Manuelina chegou de cinza!

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO

PRISCILA SOARES

MANUELINA CHEGOU DE CINZA! Órfãos na conformação antropológica atual: Instituição de ensino de longa permanência fundamentada em experiências espaciais, sensoriais, fenomenológicas.

SÃO PAULO 2015



PRISCILA SOARES DOS SANTOS

MANUELINA CHEGOU DE CINZA! Órfãos na conformação antropológica atual: Instituição de ensino de longa permanência fundamentada em experiências espaciais, sensoriais, fenomenológicas.

Trabalho Final de Graduação, apresentado ao Curso de Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Senac, sob orientação do Prof° Ms. Ralf José Castanheira Flôres.

SÃO PAULO 2015


AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

E-MAIL: prii-soares@hotmail.com

Santos, Priscila Soares dos

MANUELINA CHEGOU DE CINZA! Órfãos na conformação antropológica atual: Instituição de ensino de longa permanência fundamentada em experiências espaciais, sensoriais, fenomenológicas.

Orientador : Ralf José Castanheira Flôres

Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) - Centro Universitário Senac Santo Amaro, São Paulo, 2015.

1.Orfandade 2.Instituição de ensino 3.Fenomenologia 4.Experiência do espaço 5.Percepção do espaço


TERMO DE APROVAÇÃO

Priscila Soares dos Santos

Trabalho de Conclusão de Curso - TCC MANUELINA CHEGOU DE CINZA! Órfãos na conformação antropológica atual: Instituição de ensino de longa permanência fundamentada em experiências espaciais, sensoriais, fenomenológicas.

Monografia apresentada como requisito para obtenção do grau de Arquiteto e Urbanista pelo Centro Universitário Senac, pela seguinte banca examinadora:

Orientador: _____________________________________ Prof° Ms. Ralf José Castanheira Flôres.

Membros: ______________________________________ Prof° Dr. Marcelo Suzuki

_____________________________________ Profa Dr. Eneida de Almeida



A minha família, - mãe, pai e irmão - que tornou este sonho possível. A minha avó, Manu, que esteja agora onde estiver, certamente sabe que a minha admiração por ela é tão grande quanto a saudade que deixou.


LISTA AGRADECIMENTOS

Adriano Camargo de Luca Antonio Lopes Guerreiro Ariane Santana Queiroz Artur Katchborian Bruno Henrique Antunes

Carlos Augusto Ferrata Débora Caprioli Fábia Alaene Felipe Cassiano Felix Dias Gilberto Ulanin Gabriela Hitomi Gabriela Pivaro Helena Azevedo

Iolanda Costa Kurimori João Antônio Pereira Juliana Lopes de Andrade Liliane Caiafa Lourenço Amaral Liliane Teixeira Lucas Scardovelli Marcelo Ursini

Marcilene Portugal Maria Júlia Paula Silva Mayara Cristina Ribeiro Paulo Magri Ricardo Luis Silva Roberta Viegas Sandra Helena Paula Sonia Regina Priuli


Agradeço à Bernard Barone , o apoio nas pesquisas realizadas e o eterno incentivo.



"A arquitetura deve ser a construção elevada aos sentidos".1 Karl Friedrich Schinkel, 1828



RESUMO SOARES, Priscila. Projeto para construção de uma Instituição de ensino de longa permanência. Monografia de Arquitetura e Urbanismo.

Partindo do princípio de que a arquitetura faz sentido quando provoca, ensina e oferece ao usuário questões além da edificação, do objeto construído, este trabalho de conclusão de curso busca reunir um problema eminente na sociedade atual, que é a falta de tempo dos pais para dedicar-se à criação dos próprios filhos e, também, a provável descaracterização do trecho de um bairro histórico, o Ipiranga, em uma área com antigas edificações institucionais, hoje em desuso ou modificadas. Compreender o sentido da arquitetura como precursor do desenvolvimento cognitivo humano atrelado não somente a questões estéticas, mas perceptivas e sensoriais, de forma fenomenológica, pode ser a chave para a evolução antropológica.

Palavras chave: Orfandade, Instituição de ensino, Fenomenologia, Experiência do espaço, Percepção do espaço.

ABSTRACT Assuming that architecture makes sense when causes , educate its user in questions beyond the building , the constructed object , this course conclusion work seeks to bring together an eminent problem in today's society , which is the lack of parental time to devote themselves to their own childrens upbringing and also the probable adulteration excerpt of a historic district , the Ipiranga , in an area with old institutional buildings, now in disuse or modified. Understand the meaning of architecture as a precursor of human cognitive development linked not only aesthetic issues but perceptual and sensory , phenomenological way, can be the key to the anthropological evolution.

Key-words: Orphanhood, Educational institution, Phenomenology, Space experience, Space perception.



SUMÁRIO RESUMO ...........................................................................................................................................13 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................17 2 O ÓRFÃO ........................................................................................................................................25 2.1 Órfão da Colônia .....................................................................................................................28 2.2 Órfão da Conformação Antropológica Atual ............................................................................33 3 A INSTITUIÇÃO DE ENSINO .............................................................................................................37 3.1 Desenvolvimento ....................................................................................................................39 3.2. Contribuição do Espaço ..........................................................................................................45 3.3 Casa, Minha Casa ....................................................................................................................52 4 A FENOMENOLOGIA .......................................................................................................................57 4.1 Arquitetura e sensação ............................................................................................................60 4.2 Arquitetura Espacializante x Arquitetura Estéril .......................................................................62 4.3 A Experiência do Corpo ...........................................................................................................72 4.4 Espaço x Lugar [conceito, abstração, devaneio] ......................................................................78 5 O BAIRRO .......................................................................................................................................83 5.1 Histórico..................................................................................................................................85 5.2 Patrimônio ..............................................................................................................................88 5.3 Instituições Filantrópicas .........................................................................................................90 ANTIGO GRUPO ESCOLAR SÃO JOSÉ ..........................................................................................92 INSTITUTO CRISTÓVÃO COLOMBO ............................................................................................93 SEMINÁRIO JOÃO XXIII ..............................................................................................................93 CLÍNICA INFANTIL DO IPIRANGA ................................................................................................94 INSTITUTO PADRE CHICO (Instituto de Cegos Padre Chico) ........................................................94 ANTIGO JUVENATO SANTÍSSIMO SACRAMENTO – UNESP..........................................................95 INSTITUTO MARIA IMACULADA .................................................................................................95 COLÉGIO SÃO FRANCISCO XAVIER .............................................................................................96 ANTIGO INTERNATO NOSSA SENHORA AUXILIADORA ................................................................96 ◦ ANTIGO NOVICIADO NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS IRMÃS SALESIANAS ................................98 ◦ EDUCANDÁRIO SAGRADA FAMÍLIA ..........................................................................................98 6.4 Situação Atual .........................................................................................................................99 6 LOTE/ PERÍMETRO .......................................................................................................................101 6.1 Análise das Condicionantes da Legislação ..............................................................................105 6.2 Investigação da Área .............................................................................................................114 6.3 Levantamento Fotográfico.....................................................................................................126 7 ESTUDOS DE CASO .......................................................................................................................137


7.1.

Aldo van Eyck AMSTERDAM ORPHANAGE (Burgerweeshuis) (1960) ............................... 140

7.2

Herman Hertzberger ESCOLA DE MONTESSORI EM DELFT (1960-1966) ........................ 152

7.3 João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi GINÁSIO ESTADUAL DE GUARULHOS CONSELHEIRO CRISPINIANO (1960) ............................................................................. 157 7.4

Fernando T. de Almeida LDI - UFV 1988 ........................................................................ 164

7.5

Peter Zumthor CAPELA BRUDER KLAUS (2007) ................................................................ 166

8 PROJETO ...................................................................................................................................... 171 Partido Arquitetônico ................................................................................................................. 173 Posição Pedagógica ..................................................................................................................... 181 Programa .................................................................................................................................... 182 Edifícios ...................................................................................................................................... 184 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................... 189 10 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................. 193 11 LISTAS ........................................................................................................................................ 197 12 ANEXOS ..................................................................................................................................... 201 ENTREVISTAS .............................................................................................................................. 201 LEGISLAÇÃO ................................................................................................................................ 206


1 INTRODUÇÃO


18 1 INTRODUÇÃO

"Para Steiner, o espaço é um dos principais responsáveis pelo homem de amanhã, pela sua consciência, seu estado anímico e sua saúde física. "O homem cria a arquitetura e a arquitetura cria o homem" A


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MANUELINA 2 CHEGOU DE CINZA3!

O presente trabalho propõe o desenvolvimento do projeto de uma instituição de ensino de longa permanência4 fundamentada em experiências fenomenológicas. Implantado no Ipiranga, num contexto de identidade e memória, a instituição de ensino é uma alusão entre os antigos educandários e os órfãos atuais. Dentro deste cenário, de instituições filantrópicas, orfanatos e educandários tombados, procurará se reestabelecer a identidade do bairro e principalmente, com experimentações, questionar o papel da arquitetura no desenvolvimentos de percepções sensoriais, espaciais. ES.CO.LA. Substantivo feminino, do latim schola, que dentre suas definições abarca "experiência vivencial"5 Tendo o processo de projeto, desde o abrigo à estação intermodal6, sido tratado de maneira formal, no que diz respeito a questões técnicas, o objeto de estudo deste trabalho de conclusão de curso buscará questionar de maneira implícita os padrões de produção adotados na atualidade, enfatizando o modo como a arquitetura influencia no comportamento e desenvolvimento humano. Juhani Pallasmma, em As mãos Inteligentes cita: "A verdadeira qualidade na arquitetura manifesta-se

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A citação me acompanha em trabalhos reflexivos desde o 4° semestre, quando estudei o arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, para a disciplina de Arquitetura Brasileira. Ela sintetiza meu raciocínio formado durante o curso e finalmente em minha pesquisa de conclusão. "Mesmo com a crescente industrialização , com os novos desenvolvimentos técnicos, o construtivo só faz sentido por meio de nossa percepção sensorial e dos sentimentos despertados. O arquiteto, quando pensa de forma a racionalizar a construção, pensa na espacialidade que está gerando. Para ele não existe um "modulor" inflexivel, ele os cria de acordo com a necessidade, sem regras. "Em alemão a citação de Schinkel é "Architektur sei mit dem Gefühl erhobebe Konstruktion". Embora hoje a palavra " Gefühl" esteja mais associada a um estado de espírito, o verbo "fuhlen" ainda significa tanto um estado de espírito quanto o tato que poderia estar associado a ele. No dicionário Oxford há também dois significados relacionados à palavra "sense" [sentido, percepção] a) uma consciência do sentimento de alguém em um estado específico; b) a capacidade pela qual o corpo percebe um estímulo externo; uma das capacidades da visão, olfato, audição,paladar e tato." - RISSELADA, Max LATORRACA, Giancarlo RISÉRIO, Antônio. A arquitetura de Lelé: fábrica e invenção - São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo:Museu da Casa Brasileira, 2010, v.1, p.15 2 As Ordenações Manuelinas - 1521, me remeteu a minha avó, Manuela. A gente sempre queria ficar mais tempo que o permitido com ela, e ela entrava na nossa. Generosa, acabou quase que criando meus primos mais novos e inclusive filhas que meu avô teve em outro casamento, que preferiam ela à mãe legítima. 3 A cor sóbria indica neutralidade, imparcialidade e o blur na atmosfera da criança, que chega "morta", e a existência dela passa a fazer sentido quando ela se acomoda na arquitetura, que a ensina, e a provoca. 4 Instituições de longa permanência tem a ver com o período residido pelo aluno, superior a 7 horas diárias. Podendo o aluno pernoitar ou não. [ É considerada educação integral a jornada escolar com sete ou mais horas de duração diária. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2 0264 Acesso: 30 de maio de 2015. 5 Definição disponível em :http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portu gues&palavra=escola Acesso: 20 de fevereiro de 2015. 6 Exceto o abrigo, projeto de arquitetura do primeiro semestre, que provocou questões mais conceituais em sua elaboração, os projetos dos semestres que se seguiram (habitação unifamiliar, multifamiliar, escola, equipamento cultural, fórum, edifício multifunção e estação intermodal) sempre tiveram uma maneira um pouco engessada com o esperado de produto final, muitas vezes o mínimo, plantas, cortes, elevações e maquete foram os produtos padrão produzido durante o semestre.


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na integralidade e dignidade inquestionável da experiência"7, justificando ao leitor a importância do toque inconsciente na experiência da arte. Sendo assim, questionando as disciplinas de projeto aplicadas durante o curso, o objeto de estudo desenvolvido será um "orfanato", que assume conexões de escalas e contextos diferentes, além de provocar o sentido da arquitetura como experiência, principalmente porque a arquitetura oferecida para este indivíduo é o que ele tem como apoio no mundo, como base, referencial e precursor de seu desenvolvimento psico-social. Um abrigo ou uma poltrona, uma residência ou um parque, um museu ou um patrimônio histórico, um banco ou uma estação intermodal, todos - inseridos no contexto da humanidade órfã na conformação antropológica atual- desafiam a compreensão da experimentação da arquitetura, da missão de defender a autonomia da experiência individual dentro de um contexto espacializante. O corpo no espaço. O espaço no corpo - impregnado. A atmosfera atual se dá por designações, vivemos na era da liquidez, da fluidez, da correnteza, da facilidade (click quick). Em tempos de sociedade do ego, crise de valores, de contradições sociais e do altruísmo, os indivíduos quase que perdem sua identidade, seus traços e cultura raiz por conta da epidemia de informações alucinantes nas megalópoles. As famílias, sustentando um paradigma imposto pelo modo de vida atual, vivem em ritmo frenético, trabalha-se muitas vezes para sustentar integralmente um "filho" às boas maneiras do esperado pelas classes, investe-se integralmente seu ordenado, tornando vicioso o ciclo de formação das gerações posteriores, no sentido de que nenhuma geração posterior quer oferecer menos do que a sua obteve. Nesse sentido, as instituições de ensino passaram a adequar-se as mudanças sociais e temporais em assistência ao órfão, filhos de pais legitimamente vivos (para a cidade), deixados a mercê de pessoas dispostas a criá-los, muitas vezes criados da infância à adolescência por terceiros, como avós ou tios, quando não as instituições de longa permanência - que muito tem a ver com a história de Moisés, Romulo e Remo ou com crianças abandonadas em rodas nas irmandades da Misericórdia.8 Retirar "homens" do estado dormente para emergirem à dimensão de sujeito no processo de seu aprendizado e sua transformação social e cultural tem a ver com o real objetivo da educação, que, segundo Arthur Francisco9, é libertar, e não aprisionar em modelos sociais predatórios. A arquitetura influencia e reflete no desenvolvimento humano. Sua proposta, sua forma, sua intenção modifica-se a cada sujeito que a desfruta autonomamente. A contribuição do espaço estrutura e articula nossas experiências mundanas, deixando lugar para a materialidade assumir valores refletidos de espaço existencial a um ensaio interpretado e traduzido pela memória, permitindo o toque do mundo na pele, desencadeando sensações de prazer e pertencimento. Espaços infectados pela luz, pelo movimento de blocos de concreto embasados em fundações rígidas, pelo vento que passa e assopra pelos vazados de cobogós e muxarabis irregulares, pelo cheiro da fome que contamina os corredores e a praça de companhia aos arredores do restaurante, são espaços espacializantes, abnegados de

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PALLASMAA, Juhani. As mãos inteligentes. Porto Alegre: Bookman, 2003. FRANCO, Renato. Órfão na Colônia Considerado legítimo durante séculos, o abandono de crianças era feito por meio das “rodas” das Santas Casas da Misericórdia. Revista de História, 26/10/2010. Disponível em: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos-revista/orfao-na-colonia, acesso: 13 de janeiro de 2015. 9 FRANCISCO, Arthur Santos. Escola dialógica em Santo André, FAUUSP, disponível em http://www.fau.usp.br/disciplinas/tfg/tfg_online/tr/092/a010.html, acessado em 11 de fevereiro de 2015. 8


uma arquitetura estéril, rejeitada por Pallasmaa, quando defende a "compreensão sensorial e corporificada destes fenômenos físicos."10 Conceituar, conceber, projetar. Herman Hertzberger, em Lições de Arquitetura apresenta ao leitor uma arquitetura unanime, que se adapta mesmo não sendo dita para tal, as pessoas são postas como donas do local em que estão frequentando por um breve espaço de tempo, há uma vontade de se apossar. De que forma a arquitetura contamina o espaço, influencia e reflete o desenvolvimento humano? Um banco é só um banco? Uma escadaria não pode ser o banco? De que forma contamina fenomenologicamente? Em As Mãos Inteligentes, Juhani conclui o livro dizendo: "O dever da arquitetura e da arte é investigar ideias e novos modos de percepção e experiência, e, assim, abrir e alargar os limites do mundo em que vivemos."11 Ou seja, o papel do corpo no desenvolvimento da compreensão do mundo físico e da condição humana é essencial, a possibilidade de justapor experiências que permitam o enriquecimento do diálogo, da contemplação. O desenvolvimento do projeto baseia-se na proposta de alterar o processo de aprendizagem a partir da arquitetura, sugerindo novas percepções e estímulos espaciais. Sendo assim, a proposta da instituição de ensino de longa permanência para a Educação Infantil e Ensino Fundamental12, com programa baseado nos ensinamentos convencionais, mas principalmente atenta às características de ambientação e interferências fenomenológicas como precursoras do desenvolvimento cognitivo em potencialidade. Portanto, um espaço, antes híbrido, não espacializante, passa a ser um espaço de multifuncionalidades, provocativo aos estímulos sensoriais, ao diálogo. Analogamente, num contexto de grito por independência, a área de estudo para a implantação da experimentação - a instituição de ensino de longa permanência - será no bairro do Ipiranga. De valor histórico, arquitetônico, ambiental e paisagístico, o bairro teve suas primeiras ocupações em meados de 189013, com propriedades do Conde José de Azevedo14, que justamente implantou além de orfanatos, outras instituições filantrópicas. Hoje, a maioria das instituições não funcionam mais e algumas foram adaptadas a instituições ou equipamentos cultural. A ideia é resgatar o significado das instituições para o bairro, recompondo o cenário histórico. O tradicional bairro está inserido num contexto de identidade para o país, principalmente identidade cultural. Nesse sentido, e em coesão aos antigos orfanatos, juvenatos e internatos em desuso, será proposta uma intervenção, com anexos nos e entre os patrimônios selecionados para o perímetro de intervenção: o Educandário Sagrada Família, o Antigo Noviciado Nossa Senhora das Graças e o Antigo 10

PALLASMAA, Juhani. As mãos inteligentes. Porto Alegre: Bookman, 2003, pg.70. ibidem, pg.154 12 Compreende alunos da Educação Infantil: Pré Escola I e II, entre 4 e 5 anos e do Ensino Fundamental: Ciclo I e II entre 6 a 9 anos e 10 a 14 anos. 13 Resolução N°11/CONPRESP/2007 dispõe sobre eixo Histórico-Urbanístico do Ipiranga. 14 Conde José Vicente de Azevedo (1859-1944). Viveu durante período de transição da história da pátria, que marca o início da República, o fim da sociedade escravocrata, o grande fluxo imigratório europeu e a industrialização de São Paulo. Chega a São Paulo, de Lorena, sua cidade natal, aos 16 anos, com o sonho de amparar crianças desvalidas. Suas obras, fundadas nos princípios da solidariedade cristã surgem no Ipiranga entre 1895 e 1938 e permanecem atuantes: Orfanato (depois Instituto) Cristóvão Colombo; Educandário da Sagrada Família; Instituto Padre Chico; Seminário Central do Ipiranga, da Arquidiocese de São Paulo; Colégio São Francisco Xavier; Instituto Maria Imaculada; Clínica Infantil do Ipiranga/ Hospital Dom Antônio de Alvarenga, hoje Associação Beneficente Nossa Senhora de Nazaré (ABENSENA). Disponível em: http://www.funsai.org.br/instituidor/ , acessado em 24 de fevereiro de 2015. 11


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Internato Nossa Senhora Auxiliadora. O entorno contempla instituições de ensino de vários tipos: colégios, cursinhos e escolas profissionalizantes, porém algumas instituições estão em desuso, como o próprio Noviciado Nossa Senhora das Graças. Associado a outras redes de equipamentos, de modo a articular com cidade, a justaposição dos meios urbanos, como restaurantes, comércios locais diversificados, instituições, o próprio Museu da Independência, rede de transportes garantindo acesso metropolitano, a área de implantação configura-se numa posição estratégica. A localização central, próxima a área de expansão urbana,15 permite aos pais com jornada integral a possibilidade de interagir com filho facilmente. Assim como Ítalo Calvino reflete sobre a inconstância da cidade, quando se refere a Fedora em Cidades Invisíveis, o projeto para a instituição de ensino buscará não modular a solução, atento às possíveis mudanças sociais e temporais. Em todas as épocas, alguém, vendo Fedora tal como era, havia imaginado um modo de transformá-la na cidade ideal, mas, enquanto construía o seu modelo em miniatura, Fedora já não era mais a mesma de antes e o que até ontem havia sido um possível futuro hoje não passava de um brinquedo numa esfera de vidro.16 O intuito de provocar novas percepções a partir da arquitetura é sensibilizar o individuo às condições espaciais, e transformar o afastamento familiar em experiências de troca e compartilhamento, proporcionando ao sujeito convívio com pessoas diferentes e não estranhos. Desse modo, o desenvolvimento do trabalho está dividido em duas etapas graduais: I - Manu Cinza A Fundamentação, caracterização do objeto, reúne os conceitos que sustentam o discurso da dissertação. Indivíduo atual, Arquitetura e Patrimônio. Os cinco primeiros capítulos contextualizam: a) o indivíduo ─ o órfão inserido na conformação antropológica atual ─ usuário do objeto de pesquisa e a origem histórica para o uso desta denominação b) a instituição de ensino ─ objeto de pesquisa ─ desde o sentido e contribuição do lugar para a realização do ensino no Egito até os dias atuais e a interferência da atmosfera das instituições percebidas como lar para estes indivíduos visto que, durante esta etapa da vida passa a maior parte do tempo na escola. Seu mundo é a instituição, sua casa. c) a fenomenologia, no que diz respeito a questões perceptivas, sensoriais e espaciais na arquitetura e de que modo o corpo experimenta e se apropria da matéria, numa posição de usuário experimental, afirmando a escala do projeto como conceito, abstração e devaneio. d) o bairro (patrimônio) ─ Ipiranga ─ de forma a compreender sua conformação histórica e importância patrimonial, como objeto de relevância para a história do país e desenvolvimento do próprio bairro com a implantação das instituições filantrópicas em dado 15

Conclusão baseada no levantamento extraído do mapa de Zoneamento previsto para a área baseados nos estudos da lei 16.050/14. 16 CALVINO, Italo. As Cidades Invisíveis. Companhia das Letras, 1990. 1A ed. [Le città invisibili, 1972] Tradução: Diogo Mainardi , pg.33.


período da história do bairro. O Ipiranga é embebido de edificações históricas, muitas tombadas, e também da atmosfera que compõe o cenário de Independência do país, arraigada de memória.

II - Manu em Cores O Objeto de estudo se realiza nos capítulos finais, que se dividem entre apresentação do lote e as características do entorno, juntamente com as condicionantes de legislação para a realização do projeto; estudos de caso com o intuito de compreender as articulações do programa de uma instituição de ensino, além da forma como se comportam fenomicamente, no que se refere ao espaço doado para o usuário perceber e experimentar; e por fim a apresentação do projeto. A apresentação do projeto realiza-se nos quatro volumes apresentados. A monografia, com as diretrizes do projeto. As pranchas, com desenhos técnicos do complexo Institucional. Um catálogo, com fotografias da maquete desenvolvida para estudo do projeto, e um caderninho de registros sensoriais da Manu, a agente transeunte desta dissertação.


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2 O ÓRFÃO


26 2 O ÓRFÃO

A vida do órfão João Pedro da Silva não seria mais a mesma depois daquela quarta feira, 7 de outubro de 1908. Naquele dia, policiais da cidade de São Paulo prenderam o menino, de apenas 11 anos de idade, pobre e analfabeto, que perambulava pelas ruas paulistanas, sob a acusação de vadiagem. (...) O Dr. Nery de Lima assim o fez, e no dia 21 de novembro de 1908, o juiz de órfãos, o dr. J. Augusto, decidiu pela sorte de João Pedro: ser internado no Instituto Disciplinar.B


O ÓRFÃO

A orfandade tem sido uma constante cada vez mais evidente. A sociedade se encontra em um momento de transição no arranjo das famílias e no papel do homem no mundo atual. Não mais, a mãe cuida da casa e o pai trabalha e sustenta essa família. Não mais o homem produz somente subsídios essenciais fisiológicos em função do alimento e abrigo. Segundo Isabel Clemente, o escritor Sergio Sinay, de 66 anos, autor do livro Sociedade dos filhos Órfãos, faz uma dura crítica ao modo de vida da atualidade, em que pais delegam a educação e a atenção aos filhos para babás, escolas e até para as novas tecnologias – como celular, televisão e computadores. Em entrevista a revista época, Sinay, declara Sempre houve pais que não assumem responsabilidades e sempre haverá. Mas nunca houve como hoje um fenômeno social tão amplo e profundo a ponto de criar uma geração de filhos órfãos de pais vivos. [...] Vivemos numa cultura do utilitarismo, em que se busca o material a qualquer preço e por qualquer caminho.17 Há muito, o afastamento de filhos pelos próprios pais e o deixar a mercê de pessoas dispostas a criálos compõe o cenário da história da orfandade no mundo. Desde a bíblia, a mitologia, e aos dias de hoje, temos conhecimento do fato. Moisés foi abandonado pelos pais e criado pela filha de um faraó, a cidade de Roma teria sido fundada por Rômulo e Remo, duas crianças desamparadas alimentadas pelo leite de uma loba e recolhidas por um casal de pastores. 18 As instituições de ensino e os avós estão cada vez mais recebendo demanda para a criação das crianças atuais, em período integral. O raciocínio da pesquisa procura especular os motivos que assemelham a condição de um órfão do outro, o legítimo e o atual, diante da conformação da sociedade atual, visto que, muitas vezes, o pai legítimo não corresponde ao tempo de desenvolvimento da criança ou participa de sua formação social, que fica por conta dos avós ou algum parente durante a semana, ou ainda um colégio em período integral, quando não a internatos, não com o intuito de privilegiar a educação, mas resolver a falta de tempo à dedicação aos filhos, tornando estas instituições um elemento fundamental de amparo para o atual modo de vida. Desse modo, o termo órfão na conformação antropológica atual, utilizado, se refere ao modo como se insere esse indivíduo em desenvolvimento na sociedade. A denominação é uma alusão a condição deste indivíduo a margem das decisões de seus tutores e a condição imutável, do verdadeiro órfão. A alusão estabelecida busca evidenciar o quão próximo estão os propósitos das instituições de apoio envolvidas no processo de educação e disciplinarização destes indivíduos.

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CLEMENTE, Isabel. Para dedicar tempo aos filhos , é preciso deixar outras coisas de lado. 02/08/2012 14:00 disponível em http://colunas.revistaepoca.globo.com/mulher7por7/2012/08/02/para-dedicar-tempo-aosfilhos-e-preciso-deixar-outras-coisas-de-lado/ acessado em 6 de maio de 2015. 18 FRANCO, 2010.


28 2 O ÓRFÃO

2.1 Órfão da Colônia O capítulo é baseado em reflexões sobre informações extraídas do artigo de Renato Franco. Órfão na colônia. Renato Franco é autor da dissertação “Desassistidas em Minas: a exposição de crianças em Vila Rica, século XVIII” (UFF, 2006).19

A roda O início do acolhimento das crianças enjeitadas começou no Oriente Medieval. O recém nascido era deixado numa "roda" giratória, com uma espécie de portinhola, que garantia o anonimato da mãe. (ver Figura 1) A partir do século XVI, na Europa, a prática que ajudava nas chances de sobrevivência do bebê ganhou inúmeros adeptos, principalmente católicos. Figura 1| A "roda", onde o bebê era deixado. Fonte: Revista de História

As irmandades da Misericórdia - 1498 Controlada pelas Santas Casas e financiada pelas Câmaras municipais, foi muito utilizada em Portugal e se espalhou pelo território continental. ... laicas, essas irmandades eram dirigidas pelas principais famílias locais, que se uniam para tentar aliviar o sofrimento dos mais pobres. Elas acolhiam, batizavam, registravam e encaminhavam as crianças para as amas de leite contratadas. Também as vestiam, e as enterravam num campo santo, caso viessem a falecer.20

Ordenações Manuelinas - 1521 Confirmada pelas Ordenações Filipinas21, em 1603, em Portugal e suas colônias. Não sendo o sistema hospitalar de responsabilidade do Estado, todas as Câmaras municipais eram responsáveis pelas despesas das crianças enjeitadas até os sete anos completados. O enjeitamento de bebês era visto como alternativa para práticas duramente recriminadas, como o aborto e o infanticídio. Quando alguém deixava uma criança na roda, sua procedência não precisava ser reconhecida. Cabia aos pais, caso quisessem reaver seus filhos, deixar sinais, bilhetes ou objetos que pudessem identificá-los.22

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idem. idem. 21 AZEVEDO, Gislane Campos. Os juízes de órfãos e a institucionalização do trabalho infantil no século XIX. Disponível em: http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao27/materia01/ texto01.pdf , acessado em 13 de janeiro de 2015. 22 FRANCO, 2010. 20


Nota-se aqui, que a prática se assemelhava a condições atuais. Da separação "temporária" entre o pai e a criança para que haja a possibilidade deste se estabelecer frente a condição social e a garantia de poder reaver e amparar posteriormente a criança, que na condição de acolhido pelo terceiro, não estará sob ameaças ou perigos oferecidos fora do abrigo que o acolhe.

América portuguesa - final do século XVII23 Os estabelecimentos de acolhimento começam a aparecer. Muitas Câmaras não tinham roda para receber os enjeitados alegando falta de verba. Algumas forneciam recursos aos criadores. Um dos principais motivos para acolher estes menores, era não permitir que morressem pagãos - sem o batismo24. Muitas crianças eram encontradas mortas nas praias e ruas da cidade.

Salvador - 1726 Primeira roda de expostos brasileira, criada com recursos deixados pelo comerciante português João Mattos de Aguar.

Ouro Preto - 1750 A cidade não havia rodas para os enjeitados, mas as Câmaras ofereciam ajuda financeira para as famílias que os abrigassem. As crianças eram deixadas nas casas, e caso a família não aceitasse25 a criança era depositada em outra residência. Caso uma família a aceitasse e não pudesse mais cuidar da criança, ela poderia circular entre outras casas, trocando a família responsável até completar a maioridade.

São Paulo - 1784 Período com altos índices de abandono. Nasce Diogo Antônio Feijó26 (regente Feijó) e assim como ele, muitos enjeitados constituíram família e acumularam fortuna, porém um grande número deles, após completarem 7 anos de idade acabou sendo submetido a duras condições de trabalho, ou seja, não podemos associar o abandono à marginalidade.

23

Em 1693 a Coroa enviou uma carta à Câmara do Rio de Janeiro pedindo que fosse tomada uma providência. No ano seguinte, a Câmara começou a subsidiar os criadores de expostos, pessoas dispostas a cuidar da alimentação e do vestuário das crianças pelo valor estipulado pelas Câmaras. 24 Segundo a doutrina cristã, aqueles que não recebessem esse sacramento poderiam ficar eternamente privados da visão de Deus e relegados ao limbo entre o purgatório e o paraíso. 25 O abandono era uma prática corriqueira entre as populações urbanas do século XVIII – e por não haver rodas suficientes para acolher os enjeitados –, a comunidade se considerava a grande responsável por essas crianças. 26 Se tornou um dos mais ilustres personagens do período regencial (1831-1840), sendo regente do Império de 1835 a 1837.


30 2 O ÓRFÃO

Rio de Janeiro - 1788 A Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro recebe a fortuna de Romão Duarte, visando a abertura de uma instituição de acolhimento para meninas enjeitadas, "bem comportadas", com risco de perder a honra.

Recife - 1788 A roda dos expostos funcionava de maneira irregular. A administração foi transferida para a Santa Casa de Misericórdia de Olinda em 1810. Mesmo sendo, o abando, uma prática corriqueira, a Colônia só pode contar com três rodas até o final do século XVIII. Posteriormente, com a conformação dos bairros, podemos observar o surgimento de algumas instituições filantrópicas, que visavam a manutenção desta criança enjeitada além da inclusão social e principalmente cultural. Trata-se então do surgimento de orfanatos e educandários, principalmente fundamentados num ideário católico. Como veremos adiante, no bairro do Ipiranga, berço da pátria, no final do século XIX criou-se uma dinâmica de ordenação social da realidade. Principalmente por Conde José de Azevedo, houveram iniciativas com investimentos culturais e assistenciais, afim de reaver uma clientela marginalizada, em termos da evolução urbana da cidade, dando atendimento e educação em situações de carência. Assim como as rodas, a prática assistencialista também era mediada por um viés de caridade cristã, porém nesta, com um propósito de deter o avanço dos inimigos da igreja: protestantes, anarquistas e livres pensadores, coincidindo assim com os princípios da Igreja ultramontana.27

São Paulo – Século XX Segundo Gislane Azevedo a chegada de imigrantes, a industrialização, a abolição da escravatura e a implantação da República na passagem do século XIX para o XX contribuíram para aumentar a quota de marginalizados. Em São Paulo, um dos mais relevantes centros econômicos e políticos do país, surgiu nesse período inúmeras instituições assistenciais em regime de internato ou semi-internato, que funcionavam divididos para meninas – educadas para as prendas domésticas e para meninos – instruídos para o mundo das fábricas. 28 A autora ainda revela que “as crianças consideradas pelos poderes públicos como “quase irrecuperáveis” tinham um destino diferente: eram recolhidas ao Instituto Disciplinar, órgão criado em 1902, no bairro do Tatuapé, e que mais tarde se transformou na Febem. Na época, o Instituto não era encarado como um local de reclusão, mas como um espaço aonde as crianças poderiam aprender os bons hábitos. O regime de trabalho ali dentro tinha o mesmo rigor de uma fábrica, com 27

GODOY, Marília; JUNIOR, Lincoln; VIEGAS, Rosemari. Iniciativas locais de filantropia e inclusão cultural: um estudo do bairro do Ipiranga. Pesquisa em debate, edição 6,v.4. n.1, jan/jun 2001. Disponível em: http://www.pesquisaemdebate.net/docs/pesquisaEmDebate_6/artigo_5.pdf. Acesso: 03 de janeiro de 2015. 28 AZEVEDO, 2007.


horários e regras delimitadas.”29 Em Capitães de areia, obra de Jorge Amado, pode-se verificar como era visto a situação de crianças de rua e como a sociedade encarava a situação: um bando que vive da rapina. [...] São chamados Capitães da Areia porque o cais é seu quartel-general. O que se faz necessário é uma urgente providência da Polícia e do Juizado de Menores no sentido da extinção desse bando e para que recolham esses precoces criminosos, que já não deixam a cidade dormir em paz o seu sono tão merecido, aos institutos de reforma de crianças ou às prisões.30 Como verificado na contra capa deste capítulo, o exercício da tutela no início do século XX, muito tinha a ver com a disciplinarização dos espaços públicos. Os juízes de órfãos passaram a exercer papel fundamental na condução das questões envolvendo a criança e o mundo infantil no início do século XX . as crianças abandonadas de Capitães da Areia encontravam na “aventura da liberdade nas ruas” e na união do grupo meios de restituir os bens e os afetos que a orfandade lhes negara. Uma orfandade não apenas familiar, mas de todo o aparato político institucional que os tratavam como os “delinquentes que infestam nossa urbe"31

Atualmente Antes da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), as instituições existentes para acolhimento de crianças e adolescentes eram os antigos orfanatos, educandários ou colégios internos, amparadas pelo Código do Menor32. Durante décadas, essas instituições ficaram conhecidas como espaços de abandono, funcionando como grandes instituições fechadas, isolados da comunidade e atendendo muitas crianças ao mesmo tempo. Nelas, as crianças e adolescentes permaneciam até completar 18 anos, não existindo portando trabalho para garantir a convivência familiar e comunitária.33 Segundo o GAASP (Grupo de Apoio à Adoção de São Paulo), existem cerca de 200 mil órfãos brasileiros, a maioria com mais de quatro anos em orfanatos distribuídos pelo país. O Grupo define estes órfãos brasileiros, de pais vivos34, como invisíveis. Todos com menos de 19 anos não moram em alguma residência ou nas ruas, não são percebidos porque não incomodam. Boa parte é direcionada

29

idem. AMADO, Jorge. Capitães da areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p.9 31 ibidem, p. 27 32 O Código de menores, sancionado em 1927, o chamado “Código Mello Mattos”, em homenagem ao autor do projeto é o Estado assume a responsabilidade legal pela tutela da criança órfã e abandonada. A criança desamparada, nesta fase, fica institucionalizada, e recebe orientação e oportunidade para trabalhar. Disponível em: http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/o-c%C3%B3digo-de-menores-e-o-estatuto-dacrian%C3%A7a-e-do-adolescente-avan%C3%A7os-e-retrocessos. Acesso: 18 de maio de 2015. 33 Disponível em: http://www.fazendohistoria.org.br/a_realidade/abrigos_no_brasil.php. Acesso: 14 de abril de 2015. 34 O termo "órfãos de pais vivos" aqui utilizado se diverge da relação estabelecida no trabalho. O órfão de pai vivo que aqui se refere o texto diz respeito as crianças filhas de homens e mulheres que os maltrataram porque também já foram maltratados, ou cometeram algum tipo de delito culminando na separação da família. 30


32 2 O ÓRFÃO

as instituições como forma de os afastar da miséria, doença e maus tratos, porém cerca de 40% as famílias, jamais retornam na instituição para rever seus filhos.35 Há diferentes tipos de modalidades a que se classificam o acolhimento, como abrigos institucionais, casas lares ou famílias acolhedoras. O Instituto Fazendo História, situado em São Paulo, atua desde 2005 auxiliando crianças e adolescentes que precisaram ser separados de suas famílias a encontrar na medida do acolhimento um momento de reparação efetiva.36 A ONG é uma das que apresentam serviços de acolhimento no Brasil. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente os serviços devem oferecer um espaço no qual as crianças e os adolescentes se sintam protegidos e criem vínculos de confiança; um lugar de acolhimento e socialização, que favoreça o desenvolvimento da autonomia e da criatividade. De acordo com os informes apresentados no endereço virtual do IFH, segundo o Levantamento Nacional das Crianças e Adolescentes em Serviços de Acolhimento realizado pelo Ministério do Desenvolvimento Social em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz em 2010, naquele ano haviam 36.929 crianças e adolescente sob a medida do acolhimento distribuídas em 2624 serviços em todo o Brasil. Os principais motivos de acolhimento são: 37,6% Negligencia na família 20,1% Pais ou responsáveis dependentes químicos 11,9% Abandono 10,8% Violência doméstica Fábia Alaene, de 20 anos, revelou em entrevista realizada em 23 de junho de 2015 que com aproximadamente um ano foi parar no orfanato, que tinha a promessa de cuidar dela. Saiu com aproximadamente 2 anos e meio, adotada pela mãe da ex-namorada de seu tio. Alaene revelou que durante o processo de adoção chegou a voltar para a instituição algumas vezes - com aproximadamente sete anos. Ela diz se recordar das salas, que eram escuras e sombrias. Podemos perceber a partir dos dados levantados, que as rodas de irmandade, e depois as crianças assistidas em casas de família, mesmo que circulando entre elas, e principalmente após séc XVII, o sentido das casas de apoio se baseavam em oferecer subsídios para criança de forma a complementar o padrão da época, a exemplo de crianças submetidas a condições de trabalho em contrapartida ao abandono e marginalidade ou até mesmo a casas de Misericórdia para meninas com o intuito de não perderem a honra, por questões religiosas. Infelizmente, hoje nota-se um cunho social atrelado ao acolhimento, sendo os principais motivos a negligencia na família, como visto acima. Ou seja, o apoio a criação e formação psico social da criança sempre esteve a margem do julgamento da sociedade em prol da necessidade do dado momento. Ora se serviam de rodas de irmandade, 35

MAGNO, Ana Beatriz; MONTENEGRO, Érica - Os órfãos do Brasil . Disponível http://www.gaasp.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=362%3Aos-orfaos-dobrasil&catid=58%3Areflita&Itemid=73, acessado em 1 de agosto de 2015 as 10:04 36 http://www.fazendohistoria.org.br/saiba_mais/sobre_nos.php, acessado 19/08/15 - 23h14

em:


com intuito de exterminar a existência de pagãos, ora com internatos ou instituições de disciplinarização afim de garantir a tranquilidade e limpeza publica atrelado a preocupação com a criminalidade juvenil ora como dever cívico estabelecido por um estatuto.

