CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO
MAURICIO ELIAS DE CARVALHO
Parque da estação: uma aproximação às águas paulistanas
São Paulo 2015
MAURICIO ELIAS DE CARVALHO
PARQUE DA ESTAÇÃO: UMA APROXIMAÇÃO ÀS AGUAS PAULISTANAS
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário SENAC.
Orientador: Prof. Ms. Marcella de Moraes Ocke Mussnich 2
3
Mauricio Elias de Carvalho
BANCA EXAMINADORA
Parque da Estação:
__________________________________________
Uma aproximação às águas paulistanas
Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado ao Centro Universitário SENAC – Campus Santo Amaro como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo
Aprovado em: ____ de _______ de _____.
Convidado Interno
__________________________________________ Convidado Externo
__________________________________________ Orientador
4
Agradecimentos Aos meus pais pela oportunidade de estudar o que escolhi e pelo apoio durante esses cinco anos de trabalho; Aos meus colegas de turma que fazem parte de minha vida, compartilhando felicidades e angústias; À minha orientadora, pelas críticas e prontidão nos momentos de dificuldade; Ao Prof. Dr. Ricardo Luís Silva, pelas orientações no início deste trabalho; Aos amigos que se mantiveram ao meu lado durante todo o curso.
5
Resumo
Abstract
Este trabalho cria um parque às margens do rio Jurubatuba,
This project creates a park on the banks of river Jurubatuba, located
localizado na cidade de São Paulo. Ao longo dos anos a cidade trancou seus
in the city of São Paulo. Over the years the city has locked its big rivers between
grandes rios entre vias marginais e uma área ainda não ocupada localizada no
marginal routes and an area still not occupied located in the southern end of
extremo sul do rio é a localização do projeto. Através do uso de referências
the river is the location of the project. Through the use of theoretical references
teóricas e projetuais, procura criar um espaço de uso múltiplo e acessível pela
and project, seeks to create a space of multiple use and accessible by the
inserção de equipamento de transporte, conexão com seu entorno e maior
insertion of transport equipment, connection with your surroundings and greater
oferta
supply
de
espaços
livres
de
qualidade
Palavras-chave: Jurubatuba, Parque, Rio, Conexão
6
na
cidade.
of
quality
free
spaces
Keywords: Jurubatuba, Park, River, Connection
in
the
city.
Índice de Imagens
Figura 12 - Terreno escolhido para projeto (Fonte: Google Earth - acesso em 05/03/15 - modificado pelo autor) ..................................................................28 Figura 13 - Mapa do atual conjunto de parques (Fonte:
Figura 1 - Mapa da cidade de São Paulo (1895) (Fonte: Prefeitura de São
http://www.greeningthegrey.org/wp-content/uploads/2013/04/emerald-
Paulo) ............................................................................................................ 17
necklace.jpg) ..................................................................................................29
Figura 2 - Área urbanizada 1992/1914 (Fonte: Prefeitura de São Paulo) ..... 18
Figura 14 - Inserção do rio em ambiente mais vegetado (Fonte:
Figura 3 - Área Urbanizada 1915/1929 (Fonte: Prefeitura de São Paulo) ..... 19
http://www.seanlitchfield.com/assets/web_files/The%20Emerald%20Necklace 1392324348_12_emneck_12_67_20111005_109_8.jpg) ..............................30
Figura 4 - Planta da Cidade de São Paulo (1924) (Fonte: Prefeitura de São Paulo) ............................................................................................................ 19
Figura 15 - Visão aérea da área (Fonte: http://cdn.neonsky.com/4bd5ebfc5c408/images/100521-0151-1.jpg) ............30
Figura 5 - Mapa da cidade 1943 (Fonte: Prefeitura de São Paulo) ............... 20 Figura 16 - Contato do público com a água e visão da cidade (Fonte: Figura 6 - Área urbanizada 1930/1949 (Fonte: Prefeitura de São Paulo) ..... 21
http://www.seanlitchfield.com/assets/web_files/The%20Emerald%20Necklace
Figura 7 - Área urbanizada 1950/1962 (Fonte: Prefeitura de São Paulo) ..... 22
1392324333_04_emneck_04_67_20110531_069_6.jpg) ..............................31
Figura 8 – Sistema hidroelétrico de São Paulo (Fonte: FRANCO, 2005, pg.58)
Figura 17 - Localização do bairro (Fonte: Google Earth - adaptado pelo autor.
...................................................................................................................... 23
Acesso em 06/05/2015) .................................................................................32
Figura 9 - Córrego Rio Grande (Fonte: FRANCO, 2005, pg. 26) .................. 24
Figura 18 - Melbourne em 1946 - CBD à esquerda e Southbank à direita do
Figura 10 - Plano de avenidas (Fonte:
rio (Fonte: http://www.melbourne1946.com/page2/index.html) ......................33
http://www.usp.br/fau/docentes/depprojeto/c_deak//CD/5bd/1rmsp/plans/h2pl-
Figura 19 - Promenade com uso misto (Fonte: http://www.photograph-
av/pl-av.jpg) ................................................................................................... 26
melbourne.com/melbourne-photos/201000412.jpg) .......................................33
Figura 11 – Rio Jurubatuba (Fonte: São Paulo, metrópole em trânsito) ....... 27 7
Figura 20 - Arquibancada e espelho d'água (Fonte: http://www.in-
Figura 28 - Iluminação da calçada (Fonte: http://cdn.urbancincy.com/wp-
situ.fr/#/projets/tous/berges-du-rhone) .......................................................... 34
content/uploads/2014/08/183546240_3517041175_o.jpg) ............................38
Figura 21 - margens e conexão com pontes (Fonte: http://www.in-
Figura 29 - Situação atual | Vista para o núcleo 2 com aterro sanitário ao
situ.fr/#/projets/tous/berges-du-rhone) .......................................................... 34
fundo (Acervo pessoal) ..................................................................................39
Figura 22 - Caminhos próximos à água (Fonte: http://www.in-
Figura 30 - Ocupação em 19/04/2015 (Fonte: Google Earth) ........................40
situ.fr/#/projets/tous/berges-du-rhone) .......................................................... 35
Figura 31 - Interlagos (Fonte: São Paulo, metrópole em trânsito) .................40
Figura 23 - Projeto (Fonte: http://portalarquitetonico.com.br/wp-
Figura 32 - Área verde por habitante [Fonte: Rede Nossa São Paulo.
content/uploads/Cheonggyecheon-5.jpg) ...................................................... 35
Disponível em http://www.redesocialdecidades.org.br/br/SP/sao-
Figura 24 - Antes e depois (Fonte:
paulo/regiao/capela-do-socorro/area-verde-por-habitante (acesso em
https://d2ouvy59p0dg6k.cloudfront.net/img/seoul_cheonggye_cheon_restorati
19/05/2015) ] ..................................................................................................41
on_project_428492.jpg) ................................................................................. 36
Figura 33 - Rede de transporte coletivo (Fonte: Plano Regional da
Figura 25 - Rio e pessoas
Subprefeitura Capela do Socorro) .................................................................41
(Fonte:http://v.i.uol.com.br/album/ap_album_da_semana020810_f_011.jpg) 36
Figura 34 - Rede de transporte coletivo (Fonte: Plano Regional da
Figura 26 - Recuperação das margens (Fonte:
Subprefeitura Capela do Socorro) .................................................................42
http://thecityfixbrasil.com/files/2015/02/8748812861_5aef182755_z.jpg) ..... 37
Figura 35 - Pontos de ônibus e trens com suas áreas de influência (Fonte:
Figura 27 - Iluminação noturna na cascata artificial (Fonte:
Mapa Digital da Cidade - Editado pelo autor) ................................................43
https://4.bp.blogspot.com/_Ymx9e66vrGc/S4NvYHw2KjI/AAAAAAAAL4Q/-
Figura 36 - Densidade Populacional hab./km² (Fonte: Censo 2010 - IBGE) ..43
3jVC5upMo/s400/Seouls-Cheonggyecheon-River-8.jpg\ .............................. 38
8
Figura 37 - Pessoas residentes - 60 anos ou mais (Fonte: Censo IBGE 2010)
Figura 50 - Fluxos propostos (Fonte: Do autor) .............................................53
...................................................................................................................... 44
Figura 51 - Diagrama de bolhas inicial (Fonte: Do autor)...............................54
Figura 38 - Pessoas residentes - 60 anos ou mais (Fonte: Censo IBGE 2010)
Figura 52 - Diagrama de fluxos e vegetação (Fonte: Do autor) .....................54
...................................................................................................................... 44 Figura 53 - Diagrama de usos e fluxos ..........................................................55 Figura 39 - Favelas e núcleos habitacionais [Fonte: HABISP - Disponível em http://mapab.habisp.inf.br/ (Acesso em 24/05/2015) ] ................................... 45 Figura 40 - habitação em área de risco (Fonte: Censo IBGE 2010).............. 46
Figura 54 - Inserção na área (Fonte: Do autor) ..............................................55 Figura 55 - Dimensionamento da faixa de servidão (Fonte: WOSNY, 2010, apud CUCCO E OLIVEIRA, 2011, pp. 108) ...................................................56
Figura 41 - Esgoto despejado em rio (Fonte: Censo IBGE 2010) ................. 46 Figura 56 - Matriz triangular (Fonte: Acervo pessoal) ....................................56 Figura 42 - Esgoto despejado em vala (Fonte: Censo IBGE 2010)............... 46 Figura 57 - Pisos, piscinões e vegetação produzidos a partir da matriz ........57 Figura 43 - Lixo despejado em rio (Fonte: Censo IBGE 2010) . Erro! Indicador não definido. Figura 44 - Uso e ocupação do solo (Fonte: Subprefeitura Capela do Socorro) ...................................................................................................................... 47 Figura 45 - Uso e ocupação 2008 (Fonte: UIT - Emplasa) ............................ 48 Figura 46 - Arco Jurubatuba (Fonte: Revisão Plano Diretor de São Paulo) .. 49 Figura 47 - Situação atual do núcleo 2 | comunidade Manuel de Teffé e
Figura 58 – Evolução do diagrama produzido a partir de matriz triangular ....58 Figura 59 - Croqui de vale verde proposto .....................................................59 Figura 60 - Área de risco (Fonte: Mapa Ações prioritárias nas áreas de risco do Plano Diretor 2014) ...................................................................................59 Figura 61 - Evolução dos caminhos propostos, piscinões verdes e APPs .....61 Figura 62 - Ocupação na área de ZEIS .........................................................62
Autódromo de Interlagos ao fundo ................................................................ 50
Figura 63 - Proposta de desenho do núcleo 2 a partir da matriz ...................63
Figura 48 - Parque Jurubatuba...................................................................... 51
Figura 64 - Núcleo 3 | proposta baseada em matriz triangular ......................64
Figura 49 - Mapeamento inicial (Fonte: Do autor) ......................................... 52
Figura 65 - Praça de entrada para o bairro e alargamento do passeio ..........64
9
Figura 66 - Proposta de desenho orgânico para o núcleo 2 .......................... 66
Figura 79 - Panorama a partir de transposição ao rio com visão às
Figura 67 - Área de servidão e APPs ............................................................ 67
