Primeiro Emprego

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A história da sociedade brasileira nos últimos 50 anos, contada através do primeiro emprego The history of the Brazilian Society for 50 years, told by the first job



Ministério do Turismo e Arcos Dourados apresentam

A história da sociedade brasileira nos últimos 50 anos, contada através do

primeiro emprego The history of the Brazilian Society for 50 years, told by the first job

Cristina Ávila

ADP Editora 2020


A história da sociedade brasileira nos últimos 50 anos, contada através do

primeiro emprego The history of the Brazilian Society for 50 years, told by the first job

Produção Editorial / Editorial Production: Francisco Caram Coordenação editorial/ Pesquisa Histórica e Textos / Historical Reserch and Texts: Cristina Ávila Auxiliares de Pesquisa / Research Assistents: Lúcia Oliveira e Moema Quites Entrevistas / Interviews: Maria Caram Revisão / Text Revision: Michel Ganan Tradução / Translation: Pedro Ávila e Maria Duarte Projeto Gráfico e diagramação / Graphic Design and Layout: Sérgio Luz Fotografia / Photography: Isabel Ávila Assistentes de Produção / Production Assistents: Vanessa Toledo Produção Executiva / Executive Production: Daniel Heluy Caram

ÁVILA, Cristina. A história da sociedade brasileira nos últimos 50 anos, contada através do primeiro emprego / Cristina Ávila. – Belo Horizonte: Associação de Desenvolvimento de Projetos, 2020. 225 p : il. (fotos., color) ; 28 cm.

1. Emprego - Brasil. 2. Trabalho - Aspectos sociais - Brasil. 3.

Brasil - História. 4. Jovens - Emprego. I. Título. CDD – 981


SUMÁRIO INTRODUÇÃO 9 REFERÊNCIAS HISTÓRICAS E O TRABALHO COMO MEIO DE VIDA

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A cultura italiana no Brasil

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Anarquismo e trabalho

23

O Capitalismo e o Emprego

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Industrialização 29 Indústria brasileira

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As condições de trabalho e o movimento operário no Brasil

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A CLT

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Constituição de 1937

43

Salário Mínimo

47

São Paulo polo de atração da migração nordestina

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Getúlio Vargas e a política da boa Vizinhança

57

A volta de Vargas

59

Plano de Metas de Jk e o trabalho

67

Jânio Quadros e a Renúncia

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João Goulart

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AS MULHERES E O TRABALHO

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A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E AS NOVAS FÓRMULAS DE TRABALHO

89

McDonald’s 105

ENTREVISTAS Década de 1970

109

Década de 1980

121

Década de 1990

138

Década de 2000

159

Década de 2010

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LINHA DO TEMPO 193


AGRADECIMENTOS Acknowledgements Arquivo Nacional do Rio de Janeiro Acervo Edson Arantes do Nascimento (Pelé) Arquivo Museu Nacional do Rio de Janeiro Arquivo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC/FGV) Acervo Casa Rui Barbosa Acervo Museu do Imigrante Acervo Museu de Artes e Ofícios de Belo Horiaonte Museu de Arte de São Paulo Acervo Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicação - São Paulo Acervo Tribunal Regional Eleitoral/Paraná Portal Mundo Negro Instituto Cultural Amilcar Martins Entrevistados / Interviewed: Rachel Morais de Matos Antonio Maria de Oliveira Wagner Cerqueira Lúcio Marcelo Costa Braga David dos Reis Ricardo Henrique Ramiro Gabriela Borghi João Caram Cíntia Aparecida de Almeida Cilene Godinho Marko Soraya Madeira Claudio Valentin Acácio Silva Ribeiro Layla Marques Jodison Moreira Fernanda Campos Isadora Boerger

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SUMMARY INTRODUCTION 10 HISTORICAL REFERENCES AND LABOUR AS A MEANS OF LIFE

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The Italian culture in Brazil

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Anarchism and Labour

22

Capitalism and employment

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Industrialization 28 Brazilian industry

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The working conditions and the labour movement in Brazil

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The CLT

40

Constitution of 1937

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Minimum wage

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São Paulo centre of attraction for northeastern migration

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Getúlio Vargas and the good neighbour policy

56

The return of Vargas

58

JK’s populism

62

JK’s Goals Plan and labour

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Jânio Quadros and the Resignation

70

João Goulart

72

WOMEN AND LABOUR

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ARTIFICIAL INTELLIGENCE AND THE NEW WORKING METHODS

88

PERMACULTURE 96 McDonald’s 104 INTERVIEWS The 1970’s

105

The 1980’s

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The 1990’s

133

The 2000’s

155

The 2010’s

175

TIMELINE 189

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INTRODUÇÃO

N

a jornada da vida é impossível não lembrar como a primeira experiência é marcante e pode ajudar na definição do futuro. Desde o primeiro passo, seguido do primeiro tombo, as primeiras vezes nos ensinam não somente a como ter sucesso, mas também que é possível errar e recomeçar, em uma contínua busca pela superação. Um círculo virtuoso baseado em aprendizados. Porém, segundo a etimologia da palavra, para todos os povos, excetuando os de língua inglesa, trabalho é algo obrigatório feito por obrigação (alemães) ou mesmo através de tortura (portugueses, espanhóis ou franceses). Para os ingleses o trabalho pode ser algo como uma ocupação penosa, mas produtiva. Nas línguas latinas a palavra trabalho (trabajo – es, travail – fr, lavoro – it) tem uma origem etimológica certa que vem de duas correntes, em português, espanhol e francês. Ela se origina no vocábulo latino tripalium que era, nada mais, nada menos que um instrumento de tortura formado por três paus que serviam para estripar os torturados. No italiano, por mais incrível que pareça, é o que mais foge das outras, lavoro é associado a Fadiga, ou seja, cansaço. No alemão, a palavra Arbeit, vem diretamente das palavras servidão ou escravidão. Por outro lado, no inglês se tem três palavras para definir a mesma coisa, Work, Job e Labor, sendo que há inclusive para a palavra Work diferentes origens e diferentes significados, desde fazer algo, ou ação do inglês arcaico, ou simplesmente fazer algo do alemão arcaico. Já Job, bem mais recente, seria uma parte de um trabalho como um serviço temporário, a terceira palavra, Labor, vem do latim, laborem, que carrega um sentido mais pesado de esforço, dor e fadiga. Como podemos ver os povos latinos acham o trabalho uma verdadeira tortura e associam como uma forma dos aristocratas obrigarem os escravos a 9


INTRODUCTION

I

n the journey of life, it is impossible not to remember how a first experience is remarkable and can help in defining the future. Since the first step, followed by the first tumble, the first times teach us how to be successful, as well as that it is possible to make mistakes and restart, in an ongoing search for overcoming. A virtuous circle based in continuous learnings. With that said, according to the word’s etymology, for all peoples, excluding the English language ones, work is something mandatory done by obligation (German) ou even through torture (Portuguese, Spanish or French). For the English, work can be something like a laborious occupation, yet productive. In the Latin languages, the word for work (trabalho - PT, trabajo ES, travail - FR, lavoro - IT) has a certain etymological origin that comes from two currents. In Portuguese, Spanish and French it has its origin in the Latin vocable “TRIPALIU”, which was nothing less than a torture instrument formed by three poles that were used to disembowel the tortured ones. In Italian, as unlikely as it may seem, the word “lavoro” is the one whose origin is farthest from the other’s, being associated with fatigue, that is, tiredness.

Baixo relevo do “tripalium” Image in bas-relief of the “tripalium”

In German, the word “arbeit”, comes directly from the words for servitude or slavery. On the other hand, in English there are three words that are used to define the same thing, “work”, “job” and “labor”, while “work” has different origins and meanings, ranging from “doing something”, or “action” in arcaic English, or just “doing something” in arcaic German. Now “Job”, a much more recent word, would a part of a task, something like a temporary work, while the third word, “labor”, has its origin in Latin, “laborem”, which bares a heavier meaning of effort, pain and fatigue. As we can see, the Latin peoples see work as a true torture and associate it to the way the aristocrats forced the slaves to work. For the Germanic peoples, work is almost a servitude, something mandatory to the slave or servant. With time this negative connotation of work has softened, especially through the benefits of labor laws.

Afiador de tesoura e faca, sec.XIX, Museu de Artes e Ofício de BH Scissor and knive sharpener, 19th century, Museu de Artes e Ofício, Belo Horizonte

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Cartaz em resposta a nova lei dos pobres, 1834, s/a, National Archives, Londres Poster in response to the new poor law act, Anon, 1834, National Archives, London

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In a country, such as Brazil, filled with young people, in which 25% of the population is between the ages of 14 and 29, it is important that one of the first experiences be not only valued but encouraged: the first job. Today, Brazil counts on programs such as the Law of Learning and the Law of Internship, which direct the youth to activities that may end up being a passport for the employment market and provide a way for theory to become practice, turning the youth into professionals.

by the companies. The can learn on the job and, many times, are able to apprehend the corporate values, being a great candidate for future opportunities in the same place where they started their journey. The companies, even if they are seemingly only opportunity barns, also benefit from this: they stand out in the society by obeying the laws, fulfilling an important social role and contributing especially for the future of the youth and the country. But it doesn’t stop there: the newbies in the workplace, alongside the expertise of longstanding collaborators, may be the perfect measure for innovation and procedural improvements. Many great ideas can emerge from this contact, with changes that may optimize costs and even generate new businesses.

To give the opportunity of the first job is to feedback the employment market with more competent professionals, which have the possibility to learn the importance of the behavioral components, as well as of education as a fundamental tool for the making of a solid career to practice with plenitude your duties in relation to the society.

Today, entrepreneurship has taken an important role, revealing new talens, new means of knowledge propagation, commerce and publicity. We are in a new era, wherein the facets of information technology and its social networks implement the digital labour.

The youth has contact with new models, and empowers themselves to be the protagonist of their own story. They become more prepared for the challenges of the future, and can adapt to the characteristics expected

Projeto Jovem Aprendiz, trabalho mecânico, lei 10.097/2000 Projeto Jovem Aprendiz (Young Apprentice Project), mechanical labour, decree n.10.097/2000

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trabalharem. Para os germânicos, o trabalho é quase uma servidão, algo obrigatório ao escravo ou servo. Com o tempo este sentido negativo de trabalho se amenizou, principalmente com os benefícios das leis trabalhistas.

Ele se torna mais preparado para os desafios do futuro, e pode se moldar com as características solicitadas pelas companhias. Aprende fazendo e, muitas vezes, consegue-se absorver os valores empresariais, sendo um ótimo candidato para futuras oportunidades no mesmo lugar em que iniciou sua jornada.

Em um país, como o Brasil, repleto de jovens, no qual 25% da população possui entre 14 e 29 anos, é importante que uma das primeiras experiências não seja somente valorizada, mas incentivada: o primeiro emprego. Hoje, o Brasil conta com programas como a Lei da Aprendizagem e a Lei do Estágio, que direcionam os jovens para atividades que podem ser o passaporte para o mercado de trabalho e proporcionam que a teoria vire prática, o que vai tornar o jovem um profissional.

As empresas, apesar de parecerem apenas celeiros de oportunidades, também se beneficiam: destacam-se na sociedade ao cumprirem as leis, realizam um propósito social importante e contribuem de maneira especial para o futuro desses jovens e do país. Mas não para por aí: o sangue novo no ambiente de trabalho, junto com a experiência dos colaboradores com mais tempo de casa, pode ser a medida exata para a inovação e melhoria de processos. Muitas boas ideias podem surgir desse contato, com mudanças que podem otimizar custos ou até gerar novos negócios.

Dar a oportunidade do primeiro emprego é retroalimentar o mercado de trabalho com profissionais mais competentes, que têm a possibilidade de aprender a importância não só dos fatores comportamentais, mas da educação como ferramenta fundamental para a construção de uma carreira sólida e para exercer com plenitude seus deveres em relação à sociedade.

Hoje o empreendedorismo assumiu papel importante, revelando novos talentos, novas formas de transmissão de conhecimento, comércio e publicidade. Estamos numa nova era onde as facetas da informática e suas redes sociais implementam o emprego digital.

O jovem tem contato com novos modelos, e se empodera para ser protagonista de sua história.

Caixa de engraxate, s/d, coleção Edson Arantes do Nascimento (Pelé) Shoe shine box, n.d., from the collection of Edson Arantes do Nascimento (Pelé)

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HISTORICAL REFERENCES AND LABOUR AS A MEANS OF LIFE

I

n colonial Brazil, slavery began with the indigenous people, but since they couldn’t adapt to the services of manual labour, the colonizers, in the short term, resorted to the black Africans, whom were used in the mines and plantations: by day they would perform hebitual tasks and by night they would haul cane and wood, molds, purified, grind and package the sugar. The same system was maintained in the famous coffee plantations. The slave trade went on to having intercontinental routes, in the moment in which the Europeans started colonizing other continents, in the 16th century and, for instance, regarding the Americas, where the local peoples weren’t willing to be subjugated, it was necessary to import manpower, especially from Africa. At that time, many African kingdoms began capturing and selling slaves to the Europeans. In some Brazilian territories, the indians got to be even more essential than the Africans, as manpower. In the Captaincy of São Paulo, up until the end of the 17th century it was very uncommon to find black people and the documents of that time that used the term “blacks of the land”, actually made reference to the indians. With the emergence of Neoliberalism and of economic sciences in Europe, slavery began to be considered unproductive and morally incorrect. The slavery in continental Portugal was forbidden in 12th of february of 1761 by the Marquis of Pombal. In Brazil were implemented laws that were motivated to gradually release the slaves. The republican ideal that influenced several students that went to Coimbra (in Portugal) to graduate changed the facet of the political-economical nature inciting the liberals to protest, particularly through the incipient press, flyers, newspapers and advertisements that went from hand to hand, or through public speeches in squares, open sites and urbanized streets. The pressure became so great that the economical difficulties generated by slavery were widely discussed. But, since always, there were slaves that escaped to quilombos, rioted against mistreatments, getting to point of seeking vengeance on their masters with the killing of their whole families, even the children, only the blacks were spared. Many would be witness against the rebels in arbitrary trials. The result was always death penalty, the condemnation sentence given by white judges. Slavery isn’t very productive because, since the slave doesn’t have ownership over their own production, they aren’t stimulated to pro-

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Índio brasileiro, Mato Grosso, foto: Marc Ferrez Brazilian indian, Mato Grosso, photo by Marc Ferrez

Mercado de escravos da rua Valongo, Jean-Baptiste Debret, 1835, Acervo Museu Nacional do RJ Slave market at Valongo street, Jean-Baptiste Debret, 1835, Rio de Janeiro National Museum’s Archive


REFERÊNCIAS HISTÓRICAS E O TRABALHO COMO MEIO DE VIDA

N

o Brasil colônia, a escravidão começou com os povos indígenas, mas como eles não se adaptavam ao serviço de trabalho braçal, os colonizadores a curto prazo recorrem aos negros africanos, que foram utilizados nas minas e nas plantações: de dia faziam tarefas costumeiras, a noite carregavam cana e lenha, transportavam fôrmas, purificavam, trituravam e encaixotavam o açúcar. O mesmo sistema continuou nas famosas plantações de café. O comércio de escravos passou a ter rotas intercontinentais, no momento em que os europeus começaram a colonizar os outros continentes, no século XVI e, por exemplo, no caso das Américas, em que os povos locais não se deixaram subjugar, foi necessário importar mão-de-obra, principalmente da África. Nessa altura, muitos reinóis africanos passaram a capturar escravos para vender aos europeus. Em alguns territórios brasileiros, o índio chegou a ser mais fundamental que o negro, como mão-de-obra. Na Capitania de São Paulo, até o final do século XVII quase não se encontravam negros e os documentos da época que usavam o termo “negros da terra” referiam-se na verdade aos índios. Com o surgimento do Liberalismo e da ciência econômica na Europa, a escravatura passou a ser considerada pouco produtiva e moralmente incorreta. A escravatura em Portugal continental foi proibida a 12 de fevereiro de 1761 pelo Marquês de Pombal.

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duce as this will not result in an increment in material well-being for themselves. Lei Áurea (the “golden law” that ended slavery in Brazil), officially Imperial Law n.º 3.353, sanctioned in may 13th of 1888, signed by the princess Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga, whom had taken place as monarch, while Emperor Dom Pedro II was travelling abroad. Brazil was the only western country that still maintained legalized slavery. Three centuries of usage of slave manpower echo in the social and economical spheres of the country. After abolition, the black folks saw themselves with their lives restricted, landless, with no access to education and, in most cases, professional qualification. “To those millions of Africans and Afro-Brazilians ‘with no surname’ what was left was looking for the urban peripheries as dwelling places, the work in railways, in docks, or sticking with their old masters in situations very similar to the times of slavery. The origins of labour rights in all of South America has an influence of the migratory flows in common, as the landowners didn’t want to hire the black folk as free employees. Because of that, some Europeans (Italians, Portugueses, Spanish) immigrated to Brazil. When they arrived in Brazilian soil, they found a non-existent jurisdiction concerning labour rights, but as Europeans, they were used to a very strong labour movement, and when confronted with the total lack of protection they started, in Brazil, the first claims for rights. They began organizing syndicates, influencing the Brazilian workers to fight for the labour cause. Initially, these vindications weren’t well seen, afterall, they placed the dominant class in jeopardy. In the first decades of the 19th century, immigrants from other countries, especially Europeans, came to Brazil in search of better work opportunities. They bought lands and started planting to survive while making small sales. Those who had professions (craftsmen, shoemakers, tailors, etc.) in their homeland opened small businesses here. In search of opportunities in the new land, came people from Switzerland around 1819, who settled in Rio de Janeiro (Nova Friburgo), from Germany, who came right after, in 1824, and settled in Rio Grande do Sul (Novo Hamburgo, São Leopoldo, Santa Catarina, Blumenau, Joinville e Brusque), from Ukraine and Polony, residing in Paraná, as well as turks and arabs, who went to Amazonia, and Italians from Venice, Genoa, Calabria and Lombardy, who for the most part moved to São Paulo. People from Japan, besides other immigrants, came later and preferably settled in São Paulo, Rio de Janeiro and Minas Gerais, after the building of its new capital city, Belo Horizonte. Then, there were big advancements in agriculture and commerce. Most immigrants in Brazil are from Portugal, having come since the period of Brazil’s Independence. Some Italians came to Brazil willing to start small companies and prosper in the new land. They used to sell whatever they had in Italy and invest in Brazil in fields such as agriculture, commerce, providing services and industry. Many of these Italian entrepreneurs

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THE IMPERIAL CONSTITUTION OF 1824 In Brazil the Imperial Constitution of 1824, following the principles of the French Revolution, abolished the craft guilds, ensuring broad labour freedom. Up until this moment, the presence of slave labour can be observed, which was gradually substituted by the proletary manpower. In 1871 the Lei do Ventre Livre (the “free womb law”) was edited, in which those born from the womb of a slave were no longer slaves themselves. Evolving in this idea, in 1885 the Lei Saraiva Cotegibe was edited, which freed the slaves of more than 60 years of age, as long as they served another 3 years of spontaneous work. This situation endured until, on the 13th of may of 1888, the Lei Áurea was edited, considered as the most important law of the Empire, freeing the slaves and abolishing slave work from the Brazilian landscape. However, such a measure brought consequences and a new reality to society, once it resulted in an increase in the demand for unqualified manpower in the market and there wasn’t work for everyone. In this scenery the Federal Constitution of 1891 was proclaimed, ensuring the freedom of practice for any profession, as well as the freedom of association. In the same year, the Decree 1.313/91, in which the employment of people under 12 years of age in factories was prohibited, determining the working day at 7 hours for the underaged females between the ages of 12 and 15 and the males between the ages of 12 and 14.


CONSTITUIÇÃO DO IMPÉRIO DE 1824 No Brasil a Constituição do Império de 1824, seguindo os princípios da Revolução Francesa, aboliu as corporações de ofício assegurando ampla liberdade ao trabalho. Até este momento, observa-se a presença do trabalho escravo, que foi de forma paulatina sendo substituída pela mão de obra proletária. Em 1871 foi editada a Lei do Ventre Livre, em que os nascidos do ventre de escrava já não eram mais escravos. Evoluindo nesta ideia, em 1885 foi editada a Lei Saraiva Cotegibe, que libertou os escravos com mais de 60 anos de idade, desde que estes cumprissem mais 3 anos de trabalho espontâneo. Essa situação perdurou até que, em 13 de maio de 1888, foi editada a Lei Áurea, considerada como a mais importante lei do império, libertando os escravos e abolindo o trabalho escravo do cenário brasileiro. No entanto, tal medida trouxe consequências e uma nova realidade para sociedade, uma vez que acarretou um aumento da demanda no mercado de mão de obra desqualificada e não havia trabalho para todos. Diante deste cenário foi promulgada a Constituição Federal 1891, na qual se garantiu a liberdade no exercício da qualquer profissão, da mesma forma que se assegurou a liberdade de associação. No mesmo ano, foi editado o Decreto 1.313/91, onde se proibiu o trabalho do menor de 12 anos em fábricas, fixando a jornada de trabalho em 7 horas para menores entre 12 e 15 anos do sexo feminino e entre 12 e 14 anos do sexo masculino.

No Brasil foram implantadas leis que tinham por motivação liberar paulatinamente os escravos. O ideal republicano que influenciou diversos estudantes que iam a Coimbra tornando-se bacharéis mudou a faceta de natureza político-econômica incitando os liberais a protestar, especialmente através da incipiente imprensa, folhetos, jornais e propaganda que passava de mão em mão, ou através de discursos públicos em largos, sítios abertos e ruas urbanizadas. A pressão chegou a tal ponto que se discutia para todo lado as dificuldades econômicas advindas da escravidão. Mas desde sempre, havia escravos que fugiam para quilombos, insurgiam contra os maus tratos, chegando ao ponto de se vingarem de senhores com matança generalizada de famílias, não escapando nem as crianças da casa, apenas os negros eram poupados. Muitos seriam testemunhas contra os revoltosos em julgamentos arbitrários. Sempre o resultado seria a pena de morte, com sentença dada por juízes brancos de condenação. A escravidão é pouco produtiva porque, como o escravo não tem propriedade sobre sua própria produção, ele não é estimulado a produzir já que isto não irá resultar em um incremento no bem-estar material para si mesmo. Lei Áurea, oficialmente Lei Imperial n.º 3.353, sancionada em 13 de maio de 1888, assinada pela princesa Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga a qual se encontrava como monarca, estando o Imperador D. Pedro II em viagem ao exterior. O Brasil era o único país ocidental que ainda mantinha a escravidão legalizada. Três séculos de utilização da mão de obra escrava repercutem nas dimensões social e econômica do país. O negro pós-abolição percebeu-se com a vida cerceada, desprovido de terra, do acesso à educação e, na maioria dos casos, de qualificação profissional. “Restou àqueles milhões de africanos e afro-brasileiros ‘sem sobrenome’ buscar as periferias urbanas como local de moradia, o trabalho nas estradas de ferro, nas docas, ou permanecer junto a seus antigos senhores em situação muito semelhante à vida dos tempos de escravidão”. A origem do direito do trabalho em toda a América do Sul tem em comum, uma influência do fluxo imigratório, pois os donos de terras não queriam contratar os negros como funcionários livres. Por isso, imigram para o Brasil alguns europeus (italianos, portugueses e espanhóis).

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Revista Ilustrada, Rio de Janeiro, 1883, Acervo Casa Rui Barbosa Revista Illustrada, Rio de Janeiro, 1883, Casa Rui Barbosa’s Archive

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Quando chegam aqui, encontram um nada jurídico a respeito do direito do trabalho, mas como europeus, estavam acostumados com uma forte luta trabalhista, e diante da ausência de proteção dão início, no Brasil, as primeiras reivindicações por direitos. Começam a organizar sindicatos, influenciando os trabalhadores brasileiros a lutar pela causa operária. Inicialmente, essas reivindicações não foram bem vistas, afinal, colocavam em risco a classe dominante. Nas primeiras décadas do século XIX, imigrantes de outros países, principalmente europeus, vieram para o Brasil em busca de melhores oportunidades de trabalho. Compravam terras e começavam a plantar para sobreviver e também vender em pequenas quantidades. Aqueles que tinham profissões (artesãos, sapateiros, alfaiates, etc.) na terra natal abriam pequenos negócios por aqui. Em busca de oportunidades na terra nova, para cá vieram os suíços, que chegaram em 1819 e se instalaram no Rio de Janeiro (Nova Friburgo), os alemães, que vieram logo depois, em 1824, e foram para o Rio Grande do Sul (Novo Hamburgo, São Leopoldo, Santa Catarina, Blumenau, Joinville e Brusque), os eslavos, originários da Ucrânia e Polônia, habitando o Paraná, os turcos e os árabes, que se concentraram na Amazônia, os italianos de Veneza, Gênova, Calábria, e Lombardia, que em sua maior parte vieram para São Paulo. Os japoneses, entre outros imigrantes chegaram posteriormente e preferencialmente se fixaram em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, após a construção da nova Capital, Belo Horizonte. Houve, então grandes progressos na agricultura e no comércio. O maior número de imigrantes no Brasil são os portugueses, que vieram desde o período da Independência do Brasil. Alguns italianos chegaram ao Brasil dispostos a criar pequenas empresas e prosperar na nova terra. Vendiam o que tinham na Itália e investiam no Brasil em áreas como

Passaporte de família italiana. Itália, 1923, Acervo Memorial do Imigrante Italian family’s passport, Italy, 1923, Memorial of the Immigrant’s Archive

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prospered with their businesses, generating wealth and jobs for Brazil. One of the most well known cases was the one of Francesco Matarazzo and his brothers, who immigrated to Brazil in 1881 and started a true industrial empire. Although the Italian immigration first came to the South region, most of its immigrants would end up settling in the Southeast. This is due to the process of coffee farming expansion in São Paulo (and, in smaller amounts, in Minas Gerais). With the end of slave trade and the success of Italian colonization in the South, the farm owners themselves wanted to bring Italian immigrants to their properties. They needed hands to work the coffee. From the 1870s onwards, the landowners would pay the immigrant’s travel, who would then have to work in the farms for a five year contract, returning the paid fare. In 1881, the São Paulo government, politically controlled by the farmers, starts encouraging the Italian immigration intended to the coffee plantations, subsidising 50% of travel expenses, maintaining the five year contract with refund. The state of São Paulo absorbed most Italian immigrants who came to Brazil. This state was the destiny of 44% of the Italian immigration in Brazil between the years of 1820 and 1888, of 67% between 1889 and 1919, with a focus between 1900 and 1909. when it attracted 79%. The Italian demographic weight in the state was huge: in 1934, Italians and their children represented 50% of São Paulo population. The state offered many advantages for those who wanted to immigrate: it paid 75 thousand réis for adults, half of it for children between 7 and 12 years of age and 20% of it for the ones between 3 and 7 years of age. The Promontory Society of Immigration was founded with the intent of encouraging immigration. It wasn’t difficult to attract immigrants: the newspapers of São Paulo published advertisements asking foreigners who were already residents to invite their relatives to come to Brazil, since they would get free tickets. In the European headquarters in Italy, thousands of requests of people willing to come to Brazil would pile up.

Desembarque de imigrantes no Porto de Santos. 1907 (Acervo Memorial do Imigrante) Immigrants’ arrival in the Port of Santos, 1907, Memorial of the Immigrant’s Archive

Grupo de operários italianos em olaria. São Caetano do Sul/SP, 1912 (Acervo Memorial do Imigrante) Group of italian pottery workers. São Caetano do Sul/SP, 1912, Memorial of the Immigrant’s Archive

In 1887, the Immigrants Hostel was edified in the Brás neighbourhood, where the immigrants could stay for a maximum of eight days. There, they were visited by landowners that would offer them employment contracts. The contract was stipulated through verbal agreement only, with no guarantee that it would be integrally abided. Once the deal was sealed, the immigrants were transported to the farms through a state-funded railway. In the south of the country, on the other hand, these immigrants concentrated mainly in the Serra Gaúcha region. Many Italian colonies were formed in cities like, for example, Bento Gonçalves, Caxias do Sul and Garibaldi. Grape farming for wine production was the main economic activity performed by these immigrants. In the beginning of the 20th century, news of the terrible labour and living situations of the Italian families living in Brazil began

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Imigrantes na colheita de café. Interior do Estado de São Paulo, década de 1920 (Acervo Memorial do Imigrante) Immigrants at a coffee plantation. State of São Paulo’s countryside, 1920’s, Memorial of the Immigrant’s Archive


a agricultura, comércio, prestação de serviços e indústria. Muitos destes italianos empreendedores prosperaram em seus negócios, gerando riquezas e empregos no Brasil. Um dos exemplos mais conhecidos foi de Francesco Matarazzo e seus irmãos, que emigraram para o Brasil em 1881 e construíram em São Paulo um verdadeiro império industrial.

pagava 75 mil réis por adulto, a metade por meninos de 7 a 12 anos e 20% pelas crianças de 3 a 7 anos. A Sociedade Promotora de Imigração foi criada com o intuito de incentivar a imigração. Não era difícil atrair imigrantes: os jornais paulistas publicavam anúncios convidando os estrangeiros já residentes a chamar parentes para o Brasil, que teriam passagem gratuita. Na sede europeia na Itália, somavam-se milhares de pedidos de pessoas dispostas a vir para o Brasil.

Embora tenha sido a região Sul a pioneira na imigração italiana, foi a Região Sudeste aquela que recebeu a maioria desses imigrantes. Isto se deve ao processo de expansão das lavouras de café em São Paulo (e, em menor medida, também em Minas Gerais).

Em 1887, foi edificada a Hospedaria de Imigrantes no bairro do Brás, onde os imigrantes permaneciam por no máximo oito dias. Lá, eles eram visitados por fazendeiros que lhes ofereciam contratos de trabalho. O contrato era estipulado de forma verbal, sem nenhuma garantia de que fosse integralmente cumprido conforme o combinado. Uma vez aceito o acordo, os imigrantes eram transportados de trem, custeado pelo estado, até a fazenda.

Com o fim do tráfico negreiro e o sucesso da colonização italiana no Sul, os próprios donos das fazendas de café tratavam de atrair imigrantes italianos para as suas propriedades. Precisavam de braços para o café. A partir da década de 1870, os proprietários de terras pagavam a viagem e o imigrante tinha que trabalhar nas fazendas com um contrato de cinco anos, devolvendo o valor da passagem paga. A partir de 1881, o governo paulista, controlado politicamente pelos fazendeiros, passa a incentivar a imigração italiana com destino aos cafezais, subsidiando 50% das despesas da viagem, mantendo-se o contrato de cinco anos e o ressarcimento.

Já no sul do país, estes imigrantes se concentraram, principalmente, na região da Serra Gaúcha. Muitas colônias italianas foram criadas em cidades como, por exemplo, Bento Gonçalves, Caxias do Sul e Garibaldi. A cultura de uva para a produção de vinho foi a principal atividade econômica realizada por estes imigrantes. No começo do século XX, começou a chegar à Itália, notícias das péssimas condições de trabalho e moradia de famílias italianas residentes no Brasil. Essas informações foram divulgadas pela imprensa, fazendo com que diminuísse drasticamente a vinda de italianos para o Brasil. Outro fato que influenciou essa queda na imigração, foi o controle feito pelo governo de Benito Mussolini sobre a imigração no final da década de 1920.

O estado de São Paulo absorveu a maioria dos imigrantes italianos que vieram para o Brasil. Este estado foi o destino de 44% da imigração italiana para o Brasil entre os anos de 1820 e 1888, de 67% entre 1889 e 1919, com ênfase entre 1900 e 1909, quando atraiu 79%. O peso demográfico italiano no estado foi enorme: em 1934, italianos e seus filhos representavam 50% da população de São Paulo. O estado oferecia muitas vantagens para quem quisesse imigrar:

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arriving in Italy. These informations were made public through the press, making the number of Italians coming to Brazil drop drastically. Another fact that influenced this decrease in immigration, was the control set by Benito Mussolini’s government upon migration in the late 1920’s.

THE ITALIAN CULTURE IN BRAZIL The Italians that came to live in Brazil brought in their baggage many cultural characteristics that were incorporated into Brazilian culture, and that are still present until this day. Many Italian words, with time, became part of the portuguese vocabulary in Brazil. In the field of culinary this influence was remarkable, especially, in pastas (macarronada, nhoque, canelone, ravióli, etc.), sauces and pizzas. The Italians also helped to strengthen catholicism in the country.

ANARCHISM AND LABOUR Anarchism, a doctrine that emerges between the 17th and 18th centuries in Europe, arrives in the country with the European immigrants around the 1850’s. It stands for the organization of society without any form of imposed authority and considers the State to be a coercive force.

Imigrantes na colheita de café. Interior do estado de São Paulo, c. 1920 (Acervo Memorial do Imigrante) Immigrants at a coffee plantation. State of São Paulo’s countryside, circa 1920, Memorial of the Immigrant’s Archive

The main Brazilian experience was the Cecília Colony, directed between 1890 and 1893 by Italian immigrants, in lands donated by the emperor Dom Pedro II, in the county of Palmeira (PR). During most of the Old Republic, the ideology was predominant in the labour movement, especially in São Paulo, Rio de Janeiro and Rio Grande do Sul. The supporters defend autonomous syndical organization, the extinction of the State, of the Church and of private property. They are also contrary to any political-partisan action. They do not broadcast their ideals through newspapers, magazines, books or pamphlets. In 1906 the Labour Congress is organized, in Rio de Janeiro, which defines anarchist action practices. Between 1909 and 1919 schools in line with the doctrine were created for the workers. The anarchist federations were the heads of the great strikes of 1917 (São Paulo), 1918 (Rio de Janeiro) and 1919 (São Paulo and Rio de Janeiro). Among the main

Operários e anarquistas marcham portando bandeiras negras pela cidade de São Paulo, durante a greve geral de 1917. Workers and anarchists marching while carrying black flags through the city of São Paulo, during the 1917 general strike

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A CULTURA ITALIANA NO BRASIL Os italianos que vieram viver no Brasil trouxeram na bagagem muitas características culturais que foram incorporadas à cultura brasileira, estando presentes até os dias de hoje. Muitas palavras italianas foram, com o tempo, fazendo parte do

vocabulário português do Brasil. No campo da culinária esta influência foi marcante, principalmente, nas massas (macarronada, nhoque, canelone, ravióli, etc.), molhos e pizzas. Os italianos também ajudaram a fortalecer o catolicismo no país.

ANARQUISMO E TRABALHO O anarquismo, doutrina que surge entre os séculos XVII e XVIII na Europa, chega ao país com os imigrantes europeus, por volta de 1850. Defende a organização da sociedade sem nenhuma forma de autoridade imposta e considera o Estado uma força coercitiva. A principal experiência brasileira é a Colônia Cecília dirigida entre 1890 e 1893 por imigrantes italianos, em terras doadas pelo imperador dom Pedro II, no município de Palmeira (PR). Durante grande parte da República Velha, a ideologia predomina no movimento operário, principalmente em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul. Os partidários defendem a organização sindical autônoma, a extinção do Estado, da Igreja e da propriedade privada. Também são contrários a qualquer atuação político-partidária. Eles divulgam suas ideias por meio de jornais, revistas, livros e panfletos. Em 1906 é organizado o Congresso Operário, no Rio de Janeiro, que define práticas de ação anarquista. Entre 1909 e 1919 são criadas escolas para trabalhadores nos moldes da doutrina. 23

As federações anarquistas comandam as grandes greves de 1917 (São Paulo), 1918 (Rio de Janeiro) e 1919 (São Paulo e Rio de Janeiro). Entre os principais militantes destacam-se Edgard Leuenroth, José Oiticica e Neno Vasco. Em 1919 é instituído o Partido Comunista Anarquista. Com a fundação do Partido Comunista, em 1922, o anarquismo perde força, O anarquismo no Brasil é algo especial – é favorável em alguns pontos e desfavorável em outros. Ele derivou principalmente da literatura e experiências socialistas europeias. Seu desenvolvimento, contudo, resultou da própria experiência brasileira embora a evolução de sua teoria e prática tenha mudado de maneira semelhante à do movimento anárquico europeu. O lado ruim é a baixa instrução das massas populares, aqueles que sabiam ler são a minoria e os que sabiam escrever são mais raros ainda. O lado bom é que não há socialistas no Brasil, o único grupo que nos atiça é o dos carregadores e anexos do Rio, muito bem organizados em torno de bons advogados.


militants Edgard Leurenroth, José Oiticica and Neno Vasco stand out. In 1919 the Communist Anarchist Party was founded.

es weren’t enough. Therefore, few were the anarchist newspapers that published more than five numbers, all of them exhaustively asking in their editorials for contributions. A terra livre (“Free land”), the most successful newspaper before World War I, only had seventy five numbers in five years. Time went on and the anarchists look for more effective financial support, they started to sell subscriptions; they used resources before considered as corrupted, such as raffles and parties. These last ones were frequent, and its success depended more on social attractions than on its ideological dedication.

With the founding of the Communist Party, in 1922, anarchism loses strength. Anarchism in Brazil was something special - it is favorable in some aspects and unfavorable in others. It derived especially from literature and European socialist experiences. Its development, however, resulted from the Brazilian experience itself even if the evolution of its theory and practice has changed in a fashion similar to the European anarchic movement. The downside is the low education of the popular masses, those who knew how to read were a minority and those who knew how to write were rarer still.

The theories and tactics of anarcho-syndicalism infiltrated Brazil through books by syndicalist theorists who lived in France. Like in all countries which were penetrated by these theories, they were spread through the press, pamphlets, and the decision making of labour congresses dominated by anarcho-syndicalists.

The upside is that there are no socialists in Brazil, the only group that entices us is that of the loaders and annexes of Rio, whom were very well-organized around some good lawyers.

Direct action was revolutionary syndicalism’s flag. Each direct action, riots, boycotts, sabotages etc., was considered a means for the workers to learn how to act in a solidary manner in their fight for better working conditions, against their common enemy, the capitalists. Each of these direct actions is a battle in which the proletarian gets to know the need for rebellion and revolution through their own experience.

Edgar Rodrigues1 highlights that in Brazil the first anarchist experiences were even before the arrival of the immigrants: in the quilombos. There, everything belonged to everyone, the lands, the agricultural and artisanal production: each person would take what was necessary.

Each of them prepared the worker for the final action: the general strike aimed at destroying capitalism, with no success.

Afterwards, around 1890, in the south of Brazil there was a failed anarchist experience, financed by the emperor Dom Pedro II.

In these actions, violence was considered acceptable, this fact being precisely what distinguished anarcho-syndicalism from other types of syndicalism. Sabotage was considered especially effective for the proletariat, if prevented from striking, they could hit their exploiters through other means, exerting the philosophy that for bad payment there’s bad working. Destroying equipments would hit the system’s weak point, for machines are harder to substitute than workers.

In the end of the 19th century, the anarchist aspirations in Brazil got more vigorous. The general strike of 1917 was commanded in its majority by anarchists, the infinity of libertarian newspapers at the time was a testament of the strength and organization of the anarchists in Brazil at the time. Brazilian anarchists’ first initiative was trying to expand their work through voluntarism. The first anarchist and anarcho-syndicalist newspapers tried to maintain themselves only by contributions, but there were few militants and the economical resourc-

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Edgar Rodrigues, pseudonym of Antônio Francisco Correia (Angeiras, march 12th of 1921 — Rio de Janeiro, may 14th of 2009), was a historian, archivist and writer born in Portugal who moved to Brazil since 1951, year in which he left his home country to escape Salazar’s dictatorial persecution.

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As teorias e táticas do anarco-sindicalismo infiltraram-se no Brasil através de livros dos teóricos sindicalistas residentes na França. Como em todos países onde penetraram essas teorias difundiram-se no Brasil através da imprensa, de panfletos, e das decisões dos congressos operários dominados por anarco-sindicalistas.

Edgar Rodrigues1 exalta que no Brasil, as primeiras experiências anarquistas foram antes mesmo da chegada dos imigrantes: nos quilombos. Lá, tudo era de todos, terras, produção agrícola e artesanal: cada um retirava o necessário. Depois por volta de 1890, o sul do Brasil teve uma fracassada experiência anarquista, financiada pelo imperador D. Pedro II.

A ação direta era a bandeira do sindicalismo revolucionário. Cada ação direta, greves, boicotes, sabotagens etc., era considerada um meio dos trabalhadores aprenderem a agir de uma maneira solidária na sua luta por melhores condições de trabalho, contra o seu inimigo comum, os capitalistas. Cada uma dessas ações diretas é uma batalha na qual o proletário conhece as necessidades da revolução e rebelião por meio de sua própria experiência.

No fim do século XIX, as aspirações anarquistas no Brasil ganharam vigor. A greve geral de 1917 foi comandada em sua maioria por anarquistas, a infinidade de jornais libertários da época inclusive atestou a força e organização dos anarquistas do Brasil na época. A primeira iniciativa dos anarquistas brasileiros foi tentar expandir o seu trabalho através do voluntarismo. Os primeiros jornais anarquistas e anarco-sindicalistas tentaram se sustentar apenas de contribuições, porém, os militantes eram poucos e não possuíam muitos recursos econômicos. Assim, poucos foram os jornais anarquistas que publicaram mais de cinco números, todos pediam exaustivamente contribuições em seus editoriais. A terra livre, o jornal melhor sucedido antes da primeira guerra mundial, só editou setenta e cinco números em cinco anos. O tempo passava e os anarquistas procuravam um suporte financeiro mais eficaz, passaram a vender assinaturas; usaram de recursos outrora considerados corruptos, como rifas e festas. Estas últimas eram frequentes, e seu êxito dependia muito mais das atrações sociais do que de sua dedicação ideológica.

1

Cada uma delas prepara o trabalhador para a ação final: a greve geral que visava destruir o sistema capitalista, sem sucesso. Nestas ações, considerava violência algo aceitável, sendo justamente este o fato que distinguia o anarco-sindicalismo das outras formas de sindicalismo brasileiras. A sabotagem, eram consideradas especialmente eficaz para o proletariado, se não pudessem entrar em greve, estes, poderiam agredir seus exploradores de outra forma, empregando a filosofia de que para um mau pagamento há um mau trabalho. A destruição de equipamentos tocaria no ponto fraco do sistema, pois as máquinas são mais difíceis de se substituir do que os trabalhadores.

Edgar Rodrigues, pseudônimo de Antônio Francisco Correia (Angeiras, 12 de março de 1921 — Rio de Janeiro, 14 de maio de 2009), foi historiador, arquivista e escritor nascido em Portugal e radicado no Brasil desde 1951, ano em que deixou seu país natal escapando da perseguição ditatorial de Salazar

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CAPITALISM AND EMPLOYMENT When it comes to the capitalist system present in several industrial sectors, the household economic production, hallmark of the Old Regime, gave way to manufacture production. This was a production style which used machines and serial work. Although it was manual work, it was a system of fabrication of large amounts of products in a standardize and serial way. The craft guilds were formed by qualified people who gathered for the development of a specific type of work. Ruled by hierarchy (masters, officials and apprentices), the corporations enabled the control of technical production by part of the manufacturer. Simultaneously, the growth of commerce and of the urban centres and the capital accumulation, consolidated a social group of merchants. Navigation techniques made links between several regions of the planet possible. It was the peak of imperialism and the birth of the first phase of capitalism: commercial capitalism or pre-capitalism. The plantation2 system was a mark of this time. It was based on the great monocultural agricultural properties aimed at the export business. The riches that came from colonialism was a great contribution to the development of some countries in Europe, a situation that was determining for the next phase of capitalism. The colonies provided precious metals and spices to the metropolis and they, in return, would offer manufactured products. The expanding market economy would enable the European continent to go through a phase of mechanization of production. Manufacturing gave way to machinofacturing and the use of machines, coal and steam-powered means of transportation fueled the textile, steel and naval industries. However, this period was marked by the abolition of craft guilds.

2

The plantation system was a colonial exploration method used between the 15th and 16th century especially in the European colonies in America, both in the Portuguese and Spanish colonies but also in the british ones. It consists in four main characteristics: very big estates, monoculture, slave labour and export to the metropolis.

Cartela de oficina, Museu de Artes o OfĂ­cio Workshop sign, Museu de Artes e OfĂ­cio

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O CAPITALISMO E O EMPREGO Em se tratando de sistema capitalista presente nos diversos setores industriais, a produção econômica familiar, marca do antigo regime, deu lugar à manufatura. Esta era uma produção com o uso de máquinas e trabalho em série. Apesar de ser um trabalho manual, tratava-se de um sistema de fabricação de grande quantidade de produtos de forma padronizada e em série. As corporações de ofício eram de pessoas qualificadas que se reuniam para o desenvolvimento de determinado tipo de trabalho. Regrada pela hierarquia (mestres, oficiais e aprendizes), as corporações viabilizavam o controle da técnica de produção por parte do produtor. Concomitantemente, o crescimento do comércio e dos centros urbanos e o acúmulo de capitais, consolidava uma camada social de mercadores. As técnicas de navegação possibilitavam a interligação entre diversas regiões da terra. Era o auge do imperialismo e o surgimento da primeira fase do capitalismo: o capitalismo comercial ou pré-capitalismo. O sistema de platations2 foi uma marca dessa época. Pautava-se em grandes propriedades agrícolas monoculturas voltadas para a exportação. O enriquecimento oriundo do colonialismo contribuía grandemente para o desenvolvimento de alguns países da Europa, situação determinante para a fase seguinte do capitalismo. As colônias forneciam metais preciosos e especiarias para as metrópoles e estas, em contrapartida, lhes forneciam os produtos manufaturados. A economia de mercado se expandindo possibilitava que o continente europeu passasse por uma fase de mecanização da produção. A manufatura dava lugar a maquino fatura e a utilização das máquinas, do carvão e dos meios de transporte a vapor impulsionavam as indústrias têxtil, siderúrgica e naval. Porém esse período marcava a abolição das corporações de ofício. 2

O plantation foi um sistema de exploração colonial utilizado entre os séculos XV e XIX principalmente nas colônias europeias da América, tanto a portuguesa quanto em alguns locais das colônias espanholas e também nas colônias inglesas britânicas. Ele consiste em quatro características principais: grandes latifúndios, monocultura, trabalho escravo e exportação para a metrópole.

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INDUSTRIALIZATION Industrialization is the term used to refer to the modernization process through which the means of production of a society go through. It is accompanied by a technological expansion and a development of the economy. The introduction of self-owned machines transforms the society and the means of labour with the intention of producing more wealth and profit. The bourgeoisie is the class that consolidates through this process of industrialization and, in many cases, men are replaced by machines in the means of production. The impact of industrialization generates a great increase in the division of labour, great progress in industrial productivity as well as an expansion of the middle-class and a growth in consumption standards.

Dom Pedro II, there was an industrial surge, promoted by the Baron of Mauá. The situation displeased the English, who looked down on their enterprises, and the initiative of the Baron of Mauá ended up being forlorn. Throughout the First Republic, other industrial surges also took place. In some cases by private initiatives and, more so, because of World War I, which interrupted the flow of industrialized products to Brazil, which had to invest in internal production during the conflict to cope with its own demands. However, Brazilian industrialization only truly developed with the start of Getúlio Vargas’ government, which promoted base industrialization and the country’s urbanization. Juscelino Kubitscheck expanded the industrialization making way for the production of consumer goods and international industries.

Brazil entered the industrialization process with some delay. Still in the imperial period, during the reign of

Dois operários colocam motor num Ford Two workers installing a car engine in a Ford

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INDUSTRIALIZAÇÃO Chama-se de industrialização o processo de modernização pelo qual passam os meios de produção de uma sociedade. É acompanhada pela ampliação tecnológica e desenvolvimento da economia. A implantação de um maquinário próprio transforma a sociedade e a forma de trabalho com o intuito de produzir maior riqueza e lucro. A burguesia é a classe que se consolida com o processo de industrialização e, em muitos casos, homens são substituídos por máquinas nos meios de produção. O impacto da industrialização gera um grande aumento na divisão do trabalho, grandes progressos em produtividade industrial, assim como o crescimento da classe média e dos padrões de consumo.

surto industrial promovido pelo Barão de Mauá. A situação desagradava os ingleses, que viam com maus olhos seus empreendimentos, e a iniciativa do Barão de Mauá acabou se perdendo. Ao longo da Primeira República, outros surtos industriais também aconteceram. Em alguns casos por iniciativas particulares e, mais expressivamente, por conta da Primeira Guerra Mundial que interrompeu o fluxo de produtos industrializados para o Brasil, o qual teve que investir em produção própria para dar conta de suas demandas durante o conflito. Entretanto a industrialização brasileira só se desenvolveu mesmo a partir do governo de Getúlio Vargas que promoveu industrialização de base e a urbanização do país. Juscelino Kubitscheck ampliou a industrialização abrindo espaço para a produção dos bens de consumo e as indústrias internacionais.

O Brasil entrou com atraso no processo de Industrialização. Ainda no período Imperial, no decorrer do reinado de Dom Pedro II, houve um

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BRAZILIAN INDUSTRY Until the 1880’s there was little to be heard of the Brazilian industry, since the economy was still predominantly based on large estates, aimed at the production of agricultural goods for exportation, making use of cheap, abundant imported manpower. In the Chamber of Deputies the preservation of Brazil’s “agrarian vocation” was defended as a means to justify the subsidies to agriculture and not to industry. The imports could be taxed, but not the exports, on which the coffee farmers depended. With the possibility of industrialization, the emptying of the countryside was feared due to rural workers’ massive shift to the big cities. With no capital, without the possibility of buying machines due to their high taxation and without the presence of the state as a stimulating agent, the industry was left without the necessary impulse for its implementation. The men who ran the Brazilian State, commonly representatives of coffee farming and agriculture in general, saw Brazil, within the international labour division, as a agricultural producer, exporter and, at once, consumer of imported goods. Thus, the industry’s growth would always be conditioned by the coffee economy development.

century, the only industry that obtained some success until the 1880 was the hat industry. In 1852, there were 21 national hat factories. In 1883, after the first coffee overproduction crisis, the ruling class resented the vulnerability of a nation economically grounded on a single product. In this respect, in this century’s last two decades, there was a significant increase on industrial investments in the country. But with coffee farming being the engine of national economy, it established the dynamics of industrial developments, making the industrial capital dependent on the coffee growing capital to reset and expand its productive capability. Furthermore, the industrial capital was incapable of generating its own market, since its growth was attached to the external markets created by the coffee exportation complex. The manpower supply for the industry was also conditioned to the coffee farming, for it relied on immigrants from Europe, where many already had some experience with industrial work. In 1889, Brazil had 636 companies and 54 thousand workmen. Many of this companies were owned by coffee farmers. The Melhoramentos Company was founded in 1883 by a farmer, who invested in the paper sector and, subsequently, in the lime and pottery ones.

