RAQUEL MARRA GONÇALVES
CENTRO EDUCACIONAL UNIFICADO: CEU Santo Amaro
TCC 2 Trabalho de Conclusão de Curso de graduação apresentado ao Centro Universitário Senac, como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Prof. Dra. Valéria Santos Fialho
São Paulo 2015
À todos que contribuíram para a realização deste trabalho. À minha mãe, Simone e minha avó Adélia que acreditam em mim, me inspiram e diariamente me dão forças para trilhar meu caminho da melhor maneira. Aos verdadeiros amigos, a quem posso chamar de família. Aos colegas, que também participaram desse longo processo. E à meus mestres e orientadores, ano após ano dividindo conosco tanto talento e sabedoria.
“Comecemos pelas escolas, se alguma coisa deve ser feita para 'reformar' os homens, a primeira coisa é formá-los.”
Lina Bo Bardi em Primeiro: escolas, Habitat, nº 4, 1951
RESUMO
Este Trabalho de Conclusão de Curso tem como objetivo o desenvolvimento de um projeto arquitetônico para um CEU Centro Educacional Unificado. Para fundamentar o desenvolvimento deste projeto o trabalho se debruçou sobre um estudo cronológico da arquitetura escolar no Brasil, desde a primeira República até a década de 2000. Desta forma busca compreender de que maneira os equipamentos educacionais de outros períodos influenciaram o objeto de estudo, quais problemas contemporâneos estão relacionados à ele, e por fim, a revisão de programa e partido de projeto necessários para adaptá-lo as demandas atuais e ao local escolhido.
Palavras chave: Centro Educacional Unificado - CEU, educação, padrão, escola, arquitetura.
ABSTRACT
The present term paper is aimed at developing an architectonic project for a CEU - Centro Educacional Unificado (Unified Educational Center). In order to ground the aforementioned, this project thoroughly studied the brazilian school architecture, as of the First Republic until de 2000's. This project analyzed how the educational equipment from the past influenced the studied object, which current problems are related to it, and finally, led to the development of a revision program and necessary modifications to adapt the chosen location to its current demands.
keywords: CEU - Centro Educacional Unificado (Unified Educational Center), education, standard, school, architecture
LISTA DE SIGLAS CAIC – Centro de Atenção Integral à Criança CDC – Clube da Comunidade C.E.E – Centro Educacional Esportivo CEI – Centro de Educação Infantil CEDEC - Centro de Desenvolvimento de Equipamentos Urbanos e Comunitários de São Paulo CEU – Centro Educacional Unificado CIAC – Centro Integrado de Atenção à Criança e ao Adolescente CIEP – Centro Integrado de Educação Pública CONESP – Companhia de Construções Escolares de São Paulo DOP – Diretoria de Obras Públicas EDIF – Departamento de Edificações EE – Escola estadual EMEF – Escola Municipal de Ensino Fundamental EMEI – Escola Municipal de Educação Infantil EMURB – Empresa Municipal de Urbanização FDE – Fundação para o Desenvolvimento da Educação FECE – Fundo Estadual de Construções Escolares PMSP – Prefeitura Municipal de São Paulo
SUMÁRIO 1
INTRODUÇÃO
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ARQUITETURA ESCOLAR NO BRASIL
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2.1 A ESCOLA NA PRIMEIRA REPÚBLICA
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2.2 AS ESCOLA ATÉ 1950
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2.2.1 AS ESCOLAS PLATOONS, ESCOLAS CLASSE E ESCOLAS PARQUE 2.2.2 CONVÊNIO ESCOLAR
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2.3 AS ESCOLAS DE 1960 A 1990
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2.3.1 CIEPs 2.4 AS ESCOLAS DE 1990 A 2010 2.4.1 CIACs
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6
19
31 36 39
CENTRO EDUCACIONAIS UNIFICADOS CEUS
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3.1 CEU X ARQUITETURA DO EDIFÍCIO
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3.2 CEU X ARQUITETURA DO LUGAR
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ESTUDOS DE CASO
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4.1 CEU ROSA DA CHINA
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4.2 CEU PARAISOPOLIS
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4.3 CEU PIMENTAS
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PROPOSTA CEU SANTO AMARO
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5.1 A NOVA GERAÇÃO DE CEUS
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5.2 DADOS
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5.3 PROJETO
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
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1 INTRODUCÃO Este trabalho se desenvolveu a partir do interesse em investigar a realidade das áreas periféricas de São Paulo, caracterizadas pela exclusão social e falta de recursos, de equipamentos sociais e de espaços públicos para a comunidade, a fim de promover integração e bem-estar para a população. O arquiteto Alexandre Delijaicov caracteriza a "arquitetura do lugar" como um parâmetro necessário e indicativo de onde o equipamento público deverá ser implantado, os locais onde há ausência de serviços públicos para a população. Os Centros Educacionais Unificados surgiram a partir dessa premissa: suprir a falta de infraestrutura e atividades nas periferias unindo o programa educacional, cultural, esportivo e recreativo. Originalmente implantados em São Paulo entre 2000 e 2004 na gestão da prefeita Marta Suplicy, o Centro Educacional Unificado (CEU) teve seu projeto padrão básico criado pelos arquitetos (Alexandre Delijaicov, André Takiya e Wanderley Ariza) da Divisão de Projetos do Departamento de Edificações (EDIF) da prefeitura de São Paulo. É composto basicamente por três edifícios e cinco blocos. O primeiro e maior edifício, chamado bloco didático, comporta as atividades pedagógicas. O segundo, um edifício cilíndrico, complementa o primeiro e abriga a creche. O terceiro, em forma de paralelepípedo, foi criado para atender as funções esportivas e culturais. O quarto bloco, denominado balneário, é composto por três piscinas e espelhos d' água. Por fim, o quinto bloco comporta as torres d’ água. O objetivo desta pesquisa é compreender em todos os aspectos o funcionamento de um CEU e de que forma esse projeto padrão contribuiu para as regiões onde os equipamentos foram implantados. Além disso, visa entender as modificações de projetos decorrentes da segunda gestão, onde foram construídos mais 24 CEUs pelo prefeito Gilberto Kassab, que deu continuidade ao projeto de Marta Suplicy. Para compreender o equipamento, foi imprescindível a pesquisa de fundamentos da arquitetura escolar, suas propostas e os conceitos criados por importantes figuras da educação e arquitetura do século XX, como Anísio Teixeira. O primeiro capítulo, cujo tema é a arquitetura escolar no Brasil, está dividido por período, partindo da década de XX até o ano de 2010. Inicia-se a pesquisa pelo período decorrente do final do Século XIX até 1920, chamado de Primeira República e onde se destacavam edifícios imponentes de arquitetura denominada neoclássica. Neste período o programa educacional era dividido em elementar e secundário. O elementar correspondia ao ensino público, enquanto que o secundário era direcionado a elite, ministrado por instituições privadas e não obrigatório. No fim desse período, com a Revolução Industrial no país, surge a necessidade de se construir novos edifícios com rapidez, baixo custo e sistemas construtivos mais racionais. Esse período, que corresponde entre 1921 e 1950, foi muito significativo para a arquitetura escolar. Com a ascensão de Getúlio Vargas em 1930, surge a ideia de uma remodelação no sistema de educação pública no país, a fim de promover a democratização e modernização 9
do Brasil. O educador baiano Anísio Teixeira (1900-1971) fazia parte do grupo de intelectuais defensores dessa remodelação, que resultaria numa educação pública e de qualidade. Entusiasta da arquitetura moderna, entre suas contribuições, destaca-se o sistema de escolas-classe e escola- parque, inspirados por propostas de escolas comunitárias norte americanas. Como exemplo significativo de escola-parque, temos o Centro Educacional Carneiro Ribeiro na cidade de Salvador, projetado pelo arquiteto Diógenes Ribeiro. Outro arquiteto influente foi Hélio Duarte, que também adotou em seus projetos aspectos das escolas - classe. Responsável pela equipe de arquitetos do Convênio Escolar, época em que a arquitetura moderna começou a ser empregada nas escolas públicas, ele também contou com o auxílio de Anísio Teixeira. Nos anos 80, novamente nos deparamos com os conceitos de escola- parque de Anísio Teixeira, dessa vez retomada pelo antropólogo Darcy Ribeiro, na época secretário da Educação do governador Leonel Brizola. Foram construídos os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) e Casa das Crianças, projetados por Oscar Niemeyer e João Filgueiras Lima (Lelé) nas áreas carentes do estado do Rio de Janeiro. Foi necessário o entendimento dessas propostas anteriores para a total compreensão dos Centros Educacionais Unificados, pois cada uma dessas propostas citadas inspirou de alguma forma seu desenvolvimento arquitetônico e conceitual. No capítulo 3, discute-se especificamente a arquitetura e a implantação dos CEUs, como eles se organizam, as soluções encontradas e até que ponto o projeto padrão com uso de elementos pré-moldados e modulação marcada é ou não funcional. Atualmente, São Paulo conta com 45 equipamentos implantados nos bairros mais carentes da cidade com capacidade para 2.400 alunos. Os estudos de caso foram desenvolvidos tendo como parâmetro um CEU da fase vermelha (Gestão da prefeita Marta Suplicy 2001-2004), um CEU da Fase Azul (Gestão de Gilberto Kassab 2006-2012) e outro da fase posterior, com projeto desenvolvido pelo escritório Biselli e Katchborian em 2010. Por fim, o ponto de partida para a proposta do Centro Educacional Unificado localizado em Santo Amaro, São Paulo, é a chamada “nova geração de CEUs’’, elaborada durante a gestão do Prefeito Fernando Haddad e discutida no capítulo 5. Neste capítulo procura-se compreender o local para, a partir das diretrizes estabelecidas, definir o programa arquitetônico do projeto a ser desenvolvido. O projeto original do CEU Santo Amaro é uma proposta da Prefeitura Municipal de São Paulo que visa ocupar parte do terreno onde atualmente funciona o Centro Esportivo Municipal Joerg Bruder. Este projeto consiste em um único bloco (arranjo linear) abrigando as funções escolares, multi uso, culturais e esportivas. A partir do estudo do programa arquitetônico e da análise do terreno, o projeto desenvolvido neste trabalho dividiu os blocos de acordo com os usos: 1 bloco esportivo, 1 bloco escolar e 1 bloco cultural, tendo como referência programa arquitetônico elaborado para o mesmo..