residências .....................................................................................................86
Figura 68 - Inserção dos tapetes coloridos sob as linhas de transmissão de
Figura 80 - Ilustração da proposta de passeio margeando o rio, em sentido à
energia .......................................................................................................... 68
Estação Elevatória .........................................................................................87
Figura 69 - Panorama do parque e inclusão de pavilhões, áreas de
Figura 81 - croqui sem escala de piscinão proposto ......................................88
permanência e tapetes coloridos................................................................... 70
Figura 82 - Pavilhão multifuncional próximo ao piscinão verde .....................93
Figura 70 - Vegetação e praça do bairro ....................................................... 71
Figura 83 - Perspectiva do núcleo visto a partir da praça de leitura...............94
Figura 71 - Núcleo 1 | acessos revisados...................................................... 72
Figura 84 - Ilustração de caminho entre piscinões, com pavilhão multiuso à
Figura 72 - Núcleo 2 | inserção de áreas de permanência ............................ 73
esquerda e praça musical ao fundo ...............................................................95
Figura 73 - Núcleo 3 | vegetação e áreas de permanência ........................... 75 Figura 74 - croqui sem escala da transposição ao rio ................................... 76 Figura 75 - inserção da proposta final no entorno ......................................... 77 Figura 76 - Perspectiva da proposta vista a partir da Estação Elevatória de Pedreira ......................................................................................................... 78 Figura 77 - Perspectiva da área destinada a habitações de interesse social (HIS) localizadas em ZEIS ............................................................................ 81 Figura 78 - croqui sem escala da área de ZEIS ............................................ 82
10
Figura 85 - Croqui sem escala da praça musical proposta ............................96 Figura 86 - Perspectiva da área infantil, arvorismo ......................................101
Índice de Tabelas
Tabela 1 - Características de loteamento e ocupação das áreas de classe B (Fonte: Lei 1172/76) ...................................................................................... 28 Tabela 2 - Dados Gerais por Zona de Pesquisa - 2012 (Fonte: Metrô/SP Pesquisa de Mobilidade 2012) ...................................................................... 42 Tabela 3 - Características das zonas de uso (Fonte: Subprefeitura Capela do Socorro)......................................................................................................... 47
11
USO E OCUPAÇÃO ............................................................................................................ 47
Sumário
O PROJETO DO PARQUE PARQUE JURUBATUBA ......................................................... 51 PROMENADE JURUBATUBA ................................................................................................ 52
INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 13
PARQUE DO LINHÃO ......................................................................................................... 56
CIDADES E OS RIOS ..................................................................................................... 14
O desenho do linhão ............................................................................................... 67 PARQUE DA ESTAÇÃO................................................................................................. 71
SÃO PAULO: OCUPANDO OS RIOS .............................................................................. 16 RIO PINHEIROS: TRANSFORMAÇÃO ............................................................................ 23 SERRA PROJECT ............................................................................................................... 23 PLANO DE AVENIDAS ........................................................................................................ 25 JURUBATUBA ................................................................................................................... 27 ESTUDOS DE CASO...................................................................................................... 29 EMERALD NECKLACE .................................................................................................. 29 SOUTHBANK ................................................................................................................ 31 RIO RHÔNE ................................................................................................................. 34 CÓRREGO CHEONGYENCHEON .................................................................................. 35 SITUAÇÃO ATUAL ....................................................................................................... 40 ÁREAS VERDES ................................................................................................................ 40 TRANSPORTE ................................................................................................................... 41 POPULAÇÃO .................................................................................................................... 43 MEIO AMBIENTE .............................................................................................................. 46
12
O PLANO DIRETOR DO PARQUE.................................................................................. 76 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 102 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................... 104
Introdução
represas Billings e Guarapiranga em um bairro mais conectado, mais arborizado e menos motorizado. Para realizar essa conexão, a área escolhida para o projeto se
Água, um elemento essencial à vida está profundamente
transforma em um eixo de conexão entre as duas margens do rio, com
relacionada com o surgimento das cidades no mundo. Os rios em especial
inserção de estação de trem e transposições visando o deslocamento do
tiveram diversas funções ao longo da história de cidades como São Paulo,
pedestre. A resposta encontrada para criar um espaço aberto seguro e
passando de um elemento estruturador da cidade a um elemento a ser
sustentável foi a transformação desse espaço em uma grande calçada,
controlado e transposto. É nessa mudança de relação com a água e com os
conectando diversos usos habitacionais, comerciais com transporte coletivo e
elementos por ela compostos que este trabalho se insere, estudando
ciclovias, tendo como referências Jan Gehl e Richard Rogers.
brevemente o processo de desenvolvimento da cidade e as mudanças realizadas nas várzeas dos rios, em especial o rio Pinheiros.
A questão da água em meios urbanos é um assunto bastante importante na atualidade, desde 2014 a cidade de São Paulo passa por uma
Avaliado o processo histórico, estudamos exemplos de projetos
crise de abastecimento de água, revelando nossa dependência desse recurso
bem-sucedidos de áreas públicas e bairros localizados às margens de rios no
finito e a forma negativa que nos relacionamos com a água existente dentro
mundo e suas propostas pois, muitas vezes, configuram espaços
da própria cidade, transformando os rios em canais de despejo de dejetos e
multifuncionais de forma a promover maior movimento e segurança. O
trancando-os entre paredes de concreto e vias marginais.
sucesso desses projetos se dá, também, pela boa avaliação da realidade das regiões em que se inserem, uma avaliação da área de inserção desse projeto foi então realizada, demonstrando suas potencialidades e deficiências.
Para realizar estre trabalho foram adotados leitura e fichamentos de livros de autores como Maria Cecília Barbieri Gorski, Jan Gehl e Richard Rogers; levantamento de iconografia representando o crescimento da cidade
A criação de uma frente para a água, tornando-a elemento visual,
e historiadores que discorressem sobre o desenvolvimento da cidade. Para
integrador e público é o centro deste projeto. Reverter uma área da cidade
estudo das aproximações de sucesso no mundo foi realizado levantamento
que foi concebida como um núcleo habitacional visando a balneabilidade das 13
de projetos ícone deste tema, não se limitando a parques como é o exemplo
Cidades e os rios
de Southbank, bairro de Melbourne, Austrália. Para criação da proposta de projeto foi analisado o histórico da área e sua situação atual, com dados recentes do IBGE e Plano Diretor da
Para uma compreensão adequada da problemática da água em
cidade de São Paulo, por exemplo. A criação de um fluxo maior de pedestres
meios urbanos é necessário entender como esse elemento estruturador das
é um ponto relevante do projeto, buscando maior segurança e inserção da
ocupações humanas se transformou em um obstáculo a ser transposto,
área no cotidiano da região, tem-se então um espaço livre não limitado a
controlado e, muitas vezes, renegado.
espaço público, inserindo áreas destinadas a Habitação de Interesse Social (HIS) e áreas comerciais.
A história de muitas cidades antigas do mundo está ligada a proximidade à água. Essa relação se apresenta tanto pela necessidade de
Este trabalho se organiza então em três grandes núcleos: o
água para seu desenvolvimento, para uso de abastecimento de sua
primeiro trata dos conceitos fundantes do trabalho do panorama histórico do
população, produção de alimento e até mesmo de escoamento de seus
crescimento da cidade de São Paulo e processos de modificação da várzea
resíduos, como das relações pessoais de cada indivíduo e cada cultura. Os
do rio Pinheiros e aproximação da área de projeto; o segundo busca
rios, por exemplo, são marcos geográficos ou até símbolos relacionados à
referências de sucesso em projetos localizados às margens de rios, além da
mitologia.
situação atual da área de projeto, tendo informações atualizadas da
Na seleção do sítio para estabelecer suas aldeias, a lógica
população da região e transporte público além de zoneamento; o terceiro trata
norteadora de inúmeras civilizações antigas foi a proximidade da
do processo de projeto e criação de plano diretor de ocupação da área, com ,
água, quer seja por razões funcionais, estratégicas, culturais ou
também, três núcleos.
patrimoniais. (GORSKI, 2010, pp. 32)
14
O rio permeia as manifestações culturais, entre outros, da mitologia,
intervenções visando a recuperação seja da qualidade ambiental do rio como
da história, da literatura, da música, da religião, da filosofia, da
da relação de seus moradores e entorno com as águas.
pintura, da escultura e do cinema. (GORSKI, 2010, pp. 32)
As grandes cidades são formadas de diversas culturas, usos e pessoas. Para a vida na cidade há necessidade de que todas essas variações sejam atendidas de formas satisfatórias, Gehl mostra como é necessário incentivar o uso dos espaços por diversas pessoas, com suas diferenças e que ainda esses espaços dão dinamismo à cidade e auxiliam na saúde da
Muitos rios em grandes cidades foram enclausurados por vias marginais. Há alguns exemplos da troca de uso do automóvel por pedestres e seu sucesso prova que intervenções priorizando pedestres e bicicletas são mais benéficas para a vida na cidade do que uma melhoria de infraestrutura para automóveis.
vida urbana.