Though the first attempts of implementing industrial activities in Brazil have occurred in the mid-19th

Fábrica de cimento, séc. XX, São Paulo Cement factory, 20th century, São Paulo

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INDÚSTRIA BRASILEIRA Até a década de 1880 pouco se pode falar da indústria brasileira, pois ainda predominava uma economia assentada em latifúndios voltados para a produção de gêneros agrícolas para a exportação, utilizando mão de obra abundante, importada e barata. Na Câmara dos Deputados se defendia a preservação da “vocação agrária” brasileira para justificar os subsídios à agricultura e não à indústria. As importações podiam ser taxadas, mas não as exportações, das quais dependiam os cafeicultores.

trabalho, como produtor agrícola, exportador e, ao mesmo tempo, consumidor de produtos importados. Dessa forma, o crescimento da indústria estaria sempre condicionado ao desenvolvimento da economia do café. Embora as primeiras tentativas de implementação de atividades industriais no Brasil tenham ocorrido na metade de século XIX, a única que obteve algum sucesso até 1880 foi a indústria chapeleira. Em 1852, existiam 21 fábricas nacionais de chapéus. Em 1883, depois da primeira crise de superprodução do café, a classe dirigente ressentiu-se da vulnerabilidade de uma nação assentada economicamente sobre um único produto. Nesse contexto, nas duas últimas décadas desse século, houve um aumento significativo de investimentos industriais no país. Mas sendo a cafeicultura o motor da economia nacional, esta estabelecia a dinâmica do desenvolvimento da indústria, tornando o capital industrial dependente do capital cafeeiro para repor e ampliar sua capacidade produtiva.

Com uma possível industrialização, temia-se o esvaziamento do campo por causa da transferência maciça de trabalhadores rurais para a cidade. Sem capitais, sem a possibilidade de comprar máquinas por sua alta taxação e sem a presença do Estado como agente estimulador, a indústria ficava sem o impulso necessário à sua implementação. Os homens que dirigiam o Estado brasileiro, comumente representantes da cafeicultura e da agricultura em geral, viam o Brasil, dentro da divisão internacional do

Escritório da General Motors do Brasil SA Office of General Motors of Brazil A.S.

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Between 1887 and 1888, industrial investments grew and new factories were opened, such as the Antarctica brewery and the Crespi textile factory, with declared resources from farmers. Antônio Prado, important coffee farmer from São Paulo, founded the Santa Marina glassware. In the year of 1897, it was even founded, by another farmer, the Rodovalho cement factory. Thus, up until 1933, the first moment of Brazilian industrialization was becoming consolidated. Although its development was originally based on coffee growing capital, merchants, immigrants, importers and many more who would end up becoming industrialists, were incorporated to the process. Examples of this are the Matarazzo, a family of immigrants who quickly became owners of a mill and then diversified its businesses, accumulating a great fortune. However, even if many industries were set up by immigrants or importers, the economic development and financing were provided and regulated by the coffee farming. Another significant characteristic of this first industrialization process is that it realized itself through the production of goods and waged consumption. In other words, the first to be installed was a light industry, producing mainly fabrics. The industry of production goods, of machines and industrial equipments, siderurgy, etc. would only be installed later. The reasons behind this are directly linked to the Second Industrial Revolution, which occurred in the mid 19th century in Europe, through which new technologies were introduced that made the minimal investment prohibitive for Brazilian standards. Now, the industry of waged goods needed smaller investments because it presented simpler technology and more available in the international market. The implementation of a complete industrial park in Brazil would only occur in the next decades. With the coffee crisis, in 1929, and its drop in the international market, the industrial capital definitely took the wrist of the national economy, and Brazil stopped being an imminently mercantile country. After 1930, president Getúlio Vargas concentrated in widening the country’s economic variety, avoiding monocultures. He defended the expansion of other agricultural crops, of the transport sector and the implementation of infrastructural conditions for industrial development. In this period, the Brazilian labour movement was organized, which formed bases especially in Rio de Janeiro and São Paulo. The government authorities of the beginning of the republican period, after 1889, rejected any form of labour organization. In 1890, the Federal Government determined that the immigrant workers that participated in labour demonstrations would be expelled from the country. In much the same way, the poor population did not partake in the political system, dominated by the coffee oligarchy. Indústria Reunidas Fábricas Matarazzo, séc. XX, São Paulo Indústria Reunidas Fábricas Matarazzo, 20th century, São Paulo

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Além disso, o capital industrial era incapaz de gerar seu próprio mercado, uma vez que seu crescimento estava atrelado aos mercados externos criados pelo complexo exportador cafeeiro. O suprimento de mão de obra para a indústria também estava condicionado à cafeicultura, pois dependia dos imigrantes vindos da Europa, onde muitos já tinham alguma experiência no trabalho industrial. Em 1889, 0 Brasil contava com 636 empresas e 54 mil operários. Muitas delas eram propriedade de cafeicultores. A Cia. Melhoramentos foi fundada em 1883 por um fazendeiro, que investiu no setor de papel e, posteriormente, em cal e cerâmica.

assalariado. Quer dizer, instalou-se primeiro a indústria leve, produzindo principalmente tecidos. Apenas mais tarde seria implantada uma indústria de bens de produção, de máquinas e equipamentos industriais, siderurgia etc. As razões disso estão diretamente relacionadas com a Segunda Revolução Industrial, ocorrida em meados do século XIX na Europa, por meio da qual foram introduzidas novas tecnologias que tornaram o investimento mínimo proibitivo para os padrões brasileiros. Já a indústria de bens de consumo assalariado necessitava de investimentos menores por apresentar tecnologia mais simples e disponível no mercado internacional. A implementação de um parque industrial completo no Brasil só se daria nas décadas seguintes.

Em 1887 e 1888, cresceram os investimentos industriais e inauguraram-se novas fábricas, como a cervejaria Antarctica e a fábrica de tecidos Crespi, com recursos declaradamente originários de fazendeiros. Antônio Prado, importante cafeicultor paulista, fundou a vidraria Santa Marina. No ano de 1897, foi fundada ainda, por outro fazendeiro, a fábrica de cimento Rodovalho.

Com a crise do café, em 1929, e sua queda no mercado internacional, O capital industrial tomou definitivamente o pulso da economia nacional, e o Brasil deixou de ser um país eminentemente mercantil. Após 1930, 0 presidente Getúlio Vargas preocupou-se em criar maior diversidade econômica ao país, evitando a monocultura. Defendeu a expansão de outras culturas agrícolas, do setor de transportes e a implementação de condições infra- estruturais para o desenvolvimento industrial.

Assim, até 1933, foi se consolidando o primeiro grande momento da industrialização brasileira. Apesar de se desenvolver originalmente com base no capital cafeeiro, foram se integrando ao processo comerciantes, imigrantes, importadores e outros mais que se transformaram em industriais. Exemplo disso são os Matarazzo, família de imigrantes que rapidamente se tornou proprietária de um moinho e depois diversificou seus negócios, acumulando grande fortuna. Entretanto, mesmo tendo sido montadas muitas indústrias por imigrantes ou importadores, o desenvolvimento econômico e o financiamento foram propiciados e regulados pela cafeicultura.

Nesse período foi organizado o movimento operário brasileiro, que fixou bases especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. As autoridades do governo do início do período republicano, após 1889, repudiavam qualquer forma de organização operária. Em 1890, o Governo Federal determinou que os operários imigrantes que participassem de atos operários fossem expulsos do país. Da mesma forma, a população pobre não participava do sistema político, dominado pela oligarquia cafeeira.

Outra importante característica desse primeiro processo de industrialização é que ele se realizou a partir da produção de bens de consumo

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AS CONDIÇÕES DE TRABALHO E O MOVIMENTO OPERÁRIO NO BRASIL

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s condições de trabalho nas fábricas brasileiras também eram precárias: os salários eram miseráveis, os castigos físicos admitidos e as jornadas de trabalho se estendiam a até 14 horas por dia.

Nos últimos anos do século XIX já existiam associações de trabalhadores no Brasil. Eram denominadas mutualistas, de ajuda mútua, e haviam sido criadas sob a influência de anarquistas como PierreJoseph Proudhon (1809-1865). Mas foi nos primeiros anos do século XX que surgiram associações mais consistentes de trabalhadores, organizadas e interessadas em movimentos reivindicatórios. Em 1906 ocorreu 0 Primeiro Congresso Nacional dos Trabalhadores, depois do qual se tornou mais comum a utilização do termo sindicato, definido como aquele que realiza a resistência aos patrões. Muitas organizações operárias reuniam profissionais de mesmo setor ou mesma atividade profissional. Formaram-se, então, as associações dos gráficos, dos ferreiros, dos vidreiros, dos tecelões etc. Havia ainda as uniões gerais, que reuniam várias dessas associações. Em 1908, os sindicalistas de orientação anarquista, os chamados anarcossindicalistas, fundaram a Confederação Operária Brasileira (COB), que tinha por objetivo organizar greves e mobilizações de trabalhadores de várias categorias em protesto contra a sociedade capitalista.

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THE WORKING CONDITIONS AND THE LABOUR MOVEMENT IN BRAZIL

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orking conditions in the Brazilian factories was also precarious: wages were miserable, physical punishments were allowed and the working period extended to up to 14 hours a day.

In the last years of the 19th century there were already workers associations in Brazil. They were called mutualists, of mutual assistance, and had been created under the influence of anarchists such as Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865). But in the first years of the 20th century more consistent workers associations arose, organized and interested in claim movements. In 1906 the First Workers’ National Congress was held, after which the utilization of the term syndicate, defined as that which performs resistance against the bosses. Many labour organizations rallied professionals from the same sector or the same professional activity. So, the graphic designers’, the blacksmiths’, the glassmakers’, the weavers’, etc. associations were formed. There were also the general meetings, which would rally many of these associations. In 1908, the anarchy oriented syndicalists, the so-called anarcho-syndicalists, founded the Brazilian Labour Confederation (Confederação Operária Brasileira - COB), whose goal was to organize the strikes and mobilizations against the capitalist society by workers from many categories. The anarcho-syndicalists had a remarkable presence in the forming of the Brazilian labour movement. Their goals were not only to overcome capitalism and the State itself, they also criticized the government bureaucracy and proposed, as a replacement, the organization of workers’ assemblies which would make fundamental decisions. As a form of syndical action, they defended the organization of strikes, public demonstrations, reduction of the working pace, boycott of production, that is, they would use all possible means of mobilization against the bosses. The growing number of

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Os anarcossindicalistas tiveram presença marcante na formação do movimento operário brasileiro. Tinham no horizonte a superação do capitalismo e do próprio Estado, criticavam a burocracia governamental e propunham, em seu lugar, a organização de assembleias de trabalhadores que tomariam as decisões fundamentais. Como forma de atuação sindical, defendiam a realização de greves, protestos públicos, redução do ritmo de trabalho, boicote da produção, enfim, utilizavam todos os meios possíveis de mobilização contra o patronato. O crescente número de greves deveria conduzir o país a uma ou mais greves gerais, e estas seriam o ponto de partida das transformações e da superação da sociedade capitalista. Muitos operários imigrantes europeus aderiram a essa corrente após terem suas expectativas de ascensão social na América frustradas.

condições de trabalho. Em junho do mesmo ano, trabalhadores de várias indústrias têxteis e outros setores de São Paulo entraram em greve sem haver uma unificação do movimento. Os grevistas tiveram vários confrontos com a polícia, e em um deles foi morto, o sapateiro José Ineguez Martinez. Após esse acontecimento, deflagrou-se uma greve geral preparada pelo Comitê de Defesa Proletária. Entre suas reivindicações, estavam aumentos salariais, jornada de oito horas, libertação de grevistas presos, direito de associação. Parte dessa pauta foi atendida e a greve encerrada após votação em assembleia realizada em 16 de julho. Em seguida, iniciou-se uma greve do mesmo tipo no Rio de Janeiro, reunindo quase todas as categorias. No período que se seguiu a 1917 e durante toda a década de 1920, tornou-se mais consistente a organização operária. Muitas greves ocorreram, especialmente sob a liderança anarcossindicalista. Buscou-se obstruir a atuação sindical autônoma demitindo empregados sindicalizados, fechando jornais operários e destruindo sedes de sindicatos, entre outras medidas. Durante 0 governo de Washington Luís, em 1927, foi aprovada a Lei Celerada, que, a pretexto de combater o comunismo, limitou a liberdade de expressão, censurando a imprensa e controlando a atividade dos sindicalistas.

Existiam ainda, nessas primeiras iniciativas de organização operária no Brasil, as correntes socialista e trabalhista. Enquanto os adeptos do socialismo não acreditavam que o movimento sindical fosse a mola propulsora da transformação da sociedade, os trabalhistas defendiam a ampliação dos direitos dos trabalhadores e melhores condições de trabalho sem a organização de greves ou movimentos de protesto. Exigiam maior proteção do Estado e não defendiam mudanças na ordem social. Os socialistas tiveram participação importante em alguns setores específicos, como entre os têxteis em São Paulo.

Em 1930, após um golpe de Estado, Getúlio Vargas assumiu a presidência do país e destruiu a estrutura sindical autônoma. Uma nova forma de organização sindical foi instituída, mas dessa vez com grande controle do Estado. Por isso, entre outros motivos, foi criado nesse ano de 1930 0 Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. A intervenção do Estado nos sindicatos marcou a organização operária brasileira das décadas seguintes, sendo a autonomia sindical recolocada somente muitos anos mais tarde.

Entre os anos 1900 e 1920 eclodiram várias greves no Brasil que reivindicavam menor jornada de trabalho, melhores condições de trabalho e maiores salários. Mais de 500 imigrantes foram expulsos por envolvimento nessas mobilizações. Em 1917 ocorreu a primeira greve geral em São Paulo. No primeiro semestre desse ano ocorreram várias greves simultâneas no Rio de Janeiro, exigindo ganhos salariais mais justos e melhores

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strikes should lead the country to one or more general strikes, and those would be the starting point of the transformations and the overcoming of the capitalist society. Many European immigrant workers joined this current after having their expectations of social ascension in America fail. In these first initiatives of labour organization in Brazil there were also the socialist and labourite current. While the supporters of socialism didn’t believe that the syndical movement was the propelling spring of social transformation, the labourites defended the extension of labour rights and better working conditions without the organization of strikes or protest movements. They demanded more State protection and didn’t stand for changes in the social order. The socialists had an important participation in some specific sectors, such as the textiles in São Paulo. Between the years 1900 and 1920 several strikes happened in Brazil, claiming less working hours, better working conditions and higher wages. More than 500 immigrants were kicked out for being involved in these mobilisations. In 1917 occurred the first general strike in São Paulo. In this year’s first semester several strikes happened at once in Rio de Janeiro, demanding fairer payments and better working conditions. In the same year’s june, São Paulo workers from several textile industries and other sectors went on strike without having a movement unification. The strikers had several confrontations with the police, and in one of them the shoemaker José Ineguez Martinez was killed. This event triggered a general strike arranged by the Labour Defense Comity. Amongst its claims were salary increases, eight hour workday, freedom for arrested strikers, right of association. Part of these claims were granted and the strike ended after an assembly voting in 16th july. Subsequently, a similar strike took place in Rio de Janeiro, gathering almost all categories of workers. In the ensuing period after 1917 until all of the decade of 1920, the labour organization. Many strikes occurred, specially under anarcho-syndicalist leadership. To obstruct the autonomous syndical action, unionized employees were fired, labour newspapers closed and union headquarters destroyed, among other tactics. During Washington Luís’ government, in 1927, the Lei Celerada was approved that, on the pretext of combating communism, limited freedom of speech, censuring the press and controlling the activity of unions. In 1930, after a coup d’état, Getúlio Vargas assumed presidency of the country and destroyed the autonomous union structure. A new form of union organization was established, but this time with great control by the State. Because of that, amongst other reasons, the Ministry of Labour, Industry and Commerce was created in that year of 1930. The State intervention in the unions marked the Brazilian labour organization in the following decades, with the union autonomy only returning many years later.

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Jornal A Voz do Trabalhador, 1913, Rio de Janeiro Journal A Voz do Trabalhador (“The Voice of the Worker”), 1913, Rio de Janeiro


Revolução de 1930. Getúlio Vargas é homenageado por grupo de mulheres no Rio de Janeiro, Acervo Assembleia Legislativa de SP 1930 Revolution. Getúlio Vargas is honoured by a group of women in Rio de Janeiro, Legislative Assembly of São Paulo’s archive

Foto oficial de Getúlio Vargas como presidente provisório, 1930 Official portrait of Getúlio Vargas as interim president, 1930

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THE CLT The CLT came up through the Decree No. 5.452, of may the first of the year 1943, sanctioned by the then president Getúlio Vargas, unifying all labour legislation existent in Brazil. Its main goal is the regulation of individual and collective working relations, contained in it. The CLT is result of 13 years of work - since the start of the Estado Novo (New State) up until 1943 - of renowned jurists, who were committed in creating a labour legislation that would meet the needs for workers security, within the context of a “regulator state”. The CLT, which stands for Consolidação das Leis do Trabalho (Labour Laws Consolidation), regulates urban and rural working relation. Since its publication, it has underwent several changes, aiming to adapt its text to the new times. Nevertheless, it continues to be the main instrument to regulate working relations and secure the workers. • Its main matters are: • Worker Registration; • Workday; • Rest Time; • Vacation; • Labour Medicine; • Special Worker Categories; • Women Workers Security; • Union Organization; • Collective Conventions; • Inspection; • Labour Rights and Labour Process. Despite the criticisms it has received, the CLT fulfills its role, specially in securing worker rights. However, for its bureaucratic and excessively regulatory aspects, it needs updating, particularly to simplify rules applicable to small and medium-sized businesses.

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A CLT A CLT surgiu pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943, sancionada pelo então presidente Getúlio Vargas, unificando toda legislação trabalhista existente no Brasil. Seu principal objetivo é a regulamentação das relações individuais e coletivas do trabalho, nela previstas. A CLT é o resultado de 13 anos de trabalho - desde o início do Estado Novo até 1943 - de destacados juristas, que se empenharam em criar uma legislação trabalhista que atendesse à necessidade de proteção do trabalhador, dentro de um contexto de “estado regulamentador”. A Consolidação das Leis do Trabalho, cuja sigla é CLT, regulamenta as relações trabalhistas, tanto do trabalho urbano quanto do rural. Desde sua publicação já sofreu várias alterações, visando adaptar o texto às nuances da modernidade. Apesar disso, ela continua sendo o principal instrumento para regulamentar as relações de trabalho e proteger os trabalhadores. Seus principais assuntos são: • Registro do Trabalhador/Carteira de Trabalho; • Jornada de Trabalho; • Período de Descanso; • Férias; • Medicina do Trabalho; • Categorias Especiais de Trabalhadores; • Proteção do Trabalho da Mulher; • Contratos Individuais de Trabalho; • Organização Sindical; • Convenções Coletivas; • Fiscalização; • Justiça do Trabalho e Processo Trabalhista. Apesar das críticas que vem sofrendo, a CLT cumpre seu papel, especialmente na proteção dos direitos do trabalhador. Entretanto, pelos seus aspectos burocráticos e excessivamente regulamentador, carece de uma atualização, especialmente para simplificação de normas aplicáveis a pequenas e médias empresas.

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CONSTITUTION OF 1937 The fourth constitution in Brazilian history, sanctioned by president Getúlio Vargas in november 10, 1937, in the same day that, by way of a coup d’état, the Estado Novo (“new state”) dictatorship was established in the country. It was drafted by jurist Francisco Campos, minister of Justice in the new regime, and obtained prior approval from Getúlio Vargas and general Eurico Dutra, minister of War. The authoritarian and centralist essence of the Constitution of 1937 made it in tune with the fascist models of political and institutional organization that were in vogue in many parts of the world, breaking with the liberal tradition of the constitutional texts previously existing in the country. Its main characteristic was the huge concentration of power in the hands of the Chief Executive. From the political-administrative viewpoint, its content was highly centralizing, being in charge of the president the appointment of state authorities, who would intervene. On the other hand, the appointment of municipal authorities was up to the state ones. The state intervention in the economy, a trend that had actually existed since 1930, was growing stronger with the creation of technical bodies mainly for this purpose. The stimulus to the organization corporate unionism, one of the most apparent influences of the fascist regimes then in force, was also gaining prominence. In the same sense, the Parliament and the political parties, considered as spurious products of the liberal democracy, were discarded. The Constitution provided for the summoning of a corporate chamber with legislative powers, which nevertheless never happened. The very term of the Constitution, according to article 187, would depend on the holding of a plebiscite to endorse it, which was never done either. After the fall of Vargas and the end of the Estado Novo in october of 1945, elections were held for the National Constituent Assembly in parallel to the presidential election. With the Constituent Assembly elected, its members got together to draft a new constitutional text, which came into effect as of september of 1946, replacing the Charter of 1937.

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CONSTITUIÇÃO DE 1937 Quarta constituição da história brasileira, outorgada pelo presidente Getúlio Vargas em 10 de novembro de 1937, no mesmo dia em que, por meio de um golpe de Estado, era implantada no país a ditadura do Estado Novo. Foi elaborada pelo jurista Francisco Campos, ministro da Justiça do novo regime, e obteve a aprovação prévia de Vargas e do ministro da Guerra, general Eurico Dutra. A essência autoritária e centralista da Constituição de 1937 a colocava em sintonia com os modelos fascistizantes de organização político-institucional então em voga em diversas partes do mundo, rompendo com a tradição liberal dos textos constitucionais anteriormente vigentes no país. Sua principal característica era a enorme concentração de poderes nas mãos do chefe do Executivo. Do ponto de vista político-administrativo, seu conteúdo era fortemente centralizador, ficando a cargo do presidente da República a nomeação das autoridades estaduais, os interventores. Aos interventores, por seu turno, cabia nomear as autoridades municipais. A intervenção estatal na economia, tendência que na verdade vinha desde 1930, ganhava força com a criação de órgãos técnicos voltados para esse fim. Ganhava destaque também o estímulo à organização sindical em moldes corporativos, uma das influências mais evidentes dos regimes fascistas então em vigor. Nesse mesmo sentido, o Parlamento e os partidos políticos, considerados produtos espúrios da democracia liberal, eram descartados. A Constituição previa a convocação de uma câmara corporativa com poderes legislativos, o que no Zentanto jamais aconteceu. A própria vigência da Constituição, segundo o seu artigo 187, dependeria da realização de um plebiscito que a referendasse, o que também jamais foi feito. Após a queda de Vargas e o fim do Estado Novo em outubro de 1945, foram realizadas eleições para a Assembleia Nacional Constituinte, em pleito paralelo à eleição presidencial. Eleita a Constituinte, seus membros se reuniram para elaborar o novo texto constitucional, que entrou em vigor a partir de setembro de 1946, substituindo a Carta de 1937.

Getúlio Vargas em viagem ao Ceará, durante o Estado Novo, 1937 Getúlio Vargas while on a trip to Ceará, during the Estado Novo, 1937

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THE CREATION OF PETROBRÁS The National Council of Petroleum (CNP, “Conselho Nacional do Petróleo”) commenced, in 1938, working in the structuralization of oil exportation in Brazil. In Brazil, a nationalist group defended that the exploration of petroleum should be a monopoly of the State. Meanwhile, another group defended that private, national or foreign companies could explore it. In 1948, the Petroleum Statute is elaborated, with the goal of regulating the oil exploration matter considering the competition in the field. The commission that elaborated this bill didn’t believe in the possibility of the State managing to maintain the oil exploration on its own. The nationalists take action launching a popular movement with the slogan “The petroleum is ours”. As a result, years later, Petrobras is created by Decree no. 2004, with the Nation Council of Petroleum providing fiscalization. However, in 1997, with the Decree no. 9478, Petrobrás ceased to hold a monopoly of the oil sector in Brazil, maintaining, however, its place as the country’s main oil companie. Since its discovery, in 2006, the pre-salt oil reserve is considered as one of Brazil’s main assets. Despite all the technological difficulties imposed by its exploration, for it being 300 kilometers (km) from the coast and under a layer of salt of over 2 km, it surpassed all initial expectations. Due to this, auctions held in 2017 and in 2018 attracted giant oil companies from abroad and yielded R$ 16 billions in stock bonus for the Government.

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CRIAÇÃO DA PETROBÁS O Conselho Nacional do Petróleo (CNP) iniciou, em 1938, o trabalho de estruturação da exploração de petróleo no Brasil. No Brasil, um grupo de nacionalistas defendia que a exploração do petróleo fosse monopólio do Estado. Enquanto isso, outro grupo defendia que privados, nacionais ou estrangeiros poderiam explorá-lo. Nesse contexto é elaborado, em 1948, o Estatuto do Petróleo, cujo objetivo era regularizar a questão da exploração petrolífera considerando a concorrência no ramo. A comissão que elaborou esse projeto de lei não acreditava na possibilidade de o Estado conseguir manter sozinho a exploração do petróleo. Os nacionalistas entram em ação ao lançar um movimento popular que teve a frase “O petróleo é nosso” como slogan. Como resultado, anos depois, pela Lei n.º 2004, é criada a Petrobras, cuja fiscalização ficou a cargo do Conselho Nacional do Petróleo. Em 1997, porém, pela Lei n.º 9478, de 6 de agosto, a Petrobras deixa de deter o monopólio do setor petroleiro do Brasil, mantendo, porém, o seu lugar de maior petrolífera do país. Desde que foi descoberta, em 2006, até o recorde de produção a reserva de petróleo do pré-sal é considerada uma das principais riquezas do Brasil. Apesar de todas as dificuldades tecnológicas que sua exploração impõe, por estar a 300 quilômetros (km) da costa e sob mais de 2 km de camada de sal, superou todas as expectativas iniciais. Tanto que os leilões realizados em 2017 e em 2018 atraíram gigantes petrolíferas estrangeiras e renderam mais de R$ 16 bilhões em bônus de outorga para os cofres da União.

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MINIMUM WAGE Minimum wage was regulated in april of 1938, with the goal of corresponding to a worker’s basic needs. In july of 1939, the new union organization was defined in detail by Decree No. 1.402. An even more centralized feature was given to the union structure, since the centers that brought together different occupational categories by municipality or region were eliminated in favor of a vertical organization, in which the unions of each category converged on state federations and national confederations. At the same time, the government took care of providing guarantees of survival to unions by establishing

a union compulsory contribution - the union tax, created in 1940, corresponding to a day of salary, paid to the union by unionized workers or not. The measure made it possible to form and maintain “façade” unions, which no longer depended on voluntary contribution from associates. The government has used many of these unions and their leaders, the so-called “pelego”, to strengthen their union base. Another important regulation made during the Estado Novo was the Labour Justice, finally opened on May 1 1941, under the administration of Minister Valdemar Falcão.

Operários, Tarsila do Amaral, 1933, Exposição Masp Workers, Tarsila do Amaral, 1933, MASP Exhibition

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SALÁRIO MÍNIMO O salário mínimo foi regulamentado em abril de 1938, devendo corresponder às necessidades básicas de um trabalhador. Já a nova organização sindical foi definida em detalhes pelo Decreto nº 1.402, de julho de 1939. Foi dada uma feição ainda mais centralizada à estrutura sindical, uma vez que se eliminaram as centrais que reuniam diferentes categorias profissionais por município ou região em favor de uma organização de caráter vertical, em que os sindicatos de cada categoria convergiam para as federações estaduais e confederações nacionais. Ao mesmo tempo, o governo tratou de dar garantias de sobrevivência aos sindicatos através da

instituição de uma contribuição sindical compulsória - o imposto sindical, criado em 1940, correspondente a um dia de salário, pago ao sindicato por trabalhadores sindicalizados ou não. A medida possibilitou a constituição e a manutenção de sindicatos de “fachada”, que passavam a não depender mais da contribuição voluntária dos associados. O governo se utilizou de muitos desses sindicatos e de seus dirigentes, os chamados pelego, para fortalecer sua base sindical. Outra regulamentação importante feita durante o Estado Novo foi a da Justiça do Trabalho, finalmente inaugurada em 1º de maio de 1941, na gestão do ministro Valdemar Falcão.

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SÃO PAULO CENTRE OF ATTRACTION FOR NORTHEASTERN MIGRATION A problem that affected the whole of Brazil in the dawn of the 20th century, after the Italians’ dominance between 1890 and 1910, followed in the next decades by the Spanish and Portuguese was due to World War I (1914 - 1918) consequence of the militarization of Italy. São Paulo, was the only one among the Brazilian capitals that in modern times had more foreigners than Brazilians, which led to a whitening of the population. At this point in time, the displacement of northeastern manpower to São Paulo was of little importance. The Great Drought, or else the drought in the Brazilian Northeast of 1877 - 79, was the most devastating drought phenomenon in the history of Brazil, which occurred in the imperial times in Brazil. This calamity was responsible for the death of between 400 thousand and 500 thousand people. From a total of 800 thousand people who lived in the affected area of the Northeast, around 120 thousand migrated to Amazonia, while 68 thousand migrated to other parts of the country. The most affected region was the province of Ceará. These were 3 consecutive years without rain, without harvests, without plantation, with loss of cattle and the fleeting of families, leaving the backlands completely unpopulated. The Paus de Arara were originated (flatback trucks modified for the transport of passengers). The image of the Northeast went through a building process, which served the economic interests of the northeastern elites and the interests of large agrarian groups and São Paulo industries (PAIVA, 2004). The representation of the northeast, associated with delay, poverty, misery, and, on the other end, the Southeast, which represented the engine of the economy, the image of modernity, masked the regional dynamics which allows the comprehension of the northeasterners’ move to São Paulo. The comprehension of this massive presence within the metropolis is only possible when we study the process of economic formation in the Brazilian space and the amplified reproduction of capital. Starting from 1923 the flow was steadily increasing. At first the destination was agrarian work in the countryside and afterwards industrialization, but there is no denying that the northeasterners were of great help for the construction of the Brazilian Metropolis, in all its areas. In literature and the arts the nationalist wave that grew all over the globe led writers and artist to turn to the subject of misery, droughts and cheap manpower. Barren Lives is a novel by Graciliano Ramos published in 1938. The book addresses the poverty and hardships in the life of a migrant in the northeastern backlands, narrating the fleeting of Fabiano and his family from the drought. The deaths staying behind in their path. The visual arts highlighted the phenomenon of the northeasterner migrants’ action in Brazil, as in the Migrant series by Portinari. The series is not simply an image, therein is an idea, and by interpreting this idea it is made possible in the present to catch a glimpse of the echoes that the past has left us. “Considering the image as a visual message, composed of different types of signs is equivalent, [...], to considering it a language and, as such, as a tool for expression and communication” (JOLY, 1996:55). ***Há disso na humanidade que sempre muito devido a

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SÃO PAULO POLO DE ATRAÇÃO DA MIGRAÇÃO NORDESTINA Um problema que afetou todo o Brasil no início do século XX, após o domínio dos italianos entre 1890 e 1910, seguidos nas próximas décadas por espanhóis e portugueses deveu-se a primeira Guerra Mundial (1914-1918) consequência da militarização da Itália. São Paulo, entre as capitais brasileiras foi a única que na época moderno teve mais estrangeiros do que brasileiros, ocasionando o branqueamento da população. Nesse momento, o descolamento da mão de obra nordestina para São Paulo foi de pouca importância. Grande Seca, ou a seca no Nordeste brasileiro de 1877–79, foi o mais devastador fenômeno de seca da história do Brasil, ocorrido no período imperial brasileiro. A calamidade é responsável pela morte de entre 400.000 e 500.000 pessoas. De um total de 800.000 pessoas que viviam na área afetada da região Nordeste, em torno de 120.000 migraram para a Amazônia, enquanto 68.000 migraram para outras partes do Brasil. A região mais afetada foi a província do Ceará. Foram três anos seguidos sem chuvas, sem colheita, sem plantio, com perda de rebanhos e com a fuga das famílias, deixando despovoado o sertão. Surgiam os Paus de Arara A população de certo modo foi pega de surpresa, já que a última grande seca ocorrida nas ‘províncias do Norte’ havia sido há mais de 30 anos, entre 1844 e 1845. Nessa época, nada ou pouco pôde ser feito para amenizar suas consequências pela falta de recursos da engenharia. Na seca de 1877, até as famílias abastadas partiram em busca de refúgio junto a parentes que habitavam as serras e o litoral. Os adultos iam montados nos cavalos seguidos pelos carros e bois cheios de mulheres, crianças e bagagens, tendo na retaguarda os vaqueiros e os ajudantes conduzindo o que restara do gado.

Retirantes nordestinos Northeastern “retirantes” (migrants)

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ASA BRANCA ( trecho)

fome ocasionada pela má distribuição de renda. *** In Brazil, the drought and the lack of public policies push people towards the cities, leading to the swelling of urban centres, thus generating unemployment, underemployment and poverty. The rural exodus made it so that people would leave their homes in the countryside and migrate to the cities, motivated by the hopes of a better life. Artists were always sensitive to the causes of the suffering populations in Brazil. And salvation through culture.

Luiz Gonzaga “Quando olhei a terra ardendo Qual fogueira de São João Eu perguntei a Deus do céu, ai

In the field of music Luiz Gonzaga do Nascimento (Exu, 13th of december 1912 - Recife, 2nd of August 1989), a Brazilian singer-songwriter should be remembered. Known as the King of Baião, he was considered one of the most complete, important and creative figures of popular Brazilian music.

Por que tamanha judiação Eu perguntei a Deus do céu, ai Por que tamanha judiação

Singing accompanied by his accordion, zabumba drum and triangle, he spread the musical culture of the northeast to the whole country, with rhythms such as baião, xaxado, xote and forró pé de serra. His work also described the poverty, the sorrows and the injustices of his arid homeland, the northeastern backlands.

Que braseiro, que fornalha Nem um pé de plantação Por falta d’água perdi meu gado

Admired by the most diverse artists, Luiz Gonzaga made his name through the anthological songs Asa Branca (1947), Seridó (1949), Juazeiro (1984), Forró de Mané Vito (1950) and Baião de Dois (1950), among countless others.

Morreu de sede meu alazão”

Luiz Gonzaga, músico nordestino Luiz Gonzaga, northeastern musician

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Os pobres seguiam a pé, na poeira das estradas, os adultos levando as crianças menores, puxando o que restava do rebanho de cabras ou vacas, o cachorro de estimação atrás. Esses eram chamados de retirantes ou flagelados, que eram perseguidos e expulsos quando estacionavam nas vizinhanças de um povoado.

A série não é simplesmente uma imagem, existe ali uma ideia, e ao interpretar essa ideia se faz possível vislumbrar no presente os ecos que o passado nos relega. “Considerar a imagem como uma mensagem visual composta por diversos tipos de signos equivale, [...], a considerá-la como uma linguagem e, portanto, como uma ferramenta de expressão e comunicação” (JOLY, 1996:55). Há disso na humanidade, desde de sempre, devido a fome ocasionada pela má distribuição de renda. No Brasil, a seca e a falta de políticas públicas empurram as pessoas para a cidade, ocasionando o inchaço dos centros urbanos, gerando assim o desemprego, o subemprego e a pobreza. O êxodo rural faz com que as pessoas deixem suas casas no campo e migrem para as cidades motivadas pela esperança de uma vida melhor. Os artistas sempre foram sensíveis as causas das populações sofridas no Brasil. E a salvação via cultura.

A imagem do Nordeste passou por um processo de construção, que atendia os interesses econômicos das elites nordestinas e interesses de grupos agrários e industriais de São Paulo (PAIVA, 2004). A representação do Nordeste associada ao atraso, à pobreza, à miséria, e na outra ponta, o Sudeste, que representava o motor da economia, a imagem da modernidade, camuflou a dinâmica regional que permite a compreensão da mobilidade dos nordestinos para São Paulo. O entendimento dessa presença maciça na metrópole só é possível quando estudamos o processo de formação econômica do espaço brasileiro e a reprodução ampliada do capital. A partir de 1923 fluxo só aumentava. A princípio a destinação era o interior no trabalho agrário em seguida a industrialização, mas sem negar que os nordestinos ajudaram em muito a construção da Metrópole do Brasil, em todas as suas áreas.

Na área da música devemos nos lembrar de Luiz Gonzaga Luiz Gonzaga do Nascimento (Exu, 13 de dezembro de 1912 – Recife, 2 de agosto de 1989) foi um compositor e cantor brasileiro. Conhecido como o Rei do Baião, foi considerado uma das mais completas, importantes e criativas figuras da música popular brasileira.

Na literatura e nas artes a onda nacionalista que se formou em todo o mundo levaram escritores e artistas a se voltarem ao tema da miséria, da seca e da mão de obra Barata. Vidas Secas é um romance de Graciliano Ramos publicado em 1938. O livro aborda a pobreza e as dificuldades da vida do retirante no sertão nordestino, narrando as fugas de Fabiano e da sua família da seca. As mortes ficando pelo caminho. As artes plásticas destacaram o fenômeno da atuação no Brasil de seus migrantes nordestinos, a saber pela série os retirantes de Portinari.

Admirado pelos mais diversos artistas, Luiz Gonzaga ganhou notoriedade com as antológicas canções Asa Branca (1947), Seridó (1949), Juazeiro (1948), Forró de Mané Vito (1950) e Baião de Dois (1950), entre inúmeras outras.

Cantando acompanhado de sua sanfona, zabumba e triângulo, levou para todo o país a cultura musical do Nordeste, como o baião, o xaxado, o xote e o forró pé de serra. Suas composições também descreviam a pobreza, as tristezas e as injustiças de sua árida terra, o sertão nordestino.

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Retirantes nordestinos, acervo Arquivo Nacional do RJ Northeastern “retirantes” (migrants), Rio de Janeiro’s National Archive

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WORLD WAR II The period between 1939 and 1941 was marked by victories of the Axis, led by the armed forces of Germany, that conquered the north of France, Yugoslavia, Pland, Ukraine, Norway and territories in North Africa. Japan annexed Manchuria (far east of China), while Italy conquered Albania and territories of Libya.

Many factors influenced the beginning of this war, which started in Europe and, quickly, spread through Africa and Asia. One of the main reasons was the emergence of totalitarian governments in Europe, in the 1930’s, with strong militaristic and expasionist goals. In Germany came Nazism, led by Hitler, that intended to expand the German territory, disrespecting the Versailles Treaty and even reconquering territory lost in World War I. In Italy the Fascist Party was growing, led by Benito Mussolini, whom became Duce of Italy, with limitless and dictatorial powers.

In 1941, Japan attacked the North-American Pearl Harbor military base set in the Pacific Ocean (Hawaii). After these events, considered treason by the NorthAmericans, the United States entered the conflict, siding with the Allies. From 1941 to 1945, the Axis went through defeats, that initiated with the losses suffered by the Germans in the rigorous russian winter. In this period, there was a regression of the Axis’ forces and, with the entrance of the US, the Allies got stronger in the battle fronts. Brazil participated directly in the conflict, sending to Italy (to the region of Monte Cassino) the veterans of the FEB (Força Expedicionária Brasileira - Brazilian Expeditionary Force). The approximately 25 thousand Brazilian soldiers conquered the region, adding an important victory to the Allies’ side.

Both Italy and Germany went through a severe economic crisis in the beginning of that decade, with millions of citizens without work. One of the solutions adopted by the fascist governments of these countries was industrialization, especially related to the creation of armaments and war equipments (war planes, ships, tanks and so on). In Asia, Japan also had strong desires to expand their domains to neighbouring territories and islands in the region. These three countries, sharing these expansionist goals, united and formed the Axis Powers: an accordance with strong military characteristics and with conquest plans drawn up by common accord. This group was known as the “Rome-Berlin-Tokyo Axis” (acronymized “ROBERTO”).

This important and sad conflict ended only in the year of 1945, with the surrender of Germany and Italy. Japan, the last country to sign the surrender treaty, still suffered a strong attack by the US, that dropped atomic bombs on the cities of Hiroshima and Nagasaki - an unnecessary action, that led to the death of millions of innocent Japanese citizens, leaving a trail of destruction in these cities. The US’ goal was to show the world their strong military might and their dominion of atomic weapons. In this way, they intended to leave World War II as the great military force of the west, opposing the soviets, in the so-called Cold War.

The starting point occurred in the year 1939, when the German army invaded Poland. Immediately, France and England declared war against Germany. According to the policy of military alliances existent at the time, two groups were formed: the Allies (led by England, the USSR, France and the US) and the Axis (led by Germany, Italy and Japan).

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SEGUNDA GUERRA MUNDIAL O período de 1939 a 1941 foi marcado por vitórias do Eixo, liderado pelas forças armadas da Alemanha, que conquistou o norte da França, Iugoslávia, Polônia, Ucrânia, Noruega e territórios no norte da África. O Japão anexou a Manchúria (extremo leste da China), enquanto a Itália conquistou a Albânia e territórios da Líbia.

Muitos fatores influenciaram o início dessa guerra, que começou na Europa e, rapidamente, alastrou-se pela África e Ásia. Um dos principais motivos foi o surgimento de governos totalitários na Europa, na década de 1930, com fortes objetivos militaristas e expansionistas. Na Alemanha, surgiu o Nazismo, liderado por Hitler, que pretendia expandir o território alemão, desrespeitando o Tratado de Versalhes e, inclusive, reconquistando territórios perdidos na Primeira Guerra Mundial. Na Itália, estava crescendo o Partido Fascista, liderado por Benito Mussolini, que se tornou o Duce da Itália, com poderes sem limites e ditadoriais.

Em 1941, o Japão atacou a base militar norteamericana de Pearl Harbor no Oceano Pacífico (Havaí). Após esse ocorrido, considerado uma traição pelos norte-americanos, os Estados Unidos entraram no conflito ao lado das forças aliadas. De 1941 a 1945, ocorreram as derrotas do Eixo, iniciadas com as perdas sofridas pelos alemães no rigoroso inverno russo. Nesse período, houve uma regressão das forças do Eixo e, com a entrada dos EUA, os aliados ganharam força nas frentes de batalha. O Brasil participou diretamente do conflito, enviando para a Itália (região de Monte Cassino) os pracinhas da FEB (Força Expedicionária Brasileira). Os cerca de 25 mil soldados brasileiros conquistam a região, somando uma importante vitória ao lado dos Aliados.

Tanto a Itália quanto a Alemanha passavam por uma grave crise econômica no início daquela década, com milhões de cidadãos sem emprego. Uma das soluções tomadas pelos governos fascistas desses países foi a industrialização, principalmente relacionada com a criação de indústrias de armamentos e equipamentos bélicos (aviões de guerra, navios, tanques, entre outros). Na Ásia, o Japão também possuía fortes desejos de expandir seus domínios para territórios vizinhos e ilhas da região. Esses três países, compartilhando de tais objetivos expansionistas, uniram-se e formaram o Eixo: um acordo com fortes características militares e com planos de conquistas elaborados em comum acordo. Esse grupo ficou conhecido como “Eixo Roma-Berlim-Tóquio”.

Esse importante e triste conflito terminou somente no ano de 1945, com a rendição da Alemanha e da Itália. O Japão, último país a assinar o tratado de rendição, ainda sofreu um forte ataque dos Estados Unidos, que despejou bombas atômicas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki – uma ação desnecessária, que provocou a morte de milhares de cidadãos japoneses inocentes, deixando um rastro de destruição nessas cidades. O objetivo dos EUA era mostrar ao mundo seu forte poderio militar e o domínio sobre armas atômicas. Desta forma, pretendia sair da Segunda Guerra Mundial como a grande força militar do ocidente, fazendo oposição aos soviéticos, na chamada Guerra Fria.

O marco inicial ocorreu no ano de 1939, quando o exército alemão invadiu a Polônia. De imediato, a França e a Inglaterra declararam guerra à Alemanha. De acordo com a política de alianças militares existentes na época, formaram-se dois grupos: Aliados (liderados pela Inglaterra, URSS, França e Estados Unidos) e Eixo (liderados pela Alemanha, Itália e Japão).

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GETÚLIO VARGAS AND THE GOOD NEIGHBOUR POLICY The so called good neighbour policy was the broadening of political and economic relationships between the North-American government and the other countries of America during World War II. Thus, the North-American government was able to attain their interests for its industries (they encouraged Brazil to export rubber and ores because they were essential products for the North-American industries) and gained an edge over the other countries. The United States were very influential over Brazil during this time, through intense marketing campaigns by American companies in the newspapers, cinemas and radio stations aimed at spreading a positive image of the USA among Brazilians and vice-versa. The North-American government created the Organization of American States (OAS) to assure the permanence of Brazil and the other countries of America under their area of influence. Theoretically, the goal of this organization was to strengthen the bonds between American countries, but in practice, it was just a token of the United States’ leadership over the American continent, essential within the Cold War context. The United States created special schools for teaching English and put this language in the official school curriculum of many countries, including Brazil. These actions were very direct and characterized their “good neighbour policy” among the other American countries. But in the end of World War II, the United States’ government diminished these actions within other countries. However, the North-American cultural influence remained strong within Brazil through the following decades. The political conflicts in Brazil remained. The creation of the UN, the Universal Declaration of Human Rights and the propagation of the imperialist decolonization movements corresponded, on different levels, to these new demands.

Crianças lendo a Carta da Organização das Nações Unidas (ONU) Kids reading the UN charter

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GETÚLIO VARGAS E A POLÍTICA DA BOA VIZINHANÇA A chamada política de boa vizinhança foi a ampliação de relações políticas e econômicas do governo norte-americano com os demais países da América durantea SegundaGuerraMundial Com isso, o governo norte-americano conseguiu atingir seus interesses para suas indústrias (ele estimulou o Brasil a exportar borracha e minérios porque eram produtos essenciais para as indústrias norte-americanas) e conseguiu a liderança sob os demais países. Os Estados Unidos influenciaram muito o Brasil durante essa época, através de intensas propagandas de empresas norte-americanas nos jornais, cinema e nas emissoras de rádio para espalhar uma imagem positiva dos EUA aos brasileiros e vice-versa. O governo norte-americano criou a Organização dos Estados Americanos (OEA) para garantir a permanência do Brasil e os outros países da América sob sua área de influência. Teoricamente, essa organização tinha como objetivo aumentar os laços de cooperação entre os países das Américas, mas na prática, era somente a liderança dos Estados Unidos sobre o continente americano, essencial no contexto da Guerra Fria. Os Estados Unidos criaram escolas especiais para o ensino de inglês e colocou esse idioma no currículo escolar oficial de vários países, inclusive no Brasil. Essas ações eram muitos diretas e caracterizavam a sua ‹›política de boa vizinhança›› com os demais países americanos. Mas no final da Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos diminuiu essas ações com os demais países. Porém, a influência cultural norte-americana continuou forte no Brasil durante as décadas seguintes. No Brasil os conflitos políticos continuaram. A criação da ONU, a Declaração dos Direitos Humanos e a difusão dos movimentos de descolonização imperialista correspondiam, em planos distintos, a novas demandas. A criação da ONU, a Declaração dos Direitos Humanos e a difusão dos movimentos de descolonização imperialista correspondiam, em planos distintos, a essas novas demandas.

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THE RETURN OF VARGAS

DUTRA AND THE COLD WAR

In 1951, the campaign song “bota o retrato do velho outra vez, bota no mesmo lugar” (“put the old man’s portrait up again, put it up in the same spot”) rocked the return of Getúlio Vargas to the presidency. However, the populist leader’s popularity wasn’t repeated in his second administration (1951 - 1954), a period which was riddled with intense crisis and the inflammation of opposition groups.

With the rising of Eurico Gaspar Dutra to the presidency of the Republic (1946 - 1951), the country took one more important step in the process of re-democratization and of rupture with the dictatorship of the Estado Novo. In this context, the creation of a new constitution imposed itself as something vital for the liberalization of national political structures. In 1946, a new Charter was, then, elaborated, through which a vast array of freedoms were guaranteed, such as that of thought and speech, press and party organization.

One of the most prevalent discussions in the political agenda of the Vargas administration was the degree of openness of the economy. Going against the interest of many in the Brazilian business community, which were connected to the foreign capital, Getúlio adopted nationalist economic measures, such as limiting the remittance of profits abroad and the entry of multinationals in the country. The launch of the campaign called “O Petróleo é Nosso” (The Petroleum is Ours) and the creation of Petrobras represented the peak of this nationalist platform. In 1954, two events raised at alarming levels the crisis in which the Vargas administration was sunken. First of all, the proposed 100% increase of the minimum wage done by the then Minister of Labour, João Goulart, which sparked the concern of more conservative sectors, fearful in regards to the “communist nature” of the measure. In Brazil despite president Getúlio Vargas’ popularity, this libertarian outcry materialized in growing criticism towards the Estado Novo. Sectors of the armed forces and of the press were the heads of the opposition to Vargas dictatorship, which would perish with the summoning of new presidential elections, of which Vargas was banned from participating and Eurico Gaspar Dutra would come out victorious. It’s important to have in mind that such a change in presidency of the republic didn’t necessarily imply a rupture with Vargas’ policies. On the contrary, Dutra was elected ultimately by the campaign support offered by his predecessor. Furthermore, of the new parties that would be founded, two of the most important ones presented the “politic DNA” of Vargas: the PTB (Brazilian Labour Party), and the PSD (Social Democratic Party). Even the UDN party (National Democratic Unity), representative of the conservative sectors and the Estado Novo opposition, gained space in Brazilian political spectrum precisely by its attacks towards Getúlio.