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2 ARQUITETURA ESCOLAR NO BRASIL “A premissa para edifícios construídos em função de sedes escolares, à primeira vista, parece transpor o problema arquitetônico, mas é pelo contrário a ele estreitamente ligado. As escolas devem ser expressas segundo as formas da arquitetura contemporânea que se inspira essencialmente no homem e na posição de “humildade” que mencionamos. As formas que se expandem, que se ligam com o exterior, o jardim, as janelas largas, aquele ar de “não severidade”, é o primeiro passo para a abolição de barreiras. A escola-fortim, gótica, normanda ou sem estilo mas com denominador comum de edifício-prisão, lembrando quase aos alunos que o estudo é um penoso dever, esta escola tornou-se longínqua e obsoleta. E o próprio fato que arquitetos modernos tenham sido chamados para projetar todas estas escolas, nos parece uma profecia.” Comecemos pelas escolas e, sobretudo comecemos pela arquitetura. (Lina Bo Bardi, Primeiro: escolas, Revista Habitat nº 4, 1951)
Para o desenvolvimento do primeiro capítulo, considerou-se a sequencia destacada por Wilderom (2014), deixando claro de que forma a arquitetura escolar paulista se deu através de entidades construtoras ou órgãos promotores: 1889 – 1930 – As escolas da república velha e o surgimento dos Grupos Escolares (DOP-Estado) 1930 – 1943 – Grupos Escolares a partir do Estado Novo (DOP – Estado) 1935 – 1938 – Parque Infantis ( Departamento de Cultura – PMSP) 1943 – 1948 – 1º Convênio Escolar ( Comissão do Executiva – PMSP) 1949 – 1954 – 2º Convênio Escolar ( Comissão do Executiva – PMSP) 1959 – 1976 – FECE (Estado) 1975 – 1987 – CONESP (Estado) A partir de 1987 – FDE (Estado) 1989 – 1992 – CEDEC (EMURB – PMSP) 2000 – 2004 - Centros Educacionais Unificados – fase 1 (EDIF – PMSP) 2005 – 2008 - Centros Educacionais Unificados – fase 2 ( PMSP). (WILDEROM, 2014, p.46)
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2.1 AS ESCOLAS NA PRIMEIRA REPÚBLICA
Historicamente, a Primeira República, ou República Velha, corresponde ao período entre 1889 até a Revolução de 1930. Os prédios escolares projetados e construídos entre 1890 e 1920 foram chamados de “as escolas da Primeira República", tornando-se referência de escolas para outros períodos e gerações. Foi a partir do final do século XIX que começaram a surgir prédios com fins exclusivamente escolares, até então, durante o império ou na época do Brasil colonial, “a educação esteve sob a responsabilidade da Igreja ou de instituições religiosas, com poucos registros à arquitetura e à pedagogia” (KOWALTOWSKI, 2011, p. 82) como destaca Souza: Durante o império, a escola pública era muitas vezes a extensão da casa do professor; muitas funcionavam em paróquias, cadeias, cômodos de comércio, salas abafadas sem ar, sem luz, sem nada, cuja despesa com aluguéis corria por conta do mestre-escola. No entanto, em determinado momento, políticos e educadores passaram a considerar indispensável a existência de casas escolares para a educação de crianças, isto é, passaram a advogar a necessidade de espações edificados expressamente para o serviço escolar. Esse momento coincide com as décadas finais do século XIX e com os projetos republicanos de difusão da educação popular. (SOUZA, 1998, p. 122 apud OLIVEIRA, 2007, p. 43)
Com a instalação da República, coube ao Estado a implantação de redes de ensino públicas, sendo que “ a prosperidade cafeeira e a industrialização crescente davam importância a educação, e a instituição primária tornou-se obrigatória, universal e gratuita (CORRÊA; MELLO; NEVES; apud KOWALTOWSKI, Doris, 2001, p. 83). O programa educacional público era direcionado ao ensino elementar, já o secundário, destinado a elites não era de caráter obrigatório, sendo administrado por instituições privadas. Os prédios para fins educacionais comportavam projetos dos Grupos Escolares, destinado ao ensino básico da população e das Escolas Normais, destinado a formação de professores para os grupos escolares. Kowaltowski (2011) destaca que os programas eram baseados em modelos educacionais franceses, sendo exigência do regimento escolar do período a separação entre as áreas femininas e masculinas. A arquitetura acompanhava, portanto, os valores culturais da época que refletiam na simetria da planta e na fachada dos edifícios. Própria da Primeira República, as edificações escolares seguem a arquitetura eclética e neoclássica e características que resultam na imponência dos edifícios, como o pé direito alto, os eixos simétricos, o detalhamento sofisticado, além do impacto urbano resultante do andar térreo acima do nível da rua com grandes escadarias. O programa arquitetônico era composto por salas de aula e poucos ambientes administrativos, simetria na planta e o espaço seguia o Código Sanitário de 18941. A maior parte das escolas estava implantada em área de praças, caracterizando o poder e ordem política. Foram projetadas por importantes arquitetos
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O Código Sanitário de 1894, foi o primeiro código Sanitário de São Paulo. O objetivo era sistematizar exigências referentes a urbanização como altura dos edifícios, largura das ruas, salubridades das contruções, medidas contra umidade, e questões relacionadas ao ar e a luz. Até então funcionava o Código de Posturas de 1886. 12
do período como Ramos de Azevedo, Victor Dubugras, Manuel Sabater, Carlos Rosencrantz e Artur Castagnoli, todos com formação europeia. Segundo Oliveira (2007) buscando unir a racionalidade econômica, funcionalidade e beleza estética, já nessa época foi adotado um projeto padrão, ou projeto tipo, adotado pela Diretoria de Obras Públicas (DOP). Tal projeto atendeu a necessidade de baixo custo e menor mão de obra, com o intuito de construir rapidamente um número considerável de escolas para as crianças que estavam sem estudar. Portanto, o que diferenciava um projeto do outro era a ornamentação e tratamento da fachada. Os edifícios que comportavam as Escolas Normais eram grandiosos e se destacavam por sua monumentalidade e beleza. Possuíam um programa arquitetônico mais complexo, pois além dos ambientes comuns nos Grupos Escolares como as salas de aula e ambientes administrativos, as Escolas Normais também possuíam espaços mais específicos como biblioteca, anfiteatros, laboratórios, oficinas e ginásio. Temos como exemplo a Escola Normal da Capital, posteriormente chamada de Escola Normal Caetano de Campos, localizada na atual Praça da República, no centro de São Paulo. Inaugurada em 1894 e projetada por Ramos de Azevedo essa escola é considerada como um dos primeiros registros de edificação para fins exclusivamente escolares.
Fig. 1 - Escola Normal da Capital Fonte: http://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=259919 Acesso em: 11/05/2015
Um exemplo de Grupo Escolar é a Escola Modelo da Luz, também em São Paulo, localizado na Avenida Tiradentes no bairro da Luz em 1897 e projetada por Ramos de Azevedo. 13
Fig. 2 - Escola Modelo da Luz - 1893 Fonte: http://www.crmariocovas.sp.gov.br/exp_l.php?t=1a1r Acesso em: 11/05/2015
Fig. 3 - Planta baixa e organização funcional do nível térreo da Escola Modelo da Luz. 1. Sala de Aula; 2. Circulação; 3. Entrada Principal Fonte: https://germinai.wordpress.com/textos-classicos-sobre-educacao/linha-historica-da-arquitetura-escolar-do-brasil/ . Acesso em: 11/05/2015
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Fig. 4 - Planta e perspectiva da Escola Modelo da Luz - 1893 Fonte: Corrêa, 1991, apud CARVALHO, 2008, p. 43
Segundo Oliveira (2007) o período de 1910 corresponde ao maior número de construções de escolas na capital e no interior. Porém, a partir de 1912, período correspondente a Primeira Guerra Mundial, a produção de projetos para Grupos Escolares foi interrompida. Até 1920 de acordo com o levantamento realizado pela Diretoria de Ensino foram construídos 16 prédios para Grupos Escolares na Capital e 97 no interior do Estado. Porém, mesmo com a construção considerável de prédios escolares, muitas crianças continuam fora das escolas por falta de vagas, um problema a ser resolvido pelo governo no decorrer do século XX.
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2.2 AS ESCOLAS ATÉ 1950
No ano de 1930, Getúlio Vargas assumiu a presidência do Brasil após um golpe de Estado, dando fim a República Velha. Essa época foi marcada por grandes transformações culturais e sociais com ênfase na educação pública para a construção de uma sociedade democrática e moderna. Em 1932 foi proposto por um grupo de intelectuais o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova2, tornando-se marco da renovação educacional do país. O texto, redigido por Fernando de Azevedo, foi assinado por Anísio de Teixeira, Afrânio Peixoto, Lourenço Filho, Roquette Pinto, Delgado de Carvalho, Hermes Lima e Cecília Meireles, entre outros. Foi proposto ao Estado, a organização de um plano geral de educação que resultaria numa escola de educação integral e única, pública, laica, gratuita e obrigatória, em oposição a chamada escola tradicional. Surgiu então a chamada educação ou escola nova. Conforme Buffa & Pinto (2002 apud CARVALHO 2008, p. 49), na escola nova, a criança deveria ser o centro da aprendizagem; o espaço escolar deveria ser alegre, bonito, higiênico e acolhedor. Conforme Carvalho (2008), arquitetonicamente os edifícios desse período sofreram mudanças em seu partido. Foram adotadas formas geométricas simples, simetria diminuída, uso de concreto armado e ausência de ornamentos. O programa arquitetônico aumentou, e as escolas passaram a ter mais salas de aula, além de salas de leitura, jogos, canto, cinema e reuniões, auditórios. As salas de aula, localizada em apenas um dos lados da ala de circulação, era decorrente da planta estruturada em eixos ortogonais. O Grupo Escolar Visconde Congonhas do Campo, no Tatuapé em São Paulo, foi projetado por José Maria da Silva Neves em 1936, e é um exemplo desta arquitetura.