O rio Arhus, na Dinamarca, canalizado e transformado em via para o tráfego de veículos na década de 1930, foi reaberto em 1996-1998 Frente a esses novos desafios, há uma forte tendência a realçar o
e os espaços ao longo de seu curso transformaram-se em área de
novo e o especial. Equipamentos e instalações para jogos e muitos
recreação e pedestres. Desde então, as áreas ao longo do rio vêm
tipos diferentes de academias esportivas, pistas de caminhada e de
sendo o espaço externo comum mais utilizado da cidade. (GEHL,
skate e parques temáticos ambiciosos com desafios físicos têm sido
2013, pp. 16)
criados para crianças e entusiastas do esporte. Assim como no caso de pedestres e ciclistas, precisamos oferecer convites para que as instalações sejam usadas. Elas promovem uma vida urbana saudável e agregam valor à vida nas cidades. (GEHL, 2013, pp. 159)
O processo de distanciamento físico das várzeas implica na retirada desse símbolo do cotidiano dos moradores da cidade, trazendo
Tratando
o
espaço
público
saudável
como
um
espaço
multifuncional que possibilite a apropriação de diversos públicos e usos, Gehl e Richard Rogers se aproximam. Há necessidade de bom planejamento urbano para incentivar e viabilizar a vida nas cidades. O modelo urbano dos grandes subúrbios e pouco adensamento cria problemas sérios na escala da cidade, sendo muito influenciado pela monofuncionalidade dos espaços.
consigo uma menor oferta de áreas destinadas a lazer em locais que possuem essa vocação. Esse distanciamento é, muitas vezes, revertido por meio de
O desaparecimento de espaços públicos multifuncionais não é apenas
um
caso a ser
lamentado: pode
gerar
terríveis
15
consequências sociais dando início a um processo de declínio. À
Nas três áreas de tributação hidrográfica (..) – a do Paraná, a do
medida que a vitalidade dos espaços diminui, perdemos o hábito de
Paraíba do Sul e a vertente atlântica – existem bacias hidrográficas
participar da vida urbana da rua. O policiamento natural ou
relativamente volumosas. Em função desse complexo hidrológico
espontâneo das ruas, aquele produzido pela própria presença de
existe água disponível para alimentar plantas e culturas, grandes
pessoas, é substituído pela segurança oficial (...) (ROGERS, 2011,
agrupamentos
pp. 10)
indústrias e áreas de concentração industrial (...) (AB’SÁBER, 2004, pp. 85)
São Paulo: ocupando os rios
Quando comparamos a localização geográfica das ocupações de outras cidades do mundo com São Paulo, é perceptível que as primeiras vilas se localizam mais próximas aos rios do que seu desenvolvimento posterior. São Paulo possui características hidrológicas privilegiadas, com três grandes rios em seu território, nota-se que pelo fato dos rios sofrerem cheias periódicas, as vilas se localizavam próximas a eles, mas em terrenos mais altos. O rio, portanto, era uma necessidade para a vida na cidade e, também, um empecilho para a ocupação muito próxima de suas margens. Essa grande disponibilidade de água dentro da cidade é um dos fatores decisivos para o desenvolvimento agrário e, posteriormente, industrial. 16
humanos,
importantes
usinas
hidrelétricas,
17
Figura 1 - Mapa da cidade de S達o Paulo (1895) (Fonte: Prefeitura de S達o Paulo)
O mapa da cidade do ano de 1895 (figura 1) é bastante representativo quanto ao crescimento e localização da mancha urbana. A área triangular hachurada em verde ao centro do mapa é o triângulo histórico, primeira área urbanizada da cidade localizada entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí. É visível o desenvolvimento posterior a este, com a transposição dos rios mantendo distância de suas áreas alagáveis (hachura em verde claro). Percebe-se o projeto de arruamento nas proximidades do rio Tietê, no bairro do Bom Retiro, ainda mantendo distância das várzeas do rio. O processo de retificação e canalização dos rios da cidade se inicia com a canalização do rio Tamanduateí. Ao tornar suas margens ocupáveis, é urbanizada a primeira grande área alagável da cidade, o espaço vazio entre Sé e Brás (figura 2). A cidade também começa a crescer em direção à zona oeste, sudoeste e sul. A figura 3 é bastante representativa do desenvolvimento da cidade em direção ao rio Pinheiros. É notável a permanência do distanciamento da ocupação ao rio Tiete e a ocupação da várzea do Tamanduateí. A cidade cresce ainda mais em diversas direções: zona oeste, zona sudoeste e zona sul. A zona oeste é ocupada no eixo Perdizes – Pompéia – Lapa – Vila Leopoldina; a zona sudoeste é ocupada no eixo Vila América – Jardim Figura 2 - Área urbanizada 1992/1914 (Fonte: Prefeitura de São Paulo)
18
América – Jardim Europa e Cerqueira César – Pinheiros – Butantã; a zona sul
é ocupada no eixo Paraíso – Vila Mariana – Vila Clementino – Indianópolis e cresce em direção a Santo Amaro.
Moema
Figura 4 - Planta da Cidade de São Paulo (1924) (Fonte: Prefeitura de São Paulo)
Figura 3 - Área Urbanizada 1915/1929 (Fonte: Prefeitura de São Paulo)
19
Socorro
Figura 5 - Mapa da cidade 1943 (Fonte: Prefeitura de S達o Paulo)
20
A cidade em 1924 já tem núcleos além Pinheiros, como Butantã. Somado a este crescimento em direção ao rio, a cidade desenvolve núcleos seguindo a direção da Estrada de Santo Amaro (atual Avenida Santo Amaro) e Avenida Conselheiro Rodrigues Alves (atual Avenida Ibirapuera). Trata-se de um crescimento em direção ao bairro de Santo Amaro na época um município independente. A retificação dos rios é iniciada, nota-se que o rio Tietê permanecia no seu curso original enquanto o Pinheiros já possuía seu traçado atual. A retificação do rio Pinheiros permitiu a ocupação das áreas antes sujeitas a cheias e os bairros começaram a tocar as margens do rio canalizado como o núcleo do Brooklin Paulista. A figura 5 traz, além dessa informação, uma mudança importante: Santo Amaro agora é indicada como uma subprefeitura, não mais um município, e a ocupação das margens do córrego e reservatório Guarapiranga se inicial, indicada na borda inferior do mapa como Socorro. A figura 6 mostra a cidade já em seu território como conhecemos. Fica bastante claro as dimensões que a cidade já havia tomado nos anos 40, mas ainda sem atingir o limite da área de mananciais (linha roxa).
21 Figura 6 - Área urbanizada 1930/1949 (Fonte: Prefeitura de São Paulo)
A conclusão da reversão do rio Pinheiros nos anos 40 e a comercialização das áreas planas em sua proximidade, permitiu a criação de um polo industrial na região de Santo Amaro. A partir da década de 50, a região de Jurubatuba passou a atrair também moradores, muitas vezes trabalhadores dessas indústrias. A partir desse período a região em que se insere este trabalho passa a ter uma importância econômica e social para a cidade. É necessário, então, o aprofundamento das questões que produziram essas alterações na região e seus desdobramentos até os dias atuais.
22 Figura 7 - Área urbanizada 1950/1962 (Fonte: Prefeitura de São Paulo)
Rio Pinheiros: transformação
Mais do que o crescimento da mancha urbana, é necessário entender os processos de distanciamento físico das várzeas. Esse processo se inicia em 1920, quando se desenvolve o Serra Project, elaborado pela companhia Light, e o Plano de Avenidas, elaborado por Prestes Maia. Enquanto o plano da companhia de energia previa a retificação dos rios e utilização de suas águas para produção energética, o plano de avenidas previa vias arteriais nas várzeas dos rios, espaços planos e de mais fácil implantação à infraestrutura rodoviária. (FRANCO, 2005)
Serra Project Project Figura 8 – Sistema hidroelétrico de São Paulo (Fonte: FRANCO, 2005, pg.58)
A década de 20 foi marcada por uma grande seca, gerando uma O projeto da Companhia Light, elaborado pelo engenheiro norteamericano Asa White Billings em 1926, previa a canalização do Rio Pinheiros, em sua totalidade, de uma só vez. Essa canalização faz parte de um grande projeto para produção de energia, com a reversão do Rio Pinheiros, criando reservatórios como Guarapiranga e Billings.
crise energética. Até então, a produção de energia era realizada por pequenas usinas espalhadas pelo estado. Para solucionar essa crise, a Companhia Light criou o Serra Project: previa-se a criação de um grande reservatório, alimentado pelo Rio Pinheiros revertido que, se debruçando sobre o litoral, aproveitaria o desnível de cerca de 718 metros, criando um potencial
23
energético maior do que diversas usinas ao longo do Rio Tietê (FRANCO,
Essas áreas disponíveis para comercialização e ocupação, por
2005). A canalização do Rio Pinheiros, então, era imprescindível para a
serem controladas por apenas um agente, possibilitaram uma forma de
criação de usinas elevatórias como Traição e Pedreira, essenciais para a
ocupação diferenciada do resto da cidade. A partir desse momento surgem os
realização de sua reversão.
bairros-jardim projetados pela Companhia City e áreas industriais localizadas nas margens do Pinheiros, beneficiadas pelos terrenos planos, proximidade
As
várzeas
representavam
não
uma
necessidade
de
da produção de energia e novo sistema viário.
desenvolvimento urbano, pois a cidade ainda possuía áreas passíveis de ocupação sem a realização de grandes intervenções, mas uma oportunidade de unir diversas funções em eixos da cidade, como geração de energia, circulação de automóveis, implantação de ferrovia e, consequentemente, de lotes industriais, além de abastecimento de água e saneamento. O projeto era bastante oneroso e para custear a obra, a Companhia Light firmou um acordo de monopólio com o Governo, garantindo retorno de seus investimentos: As terras das várzeas do Pinheiros foram negociadas livremente no mercado pela companhia Light por ter sido executora do projeto de retificação. Por isso os terrenos destinados ao sistema viário ao longo do Pinheiros, foram adquiridos pela administração pública para tal fim, assim como a área destinada ao CEAGESP (SEABRA, 1957:10, apud FRANCO pp. 60)
24
Figura 9 - Córrego Rio Grande (Fonte: FRANCO, 2005, pg. 26)
O escoamento da produção industrial e agrícola era necessária, para isso o projeto firmou parceria com a SPR (São Paulo Railway) com o
Plano de Avenidas
projeto de uma ferrovia que iria até Santos. O projeto da ferrovia tinha nas várzeas o local ideal, pela baixa declividade, grande disponibilidade de terras baratas, que possibilitavam os limites técnicos e financeiros dos grandes raios de curva. Essa ferrovia ligava Barueri a Santos e hoje é utilizada pela CPTM, a atual linha turquesa, que conecta a estação da Luz à Paranapiacaba.
O Plano de Irradiação, elaborado por Ulhôa Cintra em 1923 foi o passo inicial para o desenvolvimento do Plano de Avenidas de Prestes Maia (1930). Baseado em vias radias e perimetrais, o Plano de Avenidas visada
Quando as ferrovias adentraram a Bacia de São Paulo, buscaram
ordenar os fluxos da cidade, descongestionar o triangulo histórico e ainda
os caminhos mais viáveis dos pontos de vista técnico e financeiro.
permitir a expansão territorial da cidade. (CAMPOS, GAMA e SACCHETTA,
Baseadas inicialmente na tração a vapor, foram limitadas por
2004) Por meio de anéis viários sucessivos, estabelecidos conforme o
traçados de baixa declividade e curvas de grande raio, o que impôs a procura por parcelas de terreno o mais planas e contínuas possíveis. (FRANCO, 2005, pp. 106)
crescimento da cidade, o plano conformaria novas fronteiras territoriais da cidade e permitiria sua expansão sem limites. O plano, no entanto, sofreu diversas modificações. Seus anéis viários sucessivos, com extenso uso de
A utilização das várzeas para transporte ferroviário marca a mudança de uso desses espaços antes utilizados como fonte de seus
ponteis e túneis foram substituídos por anéis viários nas áreas planas e que permitissem maior fluxo de automóveis com menor esforço técnico.
recursos naturais para lazer, pesca e abastecimento.
