Educar Hoje 1

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Compêndio
de
matérias
sobre
Educação
dos
filhos
de
0
a
10
anos
 Revista
Ser
Família‐
edições
de
1
a
17

1


Sumário
 01

A
agressividade
infantil,
crd:
La
Salut
i
Psicologia
Social

02

A
idade
da
teimosia,
por
Autimio
Antunes

03

A
música
educa,
por
Álvaro
Siviero

04

Aprendendo
a
ler,
por
Carmen
Silvia
Porto

05

Consumismo
na
infância,
por
Lais
Fontenelle
Pereira

06

Desenvolvimento
 pisicossocial
 na
 primeira
 infância,
 por
 Ludmila
Girão
Antunes
de
Souza
e
Sheila
Marina
Van
Blarcum
 de
Graaff
Misasi

07

Elas
e
eles,
por
Carmen
Silvia
Porto

08

Etiquetando
os
filhos,
por
Dora
Porto

09

O
mundo
dos
livros,
por
Julia
Manglano

10

O
dilema
da
autoridade
dos
pais,
por
Julia
Manglano

11

O
hábito
da
ordem,
por
Julia
Manglano

12

Como
multiplicar
a
inteligência,
por
Julia
Manglano

13

A
criança
terceirizada,
por
José
Martins
Filho

14

Educação
 da
 vontade
 base
 para
 a
 felicidade,
 por
 Julia
 Manglano

15

Estimulação
através
dos
sentidos,
por
Carmen
Silvia
Porto

16

Estimulação
da
Inteligência
musical,
por
Julia
Manglano

17

Ao
infinito
e
além,
por
Ricardo
Regidor

18

Os
pesadelos
noturnos,
por
Elena
López

2


3


1.
A
agressividade
Infantil
 Fonte:
 Departamento
 de
 Psicologia
 de
 La
 Salut
 i
 Psicologia
 Social,
 Universitat
 autônoma
 de
 Barcelona.
 Projeto
 Fundos
 de
 Investigação
 Sanitaria
Ref:
99/1199.
 
 Os
 pais
 são
 capazes
 de
 construir
 uma
 história
 de
 paz
 e
 serenidade
 na
 vida
de
seus
filhos,
basta
saber
como
conduzi‐la.
 “Não
sei
o
que
acontece!
Meu
filho
de
cinco
anos
era
tão
bonzinho,
tão
 ajuizado
 e
 obediente,
 e,
 de
 repente,
 sou
 chamada
 na
 escola
 e
 a
 orientadora
me
diz
que
ele
está
agressivo,
rebelde
e
não
obedece”!
 Por
que
os
filhos,
de
repente,
viram
rebeldes?

 Calma...
 Primeiramente,
 não
 é
 de
 repente,
 faz
 parte
 de
 um
 processo
 que,
muitas
vezes,
os
pais
não
levam
em
consideração.
 A
 agressividade
 sempre
 foi
 um
 tema
 muito
 atual,
 com
 destaque
 à
 agressividade
 dos
 adolescentes.
 Mas
 estes
 adolescentes
 costumam
 ter
 uma
história
de
condutas
agressivas,
desde
a
mais
tenra
idade.
 Palavra
dos
estudiosos
 Não
há
unanimidade,
nem
entre
os
estudiosos
do
assunto,
em
relação
à
 definição
 de
 agressividade:
 não
 se
 considera
 um
 transtorno
 (não
 tem
 nenhuma
 classificação
 diagnóstica),
 mas,
 muitas
 vezes,
 apresenta‐se
 como
 uma
 conduta
 não
 adaptada,
 que
 acaba
 por
 se
 unir
 aos
 muitos

4


transtornos.
 E,
 também,
 em
 certos
 períodos
 do
 desenvolvimento
 infantil,
alguma
agressividade
é
absolutamente
normal.
 Não
é
o
intuito
aprofundar
no
terreno
da
psiquiatria,
mas
aproveitar‐se
 dos
estudos
e
projetar
luzes
para
as
condutas
normais
que
apresentam
 uma
característica
de
agressividade
temporária.
 A
conduta
agressiva
em
crianças,
geralmente
é
influenciada
por
fatores
 individuais,
familiares
e
ambientais.
 Vamos
 analisar
 apenas
 os
 FATORES
 FAMILIARES
 que
 podem
 influir
 na
 conduta
agressiva.
 Há
 estudos
 sobre
 os
 fatores
 que
 potencializam
 e
 facilitam
 o
 aparecimento
da
agressividade:
 A
depressão
materna;
algum
tipo
de
psicopatologia;
problemas
de
auto‐ estima;
 família
 mono
 parental;
 dificuldades
 econômicas;
 conflitos
 matrimoniais.
 
 Pais
como
modelos
e
educadores
 A
 falta
 de
 habilidades
 sociais
 e
 o
 comportamento
 inadequado
 são,
 entre
outros,
responsáveis
pelo
aparecimento
de
condutas
agressivas.
 O
 exemplo
 dos
 pais
 (quando
 berram,
 gritam,
 reclamam
 dos
 filhos
 na
 frente
 dos
 outros)
 tem
 implicação
 na
 instauração
 de
 condutas
 agressivas.
 O
que
se
entende
por
habilidades
sociais?
A
forma
de
conviver,
de
falar,
 de
se
 comportar,
de
 se
vestir,
enfim,
uma
gama
enorme
de
aptidões
e
 5


qualidades
que
tornam
a
convivência
mais
prazerosa
e
um
ambiente
que
 educa.

 Principalmente
nessa
fase,
em
que
a
mãe
exerce
maior
influencia,
a
sua
 falta
de
habilidades
sociais
contribui
para
a
instauração
de
um
ambiente
 constrangedor,
 que
 inibe
 o
 crescimento
 pessoal
 e
 torna
 difícil
 a
 orientação
e
educação
dos
filhos
de
forma
positiva
e
motivadora.
 Esses
 pais
 costumam
 ser
 controladores
 demais
 e
 não
 demonstrar
 aprovação
aos
filhos,
nem
respeitar
sua
autonomia.

 Diversos
 autores
 descrevem
 crianças
 submetidas
 a
 este
 tipo
 de
 ambiente
 como
 sujeitos
 que
 não
 aprenderam
 a
 se
 relacionar
 com
 os
 outros,
a
serem
disciplinados
para
alcançar
seus
objetivos,
nem
a
aceitar
 críticas.
 
 Depressão
e
hostilidade
materna
versus
agressividade.
 É
 impressionante
 como
 o
 estado
 geral
 dos
 pais,
 e,
 sobretudo
 da
 mãe,
 influi
drasticamente
na
conduta
do
filho
pequeno.

 Há
 sim
 uma
 forte
 relação
 entre
 agressividade
 infantil
 e
 os
 problemas
 psicossociais
 maternos.
 Naturalmente,
 outros
 transtornos
 graves
 dos
 pais
como
os
de
personalidade
anti‐social,
depressão
profunda
e
abuso
 de
 substâncias,
 são
 fatores
 de
 maior
 risco.
 Porém,
 como
 já
 mencionamos
anteriormente,
estamos
procurando
projetar
luzes
sobre
 a
agressividade
“normal”
das
crianças.
 
