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A importância do gris na reprodução das imagens
Rodrigo Soares
Quantas vezes não olhamos uma imagem e percebemos que ela está um pouco azulada, esverdeada, avermelhada ou amarelada. Essa situação pode ser encontrada tanto em imagens digitais quanto em impressas. Tal tendência de desvio de cores de uma imagem, seja ela impressa ou digital, é conhecida como invasão de cor.
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A invasão de cor está associada na maioria das vezes a um desequilíbrio do ponto de gris da imagem reproduzida. Apesar do gris ser um termo muito usado na área gráfica, ainda é possível encontrar pessoas que desconhecem o termo. Gris é o nome dado ao cinza na área gráfica.
O gris pode ser formado a partir da:
Emissão de luzes vermelho, verde e azul (RGB)
Sobreposição das tintas cyan, magenta e amarelo
Reprodução do preto somente
Nos dois primeiros casos, um problema no equilíbrio do gris pode impactar diretamente na reprodução da imagem e, consequentemente, provocar a invasão da cor.
RGB
A reprodução do gris por meio do RGB está diretamente ligada à imagem digital. Quando se trata uma imagem no Adobe Photoshop, um dos procedimentos que devem ser seguidos é a redução/ eliminação da invasão de cor da imagem. Para que essa invasão de cor seja reduzida, o responsável pelo tratamento da imagem deve buscar equilibrar o gris da melhor forma possível.
O primeiro passo, nesse caso, é localizar o ponto da imagem que aparenta ser gris e marcá-lo com o conta gotas (1). Essa localização pode ser feita visualmente, principalmente quando sabemos que algum objeto presente na imagem é cinza, como talheres, camiseta etc. Ou podemos, por meio de filtros e camadas, localizar o ponto cinza da imagem, sendo que nessa situação teremos um caminho mais longo, porém mais preciso de localização do ponto cinza da imagem.
Após a localização do ponto gris da imagem e sua marcação com o conta gotas, o operador deve ir no Menu Camadas (Layers)/Ajustes de camadas (Adjustment Layer)/e escolher Níveis (Levels) ou Curvas (Curves) para realizar o equilíbrio do gris (2).
Localização do ponto cinza
2
Ao abrir o Menu Níveis (Levels) ou Curvas (Curves), o operador deve se atentar aos três conta-gotas localizados no lado esquerdo do Menu. O conta-gotas superior é responsável por corrigir o ponto mais escuro da imagem, o inferior é responsável por corrigir o ponto mais claro e o conta-gotas do meio faz a correção do ponto gris (3).
Para que esse ajuste seja feito corretamente, o operador deve clicar duas vezes no conta gotas do meio e configurar, no menu que será aberto, os valores de R,G e B, inserindo o valor 128 nas três cores. Muitas vezes, esse valor já irá aparecer automaticamente por padrão do software. Esse valor, que se localiza exatamente na metade dos tons reproduzíveis por esse espaço de cor, irá fazer com que o gris da imagem fique equilibrado (4).
Mas, para que isso ocorra, o operador deve fechar esse último menu aberto e com o conta-gotas do meio ainda selecionado, clicar com o mouse no ponto em que ele encontrou a área mais gris da imagem. Ao fazer isso, o gris será balanceado e automaticamente todas as cores que estavam com problema serão corrigidas, reduzindo assim a invasão de cor que estava presente na imagem (5).
CMY
A reprodução do gris por meio do CMY está diretamente ligada à imagem impressa, independente do equipamento em que ele será reproduzido.
Quando pensamos no gris formado pelo CMY, automaticamente surge em nossa memória que a fórmula para se atingir o cinza será C=50%, M=50% e Y=50%. Na teoria realmente esse seria o resultado correto. Todavia, como a própria teoria da Síntese Subtrativa nos indica, a soma de C=100%, M=100% e Y=100% não nos dá o preto, mas sim um marrom escuro. Isso ocorre devido às impurezas presentes nos pigmentos que formam as tintas utilizadas. Dessa forma, a soma de C=50%, M=50% 4 5
Antes da correção
Depois da correção
e Y=50% não nos dá um gris neutro, como deveria ser, mas sim um gris amarronzado, sujo, ou seja, o tom do cinza foi afetado.
Em função disso, é necessário que se faça o que chamamos de balanceamento do gris, para que o cinza que será impresso seja o mais neutro possível.
