

Pรฐ

7RWDO

| 48 |

Pรฐ FG

Pรฐ

6DOD GH XVR P~OWLSOR

ร UHD Pรฐ

Pรฐ

6HFUHWDULD

6DODV GH DXOD XQL

ร UHD Pรฐ

Pรฐ


Distribuição final do Programa

Estudo realizado à mão, com detalhamento das áreas e níveis de acesso.

| 49 |



Parte 4 Projeto



Este trabalho dá margem à discussão sobre o que, afinal, seria uma arquitetura cristã e como ela deveria se relacionar com a sociedade ao seu redor. Ele se baseia nos conceitos da Teologia da Cultura, que entende que todo cristão deve ser agente transformador da sua cultura, ou seja, um modelo que busca apoiar e contribuir para o desenvolvimento das pessoas como seres humanos. Por conta disso, a continuidade do projeto a partir daqui deve levar em conta não apenas as necessidades intrínsecas aos programas, como também a sustentabilidade, o bemestar dos usuários, o incentivo à cultura e à educação, e a manutenção das possibilidades de lazer para essa população. As páginas à seguir contêm o produto final do projeto arquitetônico que resultou em um complexo dedicado a um Centro de Aprendizado Cristão e à Casa de Cultura Chico Science já existente.

| 53 |


D

C

753.00 m

751.00 m

2,9 %

B i=

746.00 m

75 750.00 m

i = 8,2%

C

D

A

| 54 |


B

51.00 m

753.00 m

749.00 m

A

752.00 m

IMPLANTAÇÃO 1:1000

| 55 |


D C

A

1

C 2

5

14

5

15

16

17

3

6

7

4

B

4

25

750.00 m

24

30 4

5

6

27

7

27

13

8

28

29 31

32 9

747.00 m

5

34

10

36 35 33 750.00 m

11

4 12

38

A

6

7

749.00 m

5 13

35

D

37

E

C

D

| 56 |

F

G

H

I

J

L

M


LEGENDA DOS AMBIENTES

18

19

20

21

26 N 751.00 m O

23

B

25 P

751.00 m

Q

1

Capela

22

Praça de alimentação

2

Refeitório

23

Recepção

3

Cozinha

24

Sala de estar

4

Elevador

25

Passarela

5

Sanitários/ Vestiários

26

Estacionamento

6

Depósito

27

Salas de aula

7

Almoxarifado

28

Sala de vídeo

8

Acervo Biblioteca

29

Sala de debate

9

Leitura / Estudo

30

Estúdio musical

10

Pátio externo de leitura

31

Sala dos professores

11

Armários

32

Copa

12

Controle / Empréstimo

33

Sala de estudos

13

Praça do estudante

34

Sala de reunião

14

Galeria de exposição

35

Diretor / Coordenador

15

Conexão entre praças

36

Secretaria

16

Pátio Casa de Cultura

37

Enfermaria

17

Palco externo

38

Acesso principal

18

Foyer do auditório

39

Praça da cultura

19

Auditório

40

Quarto

20

Camarins

41

Cobertura do complexo

21

Átrium do complexo

4

15

749.00 m

22

23

24

25

26

27

28

751.00 m

V

39

W

750.00 m X

22

17

750.00 m

749.00 m

Y

A Z

M

PLANTA TÉRREO - COTA 750.00 1 : 500

| 57 |


D C

A

1

B C 2

5

14

5

15

16

17

3

6

4

7 3 8

4

B

7

6

4

5

9 6

746.50 m

10

8 7

13 746.00 m

8

10

9

9 747.00 m

5 5

12 7

10

746.00 m

11

11 747.50 m

23

18 746.00 m

4

5

12

21

A

16

14 5

19

20

13

D

6

E

C

D

| 58 |

F

G

H

I

J

L

M


LEGENDA DOS AMBIENTES

18

19

20

21

N

O

B

746.00 m P

2 Q

1

Capela

22

Praça de alimentação

2

Refeitório

23

Recepção

3

Cozinha

24

Sala de estar

4

Elevador

25

Passarela

5

Sanitários/ Vestiários

26

Estacionamento

6

Depósito

27

Salas de aula

7

Almoxarifado

28

Sala de vídeo

8

Acervo Biblioteca

29

Sala de debate

9

Leitura / Estudo

30

Estúdio musical

10

Pátio externo de leitura

31

Sala dos professores

11

Armários