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However, the young Brazilian democracy’s construction was severely destabilized by the international relations’ path within the country. In a global context marked by the Cold War, Dutra’s Brazil aligned with the North-American guidelines, which motivated the rupture of relations with the Soviet Union, in addition to the persecution of communist politicians and, more exemplarily, the cassation of the Brazilian Communist Party (Partido Comunista Brasileiro - PCB). The bonds between Brazil and the United States grew even stronger with the creation of the Abbink Mission and the signing of the TIAR (Inter-American Treaty of Mutual Assistance). While the first created a commission with representatives from both countries to discuss the paths taken by the Brazilian economy, the second broadened the network of combat against the communist expansion in the American continent. The formation of the ESG (Escola Superior de Guerra - War High School) also highlighted the US interference in important national issues, due to the great participation of North-American military in its creation.


DUTRA E A GUERRA FRIA

A VOLTA DE VARGAS

Com a chegada de Eurico Gaspar Dutra à presidência da República (1946-1951), o país dava mais um importante passo no processo de redemocratização e de ruptura com a ditadura estadonovista. Neste cenário, a criação de uma nova constituição se impunha como algo fundamental à liberalização das estruturas políticas nacionais. Em 1946, uma nova Carta foi, então, elaborada, através dela estavam garantidas as mais diversas liberdades, como de pensamento e expressão, imprensa e organização partidária.

Em meados do ano de 1951, a marchinha “Bota o retrato do velho outra vez, bota no mesmo lugar” embalou o retorno de Getúlio Vargas à presidência. Entretanto, a popularidade do líder populista não se repetiu em seu segundo governo (19511954), período marcado por crises intensas e pela inflamação dos grupos oposicionistas.

No entanto, a construção da jovem democracia brasileira foi profundamente abalada pelos caminhos que as relações internacionais tomaram no país. Em um contexto mundial marcado pela Guerra Fria, o Brasil de Dutra se alinhou às diretrizes norte-americanas, o que motivou o corte de relações com a União Soviética, além da perseguição a políticos comunistas e, mais exemplarmente, da cassação do Partido Comunista Brasileiro (PCB). As relações entre Brasil e Estados Unidos ficaram ainda mais estreitas com a criação da Missão Abbink e da assinatura do TIAR (Tratado Interamericano de Assistência Recíproca). Enquanto a primeira criava uma comissão com representantes dos dois países para discutir os caminhos tomados pela economia brasileira, o segundo ampliava a rede de combate à expansão comunista no continente americano. A formação da ESG (Escola Superior de Guerra) evidenciava igualmente a interferência estadunidense em importantes questões nacionais, face à grande participação de militares norteamericanos em sua criação.

Uma das discussões que mais se fez presente na pauta política do governo Vargas foi o grau de abertura de nossa economia. Contrariando os interesses de boa parte do empresariado brasileiro, vinculado ao grande capital estrangeiro, Getúlio adotou medidas econômicas nacionalistas, como a limitação da remessa de lucros ao exterior e da entrada de multinacionais no país. O lançamento da campanha “O Petróleo é Nosso” e a criação da Petrobras representaram o auge dessa plataforma nacionalista. Em 1954, dois eventos elevaram a níveis alarmantes a crise na qual estava submersa a administração varguista. Em primeiro lugar, a proposta de aumento de 100% do salário mínimo feita pelo então Ministro do Trabalho, João Goulart, que despertou a preocupação dos setores mais conservadores, temerosos em relação à “natureza comunista” da medida. No Brasil mesmo com a popularidade do presidente Getúlio Vargas, tal clamor libertário se materializou no crescimento das críticas ao Estado Novo. Setores das forças armadas e da imprensa encabeçavam a oposição à ditadura varguista, que viria a padecer com a convocação de novas eleições presidenciais, das quais Vargas fora proibido de participar e Eurico Gaspar Dutra sairia vitorioso. É importante lembrar que tal mudança na presidência da república não indicou necessariamente um rompimento com a política varguista. Ao contrário, Dutra foi eleito fundamentalmente pelo apoio ofertado por seu antecessor à sua campanha. Além disso, dos novos partidos que viriam a ser criados, dois dos mais importantes apresentavam o “DNA político” de Vargas: o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) e a o PSD (Partido Social Democrático). A própria UDN (União Democrática Nacional), representante de setores conservadores e opositores ao Estado Novo, ganhou espaço no espectro político brasileiro justamente pelos ataques que fazia a Getúlio.

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THE LETTER “Once again, the forces and the interests against the people coordinate and again they unleash upon me. They don’t accuse me, they insult; they don’t combat me, they slander me, and they don’t give me the right of defense. They must suffocate my voice and impede my action, so that I cannot go on defending, as I always have, the people and especially the humble. I follow the destiny that is imposed upon me. (...) I choose this means of of being always with you. When they humiliate you, you will feel my soul suffering by your side. When hunger comes knocking on your door, you’ll feel in your chests the energy to fight for you and your children. When they vilify you, you will feel in thought the strength to to react. My sacrifice will keep you united and my name will be your battleflag. Each drop of my blood will be and immortal flame in your conscience and will preserve the sacred vibration for resistance. My response to hatred is forgiveness. And to the ones who think they have defeated me my response is my victory. I was a slave to the people and today I free myself to the eternal life. But this people of whom I was a slave to will no longer be slave to anyone. My sacrifice will always rest in your soul and my blood will be the price of your salvation. I have fought against Brazil’s spoliation. Fought against the people’s spoliation. I have fought with an open chest. The hatred, the infamies, the lies haven’t knocked down my spirit. I have given you my life. Now I offer you my death. I have no regrets. Serenely I take the first step along eternity’s path and leave life to enter History.” Getúlio Vargas O povo chora o suicídio de Getúlio Vargas, 1954, Acervo CPDOC/FGV The people mourn Getúlio Vargas’ suicide, 1954, CPDOC/FGV Archive

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A CARTA “Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. (...) Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História”. Getúlio Vargas

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JK’S POPULISM Populism is a way of governing based on the masses, where the ruler exerts a very big influence on the people and uses that to obtain public support. The populist leader seeks to establish emotional bonds with the people, not rational ones. He has a direct contact with the people, so that no other intermediate is needed. It is this proximity that is created among the people, that are more often than not of low income, a feeling of affection toward the leader. Vargas was an example of this, whom was called “father of the poor”. JK had the same approach as Vargas, even if marked by greater optimism. Born in Diamantina, an old city in the state Minas Gerais, Juscelino smiled, walked kilometers to get to school, sang in serestas, being known as “Nonô Pé de Valsa”. Daring, audacity and innovation were trademarks of this simple, visionary and polemical president, loved by people, politically persecuted, repealed-exiled, left to ostracism and killed in a tragic car crash. Politician of action, he left countless works which characterize his three administrations – municipal government of Belo Horizonte, state government of Minas Gerais and Republic presidency. Mottos such as the Energy and Transport Binomial, 50 years in 5 and Brasília – the so called goal-synthesis –, turned him into a myth, who has entered not only the hearts but also the homes of countless Brazilians. If the campaign records – pamphlets, holy cards, banners, posters, became a rarity because of the fearful action of many juscelinitst in the hard times of the Military Dictatorship, his joyful and modern image remains alive in the iconographic records – films, photographies, newspapers and magazines – in master works of Brazilian art and architecture. JK brought along with him the best of Brazilian culture, gave Niemeyer the chance to show his creative genius with the construction of Pampulha. Alongside Lúcio Costa and Israel Pinheiro he made the sign of the cross in the Central Plateau, a symbol for a new age. He flew through Brazil from north to south, pursued the utopia of integration. He opened roads, builded usines, implanted industries, created perspectives, was supported and lauded by intellectuals, artists, politicians, engineers, the masses and the so called “candangos”. The Bossa Nova President, with his smile, sympathy and wit ward off military coups, made come true the

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O POPULISMO DE JK O populismo é uma forma de governar baseada nas massas, onde o governante exerce uma influência muito grande sobre o povo e utiliza isso para obter apoio popular. O líder populista procura estabelecer laços emocionais com o povo, e não racionais. Ele tem contato direto como o povo, não sendo necessária a presença de nenhum intermediário. É essa proximidade que gera nas pessoas, na maioria das vezes, de baixa renda, o sentimento de afeição pelo líder. Um exemplo disso foi Vargas, chamado de “pai dos pobres”. JK, teve a mesma direção de Vargas, porém marcado por maior otimismo. Nascido em Diamantina, antiga cidade mineira, Juscelino sorriu festeiro, andou quilômetros para chegar a uma escola, cantou em serestas, transformou-se no “Nonô Pé de Valsa”. Ousadia, audácia e inovação foram a marca deste presidente simples, visionário e polêmico, amado pelo povo, perseguido político, cassado-exilado, jogado no ostracismo e morto em trágico acidente de carro. Político de ação deixou inúmeras obras que caracterizaram seus três governos – prefeitura de Belo Horizonte, governo de Estado de Minas Gerais e presidente da República. Lemas como o Binômio Ernergia e Transporte, 50 anos em 5 e a chamada meta síntese - Brasília , o transformaram em mito, que entrou não só nos corações como nos lares de inúmeros brasileiros. Se os registros de campanha - panfletos, santinhos, flâmulas, cartazes tornaram-se uma raridade pela ação temerosa de muitos juscelinistas Mulheres apoiam a candidatura de JK a presidente, em pé, à esquerda Sara Kubitschek, Acervo CPDOC Women support JK’s run for President, standing at left, Sara Kubitschek, CPDOC Archive

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dream of Brasília which existed since the Constitution of 1821, generated optimism, even brought luck to soccer and in 1958 Brazil was world champion.

which the Armed Forces (specially the Army) and the National Congress (through the majoritarian PSD/ PTB alliance) supported the Executive branch’s economic goal.

The years of his government became golden years, the J.K. years, years of modernity and hope.

According to historian Josanne Guerra Simões “the development defended and realized by Kubitschek brought, undoubtedly, the modernization of the infrastructure and the country’s industrialization increase”.

His basic political proposal is the rapid acceleration of Brazilian industrialization as the only alternative to overcome the country’s economic delay, which translated itself in the 50 years in 5 slogan. The Target Plan also aimed to promote the country’s interiorisation and integration by the means of relocating the nation’s Capital to the Central Plateau; and the construction of a network of roads that would interconnect Brazil from north to south, east to west. Brasília – the goal-synthesis – would be, simultaneously, the starting point.

But the slogans used in JK’s campaign in 55 allowed some of the characteristics that formed a very unique administrative style to be emphasised. It is still said nowadays, how JK seemed to be everywhere, on all fronts, overseeing and encouraging all of those involved in fulfilling the government’s goals. Along with this we can also highlight his optimism, good humour and undying hope of achieving desired goals. A go-getter, daring, modern, energetic in rushing toward the future are some of the images that survived through time and that translate his actions.

Politically, his administration was marked by democratic normalcy, obtained by the means compromises and alliances, fruits of a favorable conjunction in

Oscar Niemeyer, JK e Israel Pinheiro examinam a maquete da Praça dos Três Poderes. 1958. Oscar Niemeyer, JK and Israel Pinheiro examine model of the Praça dos Três Poderes (“Three Powers Plaza”), 1958

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nos duros anos da Ditadura Militar, sua figura alegre e moderna permanece viva nos registros iconográficos – filmes, fotos, jornais e revistas – em obras máximas da arte e na arquitetura brasileira.

intermédio da aliança majoritária PSD/PTB) emprestaram seu apoio à meta econômica do Executivo. Segundo a historiadora Josanne Guerra Simões “o desenvolvimentismo defendido e posto em prática por Kubitschek trouxe, é inegável, a modernização da infra-estrutura e o incremento da industrialização do país”.

JK trouxe para junto de si o que de melhor existia na cultura brasileira, deu a Niemeyer a chance de mostrar o gênio criativo ao construir Pampulha. Com Lúcio Costa e Israel Pinheiro fez no Planalto Central o signo do sinal da cruz, marca simbólica de um novo tempo. Voou de norte ao sul do Brasil , buscou a utopia da integração. Abriu estradas, construiu usinas, implantou industrias, criou perspectivas, foi carregado e ovacionado por intelectuais, artistas, políticos, engenheiros, populares e candangos. Acelerou a história.

Mas as frases que seriam utilizadas na campanha JK 55 permitem que se saliente algumas das características que conformaram um estilo administrativo muito próprio. É voz corrente ainda, nos dias de hoje, como JK parecia estar em todos os lugares, em todas as frentes, fiscalizando e incentivando todos os envolvidos na consecução dos objetivos do governo. Aliado a isso destaca-se o otimismo, bom humor e esperança imorredoura na capacidade de se alcançar os fins almejados. Realizador, ousado, moderno, enérgico ao apressar o futuro são algumas das imagens que lhe sobreviveram no tempo e que traduzem suas ações.

Presidente Bossa Nova, com seu sorriso, simpatia e perspicácia afastou golpes militares, realizou o sonho Brasília que estava na Constituição desde 1821, gerou otimismo, deu sorte até no futebol e em 1958 Brasil foi campeão do Mundo. Os anos de seu governo se transfomaram em anos dourados, anos JK, anos de modernidade e de esperança. Sua proposta política básica é a rápida aceleração da industrialização brasileira como única alternativa para a superação do atraso econômico do País, que se traduzia no slogan 50 anos em 5. O Plano de Metas visava ainda promover a interiorização e integração do País por intermédio da mudança da Capital para o Planalto Central; e a construção de uma rede de estradas que interligariam o Brasil de norte a sul, de leste a oeste. Brasília – a meta-síntese – seria, simultaneamente, ponto de partida Politicamente, seu governo foi marcado pela normalidade democrática, obtida mediante compromissos e alianças, frutos de uma conjuntura favorável em que as Forças Armadas (em especial o Exército) e o Congresso Nacional (por

JK na inauguração de Brasília, Acervo Memorial JK JK at the inauguration of Brasília, Memorial JK Archive

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JK’S GOALS PLAN AND LABOUR The Goals Plan defined the main objectives to be achieved, prioritizing five sectors: energy, transportation (which received close to 70% of the Plan’s original budget allocation), industry, education and food. In these last two areas the goals weren’t achieved, which went unnoticed because of the other’s success. The plan’s success was possible, greatly, due to the creation of administrative bodies linked directly to the Presidency of the Republic. These were the work and execution groups, such as the GEICON (Grupo Executivo de Construção Naval - Executive Group of Naval Construction), the GEIA (Grupo Executivo da Indústria Automobilística - Executive Group of the Automobilistic Industry) and the GEIMAPE (Grupo Executivo da Indústria de Maquinaria Pesada - Executive Group of the Heavy Machinery Industry). The economic developmentalism that Brazil lived during JK’s term prioritized investments in the transport and energy sectors, in the base industry (durable and non-durable consumer goods), in the substitution of imports, especially with the rise of the automobilistic industry and in education. To JK and his government, Brazil would diminish social inequality by generating wealth and developing the industrialization and subsequently strengthening the economy. Thus, his Goals Plan was launched: “Brazil would develop 50 years in 5”.

Construção da Hidrelétrica de Paulo Affonso III, na Bahia Construction of the Paulo Affonso III Hydroelectric Power Plant, in Bahia

The energy and transport sectors were considered fundamental for economical developmentalism, and the importance of the Vargas government in this process should be mentioned, with the creation of the Companhia Siderúrgica Nacional (National Steel Company) in Volta Redonda - RJ in the year 1946 and of the Petrobrás in the year 1953. Other sectors that gained importance were the farming sector; JK strived to increase the production of food and the energy sector, building the hydroelectric plants of Paulo Afonso in the São Francisco river and the dams of Furnas and Três Marias. The construction of Brasilia and the transferral of the federal capital. At the end of 1956, after the National Congress had approved the transferral of the capital, the construction work for building Brasilia started. The new capital of Brazil would have a modern and bold architectural complex, made by the architect Oscar Niemeyer. The Plano Piloto (Pilot Plan) of the city was developed by the town planner Lúcio Costa.

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PLANO DE METAS DE JK E O TRABALHO O Plano de Metas definia os principais objetivos a serem alcançados, priorizando cinco setores: energia, transporte (que receberam perto de 70% da dotação orçamentária original do plano), indústria, educação e alimentação. Nessas duas últimas áreas as metas não foram atingidas, o que passou despercebido diante do sucesso das outras.

Candangos na construção de Brasília, acervo Arquivo Público do Distrito Federal “Candangos” (construction workers) at the construction of Brasília, Public Archive of the Federal District

O sucesso do plano foi possível, em grande parte, graças à criação de órgãos de administração ligados diretamente à Presidência da República. Eram os grupos de trabalho e execução, como o GEICON (Grupo Executivo de Construção Naval), o GEIA (Grupo Executivo da Indústria automobilística) e o GEIMAPE (Grupo Executivo da Indústria da Maquinaria Pesada). O desenvolvimentismo econômico que o Brasil viveu durante o mandato de JK priorizou o investimento nos setores de transportes e energia, na indústria de base (bens de consumos duráveis e não duráveis), na substituição de importações, destacando a ascensão da indústria automobilística, e na Educação. Para JK e seu governo, o Brasil iria diminuir a desigualdade social gerando riquezas e desenvolvendo a industrialização e consequentemente fortalecendo a economia. Sendo assim, estava lançado seu Plano de Metas: “o Brasil iria desenvolver 50 anos em 5”. Os setores de energia e transporte foram considerados fundamentais para o desenvolvimentismo econômico, ressalta-se a importância do governo Vargas neste processo, com a criação da Companhia Siderúrgica Nacional em Volta Redonda-RJ no ano de 1946 e da Petrobras no ano de 1953. Outros setores que ganharam relevância foram o agropecuário; JK procurou aumentar a produção de alimentos e o setor energético, construindo as usinas Hidrelétricas de Paulo Afonso no rio São Francisco e as barragens de Furnas e Três Marias. A construção de Brasília e a transferência da capital federal. Em fins de 1956, depois de o Congresso Nacional ter aprovado a transferência da capital, iniciaram-se as obras da construção de Brasília. A nova capital do Brasil teria um moderno e arrojado conjunto arquitetônico realizado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. O Plano Piloto da cidade foi desenvolvido pelo urbanista Lúcio Costa. 67


ACHIEVEMENTS OF THE GOALS PLAN When he assumed the Presidency, in january 1956, Juscelino went swiftly on to implement his Goals Plan. With his motto “50 years in 5”, Juscelino led Brazil through several transformations. The main works of great internal and even international repercussion were: The implantation of the automobilistic industry - with fiscal incentives, the Vemag, installed in São Paulo, was the first factory to produce genuinely national vehicles. Volksvagen, Mercedes Benz, Willis Overland, General Motors and Ford factories were also installed. In 1957 the automobiles by Volkswagen Brazil started being made entirely inside the country; Juscelino Kubitschek em foto oficial como presidente Juscelino Kubitschek in his official portrait as president

The expansion of the hydroelectric plants - the Paulo Afonso plant, in the São Francisco river, in 1955, the Furnas plant and the one in Três Marias in Minas Gerais, beside others in various states;

Juscelino Kubitschek wasn’t the first to talk about the possibility of the transferral of the Brazilian capital, since 1981 the Federal Constitution, in its 3rd article, already aimed for the transferral. In the last decade of the 19th century, more precisely in the year of 1894, a commission was appointed and demarked the area of the future Federal District in the Central Plateau. This commission was known as the Cruls Mission, in reference to the belgian astronomer that headed it, Luiz Cruls.

The creation of the National Council of Nuclear Energy; The creation of the Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE - Superintendency of the Northeast’s Development), to correct the economic and social problems of the Northeast, since the industrial development and the concentration of wealth was limited to the Southeast of the country, taking a great number of immigrants to the region;

The interiorization of the federal capital was already a dream of many Brazilians before JK, but it was Juscelino who implemented the transferral of the capital. Accustomed to dealing with bold projects, JK gave the order for the beginning of the construction of Brasília, the works started in the end of 1956. The new capital was inaugurated in the year of 1960.

The expansion of the steel industry;

The construction of the new capital configured as a great goal to be met. Brasília could only be effected through great will of JK, and also through the effort of the workers that built it, a great deal of whom were migrants from the northeast region of Brazil. The workers that built it became its first residents, being known as “Candangos”.

The creation of the Ministry of Mines and Energy, installed only in the following government; The founding of Brasília, the new capital of the country, considered the synthesis goal of the JK government. The location of the Central plateau, in Goiás, was strategical, because it would create a dynamic pole in the interior of the country.

With Juscelino Kubitschek, the interior of Brazil came to be seen as a space of possibility, as an integral part of the Brazilian civilization.

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REALIZAÇÕES DO PLANO DE METAS Ao assumir a Presidência, em janeiro de 1956, Juscelino tratou logo de implementar seu Plano de Metas. Com seu lema “cinquenta anos em cinco”, Juscelino levou o Brasil a diversas transformações. As principais obras de grande repercussão interna e mesmo internacional foram: A implantação da indústria automobilística – com incentivos fiscais, a Vemag, instalada em São Paulo, foi a primeira fábrica a produzir veículos genuinamente nacionais. Foram também instaladas as fábricas da Volkswagen, Mercedes Benz, Willis Overland, General Motors e Ford. Em 1957 os automóveis da Volkswagen do Brasil começaram a ser fabricados inteiramente no nosso país; A expansão das usinas hidrelétricas – foram instaladas as usinas de Paulo Afonso, no rio São Francisco, em 1955, a de Furnas e a de Três Marias em Minas Gerais, além de outras em vários estados; A criação do Conselho Nacional de Energia Nuclear; A criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), para corrigir os problemas econômicos e sociais do Nordeste, uma vez que o desenvolvimento industrial e a concentração da riqueza, limitou-se ao Sudeste do país, levando um grande número de imigrantes para a região;

Juscelino Kubitschek não foi o primeiro a falar sobre a possiblidade da transferência da capital do Brasil, desde 1891 a Constituição Federal, no seu artigo 3º, já almejava a transferência. Na última década do século XIX, mas precisamente no ano de 1894, foi nomeada uma comissão que visitou e demarcou a área do futuro Distrito Federal no Planalto Central. Essa comissão ficou conhecida como Missão Cruls em referência ao astrônomo belga Luiz Cruls que a chefiava. A interiorização da capital federal já era um sonho de muitos brasileiros anteriores a JK, mas foi Juscelino que efetivou a transferência da capital. Acostumado a lidar com projetos arrojados, JK deu a ordem para o início da construção de Brasília, os trabalhos tiveram início no final de 1956. A nova capital foi inaugurada no ano de 1960. A construção da nova capital se configurou como uma grande meta a ser cumprida. Brasília somente pôde ser efetivada a partir da grande vontade de JK, e também pelo empenho dos trabalhadores que a construíram, grande parte se constituía de migrantes da região nordeste do Brasil. Os trabalhadores que a construíram tornaram seus primeiros moradores, ficando conhecidos como “Candangos”. Com Juscelino Kubitschek, o interior do Brasil passou a ser visto como espaço de possibilidades, como parte integrante da civilização brasileira.

Monumento aos Candangos, escultura de Bruno Giorgi, praça dos Três Poderes Monument to the Candangos, sculpture by Bruno Giorgi, praça dos Três Poderes

A expansão da indústria do aço; A criação do Ministério das Minas e Energia, instalado apenas no governo seguinte; A fundação de Brasília, a nova capital do país, considerada a meta síntese do governo JK. A localização no planalto Central, em goiás, era estratégica, pois criaria um polo dinâmico no interior do país.

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JÂNIO QUADROS AND THE RESIGNATION In 1960, almost 6 million Brazilians manifested their support through the urns to the propositions of administrative morality and social justice preached by Jânio Quadros.

people from wearing bikinis in the beaches, cockfights, the use of lança-perfume (a drug in aerosol form, very popular at the time) during Carnaval. During 7 months in office, Jânio sent circa 1530 bilhetinhos: apparently, this was his preferred means of communication with the administrative people.

Less than a year later, in august 25th of 1961, the president would resign his term: “terrible forces” would have prevented him from governing.

It wasn’t the personalist little notes, but the formulation of an independent external policy that granted Jânio Quadros some of his harshest oppositors. Jânio was reluctant to accept the North-American block on Cuba and spoke for the reestablishment of diplomatic bonds with the Soviet Union.

Jânio described himself as apolitical, the moralist capable of fixing the Brazilian political practice. The UDN went to find their candidate in the PTB’s rows: Jânio had been elected as federal deputy by this party (and by the state of Paraná) in 1958, confirming his autonomy toward parties and definite political programmes. In the following years, the “janism”, a new version of populism, would gain national expression.

To the more conservative circles’ schock, in august 1961 he decorated “Che” Guevara with the Order of the Southern Cross.

The symbol of Jânio’s campaign was the broom with which this personalist leader intended to sweep the corruption and moralyze the public administration of the country. His charisma was undeniable: his electoral propositions pleased both the middle class and the military sectors, workers and some businessmen.

However, in 1961, with the resignation of Jânio Quadros, in a fruitless attempt of what was supposedly intended to be a self-inflicted coup, the vice-president João Goulart would rise to the power, which in a way generated a discontentment among segments contrary to Vargas’ populism.

Other than the public moralization, Jânio intended to resolve the economic crisis that affected the country; defended a fairer social order and the valorization of the countryman. Soon he rose as a beacon of hope for millions of Brazilians. Disputing the presidency through PSD/PTB, marshal Lott defended a nationalist platform that found no echo in the population. Through the PRP, Ademar de Barros still tried to compete with the one whom had already beaten him in former elections. Soon after assuming the presidency, in january 1961, Jânio adopted a policy of economic austerity, devaluing the cruzeiro in 100% and cutting the subsidies for the import of wheat and gasoline. Beside that, he also restricted credits and froze salaries. Many attributed such measures to the guidelines of the FMI: the nationalists’ opposition joined to the discontentment of the sectors affected by the new economic policy. The country “moralization” project, that gave him so many votes among the middle classes, was conducted basically through the famed “bilhetinhos” (“little notes”).

Jânio Quadros assume a presidência com o mote de campanha “varre, varre vassourinha” Jânio Quadros assumes presidency with the campaign slogan “varre, varre vassourinha” (“sweep, sweep, little broom”)

In incisive texts, whose radio transmission led to extraordinarily high audience levels for the program “A Voz do Brasil” (Brazil’s Voice), the president prohibited

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JÂNIO QUADROS E A RENÚNCIA Em 1960, quase 6 milhões de brasileiros manifestaram nas urnas o seu apoio à proposta de moralidade administrativa e justiça social pregada por Jânio Quadros.

e cortando os subsídios à importação do trigo e da gasolina. Além disso, restringiu o crédito e congelou os salários. Muitos atribuíram tais medidas às diretrizes do FMI: a oposição dos nacionalistas somou-se ao descontentamento dos setores atingidos pela nova política econômica. O projeto de “moralização” do pais, que lhe valera tantos votos entre as camadas médias, foi conduzido basicamente através dos famosos “bilhetinhos”.

Menos de um ano depois, a 25 de agosto de 1961, o presidente renunciava ao mandato: “forças terríveis” o teriam impedido de governar. Jânio se descrevia como o antipolítico, o moralista capaz de sanear a prática política brasileira. A UDN foi buscar o seu candidato nas fileiras do PTB: Jânio elegera-se deputado federal por esse partido (e pelo Paraná) em 1958, confirmando sua autonomia em relação a siglas partidárias e programas políticos definidos. Nos anos seguintes, o janismo, uma nova versão do populismo, iria ganhar expressão nacional.

Em textos incisivos, cuja difusão pelo rádio elevou extraordinariamente os índices de audiência de “A Voz do Brasil”, o presidente proibiu o uso de biquínis nas praias, as rinhas de galo, a utilização de lança-perfume no Carnaval. Durante sete meses de governo Jânio enviou cerca de 1 530 bilhetinhos: aparentemente, era este o seu meio predileto para se comunicar com o pessoal administrativo.

O símbolo da campanha janista foi a vassoura com a qual esse líder personalista pretendia varrer a corrupção e moralizar a administração pública do país. Era inegável o seu carisma: suas propostas eleitorais agradavam tanto à classe média quanto a setores militares, aos trabalhadores e alguns empresários.

Não foram os bilhetinhos personalistas, mas a formulação de uma política externa independente que valeu a Jânio Quadros seus mais ferrenhos opositores. Jânio relutou em aceitar o bloqueio norte-americano a Cuba e pronunciou-se pelo reatamento de laços diplomáticos com a União Soviética.

Além da moralização pública, Jânio propôs-se a resolver a crise econômica que afetava o país; defendeu uma ordem social mais justa e a valorização do homem do campo. Logo despontou como a esperança de milhões de brasileiros.

Para escândalo dos círculos mais conservadores, em agosto de 1961 condecorou “Che” Guevara com a Ordem do Cruzeiro do Sul.

Disputando a presidência pelo PSD/PTB, o marechal Lott defendia uma plataforma nacionalista que não encontrava eco na população. Pelo PRP, Ademar de Barros ainda tentava concorrer com aquele que já o derrotara em outras eleições.

No entanto, em 1961, com a renúncia de Jânio Quadros, numa tentativa infrutífera do que supostamente pretendia ser um auto-golpe, subiria ao poder o vice-presidente João Goulart, o que de certa forma gerou descontentamento entre segmentos contrários ao populismo de Vargas.

Logo após assumir a presidência, em janeiro de 1961, Jânio adotou uma política econômica de austeridade, desvalorizando o cruzeiro em 100%

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JOÃO GOULART Goulart, political successor of Getúlio Vargas and son-in-law of Leonel Brizola, defended the execution of base reforms in Brazil, including the agrarian reform. He was in China when he received the news of Quadros’ resignation and was also informed of the attempt by militaries contrary to Jango (as Goulart was known) to impede him from taking office. Ranieri Mazzilli was the exerting president.

the presidential office. Having serious suspicions about Jango’s political trajectory, some of the Armed Forces members alleged that the passing of the office would jeopardize national security. Indeed, many conservative political groups associated the then vice-president to the threatening hypothesis of the installment of communism in Brazil. With this, a number of military authorities offered a letter to the National Congress claiming for the extension of Ranieri Mazzilli, president of the Chamber of Deputies who took office while Jango was on a trip in China. Initially, these militaries manifested for the implementation of new elections so that the possibility of Jango rising to the power was completely terminated. However, other politicians and militaries, such as marshall Lott, were in favour of the compliance to political rules.

Jânio’s resignment, whose real motives weren’t duly clarified by the ex-president (who died transmitting to his grandson a “romantic” vision of the act, thinking of returning through the arms of the people), seems to have been motivated by a speech given by Carlos Lacerda, the governor of the state Guanabara. Concerned with Jânio’s nods to socialist countries - in the external policy Quadros wanted to invert his conservative profile - , Lacerda, who supported the election of Quadros, tried to speak to him in Brasília and, in the encounter, the journalist-governor was very badly receptioned by the then president. Annoyed, Lacerda announced on a pronouncement on TV that Jânio intended to stage a coup, resigning only to then return to the office with his powers renewed. Lacerda’s speech politically disoriented Jânio Quadros’ government, which had already proved, from the start, to be ambiguous and unstable.

It was in this context that several political figures of the time organized the so-called “Legality Campaign”, in which they used the means of communication to obtain support for the office of João Goulart. Among other politicians, Leonel Brizola should be emphasised, whom was the son-in-law of the vice-president, and participated effectively in the movement. At the same time, knowing about the pressures surrounding him, Jango extended his trip, making a strategic stop in the US, as a sign of his proximity with the capitalist block.

After Jânio Quadros’ resignment, the military tried to veto the arrival of the vice-president João Goulart to

Presidente João Goulart, ao lado da esposa Maria Tereza, discursa no comício realizado na Central do Brasil, em 13 de março de 1964, acervo Arquivo Nacional resident João Goulart, next to his wife Maria Tereza, gives a speech at a rally taking place at Central do Brasil, on March 13, 1964, National Archive

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JOÃO GOULART Goulart, sucessor político de Getúlio Vargas e cunhado de Leonel Brizola, defendia a realização de reformas de base no Brasil, incluindo a reforma agrária. Ele estava na China quando recebeu a notícia da renúncia de Quadros e era informado também da tentativa de militares contrários a Jango (como era conhecido Goulart) impedirem sua posse. Ranieri Mazilli era o presidente em exercício.

Com isso, diversas autoridades militares ofereceram uma carta ao Congresso Nacional reivindicando a extensão do mandato de Ranieiri Mazzilli, presidente da Câmara que assumiu o poder enquanto Jango estava em viagem à China. Inicialmente, esses militares se manifestavam a favor da realização de novas eleições para que a possibilidade de ascensão de Jango fosse completamente vetada. No entanto, outros políticos e militares, como o Marechal Lott, eram a favor do cumprimento das regras políticas.

A renúncia de Jânio, cujos reais motivos não foram devidamente esclarecidos pelo ex-presidente (que morreu apenas transmitindo ao neto uma visão “romântica” do ato, pensando em voltar pelos braços do povo), parece ter sido motivada por um discurso lançado por Carlos Lacerda, governador da Guanabara. Preocupado com os acenos de Quadros aos países socialistas - na política externa Quadros queria inverter o seu perfil conservador – , Lacerda, que apoiou a eleição de Quadros, tentou falar com ele em Brasília e, no encontro, o jornalista-governador foi mal recebido pelo então presidente. Irritado, Lacerda anunciou em pronunciamento na TV que Jânio queria dar um golpe, renunciando para depois retornar com poderes fortalecidos. O discurso de Lacerda desnorteou politicamente o governo Jânio Quadros, que já tinha se mostrado, desde o começo, ambíguo e instável.

Foi nesse contexto que várias figuras políticas da época organizaram a chamada “Campanha da Legalidade”, em que utilizavam os meios de comunicação para obter apoio à posse de João Goulart. Entre outros políticos destacamos Leonel Brizola, cunhado do vice-presidente, que participou efetivamente do movimento. Paralelamente, sabendo das pressões que o cercavam, Jango estendeu sua viagem realizando uma visita estratégica aos EUA, como sinal de sua proximidade ao bloco capitalista. Com a possibilidade do golpe militar enfraquecida por essas duas ações, o Congresso Nacional aprovou arbitrariamente a mudança do regime político nacional para o parlamentarismo. Dessa maneira, os conservadores buscavam limitar significativamente as ações do Poder Executivo e, consequentemente, diminuir os poderes dados para Jango. Foi dessa forma que, em 7 de setembro de 1961, João Goulart assumiu a vaga deixada por Jânio Quadros.

Após a renúncia de Jânio Quadros, os militares tentaram vetar a chegada do vice-presidente João Goulart ao posto presidencial. Tendo sérias desconfianças sobre a trajetória política de Jango, alguns membros das Forças Armadas alegavam que a passagem do cargo colocava em risco a segurança nacional. De fato, vários grupos políticos conservadores associavam o então vice-presidente à ameaçadora hipótese de instalação do comunismo no Brasil.

A instalação do parlamentarismo fez com que João Goulart não tivesse meios para aprovar suas propostas políticas. Mesmo assim, elaborou um plano de governo voltado para três pontos fundamentais: o desenvolvimento econômico, o combate à inflação e a diminuição do déficit 73


With the possibility of a military coup weakened by these two actions, the National Congress approved arbitrarily the passing of the national political regime to parliamentarism. In this way, the conservatives tried to significantly limit the actions of the Executive Power and, consequently, diminish the powers given to Jango. It was in this manner that, on september 7th of 1961, João Goulart took the place left by Jânio Quadros.

and the main state governors of Brazil endorsed the military coup. In this way, the president came back to state of Rio Grande do Sul trying to mobilize political forces that could detain the threat of coup. However, the efficiency of the plan engendered by the military ended up annihilating any reaction possibilities by João Goulart. On april 4th of 1964, the Federal Senate announced the vacancy of the presidential post and the provisional office of Ranieri Mazzilli as president of the Republic. These were the first steps toward the military coup in Brazil.

The installation of parliamentarism made it so that João Goulart had no means to approve his political propositions. Even so, he elaborated a government plan steered toward three main points: economic development, combat to the inflation and the diminishing of public deficit. However, the parliamentarist regime prevented the national questions to be solved by means of a consistent political coalition.

With the military coup, a new regime that had great popular repercussion was installed. The Military Revolution, as it is called by its supporters happened on the 1st of april of 1964 and lasted until the 15th of march 1985, under the command of successive military governments. The regime adopted a nationalist and developmental directive, and of opposition towards communism. The dictatorship reached the peak of its popularity in the 1970’s, with the “economic miracle”, in the same moment that the regime censored all the means of communication.

Parliamentarism’s failure ended up forcing the anticipation of the plebiscite that would decide which political system would be adopted in the country. In 1963, the Brazilian population supported the return of the presidentialist system, which ended up giving more power to João Goulart. With the return of the old system, João Goulart defended the execution of reforms that could promote wealth distribution through the so-called Base Reforms.

Between 1968 and 1973, the country lived an “economic miracle”. The exports tripled, the gross domestic product went above two digits and the inflation retreated to about 20% per annum on average. Major construction work began in this moment (the Rio-Niterói bridge, Itaipú, Transamazônica), revealing the greatness of Brazil and its economy. The conquest of the 1970 World Cup contributed to the official propaganda, that announced the country’s destiny to become a world power, starting with soccer.

In march 1964, the president organized a big rally at the Central do Brasil (Rio de Janeiro), in which he defended the urgency of these political reforms. Among other entities on Jango’s side, were the União Nacional dos Estudantes (UNE - National Students’ Union), the Ligas Camponesas (Farmer Leagues, defendants of the agrarian reform) and the Comando Geral dos Trabalhadores (CTG - General Workers’ Command).

However, the extremely authoritarian dictatorial regime tortured and exiled dissidents. In the 1980’s, just as other Latin-American military regimes, the Brazilian dictatorship went into decadence when the government couldn’t any longer stimulate the economy, control the chronic hyperinflation and the ever-growing levels of income concentration and poverty stemming from its economic project, which propelled the pro-democracy movement. The government approved an Amnesty Law for the political crimes committed by and against the regime, the restrictions on civil freedoms were loosened and then, in 1984, unprecedented indirect presidential elections were held, with both civilian and military candidates.

The set of actions offered by João Goulart were clearly hurting the interests of the large landowners, the big businesses and the middle classes. With this, members of the Armed Forces, with the support of the national elites and the strategic support of the US, they started to plan the coup against João Goulart. At the same time, the conservative groups made a very large public protest with the “Marcha da Família com Deus pela Liberdade” (The Families’ March with God for Freedom). The political tension caused by manifestations with such antagonistic characteristics was followed by the rebellion of militaries that supported the immediate coup. Under the lead of general Olympio de Murão Filho, troops from Juiz de Fora (MG) marched to Rio de Janeiro with the clear objective of performing the deposition of Jango. Soon after, other military units

Since the approval of the 1988 Constitution, Brazil returned to institutional normality. The Armed Forces went back to their institutional role: the defense of the

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público. No entanto, o regime parlamentarista impedia que as questões nacionais fossem resolvidas por meio de uma consistente coalizão política.

Rio de Janeiro com o claro objetivo de realizar a deposição de Jango. Logo em seguida, outras unidades militares e os principais governadores estaduais do Brasil endossaram o golpe militar.

O insucesso do parlamentarismo acabou forçando a antecipação do plebiscito que decidiria qual sistema político seria adotado no país. Em 1963, a população brasileira apoiou o retorno do sistema presidencialista, o que acabou dando maiores poderes para João Goulart. Com a volta do antigo sistema, João Goulart defendeu a realização de reformas que poderiam promover a distribuição de renda por meio das chamadas Reformas de Base.

Dessa maneira, o presidente voltou para o Rio Grande do Sul tentando mobilizar forças políticas que poderiam deter a ameaça golpista. Entretanto, a eficácia do plano engendrado pelos militares acabou aniquilando qualquer possibilidade de reação por parte de João Goulart. No dia 4 de abril de 1964, o Senado Federal anunciou a vacância do posto presidencial e a posse provisória de Rainieri Mazzilli como presidente da República. Foram dados os primeiros passos para a ditadura militar no Brasil.

Em março de 1964, o presidente organizou um grande comício na Central do Brasil (Rio de Janeiro), no qual defendeu a urgência dessas reformas políticas. Nesse evento, foi presenciada a manifestação de representações e movimentos populares que apoiavam incondicionalmente a proposta presidencial. Entre outras entidades aliadas de Jango, estavam a União Nacional dos Estudantes (UNE), as Ligas Camponesas (defensoras da Reforma Agrária) e o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT).

Com um golpe Militar foi instalado um novo regime que teve ampla repercussão popular. A chamada Revolução militar pelos seus apoiadores se deu em 1 de abril de 1964 e que durou até 15 de março de 1985, sob comando de sucessivos governos militaresO regime adotou uma diretriz nacionalista, desenvolvimentista e de oposição ao comunismo. A ditadura atingiu o auge de sua popularidade na década de 1970, com o “milagre econômico”, no mesmo momento em que o regime censurava todos os meios de comunicação do país.

O conjunto de ações oferecidas por João Goulart desprestigiava claramente os interesses dos grandes proprietários, o grande empresariado e as classes médias. Com isso, membros das Forças Armadas, com o apoio das elites nacionais e o apoio estratégico norte-americano, começaram a arquitetar o golpe contra João Goulart. Ao mesmo tempo, os grupos conservadores realizaram um grande protesto público com a realização da “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”.

Entre 1968-73, o país viveu o chamado milagre econômico. As exportações triplicaram, o Produto Interno Bruto ficou acima de dois dígitos e a inflação recuou para 20% ao ano em média. Grandes obras foram iniciadas nesse momento (Ponte-Rio Niterói, Itaipu, Transamazônica), revelando a grandeza do Brasil e de sua economia. A conquista da Copa de 1970 contribuiu para a propaganda oficial, que anunciava o destino do país em ser uma potência, a começar pelo futebol.

A tensão política causada por manifestações de caráter tão antagônico foi seguida pela rebelião de militares que apoiavam o golpe imediato. Sob a liderança do general Olympio de Mourão filho, tropas de Juiz de Fora (MG) marcharam para o

Porém, o regime ditatorial extremamente autoritário torturava e exilava dissidentes. Na década de 1980, assim como outros regimes militares

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Marcha da família com Deus pela Liberdade, 1964, acervo CPDOC/FGV “The Families’ March with God for Freedom”, 1964, CPDOC/FGV Archive

State, the granting of constitutional powers and (by these powers’ initiative) of law and order.

sectors of the Brazilian society. A great deal of the business community, the press, the rural landowners, the catholic church, several governors of important states (such as Carlos Lacerda, from Guanabara, Magalhães Pinto, from Minas Gerais, and Ademar Barros, from São Paulo) and ample sectors of the middle class asked for and supported the military intervention, as a means of stopping the harsh left turn the government was taking and of controlling the economic crisis.”

Despite the combat against oppositors of the regime having been notoriously filled with torture and deaths, the Armed Forces have officially admitted there might have been murders and torture, for the first time, only in september 2014, in response to the Comissão Nacional da Verdade (the National Commission of Truth). The document, signed by the Minister of Defense, Celso Amorim, mentions that “the Brazilian State [...] has already recognized the occurrence of the regrettable violations of human rights that happened in the past. The O Globo paper issued on the 2nd of April 1964 said: ‘Safe from the communization that quickly prepared itself, the Brazilians should thank the brave military that protected them from their enemies’. And the O Estado de Minas said on the 2nd of april: ‘The culmination point of yesterday’s celebrations held in Belo Horizonte, for the victory of the movement for peace and democracy was, undoubtedly, the popular concentration in front of the Palácio da Liberdade’. The issue from april 4th said: ‘Democracy Revives! The Nation lives glorious days. Because all patriots could come together, in spite of their sympathetic political positioning or their opinion about isolated issues, to salvage what is essential: the democracy, law and order’. According to the Getúlio Vargas Foundation, ‘the military dictatorship was saluted by important

In the period that followed the coup, indirect elections were still held, in spite of the public movement called “Diretas Já” (Direct Now) that claims for direct presidential elections in Brazil between 1983 and 1984. The possibility of direct elections for the Presidency of the Republic in Brazil would concretize with the voting of the proposal of the Dante de Oliveira Constitutional Amendment by the Congress. However, the proposal of the Constitutional Amendment was rejected, frustrating the Brazilian society. Even so, those adept to the movement conquered a partial victory in january of the following year when Tancredo Neves was elected president by the Electoral College. With his death, the vice-president José Sarney rises to office. With democracy installed, the country goes back to Rule of Law. All the presidents that followed won the electoral race through direct elections.

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latino-americanos, a ditadura brasileira entrou em decadência quando o governo não conseguiu mais estimular a economia, controlar a hiperinflação crônica e os níveis crescentes de concentração de renda e pobreza provenientes de seu projeto econômico, o que deu impulso ao movimento pró-democracia. O governo aprovou uma Lei de Anistia para os crimes políticos cometidos pelo e contra o regime, as restrições às liberdades civis foram relaxadas e, então, eleições presidenciais indiretas foram realizadas em 1984, com candidatos civis e militares.

foi, sem dúvida, a concentração popular defronte ao Palácio da Liberdade.”[A edição de 4 de abril trazia: “Ressurge a Democracia! Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente das vinculações políticas simpáticas ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é de essencial: a democracia, a lei e a ordem”. Segundo a Fundação Getúlio Vargas, “(…) o golpe militar foi saudado por importantes setores da sociedade brasileira. Grande parte do empresariado, da imprensa, dos proprietários rurais, da Igreja católica, vários governadores de estados importantes (como Carlos Lacerda, da Guanabara, Magalhães Pinto, de Minas Gerais, e Ademar de Barros, de São Paulo) e amplos setores de classe média pediram e estimularam a intervenção militar, como forma de pôr fim à ameaça de esquerdização do governo e de controlar a crise econômica.”

Desde a aprovação da Constituição de 1988, o Brasil voltou à normalidade institucional. As Forças Armadas voltam ao seu papel institucional: a defesa do Estado, a garantia dos poderes constitucionais e (por iniciativa desses poderes) da lei e da ordem. Apesar de o combate aos opositores do regime ter sido notoriamente marcado por torturas e mortes, as Forças Armadas admitiram oficialmente que possa ter havido tortura e assassinatos, pela primeira vez, em setembro de 2014, em resposta à Comissão Nacional da Verdade.

No pós-golpe ainda tivemos eleições indiretas apesar do movimento civil chamado Diretas Já que reivindica eleições presidenciais diretas no Brasil entre 1983 e 1984. A possibilidade de eleições diretas para a Presidência da República no Brasil se concretizaria com a votação da proposta de Emenda Constitucional Dante de Oliveira pelo Congresso. Entretanto, a Proposta de Emenda Constitucional foi rejeitada, frustrando a sociedade brasileira. Ainda assim, os adeptos do movimento conquistaram uma vitória parcial em janeiro do ano seguinte quando Tancredo Neves foi eleito presidente pelo Colégio Eleitoral. Com sua morte sob ao planalto seu vice José Sarney. Implantada a democracia voltamos ao Estado de Direito. Todos os presidentes que se seguiram ganharam o pleito eleitoral através de eleições diretas.

O documento, assinado pelo Ministro da Defesa, Celso Amorim, menciona que “o Estado brasileiro [...] já reconheceu a ocorrência das lamentáveis violações de direitos humanos ocorridas no passado. A edição do jornal O Globo de 2 de abril de 1964 dizia: “Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares que os protegeram de seus inimigos”. E O Estado de Minas trazia em 2 de abril: “O ponto culminante das comemorações que ontem fizeram em Belo Horizonte, pela vitória do movimento pela paz e pela democracia

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WOMEN AND LABOUR

T

he biblical myth that after the cardinal sin men would have to work while women would have to suffer the pains of childbirth made society see women as an inferior being of the female gender. Women should only be concerned with domestic chores and the upbringing of the children. Historically, when women deviated from this conduct they were treated with disdain, taken as witches or prostitutes. As a matter of fact, one of the only jobs that paid women was to serve men sexually. However since the beginnings of the discovery of Brazil women have worked as slaves in domestic chores as well as in manual tasks. The monastery was the way-out for unmarried and widow women. It was a nun’s duty not only to pray and oblige to spiritual guidelines but also to take care of assisting childbirths as well as of sheltering orphan children and the sick. For centuries, the female nature was a mere subservient tool to the male universe. The question of sexuality was always present and to married women it was allowed to get intimate but always pushing desire and passion aside. Women were, therefore, divided between the immaculate ones and prostitutes. Thanks to the rise of the Industrial Revolution and its printing machines, women could at long last take advantage of literary distribution, something previously entirely controlled by scholars and religious leaders. Shrouded in ignorance, they started to demand access to knowledge of all kinds through books, turning this period into the hayday of titles such as “Quick ways of...” and “Practical instructions to...”. With the advent of fashion, the religious segment, that had been for centuries the only available subject matter for female literature, was replaced by etiquette guidebooks. Until the beginning of the 20th century, the vote, in almost all countries, was an exclusive right of men - especially of rich men. In the great scenery of transformations that was the 20th century, the activists that mobilized for women’s right to political participation were known as the suffragettes. Only a little over 80 years ago did Brazilian women conquer the right to vote, adopted in the country

Mulheres em central telefônica, s/data, acervo Sintetel São Paulo Women working operating a switchboard, n.d., Sintetel São Paulo Archive

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AS MULHERES E O TRABALHO

O

mito bíblico de que após o pecado capital os homens teriam que trabalhar e á mulheres restariam as dores do parto fez com que a sociedade visse a mulher como um ser d segunda classe como gênero feminino. Devia caber a mulher apenas prendas domésticas, a preocupação com os filhos e a educação.

