Concertos Didáticos
2010
UFMG
Concertos Didáticos
temporada
2000
UFMG
temporada
Concertos Didáticos
2001
UFMG
temporada
Concertos Didáticos
2002
UFMG
temporada
Concertos Didáticos
temporada
2003
UFMG
temporada
Concertos Didáticos
2004
UFMG
temporada
Concertos Didáticos
2005
UFMG
temporada
Concertos Didáticos
2006
UFMG
temporada
Concertos Didáticos
2007
UFMG
temporada
Concertos Didáticos
2008
UFMG
temporada
Concertos Didáticos
2009
UFMG
2010 temporada
01 MaiO
TRIO MONTE piano, violino, cello
15 MaiO
DUO KUPLAIS-MATSUMURA cello, piano
12 JUnHO
BERENICE MENEGALE piano
26 JUnHO
ATALLA AYAN tenor MARÍLIA CAPUTO piano
07 aGOSTO
DUO ASSAD violões
14 aGOSTO
ARNALDO COHEN piano
25 SeTeMBrO
CELINA SZRVINSK MIGUEL ROSSELINI piano a 4 mãos
23 OUTUBrO
VERUSHKA MEINHARDT soprano RICARDO TUTTMAN tenor LUIZ SENISE piano
6 nOveMBrO
ARNON QUARTETT cordas
27 nOveMBrO TRIO CRACÓVIA violino, violoncelo, piano
10 ANOS DOS CONCERTOS DIDÁTICOS UFMG
É
com satistação que me associo ao lançamento da temporada dos Concertos Didáticos UFMG em sua décima edição.
Nestes 10 anos temos tido a honra e a alegria de proporcionar ao público interno da Universidade e, sobretudo, para a cidade de Belo Horizonte, programação que tem envolvido grandes nomes da cena musical nacional e internacional. Ao lado de nomes consagrados do mundo musical, os Concertos Didáticos têm sido também espaço de divulgação de novos talentos que despontam no cenário musical internacional. Os Concertos Didáticos UFMG estão, sem qualquer laivo bairrista, entre as mais significativas iniciativas da vida musical brasileira, atraindo público de outras cidades e estados, impondo-se como programação de destaque no calendário musical nacional. Com os Concertos Didáticos a UFMG confirma seus compromissos com a divulgação e a valorização da cultura, com a formação de público, com a universalização dos melhores valores do patrimônio cultural da humanidade. O sucesso inegável deste projeto deve-se ao trabalho, à dedicação exemplar da professora Celina Szrvinsk a quem agradeço em meu nome e em nome de toda a comunidade da UFMG.
Prof. Clélio Campolina Diniz Reitor da Universidade Federal de Minas Gerais
A
criação dos Concertos Didáticos UFMG que ora comemoram dez anos de atividade, deu-se no contexto da reforma e restauração do Conservatório Mineiro de Música.
Inaugurado em 1926, passou a integrar a UFMG no início da década de 50 abrigando a Escola de Música, com seus cursos regulares e suas atividades de extensão, por onde passaram várias gerações. Em 1997 a Escola de Música transferiu-se para o campus Pampulha e o Conservatório foi emprestado à Prefeitura de BH, para sediar as atividades comemorativas do centenário da cidade. Na gestão do Reitor Francisco Cesar Sá Barreto, decidiu-se, com o apoio financeiro da FUNDEP, restaurar todo o prédio e fazer algumas adições, visando ao melhor aproveitamento de seu espaço situado em ponto nobre da Capital. Em agosto de 2000, as obras de restauração terminaram, passando o prédio a denominar-se Conservatório UFMG. Planejava-se para este espaço cursos de extensão da UFMG, exposição do acervo artístico da UFMG, posto de atendimento da FUNDEP, local para lançamento de livros, um restaurante e uma filial da livraria da Universidade. Pretendeu-se também manter a tradição do prédio e dedicar parte de seu espaço à música erudita ou clássica, tendo agora um auditório com um adequado tratamento acústico e um novo piano para concertos. Dado seu caráter intimista, proporcionado pela nova acústica e seu tamanho mais acanhado, criava-se um espaço propício para a música de câmara com todas as suas possibilidades. Na medida do possível procurar-se-ia criar uma programação inovadora, convidando grupos e artistas de referência mundial, brasileiros ou estrangeiros, que pudessem proporcionar espetáculos de primeira qualidade. Para coordenar o projeto, foi convidada a exímia pianista e professora da Escola de Música, Celina Szrvinsk. Graças ao seu dinamismo, dedicação e profissionalismo, ela atendeu e até superou as maiores expectativas, trazendo vários artistas de renome nacional e internacional, proporcionando ao público, que geralmente lotava o auditório, espetáculos de muita qualidade e grande emoção. O projeto agradou tanto ao público quanto à crítica e se mantém ativo desde o ano 2000, com pequenos percalços. A colaboração financeira da FUNDEP e o apoio da direção da UFMG tem sido fundamentais para o sucesso dos concertos, mas a coordenação do projeto conseguiu também captar recursos junto ao setor privado e ao público, constituindo-se numa importante fonte complementar de receitas. Esperamos que se inicie agora uma nova década de apresentações de elevada qualidade, que tanto tem agradado ao público e que tem colocado Belo Horizonte e a UFMG no circuito nacional da música.
Jacques Schwartzman Diretor Executivo da FUNDEP no período 1998-2002
E
m 2010 comemoramos a primeira década da série Concertos Didáticos UFMG. Com uma média de dez concertos anuais, entre os meses de março a novembro, a série
estabeleceu-se como referência importante na vida cultural de Belo Horizonte. Devemos o sucesso desta realização à grande capacidade empreendedora de sua diretora artística, Celina Szrvinsk, que, além de obter o necessário apoio institucional, conseguiu atrair o patrocínio de diversos setores da iniciativa privada e trazer à cidade músicos de renome, brasileiros e do exterior. A programação dos concertos conquistou uma platéia fiel e diversificada em suas origens e faixa etária. Ajudam a desenhar o perfil deste grupo os jovens recebidos através de parcerias realizadas com colégios e os alunos de escolas públicas, para os quais há a liberação de ingressos. Tais iniciativas valorizam os esforços que viabilizam cada concerto
e correspondem às expectativas de interlocução da Universidade Pública com a sociedade que a mantém. Ressaltamos que Universidade Federal de Minas Gerais inspira-se nos ideais de liberdade e solidariedade humana - princípio basilar expresso em seu Estatuto – ao cumprir os compromissos institucionais que integram o ensino, a pesquisa e a extensão. A série Concertos Didáticos apresenta ao seu público a boa música brasileira e internacional, com o diferencial de uma abordagem informativa. Os músicos convidados provocam uma maior proximidade dos seus ouvintes com a música, através de explicações sobre elementos da linguagem musical, comentários sobre aspectos inerentes à performance e contextualização das obras apresentadas. Assim, cada ouvinte é estimulado a acompanhar a música em seu discurso temporal, percurso durante o qual poderá captar e guardar como relevantes aspectos diferentes, de acordo com sua percepção e a resposta individual da sua sensibilidade. Nós acreditamos que a música tem o poder de expandir universos interiores e conectar pessoas, portanto, nesta série de concertos reconhecemos a abertura de caminhos que comunicam, em níveis mais profundos, o intérprete, o público e a música. Diante do vigor de um projeto musical que valoriza o ser humano, aproximando instituições e indivíduos, cada um de nós pode sentir-se como se explicou Mario Quintana, em uma oportunidade: “Eu não tenho paredes. Só tenho horizontes.” A Escola de Música agradece à Professora Celina Szrvinsk pela direção da série Concertos Didáticos UFMG. Graças ao seu idealismo e à sua sensibilidade comemoramos – nossa comunidade e a cidade de Belo Horizonte – o décimo aniversário de uma iniciativa nascida da vontade de compartilhar a Música.
Maria Inêz Lucas Machado Diretora da Escola de Música da UFMG
A
o festejarmos uma década de sucesso dos Concertos Didáticos UFMG, revivo hoje os mesmos sentimentos de gratidão e entusiasmo que tive ao aceitar o convite do prof.
Jacques Schwartzman para a direção artística do projeto. Trago ainda a alegria por termos sido pioneiros em Belo Horizonte na apresentação antecipada da programação anual com venda de assinaturas e por consolidarmos a iniciativa, mérito que dividimos com o público fiel, a Fundep, a Universidade Federal de Minas Gerais e os nossos patrocinadores privados. Foram inúmeros os preciosos momentos de música. Contudo, não poderíamos deixar de destacar a estreia em Belo Horizonte dos pianistas Menahem Pressler, José Feghali, Eduardo Monteiro, do violinista Sergei Kravtschenko, do Ensemble Fidélio, do Amsterdam Loeki
Stardust Quartett, a realização dos ciclos com as 32 Sonatas para piano de Beethoven (a cargo de seis pianistas franceses), a integral das Sonatas para piano de Mozart por Berenice Menegale, a integral das Suítes para violoncelo de Bach com Antônio Meneses e ainda a colaboração de Nelson Freire, Arnaldo Cohen, Duo Assad, Fábio Zanon, que sempre retornam à série com renovado interesse. Diversamente do que ocorre com frequência nas programações em que grandes artistas comparecem, os Concertos Didáticos UFMG estendem a oportunidade a todos, oferecendo preços acessíveis. Ainda nesse sentido é distribuída gratuitamente uma parcela de entradas a alunos de escolas públicas e estudantes de escolas de música de Belo Horizonte e do interior do estado. Outro programa, o “Ouvindo, Gostando e Aprendendo”, destinado a alunos de escolas públicas, surge como desdobramento da iniciativa, com o propósito principal de despertar jovens carentes para a música de concerto. Acreditamos que à criança se deve oferecer o que há de melhor. O programa proporciona também aos estudantes da nossa Escola de Música a experiência com a gestão de empreendimentos similares, além de lhes dar oportunidade de atuarem como intérpretes ao lado de músicos destacados. A série Concertos Didáticos UFMG contribui particularmente para estimular o desenvolvimento da área musical, uma vez que o exercício profissional não pode prescindir da música executada ao vivo. O ensino também é beneficiado por meio dos cursos oferecidos pelos artistas que, sem dúvida, constituem significativo acréscimo na formação acadêmica. Oportunidades de aperfeiçoamento em instituições estrangeiras são viabilizadas pelo contato de estudantes com os artistas e na vigência deste programa sete jovens músicos já foram contemplados. Como tão bem disse Nietzsche, “sem a música, a vida seria um erro”. Para todos que aplaudimos os Concertos Didáticos UFMG, não resta dúvida de que aqui, a cada apresentação, crescemos e tornamo-nos mais sensíveis aos ideais humanos. Estamos certos de que os Concertos Didáticos UFMG já se incluem no patrimônio cultural de Belo Horizonte, inscrevendo-se com êxito na história da música em Minas Gerais.
