Música e tecnologia UFMG

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TECNOLOGIA

e música

Os alunos percussionistas Breno Bragança e José Henrique orientados pelo professor Fernando Rocha desenvolvem pesquisa que permite a interação do músico com o computador em tempo real.


MÚSICA E TECNOLOGIA A Interação entre performer e computador em obras eletrônicas

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Isto é o que dois alunos de percussão da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais desenvolvem como pesquisa:

a interação do músico com o computador em tempo real. Os alunos percussionistas Breno Bragança e José Henrique são orientados nesta pesquisa pelo professor Fernando Rocha que já correu mundo em busca de conhecimento musical. Em 2008, concluiu o seu doutorado em música pela McGill University (Montreal, Canadá) com pesquisa em performance de obras para percussão e recursos eletrônicos, carregando em sua bagagem, além disso, um mestrado em música pela UFMG e um Bacharelado em Percussão pela UNESP. Ao longo se sua carreira, tem se dedicado especialmente à performance de música contemporânea, participando, como solista ou membro de grupo de câmara, de inúmeros festivais, tanto no Brasil quanto no exterior (USA, Canadá, Argentina, França e Portugal). De volta ao Brasil em 98, realizou vários concertos de percussão solo em Belo Horizonte, São Paulo e Brasília e criou o Grupo de Percussão da UFMG, com o qual se apresentou nos prin-

cipais teatros de Belo Horizonte assim como em eventos internacionais ligados à percussão. Um olhar criativo e analítico sobre modelos de ‘score orientation’ em obras eletrônicas mistas” A pesquisa feita por Breno Bragança e José Henrique: objetiva trabalhar com a interação entre performer e computador em músicas com eletrônica em tempo real. O modelo usado na pesquisa é chamado de “score orientation”, em que o computador sincroniza suas ações com o performer em momentos estruturais da obra, através da detecção de certos elementos de performance pré- determinados. O foco do trabalho se deu em três modelos de “score orientation” citados por Pestova (2008). Segundo ela a comunicação pode ser feita por: 1. Pedal ou teclado midi; 2. Análise de características do próprio áudio da performance (inferindo características musicais como dinâmica, registro, densidade e ataques). 3


3. Sensores diversos (como de pressão ou de efeitos de granulação e de glissandos, se misturanmovimento); do com os sons reais do triângulo. Seção 3: O computador fica sozinho e transforma aos poucos os sons dos ataques em um som contínuo que desaparece gradualmente.

Tendo como proposta estudar estes três modelos de interação os alunos construíram a partir de estudos de casos que aliam questões de composição, performance e tecnologia a criação artística como uma etapa da metodologia do projeto. Assim, para cada um dos três modelos de interação foram compostas e apresentadas em concertos novas obras para percussão e eletrônica em tempo real. Desta forma, os performers vivenciaram todas as etapas do processo de criação de uma obra eletrônica mista: composição, programação, performance e montagem (e operação) de um sistema de som para concerto.

- Utilização de “janelas de segurança flexivas” Essas janelas estabelecem um tempo mínimo e máximo para cada seção. Isso evita que a performance seja interrompida por um defeito no pedal midi (idéia de Kimura, 2003) Em decorrência das características dos efeitos e da sincronização a peça é muito aberta à improvisação. Segundo modelo de interação: Análise de características do próprio áudio da performance (inferindo características musicais como dinâmica, registro, densidade e ataques). - Exemplos do repertório: SprachSchlag (Hans Tutschku), Traces IV (Martin Matalon), Anamorfoses (Sérgio Freire)

A pesquisa dos dois alunos se deu em quatro etapas, sendo a primeira constituída de pesquisa bibliográfica ampla sobre música eletrônica mista, performance de obras com eletrônica e sobre repertório. Em seguida se dedicaram ao estudo do software e ambiente de programação MAX/MSP, passando ao trabalho de composição e performance de peças, construídas sobre os três modelos de Peça criada: score-orientation identificados na bibliografia, Tempestade em copo d’água (Breno Bragança) culminando na reflexão sobre os diversos problemas e soluções encontrados no processo composi- Uso de um medidr de ‘densidade’ (acúmulo de cional e de performance. notas ao longo do tempo – função ‘leaky integrator’ – integrador de vazão) Primeiro Modelo de Score Orientation: O performer fica livre para controlar a densidade Uso de pedal por performer para disparar arqui- do improviso (computador responde à densidade vos de áudio e/ou processamentos de som proposta pelo performer) Exemplos do repertório: Six Japanese Gardens O valor do leaky integrator também é usado para (Kaija Saariaho), Spiked (Glenn Hackbarth), Wooden Stars (Geof Holbrook) Peça criada: Ceu (José Henrique Soares Viana) Triângulo e eletrônica em tempo real Três seções sincronizadas com o performer através do pedal midi Seção 1: Reprodução em delay dos sons gravados em tempo real de um rulo de triângulo. Seção 2: Os sons gravados desaparecem gradualmente e o computador passa a gravar os sons de ataques agora tocados no instrumento. Aos poucos o computador passa a tocar os novos sons com 4