Quando historicamente as mulheres se desviavam dessa conduta de candura eram tratadas com desdém, tidas como bruxas ou prostitutas. Aliás um dos únicos trabalhos em que a mulher era remunerada era justamente para servir sexualmente aos homens. Mas as mulheres desde os primórdios do achamento do Brasil trabalharam como escravas não apenas em tarefas domésticas como também em tarefas braçais. O convento era a saída para mulheres solteiras e viúvas. Cabia as freiras não apenas as orações e cumprimento dos deveres espirituais mais também cuidarem de afazeres como ajuda nos partos e o acolhimento de crianças órfãs e de doentes. Por séculos, a natureza das mulheres foi um mero apetrecho submisso ao universo dos homens. A questão da sexualidade foi sempre presente e às mulheres casadas se permitia intimidades mas sempre deixando de lado o desejo e os arrufos de paixão. As mulheres, portanto se dividiam entre castas e prostitutas, independente do estado civil. Graças ao surgimento da Revolução Industrial e de suas máquinas de impressão, mulheres podiam finalmente tirar proveito da distribuição literária, algo antes inteiramente controlado por eruditos e religiosos. Envoltas numa escuridão de ignorância, elas começaram a exigir o acesso ao

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Instituição do voto feminino, 1932, acervo TER/PR Women obtain the right to vote, 1932, TER/PR Archive

in 1932, through Decree number 21.076 instituted in the Brazilian Electoral Code, and consolidated in the Constitution of 1934.

1970’s. Many are the reasons to explain the increased access of women in the employment market starting in the 1970’s. The economic necessity, that intensified with the deterioration of the worker’s wages and that obliged them to look for a way to complement their family’s income is one of them.

Anyway, the right to feminine vote - accompanied by the right to stand as a candidate and be elected - was conquered with longstanding historical struggles by trailblazing women that led the first feminine achievements and showed that a woman’s role is also in a countries’ decision-making.

When women left the fields in search for work and education (roles related to motherhood and housekeeping), they became a social force that could no longer be denied. Consequently, the women’s rights advanced exponentially in the final years of the 19th century. Many became telephone operators, nurses, saleswomen, activities believed to be suitable for the fragility and intellectual capacity of women.

The technological changes resulting from the process of industrialization accentuated the social and sexual division of work, acting directly in the labour structure, both in the rural zones and in the urban centres. Coming from this analysis, the importance of the female workforce in the employment market is increasingly more advanced.

The piano, previously a musical instrument destined for gifted women’s delight and education, had turned into a subterfuge, a less noticeable family gain. The change for them to buy “their needles”. The younger ones left aside the teaching courses to get involved in

The growth of the female participation in the Brazilian employment market was one of the most remarkable transformations that occurred in the country since the

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conhecimento de todo tipo através dos livros, fazendo dessa época o apogeu de títulos como “Maneiras rápidas de...” e “Instruções práticas para...”. Com o advento da moda, o segmento religioso, que durante séculos havia sido praticamente o único tema disponível para a literatura feminina, deu lugar aos guias de etiqueta.

a deterioração dos salários reais dos trabalhadores e que as obrigou a buscar uma complementação para a renda familiar é uma delas. Quando as mulheres deixaram os campos e as residências (papel de mães e administradoras do lar) em busca de emprego e educação, elas se tornaram uma força social que não mais podia ser negada. Consequentemente, os direitos das mulheres avançaram extraordinariamente durante o final do século dezenove. Muitas se tornaram telefonista, secretárias, professoras, secretárias, funcionárias públicas, enfermeiras, vendedoras, atividades que se acreditava serem apropriadas a fragilidade e a capacidade intelectual das mesmas.

Até o início do século XX, o voto, na quase totalidade dos países, era um direito exclusivo dos homens – especialmente de homens ricos. No cenário de grandes transformações que foi o século XX, as ativistas que se mobilizaram pelo direito feminino à participação política ficaram conhecidas como sufragistas. Somente há pouco mais de 80 anos as mulheres brasileiras conquistaram o direito ao voto, adotado em nosso país em 1932, através do Decreto nº 21.076 instituído no Código Eleitoral Brasileiro, e consolidado na Constituição de 1934.

O piano que antes era um instrumento de deleite e de formação das mulheres prendadas passaram a entrar subterfugiamente a uma maneira menos perceptível de ganho da família. O troco para comprarem” suas agulhas” . As mais jovens deixaram de lado os chamados cursos de magistério para se envolverem em carreiras mais sólidas como médicas , advogadas e áreas mais científicas.

De toda forma, o direito ao voto feminino – acompanhado do direito de se candidatar e ser eleita – foi conquistado com lutas históricas de longa duração com mulheres desbravadoras que lideraram as primeiras conquistas feministas e mostraram que lugar de mulher é também nos centros de decisão do país.

Cabe destacar que, na primeira metade do século XX, com a introdução das máquinas de escrever portáteis e das elétricas, a máquina de escrever já mais desenvolvida e sofisticada, tornou-se mais rápida, silenciosa, prática e ao alcance de todos.

As mudanças tecnológicas decorrentes do processo de industrialização acentuaram a divisão social e sexual do trabalho, atuando diretamente na estrutura do emprego, tanto na zona rural como nos centros urbanos. Partindo dessa análise, a importância que desempenhou a mão de obra feminina no mercado de trabalho cada vez é mais avançada.

Tornou-se indispensável no mundo dos negócios e surgiu como um instrumento das novas oportunidades de emprego, sobretudo da emancipação da mulher no mercado de trabalho. Com um maior acesso à escolaridade, assistiu-se à criação de profissões femininas socialmente consideradas, em que o curso de datilografia palavra de origem grega “dactilo” = dedo e “grafia” =escrita, isto é, a ciência e arte de digitar textos com os dedos através de um teclado, era ministrado para o uso das máquinas de escrever.

O crescimento da participação feminina no mercado de trabalho brasileiro foi uma das mais marcantes transformações ocorridas no país desde os anos setenta. Várias são razões para explicar o ingresso acentuado das mulheres no mercado de trabalho a partir dos anos 70. A necessidade econômica, que se intensificou com

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Máquina de costura Singer, acervo Museu de Artes e Ofício de BH Singer sewing machine, from the archive of Museu de Artes e Ofício, BH

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more solid careers, such as medicine, advocacy and more scientific fields.

since 1755, they were heavy, expensive and hard to manage machines. Only in 1830, when French tailor Barthélemy Thimmonier decided to perfect the already existing technology, sewing machines became truly practical. Thimmonier came even to set up an army uniform factory, which was destroyed in a fire.

It is worth highlighting that, in first half of the 20th century, with the introduction of portable and electric typewriter machines, the typewriter now more sophisticated and advanced became faster, more silent, practical and available to all.

Thanks to Thimmonier it was possible to design the first clothing production lines on an industrial scale. Popularization of sewing machines helped in the transition from an handmade and personalized clothing production to the industrial and serialized one we have today.

It became indispensable in the business world and it came to be an instrument for new job opportunities, especially for the emancipation of women in the labour market. With broader access to schooling, socially accepted female occupations were created, of which dactylography - word of Greek origin derived from “dactilo”, meaning finger, and “grafia”, meaning writing, thus, the art and science of typing texts with fingers through a keyboard - was teached in courses given for the use of typewriter machines.

The contraceptive pill reached the market in the 1960’s and revolutionized health and behaviour. Much more efficient to avoid pregnancy, it affected women’s autonomy over their own bodies and allowed for decision making, on the part of themselves and their families, in respect of having or not a child, as well as when and how many of them.

The typewriter widespread with the expansion of the commercial and services sectors, in public departments, in banks and in offices, due to the need for faster and standard writing, contributing to the economical and social development. It was so significant that contests were held all over Europe awarding the fastest typists. To handle these machines, companies demanded professionals trained in typewriting courses. A typist certificate, in that time, was another requirement in a resume, making the degree holder quite valued in the labour market.

Thus, it triggered off a significant behavioural change in women’s relation towards sex, especially sex outside of marriage, and it is, because of that, frequently suggested as the catalyst for the Sex Revolution. From the liberal point of view, the pill liberated men from having to many children and more expenses. However, black women, even if it was to help with the children or with domestic work, since middle class women didn’t have where to left their children, for kindergartens were a rarity, had to pay for the heritage from slavery times and started to have a precarious full-time job.

Another way women could participate in the labour market was selling beauty products, in Brazil the campaign “Avon chama” (Avon calls) was unforgettable. For them to be prepared for working in an office there was a whole paraphernalia for beauty tricks. Besides being beautiful, prudish and professional, the woman should be attractive. The cigarette also became part of these luxury items and a symbol for female independence.

In Brazil, the Enovi pill started to be sell in the beginning of 1962. In that time, some articles about the medicine were published in newspapers and female magazines. But the most significant promotion was realized by commercial representatives who acted together with doctors. According the article “A experiência com contraceptivos no Brasil: uma questão de geração” (“The contraceptive experience in Brazil: a generation matter”), by historian Joana Maria Pedro, the idea that the pill was responsible for loosening sexual habits is, to a great extent, a myth. According to her, the impact of the medicine for the Sexual Revolution in uncertain — what is evident is its impact on marriage and on married women’s life, by means of family planning.

Sewing machines were invented during the first Industrial Revolution to reduce the amount of manual labour undertaken by clothing companies. Since the invention of the first sewing machine, generally considered as being the work of Englishman Thomas Saint in 1790, it improved the efficiency and productivity of the clothing industry. During much of the sewing machine’s life there was manufacturing of versatile sized sewing machines with wood bases and manual propulsion by a hand crank. A predecessor of the pedal machine.

The first Brazilian Constitution that included a regulatory norm for the security of female labour was the 1934 one, which stated in its Article 121 the prohibition of wage differences on the grounds of sex, as well

Although the concept for a sewing machine existed

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A máquina de escrever difundiu-se largamente com a expansão do setor comercial e serviços, nas repartições públicas, nos bancos e nos escritórios, pela necessidade de uma maior rapidez e uniformidade da escrita contribuindo para o desenvolvimento económico e social. A importância foi tanta que surgiram concursos de datilografas mais rápidas por toda a Europa. Para se manusear essas máquinas, as empresas exigiam profissionais formados em escolas de datilografia. Um certificado de datilografia, naquela época, era um requisito a mais no currículo, tornando o portador do diploma bastante valorizado no mercado de trabalho.

resolveu aperfeiçoar a tecnologia já existente, é que as máquinas de costura se tornaram verdadeiramente práticas. Thimmonier chegou mesmo a montar uma fábrica de uniformes para o exército, que foi destruída em um incêndio. Graças a Thimmonier foi possível pensar as primeiras linhas de produção de roupas em escala industrial. A popularização da máquina de costura ajudou no processo de passagem de uma produção artesanal e personalizada de roupas para o modelo de produção industrial em série que temos hoje. A pílula anticoncepcional chegou ao mercado nos anos 1960 e revolucionou a saúde e o comportamento. Muito mais eficiente para evitar a gravidez, impactou a autonomia das mulheres sobre o próprio corpo e possibilitou a tomada de decisão, por parte delas e das famílias, a respeito de querer ter filhos, além de quando e quantos.

Outro modo de participação da mulher no mercado do trabalho era a venda de produtos de beleza, quem não se lembra da campanha e dos dizeres: “avon chama”. Para estarem preparadas para o trabalho em escritório toda uma parafernália de truques de beleza. Além de bela , do lar, e profissional a mulher deveria ser atraente. O cigarro entrou entre esses itens de costume de luxo e marca da independência feminina.

Desencadeou, assim, uma mudança comportamental importante na relação das mulheres com o sexo, sobretudo do sexo fora do casamento, e é, por isso, frequentemente indicada como estopim da Revolução Sexual. Do ponto de vista liberal a pílula liberou os homens do excesso de filhos e de mais gastos. No entanto, as mulheres negras, mesmo que fosse para ajudar com as crianças ou o trabalho doméstico, já que as mulheres classe média, não tinham como deixar os seus filhos pois eram raros os jardins de infância, pagaram pela herança escravocrata e passaram a ter um emprego precário e de hora integral.

As máquinas de costura foram inventadas durante a primeira Revolução industrial para diminuir a quantidade de trabalho manual costura realizado em empresas de roupas. Desde a invenção da primeira máquina de costura trabalhando, geralmente considerada como sendo obra do inglês Thomas Saint em 1790,] a máquina de costura melhorou muito a eficiência e a produtividade da indústria da roupa. Durante boa parte da vida da máquina de costura houve fabricação de máquinas de tamanho versátil montadas em uma base em madeira e que tinham propulsão manual através de uma manivela. Antecessora da máquina de pedal.

No Brasil, o comércio da pílula Enovid teve início em 1962. Na época, alguns artigos sobre o medicamento foram publicados em jornais e revistas femininas. Mas a divulgação mais significativa foi realizada por representantes comerciais que atuavam junto aos médicos, segundo o artigo “A experiência com contraceptivos no Brasil: uma questão de geração”, da historiadora

Embora o conceito da máquina de costura existisse desde 1755, eram máquinas pesadas, caras e difíceis de operar. Apenas em 1830, quando o alfaiate francês Barthélemy Thimmonier

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Marcha feminismo negro em SĂŁo Paulo, 9 de julho de 1918, acervo Mundo Negro Black feminism march in SĂŁo Paulo, July 9, 1918, Mundo Negro archive

as the prohibition of unhealthy working conditions for women, while ensuring medical and sanitary assistance for pregnant women, as well as the institution of welfare in favour of maternity.

the access and staying of black women in education and their insertion into the labour market will be debated, while indicating how a connection between black women and socially undervalued work was historically came to be. Female participation in the world of work presents specificities in a sexual division of work which segments, segregates and is marked by gender inequalities that deepens in respect to black women, considering their historically discriminated ethnic and racial condition.

The 1967 Federal Constitution innovated ensuring the prohibition of different admission criteria in the grounds of sex, colour or marital status, besides ensuring to women retirement pension and with full wage after 30 years of work. Whereas the Federal Constitution of 1988 innovated in regards to the security of female labour, since it introduced the maternity leave of 120 days, which guarantees with no job or wage losses the prohibition of arbitrary or unfair dismissal of the pregnant, just as it guaranteed to secure the female labour market.

However, starting with political gatherings of black women and their organization at strategic places for demandings, a new way to look at the matter of black women had and the discussion of politics for the promotion of racial equality had surged. The Brazilian social-historic, economical and cultural formation bequeathed to women, specially the black ones, traces of subalternity which show a heritage marked by discrimination in many regards. Considering this situation, black women sought to organize themselves in the black movement and in feminist struggle and, nowadays, they have built a number of initiatives that have materialized in the so-called black feminism.

Yet the main change brought by the Federal Constitution of 1988 was equality before the law on rights and obligations between men and women, in which inequality was only justifiable in certain cases such as maternity rights. The history of black women was marked by processes of human slavery and historically engendered by processes of prejudice, racism and social exclusion. Thus,

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Joana Maria Pedro.” a ideia de que a pílula foi responsável por afrouxar os costumes sexuais é, em grande medida, um mito. Para ela, o impacto do medicamento para a Revolução Sexual é incerto — o que é evidente é seu impacto sobre o casamento e a vida das mulheres casadas, por meio do planejamento familiar.

racismo e exclusão social. Assim, será debatido o acesso e permanência da mulher negra no ensino e sua inserção no mercado de trabalho, pontuando como historicamente se construiu uma relação entre mulher negra e trabalho desvalorizado socialmente. A participação feminina no mundo do trabalho apresenta especificidades em uma divisão sexual do trabalho que segmenta, segrega e é marcada por desigualdades de gênero que se agravam para a mulher negra, considerando sua condição etnicorracial historicamente discriminada.

A primeira Constituição brasileira que incluiu uma norma regulamentadora de proteção ao trabalho da mulher foi a de 1934, que previu em seu artigo 121 proibição de diferença de salário por motivo de sexo, assim como, proibição de trabalho em indústrias insalubres a mulher, e garantiu assistência médica e sanitária a gestante, e a instituição de previdência a favor da maternidade.

Porém, a partir da organização políticas das mulheres negras e sua articulação em espaços estratégicos de reivindicação houve um novo olhar para a questão da mulher negra e a discussão de políticas para a promoção da igualdade racial.

A constituição Federal de 1967 inovou assegurando a proibição de critérios de admissão diferentes por motivo de sexo, cor ou estado civil, além de assegurar à mulher a aposentadoria com salário integral após 30 anos de trabalho.

A formação sócio-histórica, econômica e cultural brasileira legou às mulheres, principalmente as negras, traços de subalternidade que trazem heranças marcadas pela discriminação em várias faces. Considerando essa situação, as mulheres negras buscaram se organizar no movimento negro e nas lutas feministas e, na contemporaneidade, tem construído um conjunto de iniciativas que se materializam no chamado feminismo negro

Já a Constituição Federal de 1988 inovou quanto à proteção ao trabalho da mulher, pois introduziu a licença maternidade de 120 dias, que garante sem prejuízo do emprego ou salário a vedação de dispensa arbitraria ou sem justa causa da gestante, assim como garantiu a proteção ao mercado de trabalho da mulher.

Do ponto de vista liberal a pílula liberou os homens do excesso de filhos e de mais gastos. No entanto, as mulheres negras, mesmo que fosse para ajudar com as crianças ou o trabalho doméstico, já que as mulheres classe média, não tinham como deixar os seus filhos pois eram raros os jardins de infância, pagaram pela herança escravocrata e passaram a ter um emprego precário e de hora integral.

Mas a principal mudança trazida pela Constituição Federal de 1988 foi á igualdade perante a lei de direitos e obrigações entre homens e mulheres, cabível a desigualdade apenas onde couber a exemplo dos direitos a maternidade. A história da mulher negra foi marcada por processos de escravidão humana e historicamente engendrada por processos de preconceito,

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ARTIFICIAL INTELLIGENCE AND THE NEW WORKING METHODS The term Artificial Intelligence isn’t as recent as it may look. In 1956 a professor called John McCarthy coined the term to refer to the capacity of machines to solve problems that, until then, could only be solved by human beings. The concept of AI is still the same: the feasibility of machines thinking as human beings, developing the ability to learn, reason, understand, deliberate and decide logically about facts. Another relevant aspect of AI is that, due to its ability to learn, it needs to be constantly feeded so it can continue to evolve, just like a person. Regarded as the 4th Industrial Revolution, Artificial Intelligence comes with social and technological disruptions as well as it enables several opportunities. According to a report from the Information Services Group (IP), Robotic Process Automation (RPA) has allowed companies to perform business processes 5 to 10 times faster and with 37% less resources, on average. This positive impact propels the sector and it has been estimated that, by 2050, 80% of activities carried out by humans will be automatized. According to McKinsey, with currently available technology, 45% of tasks already can be performed by robots. Who can recall when the typewriting machine got replaced by the computer? Or the automobiles that wiped out carriages but created new markets and occupations? What about the internet in regards to DVD rentals? The smartphone that performs a series of tasks which used to require personal interaction? These and other items really simplified our daily routine, but also produced moments of disruption. In 1990, with the coming of Artificial Intelligence, the main goal was to create systems that would respond to several kinds of questions. Today, robots are able

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A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E AS NOVAS FÓRMULAS DE TRABALHO

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termo Inteligência Artificial não é tão recente como parede. Em 1956 o professor O termo Inteligência Artificial não é tão recente como parede. Em 1956 o professor John McCarthy criou a expressão para referir-se à capacidade de as máquinas resolverem problemas que, até então, só poderiam ser solucionados por humanos.

O conceito de IA continua o mesmo: a viabilidade de as máquinas pensarem como os seres humanos, desenvolvendo a capacidade de aprender, raciocinar, perceber, deliberar e decidir logicamente sobre os fatos. Outro aspecto importante da IA é que, devido à capacidade de aprender, ela precisa ser constantemente alimentada para que possa continuar em evolução, assim como uma pessoa. O conceito de IA continua o mesmo: a viabilidade de as máquinas pensarem como os seres humanos, desenvolvendo a capacidade de aprender, raciocinar, perceber, deliberar e decidir logicamente sobre os fatos. Outro aspecto importante da IA é que, devido à capacidade de aprender, ela precisa ser constantemente alimentada para que possa continuar em evolução, assim como uma pessoa. Considerada a 4ª Revolução Industrial, a Inteligência Artificial (AI em inglês) traz uma disruptura social e tecnológica ao mesmo tempo que possibilita diversas oportunidades. 89


to understand human language and correlate data, enabling a series of processes to be optimised, making them more rapid and error-free, and that’s how the AI versus humans discussions comes up. However, if on one hand tasks that are considered to be operational ones can, in fact, vanish from sight, AI opens a whole range of career possibilities, since every turning point event generates new needs. Other researchers and reports also point that 84% of companies consider AI to be essential in competitivity. 67% of IT departments already use ai to detect invasions, user problems and automation. 32% believe that by 2020 the sailes, marketing and customer service sectors will be the most affected ones, while 20% believe that those will be the finance, HR, planning and business development sectors.

Blade Runner, a science-fiction milestone belonging to this genre, is already a classic. It shows a world in which there’s a conflict between artificial humans, known as “replicants”, and the “blade runners”, policemen in charge of exterminating the roots of an uprising. However other problems appear in relation to the labour market and may compromise the relieving paradise of the future, issues related to education, other civilizations and mainly the poor people. We already know the scope of Artificial Intelligence’s affect upon society, revealing and supporting new opportunities in the search of the development of beneficial programs. The main issue is that innovation has got to contemplate diversity. This new perspective on Artificial Intelligence is being developed to better take into account public policies’ specificities. A data programming based on an ethnic standard which accommodates, as a consequence, a specific privileged place in society, should not be taken in consideration, for it provides for an extremely exclusionary programming.

The anthropologist Benjamin Shestakofsky conducted a survey for 19 months in a digital technologies company at Califórnia with the goal of proving that machines were replacing human workers. However, when analyzing the information, Shestakofksy noticed that the company had grew rapidly and that it employed more people and not robots to monitor, interpret and manage data. After all, he found out that software automation can really replace human labour, but it creates new needs in the relationship between man and machine, therefore creating new working positions and fields. Fields such as statistical analysis, control of content, quality, data system, management of RPA machines, process engineering, information strategy, among many others, will become increasingly more needed, once the human being will have to complement and interact with this new kind of “machinery” and evaluate or perform tasks which machines aren’t able to. Post related to strategy, multi-functional understanding, business relationship, development and support will certainly be on-demand on the labour market.

It is important to “humanize the machine” and make it so that it doesn’t replicate social behaviours of discrimination and marginalization in our society, so it can benefit the general population and above all show that technology brings us the opportunity to reconfigure outdated structures which go in opposite direction from development’s path. Concerns such as housing, hunger, climate change, racism, LGBT, employment and network development issues are going to need new contractual forms and might not take into account sick leave, security, infrastructure, etc. If all this is not solved with urgency we will see more and more of the job insecurity and outsourcing that we have noticed in the researches constituting this book. In fact not everyone can become an entrepreneur and, worst than that, not everyone can live off financial speculation. Rent inequality and the elites and governments tendency should think about what would be of the productive, handmade, art, music, poetry, literature, philosophy and culture diversities since the AI is extremely compliant to its programmer and uses data previous to the moment of its making. Taking this simply as an example of social life. Who will make the maker? Therefore, it is of great importance to search for a more humanizing understanding of Artificial Intelligence, for it affects the social sphere in a direct and positive way.

Cinema has shown us for many years the attraction for humanity’s future and man’s own extermination machine. Cinema’s history has been demonstrating that the evolution of artificial intelligence has ceased from being science-fiction to become something quite real and truly haunting. It became a specific science-fiction subgenre known under the term of “cyberpunk”. This genre generally centers its plot in the conflict between machines capable of reason and hackers, in a fictional future in which technology plays the major role

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De acordo com relatório do Information Services Group (IS), a RPA Robótica de Processos (RPA) tem permitido que empresas executem processos de negócios de 5 a 10 vezes mais rápido e 37% menos recursos, em média. Este impacto positivo impulsiona o setor e a estimativa é que até 2050, 80% das atividades realizadas por humanos serão automatizadas. De acordo com a McKinsey, com a tecnologia disponível atualmente, 45% das tarefas já podem ser realizadas por robôs. Os dados remetem a uma das questões mais Quem se lembra da máquina de datilografar que foi substituída pelo computador? Ou os automóveis que acabaram com as carruagens, mas criaram outros mercados e outras profissões? E a internet em relação a locadoras de vídeo? Do smartphone que executa uma série de tarefas que antes necessitavam de interação pessoal? Esses e outros itens facilitaram muito o dia a dia, mas também formaram movimentos de ruptura.

planejamento e desenvolvimento empresarial serão os setores mais impactados. O antropólogo Benjamim Shestakofsky realizou uma pesquisa durante 19 meses em uma empresa de tecnologias digitais na Califórnia com o objetivo de provar que as máquinas estavam substituindo trabalhadores humanos. Porém, ao analisar os dados, Shestakofsky percebeu que a empresa cresceu rapidamente e que contratava mais pessoas e não robôs para monitorar, interpretar e gerenciar os dados. No final, ele descobriu que a automação de software realmente pode substituir o trabalho humano, mas cria novas necessidades na relação homem-máquina e, consequentemente, novos postos e funções de trabalho. Funções como analista estatístico, gestor de qualidade, de conteúdo, de sistemas de dados, gerenciamento de máquinas de Gestão RPA, engenharia de processos, estratégia da informação, entre tantas outras, passarão a ser cada vez mais necessárias, uma ver que o ser humano deverá complementar e interagir com este novo tipo de “maquinaria” e avaliar ou executar funções que esta não faz. Cargos voltados para estratégia, conhecimentos multifuncionais, relacionamento de negócios, desenvolvimento e suporte certamente serão bastante procurados.

Em 1990, quando surgiu a Inteligência Artificial, o principal objetivo era criar sistemas que respondessem a diversos tipos de perguntas. Hoje, os robôs são capazes de compreender a linguagem humana e correlacionar informações, o que pode otimizar uma série de processos, tornando mais ágeis e sem erros, e é daí que surge a discussão sobre AI x humanos. Mas, se por um lado tarefas que são tidas como operacionais podem, de fato, sumirem do mapa, a AI abre um leque de possibilidades profissionais, pois toda ruptura gera novas necessidades.

O cinema nos mostra há muitos anos a atração pelo futuro da humanidade e a máquina de exterminação do próprio homem. A história do cinema tem demonstrado que a evolução da inteligência artificial deixou de ser ficção científica para se converter em algo muito real e verdadeiramente assombroso. Chegou a converter-se em um subgênero próprio da ficção científica conhecido sob o termo ciberpunk. Este gênero geralmente centraliza a trama no conflito entre máquinas capazes de raciocinar e hackers, num futuro fictício em que a tecnologia ocupa o papel principal.

Outros pesquisadores e relatórios também apontam que 84% das empresas consideram a AI essencial para a competitividade. 67% dos departamentos de TI já utilizam a AI para detectar invasões, problemas de usuários e automação. 32% acreditam que até 2020 os setores mais impactados serão vendas, marketing e atendimento ao cliente e 20% creem que finanças, RH,

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Blade Runner, marco da ficção científica oculto a este gênero, já é um clássico. Mostra um mundo em que existe um conflito entre humanos artificiais, denominados replicantes e os blade runner, policiais encarregados de exterminar a raiz de um motim.

com que ela não reproduza comportamentos sociais de discriminação e marginalização da nossa sociedade, beneficiando a população em geral e principalmente mostrando que a tecnologia nos traz a oportunidade de reconfigurar estruturas antiquadas que caminham para o lado oposto do desenvolvimento. Questões como moradia, fome, climáticas, racismo, LGBT, emprego e o desenvolvimento do trabalho em rede, vão necessitar de novas formas contraturais e podem não levar em conta, licença para os doentes, segurança, infra-estrutura, etc. Se tudo isto não for resolvido com urgência veremos cada vez mais a precarização do trabalho e a terceirização do trabalho que notamos nessas pesquisas que constituem este livre. A realidade é que todos não podem ser empresários e , pior ainda, nem todos podem viver de especulação financeira, A desigualdade de renda e a tendência das elite e governos deveriam pensar o que seriam das diversidades produtivas, artesanais, de arte, música , poesia , literatura filosofia e cultura pois a IA é extremamente obediente a seu programador e usa dados anteriores ao momento da criaçõ. Tomando este apenas como exemplo de visa social. Quem vai criar o criador? Portanto, é de importância considerável essa busca de uma percepção mais humanizada da Inteligência Artificial, pois afeta direta e positivamente os âmbitos sociais.

Porém outros problemas se colocam no mercado de trabalho e podem comprometer o paraíso alvissareiro do futuro, são questões que se referem a educação, a outras civilizações e especialmente o pobres. Já sabemos o quanto a Inteligência Artificial alcança os âmbitos sociais, exprimindo e sustentando novas oportunidades com a busca do desenvolvimento de programas benéficos à sociedade. A grande questão é que Inovação precisa considerar diversidade. Essa nova perspectiva sobre a Inteligência Artificial está sendo desenvolvida para melhor atender as especificidades das políticas públicas. Não se pode levar em conta uma programação de dados baseada em um padrão étnico que comporta, consequentemente, um lugar privilegiado específico da sociedade que gera uma programação extremamente excludente. Portanto, é de importância considerável essa busca de uma percepção mais humanizada da Inteligência Artificial, pois afeta direta e positivamente os âmbitos sociais. Por isso a importância de se “humanizar a máquina” e fazer

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PERMACULTURA

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Permacultura foi desenvolvida na década de 70 por Bill Mollison e David Holmgren na Tasmânia, como uma resposta ao sistema industrial e agrícola da época. Bill e David organizaram a agricultura ancestral, as habilidades, a sabedoria tradicional e a moderna e criaram a palavra Permacultura.

A Permacultura tem como base a ecologia e é um instrumento utilizado para a criação de sistemas humanos sustentáveis, valorizando e unindo os seguintes pontos: • Conhecimento tradicional; • Agricultura ancestral; • Construções eficientes; • Equilíbrio (mental, físico e espiritual); • Diversidade; • Recursos naturais e sustentabilidade Reunindo os Princípios da Permacultura aos atuais avanços Científicos e Tecnológicos e também aos valiosos Conhecimentos Ancestrais, torna-se possível desenvolver técnicas de utilização consciente dos recursos naturais, como o solo e a água! Chamamos estas técnicas de Tecnologias Sociais, pois elas são simples, eficientes, de baixo custo e de baixo impacto ambiental! Além disso, são facilmente replicáveis em diversas comunidades, inclusive em nossas próprias casas! Ao longo dos anos ela passou a ser compreendida como “Cultura Permanente”, pois passou a abranger uma ampla gama de conhecimentos oriundos de diversas áreas científicas, indo muito além da agricultura. Nos dias atuais, a permacultura transpassa desde da compreensão da ecologia, da leitura da paisagem, do reconhecimento de padrões naturais, do uso de energias e do bem manejar os recursos naturais, com o intuito de planejar e criar ambientes humanos sustentáveis e produtivos em equilíbrio e harmonia com a natureza. Atualmente a permacultura é considerada uma ciência holística e de cunho socioambiental, que congrega o saber científico com o tradicional popular e visa, é claro, a nossa permanência como espécie na Terra.

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PERMACULTURE

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ermaculture was developed in the 1970’s by Bill Mollison and David Holmgren in Tasmania as a response to the industrial and agricultural system of the time. Bill and David organized ancestral agriculture, skills, traditional and modern medicine and created the word Permaculture. Permaculture has ecology at its basis and is a mechanism used to create sustainable human systems, valuing and unifying the following points: • Traditional knowledge; • Ancestral agriculture; • Efficient buildings; • Stability (of mind, body and spirit); • Diversity; • Natural resources and sustainability. Combining the Permaculture Fundamentals with the current Scientific and Technological knowledges and also with valuable Ancestral Knowledges, it is possible to develop techniques for conscious using of natural resources, such as soil and water! Those techniques are called Social Technologies, being simple, efficient, low-cost and with low environmental impact! Besides that, they are easily repeatable in several communities, even in our own homes! Over the years it became understood as “Permanent Culture”, since it began to cover a wide range of knowledges coming from several scientific fields, beyond agriculture. Nowadays, permaculture goes from the understanding of ecology to landscape reading, natural patterns reconnaissance, energy usage and good management of natural resources, with the intention of designing and creating sustainable and productive human environments with balance and harmony with nature. Permaculture currently is considered as a holistic science of socio-environmental intent, congregating scientific and traditional popular knowledge, aiming, of course, at our permanent staying as a species on Earth. There are three Permaculture work ethics and some design principles which are based in the observation of ecology and in the sustainable ways of interacting, producing and living of traditional communities with nature, always working in favour of and never against it.

PERMACULTURE ETHICS: • Take care of the earth • Take care of people • Take care of the future

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A permacultura possui três éticas e alguns princípios de planejamento que são baseados na observação da ecologia e da forma sustentável

de interação, produção e de vida das populações tradicionais com a natureza, sempre trabalhando a favor dela e nunca contra.

ÉTICAS DA PERMACULTURA: • Cuidar da terra

• Cuidar do Futuro

• Cuidar das pessoas

PRINCÍPIOS DE PLANEJAMENTO: 97


DESIGN PRINCIPLES: The twelve design principles, which must always be in accordance with the ethics, since they are guided by those, are presented in what follows.

should “design systems and organize our lives in order to obtain and yield by means that optimize the power of useful work of everything we do” (HOLMGREN, 2013, p. 126). Therefore we should:

The permacultural twelve design principles were developed over two decades and published in 2002 by David Holmgren through his book Permaculture: Principles and Pathways Beyond Sustainability, published in Brazil in 2013.

• Conserve energy in the external system - solar energy; • Produce basic food products (well adapted to the local environment) – it is common in different kinds of environments to have some well adapted species, whether they are native or not, as well as to produce food which can serve as the basis for the local population, such as manioc, corn, beans and other cereals have for native peoples in South America;

According to Holmgren (2013, p. 12), the first six principles consider the production systems from a bottom-up perspective of the elements, organisms and people. The other six emphasize the top-down perspective of the patterns and relations which tend to emerge by the means of the ecosystems’ auto-organization and co-evolution.

• Cultivate hardy species, which bring yield and don’t need much care, such as self-sown food plants, some medicinal and timber species;

They are: 1- Observe and interact – Suggests that answers should be searched by observing events and objects which interconnect in the development of a phenomenon. Many times solutions are found in the visualization and correlation with patterns from nature. One must observe the system as a whole – from top to bottom, associating the interdependence of objects. The interaction must be from bottom to top – focusing on points which might influence in the system’s change as a whole. For instance, some plants considered as pests can indicate a lack or excess of nutrients in the soil. Another solution would be to observe if a plant can be consumed, and interacting finding other uses for it through feeding or as a medicinal plant.

• Increase soil fertility for a higher production of food with better nutritional quality. Among the items of human consumption, food is one of the most primordial ones. To invest in a fertile soil is to invest in food safety. With the food surplus, we can come up with consumption or marketing alternatives. For instance, fruit trees usually bring an abundance of fructification in a determined time of the year. The use of these fruits in the making of preserves, jams, teas, dry fruits, juices and pulps can make for a longer lasting utilization of the production as well as for a greater variety of food over the year.

2- Catch and store energy – Permaculture considers that our society needs to switch to a low-energy usage, mainly external, production mode.

4- Apply self regulation and accept feedback – Self regulation is one of a system design goals, even if it is never completely achieved. As we don’t have full control of the number of factors which involve each process, sometimes interferences or maintennances are needed. The interaction with nature can provide positive feedbacks which allow for the production to expand, or negative feedbacks which may reduce production, for any reason, preventing the whole system to collapse. When a population is building self-sufficiency, it is closer to receive feedbacks that are important for humanity as a whole but that, due to modern society’s lifestyle, are hidden from most people, or only gain visibility when a catastrophe or a largesized event occurs. That’s the case with communities damaged by damming, deforestation, fauna reduction, imbalance of systems in a whole, consequently causing

It is necessary to understand how nature catches and stores energy so we can restore the natural energy capital in the, in areas and microbasins, in domestic environments, in culture and think in its appropriate use. It isn’t enough simply switching from fossil fuel to renewable energies, it is necessary to previously re-evaluate the consumption levels. Reducing to longer lasting products and services and re-thinking the each thing’s utility before consuming. 3- Obtain and yield – Besides thinking of long-term solutions to improve life-conditions on the planet, it is necessary to obtain and yield in the short-term. Daily human needs such as food, shelter, available water, must be supplied. In our everyday habits, we

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É necessário entender como a natureza capta e armazena energia para poder reconstruir o capital natural energético nas paisagens, nas regiões e microbacias, no ambiente doméstico, na cultura e pensar no seu uso apropriado. Não basta somente trocar o uso de combustíveis fósseis por energias renováveis, é necessário, antes reavaliar o nível de consumo. Reduzir para produtos ou serviços que durem mais tempo e repensar a utilidade de cada coisa antes de consumir.

Em seguida estão apresentados os doze princípios de planejamento, que devem sempre estar de acordo com as éticas, pois são guiados por essas. Os doze princípios de planejamento permacultural foram desenvolvidos ao longo de mais de duas décadas e publicados em 2002 por David Holmgren através do livro “Permacultura: princípios e caminhos além da sustentabilidade”, publicado em português no Brasil em 2013. Segundo Holmgren (2013, p.12),

3. Obtenha rendimento – Além de pensar em soluções a longo prazo que melhorem as condições de vida no planeta, é necessário obter um rendimento a curto prazo. As necessidades humanas diárias de alimentação, abrigo, disponibilidade de água, precisam ser supridas. Em nossas práticas cotidianas, devemos “desenhar sistemas e organizar nossas vidas de modo a obtermos rendimento através de meios que otimizem a potência de trabalho útil de tudo o que fazemos” (HOLMGREN, 2013, p.126). Dessa forma devemos

Os primeiros seis princípios consideram os sistemas de produção sob uma perspectiva de baixo para cima dos elementos, organismos e pessoas. Os demais seis enfatizam a perspectiva de cima para baixo dos padrões e relações que tendem a emergir por meio da auto-organização e coevolução dos ecossistemas. São eles: 1. Observe e interaja – Sugere que as respostas sejam buscadas a partir da observação de eventos e objetos que se interconectam no desenvolvimento de um fenômeno. Muitas vezes as soluções são encontradas na visualização e correlação com padrões da natureza. Deve-se observar o sistema como um todo – de cima para baixo, relacionando a interdependência dos objetos. A interação deve se dar de baixo para cima – focando pontos que podem influenciar na mudança do sistema como um todo. Por exemplo, algumas plantas que podem ser consideradas como pragas, podem ser indicadores de falta ou excesso de algum nutriente no solo. . Outra solução, seria observar se a planta “em excesso” pode ser consumida, e interagir dando outro uso para ela através da alimentação ou como planta medicinal.

• conservar a energia no sistema externo – energia solar • produzir alimentos de base (bem adaptados ao ambiente local) – é comum em diferentes tipos de ambientes que algumas espécies sejam bem adaptadas, sejam elas nativas ou não, e produzam alimentos que podem servir como base da dieta da população local, como mandioca, batatas, milho, feijões e outros cereais para os povos nativos na América do Sul; • cultivo de espécies rústicas, que trazem rendimento e não precisam de muito cuidado, como , plantas alimentícias espontâneas, algumas espécies medicinais e madeireiras;

2. Capte e armazene energia – A permacultura considera que a sociedade precisa partir para um modo de produção de baixo consumo energético, principalmente externo.

• aumentar a fertilidade dos solos para uma maior produção de alimentos com melhor qualidade nutricional. Dentre os 99


rural exodus, loss of traditional knowledges, climatic unmanageability and loss of biodiversity.

long lasting results. This principle can be applied in a domestic and personal scale when we search for solutions which interfere in small scale, while bringing a long-term result. Also in a local and regional scale when, for instance, commerce is directed toward the local production of small producers, which demand less travels and less transport speed.

5- Use and value renewable resources and services - As an example, when we plant deciduous tree species next to a building, we reduce the energy demand. That’s because, in the summertime, they will project shadows over the building, helping to maintain the environment fresh and, in the winter, the leaves fall, providing solar heat for the environment during the cold season. Thus, the use of artificial energy for thermal control of the environment becomes less necessary. “It is appropriate to make relatively ephemeral daily use of the sun, the tides, the water and the wind, since they are daily or seasonally renewable energies” (HOLMGREN, 2013, p. 174).

10- Use and value diversity – The planet we inhabit is composed by an immense variety of animal and vegetable species, cultures, lands, which form diverse biomes and landscapes. The consequences of monocultures led by human beings is already known, be they relative to health – due to the low nutrient variability and high level of agrotoxins in our eating diet – be they relative to the relations between peoples – with ears and violent acts which bring a culture’s imposition over another, mainly due to territorial disputes. Diversity is naturally intrinsic to our lives, and we should enjoy it, learn from it and nurture it, be it through food products, be it through human coexistence. Only through a way which accepts and offers diversity is that we are able do ensure food security and harmony in human populations.

6- Produce no waste - The minimization of waste can be done through five ways: refusing, reducing, reusing, repairing and recycling. Each one of these should be remembered before the buying of any product. 7- Design from patterns to details – This principle refers to the development of “a language of design patterns in permaculture focusing on examples of structures and organizations that seem to illustrate the balanced usage of energy and resource”. Referring to that there are the planning scales, which in permaculture are basically organized in zones according to use intensity, land slopes, as well as to the observation of light, wind, humidity, water, fire, among other things.

11- Use edges and value the marginal – In nature, peripheral zones – limits and connections between one system and another, be it an environment, an ecosystem or a biome – are points full of diversity and energy. It is by the contact between the atmosphere and the earth’s crust that life and several energetic processes are able to exist in planet Earth. For instance, “the terrestrial limits support a bigger number of bird species than any vegetation system, since the resources of both systems are available”.

8- Integrate rather than segregate – Established relations between human beings, as well as between natural elements and other animals, are really important for group life and dynamic. Permaculture believes that cooperative and symbiotic relations tend to contribute better than merely competitive relations in building a society with appropriate habits in harmony with nature. One of the big examples which may be used for this principle is hen farming within a agroforestry system, in which the bird is able to live freely and has available food in abundance, as well as provides soil fertilization with its feces.

12- Creatively use and respond to change – However ample the planning for a design is before its execution or in its start, it is necessary for it to be constantly reconsidered according to obtained data. Holmgren (2013) states that permaculture refers itself to the durability of natural living systems and human culture, but this durability paradoxically depends to a large extent on flexibility and change. Some unforeseen factors may influence unexpected outcomes. Thus, creativity becomes necessary to overcome unexpected changes.

9- Use small and slow solutions – Modern society values velocity, be it in transport, production, or consumption relations. Small and clearly defined management strategies bring slow but efficient and

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itens de consumo humano, os alimentos estão entre os mais primordiais. Investir em um solo fértil é investir em segurança alimentar.

arbóreas caducifólias próximas a uma edificação, diminuímos a demanda por energia. Porque no período de verão elas projetarão sombra na edificação, ajudando a manter o ambiente mais fresco e no inverno as folhas caem, proporcionando mais calor solar no ambiente no período frio. Tornando-se assim menos necessário o uso de energia artificial para o controle térmico do ambiente. “É apropriado fazer uso diário relativamente efêmero do sol, das marés, da água e do vento, pois são energias diárias ou sazonalmente renováveis” (HOLMGREN, 2013, p. 175).

Com os excedentes, pode se pensar em alternativas de consumo ou de comercialização. Por exemplo, as árvores frutíferas costumam trazer uma abundância de frutificação em um período concentrado do ano. O beneficiamento dessas frutas através do feitio de conservas, geleias, chás, frutas secas, sucos e polpas podem trazer um aproveitamento da produção por mais tempo e também uma diversidade maior de alimentos ao longo do ano

6. Não produza desperdícios – A minimização de desperdícios pode se dar através de cinco atitudes: recusar, reduzir, reaproveitar, reparar e reciclar. todos as quatro atitudes deveriam ser ponto de reflexão antes da compra de qualquer produto.

4. Pratique a autorregulação e aceite conselhos (feedbacks) – A autorregulação é um dos objetivos do planejamento de um sistema, ainda que jamais seja totalmente alcançado. Como não temos controle dos inúmeros fatores que envolvem cada processo, por vezes são necessárias interferências ou manutenções. A interação com a natureza pode fornecer feedbacks positivos que contribuem para ampliação da produção ou feedbacks negativos, que podem diminuir a produção, por algum motivo, evitando que o sistema todo entre em colapso. Quando uma população está construindo uma autossuficiência, ela está mais próxima de receber feedbacks que são importantes para a humanidade como um todo, mas que devido ao estilo de vida da sociedade moderna, ficam ocultados para a maioria das pessoas, ou só ganham visibilidade quando ocorre uma catástrofe ou um evento de grande proporção. É o caso de comunidades atingidas pelas barragens, desflorestação, diminuição da fauna, desequilíbrio de ecossistemas inteiros, consequentemente causando êxodo rural, perda de saberes tradicionais, descontrole climático e perda da biodiversidade.

7. Design partindo de padrões para chegar aos detalhes – Esse princípio remete ao desenvolvimento de “uma linguagem de padrões de planejamento em permacultura ao focalizar exemplos de estruturas e organizações que parecem ilustrar o uso equilibrado de energia e recursos Dentro disso entram as escalas de planejamento, que na permacultura estão organizadas basicamente através de zonas conforme a intensidade de uso, inclinação do terreno e também na observação dos setores de sol, vento, umidade, água, fogo, dentre outros. 8. Integrar ao invés de segregar – Tanto entre seres humanos, quanto nas relações entre elementos naturais e outros animais, as relações estabelecidas são importantíssimas para a vida e a dinâmica desses grupos. A permacultura acredita que relações cooperativas e simbióticas tendem a contribuir mais do que relações meramente competitivas, na construção de uma sociedade com práticas adequadas em harmonia com a natureza. Um dos grandes exemplos que pode ser utilizado para esse princípio é o uso da

5. Use e valorize os serviços e recursos renováveis – . Por exemplo quando plantamos

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criação de galinhas dentro de um sistema agroflorestal, onde a ave pode viver livremente e tem alimento disponível em abundância, bem como fornece adubação do solo através do esterco desse animal.

é intrínseca naturalmente à nossa vida, e devemos desfrutá-la, aprender com ela e cultivá-la, seja na produção alimentícia, seja no convívio humano. Somente através de um caminho que aceite e proporcione a diversidade, é que se pode garantir segurança alimentar e harmonia nas populações humanas.

9. Use soluções pequenas e lentas – A sociedade moderna valoriza a velocidade, seja no transporte, seja na produção, seja nas relações de consumo

11. Use os limites e valorize o marginal – Na natureza, as zonas periféricas – limites e conexões entre um sistema e outro, seja um ambiente, um ecossistema ou um bioma – são pontos ricos em diversidade e energia. É no contato entre a atmosfera e a crosta terrestre que está contida a vida e diversos processos energéticos presentes no planeta Terra. Por exemplo, “os limites terrestres sustentam um número maior de espécies de aves do que qualquer sistema de vegetação, pois os recursos de ambos os sistemas estão disponíveis”

Pequenas e certeiras estratégias de manejo, trazem resultados lentos, mas que podem ser eficazes e duradouros. Esse princípio pode ser aplicado em escala doméstica e pessoal quando buscamos soluções que interfiram em pequena escala, mas que trazem um resultado a longo prazo. Também em escala local e regional quando, por exemplo, o comércio é voltado à produção local de pequenos produtores, que demandem menos deslocamento e velocidade no transporte.

12. Responda criativamente às mudanças – Por mais que o planejamento aconteça de forma mais ampla antes da execução ou no começo, é necessário que ele seja constantemente reavaliado conforme os resultados obtidos. Holmgren (2013) afirma que a permacultura se refere à durabilidade dos sistemas vivos naturais e da cultura humana, mas essa durabilidade depende paradoxalmente em grande medida de flexibilidade e mudança. Alguns fatores que estão fora de previsão podem influenciar em resultados não esperados. Por isso a criatividade se faz necessária para conseguir superar mudanças inesperadas.

10. Use e valorize a diversidade – O planeta que habitamos é composto por uma imensa variedade de espécies animais e vegetais, culturas, solos, que formam diversos biomas e paisagens. Já se conhece as consequências que tem as monoculturas induzidas pelos seres humanos, seja em nível de saúde – em decorrência da baixa variabilidade de nutrientes na dieta alimentar e o alto nível de agrotóxicos, seja em nível de relações entre povos – com guerras e atos violentos que trazem uma imposição de uma cultura sobre outra, principalmente por questões de poder nos territórios. A diversidade

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MCDONALD’S The Riviera de São Lourenço’s McDonald’s is Latin America’s first sustainable franchisee with the seal issued by Leadership in Energy and Environmental Design (LEED certification – with more than 50% economy of water and 14% of energy).

dom and character ways of making self-criticisms, but always guided in search for work as an essential part of human survival since ancestral times, safeguarding your activities, knowledges, ways to create, love, have leisure and living honorably.

To obtain the certification, the Riviera’s McDonald’s unit had to follow the established parameters starting with its construction and, on its very first year of operation, the restaurant already saved 50% of its running water use and 14% of its electric energy use – thanks to the donation of solar panels and LED lamps.

It is foolish to fight against all technological tendencies which have emerged since the first Industrial Revolution. Instead, professionals, regardless of their acting field, should ask themselves: what am I doing to evolve and adapt to the changing new world? Which new skills should I develop? What can I gain from this new market opening? How can I ally these tendencies to hat I enjoy doing? – Questions that every professional should make in any time, since stagnation should not be mistaken for stability. For those who have not yet entered the labour market or have not yet achieved the desired professional consistency, there’s a huge field to be explored with AI and other groundbreaking technologies. It is up to each one to explore their abilities and launch themselves into this new universe, full of possibilities.