32

Copa

12

Controle / Empréstimo

33

Sala de estudos

13

Praça do estudante

34

Sala de reunião

14

Galeria de exposição

35

Diretor / Coordenador

15

Conexão entre praças

36

Secretaria

16

Pátio Casa de Cultura

37

Enfermaria

17

Palco externo

38

Acesso principal

18

Foyer do auditório

39

Praça da cultura

19

Auditório

40

Quarto

20

Camarins

41

Cobertura do complexo

21

Átrium do complexo

1

746.00 m

4

A

M

PLANTA SUBSOLO - COTA 746.00 1 : 500

| 59 |


D C

753.00 m

14

15

16

17

4 40

5

B

i=

2 ,9

%

4

41

i = 8,2%

D

A

C

749.00 m

| 60 |


LEGENDA DOS AMBIENTES

18

19

20

21

N

4

751.00 m O

40 5

754.00 m

B P

Q

22

23

24

25

26

1

Capela

22

Praça de alimentação

2

Refeitório

23

Recepção

3

Cozinha

24

Sala de estar

4

Elevador

25

Passarela

5

Sanitários/ Vestiários

26

Estacionamento

6

Depósito

27

Salas de aula

7

Almoxarifado

28

Sala de vídeo

8

Acervo Biblioteca

29

Sala de debate

9

Leitura / Estudo

30

Estúdio musical

10

Pátio externo de leitura

31

Sala dos professores

11

Armários

32

Copa

12

Controle / Empréstimo

33

Sala de estudos

13

Praça do estudante

34

Sala de reunião

14

Galeria de exposição

35

Diretor / Coordenador

15

Conexão entre praças

36

Secretaria

16

Pátio Casa de Cultura

37

Enfermaria

17

Palco externo

38

Acesso principal

18

Foyer do auditório

39

Praça da cultura

19

Auditório

40

Quarto

20

Camarins

41

Cobertura do complexo

21

Átrium do complexo

27

28

V

W 750.00 m X

Y

A Z

PLANTA 1º PAV. - COTA 754.00 1 : 500

| 61 |


D

E

F

G

H

I

J

L

M

22

23

24

25

755.00 m

750.00 m 749.00 m 746.00 m

D

E

F

G

H

I

755.00 m

749.00 m

746.00 m

21

20

19

18

17

16

15

14

757.00 m

754.00 m

751.00 m 750.00 m

746.00 m

11

10

9

755.00 m

749.00 m

| 62 |

8

7

6


26

27

28

753.40 m 752.00 m

752.00 m 751.00 m

749.00 m

CORTE A 1 : 500

J

L

M

750.00 m

746.50 m

CORTE A 1 : 250

C

B

A

CORTE B 1 : 250

9

10

11

12

13

755.00 m

750.00 m

746.00 m

CORTE C 1 : 250

5

4

3

2

1

753.00 m

750.00 m

750.00 m

746.05 m

746.00 m

CORTE D 1 : 250

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Fachadas Avenida Tancredo Neves É possível ver o pátio coberto da Casa de Cultura através da fachada de vidro, que também permite a insidência da luz solar neste ambiente.

Rua Vergueiro Nesta fachada o pedestre não tem contato direto com a edificação, pois existe um vão entre ela e a calçada. Este vão permite uma melhor ventilação na biblioteca, além de garantir que as salas de aula do pavimento suparior fiquem mais reservadas.

Praça do Estudante É possível acessar o complexo por diversas portas da fachada interna da praça, diferentemente do que acontece na Avenida Tancredo Neves e da Rua Vergueiro, que se dá apenas pelo átrio central. Essas portas funcionam como grandes aberturas, que garantem uma boa ventilação nos ambientes internos.

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O Átrio de acesso Este é o grande ponto de encontro do complexo. Ele tem a função de conduzir as pessoas para qualquer que seja a atividade de seu interesse: Assistir às aulas, fazer pesquisas na biblioteca, participar das oficinas na Casa de Cultura, visitar a galeria de exposições ou apenas esperar o colega na escadaria.

