Introdução ao Antigo Testamento I

Page 1

“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

3

CONCEITO DE ANTIGO TESTAMENTO Quando se fala em ―Antigo Testamento‖ e ―Novo Testamento‖, pensa-se nas duas principais divisões da Bíblia sob o ponto de vista da classificação técnica e didática. Entretanto, o sentido original dessas expressões não visava livros, mas sim as duas ―economias‖ de salvação divina, ou seja, a do povo eleito de Israel e a do povo eleito fundado por Cristo sob a denominação de Igreja. A palavra portuguesa ―testamento‖ reproduz o termo latim ―testamentum‖ e o grego ―diathéke‖. Neste sentido apresenta a última vontade de uma pessoa na ocasião de sua morte, conforme Hebreus 9:16-17. O sentido mais antigo da palavra encontra-se na palavra hebraica ―berit‖, que significa ―pacto‖, indicando o acordo salvífico entre Deus e o povo de Israel, ou a salvação decretada por Deus a favor da humanidade. Em II Reis 23:2,21 fala-se em ―livro da aliança‖ com referência ao livro encontrado no templo pelo sacerdote Hilquias na época do Rei Josias, o qual serviu de base para uma importante reforma político-religiosa por volta de 622 a.C. Esse documento, segundo as evidências do conteúdo e natureza dessa reforma, continha o texto básico daquilo que se chama hoje de ―Deuteronômio‖. Também, o Apóstolo Paulo, se referiu a toda a literatura do povo pré-cristão como ―Antigo Testamento‖ (II Coríntios 3:14), pensando ainda na ideia de pacto e aliança comum aos antigos. É sempre bom lembrar que os judeus não intitulam a sua literatura como ―Antigo Testamento‖, uma vez que não consideram o pacto feito com Moisés como antigo e, portanto, precisando de uma novidade. Essa divisão é cristã e, provavelmente, só veio a cristalizar-se por volta do Século V d.C., quando os livros do ―Novo Testamento‖ existiam num corpo organizado, num rol ou lista de livros sagrados que a Igreja chamou de ―Cânon‖. Como a Igreja cristã chegou à interpretação da literatura sagrada como ―Antigo‖ e ―Novo‖ testamentos? A teologia parte do princípio que a fé de Israel baseava-se num pacto entre Yehweh e seu povo. Por sua promessa, Yehweh estabeleceu o pacto e coube ao povo cumprir os mandamentos divinos (Êxodo 34:10-11). O sinal desse ajuste foi a circuncisão. Na verdade, os textos sacerdotais sempre apresentam um Deus que se comunica com o homem através de pactos (Na criação, Gênesis 2; em Noé, Gênesis 9; em Abraão, Gênesis 12 e 17; em Moisés, Êxodo 19). Com o passar do tempo, Israel tornou-se incapaz de observar corretamente as condições do pacto, ou melhor, de cumpri-lo, na medida em que desviou-se do direito transmitido aos antigos (Lei – ―Torah‖), desobedecendo a Yehweh e tornando a sua fé num ritualismo cego manifestado por práticas exteriores (liturgias e sacrifícios). Os profetas perceberam esse desvio bem cedo (Isaías 1:10-17). Desde então, já anunciavam o ―novo‖ (Isaías 43:18-19; Jeremias 31:31-34). Essa concepção de ―Novo Pacto‖ foi compreendida pelos cristãos como realizada plenamente na vida e morte de Jesus Cristo (Mateus 26:28; I Coríntios 11:25). A partir de Paulo, percebe-se Moisés e seus escritos como ―Antiga Aliança‖ (II Coríntios 3:12-15) ou como ―primeira aliança‖ (Hebreus 8:7-13; 9:15). A separação para fins didáticos só aparece a partir do momento em que a Igreja chega a uma reforma para a lista de livros do Novo Testamento tal qual possuímos hoje, ou seja, um Cânon de 27 livros, por volta do início do século V d.C.


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

4

HISTÓRIA E METODOLOGIA Sem sombra de dúvida o AT merece estudo cuidadoso e interpretação acurada. Afinal, este corpo de Escrituras sagradas relata acontecimentos tão variados e importantes quanto a criação do mundo, a origem de Israel, o relacionamento contínuo entre Deus e Israel e entre Deus e as nações, a aniquilação de potências mundiais e a ascensão e queda de governantes poderosos. Ressalta temas vitais, como a pecaminosidade da raça humana, o juízo devido dessa pecaminosidade, a vontade divina de salvar e perdoar pecadores e a renovação derradeira de tudo o que Deus criou. O AT promete que um dia o descendente de Davi conduzirá Israel e as demais nações a uma era de salvação, paz e pureza. Sem abrir mão desta esperança, o AT recusa-se a viver apenas do futuro. Pelo contrário, corajosamente apresenta a dor e sofrimento inerentes à vida humana. O AT ensina incrivelmente que Deus é capaz de sustentar o fraco, curar o que padece, julgar o ímpio, fortalecer o oprimido e fazer qualquer outra coisa necessária para ser um Criador amoroso. Desse modo, o AT apresenta um relato vital. Fala de questões relevantes para pessoas de carne e osso. Apresenta o Deus magnífico e todo-suficiente que constantemente surpreende seus seguidores com a perfeita combinação de poder e bondade. Não é de admirar que esses textos tenham cativado leitores ao longo dos séculos. Ao mesmo tempo, qualquer leitor do AT compreende que existem certas dificuldades ao abordarmos esse material. Primeiro, há barreiras históricas. Não é preciso ser especialista em história antiga para ler o AT com discernimento, mas algum contexto histórico é necessário. Tal conhecimento é especialmente importante mesmo que a única razão fosse a de os livros do AT não estar em ordem cronológica. Infelizmente pouquíssimos leitores são versados nas questões do pano de fundo histórico. Segundo, também existem barreiras literárias. A maioria dos leitores consegue compreender com facilidade livros narrativos como Gênesis, Josué e Ester. Textos poéticos e profecias são, no entanto, mais difíceis de entender. Escritos proto-apocalípticos, como Daniel 7—12 são ainda mais difíceis. Terceiro, existem barreiras teológicas. Como alguém concilia o amor e a ira de Deus? Como Deus salvava na era anterior a Jesus? Como o AT se relaciona com o NT? O que o AT tem a dizer para os leitores dos dias atuais? O AT é relevante para a adoração contemporânea? Estas e outras questões teológicas levam os leitores a parar, refletir e buscar respostas difíceis. Quarto, a barreira da falta de familiaridade com o AT em geral é obstáculo para muitos leitores. Se houve alguma época quando o conteúdo e as ênfases do AT eram bem conhecidos, então essa época já passou. Um grande número, se não a maioria, dos universitários e seminaristas jamais leu o AT inteiro. Quinto, existem barreiras acadêmicas. Especialistas no AT não estão de acordo sobre como abordar a história, o conteúdo e a teologia do AT. Uma vez mais, se já houve concordância a respeito, isso não acontece. A diversidade de opiniões pode confundir bastante. E claro, então, que estudantes e professores do AT ficam diante de um dilema. De um lado existe a oportunidade de analisar uma literatura inspirada e enriquecedora, que constitui três-quartos da Bíblia, e dela usufruir. E, de outro, há os problemas de compreender, interpretar e unificar o material estudado. Qualquer tentativa de debater a teologia do AT deve, portanto, esforçar-se por estabelecer pontes sobre essas lacunas, ao mesmo tempo em que permanece fiel à mensagem do AT. HOUSE, Paul R. Teologia do Antigo Testamento. Tradução Marcio Redondo e Sueli Saraiva. Editora Vida Acadêmica. São Paulo, 2005. pag. 12 Gese acha essencial tratar o AT e o NT em conjunto, pois:


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

5

Não se deve estabelecer artificialmente a unidade da Bíblia mediante referências exegéticas cruzadas entre o Antigo e o Novo Testamento. Já existe uma unidade por causa da história da tradição. O suposto abismo entre o Antigo e o Novo Testamento não existe de modo algum na história da tradição, e não há necessidade de pontes duvidosas para transpôlo. Há uma diferença entre o Antigo e o Novo Testamento na medida em que o Novo Testamento representa o objetivo e fim, o telos do caminho da tradição bíblica. Com a morte e ressurreição de Jesus, aquela unidade acontece, em cuja direção a Heilsgeschichte (história da salvação) terrena da revelação bíblica está caminhando. HOUSE, Paul R. Teologia do Antigo Testamento. Tradução Marcio Redondo e Sueli Saraiva. Editora Vida Acadêmica. São Paulo, 2005. pag. 55 Finalmente, caso se deixe o texto ditar a reflexão teológica, então não é tarefa da teologia do AT incorporar seus resultados num sistema formal. Não se deve escrever a teologia do AT com o objetivo de justificar o calvinismo, o arminiansmo ou algum outro sistema de fé que tem sobrevivido ao tempo. Caso os resultados sejam compatíveis com um sistema, então seus defensores poderão utilizar os dados. O objetivo é evitar forçar o texto em determinado molde antes de estudá-lo. Estudiosos de todas as crenças e convicções ideológicas têm cometido este erro, e até certo ponto esta falha é universal, tornando-se necessário ter cuidado nesta área. HOUSE, Paul R. Teologia do Antigo Testamento. Tradução Marcio Redondo e Sueli Saraiva. Editora Vida Acadêmica. São Paulo, 2005. pag. 68

CLASSIFICAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO BÍBLIA JUDAICA: A) ―TORAH‖ (Lei) – Gn, Ex, Lv, Nm, Dt B) ―NEVI‟ IM‖ (Profetas) – Profetas Anteriores (Js, Jz, Sm, Rs); Profetas Posteriores - Is, Jr, Ez, Doze Profetas (Os, Na, Jo, Hb, Am, Sf, Ob, Ag, Jn, Mq, Zc, Ml). C) ―QETUVIM‖ (Escritos) – Sl, Pr, Jó, os 5 ―rolos festivos‖ ou Megillot(Ct, Rt, Lm, Ec, Et), mais Dn, Es-Ne, Cr. BÍBLIA ―PROTESTANTE‖: A) Livros da Lei – Gn, Ex, Lv, Nm, Dt. B) Livros Históricos – Js, Jz, Rt, I/II Sm, I/II Rs, I/II Cr, Es, Ne, Et. C) Livros Poéticos – Jó, Sl, Pv, Ec, Ct. D) Livros Proféticos – Profetas Maiores (Is, Jr, Lm, Ez, Dn, Profetas Menores (Os, Jl, Am, Ob, Jn, Mq, Na, Hc, Sf, Ag, Zc, Ml.


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

6

PENTATEUCO A primeira divisão do cânon sagrado do Antigo Testamento geralmente designada pelo nome de Torah (isto ., a Lei). O substantivo torah se deriva de raiz yarah, ―lançar‖ ou ―projetar‖, e significa orientação, lei, instrução. Como designação dos cinco primeiros livros da Bíblia, esse termo . empregado em sentido mais restrito para destacar o elemento legal que forma tão grande porção desses livros. Esse emprego do termo, porém, não exclui as seções históricas ou de narrativa; antes, inclui-as, visto que formam o segundo plano ou arcabouço apropriado para a legislação. a) No Antigo Testamento, o Pentateuco . chamado de: 1. Lei — Js 8:34; Es 10:3; Ne 8:2,7,14; 10:34,36; 12:44; 13:3; II Cr 14:4; 31:21; 33:8. 2. Livro da lei — Js 1:8; 8:34; II Rs 22:8; Ne 8:3. 3. Livro da lei de Moisés — Js 8:31; 23:6; II Rs 14:6; Ne 8:1. 4. Livro de Moisés — Es 6:18; Ne 13:1;; II Cr 25:4; 35:12. 5. Lei do Senhor — Es 7:10; I Cr 16:40; II Cr 31:3; 35:26. 6. Lei de Deus — Ne 10:28, 29. 7. Livro da lei de Deus — Js 24:26; Ne 8:18. 8. Livro da lei do Senhor — II Cr 17:9; 34:14. 9. Livro da lei do Senhor seu Deus — Ne 9:3. 10. Lei de Moisés, servo de Deus — Dn 9:11; cf. vers. 13; cf. Ml 4:4. b) No Novo Testamento, o Pentateuco . chamado de: 1. Livro da Lei — Gl 3:10. 2. Livro de Moisés — Mc 12:26 3. Lei — Mt 12:5; Lc 16:16; Jo 7:19. 4. Lei de Moisés — Lc 2:22; Jo 7:23. 5. Lei do Senhor — Lc 2:23, 24. c) O vocábulo Pentateuco se deriva de duas palavras gregas, penta (cinco) e teuchos (volume), em realidade um adjetivo modificador de biblos (livros), ou seja ―um livro de cinco volumes‖. Seu primeiro emprego se encontra, talvez, nos escritos de Orígenes, a respeito de João 4:25, ―do Pentateuco de Moisés‖, (cf. PG, XVI, col. 444). E no latim Tertuliano empregou esse termo como substantivo próprio, Pentateuchus (Adversus Marcionem 1:10 em PL, II, col. 282). Tanto Filo como Josefo testificam acerca da quíntupla divisão da Lei. Alguns eruditos, por exemplo, Haevernick, acreditam que essa divisão foi feita pelos tradutores da LXX. Pfeiffer pensa que ela é tão antiga como a primeira edição hebraica da obra. Com toda a probabilidade, entretanto, a divisão é natural. Gênesis, Levíticos e Deuteronômio são unidades em si mesmos. Por conseguinte, podemos assumir que a quíntupla divisão foi obra do autor original da Lei, isto é, Moisés. d) Designações judaicas posteriores. Os judeus (por exemplo, Talmude de Jerusalém, Sanhedrin 10:1 (28a), Koheleth rabba sobre Ec 12:11) se referiam ao Pentateuco como ―os cinco quintos da Lei‖, enquanto que cada livro era chamado uma quinta parte. YOUNG, Edward J., Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1964. Pag. 34 e 35 Em seu tratamento do material bíblico, Clements sustenta que a Lei, ou Torá, ―apresenta as exigências que Deus colocou diante de Israel como consequência de tê-los


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

7

eleito e como condição da aliança, mediante a qual essa eleição se realiza. O Pentateuco é, portanto, literatura da aliança‖. Todos os conteúdos do Pentateuco, sejam narrativa, poesia ou sermão, ajudam a constituir essa unificada ―literatura da aliança‖. Enquanto o Pentateuco apresenta a instrução sobre a vida na aliança, os Profetas ressaltam a promessa, tanto de esperança quanto de dor.150 Pelo fato de os profetas extraírem da Torá, especialmente das declarações de Deuteronômio, suas ideias sobre juízo e bênção, existe uma unidade real entre a Lei e os Profetas.151 Pelo fato de a seção do cânon denominada Profetas olhar para trás e para a frente na história humana e de Israel, esses livros servem de ponte para os Escritos e para o NT HOUSE, Paul R. Teologia do Antigo Testamento. Tradução Marcio Redondo e Sueli Saraiva. Editora Vida Acadêmica. São Paulo, 2005. Pag 52 A u t o r ia O problema da autoria dos livros do Pentateuco é complexo. No próprio texto bíblico, estes livros são anônimos e não contêm nada que indique a autoria de qualquer um deles. A antiga tradição judaico-cristã credita-os em sua totalidade a Moisés. Os próprios livros atribuem partes de Êxodo e Números, e grande parte de Deuteronômio, diretamente à autoria de Moisés, e os estudiosos conservadores não encontram razão para questionar tais declarações (Êx 24.4; 34.28; Nm 33.2; Dt 1.1; 4.44; 5.1; 27.1; 29.1; 31.1,9,22,30; 32.44; 33.1). Por outro lado, o texto nas referências citadas acima faz diferença entre o que Moisés escreveu ou falou e o que foi escrito sobre ele. Há também alguns elementos não mosaicos que uma leitura atenta torna evidente. As palavras de Gênesis 14.14 contêm o nome ―Dã‖ para referir-se ao lugar até aonde Abraão perseguiu os cinco reis que tinham invadido Sodoma. Este nome foi dado somente no tempo dos juízes (Jz 18.29), o que implica que este versículo foi escrito (ou editado) depois do tempo de Moisés. Gênesis 36.31 fala dos reis de Edom que reinaram ―antes que reinasse rei algum sobre os filhos de Israel‖, palavras que indicam tempo de escrita posterior à coroação de Saul (1 Sm 8.5ss.). A descrição do trabalho de Moisés em Êxodo, Levítico e Números está na terceira pessoa, muito diferente da narrativa registrada em primeira pessoa nos discursos de Moisés em Deuteronômio. Há duas homenagens bem merecidas feitas ao grande legislador que devem ter sido escritas por outra pessoa. A primeira está registrada em Êxodo 11.3: ―Também o varão Moisés era mui grande na terra do Egito‖, e a outra em Números 12.3: ―Era o varão Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra‖. As palavras de Êxodo 16.35: ―E comeram os filhos de Israel maná quarenta anos, até que entraram em terra habitada; comeram maná até que chegaram aos termos da terra de Canaã‖, só poderiam ter sido escritas depois da morte de Moisés e do cruzamento do rio Jordão (Js 5.10-12), visto que o ato de comer o maná é narrado no tempo passado. O texto de Números 21.14,15 faz citações do ―livro das Guerras do SENHOR‖. Este era compreensivelmente um livro de poesia que descrevia os atos de Deus em prol do seu povo durante os anos de peregrinação no deserto. Nada é conhecido fora desta alusão. Pode ter sido um dos escritos do próprio Moisés. O trecho de Números 32.34-42 descreve as cidades construídas pelas tribos de Rúben, Gade e Manassés no território que receberam no lado oriental do rio Jordão. Eles não possuíram este território senão depois da conquista de Canaã, na qual tiveram grande participação (Js 22.1-9).