 6


Dinâmica
familiar
 Deve‐se
 fazer
 uma
 distinção
 entre
 as
 relações
 pai/filho
 e
 as
 interações
 que
se
dão
entre
todos
os
membros
da
família,
isto
é,
entre
o
dia‐a‐dia
 adulto/criança
e
o
contexto
familiar.
 As
 pesquisas
 sobre
 famílias,
 geralmente
 apontam
 para
 o
 papel
 influenciador
da
interação
mãe/filho.
Pouco
se
tem
falado
sobre
o
efeito
 do
apoio
mútuo
e
implicação
dos
dois:
o
pai
e
a
mãe,
na
criação
do
filho.
 
 Processos
 Dentro
deste
contexto
de
interação
familiar,
há
certos
processos
que
se
 destacam...
 Hostilidade
 e
 competitividade:
 Um
 dos
 mais
 estudados
 fatores
 de
 adaptação
 infantil
 em
 trabalhos
 sobre
 famílias
 foi
 o
 conflito
 entre
 os
 pais.
 Viu‐se
 que
 quando
 esta
 hostilidade
 se
 expressa
 abertamente,
 e
 envolve
 a
 criança,
 esta
 mostra
 claros
 sinais
 de
 ansiedade,
 inclusive
 em
 idades
 muito
 precoces.
 Porém,
 quando
 esta
 situação
não
a
envolve,
o
impacto
é
menos
negativo.
O
estresse
do
casal
 não
 é
 um
 fenômeno
 unilateral,
 determinados
 aspectos
 do
 casamento
 incidem
diferentemente
no
ajuste
da
criança.
 Não
 há
 dados
 consistentes
 sobre
 as
 seqüelas
 do
 conflito
 matrimonial
 observado
 nos
 primeiros
 anos
 de
 vida.
 Mas
 poderíamos
 supor,
 neste
 sentido,
 que
 a
 hostilidade
 do
 casal
 atua
 como
 fator
 ambiental
 de
 inconsistência,
incitando
a
criança
a
experimentar
desequilíbrio
interno
 e
incerteza.
Com
o
tempo,
este
desequilíbrio
constante
poderia
evoluir
 para
 a
 frustração
 e
 impulsividade,
 que,
 mais
 tarde,
 daria
 lugar
 a
 7


problemas
 de
 conduta.
 Desta
 maneira
 a
 dimensão
 hostilidade‐ competitividade
 seria
 fator
 de
 risco
 para
 o
 desenvolvimento
 da
 sintomatologia
externa.
 O
distanciamento,
ou
a
exclusão,
de
um
dos
pais
na
relação
com
o
filho,
 pode
 ser
 experimentado
 como
 um
 vazio
 na
 família,
 impulsionando
 a
 criança
para
sentimentos
de
insegurança,
ansiedade,
tristeza,
levando‐a
 ao
desenvolvimento
de
condutas
anti‐sociais.

 O
distanciamento,
ou
a
exclusão,
de
um
dos
pais
na
relação
com
o
filho,
 pode
 ser
 experimentado
 como
 um
 vazio
 na
 família,
 impulsionando
 a
 criança
para
sentimentos
de
insegurança,
ansiedade,
tristeza,
levando‐a
 ao
desenvolvimento
de
condutas
anti‐sociais.
 Outro
aspecto
a
considerar
neste
contexto
é
o
“coparenting”
encoberto:
 como
atuam
o
pai
e
a
mãe
isoladamente,
na
coesão
familiar,
quando
o
 outro
 cônjuge
 não
 está.
 Que
 imagem
 do
 cônjuge
 ausente
 se
 dá
 à
 criança?
 Os
 resultados
 do
 estudo
 de
 McHale
 apóiam
 a
 hipótese
 de
 que
 altos
 níveis
 de
 hostilidade;
 e
 pouca
 harmonia
 familiar
 se
 associa
 aos
 índices
 elevados
de
agressividade
em
idade
infantil.
 Por
 outro
 lado,
 as
 crianças
 menos
 problemáticas
 eram
 aquelas
 que
 tinham
um
pai
que
promovia
a
coesão
familiar
e
uma
mãe
pouco
crítica
 com
a
postura
do
seu
companheiro.
 Também
 é
 interessante
 saber
 que
 os
 pais
 mais
 coesos,
 na
 família
 são
 aqueles
que
mais
acariciam
os
filhos
nas
diversas
situações;
e
que
estas
 famílias
 estão
 centradas
 no
 filho
 e
 existem
 poucas
 discrepâncias
 entre
 8


os
cônjuges.
Aqui
se
percebe
claramente
como
a
ausência
de
afeto
e
de
 manifestações
 de
 carinho,
 por
 parte
 dos
 pais,
 podem
 se
 manifestar
 na
 criança
com
uma
conduta
mais
agressiva.
 
 Estilos
educativos
 É
evidente
que
não
existem
soluções
mágicas,
mas
há
algo
em
que
todos
 os
 pais
 podem
 refletir
 e
 adaptar
 ao
 seu
 contexto
 familiar:
 o
 efeito
 positivo
na
formação
da
personalidade
dos
filhos,
de
acordo
com
o
estilo
 educativo
adotado
pelos
pais.

 As
 práticas
 educativas
 paternas
 são
 avaliadas
 positivamente
 quando
 produzem
nos
filhos
os
seguintes
efeitos
personalizadores
positivos:

 •

Formação
 de
 um
 autoconceito
 equilibrado,
 realista
 e
 positivo,
 base
 da
 autoconfiança
 e
 a
 segurança
 interior.
 As
 crianças
 descobrem
 a
 bondade
 e
 a
 justiça
 que
 têm
 suas
 ações,
 principalmente
através
da
reação
dos
pais.

Produção
 de
 um
 “eu”
 forte,
 capaz
 de
 valer‐se
 por
 si
 mesmo.
 A
 fortaleza
do
“eu”
se
manifesta
na
firmeza
das
convicções
pessoais,
 na
 auto‐regulação,
 autodomínio,
 independência
 interior
 e
 criatividade.
Que
o
filho
vá
assumindo,
pouco
a
pouco,
um
grau
de
 autonomia
que
é
capaz
de
usar
sem
cair
no
desamparo.

Disposição
ao
esforço
pessoal,
à
auto‐superação
e
ao
rendimento
 (particularmente
necessário
numa
sociedade
hedonista).

9


Produção
 do
 sentido
 de
 responsabilidade
 e
 de
 compromisso
 pessoal
 nos
 filhos
 (a
 criança
 deve
 ir
 aprendendo
 que
 é
 pessoalmente
 responsável
 por
 suas
 ações,
 que
 há
 de
 calcular
 e
 assumir
 as
 conseqüências
 das
 opções
 livres
 na
 vida
 e
 que
 há
 de
 ser
fiel
aos
seus
compromissos).

Competência
social.
Esta
qualidade
não
significa
só
as
habilidades
 da
criança
para
comunicar‐se
e
desempenhar
seus
papéis
sociais,
 mas
também
o
gosto
por
compartilhar
esforços
e
a
solidariedade.

