Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC ARIANE JÉSSICA SANTANA QUEIROZ

ARQUIPÉLAGO DE PINHEIROS: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis.

Orientador Prof. Mestre Ricardo Luis Silva

SÃO PAULO|SP 2015


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ARIANE JÉSSICA SANTANA QUEIROZ

ARQUIPÉLAGO DE PINHEIROS: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis.

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Senac – Campus Santo Amaro, como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo. Orientador Prof. Mestre Ricardo Luis Silva

SÃO PAULO|SP 2015


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7 Ariane Jéssica Santana Queiroz Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis. Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Senac – Campus Santo Amaro, como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo. Orientador Prof. Mestre Ricardo Luis Silva. A banca examinadora dos Trabalho de Conclusão, em sessão pública realizada em 04/12/2015, considerou a candidata: 1)

Ricardo L. Silva

2)

Maria Isabel Villac

3)

Ralf Flôres


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Resumo

Abstract

Neste Trabalho de Conclusão de Curso discuto sobre a prática poética do caminhar como um meio para diferentes se compreender o que é o espaço em sua essência, isto é, o que faz um espaço, um lugar. A prática de caminhar é um ato primordial de sobrevivência e de orientação no espaço. O indivíduo caminhante experimenta o espaço com o corpo, sente a sua ambiência e entra em contato com o inconsciente do lugar. Ao se relacionar e se identificar com o espaço ele constrói, em seu imaginário, um novo lugar de significado simbólico. Para compreensão do caminhar no espaço urbano explorei como cenário o bairro de Pinheiros, localizado na cidade de São Paulo. Ademais, revelo a partir das minhas percepções como caminhante, um outro bairro de Pinheiros. Um bairro estruturado por múltiplos lugares aos quais chamo de “ilhas de sensíveis”, ilhas construídas cada nova deriva. Esses novos lugares ou ilhas foram reproduzidos em e documentados de forma poética por quatro tipos de linguagem: o mapa psicogeográfico; a fotografia; o vídeo; e a escrita.

In this Term Paper I discuss about the poetical act of walking as a means to understand what is the space in its essence, that is, what makes a space, a place. The practice of walking is a prime act of surviving and of guidance through the space. The walking person experiences the space with his own body, feels its ambience and get in touch with the place’s unconsciousness. By connecting and identifying himself with the space, he builds, inside his imaginary, a new place of symbolic meaning. For understanding the walking in an urban place, I explored Pinheiros neighborhood, located at São Paulo city. Moreover, I reveal it from my own perceptions as a walker, a new Pinheiros neighborhood. A neighborhood structured by multiple places in which I call by “sensitive islands”, each island built by each new drift. Those new places or islands were reproduced and documented poetically by four types of language: the psychogeographic map; the photography, the video and the writing.

Palavras chave: caminhar; deriva urbana; prática poética; imaginário do lugar; Psicogeografia.

Keywords: walking, urban derive, practice. imaginary place; psychogeography.


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Agradecimentos Primeiramente à minha mãe Adma, por todo seu apoio, dedicação e confiança que foram fundamentais para meu crescimento e para minha chegada até aqui. Ao meu amor e futuro marido João, por estar ao meu lado em todos os momentos. Aos meus amigos do Senac. Em especial aquelas que me acompanharam nesses últimos anos: Liliane, Iolanda, Agatha. Ao meu professor e orientador Ricardo, por me apresentar todos os meus companheiros de caminhada, cujos pensamentos continuarão a me acompanhar além deste trabalho.


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Sumário Introdução ............................................................................... 16 I.

A origem do homem caminhante. ........................................................ 18

II. Caminhar para construir um lugar ..................................................... 22 III. O habitar momentâneo ................................................................ 24 IV. Orientar-se .......................................................................... 29 V.

O caminho de Pinheiros ............................................................... 32

VI. O imaginário poético do caminhar ..................................................... 34 Imaginário poético de outros caminhantes ............................................... 38 VII.

Arquipélago de Pinheiros ........................................................... 48

ILHA PASSARELLI ........................................................................ 51 ILHA VERDE ............................................................................. 55 ILHA MERCADO MUNICIPAL ................................................................. 59 ILHA RESIDENCIAL ....................................................................... 63 ILHA CARVALHO CAVALHEIRO ............................................................... 67 ILHA TERRAIN VAGUE ..................................................................... 70 IlHA DOS INSTANTES ..................................................................... 76 ILHA DAS COISAS ........................................................................ 79 ILHA DE AMBULANTES ..................................................................... 84 Ilhas documentadas até hoje ............................................................ 87 Coletânea de histórias ................................................................. 90 Considerações finais ..................................................................... 98 Referências bibliográficas ............................................................... 99


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Introdução Caminhar é o ato de atravessar de um ponto a outro, algo que pode parecer simples, porém tem grande importância na formação simbólica de um lugar. É neste ato que o indivíduo experimenta o espaço com corpo e constrói um lugar a partir das suas percepções sensoriais do ambiente e de seu imaginário. Quando observa um espaço de longe, sem experimenta-lo com o corpo, o indivíduo não tem a capacidade de dar-lhe real significado, será preciso assimila-lo à algum outro no qual já teve contato físico. O olhar analisa o caminho, mas é o corpo que o inaugura. Com o objetivo de documentar a construção simbólica e imaginaria dos lugares urbanos por meio do caminhar, explorei como cenário o bairro de Pinheiros, localizado na cidade de São Paulo. Ademais, inaugurei a partir das minhas percepções como caminhante, um outro bairro de Pinheiros. Nessas caminhadas, organizadas em forma de deriva, experimentei a cidade com o corpo e construí em meu imaginário múltiplos lugares aos quais chamei de “ilhas de sensíveis”. Um percurso não é o mesmo em todos os pontos, possui diversas territorialidades com atmosferas semelhantes. Para percepção desses lugares (ilhas sensíveis) é preciso “uma imersão sensitiva, uma presença ativa do caminhante na recepção e na construção dessa relação, mapeando, por meio do seu próprio corpo, uma inscrição no espaço urbano” (CARVALHO, 2007, p. 49). É preciso entender a fenomenologia da efemeridade, é preciso um olhar atento aos detalhes e ao banal para compreender o que faz do espeço um lugar, ou melhor dizendo uma “ilha sensível”. São esses detalhes que determinam o caráter de cada ilha. “O caráter é determinado pela construção material e formal do lugar” (NORBERG-SCHUIZ, 2006, p. 451). Para documentar a atmosfera das percepções sensitivas absolvidas em cada ilha, foi preciso mostra-lo em diferentes escalas e registra-lo de diferentes meios: Mapas psicogeográficos, fotografias, vídeos e poesias. Entretanto, esse bairro de Pinheiros por onde caminho não é o mesmo bairro que está delimitado nos mapas da prefeitura.


Introdução O novo mapeamento resultará num mapa diferente do convencional. Será um mapa desfragmentado, baseado na Psicogeografia1. Um mapa psicogeográfico, diferentemente do o mapa cartográfico, não se importa com a localização geográfica real, é pautado no imaginário poético do caminhante e naquilo que o caminhante sente do lugar. O critério usado para delimitar suas fronteiras é algo subjetivo, baseado no “sentimento do lugar 2”. “O modo de ser de uma fronteira depende de sua articulação formal, que está novamente relacionada com a maneira pela qual ela foi ‘construída’”. (NORBERG-SCHUIZ, 2006, p. 451). Os mapas As páginas a seguir são resultantes das minhas reflexões como caminhante urbana. Revelo em minhas caminhadas lugares efêmeros que só existiram em mim, em meu imaginário. Convido cada caminhante, leitor deste trabalho, a construir as ilhas sensíveis de seu próprio imaginário.