Celina Szrvinsk Diretora Artística dos concertos didáticos ufmg
“O projeto Concertos Didáticos UFMG é uma contribuição fundamental para qualificar o cenário musical clássico de Belo Horizonte e coloca a UFMG como importante formadora de público para o gênero.” Prof. José Nagib Cotrin Árabe Pro-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento - UFMG
Concertos Didรกticos
Wolfgang Amadeus M ozart (1756-1791) Trio em si bemol maior k. 502 Allegro Larghetto Allegretto Johannes Brahms (1833-1897) Trio nยบ3 em dรณ menor op. 101 Allegro energico Presto non assai Andante grazioso Allegro molto
Trio Monte Anca Lupo piano Ana Rachel Feitosa violino Claude Frochaux cello
temporada
1ยบ de maio sรกbado 18 horas
2010
UFMG
Wolfgang Amadeus Mozart nasceu em Salzburgo, Áustria, a 27 de janeiro de 1756 e faleceu em Viena a 5 de dezembro de 1791. Seu período mais produtivo, e também de maior popularidade, deu-se entre 1781 e 1786. Demitiu-se dos serviços da corte do Arcebispo de Salzburgo e iniciou em Viena uma carreira autônoma. A rica vida musical da capital austríaca, as encomendas de obras e as apresentações públicas o estimularam a escrever uma série de peças destinadas à música de câmera. O Trio em si bemol k. 502 é o terceiro dos seis trios com piano da maturidade camerística de Mozart. Nos anteriores (k .10-15) o violoncelo dobrava a parte do teclado. Nestes, os três
instrumentos dialogam igualmente. Ainda assim, a escrita do piano é privilegiada, apresentando certas semelhanças com os concertos para piano e orquestra, principalmente no romântico larghetto, que nos antecipa Schubert. Em seguida ao Trio k. 502, Mozart completou seu vigésimo quinto concerto para piano, o k503 em dó maior. Em outubro de 1786, sua esposa, Constanze, deu à luz o terceiro filho do casal, Johann Thomas Leopold. Contudo o bebê viveu apenas um mês, falecendo dois dias antes de o pai completar o Trio k. 502. Não era a primeira vez que Mozart empenhava-se no trabalho para abafar seus sentimentos diante das tragédias pessoais.
Johannes Brahms nasceu em Hamburgo a 7 de maio de 1833 e faleceu em Viena a 3 de abril de 1897. A última fase de sua obra de câmera iniciou-se em 1866, no primeiro verão passado na estação suíça de Hofstetten, perto de Thun. Em incrível ritmo produtivo, nasceram ali, em sequência, três de suas obras de câmera mais importantes: as segundas sonatas para cello (op. 99) e violino (op. 100) e o terceiro Trio com piano op. 101. Este Trio reúne todas as qualidades do espírito brahmsiano – externamente nobre e caloroso,
com ternura; internamente intenso e questionador, sem sentimentalismo – o que suscitou comentários de suas mais confiáveis e talentosas amigas: “o trio é melhor do que uma fotografia, pois mostra seu verdadeiro eu” (Elisabet Von Herzogenberg), “nenhuma das outras obras de Johannes me subjugou tão completamente” (Clara Schumann). Digno de nota é o Andante grazioso em tom popular eslavo, por sua rítmica irregular alternando livremente os tempos binários e ternários e dispostos em frases assimétricas de três compassos.
Marcelo Corrêa
O Trio Monte foi fundado em 2008 pela pianista romena Anca Lupu, a violinista brasileira Ana Rachel Feitosa e o cellista italiano Claude Frochaux. No último mês de março, todos receberam o Artist Diplom na Universidade de Música e Performance Artística de Frankfurt. Na curta trajetória, o Trio Monte tem obtido enorme êxito em concursos de Música de Câmera. Em 2008, recebeu o 1º prêmio no Concurso Internacional de Música de Câmera Mirabent em Stiges, Espanha, e o 2º Prêmio no Concurso Internacional de Música de Câmera Commerzbank, em Frankfurt. Em 2009 foi detentor do 3º Prêmio no Concurso Internacional Maria Canals em Barcelona e do 1º Prêmio no 3º Concurso Europeu de Música de Câmera em Karlsruhe, Alemanha. Como parte da premiação neste último concurso, o trio realizará concertos na Alemanha, Suécia e Brasil. Dentre importantes convites, está a gravação de recital transmitida pela rádio alemã SDR 3 para todo o país e um concerto especial no Festival Internacional de Música Schleswig-Holstein. Em 2010, o conjunto irá como convidado especial para o Festival de Música de Câmera Classic con Brio em Osnabruck e retornará à Rádio WDR 3 para mais um concerto. O Trio Monte recebe orientação artística do Quarteto Fauré, dos professores catedráticos M. Sanderling, G. Mantel, H. Buchberger e A. Spiri e, desde 2009, do prof. Dirk Mommertz da Folkwang University of Music de Essen, Alemanha. De 2008 a 2009, os artistas foram patrocinados pela Fundação Yehudi Menuhin de Frankfurt e, atualmente, contam com o patrocínio da Fundação Anna Ruths.
“Considero a volta da série “Concertos Didáticos” um belo presente da UFMG, pois é garantia de música clássica de alta qualidade. Parabéns Magnifico Reitor, parabéns Profa. Celina e parabéns Conservatório.“ Rogerio Saleme Ex-Diretor do Conservatório
Concertos Didáticos
Ludwig van Beethoven (1770-1827) Variações “Bei Männern, welche Liebe fühlen” Leoš Janáček (1854-1928) Pohádka, “um conto” para violoncelo e piano Con moto - Andante Con moto - Adagio Allegro Frédéric Chopin (1810-1849) Sonata em sol menor para cello e piano op. 65 Allegro moderato Scherzo: Allegro con brio Largo Finale: Allegro
Duo Kuplais-Matsumura Marcis Kuplais cello Akane Matsumura piano
temporada
15 de maio sábado 18 horas
2010
UFMG
Nas obras para violoncelo e piano, Ludwig van Beethoven (1770-1827) inovou ao consagrar ao piano o status de semi-solista ao invés do habitual papel de mero acompanhador. Entre 1796 e 1815, brindou esta formação com cinco sonatas e três grupos de variações: uma sobre um tema extraído do oratório Judas Maccabeus de Händel e duas sobre árias da ópera A Flauta Mágica de Mozart. Beethoven reverenciava os grandes mestres do passado e tendia sabiamente a seguir aquele que fosse melhor em cada gênero: Händel e Bach na fuga; Haydn na sinfonia, Clementi na sonata para piano, etc.
Mozart era exemplar na música de câmara, no concerto para piano e, sobretudo, na ópera. De suas óperas, Beethoven preferia A Flauta Mágica por conter questões morais e elementos de heroísmo praticamente ausentes nas grandes óperas cômicas. Em carta ao amigo Rellstab, Beethoven confessou: “eu não poderia compor óperas como Don Giovanni e Fígaro. São incompatíveis comigo. São excessivamente frívolas para mim.” No entanto, escreveu um ano antes de sua morte: “sempre me incluí entre os maiores admiradores de Mozart e assim permanecerei até meu último suspiro.”
Fascínio, estranheza, mágica... A música de Leos Janácek (1854-1928), um dos mais notáveis compositores da República Tcheca, ao lado de Dvorák e Smetana, é fantasiosa e descritiva. Seu primeiro quarteto de cordas é baseado na novela A Sonata Kreutzer, de Tolstoi, e o segundo é baseado em sua autobiografia Cartas Íntimas, onde expõe as correspondências apaixonadas trocadas com a amante 38 anos mais nova. Janacék foi um compositor de ópera acostumado com a força das palavras e do drama. Em Pohádka (equivalente em tcheco a “conto de fadas popular”), seu mais antigo dueto instrumental, não acontece diferente. É
uma forma-sonata livre inspirada em O Conto do Czar Bendvei de Vasily Zhukovsky, uma moderna adaptação poética de um velho conto heróico. A trama envolve um jovem príncipe guerreiro que se encontra tomado pelo rei do submundo. Ele deve triunfar nas provas de coragem e magia, nas quais é ajudado pela filha do rei, e que por ele se apaixona. Janácek foi um teórico e pesquisador da música popular tcheca, mas começou a compor seriamente somente na segunda metade de sua vida. Embora se aproximasse dos 60 anos quando escreveu Pohádka, ainda estava desenvolvendo o estilo que o tornaria conhecido mais tarde.
O compositor polonês F r éd ér i c C h o p i n (1810-1849) mostrou real interesse por apenas um instrumento que não o piano - o violoncelo. Dedicou-lhe diversas obras de câmara: a Polonaise Brillante (1829-30), o Grand Duo Concertant sobre temas da ópera Robert le Diable de Meyerbeer (1832) e a tardia Sonata em sol menor op. 65 (1845-6). Não raramente nestas obras o autor dá ao violoncelo o mesmo tipo de melodia ampla e escura que reservava para as melodias da mão esquerda nas peças para piano. Os dois anos que levou para compor o opus 65 foram penosos e, mesmo com o apoio técnico e a amizade do violoncelista Auguste
Franchomme, Chopin sentia-se atormentado com o trágico levante em Cracóvia e reclamava de crise criativa: “quanto à minha Sonata com violoncelo, às vezes estou satisfeito, às vezes não. Jogo-a em um canto, depois a pego de novo. Tenho agora três novas mazurcas (...) mas precisa-se de tempo para julgálas bem. Quando se escreve, tudo lhe parece bom, de outro modo pararia por completo. Somente depois vem a reflexão, que rejeita ou aceita. O tempo é o melhor crítico e a paciência, o melhor professor.” Chopin dedicou a Sonata a Franchomme, com quem fez duas apresentações da obra em seu apartamento em Paris, restritas a poucos amigos.
Marcelo Corrêa
O Duo Kuplais-Matsumura, formado pelo violoncelista lituano Marcis Kuplais e pela pianista japonesa Akane Matsumura, teve início em 2006. Com menos de 3 anos de trabalho, venceram o Concurso Internacional de Música de Câmera Assisi na Itália e o III Concurso Europeu de Música de Câmera Karlsruhe, na Alemanha. Estes prêmios lhes valeram convites para recitais em vários países como Alemanha, Itália, Suécia, Brasil, dentre outros.
Nascido em 1983 em Riga-Letônia, Marcis Kuplais inicou seus estudos de cello aos 6 anos e aos 7 já se apresentava em concertos, festivais e concursos. É vencedor de 22 concursos de violoncelo solo e música de câmera, nos quais por sete vezes foi o primeiro colocado. Devido ao seu sucesso internacional, foi convidado a apresentar-se em 1997 e 1998 no castelo de Riga para o presidente Guntis Ulmanis. Foi solista de diversas orquestras: Academy of St. Martins in the Fields, Sinfonieorchester Basel, Georgien Kammerorchester, Zürich Akademie Orchester, Riga’s Kammerorchester, dentre outras. Apresentou-se ao lado de artistas como Mstislav Rostropovich e Ana Chumachenko e fez cursos com violoncelistas internacionais do porte de Bernard Greenhouse e David Geringas. Como solista, apresentou-se na Suíça, Letônia, Alemanha, França, Portugal, Coréia do Sul, Japão e EUA. Em 2010, concluirá o Curso de Mestrado na Academia de Música de Basel, sob orientação do Professor Ivan Monighetti.
Atualmente com 29 anos, Akane Matsumura iniciou seus estudos de piano aos 4 anos com Prof. Toshiko Kosai. Em 1999, no Japão, concluiu seus estudos na Escola Superior de Música de Tóquio. Em 2001, ingressou na renomada Juilliard School em Nova York, onde concluiu o Bacharelado em 2006 sob orientação do pianista Herbert Stessin. É vencedora e detentora de vários prêmios especiais em importantes concursos de piano no Japão, Bulgária e EUA. Estas premiações são responsáveis por inúmeros concertos com orquestra, recitais solo e de música de câmera em renomadas salas e séries de concertos de vários países. Na Academia de Música de Basel, concluirá neste ano o Mestrado em Performance sob a orientação do Prof. Adrian Oeticker.