10


11


2.
A
idade
da
teimosia
 Por:
 Autimio
 Antunes,
 pós‐graduando
 em
 Orientação
 Familiar
 pela
 Universidad
Austral/Argentina.
 
 Todos
os
pais
observam
uma
mudança
de
conduta
em
seus
filhos
por
 volta
dos
3
anos,
em
média.
É
comum
os
pais
manifestarem
‘meu
filho
 era
 tão
 obediente
 e
 bonzinho
 e
 agora
 está
 tão
 desobediente
 e
 com
 uma
teimosia
incansável”!
 ‘Papais’
tenho
uma
notícia
boa
e
uma
ruim
para
dar:
a
ruim
é
que
não
 existe
receita
para
estabelecer
condutas,
e
a
boa
é
que
a
educação
está
 baseada
 em
 tendências
 naturais
 de
 desenvolvimento.
 Por
 exemplo,
 é
 natural
que
a
criança
aprenda
a
falar
por
imitações
dos
pais,
a
partir
de
 certa
 idade,
 que
 aprenda
 a
 andar
 com
 certa
 idade
 etc.
 Todo
 desenvolvimento,
 quer
 seja
 emocional,
 racional,
 ou
 físico,
 tem
 um
 momento
e
uma
forma
ideal
de
acontecer.
 Voltando
 às
 crianças
 de
 3
 anos,
 percebemos
 que
 passam
 a
 protestar
 quando
 são
 exigidos,
 querem
 impor
 sua
 vontade
 aos
 irmãos
 e
 amigos.
 Passam
 a
 distinguir
 entre
 o
 “meu”
 e
 o
 “teu”,
 e
 os
 conflitos
 e
 brigas
 tendem
a
aparecer,
principalmente
quando
querem
tirar
seu
brinquedo.
 E
em
algumas
ocasiões
se
isola
dos
demais,
brinca
sozinho
e
fala
consigo
 mesmo.
Este
novo
comportamento,
que
denota
rebeldia,
recebe
o
nome
 de
 obstinação
 (teimosia),
 e
 nas
 meninas
 se
 inicia
 antes
 do
 que
 nos
 meninos.

12


A
 obstinação
 pode
 unir‐se
 à
 violência:
 a
 criança
 mantém
 sua
 própria
 opinião
 e
 seu
 próprio
 desejo,
 ao
 qual
 se
 fixa
 com
 violência
 contra
 a
 oposição
e
desejos
alheios.
Como
aquela
mãe
que
nega
um
sorvete
para
 o
filho,
por
motivos
que
julga
importante,
e
ele
reage
com
chutes
tapas,
 mordidas,
gritos
etc.
 Como
 se
 explica
 a
 aparição
 da
 fase
 de
 obstinação,
 violência
 e
 desobediência?
 Que
 forças
 e
 funções
 psíquicas
 atuam
 por
 trás
 deste
 modo
de
conduta
próprio
desta
idade?
 Precisamos
 saber
 a
 respeito
 desta
 fase
 para
 não
 atrapalhar
 o
 desenvolvimento
 e
 crescimento
 das
 crianças
 para
 a
 independência
 e
 autonomia,
 além
 do
 crescimento
 e
 conhecimento
 de
 sua
 identidade,
 uma
vez
que,
até
então,
ele
não
reconhecia
um
‘eu’
e
um
‘tu’.
Até
os
3
 anos
a
criança
se
considera
um
prolongamento
da
mãe
e
os
outros
são
 apenas
 ‘coisas’.
 Vocês
 já
 devem
 ter
 percebido
 como
 as
 crianças,
 antes
 dos
 3
 anos,
 empurram
 as
 outras
 crianças
 como
 se
 fosse
 algo
 material,
 “uma
 cadeira
 e
 uma
 outra
 pessoa
 não
 têm
 diferença;
 são
 usadas
 ou
 empurradas
da
mesma
forma”.
 Mas
aos
3
anos,
a
criança
começa
a
reconhecer
e
diferenciar
as
pessoas,
 pais,
irmãos
e
amigos
como
‘outros’.
Assim
se
inicia
a
primeira
crise
de
 identidade,
na
qual
a
criança
terá
de
se
identificar
como
um
‘eu’,
único
e
 irrepetível.
 Entretanto,
 os
 conflitos
 fazem
 parte
 deste
 processo
 de
 identidade.
 Por
 isso
 devemos
 encarar
 as
 brigas
 entre
 amigos
 e
 irmãos
 como
 algo
 natural,
 muitas
 vezes
 interferir
 numa
 briga
 pode
 atrapalhar
 este
 processo
 de
 amadurecimento
 e
 independência.
 Levando
 em
 conta
 o
 13


bom
senso,
é
importante
deixar
que
resolvam
seus
conflitos
por
conta.
É
 muito
 comum
 presenciarmos
 em
 parquinhos
 infantis
 discussões
 entre
 mães
porque
o
Joãozinho
tirou
o
brinquedo
do
Pedrinho
e
este
bateu
no
 outro.
 Se
 as
 mães
 encarassem
 como
 um
 processo
 normal
 de
 desenvolvimento
 infantil,
 com
 certeza
 abrandariam,
 e
 muito,
 os
 seus
 ânimos.
 O
próprio
fato
de
uma
criança
tirar
um
brinquedo
da
outra
faz
com
que
 ela
 vá
 percebendo
 que
 existe
 um
 outro
 que
 também
 tem
 desejos
 e
 opiniões
 que
 devem
 ser
 respeitados.
 E
 a
 intervenção
 da
 mãe
 pode
 querer
 dizer:
 “filho,
 você
 e
 seus
 desejos
 são
 únicos
 e
 não
 podem
 ser
 contrariados”,
com
o
agravante
de
que
a
criança
já
tem
esta
convicção
 em
mente,
de
que
todos
têm
opiniões
e
desejos
iguais
aos
seus.
 ‘Mamães’,
não
queiram
educar
seus
filhos
na
generosidade
como
meta
 nesta
fase,
afinal
é
muito
comum,
também,
as
mães
falarem
para
seus
 filhos:
 “você
 tem
 que
 emprestar
 seus
 brinquedos
 para
 seu
 amigo/irmão”.
 Chegará
 o
 momento
 propício
 para
 educá‐los
 em
 generosidade.
O
mais
importante
neste
momento
é
saber
identificar
as
 outras
 crianças
 com
 desejos,
 opiniões
 e
 brinquedos
 próprios
 e
 que
 devem
 ser
 respeitados.
 Mesmo
 porque,
 as
 crianças
 só
 conseguirão
 desenvolver‐se
bem
nas
próximas
etapas,
se
ganharem
a
maturidade
e
 autonomia
próprias
desta
fase.
 Num
 primeiro
 momento,
 na
 idade
 da
 obstinação
 se
 produz
 uma
 mudança
 decisiva:
 o
 despertar
 da
 consciência
 do
 ‘eu’
 manifestando
 o
 rompimento
simbiótico
da
criança
com
o
mundo
e
esta
individualidade,
 em
 relação
 ao
 ambiente,
 ela
 descobre
 através
 de
 um
 conhecimento
 prático,
e
não
teórico.
 14


O
 sintoma
 desta
 individualidade
 e
 consciência
 do
 ‘eu’
 é
 exatamente
 o
 uso,
pela
primeira
vez,
da
palavra
‘eu’,
enquanto
que
antes
só
falava
de
 si
na
terceira
pessoa.
 Marcas
características
da
idade
da
obstinação:
 •

Possessivos:
um
impulso
possessivo
que
não
se
refere
somente
às
 suas
 coisas,
 mas
 também
 em
 relação
 às
 pessoas.
 A
 criança
 quer
 que
as
pessoas
que
a
rodeiam,
especialmente
a
mãe,
se
dediquem
 exclusivamente
 à
 ela.
 A
 criança
 tem
 grande
 necessidade
 de
 carinho.