Psicogeografia - “Estudo dos efeitos preciosos dos meio geográficos, conscientemente organizados ou não, que atuam diretamente no comportamento afetivo dos indivíduos.” (CARERI, 2013, p. 90). 2 Sentimento do lugar refere-se ao “espirito do lugar” ou, como diz Norberg-Schulz “genius loci”. “Genius Loci é um conceito romano. Na Roma antiga acreditava-se que todo ser ‘independente’ possuía um genius, um espirito guardião. Esse espirito dá vida às pessoas e aos lugares, acompanha-os do nascimento à morte determina seu caráter ou essência. ” (NORBERG-SCHUIZ, p. 454). 1

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I. A origem do homem caminhante. O homem nômade O caminhar foi a primeira forma de habitar o mundo, um ato primordial de vivência, de criação e de percepção de lugares. Antes de tudo, o caminhar era um ato de necessidade natural para sobrevivência usado para buscar alimento. A origem da história da humanidade é uma história do caminhar, […]. É às incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o início da lenta e complexa operação de apropriação e de mapeamento do território. (CARERI, 2013, p. 44). O percurso é um espaço anterior ao espaço arquitetônico, um espaço imaterial com significado simbólico-religioso, durante milhares de anos, quando ainda era impensável a construção de um lugar simbólico, percorrer o espaço representou um meio estético através do qual era possível habitar o mundo. (Idem, p. 55). Ao se satisfazer essa exigência primária de sobrevivência, o homem passa a modificar o percurso como um ato simbólico de habitar o mundo. O homem nômade passa a modificar a paisagem esteticamente com o erguimento do menir3 para demarcar um espaço que tinha alguma importância simbólica. Seu erguimento (do menir) representa a primeira ação humana de transformação física da paisagem: uma grande pedra estirada horizontalmente sobre o solo é ainda apenas uma simples pedra sem conotações simbólicas, mas a sua rotação em noventa graus e seu fincamento na terra transformam-na em uma nova presença que detém o tempo e o espaço: institui um tempo zero que se prolonga com os elementos da paisagem circundante. (Ibidem, p. 52). O homem moderno é como um “nômade sedentário” usa o caminhar para sobreviver e orientar-se no espaço, ademais, caminha para conhecê-lo e habita-lo.

A palavra menir deriva do dialeto de bretão e significa literalmente “pedra longa” (men=pedra e hir=longa). O erguimento do menir representa a primeira transformação física da paisagem de um estado natural a um estado artificial. (CARERI, 2013, p. 56). 3


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Errâncias urbanas O breve histórico das errâncias urbanas também pode ser dividido em três momentos, […] o período das flanâncias, de meados e final do século XIX até início do século XX, que criticava exatamente a primeira modernização das cidades; o das deambulações, dos anos 1910-30, que também fez parte das vanguardas modernas, mas ao mesmo tempo criticou algumas de suas ideais urbanísticas do início dos CIAMs; e o das derivas, dos anos 1950-60, que criticou tanto os pressupostos básicos dos CIAMs quanto sua vulgarização no pósguerra, o modernismo. (JACQUES, 2004). O período das flanâncias corresponde à criação da figura do o flâneur, personagem identificado na poesia da Baudelaire por Walter Benjamin (1830), inaugurava um novo modo de se relacionar com a cidade. O flâneur é um corpo que vaga pela cidade observando-a atentamente. O flâneur, aquele personagem moderno, que se rebelando contra a modernidade, perdia seu tempo deleitando-se com o insólito e o absurdo em seus vagares pela cidade (CARERI, 2013, p.74). Ao caminhar, o flâneur observa a cidade como um estrangeiro, estranhando todos os acontecimentos banais e cotidianos, buscando a essência das coisas. Entretanto, se afasta como um estrangeiro apenas em no seu modo de observar, seu corpo permanece imerso em sua cidade moderna. O período das deambulações corresponde às ações dos dadaístas e surrealistas. Foram excursões urbanas por lugares banais e deambulações aleatórias, que visavam à experiência física da errância no espaço real. Fazem um apelo revolucionário da vida contra a arte, deixando de representar a vida pelo objeto, passando a vivenciar a cidade fisicamente. A primeira ação realizada pelos dadaístas foi em 1921, um encontro realizado num lugar qualquer da cidade - na Igreja Saint-Julien-le-Pauvre. Nesse ato os dadaístas retomam a atitude flânerie como uma operação estética, ou seja, o caminhar pela cidade com um olhar atento observando o banal tratando essa prática como uma arte. Ready-made urbano realizado em Saint-Julien-le-Pauvre é a primeira operação simbólica que atribuiu valor estético a um espaço vazio e não a um objeto. (Idem, p. 75).


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Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis […] um espaço a ser indagado por ser familiar e desconhecido, ao mesmo tempo não frequentado e evidente, um espaço banal inútil que, como tantos, realmente não teriam razão nenhuma de existir. (Idem, p. 77). Em 1924, o grupo encontrou-se novamente, só que desta vez, com o intuito de realizar uma caminhada erradica, inspirada nas ideias da psicanalise para adentrar o inconsciente da relação do espaço percorrido. Esse grupo foi chamado posteriormente por Surrealistas. A primeira deambulação realizada pelos surrealistas (Aragon, Breton, Morise e Vitrac) durou vários dias consecutivos, não teve como cenário a cidade, e sim, o vazio dos campos e bosques. A viagem, empreendida sem escopo e sem meta, tinha se transformado na experimentação de uma forma de escrita automática no espaço real, uma errância literário-campestre impressa diretamente no mapa de um território mental. (CARERI, 2013, p. 78). O percurso surrealista se deu pela deambulação que, segundo Careri, “é um chegar caminhando a um estado de hipnose, a uma desorientadora perda de controle, é um medium através do qual se entra em contato com o inconsciente do território. ” (Idem, p. 80). Portanto, os surrealistas acreditavam que o caminhar deambulante era um meio para se compreender o inconsciente dos espaços da cidade, ou seja, encontrar aquilo que não é visível, que está na percepção do sujeito, “é uma espécie de investigação psicológica da própria relação com a realidade urbana”. (Ibidem, p. 83). Como forma de representação dessas percepções do espaço os surrealistas criavam mapas que chamavam de “mapas influenciadores”. Pensava-se em realizar mapas baseados nas variações das percepções obtidas mediante o percurso e o ambiente urbano, em compreensão as pulsões que a cidade provoca nos afetos dos pedestres. (Ibidem, 2002, p. 82). O período das derivas corresponde ao pensamento urbano dos situacionistas com uma crítica radical ao urbanismo. Eles desenvolveram a noção de deriva urbana, da errância voluntária pelas ruas, principalmente nos textos e ações de Debord, Vaneiguem, Jorn e Constant. Os situacionistas substituem a cidade inconsciente e onírica dos surrealistas por uma cidade lúdica e espontânea. Ainda mantendo a busca pelas partes obscuras da cidade, os situacionistas substituem o acaso dos percursos surrealistas pela construção de regras de jogo. (Ibidem, p. 82).


A origem do homem caminhante. Esse jogo era um novo modo de se relacionar com a cidade por caminhadas sem rumo, que vão ganhando significado a partir dos estímulos sentidos ao longo do percurso. Os mapas psicogeográficos são uma forma de registrar esse jogo, resultante das derivas. Em 1957, Guy Debord funda a Internacional Situacionista. Um movimento artístico que questionava o urbanismo vigente na época e os modos de viver na cidade, os situacionistas criticavam a espetacularização da vida. Por meio da deriva estimulavam a participação sociedade na cidade como reconstrução urbana. A dérive é a construção e a experimentação de novos comportamentos na vida real, a realização de um modo alternativo de habitar a cidade, um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa e que pretende ser a superação de deambulação surrealista. (CARERI, 2013, p. 85). Não era mais tempo de celebrar o inconsciente da cidade, era preciso experimentar modos de vida superiores através da construção de situações na realidade cotidiana: era preciso agir, e não sonhar. (Idem, p. 85). Uma crítica a visão da vida imaginária e inconsciente dos surrealistas, os situacionistas diziam que aqueles ficavam limitados ao universo do sonho. Os situacionistas visavam um reapropriação do território, trocando o tempo de trabalho e de prática comercial por uma ação/intervenção lúdica. Andar pela cidade como uma forma de lazer, transformando o tempo útil de trabalho no tempo “lúdico-construtivo” (ibidem, p.98), encontrando significados nos momentos efêmeros do cotidiano.

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II. Caminhar para construir um lugar Primeiramente devemos compreender o conceito de lugar. Lugar é mais do que uma definição geográfica, é um espaço que foi ocupado, física ou simbolicamente, pelo homem.

Os lugares são centros aos quais atribuímos valor e onde são satisfeitas as necessidades biológicas de comida, água, descanso e procriação. (TUAN, 1983, p. 04). Tuan (TUAN, apud, REIS-ALVES, 2007, p. 02) discursa que o significado de espaço frequentemente se funde ao de lugar, uma vez que as duas coisas não podem ser compreendidas uma sem a outra. Segundo ele, o que começa como um espaço indiferenciado transforma-se em lugar à medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor. A medida do tempo que ficamos num lugar procuramos cada vez mais elementos para identificar-nos 4. De acordo com o autor, podemos relacionar Tempo e o Lugar de três formas: “adquirimos afeição a um lugar em função do tempo vivido nele; o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento, ou seja, um lugar seria uma parada para o descanso, para a procriação e para a defesa; e por último, o lugar seria o tempo tornado visível, isto é, o lugar como lembrança de tempos passados, pertencentes à memória. ” (TUAN, apud, REIS-ALVES, 2007, p. 02). Augé relaciona tempo e espaço de forma semelhante à Tuan. Ademais, pontua sobre a existência dos não-lugares: espaços aos quais atribuímos qualidades negativas ou valores negativos. Se um espaço precisa ser definido como Indentitário, relacional e histórico para ser um lugar, a ausências desses define um não-lugar. Portanto, a afetividade do indivíduo com o espaço constrói em seu imaginário um lugar. Esses lugares não são fixos e eternos, podem modificar-se em função do tempo vivido.