The LEED certification is granted by the U.S. Green Building Council, organization which assembles representatives from construction and architecture sectors to promote buildings which meets sustainability criteria in its architectural plans and construction. So the certification is obtained it is necessary to fulfil a series of prerequisites, divided in five larger groups: enterprise location, energy, water, internal environmental quality and material. These assumptions make clear that employment as we know it today – CLT – and conditions of capitalist interest, being changed by big AI networks poundered by an intellectual and technological elite, have no way of extinguishing human labour, unless by the means of slavery, eugenics, racism and prejudice against LGBT people. If there was a bigger income distribution it wouldn’t be necessary to encourage border fights. Today we are much closer to paper saling system, as there are stock and specially data owners. “How to, then, advance from here and how to deal with the huge biotechnology and information technology challenges? Perhaps the same scientists and businessmen responsible for modern world’s disruptions will be able to create some technological solution?” Right now, what rests for us are human perspectives and bodies. In the medicine field, is already common sense that we might become a replicant or a human being based on inner communities. It will be required to combine culture, art, philosophy, technology in networks that despite not dismissing its computers and other devices through, paradoxically, understanding of friendship and compassion, generosity and other virtues we have left behind. Reading the interviews we are presented chronologically to five groups of heterogeneous people, who have in education, culture, free-

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MCDONALD’S O McDonald’s da Riviera de São Lourenço é a primeira franqueada sustentável da América Latina com o selo emitido pelo Leadership in Energy and Environmental Design (certificação LEED – com mais de 50% de economia de água e 14% em energia)

contemporâneo consigam montar alguma solução tecnológica?” Nesse momento, o que nos sobra são as perspectivas humanas e seus corpos. No campo da medicina, já virou senso comum de que todos nós podemos vir a ser um replicante ou um ser humano baseado em comunidades íntimas. Será a necessidade de comungar cultura, arte, filosofia, tecnologia em redes que apesar de não dispensarem seus computadores e outros aparelhos através, paradoxalmente, do entendimento da amizade da compaixão, da generosidade e outras virtudes que deixamos para trás. A leitura das entrevistas nos mostra cinco grupos heterogêneos cronologicamente, mas que têm na educação, na cultura, na liberdade e no caráter maneiras de fazer autocríticas, mas sempre no sentido da busca do trabalho como essencial para a sobrevivência humana desde a memória ancestral, resguardando seus fazeres, seus saberes, seus modos de criar, amar, ter lazer e viver honradamente.

Para obter a certificação, a loja McDonald’s da Riviera teve que seguir os parâmetros estabelecidos desde a construção e, já no primeiro ano de operação, o restaurante já teve economia de 50% no uso de água potável e de 14% no de energia elétrica – graças à adoção de painéis solares e lâmpadas LED. O LEED é concedido pelo U.S. Green Building Council, organização que reúne representantes dos setores da construção e da arquitetura para a promoção de edifícios que atendam critérios de sustentabilidade no projeto arquitetônico e na construção. Para obter a certificação é necessário cumprir uma série de pré-requisitos, divididos em cinco grandes grupos: localização do empreendimento, energia, água, qualidade ambiental interna e materiais

Todas as tendências tecnológicas que surgiram desde a 1ª Revolução Industrial, é tolice lutar contra. Ao invés disso, os profissionais, independentemente de sua área de atuação devem se perguntar: o que estou fazendo para evoluir e me adequar ao novo mundo que se configura? Quais novas competências devo desenvolver? Quais ganhos posso obter com esta nova abertura de mercado? Como aliar estas tendências ao que gosto de fazer? – Questões que todo profissional deveria fazer em qualquer época, pois estagnação não deve ser confundida com estabilidade. Para os que ainda não ingressaram no mercado de trabalho ou ainda não alcançaram a solidez profissional almejada, há um imenso campo a ser explorado proveniente da AI e outras tecnologias disruptivas. Cabe a cada um explorar as suas capacidades e se lançar neste novo universo, repleto de possibilidades.

Através dessas premissas vemos que o emprego como o conhecemos hoje – CLT – e que as condições do interesse capitalista, através de grandes redes AI equacionadas por uma elite intelectual e tecnológica está transformando, não tem como extinguir a mão de obra humana, a não ser por meios de escravidão, higienismo, racismo e preconceito a população LGVT. Se houver maior distribuição de renda não seria necessário incentivar brigas de fronteiras. Hoje estamos muito mais perto dos sistemas de vendas de papeis, sendo proprietário de ações e principalmente de informações. “Como, então, avançar a partir daqui e como lidar com os imensos desafios das revoluções da biotecnologia e da tecnologia da informação? Talvez os mesmos cientistas e empresários responsáveis pelas disrrupções do mundo 105


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19 70 DÉCADA DE

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The 1970’s

T

he 1970’s constitute, in Brazil, the consolida­ tion of the political and economic projects that began with the military coup in 1964 and stiffened with the many syndicalist strikes that ensued the AI-5 (Ato Institucional 5 - Institutional Act 5), designed by Costa e Silva, that intended to combat the leftists that acted clandestinely both in the countryside, with the guerrillas and in the capitals. From this closing arrests and tortures ensued, at the same time during the 1970’s there occurred several changes among the youth’s behaviour. In this historical time, there were several manifestations through art, music and the universities. Médici signs a deal with the dictator Stroessner for the construction of the Itaipú hydroelectric plant. The country lives the period of the “economic miracle”. In the year of 1975, with president Geisel, there is a stiffening of the political project stemming from crisis and international wars that affected the country’s economy. In the year of 1979, after several student and union riots, the dictatorship compromised, specially with amnesty laws and political opening initiated by Geisel. Through that last one, returned from exile significant artists and intellectuals, who joined forces, with the goal of making a new political, economical, social and cultural project, which will define the 80’s.

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Década de 1970

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década de 1970 constitui no Brasil a consolidação dos projetos políticos e econômicos que começaram com o golpe militar de 1964 e se acirraram com várias greves sindicalistas que decorreram do AI-5 que projetado por Costa e Silva visa combater as esquerdas que atuavam clandestinamente tanto no campo, com as guerrilhas, quanto nas capitais. Desse fechamento decorreu prisões e torturas, ao mesmo tempo nos anos 70 ocorreram diversas mudanças compor­ tamentais entre os jovens. Nesse momento histórico, houve diversas manifestações através da arte, da música e das univer­ sidades. Médici assina acordo com o ditador Stroessner para a construção da hidrelétrica de Itaipu. O país vive o período do “milagre econômico”. No ano de 1975, com o presidente Geisel, há um acirramento do projeto político resultante de crises e guerras internacionais que afetaram a economia do país. No ano de 1979, após diversas greves estudantis e de sindicatos, a ditadura cede para aliviar tensões, especialmente com as leis de anistia e abertura política iniciada por Geisel. Através dessa voltaram do exílio expressivos artistas e intelectuais, que se juntaram, com vias de fazer um projeto político, econômico, social e cultural, que irá se refletir nos anos 80.

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Rachel Morais de Matos (70 years old)

I

started working when I was 12 years old, in my father’s store. When I entered the Journalism University, my father was the owner of a radio station and I worked with him and was a regular, signed employee, so I could pay my INSS (Social Security), but I had no salary. So, he provided for me, he was my provider, but he gave me no salary, which was common in the 70’s.

My first job in the field of journalism was doing an internship, afterwards I freelanced, which is no job. If you consider the word “work”, that it is. But it is no job. So, I did freelance work for magazines for a very long time and internships in magazines, on the radio, 200 thousand different things. My first regular, signed job was in Salvador. There I worked in the Tribune of Bahia for a year, with a contract and a schedule. But, at the same time, I was still freelancing for those same editors that I worked with here in Minas Gerais, that were Bloch, Abril, JB, Globo. I went to Salvador in 1974. Since I was a signed worker for the Tribune of Bahia, I worked in a fixed schedule, which is theoretical, because I was very quick at doing my things. I was coming from Minas Gerais, and in Minas Gerais you do it, “in Bahia you do it, ok? [laughter] What I would do: I’d stop by the paper, get the agenda, then stop by Abril, get the agenda, stop by Bloch, get headlines, pictures. At Abril it was Veja, it was Quatro Rodas, Exame, there were so many… I’d stop by Globo, get the agenda. Manchete was the quietest of the places, because in the places I’d do the interviews; come back, write and then I’d turn them in. So, it was a job. I had until seven, eight, nine in the evening to turn everything in. But it composed a salary that I could live off of, because the Tribune alone wasn’t cutting it.When I went to Salvador, I had to rent a house; there was transportation and food vouchers, these things that at that age, at around 21, 22 years of age, you still get from your mother’s house. I didn’t have mother’s house to sustain this anymore, so I had to work more, and in more places. Here, in Belo Horizonte, Abril’s branch office was on Álvares Cabral street. So there I’d go, wander around, and I was already sort of a “regular” freelancer, every week there would be something from one of the magazines for me. I asked the people to recommend me for Salvador, and I did mostly the same thing. Later I ended up meeting other journalists, and then met the people from Globo, from JB.

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C

omecei a trabalhar aos 12 anos na loja do meu pai. Quandco entrei para Faculdade de Jornalismo, meu pai era dono de uma rádio e eu trabalhei com ele e tinha carteira assinada, para pagar INSS, mas não tinha salário. Então, ele me provinha, era o meu provedor, mas não me dava um salário, o que era comum na década de 1970.

Meu primeiro emprego na área de jornalismo foi fazendo estágio, depois fiz freelances, que não é emprego. Se você considerar a palavra “trabalho”, é. Mas emprego, não. Então, fiz freelances para revistas durante muito tempo e estágios em revista, em rádio, 200 mil coisas.

Rachel Mo

Meu primeiro emprego de carteira assinada foi em Salvador. Lá eu trabalhei na Tribuna da Bahia por um ano, com carteira assinada e com horário. Mas, ao mesmo tempo, fazia freelances paras as mesmas editoras que eu fazia aqui em Minas Gerais, que eram Bloch, Abril, JB, Globo.

rais de Ma tos — 70 a nos —

Fui pra Salvador em 1974. Como tinha a carteira assinada na Tribuna da Bahia, trabalhava com horário fixo, o que era teórico, porque sempre fui muito rápida para fazer as minhas coisas. Estava vindo de Minas Gerais, e em Minas Gerais você faz, “na Bahia você faz”, ok? [risos] O que eu fazia: passava no jornal, pegava a pauta, passava na Abril, pegava a pauta, passava na Bloch, era manchete, fotos. Na Abril era Veja, era Quatro Rodas, Exame, tinham várias... Passava no Globo, pegava pauta. A Manchete era o lugar mais tranquilo, pois nos lugares e fazia as entrevistas; voltava, redigia e depois saía entregando. Assim, era um emprego. Tinha até sete, oito, nove horas da noite para entregar. Mas compunha o salário que dava pra viver, porque o da Tribuna só não dava. Quando fui para Salvador, tive que alugar uma casa; tinha transporte, alimentação, todas essas coisas que nessa idade, quando você tem 21, 22 anos, você tem casa de mãe ainda. Já não tinha mais casa de mãe para sustentar isso, então eu tinha que trabalhar mais, em mais lugares.

era mais ou menos uma freelances “fixa”, toda semana tinha alguma coisa de alguma das revistas pra mim. Pedi o pessoal daqui pra me recomendar pra Salvador, e fazia mais ou menos a mesma coisa. Depois fiquei conhecendo outros jornalistas, aí fiquei conhecendo o pessoal do Globo, do JB. Voltei pra Belo Horizonte e antes de começar a trabalhar tive um acidente de moto, acho que em fevereiro de 1975. Eu quebrei a perna muito feio, feio mesmo. Fiquei quase um ano de bengala e muleta, e não pude andar, mais ou menos um ano. Em julho de 1975, apareceu a oportunidade de uma bolsa de estudos na Espanha, em Pamplona, para graduados latino-americanos Me candidatei e lembro que fui pra entrevista de muleta, era para fevereiro, fim de janeiro do ano seguinte. Os brasileiros que também participaram dessa bolsa foram Chico Pinheiro, Tereza Goulart, Antonieta Goulart e Carlos Alberto. Então eles pegavam jornalistas de veículos qualificados ou jornalistas que eles achavam que de alguma forma podiam ter alguma liderança ou qualquer coisa assim.

Aqui, em Belo Horizonte, a sucursal da Abril era na Álvares Cabral. Então ia lá, ficava rodando, e já

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I came back to Belo Horizonte and before I started working I had a motorcycle accident, I think it was in february 1975. I broke my leg very badly, very badly indeed. I was using a cane and crutch, and I couldn’t walk, for around one year. In july 1975, an opportunity came up, for a scholarship in Spain, in Pamplona, for latin-american graduates. I applied and I remember I went to the interview wearing crutches, it was for february, end of january of the following year. The brasilians that also participated in this scholarship were Chico Pinheiro, Tereza Goulart, Antonieta Goulart and Carlos Alberto. So they would take journalists from qualified vehicles or journalists they thought could have some sort of leadership or something of the sort.

I was director of journalism. So I stayed, I stayed at TV Minas. My father passed away, so the radio was left for me. I worked at the radio in 1979, and I was a journalism student, this was the year I entered the course, after that I’d never worked at it again. I went back to working at the radio in 2001 and I’m there to this day. I present in the mornings, around a half hour, forty-five minutes, and there is also a piece at night that I present. The future of work? Today, there’s all these things about work changing. I was in radio, papers, television, magazines, but I never worked on the internet. Nowadays, there is a whole series of professions you can exert through the internet, blogs, stand-up comedy, whatever you like, so easily. In terms of the future of work, I think that’s about it. That’s the story: it goes on changing, nature, as people, is very adaptable.

Afterwards I came back to Brazil and went to work at Manchete. I was there for a long time. Not a very long time, just a little while. I always worked a little while at everything, I was never the type to stay for very long anywhere at all. There I was a reporter, a video reporter. I worked on all fields of journalism, except for internet. I was in radio for a very long time, radio and television. I did papers to, working at Estado de Minas, but this was much later. Afterwards at Folha de São Paulo, Globo, and then I went abroad again. I was gone for about one or two years. I got back and went to work at Folha de São Paulo, in 1977, 1978. Then, after the Folha de São Paulo, they called me to work at Globo. I worked there, but I decided to travel, go around America, in a different way than the europeans. Then everyone would go: “are you crazy? You’re leaving Globo?”. I was on the Jornal Nacional (National News). Everyone would say: “oh, you’re crazy”. I did travel and go around America from here, from Brazil. I worked also at Alterosa as editor-in-chief, from eight in the morning until midnight, like a crazy person, totally unhinged. Then I got tired and almost had a breakdown there. After some time resting, I got a phone call from a friend I’d met, that made me the following invitation: “would you like to come live in Japan?” I said “I do”. I had an audition in Rio de Janeiro to go work at the NHK radio in Japan. I came back here and went to the Estado de Minas. There they were changing the “Gerais” segment, because they wanted new ideas, new people, with heads thinking outside the box. I worked until exhaustion. I remember leaving my house at eight in the morning on a friday, which was closing day, and at three o’clock in the morning on saturday I was getting back home. Lots of work. At this point I already had my children, it was around 1997, 1998. Then they called me to work at TV Minas; and Aécio was the governor, Ângela Carrato was the TV’s president.

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Depois voltei para o Brasil e fui trabalhar na Manchete. Fiquei lá um tempão. Um tempão não, um tempinho. Sempre trabalhei um tempinho em cada coisa, nunca fui de ficar muito tempo em lugar nenhum não. Lá era repórter, repórter de vídeo. Eu fiz todas as áreas do jornalismo, menos internet. Fiz rádio muito tempo, rádio e televisão. Fiz jornal também, trabalhando no Estado de Minas, isso já bem depois. Depois Folha de São Paulo, Globo, depois eu viajei de novo. Aí fiquei um ou dois anos fora. Cheguei e fui trabalhar na Folha de São Paulo, em 1977, 1978. Aí, depois da Folha de São Paulo, me chamaram para trabalhar na Globo.

Trabalhei lá, mas resolvi viajar, fazer a América, em um sentido diferente dos europeus. Aí todo mundo: “você é louca? Vai sair da Globo?”. Eu fazia Jornal Nacional. Todo mundo: “ah, você é louca”. Viajei e fiz a América daqui, do Brasil. Trabalhei também na Alterosa como editora-chefe, das oito horas da manhã até meia-noite, igual uma louca, desvairada. Aí cansei e quase tive um pipiripaque lá. Depois de um tempo descansando, recebi um telefonema de uma amiga que eu tinha conhecido, que me fez o seguinte convite: “Você quer vir morar no Japão?” Eu falei “quero”. Fiz um teste no Rio de Janeiro para trabalhar na rádio NHK no Japão. Voltei pra cá e fui para o Estado de Minas. Lá estavam mudando o caderno “Gerais”, pois queriam ideias novas, gente nova, com cabeça pensando diferente. Eu trabalhava até a exaustão. Lembro-me de que saía de casa as oito da manhã, sexta-feira, que era dia de fechamento, e três horas da manhã no sábado estava chegando em casa. Muito trabalho. Isso já estava com meus filhos, era 1997, 1998. Depois me chamaram para trabalhar na TV Minas; e Aécio era governador, Ângela Carrato era presidente da TV. Fui diretora de jornalismo. Aí fiquei, fiquei na TV Minas. Meu pai faleceu, aí sobrou a rádio pra mim. Eu trabalhei na rádio em 1979, e era estudante de Jornalismo, ano que eu entrei para fazer o curso, depois eu nunca mais tinha trabalhado. Voltei a trabalhar em 2001 e estou na rádio até hoje. Apresento de manhã, mais ou menos meia hora, quarenta e cinco minutos, e tem um da noite que eu apresento também. O futuro do trabalho? Hoje, têm essas questões todas do emprego mudando. Fiz rádio, jornal, televisão, revista, mas não fiz internet. Atualmente, tem uma série de outras profissões que você tem na internet, de blog, de stand up, do que você quiser, com uma facilidade. Em termos de futuro de emprego, acho que é isso aí. É essa história: vai mudando, a natureza, como o ser humano, é muito adaptável.

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Antonio Maria de Oliveira — 71 years old —

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started with an internship in the Banco do Nordeste do Brasil (BNB - Brazil’s Northeastern Bank), in june 1967, for students of Economic Sciences. Back then this internship was very desirable for the students in the field, because there was interaction with renowned economists from the region, placed in the ETENE, that was the department of economic studies of the BNB. The remuneration was of one and a half minimum wages, more or less, which was enough to cover personal expenses. For many, the beginning of a career. For me, the conscience I was still very young to already have such a restricted, fixed career. It wasn’t what I wanted for my life, but it meant the conscience that it wasn’t my path. It lead me to chase what I dreamed of doing: movies. I went out to face a whole new, unstable and different field.

In the field of cinema, that I chose, the opportunities were scarce and unstable. I had just associated to some colleagues in a company that provided cinema photography services for advertising agencies. So, I took on the role of photographer. Later, I went to work as an employee in an advertising company, directing the department of photography and audiovisuals. I went back to having my own photography studio and ended up dedicating to rural activities. In this activity, I dedicated to promoting associativism, access to markets and to agroecological production. Since always I see the labour market as a very precarious situation for the employees. In any crisis, I see the summary dispensation of professionals, no matter their qualification. Working for yourself is also a very considerable hardship, but it may leave you more equipped to deal with the unexpected. My primary work at the bank was to gather the data from agricultural production from IBGE and to pass it on to the economists at ETENE. A very manual work, at the time. At the same time, I would attend film clubs, because cinema was a part of my life since childhood. From attendant to active member of the movement, it was a snap. National film club gatherings expanded knowledges and relationships. Upon discovering the existence of the Escola Superior de Cinema (Higher School of Cinema), at the Universidade Católica de Minas Gerais, I decided to face the challenge of doing what made more sense to me. The course was good, with very few students, well-balanced theory and practice. I did short-film production,

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C

o mecei com um estágio no Banco do Nordeste do Brasil (BNB), em junho de 1967, para estudantes de Ciências Econômicas. Na época esse estágio era cobiçado pelos estudantes do setor, pois havia convívio com renomados economistas da região, lotados no ETENE, que era o departamento de estudos econômicos do BNB. Remuneração era de um salário e meio, mais ou menos, importante para sustentar despesas pessoais. Para muitos, o início de uma carreira. Para mim, a consciência de ser ainda muito novo para já ter uma carreira engessada. Não era o que queria para minha vida, mas significou a consciência que não era o meu caminho. Me levou a ir atrás do que sonhava fazer: cinema. Saí para enfrentar um campo inteiramente novo, instável e diferente.

Antonio M ar — 71 a

No campo do cinema, que escolhi, as oportunidades eram escassas e instáveis. Acabei me associando a colegas numa empresa que prestava serviços de fotografia e cinema para agências de publicidade. Assumi, então, o papel de fotógrafo. Posteriormente, fui trabalhar como empregado numa agência de publicidade, dirigindo o departamento de fotografia e audiovisual. Voltei a ter um estúdio de fotografia por conta própria e acabei por me dedicar à atividade agrícola. Nessa atividade, me dediquei a promover o associativismo, o acesso a mercados e a produção agroecológica.

ia de Olive

nos —

ira

tava cineclube, pois o cinema faz parte de minha vida desde a infância. De frequentador a membro ativo do movimento, foi um pulo. Encontros nacionais de cineclubes ampliaram conhecimentos e relações. Ao descobrir a existência da Escola Superior de Cinema, na Universidade Católica de Minas Gerais, resolvi enfrentar o desafio de fazer o que mais fazia sentido para mim. O curso era bom, poucos alunos, teoria e prática equilibradas. Fiz produção de filmes de curta metragem, em 16mm para o Festival de Cinema Amador JB/Mesbla e ao final do curso, com alunos, professores e pessoas interessadas, participei da fundação da Cooperativa de Trabalho dos Profissionais de Cinema de Belo Horizonte - IMAGEM, tentativa de abrir mercado para o setor. O final da cooperativa me levou a assumir a profissão de fotógrafo, com os conhecimentos adquiridos na escola.

Desde sempre vejo o mercado de trabalho para quem é empregado como uma situação muito precária. Em qualquer crise, vejo a dispensa sumária de profissionais, não importa sua qualificação. Trabalhar por conta própria é também uma pedreira de considerável proporção, mas talvez lhe deixe mais apto a enfrentar os imprevistos. Meu trabalho primordial no banco era recolher os dados da produção agropecuária do IBGE e repassá-los aos economistas do ETENE. Um trabalho bem manual na época. Ao mesmo tempo, frequen-

Depois de trabalhar por conta própria, aceito o convite para dirigir o departamento de fotografia e audiovisual de grande agência de publicidade de

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done to enable, organize other producers who were interested and negotiate channels of outflow for the produce. There was interest from consumers for this type of production and we got together a very productive arrangement. Years later, my experience with organizing the producers, with access to markets, let to me being temporarily hired as a technician in the Nutre Nordeste project, for the qualification of productive organizations of family farming to access the school food programme.

in 16mm for the Festival de Cinema Amador JB/Mesbla and at the end of the course, along with the students, teachers and other interested people, I participated in the founding of the Cooperativa de Trabalho dos Profissionais de Cinema de Belo Horizonte, in an attempt to open up the market for this sector. The end of the cooperative led me to commit to the profession of photographer, with the knowledge acquired in school. After working on my own, I took the invitation to direct the photography and audiovisual department for a big advertising agency in Belo Horizonte, staying there until it was sold and closed by the new owner.

It was two years assisting associations and cooperatives in counties spread all around Ceará; then another two years, in the states of Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Piauí and Maranhão. The production of produce in the ranch was suspended. Today, as a retired rural man, I complement my income by selling fruit, that exists inside the ranch and with temporary positions, such as the agricultural census of the IBGE, like in 2017, when I coordinated the work of the teams of six different counties in the subarea of Camocim.

Jobs done for clients from the agricultural sector and of technical assistance and rural extension ignited in me the desire to go back to the countryside, the origin of my family. This return was radical, and the move was a great learning process, defying practices of the region, of the production of produce with great use of industrial products (such as chemical fertilizers and poisons), an option for the organic production system. This was

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BH, aí permanecendo até a sua venda e fechamento pelo novo dono.

Anos depois, a experiência na organização de produtores, no acesso a mercados, provocaram minha contratação como técnico (contrato temporário) no projeto Nutre Nordeste, de qualificação de organizações produtivas da agricultura familiar para o acesso ao programa de alimentação escolar. Foram dois anos assistindo associações e cooperativas em municípios espalhados por todo o Ceará e depois mais dois, nos estados do CE, RN, PB, PI, MA. A produção de hortaliças do sítio foi suspensa. Hoje, aposentado rural, complemento a renda com a venda de frutas, existentes no sítio e com trabalhos temporários, a exemplo do censo agropecuário do IBGE, como em 2017, quando coordenei o trabalho das equipes de seis municípios da subárea de Camocim.

Trabalhos executados para clientes do setor agropecuário e de assistência técnica e extensão rural despertam a vontade de voltar pra roça, origem da família. Retorno que foi radical mudança e tremendo aprendizado. Desafiando a prática da região, produção de hortaliças com larga utilização de insumos industriais (adubos químicos e venenos), opção pelo sistema orgânico de produção. Pra viabilizar, organizar outros produtores interessados e negociar canais de escoamento dos produtos. Havia interesse de consumidores nesse tipo de produção e montamos um arranjo produtivo.

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19 80 DÉCADA DE

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The 1980’s

I

n the 1980’s, everyone in exile returned to Brazil and, in political front, the combat between left and right begins. The administration of General João Batista Figueiredo determined the country’s political opening, granting in the first place the election of state governors. Thus, in 1982, after travelling across the country in caravans, the union leader Luiz Inácio Lula da Silva showed great ability to gather professors and intellectuals, through his less dull oratory, which was oriented towards the industries and rural workers. In those speeches, Lula confronted lack of labour rights, hunger issues and shelter needs. The campaign “Diretas-Já” (“Direct elections-Now”) gathers crowds of people in the main capital cities of the country; but the Dante de Oliveira amendment, that would institute it, is rejected in the Congress. Nevertheless , in 1985, it is declared the end of the dictatorship. In indirect elections for President of the Republic, in 1985, the opposing candidate Tancredo Neves is elected the new president of Brazil, however due to health issues he doesn’t assume presidency and in 21 April his death is announced, in his place, his vice José Sarney assumes as president. At this point institutions are restated, but the economy suffers with the recession and the inflation. José Sarney creates the plan cruzado I and the II, designed to contain the inflation. In 1988 the eighth Brazilian Constitution is enacted, commanded by Ulisses Guimarães. In 1989, Fernando Collor de Mello is the first president elected by direct voting since 1960.

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Década de 1980

N

os anos 1980, todos os exilados voltam ao Brasil e começa o combate entre esquerda e direita, no plano político. No governo do General João Batista Figueiredo é decretado a aber­ tura política do país, que concede em primeiro lugar a eleição de governadores estaduais.

Tanto assim que, em 1982, após caravanas que percorreram o país, com o líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva, este possuía grande capacidade de agregar, através da oratória menos enfadonha e vol­ tada aos trabalhadores das indústrias, do campo, professores e inte­ lectuais. Nesses discursos, Lula combatia a falta de direitos traba­ lhistas, a fome e a carência de moradia. Em 1984, país se mobiliza, reivindicando eleições diretas. A Campanha “Diretas-Já” reúne multidões nas principais capitais do País; mas a emenda Dante de Oliveira, que as instituiria, é rejeitada no Congresso. Porém, em 1985, é declarada o fim da ditadura. Em eleições indiretas para a Presidência da República, em 1985, o candidato da oposição Tancredo Neves é eleito o novo Presidente do Brasil, entretanto devido a problemas de saúde não assume e em 21 de abril, é anun­ ciada a sua morte, em seu lugar, assume a presidência o vice José Sarney. Nessas alturas as instituições se refazem, mas a economia sofre com a recessão e a inflação. José Sarney cria o plano cruzado I e o II, destinado a conter a inflação. Em 1988 é promulgada a oitava Constituição Brasileiras, comandada por Ulisses Guimarães. Em 1989, Fernando Collor de Mello é o primeiro presidente eleito pelo voto direto desde 1960.

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Wagner Cerqueira Lúcio — 47 years old —

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fficially, my first job was between 1985 and 1986, and I was around 13 or 14 years old. Actually, it was a friend of mine, Eric, that called me. We studied together in the mornings, and he called me and said: “Hey, I’m working at this new thing with the little bracelets and rings made out of silver”. There was a trend around these in the 80’s of costume jewelry plated in silver. He said: “So, the guys are paying and stuff, we could go there so you could work with me and stuff ”. And me, I was in need of cash, a teenager, so I went. It worked like this: there was a counter in the back and one in the front of the store, where they sold the silver. They exported, too. In the back the crowd would work. So, I went, but my parents didn’t want it, you know? A 13 year old boy. I went anyway; and getting there, it was totally hostile, you could say, you know? It was all dark; and it was like this: I would stay there carving the stones, on an assembly line, where there were other people. There was a group that would weld the claws. I’d come, take them, embed the jewel and pass it to someone else. And so I stayed, informally, I think for about 8 months. With no work permit, nothing. There was no sort of contract and the pay was quite low. It was something around present day 400 reais a month, tops. So it was something more to complement, for a teenager. My father always was a worker and, for us, for me, it was a great value. But there was no guarantee of payment. So there were months were he would get payed, others where the guy would stall; 20 days would pass and then he’d pay the rest. There was always a lot of stalling, because, you know, it was always very informal, yeah? But I went religiously, from monday to friday, so it was my first experience of coexisting with people, a job, having some contact, people talking, criticising, that thing of “oh, we’re here, grinding, getting low pay, etcetera”. That whole corporate feel, a small corporation. When I was around 13 years old, I started playing volley in a team, and I only really got back to working at around 1991. I had just graduated and I started working a signed job. Because, before, I worked independently making silk-screens. Those school t-shirts, for graduations and such. Back at home there was a two-room place and in the back a small house. My dad said: “Hey, you can stay here, for you to do your things”. I would paint pictures and sell them. I would also do these t-shirts to sell. This was still back in highschool, I was 17.

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ficialmente, meu primeiro emprego foi em 1985 para 1986, e tinha 13 para 14 anos. Na verdade foi um amigo meu, o Eric, que me chamou. A gente estudava junto de manhã, e ele me chamou e falou: “Ou, estou trabalhando agora nessa nova onda das pulseirinhas e anéis de prata”. Teve um boom assim nos anos 1980 de bijuterias banhadas a prata. Ele falou: “Ou, os caras tão pagando e tal, vamos lá pra você trabalhar comigo e tal”. E eu, precisando de grana, adolescente, fui. Era assim: um barracão atrás e na frente uma loja, onde vendiam as pratas. Exportavam também. Lá no fundo ficava a galera trabalhando.

Wagner C erqueira L úcio —4 7 anos

Aí, fui, mas meus pais não querendo, né? Menino de 13 anos. Fui assim mesmo; e chegando lá, era completamente inóspito, se pode dizer, né?. Tudo escuro; e era assim: eu ficava cravando as pedras, numa linha de montagem, em que tinha mais gente. Tinha um grupo que ficava soldando as garras. Eu vinha, pegava, cravava a joia e passava paro o outro. Era uma linha de produção. Fui ficando, informal, acho que por uns oito meses. Sem carteira, nada. Não tinha nenhum tipo de contrato, e a remuneração era bem baixa. Era como se fosse hoje 400 reais por mês, no máximo. Então era uma coisa mais para compor, para adolescente. Meu pai sempre foi operário e, para gente, para mim, era um valor ótimo. Mas não tinha garantia de receber. Então tinha mês que recebia, no outro o cara enrolava; passava 20 dias e aí que ele ia pagar a outra parte. Sempre foi uma enrolação, porque, assim, sempre foi muito informal, né? Só que eu ia religiosamente, de segunda a sexta, então foi minha primeira experiência de conviver com pessoas, trabalho, ter um contato, pessoas conversando, criticando, aquela coisa de “ah, estamos aqui ralando e ganhando pouco, não sei o quê”. Todo esse clima de empresa, pequena empresa.

mo em 1991. Tinha acabado de formar e comecei a trabalhar com carteira assinada. Porque, antes, trabalhava como autônomo fazendo silk-screen. Aquelas camisetas de colégio, formatura, essas coisas. Lá em casa tinha um barracão de dois cômodos na frente e atrás uma casinha. Meu pai falou: “Oh, pode ficar pra você aí, pra você fazer suas coisinhas”. Pintava quadro e os vendia. Fazia também essas camisas para vender. Isso era no colégio ainda, tinha 17 anos. Quando me formei no segundo grau, em 1991, consegui entrar em uma empresa. Lá fazia chicote de carro para a Fiat. Chicote é aquela parte elétrica, quando você abre o capô do carro, a frente do painel, é o chicote, porque ele é todo amarrado com fita crepe. Têm vários cabos elétricos. Então eu fazia esse material, peão mesmo de fábrica. Foi bom também, uma experiência ótima. De convívio com pessoas. Sempre gostei de trabalhar com desenho e tal, e eles sabiam que eu desenhava, então eles pediam para eu fazer o jornal da empresa. Aí eu comecei a me interessar por diagramação, estava começando

Com uns 13 anos de idade comecei a jogar vôlei em uma equipe, e aí só fui voltar a trabalhar mes-

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When I graduated secondary schoo, in 1991, I managed to get into a company. There I would make car harnesses for Fiat cars. The harness is that electrical part, when you open the hood of the car, the front of the dashboard, that’s the harness, because it is all tied up with crepe tape. There’s lots of electric cables. Then I would make this material, a real factory worker. It was good too, a very good experience. Of coexistence with people.

that I could choose to work for. So I chose one that was a printer, that I thought was nice and stuff. So I started working at the printer as a final-artwork technician, in 1994. Afterwards, in 1995, I worked at an agency, and I went on going from one agency to another, since 1997. In 2001, I started entering the web field, at a software factory. I started as an interface designer, and from then till now it has been agency after agency. Always in the field of design; lately it has been more UX really, but always coming back to design. But I went back to working at an agency that did all sorts of things, from websites to branding, prints and stuff.

I always liked working with drawing and stuff, and they knew I drew, so they asked me to do the company’s paper. So I started getting into diagramation, I was starting to.. I did data processing, that is messing with programming, in secondary school. So I already had some familiarity with the computer. I started making these very homemade papers and to get interested. I did a final artwork course at Senac - it was called final artwork back then -, but it was more like design, you know? There wasn’t even this name “design”, it was “desenho industrial” (industrial design). It was really good. So, a friend of mine once gave me this book that is called “How to conquer a great job”, I read it and said: “Oh, how nice”, and I went for it. And I actually did it, the book was really good. I put into practice the things the book said. It talked about manners, that you shouldn’t go looking for a job at a paper, you had to look for the name, for example, in a company. What is the name of the manager? You go over there and say you would like to talk to the manager, the director, whoever it is. You have to break the secretary barrier. You have to come in with some speech about your portfolio. In my case, since I liked to draw, I had already taken that Senac course, I took my portfolio. The book said: “don’t ask for a job, present your work and put yourself at disposal”. I did that, and on a week I went to some printers, some agencies, with this speech: “Oh, I’d like to talk to the art director”. I didn’t even know the proper name, because there was no internet back then. I did my nice portfolio; I went over and asked to talk to the one in charge. I made a list of the agencies I wanted: printers, agencies. I came up to people asking to introduce myself, so they could evaluate my portfolio, give me suggestions. Many gave me suggestions that, after I got home, I would change, throw some parts away, and so on. They said something like this: “How did you hear about this position? We haven’t even announced it yet”. And I went: “So, it’s my position” [laughter]. They were about to announce the position and I had already shown up, presenting. So, in a week I did that and I had more or less 4 companies

In 2008, I went to Lápis Raro with the same speech, then I remembered that book and said: “oh, I’m not satisfied at this agency, I want to change”. I remembered the book and did the same thing. But I did it via email: I reached out to the person via email, I sent it over and she asked the same question: “How did you know about the position? We haven’t announced it yet”. I said: “No, but this position is mine, let’s talk”. So I went over and introduced myself, started working there. After Lápis Raro, I said: “I would like to branch out”. I always worked and did freelance jobs. I always thought the entrepreneurial side, of keeping in direct contact with the client, helped me even at the agency, to understand a little about the company’s woes. What goes on, you know, this business relationship. In 2013, I left Lápis Raro and started working on my own, I opened up my own office and stuff, with a friend that was also a designer. Then in 2013, 2014, end of 2015, I told her: “Hey, we’re losing money”. When I left Lápis Raro, I started to only take freelance jobs, and I was earning well, it was great for me. But, when we got together, we became a company. Then the company has positions, has expenses and it need to also have a greater financial knowledge; freelance is different. We were working a lot and not earning much. And the administration part, customer service and stuff, I was getting faint. By the workload and such, it didn’t compensate. Then on the day I came up to my associate I said: “Hey, I wan’t to undo this society, I can’t make it anymore”. On the following day I got a proposal to work at 3bits, that was another agency I liked a lot. My idea was to continue as a freelancer, but then I got to take over creative direction over there at 3bits and I agreed.

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a… fiz processamento de dados, que é mexer com programação, no segundo grau. Então, já tinha um pouco de familiaridade com computador. Comecei a fazer esses jornais muito caseiros e a me interessar. Fiz um curso no Senac de arte-final – nessa época chamava arte-final –, mas era um pouco de design mesmo, sabe? Nem tinha esse nome de design, era desenho industrial. Foi muito bom. Aí um amigo meu uma vez me emprestou um livro que chama Como conquistar um ótimo emprego, li ele e falei: “Ah, que bom”, e fui atrás. E consegui mesmo, o livro era muito bom. Coloquei em prática o que o livro falava. Ele falava de postura, que você não poderia procurar emprego em jornal, você teria que procurar o nome, por exemplo, em uma empresa. Qual que é o nome do gerente? Você vai lá e fala que quer falar com o gerente, com o diretor, o que for. Você tem que passar da barreira da secretária. Já tem que chegar com algum discurso de portfólio. No meu caso, como eu gostava de desenho, já tinha feito o curso no Senac, eu levei meu portfólio. O livro falava assim: “não peça emprego, apresente o seu trabalho e se coloque à disposição”. Você não vai lá pedir emprego: “ah, eu queria ver se tem uma oportunidade. Não. Eu queria apresentar o meu trabalho”. Fiz isso, e em uma semana fui a gráfica, a agência, com este discurso: “Ah, eu quero falar com o diretor de arte”. Nem sabia o nome, porque não tinha internet na época. Fiz meu portfólio legal; fui e pedi pra conversar com o responsável. Fiz uma lista das agências que queria: gráfica, agência. Fui chegando nas pessoas pedindo para me apresentar, pra eles avaliarem o meu portfólio, me dar sugestão. Muitos me deram sugestões que depois cheguei em casa e mudei, joguei fora umas partes e tal. Eles falaram assim: “Como é que você ficou sabendo da vaga? A gente nem anunciou”. Aí eu falei: “então essa vaga é minha” [risos]. Eles estavam para anunciar a vaga e já cheguei mostrando. Então, em uma semana que fiz isso eu tinha mais ou menos quatro empresas que podia escolher para trabalhar. Aí eu escolhi uma que era uma gráfica, que achei legal e tal. Aí eu comecei a trabalhar em uma gráfica como arte-finalista, 1994.

2001, comecei a entrar na área de web, em uma fábrica de software. Comecei como designer de interface, e de lá pra cá é agência atrás de agência. Sempre na área de design; ultimamente, é mais focado em UX mesmo, mas sempre voltado para o design. Mas voltei a trabalhar em agência que fazia de tudo, tanto site quanto branding, impressos e tal. Em 2008, fui para a Lápis Raro com o mesmo discurso, lembrei lá daquele livro e falei: “ah, eu não estou satisfeito nessa empresa, quero mudar”. Aí lembrei do livro e fiz a mesma coisa. Só que aí foi por e-mail: procurei a pessoa por e-mail, mandei e ela fez a mesma pergunta: “Como é que você está sabendo da vaga? Eu nem anunciei”. Eu falei: “Não, essa vaga é minha, vamos conversar”. Aí eu fui lá, apresentei, comecei a trabalhar lá. Depois da Lápis Raro, falei: “Eu quero empreender”. Eu sempre trabalhei e fiz freela. Sempre achei que esse lado empreendedor, de manter contato direto com o cliente, me ajudava também até na agência, a entender um pouco as dores da agência. Assim, o quê que passa, assim, essa relação de negócio. Em 2013, saí da Lápis Raro e comecei a trabalhar por conta própria, abri um escritório e tal, com um amiga que era designer também. Aí 2013, 2014, final de 2015, falei com ela: “Oh, não dá, porque nós dois somos designers e não existe um administrador aqui, a gente tá é perdendo dinheiro”. Quando saí da Lápis Raro, comecei a trabalhar só de freelances, e estava ganhando bem, estava ótimo para mim. Mas, quando a gente juntou, viramos empresa. Aí empresa tem cargos, tem despesas e ela precisa também ter um entendimento financeiro maior; freelancer é diferente. Estávamos trabalhando muito e ganhando pouco. E essa parte de administração, atendimento ao cliente e tal, estava ficando desvanecido. Pelo volume de trabalho e tal, não estava compensando. Aí no dia que eu virei pra minha sócia e falei: “Oh, eu quero desfazer a sociedade, pra mim não tá dando”. No dia seguinte recebi uma proposta para trabalhar na 3bits, que era outra agência que gostava muito. A minha ideia era continuar como freelance, mas aí rolou de assumir a direção de criação lá da 3bits e eu topei.

Depois, em 1995, trabalhei em uma agência, e fui mudando de agência em agência, desde 1997. Em

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Marcelo Costa Braga — 59 years old —

M

y first job, actually my first and only, was at Brazil’s Xerox, where I stayed for 35 years. I started as a machine operator. Xerox is a multinational company that used to make copiers, the famous Xerox machines. It was the only in Brazil, it had 98% of the market. There was a small copier in the centre of Belo Horizonte that served more as a demonstration of the machine, but it also attending to the public. So I worked as a machine operator and with time I evolved and got to the coordination. I got married really young, I think too young, I was 20, my girlfriends got pregnant and I studied Biological Sciences at UFMG and knew nothing of life, I didn’t know that I needed to work to have money, to have things, I thought I got up, breakfast was already on the table, I thought it was magic. I stopped working and went to get a job. I had an uncle that worked at this company and he said: “I have this, it’s the basic of basics, a beginner’s salary”, but he got me this gateway. [About career and position plans] There wasn’t much, in the end, years later, there started to be. In spite of this not being a cutting-edge company, both regarding technology and rights, there wasn’t a thing you glimpsed - “oh, in so long I will be over there”. You had to work and we ourselves had to glimpse something, think: “oh, if I wish to grow I will go this way”. Before that, it started being a rule of the company. I hated this idea [of a career]. The first thing they made me do when I got in there was to cut my hair. I had gone to the army and since I had left I had never again cut my hair, I had huge hair. Me and my wife to this day, without our daughter, started making silk-screen t-shirts, because I had the drawing skills. And I wanted to live off of this, I thought it was good. In some time we managed to get a license to expose over at Praça da Liberdade fair. But fearing it wouldn’t be enough, we kept up doing both things. When we realized we had been doing it for 35 years. In a company, especially a multinational, you have to prove your worth. After two years I stopped being an operator and went to the office, to the collection field. So with things of this nature I was able to get better inside the company, get better positions, until the day I got to being a personnel manager.

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M

eu primeiro emprego, na verdade primeiro e único, foi na Xerox do Brasil, onde fiquei por 35 anos. Comecei como operador de máquina. A Xerox é uma empresa multinacional que na época fabricava, copiadoras, as famosas máquinas Xerox. Era a única no Brasil, tinha 98% do mercado. Tinha uma pequena copiadora no Centro de Belo Horizonte que servia mais como uma demonstração de máquina, mas atendia ao público também. Então, fui trabalhar de operador de máquina e, com o passar do tempo, fui evoluindo, e cheguei até a coordenação.

Marcelo C

osta Braga

— 59 a

Me casei muito novo, acho que era muito novo, tinha 20 anos, minha namorada ficou grávida e eu estudava Ciências Biológicas na UFMG e não sabia de nada da vida, não sabia que precisava de trabalhar para ter dinheiro, para ter as coisas, pensava que acordava, o café da manhã já estava na mesa, pensava que era mágica. Parei de estudar e fui arrumar emprego. Um tio, que trabalhava nessa empresa me falou: “Eu tenho isso, mas é o básico dos básicos, salário de iniciante”. E ele conseguiu pra mim essa porta de entrada.

nos —

as duas coisas. Quando vimos já estávamos há 35 anos nisso. Na empresa, principalmente numa multinacional, você tem que mostrar seu valor. Depois de dois anos eu deixei de ser operador e fui para o escritório, para a área de cobrança. Então com coisas desse tipo eu ia conseguindo melhorar dentro da empresa, melhorar o cargo, até o dia que eu cheguei a ser um gerente de pessoal.

Apesar dessa ser uma empresa de ponta, de vanguarda, tanto em questão da tecnologia quanto de direitos, não existia plano de cargos e salários. Você mesmo que tinha que vislumbrar alguma coisa, pensar: “Ah, se eu quiser crescer eu vou por aqui”.

E tem coisa que é sorte. Eu tinha habilidade para desenhar e naquele tempo não tinha computador, e o gerente de cobrança precisava de uma coisa que chamava gestão à vista? Isso é uma coisa moderna, mas esse gerente queria o resultado pregado ali, à vista. Aí falei: “Você quer que eu compre uma cartolina e faça um quadro pra você?” Comprei e fiz… depois de uns anos eu passei a ser designer gráfico. Nunca trabalhei com isso, muito pouco, me ajudou em outra fase, sempre tive muita habilidade, desenhar um quadro certinho, escrever com a letra uniforme. Aí tudo que precisava de um cartaz, era eu, em todos os setores, que precisavam de alguma coisa, me chamavam.

Eu detestava essa ideia [de uma carreira]. A primeira coisa que me fizeram fazer quando entrei lá foi cortar o cabelo. Eu tinha feito exército e desde que saí nunca mais cortei o cabelo, tinha um cabelão enorme. Eu e minha esposa, ainda sem ter a filha, começamos a fazer camiseta silkada, pois tinha habilidade para desenho. E eu queria viver disso, achei que isso era bom. Em algum tempo conseguimos uma licença para expor ali na Praça da Liberdade. Mas o receio disso não ser suficiente, fomos levando

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And there are things that are just luck. I had drawing skills and at the time there were no computers, and the collecting manager needed something that was called upfront management? It’s a modern thing, but this manager wanted the results put upfront, so anyone could see. Then I said: “Do you want me to get some cardstock and make a board for you?” I bought some and made it… After a few years I went on to being a graphic designer. I never worked with this, very little, it helped me in another moment, I’ve always been very skilled, drawing a perfect board, very neat handwriting. Then, everything that needed a poster, it was me, on all sectors, that needed anything, they’d call for me.

200 employees. They put it in a place that looked like an altar, all that was missing was folks kneeling in the mornings. And nobody would use it. Then the manager said: “the headquarters asked to, you can use it”. On the day they were installing it, I stayed there watching the dude installing it, which gave me some basic notions. In no time, I was the only one who could use a computer there. I started dividing the divinity of the computer, I was the pastor, I started giving demonstrations. They would ask if I knew how to do something and I’d say I did… I had no idea. So, I think it is like this, the job of the future: it will always depend on your skillset, knowledge and personal abilities. I got to having 120 employees. I had a boss that said there is no point, if you don’t say it was you to do it, nobody will know you did. And this was the job of the future, back then. So the job of the future depends on what is the future. If one thinks about the future that is like Artificial Intelligence. There are things that are born with us.

Another thing that is changing in the world is the need for qualified people. There is no point in knowing everything that goes on here, you have to bring things from outside. If you want to evolve here, grow inside the company, you have to have two things: studying, having a good education and I still think it would be very useful to learn english”. That stayed in my head and I saw that everybody above me, older personnel, the average was between 8 and 12 years older than me, 90% had no higher education. At that time I already had two daughters, my wife at the fair, I was scared of working on my own and thought: “I have to study”. It had to be something that wasn’t expensive, it had to be in the evening, the ideal would be to do something I liked. I got into FUMA, which was free, doing graphic design that was something that I felt was interesting. Then I started to get into the promotion statistics. Life changed so much since my entrance in the job market. Another thing is important: creativity. The most creative thing I’ve done, in the first phase, while I was someone who does. Most of the time I was someone who does and for another part I was someone who loved doing. I started being a boss and your head gets awfully full, but you haven’t got to sit there doing anything. I learned how to be the boss, it’s very nice, because you have to know how to do it, and I think I did it very well, I knew how to pressure them, be stern... In the Service Plaza at UFMG there was a huge Xerox copier. My first job as a boss was to be the manager of this copier. I had 12 employees and the schedule there was from 8 o’clock until 10 in the evening. From then on I started to not have any friends inside the company. I couldn’t have the complacency of a friendship when it was time to pressure, but also being a jerk of a boss won’t lead to anything. The jerk is betrayed. Sometime it will backfire. I went around, you know, when microcomputing rolled around. The first computer at the Xerox affiliate showed up here in Belo Horizonte, there were about

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Outra coisa que está mudando no mundo é a necessidade de gente capacitada. Não adianta saber tudo que acontece aqui, tem que trazer coisa de fora. Se você quiser evoluir aqui, crescer dentro da empresa, você tem que ter duas coisas: estudar, ter uma boa formação e ainda acho que seria muito útil aprender inglês”.

A vida mudou tanto desde meu início no trabalho. Outra coisa importante: a criatividade. A coisa mais criativa que eu fiz, na primeira fase, enquanto era gente que faz. A maior parte fui gente que faz e uma outra parte eu fui gente que ama fazer. Eu passei a ser chefe e a cabeça esquenta demais, mas não tem que ficar ali fazendo. Aprendi demais a mandar nos outros, é bom demais, porque você tem que saber fazer isso, eu acho que fiz isso muito bem, eu sabia cobrar, ser severo…

Isso ficou na minha cabeça e eu via que todo mundo que estava acima de mim, mais antigos, a média era de 8 a 12 anos mais velhos que eu, 90% não tinha curso superior. Eu já tinha nessa época duas filhas, minha mulher na feira, eu tinha medo de trabalhar por conta própria e pensei: “tenho que estudar”. Tinha que ser uma coisa que não podia ser cara, tinha que ser à noite, o ideal é fazer algo que eu goste. Fui fazer design gráfico que era uma coisa que eu achava interessante. Aí passei a entrar na estatística de promoção.

