ENFRENTANDO AS CRISES CONJUGAIS SOB A ORIENTAÇÃO DAS SAGRADAS ESCRITURAS

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SEMINÁRIO BÍBLICO MINEIRO CURSO DE BACHAREL EM TEOLOGIA

SÉRGIO HENRIQUE ZILOCHI SOARES


2 SETE LAGOAS 2012 SÉRGIO HENRIQUE ZILOCHI SOARES

ENFRENTANDO AS CRISES CONJUGAIS SOB A ORIENTAÇÃO DAS SAGRADAS ESCRITURAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Seminário Bíblico Mineiro - SBM, como exigência para obtenção do grau de Bacharel em Teologia.

SETE LAGOAS 2012


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AGRADECIMENTOS Ao Deus Todo Poderoso, o Pai, Criador de todas as coisas, o Filho, Redentor e Senhor nosso, e o Espírito Santo, Consolador e Santificador da Igreja. Glória e honra para todo o sempre! À Lidiane Roberta Leal Zilochi, minha amada companheira, mulher da minha aliança (Malaquias 2:14). A todos os professores do curso, que contribuíram com o seu saber para o nosso elevo intelectual e acadêmico. Ao Pastor Gilberto Silva, grande líder e incentivador na caminha da cristã. E a todos/as quantos direta ou indiretamente contribuíram para o êxito deste trabalho.

“Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam”. Salmo 126.2


4 RESUMO Este trabalho de conclusão de curso traz uma abordagem sob crises e conflitos conjugais e busca apresentar soluções através de orientações sob a luz das Sagradas Escrituras. O objetivo deste trabalho foi identificar as principais causas de crises e conflitos conjugais explicando a forma e os motivos que levam a estes desentendimentos. Através da identificação dos pontos conflitantes foi elencado alguns pontos em que os casais, por si próprios podem detectar e, posteriormente, tratar seus erros com maturidade e sob orientação Bíblica. Como metodologia foi realizada uma pesquisa bibliográfica, sendo realizadas leituras, análises e interpretação de livros, periódicos, textos, documentos etc. Todo material recolhido foi submetido a uma triagem, a partir da qual foi possível estabelecer um plano de leitura sistemático. Como resultado das pesquisas foi possível observar que por mais que haja compreensão e amor entre duas pessoas, mais cedo ou mais tarde os conflitos acabarão aflorando. Esses conflitos indicam onde o relacionamento não está harmônico devendo ser tratado como uma oportunidade de crescimento e aproximação entre o casal, mas, nunca como fator ensejador de uma separação conjugal. O aprendizado da conjugalidade demanda de ingredientes necessários como o amor, carinho, companheirismo, projeto em comum, o que auxilia no fortalecimento do casal, permitindo que ultrapasse as dificuldades que possam surgir. Palavras Chave: Casamento - Crise Conjugal


5 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................6


1 INTRODUÇÃO

O presente ensaio cuidará da analise do instituto família tendo como seu marco inicial o casamento e analisará aspectos básicos à respeito de sua estrutura, tais como: origem do casamento, propósito divino nesta instituição, amor conjugal e crise conjugal. O trabalho não se preocupa em oferecer receitas para a vida dos casais. Há um interesse em propor através das argumentações e reflexões que serão apresentadas, uma humanização, valorização e compreensão dos relacionamentos além de um preparo para o enfrentamento de uma nova vida. Uma nova caminhada que, sem sombra de dúvidas, é muito difícil, árdua e cheia de tropeços, entretanto, uma fase que oferece oportunidades de crescimento, encontro, felicidade, partilha, amizade, respeito quando encarada seriamente, com dedicação, cumplicidade e principalmente fidelidade. Com raras exceções o casamento é algo especial para o ser humano, a maioria dos homens e a maioria das mulheres almejam algum dia casarem-se. Casamento não apenas é um ato, ele não acontece unicamente no altar ou no cartório; não acontece exclusivamente no momento em que o pastor ou o juiz declara que estão casados. Casamento é muito mais do que estas formalidades legais e religiosas, é um processo no qual as engrenagens vão se ajustando ao decorrer do tempo em que o casal encontra-se lado a lado. A maioria das pessoas imaginam que casamentos bem sucedidos são aqueles que não enfrentam dificuldades, entretanto, não existe casamento dessa natureza. Nenhum casal está isento dos ventos fortes e das tempestades no casamento. A grande maioria das pessoas não tem a preocupação de se preparam adequadamente para uma vida conjugal. O entendimento geral é de que é necessário passar vários anos estudando para ser advogado, médico, engenheiro, mas, não há a mesma preocupação em se preparar para a vida conjugal, o mínimo que seja. Muitas pessoas sobem no altar para casarem-se com pouquíssimas informações, e às vezes sem nenhuma, sobre o futuro estado de vida em que ingressará. Para alguns o casamento será sempre um


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mar de rosas sem espinho algum, imaginam que, nunca, jamais terão problemas. Atualmente fazemos parte de uma geração que assiste de braços cruzados ao desmoronamento das relações conjugais. A famosa frase sempre dita no altar “até que a morte os separe”, na maioria das vezes, não passa muitas vezes de mera formalidade. Essa frase tem se tornado apenas parte do ritual de celebração, e não mais como meta para aqueles que estão acabando de se casar. O tempo, a cooperação, o empenho e o contínuo zelo do casal são elementos indispensáveis para ter-se um casamento maduro e satisfatório. Marido e esposa devem ser empenhar-se em compartilhar, amar, ouvir, doarse e perdoar. Um casamento bem sucedido precisa ser constantemente monitorado, ajustado e fortalecido. Este é o propósito principal deste trabalho, fornecer meios para compreensão e ajuste do relacionamento conjugal.


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2 A VISÃO BÍBLICA SOBRE O CASAMENTO Deus é o grande idealizador, o arquiteto, o edificador, o protetor e o galardoador do casamento. Por isso, o casamento nasceu no céu, e não na terra. Essa bendita instituição nasceu no coração do Santo Deus, e não no coração do homem pecador. O casamento foi a primeira instituição divina, ele é anterior ao Estado e até mesmo à própria Igreja. O casamento, embora não seja um sacramento, é uma aliança de amor e um compromisso de fidelidade, onde Deus se apresenta como a suprema testemunha. A visão do nosso Senhor que esta contida na Bíblia é de que o casamento trata-se de uma aliança. Essa união estabelecida por Deus fala de unidade, fidelidade e edificação de gerações. Aos olhos do Pai, o casamento é a proteção para a família e para a futura geração. Segundo o modelo de aliança o casamento é indissolúvel, indivisível e completamente interligado a Deus. Isso é o que diz a palavra do Senhor: dizeis: “Por quê? Porque o SENHOR foi testemunha entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira, e a mulher da tua aliança. (Malaquias 2.14)”1 O casamento para Deus é algo de extrema importância que o Apóstolo Paulo chegou a usá-lo como exemplo da união entre Cristo e a Igreja. O casamento é um voto e quebrar esse voto é um assunto muito sério. Ao rompê-lo também é rompida a comunhão com Deus. No versículo acima citado Deus expressa sua visão acerca da fidelidade com o voto do casamento. O voto realizado junto ao altar é uma coisa muito séria. O casamento trata-se da união de duas pessoas imperfeitas, comprometidas entre si através de uma instituição perfeita, que é concretizada com um voto proferido por pessoas imperfeitas, contudo, torna-se um voto perfeito porque é feito diante de um Deus perfeito. O casamento pode ser considerado como a pedra fundamental da sociedade humana. Ele é a célula mãe da sociedade. O casamento pode ser a 1

A BÍBLIA SAGRADA. Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil, 2ª Edição- Sociedade Bíblica do Brasil S.P 1993.