2.2 Órfão da Conformação Antropológica Atual As famílias, sustentando um paradigma imposto37 pelo modo de vida atual, vivem em ritmo frenético. Para Sinay, nunca houve como hoje um fenômeno social tão amplo e profundo a ponto de criar uma geração de filhos órfãos de pais vivos. Nesse sentido, as instituições de ensino passaram a adequar-se as mudanças sociais e temporais em assistência ao órfão, filhos de pais legitimamente vivos (para a cidade), deixados a mercê de pessoas dispostas ou pagas para criá-los, muitas vezes criados da infância à adolescência por terceiros, como avós ou tios, quando não as instituições de longa permanência38 Para muitos pais, cada dia se torna mais difícil conciliar trabalho e educação dos filhos. Muitos se sentem frustrados, culpados e impotentes devido à falta de tempo para estarem junto dos filhos, por se verem forçados a entregar sua educação aos cuidados de terceiros, por não poderem participar 39 dela e acompanhá-los mais de perto em suas atividades etc.

Assim como as creches fazem o trabalho de cuidar do desenvolvimento das crianças na fase infantil, os colégios internos podem fazer um trabalho similar na fase juvenil e adolescente, oferecendo ensino didático aliado a práticas esportivas regulares ou atividades lúdicas à escolha dos residentes.40 A partir do diagnóstico, Armando Rocha aponta em sua monografia, Internatos no Brasil: Um desafio Cultural, uma matéria do ano de 2012 apresentada na rede Band News de Notícia, que informa sobre o aumento na procura por internatos no Brasil: Curitiba, PR...[ASN] Para quem pensa que estudar em internato é coisa de filme ou que eles foram extintos no Brasil, engana-se. Apenas a rede adventista conta com 18 unidades em todo o País e nos próximos anos mais quatro serão abertas nos estados de São Paulo, Pernambuco, Mato Grosso e Pará. Nos internatos adventistas, todas as vagas estão preenchidas e há fila de espera. A procura por instituições educacionais em regime de internato vem crescendo no País. Com uma proposta bem diferente dos antigos "reformatórios", pais e alunos são atraídos cada vez mais por este sistema de ensino.41

Segundo matéria divulgada no Portal MEC (Ministério da Educação), o Censo Escolar de Educação Básica revela que, desde 2010, o número de matrículas em educação integral no ensino fundamental 37

O paradigma imposto utilizado aqui refere-se ao modo como a maioria das pessoas precisam estar antenadas, consumindo, praticando o que a mídia dita no momento 38 Instituições de longa permanência tem a ver com o período residido pelo aluno, superior a 7 horas diárias. Podendo o aluno pernoitar ou não. Conforme dispõe o Fundeb, considera-se educação básica em tempo integral a jornada escolar com duração igual ou superior a sete horas diárias, durante todo o período letivo, compreendendo o tempo total que um mesmo aluno permanece na escola ou em atividades escolares. 39 Disponível em: http://www.portaldafamilia.org/artigos/artigo711.shtml Acesso: 8 de julho de 2015. 40 ROCHA, Armando. Internatos no Brasil, 2014, Disponível em: http://arquiteturaearmacoes. blogspot.com.br/2014/05/internatos-no-brasil.html Acessado em 08 de julho de 2014. 41 (BANDNEWS, 2012) apud ROCHA, 2014.


34 2 O ÓRFÃO

cresceu 139%, desde 2010, sendo que, só em 2013, o crescimento foi de 45%, e ainda que entre 2007 e 2013 a evolução de matrículas em creche, teve crescimento de 72,8%, sendo que de 2012 a 2013 o aumento das matrículas representou 7,5% nos índices. Para o ministro da Educação, Henrique Pai, o aumento no índice de matrículas são resultado das políticas públicas e programas governamentais42 voltados à ampliação da oferta educacional.43 Chico Soares, presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), explica que o programa é desenvolvido pelo MEC, que transfere recursos às escolas para manter os alunos em jornada estendida.44 Desse modo, as instituições de ensino vêm se tornando significativas no papel de desenvolvimento e aprendizagem das crianças. Independente das mães trabalharem fora ou não, as instituições de educação infantil têm sido procuradas pelas famílias como um espaço de socialização para as crianças,45 sendo o papel da família e o papel da instituição de educação infantil, em relação à educação e cuidado de criança em ambientes coletivos, preocupados com os objetivos, conteúdos, métodos, sentimentos, emoções, laços pessoais e as circunstâncias em que ocorrem. Família são funções desempenhadas por seus membros e suas inter-relações, podendo assim apresentar-se como família, um sem número de arranjos entre membros com tais características de lealdade, afeição e durabilidade de pertinência, como por exemplo: casal sem filhos, casal com vários filhos, avós, filhos e netos, um pai ou uma mãe singular e filhos, casais recasados com filhos de outras 46

relações

Segundo a psicóloga e escritora Cecília Troiano47, após uma pesquisa com 500 crianças e jovens, as crianças se adaptam à realidade, e constroem seu ideal de felicidade em torno das próprias experiências.48 Desse modo, o questionamento social proposto no trabalho busca realizar, por este módulo introdutório em análise comparativa, a situação do individuo em formação na sociedade e sua dependência do mundo ao qual está arraigado as suas influencias, de modo que o espaço passa a contaminar sua formação e seu corpo ser dependente do mundo para que possa existir, como uma reação aos estímulos ao que é submetido.

42

Programa Mais Educação, criado pelo Ministério da Educação para incentivar as secretarias estaduais e municipais de educação, com a transferência de recursos federais, a oferecer a educação integral. [http://www.brasil.gov.br/educacao/2014/02/ministerio-da-educacao-divulga-resultado-do-censo-2013 30/05/2015] 43 Censo escolar revela aumento de matrículas em tempo integral. 25 de fevereiro de 2014. http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=20264. Acesso: 30 de maio de 2015. 44 Disponível em: http://portal.inep.gov.br/visualizar/-/asset_publisher/6AhJ/content/matriculas-emeducacao-integral-apresentam-crescimento-de-41-2 Acesso: 30 de maio de 2015. 45 NEVES, NAISE Instituição de educação infantil e família. 2004. 46 MACEDO, 1994, p.185 apud NEVES, NAISE, 2004. 47 . Autora de Vida de Equilibrista: dores e delícias da mãe que trabalha, Cecília acaba de lançar seu segundo livro, Aprendiz de equilibrista: Como ensinar os filhos a conciliar família e carreira, escrito com base nessa pesquisa. apud CLEMENTE, Isabel. O fim da culpa: com mães trabalhando ou não, os filhos se adaptam, mostra pesquisa. 26/04/2011 Disponível em: http://colunas.revistaepoca.globo.com/mulher7por7/2012/08/02/paradedicar-tempo-aos-filhos-e-preciso-deixar-outras-coisas-de-lado/ acessado em 6 de maio de 2015. 48 CLEMENTE, 2011.


A primeira situação do indivíduo no mundo, a de estar abrigado, passa cada vez mais a se acentuar com as condições estabelecidas pelo desenvolvimento social. Apesar dos pais vivos, as crianças, muitas vezes, não tem outra alternativa ao não ser passar o dia em colégios, como internos. A partir daí este ambiente passa a ser seu elemento de construção. Apoio e impulso. O abrigo, a casa, o lar, é a primeira matéria que o indivíduo tem no mundo, desde o útero materno, ao subsolo eterno. Fazendo sentido a existência e importância da arquitetura como elemento agente na evolução antropológica.


36 2 O ÓRFÃO


3 A INSTITUIÇÃO DE ENSINO


38 3 A INSTITUIÇÃO DE ENSINO

"Nossas sensações de conforto, proteção e lar estão enraizadas nas experiências primitivas de incontáveis gerações. Bachelard as chama de "imagens que trazem à tona o primitivo que está em nós", ou de "imagens primitivas". "[A] casa na qual nascemos gravou dentro de nós a hierarquia das várias funções de habitar. Somos o diagrama dessas funções de habitar aquela casa particular, e o das outras casas são apenas variantes desse tema fundamental. A palavra hábito está desgastada demais para expressar essa relação passional de nossos corpos, que não esquecem, com uma casa inesquecível," ele escreve falando da força da memória corporal."C


A INSTITUIÇÃO DE ENSINO Educar, etimologicamente, significa levar de um lugar para outro 49, conduzir para fora, ou seja, preparar o indivíduo para o mundo50. Assim sendo, a instituição de ensino, um dos principais precursores do desenvolvimento educacional, compartilha com os pais a missão de capacitar as gerações próximas. A transformação do espaço escolar em lugar51 se deu por meio da avaliação de diferentes concepções de organização, e também pela aproximação com outras tipologias com as quais os ambientes educacionais até hoje guardam certas semelhanças.52

A contextualização do processo de evolução do edifício escolar desde o Egito, quando a residência era o ambiente para disseminar o conhecimento, até os dias atuais, quando boa parte das escolas são produzidas de pré moldado para agilizar sua construção e atender a demanda é apresentado abaixo, baseado em reflexões sobre informações extraídas da dissertação de mestrado de Mario Fernando Petrilli do Nascimento. Arquitetura para a educação: a contribuição do espaço para a formação do estudante.

3.1 Desenvolvimento EGITO De acordo com Mario Nascimento, segundo Mario Alighiero Manacorda [...] é do Egito que chegaram os registros mais antigos e talvez mais ricos sobre todos os aspectos da civilização e, em particular, sobre a educação e a transmissão de conhecimento.53 [...] uma das manifestações de prosperidade era a maior importância dada à instrução. Muitas casas tinham instalações para o treinamento de escribas, como pátios para ensinar, com bancos e recipientes para o barro e água. Numerosas plaquetas foram encontradas nesses pátios - plaquetas de exercícios, listas lexicais e excertos literários. Parece que a maioria dos residentes educava aí seus filhos, visto que as plaquetas escolares foram encontradas em quase todas as casas. [...]" 54

a.C.

49

Novaski,1986, p11 apud NASCIMENTO, Mario. Arquitetura para a educação: a contribuição do espaço para a formação do estudante. Dissertação de mestrado. Orientador: Prof. Dr. Mônica Junqueira de Camargo. São Paulo, 2012. 50 Disponível em: http://www.dicionarioetimologico.com.br/educar/ Acesso: 31 de maio de 2015. 51 FRAGO, 2001,p.11 apud NASCIMENTO, 2012. 52 NASCIMENTO, 2012. 53 idem. 54 MELATTI, Sheila Pérsia do Prado Cardoso. A arquitetura escolar e a prática pedagógica. Dissertação de mestrado. Orientador: Prof. Dr. Luís Gonzaga Mattos Monteiro. Joinville: UDESC/SOCIESC, 2004. apud NASCIMENTO, 2012.


40 3 A INSTITUIÇÃO DE ENSINO

[...] não há registros de durante o período a.C. existirem espaços para acontecer as atividades pedagógicas. Aristóteles, por exemplo ia de encontro de seus alunos, já Protágoras (481-420 a.C.) viajava de cidade em cidade e fazia apresentações em espaços públicos.55

IGREJA [...]O conceito de escola como edifício-sede das atividades educacionais tem sua origem ligada a outras tipologias, como as igrejas, os claustros e as residências (que também são exemplos de espaços onde a educação de desenvolveu) [...]56

EDIFÍCIO ESCOLAR Segundo Augustín Escolano, citado por Mário Fernando, o desenvolvimento da edificação escolar surgiu com a introdução dos primeiros modelos de escola seriada. Seguindo uma lógica produtiva, nos a partir dos séculos XVII e XVIII as turmas eram divididas de acordo com suas características psicossociais e culturais.57 Também as preocupações médico-higienistas influenciaram na conformação do espaço. Durante a Idade Média acreditava-se que a aproximação e contato com a natureza poderia ser saudável para os alunos, contribuindo para melhoria na educação.58 Nas escolas do período imperial brasileiro, [...] um importante aspecto das escolas construídas durante o Império o fato de estarem localizadas "sempre defronte as praças, onde poderiam assumir proeminência junto à população, numa provável analogia com as igrejas".59 [...]Logo após a Proclamação da República [1889], vários dos edifícios construídos para abrigar os grupos escolares, escolas normais e escolas modelo possuíam uma forte monumentalidade, com fachadas ornamentadas, acesso por escadarias, entre outros elementos. O contexto político era de ruptura com o período imperial, e as novas construções serviriam para mostrar como a educação era valorizada pelos novos governantes.60 Pode-se observar que talvez a edificação escolar não tenha adquirindo importância não pelo fato de ser um ambiente de reunião propício para a disseminação de conhecimento e interrelações pessoais. A edificação escolar neste período estava muito enraizada na especulação de progresso do país, Segundo Nascimento os espaços de encontro nas escolas do início do período republicano, praticamente não existiam. Somente mais tarde, com a necessidade de massificação do ensino, a valorização da monumentalidade da instituição foi perdendo sentido e, aos poucos, foram ocorrendo

55

NASCIMENTO, 2012. idem. 57 ESCOLANO, 2001, p28 apud NASCIMENTO, 2012. 58 NASCIMENTO, 2012. 59 ". DRAGO; PARAIZO, 1999 apud NASCIMENTO, 2012. 60 NASCIMENTO, 2012. 56


uma simplificação no modo de construção das instituições, muitas vezes, sendo adaptações de edificações antes com outro uso. 61

Instituições pré-escolares No Brasil, em resposta a uma situação de pobreza, abandono e maus tratos, surgiu no século XVIII instituições pré escolares, para crianças de pais que trabalhavam em indústrias, viúvas ou mães solteiras, ou seja, a concepção da pré-escola estava vinculada a um caráter assistencialista, de cumprimento as funções de cuidado e educação dos menores. Aos filhos de famílias de elite, a constituição da escola, estava relacionada ao desenvolvimento cognitivo e afetivo. 62

Escola Normal de São Paulo - 1894 A Escola Normal de São Paulo , inaugurado em 1894, significou uma tentativa de mudar a forma como a educação era encarada no Brasil durante o período colonial e imperial. As escolas atendiam em edifícios adaptados de endereços diversos, somente depois a lei n°34 de 16 de março, em 1846, que receberam prédios do governo republicano para sediar as instituições.63 A escola construída na Praça da República, projetada pelo Arquiteto Ramos de Azevedo e pelo engenheiro Antonio de Paula Souza, foi a primeira escola paulistana com dimensão monumental. [...] a escola construída na Praça da República apresenta características da tradição de transmissão de conhecimentos em espaços que se originaram de construções religiosas. A organização das salas em alas voltadas para um pátio interno seria, ainda de acordo com a autora dos claustros dos conventos medievais.64

Figura 2| Escola Normal de São Paulo. Planta baixa do Pavimento Térreo e Superior, respectivamente. Sem escala. Fonte: Silvia Ferreira Santos Wolff, apud Nascimento, 2012.

61

idem. Oliveira, 2002 apud NEVES, NAISE, 2004. 63 NASCIMENTO, 2012. 64 idem. 62


42 3 A INSTITUIÇÃO DE ENSINO

Segundo Nascimento, as escolas do século XIX apresentam características como planta simétrica, alas separadas, e monumentalidade, que contribuem para a transmissão de uma atmosfera formal e disciplinada.65

INÍCIO DO SÉCULO XX De acordo com Ventura, citado por Fernando Nascimento, as escolas paulistas até o século XIX não contavam com ambientes de apoio ao ensino, como as bibliotecas, e os destinados aos cuidados com a saúde dos estudantes, como os consultórios médicos,eles só começaram a aparecer nas décadas de 1920 e 1930. 66 Com a consolidação do modo de produção capitalista no Brasil, donos de indústrias, construíram vilas operárias, com creches nas proximidades da fábrica, pois acreditavam que os operários poderiam trabalhar melhor se estivessem perto de seus filhos.67 "Nessa época o objetivo da creche era "guardar" as crianças para que as mães pudessem trabalhar."68 [...] Por mais que a finalidade explícita da creche durante sua implantação tenha sido a de atender os filhos das mães que ocupavam o mercado de trabalho, em sua história, em muitos momentos, houve uma preocupação voltada a evitar e prevenir a desordem familiar. A creche se propunha a cuidar dos filhos das mulheres viúvas e abandonadas que precisavam trabalhar. Essa mulheres eram consideradas mães" incompetentes.69

Historicamente, o significado da creche esteve fortemente associado à noção de "mal necessário", evidenciando a necessidade de a mulher abandonar a educação de seus filhos por falta de condições moral, física ou econômica. O Departamento Nacional da Criança, criando em 1940, caracterizava a creche como uma instituição cuja finalidade era cuidar, durante o dia, de crianças que não podiam, por motivos econômicos, ser criados por seus pais.70

ESCOLA CLASSE e ESCOLA PARQUE Conforme o conceito do educador Anísio Spínola Teixeira entre o final da década de 1920 e o início da década de 1930 [...] a escola deveria desempenhar um papel social na cidade, incorporando ambientes como anfiteatros, biblioteca, refeitório, jardins e áreas livres, ginásio esportivos, etc. [...] Nas escolas classe os alunos recebiam a educação tradicional (alfabetização, matemática etc.), enquanto na escola

65

idem. idem. 67 Sanches, 2003 apud NEVES, NAISE, 2004. 68 Rodrigues, 1996 apud NEVES, NAISE, 2004. 69 Sant'ana, 1999 apud NEVES, NAISE, 2004. 70 Rodrigues, 1996 apud NEVES, NAISE, 2004. 66


parque os alunos tinham aulas de artes, esportes, cursos profissionalizantes e atividades socializantes. As escolas parque, por demandarem área maior, eram locadas em terrenos menos valorizados, em geral as porções mais baixas dos bairros. Já as escolas classe ocupavam terrenos menores e podiam estar localizadas em áreas mais valorizadas.71

Notamos uma preocupação no discurso do educador em evidenciar a transformação da realidade social inerente ao seu programa pedagógico e as questões pedagógicas e espaciais ligadas a arquitetura. Já na década de 1950, a educação torna-se mais abrangente e inicia-se um maior contato entre a escola e a comunidade. Nos edifícios, os espaços para abrigar as funções de apoio e as atividades sociais, como os auditórios e as áreas para educação física, tornam-se mais amplos [...] somente ocorreria em algumas iniciativas, em Figura 5| Escola Parque - cantina e especial as que buscassem fazer com que a escola seja serviços gerais. Fonte: João Augusto de também uma espécie de centro cultural, comunitário e de Lima Rocha apud Nascimento, 2012. lazer, como o CIEP, o CIAC e o CEU."72

Figura 4| Pavilhão de Ginástica - Escola Parque Bahia. Crédito: UnB/CEDOC. Fonte: http://www.bvanisio teixeira.ufba.br/Visita_Guia da/imagens_pq/visita51.html Acesso: 16 de novembro de 2015. Figura 3| Oficina de artes industriais. Fonte: http://www.bvanisio teixeira.ufba.br/Visita_Guia da/imagens_pq/visita51.html Acesso: 16 de novembro de 2015.

FDE - FUNDAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO A necessidade de massificação do ensino, no Brasil e em outros países, levou, durante boa parte do século XX, à adoção de soluções multiplicáveis, como os projetos-padrão e, posteriormente, a padronização de ambientes e componentes construtivos [...] reduziu o potencial de inovação dos 73 projetos, já que a liberdade para a criação de novos espaços foi restringida." [...] "os padrões 71

NASCIMENTO, 2012. NASCIMENTO, 2012. As siglas significam, respectivamente Centro Integrado de Educação, Centro Integrado de Apoio à Criança e ao Adolescente e Centro Educacional Unificado. 73 NASCIMENTO, 2012. 72


44 3 A INSTITUIÇÃO DE ENSINO

adotados pela FDE (e, anteriormente, pela CONESP), embora de certa forma "engessem" o trabalho dos arquitetos, têm cumprido sua função de garantir o atendimento a requisitos mínimos ambientais de articulação entre os espaços, de quantificação e dimensionamento das instalações, entre diversos outros.74

Embora produção massiva de escolas seguindo um padrão de produção limite a produção do arquiteto quanto a inovação, em alguns casos a escola é o único equipamento público presente em todo o bairro e a linguagem de sua edificação inserida na paisagem define um valor sociocultural e identitário para os moradores. Alguns estudos apontam necessidade envolvimento do entorno no processo educativo: Em 1972, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) publicou, sob a supervisão do ex-primeiro ministro francês Edgar Faure, o relatório "Aprender a ser", com propostas para a melhoria da educação no século XXI. Uma das propostas seria a da "cidade educativa", em que toda a cidade, incluindo o trajeto da criança de sua casa até a escola, seria um espaço capaz de contribuir para a formação dos estudantes: "A cidade ― já dizia Plutarco ― é o melhor professor"75 Segundo a União Internacional dos Arquitetos (UIA) "os espaços escolares deveriam, entre outros objetivos, "propiciar o desenvolvimento, por parte das crianças, da consciência a respeito das qualidades dos espaços em que elas vivem" e "incentivar a apreciação do patrimônio cultural existente76

LEGISLAÇÃO Constituição de 1988 A Constituição foi a primeira para a garantia de direitos da criança. Reconhece a creche e a préescola como instituições educativas. Em seu artigo 208, inciso IV, define ser um dever do Estado a garantia de creche e pré-escola às crianças de 0 a 6 anos. Define ainda que a educação infantil passa a ser uma opção da família e um direito da criança.77 Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) - 1992 Reconhece a criança e o adolescente como pessoas em condições peculiares de desenvolvimento, a inserção das crianças e dos adolescentes no mundo dos direitos, especificamente no mundo dos direitos humanos e legitima que a criança tem direito ao afeto, direito de brincar, direito de querer, de não querer, direito de conhecer, direito de sonhar e, ainda direito de opinar.78 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - 9496/96 Regulariza a educação infantil como parte da educação básica. Assegura que a criança deve ser respeitada enquanto ser em desenvolvimento, com necessidades e características específicas. As

74

idem. FAURE, 1973, p.242 NASCIMENTO, 2012. 76 GRANATO, 2003 apud NASCIMENTO, 2012. 77 NEVES, NAISE, 2004. 78 idem. 75


atividades desenvolvidas nas instituições de educação infantil devem ressaltar a integração do cuidar e do educar. 79 Segundo a LDB Art.21 - I - A educação escolar compõe-se de: educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; II - educação superior Art 30 - a Educação Infantil será oferecida em: I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até 3 anos de idade; II - pré-escolas para as crianças de 4 a 6 anos

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil Para reafirmar a LDB o documento propõe que as crianças e suas famílias devem encontrar nessas instituições um ambiente físico e humano que propicie experiências e situações planejadas, através de estruturas e funcionamento adequados. A integração do educar e do cuidar, atualmente, é uma das mais relevantes funções da educação infantil e, por isso, devem permear o planejamento e a execução da proposta pedagógica da instituição. É muito importante que o cuidar e o educar sejam vinculados a padrões de qualidade no atendimento à criança de 0 a 6 anos.80

3.2. Contribuição do Espaço Segundo Alessandra Shueler, as "Experiências vividas pelas infâncias nas instituições asilares individualizam e produzem subjetividades singulares. Deixam marcas nos corpos e nas memórias, histórias inscritas e reelaboradas na vida adulta."81 Desse modo, a edificação além de abrigo e lar, será tratada aqui como extensão do corpo. Para Sueli Costa, nossa imaginação trabalha a imagem dos espaços, processando os valores de abrigo e aposento à casa da infância.82Ou seja, a experiência imagética da casa se configura num espaço inconsciente. A imagem da casa como signo de habitação e proteção constitui-se num devaneio imemorial, expressado pela imaginação, lembrança, imagem e memória, como se acompanhasse nos durante toda a vida, indelével da imaginação. D.W. Winnicott em 1957, alerta sobre a alteração no padrão da constituição familiar: Não mais crianças tem relação com família grande como antes. O apontamento é pertinente até os dias atuais: É de esperar que a criança moderna não tenha, frequentemente, uma ajuda do tipo que era fornecido nos tempos das grandes famílias. Deve ser comum para uma criança não ter qualquer primo ao seu alcance e, no caso do filho único, isso constitui uma questão muito 79

LDB, 1996 apud NEVES, NAISE, 2004. BRASIL, 1999 apud NEVES, NAISE, 2004. 81 SHUELER, Alessandra. Internatos, asilos e instituições disciplinares na história da educação brasileira. Revista Contemporânea de Educação. Rio de Janeiro: UFRJ, v. 4, n. 7. - janeiro/julho 2009. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Disponível em: http://www.educacao.ufrj.br/artigos/n7/numero7artigo_1_internatos_asilos_e_instituicoes_alessandra_f_m_de_schueler.pdf Acesso: 21 de setembro de 2015. 82 COSTA, Sueli Aparecida da. A Poética Do Espaço. Labirinto. Disponível em: http://www.cei.unir.br/res9.html Acesso: 13 de janeiro de2015. 80


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séria. Contudo, se este princípio for aceito, podemos afirmar que a principal ajuda a ser prestada à pequena família moderna é a ampliação do âmbito de relações e de oportunidades. A escola maternal. o jardim de infância, podem fazer muito nesse sentido, se não forem demasiado grandes e se estiverem adequadamente dotados de pessoal. Não me refiro apenas à quantidade de pessoal, mas também à educação do mesmo em problemas de Psicologia Infantil. Os pais podem usar esses estabelecimentos para disporem de algumas horas de folga e repouso; para ampliarem o âmbito das relações da criança com adultos e outras crianças e para ampliarem, também, o âmbito das brincadeiras.83 O filósofo francês, Michel Foucault (1926-1984), reconhecido por questionar os objetivos e métodos da escola atual, assegura que a escola é responsável pela produção de determinado tipo de sociedade. Embora crítico da instituição escolar, seu trabalho não envolvia propriamente a pedagogia, para ele, as instituições, não apenas a escola, são disciplinares e mantêm o homem na iminência da punição.84 Segundo Fernando Nascimento em Arquitetura para a educação: a contribuição do espaço para a formação do estudante, antes do surgimento das primeiras escolas, a educação já ocupava um espaço na sociedade, sendo, as atividades, desenvolvidas ao ar livre ou em locais construídos para outros fins, que supostamente, não ofereciam as melhores condições ambientais para o ensino. "Confúcio (551-479 a.C.) defendia que a natureza humana é neutra, ao menos no nascimento. Em razão disso, o meio ambiente, incluindo a educação, desempenharia um papel importante na criação dos filhos (PALMER, 2005). A mãe de um de seus alunos teria se mudado três vezes até encontrar um bom ambiente para criar seu filho, devido às recomendações do mestre. [...] Pensadores como Platão e Jean-Jaques Rousseau, embora não tenham contribuído diretamente para a criação de instituições escolares [...] sempre levaram em consideração as consequencias que um bom ou mal ambiente exercia sobre os alunos. [...] Platão (427-347 a.C.), [...] a educação [é] um treinamento de caráter, e [...] uma educação cultural apropriada ajudaria a "condenar e abominar corretamente coisas desprezíveis" (A República, apud PALMER, 2005). O controle do ambiente educacional seria a ferramenta adequada para o cumprimento desta tarefa, especialmente nos primeiros anos de vida, quando a criança "absorve cada impressão que se lhe queira imprimir" (A Republica, 401-2, apud PALMER, 2005) [...] Para o filófofo, um "ambiente educativo" favorável poderia ser criado ao expor a mente jovem a experiências culturais, como a música e a arquitetura." [...] Num estágio seguinte, começaram a surgir as primeiras escolas, que ocupavam espaços originalmente concebidos para outros usos, como residências e claustros. [...] Certas características eram mais valorizadas na elaboração dos projetos neste período, como o controle disciplinar, as considerações médico-higienistas e o papel simbólico."85

83

WINNICOTT, D.W. A criança e o seu mundo. Rio de Janeiro: Zahar, 1971, pg 212 NASCIMENTO, 2012. 85 NASCIMENTO, 2012. 84


O desenvolvimento de tipologias dos primeiros edifícios concebidos para instituições de ensino iniciaram-se a partir da Idade Média, anteriormente situavam-se em residências, templos religiosos "Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), [...] argumentou que a criança é naturalmente boa e se torna má devido ao ambiente em que é criada. Segundo a obra, o conhecimento viria dos sentidos e, se as crianças se engajassem ativamente com um ambiente bem ordenado, seus impulsos naturais saudáveis poderiam ser encorajados e os efeitos deformadores da sociedade minimizados (PALMER, 2005). [...] O educador suíço Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), leitor de Rousseau, idealizou sua escola imaginando-a como uma extensão do lar, um lugar que deveria se inspirar no ambiente familiar para oferecer uma atmosfera de segurança e afeto. Seu método ficou conhecido como intuitivo, por valorizar a aquisição de conhecimentos por meio dos sentidos e da observação (BUFFA; PINTO, 2002, p.50). [...] Friedrich Wilhelm Froebel (1782-1852), educador alemão (que chegou a estudar arquitetura), afirmava que as crianças pequenas apreendiam o ambiente físico ao interagir com ele, usando seus sentidos mais do que sua razão [...] na primeira infância as brincadeiras, e não o ensino tradicional, eram o primeiro caminho de aprendizagem do mundo (PALMER, 2005). [...] O francês Émile Durkheim (1858-1917), considerado o criador da sociologia da educação, defendia que o objetivo do processo educativo era a preparação de jovens para a sociedade. [...] a escola deveria proporcionar um ambiente que refletisse da forma mais fiel possível a realidade da sociedade adulta (NOVA ESCOLA, 2008)."

PANÓPTICO Segundo Augustin Escolano, citado por Nascimento em Arquitetura para a Educação: O filósofo francês Michel Foucault insere o aspecto disciplinar no debate sobre origem e desenvolvimento do espaço escolar ao afirmar, em seu livro "Vigiar e Punir", que a "arte da distribuição no espaço" foi aplicada indistintamente a escolas, fábricas, quartéis, hospitais e cárceres, como um procedimento para assegurar a disciplina nas organizações modernas, contando inclusive com elementos do panóptico86

Podemos observar na Figura 6 modelos sugeridos para salas de aula. Mesmo quando a sugestão de organização favorece o uso coletivo das carteiras, a distribuição espacial geralmente é centrada no controle, com carteiras dispostas em filas e destaque dado ao professor.

86

Conceito criado por Jeremy Bentham em 1791. Trata-se de um edifício circular com uma torre no centro, a partir da qual era possível observar - e controlar - toda a população ocupante. Foi originalmente desenvolvido para edificações carcerárias. ESCOLANO, 2001 apud NASCIMENTO, 2012.


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Figura 6| Sugestões de disposição de carteiras em salas de aula para escolas superiores. Fonte: Livro A arte de projetar em arquitetura, Ernst Neufert, página 307, 17a edição.

Segundo Augustín Escolano: "A 'especialização' disciplinar é parte integrante da arquitetura escolar e se observa tanto na separação das salas (graus, sexos, características dos alunos), como na disposição regular das carteiras (com corredores), coisas que facilitam, além disso, a rotina das tarefas e a economia de tempo. Essa 'especialização' organiza minunciosamente os movimentos e os gestos e faz com que a escola seja um 'continente de poder'."87 A partir do início do século XX, ciente da importância da contribuição do espaço para a formação do estudante, as Escolas Novas propostas, extrapolavam o aspecto pedagógico. Notadamente, os métodos de ensino pós John Dewey88 e Maria Montessori influenciaram numa mudança da configuração espacial das salas de aula. Inclusive, na escala do mobiliário. Para Roberto Segre "foram abandonadas a submissão hierárquica do aluno ao professor e a educação repressiva. Isso significa uma liberdade de distribuição no interior da sala e uma estrutura dinâmica na organização das funções na escola, como representação da criatividade de docentes e estudantes." 89 Pode-se observar nas escolas Waldorf, ambientes convencionais que não foram projetados notadamente com princípios escolares. Na "corrente pedagógica criada por Rudolf Steiner, conhecidas como escolas Waldorf, a educação tem por objetivo desenvolver o conhecimento espiritual do mundo, por meio da experiência interior de cada aluno, respeitando seu ritmo e evitando a aplicação de penalidades.90

87

idem. As escolas experimentais de Dewey tinham como base a democracia, e não a autocracia disciplinar ou o controle na educação. Ele estimulou a visão da escola como uma comunidade cooperativa, na qual se deve apoiar o aluno para atingir o seu verdadeiro potencial, o que abriu a escola para o mundo real e sua diversidade. Dewey mudou a arquitetura [escolar] ao substituir as preocupações estilísticas pelas sociais, pois os estilos são discussões acadêmicas, pouco relacionadas com as necessidades do cotidiano." (KOWALTOWSKI, 2011, p.75). apud NASCIMENTO, 2012. 89 SEGRE, 2006 apud NASCIMENTO, 2012. 90 PALMER, 2005, p.230 a 233 apud NASCIMENTO, 2012. 88


Figura 7| Planta do Térreo. Escola Waldorf em Überlingen, Alemanha, 1972. Fonte: Dissertação de Mestrado A contribuição do espaço para a formação do estudante. Mario Nascimento. Para Antonio Vinão Frago "Por meio da distribuição dos espaços, é possível reconhecer o valor atribuído a ambientes como os locais de encontro e as áreas destinadas às atividades pedagógicas".91 E para Richard Neutra "[...] uma sala de aula na qual o professor é obrigado a manter sempre a mesma posição, na qual os alunos ocupam sempre os mesmos lugares e onde o material de ensino, mais os móveis, estão sempre dispostos da mesma maneira, está fadada a tornar-se, cedo ou tarde, uma verdadeira prisão."92, assim sendo a proposta da Escola Nova, é coerente quando liberta o aluno desse sistema carcerário monótono. Segundo Nascimento a arquitetura orgânica projetada pelos arquitetos Wilfried Oglive e Gundolf Bockemühl, na escola de Überlingen, no sul da Alemanhã, é uma tradução dos conceitos adotados pela pedagogia Waldorf. "Todos os ambientes estão reunidos numa mesma edificação, repleta de linhas curvas. O telhado, os recintos, as fachadas e os volumes possuem concavidades que criam uma sensação de constante movimento. No centro da edificação há um grande hall aberto em quatro níveis e um Figura 8| Hall de entrada. Escola Waldorf em salão com palco. As linhas curvas da edificação Überlingen, Alemanha, 1972. Fonte: Dissertação de dão a cada sala de aula e área de circulação um Mestrado A contribuição do espaço para a formação do estudante. Mario Nascimento.

91 92

FRAGO, 2001, p.106-107 apud NASCIMENTO, 2012. NEUTRA, 1948, p.56 apud NASCIMENTO, 2012.


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formato específico." Podemos então dizer que o espaço da sala de aula funciona como elemento estimulante de novos comportamentos, além de sua flexibilização possibilitar a adaptação de acordo com as demandas de diferentes contextos pedagógicos. Segundo Amélia Domingues e Anna Maria Pessoa de Carvalho: Dinamizar o espaço físico é torná-lo mais atraente à aprendizagem dos alunos, é tornar toda a sala de aula um ambiente estimulante à aprendizagem de diferentes conteúdos. (...) Ainda não exploramos o suficiente os espaços da escola para ajudar na tarefa do professor de inovar sensações, estimular interesses, convocar os alunos a determinadas ações de aprendizagem."93

Figura 9| Modelo de escola urbana proposto por Richard Neutra. Fonte: Dissertação de Mestrado A contribuição do espaço para a formação do estudante. Mario Nascimento.

93

NASCIMENTO, 2012.


A tipologia apresentada por Neutra em seu livro "Arquitetura social em países de clima quente", assim como na Escola Waldorf, apresenta novas concepções espaciais. As salas de aula voltadas para pátios abertos, vegetados, possibilitam variabilidade de atividades propostas nas aulas, além de reorganização do layout, podendo a aula ser no jardim ou dentro do espaço concebido como sala. Mesmo os diferentes tipos de funções do edifício estando separados por lâminas contrapostas, podese observar a articulação e comunicação entre os blocos. Levando em consideração a importância da escala da edificação, uma vez que o aluno quando usuário de um edifício de quatro ou cinco salas de aula contempla a todos, o aluno que participa de um sistema de edifícios conectados denominado escola é obrigado a realizar grandes percursos. Richard Neutra, em Corona School, apresenta salas com pátios de uso exclusivo e permitem o contato dos alunos com a natureza, inclusive durante o período de aula. Segundo Lamprecht, os pé direitos maiores que o convencional, adotados por Neutra, "decorriam (...) de sua observação sobre o processo de ensino-aprendizagem e o comportamento dos alunos em sala de aula, apoiados no estudo de documentos científicos da época, como aqueles que apontavam a necessidade das crianças de um volume de oxigênio duas ou três vezes maios do que um adulto."94

Figura 10| Interior e exterior das salas de aula. Fonte: ETSAVEGA. Disponível em: http://www.etsavega.net/dib ex/Neutra_Emerson-e.htm . Acessado dia 12 de novembro de 2015.

No partido determinado pelas portas dobráveis e de vidro é evidente a relação do exterior e interior das salas de aula e a possibilidade de múltiplas aulas. Podendo inclusive, o professor ministrar diferentes tipos de tarefa em uma mesmo período. Segundo Roberto Segre, nos projetos de Neutra "o caráter democrático do ensino era associado à presença da luz, do ar, da natureza e das atividades esportivas"95 Neutra acreditava que o contato com a natureza era importante para a formação das crianças, porém o que parece evidente é que a solução espacial encontrada por Neutra possibilitava a realização de procedimentos pedagógicos menos formais. O acesso ao exterior permitia o desenvolvimento de atividades pedagógicas mais dinâmicas, superando a ortodoxa e estática relação aluno/carteira 94 95

LAMPRECHT, 2000, p.80 apud NASCIMENTO, 2012. SEGRE, 2006 apud NASCIMENTO, 2012.


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―professor/quadro negro. A mesma dinâmica Neutra imprimiu no desenho do mobiliário, nunca fixo, permitindo que muitas atividades fossem desenvolvidas no pátio, extensão natural da sala de aula, e na possibilidade de eliminar o quadro negro, já que, segundo ele, as crianças teriam um melhor aprendizado próximo do chão, como os Homo sapiens o fizeram.96

Sendo a escola um lugar de participação, debate e construção de conhecimento, assim como levantou Mario Nascimento, conter projetos herméticos implica em reconhecer que os espaços devem permitir o controle de suas propriedades físicas (acústica, iluminação natural e artificial etc.) e a reorganização de seu layout de modo a poder abrigar novas atividades. Suas instalações também devem estar preparadas para o avanço tecnológico. [...] o arquiteto deve ter sensibilidade para perceber que os espaços escolares mudam. [...] A escola deve proporcionar aos alunos as condições necessárias para a sua integração numa sociedade em que a informação é transmitida de maneira quase instantânea, muitas vezes sem qualquer tipo de mediação. Deve também repensar seu papel e sua forma de atuação, num contexto em que a instituição escolar não mais será fonte principal de conhecimento ou o ponto central de uma rede, mas terá que conviver com inúmeras outras fontes e se validar diante delas, sem que haja necessariamente uma subordinação hierárquica, da mesma forma que ocorre com os rizomas. / A lição ensinada pelos pioneiros da Escola Nova continua adequada: a escola deve ser um lugar para a elaboração do conhecimento [...] A escola, acima de tudo, deve ser um espaço aberto para a participação, o debate e a construção de consensos. Sua arquitetura deve refletir isso" 97

3.3 Casa, Minha Casa "Em nossos lares temos esconderijos e cantinhos nos quais gostamos de nos aconchegar com conforto. Aconchegar-se pertence à fenomenologia do verbo habitar, e somente aqueles que aprenderam a fazê-lo conseguem habitar com intensidade"98 Em entrevista para o portal Arquitetura e Urbanismo Para Todos do CAU/BR, o arquiteto Décio Tozzi afirma para jornalista Paulo Markun: Fundamentalmente a arquitetura é o abrigo do homem.[...]Primeiramente você sente, depois lê racionalmente e percebe tudo que ela tem, que são os elementos fundamentais, vamos dizer, vitruvianos, a estabilidade, a funcionalidade e a beleza.99 Gaston Bachelard100 em A casa. Do porão ao sótão. O sentido da cabana"101,apresenta duas formas de imaginar a casa: Verticalmente (1): sótão / porão e por Centralidade (2): que "levará para o

96

LAMPRECHT, 2000 apud NASCIMENTO, 2012. NASCIMENTO, 2012. 98 BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1993, pg. 55. 99 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=2PpEIobIqUM Acesso: 01 de junho de 2015. 100 Gaston Bachelard definido por Arneide Bandeira CEMIN em Bachelard-imaginário e modernidade: ciência e imaginação. Bachelard é reconhecidamente um homem de ciência, seus textos epistemológicos fundamentamse nos dados das Ciências físicas e químicas. Homem de ciência, Filósofo da Ciência, que, entretanto, ao mesmo 97


sentido da cabana, onde a casa é imaginada com toda a simplicidade, primitividade e o aconchego de uma cabana. Representando a intimidade do refúgio, onde a solidão e lembranças viram lendas."102 Segundo o dicionário Aurélio, Habitar está relacionado a ocupar uma residência, residir. E Residir a acontecer, estar presente, achar-se. 103 Desse modo, a instituição de ensino de longa permanência, produto deste trabalho de conclusão, está intimamente ligada ao sentido da casa, abrigo do homem. A casa é o nosso primeiro mundo, nosso primeiro universo, como diz Bachelard ao descrever o cosmo da casa em A casa. Do porão ao sótão. O sentido da cabana"104. Ela "é o nosso canto no mundo.[...] abriga o devaneio, [...] protege o sonhador, [...] permite sonhar em paz" 105 ,ela seria o lugar primeiro do homem, o seu lugar de referência. Para Yu-fu Tuan "O espaço transforma-se em lugar à medida que adquire definição e significado"106, ou seja a partir do momento que se criam relações com ele."Quando o espaço nos é inteiramente familiar, torna-se lugar"107 Para Karina Lucena "Há uma forte identidade entre a pele nua e a sensação de um lar. A experiência do lar é essencialmente a experiência do calor íntimo. O espaço do aconchego em torno de uma lareira é o espaço da intimidade e do conforto máximos. Marcel Proust faz uma descrição poética de um desses espaços junto a lareira, que é sentido na pele: "É como uma alcova imaterial, uma caverna aconchegante esculpida no próprio cômodo, uma zona de clima quente com limites variáveis"108 [...] Lar e prazer da pele se tornam em uma sensação indissociável."109 Bachelard, em A poética do espaço, apresenta conceitos, devaneios sobre a concepção do abrigo a partir no ninho, como imagem poética ao abrigo, ao lar. O apelo à confiança cósmica no mundo nos afasta da interpretação sobre a real existência do "projetar-se do mundo", paradoxalmente o temos como refúgio absoluto, como casa onírica110, que se põe fiel a função do habitar.

tempo contribuiu de forma decisiva para uma Metafísica da Imaginação, uma Filosofia da Imaginação entendida enquanto poética, no sentido de poiésis, de criação. 101 BACHELARD, ibidem, pg. 24. 102 LUCENA, Karina de Castilhos. Uma fenomenologia da imaginação através do espaço. Disponível em: http://www.seer.ufrgs.br/NauLiteraria/article/viewFile/4896/2819 Acesso: 24 de fevereiro de 2015. 103 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini-Aurélio século XXI escolar: O minidicionário da língua portuguesa. 4ª edição. Coordenação: Margarida dos Anjos e Marina Baird Ferreira. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2001. 104 BACHELARD, ibidem, pg. 24. 105 BACHELARD, 1993 apud REIS-ALVES, Luiz Augusto dos. O conceito do Lugar. 8 de agosto de 2007. Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.087/225 Acesso: 20 de julho de 2015. 106 TUAN, Yi-fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. Tradução: Lívia de Oliveira. São Paulo: Difel,1983, pg 151 apud REIS-ALVES, 2007. 107 TUAN, Yi-fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. Tradução: Lívia de Oliveira. São Paulo: Difel,1983, pg 83 Apud REIS-ALVES, 2007. 108 PALLASMAA, Juhani. Os olhos da pele. Porto Alegre: Bookman, 2011. 109 LUCENA, 2007. 110 Casa onírica: Bachelard usa o termo para se referir ao estereótipo da casa acolhedora, que se faz incubada do mundo perverso.


