Pasta mia Iconografia e Costumes
Ilustração. In: Il Lunario della pasta asciutta. Capa (Arquivo Museu do Macarrão - Zini/SP) Guarda: Corvos e trigais, Vincent van Gogh. Óleo sobre madeira, 1890
Cristina テ」ila Adriano Lana
Pasta mia IconografIa e costumes
Pasta mia iconografia e Costumes
REALiZAÇÃO Centro de Capacitação, Treinamento e Cultura Terra Verde márcio Correa Teixeira PRODUÇÃO EXECUTiVA Neoplan Consultoria e marketing Francisco Caram Ricardo T. Felix CONSULTORiA, PLANEjAmENTO E LEiS DE iNCENTiVO Neoplan Consultoria e marketing Francisco Caram Ricardo T. Felix
COORDENAÇÃO EDiTORiAL E REDAÇÃO FiNAL Cristina Ávila TEXTO E PESQUiSA iCONOgRÁFiCA Adriano Lana DESigN gRÁFiCO Sérgio Luz FOTOgRAFiAS Flander de Sousa (Páginas: 6, 82, 83 e reproduções do Acervo Vilma Alimentos) REViSÃO DE TEXTO Érica Souzalima ESTAgiÁRiO miguel Duarte CONSULTORiA TÉCNiCA Enrico Vezzani ENSAiO FOTOgRÁFiCO COm CHEF DE COZiNHA TEXTO E PRODUÇÃO CULiNÁRiA CHEF DE COZiNHA marco Paulo Peluso PRODUÇÃO ARTÍSTiCA Adriano Lana FOTOgRAFiAS Nelson Aguilar (páginas: 3, 8, 10, 26, 44, 45, 46, 67, 68, 69, 72, 73, 78, 79, 80, 81, 84, 85, 86, 88 até 104, capa e contracapa) ASSiSTENTE DE FOTOgRAFiA Danilo gonçalves Alvarenga MODELO INFANTIL Vittório Nelson Gueddes Aguilar
SUmÁRiO
APRESENTAÇÃO Domingos Costa Diretor-Presidente da Vilma Alimentos
I ASPECTOS HiSTÓRiCOS DA PASTA NO mUNDO iTALiANA E iNTRODUÇÃO DA PASTA NO II imigRAÇÃO BRASiL
7 11 27
Em BELO HORiZONTE E A DiFUSÃO DA PASTA III imigRAÇÃO 47 NA ALimENTAÇÃO
TECNOLÓgiCO IV DESENVOLVimENTO DAS mÁQUiNAS CASEiRAS ÀS iNDUSTRiAiS
V A PASTA DE ONTEm E DE SEmPRE AmOR PELA PASTA E A CONSOLiDAÇÃO DE UmA VI OiNDÚSTRiA ALimENTÍCiA DE SUCESSO
REFERÊNCiAS BiBLiOgRÁFiCAS
LiNHA DE TEmPO: 1897 – 2005
69 87 105 114 11 até 64
APRESENTAÇÃO
T
radição e modernidade se aliam à história da família Costa. Retratos dos meus avós e meus pais remetem ao esforço de uma construção empresarial que se inicia em 1925.
Avôs, avós, pais e mães – as gerações que migram para o Brasil em busca de melhores condições de vida marcam a memória de seus descendentes. Eu sou apenas mais um, de passagem como todos nesta vida, deixando claro que a empresa não é feita apenas por seus donos, mas por todos que por ela passam. Pessoas unidas de bons propósitos, de uma gestão integrada e competente, mantêm a tradição sem perder de vista as contribuições técnicas modernas. Com este livro, que ora apresento, quero compartilhar a minha alegria nesses oitenta anos, com todos que fazem da Vilma uma parceira e amiga – fornecedores, funcionários e clientes. Parabéns a todos nós, imprescindíveis à continuidade e sucesso da nossa marca.
Domingos Costa Diretor-Presidente da VILMA ALIMENTOS
...a essas sementes de trigo que durante milhares de anos ficaram fechadas hermeticamente nas câmaras das pirâmides e que conservam até hoje suas forças germinativas. Walter Benjamin
i ASPECTOS HISTÓRICOS DA PASTA NO MUNDO
Quem não se delicia com um cheiro de massa fresca, um sugo ao ponto por cima e um queijo parmesão ralado? Todo mundo se curva a uma boa massa. mas a sua história é cheia de mistérios e controvérsias. A palavra macarrão teria vindo do grego makária, uma espécie de caldo de carne enriquecido por pelotinhas de farinha de trigo e por cereais, que surgiu, aproximadamente, há 25 séculos. Todos os países europeus, asiáticos, americanos do sul ou do norte experimentam o sabor do macarrão, os tipos variam em cerca de 600 formas de design conhecidas comercialmente. O corte diverge, mas a fórmula é simples e a simplicidade nos remete ao mundo dos aldeões, que cultuam seus costumes com amor e dignidade.
LINHA DE TEMPO
O trigo, talvez o mais tradicional alimento do mundo, matéria-prima da pasta italiana, nos lembra as cerimônias místicas da antiguidade, quase todas relacionadas à fecundidade. Uma vez replantados no solo, os grãos de trigo – o mais belo fruto da terra – são uma promessa para outras espigas. Além disso, o trigo surge em diferentes civilizações como um presente de Deus, ligado ao dom da vida. O trigo simboliza o “dom da vida”, que não pode ser nada mais que um dom dos deuses, o alimento essencial e primordial.
Mulher preparando tagliatelle fresco. In: La Regina delle mense. p. 23 (Arquivo Museu do Macarrão - Zini/SP)
1897
1898
• Fundação da Academia Brasileira de
• O italiano Afonso Segreto faz a primeira
Letras por Machado de Assis.
filmagem no Brasil, registrando, com uma câmera Lumière, alguns aspectos da Baía de Guanabara.
• Inauguração da nova capital mineira.
• A nova capital dá posse ao novo presidente do Estado, Silviano Brandão.
PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
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A palavra pasta (massa em italiano) vem do grego pastillo. Pastillo é citado em um dos textos mais importantes do passado clássico – Decameron – de Boccaccio, filho natural do mercador florentino Boccaccio Di Chellino, que pode ser considerado o pai da narrativa européia. O poeta e especialista em versos culinários, o grande Horácio (80-56 a.C.), foi também na itália um escriba que, cada vez mais, foi compelido a escrever poemas. A posição de Horácio como um dos maiores poetas latinos deve-se à perfeição de sua forma, à sinceridade e franqueza com que ele retrata os costumes urbanos com bom humor e bom senso. Seus poemas oferecem um quadro vívido da sociedade romana de sua época.
Maccheroni Pianigiani, 1922. Achille Mauzan
Outros poetas latinos e mesmo anônimos manifestaram a graça e a ironia de um bom prato de massa acompanhado especialmente de vinho. São poemas, provérbios e motes que exaltam a culinária e os costumes tradicionais da velha itália.
CENTO PROVERBi E mOTTi iTALiANi Napoli vanta i primi maccheroni Roma i prosciutti e le giucate in maggio. milano i cervellati ed i capponi, Firenze ha d’ogni buono un piccol saggio, Torino sa condire qualche erbaggio, genova manda paste e bei limoni, Casal dai suoi tartufi ha gran vantaggio, Ferrara si sostenta co’ storioni... PROVÉRBIOS E MOTES ITALIANOS Napoli se gaba do primeiro macarrão. Roma o presunto e as brincadeiras da primavera. Milão os miolos e os galos capados. Florença tem de cada produto bom uma amostra. Torino sabe temperar qualquer vegetal. Gênova remete doces e limões lindos. Casale tira grande vantagem de suas trufas. Ferrara se sustenta com seus peixes...
Comendo macarrão. In: La Regina dele mense. p.38 (Arquivo Museu do Macarrão - Zini/SP)
LINHA DE TEMPO
Página seguinte: Il Lunario della pasta asciutta. p.240-241 (Arquivo Museu do Macarrão - Zini/SP)
1899
1900
1901
• Chiquinha Gonzaga lança a
• Exposição Universal de Paris.
• Aparece na nova capital o vírus
primeira marcha carnavalesca: Ô Abre Alas.
• Morre o Rei Humberto I, assassinado em Monza, Itália.
• É entregue ao prefeito de Belo Horizonte o projeto de Exposição Permanente de Amostras do italiano Raffaelo Berti.
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PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
da Influenza.
LINHA DE TEMPO
PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
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Trigais. In: La Regina delle mense, p. 39 (Arquivo Museu do Macarrão - Zini/SP)
Conta-se, ainda, que os latinos que conviveram perto de jesus Cristo já conheciam e gostavam muito de um prato chamado de macco (caldo de favas, massa e água). Seguramente, da reunião dessas influências aparece na ilha da Sicília, há cerca de mil anos, o verbo maccari, que significa esmagar ou achatar com muita força. Dessa forma, na ilha da Sicília, o homem civilizado aprende a elaborar o maccaruni feito basicamente de farinha, água, sal e ovos. Que adquire as mais surpreendentes formas e se rende aos mais diferentes sabores nas mãos de chefes em todo o mundo. Cada qual insere um ponto a mais, uma erva, um condimento. Quem conta um conto aumenta um ponto. Talvez por isso, tantos reivindiquem a criação do macarrão. Se non é vero, é bene trovato.
Calendário anual. Livro de Horas, devocional. França, 1460. In: Illuminated manuscripts. p. 24
LINHA DE TEMPO
Jesus na casa de Madalena. Giovanni da Milano. Storia della Gastronimia Italiana. p. 32-33 (Arquivo Museu do Macarrão - Zini/SP)
1902 • São postos à venda os
• Nasce em Diamantina Juscelino
primeiros cartões-postais de Belo Horizonte.
Kubitschek de Oliveira, futuro presidente da República.
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PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
É comum se ouvir que o macarrão tem origem chinesa. Vem daí a história de que marco Polo, após uma permanência de doze anos naquele país, ter levado o macarrão para a itália e de lá o ter difundido por toda a Europa. Outros historiadores acreditam que o trigo já era plantado às margens do Nilo. Segundo essa tese, como os árabes dominavam o comércio no mediterrâneo, teriam introduzido na Europa o consumo do macarrão. mas é bom lembrar que o que poderia derrubar a teoria da paternidade de marco Polo é o uso da palavra macarrão desde a antiguidade grega. marco Polo informou em seu livro sobre uma planta chamada sagu, com a qual os nativos de Fanfur na China faziam comidas de massas suficientemente gostosas. De retorno à itália em 1295, marco Polo ditou suas rememorações em um livro que mistura um universo de fantasias a fatos reais. Para reforçar essa possível lenda, em uma das edições do livro “marco Polo: o livro das maravilhas” no século XVi, o trevisano gianbattista Ramusio colocou uma nota de pé de página a respeito do sagu: mangiari di pasta assai i buoni. Literalmente, comidas de massas suficientemente gostosas. A fim de aclarar a explicação, o editor completou: “com tal produto se faz uma farinha limpa e trabalhada, que redunda em lasanhas e nas suas variedades elogiadas e levadas por Polo a Veneza em suas bagagens.”
As viagens de Marco Polo
LINHA DE TEMPO
Mapa do trajeto de Marco Polo. In: Marco Polo Il Milione - Guarda (Arquivo Museu do Macarrão - Zini/SP)
1903
1904
1905
• O Acre é incorporado ao Brasil.
• Ocorre no Rio de Janeiro a Revolta
• Einstein anuncia a Teoria da
• Belo Horizonte recebe Alberto Santos Dumont, inventor do avião.
da Vacina.
Relatividade.
• Inaugura-se a Igreja São José.
• Inaugura-se a 1ª linha de bondes, que servia o bairro Floresta em Belo Horizonte.