25
As marginais Tietê e Pinheiros já eram previstas no plano original. Prestes Maia deu início às suas construções em sua segunda gestão, mas foi com o prefeito Faria Lima que foram impulsionadas. No processo de construção o projeto das avenidas marginais foi bastante modificado, passando de vias relacionadas ao seu entorno e com usos diversos para vias isoladas que buscavam atender à demanda automobilística. Enquanto o Plano inicial concebia um conjunto de inter-relações entre sistema viário, formas de aproximação ao rio e princípios urbanísticos de ocupação das margens das vias por edifícios de usos diversos, as avenidas construídas resultam de uma visão estritamente funcional. Concretizaram-se enquanto sistemas especializados e autônomos das formas de urbanização das suas áreas lindeiras. (FRANCO, 2005, pp. 155)
A várzea do Pinheiros recebia então um favorecimento não só às indústrias, mas também aos novos núcleos habitacionais como os propostos pela Cia. City que ocupariam as novas áreas edificáveis liberadas pela retificação do rio. Essa adição de ocupação pelas camadas privilegiadas, reforça a importância da via no âmbito municipal e até metropolitano, por essas serem eixos de ligação com as rodovias estaduais.
Figura
10
-
Plano
de
avenidas
(Fonte:
http://www.usp.br/fau/docentes/depprojeto/c_deak//CD/5bd/1rmsp/plans/h2pl-av/pl-av.jpg)
26
O desenvolvimento industrial e posteriormente comercial dessas
Até a década de 50 a ocupação não era tão intensa além Santo
regiões próximas à marginal Pinheiros apresenta funções que no Plano de
Amaro. Essa região teve incentivo para ocupação industrial pela oferta de
Avenidas, eram destinadas apenas à área central. Trata-se de um novo centro
novos terrenos de grandes dimensões nas áreas da antiga várzea do Rio
econômico na cidade, como é notável no eixo Faria Lima – Berrini. A marginal,
Jurubatuba e a implantação de linha férrea. Essa ocupação era de interesse
então, se caracteriza como uma centralidade linear. (FRANCO, 2005)
das indústrias pela proximidade com o rio, para escoamento de seus resíduos e proximidade da energia elétrica. (FRANCO, 2005) A criação desse novo polo industrial na cidade impulsionou o desenvolvimento de seu entorno,
Jurubatuba
tendo na década de 70 um grande crescimento na região da Capela do Socorro, impulsionados não só pela proximidade às fábricas, mas também pela implantação da via marginal ao rio Pinheiros. A existência de uma grande área não construída, pertencente à EMAE (Empresa Metropolitana de Águas e Energia) foi escolhida para a criação de um núcleo principal de uma nova apropriação do espaço próximo ao rio Pinheiros. Trata-se de um terreno que vem sendo modificado ao longo dos anos, perdendo sua característica principal de vazio em meio urbano.
Figura 11 – Rio Jurubatuba (Fonte: São Paulo, metrópole em trânsito)
27
deste núcleo ocorreu pelo inicial projeto de transformar essa área um núcleo de alto padrão, com clubes nas margens das represas. A área, no entanto, sofreu tamanha desvalorização decorrente das restrições de uso e ocupação definidos pela lei, que o modelo de bairro jardim não se multiplicou.
Figura 12 - Terreno escolhido para projeto (Fonte: Google Earth - acesso em 05/03/15 modificado pelo autor)
Um ponto chave da história é a lei da Área de Mananciais (lei 1172/76), controlando a ocupação no entorno da água. Contrário à lei, o desenvolvimento dessas áreas de manancial não se realizou com lotes dispersos
e
de
dimensões
significativas.
Seus
terrenos
foram,
majoritariamente, loteados de forma irregular, concentrando grande contingente populacional sem saneamento, poluindo tanto as represas como seus afluentes. O núcleo residencial de alto padrão Interlagos (figura 31), mostra a dispersão do modelo de bairro jardim ocorrido na cidade, ao modelo proposto pela Cia. City em bairros como Jardim Europa e City Boaçava. A realização 28
Tabela 1 - Características de loteamento e ocupação das áreas de classe B (Fonte: Lei 1172/76)
Estudos de caso
Emerald Necklace
A criação de espaços livres integrados à paisagem dos rios urbanos não é um assunto relevante somente nos dias atuais. Já em 1860, Frederick Law Olmsted criava o Emerald Necklace, referência para este trabalho. Desde então, a recuperação de rios ao cotidiano da população ou até mesmo a criação de parques e bairros em suas margens vem sendo assunto discutido e bastante explorado pela inversão do histórico de as cidades voltarem as costas aos rios de seu território. Após realização de levantamento de projetos bem-sucedidos próximos à rios urbanos, seguiu-se o seguinte roteiro para analisar os projetos: Analisar sua implantação na cidade e suas relações propostas com os rios, identificar priorização ou não no uso e locomoção de pedestres em
Figura
13
-
Mapa
do
atual
conjunto
de
parques
(Fonte:
http://www.greeningthegrey.org/wp-content/uploads/2013/04/emerald-necklace.jpg)
escala local e regional; identificar peculiaridades de acesso nos casos em desnível; analisar o uso de vegetação e sua localização; identificar peculiaridades no uso da luz. Após aproximação inicial, buscou-se identificar objetivos e apropriações diversas como despoluição e show, eventos esportivos e culturais.
Emerald Necklace é um grande circuito verde, criado em 1860 por Frederick Law Olmsted, importante nome do paisagismo e urbanismo americano. Composto por um grupo de parques, foi projetado com o intuito de regular as cheias do rio Charles e não para ser um espaço de lazer para a população. No entanto, os parques hoje são um dos maiores centros de lazer da cidade de Boston, Estados Unidos.
29
projeto original previa a criação de espaços que se assemelhassem a paisagens naturalmente desenvolvidas, com visuais integrando o parque e o ambiente construído.
Figura
15
-
Visão
aérea
da
área
(Fonte:
http://cdn.neonsky.com/4bd5ebfc5c408/images/100521-0151-1.jpg)
Figura
Esse sistema de parques, compostos pelos parques Back Bay Fens, Riverway, Olmsted Park, Jamaica Pond, Arnold Arboretum e Franklin Park, dispostos em linha ao longo do rio Muddy, representa um projeto multifuncional de saneamento e conservação ambiental (BONZI, 2014). O 30
14
-
Inserção
do
rio
em
ambiente
mais
vegetado
(Fonte:
http://www.seanlitchfield.com/assets/web_files/The%20Emerald%20Necklace139232 4348_12_emneck_12_67_20111005_109_8.jpg)
Southbank Southbank é um antigo bairro industrial de Melbourne, capital do estado de Victoria na Austrália. Melbourne foi uma cidade desenvolvida sobretudo pela corrida australiana do ouro, se tornando uma das cidades mais ricas do mundo. Seu antigo centro sofreu com um esvaziamento populacional, tornando-se quase totalmente comercial e a cidade então ficou conhecida como Donut (vazia no centro e cheia nas bordas). O poder público, então, desenvolveu um plano para levar moradia ao CBD (Central Business District) esse plano, muito influenciado pelos processos descritos por Jan Gehl foi um sucesso, e posteriormente desenvolveu-se o projeto do bairro de Southbank. Southbank teve seu plano de transformação realizado em 2007 e revisado em 2011. Este plano visava a criação de um bairro mais denso, mais moderno e conectado com o centro velho da cidade (CBD), ao mesmo tempo Figura 16 - Contato do público com a água e visão da cidade (Fonte:
que procurava criar mais e melhores espaços públicos. Para isso
http://www.seanlitchfield.com/assets/web_files/The%20Emerald%20Necklace13923243
desenvolveu-se um método de projeto identificando potencialidades,
33_04_emneck_04_67_20110531_069_6.jpg)
deficiências e barreiras ao trânsito de pedestres. O bairro caminha para um futuro cada vez mais focado nas pessoas e na escala do pedestre, tendo uma hierarquia de vias que prioriza transportes como bicicletas e trams (VLT – veículo leve sobre trilhos).
31
Figura 17 - Localização do bairro (Fonte: Google Earth - adaptado pelo autor. Acesso em 06/05/2015)
32
Figura
19
-
Promenade
com
uso
misto
(Fonte:
http://www.photograph-
melbourne.com/melbourne-photos/201000412.jpg) Figura 18 - Melbourne em 1946 - CBD à esquerda e Southbank à direita do rio (Fonte: http://www.melbourne1946.com/page2/index.html)
33
Trata-se de um antigo estacionamento transformado em parque,
Rio Rhône
criando espaços de permanência e passagem ao longo de um elemento O projeto do Rio Rhône, localizado na cidade de Lyon foi eleito um
estruturador da cidade, o rio Rhône. Por meio de uma grande arquibancada e
dos melhores parques ao longo de rios pelo site especializado em arquitetura
um espelho d’água, o projeto reforça a importância histórica do centro da
da paisagem Landscape Architects Network (Landarchs).
cidade localizado na margem posterior do rio.
Figura
20
-
Arquibancada
situ.fr/#/projets/tous/berges-du-rhone)
e
espelho
d'água
(Fonte:
http://www.inFigura
21
-
margens
e
conexão
situ.fr/#/projets/tous/berges-du-rhone)
34
com
pontes
(Fonte:
http://www.in-
Córrego Cheongyencheon O projeto funciona, ainda, de costura entre as duas margens dos
O córrego Cheongyencheon em Seul, Coréia do Sul, é um exemplo
rios, conectando transposições e funcionando como uma calçada em contato
de como a reversão de espaços antes destinados a veículos para espaços
com a água. Seus espaços vegetados são concentrados no nível da rua
públicos para pedestres é benéfica. O bairro onde se encontra é o antigo
enquanto sua área mais rebaixada traz visual livre para a paisagem do local.
centro comercial da cidade e foi tamponado por uma via elevada.
Figura Figura 22 - Caminhos próximos à água (Fonte: http://www.in-situ.fr/#/projets/tous/berges-
23
-
Projeto
(Fonte:
http://portalarquitetonico.com.br/wp-
content/uploads/Cheonggyecheon-5.jpg)
du-rhone)
35
Dentre as diretrizes de projeto realizado pela Prefeitura de Seul, sob governo de Lee MyuogBak, é observável a utilização dessa reversão como um recurso de melhora da dinâmica urbana do entorno e melhora na segurança, por trazer mais movimento e por retirar o baixio do viaduto criado para desafogar o trânsito do centro.