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O devaneio sob imagens do ninho, do abrigo, nos remete a primitividade do refúgio, veemente associado ao bem estar. Bachelard, em A poética do espaço exemplifica o pensamento com a frase do pintor Vlaminck, que diz: "O bem estar que sinto diante do fogo, quando o mau tempo desencadeia, é totalmente animal." , justificando o porque do ser estar fadado ao instinto seguro de gostar de recolher-se ao seu canto e desse modo, referencia o pensamento às pinturas de Van Gogh inserida na tríade abrigo - refúgio - teto, observada em casas simples (imediatamente remetidas imagem repouso).

Figura 11| O ninho. Autor: João Sergio Barros. Fonte:Virtude-ag.com

"O ninho como toda imagem de repouso, de tranquilidade, associa-se imediatamente à imagem da casa simples. Da imagem do ninho à imagem da casa simples. Da imagem do ninho à imagem da casa, ou vice-versa, as passagens só se podem fazer sob o signo da simplicidade. Van Gogh, que pintou muitos ninhos e muitas choupanas, escreve a seu irmão: "A choupana com teto de palha me faz pensar no ninho de uma cambaxirra" Há para o olho do pintor, uma reduplicação do interesse se, ao pintar um ninho, ele sonha com a choupana; se ao pintar uma choupana ele sonha com um ninho."

Figura 12| Choupana em Cordeville, 1890 - Van Gogh


"De todas as virtudes do abrigo, o teto é aqui a testemunha dominante. Sob a cobertura do teto, as paredes são de barro. As aberturas são baixas. A choupana está colocada sobre a terra como um ninho sobre o campo. (...) Nossa casa, captada em seu poder de onirísmo, é um ninho no mundo. Nela vivemos com uma confiança nativa se de fato participamos, em nossos sonhos, da segurança da primeira morada. Para vivermos essa confiança tão profundamente integrada em nosso sono, não temos a necessidade de enumerar razões materiais de confiança. Tanto o ninho como a casa onírica e tanto a casa onírica como o ninho - se é que estamos na origem de nossos sonhos - não conhecem a hostilidade do mundo." Desse modo, a arquitetura está sujeita a ser "ninho", ser de todo modo refugio, e mesmo que paradoxalmente precária nos remeter a um devaneio de segurança, assim como extinto animal. O teto, a configuração da caverna, isolamento dos perigos oferecido de acordo com reação humana extintiva animal, conformam o pensamento traduzido por Victor Hugo em Notre Dame de Paris, explicitado no início do capítulo "O ninho", por Bachelard: Para Quasímodo, (...) a catedral fora sucessivamente "o ovo, o ninho, a casa, a pátria, o universo". "Quase se poderia dizer que ele havia tomado a forma dela, como o caracol toma a forma da concha. Era sua morada, sua toca, seu invólucro... Estava, por assim dizer, colado a ela como a tartaruga ao casco. A rugosa catedral era a sua carapaça."

Figura 13| Quasímodo

Figura 14| Notre Dame de Paris

Paradoxalmente, extraindo sensivelmente o conceito da realidade, o ninho é precário e no entanto desencadeia em nós um devaneio de segurança, vivemos uma espécie de ingenuidade. Este refúgio absoluto do mundo, representante da casa onírica nos contempla um aceno de confiança do mundo, quase que um apelo cósmico,portanto, sonhamos como fenomenólogos. Desse modo, "O mundo é o ninho do homem","a casa é uma das maiores forças de integração para os pensamentos, as lembranças e os sonhos do homem".111

111

BACHELARD, 1993; pg.23


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Para Norberg-Schulz, o habitar significa muito mais do que o abrigo, habitar é sinônimo do que ele chama de suporte existencial, que segundo ele seria o objetivo da arquitetura. É conferido ao homem através da relação entre este e o seu meio através da percepção e do simbolismo. Nós temos usado a palavra ‘habitar’ para indicar a relação total homem-meio. […] Quando o homem habita, ele está simultaneamente locado no espaço e exposto a um certo caráter ambiental. As duas funções psicológicas envolvidas, podem ser chamadas “orientação” e “identificação”. Para ganhar o suporte existencial o homem tem que ser capaz de orientar-se; ele tem que saber onde ele está. Mas também ele tem que identificar-se com o meio, isto é, ele tem que saber como ele está num certo 112 lugar

Segundo Fábia Alaene, "O orfanato, religioso, tinha uma rotina severa. Haviam horários para brincar e comer, por exemplo, além dos lugares definidos para cada atividade." Os espaços eram denominados e só podiam ser utilizados para as tarefas determinadas. O refeitório, por exemplo, diz Fábia, "tinha uma mesa enorme 113 e só era utilizado na hora das refeições, não podia ser utilizado fora disso".

A entrevistada revelou que durante o processo de adoção chegou a voltar para a instituição algumas vezes, quando tinha aproximadamente sete anos. Ela diz se recordar das salas, que eram escuras e sombrias. Os quartos eram pequenos e cheios. "Cada um tinha duas beliches. A sensação era que eles queriam entocar a gente.", diz Fábia ao se recordar da situação de organização ao qual eram submetidos. Apesar do zelo, a ex interna revela que as freiras apenas cuidavam das crianças e não distinguiam pelo histórico, situação ou idade, por exemplo. A sensação mais frustrante que sofria dentro daquela atmosfera, era a de abandono. "A gente não tinha perspectiva se ia ou não ficar no orfanato, rolava alguns boatos que se a gente completasse a maioridade íamos ser expulsos e virar meninos de rua, isso apavorava os internos mais velhos. Eu tive sorte de encontrar uma família bacana, que me acolheu e me deu uma base. Minha própria irmã não teve a mesma sorte, ficou com minha avó, mas acabou não se adaptando e se envolvendo com drogas, hoje não tenho mais contato com ela, ela tá em outro estado." Ela diz que o que faltava no orfanato era a sensação de um lar, de pertencimento e segurança. Para Alaene, a definição de lar está relacionada a construção de uma família, de laços com as pessoas e com o ambiente em que se situa, com o interior, como irmãos. Ela não se recorda da sua primeira casa, sabe que era em um ambiente hostil, provavelmente uma favela. Sempre que tem sonhos, volta para a casa no interior do estado de São Paulo, que viveu com sua mãe adotiva (que também faleceu) quando criança. Para Karina Lucena É sempre a primeira casa que está mais fortemente arraigada no inconsciente. Ela congela as lembranças da infância, tornando-a contínua. (...) Na casa natal descobre-se a função de habitar que será transplantada a todas as outras moradas, quando essa casa inicial já não mais existir.114

Assim sendo, o modo como a escola se materializa, a infraestrutura disponível tem importância fundamental no processo de aprendizagem. Uma escola que oferece padrões para facilitar o processo de aprendizado, podem melhorar o desempenho cognitivo dos alunos, além de tornar o ambiente escolar um local agradável. Será um estímulo a permanência na escola. 112

Noberg-Shulz apud REIS-ALVES, 2007. Entrevista realizada com Fábia integralmente em anexos. 114 LUCENA, 2007. 113


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"Eu confronto a cidade com meu corpo; minhas pernas medem o comprimento da arcada e a largura da praça; meus olhos fixos inconscientemente projetam meu corpo na fachada da catedral, onde ele perambula sobre molduras e curvas, sentindo o tamanho de recursos e projeções; meu peso encontra a massa da porta da catedral e minha mão agarra a maçaneta enquanto mergulho na escuridão do interior. Eu me experimento na cidade; a cidade existe por meio de minha experiência corporal. A cidade e meu corpo se complementam e se definem. Eu moro na cidade, e a cidade mora em mim." D


A FENOMENOLOGIA O conceito de fenomenologia tem origem por volta de 1900 com o filósofo Edmund Hussel, que desenvolve o raciocínio e abre caminho ao pensamento do espaço como precursor sensações. Em A fenomenologia, publicada em 1967, Jean-François Lyotard a define como estudo dos fenômenos, isto é, daquilo que aparece à consciência, daquilo que é dado (...) a própria coisa que se percebe, em que se pensa, de que se fala, evitando forjar hipóteses, tanto sobre o laço que une o fenômeno com o ser de que é o fenômeno, como sobre o laço que une com o Eu para quem é fenômeno.115 Na obra A poética do espaço de Gaston Bachelard, o autor estuda a imagem a partir da consciência individual e afirma que pelo conhecimento da imagem em sua origem, em sua essência e pureza através do espaço se pode chegar a fenomenologia da imaginação: "a imagem poética (...) não é causada por impulsos do passado, como afirmam os psicólogos e psicanalistas, pelo contrário, ela tem 'um ser próprio, um dinamismo próprio'".116 Ou seja, o pensamento bachelardiano não está restrito a uma disciplina, fundamenta-se em literatura, filosofia e psicologia. Este se mostra fundamental para o compreensão da apreensão da mente e do corpo no espaço. Bachelard então, apresenta uma investigação da imagem poética a partir na fenomenologia da imaginação, “estuda o fenômeno da imagem poética no momento em que ela emerge na consciência como um produto direto do coração, da alma, do ser do homem tomado na sua atualidade"117. Segundo Sueli Aparecida da Costa, fenomenólogos estudam as imagens, as novidades expressivas, a imaginação, fenômenos que transcendem a natureza humana.118 Desse modo, o estudo da fenomenologia neste trabalho de conclusão de curso busca revelar uma arquitetura para a educação do indivíduo, sendo o espaço o principal precursor de seu desenvolvimento cognitivo, sensorial e perceptivo. A fenomenologia estabelecida em seu inconsciente, de forma poética e imagética, trazida com as experiências no espaço, assim como fundamenta Bachelard em Os olhos da pele, serão o toque inconsciente na experiência da arte. Este espaço existencial, (desenvolvido através da instituição de ensino) durante o período de formação do indivíduo é tudo o que possui no mundo, visto que passa a maior parte, senão todo o dia, na instituição, desse modo a arquitetura fenômica, através de sua forma e materialidade como denominador de origem espacial sustenta o discurso de sensação, prazer e pertencimento, abordado pelos fenomenólogos e fazendo da arquitetura contributiva para a formação do estudante. De maneira sensitiva, com provocações de matéria, forma e espaço assume papel na conformação antropológica da sociedade.

115

LYOTARD, Jean-François. A fenomenologia. Lisboa: Edições 70, 1999, p.10. BACHELARD, op.cit. 117 BACHELARD, Gaston. A Poética do Espaço. In: Os Pensadores XXXVIII. 1. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1974, p.342 Apud COSTA, Sueli Aparecida da. A Poética Do Espaço. Labirinto. Disponível em: http://www.cei.unir.br/res9.html , acessado em 13 de janeiro de 2015 às 21:35. 118 COSTA, Sueli, op.cit. 116


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4.1 Arquitetura e sensação Juhani Pallasmaa119, em Os olhos da pele defende o sentido da arquitetura como precursora de sensações 120

É evidente que uma arquitetura "que intensifique a vida" deva provocar todos os sentidos simultaneamente e fundir nossa imagem de indivíduos com nossa experiência do mundo. A tarefa mental essencial da arquitetura é acomodar e integrar. A arquitetura articula a experiência de se fazer parte do mundo e reforça nossa sensação de realidade e identidade pessoal; ela não nos faz habitar 121 mundos de mera artificialidade e fantasia.

Sueli Costa e Cruz, no artigo As imagens da infância: Um Estudo sobre poesia e imaginação, sustentam a ideia de que a lembrança, poesia e imaginação vividos na infância permitem o devaneio a imagens poéticas, dos signos que marcaram a infância.122 Para Peter Zumthor Todos nós vivemos a arquitetura, mesmo antes de sequer conhecer a palavra arquitetura. As raízes do nosso entendimento arquitetônico encontram-se nas nossas primeiras vivências: o nosso quarto, a nossa casa, a nossa rua, a nossa aldeia, a nossa cidade, a nossa paisagem cedo as experimentamos de forma inconsciente, e mais tarde as comparamos com as paisagens, cidades e casas que se vieram juntar. As raízes do nosso entendimento arquitetônico encontram-se na nossa infância, na nossa juventude: encontram-se na nossa biografia. [...] A tarefa de projetar pretende desencadear este processo. 123 Ou seja, o trabalho do arquiteto está intimamente ligado ao processo de imersão em memórias antigas, reavivando imagens relacionadas a sua infância, e experiências mundanas, inclusive. Sobre o sentido da casa pela arquitetura, Eduardo de Almeida defende: [...] a casa tem que se relacionar cordialmente com seu habitante e harmoniosamente com o seu lugar (...) Se eu conseguisse uma arquitetura quase imperceptível, feita de sensações agradáveis, ficaria maravilhado. Porque quem habitasse aqueles espaços deveria neles encontrar possibilidade de um convívio digno e fraternal."124

EQUILIBRIUM

A arquitetura retratada no filme Equilibrium, do diretor Kurt Wimmer, reflete claramente o furto da epidemia sensorial da sociedade. Observando o comportamento ao qual a sociedade é submetida, nota-se a ausência/roubo de um corpo sensível.

119

JUHANI PALLASMAA é um dos mais renomados arquitetos e teóricos da arquitetura da Finlândia. Em todos os aspectos de sua atividade teórica e prática – que inclui obras de arquitetura, projeto gráfico, planejamento urbano e exposições ─ ele coloca uma ênfase consistente na importância da identidade humana, da experiência sensorial e da tatilidade. 120 PALLASMA, 2011; p.11 121 ibidem. 122 COSTA, Sueli Aparecida da; CRUZ, Antonio Donizeti da. As imagens da infância: Um Estudo sobre poesia e imaginação. Labirinto. Disponível em: http://www.cei.unir.br/artigo85.html, acessado em 14 de janeiro de 2015. 123 ZUMTHOR, Peter. Pensar a arquitetura. Barcelona: Ed. Gustavo Gili, 2009, pg.19. 124 ALMEIDA, Eduardo. Eduardo de Almeida. São Paulo: Romano Guerra Editora, 2006, contracapa.


A falta de percepção e noção de territorial é bem retratada: os edifícios e sua conformação no espaço indicam monumentalidade e o poder de uma ordem maior sob a nação. Há quase que uma insignificância da existência humana diante dos ambientes superdimensionados. É como se o mundo fosse abnegado da presença do homem, visto que é negado para ele.

Figura 16| Equilibrium. Residência dos Preston. Notase a arquitetura e indumentária sóbrios, opacos. Fonte:

Figura 15| Equilibrium. Residência dos Preston, sala 'de estar'. Nota-se a escala da edificação e ausência de mobília. Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/623 154/cinema-e-arquitetura-equilibrium 1jun15-17:32

Podemos notar nas cenas extraídas do filme o quanto a arquitetura se sobrepõe ao homem. A escala é monumental, no ambiente de trabalho e também nas residências, e inclusive as cores, são lívidas. Não há objetos desnecessários, não há espaço para o desencadeamento de sensações. O contato com o mundo exterior se dá pelo telão, que somente emite ordens do Estado. Figura 17|Preston recebe instruções por teleconferência. Fonte: https://filmescultuados.wordpress.com/tag/aventura/page/3/

A trama acontece num futuro distópico, nos primeiros anos do século XXI, após ocorrer a 3ª Guerra Mundial. Acreditando na capacidade de sentir ser a real fonte de crueldade entre os humanos, é criada uma ramificação da lei, o Clero Grammaton (caçam e punem os opressores da lei, além de destruir qualquer obra de arte ou tipo de recordações), com o propósito de erradicar a fonte, no intuito de evitar tensões sociais e uma 4ª Guerra Mundial. Toda violação da lei desencadeia em pena de morte. O Estado totalitário – Líbria, decreta que todos os cidadãos devem tomar diariamente Prozium, uma droga que nivela o nível emocional.


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Figura 18| Os edifícios, monumentais, apresentavam letreiros, com mensagens sobre como a sociedade deve

agir para estar de acordo com as leis da Líbria. Fonte: http://revellationline888.blogspot.com.br

Podemos notar em depoimento de Fernando Moreira, um pensamento contrário a este: De acordo com a tradição clássica da arquitetura, os detalhes deveriam expressar uma unidade que perpassa todo o edifício. Um coluna, por exemplo, serve como referência para todo o edifício, o que também vale para os próprios detalhes da coluna. Desconsiderando a escala, o detalhe de um edificio é crucial, porque ele é a redução de um conceito que agrega as partes e confere coerência a um edifício. Nas igrejas de Lewerentz, o tijolo maciço e grande produzido na região é esse elemento.125

4.2 Arquitetura Espacializante x Arquitetura Estéril De acordo com Pallasmaa Toda experiência comovente com a arquitetura é multissensorial; as características de espaço, matéria e escala são medidas igualmente por nossos olhos, nariz, pele, língua, esqueleto e músculos. A Arquitetura reforça a experiência existencial, nossa sensação de pertencer ao mundo, e essa é essencialmente uma experiência de reforço da identidade pessoal.126

Ou seja, a experiência da arquitetura está fundamentalmente conectada a sentimentos humanos fundamentais. A visão e tatilidade, por exemplo, quando não estimulados pela plasticidade podem se tornar distantes do sujeito, oferecendo pouco ao usuário. Segundo ele Uma obra de arquitetura não é experimentada como uma coletânea de imagens visuais isoladas, e sim em sua presença material e espiritual 125 126

MOREIRA, 2006. PALLASMAA, 2011; pg. 39

Figura 19| Sankt Petri Church - Klippan (1962 1966), Sigürd Lewerentz


totalmente corporificada. Uma obra de arquitetura incorpora e infunde estruturas tanto físicas quanto mentais. A frontalidade visual de um desenho de arquitetura desaparece na experiência real da edificação."127

JACQUES TATI Analogamente, no filme Mon Oncle (Meu Tio), de Jacques Tati, observa-se a disparidade de duas resultantes de princípios arquitetônicos. O filme mostra como o modernismo se reflete na sociedade da época, meados do século XX – Europa na reconstrução do pós-guerra. A criança, que percorre os dois mundos dá pistas sobre a compreensão destes espaços na escala do habitante. Mora no bairro da moda, em uma casa moderna desenhos puros, exagero por um otimismo futurista, e tem uma família moderna. Em contrapartida seu tio, Monsieur Hullot, vive na parte da cidade tradicional, em uma casa antiga.128

Figura 21| Casa Arpel. Fonte: http://ww w.vitruvius.com.br/revistas/read/resenha sonline/14.159/5466

Figura 20| Crianças brincam na rua. Bairro do Ms. Hullot. Fonte: http://fiteiro.zip.net/arch2005-0501_2005-05-31.html

Casal Arpel. Apesar do diálogo proposto pelos recortes da edificação e materiais selecionados, a disposição dos elementos provoca afastamento durante as atividades dispares. O jardim, meticulosamente desenhado, regrado, impossibilitado de receber qualquer atividade que não acompanhe sua programação em contraste com o quintal da casa de Hullot, o próprio bairro. As imagens de uma esfera sensorial aumentam o imaginário das outras modalidades de sentido. As imagens presenciais fazem emergir imagens da memória, das fantasias e dos sonhos. "[O] principal benefício de uma casa [é que] ela abriga nossos devaneios, a casa protege o sonhador, a casa permite 129 que ele sonhe em paz [...]

127

ibidem, pg. 42 Joanna Helm. "Cinema e Arquitetura: “Mon Oncle”" 15 May 2013. ArchDaily Brasil. Acessado 1 Jun 2015. <http://www.archdaily.com.br/43127/cinema-e-arquitetura-mon-oncle> 129 PALLASMAA, 2011, pg. 42 128


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ARQUITETURA DA FELICIDADE No segundo episódio da série Arquitetura da Felicidade, Gosto se discute, apresentado por Alain de Botton, são apresentados diferentes conceitos de beleza, o mais trivial deles é o exemplo das construções religiosas. De Botton visita um Mosteiro, um Igreja Islâmica e uma Protestante. No mosteiro de São Bernardo, Alain entrevista130 um monge e o questiona sobre como questões de estilo e design são levados a sério nos mosteiros. Na maior parte da história do cristianismo a ideia predominante também é a de que as construções podem ajudar a nos manter fiéis aos princípios da religião. A Igreja Católica investiu muito na decoração de igrejas e catedrais, acreditando que certas construções podem reorientar nossas almas, transformando-nos em pessoas diferentes e, quem sabe, melhores.

O monge revela que quando foi para a esta Igreja, se sentiu imediatamente à vontade, e embora tenha declarado que não é exatamente aconchegante, um dos motivos que o atraiu foi a simplicidade. Para ele esta é a sua verdadeira casa: Eu queria que não distraísse ou confundisse minha mente. Quando saio, sempre fico feliz em voltar. Saio sempre e anseio pela volta. Ao atravessar as portas para chegar ao claustro, em vez de sentir que entro num prédio, com paredes, tenho a sensação oposta, de verdadeira liberdade.

Alain conclui dizendo O reformador católico São Inácio escreveu: "Os fiéis devem tomar cuidado ao construir Igrejas, pois o que vemos com nossos olhos pode nos impressionar profundamente. Inúmeras informações podem ser estampadas em nossas mentes por meio de cores e linhas, numa fração de segundo". No pensamento católico, a bela arquitetura não era só um luxo, mas uma lição.

Ao visitar a Igreja Islâmica, revela que “No centro do pensamento islâmico, há uma crença de que visitar um belo prédio não é somente agradável, mas significa uma experiência direta e convincente de manifestação da fé.”. Assim como os católicos, acreditam que um prédio pode nos influenciar positivamente. Para o pensamento islâmico [...] um ambiente bonito pode torná-lo melhor, porque o que chamamos de belo é realmente uma manifestação material, num nível psicológico e moral, de bondade. Beleza é a bondade escrita na matéria. Ao olhar uma linda parede geométrica, você não vê apenas algo belo, mas está recebendo uma sutil aula de ética. Você está aprendendo a se tornar uma pessoa melhor. Em contraponto, com a ascensão da Igreja protestante emergiu um novo pensamento sobre o papel da arquitetura, que manifesta sua arquitetura apenas como meio de reunião dos fiéis. Para eles "o estado de sua alma não tem relação com onde você vive ou cultua. O que conta é o interior. O que importa é o contato com a palavra de Deus." Segundo reforma protestantes Calvino e Zwingli, pode-se encontrar Deus em qualquer lugar, não sendo necessário gastar dinheiro em adornos para as igrejas.

De Botton questiona uma praticante da Widford Trading State, em Chelmsford, leste da Inglaterra, sobre haver lugares que ajudam a entrar em contato com Deus através da Arquitetura: "...talvez nessas tubulações de aquecimento e ventilação, você olha para eles e não pensa em Deus, não se sente espiritualizado quando olha para aquilo. As vezes os tetos das catedrais deixam você no clima certo." 130

A entrevista foi transcrita por completo. Disponível em anexos.


Ela revela que o que importa é o que está dentro de nós. "É só fechar os olhos", diz ela. E ainda completa dizendo sobre as pessoas frequentam se sentirem aliviadas por não terem de cuidar de tudo: cadeiras, tapetes ou serem reverentes quando entram.

Figura 22| Widford Trading State, Chelmsford. in Arquitetura da Felicidade, episódio 2 - Gosto se discute. Alain de Botton

Figura 23| Catedral de Notre-Dame, Paris. Fonte: http://euterpe.blog.br/wp-content/uploads/2011/02/

Desse modo, é evidente perceber que a arquitetura não influencia os fiéis que estão a procura de uma resposta interior, um contato com Deus, abstraindo o mundo a sua volta, porém necessariamente um indivíduo protestante. Já a arquitetura islâmica ou católica, podemos categorizar como universais, no sentido que sua beleza é oferecida aos olhos de quaisquer que a frequentar. O belo não está associado ao divino necessariamente, mas a arquitetura que toca o usuário. A espacialidade, neste caso, está completamente submetida a questões perceptivas e sensoriais, desde o pé direito, à escolha de materiais. Assim como Alain de Botton diz que ao entrar em uma bela arquitetura, estamos tendo indiretamente uma aula de ética, podemos dizer que também, "A Vila Savoye, de Le Corbusier, nos faz acreditar na união da razão com a beleza, da ética com a estética." 131

Figura 24| Ville Savoye. in Arquitetura da Felicidade, episódio 2 - Gosto se discute. Alain de Botton

[...] concepção de arquitetura exige uma retórica, um discurso, consequentemente uma estética – que se expressará nesta construção – e que por seu caráter utilitário deverá abrigar legalidades humanas de cunho social e cultural que correspondam ao sentimento humano comum.132

Desse modo, podemos pensar que a arquitetura nasce de relações, do diálogo com o entorno, assim como uma obra de arte pode estar inserida num contexto determinado, ou seja, o edifício passa a 131

PALLASMAA, op. cit., pg. 51 PEREIRA, Leonardo Rodrigues. Construindo o pensar arquitetura. Resenhas Online, São Paulo, ano 07, n. 077.03, Vitruvius, maio 2008. Acesso: 29 de abril de 2015. 132


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expressar o entorno com que se relaciona e não apenas o sujeito. Segundo Puls: o edifício não expressa apenas o sujeito, mas também o outro com o qual ele se relaciona"133 Para Fábio Duarte, uma obra de arte pode se colocar para um diálogo com outras obras ou em um contexto determinado como as esculturas de Richard Serra, de Christo, ou a land art: 134

Figura 25| Escultura de Richard Serra: Promenade no Figura 26| Obra de Christo e Jeanne Claude, The Grand Palais de Paris. Gates .Fonte: http://imgarcade.com/1/the-gateschristo-and-jeanne-claude/

Figura 27| Zander Olsen. Land Art: álgama entre árvores e horizonte com uma fita branca nos troncos. Fonte: http://www.ideafixa.com/arte-fora-do-museu-e-nao-estamos-falando-de-street-art/ 133

DUARTE, Fábio. O que faz um edifício ser belo? Resenhas Online, São Paulo, ano 06, n. 062.02, Vitruvius, fev. 2007 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/06.062/3118>. 134 idem.


As obras se configuram num cenário de relação espontânea com o entorno. Nas imagens selecionadas podemos observar como Serra questiona a escala do indivíduo em consonância com a arquitetura, assim como Christo ao propor o preenchimento do vazio com o portal, provoca, com "o nada" um novo olhar para o percurso. Podemos observar que as obras não se sustentam por si só, se enriquecem na relação com o imediatismo do cenário proposto. Os artistas da Land Art fundiram a realidade da obra com aquela do mundo vivenciado; e, por fim, artistas como Richard Serra abordaram diretamente o corpo, bem como nossas experiências de horizontalidade e verticalidade, materialidade, gravidade e peso. 135

Segundo Duarte ...as edificações são a “única arte que comporta a satisfação das necessidades práticas dos indivíduos”. Não importam as dimensões ou as funções de um edifício – tampouco sua beleza, a utilidade lhe é uma característica inalienável, e aí reside um dos pontos críticos ao se pretender realizar ou julgar o belo na arquitetura. E ainda, distintamente de funções de um edifício – tampouco sua beleza, a utilidade lhe é uma característica inalienável, e aí reside um dos pontos críticos ao se pretender 136 realizar ou julgar o belo na arquitetura.

Steve Holl, no prefácio do livro Os olhos da pele, de Juhani Pallasma, afirma ter tido contato com a arquitetura de Pallasma e os espaços projetados proporcionarem sensações de som e odor de mesmo peso que suas imagens.137 Peter Zumthor em Pensar Arquitetura, no capitulo Uma intuição das coisas: À procura da arquitetura perdida revela sobre cozinha tia: "Ainda consigo sentir na minha mão a maçaneta do portão, esta peça de metal moldada como as costas de uma colher. Tocava nela quando entrava no jardim da minha tia. Esta maçaneta ainda hoje me parece um sinal especial de entrada num mundo de ambientes e cheiros diversos. Recordo o barulho do seixo sob os meus pés, o brilho suave da madeira de carvalho encerado nas escadas, oiço a porta de entrada pesada cair no trinco, corro ao longo do corredor sombrio e entro na cozinha, o único lugar realmente iluminado nesta casa. Apenas esta sala, assim me parece hoje, tinha um tecto que não desaparecia na penumbra; e as pequenas peças hexagonais do chão aos meus passos com uma dureza implacável. Do armário de cozinha irradia este estranho cheiro de tinta óleo. Tudo nesta cozinha era como nas cozinhas tradicionais costumava ser. Não havia nada de especial nela. Mas talvez esteja tão presente na minha memória como síntese de uma cozinha precisamente por ser de uma fora quase natural apenas cozinha. A atmosfera desta sala associou-se para sempre à minha imagem de cozinha." Para Bernard Berenson "quando experimentamos uma obra de arte, imaginamos um encontro físico genuíno por meio de "sensações correlacionadas a um objeto". As mais importantes dessas sensações ele chamou de "valores táteis". Na sua opinião, uma obra de arte autêntica simula nossas sensações idealizadas de toque, e esse estímulo intensifica a vida.138 Em Os olhos da pele, Juhani Pallasma revela uma preocupação com o desaparecimento de características sensoriais e sensuais nas artes e na arquitetura em detrimento da visão. Os olhos da 135

PALLSAMAA, op.cit. DUARTE, 2007. 137 PALLASMAA, op.cit. 138 ibidem, p.40 136


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pele, Juhani Pallasma faz uma espécie de check list dos perceptos sensoriais ao qual somos submetidos e avalia a forma com que a arquitetura percebe cada um dos sentidos na construção e o torna fenômeno. No capítulo "A importância das sombras", Pallasmaa diz o olho ser o órgão da distância e da separação em contraponto ao tato, que conota um sentido de proximidade, intimidade e afeição. Para ele "As sombras profundas e a escuridão são essenciais, pois elas reduzem a precisão da visão, tornam a profundidade e a distância ambíguas e convidam a visão periférica inconsciente e a fantasia tátil.".139 Segundo Juhani Pallasmaa, é necessário que o sentido da visão seja reprimido para que possamos pensar com clareza: "A imaginação e a fantasia são estimuladas pela luz fraca e pelas sombras." [...] a escuridão inspira e a iluminação expira a luz."140 ... a força extraordinária do foco de luz e sua presença nas pinturas de Caravaggio e Rembrandt surgem da profundidade da sombra na qual o protagonista está inserido, como um objeto precioso em um pano de fundo de veludo escuro, que absorve toda a luz. A sombra dá forma e vida ao objeto sob a luz. Ela também cria o ambiente no qual surgem as fantasias e os sonhos.141

Figura 28| Caravaggio. The Calling of Saint Matthew (1599-1699). Fonte: http://en.wikipedia.org/ wiki/Caravaggio#/media/File:The_Calling_of_Saint_Matt hew-Caravaggo_(1599-1600).jpg

Figura 29| Titus estudando. Fonte: http://artemazeh.blogspot.com.br/search?upd ated-max=2013-07-25T13:44:00-03:00&maxresults=9&reversepaginate=true&start=28&by-date=false

Também reforça sobre o uso indiscriminado de janelas, que segundo ele, são colocadas para a edificação simplesmente como a ausência de paredes. 139

ibidem, p.44 idem. 141 idem. 140


Observe [...] o uso das enormes janelas com caixilhos fixos [...] elas privam nossas edificações da intimidade, do efeito da sombra e da atmosfera. Os arquitetos do mundo todo têm se enganado nas proporções que têm usado nas grandes janelas com caixilhos fixos ou nas aberturas externas [...] Perdemos nosso senso de vida íntima e nos tornamos forçados a vidas públicas, essencialmente afastados de nossas casas142

Figura 30| Casa Gilardi — Luis Barragan. Fonte: http://blog.abilia.mx/seis-iconos-de-la-obra-de-luisbarragan/

Por outro lado, muitas vezes, a janela é um elo de ligação entre o interior e o exterior da edificação, no episódio 1 - A Moradia de Hoje, de Arquitetura da felicidade, De Botton revela sobre as janelas da sua casa de infância ser uma das maiores lembranças. Ela dava para o jardim, um elo ligação entre o exterior e interior. Figura 31| Janelas panorâmicas in Arquitetura da Felicidade,

episódio 1 - A Moradia de Hoje. Alain de Botton

142

Alejandro Ramirez Ugarte, "Interview with Luis Barragan" (1962), in Enrique X de Anda Alanis, Luis Barragan: Classico del Silencio, Collección Somosur (Bogota), 1989, p.242. apud PALLASMA, 2011, p.46


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"O som é onidirecional."143 revela Pallasmaa no capítulo "A intimidade acústica" de Os olhos da pele, para ele o som exerce poder sobre a imaginação: Cada prédio ou espaço tem seu som característico de intimidade ou monumentalidade, convite ou rejeição, hospitalidade ou hostilidade.Um espaço é tão entendido e apreciado por meio de seus ecos como por meio de sua forma visual, mas o produto mental da percepção geralmente permanece como uma experiência inconsciente de fundo."144 [...] O eco dos passos sobre uma rua pavimentada tem uma carga emocional, pois o som que reverbera nos muros do entorno nos põe em interação direta com o espaço; o som mede o espaço e torna sua escala compreensível. Acariciamos os limites do espaço com nossos ouvidos.145 [...] O eco de uma cidade da Renascença difere daquele da cidade Barroco. Os espaços abertos e amplos das ruas contemporâneas não devolvem os sons, e nos interiores das edificações atuais os 146 ecos absorvidos e censurados."

Seguindo a análise sensorial da arquitetura de acordo com nossos sentidos, Pallasma também disserta sobre espaços aromáticos. Frequentemente, a memória mais persistente de um espaço é seu cheiro.[...]Não consigo me lembrar da aparência da porta da casa da fazenda de meu avô quando eu era muito pequeno, mas lembro muito bem a resistência imposta por seu peso e a pátina de sua superfície de madeira marcada por décadas de uso, e me recordo especialmente do aroma de sua casa que atingia meu rosto como se fosse uma parede invisível por trás da porta. Cada moradia tem seu cheiro individual de lar. 147

Pallasma, em Os olhos da pele utiliza a cidade de Casares (ver Figura 32) como exemplo de cidade tátil. Para ele a cidade tátil é a cidade da intimidade e proximidade, em contraponto a cidade contemporânea, que segundo ele é a cidade dos olhos, do distanciamento e da exterioridade. Os materiais naturais ─ pedra, tijolo e madeira – deixam que nossa visão penetre em suas superfícies e permitem que nos convençamos da veracidade da matéria. Os materiais naturais expressam sua idade e história, além de nos contar suas origens e seu histórico de uso pelos humanos. Toda a matéria existe em um continuum temporal; a pátina do desgaste leva a experiência enriquecedora do tempo aos materiais da construção."148

Desse modo, a cidade, em sua conformação espacial nos oferece situações de aproximação com o campo sinestésico. Não só a disposição de telhados com texturas sentidas pelos

143

PALLASMA, 2011, p.47 ibidem, p.48 145 idem. 146 ibidem, p.48 147 ibidem, p.51 148 ibidem, p.30 144

Figura 32| Cidade de Casares, em uma colina do sul da Espanha. Fotografia de Juhani Pallasmaa. Fonte: Os olhos da pele. Juhani Pallasmaa. p.31


olhos ou o cheiro do oco de uma casa antiga nos revivará memórias. Para Pallasmaa, "A pele lê a textura, o peso, a densidade e a temperatura da matéria."149, ou seja, estamos a mercê do mundo sensível esterior, como receptáculos dessas informações. Assim como "A maçaneta da porta é o aperto de mãos do prédio."150 Nos conectando com o tempo e a tradição simplesmente pelo desencadeamento de observações de lembranças dado pelas impressões do toque, a cidade está posta como uma caixa de suscetíveis percepções a serem contempladas. Na figura abaixo, a obra de Frank Lloyd Wright, Falling Water revela como o edifício está inserido na natureza. Os diferentes planos, marcados por materiais de textura e volumetrias diferentes são recolhidos pela natureza, como se a ela sempre pertencessem. A natureza está na casa, assim como a casa pertence a natureza. A abstração dos elementos mostra como a arquitetura pode transformar a potencialidade de implantação de um edifício no contexto em que ela se insere. Em como a influência da implantação está arraigada no sentido de toque e pertencimento do observador.

Figura 33| Arquitetura cinestética e de texturas de Frank Lloyd Wright. Residência Edgard Kaufman (Fallingwater). Disponível em: http://portalarquitetonico.com.br/frank-lloyd-wright/ 04/05/2015 as 14h58

Assim como as janelas de Luis Barragán infestam o espaço contaminado pela dissipação das cores transformadas pela luz, segundo Pallasmaa "frequentemente evocam experiências orais. As superfícies deliciosamente coloridas de stucco lustro, revestimento extremamente polido de superfícies de madeira, também se oferecem à apreciação da língua."151 Para ele Há uma transferência sutil entre as experiências do tato e do paladar. A visão também se transfere ao tato; certas cores e detalhes delicados evocam sensações orais. Uma superfície de pedra polida de cor delicada é sentida subliminarmente pela língua. Nossa experiência sensorial do mundo se origina na sensação interna da boca, e o mundo tende a retornar às suas origens orais. A origem mais arcaica do 152 espaço de arquitetura é a cavidade oral.