“Comemorar 10 anos de atividade cultural mostra indubitavelmente o entusiástico trabalho da organizadora dos Concertos Didáticos, Celina Szrvinsk, introdutora em Belo Horizonte do sistema da assinatura anual e da formação de platéia jovem para concertos de câmara.” Marília Salgado consultora cultural
Concertos Didáticos
Frédéric Chopin (1810-1849) Mazurka op. 24 nº4 Nocturne op. 15 nº3 Ballade op. 47 Impromptu op. 36 Fantaisie op. 49 Mazurka op. 68 nº4 Nocturne op. 37 nº2 Polonaise-Fantaisie op. 61
Berenice Menegale piano
temporada
12 de junho sábado 18 horas
2010
UFMG
Apesar das danças valsa e mazurca partilharem do mesmo compasso (3/4), suas inflexões rítmicas as fazem bem distintas. Para Frédéric Chopin uma diferença também constava: as mazurcas uniam-no com sua terra-natal, a Polônia, de onde exilou-se em 1830 e nunca mais retornou. As valsas, tão apreciadas nos salons, o ligavam ao meio aristocrático, ambiente inevitável a uma boa projeção social. Chopin interessou-se por refinar suas mazurcas formalmente e dedicou-se a elas por toda a vida. Compôs 58 no total, desde a juventude até a última criação, a Mazurka op. 68 nº4. “Não existem composições mais chopinianas do que as mazurcas”, escreveu o biógrafo Huneker, “seu coração era triste e sua mente alegre”. Assim é Mazurka op. 24 nº4 em sua graça langorosa advinda de uma riqueza cromática e harmônica. O título noturno, amplamente usado no classicismo por autores como Mozart (Serenata notturna) e Haydn (Notturni) difere do sentido adotado no romantismo por John Field, Chopin e Gabriel Fauré. Primeiramente empregado para designar uma peça a ser executada à noite, o termo passou a traduzir-se por peças pianísticas de caráter sereno e meditativo, que sugerem ou evocam a noite. Chopin escreveu 21 Nocturnes, atingindo a expressão máxima do gênero. São normalmente estruturados em três partes: apresentação, seção intermediária (em geral mais dramática e tumultuada) e reprise (restabelecendo o repouso climático do início). Chopin também introduziu alguns elementos surpresa antes da reprise, ampliou o final (Noturno op. 37 nº2) e, ocasionalmente, omitiu a própria reprise (Noturno op. 15 nº3).
Já o termo ballade foi uma invenção de Chopin, no sentido por ele usado, pois distanciava-se grandemente do gênero homônimo dançado e cantado pelos trovadores no século XIII. Embora o título também sugira um estilo literário, neste caso relacionado arbitrariamente aos poemas do polonês Mickiewicz, estas peças estão livres de inspirações extra-musicais. Na Ballade op. 47, Chopin realiza um trabalho temático sofisticado nem sempre percebido por intérpretes e críticos musicais. Da melodia inicial deriva quase toda a obra, através de variantes, inversões e, principalmente, no diálogo temático utilizando os registros do piano como se fossem naipes de uma orquestra. O resultado aproxima-se de algo que Chopin deliberadamente nunca ousou fazer: música sinfônica. “O improviso é a base de toda a prática musical verdadeira” disse Furtwängler. Chopin foi exímio na arte de improvisar: tocava sem hesitação, embora ao tentar anotar passasse dias confinado em desespero. O Impromptu op. 36 mostra-nos o período tardio de Chopin, caracterizado pela total ausência do estilo galante inicial e marcado pelo conturbado relacionamento com e escritora George Sand, com quem viveu entre 1838 e 1847. A este Improviso, escrito em 1839 e publicado em 1840, seguese a magistral Fantaisie op. 49, composta em 1841. A Polonaise-Fantaisie op. 61, de 1846, apresenta tanto avanço sobre as outras polonaises que o autor teve dúvidas de como nomeá-la. Chopin praticamente recriou o gênero cultivado por ele desde os sete anos ao entremear o ritmo caloroso da dança de seu país com momentos de profunda reflexão. É a Polônia e toda a sua lembrança, uma luz distante, refratada em diferentes cores pelo prisma da poesia. Marcelo Corrêa
A pianista Berenice Menegale nasceu em 1934, em Belo Horizonte, cidade à qual
voltou definitivamente em 1963 ao criar aqui, com um grupo de músicos, a Fundação de Educação Artística, organização que continua a dirigir.
Sua formação musical e pianística começou muito cedo e se desenvolveu, até os 15 anos, em sua cidade, sob a orientação do professor Pedro de Castro, aluno de Henrique Oswald. Apresentavase em público frequentemente, desde criança, tanto em Belo Horizonte como no Rio de Janeiro e em São Paulo. Nessa última capital, deu em 1948 um recital no Teatro Municipal, sob os auspícios de Guiomar Novaes. Aos 15 anos ingressou no curso superior do Conservatório de Paris, ali permanecendo por um ano como aluna de Jean Doyen. Passou, a seguir, a estudar sob a orientação do pianista Jozef Turczynski, ex-aluno de Busoni e colaborador de Paderewski na edição das obras completas de Chopin. Diplomou-se em 1960 na Academia de Música de Viena e deu concertos na Áustria, Suíça, Itália e Espanha, além de percorrer todo o Brasil. Ao lado de sua ação cultural, Berenice Menegale participa dos principais eventos de música contemporânea e música brasileira do país como solista e em duo muito atuante com o barítono Eladio Pérez-González. Na série Concertos Didáticos UFMG, Berenice Menegale executou a integral das Sonatas de Mozart. Anteriormente havia apresentado na Fundação de Educação Artística todo o Cravo bem Temperado e, com o saudoso violinista Leopold La Fosse, as integrais das Sonatas de Bach, Beethoven, Brahms e outros autores. Participou em 2009 da Rio Folle Journée, com 2 recitais Mozart. Foi professora da Escola de Música da UFMG.
“Não é favor, mas obrigação de qualquer artista brasileiro prestigiar iniciativas como essa dos “Concertos Didáticos UFMG” pelo entusiasmo e dedicação de sua organizadora, a professora Celina Szrvinsk.” Arnaldo Cohen, pianista Jornal O Tempo - 06/08/2005
Concertos Didáticos
Ludwig van Beethoven (1770-1827) Adelaide op. 46 Vincenzo Bellini (1801-1835) Malinconia Ninfa Gentile Dolente Immagine di fille mia Vanne o rosa fortunata Vaga luna che inargenti Gioacchino Rossini (1792-1868) La danza Carlos Gomes (1836-1896) “Quando nascesti tu” (Lo Schiavo) Gaetano Donizetti (1797-1848 “Angelo casto e bel” (Il Duca D’Alba) Francesco Paolo Tosti (1846-1916) Non t’amo piu Vorrei morire Ideale L’alba separa dalla luce l’ombra Peter Tchaikovsky (1840-1893) “Kuda, kuda vy udalilis” (Eugeny Onegin) Charles Gounod (1818-1893) “Salut! Demeure chaste et pure” (Fausto) Francesco Cilèa (1866-1950) “E la solita storia” (L’Arlesiana) Atalla Ayan tenor Marília Caputo piano
temporada
26 de junho sábado 18 horas
2010
UFMG
L u d w i g va n B ee t h o v e n foi um dos responsáveis pela consolidação do Lied, termo que se traduz por canção artística alemã de câmara. No romantismo alemão pós-beethoveniano, a influência da literatura tornou-se cada vez mais marcante e o gênero passou a significar a combinação perfeita entre texto e música. O texto de Adelaide (1796) é do alemão Matthinsson, a quem Beethoven demorou para mandar uma cópia, temendo que o poeta não gostasse de sua música. Ao ouví-la, o escritor fascinou-se com a mais refinada das musicalizações de seu poema, que revela a paixão transbordante por uma mulher idealizada. Decerto o poema fez vibrar uma corda no coração de Beethoven, cuja vida emocional frequentemente esteve fixada em desejos por mulheres idealizadas e inatingíveis. O bel canto é toda uma tradição vocal, técnica e interpretativa da ópera italiana. O auge, no século XIX, deve-se às figuras de Bellini, Donizetti e Rossini. V i n c e n z o B e l l i n i marcou o princípio do bel canto e trouxe para a ópera romântica italiana uma riqueza melódica pungente elogiada por Wagner e seguida por Chopin. Escreveu ao longo de sua vida uma série de peças para voz e piano, as quais batizou composizione da camara. Nelas não há nada do Lied alemão, os poemas são convencionais e as possibilidades do acompanhamento não são exploradas. Entretanto, o piano sugere uma redução de orquestra e a expressividade da linha de canto é tão operística que a sala, por instantes, transfigura-se em cenário de teatro.
tou em vão encontrar outro teatro para encenar a obra. Il Duca D’Alba se manteve no repertório por esconder grandes tesouros, como a ária do último ato Angelo casto e bel. Durante os quase trinta anos que passou na Itália, F r a n c e s c o Pa o l o T o s t i viveu doente, pobre e rejeitado como compositor. Em Roma, foi reconhecido pelo pianista Sgambati e escolhido pela princesa Margherita de Savoy como seu professor de canto. Pouco depois viajou a Londres, onde viu sua fama crescer rapidamente. Foi professor de canto da Família Real e, em 1906, tornou-se cidadão britânico e foi nomeado cavaleiro pelo rei Eduardo VII. Em 1913, retornou a Itália onde faleceu. Sua obra é toda vocal, mas Tosti nunca escreveu uma ópera. Todas as suas canções contem lirismo singular, melodias cantáveis e sentimentalismo doce. “A coisa mais importante na música vocal”, escreveu o compositor russo Pe t e r T c h a i k o v s k y , “é a reprodução fiel da emoção e de um estado mental. Que importa se as frases são repetidas? Sob a tensão da emoção as pessoas frequentemente se repetem e, de qualquer modo, há uma verdade artística que é diferente da verdade real”. Embora não desejasse subordinar sua música às palavras, Tchaikovsky habitualmente escolhia bons textos, como o caso da ópera Eugeny Onegin, baseada em Pushkin, da qual pertence a ária de amor de Lensky “Kuda kuda vi udalilis” (Para onde você partiu?).
A divertida La danza foi composta por G i o a c c h i n o R o s s i n i em 1835 e representa o espírito alegre interiorano da Itália. É uma típica tarantella napolitana, dança rápida geralmente acompanhada por pandeiro e castanholas. Não se sabe ao certo, se a denominação foi dada em homenagem a cidade de Taranto ou aos movimentos da tarântula. Faz parte de um conjunto de oito peças chamado Les soirrés musicales e foi transcrita para piano-solo por Liszt. O texto é de Carlo Pepoli, libretista da ópera Il Puritani, de Bellini.