Egoísmo:
 é
 tarefa
 educativa
 importante
 não
 satisfazer
 todos
 os
 desejos
 da
 criança.
 Do
 contrário,
 o
 egoísmo
 se
 tornará
 marca
 permanente
de
seu
caráter.

Manifestações
 de
 diferenças
 dos
 sexos:
 os
 meninos
 querem
 ser
 admirados
 pelo
 que
 fazem,
 enquanto
 as
 meninas
 querem
 ser
 admiradas
pela
beleza
e
suas
roupas.

Independência:
 as
 crianças
 tem
 necessidade
 de
 ampliar
 seu
 universo
 de
 conhecimento
 e
 descoberta
 de
 lugares
 novos
 e
 maiores.
 Esta
 ampliação
 do
 raio
 de
 ação
 traz
 novos
 perigos:
 escapam,
sobem
em
árvores,
atravessam
ruas...

O
despertar
da
consciência
do
‘eu’
gera
o
despertar
da
‘vontade’.
 A
 criança
 começa
 a
 se
 dar
 conta
 de
 sua
 capacidade
 de
 querer
 e
 tenta
 fazer
 uso
 dela
 constantemente.
 No
 princípio,
 não
 possui
 o
 conhecimento
 dos
 valores
 e,
 por
 isso,
 não
 pode
 exercer
 uma
 conduta
 visando
 a
 um
 fim
 que
 tenha
 um
 valor
 em
 si,
 mas
 sim
 15


devido
 ao
 prazer
 que
 lhe
 produz.
 Isto
 explica
 a
 mudança
 constante
de
objetivos
com
tanta
facilidade.
 Nesta
 idade,
 a
 educação
 é
 fundamental
 para
 incutir
 os
 fundamentos
 para
a
posterior
formação
da
consciência.
Para
isso
são
necessárias
duas
 coisas:
a
criança
tem
de
se
submeter
às
imposições
e,
ao
mesmo
tempo,
 adquirir
a
consciência
da
sua
capacidade
de
livre
arbítrio.
Mas
no
início
 sua
 percepção
 moral
 é
 ainda
 ingênua.
 Capta
 o
 que
 é
 bom
 ou
 mal
 quando
está
de
acordo
com
as
ordens
e
proibições,
especialmente
dos
 pais.
 Os
 pais
 têm
 de
 saber
 a
 medida
 adequada
 entre
 a
 liberdade
 e
 a
 imposição.
 Por
 um
 lado,
 impor
 limites
 onde
 julgar
 absolutamente
 necessário
e
deixá‐los
livres
naquilo
que
se
pode
permitir.
 A
 criança
 tem
 de
 se
 submeter
 às
 imposições
 e,
 ao
 mesmo
 tempo,
 adquirir
a
consciência
da
sua
capacidade
de
livre
arbítrio.
 Uma
criança
nesta
idade
que
não
aprendeu
a
colocar‐se
em
seu
lugar
e
a
 renunciar
 a
 seus
 caprichos,
 não
 o
 saberá
 fazer
 depois
 e
 se
 tornará
 egoísta.
Ao
mesmo
tempo,
a
criança
que
tem
sua
vontade
paralisada
por
 incompreensões,
ou
castigos
corporais,
não
terá
força
nem
audácia
para
 defender
 seus
 justos
 objetivos.
 Será
 um
 adulto
 sem
 iniciativas
 e
 sem
 confiança
em
si
mesmo.

16


3.
A
Música
educa
 Por:
Álvaro
Siviero,
graduado
em
Física
pela
Universidade
de
São
Paulo
 com
 especialização
 em
 Educação
 Multicultural
 pelo
 Lesley
 College,
 Cambridge.

17


Faz
não
muito
tempo
participei
de
divertida
conferência
sobre
o
poder
 nutritivo
 dos
 alimentos.
 De
 modo
 natural,
 e
 com
 base
 científica,
 racionalizamos
 o
 óbvio:
 embora
 tudo
 possa
 ser
 ingerido,
 nem
 tudo
 faz
 bem.
O
famoso
‘junk
food’
comprovadamente
não
agrega
‐
com
todas
as
 suas
variações
de
frituras,
balas
e
alimentos
plásticos
–
valor
nutricional,
 embora
 todos
 nos
 permitamos
 a
 experimentá‐los
 alguma
 vez,
 ou
 no
 caso
de
alguns,
muitas
vezes
(que
o
digam
os
gordinhos
e
as
gordinhas!).
 Pois
bem,
afirmo
que
a
música
é
alimento
da
alma
humana
e
que,
por
 ser
expressão
criativa
e
sensível,
potencializa
a
criatividade
da
pessoa
e
 favorece
o
desenvolvimento
afetivo
e
emocional.

 É
interessante
verificar
que
a
audição
começa
a
se
desenvolver
a
partir
 do
 quarto
 mês
 de
 gestação
 e,
 antes
 mesmo
 do
 nascimento,
 o
 contato
 com
o
‘som
rítmico’
da
batida
do
coração
da
mãe
auxilia
o
feto
a
formar‐ se
 harmonicamente
 e
 a
 se
 sentir
 bem.
 Esse
 mesmo
 ‘som
 rítmico’
 –
 as
 batidas
 do
 coração
 da
 mãe
 ‐
 tranqüilizará
 o
 bebê
 quando
 houver
 estridências
 ao
 redor
 da
 criança.
 Suzuki,
 um
 exemplo
 entre
 muitos
 outros
 professores
 e
 estudiosos,
 chegou
 a
 comprovar
 a
 enorme
 facilidade
 que
 uma
 aluna
 sua
 de
 violino,
 de
 seis
 anos
 de
 idade,
 tinha
 para
 interpretar
 as
 peças
 que
 sua
 mãe
 havia
 escutado
 no
 período
 de
 gestação.
Uma
gestante
comunica‐se
com
o
filho
pelo
tato
e,
também,
 pela
música.
Este
fenômeno
é
conhecido
como
estimulação
precoce.
 O
cérebro
de
uma
criança
ao
nascer
tem
aproximadamente
10
milhões
 de
 neurônios,
 muitos
 deles
 ainda
 não
 conectados
 –
 a
 maioria
 –
 e
 que
 aguardam
 um
 estímulo
 necessário
 para
 que
 se
 integrem
 no
 circuito
 cerebral.
 Cientes
 de
 que
 desde
 o
 quarto
 mês
 da
 gestação
 o
 feto
 pode
 escutar,
 verifica‐se
 que
 a
 música
 tem
 influência
 direta
 no
 18


desenvolvimento
 da
 mente,
 por
 meio
 do
 estímulo
 auditivo.
 Não
 se
 refere
 aqui
 somente
 ao
 aspecto
 físico
 ‐
 o
 som
 que
 incide
 no
 ouvido
 e
 provoca
uma
reação
psicomotora
–
mas
à
provocação
de
uma
ativação
e
 conseqüente
desenvolvimento
do
pensamento.
As
estatísticas
mostram
 que,
 como
 tendência
 geral,
 os
 bebês
 expostos
 à
 música
 tendem
 a
 ser
 mais
 tranqüilos,
 com
 um
 sentido
 de
 curiosidade
 mais
 aguçado
 e
 com
 inteligência
e
imaginação
mais
criativas.

