Objeto Design

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Objeto Design


Copyright©2003 Eliseu de Rezende Santos Projeto Gráfico

Sérgio Luz

Tratamento de Imagens

Eduardo de Almeida

Assistentes de Produção

Eduardo Marques Matheus Bolívar Marcelo Dante Vilmar Fernandes

Fotografias

Ana Carina (119) Cristiano Quintino (37, 39 e 41) Christian Magno Barbosa (82 esquerda) Cristophe Thélisson (45) Daniel Curi (33 e 35) Daniel Mansur (30, 31, 49, 52, 53, 55, 57, 60, 68, 69, 70, 72, 73, 75, 78, 81, 82 direita, 83, 84, 85, 86, 88, 93, 94, 97, 98, 99, 100 e 101) Eduardo Eckenfels (95) Eliseu de Rezende Santos (17, 18, 20, 21, 22, 24, 25, 34, 46, 58, 59, 63, 65 e 67) Pill Gloor (91, 103 e 120) Ricardo Cata (56) Véronique Huyque (43 e 44)

Revisão

Liliane Prata

Colaboração

Fernanda Loureiro Renata Vita

Capa

Mesa Papillon (detalhe) - alumínio reciclado - foto: Daniel Mansur


Design

Eliseu de Rezende Santos

Objeto Belo Horizonte 2003



Para Alessandra e Guido.



O

livro que ora apresentamos não é uma amostragem comum de aspectos de um designer contemporâneo, trata-se de um dos mais importantes trabalhos realizados nas décadas de 80/ 90, por um dos mais expressivos designers mineiros Eliseu de Rezende Santos.

A trajetória de Eliseu de Rezende nos remete aos caminhos mais significativos da atividade humana o registro de sua trajetória na terra através da realização de objetos utilitários cuja forma plástica é relacionada à contemporaneidade pelo olhar atento, a facilidade de expressão e confecção e, especialmente, a criatividade. A formação acadêmica de Rezende apresenta além do curso de graduação em Desenho Industrial pela Escola Superior de Artes Plásticas da Fuma – Fundação Mineira de Arte/Belo Horizonte-MG, outros cursos que se destacam em seu extenso currículo: respectivamente o curso “Propaganda, Promoção e Merchandising” pela fundação Getúlio Vargas/ Rio de Janeiro e “Signalisation et Communication Visuelle” pelo Service de Relations Publiques d’EDF – Eletricité de France/ Paris , França. Fez ainda uma pós-graduação em Création Industrialle pela “Ecole Nationale Supérieure de Création Industrielle – Les Ateliers”, Paris/ França.

Profissional incansável participou da criação do Curso de Design da Faculdade Engenharia e Arquitetura do Centro Universitário FUMEC, onde além de coordenar o curso de Design de Produto leciona algumas disciplinas. Falar de sua obra é falar da combinação do utilitário aliado à beleza plástica, porque Eliseu como os grandes mestres da Bauhaus, não esqueceu a forma apesar de estar atento à função. Suas obras aliam materiais diversos com preferência para o vidro e o metal.

APRESENTAÇÃO

Participante de inúmeros eventos na área foi o ganhador de vários prêmios destacando o prêmio de Excelência da Bienal Brasileira de Design, categoria mobiliário urbano com sua Cabine Telefônica.

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A forma sinuosa remete às suas raízes barrocas, mas a qual ele limpa de todos os excessos que poderiam confundir o espectador e dá uma leveza e elegância única a esses objetos que se abrigam bem em qualquer local. Deste modo o autor cria uma extemporaneidade em suas peças que belas e práticas podem compor ambientes dos mais informais aos mais clássicos. A série de cabideiros mantém a mesma linha de ação – a perna em altura conveniente e abraçadeiras que figuram como uma escultura polvo ou lembrando nossas palmeiras imperiais, como depõe o artista, sem entulhar o banheiro ou o quarto de vestir.

APRESENTAÇÃO

Mas suas obras mais significativas são aquelas que atendem a soluções urbanas como a cabine telefônica, que já mencionamos, funcional, resistente e de design moderno, assim como os coletores de resíduos que não atravancam o trânsito de pessoas e mantêm a plasticidade em sua utilização. Esta plasticidade que foi tão minimizada pelo caráter prático como podemos observar do que se encontra nas ruas das cidades brasileiras. Eliseu vai dar aos seus coletores a dignidade de qualquer peça urbana, sem menosprezá-la pelo papel que ela cumpre.

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Os equipamentos e sinaleiras são outra história, equipamentos de uso industrial público, cuja função deve ser muito bem calculada revestem-se também de beleza. A sinalização para caminhão está disposta em local de ótima visão, nas laterais da traseira do veículo, e propõe uma leitura rápida, própria para o trânsito. Os pequenos objetos decorativos e de uso prático são peças de uma delicadeza e simplicidade impressionantes é o que podemos observar no ágil abridor de garrafas e no vaso-castiçal, objeto de função múltipla podendo ser utilizado de dois lados, na sofisticada matéria do alumínio reciclável. A mesma sofisticação ocorre com o porta-chaves onde o desenho submete à forma a função.


Mas sua atuação vai além do mobiliário residencial ou urbano e chega a práticas viáveis de displays e mostradores de pontos de venda e exposições de arte. Há que se destacar sua atuação como diretor de arte da exposição JK o Estadista da modernidade em que não só dirigiu todo o processo museográfico e de artes gráficas da mostra como foi o criador de um mobiliário prático, de bom gosto e barato diante da falta de recursos disponíveis para a criação.