A obra de C h a r l e s G o u n o d , assim como a sua vida, oscilou entre as missas nas igrejas de Paris e as óperas do Thèâtre-Lyrique. A composição litúrgica mais famosa foi a Messe Solennelle de Ste. Cécile, mas nada comparável ao enorme sucesso da ópera Fausto, baseada no poema épico de Goethe. Composta em 1859, a célebre ópera possui as melhores árias agrupadas no terceiro ato, sendo duas delas para tenor: a Canção da flor e a cavatina Salut, demeure chaste et pure.
As óperas do paulista de campinas Ca r l o s G o m e s pertencem à transição pós-verdiana na Itália, ao lado de Boito, Ponchielli, Franchetti e Catalani. Em Lo Schiavo, o autor se sobressai num de seus melhores momentos de inspiração melódica. É o caso da ária de Americo Quando nascesti tu, onde é visível a filiação melódica à canção popular brasileira oitocentista. A partir de 1911, Enrico Caruso, tendo esgotado o repertório operístico de tenor e ávido por novidades, adotou esta ária como uma de suas prediletas.
Em 1897, o Teatro Lírico Scala de Milão assistiu à estréia da terceira ópera de F r a n c e s c o C i l èa : L’Arlesiana, baseada na peça de Alphonse Daudet. Entre o elenco estava o jovem Enrico Caruso, que obteve grande sucesso com a ária e la solita storia del pastore, conhecida também como Lamento di Federico e cuja beleza viria a manter viva a memória desta ópera até os dias atuais. Contudo, o resto da ópera foi um fracasso e, Cilèa, convencido do valor da obra, fez-lhe alterações drásticas e detalhadas durante o resto de sua vida. Na partitura que ouvimos hoje é difícil encontrar um único compasso que esteja completamente inalterado em relação ao original.
Gae ta n o D o n i z e t t i nunca completou a ópera Il Duca D’Alba. Após realizar metade da partitura, ele e o libretista fecharam contrato para a encenação da obra na Ópera de Paris. No entanto, o soprano principal do teatro recusou a produção e a casa sucumbiu a seu favor. Donizetti perdeu as disputas jurídicas, pagou pesada multa e ten-
Marcelo Corrêa
Natural de Belém do Pará, Atalla Ayan é um dos grandes fenômenos do canto lírico que se revelam no Brasil e no mundo. Iniciou os estudos em 2002 no Conservatório Carlos Gomes, sob orientação da professora Malina Mineva. Com apenas 24 anos foi convidado a fazer parte do Young Artist’s Program do Metropolitan Opera House, em Nova York, após vencer o Concurso Internacional de Canto Lícia Albanese daquela cidade em 2008. É detentor dos seguintes prêmios: 2º lugar no X Concurso Nacional Maracanto/2006; 1º prêmio de Júri e de Público, além dos prêmios especiais Irmãos Nobre e A mais Bela Voz, no I Concurso Internacional de Canto Helena Coelho Cardoso em Belém/2007; 1º lugar no Concurso Internacional Premio Ciudad de Trujillo, no Peru/2007. Estreou no Theatro da Paz como Don Alvaro (Il Guarany) e como Rinnucio (Gianni Schicchi). Participou também como solista do Stabat Mater de Rossini. Apresentou-se pela primeira vez no Theatro Municipal do Rio de Janeiro como Jaquino na ópera Fidelio de Beethoven em maio de 2008, sob a regência de Roberto Minczuk. No mesmo ano, estreou como Rodolfo (La Bohème) em Belém e no 20º Greek National Opera em Atenas. Debutou no Teatro Comunale de Bolonha como Ruggero (La Rondine) em fevereiro de 2009. Seu repertório inclui obras de Mozart, Beethoven, Rossini, Bellini, Donizetti, Schubert, Schumann, Gounod, Massenet, Verdi, Gomes, Puccini, Cilèa e Strauss, entre outros.
Natural de Belém, Marília Caputo é pianista de vasta experiência no Brasil e exterior. Iniciou os estudos de piano aos oito anos com a professora Doris Azevedo no Conservatório Carlos Gomes de Belém e no mesmo ano embarcou para os EUA, dando continuidade ao curso de piano na Universidade da Califórnia em Santa Bárbara. Com apenas 10, anos venceu o Young Artists Competition, solou com a Orquestra Sinfônica de Stª Bárbara, apresentou-se na TV Educativa no Steinway Hall, em Los Angeles e no Festival na Universidade de Pepperdine, na Califórnia. De volta ao Brasil, em 1984, deu continuidade aos estudos com a pianista Glória Caputo, sua mãe. Aos 16 anos, foi escolhida para integrar a classe do professor Oleg Maisenberg, da Hochschüle de Viena e do professor Hans Graff do Mozarteum em Salzburgo-Alemanha. Participou de master classes com Nelson Freire e obteve o primeiro lugar no concurso, que lhe concedeu bolsa para estudar no Conservatório Tchaikovsky, em Moscou, onde residiu por 7 anos. Após ter concluído Mestrado no Conservatório Tchaikovsky, Marilia mudou-se para os Estados Unidos e recebeu o Performance Diploma do Peabody Conservatory, em Baltimore. Atualmente, vem se apresentando como solista e camerista nos Estados Unidos e Brasil. É professora de música de câmara do curso do Bacharelado em Música da Universidade Estadual do Pará.
“Para os estudantes, uma aula prática de sensibilização, conhecimento e apreciação da boa música; para os iniciados, um momento de beleza, fruição e emoção compartilhada.” Maria Ângela Resende Assinante das temporadas
Concertos Didáticos
Astor Piazzolla (1921-1992) Bandoneon Zita Ernesto Nazareth (1863-1934) Eponina Batuque Heitor Villa-Lobos (1887-1959) Choros nº5 e nº1 Joaquín Rodrigo (1901-1999) Tonadilla Allegro ma non troppo Minueto Pomposo Allegro Vivace Leo Brouwer (1939) Sonata del Caminante (solo: Odair Assad) A. C. Jobim (1927-1994) Amparo/Stone Flower Egberto Gismonti (1947) Palhaço Sérgio Assad (1952) Tahia li Ossoulina
Duo Assad Sérgio Assad e Odair Assad violões
temporada
7 de agosto sábado 18 horas
2010
UFMG
Astor Piazzolla foi o segundo maior bandoneonista da Argentina, seguido da figura do mestre e amigo Anibal Troillo (1908-1975), Pichuco, entre os tangueiros. Ao saber da morte de Troillo, Piazzolla compôs, em duas noites, páginas tão inspiradas quanto o célebre Adiós Nonino, criado após a morte de seu pai. “O tango é um pensamento triste que se baila”, disse Discépolo. Piazzolla vai além: “o tango nunca poderá ser alegre. Quando percebo que a platéia está chorando, fico contente.” Batizada Suite Troilleana e dividida em quatro movimentos - Bandoneon, Zita, Whisky e Escolaso -, a obra fez parte da trilha sonora do filme Lumière de Jeanne Moreau. Há muito admirado por amantes da música popular e erudita, Ernesto Nazareth foi, segundo Villa-Lobos, a verdadeira encarnação da alma musical brasileira. Na verdade, ele nacionalizou a música brasileira de salão, pois mesclou danças de origem européia, como a polca e a valsa (como o caso de Eponina), com elementos melódicos e rítmicos captados da música nativa brasileira - o lundu, o maxixe e o batuque. Os Choros, escritos por Heitor VillaLobos entre 1920 e 1929, iriam desde o número um até o quatorze se as partituras dos dois últimos não tivessem sido perdidas. Assim como as famosas Bachianas Brasileiras, os Choros também foram escritos para as mais diversas formações: desde solos e grupos camerísticos até grandes massas sinfônicas. O Choros nº1 para violão solo foi composto em 1920 e dedicado a Ernesto Nazareth. O nº5, de 1925, é original para piano solo e recebeu o sugestivo subtítulo Alma Brasileira. Joaquín Rodrigo pertence ao grupo de compositores que, apesar da extensa lista de composições de excelente qualidade, adquiriu fama com uma única e hiper-executada obra-prima, o Concierto de Aranjuez. Aos três anos teve a visão bastante danificada por uma doença que o deixou, mais tarde, totalmente cego. Estudou 12 anos em Paris, onde conheceu Manuel de Falla e Ravel. Em 1939, retornou definitivamente a Espanha. Em 1955, compôs a Fantasia para un Gentilhombre, dedicada a Segovia e, em 1960, escreveu sua Tonadilla para dois violões.
O compositor cubano Leo Brouwer é o último de uma linhagem de violonistas-compositores que vai de Luis de Milán a Villa-Lobos. Sua obra é influenciada desde o neoclassicismo e o nacionalismo de Falla, Bartók e Stravinsky até o minimalismo, o atonalismo, a música pop e a world music. A Sonata del caminante é talvez a mais ambiciosa de suas últimas composições para violão-solo. É dedicada a Odair Assad, que tem recentemente realizado estréias mundiais da obra. Somando-se a Villa-Lobos em diferente instância, Antônio Carlos Jobim foi responsável pela “invenção” da música brasileira, partindo de recursos do populário nacional e universalizando-os. Teve formação erudita: Lúcia Branco e Tomás Terán (piano), Koellreuter (composição) e Paulo Silva (harmonia). Começou fazendo arranjos e depois encontrou a vocação de compositor: “é culpa do Mário de Andrade. Ele disse: façam música brasileira. Éramos estudantes e líamos Mário. Fizemos.” Em 1970, lançou o LP Stone Flower, que inclui sucessos como Sabiá, Chovendo na Roseira e Amparo, cuja melodia, depois de ganhar letra de Chico Buarque e Vinícius de Moraes, se tornaria a célebre Olha Maria. Egberto Gismonti nasceu em uma família de músicos do Carmo, Rio de Janeiro. É um mestre na fusão da música erudita e da música popular. Interessou-se pela pesquisa da música folclórica e nativa do Brasil e chegou a passar uma temporada com os índios no Xingu. Estudou na França com Nadia Boulanger (piano) e Jean Barraqué (composição), discípulo de Messiaen e Webern. Por influência do choro, pesquisou os diferentes tipos de violão, adotando o oito cordas por volta de 1973. Em 1986, gravou o LP Alma no qual estão presentes os sucessos Água e Vinho, Palhaço, e 7 Anéis. Sérgio Assad nasceu em São João da Boa Vista, São Paulo, onde teve os primeiros contatos com o violão tocando com o pai, um bandolinista e chorãomúsico. Estudou posteriormente com a célebre violonista e alaudista argentina Monina Távora, discípula de Andrés Segovia. Além de notável intérprete é também arranjador e compositor, destacando a vitória em dois prêmios Latin Grammy Award, o último deles por Tahia li Ossoulina (2008), a primeira composição inspirada em suas raízes libanesas. Marcelo Corrêa
Considerado por muitos especialistas como o melhor duo de violões em muitas décadas, os irmãos Assad criaram um novo padrão para este instrumento. Sua excepcional qualidade artística vem de uma família de músicos e de estudos com os melhores violonistas da América do Sul. Sérgio e Odair tiveram um papel fundamental na criação e introdução de novo repertório para dois violões. Seu virtuosismo inspirou compositores como Astor Piazzolla, Terry Riley, Radamés Gnattali, Marlos Nobre, Nikita Koshkin, Roland Dyens, Jorge Morel, Edino Krieger e Francisco Mignone a criar músicas especialmente para eles. Astor Piazzolla, fascinado após ouví-los em Paris, em 1983, dedicou-lhes três tangos originais para dois violões: o Tango-Suite, hoje no repertório dos duos de todo o mundo. O Duo Assad atua com grandes nomes da cena internacional como Yo-Yo Ma, Nadja Salerno-Sonnenberg, Fernando Suarez Paz, Paquito D’Rivera, Gidon Kremer and Dawn Upshaw. Seu repertório inclui música original composta por Sérgio e releituras de música folclórica e jazz, além de música latina de quase todos os estilos, abrangendo ainda transcrições da literatura barroca de Bach, Rameau e Scarlatti e adaptações de obras de autores como Gershwin, Ginastera e Debussy. São reconhecidos por suas gravações para a Nonesuch Records e GHA. Em 2001, a Nonesuch lançou Sérgio e Odair Assad Play Piazzolla, que recebeu o Grammy Latino. Sua sétima gravação para a Nonesuch, lançada em 2007 é Jardim Abandonado, baseado em uma obra de Antônio Carlos Jobim, indicado como Melhor Álbum Clássico e com o qual Sérgio conquistou o Grammy Latino por sua composição Tahiiyya Li Oussilina. Odair vive em Bruxelas, onde ensina na Escola Superior de Artes. Sérgio mora em Chicago e faz parte do corpo docente do Conservatório de São Francisco.