Fig. 5 - Planta e perspectiva do Grupo Escolar Visconde Congonhas do Campo - 1936 Fonte: FDE, 1998b, apud Carvalho, 2008, p. 51
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O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova consiste no movimento que resultou num documento assinado por vinte e seis intelectuais cujo objetivo era reformar a educação no país, tornando-se o marco da inaugural do projeto de renovação educacional do Brasil. 16
Fig. 6 - Planta baixa do nível térreo do Grupo Escolar Visconde Congonhas do Campo. 1. Sala de Aula; 2. Circulação; 3. Administração. 4 Fonte: Buffa & Pinto, 2002, apud Carvalho, 2008, p. 50
O período entre os anos 1934 e 1937 foi marcado por construções escolares, decorrentes da administração do governador Armando Sales de Oliveira, entre 1935 e 1936 e do prefeito de São Paulo Fábio da Silva Prado, entre 1934 e 1938, cujo diretor do Departamento de Cultura era Mário de Andrade, criador dos Parques Infantis. Os Parques Infantis tinham a proposta de educação não escolar para crianças entre 3 e 12 anos que pertenciam a famílias operárias. Para as crianças em idade escolar, acima de 6 anos, o parque era frequentado nos períodos em que não estavam em aula. Temos como exemplo o Parque Infantil de Santo Amaro, entre a Rua Conde de Itu e a Avenida Adolfo Pinheiro, construído em 1938.
Fig. 7 - Planta das dependências e planta geral do Parque Infantil de Santo Amaro- 1938 Fonte: Miranda, 1938, apud Carvalho, 2008, p. 52
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Fig. 8 - Implantação do Parque Infantil de Santo Amaro- 1938 Fonte: Niemeyer, 2002, apud Wilderom, 2014, p.111
Fig. 9 e 10 – Parque Infantil de Santo Amaro Fonte: Niemeyer, 2002, apud Wilderom, 2014, p. 163
Entre os intelectuais que assinaram o documento do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, estava o baiano Anísio Teixeira (1900 - 1971), importante figura da educação pública no Brasil no século XX. Formado em direito no Rio de Janeiro, Anísio trabalhou como inspetor geral do ensino na Bahia em 1924, como diretor de instrução pública do Rio de Janeiro no início da década de 30, e como secretário da educação do Estado da Bahia na década de 40. Pioneiro na implantação de escolas públicas no Brasil, Anísio Teixeira teve muitas de suas ideias inspiradas nos pensamentos do filósofo e pedagogo americano John Dewey (1859-1952), seu professor durante sua pós-graduação nos Estados Unidos no final da década de XX que influenciou a chamada escola nova ou escola progressista.
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Para Kowaltowski: Segundo Dewey, a razão não é separada da natureza, pois ele estabelece a razão individual como social, a natureza como social e a sociedade como natural. Assim, a educação é uma necessidade social, que se cumpre para assegurar a continuidade social. [...] Dewey afirma que a escola não pode ser uma preparação para a vida, mas a própria vida. [...] Dewey define a escola como instrumento ideal para entender a todos os indivíduos os seus benefícios, e a educação tem a função democratizadora de igualar as oportunidades. (KOWALTOWSKI, 2011; p. 20 e 21)
Dentre as grandes contribuições de Anísio Teixeira para a educação do país estão a criação de escolas platoons, de escolas parque e de escolas classe. Quando em 1947, a ditadura de Getúlio Vargas chega ao fim, Anísio Teixeira, na época secretário da educação do Estado da Bahia cria durante o governo de Octávio Mangabeira o Plano Estadual de Educação Escolar.
2.2.1
AS ESCOLAS PLATOONS, ESCOLAS CLASSE E ESCOLAS PARQUE
"Todos nós que sonhamos com um estado de entusiasmo para a grande aventura de construir nacionalidade temos nesse movimento da arquitetura brasileira uma pequena amostra do que poderíamos ser se um estado de esclarecimento e de fé se criasse, como se criou entre esses engenheiros, em nossa agricultura, nossa indústria, nosso comércio, nossa educação e nossos serviços públicos e sociais em geral" (Anísio Teixeira em Um presságio de progresso, Habitat nº 4, 1951).
As Escolas Platoons, criadas em 1932, foram as primeiras escolas construídas na gestão de Anísio Teixeira, então era Secretário de Educação do Distrito Federal. Com programa arquitetônico inspirado nos projetos de Escolas Platoons norte americanas em Detroit, segundo Takiya (2009) foram construídas 28 escolas na cidade do Rio de Janeiro, com projeto de autoria do arquiteto Enéas Silva. As escolas tinham seus blocos de salas dispostos em pelotões, daí o nome "Platoon". O primeiro pelotão, ou “home room subjects”, era destinado ao ensino tradicional através de disciplinas fundamentais como escrita e matemática, as atividades de instrução. O segundo pelotão, ou “special subjects” era destinada atividades especiais e complementares como esportes, artes, biblioteca, etc, as chamadas atividades formativas. Os estudantes, que permaneciam na escola por período integral, entravam de manhã e saiam a tarde, alternando assim as atividades. Os alunos que de manhã realizavam atividades de instrução, à tarde desenvolviam atividades formativas, e vice-versa. De acordo com Abreu ( 2007, p.32) “O modelo Platoon unia o pensar ou o fazer ou o pensar e o viver num mesmo espaço físico, valorizando o trabalho manual desassociando-o ao trabalho escravo.” Além da novidade em relação a nova pedagogia - democrática e não conservadora-, a arquitetura moderna também foi implantada. O programa, entretanto, exigia grandes terrenos para a 19
implantação dessas escolas. Como eram poucos os terrenos disponíveis, houve um comprometimento da adoção do modelo Platoons de escolas como o oficial a ser implantado e foram construídas apenas 28 unidades, um terço do que foi projetado. Em 1947, complementando este modelo, Anísio Teixeira elaborou o Plano Estadual de Educação, que conceituou outros dois modelos de escolas: as escolas classe, para o ensino fundamental e as escolas parque, destinadas ao ensino especial. Com a complementação de 4 escolas classe com 1 escola parque o modelo Platoon seria estabelecido. Segundo Abreu (2007) foi encomendado seis tipos de projetos de escolas buscando atender os ideais da escola com ensino integral: Escola tipo Mínimo: (240 alunos): 2 salas de classes fundamentais e 1 sala de classe complementar. Escola Nuclear: (1000 alunos): 12 salas de classes fundamentais com biblioteca para os professores. Escolas Parque ou parque escolares: cada um atenderia o conjunto de quatro escolas nucleares, complementando o programa arquitetônico de acordo com o modelo Platoon: direção geral; serviço médico e fichamento para controle de educação física; auditório e palco; ginásio esportivo; banheiros e vestiários; refeitórios e anexos ( copa, cozinha e serviços); sala de música; jardim de infância; biblioteca; salas para clubes escolares; sala para projeção; terraço jardim; estádio para concentração de pista de corrida; campos para voleibol ( 14 pequenos campos); equipamento completo para ginástica e playground. Escolas Platoon com 12 classes, 16 classes e 24 classes: as de 12 e as de 16 necessitariam das escolas parque para complementar seu programa arquitetônico para o ensino integral. Platoon 12 classes: 6 classes para o ensino fundamental e 6 classes para o ensino complementar, com salas de leitura, biblioteca anexa, ciências sociais, ciências com vivarium; desenho e artes industriais; auditório; música, recreação e jogos; Platoon 16 classes: 12 classes para o ensino fundamental; 4 classes para o ensino complementar: ciências e ciências sociais; música, recreação e jogos; auditório; Platoon 24 classes: 12 classes para o ensino fundamental e 12 classes para o ensino complementar/; biblioteca; ciência sociais; ciências; desenho e artes industriais; auditório com palco; música; recreação; jogos; ginásios; refeitório e anexos correspondentes; almoxarifado escolar; salas de professores. (ABREU, 2007, p.33)
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Fig. 11 - Platoon 16 classes, entrada posterior Fonte: Oliveira, 1991 apud Abreu, 2007, p. 32
Fig. 12 Platoon 16 classes, perspectiva Fonte: Oliveira, 1991 apud Abreu, 2007, p. 32 21
Fig. 13 - Escola Mínima Fonte: Oliveira, 1991 apud Abreu, 2007, p.34
O conceito da escola parque é o convívio em comunidade, seguindo os princípios da arquitetura moderna, progressista e a racionalização da construção, de modo a aproveitar melhor os terrenos que ficavam nas áreas mais carentes da cidade de Salvador, onde estava prevista a construção das escolas.
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Fig. 14 - Escola- Parque Fonte: Oliveira, 1991 apud Abreu, 2007, p.34
Fig. 15 - Perspectiva Nuclear 12 salas Fonte: Oliveira, 1991 apud Abreu, 2007, p.35
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Fig. 16 - Nuclear 12 classes, entrada lateral Fonte: Oliveira, 1991 apud Abreu, 2007, p.35
Fig. 17 - Perspectiva Platoon 12 salas Fonte: Oliveira, 1991 apud Abreu, 2007, p.35 24
Fig. 18 - Escola Nuclear- Perspectiva e plantas Fonte: Oliveira, 1991 apud Abreu, 2007, p.36
Fig. 19 - Nuclear 12 classes- perspectiva Fonte: Oliveira, 1991 apud Abreu, 2007, p.36 25
Fig. 20 - Nuclear 12 classes – Terraço jardim Fonte: Oliveira, 1991 apud Abreu, 2007, p.36
Em 1947, o arquiteto Diógenes Rebouças projetou a primeira etapa do Centro Educacional Carneiro Ribeiro, que faz parte do único conjunto de escolas que foi construído, no bairro da Liberdade, em Salvador. A segunda parte foi construída em 1956. Segundo Bastos: [...] com a ideia de um espaço completo de formação, num período em que se mesclavam princípios modernos na arquitetura e idealismo social nos programas arquitetônicos. Diógenes Rebouças chamou essa arquitetura de sadia, modesta e séria. (BASTOS, 2009, apud KOWALTOWSKI 2011, p. 89)
Fig. 21 - Centro Educacional Carneiro Ribeiro ( em duas etapas: 1947 e 1956) Fonte: http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/178/artigo122877-1.aspx Acesso em: 24/05/15
Em 1960 constrói-se em Brasília, junto à superquadras um conjunto que Anísio Teixeira chamou de Centro de Educação Elementar, que era formado por jardim de infância, escolas classe e escola parque, a "Universidade da Criança" e, 26
o Centro de Educação Média, com diversos cursos de humanidades, técnicos, científicos e comerciais. O projeto foi do arquiteto José de Souza dos Reis.
