SÉRGIO HENRIQUE ZILOCHI SOARES
REFORMANDO NOSSOS PÚLPITOS: UM DESAFIO PARA O CRISTIANISMO NA ERA PÓS-MODERNA
TEREART EDITORA 1ª EDIÇÃO 2013
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SÉRGIO HENRIQUE ZILOCHI SOARES TereArt Editora www.tereart.com.br Teresópolis - RJ 1ª Edição 2013
Capa, diagramação e impressão de TereArt Editora Correção Professora Simone Zilochi Soares Todos os direitos reservados pelo Autor. É proibida a reprodução, total ou parcial, por qualquer meio, inclusive cópias xerográficas, a não ser com autorização expressa e por escrito do Autor. ______________________________________________________________ S676 Soares, Sérgio Henrique Zilochi Reformando nossos púlpitos: um desafio para o cristianismo na era pós-moderna / Sérgio Henrique Ziloqui Soares. – Teresópolis, RJ : Tereart, 2013. 116 p. ISBN 978-85-63813-59-6 1.Cristianismo. I. Título. CDD: 245 CDU: 23/28 ______________________________________________________________
ISBN 978-85-63813-59-6
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Será que um homem que ama seu Senhor estaria disposto a ver Jesus vestindo uma coroa de espinhos, enquanto ele mesmo almeja uma coroa de louros? Haveria Jesus de ascender ao trono por meio da cruz, enquanto nós esperamos ser conduzidos para lá nos ombros das multidões, em meio a aplausos? Não seja tão fútil em sua imaginação. Avalie o preço; e, se você não estiver disposto a carregar a cruz de Cristo, volte à sua fazenda, ao seu negócio e tire deles o máximo que puder, mas, permita-me sussurrar em seus ouvidos: “Que aproveitaria ao homem ganhar o mundo inteiro e perder sua alma?” Charles Haddon Spurgeon
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AGRADECIMENTOS
Ao Deus Todo Poderoso, o Pai, Criador de todas as coisas, o Filho, Redentor e Senhor nosso, e o Espírito Santo, Consolador e Santificador da Igreja. Glória e honra para todo o sempre! À Lidiane Roberta Leal Zilochi, minha amada companheira, mulher da minha aliança (Malaquias 2:14) pela compreensão nos momentos de ausência. Aos meus familiares pelo apoio, incentivo e confiança. Sérgio Henrique Zilochi Soares
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SUMÁRIO Introdução...........................................................................9 Capítulo 1 Pequenas Igrejas, grandes negócios................................11 Capítulo 2 A Teologia da era pós-moderna........................................21 Capítulo 3 O Pragmatismo e sua origem...........................................31 Capítulo 4 O Individualismo Religioso ..............................................39 Capítulo 5 Pluralismo e a religião......................................................47 Capítulo 6 O Relativismo Religioso....................................................55 Capítulo 7 Como ser um verdadeiro cristão na pós-modernidade....65 Capítulo 8 Sobre esta pedra edificarei minha empresa.....................69 Capítulo 9 As doenças psicossomáticas dentro da Igreja.................81 Capítulo 10 Teologia da Prosperidade: uma barganha com Deus? ...93 Considerações Finais.....................................................109 Referências Bibliográficas...............................................112 7
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INTRODUÇÃO Escrever este livro é a realização de um sonho que Deus possibilitou concretizar-se. Ser este livro utilizado para a edificação da Igreja de Cristo é obra do Espírito Santo. Foram muitas as vezes em que questionei o atual modelo de Igreja Protestante no Brasil. Não raras vezes me vi em meio a debates calorosos com alguns irmãos em virtude do atual sistema que tem governado as Igrejas que se denominam evangélicas. Atualmente vejo uma decadência no púlpito cristão que tem se tornado um verdadeiro “Show da Fé”. Muita histeria, muita animação e até muitas pessoas nas Igrejas, mas falta muito conhecimento da Palavra de Deus. Nossos atuais líderes estão dirigindo suas Igrejas pensando em quantidade de membros. Uma Igreja tem sido considerada bem sucedida quando há um grande número de pessoas inscritas em seu rol de membros. Partindo dessa premissa, vemos que para esses “lobos” vale tudo. Quando digo tudo é porque não sei mais o que pode surpreender-me nesse atual modelo. Os atuais “pastores evangélicos” aderiram de forma escancarada o pragmatismo. Seria injusto se deixasse descrito aqui de forma genérica, bem sabemos que o Senhor guarda remanescentes e, felizmente, ainda existem poucos líderes comprometidos com o genuíno evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo. Precisamos, urgentemente, de uma reforma em nossas Igrejas. Uma reforma na maneira de pensar dos nossos líderes. Uma reforma radical para que as pessoas possam conhecer o verdadeiro evangelho de Cristo. Nesse novo modelo precisamos valorizar o ensino das Sagradas Escrituras 9
erradicando o sensacionalismo, a falsidade e o pragmatismo. Nosso culto precisa voltar a ser um culto racional, que ensine as pessoas a pensarem e não simplesmente repetirem o que escutam. Nesses últimos dias o Senhor tem tocado, ardentemente, em meu coração e não foram poucas as lutas enfrentadas para expor nesta obra como está falido o nosso atual modelo de gestão de Igrejas e propor uma reforma dentro da Igreja Evangélica Brasileira. Que Deus lhe abençoe e que o Espírito do Senhor possa falar ao seu coração produzindo frutos para a obra do nosso Salvador Jesus Cristo. Amém.
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Capítulo 1 Pequenas Igrejas, grandes negócios Gostaria de iniciar o primeiro capítulo desta obra falando um pouco sobre o que vem acontecendo em muitas de nossas Igrejas Evangélicas. Acredito que grandemente influenciado por Charles Haddon Spurgeon e sentindo o mesmo que ele sentia em sua época vejo, cada vez mais, a Igreja afastando-se da pureza e fidelidade do evangelho. Hoje ser chamado de crente é moda! Hoje ser chamado de cristão é status. Hoje dizer que é evangélico é muito bacana. Há quem diga que isso é bom. Há quem diga que isso é por causa da expansão do evangelho na Terra. Contudo, acredito que isso é como uma erva daninha que se espalhou sobre a relva verde. Cada vez mais vemos portas abertas dizendo que estão anunciando o evangelho. Permitam-me usar essa expressão, mas, cada vez mais, vejo “bitacas” sendo abertas anunciando uma história a respeito de Deus que afastam as pessoas da presença do Senhor. Vemos nos dias atuais o nascimento e crescimento de uma igreja, no entanto, não é da Igreja de Cristo. Os templos estão mais repletos de carentes do que de crentes. O que estou tentando dizer é que as pessoas estão aproximando-se de Deus, ou pelo menos querendo isso, em busca de satisfação para seus desejos e necessidades. Pessoas mais interessadas nos “benefícios” que esse falso evangelho pode dar. Procuram o gênio da lâmpada para resolverem seus problemas e atenderem seus pedidos, mas, 11
não o Deus que perdoa os seus pecados e os conduz à vida eterna. E temos visto que para isso vale tudo. Como John Macarthur Jr. retrata em sua obra Com Vergonha do Evangelho, o pragmatismo tomou conta da maioria das Igrejas. Para muitos líderes que se intitulam pastores a quantidade de pessoas que frequentam suas reuniões é o principal critério para avaliar o sucesso de seu “ministério”. E como já disse, para superlotarem suas Igrejas vale tudo. E quando digo tudo, significa que é até mesmo abrir mão do genuíno evangelho para arrastar multidões. A globalização, o materialismo e a insensibilidade que estão dominando este século têm ajudado, cada vez mais, esses “pregadores de rosas”. Nesses dias há um fortalecimento das superstições evangélicas: fogueiras santas, água do rio Jordão, rosas do amor, um óleo de unção para cada tipo de problema, areia do deserto onde Jesus caminhou e a relação segue extensa. Como dizia um grande amigo, só falta agora lasquinha da cruz de Cristo! O que mais vemos são crianças buscando satisfação para seus caprichosos desejos infantis do que homens e mulheres de fé ansiosas por amadurecer espiritualmente, conhecer a perfeita e agradável vontade do Senhor para aplicá-la de maneira eficaz no seu viver diário. Assim, encontramos uma combinação perfeita. As pessoas em vez de aprenderem a andar querem continuar engatinhando. No lugar de uma comida sólida para alimentarem seu espírito, preferem uma doce papinha para satisfazerem seus desejos. E em vez de autênticos pastores para liderá-las no caminho da verdade, exortando-as caso necessário, preferem babás para que sejam carregadas no colo e cobertas de carícias. Que quadro alarmante! De um lado pessoas cheias de carências e desejos, do outro líderes, que se intitulam pastores, vazios de caráter e temor a Deus. Por isso vemos crentes, que mais parecem ser sadomasoquistas, 12
sendo facilmente manipulados por homens de bom discurso e influente oratória. Dessa forma, as pequenas igrejas tornam-se grandes negócios nas mãos de inescrupulosos manipuladores do seu evangelho particular. “Coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra: os profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes dominam de mãos dadas com eles; e é o que deseja o meu povo. Porém que fareis quando estas coisas chegarem ao seu fim?” (Jr 5.30-31). É de espantar como os líderes cristãos de hoje assemelham-se em demasia aos antigos profetas e sacerdotes de Judá. Quando leio esta passagem do livro de Jeremias o mesmo sentimento se abate sobre mim. Coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra! Homens que perderam completamente o temor em nosso Deus estão transformando os púlpitos cristãos em espetáculos sensacionalistas para arrastarem e arrancarem dinheiro de multidões. Coisa espantosa e horrenda! Pessoas que ocupam lugares de destaque nas Igrejas profetizando de tudo, menos a Palavra do Senhor. Abrem suas bocas imundas para proferirem falácias e iludirem o povo sob o pretexto de ser Palavra de Deus. Líderes unindo forças e traçando estratégias para melhor convencer as pessoas e arrancarlhes dinheiro. E o grande problema é que é disso que o povo gosta. O povo não deseja ouvir pregações bíblicas, porque elas são como um espelho que refletem a imundícia de seu caráter corrompido. As multidões querem ouvir o que desejam, principalmente as pregações em que dizem que elas prosperarão. Fiquei certa vez estarrecido com as palavras de uma irmã que jamais saíram da minha mente: “Os pastores têm que andar é de carros novos, senão como vão pregar sobre prosperidade.” Ficaria feliz se eles pregassem somente sobre salvação e mordomia cristã. Hoje os pregadores não se preocupam em orar e jejuar pedindo a 13
Deus que lhes revele uma mensagem. Pelo contrário, procuram dar aquilo que o povo deseja. Centenas de pastores têm seguido fielmente esta nova teoria, chegando a fazer pesquisas para saber o que as pessoas desejam para permanecerem na Igreja. Eu não quero que meu pastor faça minhas vontades, desejo que ele pregue o que eu preciso para melhorar como cristão e aproximar-me de Deus, mesmo que isso possa doer. Analisando os sermões que atualmente estão sendo pregados em nossos púlpitos, percebem-se alguns traços em comum. O primeiro deles é um distanciamento da Bíblia. O pregador quando utiliza a Bíblia é só no começo para ler o texto base. Depois se afasta por completo do texto lido e começa a contar um amontoado de histórias para sensibilizar a multidão. Quem nunca viu isso? A partir de então percebemos uma nova característica marcante, um ambiente repleto de shows e magia. O pregador tornase um apresentador nato, colocando no bolso os famosos da televisão. Pula, corre e grita, tudo para chamar a atenção do público. Os espectadores são envolvidos naquela magia e facilmente enganados por causa de sua anorexia bíblica. O crescimento assustador dessas Igrejas contribui ainda mais para o modelo de gestão utilizado pelos gerentes, não me permito chamá-los de pastores. Vemos a inexistência de uma comunidade como a relatada em Atos 2:42 – “ E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum.” Pessoas que professam ter a Bíblia como regra de fé e prática ignoram-na completamente. Nessas mega-igrejas não encontramos comunhão entre os irmãos. Afinal, nem os pastores sabem quem são seus membros. Como 14
ele poderá ir atrás de uma ovelha que se desgarra do seu rebanho se ele nem a conhece? As pessoas sentam-se umas do lado das outras e mal se cumprimentam. Cada dia sentam-se em lugares diferentes próximas a pessoas diferentes. Inexiste uma comunidade coesa naquele local, não há uma relação de afeto que gere comunhão entre os membros. Estão longe de permanecerem juntos e terem algo em comum. Para os membros destas igrejas gostaria de dar-lhes outro nome: meros frequentadores. Consideroos como se fossem clientes numa relação com a empresa, melhor nome a ser dado para estas igrejas. Esse ajuntamento de interessados no mesmo local facilita as características empresariais de prestação de serviços e oferta de bens religiosos mediante uma contraprestação pecuniária. Os frequentadores querem apenas a obtenção imediata de favores sagrados que são oferecidos por esses gerentes de coração sem escrúpulos e vazios da presença de Cristo. Esse modelo gerencial não identifica as igrejas com os ideais do reino celestial. São apenas creches, pois nela somente há crianças espirituais, refletindo o ideal da Terra do Nunca do desenho Peter Pan, onde as crianças nunca crescem. E para que crescer? Seria muito mais difícil manipular pessoas maduras que verdadeiramente conhecem a genuína Palavra de Deus e não negociam sua fé. Permanecem todos como crianças e sempre perdidos em uma terra, que jamais será o Reino de Deus. A pregação do evangelho na atualidade virou um negócio altamente rentável e o melhor: é livre de impostos. Cobram-se ingressos para tudo! O pregador vai até algum lugar levar uma mensagem e no final você pode adquirir os DVD’s, livros, medalhinhas, marcadores de Bíblia (exclusivas, com a foto dele). O maior absurdo presenciei um dia em um programa de televisão; o rapaz (intitulava-se pastor) que apresentava, anunciava a distribuição de pedaços de tapete ungido e ele mencionava: “Não é qualquer tapete, é o tapete que utilizo em minhas orações no monte.” Nossa! 15
Fiquei simplesmente admirado com a ousadia desse cidadão. Os frequentadores desses shows e teatros fantasiosos estão cada vez mais distantes de Cristo. Vejo, atualmente, que as pessoas estão aplicando valores de idolatria em sua espiritualidade. Relacionam-se com Deus de forma manipuladora, utilitária e egocêntrica. Apenas usam Deus com o objetivo de satisfazerem seus desejos. Servem a Deus com um coração idólatra tornando aquele que deve ser o centro apenas como meio. Aquele que deveria ser visto como o princípio e o fim é visto apenas como um trampolim para realização de seus desejos e ambições. A idolatria evangélica é pior e a mais contundente de todas, isso porque as motivações para buscar a Deus são centradas no homem. Por isso, acabam reduzindo Deus a uma posição inferior: à função de fazer todos felizes. As pessoas servem a Deus com um coração idólatra quando o procuram querendo o próprio bem estar. E quando algo dá errado em suas vidas advinha quem é o culpado? Deus. Deus se torna um ídolo quando Ele transforma-se apenas num passaporte para o céu e um escape do inferno. Aceitam as bênçãos de Deus, contudo, rejeitam as provações e correções do Senhor para burilar o caráter. Querem apenas viver o evangelho ligth. Se realmente queremos ser chamados de cristãos, temos como obrigação precípua discernir o certo do errado e não nos calarmos. Gosto muito de uma frase de Marthin Luter King: “O que me preocupa não é o barulho dos maus, mas o silencio dos bons”. Os verdadeiros cristãos não podem se calar diante de todas essas obras realizadas por falsos seguidores de Cristo. Não podemos aceitar que eles fiquem mercadejando o Senhor e levando cada vez mais almas para o inferno. Lembro que um grande professor de seminário, constantemente, em suas aulas falava que éramos a última trincheira e não poderíamos deixar passar por nós certas 16
heresias. Está faltando em nossa geração mais pessoas como João Batista, que não aceitam o erro e denunciam o pecado, mesmo que isso custe a nossa cabeça. Se não tornarmos clara nossa posição, com palavras e obras em favor da verdade e contra as falsas doutrinas, estaremos edificando um muro entre o falso e o verdadeiro evangelho. “Se alguém ensina alguma coisa que não se encaixa com as palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, é orgulhoso, e nada sabe, mas delira acerca de questões e se confunde com as palavras. Essa confusão é causada por homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, imaginando que a fé seja um meio de se obter lucro; aparta-te dos tais”. (I Timóteo 6:3,4,5) Atualmente, o que mais vemos são homens corruptos de entendimento procurando meios de se obter lucro através da fé. O grande problema é que a fé tem se tornado, cada vez mais, um comércio altamente rentável. Os líderes têm desviado o foco das verdades bíblicas para verdadeiras sessões de entretenimento. As músicas tocadas em nossos cultos cada vez menos falam de Cristo e cada vez mais falam de prosperidade e felicidade. O verdadeiro louvor a Deus toca em nosso espírito nos levando a adorar o Santíssimo com temor e reverência. As músicas tocadas hoje revelam um relacionamento horizontal entre os homens e não um relacionamento vertical, entre Deus e os homens. O grande problema é que a trincheira que deveria impedir esse ataque de Satanás nas Igrejas está desativada. Os líderes deveriam instruir e impedir todo esse sensacionalismo gospel, contudo, querem obter maior popularidade porque o sucesso de seu ministério não está ligado à Palavra de Deus e sim ao grande número de seguidores. Quanto mais desviado da Palavra se torna um pastor, mais ele se volta para o evangelho de entretenimento, de práticas pragmáticas para trazer as multidões e aumentar as arrecadações. Confiam em números e nas finanças para julgar o próprio sucesso. Nas Sagradas Es17
crituras, o sucesso jamais foi um objetivo louvável a ser seguido. O verdadeiro sucesso não é a prosperidade, poder, proeminência, popularidade ou qualquer outro conceito mundano de sucesso. Sucesso genuíno é fazer a vontade de Deus apesar das consequências.1 Albert Einstein disse uma frase interessante: “Não tentes ser bem sucedido, tenta antes ser um homem de valor.” O nosso grande problema é que muitos procuram apenas serem reconhecidos e para isso abrem mão até de sua salvação eterna. Abrem mão do genuíno evangelho do Reino para satisfazerem suas próprias vontades mundanas. As lideranças eclesiásticas vêm adotando um modelo empresarial e prestando serviços religiosos mediante remuneração. Algumas Igrejas vêm tornando-se verdadeiras empresas econômicas tendo a religião como excelente fonte de lucro para enriquecimento dos seus dirigentes. Se me permitem fazer um trocadilho, para esses empresários “Templo é dinheiro”. Vemos uma incrível formação de quadrilha escondendo-se por trás da religiosidade para extorquir os fiéis. Esses bandidos acharam uma mina de ouro, visto que a extorsão praticada por eles reveste-se de legalidade, ou seja, são amparados pela nossa Constituição Federal como direito e garantia fundamental. (art. 5º, VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias) A Igreja tem sido usada para institucionalizar as ambições mundanas de seus dirigentes. Há um completo desinteresse em fazer com que a Igreja cumpra com seu propósito bíblico em virtude da influência dos atrativos ter1 MACARTHUR JR, John F. Com Vergonha do Evangelho. Traduzido por Eros Pasquini. Editora Fiel, 2004. 2ª Edição. Pag. 26.