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

8

Deuteronômio 2.10-12,20-23 são passagens parentéticas acrescentadas posteriormente para explicar o significado de termos e condições que já não estavam em voga. O relato da morte de Moisés em Deuteronômio 34.1-12 foi escrito aparentemente depois do surgimento dos profetas (Dt 32.10), durante os dias de Samuel. Citações em outros lugares da Bíblia ao que Moisés escreveu remontam ao Livro de Deuteronômio, com a possível exceção de Esdras 6.18, que determina passagens de Números ao ―livro de Moisés‖; e de Marcos 12.26, que cita o ―livro de Moisés‖ para aludir à narrativa que Êxodo faz da chamada de Moisés na sarça ardente. Nestas referências, é ao menos possível que a expressão ―livro de Moisés‖ signifique ―livro sobre Moisés‖ ou ―livro baseado na autoridade de Moisés‖. Por exemplo, 1 e 2 Samuel são nomeados conforme o nome deste grande profeta, embora sua morte seja registrada em 1 Samuel 25.1, muitos anos antes de ocorrerem os eventos de 2 Samuel. Considerações como estas, em vez das reavaliações da moderna crítica literária e histórica, levam os estudiosos conservadores às precauções sensatas expressas pelo Prof. G. Aalders na sua marcante obra, A Short Introduction to the Pentateuch (Breve Introdução ao Pentateuco). O importante é o reconhecimento da autenticidade e integridade desta porção tão significativa da Palavra de Deus. O consenso da tradição bíblica estabelece a certeza da autoridade mosaica do Pentateuco. Quando este fato é distintamente reconhecido, a questão quanto a quem de fato escreveu os livros pode ser deixada com segurança onde Orígenes deixou o problema da autoria de Hebreus: ―Só Deus sabe‖. LIVINGSTON, George Hebert. Comentário Bíblico Beacon, Volume I. Tradução Luís Aron de Macedo. Editora CPAD, Rio de Janeiro, 2012. Pag 20-21.


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

9

GENESIS No Antigo Testamento hebraico, a primeira palavra do texto, bereshit, ―no princípio‖, serve de título para o livro de Gênesis. Tomar a primeira frase ou palavra de uma obra literária para denominá-la era prática comum no antigo Oriente Próximo. A tradução grega chamada Septuaginta (LXX) toscamente igualou este termo de abertura com a palavra gênesis, que significa ―origem ou fonte‖. A palavra grega permaneceu em nossas versões bíblicas, porque descreve notavelmente bem o conteúdo do livro. E o livro dos começos: o começo do universo, do homem, do pecado, da salvação, da nação hebraica, da aliança com os homens. Martinho Lutero foi o primeiro a anexar ao título antigo a frase: ―O Primeiro Livro de Moisés‖, mantida na maioria das versões bíblicas. Lutero a considerou apropriada visto que o Livro de Gênesis é o primeiro dos livros do Pentateuco e Moisés fora tradicionalmente considerado o autor de todos os cinco livros. LIVINGSTON, George Hebert. Comentário Bíblico Beacon, Volume I. Tradução Luís Aron de Macedo. Editora CPAD, Rio de Janeiro, 2012. Pag 25. ESBOÇO I. O princípio de tudo. 1:1 - 11:32. A. A criação. 1:1 - 2:25. B. A tentação e a queda. 3:1-24. C. Os dois irmãos. 4:1-26. D. Sete e seus descendentes. 5:1-32. E. O pecado e o Dilúvio. 6:1 - 8:22 F. Vida posterior de Noé e seus descendentes. 9:1 - 10:32 G. A Torre de Babel. 11:1-32. II. Os patriarcas. 12:1 - 50:26. A. Abraão. 12:1 - 25:18. 1) A Chamada de Abraão. 12:1-9. 2) O Patriarca no Egito. 12:10-20. 3) A Partida de Ló. 13:1-18. 4) Abraão, Ló, Melquisedeque. 14:1-24. 5) Abrão Recebe a Promessa de um Herdeiro. 15:1-21. 6) Ismael. 16:1-16. 7) Novas Promessas, e a Reação de Abraão. 17:1-27. 8) Sodoma e Gomorra. 18:1 - 19:38. 9) Abraão e Abimeleque. 20:1-18. 10) O Nascimento de Isaque; Ismael Expulso. 21:1-21. 11) Abimeleque e Abraão. 21:22-34. 12) Abraão e Isaque. 22:1-19. 13) A Morte e o Sepultamento de Sara. 23:1-20. 14) Eliézer, Isaque e Rebeca. 24:1-67. 15) Últimos Dias de Abraão. 25:1-18. B. Isaque. 25:19 - 26:35. 1) Isaque e Sua Família. 25:19-34. 2) Isaque e Abimeleque. 26:1-35. C. Jacó. 27:1 - 36:43. 1) Jacó e Esaú. 27:1-46.


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

10

2) Jacó, Labão, Lia e Raquel. 28:1 - 30:43. 3) Jacó Retorna a Canaã. 31:1-55. 4) O Encontro de Jacó com Esaú. 32:1 - 33:17. 5) Jacó e sua família em Siquém. 33:18 – 34:31. 6) A Volta a Betel. 35:1-29. 7) Edom e Seu Povo. 36:1-43. D. José. 37:1 - 50:26. 1) Primeiras Experiências de José. 37:1-36. 2) Judá e Tamar. 38:1-30. 3) José e a Esposa de Potifar. 39:1-23. 4) As Experiências de José na Prisão. 40:1-23. 5) José e Faraó. 41:1-57. 6) A Primeira Visita dos Irmãos. 42:1-38. 7) Outras Experiências com os Irmãos. 43:1-34. 8) A Proposta Sacrificial de Judá. 44:1-34. 9) O Convite de José a Jacó. 45:1-28. 10) A Migração para o Egito. 46:1-34. 11) Jacó e Faraó. 47:1-12. 12) O Administrador do Sustento. 47:13-27. 13) Jacó e os Filhos de José. 47:28 - 48:22. 14) A Bênção Solene. 49:1-27. 15) Dias Finais. 49:28 - 50:26. HARRISON, Everett F.Comentário Bíblico Moody – Genesis. Pag 4 e 5. O propósito principal do Livro de Gênesis é mostrar como Deus escolheu o povo de Israel para ter uma relação de concerto com Ele. Essa escolha se revela na forma em que Ele lidou com os progenitores dos israelitas. Ainda que haja semelhanças notáveis entre outros escritos antigos e as histórias bíblicas da criação, da queda do homem e do dilúvio, o interesse bíblico na origem do universo é basicamente teológico. Seu empenho é declarar que todas as coisas procedem e são sustentadas por um Deus Criador. O politeísmo e suas nuanças são deliberadamente ignorados. No Livro de Gênesis, o interesse na origem do homem e na origem do pecado diz respeito fundamentalmente à natureza do relacionamento entre o homem e Deus, tanto em sua comunhão original quanto em sua posterior oposição negativa e desobediente à vontade de Deus. O relacionamento original sempre é considerado como o ideal e a meta de todos os procedimentos futuros de Deus com o homem. As misericórdias de Deus são estendidas aos homens para que o relacionamento positivo seja restabelecido pela atividade salvadora de Deus, a qual é determinada num sistema de concerto. Os vislumbres da realização futura dos propósitos redentores de Deus são orientados para um grande cumprimento de uma reconciliação não só individual, mas também nacional, internacional e universal entre Deus e o homem. Por conseguinte, os temas messiânicos na parte final do Antigo Testamento e no Novo Testamento são encontrados em Gênesis. Do ponto de vista teológico, o teor de Gênesis é inflexivelmente monoteísta. O paganismo não é abertamente questionado ou rejeitado; é amplamente ignorado. Gênesis descreve somente exemplos limitados da prática idólatra, os quais são repudiados indiretamente (como em Gênesis 22) ou diretamente (como em Gênesis 23). A análise racional e o ímpeto religioso do paganismo na Mesopotâmia, em Canaã e no Egito estão quase que totalmente ausentes.


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

11

O número limitado de temas religiosos e locuções literárias, que são encontrados tanto na antiga literatura mesopotâmica quanto no material em Gênesis, é incidental para os principais destaques das histórias de Gênesis. Eles tiveram sua importância largamente sobrestimada por alguns estudiosos do Antigo Testamento. O Livro de Gênesis desafia a validade do politeísmo, do dualismo, do deísmo e do panteísmo, não pela análise negativa de suas fraquezas, mas pela afirmação positiva da unidade, soberania e realidade pessoal divina. Em Gênesis, há a apresentação das qualidades pessoais e dinâmicas da relação divino-humana dentro do concerto, sobretudo na forma narrativa e, secundariamente, por meio de resumos genealógicos. LIVINGSTON, George Hebert. Comentário Bíblico Beacon, Volume I. Tradução Luís Aron de Macedo. Editora CPAD, Rio de Janeiro, 2012. Pag 27-28


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

12

ÊXODO O Êxodo e o principal evento de redenção no Antigo Testamento. Deus livrou seu povo da escravidão no Egito, fez uma aliança com ele no Sinai e por fim o levou para a terra da promessa. Apesar disso, determinar o tempo e o lugar do Êxodo e uma tarefa difícil. O livro em si jamais identifica o faraó com quem Moises contendeu; também não se registra nenhuma outra pessoa ou fato que sirva para relaciona-lo com a historia conhecida do Egito e da Palestina. Propósito O segundo livro do Pentateuco serve como elo de conexão entre a história preparatória contida no livro de Gênesis e os livros remanescentes da Lei. Tem início com uma breve declaração sobre o rápido crescimento dos israelitas. Em seguida, o livro exibe as preparações para o próprio êxodo. Essas preparações são de caráter tanto negativo como positivo. Negativamente, o povo foi preparado para o livramento mediante a dura escravidão a que ficaram sujeitos, impelindo-os a ansiar pela liberdade. Positivamente, foram preparados mediante os grandiosos milagres que Deus operou a favor deles, assim convencendo-os que Ele era efetivamente o Senhor, seu Deus redentor, por pacto — o Deus de todo poder. Após a narração dessa dupla preparação, o livro relata o êxodo do Egito, através do mar vermelho, acompanhando a viagem do povo at. o monte Sinai (Ex 1 a 19). Isso marca a primeira grande divisão do Pentateuco. Até esse ponto, a Lei era distinguida primariamente por narrativa; daqui por diante ela é caracterizada por legislação. O povo agora estava formalmente preparado para ser organizado como nação teocrática, e por isso precisava receber a legislação necessária para tal organização. Essa legislação consiste de três porções: a que foi dada no monte Sinai (Êxodo, Levítico), a que foi dada durante as perambulações pelo deserto (Números), e a que foi transmitida nas planícies de Moabe (Deuteronômio). O restante do livro de êxodo (isto e, 20-40) diz respeito àquela legislação transmitida por Deus a Israel no monte Sinai. Primeiramente encontramos a proclamação da lei moral, que é básica, o que é seguido por certas ordenanças que formam o alicerce da aliança que é então ratificada. Então h. orientações relativas à ereção do Tabernáculo, o lugar da habitação do Deus santo. Por causa da transgressão contra a aliança, transgressão essa ligada ao pecado do bezerro de ouro, essas orientações não tiveram prosseguimento por algum tempo. Finalmente, entretanto, foi edificado o Tabernáculo, e Deus passou a habitar ali, entre o povo. YOUNG, Edward J., Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1964. Pag 53 O conteúdo do livro pode ser esboçado da seguinte forma: Livramento do Egito e jornada para o Sinai (1.1-18.27) Opressão dos hebreus no Egito (1.1-22) Nascimento de Moises e primeira fase de sua vida: seu chamado e missao junto ao farao (2.1-6.27) Pragas e Pascoa (6.28-13.16) Êxodo do Egito e livramento no mar dos Juncos (13.17-15.21) Jornada para o Sinai (15.22-18.27) Aliança no Sinai (19.1-24.18) Teofania no Sinai (19.1-25) Garantia da Aliança (20.1-21) Livro da Aliança (20.22-23.33)


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

13

Ratificação da aliança (24.1-18) Instruções quanto ao tabernáculo e aos cultos (25.1-31.18) Tabernáculo e utensílios (25.1-27.21; 29.36-30.38) Sacerdotes e consagração (28.1-29.35) Artesãos do tabernáculo (31.1-11) Observância do sábado (31.12-18) Violação e renovação da aliança (32.1-34.35) Bezerro de ouro (32.1-35) Presença de Deus com Moises e o povo (33.1-23) Renovação da aliança (34.1-35) Construção do tabernáculo (35.1-40.38) Oferta voluntaria (35.1-29) Chamado dos artesãos (35.30-36.1) Construção do tabernáculo e utensílios (36.2-39.43) Conclusão e dedicação do tabernáculo (40.1-38) O CHAMADO DE MOISÉS Quando pastoreava as ovelhas de Jetro perto de Horebe, ―o monte de Deus‖, Moisés teve uma visão estranha. Uma sarça ardia, mas não se consumia (3.2). Ao se aproximar para investigar, foi abordado por Deus, que se apresentou: ―Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó‖ (v. 6a). Moisés soube de imediato quem estava lhe falando e escondeu o rosto, ―porque temeu olhar para Deus‖ (v. 6b). Depois de declarar sua intenção de livrar o povo de sua pesada sina (v. 7-9), Deus comissionou seu mensageiro: ―Vem, agora, e eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito‖ (v. 10). De repente, tudo se transformou: o pastor tornar-se-ia libertador. Aliás, o chamado foi tão radical que Moisés levantou uma série de objeções, pacientemente rebatidas por Deus (3.11-4.17). Nesse diálogo, apresenta-se um material de grande implicação teológica: A revelação do nome divino. Moisés objetou, por causa do contraste entre sua condição humilde como pastor exilado e o caráter elevado de sua missão: ―Quem sou eu para ir a Faraó...?‖ Deus replicou com a grande promessa incondicional de que ele mesmo estaria com Moisés (3.11s.). Este, porém, não se convenceu, temendo que o povo questionasse seu chamado: Eis que, quando eu vier aos filhos de Israel e lhes disser: o Deus de vossos pais me enviou a vós outros; e eles me perguntarem: qual é o seu nome? que lhes direi? (v. 13) Deus respondeu com uma revelação do nome divino. Tal revelação é reiterada três vezes com ênfases levemente diferentes: Eu Sou o QUE Sou [...] Assim dirás aos filhos de Israel: Eu Sou me enviou a vós outros [•••] O Senhor, Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó, me enviou a vós outros; este é o meu nome eternamente, e assim serei lembrado de geração em geração, (v. 14s.) Para compreender a importância da pergunta de Moisés, precisamos entender que, nos tempos antigos, o nome estava estreitamente relacionado com a essência da pessoa. O nome expressava o caráter da pessoa. Conhecer o nome de uma pessoa era ter acesso ao seu próprio caráter. Moisés na realidade estava perguntando ―Qual a relação entre Deus e o povo? Ele era o ‗Deus dos antepassados‘. Quem é ele agora?‖. A importância do nome de Deus pode ser vista em 33.18s. Ali, Moisés pede para ver a glória de Deus. Quando Deus


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

14

passa por Moisés e manifesta sua glória (v. 22s.), ele proclama seu nome, salientando sua graça e misericórdia (34.5-7). A resposta de Deus, em geral traduzida ―Eu sou o que sou‖, parece evasiva. Poderia ser uma recusa em responder à pergunta? Não, pois em 3.15, Deus revela seu nome -SENHOR (Javé). Assim, as palavras do v. 14 explicam o nome Javé, ―Eu sou o que sou‖ reflete uma expressão idiomática hebraica em que algo é definido de acordo com seus próprios termos. Pode indicar algo indeterminado, mas também pode expressar totalidade ou intensidade. Por exemplo, ―terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem eu me compadecer‖ (33.19) significa ―sou de fato aquele que é misericordioso e mostra compaixão‖. Tomado nesse sentido, ―Eu sou o que sou‖ significa ―sou de fato aquele é é‖. Além disso, essa declaração não é filosófica. Antes, possui um sentido prático: ―Eu sou aquele que está (para vós) —presente de modo real e verdadeiro, pronto a ajudar e a agir‖. Essa interpretação tem forte apoio no fato de o povo de Israel necessitar da presença poderosa de Deus para vencer sua situação desesperadora. Ao revelar seu nome pessoal, Deus tornava-se acessível ao seu povo em comunhão e em poder salvador. O nome YHWH é às vezes referido como o ―tetragrama‖. A interpretação dada no v. 14 toma o nome como o verbo hãyâ, ―ser‖, na terceira pessoa, i.e., ―ele é‖. Deus, falando de si mesmo, não diz ―ele é‖, mas ―eu sou‖. Assim, somente ele mesmo pode dizer ―eu sou‖. Os outros precisam dizer ―ele é‖. A partir do período do segundo templo (pósexílio), a comunidade judaica passou a evitar pronunciar esse nome, em razão de uma profunda reverência para com Deus. A dificuldade de traduzir tal nome, combinada com o respeito pela comunidade judaica, leva a maior parte dos tradutores a seguir a KJV, substituindo- o por SENHOR (geralmente em versal-versalete, para distingui-la do hebraico comum ‘adõnay, ―senhor‖). LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederic W. Introdução ao Antigo Testamento. Tradução de Lucy Yamakami. São Paulo: Vida Nova, 1999. Pag. 71-72 AS 10 PRAGAS DO EGITO Além da principal finalidade, relatada na Bíblia, que é libertação do povo de Israel, cativo do Faraó, as 10 pragas tiveram grande importância sobre os habitantes do Egito. Deus estava desafiando os deuses egípcios. E como se deu isso? A resposta é simples. Imagine: Por que Rãs, Gafanhotos, Águas em Sangue, Chuva de Pedras…? O certo é que Deus queria falar algo mais. O Deus de Israel estava se revelando ao Seu povo e ao Império Egípcio. Cada praga era direcionada a divindades, conforme a credibilidade do povo em confiar nesses ―falsos senhores‖. Em anexo você pode ver mais detalhadamente esse processo. 1) Água em sangue (Êx. 7:14-24) – A primeira praga, a transformação do Nilo e de todas as águas do Egito em sangue, causou desonra ao deus-Nilo, Hápi. A morte dos peixes no Nilo foi também um golpe contra a religião do Egito, pois certas espécies de peixes eram realmente veneradas e até mesmo mumificadas. (Êx 7:19-21) 2) Rãs (Êx. 8:1-15) – A rã, tida como símbolo da fertilidade e do conceito egípcio da ressurreição, era considerada sagrada para a deusa-rã, Heqt. Assim, a praga das rãs trouxe desonra a esta deusa. (Êx 8:5-14) 3) Piolhos – (Êx. 8:16-19) – A terceira praga resultou em os sacerdotes-magos reconhecerem a derrota, quando se viram incapazes de transformar o pó em borrachudos, por meio de suas artes secretas. (Êx 8:16-19) Atribuía-se ao deus Tot a invenção da magia