Na Praça de Serviços da UFMG tinha uma copiadora da Xerox, enorme. Meu primeiro trabalho como chefe foi ser gerente dessa copiadora. Eu tinha 12 funcionários e o horário lá era de 8h as 10h da noite. A partir dali eu passei a não ter amigo dentro da empresa. Não pode ter a complacência de uma amizade na hora de cobrar, mas também ser aquele chefe carrasco não produz nada. O carrasco é traído. Uma hora vai dar um prejuízo. Eu dei a volta quando apareceu a microinformática. Chegou o primeiro computador na filial da Xerox aqui em Belo Horizonte, tinham uns 200 funcionários. Colocaram-no em lugar que parecia um altar, o pessoal faltava ajoelhar de manhã. E ninguém mexia. Aí o gerente falou: “A matriz mandou, pode mexer”. Eu fiquei vendo o cara instalando, o que me deu uma noção básica. Em pouquíssimo tempo, era o único que sabia mexer em computador lá. Eu comecei a dividir a divindade do computador, eu era o pastor, comecei a dar demonstração. Ele perguntava se eu sabia fazer, eu falava sei… não tinha a menor ideia. Acho, então, que o emprego do futuro sempre vai depender de conhecimento e habilidade pessoal. Cheguei a ter 120 empregados. Eu tive um chefe que dizia que não adianta, se você não contar que foi você, ninguém vai saber que foi você. Esse era o emprego do futuro naquela época. Então o emprego do futuro depende do que é o futuro. Se pensar no futuro que é igual à Inteligência Artificial. Tem coisa que já nasce com a pessoa.

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Paulo Estevam — 48 years old —

T

he first job was at an outsourced company of Sabesp’s, still in the 1980’s. At Eletropaulo, my activity was of delivery man and reader of water and electricity bills. The first job yielded me experience about knowledge of the streets, neighbourhoods and counties of the city of São Paulo, it also helped me understand the difficulties and advantages of each region. This job meant financial independence, the organization in regards to time. Actually, I felt more responsible in the activities that were proposed and even the fact the commitment was made, it was a process of maturity and growth. After the first job, the acquired experiences were as follows: independence, autonomy, courage, responsibility, learnings, the process of discovering oneself as a professional, and I began to know my competences. In these experiences my dreams of gaining my car and a home, I am still in the process of completing my property’s bill. I got my job through classified advertisement. The payment I got at the time satisfied me, because there weren’t many commitments or responsibilities, one part was to help my family and the other was to buy my clothes. In the first job the change in the family relationship changes was noticeable: the worries and the cares of my parents increased towards me. About the food, the schedules and even school, because since I was a teenager I wasn’t so mature. The meaning of the first job is very great, because I learned and understood how to value accomplishments, understand the defeats and how we should re-do ourselves. It is actually through the first contacts we make that we get to understanding the world as it actually is. With time, we start thinking of getting better, of studying more to grow. Today I have more responsibilities, I am a teacher and I have a son. I consider the kids who don’t have the minimal conditions to work and study dearly. Because of this, I maintain a lot of free education programs, to assist in the training of these neglected people. I also really like reading and researching. I have a project about matters that concern the quilombolas. I myself came from a quilombo here in minas, of a small minas city called Itaverava, a little colonial gold heaven, with the beautiful church of Matriz de Santo Antônio, that, other than having preserved a beautiful picture by the master Manoel da Costa Athayde, it is National Patrimony through SPHAN. Other than being a teacher, I attend to the needs of the neglected, I want to tell, in a book, the story of the place where I was born. For such, I rely upon the laws of cultural incentive, in spite of the many cuts they have suffered. I am in project phase. This way, the first job offered me a better vision of reality, it got me out of the fantasy I was living, of family protection, I had to understand I have to be a protagonist in the chores and activities, or of the day-to-day, it called me to my responsibilities. And it is this that I pursue in my future life.

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O

primeiro emprego foi numa empresa terceirizada da Sabesp, ainda nos anos 1980. Na Eletropaulo, minha atividade era de entregador e leitor de conta de água e luz. O primeiro emprego rendeu experiências quanto ao conhecimento das ruas, bairros e municípios da cidade de São Paulo, também ajudou entender as dificuldades e facilidades de cada região. Esse emprego significou a independência financeira, a organização quanto ao tempo. Na verdade, me senti mais responsável nas atividades que foram propostas e até mesmo o fato do compromisso assumido, foi um processo de maturidade e de crescimento.

Paulo Este

Depois do primeiro emprego, as experiências adquiridas foram as seguintes: independência, autonomia, coragem, responsabilidade, aprendizados, o processo de se descobrir como profissional, e passei conhecer minhas competências. Nessas experiências os meus sonhos eram de conquistar meu carro e uma casa, ainda estou no processo para concluir a compra do meu imóvel. Consegui o primeiro emprego através de classificados. A remuneração que recebia na época me satisfazia, pois não havia tantos compromissos ou responsabilidades, uma parte era para ajudar a família e a outra para comprar minhas roupas.

— 48 a

vam

nos —

muito os garotos que não têm a mínima condição de trabalhar e estudar. Por isso, mantenho projetos de educação gratuitos, para auxiliar na formação desses desvalidos. Também gosto muito de ler e pesquisar. Tenho um projeto sobre as questões que envolvem quilombolas. Eu mesmo vim de um quilombo mineiro, de uma pequena cidade mineira chamada Itaverava, um pequeno reduto de ouro colonial, com a bela Igreja Matriz de Santo Antônio, que, além de ter preservado uma bela pintura do mestre Manoel da Costa Athayde, é Patrimônio Nacional pelo SPHAN. Além de professor atento às necessidades dos mais desvalidos, quero contar, em livro, a história de onde nasci. Para tanto, conto com as leis de incentivo cultural, apesar dos vários cortes que sofreram. Estou em fase de projeto.

No primeiro emprego foi perceptível a mudança no relacionamento familiar: as preocupações e os cuidados dos meus pais aumentaram quanto a mim. Sobre a alimentação, os horários e até mesmo a escola, pois sendo adolescente não havia tanta maturidade assim. O significado do primeiro emprego é muito grande, pois aprendi e entendi a valorizar conquistas, entender as derrotas e como temos que nos refazer. Na verdade são com os primeiro contatos que fazemos e passamos a entender o mundo como ele é.

Dessa forma, o primeiro emprego me proporcionou uma visão melhor da realidade, me tirou da fantasia que vivia, da proteção familiar, tive que entender que preciso ser protagonista nas tarefas e atividades, ou o dia a dia, me chamou para a responsabilidade. E é isso que persigo para minha vida futura.

Com o tempo, a gente pensa em melhorar, estudar mais para crescer. Hoje tenho mais reponsabilidades, sou professor e tenho um filho. Considero

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David dos Reis — 53 years old —

M

y first CLT job was at McDonald’s, in 1982. Before, I had a two-year off the books experience at the Evelyn chocolate factory, that made the umbrella chocolates.

Evelyn was my first work opportunity, in the year of 1979. From the perspective of money, it was very significant, because I come from a large family and, in that moment, I only thought of being able to help my parents, my salary was handed integrally to my mother. From the perspective of experience, in that moment I realized I could get where I wanted. I was hired as a temporary, but with a lot of effort I was soon effected, and then I started to dream. I had the opportunity of working with processes and people; I was in the production field, so each of us had a very important role in the delivery of the final product, the chocolate desired by all [laughter]. When I started at McDonald’s as a clerk, in 1982, the fact I had this experience really helped in my adaptation and teamwork, so much so that in five months I got my first promotion. My achievement was about values, being able to work and help my family. There was no direct influence in my choices, but through this I realized how much I dislike managing people. My focus was to relocate myself, I left already thinking: “I need a new job, I have always wanted to grow, and I believe because of that I have built such a solid career here”. I have been in the same company for almost 38 years. I have already experienced many things, from working at the first McDonald’s of São Paulo and now the opportunity to inaugurate the 1000th restaurant. Through these years, I have had internal promotions many times, until I got to the top of management in a McDonald’s restaurant. I have worked in many restaurants in São Paulo, with the opportunity of leading many teams and inaugurating about 70 of the more than 500 that exist in São Paulo. I took a course in Chicago at the McDonald’s university, with international recognizement. Today I lead nine restaurants with an average of 350 employees and I strive to be a reference in personnel management. Last year I was recognized by the Bravo award (prize of the president), because of the excellency in the result deliveries and the coaching work I do with leaders, leaded and equals. The world is continuously shifting, and I understand that whoever is skilled at managing people will have better results, seen as projects with multidisciplinary action have much more impactful and relevant results for the companies and for the world. With this, I understand we have to always update ourselves and also know how to hear and value the potential of the human being. Obviously we must also be connected to our technologies, but without ever losing individual identity.

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M

eu primeiro emprego CLT foi no McDonalds, em 1982. Antes tive uma experiência de dois anos sem registro na fábrica de chocolate Evelyn, que fazia o chocolate de guarda-chuva. A Evelyn foi a minha primeira oportunidade de trabalho no ano de 1979. No ponto de vista de dinheiro, foi muito significativo, pois venho de uma família grande, e naquele momento só pensei em poder ajudar meus pais, meu salário foi entregue todo para minha mãe.

David dos

No ponto de vista de experiência, naquele momento já percebi que podia chegar onde queria. Fui contratado para temporário, mas como muito empenho logo fui efetivado, e ali comecei a sonhar. Tive oportunidade de trabalhar com processos e com pessoas; era da área de produção, então cada um tinha um papel muito importante na entrega do produto final, o chocolate desejado por todos [risos].

— 57 a

Reis

nos —

liderar muitas equipes e inaugurar uns 70 restaurantes dos mais de 500 que existem em São Paulo. Fiz um curso em Chicago na universidade do McDonalds, com reconhecimento internacional. Hoje lidero nove restaurantes com uma média de 350 empregados e busco ser referência de gestão de pessoas.

Quando iniciei no McDonalds como atendente, em 1982, o fato de tido essa experiência ajudou muito na adaptação e trabalho em equipe, tanto que com cinco meses recebi minha primeira promoção. A minha realização era questão de valor, poder trabalhar e ajudar a minha família.

No ano passado fui reconhecido pelo o prêmio Bravo (prêmio do presidente), pela excelência nas entregas dos resultados e o trabalho de coach que faço com líder, liderados e pares.

Não teve influência direta nas minhas escolhas, porém através disso percebi o quanto de fato gosto de gerir pessoas. Meu foco era me recolocar, sai já pensando: “Preciso de um novo trabalho, sempre tive vontade de crescer, acredito que por isso construí uma carreira tão sólida aqui”. Estou na mesma empresa há quase 38 anos. Aqui já vivenciei diversas experiências, desde de atuar no primeiro McDonalds de São Paulo e a agora oportunidade de inaugurar o restaurante de número 1000.

O mundo vive em constante mudança, e entendo que quem tiver habilidade em gestão de pessoas conseguirá melhores resultados, visto projetos com atuação multidisciplinar tem resultados muito mais impactantes e relevantes para as companhias e para o mundo. Com isso, entendo que temos que nos atualizar sempre e também saber ouvir e valorizar o potencial do ser humano. Óbvio que também devemos estar conectado no com as tecnologias, mas sem perder a essência que do indivíduo.

Ao longo desses anos, tive promoções internas por diversas vezes, até chegar ao topo da gestão de um restaurante McDonalds. Atuei em diversos restaurantes em São Paulo, com oportunidade de

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19 90 DÉCADA DE

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The 1990’s

I

n 1990, Collor launched the Plan Collor I, revolutionary economic plan, which changes the existing Currency and retains, for 24 months, deposits made in checking and saving accounts. In 1991, with the inflation rising, the government doesn’t get the Congress’ support and the economic crisis deepens. In 1992, after successive scandals that shake the Collor administration, the inflation resumes its growing process and Fernando Collor renounces the Presidency soon before being impeached by the Congress, which declares him ineligible for eight years. The vice-president, Itamar Franco, becomes effective president. In 1994, a new currency is created, the real. The finance minister, Fernando Henrique Cardoso, runs for President of the Republic and wins. The inflation is overcome and the country resumes to be trusting. A privatization process is initiated. In 1996, the Brazilian Government is the main organiser in the effective establishment of Mercosul. Several campaigns to design a new country in the global scenario are initiated. However, in 1997, the society protests for social reforms, among them the Tax, Welfare and Health ones. The Fernando Henrique administration concerns itself with approving the amendment for the reelections. In 1998, Fernando Henrique is reelected and a new group in the congress assumes in 1999.

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Década de 1990

E

m 1990, Collor lança o Plano Collor I, plano econômico revolucionário, que muda a moeda em vigor e retém, por 24 meses, depósitos feitos em contas-correntes ou em poupanças. Em 1991, com a escalada da inflação, o governo não obtém apoio do Congresso e a crise econômica se aprofunda.

Em 1992, após sucessivos escândalos que abalam o governo Collor, a inflação retoma seu processo de crescimento e em 1992, Fernando Collor renuncia à Presidência pouco antes de sofrer impeachment pelo Congresso, que o declara ine­ legível por oito anos. O vice-presidente, Itamar Franco, torna-se presidente efetivo. Em 1994, é lançada uma nova moeda, o real. O ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, candidata-se à Presidência da República e vence. A inflação é debelada e o país retoma a confiança. Inicia-se processo de privatizações. Em 1996, o Governo brasileiro é o principal articulador para o efetivo estabelecimento do Mercosul. Iniciam-se diversas campanhas para projetar um novo país no cenário global. Porém, em 1997, socie­ dade protesta por reformas sociais, entre elas a Tributária, da Previdência e da Saúde. Governo de Fernando Henrique preocupa-se com a aprovação da emenda para reeleições. Em 1998, Fernando Henrique é reeleito e uma nova ban­ cada no Congresso assume em 1999.

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Ricardo Henrique Ramiro — 38 years old —

M

y first job was in construction work really, a bricklayer. More or less when I was 13, 14 years old. The first “freelance” gigs I ever did, construction and weeding allotments, that sort of thing, more or less around 1994, 1995, I was about 14, 15 years old. What led me to have this sort of work at first is because I started getting an urge of having things really early; maybe things that someone a little bit older would be more interested in, for example: musical instruments, and my parents couldn’t get them for me. My friends had a little more autonomy than me; they were able to have cash to do things, going to concerts… Few people liked particular kinds of music, and since we were always involved in this having a band thing and having to buy equipment, and from an early age I wanted to have an instrument, and I think one of the first reasons was I wanted to have some money, initially I think it came from there. Not long after that, I worked at a locksmiths, a place that was both a locksmith and a woodwork shop, at about 16 years old. When I was more or less 19, 20 years old, I had a friend of mine from my neighbourhood who worked on the streets as peddlers and stuff. He decided to help me, so he set up a little “store” for me with a little “shelf”, with some cellphone equipments to sell. So I worked for about 2 years like that, on the streets, in that arrangement. So, after working on the street as a peddler, the first time I had an income was at the internship, through the CIEE. Then I worked in billing companies, cell centers is what people call them these days. At the time we would call them telemarketing. I started actually learning things, understanding how things work and having more professional experience malice, really of being able to behave more professionally, understanding what maybe I would have to look to find other, better types of work. Starting from there I started looking into studying, because until then I didn’t have this notion, of taking entrance exams to universities, that sort of thing, you know? I was always in the musical, cultural scene; I have friends today that are artists, we always drew together, had bands together, but I never had this idea to study. I started studying after I had a job and then I started understanding how things worked, so much so that, a short period of this time I spent working in telemarketing, I worked for various companies, always with bank

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M

eu primeiro trabalho foi em serviço de obra mesmo, de construção. Mais ou menos quando eu tinha 13, 14 anos. Meus primeiros “bicos” que eu fiz na vida, obra e capinar lote, essas coisas, mais ou menos em 1994, 1995, tinha uns 14, 15 anos. O que me levou a ter esse tipo de trabalho de primeira é porque comecei a ter uma vontade de ter as coisas muito cedo; assim, talvez coisas que normalmente pessoas que eram um pouco mais velhas teriam interesse, por exemplo: instrumentos musicais, e os meus pais não podiam me dar. Meus amigos tinham um pouco mais de autonomia do que eu; conseguiam ter grana para fazer as coisas, ir a show… Porque a gente gostava de determinados tipos de música, e como a gente estava sempre envolvido com essa coisa de ter banda e ter que comprar equipamento, então desde cedo eu quis ter instrumento, e eu acho que um dos primeiros motivos foi porque eu queria ter uma grana, inicialmente acho que partiu daí.

Ricardo H

enrique Ra miro — 38 a nos —

estudar, porque até aí eu não tinha essa noção, de fazer vestibular, essas coisas, entende? Eu sempre estava no meio cultural, musical; eu tenho amigos hoje em dia que são artistas plásticos, a gente sempre desenhou, teve banda junto, mas eu nunca tive essa ideia de estudar.

Pouco tempo depois, trabalhei em serralheria, um lugar que era uma serralheria e marcenaria, com uns 16 anos. Quando eu tinha mais ou menos uns 19, 20 anos, um amigo meu lá do meu bairro, que á trabalhava na rua como camelô e tal, resolveu me ajudar, e aí montou uma “lojinha” para mim com uma “estantezinha”, com alguns equipamentos de celular para vender. Aí trabalhei uns dois anos assim na rua, nesse esquema. Então, após trabalhar na rua como camelô, a primeira vez que tive uma renda foi no estágio, pelo CIEE (Centro de Integração Empresa Escola). Aí eu trabalhei em empresa de cobrança, call center que o povo fala hoje. Na época a gente falava mais telemarketing. Comecei a aprender mesmo as coisas, entender como as coisas funcionam e ter mais malícia de experiência profissional, de conseguir me comportar mais profissionalmente mesmo, entender o que talvez teria que buscar para arrumar outros tipos de empregos melhores. A partir daí que comecei a procurar

Fui começar a estudar depois que tive um emprego e que fui entender como as coisas funcionavam, tanto que, pouco tempo desse período que eu trabalhei com telemarketing, trabalhei em várias empresas, sempre com cobrança bancária, um perfil específico de telemarketing. Depois disso tive a sorte de trabalhar com duas irmãs que eram donas de um escritório de contabilidade, a partir daí comecei a ter uma visão do que eu poderia fazer para estudar, que eu poderia estar procurando uma faculdade e tal, que como eu desenhava, sempre pensava em fazer artes plásticas. Então, todas as vezes tentava o vestibular de artes plásticas. Passei a ter um interesse pela documentação, pelo arquivo, pelo tratamento da informação, justamente nesse período, em que eu trabalhei com essas duas irmãs. Uma delas me despertou o in-

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collection, a specific profile of telemarketing. After that I had the luck to work with two sisters that were the owners of an accounting office, from then on I started having a vision of what I could do to study, that I could be looking for a college and stuff, that since I drew, I always thought of studying fine art. So, every time I would apply for the fine arts entrance exam.

I think not everybody will get the possibility of having their own business, endeavour. There will always be people to serve, so you see, this Uber thing and stuff, there are people that think that is super great, but there are people that think it’s slavery. But there are people that think it is damage reduction, for example, the period we are living of great unemployment. I think, for example, that my desilusion with work is much more of an ideological thing, of course. Because if I believed in that mold right there, I would be loving it, I’d be like: I could study here. I am in a period where the sector is taking people abroad, to be able to get the planes. There are many incentives in the field. But before I ever got into this sort of environment, I knew for myself what I wanted to do with my life. You know, in what way I wanted to work for society, for myself, anyway, I think that, in my case, my desilusion comes from the fact that I am not fulfilled by what I am doing itself, understand?

I started having an interest in documentation, in archiving, information treatment, precisely around this time, when I worked with these two sisters. One of them sparked my interest in information retrieval, document treatment, and from there I started wanting to study something more aimed at that. That was when I discovered librarianship, I started also applying for the entrance exam for librarianship too, besides fine art and language, that were my first options. So I passed first to study Artistic Education, where I stayed for about two terms and, then, since I kept taking the entrance exams, I eventually passed to study librarianship. Right at the beginning of college I decided to take an internship in the field.

This desilusion thing happens a lot with the assignment itself and with the profile of the place. It’s this corporate thing, you know? I think of going back to university, to school. I think people do have a big tendency, because one of the ways I think of to deal with the fact I am not doing what I want, because I think that public contests won’t happen anytime soon, and how long has it been since we’ve been getting very few contests? So knowing that we have something more and more cloudy, you know, of not knowing what the country itself can offer you. You can’t make many plans in the aspect of studying. So, relying only on public contests is utopic. The people that are doing that right now, it depends on the field, lawyers, things like that, they won’t end. I think it is a natural tendency of people to try to manage in regards to the dynamic that things themselves are suffering. The profession I chose suffered a transformation as a result of information, the digital formats, you know how to adapt, update yourself about what a librarian is today. For example, the person that used to be a taxi driver, is being forced to do Uber and also taxi. So there is a series of transformations that we don’t know where they’re going, what are the professions and how are they suffering transformations, where will they end up, what will they look like at the end. There is a series of things that is still in metamorphosis, understand? So that’s it.

The service I provide currently is of auditing. The current sector that does the auditing, that gives what was done in the documents quality certificates, there is a documentation there and stuff. Back then this company operated on a system that generated so many fewer documents, so I worked at an annex that was an archive. I was an intern, but I was put upfront on missions that, to me, initially, I faced as good things, because when I was in college and I wanted to get out of there with a guaranteed job. So it was something that when it came up I was very divided, because it was the moment when I started to go abroad for an exchange, but I began getting very divided because the people at the company, my coordinator, he went on giving me so many activities, so many assignments to be done. He believed in me strongly, and that was really nice. I was seeing about the possibility of professional growth, salary, actually earning money, buying my things, being able to enjoy the fact I had tickets there and I could have money to travel. So right upfront, as an intern,I went on to absorb this as something very mine, so much so that when I realized this I stopped studying [laughter]. It’s not that I stopped going to classes, I stopped putting in effort into the assignments, wanting to research, just accomplishing the curriculum, graduating quickly to go work.

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teresse pela recuperação da informação, pelo tratamento dos documentos, e a partir daí comecei a querer estudar alguma coisa que tivesse mais voltada para isso. Foi aí que eu descobri a biblioteconomia, passei a prestar vestibular também para Biblioteconomia, além de Artes Plásticas e Letras, que eram as minhas primeiras opções.

Mas tem gente que acha que é redução de danos, por exemplo, o período que nós estamos vivendo de grande desemprego. Eu acho, por exemplo, que a minha desilusão com o emprego é uma coisa muito mais ideológica, claro. Porque se eu acreditasse naquele molde ali, eu ia estar amando, de falar assim: eu posso estudar aqui. Eu estou em um período que o meu setor está levando a galera para fora, para poder pegar os aviões. Têm altos incentivos dentro da área. Mas antes de eu estar nesse tipo de ambiente, eu tinha por mim o que eu queria fazer da minha vida. Assim, de que maneira que eu queria trabalhar pra sociedade, pra mim mesmo, enfim, eu acho que, no meu caso, minha desilusão vai da relação de eu não estar realizado com o que eu estou fazendo em si, entendeu?

Aí passei primeiro em Educação Artística, fiquei uns dois períodos e depois, como eu estava continuando a prestar vestibular, passei posteriormente para Biblioteconomia. Logo no início da faculdade resolvi fazer estágio na área. O serviço que atualmente faço é de auditoria. A parte corrente que faz auditoria, que dá a certificação da qualidade do que foi feito nos documentos, existe uma documentação ali e tal. Nessa época essa empresa operava com um sistema que gerava muito menos documento, então eu trabalhava em um anexo que era um arquivo. Eu era um estagiário, mas eu já fui logo de cara com algumas missões que, para mim, inicialmente, encarei como coisas boas, porque eu estava na faculdade e eu queria sair de lá com emprego garantido. Então foi uma coisa que quando apareceu eu fiquei muito dividido, porque foi o momento que eu comecei a querer ir para fora e fazer intercâmbio, mas comecei a ficar muito dividido porque o pessoal da empresa, meu coordenador, foi me dando muita atividade, muita tarefa para ser feita. Ele acreditava muito em mim, e isso era muito legal. Estava vendo possibilidade de crescimento profissional, de salário, ganhar dinheiro mesmo, comprar minhas coisas, poder usufruir do fato de eu ter passagens lá e poder ter dinheiro para viajar. Então logo de cara como estagiário eu fui absorvendo isso muito como uma coisa minha, tanto que na hora que eu assimilei isso eu parei de estudar [risos]. Não é que eu parei de ir para aula, eu parei de me empenhar nas matérias, de querer pesquisar, de só cumprir currículo mesmo, de formar rápido para trabalhar.

Acontece muito essa coisa da desilusão com a tarefa em si mesmo e com o perfil do lugar. Essa coisa da empresa, sabe? Penso em voltar para universidade, para escola. Acho que as pessoas têm uma tendência grande sim, porque uma das formas que eu penso de driblar essa coisa de não estar fazendo o que eu quero, porque eu acho que concurso não vai ter tão cedo, e quanto tempo que a gente tem pouquíssimos concursos? Então saber que a gente tem uma coisa cada vez mais nebulosa, sabe, de não saber o quê que o próprio país pode te oferecer. Não dá pra você ficar com muitos planos no quesito estudar. Então ficar só por conta do concurso é utópico. Pessoa que está fazendo isso nesse momento, dependendo da área, advogado, umas coisas assim, não acaba. Acho que é uma tendência natural das pessoas tentarem se virar com relação à própria dinâmica que as coisas em si estão sofrendo. A própria profissão que eu escolhi sofreu transformação em função da informação, a coisa do suporte digital, você saber se adequar, se atualizar do que é um bibliotecário hoje. Por exemplo, a pessoa que era um taxista, está se vendo tendo que fazer Uber e ser táxi. Então tem uma série de transformações que a gente não sabe o que elas vão, o quê que as profissões que estão sofrendo transformações, onde elas vão parar, qual vai ser a cara delas no final. Tem uma série de coisas que está na metamorfose ainda, entendeu? Então é isso.

Acho que nem todo mundo vai ter a possibilidade de ter seu próprio negócio, empreender. Sempre vai ter gente para servir, para você ver, a coisa do Uber e tal, tem gente que acha isso bom pra caramba, tem gente que acha que isso é escravidão.

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Gabriela Borghi — 27 years old —

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y first job was with my father, that had a store, and I was the cashier at the store in the year of 2008.

I was in the senior year of highschool and lived in a very small town, when he opened a store in a nearby city, that was also where I studied. Normally, I would have to stay in this city because sometimes I had classes in the afternoon. When he called me to work with him, I stayed until 2012. I started earning 250 reais, and he payed me that amount to only work in the afternoons. I got an allowance, he gave me 100 reais, then he said: “I will pay you 250 reais”. And I said: “Wow! That’s so much money! Of course I want to”. I assisted customers, was the cashier, did deliveries, answered the phone, did the bills of sale, so like, everything that needed to be done. Sometimes, yes (I liked the job), but working with the public is very challenging. It’s hard, there’s lots of impolite people, a lot of crazy people, but there’s also many really great people too. But this job was good to show me that I didn’t want to work in that, not as a saleswoman and not as a cashier, because it wasn’t my calling. But it helped me a lot with dealing with people, because I was really shy, a lot more closed off before I worked at the store. There I was able to develop my social skills. Actually, I entered college still working at this job, but then I was already working full time, because school had already ended. I soon took a preparatory course for the university entrance exams, and got into college at about 21 years old, but I stayed half a year studying in college and working at this job. Afterwards, I changed cities and universities, but I kept on the same course, that was when I got another job, in a field that was related to my course, which was audiovisual, where I worked with video editing. I was formally hired and I earned a lot more. I started there as a freelancer and worked about three times a week, afterwards I was hired to work every day. I edited a local TV program, from Ribeirão Preto, that was the city that I lived in at the time. I am from the countryside of São Paulo, not from Ribeirão, I am from Marília. I stayed there for four years, then I came to Belo Horizonte. This was when I went through several different freelance jobs. I worked as a photographer, with social networks, I did everything, even for college. I became an editor. The problem with editing is that you stay for very long on one line, you do nothing else, you don’t move

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eu primeiro emprego foi com o meu pai, que tinha uma loja, e fui caixa da loja no ano de 2008. Estava no terceiro colegial e morava numa cidade muito pequena, quando ele abriu uma loja na cidade do lado, que era a que eu estudava também. Normalmente, tinha que ficar nessa cidade porque às vezes tinha aula à tarde. Quando ele me chamou para trabalhar com ele, fiquei até 2012. Comecei ganhando 250 reais, e ele me pagava isso para eu trabalhar só à tarde. Ganhava mesada, ele me dava 100 reais, aí ele falou: “Vou te pagar 250 reais”. E eu falei: “Uau! Quanto dinheiro! Claro que eu quero”.

Gabriela B — 27 a

Atendia cliente, era caixa, fazia entrega, atendia telefone, fazia nota fiscal, tipo assim, tudo que precisava fazer. Às vezes, sim (gostava do trabalho), mas trabalhar lidando com o público é muito difícil. Muito chato, tem muita gente sem educação, muita gente sem noção, mas tem muita gente muito massa também.

orghi

nos —

Era contratada mesmo e ganhava bem mais. Comecei lá como freelancer e trabalhava umas três vezes por semana, depois fui contratada para trabalhar o dia todo dia. Eu editava um programa local de TV, de Ribeirão Preto, que era a cidade que eu morava na época. Sou do interior de São Paulo, não de Ribeirão, sou de Marília.

Mas esse emprego serviu para me mostrar que eu não queria trabalhar com aquilo, nem como vendedora nem como caixa, porque não era a minha vocação. Porém, me ajudou muito a lidar com pessoas, porque eu era muito tímida, muito mais fechada antes de trabalhar na loja. Lá consegui desenvolver minhas capacidades sociais.

Fiquei lá quatro anos, aí vim para Belo Horizonte. Foi quando passei por diversos trabalhos como freelancer. Trabalhei com fotografia, rede social, fazia de tudo, até mesmo para a faculdade. Tornei-me editora. O problema de edição é que você fica muito tempo em uma fala só, você não faz mais nada, você não sai dali, e acaba ficando entediada. Por isso, que eu gosto de fotografia, porque fotografia você está sempre em vários lugares, fazendo várias coisas, conhecendo gente etc.

Na verdade, entrei na faculdade trabalhando nesse emprego, mas aí já estava trabalhando período inteiro, porque aí acabou o colegial. Logo fiz cursinho e entrei na faculdade com uns 21 anos, mas fiquei meio ano fazendo faculdade e trabalhando nesse emprego. Depois, me mudei de cidade e de faculdade, mas mantive o mesmo curso, foi quando consegui outro emprego, na área que tinha a ver com o meu curso, que era audiovisual, em que trabalhava com edição de vídeo.

Um dia senti que estava exausta e disse: “Eu preciso de férias”. Peguei o seguro desemprego, fiquei cinco meses, mas aí não consegui trabalho aqui. Mandei uns currículos, fiz algumas entrevistas, mas não consegui nada fixo. Edição de vídeo, às vezes fotografia.

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from there, and you end up getting bored. That is why I like photography, because with photography you’re always in many different places, doing many different things, meeting people, etc. One day I felt I was exhausted and said: “I need a vacation”. I got my unemployment insurance, stayed for five months, but then I couldn’t find any work here. I sent a few curriculums, did a few interviews, but I got nothing permanent. Video editing, sometimes photography. I discovered I like doing freelance better, because I find it more dynamic and als because the permanent jobs pay very poorly and demand a lot of things. I’d rather freelance, but when it comes to labour rights, it’s a lot worse. I did an interview that was for a company down at the Floresta neighbourhood, for graduation invitations. They needed someone, they had a position as photography assistant, but it was actually to stay cropping and organizing pictures on the computer. I wasn’t going to be a photographer, I wasn’t going to take pictures. It was from 8h30 in the morning to 18h30 in the evening, from monday to friday, and the initial salary was of 1.050 reais, plus transportation and food vouchers that summed 12 reais a day. I thought that was too little. It discouraged me, because you can’t grow in there and there isn’t much to learn, to develop, something to do that is interesting, it was just sitting there cropping pictures, very boring. My dream [ideal job] would be to travel the world taking pictures, hired by National Geographic. I would like to have a contract, yes. But I am completely lost because in Brazil it is getting worse by the minute in the labour field. Thus, the future of work is definitely outsourcing, we will lose many rights, be self-employed always, not have guarantees in the work we do anymore, exploited, more hours of work and less pay, which is really discouraging. Especially in jobs that are not very valued, jobs associated to women, there are always more women working and we are less valued. My field is terrible in Brazil, in great part because of the cut of the Ministry of Culture. There aren’t many public notices anymore, so there are way less gigs for the crowd. And it is already a very closed circle, for example, so it gets way harder to get jobs and to get nice jobs, so then I don’t know how it will be for us, photographers.

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Descobri que eu gosto mais de fazer freelancer, porque eu acho mais dinâmico e também porque os empregos fixos pagam muito mal e exigem muita coisa. Prefiro freelancer; mas em relação aos direitos trabalhistas, é muito pior. Fiz uma entrevista que era uma empresa lá no bairro Floresta, de convites de formatura. Eles precisavam de alguém, tinham vaga como assistente de fotografia, mas na verdade era para ficar recortando e organizando foto no computador. Não ia ser fotógrafa, não ia tirar fotos. Era de 8h30 as 18h30 de segunda a sexta-feira, e o salário inicial era 1.050 reais, mais vale transporte e vale alimentação que dava 12 reais por dia. Achei muito pouco. Me desanimou, porque não tem como você crescer lá dentro e não tem muito o que aprender, o que desenvolver, o que fazer de interessante, era só ficar recortando foto, muito chato. Meu sonho [emprego ideal] seria viajar o mundo fotografando, contratada pela National Geographic. Eu gostaria de ter um contrato, sim. Mas eu estou completamente perdida porque no Brasil está cada vez pior na área trabalhista. Assim, o futuro do trabalho com certeza é terceirização, a gente vai perder muitos direitos, ser autônoma sempre, não vai ter mais garantias no trabalho que a gente faz, explorada, mais horas de trabalho e menos dinheiro, o que é muito desanimador. Principalmente em trabalhos que não são muito valorizados, trabalhos associados a mulheres, têm sempre mais mulheres trabalhando e somos menos valorizados. Minha área está horrível no Brasil, muito pela questão do corte do Ministério da Cultura. Não está mais tendo tanto edital, então rola menos trampo para a galera. E já é um circuito muito fechado, por exemplo, então vai ficando muito mais difícil de conseguir emprego e de conseguir emprego legal, aí eu não sei como será para nós, fotógrafos.

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João Caram — 41 years old —

I

t was in 1995 that I started to work. Since it was an internship with a grant, you did many things, but I was officially an Office instructor, of informatics. I basically taught people how to use Excel, a lot of Excel, because they didn’t know how to do spreadsheets, and how to use Word. It was for the secretaries at the Planning Offices of the university (UFC). They had to do many documents and eventually spreadsheets and they knew very little about tha. The primary occupation was this, but I gave support, I think I even got to make miniprograms.

It wasn’t an objective to get out into the market, but in the last year the grant had a strike, so the grant ended in the academic year and I still stayed for another 3 or 4 months in college, so in this final stage I took two jobs, I wasn’t formally signed or anything, it was a spoken agreement, but it was a job, like a developer freelance. One that definitely didn’t have a contract was the one I did for the Correios (post office). The other that I did was for Embrapa. It was meant to generate data for the web system, but it was all run locally. A bunch of operators would scan the documents and then our software would generate the pages, with pieces of pages, but it was all still offline. The page would be generated, so then the guy could save it all and send it to the server, this was in 1998. I had a proposition to stay in Embrapa, but at the time the master’s scholarship was almost the same amount I was earning, and it was in Belo Horizonte, whereto I wanted to return. So I came for the master’s. I think I wanted to live here, I don’t know if I did what was right, but at the time it seemed reasonable. I wanted to do the master’s for the title. Unfortunately this isn’t the reality of most of my students, because they work by day and study by night. But being a college student with all the things that they should do to have a complete graduation, studying should be a profession. For one to have a significant result in their master’s… My master’s was a profession. I dedicated myself integrally to the master’s, but I didn’t see it as a profession. It was around this time that PUC expanded, it started in 1999 and in 2001 they were still implementing the course. A colleague of mine, in december of 2000, january of 2001, said that they were in need of a teacher to give classes for a subject at PUC.

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oi em 1995 que comecei a trabalhar. Como era um estágio com bolsa, você faz muitas coisas, mas oficialmente eu era instrutor de Office, de informática. Ensinava basicamente a pessoa a mexer no Excel, muito no Excel, porque eles não sabiam usar planilha, e no Word. Era para as secretárias da Pró-Reitora de Planejamento da universidade (UFC). Elas tinham que fazer muitos documentos e eventualmente planilhas e elas sabiam pouquíssimo disso. A ocupação primária era isso, mas eu dei suporte, acho que até cheguei a fazer miniprogramas.

João Caram

Não era um objetivo sair para o mercado, mas no último ano da bolsa teve greve, então a bolsa terminou no ano letivo e eu ainda fiquei mais 3 ou 4 meses na faculdade, então nessa época final eu peguei dois empregos, não era CLT nem nada, era de boca, mas era emprego, tipo freelance de desenvolvedor. Um com certeza não tinha contrato que foi o que eu fiz para os Correios.

— 41 a

nos —

no mestrado… Meu mestrado foi uma profissão. Eu me dediquei integralmente ao mestrado, mas eu não enxerguei ele como profissão.

O outro, que eu fiz era da Embrapa, era para gerar dados para o sistema web, mas era tudo rodado localmente. Um monte de operador escaneava os documentos e depois nosso programa gerava as páginas, com pedaços das páginas, mas era tudo off-line ainda. Gerava a página, para depois o cara salvar tudo e mandar par o servidor, isso em 1998.

Foi nessa época que teve a expansão da PUC, que começou em 1999, e em 2001 ainda estavam implantando o curso. Um colega meu, em dezembro de 2000, janeiro de 2001, falou que estava precisando de professor pra dar aula em uma matéria da PUC. Não entrei na PUC para ser professor. Entrei porque tinha essa matéria, que era de programação. Na época, não me pergunte como é isso, mas eles podiam contratar como mestre porque já tinha terminado os créditos. Aí eu só tinha que entregar o papel da defesa em até um ano. Então aí eu fui pra PUC e virei professor meio por acaso, não foi planejado.

Tinha proposta para eu continuar na Embrapa, mas na época a bolsa de mestrado era quase o mesmo valor que eu ganhava, e era em Belo Horizonte, para onde queria voltar. Então, vim para o mestrado. Acho que queria morar aqui, não sei se eu fiz certo, não, mas na época pareceu razoável. Queria fazer o mestrado pela titulação. Infelizmente a realidade da maioria dos meus alunos não é essa, porque eles trabalham de dia e estudam de noite. Mas para ser estudante universitário com as coisas que ele deveria fazer para ter uma formação completa, estudar deveria ser uma profissão. Para você ter um resultado significativo

São 17 anos de casa. Eu tirei um ano de licença porque eles dão licença de tanto em tanto tempo, mas para plano de carreira 18 de casa, 17 de carreira. No segundo semestre que eu estava na PUC, eu já tinha defendido e estava realmente precisando

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I didn’t get into PUC to b a teacher. I got in because there was this subject, that was on programming. At the time, don’t ask me how that is, but they could hire me as a master because I had already completed my credits. Then all I had to turn in was the qualification papers in up to a year. So then I got into PUC and became a teacher sort of by chance, it wasn’t planned. I have been there for 17 years. I took a one year leave, because they give leaves from time to time, but under a career plan perspective, 18 years there, 17 of career. On the second semester I was in PUC, I had already qualified my thesis and was really in need of figuring out what to do. Before I had this resolution of what to do, my boss offered me one more subject. So I was going to double my schedule and substantially increase my salary, I would end up earning more than I did before with the master’s scholarship. And then when 2002 came, the following year, another college asked me to give classes, then I started giving classes at this other college. I gave classes at PUC 3 days a week and at this other college, 2 days. Then I truly became a teacher. If I wanted to do my doctorate today, PUC already doesn’t give me the incentive it once did. For example, if I wanted to go do the doctorate, I can cut my schedule by half, it allocates 12 class-hours for me to dedicate to the doctorate and I don’t know if on the last year or on the last semester I can ask for a leave and come back afterwards with my composed schedule. When I come back, I place a request, since I already progressed as far as I could, if I asked for a change of category it would be automatic, so… They encourage it. One of my bosses, since I give classes in many departments, I have many bosses, sometimes it gets on my nerves. So, you know, if on one hand there isn’t a pressure today like there was before because PUC needed to obtain a minimum amount of doctors for qualification, on the other hand it’s not like “stay a master over there because for us it’s cool, whatever”, they would rather you become a doctor. They are just not making an effort for you to do so, because they don’t need to anymore. But if at a certain point it is needed… What happened at PUC was as follows: there was a change in the career plan, the career plan I joined there was a change of statute I don’t know in what year it was, but there was a change. Those who join now, for example, don’t get the same career as me. Usually what happens is this: the older doctors go off to retirement and when new masters or doctors come in, they already join the career that will only have the cost of mine in about 20 years. It is quite difficult to answer [about the future of work]. I don’t have neither reading nor training in this field to say anything. I will say what I see in my students and what I talk about with other friends in other fields, too: the market today is a weird thing. I think we live in a time, in Brazil especially, where there is a movement to deregulate the whole market. On one hand, there is a glamourization of “doing it yourself”, that whole american “self made man” thing, in a generic way this is the entrepreneurial thing. I’m not saying that this is entrepreneurial or that only this is entrepreneurial, but then what happens, which I think is the trap, in my opinion of someone 20, 25 years older than my students.

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resolver o que fazer. Antes de eu ter essa resolução do que fazer, meu chefe me ofereceu mais uma disciplina. Então ia dobrar a carga horária e aumentar substancialmente meu salário, ia ficar ganhando mais do que na bolsa de mestrado antes. E aí quando foi 2002, ano seguinte, outra faculdade aqui me chamou para dar aula, aí comecei a dar aula nessa outra faculdade. Dava aula na PUC 3 dias e nessa outra faculdade, 2 dias. Aí eu virei professor de verdade. Se eu quisesse fazer doutorado hoje, a PUC já não me dá o incentivo que ela já deu. Por exemplo, se eu quiser ir para o doutorado eu posso cortar minha carga horária pela metade, ela aloca 12 horas-aula para eu dedicar ao doutorado e não sei se no último ano ou no semestre da defesa eu posso pedir licença e voltar depois com minha carga horária composta. Quando eu volto, eu faço pedido, para que já progredi o máximo que eu podia, se eu pedir a mudança de categoria seria automático, então… Eles incentivam. Um dos meus chefes, como eu dou aula em vários departamentos, eu tenho vários chefes, às vezes me enche a paciência. Então, assim, se não há uma pressão hoje como havia antes porque a PUC precisava atingir um mínimo de doutores para qualificação, por outro lado também não é “fica aí mestre que pra gente tá de boas”, se você virar doutor eles preferem. Eles só não estão fazendo questão disso mais porque não precisam. Mas se num momento aí precisar… O que aconteceu com a PUC foi o seguinte: houve mudança no plano de carreira, o plano de carreira que eu entrei houve uma mudança de estatuto eu não sei que ano que foi, mas houve uma mudança. Quem entra agora, por exemplo, não tem a mesma carreira que a minha. Geralmente o que vai acontecendo é assim: os doutores mais velhos vão aposentando e quando entra mestre ou doutor novo, já entra na carreira que só vai ter o custo da minha daqui a 20 anos. É bem difícil de responder [sobre futuro do trabalho]. Eu não tenho nem leitura nem formação nessa área para falar nada. Vou falar o que eu vejo dos alunos e que converso com outros amigos de outras áreas também: mercado hoje é um negócio estranho. Eu acho que a gente vive numa época do Brasil, principalmente, que está havendo um movimento para desregular o mercado inteiro. Por outro lado, está havendo uma glamorização do “faça você mesmo”, do negócio meio americano do self made man, de maneira genérica isso é o tal de empreendedorismo. Não que isso seja empreendedorismo ou que só isso seja empreendedorismo, mas aí o que acontece, o que eu acho que é a armadilha, na minha opinião de pessoa 20, 25 anos mais velha que meus alunos.

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Cilene Godinho Marko — 34 years old —

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n 1994 I started an internship at Eletropaulo, that granted me an experience on working at state companies and the amount of bureaucracy. That kept me away from this market for the rest of my professional life. In terms of money, the internship paid me very well.

But the experience made me consider that money wasn’t the only professional engine for me. The bureaucracy didn’t let any project go ahead and I realized that impacting people and having your work effectively help people was the most important and what made me happy. When I left I felt a relief, I didn’t see myself at that company. I really wanted to see things happening. This internship was the conclusion of a technical course in edifications. From then on I did many freelance jobs, because I got into Architecture college. During college I took an internship at another public agency, this time a municipal one. At the DPH I learned that working with restoration in Brazil wouldn’t impact people, because it isn’t a priority in a country with so many problems. Still during college I took another internship at the office of one of my teachers and there I started seeing the magic happen. The projects became construction sites and then they would finally impact people. Afterwards I went into retail, going through companies such as McDonald’s, Starbucks, Centauro and currently I am at DPSP (São Paulo Drugstore). About the future of work, I believe that the technology will be another tool auxiliating people and doing tasks that humans don’t see value in, that’s where it seems the future is pointing at.

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m 1994 comecei um estágio na Eletropaulo, que me rendeu uma experiência sobre o trabalho em empresas estatais e o tamanho da burocracia. Que me manteve afastada desse mercado pelo resto da minha profissional. Em termos de dinheiro, o estágio pagava muito bem. Mas a experiência me fez refletir que dinheiro apenas não era o motor profissional para mim. A burocracia não deixava nenhum projeto ir em frente e percebi que impactar pessoas e ter o seu trabalho ajudando efetivamente as pessoas era o mais importante e o que me fazia feliz.

Cilene God inho Mark o — 34 a

Quando as senti um alívio, não me imaginava naquela empresa. Queria realmente ver as coisas acontecendo. Esse estágio servia de conclusão do curso técnico em edificações. A partir daí fiz vários trabalhos freelances, pois entrei na faculdade de Arquitetura. Durante a faculdade fiz estágio num outro órgão público, desta vez municipal. No DPH aprendi que trabalhar com restauro no Brasil não iria impactar as pessoas, pois isso não é prioridade num país com tantos problemas.

nos —

Depois fui para o varejo, passando por empresas como McDonalds, Starbucks, Centauro e atualmente estou na DPSP (drogaria São Paulo). Sobre o futuro do trabalho, acredito que a tecnologia será mais uma ferramenta auxiliando as pessoas e fazendo tarefas em que os humanos não agregam valor, isso é o que parece apontar para o futuro.

Ainda durante a faculdade fiz outro estágio no escritório de uma das minhas professoras e lá comecei a ver a mágica acontecer. Os projetos viravam obras e aí sim começavam a impactar as pessoas.

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Cintia Aparecida de Almeida — 27 years old —

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y first job was as an intern at the Belo Horizonte city hall, in 2008. But I worked at the library of the school I studied at. Since I frequented the library a lot, I read a lot, knew the collection very well, when the librarian had the idea of restructuring the library, they were going to need an intern. So the city hall provides these grants for highschool students and since I already knew the collection well, knew the library itself very well and frequented it since childhood, they asked me to be their intern, so then I was an intern for the city hall, I earned a grant of 360 reais a month and worked part-time. I was 16 years old. It was during my second year of highschool and my third year. When the contract was up, I got into college the following year. With the 360 reais I earned, I felt it was a fortune! I had the feeling that it yielded so much, that it was so much money. I was a different time, too, in another economic time, so I think today 360 reais yield less because of the political context of the country, in which the real is devalued. In my case, I was already very directional about the fact that I wanted to study Language to deal with books. It wasn’t a differential, but a complement. I got into college with an initial dazzlement about what I wanted to do, but one discovers life isn’t so easy, it isn’t so tranquil. In my case, I studied Language, everyone that starts Language because they like reading, likes literature, arrives at the course and has an initial shock. When I got into college, I found out what I wanted wasn’t so interesting, it wasn’t that worked upon, it wasn’t going to give me that much perspective on a professional future as I thought it would. But I found other areas that interested me more and I ended up going down those paths. I went to work at a kindergarten in Gutierrez called Mundo Feliz, at which I was a class auxiliary, which was an internship, it was my first college internship. I got this internship on my second semester at college and I was a class auxiliary, for alphabetization. I went to work at a class whose students were on average 4 or 5 years old to help the teacher. I only went to work because of financial reasons, really, because I needed to sustain myself during college, but teaching was never my professional focus and it was good only to show me it wasn’t cool.

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M

eu primeiro emprego foi como estagiária da Prefeitura de Belo Horizonte, em 2008. Mas eu trabalhava na biblioteca da escola onde eu estudava. Como eu frequentava muito a biblioteca, lia muito, conhecia muito do acervo, quando o bibliotecário teve a ideia de reestruturar a biblioteca, ia precisar de um estagiário. Aí a prefeitura fornece essas bolsas para alunos do ensino médio e como eu já conhecia muito do acervo, conhecia muito a própria biblioteca e frequentava desde a infância, ela me convidou pra ser estagiária dela, aí eu era estagiária da prefeitura, ganhava uma bolsa de 360 reais e trabalhava meio horário. Tinha 16 anos. Foi no meu segundo ano do ensino médio e no meu terceiro ano. Finalizado o contrato, entrei na faculdade no ano seguinte.

Cintia Apa recida de A — 27 a

Com os 360 reais que recebia, eu tinha a sensação que era uma fortuna! Eu tinha a sensação que rendia muito, que era muito dinheiro. Foi em outra época, também, em outra época econômica, então eu penso que 360 reais hoje rendem menos por causa do contexto político do país, no qual o real está desvalorizado.

nos —

lmeida

da faculdade. Consegui esse estádio no meu segundo semestre da faculdade e era auxiliar de classe, de alfabetização. Fui trabalhar numa turma que os alunos tinham uma média de 4 ou 5 anos para ajudar a professora Fui trabalhar só por questões financeiras mesmo, porque eu precisava me manter durante a faculdade, mas nunca foi o meu foco profissional o magistério e só serviu pra me mostrar que não era legal.