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renos. Hoje vemos uma enorme proliferação das igrejas que se autodenominam cristãs, contudo, a espiritualidade de seus membros reflete um completo desconhecimento do verdadeiro Cristo e denotam uma atividade unicamente social. Não é preciso procurar muito para encontrar igrejas como essas, que levantam a bandeira da solução de problemas pessoais, principalmente os financeiros, desprezando o conhecimento sobre a natureza divina.
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Capítulo 2 A Teologia da era pós-moderna O termo pós-modernismo foi usado pela primeira vez na década de 30 referindo-se como uma reação dentro do modernismo.2 Provavelmente, esse termo foi cunhado e empregado nesse momento histórico para referir-se a uma importante transição que já estava em andamento. O domínio ocidental estava chegando ao fim sendo que o individualismo, o capitalismo e o cristianismo entravam em declínio. Houve um grande desvio da sociedade, da irracionalidade para o relativismo. Quaisquer que sejam os outros significados que se possam atribuir ao pós-modernismo, conforme indica o termo, sua significação relaciona-se com o deslocamento para além do modernismo. Ele implica, especialmente, uma rejeição da atitude mental moderna, embora tenha sido lançado no âmbito da modernidade. Portanto, para entender o pensamento pós-moderno é preciso vê-lo no contexto do mundo moderno que o deu à luz, e ao qual ele se opõe. O pós-modernismo somente ganhou atenção generalizada por volta da década de 60. Primeiramente, denotava um novo estilo de arquitetura. Em seguida, invadiu os círculos acadêmicos, primeiramente, como um rótulo para as teorias expostas nos departamentos de Inglês e de Filosofia das universidades. Por fim, tornou-se de uso público para designar um fenômeno cultural mais amplo. Até mesmo teólogos como Thomas J. J. Altizer e Willian Hamilton invocaram as teorias de Nietzsche para procla2 JENKS, What is post-modernism? 3ª Ed. (New York, St. Martin’s Press, 1989, p.08)
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mar a morte de Deus.3 O anúncio de Nietzsche, segundo o qual “Deus morreu, não é tanto, ou, principalmente, uma afirmação de ateísmo, como se ele estivesse dizendo: Deus não existe. Uma tese do gênero, a não -existência de Deus, não poderia ter sido professada por Nietzsche, pois do contrário a pretensa verdade absoluta que esta encerraria ainda valeria para ele como um princípio metafísico, como uma “estrutura” verdadeira do real que teria a mesma função do Deus da metafísica tradicional (VATTIMO, Gianni. O fim da Modernidade: niilismo e hermenêutica na cultura pós-moderna. São Paulo: Martins Fontes, 2002.)
Entre as décadas de 60 e 90 o pós-modernismo ganhou força como um grande fenômeno cultural. Os estudiosos chegam a referir-lhe como uma tempestade pós-moderna que se estendeu sobre vários aspectos da cultura, sobre várias disciplinas acadêmicas e acabou por influenciar de forma significativa a arquitetura, a literatura, o cinema e a filosofia.4 Os historiadores descrevem a era moderna como “era industrial” em virtude de ser um período em que predominou a manufatura, concentrada na produção de bens. Uma era marcada pela sociedade industrial, cujo símbolo era a fábrica. Já a era pós-moderna é caracterizada pela produção de informações. É a transição de uma sociedade industrial para uma sociedade de informações, cujo símbolo 3 Thomas J. J. Altizer e Willian Hamilton, Radical Theology and the death of God. Indianápolis 1961 4 CONNOR, Postmodernist culture, p. 06
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é o computador.5 Antigamente o tempo para circulação das informações atinha-se à velocidade do deslocamento dos seres humanos, contudo, hoje as informações atravessam o planeta na velocidade da luz. Um dos maiores pensadores do pós-modernismo, Michel Foucault, rejeita a pretensão ao conhecimento idealizada no Iluminismo. Seu objetivo era exorcizar o espírito do ideal Iluminista de uma vez por todas. Focault pretende que eruditos abandonem toda pretensão à neutralidade e aceitem o fato de que sua tarefa irá trazer luz ao sistema de pensamento sem autor, sem sujeito e anônimo. Dessa forma, o crítico pós moderno seria liberto da fé na racionalidade.6 Na linha de pensamento de Foucalt, existe uma suspeita generalizada a respeito do conhecimento como fonte e uso de poder. A teologia não se isenta dessa desconfiança, sobretudo quando aparece em defesa da instituição eclesiástica. A vinculação do pensamento teológico com a Igreja não pode corrompê-lo, caso isso ocorra, haverá uma distorção ideológica da verdade. A lealdade, a liberdade, a transparência na proposição da verdade devem estar acima da suspeita de servilismo, proselitismo e apologetismo militante. São exigências incontornáveis da teologia numa era pós-moderna. Uma das formas de demonstrar esse perigoso pensamento é retratado no cinema. Os filmes pós-modernos apresentam roteiros que tratam a ficção com a mesma seriedade que o real, misturam fragmentos históricos especulativos tratando-os como historicamente exatos, dão um ar de documentário a histórias totalmente fictícias. Habitar numa sociedade pós-moderna é semelhante a viver histó5 GRENZ, Stanley J. Pós- Modernismo: Um guia para entender a Filosofia do nosso tempo. Tradução Antivan Guimarães Mendes. São Paulo. Vida Nova, 1997, p. 37. 6 LAWSON, “Stories about stories”, p. 23.
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rias de cinema, onde se fundem a verdade e a ficção.7 Já a televisão é inumeramente mais poderosa que o cinema no tocante à disseminação dos ideais pósmodernos. Os noticiários de horário nobre atraem e asseguram a alta audiência enfatizando temas como sexo, violência e escândalos. Logo após são transmitidas as novelas com situações que parecem ter o mesmo peso dos noticiários. Dessa forma, a televisão estreita a fronteira entre a verdade e a ficção. Esse espírito pós-moderno tem invadido as famílias cristãs, sendo que os jovens e adultos estão encarando com a maior naturalidade a nova cultura. Inúmeros canais com entretenimentos cada vez mais vazios de Deus e cada vez mais próximos do erotismo, sensualidade, desvalorização da mulher (apesar de haver uma grande luta pela igualdade) e desvalorização da família. As novelas têm tratado a infidelidade conjugal como uma coisa super natural e esse mundo de faz de contas apresentado na televisão está, cada vez mais, fundindo-se com a vida dos cristãos. Essa cultura televisiva cria uma sociedade do espetáculo em que os desejos das pessoas são inseridos na comunicação de massa. Em relação a este pensamento Debord faz a seguinte afirmação: [...] quanto mais ele (homem) contempla, menos vive; quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos compreende sua própria existência e seu próprio desejo [...]. É por isso que o espectador não se sente em casa em lugar algum, pois o espetáculo está em toda parte.8 7 GRENZ, Stanley J. Pós- Modernismo: Um guia para entender a Filosofia do nosso tempo. Tradução Antivan Guimarães Mendes. São Paulo. Vida Nova, 1997, p. 59 8 DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto. 1997, p. 24. 24
A ruptura da modernidade para o mundo desconhecido da pós-modernidade traz sérias implicações para os que procuram ser discípulos de Cristo nesse novo contexto cultural. Não quero dizer que devemos ficar estagnados no tempo, mas, como cristãos devemos ordenar o nosso pensamento de acordo com as Sagradas Escrituras para que possamos apresentar o genuíno evangelho a essa nova geração. Por este motivo que Jean François Lyotard descreve a pós-modernidade como uma cultura eivada de parcialidade, superficialidade e provisoriedade. Os princípios e as fundações já não são mais representações bem definidas e solidificadas, pois o padrão não é mais singular e sim plural, múltiplo.9 A sociedade pós-moderna é a sociedade em que reina a indiferença de massa, em que domina o sentimento de saciedade e de estagnação, em que a autonomia privada é óbvia, em que o novo é acolhido do mesmo modo que o antigo, em que a inovação se banalizou, em que o futuro deixou de ser assimilado a um progresso inelutável. A sociedade moderna era conquistadora, crente no futuro, na ciência e na técnica: instituise em ruptura com as hierarquias de sangue e a soberania sacralizada, com as tradições e os particularismos, em nome do universal, da razão e da revolução. Esse tempo torna-se frágil diante de nossos olhos... A confiança e fé no futuro dissolvem-se, no amanhã radioso da revolução e do progresso já ninguém acredita, doravante o que se quer é viver 9 LYOTARD, Jean-François. A Condição Pós-Moderna. Rio de Janeiro: José Olympio Editora. 2004, p. 16.
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já, aqui e agora, ser-se jovem em vez de forjar o homem novo...; já nenhuma ideologia política é capaz de inflamar multidões, a sociedade pós-moderna já não tem ídolos nem tabus, já não possui qualquer imagem gloriosa de si própria ou projeto histórico mobilizador.10
Existe uma forte tendência, ligada à pós-modernidade, que se manifesta num sistema religioso, de fronteiras mal definidas, numa pluralidade de teologias; algumas abertas, outras bem fechadas e institucionalizadas que legitimam apenas a própria tradição denominacional. Existe um sentimento separatista nas igrejas, que se denominam cristãs, isto porque apregoam um corporativismo denominacional que leva a uma competição entre elas ao invés de unirem forças para levar a luz do evangelho. A pós-modernidade tem contribuído para a criação de seres autônomos e livres diante de Deus, entretanto, incapazes de resolverem seus problemas humanos e mundanos. A mente pós-moderna rejeita a razão trazida pelo Iluminismo e afirma que não existe no mundo uma verdade absoluta e sim pontos de vista e perspectivas distintas, pois existem outros caminhos considerados válidos para o conhecimento, tais como as emoções e as intuições. Esse relativismo religioso é uma das principais características da teologia pós-moderna. Partindo desse falacioso pressuposto de que o conhecimento é relativo, não existe mais aquela preocupação apologética de provar que determinados ensinamentos estão errados. No relativismo toda explicação trata-se de uma construção válida, LIPOVETSKY, G. A Era do Vazio: Ensaio sobre o Individualismo Contemporâneo, 1989, p. 11. 26 10
pois não existe um conhecimento universal que possa ser concebido por mente humana ou por revelações sobrenaturais. Essa crise de conhecimento enfraquece a razão, enfatiza a emoção e a busca de um prazer momentâneo. Nessa linha de pensamento Gondim explica: O saber não mais significa um esforço mental; as informações chegam, passam pela razão, são decodificadas pelo efeito que produzem nas emoções e logo são descartadas para abrir espaço a novas informações. Na igreja, ao contrário do que acontecia na Reforma Protestante, não se vê mais interesse pela verdade; mas nas emoções que a verdade possa produzir. Aliás, o interesse hoje, já nem é se o que ouviram foi verdadeiro. O importante é o que sentiu. Ninguém quer pensar. Todos querem sentir.11
Na pós-modernidade o evangelho torna-se pósracionalista, sendo que o correto não é mais enfatizar as proposições doutrinárias e apresentar o conteúdo central da fé cristã, mas as experiências e sensações que a vida religiosa proporciona.12 Como os atuais cristãos conhecem superficialmente as Sagradas Escrituras, mais do que qualquer outra coisa, é fácil implementar a consciência profético-doutrinária da denominação. Não há quem os questione, nem pessoas com argumentos suficientes para combatê-las e quando aparecem são, rapidamente, excluídas desse meio. O estudo expositivo e doutrinário da 11 GONDIM, Ricardo. Fim do milênio: os perigos e desafios da pós-modernidade na Igreja. São Paulo, SP: Abba Press, 1996. 12 LYOTARD, Jean-François. A Condição Pós-Moderna. Rio de Janeiro: José Olympio Editora. 2004, p. 247.
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Bíblia tem sido substituído por uma leitura existencialista, com a finalidade de alimentar um relacionamento místico e subjetivo com Jesus Cristo.13 A Teologia Cristã é um ramo da ciência que necessita de envolvimento da fé, mas também consiste numa reflexão crítica dessa fé compreendida em sua totalidade histórica. Como ramo científico, a teologia é uma disciplina bem organizada, sistematizada, metódica e com um rigor que lhe confere credibilidade teórica, entretanto, não despreza a experiência histórica do ser humano, estudada através de seus conflitos e contradições que proporcionam a emergência de novas abordagens. Nesse diapasão, a teologia cristã nunca deixará de ser contemporânea de um determinado período histórico, mas, em todas as épocas deve constituir-se numa palavra de vida, cortante e eficaz. “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito, e de juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.” Hebreus 4:12
Por excelência, o centro da teologia cristã é a revelação de Deus realizada de forma plena em nosso Senhor Jesus Cristo. Essa revelação deve ser transmitida pela Igreja através da vida dos verdadeiros cristãos. Para que a nossa teologia seja eficaz no mundo pós-moderno, torna-se indispensável que os cristãos enveredem-se pelo caminho da hermenêutica, especialmente, na teologia bíblica e dogmática. A correta interpretação das 13 Timm, Alberto. “Podemos ainda ser considerados o povo da Bíblia?”. In: Revista Adventista, junho/2001, Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, SP, p. 1416.
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escrituras é o caminho primordial para a verdadeira revelação de Cristo aos incrédulos e pensadores pós-modernos que relativizam a verdade. No mundo pós-moderno há uma ausência de princípios e valores claros; tudo é relativo. Os referenciais estão cada vez mais flexíveis e os fundamentos da vida cristã mais fracos. Nessa linha Veith assinala: “Os modernistas creem em determinância, os pós-modernistas creem em indeterminância. Onde o modernismo dá ênfase à finalidade e ao projeto, o pósmodernismo enfatiza o jogo e o acaso. O modernismo estabelece uma hierarquia, o pós-modernismo cultiva a anarquia. O modernismo valoriza o tipo; o pós-modernismo valoriza o mutante. O modernismo busca o logos, o significado subjacente ao universo expresso na linguagem. O pós-modernismo, por outro lado, acolhe o silêncio, rejeitando os dois, o significado e a Palavra.” 14
Esse irracionalismo pós-moderno estabelece uma debilidade nas pessoas em combater as heresias que, facilmente, estão entrando nas igrejas sem que haja alguém que as combatam. As heresias modernistas caíram, mas agora heresias pós-modernas as substituem. O racionalismo, tendo fracassado, cede lugar ao irracionalismo – e ambos são hostis à revelação de Deus, ainda que de maneiras diferentes. Os modernistas não criam que a Bíblia fosse verdadeira. Os pós-modernistas lançaram fora completamente a categoria de verdade. Fazendo isso, já abriram uma cai14 VEITH, Jr, Gene Edward. Tempos Pós-Modernos. p. 36-37.
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xa de Pandora de religiões da Nova Era, sincretismo e caos moral.15
No ideal pós-moderno a Igreja perdeu a sua grande influência que exercia na vida das pessoas em virtude do crescimento da autonomia individual. Não podemos deixar as pessoas viverem sob o forte impacto que a cultura pósmoderna provoca na fé, mas colocar essa cultura sob o impacto da fé. O religioso pós-moderno acredita de uma maneira, quase que absoluta, que deve experimentar as mais variadas formas de vida e vivê-las como se essa fosse uma realidade absoluta. O grande perigo dessa prática religiosa é que, na maioria das vezes, tornar-se mística, esotérica, individualista, sem comprometimento com o próximo, imediatista e meramente naturalista. O que se vê, atualmente, é uma fé antropocentralizada, por conseguinte, com uma visão individualista. Esse individualismo religioso torna o homem pós-moderno cada vez menos ideológico, e transforma-o num ser cada vez mais utilitarista e pragmático. Uma das principais consequências da forma de pensar é a substituição do objetivismo racional pelo subjetivismo relativo. Em vez de fundamentos e de metanarrativas, defende-se o conhecimento “contextual”, “pragmático”, “funcional” e “relativista”. Através dessa visão, fica muito fácil de se entender por que os pós-modernos preferem pelo pluralismo e o relativismo, pois a verdade passa a ser determinada por tudo que tornase vantajoso para se crer.
15 Ibid., p. 186.
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Capítulo 3 O Pragmatismo e sua origem Etimologicamente a palavra pragmática originase do grego pragmatikós que significa aquele que tem motivações relacionadas com a ação ou a eficiência. A origem do pragmatismo vem do norte americano Charles Sanders Peirce, contudo, esse filósofo não era um escritor sistemático e não expôs suas ideias num único sistema. Pierce desenvolveu um método pragmático aplicável apenas de maneira estreita e limitada.16 Posteriormente Willian James juntamente com John Dewey e George Santayana estenderam o estudo de Pierce. O termo pragmático tem origem em estudos de Kant nos quais ele distingue o pragmático do prático. Para ele prático aplica-se às leis morais e pragmático aplica-se às regras de técnica e arte que são baseadas na experiência.17 O pragmatismo está diretamente ligado à experiência que funciona. O pragmatismo não busca a verdade e sim o resultado. Sua concepção de correto está relacionada com as conseqüências práticas. Para os pragmatistas a verdade está baseada no que funciona com sucesso. As academias filosóficas do pré-modernismo e modernismo buscavam a verdade objetiva através da pesquisa. Esse mundo acadêmico tradicional preocupava-se com a busca da verdade, contudo, os pós-modernistas 16 O Desenvolvimento do Pragmatismo Americano. John Dewey – Tradução: Cassiano Terra Rodrigues. Cognitio-Estudos. São Paulo, Volume 5, número 2, Julho- dezembro, 2008, p.119-132. 17 Kant,Immanuel, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, SP, Editora Abril, Col. Os Pensadores, 1973.