Figura 25 - Rio e pessoas (Fonte:http://v.i.uol.com.br/album/ap_album_da_semana020810_f_011.jpg) Figura
36 24
-
Antes
e
depois
(Fonte:
https://d2ouvy59p0dg6k.cloudfront.net/img/seoul_cheonggye_cheon_restoration_proje
O projeto tem sua relevância quanto à valorização dos pedestres
O projeto se assemelha à área de estudo por ser um canal que se
como recurso de animar o espaço público, mesmo sendo rebaixado em
conecta a um corpo d’água ainda maior. Além dessa semelhança física, há a
relação à rua e ao comércio do entorno. Ao recuperar o contato dos
intenção de produzir na área de estudo deste trabalho, um efeito similar aos
transeuntes com a água, retoma-se a relação do rio como estruturador do
obtidos com a recuperação do córrego. O desenho tem intensa participação
espaço e da história da cidade. O processo de recuperação ambiental das
nos usos do espaço, propondo travessias, contatos diversos com a água e
margens ajardinadas e a liberação do córrego acarretou na redução da
permitir a caminhada sem esforços. Os acessos são feitos por escadas,
temperatura do entorno além da melhora de qualidade de vida e da fauna
rampas e elevadores que conduzem a um piso sem desníveis, sendo
local.
completamente acessíveis. A relação da luz é um aspecto importante no projeto, na questão da segurança e da ambientação noturna. Com uso de dois tipos de iluminação, uma fria para a água e uma quente para a calçada, o projeto cria um espaço acolhedor e ao mesmo tempo seguro, enquanto ressalta o rio como ícone de uma recuperação histórica e ambiental da cidade.
Figura
26
-
Recuperação
das
margens
(Fonte:
http://thecityfixbrasil.com/files/2015/02/8748812861_5aef182755_z.jpg)
37
Figura 28 - Iluminação da calçada (Fonte: http://cdn.urbancincy.com/wpcontent/uploads/2014/08/183546240_3517041175_o.jpg)
A utilização de degraus no leito do córrego convida a sentar, ter contato físico com a água seja para brincar, se refrescar, para contemplação Figura
27
-
Iluminação
noturna
na
cascata
artificial
(Fonte:
https://4.bp.blogspot.com/_Ymx9e66vrGc/S4NvYHw2KjI/AAAAAAAAL4Q/3jVC5upMo/s400/Seouls-Cheonggyecheon-River-8.jpg\)
e até mesmo exposições de arte. Trata-se de um recurso bastante utilizado em projetos nas margens de corpos d’água, como o rio Rhône, também parte dos exemplos estudados neste trabalho.
38
39
Figura 29 - Situação atual | Vista para o núcleo 2 com aterro sanitário ao fundo (Acervo pessoal)
Situação atual Áreas Verdes Comparando as figuras 30 e 31, é visível a intensificação da ocupação da área localizada entre as represas Guarapiranga e Billings. Essa ocupação denuncia também a redução de áreas verdes e permeáveis na região. São Paulo de maneira geral já apresenta índices de áreas verdes
Figura 30 - Ocupação em 19/04/2015 (Fonte: Google Earth)
bastante reduzidos. A área de estudo trata-se, hoje, de uma das regiões com piores índices de área verde por habitante na capital paulista (figura 31).
40
Figura 31 - Interlagos (Fonte: São Paulo, metrópole em trânsito)
Transporte O censo 2010 do IBGE indica que a região de Cidade Dutra possui população total de 45732 habitantes. Já a pesquisa de mobilidade do Metrô de 2012 (Tabela 1), divide os bairros localizados entre as represas e abaixo do rio Jurubatuba como uma só região, esta forma de condensar dados mostra a importância da área dentro de si mesma e dentro da cidade. A quantidade de viagens atraídas adicionada às viagens produzidas somam 2.640.797 viagens, número bastante expressivo se levado em consideração a população total da área. Ao mesmo tempo, a área se conecta com o restante da cidade por apenas 3 viadutos, sendo um deles a linha esmeranda da CPTM. A prioridade do transporte coletivo da região se restringe a um corredor de ônibus localizado na avenida interlagos e às estações da CPTM. A Ponte Jurubatuba, localizada na Av. Interlagos, é a localização do corredor de ônibus; já a ponte Vitorino Goulart da Silva, localizada na Av. Jair Ribeiro
Figura 32 - Área verde por habitante [Fonte: Rede Nossa São Paulo. Disponível em http://www.redesocialdecidades.org.br/br/SP/sao-paulo/regiao/capela-do-socorro/areaverde-por-habitante (acesso em 19/05/2015) ]
41
da Silva ainda não possui nenhuma preferência a transporte coletivo implantada, apenas em projeto, como visível na figura 34.
Tabela 2 - Dados Gerais por Zona de Pesquisa - 2012 (Fonte: Metrô/SP - Pesquisa de Mobilidade 2012)
A Avenida Miguel Yunes assim como a Avenida Jair Ribeiro da Silva foram inauguradas em 2008, formando um eixo de conexão entre a
Figura 34 - Rede de transporte coletivo (Fonte: Plano Regional da Subprefeitura
Avenida das Nações Unidas e Avenida Nossa Senhora do Sabará. Trata-se
Capela do Socorro)
de um novo eixo alternativo ao eixo da Avenida Interlagos. Os antigos terrenos industriais da região passam hoje por um processo de ocupação por condomínios residenciais fechados verticais que, priorizando o automóvel,
42
criam neste eixo um espaço nocivo ao pedestre, seja pela escala, pela seguraça ou pelos usos comerciais que são praticamente inexistentes.
População
Quando analisamos a localização de pontos de ônibus e estações de trem (figura 35), é visível que há baixa oferta desses equipamentos nessa nova avenida, configurando este novo eixo como uma alternativa praticamente exclusiva ao uso de automóveis individuais. No caso da CPTM, há o dobro da distância média entre as estações Jurubatuba e Autódromo.
A figura 37 ilustra com propriedade a realidade da ocupação da área. A Av. Nossa Senhora do Sabará é um vetor de desenvolvimento das habitações e de concentração de população assim como a linha de trem da CPTM. É bastante visível, também, a baixa densidade do restante da área, denunciando a subutilização dos lotes de modo geral, principalmente dos novos empreendimentos desenvolvidos em antigos lotes industriais. Outro fator importante da área é o envelhecimento da população. Segundo o Censo 2010 do IBGE (figura 38), as áreas menos densas, de modo geral, apresentam contingente expressivo de residentes com 60 anos ou mais.
Pontos de ônibus
Estações de trem
Figura 35 - Pontos de ônibus e trens com suas áreas de influência (Fonte: Mapa Digital da Cidade - Editado pelo autor)
43
Figura 37 - Pessoas residentes - 60 anos ou mais (Fonte: Censo IBGE 2010)
44
Figura 38 - Pessoas residentes - 60 anos ou mais (Fonte: Censo IBGE 2010)
Há também na área a presença de diversos aglomerados subnormais como Manuel de Teffe e ainda núcleos já consolidados como Nicarágua, que possuem construção de conjuntos habitacionais.
Figura 39 - Favelas e núcleos habitacionais [Fonte: HABISP - Disponível em http://mapab.habisp.inf.br/ (Acesso em 24/05/2015) ]
45
Meio Ambiente A presença do aglomerado Manuel de Teffe é, além de um problema habitacional para esta população, um problema ambiental pois, como visível nas figuras 40 e 41, o rio é o principal destino de esgoto e lixo. A figura 42 mostra, ainda, que nas proximidades existe um aglomerado que tem como destino de seu esgoto, valas a céu aberto.
Figura 40 – lixo descartado em rio (Fonte: Censo IBGE 2010)
Figura 41 - Esgoto despejado em rio (Fonte: Censo IBGE 2010)
46
Figura 42 - Esgoto despejado em vala (Fonte: Censo IBGE 2010)
Uso e ocupação A área possui concentração de usos industriais, sobretudo na proximidade ao rio Jurubatuba e residenciais, no entanto a baixa atividade comercial reforça o caráter de deslocamento de e para essa região. As indústrias estão localizadas, frequentemente, próximas aos aglomerados subnormais da região.
Tabela 3 - Características das zonas de uso (Fonte: Subprefeitura Capela do Socorro)
Figura 43 - Uso e ocupação do solo (Fonte: Subprefeitura Capela do Socorro)
47
48 Figura 44 - Uso e ocupação 2008 (Fonte: UIT - Emplasa)
A área é definida como Zona Mista de Alta Densidade, com
A atual revisão do plano diretor indica a área como parte do arco
presença de ZEIS 1 e 3, dispostas nos limites de aglomerados subnormais e
de desenvolvimento da cidade. Essa região é denominada Arco Jurubatuba e
áreas não edificadas próximas.
tem como princípio o adensamento próximo à infraestrutura. Tem-se, portanto, o potencial de melhor uso dessa área, tornando-se uma centralidade para a região e uma possibilidade de novas apropriações mais humanas e benéficas para a cidade. Sendo assim, o parque, utilizado como um instrumento conexão com seu entorno, pode servir de motor para uma transformação regional e das margens do rio, além de referência para outras intervenções nesse leito.
N
Figura 45 - Arco Jurubatuba (Fonte: Revisão Plano Diretor de São Paulo)
N
49
50
Figura 46 - Situação atual do núcleo 2 | comunidade Manuel de Teffé e Autódromo de Interlagos ao fundo
O projeto do parque Parque Jurubatuba Ao longo do curso, foi desenvolvido um parque numa área adjacente à área escolhida para estre trabalho. Denominado Parque Jurubatuba, foi realizado na disciplina de Paisagismo VI, ministrada pelo Prof. Dr. Fábio Robba e Prof. Ms. Marcella Mussnich. O projeto do parque já previa uma faixa de servidão ao longo das linhas de transmissão, 7,5m para cada lado, e o projeto desenvolvido em conjunto com Alexandra Papadimitropoulos, Eduardo Lopes e Jaqueline Mazzo criava ao longo dessa faixa, uma área de vegetação colorida e que se dissolvia ao longo do desenho do parque. A conexão com os bairros do entorno, além da criação de passarelas exclusivas para pedestres com integração à ciclovia existente na margem posterior do rio Pinheiros foi premissa da proposta, que incluía espelhos d’água sob as passarelas para evitar a criação de sombra no baixio da estrutura
Figura 47 - Parque Jurubatuba
51
Não basta despoluir o rio! Mesmo que ele volte a correr límpido, piscoso, potável, de nada modificará a percepção que a população
Promenade Jurubatuba
tem do seu “esgoto a céu aberto”. O rio precisa voltar a se incorporar na vida do paulistano e, para isso, a única alternativa é reconstituí-
A poluição gerada pela ocupação irregular da área acaba por
lo como espaço de lazer. (NEIMAN, 2005, pp. 264)
distanciar a população dessas margens e, somado ao esgoto de toda a cidade direcionado aos rios, criou um distanciamento psicológico com essas águas. Por outro lado, a contenção do rio entre paredes de concreto, linha férrea e, posteriormente, via expressa, criou um distanciamento físico em relação a esse corpo d’água. No Brasil, de modo geral, a relação harmoniosa de encontro da população com o rio ocorreu até a metade do século XX (...) E a poluição e a dificuldade de acesso às áreas ribeirinhas foram expulsando para longe das várzeas a prática de esportes e lazer. (GORSKI, 2010, pp. 36)
A reaproximação desse leito demonstra uma oportunidade não só de oferta de mais áreas de lazer na cidade, mas também a necessidade da inclusão desse elemento de forma positiva na vida do paulistano, nas suas horas de lazer. A área escolhida é, portanto, um núcleo para estudo do processo de distanciamento e da potencial transformação dessas áreas em espaços mais integrados não só à cidade como à vida da população.