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Identificação, […], significa ter uma relação amistosa com determinado ambiente. (NorbergSchulz, 2006, p.456).


Caminhar para construir um lugar O propósito existencial do construir é fazer um sitio tornar-se um lugar, isto é, revelar os significados presentes de modo latente no ambiente dado. A estrutura de um lugar não é fixa e eterna. É normal que os lugares mudem, às vezes muito rapidamente. Isso não significa, porém, que o genius loci necessariamente mude ou se extravie. (NORBERG-SCHULZ, 2006, p. 454). Um lugar é “essencialmente um conceito estático. Se vivêssemos num mundo em processo, em constante mudança, não seriamos capazes de desenvolver nenhum sentido de lugar. ” (TUAN, 1983, p. 198). Portanto para construir lugares o caminhar deve permitir pausas. Ao caminhar o indivíduo experimenta o espaço com todo o corpo e todos os sentidos, tomado pelas sensações corpóreas ele compreende de forma inconsciente o caráter daquele lugar, o seu genius loci5. Norberg-Schulz fala que cada lugar possui um genius loci, isto é, um espirito do lugar, é como se o lugar tivesse uma vontade própria de ser algo. Quando permanecemos num lugar por mais tempo do que uma passagem, começamos a observa-lo com mais atenção. Passamos a ter mais sensibilidade aos detalhes. No vídeo “Chão e Som: creche” [VER EM MÍDIA ANEXA] olho para uma calçada que fica em frente a uma escola infantil de Pinheiros. Ao olhar para um único elemento de um espaço, com o tempo, desenvolvemos maior sensibilidade para os seus detalhes, percebendo cada som e movimento. O que antes parecia um barulho de crianças gritando e de carros passando, torna-se um som em sintonia, uma música. Mesmo não sabendo onde fica essa escola infantil construímos esse lugar no nosso imaginário. Figura 1. - Foto de autoria própria, Ver vídeo "Chão e Som: Creche" 5

Genius Loci é um conceito romano, usado por Norberg-Schulz par definir o espírito do lugar. Na Roma antiga

acreditava-se que todo ser ‘independente’ possuía um genius, um espirito guardião. Esse espirito dá vida às pessoas e aos lugares, acompanha-os do nascimento à morte determina seu caráter ou essência. (NORBERGSCHUIZ, 2006, p. 454).

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III. O habitar momentâneo O lugar é a concreta manifestação do habitar humano. (NORGERG-SCHULZ, 2006, p.457). Norbeg-Schulz (2006, p. 447) nos fala do sobre o conceito de habitar. “Habitar uma casa significa habitar o mundo”, os elementos de fora (do mundo) fazem o habitar de dentro (da casa) possíveis, pois em conjunto eles contém o conforto buscado para o habitar. O homem peregrino (o caminhante) sai em busca de conhecer o mundo. Coleta e guarda dentro de casa, fragmentos deste mundo. Para Norberg-Schulz (NORGERG-SCHULZ, apud, REIS-ALVES, 2007, p. 03), o habitar significa muito mais do que abrigo, habitar é o que ele chama de suporte existencial. O suporte existencial é conferido ao homem e seu meio através da percepção e do simbolismo. Como percepção espacial o homem precisa sentir-se orientado protegido e como simbolismo precisa se identificar com o caráter do lugar. O caminhante carrega instintos de homem nômade, tem a necessidade de habitar o tempo todo. Para isso, habita momentaneamente procurando meios de se identificar, orientar-se e de sentir-se protegido. Procura momentos de conforto no percurso (mundo), assim como procura em dentro de seu lar.


O habitar momentâneo

Figura 2 - Momento em que habitamos um é uma pausa durante o percurso para amarrar os sapatos, pegar algo na mochila, ou para descansar. É um momento de vivencia no espaço. Neste momento, este espaço torna-se um lugar habitado por este sujeito. Foto de autoria própria – Rua Paes Leme. A construção da imagem é feita com a colagem de várias fotos tiradas sequencialmente. Leia sobre essa linguagem no capítulo VII – “Ilha dos instantes”.

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O caminhar mesmo não sendo a construção física de um espaço implica uma transformação do lugar e dos seus significados. A presença física do homem num espaço não mapeado – e o variar das percepções que daí ele recebe ao atravessa-lo – é uma forma de transformação da paisagem que embora não deixe sinais tangíveis, modifica culturalmente o significado do espaço e, consequentemente, o espaço em si, transformando-o em um lugar. (CARERI, 2013, p. 51).


O habitar momentâneo

Lugares íntimos “Os lugares íntimos são tantos quantas as ocasiões em que as pessoas verdadeiramente estabelecem contato. Como são esses lugares? São transitórios e pessoais. Podem ficar guardados no mais profundo da memória e, cada vez que são lembrados, produzem intensa satisfação, mas não são guardados como instantâneos no álbum da família nem percebidos como símbolos comuns. […] As árvores são plantadas no compus para proporcionar mais mais sombra e torna-lo mais verde, mais apraziveil. Fazem parte de um plano deriberado de criar um lugar. Ao dar apenas algumas folhas, as árvoers ainda não produzem um impacto estético. Entretanto, já podem proporcionar um lugar para encontros humanos afetuosos. Cada arvore nova é um lugar em potencial para encontros humanos, mas seu uso não pode ser previsto, pois depende da ocasião e da imaginação. Os lugares íntimos são aqueles em que temos experiências afetuosas e espontâneas que passam despercebidas. Na hora não dizemos “é este o lugar que ficará marcado na minha memória”. Eles são construídos deliberadamente, mas podem criar um sentimento duradouro. É somente quando nos afastamos e refletimos que reconhecemos seu valor.

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Figura 3 - O que potencialmente pode ser um lugar íntimo. Foto de autoria própria - Largo de Pinheiros


Orientar-se

IV. Orientar-se O caminhante procura orientar-se no percurso. Para não se perder é necessária uma boa imagem ambiental, uma boa ‘imagibilidade’, que designa aquela forma, cor ou organização que facilita a formação de imagens mentais vividamente identificadas, fortemente estruturadas e de grande utilidade do ambiente”6 ou seja, é necessária a identificação do ambiente para se sentir orientado. O homem procura muitos meios de orientarse e evita perder-se. “perder-se é justo o oposto do sentimento de segurança que distingue o habitar” (NORBERG-SCHULZ, 2006, p. 457).

Figura 4 - Orientar-se. Foto de autoria própria.

A viagem é uma experiência põe a prova e aperfeiçoa o caráter do viajante. (CARERI, 2013, p. 93). Antigamente perder-se era tido como um processo de amadurecimento e hoje é algo que se evita. O perde-se faz com que sejamos obrigados a recriar o espaço com novos pontos de referência.

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Imagibilidade: termo usado por Kevin Lynch, em “The Image of the City” para explicar a imagem mental do ambiente vivido. A Imagibilidade está relacionada ao modo como o indivíduo se identifica com o objeto e o ambiente, conferindo-lhe segurança emocional.

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O experimento de Walter Brown sugere que quando o individuo caminha por ruas desconhecidas ele cria uma imagem mental - ou mapa psiquico geografico das relaçoes espaciais, sem que seja necessario um mapa fisico real, “ele precisa apenas de um sentido geral da direção do objetivo e saber o que fazer a seguir, em cada trecho do percurso” (TUAN, 1930, p. 82).

Figura 5 – “De espaço a lugar: a aprendizagem de um labirinto. A princípio, somente o ponto de entrada é claramente reconhecido; além fica o espaço (A). Após um tempo, mais referências são identificadas e o sujeito adquire confiança no movimento (B, C). Finalmente, o espaço consiste em caminhos e referencias familiares – em outras palavras, lugar.” Experimento de Warter Brown. Fonte: TUAN, 1930, p. 81.