“O melhor duo de guitarras existente, talvez em toda a história… nenhuma antecipação poderia me ter preparado para a impressionante flexibilidade e completa unanimidade dos irmãos brasileiros”. The Washington Post
“Seis pianistas de altíssimo nível [...] Um gênio: Ludwig van Beethoven [...] Um programa: a apresentação do ciclo completo das 32 Sonatas para piano, em apenas três dias e seis concertos [...] um marco na história da música em Belo Horizonte [...] evento que reuniu um público apaixonado por música que lotou todas as apresentações no Conservatório UFMG e Fundação de Educação Artística. [...] Apenas Rio de Janeiro e Belo Horizonte tiveram a oportunidade de acompanhar os concertos, que agora seguem para Europa e Japão.” João Paulo Cunha, jornalista Jornal Estado de Minas - 26/10/2004
Concertos Didáticos
Robert Schumann (1810-1856) Arabeske em dó maior op.18 Johannes Brahms (1833-1897) Variações e Fuga sobre um tema de Händel op.24 Frédéric Chopin (1810-1849) Scherzo nº1 op. 20 em si menor Scherzo nº2 op. 31 em si bemol menor Scherzo nº3 op. 39 em dó sustenido menor Scherzo nº4 op. 54 em mi maior
Arnaldo Cohen piano
temporada
14 de agosto sábado 18 horas
2010
UFMG
Robert Schumann nasceu em Zwickau, Alemanha, a 8 junho de 1810 e faleceu em Endenich a 29 de julho de 1856. Seu primeiro período composicional corresponde a uma produção puramente pianística, delimitada pelo opus 23 (Nachstücke) e fortemente inspirada pelo seu amor por Clara Schumann. Entre 1836-39, Friedrich Wieck, pai de Clara e ex-professor de Robert, impediu-lhes veementemente o noivado, que ocorreu somente após autorização judicial. Deste período angustiante e apaixonado surgiram grandes obras para piano das quais se destacam a Kreisleriana op.16 e
a Fantasia em dó op.17, ambas de 1938. Deste ano também são a Arabeske op.18, Blumenstück op.19 e Humoreske op.20 trilogia escrita durante visita a Viena. A palavra francesa arabesque vem do ornato de origem árabe presente em suas construções arquitetônicas e é comumente empregada na linguagem musical para designar uma peça de ornamentação igualmente floreada. A Arabeske op. 18 é um perfeito exemplo da escrita em acordes arpejados tão prediletos por Schumann e nos quais belas guirlandas melódicas sutilmente escondem um denso contraponto e uma rica harmonia.
J ohannes B rahms nasceu em Hamburgo, a 7 de maio de 1833 e faleceu em Viena, a 3 de abril de 1897. A obra Variações e Fuga sobre um Tema de Händel op. 24 é considerada a terceira das grandes séries de variações da literatura para teclado, iniciada pelas Variações Goldberg de Bach e seguida pelas Variações Diabelli de Beethoven. O terceiro dos Grande B’s alemães tinha então 28 anos e era, portanto, bem jovem em comparação à idade em que Bach e Beethoven escreveram suas célebres variações. O tema de Händel é extraído do movimento central de sua Nona Suíte para Cravo, publicada em 1733, mas provavelmente escrita muito antes. Brahms apresen-
tou suas Variações em diversas ocasiões. Dentre as mais importantes apresentações figuram a estréia em Hamburgo, em novembro de 1861, e o recital em Viena, em 1862, que deu novo impulso à carreira do compositor-pianista. Mas, talvez a mais memorável tenha ocorrido em 6 de fevereiro de 1864, quando o autor executou suas Variações no primeiro e único encontro com seu arqui-rival Richard Wagner, expoente máximo da música do futuro. Por muitas vezes mordaz a respeito de Brahms, Wagner ao ouvir a obra viu-se obrigado a admitir que “ela mostra o que ainda pode ser feito com as formas antigas por alguém que sabe como manejá-las”.
Frédéric François Chopin nasceu em Zelazowa-Wola, perto de Varsóvia. Segundo afirmações suas e de seus familiares, nasceu a 1º de março de 1810, diferentemente da certidão de batismo que registra 22 de fevereiro. Faleceu em Paris, a 17 de outubro de 1849, sendo enterrado no cemitério Père-Lachaise, após um funeral assistido por quase três mil pessoas, no qual foram executados sua Marcha Fúnebre e o Réquiem de Mozart. Entre 1832 e 1842, compôs os Scherzos (scherzo, do italiano brincadeira) que, assim
como as Ballades e os Impromptus, compõem famílias de quatro peças. Diferentemente de Beethoven, que consolidou o scherzo como movimento de sonatas, sinfonias e obras de câmera, Chopin firmou o gênero como movimento independente, um poema musical como dizia Alfred Cortot. A diferença acentua-se ainda pela ausência da jocosidade, substituída por um clima lúgubre e certa exaltação trágica logo questionada por Schumann: “como se vestirá a gravidade, se o humor usa véus tão escuros?”.
Manuscrito de Chopin do Scherzo nº2
Marcelo Corrêa
Arnaldo Cohen foi o único aluno na história da universidade brasileira a graduar-se com grau máximo em piano e violino pela Escola de Música da UFRJ. Teve no grande pianista brasileiro Jacques Klein seu principal mestre. Conquistou por unanimidade o 1º Prêmio no Concurso Internacional Busoni, na Itália e, desde então, apresentou-se em mais de 2.000 concertos pelo mundo, como solista das mais importantes orquestras. A BBC Magazine definiu-o como um raro fenômeno. Para o selo sueco BIS gravou CD dedicado à música brasileira e, sobre essa gravação, o crítico do jornal inglês The Times escreveu: “Cohen é possuidor de uma técnica extraordinária e capaz de chamuscar as teclas do piano ou derreter nossos corações”. Em 2006, a revista Gramophone escolheu a gravação de Cohen para o selo BIS, com obras de Liszt, para integrar a prestigiosa e seleta lista do Editor’s Choice e justificou: “Sua interpretação de Liszt não fica nada a dever à famosa gravação feita por Horowitz, tanto em cores como em temperamento. Sua maturidade musical e virtuosidade estonteante o colocam na mesma categoria de Richter”. A mesma Gramophone não poupou elogios ao CD de Cohen lançado recentemente como solista da Orquestra Sinfônica de São Paulo sob a regência de John Neschling. Executando os dois concertos de Liszt e a Totentanz, o crítico Jeremy Nicholas resumiu: “difícil de superar”. Após viver mais de vinte anos em Londres, Cohen transferiu-se para os Estados Unidos em 2004, tornando-se assim o primeiro músico brasileiro a assumir uma cátedra vitalícia na Escola de Música da Universidade de Indiana. Na Inglaterra, Cohen lecionou na Royal Academy of Music e no Royal Northern College of Music, onde recebeu o título de Fellow Honoris Causa. Seu interesse pela vida acadêmica levou-o a participar como jurado de vários concursos internacionais como o Concurso Chopin, em Varsóvia. Os destaques da última temporada incluem apresentações como solista das orquestras de Cleveland, Filadélfia, Los Angeles e Seattle, entre outras. O crítico Steve Smith do New York Times definiu a arte de Cohen: “Com uma técnica infalível, sua performance foi um modelo de equilíbrio e de imaginação.” Yehudi Menuhin, um dos mais importantes músicos do século XX, foi mais longe: “Arnaldo Cohen é um dos mais extraordinários pianistas que já ouvi”.
“Só posso elogiar essa iniciativa que vem se mantendo há muitos anos. São temporadas ricas musicalmente. É uma beleza de trabalho, a produção é muito boa, nós artistas somos muito bem recebidos, ela sabe o que esperamos.” Gilberto Tinetti - pianista Jornal O Tempo - 02/07/2004
Concertos Didáticos
Robert Schumann (1810-1856) Cenas do Oriente op.66 - Seis Improvisos Johannes Brahms (1833-1897) Variações sobre um tema de Robert Schumann op.23 Danças Húngaras para piano a 4 mãos nº 1 em sol menor nº 4 em fa menor nº 5 em fa sustenido menor
Celina Szrvinsk e Miguel Rosselini piano a 4 mãos
temporada
25 de setembro sábado 18 horas
2010
UFMG
Rückert havia realizado uma leitura ou sorte de transcrição do poemário árabe Makamen de Hariri, do qual seis poemas foram selecionados para servirem de fonte inspiradora à criação destes Impromptus op.66 de Robert Schumann, sem que, no entanto, fossem tomados como fios condutores de intenções ou planos puramente descritivos para composição das peças, uma vez que o ciclo se ancora em princípios musicais de inegáveis rigores, que também lhe garantem unidade em espírito. Estes seis improvisos são o mais sofisticado ciclo dentre os quatro compostos por Schumann para duo de pianos. O Impromptu inicial apresenta sua parte central à semelhança de um coral. Tudo nos remete à atmosfera dos vales ao entardecer: ao fundo, aqueles prováveis melismas à moda oriental puderam ter livrado o tema de certa simetria. Na peça seguinte, as linhas melódicas
se entrelaçam compondo uma interminável e esplêndida trama. Súbito, irrompe o terceiro Impromptu, de modo descontraído, em que se alternam aspectos alegres e tristes da vida sob uma ótica inteiramente popular. No movimento seguinte, perguntas e respostas, sob uma só linha melódica em constante movimento, mostram que a linguagem musical pode ser mais viva que o discurso verbal. O quinto Impromptu, mais que os anteriores, revela as roupagens sinfônicas que Schumann tivesse por acaso pretendido para o ciclo. Por fim, o sexto Impromptu, que em ímpetos irrefreáveis salta do mais profundo desespero à alegria numa espécie de confissão. O espírito de Schumann, se reflete integralmente neste improviso, sua religiosidade e introspecção onde a prece e o desejo de consolo se infiltram traduzidos em música que, por fim, se ilumina em mansidão e fé.