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

15

ou das artes secretas, mas nem mesmo este deus pôde ajudar os sacerdotes-magos a imitar a terceira praga. 4) Moscas (Êx. 8:20-32)- A linha de demarcação entre os egípcios e os adoradores do verdadeiro Deus veio a ficar nitidamente traçada da quarta praga em diante. Enquanto enxames de moscões invadiam os lares dos egípcios, os israelitas na terra de Gósen não foram atingidos pela praga (Êx 8:23,24). Deus algum pôde impedí-la,nem mesmo Ptah, ―criador do universo‖, ou Tot, senhor da magia. 5) Peste sobre bois e vacas (Êx. 9:1-7) – A praga seguinte, a pestilência no gado, humilhou deidades tais como: Seráfis (Ápis) – deus sagrado de Mênfis do gado, a deusavaca, Hator e a deusa-céu, Nut, imaginada como uma vaca, com as estrelas afixadas na sua barriga. Todo gado do Egito morreu, mas nenhum morreu de Israel. (Êx. 9:4 e 7). 6) Feridas sobre os egípcios (Êx. 9:8-12) – Deus nesta praga zombou a deusa e rainha do céu do Egito, Neite. Moisés jogou o pó para o céu que deu um tumor ulceroso na pele do povo que doeu demais. Os magos também pegaram a doença e não puderam adorar a sua deusa e rainha religiosa. Israel novamente foi poupado dessa praga. (Êx. 9:11) 7) Chuva de pedras (Êx. 9:13-35) – A forte saraivada envergonhou os deuses considerados como tendo controle sobre os elementos naturais; por exemplo, Íris – deus da água e Osiris – deus de fogo. 8) Gafanhotos (Êx. 10:1-20) – A praga dos gafanhotos significava uma derrota dos deuses que, segundo se pensava, garantiam abundante colheita. Deus encheu o ar de gafanhotos. Os deuses egípcios (Xu – deus do ar e Sebeque – deus-inseto) não puderam fazer nada para não deixar acontecer. (Êx 10:12-15) 9) Escuridão total (Êx. 10:21-23)- Com esta praga Deus derrubou o deus principal do Egito, Rá, o deus-sol. A palavra Faraó significa sol, ele era um deus. Egito ficou nas trevas (sem ver nadinha) durante 3 dias, mas Israel ficou na luz. (Êx. 10:23). 10) Morte de todos os primogênitos (Êx. 11-12) – inclusive entre os animais dos egípcios – A morte dos primogênitos resultou na maior humilhação para os deuses e as deusas egípcios. (Êx 12:12) Os governantes do Egito realmente chamavam a si mesmos de deuses, filhos de Rá ou Amom-Rá. Depois disto todos souberam que Deus era o Senhor e Seu nome ficou anunciado em toda a terra. Deus destruiu todo deus falso do Egito. Na morte do primogênito Deus mostrou que Ele tem na Sua mão o poder de morte e de vida. O Faraó tinha pretensão de ser adorado, de ser uma divindade. O primogênito era, em potencial um faraó, pois era o herdeiro do trono. Deus demonstrou a falsa deidade de Faraó e seu filho.


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

16

LEVÍTICO Na Bíblia Hebraica, o livro de Levítico é o terceiro dos cinco livros da Lei, ou Torá, cuja autoria era atribuída a Moisés pela tradição hebraica antiga. A palavra inicial do livro, wayyiqrã ‘ ―e Ele chamou,‖ foi usada como título pelos judeus, que também descreviam Levítico por designações tais como ―a lei dos sacerdotes,‖ ―o livro dos sacerdotes,‖ e ―a lei das ofertas.‖ Estas últimas designações caracterizavam o conteúdo geral do livro, reconhecendo-o como uma obra principalmente escrita para o sacerdócio hebraico. A versão grega do Antigo Testamento, a Septuaginta, chamava o livro de Leuitikon ou Leueitikon, i.é, ―a respeito dos levitas.‖ A Vulgata, uma revisão da versão latina antiga, traduziu o título grego pela frase Liber Leviticus, da qual derivou o título na Bíblia em português. Embora o livro se ocupe muito mais com os deveres dos sacerdotes do que com os dos levitas, o título em português não deixa de ser apropriado, visto que o sacerdócio hebraico era essencialmente levítico no seu caráter (cf.Hb 7:11). Levítico é um manual de referência, bem organizado, para o sacerdócio do Antigo Testamento, e consiste em duas divisões ou temas principais que têm como eixo o capítulo dezesseis, que trata dos regulamentos que regem o dia anual da expiação. Os quinze primeiros capítulos tratam de modo geral com princípios e procedimentos sacrificiais que dizem respeito à remoção do pecado e a restauração das pessoas à comunhão com Deus. Os onze últimos capítulos enfatizam a ética, a moral e a santidade. O tema unificador do livro é a ênfase insistente sobre a santidade de Deus, juntada com a exigência de que os israelitas exemplifiquem este atributo espiritual nas suas próprias vidas. O material é sacerdotal no seu conteúdo, e, portanto, trata das obrigações dos israelitas segundo a aliança, num nível que não é achado noutras partes do Pentateuco. Os regulamentos e procedimentos ligados com a observância do dia da expiação são uma ilustração desta tendência. HARRISON, Everett F.Comentário Bíblico Moody – Levítico. Pag 11 a 13 O Propósito Levítico faz parte de uma grande seção de instruções e regulamentos que vai de Êxodo 25.1 a Números 10.10. Ainda assim, os que organizaram o Pentateuco lhe deram um cabeçalho distinto (1.1-2) e uma conclusão (26.45). O último capítulo (27) serve como apêndice, com uma declaração em forma de resumo que encerra o capítulo e todo o livro: ―São estes os mandamentos que o Senhor ordenou a Moisés, para os filhos de Israel, no monte Sinai‖. Êxodo e Números constituem uma narrativa acerca das origens de Israel como o povo de Deus. Uma função dessa narrativa é cumprir a promessa feita aos patriarcas: Deus entraria num relacionamento especial com eles. Assim como Gênesis 12-50 centra-se na promessa de posteridade e Números 10.11—Deuteronômio 34.12 centra-se na dádiva da terra, assim também Êxodo 1.1—Números 10.10 destaca em sua narrativa a natureza e os termos do relacionamento selado com a aliança. Entretecidas nessa narrativa estão as instruções para o culto do povo a Deus. Esse material não é uma mistura aleatória de histórias e leis. Antes, trata-se do relato de como Deus fez nascer a nação, uma história adornada com leis de culto e ordem civil. Tanto a história como a lei são essenciais para a criação de uma nova nação. LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederic W. Introdução ao Antigo Testamento. Tradução de Lucy Yamakami. São Paulo: Vida Nova, 1999. Pag 88


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

17

Esboço I. Um Manual de Adoração, 1.1—7.38 A. Instruções para os Israelitas, 1.1—6.7 B. Instruções para os Sacerdotes, 6.8—7.38 II. A Consagração dos Sacerdotes, 8.1—10.20 A. Moisés Consagra Arão e seus Filhos, 8.1-36 B. Arão Assume o Ofício Sacerdotal, 9.1-24 C. Um Caso de Sacrilégio, 10.1-20 III. As Leis Relativas à Impureza Cerimonial, 11.1—15.33 A. A Impureza Cerimonial causada por Animais, 11.1-47 B. A Impureza Cerimonial causada pelo Parto, 12.1-8 C. A Impureza Cerimonial causada pela Lepra, 13.1—14.57 D. A Impureza Cerimonial causada por Fluxos, 15.1-33 IV. O Dia da Expiação, 16.1-34 A. A Preparação de Arão, 16.1-19 B. O Bode Expiatório, 16.20-34 C. Algumas Conclusões V. A Santidade na Vida Diária, 17.1—20.27 A. O Ato de Abater Animais para Consumo Próprio, 17.1-16 B. Os Regulamentos Sociais, 18.1—20.27 VI. A Santidade dos Sacerdotes, 21.1—22.33 VII. Os Dias Santos e as Festas, 23.1-44 A. O Sábado, 23.1-3 B. A Páscoa, 23.4-8 C. As Ofertas das Primícias, 23.9-14 D. A Festa das Semanas, 23.15-22 E. Os Dias Santos do Sétimo Mês, 23.23-44 VIII. O Óleo Santo, o Pão Santo e o Nome Santo, 24.1-23 A. O Óleo Santo, 24.1-4 B. O Pão Santo, 24.5-9 C. O Nome Santo, 24.10-23 IX. Os Anos Santos, 25.1-55 A. 0 Ano Sabático, 25.1-7 B. O Jubileu, 25.8-55 X. Palavras Finais de Promessa e Aviso, 26.1-46 A. Idolatria, Sábados e o Santuário, 26.1,2 B. Promessa, 26.3-13 C. Aviso, 26.14-46 XI. Apêndice: Sobre Votos e Dízimos, 27.1-34 LIVINGSTON, George Hebert. Comentário Bíblico Beacon, Volume I. Tradução Luís Aron de Macedo. Editora CPAD, Rio de Janeiro, 2012. Pag 256 e 257


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

18

NUMEROS Em nossa Bíblia, o título deste quarto livro do Antigo Testamento é Números, conforme o título dado pela Vulgata Latina: Numeri. E usado, sem dúvida, para destacar os dois censos registrados em seu texto. O primeiro fazia parte do programa organizacional do povo de Israel após a saída súbita e dramática do Egito. O outro tinha a ver com a preparação em pô-los em ordem de marcha para a viagem à Terra Prometida. Mas, na verdade, estas ―numerações‖ ocupam pequena porção do livro, qual seja, os capítulos 1 a 4 e 26. Por conseguinte, de vez em quando surgem propostas de outros títulos mais apropriados. Os hebreus tinham o costume de destacar uma palavra do início das frases do livro para intitularem a obra. Por conseguinte, às vezes Números é chamado ―E ele falou‖ ('Vaidabber), da sua primeira palavra. A maioria das Bíblias hebraicas dá o título ―No deserto‖ (Bemidbar), que além de ser a quinta palavra hebraica do primeiro versículo, tem a ver com o cenário do corpo principal do livro. No que diz respeito ao conteúdo, Números poderia ser designado o ―Livro de Moisés‖. Ao longo destas páginas, Moisés é retratado como homem de Deus de maneira mais incisiva que nos dois livros precedentes e, talvez até mais, que no livro seguinte. Ele domina a cena como legislador, intercessor, pacificador, provedor, conselheiro sábio, estadista astuto, general inteligente, líder íntegro e servo de Deus. O Livro de Números também poderia ter o título ―A História da Fidelidade de Deus‖. O enredo básico do livro é Deus trabalhando entre o povo. Ele é a Coluna de Fogo, durante a noite, a Coluna de Nuvem, durante o dia, o Provedor de água e maná, o Capitão à frente dos exércitos, a Presença pairadora acima e ao redor de todo o acampamento. Por conseguinte, no decorrer dos séculos, Números tem contribuído de forma substancial para firmar a fé basilar dos israelitas em Deus. O objetivo do livro seria identificado com mais precisão e clareza pelo título ―Peregrinação‖. O versículo-chave não estaria no princípio, mas profundamente enraizado no cerne do registro: ―Nós caminhamos para aquele lugar de que o SENHOR disse: Vo-lo darei; vai conosco, e te faremos bem; porque o SENHOR falou bem sobre Israel‖ (10.29). Ou olhando o livro da posição vantajosa da história hebraica e cristã, poderíamos intitulá-lo ―A Tragédia de um Povo Murmurador‖. O livro está salpicado de registros de murmuração e reclamação dos israelitas por causa dos sofrimentos pelos quais passavam. Contém, como centro histórico, o grande pecado de incredulidade em Cades-Barnéia, onde o povo passou da crítica aos líderes para a crítica ao próprio Deus.3 Embora haja quem julgue que este livro não seja tão detalhado ou tão autêntico quanto os outros livros históricos, contudo é significante para a história de Israel e para a história dos procedimentos de Deus para com seu povo. LIVINGSTON, George Hebert. Comentário Bíblico Beacon, Volume I. Tradução Luís Aron de Macedo. Editora CPAD, Rio de Janeiro, 2012. pag 322 323 Esboço O livro divide-se em três partes principais, cada uma centrada num ambiente geográfico para marcar os estágios principais da marcha pelo deserto. As duas primeiras seções concluem com uma descrição da jornada para o próximo estágio. O mesmo não acontece na terceira seção, já que a marcha de Moabe a Canaã não é recontada até o livro de Josué. Antes, a porção acerca de Moabe conclui relembrando todo o itinerário e estabelecendo algumas regras básicas geográficas, políticas e sociais para a vida na nova terra.


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

19

Sinai: Preparação para a partida (1.1-10.10) Primeiro censo (1.1-54) Acampamentos e líderes tribais (2.1-34) Número e tarefas dos levitas (3.1-4.49) Miscelânea de leis (5.1-31) Voto de nazireado (6.1-27) Ofertas de consagração (9.1-14) Nuvem para guiar o povo (9.15-10.10) Conclusão: Jornada de Sinai a Cades (10.11-12.16) Partida do Sinai (10.11-36) Incidentes ao longo do caminho (11.1-12.16) Cades no deserto de Para (13.1-20.13) Missao e relato dos espias (13.1-33) Decisao do povo e julgamento de Deus (14.1-45) Miscelanea de leis (15.1-41) Rebelião de Core (16.1-50) Relato da vara de Arão (17.1-13) Tarefas e porções dos sacerdotes (18.1-32) Purificação dos impuros (19.1-22) Eventos finais em Cades (20.1-13) Conclusão: Jornada de Cades as campinas de Moabe (20.14- 22.1) Oposição de Edom (20.14, 21) Morte de Arão; vitória sobre os opositores (20.22-22.1) Moabe: Preparação para Canaã (22.2-32.42) Balaão e Balaque (22.2-24.25) Apostasia em Peor e a praga (25.1-18) Segundo censo (26.1-65) Filhas de Zelofeade, direito das mulheres (27.1-11) Josue como sucessor de Moises (27.1223) Ofertas nas festas (28.1-29.40) Votos das mulheres (30.1-16) Vingança sobre Midia (31.1-54) Porções das tribos transjordanianas (32.1-42) Conclusão: Uma visão do passado e do futuro (33.1-36.13) Recapitulação da jornada a partir do Egito (33.1-56) Limites de Israel na terra (34.1-29) Cidades dos levitas (35.1-34) Filhas de Zelofeade e herança das mulheres (36.1-13) LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederic W. Introdução ao Antigo Testamento. Tradução de Lucy Yamakami. São Paulo: Vida Nova, 1999. Pag. 108 e 109


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

20

DEUTERONÔMIO O quinto livro da Torah era conhecido entre os judeus por uma variedade de nomes. Um termo comum para designá-lo era ellehhaddebarín (estas são as palavras), já que esta é a frase inicial do livro. Uma forma abreviada deste título era simplesmente debarim (palavras). Outro nome familiar para os judeus era misnêh hattôrâ, ou simplesmente misnêh derivado de 17:18. Um terceiro título era sêper tôkãhôt ou ―livro de admoestações‖, O título ―Deuteronômio‖ deriva da tradução grega de uma frase em 17:18 onde o rei que viesse a governar em Israel recebe a ordem de preparar uma cópia desta lei. A LXX traduziu esta frase, erradamente, por to deuteronomion touto, literalmente ―esta segunda (ou repetida) lei‖. Subsequentemente, a Vulgata transliterou o nome grego, Deuteronomium. O conteúdo do livro foi considerado, assim, uma segunda lei. A primeira fora dada no Monte Horebe (Sinai). A segunda fora uma repetição da primeira, dada nas planícies de Moabe. A despeito da tradução incorreta do hebraico misnêh hattôrâ hazzõ‘t, o título dado pelos tradutores da LXX não é de todo inadequado já que Deuteronômio é, em certa medida pelo menos, uma reapresentação da lei do Sinai, embora o seja na forma de uma exposição da lei Mosaica. THOMPSON , J. A., Deuteronômio: Introdução e Comentário, Série Cultura Bíblica. Editora Mundo Cristão. São Paulo, 1983, pag. 12.