Orientar-se

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V. O caminho de Pinheiros

Figura 6 – Terrain vague Rua dos Pinheiros. A rua é como um entremeio, ela é um lugar em si. Possui sua própria vontade de ser algo. Foto de autoria própria.


O caminho de Pinheiros

Um caminhante precisa, é claro, de um caminho para percorrer. O caminho apreendido neste trabalho é o caminho urbano, a Rua. Melhor dizendo, as ruas de Pinheiros. A Rua é um espaço público, um lugar que não é nem fora e nem dentro, lugar “entre-lugares”. É um lugar de possibilidades, pois não tem uma delimitação. É na rua que tudo acontece, é por onde vai o caminhante. Estar entre a coisas e entre-lugares diz respeito a não ser isso nem aquilo, ou um ou outro, mas a chance de um vir-a-ser outro, possibilitando justamente por essa indefinição. (GUATELLI, 2012, p. 14). A Rua é para o caminhante um lugar, e não um meio para chegar a lugares. Sendo um lugar, ela tem a capacidade de tornar-se outro dependendo da ação dos seus habitantes. Assim como na arquitetura, não deve assumir um uso determinado. Pode transformar-se a todo instante dependendo na necessidade, gosto, imagibilidade de seus habitantes. A imagem do lugar, baseada na ‘estável’ e ‘ajustada’ relação espaço-uso (específico), é substituída pela relação espaço-tempo, lugares cujas imagens vão se alterando no tempo em virtude das ações que ocorrem no espaço, um espaço sempre em processo, nunca estável. (GUATELLI, 2012, p. 31). A rua é o lugar de “imprevistas habilidades, de habitações momentâneas (…), é o lugar do evento do acontecimento, da indefinição e do imprevisível” como diz Guatelli (2012).

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VI. O imaginário poético do caminhar


O imaginário poético do caminhar

Figura 7 - A relação trajeto e tempo, isto é, a ralação do caminhante com o espaço e o tempo inaugura um lugar. O caminhante procura um meio de se relacionar-se com o lugar e habita-lo. Comprar um jornal pela manhã já é uma ação de habitar. Foto de autoria própria

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Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis Em seu livro “A poética do espaço” Gaston Bachelard (2000) define a imagem poética como “um súbito revelo do psíquico”. É algo que possui um dinamismo próprio e tem a sonoridade do ser. É preciso, pois, “estar presente, presente à imagem no minuto da imagem”. Com ela podemos estudar o espaço e entendê-lo como um instrumento de análise da alma humana. O poeta fala do âmago do ser. Será necessário, pois, para determinar o ser de uma imagem, senti-la em rua repercussão. (BACHELARD, 2000, p.06). A poesia é a forma de expressão usada para dizer metaforicamente sobre sensações, emoções e impressões. Norberg-Schulz (2006, p. 445) acrescenta que a poesia tem a capacidade de explicar o que a ciência não explica. Ela lida com a o imaginário do ser explicando o devir7 de seu imaginário. A prática poética do caminhar revela não apenas o inconsciente do lugar, como também, o psíquico do caminhante.

O que é a poética do caminhar se não houver o homem, os objetos e o percurso? São os detalhes, as eventualidades, que constroem o imaginário poético do caminhante.

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Devir: É a capacidade de transformação das coisas,

um vir a ser.

A construção de um imaginário poético sobre Pinheiros é resultante da relação entre a observação para os detalhes - que constroem o caráter do lugar; e o meu psíquico - meu sentimento sobre o lugar. Portanto, a imagem poética criada está diretamente associada a ideia de construção de um lugar. Bachelard (2000) fala que a criação de uma imagem poética depende de uma fenomenologia microscópica que é o que une o sujeito ao objeto, os detalhes, as mínimas coisas do lugar que produzem essa imagem poética. Ao nível da imagem poética, a dualidade do sujeito e do objeto é matizada, iluminada, incessantemente ativa em suas inversões. No domínio da criação da imagem poética pelo poeta, a fenomenologia é, se assim podemos dizer, uma fenomenologia microscópica. (BACHELARD, 2000, p. 07). Norberg-Schulz também se atem aos detalhes para explicar que os lugares construídos pelo homem são resultado de uma reunião de significados, uma “imago mundi” ou “microcosmo”. O homem precisa reunir os significados aprendidos por experiência a fim de criar para si mesmo uma imago mundi ou microcosmo, que dê concretude a esse mundo. (NORBERG-SCHULZ, 2006, p. 453).


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Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

Figura 8 - Foto de autoria própria

Quando olhamos uma cena panorâmica nossos olhos se detêm em pontos de interesse. Cada parada é tempo suficiente para criar uma imagem de um lugar, que em nossa opinião, momentaneamente parece maior. (…) não é possível olhar uma cena de uma só vez; nossos olhos continuam procurando pontos onde repousar a vista. (TUAN, 1983, p. 179).

O SUJEITO FLUIDO; OS PAISAGEM

CAMINHANTE OBJETOS DA SÃO FIXOS.

É


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Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

Imaginário poético de outros caminhantes Investiguei com estudo de caso poemas, fotografias e mapas produzidos para como registro de outros caminhantes urbanos. Nos poemas: investiguei autores que falam da rua, o lugar que faz o percurso urbano de minhas caminhadas. Nesses poemas os autores falam sobre o que eles observam e o que consideram importante deste lugar. Na fotografia: procurei por fotógrafos de rua. Fotografias que registram a essência do lugar por meio da captura de seus instantes. A fotografia tem a capacidade de eternizar esses instantes, esses lugares. Os mapas são mapeamentos psicogeográficos praticados por outros caminhantes. O mapa psicogeográfico é outra forma de registro do lugar existente na imagibilidade do caminhante. Mostram características que podem existir apenas para quem experimentou daquele percurso.

Reproduzir vídeo “Os registros de meu imaginário poético” em mídia

anexa i


O imaginário poético do caminhar

O imaginário poético para aqueles que escrevem A rua que eu imagino, desde menino, para o meu destino pequenino é uma rua de poeta, reta, quieta, discreta, direita, estreita, bem feita, perfeita, com pregões matinais de jornais, aventais nos portais, animais e varais nos quintais; e acácias paralelas, todas elas belas, singelas, amarelas, douradas, descabeladas, debruçadas como namoradas para as calçadas; e um passo, de espaço a espaço, no mormaço de aço baço e lasso; e algum piano provinciano, quotidiano, desumano, mas brando e brando, soltando, de vez em quando, na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala; e, no ar de uma tarde que arde, o alarde das crianças do arrabalde; e de noite, no ócio capadócio, junto aos lampiões espiões, os bordões dos violões; e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata...); e depois o silêncio, o denso, o intenso, o imenso silêncio... A rua que eu imagino, desde menino, para o meu destino pequenino é uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer é uma rua, como todas as ruas, com suas duas calças nuas, correndo paralelamente, como a sorte diferente de toda gente, para a frente, para o infinito; mas uma rua que tem escrito um nome bonito, bendito, que sempre repito e que rima com mocidade, liberdade, tranquilidade: RUA DA FELICIDADE… (Poema “A rua e as rimas” de Guilherme de Almeida)

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A rua, que eu acreditava fosse capaz de imprimir à minha vida giros surpreendentes, a rua, com as suas inquietações e os seus olhares, era o meu verdadeiro elemento: nela eu recebia, como em nenhum

outro lugar, o vento da eventualidade. (Breton, 1924)

Eu amo a rua […] Para compreender a

psicologia da rua não basta gozar-lhes as delícias como se goza o calor do sol e o lirismo do luar. É preciso ter espírito

vagabundo, cheio de curiosidades malsãs e os nervos com um perpétuo desejo incompreensível, é preciso ser aquele que chamamos flâneur e praticar o mais interessante dos esportes – a arte de flanar. (João do Rio)

Guilherme de Almeida nos apresenta a rua de sua memória. É a rua de sua imagibilidade, rua da felicidade, aquela que ele procura em outras ruas para torna-las lugar. É a rua identitária, relacional e histórica. Vemos nesse poema a imagem de um lugar definida por seu microcosmo. A característica das coisas que faz a atmosfera desse lugar boa o suficiente para ser nomeado por ele como Rua da Felicidade. Em Breton a rua é apresentada como um lugar de possibilidades é nela que o autor sente maior possibilidade de acontecimentos em sua vida. Este sentimento é despertado em razão de um considerável período de tempo vivido, este tempo pode ser o tempo do caminhar. João do Rio nos diz que a rua não deve ser apenas observada, ela deve ser explorada com um olhar atento. Com um espirito de curiosidade para entender sua psicologia, isto é, para conhecer seu genius loci.