Nas Variações sobre um tema de Robert Schumann op. 23, Johannes Brahms atinge um dos seus momentos de maior expressão: a intimidade com a qual desvela o espírito de Schumann, fazendo-o rebrotar em sua integral poesia. O tema é tido como a derradeira ideia musical de Schumann e lhe teria sido ditado pelos espíritos de Schubert e Mendelssohn na noite de 17 de fevereiro de 1854, por isso conhecido como Geister-Thema. Schumann criou seu próprio conjunto de cinco variações sobre esta ideia, tendo sido publicadas décadas mais tarde por iniciativa de Clara Schumann. Nas Variações op.23, compostas
em novembro de 1861 e dedicadas a Julie Schumann, filha mais velha de Robert e Clara, Brahms releva sua relação com Schumann e seus sentimentos ante o fim trágico de seu grande incentivador. O conjunto destas variações observa com rigor as proporções do tema e cada peça manifesta distinto caráter, o que permitiu jogos modulatórios incomuns ao gênero. Na última variação, frases se expandem cheias de resignação e, nesta atmosfera de calma contemplativa, ressurge o tema de Schumann para concluir o ciclo. Serenado, Brahms entende a grandeza de Schumann: que a poesia do mestre então se expresse livremente. Aylton Escobar
Nada agradava mais a B rahms que ouvir música cigana tocada por uma orquestra húngara. Encantou-se na juventude pelas melodias e o estilo de excecução do violinista húngaro Eduard Reményi, com quem fez tournée ao piano, em 1853. Improvisou, transcreveu, criou e anotou com visão de artista-músico, não de etnólogo, diversos temas
folclóricos que se tornaram o conjunto das 21 Danças Húngaras. “O que sempre foi totalmente improvisado por muito tempo é um pouco difícil de ser registrado”, escreveu Brahms. O sucesso das Ungarische, como as chamava, fizeram-no criar versões para piano solo, piano a 4 mãos e arranjar algumas para orquestra. Marcelo Corrêa
Reconhecido como um dos mais destacados duos pianísticos do país, Celina Szrvinsk e Miguel Rosselini são artistas premiados nacionalmente. Formado em 1984, o duo é convidado para as principais salas de concerto do Brasil. Já se apresentaram na Alemanha, Suíça, Itália, Canadá, Rússia e Japão. Como solistas já atuaram com as seguintes Orquestras Sinfônicas: de Minas Gerais, de Campinas, Estadual de São Paulo, da USP, Sinfônica Nacional, Filarmônica de Câmera da Polônia, Filarmônica de Baden-Baden e Bach-Orchester HerzogtumLauenburg, Alemanha. Os pianistas integram também várias outras formações camerísticas entre duos e trios. São frequentemente convidados como jurados de concursos nacionais e internacionais e como docentes em cursos de férias e master classes. De 1991 a 1996 realizaram estudos de pós-graduação na Staatliche Hochschule für Musik Karlsruhe, onde gravaram em 1998 CD com obras de compositores brasileiros e alemães. O segundo CD, de 2005, foi citado pela revista Diapason entre as melhores gravações brasileiras do ano. Desde 1985 são professores de piano e música de câmera na Escola de Música de UFMG. Na capital mineira dirigem ainda a série Concertos Didáticos UFMG que tem trazido à cidade os maiores artistas brasileiros e vários grandes nomes internacionais. “O CD Piano a 4 mãos merece ser mencionado como um registro ímpar na interpretação pianística brasileira a dois. Escolha de repertório, qualidade de som e excelência de execução justificam essa execução. Celina Szrvinsk e Miguel Rosselini dedicam a mesma sensibilidade a compositores nacionais e europeus ... com a devida leitura de filigranas.” Revista Continente outubro/2006 “Há surpresas muito agradáveis. Uma das melhores é a seleção de peças a 4 mãos, patrocinada pela FUNDEP e pela Universidade Federal de Minas Gerais. Nela, o duo mineiro Celina Szrvinsk e Miguel Rosselini demonstra solidez técnica, diversidade estilística e muita fluência expressiva, ao abordar, seja autores franceses, sejam compositores brasileiros.” Lauro Machado Coelho - Revista Diapason - março/2006 “O recital dos pianistas brasileiros não poderia ter sido mais convincente. Ambos conquistaram o público com seu carisma e com um inusitado programa e também, em primeira instância, pela extrema musicalidade e presença interpretativa. Precisão rítmica, virtuosismo, transparência sonora, lirismo, elegância pianística marcaram a interpretação de Celina Szrvinsk e Miguel Rosselini”. Badische Neueste Nachrichten - outubro/98 “Os pianistas apresentaram com precisão as nuances das Variações de Brahms sobre um tema de Schumann, op.23, do melancólico tema às variações mais rápidas, que foram tocadas com técnica brilhante... ao final, com três Danças Húngaras atingiram plenamente o coração dos ouvintes”. Badische Neueste Nachrichten - fevereiro/94 “De forma sedutora o duo apresentou as Cenas do Oriente de Schumann impregnadas dos mais sutis matizes tímbricos. Uma interpretação extraordinária! Badisches Tagblatt - agosto/93
“Sempre apreciei e me sensibilizei ao ouvir boa música. Ao vivo, as oportunidades eram poucas. Tinha que me contentar com gravações. Foi através dos Concertos Didáticos UFMG... que tive a oportunidade de aprender a ouvir e sentir música de forma diferente...O ciclo das Sonatas de Beethoven, além de marcar a série de concertos, ficou gravada na memória de muitos... Ouço os mesmos CDs que ouvia antes, mas escuto diferente.” Adelaide Koeppel Assinante das temporadas
Concertos Didáticos
Felix Mendelssohn (1809-1847) Abendlied (Heine) Herbstlied, op. 63, nº 4 (Klingemann) Robert Schumann (1810-1856) In der Nacht, op. 74, nº 4 (Geibel) Waldesgespräch, op. 39, nº 3 (Eichendorff) Unterm Fenster, op. 34, nº 3 (Burns) Er, der Herrlichste von allen, op. 42, nº 2 (Chamisso) Wiegenlied, op. 78, nº 4 Die beiden Grenadiere, op. 49, nº 1 (Heine) Hugo Wolf (1860-1903) Três canções sobre texto de Eduard Mörike Der Gärtner Das verlassene Mägdlein Er ist’s Anônimo Hei de amar-te até morrer (Modinha imperial) Antônio da Silva Leite (1759-1833) Amor concedeu-m’um prêmio Alberto Nepomuceno (1864-1920) Trovas I (Duque Estrada) Cantigas (Collaço) Edmundo Villani-Côrtes (1930) Valsinha de roda (Góes) Aaron Copland (1900-1990) De “Old American Songs” Long time ago I bought me a cat Samuel Barber (1910-1981) Sure on this shining night, op. 13, nº 3 (Agee) Leonard Bernstein (1918-1990) De “West Side Story” I feel pretty (Sondheim) Maria (Sondheim) Tonight (Sondheim)
VERUSHKA MEINHARDT soprano RICARDO TUTTMAN tenor LUIZ SENISE piano
temporada
23 de outubro sábado 18 horas
2010
UFMG
Félix Mendelssohn escreveu, além das árias de concerto, 70 Lieder e 15 duetos vocais. Esteticamente mais conservador que Schumann, seu contemporâneo, Mendelssohn admirava a música folclórica e a poesia nacionalista. Sua tradição musical deve-se à sua rica cultura pessoal e à admiração da obra de J. S. Bach. “A música de Mendelssohn é a música do bom gosto por tudo o que o passado nos legou: ela olha sempre para trás”, justificou Nietzsche. Nos Lieder de Robert Schumann a alquimia entre música e poesia é completa. Algo vem de uma prodigiosa cultura literária e da herança de Schubert, mas o resto é mágico e indecifrável. Sabemos que, em 1840, Schumann realizou o sonho de desposar a bela e jovem Clara, então a maior pianista da Alemanha. Naquele ano, ele sentia-se pleno de música e confessou: “O piano é estreito demais para mim!”. E envolto à poesia de Goethe, Heine, Rückert, Lenau, Einchendorff e outros, compôs, no decorrer de 1840, 138 Lieder de rara beleza. Mörike não foi apenas um dos grandes poetas alemães, mas um escritor que inspirou profundamente grandes compositores como Schumann, Brahms e, especialmente, Hugo Wolf. Em 1888, Wolf escreveu a um amigo em Viena: “No sábado eu compus, sem intenção de fazê-lo, Das verlassene Mägdlein (A donzela abandonada) já tão celestialmente musicada por Schumann. Se fiz uso do mesmo poema, aconteceu quase que contra a minha vontade, ou talvez apenas porque eu me permiti ser capturado de repente pela magia deste poema. Mas algo notável surgiu, e eu acredito que a minha composição possa coexistir com a dele.” Wolf foi um artista inspirado em suas canções, verdadeiras miniaturas de fantasia. Seu depoimento prova que podem surgir do binômio música/poesia ilimitadas pinturas de palavras, a meio caminho entre a descrição e o imaginário. As origens da modinha imperial são incertas. Os registros indicam que em Portugal as modinhas mais antigas já eram tidas como música de salão. Já no Brasil, tudo aponta para uma origem popular. Há controvérsia sobre a autoria de Hei de amar-te até morrer. Alguns estudiosos atribuem o texto a Francisco Moniz Barreto e a música a Francisco José Martins. Nas Modinhas Imperiais de Mário de Andrade, está compilada como segue: “peça anônima que se tornou muito celebrada em todo o Brasil, a tradição a considera como baiana de origem”. O compositor português Antônio da Silva Leite nasceu e morreu no Porto onde trabalhou como mestre de capela na Igreja da Sé. Cultivou diversos gêneros musicais como a ópera, a música de câmara e a modinha. Em sua obra vocal percebe-se diluída a influência da ópera italiana que, por sua vez, revela-se em desenhos de certo virtuosismo, distinguindo suas modinhas ou cançonetas daquelas então cultivadas nos salões portugueses.