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ante-sala do céu ou o porão do inferno; um largo horizonte de liberdade ou uma sufocante prisão; um abrigo seguro ou uma arena de brigas, contendas e intermináveis discussões.2 Ainda segundo a Bíblia, o casamento é monogâmico (Gênesis 2.24). Deus não criou várias mulheres para um só homem (poligenia), nem vários homens para uma só mulher (poliandria). No coração do homem, não há espaço para amar mais de uma mulher. Salomão tinha mil mulheres e, dentre elas, não encontrou nenhuma, porque no seu coração só havia espaço para amar uma mulher. O casamento é heterossexual. Deus criou um homem e uma mulher. A união homossexual é uma aberração e uma abominação aos olhos de Deus. (Levítico 18.22; Romanos 1.24-28) O casamento também é monossomático (Gênesis 2.24). O homem e a mulher, mediante o matrimônio, tornam-se uma só carne. O sexo no casamento é uma ordenança (1Co 7.3-5), sendo seguro, santo e puro entretanto, antes e fora do enlace matrimonial é um sinal de decadência moral, perversão do amor e desobediência às Sagradas Escrituras. A Bíblia diz que digno de honra entre todos seja o matrimônio e o leito sem mácula (Hebreus 13.4). Esse é também o entendimento do saudoso teólogo João Calvino: 3

Pois que o ser humano foi criado com esta lei: que não viva uma vida solitária, ao contrário, usufrua de um recurso a si adjudicado. Ao depois, pela maldição do pecado, mais adjungido foi a esta necessidade. Neste aspecto, quanto era de mister, socorrido nos há o Senhor quando instituiu o matrimônio... De onde fica evidente que diante dele não só é maldita toda e qualquer outra união fora do matrimônio, como também essa própria união conjugal foi ordenada como um remédio de necessidade para que não nos atiremos a desenfreada concupiscência. Portanto, não sejamos complacentes para conosco, quando ouvimos que não pode um homem coabitar com uma mulher fora do matrimônio, sem a maldição de Deus.

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Dias Lopes, Hernandes. Casamento, divórcio e novo casamento. São Paulo: Hagnos, 2005: p. 24. 3 CALVINO, João. As Institutas ou Tratado da Religião Cristã. Vol. 2. Traduzido por Waldyr Carvalho Luz. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1985. p. 168.


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O sexo no casamento é uma fonte de prazer, além de ser o instrumento estabelecido por Deus para a procriação da raça (Provérbios 5.1519). O casamento é, ainda, indissolúvel (1 Coríntios 7.3). Jesus afirmou que marido e mulher não são mais dois, mas uma só carne e o que Deus uniu o homem não pode separar (Mateus 19.6). Calvino chama o matrimônio de “o mais sacro de todos os vínculos”, reconhecendo que a união de duas pessoas no nível de uma só carne não pode ser verdadeiro com respeito a nenhuma outra relação exceto o matrimônio.4 A união matrimonial, portanto, torna-se mais sagrada e profunda do que a união que liga os filhos aos pais. Nada, senão a morte, pode separá-los. O casamento não tem como propósito primordial a procriação da raça humana e nem o sexo. A palavra grega básica para “casar” ou “casamento” é gameo, que provem da mesma raiz da palavra “gem” em inglês, em nosso idioma essa palavra significa pedra preciosa, jóia. Literalmente, a raiz dessa palavra significa fundir. A fusão de diferentes elementos em um só descreve o processo por meio do qual as pedras preciosas e as jóias são formadas nas profundezas da terra. Esse processo é uma bela descrição para o casamento.5 Portanto, o casamento é todo tipo de coisas para todas as espécies de pessoas e, defini-lo de forma acertada fica difícil. Contudo, Florio tenta assim defini-lo: “o casamento é um relacionamento peculiar entre um homem e uma mulher, através do qual ambos procuram dar e receber a satisfação de suas necessidades e desejos sadios”.6 2.1 A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA ATRAVÉS DO OLHAR BÍBLICO Então o Senhor Deus declarou: “não é bom que o homem esteja só; farei para ele alguém que o auxilie e lhe corresponda” (Gênesis 2.18). Deus o estabeleceu o casamento, união entre homem e mulher, como início de uma 4

CALVINO, Comentário à Sagrada Escritura: Exposição de Efésios, p. 141. Munroe, Myles. O Propósito e o Poder do Amor e do Casamento. Belo Horizonte: Bello Publicações, 2009: p. 21 6 FLORIO, A. Preparação para o Casamento. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1986,p. 17. 5


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família cristã feliz. Enquanto a família é o fundamento básico de qualquer sociedade saudável, o casamento é o fundamento da família. 7 Deus nos criou e designou o casamento e a família como as instituições mais fundamentais das relações humanas. Atualmente, as famílias são atormentadas por inúmeros conflitos e arrasadas pela negligência e o abuso. O divórcio tornou-se corriqueiro, muitos homens jamais aprenderam a ser esposos e pais devotados, muitas mulheres fogem de seus papéis dados por Deus, vários pais não possuem nenhuma idéia de como preparar seus filhos que se tornam rebeldes e outros simplesmente abandonam seu dever, deixando filhos sem qualquer preparação ou provisão. Estamos vivendo numa época em que a família, grande projeto de Deus, tem sido bombardeada em todas as direções. Todo esse ataque está sendo feito em nome de uma modernização da sociedade. Entretanto, a sociedade só pode ser saudável à medida que sua estrutura baseia-se em famílias bem alicerçadas e, uma família só pode ser sadia ser for conduzida debaixo de princípios eternos e imutáveis oriundos da Palavra de Deus, que é a Bíblia Sagrada. O Salmo 127.1 diz: "Se não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam". E o Salmo 128 nos ensina que, todo aquele que teme ao Senhor, nosso Deus, e anda nos seus caminhos será próspero e terá uma família abastada, estável e verá a sua descendência. A melhor coisa é ter a nossa família sendo conduzida nos caminhos do Senhor! Quando a família mantém a aliança de fidelidade, desde o casamento, além da qualidade de vida que se experimenta no âmbito familiar, têm-se outros benefícios oriundos desta aliança. Ninho de proteção emocional e físico, onde o grave problema da solidão é resolvido (Sl. 68.6). Desenvolvimento do amor e da afetividade. O

padrão

do

verdadeiro

amor,

sem

riscos

emocionais

e

completamente estável é vivido dentro da família. No âmbito familiar é que formam-se indivíduos úteis à sociedade, é onde devem ser ensinados princípios que nortearão a vida de uma pessoa que contribuirão para o bem 7

Munroe, Myles. O Propósito e o Poder do Amor e do Casamento. Belo Horizonte: Bello Publicações, 2009: p. 16.


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viver diário e para o sucesso ao longo da vida. Em casa os membros da família aprendem a servir e construir o seu futuro em bases sólidas. Entretanto, não se pode ficar iludido, existe um adversário espiritual que luta para desintegrar a família, para que sejam formados cidadãos disfuncionais e tornem-se presas fáceis, além de existirem também outros fatores desintegradores em ação. O adversário sabe que se puder destruir o casamento, poderá destruir famílias; se puder destruir famílias, poderá a sociedade; e se puder destruir a sociedade, poderá destruir a humanidade 8. O modelo de família equivocada vinda através da mídia age contra a saúde da casa, trazendo um modelo falido, tradições neuróticas e inúteis que invertem as prioridades dentro do lar e ocasionam divisões vindas através de conflitos de interesses. É necessário que os verdadeiros cristãos lutem por uma sociedade sadia, por uma igreja solidificada na Palavra de Deus e por famílias saudáveis. Os verdadeiros cristãos devem defender os valores familiares como: amor, comunhão, perdão, aceitação, companheirismo. Exercer o perdão a exemplo de Jesus. Tiago 2.13 diz: "Porque será exercido juízo sem misericórdia sobre quem não foi misericordioso. A misericórdia triunfa sobre o juízo". É indispensável que os cristãos exerçam o ministério da reconciliação como está escrito em 2 Coríntios 5.18 diz: "tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação". Depender de Jesus para cura de todas as nossas feridas emocionais e da auto-imagem: Salmo 147.3, diz: "Só Ele cura os de coração quebrantado e cuida das suas feridas". Poderá existir uma solução para os problemas atuais da família? Será que existe a possibilidade de evitar tais tragédias nas famílias? É possível aos jovens casais manterem o terno do amor e a perseverança mesmo depois de passarem-se décadas de terem feito os votos no dia do casamento? Para os que perderam o foco há alguma esperança de recuperação dos terríveis erros do passado?