O imaginário poético do caminhar

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O imaginário poético para aqueles que fotografam

Figura 9 - Fotografia de Eugene Atget. Fonte: <http://www.atgetphotography.com/images/ photos/eugeneatget/atget21.jpg>

Figura 10 - Fotografia de Eugene Atget. Fonte: <https://www.flickr.com/photos/george_east man_house/sets/72157621011255003/with/3701 272819/>

Figura 11 - Fotografia de Eugene Atget. Fonte: <http://www.atgetphotography.com/Images/Photo s/EugeneAtget/atget21.jpg>

12 - “Selected Peoples” - fotografia e edição de Pelle Cass. Figura 13 - “Selected Peoples” - fotografia e ediçãoFigura de Pelle Reuni numa Cass. Reuni numa mesma imagem fotos dos instantes em que mesma imagem fotos dos instantes em que as pessoas as pessoas pisam na faixa de pedestres. Fonte: passaram por cima de uma mesma circunferência desenhada no piso. Fonte: <http://www.pellecass.com/> <http://www.pellecass.com/>


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Figura 14 - “Colagens Urbanas” montagem de Pariwat A-Nantachina. Fonte: < http://cargocollective.com/Miradasurbanas/Urban-Collages>

Eugene Atget documentava os vazios de Paris. Não havia, na maioria de suas fotos, uma preocupação em registrar as pessoas da cidade. Suas fotografias são como um registro do caráter da cidade, como um convite ao imaginário. Quando aparentemente nada acontece há o momento do possível. Seus vazios são, ao imaginário do caminhante, como uma folha em branco pedindo para ser escrita. Pelle Cass reuni numa mesma imagem vários instantes de um lugar. Vemos nessas colagens os comportamentos das pessoas. A formação de um lugar depende da relação espaço/tempo, assim como diz Tuan. “O espaço transforma-se em lugar à medida que adquire definição e significado. ” (TUAN, apud, REIS-ALVES, 2007, p. 2). Nas fotos temos noção do espaço, e com a soma dos instantes, temos a noção de tempo. Assim, compreendemos a essência do lugar. Pelle Cass mantem as pessoas no mesmo lugar em que estavam e apenas as reuni numa mesma imagem. Usaremos para documentação da essência de Pinheiros esse tipo de linguagem. Será uma maneira de reunir o tempo, que remete a uma ação ou movimento; e o a vivencia do espaço, uma pausa no movimento. Pariwat-A-Nantachina fotografa de elementos que encontra cidade e faz colagens/sobreposições desses fragmentos. A leitura é de uma megacidade cheia de informações com elementos de diferentes escalas. Desde os grandes edifícios ao vendedor ambulante. Vai desde a escala do edifício grande, marco na cidade, a algo que só se pode conhecer vivenciando-a como um pedestre.


O imaginário poético do caminhar

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O imaginário poético para aqueles que mapeiam Guy Debord Uma maneira de mapear o sentimento do lugar é por mapas psicogeográficos. Os mapas das imagens acima [imagens ao lado] são resultado das derivas feitas pelos Situacionistas. Foram construídos a partir de fragmento da cidade de Paris. No mapa “The Naked City” de Guy Debord, a cidade foi “explodida”, seus fragmentos estão desorganizados, soltos no vazio e conectados por setas vermelhas. Esses fragmentos são regiões da cidade que possuem a mesma caraterística ou ambiência. São regiões que não estão, necessariamente, localizadas na mesma posição geográfica. Podem estar bem distantes entre si, entretanto, há algo em comum que as une. Uma característica que só pode ser percebida pela caminhada, pela deambulação. As setas vermelhas representam essa conexão. E a sua direção indica o sentido usado na trajetória. A delimitação das partes, as distancias entre as placas e as espessuras dos vetores são fruto de estados de animo experimentados. (CARERI, 2013, p. 92). No mapa o usuário tem que se dispor a Figura 15 - GUIDE - Psychogeographique De Paris e DEBORD - The Naked City permanecer na cidade por mais tempo que o Illustration De I’hypothèse Des Plaques Tournates En Psychogéographique Fonte:< usual do dia-a-dia. Entre os bairros vemos o http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/15.176/54> vazio que são as errâncias mentais entre lembranças e ausências, como se os fragmentos fossem lembranças de caminhos percorridos.


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Rebeca Solnit localiza em seus mapas


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características peculiares da cidade de São Francisco. O mapa da “Monarchs and Queens” [imagem ao lado] pontua as borboletas da cidade, incluindo as espécies migratórias como as monarcas que são encontradas em todo o continente, e sobre a “Queen Culture”, um evento de drag queen, que floresceu em São Francisco. Algumas espécies de borboletas têm sido extintas. Em contraposição, a “Queen Culture” continuou a evoluir e migrar para vários lugares da cidade. O mapa mostra espaços públicos das drag queens e os habitats das borboletas. Solnit nos mostra de forma poética as metamorfoses de São Francisco.

Figura 16 - Monarchs and Queens - Rebeca Solnit. Fonte: SOLNIT, 2010, p. 46


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Roger Paez i Blanch cria mapas psicogeográficos a partir de suas derivas pelas cidades do mundo. No mapa ao lado, o autor sobrepõe mapas das cidades Barcelona, Paris, Nova York e Los Angeles, para a mesma escala e com a mesma orientação, centrada em torno do ponto de onde se localizava sua residência.

Figura 17 - As casas são onde o coração está. Mapa psicogeográfico de Roger Paez i Blanch. Fonte: Derivas urbanas: la ciudad extrañada, 2014, p. 120.


O imaginĂĄrio poĂŠtico do caminhar

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VII. Arquipélago de Pinheiros

Figura 18 – Moedas. Foto de autoria própria capturada na Ilha das Coisasl. Os números representam as 10 ilhas exploradas e 1 coletânea de histórias contada sobre seus personagens.


Arquipélago de Pinheiros Apresento-lhe neste capitulo alguns dos múltiplos lugares do bairro Pinheiros. Lugares construídos a partir das minhas caminhadas. Essas caminhadas foram percorridas na forma de deriva e registrada por meio da fotografia e do filme. Os registros documentam elementos simbólicos (eventos, pessoas e objetos) que despertavam em meu imaginário um sentimento identitário, relacional e histórico, essenciais para a construção destes lugares. Cada deriva resultou na construção de um lugar único. Um lugar que jamais poderá existir novamente. Pois, em cada um deles encontrei diferentes elementos com diferentes significados para minha imagibilidade. Trato cada um desses lugares como uma ilha de percepções. É como se Pinheiros fosse uma cidade liquida8, repleta de ilhas sensíveis - um arquipélago. Para conhecer cada uma das ilhas pelas quais caminhei é necessário que o leitor explore de forma poética as fotografias, vídeos, mapas psicogeográficos e poemas criados para representa-las. Esses elementos simbólicos são, assim como os lugares aos quais pertencem, únicos. Só puderam ser reproduzidos em um único

MALETA

9 instrumento e armazenados numa única [Reproduzir vídeo “experimentação da maleta” em mídia anexa ii]

Cada ilha é um conjunto de instantes construtores de um lugar único.

Não será possível, nem para mim nem para você, encontrar essas ilhas simplesmente voltando aos seus respectivos lugares geográficos. O retorno resultaria na construção de outras ilhas pois, encontraríamos outras pessoas, outros instantes, outros sentidos para nossos outros interesses. Também não será possível transcrever aqui neste trabalho todas as minhas experiências durante o caminhar. Nos subcapítulos seguintes estão reproduzidas as ilhas que explorei até agora: Ilha Passarelli, Ilha Verde, Ilha Mercado Municipal, Ilha Residencial, Ilha Carvalho Cavalheiro, Ilha Terrain Vague, Ilha das Coisas, Ilha dos Ambulantes, Ilha dos Instantes e uma coletânea de histórias sobre seus personagens. São uma pequena amostra das infinitas ilhas desse arquipélago. 8

Cidade liquida é como descreve Careri (2013, p. 21), uma cidade na qual os espaços de estar são como as ilhas

do imenso oceano formado pelo espaço do andar. 9

A maleta também está reproduzida na mídia anexa a este livro. Veja os vídeos indicados nos subcapítulos. A

maleta é parte integrante deste trabalho será necessário, pois, que o leitor explore seu interior.

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[…] é na cidade que o homem comum se reconhece. […]. São Paulo são 12 milhões de cidades, 12 milhões de mapas sentimentais recortados pelas pequenas histórias de vida de seus pequenos habitantes. (KEHL, s.d.)