149

ibidem, p.53 idem. 151 ibidem, p.56 152 idem. 150


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4.3 A Experiência do Corpo "A imagem do corpo... é profundamente afetada pelas experiências do tato e da orientação do início de nossas vidas. Nossas imagens visuais se desenvolvem posteriormente e, para que tenham significado, dependem de nossas experiências originais adquiridas tatilmente"153 Em Body, Memory, and Architecture os autores Kent C. Bloomer e Charles W. Moore afirmam que qualquer lugar poder ser lembrado, inclusive por produzir associações154, para eles "O que falta em nossas moradias de hoje são as transações potenciais entre corpo, imaginação e ambiente"155. O livro é um dos primeiros estudos a investigar o papel do corpo e dos sentidos na experimentação da arquitetura.156 Pode-se considerar a experiência escolar como decisiva na formação de imagens espaciais e sensoriais de uma criança, visto que esse é seu primeiro mundo longe do aconchego e segurança do lar. Para a Arquiteta Mayumi Lima "as atividades lúdicas, como a encenação e a simulação, ajudam a desenvolver o conhecimento sobre o mundo concreto e a realidade social"157, ou seja a presença de elementos lúdicos no ambiente de aprendizagem e desenvolvimento cognitivo é para tornar a escola uma extensão do lar. O arquiteto transforma o mundo sensível através da concepção do projeto. Sigürd Lewerentz para o projeto da Capela de São Pedro em Klippan A relocação do altar no centro da congregação sugere um retorno ao primitivo espírito da Igreja. De fato, as pessoas é que complementam este círculo ao se posicionarem ao redor do altar, ativando a função principal do edifício. Apesar da regularidade dos volumes, como bem notou Peter Blundell-Jones, não há, internamente, simetria, ordens, qualquer progressão axial ou sistema de poporção evidente.158 A penumbra existente no interior Figura 34| Igreja de São Pedro em Klippan. Autor: Arnout Fonk. contribui para esse senso de Disponível em: https://www.pinterest.com/pin/48364444745778 desnorteamento, e apenas uma 0617/ Acesso: 16 de novembro de 2015. 153

Kent C. Bloomer and Charles W. Moore, Body, Memory and Archtecture, Yale University Press (New Haven and London), 1977, p44. apud PALLASMA, 2011. 154 idem. 155 idem. 156 idem. 157 LIMA, Mayumi. Arquitetura e Educação,1995 apud NASCIMENTO, 2012. 158 WILSON, Colin St-John. Sigurd Lewerentz and the dilemma of the classical. In Perspecta v. 24 1988, p 60; BLUNDELL JONES, Peter. Dettagli rivelatori. In Spazio e Societá. vol. XIV, n.53, Jan-Mar, 1991, p.89. apud Moreira, Fernando Igrejas para homens: Sigürd Lewerentz em Klippan e Björkhagen. 07 de agosto de 2006. Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.075/328. Acesso: 12 de abril de 2015.


gentil inclinação ajuda a orientar o fiel para o altar. Após o altar, aparecem em sentido anti-horário o assento do padre, o púlpito e o órgão, mas esses não como parte de estrutura claramente definida, são como elementos soltos no espaço que tendem a se esvanecer na meia luz da igreja.159

A penumbra é o elemento criador do espaço. Podemos ver algo análogo na Koshino House, obra de Tadao Ando, a luz conforma a densidade do espaço e o materializa num jogo de profundidade, trazendo ao usuário noção perspectiva e relação entre as superfícies. Tadao Ando diz a luz ser a origem de tudo, um movimento vago e ininterrupto, que 160 continuamente reinventa o mundo.

Figura 35| Densidade do espaço, luz materializada, penumbra. Koshino House. Disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/01-54430/classicosda-arquitetura-casa-koshino-tadao-ando

A luz, a sombra, a matéria e as texturas projetadas em um edifício definem o comportamento do usuário. A definição entre o leito carroçável e a calçada esta posto por vinte centímetros. Qualquer praça poderia ser definida pela simples troca de pavimentação em seus limites ou por 2 centímetros de ser recorte acima dos demais níveis. Uma porta de duas folhas e quatro metros de altura não recebe o mesmo indivíduo que a porta padrão de dois metros e dez de altura por oitenta centímetros de largura, abrimos um abraço ao abrir aquela outra! Podemos compreender o conceito de PERCEPÇÃO, através do artigo de Pedro Engel161, Produzindo um corpo sensível. Algumas ideias para (re)pensar a aprendizagem da percepção na formação do arquiteto, postado no portal vitruvius em 09 de março de 2009, dedicado a compreensão da experiência do corpo espacializante. Tendo a arquitetura como continuidade à nossa corporeidade, ligada a experiência, a percepção não se limita à pratica visual, a aprendizagem da experiência corporal está ligada ao ambiente construído, ligada a natureza biológica, aos órgão sensíveis. Engel sustenta o discurso de o desenvolvimento da sensibilidade perceptiva estar atrelado a aprendizagem da percepção relacionado a experiência corporal com o espaço construído.

159

idem. Luce. Disponível em: vimeo.com/17407734?fb_ref=share_popup Acesso: 02 de fevereiro de 2015. 161 Pedro Engel, arquiteto formado pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2002. Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura (PROARQ) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde desenvolve dissertação sobre o tema do ensino de introdução à concepção arquitetônica nas escolas brasileiras. 160


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"... a percepção já não se limita mais a uma prática visual que se desenvolve no contato com a forma abstrata, em circunstância pré-arquitetônica, mas surge aliada à ideia de uma complexa corporeidade, pensada sempre a partir da experiência atual com o espaço." Merleau Ponty sustenta discurso arquitetura sensualista, (textos referentes à fenomenologia: Steven Holl, Pallasma, Alberto Pérez Comes) "onde a corporeidade aparece explorada nas suas múltiplas camadas sensíveis e é vista protagonizando falas em defesa de experiências não ordinárias com o ambiente construído."162 Para Pallasma, "a filosofia de Merleau-Ponty torna o corpo humano o centro do mundo das experiências. Ele afirmou de modo consciente, como resume Richard Kearney, que [é] por meio de nossos corpos, como centros vivos de intenções... que escolhemos nosso mundo e nosso mundo nos escolhe"163. Nas próprias palavras de Merleau-Ponty, "Nosso próprio corpo está no mundo, como o coração está em nosso organismo: ele mantém o espetáculo visível constantemente vivo, ele sopra vida para dentro e o sustenta de fora para dentro; juntos eles formam um sistema"164; e [a] experiência dos sentidos é instável e alheia à percepção natural, a qual alcançamos com todo nosso corpo de uma só vez e nos propicia um mundo de sentidos inter-relacionados"165. [Aalto e Steve Holl conversam sobre Merleau Ponty] "...sobre como os escritos de Merleau-Ponty podem ser interpretados em termos de sequências espaciais, texturas, materiais e luzes experimentados nas arquitetura." 166 "A arquitetura elabora e comunica ideias do confronto carnal do homem com o mundo por meio de "emoções plásticas"167. Na minha opinião, o mister da arquitetura é "tornar visível como o mundo nos toca", como Merleau-Ponty se referiu às pinturas de Cézanne.168" Os olhos da Pele p.43 Martin Heidegger aponta para a noção de espaço e experiência, num contexto de ambiente x lugar, contrapondo-se ao modelo do espaço cartesiano - matemático, transparente à razão - emergia a noção de um espaço da experiência, existencial. Ainda sobre corporeidade e percepção, Deleuze e Guatarri apontam para a produção de subjetividade quanto a recepção e tradução da materialidade. "Félix Guatarri propõe pensar um

162

ENGEL, Pedro. “Produzindo um corpo sensível. Algumas ideias para (re)pensar a aprendizagem da percepção na formação do arquiteto”, Vitruvius, 09 de março de 2009, disponível em (http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/09.106/67, acessado em 22 de fevereiro de 2015. 163 Kearney, Modern Movements in European Philosophy, p.74 apud PALLASMAA, 2011. 164 Maurice Merleau-Ponty, Phenomenology of Perception, Routledge (London), 1992, p.203 apud PALLASMAA, 2011. 165 Maurice Merleau-Ponty, Phenomenology of Perception, Routledge (London), 1992, p.225 apud PALLASMAA, 2011. 166 idem. 167 Le Corbusier, Towards a New Architecture, Architectural Press (London) and Frederick A. Praeger (New York), 1959, p. 164 apud PALLASMAA, 2011; p.43 168 Maurice Merleau-Ponty, Sense and Non-Sense, Northwestern University Press (Evanston), 1964, p 19. apud PALLASMAA,2011, p.43


folheado sincrônico de espaços heterogêneos, cogitando a existência de múltiplos espaços de virtualidade - portanto potenciais - que emergem em nossa relação corporal com o ambiente.”169 corporeidade - uma noção que acolhe a percepção (...) produção de subjetividade (...) subjetividade contrapõem-se a ideia de um sujeito pré-existente (...) O indivíduo está em permanente processo de subjetivação, do qual o seu corpo é ao mesmo tempo um agente produtor e um produto. A percepção, então, não é invariante, determinada exclusiva e completamente por sua organização fisiológica, mas faz parte, ela também, deste jogo dinâmico de produção.

Sendo assim, a transmissão de dados, que transpõe os organismos da realidade exterior para o interior do sujeito, materializa-se PERCEPÇÃO, ou seja a percepção, inegavelmente é subjetiva, portanto a aprendizagem da sensibilidade, do corpo no espaço se tratará absolutamente da produção de corpos sensíveis, porém, isto não quer dizer apreender a realidade de modo verdadeiro, linear. A gestalt está relacionada a teoria da percepção visual. Em Os olhos da pele, Pallasma discorre sobre o entendimento da arquitetura por termos visuais, estando a filosofia da pedagogia relacionada a construção de imagens visuais e tridimensionais do espaço. Em um contexto de argumentos Gestaltistas, preocupa-se com a construção da forma e com a esfera da visualidade na arquitetura. Experimentos empíricos de equilíbrio, contraste, harmonia, ritmo ou tensão, fundamentam a concepção e manipulação da forma. Desse modo, pensar a aprendizagem da produção de um corpo sensível está relacionada ao modo de exposição de um corpo a esferas de cunho estético, perceptivo, sensorial e espacial, portanto fenomenológico. Desse modo, podemos dizer que as pessoas nem sempre usarão os elementos projetados para a finalidade que se foi pré estabelecida ou ele será monofunção. A apropriação do espaço se dá de acordo com a necessidade e percepção do indivíduo. Como se pode observar na Figura 36, o indivíduo utiliza um elemento de delimitação da via como leito, mesmo havendo um banco em frente, teoricamente propício para sentar. Do outro lado da via as pessoas se apropriam da calçada, inclusive utilizando a escada de acesso como assento.

Figura 36| A experiência do corpo. Fonte: http://pt.slideshare.net/mackenzista2/her mann-hertzberger. Autor desconhecido.

Sander Troost, ao dissertar O estruturalismo holandês de Herman Hertzberger, no tópico 'A arquitetura dos detalhes' diz

169

ENGEL, 2009.


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A ênfase na especialidade dos projetos resultou numa preferência para materiais industriais de relativo baixo custo. Isso é inerente à filosofia do escritório, segundo a qual o dinheiro deveria ser gasto principalmente com a criação de espaços. A escolha para esses materiais também dá aos espaços uma característica pública, quase como espaços urbanos. Desse modo, podemos associar a espacialização de uma edificação a sua materialidade, ainda com Hertzberger como exemplo, podemos observar em suas obras um momento em que a materialização é tida como robusta, por Troost. Na Montessori, no Centraal Beheer e no Muziekcentrum Vredenburg os materiais são dispostos de forma modular, com blocos de concreto e de vidro, permitindo aos espaços uma textura urbana, incentivando ao usuário uma identificação com o espaço. A modulação permite a padronização do detalhamento e facilita adaptações no futuro.

Figura 37| Centraal Beheerr. Fonte: http://structuralisme.hetnieuweinstituut.nl/

Figura 38| Muziekcentrum Vredenburg. Fonte: http://floris-visman.nl/2012/06/15/invloedrijkarchitect-herman-hertzberger/

Paralelo ao desenvolvimento espacial da arquitetura, a materialização perdeu seu aspecto robusto nos projetos posteriores. Outros materiais como a madeira e o aço ganharam lugar na arquitetura do escritório. Na escola Montessori College Oost (1999), um jogo de pontes, escadas e passarelas em madeira e aço dá leveza e tangibilidade aos espaços internos. Uma comparação entre a área central dessa escola e os espaços da Montessori em Delft mostra claramente a evolução desse aspecto da arquitetura do Hertzberger.170

170

TROOST, Sander. O estruturalismo do holandês Herman Hertzberger. 2009. Disponível em: http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/188/artigo155940-2.aspx Acesso: 03 de julho de 2015.


Figura 39|Apollo Schools - Montessori School and Willemspark School Amsterdam. http://interessepublicocoletivogelca2011.blogspot.com.br/2011/04/herman-hertzbeger-edificiosescolares.html

Fonte:

Figura 40 e Figura 41 | Montessori College Osost Amsterdam. Fonte: http://interessepublicocoletivogelca2011. blogspot.com.br/2011/04/herman-hertzbeger-edificios-escolares.html


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A gravidade é medida pela sola dos pés; seguimos a densidade e a extura do chão através da sola de nossos pés. Ficar de pé e descalço sobre uma lisa rocha glacial junto ao mar, no pôr do sol, e sentir na pele o calor da pedra aquecida pelo sol é uma experiência muito revigorante que nos faz sentir parte 171 do ciclo eterno da natureza; ela nos faz sentir a respiração lenta da terra.

Figura 43| Arquitetura da geometria e gravidade de Louis Kahn. Instituto Salk. Fonte: http://www. archdaily.com.br/br/01-78716/classicos-da-arquiteturasalk-institute-louis-kahn Acesso: 15 de março de 2015. Autor desconhecido.

Figura 42| Mesquita Al-Irsyad - Indonésia. Arquiteto PT. Urbane Indonesia. Fonte: http://arqfolio .com.br/blog/igrejas-modernas-fantasticas/ Acesso: 17 de fevereiro de 2015. Autor desconhecido.

4.4 Espaço x Lugar [conceito, abstração, devaneio] "O lugar é a concreta manifestação do habitar humano"172 O espaço, analisado a partir do viés fenomenológico define conceitos e percepções balisadoras para a concepção do lugar arquitetônico projetado para o homem, significante apenas, e só apenas com sua habitada. O lugar, definido como espaço habitado por Luiz Augusto Reis-Alves em O conceito do lugar requer a presença do homem: 171 172

PALLASMAA, 2011; p.55 Noberg-Shulz apud REIS-ALVES, 2007.


O espaço ganha significado e valor em razão da simples presença do homem, seja para acomodá-lo fisicamente, como o seu lar, seja para servir como palco para as suas atividades. [...] O espaço só se torna um lugar no momento em que ele é ocupado pelo homem, física ou simbolicamente.

Ainda Para Luiz Reis-Alves o lugar é o espaço dotado de valor pelo homem.173 Segundo o Mini- Aurélio, de Buarque de Holanda, significa Lugar:174 1. Espaço ocupado; sítio. 2. Espaço. 3. Sítio ou ponto referido a um fato. 4. Esfera, ambiente. 5.Povoação, localidade, região ou país. 175

Zevi afirma que as quatro fachadas de um edifício constituem apenas a caixa dentro da qual está encerrada a jóia arquitetônica, isto é, o espaço. (...) protagonista da arquitetura o espaço, o vazio (...) considera o espaço e o vazio como sinônimos. Para ele, a arquitetura não provém de um conjunto de larguras, comprimentos e alturas dos elementos construtivos que encerram o espaço, mas precisamente deste vazio, do espaço encerrado, do espaço interior em que os homens andam e vivem."176

Portanto o valor do espaço como agente ativo do processo educacional está na transmissão da cultura e do conhecimento. Quanto ao papel simbólico dos edifícios escolares, ao longo da história da arquitetura, o surgimento e o desenvolvimento de novas tipologias sempre trouxe consigo uma nova linguagem e novos sinais que a identificassem. Pierre-Félix Guattari (1930-1992), psicoterapeuta francês citado por Márcia Rebouças Freire em artigo baseado em sua tese de doutorado lembra [...] que os edifícios e construções de todos os tipos são máquinas enunciadoras, portadoras de universos incorporais. Por isso, os arquitetos devem se engajar quanto ao gênero de subjetividade que ajudam a engendrar, uma vez que trabalham com algo que não é só espaço, mas também todas as dimensões ambíguas, inquietantes, até comprometedoras. É com isso que constrói seu objeto.177

Podemos reconhecer o valor e o sentido da arquitetura quando Escolano define o conceito de lugar internalizante para o indivíduo: Palavras como "invisível", "silencioso", "empírico", "subliminar" e "oculto" servem para definir a propriedade que o espaço escolar possui de induzir comportamentos e hábitos, de apresentar valores aos estudantes, ajudando a internalizá-los. O "currículo oculto" embutido na arquitetura escolar desempenha um importante papel "na formação das primeiras estruturas cognitivas dos alunos.178

Ou seja, o arquiteto, produtor do espaço, se torna o responsável pelo desencadeamento do desenvolvimento desta criança, desde o seu primeiro contato com o mundo. Segundo Rodrigo Martins Bryan, citado por Nascimento, para o educador, a escola se materializa pelo uso cotidiano, pela experimentação diária do lugar, pelas recordações e pela imaginação. E é a 173

REIS-ALVES, 2007. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini-Aurélio século XXI escolar: O minidicionário da língua portuguesa. 4ª edição. Coordenação: Margarida dos Anjos e Marina Baird Ferreira. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2001. 175 ZEVI, Bruno. Saber ver a arquitetura. Tradução: Maria Isabel Gaspar e Gaëtan Martins de Oliveira. 5ª edição. São Paulo, Martins Fontes, 1996. 176 REIS-ALVES, 2007. 177 Pierre-Félix Guattari, apud FREIRE, 2006 apud NASCIMENTO, 2012. 178 ESCOLANO, 2001, p.25 apud NASCIMENTO, 2012. 174


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arquitetura escolar que possibilita a vivência dessas experiências, por meio das configurações espaciais propostas pelos arquitetos: "a casa da escola é poesia solidificada. 179 "Quando entrei no magnífico espaço externo do Salk Institute, de Louis Kahn, em La Jolla, na Califórnia, seni uma tentação irresistível de caminhar diretamente até a parede de concreto e tocar a maciez aveludada e a temperatura de sua pele. Nossa pele acompanha a temperatura dos espaços com precisão infalível; a sombra fresca e revigorante de uma árvore ou o calor de um lugar ao sol que nos acaricia se tornam experiências de espaço e lugar."180 De modo semelhante, diz o antropólogo Augé: “Se um lugar pode se definir como identitário, relacional e histórico, um espaço que não pode se definir nem como identitário, nem como relacional, nem como histórico definirá um não-lugar”181 Augé defende a hipótese que a supermodernidade é produtora de não-lugares, e que eles “são diametralmente opostos ao lar, à residência, ao espaço personalizado. É representado pelos espaços públicos de rápida circulação, como aeroportos, rodoviárias, estações de metrô, e pelos meios de transporte – mas também pelas grandes cadeias de hotéis e supermercados”182 Na realidade, com a definição de Tuan acerca do Lugar,183 este pode existir em muitas escalas e modos de ser diferentes. No extremo de uma escala, uma sala de aula preferida é um lugar inserido num lugar maior que seria a sua escola, em outro, toda uma cidade. O geógrafo nos indica duas características válidas para o nosso estudo, as quais compõem o lugar, o valor a ele atribuído e o tempo, que seria o responsável pelas experiências vividas. Desse modo "A experiência da arquitetura traz o mundo para um contato extremamente íntimo com o corpo."184 Segundo Carolina Manuela, em seu trabalho de conclusão de curso O reflexo da Memória no espelho do Tempo: A captura da Atmosfera arquitetônica A imaginação "criação de imagens" completa a capacidade visual; as imagens mentais estão relacionadas com o inconsciente e com o consciente, elas partem do mundo sensível para adquirirem forma no inconsciente (momento subjetivo), para depois ganharem intensidade (momento objetivo), dessa forma os medos e anseios são projetados na nossa imaginação, e exteriorizados para a realidade, assim a imaginação, esta sempre associada às experiências subjetivas, por sua vez mostra a relação que fazemos entre visão e emoção. Para WINNICOTT A criança de dois, três e quatro anos vive simultaneamente em dois mundos. O mundo que compartilhamos com a crianças é também o seu próprio mundo imaginativo, de modo que ela está capacitada a senti-lo intensamente [...] quando elas chegam aos cinco ou seis anos, visto que, se tudo 179

BRYAN, 2008 apud NASCIMENTO, 2012. PALLASMAA, 2011. 181 AUGÉ, Marc. Não-lugares. Introdução a uma antropologia da supermodernidade. 3. ed., Coleção Travessia do século. Campinas, Papirus, 1994, p. 73.apud NASCIMENTO, 2012. 182 idem. 183 TUAN, Yi-fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. Tradução: Lívia de Oliveira. São Paulo: Difel,1983. apud NASCIMENTO, 2012. 184 PALLASMAA, 2011. 180


correr bem, nessa idade a criança começará a manifestar um interesse científico por essa coisa a que os adultos chamaram o mundo real. Este mundo real tem muito a oferecer, desde que a sua aceitação não signifique uma perda da realidade do mundo pessoal imaginativo ou interior. Para a criança pequena é legítimo que o mundo interior tanto esteja fora como dentro e, portanto, ingressemos no mundo imaginativo da criança quando participamos nas brincadeiras infantis ou 185 qualquer dos outros processos encontrados pelas experiências imaginativas da criança.

Em entrevista realizada com Ariane Queiroz, a estudante de arquitetura revela que em sua escola primária havia uma árvore implantada no canto do pátio, e durante um período, a árvore simbolizava a demarcação do clubinho. Não haviam banco em volta, nem balanço, nem uma 'casa da árvore', era apenas a árvore. "Quando o sinal do intervalo tocava, todas as turmas saiam correndo. Quem chegasse primeiro era o dono do clubinho naquele interalo. E nenhum outro grupo poderia usar. Por exemplo, se os meninos chegassem primeiro aquele dia, o clubinho pertenceria a eles", diz ela. Desse modo, o mundo imaginativo da criança está arraigado em percepções sensoriais, definidas pelo que o espaço tem a oferecer. Um espaço estéril, dificilmente despertaria o interesse e imaginação do usuário. Qualquer pedra pode se tornar um banco ou uma barreira militar contra golpes inimigos. Winnicott revela que "Para a criança com sorte, o mundo começa a conduzir-se de maneira tal que se conjuga com sua imaginação e, assim, o mundo é entretecido na própria contextura da imaginação (...).186

Em entrevistas realizadas com os três professores arquitetos, ponderou-se a relevância de se estudar arquitetura. Para os três, a formação acadêmica do arquiteto não está relacionada apenas ao conteúdo programático e as referências oportunas estabelecidas em aula. A formação do indivíduo arquiteto muito ter a ver com o despertar do olhar para as conformações espaciais. Marcelo Ursini diz que o próprio espaço pode provocar maneiras de utilização diferentes , não dá pra dominar isso[...] . de tentar tornar aquele espaço adequado para atividades humanas e eu acho q não são extensas, não existe atividades humanas especializadas, a não ser coisas de produção, por exemplo, um sala limpa de uma industria farmacêutica [...] mas na maior parte das atividades humanas os espaços podem ser intercambiados, podem receber outros significados, eu não me preocupo com isso, e não veria mal nenhum em q as pessoas usassem de outra maneira,mesmo porque o arquiteto não tem o domínio sobre isso. Ele faz, e as pessoas usam. No projeto do Centro Educacional Unificado Pimentas, Katchborian revela que a distribuição das salas por uma alameda, é uma espécie de recorte de vila, como se o corredor fosse a própria rua. Os mezaninos e os pátios rebaixadas reforçam a possibilidade de diferentes modos de interagir os Figura 43| CEU Pimentas—Biseli e Katchborian. Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-26029/c eu-pimentas-biselli-katchborian-arquitetos/2-27 185

WD.W. A criança e o seu mundo. 6a ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1982 pg. 77 186 ibidem, pg. 81


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alunos uns com os outros, desse modo o partido, é o corredor. "A medida que a cobertura se movimenta verticalmente, formando pé direitos diferente, com entradas de luz diferente, ora um material é transparente ora é opaco e também entradas de ventilação diferente. Os corredores simulam propriamente a rua, com o calçadão, área de lazer. Elas são dispostas de forma que o usuário 'desce' para a rua para usufruir do espaço", como uma espécie de cidadela. Para Carlos Ferrata a arquitetura influencia no desenvolvimento e comportamento humano, "Sem duvida nenhuma, numa cidade bonita as pessoas vivem mais felizes.". Segundo ele, a arquitetura é fenomenológica por natureza. A arquitetura é fundamentalmente espaço, e as pessoas sentem e vivem isso. A matéria é embebida de sensações visuais, táteis.. Desse modo, a influencia da arquitetura sob o ser humano está intimamente ligado ao modo que ela está posta e as possibilidades que oferece para o indivíduo, ao seu favor ou contraponto. A experiência do espaço é quase que espontânea, não é definida pela grafite de uma lapiseira e uma denominação do ambiente como: espaço para se divertir.


5 O BAIRRO


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À medida que o tempo perde sua duração e seu eco no passado primordial, o homem perde seu senso de individualidade como ser histórico e é ameaçado pelo "terror do tempo"E1. A arquitetura nos emancipa do abraço do presente e nos permite experimentar o fluxo lento e benéfico do tempo. As edificações e cidades são instrumentos e museus do tempo. Elas nos permitem ver e entender o passar da história e participar de ciclos temporais que ultrapassam nossas vidas individuais.E


O BAIRRO No sentido de resgatar o significado de um trecho do bairro Ipiranga, consolidado num contexto de identidade para o país, a escolha desta área, justifica-se por caracterizar a importância do povo paulistano no processo de independência brasileira, e pelo fato do local desde seu surgimento ter sua imagem manipulada para realçar essa importância. Assim o local todo funciona de forma cenográfica como monumento e local de memória para a cidade e para a história do país. A memória cultural de um lugar de importância e caráter histórico está empiricamente, em demasiado neste recorte, está relacionado a sua memória, gravados em sua arte e arquitetura.

5.1 Histórico O bairro do Ipiranga localiza-se no sudoeste do município, entre os córregos do Ipiranga e dos Meninos, na vertente esquerda do rio Tamanduateí.187 Os conhecimentos sobre a região do Ipiranga remontam a 1510, época em que João Ramalho habitava, juntamente com os índios Guaianazes, a área do Planalto Piratininga. Ao longo do tempo, doações de terras foram se sucedendo, e o local conhecido hoje como Ipiranga ganhou relativa ocupação “branca”. 188 O processo de ocupação do bairro do Ipiranga iniciou-se graças ao evento da proclamação da independência, em 1822. Antes a região fazia parte de um trecho do “Caminho do Mar” que ligava Santos a São Paulo, que existia no sentido da atual avenida D. Pedro até a Rua Lava Pés. Por volta de 1850, a terra de Piratininga havia recebido inúmeros moradores que a povoaram lentamente, formando uma comunidade de aproximadamente 1500 habitantes com 100 residências. Era uma zona rural até meados do séc. XIX (chácaras, sítios, casas pequenas e vendas para abastecer os tropeiros viajantes até a Serra do Mar). Em 1867 foi inaugurada a Estrada de Ferro Santos-Jundiaí (ver Figura 44), que facilitou esse percurso e ajudou na urbanização do lugar. O principal fato histórico ocorrido no Ipiranga foi a Proclamação da Independência do Brasil, em 7 de Setembro de 1822, por Dom Pedro I, às margens do riacho Ipiranga, fato este citado na primeira estrofe do Hino Nacional brasileiro. “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas De um povo heróico o brado retumbante, E o sol da liberdade, em raios fúlgidos, Brilhou no céu da pátria nesse instante.” Hino Nacional Brasileiro - Joaquim Osório Duque Estrada 187

Panfleto informativo distribuído pela prefeitura de São Paulo. Trilhas urbanas. Parque Independência: Museu Paulista & Museu de Zoologia. 2a edição revisada. 188 PONCIANO, Levino. “Bairros Paulistanos de A a Z”. Editora SENAC. São Paulo. 2002.


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De inegável simbolismo para a história do país, o Ipiranga foi o berço do nascimento do Brasil como pátria, tanto que seu nome se faz presente no primeiro verso do hino nacional. Mais que apenas o ideário de um bairro; o Ipiranga é parte integrante da memória do povo não só paulistano, mas do brasileiro. Desse modo, a forma de vida desenvolvida e as iniciativas de se ocupar o bairro em muito se relacionam com a intenção de inserir São Paulo como elemento de importância no processo de independência. Com seus barões do café, grandes empreendedores, portos e locomotivas a cidade lutou e alavancou o progresso do país. O Monumento à Independência foi o primeiro marco construído no local (1884) para evocar a ideia de independência. A sua construção trouxe muito movimento para o lugar, inclusive, o transporte de materiais como mármore e bronze que seriam usados na construção do monumento, aumentou muito as atividades da estrada de ferro. Assim o fato da independência ter ocorrido no local motivou a construção do monumento que intensificou Figura 44| Estrada de ferro que ligava com o o processo de ocupação do local. Antes haviam poucas litoral. Fonte: Museu Paulista, sem data. casas estabelecidas, e os operários que trabalharam na obra passaram a residir o local. A importância histórica do bairro e sua valorização atraíram famílias mais abastadas para o lugar, como o caso dos Jafet, vindos do Oriente Médio. Seu estabelecimento alavancou o desenvolvimento do bairro e mudou o caráter do lugar. Além deles outros imigrantes do Oriente Médio se mudaram para lá, além de italianos que foram trabalhar nas fábricas. No inicio do século XX, o bairro até então isolado e pouco habitado, passou por um processo de ocupação industrial através das olarias. Em 1905 já existiam 19 fábricas empregando quase 7mil operários. O local, principalmente o Alto do Ipiranga passou a ser ocupada por diversas vilas e comunidades operárias. A mais conhecida delas foi a UNILABOR, uma comunidade que se mantinha através da produção de móveis artesanais. Em 1947 é inaugurada a primeira pista da Via Anchieta, trazendo novas atividades e residências para diferentes classes sociais. Em 1950, o então chamado "Bairro Operário" despontava como um dos mais industrializados da cidade. A partir desta década, instalam-se as primeiras grandes montadoras, tais como a Ford, a Volksvagen e a Vemag, entre a Rua do Manifesto e a estação ferroviária. O bairro com todas as suas transformações tornou-se hoje um local de usos residenciais, comerciais e de serviços. Moradores afirmam que o bairro é um lugar bom de se morar e é, atualmente, bem servido de infra estrutura, além do fato de que “antigamente o rio Tamanduateí alagava e hoje isso não ocorre mais” (BARONE, Eduardo, 2013).


Eduardo Barone189 diz que mesmo tendo sido assaltado duas vezes considera o lugar seguro, e tem muito apego pelo bairro; afirma que a visão dos moradores do local é bem diferente da quem vai ao Ipiranga só para visitar, e que os moradores pouco utilizam os “bens”; mas mesmo assim acredita que o parque, o museu e o monumento contribuem para a identidade do local além de serem importantes referencias. Outro morador que não quis se identificar190 foi mais crítico dizendo que o acesso aos locais é complicado e tem que usar carro para realizar a maioria das coisas, e o local carece de serviços como farmácias e padarias. Mesmo assim concorda com sua importância histórica, afirmando que gente de todos os lugares visitam o bairro para conhecer mais da história e cultura do país. No bairro do Ipiranga tudo é voltado para evocar a ideia da independência (ver Figura 45), escolas, creches comércios carregam em seus nomes essa imagem. Isso tudo faz parte de uma imagem muito criada para locar São Paulo como elemento de importância no processo de emancipação do país. Em seu livro “Viagem pitoresca através do Brasil”191, Rugendas destacou que o povo que mais o impressionava era o paulistano, afirmando que esse constitui a parte essencial do Brasil e enfatizou que “o morador dessa cidade tem um forte espírito empreendedor e de independência, além de grande amor pela liberdade”; e que “os paulistanos são os melhores soldados do país”.

Figura 45| Colégio Dom Pedro: até mesmo os serviços remetem a ideia da independência. Fonte: Arquivo pessoal.

O nome "Ypiranga", do tupi Y-água, rio, e pi'ranga - vermelha, portanto "Rio Vermelho", é uma denominação que aparece em alguns dos primeiros documentos históricos brasileiros.192 Conforme o projeto 85/80 do vereador Almir Guimarães, o aniversário do bairro é comemorado em setembro. 193

189

BARONE, Eduardo, morador do Ipiranga há trinta anos. Entrevista II. . [18 de maio de 2013]. Entrevistadores: Eduardo Paribello e Priscila Soares. São Paulo, 2013. 1 arquivo .mp3 (21 min.). 190 TAL, Fulano de, trabalhador da região há vinte anos. [18 de maio de 2013]. Entrevistadores: Eduardo Paribello e Priscila Soares. São Paulo, 2013. 191 RUGENDAS, Moritz Johan. “Viagem pitoresca através do Brasil” Editora Edusp. Belo Horizonte/ São Paulo/ Itatiaia. 1989. In “Todos os centros da Paulicéia” PONCIANO, Levino. Editora SENAC. São Paulo, 2007. 192 Projeto de Lei n° 85/80 - Projeto de Lei para o dia do Ipiranga. Disponível em: < http://camaramunicipalsp.qaplaweb.com.br/iah/fulltext/projeto/PL0085-1980.pdf > Acesso: 29 de outubro de 2015. 193 Bairro do Ipiranga. Disponível em: < http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/ bibliotecas/bibliotecas_bairro/bibliotecas_m_z/robertosantos/index.php?p=3890 > Acesso: 29 de outubro de 2014.


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5.2 Patrimônio A arquitetura nos conecta com os mortos; por meio dos prédios conseguimos imaginar o alvoroço da cidade medieval e visualizar a procissão solene que se aproxima da catedral. O tempo da arquitetura é um tempo sob custódia; nas melhores edificações, o tempo se mantém perfeitamente imóvel. No salão hipostilo do Templo de Carnac, o tempo foi petrificado em um presente imóvel e eterno. Tempo e espaço estão eternamente intertravados nos espaços silenciosos entre suas colunas gigantescas; matéria, espaço e tempo se fundem em uma experiência elementar e singular: a sensação de 194 existir."

A reflexão crítica, com a abordagem de conceitos relativos a noções e desenvolvimentos cognitivos associados a arquitetura e a formação do indivíduo se estende a consciência de preservação do patrimônio cultural como um dos princípios fundamentais para sua progressão no espaço. A arquitetura não só localiza o sujeito no tempo, como o permite transpor de um elemento esteticamente apático para um ornamentado provocando ligação e sentido nos intervalos de tempo que antecedem ao seu. O enfraquecimento da experiência do tempo nos ambientes atuais tem efeitos mentais devastadores. Segundo as palavras do terapeuta norte-americano Gotthard Booth, "nada dá ao homem mais satisfação do que a participação em processos que ultrapassem o período de uma vida individual". Temos uma necessidade mental de sentir que estamos arraigados à continuidade do tempo, e no mundo feito pelo homem compete à arquitetura facilitar essa experiência.195

Considerando o Patrimônio Cultural como precursor de noção de memória histórica, social e construção de cultura, a necessidade de preservação e reinserção dessas edificações, como o Antigo Noviciado Nossa Senhora das Graças Irmãs Salesianas e Educandário Sagrada Família no meio urbano é de extrema importância para a reconstrução da imagem deste perímetro da cidade. Num contexto de memória e identidade, o bairro tem valor arquitetônico, ambiental, histórico e paisagístico reconhecido na Resolução196 06/07 e na 11/07, do CONPRESP, que considera de importância a Avenida Nazaré como elemento urbanístico de integração do Parque da Independência com o bairro do Ipiranga, sendo o Eixo Histórico-Urbanístico do Ipiranga o conjunto formado pelo Parque da Independência, Avenida Dom Pedro I, Avenida Nazaré, Instituições Assistenciais e de Ensino do Ipiranga e as antigas residências da família Jafet197 Portanto a realização que se tem da imagem do bairro, muito tem a ver com esta interação espacial – simbólica da conformação das edificações ao redor do monumental Museu Paulista, sendo indispensável sua introdução antes da apresentação das instituições. O Parque O parque do Ipiranga localiza-se no centro do bairro, e pode ser considerado como o coração e seu principal atrativo. Está dividido entre Parque da Independência, onde está localizado o Museu 194

PALLASMAA, 2011, p.49 ibidem, p.32 196 Resoluções apresentadas em 6.1 Análise das Condicionantes da Legislação 197 Resolução 11/07 195


Paulista, jardins franceses e bosque e a Praça Monumento com a Casa do Grito, ladeira, Cripta Imperial e Monumento à Independência. (Ver Figura 46)

Figura 46| Mapa do Parque da Independência e arredores. Fonte: Museu Paulista, sem data.

O bairro do Ipiranga existe apenas graças ao parque, monumento e Casa do Grito. Sua construção que trouxe ao local motivos para a ocupação. A ladeira existente no parque não é uma paisagem natural. Funciona como um “espaço construído” para se ter uma visão grandiosa desde o monumento até o museu; como se o parque todo fosse destinado a memória da Independência. Para a construção do parque e ladeira houve todo um processo de estudo topográfico, movimentação de terra e terraplanagem. Além disso, o curso do Rio Ipiranga foi desviado durante o processo, o que gera até hoje problemas de infiltração e umidade no local do monumento. O Museu Paulista da Universidade de São Paulo, vulgarmente conhecido como Museu do Ipiranga fica localizado no bairro do Ipiranga, no Parque da Independência, entre a Avenida Nazaré e a Rua dos Patriotas. O projeto do prédio surgiu por iniciativa de D. Pedro II, para ser um palácio em forma de monumento abrigando um colégio de artes; porém devido ao golpe e instituição da república no Brasil, esse uso nunca chegou a ser instaurado; como os republicanos eram totalmente contra a tudo que era ligado a ideia de Monarquia eles deram o projeto por concluído antes da obra estar completa (conforme o projeto original) para a inauguração de um museu 198. Os moradores tem um senso de apego com o bairro gerado a partir dessa relação e tem consciência da importância cultural do mesmo. O local é atrativo de pessoas de todos os lugares do país por seu caráter cultural e tradições históricas. O Ipiranga possui assim valores artísticos, culturais, arquitetônicos e históricos únicos, reconhecidos por todo o país, e por isso seu estudo e preservação como patrimônio são de razão plausível e fundamentada.

198

MARCOS, historiador, funcionário do museu paulista. [9 de março de 2013]. Entrevistadores: Juliana Andrade, Mayara Ribeiro e Priscila Soares. São Paulo, 2013.


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5.3 Instituições Filantrópicas O conjunto de edifícios existentes no Ipiranga compõe um sistema impossível de se desassociar. Remete a um modo de que veio se desenvolvendo com o passar dos anos até os dias atuais. Serviços, comércios, igrejas, escolas e instituições surgiram para suprir as necessidades diárias de quem ocupava a região, e são usadas até hoje. O grupo retrata a vida de todas as classes sociais moradoras do Ipiranga, desde as mais elitizadas, que investiram no crescimento do lugar, até as operarias, representantes da massa. Além de ser influente na forma com que os moradores atuais usam esses equipamentos, seja em momentos de lazer e cultura no parque, e no museu, de estudos, nos diversos centros acadêmicos; ou de moradia e trabalho. Esta arquitetura tem representatividade arquitetônica, cultural e histórica por demonstrar a atuação do tempo na vida cotidiana de um grupo social e é de justificável importância sua preservação e estudo. Segundo RES 06/2007, do CONPRESP, o conjunto dos imóveis dos antigos Institutos Assistenciais e de Ensino, constitui marco referencial para o bairro do Ipiranga e para a cidade, além de marcar a primeira ocupação do bairro em meados de 1890, na antiga colina e chácara do Ipiranga, situando-se nas áreas remanescentes de propriedade do Conde José Vicente de Azevedo, além do valor paisagístico e ambiental da vegetação existente nessas áreas. As entidades assistenciais localizadas próximas a Avenida Nazaré, no Ipiranga, da qual fazem parte o Educandário Sagrada Família, e o Antigo Noviciado Nossa Senhora das Graças Irmãs Salesianas (objetos de estudo), por exemplo, representam momentos importantes tanto no que diz respeito às práticas voltadas para a assistência, educação ou regeneração de menores, quanto ao processo de ocupação e expansão do bairro. A filantropia no Bairro Ipiranga tem raízes históricas com fundamentação no ideário católico da época. SegundoMaximo Barro e Roney Bacelli, a partir de 1900, Dr. Vicente de Azevedo aparece como dono de quase toda a área do atual bairro do Ipiranga.199 As obras realizadas pelo Conde José Vicente de Azevedo, destinadas a população carente, criou dinâmica ordenação social da realidade, particularizada neste ambiente católico, nos finais do século XIX. Acolheu especialmente espanhóis, e sírios libaneses; pode alojar uma realidade industrial que se tornou centro da motivação urbana.200 Não só expresso pela atuação do Conde Azevedo, nota-se várias iniciativas que reúnem investimentos culturais e assistenciais, para dar atendimento e educação em situações de carência, com vistas a uma clientela marginalizada, em termos da evolução urbana da cidade. A própria criação do Museu Paulista, marco fundamental da época, tinha a proposta de educaçãoinstrução e modernização, fazendo emergir um centro de cultura e as obras do Conde José de Azevedo reforçou o ideário moderno do bairro.201

199

BACELLI, Roney; BARRO, Maximo. Ipiranga. São Paulo, Secretaria Municipal de Cultura, 1974. (História dos bairros de São Paulo, v. 14). --- pg 15 e 16 200 GODOY, Marília; JUNIOR, Lincoln; VIEGAS, Rosemari, 2001. 201 idem.