8

Ibid. p. 17


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Somente quando as pessoas entenderem necessário retornarem ao padrão de Deus para as famílias, passarem a perceber e a entender as grandes bênçãos que o Senhor preparou para nós quando os lares são construídos sobre a rocha sólida da sua Santa Palavra. Pode se concluir que a família é um projeto de Deus na terra, uma instituição indestrutível, idealizada pelo próprio Deus e por Ele defendida. O casal deve sempre declarar, acima de todos os problemas: “eu e minha casa serviremos ao Senhor”. (Josué 15.24). 2.2

ALGUNS

ENSINAMENTOS

SOBRE

CASAMENTO

NO

ANTIGO

TESTAMENTO A Bíblia Sagrada mostra de maneira clara o casamento como uma união íntima e permanente entre marido e mulher. Este é o ideal imutável do Senhor. Porém, a partir do pecado original, os seres humanos estão vivendo num nível abaixo do ideal traçado por Deus. As Sagradas Escrituras reconhecem este fato, e, é por isso que: Se um homem tomar uma mulher e se casar com ela, e se ela não for agradável aos seus olhos, por ter ele achado coisa indecente nela, e se ele lhe lavar um termo de divórcio, e lho der na mão, e a despedir da sua casa; e se ela, saindo da sua casa, for e se casar com outro homem; e se este a aborrecer, e lhe lavrar termo de divórcio, lho der na mão, e a despedir da sua casa ou se este último homem, que a tomou para si por mulher, vier a morrer, então, seu primeiro marido, que a despediu, não poderá tornar a desposá-la para que seja sua mulher, depois que foi contaminada, pois é abominação perante o Senhor; assim, não farás pecar a terra que o Senhor, teu Deus, te dá por herança (Deuteronômio 24.1-4).

Essa passagem do livro de Deuteronômio mostram breves instruções acerca do divórcio, prática esta tolerada, mas nunca ordenada nem encorajada por Deus. De acordo com o texto Veterotestamentário, o divórcio deveria concedido de forma legal, ou seja através de um documento escrito, permanente e permitido apenas quando houvesse “impureza” envolvida. O significado da palavra “impureza”, infelizmente, tornou-se assunto de debate. Alguns estudiosos da Palavra defendiam a idéia de que fosse


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qualquer comportamento impróprio, outros restringiam ainda mais o termo e argumentavam que se referia apenas à infidelidade sexual. Jesus demonstra nos evangelhos ter concordado com esta segunda opinião. O Senhor Jesus demonstrou que o propósito eterno de Deus era que o homem e a mulher não se separassem, contudo, somente permitiu o divórcio por causa da dureza do coração do homem. (Mateus 19.4-9; Marcos 10.2-6) Segundo as Sagradas Escrituras dureza de coração nada mais é do que a indisposição de obedecer a Palavra de Deus. É a indisposição em perdoar, restaurar e recomeçar o relacionamento conjugal de acordo com os princípios de Deus. Segundo os ensinamentos de Cristo, o divórcio de maneira nenhuma se torna compulsório onde existe espaço para o perdão. O divórcio é a conseqüência do pecaminosidade humana e nunca uma expressão da vontade de Deus. Perdão e restauração são sempre melhores alternativas do que o divórcio. Divórcio não é compulsório nem em caso de adultério, é apenas permitido, a restauração é sempre o melhor. Dessa forma, é de fundamental importância que a igreja dê maior ênfase à solidificação das famílias baseadas na Palavra de Deus. Casamentos estáveis resultam em famílias, igrejas e sociedade saudáveis. A solução para o casamento e para a família não está nos modelos falidos da sociedade pósmoderna, mas na eterna e infalível palavra de Deus. O mesmo Deus que instituiu o casamento tem a solução para os casamentos em crise. Somente o Todo-Poderoso pode restaurar as relações desmanteladas, trazer alegria e esperança onde os sonhos já morreram. Somente Deus pode trazer vida onde as sombras da morte já escurecem os horizontes e trazer cura onde as feridas estão cada vez mais doloridas. O grande desafio para a igreja e a sociedade contemporânea é retornar para Deus e obedecer aos seus mandamentos. O mesmo Deus que criou o casamento tem solução para ele. Deus é o criador, sustentador e restaurador do casamento e, quando Ele reina no casamento, o divórcio não tem espaço.9

9

Revista Lar Cristão. Rev. Hernandes Dias Lopes - Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Vitória – ES, 2007, p. 65.


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2.3

ALGUNS

ENSINAMENTOS

SOBRE

CASAMENTO

NO

NOVO

TESTAMENTO No Novo Testamento Jesus reafirma o caráter permanente do matrimônio, ressaltou que a permissão divina para o divórcio foi dada apenas por causa da natureza pecaminosa do homem e não porque fosse o ideal traçado por Deus. Jesus Cristo afirmou que a imoralidade sexual era a única causa legítima para o divórcio. “Eu, porém, vos digo: qualquer que repudiar sua melhor, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que casar com a repudiada comete adultério” (Mateus 5.3). A palavra grega traduzida por “relações sexuais” é pornéia. Esta palavra refere-se a todo tipo de intercurso sexual fora do casamento, sendo que este comportamento viola o conceito de uma só carne, que é fundamental ao matrimônio bíblico. Mesmo quando há infidelidade envolvida, o divórcio não é ordenado; ele é simplesmente permitido. O perdão e a reconciliação ainda são preferíveis ao divórcio. No entanto, se o divórcio ocorrer nestas circunstâncias, a opinião de muitos eruditos evangélicos é que a parte inocente está livre para se casar novamente. No tocante ao fim do vínculo matrimonial a Confissão de Westminster estabelece no Capítulo XXVI, artigo 5º, o seguinte:

A intenção divina para as pessoas que contraem o pacto matrimonial é que se unam inseparavelmente, de modo que não haja lugar para dissolução alguma, salvo a decorrente da morte do marido ou da esposa. Contudo, podem as debilidades de um ou de ambos os cônjuges resultar em grave e persistente negação dos votos matrimoniais, de tal maneira que o coração do matrimônio morre e a união se torna insustentável. Não obstante, só se pode considerar a separação ou o divórcio em casos de extrema e irremediável infidelidade (física ou espiritual) que não dê sinais de arrependimento. Essa separação ou divórcio só se aceita como permissível em virtude da falha de um ou de ambos os cônjuges, e de maneira nenhuma anula a intenção divina de que seja uma união indissolúvel.10

10

HENDRY, George S. La Confessión de Fe de Westminster para el día de hoy. Bogotá: CCPAL, 1965. p. 217


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2.4 ENSINAMENTOS DO APÓSTOLO PAULO Respondendo a uma pergunta dos Coríntios, o apóstolo repete o ensino de Cristo e depois acrescenta uma segunda causa em que o divórcio é permitido: o abandono por um cônjuge incrédulo. A referência bíblica citada trata de incompatibilidade religiosa. O casamento de um crente com um incrédulo. Estes casamentos teologicamente mistos não devem terminar em divórcio (exceto quando o incrédulo vai embora), apesar do fato de que as diferenças religiosas podem criar tensões no lar. Paulo escreve que, permanecendo casado, o cônjuge crente santifica o matrimônio e, com o tempo, o cônjuge incrédulo pode acabar se rendendo a Cristo. “Mas, se o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos, não fica sujeito à servidão nem o irmão, nem a irmã; Deus vos tem chamado à paz” (I Coríntios 7.15). Também neste caso as segundas núpcias não são obrigatórias. 3. CRISES E CONFLITOS NO CASAMENTO Por mais que haja compreensão e amor entre duas pessoas, mais cedo ou mais tarde os conflitos acabarão aflorando. De certa forma, são de grande importância que aconteçam, para que assim exista a possibilidade de indicar onde o relacionamento não está harmônico e, assim, ser corrigido. Cada conflito deve ser, portanto, uma oportunidade de crescimento e de aproximação entre o casal. Em relação à crise, Maldonado define como um estado temporal de transtorno e desorganização que se caracteriza por incapacidade do indivíduo ou da família para resolver problemas usando métodos e estratégias costumeiras e também, um potencial para gerar resultados radicalmente positivos ou negativos.11 Segundo o autor acima citado a crise é uma ruptura no interior de relações que exige uma busca de novas formas de funcionamento, melhor 11