Esboço e Conteúdo Esboço e Gênero. A maioria das tentativas de analise de Deuteronômio começa com suas divisões obvias —os três discursos. O estilo exortativo, típico de sermões, e notado com frequência: os três discursos consistem em quatro vinte e quatro, e dois capítulos, respectivamente. A visível distribuição desproporcional pode ser explicada pela suposição de que o segundo discurso e o centro do livro e os outros dois formam a moldura para apresenta-lo e descrever suas consequências. ―O orador esta tentando passar de formulações especificamente legais para exortações e encorajamentos pastorais‖.1 Mas o rotulo discursos, apenas, talvez não seja adequado para descrever o movimento, a ordem e o proposito do livro. Seu amplo leque de preocupações legais dão-lhe um cunho constitucional. Para alguns, o livro parece uma exposição abrangente do Decálogo. Essas descrições de gênero indicam que o caráter de Deuteronômio corresponde mais ao de um documento que ao de uma simples coleção de discursos: ―o documento preparado por Moises como um testemunho a respeito da aliança dinâmica dada pelo Senhor a Israel nas campinas de Moabe‖.2 O fluxo do esboço de Deuteronômio parece seguir o dos tratados entre suseranos e vassalos.3 Formas hititas e acadianas (tanto assírias como babilônicas) desses tratados subsistem, lançando luz sobre a natureza da autoridade regia de Deus sobre Israel, seu povo servo (veja p. 78-81). Uma posição alternativa destaca acordos ou alianças de trabalho egípcios como possível ambiente de Deuteronômio. Entretanto, o livro ultrapassa muito em extensão qualquer tratado desse gênero registrado na época. Tenha sido ou não preparado na forma de tais tratados, a estrutura de Deuteronômio e um bom ponto de partida. O esboço básico e o seguinte: Introdução (1.1-5) Primeiro Discurso: Atos de Javé (1.6-4.43) Sumario Histórico da Palavra de Javé (1.6-3.29)


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

21

Obrigações de Israel para com Javé (4.1-40) Nota sobre Cidades de Refugio (4.41-43) Segundo Discurso: Lei de Javé (4.44-26.19) As Exigências da Aliança (4.44-11.32) Introdução (4.44-49) Dez Mandamentos (5.1-21) Encontro com Javé (5.22-33) Grande Mandamento (6.1-25) Terra da Promessa e Seus Problemas (7.1-26) Lições dos Atos de Javé e Reação de Israel (8.1-11.25) Alternativas diante de Israel (11.26-32) Lei (12.1-26.19) Acerca do Culto (12.1-16.17) Acerca dos Juízes (16.18-18.22) Acerca dos Criminosos (19.1-21) Acerca da Guerra (20.1-20) Miscelanea de Leis (21.1-25.19) Confissões Litúrgicas (26.1-15) Exortações Finais (26.16-19) Cerimonia a Ser Instituída em Siquém (27.1-28.68) Maldições pela Desobediência (27.1-26) Bênçãos pela Obediência (28.1-14) Maldições pela Desobediência (28.15-68) Terceiro Discurso: Aliança com Javé (29.1-30.20) Proposito da Revelação de Javé (29.1-29) Proximidade da Palavra de Deus (30.1-14) Escolha Colocada diante de Israel (30.15-20) Conclusão (31.1-34.12) Palavras Finais de Moises; seu Cântico (31.1-32-47) Morte de Moises (32.48-34.12) Quer apresentado originariamente em forma oral como três discursos, quer escrito como documento de despedida, o livro desenvolve o tema da aliança de Deus com Israel

LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederic W. Introdução ao Antigo Testamento. Tradução de Lucy Yamakami. São Paulo: Vida Nova, 1999. Pag. 122 e 123 A TEOLOGIA DE DEUTERONÔMIO Tanto a forma literária de Deuteronômio quanto seu conceito central subjacente oferecem um indício importante quanto à teologia básica do livro. Javé, o Deus de Israel, aparece num contexto fortemente aliancista. Ele é o grande Rei, o Senhor da aliança. Deste conceito central derivam as ideias mais refinadas da teologia israelita. O estudo de G. E. Mendenhall, Law and Covenant in Israel and the Ancient Near East (Lei e Aliança em Israel e no Oriente Próximo, 1955)157 deixou claro que as formas históricas e a linguagem dos antigos tratados haviam sido adaptadas para expressar a visão que Israel tinha de Deus. A aliança mosaica retratava Deus como o grande Rei que entrava numa aliança (fazia um tratado) com Israel, de modo que Ele se tornava seu Deus e eles se tornavam Seu povo. Boa


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

22

parte da linguagem aliancista do Velho Testamento é paralela, etimologicamente ou semanticamente, à linguagem dos tratados seculares. Javé é apresentado como Rei, Senhor, Juiz e Guerreiro, ao passo que Israel é retratado como um servo cuja obrigação é ―ouvir, obedecer‘ sàma‗) e ―servir‖ (‗ãbadj. Javé, o Senhor da aliança Os tratados seculares começavam com um preâmbulo em que se fazia referência a ―Fulano de tal, o grande rei‖. 158 Vários epítetos eram então usados para descrever o rei: poderoso, favorito dos deuses, valoroso e outros semelhantes. Não é possível identificar um preâmbulo detalhado como tal em Deuteronômio, Em estrutura, o primeiro elemento claramente identificável do padrão da aliança é a introdução historica.159 Há, contudo, através do livro, vários epítetos que bem poderiam ser ajuntados e constituir um preâmbulo. Não há qualquer referência inequívoca a Javé como Rei (melek). O uso do termo Rei para Javé no Velho Testamento é comparativamente raro. Isto pode se dever à ambiguidade do termo, que era usado pelos reis das pequenas cidadesestados na terra à qual Israel se dirigiu depois do êxodo. A realeza de Javé, o Senhor de Israel, era a antítese da soberania insignificante de tais reis, pois a soberania de Javé era de escopo cósmico. A Javé pertencem os céus e os céus dos céus (10: 14), e Ele é Deus dos deuses e Senhor dos senhores (10: 17). Como tal, Ele é único. Não há outro além dele (4: 35). A compreensão que Israel tinha de Javé é apresentada sucintamente nas palavras Javé nosso Deus, Javé é um (ou único) (6:4). 16! Como Senhor soberano sobre todas as coisas, Javé exigia lealdade absoluta por parte de Seu povo. Ele era um fogo devorador, um Deus zeloso (4: 24). O adjetivo ―zeloso‖ ou ―ciumento‖ (qannã') não tem a conotação do adjetivo português, representando antes aquele cuidado ativo extremo por parte de Javé em manter Sua própria singularidade e santidade. Ele não repartiria Sua soberania com qualquer outra divindade. Idolatria ou lealdade dividida era merecedora do Seu julgamento .1 6 2 Foi no caráter de soberano Senhor que Javé fez sua aliança com Israel (kàrat bertt) (4: 23, 31; 5: 2, 3; 9: 9; 29:1, 12), Ele se lembraria de Sua aliança e a guardaria (7: 9, 12). Ele demonstraria ―fidelidade à aliança‖ ou ―lealdade constante‖ (hesed, 5: 10; 7: 9, 12). Ele era justo (saddiq) e reto, (yãsâr), um Deus de fidelidade (el ‘emünâ), sem injustiça (32: 4), Pai (32:6), e Rocha (sur, 32:15, 18,30,31). O alcance da soberania sugerida por tais epítetos é vasto. O Senhor de Israel era o Senhor de todo o universo, com autoridade soberana não apenas sobre Seu povo Israel mas sobre todo o mundo. THOMPSON , J. A., Deuteronômio: Introdução e Comentário, Série Cultura Bíblica. Editora Mundo Cristão. São Paulo, 1983, pag 67 a 69.


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

23

JOSUE O primeiro livro dos Profetas Anteriores recebe nome de seu personagem principal, Josué. No hebraico essa palavra assume quatro formas, yehoshu'a (Dt 3:21), yehoshu'a (exemplo, Js 1:1, e geralmente); hoshe'a (Dt 32:44) e yeshu'a (Ne 8:17). Na LXX, esse nome aparece como Iesous Naus, isto é, Josué, filho de Num; enquanto que a Vulgata traz Liber Josué. Autor De acordo com a posição do criticismo negativo dominante, o livro de Josué não é uma unidade literária, composta por um único autor. Pelo contrário, as alegadas fontes do Pentateuco estariam presentes aqui também. As duas fontes primárias são reputadas como ―J ‖ (cerca de 950-850) e ―E‖ (cerca de 750). Essas foram reeditadas formando o ―JE‖ (cerca de 650), sendo que foi eliminada a maior parte de ―J ‖. Esse editor supostamente teria introduzido afirmações harmonistas. ―JE‖ teria sido inteiramente revisada (cerca de 550) pela escola deuteronomista, que teria provido a introdução (cap. 1) e a conclusão. Essa revisão teve prosseguimento até cerca do ano 400. No fim do século V, A. C., foi adicionado o documento ―P‖ por um redator sacerdotal (Rp). Adições posteriores também foram feitas até o terceiro ou mesmo o segundo séculos A. C.. Por conseguinte, Josué é considerado um livro essencialmente deuteronômico, enquanto que o Pentateuco supostamente teria um arcabouço sacerdote. Incidentalmente, aqui temos um poderoso argumento contra a ideia inteira do Hexateuco. (Cf. sob § 2:4). Quanto a nós, não podemos aceitar a análise documentária aplicada a Josué. Estamos por demais impressionados com a unidade interna do livro para dar crédito a tal análise. Acresce que também há verdade em certa observação de Steinmueller: ―Os argumentos literários dos críticos se baseiam fundamentalmente sobre um falso preconceito religioso a respeito do desenvolvimento evolutivo da religião dos Hebreus, o qual não pode ser sustentado‖ (A Companion to Scripture Studies, vol. II, Nova Iorque, 1942, pág. 73). Certas porções do livro de Josué afirmam ter sido escritas pelo próprio Josué, 24:26, o que se refere ao pacto, 24:1-25. Além disso, algumas partes perecem ser obra de um testemunho ocular, como, por exemplo, 5:1, ―... até que passamos...‖ (ainda, que alguns manuscritos digam ―até que passaram‖), 5:6; 15:4; e as descrições detalhadas dos capítulos 7 e 8. Disso podemos tirar a conclusão que houve uma base escrita por Josué. Entretanto, em sua presente forma, o livro não pode ter sido inteiramente escrito por Josué, pois registra acontecimentos que só tiveram lugar após a sua morte. Entre esses podemos nomear a conquista de Hebrom, por Calebe, a conquista de Debir, por Otoniel, e a de Lesem, pela tribo de Dã. Semelhantemente, os relatos da morte de Josué e de Eleazar, mostram que o livro é posterior ao tempo de Josué. Certa tradição Judaica afirmava que Eleazar adicionou o relato da morte de Josué, e que Finéias adicionou o relato da morte de Eleazar. Porem, ainda que o livro, em sua forma atual, não tenha saido das maos de Josué, e muito antigo. Com toda a probabilidade, foi escrito sob inspiração divina por alguém, possivelmente um ancião (Keil) que fora testemunha ocular da maioria dos acontecimentos registrados no livro. Propósito O proposito do livro e mostrar como Deus trouxe a nação- teocrática do deserto a Terra Prometida. Desse modo serve para dar prosseguimento a historia da teocracia sob Josué. Também serve para demonstrar quão fielmente Josué realizou a obra de que tinha


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

24

sido incumbido por Deus, e como Deus, em cumpria mento de Suas promessas, deu a Terra Prometida ao Seu povo Esboço I. Josué conquista Canaã, 1.1-12.24 A. Informações para Entrar em Canaã, 1.1-2.24 B. O Exército Toma Posição a Oeste do Jordão, 3.1-6.27 C. Conquistas na Palestina Central, 7.1-9.27 D. Conquistas ao Sul da Palestina, 10.1-43 E. Conquistas ao Norte, 11.1-15 E Resumo das Conquistas, 11.16-12.24 II. Josué divide a Terra Prometida, 13.1-21.45 A. O Território Não Conquistado, 13.1-6 B. O Registro das Terras a Leste do Jordão, 13.7-33 C. A Herança das Tribos a Oeste do Jordão, 14.1-19.51 D. As Cidades de Refúgio, 20.1-9 E. As Cidades Levíticas, 21.1-42 F. Resumo da Fidelidade de Deus, 21.43-45 III. Josué conclui sua missão, 22.1-24.33 A. Os Auxiliares do Leste do Jordão são Liberados, 22.1-34 B. O Discurso de Despedida de Josué, 23.1-24.28 C. O Sepultamento de Três Grandes Líderes, 24.29-33 LIVINGSTON, George Hebert. Comentário Bíblico Beacon, Volume II. Tradução Luís Aron de Macedo. Editora CPAD, Rio de Janeiro, 2012. Pag. 23 Reflexões Teológicas em Josué O Deus que Cumpre Promessas. Séculos antes, Javé havia firmado uma aliança com Abraão, prometendo dar a terra de Canaã a seus descendentes. Essa promessa fora repetida a Isaque e a Jacó, renovada para Moises, repetida para os israelitas no deserto e repetida mais uma vez quando Josué foi convocado para liderar os israelitas na travessia do Jordao. Javé lutou por Israel e lhe deu vitória. Quando por fim Josué começou a descrever os limites territoriais das tribos, dava-se o cumprimento —parcial— da promessa de Javé. Uma quantidade notável de terra permanecia sem ser conquistada, mas Javé prometeu expulsar os habitantes diante do povo de Israel (13.2-7). Quanto a terra já conquistada, afirmou: ―Distribui, pois, a terra por herança‖. O conceito de promessa e cumprimento ocupa um lugar de destaque na historia da fé de Israel. A historia de como Javé livrou os israelitas da escravidão egípcia, de como os sustentou no deserto e lhes deu Canaã e relembrada muitas vezes quando os profetas tentam conclamar o povo a voltar para o seu Deus. O Conceito de Aliança. A ideia de que a relação entre Javé e Israel é uma aliança foi apresentada em capítulos anteriores. Em Josué o conceito é desenvolvido principalmente pela conquista da terra: ―Desta maneira deu o SENHOR a Israel toda a terra que jurara dar a seus pais‖ (21.43); ―Nenhuma promessa falhou de todas as boas palavras que o SENHOR falara à casa de Israel: tudo se cumpriu‖ (v. 45).35 Em todo o Antigo Testamento, a terra é um elemento fundamental no caráter da aliança. Os israelitas deviam obedecer às palavras de Javé para que seus dias fossem longos sobre a terra e para que houvesse prosperidade na terra. Quando a idolatria e a apostasia se tornaram problemas sérios, os profetas declararam que, a menos que se arrependesse, o povo


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

25

seria expulso da terra. Depois foi dito por meio dos profetas que, por causa de sua promessa, Javé traria de volta um remanescente. Restabeleceria o povo na terra. Durante o exílio, essa promessa de restauração à terra era a base da esperança. De modo semelhante, o lierem (p. 158) deve ser entendido no contexto da perspectiva profética de Israel. Javé agia por Israel e contra os inimigos deste por causa de sua aliança com os patriarcas. Aliás, isso torna compreensível a ideia da destruição total como componente da religião bíblica, pois o propósito maior da aliança é fornecer a todas as nações da terra o conhecimento de Javé e das bênçãos da aliança. Qualquer coisa ou pessoa que impeça a realização desse propósito redentor para todos os povos deve ser removida como um inimigo de Javé. A Conquista do Descanso. Um dos grandes conceitos expressos no livro de Josué, com frequência adotados pelos hinos da igreja, é o do descanso, das angústias da escravidão, das dificuldades do deserto e dos rigores da guerra (e.g., 1.13; 11.23). Israel devia viver como nação de propriedade divina, uma testemunha para as outras nações, uma vez estabelecida em Canaã. Israel falhou nisso por não conseguir descansar no Deus que o redimira e criara para um novo mundo. Os profetas do oitavo século dão testemunho de como Israel transgrediu a relação de aliança. Entretanto, há um descanso para o povo de Deus. Essa verdade básica desenvolve-se numa rica doutrina de esperança e bênção futura (e.g., 2Sm 7.1), com um lugar celestial de descanso dos rigores da peregrinação terrena. Jesus, o novo Josué, ofereceu tal descanso a todos os que chegarem a ele (Mt 11.28) O autor de Hebreus fala desse ―descanso do povo de Deus‖, baseando- se no quadro da experiência no deserto e do estabelecimento na terra de Canaã (Hb 3.7-4.11) conforme se narra no livro de Josué.. LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederic W. Introdução ao Antigo Testamento. Tradução de Lucy Yamakami. São Paulo: Vida Nova, 1999. Pag.162 a 164


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

26

JUIZES O livro recebe seu nome dos líderes (juízes, shopbetim) que governaram Israel durante o período que medeia entre Josué e Samuel. O mesmo nome também aparece na LXX, Kritai, bem como na Vulgata. Autor O criticismo divisivo não considera o livro de Juízes como unidade literária, mas antes, como uma compilação baseada em diferentes fontes, julgam os críticos que se trata de um livro essencialmente deuteronomista, original cerca de 550 A. C. Supostamente houve duas fontes independentes J e E, ainda que esses símbolos não indiquem necessariamente uma continuação do J e do E anteriores. De fato alguns eruditos pensam que tais fontes estão mais intimamente ligadas às alegadas ―fontes do livro de Samuel, e que essas duas fontes foram unidas em cerca de 650 600 A. C. (JE). O redator (Rje) também fez algumas adições de sua própria lavra, a maioria das quais suposta- mentes para harmonizar as partes. Após a destruição de Jerusalém, uma edição ―deuteronômica‖ do livro foi supostamente preparada a fim de convencer aos exilados que o castigo lhes tinha sobrevindo por haverem violado o código ―deuteronômico‖. Foram semelhantemente feitas algumas redações posteriores, até que o livro chegou à sua forma atual. De acordo com o Talmude (Baba Bathra, 14b), ―Samuel escreveu o livro que tem o seu nome, e o livro de Juízes e Rute‖. Porém, quão digna de fé é essa tradição? Há evidência que o livro de Juízes é muito antigo. Segundo diz 1:21, os jebuseus ainda estavam em Jerusalém quando o livro foi escrito. Por conseguinte, o livro deve ter sido editado antes dos acontecimentos registrados em II Sm 5:6 e segs. (captura da cidade por Davi). 1:29 relate que os cananeus habitavam em Gezer o que aponta para um tempo antes de Faraó haver dado essa cidade a Salomão (I Reis 9:16). Em 3:3, Sidom, e não Tiro, é a principal cidade da Fenícia. Isso indica um período anterior ao século XII A. C. Isaías 9 faz referência a Juízes 4, 5 e 6, e passagens tais como 17:6; 18:1; 21:25 parecem implicar em um tempo, no inicio da monarquia, quando suas bênçãos ainda estavam bem frescas nas mentes de todos. Versículo que exige comentário especial é 18:30. O texto exato não é certo, e alguns sugerem emenda para que diga: ―até o dia do cativeiro da arca‖, isto é, pelos filisteus. (ha‘aron, em lugar de ha‘aretz). Tudo isso nos leva a concluir que o livro foi compilado durante os primeiros dias da monarquia, sob o reinado de Saul ou durante os primeiros dias do governe de Davi. É bem possível que seu autor tenha lançado mão de outras fontes, tanto orais como escritas; mas a notável unidade da estrutura do livro rebate qualquer esquema de compilação como o que tem sido proposto pelo criticismo divisivo. A Ideia Central Uma definição comum do que se denomina ―história deuteronomista‖ não é crucial neste ponto. O importante para nossa compreensão dos Profetas Anteriores é o fato de que um conceito claro de história estava-se desenvolvendo na escrita da história de Israel. De acordo com esse conceito, o que aconteceu a Israel foi especificamente determinado pela reação de Javé à fidelidade ou à infidelidade de Israel. As palavras de 2.6-12 fornecem o contexto para essa história em Juízes. Javé prova Israel. Os cananeus foram deixados na terra. Josué deixa isso claro, e Juízes ainda mais. Por quê? O motivo é dado em poucas palavras. Javé trouxera seu povo do Egito para cumprir a aliança. Parte dessa aliança é expressa pelo ―anjo do Senhor‖: ―Vós,