No meu caso, eu já era muito direcionada que eu queria fazer Letras para lidar com livros. Não foi um diferencial, e sim um complemento. Eu entrei na faculdade com um deslumbramento inicial acerca do que eu queria fazer, mas se descobre que a vida não é tão fácil, não é tão tranquila. No meu caso, que fiz Letras, todo mundo que faz Letras porque gosta de ler, gosta de literatura, chega no curso e tem um choque inicial. Quando entrei na faculdade, descobri que o que eu queria não era tão interessante, não era tão trabalhado, não ia me dar tanta perspectiva de futuro profissional como eu achava que ia. Só que eu descobri outras áreas que me interessavam mais e eu acabei trilhando por esses caminhos.

Fazia freelances também, trabalhava muito, era triste. Eu consigo lembrar de todos, eu acho: trabalhei na Biblioteca, no Museu de Artes e Ofícios, na Editora UFMG, no Laboratório de Edição, nas bibliotecas da UFMG eu trabalhei na Biblioteca do Instituto de Geociências, na Escola de Educação Física, onde trabalhava com acervo, restauro de livros e encadernação, no Centro Cultural da UFMG. Eu fazia freelances de correção de redação para o pré-vestibular da UFMG, para o Mais, para Facisa. Quando era estagiária do Centro Cultural da UFMG e do Laboratório de Edição ao mesmo tempo, eu fui contratada pelo IGTI, que aí eu passei a ter um emprego só. Lá em Nova Lima.

Fui trabalhar numa escolinha no Gutierrez chamada Mundo Feliz, na qual eu era auxiliar de classe, que foi um estágio, que foi meu primeiro estágio

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I did freelance work too, I worked a lot, it was sad. I can remember every single one, I think: I worked at the Library, at the Museum of Arts and Crafts, at the UFMG publisher, at the Editors Laboratory, at the UFMG libraries worked at the Geosciences Institute Library, at the Physical Education School, where I worked with their collection, repairing books and binding them, at the Cultural Centre of UFMG. I did freelance jobs correcting essays for the entrance exam preparation courses of UFMG, for Mais, for Facisa. When I was an intern at the Cultural Centre of UFMG and of the Editors Laboratory at the same time, I was hired by the IGTI, and then I started only having one job. Up there in Nova Lima.

of digital marketing and the accumulation of all these functions awakened a very big interest in the area of programming and computing, which stimulated me to pursue a second graduation: Computer Science. I want to move to Canada. I really want to act in the computing field, because it is a field that stimulates me a lot, it had been a long time since I felt intellectually stimulated and also because of a political vision. I think it is very important to have women in this field, since there aren’t many, there are almost no black people, and I am for the democratization of programming. I really want to have professional valorization, have a good pay and work with something that is good for me, something I like, that I feel I am not stagnant and keeps me dynamic and happy, but I know that will only be possible because I had many experiences since my first job as a collegial librarian. There I learned to read a lot and to like working creatively.

At IGTI I stayed for two years, I grew up in there, I got in there with a very bad salary, which almost made me reconsider leaving my two internships to work there. At the time, I was selected for two places: the IGTI and Ânica, that is UNIBH. For both of them it would be the same position, only the role at Ânima was a lot more frozen and a lot less focused on what I would like to do. At IGTI I felt it would be more dynamic and I would have better growth possibilities there. So I chose to be there, the company was smaller, a startup at first, I thought: “I think I like this dynamic better”. I went there, worked for two years, left at the beginning of 2016, in the beginning of 2017 I went to work at Sedects, which is my current job. In this period, while I was working on my fixed job, I always had contact with artisanal bookbinding, I always took freelance jobs for book restoration, artisanal bookbinding, but at IGTI my job was focused on editorial design, I created graphic projects for the books that were published by the institute, since it is an education institute there and there I started developing the role of editorial designer, I configured distance learning environments. I got into Language at university to study literature and since I got frustrated with the teaching of literature and concluded it wasn’t going to give me a professional future, I started working a lot in the editorial field, so much so I am a bachelor in editing with a complementary training in book history, after I graduated, I started working a lot with the matter of technological editing, because of my job. So I wasn’t only revising and diagramming books, I had to do site maintenance, I had to learn a few communication languages, and I fell hard in love with the field of technology because of it. And also because of the field of instructional design, because on top of being revisioner/diagrammer, I also worked on the environment of distance learning. Because of this accumulation of functions, I got a lot closer to the field of technology and went on to do a post-graduate degree in the field

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No IGTI, fiquei dois anos, eu cresci lá dentro, eu entrei lá com um salário bem ruim, que quase me desanimou a deixar de fazer dois estágios para trabalhar lá. Na época, fui selecionada para dois lugares: o IGTI e a Ânima, que é a UNIBH. Para os dois seria a mesma função, só que a função na Ânima era bem mais congelada e bem menos focada no que eu gostaria de fazer. No IGTI eu senti que seria mais dinâmico e eu teria mais oportunidade de crescimento lá. Aí eu escolhi lá, a empresa era menor, uma startup em começo, eu pensei: “Acho que gosto mais dessa dinâmica daqui. Fui para lá, fiquei lá dois anos, saí de lá no final de 2016, no começo de 2017 eu fui pra Sedects, que é o meu atual emprego.

Nesse período, enquanto eu trabalhava com meu trabalho fixo, eu sempre tive contato com encadernação artesanal, sempre peguei freelances de restauro de livro, encadernação artesanal, mas no IGTI meu trabalho era focado em designer editorial, eu criava projetos gráficos para os livros que eram publicados pelo instituto, que lá é um instituto de educação e lá eu comecei a desenvolver a função de designer editorial, eu configurava ambiente de ensino a distância. Eu entrei na Letras para estudar Literatura e depois que eu me frustrei com o ensino de Literatura e concluí que isso não ia me dar um futuro profissional, eu comecei a trabalhar muito com a área editorial, tanto que sou bacharel em edição com formação complementar em história do livro, depois que eu formei, comecei a trabalhar muito com a questão da edição tecnológica, por causa do meu trabalho. Então não só revisava e diagramava livros, eu precisava fazer manutenção de sites, precisei aprender algumas linguagens da comunicação, eu me aproximei muito da área de tecnologia por isso. E também por causa da área de design instrucional, porque além de ser revisora/diagramadora, eu também trabalhava no ambiente de ensino a distância. Por causa desse acúmulo de funções, eu me aproximei muito da área de tecnologia e fui fazer uma pós-graduação na área de marketing digital e o acúmulo de todas essas funções despertou um interesse muito grande pela área de programação e computação, o que me estimulou por fazer uma segunda graduação: Ciência da Computação. Quero me mudar para o Canadá. Eu tenho muita vontade de atuar na área de computação, de programação, porque é uma área que me estimula muito, tinha muito tempo que eu não me sentia estimulada intelectualmente e também por uma visão política. Eu tenho muita vontade de ter valorização profissional, ter uma boa remuneração e trabalhar com algo que me faça bem, algo que eu goste, que eu sinta que não estou estagnada e me mantenha dinâmica e feliz, mas eu sei que só será possível porque tive muitas experiências desde de meu primeiro emprego como bibliotecária colegial. Aí aprendi a ler muito e a gostar de trabalhar criativamente.

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20 00 DÉCADA DE

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Década de 2000

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s ano 2000 começaram com o um bom presságio. O chamado bug do milênio, que causaria um colapso nos computadores em todo mundo e mesmo o fim do mundo, esperado por diversas seitas religiosas não ocorre. Ao contrá­ rio foram anos de comemoração e mais integração econômica. A grande comemoração foram os 500 anos do achamento do Brasil, com a mega exposição “Brasil + 500” com curadoria do Professor Nelson Aquilar, que contratou os melhores intelectuais e artistas do Brasil para organizar cada módulo, numa grande amostragem da formação histórico- cultural do Brasil desde os povos originais até a contemporâ­ nea, que itinerou em partes ou totalmente pelo Brasil e o Mundo.

Porém, os ataques terroristas (al-Qaeda) de 11 de setembro contra as torres gêmeas do complexo empresarial do World Trade Center (NY/EUA), deixou o mundo todo surpreendido e a consternação internacional foi enorme. O medo do terrorismo transformou os aeroportos e fronteiras em grandes repositórios de equipes de segu­ rança e o medo se alstrou internacionalmente.

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The 2000’s

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he 2000’s began with a good omen. The so-called millennium bug, which would cause computers to collapse all over the world and even the end of the world itself, expected by several religious cults, doesn’t happen. Contrary to that, the 2000’s were years of celebration and more economic integration. The biggest commemoration was due to the 500 years of the finding of Brazil, with the mega-exposition “Brasil + 500” with curatorship by the Professor Nelson Aguilar, who hired Brazil’s finest intellectuals and artists to organize each module, in a great sampling of Brazil’s historicalcultural formation from its original peoples to the contemporary one, which travelled partly or complete throughout Brazil and the world.

at least 260 thousand placements per year. In 2007, the programme, which gave advantages to the companies that offered positions for youths between the ages of 16 to 24, was excluded from the PPA (Pluriannual Plan) project 2008-2011. Since the PPA orients the Budgets for each quadriennium, this meant the end of the funding for Primeiro Emprego starting from 2008. In 2009, the government studied the possibility of reviv­ ing the programme, but there was no consensus on the matter. In spite of this, the fight against slavery and degrading work were fortified. In the area of higher education, the ProUni (Programa Universidade Para Todos - University For All Programme) was, accord­ ing to the MEC declarations, the biggest scholarship programme in Brazilian education history. From 2005 to 2009, the ProUni offered almost 600 thou­ sand scholarships in approximately 1,5 thousand institutions across the country, that, because of this, received the benefit of tax exemption. Among those benefited by the scholarships, 46% were self-declared afro-descendants.

However, in September 11 of 2001 the terrorist attacks (al-Qaeda) at the twin towers of the World Trade Center business complex (NY/USA) surprised the whole world and the international concern was enormous. The fear of terrorism turned airports and borders into big repositories of security teams and the fear spread internationally.

In 2010, the Bird claimed that the country advanced in the reduction of poverty and distribution of wealth. According to the entity, in spite of the social inequality still being high, they were able to reduce poverty rates from 41% in 1990 to 25,6% in 2006. Some of the reasons for the reduction would be the low inflation and the income transfer programmes.

In spite of this, in Brazil the victory of the then oppos­ ing candidate (PT) Luis Inácio Lula da Silva filled with hope the Brazilian people, who for long awaited a left neoliberal reform that reached the core of Brazilian corruption and bettered the distribution of income. The motto “Lula Lá” was like a hymn of hope and pos­ itivity. The launch of the Primeiro Emprego (First Job) programme, in 2003, a campaign flag of Lula’s election in 2002. However, the programme didn’t succeed and was extinct in 2006, having managed to employ only 15 thousand youths, considering the initial goal was of

In the Lula administration, the GDP presented an average expansion of 4% per year, between 2003 and 2010. The Lula administration ended with the highest ever popular approval rates, with over 80% of positive evaluations.

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Apesar disso, no Brasil a vitória do então cantidato da oposição (PT) Luis Inácio Lula da Silva encheu de esperança o povo brasileiro, que a muito aguardava por uma reforma neo-liberal de esquerda que alcançasse o cerne da corrupção brasileira e melhorasse a distribuição de renda. O Lema ‘ Lula Lalá” parecia um hino a espe­ rança e positividade. Destaca-se o lança­ mento, em 2003, do programa Primeiro Emprego, bandeira de campanha da elei­ ção de Lula em 2002. Porém, o programa não deslanchou e foi extinto em 2006, tendo conseguido empregar menos de 15 mil jovens, quando o plano inicial era 260 mil vagas por ano. Em 2007, o pro­ grama, que dava vantagens a empresas que oferecessem vagas a jovens de 16 a 24 anos, foi excluído do projeto do PPA (Plano Plurianual) 2008-2011. Como o PPA orienta os Orçamentos a cada qua­ driênio, isso significava o fim da verba para o Primeiro Emprego a partir de 2008. Em 2009, o Governo estudou res­ suscitar o programa, porém não houve um consenso sobre o assunto. Apesar disso, o combate à escravidão e ao tra­ balho degradante foram fortificados.

Na área do ensino superior, o ProUni (Programa Universidade Para Todos) foi, segundo as declarações do MEC, o maior programa de bolsas de estudo da história da educação brasileira. De 2005 a 2009, o ProUni ofereceu quase 600 mil bolsas de estudo em aproximadamente 1,5 mil instituições de ensino em todo o país, que receberam para isto o benefício da isenção de tributos. Entre os beneficiados com bolsas, 46% eram autodeclarados afrodescendentes. Em 2010, o Bird afirmou que o país avan­ çou na redução da pobreza e distribuição de renda. Segundo a entidade, apesar da desigualdade social ser ainda elevada, conseguiu-se reduzir a taxa de pobreza de 41% em 1990 para 25,6% em 2006. Alguns dos motivos para a redução teriam sido a inflação baixa e os programas de transfe­ rência de renda. O PIB no Governo Lula apresentou expansão média de 4% ao ano, entre 2003 e 2010. O Governo Lula terminou com aprovação recorde da população, com número superior a 80% de avaliação positiva.

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Soraya Madeira — 32 years old —

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y first job was at an agency called Synesis Comunicação, around november or december 2006. This internship was kind of crazy since it was at a small/medium sized agency, which didn’t have the structure for it, since it was a very small agency, whose owner wasn’t from this business, so the workflow was really complicated there. I understand that, in terms of money, I earned nothing, because the first job wasn’t paid. So I wouldn’t say anything, she [the agency’s owner] gave me 50 reais of bonus in december and said: “Oh here it is, for your work”. For my good work, she gave me 50 reais. But she didn’t even paid my bus ticket, I had to pay from my own pocket to get there. In terms of experience I got something out of it. I had no experience in the field, I was even getting discouraged, since it took me some time to get this internship. It was during my sixth semester at university, and I was beginning to think I would graduate while not being able to get an internship, since I was sending my resume all over and getting no response. In Fortaleza, around the time, there weren’t as many agencies as now so I thanked God when she hired me. And I got some good, other bad, experiences from it, but I got some business contacts which I needed, since I had no idea… I knew how advertising worked, but I didn’t know how it worked in practise. I started as intern in the client service department, then in the media department, and later I asked my boss if I could work in the creation one, and after working in the editorial office I left. So it dured a short period, only 3 months. But it was nice that I got in touch with my field of work. And while there I went through experiences I still remember to this day, for better or for worse, and since I teach Advertising now, this internship is completely related to what I do because it provided me with experiences I can use as examples in class. I’m used to illustrate the classes I give with what I went through in that agency and, naturally, there’s a lot of things I remember from there and always use. What this job meant for me was the relief of finally getting an internship as it meant that I was capable of it. As the advertising practise was something abstract to me, that internship made it become concrete. It meant a relief not only in the sense of getting a job, but in the sense that I got to see that I was capable of doing

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M

eu primeiro emprego foi em uma agência chamada Synesis Comunicação, isso foi em novembro ou dezembro de 2006. Esse estágio foi meio maluco porque foi em uma agência de pequeno/médio porte, mas que não tinha uma estrutura para isso, pois era uma agência bem pequena, com uma dona que não era do ramo, então era bem complicado o fluxo de trabalho lá dentro. Entendo que, em termos de dinheiro, não me rendeu nada, porque o primeiro emprego não era remunerado. Para não dizer nada, ela me deu 50 reais de bônus em dezembro e disse: “Não, está aqui pelo seu trabalho”. Pelo meu bom trabalho, ela me deu 50 reais. Mas ela não pagava nem a minha passagem de ônibus, eu ia para lá pagando do meu próprio bolso.

Soraya Ma — 32 a

De experiência me rendeu até boas coisas. Eu não tinha nenhuma experiência na área, eu já estava até ficando desanimada, pois demorei para conseguir esse estágio. Foi no meu sexto semestre, e já estava até achando que ia formar sem conseguir estagiar porque mandava currículo para todos os cantos e nada rolava.

deira

nos —

relação total com o que eu faço porque ele serve de caso, serve de material de sala de aula. Eu costumo ilustrar muito as minhas aulas com coisas pelas quais eu passei na agência e, obviamente, tem muita coisa de lá que eu lembro muito e sempre uso. O que esse emprego significou para mim foi um alívio de finalmente ter conseguido um estágio e significou que eu era capaz. Como a prática publicitária era uma coisa abstrata para mim, esse estágio fez com que ela fosse concreta. Significou um alívio não só no sentido de conseguir, mas de fazer ver que eu era capaz de fazer aquilo que eu estava estudando e me preparando para fazer. Apesar da confusão que era a agência, foi uma sensação muito boa a de ver que o que eu estava aprendendo e conseguindo praticar. Não era uma prática 100%, óbvio, porque eu estava aprendendo, estava conseguindo.

Em Fortaleza, naquela época, não tinham tantas agências assim e dei graças a Deus quando ela me contratou. E me rendeu algumas experiências boas, outras ruins, mas me rendeu alguns contatos com a área que eu precisava, porque eu não fazia ideia… Eu sabia como é que funcionava a publicidade, mas eu não sabia como ela funcionava na prática. Entrei como estagiária de atendimento, depois virei estagiária de mídia, depois falei com minha chefe para eu estagiar na criação, aí fui estagiar na redação e saí. Então foi bem curto, foram só 3 meses.

Por essa agência ser um pouco complicada, em termos administrativos, não vou dizer que eu consegui ter muita influência dessa agência nas escolhas posteriores, porque era um mercado pequeno – ainda é – e eu não tinha como me fazer de difícil para outras

Mas foi um bom contato com a minha profissão. E lá eu passei por situações que eu lembro até hoje, para o bem e para o mal, e como hoje eu sou professora de Publicidade, ter esse estágio teve uma

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I was very happy, of course, not only because it was an internship at Nestlé, but also because I was going away from where I was. I would later work for other companies, some of which I’d stay for a long time, for years, but in that company I could not see a future, I had really thought about leaving it as soon as possible, which happened when that Nestlé internship came up.

what I was studying and preparing myself to do. Despite the agency being a mess, it was an amazing feeling to see that I was learning and getting to practise. It wasn’t 100% practise, of course, for I was still learning. Since this agency was a bit complicated, in administrative terms, I won’t say I got to have much influence from this agency in posterior choices, because it was a small market – it still is – and I couldn’t have the benefit of rejecting other opportunities. But the experiences I had there, however brief they were, opened my eyes to many things. Moreover, to professional attitude, so I got to subsequent agencies better prepared, knowing how to interact with the client, the supplier, so that was the main influence in the choices from then on.

Our advertising market is changing a lot, at least here in Fortaleza it has quite changed in the past few years. Considering I graduated in the end of 2009, started working in the end of 2009 as a professional, with signed labour cart, the market has changed a lot. Therefore, I have much hope of at least contributing a little bit for it, this situation of bad agencies and of a bad market, to be changed in a positive way, although the government is working against it, aiming to worsen our work situation, specially for me, at a public university. I try to be optimistic in midst of all that, since I believe the moment I lose this optimism I will begin to discourage myself with my job I strongly understand my role today, to positively influence these people and contribute to change the market. I hope it works, that they’ll be touched and that they’ll be able to change these practises that made get out of the labor market and to dedicate myself to teaching.

I got out of that job during a special occasion, actually, because back then there used to be a contest for students, an event, Comunicart, which took place in the north/northeast. In this event occured a contest for new talents in communication. And for a college course, our teacher asked us to use the award’s briefing to create an advertising piece as final presentation, as well as recommending us to submit it for the award. So we did and our piece ended up among the winners. It was by me and a friend of mine, we were the creative group, and one of the rewards was an one month internship at Nestlé but they told us we would have to quit our jobs to get the internship.

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oportunidades. Mas as experiências que eu tive lá, por mais que tenham sido breves, me abriram os olhos para muitas coisas. Inclusive de postura profissional, então já cheguei nas agências seguintes mais inteirada, sabendo como interagir com o cliente, com o fornecedor, então essa foi a principal influência nas escolhas a partir de lá.

realmente pensava em sair de lá assim que eu conseguisse, o que aconteceu quando surgiu esse estágio na Nestlé. O nosso mercado de publicidade está mudando muito, pelo menos aqui em Fortaleza mudou bastante de uns anos para cá. Considerando que eu me formei no final de 2009, comecei a trabalhar no final de 2009 como profissional, carteira assinada, mudou muito o mercado.

Quando saí desse emprego, foi numa situação muito especial, na verdade, porque na época tinha um concurso para estudantes, um evento, o Comunicart, que acontecia no Norte/Nordeste. Dentro dele acontecia um concurso de novos talentos da comunicação. E em uma das disciplinas da faculdade, a professora passou como trabalho final da disciplina de criação que a gente pegasse o briefing do prêmio para criar peça e recomendou que a gente inscrevesse no prêmio. Assim fizemos e nosso trabalho foi um dos ganhadores. Era eu e um amigo meu, nós éramos a dupla de criação, e um dos prêmios era um estágio de um mês na Nestlé e eles informaram que a gente teria que sair dos empregos para poder passar por esse estágio.

Portanto, eu tenho muita esperança de pelo menos contribuir um pouquinho para que isso, essa situação dessas agências ruins e de um mercado ruim, mude positivamente, apesar de que o governo está trabalhando contra, querendo piorar nossa situação de trabalho, principalmente para mim, numa universidade pública. Tento ser otimista no meio disso tudo, porque eu acho que no momento que eu perder o otimismo eu vou começar a me desmotivar no meu trabalho e eu entendo muito o propósito que eu tenho hoje, de impactar essas pessoas positivamente e contribuir pra mudança de mercado. Espero que funcione, que eles consigam ser impactados e que eles consigam mudar essas práticas que me fizeram sair do mercado de trabalho e me fizeram ficar dedicada exclusivamente à docência.

Eu fiquei muito feliz, óbvio, não só porque era um estágio na Nestlé, mas também porque eu ia sair de onde estava. Eu passei depois por outras empresas, em que fiquei bastante tempo, fiquei mais de ano, mas nessa empresa eu não via futuro, eu

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Cláudio Valentin — 32 years old —

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y first job was as bus collector around 20062007. And I worked in that position for about three years. It’s a very hostile service, it’s tense. And also quite unhealthy. I got in precisely to gather money and be able to get into college and in this period I did my technical course in Design and Graphic Communication. My second job was already in the field, but I more on the technical part. I managed to get out of the collector job, got into college and a digital print shop. There I used to print banners, that sort of thing. At that time, I was finishing technical school, getting into college and half-time working in that print shop. After a while the workload increased, after I finished technical school, but I kept studying at the college. But I had a trick up my sleeve, I got out of that print shop and went to work at the college since I had gotten a scholarship, so I didn’t pay for college. I used the money in other things. I made money, but I didn’t have time for my social life. I got back to work as bus collector. My shorter working hours was as collector, as I optioned, so I could study, and even so, in weekends, I worked around 12 hours a day, saturday and sunday. There were times I worked during the early morning hours, so I got to work at 10pm and left at 6.30am, 7am, and went straight to SENAI to study. And as the working conditions were unhealthy and I worked overtime, I received a fat paycheck. I took day offs and sometimes the day off was on Monday and I was dead tired but had to study. That was it, for three years. With so much work, at that time I had a nervous breakdown, I got a bit disturbed, quite depressed. But I kept working at the college. After college I got into the Benjamin Guimarães Foundation, which was responsible for all the Hospital da Baleia’s communication, I worked there for one year, as a designer as well, then I started to get the know-how of production, since we made those Baleia’s events, which invited people such as Milton Nascimento, that sort of thing. I worked there for one year. Later I got into a technology company, what you would today call a start-up, where I worked one more year. At that time I was already quite dedicated to the internet. I left it after one year, and already left self-employed. I made them some proposals and began to develop some things, and they paid me while I worked at home. Then it came the real wave of start-ups, they created one or two at the time. I got to work for both, but still in that remote fashion. When I started, eighty percent of my time was dedicated to them, when they started to

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eu primeiro emprego foi de cobrador de ônibus em 2006-2007, por aí. E trabalhei nessa função por três anos. É um serviço muito hostil, é tenso. É também bem insalubre. Entrei justamente para juntar dinheiro para conseguir entrar na faculdade e nesse período fiz o meu curso técnico em Design e Comunicação Gráfica. Meu segundo emprego já foi dentro da área, mas mais na parte técnica. Consegui sair do emprego de cobrador, entrei na faculdade e em uma gráfica digital. Aí imprimia banner, essas coisas. Nesse período, estava fazendo trabalho final, técnico, entrando na faculdade e trabalhando meio período nessa gráfica. Aí depois foi aumentando a carga horária, depois que terminei o técnico, mas me mantive na faculdade. Só que o pulo do gato foi que eu saí dessa gráfica e fui trabalhar na faculdade porque eu consegui uma bolsa, então eu não paguei a faculdade. Usei o dinheiro para outras coisas. Juntava dinheiro, mas não tinha tempo para vida social. Continuei também a trabalhar como trocador de ônibus. Como trocador, meu horário era o menor que tinha, por opção, para conseguir estudar, e mesmo assim, nos finais de semana, trabalhava cerca de 12 horas, sábado e domingo. Teve períodos que eu trabalhei de madrugada, aí pegava às dez horas da noite e largava seis e meia da manhã, sete horas da manhã, e ia direto para o SENAI. E como tinham valores de insalubridade na folha e hora extra, meu salário ficava gordinho. Eu tinha uma folga e às vezes a folga caia na segunda e eu estava morto de cansado e tinha que estudar. Era isso, durante três anos.

Cláudio Va lentin — 32 a

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eventos do Baleia, que chamava Milton Nascimento, essas coisas. Fiquei lá um ano. Depois entrei em uma empresa de tecnologia, que hoje em dia chamaria startup, onde trabalhei mais um ano. Nessa época eu já estava bem voltado para a internet. Saí de lá depois de um ano, e já saí como autônomo. Fiz uma proposta para eles e comecei a desenvolver umas coisas, e eles me pagavam e eu trabalhava em casa. Aí realmente começou a onda das startups, eles criaram tipo umas duas na época. Eu cheguei a trabalhar nelas, mas nesse esquema remoto também. Quando comecei, meu tempo ficava tipo oitenta por cento dedicado a eles, quando eles começaram a investir nisso. Passou esse período, essas duas startups não deram certo, mas o embrião delas gerou um outro projeto que eu vou chegar nele. Depois me estabeleci completamente como autônomo, trabalhei para um monte de gente, fiz um tanto de coisa. Tive até uma sala. Não como funcionário, mas no coletivo, com uma galera. O espaço funcionou durante uns dois anos, rodando legal, ganhava bem.

Com tanto trabalho, nessa mesma época eu tive um surto, fiquei meio mau da cabeça, bem depressivo. Mas continuei trabalhando na faculdade. Depois da faculdade eu entrei na Fundação Benjamin Guimarães, que fazia toda a comunicação do Hospital da Baleia, lá trabalhei lá durante um ano, e isso também com design, aí já comecei a pegar know how de produção, pois a gente fazia esses

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invest in it. Those times went by, both start-up companies failed, but their embryo generated another project which I’ll soon get to. Later I fully established myself as an autonomous worker, I worked for a ton of people, made a bunch of stuff. I even got to have a workroom. Not as an employee, but with a collective, with some folks. The space worked for about two years, it turned well, made some money.

supposed to be preoccupied with this knowledge of the human sciences, because that’s precisely the gap that will be left. So, I don’t have a very positive view on this, I think we will live a caos of many things not making sense anymore, many types of services we do, and a lot of people will be screwed on this one. I think this is my portrait. We will get by, adapt, we are brazilian. We were able to get through slavery. But that’s it, nobody’s going to get rich, a bunch of people will die early, a lot of people won’t get their retirement money and it’s like this, we will be happy, every once in a while.

After a long time, those two start-ups which failed, their core members got together and created a web-site called Passagens Promo. I built their communication team, the team which is currently employed. The owner started to make money and asked me to work with them. I went to, worked there for one and a half year. They asked me to build that team and the one for Seguros Promo, their second project, which nowadays is what maintains the whole company. I stayed one and half year and got out. Nowadays, I’m rethinking myself, since I’m autonomous. I don’t believe entrepreneurship is possible considering our current situation, specially since I’ve become quite involved with academic research, but I personally don’t believe I’ll be working one hundred percent with anything, you know? Neither one hundred percent with market, nor one hundred percent with academia. So I believe I’ll live in a limbo, I believe I’ll find myself there, really. But I’m not an entrepreneur. I’m autonomous, but I guess everyone is autonomous, right? Nowadays, there aren’t even jobs anymore. In the workroom days I considered myself an entrepreneur, I guess I actually was one. So, there was a thing of the moment, of what was going on. There were a bunch of people starting new companies. Which nowadays have even grown, I think it used to be possible, the thing is that the country has changed a lot. Nowadays, I wouldn’t consider that that was entrepreneurship. I believe everyone is in the same condition and we have no choice, really. At least in my field I see it. I can count on one hand who currently has CLT, signed labour contract. At the hospital job, I am paid by a grant. I am not their employee. I am hired by FAPEMIG, so much so that, really, FAPEMIG gave autonomy for a doctor of the Medicine College to choose whoever she wanted, but that afterwards she will be evaluated. She chose me. And it was this simple: “look, I really liked your curriculum, I like your trajectory, we need this, do you want it?” We could even negotiate a few things: which times I would be going in, when she would need me, when she wouldn’t and so on. At the same time, if it goes wrong, they will dun this doctor for it. I think it will be caos, what we will live through soon. Because, in no time, something less than 5 years, we will already see a bunch of jobs disappear. Because we were

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Depois de muito tempo, aquelas duas startups que deram errado, eles pegaram o embrião delas e criaram um site que se chama Passagens Promo. Eu montei a equipe de comunicação deles, a equipe que está contratada atualmente. Os donos começaram a ganhar dinheiro e me chamaram para trabalhar com eles. Eu fui, fiquei lá um ano e meio. Eles me chamaram para poder montar essa equipe e montar a equipe para o Seguros Promo, o segundo projeto deles, que hoje em dia é o que segura toda a empresa. Fiquei um ano e meio e saí.

Hoje em dia, estou me ressignificando, porque sou autônomo. Eu não acho que existe essa coisa empreendedora no nível que a gente está, até porque eu comecei a me envolver muito com pesquisa, com academia, mas também tenho para mim que eu não vou trabalhar cem por cento com nada, sabe? Nem cem por cento para o mercado, nem cem por cento para pesquisa. Então acho que eu vou viver em um limbo, acho que vou me encontrar nisso mesmo. Mas eu não sou empreendedor. Autônomo, mas acho que autônomo todo mundo é, né? Hoje em dia, não existe nem emprego mais. Na época da sala eu me considerava empreendedor, acho que realmente era. Assim, tinha uma coisa do momento, que estava acontecendo. Tinha um monte de pessoas que estava fazendo empresas novas. Que hoje em dia até cresceram, eu acho que estava sendo possível, só que mudou muito o país. Hoje em dia, eu não considero que aquilo ali era empreendedorismo. Eu acho que todo mundo está na mesma condição e não tem escolha, mesmo. Pelo menos na minha área eu vejo isso. Eu conto nos dedos quem tem CLT, carteira assinada atualmente. No trabalho do hospital, sou pago por uma bolsa. Não sou vinculado. Sou contratado pela FAPEMIG, tanto é que, na real, a FAPEMIG deu autonomia para uma doutora da Faculdade de Medicina escolher quem ela quisesse, mas que depois ela será avaliada. Ela me escolheu. Acho que vai ser um caos o que a gente vai viver em breve. Porque, daqui a pouquinho, coisa de menos de cinco anos, a gente já vai ver um monte de emprego desaparecer. Porque era para gente estar preocupado com esse conhecimento das humanas assim, porque é justamente a lacuna que vai sobrar. Então, não tenho uma visão muito positiva sobre isso, acho que a gente vai viver um caos de várias coisas não fazerem mais sentido, vários tipos de serviço que a gente faz, e um monte de gente vai rodar nessa aí. Acho que é isso, meu retrato é este. A gente vai se virar, se adaptar, a gente é brasileiro. A gente conseguiu passar pela escravidão. Mas é isso, ninguém vai ficar rico, um monte de gente vai morrer mais cedo, muita gente não vai ter aposentadoria e é desse jeito, a gente vai ser feliz, de vez em quando.

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Acácio Silva Ribeiro — 32 years old —

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y first job was at around 2004, as a delivery man, working on my motorcycle and delivering snacks at night and also lunch during the day. In regards to money, it didn’t give me much, because I earned, I think, 500 or 400 reais. It was very little because it was less than part-time. One was at night and the other was lunch time. Of experience I earned little, only driving. I stayed for a year and a half, I think, in this motorcycle business. Then I left because of the necessity of an internship and I passed the selection process. After I did this gig, I did an internship, then I did go back to working on motorcycle again and also by car. After almost dying in an accident many times, I said: “oh no, I will leave this behind, I won’t mess with this again”. I didn’t imagine myself making a career at a company. It was always a simpler job, that gave me money, and after I left it was with the intention of developing in another field, really. I worked at the press office, with advertising and marketing. At this internship I got a camera, so I started to develop photography, I always liked this audiovisual field. I did many sound and light gigs on short films. There was also a period where I worked at a printer, where I would do a bit of everything. Since cutting booklets, leaflets, recording lecture events, editing, everything, I went to do a bit of editing… In regards to future projection, even if sometimes a bit of fear comes along, of saying “darn, maybe it will be all for nothing, huh?”. I do many other gigs too, on the side. For now it’s not possible to live only off of this, right? So, this year only I had a photography exhibition in Jacareí, I have a short film I produced that will be shown in Lorena, in november. Thus, I go on developing the start of a career. In financial terms, it’s not enough yet, but I have some other small developing projects. There is the beer, that I started a few months ago… It was more as a hobby. I think for now, nothing is definitive, but I am doing reasonably well.

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eu primeiro emprego foi por volta de 2004, como motoboy, trabalhando de moto e entregando lanche à noite e almoço também na parte de dia.

Em relação a dinheiro, não me deu muita coisa, porque ganhava, acho, 500 ou 400 reais. Era pouquinho porque era menos que meio expediente. Um era à noite e o outro era horário do almoço. De experiência me deu pouco, só de dirigir. Eu fiquei um ano e meio, acho, nessas de moto. Daí eu saí por causa da necessidade de um estágio e eu passei na seleção.

Acácio Silv — 32 a

Depois que eu fiz esse trampo, fiz estágio, depois eu cheguei a trabalhar de novo de moto e de carro. Depois de quase morrer várias vezes atropelado, eu falei: “a não, vou largar mão, não vou mexer mais com isso”.

a Ribeiro

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Em relação à projeção futura, por mais que às vezes venha um pouco de receio, de falar “putz, talvez não dê em nada, né?”.

Não me imaginava fazendo carreira em empresa. Era sempre mais um trabalho simples, que dava grana, e depois que saí foi com a intenção de desenvolver em outra área mesmo. Trabalhei na assessoria de imprensa, com propaganda e marketing. Nesse estágio eu comprei a câmera fotográfica, daí comecei a desenvolver fotografia, sempre gostei muito dessa parte audiovisual. Fiz bastante bico de som, luz, nos curtas-metragens.

Faço vários outros bicos também, paralelos. Por enquanto não está dando para viver só disso, né? Assim, esse ano só eu tive uma exposição de fotografia em Jacareí, estou com um curta-metragem que eu produzi que vai ser exibido em Lorena, em novembro. Assim, vou desenvolvendo um começo de carreira. Em termos financeiros, não é o suficiente ainda, mas tenho uns outros projetinhos desenvolvendo paralelos.

Teve também um período que trabalhei numa gráfica, onde fazia de um tudo. Desde partir livreto, panfleto, gravava evento de palestra, editava, tudo, ia fazer um pouco de edição…

Tem a cerveja, que comecei há alguns meses… Foi mais como hobbie. Acho que por enquanto nada está definitivo, mas vou indo razoavelmente bem.

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Layla Marques — 32 years old —

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hen I was invited to share how my first job experience was, I went back around 15 years of my life to remember what the sensation of being approved on my first interview was like, of having my first boss, of earning my first salary. I confess that, in doing this reflection, I started to think about the first time I started a new journey in my career. My first opportunity, my first technical internship, my first registered job, my first university internship, my first job as a graduate, my first managing job and my first entrepreneur job.

I started working with a signed contract when I was 17, at an engineering office, as edifications intern. The course I was taking back then. Before that, I had a brief passage as a receptionist at a gym in the city I lived. At 15 I was decided I would do journalism. At 16 I started liking architecture. It was when I went to do a technical course to understand the field better. During the course I still had some doubts, I asked myself what it was I really liked in architecture. Until, on the third semester, still at 17 years old, I was appointed by a friend to do an interview at his sister’s office and I passed. It was a grown-up job. My boss was quite demanding of me, as a professional, and I didn’t know if I was corresponding all that well, but I tried my hardest. It was a job that brought me more responsibility, widened my worldview (because, since I lived in Cotia, I had little life experience outside my town), but mainly it made me realize I wasn’t born for this field. It was through working there that I was sure my professional journey had to be in journalism. I got into college at 18 with an integral scholarship at Mackenzie in the course of my dreams. From then I went on to several first jobs. In my second year of college, I conquered my first internship in the field. At first, selling subscriptions to the Imprensa magazine and, months later, as a reporter at the Portal Imprensa. In this internship, when I sold, I killed it. I loved talking to clients, reaching goals. I was always very committed and organized. But my goal was really to go into the newsroom. That was when an opportunity came along. I did the selection process and was awful. I have the clarity my text was horrible. I remember sending an email asking for

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uando fui convidada a compartilhar como foi minha experiência do primeiro emprego, voltei uns 15 anos da minha vida para me lembrar qual foi a sensação de ter sido aprovada na primeira entrevista, de ter minha primeira chefe, de ganhar meu primeiro salário. Confesso que, ao fazer essa reflexão, comecei a pensar sobre a primeira vez que iniciei uma jornada nova na minha carreira. Minha primeira oportunidade, meu primeiro estágio técnico, meu primeiro emprego registrado, meu primeiro estágio universitário, meu primeiro emprego formada, meu primeiro emprego gerencial e meu primeiro emprego empreendedor. Comecei a trabalhar com registro na carteira aos 17 anos, em um escritório de engenharia, como estagiária de edificações. Curso que eu fazia na época. Antes disso, tive uma passagem breve como recepcionista em uma academia na cidade em que morava.

Layla Mar ques — 32 ano

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pregos. No segundo ano de graduação, conquistei meu primeiro estágio na área. No começo, vendendo assinatura da Revista Imprensa e, meses depois, como repórter no Portal Imprensa. Nesse estágio, quando vendia eu arrasava. Adorava conversar com os clientes, atingir metas. Sempre fui muito comprometida e organizada. Mas meu alvo era mesmo ir para a redação. Foi quando surgiu uma oportunidade. Fiz o processo seletivo e fui péssima. Tenho clareza que meu texto estava horrível. Lembro de mandar um e-mail pedindo uma nova chance. E funcionou. O editor disse que, pelo meu empenho na outra área, eles me dariam uma oportunidade e me treinaram. Bingo! Foi ao mesmo tempo que incrível, dificílimo. Entre erros e acertos, produzi muitos conteúdos para o portal até rumar para novos desafios.

Aos 15 anos eu estava decidida que faria Jornalismo. Aos 16 comecei a gostar de arquitetura. Foi quando fui fazer um curso técnico para entender melhor da área. Durante o curso ainda tinha algumas dúvidas, me perguntava o que de fato na arquitetura eu gostava. Até que, no terceiro semestre, ainda com 17 anos, fui indicada por um amigo para fazer uma entrevista no escritório da irmã dele e passei. Foi um trabalho de gente grande. Minha chefe me exigia bastante, como uma profissional, e eu não sabia se estava correspondendo tão bem, mas me esforçava ao máximo. Foi um emprego que me trouxe mais responsabilidade, ampliou minha visão de mundo (pois, como eu morava em Cotia, tinha pouca vivência fora da minha cidade), mas principalmente me fez perceber que eu não nasci para esta área. Foi trabalhando lá que tive certeza que minha jornada profissional teria que ser no jornalismo.

Fui trabalhar em uma editora de anuários como temporário, até ingressar em uma grande editora na época: a Símbolo. Fui estagiária repórter de lá por um longo período e, após um mês de formada, assumi como editora chefe de uma revista da casa. A revista Mulher Executiva. Entrevistei profissionais incríveis, empresárias, empreendedoras e, aos

Entrei aos 18 anos na faculdade com uma bolsa de estudos integral no Mackenzie no curso dos meus sonhos. A partir daí parti para vários primeiros em-

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a new chance. And it worked. The editor said that, because of my effort in the other field, they would give me an opportunity and they trained me. Bingo! It was at the same time amazing and extremely hard. Between hits and misses, I produced a lot of content for the portal until I headed towards new challenges.

ing the floor and tables, attending at the cash register and managing a whole store (from opening to closing time). An experience that maybe other managers have had through 10 or 15 years. And I, at 24, was already managing a team of over 50 people, a company that earned almost R$ 400 thousand a month and with grown-up responsibilities.

I went to work for a yearbook editor as a temp, until I entered a big editor at the time: Símbolo. I was a reporter intern there for a long time and, a month after graduating, I took over as editor in chief of a magazine of the company. The Mulher Executiva magazine.

When I looked at McDonald’s, for the first time I projected myself growing inside a company. Among my journey possibilities, I really wanted to be a HR consultant (that’s the size of my love for developing people) or working in the communication and marketing field.

I interviewed amazing professionals, business women, entrepreneurs and, at 22 years old, I projected myself onto many of their stories. I had one certainty: I would either be the owner of a business or an executive for a big company.

But I had a different path. Because of health reasons and some circumstances of the position I had taken on, I left McDonald’s. A month later, I opened my first business. My communication agency. There my entrepreneurship story began.

That was when one of the executives I met at an interview offered me an opportunity to work in the field of communication of the sales field she managed, Ticket Serviços. I was a part of the process, I passed and I migrated from journalism to communication. It was a very good opportunity, financially and as an experience.

During six months at the head of my company, I took on projects for big companies, employed many professionals and acquired many experiences. At the same time, in 2016, I created a social project called Encontro Educa, that helps youths in their professional choice process. My dream is to help every youth in Brazil to make more assertive choices and to be more fulfilled in their careers.

I left there close to completing a year because of a restructuration in the field. A shame! But, at the same time, an opportunity for me to live one of the most transformative experiences of my life.

The project went on taking shape, and over 6 thousand youths have been impacted by it, in more than 8 cities, among them Cotia, Vargem Grande Paulista and Barueri.

In august that year I participated in one of the most competitive selective processes of my life. 16 thousand candidates. 37 openings. 5 in São Paulo. 5 months of process, 9 stages (that I counted). And I was one of the chosen ones.

In 2018, we became a startup and are heading towards reaching even more youths with our project. Last year, in fact, we had the opportunity to count with the participation of Paulo Camargo, the president of McDonald’s, at our event. It was special.

I was selected to be a McDonald’s trainee. The last company I ever pictured myself working for in my life, but the one that best prepared me to be the manager I am today.

About the future of professions, a lot is being said about the professions of the future, that will be generated and also those that will cease to exist because of automation, of technology. I believe we are already living the future of professions. We already see a significant behavioural shift in the job market, in which the professional that has socio economic skills, that knows about technology and that knows how to reinvent themselves, will have a long life. Depending on the acting field, there are more or less risks. To me, the mission remains to tell more and more, and urgently, to people (especially the youths) that it is needed, other than acquiring new knowledges, to develop new skills, to broaden your vision for opportunities and to have a lot, really a lot, of resilience.

During 9 months I was prepared to take on the management of a store. The question that they asked me (and I confess I sometimes asked myself, too), is what was a journalist doing at McDonald’s? My answer. I came for the opportunity to develop and exercise abilities that maybe I wouldn’t have in another company. I would have a team of youths to inspire. A salary not even both my parents combined earned at the time. Professionals in love with that they do and full of willingness to teach me. I studied at Hamburger University, I visited the bread and meat factories, I acted in all areas of the restaurant, from receiving the products, frying french fries, clean-

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22 anos, me projetava na história de muitas delas. Tinha uma certeza: ou seria dona de um negócio ou executiva em uma grande empresa.

Quando eu olhava para o McDonald’s, pela primeira vez me projetei crescer em uma empresa. Dentre as minhas possibilidades de jornada, queria muito ser consultora de RH (tamanho meu amor por desenvolver pessoas) ou trabalhar na área de comunicação e marketing. Mas tive outro rumo. Por questões de saúde e algumas circunstâncias na posição que eu assumi, sai do McDonald’s. Um mês depois, abri meu primeiro negócio. Minha agência de comunicação. Começou ali minha história empreendedora.

Foi quando uma das executivas que conheci na revista me ofereceu uma oportunidade para trabalhar na área de comunicação da área de vendas que gerenciava, a Ticket Serviços. Participei do processo, passei e migrei do jornalismo para a comunicação. Foi uma oportunidade muito boa, financeiramente e de experiência. Sai de lá perto de completar um ano por causa de uma reestruturação na área. Uma pena! Mas, ao mesmo tempo, uma oportunidade para eu viver uma das experiências mais transformadoras da minha vida.

Durante seis anos à frente da minha agência, toquei projetos de grandes empresas, empreguei muitos profissionais e adquiri muitas experiências. Paralelamente, em 2016, criei um projeto social chamado Encontro Educa, que ajuda jovens no processo de escolha profissional. Meu sonho é ajudar todos os jovens do Brasil a fazerem escolhas mais assertivas e a serem mais realizados em suas carreiras. O projeto foi tomando forma, e já foram impactados mais de 6 mil jovens, de mais de 8 cidades, entre elas Cotia, Vargem Grande Paulista e Barueri.

Em agosto daquele ano participei de um dos processos seletivos mais concorridos da minha vida. 16 mil candidatos. 37 vagas. 5 em São Paulo. 5 meses de processo, 9 etapas (que eu contei). E eu fui uma das escolhidas. Fui selecionada para ser trainee do McDonald’s. A última empresa que eu imaginava trabalhar na vida, mas a que melhor me preparou para ser a gestora que sou hoje. Durante 9 meses fui preparada para assumir a gestão de uma loja. A pergunta que me faziam (e confesso que as vezes eu também a mim), é o que uma jornalista estava fazendo no McDonald’s? Minha resposta. Eu vim pela oportunidade de desenvolver e exercer habilidades que talvez eu não tivesse em outra empresa Eu teria uma equipe de jovens para inspirar. Um salário que nem meus pais juntos ganhavam na época. Profissionais apaixonados pelo que fazem e cheios de vontade de me ensinar.

Em 2018, nos tornamos uma startup e estamos caminhando para alcançar ainda mais jovens com nosso projeto. Ano passado, inclusive, tivemos a oportunidade de contar com a participação do Paulo Camargo, presidente do McDonald’s, em nosso evento. Foi especial. Sobre o futuro das profissões, muito tem se falado sobre as profissões do futuro, que serão geradas e também as que deixarão de existir por conta da automação, da tecnologia. Acredito que já estamos vivendo o futuro das profissões. Já vemos uma mudança de comportamento significativa no mercado de trabalho, em que o profissional que tem habilidades socioemocionais, que entende de tecnologia e que sabe se reinventar, terá vida longa. A depender da área de atuação, há mais ou menos riscos. Para mim, fica a missão de contar cada vez mais e urgentemente para as pessoas (principalmente aos jovens) que é preciso, além de adquirir novos conhecimentos, desenvolver novas habilidades, ampliar a visão para as oportunidades e ter muita, mais muita resiliência.

Estudei na Universidade do Hambúrguer, visitei a fábrica de pães e carne, atuei em todas as áreas do restaurante, de fazer o recebimento dos produtos, fritar batatas, limpar o chão e mesas, atender no caixa a gerenciar uma loja inteira (da abertura ao fechamento). Uma experiência que talvez outros gerentes tenham tido ao longo de 10 ou 15 anos. E eu, aos 24 anos, já gerenciava uma equipe com mais de 50 pessoas, uma empresa que faturava quase R$ 400 mil por mês e uma responsabilidade de gente grande.

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20 10 DÉCADA DE

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Década de 2010

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m 2011, foi empossada como presidente da República do Brasil, Dilma Vana Rousseff. O período é marcado como um fato histórico, pois representa a primeira vez que uma mulher assu­ miu a Presidência da República no Brasil.

Nos primeiros meses de governo, Dilma contrariou a vontade de setores do próprio partido de regulamentar a imprensa e declarou que “a imprensa livre é imprescindível para a democracia”. No ano de 2013, em meio a uma acelerada da inflação, o aumento da tarifa dos transportes públicos em São Paulo serviu de estopim para uma irrupção de protestos em todas as grandes cidades do Brasil. Foi também o ano da abdicação do papa Bento XVI. Para ocupar o seu lugar, é eleito o Papa Francisco. Até então o papa mais inovador e que conquistou o coração do povo, mesmo os não católicos, com suas posições mais avançadas em termos de costumes e o acolhi­ mento de grupos antes nunca aceitos pela igreja, incluindo os refu­ giados e os LGBTs. O primeiro governo Dilma Rousseff deu continuidade a política do governo antecessor de Luís Inácio Lula da Silva. Desse modo, foram mantidos os programas de assistência social como “Bolsa Família” e “Minha Casa, minha vida”. Economicamente, a pauta neolibe­ ral continuou sendo adotada. Os problemas sociais do país foram incumbidos à iniciativa privada, por meio de programas que inves­ tiam dinheiro público no setor privado (“Minha casa, minha vida”, “Pro-uni”, dentre outros).

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The 2010’s

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n 2011, Dilma Vana Rousseff, took office as the president of the Republic of Brazil. The period is regarded as a historical fact, because it represents the first time that a woman rose to the Presidency of the Republic in Brazil.

cal one. The crisis aggravated, above all, because the Dilma administration agenda wasn’t supported by the National Congress. After a great battle in the electoral campaigns, in the year of 2014, the President of Brazil, Dilma Rousseff, is reelected to administer her second mandate, caus­ ing great indignation to the PSDB party candidate, Aécio Neves, that was left unsatisfied by the result of the elections, and headed a grave political crisis that lead to the impeachment of the president Dilma, leaving the vice-president Michel Temer to take office. During this administration, in july of 2017, the labour reform was approved, which altered over 100 points of the CLT (Consolidação das Leis do Trabalho - Consolidation of the Labour Laws).