Igreja São José PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
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A lasanha é a massa mais antiga da itália, citada no século Xiii em uma pequena poesia de jacopone da Todi, em que relata aspectos de uma massa retangular, feita com farinha, água e ovo. E que, quando cortada em tiras, dava o tagliateli. A rigor, não existe apenas uma cozinha italiana, mas, sim, a reunião de centenas de cozinhas regionais que hoje em dia têm um traço em comum – a massa de farinha de trigo – de nome maccherone. Uma versão pitoresca diz que o termo poderia ter-se derivado de um personagem da Comédia dell’Arte, Mascherone, ou, ainda, de uma reclamação de um nobre que teria achado caro um tipo de massa que havia encomendado: sibuoni, ma carone (boa, mas, cara). Rótulo de 1906.La Regina delle mense. p. 46 (Arquivo Museu do Macarrão - Zini/SP)
Rótulo antigo. (Acervo Museu do Macarrão - Zini/SP)
Rótulo s/d .La pasta - Storia e cultura de un cibo universale. p. 1 (Arquivo Museu do Macarrão - Zini/SP)
LINHA DE TEMPO
As estradas napolitanas do século XIX eram ocupadas de vendedores de macarrão, banca de espaguete. Specialitá d’Italia - Le Regioni in cucina. p. 338. (Arquivo Museu do Macarrão - Zini/SP)
1906
1907
1908
• Auguste Lumière inventa a
• Realiza-se, em Haia, a II
• Morre João Pinheiro da Silva.
fotografia colorida.
Conferência Internacional da Paz, da qual o Brasil participa.
• Santos Dumont realiza vôo com o
• É concluído o edifício-sede dos
14 BIS.
Correios, projeto do arquiteto Prado Lopes.
• É eleito presidente do Estado de Minas Gerais João Pinheiro da Silva.
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PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
Existem ainda significados para a palavra macarrão distintos na própria itália. No sul, justamente a zona que mais consome, ela designa toda a massa seca feita sem ovo. já no restante da itália, indica um tipo de massa particular com um design tubular furado, provavelmente o que conhecemos aqui como o fusilli. Deve ter contribuído muito para a popularidade da massa o fato dela ser fácil de ser feita. Pois é composta basicamente por farinha de trigo e água, dispensando fermentações, conservantes e preparações complicadas. As massas secas são também fáceis de serem feitas, já que o cozimento é rápido e crescem bastante quando submetidas ao calor do fogo, rendendo vários pratos.
LINHA DE TEMPO
Cena de cozinha. In: La Regina delle Mense. p. 38. (Arquivo Museu do Macarrão - Zini/SP)
1909
1910
1911
• Marinetti publica o Manifesto
• Posse do novo presidente do Estado
• Luis Olivieri faz a primeira exposição
Futurista.
de Minas, Júlio Bueno Brandão.
• Morre o fundador de Belo Horizonte,
• O italiano Igino Bonfioli chega a Belo
Afonso Pena.
Horizonte. Considerado o primeiro fotógrafo do Palácio da Liberdade.
• Inaugura-se o Grande Teatro Municipal.
de trabalhos de arquitetura na capital.
Marinetti
PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
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LINHA DE TEMPO
Secagem de pasta longa em varais de madeira. Século XIX. In: La Regina delle mense. p. 151 (Arquivo Museu do Macarrão - Zini/SP)
1912
1913
1914
• Oswald de Andrade retorna da
• A Ford desenvolve a linha de
• Eclode a I Guerra na Europa.
Europa com o Manifesto Futurista de Marinetti.
• Inaugura-se, na Praça da Estação,
produção nas suas fábricas.
• A moda francesa toma conta da cidade.
um busto de Anita Garibaldi.
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PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
LINHA DE TEMPO
1915
1917
1918
1919
• Partem de Belo Horizonte 90
• Inicia-se o estado de guerra do Brasil
• Fim da I Guerra Mundial com a
• É assinado o Tratado de Versalhes.
reservistas italianos para participarem da I Guerra.
contra a Alemanha.
derrota da Alemanha e seus aliados.
• Epidemia da Gripe Espanhola.
PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
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• No Rio de Janeiro, é fundado o Partido Comunista do Brasil.
É difícil imaginar uma refeição mais versátil. Combina com quase tudo – tomate, manjericão, azeite de oliva, alho e acompanhamentos como: carne de cabrito, carne de boi, carne de javali, queijos, funghi porcini, tomate, ervas finas, entre outros. Os mais conhecidos tipos de macarrões são: espaguetinho, anelzinho, gravatinha, espaguete, argolinha, espiral, estrelinha, parafuso, chumbinho, rigatoni, padre nosso, talharim, fusilli, lasanha, ninho, furadinho, canelone, gravata, letrinhas, ave maria, tagliatelle, concha, penne estriado, capelete, nhoque, engrenagem, fettucine, entre inúmeros outros, alguns feitos manualmente e outros já tratados industrialmente.
LINHA DE TEMPO
Rótulo de uma antiga fábrica de Gênova. In: La Regina delle mense. p. 61 (Arquivo Museu do Macarrão - Zini/SP)
1920
1921
1922
• Criação da primeira Universidade do
• É criado o Bispado de Belo
• Mussolini chega ao poder na Itália.
Brasil, no Rio de Janeiro.
• A antiga Igreja da Boa Viagem é destruída sob protestos.
Horizonte.
• É comemorado pela comunidade italiana o sexto centenário de morte de Dante Alighieri.
• Em São Paulo, é realizada a Semana de Arte Moderna.
• O Parque Municipal ganha um coreto em Belo Horizonte.
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PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
Durante muitos anos, o macarrão foi uma receita caseira. Na Renascença, já fazia parte da vida italiana. Um livro de culinária que teria sido publicado em 1475 informava que a massa deveria ser cozida enquanto se rezava três padresnossos. E há evidências que, nesse momento da história, a massa era um prato usufruído preferencialmente em grandes banquetes. À medida que o macarrão era divulgado e tornava-se mais popular, as camadas menos favorecidas consumiam e criavam suas próprias receitas. mas foi apenas depois da Primeira guerra mundial, com a industrialização, que o macarrão conquistou o mundo.
LINHA DE TEMPO
O sabor do macarrão. In: Il Lunario della pasta asciutta. p. 96-97 (Arquivo Museu do Macarrão - Zini/SP)
1924
1925
1926
• Em São Paulo, eclode o Tenentismo.
• É formada a Coluna Prestes.
• Hirochito torna-se imperador do Japão. • Governo Antônio Carlos de Andrada em Belo Horizonte.
• Humberto Mauro produz em Cataguazes o filme “Tesouro Perdido”.
PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
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Interior de cozinha. Preparação de pasta fresca. Veneza. Alessandro Vecchi, 1605. In: La Regina delle mense. p. 21 (Arquivo Museu do Macarrão - Zini/SP)
Interior de cozinha, preparação de pasta fresca. Veneza. Alessandro Vecchi, 1605. In: La Regina delle mense. p. 18 (Arquivo Museu do Macarrão - Zini/SP)
Reserva alimentícia desde os primórdios, a farinha, matéria-prima mais importante na produção das massas, sejam: integrais; especiais; comuns; sêmolas; semolinas de trigo durum – foi uma opção fundamental para os tempos de carestia, tornando-se extremamente ecumênica e acessível a todos. A massa é um produto largamente conhecido. Pode ser caseira, aglutinando a família em momentos de refeições alegres e festivas. Em cantinas ou restaurantes com ambientes mais sofisticados, mantém a tradição que obriga o degustador a enrolar com desenvoltura o espaguete e as massas compridas sem jamais cortá-las e sem se enrolar. Por isso, os pais italianos ensinam desde cedo seus filhos a comerem macarrão. Essa é a etiqueta básica para um bom degustador de massas na atualidade.
LINHA DE TEMPO
Vendedora de macarrão.
1927
1928
1929
• Getúlio Vargas é eleito presidente do
• Stalin assume poder na União
• Quebra da Bolsa de Valores de Nova
Rio Grande do Sul.
Soviética.
York.
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PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
Exposição de macarrão
Jantar de uma família napolitana. In: La Regina delle mense. p. 44 (Arquivo Museu do Macarrão - Zini/SP) O cozimento da pasta fresca em uma gravura quinhentano. Alessandro Vecchi, 1605. In: La Regina delle mense. p. 16. (Arquivo Museu do Macarrão - Zini/SP)
LINHA DE TEMPO
Em antigas iconografias, observa-se a semelhança do comer a capitão, no período do Brasil Colônia, em que os habitantes comiam com as mãos pela raridade de talheres, e passaram a ter uma habilidade manual de lançar a comida à boca sem deixar cair farelos no chão. Esse gesto é familiar também entre os italianos, pois esse ato quase sensual de levar o macarrão à boca, de agradável paladar, unia homens, mulheres, os mais velhos, os jovens e as crianças.
Demonstração de pratos de macarrões
1930
1932
1933
• Júlio Prestes é candidato à
• Revolta Constitucionalista em São
• Hitler torna-se 1º ministro alemão.
Presidência da República.
Paulo.
• Benedito Valadares é nomeado
• Revolução de 30 marca o início da
interventor em Minas Gerais.
Era Vargas.
PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
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Pâtes Baroni. In: La Regina delle mense. p. 46 (Arquivo Museu do Macarrão - Zini/SP)
Costumes de aldeões. In: Il Lunario delle pasta asciutta. p. 192-193 (Arquivo Museu do Macarrão - Zini/SP)
Pelo amor, pelo gosto, pelo prazer e variedade que a massa confere ao degustador é que se convencionou denominar o dia 25 de outubro como o Dia mundial do macarrão. Parabéns e mangia che ti fa bene.
LINHA DE TEMPO
Próxima página: Um pretexto para a macarronada no século XIX. In: La Regina delle mense. p.42 (Arquivo Museu do Macarrão - Zini/SP)
1934
1935
1936
• Getúlio Vargas é eleito presidente da
• Intentona Comunista.
• Guerra Civil Espanhola.
República pela Constituinte.
• Primeira transmissão televisiva na Inglaterra.
• Preso Luís Carlos Prestes.
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PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
ii ITALIANOS E A INTRODUÇÃO DA MASSA NO BRASIL Relembrai vossa origem, vossa essência: criados não fostes como animais, mas donos de vontade e consciência. DANTE ALigHiERi
Como e por que tantos italianos saíram de sua terra natal em busca de um novo mundo? Fazer a América era um sonho, uma das poucas opções de conseguir tentar se estabelecer num lugar onde fosse possível ser proprietário de terras. Durante o século XiX, muitas famílias italianas viviam em penoso estado de desemprego, desorganização política e falta dos recursos básicos para viver. Enfim, a alimentação era cara e de difícil acesso aos menos favorecidos.
LINHA DE TEMPO
O movimento pela unificação do país, cujo território encontrava-se dividido em pequenos estados, alguns em mãos estrangeiras, ao mesmo tempo em que gerava um patriotismo exacerbado, causava frustração pela falta de consumidores e pela concentração de renda nas mãos de poucos.
1937
1938
• Japoneses ocupam Pequim e outras
• Lampião e companheiros são
localidades.
mortos em Sergipe.
• Picasso pinta Guernica. • Início do Estado Novo.
PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
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As condições de vida eram as piores possíveis, como testemunhado pelas descrições de locais de residências e, principalmente, em razão da miséria difusa. As populações campesinas sofriam com a falta de condições de moradia e até mesmo a fome. As crescentes cidades abrigavam uma burguesia nascente, que dificultava ainda mais as condições de vida decente aos camponeses. As casas eram precárias, mas mantinham uma certa dignidade. Construídas de pedra, geralmente em dois andares, ficava a família abrigada no segundo pavimento e deixava o primeiro para proteção dos animais, especialmente das vacas que serviam também para aquecer os moradores. A maioria da população italiana vivia em regiões montanhosas pouco propícias à agricultura. Nas dietas predominava para os italianos do norte a polenta, no sul, contava-se apenas com o pão de farinha de cevada acompanhado de verduras. O cotidiano transcorria entre o trabalho e a igreja – espaço que simbolizava o convívio social. Na itália, para os vênetos, os valores do mundo rural permaneceram inabaláveis. O amor à terra, à propriedade, a despeito da pobreza, era uma forma de dignidade e manutenção de valores.
LINHA DE TEMPO
O verão. 1563. Giuseppe Arcimboldo.
já as famílias abastadas se deliciavam com cozinhas entulhadas de galinhas, carnes suínas, animais de caça, hortaliças e legumes diversos, conferindo o contraponto entre ricos e pobres. Os camponeses alegres viviam em ambientes mais simples, mas guardavam a virtude da solidariedade e da caridade. A arte é testemunha desses dois aspectos da vida italiana. A comida tem sido uma constante entre os temas de natureza morta. giuseppe Arcimboldo criou um tipo inovador de pintura que combinava o retrato aos gêneros alimentícios. O pintor italiano usava gêneros alimentícios para sugerir simbologias diversas como no quadro Verão de 1563. Desde sempre, mesmo na Roma antiga e na história de Cristo, o alimento perpassa pela vida dos italianos, dando uma demonstração que a combinação de trigo e vinho vem de longa data, sendo as figuras de dispensas ou cozinhas fartas um tema constante da arte italiana.