 Sabe‐se
 também
 que
 nos
 três
 primeiros
 anos
 de
 vida
 o
 cérebro
 desenvolve
50%
da
sua
capacidade.
Favorecendo
as
conexões
neuronais
 estamos,
 portanto,
 facilitando
 a
 aprendizagem:
 muitos
 músicos
 ‐
 como
 Bach,
 Mozart,
 Beethoven
 ‐
 asseguraram
 que
 seu
 amor
 à
 música
 lhes
 vinha
 do
 ambiente
 altamente
 musical
 em
 que
 viveram.
 Não
 se
 faz
 necessário
ter
um
dom
especial,
um
ouvido
especial,
para
que
isso
seja
 possível
 e
 o
 que
 se
 pode
 fazer
 com
 a
 música
 não
 é
 somente
 fruto
 de
 uma
habilidade
inata,
mas
também
dos
estímulos
que
se
recebeu.

 Muitos
 músicos
 ‐
 como
 Bach,
 Mozart,
 Beethoven
 ‐
 asseguraram
 que
 seu
amor
à
música
lhes
vinha
do
ambiente
altamente
musical
em
que
 viveram.
 Um
bebê
tem
experiências
musicais
desde
que
começa
a
ouvir:
algo
que
 cai,
a
batida
do
coração
da
mãe,
a
música
que
a
mãe
escuta
antes
que
 ele
nasça...
E
o
cérebro
da
criança
vai
assimilando
tudo
isso,
ao
mesmo
 tempo
em
que
vai
se
estruturando.
Oferecer
estridências
‐
ruídos,
sons
 desnorteados
 embebidos
 de
 gritaria
 –
 é
 contribuir
 para
 a
 criação
 da
 instabilidade
e
aumentar
a
insegurança
que
o
bebê
sente
em
relação
a
 um
mundo,
completamente
desconhecido
para
ele.
Dom
Campbell,
em
 sua
 obra
 O
 efeito
 Mozart
 para
 crianças,
 afirma
 que
 a
 música
 põe
 em
 19


conexão
a
parte
racional
do
ser
humano
com
a
sua
parte
emocional.
De
 fato,
 nos
 alegramos
 com
 a
 música
 alegre
 e
 protestamos
 diante
 da
 música
desagradável.
 Outras
 pesquisas
 afirmam
 que
 a
 música
 também
 tem
 a
 capacidade
 de
 ampliar
 a
 concentração.
 Verificou‐se
 que
 a
 montagem
 de
 um
 quebra‐ cabeça,
com
música
de
fundo,
tinha
seu
rendimento
dobrado,
o
que
não
 ocorria
quando
se
tinha
como
fundo
barulho
de
conversa,
de
TV,
de
uma
 máquina
de
lavar
roupas
acionada
etc.
Interessante
foi
a
experiência
de
 uma
 professora,
 em
 Madrid,
 que
 começou
 a
 utilizar
 música
 clássica
 tanto
para
realizar
a
troca
de
conteúdos
como
para
dar
algum
intervalo
 entre
as
atividades
e
verificou,
ao
final
do
terceiro
trimestre,
que
todos
 os
seus
alunos
permaneciam
nos
seus
locais,
serenamente
trabalhando,
 quando
havia
música
clássica,
mesmo
quando
se
fazia
necessário
deixar
 a
sala
de
aula
por
alguns
breves
minutos.
 Alguns
autores
afirmam
que
os
que
tocam
algum
instrumento
chegam
a
 ter
 mais
 facilidade
 de
 manifestar
 abertamente
 suas
 opiniões,
 pois
 o
 treino
 diário
 lhes
 capacita
 defender
 um
 ponto
 de
 vista
 musical
 e,
 inconscientemente,
 um
 crescimento
 em
 auto‐afirmação.
 Além
 disso,
 aprender
 a
 tocar
 um
 instrumento
 requer
 horas
 de
 prática
 e
 concentração
 e,
 se
 algo
 caracteriza
 a
 prática
 de
 um
 instrumento
 é
 a
 constância.
A
vida
é
em
realidade
uma
partitura
musical
onde
todos
têm
 a
sua
posição
–
como
fusas,
semibreves,
mínimas,
com
pausas
–
e,
com
 o
 trabalho
 diário
 e
 o
 nosso
 comportamento,
 vamos
 fazendo
 a
 melodia
 cotidiana
 para
 o
 qual
 fomos
 criados.
 Pela
 nossa
 liberdade,
 não
 nos
 esqueçamos,

podemos

desafinar:

comportamento.

 20

tudo

depende

de

nosso


A
 música
 clássica
 não
 é,
 portanto,
 música
 de
 entretenimento,
 mas
 de
 enriquecimento.
 Em
 uma
 sociedade
 evoluída
 –
 onde
 a
 família
 é
 sua
 primeira
 célula
 –
 esses
 dois
 conceitos
 costumam
 caminhar
 junto:
 a
 pessoa
se
entretém
no
enriquecimento.
Uma
sociedade
que
preza
como
 valores,
o
famoso
‘popular’,
valores
culturais
e
estéticos
que
não
vão
ao
 encontro
das
aspirações
humanas
torna‐se
cúmplice
e
responsável
pelo
 que
 semeia.
 A
 música
 popular
 ‐
 a
 música
 típica
 de
 um
 povo
 –
 pode
 e
 deve
 ser
 questionada
 quando
 o
 resultado
 de
 sua
 absorção
 desedifica,
 desumaniza,
 embrutece.
 E
 é
 isso
 o
 que
 verificamos
 nos
 dias
 atuais,
 infelizmente.
 O
 nível
 cultural
 e
 humano
 do
 nosso
 país
 está
 bastante
 baixo!
 Em
 uma
 sociedade
 evoluída
 –
 onde
 a
 família
 é
 sua
 primeira
 célula
 –
 esses
dois
conceitos
costumam
caminhar
juntos:
a
pessoa
se
entretém
 no
enriquecimento
 O
 crítico
 Arthur
 Nestrovsky
 afirmou
 que
 “a
 música
 clássica
 é
 –
 no
 domínio
 dos
 sons
 –
 o
 que
 é
 a
 literatura
 no
 domínio
 das
 palavras.
 O
 ouvinte
 lê
 com
 os
 ouvidos
 e,
 naturalmente,
 não
 necessita
 ser
 alfabetizado
em
música.
Desprezar
a
chance
de
ouvir
Bach,
Mozart,
seria
 o
mesmo
que
proibir
a
si
mesmo
a
leitura
de
Shakespeare”.
E
continua:
 “O
 que
 é
 preciso
 para
 conhecer
 música
 clássica?
 Começar.
 Todo
 o
 repertório
virtualmente
inteiro
em
CDs,
transmissões
por
rádio
e
TV
e
o
 crescente
número
de
apresentações
tornam
cada
vez
mais
fácil
o
cultivo
 da
verdadeira
música.
A
idéia
de
se
embrenhar
pode
ser
amedrontadora,
 mas
 a
 porta
 de
 entrada
 é
 tão
 vasta
 que
 ninguém
 precisa
 ser
 ‘erudito’
 para
 ouvir
 compositores
 eruditos.
 O
 que
 é
 necessário
 é
 interesse,
 sem
 preconceitos”.