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

27

porém, não fareis aliança com os moradores desta terra, antes derrubareis OS seus altares‖ (2.2); mas Israel desobedecera ao Senhor. A história da conquista em Josué salienta as vitórias. Mas aqui também se evidencia que muitas cidades não haviam sido conquistadas e muitos altares continuavam em pé. Assim, o anjo do Senhor continua: ―Não os expulsarei de diante de vós; antes vos serão por adversários, e os seus deuses vos serão laços‖ (2.3). A desobediência dos israelitas torna-se então o meio pelo qual Deus leva seu povo a um entendimento mais profundo de sua relação de aliança com Israel. (A prova (veja 3.1,4) demonstrará claramente a dupla verdade de que Javé é fiel mesmo que seu povo seja infiel e de que quando o povo clama por ele, ele o salva das maldições trazidas pela desobediência (Dt 27-29).) Que é um ―juiz‖? O livro leva o nome das onze ou doze pessoas que, nessas páginas, ―julgaram‖ Israel. Tendo lido o relato da concessão da lei no Sinai, é fácil concluir que os juízes eram oficiais destacados para julgar as pessoas por violações da lei. Mas essas pessoas, exceto em raras ocasiões, não lembram de maneira nenhuma o conceito moderno de juiz; sua responsabilidade principal não era ouvir reclamações ou tomar decisões legais. Os anciãos ou chefes de família costumavam fazer isso na esfera social, enquanto os sacerdotes eram os intérpretes supremos da lei religiosa. Os juízes de que tratamos aqui eram líderes ou libertadores militares. O capítulo 3 fornece um paradigma adequado para compreensão dos relatos subsequentes de Juízes. Os israelitas são vistos habitando entre os povos da terra. Participam de casamentos mistos com estrangeiros, e depois servem aos deuses pagãos deles (v. 5s.). Essa mistura maligna acende a ira de Javé contra o povo. Deus leva contra eles CusãRisataim, um governante do nordeste da Síria, que os coloca a seu serviço por oito anos (v. 7s.). Então os israelitas clamam a Javé, que lhes levanta um juiz ou ―libertador‖. Otniel, irmão de Calebe. ―Veio sobre ele o Espírito do SENHOR, e ele julgou a Israel; saiu à peleja, e o SENHOR lhe entregou nas mãos a Cusã-Risataim, rei da Mesopotâmia [Síria], contra o qual ele prevaleceu‖ (v. 9s.). Depois aterra ―ficou em paz‖ (v. 11). Esse padrão é seguido nas histórias dos outros juízes: O povo ―faz o que é mau‖, servindo a outros deuses. Javé envia uma nação para oprimi-lo. O povo clama a Javé. Javé levanta um libertador. O opressor é derrotado. O povo tem descanso. Nem todas as partes desse padrão são mencionadas em todas as histórias de Juízes, mas o padrão é quase sempre o mesmo (cf. v. 12-30; 4.1-24; 5.31b). O juiz era um líder carismático, não escolhido oficialmente pelo povo, mas levantado por Javé. O Espírito de Deus descia para dar poder ao juiz a fim de que pudesse lidar com uma situação particular. Não era rei e não estabelecia dinastia ou uma família governante. O juiz era a pessoa —homem ou mulher (Débora foi juíza; cap. 4-5)— escolhida por Javé para expulsar o opressor e dar paz à terra e ao povo. LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederic W. Introdução ao Antigo Testamento. Tradução de Lucy Yamakami. São Paulo: Vida Nova, 1999. Pag. 166 167


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

HALLEY, Henry H., Manual Bíblico de Halley. Tradução David A. de Mendonça. Editora Vida Nova. São Paulo, 1994. Pag. 158

28


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

29

RUTE Esta breve história dos acontecimentos domésticos de uma família particular vem adequadamente após o livro de Juízes (os eventos relacionados aqui ocorreram nos dias dos juízes), e convenienmente aparece antes dos livros de Samuel, porque no fechamento do livro ele apresenta Davi. Todavia, os judeus, em sua Bíblia, separam este livro de ambos e o classificam como um dos cinco Megiãoth, ou Volumes, que seguem a seguinte ordem: Cantares de Salomão, Rute, Lamentações, Edesiastes e Ester. É provável que Samuel tenha sido o autor do livro de Rute. Este livro não descreve milagres ou leis, guerras ou vitórias, também não menciona as revoluções dos estados. Ele descreve a aflição inicial de Noemi e seu conforto posterior, a conversão de Rute e sua promoção posterior. Muitos acontecimentos semelhantes ocorreram na história de Israel, que talvez merecessem ser registrados; mas estes Deus achou oportuno transmitir a nós. Mesmo historiadores comuns entendem que têm a liberdade de escolher o que desejam registar em suas obras. O plano deste livro é o seguinte: I Revelar a providência, deixando claro quão importantes são as nossas preocupações pessoais, e nos ensinar a prestar atenção em todas elas, reconhecendo a presença de Deus em todos os nossos caminhos e em todos os acontecimentos da vida. Veja 1 Samuel 2.7,8; Salmos 113.7-9. II Revelar a Cristo, que descendeu de Rute. Parte dessa genealogia conclui o livro, como pode ser visto em Mateus 1. Com a conversão de Rute, a moabita, tomando-a parte da linhagem do Messias, vemos um tipo do chamado dos gentios no devido tempo na comunhão de Cristo Jesus, nosso Senhor. O capítulo 1 relata as aflições de Noemi e Rute. O capítulo 2 apresenta exemplos do esforço e humildade delas. No capítulo 3, lemos acerca da aliança delas com Boaz e no capítulo 4, a feliz situação de ambas. Não podemos esquecer que a cena ocorreu em Belém, a cidade onde nosso Redentor nas HENRY, Mathew. Comentário Bíblico Mathew Henry. Volume 2. Tradução Degmar Ribas Júnior. CPAD, Rio de Janeiro, 2010. Pag. 193. Data e Autoria Vários críticos recentes, como Eissfeldt, Pfeiffer, Oesterley e Robinson, julgam o livro de Rute escrito depois do exílio. O autor parece ter tido certa familiaridade com a edição dos Juízes do ―Deuteronômio‖ (cerca de 550 A. C.). Esta data pós-exílica era também defendida por outros autores anteriores, como Kuenen e Wellbausen. Os argumentos a favor desta data pós-exílica são, porém, extremamente fracos. Para a sustentarem, alguns pensaram até em considerar o livro como escrito para contrabalançar as medidas severas de Esdras e Neemias contra os casamentos mistos. Pfeiffer e outros rejeitam simplesmente tal opinião, e com justiça. Apela-se ainda para dados linguísticos a corroborar a data pós-exílica. Por outro lado, o Baba Bathra 14b, diz-nos que ―Samuel escreveu o seu livro, os Juízes e Rute‖. É uma teoria, embora possível, não provável, visto que a genealogia em Rute 4:22 parece implicar que Davi era uma pessoa bem conhecida. Que diremos, pois, a propósito da autoria? No conjunto, a evidência parece favorecer uma data anterior, ou seja, pré-exílica, pois a linguagem e o estilo são bem diferentes dos livros pós-exílicos. Há duas palavras que podem, até certo ponto, justificar uma data posterior. Ei-las:


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

30

a) lahen (porquanto) 1 :13. Pensa-se ser um vocábulo de origem aramáica. Porém, é bastante discutível se essa palavra, com esse significado, realmente ocorre em aramaico. Também é de admitir que em Rute 1:13 a palavra lenha sido alterada para lahem (para eles), leitura alias favorecida pelas principais versões. De resto, a presença de uma forma aramaica nunca pode indicar a data do documento em que ela aparece. Finalmente, note-se que o termo lahen não exige necessariamente a tradução de ―porquanto‖, pois pode ter o significado de ―por aquelas (coisas)‖. Sendo assim, desaparece a dificuldade. b) mara ―amargo‖ (1:20). Aramaísmo também. Mas estas duas palavras não são em si suficientes para provar uma data posterior, pois, convém lembrar que desde o início a língua hebraica conteve aramaísmos, como o ugarítico. Notemos de novo que Davi é mencionado pelo nome. Isto não significa que o livro foi escrito muito depois da fama de Davi se tornar lendária, pois em tal caso o livro teria sido escrito depois da sua morte e aí encontraríamos também com facilidade o nome de Salomão. Segue-se que a ausência deste último nome vem apoiar a teoria de que a obra foi escrita durante o reinado de Davi. Além disso, a retidão da narrativa, dada sem qualquer aviso ou desculpa, faz supor que se trata de um documento de origem pré-exílica. Em 4:7 faz-se menção do costume de descalçar o sapato para simbolizar a confirmação dum negócio: ―Havia, pois, já de muito tempo Este costume em Israel, quando a remissão e contrato, para confirmar todo o negócio, que o homem descalçava o sapato e o dava ao seu próximo; isto era por testemunho em Israel‖. É certo que já não era vigente tal costume, quando o livro foi escrito. Aplicava-se, todavia, ao período dos Juízes e também ao período anterior a Moisés (embora um pouco diferente), por exemplo, Dt 25:9-10. Embora impossível de determinar a época definitiva, da composição do livro, parece provável ter sido escrito durante o reinado de Davi. YOUNG, Edward J., Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1964. pag 293 e 294. ESBOÇO Tema-chave: Em sua providência, Deus conduz e abençoa aqueles que nele confiam. Versículo-chave: Rute 2:12 I. TRISTEZA: RUTE CHORA - 1 1. Noemi tenta fugir de seus problemas -1:1-5 2. Noemi tenta encobrir seus erros -1:6-18 3. Noemi fica amargurada com Deus -1:19-22 II. SERVIÇO: RUTE TRABALHA - 2 1. Um novo começo - fé — 2:1-3 2. Um novo amigo - amor - 2:4-16 3. Uma nova atitude - esperança -2:17-23 III. SUBMISSÃO: RUTE ESPERA - 3 1. Rute se apresenta a Boaz - 3:1-7 2. Rute é aceita por Boaz - 3:8-15 3. Rute espera Boaz agir - 3:16-18 IV. SATISFAÇÃO: RUTE SE CASA - 4 1. Boaz resgata Rute - 4:1-10 2. O povo abençoa Rute - 4:11, 12 3. Deus dá um filho a Rute e Boaz - 4:1 3-22


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

31

WIERSBE , Warren W., Comentário Bíblico Expositivo do Antigo Testamento. Volume II. Tradução Susana E. K Lassen. Geográfica Editora, Santo André/SP. Pag. 172. Aspectos Sociais Dois costumes sociais pouco comuns fazem com que os leitores de hoje tenham dificuldade para compreender a história. O primeiro é o dever de um parente próximo casarse com a viúva de um familiar que não tenha tido filhos, a fim de lhe prover descendência. Sem esse filho, a linhagem da família do falecido se perderia. Em épocas anteriores, os estudiosos identificavam esse costume com o ―casamento em levirato‖, segundo ensina Deuteronômio 25.2-11 (cf. também Gn 38).3 Como no levirato, as providências em Rute têm o propósito de proporcionar um herdeiro a um parente morto. Diferentemente do levirato, porém, Boaz não é irmão de Elimeleque, nem Rute é viúva deste. Antes, a responsabilidade recai sobre Boaz porque ele é parente próximo de Elimeleque, i.e., ―parente resgatador‖ (heb. gõ‘el; 2.20). Como numa ―ficção de direito‖, Rute substitui Noemi como viúva de Elimeleque. Assim, preferimos descrever a prática em Rute como um casamento ―semelhante ao levirato‖ ou até como um ―casamento de parentesco‖. Esse costume explica o ponto decisivo do livro: a trama engenhosa de Noemi para induzir Boaz a aceitar sua responsabilidade. Talvez Boaz tivesse entendido que não era parente suficientemente próximo de Elimeleque para assumi-la. Assim, Noemi envia Rute, jovem e atraente, para motivá-lo. Um episódio ousado, contado de modo delicado — a cena da eira no capítulo 3 —detalha como Rute a cumpriu. Mas uma complicação inesperada frustra o plano de Noemi: Boaz submete-se ao direito prioritário de um parente mais próximo. Na manha seguinte, ele convoca uma audiência legal a porta da cidade, convida o outro parente e obtém o direito sobre Rute. O segundo costume, a redenção da terra, marca um desenvolvimento surpreendente na historia. Os leitores esperam que, junto a porta, Boaz discuta de imediato a proposta de casamento de Rute. Em lugar disso, ele anuncia: ―aquela parte da terra que foi de Elimeleque, nosso irmão, Noemi, que tornou da terra dos moabitas, a tem para venda‖ (4.3). Boaz oferece-se para compra-la, se o outro não o fizer. Essa e a primeira menção de uma propriedade de Elimeleque. Por trás disso existe um antigo costume israelita: a propriedade da terra de um ancestral sempre devia permanecer no clã. Uma família podia empenha- lá para fugir da pobreza, mas a lei exigia que o parente mais próximo a comprasse para que a propriedade permanecesse no clã (cf. Lv 25.25ss.). Nesse caso, o outro parente concordou em comprar a propriedade de Noemi (4.4). Causando outra surpresa, porem, Boaz leva o parente a desistir de seus direitos. Boaz informa que, para obter a posse da terra, ele deve também casar- se com Rute e dar um descendente a Elimeleque (v. 5). De imediato, o parente recua, alegando que o negocio prejudicaria sua herança (v. 6). Financeiramente, o possível comprador poderia arcar com a obrigação de redenção, caso fosse sua única responsabilidade, pois, trazendo-lhe lucro, a terra de Elimeleque na realidade se pagaria. Além disso, o casamento por si não ameaçaria seus bens, já que o lucro da propriedade sustentaria qualquer herdeiro ate que este tivesse idade para herda-la. Mas o homem não podia aceitar a dupla responsabilidade. O herdeiro nascido dele e de Rute herdaria a terra de Elimeleque, e ele não teria o dinheiro para pagar a Noemi. Voluntariamente, ele cede seus direitos nesse assunto a Boaz (v. 6). Ao que parece, Boaz era suficientemente rico para arcar com as duas obrigações. Ainda melhor, o trato talvez tenha dado a Boaz o filho que, assim como a Elimeleque, lhe faltava. A genealogia final alista Boaz, não Malom ou Elimeleque, como ancestral de Davi (4.18-22).


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

32

Isso pode implicar ou que Boaz era solteiro (improvável) ou que não tinha filhos (possível). Em todo caso, a criança nascida de seu casamento com Rute na realidade deu continuidade a duas linhagens familiares, a de Boaz e a de Elimeleque. Teologicamente, o livro destaca a direção bondosa de Deus na vida dessa família. O Senhor intervém diretamente em dois momentos cruciais, moldando de maneira significativa os eventos subsequentes enviando a fome, o evento que reconduz Noemi a Belém (1.6); e fazendo com que Rute engravide, dando com isso, finalmente, um herdeiro a Noemi (4.13). Mas a direção de Deus torna- se especialmente clara em relação as orações dos personagens em seus pedidos de bênçãos divinas (1.8-9; 1.12, 20; 3.10). No final, Deus atende a todos: Rute tem uma casa e um filho com Boaz. Não surpreende que as amigas de Noemi creditem a Deus o final feliz da historia (4.14-15). De modo marcante, porem, em Rute, a direção de Deus assume forma singular. Em boa parte da Bíblia, Deus intervém de maneira direta e sobrenatural nos assuntos dos homens para concretizar os propósitos da redenção. Mas em Rute não ha nenhuma orientação por meio de sonhos, visões, mensageiros angelicais ou vozes do céu. Nenhum profeta se levanta para anunciar: ―Assim diz o Senhor‖. Antes, ―Deus esta em toda parte — mas totalmente escondido em coincidências e em planos puramente humanos...‖12 A providencia firme e bondosa de Deus se oculta por trás do ―acaso‖ que faz Rute encontrar-se com Boaz (2.3-4) e do plano arriscado de Noemi (3.1-5). Resumindo, o livro demonstra que Deus age nos bastidores, por meio dos atos de pessoas fieis como Rute, Noemi e Boaz. A Mensagem Outra coisa notável no livro e que o autor gosta de identificar Rute como ―a moabita‖. Esse rotulo insinua uma parte da mensagem. O livro destaca que Deus acolhe não israelitas na aliança. Se demonstrarem a devoção de Rute (1.16-17), eles desfrutarão do mesmo refugio protetor sob as asas de Deus (2.12). Ao estender a misericórdia de Deus a estrangeiros, Rute reflete a mesma atitude aberta de outros livros do Antigo Testamento como Jonas. Além disso, o livro promove a pratica do ideal da aliança israelita, o estilo de vida de hesed ou ―benevolência‖. Em essência, fazer hesed e dispor-se a ―ir além da obrigação‖. A fabulosa declaração de amor e devoção pronunciada por Rute coloca esse estilo de vida em palavras: ―... o teu povo e o meu povo, o teu Deus e o meu Deus‖ (1.16). Os atos dos personagens principais do livro também personificam isso. A história, desse modo, insta os leitores a exercer benevolência sacrificial semelhante. Chama-os a imitar o pesado compromisso de Rute, a perseverança e inteligência de Noemi e a generosidade e integridade de Boaz. Ao fazê-lo, eles também experimentarão a bênção providencial de Deus. Por fim, o livro apresenta a divina providência que fez nascer Davi (4.17b). A genealogia final (4.18-22) situa a história dessas pessoas comuns de Belém num contexto mais amplo. Ela mostra a ligação direta entre a vida deles e a obra de Deus em Israel como nação. O filho que nasceu de Noemi é mais que um simples presente de Deus para que sua linhagem familiar tenha continuidade. Ele também inicia a história da atuação de Deus por meio da dinastia de Davi. Dessa maneira, o livro liga-se ao tema bíblico principal da história da redenção. Assim, conduzida pela direção oculta de Deus, a fidelidade de Rute, Noemi e Boaz realizou mais do que eles tiveram consciência. Da família deles surgiu o grande Davi e, muitas gerações depois, o filho mais eminente do grande Davi. LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederic W. Introdução ao Antigo Testamento. Tradução de Lucy Yamakami. São Paulo: Vida Nova, 1999. Pag 569 a 574