1939
1940
1941
• Hitler invade a Polônia. Começa a II
• Paris é ocupada pelos alemães.
• Entrada dos americanos na II Guerra
Guerra Mundial.
• JK é eleito prefeito de Belo Horizonte pelo interventor Benedito Valadares.
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PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
Mundial.
Em 1860, na área central da península, um movimento, liderado por giuseppe garibaldi, constituiu o famoso regimento das “mil camisas vermelhas” com o objetivo de libertar o reino das duas Sicílias, então sob domínio do Bourbon Francisco ii. Embora garibaldi tencionasse converter a região em república independente, foi persuadido a entregá-la ao reino da Sardenha e a fazer um acordo com os latifundiários. Em 1866, foi a vez da anexação dos Estados de Veneza, Toscana, Parma e outros, mas a unificação total só se deu em 1870, após a incorporação de Roma, elevada a capital do país em 1871. Contudo, a campanha pela unificação italiana não teve o mesmo significado para todos que dela participaram. Os camponeses empobrecidos desejavam, mais do que glória nacional, a melhoria de suas precárias condições de vida. A maior parte das terras concentrava-se nas mãos de poucos latifundiários e as disponíveis estavam a tal ponto divididas que eram disputadas palmo a palmo, tornando impossível o sustento de uma família numerosa. Terminada a guerra, o sonho dos camponeses de acesso à terra não se realizou; as finanças do Estado estavam esgotadas e a zona costeira do país foi abandonada à sua própria sorte. O desemprego gerado por essa conjuntura provocou a emigração.
Giuseppe Garibaldi
Anita Garibaldi
Caro Meucci Aceito com gratidão a dedicatória de sua engenhosa obra. Seu G. Garibaldi Capera 6 maio 1873
LINHA DE TEMPO
(Acervo Museu do Macarrão - Zini /SP)
1942
1943
• Brasil entra na II Guerra Mundial.
• Em 1° de maio, o governo brasileiro institui a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).
• Concluído o conjunto arquitetônico da Pampulha, projeto do arquiteto Oscar Niemeyer.
PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
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Um país de grande beleza, mas de difícil sobrevivência. guerras prolongadas, fome e desesperança fizeram com que muitos italianos se aventurassem na distante América. Dessa forma, motivos econômicos, perseguições religiosas, crescimento demográfico, desenvolvimento tecnológico, expansão das companhias de navegação levaram os italianos à saída de suas terras em larga escala em busca “de fazer a América” em terras brasileiras.
LINHA DE TEMPO
Cartaz de 1906 de uma das companhias de navegação italianas. In: História da vida privada no Brasil. p. 350-351
Corte de um dos navios que fazia a rota Europa-América do Sul. Os emigrantes ficavam nos beliches no terceiro pavimento de baixo para cima. In: História da vida privada no Brasil. p. 350-351
1944
1945
• Desembarque aliado na Normandia
• Fim da II Guerra na Europa.
(Dia D).
• Estados Unidos explodem bombas
• Vinda de Alberto da Veiga Guignard
atômicas no Japão.
como professor de Artes a Belo Horizonte.
• Fim do Estado Novo.
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PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
A política imigratória brasileira era confusa. Essa se fazia através de agenciadores sem necessidade de grandes promessas. Bastavam dizer aos camponeses que dentro de alguns meses teriam dinheiro aos montes, que em um par de anos seriam grandes proprietários de latifúndios e que trabalhadores braçais se tornariam patrões que aos gritos: “Viva a América” – muitos imigrantes deixavam esperançosos suas regiões na itália dirigindo-se para o Brasil em grandes navios, com passagens de terceira classe, amontoados em espaços insalubres semelhantes aos antigos navios negreiros, no período da escravatura. inicialmente, as maiores levas de estrangeiros iam para o sul de São Paulo na colheita do café ou para o sul do país com a finalidade de povoação e embranquecimento da raça.
LINHA DE TEMPO
Desembarque de imigrantes no Porto de Santos. 1907 (Acervo Memorial do Imigrante)
1946
1947
1948
• Criação da Unesco.
• Independência da Índia e Paquistão.
• Criação do Estado de Israel.
• Péron é eleito na Argentina.
• O Brasil rompe relações diplomáticas • É inaugurado o Museu de Arte de
• Governo Eurico Gaspar Dutra no
• Cinqüentenário de Belo Horizonte.
com a União Soviética.
Brasil.
PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
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São Paulo por Francisco Matarazzo Sobrinho, o Cicilo.
O governo brasileiro não tinha uma política definida de assentamento desse tipo de imigrante. O reembolso das passagens deveria ser feito no prazo de dez anos pelo próprio imigrante. Havia demora na demarcação de lotes, abertura de estradas, ausência de hospedarias para abrigar imediatamente após a chegada esses iludidos povos à procura de uma vida melhor. Vários relatos chamam a atenção para o número de europeus que desfilavam pelas cidades sulinas pedindo esmolas para sobreviver. Chegam de 1891 a 1940 cerca de um milhão, quinhentos e oito mil, duzentos e oitenta e um italianos, segundo o iBgE – instituto Brasileiro de geografia e Estatística.
Imigrantes na colheita de café. Interior do Estado de São Paulo, década de 1920 (Acervo Memorial do Imigrante)
Como poderiam em condições quase tão precárias quanto as existentes em suas terras sobreviver e se integrar à vida no novo mundo? Se de um lado havia o interesse de mão-de-obra para grandes proprietários de café que absorviam imigrantes para substituírem os escravos negros por escravos brancos, por outro lado, surgiam práticas como ocupação de pequenas colônias.
LINHA DE TEMPO
Passaporte de família italiana. Itália, 1923 (Acervo Memorial do Imigrante)
1949
1950
• Fundação da companhia
• Começa a Guerra da Coréia.
cinematográfica Vera Cruz por Franco Zampari e Cicilo Matarazzo.
• Vargas é eleito presidente do Brasil.
• A Universidade de Minas Gerais é
• Vai ao ar a TV Tupi de São Paulo,
federalizada.
primeira emissora de televisão da América Latina.
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PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
Força de trabalho manual, alguma especialização em obras de marcenaria e iniciativas comerciais pessoais que transformaram o Brasil numa verdadeira possibilidade. Em São Paulo, houve maior sucesso chegando a existir fortunas como a das famosas indústrias matarazzo, que começaram seus negócios vendendo banha, passando por outras atividades como as famosas fábricas de macarrões e de tecidos.
Anúncio das Indústrias Matarazzo entre 1902 e 1903. Fragmentos da Presença Italiana no Brasil. p. 73 (Arquivo do Museu do Macarrão - Zini/SP)
Operários da Tecelagem Mariangela (Matarazzo). A maior parte era de italianos. São Paulo/SP, c. 1910 (Acervo Memorial do Imigrante)
LINHA DE TEMPO
Matarazzo e empregados na inauguração do moinho em 15 de março de 1900, primeira unidade industrial em São Paulo. Fragmentos da Presença Italiana no Brasil. p. 72 (Arquivo do Museu do Macarrão - Zini/SP)
1951
1952
• É lançado nos Estados Unidos o 1º
• É criada a Revista Manchete, dirigida
computador comercial.
por Adolpho Bloch.
• É inaugurada a 1ª Bienal de São Paulo.
• JK toma posse no governo de Minas Gerais.
PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
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Fachada da Hospedaria de Imigrantes. São Paulo/SP, c. 1920 (Acervo Memorial do Imigrante)
Foi inaugurada oficialmente em 1888, a Hospedaria de imigrantes, um imponente complexo de prédios no bairro da mooca, com a finalidade de receber e encaminhar ao trabalho na lavoura os imigrantes trazidos, agora, por conta do governo de São Paulo. Com o crescimento industrial no início do século XX, o perfil da mão-de-obra imigrante ganharia mais uma faceta, surgindo uma classe operária numerosa, combativa e, muitas vezes, anarquista.
LINHA DE TEMPO
Não foram poucos os conflitos entre cafeicultores, industriais e trabalhadores italianos. Como exemplo, no sul do Brasil, ainda no século XiX, houve o movimento separatista chamado guerra dos Farrapos, de 1835 a 1845.
1953
1954
1955
• Criação da Petrobras.
• Vargas comete suicídio. O vice-
• Começa a Guerra do Vietnã.
presidente Café Filho assume o governo.
• É lançado o filme de animação “A
• É inaugurado o Aeroporto da Pampulha.
Dama e o Vagabundo” por Walt Disney.
• JK é eleito presidente do Brasil, tendo como vice-presidente João Goulart.
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PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
Sociedade de Mútuos Socorros Italiana – “Societá Mutuo Soccorso Italiani Uniti”. São Bernardo do Campo/SP, início do século 20 (Acervo Memorial do Imigrante)
LINHA DE TEMPO
Teve como grande libertário o já citado italiano giuseppe garibaldi e sua companheira, a brasileira Anita garibaldi. Ao lado de Bento gonçalves, garibaldi fracassa na tentativa da criação de um regime federalista que concedesse maior autonomia para as províncias. mas a grande eloqüência na participação de garibaldi na guerra foi a condução por terra com lanchões denominados Seival e Rio Pardo. Apesar disso, o ataque a Laguna não teve grandes resultados práticos. Além disso, por terem pouca intimidade com o oceano, os farroupilhas nunca, de fato, puderam estabelecer um regime republicano. A chamada República juliana, fundada pelos farroupilhas, teve vida efêmera: em 1839, o exército imperial retomou a cidade e os rebeldes iniciaram sua penosa retirada por terra, mas guardaram na memória aquele idealista italiano, que se tornou orgulho de brasileiros e italianos, juntando povos diferentes em uma causa comum – a da liberdade e da República.
Grupo de operários italianos em olaria. São Caetano do Sul/SP, 1912 (Acervo Memorial do Imigrante)
1956
1957
1958
• Publicação do livro “Grande Sertão:
• União Soviética inicia a corrida espacial
• Surge a Bossa Nova.
Veredas”, de Guimarães Rosa.
lançando o Sputnik.
• Seleção Brasileira de Futebol é campeã
• Inicia-se a construção de Brasília, sob
mundial.
a direção dos arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.
• Começa a ser construído o Edifício Arcângelo
• Publicação do Manifesto Concretista.
Maleta, que viria a ser ponto de intelectuais e artistas em Belo Horizonte.
PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
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Imigrantes na colheita de café. Interior do estado de São Paulo, c. 1920 (Acervo Memorial do Imigrante)
LINHA DE TEMPO
Família italiana no Núcleo Colonial Jorge Tibiriça, atual cidade de Corumbataí Rio Claro/ SP, 1911 (Acervo Memorial do Imigrante)
38
PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
Em 1843, garibaldi deixa sua ligação com os farrapos e vai para o Uruguai. Em 1848, em companhia de Anita, retorna para a itália. O idealista garibaldi morreu em 1882, mas fica eternizado como um herói ítalo-brasileiro. Representante da tão sonhada liberdade e melhores condições de vida para os imigrantes italianos, que viriam a homenageá-lo e à sua companheira Anita através de obras de arte como pinturas e esculturas. No início do século XX, um número maior de italianos preferia se estabelecer nas cidades. Surgiam em São Paulo cada vez mais alfaiates, padeiros, sapateiros, etc. A cozinha foi uma grande opção. Nascida em casa, garantia um espaço para a alimentação coletiva – as chamadas cantinas. Aí o macarrão caseiro atraía italianos e brasileiros que se uniam na alegria das músicas tocadas por patrícios ao vivo e foi o início de diversas empresas familiares. Foram criados os bairros: mooca, Bixiga e Brás, modificando a face urbana de São Paulo.
Padaria de imigrante italiano na Rua Visconde de Parnaíba, 2463, no bairro do Brás. São Paulo/SP, 1926 (Acervo Memorial do Imigrante)
LINHA DE TEMPO
Família do imigrante italiano Raucci Martino, natural de Caserta - Macerata di Campinia - Itália, que chegou ao Brasil em 1891. São Paulo (sp), c. 1908 (Acervo Memorial do Imigrante)
Família de imigrantes italianos em passeio pela cidade. São Paulo/SP, c. 1930 (Acervo Memorial do Imigrante)
1959
1960
1961
• Fidel Castro lidera a Revolução
• JK inaugura Brasília no dia 21 de
• Jânio Quadros toma posse como
Cubana.
abril.