 21


A
própria
filosofia
–
enquanto
ciência
–
afirma
que
toda
pessoa
adulta
já
 teve,
 alguma
 vez,
 a
 experiência
 do
 encontro
 com
 coisas
 belas,
 com
 a
 formosura:
 uma
 estória
 preciosa,
 uma
 aula
 fascinante,
 uma
 garota
 maravilhosa.
 Todos
 esses
 adjetivos
 retratam
 o
 Belo,
 a
 Beleza.
 O
 pulchrum
 ‐
 braço
 filosófico,
 iniciado
 no
 século
 XVIII,
 que
 busca
 o
 aprofundamento
 e
 intelecção
 do
 Belo
 –
 afirma
 a
 existência
 de
 formosuras
 profundas
 e
 ricas.
 Outras
 mais
 de
 superfície:
 essas
 comumente
 designadas
 pelo
 termo
 latino
 bellus
 ‐
 bonito,
 encantador;
 enquanto
 aquelas
 pelo
 termo
 pulchrum,
 derivativo
 do
 grego
 polikroon
 que
analisa
a
harmonia
plural
do
humano.
Entre
esses
dois
extremos
–
o
 bellus
e
o
pulchrum
–
há
uma
grande
possibilidade
de
opções.
 A
 vida
 é
 feita
 de
 escolhas
 e
 a
 pessoa
 verdadeiramente
 livre
 sempre
 acaba
optando
pelo
melhor.
Fica
o
convite.

22


23


4.
Aprendendo
a
ler
 Por:
 Carmen
 Silvia
 Porto,
 Máster
 em
 Matrimônio
 e
 Família
 pela
 Universidade
de
Navarra/Espanha.

 O
 processo
 de
 aprender
 a
 ler
 pode
 ter
 início
 muito
 antes
 da
 alfabetização.
 Reconhecer
 palavras
 individuais
 e
 compreender
 que
 elas
 representam
 um
 objeto
 ou
 uma
 idéia
 é
 um
 passo
 básico
 na
 aprendizagem
da
leitura.
Descobrir
a
capacidade
de
representarem
uma
 idéia
mais
complicada
já
é
um
passo
adicional
e
muito
importante.
 Existem
 três
 importantes
 áreas
 da
 inteligência
 humana
 que
 se
 ocupam
 do
aspecto
intelectual:
a
leitura,
o
conhecimento
geral
e
a
matemática.
 A
 mais
 importante
 delas
 é
 a
 leitura,
 por
 onde
 deve
 começar
 todo
 o
 aprendizado.
Ela
é
a
base
do
desenvolvimento
da
inteligência
dos
nossos
 filhos.
Portanto,
o
primeiro
passo
para
multiplicar
a
inteligência
do
bebê
 consiste
em
ensiná‐lo
a
ler.
 O
 primeiro
 passo
 para
 multiplicar
 a
 inteligência
 do
 bebê
 consiste
 em
 ensiná‐lo
 a
 ler.
 O
 alicerce
 de
 toda
 inteligência
 é
 formado
 pelos
 ‘fatos’
 (unidade
 mínima
 de
 informações),
 ou
 seja,
 sem
 eles
 não
 pode
 haver
 inteligência.
 O
número
de
fatos
que
podemos
armazenar
está
limitado
pelo
numero
 de
 células
 de
 memória
 que
 contem.
 A
 cada
 novo
 fato,
 o
 número
 de
 respostas
que
podemos
obter
aumenta
numa
curva
exponencial.

 As
 palavras
 são
 fatos,
 os
 números
 são
 fatos
 e
 as
 imagens
 são
 fatos,
 especialmente
se
forem
precisos,
não
ambíguos
e
certos.

 24


A
idade
para
começar
a
ler
depende
dos
pais
(não
do
bebê),
mas
quanto
 antes
 melhor.
 Com
 três
 meses
 de
 vida,
 já
 é
 possível
 iniciar
 o
 processo,
 embora
a
idade
ideal
seja
um
ano.
Depois
disso,
a
leitura
se
faz
cada
vez
 mais
difícil.

 Com
três
meses
de
vida,
já
é
possível
iniciar
o
processo,
embora
a
idade
 ideal
 seja
 um
 ano..
 A
 criança
 de
 menos
 de
 cinco
 anos
 tem
 uma
 tremenda
quantidade
de
energia
e
um
enorme
desejo
de
aprender.
Esta
 criança
pode
aprender
a
ler
e
quer
fazê‐lo.
Pode
aprender
uma
ou
mais
 línguas
completas
com
a
mesma
facilidade
que
entende
a
língua
falada.
 Algumas
regras:
 •

Jogo:
 O
 aprendizado
 da
 leitura
 deve
 ser
 focado
 como
 um
 jogo.
 Não
 podemos
 esquecer
 que
 o
 aprendizado
 é
 o
 jogo
 mais
 interessante
 da
 vida
 e
 não
 um
 trabalho.
 A
 prender
 é
 uma
 recompensa,
não
um
castigo,
um
prazer
e
não
uma
tarefa.

Tempo:
 O
 tempo
 empregado
 nos
 exercícios
 deve
 ser
 curto.
 No
 início,
três
vezes
ao
dia
e
por
alguns
minutos
apenas,
antes
que
a
 criança
 queira
 finalizar.
 Desta
 maneira,
 a
 criança
 voltará
 a
 pedir
 para
recomeçar
o
jogo
naturalmente.

Materiais:
 Cartões
 brancos,
 rígidos,
 onde
 escreveremos
 as
 palavras
 a
 serem
 utilizadas,
 que
 devem
 ser
 escritas
 com
 canetas
 de
ponta
grossa,
de
maneira
clara
e
com
um
estilo
constante.

Ao
 redor
 das
 letras
 deve
 ser
 mantida
 uma
 margem
 de
 pelo
 menos
 1,2
 cm.
Os
materiais
começam
com
letras
minúsculas,
vermelhas
e
grandes
 e
 progressivamente
 vão
 mudando
 até
 minúsculas
 pretas
 de
 tamanho
 25


normal.
 Isto
 é
 para
 que
 o
 caminho
 visual
 da
 criança
 amadureça
 e
 seja
 capaz
 de
 apreciar
 as
 impressões
 menores
 que
 se
 apresentam
 o
 seu
 cérebro.