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insurgem-se contra este modelo até então vigente. Estes procuram fazer o que é, de certa forma, politicamente correto, ou seja, não se importam se esse politicamente correto tem a ver com a verdade. É a experiência que funciona que deve ser utilizada como melhor meio. Para os pragmatistas a verdade é definida por aquilo que é útil, apresenta resultados relevantes e benéficos. Toda essa teoria pode ser entendida até certo ponto de forma positiva, contudo, quando estamos diante de formularmos juízos sobre a verdade, teologicamente falando, o pragmatismo colide veementemente com as Sagradas Escrituras. A verdade Bíblica não pode, em hipótese alguma, ser avaliada sob o ponto de vista: o que funciona está correto. Nossa religião não pode ser pragmática. Essa mentalidade pós-moderna, infelizmente, tem atingido as nossas igrejas. Para podermos combater esse mal que se instalou nas Igrejas é importante saber como ele chegou até nós. Com a intensa evolução tecnológica, o corre-corre do dia a dia das pessoas, a grande perda de valores éticos da nossa sociedade, entre vários outros fatores intervenientes causados por este mundo pós-moderno, houve uma grande perda do afeto, do amor, da amizade. Hoje não se vê famílias reunindo-se à mesa, onde os pais exercem influência sobre a vida dos filhos. Hoje, cresce cada vez mais, o número de jovens que ficam o dia inteiro frente a computadores e vídeo games. As amizades de hoje são amizades virtuais. Tudo isso vem causando um grande endurecimento no coração das pessoas, falta de afeto e falta de um viver significativo. Devido a todos esses fatores, os homens têm se esvaziado de valores como comunhão e caridade. Assim o homem tem cultuado a Deus de maneira secundária e utilitarista. As pessoas hoje procuram a Deus condicionado a receber algo de forma imediata em que vale tudo para receber a “bênção”. 32
Esse quadro atual tem feito com que os dirigentes de igrejas procurem os “melhores” meios para atraírem essa população carente e vazia. As práticas pragmáticas têm surtido grande efeito, pois os fins estão justificando os meios. A verdade Bíblica tem sido deixada para segundo plano desde então. Este pragmatismo do pós-modernismo ensinado nas universidades é refletido nas questões teológicas e práticas da Igreja. As pessoas não estão preocupadas com a verdade na Igreja, mas, se os resultados aparecem. Muitos ministros têm sacrificado a verdade em nome da performance, em benefício dos resultados. Funciona? Então, o método é aplicado.18 Um dos grandes responsáveis em transferir o pragmatismo da esfera secular para a esfera religiosa foi William James. Ele era filho de um pastor, tornou-se pastor e professor da Universidade de Harward. Ele ensinava da seguinte forma: “Faça a seguinte pergunta: Como é que você define que determinada verdade é o que você deve crer? A resposta é que você tem que determinar o seu valor em termos de experiência e resultado”. Então, com princípios pragmáticos, analisava a doutrina de Deus da seguinte forma: “Se a doutrina de Deus funciona, então é verdade. O pragmatismo tem que adiar questões dogmáticas, porque no começo nós não sabemos qual reivindicação doutrinária vai produzir resultado”.19 Ora, quando tratamos do Evangelho do Reino não podemos avaliar a verdade sob a ótica da política de resultados. No momento em que Jesus ensinava alguns dos seus discípulos, estes disseram-lhe que seu discurso era duro, difícil de se ouvir e abandonaram-lhe. Então Jesus pergunta aos doze se eles também não queriam ir 18 CAMPOS, Heber Carlos de. O Pluralismo do Pós-Modernismo. Revista Fides Reformata 2/1, 1997. 19 HORTON, Michael. Pragmatismo Religioso. Publicado em: “O Presbiteriano Conservador na edição de maio/junho de 1997.
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embora, contudo, Pedro responde de maneira maravilhosa: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna; e nós temos crido e conhecido que tu és Santo de Deus.” (João 6:60-69) Sob a ótica pragmática Jesus estaria afastado da verdade. Aquele seu discurso teria afastado mais do que aproximado as pessoas d’Ele. Caso hoje ocorresse um discurso em nossas igrejas, semelhante ao de Cristo, no qual a maioria abandona a presença do orador pela dureza das palavras e permanecem poucos acreditando serem aquelas palavras como sendo de vida eterna, muitos avaliariam como um discurso mal sucedido. Bem disse o Apóstolo Paulo sobre os últimos dias ao orientar seu filho na fé, Timóteo. Conjuro-te, pois, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino, que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina. Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas. Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério. ( 2 Timóteo 4:1-5) Muitas pessoas do mundo pós-moderno não suportam mais a sã doutrina. Ela é como um verdadeiro espelho que mostra a imundícia de nosso caráter corrompido pelo pecado. Hoje as pessoas não aceitam mais que são pecadoras, que não passam de pó e cinza diante do nosso Santo Criador. O pragmatismo tem dado “grandes” resultados, têm contribuído para encherem as Igrejas, porque a sã doutrina não está mais sendo pregada. Muitos estão sendo os pregadores, muitos estão sendo os doutores que estão criando doutrinas para satisfazer a concupiscência do ser humano. Pessoas que não querem enfrentar o duro discur34
so de Cristo, que dói a nossa alma, contudo, muda o nosso caráter. É muito mais fácil ir até Cristo do jeito que estamos e não mudarmos. A primeira palavra que devemos internalizar para entrar no reino do nosso Senhor é o arrepedimento. Arrependimento exige reconhecimento dos meus erros e falhas e uma consequente transformação para melhor. Vivemos hoje o “self religion”, isto é, religião em que o “eu é servido”. Os cultos passaram a se concentrar num verdadeiro atendimento das necessidades individuais do ser humano. O protestantismo tem se mostrando cada vez mais adequado aos apelos sensacionalistas da pósmodernidade. Os cultos evangélicos incorporaram elementos da cultura de massa, assemelhando-se a programas de auditório, nos quais as pessoas participam, dando seu testemunho e o pastor age como um verdadeiro animador. Basta ligarmos nossa televisão hoje e vermos como essa nova forma de fazer culto tem se tornado cada vez mais dominante. O duro de se aguentar é que os demais pastores veem esses apresentadores na televisão com suas igrejas superlotadas e começam a implantar a mesma filosofia de trabalho, afinal ta dando certo! Esses conceitos funcionam numa sociedade materialista, que está satisfeita e centralizada no ego. As pessoas têm um novo jeito de lidar com questões espirituais, vivem um antropocentrismo religioso. Os cultos são centrados no homem e não no criador. Os sermões têm se tornado verdadeiras mensagens de autoajuda e palestras orientando os ouvintes a ter uma vida de sucesso. A figura de Cristo tem sido mitigada nos cultos e deixada em segundo plano. Raramente escutamos pregações que mostram a natureza pecadora do homem, a necessidade de nos voltarmos para Cristo e assim recebermos a justificação pelos nossos pecados. O narcisismo religioso é uma maneira bem interessante de chamarmos o modo de vida dessas pessoas. Entretanto imagine essas formas de servir a Deus no Sé35
culo I. Como eu diria para um cristão daquela época que a razão principal pela qual ele está sendo perseguido e queimado vivo dentro de uma igreja é porque o Cristianismo funcionou melhor do que as outras religiões! Será que eu obteria algum sucesso? As pessoas estão utilizando Deus embarcadas no consumismo do Século XXI. Infelizmente, o Senhor tem sido para muitos apenas um objeto de consumo. Deus tem sido tratado em muitas igrejas como um produto milagroso para a resolução de toda sorte de problemas. Engraçado, estamos usando Deus, em vez d’Ele nos usar. Interessante é a expressão usada por Michael Horton em uma Palestra apresentada no V Simpósio “Os Puritanos”, realizado em Águas de Lindoia em 1996. “Nos Estados Unidos, temos um adesivo que diz: “Jesus é a resposta”. Os incrédulos fizeram um outro adesivo para retrucar esse: “Qual é a pergunta?”Considere, agora, o que diz o pragmatismo: “Eu não sei qual é o seu problema, mas qualquer que seja, Deus pode resolver. O seu carro está enguiçado? A sua vida familiar não está progredindo como devia? Deus pode consertar em um piscar de olhos!”. Assim, passamos a consumir Deus. Nós usamos a Deus, ao invés de amá-lo, servi-lo e honrá-lo.”20 Acompanhando pragmatismo religioso está o relativismo. As pessoas perdem os absolutos, e tudo é feito em nome do prazer e da satisfação imediata. Estamos diante uma espiritualidade que se contenta na experiência em si e que não desemboca caráter cristão. Devido a todas estas influências da sociedade pós-moderna, temos diante de nós o perigo de perdermos a nossa identidade como Igreja e o compromisso ao Senhorio de Jesus. Por isso percebemos uma completa letargia espiritual na maioria dos freqüentadores das igrejas brasileiras. Voltando ao texto de 2 Timóteo, compreendemos o nível de espiritualidade dos atuais cristãos. Eles amon20 Ibid.,p. 01.
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toarão doutores segundo a sua própria cobiça. Terão comichão, ou seja, coceiras nos ouvidos e não suportarão a verdadeira Palavra de Deus. Note que o pragmatismo não é apenas uma novidade do mundo pós-moderno, Paulo já instruía Timóteo acerca dessas práticas. A Lei de Deus é que nos toca e nos fere a alma, ela vem nos mostrar o que Deus requer de nós e não o que Ele pode nos dar. A proclamação da Lei nunca foi esta: “Vou te dar muitas riquezas”, “Você será um homem próspero.” A Lei de Deus confronta nossa realidade pecaminosa com a santidade e glória do nosso Senhor. E o que vemos nossos pregadores fazendo hoje? Exatamente como os doutores descritos na carta do Apóstolo Paulo. Começam decidindo transmitir uma mensagem sobre o que é que as pessoas de sua igreja desejariam ouvir. Quais são os principais pontos que estão em moda na atualidade? Quais são as necessidades do povo? A partir do resultado dessas perguntas que eles decidem ir até Escrituras e procurar passagens bíblicas que podem ser usadas, fora de contexto, para apoiar essa necessidade. Eles deveriam orar a Deus, jejuar e depois pregarem como a santidade de Deus nos convence do nosso pecado e como o Evangelho de Cristo pode ser tão poderoso ao ponto das pessoas se arrependerem e crerem. Esse marketing religioso tem obtido grande sucesso na gerência da igreja graças à forma de vida individualista em que vive nossa sociedade. Ao contrário de buscar a transformação dessas pessoas individualistas através da Palavra de Deus, as igrejas, orientadas por resultados, estão atraindo essas pessoas através da satisfação por produtos religiosos.
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Capítulo 4 O Individualismo Religioso Em termos gerais podemos relacionar o individualismo como valores e ideias que tendem a colocar o indivíduo particular como centro das atenções, além de buscar atribuir-lhe a possibilidade de realização pessoal, de forma autônoma e independente, em relação àquelas demais pessoas que as rodeiam.21 A filosofia de Descartes retrata bem esse conceito, pois, segundo ele, um indivíduo pode, por si só, utilizando-se do seu pensamento racional, chegar ao conhecimento verdadeiro. Dessa forma, conhecer é algo relativo a um raciocínio exercitado por indivíduos particulares que o fará reconstruir, sozinho, o campo da filosofia.22 O Individualismo busca a “própria pessoa” como valor primordial, ou seja, a maior preocupação do indivíduo é viver a vida sob o ângulo da sua felicidade. Em face desse pensamento é que a maioria das instituições orientamse. São cada vez mais valorizadas as organizações que protegem o indivíduo para que ele alcance, de maneira mais rápida e segura, prazer e gozo que se materializam na satisfação das suas necessidades e desejos. Conceitos de satisfação imediatista e nenhuma preocupação com o próximo. Isso já invadiu até mesmo o casamento, porque não escutamos mais a frase “sejam felizes para sempre” e 21 Dumont, L. (1985). O Individualismo: Uma Perspectiva Antropológi-
ca da Ideologia Moderna. Rio de Janeiro: Rocco 22 Descartes, R. (1987). Discurso do Método. In: Descartes 1. São Paulo: Nova Cultural, 4a. Edição, pp. 25-71. (Tradução do original francês de 1637). 39
sim que “seja infinito enquanto dure”, ou seja, que o casal possa gozar de todos os benefícios do casamento e não buscar fazer o outro feliz através do verdadeiro amor que também exige renúncias para fazer , também, a felicidade de seu cônjuge. Nas palavras de Stolcke impera na sociedade pós-moderna os valores do individualismo: “O individualismo é o valor cardeal das sociedades modernas. O surgimento do individualismo significará simultaneamente a cegueira diante do social. A ideologia moderna é individualista na medida em que valoriza o indivíduo concebido como sujeito moral, independente e autônomo e ignora ou subordina a totalidade social. 23
O individualismo possui como atributo uma mentalidade possessiva, o indivíduo sente-se proprietário de suas próprias capacidades e nada deve à sociedade por elas. Não existe aquele sentimento de utilizar sua capacidade em prol da sociedade, trata-se de uma vontade individual que visa satisfazer seus interesses egoístas. É um sentimento de amor obsessivo por si próprio que leva o homem a preterir tudo que o cerca de modo a isolar-se das pessoas e criar um ambiente para uso próprio24. O teólogo Emmanuel Mounier traça características do homem individualista: O homem abstrato, sem vínculos e nem comunidades naturais, deus supremo no centro de uma liberdade sem direção 23 STOLCKE, Verena. “Gloria o Maldición del Individualismo Moderno según Louis Dumont”. Revista de Antropología, v. 44, n. 2, p. 13, 2001 24 TOCQUEVILLE in: LORENZON, A. A Atualidade do Pensamento de
Emmanuel Mounier. 2. ed. Ijui: UNIJUI, 1996, p.79. 40
e sem medida, sempre pronta a olhar os outros com desconfianças, calculismo ou reivindicações em relações aos outros, ao lado de instituições reduzidas a assegurar a convivência mútua dos egoísmos. Ou o seu melhor rendimento pelas associações viradas para o lucro: eis a forma de civilização que vemos agonizar, sem dúvida uma das mais pobres que a história já conheceu. 25
O individualismo pós-moderno não é capaz de fazer com que o indivíduo possa viver uma sociabilidade, pois a ideia de independência representa a cisão tanto em relação ao Estado, como em relação às demais pessoas da sociedade. Nas palavras de Lorenzon, a metafísica do individualismo é a da solidão, isso porque a sua ética do bem estar individual está acima de tudo e de qualquer preço. Sua economia não é voltada para a comunidade, pelo contrário, é a economia do lucro e do esbanjamento. A religião individualista estabelece uma radical separação entre a vida religiosa e a vida particular, é uma religião que procura apenas a própria satisfação e salvação. 26 O individualismo leva o homem à falta de solidariedade com os mais pobres e desprezados. Atemoriza-me ver hoje um individualismo que deixa as pessoas desorientadas e qualquer sentimento de compaixão para com o próximo. Seres sem referência, sem valores dignos, sem um significado na vida e vivendo apenas para si como última e absoluta instância. Homens e mulheres que vivem num vazio total, exceto deles mesmos. Segundo Zygmunt Bauman27, vivemos na “mo25 MOUNIER, E. O Personalismo. 4. ed. Lisboa: Moraes, 1976, p. 61.
LORENZON, Alino. Atualidade do pensamento de Emmanuel Mounier. 2. ed. Ijuí; Unijuí 1996, p. 73 26
27 Sociólogo polonês, nascido em Posnânia em 1925. Escapou dos horrores do holocausto que aguardavam os judeus poloneses na Segunda Guerra, ao fugir com sua família para a Rússia em 1939. De lá voltou após a guerra, filiou-
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dernidade líquida” onde a maioria da humanidade vive nos grandes centros urbanos, sendo a pós-modernidade controlada pelas metrópolis industriais. A pós-modernidade tem a mídia como seu maior e mais eficaz instrumento de comunicação de manipulação, gerando, conseqüentemente, uma sociedade altamente consumidora, sobretudo de imagens. A partir dessa manipulação constata-se que o indivíduo pós-moderno está destinado, cada vez mais, ao consumismo que abrange até mesmo a esfera religiosa. A fé deixou de ser teocêntrica, passou a ser antropocêntrica e, como conseqüência, tornou-se uma fé com objetivos individualistas. Como resultado desse processo individualização da fé, o homem pós-moderno torna-se cada vez mais pragmático, utilitarista e, via de regra, cada vez menos ideológico e crente em rígidas verdades antes defendidas, pois há uma acentuada mudança da objetividade humana para a subjetividade. O que assistimos hoje no cenário religioso são imagens subversivas e fundamentadas no “eu”. Um “eu” fetichizado e deificado buscando sempre uma felicidade sem máculas como ideal a ser atingido. Essa deificação faz com que o mercado de consumo, principalmente o chamado gospel, ofereça seus produtos cheios de mistificação, de promessas de baseadas em satisfações e realizações pessoais instantâneas. A verdadeira e genuína fé vem sendo pulverizada em razão de uma radical mudança de rumo das instituições religiosas contemporâneas que agora passam a ser prestadoras de serviços aos fiéis arraigados no individualismo pós-moderno. Dessa forma, a fé passa a ser mais um produto, dentre vários, a ser comercializado e consumido, buscando sempre se ao Partido Comunista e estudou na Universidade de Varsóvia. Conhecido como “profeta da pós-modernidade” por suas reflexões sobre as condições do mundo da “modernidade líquida”. Holocausto, globalização, sociedade de consumo, amor, comunidade, individualidade são algumas das questões de que trata, sempre salientando a dimensão ética e humanitária que deve nortear tudo o que diz respeito à condição humana.