• Visita de Fidel Castro ao Brasil.
• Jean-Paul Sartre e Simone de
presidente da República e renuncia 6 meses depois. O vice-presidente João Goulart assume a Presidência, mesmo com resistência dos militares.
Beauvoir visitam o Brasil.
• Concluída a rodovia Fernão Dias, que
• Começa a ser construído o Edifício
liga Belo Horizonte a São Paulo.
JK, em Belo Horizonte.
PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
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Fachada do prédio principal da Hospedaria de Imigrantes, no bairro do Brás. São Paulo/SP, c. 1900 (Acervo Memorial do Imigrante)
Os italianos estavam mais próximos dos costumes e do contato histórico brasileiro. Até 1860, não eram numerosos, mas desde então trouxeram para a culinária nacional o gosto pelas massas de farinhas de trigos espessos e condimentados, resistindo à pimenta e concentrando-se no azeite doce e banha de porco.
LINHA DE TEMPO
Debret, residindo no Rio de janeiro de 1816 a 1831, notou a praticidade italiana na Rua do Rosário: nas casas comerciais de comestíveis de europeus, os comerciantes eram unidos pela cooperação fraternal, em vez da concorrência. Além da massa, divulgaram o sorvete, modificado em sua fórmula, transformando num delicioso doce gelado. O gourmet Francioni foi glorioso nas festas cariocas, fornecedor dos doces, confeitos e demais gulodices. Em 1852, as sopas de macarrão figuravam nos mais abastados jantares no Rio de janeiro.
1962
1963
• O filme brasileiro “O Pagador de
• Kennedy é assassinado nos EUA.
Promessas”, de Anselmo Duarte, recebe o prêmio Palma de Ouro no Festival de Cannes na França.
• Em 17 de agosto, é inaugurada a Semana Nacional de Poesia de Vanguarda de Belo Horizonte.
• O Brasil sagra-se bicampeão mundial de futebol.
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PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
Patifício Barilla na Itália. In: Fragmentos da Presença Italiana no Brasil. p. 46 (Arquivo Museu do Macarrão - Zini/SP)
LINHA DE TEMPO
Moinho Gamba, ao lado dos trilhos da São Paulo Railway. São Paulo/SP, c. 1920 (Acervo Memorial do Imigrante)
1964 • João Goulart é deposto pelo Golpe Militar.
• O Ato Institucional nº 1 (AI-1) cassa direitos políticos de centenas de brasileiros.
1965 • Marechal Castelo Branco assume a Presidência provisória do Brasil.
• JK tem seu mandato legislativo cassado e seus direitos políticos suspensos por 10 anos.
PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
• Revolução na República Dominicana. • Cria-se o bipartidarismo: Arena (apoio ao governo) e MDB (oposição).
• A Jovem Guarda faz enorme sucesso.
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Os italianos, sem concorrer com a tradição brasileira do arroz com feijão, souberam impor a pasta com uma inteligência mais criadora, misturando uma base simples – a massa – a elementos disponíveis e baratos. Seu sucesso se deve tanto a agradar o sumo pontífice como a qualquer operário. É por isso que até hoje na marmita do trabalhador brasileiro o macarrão é uma constante. A valorização do queijo foi outra influência italiana. Adicionado a quase todos os pratos de massa, os libertavam da ditadura da carne, muito mais cara. O queijo com vinho ou com um pedaço de pão não têm outra procedência presumível senão a italiana.
Operárias imigrantes no interior da “Tecelagem de Seda Ítalo-brasileira”. Salto/SP, c. 1920 (Acervo Memorial do Imigrante)
A família Romanato em frente a sua pizzaria, à rua Javari. São Paulo/SP, 1935 (Acervo Memorial do Imigrante)
LINHA DE TEMPO
Operários no interior das Indústrias Siciliano. São Paulo/SP, início do século XX (Acervo Memorial do Imigrante)
Alfredo di Cunto, imigrante italiano, com sua caminhonete Chevrolet, usada para a distribuição de mercadoria. São Paulo (SP), 1937 (Acervo Memorial do Imigrante)
1966
1967
• Começa a Revolução Cultural na
• Che Guevara é assassinado.
China.
• Começam os festivais de inverno em Ouro Preto.
• O General Artur da Costa e Silva
• Fazem sucesso os festivais de
assume a Presidência.
música da Rede Record de Televisão.
• O comunista Carlos Marighela funda a Ação Libertadora Nacional e inicia a luta armada contra o Governo Militar.
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PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
A adaptação fácil do italiano, desafiando o clima brasileiro tão mal falado, às possibilidades de ganhar a vida com a própria cozinha anexa à cantina e à moradia, reforçou o imaginário de um Brasil próspero. Levas de imigrantes buscavam ou convenciam a vinda de parentes que haviam ficado na itália. Novas gerações se acomodavam com seus parentes e amigos, com a idéia de que seria fácil enriquecer. Uma série de imagens e vistas desse país do futuro foram também intensificadoras da propaganda brasileira de imigração. Assim, eles foram chegando, instituindo seus costumes. Estabeleceram a macarronada domingueira da mama, as camisetas listadas, carros alegóricos no carnaval, bairros comunitários e alegres. Uma arquitetura de vilas com casinhas enfileiradas e geminadas, as piadas das mulheres que corrigiam seus maridos com o chamado pau do macarrão. muito trabalho, persistência, economia e fé em Deus fizeram das famílias italianas no Brasil um patrimônio nacional.
LINHA DE TEMPO
Pracista (de terno escuro), atualmente chamado de vendedor ou representante comercial, em visita a um estabelecimento de imigrantes italianos. São Paulo/SP, 1922 (Acervo Memorial do Imigrante)
Piada da época. In: FonFon, RJ, 2 de dezembro de 1933. p. 67
Il Lunario della pasta asciutta. p.268 (Arquivo Museu do Macarrão - Zini/SP)
1968 • Costa e Silva assina o Ato
• Protestos estudantis em vários
Institucional nº 5 (AI-5), fecha o congresso e suspende as garantias constitucionais da população brasileira.
países.
• Passeata dos 100 mil sai às ruas no Rio de Janeiro.
• Caetano Veloso e Gilberto Gil são presos após lançarem a Tropicália.
PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
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iii A imigRAÇÃO Em BELO HORiZONTE E A DiFUSÃO DA PASTA NA ALimENTAÇÃO miNEiRA O grande contingente de imigrantes italianos, que entraram em Belo Horizonte para trabalhar na sua construção, inculcara na parte brasileira da população (...) o hábito alimentar de pastasciutta. EDUARDO FRiEiRO
muitas famílias italianas, ao tomarem conhecimento da construção de uma nova capital para o Estado de minas gerais, aventuraram-se até aquela paisagem montanhosa, então praticamente fora do circuito imigratório italiano, que era minoritário e presente em cidades e regiões como juiz de Fora, Passagem de mariana, Zona da mata, Triângulo mineiro, Rio Doce, etc.
LINHA DE TEMPO
já se viam pequenas e primitivas indústrias de imigrantes italianos em Belo Horizonte antes da inauguração da cidade no ainda antigo Arraial do Curral Del-Rei. monjolos e moinhos de fubá se localizavam nas imediações da Avenida Prudente de morais e na atual Barragem Santa Lúcia.
Passaporte italiano de Maria Anastasia, mãe de Anella Peluso (criança à frente)
1969 • O homem chega à lua.
• Surge o semanário “O Pasquim”.
• O diplomata americano Burke Elbrick
• O General Emílio Garrastazu Médici
é seqüestrado por militantes políticos no Brasil.
assume a Presidência do Brasil.
• Censura à imprensa é constante no Brasil.
PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
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O aspecto da localidade, Belo Horizonte, quando da chegada das famílias, era de um grande canteiro de obras. Os abrigos construídos para alojar os operários, predominantemente de nacionalidade italiana, eram substituídos paulatinamente por construções definitivas. Os prédios oficiais, de arquitetura eclética, de influência neoclássica, contrastavam com o aspecto empoeirado ou lamacento provocado pelo amplo movimento de terra, realizado na área urbana com o objetivo de aplainá-la. No ramal ferroviário urbano, existiam seis locomotivas conduzindo vagões carregados de materiais de construção. Sedutoras perspectivas de ganho abundante e rápido com a instalação da nova capital provocaram um crescimento da população local de 6 mil para 10 mil habitantes, entre os anos de 1896 e 1897. Os grimaldi, os Borsaglia, os muceli, os de Pauli, os Vilani, os Curi, os mancini, os gaetani, os Falci, os gramaldi, dentre tantos outros, foram pioneiros na implementação de empreendimentos Cartão-postal. Coleção particular
LINHA DE TEMPO
Cartão-postal. Coleção particular
1970
1971
1972
• É seqüestrado o cônsul japonês,
• O guerrilheiro Carlos Lamarca é
• Guerrilha no Araguaia.
Nobuo Okuchi, em São Paulo.
morto no sertão baiano.
• O Brasil é tricampeão na Copa do
• Prisão em Ouro Preto do grupo de
Mundo do México.
teatro Living Theater e sua expulsão do Brasil.
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PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
• Inauguração da TV em cores.
artesanais, tais como pequenas fábricas de sabão, fundições, oficinas de carroça, fábricas de macarrão, móveis, objetos de mármore e muito mais. A mais antiga indústria que se tem notícia era a do Sr. giovanni Lunardi e seu filho Estevão, que começaram um pequeno comércio de ferragens, vidros e materiais de construção em geral. Foram eles os empreendedores da famosa marmoraria Lunardi, cujas atividades se iniciaram em 1899. O número significativo de italianos radicados na cidade e o seu espírito associativo os conduziram a criar, em agosto de 1879, a “Sociedade italiana de Beneficência e mútuo Socorro”, com o objetivo de amparar materialmente seus compatriotas, sem distinção socioeconômica, religiosa ou ideológica. Sem auxílio do governo italiano e sob a liderança de Alfredo Ardui, construíram sua sede em um terreno doado pela prefeitura, na Rua Tamoios. Cartão-postal. Coleção particular
LINHA DE TEMPO
Prédio da Sociedade Italiana de Beneficência e Mútuo Socorro. Belo Horizonte/MG, início do século XX, s/a (Acervo Arquivo Público Mineiro/MG)
1973
1974
1975
• Allende é derrubado por Pinochet
• Richard Nixon renuncia ao governo
• O jornalista e professor Vladimir
no Chile.
dos EUA.
Herzog é encontrado morto no DOI – CODI de São Paulo.
• Assume o governo brasileiro o
• Estréia, no Rio de Janeiro, a peça
General Ernesto Geisel.
“A Gota D’Água”, de Chico Buarque de Holanda.
PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
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LINHA DE TEMPO
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PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
LINHA DE TEMPO
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Banda de música da comunidade operária italiana Beneficente de Mútuo Socorro. In: 100 Anos da Indústria em Belo Horizonte. p. 23 Página anterior: Festa de Inauguração de Belo Horizonte, na praça da liberdade, 12 de dezembro de 1897
O espírito alegre e o gosto musical desse povo fizeram com que se aglutinassem frente a uma banda de música denominada “Fanfara”, que atuou em diversas solenidades cívicas e religiosas, como também em atividades recreativas não ligadas à comunidade italiana, demonstrando sua grande integração à sociedade brasileira. Em 12 de dezembro de 1897, deu-se a inauguração da nova capital de minas gerais, denominada Cidade de minas até 1901, quando passou a chamar-se Belo Horizonte.
LINHA DE TEMPO
Nos dias que antecederam o evento, inúmeros curiosos, vindos do interior do Estado e de várias partes da nação, chegaram em trens abarrotados e acomodaram-se em hotéis improvisados. guirlandas coloridas foram estendidas em correntes, desde a Estação até o Palácio do governo. Ergueramse coretos às pressas em todas as praças da capital. No dia das festividades, a cidade despertou com tiros de dinamite e marchas triunfais executadas pelas bandas de música. Ao meio- dia, chegaram à estação de general Carneiro o
1976
1978
1979
• É assassinado o padre jesuíta João
• A Justiça Eleitoral Federal
• Toma posse como presidente da
Bosco Penido Bunier, no Mato Grosso, pela Ditadura Militar.
responsabiliza a União pela morte do jornalista Vladimir Herzog.
República João Baptista de Figueiredo.