Organizar, dentro de uma totalidade imaginária de cidade, as experiências de caminhar. Sempre em uma imaginação de cidade, camadas de realidade, percepção e memória, juntam-se aos desejos daquilo que dela se imagina. Existe uma cidade do caminhante, ainda não visível, feita de fragmentos, dentro de cada um de nós. Conecta-se ao sonho. Mas nunca é uma cidade definida ou uma cidade estática, não é feita só de concretude, pura concretude, não é uma imitação, não é uma transcendência. É a realidade vista pelo real e pelo imaginado, ao mesmo tempo. (CARVALHO, 2007, p.233).


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ILHA PASSARELLI

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Figura 19 – Ilha Passarelli: Representação da sobreposição entre o mapa do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeográfico resultante da deriva. Essa deriva teve como intensão a observação dos caminhantes.


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Esta ilha é usada por seus caminhantes como uma passarela, isto é, uma ponte para chegar à outras ilhas. Cada caminhante tem sua ilha de destino, por isso se comportam cada um à sua maneira.


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Reproduzir video “Ilha Passarelli” em

Figura 20 – Vídeo "Ilha Passarelli". Foto de autoria própria

mídia anexa

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ILHA VERDE

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Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

Figura 21 - Ilha verde: Representação da sobreposição entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeográfico resultantes da deriva pela Rua dos Pinheiros.


Arquipélago de Pinheiros Na Rua dos Pinheiros

verde é a cor

que mais se destaca.

Para entrar nela é preciso apenas encontrar o verde Mas vá à caráter!

do Supermercado Futurama.

Quem vai à rua dos Pinheiros procura se vestir à moda local, É a calça, o sapato, a camisa. É verde a roupa de quem limpa.

Verde é o brinquedo de quem nela brinca. É a cor da fruta comprada no Futurama.

A construção dessa ilha está reproduzida na Maleta com o mapa psicogeográfico e as fotografias da deriva pela Rua dos Pinheiros. Procure na maleta o supermercado Futurama e seus verdes ou reproduza o vídeo “Ilha Verde” em mídia anexa.

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Figura 22 – Representação das fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde. Apresenta alguns dos personagens dessa ilha - Fotos de autoria própria.


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ILHA MERCADO MUNICIPAL

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Figura 23 - Ilha Mercada Municipal: Representação da sobreposição entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeográfico resultante da deriva percorrida na região próxima ao Mercado Municipal.


Arquipélago de Pinheiros

Nesta ilha o MERCADO MUNICIPAL se localiza como um grande centro e ponto nodal para vários interesses. O percurso dentro dele foi considerado por mim como parte dessa ilha. O Mercado Municipal é o centro de toda a ilha, atrai todos os seus caminhantes. Todos querem ver ouvir, sentir o cheiro, tocar, trocar comprar, comer, pechinchar. É o lugar do carrinho de compras, do caminhão de carga e descarga, da sacola, das cores, das frutas, do pastel e do caldo de cana. Das pessoas que vem e que vão, do comprador e atendente e do ambulante. Mirante Ohtake10 A demolição de alguns edifícios na Rua Pedro Cristi proporcionou aos caminhantes a vista de um mirante para o Instituto Tomie Ohtake. Ao entrar neste mirante é possível se transportar para o edifício pela Rua Ohtake Estação Faria lima A saída de Estação é uma entrada para essa ilha é onde inicia minha deriva.

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Veja em Ilha Terrain Vague

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A construção dessa ilha está reproduzida com o mapa psicogeográfico e o vídeo “Ilha Mercado Municipal” disponível na mídia

anexa iv e na maleta.

Figura 24 - Reprodução de parte do vídeo “Ilha mercado Municipal”. Foto de autoria própria capturada de dentro do Mercado Municipal de Pinheiros


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ILHA RESIDENCIAL

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Figura 25 - Ilha Residencial: Representação da sobreposição entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeográfico resultante da deriva percorrida nas ruas residenciais do bairro.


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Nesta ilha te convido a sentir. Quando encontramos um bairro residencial harmonizamos nossos sentidos numa só melodia. Não só vemos, como também ouvimos algo característico, os sons da vivência, da permanência, do constante e duradouro. Por um instante, com uma pausa no caminhar e um olhar atento, habito momentaneamente esta ilha – a Ilha residencial. Uma ilha construída com a conexão entre as ruas residenciais pelas quais caminhei em Pinheiros. Assim como as pausas em minha caminhada, você deverá me fazer uma pausa em sua caminhada por este livro. Ver e ouvir a representação de alguns dos eventos nos quais habitei momentaneamente. A pausa provoca um olhar mais atento e sensível aos detalhes, por ela é possível conhecer alguns dos personagens habitantes permanentes dessa ilha, e criar em seu imaginário um lugar repleto de sentidos essências para o seu habitar. Reproduza os seguintes vídeos em mídia anexa [v - vi - vii - viii - ix] Figura 26 - Vídeo "Chão e som: creche"disponível em mídia anexa

Figura 30 - Vídeo Chão e som: vento" disponível em mídia anexa

Figura 29 - Vídeo "O guarda" - disponível em mídia anexa

Figura 27 Vídeo "Céu e som: pássaro" disponível em mídia anexa

Figura 28 - Vídeo “Céu e som: construção” disponível em mídia anexa


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Figura 34 - Representação da Fotografia A: capturada na Ilha residencial.

Figura 31 - Representação da Fotografia D: capturada na Ilha residencial

Figura 33 - Representação da Fotografia E: capturada na Ilha residencial Figura 35 - Representação da Fotografia C: capturada na Ilha residencial

Figura 32 - Representação da Fotografia F: capturada na Ilha residencial

Figura 36 - Representação da Fotografia B: capturada na Ilha residencial.

Figura 37 - Representação da Fotografia G: capturada na Ilha residencial


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ILHA CAVALHEIRO CARVALHO

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Figura 38 - Representação da sobreposição entre o mapa real do bairro de Pinheiros e o mapa psicogeográfico criado durante a deriva na Ilha Carvalho Cavalheiro.


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Essa foi é a maior Ilha construída. Corresponde a

6.402 metros percorridos. Com o desejo de conectar várias ilhas sensíveis e de fazer encontrar seus personagens, adentrei numa deriva limitada até onde meus pés puderam andar, num total de 6 horas caminhadas. Essa deriva está documentada na forma de flipbook [disponível em mídia anexa x e armazenado na maleta] e de mapa psicogeográfico [armazenados na maleta]. Percorri esta ilha como um cavalheiro alado desbravando terras desconhecidas. Descobri uma Ilha, lugar do encontro, encontro de personagens habitantes e transeuntes, de coisas permanentes e efêmeras pertencentes à outras ilhas.


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Figura 39 Representação do manuseio do flipbook. Foto de autoria própria.


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ILHA TERRAIN VAGUE

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Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

Terrain vague é o terreno vazio. Existe uma ilha em Pinheiros construída de vazios. São espaços abertos sem uso definido, mas com forte espirito de possibilidade. São lugares com vontade de ser algo e dependentes da imagibilidade de cada caminhante. Terrain vague é “um lugar vazio, sem cultivos nem construções, numa cidade ou num subúrbio, um espaço indeterminado sem limites precisos. Também é um lugar aparentemente esquecido onde parece predominar a memória do passado sobre o presente, um lugar obsoleto onde perduram certos valores apesar de abandono completo do resto da atividade urbana” CARERI, 2013, p. 43).

[…] A relação entre a ausência de utilização e o sentimento de liberdade é fundamental para entender toda a potência evocativa e paradoxal do terrain vague na percepção da cidade contemporânea. O vazio é a ausência, mas também a esperança, o espaço do possível. (CARERI, 2013, p. 43).

Figura 40 - Terrain vague para empinar pipa: Representação das fotografias capturadas na ilha do vazio. Neste Terrain vague existe a vontade de brincar, vontade de experimentar com o corpo, vontade de ser apenas céu e vento.


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Figura 41 - Terrain vague do ambulante: Representação das fotografias capturadas na ilha do vazio.

Um terrain vague possível de habitar, de trabalhar e de transitar. Lugar do habito, da crença e do ritual.

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Figura 42 - Mirante Ohtake: Representação da fotografia capturada na ilha do vazio.

Deixou de ser lugar construído para tornar-se lugar do vazio e de infinitas possibilidades. Com a demolição dos edifícios destes lotes, Rua Pedro Christi, foi possível a construção, em meu imaginário, de um mirante para o Edifício Instituto Tomie Ohtake.