 Para
 ensinar,
 num
 primeiro
 momento,
 15
 palavras
 bastam.
 Conforme
 eles
vão
aprendendo,
podemos
avançar.
O
mais
fácil
e
eficaz
é
começar
 com
 as
 palavras
 ‘mamãe’,
 ‘papai’,
 o
 nome
 da
 criança
 etc.
 Devem
 ser
 termos
 familiares
 e
 objetos
 que
 rodeiam
 a
 criança.
 É
 bom
 incluir
 os
 nomes
 dos
 membros
 da
 família,
 animais
 domésticos,
 alimentos
 favoritos,
objetos
da
casa
e
atividades
preferidas.
 Coloque
 a
 palavra
 ‘mamãe’
 longe
 de
 seu
 alcance
 e
 diga
 a
 ele
 ‘isto
 diz
 mamãe’,
sem
nenhuma
outra
descrição
e
sem
pedir
que
repita.
Depois
 da
quinta
palavra,
manifeste
afeto
e
dê
beijos.
Durante
o
primeiro
dia,
 repita
isso
três
vezes,
separando
as
sessões
por
meia
hora.
Ao
decorrer
 dos
dias,
o
segredo
é
aumentar
as
sessões
gradativamente,
até
chegar
a
 nove
sessões.
 Com
 estes
 exercícios,
 o
 caminho
 visual
 e
 seu
 cérebro
 são
 capazes
 de
 diferenciar
 um
 símbolo
 escrito
 de
 outro.
 Consegue‐se,
 também,
 o
 domínio
da
abstração
mais
notável:
ler
palavras.
 Quando
a
criança
aprende
as
palavras
de
um
livro,
ela
fica
maravilhada
e
 descobre
o
grande
segredo
de
que
este
livro
está
falando
com
ela
e
só
 para
ela.
A
partir
desta
descoberta,
as
crianças
conseguem
entender
que
 as
 palavras
 conhecidas
 podem
 dispor
 de
 tal
 forma
 que
 se
 criam
 idéias
 totalmente
 novas.
 Não
 precisam
 aprender
 uma
 nova
 série
 de
 palavras
 cada
vez
que
lêem
outro
texto.

26


É
 uma
 descoberta
 muito
 importante.
 Poucos
 momentos
 de
 sua
 vida
 poderão
 comparar‐se
 a
 isto.
 Agora
 a
 criança
 pode
 ter
 alguém
 que
 fale
 com
ela
de
uma
nova
maneira,
novas
conversações...
E
isso
em
qualquer
 momento
 desejado,
 basta
 pegar
 um
 livro
 novo.
 Ela
 começa
 a
 perceber
 que
tem
à
sua
disposição
todo
o
conhecimento
do
homem:
não
só
das
 pessoas
 que
 conhece
 em
 sua
 casa,
 mas
 também
 de
 pessoas
 distantes
 que
nunca
verá.
Pode
aproximar‐se
de
pessoas
que
viveram
no
passado,
 em
outros
lugares,
outras
épocas...
E
isso
é
fascinante!
 
 Exercícios
práticos:
 •

Ler
 um
 livro
 real.
 Uma
 palavra,
 uma
 frase
 e
 uma
 página
 de
 cada
 vez.
A
escolha
do
livro
é
muito
importante;

Deve
 ter
 um
 vocabulário
 que
 não
 ultrapasse
 cento
 e
 cinqüenta
 palavras;

Não
ter
mais
de
quinze
ou
vinte
palavras
em
uma
só
pagina;

As
letras
impressas
não
devem
ter
mais
de
0,6
cm
de
altura;

O
 texto
 e
 as
 ilustrações
 devem
 ter
 o
 máximo
 de
 separação
 possível.

Estes
exercícios
melhoram
o
crescimento
cerebral
e
o
desenvolvimento
 dos
caminhos
visuais.
 O
alfabeto:
será
muito
fácil
de
ser
reconhecido
depois
de
ter
aprendido
 as
 palavras.
 Todo
 ensinamento
 afirma
 que
 se
 deve
 iniciar
 com
 o

27


conhecido
e
o
concreto,
depois
passarem
para
o
novo
e
o
desconhecido
 e,
por
fim,
chegar
ao
abstrato.
 Nada
pode
ser
mais
abstrato
para
um
cérebro
de
dois
anos
que
a
letra
 ‘A’.
 Ler
 letras
 é
 muito
 difícil,
 porque
 não
 se
 come
 um
 ‘a’,
 não
 se
 veste
 um
 ‘a’...
 Pode‐se
 comer
 uma
 fruta
 ou
 vestir
 uma
 camisa.
 Ainda
 que
 as
 letras
 que
 formam
 a
 palavra
 bola
 sejam
 abstratas,
 a
 bola
 não
 o
 é,
 por
 isso
é
mais
simples
apreender
a
palavra
que
as
letras.
 Ainda
que
as
letras
que
formam
a
palavra
bola
sejam
abstratas,
a
bola
 não
o
é,
por
isso
é
mais
simples
apreender
a
palavra
que
as
letras.

28


29


5.
 Consumismo
 na
 infância:
 Um
 assunto
 que
 merece
cuidado
e
atenção
 Por:
Lais
Fontenelle
Pereira,
mestre
em
Psicologia
Clínica
pela
PUC‐Rio,
 autora
 da
 Coluna
 Consumindo
 Ideias
 na
 Folhinha
 e
 coordenadora
 de
 Educação
e
Pesquisa
do
Projeto
Criança
e
Consumo
do
Instituto
Alana.
 Publicidade
 na
 TV.
 Ações
 de
 marketing
 dentro
 de
 escolas.
 Produtos
 licenciados.
 Embalagens
 chamativas...
 A
 infância
 foi
 mercantilizada
 e
 essas
 são
 somente
 algumas
 técnicas
 de
 comunicação
 mercadológica
 usadas
 para
 atrair
 os
 olhares
 e
 os
 corações
 de
 nossas
 crianças
 ‐
 tão
 vulneráveis
 e
 indefesos
 frente
 ao
 apelo
 de
 mercado.
 Nosso
 tempo
 é
 urgente,
 ácido,
 fugaz
 e
 contrário
 à
 construção
 de
 experiência
 da
 infância,
 que
 nos
 remete
 ao
 encantamento,
 aos
 questionamentos
 e
 às
 descobertas.
É
o
tempo
do
agora,
do
consumo
e
da
descartabilidade,
no
 qual
 o
 verbo
 foi
 substituído
 pela
 imagem,
 o
 afeto
 pelo
 presente
 e
 a
 criança
pelo
consumidor
‐
antes
mesmo
de
estar
apta
ao
exercício
pleno
 da
cidadania.
A
infância
de
hoje
é
precoce.
 Mães
 com
 dupla
 jornada
 de
 trabalho,
 pais
 com
 agendas
 lotadas,
 ruas
 violentas
 e
 sem
 espaço
 para
 as
 brincadeiras
 são
 outros
 aspectos
 da
 realidade
vivenciada
pela
criança
contemporânea,
que
está
confinada
a
 espaços
 privados,
 na
 ilusão
 de
 estar
 protegida.
 Outra
 pedagogia
 se
 instalou:
 a
 das
 mídias
 como
 a
 TV,
 os
 celulares
 e
 a
 internet,
 que
 falam
 diretamente
 com
 os
 pequenos.
 Dessa
 forma,
 a
 criança
 passou
 a
 compartilhar
 segredos
 e
 histórias
 antes
 restritos
 ao
 universo
 adulto.
 O
 uso
dessas
mídias
não
necessita
de
uma
alfabetização
formal:
basta
ligar
 um
botão
e
pronto!
A
criança
acessa
o
mundo.