2.2.2 CONVÊNIO ESCOLAR
"Se o Convênio Escolar, por força das circunstâncias, está dotando São Paulo de extensa rede de grupos escolares, cabe agora ao governo do Estado traçar novos rumos para nossa educação, sem o que estaremos, apenas, enfeitando um edifício obsoleto." (Hélio Duarte, Habitat nº 4, 1951) No ano de 1948 foi firmado um acordo denominado Convênio Escolar entre o Estado e o Município da cidade de São Paulo, funcionando entre os anos de 1949 e 1954 cujo objetivo era, [...] a prefeitura passaria a construir todos os prédios escolares até alcançar o número suficiente para atender à população escolar e para todos os graus e modalidades de ensino, excluído o superior; e a ministração do ensino, como até então, continuaria a cargo do Estado. ( AMADEI, 1961, p.3, apud CARVALHO, 2008, P. 52)
Segundo a Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE): O “Convênio Escolar” foi um acordo firmado entre a Prefeitura Municipal e o Estado, que se uniram naquele momento para dar cumprimento às determinações da Constituição de 1946, que obrigava União, Estados e Municípios a investirem uma porcentagem mínima dos recursos arrecadados na educação primária. (FDE, 1898ª, p. 27, apud CARVALHO, 2008, p. 53).
A prefeitura criou então a Comissão Executiva do Convênio Escolar, um órgão específico para cumprir o Convênio, com o arquiteto Hélio Duarte na direção técnica de construções e auxílio de Anísio Teixeira. Carioca, Hélio Duarte morou em Salvador, onde teve contato com as escolas parque, trazendo seus conceitos para as escolas do Convênio. Ficava a encargo da prefeitura a construção de edifícios escolares primários, complementares do ensino básico, além de parques infantis, bibliotecas, centros de saúde, teatros, escolas rurais, entre outros. Segundo Takiya (2009) entre 1949 e 1954 foram construídos cerca de 70 equipamentos sociais na cidade de São Paulo. Para Kowaltowski (2011) foi neste momento que a arquitetura moderna passou a ser empregada nas escolas públicas. Os edifícios tinham características semelhantes aos da Escola Carioca. O projeto apresentava uma divisão funcional das necessidades em diferentes volumes, cujas funções eram distribuídas em forma de U ou H, os tetos eram planos ou inclinados em meia água, os panos de vidro possuíam elementos vazados que funcionavam com protetores solares, integrando o interno com o externo. A estrutura é baseada no concreto armado e paredes cegas, ou possui fechamentos revestidos com mosaicos. Dentre os arquitetos autores dos projetos estão Hélio Duarte, Oswaldo Correa Gonçalves, Roberto Tibau, entre outros.
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Fig. 22 - Conjunto educacional em São Miguel Paulista (1956), de Roberto José Goulart Tibau, em colaboração com AC Pitombo e JB Arruda Fonte: http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/178/artigo122877-2.aspx Acesso em: 14/05/15
Fig. 23 - Ginásio Estadual da Penha (1953), em São Paulo, de Eduardo Corona. Ambos pelo Convênio Escolar Fonte: http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/178/artigo122877-2.aspx Acesso em: 14/05/15
Fig. 24 - Croquis das escolas-classe (1948), em São Paulo, de Hélio Duarte Fonte: http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/178/artigo122877-2.aspx Acesso em: 14/05/15 28
2.3 AS ESCOLAS DE 1960 A 1990
Em 1959 foi criado o Fundo Estadual de Construções Escolares (FECE), iniciando suas atividades em 1960. Essa iniciativa estadual tinha função de distribuir as escolas em áreas que servissem ao seu destino, ou seja, mapear as demandas e criar formas de padronizar as licitações e os programas arquitetônicos para baixar o custo das obras. Isso era parte do plano de ação do governo para atender a demanda de alunos fora ou frequentando escolas inadequadas, como barracões de madeira, por exemplo. Vilanova Artigas foi um dos arquitetos que se destacou pelos projetos escolares realizados no período. O processo construtivo dos edifícios era o de estrutura de concreto independente, com destaque aos pilotis, que originavam pavimentos sem fechamentos, para funcionarem como pátios de recreação. Os fechamentos dos demais pavimentos eram do tipo alvenaria de tijolos, com coberturas de telhas de fibrocimento sobre lajes pré-fabricadas, ora aparentes, ora posteriores à platibanda. Na falta do telhado, a laje era impermeabilizada e se estendia em forma de marquise de acesso e proteção de entradas e circulações externas. Nos ambientes internos, os pisos eram de taco de madeira, ladrilhos cerâmicos para os sanitários e circulações, escadas de concreto revestidas de granilite, o galpão era cimentado, as janelas eram de caixilhos metálicos (ferro) e, para ventilação cruzada nas salas de aula, tubos circulares de cimento amianto embutidos nas paredes, do lado oposto às janelas, as portas eram de madeira do tipo embuia envernizadas. A Escola de Guarulhos (atual EE Conselheiro Crispiniano), projetada por Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi em 1962 e a Escola de Itanhaém são exemplos de escolas paulistas.
Fig. 25 – Ginásio de Guarulhos Fonte: http://piniweb.pini.com.br/construcao/arquitetura/condephaat-tomba-tres-obras-de-vilanova-artigas-245140-1.aspx. Acesso em: 14/05/15
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Fig. 26 – Escola Estadual de Itanhaém Fonte:
http://www.archdaily.com.br/br/627614/classicos-da-arquitetura-ginasio-estadual-de-itanhaem-joao-batista-vilanova-artigas-e-carlos-
cascaldi Acesso em: 14/05/15
A partir da Lei de Diretrizes e Bases3, passou a ser do Estado a responsabilidade pelo ensino fundamental. Lidar com as demandas de verba limitada e local e quantidade das escolas não era algo simples, o que fez com que o sistema de construções escolares fosse simplificado: “[...] distribuído em um grande corredor que dá acesso às dependências escolares, com paredes de alvenaria de blocos aparentes de concreto; o teto de laje pré-moldada, com cobertura de telhas de fibrocimento''. (KOWALTOWSKI, 2011, p. 90). Em 1976 foi criada a Companhia de Construções de São Paulo (Conesp), cujo objetivo era sintetizar as informações necessárias aos projetistas através de normas para cada etapa que se encontrava em catálogos. Segundo Wilderom (2014) a intenção era construir o maior número de edifícios escolares possíveis com um baixo custo, o que gerou um grande número de escolas construídas sem qualidades espaciais. Para agilizar tal processo, escritórios de arquitetura eram contratados. A Conesp optou pela normatização dos ambientes, componentes e geometria ao projeto padrão. Ou seja, existia a padronização dos componentes, geometria dos edifícios e tamanho dos ambientes, e não a padronização dos edifícios. Temos uma modulação de 90 x 90 em planta baixa, áreas construídas múltiplas de 0,81 cm e salas de 7,20 x 7,20. Criou-se também o módulo embrião: composto por 2 a 6 salas de aula, direção e administração, sanitários e quadra esportiva. No ano de 1987 a FDE é criada, tendo a mesma função da FECE e CONESP, porém atuando na área pedagógica e de recursos físicos escolares.
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Lei de Diretrizes e Bases – n. 5.692, de 11 de agosto de 1971 30
2.3.1 CIEPs
A proposta de um centro integrado de educação foi retomada nos anos 80, a partir de 1985. O programa da escola parque de Anísio Teixeira ressurgiu no Estado do Rio de Janeiro, por Darcy Ribeiro, então vice-governador e secretário da ciência, cultura e tecnologia, na forma dos Centros Integrados de Educação Pública, chamados de CIEPs, tornando-se uma marcante política pública do governo de Leonel Brizola (1983 - 1987). Com capacidade para 1.000 alunos, os CIEPs também funcionavam durante o período integral (8h às 17h) com acompanhamento de professores além da aula e três refeições diárias, bem como apoio médico e odontológico, inclusive aos sábados e domingos, em que permaneciam abertos a quadra, o consultório e a biblioteca. A intenção era suprir as necessidades sociais de crianças carentes. Existia também a possibilidade de crianças que viviam na rua residirem nos CIEPs. Segundo Castro: O programa se dispunha à implantação de mais de 500 CIEPs em todo o estado. Entretanto, até 1987, apenas 127 foram construídos. Sua descontinuidade foi originada pelo encerramento do governo Leonel Brizola e pelo desinteresse do governo seguinte em investir em uma política educacional tão identificada com seu antecessor. Sendo assim, parte dos 127 CIEPs foi doada a prefeituras municipais, e o restante dos 300 CIEPs, que estavam com suas construções autorizadas, não foi construído. Durante este período, os CIEPs só se distinguiam dos demais colégios do estado devido a sua arquitetura, pois seu programa educacional foi abandonado, chegando até mesmo, em casos mais extremos, a abrigarem outras atividades no interior do estado. (CASTRO, 2009, p. 46-47)
Coube ao arquiteto Oscar Niemeyer o projeto arquitetônico dos CIEPs. O projeto padrão possuía 7.000 metros quadrados, contendo um edifício principal com 3 pavimentos, 24 salas de aula, refeitório, consultório e serviços auxiliares, e biblioteca e 1 ginásio de esportes divididos em dois anexos. Era necessário para esse programa, terrenos de 10.000 m². Estes três elementos eram caracterizados por sua geometria elementar, volumetria em prismas regulares, e nenhum elemento de ligação deles com o terreno. As janelas do prédio principal, em formato arredondado e coloridas, funcionavam como um elemento característico e individual do CIEP.