• Falece de forma suspeita em
• Estréia a peça “Macunaíma”, dirigida
acidente de carro no km 165 da Rodovia Presidente Dutra o expresidente Juscelino Kubitschek.
por Antunes Filho.
• Nasce em São Bernardo do Campo o Partido dos Trabalhadores.
• Em 28 de agosto, é sancionada a Lei da Anistia.
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PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
Hospedaria dos Imigrantes no bairro Calafate. In: 100 anos da Indústria em Belo Horizonte. p. 22
Técnicos e autoridades política em uma plantação de trigo, na região de Machado/MG, 1953. s/a (Acervo Arquivo Público Mineiro/MG)
LINHA DE TEMPO
“Trigo, próprio para o macarrão, sementes de casca pura, recebidas do Departamento da Agricultura dos Estados Unidos, a qualidade ‘palha roxa’ está provando ser esplêndido para Viçosa”. Viçosa/MG. 1925. s/a (Acervo Arquivo Público Mineiro/MG)
1980
1981
1983
• Visita do papa João Paulo II, no dia 1º
• Cientistas isolam o vírus da aids.
• É criada a internet.
de julho, a Belo Horizonte.
PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
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LINHA DE TEMPO
Grupo de imigrantes italianos em frente à Sociedade Italiana de Beneficência e Mútuo Socorro. In: Álbum de Belo Horizonte, 1911 (Acervo Vilma Alimentos/MG)
1984
1985
1986
• Manifestações em todo o Brasil para
• É destruído o Cine Metrópole pela especulação
• Brasil reata relações diplomáticas
as Diretas Já.
imobiliária em Belo Horizonte.
com Cuba.
• A emenda da eleição direta é
• Tancredo Neves é eleito pelo Colégio Eleitoral
• José Sarney anuncia o Plano
derrotada em votação no congresso.
presidente do Brasil.
Cruzado.
• Morre o presidente Tancredo de Almeida Neves. Toma posse o vice-presidente José Sarney.
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PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
Presidente do Estado e sua comitiva. Dirigiram-se todos à Praça da Liberdade, onde foram realizadas as solenidades. Nessa época, a área urbana de Belo Horizonte, delimitada pela Avenida do Contorno, quase totalmente resumia-se a pequenas edificações na região da Estação Central, Avenida Afonso Pena, Avenida do Comércio (atual Santos Dumont), Avenida da Liberdade (atual joão Pinheiro), Palácio, Secretarias e bairro dos Funcionários. A ocupação de Belo Horizonte deu-se de forma semidirigida, sendo destinadas áreas para os funcionários públicos, os antigos proprietários de Ouro Preto e os operários, dentro do perímetro urbano. Foram reservadas áreas fronteiriças à região suburbana para os núcleos coloniais agrícolas. Em pouco tempo, a especulação imobiliária tornou a área central da cidade inacessível às populações recém-chegadas, obrigando-as a se instalarem nos subúrbios.
LINHA DE TEMPO
Praça da Liberdade em 1932, Belo Horizonte (coleção Iepha/MG).
1987
1988
• O quadro Abaporu, de Tarsila
• Incêndio destrói a área histórica de Lisboa
do Amaral, é posto à venda pelo colecionador Raul Forbes por 2,8 milhões de dólares.
(Chiado).
• É assassinado em Xapuri, Acre, o ecologista Chico Mendes
• Morre no Rio de Janeiro o poeta
• Lançamento do disco Ideologia, de Cazuza
mineiro Carlos Drummond de Andrade.
PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
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LINHA DE TEMPO
Tipos de casas particulares de Belo Horizonte, década de 1930. In: Carlos Drummond de Andrade 1930-1934. p. 213
1989
1990
1991
• Queda do Muro de Berlim.
• Em 21 de novembro, é assinada a
• Fim da URSS.
• Fernando Collor de Mello é eleito
Carta de Paris, finalizando os quase 50 anos da Guerra Fria.
• Airton Senna conquista o
presidente do Brasil na 1ª eleição direta, desde 1961.
• Fernando Collor divulga seu plano econômico, que retém os depósitos bancários por 18 meses.
56
PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
tricampeonato de Fórmula 1.
Nessa época, Belo Horizonte também sofreu os reflexos da crise econômica e financeira do país, acarretada pela queda do preço do café nos mercados internacionais. A construção oficial da cidade foi praticamente paralisada, pois era financiada pelos excedentes oriundos da venda daquele produto. Com a crise, muitos imigrantes abandonaram a cidade e o Estado deixou de aplicar recursos em obras fundamentais, como as de infra-estrutura urbana. Preocupados com a dependência da economia brasileira e estadual a um único produto, os políticos mineiros, liderados pelo presidente do Estado, Francisco Sales, organizaram o “Congresso Agrícola, industrial e Comercial”, em 1903.
Rua da Bahia, Belo Horizonte (coleção particular)
LINHA DE TEMPO
Carroça para entrega de leite em domicílio da Padaria Arthur Savassi, década de 1910. In: Belo Horizonte & o Comércio - 100 Anos de História. p. 73
1992
1993
1994
• Pedro Collor de Mello, irmão de
• Acidente nuclear contamina a
• Fernando Henrique Cardoso é eleito
Fernando Collor, denuncia esquema de corrupção e desvio de dinheiro do Governo Federal.
Sibéria.
Presidente do Brasil.
• Fim da República da
• O Brasil é tetracampeão na Copa do
Tchecoslováquia.
Mundo dos Estados Unidos.
• Início da vigência da integração
• Morre o piloto Airton Senna, no
européia.
circuito de Imola.
• Collor sofre impeachment. O vicepresidente Itamar Franco assume a Presidência do Brasil.
PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
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Massas Alimentícias Martini. Fundada em 1914 (Acervo Vilma Alimentos/MG)
LINHA DE TEMPO
Maquinário da fábrica de macarrão e padaria. Propriedade de Agostino Martini, início do século XX. s/a. (Acervo Arquivo Público Mineiro/MG)
1996
1997
• Nascimento da ovelha Dolly,
• Morre Darcy Ribeiro, escritor,
primeiro mamífero clonado a partir da célula de um animal adulto pelo Instituto Roslin (Escócia) e pela empresa PPL Therapeutics.
antropólogo, senador (PDT), cassado em 64, defensor da visão dos brasileiros como um “povo novo”.
• Gustavo Kuerten, 20 anos, vence o Torneio de Roland Garros, França, e relança o tênis brasileiro.
58
PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
• A sonda Mars Pathfinder, dos EUA, pousa em Marte, onde o robô Sojouner recolhe dados.
• O papa João Paulo II visita Cuba, elogia Che Guevara e condena o embargo dos EUA.
Paulatinamente, a situação de crise foi se atenuando, mas, durante todo o período da Primeira República, as altas e baixas do café provocaram maior ou menor estabilidade financeira no Estado e no país. Nos primeiros anos de crise, as famílias italianas passaram por momentos difíceis. muitos adoeceram gravemente. Outros voltaram para a itália. O antigo arraial de Curral Del-Rei viu italianos esperançosos com as perspectivas da construção da nova capital. montou-se a primeira fábrica de macarrão da localidade, com máquina muito rústica, tocada a burro, na Rua São Paulo com guaicurus. Passados quinze anos de sua inauguração, Belo Horizonte ainda não havia se transformado em metrópole como muitos esperavam. Sua indústria e seu comércio eram reduzidos. O movimento das ruas era pequeno, os hábitos provincianos e os padrões culturais importados da capital federal. Apesar de não se constituir, ainda, num pólo econômico, o fato é que a capital mineira, nessa época, começava a se afirmar no cenário estadual.
LINHA DE TEMPO
Massas Alimentícias Isoni, na Rua dos Goitacazes, no Barro Preto. Fundada em 1922. In: 100 Anos da Indústria em Belo Horizonte. p. 38
Sede das Massas Aimoré. Fundada em 1958. In: 100 Anos da Indústria em Belo Horizonte. p. 70
1998
1999
2000
• José Saramago é o primeiro escritor
• O presidente Clinton escapa do
• Cientistas da Inglaterra e dos EUA
de língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel de Literatura
impeachment no caso Lewinsky
anunciam ter decifrado o genoma humano
• Fernando Henrique é reeleito
• Morre o poeta João Cabral de Melo
• Comemoração dos 500 anos
Neto
presidente da República
do descobrimento do Brasil com a exposição Brasil+500 em São Paulo
PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
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LINHA DE TEMPO
60
PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
LINHA DE TEMPO
PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
61
Nesse período, o governo estadual exerceu um papel preponderante no desenvolvimento da cidade, especialmente com relação aos setores urbano e industrial. Cerca de 40% dos estabelecimentos fabris recebiam incentivos oficiais, tais como concessão de lotes e infra-estrutura.
Cartão-postal. Belo Horizonte (coleção particular) Na página anterior: Antiga sede da Vilma Alimentos/MG
Entre os italianos que no início do século XX atuam entre o setor de comércio e indústria não podemos deixar de citar os Fracarolli, no setor de bebidas; Domingos mucelli e os irmãos Chiari, como fabricantes de carroças e charretes, destacando-se os Falci e os gaetani, que da região de Casalbuono e Torraca, itália, vêm para Belo Horizonte onde se estabelecem com uma loja de ferragens e material de construção, na Avenida Afonso Pena, 529, a casa La Bella Venezia, atual Casa gaetani.
LINHA DE TEMPO
Praça Sete de Setembro. Belo Horizonte. Cartão-postal. (coleção particular)
2001
2002
• Atentados terroristas destroem as torres
• Luiz Inácio Lula da Silva é eleito
gêmeas do World Trade Center, Nova York, e parte do Pentágono, Washington
Presidente da República
• Aécio Neves é eleito no primeiro
• Os EUA iniciam o bombardeio maciço do
turno governador de Minas Gerais
Afeganistão, a pretexto de que o governo do Taleban dá abrigo a Bin Laden, acusado pelo atentado de 11/9
• Brasil é pentacampeão da Copa do Mundo de Futebol
62
PASTA MIA - ICONOGRAFIA E COSTUMES
Francesco gaetani chegou a Belo Horizonte empregando-se na Casa Falci. Porém, conseguiu montar negócio próprio no mesmo ramo, tendo fundado a Casa gaetani à Rua Tupinambás, 613, que chegou aos nossos dias com a denominação social de gaetani e Companhia Ltda. Era casado com a Senhora Emília Falci gaetani, que foi grande batalhadora e incentivadora da causa dos italianos. D. Emília atuou em várias entidades da comunidade, tais como Casa de itália, Sociedade italiana de Beneficência e mútuo Socorro, a Escola Colonial italiana, Centro de Cultura italiana e o grupo Feminino, dentre outros. Foi uma das presidentes do grupo italiano após a atuação da conhecida Anita Uxa. Foram montadas também pequenas fábricas de cervejas gasosas como a Rhenania, mais tarde comprada pela Antarctica, diversas indústrias panificadoras como a Padaria e Confeitaria Sete de Setembro, em 1905, pelo italiano giúlio Bruneta. A massas Alimentícias martini Ltda. viria depois, mas deixaria seu nome ao lado da massas Alimentícias ianni, fundada por giovani ianni e da massas Alimentícias isoni Ltda., em 1922. A família Costa foi uma das pioneiras, da qual falaremos no capítulo Vi.
Cartão-postal. Belo Horizonte (coleção particular)
LINHA DE TEMPO
Cartão-postal. Belo Horizonte (coleção particular)
2003
2004
• Ciclone Catarina provoca mortes e
• O Estatuto do Idoso, conjunto de leis
• Bush é reeleito nos EUA
destruição em Santa Catarina
que beneficiará cerca de 20 milhões de brasileiros da terceira idade, é publicado com um veto no Diário Oficial
• Sonda Spirit pousa com sucesso na superfície de Marte
• A delegação brasileira fez bonito
• Os californianos elegem o ator
• Morre Yasser Arafat
nos Jogos Olímpicos da Grécia e voltou com dez medalhas - quatro de ouro, três de prata e três de bronze
• Morre Leonel Brizola
republicano Arnold Schwarzenegger seu novo governador
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Viaduto Santa Tereza. Belo Horizonte (coleção particular)
O Estado também impulsionou o comércio, isentou de impostos diversas casas de diversões, incrementou os setores de educação e cultura. Todo esse esforço da administração regional surtiu efeito, pois, em 1911 as pequenas fábricas e oficinas de Belo Horizonte somavam 91 estabelecimentos, dos quais 26 eram indústrias alimentícias, 36 de vestuários, 11 de minerais não metálicos, 7 de madeiras e 11 diversos. Localizavam-se principalmente na área urbana da cidade, próximas à Estação Central e ao Ribeirão Arrudas, para facilitar a comercialização dos produtos e utilização da água. A crise mundial gerada pelo conflito de 1914 / 1918 foi muito prejudicial ao desenvolvimento da indústria mineira e belo-horizontina. As fábricas de Belo Horizonte, baseadas na transformação de produtos agropecuários, estagnaram. O Estado que, até então, vinha intervindo deliberadamente no sentido de transformar a capital em pólo econômico e industrial, foi levado a alterar a sua política de investimentos.