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atender os desejos e as necessidades do “cliente gospel”. Esses valores individualistas da cultura pós-moderna relativizam os valores cristãos defendidos por séculos, uma vez que nessa sociedade consumista o que importa é cada um com a sua fé, independentemente, das conseqüências que advêm para a sociedade. Esses conceitos são reforçados por uma falsa teologia que tem invadido muitas igrejas, a Teologia da prosperidade. Esta corrente herética defende que pela morte de Jesus Cristo todo cristão tem o direito de reivindicar, exigir, tomar posse de toda sorte de bênçãos e não pode, em hipótese alguma, aceitar qualquer tipo de enfermidade em sua vida. É uma espécie de doutrina centralizada no homem que busca a prosperidade material. Mais adiante trataremos com maiores detalhes este assunto. O individualismo religioso promove um surto do sagrado em face da secularização e privatização da fé. As igrejas têm perdido sua força em virtude de terem deixado o sagrado solto, ou seja, completamente entregue às experiências de seres carregados de individualismo. A igreja tradicional vem sendo aos poucos substituída por igrejassupermercado ou agências de fé que exibem suas mercadorias nos templos, como é feito nas prateleiras das lojas. Com a globalização e expansão dos meios digitais também encontramos propagandas dos serviços oferecidos para atrair potenciais consumidores. Em face da sociedade pósmoderna estar inserida em meio a tecnologia das informações, muitos líderes religiosos têm entendido como imprescindível às organizações religiosas, adotar instrumentos mercadológicos e estratégias publicitárias de marketing para conquistar novos adeptos(clientes) para conseguirem sobreviver em meio à “concorrência gospel desleal”. Muitos líderes religiosos estão usando toda a sua criatividade para superar o mercado saturado de várias ofertas pentecostais. Um líder religioso brasileiro teve a perspicácia de escolher e atender aos interesses de um segmento da sociedade pouco prestigiado pelas igrejas contemporâneas. Ele desen43
volveu práticas religiosas, oratória e serviços destinados a alcançar o perfil de fisiculturistas, lutadores de jiu-jítsu, surfistas e skatistas. Esse empreendimento neopentecostal teve a sensibilidade comercial e conseguiu captar clientes para esse novo mercado religioso. Muitos pastores têm usado como estratégia de propagar um discurso defendendo a ideia de que a sua nova instituição não está presa com dogmas e regras. Esse discurso é estratégia do novo marketing do empreendimento religioso e assim, atingir uma grande fatia do mercado que inclui pessoas que não desejam renunciar aos hábitos da vida pós-moderna para converter-se a um credo, negando-se a si mesmo, tomando sua cruz e seguindo a Cristo (Lc 9:23). John Macarthur alega que os cristãos contemporâneos estão dispostos a fazer com que o mundo goste deles ficando completamente obcecados em fazer com que a igreja pareça legal para os incrédulos sem se preocupar com a fidelidade às Sagradas Escrituras. Em face disso ele critica: A ideia de que a mensagem cristã deve ser mantida adaptável e ambígua parece especialmente atraente aos jovens que vivem em harmonia com a cultura e amam o espírito dessa época e não podem suportar que a verdade bíblica autoritária seja aplicada com precisão como um corretivo para estilos de vida mundanos, mentes profanas e comportamento ímpio. E o veneno dessa perspectiva está sendo injetado, cada vez mais, na igreja evangélica.28 Em virtude da dessacralização do Estado brasi28 MACARTHUR, John. A Guerra pela Verdade: Lutando por certeza numa época de engano. 1ª Ed. em português, 2008. Editora fiel, p. 11.
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leiro prevista na Constituição Federal de 198829 tornando o Brasil como país laico houve, conseqüentemente, o fim do monopólio católico. Nesse diapasão, desmantelou-se uma grande disputa entre diversas confissões e práticas religiosas dispostas a oferecer novos serviços aos seus fiéis para mantê-los na denominação, além de procurarem captar segmentos ainda não alcançados pelos seus empreendimentos religiosos. Com isso, surgem inúmeras igrejas, sobretudo as que se denominam evangélicas, nesse competitivo mercado da fé. Surgem dentro das igrejas, cada vez mais, novas abordagens com atrativos para um determinado público enxertada de princípios comerciais de marketing para convencer o “cliente” da sua utilidade. Diante desse bombardeio utilizado pelos líderes religiosos aliado ao pensamento individualista do ser humano, a busca por Deus somente é realizada quando se torna prazerosa e útil para o indivíduo. Para conseguir a adesão dessas pessoas, entra em cena uma agressiva concorrência para prová-los que a religiosidade da denominação apresentada traz um alto nível de satisfação. São raros os casos em que a adesão é por uma decisão de fé. Por isso os verdadeiros cristãos têm diante de si uma guerra onde a primeira batalha deve ter como objetivo primordial a verdadeira liberdade através da Palavra de Deus e de um testemunho de vida que desfaça a ideologia pós-moderna, que está cheia do individualismo egoísta, como afirma o teólogo João Batista Libânio: [...] esse surto religioso carece de tônus crítico social. Por isso, não questiona
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público. (...) III – criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si. 45 29
nem afeta o sistema vigente. Antes, favorece-o, ao desempenhar papel terapêutico, tranqüilizando e harmonizando as pessoas por dentro. As angústias, que o modelo vigente produz por seu corte materialista, consumista, sem valores transcendentes, sem ética, competitivo, são aliviadas pelas formas religiosas oferecidas. Elas devolvem ânimo às pessoas para que superem a decepção e ceticismo, tão presentes na pós-modernidade. Além disso, a efervescência do sagrado alimenta-se dos recursos da mídia. Ela potencializa o impacto das expressões religiosas além de estenderlhes a influência.30
Quando o medo de perder membros e a vontade de ganhar novos adeptos são maiores do que a vontade de viver o evangelho, muitos líderes deixam esses valores pós-modernos entrarem na igreja. Com isso, ocorre uma significativa alteração na sua hermenêutica que implica diretamente na cosmovisão teológica e no modus vivendi da Fé Cristã. O individualismo muda o centro da cosmovisão teológica, que agora passa a ser centrada na vontade do homem e não mais na vontade de Deus. A verdade passa a ser baseada nas vontades e experiências humanas que conduzem a fé até o relativismo.
LIBÂNIO, João Batista, op. cit., In: CALIMAN Cleto (org.). A Sedução do Sagrado. O Fenômeno Religioso na Virada do Milênio. p. 63.
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Capítulo 5 Pluralismo e a religião Dentro do cenário da pós-modernidade, nenhuma religião pode se achar no direito de afirmar que é a religião verdadeira e correta, sendo todas as demais falsas. Nos últimos anos a população mundial tem buscado diminuir as diferenças raciais e religiosas, na tentativa de erradicar com os preconceitos e as discriminações, criando assim, uma sociedade mais harmoniosa, pacífica e mais aberta à inclusão das minorias. Dessa forma, todas as manifestações religiosas têm o mesmo direito à verdade e nenhuma religião pode apresentar-se absoluta. Dentro desse contexto é que surge uma diversidade religiosa. A diversidade religiosa origina-se em face da ruptura do monopólio de uma religião como igreja oficial de um determinado Estado. A maioria dos Estados democráticos abriram as portas para as práticas religiosas, não adotando mais, uma religião específica como a oficial do governo. A Declaração Universal dos Direitos Humanos prevê: Artigo 2º - Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidas nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. Artigo 18 - Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberda47
de de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular. (grifo nosso)
Em face de o Estado deixar de ser um ente religioso e tornar-se capaz de abrigar todas as práticas religiosas surge a diversidade e a secularização da religião. Atualmente prega-se a tolerância religiosa, fator que tem contribuído para a relativização de cultos impregnados de emoção. A valorização de fatores emocionais na prática religiosa, por sua vez, tem se sobreposto ao aspecto racional ou teológico das instituições religiosas na pós-modernidade. Nesse contexto histórico, não só a práxis da Igreja é alterada, mas também o seu conteúdo teológico para adaptar-se à nova mudança. Há de se ressaltar que a diversidade religiosa difere-se do pluralismo religioso, o qual pretendemos tratar neste capítulo. A diversidade religiosa é o fato de existirem num mesmo Estado uma gama enorme de credos religiosos, enquanto que o Pluralismo Religioso é um novo ramo filosófico que vem pregando a ideia de que todas as religiões são boas e conduzem a um mesmo caminho. O pluralista acredita que todas as religiões são verdadeiras e cada uma delas proporciona um encontro com o ente supremo. Desse modo de pensar é que surge a grande falácia: “Todos os caminhos levam a Deus”. Geralmente, o pluralista não é praticante de nenhuma religião, pois a maioria das religiões são exclusivistas, ou seja, creem que apenas sua religião é verdadeira. O pluralismo religioso é uma corrente filosófica que defende a igualdade e veracidade de todas as religiões existentes. Para os pluralistas nenhum credo religioso pode posicionar-se como sendo detentor exclusivo da revelação 48
divina. Todas as religiões possuem um grau significativo de importância e devem ser aceitas como verdadeiras expressões de fé. Cada religião definiria o ser supremo ao seu modo e o que deve ser considerado como válido é a sinceridade de cada membro. Dessa forma, pluralismo religioso concorda que todas as religiões existentes possuem o mesmo valor moral, espiritual e até soteriológico. A religião surge em meio à cultura de um povo que deve ser preservada como patrimônio da humanidade. Os filósofos que defendem essa corrente acreditam que qualquer tipo de produto ofertado do mercado da fé pode atender aos anseios e necessidades do ser humano. Não existe uma preocupação se este produto é verdadeiro, mas sim o fato de ser útil para determinado fim. Um grande exemplo que podemos mostrar sobre a ausência de preocupação pela verdade, pela falta de conhecimento do credo que pratica ou até mesmo abrindo mão dos valores impostos por sua fé, mesmo os conhecendo, é a grande procura de cristãos, sejam católicos ou protestantes, pelos recursos oferecidos por Chico Xavier e cartomantes espalhadas por várias cidades. A prática religiosa realizada por esses são totalmente contrárias às praticadas por àqueles. Esses cristãos desviam da teologia que envolvem seus credos em busca não de uma espiritualidade, mas sim de um serviço prestado por esses religiosos. A busca pela satisfação de suas necessidades fala muito mais alto nesse período pós-moderno, enquanto que a verdade vai sendo, cada dia mais, relativizada. Dessa forma, podemos concluir que os pluralistas religiosos são, nada mais nada menos, do que caçadores de benefícios pessoais. O pluralismo religioso decorre de uma cultura altamente pluralizada, fruto da globalização mundial. A rapidez dos meios de comunicação disponíveis na atualidade produz uma aproximação dos valores religiosos e possibilita uma troca de experiências. Em face dessa possibilidade expansão de cultu49
ras religiosas, para subsistirem e crescerem, as entidades religiosas estão sendo compelidas a entrar numa disputa de mercado. Dentro do cristianismo podemos notar que muitas igrejas estão reforçando seu proselitismo fazendo com que suas lideranças sejam cada vez mais ativas. Dessa forma, buscam atrair mais adeptos através da oferta de produtos e serviços para cada segmento social. Hoje existem cultos para jovens, idosos, empresários, pessoas endividadas e até para pessoas que não têm sucesso no mundo sentimental. Por conta dessa competição para atrair o maior número de membros possíveis, há uma grande diversificação na oferta serviços e também de produtos religiosos, para que as chances dos interesses materiais dos diversos grupos sociais sejam contemplados e atendidos. Em face dessa nova forma de enxergar as religiões com uma consequente abertura à religiosidade individualista, plural e relativa, a sociedade vem perdendo os valores morais, na maioria das vezes, contrariando os princípios cristãos mais fundamentais. Os filósofos pluralistas não aceitam essa verdade e não admitem o dano que isso vem causando à sociedade. Vivemos hoje uma “democracia liberal”, que impõe sobre nós a obrigação de aceitar e admirar tudo aquilo que contraria princípios e valores que fazem parte da consciência cristã. Ricardo Barbosa assevera que num futuro não muito distante os cristãos se sentirão intimidados em expressar suas convicções religiosas, em face da religiosidade liberal que requer de todas as pessoas serem igualmente liberais. Os cristãos correrão o risco de serem considerados preconceituosos caso resolvam sustentar, publicamente, suas convicções morais.31 Na mídia brasileira já encontramos alguns indícios das dificuldades que enfrentarão os cristãos daqui a al31 SOUZA, Ricardo Barbosa. “A Pós-Modernidade e a Singularidade de Cristo”. Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/pos_modernismo/ pos_modernidade_singularidade_ cristo. htm. Visitado em 24 de outubro de 2012.
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guns anos. Sempre que a televisão mostra outras religiões, a reportagem apresentada mostra uma pratica religiosa de forma positiva e saudável. Nos últimos anos estamos vendo uma supervalorização do espiritismo através dos meios de comunicação. Essa valorização está tão em alta que cheguei a conhecer pessoas que se declaravam espíritas, mas nunca tinham sequer ido a uma reunião e não dominavam a doutrina. Outra religião que vem sendo muito explorada pela mídia, agora em cenário mundial, é a Cientologia32. Depois que vários atores e atrizes de Hollywood, tais como, Tom Cruise, John Travolta e Kirstie Alley declaram ser adeptos de tal seita, multiplicaram-se os fiéis e os livros dessa nova doutrina passaram a ser muito vendidos. Entretanto, quando existe uma reportagem sobre a igreja evangélica é sempre numa visão que deprecia tal religião, colocando seus pastores como pessoas que vivem para extorquir dinheiro dos fiéis. Os cristãos sempre são apresentados num perfil de fanatismo e falta de conhecimento. Tais explorações da mídia deixam transparecer em linhas gerais que todo pastor é ladrão e todo crente é burro. A dificuldade para os cristãos nos próximos anos será ainda maior em virtude do crescimento do relativismo, pois será difícil uma pessoa crer que ela é pecadora e necessita de arrependimento. Arrepende-se quem está errado, contudo, no relativismo todas as visões estão corretas. Verifica-se que o pluralismo religioso é um grande e amedrontador desafio à genuína fé cristã, pois ele colo32 A Cientologia foi criada pelo autor de ficção científica L. Ron Hubbard em 1952 e a primeira igreja foi inaugurada oficialmente como A Igreja da Cientologia em 1953, em Camden, New Jersey. Sua doutrina, basicamente, gira em torno da crença de que todas as pessoas são seres imortais, que caíram para esquecer a sua verdadeira natureza. Uma das coisas principais que os cientologistas acreditam é que tudo o que cada um vivencia nesta vida, e até mesmo vidas passadas, são registradas como “engramas” em nossos cérebros. Estes engramas afetam nossa tomada de decisão e levam a pessoa a se comportar de modo inadequado e auto-destrutivo. A cientologia busca eliminar tai “engramas”
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ca em xeque muitas das verdades bíblicas. Existem muitos cristãos subnutridos da Palavra de Deus. Em vez de orientá -los e solidificá-los nos caminhos de Cristo, o pluralismo religioso produz uma confusão mental que os desencaminham do caminho correto a ser seguido. Muitas pessoas que frequentam as igrejas evangélicas têm sido persuadidas não pela sua convicção de fé, mas por essa visão pós-moderna de gerir o templo. O que mais me preocupa nesse cenário pluralista é a crença na centralidade de Jesus Cristo para a salvação eterna. O “espírito democrático” da nova era rejeita qualquer tipo de exclusivismo, entretanto, os cristãos afirmam a exclusividade de Jesus e rejeitam qualquer outro nome através do qual alguém possa reconciliar-se com Deus. Os verdadeiros cristãos afirmam ainda, que a Bíblia é, de fato, a Palavra de Deus e, somente através dela, obtemos a revelação de Deus. Tudo isso, aos olhos da sociedade pós-moderna e pluralista soa como um fanatismo e discriminação às demais crenças religiosas. A ideia dos cristãos aceitarem pluralismo é prejudicial para a alma e para o nosso relacionamento com Deus. Não venho aqui defender a intolerância religiosa e nenhum fatalismo, mas, com toda certeza, todo verdadeiro cristão deve declarar-se exclusivista. Por maior que sejam as ideologias pluralistas, Jesus Cristo, o Filho de Deus, é o único caminho para a salvação. Não podemos aceitar a relativização da verdade através da qual não se pode definir qual religião é verdadeira. O pluralismo leva, inegavelmente, ao relativismo que prega não haver verdade objetiva na religião e cada membro de um segmento religioso acredita que suas doutrinas são verídicas. Nós cristãos sabemos que nossa religião é verdadeira porque Cristo é a verdade e a vida. Somos exclusivistas sim, porque é isto que a Bíblia diz:
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Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. João 14:6 Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; João 11:25 Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem. 1 Timóteo 2:5 E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos. Atos 4:12 A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação. Romanos 10:9-10 Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito; 1 Pedro 3:18
A salvação é única e exclusivamente através de Jesus Cristo. Certa vez me perguntaram como eu tinha certeza de que minhas crenças eram verdadeiras, mesmo diante de tantas outras religiões. Respondi da seguinte forma: nas outras religiões seus representantes são apenas homens, eles enxergam Buda, Maomé, Confúcio, Dalai Lama, Joseph Smith, etc., contudo, o meu representante é o próprio Deus, Jesus Cristo, o verbo encarnado (Jo 1:1), por isso sei que minha religião é verdadeira!
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Capítulo 6 O Relativismo Religioso O pluralismo nos remete a outra corrente filosófica denominada relativismo. Nessa linha de pensamento todo o conhecimento torna-se relativo e não há uma verdade fechada. Assim, todo ponto de vista é a vista de um ponto. Essa linha de pensamento ganha muita força em virtude da sociedade pós-moderna em que vivemos existirem seres egoístas e individualistas, cada vez mais indiferentes e distantes da sociedade. Pessoas que vivem somente a suas verdades relativas e não aceitam a hipótese de estarem erradas. Em face de tal quadro sociológico, o Cristianismo corre grande perigo diante da pressão que esta geração provoca nos pilares fundamentais da fé cristã. Os dogmas teológicos do cristianismo estão sendo, cada vez mais, abalados por esse pensamento relativista, pois afeta diretamente a revelação de Deus através de Jesus Cristo. O plano salvífico do Senhor acontece única e exclusivamente por meio de Jesus Cristo. O axioma fundamental do Cristianismo é Jesus Cristo, revelação máxima da graça de Deus, o único e universal salvador e nisso, não há espaço para qualquer relativismo 33 O pensamento relativista nega a possibilidade de haver qualquer verdade absoluta e eterna, ao passo que cada indivíduo deve definir, por sua conta, a sua verdade diante daquilo que lhe parece melhor naquele momento. 33 D’COSTA, G. Theology of Religions Pluralism: The Challenge of Other Religions. Oxford, 1986, p. 4
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Sendo assim a verdade é perene, ligada à época e circunstâncias que permeiam a vida de cada pessoa. Protágoras, sofista da Grécia Antiga, baseava sua filosofia no seguinte ponto: “O Homem é a medida de todas as coisas, daquelas que são por aquilo que são e daquelas que não são por aquilo que não são.” Dessa forma, Protágoras afirma que os homens são a medida de todas as coisas e, por consequência, nenhuma medida pode ser a medida correta para todos. As coisas serão definidas pelas pessoas que as definem, o que vale para uma determinada situação não vai valer para outras. As coisas devem ser conhecidas, particularmente, ou seja, por cada indivíduo. Outros sofistas também defendiam a verdade relativa, o que importava para eles era a boa retórica, a persuasão do indivíduo e o bom discurso. Eles buscavam unificar as diferentes visões existentes na humanidade, contudo, a própria visão relativista que defendiam impediam que isso ocorresse.34 O pluralismo defende que é essencial uma diversidade da verdade, tornando-a relativa. Sendo a verdade relativa, não existe uma verdade absoluta, entretanto, existem inúmeras verdades que são expressas no indivíduo e na cultura que o cerca. Quando o pluralismo chega no âmago religioso começam a surgir várias opções e verdades religiosas, sendo que todas elas, no seu final, levam até Deus. Em linhas gerais, a filosofia pós-modernista é marcada por uma forte tendência em repudiar qualquer tipo de conhecimento puro e sólido da verdade. Os relativistas afirmam que, caso exista uma verdade objetiva, não é possível conhecê-la objetivamente e com elevado grau de certeza, pois a subjetividade que permeia a mente do ser humano torna praticamente impossível tal conhecimento. Deve-se ressaltar que o pós-modernismo é fortemente caracterizado pelo pluralismo relativista que domina o cenário das ideias e nega qualquer possibilidade de regras fixas, de 34
HUISMAN, Denis. Dicionário dos Filósofos. Martins Fontes, 2001.