Nascido em Fortaleza, Alberto Nepomuceno foi difusor da música brasileira na Europa e, semelhantemente no Brasil, estreou obras de compositores estrangeiros. Promoveu o canto em português e foi considerado pai da canção brasileira. Desejou aproximar a canção do Lied alemão e da mélodie francesa e afastá-la da estética operística italiana. Na época, tal fato gerou polêmica e controvérsia. Curiosamente, ele próprio compôs sobre poemas em italiano, francês, alemão e até em sueco. Mas o intento nacionalista valeu-nos belas canções nascidas sobre textos em vernáculo, dos poetas menores aos nossos melhores autores parnasianos. Mineiro de Juiz de Fora, Edmundo VillaniCôrtes é tido como sucessor da linha estético-musical de Radamés Gnattali e Guerra-Peixe. A Valsinha de Roda foi escrita em 1979, juntamente com outras dezessete canções com letra e música de sua autoria. Em 1991, o compositor arranjou a obra para soprano e octeto de violoncelos. Professor, crítico, escritor e maestro, o nova-iorquino Aaron Copland compôs para salas de concerto, teatro, balé e cinema. Nacionalista máximo, alcançou equilíbrio entre a música de vanguarda e o estilo folk norte-americano. Escreveu as Old American Songs para voz e piano e, em seguida, arranjou-as para barítono e orquestra. A obra está dividida em duas partes criadas em 1950 e 1952, respectivamente. As canções Long time ago, uma balada, e I bought me a cat, uma canção infantil, pertencem ao primeiro grupo, estreado em 1950 pelo tenor Peter Pears, acompanhado ao piano pelo compositor inglês Benjamim Britten. Samuel Barber foi um compositor contemporâneo que não sucumbiu a cerebralismos. Foi romântico, emocional e tecnicamente sofisticado. Festejado em seu centenário, obteve seu primeiro sucesso com Dover Beach (1931), um grupo de canções para barítono e quarteto de cordas. Barber, um bom barítono, foi o próprio solista da obra e assim o fez na prémière da canção Sure on this shining night, acompanhando a si mesmo ao piano. A peça pertence ao ciclo Four Songs Op.13 e seu texto é extraído do livro Permit Me Voyage de James Agee. Leonard Bernstein adquiriu fama repentina como regente aos 25 anos, quando substituiu Bruno Walter num concerto da Filarmônica de Nova York. Como compositor, destacou-se pelo duplo papel de autor de música séria e de música popular. Depois de Gershwin, nenhum outro compositor conquistou posição tão sólida em ambos os campos. Mas Bernstein obteve essa dupla posição caminhando em sentido contrário ao de Gershwin: do erudito ao popular. Seu musical mais importante é West Side Story, de 1957, conhecido no Brasil como Amor, Sublime Amor, do qual pertencem os sucessos Maria, I feel pretty e Tonight. Marcelo Corrêa
Musicista versátil, mestre em flauta transversa barroca e música antiga pela Escola Superior de Utrecht (Holanda), pianista laureada em vários concursos, Veruschka Mainhard descobriu no canto sua real vocação. Realizou estudos com Carol McDavit e Martha Herr no Brasil, Uta Spreckelsen na Alemanha e Marianne Blok na Holanda. Participou de diversas master classes ministradas por Jean-Paul Fouchécourt, Susie le Blanc, Monique Zanetti e Maria Venuti e Laura de Souza. Como bolsista da Fundação do Estado de Baden-Württemberg, aperfeiçoou-se com Roland Hermann, Mitsuko Shirai, Hartmut Höll, Hilde Zadek e Jeffrey Gall na Alemanha e com Jorge Chaminé na Fundação Calouste Gulbenkian de Paris. É preparadora vocal do Coro de Câmara Pro-Arte e integrou o Coro do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. É professora de Dicção e Canto da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro e vem exercendo atividade pedagógica ministrando vários cursos e master classes de canto e técnica vocal para coro. Como camerista, apresentou-se nas mais importantes salas de concerto do país e no exterior. Atuou como solista em óperas, oratórios e cantatas no Brasil, Alemanha e Holanda, tendo gravado diversos discos e programas para rádio e TV. Estreou várias obras escritas para sua voz. Natural do Rio de Janeiro, Ricardo Tuttmann desenvolve intensa atividade lírica e camerística em importantes teatros e salas de concerto no Brasil e no exterior. Mestre em Canto, tem se apresentado sob a regência de destacados maestros tais como Eugene Kohn, Christian Thielemann, Romano Gandolfi, Luiz Fernando Malheiro, John Neschling e Isaac Karabtchevsky. Apresentou-se em Tóquio, Nagoya, Viena, Barcelona, Tel Aviv, Dresden e Luxemburgo. Vencedor de vários concursos de canto e detentor do Special Award no III Pavarotti International Competition. Graduou-se em canto e radicou-se na Alemanha, contratado pela Ópera Estatal de Saarbrücken e pela Ópera Estatal de Hamburgo. Dentre os papéis que já interpretou estão Erik (Navio Fantasma), D. José (Carmen), Bacchus (Ariadne auf Naxos), Cavaradossi (Tosca), Werther (Werther), Duca (Rigoletto) e Rodolfo (La Bohème). Sua estréia como Bacchus, no V Festival de Verão do Castelo de Rheinsberg recebeu excelentes críticas da imprensa especializada alemã. É professor de canto da Escola de Música da UFRJ. Elogiado pela crítica nacional e internacional, a estréia de Luiz Senise no Carnegie Recital Hall foi saudada no The New York Times por J. Horowitz, que ressaltou a singular execução de Debussy e a majestosa interpretação de Liszt, considerando-o “...um pianista superior, dedos possantes, ideias incisivas e habilidade para equilibrar impetuosidade com refinamento.” Discípulo de Elzira Amábile, aperfeiçoou-se com Jacques Klein, Arnaldo Estrella e Magda Tagliaferro. Na Europa, estudou sob a orientação de Bruno Seidlhofer, Nikita Magaloff, Jan Ekier, Pierre Sancan e Eliane Richepin. Detentor de numerosos prêmios em concursos de piano, como o II Concurso Internacional Villa-Lobos, desenvolve intensa carreira que inclui discos, gravações para rádios e televisões, participações em CDs e apresentações em importantes teatros e salas de concerto do Brasil e do Exterior. Mestre em Música pela Universidade Musical Internacional de Paris e pela Escola de Música da UFRJ, integrou o corpo docente da Escola de Música da UFMG e atualmente é professor da Escola de Música da UFRJ. Responsável pela sólida formação de inúmeros musicistas, a excelência de seus ensinamentos tem sido reconhecida através de mais de quatrocentos prêmios conquistados por seus alunos. Orientador artístico, organizador, membro e presidente de júri em importantes concursos, coordenador de projetos na UFRJ, FUNARTE-MEC, atual curador musical do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, Luiz Senise é figura de destaque no cenário musical brasileiro.
“Trata-se de uma experiência diferente da audição de gravações, o que pode ser percebido na forma como os concertos foram se sucedendo, num crescendo, numa troca entre o público e o intérprete. O disco pasteuriza, a apresentação ao vivo é cativante.” Berenice Menegale, pianista Jornal Estado de Minas - 26/10/2004
Concertos Didáticos
Robert Schumann (1810-1856) Quarteto em Lá menor op. 41 nº1 Introduzione - Andante espressivo - Allegro Scherzo, presto - Intermezzo Adagio Presto - Moderato Max Reger (1873-1916) Quarteto em Mi bemol op. 109 Allegro moderato Quase presto Larghetto Allegro con grazia e con spirit Franz Schubert (1797-1828) Quarteto em dó menor nº 12 D703 “Quartettsatz”
ARNON QUARTETT Emmanuel Hahn violino Elias Schödel violino Martin Schäfer viola Johannes Dworatzek cello
temporada
6 de novembro sábado 18 horas
2010
UFMG
A escrita a quatro vozes foi amplamente utilizada desde o início da polifonia, na Idade Média e Renascença, a princípio baseada na divisão natural dos registros da voz humana - soprano, contralto, tenor e baixo. A maioria das obras do século XVI e XVII foi escrita em quatro partes, seja na formação vocal ou instrumental, sendo
que o quarteto de cordas em sua forma clássica, 1º violino, 2º violino, viola e violoncelo, surgiu somente no século XVIII. Definido por Goethe como uma conversa entre pessoas instruídas, o gênero foi fixado por Haydn e Mozart, desenvolvido por Beethoven e cultivado pelos compositores românticos e modernos.
R obert S chumann , um dos maiores expoentes do romantismo alemão, nasceu em Zwickau em 1810 e faleceu em Endenich, em 1856. Escreveu seus Três Quartetos de Cordas op. 41 durante a primavera de 1842, ano este inteiramente dedicado à produção camerística, da qual fazem parte obras primas como o Quinteto op. 44 e o Quarteto com piano op. 47. Concebido a partir do estudo dos quartetos de Haydn e Mozart, op. 41 teve sua prémière no dia 13 de setembro de 1842 como presente pelo
23º aniversário de sua esposa, Clara. Robert fez os músicos entrarem em sua residência e instalou-os na escada, em grande segredo. Quando Clara saiu do quarto, os quatro homens executaram para ela os três quartetos dedicados a Mendelssohn. “Novos e ao mesmo tempo lúcidos e finamente trabalhados na tradição e no idioma dos quartetos” – comentou Clara, completando: “Minha veneração por seu gênio, sua inteligência, enfim, pelo compositor que ele é, cresce a cada obra!”
O compositor alemão Max Reger nasceu em 1873 na região da Baviera e faleceu em Leipzig, em 1916. Em suas composições, buscou a relação alquímica dos sons, intervalos musicais e harmonia excluindo qualquer significação extra-musical. Embora trabalhasse estruturas formais intrincadas, densas e cerebrais, criou seu próprio idioma pós-romântico superexpressivo e belo. Escreveu seis quartetos de cordas precedidos por um quarteto da fase de estudante, que subsiste em manuscrito. Os dois primeiros quartetos
publicados são bastante influenciados pelo modelo de Brahms. O terceiro é o mais imediatamente atraente e assemelha-se ao quarteto A Morte e a Donzela de Schubert. Reger somente veio a atingir a maturidade nos três últimos quartetos. O primeiro deles, op. 109, é mais ousado em sua forma e expressivo do início ao fim. Suas texturas cambiantes e seu contraponto claro antecipam o caminho de seus seguidores, futuros ícones do modernismo neo-clássico alemão e da segunda escola vienense.
O compositor austríaco F ranz P eter S chu bert nasceu em Liechtental, subúrbio de Viena, em 1797. Embora tenha morrido prematuramente, pouco antes de completar 32 anos, deixou-nos mais de mil obras escritas com a facilidade de um gênio. Sua fama limitou-se por muito tempo à de um autor de canções, uma vez que sua imensa produção instrumental não havia sido publicada, nem sequer executada até o final do século dezenove. Após inúmeras tentativas frustradas de sobressair-se no terreno operístico, dominado por Rossini, Schubert voltou-se para as
grandes formas e produziu obras-primas orquestrais e de câmara. Em 1820, compôs duas óperas e alguns oratórios, mas foi na música de câmara que se notabilizou a maturidade do seu estilo. É o caso do individual Quarteto para cordas D703, conhecido como Quartettsatz, movimento de quarteto, em alemão. Só dezessete dos cerca de vinte quartetos do catálogo de Schubert foram descobertos e, deles, quatro são incompletos. O manuscrito do Quartettsatz, anteriormente propriedade de Brahms, pertence agora à Sociedade Amigos da Música, em Viena. Marcelo Corrêa
Emmanuel Hahn, Elias Schödel, Martin Schäfer e Johannes Dworatzek, atualmente com idade entre 24 e 26 anos, fundaram o Arnon Quartett durante os estudos na Escola de Música Hans Eisler em Berlim. Com intensa participação em master classes e festivais, o grupo tem recebido incentivos calorosos de renomados artistas e quartetos como Kolja Blacher, Auryn Quartett, Amadeus Quartett, Emerson String Quartett, Vogler Quartett, Orlando String Quartetts, Stephan Metz (Orlando String Quartet), Robert Ireland (Lindsay Quartet) e Oliver Wille (Kuss Quartett). Dentre os prêmios conquistados pelo grupo está a menção especial no 3º Concurso Europeu de Música de Câmera Karlsruhe, Alemanha. Todos os integrantes do Arnon Quartett tiveram os estudos musicais iniciados no violino por volta dos cinco anos de idade. Aos 8 anos, Martin Schäfer optou pela viola, e aos 6 anos, Johannes Dworatzek pelo cello. Emmanuel Hahn é também pianista e foi primeiro colocado em violino e piano no Concurso Jovem Músico da Alemanha. Durante todo o ano de 2008, excursionou pela América, Ásia e Europa como integrante da Orquestra Klang Verwaltung de Munique. Martin Schäfer é vencedor do Concurso Internacional Concertino Praga. Possui por inúmeras vezes o 1º lugar e vários prêmios especiais no Concurso Nacional Jovem Músico da Alemanha. Desde 2008, é convidado permanente como violista da Orquestra Filarmônica de Berlim e, desde 2009, é spalla das violas na Orquestra Jovem da União Européia. Os membros do Arnon Quartett são vencedores de vários concursos de destaque e mantêm carreira intensa como solistas. Possuem considerável experiência em orquestras importantes sob a regência de maestros renomados como Kurt Masur, Sir Simon Rattle, Sejii Ozawa, Daniel Barenboim, Zubin Mehta, Manfred Honeck e Bernhard Klee, dentre outros.