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

33

OS LIVROS DE SAMUEL Esses dois livros trazem o nome de Samuel, não apenas porque ele foi o personagem principal na primeira parte da obra, mas também porque ungiu as outras duas figuras principais, Saul e Davi. Originalmente, esses livros eram considerados como um só (ver Baba Batra, 14b; Jerônimo: Prologus galeatus; Eusebius: História Eclesiástica, 7:25,2). A LXX dividiu o livro em dois, e essa divisão foi seguida nas versões Latina e Vulgata. Os tradutores da LXX chamaram os dois livros de Primeiro e Segundo Livros de Reinos (bibloi basileon), enquanto que os dois livros dos Reis foram chamados de Terceiro e Quarto Livro de Reinos. A Vulgata, entretanto, alterou o título para Livros de Reis. Parece que a divisão em dois livros foi introduzida na primeira edição da Bíblia Hebraica impressa de Daniel Bomberg (Veneza, 1516-1517). O nome Samuel, encontrado nos manuscritos hebraicos, foi retido na tradução inglesa e portuguesa das Bíblias Protestantes. Autor De acordo com Baba Bathra, 14b, ―Samuel escreveu o livro que traz o seu nome e o livro de Juízes e Rute‖. Entretanto, em 15a, lemos: ―Samuel escreveu seu livro (sifro). Mas, não está escrito nele, ―Ora, Samuel morreu?‖ Portanto, apesar de que a tradição judaica mantinha que Samuel escreveu o livro, foram levantadas objeções a essa posição desde data bem recuada. É óbvio que Samuel não pode ter sido o autor do livro inteiro, visto que sua morte aparece registrada em I Sm 25:1 e 28:3, e também são mencionados acontecimentos que tiveram lugar muito depois da morte de Samuel. Não sabemos quem foi seu autor. À luz de I Sm 27:6: ―...Ziclague pertence aos reis de Judá, até ao dia de hoje‖, parece óbvio que esses livros não foram compilados em sua forma atual senão algum tempo após a divisão do reino. Quem quer que tenha sido o autor, ele lançou mão de documentos escritos previamente existentes, e muito provavelmente esses foram as ―...crônicas, registrados por Samuel, o vidente, nas crônicas do profeta Natã e nas crônicas de Gade, o vidente (hozeh)‖ (I Cr 29:29). Qual tenha sido o conteúdo exato desses documentos escritos, não o sabemos. Podemos concluir, pois, que os livros de Samuel foram compostos sob inspiração divina por um profeta, provavelmente da Judéia, que viveu pouco depois do cisma, o qual. incorporou em sua obra material escrito já existente. Outras Teorias sobre a Autoria Aqueles que defendem a hipótese documentária, com referência ao Pentateuco, geralmente têm mantido que o conteúdo principal dos livros de Samuel foi preservado em duas fontes mais ou menos paralelas, ainda que independentes, que são semelhantes a ―J‖ e ―E‖. Dizem eles que o relato mais antigo veio aproximadamente do tempo de Salomão, e que o relato posterior se originou no oitavo século A. C. Cerca de um século mais tarde teriam sido unidos. Expressões mais antigas sobre essa teoria, que podem ser consultadas pelos estudiosos, são: H. P. Smith: ―Samuel‖, em ICC, 1902. (Encontrou novamente expressão na teoria de R. H. Pfeiffer, IOT, págs. 341 e segs.; ―Midrash in the Books of Samuel‖ em Quantulacumque, págs. 303-316). O documento mais antigo começa em 4:1b, e é continuação de Jz 13-16. Fornece-nos um relato sobre os eventos desde o primeiro encontro entre Israel e os filisteus até à ascensão de Salomão ao trono. De conformidade com Pfeiffer, é — ―a notável prosa escrita e a obra prima histórica do Antigo Testamento‖


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

34

(IOT, pág. 356) e, quando livre de adições posteriores, forma uma unidade literária bem organizada. O autor provavelmente foi Aimaaz, conforme sugerido pela primeira vez por Klostermann (Die Buecher Samuelis und der Koenige, 1887, págs. 32 e segs.), e esse Aimaaz, ou quem quer que tenha sido o autor, segundo a opinião de Pfeiffer, foi o ―pai da história‖ em sentido muito mais verdadeiro que Heródoto, ao mesmo tempo que seu estilo não é ultrapassado em toda a prosa hebraica. Dizem os críticos que se Saul e Davi foram os personagens principais da primeira fonte, Samuel seria o protagonista da fonte secundária ou posterior. Essa fonte se confinaria a porções de I Samuel 1-24, e supostamente estaria ―enevoada de legendas e teorias distorcidas‖ (IOT, pág. 362), tendo tido uma multiplicidade de autores, Pode-se datar o capítulo primeiro cerca de 750 A. C., e a forma original dos caps. 17 e 18, cerca de um século mais tarde. O restante, na opinião de Pfeiffer, se situaria entre 650 e 550 A. C. Essa fonte posterior seria ama correção feita sobre a primeira, e se basearia sobre duas teorias que dominam seu ponto de vista: 1) a monarquia é uma apostasia para longe do Senhor; e 2) ―boa ou má sorte, entre os mortais, é uma retribuição divina exata à conduta humana‖ (IOT, pág. 362). ―O misto de lendas e a autoridade compelidora de dogmas conspiram para produzir, na fonte posterior, uma atmosfera de faz de contas e uma ilusão de miragem‖ (IOT, pág. 363). Como as duas fontes foram reunidas não é perfeitamente claro, e nenhum esforço foi feito para harmonizar as divergências, como sucedeu no caso de ―Rje‖. A fonte posterior provavelmente não era um documento independente, mas antes, a adição de correções e melhoramentos feitos na história original. Por causa do caráter da chamada fonte posterior, a edição deuteronômica foi feita de modo mais ou menos descuidado. Mas isso foi assim principalmente porque a doutrina deuteronômica fundamental, ou seja, que o desastre nacional se deveu à falha em adorar a Jeová exclusiva e corretamente não foi aplicada aos dois primeiros reis de Israel. Certas porções de Samuel, entretanto, provavelmente teriam sido suprimidas pelos deuteronomistas. Na opinião de Pfeiffer, I Sm 2:27-36 e II Sm 7 são as duas instâncias mais elaboradas das adições midrásticas posteriores, que são historicamente inúteis. Pfeiffer apresentou a teoria das ―duas fontes‖ de modo regularmente elaborado. Porém, somos compelidos a rejeitar essa teoria por estar fora de harmonia com o caráter unificado dos livros. (Ver abaixo, Análise). A Teoria de Otto Eissfeldt. (Einleitung, págs. 306-317; Die Komposition der Samuelisbuecher, 1931). Em lugar de encontrar nos livros de Samuel duas fontes básicas, Eissfeldt descobriu três. Ele reputou os livros de Samuel, portanto, como uma composição alicerçada em três fontes paralelas, que provavelmente seriam as continuações das três fontes do Heptateuco, isto é, L, J e E. Em I Samuel essas fontes estão mais ou menos misturadas, mas em II Samuel estariam agrupadas em forma consecutiva. Propósito O propósito dos livros de Samuel é relatar a história do estabelecimento da monarquia, bem como a participação de Samuel. Samuel foi ao mesmo tempo juiz (I Sm 7:6,3 5-17) e profeta (I Sm 3:20). Por conseguinte, ele serve para ligar o período dos Juízes com os inícios da monarquia. Houve uma dupla preparação para a instalação do reinado. Durante o período dos Juízes prevaleceu a confusão, e assim os israelitas puderam ver sua necessidade de um governo centralizado. Em segundo lugar, o rei; deveria ser um bom rei e não um autocrata egoísta, mas homem conforme o coração de Deus, que em seu reinado fiel e justo servisse de tipo do Grande Rei vindouro. Sob o reinado de Saul, um autocrata egocêntrico, foi ensinada a lição que o rei deveria ser alguém que governasse em justiça.


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

35

Os livros de Samuel não apenas relatam o estabelecimento da monarquia, mas também servem ao propósito de salientar que essa grande instituição teve origem divina. YOUNG, Edward J., Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1964 Pag 150 a 152. Esboço I. O Ministério de Samuel, I Samuel 1.1-8.22 A. Nascimento e Infância de Samuel, 1.1-3.21 B. Samuel como Profeta e Juiz, 4.1-8.22 II. Saul torna-se REI, 1 SAMUEL 9.1-15.35 A. A Escolha e a Coroação de Saul, 9.1-12.25 B. A Guerra contra os Filisteus, 13.1-14.52 C. A Missão contra Amaleque, 15.1-35 III. Saul e Davi, 1 Samuel 16.1-31.13 A. A Unção e a Graça Na Infância de Davi, 16.1-17.58 B. Davi e Jônatas, 18.1-20.42 C. Davi Foge de Saul, 21.1-24.22 D. O Constante Perigo Enfrentado por Davi, 25.1-27.12 E. A Última Guerra de Saul e sua Morte, 28.1-31.13 IV. O reino de Davi, 2 Samuel 1.1-20.26 A. Davi Reina em Hebrom, 1.1-4.12 B. Davi Reina sobre toda a Nação, 5.1-10.19 C. O Pecado de Davi e suas Consequências, 11.1-14.33 D. A Revolta de Absalão, 15.1-19.43 E. A Revolta de Seba, 20.1-26 V. Um apêndice, 2 Samuel 21.1-24.25 A. A Vingança Gibeonita, 21.1-14 B. Ilustrações de Coragem em Batalha, 21.15-22 C. Cântico de Davi em Ação de Graças, 22.1-51 D. As Últimas Palavras de Davi, 23.1-7 E. Os Valentes de Davi e suas Façanhas, 23.8-23 F. A Legião de Honra, 23.24-39 G. A Peste, 24.1-25 LIVINGSTON, George Hebert. Comentário Bíblico Beacon, Volume II. Tradução Luís Aron de Macedo. Editora CPAD, Rio de Janeiro, 2012. Pag. 178


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

36

OS LIVROS DOS REIS A semelhança dos livros de Samuel, os livros dos Reis originalmente eram um só. Na LXX são chamados o terceiro e o quarto livro de Reinos (basileon trite kai tetarte), e na Vulgata recebem o nome de Liber Regum tertius et quartus. Autor Em Baba Bathra 15a, lemos: ―Jeremias escreveu seu (próprio) livro, o livro de Reis, e Lamentações‖. Essa antiga teoria judaica sobre a autoria de livros sagrados e muito atrativa, pois muito ha nos livros dos Reis que tem semelhanças com Jeremias, e II Reis 24:18-25:30 e idêntico a Jeremias. Em tempos recentes, a teoria jeremianica tem sido sustentada por Steinmueller. A objeção principal contra essa posição e que o relato sobre a deportação e aprisionamento de Joaquim foi evidentemente escrito na Babilônia, enquanto que Jeremias foi levado para o Egito (Jr 43:1-8). Parece que Jr 52 e II Reis 24-25 são extratos (contem diferenças verbais secundarias entre si) de uma fonte de informação mais lata, da qual Jeremias não foi o autor. Com toda a probabilidade, o autor dessa fonte foi algum contemporâneo de Jeremias, alguém que também era profeta e que se preocupava profundamente em vista do povo não obedecer a voz de Jeová. Esse autor desconhecido, visto ter escrito a respeito de acontecimentos que ocorreram muito antes de seu nascimento, certamente fez uso de registros escritos, e esses ele menciona por seus nomes. a) Em I Reis 11:41, apos completar a descrição do reinado de Salomão, o autor menciona o livro da historia de Salomão (divere shelomo). b) A informação sobre os relatos concernentes aos reis de Judá foi obtida do livro da historia (divere hayyamim) dos reis de Judá; por exemplo, I Reis 14:29; 15:7,23. etc. c) Também e feita menção sobre o livro da historia dos reis de Israel; exemplo, I Reis 14:19; 15:31, etc. Evidentemente essas obras eram anais públicos do reino, que provavelmente foram registrados pelos profetas. Como exemplo, pode-se apelar para a historia do reinado de Usias, feita por Isaias (II Cr 26:22). Essas fontes de informação, por conseguinte, podem ser consideradas parte da historia profética, registrada na forma de crônicas. Sob inspiração divina, o autor do livro de Reis selecionou porções desses documentos escritos. Outras Teorias sobre a Autoria Os advogados da escola do criticismo negativo acreditam que os livros dos Reis passaram por diferentes redações. Essa opinião foi, recentemente, bem expressa por Pfeiffer. 1) A primeira edição do livro de Reis, segundo essa teoria, foi feita cerca de 600 A.C., quando que a segunda apareceu cerca de cinquenta anos mais tarde. Dizem que a primeira edição na; da sabia a respeito da destruição de Jerusalém (586 A. C.) ou a respeito cio exílio. Supostamente também reconhecia, como legítima a adoração nos altos lugares, fora de Jerusalém, antes dá ereção do templo. Por outro lado, a segunda edição se refere ao exílio e condena Salomão por ter sacrificado em Gibeom. De conformidade com esse ponto de vista, o livro de Reis é considerado como uma história que exibe a filosofia e a religião do livro de Deuteronômio. Essa filosofia envolvia a doutrina da centralização da adoração e a justa retribuição à conduta humana sobre a face da terra. Por conseguinte, cada rei foi julgado de conformidade com sua


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

37

obediência à lei que centralizou a adoração em Jerusalém e que ordenou a destruição dos lugares altos (supostamente ensinado em Dt 12). Outrossim, a fim de explicar à doutrina da recompensa ou retribuição terrena, o autor teve de ver-se a braços com os fatos, e dispõe-se mesmo a sacrificar os fatos em favor de sua teoria. O livro dos Reis, pois, segundo essa opinião, apresenta uma história teológica. Ver Lindsay B. Longacre: The Old Testament: Its Form and Purpose, Nova Iorque, 1945, págs. 36-57; e quanto a uma revista sobre essa obra, pelo presente escritor, ver WThJ, vol. VIII, págs. 246-250; cf. também IOT, págs. 377-412. 2) Deve-se observar uma importante modificação feita sobre a posição acima. Eissfeldt e outros sustentam a existência, de uni livro pré-deuteronômico de Reis, que se comporia de L, J e E, ou simplesmente de J e E. Os deuteronomistas, seguindo essa posição, não criaram um novo livro, mas tão somente trabalharam sobre a continuação das narrativas do ―Octateuco‖. Propósito Os livros de Reis tem em vista dar prosseguimento à história da teocracia até o final do exílio babilônio. Os reis de Judá foram aquilatados de conformidade com a promessa feita a Davi, em II Sm 7:12-16, enquanto que os reis do reino do norte, todos os quais são condenados, foram condenados por terem continuado no pecado de Jeroboão, filho de Nebate, que fez Israel pecar. Muita ênfase é posta sobre o ministério profético de Elias e Eliseu, que serviram como elo entre o período anterior e o período profético. No que tange ao reino do sul, o escritor sagrado deu importância particular àqueles reis que foram leais ao padrão davídico. No entanto, condenou sempre que a condenação foi necessária, e deixou claro que o exílio foi um castigo divino. YOUNG, Edward J., Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1964. pag 160 e 161. Conteúdo e Estilo O conteúdo de 1 e 2 Reis é uma outra narrativa e uma interpretação teológica dos acontecimentos significativos na história de Israel, do encerramento do reinado de Davi até a queda de Jerusalém, com uma nota final sobre a libertação de Joaquim, da prisão. Assim, esta narrativa é principalmente uma síntese e interpretação: (1) do restante do reinado de Davi não tratado em 2 Samuel; (2) do reinado de Salomão (1 Rs 1.1-11.41); (3) da divisão (1 Rs 12); (4) dos reinados dos monarcas dos dois reinos divididos (1 Rs 12-2 Rs 17); e (5) dos reinados dos demais reis de Judá (2 Rs 18-25). Várias vezes o relato do reinado de um rei em particular contém incidentes do encontro dele com um profeta ou profetas; por exemplo, os encontros de Acabe com Micaías e Elias. Várias referências a todos os reis deixam claro que o historiador fez uso das fontes disponíveis. Três são especificamente mencionadas: (1) ―O Livro da História de Salomão‖ (1 Rs 11.41); (2) ―O Livro das Crônicas dos Reis de Israel‖ é mencionado pela primeira vez no final do relato do reinado de Jeroboão (1 Rs 14.19), mas é citado diversas vezes depois disso; (3) ―O Livro das Crônicas dos Reis de Judá‖ é referido pela primeira vez no final do relato do reinado de Roboão, mas também é regularmente mencionado no final dos relatos dos reinados de outros reis judeus.