MALDONADO, J. E. Crises e Perdas na Família. Viçosa: Ultimato Ltda, 2005, p. 15


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adaptação à nova situação por ela criada. Em razão disso, por um lado as crises produzem situações que ameaçam a estabilidade do casamento e, por outro, pode apresentar uma excelente oportunidade para que casal mude para uma melhor convivência. Diante dessa argumentação, torna-se de fundamental importância não se confundir uma crise com problema ou tragédia. Isto porque existem vários problemas que podem surgir na vida conjugal sem que, necessariamente, sejam levados a uma grave crise matrimonial. A felicidade no casamento não é uma coisa fácil de se conquistar nem muito menos alcançada no primeiro dia do casamento ou na lua de mel. É um processo bastante delicado que evolui durante a vida a dois. Não se pode excluir, de forma alguma, as reais possibilidades tristezas e momentos de crises, provações e incertezas. Por isso, é bom ter em mente que as diferenças individuais não se constituem impossibilidade para um bom relacionamentos, pois até, se bem administradas, podem enriquecer e proporcionar o amadurecimento do casal. Já em relação ao conflito Janzen alega que é uma disputa que surge sempre que as ações de uma pessoa interferem nos objetivos de outra. 12 Na vivência do mundo o conflito pode ser identificado quando duas partes ou mais, descobrem que suas posições são incompatíveis e que, se um lado alcançar seu objetivo, bloqueia os objetivos da outra parte. Não se pode descartar o fato de que as pessoas que passam a conviverem juntas possuem personalidade e objetivos diferentes que podem resultar em tensões originando conflitos. O modo como o casal reagirá a eles é que vai fazer a diferença, devendo-se separar sentimentos de ações. A cultura dominante em nossa sociedade e demonstrada através dos meios de comunicação vêm promovendo o reducionismo, o materialismo e o secularismo, controlando os valores éticos/cristãos e a família. Influenciados por esse meio, os casamentos, geralmente, tendem a ser superficiais e passageiros, em que os cônjuges buscam apenas satisfazer os próprios interesses. Dessa forma os casais estão tornando, cada vez mais, as pessoas objetos e não sujeitos de sua existência. 12

JANZEN, E. W. Conflitos: oportunidade ou perigo? Curitiba: Livraria Evangélica Esperança, 2007, p. 13.


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Com sua visão imediatista, o modernismo é marcado por uma ausência completa de um projeto pessoal familiar e produz uma nova forma de relacionamento entre o homem e a mulher, grandemente marcado pelo individualismo, pela fragilidade e pela insegurança. Hoje não há mais aquela preocupação com o futuro e tão pouco com uma felicidade estável, trazendo grandes males à estrutura familiar. Constantemente ouvimos frases como essa: “Se não der certo a gente separa”. Quem entra em um casamento hoje querendo, realmente, que dê certo, necessita superar o egocentrismo e o egoísmo, sentimentos que recusam a vida em comum em busca de conforto e comodidade pessoais. Existem

fatores

que,

significativamente,

contribuem

para

as

separações conjugais: dificuldades financeiras, diferenças de educação, formação profissional, estilo de vida e objetivos, problemas sexuais, infidelidade,

estética,

nascimento

de

filhos,

personalidade,

problemas

psicológicos, diferenças de credo e fé, entre outros. Não existe definida um regra específica que determine quais os fatores que levam à separação de casais, no entanto, a vontade de se cuidar para o outro e tentar compreendê-lo sempre estimula o interesse pela união e deixa de lado a vontade de separar-se. Porém essa vontade não impera em todos os casais. A solução do problema, geralmente, vem através da separação, é mais fácil descartar, que gastar tempo concertando. Uma prova disso é o grande número de divórcios realizados no Brasil. O IBGE13 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) utilizando como fonte primária de dados informações fornecidas pelos Cartórios de Registro Civil das Pessoas Naturais, cujos registros são apurados, coletados, organizados e, posteriormente, foi disseminado pelo instituto o seguinte quadro:

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Período

Separações judiciais

2003

100.985

2004

93.525

2005

100.448

2006

101.820

IBGE. Separações Judiciais. Disponível em: http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series. aspx? vcodigo= RGC300&t=separacoes-judiciais. Acesso em 24/02/2012.


19 Período

Separações judiciais

2007

91.743

2008

88.250

2009

83.185

2010

56.126

Através dos dados apresentados nota-se que, cada vez mais, os casais brasileiros têm procurado a separação judicial, ao invés de buscarem a conciliação, o perdão e a compreensão. O divórcio tem sido estimulado como solução. Entretanto, divórcio não é uma solução inteligente para casamentos em crise, apenas um sério agravante, um outro problema que, na maioria das vezes, traz somente um profundo sofrimento e uma imensa frustração. As pessoas divorciadas estão cada vez maiores dentro das comunidades evangélicas. Não há como se negar que existem também muitos líderes religiosos enfrentando divórcio. Contudo, o divórcio não é a solução divina para a crise do casamento, conforme abstraímos das Sagradas Escrituras. Não é sensato fugir do problema em vez de enfrentá-lo. Todos nós sabemos que a família tem sido atacada vigorosamente pelas perigosas filosofias pós-modernas. Os fundamentos têm sido destruídos (Salmo 11.3). Os valores absolutos das Escrituras não estão sendo observados, mas repudiados. O inevitável resultado do relativismo deste tempo é a falência dos valores morais, a fraqueza da família e com o aumento espantoso da infidelidade conjugal. Valores relativos acompanham o relativismo da verdade. O que é necessário compreender é que, de fato, não existe casamento perfeito. Não há casamento sem problemas. Todo casamento exige renúncia e adaptação. Segundo Schiwingel os conflitos são coisas naturais da vida e devemos aprender a lidar com eles:

“Não precisamos casar para ter conflitos. Estes são eventos naturais da vida. Por menos que os queiramos, estão presentes - não os escolhemos . No entanto, compete-nos escolher a forma de lidar com eles. Enfrentar e lidar com conflitos e impasses é sinal de maturidade, fortalece e dá sabedoria. Dá a sensação de sobreviver a eles ( vida ), e não de sucumbir ( morte ). (SCHWINGEL, Ruth M. Aprendendo a ser Família. São Leopoldo, Sinodal, 1994, pág. 10.)


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Nenhum casamento sobrevive sem perdão e restauração. Muitas pessoas hoje estão discutindo e procurando divorciar antes de entender o que as Escrituras ensinam sobre casamento. Casamento não é uma união experimental. A aliança conjugal não termina quando as crises chegam. 3.1 A FALTA DE DIÁLOGO Tudo mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar. Nietzsche

Atualmente o mundo está cada vez mais pequeno devido à facilidade na comunicação, através do rádio, telefone, televisão e internert reduzindo, assim as distâncias e, em tese, aproximando as pessoas. Hoje, um fato ocorrido em qualquer lugar do mundo corta o espaço e o tempo em segundos. Porém, apesar de todo esse avanço tecnológico dos meios comunicação, as dificuldades no tocante à comunicação inter-pessoal tem aumentado. Essas ferramentas tecnológicas da comunicação têm, freqüentemente, roubado a possibilidade de diálogo, que é fundamental ao relacionamento familiar. As pessoas tornam-se estranhas mesmo residindo debaixo do mesmo teto, partilhando o mesmo quarto e dormindo na mesma cama. A falta de comunicação tem sido um dos fatores predominantes nas relações conjugais. A correria do dia-a-dia, o desgaste provocado pelo trabalho têm acabado com o diálogo entre os casais. A busca desenfreada para adquirir bens materiais tem levado as famílias a afastarem-se cada vez mais dos laços de amor e afeto.