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um único caminho. As características dessa sociedade são a imprecisão, permeabilidade e ausência de padrões que abranjam todas as comunidades. Armstrong, Grenz, Franke e os outros pós-modernistas ensinam que, se não podemos saber tudo com perfeição, não podemos saber nada com qualquer grau de certeza. Tal argumentação soa muito atraente para a mente pós-moderna, entretanto, está em desacordo com as doutrinas bíblicas. Para o homem pós-moderno o certo é aquilo que satisfaz as suas necessidades e seus desejos egoístas, por isso a busca pela verdade objetiva, na maioria da vezes, colide com seus interesses. Nesse paradigma, estão sendo questionadas todas as ciências humanas e, neste rol, a teologia vem sendo esvaziada, perdendo seu conteúdo de verdade ontológica e passando a ser entendida, meramente, como uma manifestação particular de cada cultura. A teologia contemporânea tem deixado de ser objetiva e passado a divagar nos campos do relativismo e do subjetivismo. É dentro dessa realidade que a igreja cristã precisa saber evangelizar, contudo, sem perder os princípios do cristianismo. As verdades e os pilares fundamentais do Cristianismo estão sendo duramente atacados, principalmente, no campo ideológico. Essa reconstrução filosófica no mundo pós-moderno está confundindo, negando, distorcendo e corrompendo a verdade bíblica. Com a crescente globalização mundial é praticamente inevitável o encontro das religiões. Esse encontro tem, atualmente, redundado em dois extremos, o primeiro é a intolerância religiosa que ocasiona perigosos conflitos, sob o pretexto de ser uma “guerra santa”, já o segundo é o relativismo religioso que traz um novo ramo da teologia; a teologia pluralista de religiões. Para a teologia contemporânea o exclusivismo pregado pelo cristianismo põe uma barreira no diálogo inter-religioso. Na sociedade atual verifica-se, cada vez mais, uma forte tendência das pessoas em moldar a sua religião 57
buscando elementos provenientes de diversos e diferentes sistemas religiosos. Destacamos hoje uma espécie de “bricolagem”35 nas religiões, conforme assevera Brandão36. Cada indivíduo realiza seus próprios recortes de crenças e recria sua própria lógica de fé, típico pensamento relativista. Em razão de suas necessidades pessoais, muitas religiões fazem “recortes” umas das outras relativizando suas teologias para melhor atenderem as necessidades de seus adeptos, que são cada vez mais exigentes. Esses “recortes” teológicos têm ocorrido tão frequentemente que abrem as portas para absurdos doutrinários e, às vezes, não sabemos distinguir de qual religião se trata. Vejamos a seguir algumas publicidades de entidades religiosas:
. 35 Termo francês que significa, literalmente, um trabalho manual feito de improvisos e aproveitando toda a espécie de materiais e objetos. Nas modernas teorias da literatura, o termo passa a ser sinônimo de colagem de textos ou extra-textos numa dada obra literária, o que nos aproxima da idéia de hipertexto. Também serve para traduzir uma prática dita pós-modernista de transformação ou estilização de materiais preexistentes em novos (não necessariamente originais) trabalhos. Uma montagem feita de vários textos para produzir outros. 36 BRANDÁO, Carlos Rodrigues: “A crise das instituições tradicionais produtoras de sentido”. In: A. Moreira & R. Zicman (org). Misticismo e Novas Religiões. Petrópolis, Vozes, 1994, p. 23-38.
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Publicidade EvangĂŠlica
Publicidade de cartomantes e videntes
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Nessas publicidades estão presentes provas latentes do relativismo. Religiões antagônicas utilizam uma abordagem praticamente idêntica para captar fiéis. A relativização da verdade bíblica chega a me dar nojo. O que os teólogos pós-modernos fazem é defender o ambíguo e exaltar a incerteza no meio do povo. Muitos estão fazendo experiências com suas ideias subjetivas a respeito do que “acham ser verdadeiro” e rotulam-nas como verdades bíblicas. Ser capaz de distinguir entre a sã doutrina e o erro deve ser uma das maiores prioridades de cada cristão. O grande problema é que muitos que se dizem cristãos não estão preparados para esta guerra, como retrata John Macarthur: Acontece, também, que estamos vivendo numa geração em que supostos cristãos não sentem o menor interesse pelo conflito e pela contenda. Multidões de cristãos subnutridos nas Escrituras e na doutrina chegaram a pensar que a controvérsia é algo que sempre deve ser evitado, custe o que custar. Infelizmente, esse é o exemplo que muitos pastores fracos têm lhe dado.1
O individualismo aliado à relativização da verdade tem contribuído para esse afastamento da Bíblia. Como argumentado acima, muitos líderes têm contribuído para isso, através da falta ensinamento adequado das Sagradas Escrituras. Não me refiro aqui que todos devem ter um conhecimento exaustivo de todas as doutrinas bíblicas, mas é fundamental que todo cristão tenha conhecimento das doutrinas básicas que as Escrituras revelam. O líder que se recusa a orientar os seus liderados, mesmo que omissivamente ou porque ele também não detém 1 MACARTHUR, John. A Guerra pela Verdade: Lutando por certeza numa época de engano. 1ª Ed. em português, 2008. Editora Fiel, p. 24
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tal conhecimento, contribui para a proliferação de um sincretismo religioso sem nenhuma contestação teológica. Infelizmente, esse sincretismo tem tomado conta das nossas igrejas, um belo exemplo foram as publicidades mostradas anteriormente. Esses líderes que se acovardam e não orientam o seu rebanho sobre os perigos da pós-modernidade nunca foram chamados pelo Senhor. O Senhor relata nas Sagradas Escrituras que nos daria “pastores segundo o meu coração, os quais vos apascentarão com ciência e com inteligência.” (Jeremias 3:15). Por mais triste que seja, a verdade é que a igreja está acomodada, cada vez mais mundana, preguiçosa e insensível. Os atuais pastores estão mais preocupados com o sucesso ministerial e perderam o ânimo para entrar na guerra em favor da verdade bíblica. Sonho com o dia em que os pastores vivam a plenitude do que declarou o apóstolo Paulo em Atos 20:24 – “Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus.” Que os ministros da Palavra do Senhor cumpram fielmente a carreira a qual Deus lhes propôs e esqueçam do “sucesso ministerial” .
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Capítulo 7 Como ser um verdadeiro cristão na pós-modernidade O cristão, apesar de viver valores celestiais, não pode ser uma pessoa alienada deste mundo. Para que a pregação do evangelho seja eficaz é necessário conhecer a cosmovisão pós-moderna, pois quanto melhor conhecermos a cultura e as ideias que cercam os indivíduos, melhor poderemos comunicar as verdades contidas no evangelho de Cristo. Charles Haddon Spurgeon disse que todo cristão ou é um missionário ou é um impostor, por isso é de grande importância que os cristãos estejam preparados para compreenderem a cultura em que seu campo missionário está envolvido. Poucos líderes cristãos têm se preocupado com essa preparação, por isso vivemos a dura realidade de ter pouquíssimos cristãos preparados ou que pelo menos se esforcem para compreender a cultura que os cerca. Veith, com propriedade, diz que a igreja sempre teve que confrontar a sua cultura e existir no mundo sob forte tensão. Ignorar a cultura contemporânea, aceitá-la ou não criticá-la é, simplesmente, arriscar-se à irrelevância, sincretismo e infidelidade.2 A pregação do Evangelho no contexto pós-moderno não deve ser anti-intelectual, entretanto, a intelectualidade deve estar sempre voltada à condução do ser humano à descoberta da verdade divina. A pregação racional deve ser proclamada sempre como uma experiência centralizada na pessoa de Jesus Cristo, deve ser sempre 2 VEITH, Gene Edward. Tempos pós-modernos: uma avaliação do pensamento e da cultura de nossa época. São Paulo: Cultura Cristã, 1999.
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uma realidade transformadora. De acordo com Grenz, para que isso ocorra é necessário, em primeiro lugar, vencer o individualismo da cultura pós-moderna. A ênfase no individual deve ser drasticamente reduzida e enfatizar, cada vez mais, o papel indispensável da comunidade e das redes sociais onde os indivíduos conhecem a si mesmos em suas identidades pessoais.3 Biblicamente falando, a vida cristã nada mais é do que uma vida em família, através da qual todos os membros estão em comunhão com o Pai e uns para com os outros. Apesar disso, não podem os cristãos formar um grupo fechado e arrogante como vemos recorrentemente, pelo contrário, faz parte da vocação cristã desenvolver uma afeição profunda por todos os seus semelhantes e servi-los com amor e caridade. Esse é o papel de uma proclamação do evangelho pós-individualista Como foi tratado anteriormente, constata-se que o pensamento pós-moderno vem contribuindo expressivamente para o esvaziamento da religião cristã. O cristianismo tem deixado a sua dimensão pública e se restringido à esfera privada, no interesse pessoal de particulares. O mundo pós-moderno tenta libertar-se de uma cultura religiosa com padrões morais absolutos que possibilite a manutenção de uma religiosidade consumista, egoísta, interiorizada, subjetiva e sem qualquer tipo de culpa. A pregação do genuíno evangelho é uma mensagem dura que confronta nossas vontades pessoais, entretanto, as pessoas optam pela sua preferência religiosa no intuito de não serem importunadas por opiniões contrárias. Quando elas encontram algum líder religioso que não está disposto a renunciar o individualismo, ali elas encontram pouso. Os critérios que orientam essas escolhas são todos íntimos e subjetivos que têm em comum o fato de não tentar impor sua opção de fé a nin3 GRENZ, Stanley J. Pós- Modernismo: Um guia para entender a Filosofia do nosso tempo. Tradução Antivan Guimarães Mendes. São Paulo. Vida Nova, 1997, p. 238.
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guém. Atualmente, o que antes era convicção bíblica tem se tornado opção pessoal. Os mandamentos divinos deixaram de ser imposições e passaram a ser meras sugestões. Segundo Zabatiero, há novos gostos litúrgicos nas igrejas que se apaixonaram por espetáculos que seduzem mentes e corações, tornando o templo, quase que de forma imperceptível, em um teatro coletivo. Os cultos atuais converteram-se em arrebatadoras performances teatrais com extasiante consumo dos novos cânticos, novos ritmos e novos ritos de celebração cristã.4 A igreja tem sido conduzida pela ideologia pragmática, por aquilo que dá certo e não por aquilo que é certo. Está ocorrendo um esvaziamento dos princípios bíblicos e o homem confia mais nos recursos financeiros e tecnológicos do que em Deus. A cultura massificada pela globalização tem tornado a sociedade vazia de Deus. Os cultos televisivos tem ganhado mais força do que os cultos nos templos onde há oportunidade para a prática da comunhão. Esses novos modelos pastorais têm contribuído para aumentar o sentimento de solidão e desamparo das pessoas. Verdadeiros “espetáculos gospels” são apresentados, quando a cruz deveria ser o único espetáculo demonstrado através do ministério pastoral. Os defensores do pós-modernismo são verdadeiros hereges que em virtude da queda do liberalismo dentro das igrejas, tentam agora relançar sua teologia pífia sob a forma do pós-modernismo. O grande desafio do cristão é ser colaborador de Deus numa sociedade consumista e como dizer que Jesus salva se as pessoas não se sentem perdidas. A primeira coisa a fazer é o que nos orienta a Palavra de Deus, “E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita 4 ZABATIERO, Julio Paulo Tavares. Apascentai a Igreja de Deus no Mundo Pós-Moderno
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vontade de Deus.” (Romanos 12:2). A mentalidade pós-moderna não pode dominar a vida do cristão e, baseando-se na Palavra de Deus, é preciso vencer o relativismo, aliado a um bom testemunho de vida pessoal, de evangelização, de amor e de caridade.
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Capítulo 8 Sobre esta pedra edificarei minha empresa O mundo atual está dominado pela cultura consumista, pela indústria do entretenimento, por corporações financeiras e conectado por redes mundiais de computadores através da globalização. O capitalismo contemporâneo faz com que o indivíduo consuma cada vez mais, obcecado por seu objeto de desejo. Está mais evidente, a cada dia, para milhares de fiéis/consumidores que suas buscas por conveniências chegaram ao fim, afinal sempre encontram templos abertos por todos os cantos, oferecendo um imenso portfólio de serviços que estão dispostos resolver as carências mais imediatas dessa sociedade de consumo. Segundo Bauman o individualismo religioso cada vez mais se acirra e motiva as pessoas a serem, ao mesmo tempo, obcecadas pelos valores materiais e por aquilo que estes podem lhes proporcionar.5 Essa espiritualidade pós-moderna surge no mercado religioso como uma fé privatizada que, em parte, explica a Babel que vivemos na atualidade.6 Observa-se no cenário atual o crescimento de várias “igrejas-empresas”, verdadeiros holdings da fé com vasta exploração de recursos publicitários e presença na mídia.7 As igrejas estão mostrando uma rápida uma adaptação ao mercado religioso, estão adotando várias estra5 BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001, p. 73. 6 KIVITZ, René Ed. A espiritualidade na pós-modernidade. in revista Eclésia, nº116 – 2007, p. 50. 7 FONSECA, Alexandre Brasil. Evangélicos e mídia no Brasil. Rio de Janeiro: Dissertação de Mestrado em Sociologia, IFCS-UFRJ, 1997, p. 177.
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tégias de comunicação, de marketing e racionalização de seus processos organizacionais. Os modos de disseminação utilizados pelas organizações religiosas através da imprensa estão, cada vez mais, semelhantes aos das empresas contemporâneas. Essa maciça utilização de estratégias mercadológicas por determinados grupos religiosos ocorre em face das competitivas disputas de espaço no empreendorismo religioso. Tais empresas da religião utilizam como ferramenta de propaganda tanto os meios de comunicação de massa quanto sua rede de templos espalhados pelo país, que se tornam verdadeiros pontos de venda de produtos. Nesses locais, as práticas de merchandising são efetuadas de maneira bastante agressiva. No meio do culto são divulgados livros, nos quais o pregador (pessoa de alto prestígio entre os presentes) relata que obteve sucesso somente após a leitura daquele material e que está disponível a todos que quiserem comprar ao final do culto. Está chegando a ficar hilário o uso deliberado das estratégias publicitárias de mercado e as batalhas entre as próprias instituições religiosas nos meios de comunicação. Verifica-se uma disputa fantástica para conseguir a atenção dos fiéis através de ofertas de serviços religiosos cada vez mais diversos. No capítulo sobre o relativismo religioso foi apresentada uma oferta de uma “lipoaspiração divina”. Será que Deus está realmente preocupado com o nosso peso? Através dos meios de comunicação já vimos uma igreja atacando a outra, chegando a afirmar que o demônio estava com o fundador de uma igreja e por isso estava tirando muitos membros da sua. (pastor que apresentava o vídeo) Basta procurar no youtube por “aviso aos incautos”. Em face do consumismo de nossa era, os líderes religiosos também entram nos veículos de comunicação de massa apenas para divulgar no mercado suas diversas marcas para que os fiéis consumidores localizem, reconheçam e escolham os produtos que mais desejam. A liberdade religiosa em que vivemos na atualidade favore70
ce a livre “concorrência gospel”. Dá-me muita tristeza ao ver tudo isso, pois todos os profissionais religiosos que são responsáveis por esse movimento deveriam ser os primeiros a combater a comercialização da fé. É muito alarmante que a banalização da fé cristã ocorra e se levantem poucos corajosos para defendê-la. Como podemos observar, existem no mercado várias igrejas-empresa, cujas atividades empresariais estão mais voltadas para práticas mercantilistas e de marketing do que a busca por levar pessoas a um encontro genuíno com Cristo. Essas empresas religiosas, além de buscarem a defesa de seus interesses institucionais, visam o lucro e, em muitas delas, o resultado é um enriquecimento ilícito de seus empresários que são diretamente responsáveis pela comercialização dos produtos e serviços religiosos. Tudo isso ocorre no Brasil porque as organizações religiosas gozam de amplos privilégios fiscais e legais, além de baixa fiscalização do Estado, conforme prevê a nossa Magna Carta.8 Apoiado pela legislação pátria, as entidades religiosas vêm, a cada dia, diversificando e ampliando seu poderio econômico, muitas igrejas-empresa estão aumentando as fronteiras das instituições, chegando a incomodar outros grupos empresariais, isso porque seus negócios não contam com isenções fiscais e nem com o grande potencial de investimento oriundo dos dízimos e ofertas de colaboradores. Em vários empreendimentos religiosos notamos uma enorme falta de ética na captação de recursos financeiros e, em alguns casos, configura-se até o crime de estelionato. Nos modelos atuais de gestão empresarial 8 Art. 150. - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: VI – Instituir impostos sobre: b) templos de qualquer culto; Parágrafo 4º. - As vedações expressas no inciso VI, alíneas b e c, compreendem somente o patrimônio, a renda e os serviços relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas.
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vemos muitos pastores ensinando sobre a “determinação”. Trata-se de uma técnica baseada no ato de exigir de Deus a resposta de seus problemas, o que proporciona ao fiel uma perspectiva de fé vencedora na plena satisfação dos seus interesses. Segundo esses pastores, é o meio mais rápido e seguro de recebermos as bênçãos de Deus. Nessas igrejas, questionar, duvidar ou julgar as pregações do pastor são atitudes demoníacas, pois o bom crente deve obedecer, ajudar, ofertar, evangelizar, enfim, fazer o que diz ou ordena o “ungido do Senhor”. Não há espaço para dúvida nos sermões pregados, afinal “a dúvida é do Diabo” e os verdadeiros cristãos depositam plena fé na pregação desses gurus. Tais líderes religiosos não podem ser considerados pastores e sim dirigentes que são chefes, proprietários, caciques e caudilhos de um movimento religioso criado por eles mesmos e transmitido de pai para filho de acordo com o modelo patrimonial e/ou por nepotismo de reprodução.9 Portanto, é fácil para esses gerentes transformar um ato que deveria ser voluntário em obrigatório e digno de louvor. Esse é um método perfeito para edificar uma grande empresa em cima de uma igreja. A atual condição econômica desfavorável em nosso país predispõe às pessoas a buscarem respostas imediatas para veremse livres de seus sofrimentos. Para atender essa grande fatia de consumidores, não faltam empresas no mercado religioso. Muitos pastores exploram a miséria, a carência, a doença e o sofrimento das pessoas para promoverem suas carreiras. Infelizmente, as muitas igrejas tornaramse num instrumento de “enfrentamento da pobreza”. Uma das estratégias das empresas religiosas tem sido adaptar a mensagem bíblica às necessidades e desejos de pessoas carentes e leigas para a captação de recursos financeiros. 9 BASTIAN, Jean-Pierre. La mutación del protestantismo latinoamericano: una perspectiva socio-histórica. In: GUTIERREZ, Tomás (Org.), Protestantismo y cultura en América Latina: aportes y proyecciones. Quito, Equador: Clai-Cehila, 1994, p. 126.