A identidade das peças compunha uma série de displays geometrizados que lembravam o arquiteto Niemeyer um dos homens que trabalharam com JK tanto na Pampulha, como em Brasília. O painel mais criativo foi sem dúvida o que abrigou o violão de Guignard, num design que possibilitava ver a figura de Guignard pintando o objeto e o violão guardado numa leve caixa de acrílico. Assim Eliseu inventava a intertextualidade entre a arte do mestre da pintura lírica de Ouro Preto e o lirismo plástico de um designer que sabe o seu lugar de guardador de uma preciosidade sem competir suporte com a obra a ser mostrada, uma das coisas mais importantes para um designer de produto. Há que se referir ainda ao banco para a assistência do cinema, na mesma exposição inspirado nos beirais do Palácio das Artes num jogo lúdico entre o local de exposição e conceito de espaço.

APRESENTAÇÃO

Ao se entrar na exposição dava-se de cara com um imenso portal semicircular onde os textos dos curadores anunciavam a passagem para um outro tempo o de JK em Diamantina, sua terra natal. Ali a identidade visual se fazia pela cor azul e por um mobiliário de vitrines de várias alturas onde os objetos eram guardados em segurança mas podiam ser vistos exatamente pela contemporaneidade que não confundia o espectador. Em seguida passava-se por um ambiente instalação onde Eliseu recriou uma cena de guerra, com a barraca onde o então médico e futuro presidente recebeu e cuidou dos machucados de guerra em 1932. A identidade visual mostrava ainda os passos de JK de Prefeito à presidente exilado, sem medo da cor e da ousadia nas ambientações várias.

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Falar de Eliseu de Rezende é falar de contemporaneidade, da união do velho discurso entre forma e função sem conflitos, é saber que esse artista do design sabe lidar com a magia de compreender o cotidiano das pessoas e seus anseios sem perder de vista a poética da significação de um objeto para o homem desde os tempos em que nas cavernas os artefatos tomavam a forma que hoje são a memória do ancestral. Este livro é assim, em poucas palavras, uma lição de contemporaneidade, de fazer artístico e prático, essencial a todos que desejam conhecer o que de mais novo e mais criativo se faz em design no Brasil. Esta magia que faz da mão do homem operadora e agenciadora de poéticas do cotidiano.

APRESENTAÇÃO

CRISTINA ÁVILA

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Forma dat esse rei. “A forma dá ser à coisa.

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á vinte anos me formei em Desenho Industrial pela FUMA. De lá pra cá o design se multiplicou e ultrapassou as fronteiras da profissão Proponho-me aqui a apresentar minha participação neste território, por meio da publicação de uma coletânea de projetos que criei e desenvolvi durante este período.

São produtos que se classificam entre protótipos, séries limitadas e seriados. Alguns estão fora de linha, outros se encontram no mercado. Todos foram construídos, a maioria foi testada e reproduzida. Ao abordar a questão de construir, testar e reproduzir, é oportuno salientar que nos extremos do processo produtivo se encontram, numa ponta, o desenho (a idéia), noutra, a realização, representados numa escala pontuada por condições que, se observadas, tornam o objeto real. Esses pré-requisitos não são apenas meios, mas se confundem com as metas do design, e tornam sua realização o principal objetivo.

DESIGN, 1983-2003

Os objetos são representados com fotos, desenhos e breves comentários. Os desenhos são compostos por esboços, croquis, vistas técnicas e perspectivas que fiz durante a criação e o desenvolvimento de cada um desses objetos. Isso representou um trabalho de garimpo em busca de registros e, como não houve uma sistemática de documentação, também não há um padrão de apresentação. Imagens de objetos em diferentes suportes e textos alinhavam a narrativa, composta por trinta partes ou capítulos.

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É evidente que uma boa idéia bem representada possui o seu devido valor – não se trata de desmerecer as intenções, afinal, muito do que é real hoje já foi uma intenção antes. Falo da possibilidade de transformar a potência em ato. Enfim, para o designer industrial, a concretização de uma idéia é geralmente mais importante do que a própria idéia. A idéia de um produto pode ser aparentemente bem conceituada, bem ilustrada, mas sua execução é onerosa e complicada, por vezes impossível. O mundo real é o território do design. Conhecer e respeitar as técnicas de produção, os custos industriais e os costumes sociais e individuais são procedimentos fundamentais na profissão.

DESIGN, 1983-2003

O design é um meio para se atingir um objetivo, seja ele proporcionar mais comodidade ao indivíduo, melhor performance no uso de um objeto, maior economia de tempo, de recursos naturais, de produção, etc. Ele também é um fim se observarmos sua intenção em se aperfeiçoar sempre, em aprimorar seus conceitos, em oferecer novas alternativas de uso e de costume.