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Dialogar, entender-se bem, conversar com o coração aberto torna-se um primeiro passo para se compreender a vida a dois, anulando as possibilidades de acontecer, o que às vezes é considerado inevitável, a separação. Isso requer coragem e vontade para mudar, aceitar os problemas e lutar para transformar o prejudicial em saudável.


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Existe um consenso entre estudiosos na área de aconselhamento pastoral para casais, de que a maior parte das dificuldades de relacionamento enfrentadas pelos cônjuges reside no fato de não saberem comunicar-se de maneira apropriada. Todo ser humano espera ser ouvido e compreendido, entretanto, sequer preocupam-se em parar por um instante para ouvir o próximo. Para ser feliz é necessário desenvolver o bom hábito de ouvir a pessoa amada. Somente juntos, partilhando uma boa conversa é que poderão superar os possíveis conflitos com a ausência da atenção. O crescimento da comunicação na vida dos casais possibilitará uma maior abertura e aceitação, isto porque somente assim cresce um sentimento: a confiança. Um casal cristão não pode e não deve ter preconceitos e barreiras que impeçam a comunicação. A Bíblia nos mostra em I João 4.18 diz que "no amor não existe medo". Assim, deves-se confiar plenamente naquele que escolhemos para ser companheiro, e não esquecer as palavras chaves da comunicação: Eu te amo! Tournier certa vez alegou:

“Entre a compreensão e o amor existe um vínculo tão estreito que nunca se sabe onde termina um e começa o outro, qual é a raiz e qual o fruto. Quem ama compreende, e quem compreende ama. Quem se sente compreendido sente-se amado, e quem se sente amado confia ser compreendido.” O casamento é uma instituição que possibilita ao casal uma fusão de histórias de vida, de traumas, de frustrações e de medos, isto porque, cada cônjuge foi criado de uma maneira diferente, uma situação econômica diferente ou nível de educação diferenciado. Essas diferenças possibilitam que o lar não assuma características onde haja diálogo. Por isso, sem a devida instrução a família poderá ter sérias dificuldades para crescer de uma forma harmônica. Atualmente, a mulher exerce alguma profissão ou mais atividades fora do grupo familiar e isso pode dificultar de uma certa forma o encontro e o diálogo, já que, na maioria das vezes, ela exerce uma dupla jornada de trabalho, pois ao chegar em casa, tem que dar conta dos afazeres domésticos: limpeza da casa e de roupa/alimentação. Não estamos mais vivendo um período em que


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os afazeres domésticos são unicamente deveres da mulher. Quando a mulher trabalha fora de casa é necessário que sejam divididas as tarefas familiares para facilitação do diálogo.

3.1.1 AS PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE HOMEM E MULHER NA COMUNICAÇÃO Existem diferenças marcantes entre homens e mulheres (física, emocional e estruturalmente) e, normalmente, ocorrem conflitos entre eles, pelo fato de falarem “línguas diferentes”. 14 A comunicação clara e eficiente é indispensável na vida conjugal. Casais não podem ser considerados como “ilhas” que vivem vidas isoladas. A falta de diálogo, com certeza, traz danos irreparáveis ao casamento. Um dos grandes defeitos na comunicação entre cônjuges é a falta de atenção ao que está sendo dito, tendo em vista que a maioria dos seres humanos gosta de falar, de expressar o que sente e muitas vezes esquecem que as outras pessoas também têm necessidade de ter alguém que as escute. Portanto, a arte de ouvir como a de falar deve ser cultivada nos relacionamentos.15 Para que o casal consiga ter um diálogo aproveitável é necessário compreender as diferenças na comunicação. Por visualizarem o mundo de maneiras distintas homens e mulheres acabam por olhar para as mesmas coisas, entretanto, têm conclusões heterogêneas. Este fato, caso não seja observado pelos cônjuges pode trazer sérios problemas de comunicação. Homens

e

mulheres

possuem

proporções

hormonais

completamente

diferentes, o que os levam a ter reações distintas diante do mesmo fato. Muitos

14

GRAY, John. Homens são de Marte e Mulheres são de Vênus.Rio de Janeiro: acco, 1995) JANZEN, E. W. Conflitos, Oportunidade ou Perigo? Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2007. 15


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casais sofrem em virtude de divergências simplesmente porque não compreendem as diferenças fundamentais que existem entre eles. O homem é um ser que pensa de forma lógica, contudo, a mulher funciona por reações emocionais. Por ser lógico o homem pensa de maneira racional e metódica, sua mente trabalha de forma analítica, olha para o fato e age de acordo. Por sua vez, as mulheres são seres essencialmente emocionais e abordam os assuntos a partir do que sentem em relação a eles. Agir dessa forma não torna a mulher nem melhor nem pior do que o homem. Essas maneiras de agir, embora possam parecer incompatíveis, são complementares. A lógica sem a emoção levaria o homem a uma vida vazia, sem paixão e pouca ou nenhuma arte, por outro lado, a emoção sem a lógica levaria a uma vida sem ordem. Isto revela a magnificência do plano de Deus, pois tanto a razão quanto a lógica são necessárias para a sobrevivência do ser humano. Outra diferença entre o homem e a mulher na comunicação reside no fato de que o homem no momento em que fala transmite apenas o que esta pensando. Por outro lado, a linguagem falada pela mulher traduz uma expressão do que ela está sentindo. Uma mulher diz o que está no seu coração ao passo que o homem o que está na sua mente.16 Pelo fato dos homens agirem pela lógica, suas palavras, na maioria das vezes não expressam seus reais sentimentos. Em decorrência disso o homem tem a tendência de ouvir o que a mulher diz como uma informação. E por isso surgem grandes problemas no momento do diálogo porque as mulheres tentam interpretar tudo de forma pessoal. As mulheres são seres emocionais e por isso devem

ser

compreendidas

a

partir

desse

pressuposto.

Por

falar

emocionalmente a mulher também ouve através de uma experiência emocional. Ouvir nem sempre é o mesmo que compreender, o que uma pessoa diz pode não ser o que a outra ouve. Um fato bem simples para exemplificar: O marido marca um compromisso com a mulher, contudo, se atrasa e a deixa furiosa. Para amenizar a situação o homem chama sua esposa para jantar fora, porem ela responde “Não. Não quero sair.” O homem entende aquela fala como uma informação e entende que ela não deseja sair, entretanto, ela está apenas querendo dizer “Estou furiosa com você! Você se 16

Munroe, Myles. O Propósito e o Poder do Amor e do Casamento. Belo Horizonte: Bello Publicações, 2009: p. 106


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atrasa e quer amenizar a situação me chamando pra sair? Mais devagar, não é bem assim!” Os maridos precisam entender de que cada palavra que ele proferir a sua esposa será interpretada de maneira emocional e as mulheres precisam compreender de que cada palavra proferida

a seu marido será entendida

apenas como uma informação. Em face disso as mulheres entendem as palavras que lhe são proferidas de uma forma pessoal, ao passo que o homem as interpreta de forma impessoal. Por isso, os maridos precisam tomar cuidado com suas palavras e com seus atos, pois uma mulher irá se lembrar de uma atitude irritante ou de um comentário por anos. Os homens, entretanto, têm menos propensão a guardar rancor e por isso devem tomar muito cuidado para não se tornarem insensíveis e indiferentes ás necessidades de suas esposas e filhos. Apesar disso, as esposas devem entender que o fato do homem não reagir da mesma forma emocional que uma mulher, não significa que não se importa com ela ou que não tem sentimentos. 3.2 FALTA DE PLANEJAMENTO FAMILIAR Tudo que iremos desenvolver em nossas vidas necessita de um prévio planejamento. A ausência de um planejamento correto e eficaz, só traz problemas, prejuízos e aborrecimentos, sobretudo, quanto trata-se da constituição de uma família. A bíblia ensina sobre isso, o cristão sempre deve planejar antes de executar seus planos e ideais.