52
Figura 48 - Mapeamento inicial (Fonte: Do autor)
uma característica recorrente de áreas estudadas que sofreram intervenção, como o caso de Southbank, criando um grande espaço público que funciona A figura 49 ilustra a aproximação inicial ao terreno, tendo uma
como uma calçada na margem do rio.
característica gradativa de espaço urbano para espaço natural (da esquerda para direita. Neste mapa, indicado com azul escuro está a característica mais
Uma segunda apropriação reduziu a área a ser adensada ou
urbana, chamada de Promenade; a cor verde indica um arco mais natural e
urbanizada e incluindo o aterro sanitário de Santo Amaro, incluindo, também,
vegetado, com a presença de córregos e nascentes; a cor azul claro identifica
uma estação de trem com distanciamento adequado (1km) entre as estações
um eixo misto entre as duas grandes setorizações e a cor vermelha indica
Jurubatuba e Autódromo. A criação de uma estação dentro do parque traz
uma área proposta para adensamento.
uma possibilidade ainda não existente na cidade de São Paulo, tornando o parque acessível à mais um modal de transporte e trazendo mais usuários ao
O adensamento próximo ao parque visava criar habitação e
espaço.
comércio, trazendo multifuncionalidade e diversidade de usos. Trata-se de A inclusão do aterro sanitário já sinaliza uma postura adotada na próxima figura. A área é uma das últimas grandes áreas livres disponíveis na região e o potencial construtivo da faixa a ser adensada (vermelho) poderia ser atendida pelos lotes próximos ao parque, mais adequado para a consolidação desse espaço como livre e não uma oportunidade de se lotear mais áreas na cidade. O aterro em questão é, hoje, uma área vegetada, formando uma espécie de montanha verde na paisagem
Figura 49 - Fluxos propostos (Fonte: Do autor)
53
A figura 52 à direita ilustra com maior clareza o interesse de fluxos do parque, com caminhos e diferentes vegetações. A área a ser ocupada por HIS foi reduzida a faixas (cinza), mas após reavaliação do plano diretor, notouse a existência de uma ZEIS em parte do projeto.
N
Figura 51 - Diagrama de bolhas inicial (Fonte: Do autor)
N
A área a ser ocupada por habitação de interesse social agora já está localizada apenas nas áreas hachurada em cinza. A figura acima já
Figura 50 - Diagrama de fluxos e vegetação (Fonte: Do autor)
possui bolhas de uso iniciais, e sinalização de caminhos diversos, seguindo o eixo do rio para maior deslocamento entre as áreas do parque.
A figura 53 insere um núcleo aberto ao parque nas delimitações da ZEIS, obedecendo sua ocupação mínima de 50% em Habitação de Interesse
54
Social, mas criando também áreas comerciais no térreo, transformando a área
ordem de mais urbano – mais vegetado, tendo seus usos e pisos pautados
entre este terreno e o rio numa grande calçada, O parque ainda segue a
por ela.
Figura 53 - Inserção na área (Fonte: Do autor)
Figura 52 - Diagrama de usos e fluxos
N 0
250
500
55 750
1000 (m)
Parque do Linhão
transmissão, como visto na figura a seguir. Para definir a largura dos linhões dentro da área analisou-se a faixa não edificada ao longo do terreno e linhões
O processo de projeto agora inclui os obstáculos à ocupação da
próximos, sendo constatada a faixa de 15m para cada lado.
área que, por ser propriedade da EMAE (Empresa Metropolitana de águas e Energia), é ocupado por diversas linhas de transmissão de energia que
Outro obstáculo é a presença de corpos d’água dentro do terreno.
conectam usinas e subestações existentes inclusive nas imediações do
As áreas de preservação permanente exigem que seja preservada uma faixa
projeto.
ao longo do corpo d’água, baseado em sua largura. A presença dessas torres e cabeamentos exigem que seja
Com a inclusão dessas áreas, o terreno diminui consideravelmente
respeitada uma faixa ao redor da linha, chamada faixa de servidão, que visa
e acaba por se fragmentar. Para promover uso de todo o parque foi utilizado
preservar não só a estrutura como a própria população de possíveis
uma matriz triangular para redesenho dos caminhos propostos e dos pisos,
acidentes. A largura dessa faixa é definida pela voltagem da linha de
aumentando as conexões entre áreas e, principalmente, criando o desenho estruturador do parque com seu entorno.
Figura 54 - Dimensionamento da faixa de servidão (Fonte: WOSNY, 2010, apud CUCCO E OLIVEIRA, 2011, pp. 108)
56
Figura 55 - Matriz triangular (Fonte: Acervo pessoal)
N
57
Figura 56 - Pisos, piscinões e vegetação produzidos a partir da matriz
0
Figura 57 – Evolução do diagrama produzido a partir de matriz triangular
58
250
500
750
N
1000 (m)
Para a promover integração do parque com as duas margens do rio e permitir que os obstáculos pudessem ser transpostos com mais facilidade
sanitário de santo amaro e pela possibilidade de interação com o parque a partir da rua (figura 59).
criou-se uma costura, sempre mantendo uma transposição ao rio em cada extremidade dos núcleos do parque. Esse caminho estruturador conecta praças de distribuição dispostas nos pontos nodais dos fluxos. A presença do núcleo habitacional subnormal denominado Manuel de Teffé denuncia o problema da ocupação dessa área, sendo gerador de poluição como visto no capítulo anterior e ainda um problema social por ser, parcialmente, área de risco. A alternativa encontrada para a solução foi a remoção das habitações, dado a alta declividade do terreno em que se encontram, criando um visual interessante pela presença do antigo aterro N Figura 59 - Área de risco (Fonte: Mapa Ações prioritárias nas áreas de risco do Plano Diretor 2014)
A área de ZEIS localizada à esquerda do terreno pode, além de aumentar a oferta de habitações da área, absorver a população do conjunto Manuel de Teffe, mantendo os moradores na região em que já ocupam. A área foi idealizada procurando manter a visual bairro-rio, tendo sempre duas ruas paralelas e evitando a criação de ruas sem-saída. A ocupação segue, Figura 58 - Croqui de vale verde proposto
também, a diretriz principal do parque de ser um crescente urbano-natural, 59
tendo implantação de edifícios de forma mais ordenada à esquerda e se aproximando do desenho do parque à medida em que cresce em direção do próximo núcleo do parque. Há ainda a presença de um córrego no limite do terreno com o bairro já consolidado, sendo necessário respeitar a Área de Preservação Permanente e criar um caminho paralelo ao corpo d’água, incorporando-o ao ambiente do projeto.
60
N
Figura 60 - Evolução dos caminhos propostos, piscinões verdes e APPs
0
250
500
750
1000 (m) 61
A
presença
da
topografia
acidentada
e
de
habitações
parque já que podem recuperar a qualidade da água e se tornarem espaços de
recentemente construídas, aliada à dificuldade de ocupação gerada pelas
recreação e lazer (CORMIER e PELLEGRINO, 2008). Esses alagados podem,
linhas de transmissão que ocupam a única faixa passível de conexão com o
em alguns casos, serem tratados como wetlands, filtrando parte do esgoto
próximo núcleo do parque levou ao afastamento do eixo do parque. A
produzido pelas próprias construções dentro do parque e utilizando essa água
alternativa encontrada foi a remoção de vagas de estacionamento da via
para fins adequados.
lateral e melhoria no passeio público, o parque, então, ganha espaço na própria rua e incentiva o fluxo de pessoas nesse espaço. Esse afastamento é benéfico em ambas margens do rio, forçando o uso do entorno. O próximo núcleo do parque se conecta com as praças de seu entorno. Criando uma grande entrada principal e duas alamedas, esse núcleo permite que a ocupação seja semelhante à da área de ZEIS, com comércio no térreo e adensamento populacional. Há também a presença de uma ETEC, beneficiada pela presença da estação de trem do parque e que serve de reforço à implantação de uma instituição para cursos sobre meio-ambiente, ampliando o caráter educacional da área. Os piscinões verdes já existentes no terreno são a partir desse núcleo mais próximos da localização e desenho atuais, aproveitando a topografia já rebaixada e integrando-os ao desenho do parque. Esses piscinões atuam como lagoas pluviais e têm bastante importância no escoamento das águas superficiais, contribuindo também com o ambiente do 62
Figura 61 - Ocupação na área de ZEIS
N
Figura 62 - Proposta de desenho do nĂşcleo 2 a partir da matriz
N
63
0 250 500 750 1000 (m)
O terceiro e último núcleo do parque, seguindo a diretriz geral, é o
Foi necessário então mudar de escala. Antes trabalhando em
mais natural, tendo maior presença dos piscinões verdes e vegetação. Há
1:5000 era possível trabalhar o parque como um todo, mas, pela grande
também um córrego próximo à Av. Jair Ribeiro da Silva, exigindo a
escala do trabalho, foi necessária a ampliação dos núcleos do parque agora
preservação de sua APP. Na proximidade da Estação Elevatória de Pedreira
trabalhados em 1:2000.
é proposto uma área musical, a fim de absorver parte dos eventos que têm ocorrido no vizinho Autódromo de Interlagos, esse espaço musical também é beneficiado pela topografia construída da Estação, que barra parte do som gerado e pela presença da Usina termelétrica, criando referências ao passado industrial da área. O caminho de terra já existente sobre a usina é proposto como um caminho aberto à população, criando conexão com os bairros mais a leste do parque e se transformando na transposição final ao rio.
N N Figura 64 - Praça de entrada para o bairro e alargamento do passeio Figura 63 - Núcleo 3 | proposta baseada em matriz triangular
64
N
Iniciando pelo núcleo central, visto na figura 65, já há uma apropriação da calçada como área de projeto, além da criação de uma grande praça de entrada dessa área. A presença de edifícios recém construídos incentivou a criação de uma área destinada a habitação e comercio também próxima à rua, com bolsão de estacionamento utilizado para absorver parte das vagas de estacionamento público que foram retiradas com a proposta de alargamento do passeio. O núcleo 2 sofreu modificações, adotando um traçado mais orgânico do que o proposto inicialmente pelo desenho da matriz, os caminhos principais se mantiveram, assim como as conexões com o entorno, no entanto, para minimizar os impactos nos imóveis já construídos na avenida, adotou-se duas alamedas ao invés de uma grande praça de entrada. Esses imóveis podem, num futuro, adotar uma proposta semelhante à estudada no bairro de Southbank, Melbourne, com residências nos andares superiores, comércio no térreo e permeabilidade para o parque.