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Os objetos aqui apresentados trazem um pouco disto: tentativa e erro, geração de alternativas, redução de custos, aceitação e adaptabilidade. Marcas da evolução de um processo pelo qual possuímos certa responsabilidade. ElisEu dE REZEndE sAntOs


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COLETOR COMLURB


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ogo após a formatura, fui para o Rio, onde estagiei em uma agência de propaganda e em um escritório de design. Queria arrumar um emprego: trabalhar com design era preciso. Sobrevivia da ajuda da família e dos trabalhos como freelancer. Morava em um apartamento com o meu pai. Era preciso mais do que um ideal para sobreviver na profissão. O Rio é uma cidade que seduz e inspira. No Brasil, uma das primeiras escolas superiores de design está lá: a ESDI. Morava lá há quase um ano e já estava voltando quando fui selecionado para este concurso. Tive que concluir o projeto pouco antes de minha partida.

COLETOR COMLURB

Em 1984, acontecia o primeiro Rock in Rio, cuja data coincidira com o prazo de entrega do projeto. Fazer o quê? Com a ajuda do amigo José Luis do Carmo, a quem pedi auxílio no detalhamento técnico, o trabalho foi concluído. Passamos o Rock in Rio sem rock, nem Rio.

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O concurso foi realizado em duas etapas: projeto preliminar e projeto detalhado com protótipo. Trata-se de um coletor proposto para ser fabricado em fibrocimento; tampa lateral escamoteável; remoção do lixo acumulado por meio da “vassoura ideal”, uma pequena vassoura adotada pela Comlurb para efetuar a varrição de cantos e meio-fios.


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COLETOR COMLURB


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COLETOR COMLURB


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COLETOR COMLURB


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CAIAQUE POLO


Além da navegabilidade, outra importante prerrogativa para o desenvolvimento do projeto eram as extremidades arredondadas, de forma a facilitar a ginga, além de não causar danos aos demais competidores. Fiz pensando em uma cápsula de seção ovalóide cortada em fatia por uma superfície plana não linear no sentido longitudinal, para ser mais preciso. O caiaque foi fabricado com manta de vidro e resina de poliéster (fibra de vidro).

CAIAQUE POLO

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uando a marca “Canoa Brasil” me procurou para projetar um caiaque para jogar futebol, eu nem sabia que existia futebol de canoa. Era o pólo aquático com caiaque.

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CAIAQUE POLO


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CAIAQUE POLO


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CAIAQUE DARDO


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aiaque de corredeira, rápido, ágil e resistente. Estudei alguns modelos a que tive acesso e me inspirei em um da Perception, líder mundial no

segmento. Existem caiaques que possuem bóias internas e infláveis, moldadas ao seu interior para evitar que afundem em caso de avaria no casco. Então o Paulo Callado, da Fibraplan, teve a idéia de injetar espuma de poliuretano expandido rígido no interior de seus caiaques. O poliuretano expandido é um plástico tão leve quanto o isopor (poliestireno expandido), porém mais rígido. Foi uma ótima solução de flutuabilidade.

CAIAQUE DARDO

A casca feita de resina de poliéster reforçada com manta de vidro e o recheio com espuma de poliuretano é o que os franceses chamam de composite: composição de plásticos que possibilitam estruturas leves e mais resistentes.

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CAIAQUE DARDO


CAIAQUE DARDO

CAIAQUE DARDO

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essa época eu era sócio do Beto Dutra numa empresa chamada Designiu. Um dos produtos que desenvolvemos foi este: o Sistema de Emissão de Passagens da Audiolab. Ainda hoje me parece ser um produto inovador, nem tanto pelo design, mas por sua utilidade, que consiste em oferecer ao cliente a possibilidade de visualizar os lugares disponíveis num ônibus.

SEP

O produto é usado nas estações rodoviárias, junto aos guichês de venda de passagens. Por exemplo: suponhamos que a intenção do cliente seja ir para Juiz de Fora, dia 14 de abril, às sete horas. Nesse caso, a máquina mostra, num painel que simula os assentos do ônibus, aqueles que ainda não foram vendidos.

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Testador de Rigidez Dielétrica de Óleo Isolante de Transformadores, da Electric Test Serta, é, sem dúvida, o produto com o maior nome que eu já fiz e também o mais antigo ainda em produção – há quinze anos, é fabricado praticamente do mesmo modo.

RDT-06A

O produto compõe-se de um chassi monobloco feito de fibra de vidro. É um aparelho que se mostrou confiável ao operar com uma carga interna que varia de 0 a 60.000 volts.

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RDT-06A


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aminhões, reboques, carrocerias, veículos de transporte de carga e passageiros são obrigados por lei a utilizar “dispositivo de sinalização em sua parte traseira, inferior e superior “, com luz vermelha.

Os contêineres não deveriam escapar à regra. Foi por onde comecei a trabalhar a idéia-conceito para este concurso, cuja proposta básica é incentivar iniciativas que contribuam para a melhoria das condições de segurança no trânsito. O prêmio Volvo de Segurança no Trânsito não era propriamente um concurso de design, mas competia também ao design.

SINALIZADOR DE CONTEINER

Fiz uma espécie de sinalizador universal, capaz de se encaixar em qualquer tipo de contêiner, já que estes seguem norma padrão mundial. Quando for o momento de desacoplar o contêiner, o dispositivo pode ser facilmente retirado e guardado em algo como uma caixa de sapato.

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SINALIZADOR DE CONTEINER


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SINALIZADOR DE CONTEINER


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ão há produto mais brasileiro do que o orelhão. Juntamente com o escorredor de arroz, a garrafa térmica, a gamela, o bombril e a sandália havaiana, o orelhão é um produtos típico do design brasileiro. O orelhão é um equipamento urbano que atende bem ao mercado, possui a forma orgânica dos anos 60 (apesar de ser dos anos 70), e hoje pode ser encontrado de norte a sul neste País. Há modelos em forma de jaburu, de berimbau, de coco, de concha, etc. O que fiz foi inspirado na casa do João de Barro.