[...] pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir? Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não o podendo acabar, todos os que a virem zombem dele, dizendo: este homem começou a construir e não a pôde acabar (Lucas 14:28).

Está entre os grandes problemas enfrentados nos lares os desentendimentos ocorridos por da falta de um prévio planejamento familiar. Muitos casais da mesma forma que não planejam sobre filhos, também não planejam finanças. Isso acaba fazendo com que pequenos problemas que


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surgem no do dia a dia acabem tornando-se uma bola de neve que cresce a cada dia. Jesus deixa bem clara sua posição ao concluir o sermão do monte, mencionando a parábola dos dois fundamentos:

Todo aquele, pois que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa que não caiu porque fora edificada sobre a rocha. E todo aquele que houve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia; caiu a chuva, transbordaram os rios, e sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína. (Mateus 7. 24-27).

O texto bíblico, anteriormente citado, relata sobre casa edificada (casa sugere família) e deixa de forma bem clara que os problemas não estão nas estações das chuvas, no transbordamento dos rios, nem nos ventos fortes que batem com ímpeto contra a casa. Os problemas estão na base, na estrutura da Construção. O casal deve sempre parar para pensar sob que estrutura estão edificando seus lares. Ao longo de muitos anos, no tocante à administração do lar, percebese que foi praticamente delegado por tradição e cultura à mulher. Historicamente, a mulher foi remetida às questões domésticas exercendo a função de cuidar o lar. Entretanto, face a grande mudança econômica, social, cultural e com a necessidade do crescimento pessoal, a cada dia que passa as mulheres têm ocupado grande espaço na área profissional. Ainda existem aquelas mulheres que gostam de manter o domínio do lar e não desejam mudar tal situação. No entanto, a maior parcela das mulheres não está satisfeita somente com isso. A falta de empenho do marido aliado ao cansaço de, na maioria das vezes, exercer uma jornada dupla, trabalho e afazeres domésticos, têm favorecido o surgimento de sérios problemas psicossomáticos e contribuindo significativamente para o acirramento dos conflitos entre o casal. Por sua vez, muitos homens não estão preparados para a realização de algumas tarefas no lar, sentindo-se por tradição ou costume, desqualificado para exercê-las. Alguns até se tornam ótimos cozinheiros, lavam e passam.


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Mas, apesar de tudo isso, não conseguem assumir responsabilidades específicas, principalmente as rotineiras. O que o casal deve fazer diante de tal problemática? Acima de tudo é fundamental que haja empenho e vontade de acertar por ambos os nubentes. A tarefa de administrar o lar deve ser assumida pelo casal e filhos com muito respeito, chegando a um consenso quanto às responsabilidades domésticas. Somente em comum acordo se poderá minimizar os conflitos das tarefas e dividi-las entre a família, pois, na realidade, o bem estar da casa está sob a responsabilidade de todos. Nenhum dos cônjuges pode pretender possuir todos os meios para construir a família. Deve antes, sentir necessidade dos meios complementares do outro. É uma questão de humildade, ou seja, de visão realista de si mesmo e do outro.17 A elaboração de projetos de vida a dois desencadeará processos que humanizarão o casal, visto que eles multiplicam as relações interpessoais. O projeto criação e educação dos filhos, o projeto econômico/financeiro, o projeto religioso. Todos os planos precisam ser caracterizados pela arte de dialogar, amar, em partilhar as mesmas metas na busca da realização mútua, no empenho e dedicação para atingir uma harmonia conjugal e não simplesmente sob fato de morarem debaixo do mesmo teto. Muitos cristãos não se sentem à vontade para falar de planejamento familiar, na maioria dos casos, por fatores culturais ou pela maneira pela qual foram educados. Face ao ensino inadequado e incorreto alguns casais ficam confusos e desconfortáveis com a sensação de que há algo pecaminoso em tentar planejar um empreendimento tão íntimo e tão santo como ter filhos. O planejamento familiar também envolve tomar decisões para evitar gravidez indesejada e limitar o número de filhos que o casal pode, adequadamente, alimentar, sustentar, educar, proteger e amar.

18

O planejamento para a edificação de uma família é fundamental muitos casamentos desabam porque não traçaram metas e objetivos a serem alcançados. Amar é fundamental, mas, todos os casais têm que aprender que as crises sempre virão e como irão suportá-las sem um prévio planejamento? 17

MANENTI, Alessandro. O Casal e a Família. São Paulo, Paulinas, 1991, pág. 29. Munroe, Myles. O Propósito e o Poder do Amor e do Casamento. Belo Horizonte: Bello Publicações, 2009: p. 287 18


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Os casamentos devem ser realizados somente após o casal adquirir uma maturidade tal, que identifiquem como aptos e capazes de planejar uma estabilidade financeira, emocional e cultural. Não se pode pensar em casar sem pensar em como será mantido esse lar. Não se pode pensar em gerar filhos sem possuir um preparo financeiro, emocional e espiritual. 3.3 VIDA SEXUAL DO CASAL O sexo nunca foi o cerne do casamento, entretanto, é suma importância na vida conjugal. O sexo não deve ser um ato e sim uma relação em que há correspondência sexual. As finalidades do sexo no casamento são a procriação, comunhão e prazer. Segundo Streck19:

Uma das mais importantes funções da sexualidade é enriquecer a vida das pessoas através do prazer e da realização que proporciona. Por outro lado, ela também causa problemas e produz sofrimentos. Isso tem várias razões: desinformação, falta de diálogo, compromisso e amor, desigualdade entre homem e mulher, valores distorcidos.

Inúmeros casais possuem graves problemas na área sexual, apesar de não admiti-los, pois, é extremamente difícil falar sobre o assunto. Um casal que vive de uma forma harmônica e equilibrada possui maiores chances de ter uma vida sexual satisfatória. Por ser um assunto delicado de ser tratado, admitir possuir problemas no relacionamento sexual demonstra maturidade e vontade de superar as dificuldades. Superar o medo de se falar nos problemas sexuais está ligado numa cultura equivocada, implantada desde a infância, em que o sexo é visto como algo sujo e proibido. Essa instrução deficiente leva as pessoas a criarem tabus ou referirem-se ao assunto de forma pejorativa e com brincadeiras, desconhecendo assim, uma forma de resolver os seus conflitos. Para que se obtenha um relacionamento sexual feliz, é necessário que o casal se conheça, saiba que o sexo é bom, que ele faz bem e que trará vantagens para o casamento. Somente assim o casal se tornará mais seguro e confiante. No relacionamento sexual é fundamental que os dois saiam ganhando e estejam unidos num mesmo propósito, podendo proporcionar bem 19

STRECK, Valburga S. Sexualidade Hoje. São Leopoldo, Sinodal, 1989, pág. 60


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estar, alívio de tensão e prazer. Assim, marido e mulher ficarão estimulados e se sentirão capacitados a resolver e a acertar outras incompatibilidades do cotidiano. Beba das águas da sua cisterna, das águas que brotam do seu próprio poço. Por que deixar que as suas fontes transbordem pelas ruas, e os seus ribeiros pelas praças? Que elas sejam exclusivamente suas, nunca repartidas com estranhos. Seja bendita a sua fonte! Alegre-se com a esposa da sua juventude. Gazela amorosa, corça graciosa; que os seios de sua esposa sempre o fartem de prazer, e sempre o embriaguem os carinhos dela. (Provérbios 5.15-19).