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Fig. 27 – Localização dos CIEPS Fonte: Castro, 2009, p. 68
Fig. 28 - Planta baixa/ Implantação CIEP padrão Fonte: O livro dos CIEPs apud Castro, 2009, p. 58
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Fig. 29 - Vista aĂŠrea CIEP Fonte: O livro dos CIEPs apud Castro, 2009, p. 58
Fig. 30 - CIEP Fonte: http://educacao.uol.com.br/album/2013/08/01/conheca-projetos-que-influenciaram-os-ceus.htm#fotoNav=6. Acesso em: 17/05/15
Fig. 31 - Detalhe das janelas Fonte: Castro, 2009, p. 60 33
Fig. 32 - Planta e corte da edificação principal Fonte: O livro dos CIEPs apud Castro, 2009, p. 61
Fig. 33 - Planta, vista e corte do ginásio Fonte: O livro dos CIEPs apud Castro, 2009, p. 62 34
Fig. 34 - Plantas da biblioteca Fonte: O livro dos CIEPs apud Castro, 2009, p. 63
Fig. 35 - Vista e corte da biblioteca Fonte: O livro dos CIEPs apud Castro, 2009, p. 63
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2.4 AS ESCOLAS DE 1990 a 2010
Nos últimos 30 anos ocorreu a padronização dos edifícios escolares na maioria dos casos com predomínio em São Paulo de prédios com três pavimentos e um bloco monolítico desenvolvidos por escritórios terceirizados. A originalidade se dá através do tratamento das fachadas. Segundo Kowaltowski (2011), a escola do E.E Conjunto Habitacional Campinas F1, do escritório MMBB exemplifica o padrão dessa arquitetura escolar atual: o espaço interno apresenta fechamentos de alvenaria e elementos vazados de concreto; a topografia do terreno, constituída de pequeno desnível; contribui para a criação de dois grandes pisos: um para o convívio e a administração, inclusive com quadra esportiva, e outro para salas de aula. Os demais itens foram distribuídos pelo piso intermediário. O programa com 8 salas de aula foi acomodado em dois setores de modulação padrão (cinco módulos de 7,20 m por um vão de 10,80 m ), separados por um vazio central da quadra de esportes coberta, envolta pela circulação de acesso às salas de aula do piso superior. Dessa forma, têm-se as salas de aula comuns de formato quadrado, com dimensões em planta de 7,05 m x 7,05 m e pé direito de 3,10 m. No início dos anos 2000 foram criados os Centros Educacionais Unificados (CEU), uma iniciativa municipal, decorrente da gestão da prefeita Marta Suplicy, implantados nas regiões mais carentes da cidade. Com projeto desenvolvido pela Edif, o CEU busca atender as demandas de educação infantil, fundamental, cultura e esporte, que será discutido no capítulo a seguir.
Fig. 36 - Escola de Ensino Fundamental FDE Campinas F1 Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-25980/escola-de-ensino-fundamental-fde-campinas- f1-mmbb. Acesso em: 14/05/15
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Fig. 37 - Escola de Ensino Fundamental FDE Campinas F1 Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-25980/escola-de-ensino-fundamental-fde-campinas-f1-mmbb. Acesso em: 14/05/15
Fig. 38 – Ginåsio da Escola de Ensino Fundamental FDE Campinas F1 Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-25980/escola-de-ensino-fundamental-fde-campinas-f1-mmbb Acesso em: 14/05/15
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Fig. 39 - Modulação dos ambientes no padrão do FDE Fonte: Kowaltowski, 2011, p. 98 38
2.4.1 CIACs
Posteriormente, no ano de 1991, foi desenvolvido pelo Governo Federal os Centros Integrados de Atenção à Criança e ao Adolescente, os CIACs. Inspirados nos CIEPs, os CIACs também tinham o objetivo de atender demandas da população infantil e adolescente no que se dizia respeito à educação, saúde e assistência. Portanto, as crianças poderiam frequentar a creche, posteriormente o ensino fundamental, além de obterem cuidados com a saúde, conviver com a comunidade e praticar esportes. Em 1992 passou a ser chamado de Centro de Atenção Integral à Criança, CAIC, devido a mudança da gestão do programa. Segundo Castro (2009) a meta inicial era que fossem construídas 5.000 unidades, porém apenas 450, aproximadamente foram implantas em diversas regiões do país. A autoria do projeto arquitetônico foi de João Filgueiras Lima, o Lelé, que é marcada por quatro blocos que se interligam. O primeiro e mais marcante bloco com um formato triangular, é chamado bloco esportivo. Em seu lado externo, está o anfiteatro, complementando-o. Os outros blocos encontram-se alinhados em sequência. A escola está localizada no primeiro, que possui três pavimentos. A creche e pré-escola, no segundo. E no terceiro, acontecem as atividades sociais oferecidas pela escola, com pátio interno descoberto. Ambos projetados em peças pré-moldadas de concreto armado. Segundo Castro (2009) devido as maiores dimensões de sua edificação, os CIACs demandam de terrenos padrão de 16.000 m², uma característica agravante para sua implantação.
Fig. 40 - Foto aérea do CIAC em Ceilândia, Brasília Fonte: Castro, 2009, p. 103 39
Fig. 41 - Foto aérea do CIAC Jacarepaguá, RJ Ao fundo um CIEP. Fonte: Castro, 2009, p. 103
Fig. 42 - Interior do Bloco Esportivo do CIAC em Ceilândia, Brasília Fonte: http://www.leonardofinotti.com/projects/ciac-professor-anisio-teixeira/image/18309-091124-033d. Acesso em:14/05/15
Fig.43 – CIAC Fonte: http://educacao.uol.com.br/album/2013/08/01/conheca-projetos-que-influenciaram-os-ceus.htm#fotoNav=7. Acesso em: 14/05/15 40
Fig.44 – CAIC Fonte: http://educacao.uol.com.br/album/2013/08/01/conheca-projetos-que-influenciaram-os-ceus.htm#fotoNav=7 Acesso em: 14/05/15
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3 CENTROS EDUCACIONAIS UNIFICADOS - CEUs Com o objetivo de atender as demandas educacionais, culturais, esportivas e recreativas, os CEUs foram criados durante a gestão da prefeita Marta Suplicy (2000-2004). Os primeiros CEUs foram entregues no segundo semestre de 2003, o CEU Rosa da China, no bairro de Sapopemba, e o CEU Jambeiro, em Guaianazes, ambos na Zona Leste de São Paulo. Eram previstos 21 equipamentos para a primeira fase, e mais 24 para segunda, até o fim do mandato de Marta Suplicy. O projeto padrão foi criado por três arquitetos da Divisão de Projetos Do Departamento de Edificações da Prefeitura de São Paulo (EDIF), Alexandre Delijaicov, André Takiya e Wanderley Ariza. Foi desenvolvido por eles um projeto padrão modular capaz de se adaptar em qualquer tipo de terreno dividido basicamente em três blocos: O Didático, Cultural e Esportivo, com capacidade para 2.400 alunos. Durante a gestão de Marta, foram construídos 21 dos 45 CEUs previstos. A gestão seguinte foi de José Serra, que assumiu a prefeitura entre 2005 e 2006, sendo substituído por Gilberto Kassab (2006-2012). Kassab, que deu continuidade ao projeto dos Centros Educacionais, construiu mais 24 equipamentos.
3.1 CEU X ARQUITETURA DO EDIFÍCIO
Segundo Takiya (2009) foram feitos três versões do projeto executivo de arquitetura, com estudos e conceituações da equipe do EDIF. O primeiro projeto foi desenvolvido pelo escritório ENENGE, o segundo pelo escritório de Álvaro Puntoni e o terceiro e definitivo pela equipe da EDIF. Os motivos pelos quais foram desenvolvidas essas três versões foram devidos ao aprimoramento e mudanças do programa arquitetônico, além do “ineditismo programático do empreendimento, pois não se tratava de um” escolão”. (Takiya, 2009, p. 43) Os CEUs da fase Vermelha são constituídos por 5 edifícios divididos em blocos: o Bloco Didático, Bloco da Creche, Bloco Cultural e Esportivo, Balneário e Torres D' Água conforme os desenhos a seguir:
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Fig. 45 – Projeto padrão – planta do térreo Fonte: Wilderom, 2014, p. 121
Fig. 46 – Projeto padrão – planta do 1º pavimento Fonte: Wilderom, 2014, p. 121
Fig. 47 – Projeto padrão – planta do 2º pavimento Fonte: Wilderom, 2014, p. 121 43
Fig. 48 – Projeto padrão – planta do 3º pavimento Fonte: Wilderom, 2014, p. 122
Fig.49 – Projeto padrão – planta do 4º pavimento Fonte: Wilderom, 2014, p. 122 44
Fig. 50 – Projeto padrão – Cortes e elevações Fonte: Wilderom, 2014, p. 123
Fig. 51 – Balneário CEU Alvarenga ( fase vermelha) Fonte: Souza, 2010, p. 68 45
Fig. 52 - Maquete do CEU (fase vermelha) Fonte: Souza, 2010, p. 28
Quanto ao programa de cada edifício: O Bloco Didático, o maior edifício, abriga a Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI), que atendem crianças de 4 e 5 anos e Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF). Seu programa arquitetônico é composto por uma creche com 8 salas de aula e salas para administração e serviços. 10 salas de aula para EMEI, 16 salas para EMEF, uma biblioteca, um telecentro, uma cozinha padaria escola experimental, vestiários e sanitários. O Bloco da Creche abriga o Centro de Educação Infantil (CEI), para crianças de 0 a 3 anos, complementando a creche do Bloco Didático possui mais 6 salas de aula. O Bloco Cultural e Esportivo comporta o teatro e seus camarins, sala de uso múltiplo, foyer exposições, 3 salas para ateliês de artes plásticas, estúdios de música, rádio e gravação, 4 salas para laboratório de fotografia, salas do Conselho Gestor, quadra poliesportiva, vestiários e salão de dança e ginástica. O Bloco denominado Balneário possui 3 piscinas e um extenso piso solário. As Torres d' Água tem a função de marco do edifício no bairro. O programa arquitetônico das áreas descobertas é composto pela praça do teatro, parque e jardim com uma área para brinquedos, as áreas para esporte (pista para skate, pista para caminhada, quadra e campo de futebol) e um edifício para Guarda Civil.