ORELHÃO

Neste modelo, a forma facetada melhora a estrutura, cria um suporte para anotações e utiliza o próprio usuário como anteparo acústico. O material e o processo de fabricação são os mesmos do orelhão tradicional.

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A proposta seria lançá-lo juntamente com a campanha do telefone público a cartão, novidade que chegava ao Brasil. Apesar do prêmio na Bienal Brasileira de Design, das publicações, dos relatórios técnicos favoráveis, etc, não foi implementado – ficou como proposta. Alguns foram vendidos para a CTBC.


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ORELHテグ


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ORELHテグ


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ORELHテグ


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ORELHテグ


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ra uma bienal de arte organizada pela prefeitura de Commercy, cidadezinha no nordeste da França, numa antiga região produtora de peças em metal fundido e forjado – a “Biennale l´Art de Fer” (Arte de ferro). Fiz este objeto quando estudava no Les Ateliers, em Paris. Utilizei as oficinas da escola para construir a maquete e a obra final.

LA CHAISE NUE

A cidade de Commercy ficava a cerca de 150 km de Paris. Tinha que pegar o metrô e em seguida o trem na estação do leste, La Gare de l´Est. Muito precavido, eu mesmo levaria a peça final.

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Embalado o protótipo, encaminhei-me ao metrô que ficava a duas quadras da escola. Acontece que, ao chegar na estação Saint-Sabin, a cadeira não passou pelo portão de entrada por causa de um centímetro. Fui salvo pela faxineira da escola, que me levou em sua furgoneta até a estação de trem. Lá chegando, de longe tive a impressão de que ela não entraria no vagão. Entrou com uma folga de um centímetro. Na verdade, la chaise nue é uma composição desprovida de pretensões funcionais. É uma peça artística, apenas inspirada em uma cadeira.


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COLETOR COMLURB


LA CHAISE NUE

Chateau Stanislas/Commercy, Franรงa.

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LA CHAISE NUE


U

tópica, formal, rígida, inusitada.

A ilusão criada pelo objeto nos leva ao enigma de utilização da forma. Há formas que agradam aos olhos, mas não bem acolhem o corpo. E não se senta com os olhos. Novamente as formas facetadas, com influência do cubismo tcheco dos anos 30. Esse movimento, não contente com os quadros, partiu para a construção de peças utilitárias e nos presenteou com uma série de objetos inusitados.

UTÓPICA

Mais tarde utilizei a idéia do assento para expor na Mostra do projeto Objeto Urbano em 1994. Fiz um banquinho sem pés, em cimento, e ele foi locado rente ao solo, nas margens da lagoa da Pampulha. Ninguém imaginava que aquilo fosse um assento. Cheguei a pensar que meu design estava conceitual demais.

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UTÓPICA


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UTÓPICA


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O

primeiro terminal multimídia utilizado em espaço público em Belo Horizonte foi instalado no Shopping Del Rey. O projeto multimídia era muito bom: permitia ao usuário, após escolher a loja, visualizar o percurso por meio de uma indicação animada.

TERMINAL DEL REY

O perfil do terminal faz lembrar o mapa das Américas.

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Fizemos o terminal com estrutura metálica revestida de madeira e folheada em aço inox. Tivemos que recortar o painel justamente para que apenas o teclado numérico fosse acessado. Não ficou muito prático, caía muita pipoca lá dentro.


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TERMINAL DEL REY


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TERMINAL DEL REY


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TERMINAL DEL REY


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TERMINAL DEL REY


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TERMINAL DEL REY


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ão há boteco neste País que não tenha um abridor de garrafa feito de um pedaço de madeira cravado com um prego ou parafuso. É um objeto prático, que se tornou típico do Brasil. Este projeto é uma releitura dessa tradição. Ele pode ser usado também como socador de limão na feitura de batidas ou caipirinha, e outras funções podem ser descobertas, dependendo de sua criatividade. A produção deste objeto e de outros (aqui apresentados o porta-chaves e o porta-CD) foi feita pela Conceitual, uma sociedade que tínhamos eu, minha irmã Iracema Rezende e a amiga Marina Maciel.

ABRIDOR

Os quatro objetos da foto representam a evolução desse modelo. O primeiro é de madeira colada com pino extrator feito de parafuso, bucha e arruela; depois, ipê e angelim (cabeça e corpo), com pino em formato de chapéu chinês; em seguida, a mesma combinação de ipê e angelim, com pino melhor detalhado, incorporado ao produto; e finalmente, cabeça feita de ipê e corpo de marfim, com pino extrator de última geração.

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assava uma novela na televisão, em que a abertura de Hans Donner tinha uma cena na qual Isadora Ribeiro girava o corpo, torcendo-o como se fosse de borracha.

TERMINAL AGRIMISA

O produto quase se chamou “Terminal Isadora Ribeiro”, dada a impressão de um corpo se contorcendo ad infinitum, que produz a forma do aparelho.

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Era um dos primeiros terminais de serviços a ser disponibilizados aos clientes do banco. É um produto de fabricação simples: tem estrutura de madeira revestida em aço inox.