O período histórico relativo às iniciativas de filantropia no bairro do Ipiranga, por iniciativa do Conde,abrange as últimas décadas do século XIX e primeiras do século XX. O caráter transacional deste período e o contexto dos incentivos rumo à consolidação da República coexistem com um quadro de situações políticas e sociais que dão sentido às iniciativas de cunho filantrópico, da época.202

A partir da São Paulo Railway SPR (1867), a cidade progressiva expandiu-se, não mais era um burgo administrativo ou estudantil. O progresso se deu graças à riqueza oriunda da cafeicultura em bairros como a Mooca, Belém, Ipiranga e Barra Funda, onde se instalaram os operários urbanos. A situação dos bairros operários era um celeiro fértil para agitações e reivindicações sociais. O numero de crianças desamparadas aumentou consideravelmente, e as instituições existentes não eram suficientes para amenizar a situação. Sendo as obras do Conde de significado prioritário para uma discussão atualizada de inclusão cultural no bairro do Ipiranga e também na cidade de São Paulo, os institutos de filantropia do período de transição do catolicismo luso-brasileiro para o ultramontano que, além da parte assistencial, preparava os internos profissionalmente, com o intuito de preparar e vivenciar novos tempos. Tais práticas, além dos fins da caridade cristã, apresentavam evidentes propósitos de deter o avanço dos “inimigos da Igreja”: protestantes, anarquistas e “livres pensadores”, coincidindo, assim, com os princípios da Igreja ultramontana.”desta forma as iniciativas de filantropia ficam circunscritas no espírito dominante do catolicismo romanizado.203

Figura 47| Conjunto de bens tombados no bairro Ipiranga. Fonte: Prefeitura de São Paulo, 2015.

202 203

idem. idem.


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Assim sendo, a análise histórica, arquitetônica, artística e cultural das instituição que conformam este cenário, focando nos usos e interações dos mesmos com seus usuários, consiste em compreender a atmosfera em que se insere as instituições selecionadas para objeto de estudo, o Educandário Sagrada Família, e o Antigo Noviciado Nossa Senhora das Graças Irmãs Salesianas, pois são de importância como referência maior na cidade no que diz respeito as suas memórias.

ANTIGO GRUPO ESCOLAR SÃO JOSÉ Endereço: Av. Nazaré, 900 esquina com Rua Moreira de Godói, 226. O Grupo Escolar nasceu da iniciativa do Conde José Vicente de Azevedo e da educadora Carolina 204 Ribeiro .Ramos de Azevedo em 1891 projeta uma escola (Figura 48), com terreno doado pelo

Conde, que se transforma na Escola São Marcos, logo depois Ernani Bicudo de Paula a transforma em faculdade de filosofia, ciências e letras, porém atualmente esse bem tombado encontra-se desocupado.205 A importância desse campus no Ipiranga foi tanta que os alunos participavam do Trote Solidário que integravam veteranos e calouros aos moradores do bairro. Entre as ações estava a distribuição de sacos de Figura 48| Antigo Grupo Escolar São José. lixo para os motoristas, revitalizavam praças e lavavam Fonte:Wikimedia.Acesso: 02 de junho de 2015. as escadarias do Monumento da Independência.206 Segundo Gal Oppido, em matéria para a Revista Folha, originalmente, o projeto de Ramos de Azevedo de 1891 não incluía grades, o que permitia que as crianças corressem para a rua depois das aulas.207 O edifício "em estilo eclético; é simétrico e tem características que remetem aos palacetes europeus, como telhados inclinados, janelas e sótãos unidos à platibanda. O acabamento é em tijolos à vista. O jardim é ornamentado por fonte e esculturas homenageando os fundadores." 208

204

SÃO PAULO (SP). Departamento do Patrimônio Histórico. Guia de bens culturais da cidade de São Paulo. São Paulo: Imprensa Oficial, 2012. 417p. Disponível em: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/patrimonio_historico/noticias/?p=13064 Acesso: 3 de maio de 2015. 205 PERALTO, Karla. “Patrimônio histórico do Ipiranga - tombados”. 2007. Disponível em http://www.independenciaoumorte.com.br/component/k2/item/40-patrim%C3%B4nio-hist%C3%B3rico-doipiranga-tombados.html?tmpl=component&print=1, acessado em 21 de maio de 2013. 206 “São Marcos se integra a comunidade” IPIRANGA NEWS, disponível em http://www.independenciaoumorte.com.br/component/k2/item/40-patrim%C3%B4nio-hist%C3%B3rico-doipiranga-tombados.html?tmpl=component&print=1, acessado em 21 de maio de 2013. 207 http://www1.folha.uol.com.br/revista/rf2005200704.htm Gal Oppido para revista folha 20/05/2007 Acesso: 07 de novembro de 2015. 208 SÃO PAULO (SP). Departamento do Patrimônio Histórico. Guia de bens culturais da cidade de São Paulo.


INSTITUTO CRISTÓVÃO COLOMBO Endereço: Rua Mário Vicente, 1108. O Instituto Cristovão Colombo (Figura 49) – ICC fundado em 1895 pelo Missionário Scalabriniano, Padre José Marchetti, acolhe crianças e oferece atividades religiosas, de educação e lazer. Como é uma entidade sem fins lucrativos, sobrevive de doações e tem parcerias com a clínica Infantil do Ipiranga.209 No início ministrou atividades como orfanato, e depois de um tempo passou a abrigar crianças, filhos de mães presidiárias, durante o período de cárcere.210 O tombamento também faz menção às arvores do bosque Figura 49| Instituto Cristóvão Colombo. Fonte: em frente a construção. Panoramio. Ro Forte. 23 de março de 2007.

SEMINÁRIO JOÃO XXIII Endereço: Rua Mário Vicente, 1108. O seminário de estilo neoclássico (Figura 50), com arcos e rosáceas, está ao lado da igreja que faz parte do conjunto de obras voltadas para padres e é hoje a Arquidiocese de São Paulo, onde está a ordem dos padres carlistas. Com a saída dos seminaristas por ordem do Vaticano na Figura 50| Cristóvão Colombo. Fonte: década de 60, o prédio que estaria desocupado seria Prefeitura de São Paulo. Departamento do ocupado pelo Instituto Educacional Paulopolitano Patrimônio Histórico. (fundação mantenedora – que garante funcionamento do UniFai) a fim de abrigar estudantes leigos, mas sem intuito de seguirem carreira religiosa. Logo depois foi fundada a FAI em 1970. A unidade da Avenida Nazaré, possui acervos e o arquivo Metropolitano da Mitra Arquidiocesana datada de 1700, pois nessa época as igrejas funcionavam como cartórios e por isso é muito visitada para pesquisas de documentos e registros sobre a história e famílias de imigrantes também processos contra escravos.211

209

PERALTO, 2007. Depoimento de moradora da região, durante visita de campo. 211 PERALTO, 2007. 210


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CLÍNICA INFANTIL DO IPIRANGA Endereço: Av. Nazaré, 1361. A Clínica (Figura 51), de gosto eclético com influência neoclássica, foi Fundada em 1932 por um pequeno grupo de senhoras católicas e pelo pediatra Augusto Gomes de Mattos.212

Segundo o Departamento do Patrimônio Histórico, dez anos depois o Conde José Vicente de Azevedo doou a área que foi construído o Hospital D. Antônio de Alvarenga da Clínica Infantil do Ipiranga. A clínica tornou-se referência no tratamento pediátrico da década de 40 e abrigando até hoje a clínica médica especializada no tratamento de crianças.213

Figura 51| Clínica Infantil do Ipiranga. Fonte: Arquivo Pessoal.

INSTITUTO PADRE CHICO (Instituto de Cegos Padre Chico) Endereço: Rua Moreira de Godoy 456, 572. Doando novamente terras Conde José de Azevedo pretendia construir o Hospital D. Antonio de Alvarenga, pois era provedor da Irmandade do Santíssimo Sacramento da Sé que seria responsável pela construção do edifício. Porém em 1912 o hospital acabou não acontecendo, porque Azevedo deixou a provedoria e seus sucessores tiveram uma outra ideia diferente que viria a ser o futuro Instituto Padre Chico (Figura 52) construído em 1929. A inauguração ocorreu por conta da população Figura 52| Instituto Padre Chico. Fonte: Arquivo Pessoal. voluntária que doou grandes quantias, além da cooperação da população local. Desde esse ano o Instituto está voltado a fornecer auxilio e educação voltada para cegos e exerce essa função de órgão educacional para deficientes visuais.214

212

SÃO PAULO (SP). Departamento do Patrimônio Histórico. Guia de bens culturais da cidade de São Paulo. São Paulo: Imprensa Oficial, 2012. 417p. disponível em: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/patrimonio_historico/noticias/?p=13064 213 “Tradição em tratamento humanizado” Hospital Dom Antônio de Alvarenga. Disponível em http://hdaa.org.br/nossa-historia/tradicao-em-tratamento-humanizado, acessado em 21 de maio de 2013. 214 PERALTO, 2007.


ANTIGO JUVENATO SANTÍSSIMO SACRAMENTO – UNESP Endereço: Rua Dom Luís Lasanha, 400 esquina com Av. Nazaré s/n. O juvenato construído em meados da década de 30 para educação católica de jovens não chegou a funcionar. Desde então abrigou várias instituições, sendo o atual uso o Instituto de Artes do Planalto, da Universidade Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) (Figura 53). Figura 53| Antigo Juvenato Santíssimo Sacramento. Fonte: Arquivo Pessoal.

INSTITUTO MARIA IMACULADA Endereço: Av. Nazaré, 711. O instituto (Figura 54) começou com a posse de uma casa em 1931 na Avenida Nazaré em São Paulo e em seguida as irmãs Maria Buen Sucesso, Maria Cesária, Maria de La Sagrada Família María del Sagrado Corasón, María de Santo Alonso, María Idoya e Mercedes de Jesus implantaram e fundaram o Instituto Maria Imaculada. Ainda assim, o internato necessitava de ampliação para acomodar as alunas internar e semi-internas que preenchiam as classes do curso primário. A partir dessa Figura 54| Instituto Maria Imaculada. Fonte: Arquivo Pessoal. necessidade o Conde José de Azevedo doou mais um terreno contíguo ao lote, possibilitando a construção de um edifício interligado com a instituição. A expansão ocorreu graças a donativos de heranças de benfeitores. Na época os residentes e universitárias preferiam instituições religiosas por conta do altruísmo e dedicação (moral) que lhes eram empregado. A Casa sempre propunha acolhimento carinhoso e com respeito das Irmãs que auxiliavam e compartilhavam dons religiosos.215

215

“Histórico” Colégio Maria Imaculada, disponível em http://www.colmariaimaculada.com.br/?secao=47235&categoria=47665&id_noticia=200575, acessado em 30 de maio de 2013.


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COLÉGIO SÃO FRANCISCO XAVIER Endereço: Rua Moreira e Costa, 531. Em terreno doado em 1929 pelo Conde José Vicente de Azevedo a instituição, o colégio (Figura 55) foi inaugurado em 1932 pelo jesuíta P. Guido del Toro, para a evangelização dos imigrantes japoneses, radicados no bairro do Ipiranga, em São Paulo.216 O Colégio continua a ser mantido pelo Instituto com educação infantil, ensino fundamental, ensino médio sob os cuidados da Senhora Diretora Irmã Carly Sabino da Cunha.217 Figura 55| Colégio São Francisco Xavier. Fonte: Arquivo Pessoal.

ANTIGO INTERNATO NOSSA SENHORA AUXILIADORA (Asilo de meninas órfãs e externato Nossa Senhora Auxiliadora)

Endereço: Rua Dom Luís Lasanha, 300 e Av. Nazaré, 810 O projeto de Ramos de Azevedo datado de 1896 foi executado pelo arquiteto Guilherme Küg junto com seu filho que terminou a obra tal qual abrigava anteriormente um asilo de meninas órfãs e externato, mas com o passar do tempo tornou-se um internato. A obra (Figura 56) tinha como finalidade ministrar instrução (ensino) primária, prendas domésticas e profissionais gratuitamente às órfãs desvalidas (de preferência filhas de famílias brasileiras, do contrário abastadas e carentes).218

Figura 56| Antigo Internato Nossa Senhora Auxiliadora. Vista do pátio de acesso lateral interno. Fonte: Autor.

O antigo asilo é semelhante ao Seminário das Educandas de Nossa Senhora da Glória que era único estabelecimento gratuito na Paulicéia em 1889. Quando faleciam, as órfãs eram sepultadas no Cemitério da Irmandade do Santíssimo Sacramento.

216

SÃO PAULO (SP). Departamento do Patrimônio Histórico. Guia de bens culturais da cidade de São Paulo. São Paulo: Imprensa Oficial, 2012. 417p. disponível em: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/patrimonio_historico/noticias/?p=13064 217 PERALTO, 2007. 218 Franceschini, Maria Angelina V. de A., et alli Conde José Vicente de Azevedo, sua vida e sua obra. São Paulo: Fundação Nossa Senhora Auxiliadora, do Ipiranga, 1996, 2ª Edição. apud GODOY, Marília. “Iniciativas locais de filantropia e inclusão social: um estudo do bairro do Ipiranga”.


A administração ficou aos cuidados das irmãs de Maria Auxiliadora (Salesianas) e a manutenção sob assistência da Irmandade do Santíssimo Sacramento da Sé. Em 1911 José de Azevedo administrou o lugar. Atualmente a manutenção é responsabilidade da Fundação Nossa Senhora Auxiliadora do Ipiranga219.

Figura 58| década 20/30. Vista aérea do Bairro nos anos 1920/30. Em primeiro plano o Museu do Ipiranga e ao fundo os prédios da Congregação. Fonte: FUNSAI

Figura 57| Foto vista do jardim interno. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura 59| Antigo Internato Nossa Senhora Auxiliadora. Portão Tombado. Fonte: Arquivo Pessoal. 219

FUNSAI. Disponível em http://www.funsai.org.br/instituidor/, acessado em 30 de maio de 2013.


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objetos de estudo ◦ ANTIGO NOVICIADO NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS IRMÃS SALESIANAS Endereço: Rua Clóvis Bueno de Azevedo 130, 176 esquina com Rua Dom Luís Lasanha, 176 A construção de 1924, do padre salesiano e engenheiro Domingos Delpiano em terreno doado pelo Conde José Vicente de Azevedo, era para noviços jesuítas. No edifício destacam-se o piso de ladrilhos hidráulicos, que formam mosaicos multicor, e as alamedas de vitrais.220

Figura 60| Antigo Noviciado Nossa Senhora da Graças Irmãs Salesianas. Fonte: Wikimedia. Acesso: 02 de junho de 2015.

◦ EDUCANDÁRIO SAGRADA FAMÍLIA (Congregação das Irmãzinhas de Imaculada Conceição) Endereço: Av. Nazaré, n°470 esquina com Rua Barão de Loreto, 182 - Ipiranga - São Paulo - SP SQL: 040.085.0012-1 Em 1895 Ramos de Azevedo doou o projeto do Educandário. Na Ala esquerda (ver Figura 61) hoje funciona a 2ª Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição e do lado direito, o prédio administrativo do Museu de Zoologia, localizado em frente ao Educandário.221 Ambos com traços neoclássicos são conectados pelo edifício da Capela da Sagrada Família onde está sepultado o corpo da Madre Paulina, canonizada em 2002, e é considerada marco fundamental do bem tombado.222

220

Figura 61| Educandário Sagrada Família. Fonte: Arquivo Pessoal.

PERALTO, 2007. Não é possível entrar no edifício. As informações foram legitimadas por funcionário do local durante visita de campo. 222 GODOY, Marília. “Iniciativas locais de filantropia e inclusão social: um estudo do bairro do Ipiranga”. Disponível em http://www.pesquisaemdebate.net/docs/pesquisaEmDebate_6/artigo_5.pdf, acessado em 29 de maio de 2013, as 15:20. 221


A instituição foi fundada em 1901, em terras doadas pelo C onde José Vicente de Azevedo. O Educandário, dirigido pela Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, cuidava de idosos e ofereciam proteção, amparo e educação às meninas pobres, descendentes de ex-escravos.223 De acordo com Tombamento realizado em maio de 2007 pelo CONPRESP, ficam preservadas a

configuração dos espaços construídos e dos vazios e as características arquitetônicas externas do conjunto: capela e edificações contíguas laterais. 224

6.4 Situação Atual Atualmente, o bairro Ipiranga é provavelmente uma das regiões urbanizadas com maior presença de arborização. O bairro apresenta pouca verticalização, sendo amplamente ocupado por residências unifamiliares. Hoje o Ipiranga é composto por 80 vilas, que abrigam uma população de cerca de 556.000 habitantes (Censo, 2000) de constituição heterogênea, já que o bairro, além de ter recebido muitos imigrantes, continua a receber migrantes. Berço da Independência do Brasil e referência histórica nacional, o Ipiranga possui um estoque arquitetônico muito característico e diversificado, que inclui instituições de ensino, museus, obras de arte, prédios tombados como patrimônio histórico e parques.225

O Museu Paulista é o principal precursor da memória histórica do bairro, estando fortemente atrelado a independência do país, além de, juntamente com o parque ser fortemente destacado como fonte de lazer, não só pelos moradores do bairro. Muitas vezes os edifícios comerciais e de serviços estão voltados para a Avenida Nazaré, ou afastadas das quadras residenciais, o que reforça a ideia de que as instituições não são contempladas durante o caminhar, são vistas pela janela de um automóvel a pelo menos 40km/h e por isso não estão arraigadas do mesmo modo que o Museu na memória das pessoas. Desse modo, o equipamento proposto, uma instituição de ensino de longa permanência, procura, além de provocar o indivíduo através arquitetura do edifício escolar, provocar o olhar, em escala urbana, para os bens tombados existentes na região, a maioria de cunho filantrópico, através de percursos, eixos de ligação e principalmente deixas para contemplação, como a devolutiva das calçadas ocupadas por galpões na Avenida Nazaré e o adensamento da vegetação, favorecendo o caminhar contemplativo.

223

SÃO PAULO (SP). Departamento do Patrimônio Histórico. Guia de bens culturais da cidade de São Paulo. São Paulo: Imprensa Oficial, 2012. 417p. Disponível em: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/patrimonio_historico/noticias/?p=13064 224 Verificar em 7.1 Análise das Condicionantes da Legislação. 225 Panfleto informativo distribuído pela prefeitura de São Paulo. Trilhas urbanas. Parque Independência: Museu Paulista & Museu de Zoologia. 2a edição revisada.


100 5 O BAIRRO


6 LOTE/ PERÍMETRO


102 6 LOTE/ PERÍMETRO

Segundo Escolano, "A localização da escola e suas relações com a ordem urbana das populações, o traçado arquitetônico do edifício, seus elementos simbólicos próprios ou incorporados e a decoração exterior e interior respondem a padrões culturais e pedagógicos que a criança internaliza e aprende"F1 Desse modo, a implantação da instituição passa a ter a mesma importância pedagógica e o mesmo potencial educativo que a proposta aquitetônica sua disposição, aberturas, percursos, ambientes contemplativos ou elementos simbólicos.F


O LOTE/ PERÍMETRO

Endereço: Perímetro entre a Avenida Nazaré, Rua Moreira de Godói, Rua Gama Lobo e Rua Barão de Loreto. Internas ao perímetro estão a Rua Clóvis Bueno de Azevedo e a Rua Moreira e Costa. Área total: Aproximadamente 96 mil m²

O perímetro de estudo está localizado no Ipiranga, bairro pertencente ao distrito paulistano também chamado Ipiranga, na zona sul do município de São Paulo. Dista aproximadamente 8 km226 quilômetros do marco zero da cidade, a Sé. Possui como logradouro de referência a Avenida Nazaré, um dos principais eixos de circulação do bairro além de dar acesso ao Museu Paulista (Museu do Ipiranga).

3

1

2 N

sem escala Figura 62| Imagem aérea com demarcação do perímetro de estudo e bens tombados. Fonte: Google Maps, acessado em 12 de abril de 2015 às 17h54. Demarcação realizada pelo autor.

Assim como apresentado no tópico 6.3 Instituições Filantrópicas do capílo 6 O BAIRRO, podemos observar a relaçãos dos edifícios históricos presente no bairro. As seis quadras pertencentes ao perímetro de estudo contam com três deles, o Educandário Sagrada Família (1), o Edifício do Noviciado Nossa Senhora das Graças Irmãs Salesianas (2) e o antigo Internato Nossa Senhora Auxiliadora (3). 226

Informação baseada em rota traçada pelo Google Maps. Consulta realizada em 24 de maio de 2015 às 8h28.


104 6 LOTE/ PERÍMETRO

N

sem escala Figura 63| Principais acessos ao perímetro de estudo. Fonte: Google Maps, acessado em 12 de abril de 2015 às 17h58. Demarcação realizada pelo autor.

O principal acesso se dá pela Av. Nazaré, lindeira ao perímetro, com ligação com as principais vias do bairro, Avenida Ricardo Jaffet (2) e Rua Bom Pastor (1). O acesso por transporte público é mais viável por ônibus ou trólebus, já que as estações de metrô mais próximas estão a pelo menos 1 quilômetro. Segundo Liliane Teixeira, estudante da região por pouco mais de um ano, entre 2006 e 2007: "Os ônibus elétricos, que eram o principal meio de transporte na região para os estudantes. Antes de ir estudar na GV eu nunca havia andando em um. Acompanhei a chegada da linha verde do metrô, o que causou algumas desapropriações, porém gerou um maior fluxo de pessoas para região." 227 Desta forma, além de o trólebus ser o principal meio de transporte para a região, ele faz parte do caráter, ajuda a compor a imagem e atmosfera local. Assim como para Liliane esta memória do bairro é bastante iminente, durante os levantamentos foi constatado o elevado número de cabeamento 227

Entrevista realizada em 22 de maio de 2015, às 22 horas, por meios eletrônicos. Conferir entrevista completa em anexos.


aéreo para o funcionamento do transporte, bastante impactante e considerável na paisagem. Possível de ser observado no tópico 6.3 Levantamento Fotográfico , deste capítulo.

N

sem escala Figura 64| Principais acessos ao perímetro de estudo. Fonte: Google Maps, acessado em 12 de abril de 2015 às

17h58. Demarcação realizada pelo autor. curva mestra nível 750,00 nível 755,00

nível 760,00 nível 765,00 nível 770,00

nível 775,00 nível 780,00 nível 785,00

A região onde se situa o perímetro da proposta de intervenção deste trabalho de conclusão de curso apresenta uma acidentada topografia, como é possível observar na figura acima. O relevo, apresenta uma declividade de 2% em média, determinante nas decisões de implantação, como será apresentado adiante, em 8 PROJETO.

6.1 Análise das Condicionantes da Legislação A análise está estruturada em quatro partes: 1) Plano Diretor Estratégico (13.885/04) que institui os Planos Regionais Estratégicos das Subprefeituras,no caso a do Ipiranga, e dispõe sobre o parcelamento, disciplina e ordena o Uso e Ocupação do Solo do Município de São Paulo; 2) Leis específicas sobre concessão de incentivos à implantação de escolas; 3) Código de obras e edificações e 4) Leis e Resoluções Patrimoniais.


106 6 LOTE/ PERÍMETRO

Plano Diretor Estratégico 13.885/04 O perímetro de estudo está inserido em duas zonas: ZM-2 (zona mista de média densidade) e ZM-3b (zona mista de alta densidade). As características de aproveitamento, dimensionamento e ocupação dos lotes podem ser visualizadas na

Zona Mista de Média Densidade Zona Mista de Alta Densidade - b

Tabela 1

Tabela 1, extraída do Quadro n°4, do PRE-IP (Plano Regional Estratégico da Subprefeitura do

Ipiranga). Figura 65| Mapa zoneamento. Fonte: Prefeitura de São Paulo.

Tabela 1| | Quadro 04 do Livro XIII anexo à Lei 13.885/04 - Características de Aproveitamento, Dimensionamento e Ocupação dos Lotes.

NOTAS: a) ver artigo 192 da Parte III desta lei, quanto à taxa de ocupação na ZM para edificações com até 12 metros de altura b) ver artigo 185 da Parte III desta lei, quanto ao recuo mínimo de frente em ZM3b, ZCPb, ZCLb e ZEIS c) ver artigo 186 da Parte III desta lei quanto aos recuos mínimos laterais e de fundos para edificação com altura superior a 6,00m

Art. 185. Não exigido recuo mínimo de frente quando no mínimo 50% da face de quadra em que se situa o imóvel esteja ocupada por edificações no alinhamento do logradouro.


Art. 186. Edificações, instalações ou equipamentos, a partir de 6 m de altura em relação ao perfil natural do terreno devem observar recuos laterais e de fundos, que podem ser escalonados e dimensionados de acordo com a fórmula a seguir, respeitado o mínimo de 3 m (três metros): R = (H - 6) ÷ 10 onde: R = recuos laterais e de fundos; H = altura da edificação em metros contados a partir do perfil natural do terreno. Art. 192. Nas zonas mistas - ZM, a taxa de ocupação poderá chegar a 0,70 quando o gabarito de altura da edificação não exceder 12,00 m (doze metros). [Artigos completos disponíveis em 12 ANEXOS.]

Segundo o Plano Diretor, em seu Artigo 155 - Classificam-se como usos não residenciais compatíveis nR1, as atividades de comércio varejista, de prestação de serviços, institucionais e industriais compostos pelos seguintes grupos de atividades: VI. serviços de educação: estabelecimentos destinados ao ensino pré-escolar ou à prestação de serviços de apoio aos estabelecimentos de ensino seriado e não seriado. 228 Está disponível no SISACOE (Sistema de Administração do código de obras) a seguinte tabela, com descrição das atividades pela categoria de uso: Tabela 2| Recorte com as categorias de uso e atividades de interesse para desenvolvimento do projeto.

SERVIÇOS DE EDUCAÇÃO (atividade) NR1 - 06 (categoria de uso) serviços educacionais biblioteca gibiteca brinquedoteca ed. pré-escolar parque infantil creche

ESTABELECIMENTO DE ENSINO SERIADO (atividade) NR2-05 (categoria de uso) estabelecimento ensino seriado ensino fundamental ensino médio de formação geral ensino médio de formação técnica e profissional

Desse modo, a Instituição de ensino, instalada em uma ZM, é compatível com as categorias de uso permitidas para a área Segundo o Plano Diretor Estratégico de 2004, estando em vias estruturais ou coletoras.229

228

Disponível em: http://www3.prefeitura.sp.gov.br/cadlem/secretarias/negocios_juridicos/cadlem/ integra.asp?alt=06102004L%20138850000 Acesso: 24 de maio de 2015. 229 Somente foi levantado o tipo das vias "Rua Gama Lobo, Rua Padre Marchetti e Rua Moreira e Costa", que são coletoras. As demais vias do perímetro "Av. Nazaré, Rua Clóvis Bueno de Azevedo, Rua Barão de Loreto, Rua Dom Luís Lasanha e Rua Moreira de Godói" não estão classificadas em quaisquer anexo integrante a lei 13.885/04 e também não foram revelados os tipos em visita ao setor de Cadastro da subprefeitura do Ipiranga. Segundo a classificação da CET, a "Av. Nazaré" seria classificada como Via Estrutural e as demais como Via Coletora. A tabela de consulta pode ser verificada em 12 ANEXOS. Segundo as evidências, foram considerados


108 6 LOTE/ PERÍMETRO

16.050/14 Embora o novo zoneamento para o vigente Plano Diretor Estratégico de São Paulo ainda não tenha saído, podemos notar algumas preocupações da 16.050230, publicada em junho de 2014, em favor dos serviços de educação. Em sua Seção II - Das Ações no Sistema de Equipamentos Urbanos e Sociais, Art. 305 - As ações prioritárias no Sistema de Equipamentos Urbanos e Sociais, determina: VII- expandir a rede de Centros de Educação Infantil - CEI e a rede de Escolas Municipais de Educação Infantil - EMEI, inclusive por meio da rede conveniada e outras modalidades de parcerias231 e, ainda, em seu Artigo 316, sobre ações prioritárias para alcanças os objetivos previstos para o Território de Interesse da Cultura e da Paisagem, determina: VI- desenvolver atividades escolares relacionadas com o estudo do meio em âmbito local, incluindo leituras do espaço urbano, do ambiente, da cultura e das artes 232 e, por último, em seu Artigo 369 - Até que seja revista a Lei n° 13.885, de 25 de agosto de 2004, aplicam-se inclusive nas áreas de influência dos eixos de estruturação da transformação urbana as disposições relativas a coeficientes, vagas para estacionamento e demais parâmetros estabelecidos nas leis: IV- 15.526, de 12 de janeiro de 2012, Lei de Escolas e Hospitais.

Segundo a última proposta de Revisão do Zoneamento do Município de São Paulo, consultado em 20 de outubro de 2015, o perímetro de estudo, inserido na Subprefeitura do Ipiranga está inserido em apenas uma zona: ZC (Zona Centralidade, que segundo o site Gestão Urbana, as zonas inseridas nestes territórios de qualificação "buscam a manutenção de usos não residenciais existentes, o fomento às atividades produtivas, a diversificação de usos ou o adensamento populacional moderado, a depender das diferentes localidades que constituem esses territórios."233 Figura 66| Mapa de estudo para nova proposta de zonemento, segundo lei 16.050/14. Fonte: Gestão Urbana.

Zona Centralidade

os estes dois tipos de via para o uso da lei. O Artigo 1° da Lei 15.526/12 confirma a possibilidade de instalação destes usos levantados. Verificar no tópico Leis Especificas deste capítulo. 230 O novo Plano Diretor, 16.050/14, precede ao 13.885/04, porém, até a presente data, 24 de maio de 2015, não foi publicado a revisão do zoneamento da cidade de São Paulo. 231 Disponível em: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/texto-da-lei-2/ Acesso: 24 de maio de 2015. 232 idem. 233 Disponível em: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/principal-zoneamento/ Acesso: 28 de outubro de 2015.


Embora tenham sido divulgados dados de estudo para a nova proposta de zoneamento da cidade de São Paulo, não foram divulgados os índices para a aplicação. Desse modo, considerando o maior esclarecimento que a Lei 13.885/04 oferece, principalmente pelo zonemanto, mesmo sendo a lei 16.050/14 em vigor, foram considerados seus atributos para a elaboração do projeto. As definições que contemplam a instituição de ensino no novo Plano Diretor, apenas complementam o raciocínio para o desenvolvimento do projeto. Leis específicas De acordo com a Lei 13.885/04, no Capítulo I - Das Disposições Transitórias, em seu Artigo 239. Ficam mantidas, até revisão por lei específica, as disposições das seguintes leis e as respectivas complementações introduzidas por legislação subsequente: [...] III. Lei n° 8.211, de 06.03.1975 - lei de escolas Em 2012 essa Lei foi revogada pela Lei 15.526, que dispõe sobre a concessão de incentivos à implantação de escolas. Abaixo está apresentado os artigos que são de interesse para o desenvolvimento do projeto deste trabalho de conclusão.

15.526/12 Em seu Artigo 1°, §1° define a categoria de uso não residencial nR1 para serviços de educação em estabelecimentos de educação infantil, e em seu §2° define a categoria de uso nR2 para estabelecimentos de ensino fundamental, desse modo, os usos levantados de acordo com o zoneamento e categorias de via estão de acordo. O Artigo 2°, §1° dispõe sobre o beneficiamento do coeficiente de aproveitamento básico poder ser acrescido na proporção da área arborizada quando a implantação do estabelecimento em áreas arborizadas tiver valor paisagístico ou ambiental reconhecido pela Prefeitura do Município de São Paulo. Segundo o Artigo 3° o coeficiente de aproveitamento máximo também poderá ser acrescido em 50% (cinquenta por cento) "para a zona de uso onde estiverem localizados, mediante outorga onerosa." Também favorecendo o potencial construtivo, de acordo com o Artigo 5°, se não houver prejuízo da taxa de permeabilidade exigida para a zona de uso, "o estabelecimento de ensino poderá beneficiarse do acréscimo de taxa de ocupação, totalizando até 70% (setenta por cento) ou do acréscimo de 30% (trinta por cento) no gabarito de altura exigida por lei para a zona de uso. Sobre estacionamento, o Artigo 14 dispõe: "...os estabelecimentos de ensino deverão destinar vagas de estacionamento dimensionadas, no mínimo, na proporção de 1 (uma) vaga para cada 75 (setenta e cinco) metros quadrados de área construída computável."

16.124/15


110 6 LOTE/ PERÍMETRO

A lei estabelece parâmetros específicos para a instalação, reforma e regularização de equipamentos públicos de educação, em complemento aos incentivos apontados pela lei 15.526/12. Art.1° Os equipamentos públicos de educação, [...] poderão ser instalados, reformados e regularizados em todo o território do Município de São Paulo, independe e da classificação viária do imóvel, inclusive nas ruas sem saída, nas áreas integrantes do sistema áreas verdes e nas áreas institucionais de loteamentos. Art.3° Aos equipamentos públicos de educação enquadrados nas subcategorias de uso nR1 e nR2 aplicam-se os seguintes parâmetros [...], independentemente da zona de uso e da classificação viária do imóvel em que se localizam: I - área construída computável máxima: sem restrição; II - horário de funcionamento: sem restrição; III - número máximo de funcionários por turno: sem restrição; IV - lotação máxima: sem restrição; V- (vetado) VI - área para embarque/desembarque: não exigida; VII - pátio para carga e descarga: não exigido.

Código de obras e edificações 3.427/34 Segundo Larissa Cataldi Cipolla "ainda em 1929, foi promulgada a lei municipal 3.427 - o "Código de Obras Arthur Saboya" é fruto da intenção de controlar a estética, higiene e segurança das edificações. Para alguns críticos da época, como o engenheiro Alexandre de Albuquerque, o Código não trouxe grande inovações, mas somente a compilação e leis já promulgadas"234 Podemos verificar na Parte Segunda - Das Construções para Fins Especiais, referências específicas sobre o espaço escolar e em alguns deles, é possível notar a preocupação dos legisladores com a salubridade das edificações235: VI) Escolas Art. 405.° - Nas escolas, os revestimentos das paredes internas devem ser executados, tanto quanto possível fôr, com matriaes permittindo lavagens frequentes. Paragrapho unico - A forma rectangular será a preferida para as salas de classe e os lados lados rectangulo guardarão relação de 2 para 3. Art.406.° - A iluminação das salas de classe será unilateral esquerda, tolerada, todavia, a bilateral esquerda-direita differencial. Paragrapho 1.° - A iluminação artificial preferida será a electrica, tolerada todavia, a illuminação a gaz ou a alcool, quando convenientemente estabelecidas. Paragrapo 2.° - As janellas das salas de classe serão abertas na altura de um metro, no minimo, sobre o soalho, e se approximarão do texto tanto quanto possivel. Art.407.° - As escolas terão um pavimento apenas, sempre que possivel, e porão de cincoenta centimetros, no minimo, convenientemente ventilado.

234

Disponível em: http://tede.mackenzie.com.br/tde_arquivos/2/TDE-2012-01-27T122554Z-1369/ Publico/Larissa%20Cataldi%20Cipolla.pdf 24/05/2014 23h08 235 Artigos disponíveis em: https://www.leismunicipais.com.br/SP/SAO.PAULO/LEI-3427-1929-SAO-PAULOSP.pdf Acesso: 24 de maio de 2015.


Art.408.° - As escadas das escolas serão de lanço reeto e seus degraus não terão mais de dezesseis centimetros de altura nem mesmo de vinte e oito de largura. Art.409.° - As dimensões das salas de classe serão proporcionaes ao numero de alumnos: estes não excederão de quarenta em cada sala e cada um disporá, no minimo, de um metro quadrado de superficie, quando duplas as carteiras, e de um metro e trinta e cinco decimetros quadrados, quando individuaes. Art.410.° - A superficie total das janellas de cada sala de classe corresponderá, no mínimo, á quinta parte da superficie do piso. Art.411.° - A altura minima das salas de classe será de quatro metros.

Nota-se uma preocupação quanto ao acabamento e dimensionamento da edificação, além da meticulosidade de normas que seriam relativas a decisões pedagógicas sobre a arquitetura na época. 11.228/92 O Código de Obras e Edificações ─ lei municipal 11.228/92 e o decreto municipal 32.329/92, que regulamenta a lei ─ atualmente em vigor na cidade de São Paulo estabelece condições para a edificação escolar, com especial atenção às questão do pátio: 16.2 - Prestação de serviços de educação As edificações destinadas à prestação de serviços de educação, até o nível do segundo grau, deverão prever áreas de recreação para a totalidade da população de alunos, [...], na proporção de: a) 1,00m2 (um metro quadrado) por aluno para recreação coberta; b) 2,00m2 (dois metros quadrados) por aluno para recreação descoberta. Podemos notar a recorrente exigência de uma área mínima para o pátio, notadamente relacionado a salubridade da edificação. O código atual para o projeto de edificações escolares também exige o atendimento de um desnível máximo para enfrentamento dos alunos: 4,5 metros para creches, escolas maternais e pré-escolas e 7,5 metros para ensino fundamental. 236

Leis e Resoluções Patrimoniais Lei 10.032/85 A Lei n° 10.032 de 27 de dezembro de 1985 alterada pela Lei n°10.236 de 16 de dezembro de 1986, que dispõe sobre a criação do CONPRESP (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Hisórico, Cultural e Ambielta de São Paulo) define em seu Artigo 7° poder ser objeto de "tombamento total ou parcial de bens móveis e imóveis, de propriedade pública ou particular existentes em seu território que, pelo seu valor cultural, histórico, artístico, arquitetônico, ecológico e hídrico, ficam sob a especial proteção do Poder Público Municipal." e esclarece em seu Artigo 20 que "Em nenhuma circunstância o bem tombado poderá ser destruído, demolido ou mutilado." 237

236 237

Disponível em Código de obras e edificações. Lei 11.228/92 (Lei n° 10.032 de 27 de dezembro de 1985 alterada pela Lei n°10.236 de 16 de dezembro de 1986)


112 6 LOTE/ PERÍMETRO

Resolução n° 06/CONPRESP/2007 Segundo republicação da resolução n° 06/2007238, publicada no DOC dia 11 de maio de 2007, página 18, o CONPRESP resolve tombar 12 imóveis remanescentes dos Antigos Institutos Assistenciais e de Ensino, considerando a necessidade de resgatar o significado destas instituições para o bairro do Ipiranga; Em seu Art.1° os apresenta: "1- Educandário Sagrada Família Congregação das Irmãzinhas de Imaculada Conceição. Avenida Nazaré, 470 com Rua Barão de Loreto, 182. Setor 040, Quadra 085, Lotes 0011, 0012 e 0013. a) Preservação das características arquitetônicas externas do conjunto constituído pela Capela e suas edificações contíguas laterais; b) Preservação da configuração espacial determinada pela relação entre o conjunto edificado e jardins e passeios, tais como se encontram atualmente.

[...] 3- Antigo Noviciado Nossa Senhora das Graças Irmãs Salesianas Rua Clóvis Bueno de Azevedo 130, 176 e Rua Dom Luís Lasanha, 176. Setor 040, Quadra 104, Lote 0001. a) Preservação das características arquitetônicas externas da edificação existente, bem como do muro e gradis de fecho na divisa do lote para Rua Clóvis Bueno de Azevedo; b) Preservação da configuração espacial determinada pela relação entre edificação, jardins, passeios e pátio interno, tais como se encontram atualmente; c) Preservação das áreas e elementos arquitetônicos internos que mantêm a integridade de suas características, situados no saguão de entrada e corredor de circulação do pavimento térreo, incluindo as escadas de acesso ao pavimento superior."

Resolução n° 11/CONPRESP/2007 A Resolução regulamenta: A área envoltória de proteção do conjunto de bens tombados constituído pelo Parque da independência, e pelas antigas residências da Familia Jafet e Instituições Assistenciais e de Ensino, situado no bairro do Ipiranga, Subprefeitura do Ipiranga239 O Artigo 2° da Resolução, reafirma o também Artigo 2° da Resolução 06/07:

238 239

As considerações da resolução podem ser verificadas em 5.3 Instituições Filantrópicas Artigo 1° da resolução 11/07


“Ficam estabelecidos os seguintes gabaritos de altura máximos para as quadras que formam a área envoltória regulamentada, medidos a partir do ponto médio da testada do lote até o ponto mais alto da edificação, incluindo cumeeira, caixa d’água e/ou outros elementos: Tabela 3| Gabaritos estipulados para as quadras de intervenção. Fonte: Res11/07

Setor Quadra Lotes Gabarito de Altura Máximo (m) 040 085 Todos 10,00m 040 093 Todos 10,00m 040 094 Todos 10,00m 040 105 Todos 10,00m 040 115 Todos 10,00m Em seu Parágrafo Segundo, neste mesmo artigo, os recuos são definidos: “Para os demais lotes das quadras da área envoltória regulamentada, os recuos serão aqueles estabelecidos na Legislação de Uso e Ocupação do Solo vigente. (verificado em

Tabela 1)

Artigo 4° - Qualquer alteração na vegetação, especialmente arbórea, existente nos lotes e logradouros da área envoltória definida no Artigo 1° deverá ser analisada pelo DPH e autorizada pelo CONPRESP. Artigo 5° - Os projetos urbanísticos e demais interferências físicas a serem implantadas nos logradouros e áreas verdes incluídos na área envoltória definida no Artigo 1° deverão ser analisados pelo DPH e autorizados pelo CONPRESP.