Praça da Estação. Belo Horizonte (coleção particular)
LINHA DE TEMPO
Praça da Estação. Cartão-postal. Belo Horizonte (coleção particular)
2005 • Morre o papa João Paulo II. • A tragédia do tsunami devasta as costas de vários países do Oceano Índico e causa milhares de mortes.
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Após quase cinco anos de apatia, o crescimento de Belo Horizonte foi retomado, principalmente devido à instalação de usinas siderúrgicas em áreas vizinhas à capital. Em 1919, foi fundada a Companhia Siderúrgica mineira, em Sabará, que depois se associou ao grupo belgo-luxemburguês – ARBED (Acieries Reunies de Busbach – Eich – Dudelange), dando origem à Companhia Siderúrgica Belgo-mineira.
LINHA DE TEMPO
Em torno de 1920, com uma população de 55.563 habitantes, Belo Horizonte não mais poderia ser considerada um núcleo urbano de burocratas da administração pública, já que perdera as condições de uma economia essencialmente dependente de suas funções de capital.
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Vista do antigo cassino, atual Museu de Arte da Pampulha. Belo Horizonte (coleção particular) Abaixo: Avenida Afonso Pena. Belo Horizonte (coleção particular)
A infra-estrutura, em termos de energia e transporte, sofreu ampliação para atender à demanda industrial da época. A cidade passou a comunicar-se com diversas regiões do Estado, através da expansão do seu sistema ferroviário, que teve melhoradas as ligações com o Rio de janeiro, São Paulo e Vitória. Nesse período, criaram-se as pré-condições para a organização da indústria mineira. Cresciam os estímulos econômicos no Estado e na capital, reforçando as funções polarizadas da cidade, supridora de produtos de consumo, entreposto comercial e centro financeiro. É o que ocorre com o Pastifício Peluso, que se torna importante empreendimento alimentício, tendo à frente Dona Anella Peluso. Suas cantinas e restaurantes italianos mantêm a tradição da família italiana.
Dona Anella Peluso aos 19 anos de idade. (coleção particular)
Ristorante Pippinela. Belo Horizonte/MG (foto: Leila Camilo)
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Provincia di Salerno Ristorante. Belo Horizonte/MG
As indústrias alimentícias foram incrementadas, predominando as que utilizavam a farinha de trigo como matéria-prima, dada a divulgação e consolidação, entre os habitantes, do tradicional hábito italiano de consumo de pasta. Segundo Eduardo Frieiro, em seu livro “Feijão, Angu e Couve”, a comida italiana influiu muito na brasileira, em razão da corrente imigratória encaminhada para o país no fim do século XiX. As pastas alimentícias, em forma principalmente da macarronada, entraram habitualmente nos cardápios de hotéis e restaurantes e também na mesa das famílias. A macarronada, ou simplesmente o talharim, tornou-se freqüente no almoço ou ajantarado caseiro dos domingos, sempre ao lado das imprescindíveis galinhas.
Embalagens do antigo Pastifício Peluso, década de 1960
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iV DESENVOLVimENTO TECNOLÓgiCO: DAS mÁQUiNAS CASEiRAS ÀS iNDUSTRiAiS Do tempo em que se começou a fabricação da pasta não há notícia exata, infantil recordação. RENATO ROVETTA Desde o tempo em que o homem inventou a roda, princípio de toda a futura engrenagem que viria, na atualidade, a substituir o homem em diversas atividades, a máquina para os fabricantes foi uma grande evolução, no que diz respeito ao tempo, à higiene e à praticidade. A construção da máquina para a fabricação da pasta é de origem italiana e se mantém pela itália, porque quem finaliza o processo é ainda o homem, preparando-a com molhos, queijos e toda uma tecnologia que a imaginação leva aos vários tipos de macarrões. Também a máquina, em sua evolução, possibilitou outros tipos de acessórios para o transporte, a confecção, as embalagens do produto que são necessárias a qualquer instalação grande ou pequena. Todos os produtos de fábrica de macarrão que se encontram no mundo são de origem italiana ou cópias das mesmas. De uma maneira geral, resulta que a máquina de pastifício veio de uma tecnologia primária, desde a plantação do trigo, com a lavoura do grão duro, semiduro, com glúten, mediante refinamento em moinhos cada dia mais avançados. A extensa produção e sua especialidade passaram a atualidade nascendo 5.000 anos a.C., continuando a se aperfeiçoar constantemente. Seu futuro é quantitativamente e qualitativamente uma realidade. Neste capítulo, selecionamos algumas das mais interessantes máquinas, das manuais às industriais, que permitiram novos designs como as gravatinhas, os diversos tipos de espaguetes, cappellettis, tagliatelles, pennes de larguras e fissuras diferentes, além de argolinhas, vários tipos e tamanhos de estrelas, letrinhas, peixinhos, formas geométricas diversas até as mais inusitadas, como de personagens infantis, coloridas, que são um incentivo à alimentação na infância.
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Moedor de carne para molhos usado como estrusora manual. Objeto doméstico, anos 40 (Acervo Museu do Macarrão-Zini/SP)
Processo de plantio de trigo: arar a terra, semear, colher e ensacar para armazenar. In: La Regina delle mense. p. 18 (Arquivo Museu do Macarrão-Zini/SP)
Mostra de animais. Desenho de Matania. In: Milano e L’Esposizione Italiana del 1881 (Arquivo Museu do Macarrão-Zini/SP)
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Uma misturadeira de mão da firma ORI de Brescia. In: La Regina delle mense. p. 137 (Arquivo Museu do Macarrão-Zini/SP)
Homogenização e extrusão do século XIX. In: La Regina delle mense. p. 137 (Arquivo Museu do Macarrão-Zini/SP)
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Guilhotina para cortar pastas. Acessórios com furos diversos para diferentes desenhos de massa comprida. Maquinário caseiro. In: Industria del pastifício o dei maccheroni. p. 51 (Arquivo Museu do Macarrão-Zini/SP)
Antiga espagueteira de mesa. Presumivelmente dos fins do século XIX. A massa é colocada na parte superior, prensando a massa que sai na forma de espaguete pelos orifícios na extremidade do equipamento (Acervo Museu do Macarrão-Zini/SP)
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Guilhotina de massa. Máquina caseira. Original italiana. Para talharim. Encontrada praticamente em todas as casas do norte da Itália para confecção de macarrão laminado. Década de 40. (Acervo Museu do Macarrão-Zini/SP)
Balança de produtos alimentícios. A máquina do carcamano. Essa máquina é símbolo da primeira imigração italiana no final do século XIX, quando os imigrantes eram chamados de calcamano ou carcarnano. Cem anos depois essa denominação ainda é usada humoristicamente (Acervo Museu do Macarrão-Zini/SP)
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Extrusor de rosca horizontal da firma ORI de Brescia. In: Industria del pastifício o dei maccheroni. p. 186 (Arquivo Museu do Macarrão-Zini/SP)
Misturadeira de mão da firma ORI de Brescia. In: La Regina delle mense. p. 137 (Arquivo Museu do Macarrão-Zini/SP)
Misturadeira mediana modelo “partenope”. Construzione econômica. In: La Regina delle mense. p. 193 (Arquivo Museu do Macarrão-Zini/SP)
Página anterior: Segunda exposição de máquinas. Desenho de Bonamore. In: Milano e L’Esposizione Italiana del 1881 (Arquivo Museu do Macarrão-Zini/SP)
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Prensa vertical hidráulica da firma ORI de Brescia. In: La Regina delle mense. p. 149 (Arquivo Museu do Macarrão-Zini/SP)
Prensa Continua. Braibanti, 1ª série (1933). La Regina delle mense. p. 149 (Arquivo Museu do Macarrão-Zini/SP)
Grupo de 6 pontas para fabricação mecânica dos “capeleti”. In: Industria del pastifício o dei maccheroni. p. 256. (Arquivo Museu do Macarrão-Zini/SP)
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Misturadeira modelo “colossal” da firma ORI de Brescia - movida pelo seu próprio motor elétrico. In: Industria del pastifício o dei maccheroni. p. 248 (Arquivo Museu do Macarrão-Zini/SP)
Cortapenne - Costa - Universal patenteado para massas alimentícias. In: Industria del pastifício o dei maccheroni. p. 248 (Arquivo Museu do Macarrão-Zini/SP)
Secador - Falchi - para massa cortada. Ventilação radiante e regime úmido. In: Industria del pastifício o dei maccheroni. p. 390 (Arquivo Museu do Macarrão-Zini/SP)
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Máquina extrusora de massa para pequeno pastifício fabricada no Brasil pela Indiana. (Acervo Museu do Macarrão-Zini/SP)
Máquina Gravatinha original italiana. Officine Ettore Torezani. Milano. Fabricada em 1923, pertenceu ao famoso pastifício Matarazzo ou ao Macarrão Pety Bon (Acervo Museu do Macarrão-Zini/SP)
Máquina brasileira de ravioli – São Paulo 1960 – Esta máquina é inspirada nos modelos “Toresani” de Milão, a pioneira na automação da produção de massas frescas. O mecanismo do recheio dentro da folha de massa é feito com sincronia dos movimentos. Esta máquina pertenceu ao Pastifício Aracy, no Brás até 1965, pioneira no mercado paulistano (Acervo Museu do Macarrão-Zini/SP)
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Máquina moderna de prensar macarrão cortado (Vilma Alimentos) Página anterior: Misturadora de Massa SLAM – São Paulo – conceito bem moderno, presumivelmente baseado nas máquinas italianas dos anos 40. Esta máquina pertenceu em 1964 à fábrica do Sr. Carlos Lacerda (homônimo do político da época de Getúlio Vargas), que se instalava na Rua Rui Barbosa. Foi adquirida pelo Sr. Mautone que a instalou no seu Pastifício Salerno, na Rua Santo Antônio 976 – Bela Vista, onde produziu até 1999. (Acervo Museu do Macarrão-Zini/SP)
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Tipos de massas longas
ESPAGUETE 10 (fidelinho) ALETRIA (cabelo de anjo)
ESPAGUETE 9
ESPAGUETE 8
NINHO 1 ESPAGUETE 3 (furadinho)
LINGUINE
Cortadeira de macarrão comprido (Vilma Alimentos)
ESPAGUETE INTEGRAL NINHO 3
Tipos de massas curtas
FILINI
GNOCCHI
TUBETTI
LASANHA
FIORI FESTONATO
PARAFUSO
TORSAIDI
RIGATONE
RIGATONE MINI
CARACOL PARAFUSO MINI SERPENTINI
MASSA CASEIRA
PENNE RIGATI MINI PENNE RIGATI
PARAFUSO TRICOLOR
PENNE TRICOLOR PAI NOSSO
AVE MARIA
PAI NOSSO MINI
AVE MARIA MINI
CONCHINHA
CORNETO
LETRINHAS
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ESPAGUETE PALITO
PARAFUSO INTEGRAL
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MACARRÃO INSTANTÂNEO
V A PASTA DE ONTEm E DE SEmPRE A pasta é amada segundo infinita combinação de sabores. Se trata de um alimento essencialmente familiar, muito gostoso, simples e de rápida execução. S. CERVENTi
Para realização do ensaio gastronômico deste livro, minha primeira idéia foi transcrever as tradicionais receitas que minha avó Anella Peluso fazia. Como todo processo de criação envolve pesquisa, percebi que nada de novo poderia acrescentar ao mundo da gastronomia se assim o fizesse. Recorri às lembranças da minha infância, que foi rica, tanto em sabores da culinária nacional e de minas, quanto da culinária italiana, influências de minha mãe Zuzu e minha tia Zezé. Essa mistura de lembranças e os anos de experiência no ramo de restaurantes ajudaram-me a criar essas receitas com a versátil pasta! O que é difícil também, pois uma boa massa não precisa mais que manteiga, sal e pimenta para ser ótima. mestres dessa antiga arte foram a inspiração para a criação de muitas de minhas receitas. Técnicas clássicas e novos produtos que emergem nas prateleiras dos supermercados foram misturados e eu também tentei ser pop como o mestre Alex Atala diz “(...) misturando sabores e usando produtos da culinária local (...)”, em seu livro: Por uma gastronomia brasileira. jatobá, pimentas típicas de minas, lingüiças, entre outros, foram selecionados e, a partir daí, combinados para criar sensações que podiam traduzir minha infância, minha família, meu trabalho e meus estudos. A todos convido com estas receitas a uma viagem por esta história, não só a minha, não só das pessoas que me inspiraram, mas do mundo, pois hoje a pasta é propriedade do mundo! marco Paulo Peluso (pergunteaochef@yahoo.com.br)
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Tipos de massas curtas. In: La Regina delle mense. p. 57 (Arquivo Museu do Macarrão - Zini/SP)
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Processo de fabricação da tradicional massa caseira.