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Figura 43 – Terrain vague Muro, entre a Rua Butantã e a Rua Paes Leme. Representação da fotografia capturada na ilha do vazio.

Este Terrain vague convida a uma pausa no caminhar, uma pausa para ouvir o que seu muro tem a dizer. Nele vague a palavra é maior que seus transeuntes. A mensagem é mais importante que seu mensageiro. A parede é mais necessária que o céu e o chão.

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IlHA DOS INSTANTES


Arquipélago de Pinheiros Gostaria de definir ‘instante’ de tal modo que cada evento existisse numa serie continua e linear de instantes […] Não deveríamos ver os instantes como algo independente dos eventos e que possa ser ocupado por estes como os chapéus ocupam os cabides. Somos, pois, compelidos a buscar uma definição que faça do instante uma estrutura composta de uma seleção adequada de eventos. Cada evento será parte integrante dessas estruturas, que são instantes durante os quais ele existe: ele existe ‘a’ cada instante que é uma estrutura na qual o evento faz parte. (RUSSEUL, 1948, apud, SANTOS, 2012, p. 143). O instante está diretamente relacionado a tempo e espaço marcando um evento. Segundo Eddington (1968, apud, SANTOS, 2012, p.144) um evento é “um instante do tempo e um ponto do espaço”. Os eventos não se repetem “são, pois, todos novos. Quando eles emergem também estão propondo uma nova história. ” (LEFEBVRE, 1958, apud, SANTOS, 2012, p.145). A fotografia tem o poder de registrar, por meio de uma imagem, um instante. A partir da interpretação dessa imagem podemos compreender a qual evento este instante fez parte. Analisando um conjunto de fotografias podemos ter maior clareza deste evento.

o que aconteceria se uníssemos vários instantes numa única imagem? No entanto,

Teríamos o registro de um lugar. Unir vários instantes numa mesma imagem marca um evento único, a existência efêmera de um lugar instantâneo. Poderíamos ver a atmosfera daquele lugar. Nossa compreensão de lugar se dá a partir associação indenitária entre tempo e espaço. Para que exista um evento é preciso haver o espaço e o tempo. Nessas imagens vemos o caminhante inaugurando um lugar por meio de seu movimento (tempo) no espaço (distância).

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Figura 44 - Instantes. Fotos de autoria própria.


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ILHA DAS COISAS

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Coisas coletadas

coletar | registrar | guardar de levar consigo os objetos com os quais se relacionou afetivamente. Seleciona souvenires O caminhante tem o desejo de

para recordar os momentos dos caminhos por onde passou. São os detalhes, os objetos que explicam o evento e manifestam sua qualidade particular.

Coletei em Pinheiros Coisas do tempo. Assim como o relógio, Meu caminhar marcava Os instantes que jamais iriam voltar. Como num tic-tac. As pessoas iam num tic, Os carros passavam num tac. A nuvem cobria num tic, O sol iluminava num tac. Os sinos tocam num tic, E todos já sabiam que Já era tempo do tac.

Figura 45 - Relógios. Fotos de autoria própria.


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Coisas inscritas

Inscrever | demarcar | entalhar | registrar

O chão, lugar do passo, também é o lugar das pedras. Pedras concretadas no chão registram a presença anterior de um outro caminhante. São pedras fixas inscrevem de forma permanente no percurso fluido e efêmero. Demarcam a memória futura do caminhante presente. Figura 46 - Pedras. Fotos de autoria própria.


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Coisas monumentais

O hidrante é como um menir em Pinheiros. É um monumento. Uma referência, um ponto de encontro. Um marco simbólico para o caminhante nômade urbano

Figura 47 - Hidrantes. Fotos de autoria própria.


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Coisas expostas e refletidas

As vitrines são grande atração de um caminhante urbano. Expõem e refletem, Expõem o dentro, O fixo, O produto do habitar estático. Refletem o fora, O movimento, O transitório, O produto do habitar momentâneo. Quando passa por uma vitrine o caminhante se espoe para o dentro E vê seu reflexo de fora.

Figura 48 - Vitrines. Fotos de Autoria própria.

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ILHA DE AMBULANTES


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Figura 49 - Ilha dos Ambulante. Representação das fotografias tiradas dos ambulantes: vendedores ambulantes, catadores de reciclagem, entregadores de produtos.


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Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis Os ambulantes são aqueles que habitam de forma nômade todas as ilhas. Juntos eles formam uma só ilha. Ninguém conhece melhor o arquipélago de Pinheiros do que seus ambulantes. Todos eles transportam algo consigo para onde vão.

carroças abrigos plástico carrinho quiosque ferro tecido barraca banquinho madeira lona papel habitam perambulam

roda recolhem distribuem reusam trocam vendem entregam recebem juntam andam e param veem e são vistos evitados procurados esperados


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Ilhas documentadas até hoje

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Arquipélago de Pinheiros

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Pinheiros é um lugar determinado por um mapeamento da prefeitura de São Paulo. O bairro de Pinheiros explorado por mim não é a mesma daquele.

Carvalho Carvalheiro Mercado Municipal Residências Terrian Vague Verde Instantes Ambulantes Coisas

MICTRAV CRATVIM CAMTRIV TRIVAMC

… Pinheiros pode ser lida de vária maneiras e ter diversos nomes Figura 51 – Na página anterior– Arquipélago: Reprodução da junção de todos os mapas das ilhas até hoje documentadas. É evidente que o mapa de todo o arquipélago algo é eternamente mutante e com infinitas possibilidades de composição. Imagem de autoria própria.


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Coletânea de histórias


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O Sorriso Há ilhas em que se deve sorrir… Silvio passou apressado, com a chuva e o transito ele poderia perder a entrevista. Onivaldo, irritado com o sumiço de seu martelo nem se ateve. Rogério fazia as contas em sua cabeça. Será que daria para comprar aquela impressora este mês? Robison, acabara de se demitir da serralheria. Ingride saíra de casa sem guarda-chuvas e estava meio desajeitada com sua jaqueta na cabeça. Alberto, sim se ateve. Ele conhecia o velhinho que estava entregando cartões. Alberto parou para conversar com seu velho amigo. Finalmente, um sorriso.

Reproduzir vídeo

“O sorriso”em mídia anexa

Figura 52 - O sorriso. Foto de autoria própria.

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Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

Faixa de encontro Do outro lado da rua, duas amigas de longa data se encontram. Antes de atravessar a rua elas lembram de um evento que aconteceu ontem naquela mesma travessa. Apontando com a bengala, uma delas mostra a direção para onde foi o moço apressado carregando uma sacola verde. Um moço que ela achou muito parecido com o Augusto que morava ao lado da casa do farmacêutico.

Figura 53 - Faixa de encontro. Foto de autoria própria.


Arquipélago de Pinheiros

Sentado no Banco

Um banco, era tudo o que João precisava para transformar Pinheiros num lugar íntimo. Reproduzir vídeo “Sentado no banco” em mídia anexa xii.

Figura 54 - Sentado no Banco. Foto do vídeo de autoria própria.

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Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

Identitário

Quando caminho por Pinheiros retorno à minha simplicidade, à minha vivência de bairro. Encontro nos detalhes ruas que já conheço e construo em meu imaginário um bairro que só existem mim. O mercadinho, o vizinho que encontro na esquina, o horário da missa, deixar as crianças na creche, o conversar com um desconhecido, o vendedor ambulante, o comer um salgado na esquina.


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Rua Teodoro Sampaio Durante muito tempo está rua vinha em meu pensamento sempre que ouvia falar de Pinheiros. Era impressionante o fato de que toda vez que eu ia à Pinheiros acabava sempre passando por ela. Deve ser porque todo mundo vai para lá também. Não importa a hora do dia, sempre há alguém subindo ou descendo. Pinheiros é um desses lugares cheios. Cheio de cores, de sons, de cheiros, de caminhantes, de ambulantes, de carros, de prédios, de placas. Ela é a 25 de março de Pinheiros. Assim como naquela, por mais que se tenha apenas a intenção de passar, não há como não se distrair com tantos produtos implorando para serem comprados. Você pode não estar precisando de bijuterias, mas vai acabar prestando atenção no que fala ao microfone o moço da loja Khiara Biju.

Figura 55 - Rua Teodoro Sampaio. Foto de autoria própria.

Reproduzir vídeo “Rua Teodoro Sampaio” em mídia anexa xiii


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Sexta–feira à noite

Figura 56 - Banda "Pelas Ruas". Foto de autoria própria.