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lguém, depois de usar o presente durante um ano como enfeite em uma prateleira pensando ser um objeto de arte, descobriu que se tratava de um porta-chaves. Da forma nem sempre se deduz a função.

PORTA-CHAVES

A peça é feita em angelim cravado com pinos de latão cromado.

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PORTA-CHAVES


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quipamento de testes de hemodinâmica, produzido pela Bese Bio-equipamentos. Aparelho utilizado no monitoramento de pacientes nos hospitais.

Após efetuar uma série de esboços no desenvolvimento da forma, surgiu algo parecido com um concorde aterrissando. Fizemos o protótipo às pressas; o Marco Aurélio Machado queria tudo pronto na hora. Resultou num produto interessante, diferenciado.

HEMORIS

É todo fabricado com chapa de aço pintada em epóxi.

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HEMORIS


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realização do terminal para consultas do banco Agrimisa me credenciou para este novo projeto.

A proposta era a mesma: construir uma base para o processador de extrato da Procomp, com uma diferença apenas: seriam construídos mais de quinhentos terminais em vez de cinqüenta, como foi a tiragem do outro trabalho.

TERMINAL BEMGE I

Este foi o primeiro protótipo, construído num chassi monobloco em chapa de aço, com pés e tampa traseira removíveis; uma solução que evita ter de retirar a máquina totalmente para manutenção.

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TERMINAL BEMGE I


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versão definitiva foi desenvolvida dado que, no modelo anterior, havia um pequeno risco de alguém tropeçar nos pés do terminal.

TERMINAL BEMGE II

Do chassi monobloco, parti para a construção de uma estrutura metálica intertravada, leve e resistente, completamente vazada por trás, de forma que a máquina fica aparente para quem for fazer a manutenção.

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TERMINAL BEMGE II


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PORTA CD

oi um produto fabricado pela já citada Conceitual. É uma boa idéia, mas que, nas circunstâncias de sua fabricação, ficou inviável em termos de custos. Feito em chapa de aço na forma de módulos anexáveis, possibilita sua ampliação de acordo com a ampliação da coleção de CDs do usuário.

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PORTA CD


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oi uma exposição de objetos promovida pela revista AP, cujos produtos foram publicados no número 2 da revista. Uma mostra inédita de design, com trabalhos de vários criadores de Belo Horizonte.

CABIDEIRO PÓS-VOVÔ

As peças metálicas foram construídas em alumínio fundido em molde de areia. Fiz os modelos em papelão prensado e colado, com acabamento em massa acrílica. Queria fazer uma surpresa naquela mostra, que estava de ótima qualidade.

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O conceito foi baseado em um cabideiro que pertencia a meu avô materno. Era uma releitura estilizada daquele objeto. O objeto começou a vender muito, os pedidos não paravam de chegar. Para atender à demanda, tive que desenvolver um sistema de buchas metálicas para conectar as peças de madeira entre si.


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CABIDEIRO PÓS-VOVÔ


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CABIDEIRO PÓS-VOVÔ


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sta cadeira foi construída especialmente para o “Prêmio Museu da Casa Brasileira”. Ganhou o “Selo de Qualidade” do concurso.

Não tive dúvida quanto ao nome: a cadeira ganhou a forma de um pássaro.

CADEIRA VÔO

O objeto foi construído com estrutura tubular e chapas de aço calandradas. Os furos quadrados foram feitos numa puncionadeira automática.

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CADEIRA VÔO


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CADEIRA VÔO


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CADEIRA VÔO


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proposta era fazer uma lixeira para lixo leve, de baixo custo, de plástico injetado, para não sermos surpreendidos com a abertura de mercados aos importados alemães, eficientes e baratos. O empreendedorismo de Níris Quirino, da Casa de Idéias, e a confiança e competência técnica do Sr. José Carlos Polesso possibilitaram a produção deste produto. O mecanismo foi a idéia mais mirabolante que eu já tive. O pessoal gostou e partiu para a execução. Com todas as suas imperfeições, o produto foi um sucesso. Mas o mecanismo era caro. Só ele valia a lixeira. O “produto alemão”, que chegou ao Rio de Janeiro vindo de Portugal, posteriormente foi copiado e reproduzido pelo País. A proposta então seria utilizar a lixeira com chave e balde removível, barateando o custo, tornando-a mais competitiva.

CR-50

O projeto foi levado para São Paulo, onde me informaram que o escritório de design Shelles & Ayashi trabalhou nele. Por um bom tempo fiquei sem notícias do produto.

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Prefeito Hélio de Castro inaugura lixeira nas comemorações do Centenário de Belo Horizonte, 1997.


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CR-50


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ste foi certamente um dos projetos mais detalhados e mais minuciosos que eu já desenvolvi: uma bomba de combustíveis para a SEA Unidata.

Tive que analisar uma série de normas e produtos (alemão, americano e brasileiro). Foi desenvolvido um fecho de segurança; caso a tampa do painel de controle não esteja travada, ela só se abre se for deslocada para cima.

BOMBA DE COMBUSTÍVEIS

O passo mais importante foi reduzir o tamanho do painel, reposicionando os displays digitais e as teclas de comando, e criando estruturas compartimentadas independentes que possibilitassem o acesso fácil ao interior da bomba.