Porém, a rotina, o medo da mudança no comportamento rotineiro, as mágoas e ressentimentos acumulados ou problemas emocionais e psicológicos ligados à história do casal são fatores necessitam ser bem observados, pois, podem piorar ou influenciar de forma negativa o relacionamento sexual do casal, proporcionando sérios conflitos. Para conseguir resolvê-los é preciso enfrentá-los, detectá-los, obter o maior número possível de informações, analisar as possibilidades de mudanças, fazer um balanço da vida sexual e descobrir os conflitos pessoais antigos, os recentes e estar disponível para aceitar as mudanças. Resolvendo os seus conflitos sexuais, o casal poderá experimentar um ótimo bem - estar e sentir, realmente, que vale apena estarem casados.20 O mau desempenho na área sexual pode ocorrer por vários motivos.Um exemplo disso é quando uma pessoa foi estuprada na infância e não tratou de maneira eficaz o trauma geralmente verá o sexo como algo muito mais monstruoso

do que prazeroso. Muitos cristãos possuem padrões

equivocados a respeito do sexo, a saber: Somente o homem pode procurar pela mulher para uma relação sexual, a companheira jamais. É proibido ficarem nus na frente um do outro, pois Adão e Eva quando perceberam que estavam nus, cozeram para si aventais. Saber quais são as principais diferenças entre o homem e a mulher no que tocante ao relacionamento sexual é de suma importância para minimizar os problemas nesta área. O homem está pronto para a relação 20

Reflexões a partir da Eletiva Família e suas Implicações Pastorais. Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, primeiro semestre de 1996


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sexual desde que tenha ereção, e isto ocorrerá quase que instantaneamente face aos estímulos visuais que porventura receber. Ao contrário da mulher que, em geral, necessita de mais preparação, estímulos táteis e carinho. A mulher precisa estar bem emocionalmente para conseguir ter uma boa relação social, não é como o homem que consegue fugir do stress durante o sexo. Outra grande diferença que a mulher costuma excitar-se mais lentamente que o homem. Enquanto no homem 20 a 30 cm 3 de sangue são suficientes pára encher seus órgãos genitais e assegurar uma ereção, a mulher precisa de pelo menos três vezes mais a fim de garantir uma excitação constante e uma boa lubrificação. É preciso que o homem saiba estimular a mulher. Esta estimulação deve ocorrer com tempo necessário para que ela alcance um bom grau de excitação. Esse tempo pode variar de acordo com a idade e as circunstâncias. Entretanto, ele nunca deverá ser menos de 15 a 20 minutos. Kusnetzoff descreve outras diferenças entre o comportamento sexual masculino e feminino. Segundo ele, o desejo da mulher é mais contínuo e permanece após o orgasmo. No homem a maior parte do seu ser está comprometida na ereção. Já a mulher, ela precisa ser considerada, admirada, acariciada como um todo. Enquanto o homem é parcial e vai “direto ao assunto”, a mulher é total, foge ao que é direto, buscando reconhecimento. O homem é nitidamente descontínuo. A mulher tem uma profunda preferência pela continuidade.21 A mulher deseja carícias, agrados, ternura, emoção, sinceridade, doçura e erotismo, no entanto, para o homem um orgasmo é um orgasmo. Todo casal para conseguirem apreciar e vivenciar este a relação sexual com maior intensidade e satisfação pessoal possíveis deve estar consciente dessas diferenças. A boa preparação para o ato sexual proporciona uma outra grande diferença entre o homem e a mulher: “a mulher pode ter vários orgasmos simultâneos no curso de um só coito, enquanto homem tem uma única ejaculação. Se por um lado, o homem, deseja de chegar logo ao ato sexual, por outro, a mulher necessita de mais de carinho e ternura. Em virtude disso, o 21

KUSNETZOFF,J.C. A mulher sexualmente feliz. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.


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homem não pode ter muita pressa. É indispensável ter bastante paciência para encontrar com a esposa a maneira mais agradável para ambos. Para que isso ocorra, às vezes, o marido precisa controlar-se e até renunciar ao seu desejo de realizar o ato sexual. Existem períodos em que a mulher não irá desejar ou até não deverá manter relações sexuais: menstruação, gravidez avançada, cansaço, período pós-parto. Nessas circunstâncias cabe ao marido, respeitar os limites da sua esposa, não só não pedindo o que ela está impossibilitada, nem que seja temporariamente de fazer, mas, não fazer com que ela se sinta mal, em circunstância nenhuma, sobre a sua renúncia.

“Através da relação sexual o homem e a mulher estabelecem um diálogo denso. São pessoas que se entregam no amor. Pessoas que celebram um amor que as entrelaçam. Pessoas que se colocam à disposição de Deus para a criação. Trata-se de um diálogo que leva a vida e produz vida. 22

A relação sexual é um ato divino e sagrado por isso os cônjuges devem sempre buscar a felicidade mútua neste ato. A Palavra do Senhor relata: “Honrado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula” (Heb.13.4). 3.4 INFIDELIDADE CONJUGAL A família tem sido atacada de forma vigorosa pelas perigosas filosofias pós-modernas em que os fundamentos bíblicos têm sido destruídos e os valores morais não estão somente sendo observados, mas também, repudiados. Atualmente vê-se não somente comportamentos imorais e sim, a perda da moralidade. A sociedade enfrenta um grande colapso de significados, a verdade apresenta-se de maneira relativa, não existe estabilidade e a vidas estão, cada vez mais, perdendo o sentido. O mundo moderno apresenta uma falência dos valores morais, que enfraquece a família e aumenta a infidelidade conjugal, sendo esta, uma marca da sociedade contemporânea. Sobre o adultério diz as Sagradas Escrituras: 22

GUIMARÃES, Almir Ribeiro. Vamos nos Casar... Petrópolis, Vozes, 1992, pág. 40.


32 Filho meu, guarda o mandamento de teu pai, e não deixes a lei da tua mãe; Ata-os perpetuamente ao teu coração, e pendura-os ao teu pescoço. Quando caminhares, te guiará; quando te deitares, te guardará; quando acordares, falará contigo. Porque o mandamento é lâmpada, e a lei é luz; e as repreensões da correção são o caminho da vida, Para te guardarem da mulher vil, e das lisonjas da estranha. Não cobices no teu coração a sua formosura, nem te prendas aos seus olhos. Porque por causa duma prostituta se chega a pedir um bocado de pão; e a adúltera anda à caça da alma preciosa. Porventura tomará alguém fogo no seu seio, sem que suas vestes se queimem? Ou andará alguém sobre brasas, sem que se queimem os seus pés? Assim ficará o que entrar à mulher do seu próximo; não será inocente todo aquele que a tocar. Não se injuria o ladrão, quando furta para saciarse, tendo fome; E se for achado pagará o tanto sete vezes; terá de dar todos os bens da sua casa. Assim, o que adultera com uma mulher é falto de entendimento; aquele que faz isso destrói a sua alma. Achará castigo e vilipêndio, e o seu opróbrio nunca se apagará. Porque os ciúmes enfurecerão o marido; de maneira nenhuma perdoará no dia da vingança. Não aceitará nenhum resgate, nem se conformará por mais que aumentes os presentes. ( Provérbios 6.20-32)

Segundo algumas estimativas, 50 a 65% dos maridos e 45 a 55% das esposas têm sido infiéis até os 40 anos. Outros identificam que 26 a 70% das mulheres casadas e 33 a 75% dos homens casados têm se envolvido em casos extraconjugais que têm sido não apenas comuns, mas altamente destrutivos e o divórcio tem sido estimulado como solução. 23 A aceitação do adultério como algo corriqueiro não é somente uma característica da sociedade não-cristã, infelizmente, têm atingido também a igreja. O casamento como uma dádiva divina para a realização sexual e para a preservação contra a impureza sexual, contudo, essa união não é um remédio definitivo e infalível contra a infidelidade conjugal. Deus não esconde o fracasso de grandes santos do passado, pois há vários relatos de adultérios e escândalos sexuais na Bíblia. A infidelidade conjugal é um ato que destrói casamentos e famílias, traz enormes prejuízos sociais, econômicos, emocionais e espirituais. O adultério é comumente definido como uma quebra da fidelidade conjugal, cujo princípio consiste em não se manter relações carnais com outra pessoa fora do 23

Revista Lar Cristão. Rev. Hernandes Dias Lopes - Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Vitória – ES, 2007, p. 57.