“À Prof. Celina Szrvinsk, o reconhecimento, a homenagem e a gratidão do público beneficiado por sua vigorosa e superlativa ação cultural. Em nome de todos!” Cosme Damião de Souza Marinho Assinante das temporadas
Concertos Didáticos
L. van Beethoven (1770-1827) Trio em si bemol maior op. 97 “Archduke” Allegro Moderato Scherzo: Allegro Andante cantabile Allegro moderato Franz Schubert (1797-1828) Trio em mi bemol maior op. 100 - D929 Allegro Andante con moto Scherzo: Allegro moderato
TRIO CRACOVIA Krzysztof Smietana violino Julian Tryczynski cello Jerzy Tosik-Warszawiak piano
temporada
27 de novembro sábado 18 horas
2010
UFMG
L udwig van B eethoven nasceu em Bonn, Alemanha, a 16 de dezembro de 1770. Aos 22 anos, mudou-se para Viena, Áustria, onde permaneceu até o seu falecimento a 26 de março de 1827. Em 1811, compôs seu mais extenso e sinfônico trio com piano e o dedicou ao arquiduque Rodolfo, sobrinho do imperador Francisco I da Áustria. Aluno, amigo e mecenas de Beethoven desde 1803, Rodolfo foi notável pianista e recebeu outras dedicatórias: a ópera
Fidélio, a Missa Solene, os concertos para piano e orquestra 4 e 5, a Grande Fuga, a sonata para violino op. 96 e as sonatas para piano Les Adieux, Hammerklavier e op. 111. O Trio op. 97 estreou em 11 de abril de 1814 com Beethoven (piano), Schuppanzigh (violino) e Lincke (cello). Beethoven ainda tinha condições de apresentar-se em público como intérprete, mas, nesta ocasião, já travava luta dramática com sua crescente surdez.
O compositor austríaco Franz Schubert nasceu em Liechtental, a 31 de janeiro de 1797, e faleceu em Viena, a 19 de novembro de 1828. O fato de o trio op. 100 ser apresentado logo após o op. 97 de Beethoven, remete-nos às semelhanças e diferenças que entrelaçam estas composições. Schubert, assim como Beethoven, foi o pianista a estrear sua obra em Viena. Sua única aparição num concerto público foi coroada de êxito artístico e financeiro, apesar do ofuscamento causado pela apresentação de Paganini na mesma época. No ano anterior, o trio op. 99 de Schubert foi estreado pelos mesmos músicos que tocaram o Arquiduque ao lado de Beethoven: Schuppanzigh e Lincke. Ainda maior proximidade
entre os trios percebemos ao ouvir a abertura do op. 100 de Schubert, onde estão o impulso, a energia, o uníssono típico da apresentação temática beethoveniana. Em seguida, temos a diferença, o afastamento, a perda da referência dos padrões da estrutura musical mais cultivada por Beethoven: a forma-sonata. O dualismo entre os dois temas principais antagônicos dá lugar ao idílio schubertiano, ao episódico, à fantasia sonora deliberadamente desprendida do legado clássico. Tudo que difere de Beethoven não se traduz em fraqueza estrutural, mas numa nova ordem que provém de outros contrastes, talvez mais sutis, compreendidos somente um século depois como algo revolucionariamente novo. Marcelo Corrêa
O Trio CracOvia foi fundado por Jerzy Tosik-Warszawiak, Julian Tryczynski e Krzysztof Smietana, os três colegas na Escola de Música e Academia de Música de Cracóvia nos anos 70. Após obter sucesso numa improvisada turnê, decidiram manter o conjunto dando a ele o nome da antiga cidade polonesa em homenagem a suas origens. Desde então, realizam concertos pela América do Norte, Canadá, Inglaterra, Brasil, dentre outros. Gravaram vários CDs para os selos Accord Poland e DUX Record. Em 2007, receberam pelo CD com obras de compositores poloneses do séc. XX o prêmio Frederick, o mais alto concedido na Polônia. O pianista Jerzy Tosik-Warszawiak nasceu em Cracóvia em 1953. Diplomou-se com distinção na Academia de Música de Cracóvia, onde mais tarde tornou-se professor. Foi o primeiro colocado no 2º Concurso Nacional de Varsóvia em 1974. Possui carreira expressiva na Polônia, Armênia, Grã-Gretanha, Holanda, Bélgica, Suécia, Canadá, Rússia, República Tcheca, Alemanha, Hungria, Itália e Estados Unidos. É artista e professor convidado de inúmeros festivais internacionais nos Estados Unidos, Europa e Polônia. Possui três CDs gravados com o Trio Cracóvia e outro gravado com a violoncelista Dorota Imieliwska. É professor na Academia de Música de Cracóvia e do Instituto de Música da Universidade de Rzerzów. Após concluir os estudos na Academia de Música de Cracóvia, Julian Tryczynski seguiu para a Escola de Música da Universidade de Yale. Trabalhou com Janos Starker e Mstislav Rostropovich. Dentre os prêmios conquistados, está a segunda colocação no Concurso Internacional de Violoncelo de João Pessoa, em 1978. Com o The Vaghy String Quartet, excursionou dez anos por inúmeros países. Foi professor da Queen’s University em Kingston e da Shenandoah University na Virgínia, EUA. Ministra master classes em diversas universidades dos Estados Unidos e do Japão. Após graduar-se na Academia de Música de Cracóvia, o violinista K r z y s z t o f Smietana prosseguiu seus estudos na Guildhall School of Music and Drama em Londres, onde atualmente é professor. É vencedor de vários dos mais importantes concursos internacionais: Paganini em Gênova, Carl Flesch em Londres e Long-Thibaud em Paris. Sua carreira estende-se por vários países e suas gravações são transmitidas com frequência pela Rádio BBC, incluindo os dois concertos de Szymanowski com a Orquestra Sinfônica da BBC. Gravou as sonatas de Fauré para o selo Meridian, as sonatas de Brahms para o selo ASV e o concerto para violino de Stravinsky junto com a Orquestra Filarmonia para a Music Masters. As gravações dos concertos para violino de Panufnik com a London Music for Conifer recebeu o destaque do mês pela aclamada revista musical CD Review. Além de suas atividades de solista e camerista, realiza turnês com várias orquestras inglesas incluindo a BBC Orquestra.
“O evento permitiu que jovens menos afortunados se aproximassem e demonstrassem que gostam não só de Rock, Funk e Pagode, mas que também apreciam a música erudita, embora não pertençam a elite intelectual ou social, sendo também capazes de estudar e apresentar resultados significativos na área, desde que lhes seja oferecida a oportunidade... integrantes do conjunto de flauta doce “Brasileirinhos” viram o AMSTERDAM LOEKI STARDUST QUARTETT, graças à gratuidade dos ingressos... Parecia que estavam vivendo uma noite de sonhos, com aquilo que era tão próximo deles e simples para nós. Nunca tinham visto flautas tão grandes, sons tão diferentes e uma maneira sui generis de se apresentarem, exercendo verdadeira magia sobre eles. Grande foi o interesse em conversar com os intérpretes, informar, fotografar, desmontar, medir as flautas... Verdadeira aula para quem já saiu dali querendo praticar algumas técnicas e adquirir as partituras das músicas contemporâneas até então desconhecidas para eles. Os programas do concerto foram guardados com carinho, autografados e fonte de informação. As pessoas ficam felizes e agradecidas quando aprendem. Elas querem saber cada vez mais e precisam de oportunidades como esta da UFMG e FUNDEP. Em meu nome e dos “Brasileirinhos” o nosso agradecimento.” Ernânia Belga Ottoni Porto Professora e diretora do grupo “Brasileirinhos” 11/11/2206
“Agradecemos o agendamento de 41 dos nossos alunos para concerto da série “Concertos Didáticos”... oportunidade de tornar melhor a vida de crianças e adolescentes que têm pouco, em termos materiais, mas têm tanto no querer, tanto a oferecer, a crescer... Esta experiência evidenciou-se no brilho dos olhos, na emoção demonstrada por muitos, na postura de respeito, curiosidade e prazer, que pudemos observar.... tal experiência entranhou-lhes a alma e, certamente, marcará suas vidas.” Mariulda Ornelos de Sousa Escola Municipal Lucas Monteiro Machado
“Foi-nos muito gratificante e lisonjeador ver nossas crianças - Obras Sociais da Pampulha - serem convidados para o belo concerto, no qual, nos mostraram a grandeza, a curiosidade, o orgulho e a capacidade de tão belos ouvintes. À professora Celina Szrvinsk e aos seus colaboradores que se lembraram de nós, tenham a certeza de que esse momento ficará eternizado nos corações de nossas crianças.” Carmem Silva de C. Peixoto Obras Sociais da Pampulha 23/10/2006
“O trabalho com crianças é de grande importância... nós temos que criar um público novo, bonito e que goste de ir a concertos... e quanto mais cedo melhor... a educação musical é algo muito importante para o jovem... é fundamental que se apresente a eles música de qualidade... você olha pro rosto deles e vê aquele encantamento... ao ponto de ficarem boquiabertos. A criança é como uma esponja. Se você der coisa boa pra elas desde cedo, elas estão abertas a essas novidades e sugam isso com muito prazer. Eu vejo pelo Brasil inteiro essa fome de boa música, não só música de concerto, mas de arte em geral. É preciso sempre mais e mais... nunca é suficiente e um projeto com este é um passo, mas nós precisamos de muitos passos.” Antônio Meneses, violoncelista TV Minas 27/09/2008
Concertos Didáticos UFMG. O Instituto Unimed-BH aplaude de pé.
O Instituto Unimed-BH apoia a realização dos Concertos Didáticos UFMG. Com a captação de recursos de pessoas físicas, o Programa Cultural Unimed-BH promove a dança, o teatro e a música instrumental e erudita para todos. Tudo para você ver – e ouvir – nossa cultura cada dia mais forte.
2011 temporada
ADRIANA CLIS - canto AGORA QUATOUR - cordas ANNA MALIKOVA - piano ANTÔNIO MENESES - cello AUGUSTO CARUSO - canto EDUARDO HAZAN - piano EDUARDO MONTEIRO - piano IDOMENEO QUARTET - cordas GABRIELA PACE - canto GILBERTO TINETTI - piano GRIGORY ALUMYAN - cello MIKHAIL OVRUTSKY - violino RINKO HAMA - piano ROBÉRIO MOLINARI - piano SAULE TATUBAEVA - piano
Direção artística: Celina SzrvinSk
Av. Afonso Pena, 1534 - Centro - Belo Horizonte - MG Telefone: (31) 3409-8300