114 6 LOTE/ PERÍMETRO

6.2 Investigação da Área O levantamento in loco de características da área é apresentado por mapas temáticos: cheios e vazios, uso do solo, gabarito das edificações, circulação, muros, vegetação e mobiliários existentes. Os mapas não são exatamente fiéis a quantidade de postes, placas ou pavimentos de um edifício, a contabilização foi realizada de acordo com a percepção durantes as visitas no bairro. Os mapas sobrepostos revelam a segmentação das instituições em relação ao bairro, principalmente pelo fato de estarem muradas, inibindo o pedestre do caminhar contemplativo. Apesar do caráter residencial da área, não há supermercados, farmácias ou padarias nas proximidades, é necessário um deslocamento até a Av. Ricardo Jaffet, por exemplo, onde se concentram supermercados, em algumas esquinas, há incidências de mercearias, ou ainda, na Avenida Nazaré, restaurantes. Embora o bairro seja bastante arborizado, não há praças. A área pública, de lazer, mais próxima é o Parque da Independência, bastante utilizada pelos moradores locais, como relata Eduardo Barone em entrevista, morador do bairro há trinta anos: "Todos dias de manhã vou ao parque fazer caminhada. Às vezes ando nas pistas do bosque, que ficam na parte de cima do parque, e às vezes ando pela ladeira mesmo [...] vou subindo até chegar no bosque e depois saio e dou uma volta pelos arredores do parque,e vou caminhando pelo bairro. Eu ando em média uma hora, uma hora e meia por dia. É gostoso aqui, é um bairro tranquilo. [...] Eu reconheço as pessoas que frequentam também no mesmo horário, de manhã no parque, por exemplo é cheio de idoso passeando com cachorro, tem mãe também ou babá levando criança, é bacana."240 Desse modo, assim como para o residente que não vai para a rua com o intuito de habitá-la, fica o bairro sendo um local de passagem, de conexões e fluxos, mobilizado pelo automóvel. Os elementos históricos presentes no perímetro não são vivenciados ou mesmo reconhecidos para estes que "passam", sendo o bairro, assim como abordado no capítulo 5 O BAIRRO, um local de importância histórica, de formação de identidade para o país, mas não reconhecido em sua essência.

240

Depoimento de Eduardo Barone. [18 de maio de 2013]. Entrevistadores: Eduardo Paribello e Priscila Soares. São Paulo, 2013.


Figura 67| Levantamento local da รกrea de estudo. Cheios e vazios. Fonte: Autor.


116 6 LOTE/ PERÍMETRO


Figura 68| Levantamento local da área de estudo. Uso e ocupação do solo. Fonte: Autor.


118 6 LOTE/ PERÍMETRO


Figura 69| Levantamento local da รกrea de estudo. Gabarito. Fonte: Autor.


120 6 LOTE/ PERÍMETRO


Figura 70| Levantamento local da área de estudo. Vegetação, mobiliário urbano, circulação. Fonte: Autor.


122 6 LOTE/ PERÍMETRO


Figura 71| Levantamento local da área de estudo. Demolição. Fonte: Autor.


124 6 LOTE/ PERÍMETRO


Figura 72| Base. Fonte: Autor.


126 6 LOTE/ PERÍMETRO

6.3 Levantamento Fotográfico O levantamento fotográfico foi realizado em dia de semana útil e dias de final de semana. Notou-se uma grande demanda para estacionamento durante a semana, grandes quadras muradas, cabeamento elétrico bem acentuado e vegetação densa na maior parte do percurso.

Figura 73| Mapa referencial das fotografias levantadas durante as visitas de campo. Desenvolvido pelo autor.

AVENIDA NAZARÉ

Figura Levantamento 1| Edifícios de serviços. Avenida Nazaré, esquina com Rua Barão de Loreto. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo pessoal.

Figura Levantamento 2| Concessionária. Avenida Nazaré esquina com Rua Padre Marchetti. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo pessoal.


Figura Levantamento 3| Educandário Sagrada Família. Avenida Nazaré. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo pessoal.

Figura Levantamento 4| Educandário Sagrada Família. Avenida Nazaré. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo pessoal.

Figura Levantamento 5| Educandário Sagrada Família. Ala onde hoje funciona o setor administrativo do Museu de Zoologia. Avenida Nazaré. Fonte: Arquivo pessoal. 13 de setembro de 2015.

Figura Levantamento 6| Museu de Zoologia. Avenida Nazaré. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo pessoal.

Figura Levantamento 7| Museu de Zoologia. Avenida Nazaré esquina com Rua Padre Marchetti. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo pessoal.

Figura Levantamento 8| Nota-se a excessiva presença de cabeamento. Avenida Nazaré. Calçada em frente ao Educandário Sagrada Família. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo pessoal.


128 6 LOTE/ PERÍMETRO

Figura Levantamento 9| Avenida Nazaré com, Padre Marchetti. Vista da esquina do Educandário Sagrada Família. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo pessoal.

Figura Levantamento 10| Lote vazio. Avenida Nazaré esquina com Padre Marchetti. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo pessoal.

Figura Levantamento 11| Edifícios de serviços. Avenida Nazaré. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo pessoal.

Figura Levantamento 12| Avenida Nazaré. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo pessoal.

Figura Levantamento 13| Edifícios de serviços. Avenida Nazaré. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo pessoal.

Figura Levantamento 14| Nota-se a concentração de pedestres em frente a placa sinalizando ponto de ônibus. Avenida Nazaré. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo pessoal.


Figura Levantamento 15| Uso desativado. Avenida Nazaré. esquina com Rua Moreira e Costa. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo pessoal.

Figura Levantamento 16| Instituto Maria Imaculada. Avenida Nazaré. Instituto Maria Imaculada. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo pessoal.

Figura Levantamento 17| Avenida Nazaré. Antigo Juvenato Santíssimo Sacramento. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo pessoal.

RUA CLÓVIS BUENO DE AZEVEDO

Figura Levantamento 18| Residências com potencial de Tombamento. Rua Clóvis Bueno de Azevedo. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo pessoal.

Figura Levantamento 19| Residências com potencial de Tombamento. Rua Clóvis Bueno de Azevedo. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo pessoal.


130 6 LOTE/ PERÍMETRO

Figura Levantamento 20| Escola Técnica Getúlio Vargas. Rua Clóvis Bueno de Azevedo. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo pessoal.

Figura Levantamento 21| Antigo Noviciado Nossa Senhora das Graças Irmãs Salesianas. Rua Clóvis Bueno de Azevedo esquina com Rua Dom Luís Lasanha. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura Levantamento 22| Muro tombado com aproximadamente 4 metros de altura. Rua Clóvis Bueno de Azevedo com Rua Dom Luís Lasanha. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura Levantamento 23| Rua de caráter local, com demanda para estacionamento. Rua Clóvis Bueno de Azevedo. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura Levantamento 24| Edifício geminado com potencial para Tombamento. Rua Clóvis Bueno de Azevedo. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.


RUA GAMA LOBO

Figura Levantamento 25| Edifício de gabarito acima da média rua. Rua Gama Lobo. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura Levantamento 26| Acesso para atual Edifício Escolar. Rua Gama Lobo. Acesso a escola Objetivo. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura Levantamento 27| Desnível acentuado. Muro com altura próxima a 4 metros. Rua Gama Lobo. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura Levantamento 28| Desnível acentuado. Residencias geminadas. Rua Gama Lobo. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura Levantamento 29| Muro Tombado. Altura média de 4 metros. Rua Gama Lobo. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura Levantamento 30| Edifícios residenciais. Trecho arborizado. Muro alto a esquerda. Demanda por estacionamento. Rua Gama Lobo. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.


132 6 LOTE/ PERÍMETRO

Figura Levantamento 31| Muro com aproximadamente 5 metros de altura. Rua Gama Lobo. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

Levantamento 33|Demanda para estacionamento. Rua Gama Lobo. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo

Pessoal.

Figura Levantamento 35| Rua residencial. Demanda para estacionamento. Rua Gama Lobo. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura Levantamento 32| Desnível acentuado. Notase o pedestre no leito carroçável. Muros altos. Rua Gama Lobo. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura Levantamento 34| Edifícios residenciais em frente a quadra da GV. Rua Gama Lobo. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura Levantamento 36| Edifícios residenciais. Rua Gama Lobo. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.


RUA BARÃO DE LORETO

Figura Levantamento 37| Lotes residenciais. Rua Barão de Loreto. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura Levantamento 38| Lotes residenciais. Muro atual Escola instalada. Rua Barão de Loreto. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura Levantamento 39| Apesar do ponto de ônibus a rua quase não têm pedestres. Rua Barão de Loreto. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura Levantamento 40| Muro com altura média de três metros. Edifício Tombado. Rua Barão de Loreto. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal

Figura Levantamento 41| Edifícios residenciais. Demanda por estacionamento. Rua Barão de Loreto. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura Levantamento 42| Edifício de serviços. Demanda por estacionamento. Rua Barão de Loreto. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.


134 6 LOTE/ PERÍMETRO

RUA PADRE MARCHETTI

Figura Levantamento 433| Nota-se a presença de cabeamento. Rua Padre Marchetti. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura Levantamento 44| Residencias geminadas. Rua Padre Marchetti. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura Levantamento 46| Muros altos. Edifício GV. Rua Padre Marchetti. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura Levantamento 44| Edifício com potencial para Tombamento. Rua Padre Marchetti. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura Levantamento 45| Acesso para Fundação Sagrafa Família. Rua Padre Marchetti. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.


RUA MOREIRA E COSTA

Figura Levantamento 47| Nota-se presença de cabeamento. Rua Moreira e Costa. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura Levantamento 48| Acesso GV. Rua Moreira e Costa. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura Levantamento 49| Rua murada nas duas mãos. Rua Moreira e Costa. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

RUA DOM LUÍS LASANHA

Figura Levantamento 50| Edifício de serviços. Demanda por estacionamento. Rua Dom Luís Lasanha. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura Levantamento 51| FUNSAI. Rua Dom Luís Lasanha. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.


136 6 LOTE/ PERÍMETRO

Figura Levantamento 53| Residências geminadas. Rua Dom Luís Lasanha. 13 de setembro de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura Levantamento 52| Demanda por estacionamento. Rua Dom Luís Lasanha. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

RUA MOREIRA DE GODÓI

Figura Levantamento 54| Antigo Grupo Escolar São José. Em desuso. Rua Moreira de Godói. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura Levantamento 55| Acesso a Instituição. Vegetação densa. Rua Moreira de Godói. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura Levantamento 56| Mobiliário urbano no passeio. Senai. Demanda por estacionamento. Rua Moreira de Godói. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura Levantamento 57| Galpões de serviço. Demanda por estacionamento. Rua Moreira de Godói. 13 de abril de 2015. Fonte: Arquivo Pessoal.


7 ESTUDOS DE CASO


138 7 ESTUDOS DE CASO

Um projeto de arquitetura não é apenas o resultado de um processo de resolução de problemas, mas também é uma proposta metafísica que expressa o mundo mental do artista e seu entendimento do mundo da vida humana. [...] Uma tarefa de arquitetura não é um mero problema lógico ou racional que deve ser solucionado (...) sempre se espera que uma obra de arquitetura profunda evoque valores humanos, experimentais e existenciais que não podem ser prescritos.G


ESTUDOS DE CASO Os estudos de caso são apresentados por textos, imagens e gráficos esquemáticos. Estruturam-se de modo a compreender o contexto do projeto, sua tipologia, o programa, a circulação, e a incidência solar. As análises sob as peças gráficas, foram feitas de acordo com o proveito para a formação do conceito do cada projeto para este trabalho de conclusão de curso. Se relevou os pontos de interesse de cada projeto para a apresentação: elevação, corte, planta ou hierarquia plástica, por exemplo. Os espaços referenciais selecionados, consideram a aproximação do programa com o objeto de estudo: a importância histórica (clássica) para a arquitetura, a diversidade da linguagem projetual nos contextos contemporâneo, brasileiro, internacional e soluções técnicas, sendo divididos em dois grupos de interesse: Projeto e Fenomenologia, para uma leitura mais clara dos objetivos.

PROJETO Sendo o produto do projeto uma reunião de variadas escalas e contextos, as obras de projeto selecionadas auxiliam no desenvolvimento do programa mínimo necessário. As obras de Eyck e Artigas, principalmente para este fim, contemplam articulações de diferentes partidos. Ambas da década de 60, apresentam padrões de ensino variados, uma um orfanato, para abrigar integralmente e outra, com funcionamento dividido em três turnos . O clássico de Hertzberger e o conceituado Laboratório de Desenvolvimento Humano da Universidade Federal de Viçosa contemplam experiências sensoriais. As soluções espaciais abordadas nos projetos são de importantíssima consideração. Elementos de relação entre arquitetura e pedagogia. Os edifícios são representativos de períodos importantes para a renovação dos métodos de ensino, para o enfrentamento da questão do déficit educacional, ou ainda, foram concebidos num momento de ampliação do papel da instituição escolar. Aldo van Eyck Herman Hertzberger J.B.V. Artigas Fernando T. de Almeida

Amsterdam Orphanage (Burgerweeshuis) Escola de Montessori em Delft Conselheiro Crispiniano LDI - UFV

FENOMENOLOGIA O estudo da obra fenomenológica implica no reconhecimento especial induzido pelo projeto do arquiteto. Um foco de luz que se materializa no ambiente, sombras autônomas, cores e materiais, revestimentos e texturas. A obras selecionada resume o raciocínio abordado na pesquisa. Zumthor espacializa o odor da Capela arraigado em sua construção. Peter Zumthor

Capela Bruder Klaus


140 7 ESTUDOS DE CASO

7.1.

Aldo van Eyck AMSTERDAM ORPHANAGE (Burgerweeshuis) (1960) "Uma cidade não é cidade se, ao mesmo tempo, não é também uma grande casa; uma casa é somente uma casa se, ao mesmo tempo, é também uma pequena cidade" 241

o ARQUITETO O arquiteto holandês Aldo van Eyck (1918-1999) conhecido por sua importante participação nos últimos congressos do CIAM, cofundou o grupo Team X.242 Lutou por uma nova ordem no mundo, com uma estruturação horizontal, aberta. Para ele, a arquitetura empobreceu-se muito após a Segunda Guerra Mundial. A uniformidade, a monotonia e o aumento da escala, causaram uma série de catástrofes, que ele denominava "rats, posts and other pests" (racionalismo, pós-modernismo e outras pragas).243 Para ele a arquitetura deveria compor-se de construções que respeitam e criam espaços públicos para o arquiteto, a cidade deve se comportar como uma grande casa, e a casa, como uma pequena cidade. Desse modo, até o final da vida buscou enfatizar, a partir da arquitetura, a colocação do homem no espaço de forma mais humana e capaz de transformar um local em lugar. Passou a infância na Inglaterra; formou-se em Zurique, na Suíça e começou a sua carreia na Prefeitura de Amsterdã, mas foi no contato com os povos antigos da África e mais tarde do mundo tudo que ele achou a sua verdadeira inspiração. Encontrou na arte "primitiva"' respostas criativas para os desafios da arquitetura diante da pluralidade de formas, variedade e composições com pequenas unidades (como contas de um colar). Assim, seguiu na sua arquitetura o caminho que a vanguarda artística do inicio do século (Arp, Mondrian, Picasso etc.) tinha iniciado.244 A obra arquitetônica de Van Eyck é pequena. Ele trabalhou quase sempre com sua mulher Hannie.245

o EDIFÍCIO A proposta de Eyck para o projeto é que a edificação se revelasse numa configuração de lar e de uma pequena cidade, no subúrbio de Amsterdã.246 Seu primeiro projeto em grande escala, uma

241

BACHELLARD, 1993. CIAM, Congrès Internationaux d'architecture moderne, era uma organização de arquitetos fundadas entre 1928 e 1959 para promover e discutir os princípios da arquitetura moderna. Team 10 foi formada como uma reação dentro CIAM em torno de 1953. Como CIAM começou a se dissolver, van Eyck e um pequeno grupo de jovens arquitetos formaram sua própria organização. Enquanto eles permaneceram autônomas como designers, a equipe de 10 arquitetos se reuniram para compartilhar e discutir seu trabalho, inclusive a de van Eyck, o Amsterdam Orphanage 243 Revista AU, edição 82 - Fevereiro 1999 "Homenagem Aldo Van Eyck" http://au.pini.com.br/arquiteturaurbanismo/82/cenario-23986-1.aspx Acessado 26 de abril de 2015. 244 idem. 245 idem. 242


oportunidade para por em prática os conceitos difundidos no Team 10 e de estabelecer suas teorias humanistas. O orfanato foi construído para oferecer um lugar para os órfãos de Amsterdã viver e crescer. Foram projetados diferentes espaços para se divertir. As áreas se diferem de acordo com a idade proposta para frequentar o espaço, permitindo as crianças de idades similares criarem um vínculo. Há áreas, como o salão de festas, que pretende utilizar a imaginação, e é totalmente aberto para inúmeros tipos de atividade. Eyck propõe diferentes articulações, com conexões entre espaços intermediários: para atravessar um ambiente e entrar em outro é necessário sair dos corredores fechados e passar por um pátio descoberto para chegar no destino. A ideia é de que o usuário vivencie os espaços. A construção é uma coleção de espaços conectados por corredores segmentados ou ruas internas. Um lado do corredor se estende por uma fachada de vidro, aproveitando a iluminação natural ao máximo permitido pelos numerosos pátios externos. Os pátios são um importante aspecto do desenho do edifício contribuindo para uma perfeita conexão entre o exterior e o interior. Conectado aos pátios se distribuem os módulos de vivência das crianças. Todos os espaços permitem um fácil acesso para os pátios exteriores. Levando em consideração que as crianças adoram brincar do lado de fora, então, a transição interior/exterior entre os ambientes ocorre de forma contínua durante as horas livres. Os espaços intermediários são definidos pela ligação interior/exterior. Em seu blog, The sleep of rigour, o autor de nome não identificado247 , declara ter estudado arquitetura no orfanato por cerca de 6 meses, em 1991, quando metade da instituição havia convertida em uma escola de arquitetura (Instituto Berlage), enquanto a outra metade continuou a operar como um orfanato (atendendo apenas 16 crianças). Para ele foi uma ótima ocasião para conhecer o prédio. Eu não estava extremamente bem informados sobre o Team 10 ou estruturalismo na época, então a minha resposta inicial ao que era como um lugar para trabalhar e estudar. Foi-me pedido uma vez por um tutor durante o meu estudo de graduação em NY se eu já tinha estado em um edifício ou espaço que mudou a forma como eu pensava ou via o espaço. Na época, eu não tinha uma resposta. A resposta do próprio tutor foi o Instituto Salk. A minha, agora, é o orfanato. 248

246

Balters, Sofia. "Clássicos da Arquitetura: Amsterdam Orphanage / Aldo van Eyck'" [AD Classics: Amsterdam Orphanage] 16 May 2013. ArchDaily Brasil. (Trad. Fracalossi, Igor) Acessado 22 Abr 2015. <http://www.archdaily.com.br/108938/classicos-da-arquitetura-amsterdam-orphanage-aldo-van-eyck> 247 No blog há informações sobre sua formação: O autor estudou arquitetura nos Estados Unidos. Ele estudou arquitetura formalmente durante 18 anos em os EUA, Holanda e Reino Unido, e trabalhou em práticas de arquitetura nos EUA e Reino Unido (13 anos), incluindo a prática de design e pesquisa, que ele co-fundou em 1993. Ele também lecionou em escolas de arquitetura em os EUA (5 anos) e Reino Unido (11 anos) desde 1993. Realizou uma extensa pesquisa sobre a obra de Piet Mondrian, as teorias do cotidiano, o estruturalismo e da semiótica, e habitação social em Londres, com um foco no trabalho de Neave Brown. Ao longo do caminho, ele estudou com Henri Ciriani, Herman Hertzberger, Robert Slutzky, Adrian Forty, Marshall Blonsky e Richard Sennett. Após ter pintado em um momento anterior e tendo já deixado prática a vontade de fazer as coisas agora é ventilado na confecção de computador baseado música. O autor atualmente leciona arquitetura a nível universitário. 248 Disponível em: https://thesleepofrigour.wordpress.com/ Acesso: 26 de abril de 2015.


142 7 ESTUDOS DE CASO

PROJETO Implantação

Figura 74| Implantação. Fonte:http://issuu.com/dada15a/docs/first2/1

"Van Eyck busca sempre traços da história que para ele são fundamentais na concepção de seus projetos, podemos observar através da figura como a forma do orfanato “conversa” com o entorno, a edificação foi pensada através de cubos que se repetem ao longo do lote e, onde cada módulo organiza e diferencia o espaço. A intenção era criar um possível diálogo com o entorno, com a cidade com as arquiteturas encontradas"

Volumetria O projeto justifica-se em sua horizontalidade pelo fato do aproveitamento de luz. Se fosse verticalizado a distribuição de luz e seu aproveitamento seria prejudicado. (verificar tópico Iluminação).249

249

Disponível em: https://margojglenn.files.wordpress.com/2010/10/form.pdf Acesso: 26 de abril de 2015.


Figura 75| Observa-se na vista aérea a horizontalidade do projeto. Somente o bloco com os dormitórios têm dois pavimentos. Fonte: http://pab.pa.upc.edu/pdfs/orfanato.pdf

O projeto justifica-se em sua horizontalidade pelo fato do aproveitamento de luz. Se fosse verticalizado a distribuição de luz e seu aproveitamento seria prejudicado. (verificar tópico Iluminação).250

Programa Para crianças entre 0 e 18 anos, o programa estrutura-se de quartos, biblioteca, salão de festas, espaço administrativo, lavanderia e cozinha. A planta se configura de forma não hierárquica. O arquiteto propõe diferentes possibilidades de quebra da hierarquia dos espaços sem um ponto central no plano, "o arquiteto buscava uma conexão fluída entre os espaços, sem qualquer diferenciação de importância entre espaços."251

Planta As unidades do programa são dispostas ortogonalmente, evitando a criação de um ponto central dentro do Orfanato, permitindo assim, que para tais conexões de fluídos entre todos os espaços, os caminhos gerados pelo grid, possibilite uma experiência de acesso único, além de uma fachada diferente para cada unidade.

250

idem. Balters, Sofia. "Clássicos da Arquitetura: Amsterdam Orphanage / Aldo van Eyck'" [AD Classics: Amsterdam Orphanage] 16 May 2013. ArchDaily Brasil. (Trad. Fracalossi, Igor) Acessado 22 Abr 2015. <http://www.archdaily.com.br/108938/classicos-da-arquitetura-amsterdam-orphanage-aldo-van-eyck> 22h28 251


144 7 ESTUDOS DE CASO

A presença de espaços preenchidos é igual a de espaços vazios. As unidades do programa estão dispostas em uma malha ortogonal, as unidades do projeto formam dois caminhos diagonais, sem uma perspectiva central. O padrão labiríntico (zigue-zague), provoca o usuário. Ele acomoda e convida a explorar e passear, por conta do seu padrão de movimento labiríntico. O pátio maior é conectado na diagonal pelas unidades residenciais, e a entrada dos espaços administrativos que também são conectados com a rua.

PAVIMENTO INFERIOR

Figura 76| Diagrama de uso. Planta do Pavimento Inferior. Estudo desenvolvido pelo autor.


PAVIMENTO SUPERIOR

Figura 77| Diagrama de uso. Planta do Pavimento Superior. Estudo desenvolvido pelo autor.


146 7 ESTUDOS DE CASO

CIRCULAÇÃO - PAVIMENTO INFERIOR

Figura 78| | Diagrama de Circulação do Pavimento Inferior. Estudo desenvolvido pelo autor.


EXPERIÊNCIA O Orfanato apresenta situações de confluência entre os ambientes internos e externos. Os pátios conformam-se em um desnível, como se fosse uma piscina, e acolhem as crianças para brincadeiras, ou simplesmente estar, em caráter contemplativo. Aqui, o interior e exterior coexistem.

Figura 79| Pátio. Fonte:CA Mellon Lectures >> Balters, Sofia. "Clássicos da Arquitetura: Amsterdam Orphanage / Aldo van Eyck'" [AD Classics: Amsterdam Orphanage] 16 May 2013. ArchDaily. (Fracalossi, Igor Trans.) Accessed 6 Jul 2014. <http://www.archdaily.com.br/

Observa-se que Eyck propõe na maioria dos ambientes projetados uma forma espacialidade ambígua. Se está em uma unidade, um espaço, um lugar entre dois, mas sempre está a vivenciar também o outro. A percepção do usuário parece alternar-se entre espaços interiores e exteriores, que mesmo distintos, confluem-se materialmente.

Figura 80| Relação entre as unidades. Fonte: https://thesleepofrigour.wordpress.com/2013/01/06/t he-orphanage-amsterdam-1960-aldo-van-eyck/#jpcarousel-245

Figura 81| Vista de debaixo do volume de dois pavimentos para o pátio principal de acesso. Fonte: http://orfanatoxkiasma.blogspot.com.br/2009/06/oorfanato-de-amsterdam-foi-projetado.html


148 7 ESTUDOS DE CASO

Figura 82| Vista do interior do edifício para o pátio de recreação descoberto. Nota-se que a escolha dos materiais permite quase que uma indefinição do dentro e fora. Fonte: http://pab.pa.upc.edu/pdfs/orfanato.pdf

INTERIOR

Figura 83| Pátio interno. Fotógrafo: Cornelius, Violette Fonte:http://www.geheugenvannederland.nl/?/en/items/NFA08xxCOLONxxVIC-1986-12


Figura 85| Circulação interior. Fonte:https://thesleepofrigour.wordp ress.com/2013/01/06/theorphanage-amsterdam-1960-aldovan-eyck/

Figura 84| Menina olhando pequenos espelhos adicionados no concreto para adicionar interesse e 'brilho'. Fonte: https://thesleepofrigour.wordpress.com/2013/01/06/theorphanage-amsterdam-1960-aldo-van-eyck/orph-archival012/

Figura 87| As janelas panorâmicas com o peitoril assento fazem confundir o interior e exterior da edificação. Fonte: http://pab.pa.upc.edu/pdfs/orfanato.pdf

Figura 86| Pátio coberto. Piso pavimentado em pedra.

Fonte: http://pab.pa.upc.edu/pdfs/orfanato.pdf


150 7 ESTUDOS DE CASO

ILUMINAÇÃO NATURAL Para aproveitar melhor a insolação, os dormitórios das crianças dão para a face sul. O arquiteto dinamizou a entrada de luz com diferentes tipos de aberturas, como faces vidro, poços luz, iluminação zenital.

Figura 88| Cobertura. Fonte:http://pab.pa.upc.edu/pdfs/orfanato.pdf

Figura 89| Diagrama de iluminação zenital. Estudo. Planta da Cobertura. Estudo desenvolvido pelo autor.

Figura 90| Interior da cúpula. http://pab.pa.upc.edu/pdfs/orfanato.pdf


EXTERIOR Acesso principal demarcado por pilastras e pátios negativos. O volume superior pousa sobre o volume inferir criando uma espécie de portal. O pátio é livre.

Figura 91| Acesso principal. Fonte: http://pab.pa.upc.edu/pdfs/orfanato.pdf

O pátio, com a simples demarcação do círculo envolta do pilar, provoca o comportamento do usuário, que podia estar em quaisquer outro lugar que não fosse o percurso deste perímetro.

Figura 92| Pátio externo. Fonte: Archdaily. Accessed 6 Jul 2014. <http://www.archdaily.com.br/br/01108938/classicos-da-arquitetura-amsterdam-orphan age-aldo-van-eyck>

A contraposição de materiais e a conformação das fachadas, sugerem uma fluidez entre o pátio externo e a edificação. Figura 93| Fachada. Facade. Fonte: http://pab.pa.upc.edu/pdfs/orfanato.pdf

Um dos mais belos detalhes é o vidro fosco inserido nas vigas de concreto.Estes brilhava, mesmo em tempo nublado. O arquiteto francês Henri Ciriani observou que esse detalhe fez o edifício mais leve de duas maneiras - a luz brilhante ampliado o sentido geral da luz visível ao mesmo tempo que também fez o conjunto, onde a parede e o telhado reuniu menos sólida e, portanto, fez o telhado parece 252 flutuar e parece mais leve.

252

Disponível em: https://thesleepofrigour.wordpress.com/2013/01/06/the-orphanage-amsterdam-1960-aldovan-eyck/ Acesso: 26 de abril de 2015.


152 7 ESTUDOS DE CASO

7.2

Herman Hertzberger ESCOLA DE MONTESSORI EM DELFT (1960-1966) "A arquitetura à qual aspiro fazer engloba a poesia da sociedade e da convivência, em outras palavras, deve proporcionar as condições espaciais certas para a vida social."253

o ARQUITETO O arquiteto holandês, nascido em 1932 é reconhecido por seus projetos e trabalhos teóricos. Foi um dos integrantes do Team 10 ―subgrupo do CIAM. O grupo criticava a arquitetura fria do Funcionalismo do pós-guerra. Propuseram substituí-la por uma arquitetura baseada na interação e escala humana. Também fez parte do grupo o arquiteto Aldo Van Eyck, autor do Amsterdam Orphanage. O grupo tinha como ideal a proposta de uma arquitetura baseada na interação e escala humana.

o EDIFÍCIO O método montessoriano foi desenvolvido pela médica e educadora italiana Maria Montessori. Os espaços e atividades preparadas são para que o aluno se torne o condutor de seu próprio processo de aprendizado. Para Montessori além da questão estética o espaço da escola deveria ser um lugar para que as crianças se sentissem livres para descobrir o mundo (em sentido pedagógico) e não vigiadas para que não fizessem nada de "errado". 254 O Edifício projetado por Herman Hertzberger, é sua primeira escola. A relação entre as salas de aula e os espaços de interação são os elementos chave do projeto. Visto que o método montessoriano tem por objetivo a aprendizagem dinâmica, que estimula e não impõe limites, opondo-se aos métodos tradicionais, o arquiteto propões espaços onde as crianças são senhoras do seu ambiente em sala de aula, incentivando a independência e a responsabilidade por sua manutenção.

PROJETO A escola Montessori de Delf é organizada por Hertzberger através das disposição das salas de aula, módulos iguais, lindeiros ao hall de circulação. Podese observar na volumetria (ver Figura 94) que as salas de aula são bem marcadas. Figura 94| Escola Montessori em Delft. Vista aérea. Fonte: Architectuurstudio, apud Nascimento, 2012. 253

Disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/01-158425/casas-av-corsi-hirano-arquitetos, acessado em 14 de fevereiro de 2015. 254 NASCIMENTO, 2012.


EXTERIOR A antiga entrada da Escola, destruída em 1981 foi concebida para ser um espaço encontro. As crianças que chegassem mais cedo por exemplo, poderiam esperar outras, ou aguardar os pais após a aula. As muretas externas funcionvam como bancos. 255

Figura 95| Antiga entrada. Fonte: Architectuurstudio, apud Nascimento, 2012.

Na parte posterior do edifício existem muros baixos, erguidos com blocos perfurados. Os espaços gerados pela disposição dos blocos podem ser tantos coisas quanto as crianças imaginarem, ultrapassando o limite da configuração de tanques de areia e jardins. O material utilizado nos muros também possibilita vários usos, criando uma série de compartimentos menores, que podem servir como vasos de plantas, lugares para guardar coisas ou tantas outras funções quanto as crianças inventarem em suas brincadeiras."256

Figura 97| Escola Montessori em Delft. Fonte: https://cuadernodepfc.wordpress.com/2011/08/ Acesso: 12 de abril de 2015.

255

Figura 96| Crianças contaminas o espaço. Fonte: https://www.pinterest.com/carolcorseuil/tcc-ok%2B-arq/ Acesso: 12 de abril de 2015.

Disponível em: https://marinalipiani.wordpress.com/2011/10/30/obras-analogas-escola-montessori-emdelft/ Acesso: 18 de novembro de 2015. 256 Disponível: http://hertzbergertca.blogspot.com.br/2009/10/montessori-school-delf.html Acesso: 18 de novembro de 2015.


154 7 ESTUDOS DE CASO

INTERIOR

A organização espacial das salas de aula configura o hall distribuidor das salas como uma rua comunitária. As salas deslocadas conformam uma espécie de zigue-zague no corredor, criando pequenos pátios de convivência ou reuniões, por assim dizer, fora do eixo principal de circulação. Segundo Fernando Nascimento, a relação entre o hall e as salas de aula é análoga à relação entre uma rua e as casas, como se o hall fosse uma "sala de estar comunitária". As salas de aula foram concebidas quase como unidades independentes dentro das escolas, com armários próprios (onde as crianças podem deixar seus materiais. 257

Figura 98| Estudo de ocupação e circulação. Autor.

Figura 99| Croqui de Herman Hertzberger para sala de aula.

257

NASCIMENTO, 2012.

A diferença de nível proporciona ao professor a possibilidade de supervisionar a turma realizando diferentes tarefas, enquanto algumas realizam atividades concentração, outras pintam e modelam no outro nível.


Cada sala de aula possui uma espécie de vitrine, revestida de vidro no lado exterior, voltada para o hall. Os trabalhos produzidos pelas crianças em aula podem ficar expostos para o restante da escola, assim como algum material selecionado por eles. Figura 100 e Figura 101| Hall de entrada das salas de aula com vitrine. Fonte: https://marinalipiani. wordpress.com/2011/10/30/obras-analogas-escolamontessori-em-delft/ Acesso: 13 abril de 2015.

Bancos, mesas e escadas são elementos feitos do mesmo bloco de concreto que compõe o prédio. Parece que os espaços interiores são esculpidos no concreto. São os alunos que dão significado aos elementos, definindo os objetos em um momento como mesa, a qual logo se transforma em um palco.258

Figura 102| Pátio de convívio com boco de concreto elevado do solo. As crianças ressignificam o espaço. Fonte: http://www.ahh.nl/ Acesso: 14 de abril de 2015.

258

Disponível em: http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/188/sander-toost-escreve-sobre-vida-e-obrado-arquiteto-holandes-155940-1.aspx, acesso: 14 de fevereiro de 2015 às 20:37.


156 7 ESTUDOS DE CASO

Assim como o bloco elevado, o bloco negativo situado no pátio do jardim da infância provocam o uso das crianças da forma que imaginarem. Neste, os blocos podem ser retirados e se tornarem bancos, ou serem retirados para conformar uma espécie de caverna, guardar materiais ou simplesmente como estar.

Figura 104| Pátio negativo. Fonte: http://www.ahh.nl/ Acesso: 14 de abril de 2015

Figura 103| Pátio negativo. Fonte: http://www.ahh.nl/ Acesso: 14 de abril de 2015

Figura 106| Vitrine de exposição da sala de aula, voltada para o hall de circulação. Fonte: http://www.ahh.nl/ Acesso: 14 de abril de 2015.

Figura 105| Espaço coletivo. Fonte: http://www. architectureweek.com/cgibin/awimage?dir=2012/07 04&article=design_12.html&image=14975_image_4.j pg Autor: R. Thomas Hille


7.3

João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi GINÁSIO ESTADUAL DE GUARULHOS - CONSELHEIRO CRISPINIANO (1960)

"Não pode haver separação entre a arte, a sociedade e a ação individual, que sempre deve refletir uma tomada de posição filosófica traduzida em temos utilitários no plano prático."259

o ARQUITETO Um dos mais importantes arquitetos do século XX, João Batista Vilanova Artigas (1915-1985) fundador e professor da FAU ─ Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo260. Estilo característico da escola paulista ou escola brutalista de São Paulo.261 Responsável pela reestruturação da grade curricular do curso de arquitetura no início dos anos 60 (diretrizes abandonadas assim que a ditadura se instalou)262

o EDIFÍCIO O Ginásio de Guarulhos, posteriormente batizado como Conselheiro Crispiniano é uma das mais expressivas e importantes escola da cidade. 263 Fez parte do programa do FDE - Fundação para o Desenvolvimento da Educação. 264 e passa por um processo de tombamento pelo CONDEPHAT Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo. 265 Em matéria da revista Acrópole de Maio de 1960 266, ano do projeto, observa-se grande fascínio com a nova proposta para a cidade: "O Ginásio Estadual em Guarulhos é uma velha aspiração da população do município vizinho de São Paulo. Tornou-se agora realidade com o Plano de Ação do atual Govêrno. Trata-se de um edifício de grandes proporções para atender, em 3 períodos, perto de 2.500 alunos." 267

259

Artigas. Disponível em: http://www.conselheirocrispiniano.com.br/arquitetura/ , acesso: 17 de fevereiro de 2015. 260 Disponível em: http://arquiteturaurbanismotodos.org.br/vilanova-artigas/ , acesso: 27 de abril de 2015. 261 idem. 262 idem. 263 Disponível em : http://www.conselheirocrispiniano.com.br/arquitetura/ , acessado em 17 de fevereiro de 2015. 264 Criada em 1987, a FDE – Fundação para o Desenvolvimento da Educação, tem como uma de suas principais funções: construir escolas, adequar os prédios, oferecer materiais e equipamentos necessários à Educação. Utiliza o sistema construtivo pré-moldado de arquitetura do Estado de São Paulo. Garante uma melhoria da qualidade das obras reduzindo prazos e manutenção (melhor relação custo benefício). Os projetos são terceirizados através da contratação de diferentes escritórios de arquitetura. [http://ideiasdamary.blogspot.com.br/2010/03/ginasio-de-guarulhos-de-vilanova.html -onde ela pegou?] 265 Disponível em : http://www.conselheirocrispiniano.com.br/arquitetura/ , acesso : 17 de fevereiro de 2015. 266 Edição número 259, página 171. 267 Disponível em: http://www.acropole.fau.usp.br/edicao/259 , acesso: 19 de abril de 2015.


158 7 ESTUDOS DE CASO

A construção é simples, áustera em detalhes. Os pórticos em concreto armado foram tratados com pintura, em cores primárias, sobre o concreto aparente. Nota-se uma preferência as dimensões generosas, principalmente nos pátios e jardins intermediários (ver tópico plantas). Não há muita atenção ao acabamento.

PROJETO Implantação

Figura 107| Maquete― Perspectiva da implantação baseada no projeto divulgado. Disponível na revista Acrópole, n° 259 (ver plantas originais no tópico Plantas)

Volumetria

Figura 108| Maquete. Foto de José Mascardi. Disponível na revista Acrópole, n° 259


O volume de 4.715m², "é um edifício marcante, em que os espaços coletivos cobertos são protegidos por configuração de apoios verticais através de pórticos" 268 A estrutura é de uma forma expressiva, marcante nos projetos de Artigas. Não apenas assume o papel de sustentação do volume, enriquece e dinamiza a espacialidade do edifício. Vencem os grandes vãos e sustentam os largos panos recortados no interior.

Programa

Figura 109| Pátio da entrada principal ― Perspectiva baseada no projeto divulgado. Disponível na revista Acrópole, n° 259 (ver plantas originais no tópico Plantas)

O programa da instituição assume o partido da edificação. Sob uma cobertura única articulam-se as salas de aula numa faixa longa e linear, as salas reservadas à administração, biblioteca e cantina. Os sanitários e vestiários situam-se no nível inferior, de acesso. Conectando as alas, os pátios abertos e ajardinados criam uma atmosfera dinâmica (no sentido do uso, do observar, quando o aluno aguarda o acesso a sala de aula e do atravessar e vivenciar o espaço nada inóspito) entre os blocos, além do pátio central coberto, mas com iluminação zenital.

268

MAHFUZ, 2005 <https://germinai.wordpress.com/textos-classicos-sobre-educacao/linha-historica-daarquitetura-escolar-do-brasil/> apud CARVALHO, Isabella Chaves. Projeto Arquitetônico Escolar: uma proposta voltada à Educação Ambiental. 2009. 227p. Trabalho Final de Graduação (TFG) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará (FAU-UFPa). Pará, 2009. disponível em https://germinai.wordpress.com/textos-classicos-sobre-educacao/linha-historica-da-arquitetura-escolar-dobrasil/


160 7 ESTUDOS DE CASO

PLANTAS

Figura 110| Plantas originais. Pavimento Inferior e Superior, respectivamente. Disponível na revista Acrópole, n° 259

Ainda na Acrópole, sobre o arranjo do programa suas definições:

"As disposição em planta pretende criar um ambiente definido de convivência entre alunos e professores, como se fôsse dentro de uma casa ―atendendo assim a nossos métodos pedagógicos fixados pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. As salas de aula olham para o sul a fim de evitar cortinas e manter uma iluminação constante. Por outro lado, elas estão dispostas de forma a não sofrerem influência da natural agitação do pátio da frente, onde os alunos farão ginástica e jôgos diversos. Importância especial foi dada ao vestíbulo que, ao mesmo tempo que atende a entrada ao bloco de administração, vai-se modificando em sala de estar e ingresso um tanto monumental para o Auditório e Biblioteca, na previsão de festas cívicas e demais possibilidades de contato da Escola com a Comunidade." 269

PAVIMENTO INFERIOR ― ACESSO Cantina Sanitários e vestiários Assentos

269

Disponível em: http://www.acropole.fau.usp.br/edicao/259 , acesso: 19 de abril de 2015.