 30


A
 autoridade
 e
 os
 modelos
 anteriormente
 ligados
 à
 família
 e
 à
 escola
 parecem
 ter
 sido
 substituídos
 pelos
 modelos
 de
 consumo.
 As
 crianças
 desejam
ser
como
os
ídolos
das
telinhas
e
se
identificam
com
estes
pela
 posse
 de
 objetos.
 As
 mídias
 ocuparam
 o
 lugar
 de
 ditar
 os
 caminhos
 da
 infância,
 mas
 não
 assumiram
 esse
 papel
 pensando
 no
 bem‐estar
 das
 crianças.
O
mercado
enxergou
no
abandono
de
nossos
filhos
em
frente
 às
 telas
 uma
 chance
 de
 aumentar
 seus
 lucros
 e
 passou,
 então,
 a
 endereçar
mensagens
que
se
aproveitam
da
vulnerabilidade
infantil
e
da
 falta
de
abstração
de
pensamento
das
crianças
para
vender.
 As
 crianças
 desejam
 ser
 como
 os
 ídolos
 das
 telinhas
 e
 se
 identificam
 com
estes
pela
posse
de
objetos
 A
 publicidade
 não
 endereça
 às
 crianças
 somente
 mensagens
 de
 produtos
 ligados
 ao
 universo
 infantil,
 mas
 também
 de
 objetos
 adultos.
 Segundo
 pesquisa
 da
 Interscience
 de
 2003,
 as
 crianças
 influenciam
 em
 80%
 dos
 processos
 decisórios
 das
 compras
 da
 família,
 tornando‐se
 promotoras
de
venda
dentro
de
casa.
No
entanto,
elas
são
ainda
frágeis
 diante
das
ilusões
do
mundo
midiático.
Até
mais
ou
menos
os
seis
anos,
 ainda
 misturam
 a
 programação
 televisiva
 com
 os
 comerciais.
 Por
 isso
 precisam
ser
não
só
protegidas,
mas
preparadas
para
esse
novo
mundo.
 A
criança
brasileira
é
a
que
mais
assiste
à
televisão.
Segundo
dados
do
 IBOPE
de
2008,
ela
passa,
em
média,
quase
5
horas
do
dia
em
frente
às
 telas.
 Assim,
 essa
 mídia
 passou
 a
 ter
 o
 poder
 não
 só
 de
 entreter:
 de
 informar
 e
 educar
 também!
 Mas,
 a
 televisão,
 sendo
 o
 principal
 veículo
 da
publicidade,
educa
para
o
consumismo
e
não
para
a
cidadania.
Passa
 valores
materialistas:
‘é
preciso
ter
para
ser’.
Seus
efeitos
transcendem

31


as
fronteiras
do
aparelho
e
afetam
diretamente
a
formação
subjetiva
de
 nossas
crianças.
 Antigamente,
 quem
 sabia
 o
 que
 a
 criança
 precisava
 eram
 seus
 cuidadores.
Hoje,
quem
dita
as
regras
parece
ser
o
consumo.
Isto
posto,
 fica
 claro
 que
 os
 pais
 devem
 voltar
 a
 ‘tomar
 as
 rédeas’
 de
 sua
 função
 social
 junto
 às
 crianças,
 de
 formar
 agentes
 autônomos,
 criativos
 e
 críticos.
 O
 resgate
 do
 diálogo
 entre
 adultos
 e
 crianças
 é
 imprescindível
 para
o
resgate
da
infância,
enquanto
um
tempo
de
formação
de
hábitos.
 A
criança
será,
em
função
do
tempo
em
que
vivemos,
uma
consumidora
 no
futuro,
logo,
além
da
função
do
Estado
de
protegê‐la
legalmente
da
 comunicação
 mercadológica
 que
 lhes
 é
 dirigida,
 a
 família
 precisa
 prepará‐la
 para
 que
 seja
 uma
 cidadã
 e
 uma
 consumidora
 responsável.
 Precisamos,
 como
 pais
 e
 principais
 modelos,
 pensar
 sobre
 nossos
 próprios
hábitos
de
consumo,
além
de
educar
nossas
crianças
para
que
 tenham
responsabilidade
ao
comprar.
Nosso
discurso
deve
ser
coerente
 com
 nossos
 atos...
 Por
 isso,
 antes
 de
 consumir,
 temos
 que
 pensar
 se
 realmente
precisamos
daquele
item
e
nos
impactos
que
nosso
consumo
 individual
gera
na
vida
coletiva.
Se
vivenciamos
hoje
grandes
catástrofes
 e
problemas
ambientais,
tais
como
devastação
de
florestas,
extinção
de
 espécies
 animais,
 acúmulo
 de
 lixo
 em
 localidades
 urbanas
 e
 as
 mudanças
 climáticas,
 é
 porque,
 além
 de
 não
 pensarmos
 nas
 consequências
 de
 nossas
 atitudes,
 estamos
 permitindo
 que
 nossas
 crianças
 sejam
 educadas
 para
 um
 consumo
 desenfreado.
 Que
 infância
 queremos?

32


Como
 pais
 e
 principais
 modelos,
 precisamos
 pensar
 sobre
 nossos
 próprios
hábitos
de
consumo,
além
de
educar
nossas
crianças
para
que
 tenham
responsabilidade
ao
comprar.
 Nossas
crianças
precisam
ser
priorizadas
em
nossa
casa
e
em
nosso
país.
 É
o
que
prevê
o
Art
227
de
nossa
Constituição
Federal,
que
diz:
“É
dever
 da
 família,
 da
 sociedade
 e
 do
 Estado
 assegurar
 à
 criança
 e
 ao
 adolescente,
 com
 absoluta
 prioridade,
 o
 direito
 à
 vida,
 à
 saúde,
 à
 alimentação,
 à
 educação,
 ao
 lazer,
 à
 profissionalização,
 à
 cultura,
 à
 dignidade,
 ao
 respeito,
 à
 liberdade
 e
 à
 convivência
 familiar
 e
 comunitária”.
 Criança
 precisa
 ter
 infância
 para
 ser
 criança.
 Precisa
 do
 olhar,
 da
 palavra,
 do
 acolhimento
 e
 da
 escuta.
 Precisa
 brincar.
 Ela
 precisa
ser
ouvida
nos
seus
reais
anseios,
portanto
resgate
em
você
sua
 própria
infância
para
ouvir
nossas
crianças.
Recupere
o
diálogo
com
seus
 filhos.
Esteja
mais
presente
e
dê
menos
presentes.
Tire‐as
da
frente
das
 telas.
 Brinquem.
 Passe
 valores
 mais
 humanos
 e
 menos
 consumistas.
 Comece
a
honrar
a
infância
dentro
de
casa.

33


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