Para garantir que a circulação de ar seja mais eficiente, além de marcar melhor o acesso principal para o pedestre, o átrio foi configurado como um grande pátio, aberto nas laterais e com seus pilares recuados das extremidades das calçadas. Ele possui dois pé-direitos diferentes: no vível da rua se encontram o Centro de Estudos e a coordenação da Casa de Cultura e três metros abaixo estão a galeria de exposições, a biblioteca e a Casa de Cultura, para onde o visitante é conduzido através de uma grande escadaria.

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Centro de Aprendizado O centro de aprendizado foi projetado para receber estudantes interessados em teologia e em seu aprimoramento pessoal. Ele contém salas de aula, vídeo, estudo em grupo, debate, além de dois estúdios de música e um auditódio que pode ser acessado pela praça Essa proposta possibilita a realização de eventos de diferentes tempos de duração, pois prevê um bloco de alojamento para receber o público de outras localidades. Seus quartos possuem uma vista privilegiada, pois através deles é possível ver toda a extenção do projeto. Apesar de não fazer parte do complexo, pode-se dizer que o bloco de alojamento está integrado a ele, pois conta com uma passarela que contorna toda a sua fachada, presenteando os estudantes com uma passagem agradável, além do corredor interno.

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Capela Tendo em vista as demais edificações do projeto, a capela configura o espaço mais singelo de todos. Sua estrutura de madeira, os pilares finos, o piso e os bancos de concreto, a cobertura de vidro e uma cruz que pousa sobre o espelho d’água caracterizam este ambiente transparente e permeável corporalmente.

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Biblioteca A biblioteca não possui divisões internas além da área reservada para a recepção e para os sanitários. Ela foi pensada para ser um ambiente agradável, bem iluminado, com boa ventilação e que pudesse estimular a permanência dos visitantes, estando eles sozinhos ou em grupo.

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No programa foi previsto um espaço de leitura ao ar livre. Nesta proposta, o pátio foi integrado no desenho do piso da praça, porém com barreiras que acontecem ora através do espelho d’água, ora pelo jardim. Dessa forma, ele se torna parte da praça, porém com restrições de acesso apenas para quem é visitante da biblioteca.


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Casa de Cultura A Casa de Cultura consiste em um espaço coberto com um programa bastante enxuto. Se trata de um galpão coberto e as salas menores que ela possui são necessárias apenas para atender o setor administrativo e de manutenção. Apesar de possuir um programa arquitetônico bastante simples, ela abriga atividades distintas de oficinas, shows, encontros de capoeiristas, entre outros. Por isso, seria interessante pensar em um mobiliário que fosse flexível e pudesse ser manuseado pelas próprias pessoas facilmente. Através de uma pesquisa, foi desenhado um modelo de mobiliário fixo, porém ajustável

Configuração de mobiliário utilizado em oficinas e atividades livres.

chamado “Pop-up” baseado no projeto desenvolvido pelos designers holandeses Carmela Bogman e Martens Rogier. Se trata de uma mobília composta por bancadas retráteis de alumínio destinada a espaços públicos, que podem ser bombeadas para fora do pavimento e recuadas de volta para o chão conforme as necessidades dos usuários. O sistema de bombeamento é acessado através de chaves que são distribuidas aos usuários. Devido ao sistema hidráulico, as bancadas podem ser fixados a qualquer altura, com uma altura máxima de setenta e cinco centímetros. Sendo, portanto, um sistema bastante flexível e inclusivo, que permite aos usuários ajustar as peças para configurar um banco, uma mesa, uma sala de estar ou apenas o desenho de piso do pátio.

Configuração de mobiliário como desenho de piso do pátio coberto.

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Áreas de lazer As áreas de lazer foram mantidas nos mesmos locais de antes, porém com alterações principalmente no desenho da praça. Nesta proposta, o Playground fica num local plano, com piso e grama, ao lado da quadra, que está a um nível acima.

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Para que o palco externo ficasse marcado sem que criasse uma fachada cega em qualquer uma das laterais, optou-se pela mesma solução do complexo: rebaixar o piso, sendo colocado à um metro abaixo do nível da praça. Dessa forma, os espectadores podem visualizar as apresentações de qualquer ângulo.


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Estudo solar Uma das pincipais preocupações para a concepção do projeto foi o aproveitamaento da luz do sol e da ventilação natural. Considerouse o norte para a criação do volume do edifício e a extenção da fachada foi projetada totalmente em vidro.