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Tais métodos heterodoxos de captação de recursos financeiros ensejam em várias acusações de exploração financeira e de uma espécie de “mercantilismo gospel”, o que culmina em sérios prejuízos para a imagem de retidão do cristianismo. Grandes evidências desse mercantilismo são marcadas pelo o grande montante de recursos financeiros arrecadados por estas instituições, construções de mega -igrejas, a oferta de produtos religiosos em expansão em associação com empresários, realização de “marchas” ou “cruzadas” em estádios ou locais que comportem grande quantidade de público, o que fomenta o turismo e as economias locais bem como emissoras de televisão pertencentes a líderes religiosos. Infelizmente, muitas igrejas funcionam como verdadeiras empresas, sendo que os membros podem ser comparados a sócios de Deus. São pagos dízimos e ofertas no intuito de receberem algo em troca. Os serviços mais solicitados nas igrejas são: empregos, curas de enfermidades, cura de vícios e soluções para dívidas financeiras. Essa individualização da religião traz como consequência a transformação da religiosidade em algo cada vez mai secularizado, em que as entidades religiosas tornam-se praticamente obrigadas a seguir as regras de mercado. As igrejas têm se multiplicado num sistema de “franquias religiosas”. Muitos empreendedores têm uma formação teológica muito baixa e, em muitos casos, nula, mas isso não importa. Para denominarem-se pastores, bastam ter uma capacidade de captar fiéis e gerar dividendos para sua igreja-empresa. Muitos desses pastores em vez de receberem qualificação teológica, são treinados para serem verdadeiros vendedores utilizando um discurso agressivo como estratégia de marketing. O que muitos protestantes criticam ter feito a Igreja Católica no passado com a venda de indulgência estão fazendo agora transvertido de ofertas para o alcance de satisfações imediatas. A grande diferença era que naquela época o povo buscava a salvação de suas almas e das al73
mas de seus familiares, contudo, hoje as pessoas buscam a realização imediata de interesses e satisfações pessoais. O resultado da pluralização e total liberdade religiosa é o crescimento assustador de “profissionais religiosos” que de forma muito inteligente tiveram a sensibilidade de acompanhar o mercado e impor aos seus fiéis um extraordinário ativismo religioso que, praticamente, alienam as pessoas ao consumismo de bugigangas religiosas. Esses profissionais revelam-se verdadeiros mestres na arte de aquecer este mercado que é carente de fiscalização estatal. Para suas empresas surge o conceito de capital social/espiritual à guisa de obtenção de mais e mais recursos financeiros. Diante da atual situação pluralística pós-moderna, as igrejas-empresa para se manterem, passam a enfrentar a seguinte dinâmica: estar sempre de acordo com a preferência de seu consumidor. Para que subsistam, é fundamental que sua prática religiosa não seja mais imposta e sim posta no mercado, visto que as necessidades e desejos dos fiéis precisam ser levados em consideração no momento da oferta de algum bem ou serviço de religioso. Dessa maneira, a preferência dos frequentadores pode induzir a mudanças na esfera religiosa de um modo sem precedentes. 10 Atualmente, para facilitar a captação de recursos, as igrejas já estão criando cartões de crédito e maneiras mais práticas para que seus fiéis contribuam com seus dízimos e ofertas. Para que o membro ou simpatizante da igreja possa contribuir sem precisar se preocupar em enfrentar filas de banco ou mesmo acabar esquecendo-se de levar o dinheiro até o templo, estão sendo feitas parcerias com bancos para ser realizado um débito automático na conta corrente do fiel. O doador faz essa opção no site da igreja e o valor somente é debitado se houver saldo na 10 BERGER. Peter Ludwig. O dossel sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião. Tradução José Carlos Barcelos. São Paulo: Paulinas, 1985, p. 156.
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conta do cliente, caso contrário o valor não é descontado. Além dos dízimos e ofertas estão sendo feitas parcerias com empresas de cartões de crédito para aumentar a arrecadação, sob a alegação de investimentos em ações sociais.
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Agora deve ser levantada a questão da defesa do consumidor religioso junto aos poderes públicos. A nossa Constituição Federal estabelece como direito e garantia fundamental a obrigação do Estado em defender o consumidor. 11 Uma das formas de se evitar fraudes, danos morais e patrimoniais aos fiéis é aceitar a possibilidade de intervenção estatal para a defesa dos consumidores religiosos. A atual forma de gestão de muitas igrejas possibilita a aplicação do Código de Defesa do Consumidor, pois é flagrantemente visível a figura do consumidor, do fornecedor e do produto/serviço que são requisitos para a aplicação deste código. Apesar de existirem muitos líderes sérios e comprometidos com o Reino de Cristo, existem também muitos dirigentes corruptos e vazios de caráter que aplicam diversas “práticas religiosas abusivas” que, aproveitando da fragilidade de suas vítimas, aplicam verdadeiros golpes através de promessas não cumpridas e milagres que jamais ocorreram ou foram prometidos na Bíblia. A seguir vejamos uma decisão judicial a favor de um fiel que foi vítima dessas praticas citadas:
11 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; 78
1. Número: 70039957287
Tribunal: Tribunal de Justiça do RS
Seção: CIVEL
Tipo de Processo: Apelação Cível
Órgão Julgador: Nona Câmara Cível
Decisão: Acórdão
Relator: Iris Helena Medeiros Nogueira
Comarca de Origem: Esteio
Ementa: RESPONSABILIDADE CIVIL. DOAÇÃO. COAÇÃO MORAL EXERCIDA POR DISCURSO RELIGIOSO. AMEAÇA DE MAL INJUSTO. PROMESSA DE GRAÇAS DIVINAS. CONDIÇAO PSIQUIÁTRICA PRÉ-EXISTENTE. COOPTAÇAO DA VONTADE. DANO MORAL CONFIGURADO. INDENIZAÇÃO ARBITRADA. 1. ANÁLISE DO ARTIGO 152 DO CÓDIGO CIVIL. CRITÉRIOS PARA AVALIAR A COAÇÃO. A prova dos autos revelou que a autora estava passando por grandes dificuldades em sua vida afetiva (separação litigiosa), profissional (divisão da empresa que construiu junto com seu ex -marido), e psicológica (foi internada por surto maníaco, e diagnosticada com transtorno afetivo bipolar). Por conta disso, foi buscar orientação religiosa e espiritual junto à Igreja Universal do Reino de Deus. Apegou-se à vivência religiosa com fervor, comparecia diariamente aos cultos e participava de forma ativa da vida da Igreja. Ou seja, à vista dos critérios valorativos da coação, nos termos do art. 152 do Código Civil, ficou claramente demonstrada sua vulnerabilidade psicológica e emocional, criando um contexto de fragilidade que favoreceu a cooptação da vontade pelo discurso religioso. 2. ANÁLISE DOS ARTIGOS 151 E 153 DO CÓDIGO CIVIL. PROVA DA COAÇÃO MORAL. Segundo consta da prova testemunhal e digital, a autora sofreu coação moral da Igreja que, mediante atuação de seus prepostos, desafiava os fiéis a fazerem doações, fazia promessa de graças divinas, e ameaçava-lhes de sofrer mal injusto caso não o fizessem. No caso dos autos, o ato ilícito praticado pela Igreja materializou-se no abuso de direito de obter doações, mediante coação moral. Assim agindo, violou os direitos da dignidade da autora e lhe casou danos morais. Compensação arbitrada em R$20.000,00 (vinte mil reais), à vista das circunstâncias do caso concreto. 3. MULTA POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ AFASTADA. 4. REDEFINIDA A SUCUMBÊNCIA. RECURSO DA AUTORA CONHECIDO EM PARTE, E NESSA PARTE, PROVIDO PARCIALMENTE. PREJUDICADO O RECURSO DA RÉ. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70039957287, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Iris Helena Medeiros Nogueira, Julgado em 26/01/2011) Jurisprudência: APC 273753 - 4/8 - TJSP APC 252381 - 4/6 00 TJSP APC 3106730 0041 - TJSP Revista de Jurisprudência: RJTJRS, v-280/274 Data de Julgamento: 26/01/2011 Publicação: Diário da Justiça do dia 10/03/2011
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Graças a Deus ainda temos igrejas mais tradicionais que ainda pregam a genuína Palavra de Deus estabelecendo algumas normas, dogmas e buscam a racionalidade em suas ações para conduzirem suas ovelhas a um único caminho, Jesus Cristo. A praga do protestantismo tem sido a sua mercantilização que valoriza a subjetividade teológica e o individualismo religioso. Gosto muito do que Agostinho cita em uma de suas cartas: “É impossível que Deus odeie em nós o atributo pelo qual nos fez superiores aos demais seres vivos. Devemos, portanto, recusar-nos a crer de um modo que não receba ou não busque razão para nossa crença, uma vez que sequer poderíamos crer se não tivéssemos almas racionais”.
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Capítulo 9 As doenças psicossomáticas dentro da Igreja Esse é um assunto bem delicado de ser trabalhado dentro da religiosidade cristã porque envolve duas ciências que, por muito tempo, foram consideradas completamente antagônicas. Contudo, creio que o Senhor nos capacita com o conhecimento para o louvor e glória de Seu santo nome, por isso reputo fundamental a interdisciplinaridade entre a Teologia e a Psicologia. Por muitos anos vários pastores acreditavam ser completamente errado recorrer aos ensinos da psicologia para aconselhar suas ovelhas. John Macarthur fala que a verdadeira psicologia pode ser praticada somente por cristãos, pois a psicologia secular baseia-se em pressupostos ateístas e em fundamentos evolucionistas, portanto está apta a lidar com pessoas apenas num nível superficial e temporal.12 Apesar do grande respeito e admiração que tenho por esse grande teólogo não posso concordar, completamente, com essa ideia. Entre alguns cristãos há um significativo preconceito quanto aos ensinamentos da psicologia, isso ocorre porque não é considerada, essencialmente, uma ciência cristã e se fundamenta em pressuposições seculares. Dessa forma, alguns psicólogos, por diversas vezes, usam métodos que não são compatíveis com a Bíblia e chegam a conclusões que são contrárias à cultura cristã. Um dos ícones desse ramo científico, Freud, enxergava a religião como ópio e as pessoas religiosas como seres 12 MACARTHUR, John. Nossa Suficiência em Cristo: três influências letais que minam a sua vida espiritual. Editora Fiel, 2007, p. 51-52.
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completamente instáveis que necessitam de bengalas. Em face de alegações como essas, vários cristãos chegam a conclusões precipitadas de que toda psicologia é contraria à Bíblia e repudia a Deus. Entretanto, a maioria dos psicólogos não são opositores do cristianismo e muitas pesquisas que são realizadas por psicólogos não cristãos são muito úteis para a humanidade. Foram através de pesquisas como essas que se chegou ao conhecimento de que a depressão tem como causa perdas na vida que não foram superadas ou quando ocorrem mudanças fisiológicas no organismo de uma pessoa sendo que, essas conclusões, de maneira alguma, são contrárias às doutrinas Bíblicas e são completamente úteis aos cristãos. À medida que desprezamos todo um ramo científico como a psicologia, descartamos um campo de conhecimento que Deus nos permitiu descobrir e usar em nosso benefício. Em virtude desse entendimento equilibrado é que muitos seminários já adotaram em sua grade curricular a disciplina Psicologia Cristã de forma a capacitar nossos líderes para melhor desenvolverem seu ministério. Superado esse preconceito, passemos a utilizar esse ramo científico como forma para melhor conhecermos as pessoas e aperfeiçoar o trabalho pastoral, principalmente no que tange ao aconselhamento cristão. É de extrema importância que o líder cristão observe a realidade em que uma pessoa vive. Muitas das pessoas que procuram uma igreja cristã na atualidade vivem muitos problemas e enfrentam muitas dificuldades. Vivemos em um contexto social de crise econômica, altas taxas de desemprego, desestruturação familiar, pobreza, violência e grande deficiência dos serviços públicos de educação e saúde. No Brasil, infelizmente, são poucas as pessoas que vivem fora desse contexto social. Muitas delas sofrem com essas mazelas da vida e procuram refrigério para suas dores dentro da Igreja. Excelente, pois é lá mesmo que nós cristãos devemos receber de braços abertos essas pessoas e ajudá-las 82
no que mais necessitam. Entretanto, muitos líderes cristãos por compreenderem esse quadro acabam utilizando-o em favor próprio. Muitas igrejas enfatizam sua doutrina no “evangelho da saúde perfeita e da vida sempre próspera” atribuindo os sofrimentos e doenças que acometem muitas pessoas aos demônios que são, de forma pejorativa, chamados “encostos” ou “espíritos imundos”. As pessoas que já se encontram fragilizadas pelos problemas sociais, familiares e de saúde acabam sendo, facilmente, envolvidas na mística criada por esses pregadores. É criado um ambiente completamente místico em que eles “travam” verdadeiras guerras contra esses “espíritos imundos”. Não estou aqui para dizer que não acredito que existem tais espíritos e que tais seres não exercem nenhuma influência sobre a humanidade, até porque teria que negar muitos escritos bíblicos, como o descrito em Lucas 13:11-16: E eis que estava ali uma mulher que tinha um espírito de enfermidade, havia já dezoito anos; e andava curvada, e não podia de modo algum endireitar-se. E, vendo-a, Jesus, chamou-a a si, e disse-lhe: Mulher, estás livre da tua enfermidade. E pôs as mãos sobre ela, e logo se endireitou, e glorificava a Deus. E, tomando a palavra o príncipe da sinagoga, indignado porque Jesus curava no sábado, disse à multidão: Seis dias há em que é mister trabalhar; nestes, pois, vinde para serdes curados, e não no dia de sábado. Respondeu-lhe, porém, o Senhor, e disse: Hipócrita, no sábado não desprende da manjedoura cada um de vós o seu boi, ou jumento, e não o leva a beber? E não convinha soltar desta prisão, no dia de sábado, esta filha de 83
Abraão, a qual há dezoito anos Satanás tinha presa?
Entretanto, não acredito na generalização realizada por esses pregadores de que todos os problemas enfrentados pelos seres humanos são culpa exclusiva desses “espíritos imundos”. É necessário que o líder cristão tenha discernimento para saber distinguir os acontecimentos espirituais dos acontecimentos terrenos. Vários males que ocorrem na vida do ser humano são causados pelo próprio homem e Jesus afirmou isso: Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, Os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem. (Marcos 7:21-23)
Nós, seres humanos, temos a enorme dificuldade de enxergar nossa carnalidade, nossas falhas e os nossos defeitos. Defendemos nossas ações e as da nossa família com justificativas débeis e cheias do perfume das desculpas. Nascemos em pecado, pecamos todos os dias através de nossos pensamentos, palavras, ações e omissões além de estarmos num mundo corrompido onde cada pessoa busca seus interesses. Ao longo dos anos, tenho percebido que muitas pessoas que chegam enfermas nas igrejas vivem um quadro alarmante em suas vidas. Muitas pessoas que entram nos templos sofrem com problemas familiares, problemas financeiros, problemas de saúde, etc. Tais sofrimentos levam as pessoas a uma carga de tensão emocional muito grande ocasionando um fenômeno chamado somatização. A somatização nada mais é do que um 84
processo de deslocamento das emoções desagradáveis que o sujeito é incapaz de tolerar, levando aos sintomas físicos. O sintoma no corpo é o resultado de um conflito intrapsíquico que se dá em nível inconsciente. As situações de vida estressantes como dificuldades no trabalho ou econômicas, perdas de entes queridos, desavenças familiares, frustrações em negócios mal resolvidos podem ser fatores desencadeantes. A somatização, frequentemente, é considerada como expressão de “dor psíquica” de pessoas que não conseguem enfrentar seus problemas de outra forma e por isso, refletem essas dores sob a forma de queixas corporais. Os fatores psicológicos e psicossociais desempenham um papel importante na etiologia dessa condição. Em pacientes com transtornos de somatização, o sofrimento emocional ou as situações de vida difíceis são experimentados como sintomas físicos. No século XVIII, Descartes ensinava que as funções mentais eram separadas do corpo, entretanto, tal ideia acabou ao decorrer dos anos, sendo substituída pela afirmação de que o corpo é o receptáculo das experiências físicas e emocionais vividas por todos nós desde a gestação até a morte.13O nosso corpo sente as emoções vividas, aprende com elas, acaba se disciplinando com as circunstâncias e expressa conflitos emocionais da mente seja através dos tecidos celulares, na qualidade do tônus muscular, nas expressões faciais, nos ritmos circulatórios, na postura que apresentamos e até no nosso tom de voz. Muitas das vezes acontecimentos difíceis de se superar deixam marcas profundas e irreversíveis. Reich foi o primeiro cientista a mapear as regiões do corpo humano onde se localizam as emoções. Na pele e nos olhos, 13 VOLPI, José Henrique. Quando o corpo somatiza os conflitos da mente. Artigo do curso de Especialização em Psicologia Corporal. Curitiba: Centro Reichiano, 2005.
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encontramos o medo. Aí a expressão de olhos arregalados ou alergias, como por exemplo a urticária quando estamos temerosos ou assustados por algum motivo. Na região da boca encontramos a raiva, característica do bruxismo. No pescoço é onde se localiza a arrogância e o controle, por isso pessoas narcisistas ou controladoras apresentam um bloqueio nessa região e como manifestação somática encontramos, por exemplo, o torcicolo. O peito é a região do afeto e é onde se localizam as emoções do amor e do ódio que quando entram em conflito, trazem a angústia que por sua vez contribui para a manifestação dos problemas cardíacos e pulmonares. O diafragma é a região onde esse localiza a ansiedade, típica de pessoas agitadas, trazendo como manifestações somáticas a gastrite, a úlcera, problemas renais, etc. No abdômen encontramos a impulsividade e como manifestação somática a constipação. O corpo não esquece. Tudo o que foi vivido permanece registrado. A somatização é uma forma de comunicação desses registros ancorados no corpo.14
A doença psicossomática tem sua origem na psiché e caracteriza-se, principalmente, pelo disfuncionamento ou mesmo lesão do soma que tem como causa uma biografia de vida repleta de sofrimentos psíquicos. O conflito interno mental ou externo social deriva sobre o corpo, escoa nas suas alterações e fala pela sua linguagem.15 14
Ibid.