guiar a passagem para a seção seguinte da peça. • Medidor de dinâmica: O computador lê a dinâmica do performer e usa esta informação para controlar parâmetros dos processamentos sonoros. No início da peça a dinâmica controla aspectos da espacialização do som, no caso, a velocidade com que o som passa de uma caixa para outra. • Identificador de subdivisão: A partir de um andamento dado pelo performer (através do uso do pedal), o computador improvisa usando subdivisões deste pulso em 2, 3, 4 ou 6. O perfomer pode controlar qual subdivisão o computador irá usar no seu improviso. Isto é feito porque o computador consegue detectar os ataques produzidos pelo performer e a subdivisão do pulso que ele está usando. Na seção final da peça o pulso do improviso do computador passa a ser controlado pela velocidade dos ataques tocados pelo performer. which the words of the poem are masked, appeaTerceiro modelo de interação: Uso de sensores ring clearly only when they are randomly trigge- Exemplos do repertório: Laplace Tiger (Alexanred by the notes F#, E, D and C, produced by the der Schubert), Le cirque du tambour (Roland Aukalimba. zet), A Caixa de Pandora (Sérgio Freire), Nocturno Esquematico (F. Garcia Lorca) Hinojo, serpiente y junco Aroma, rastro y penumbra. Aire, tierra y soledad (la escalla llega a la luna) Fernando Rocha e Ricardo Cortés: A la luna (2007).

- Peça estudada no projeto: A la luna, de Fernando Rocha e Ricardo Cortés Fernando Rocha e Ricardo Cortés: A la luna (2007) A la luna is a structured improvisation for hyper -kalimba and electronic sounds. The hyper-kalimba, a work in progress undertaken by Fernando Rocha and Joseph Malloch, consists of a kalimba augmented by a piezo microphone and pressure sensors. The data from these sensors is processed electronically by a custom made Max/MSP patch. The result is an instrument that combines the traditional sound and performance of the kalimba with new electronic sound and performance capabilities. The structure of the piece is based on the poem ‘Noturno Esquematico’ by Frederico Garcia Lorca. The words of the poem (in the voice of Raquel Gorgojo) were manipulated electronically by Ricardo Cortés to create a rich texture of electronic sounds, which are combined with the sounds produced in real-time by the hyper-kalimba. The result is an atmosphere of dream and mystery, in

Primeira versão: Sons pré-gravados + kalimba + processamentos sincronizados com o tape + detecção das alturas (C-D-E-F#) para disparar as palavras do texto Segunda versão: uso de pedal para disparar os processamentos (maior liberdade para o intérprete) Terceira versão: Sensores instalados na kalimba (e mapeamento adequado) permitem ao performer controlar todos os processamentos. Grande liberdade para o intérprete. - Fernando Rocha e Ricardo Cortés: A la luna (2007) - Hyperkalimba é um novo instrumento que 5


tem que ser dominado pelo perfomer. - “The more unfamiliar the technology is to the musician, the more disruptive – even for a brilliant and skilled performer” (Mcnutt, 2003) - Maiores informações sobre a hyper-kalimba: - ROCHA, Fernando; MALLOCH, Joseph . THE HYPER-KALIMBA: DEVELOPING AN AUGMENTED INSTRUMENT FROM A PERFORMER S PERSPECTIVE. In: 6th Sound and Music Computing Conference, 2009, Porto - Portugal. Proceedings of the 6th Sound and Music Computing Conference, 2009. p. 25-29.

develop new skills and flexibility.” (Mcnutt, 2003) Além disso espera-se fomentar a performance dessa música e aumentar o repertório existente na literatura. Referência bibliográfica básica: - Kimura, Mari. “Creative Process and Performance Practice of Interactive Computer Music: A Performer’s Tale.” Organised Sound 8, 3: (2003) 289– 296.

- McNutt, Elizabeth. “Performing Electroacoustic Music: A Wider View of Interactivity.” Organised Análise dos Resultados e possíveis desdobra- Sound 8, 3: (2003) 297– 304. mentos: - Winkler, Todd. Composing Interactive MuA partir da análise da bibliografia e dos estudos de sic: Techniques and Ideas using Max”. Cambridcaso já realizados, algumas observações já podem ge, Massachusetts; London, England: MIT Press, ser enunciadas: 1989. - O foco na interação muitas vezes estimula uma - Pestova, Xenia. “Models of Interaction in Works valorização da improvisação e de uma estética for Piano and Live Eletronics”. McGill University, mais aberta à indeterminação; Montreal, 2008. - O domínio de certos conhecimentos ligados a tecnologia musical pode ser muito útil (quando - Garnett, Guy E. “The Aesthetics of Interactive não essencial) ao performer deste repertório; Computer Music.” Computer Music Journal 25, 1: - Além da prática do seu instrumento, o performer (2001) 21–33. tem que ter tempo e condições para se familiarizar - Rowe, Robert. Interactive Music Systems: Machicom o equipamento utilizado; ne Listening and Composing. Cambridge, Massachusetts and London, England: MIT Press, 1993. - O software utilizado influencia bastante o resul- Agradecimentos: UFMG (Programa de Pós-Gratado da obra. duação em Música), Fundação Itaú Cultural e Por fim, esperamos que o levantamento de discus- Fundep (Bolsa de Iniciação à Pesquisa em Artes) sões relacionadas à composição e à performance http://www.fernandorocha.info/pt/biografia. da música eletrônica mista possam diminuir as html dificuldades encontradas por performers que venham a trabalhar com esse repertório. “Performing with technology requires players to

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