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casamento. Mas há de se levar em conta que qualquer envolvimento emocional sem contato físico é definido como “infidelidade branca”, pois presumivelmente não é uma traição oficial. Quando Jesus ensinava acerca do adultério deixou bem claro que pode ser um ato mental e emocional e não apenas físico, pois segundo ele “qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela” (Mt 5.28). Através de relatos de vários casos de adultério e abstraindo-se de princípios bíblicos, a traição emocional e mental é prérequisito para a conjunção carnal. Todo ser humano é intimamente tentado por sua própria cobiça, “quando esta o atrai e seduz. Então a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado” (Tg 1.14-15). Em uma sociedade erotizada, como a atual, em que as expressões eróticas e pornográficas tornaram-se cada vez mais explícitas e ousadas, a luta contra a tentação do adultério não é uma batalha individual, mas envolve a participação mútua do casal. Os casais que não dão espaço ao diálogo e deixam de atentar para as necessidades básicas dos cônjuges são os mais vulneráveis a casos extraconjugais. A infidelidade pode não considerada como a pior coisa que um parceiro pode fazer ao outro, porém, pode ser a mais perturbadora e desorientadora situação ocorrida na relação, e conseqüentemente capaz de destruir o casamento, não necessariamente pelo sexo e sim pelos segredos e mentiras. A melhor saída para evitar a infidelidade conjugal é sempre manter um diálogo sincero, com humildade do casal para aceitar dificuldades pessoais e procurar ajuda para resolvê-las. O casal deve estar sempre apto a aceitar a limitação dos seres humanos em nos amar como sonhamos ser amados e aceitar o amor possível. Não deve haver obsessão pelo outro e sim o entendimento de que homem e mulher são diferentes do ponto de vista comportamental, o que produz a necessidade de aceitar as limitações pessoais e a compreensão de que o outro nunca poderá preencher todas as necessidades de cada um. 4 LIDANDO COM AS CRISES NO CASAMENTO


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Casamento é uma maravilhosa bênção que Deus criou, entretanto, não existe casamento sem problemas. Isso não é porque Deus falhou e sim porque homem e mulher são seres imperfeitos. Todo casamento exige renúncia, adaptação e perdão. Mesmo ocorrendo notoriamente o aumento do divórcio, à luz das Escrituras, esta não é a solução divina para a crise do casamento, não é sensato fugir do problema em vez de enfrentá-lo. Muitas pessoas hoje discutem e procuram divorciar antes de entender o que as Escrituras ensinam sobre casamento, que não é uma união experimental, a aliança conjugal não termina quando as crises chegam. As mudanças que ocorrem na vida profissional, pessoal e familiar, podem acarretar crises e, estas não significam deterioração e sim necessidade de redirecionar o desenvolvimento pessoal, de um grupo que se faz parte ou do casamento. Saber lidas com as mudanças e transformações é um desafio inquietante, pois requerem amadurecimento, capacidade de lidar com a frustração, resistir a fuga, lidar com a ansiedade e conviver com o imprevisível. Estas habilidades e competências elencadas devem ser aprendidas. É fundamental no casamento aprender atitudes de expressar as emoções e pensamentos de maneira a sustentar o diálogo. Agindo dessa forma, o casal obterá um clima de confiança e intimidade com respeito à dignidade do parceiro(a). Permanecer fechar ou desabafar agredindo o parceiro rompe o equilíbrio da relação. O casal deve sempre demonstrar reconhecimento das atitudes positivas do conjugue, valorizando pequenas atitudes que no dia a dia ficam no esquecimento da rotina O grande objetivo do homem e da mulher, ao desejarem ficar juntos, deve ser criar oportunidades para ter um espaço, onde possam desenvolver a capacidade de viver a dois, buscar soluções criativas, à medida que os obstáculos apareçam, e aprender a desfrutar todas as formas de viver com amor.24 Dentro deste contexto, o que significa a felicidade conjugal? Segundo Florio (1986)25, pode ser definida por fatores indicadores, que precisam 24

SHINYASHIKI, Roberto T. Amar pode dar Certo. São Paulo, Editora Gente, 1995, pág. 25. FLORIO, A. Preparação para o Casamento. Rio de Janeiro. Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1986, p. 19. 25


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manifestar-se no casamento para que os casais sintam que o relacionamento está feliz: a) Um forte laço emocional de afeição, carinho mútuo pelas necessidades um do outro, inclusive a disposição de se sacrificar em benefício um do outro; b) o fato de um gostar da personalidade do outro como companhia, implicando em muitos interesses e alvos que ambos compartilham; c) respeito um pelo outro como indivíduos; d) atração sexual e um padrão mutuamente satisfatório de expressar amor e dedicação através do ato sexual; e) sentimento de estabilidade no casamento; f) ter convicção da relação conjugal como sendo instituída por Deus e, por isso, tendo a adicional dimensão dos valores espirituais.

Para isso, é indispensável um nível de maturidade que inclui disposição para assumir responsabilidades, prontidão vocacional e capacidade de ganhar a vida prover de forma adequada as necessidades da família que deseja constituir. Os jovens que desejam unir-se matrimonialmente devem ser maduros o suficiente compreender as motivações de seus atos e controlar seus procedimentos. A pessoa que vive à mercê dos sentimentos torna-se ameaça para si mesma e para as pessoas que a cercam. Adquirir auto-compreensão antes do casamento envolve informações e razões e isso faz com que a pessoa entenda a si mesma. Conhecendo seus pontos fortes, deve desenvolvê-los; conhecendo seus pontos fracos, deve corrigi-los; conhecendo as duas coisas vai se tornar uma pessoa mais feliz e autoconfiante, atraindo o cônjuge para ajustar o relacionamento, tornando-o mais estável e permanente. Segundo Prado26, o aprendizado da conjugalidade demanda de ingredientes necessários como o amor, carinho, companheirismo, projeto em comum, o que auxilia no fortalecimento do casal, permitindo que ultrapasse as dificuldades que possam surgir. O contínuo aprendizado que o contato íntimo proporciona, fortalece a cumplicidade do casal, não importando como socialmente o casal se apresente, pois ao terem característica de unidade, adquirem força para crescerem.

26

PRADO, Luiz Carlos. Amor & violência nos casais e nas famílias. Porto Alegre: UFRGS, 2004.


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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um casamento feliz e bem sucedido não acontece por acaso. O objetivo deste trabalho foi demonstrar que, como qualquer outra coisa em


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nossas vidas, o segredo é buscar o conhecimento necessário e planejar previamente. As

pessoas

que

passam

a

conviverem

juntas

possuem

personalidade e objetivos diferentes que podem resultar em tensões originando conflitos. O modo como o casal reagirá a eles é que vai fazer a diferença, devendo-se separar sentimentos de ações. A afetividade, a cumplicidade e a comunicação,

são

palavras

essenciais

para

o

casamento.

Buscar

conhecimento e compreensão propicia confiança plena entre os parceiros, fazendo prevalecer a fidelidade, o carinho, a arte do ouvir e do dialogar. O casamento é uma instituição que possui o potencial de o amor de Deus no seu mais pleno nível possível na terra. Este é um amor altruísta no qual marido e mulher “submetem-se um ao outro por temor a Cristo” (Efésios 5:21) e o marido ama sua mulher assim como cristo amou a Igreja e entregouse por ela (versículo 25). O casamento não exige perfeição, contudo, deve ser lhe dada prioridade, pois é uma instituição povoada exclusivamente por pecadores e encontra sua maior glória quando eles vêm a forma de Deus conduzi-los através de seu principal plano de amor e justiça.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS A BÍBLIA SAGRADA. Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil, 2ª Edição- Sociedade Bíblica do Brasil S.P 1993


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