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Além disso, foram instaladas cinco claraboias nos corredores do centro de aprendizado e outra, que é bem maior, no átrio central. Isto foi feito para que a iluminação não fosse comprometida em nenhum ambiente. Nas fotos à seguir, podemos ver como a luz do sol se comporta no terreno e o caminho da sombra do complexo ao longo do dia.


Memorial Casa de Cultura Espaço

Área (m²)

Capacidade

Adm./ diretor

25m²

1 pessoa

Espaço coberto livre

630m²

200 pessoas

Almoxarifado

20m²

-

Depósito

25m²

-

Sanit./vest. públicos

60m² cd.

3 vasos/ lav./ chuv. Cada

Sanitários Adm.

5m² cd.

1 vaso/ lav./ chuv. Cada

Enfermaria

15m²

1 pessoa

Galeria de exposições

250m²

30 pessoas

1050m²

200 pessoas

Área (m²)

Capacidade

Recepção / empréstimo

90m²

5 pessoas

Sanit./Vest. funcionários

50m² cd.

4 vasos/ lav./ chuv. cada

Depósito

20m²

-

Almoxarifado

20m²

-

Armários

50m²

200 pessoas

Acervo / videoteca

500m²

100 pessoas

Sala de pesquisa e leitura

600m²

100 pessoas

Pátio de leitura

270m²

50 pessoas

Sanitários

50m² cd.

8 vasos/ lav. cada

Área total

2.000m²

Área total

Biblioteca Espaço

200 pessoas

Praças Espaço

Área (m²)

Capacidade

Quadra

800m²

200 pessoas

Palco externo

300m²

100 pessoas

Praça de Alimentação

300m²

120 pessoas

Estacionamento

1670m²

60 vagas

Capela

130m²

150 pessoas

13.770m²

660 pessoas

Área total

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Alojamentos Espaço

Área (m²)

Capacidade

100m²

5 pessoas

150m² cd.

20 pessoas cada

Hall/ Sala de Estar

190m²

40 pessoas

Almoxarifado

25m²

-

Depósito

15m²

-

Refeitório

220m²

40 pessoas

Cozinha

100m²

5 pessoas

1.280m²

50 pessoas

Área (m²)

Capacidade

Secretaria

70m²

5 pessoas

Sala diret./ coord.

25m²

1 pessoa

Sala de reunião

40m²

10 pessoas

Sala dos professores

85m²

10 pessoas

Copa professores

30m²

10 pessoas

50m² cd.

25 pessoas

100m²

30 pessoas

80m²

20 pessoas

60m²

50 pessoas

Estúdio (2 uni.)

50m² cd.

5 pessoas cada

Sanitários

50m² cd.

8 vasos/ lav. cada

Depósito

20m²

-

Almoxarifado

30m²

-

Auditório

300m²

200 pessoas

Camarins (2 uni)

25m² cd.

10 pessoas cada

Sanitários camarins

10m² cd.

2 vasos/ lav. cada

200m²

200 pessoas

Sanitários auditório

25m² cd.

4 vasos/ lav. cada

Área total

2.730m²

500 pessoas

Recepção Apartamentos (2 uni)

Área total

Centro de estudos Espaço

Salas de aula (10 uni.) Sala de estudo (Leitura / computadores) Sala de debate Projeção e filmes

Foyer

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C o n s ide r a ç õ e s Finais Sem dúvida, o maior desafio para qualquer cristão nos dias de hoje tem sido encontrar meios de seguir o verdadeiro evangelho sem sofrer influência da mídia ou de alguma instituição religiosa. Apesar disso, em nenhum momento este trabalho teve a intenção de críticar-las. Pelo contrário, entendo que elas têm um papel muito importante na sociedade e para a comunicação dessa mensagem. Fui criada em um ambiente cristão e sei como a religião pode ser determinante para a formação do indivíduo. Porém, percebemos que com o passar do tempo algumas quetões que são base dos ensinamentos de Cristo para a humanidade, como o amor a Deus e ao próximo, foram se perdendo ou se tornando parte de meros rituais e formalidades dentro dos cultos. Por isso, foi preciso muito respeito para lidar com esse assunto, já que ao longo dos anos o cristianismo foi se transformando em uma religião cada vez mais heterogênea e abordada de muitas formas diferentes.