PAVIMENTO SUPERIOR ― PROGRAMA Salas de aula Salas administrativas Auditório

Biblioteca Jardim Espelho d'água

Assentos

Como na implantação há distribuição dos setores em blocos, aparentemente essa configuração compõe-se de várias partes que se desagregam do terreno, mas que juntas formam um conjunto que se completa. Houve também várias possibilidades construtivas devido a estrutura independente de vedação que consentia arranjos espaciais, como o apoio da cobertura.270 Tal apoio acontece em poucos pilares que possibilitam a articulação dos ambientes no interior do prédio, com espaços de vãos maiores (BUFFA e PINTO, 2002). Por exemplo, na escola de Guarulhos os pórticos compõem três grandes vãos: dois menores nos extremos, onde se localizam as salas de aula e dependências; e um espaço maior no meio sem necessidade de pilares, onde há o pátio coberto (MAHFUZ, 2005).271

270

CARVALHO, Isabella Chaves apud https://germinai.wordpress.com/textos-classicos-sobre-educacao/linhahistorica-da-arquitetura-escolar-do-brasil/ 271 Disponível em https://germinai.wordpress.com/textos-classicos-sobre-educacao/linha-historica-daarquitetura-escolar-do-brasil/ apud CARVALHO, Isabella Chaves. Projeto Arquitetônico Escolar: uma proposta voltada à Educação Ambiental. 2009. 227p. Trabalho Final de Graduação (TFG) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará (FAU-UFPa). Pará, 2009.


162 7 ESTUDOS DE CASO

PAVIMENTO INFERIOR ― ACESSO

PAVIMENTO SUPERIOR ― PROGRAMA

CORTE A.A.


EXPERIÊNCIA INTERIOR A iluminação interior natural se dá basicamente pelos rasgos na cobertura, que favorecem a iluminação e ventilação das salas de aula, e o espaço administrativo, lindeiro ao rasgo. O grande pátio central e os jardins também são favorecidos no que diz respeito a iluminação. Os volumes laterais não ofuscam o aluno-pedestre durante sua permanência nos arredores, além disso, a iluminação zenital é de grande importância para a salubridade da escola. Figura 111| Pátio de conexão entre os niveis de A face sudoeste está protegida por um elemento de acesso, dissipação e auditório. Painel de Mario concreto vazado, mas como se pôde observar nos cortes, a fachada não sofre influência direta do sol. O Gruber ao fundo. Fonte: Arquivo pessoal.

sol predominante é o da tarde, quando já está mais baixo. O painel de Mario Gruber,272 no pátio interno, oferece aos alunos uma oportunidade de vivenciar a obra de arte do artistal. Quanto a experiência Exterior, a escola volta-se para sí. Sendo sua implantação em conformidade com a demanda para a construção do Edifício, não foi levantado nenhum tipo de relação com o exterior significativo para os efeitos desta pesquisa.

272

Pintor, gravador, escultor, muralista. Autodidata, começa a pintar em 1943, apresentando uma produção ligada ao expressionismo. Em 1949, recebe uma bolsa do governo francês, e viaja para Paris, onde se dedica ao estudo de pintura e gravura. Retorna ao Brasil em 1951. Em sua obra gráfica dessa época, aproxima-se do realismo social. A cidade, suas ruas e casas são temas para sua produção gráfica. Realiza também pinturas de caráter figurativo, partindo de imagens cotidianas, como a vida nas metrópoles, para envolvê-las em jogos de imaginação. O artista cria personagens fantásticos, utilizando cores contrastantes.


164 7 ESTUDOS DE CASO

7.4

Fernando T. de Almeida LDI - UFV 1988 (Laboratório de Desenvolvimento Infantil - Universidade Federal de Viçosa)

Segundo Cláudia Silva, o Laboratório de 1183m² foi inaugurado em 8 julho de 1988. A creche da Universidade Federal de Viçosa foi criado para atender às reivindicações de mães servidoras da Universidade. Em 1999 a creche foi extinta e criou-se o Laboratório de Desenvolvimento Infantil, com o intuito de oferecer espaço para atendimento à criança, espaço para atividade de ensino, pesquisa e extensão: Anteriormente, o LDI atendia crianças de 3 meses a 3 anos em horário integral e as crianças de 4 e 5 anos em horário parcial. Em 2004, o LDI passou a atender crianças na faixa etária de 3 meses a 4 anos em horário integral, e as crianças de 5 anos migrariam, automaticamente, para serem atendidas no Laboratório de Desenvolvimento Humano (LDH), permanecendo lá até completarem a idade de irem para o ensino fundamental. [...] Inicialmente o LDH atendia crianças de 3 a 6 anos, em horário parcial. A partir 2007, passou a atender em período integral a faixa etária das crianças de 5 a 6 anos.273

O programa de educação infantil no LDI objetiva promover o desenvolvimento integral da criança, nos aspectos físico-motor, social, afetivo, cognitivo e moral, proporcionando-lhes ambiente adequado às suas necessidades e aos seus interesses, em complementação à ação da família e da comunidade.274 A proposta de Educação Infantil baseia-se nos princípios teóricos de uma abordagem construtivista, que acredita na participação ativa na construção de seu próprio conhecimento.

Laboratório de Desenvolvimento Infantil da UFV. Voçosa. MG, 2012. Fonte: Cláudia Silva in Interfaces do consumo alimentar em crianças. Figura

113|

112| Laboratório de Desenvolvimento Humano da UFV. Voçosa. MG, 2012. Fonte: Cláudia Silva in Interfaces do consumo alimentar em crianças. Figura

De acordo com o site da Universidade, um dos principais objetivos do Laboratório é ◦ Proporcionar experiências às crianças para seu desenvolvimento integral, no que diz respeito aos aspectos físico-motor, social, cognitivo, afetivo e moral; ◦ Integrar as ações de cuidar e educar durante a prática de atendimento à criança e à família; [...] ◦ Acompanhar e avaliar o desenvolvimento e aprendizagem das crianças nos aspectos físico-motor, social, cognitivo, afetivo e moral; ◦ Atuar em parceria com as famílias no que se refere à educação e cuidado das crianças, promovendo o programa de envolvimento da família com a instituição; [...] 273

SILVA, Cláudia - Interfaces do consumo alimentar de crianças atendidas em instituições de educação infantil: um estudo de caso. Viçosa. 2012. 274 NEVES, NAISE, 2004.


◦ Desenvolver programas e projetos específicos relativos ao desenvolvimento e aprendizagem da criança na faixa etária atendida.

Em entrevista realizada com Maria Júlia, de 17 anos, aluna do LDI dos cinco meses aos cinco anos, a estudante revelou achar muito importante a participação da escola em sua formação pessoal, devido ao fato de ser um local ser condutor das primeiras experiências vividas.

Figura 114| Mapa esquemático de Planta do Laboratório de Desenvolvimento Humano. Estudo baseado em diagrama de Maria Júlia, ex-aluna.

Para Maria Julia, a lembrança mais marcante do laboratório eram as áreas cobertas e externas. Podese notar o valor da casa onírica, do aconchego quando, mesmo depois de doze anos, se recorda frequentemente do Laboratório, inclusive às vezes, pelo cheiro da comida feita em sua casa.


166 7 ESTUDOS DE CASO

7.5

Peter Zumthor CAPELA BRUDER KLAUS (2007) "A fim de projetar edifícios com uma conexão de sensual para a vida, deve-se pensar em uma maneira que vai muito além da forma da construção."275

o ARQUITETO O arquiteto suíço Peter Zumthor, nasceu em Basel, em 1943. Segundo Vanessa Quirk Seus edifícios são misteriosos e sedutores, mas não mostram sinais de preconceitos ou estilo formal. Sua preocupação é com o contexto, a experiência e a materialidade, e não meramente com a estética. Talvez esta seja sua contribuição mais significativa para a arquitetura: a arquitetura verdadeiramente 276 significativa do lugar e da experiência.

o EDIFÍCIO De cunho religioso, localizado em Mechernich, na Alemanha, segundo Leonardo Márquez em seu artigo "Capela de Campo Bruder Klaus/Peter Zumthor", o projeto começou como esboço para tornarse um marco elegante básico277 na paisagem da Alemanha e foi construído pelos agricultores locais com o objetivo de homenagear seu santo padroeiro, Klaus Bruder, do século XV. 278

Figura 115| Croqui da planta da Capela. Fonte: http://hicarquitectura.com/2014/09/aeb-30peter-zumthor-bruder-klaus-field-chapel-mechernich-wachendorf/ acessado em 18/02/2015 às 18h41. 275

Peter Zumthor apud MÁRQUEZ, Leonardo in Capela de Campo Bruder Klaus/ Peter Zumthor. Disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/01-55975/capela-de-campo-bruder-klaus-peter-zumthor. 25/06/2012 Acesso: 02 de abril de 2015. 276 Quirk, Vanessa. "Em foco: Peter Zumthor" [Happy Birthday Peter Zumthor] 26 Abr 2015. ArchDaily Brasil. (Trad. Delaqua, Victor) Acessado 15 Nov 2015. <http://www.archdaily.com.br/br/601283/feliz-aniversariopeter-zumthor> 277 O básico aqui me foi entendido como a edificação está inserido de modo que a arquitetura é reconhecida e de marco para visitações. Alguns depoimentos revelam este ser um aspecto negativo da obra, uma vez que, a paz e interioridade do homem q se busca ao adentrar o espaço é perdida, pelo fato de o ambiente estar repleto de peregrinos em busca de seu apreensão como monumento. propósito edificação não atendido 278 MÁRQUEZ, Leonardo, 2012


FENÔMENO Implantação A implantação deste projeto não se faz sentir por meio da planta baixa. Distante, com o caminhar sugestivo de peregrinação, sua inserção no ermo confina nosso olhar a sua direção. O norte pouco faz sentido, uma vez que sua abertura considerável é o rasgo superior. Ao avistar a Capela, com seu exterior retangular rígido não se imagino o contraponto de seu interior místico, embebido de uma atmosfera sensível, traduzida em textura da cor da madeira queimada enraizada na parede e seu cheiro, completamente sensorial. Dependendo do ponto de vista ao caminhar para a Capela, percebe-se a volumetria diferente, ora mais esguia e mais alta, ora mais volumosa.

Figura 116| Implantação Capela BK Foto: Samuel Ludwing disponível archdaily

1

2

1-Acesso 2-Ponto Focal Volume / Programa A Capela se conforma num plano único, sem encanamentos, banheiros, água corrente ou eletricidade, o 'salão', por assim dizer, compreende o percurso da porta de entrada, sutilmente recordada do volume paralelepídico, até o interior, no centro, compreendido como um ponto focal pelo fato de ser o centro de convergência da atenção do transeunte, que adentre a ali se instala para dar uma panorâmica geral do entorno, contemplar e se embeber da luz quente que entra pelo rasgo zenital. PROCESSO


168 7 ESTUDOS DE CASO

A "tenda" (ver Figura 117 a 102) foi feita de 112 troncos de árvores. Após a conclusão da armação, as camadas de concreto foram vertidas e aplicadas no topo da superfície existente, cada um em torno de 50 centímetros de espessura. Quando o concreto de todas as 24 camadas279 sentou, o quadro de madeira foi incendiado, deixando para trás uma cavidade oca enrijecida e paredes carbonizadas. O chão foi produzido de chumbo derretido congelado280

Figura 117 e Figura 118| Processo de materialização do projeto. Fonte: http://www.archisquare.it/peter-zumthor-cappella-di-bruder-klaus-mechernich/ 18-04-2015 14:39

Figura 119 e Figura 120| Paredes internas. Nota-se a textura da parede, com os veios das madeiras e os furos de sustentação da forma para a concretagem. Fonte 30: Brother Claus Field Chapel by Atelier Peter Zumthor in Mechernich, Germany. Details Photo © Thomas Mayer. http://www.arcspace.com/features/atelier-peter-zumthor/brother-claus-field-chapel/ 18-04-2015 14h33 Fonte 31: http://hicarquitectura.com/2014/09/aeb-30-peter-zumthorbruder-klaus-field-chapel-mechernich-wachendorf/

Fonte 31: 279 280

Durante 24 dias, todos os dias, os locais subiam 50 centímetros à construção MÁRQUEZ, Leonardo , 2012


EXPERIÊNCIA INTERIOR O olhar inegavelmente direcionada para cima contempla a vista de um "telhado" rasgado. A céu aberto o clima da capela é controlado pela incidência da luz solar e até mesmo da chuva, que ao penetrar criam uma atmosfera ímpar para o instante da apreciação. "Em um dia ensolarado, este óculo lembra o brilho de uma estrela que pode ser atribuído a uma referência de visão de Irmão Klaus no ventre. Os sentimentos muito sombrios e reflexivos que se tornam inevitáveis em seu encontro com a capela ..." Leonardo Márquez in Capela de Campo Bruder Klaus/ Peter Zumthor

Figura 121| Óculo Fonte: Brother Claus Field Chapel by Atelier Peter Zumthor in Mechernich, Germany. Interior Photo © Thomas Mayer http://www.arcspace.com/features/atelier-peterzumthor/brother-claus-field-chapel/ 18-04-2015 14h33

iluminação ventilação


170 7 ESTUDOS DE CASO

EXTERIOR A Capela é avistada de longe dentro do campo cercado, mas para chegar a ela é necessário andar durante vinte minutos aproximadamente, declara Ana e Eugeni Bach em seu post "Peter Zumthor Bruder Klaus Field Chapel, Mechernich - Wachendorf" e ainda declaram o sentimento de agradecimento ao encontrar um assento à sombra para descansar, especialmente em dias de calor.

Figura 122 e Figura 123| Volumetria da Capela. Observa-se sua escala comparada ao usuário que descansa a sombra. Fonte: http://hicarquitectura.com/2014/09/aeb-30-peter-zumthor-bruder-klausfield-chapel-mechernich-wachendorf/ Acessado em 18 de abril de 2015.

Interior Exterior A penumbra interior, obriga o usuário um certo tempo para se adaptar a atmosfera. A arquitetura interfere no modo do comportamento corporal, Os olhos aos poucos se familiarizam e percebem, além do rasgo superior, os pequenos orifícios resultantes das formas de concretagem.

Figura 124| Confluencia entre interior e exterior. O corpo se adapta ao adentrar. Fonte: Megan Sveiven. "Bruder Klaus Field Chapel / Peter Zumthor" 26 Jan 2011. ArchDaily. Accessed 15 Nov 2015. <http://www.archdaily.com/106352/bruder-klausfield-chapel-peter-zumthor/>


8 PROJETO


172 8 PROJETO

O significado final de qualquer edificação ultrapassa a arquitetura; ele redireciona nossa consciência para o mundo e nossa própria sensação de termos uma identidade e estarmos vivos [...] Uma obra de arquitetura não é experimentada como uma série de imagens isoladas na retina, e sim em sua essência material, corpórea e espiritual totalmente integrada. Ela oferece formas e superfícies agradáveis e configuradas para o toque dos olhos e dos demais sentidos, mas também incorpora e integra as estruturas físicas e mentais, dando maior coerência e significado à nossa experiência existencial.H


PROJETO O francês Émile Durkheim (1858-1917), considerado o criador da sociologia da educação, defendia que o objetivo do processo educativo era a preparação de jovens para a sociedade. [...] a escola deveria proporcionar um ambiente que refletisse da forma mais fiel possível a realidade da sociedade adulta281 Partindo deste princípio, o projeto deste trabalho de conclusão de curso busca inserir o indivíduo no meio em que vive. A Instituição de ensino de longa permanência proposta é da cidade, numa tentativa de contribuir para o processo de formação de indivíduos libertos, que questionam, afrontam, apreendem e digerem o mundo ao passo de sua imaginação sob as quadras da instituição que percorre. Desse modo, questionando o sentido e importância da arquitetura sob a formação do ser humano e o reflexo que causa nos indivíduos que são atingidos por ela, a escola para órfãos atuais, representa o que a criança tem no mundo, visto que passa a maior parte do tempo na instituição, associando assim, valor ao sentido da arquitetura.

MANU NO MUNDO externo

Partido Arquitetônico Num cenário histórico, rodeado por edificações tombadas, de valor cultural para a história do país, a implantação da escola se dá na confluência entre elas.

Figura Projeto 1| Partido. Implantação. Autor. 281

NOVA ESCOLA, 2008


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QUADRA CONTEMPLATIVA O projeto nasce do eixo de ligação entre os monumentos tombados circundantes do perímetro de estudo. O MIRANTE permite a contemplação dos edifícios históricos presentes nas quadras circundantes, assim como considera a Resolução 11/07 do CONPRESP quando dispõe sobre as qualidades ambientais e paisagísticas do Eixo Histórico-Urbanístico do Ipiranga, que propiciam a visualização do complexo urbanístico formado pelos bens tombados e valorizam o bairro.282

Figura Projeto 2| Mirante. Croqui de estudo. Autor.

O "nó" funciona como uma moldura para a paisagem urbana, possibilitando a visão para a cidade atual e uma proximidade com os edifícios históricos, colocando os usuários do espaço em contato com o desenvolvimento da cidade e provocando uma reflexão entre a justaposição do tempo e sua sobreposição na história. A quadra é um articulador entre os vários fragmentos da escola. Funciona como uma área de acomodação e dissipação dos estudantes nos momentos de entrada e saída da instituição. A quadra é aberta, é da cidade. Sendo o acesso controlado somente nos ingresso dos edifícios.

Figura 125| Do Mirante se avista os monumentos históricos tombados, pertencentes ao eixo de nascimento do projeto. Colagem desenvolvida por Manu, a agente representante dos indivíduos transformados pela arquitetura. 282

Resolução 11/07


No capítulo "Silêncio, tempo e solidão", Pallasma revela: "A experiência auditiva mais fundamental criada pela arquitetura é a tranquilidade."283 Desse modo, a quadra intitulada "contemplativa" procurará amalgamar elementos que criem uma atmosfera de tranquilidade, fora do compasso da Avenida, em contraponto a vida agitada do cotidiano. O percurso até a quadra é enfatizado pela encenação de bosque, espelhos d'água, e os enquadramentos entre os edifícios cortados pelo eixo, ajudando na criação dessa atmosfera. A ideia é que a criança tenha um respiro em meio as edificações, e possa, de acordo com o posicionamento dos que a cercam compreender as diferentes escalas e épocas em que foram concebidos. (pelos rasgos e janelas da quadra, que direcionam para diferentes focos ─ ora um edifício histórico, ora a Avenida, ora um mirante para o mundo, ora um convite para a rua.) As casas antigas nos levam de volta ao ritmo vagoroso e ao silêncio do passado. O silêncio da arquitetura é um silêncio afável e memorável. Uma experiência poderosa de arquitetura silencia todo ruído externo; ela foca nossa direção e nossa própria existência, e, como se dá com qualquer forma de 284 arte, nos torna cientes de nossa solidão original.

Desse modo, a apropriação da cidade, se aproxima a noção de útero. Da casa onírica, do aconchego e do lar, as atribuições de relações com o entorno o transformam em lugar. A leitura da cidade passa a ser desenvolvida com a experiência e noção do contexto urbano.

PATRIMÔNIO EDIFICAÇÕES HISTÓRICAS REMANESCENTES Considerou-se passível de tombamento, algumas edificações históricas remanescentes no bairro. De forma a reconhecer o valor das edificações existentes no perímetro de estudo, é proposta suas inserções no escopo do projeto. As edificações estão assinaladas em azul na imagem abaixo, Figura Projeto 3. São elas O conjunto de casas pertencentes a Rua Clóvis Bueno de Azevedo, apresentadas no Levantamento Fotográfico, nas Figura Levantamento 18 e 19, sendo envelopadas pelo edifício administrativo do projeto, mas podendo ser utilizadas para o fim que se destinam hoje, residencial. O Edifício com características de arquitetura bangalô existente na Rua Clóvis Bueno de Azevedo, apresentado no Levantamento Fotográfico, na Figura Levantamento 24. Sendo o edifício geminado, apenas seu esquerdo, de quem da rua olha para o edifício, é mantido. O lado esquerdo é demolido e substituído por uma caixa de vidro, com a reprodução da planta anterior, reafirmando sua permanência histórica e sua sobreposição no tempo. O novo edifício abriga a recepção de pais e secretarias. Também é o portal de acesso 1 para alunos, pais e funcionários da Instituição. O Edifício da Rua Padre Marchetti, apresentado no Levantamento Fotográfico, na Figura Levantamento 44, por suas características de evidencias históricas preservadas no edifício. Não tendo sido encontrada as plantas do edifício na Prefeitura de São Paulo, considerou-se a casca do edifício para efeitos do projeto. A solução para as aberturas existentes e inavaliadas se deu pelo 283 284

PALLASMAA, 2011, p.48 ibidem, p.49


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fechamento do invólucro, criando uma atmosfera quase cavernal em seu interior. Somente é proposta uma abertura para acesso, na fachada voltada para o interior da quadra. O Conjunto de casas geminadas existentes na Rua Dom Luís Lasanha, apresentado no Levantamento Fotográfico, na Figura Levantamento 54, por suas características históricas e conservação. Umas das residências será demolida para a conformação do eixo de ligação histórica traçado no projeto. Todas elas poderão ter o uso atual mantido. As diretrizes gerais visam uma afirmação dos edifícios históricos existentes, com o intuito de possibilitar uma melhor compreensão do espaço e leitura das construções antigas. O reconhecimento do valor para tombamento total ou parcial de bens móveis e imóveis existentes neste território, afirma seu valor cultural, histórico, artístico e arquitetônico.

ARTICULAÇÕES A partir do MIRANTE, o projeto nasce. Conectado diretamente ao edifício administrativo - portal do projeto, onde é feita a recepção de alunos e espera de pais para atendimento. O restante do programa se dispõe conectado a ele. Embora o mirante não seja necessariamente parte do trajeto para acesso da escola, é a vinculação e síntese de todo o projeto.

Figura Projeto 3| Esquema de Implantação. Autor.


Figura Projeto 4| Implantação. Autor.

QUADRAS As quadras se configuram como uma espécie de cidadela, oferecendo assim a vivência do espaço urbano, como experiência do corpo no espaço interior e exterior da arquitetura. Completando o raciocínio de experimentação e formação social do individuo através da arquitetura a Instituição, assume conexões de escalas e contextos diferentes. O interno se posicionará como cidadão, e não apenas como estudante, experimentando as travessias e conexões da cidade pela superfície do tecido urbano, subterraneamente e aereamente, conformando Figura Projeto 5| Praça Cívica e acesso para o raciocínio de Bachelard em A poética do Estacionamento. Quadra da Associação Nossa Senhora Auxiliadora. Autor. espaço, quando descreve a poética da casa e a subdivide em três esferas: sótão (inconsciente) , imaginação e porão (memória).

Para Luiz Reis Alves,


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os atributos humanos são a interação do homem neste universo espacial (...) Presentes fisicamente ou simbolicamente, tem-se uma relação de escala entre o homem e o espaço que o circunda. À medida que se movimenta, seu corpo explora o ambiente espacial, o usufrui para as suas atividades e estabelece uma comunicação perceptiva. Concede valores e significados, apropria-se do 285 espaço e o guarda em sua memória.

Figura Projeto 6 e Projeto 7| Estudo de Implantação. Autor.

Desse modo, a escala utilizada nos novos edifícios foi pensada como fator de indução para a percepção do espaço, juntamente com o confronto entre materiais, por exemplo, sair de um pátio coberto por uma caixa de vidro para um edifício histórico, com paredes de alvenaria, grossas e artesanais. Ou se conectar aos edifícios por alamedas subterrâneas ora secas, ora arborizadas e de repente emergir em um pátio densamente vegetado ou uma clareira.

O espaço escolar é aberto ao favorecimento das disciplinas. As aulas de literatura, por exemplo, podem ser realizadas nos mini-bosques dissipados no meio do programa ou as aulas de história em meio aos pátios rebaixados, por exemplo. O intuito da multiplicidade de espaços é, além de estimular a criança, proporcionar ao corpo docente a possibilidade de aplicar conteúdos capazes de explorar todo o seu potencial. A forma proposta para a Instituição não é definitiva, ela pode constantemente ser expandida e alterada, de acordo com a necessidade.

SUPERFÍCIES SÓTÃO - TÉRREO - PORÃO A relação das superfícies se dá entre os desníveis. Sustentando o discurso de Bachelard, a implantação e a distribuição do programa se faz de modo que as atividades se conformem de modo alusivo a imagem da casa onírica, com sótão, térreo e porão. Sendo o Sótão, onde as ideias se encaixam, representado pelo Edifício Administrativo, na cota mais alta da implantação, o térreo no nível intermediário, com tantos pátios negativos quanto possível, representando a casa com mais de um andar, que segundo Bachelard é quando tudo se mistura e se confundo, quando a casa tem mais de um pavimento, e finalmente, na cota mais baixa, uma passagem subterrânea, conectando os auditórios, pátios e o estacionamento, com o terceiro acesso possível para Instituição.

285

REIS-ALVES, 2007


Figura Projeto 8| Esquema de articulação.

DO EXTERIOR PARA O INTERIOR A descontinuidade é o fator condutor dos percursos, provocando um senso de vivenciamento do espaço, sendo um jardim, não apenas um jardim, mas uma superfície elevada que facilmente pode, sua extremidade, ser transformada em banco ou uma janela não apenas um recorte na parede, mas um elo de ligação com o exterior, um ponto de contemplação, de descanso, de comunicação com o outro lado, como as janelas de algumas salas de aula. (Ver Figura 126) Figura 126| Janela Van Eyck. Fonte: Manu

Figura Projeto 9| Perspectiva. Autor.


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Figura Projeto 10 e Projeto 11| Perspectiva. Autor.


VEGETAÇÃO Será mantida a vegetação existente. Em alguns pontos será adensada com o intuito de provocar o pedestre a tomar ciência do trecho de percurso ao qual está inserido, podendo em alguns momentos se sentir em um bosque ou em uma clareira. Deste mondo, o projeto considera a relação da instituição com entorno e usuário ao propor uma resignificância para o olhar sob os edifícios históricos e sua a tipologia, de modo que usa o gabarito para reafirmar o entorno e o vínculo com os edifícios da quadra. A Instituição, análoga ao lar, atende ao programa de necessidades e distribuição dos ambientes para um edifício escolar. Os ambientes não se fixam a uma estrutura pedagógica, é prezado a flexibilidade dos espaços.

Posição Pedagógica Segundo a Lei 9.394/96, de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Título I, Artigo 1°: A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. Portanto, o isolamento durante a formação da educação axiológica da criança é um erro. As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) são normas obrigatórias para a Educação Básica que orientam o planejamento curricular das escolas e dos sistemas de ensino. Elas são discutidas, concebidas e fixadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). Cada etapa e modalidade dela (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio) também apresentam diretrizes curriculares próprias. As etapas correspondentes aos diferentes momentos constitutivos do desenvolvimento educacional, a Educação Básica compreende: I – a Educação Infantil, que compreende: a Creche, englobando as diferentes etapas do desenvolvimento da criança ate 3 (três) anos e 11 (onze) meses; e a Pré-Escola, com duração de 2 (dois) anos. II – o Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, com duração de 9 (nove) anos, e organizado e tratado em duas fases: a dos 5 (cinco) anos iniciais e a dos 4 (quatro) anos finais; III – o Ensino Médio, com duração mínima de 3 (três) anos. A instituição de ensino deve estar preparada para receber alunos com necessidades especiais conforme Parecer CNE/CEB no 7/2010. 286 Desde 2010, o Conselho Nacional de Educação aprovou um parecer que, entre outras medidas consideradas essenciais para um Ensino de qualidade, o limite de estudantes em cada turma, que varia de acordo com a etapa educacional. De acordo com a proposta, as turmas de pré-escola e dos dois primeiros anos do ensino fundamental não poderão exceder a 25 alunos. Já as classes das

286

ROCHA, 2004.


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demais séries do ensino fundamental e as do ensino médio, segundo determina o projeto, devem ter, no máximo, 35 alunos.287 Desse modo, foi priorizada a busca de um sentido pedagógico subjacente às decisões de projeto. O embasamento arquitetônico, buscado nas teorias fenomenológicas, buscam alterar o processo de aprendizagem sugerindo novas percepções e necessidades espaciais. O desenvolvimento baseado na proposta arquitetônica educativa, permissiva, não só contempla ensinamentos "humanos", caracteriza ambientes e interfere no desenvolvimento e potencialidade das crianças, enfatizando interação entorno, com o meio em que vivem. Os estímulos sensoriais, são possíveis neste espaço híbrido, de multifuncionalidades e em como se constrói a relação da escola com a família. Ambas poderiam se articular no sentido de somar esforços e interesses para garantir a continuidade da formação proposta aos indivíduos de determinada cultura.

Programa O complexo da Instituição de ensino é desmembrado em seis setores. O Institucional onde se localiza a biblioteca, para uso dos alunos e da comunidade, salas de informática para aulas escolares, e auditórios multiuso. O Pedagógico com os edifícios educacionais para ensino infantil, fundamental I e fundamental II no térreo e auditórios no subsolo. O setor de Esportivo, com quadras poliespotivas, piscinas e salas de aula multiuso para apoio. O Administrativo com as salas de administração e setor pedagógico. O Suster com salão de festas, refeitório e pátios livres para oficinas em diversos níveis, e por fim, o setor do Estacionamento, com dois níveis de vagas e térreo livre, para a cidade.

Figura 127| Fluxograma de distribuição do programa. 287

Senado, 2012 apud ROCHA, 2004


A tabela abaixo representa a área bruta utilizada pelo Edifício. A Instituição é preparada para funcionar em período integral, de sete a dez horas por dia, podendo também revezar com turmas de meio período. Há sugestão de turmas de 15 a 20 alunos na Educação Infantil, 20 a 25 alunos no Fundamental I e 25 a 30 no Fundamental II, podendo a Instituição atender aproximadamente mil alunos.

Tabela 4| Quadro de áreas. Autor.


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MANU EM CORES interno

Edifícios A disposição dos edifícios pelas quadras provocam o usuário ao encontro corporal de situações, como desníveis, e possibilitam o diálogo com a cidade. A experiência das transposições procuram tornar visível como o mundo nos toca. EDIFÍCIO INSTITUCIONAL Atualmente, a ala direita, de quem da Av. Nazaré olha para o edifício do Educandário da Sagrada Família está em uso do Museu de Zoologia, localizado do outro lado da Avenida, para seus fins administrativos. Levando em consideração que após o término da reforma o Museu não necessitará da assistência e que o Educandário estará em desuso, é proposto um programa institucional para o edifício. Se localizará a biblioteca, para uso dos alunos e da comunidade, com acesso controlado por serviços de segurança, salas de informática para as aulas escolares, podendo as salas também serem utilizadas pela comunidade e auditórios e salas multiuso, que completem essa característica. Uma demanda Figura Projeto 12| Educandário bastante evidente entre estudantes é a falta de local para se Sagrada Família. Fonte: Manu encontrarem fora do ambiente escolar para a realização de tarefas e que tenham infraestrutura disponível.

EDIFÍCIOS PEDAGÓGICOS EDUCAÇÃO INFANTIL E FUNDAMENTAL I Os edifícios pedagógicos se articulam pelo pátio central, que funciona como uma área de acomodação e dissipação nos horários de entrada e saída da escola e também como pátio para lazer. No edifício esquerdo, de quem da Rua Gama Lobo olha, é sugerido que se instale as turmas da Educação Infantil, no pavimento inferior e Fundamental I, no pavimento superior. A planta do térreo é dividida em área silenciosa, do lado direito, com salas para aulas individuais, com desníveis diferentes para auxiliar a professora ministrar a aula, sala pra soneca e apoio Figura Projeto 13| Sala de Aula pedagógico. Do lado esquerdo ficam as salas de aula para atividades Educação Infantil. Autor: Manu em grupo, com janelas retrateis para permitir sua ampliação até a circulação ou até mesmo para a outra sala. Todas as salas do térreo são abertas para pátios, a maior parte, para pátios vegetados.


O pavimento superior, sugerido para o Fundamental I, conforma salas de diversos formatos, com estruturas de mini auditórios. Todas elas possuem telhado com inclinação direcionada para o fundo da sala, para favorecer a acústica e janelas voltadas para a face menos ensolarada, tanto quanto possível. A circulação entre as salas conforma recuos estratégicos, para que o aluno possa se reunir em grupos.

FUNDAMENTAL I E II

Figura Projeto 14| Sala de Aula Fundamental II. Fonte: Manu

O Edifício situado do lado direito abriga salas de aula, sugeridas que sejam para alojamento do alunos do Fundamental II e eventualmente turmas em adaptação para a transição de fase do Fundamental II e também salas grandes, sugeridas para a instalação de Laboratórios científicos, uma vez que fica no nível de transposição por passarela aérea com o outro edifício educacional, podendo os alunos dos dois níveis utilizar, sem precisar fazer a travessia pelo térreo. As salas de aula e pátios de circulação foram projetados com pé- Figura Projeto 15| Pátio Interno. direito diferente e rasgos na laje, permitindo a interação entre os Educacional II. Fonte: Manu vários níveis do edifício. As salas, assim como no Fundamental I, conformam-se com paredes inclinadas e pátios de encontro nos corredores.

PANÓPTICO Levando em consideração o modo de vida atual, a Quadra com os Edifícios Pedagógicos provavelmente será a quadra com maior número de acessos e circulação de alunos. Desse modo, o serviço de segurança está instalado nesta quadra. O Panóptico, debatido por Michel Foucault se insere como um farol de observação no pátio. Abriga os equipamentos necessários para a vigilância e segurança da Instituição e os funcionários, que podem estar vigiando pelos equipamentos e também pelas extensas janelas de material translucido na fachada, voltadas para os locais de passagem e concentração de alunos. A localização próxima ao acesso permite o controle e vigilância de maneira simultânea. Figura Projeto 16| O Panóptico. Fonte: Manu

EDIFÍCIO ESPORTIVO A quadra esportiva abriga o edifício com três quadras cobertas, duas piscinas, para crianças menores e outra com maior profundidade, quadra gramada aberta, vestiário instalado em edificação existente (edificação passível de tombamento), e salas de aula de apoio, com aparelhos de ginástica, carteiras,


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ou mesmo materiais transitórios que auxiliem em dias de cursos, palestras, etc. O acesso se dá aereamente, pelas circulações de escada ou rampa do edifício administrativo. A quadra também tem acesso pela Rua Moreira e Costa, que pode ser utilizado aos finais de semana, para a comunidade.

Figura Projeto 17| Quadra esportiva. Fonte: Manu

EDIFÍCIOS ADMINISTRATIVO O Edifício Administrativo compõe-se da organização pedagógica do edifício, como a sala de professores, diretoria, almoxarifado, apoio pedagógico e administrativos, como secretaria, tesouraria. O edifício se articula aereamente, transpondo duas vias e conectando três quadras. A circulação é sempre feita pela extremidade das quadras, entre as vias carroçáveis. O aluno pode por exemplo, acessar a escola pela quadra do Mirante e atravessá-lo até a quara educacional, ou a quadra esportiva.

Figura Projeto 18| Edifício Administrativo. Autor: Manu

EDIFÍCIO SUSTER Considerando o caráter agressivo da intervenção, a Hearst Tower, projeto de Norman Foster é a principal referência imagética para o projeto, contrário ao conceito das edificações neutras e pastiche, apresentadas por Alain de Botton em Arquitetura da Felicidade, que são edificações construídas atualmente, mas com o estereótipo de antigas edificações no condado da Inglaterra. Figura 128| Hearts Tower. Fonte: http://www.archdaily. Desse modo, o caráter agressivo da intervenção com/204701/flashback-hearst-tower-foster-andpartners/ especula a possibilidade de um novo olhar e hearst12/ Acesso: 15 de abril de 2015.


reconexão com o tecido urbano existente, num sentido de provocar sua existência e importância para a conformação histórica. O usuário, mais que o contemplador, pratica uma transformação do olhar, que no mesmo edifício contrapõem-se o novo e o antigo. Numa tentativa de registro da sociedade atual sobre a anterior, sem a apagar. O Edifício Suster abriga em seu térreo pátios em vários níveis, conectando o interior do edifício com a quadra, um pavimento sugerido como refeitório e o seu superior, que pode ser uma extensão dele e também ser utilizado em dias de festa. O Edifício, tomado como casca para a elaboração do projeto, visto que não foram encontradas plantas do projeto original disponíveis na prefeitura ou arquivo geral, foi repensado em sua definição de níveis. Os novos pavimentos, soltos da casca, foram dispostos em relação a teoria de Bachelard sobre a casa onírica, que sustenta que, quando em uma casa há mais de um pavimento, todos os Figura Projeto 19| Edifício Suster. Autor: Manu pensamentos e emoções se embaralham. Desse modo, ora o piso do pavimento está passando no meio na janela, ora o piso do pavimento é tão baixo que somente os ombros e cabeça do indivíduo conseguem avistar a rua. O pedestre, da rua, observa metades de tronco caminhando dentro da edificação ou topos de cabeça. O limite do último pavimento, foi pensado como um guarda corpo existente nos castelos medievais, devido a probabilidade das paredes existentes terem aproximadamente 30cm e seu desenho remeter ao arremate das muralhas. A substituição do telhado por material translucido fixo em caixilho reticular de aço, permitiu a expansão de seu gabarito. O acesso da quadra se dá pelo subsolo. Por escadas, saindo no pátio da quadra, ou por elevador, saindo no hall do térreo do edifício.

ESTACIONAMENTO Devido a grande demanda por estacionamento na região, como pode ser observado no levantamento fotográfico, e a possível influência no tráfego que a escola pode oferecer nos horários de acesso e saída da Instituição, foi proposto um estacionamento em dois níveis. O primeiro nível somente com vagas para estacionar e o segundo com vagas e o terceiro acesso para a escola. As vagas propostas também são um reforço para os dias de evento na Instituição. A implantação do estacionamento no subsolo justificase pela sua funcionalidade, a praça cívica conformada no térreo é, agora, do pedestre. As ruas são livres para o seu caminhar e Projeto 20| Subsolo 2. Acesso contemplar. A paisagem é livre para a revelação das edificações. para Educacional. Autor: Manu.


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9 CONSIDERAÇÕES FINAIS


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"A arquitetura deve ser a construção elevada aos sentidos". 1


CONSIDERAÇÕES FINAIS A proposição e argumento para o discurso do trabalho, sustentada na hipótese de creditar a frase de Karl Friedrick Shinkel: A arquitetura deve ser a construção elevada aos sentidos , como esclarecedora de uma inquietação durante o curso, motivou o embasamento do trabalho de forma a compreender o sentido da arquitetura pela arquitetura e o ser humano como sujeito existente a partir dela. A escolha pelo projeto de um edifício escolar se sustenta na observação da formação social do indivíduo, que se assume com características herdadas da sua infância, e principalmente de suas primeiras trocas sociais e espaciais. A instituição de ensino (formal ou não) é a segunda casa do indivíduo. Quando não a primeira, no caso de crianças que passam a maior parte da infância em instituições, ou seja, depois do berço, podemos considerar o "serviço de acolhimento", ministrado pelos terceiros, como a primeira vivência do mundo, onde o sujeito passa a estar em processo de desenvolvimento individual. Para este órfão, tudo o que ele tem é o edifício em que vive, e é este que compõe seu ego. Sem a casa (onírica), o sujeito passa a ser reles nômade no meio em que vive. Desse modo, a instituição de ensino de longa permanência aqui proposta passa a fazer sentido quando, através das experiências que oferece – espaciais, sensoriais e fenomenológicas – fica arraigada na formação do ser, ou seja, o indivíduo passa a existir a partir da troca de experiências com a arquitetura. A realização deste trabalho esbarrou em vários obstáculos. O primeiro deles foi a dificuldade de integrar pontos de vista profissionalmente distantes, tais como: ◦ O arquitetônico, no questionamento do sentido da produção da arquitetura por um arquiteto, visto que muitas vezes soluções espaciais estão a margem de uma caneta, por exemplo, uma árvore determinada como paisagismo em planta pode ser definida pelos usuários do espaço como ponto de encontro, ou ainda um auto didata produzir um espaço sublime através de suas experiências mundanas; ◦ O pedagógico, no sentido do questionamento das posições pedagógicas e suas possíveis articulações; ◦ o psico-filosófico, no sentido de compreender a formação do indivíduo submisso ao meio em que vive, e ◦ o político administrativo, no sentido de adequar legislação municipal vigente com a dos patrimônios tombados e o interesse diverso na produção do projeto. Outra limitação foi a escassez de trabalhos acadêmicos com o mesmo enfoque na área de arquitetura. Muitos dos livros e teses utilizados foram da área de sociologia ou filosofia. Na maioria das vezes, alguns trabalhos de arquitetura cujo tema era o "espaço escolar", utilizavam os termos para a delimitação de espaços: como sala de aula, pátio ou espaço para brincar, espaço para sentar, sem atrelar o significado para a formação do indivíduo. Uma parcela expressiva do material utilizado veio de artigos e periódicos das áreas de pedagogia. Levando em consideração o espaço como principal precursor do desenvolvimento cognitivo, sensorial e perceptivo, a atuação do arquiteto não é neutra. Os problemas sociais podem ser debatidos e explorados com a utilização do conhecimento arquitetônico e seus recursos, línguisticos, metafísicos e espaciais, mesmo que não sejam resolvidos.