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Descrição dos edifícios: O Bloco Didático é composto por um edifício de 135 metros de comprimento, que somado aos dois anexos de escada em suas extremidades totalizam 140 metros de comprimento por 21,80 m de largura, 2 pavimentos e altura total de 11,20 m incluindo a platibanda. Duas varandas de 2,50 m de largura no sentido longitudinal é característica marcante do prédio. A circulação vertical acontece por uma escada principal de 5 m de largura, no centro do edifício, duas escadas, localizadas uma em cada extremidade e uma torre de elevador junto ao saguão central. A cor vermelha corresponde as escadas, peitoris metálicos e caixilharia. No térreo do edifício, na ala azul encontram-se os sanitários e vestiários com consultórios médico e dentário. Na ala amarela temos a creche, e na laranja temos uma biblioteca, um telecentro e uma cozinha padaria escola experimental. No primeiro pavimento, sempre na prumada azul e junto ao saguão temos os sanitários das escolas. Na prumada amarela temos a administração, serviços e pátio coberto da escola infantil e, na laranja a administração, serviços e pátio coberto da escola fundamental. Por fim, no segundo pavimento, encontram-se os sanitários e dezesseis salas do ensino fundamental, e dez do infantil, mais um salão. O Bloco da Creche é composto por um edifício cilíndrico de 22,50 m de diâmetros 8 m de altura total e dois pavimentos No térreo existe uma grande varanda que circula o prédio. No superior temos os sanitários, banheiros e 8 salas divididas por divisórias portas, 6 delas destinadas as crianças. Uma ponte liga o esse edifício ao didático. O Bloco Cultural e Esportivo é um paralelepípedo de 45 m de comprimento por 21,80 m de largura com quatro pavimentos e uma altura total de 18 m. Junto a esse edifício temos dois anexos, um com sanitários e outro com escada e elevador. No térreo encontram-se o foyer exposições, o teatro, camarins e uma sala de uso múltiplo sob a plateia. No primeiro pavimento, três ateliês de artes plásticas. No segundo, estão os 4 estúdios e o acesso as pontes técnicas. No terceiro, temos as salas do conselho gestor, a quadra poliesportiva de pé direito duplo e os sanitários vestiários. No último temos a grande sala de dança e ginástica. Nos Blocos Didático e Cultural e Esportivo, adotou-se o pré-fabricado de concreto com seções retangulares e para o Bloco da Creche, coberturas e circulações verticais, o pré-fabricado em aço. Quanto ao raciocínio de projeto: 47
Podemos notar que todos os ambientes, estrutura e componentes da construção tem uma relação numérica entre si, uma modulação comum, como se fosse mínimo múltiplo comum. No plano horizontal, o módulo linear é 1,25 m ( e frações) e o módulo ambiente base é 7, 50 m x 7,50 m, que é o tamanho da sala de aula. No plano vertical, o módulo mínimo é 17 cm, que é a altura do espelho da escada, e a altura do piso a piso entre pavimentos é de 3,40 m. A modulação estrutural dos edifícios didático e cultural esportivo é idêntica, no sentido longitudinal adotou-se o 7,50 m de vão entre os pilares, sendo 18 módulos no didático e 6 módulos no cultural esportivo; no sentido transversal temos dois módulos de 10 m nos dois edifícios. (TAKIYA, 2009, p. 44)
Devido a essas relações proporcionais entre as contruções, foi possível a implantação do equipamento de forma variada e em áreas com características diferentes, criando-se uma identidade.
3.2 CEU X ARQUITETURA DO LUGAR
O termo arquitetura do lugar, usado por Alexandre Delijaicov, se refere ao método para a escolha do local nos qual os equipamentos seriam implantados, aqueles que mais necessitavam de serviços públicos. Sendo assim, o termo se torna um parâmetro para essa intervenção em escala metropolitana, proporcionando lazer e bem estar para esses locais. Dos 45 CEUs existentes na capital de São Paulo, 21 foram construídos pela Prefeita Marta Suplicy (fase vermelha) e 24 pelo prefeito Gilberto Kassab (fase azul). Segundo Takiya (2009) a escolha das 45 áreas referentes aos equipamentos da primeira fase ( os outros 24 CEUs ‘vermelhos’, com projetos executivos prontos e obras licitadas seriam construídos nos próximos anos) foi resultado de visitas à aproximadamente 200 regiões carentes da cidade de São Paulo e que passariam a ter mais dignidade e urbanidade a esses locais carentes e desprovidos de infra estrutura. Para Anelli: A gravidade da atual degradação urbana e social paulistana afastou a possibilidade de uma interação mais aberta com o tecido urbano circundante que caracterizaram algumas iniciativas semelhantes, mas mais modestas, no começo dos anos 1990. Os CEU querem inaugurar uma nova urbanidade para seus bairros. Mas não se trata de fazer uma “tábula rasa” do local. Esses partidos não se limitam a uma ação no campo do objeto e buscam identificar e transformar a situação territorial da área onde eles se instalam. Dialogam diretamente com as características geomorfológicas, tais como morros, várzeas e os cursos d’água que constituem o que resta de natureza nos terrenos escolhidos. Alguns exemplos podem ilustrar essa atitude tão cara aos expoentes da “escola paulista” de Vilanova Artigas e Paulo Mendes da Rocha.
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O gráfico a seguir demonstra a quantidade de CEUs construídos durante a fase vemelha. Do total de 21 CEUs, 17 foram construídos em 2003, e somente 4 em 2004, o último ano da gestão.
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Centros Educacionais Unificados: Arquitetura e Educação em São Paulo Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.055/517 48
Fig. 53 – Inauguração dos CEUs (fase vermelha) Fonte: Souza, 2010, p. 43
Fig. 54 – Esquema de implantação dos 21 CEUs (fase vermelha) Fonte: Wilderom, 2014, p. 125
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Fig. 55 – Localização dos CEUs (fase vermelha) Fonte: Souza, 2010, p. 48
Da mesma forma, os CEUs da fase azul só começaram a ser construídos nos dois últimos anos do primeiro mandato de Kassab, sendo que 4 foram implantados em 2007, 16 em 2008 e mais 4 em 2009 (primeiro ano do segundo mandato) como é mostrado a seguir:
Fig. 56 – Inauguração dos CEUs (fase azul) Fonte: Souza, 2010, p. 44
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4 ESTUDOS DE CASO 4.1 CEU Rosa da China
Projeto: CEU Rosa da China Localização: Sapopemba, São Paulo Arquiteto (s): Alexandre Delijaicov, André Takiya e Wanderley Ariza (EDIF) Data: 10/08/2003 Área do projeto: 14.054 m² Área do terreno: 19.078 m²
Fig. 57 – Implantação CEU Rosa da China Fonte: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.055/517 Acesso em: 24/05/15
Fig. 58 - Vista aérea CEU Rosa da China Fonte: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.055/517 Acesso: 24/05/15 51
Localizado no bairro de Sapopemba - zona leste de São Paulo -, num espigão, encontra-se ao lado da bacia do córrego do Oratório, vizinho de Santo André. Acompanhando a declividade do terreno, nivelado pela platibanda e paralelo ao curso da água, o edifício de 180 metros é resultado da junção dos blocos Didático e Cultural – Esportivo. Foi previsto o projeto de um parque fluvial que vai da nascente até o córrego do Oratório, que até agora não foi realizado. Proveniente da primeira etapa de CEUs, 21 equipamentos construídos na gestão da prefeita Marta Suplicy (20002004), o CEU Rosa da China faz parte dos equipamentos cujo projeto básico foi desenvolvido pelos arquitetos da EDIF Alexandre Delijaicov, André Takiya e Wanderley Ariza.
O programa é composto basicamente por cinco edifícios que se dividem em blocos. O primeiro e maior, chamado Bloco Didático, abriga na maior parte as atividades didáticas, EMEI E EMEF. Possui 140 m de comprimento por 21,80 m de largura e dois pavimentos construídos em concreto aparente, que neste caso, acoplou-se ao Bloco Cultural – Esportivo, que originalmente é um edifício em formato de paralelepípedo com 45 m de comprimento por 21,80 m de largura e quatro pavimentos também em concreto aparente e possui poucas aberturas. O segundo, chamado Bloco da Creche – a CEI -, é um edifício cilíndrico com 22,50 m de diâmetro e apenas um pavimento. O terceiro, formado por um conjunto de três piscinas é denominado Balneário. Por fim, temos o bloco das duas Torres D´água.
Fig. 59 – Corte e planta CEU Rosa da China Fonte: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.055/517 Acesso em: 24/05/15 52
Fig. 60 – Planta CEU Rosa da China – 1 Bloco Didático; 2 Bloco Cultural/ Esportivo; 3 Conjunto aquático ( Balneário); 4 Creche Fonte:https://germinai.wordpress.com/textos-classicos-sobre-educacao/linha-historica-da-arquitetura-escolar-do-brasil/ Acesso em: 24/05/15
Fig. 61 – Croqui CEU Rosa da China por Alexandre Delijaicov Fonte: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.055/517 Acesso em: 24/0515
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4.2 CEU Paraisópolis
Projeto: CEU Paraisópolis Localização: Jardim Parque Morumbi, São Paulo Arquiteto (s): Makhohl Arquitetura Data: 13/12/2008 Área do projeto: 11.000 m²
Fig. 62 – Implantação CEU Paraisópolis Fonte: Google MAPS Acesso em: 24/04/15
Localizado próximo a Avenida Hebe Camargo, no Jardim Parque Morumbi, o CEU Paraisópolis foi inaugurado em Dezembro de 2008 durante a gestão do prefeito Giberto Kassab (2006-2012), que construiu 24 CEUs na capital de São Paulo. Durante o percurso para realizar a visita técnica, percebe-se a presença de outros equipamentos sociais como a Escola Técnica Estadual (ETEC) Abdias do Nascimento, CEI Anglicana de Paraisópolis, EMEF Dom Veremundo Toth, entre outros. Nota-se nos CEUS da fase azul, uma proposta e estilo arquitetônico completamente diferente dos da fase anterior, denominada fase vermelha, porém, algumas propostas foram mantidas, como por exemplo, a dimensão do centro educacional, elementos arquitetônicos que se comunicam com o exterior do edifício, bem como os espaços dedicados tanto para a educação escolar como para a educação social. Apesar de haver a comunicação com o exterior, não ocorre a circulação, que acontecia, por exemplo, através de varandas em toda a extensão do Bloco Didático dos CEUs anteriores. Outra diferença marcante observada, é que houve a fragmentação dos acessos às três unidades escolares. Enquanto que no primeiro CEU havia portaria e escadaria que davam acesso às unidades, isso não ocorre mais no projeto decorrente da gestão de Kassab, sendo reduzida assim a integração entre as crianças. Entretanto, a diferença preponderante entre eles, é que enquanto no CEU da fase vermelha, o projeto acontece a partir de três edifícios, sendo o maior deles o Bloco Didático 54
que abrigava a EMEI E EMEF, o segundo, o bloco cilíndrico que abrigava a CEI, e o terceiro, que comportava o ginásio, ateliers e teatro, no CEU da fase azul, os edifícios pedagógicos foram reordenados. A EMEI e CEI encontram-se num primeiro edifício, enquanto que o segundo abriga a EMEF, e o terceiro, o edifício cultural, comporta o teatro e ginásio, que ganhou um mezanino multiuso e as salas de dança foram abolidas. Já o edifício cilíndrico foi mantido, porém com a função de telecentro e biblioteca, não mais como creche. O edifício da gestão é o menor, um retângulo localizado próximo à entrada do complexo. Foi relatada a insatisfação pela diminuição da biblioteca, do teatro, que de 450 foi para 250 lugares, e a ausência das salas de dança, resultante da redução de área de 14 mil m² para 11 mil m².