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mASSA FRESCA 1 kg de farinha 8 ovos ¼ de xícara de água (caso necessário) 1 pitada de sal Acomodar a farinha em uma bancada ou bacia, fazer um furo no meio e ir colocando os ovos um a um. Bater com um garfo os ovos e ir agregando a farinha aos poucos. Sovar a massa com a base das palmas das mãos. Agregar água, caso necessário. Fazer como se fosse um rolo e deixar a massa descansar por meia hora tampada com um pano seco. Ao começar a cilindrar a massa, cortá-la aos poucos e manter sempre tampada a parte da massa que não vai ser usada. Passar todos os pedaços de massa na maior abertura do cilindro e sempre deixar a massa cilindrada também tampada. ir diminuindo a abertura do cilindro de um em um e passar a massa sempre dobrando-a uma vez. Ao chegar à espessura desejada, passar para o segundo pedaço de massa e assim sucessivamente. Deve-se passar a massa pelo menos 10 vezes no cilindro. Depois que a massa foi cilindrada, cortá-la no formato desejado. Colocar a massa pra cozinhar em água com sal e esperar que chegue ao ponto desejado. massas caseiras não ficam ao dente e não devem ser muito cozidas. Se for fazer lasanha, não cozinhar muito a massa, pois esta também cozinhará quando for ao forno. Servir misturada ao molho.
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LiNgUiNE COm mOLHO jATOBÁ 12 g ou 2 colheres de sopa de farinha de jatobá 3 colheres de manteiga 500 ml de creme de leite fresco 100 gramas de cana-de-açúcar em cubos bem pequenos 1 colher de sopa de mostarda Anciene 1 pimenta dedo de moça em conserva Sal Peneirar a farinha de jatobá. Em um frigideira, aquecer a manteiga, dourar a cana-de-açúcar e juntar a farinha de jatobá e deixar fritar em fogo baixo, como se fosse um ROUX. Acrescentar o creme de leite aos poucos e sempre misturando fora do fogo. Acrescentar a mostarda Anciene e temperar com a pimenta dedo de moça cortada em rodelas finas e corrigir o sal. Deixar engrossar e misturar ao linguine. Decorar com cubos de cana-de-açúcar e pimentas.
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ESPAgUETE AO mOLHO DE mASCARPONE, NOZES E PRESUNTO PARmA COm FigOS CARAmELiZADOS E REDUÇÃO DE BALSÂmiCO 4 colheres de sopa de manteiga 250 g de queijo mascarpone ¼ de xícara de leite 100 g de presunto de Parma 60 g de nozes picadas Queijo parmegiano Reggiano 2 figos 2 colheres de mel Redução de balsâmico Sal e pimenta do reino Fritar o presunto de Parma na manteiga e em fogo baixo e juntar o mascarpone em temperatura ambiente e mexer até dissolver o queijo. Acrescentar o leite. Cortar os figos em 4 e em uma frigideira antiaderente colocar as duas colheres de mel e os figos com a parte vermelha pra baixo. Deixar caramelizar. Envolver a massa e salpicar as nozes picadas e o queijo parmeggiano. Decorar com os figos e fios de redução de balsâmico.
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SALADA DE FiORE FESTONATO COm SiNFONiA DE COgUmELOS 100 g de cogumelos shitake 100 g de cogumelos Salmão 100 g de cogumelos Paris 100 g de bacon com bastante carne 1 cebola grande 2 dentes de alho Azeite 2 colheres de manteiga Pimenta do reino Suco de 1 limão Ceboullete Flores de capuchinha, borragem e amor perfeito Raspas de casca de limão siciliano Em uma frigideira antiaderente, aquecer um fio de azeite, fritar o bacon e, assim que dourarem, acrescentar a cebola cortada em cubinhos até murcharem. Reservar. No óleo que restou na frigideira, acrescentar a manteiga, o alho picado e os cogumelos depois de limpos e laminados e deixar dourar. Acrescentar gotas de suco de limão e a ceboullete picada. misturar todos os ingredientes à massa cozida e já fria. Decorar com as zetes do limão siciliano.
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mASSA COm mOLHO DE LiNgÜiÇA, TOmATES E RiCOTA 500 g de lingüiça calabresa 100 g de ricota fresca 2 latas de pomodori italiani pelati 1 cebola pequena Folhas de manjericão Azeite Sal Pimenta do reino Ferventar a lingüiça e cortá-la em cubos. Em uma frigideira, com um fio de azeite, dourá-la. Reservar. Em uma panela de fundo grosso, com um pouco de azeite, suar a cebola. Acrescentar o molho de tomate e deixar cozinhar por 20 minutos. Caso necessário, acrescentar água para que o molho não fique muito grosso. Acrescentar a lingüiça ao molho, deixar levantar fervura e retirar do fogo. Colocar algumas folhas de manjericão no molho e corrigir o sal e pimenta. O molho deve ser misturado à massa. Quebrar a ricota em pedaços não muito grandes e jogar por cima.
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NiNHO ALLA PUTTANESCA Esse molho tem três fases e é servido separadamente, diferente do tradicional putanesca em que todos os ingredientes são servidos juntos. Fase 1: 4 tomates frescos e bem maduros, de preferência San marzano Azeite 4 dentes de alho Folhas de manjericão Laminar o alho e fritar no azeite até que desprenda o aroma, acrescentar os tomates sem casca e sem semente picados em brunoise (quadrados) e deixar soltar o caldo por 10 minutos. Desligar o fogo e acrescentar folhas de manjericão. Temperar com sal e pimenta do reino. Fase 2: 8 filés de anchovas 4 dentes de alho laminados 1 pitada de pimenta calabresa Azeite Fritar o alho no azeite até que desprenda o aroma, diminuir o fogo e acrescentar as anchovas. Saltear cuidadosamente para que não se desmanchem. Fase 3: 2 colheres de sopa de alcaparras na salmoura 8 azeitonas pretas Azeite Fazer um “trito” com as alcaparras e as azeitonas e saltear em azeite quente. Saltear os ninhos de massa com cada molho. Servir com um fio de azeite de manjericão.
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gRAVATiNHA FRiTA COm ALECRim E SAL gROSSO (entrada) macarrão tipo gravata (farfalle) 6 colheres de sopa de manteiga Folhas de dois ramos de alecrim Sal Óleo de canola para fritar Cozinhar a massa no ponto al dente. Fritar em óleo de canola quente até que fique dourado. Deixar escorrer em papel toalha. Em uma frigideira, aquecer a manteiga em fogo baixo até que fique amarronzada (manteiga de avelã), desligar o fogo. Acrescentar as folhas de alecrim e, assim que desprender o aroma, passar rapidamente a massa frita. Polvilhar sal. Servir como tira-gosto.
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PENNE AL LimONCELLO ¼ de couve-flor ¼ de brócolis japonês ¼ de pimentão vermelho 8 couve de bruxelas 5 cebolas pequenas 4 miniberingelas 1 abobrinha pequena 5 colheres de manteiga 3 doses de licor Limoncello 500 ml creme de leite 100 g queijo parmigiano reggiano Sal Pimenta do reino Cortar as beringelas em rodelas e salpicar sal sobre elas. Deixar escorrer. Cozinhar no vapor o brócolis, a couve-flor e as couves de bruxelas e os pimentões, estes cortados em cubos. Em uma frigideira colocar a manteiga e refogar a cebola, a beringela, os pimentões e por último as abobrinhas cortada em cubos, assim que murcharem juntar os brócolis e a couve-flor e flambar com o limoncello. Acrescentar o creme de leite, o queijo parmesão e corrigir o sal e a pimenta.
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FUSiLLi AO CURRY, PiSTACHE E PATÊ DE FigADO 500 ml de creme de leite fresco 200 ml de leite de coco 50 g patê de foie 50 ml de vinho branco 4 colheres de sopa de manteiga 1 cebola média 1 colhere de sopa de curry em pó 50 g de pistache Sal e pimenta do reino Fritar a cebola picada finamente na manteiga e acrescentar o curry e o pistache. Deixar que a manteiga pegue a cor do tempero e acrescentar o foie e o vinho branco e deixar evaporar. Finalizar com o creme de leite e o leite de coco e deixar encorpar. Corrigir o sal. Envolver a massa ao molho e servir.
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ALETRiA COm mANjUBiNHA FRiTA 300 ml de azeite 20 g de pot-pourri de pimentas secas (pimenta do reino, pimenta verde, pimenta branca, pimenta rosa e pimenta da jamaica) 8 manjubinhas 8 tomates italianos 8 tomates amarelos Tomilho Alecrim Em um frigideira, aquecer 200 ml de azeite a 60ºC e colocar o potpourri de pimentas secas por 30 minutos em temperatura constante. Desligar o fogo e deixar por mais trinta minutos. Em uma assadeira, colocar os tomates, 100 ml de azeite, as ervas e levar ao forno para brasear. Retirar assim que estiverem dourados. É interessante deixar que a casca queime um pouco. Tirar a cabeça da manjubinha, retirar suas vísceras e passar na farinha de trigo temperada com sal e pimenta do reino. Fritar em óleo quente. Cozinhar a massa e misturar ao azeite de pimentas. Decorar com os tomates e a as manjubinhas fritas.
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LASANHA COm mOLHO DE ABÓBORA E CREmE DE FUNgHi 500 g de abóbora 20 g de funghi seco 6 colheres de manteiga 2 colheres de farinha de trigo 300 ml de leite 100 g de bresaola ½ cebola média 6 camarões grandes Vinho tinto para hidratar o funghi Deixar o funghi de molho no vinho tinto por 2 horas. Retirar a casca da abóbora e cozinhar até ficar macia. Passar a abóbora cozida em uma peneira e refogá-la com 2 colheres de manteiga, deixar engrossar. Acrescentar a bresaola picada, sal e pimenta do reino. Em outra panela de fundo grosso, suar em 4 colheres de manteiga a cebola cortada finamente e acrescentar o funghi, passados 2 minutos verter um pouco do vinho que foi usado para a sua hidratação e deixar evaporar. misturar a farinha e deixar que doure levemente. Acrescentar o leite aos poucos sempre misturando fora do fogo até engrossar. Processar até virar um creme. Forrar a assadeira com azeite e intercalar camadas de massa, molho de abóbora com a bresaola picada, molho de funghi. Repetir o procedimento. Salpicar queijo mussarela e levar ao forno a 200º C até que fique dourado. Temperar os camarões com sal, pimenta do reino e fritar em azeite. Servir junto à lasanha.
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gNOCCHi NA mANTEigA DE CARDA mOmO E BACALHAU À miLANESA 6 colheres de manteiga Sementes de carda momo 500 g de bacalhau demolhado Clara de 1 ovo Farinha trigo Farinha rosca Sal e pimenta do reino Temperar a farinha de trigo com sal e pimenta do reino e envolver no bacalhau, depois na clara de ovo e em seguida na farinha de rosca. Fritar em óleo médio alto. Deixar escorrer em papel absorvente. Em uma frigideira, deixar colocar a manteiga e as sementes de carda momo. Quando a manteiga começar a mudar de cor, envolver a massa. Servir junto com o bacalhau à milanesa.