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Por causa desse sentimento, o tema explorado neste processo foi sendo lapidado aos poucos e se transformando numa forma mais gentil de tratar do assunto, que envolve não apenas um conjunto de conceitos teológicos, mas a fé de muitas pessoas. Acredito que eu tenha sido motivada a explorar o tema do ponto de vista da educação porque foi uma forma simbolica de incentivar os cristãos a voltarem ao início, à essência dos ensinamentos de Cristo. De certa forma, é na escola que muitos sonhos são projetados, ideias ganham forma física e planos são colocados em prática. Assim, esse raciocínio dá margem ao entendimento de que na verdade, uma arquitetura cristã pode e deve dizer sobre qualquer assunto. Os cristãos precisam refletir sua matriz e identidade (Cristo, conversão, evangelho e engajamento social), mostrando uma fé íntegra e relevante, que não merece ser desprezada pela cultura em que está inserida. Se o coração do homem estiver voltado para aquilo que é bom, belo e agradavel aos olhos de Deus, automaticamente o resultado do seu trabalho será cristão, seja o tema religioso ou não religioso.

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Referências Bibliográficas

<http://michaelis.uol.com.br/ busca?r=0&f=0&t=0&palavra=centro> Acesso em: 03 abril 2017

Livros

Dicionário Michaelis online. Significado de cristão. Disponível em:

BORGES, Gerson. Ser evangélico sem deixar de ser brasileiro. 1.ed. Viçosa: Ultimato, 2016. 103p.

<http://michaelis.uol.com.br/ bsca?r=0&f=0&t=0&palavra=crist%C3%A3o> Acesso em: 03 abril 2017

Comissão Lausanne. O evangelho e a cultura: a contextualização da palavra de Deus. 2 ed. São Paulo: ABU Editora, 2007. 53p.

Dicionário Michaelis online. Significado de teologia. Disponível em:

GONZÁLEZ, Justo L. Cultura e evangelho: o lugar da cultura no plano de Deus. 1.ed. São Paulo: Hagnos, 2011. 152p. NESBITT, Kate. Uma nova agenda para a arquitetura. In: NORBERG-SHULZ, Christian. O fenômeno do lugar. São Paulo: Cosac Naify, 2006. p.443-461.

<http://michaelis.uol.com.br/busca?id=BVpAl> Acesso em: 03 abril 2017 Site da Faculdade Teológica de São Paulo. Grade de atividades e horários. Disponível em: <http://www2.teologica.br/webportal> Acesso em: 27 março 2017

NICHOLLS, Bruce J. Contextualização: Uma teologia do evangelho e cultura. 1.ed. São Paulo: Vida Nova, 1983. 96p.

Site do ArchDaily Brasil. Biblioteca Pública Municipal e Parque de Leitura/ Martín Lejarraga. Disponível em:

MARINONI, Renato. Sem atalhos: em busca de uma adoração autêntica. 1.ed. São Paulo: Edição do Autor, 2017. 226p.

< h t t p : / / w w w. a r c h d a i l y. c o m . b r / 1 6 3 9 1 9 / biblioteca-publica-municipal-e-parque-deleitura-slash-martin-lejarraga> Acesso em 27 maio 2017

TURNER, Steve. Cristianismo Criativo?: uma visão para o cristianismo e as artes. 1.ed. São Paulo: W4Editora, 2006. 173p.

Sites Blog Vitrine do Giba. Informações sobre a Casa de Cultura Chico Science. Disponível em:

Site do arquiteto Martín Lejarraga. Informações sobre o projeto da biblioteca pública municipal e parque de leitura. Disponível em: < h t t p : / / w w w . l e j a r r a g a . com/?portfolio=biblioteca-publica-yparque-de-lectura-en-torre-pachecomurcia#!prettyPhoto> Acesso em: 23 maio 2017

<https://vitrinedogiba.com/2015/08/12/ casa-de-cultura-chico-science-espaco-dacomunidade> Acesso em: 27 março 2017

Site do DesignBoom. Carmela Bogman + Rogier Martens: pop up. Disponível em:

Dicionário Michaelis online. Significado de centro acadêmico. Disponível em:

< h t t p s : / / w w w. d e s i g n b o o m . c o m / d e s i g n / carmela-bogman-rogier-martens-pop-up/>

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