In the first months of her administration, Dilma went against the will of some sections of her own party to regulate the press and declared that “the free press is indispensable for democracy”. In the year of 2013, in the midst of an acceleration of the inflation, the rise in the public transport fares in São Paulo ignited an eruption of protests in all the major cities of Brazil. It was also the year of the abdication of the pope Benedict XVI. To take his place, the pope Francis. Until now, the most innovative pope and that con­ quered the heart of the people, even the non-catho­ lics, with his more advanced positions in terms of the custom and the welcoming of groups never before accepted by the church, such as refugees and LGBT peoples.

The changes define the prevalence of conven­ tions and collective accords about laws in different aspects, flexibilization of the working day and work­ ing regime and altered judicial processes. The proposal divided opinions and created opposi­ tion between employers and employees, just as syn­ dical entities. In this way, there was a national split where the elites and middle classes were directly opposing the Labour party, birthing the anti-PTism and Car Wash operation. The Car Wash opera­ tion is a set of investigations in course through the Federal Police of Brazil, that fulfilled more than a thousand search and apprehension warrants, of temporary and preventive incarceration and of “condução coercitiva” mandates, that aimed to ascertain a money laundering scheme that moved billions of reais in bribe. In april 2018, the ex-presi­ dent Luiz Inácio Lula da Silva is arrested due to sup­ posed passive corruption, deepening the political crisis that created a rift separating Brazil into two opposite political currents, one more on the neolib­ eral left, represented by the PT candidate Fernando Haddad, and the resurfacing of a radical right that configured after the election of American pres­ ident Donald Trump. The winner of the electoral race was the former military captain Jair Bolsonaro, with strong support by the Pentecostal Churches. Among the most prominent campaign promises are the return of moral customs, the censoring of art, education and culture. Among his campaign proj­ ects is the Welfare Reform and public security.

The first Dilma Rousseff administration gave con­ tinuity to the politics of Luís Inácio Lula da Silva’s previous administration. Therefore, social assistance programs such as “Bolsa Família” (Family allow­ ance) and “Minha Casa, Minha Vida” (My house, my life) were maintained. Economically, the neoliberal agenda continued to be adopted. The private ini­ tiative became responsible for the country’s social issues, by programs which invested public money into the private segment “Minha casa, minha vida”, “Pro-uni”, among others). When Dilma became president there was a strong global economic recession, which also affected the national economy. Trying to reverse this cri­ sis, investments in the country’s infrastructure increased through the Growth Acceleration Program (“Programa de Aceleração do Crescimento 2”, PAC 2), in 2011. As the European Union countries and the United States were in crisis, the government resorted to the continuity of extending commerce with China and Latin American countries. Interest rates were reduced, easing the credit for companies and private individuals. These measures, however, did not hold the economic crisis, leading to a politi­

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Quando Dilma assumiu a presidência havia forte recessão econômica mundial, que também atingiu a economia nacional. Tentando reverter essa crise, aumentou os investimentos na infraestrutura do país por meio do Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC 2), em 2011. Como os países da União Europeia e Estados Unidos estavam em crise, recorreu-se à continuidade de estender comércio com países da América Latina e a China. As taxas de juros foram reduzidas, facili­ tando o crédito para as empresas e pes­ soas físicas. Essas medidas, no entanto, não contiveram a crise econômica, que acarretou em uma crise política. A crise se avultou, sobretudo, porque o governo Dilma não conseguiu apoio às pautas propostas no Congresso Nacional.

jornada e regime de trabalho e alterou processos judiciais. A proposta dividiu opiniões e colocou em lados opostos patrões e emprega­ dos, assim como entidades sindicais. Da mesma forma, houve um racha nacio­ nal colocando em oposição as elites e classes médias contra o partido dos Trabalhadores, Nasce o antipetismo e a Lava Jato. A Operação Lava Jato é um conjunto de investigações em andamento pela Polícia Federal do Brasil, que cum­ priu mais de mil mandados de busca e apreensão, de prisão temporária, de prisão preventiva e de condução coer­ citiva, visando apurar um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou bilhões de reais em propina. Em abril de 2018, o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva é preso por suposi­ ção de corrupção passiva aumentando a crise política que separa o Brasil em duas correntes políticas opostas uma mais à esquerda neoliberal representada pelo candidato do PT, Fernando Haddad e pelo ressurgimento de uma direita radical que se configurou após a eleição do pre­ sidente americano Donald Trump. Vence o pleito eleitoral brasileiro o Ex. Capitão militar Jair Bolsonora com forte apoio das igrejas Pentecostais. Entre as pro­ messas de governo destaca-se a volta dos bons costumes morais, a censura a arte, educação e cultura. Entre seus projetos de campanha está a Reforma da Previdência e a segurança pública.

Após grande batalha nas campanhas elei­ torais, no ano 2014, a presidenta do Brasil, Dilma Rousseff é reeleita para cumprir seu segundo mandato, causando grande indignação ao candidato do PSDB Aécio Neves, que insatisfeito com o resultado das eleições lidera dos bastidores uma grave crise política que leva ao Impeachment da presidenta Dilma, assumindo governo o vice-presidente Michel Temer. Neste governo é aprovada em julho de 2017, a reforma trabalhista, que alterou mais de 100 pontos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). As mudanças definem a prevalência de convenções e acordos coletivos sobre leis em diversos aspectos, flexibilização da

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Jodilson Moreira — 28 years old —

I

had many first jobs. I even worked with my father, when I was 17, 18 years old, but that doesn’t count as much. At 20, that was when me and some friends - the Maria Objetiva - I think that is my first job, that was what eventually started yielding me my first income. Before I already did some things as a photographer, but Maria Objetiva was around 2011 or 2012, so I was around 20 or 21 years old.

Maria Objetiva started as a facebook group called Rolê Fotográfico. Maria Objetiva was made like it was a control axis of this group. Then eventually we started taking some small photography and audiovisual jobs. We gained quite a bit of projection when the 2013 demonstrations broke out. It was really quite a bit of of projection. I think because of the loose structure with which we worked and such, we never got to being financially viable. But we started suffering some defaults, that were very unpleasant, and finally we suffered a very significant default, that hasn’t been paid to this day, but it’s okay. It was around the same time I decided to change careers. I was 24 and wanted to aim my career at a direction that would get me some money. So at this time I took a postgraduate course in marketing that was very much a professional repositioning. I met lots of people, learned some things, learned some ways of thinking that weren’t very frequent during the Maria Objetiva times. During my postgraduate course, a friend asked me to work with her, a small thing, something like three hours a day at the restaurant she had Downtown and I stayed there working with her. I basically handled the social media, a little internal communication and advertisements. Until I sent a curriculum to a university here in Belo Horizonte, that I honestly didn’t even know, and I wasn’t really caring much for this position because the pay was higher than what I was used to getting offered - they just said “okay, you’re hired”. I kept on working on the communication and marketing of this company, a university. I stayed there for almost a year. My title was of marketing supervisor, but I technically didn’t supervise anyone, because all the people in my department were also supervisors. But six months later I found out it was a slightly reputable company. And I went on studying a lot during this period. I would study SEO (Search Engine Optimization) a lot, it was something I really liked doing. So I started sending

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T

ive vários primeiros empregos. Cheguei a trabalhar com meu pai, com 17, 18 anos, mas isso não conta tanto. Com 20 anos, foi quando eu e alguns amigos - o Maria Objetiva - acho que esse é meu primeiro emprego, que foi o que eventualmente começou a me dar minha primeira renda. Antes eu já fazia algumas coisas como fotógrafo, mas o Maria Objetiva foi em 2011 ou 2012, então eu tinha entre 20 e 21 anos.

O Maria Objetiva começou com um grupo no Facebook chamado Rolê Fotográfico. Aí eventualmente começamos a pegar alguns pequenos trabalhos de fotografia e audiovisual. Nós ganhamos bastante projeção quando apareceram as manifestações de 2013. Foi bastante projeção mesmo. Eu acho que por causa da pouca estrutura com a qual trabalhávamos e tudo mais, nunca conseguimos ser financeiramente viáveis. Mas começamos a tomar uns calotes, que foram bem desagradáveis.

Jodilson M o — 28 a

reira

nos —

do meu departamento também eram supervisoras. Só que seis meses depois eu descobri que era uma empresa pouco idônea. Ficava estudando muito SEO, que era um negócio que eu gostava muito de fazer. Comecei a mandar currículo e fui chamado para uma empresa. Estava num pique muito grande, saía de lá duas horas da manhã. Foi ótimo, só que o produto não vendia direito e foi minha primeira experiência com o fracasso em um trabalho.

Foi na mesma época que resolvi mudar de carreira. Já estava com 24 anos e queria apontar minha carreira para um lado que me daria algum dinheiro. Aí nessa época eu fiz uma pós-graduação em marketing. Conheci muita gente, aprendi algumas coisas, aprendi alguns modos de pensar que não eram muito frequentes na época do Maria Objetiva. Depois, uma amiga me chamou para trabalhar com ela, coisa pequena, tipo três horas por dia no restaurante que ela tinha no Centro. Fazia basicamente redes sociais, um pouco de comunicação interna e anúncios. Até que mandei um currículo para uma universidade aqui de Belo Horizonte, que eu sinceramente nem conhecia, e eu não estava dando muita bola para essa vaga porque o salário era mais alto do que costumavam me oferecer – eles só falaram “beleza, está contratado”.

Por fim, pedi para sair da empresa, porque eu estava ficando sobrecarregado, eu estava me sentindo meio que abusado. Mais tarde, fui chamado por uma agência pequena. Lá eu cheguei para fazer mídia, bem menos do que eu fazia nessa outra empresa. Pela primeira vez eles falaram: “que legal seu trabalho. Parabéns, seu trabalho está bacana”. Fiquei nessa agência dois meses. Um amigo da pós-graduação perguntou se eu não queria trabalhar com ele. Já era uma agência maior, com um cliente legal e com um salário bem superior. Aí eu falei que queria e pedi para sair dessa agência menor.

Eu fiquei lá quase um ano. Meu título era supervisor de marketing, só que eu não supervisionava tecnicamente ninguém, porque todas as pessoas

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out resumes and I was called to join a company, I didn’t know much, but since I was already after more “modern” ways to work.

still will, so selling is one thing, one item, one unit, it’s very nice to plan and have your own business; it’s nice because I can tread down any path I want, without having anybody to complain they didn’t like the processes this or that way. That’s sort of it. And it’s nice because I can stay there planning my personal projects while I sell beer, and then I can do things that don’t yield me money, and take some money out from the beer.

In the end, I asked to leave the company, because I was feeling overloaded, I was feeling sort of abused. Later, I was called by a small agency. There I arrived to do meida, a lot less than what I did at this other company.For the first time they said: “how nice, your work. Congratulations, your work is very nice”. I stayed at this agency for two months, I had vacations already planned. During these vacations, a friend from post-grad asked me whether I wanted to work with him. It was already a bigger company, with a nice client and a far superior pay. So I told him I wanted to and asked to leave this smaller agency.

It depends on the kind of work we’re talking about. Working in advertising, I imagine it having more interferences in different stages of the automatizations process and artificial intelligence, as a support tool, analysts and content producers, of creatives. I think that’s spectacular. In my work it is also a lot about the production of systems to automate things, and I like doing internal systems, to make this sort of analysis, this tool part. Explaining, you don’t need to stay there and do the boring, repetitive process, you let a system do it for you and you won’t be sad at your job, so you get the most fun part.

At this same time, a friend of mine that worked in another agency called me to go there. But I didn’t know I was already fired, I only knew he had been disappointed in me. This friend was from this agency, left and went to another agency. Then he went and called me. I went through the selection process and I passed, and they offered me a salary that was good, but could be better, according to the market.

Advertising today is a lot about doing small things, tests and so on. Either you don’t need to look over thirty spreadsheets each ten thousand lines long, you can run a system to update you on what they’re telling you. So I think this is really nice, there are lots of people who are afraid of artificial intelligence, but those who have really worked with artificial intelligence, that roughly know what it is, knows that it is more of a tool than a replacement. There are people who really are going to be substituted. But for most it’s a tool, and it’s really great tools. It is a lot of things that humans do and that they shouldn’t be doing anymore. You can speed a lot of processes up, make things a lot more efficient, leaving people to waste less time on things that mean nothing, that say nothing about their work. It’s just a repetition work, of volume analysis of each thing, or of creation of a non-ideal volume of things, so I think advertising is going to go down a path similar to this. And I think agencies desperately need to revise the way they work, exactly so that they aren’t swallowed up by the startups, that is something that is happening a lot here in Belo Horizonte. Currently, in Belo Horizonte, it’s the agencies losing their people to the startup, that offers them more fun jobs, higher pay, better work conditions, while at the agencies there is still this idea of a more precarious work. I’ve never worked at a startup, I don’t know, it seems to me, I hope, that the harassment situations are fewer. It is very recurring in advertising agencies. So I think that agencies need to update themselves a lot in order not to lose people, and, further down the line, clients. Because nothing stops the creation of advertising startups that are effectively agencies.

I got to the other agency already in a leading role, for the first time. It was a big agency, very big, one of the main ones in Minas. But within a month and a half of agency they restructured all the departments, and my friend, whom was also a department leader, left. I had some money saved, I am going to open a beverage deposit. I already had a date to leave the agency, to resign and go take care of the beverages business. I had already rented the space but, when I was leaving, that old boss I liked came up and said: “will you come work for me?”. I said: “I just rented a space to have a beverage deposit”. And him: “Oh no, you can work less and tell me how much you want to earn”. So I went and stated my salary, with around thirty-five percent more. And he accepted. So I work there halftime and I opened the beverage deposit, I’m working there half-time, and thursday, friday, saturday and sunday I open the deposit, too, and go on selling beer. Currently I work with data. With data registration, and process optimization. Half of my day is programming and the other half is doing pannells and organizing spreadsheets. It’s three things I love doing. And I find it nice, like, I was very glad I made this last job swap. Drinks is a business that I’ve had as an idea for some time. Still in the Maria Objetiva days, I had a project with a friend to open a bar. The bar didn’t happen, maybe it

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Nessa mesma época um amigo que trabalhava em outra agência me chamou para ir para lá Fiz o processo seletivo e passei, e me ofereceram um salário que era bom, mas poderia ser melhor, de acordo com o mercado.

no seu trabalho, para você ficar com a parte mais divertida. Então acho que é bem legal isso, tem muita gente com medo de inteligência artificial, mas quem já realmente trabalhou com inteligência artificial, sabe que é mais uma ferramenta do que um substituto. Tem gente que vai ser substituto mesmo. Mas para a maioria é ferramenta, e são ótimas ferramentas. É muita coisa que o ser humano faz e que não deveria mais estar fazendo. Você consegue agilizar muito mais processos, deixar as coisas muito mais eficientes, deixar a pessoa gastando menos tempo com coisas que não significam nada, não falam nada sobre o trabalho dela. É só um trabalho de repetição, de análise de um volume de coisa, ou de criação de um volume não ideal de coisas.

Cheguei na outra agência já com um cargo de liderança, pela primeira vez. Era uma agência grande, bem grande, uma das principais de Minas. Só que com um mês e meio de agência eles reestruturaram todos os departamentos, e o meu colega, que também era líder de departamentos, saiu. Estava com um dinheirinho guardado, vou abrir um depósito de bebidas. Já estava com data para sair da agência, para pedir demissão e ir cuidar do negócio de bebidas. Já tinha alugado o ponto, só que, quando eu estava saindo, aquele antigo chefe que eu gostava foi e falou: “vem trabalhar comigo?”. Falei: “acabei de alugar um ponto para ter um depósito de bebidas”. E ele: “a não, você pode trabalhar menos e me fala quanto você quer ganhar”.

E eu acho que as agências precisam desesperadamente revisar o modo como elas funcionam, exatamente para não serem engolidas pelas startups, que é uma coisa que tá acontecendo muito. São agências perdendo pessoal para startup, que oferece empregos mais divertidos, salários maiores, condições de trabalho melhores, enquanto na agência tem muito ainda essa ideia de um trabalho mais precário. Eu nunca trabalhei em startup, eu não sei, me parece que as situações de assédio sejam menores. É muito recorrente em agência de publicidade. Então eu acho que as agências precisam se atualizar bastante para não perderem pessoa, e, mais para frente, clientes. Porque nada impede a criação de startups de publicidade que sejam efetivamente agências.

Atualmente eu trabalho com dados. Com cadastro de dados, e otimização de processos. Metade do meu dia é programando e a outra metade é fazendo painéis e organizando planilhas. São três coisas que eu gosto muito de fazer. Fiquei bem feliz de ter feito essa última mudança de emprego. Meu trabalho também é muito sobre produção de sistemas que automatizam coisas, e eu gosto de fazer sistemas internos, para fazer esse tipo de análise, essa parte de ferramentas. Explicando, você não precisa ficar fazendo o processo repetitivo e chato, deixa eu fazer um sistema para você não ficar triste

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Fernanda Campos — 21 years old —

M

y name is Fernanda, I started working at the CCBB at the age of 18, as an event receptionist. It was very good, so, I started saving money from the beginning and I kept taking courses, because it was a job that I knew that I would not stay long. I learned a lot. I was always shy, so at CCBB I started to learn to separate professional life from private life a little, to talk to people and approach people. When you are a receptionist you have to approach people all the time and it is not easy for those who are shy at first, but it is so good to know that you will have a salary. So I had to face people. I think that was the biggest challenge, having to speak up, showing confidence to people. When you approach the person, you have to have some confidence. I was nine months as a receptionist. Then I had to leave because the college was all day. Then I started teaching the child on Saturdays. So, I didn’t run out of money, it was easy, but it was not the same thing as having a salary every month. I think that all experience in the field of work is very, very important, because you learn so much good and also other bad things, which brings life experience. I think, it was unforgettable. As much as we don’t see these people again, even if we don’t see them, you will never forget, they will always be part of that and the person will be part of your life too. It is really a social construction, within a small space. Every step you take in a place, you make a lot of contact. I have colleagues who think that any relationship we had could influence our next job and some people in here, who grow up in the area. I think it may be that somebody recognizes what I did, someday and going somewhere else, or even here in another area, as in the educational area, for example, to remember me. What I’m focusing on right now, is to continue teaching, there’s no other way, I can’t do nothing. I am in no condition to maintain myself without working. But, I think about having a more authorial work. I will continue teaching, I think of another type of class, for older people, for other classes, for various social classes, for various types of people. Class helps a lot those who are autonomous because in this function, whether they like it or not, however little, we have something to pass that the other does not know. It is necessary to escape a little from this forced capitalism in which we have to have a place that will “stabilize”, we are at risk in everything, we are never stable, and even those who are stable in some ways, feel unstable, it is part of being unstable. I had to leave CCBB, where I keep a lot of affection, because I need to have more focused and better paid plans, finish college and grow. I still have a lot to live for.

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M

eu nome é Fernanda, tenho 21 anos e comecei a trabalhar com 18 anos no CCBB, como recepcionista de eventos. Foi muito bom, assim, eu comecei a guardar dinheiro desde o princípio e continuei fazendo curso, porque era um emprego que eu sabia no qual eu não iria ficar muito tempo. Eu aprendi muita coisa. Eu sempre fui tímida, então no CCBB eu comecei a aprender a separar um pouco a vida profissional da vida particular, a conversar com pessoas e abordar pessoas. Quando você é recepcionista tem que abordar pessoas o tempo inteiro e não é fácil pra quem é tímido num primeiro momento, mas é tão bom você saber que você vai ter um salário.

Fernanda C — 21 a

Tive então que encarar pessoas. Acho que esse foi o maior desafio, de ter que falar alto, mostrar confiança para as pessoas. Quando você aborda a pessoa, você tem que ter alguma confiança. Fiquei nove meses como recepcionista. Depois tive que largar pois a faculdade era o dia inteiro. Em seguida eu comecei a dar aula pra criança, aos sábados. Assim, não fiquei sem dinheiro, foi tranquilo, mas não era a mesma coisa que ter um salário todo mês.

ampos

nos —

o que eu fiz, algum dia e indo pra outro lugar, ou até mesmo aqui dentro em outra área, como no educativo por exemplo, se lembrar de mim. O que eu estou focando mesmo agora, é continuar a dar aula, não tem outro jeito, eu não posso ficar sem fazer nada. Não tenho condição de me manter sem estar trabalhando. Mas, eu penso em ter um trabalho mais autoral. Eu vou continuar dando aula, penso em outro tipo de aula, pra pessoas mais velhas, para outras classes, para várias classes sociais, para vários tipos de pessoa. Aula ajuda muito quem é autônomo porque nessa função, querendo ou não, por mais que seja pouco, a gente tem alguma coisa pra passar que o outro não sabe. É preciso fugir um pouco desse capitalismo forçado no qual a gente tem que ter um lugar que vai se “estabilizar”, a gente corre risco em tudo, a gente nunca está estável, e até quem está estável em alguns sentidos, se sente instável, faz parte ser instável. Tive que sair do CCBB, de onde guardo muito carinho, porque preciso ter planos mais focados e mais bem remunerados, terminar a faculdade e crescer. Ainda tenho muito a viver.

Eu acho que toda a experiência no campo de trabalho, é muito, muito importante, porque você aprende tanta coisa boa e também outras ruins, o que traz experiência de vida. Eu acho que, foi inesquecível. Por mais que a gente não veja essas pessoas novamente, mesmo se não for ver, você nunca vai esquecer, sempre fará parte daquilo e a pessoa fará parte da sua vida também. É uma construção social mesmo, dentro de um espaço pequeno. Cada passo que você dá num lugar, assim, você faz muito contato. Eu tenho colegas que pensam que qualquer relação que a gente tivesse podia influenciar no próximo emprego e algumas pessoas aqui dentro, que crescem na própria área. Eu acho que pode ser que aconteça de alguém reconhecer

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Isadora Boerger — 25 years old —

M

y first job was with my father, at the rental company, when I was 16 years old. When I was 17 years old, I got into a clothing store which was my first job outside of my family. I had already done some work with my mother, too. But I always sold costume jewelry, I sold it at my preparatory course for the entrance exams, in the time before university, I sold it at school. Afterwards I sold homemade sweets, too. So, at 17 years old, I had my first salesperson job, at Nobres Pecadores, a clothing store. One day I went downtown, bought a showcase, bought lots of costume jewelry and went to sell it at school. This way I was already remunerated by myself. It was when I got into Nobres Pecadores, as a salesperson, a little before christmas, I worked up until christmas. When christmas was over, I travelled. I resigned and didn’t work there anymore. When I was back from vacation, I started working as a waiter. I got in at Café Belas Artes. I worked for 9 months at the café as a waiter and I took some freelance work elsewhere, but I worked more at Belas, really. After Café Belas Artes, I was proposed an internship at the DCE (Diretório Central dos Estudantes - Central Directory of Students) at PUC (Pontifícia Universidade Católica). It was my first internship. So I got in and stayed at the DCE for 6 months and I did a bit of everything: I assisted the students, organized events, organized the minutes, it was a bit of everything and I liked it. I left the DCE and went to do a freelance job at Bar Tender, that produced big concerts and I did many parties at Bar Tender, as attendant. After a long time, I started working the bar at Chevrolet Hall (currently named KMdeVantagens Hall), I stayed there for 8 months. I did many freelance waitress jobs, at Bucanero, I worked at Cefé com Letras, at CCBB, and so I kept on working at a waiter for some time. Then I went to Australia. In Australia I started looking for work and seeing my friends were earning very little to work as waiters, as attendants at Kebab shops. I started seeing that the town was very touristic and I had a massage course and so I tried, I saw a holistic therapy clinic that was amazing and resolved I wanted to work there. So I went there like 3, 4 times, and I always heard no. In the fifth time I went the owner said: “she really wants to work here”. Then she said: “I’m giving you a chance”. I did an interview, a test and she let me work there. Before I went to Australia, I

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M

eu primeiro emprego foi com meu pai, na locadora, quando eu tinha 16 anos. Quando eu tinha 17 anos eu entrei numa loja de roupa que foi meu primeiro emprego fora de família. Eu já tinha feito alguns trabalhos com minha mãe também. Mas sempre vendi bijuteria, vendi no cursinho, na época pré-faculdade, vendi na escola. Depois vendi brigadeiro também. Assim, com 17 anos eu tive meu primeiro emprego de vendedora, na Nobres Pecadores, na loja de roupas. Um dia eu fui ao centro da cidade, comprei um mostruário, comprei muita bijuteria e fui vender na escola. Assim eu já era remunerada por mim mesma. Foi quando eu entrei na Nobres Pecadores, de vendedora, um pouquinho antes do Natal, trabalhei até o Natal. Terminou o Natal, eu viajei. Pedi demissão e não trabalhei mais lá. Quando eu voltei de férias, comecei a trabalhar de garçonete. Entrei no Café Belas Artes. Trabalhei 9 meses no café de garçonete e pegava uns freelances em outros lugares, mas era mais no Belas mesmo.

Isadora Bo — 25 a

erger

nos —

turística e eu tinha um curso de massagem e aí eu tentei, eu vi uma clínica de terapia holística que era maravilhosa e resolvi que queria trabalhar lá. Aí fui lá 3, 4 vezes e ouvia sempre não. Na quinta vez que eu fui, a dona falou assim: “ela quer muito trabalhar aqui”. Aí ela falou: “vou te dar uma chance”. Fiz uma entrevista, um teste e ela deixou eu trabalhar lá. Antes de eu ir pra Austrália, eu tinha feito vários ímãs de geladeira: tinha impresso as imagens, comprado o tapete de ímã, cortado e tal, e estava na praia vendendo, na escola, e era ótimo porque eu tinha gastado $ 0,80 para fazer cada ímã e vendia cada um por $ 3,00. Era um lucro de 400%. Eu vendia ímã de geladeira e fazia massagem.

Depois do Café Belas Artes, me propuseram um estágio no DCE da PUC. Foi meu primeiro estágio. Aí eu entrei e fiquei no DCE 6 meses e eu fazia um pouco de tudo: atendia os alunos, organizava eventos, organizava as atas, era um pouco de tudo e eu gostava. Saí do DCE e fui fazer freelance na Bar Tender, que produzia shows grandes fiz várias festas de bar tender, de atendente. Depois de muito tempo, comecei a pegar o bar do Chevrolet Hall (atual KM de Vantagens Hall), fiquei 8 meses lá. Fiz muito freelances de garçonete, no Bucanero, trabalhei no Café com Letras, no CCBB, e aí fui trabalhando de garçonete um tempo. Então eu fui pra Austrália.

Fazendo massagem eu comecei a ter alguns clientes e comecei a fazer em residência também e ganhava mais em residência. Aí fiquei com uma base na clínica e fazia em residência. Eu pegava uma bicicleta, perguntava se tinha cama, se não tivesse, a família que eu morei tinha me oferecido a cama deles, daí eu marcava lá. Fiquei esse tempo trabalhando como massagista, juntei um dinheiro, viajei bastante, voltei para o Brasil.

Na Austrália eu comecei a procurar emprego e vendo que meus amigos estavam ganhando muito pouco para trabalhar de garçom, de atendente do Kebab. Eu comecei a ver que a cidade era muito

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had made many fridge magnets: I had printed the images, bought the magnet mat, cut it up and so, I was at the beach selling them, at school, and it was great because I had spent $ 0,80 to make each magnet and I sold them for $ 3,00. It was a 400% profit. I sold fridge magnets and did massages.

learning forcefully, and I didn’t like it. My heart wasn’t there, my heart was still very much in production, I did production events on the side and thinking I was only going to be there a while, until I graduated and went back to working with production. I graduated and was hired as attendant. I had nothing, nothing very palpable in production, so I was up for being hired. I think it was around 6 months as an intern and then about 8 as attendant. I didn’t like attendance, I thought it was very wearing, it wasn’t a business I wanted for my life. In this time, I entered a post-graduate programme that I finished recently.

Doing massages I started having some clients and I started doing them at peoples homes, and I earned more from the ones I did at home. So I kept a base at the clinic and I did home services. I took a bike, asked if there was a bed, if there wasn’t the family I was living with had offered me their bed, so I would schedule there. I stayed this time working as a masseuse, I kept some money, travelled a bunch, came back to Brazil.

When I understood I myself was going to have to manage myself to be able to earn X at the end of the month, my workflow changed a lot. So today I have no fixed schedule, I don’t have to come to the office, I self-manage myself all the time. I work 9, 10 hours, I work on weekends. Many times I have no schedule, but I like this way better, where I am able to be my own boss, but control myself, my time, my deliveries, my demands, and working by commission has become a challenge, which is great when you have a lot of energy. Now, I think it’s great because I have no responsibilities. I quit the cinema, I left production slowly, which I thought was my dream, I thought I had a different type of profile and I saw, really, that I was moulding myself a lot, but in a way I really like, that who I want to be, the kind of professional I want to be, was a very big growth and I thank that opportunity everyday, for getting in, for having grown, for seeing the professional I am today.

When I came back from Australia and I didn’t want to do massages anymore, I started directing my curriculum for the field of production. I discovered the contact of a production business owner, and I really wanted to work there, I found out there was going to be the launch of her husband’s book so I went to the launch to be able to meet her. I got to the launch alone, presented myself and said: “I’ve sent my curriculum out to you around 3 times and got no response, I would really like to work with you”. She asked me to come over on monday, so monday I went and we talked, I talked to another person and she asked me if I was up for an unpaid internship. I got into the unpaid internship because production was the field I wanted in that moment. I stayed for 6 months in that unpaid internship and then I had t g back to doing massage as well, because I needed the money. After 6 months I left the producer and went back to doing freelances at Bar Tender again. I did some events on the side, did some promoter stuff, stayed for about 6 months in this pace, until I sought out someone that had worked with me at the producer and said I really wanted to work with them. They contacted another producer, Altiplano, and said: “would you be up to work with me?” I did and stayed working with her for a while.

Currently, I still do one freelance or another, but my energy is a lot more directed towards the commercial, the sales. This had been my trajectory so far. Sales is you selling your work. Giving yourself, giving a lot of credibility for people to believe. We learn in everything we do, I think all work has value and I think we have to be very humble, because you will take something away from this and it will create something more solid. Things go on complementing each other in a way.

Afterwards I left and kept working with her on events, but as a freelancer. That was when I really started having experience with production. Before I used to earn per month, I stayed a while earning per event, but I was 6 months away from graduating and I needed an internship to put in my curriculum. I started looking for positions on Facebook, so an old partner posted about an opening, I sent my curriculum. However, I wasn’t really an intern. I got in as an intern with no one to teach me. I had never done agency attendance, of customers really, I didn’t know the dynamics of anything, I went on

In the future, I imagine myself as a business woman, rich, I want to have a job that I really love and I want to earn money… I don’t want to have my own business, no, I do want to work for a company. Me, myself, I wouldn’t be up for opening up my own business, maybe with friends that had some structure, but me, alone, opening a company, I don’t want to. But I want to be at a place where I can grow and have new challenges and earn lots of money.

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Quando eu voltei da Austrália e não queria mais fazer massagem, comecei a direcionar o meu currículo para a área de produção. Eu descobri o contato de uma dona de empresa de produção, eu queria muito trabalhar lá, descobri que ia ter o lançamento do livro do marido dela e fui no lançamento para poder conhecê-la. Cheguei no lançamento sozinha, me apresentei e falei: “já mandei meu currículo para você umas 3 vezes e não tive resposta, queria muito trabalhar com você”. Ela pediu para eu ir lá na segunda, na segunda eu fui e a gente conversou, conversei com uma outra pessoa e ela perguntou se eu topava um estágio não remunerado. Entrei no estágio não remunerado porque produção era a área que eu queria naquele momento. Fiquei 6 meses em estágio não remunerado e aí tive que voltar a fazer massagem também, porque eu precisava de dinheiro. Depois de seis meses eu saí, deixei a produtora e voltei a fazer freelances na Bar Tender de novo. Fiz alguns eventos por fora, fiz coisas de promoter, fiquei uns seis meses nessa, até que procurei uma pessoa que tinha trabalhado comigo na produtora e falei que queria muito trabalhar com ela. Ela entrou em uma outra produtora, a Altiplano, e falou: “você topa trabalhar comigo?” Topei e fiquei um tempo trabalhando com ela.

Não gostava de atendimento, achava muito desgastante, não era um negócio que eu queria para minha vida. Nesse tempo, eu entrei na pós-graduação que eu terminei recentemente.

Depois saí e continuei trabalhando com ela em eventos, mas como freelances. Foi aí que comecei a ter experiência mesmo com produção. Antes eu ganhava por mês, fiquei um tempo ganhando por evento, mas faltavam 6 meses para eu formar e eu precisava de um estágio para colocar no currículo. Comecei a procurar vagas no Facebook, aí minha antiga parceira postou sobre uma vaga, eu mandei meu currículo. Porém, não era muito uma estagiária. Entrei como estagiária sem ninguém para me ensinar. Nunca tinha feito atendimento de agência, de cliente mesmo, não sabia a dinâmica de nada, fui aprendendo na marra, e não gostava. Meu coração não estava lá, meu coração ainda estava muito na produção, fiz eventos de produção por fora e achando que estava ali só um tempo, até eu formar e voltar a trabalhar com produção.

Atualmente, ainda faço uns freelances ou outro, mas minha energia está muito direcionada para o comercial, para a venda. Foi essa minha trajetória até agora. O vender é você vender o seu trabalho. Se doar, dar muita credibilidade para as pessoas acreditarem. A gente aprende em tudo que a gente faz, eu acho que todo trabalho tem valor e acho que temos que ter muita humildade, porque alguma coisa você vai levar disso e vai gerar uma coisa mais sólida. As coisas vão se complementando de uma certa forma.

Quando eu entendi que eu mesma ia ter que me gerenciar para poder ganhar X no final do mês, meu esquema de trabalho mudou muito. Então hoje eu não tenho horário fixo, eu não tenho que vir para o escritório, eu me auto gerencio o tempo todo. Eu trabalho 9, 10 horas, trabalho final de semana. Várias vezes não tenho horário, mas eu gosto mais desse esquema, que eu consigo não ser minha própria chefe, mas me controlar, meus horários, minhas entregas, minhas demandas, e trabalhar por comissão virou um desafio, que é ótimo quando você tem muito pique. Agora, acho ótimo, porque eu não tenho nada de responsabilidade. Larguei o cinema, fui aos poucos saindo da produção, que eu achava que era meu sonho, achava que eu tinha outro tipo de perfil e vi, na verdade, que fui me moldando muito, mas de um jeito que eu gosto muito, quem eu quero ser, o tipo de profissional que quero ser, foi um crescimento muito grande e eu agradeço essa oportunidade todos os dias, por ter entrado, por ter crescido, por ver a profissional que eu sou hoje.

No futuro, eu me imagino uma businesswoman, rica, quero ter um trabalho que eu ame muito e quero ganhar dinheiro… Não quero ter meu próprio negócio não, quero trabalhar numa empresa mesmo. Eu sozinha não toparia abrir o próprio negócio, talvez com amigos que tivessem uma estrutura, mas eu sozinha abrir uma empresa não tenho vontade. Mas tenho vontade de estar num lugar que eu possa crescer e ter desafios novos e ganhar muito dinheiro.

Eu formei e fui contratada como atendimento. Não tinha nada, nada muito palpável na produção, topei ser contratada. Acho que seis meses como estagiária e depois uns 8 meses como atendimento.

191


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LINHA DO TEMPO 193


1940

Implantação do Estado Novo, com fechamento do Congresso e das Assembleias Legislativas Estaduais, outorga da Constituição de 1937, implantação do Departamento de Imprensa de Propaganda – DIP, instrumentos que facilitaram o Governo ditatorial de Getúlio Vargas.

1940

Implantadas as chamadas Leis Trabalhistas com a instituição do Salário Mínimo.

1942

28 de agosto, o Brasil declara guerra à Alemanha e Itália após de ter sofrido vários ataques de submarinos alemães a navios mercantes brasileiros.

194

1943

Carmem Miranda faz sucesso nos EUA com o filme Entre a loura e a morena.


Criação da Unesco.

Fim da Segunda Grande Guerra

A igreja católica institui o a primeira universidade privada no Rio de Janeiro priorizando o curso de enfermagem devido a segunda guerra mundial.

1945

1946

Fim da Era Vargas e promulgação da quarta Constituição da República. Vargas é deposto por golpe militar e o presidente do Supremo Tribunal Federal, José Linhares, assume a presidência.

João Guimarães Rosa publica Sagarana.

Governo Gaspar Dutra é eleito presidente do Brasil.

195


A TV começa a entrar nas casas das pessoas, principalmente na Europa, Japão e Estados Unidos.

1947

É inaugurado o MASP (Museu de Arte Moderna de São Paulo).

Ocorre a aprovação pela ONU da Declaração dos Direitos Humanos.

1948

Criação do Estado de Israel.

196

Fundação da Companhia Cinematográfica Vera Cruz.

1949


1950

A TV Tupi, inaugurada em setembro, é o primeiro canal de televisão da América Latina.

Realização da Copa do Mundo de Futebol no Brasil.

No dia 20 de outubro, é inaugurada a I Bienal Internacional de Arte de São Paulo.

É criada a Revista Manchete, dirigida por Adolph Bloch.

1950

1951

1952

Getúlio Vargas é eleito presidente constitucional do Brasil.Período chamado de “Anos Dourados”.

é lançado nos EUA o primeiro computador comercial

197


Juscelino Kubitschek é eleito presidente do Brasil, tendo como vice João Goulart.

Criação da empresa estatal Petrobrás

1953

1954

Vargas comete suicídio. O vice-presidente Café Filho assume o governo.

1955

começa a guerra do Vietnam.

198

1956

Publicado o livro Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa.


Inicia-se a construção de Brasília, sob a direção dos arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemayer.

Surge a Bossa Nova.

1957

1958

União soviética lança o satélite Sputinik

Seleção Brasileira de Futebol é campeã mundial de Futebol

199

Fidel Castro lança a Revolução Cubana. Visita de Fidel ao Brasil.

1958


1960

Em 21 de Abril, a capital do Brasil é transferida do Rio de Janeiro para Brasília.

1960

O Brasil sagra-se bicampeão mundial de futebol.

1961

Jânio Quadros toma posse como presidente da república e renuncia seis meses depois. João Goulart virou o primeiro presidente trabalhista com a renúncia de Jânio Quadros.

200

1962

O filme brasileiro, O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, recebe o prêmio Palma de Ouro no festiva de Cannes, na França.


Ocorre um plebiscito no Brasil que coloca fim ao Parlamentarismo e define o retorno do Presidencialismo.

Em 31 de março, um golpe militar no Brasil tira do poder o presidente João Goulart. Início da ditadura militar no Brasil. O marechal Castelo Branco assume a presidência provisória do Brasil.

Cria-se o bipartidarismo: Arena (apoio ao governo) e MDB (oposição).

1963

1964

1965

O presidente Kennedy é assinado nos EUA.

JK tem seu mandato legislativo cassado e seus direitos políticos suspensos por 10 anos.

Surge no Brasil a Jovem Guarda.

201


O general Costa e Silva assume a presidência do brasil.

Começa a revolução cultural na China.

1966

1967

O comunista Carlos Mariguela funda a ALN – Ação Libertadora Nacional e inicia a luta armada contra o governo militar.

Che Guevara é assassinado.

202


O general Emílio Garrastazu Médici assume a presidência do Brasil.

o Ato Constitucional Nº5 é decretado. Com este ato, considerado um dos mais repressivos da ditadura militar, juízes foram aposentados, o habeas corpus foi cancelado, manifestações políticas foram proibidas, a censura aumentou e a violência da polícia e do exército também.

O diplomata americano Bruke Elbrick é sequestrado por militantes políticos no Brasil.

1968

1969

Surge o semanário O Pasquim.

Decida do homem a lua.

203


1970

Presos, no Festival de Inverno de Ouro Preto, o grupo de teatro Living Theatre e consequentemente, é expulso do Brasil.

Brasil tricampeão da Copa do Mundo de Futebol, realizada no México.

O guerrilheiro Carlos Lamarca é morto no sertão baiano.

Inaugurada a Transamazônica em meio às críticas pela devastação do meio ambiente.

1970

1971

1972

É sequestrado o cônsul Japonês Nobul Okushi, em São Paulo.

A Intel lança o primeiro microprocessador do mundo, o Intel 4004

Inauguração da TV a cores no Brasil

204


Nixon renuncia à presidência dos EUA.

o programa para a produção de álcool hidratado a partir da canade-açúcar, o Pró-alcóol. O chamado “milagre econômico” postergou os efeitos da crise do petróleo.

O presidente do Chile Allende sofre golpe e implanta-se a ditadura de Pinochet.

O general Ernesto Geisel assume a presidência do Brasil. Em seu governo, tem início a abertura política, que o próprio Geisel define como “lenta, gradual e segura”.

Brasil entra na era nuclear assinando acordo com a Alemanha.

1973

1974

1975

Inauguradas a hidrelétrica de Ilha Solteira, a Ponte Rio Niterói e o Metrô de São Paulo.

A missão espacial Viking I explora o planeta Marte

205


A Justiça Eleitoral Federal responsabiliza a União pela morte do jornalista Vladimir Herzog

Falece de forma suspeita, em acidente de carro, o expresidente JK.

1976

1977

Criação da Lei Falcão no Brasil, que criou um sistema de propaganda eleitoral, na TV, baseada apenas na divulgação de foto, nome, número e partido do candidato. Ela valia para as eleições municipais e os candidatos não podiam divulgar suas propostas.

o general João Baptista Figueiredo assume a presidência do Brasil.

1978

1979

Estreia a peça Macunaíma, dirigida por Antunes Filho.

É sancionada a Lei da Anistia.

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1980

Visita do Papa João Paulo II ao Brasil

Rondônia deixa de ser território e passa ser um estado da federação.

Argentina invade as Ilhas Malvinas. Começa a Guerra das Malvinas entre Argentina e Grã-Bretanha

1980

1981

1982

É lançado o Manifesto de fundação do Partido dos Trabalhadores.

Os pesquisadores Luc Montagnier e Robert Gallo identificam o vírus da AIDS.

207


José Sarney anuncia o Plano Cruzado com o objetivo de estancar a inflação.

É criada a Internet.

nasce o primeiro bebê de proveta a partir de um embrião congelado, na Austrália.

1983

1984

Nelson Piquet torna-se bicampeão mundial de Fórmula 1.

Manifestações em todo o Brasil pedem as Diretas Já.

Tancredo Neves é eleito, de forma indireta, presidente do Brasil. Porém, morre antes de assumir o cargo. Assume o vice-presidente José Sarney.

Brasil reata relações diplomáticas com Cuba.

1985

1986

Ocorre na União Soviética o pior acidente nuclear da história. A catástrofe ocorreu na usina nuclear da cidade de Chernobil, levando a morte milhares de pessoas.

A emenda da eleição direta é derrotada em votação no congresso.

208


ocorre uma grave crise econômica que abala as bolsas de valores de diversos países no mundo todo, inclusive o Brasil.

Foi promulgada a Constituição da República Federativa do Brasil, concebida no processo de redemocratização, iniciado com o encerramento da ditadura militar no Brasil.

1987

1988

1989

Morre, no Rio de Janeiro, o poeta Carlos Drummond de Andrade.

Incêndio destrói a área histórica de Lisboa (Chiado)

Queda do muro de Berlim.

É assassinado, em Chaporí, no Acre, o ecologista Chico Mendes.

209

Fernando Collor de Melo é eleito presidente do Brasil, na primeira eleição direta desde 1961


Pedro Collor de Melo, irmão de Fernando Collor, presidente do Brasil, denuncia esquema de corrupção e desvio de dinheiro do governo federal.

Fim da URSS.

1990

1991

1992

Fernando Collor divulga seu plano econômico, que retém os depósitos por 18 meses.

Ayrton Senna conquista o tricampeonato mundial de Fórmula 1.

Ocorrem, em vários países da América, comemorações aos 500 anos do Descobrimento da América.

1990

Em 21 de novembro é assinada a Carta de Paris, finalizando os quase 50 anos da Guerra fria.

Collor sofre impeachment e é afastado do cargo. Collor renunciou pouco antes de ter seus direitos políticos suspensos pelo Senado. Seu vice, Itamar Franco, que havia assumido em outubro, tomou posse definitivamente

210


Em julho de 1994, o ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, coordena o lançamento do Plano Real, programa de estabilização econômica. A moeda brasileira passa a ser o real, e a inflação despenca.

Plebiscito popular opta pelo presidencialismo republicano como sistema de governo.

Poucos meses depois, Fernando Henrique vence as eleições presidenciais com maioria no primeiro turno.

A inflação é debelada e o país retorna a confiança. Inicia-se processo de privatizações.

1993

1994

1995

Inicio da vigência da integração europeia

O Brasil torna-se tetracampeão da Copa do Mundo de Futebol nos Estados Unidos.

Fim da República da Thecoslováquia

falece Ayrton Senna durante uma prova em Imola (Itália).

211


Nascimento da ovelha Dolly. Primeiro mamífero clonado a partir da célula de um animal adulto pelo Instituto Roslin (Escócia) e pela empresa PPL Therapeutics.

É leiloada a maior empresa de minério do Brasil, a Vale do Rio Doce.

Fernando Henrique Cardoso é reeleito presidente da República.

O euro passa a circular em 11 países da União Europeia.

1996

1997

1998

1999

Governo brasileiro é o principal articulador para o efetivo estabelecimento do Mercosul. Iniciam-se diversas campanhas para projetar um novo país no cenário global.

O Papa João Paulo II visita Cuba, elogia Che Guevara e condena o embargo dos EUA

José Saramago é o primeiro escritor de língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel de Literatura

O presidente dos EUA, Clinton, escapa do impeachment do caso Mônica Lewinsky

foi fundada a empresa Google.

212


2000

Cientistas da Inglaterra e dos EUA anunciam ter decifrado o genoma humano.

2000

Ataques terroristas (alQaeda) de 11 de setembro contra as torres gêmeas do complexo empresarial do World Trade Center (NY/ EUA)

2001

Comemoração dos 500 anos de achamento do Brasil com a exposição Brasil mais quinhentos, em São Paulo.

Vitória do candidato de oposição Luís Inácio Lula da Silva (PT) à presidência da República.

2002

O Euro torna-se a moeda oficial da maioria dos países da União Europeia

A Seleção Brasileira conquista o quinto título da Copa do Mundo de Futebol, ao derrotar a Alemanha, na final, em Yokohama, no Japão.

213


O presidente Lula discursa na Assembleia Geral da ONU propondo a criação de um fundo mundial de combate à fome.

O sismo e tsunami do Oceano Índico atinge a costa oeste de Sumatra, na Indonésia.

2003

2004

O furacão Katrina atinge os EUA e morrem 1800 pessoas.

2005

Em 19 de março, o governo Bush invade o Iraque de Saddam Hussein.

Morte do Papa João Paulo II e foi escolhido um novo pontífice, Bento XVI.

214

Descoberta de petróleo na camada pré-sal, da autossuficiência em petróleo e da produção de biocombustíveis.

2006


A visita do Papa Bento XVI ao Brasil.

Chega ao fim a governo de Fidel Castro em Cuba.

Barack Obama toma posse como Presidente dos Estados Unidos em 20 de janeiro de 2009, sendo o primeiro afrodescendente a ocupar esse cargo.

2007

2008

2009

Morre o cantor Michael Jackson.

215


2010

Entra em vigor no Brasil, o Projeto Ficha Limpa. O projeto visa impedir que políticos com condenação na Justiça possam concorrer às eleições.

2010

Dilma Vana Rousseff, foi empossada a primeira mulher presidente da República do Brasil

2011

2012

cientistas do CERN anunciam que podem ter descoberto o bosão de Higgs conhecido como a “partícula de Deus”.

216


em meio a uma acelerada da inflação, o aumento da tarifa dos transportes públicos em São Paulo serviu de estopim para uma irrupção de protestos em todas as grandes cidades do Brasil.

A presidente do Brasil, Dilma Rousseff é reeleita para cumprir seu segundo mandato.

Ocorre a Crise migratória na Europa onde milhares de refugiados, oriundos majoritariamente da África e Oriente Médio, e da Ásia (em menor proporção), que buscam chegar na Europa Ocidental.

2013

2014

2015

Abdicação do papa Bento XVI. Para ocupar o seu lugar, é eleito o Papa Francisco.

é realizada no Brasil a Copa do Mundo de Futebol, que tem como vencedora a seleção da Alemanha

Morre Nelson Mandela, figura importante pela luta contra o Apartheid e expresidente da África do Sul.

217

A presidente do Brasil, Dilma Rousseff deixa o cargo devido a aprovação do processo de impeachment, após 5 anos de governo, assumindo o vicepresidente Michel Temer


ĂŠ realizada no Rio de Janeiro, Brasil, as OlimpĂ­adas.

2016

2017

Donald Trump toma posse como presidente dos Estados Unidos

218


Jair Bolsonaro toma posse como presidente do Brasil

o ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva foi preso por ordem do juiz federal Sergio Moro.

houve o rompimento de uma barragem de rejeitos de minério de ferro, na Mina de Córrego do Feijão, administrada pela Vale S.A., na cidade de Brumadinho, em Minas Gerais, que deixou mais de 230 mortos e destruiu grande parte da fauna do Rio Paraopeba

2018

2019

Neste período ocorreu um dos maiores desastres ambientais da história do Brasil e do mundo, ocorrido com a ruptura da barragem de Mariana, em Minas Gerais, controlada pela Samarco. Todo o ecossistema da bacia do Rio Doce foi completamente destruído após sofrer um despejo de 50 milhões de metros cúbicos de lama tóxica, que chegou até mesmo a atingir o litoral do Espírito Santo.

incêndio atinge a catedral mais visitada do mundo, a Catedral de Notre-Dame em Paris.

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