MATOS, Coimbra de. A dimensão da depressividade no adoecer somático. O Médico, 1891, p. 322-331 86 15
Os fatores emocionais influenciam todos os processos do corpo, através das vias nervosas humorais sendo que os fenômenos somáticos e psicológicos ocorrem no mesmo organismo e são apenas dois aspectos do mesmo processo. Dessa forma, os sintomas têm sua origem nas sensações corporais amplificadas através de interpretações errôneas ou nas manifestações somáticas das emoções. As pessoas que vivem preocupadas com a doença sentem-se mais vulneráveis e costumam procurar anomalias no corpo, detectando sensações que se identifiquem com sintomas de doença. Já em muitas pessoas existe o fator de o corpo somatizar uma necessidade de estar doente. A doença, em certos casos, propicia ao doente certo alívio de expectativas interpessoais estressantes. Já vi casos de mulheres que por viverem apanhando do marido que só chega em casa bêbado, que sofrem com o filhos usuários de drogas e que vivem numa miséria em seus lares sofrerem paralisias no corpo. Aquela doença, de certa forma, traz um ganho primário, pois deixaria de apanhar do marido e ganharia atenção dos familiares.16 Ao longo das nossas vidas, nosso corpo guarda em seu interior sensações que estão diretamente ligadas aos nossos sentimentos e vivências afetivas, tanto de cunho positivo quanto de cunho negativo. Algumas dessas sensações desaparecerão com o passar dos anos, mas outras delas se sedimentarão em nosso interior ficando gravadas em nosso corpo e em nossa mente, mesmo que de forma inconsciente e involuntária. Essas lembranças reagirão frente a ações e impactos que sofremos no nosso viver diário, principalmente, em situações de alto nível de estresse em forma de doença. Segundo Freud:
16 Condemarin PE. Transtornos Somatomorfos. Revista Hospital Clinico Universidad de Chile 1999;
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Todo evento, toda impressão psíquica é revestida de uma determinada carga de afeto da qual o ego se desfaz, seja por meio de uma reação motora, seja pela atividade psíquica associativa. Se a pessoa é incapaz de eliminar esse afeto excedente ou se mostra relutante em fazê-lo, a lembrança de impressão passa a ter a importância de um trauma e se torna causa de sintomas histéricos permanentes.17
É possível afirmar que grande parte dos eventos psíquicos possui uma carga afetiva. A lembrança de uma situação com alto nível de stresse e abalo emocional deve ser descarregada através de uma válvula de escape. Quando esses sentimentos não são descarregados, segundo a teoria freudiana, o aparelho psíquico perde o seu equilíbrio. Dessa forma, um conflito desprazeroso para a consciência converte-se num sofrimento corporal. A conversão significa a passagem de uma energia do domínio psíquico para o somático. Freud então explica que os sintomas histéricos podem ser versáteis como: dores, formigamentos, paralisias, cegueiras, surdez, gagueira, afonia, crises convulsivas, pseudociese e anorexia.18 Para Birman as pessoas que sofrem de uma dificuldade na elaboração psíquica de seus conflitos, utilizam a descarga motora sobre o corpo como única possibilidade para manter constante o nível de tensão psicológica consequente de emoções, impulsos não satisfeitos, desviados 17 FREUD, S. (1893a). Estudos Sobre a Histeria. Rio de Janeiro: Imago, 1996. (Coleção Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Freud, v. 3), p. 215.
FREUD, S. (1894). As neuropsicoses de defesa. Rio de Janeiro: Imago, 1996. (Coleção Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Freud, v. 3. 88 18
e reprimidos.19 São pessoas assim que entram em muitas igrejas e acabam sendo presas fáceis nas mãos dos famigerados teólogos da prosperidade. Os líderes da prosperidade enfatizam, segundo a sua doutrina, o porquê das doenças e não o como. O porquê é sempre mais importante, pois para eles fica fácil arranjar um bode expiatório para colocar a culpa, seja em Satanás, seja no pecado. Dessa maneira, essas igrejas acabam oferecendo um mundo que recebe, dá proteção e oferece o que pessoas procuram numa religião: promessa de satisfação das suas necessidades, um novo sentido para a vida e controle do presente e do futuro. Basta ligar a televisão e vemos diversas dessas igrejas atuando, principalmente, na área das doenças psicossomáticas. Prometem curas e amparo emocional interferindo na maneira como os fiéis encaram, elaboram e aceitam esse fato. O fiel é transformado num cliente da igreja, num legítimo consumidor que procura nas prateleiras dos templos bens e serviços oferecidos por essas igrejas-empresa. Para os dirigentes dessas denominações, a doença é vista como um problema além do físico, tem um significado exclusivamente espiritual. O cristão que não adoece demonstra que é protegido ou possui a bênção do Criador, sugerindo assim, a noção de corpo fechado. O crente batizado e fiel, principalmente, nos dízimos e ofertas, possui o corpo fechado para o mal e não são atingidos. Entretanto, as demais pessoas possuem o corpo aberto e são suscetíveis a todos os males causados pelo inimigo. O engraçado é que muitos desses pastores chegam a apresentar sintomas mais comuns para as pessoas endemoniadas: dores de cabeça, insônia, vícios, depressão, nervosismo, medo, desejo de suicídio, desmaios, depressão, etc. O interessante é que, segundo esse conceito, qualquer pessoa pode ser possuída um dia na vida, pois, mais cedo ou mais tarde, experimentarão um ou mais desses sinto19
Birman, J. (1980). Enfermidade e loucura. Rio de Janeiro: Campus. 89
mas. Muitos desses pastores incitam a descrença na medicina oficial. De forma recorrente pessoas apresentam seus testemunhos alegando que foram desenganadas pelos médicos ou que eles não sabiam o motivo da doença. Nessa hora, os pastores questionam a essas pessoas quanto gastaram com médicos e não foram curadas. Enfatizam que gastaram a toa e seria melhor ter dado o dinheiro gasto à igreja. O argumento é que se o dinheiro for doado, o fiel será abençoado, caso contrário, todo o dinheiro que retiver será amaldiçoado. Tais curas dessas doenças são realizadas através de um forte misticismo que mexe na psique da pessoa. O ponto máximo desses cultos é o momento da oração feita expulsando o “espírito de enfermidade” que é regada de tamanha “autoridade” e “determinação”, gerando no público a expectativa de fé na cura, que os leva a se sentirem libertos. A explicação da cura realizada por esses pastores está arraigada na fé da pessoa, portanto afirmo que a oração de muitos desses pastores tem a função idêntica de um placebo, substância fornecida por médicos a pessoas doentes que acreditam que podem ser curados. A palavra placebo deriva do latim, do verbo placere, que significa “agradar” e tem como definição, um tratamento inócuo, ou seja, é uma substância ou procedimento que não tem um poder inerente para produzir um efeito que é desejado ou esperado. Os somatizadores são convencidos, por seus sintomas, de que seu sofrimento provém de algum tipo de distúrbio físico presumivelmente não descoberto e intratável.20 Sabendo disso, líderes inescrupulosos envolvem os fiéis numa magia e aproveitando de sua boa oratória convencem multidões de suas pífias doutrinas. O fiel é envolGuggenheim F, Smith GR. Tanstornos Somatoformes. In: Kaplan HI, Sadock BJ. Tratado de Psiquiatria 6ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 20
1999, p. 1361-81.
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vido num ambiente tão místico de promessas de felicidade, saúde, prosperidade financeira que os seus sofrimentos acabam sendo, momentaneamente, esquecidos. De acordo com Sternberg, o cérebro e o sistema imunológico enviam sinais um ao outro continuamente, em geral pelas mesmas vias, o que pode explicar como o estado mental influencia na saúde. Esses sinais também afetam o comportamento, induzindo-os para que ajudem na recuperação de doenças ou ferimentos.21 As abordagens realizadas por essas igrejas acabam fazendo com que as pessoas que somatizaram seus problemas no corpo, esqueçam-se deles e voltem a ter uma esperança no futuro em virtude das promessas falaciosas. Tais acontecimentos são típicos de igrejas neopetencostais e é por isso que o maior número de cristãos desviados são dessas denominações. As promessas feitas pelos seus líderes acabam não se cumprindo, pois os problemas que levaram à doença psicossomática continuam e as pessoas retornam ao “status quo”, entretanto, agora desiludidas com o Deus, que jamais conheceram. As abordagens desses pastores são abordagens psicoterápicas que são as mais antigas modalidades terapêuticas conhecidas na história da medicina. Há anos é sabido que os seres humanos influenciam-se uns aos outros de diversas maneiras, tanto no sentido positivo quanto no negativo.22 Seria um fator bastante positivo se tais abordagens fossem realizadas sem o objetivo de usar a fé para manipular, enganar e arrancar o pouco dinheiro dessas pessoas. Dentro do nosso contexto econômico e cultural, a vida por si só já é dura demais para as pessoas, por isso devemos fazer o nosso papel como verdadeiros cristãos e lutar pela verdade. Pessoas estão sendo enganadas para 21 STERNBERG, E. M.; GOLD, F. A interação corpo-mente nas doenças. Rev. Scientrific American Brasil, 2004, ed especial n° 4, p 84-91. 22 TOSTES, L. R. M. O Efeito Placebo e os Aspectos Inespecífiocs das Psicoterapias. Jornal Bras. Psiquiatr, novembro/dezembro de 1985, vol 34 n° 6, p 395-398.
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enriquecer determinados “empresários gospel” e a igreja de Cristo tem que combater esse mal através de um bom discernimento para orientamos as ovelhas do nosso Supremo Pastor, Jesus Cristo.
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Capítulo 10 Teologia da Prosperidade: uma barganha com Deus? Muitas pessoas que aderiram a Teologia da Prosperidade como doutrina ortodoxa consideram Kenneth E. Hagin como o fundador desse movimento, contudo, o seu verdadeiro originador foi Essek William Kenyon (1867-1948) através da confissão positiva. Kenyon nasceu no condado de Saratoga, Estado de Nova York e, posteriormente, mudou-se para Boston, onde estudou no Emerson College. Nesse educandário tornou-se um seguidor fiel de ensinos “transcendentais”. Acreditava que tais ensinos eram a melhor maneira de ver o mundo, sendo completamente compatível com o cristianismo, além de oferecer um aperfeiçoamento da espiritualidade cristã. Dessa forma, Kenyon reuniu a fé cristã com o ensino transcendental, defendendo que a mente pode controlar a nossa realidade. Segundo Romeiro antes de adentrarmos na chamada Teologia da Prosperidade é necessário entender o movimento que é conhecido como confissão positiva: Confissão positiva é um título alternativo para a teologia da fórmula da fé ou doutrina da prosperidade promulgada por vários televangelistas contemporâneos, sob a liderança e inspiração de Essek Willian Kenyon. A expressão “confissão positiva” pode ser legitimamente interpretada de várias maneiras. O mais 93
significativo de tudo é que a expressão “confissão positiva” se refere literalmente a trazer à existência o que declaramos com nossa boca, uma vez que a fé é uma confissão.23
Esse ensinamento metafísico defende a ideia de que a realidade está muito além do âmbito físico, sendo que a esfera espiritual é, definitivamente, superior ao mundo físico e controla todos os seus aspectos. A partir desse pressuposto, tal doutrina afirma que a mente humana é capaz de controlar a esfera espiritual. O ser humano tem a plena capacidade de controlar o mundo material através de sua influência sobre o mundo espiritual, especialmente, no que diz respeito à cura de enfermidades. Kenyon sustentava que essas ideias eram compatíveis com o cristianismo e aperfeiçoavam a espiritualidade, pois o crente poderia reivindicar os plenos benefícios da salvação, caso realizasse o correto uso da mente. Kenyon alcançou o auge de sua carreira nos anos 30 e 40 através do evangelismo pelo rádio, diga-se de passagem, foi o pioneiro nessa forma de evangelismo. Seus ensinamentos foram bem acolhidos pelas igrejas denominadas pentecostais, local onde encontrou um público receptivo. De acordo com Pieratt24 o movimento pentecostal é um fenômeno relativamente novo, com no início do século XX, nos Estados Unidos. Mas o evangelho da prosperidade é ainda mais novo, pois a sua doutrina desenvolveu-se o suficiente para ser identificado como um movimento constituído nos anos 70. Nessa década houve 23 ROMEIRO, Paulo. Super crentes: o evangelho segundo Kenneth Hagin, Valnice Milhomens e os profetas da prosperidade. 3. ed. São Paulo: Mundo Cristão, 1993, p.06. 24 PIERATT, Alan B. O Evangelho da Prosperidade: Análise e Resposta. Tradução de Robinson Malkones. Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, São Paulo, 1993, p. 17.
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a expansão de vários movimentos religiosos que enfatizavam a cura divina, a prosperidade econômica e o poder da fé para vencer os problemas da vida, ocasião em que se destacou a pregação do famoso Kenneth E. Hagin. É importante destacar que a Teologia da Prosperidade não teve sua origem no pentecostalismo cristão, entretanto, tais denominações criaram um espaço que favoreceu o crescimento dessa doutrina através da aceitação da autoridade profética desses novos evangelistas. Kenneth Erwin Hagin (1917-2003) foi um dos maiores divulgadores dos ensinamentos de Kenyon, chegando a ser denominado como o pai da Teologia da Prosperidade. Hagin nasceu no estado do Texas, cidade de McKinney e enfrentou muitas dificuldades logo na sua infância com problemas cardíacos. Na sua adolescência chegou a ficar confinado em uma cama, onde, segundo ele, teve algumas experiências com Deus. Por três vezes foi ao céu e ao inferno e após isso se converteu. Depois que fez essas visitas chegou a conclusão que o trecho bíblico exposto em Marcos 11:23-24 mostrava que para receber a bênção o crente deveria crer em seu coração e declarar/ decretar verbalmente com fé, pois o que o que foi decretado será da pessoa. Somente depois que ele entendeu isso, obteve a cura de sua enfermidade. Hagin alegava que recebeu diretamente de Deus uma unção divina especial para ser um profeta em virtude ter, segundo ele, tido oito visões de Jesus Cristo, além de diversas experiências fora do corpo. Nesses momentos o próprio Deus transmitiu-lhe seus ensinos, entretanto, verifica-se que ele se inspirou em Essek William Kenyon, pois chegou a copiar vários trechos dos livros desse teólogo.
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De fato, em alguns casos, Hagin não somente leu os textos de Kenyon; ele copiou palavra por palavra e, depois, lançou os resultados como se fossem fruto de seu trabalho. Por exemplo, quase 75% da edição original do livro A Autoridade do Crente coincide palavra por palavra com um livreto anterior de Kenyon, publicado em sua origem com o mesmo título. Desse modo, não nos causa nenhuma surpresa o fato de os ensinos de ambos serem os mesmos. É claro que nem todos os livros de Hagin são cópias dos de Kenyon mas as semelhanças são grandes.25
Os ensinamentos da confissão positiva defendem que o cristão ao orar devem usar expressões como exijo, decreto, declaro, determino em vez de peço, suplico rogo. No Brasil o principal adepto de Hagin é R.R. Soares. Segundo o missionário, o ponto de partida para o sucesso na vida cristã é a determinação que significa tomar posse da bênção. O missionário alega em seus programas de TV que depois que compreendeu isso nunca mais tomou um comprimido sequer. Soares afirma que o fiel não deve pedir a Deus algo e sim exigir, determinar, pois é desnecessário pedir a Deus para ser prospero ou saudável. O que você diz é o que você terá. Determinar é marcar tempo, fixar, definir, prescrever, ordenar, estabelecer, decretar e decidir. É tomar posse da bênção. Agora você já sabe que é você quem determina, quem fixa os limites, quem diz o que você terá ou não. Por isso, pare de orar chorando, de se 25 Ibid, p.27.