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11 LISTAS FIGURAS Figura 1| A "roda", onde o bebê era deixado. Fonte: Revista de História ..........................................................28 Figura 2| Escola Normal de São Paulo. Planta baixa do Pavimento Térreo e Superior, respectivamente. ...........41 Figura 3| Oficina de artes industriais................................................................................................................43 Figura 4| Pavilhão de Ginástica - Escola Parque - Bahia. Crédito: UnB/CEDOC. .................................................43 Figura 5| Escola Parque - cantina e serviços gerais ...........................................................................................43 Figura 6| Sugestões de disposição de carteiras em salas de aula para escolas superiores .................................48 Figura 7| Planta do Térreo. Escola Waldorf em Überlingen, Alemanha, 1972....................................................49 Figura 8| Hall de entrada. Escola Waldorf em Überlingen, Alemanha, 1972. .....................................................49 Figura 9| Modelo de escola urbana proposto por Richard Neutra. ...................................................................50 Figura 10| Interior e exterior das salas de aula. Fonte: ETSAVEGA. ...................................................................51 Figura 11| O ninho. Autor: João Sergio Barros. .................................................................................................54 Figura 12| Choupana em Cordeville, 1890 - Van Gogh......................................................................................54 Figura 13| Quasímodo .....................................................................................................................................55 Figura 14| Notre Dame de Paris .......................................................................................................................55 Figura 15| Equilibrium. Residência dos Preston, sala 'de estar'. ........................................................................61 Figura 16| Equilibrium. Residência dos Preston. Nota-se a arquitetura e indumentária sóbrios, opacos. ...........61 Figura 17|Preston recebe instruções por teleconferência ................................................................................61 Figura 18| Os edifícios, monumentais, apresentavam letreiros. .......................................................................62 Figura 19| Sankt Petri Church - Klippan (1962 - 1966), Sigürd Lewerentz ..........................................................62 Figura 20| Crianças brincam na rua. Bairro do Ms. Hullot. ................................................................................63 Figura 21| Casa Arpel. .....................................................................................................................................63 Figura 22| Widford Trading State, Chelmsford. in Arquitetura da Felicidade.....................................................65 Figura 23| Catedral de Notre-Dame, Paris........................................................................................................65 Figura 24| Ville Savoye. in Arquitetura da Felicidade, episódio 2 - Gosto se discute. Alain de Botton ...............65 Figura 25| Escultura de Richard Serra: Promenade no Grand Palais de Paris. ....................................................66 Figura 26| Obra de Christo e Jeanne Claude, The Gates ...................................................................................66 Figura 27| Zander Olsen. Land Art: álgama entre árvores e horizonte com uma fita branca nos troncos ...........66 Figura 28| Caravaggio. The Calling of Saint Matthew (1599-1699). ...................................................................68 Figura 29| Titus estudando ..............................................................................................................................68 Figura 30| Casa Gilardi — Luis Barragan...........................................................................................................69 Figura 31| Janelas panorâmicas in Arquitetura da Felicidade, episódio 1 - A Moradia de Hoje. Alain de Botton69 Figura 32| Cidade de Casares, em uma colina do sul da Espanha. Fotografia de Juhani Pallasmaa. ...................70 Figura 33| Arquitetura cinestética e de texturas de Frank Lloyd Wright. ...........................................................71 Figura 34| Igreja de São Pedro em Klippan.......................................................................................................72 Figura 35| Densidade do espaço, luz materializada, penumbra. Koshino House................................................73 Figura 36| A experiência do corpo. ..................................................................................................................75 Figura 37| Centraal Beheerr. ...........................................................................................................................76 Figura 38| Muziekcentrum Vredenburg ...........................................................................................................76 Figura 39|Apollo Schools - Montessori School and Willemspark School Amsterdam .........................................77 Figura 40 e Figura 41 | Montessori College Osost Amsterdam ..........................................................................77 Figura 42| Mesquita Al-Irsyad - Indonésia. Arquiteto PT. Urbane Indonesia......................................................78 Figura 43| Arquitetura da geometria e gravidade de Louis Kahn. Instituto Salk ................................................78 Figura 44| Estrada de ferro que ligava com o litoral. ........................................................................................86 Figura 45| Colégio Dom Pedro: até mesmo os serviços remetem a ideia da independência ..............................87 Figura 46| Mapa do Parque da Independência e arredores. .............................................................................89 Figura 47| Conjunto de bens tombados no bairro Ipiranga. ..............................................................................91 Figura 48| Antigo Grupo Escolar São José. .......................................................................................................92 Figura 49| Instituto Cristóvão Colombo. ..........................................................................................................93 Figura 50| Cristóvão Colombo.. .......................................................................................................................93 Figura 51| Clínica Infantil do Ipiranga...............................................................................................................94 Figura 52| Instituto Padre Chico. .....................................................................................................................94 Figura 53| Antigo Juvenato Santíssimo Sacramento. ........................................................................................95


198 11 LISTAS

Figura 54| Instituto Maria Imaculada. .............................................................................................................. 95 Figura 55| Colégio São Francisco Xavier. .......................................................................................................... 96 Figura 56| Antigo Internato Nossa Senhora Auxiliadora. Vista do pátio de acesso lateral interno. .................... 96 Figura 57| Foto vista do jardim interno ........................................................................................................... 97 Figura 58| década 20/30. Vista aérea do Bairro nos anos 1920/30 ................................................................... 97 Figura 59| Antigo Internato Nossa Senhora Auxiliadora. Portão Tombado. ...................................................... 97 Figura 60| Antigo Noviciado Nossa Senhora da Graças Irmãs Salesianas.......................................................... 98 Figura 61| Educandário Sagrada Família. ......................................................................................................... 98 Figura 62| Imagem aérea com demarcação do perímetro de estudo e bens tombados. ................................. 103 Figura 63| Principais acessos ao perímetro de estudo ................................................................................... 104 Figura 64| Principais acessos ao perímetro de estudo. ................................................................................... 105 Figura 65| Mapa zoneamento. ...................................................................................................................... 106 Figura 66| Mapa de estudo para nova proposta de zonemento, segundo lei 16.050/14. ................................ 108 Figura 67| Levantamento local da área de estudo. Cheios e vazios. ............................................................... 115 Figura 68| Levantamento local da área de estudo. Uso e ocupação do solo. .................................................. 117 Figura 69| Levantamento local da área de estudo. Gabarito. ......................................................................... 119 Figura 70| Levantamento local da área de estudo. Vegetação, mobiliário urbano, circulação. ........................ 121 Figura 71| Levantamento local da área de estudo. Demolição. ...................................................................... 123 Figura 72| Base. ............................................................................................................................................ 125 Figura 73| Mapa referencial das fotografias levantadas durante as visitas de campo. .................................... 126 Figura 74| Implantação. ................................................................................................................................ 142 Figura 75| Observa-se na vista aérea a horizontalidade do projeto. ............................................................... 143 Figura 76| Diagrama de uso. Planta do Pavimento Inferior. ........................................................................... 144 Figura 77| Diagrama de uso. Planta do Pavimento Superior. .......................................................................... 145 Figura 78| | Diagrama de Circulação do Pavimento Inferior.. ......................................................................... 146 Figura 79| Pátio. ........................................................................................................................................... 147 Figura 80| Relação entre as unidades. ........................................................................................................... 147 Figura 81| Vista de debaixo do volume de dois pavimentos para o pátio principal de acesso ......................... 147 Figura 82| Vista do interior do edifício para o pátio de recreação descoberto. ............................................... 148 Figura 83| Pátio interno. ............................................................................................................................... 148 Figura 84| Menina olhando pequenos espelhos............................................................................................. 149 Figura 85| Circulação interior. ....................................................................................................................... 149 Figura 86| Pátio coberto. Piso pavimentado em pedra................................................................................... 149 Figura 87| As janelas panorâmicas ................................................................................................................ 149 Figura 88| Cobertura. .................................................................................................................................... 150 Figura 90| Interior da cúpula. ........................................................................................................................ 150 Figura 89| Diagrama de iluminação zenital. Estudo. Planta da Cobertura.. ..................................................... 150 Figura 91| Acesso principal............................................................................................................................ 151 Figura 92| Pátio externo................................................................................................................................ 151 Figura 93| Fachada. Facade. .......................................................................................................................... 151 Figura 94| Escola Montessori em Delft. ......................................................................................................... 152 Figura 95| Antiga entrada. ............................................................................................................................ 153 Figura 96| Crianças contaminas o espaço. ..................................................................................................... 153 Figura 97| Escola Montessori em Delft. ......................................................................................................... 153 Figura 98| Estudo de ocupação e circulação. ................................................................................................. 154 Figura 99| Croqui de Herman Hertzberger para sala de aula. ......................................................................... 154 Figura 102| Pátio de convívio com boco de concreto elevado do solo. ........................................................... 155 Figura 100 e Figura 101| Hall de entrada das salas de aula com vitrine. ......................................................... 155 Figura 103| Pátio negativo. ........................................................................................................................... 156 Figura 104| Pátio negativo. ........................................................................................................................... 156 Figura 105| Espaço coletivo........................................................................................................................... 156 Figura 106| Vitrine de exposição da sala de aula, voltada para o hall de circulação.. ...................................... 156 Figura 107| Maquete― Perspectiva da implantação baseada no projeto divulgado. ...................................... 158 Figura 108| Maquete. Foto de José Mascardi. ............................................................................................... 158 Figura 109| Pátio da entrada principal ― Perspectiva baseada no projeto divulgado. .................................... 159 Figura 110| Plantas originais. Pavimento Inferior e Superior, respectivamente. ............................................. 160 Figura 111| Pátio de conexão entre os niveis de acesso ................................................................................. 163


Figura 112| Laboratório de Desenvolvimento Humano da UFV. Voçosa. MG, 2012......................................... 164 Figura 113| Laboratório de Desenvolvimento Infantil da UFV. Voçosa. MG, 2012 ........................................... 164 Figura 114| Mapa esquemático de Planta do Laboratório de Desenvolvimento Humano. ............................... 165 Figura 115| Croqui da planta da Capela.. ....................................................................................................... 166 Figura 116| Implantação Capela BK ............................................................................................................... 167 Figura 117 e Figura 118| Processo de materialização do projeto. ................................................................... 168 Figura 119 e Figura 120| Paredes internas. .................................................................................................... 168 Figura 121| Óculo ........................................................................................................................................ 169 Figura 122 e Figura 123| Volumetria da Capela. ............................................................................................. 170 Figura 124| Confluencia entre interior e exterior. O corpo se adapta ao adentrar. ......................................... 170 Figura 125| Do Mirante se avista os monumentos históricos tombados. ........................................................ 174 Figura 126| Janela Van Eyck........................................................................................................................... 179 Figura 127| Fluxograma de distribuição do programa. ................................................................................... 182 Figura 128| Hearts Tower. ............................................................................................................................. 186

LISTA DE FIGURAS - LEVANTAMENTO Figura Levantamento 1| Edifícios de serviços. ................................................................................................ 126 Figura Levantamento 2| Concessionária.. ...................................................................................................... 126 Figura Levantamento 3| Educandário Sagrada Família. .................................................................................. 127 Figura Levantamento 4| Educandário Sagrada Família. .................................................................................. 127 Figura Levantamento 5| Educandário Sagrada Família. .................................................................................. 127 Figura Levantamento 6| Museu de Zoologia. ................................................................................................. 127 Figura Levantamento 7| Museu de Zoologia. ................................................................................................. 127 Figura Levantamento 8| Nota-se a excessiva presença de cabeamento. ......................................................... 127 Figura Levantamento 9| Avenida Nazaré ....................................................................................................... 128 Figura Levantamento 10| Lote vazio. ............................................................................................................. 128 Figura Levantamento 11| Edifícios de serviços. . ............................................................................................ 128 Figura Levantamento 12| Avenida Nazaré. .................................................................................................... 128 Figura Levantamento 13| Edifícios de serviços. .............................................................................................. 128 Figura Levantamento 14| Nota-se a concentração de pedestres em frente a placa ônibus. ............................ 128 Figura Levantamento 15| Uso desativado. ..................................................................................................... 129 Figura Levantamento 16| Instituto Maria Imaculada. ..................................................................................... 129 Figura Levantamento 17| Avenida Nazaré. .................................................................................................... 129 Figura Levantamento 18| Residências com potencial de Tombamento........................................................... 129 Figura Levantamento 19| Residências com potencial de Tombamento........................................................... 129 Figura Levantamento 20| Escola Técnica Getúlio Vargas. ............................................................................... 130 Figura Levantamento 21| Antigo Noviciado Nossa Senhora das Graças Irmãs Salesianas. ............................... 130 Figura Levantamento 22| Muro tombado com aproximadamente 4 metros de altura. ................................... 130 Figura Levantamento 23| Rua de caráter local, com demanda para estacionamento. ..................................... 130 Figura Levantamento 24| Edifício geminado com potencial para Tombamento. ............................................. 130 Figura Levantamento 25| Edifício de gabarito acima da média rua. ................................................................ 131 Figura Levantamento 26| Acesso para atual Edifício Escolar. .......................................................................... 131 Figura Levantamento 27| Desnível acentuado. .............................................................................................. 131 Figura Levantamento 28| Desnível acentuado. .............................................................................................. 131 Figura Levantamento 29| Muro Tombado. .................................................................................................... 131 Figura Levantamento 30| Edifícios residenciais ............................................................................................. 131 Figura Levantamento 31| Muro com aproximadamente 5 metros de altura. ................................................. 132 Figura Levantamento 32| Desnível acentuado ............................................................................................... 132 Figura Levantamento 34| Edifícios residenciais em frente a quadra da GV. .................................................... 132 Figura Levantamento 35| Rua residencial. Demanda para estacionamento. ................................................... 132 Figura Levantamento 36| Edifícios residenciais ............................................................................................. 132 Levantamento 33|Demanda para estacionamento. ....................................................................................... 132 Figura Levantamento 37| Lotes residenciais. ................................................................................................. 133


200 11 LISTAS

Figura Levantamento 38| Lotes residenciais. Muro atual Escola instalada. ..................................................... 133 Figura Levantamento 39| Apesar do ponto de ônibus a rua quase não têm pedestres ................................... 133 Figura Levantamento 40| Muro com altura média de três metros. ................................................................ 133 Figura Levantamento 41| Edifícios residenciais. Demanda por estacionamento. ............................................ 133 Figura Levantamento 42| Edifício de serviços. Demanda por estacionamento................................................ 133 Figura Levantamento 43| Nota-se a presença de cabeamento. ...................................................................... 134 Figura Levantamento 46| Acesso para Fundação Sagrafa Família. .................................................................. 134 Figura Levantamento 45| Residencias geminadas. ......................................................................................... 134 Figura Levantamento 47| Muros altos. Edifício GV......................................................................................... 134 Figura Levantamento 48| Nota-se presença de cabeamento. Rua Moreira e Costa. ....................................... 135 Figura Levantamento 49| Acesso GV ............................................................................................................ 135 Figura Levantamento 51| Edifício de serviços ............................................................................................... 135 Figura Levantamento 52| FUNSAI. ................................................................................................................ 135 Figura Levantamento 50| Rua murada nas duas mãos. .................................................................................. 135 Figura Levantamento 54| Residências geminadas. ......................................................................................... 136 Figura Levantamento 53| Demanda por estacionamento. Fonte: Arquivo Pessoal.......................................... 136 Figura Levantamento 58| Antigo Grupo Escolar São José. Em desuso. ............................................................ 136 Figura Levantamento 55| Acesso a Instituição. Vegetação densa. .................................................................. 136 Figura Levantamento 56| Mobiliário urbano no passeio. Senai. ..................................................................... 136 Figura Levantamento 57| Galpões de serviço. Demanda por estacionamento. ............................................... 136

LISTA DE FIGURAS - PROJETO Figura Projeto 1| Partido. Implantação. Autor. .............................................................................................. 173 Figura Projeto 2| Mirante. Croqui de estudo. Autor. ...................................................................................... 174 Figura Projeto 3| Esquema de Implantação. Autor. ........................................................................................ 176 Figura Projeto 4| Implantação. Autor. ........................................................................................................... 177 Figura Projeto 5| Praça Cívica e acesso para Estacionamento. Autor. ............................................................. 177 Figura Projeto 6 e Projeto 7| Estudo de Implantação. Autor. ......................................................................... 178 Figura Projeto 8| Esquema de articulação. .................................................................................................... 179 Figura Projeto 9| Perspectiva. Autor. ............................................................................................................. 179 Figura Projeto 10 e Projeto 11| Perspectiva. Autor. ....................................................................................... 180 Figura Projeto 12| Educandário Sagrada Família. Fonte: Manu ...................................................................... 184 Figura Projeto 13| Sala de Aula Educação Infantil. Autor: Manu ..................................................................... 184 Figura Projeto 14| Sala de Aula Fundamental II. Fonte: Manu ........................................................................ 185 Figura Projeto 15| Pátio Interno. Educacional II. Fonte: Manu ....................................................................... 185 Figura Projeto 16| O Panóptico. Fonte: Manu................................................................................................ 185 Figura Projeto 18| Edifício Administrativo. Autor: Manu ................................................................................ 186 Figura Projeto 17| Quadra esportiva. Fonte: Manu ........................................................................................ 186 Figura Projeto 19| Edifício Suster. Autor: Manu ............................................................................................. 187 Projeto 20| Subsolo 2. Acesso para Educacional. Autor: Manu. ...................................................................... 187

LISTA DE TABELAS Tabela 1| | Quadro 04 do Livro XIII anexo à Lei 13.885/04 - Características de Aproveitamento, Dimensionamento e Ocupação dos Lotes. ..................................................................................................... 106 Tabela 2| Recorte com as categorias de uso e atividades de interesse para desenvolvimento do projeto. ...... 107 Tabela 3| Gabaritos estipulados para as quadras de intervenção. Fonte: Res11/07 ........................................ 112 Tabela 4| Quadro de áreas. Autor. ................................................................................................................ 183


LISTA DE SIGLAS ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas CONDEPHAAT: Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico CONPRESP:Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo DOC: Diário Oficial da Cidade FUNSAI: Fundação Nossa Senhora Auxiliadora do Ipiranga GV: ETec Getúlio Vargas NBR: Norma Brasileira PMSP: Prefeitura do Município de São Paulo SEMPLA: Secretaria do Planejamento Urbano SENAI: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. ZER: Zona Estritamente Residencial ZC: Zona Centralidade ZM: Zona Mista ZPI: Zona Predominantemente Industrial

12 ANEXOS ENTREVISTAS ÓRFÃO Compreender influências externas na vida do indivíduo. De forma que a escola, em um dado período de sua vida passa a ser tudo o que tem certeza de que tem.

Nome: Fábia Alaene Idade: 20 anos Fábia Alaene, de 20 anos, revelou em entrevista realizada em 23 de junho de 2015 que com aproximadamente um ano foi parar no orfanato, que tinha a promessa de cuidar dela. Saiu com aproximadamente 2 anos e meio, adotada pela mãe da ex-namorada de seu tio. Alaene revelou que durante o processo de adoção chegou a voltar para a instituição algumas vezes - com aproximadamente sete anos. Ela diz se recordar das salas, que eram escuras e sombrias. "O orfanato, religioso, tinha uma rotina severa. Haviam horários para brincar e comer, por exemplo, além dos lugares definidos para cada atividade." Os espaços eram denominados e só podiam ser utilizados para as tarefas determinadas. O refeitório, por exemplo, diz Fábia, "tinha uma mesa enorme e só era utilizado na hora das refeições, não podia ser utilizado fora disso". A entrevistada revelou que durante o processo de adoção chegou a voltar para a instituição algumas vezes, quando tinha aproximadamente sete anos. Ela diz se recordar das salas, que eram escuras e sombrias. Os quartos eram pequenos e cheios. "Cada um tinha duas beliches. A sensação era que eles queriam entocar a gente.", diz Fábia ao se recordar da situação de organização ao qual eram submetidos. Ela também se recorda do parquinho, que tinha um tanque de areia, e posteriormente, em uma de suas visitas havia sido retirado: "Ficou bem marcado pra mim, o parquinho de areia. Havia um montinho, e uma das freiras dizia que eu tinha o pé torto e pedia pra eu bater com eles no montinho para ajudar no desenvolvimento".


202 12 ANEXOS

Apesar do zelo, a ex interna revela que as freiras apenas cuidavam das crianças e não distinguiam pelo histórico, situação ou idade, por exemplo. A sensação mais frustrante que sofria dentro daquela atmosfera, era a de abandono. "A gente não tinha perspectiva se ia ou não ficar no orfanato, rolava alguns boatos que se a gente completasse a maioridade íamos ser expulsos e virar meninos de rua, isso apavorava os internos mais velhos. Eu tive sorte de encontrar uma família bacana, que me acolheu e me deu uma base. Minha própria irmã não teve a mesma sorte, ficou com minha avó, mas acabou não se adaptando e se envolvendo com drogas, hoje não tenho mais contato com ela, ela tá em outro estado." Ela diz que o que faltava no orfanato era a sensação de um lar, de pertencimento e segurança. Para Alaene, a definição de lar está relacionada a construção de uma família, de laços com as pessoas e com o ambiente em que se situa, com o interior, como irmãos. Ela não se recorda da sua primeira casa, sabe que era em um ambiente hostil, provavelmente uma favela. Sempre que tem sonhos, volta para a casa no interior do estado de São Paulo, que viveu com sua mãe adotiva (que também faleceu) quando criança.

MORADOR DO BAIRRO Compreender influências da imagem criada do bairro sob os indivíduos e o seu uso cotidiano. O bairro com todas as suas transformações tornou-se hoje um local de usos residenciais, comerciais e de serviços. Moradores afirmam que o bairro é um lugar bom de se morar e é, atualmente, bem servido de infra estrutura, além do fato de que “antigamente o rio Tamanduateí alagava e hoje isso não ocorre mais” (BARONE, Eduardo, 2013). Eduardo Barone288 diz que mesmo tendo sido assaltado duas vezes considera o lugar seguro, e tem muito apego pelo bairro; afirma que a visão dos moradores do local é bem diferente da quem vai ao Ipiranga só para visitar, e que os moradores pouco utilizam os “bens”; mas mesmo assim acredita que o parque, o museu e o monumento contribuem para a identidade do local além de serem importantes referencias. "Todos dias de manhã vou ao parque fazer caminhada. Às vezes ando nas pistas do bosque, que ficam na parte de cima do parque, e às vezes ando pela ladeira mesmo [...] vou subindo até chegar no bosque e depois saio e dou uma volta pelos arredores do parque,e vou caminhando pelo bairro. Eu ando em média uma hora, uma hora e meia por dia. É gostoso aqui, é um bairro tranquilo. [...] Eu reconheço as pessoas que frequentam também no mesmo horário, de manhã no parque, por exemplo é cheio de idoso passeando com cachorro, tem mãe também ou babá levando criança, é bacana." 289

Outro morador que não quis se identificar foi mais crítico dizendo que o acesso aos locais é complicado e tem que usar carro para realizar a maioria das coisas, e o local carece de serviços como farmácias e padarias. Mesmo assim concorda com sua importância histórica, afirmando que gente de todos os lugares visitam o bairro para conhecer mais da história e cultura do país.

288

BARONE, Eduardo, morador do Ipiranga há trinta anos. [18 de maio de 2013]. Entrevistadores: Eduardo Paribello e Priscila Soares. São Paulo, 2013. 289 TAL, Fulano de, trabalhador da região há vinte anos. [18 de maio de 2013]. Entrevistadores: Eduardo Paribello e Priscila Soares. São Paulo, 2013.


ESTUDANTE REGIÃO Compreender a percepção do valor histórico do bairro, da forma que se apresenta hoje, para indivíduos que frequentaram ou frequentam o bairro com certa frequência.

ESTUDANTE 1 Entrevista realizada em 22 de maio de 2015, às 22 horas, por internet. Duração aproximada de 30 minutos.

Nome: Liliane Teixeira Idade: 25 anos -Que período frequentou a GV? De agosto de 2006 à dezembro de 2007 -O que utilizava do bairro, somente escola? Sim, somente para fins estudantis. -Conhece o parque, o bosque, o museu de zoologias e as instituições filantrópicas circundantes? Tem conhecimento sobre o tombamento das edificações e sua história? As considera de valor para a história do bairro, do país? Que valor você agrega a elas? Somente o parque. Era costume de alguns colegas do colégio visitar o parque para conversar e principalmente para fazer piquenique para comemorar o encerramento das provas ou entregas de trabalhos. Tenho ciência de alguns casarões , em sua maioria antigas residências da Família Jafet localizadas em uma das ruas principais do bairro a Rua Bom Pastor. Claro que considero, é impossível não olhar para a fachada dos edifícios e não ficar curioso para descobrir quanta história passou por traz daquelas paredes. As vezes saiam algumas noticias no jornal do bairro informando que algumas construções não tombadas iam ser demolidas, isso passava um sentimento de melancolia, sensação que uma “história iria ser apagada do papel”. Por estarem situadas no bairro onde foi feita a “Proclamação da Republica”, acredito que elas possuem valor histórico, grandes alterações descaracterizariam a região. -Que características do bairro permanecem em sua memória? Os ônibus elétricos, que eram o principal meio de transporte na região para os estudantes. Antes de ir estudar na GV eu nunca havia andando em um. Acompanhei a chegada da linha verde do metrô, o que causou algumas desapropriações, porém gerou um maior fluxo de pessoas para região.

-Em algum momento, circundou o bairro, em estado contemplativo? Consegue o descrever? No último semestre de 2007, passei a frequentar a GV período integral, então as vezes saia do colégio para almoçar em lugares diferentes, e com isso comecei a conhecer um pouco melhor a região, me deparando de vez em quando com diferentes construções. Nas caminhadas era possível perceber, por exemplo, como na Av. Nazare existe uma concentração de diferentes tipos de comercio e instituições, enquanto que mais para o interior do bairro existe uma maior concentração de residências... -Qual sua rotina dentro da escola? (do acesso a saída) No ensino médio, no período da manhã era chegar e ir encontrar alguns colegas na sala do grêmio, depois subir para o primeiro bloco de aulas, descer para o intervalo, subir para o segundo bloco de aulas. Uma vez por semana, era efetuada uma saída para a quadra do corpo de bombeiros localizado na Av. Nazare, pois o colégio não possui quadra esportiva (o que mudou no ultimo ano que cursei o colégio, pois retiraram todas as maquinas da oficina de mecatrônica para fazer uma quadra poliesportiva). Depois do segundo bloco de aulas eu almoçava as vezes no próprio colégio que possuía um restaurante e uma lanchonete e também um “marmiteiro” com mesas e microondas. Depois do almoço eu me dirigia para o segundo prédio do colégio onde era administradas as aulas do curso técnico. Uma vez por mês o grêmio passava um filme que fazia parte do programa “cine club”, onde os alunos votavam qual filme queriam assistir no horário do almoço, a sessão era exibida no auditório do colégio. Depois das aulas técnicas, no final da tarde eu ia embora para a minha casa. -O que você lembra do edifício? Ele ocupa um quarteirão inteiro, na entrada de alunos, possuía catracas onde só entrava passando uma carteirinha com código de barras. Havia um


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pátio principal com escadas que ligavam aos outros acessos do colégio, nesse mesmo pátio havia uma mesa de ping pong onde sempre tinha alguém jogando entre os intervalos das aulas. A cor do brasão da escola é azul, então a escola possuía paredes externas azuis. O mais legal era como prédios eram interligados por largos corredores, e nos corredores havia faixas coloridas indicando setores, mais ou menos como ocorre nos hospitais. E as escadas possuíam no andar do patamar paredes feitas de tijolos de vidro para iluminação. O que “estragava” o edifício era a área ocupada para o estacionamento dos professores, que servia também como passagem para as oficinas técnicas.

-Quanto tempo passava na escola? Como as atividades eram distribuídas? Geralmente 11 horas por dia. Entrava as 7:00hrs e saia as 18:00hrs, quando havia entrega de trabalhos esse horário de estendia até as 21:00hrs, pois eu aproveitava o “pranchetário” para elaborar alguns trabalhos. No período da manhã eram administradas as aulas do ensino médio e a tarde as aulas do ensino técnico, no meu caso do curso de Design de Interiores.

ESTUDANTE 2 Entrevista realizada em 26 de maio de 2015, às 20 horas, por meios eletrônicos, com duração aproximada de 30 minutos. Nome: Gabriela Hitomi Idade: 25 anos -Que período frequentou a GV? Frequentei entre 2005 e 2007. -O que utilizava do bairro, somente escola? Além da escola, quando necessário utilizava papelarias e restaurantes. -Conhece o parque, o bosque, o museu de zoologias e as instituições filantrópicas circundantes? Sim. Tem conhecimento sobre o tombamento das edificações e sua história? Tenho conhecimento acerca do parque e museu, porém em relação ao histórico das instituições filantrópicas, não. As considera de valor para a história do bairro, do país? Que valor você agrega a elas? Levando em consideração que o grito de independência ocorreu na região, toda a estrutura construída a partir disso possui grande valor histórico, simbolizando um marco nacional na trajetória do país. As edificações se inserem também na questão social e cultural, onde as instituições promovem assistência à sociedade, integração por meio de práticas esportivas no parque e conhecimento proporcionado pelos museus. -Que características do bairro permanecem em sua memória? Na região que frequentei, ficam em minhas lembranças um bairro residencial, vários casarões antigos, local arborizado, na época não me recordo de muitos prédios, mas sim, sobrados.

-Em algum momento, circundou o bairro, em estado contemplativo? Consegue o descrever? Infelizmente não, do que me recordo é o que descrevi acima. -Qual sua rotina dentro da escola? (do acesso a saída) As aulas do ensino médio começavam às 7h, havia um pequeno intervalo, e terminavam às 12h. Quando ainda não frequentava o ensino técnico, ficava um pouco mais para estudar em grupo ou sair com colegas. A partir de agosto/2006, comecei a estudar à tarde, então saía somente as 17:30h. Aproveitava o intervalo para almoçar e fazer trabalhos. -O que você lembra do edifício? Do que me lembro, se trata de um edifício antigo, com espaço amplo para comportar todos os alunos de ensino médio e técnico, salas espaçosas e janelões, vários pavimentos. -Quanto tempo passava na escola? Como as atividades eram distribuídas? A partir de meados de 2006, ficava durante o período matutino e vespertino na escola. Entrava às 7h para as aulas do ensino médio e saía às 12h. A partir das 13:30h, frequentava as aulas do ensino técnico até o fim da tarde. Durante os intervalos e almoço, geralmente ficava dentro da GV também, ora almoçando, ora fazendo trabalhos.


ALUNO LDI Compreender influências da arquitetura sob a formação do indivíduo. Nome: Maria Júlia de Paula Silva Idade: 17 anos

-De que forma considera a influencia da escola em sua formação pessoal?Acho muito importante a participação da escola em minha formação pessoal, porque é nela que se aprende as primeiras coisas da vida. -Consegue realizar um mapa empírico, de acordo com sua vivência no LDI? (Desenho da articulação das salas, espaços frequentados, pode ser bem esquemático, com quadrados, setas) -Que situações acredita serem possíveis em detrimento do edifício?Não sei. -Qual lembrança mais marcante do espaço?

As áreas coberta e externa. -Você atribui valores sensoriais aos espaços? Por exemplo, se hoje retornasse ao corredor da cantina, reconheceria o cheiro da hora do intervalo? Ou ao adentrar na sala de aula recordaria-se da aula no horário do dia pelas sombras marcadas nas paredes? Sim, as vezes em casa mesmo, quando sinto o cheiro de alguma comida eu me lembro da comida do LDI. -De que maneira estas lembranças estão impregnadas em você e de que modo considera essa atmosfera "um lar" ou uma "casa onírica", dos sonhos e da fantasias? De uma maneira bem presente, pois me recordo frequentemente do LDI. -Era claro pra você a maneira como seus pais estavam relacionados com a escola?Sim.

Entrevista realizada por Alain de Botton em Arquitetura da Felicidade com Monge. A retórica do monge sobre o modo de viver, sintetiza a discussão deste trabalho sobre a influencia da arquitetura na conformação do ser humano. Os monges do monte de São Bernardo, uma comunidade cisterciense em Leicestershire, reconstruíram este mosteiro em meados do século 19. Alain: Há uma visão de que pensar em coisas como cor, forma de cadeiras e a qualidade do caixilho seja algo superficial. Você visita um mosteiro e é como se fosse convidado a ver tudo isso como realmente essencial a uma vida religiosa. Então, é interessante notar como questões de estilo e design são levados a sério nos mosteiros. Monge: Acho que neste mosteiro, na época, estavam tentando recriar alguma coisa. Isto não é um museu, é um mosteiro vivo, e levamos a vida de um cisterciense da Idade Média. Você teria de remontar aos monges medievais para entender por que eles escolheram esse estilo em particular. Esta arquitetura me diz algo, mais do que se fosse apenas um grande quadrado. Alain: Vale a pena pensar no motivo original dos monges. Para ele, o local, em que um pessoa está, influencia fortemente suas crenças. Corremos o risco de nos distrairmos diante do mercantilismo e da balbúrdia de nossas sociedades. Precisamos de locais onde os valores inscritos nas construções encorajem e reforcem as melhores aspirações em nós. Monge: Quando eu vim pra cá me senti imediatamente à vontade nesta Igreja. Foi um dos motivos que me atraiu. Porque é muito simples. A: Sente que esta é a sua casa? M: Sim, com certeza. Eu não gostaria de estar em outro lugar A: De certo modo não é muito aconchegante não. não é A: não há ftos de entes queridos. M: podemos ter fotos desse tipo em nossos quartos. A: Mas é interessante ouvir alguém dizer que este espaço despojado pode ser sua verdadeira casa.


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M: Eu queria que não distraísse ou confundisse minha mente. Quando saio, sempre fico feliz em voltar. Saio sempre e anseio pela volta. Ao atravessar as portas para chegar ao claustro, em vez de sentir que entro num prédio, com paredes, tenho a sensação oposta, de verdadeira liberdade. A: O reformador católico São Inácio escreveu: "Os fiéis devem tomar cuidado ao construir Igrejas, pois o que vemos com nossos olhos pode nos impressionar profundamente. Inúmeras informações podem ser estampadas em nossas mentes por meio de cores e linhas, numa fração de segundo". No pensamento católico, a bela arquitetura não era só um luxo, mas uma lição. Sobre Igreja islâmica: Os arquitetos e artistas do Islã também tradicionalmente acreditam que um prédio pode nos influenciar positivamente, como pensam os católicos. No centro do pensamento islâmico, há uma crença de que visitar um belo prédio não é somente agradável, mas significa uma experiência direta e convincente de manifestação da fé. Há muito tempo o Ocidente associa ambientes belos com luxo e um tipo de decadência, como se passar tempo em lugares bonitos pudesse nos corromper. Mas o que é interessante sobre o pensamento islâmico é uma sugestão de que um ambiente bonito pode torná-lo melhor, porque o que chamamos de belo é realmente uma manifestação material, num nível psicológico e moral, de bondade. Beleza é a bondade escrita na matéria. Ao olhar uma linda parede geométrica, você não vê apenas algo belo, mas está recebendo uma sutil aula de ética. Você está aprendendo a se tornar uma pessoa melhor. No islamismo e no catolicismo tradicionais a equação moral entre beleza e bondade conferiu seriedade e importância a todos os tipos de arquitetura. Poderíamos chegar a até entender Deus, por meio dos prédios, pois como disse o filósofo islâmico do século 11, Ibn Sina, "Deus é a fonte de todas as coias belas".

LEGISLAÇÃO Artigos extraídos do PDE 13.885/04 Art. 185. Não será exigido recuo mínimo de frente nas zonas ZM-2 e ZM-3, ZMp, ZCP, ZCL, ZCPp, ZCLp, ZPI e ZEIS quando no mínimo 50% (cinqüenta por cento) da face de quadra em que se situa o imóvel esteja ocupada por edificações no alinhamento do logradouro, no levantamento aerofotográfico do Município de São Paulo, de 2000. Art. 186. As edificações, instalações ou equipamentos, a partir de 6 m (seis metros) de altura em relação ao perfil natural do terreno devem observar recuos laterais e de fundos, que podem ser escalonados e dimensionados de acordo com a fórmula a seguir, respeitado o mínimo de 3 m (três metros): R = (H - 6) ÷ 10 onde: R = recuos laterais e de fundos; H = altura da edificação em metros contados a partir do perfil natural do terreno. § 1º - As edificações destinadas aos grupos de atividades industriais, serviços de armazenamento e guarda de bens móveis e oficinas, localizadas nas zonas e vias onde esses grupos são permitidos fora das zonas predominantemente industriais - ZPI, deverão observar os recuos obrigatórios definidos no "caput" desse artigo a partir do pavimento térreo, excetuadas: III. as edificações com área construída computável de no máximo 250 m2 (duzentos e cinquenta metros quadrados); IV. as edificações com área construída computável de no máximo 500 m² (quinhentos metros quadrados), quando localizadas nas demais zonas e vias onde as atividades referidas no caput são permitidas. § 2º - As edificações destinadas aos grupos de atividades locais de reunião e eventos e associações comunitárias, culturais e esportivas, localizadas nas zonas e vias onde essas atividades são permitidas fora das zonas predominantemente industriais - ZPI e das zonas centralidades ZCP e ZCL, deverão observar os recuos obrigatórios definidos no "caput" desse artigo a partir do pavimento térreo, excetuadas as edificações com área construída computável de no máximo 500 m2 (quinhentos metros


quadrados). § 3º - A partir do ponto em que o subsolo aflorar 6 m (seis metros) acima do perfil natural do terreno, deverão ser observados os recuos obrigatórios definidos no "caput" desse artigo. Art. 192. Nas zonas mistas - ZM, a taxa de ocupação poderá chegar a 0,70 quando o gabarito de altura da edificação não exceder 12,00 m (doze metros).

Quadro de classificação viária disponibilizado pela CET. Consulta em 28 de outubro de 2015. Disponível em: http://www.cetsp.com.br/media/20818/nt192.pdf


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A grelha utilizada como marca d'agua da página simboliza o sistema educacional hoje, reticulado, inexperiencial. As contra capas representam a transformação de Manu, que chega cinza e caminha, pelo estudo, até sair em cores. Desse mesmo modo, a Manu viajante é representada pelo marca página, símbolo do indivíduo que se transforma e se desvanece do cinza ao passo que percorre e experimenta a arquitetura e seu sentido. As transparências avulsas apresentadas do volume são insights da Manu. Compreendidos em sua totalidade em Diário de Registros. O diário apresenta os croquis perceptivos de Manu. Não necessariamente a sala reproduzida por ela será a projetada, como se o mundo passasse a estar inserido nela depois das percepções espaciais, sensoriais e fenomenológicas provocadas pela arquitetura. A data do diário é a média de anos dos estudos de caso, que coincidentemente é a fase do pós estruturalismo, na arquitetura.



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1975


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IMAGENS DE SILHUETA RETIRADAS DE SITE DE BUSCA. SEM AUTORES DEFINIDOS. FIGURAS ORIGINAIS MANIPULADAS PELO AUTOR.

IMPLANTAÇÃO MANU CINZA



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ACESSOS SCHOOL MACHINE


IMAGENS RETIRADAS DE SITE

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   CROQUI 00 MIRANTE

DE BUSCA. SEM AUTORES DEFINIDOS. FIGURAS ORIGINAIS MANIPULADAS PELO AUTOR.


CROQUI 01 ACESSO CAVERNOSO

CROQUI 02 CORRE DOR PÁTIO


CROQUI 03 MORRO TE


CROQUI 05 JANELA EYCK

CROQUI 04 AULA EUGÈNE

CROQUI 06 PÁTIO NEUTRA


CROQUI 07 INDIVIDUAL HERTZBERGER


CROQUI 08 PÁTIO PANÓPI PITICO


CROQUI 09 PÁTIO EYCK

CROQUI 10 ESPERA HERTZBERGER


CROQUI 11 PÁTIO


CROQUI 12 ACESSO 3—SUBSOLO 2


CROQUI 13 BANCO GAUDÍ


‘’

CROQUI 14 PANÓPTICO

CROQUI 15 AULA FUNDAMENTAL I


CROQUI 16 BLOCK


CROQUI 17 INSTITUIÇÃO


CROQUI 18 BOSQUE

CROQUI 19 RUA BOSQUE


CROQUI 21 ESPORTIVA


CROQUI 20 ESPORTIVA

CROQUI 22 ESPORTIVA


CROQUI 23 OFICINA MULTI

CROQUI 24 ÁRVORE DE CANTO


CROQUI 25 RECEPTIVA ADM


CROQUI 26 CASA BACHELARD


IMPLANTAÇÃO MANU EM CORES


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