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

38

Os relatos dos reinados dos reis posteriores a Salomão são geralmente incluídos em uma estrutura literária do historiador. Esta estrutura é usada pela primeira vez no relatório do reinado de Roboão. Em sua forma mais simples, ela consiste de três partes: (1) A fórmula introdutória: ―Roboão, filho de Salomão, reinava em Judá...‖ (1 Rs 14.21) - a idade em que o rei iniciou o seu reinado, a duração de seu reinado, e também o nome da rainha mãe. (2) Segue então o relato dos acontecimentos significativos do reinado, ao menos os eventos que o historiador quis incluir para o seu propósito (para Roboão, veja 1 Rs 14.2228). (3) A última parte é a fórmula final: ―Quanto ao mais dos atos de Roboão e a tudo quanto fez...‖ (1 Rs 14.29-31), inclusive a referência ao lugar de sepultamento e o nome do seu sucessor. A mesma estrutura em geral é usada para os reis do Reino do Norte, exceto que a fórmula introdutória não inclui a idade do rei na época de sua ascensão ao trono, nem o nome de sua mãe (cf. 1 Rs 15.25-32; 15.33-16.7; et ah). LIVINGSTON, George Hebert. Comentário Bíblico Beacon, Volume II. Tradução Luís Aron de Macedo. Editora CPAD, Rio de Janeiro, 2012. pag 273 Divisão do Reino O Reino unido durou 120 anos: Saul, 40 anos, At 13:21;,Davi, 40 anos, 2 Sm 5:4; Salomão, 40 anos, 1 Rs 2:42. Depois da morte de Salomão, dividiu-se o reino: dez tribos formaram o reino do Norte, chamado ―Israel‖; Judá e Benjamim formaram o reino do Sul, chamado ―Judá‖. O reino do Norte durou pouco mais de 200 anos, e foi destruído pela Assíria, 722 a.C. O reino do Sul foi um pouco além de 300 anos, e foi destruído pela Babilônia, no período entre 605 e 587 a.C. A separação das dez tribos ―veio de Deus‖, 11:11, 31; 12:15, como castigo da apostasia de Salomão e como uma lição para Judá. A Cronologia do Reino Dividido A data da divisão do reino é calculada de vários modos, entre 983 a.C. e 931 a.C., sendo a data menor a que geralmente mais se aceita hoje. Existem dificuldades na cronologia do período, e discrepâncias aparentes que podem ser explicadas, parcialmente, com ―reinados coincidentes em parte‖, ―soberanias associadas‖, ―intervalos de anarquia‖, e ―frações de anos tomadas por anos inteiros‖. Veja uma explicação completa no artigo ―Cronologia‖ no Novo Dicionário da Bíblia. As datas abaixo não podem estar muito longe da realidade:


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

39

A Religião do Reino do Norte Jeroboao, fundador do reino do Norte, adotou para manter separados os dois reinos, o culto do bezerro, a religião do Egito, como religião oficial do reino recém-formado. O culto de Deus identificara-se em Judá com a família de Davi. O bezerro veio a constar como símbolo da independência de Israel. Jeroboao incutiu tão profundamente o culto do bezerro no reino do Norte que não pode ser arrancado daí senão com a queda desse reino. O culto de Baal, introduzido por Jezabel, prevaleceu por uns 30 anos, mas foi exterminado por Elias, Eliseu e Jeú, nunca mais reaparecendo, embora persistisse, com intermitências, em Judá, até ao cativeiro deste. Todos os 19 reis do Norte seguiram o culto do bezerro de ouro. Alguns dêles serviram também a Baal, porém nenhum tentou alguma vez fazer o povo voltar para Deus. A Religião do Reino do Sul Foi o culto de Deus: posto que a maioria dos reis servisse aos ídolos e andasse nos maus caminhos dos reis de Israel, contudo alguns dos reis de Judá serviram a Deus e por vezes houve notáveis reformas no meio desse povo. Entretanto, apesar dos repetidos e enérgicos avisos dos profetas, Judá acabou por abismar-se nas práticas horríveis do culto de Baal e de outras religiões dos cananeus, até que não houve mais remédio.


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

HALLEY, Henry H., Manual Bíblico de Halley. Tradução David A. de Mendonça. Editora Vida Nova. São Paulo, 1994. pag 179 a 181

40


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

41

OS LIVROS DAS CRONICAS Na Septuaginta (LXX), a versão em grego do Antigo Testamento, o título das Crônicas é Paralipomena, que significa ―assuntos (previamente) omitidos‖ em Reis e Samuel. Os dois livros das Crônicas eram originalmente um só texto. Jerônimo traduziu o título em hebraico divre hayyamin, ―eventos ou anais dos dias (tempos)‖ (1 Cr 27.24) pela palavra em latim Chronicorum, ou ―a crônica da história divina completa‖. 1 e 2 Crônicas estão colocados com os ―escritos‖ ou hagiographa no Cânone Talmúdico e nas bíblias hebraicas publicadas pela Hebrew Publishing Company. No entanto, na Septuaginta e na Vulgata, assim como na tradução em português, eles aparecem imediatamente depois dos livros dos Reis. Autoria e Data Não existe uma afirmação específica nos textos das Crônicas quanto ao seu autor. O ponto de vista tradicional tem sido que esses dois livros da nossa Bíblia faziam parte de um conjunto com os de Esdras e Neemias. De acordo com a tradição judaica, Crônicas foi, afinal, escrito pelo próprio Esdras, para fazer a transição entre a história do passado e os problemas contemporâneos do período pós-exílio, com relação ao restabelecimento da Terra Prometida. Existem divergências quanto a isto, e alguns sugerem que Esdras foi o autor somente das genealogias1. Delitzsch, entretanto, o vê como o compilador do material usado nas Crônicas2. Este ponto de vista tem encontrado alguma aceitação. Outros autores conservadores preferem considerar esses livros como uma compilação. Mas, as evidências internas, assim como o peso da opinião, penderia para o lado de um único autor. Os livros indicam que eles são do período pós-exílio; eles tratam de interesses similares; e foram escritos com o mesmo estilo literário. Assim, Esdras certamente se encaixa na descrição de um autor como este, melhor do que qualquer outro homem conhecido daquela época. Os livros tratam da história dos hebreus até o final do cativeiro e da restauração, com Ciro. Estes fatos exigiriam uma data do pós-exílio. Por exemplo, com base em 2 Crônicas 35.25 teria que ser obviamente após a época de Jeremias. Se, devido à linguagem, estilo e ponto de vista histórico, Esdras for aceito como o autor, os livros teriam que ser do final do século V a.C. W. F. Albright defende a autoria de Esdras e fixa a data entre 400 e 350 a.C.3. Desde Wellhausen até Pfeiffer, os críticos tentaram fixar uma data posterior para os livros, mas eles admitem a falta de argumentos conclusivos. Os três principais argumentos para uma data posterior são: (1) linguagem e espírito; (2) a genealogia de 1 Crônicas 3.17-24; (3) a última data de Esdras-Neemias4. Como Unger enfatiza, o argumento de Pfeiffer de que a linguagem e o estilo são artificiais e decadentes dificilmente se aplica, uma vez que o vernáculo é mais aramaico que hebraico. É impossível determinar se há cinco ou onze gerações listadas após Zorobabel, como os próprios críticos admitem5. Certamente essas evidências são insuficientes para colocar Esdras e Neemias em uma época muito posterior ao século V. PROPOSITO É axiomático que os livros de Crônicas foram escritos para dar perspectiva e continuidade histórica aos hebreus que enfrentaram tarefas hercúleas em sua volta do exílio.


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

42

Entre essas atividades se incluíam a reconstrução do Templo e a restauração da adoração que envolvia o sistema levítico de sacrifícios. O povo também enfrentou a necessidade de reconstruir as cidades para os legítimos herdeiros dentro das áreas tribais específicas, e a reconstrução da nação como o povo escolhido de Deus para a salvação do homem. Os livros de Samuel e dos Reis refletem o ponto de vista profético, e incluem as histórias dos reinos do Norte e do Sul. Os livros de Crônicas refletem o ponto de vista sacerdotal e não meramente repetem ou acrescentam alguns detalhes para a posteridade. Ao invés disso, por causa do ponto de vista, são dados detalhes a respeito do Templo e dos rituais, e as omissões e adições são importantes para uma compreensão abrangente dos hebreus e do plano divino da salvação. O primeiro livro de Crônicas em parte corresponde ao segundo de Samuel; ele trata das tribos fiéis, Judá e Benjamim, que formaram o Reino do Sul. A maior parte do texto lida com o material já encontrado nos outros livros do cânone do Antigo Testamento, desde Gênesis até Reis. As genealogias levam até os reinos de Davi e Salomão com as suas contribuições para a nação dos hebreus. As assim chamadas omissões, lacunas e diferenças de grafia foram desencorajadoras para muitos estudiosos da Bíblia, mas não devia ter sido assim. No segundo livro de Crônicas a história do Reino do Norte - desde a morte de Salomão, em 931 a.C., até a queda de Samaria, em 721 a.C. - é completamente omitida, pois nenhum dos reis se afastou dos pecados de Jeroboão, e desta forma eles não deram qualquer contribuição para a verdadeira adoração a Deus no Templo de Jerusalém. Judá era o único reino que prosseguia, conforme havia sido profetizado e prometido por meio de Davi, da tribo de Judá. Daí, o grande detalhe a respeito dos reinos de Davi e de Salomão, incluindo aqueles reis do Reino do Sul que seguiam a trilha deixada por eles. O segundo livro de Crônicas abrange o mesmo período dos livros dos Reis: dos últimos dias de Davi até o exílio na Babilônia. Deve-se notar que toda a história anterior a Davi está resumida pelos quadros genealógicos. Os hebreus precisavam recuperar o trono de Davi e estabelecer a adoração ao Senhor, como na ―era dourada‖ que culminou no reinado de Salomão. O autor omite com muito tato os grandes pecados de Davi e de Salomão porque essas narrativas nada acrescentam ao seu propósito de escrever. A contribuição peculiar das Crônicas está no material que aparece aqui e não é encontrado nem nos livros de Samuel nem em Reis, e que trata enormemente, se não exclusivamente, dos temas dos rituais relacionados com a adoração no Templo. 0 cronista inclui dados omitidos por outros. Com a orientação do Espírito Santo, ele usou aqueles fatos que se adequavam ao seu objetivo. Ao fazer isso, ele menciona algumas das suas fontes, das quais uma parte não está disponível ao estudioso da atualidade. Além do verdadeiro conhecimento do autor e do uso dos fatos encontrados nos outros livros, desde Gênesis até Reis, ele menciona pelo menos dez ou mais fontes. São citados os escritos de oito profetas: Samuel, Natã, Gade, Aias, Semaías, Ido, Jeú e Isaías. O livro dos reis de Judá e Israel não deve ser confundido com os livros canônicos dos Reis (por exemplo, 1 Cr 9.1; 2 Cr 27.7; 33.18; 36.8 referem-se a materiais não encontrados nos nossos livros canônicos em sua forma atual). Os inúmeros quadros genealógicos e fatos poderiam ser encontrados em publicações, diários e registros públicos além dos do Templo, que eram acessíveis ao autor na sua época. Ao avaliar o ponto de vista do autor, Cartledge diz: O ritual pode facilmente ser super enfatizado ou usado inadequadamente, mas também pode ser uma parte importante adjunta à verdadeira adoração. O ritual pode enfatizar a importância da pureza moral e a necessidade de lidar-se com o problema do pecado6.


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

43

Ele prossegue, ao dizer que no Novo Testamento nós podemos ver exemplos daqueles que tomaram os rituais como um substituto para a espiritualidade, mas o ritual no Antigo Testamento era um prelúdio necessário e uma profecia daquele que satisfez todos os aspectos da lei dos judeus. A Importância das Crônicas Keil ressalta que os livros das Crônicas referem-se ―àqueles tempos‖, ―àqueles homens‖ e ―àqueles eventos‖ que viriam a ser a base para a reconstrução de uma nova nação. Eles também se referem a uma nova adoração no Templo, aceitável a Deus, e profética quanto à revelação da plenitude do Messias, o Filho de Deus7. Sem as Crônicas, estaríamos empobrecidos em nossa perspectiva histórica. Podemos reconhecer que existem aparentes discrepâncias nas menções a alguns nomes e números. Os números nas Crônicas, às vezes, são maiores do que aqueles que são apresentados em outras partes do Antigo Testamento, e parecem ser inacreditáveis para o leitor. Não precisamos ignorar estes fatos, pois não há perigo em confrontá-los. Tampouco colocaríamos toda a responsabilidade naqueles que estiveram envolvidos na transmissão do texto. Depois de tudo o que foi dito sobre o problema, nenhum fato essencial da vida espiritual foi alterado. Podemos ser leais tanto aos fatos como eles são, quanto a uma sólida doutrina de inspiração. O autor é preciso em tudo o que é essencial, e suas fontes são confiáveis (cf. nota de rodapé, Et 9.1-16). Esboço I. As genealogias, de Adão a Davi, 1 Cr 1.1—9.44 A. De Adão a Noé, 1.1-4 B. Os Descendentes dos Três Filhos de Noé, 1.5-27 C. De Abraão às Tribos, 1.28-54 D. Os Filhos de Israel, 2.1-4 E. A Tribo de Judá, 2.5-4.23 F. Simeão, Rúben, Gade e Manassés, 4.24—5.26 G. A Tribo de Levi, 6.1-81 H. Descendentes de Issacar, Benjamim, Naftali, Manassés, Efraim, Aser, 7.1-40 I. Os descendentes de Benjamim, 8.1-40 J. Registros de Israel e Judá, 9.1-44 II. O reino de Davi, 1 Cr 10.1—29.30 A. A Morte de Saul, 10.1-14 B. Davi como Rei, 11.1-27.34 C. Salomão é Coroado Rei, 28.1-29.30 III. O reino de Salomão, 2 Cr 1.1—9.31 A. A Confirmação de Salomão, 1.1-17 B. A Construção do Templo, 2.1-5:1 C. A Consagração do Templo, 5.2-7.22 D. A Glória de Salomão, 8.1-9.31 IV. A história de Judá, 2 Cr 10.1—36.23 A. O Primeiro Ciclo na História de Judá, 10.1—20.37 B. O Segundo Ciclo na História de Judá, 21.1—32.33 C. O Terceiro Ciclo na História de Judá, 33.1—35.27 D. O Quarto Ciclo na História de Judá, 36.1-23


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

44

LIVINGSTON, George Hebert. Comentário Bíblico Beacon, Volume II. Tradução Luís Aron de Macedo. Editora CPAD, Rio de Janeiro, 2012. Pag. 409 a 412. As Fontes das Crônicas a) Para as informações contidas nas primeiras genealogias em I Cr 1-9, o escritor serviu-se de velhas listas estatísticas que sobreviveram à queda de Jerusalém e ao exílio. Só as genealogias dos patriarcas poderiam ter sido extra das dos livros canônicos das Escrituras, pois em qualquer outra parte o desvio na ordem e na disposição é tão grande que as listas foram sem dúvida extraídas de fontes, que hoje não podemos consultar. Pouquíssimas dessas genealogias encontram paralelos noutros lugares da Escritura Sagrada. b) Nas narrativas históricas, que encontramos em Samuel e nos Reis igualmente, não devemos considerar Este último livro como fonte histórica. É que os textos das Crônicas contém muitos pormenores que Samuel e os Reis passam em silêncio, e não raro apresentam até com uma disposição diferente. Cada livro conserva na realidade a sua característica diferente. É talvez por isso que, ao apresentarem um determinado ponto de vista, parece melhor considerá-los como tendo ido beber à mesma fonte comum. Comparem-se os vers. 9 e 10 de I Cr 10 com I Sm 31, observando a perfeita concordância, quase literal, dos dois textos:

Não será evidente que há um certo ponto de contato entre cada um destes textos? As Crônicas acentuam o que sucedeu à cabeça, enquanto Samuel dá mais realce ao que se passou com o corpo. Neste sentido comparem-se ainda II Cr 2 com I Reis 5; II Cr 8 com I Reis 9:10-28; II Cr 32 com II Reis 18 e Is 36-38: II Cr 3, 4 com I Reis 6 e 7. No que se refere à história de Davi, poderemos citar a seguinte fonte: ―Crônicas de Samuel, o vidente; de Natã, profeta; e Gade, vidente‖ (I Cr 29:29). Quanto á história de Salomão citam-se: ―As falas de Natã, profeta; a profecia de Aías, o silonita; e as visões de Ido, vidente, acerca de Jeroboão, filho de Nebate (II Cr 9:29). Relativamente à história do reino de Judá vejamos quão numerosas são as fontes: 1) ―Livros dos reinos de Judá e Israel‖ (II Cr 16:11). 2) ―Livro dos reis de Judá e Israel‖ (II Cr 25:26; 28:26; 32:32) 3) ―Livro dos reis de Israel e Judá‖ (II Cr 27:7; 35:27;-36:8) 4) ―Livro dos reis de Israel‖ (II Cr 20:34) 5) ―Palavras dos reis de Israel‖ (II Cr 33:18) 6) ―História (midrash) do livro dos reis‖ (II Cr 24:27)


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

45

Parece que tudo nos leva a crer que nos cinco primeiros casos se encontram apenas variantes do mesmo termo. Evidentemente que esta história continha essencialmente o mesmo material que as crônicas dos reis de Judá e Israel mencionadas nos livros canônicos dos Reis, admitida a concordância quase perfeita entre os diferentes textos. O último caso (alínea 6), designado em hebraico pelo vocábulo ―midrash‖, deve também considerar-se como termo sinônimo do anterior. O autor dos Reis cita os anais dos reinados como duas obras separadas, mas é certo que a história foi compilada num só volume ou livro que o cronista teve presente e que designou como ―midrash‖. O comentador Keil, que serviu de base a estas considerações afirma que a bis tória de Joás, das Crônicas, composta com II Rs. 11 e 12, mostra que as palavras tinham realmente o mesmo significado. Continuemos: 7) ―Quanto ao mais dos sucessos de Uzias, tanto os primeiros como os derradeiros, o profeta Isaías, filho de Amós, o escreveu‖ (II Cr 26:22) 8) ―Livros de Semaías, profeta e de Ido, vidente‖ (II Cr 12:15) 9) ―História (midrash) do profeta Ido‖ (II Cr 13:22) 10) ―Notas de Jeú, filho de Hanani‖ 11) ―Palavras dos videntes‖ (II Cr 33:19) Destes últimos títulos, observe-se que ―as notas de Jeú‖ vêm ―inseridas (ho‘alah) no livro dos reis de Israel‖. Pelo menos aparentemente as restantes palavras parecem diferir desta história. De qualquer modo, esta obra da história de que o autor das Crônicas se serviu é uma compilação não só de escritos históricos mas também proféticos. HALLEY, Henry H., Manual Bíblico de Halley. Tradução David A. de Mendonça. Editora Vida Nova. São Paulo, 1994