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BOMBA DE COMBUSTÍVEIS


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BOMBA DE COMBUSTÍVEIS


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BOMBA DE COMBUSTÍVEIS


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cabideiro pós-vovô vendia bem. Tinha um padrão classe A, não era barato. Eu precisava de algo mais econômico, mais prático, com capacidade para pendurar mais coisas.

NA MINHA TERRA

Pensei em uma palmeira imperial com toda aquela folhagem, compondo um emaranhado indescritível. O nome surgiu dos conhecidos versos da poesia de Gonçalves Dias: “Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá”.

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Mais tarde, ganhou o apelido “modelo feminino”, por sua forma esbelta, por seus números pares, sua utilidade. O pós-vovô ficou sendo o “modelo masculino”, por parecer mais com um homem, ou seja, assimétrico e menos útil. Utiliza-se o mesmo processo de fabricação do cabideiro masculino.


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NA MINHA TERRA


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NA MINHA TERRA


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NA MINHA TERRA


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PUXADORES

aqueles dias era muito difícil encontrar puxadores com motivos infantis que permeassem o universo das crianças de forma delicada e terna, como cabe ao gênero. Vendi a série para uma empresa chamada Spinjet.

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Após definir os desenhos, fiz a base do molde com cera, depois preenchi a cavidade com plástico epóxi, quando finalizei os modelos. As peças foram então moldadas em silicone e injetadas em zamak.


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PUXADORES


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PUXADORES


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iz esta mesa durante a Copa de 98. Queria que se chamasse mesa “Copa”. Como o Brasil perdeu a final para a França, quase se chamou mesa “Quizidanne”, mas a forma já sugeria o nome, então ficou “Papillon”. A estrutura de alumínio reciclado pesa 37 kg, o que equivale a reciclar aproximadamente 800 latinhas de cerveja.

MESA PAPILLON

A fundição do alumínio reciclado requer muitos cuidados, principalmente quando feita em caixa de areia. Nesse caso, após o polimento, quase sempre surgem várias imperfeições na superfície: são pequenos orifícios ocasionados pelo hidrogênio depositado na cavidade do molde, denominados “pin-holes”, que só aparecem depois de polir a peça.

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O

bjeto multiuso. Um para alegrar, outro para iluminar a vida. Outra produção independente.

VASO CASTIÇAL

O objetivo principal desse projeto era caracterizar a complementaridade das formas do vaso e do castiçal. O vaso com forma de vaso e o castiçal com forma de castiçal.

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O objeto é fabricado em alumínio reciclado de primeira linha em coquilha metálica.


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VASO CASTIÇAL


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inha amiga Gabi Aragão sugeriu que eu fizasse um objeto prático para pendurar colares e pulseiras. Imaginei alguma coisa feminina. Aparecem os pezinhos da bonequinha Betty Boop. Alguém observou que dava para pendurar a escova de dente.

PEZINHO

Use a imaginação.

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ara os adeptos do suco natural de laranja, do racionamento de energia e da autonomia, uma alternativa bem adequada. Aos ecológicos, aos anti-parafernálias eletrônicas espremedoras de fruta, chegou mais uma novidade: faça seu suco diretamente sobre o copo. O diâmetro do disco de fixação da peça permite utilizar o produto em copos com variados diâmetros de boca.

ESPREMEDOR

As primeiras peças foram feitas de alumínio injetado em baixa pressão. Para a categoria, ficou pesado. Cremos que este produto tem que ser de plástico, então voltaremos a anunciá-lo.

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ESPREMEDOR


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s modificações inseridas pela empresa paulista (vide CR-50), apesar de bem executadas, por causa de 3mm, não resistiam ao vandalismo e cediam o balde.

Eis que o projeto da lixeira urbana retorna às minhas mãos após quatro anos. Algumas soluções surgem num piscar de olhos, outras amadurecem a seu tempo, à medida da necessidade. Fiz o que foi necessário. Após pesquisar várias alternativas, desenvolvi um sistema eficiente de trava para fixar o balde. A fechadura passou para o lado de dentro do coletor, sob a tampa. Dentre as modificações propostas pelos paulistas, foram conservados a pega frontal superior e os pés do balde.

CR-50/2a ETAPA

Em vez de um sistema mirabolante, tem-se agora um mecanismo robusto, eficiente e barato.

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CR-50/2a ETAPA


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proposta foi criar uma lixeira que fosse a conta certa para receber uma sacola de supermercado, feita de uma peça única em plástico, com um mecanismo simples e eficiente. O desafio era a peça única.

LIXEIRA DOMÉSTICA

Enchi uma sacola de supermercado (25 a 30 litros), tirei todas as medidas possíveis, realizei testes com um modelo em papelão que simulava a utilização do princípio funcional.

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Usar uma sacola de supermercado para colocar o lixo vem se tornando um hábito cada vez mais generalizado. Assim, na forma, no material, no requinte da peça única e no visual hermético, a lixeira proporciona sensação de higiene.


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inha porta de entrada para o design foi o desenho. Durante alguns anos, desenhar era um habito diário. Isso me fez, desde cedo, seguir o caminho da ilustração. Fazia cartazes, ilustrava apostilas, desenhava no quadro negro para a professora no ginásio. Fazer logotipo é uma atividade que sempre me fascinou, da criação à arte final, das aplicações à identidade visual. A possibilidade de criar símbolos que comuniquem ou expressem sentidos e mensagens requer sintetismo e objetividade. Foram criados entre 1983 e 1989.