65
Figura 65 - Proposta de desenho orgânico para o núcleo 2
N 0 66
250
500
750 (m)
O desenho do linhão
A implantação desse tapete permite manter a visual do rio e do parque, servindo apenas de barreira física à ocupação. O linhão foi então subdividido em três partes, cada uma representando um núcleo do parque. A Vermelha, representando a área
estimulando sua transposição e inibindo a permanência de pessoas. A
habitacional segue de forma mais linear e controlada assim como sua
resposta dada a essa questão foi a implantação de um grande tapete
representante; a roxa representa a o primeiro núcleo de parque propriamente
vegetado, formado por vegetação arbustiva, desestimulando a entrada de
dito e já torna o desenho mais orgânico; a amarela se espalha no terceiro
pessoas e delimitando os caminhos a serem seguidos por dentro dessa área.
núcleo, transformando-se em piso para o auditório.
Figura 66 - Área de servidão e APPs
Há necessidade de tornar a faixa de servidão em parte do parque,
N
67
N
68 Figura 67 - Inserção dos tapetes coloridos sob as linhas de transmissão de energia 0
250
500
750
1000 (m)
O terceiro núcleo tem como condicionantes as linhas de
O desenho já busca criar uma relação de volumes entre os tipos de
transmissão existentes na área. Enquanto nos outros núcleos elas seguiam
vegetação, característica que fica mais clara na próxima figura, com a inclusão
paralelas, neste último se espalham e fragmentam o espaço. A solução
dos tapetes sob o linhão e a aproximação do desenho com a proposta final. A
encontrada foi que projetar nos espaços livres resultantes das diversas faixas
evolução do projeto levou para uma variedade menor de caminhos e maior
de servidão e incorporando um traçado mais orgânico e desordenado para
presença de áreas de piso. Já é visível na figura abaixo (figura 69) os estudos
este núcleo, mantendo as transposições necessárias através do linhão e
de cor para os tapetes debaixo do linhão (laranja, roxo e amarelo), também já
criando um grande tapete colorido.
é possível ver a intenção de criar decks de permanência próximos ao rio e estudos para a implantação de pavilhões (blocos pretos) para absorver usos
A existência de um bairro já consolidado próximo a este núcleo
diversos como alimentação, sanitários e administração.
incentivou a criação de uma outra praça de entrada, tendo sua localização definida novamente pela conexão entre áreas verdes. Este bairro tem uma escola e uma praça na mesma rua em que a entrada foi locada, trazendo a escola para dentro do parque e conectando a única área verde existente no entorno. A criação de uma praça localizada entre os dois piscinões já existentes redesenhados também já está sinalizada no croqui acima, tendo como destino um auditório que pode não só absorver parte dos eventos musicais que a região recebe como também atrair mais usuários e atividades para essa grande área. A localização deste auditório segue a mesma do início dos estudos, tendo como base uma ponta determinada pela topografia existente e que tem como costas a barragem da Estação elevatória de Pedreira e a usina termelétrica de Piratininga. 69
PAVILHÕES
TAPETES COLORIDOS
Figura 68 - Panorama do parque e inclusão de pavilhões, áreas de permanência e tapetes coloridos 70
N 0
250
500
750
1000 (m)
Parque da Estação
e ainda possuir um córrego divisor entre as áreas, teve este acesso retirado e a praça se manteve como elemento de inclusão do parque dentro do bairro. As transposições dessa área foram revisadas, mantendo a diretriz
O parque, por se localizar parcialmente na Avenida Estação e estar
de um acesso em cada ponta dos núcleos e evitando a criação de um corredor
próximo à Estação Elevatória de Pedreira assume sua denominação final
muito retilíneo que incentivasse apenas a passagem e não a permanência
como Parque da Estação. A partir desse momento a proposta final já é
dentro do bairro, a passarela central foi retirada e para transpor o rio é
explícita e sofreu alguns ajustes baseados nos níveis do entorno e usos mais
necessário gerar movimento por dentro da área.
próximos ou mais distantes do Rio. A antiga área destinada a prática de skate foi substituída por uma O terreno, quase plano, é uma exceção ao seu entorno dominado
área reservada ao prédio da administração local, capaz de abrigar também
por morros. O próprio parque é cercado por essa barreira física, dificultando
associação de moradores e outros usos necessários ao entorno. A praça em
seu acesso e conexão principalmente com suas laterais. A proposta inicial
frente à administração foi determinada como um food park, capaz de receber
para o Núcleo 1 previa uma praça de entrada para o bairro localizada à
food trucks ou feiras temporárias de diversas naturezas.
esquerda do terreno, mas por estar localizada muito acima da cota do parque O desenho dá área verde próxima ao córrego limite do terreno busca diluir a Área de Preservação Permanente (APP) no desenho do parque, distanciando o desenho de uma faixa determinada somente pela distância necessária de preservação e criando praças inseridas na vegetação.
Figura 69 - Vegetação e praça do bairro
N
71
Figura 70 - NĂşcleo 1 | acessos revisados
0 72
250
500 (m)
N
N
73 Figura 71 - Núcleo 2 | inserção de áreas de permanência
0
250
500
750 (m)
O núcleo 2 (Figura 72) já tem sua estrutura definida. A inserção de
Os piscinões verdes existentes no terreno foram mantidos, mas
mais áreas de piso entre os caminhos propostos foi necessária além da
redesenhados, incluindo-os no desenho do parque e captando a água da
criação de decks próximos ao rio. Este núcleo já conta com áreas definidas
chuva, reduzindo a velocidade com que essa água chega ao rio. Os usos se
de usos como praça para cães, uma área destinada à alimentação, pavilhão
concentram próximos aos caminhos de ligação entre núcleo e aos piscinões.
de uso múltiplo, playground, quadras, praça de leitura, academia ao ar livre
Nesta área alguns usos podem ter caráter diferenciado, baseado na diretriz
além de edifício administrativo que abrigaria, também, uma instituição voltada
do parque mais urbano para mais natural, é o caso do playground que é
a cursos ambientais, reforçando o caráter educacional da área e conectando-
sugerido como arvorismo.
a à ETEC existente no entorno. O tapete amarelo sob o linhão se desprende da faixa de servidão e Foi proposta mais uma transposição ao linhão neste núcleo por se
corre em sentido ao auditório, transformando-se em piso para abrigar os
tratar de uma faixa de transição entre a área impossibilitada de aproximação
expectadores dos eventos que ali acontecem. Este núcleo de modo geral
do rio e a área que faz contato com ele. Dessa forma, o caminho central
configura-se como espaços de permanência dispostos em meio à vegetação.
conduz às margens do rio e conecta diretamente o núcleo 2 ao núcleo 3, mantendo duas transposições à outra margem. O núcleo 3 por sua vez faz contato direto com o rio, tendo as linhas de transmissão de energia dispersas no terreno, conectando a usina termelétrica a diversas subestações dispostas a sul do rio. A barragem é bastante plástica, tendo uma rua interna de transposição ao rio transformada em passeio público. Há também a revisão dos pavilhões e pisos propostos na área, retirando as construções localizadas muito próximas ao corpo d’água.
74
N 75
Figura 72 - Núcleo 3 | vegetação e áreas de permanência
0
250
500
750
1000 (m)
O Plano diretor do Parque
níveis do terreno e maciços vegetais e perspectivas ilustrativas do visual proposto para estes núcleos.
O terreno localiza-se em uma parcela do rio que não se desenvolveu tão rapidamente quanto o entorno mais conhecido existente mais a norte, como Brooklin, Itaim Bibi, entre outros. Parte desse congelamento se deve pela inexistência de avenidas marginais neste ponto do rio e pelas apenas recentes intervenções viárias como alargamento da Av. Miguel Yunes e criação do viaduto que corta o terreno. A recente expansão imobiliária da região, com criação de grandes lotes fechados em condomínios, já localizados na borda do parque, além da introdução de uma área de ZEIS dentro do terreno mostra que esta, sendo a última grande área não ocupada ao longo do rio, está recebendo, gradativamente, atenção seja do mercado imobiliário ou do próprio poder público a respeito de suas potencialidades. Sendo assim, este trabalho optou por concentrar-se no grande corpo do projeto do parque, entendendo a área além rio como uma expansão do projeto, por esta já ter usos definidos e ter sua ocupação mais dificultada. O Plano Diretor agora será divido mais claramente entre os núcleos 1, 2 e 3 e apresentam plantas em escala ampliada, cortes demonstrando os
76
Figura 73 - croqui sem escala da transposição ao rio
77 (Fonte: Google Earth – modificado pelo autor)
Figura 74 - inserção da proposta final no entorno
N
Figura 75 - Perspectiva da proposta vista a partir da Estação Elevatória de Pedreira
78
1
2
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rasteira e Arbustos)
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Tapetes coloridos (viveiro de mudas)
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RIO
Pisos
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18
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Expansão
Aterro Sanitário
DO
14
Deck de madeira
RIO
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RIO
3
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1 - Food Park
RIO
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Ciclovias
CANAL
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1
1
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9
RIO
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12
2
5 6
7
12
10
5
7 9
9
13
9 - Bosque
12
16 7
10 13
Autódromo de Interlagos
1
8
9
12
10
16 9
2 14
4
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11 - Piso molhado 13 - Academia
15 15 - Skate 16 - Gramado
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B
14
17
10
15
11
8
6
5 - Piquenique 6 - Playground
2
3
SIL
VA
ETEC
ASSUNTO:
AUTOR:
ESCALA:
FE RR E
IR
A
79
Mauricio Elias de Carvalho
1:5000
Figura 76 - Perspectiva da área destinada a habitações de interesse social (HIS) localizadas em ZEIS
81
Este núcleo é formado essencialmente por edifícios destinados à Habitação de Interesse Social (HIS), por estarem dentro de uma área determinada como ZEIS 1 no Plano Diretor da Cidade de São Paulo, como já visto anteriormente, e possui baixíssima declividade, sendo inclusive proposto o nivelamento da área. A disposição inicial dos edifícios, bem como as ruas propostas pouco mudaram, mantendo a premissa de criar sempre visibilidade bairro – rio e tendo sempre duas ruas perpendiculares. No entanto, ao se aproximar do Núcleo 2, os edifícios perdem o paralelismo, adotando implantação mais orgânica à medida em que o parque se torna mais natural. Os piscinões localizados neste núcleo são propostos neste projeto, por ser a única área em que estes não existem atualmente, eles são, também, parte importante da inclusão do núcleo no modelo proposto de mescla entre pisos, vegetação e água. Estes alagados construídos ajudam a ambientar o bairro como uma grande praça e permite a criação de visuais interessantes como visto na figura 75.