Fig. 63 – Foto aérea CEU Paraisópolis Fonte: http://jornal.paraisopolis.org/tag/ceu-paraisopolis/ Acesso em: 24/04/15
Fig. 64 – Vista das salas de aula a partir da rua de acesso Fonte: foto própria
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4.3 CEU Pimentas Projeto: CEU Pimentas Arquitetos: Biselli + Katchborian arquitetos Data: 19/06/2010 Área construída: 16.000 m² Área do terreno: 30780 m² Localização: Guarulhos, São Paulo
Fig. 65 – Implantação CEU Pimentas Fonte: Goople MAPS Acesso em: 24/04/15
Localizado em Guarulhos, no bairro de Pimentas, o equipamento a priori seria uma escola municipal, que a partir do interesse da comunidade, se transformou num CEU. O terreno de topografia plana e linear determinou o tipo de projeto que acontece a partir de uma grande cobertura longitudinal metálica que comporta diversos usos divididos por blocos. Cada bloco, construído em concreto pré-fabricado ou concreto moldado in loco diz respeito a um uso, como biblioteca, salas de aula, auditório, refeitório, etc. O vazio central, que abriga a praça articula os diversos usos e resulta na área de uso esportivo. O conjunto de piscinas encontra-se na área externa. Diferente dos projetos anteriores, o CEU Pimentas não possui blocos implantados separadamente no terreno, como por exemplo, o volume cilíndrico da creche, pois os usos acontecem num volume único. Outra diferença marcante é que também não há grandes espaços livres no exterior.
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Fig. 66 – Foto aérea CEU Pimentas Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-26029/ceu-pimentas-biselli-mais-katchborian-
arquitetos. Acesso em: 24/04/15
Figura 67 - Cobertura metálica Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-26029/ceu-pimentas-biselli-mais-katchborian-
arquitets. Acesso em: 24/04/15
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Fig. 68 – Área comum (praça) Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-26029/ceu-pimentas-biselli-mais-katchborian-
Fig. 69 – Planta de implantação - CEU Pimentas Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-26029/ceu-pimentas-biselli-mais-katchborianAcesso em: 24/04/15
arquitets. Acesso em: 24/04/15
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Fig. 70 – Planta do térreo - CEU Pimentas Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-26029/ceu-pimentas-biselli-mais-katchborianAcesso em: 24/04/15
Fig. 71 – Planta do 1º pavimento - CEU Pimentas Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-26029/ceu-pimentas-biselli-mais-katchborianAcesso em: 24/04/15
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Fig. 72 – Corte transversal - CEU Pimentas Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-26029/ceu-pimentas-biselli-mais-katchborian-arquitetos Acesso em: 24/04/15
Fig. 73 – Corte longitudinal - CEU Pimentas Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-26029/ceu-pimentas-biselli-mais-katchborian-arquitetos Acesso em: 24/04/15
Fig. 74 – Corte longitudinal - CEU Pimentas Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-26029/ceu-pimentas-biselli-mais-katchborian-arquitetos Acesso em: 24/04/15
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5 PROPOSTA CEU SANTO AMARO 5.1 A NOVA GERAÇÃO DE CEUS
Decorrente da gestão do prefeito Fernando Haddad, o Programa de Metas 2013-20165 prevê a construção de 20 novos Centros Educacionais Unificados na cidade de são Paulo. Segundo a Prefeitura, os objetivos são: promover educação integral e integrada, abrigando atividades de contra turno escolar, formação para professor e ensino profissionalizante; articular a rede de equipamentos, estimulando a integração física e de gestão de diversos equipamentos sociais; promover o uso do espaço público, proporcionando o passeio e a permanência de forma segura e agradável; incentivar atividades locais através da valorização, estímulo e acolhimento das atividades e iniciativas existentes no bairro.
Fig. 75 – Esquema de propostas para nova geração de CEUs Fonte: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/objetivos-e-estrategias-4/ Acesso em: 01/06/15
Os centros serão construídos em áreas próximas a equipamentos já existentes, como clubes escolas. No gráfico a seguir, podemos observar a localização dos CEUs existentes e propostos através dos pontos cinza e amarelos respectivamente.
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A construção de 20 novos CEUs está prevista na meta 16 do Programa de Metas 2013 – 2016 e tem como objetivo ampliar o acesso de crianças, jovens e adultos à educação integral e integrada, formação para professores e ensino profissionalizante. 61
Fig. 76 – Mapa de CEUs existentes e propostos Fonte: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/objetivos-e-estrategias-4/ Acesso em: 01/06/15
Zona Norte CEU Freguesia do Ó C.E.E. Aurélio Campos – Rua Jacutiba, 167 Subprefeitura Freguesia do Ó CEU Pinheirinho D’Água Parque Linear do Fogo, próximo ao Parque Pinheirinho d’Água – Rua Camilo Zanotti Subprefeitura Pirituba/ Jaraguá CEU Taipas C.E.L. Brigadeiro Eduardo Gomes – Rua João Amado Coutinho Subprefeitura Pirituba/Jaraguá CEU Tremembé Terreno municipal subutilizado – Rua Adauto Bezerra Delgado, 94 Subprefeitura Jaçanã/Tremembé CEU Ermelino CDC Ermelino Matarazzo – Rua Reverendo João Euclides Pereira, 8 Subprefeitura Ermelino Matarazzo CEU Vila Medeiros Av. do Poeta Subprefeitura Vila Maria / Vila Guilherme 62
CEU Novo Mundo Terreno municipal – Rua Ernesto Augusto Lopes, 100 Subprefeitura Vila Maria Zona Leste CEU José Anchieta C.E.L. Padre José de Anchieta – Rua José Balangio, 188 Subprefeitura Penha CEU Parque do Carmo C.E.E. Rumi de Ranieri – Av. Afonso Sampaio e Souza, 2001 Subprefeitura Itaquera C.E.E. Brigadeiro Eduardo Gomes – Rua Monte Serrat, 230 Subprefeitura Moóca CEU São Pedro C.E.E. Gerdy Gomes – Rua Professora Lucila Cerqueira, 194 Subprefeitura Itaquera CEU São Miguel C.D.C. Tide Setúbal – Rua Mario Dallari, 170 Subprefeitura São Miguel CEU Vila Alpina C.E.E. Arthur Friedenreich – Av. Francisco Falconi, 83 Subprefeitura Vila Prudente CEU Cidade Tiradentes Terreno municipal sem uso – Rua Salvador Vigano, nº 100 – Cidade Tiradentes Subprefeitura Cidade Tiradentes CEU Imperador C.D.C. José Panta Alves – Rua Pedro de Castro Velho, nº 87 Subprefeitura Sapopemba Zona Oeste CEU Água Branca Terreno público municipal, contido no perímetro da Operação Urbana Consorciada Água Branca – Av. Marquês de São Vicente X Av. Nicolas Boer Subprefeitura Lapa Zona Sul CEU Grajaú C.D.C. Jardim Petronita – Av. Antonio Carlos Benjamim dos Santos, 1675 – Grajaú Subprefeitura Capela do Socorro CEU Piracuama Parque Morumbi Sul – Ruas Lira Cearense e Nossa Senhora do Bom Conselho – Campo Limpo Subprefeitura Campo Limpo CEU Santo Amaro C.E.E. Joerg Bruder – Av. Padre José Maria, 555 Subprefeitura Santo Amaro CEU Heliópolis Centro de Convivência Educativa e Cultural de Heliópolis – Estrada das Lágrimas, 2385 Subprefeitura Ipiranga
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O Mapa a seguir mostra a relação dos CEUs existes e proposto com a rede de mobilidade da cidade como ciclivias, corredores de ônibus (existentes e propostos), metro e trem
Fig. 77 – Mapa Território CEU e rede de mobilidade Fonte: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/objetivos-e-estrategias-4/ Acesso em: 01/06/15
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Este segundo mapa relaciona os CEUs existentes e propostos com a rede de equipamentos de educação, cultura, esporte, saúde e assistência social da cidade de São Paulo.
Fig. 78 – Mapa Território CEU e rede de equipamentos Fonte: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/objetivos-e-estrategias-4/ Acesso em: 01/06/15
O projeto para os novos CEUs divide-se em:
Projeto dos Espaços Públicos
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A inserção urbana do Território CEU busca a articulação da rede de equipamentos à rede de mobilidade através de calçadas acessíveis, iluminadas e arborizadas, de ciclovias e do sistema de transporte coletivo e se dá pela qualificação dos espaços públicos que os conectam, ações realizadas pelas respectivas subprefeituras.