LOGOMARCAS

O logotipo é a embalagem da marca, seu cartão de visita, sua referência visual.

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Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Santa Luzia




U

m símbolo vale mais do que mil palavras”. Essa máxima se aplica perfeitamente aos pictogramas, que são aquelas placas indicativas de serviços ou destinações de locais, normalmente afixadas em portas, paredes, pilares e letreiros de lugares públicos. A imagem deve ser básica, extremamente objetiva e de fácil leitura. Proporciona a economia de palavras e a rápida decodificação do símbolo.

Para se analisar adequadamente um pictograma, devese observar três critérios: o semântico, o sintático e o pragmático; quer seja, a linguagem (se a mensagem esta compreensível para todos os envolvidos), o traçado (o equilíbrio de sua composição) e a fabricação (de que material, fixado de que forma, etc.). A grande maioria dos modelos aqui apresentados é original. Os demais são adaptações.

A segunda foi desenvolvida para algumas escolas de ensino agrotécnico do MEC (1988), e compunha um sistema de sinalização. A terceira foi criada para as seções dos classificados do jornal Hoje em Dia (1989). A quarta série representa os serviços básicos de água, luz, telefone e correios (1989).

PICTOGRAMAS

A primeira série foi feita para a agenda comemorativa dos 25 anos da CEMIG, em 1987. Representam os meses do ano.

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Diferentemente do arquiteto, do decorador, ou do urbanista, que criam espacialidades e ambiências, o designer de produtos dá forma a objetos. Da lida com a natureza brotam os objetos, que podem nos encantar por sua beleza, por sua engenhosidade ou pela surpresa, mas o exercício material da cultura, que consiste basicamente em subverter a natureza para dela extrair bens que possam satisfazer necessidades ou caprichos que criamos, submete-se a um critério básico de funcionalidade. Os objetos podem ser belos ou inusitados, mas precisam ser úteis. Nesse sentido, a criação em design reveste-se de um caráter bastante peculiar, que podemos definir como uma preeminência da materialidade, isto é, a forma intuída originalmente estará sempre sofrendo modificações impostas pelos testes, pelas exigências do real. O designer, mais que qualquer outro profissional da criação, curva-se diante das imposições do real, tendo neste, em última instância, uma espécie de coautor. Não que as outras artes e formatividades humanas possam

CRIAR OBJETOS

Ilustração feita para o Seminário de Desenho Industrial, Crise Econômica e Alternativas de Trabalho, promovido pela ESAP/FUMA, realizado em BHZ/Palácio das Artes, de 22 a 28/nov/83, e que contou com a participação de Representantes de orgãos governamentais, das indústrias elétricas e eletrônicas, moveleiras e têxteis.

O

designer, como o arquiteto e o urbanista, são os cenó gra fos das instituições humanas, das tramas teatrais e reais a que nos lançamos na vida. De um ponto de vista sociológico podemos pensar a sociedade como um grande teatro da vida real, onde assumimos e interpretamos papéis previamente indicados ou instantaneamente criados pelos contextos nos quais nos imbricamos cotidianamente. Entes fundamentalmente históricos, inventamos e matamos hábitos corriquei ra mente e, nesse exercício, vamos construindo os sentidos que nos movem, lidando com pessoas, concebendo e buscan do realizar planos. Na trama complexa do real estamos constantemente a manipular objetos e a fluidez dessa pragmática torna-se perceptível, e até rastreável, pela mutabi lidade das formas, das indumentárias e das ambiências que criamos. O humano é um ser que se arranja e se redefine a cada tempo, na intersubjetividade, na institucionalidade, na forma como manipula a natureza.

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prescindir desse diálogo, mas no design de produtos o real não sussurra ou fala, ele simplesmente grita. Digamos então que o designer não cria e executa, ele vai criando enquanto vai executando. Francis Bacon, filósofo inglês da virada do século XVI para o XVII, conhe cido como o principal fundador do empirismo, afirma que “a natureza não se vence, senão quando se lhe obedece”: eis o princípio fecundo sobre o qual repousa toda a tecnologia material e cremos poder elevá-lo a uma espécie de slogan para o trabalho do designer.

CRIAR OBJETOS

OBJETO URBANO, MARTA, NIEMEYER, ELISEU E EU

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Conheci Eliseu em 1993, quando fui convidado a participar da criação de um projeto pretencioso, mas muito interessante, que consistia em uma mostra de design com vistas a sugerir equipamentos urbanos capazes de lançar Belo Horizonte no futuro. Um futuro desejado como a melhor resposta possível para a vocação da cidade, um tempo que fosse marcado pela ampliação da qualidade de vida e pelo resgate dos espaços públicos reduzidos pelo apartheid motorizado do planejamento urbano do século XX. A utopia que norteou o projeto referenciava-se na tentativa de resgatar o espaço público como lugar do homem, já que as muitas mudanças ocorridas nos últimos cem anos tinham se referenciado na máquina, transformando lugares de encontro em lugares de passagem. Tal projeto se chamou Objeto Urbano, tendo sido realizado a contento depois de um ano de trabalho, mais que suficiente para que eu e Eliseu nos tornássemos amigos e para que eu pudesse aprender algo sobre a arte e o fazer do design. Foi o primeiro designer que conheci e cujo trabalho pude acompanhar com curiosidade e admiração. Objeto Urbano foi criado por três cabeças bem diferentes, Eliseu, Marta Porto e eu, mas que foram complementares nesse empreendimento. No