Test Form com elemento para localização do gris
O balanceamento do gris é a forma encontrada por tratadores de imagem e impressores para resolver o problema da reprodução do gris neutro, formado a partir da sobreposição de CMY. Em muitos casos, os tratadores de imagem não sabem qual é o balanceamento de gris ideal para determinado trabalho, porque não têm a informação de qual equipamento, com qual tinta e substrato o trabalho será impresso.
Nesses casos, é importante que o tratador de imagem adote um padrão de balanceamento de gris da imagem/trabalho há muito tempo utilizado pelo mercado e que inclusive já foi citado em normas técnicas do setor: C=50%, M=40% e Y=40% para um gris médio. Essa formulação de gris ou valores próximos a isso garantem, pelo menos na teoria, que o cinza que será impresso sairá o mais neutro possível.
O mais importante a se observar é a proporção que deve ser mantida entre o cyan e as outras duas cores (magenta e amarelo), sendo que o cyan sempre deverá ser a cor que tem maior porcentagem enquanto as outras duas sempre terão uma porcentagem menor, independente se esse gris estiver em uma área clara, média ou escura da imagem.
Referências para valores de gris em conformidade com a norma ABNT NBR ISO 12647-2
Áreas claras Áreas de meio tom Áreas escuras C 25 50 75 M 19 40 66 Y 19 40 66
A melhor forma de se descobrir o valor real do gris que deve ser usado durante o tratamento de imagens e, portanto, durante a impressão, é por meio da impressão de um Test Form.
Alguns Test Forms possuem elementos que auxiliam na definição do gris a partir de uma condição de impressão (relação substrato, tinta e máquina). Esses elementos são escalas de sobreposição de C, M, Y em diferentes configurações, indo desde sobreposições com porcentagens mais altas, representando as áreas de sombra/escuras, passando pelas áreas médias e chegando até as áreas claras, de forma que se possa ter uma ampla gama de possibilidades de configurações de balanceamento de gris.
Mas, para se realizar esses testes, é importante que a empresa possua controle de seus processos
de reprodução, de forma a controlar as variáveis do processo, evitando que os valores encontrados mudem constantemente.
Para isso é necessário que as chapas enviadas para a impressão estejam linearizadas e bem reveladas, sem resíduo de camada no contragrafismo (velatura), e que a máquina esteja bem ajustada mecanicamente, de preferência o mais próximo possível do indicado pelo fabricante. Quanto à tinta e ao substrato, deve-se evitar ao máximo trocar de fornecedor constantemente, pois isso fará com que os valores de gris encontrados no Test Form impresso anteriormente não sejam mais válidos.
Ao final da impressão do Test Form, é importante que seja guardado o valor de densidade das tintas utilizado para imprimi-lo, porque esse valor de densidade se tornará padrão para a impressão dos próximos trabalhos. Se a densidade não for seguida, o balanço do gris também será afetado, o que provocará uma mudança no tom do gris e, dessa forma, um desequilíbrio no seu balanceamento.
Quando olhamos para as normas internacionais relacionadas à reprodução de cores e métodos de controle de processo, como a metodologia G7, observa-se que o gris é considerado um ponto-chave na reprodução de uma imagem impressa, pelo fato de ser um indicativo de que o processo de impressão está com suas variáveis controladas.
APENAS PRETO
A terceira e última condição na formação do gris é quando ele é formado apenas pelo preto. Pode- -se dizer que ele é o autêntico gris neutro, pois não sofre nenhuma interferência de outra cor, tendo apenas o substrato para influenciar o resultado.
Nessa situação, apenas precisamos nos preocupar com a densidade do preto durante sua impressão. É ela que poderá prejudicar a reprodução desse gris, deixando-o mais carregado ou mais “lavado”.
Na maioria dos Test Forms existe algum elemento que permite que o impressor faça um comparativo visual e colorimétrico do gris formado pela sobreposição de C, M, Y em relação ao gris formado apenas pelo preto. Tal comparativo pode auxiliar o impressor a verificar visualmente, durante a impressão, o quanto o tom do gris impresso está equilibrado/neutro ou não em relação ao gris formado apenas pelo preto.
De forma geral, o gris é um importante elemento de controle que deve ser levado em conta durante a reprodução de uma imagem. Um balanceamento desequilibrado pode causar sérias interferências na reprodução das cores, enquanto o balanceamento do gris feito de forma correta possibilita a reprodução de imagens com qualidade.
Test form para certificação G7
RODRIGO VENTURINI SOARES
é técnico em pré-impressão da Escola Senai Theobaldo De Nigris.
Elemento de comparação entre gris formado por preto (K) e gris formado por CMY