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mOUSSE DE mARACUjÁ, SORVETE DE mANjERiCÃO E CONCHiNHAS FRiTAS ENVOLViDAS Em AÇÚCAR DE CONFEiTEiRO Calda de maracujá 200 g de polpa de maracujá 150 g de açúcar 100 ml de água 100 ml de suco de maracujá Levar os ingredientes ao fogo baixo até que fique uma calda grossa. Fazer a base de chocolate como se fosse uma taça. Deixar esfriar. Para a mousse: 1 lata de leite condensado 1 lata de creme de leite 1 lata de suco de maracujá 85 g de gelatina de abacaxi 1 lata de água Dissolver a gelatina de abacaxi em água quente, mas não fervente. Bater todos os ingredientes em liquidificador e colocar nas tacinhas de chocolate, levar a geladeira até que fiquem firmes. Fritar as conchinhas depois de cozidas em água e bem escorridas. Passá-las ainda quente em açúcar de confeiteiro. Acompanha 2 queneles de sorvete de maracujá
Vi O AmOR PELA PASTA E A CONSOLiDAÇÃO DE UmA iNDÚSTRiA ALimENTÍCiA DE SUCESSO Era uma firma familiar, onde todo mundo intervinha, todo mundo trabalhava, fazia as mesmas funções. PASCHOAL COSTA
A chegada de Domenico Costa (no Brasil é chamado de Domingos) a Belo Horizonte, em 1923, deu-se em um momento de expansão da economia municipal e estadual. Trabalhando, inicialmente, com seu irmão giuseppe, Domenico tomou contato com o fabrico e a comercialização de massas. No ano seguinte, já instalado, chamou a família, que ainda se encontrava na itália.
Giuseppina e Domenico Costa
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Como a maioria dos imigrantes, não possuíam muitos recursos e viajaram de terceira classe. mulheres e crianças alojavam-se em dormitórios separados dos homens. O fornecimento de água só se dava duas vezes por dia; não havia mesas e cadeiras suficientes para todos os passageiros. A viagem longa, cansativa, era muito penosa para as crianças, que não raro deitavam-se no chão do convés, durante o dia. O velho Pasquale, prevenido, confeccionou banquinhos de madeira desmontáveis para que a família não se sentisse muito desconfortável. Após 18 dias, aportaram no Rio de janeiro, em 24 de junho de 1924. A alegria foi grande quando encontraram Domenico no cais do porto, após um ano de ausência. Pasquale e Rafaella seguiram para Florianópolis, enquanto giuseppina, Domenico e as crianças tomaram o trem para Belo Horizonte.
Domenico Costa, sargento do Exército Italiano
A família Costa instalou-se, inicialmente, no barracão situado nos fundos da casa de Felícia grimaldi. No ano seguinte, Domenico montou seu próprio empreendimento alugando uma pequena fábrica, localizada na Rua goitacazes, esquina com juiz de Fora, no Barro Preto. Esse bairro situa-se na fronteira das áreas urbana e suburbana, na zona oeste da cidade. Essa região expandiu-se de
Massas Vilma na Avenida São Francisco, atual Avenida Olegário Maciel com Rua Carijós
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modo considerável nessa época, dificultando a prestação de serviços de infraestrutura urbana, sendo freqüente a escassez de luz e água. O local de trabalho era também moradia da família, mas situava-se fora do corpo da casa. Ao lado da fachada da edificação, sobressaía um alpendre contornado por um gradil de ferro e o acesso dava-se por um grande portão de madeira. Ali nasceu Nélide, primeira filha ítalo-brasileira de Domenico e giuseppina. Ao adquirirem a fábrica, reduziram o número de empregados, de oito para um. A produção, sendo pequena, contou com a força de trabalho da própria família. Domenico, giuseppina e Nicola trabalhavam arduamente; já as crianças menores, como Paschoal, ajudavam na confecção de pacotes para a embalagem dos produtos. À noite, era comum a presença de empregados de josé Costa auxiliando no empacotamento das massas. A farinha de trigo utilizada era importada do Rio de janeiro ou de São Paulo, posto que Belo Horizonte ainda não possuísse estabelecimentos de moagem. O macarrão produzido era transportado por carroça e distribuído aos armazéns da cidade, especialmente no próprio bairro. Após anos de trabalho duro, a situação dos Costa era desanimadora. Seus bens resumiam-se a uma carroça e um burro usados na entrega dos produtos. inconformada, josefina entregou-se à labuta com mais afinco – acordava às 3 horas da madrugada, acendia a caldeira e deixava tudo pronto para o ínicio das atividades, às 7 da manhã, hora em que chegava Antônio, o único empregado além dos membros da família. incansável, josefina mantinha uma jornada de até 20 horas: administrava a fábrica, fazia a contabilidade, concluía a confecção das embalagens, supervisionava o trabalho de todos. As tarefas domésticas ficavam a cargo das filhas Francisca e gracia. Paschoal e as irmãs só eram dispensadas do trabalho para freqüentarem a escola. Em 1927, a família Costa, com grande espírito de economia, conseguiu ampliar seu estabelecimento comprando de Carlos Vilani a máquina que ele havia adquirido em 1911. Foi um avanço, pois ela era moderna, versátil e tinha capacidade para produzir até 100 kg dos mais diversos tipos de massas. A nova fábrica foi instalada no ponto que pertenceu ao Vilani, na Avenida Afonso Pena com Curitiba, local mais central, que oferecia maiores oportunidades comerciais. Por ser um empreendimento de maior envergadura, contava, além do trabalho familiar, com aproximadamente 15 empregados. Em 1928, a mesma fábrica foi transferida para um novo endereço, na Avenida São Francisco (atual Olegário maciel), esquina de Rua Caetés. Nesse novo endereço, nasceu Vilma, a filha caçula do casal, que veria a ser homenageada dando seu nome à empresa.
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Paschoal em frente à casa onde nasceu, em Mongerati
Dona Josefina trabalhando no escritório da fábrica
Em 1930, foi fundada em Belo Horizonte a famosa “massas Aymoré”, ligada ao grupo “moinho inglês”, um empreendimento de grande porte que empregava 92 trabalhadores. Adotando inúmeras medidas de higiene, tais como uniforme e luvas para os operários, além de modernas técnicas administrativas, a “massas Aymoré” provocou sério abalo ao mercado de massas alimentícias na cidade. inúmeras fábricas foram prejudicadas, inclusive a de josé Costa, irmão de Domingos. Felizmente, Domingos não sofreu com essa crise, talvez por possuir uma freguesia localizada fora da área de influência da concorrente. Naquela época, comprou um lote na Av. São Francisco com Carijós, já se preparando para instalar outra fábrica, pois o local onde estava não era de sua propriedade. Para enfrentar a crise, seu irmão josé propôs-lhe sociedade, no ano de 1933. Domingos aceitou, mas impôs a condição de manter o nome de sua firma – “Domingos Costa” – no empreendimento associado. Em 1935, Domingos adoeceu e foi para a Europa tratar da saúde e descansar, permanecendo lá por quase dois anos. Quando voltou, josefina havia iniciado a construção de uma fábrica maior, no terreno que haviam comprado na Avenida São Francisco com Carijós. Após sua inauguração, em 1937, o empreendimento da família recebeu novo nome – “massas Vilma” – e cresceu consideravelmente.
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A instalação da fábrica de Domingos Costa, em 1937, na Av. Olegário maciel com Caetés, deu-se em momento extremamente oportuno, quando configuram-se fatores tais como a iniciativa do poder público, o crescimento urbano de Belo Horizonte e o aumento da demanda por produtos alimentícios, dentre outros. A aquisição de novos equipamentos incitou algumas alterações no processo de trabalho. O ritmo da produção, antes determinado pelo trabalhador, passou a ser imposto pela máquina, exigindo maior esforço humano. A compra de duas novas máquinas que produziam, aproximadamente, 200 quilos de massa por hora cada uma, e de quatro prensas, duas de fabricação italiana e duas nacionais, exigiu maior esforço de venda do macarrão. Os incentivos governamentais ao desenvolvimento industrial no Estado, em especial a criação da cidade industrial de Contagem, estimularam a família Costa a dar um grande salto do ponto de vista empresarial, na década de 1950, transferindo a fábrica de macarrão para lá. O terreno da Olegário maciel era reduzido e não permitia a expansão. já em Contagem, eles poderiam adquirir uma área de mais ou menos sete mil metros quadrados, por aforamento
Familiares e amigos despedem-se de Domingos e Josefina por ocasião de uma viagem à Europa
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perpétuo. Apesar de o governo não ter mantido esse sistema, cobrando pela escritura definitiva anos mais tarde, o fato é que não foi necessário despender recursos financeiros para o terreno naquela época. isso permitiu a Paschoal, então já à frente do empreendimento, modernizar a fábrica de macarrão, comprando equipamentos novos. importou da itália duas máquinas com capacidade para produzir 500 quilos por hora e outra de 350 quilos por hora. Comprou outras máquinas de fabricação nacional e de boa qualidade, conseguindo alcançar uma produção de até 1.700 quilos por hora. O equipamento moderno permitiu a produção de um macarrão de qualidade superior, que passou a ser vendido mais caro, encontrando, porém, boa aceitação no mercado. As massas produzidas pelo moinho inglês, que até então dominavam o mercado, sofrem séria concorrência da “massas Vilma”, que passou à liderança. Domingos, já meio enfermo, foi gradativamente afastando-se dos negócios, enquanto Paschoal e josefina os conduziam. Ousado, Paschoal implantou o grande empreendimento do grupo, ao construir o moinho de trigo, na década de 50. Essa iniciativa permitiu que o período posterior fosse atravessado com tranqüilidade, já tendo consolidada sua posição como empresário do setor alimentício. Outras realizações vieram a seguir, como a fábrica de papel em Santa Luzia e a de macarrão em montes Claros.
Construção da Intermoinhos
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Quando Domingos, filho de Paschoal, iniciou seu trabalho nas empresas, logo demonstrou a coragem e o espírito inovador que marcaram a história profissional da família. Partilhou com seu pai as decisões e responsabilidades, permanecendo à frente dos negócios em Belo Horizonte, enquanto Paschoal dedicava-se à consolidação da fábrica de macarrão, em montes Claros. Domingos não se contentou em apenas administrar o que já existia. Enquanto seu pai organizava a fábrica de macarrão, ele dava nova estrutura ao moinho, criava as fábricas de ração, ráfia e formulados. O sucesso da família Costa e de seus empreendimentos se fazem notar pelos inúmeros prêmios recebidos e uma trajetória que aponta para um futuro ainda mais promissor.
Domingos e Paschoal no interior da Minas Politêxtil
Pequena poesia escrita por Dona Josefina
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AGRADECIMENTOS Abigail Pinto de Carvalho Alberto Di maio Anella Veneroso Peluso Benedito Lima de Toledo Bianca Lage Daniela Vezzani Dadetti Delano Ramos Prates Domi/BH Eduardo Pantiga Neto Faculdade de gastronomia Estácio de Sá – BH/mg Francisco gaetani josé mindlin josé mauro Dayrell Souza Kátia miranda
Laís Corrêa de Araújo Liliana e Enrico Vezzani manuela Romano marcus Vinicius Vieira mercado municipal Central/BH mercado municipal/SP Nyssia Luz de Souza Lima Remo Peluso Ristorante Pippinela/BH Sérgio gariglio Simone e Hélio Campos Abreu Sônia Branco Cerqueira Supermercado Verdemar/BH Vera Lúcia gonçalves
Desenho de Pedro Ávila de Souza Lima, 7 anos
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PATROCíNIO
PRODUÇÃO EXECUTIVA
REALIZAÇÃO
APOio
Desenho de Isabel テ」ila de Souza Lima, 7 anos.
Copyright © 2005 Cristina Ávila e Adriano Lana
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, armazenamento ou transmissão de partes deste livro, através de quaisquer meios, sem prévia autorização por escrito à editora.
ÁVILA, Cristina. & LANA, Adriano. Pasta mia : Iconografia e Costumes. Belo Horizonte : Editora Semântica, 2005
120p. : il. 4x4 cores Colaboração Marco Paulo Peluso
1. História; 2. História do Brasil ; 3. História da gastronomia I. Cristina Ávila, II. Adriano Lana, III. Título IV. Coordenação editorial: Cristina Ávila CDD 981
Este livro foi impresso na Gráfica Formato com miolo em papel cuchê fosco 150g e capa dura com sobrecapa. Formato 25x35cm (fechado). Primavera 2005
Maccaronaro. (coleção família Peluso)