Fig. 79 – Esquema rede de mobilidade Fonte: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/projeto-de-arquitetura-territorio-ceu/ Acesso em: 01/06/15
Projeto de Arquitetura
Nesta nova geração de CEUs, o programa sofreu algumas modificações, tornando-se mais flexível. Atualmente, além dos blocos de educação, cultura e esportes existe também o Bloco Multiuso, cuja função é ampliar e complementar as atividades didáticas existentes e programas de outras secretarias. O Bloco Educacional é composto por uma CEMEI ( Centro Municipal de Educação Infantil Integrada), para 500 crianças de 0 a 5 anos e bebês de 11 meses. 66
O Bloco Cultural conta com biblioteca, cine teatro, sala de artes, sala de música, estúdio de gravação e oficina digital. O Bloco Esportivo será composto por piscina semi olímpica aquecida, quadra poliesportiva e sala de atividades. Por fim, o Bloco Multiuso possuirá um contraturno, Universidade Aberta do Brasil (UAB), Pronatec, Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), refeitório e conselho gestor, variando de acordo com a necessidade do local no qual o equipamento será inserido.
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5.2 DADOS
Fig. 80 - Vista aérea do Clube Esportivo Municipal C.E.E. Joerg Bruder Fonte: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/territorio-ceu-santo-amaro/ Acesso em: 23/05/15
O local escolhido para implantação do projeto a ser desenvolvido é Santo Amaro, no terreno localizado na Av. Padre José Maria, 555 onde atualmente o Clube Esportivo Municipal C.E.E. JOERG BRUDER. Segundo a Prefeitura de São Paulo, “Os Clubes Esportivos Municipais são estruturas públicas que oferecem diversas atividades para a saúde, bem-estar, lazer e recreação da população de todas as regiões de São Paulo.” Atualmente, o clube conta com: 1 sala de judô 1 academia de boxe 2 campos de futebol aberto (sem arquibancada) 1 cancha de bocha 1 ginásio esportivo 1 piscina de recreação 1 piscina semi-olímpica 1 pista de atletismo 1 quadra de futebol society 1 quadra de tênis aberta 2 quadras poliesportivas abertas 68
8 quadras de gatebol 1 sala de ginástica geral 1 salão de ginástica/capoeira 1 telecentro
Fig. 81 – Campo de futebol Fonte: Paulo Dias Acesso em: 23/05/15
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Fig. 82 – Ginásio esportivo Fonte: Paulo Dias Acesso em: 23/05/15
Fig. 83 – Piscina semi - olímpica Fonte: Paulo Dias Acesso em: 23/05/1
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Fig. 84 – Pista de atletismo Fonte: Paulo Dias Acesso em: 23/05/15
Fig. 85 – Academia de boxe Fonte: Paulo Dias Acesso em: 23/05/15
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Informações do terreno: Localização: Av. Padre José Maria, 555 - Santo Amaro (Zona Sul) Área total: 44.890 m² Subprefeitura: Santo Amaro
Fig. 86 - Planta do terreno Fonte: http://downloadfolhasscm.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/index.aspx Acesso em: 23/05/15
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Fig. 87 - Mapa da área de abrangência do CEU Santo Amaro com os principais elementos da região. Fonte: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/territorio-ceu-santo-amaro/ Acesso em: 23/05/15
A Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo conhecida como Lei de Zoneamento está em andamento. De acordo com a Prefeitura de São Paulo: Entre todas as inovações da nova proposta de zoneamento, a maior delas é a identificação do território como um todo, levando em conta tanto os efeitos e consequências nos territórios locais bem como os impactos mais amplos. Desse modo a proposta vai além da “colcha de retalhos” e enfrenta as desigualdades e particularidades territoriais como parte de um 6 conjunto necessário para o desenvolvimento estratégico da cidade.
Desta forma, as zonas foram agrupadas em 3 categorias: transformação, qualificação e preservação. Como podemos observar no mapa a seguir, o terreno escolhido para implantação do CEU Santo Amaro encontra-se numa Zona de Centralidade (ZC), num território de qualificação. Este grupo busca a manutenção de usos não residenciais existentes, o incentivo às atividades produtivas, a diversificação de usos ou o adensamento populacional moderado, para que dependam de diferentes localidades que constituem esses territórios.
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Gestão Urbana SP. Disponível em:http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/principal-zoneamento/. 73
Fig. 88 â&#x20AC;&#x201C; Zoneamento Fonte: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uploads/2015/06/SANTO-AMARO.pdf Acesso: 23/05/15
Fig. 89 â&#x20AC;&#x201C; Tabela de zoneamento Fonte:http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/desenvolvimento_urbano/legislacao/planos_regionais/index.php?p=1894 Acesso em: 23/05/15 74
5.3 PROJETO
O projeto desenvolvido para Centro Educacional Unificado CEU Santo Amaro se destina a educação escolar de crianças de até 5 anos de idade e a atividades culturais e esportivas abertas para a população. Está localizado num terreno que pertence ao Clube Joerg Bruder, próximo ao Largo Treze de Maio, em frente ao Terminal Santo Amaro e ao lado das estações Santo Amaro da CPTM e Largo Treze do metrô. Dentro da grande área que pertence ao clube, o local para a implantação do projeto foi pensado para que suas funções pudessem ser mantidas. Sendo assim, a área escolhida está inutilizada atualmente. O acesso principal ao CEU se dá pela Avenida Padre José Maria, há poucos metros das saídas do metro e do Terminal Santo Amaro. Um outro acesso, assim como o do clube está na Rua Humboldt. Três blocos foram projetados e arranjados tirando partido da topografia do terreno, que possui um desnível de 3 metros. São eles: o Bloco Esportivo, o Escolar e o Cultural. A integração entre eles acontece a partir de passarelas que os interligam. Cada bloco possui uma funcionalidade externa ligada a seu uso. Exemplificando o que foi dito: o solário e a quadra externa no nível do bloco esportivo. O playground em frente ao bloco escolar e a praça do leitor ao lado da biblioteca, no bloco cultural.
A caracterização dos volumes se dá através de elementos construtivos modulares com vigas, pilares e lajes pré-moldados e fechamentos que variam entre o vidro, o cobogó e o brise, presente apenas na face noroeste da escola e suprimido da face sudeste em virtude da orientação solar.
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76
77
BLOCO ESPORTIVO 78
BLOCO ESCOLAR 79
BLOCO CULTURAL 80
PLANTAS
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I
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ELEVAÇÕES
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CORTES
88
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho foram analisados alguns edifícios escolares projetados e construídos no Brasil durante aproximadamente um século, com o intuito de entender o centro integrado de educação, conceitual e arquitetonicamente. No decorrer da pesquisa, notou-se que a preocupação com a higiene e saúde se inicia na década de 20 e desde então surge a necessidade de ampliar os edifícios escolares, bem como a preocupação com a higiene pública. Nos anos 30, essa preocupação se torna ainda maior, bem como a ampliação do número de escolas. Movimentos como a Semana de Arte Moderna (1922) e a Revolução de 1930 não só influenciaram a educação como também isso se refletiu na arquitetura. Pode-se considerar que entre os intelectuais responsáveis pelo Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, Anísio de Teixeira tem sua ideia de construir um espaço de educação pública para a comunidade. É importante destacar que, conceitualmente, observamos essa idealização presente nas escolas classe e escolas parque, sendo aplicada a outros equipamentos decorrentes de marcantes políticas públicas e em diferentes épocas, como os CIEPs, CIACs e CAICs. Da mesma forma, todos se baseiam na ideia de se construir além de uma escola, um centro educacional integral, com diferentes atividades, aberto nos finais de semana e que suprisse a necessidade da comunidade carente que vivia nas periferias, nas quais estavam implantados. Partindo do mesmo conceito, nos deparamos com o mesmo problema tanto no conjunto de escolas parque, nos CIEPs e nos CIACs, edificações que demandavam de grandes terrenos que agravavam assim sua implantação. Somado a este problema, também havia a falta de interesse do governo, o que resultou na descontinuidade do programa educacional que foi abandonado, inclusive nos equipamentos que já estavam em funcionamento, como aconteceu nos CIEPs após o desligamento de Leonel Brizola do governo. Aproximadamente duas décadas depois dessa experiência, novamente nos deparamos com as ideias de Anísio Teixeira, claramente aplicadas aos Centros Educacionais Unificados. Neste caso, a inspiração das escolas parque é também arquitetônica, fazendo referência a arquitetura e desenho moderno, pelo qual Anísio prezava. É importante destacar também que todas essas iniciativas citadas, inclusive as escolas implantadas na Primeira República, requeriam um projeto tipo, ou projeto padrão, desenvolvido no decorrer desse tempo por diferentes departamentos de obra e de educação, cujo objetivo é diminuir custos, construir mais edifícios num menor período de tempo, bem como a diminuição de mão de obra. Portanto, observa-se que o desenho arquitetônico moderno dos anos 40 e 50 foi aplicado a escola parque, em seguida as escolas do Convênio Escolar, aos CIEPs dos ano 80, e por fim aos CEUs. Mudaram as escalas e os locais, mas mantiveram-se características e soluções como a divisão funcional dos volumes (blocos), os longos blocos que comportam a sala de aula, em contraste com um elemento que foge aos demais. 90
No CEU temos como exemplo a creche, em formato cilíndrico e nos CIEPs a biblioteca. Por fim, nota-se a capacidade e qualidade dos edifícios escolares construídos no Brasil durante os anos decorrentes da pesquisa, que não necessariamente oferecem uma educação de qualidade, a manutenção e o devido uso. Os problemas que já existiam na década de 20 e que foram alvo da busca por melhorias através de ideias que defendiam a universalização da escola pública, laica, gratuita e de qualidade, infelizmente até hoje estão presentes na sociedade, pois como sabiamente disse Lina Bo Bardi em 1951, “comecemos pelas escolas, se alguma coisa deve ser feita para 'reformar' os homens, a primeira coisa é 'formá-los´.” A partir destas colocações, podemos refletir sobre a importância do estudo desta tipologia arquitetônica para, a partir da proposição de um projeto arquitetônico, objetivo deste trabalho, contribuir para o campo de conhecimento da Arquitetura e Urbanismo.
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