82
Figura 77 - croqui sem escala da área de ZEIS
A
A
RU
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Vegetação (Grama, Veg. rasteira e Arbustos)
B
Tapetes coloridos (viveiro de mudas) www.arquilog.com.br
Pisos
CANAL DO
CANAL
RIO
DO
RIO JURUBATUBA
JURUBATUBA
Deck de madeira
RIO CANAL
DO
Piscinões Verdes
Áreas ocupadas
PEDRA TALHAS
RUA
RIO
Linhas de transmissão de energia e área de servidão
PARAGUAÇU
0
7
Ciclovias
pet
adm
,5 32
pav.
food park
Limite dos núcleos
food park
Edifícios da área de ZEIS (Térreo comercial + residências superiores)
piquenique 0
playground
3,2
Árvores
1
2
73
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PARQUE DA ESTAÇÃO TÍTULO:
Núcleo 1
A ASSUNTO:
Trabalho de Conclusão de Curso Arquitetura e Urbanismo - Centro Universitário Senac AUTOR:
ESCALA:
83
Mauricio Elias de Carvalho
1:2000
733,20
732,50
732,50 727,40
PARQUE DA ESTAÇÃO TÍTULO:
Corte A-A ASSUNTO:
Trabalho de Conclusão de Curso Arquitetura e Urbanismo - Centro Universitário Senac AUTOR:
ESCALA:
83
Mauricio Elias de Carvalho
1:750
Figura 78 - 86 Panorama a partir de transposição ao rio com visão às residências
Figura 79 - Ilustração da proposta de passeio margeando o rio, em sentido à Estação Elevatória
87
O núcleo 2 forma com o núcleo 1 uma grande área praticamente plana, sendo proposta a manutenção do mesmo nível entre estes. No entanto, este núcleo possui suas próprias características físicas como a presença de um grande declive ocupado por habitações em área de risco, como já visto anteriormente. Este núcleo sofreu diversas modificações durante o processo de projeto, por ser a interface de conexão entre os diversos usos e, principalmente, de inflexão na questão do contato ao rio. Tem-se neste núcleo a possibilidade de incluir o rio na paisagem do parque de forma mais significativa. O entorno é, também, uma das maiores questões dessa área, tendo proposta a criação de uma grande praça de acesso e duas ruas que procuram dinamizar o fluxo parque – rua além de criar importantes conexões com as áreas verdes já existentes na área, compostas por duas pequenas praças de esquina e com uma ETEC já existente, formando, junto à escola proposta, um importante núcleo educacional na região. Este núcleo também procura trazer a rua para dentro do parque, tendo duas importantes ligações longitudinais marcadas pela presença de ciclovias. 88
Figura 80 - croqui sem escala de piscinão proposto
Bosque
B
731 Vegetação (Grama, Veg. rasteira e Arbustos)
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JURUB
ATUBA
piquenique DO
CANAL
Tapetes coloridos (viveiro de mudas)
CANAL
DO
,50
732 RIO
ATUBA JURUB
Pisos
skate estar Deck de madeira
Piscinões Verdes
adm food park pet
Áreas ocupadas
food park
pav. 50
Linhas de transmissão de energia e área de servidão
, 732
,20
733
piquenique Ciclovias
playground
Limite dos núcleos
adm / escola 2
1
www.arquilog.com.br
academia Edifícios da área de ZEIS (Térreo comercial + residências superiores)
Bosque
A
3
2
Árvores
50
, 741
ETEC
PARQUE DA ESTAÇÃO TÍTULO:
B
Núcleo 2 ASSUNTO:
Trabalho de Conclusão de Curso
www.arquilog.com.br
Arquitetura e Urbanismo - Centro Universitário Senac AUTOR:
ESCALA:
89
Mauricio Elias de Carvalho
1:2000
741,77 734,20
732,50
732,50 727,41
PARQUE DA ESTAÇÃO TÍTULO:
Corte B-B ASSUNTO:
Trabalho de Conclusão de Curso Arquitetura e Urbanismo - Centro Universitário Senac AUTOR:
ESCALA:
91
Mauricio Elias de Carvalho
1:750
93 Figura 81 - Pavilh찾o multifuncional pr처ximo ao piscin찾o verde
94
Figura 82 - Perspectiva do núcleo visto a partir da praça de leitura
Figura 83 - Ilustração de caminho entre piscinões, com pavilhão multiuso à esquerda e praça musical ao fundo
95
O último núcleo do parque é proposto como uma grande área verde entre alagados, seguindo a premissa de um parque mais natural à medida em
grande talude verde que, aberto ao uso de sua área mais alta, reforça as diferenças de níveis existentes na área, inclusive entre os corpos d’água.
que se aproxima da represa, concentrando mais pavilhões multiuso, além de praças sugeridas como espaços expositivos para esculturas. Seus usos trazem algumas diferenças como no caso do playground, sugerido como Arvorismo e da criação de uma praça musical, com auditório. A vegetação idealizada para o parque todo, mas, mais intensamente nesta área é a adoção de espécies nativas da região além de vegetação de crescimento espontâneo, que, por se tratar de uma várzea, são essencialmente arbustivos. Os fragmentos ocupáveis deste núcleo foram aproveitados como parte da proposta de caminhos que conectam áreas de parada, tendo nesses polígonos formados em meio às linhas de transmissão os concentradores de usos e pessoas. Tal proposta traz o volume vertical das torres de transmissão para dentro do parque, delimitando espaços e trazendo a história da área para dentro do parque. A margem oposta do rio possui, ainda, uma usina termelétrica em atividade, contribuindo para a ambientação do parque e da inserção do Figura 84 - Croqui sem escala da praça musical proposta histórico industrial da região e do rio como todo para dentro do projeto. Tal ambientação leva em consideração a barragem da Represa Billings, um
96
NGS
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rasteira e Arbustos)
Tapetes coloridos (viveiro de mudas)
BA
JURUBATU
Pisos RIO
RIO
DO
CANAL
JURUBATUBA
724,52
Deck de madeira
piquenique arvorismo
731
731
estar
732,50
Bosque praรงa musical
733,50
pav.
732,50
praรงa exp. estar food park
academia
Ciclovias
737 753,32
732,50
pav. 735,30
esculturas
pet
gramado
skate
C www.arquilog.com.br
ASSUNTO:
AUTOR:
ESCALA:
99
Mauricio Elias de Carvalho
1:2000
749,52
737
732,75 729,60
PARQUE DA ESTAÇÃO TÍTULO:
Corte C-C ASSUNTO:
Trabalho de Conclusão de Curso Arquitetura e Urbanismo - Centro Universitário Senac AUTOR:
ESCALA:
101
Mauricio Elias de Carvalho
1:750
101 Figura 85 - Perspectiva da รกrea infantil, arvorismo
A área além rio foi, idealizada como uma expansão do parque,
Considerações Finais
podendo abrigar usos mais adequados à proximidade de um equipamento A criação de um parque na região vem adicionar qualidade ao
urbano de grande fluxo de pessoas, além de usos mais voltados às
espaço urbano público e mais áreas verdes em um dos bairros menos
necessidades dos moradores do entorno, mas não foi abrangida neste projeto
vegetados da cidade. Trata-se de uma oportunidade de reverter uma área
por estar fora do corpo principal do projeto. A sugestão de criação de uma
que, cercada de água, foi pensada para ser ligada a ela, mas não se
estação de trem diminui a baixa oferta de transportes públicos na Av. Miguel
desenvolveu dessa forma.
Yunes além de propor que este eixo sirva, também, de conexão dos bairros à
A
investigação
dos
usos
propostos
seguiu
o
ideal
de
leste da Av. Interlagos com a linha de trem da CPTM, além de possibilitar a chegada ao parque por usuários de bairros diversos da cidade e até cidades
multifuncionalidade do espaço defendido por Rogers em:
vizinhas. O desaparecimento de espaços públicos multifuncionais não é terríveis
Os elementos estruturadores do espaço mantiveram-se sem
consequências sociais dando início a um processo de declínio. À
grandes alterações, visando maior viabilidade para a real existência do
medida que a vitalidade dos espaços diminui, perdemos o hábito de
projeto, além de manter as linhas de transmissão de energia existentes pela
apenas
um
caso a ser
lamentado: pode
gerar
participar da vida urbana da rua. (...) (ROGERS, 2011, pp. 10)
existência de determinações específicas no caso de aterramento. A
Para criar um espaço urbano saudável e um parque sem grades e
possibilidade de alteração de sua geometria também foi descartada pelo
que tenha usos constantes, é necessário tratá-lo como não só um parque. Os
mesmo motivo e teve nesta uma decisão acertada pela proposta de projeto,
passeios propostos procuram conectar as áreas e criar movimento em todo o
que visa a criação de áreas de parada conectadas por caminhos, paradas
parque, ao diminuir as possibilidades de caminhos dentro do projeto, ao
estas localizadas nos espaços residuais da área de servidão.
mesmo tempo em que delimita áreas de usos diversos, tenta-se concentrar o fluxo de pessoas para que os espaços sejam sempre ocupados.
102
Os piscinões verdes existentes mantiveram-se na mesma área ou próximos de onde já existem, aproveitando a declividade já existente e
diminuindo a movimentação de terra necessária para sua viabilidade, além de
A possibilidade de aproximação da população com um elemento
incluir esses grandes alagados no projeto e no visual do parque. Procurou-se
tão essencial à vida e que estruturou a criação e o desenvolvimento da cidade
tirar proveito desses alagados para a criação de um crescente de águas
é necessária. A existência das vias marginais, distancia as pessoas do rio e
represadas em direção à Represa Billings, tendo uma menor quantidade no
de seus problemas, tendo, portanto, a necessidade de trazer essa
Núcleo 1 e uma maior quantidade no Núcleo 3,
problemática para o dia-a-dia da população. Trata-se não só de um problema sensorial, trata-se da saúde da própria cidade de São Paulo e de quem sofre
Do ponto de vista do projeto, este trabalho criou um grande plano
interferência dela, seja por moradia, trabalho ou lazer.
diretor para o desenvolvimento de um parque, sendo inviável a maior aproximação devido a escala de intervenção. Os usos propostos procuram atender grande parte do público do parque, além de se modificarem seja em dimensão, atividade ou até mesmo localização baseando-se na proposta de um parque num crescente urbano – natural. A área escolhida para este trabalho é uma oportunidade única de criar uma real frente da cidade para o rio, pois a avenida marginal ao Rio Pinheiros inexiste nesta margem do rio após a Ponte Transamérica. Essa possibilidade de reversão do bairro para o rio pode se tornar modelo para futuras intervenções em seu leito ou até mesmo a criação de espaços conectados pela já existente ciclovia do Rio Pinheiros, trazendo mais usuários, movimento e segurança para esta área tão importante econômica, cultural e historicamente da capital paulistana.
103
Bibliografia
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