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lamentar, suplicando que Deus, na Sua bondade, lembre-se de você.26
Em sua obra R.R. Soares afirma que para receber a plenitude das bênçãos do Senhor só depende da pessoa e enquanto não aprender que a cura só depende dela e não de Deus, nada mudará. Muitas pessoas falam em fracasso e confessar o mal sofrido é dar poder ao senhorio das trevas em sua vida. O cristão não pode usar palavras negativas para não criar um movimento das trevas ao seu redor, pois para o missionário as suas palavras ditarão o que a pessoa é na vida. A verdade é que podemos, a partir deste momento, ser o que quisermos. Somos nós que fazemos a diferença e que escrevemos o nosso futuro. Sem dúvida, são as nossas palavras que nos governam, que nos dão saúde, paz, prosperidade e felicidade. São também as nossas palavras que nos fazem derrotados, doentes ou miseráveis.27
O embasamento bíblico utilizado pelo Missionário, diga-se de passagem com uma péssima hermenêutica, é o texto de João 14:13 - “E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho.” Segundo ele, a palavra pedirdes está mal traduzida, pois no seu lugar devia ser a palavra determinardes. O verbo traduzido na língua grega por pedir tem o sentido de determinar, exigir, mandar. Dessa forma, ele concluiu que não precisamos pedir a Deus a bênção, e sim exigir que ela se manifeste em nossa vida. Outro versículo muito utilizado é de Isaías 53:4-5 - “Verdadeiramente ele tomou sobre si 26 SOARES, R. R. Como Tomar Posse da Bênção. 5 ed. Rio de Janeiro: Graça Editorial, 1997, p.15. 27
Ibid, p. 101
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as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.” Com base nessa passagem bíblica o missionário afirma que não há espaço para enfermidades da vida do verdadeiro cristão, pois todas elas já foram levadas por Jesus cristo na Cruz do Calvário. Tanto a salvação quanto a cura física foram garantidas pelo sacrifício vicário de Cristo e todas as doenças são de origem maligna. Devemos exigir que a doença saia do nosso corpo, deixando-o livre. Pois como poderemos ser considerados como mais que vencedores no corpo, se o mesmo está sendo consumido pela moléstia que a Bíblia garante não ser nossa — a nossa Jesus já levou. Também devemos exigir que todo o pecado saia do nosso espírito, se não nos será impossível ter esta classificação de mais que vencedores.28
Os teólogos que são adeptos dessa teoria sustentam que é uma fraqueza espiritual por parte do cristão procurar por médicos. Basta utilizar a determinação para alcançar o sucesso. Muitas pessoas sofrem por seus problemas porque oram a Deus pedindo que as cure, entretanto, o Senhor está esperando que elas determinem para Ele realizar a obra. O verdadeiro teste da confissão positiva está na atitude do cristão depois de orar pela cura. Geralmente a dor e a fraqueza persistem durante um tempo e, se isso acontece, a reação do fiel não pode ser de dúvida ou incerteza. Deve-se ignorar a dor, mantendo-se a confissão positiva de que a cura já foi efetuada. A dor precisa ser 28 SOARES, R.R. Curso fé. 12 lições com perguntas e respostas. Rio de Janeiro: Graça Editorial, 2001, 2001, p. 92
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negada, pois, embora seja real, ela não é a verdade. Se duvidamos, criamos uma confissão negativa e o pedido é destruído.29 Usar a frase “se for a Tua vontade” em oração pode parecer espiritual e demonstrar atitude piedosa de quem é submisso à vontade do Senhor, mas, além de não adiantar nada, destrói a própria oração.30 Segundo Paulo Romeiro, tais líderes apregoam que os humanos possuem a natureza divina, que consultar médicos ou tomar remédios é pouco recomendável para o cristão, pois Jesus foi milionário e a soberania de Deus é limitada pela vontade humana .31 Nesse movimento, existe uma obsessão tamanha em relação à fé, que a comunicação pode tornar-se um grande problema. Para eles deve ser evitado o pedido oração por alguém que esteja enfermo, pois não se pode confessar ou admitir qualquer coisa negativa porque uma vez declarado, se concretizará e resultará numa espécie de automaldição. Deus é soberano e se Ele dependesse de nossas palavras corretas e precisas para operar, seriam praticamente inexistentes a intervenção divina. A própria Bíblia nos ensina que Deus nos auxilia em nossas fraquezas porque não sabemos orar corretamente, então o Espírito Santo intercede por nós (Romanos 8:26). O Senhor não depende de palavras dos homens para agir, a soberania é um atributo pelo qual Deus tem completa autoridade sobre toda a criação. Se Deus dependesse do homem para agir 29 PIERATT, Alan B. O Evangelho da Prosperidade: Análise e Resposta. Tradução de Robinson Malkones. Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, São Paulo, 1993, p. 80. 30 SOARES, R.R. O Direito de Desfrutar Saúde. Rio de Janeiro: Graça Editorial, p. 11. 31 ROMEIRO, Paulo. Super crentes: o evangelho segundo Kenneth Hagin, Valnice Milhomens e os profetas da prosperidade. 3. ed. São Paulo: Mundo Cristão, 1993, p.07
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ou atendesse a todas as determinações feitas por este, a humanidade entraria em pleno caos devido às próprias oscilações da vontade humana. Este não é o meu Deus, pois o meu Deus faz tudo conforme lhe apraz (Salmo 115:3). A Bíblia nos ensina que Deus somente atende o pedido segundo a Sua vontade, 1 João 5:14 – “E esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve.” Por que então seria errado orar pedindo a Deus segundo a vontade d’Ele? Não foi essa a oração que o próprio Cristo nos ensinou em Mateus 6:10, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu? Marcos 11:24 não é um cheque em branco dado por Deus à humanidade, este versículo deve ser interpretado em equilíbrio com I Jo 5:14. Se é tão errado pedir e suplicar a Deus porque a mulher que sofria de hemorragia (Lucas 8:47) tocou em Jesus na esperança de ser curada e não determinou que aquela doença fosse embora? Por que então Jesus Cristo expulsou um espírito imundo de um menino cujo pai pediu a Jesus que lhe ajudasse com sua pouca fé? (Marcos 9:17-27) Se a confissão positiva é tão importante a ponto do homem ter que evitar falar qualquer coisa negativa, por que Davi não trouxe maldição sobre si ao falar em meio a uma situação de desespero que poderia perecer nas mãos de Saul? 1 Samuel 27: 1 – “Disse, porém, Davi no seu coração: Ora, algum dia ainda perecerei pela mão de Saul;”. Também temos a história de três jovens que sustentaram a hipótese de Deus não os ampararem em meio a uma terrível ameaça de morte. Daniel 3:16-18 - “O Nabucodonosor, quanto a isto não necessitamos de te responder. Se o nosso Deus, a quem servimos, quer livrar-nos, ele nos livrará da fornalha de fogo ardente, e das tuas mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste’’ Como será que os teólogos da prosperidade enxergam a vida do apóstolo Paulo que alegou ter padecido 100
necessidades, passado fome (Filipenses 4:12)? Será que uma pessoa que passa por isso hoje é considerada um ser que possui uma vida abundante e é mais do que vencedor? E o que eles teriam a me falar sobre a vida do profeta Eliseu. A Bíblia relata que esse homem realizou muitos milagres, contudo, ele morreu em consequência de uma enfermidade. Eles dirão que ele adoeceu porque não teve fé para determinar a sua cura? Acredito que seria impossível falar isso sobre esse homem, pois ele morreu logo após ser porta voz do Senhor para o Rei Jeoás e depois de enterrado, um homem reviveu ao ter contato com seus ossos. Será que esses teólogos falariam que o Apóstolo Paulo tinha pouca fé ao recomendar Timóteo que tomasse um pouco de vinho por causa de sua enfermidade no estômago? (1 Timóteo 5:23). Será que Paulo não tinha fé o suficiente como tem esses teólogos para determinar que sua doença fosse embora, ao invés de orar ao Senhor por três vezes pedindo o livramento até que Deus o respondeu e disse que a Sua graça lhe bastava? (2 Coríntios 12:710). No meu entendimento alguém nessa história tem que estar errado e eu prefiro acreditar que os grandes homens de Deus que tem seus relatos registrados na Bíblia estão corretos. Por enfatizar que o cristão não deve ficar doente, os teólogos da prosperidade chegam a afirmar que procurar os médicos demonstra falta de fé. Isso porque, de acordo com tais teólogos, os verdadeiros cristãos não devem ficar doentes, mas, caso isso ocorra, é necessário que, urgentemente, determinem a cura com fé. Logo, o raciocínio débil desses líderes é que se você está indo ao médico não tem fé o suficiente para crer que Jesus já levou todas as enfermidades. Segundo Campos, a teologia da prosperidade ensina que qualquer sofrimento do cristão indica falta de fé. Assim, a marca do cristão cheio de fé e bem sucedido é a plena saúde física, emocional e espiritual, além da prosperidade material. Pobreza e doença são resultados 101
visíveis do fracasso do cristão em pecado ou que possui fé insuficiente.32 Em muitos casos as pessoas enfermas que entram nessas igrejas acabam saindo de lá com um sentimento de culpa ainda maior, pois durante o culto é ensinado que quem está doente é porque cometeu algum pecado e despertou a ira divina e, se não é curada, é porque não teve fé o suficiente. Nesse sentido falou Tournier: Assim, nós vemos crentes, teólogos e leigos de todas as igrejas e de todas as denominações, sobretudo as mais zelosas em socorrer os doentes, esmagá-los com testemunhos religiosos, proclamar com força o poder de Deus que sara os que confiam nele dando a entender ao doente que lhe falta fé. Ele já carrega uma falsa culpa por estar doente; agora, acrescenta uma outra, bem mais grave, desta vez religiosa; a ideia de ter culpa por não se curar, a despeito de todos os cuidados e de todas as orações de que é objeto, a ideia de que ele não se cura, de que não é digno da graça de Deus, ou que qualquer proibição, qualquer pecado oculto e desconhecido é um obstáculo a isto!.33
Mas não é esse o correto ensino das Sagradas Escrituras. Deus deu ao homem o conhecimento e não usá-lo em favor da humanidade seria, no mínimo, burrice. O próprio Deus reconhece na Bíblia a existência de médicos para 32 CAMPOS, Leonildo Silveira. Templo, teatro e mercado. Petrópolis:
Vozes; São Paulo: Simpósio; São Bernado do Campo: UMESP,1997.
33 TOURNIER, Paul. Culpa e Graça: Uma análise do sentimento de culpa e o ensino do evangelho. Tradução de Rute Silveira Eismann, Aliança Bíblica Universitária do Brasil, 1985, p. 13.
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atuarem em favor do povo. Em Jeremias 8:22 encontramos o seguinte: “Porventura não há ungüento em Gileade? Ou não há lá médico? Por que, pois, não teve lugar a cura da filha do meu povo?”. Em Isaias 3:7: “Naquele dia levantará este a sua voz dizendo: não posso ser médico, nem tão pouco há em minha casa pão, ou vestido algum; não me ponhais por príncipe”. Vemos nessas profecias que Deus mostra ao seu povo a importância dos médicos e a falta deles pode causar sérios transtornos. O apóstolo Paulo chamava seu companheiro Lucas de forma carinhosa: “médico amado” (Colossenses 4:14). Por fim, o próprio Jesus fala sobre os médicos: “E Jesus, respondendo, disselhes: Não necessitam de médico os que estão sãos, mas sim os enfermos. Eu não vim chamar os justos, mas, sim os pecadores ao arrependimento” (Lc, 5: 31-32). Ao declararem que o cristão que enfrenta enfermidades e dificuldades não tem fé em Deus, os teólogos da prosperidade estão, no mínimo, ofendendo os cristãos de países subdesenvolvidos. Nesses países, a riqueza está concentrada nas mãos de uma pequena parcela da população e a maioria passa por algum tipo de privação material. Em vários países africanos vemos a precariedade do sistema público de saúde, das condições de higiene e saneamento básico. Esses fatores propiciam a elevada taxa de doentes e de mortalidade. Existem centenas de cristãos zelosos nesses países, sendo que a ausência de bens materiais e a presença de doenças não significa que eles são fracos na fé. A pobreza é uma realidade que sempre existiu no mundo e sempre existirá: “Pois nunca deixará de haver pobres na terra: por isso eu te ordeno: Livremente abrirás a tua mão para o teu irmão, para o necessitado, para o pobre na terra” (Deuteronômio 15:11). Jesus Cristo declarou em Marcos 14:7 - “Porque os pobres sempre os tendes convosco e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem”. Tratá-los com respeito e urbanidade é nossa obrigação: “Ou menosprezais a igreja de Deus, e 103
envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vosei? Nisto certamente não vos louvo” (1 Coríntios 11:22). “recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também me esforcei por fazer” (Gálatas 2:10). A Teologia da Prosperidade promete uma vida contrária aos ensinamentos de Jesus Cristo que nos disse que no mundo teríamos aflições. A teologia bíblica nunca anulou o sofrimento e a pobreza. Não estou querendo dizer que devemos viver uma vida na miséria, contudo, os cristãos não estão livres dos infortúnios e mazelas da vida. Os pregadores da prosperidade colocam em suas mensagens muito mais ênfase no ter do que no ser e dessa forma, a ostentação material passa a ser uma constante na afirmação de bênção de Deus. Essa corrente doutrinária enfatiza o aspecto financeiro, afirma que todos os fiéis convertidos são filhos de Deus e, por serem coherdeiros com Cristo, todos seus empreendimentos serão, inevitavelmente, bem-sucedidos, pois neles repousam as bênçãos celestiais. Dessa maneira, o crente deve saber que todas as obras da criação fazem parte de sua herança e, por conseguinte, devem apropriar-se, imediatamente, do que lhes pertence por direito. Para esses teólogos, a contribuição financeira é encarada como uma espécie de investimento e não como uma devolução ou gratidão como creem algumas denominações tradicionais. Cheguei a ficar indignado com uma interpretação dada à passagem bíblica de Mateus 19:16-22. Trata-se da passagem do jovem rico que chega até Jesus perguntando-lhe o que deveria fazer para herdar a vida eterna. Segundo o estudioso, quando Jesus lhe disse para vender todos os seus bens, dar aos pobres e segui-lo estava propondo-lhe a maior transação financeira que poderia ter sido oferecida a alguém, mas, ele afastou-se dela, por não conhecer o sistema financeiro de 104
Deus.34 A teologia da prosperidade propõe uma barganha do fiel para com Deus, na medida em que os dízimos e ofertas são pagos, as bênçãos do Senhor são liberadas. Seria Deus um agiota? A influência exercida pelos teólogos da prosperidade direciona os crentes à ideia de que seus dízimos e ofertas são uma espécie de investimento financeiro, através do qual receberão uma devolução multiplicada. Muitos fiéis chegam a dar testemunhos exibicionistas alegando que deram vultuosas ofertas e obtiveram enormes retornos financeiros. Essa atitude vai na direção oposta dos ensinos de Jesus referentes à discrição que se deve ter ao testemunhar, mostrados nos exemplos da oferta da viúva pobre e na parábola do fariseu e o publicano. Os verdadeiros cristãos devem ter um olhar mais atento sobre as propostas da Teologia da Prosperidade. Analisando os ensinamentos dessas doutrinas, constatamos que o fato de prometer a felicidade terrena faz com que fique fácil encontrar solo fértil no nosso país, terra onde existe um grande nível de exclusão social e cultural que favorece a manipulação das pessoas em nome da fé. Sutilmente é trazida a ideia de que quanto mais bens materiais são adquiridos, mais a pessoa é amada e abençoada pelo Senhor. Pensando dessa forma, os fiéis acabam transformando a religião em um item de consumo que os levam a uma fé individualista e egoísta. “Acautelai-vos e guardai-vos da avareza, porque a vida de qualquer não consiste na abundancia do que possui” (Lc 12:15). A possibilidade de viver um cristianismo sem cruz acaba sendo um enorme atrativo para as pessoas e as enchem de motivação para uma busca desenfreada por bens materiais, além de fornecer paz de consciência aos já abastados, pois mostra um evangelho que se baseia nas evidências de uma vida cheia de regalias. Para esses 34
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cristãos, gostaria apenas de deixar alguns versículos bíblicos: Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mateus 6:19 Sejam vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que tendes; porque ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei. Hebreus 13:5-6 E a que caiu entre espinhos, esses são os que ouviram e, indo por diante, são sufocados com os cuidados e riquezas e deleites da vida, e não dão fruto com perfeição. Lucas 8:14 Aos quais convém tapar a boca; homens que transtornam casas inteiras ensinando o que não convém, por torpe ganância. Tito 1:11 Assim como no meio do povo surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição. E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, será infamado o caminho da verdade. 2 Pedro 2:1-2 E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles. Porque os tais não servem a nosso Senhor Jesus Cristo, mas ao seu ventre; e com suaves palavras e lisonjas enganam os corações dos simples. Quanto à vossa obediência, é ela conhecida de todos. Comprazo-me, pois, em vós; e quero que sejais sábios no bem, mas simples no mal. Romanos 16:17-19 Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente. Efésios 4:14 Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e ago106
ra também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas. Filipenses 3:18-19 E digo isto, para que ninguém vos engane com palavras persuasivas. Colossenses 2:4 Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho; O qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo. Gálatas 1:6-7 Se alguém ensina alguma outra doutrina, e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade, é soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas, contendas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho; aparta-te dos tais. Mas é grande ganho a piedade com contentamento. 1 Timóteo 6:3-6 Amados, devemos buscar a Deus por aquilo que Ele é, e não por aquilo que Ele pode nos dar. Que Deus livre você de entrar nesse movimento de fé ganancioso e materialista que deseja desfrutar tudo aqui e agora. “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” 1 Coríntios 15:19.
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Considerações Finais Nos últimos anos, os cristãos passaram a praticar e viver mais a religião imposta pelas denominações do que buscar uma vida consoante à simplicidade do evangelho. As instituições religiosas estão crescendo de forma avassaladora e exercem um fortíssimo domínio sobre os seus líderes que, na maioria das vezes, não tem liberdade de conduzir a própria igreja que dirige. O púlpito cristão precisa, urgentemente, de uma reforma radical e assim, abolir os valores mercantilistas que estão entrando nas igrejas. Os valores pós-modernos estão transformando os cristãos em seres individualistas, narcisistas, hedonistas e materialistas. A partir do momento que o cristão é estimulado a buscar somente bênçãos materiais, vemos a sua transformação num ser egocêntrico e individualista. Muitas dessas pessoas têm frequentado as igrejas com o único propósito de satisfazer suas necessidades e nunca para cultuar e adorar a Deus. A fé dessas pessoas tem sido direcionada por vários líderes vazios de Deus a buscarem somente a vitória e ignoram a história dos heróis da fé que experimentaram a dor da perseguição, foram maltratados, torturados, serrados e apedrejados (Hebreus 11). A pregação bíblica e expositiva das Sagradas Escrituras precisa ser restaurada. Os evangélicos por anos têm criticado os católicos em face da idolatria e da infalibilidade papal, contudo, os gurus evangélicos que estão utilizando os púlpitos arrogam para si a prerrogativa de “boca de Deus” e suas palavras não podem ser questionadas. Existe uma tamanha idolatria gospel no meio evangélico que necessita ser erradicada. Somente o retorno da pre109
gação expositiva das Sagradas Escrituras poderá acabar com “anorexia bíblica” e trazer de volta o povo de Deus para a presença d’Ele. Dessa maneira, os cristãos estarão aptos para responder a todos que pedirem a razão de sua fé como diz a Bíblia: “Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” – 1 Pedro 3:15. No passado foi necessária a Reforma Protestante para que o povo pudesse saber as verdades acerca de Deus e pararem de serem manipulados pelos líderes eclesiásticos da época. Novamente vemos esse quadro se repetir, líderes manipulando os fiéis para conseguirem seus objetivos. O tempo passou, mas hoje o cenário é o mesmo. Para mudar essa situação é preciso que a geração de líderes comprometida com o Reino de Deus tenha coragem de enfrentar esses grandes “empresários da fé”. Aristóteles disse que a coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras. O verdadeiro líder cristão não pode ter medo da verdade e de combater os falsos mestres. O mundo não será destruído por aqueles que fazem o mal, mas por aqueles que os olham e não fazem nada. (Albert Einstein). Muito me admira uma frase proferida por Martin Luther King: “Serei implacável em combater ideias surgidas de compreensões calcadas em experiências pessoais, subjetivas ou qualquer fenômeno que ponha em risco a veracidade da Palavra de Deus”. Para que essa reforma aconteça o líder cristão atual não deve se preocupar com as críticas e perseguições, seu compromisso deve ser com a Palavra de Deus. Preocupe-se mais com seu caráter do que com sua reputação, porque seu caráter é o que você realmente é, enquanto a reputação é apenas o que os outros pensam que você é. (John Wooden). Muitos pastores deveriam ser destituídos por quererem se autopreservar. Faço minhas as palavras de Shakespeare: “Não é digno de saborear o mel, aquele 110
que se afasta da colmeia com medo das picadas das abelhas”. O trabalho árduo é o único caminho, pois o único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário. Que o Senhor Jesus lhe abençoe e lhe dê a coragem para produzir mudanças.
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