A missão de convidar e, posteriormente, ciceronear o grande mestre, coube ao Eliseu. Assim se criou uma boa camaradagem entre os dois, da qual vale lembrar alguns pequenos lances: o primeiro foi a visita ao escritório do arquiteto na Av. Atlântica, no Rio de Janeiro, onde um tímido-jovem-designer-mineiro viu-se pela primeira vez diante de um ídolo. Acredito que Niemeyer aceitou o convite preliminarmente pela simpatia com a figura desconcertada do Eliseu, mas o certo é que a idéia era boa, ele gostou e, meses depois, chegou a hora de receber o mestre em BH. Na ocasião havia anos que Niemeyer não visitava Belo Horizonte, de sorte que seu primeiro gesto foi um passeio solitário, em companhia apenas de seu motorista, à Pampulha, a fim de checar as condições de conservação do conjunto arquitetônico de sua autoria. Driblando o cerimonial da Prefeitura, que então se alvoroçou com a ilustre visita, o velho arquiteto chegou às escondidas, tendo contatado apenas mais tarde a coordenação do evento. Eliseu se reuniu com Niemeyer e a então Secretária de cultura, professora Maria Antonieta Cunha, para tratar dos detalhes de sua palestra. No centro da cidade compraram pincéis e papel e, à noite, no auditório da FUMEC, aconteceu a palestra. Na saída houve um grande tumulto, com o assédio do público, formado principalmente por estudantes de arquitetura afixionados por ver o mito de perto, de forma que o Eliseu teve que dar a mão ao mestre e conduzi-lo para fora do tumulto. Aquilo foi um delírio. Quando Eliseu deixou nosso convidado

CRIAR OBJETOS

todo foi realizada uma mostra com vinte convidados, entre designers e arquitetos, para criar equipamentos da ordem do mobiliário urbano, realizando protótipos que foram expostos em maio de 1994, no Museu de Arte da Pampulha. Durante um mês, o museu foi disponibilizado para a mostra, que contou ainda com obras de arte e performances desen volvidas exclusivamente para o evento: em termos de público e qualidade, foi um sucesso. Mas o projeto não se restringiu a esse evento, realizamos também um amplo ciclo de debates com convidados ilustres de todo o Brasil, mas por certo, ninguém tão ilustre como Oscar Niemeyer.

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no hotel, foi presenteado com um pequeno manuscrito, onde se assinalavam as impressões que Niemeyer teve da viagem. De volta ao auditório, Eliseu veio me mostrar a preciosidade. Percebi então que o documento não estava assinado, o que comprometia sua validade. Lá se vai o tímido-jovem-designer- mineiro de volta ao hotel, já para bem além de meia noite, acordar o mestre e colher a assinatura. Mas deu tudo certo, o mestre foi cortês mais uma vez. Finda assim uma eventura que muito nos marcou e que sempre relembramos com muito carinho. No mesmo ano de 1994 houve uma mostra individual do Eliseu no saguão do Palácio das Artes, onde foram expostos protótipos de objetos que ele desenvolveu nos seus primeiros anos de profissão. Eu e Marta, através da “Associação de Idéias”, demos nossa colaboração e participamos honrados do evento.

CRIAR OBJETOS

Desde que nos conhecemos, além da amizade, vimos fazendo alguns trabalhos em parceria. Fiz o texto que legendou sua “cadeira utópica” na Mostra Objeto Urbano, escrevemos a quatro mãos um artigo sobre o design mineiro na pré-história para a revista AP, em 1995. De nossas conversas muitas idéias surgiram, inclusive a da Quarta Cultura, que expressei na trilogia dos números 4,5 e 6, em 1996/97, na mesma revista. Aproveito o ensejo para lembrar a importante interlocução do Eliseu.

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EUCLIDEs GUIMArãEs outubro 2003




AGRADECiMEnTOS Accácio Ferreira dos Santos Jr.,

Liz Davis,

Adriano Pardini,

Luiz de Lacerda,

Airton Ribeiro

Márcio Dario,

Angela Souza Lima

Márcio Trindade,

Sr. Antônio Mourão (in memoriam),

Mateus Rezende,

Arnold Borgerth,

Olavo Machado Júnior,

Carlos Diniz,

Patrus Ananias,

Cátia Martins Araújo

Paulo Roberto Henrique,

Chico Romagnoli,

Pill Gloor

Cristina Piacenza,

Quirino,

Daniel Mansur

Radamés Teixeira da Silva,

Darci Pimenta,

Raymond Guidot,

Geraldo Bonfim

Rene Zanata,

Geraldo Coelho,

Rosana Cavalieri,

Graziela Falci,

Samuel Davi,

Hugo Belizário,

Sérgio Lucchessi,

Humberto Becattini,

Silvia Avanzi,

iracema de Rezende Santos,

Sônia de Fátima Muniz

Jamil Zaidan,

Štefan Bogdan Šalej,

José Pedro,

Sylvio Emrich de Podestá,

Juan Manuel Barrios,

Welma Aguiar Rezende,

Júnia nocci,

Wilson Brumer,

Liccia Bottura

Centro de Memória e Pesquisa Rosalina de Paula Barroso - CEMP/SLU




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