Sexta-feira à noite, em meio a um terrain vague, encontrei um grupo de caminhantes urbanos tocando músicas brasileiras. Eles se denominavam “Banda Pelas Ruas”. Naquele momento aquele vazio havia se tornado um grande imã atraindo atenção de todos os caminhantes de Pinheiros. Era de costume daqueles caminhantes músicos transformar os vazios urbanos em cheios sonoros. Vivem de forma nômade transformando os espaços em habitações momentâneas para outros caminhantes. São na verdade, personagens da Ilha dos Ambulantes, pois carregam consigo aquele objeto, coisa, ou instrumento de troca.

Reproduzir vídeo “Sexta-feira à noite” em mídia anexa

xiv


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A pausa chama o caminhar Mas todo caminhante precisa da pausa. Um momento para satisfazer suas necessidades primarias de sobrevivência. Uma pausa para comer e para descansar. Ele procura um lugar que ofereça conforto. Avido por sua atividade preferida, a do caminhar, ele prefere que este lugar da pausa tenha vista para o lugar do caminhar.

Reproduzir vídeo “A pausa chama o caminhar” em mídia anexa xv

Figura 57 - A pausa chama o caminhar. Foto de autoria própria.


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Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

Considerações finais O caminhar é o ato principal de minha investigação, pois é a partir dele que experimento o espaço e identifico os múltiplos lugares que existem em Pinheiros. O caminhar é primeiramente uma pratica de sobrevivência de habitar o mundo. Depois de satisfeita essa primeira necessidade o homem passa a modificar a paisagem e dar significados simbólicos ao lugar. O homem sedentário moderno retoma a essa prática de forma artística, e passa a caminhar como forma de observar o espaço. Passa a compreendê-lo como um ser que tem vivencia e vontade própria, um ser que tem espirito. O homem procura habitar o tempo todo, isto é, ao caminhar o homem procura orientar-se e sentir-se seguro o tempo todo. O caráter do lugar cria nesse homem caminhante uma “imagibilidade”, responsável por sua identidade e habitação momentânea. Pelo caminhar experimento o espaço com o corpo e com todas as minhas percepções sensíveis. Ouço seus sons, sinto seus cheiros, seu clima. Sinto sua ambiência, identifico seu caráter e seu espirito. Vejo em seu microcosmo, em seus detalhes - cores, objetos e eventos - algo que me desperta uma ‘imagibilidade’. Nessa experiência crio uma relação de habitat, com o tempo vivido passo a habitar estes espaços e torna-los um lugar simbólico, de sentimentos, um lugar imaginado e relacionado à minha memória. O caminhar experimentado foi realizado por uma caminhante sedentária urbana que, neste trabalho, passa a ser nômade. Em minhas caminhadas identifiquei os múltiplos lugares (ilhas sensíveis) de um único bairro. Documentei-as com mapeamentos psicogeográficos, fotografias, vídeos e poesias.


Referências Bibliográficas

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Referências Bibliográficas BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 2000. CARERI, Francesco. Walkscape. O caminhar como prática estética. São Paulo: Editora G. Gili, 2013. CARVALHO F. R. Caminhar na cidade: experiência e representação dos caminhares de Richard Long e Francis Alys. Depoimentos de uma pesquisa poética. Tese de mestrado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo. 2007. GUATELLI, Igor. Arquitetura dos entre lugares: sobre a importância do trabalho conceitual. São Paulo: Editora Senac Saão Paulo. 2012 JACQUES, Paola Berenstein, Apologia da deriva. Escritos situacionistas cobre a cidade / Internacional Situacionista. Organização; ABREU, Estrela dos Santos, tradução – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003. _________________________ Elogio aos errantes. Breve histórico das errâncias urbanas. Arquitextos, São Paulo, ano 05, n. 053.04, Vitruvius, out. 2004 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.053/536>. KEHL, Rita. Olhar no olho do outro. Pisegrama. Nº07. NORBERG-SCHULZ, Christian. O fenômeno do lugar. Cosac Naify, São Paulo, 2006. BLANCH, Roger Paez i. Derivas urbanas: la ciudad extrañada. Rita: Revista Indexada de Textos Académicos, 2014, pp. 120-129 SANTOS, Milton. A natureza do espaço. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2012. SOLNIT, Rebecca. Infinity City: a San Francisco Atlas. University California, 2010 TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: Difel, 1983.


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Arquipélago de Pinheiros: a prática poética do caminhar como construção de ilhas sensíveis

Lista de Figuras Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura

1. - Vídeo "Chão e Som: Creche" ................................................... 2 - Momento em que habitamos um é uma pausa durante o percurso .................... 3 - O que potencialmente pode ser um lugar íntimo ................................. 4 - Orientar-se. .................................................................. 5 – De espaço a lugar ............................................................. 6 – Terrain vague Rua dos Pinheiros ............................................... 7 - Habitar momentaneo ............................................................ 8 - Foto de autoria própria ....................................................... 9 - Fotografia de Eugene Atget .................................................... 10 - Fotografia de Eugene Atget ................................................... 11 - Fotografia de Eugene Atget ................................................... 12 - “Selected Peoples” ........................................................... 13 - “Selected Peoples” ........................................................... 14 - “Colagens Urbanas” ........................................................... 15 - Psychogeographique De Paris .................................................. 16 - Monarchs and Queens .......................................................... 17 - As casas são onde o coração está. ............................................ 18 – Moedas. ...................................................................... 19 – Ilha Passarelli. ............................................................. 20 – Imagem do Vídeo "Ilha Passarelli" ............................................ 21 - Ilha verde. .................................................................. 22 – Fotografias tiradas durante a deriva na ilha Verde. .......................... 23 - Ilha Mercado Municipal ....................................................... 24 - Vídeo “Ilha mercado Municipal” ............................................... 25 - Ilha Residencial ............................................................. 26 - Imagem do Vídeo "Chão e som: creche" ......................................... 27 - Imagem do Vídeo "Céu e som: pássaro" ......................................... 28 - Imagem do Vídeo “Céu e som: construção” ...................................... 29 - Imagem do Vídeo "O guarda" ................................................... 30 - Imagem do Vídeo Chão e som: vento" ........................................... 31 - Fotografia D ................................................................. 32 - Fotografia F ................................................................. 33 - Fotografia E ................................................................. 34 - Fotografia A. ................................................................ 35 - Fotografia C ................................................................. 36 - Fotografia B. ................................................................ 37 - Fotografia G ................................................................. 38 - Ilha Carvalho Cavalheiro. .................................................... 39 - Imagem do video "manuseio do flipbook". ..................................... 40 - Terrain vague para empinar pipa. ............................................. 41 - Terrain vague do ambulante ................................................... 42 - Mirante Ohtake: Representação da fotografia capturada na ilha do vazio. ......

23 25 28 29 30 32 35 37 41 41 41 41 41 42 43 45 46 48 52 54 56 58 60 62 64 65 65 65 65 65 66 66 66 66 66 66 66 68 70 72 73 74


Lista de anexos Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura

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Terrain vague Muro ........................................................... 75 Instantes. ................................................................... 78 Relógios. .................................................................... 80 Pedras. ...................................................................... 81 Hidrantes. ................................................................... 82 Vitrines. .................................................................... 83 Ilha dos Ambulante ........................................................... 85 Arquipélago ................................................................. 88 Arquipelago das ilhas exploradas até agora. .................................. 89 O sorriso. ................................................................... 91 Faixa de encontro ............................................................ 92 Sentado no Banco ............................................................. 93 Rua Teodoro Sampaio. ......................................................... 95 Banda "Pelas Ruas" ........................................................... 96 A pausa chama o caminhar. .................................................... 97

Lista de anexos i

Vídeo “Os registros de meu imaginário poético” de autoria própria.

ii

Vídeo “Experimentação da maleta” de autoria própria.

iii

Vídeo “Ilha Passarelli” de autoria própria.

iv

Vídeo “Ilha Mercado Municipal” de autoria própria.

v

Vídeo "Chão e som: creche” de autoria própria.

vi

Vídeo “Chão e som: vento” de autoria própria.

vii

Vídeo "Céu e som: pássaro” de autoria própria.

viii

Vídeo "O guarda" de autoria própria.

ix

Vídeo “Céu e som: construção” de autoria própria.

x

Vídeo “Flipbook” de autoria própria.

xi

Vídeo “O sorriso” de autoria própria.

xii

Vídeo “Sentado no banco” de autoria própria.

xiii

Vídeo “Rua Teodoro Sampaio” de autoria própria.

xiv

Vídeo “Sexta-feira à noite” de autoria própria.

xv

Vídeo “Pausa para o caminhar” de autoria própria.



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