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

46

ESDRAS Tanto no hebraico como no grego (Septuaginta), os livros de Esdras e Neemias foram inicialmente combinados em um só texto chamado ―O Livro de Esdras‖ (gr. Esdras). Eles foram aparentemente separados, pela primeira vez, na Vulgata Latina, por Jerônimo, em torno de 400 d.C. e, finalmente, receberam uma forma separada até mesmo nas Escrituras Hebraicas. Por causa do íntimo relacionamento dos livros e de suas semelhanças em caráter e origem, parece melhor combinar a discussão deles em um artigo introdutório. Título, Autoria, Data e Composição Os livros são nomeados primeiramente a partir de suas características principais. Como a história de Esdras é parcialmente contada no livro de Neemias, não é de se surpreender que a forma combinada tenha inicialmente recebido o título de Esdras. Sem dúvida, outro fator foi a tradição persistente de que Esdras era pelo menos o autor responsável pelos livros de 1 e 2 Crônicas e da história combinada de Esdras e Neemias. O fato do final de 2 Crônicas coincidir verbalmente com o começo de Esdras, sugere a continuidade original destes livros. A partir do memorial de Neemias, que teve a aceitação de quase todos os críticos como original, formou-se uma parte notável do livro de Neemias, e assim vemos uma razão a mais para o título do livro como temos hoje. Mesmo assim, podemos considerar Esdras, ou um ―cronista‖ posterior como o compilador do livro em sua forma final. Se Esdras foi o compilador destes livros junto com 1 e 2 Crônicas, como muitos estudiosos acreditam, os livros devem ter estabelecido substancialmente as suas formas atuais entre os anos de 430 e 400 a.C. Se, por um outro lado, atribuirmos a compilação a um ―cronista‖ posterior, podemos aceitar a data sugerida por vários críticos, 330-300 a.C. Esta data é derivada da ocorrência do nome Jadua no final de uma lista de sumos sacerdotes em Neemias 12.22. De acordo com Josefo (.Antiq. xi. 8.4), Jadua era o sumo sacerdote na época de Alexandre, o Grande, em torno de 330 a.C. Podemos concluir então que os relatos receberam a sua forma atual (exceto pela divisão em dois livros) por volta do final do quinto ou do quarto século a.C. É especialmente interessante notar os diversos tipos de fontes que têm sido utilizados nos relatos históricos que formam nossos livros de Esdras e Neemias. Eles podem ser listados da seguinte forma: 1. Memórias pessoais de Esdras e Neemias, indicadas pelo uso da primeira pessoa: Esdras 7.27 a 9.15, exceto 8.35-36; Neemias 1.1 a 7.5; 12.27-43; 13.4-31. Existem outras seções, que embora não estejam exatamente na forma de memórias, estão aparentemente baseadas diretamente neles, como por exemplo, Esdras 7.1-10; 10.1-44; Neemias 8.10; 12.44-47; 13.1-31. A respeito da passagem que contém as memórias de Esdras, Cartledge escreve: ―Estes versículos parecem, claramente, ter sido extraídos das memórias do próprio Esdras. Depois que a crítica mais intensa foi feita, até mesmo os críticos mais radicais consideram estes versículos como documentos originais, e do mais elevado valor‖2.0 mesmo é verdadeiro no caso das memórias de Neemias. 2. Recursos aramaicos, que consistem principalmente de cartas e documentos oficiais, tiveram a sua forma original mantida: Esdras 4.8 a 6.18; 7.12-26. O aramaico foi a língua da diplomacia e utilizada em correspondências entre pessoas de diferentes nacionalidades. A autenticidade destas seções aramaicas foi habilmente defendida3, e o caráter da língua foi mostrado, através de uma comparação com os papiros de Elefantina. Ficou comprovado que este é genuinamente um material do século V a.C.4


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

47

3. Registros do Templo, especialmente relativos ao retorno na época de Ciro e à reconstrução do Templo5. 4. Listas ou registros de nomes, evidentemente derivados de registros públicos, tais como aqueles que eram mantidos no Templo. Todos estes variados recursos foram reunidos com muito cuidado e habilidade. Eles formam uma narrativa vívida e contínua, centralizada na riqueza da comunidade judaica durante o período da restauração. Conteúdo e Mensagem O grande tema de Esdras e Neemias é a fidelidade de Deus ao restaurar Judá e Jerusalém após o fogo do exílio ter feito o trabalho de purificação e o remanescente estar pronto para receber uma segunda chance. Três grandes líderes dos judeus são destacados nesta história: Zorobabel, um príncipe da casa de Davi; Esdras, um ―escriba hábil na Lei de Moisés‖; e Neemias, o copeiro do rei da Pérsia. Através de suas orações e de sua habilidosa liderança, Neemias foi bem-sucedido na tarefa de transformar Jerusalém em uma cidade bastante fortificada capaz de se manter até à vinda do Messias prometido, cerca de quatrocentos e cinquenta anos depois. Três reis persas são destacados na história, e são vistos como instrumentos involuntários nas mãos de Deus para auxiliar na realização dos propósitos divinos: Ciro, Dario e Artaxerxes. LIVINGSTON, George Hebert. Comentário Bíblico Beacon, Volume I. Tradução Luís Aron de Macedo. Editora CPAD, Rio de Janeiro, 2012. Pag.485 e 486. Data do Ministério de Esdras É quase certo que podemos colocar o ministério de Esdras durante o reinado de Artaxerxes I (465-424 A. C.), de acordo com o seguinte: os papiros elefantinos (cerca de 408 A. C.) mencionam contemporaneamente o sumo sacerdote joanã e o governador da Samaria, Sambalá. Aquele Joanã era neto de Eliasibe, a que se alude em Ne 3:1, 20, e o próprio Neemias era contemporâneo de Eliasibe. Ora consta que Neemias foi a Jerusalém no vigésimo ano (445 A. C.), no trigésimo segundo ano de Artaxerxes, que só pode ser Artaxerxes I, à luz dos papiros elefantinos. Uma vez que Esdras precedeu Neemias e já que foi a Jerusalém no sétimo ano de Artaxerxes, segue-se que essa viagem se efetua em 458 A. C. O que não se pode deduzir é que Esdras vivesse no tempo de Joanã, neto de Eliasibe (Ed 10:6) e que daí fosse posterior a Neemias. Note-se que Joanã de 10:6 que se diz filho de Eliasibe, não é o sumo sacerdote da época posterior, mas provavelmente o filho de Eliasibe, mencionado em Ne 13 :4, 7. Se for, todavia, o último sumo sacerdote, é mencionado aqui meramente em caráter privado, \ í .I que não era ainda sumo sacerdote. Se era de fato o último sumo sacerdote, por que não se frisa tratar-se de um jovem, aguardando aquele cargo e assim tendo a habitação junto do templo? Finalidade do Livro O presente livro pretende dar uma relação da restauração dum país, sob o ponto de vista religioso ou sacerdotal. Por isso, insiste no estabelecimento do povo na região como se fosse um reino de sacerdotes e uma nação santa, que deve sempre caminhar à luz da verdadeira lei.


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

48

Análise do Livro I — A primeira volta do Exílio 1:1-2:70 1) 1 :l-4. O edito de Ciro. 2) 1:5-11. A resposta ao edito de Ciro. Fazem-se ofertas para o projeto e Ciro restaura os vasos do templo. 3) 2:1-70. Voltam os primeiros exilados, com Zorobabel e Jesua. Se podemos comparar Este capítulo com a lista fornecida por Ne 11:1-13:3, notamos que há algumas diferenças numéricas que se explicam, todavia, como erros dos copistas. II — A restauração do culto de Jeová 3:1-6:22 1) 3:1-3. No sétimo mês o povo reunido em Jerusalém levanta um altar dos holocaustos. Em seguida eleva as suas ofertas ao Senhor. 2) 3:4-7. Renovadas as ofertas, é observada a festa dos tabernáculos. 3) 3:8-23. No segundo mês do segundo ano do regresso, recomeça o trabalho do templo, acompanhado de louvores, e ações de graças. Muitos dos que tinham visto o templo de Salomão choraram. 4) 4:1-5. Os adversários de Judá e Benjamim procuraram de início colaborar na construção. Mas Zorobabel rejeita essa colaboração, e eles alugaram conselheiros para frustrarem o seu plano. Assim foi até ao reinado de Dario, o Persa. 5) 4:6-24. Oposição existente nos reinados de Xerxes e Artaxerxes I. Artaxerxes recebe uma carta. As obras param e continuam paradas durante os dias de Zorobabel, pois no vers. 24 lemos que cessou a obra da casa de Deus até ao ano segundo do reinado de Dario 6) 5:1-17. O trabalho de Ageu a Zacarias exortando o povo a continuar a edificação da casa de Deus. Surge a oposição e o caso é levado a Dario. Os vers. 617 contem uma cópia da carta enviada a Dario. 7) 6:1-12. Dario confirma o decreto de Ciro e ele próprio determina que as obras continuem. 8) 6:13-16. Cumpre-se o edito de Dario e, no terceiro dia de Adar, no sexto ano do reinado de Dario, isto é, 515 A. C. conclui-se o templo. 9) 6:17-22. Consagração do templo. Celebração da Páscoa no dia 14 do primeiro mês, seguida da festa dos pães asmos. III — Os que voltam com Esdras 7:1-10:44 1) 7:1-10. Após um largo salto no tempo, o livro prepara o leitor para os acontecimentos relacionados com Esdras no reinado de Artaxerxes. Genealogia de Esdras, escriba da Lei de Moisés. No quinto mês do sétimo ano de Artaxerxes veio a Jerusalém. 2) 7:11-26. Missão confiada a Esdras. 3) 7:27-28. Esdras dá graças a Deus. 4) 8:1-14. Lista dos que voltaram a Jerusalém com Esdras no sétimo ano de Artaxerxes. 5) 8:15-20. Esdras reúne os chefes perto do rio de Aava e aí o povo permaneceu durante três dias. 6) 8:21-36. Junto ao rio Aava Esdras proclama um jejum. Aos 12 do primeiro mês o povo parte de Aava para Jerusalém. 7) 9:1-4. Esdras lamenta que os israelitas não se tivessem separado do mundo, mas até ousassem casar com mulheres da região. 8) 9:5-15. Oração de Esdras. 9) 10:1-17. Reformas operadas. 10) 10:18-44. Lista dos sacerdotes que casaram com mulheres estranhas.


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

49

YOUNG, Edward J., Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1964. pag 329 331

A Volta do Cativeiro. Jerusalém é Reedificada Estes três livros terminam a parte histórica do Antigo Testamento. Contam a história da volta dos judeus da Babilônia, a reedificação do Templo e de Jerusalém, e o restabelecimento da vida nacional judaica em sua terra natal. Abrangem uns 100 anos, 538433 a.C. Os três últimos profetas, Ageu, Zacarias e Malaquias viveram e trabalharam nesta era de restauração dos judeus. Houve Dois Períodos Distintos: 538-516 a.C. 22 anos, nos quais, sob o governador Zorobabel e o sacerdote Jesuá, o Templo, centro de sua vida nacional, foi reconstruído, Ed caps. 3 a 6. A esse período pertenceram Ageu e Zacarias. 458-433 a.C., 25 anos, nos quais, sob o governador Neemias e o sacerdote Esdras, o muro foi reconstruído e Jerusalém restaurada, como cidade fortificada. A este período pertenceu Malaquias. Esdras faz uma narração dos dois períodos. Neemias faz uma narração 3o segundo período. Ester ocorre entre os dois períodos. Houve Três Regressos: 538 a.C. Zorobabel, com 42.360 judeus, 7.337 servos, 200 cantores, 736 cavalos, 245 mulos, 435 camelos, 6.720 jumentos e 5.400 vasos de ouro e prata. 458 a.C. Esdras, com 1.754 homens, 100 talentos de ouro, 750 talentos de prata, que incluíam ofertas feitas pelo rei. Não se declara se mulheres e crianças vieram. Levou 4 meses. 444 a.C. Neemias, como governador, com uma escolta militar, veio reconstruir e fortificar Jerusalém, às custas do governo. A Cronologia da Restauração: 538 a.C. 49.897 voltam de Babilônia a Jerusalém. 538 a.C. No 7.° mês, edificaram o altar e ofereceram sacrifício. 537 a.C. Iniciada a obra do Templo, e suspensa. 520 a.C. Reencetada a obra por Ageu e Zacarias. 516 a.C. O Templo é concluído. 479 a.C. Ester torna-se rainha da Pérsia. 458 a.C. Esdras vem de Babilônia a Jerusalém. 444 a.C. Neemias reedifica o muro. 433 a.C. Neemias parte de novo de Babilônia. Israel tinha sido levado cativo pela Assíria, 722 a.C. Judá tinha sido levado cativo pela Babilônia, 605 a.C. A volta do cativeiro foi permitida pela Pérsia, 538 a.C. O Império Persa A política dos reis assírios e babilônios fora expatriar os povos conquistados, isto é, tirá-los de suas pátrias e espalhá-los por outras, mas a política dos reis persas,


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

50

exatamente ao contrário, foi repatriar esses povos, isto é, mandá-los de volta às suas terras. Os reis persas eram mais humanos do que os reis assírios e babilônios. Um dos primeiros atos do primeiro rei persa, Ciro, ―monarca singularmente nobre e justo‖, no seu primeiro ano, foi autorizar a volta dos judeus à sua pátria. A Pérsia era o grande planalto montanhoso oriental da extremidade inferior do Vale Tigre-Eufrates. O Império Persa era mais vasto do que os dos seus predecessores; estendia-se para o Oriente até às fronteiras da índia, e atingia para o Ocidente às da Grécia. Suas capitais foram Persépolis e Susã; seus reis residiam às vezes em Babilônia. Como império mundial durou 200 anos, 539-331 a.C. Seus reis foram: Ciro, 539-530 a.C. Conquistou Babilônia, 539 a.C. Fez da Pérsia um império mundial. Permitiu aos judeus voltar à sua pátria, em cumprimento da profecia de Isaías, ver págs. 269, 270. Cambises, 530-522 a.C. Pensa-se que foi o ―Artaxerxes‖ mencionado em Ed 4:7, 11, 23, o qual suspendeu a obra do Templo. Dario I (Hystapes), 522-486 a.C. Autorizou o acabamento do Templo, Ed 6. Fez a famosa inscrição ―Behistun‖, ver pág. 43. Xerxes (Assuero), 486-465 a.C. Famoso por suas guerras com a Grécia. Ester foi sua esposa, ver pág. 218. Mordecai foi seu primeiro ministro. Artaxerxes I (Longimanus); 464-423 a.C. Muito favorável aos judeus. Autorizou seu copeiro Neemias a reedificar Jerusalém. Xerxes II, 423 a.C. Dario II (Noto), 423-404 a.C. Artaxerxes II (Mnemon), 404359 a.C. Artaxerxes III (Oco), 359-338 a.C. Arses, 338-335 a.C. Dario III (Codomano) 335-331 a.C. Foi derrotado por Alexandre, o Grande, 331 a.C., na famosa batalha de Arbela, perto do local de Nínive. Significou isso a queda da Pérsia e a elevação da Grécia. O império passou da Ásia para a Europa. HALLEY, Henry H., Manual Bíblico de Halley. Tradução David A. de Mendonça. Editora Vida Nova. São Paulo, 1994. Pag 212 e 213


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

51

NEEMIAS Nas Bíblias modernas hebraicas o livro mantém o nome do seu principal personagem: Neemias. Os LXX traduzem Neemias e a Vulgata Liber Nehemiae ou Liber secundus Esdrae. Autor O autor do livro é o próprio Neemias conforme se depreende do emprego do pronome da primeira pessoa. A obra recorda a missão do autor a Jerusalém e as reformas que aí instituiu. Ao contrário de Esdras, Neemias é um leigo. A sua obra serve-lhe de complemento. Ambos foram instrumentos de Deus no estabelecimento da nação judaica depois do exílio. A Fidedignidade de Neemias Muitos críticos da escola negativa consideram Neemias como a última parte da grandiosa obra histórica do chamado ―Cronista‖. Pondo de parte a extensão que possa ter, as ―memórias‖ de Neemias não são postas de lado pelos críticos. Apresentam, todavia, os seus argumentos para não atribuir a Neemias a autoria de todo o livro: a) Em Ne 12:11, 22 faz-se menção de Jadua, que foi como sacerdote de 351-331 quando Alexandre Magno entrou na cidade. Note-se que estas referências ocorrem numa lista de sacerdotes e de levitas que pode muito bem ter sido um aditamento posterior. Em todo o caso, Jadua não é aqui mencionado como sumo sacerdote. É perfeitamente admissível que Neemias tenha vivido o suficiente para ver a juventude de Jadua, bisneto de Eliasibe, já que menciona um neto de Eliasibe casado, o genro de Sambalá (Ne 13:28). b) Em Ne 12:22 faz-se alusão a Dario, o persa, e uma vez que aparece relacionado com Jadua, julga-se ser Dario Codoma- nus (336-332 A. C.). Mas se a alusão é simplesmente a Jadua, na sua juventude, e não como sumo sacerdote, o rei em questão pode ser Dario Notho (424-395 A.C.). c) Em 12:26, 47 fala-se dos ―dias de Neemias‖, como se se tratasse dum período há muito passado. Responderemos que em cada caso a frase vem a acompanhar ―os d as‖ de qualquer outro personagem: Joiaquim (vers. 26), Zorobabel (vers. 47). Era natural que Neemias empregasse a mesma expressão ao referir-se ao seu próprio tempo. YOUNG, Edward J., Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1964. pag 332 Esboço (Para a introdução, veja o Livro de Esdras.) I. A Reconstrução dos Muros de Jerusalém, 1.1—6.19 A. AAutoridade de Neemias, 1.1—2.8 1. Tristes Notícias de Jerusalém, 1.1-3 2. A Oração de Neemias, 1.4-11 3. A Autorização Recebida para Fortificar Jerusalém, 2.1-8 B. Planos para Construir os Muros, 2.9-20 1. A Chegada a Jerusalém, 2.9-11 2. Uma Inspeção Preliminar, 2.12-16 3. A Cooperação dos Líderes é Recebida, 2.17-20 C. O Trabalho é Terminado, 3.1—6.19 1. Uma Lista Detalhada dos Construtores, 3.1-32


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

52

2. Obstáculos Externos e Internos, 4.1—6.14 3. O Muro é Concluído em 52 dias, 6.15-19 II. Reformas e Instrução Religiosa, 7.1—13.31 A. O Início da Reorganização da Cidade, 7.1-73 1. A Nomeação dos Funcionários Civis, 7.1-4 2. O Planejamento do Censo, 7.5-73 B. Um Reavivamento Religioso Liderado por Esdras, 8.1—10.39 1. A Leitura e a Exposição da Lei de Moisés, 8.1-12 2. A Celebração da Festa dos Tabernáculos, 8.13-18 3. A Confissão do Povo, 9.1-38 4. O Pacto é Selado, 10.1-39 C. Os Planos para Repovoar Jerusalém, 11.1—12.26 1. A Sorte é Lançada para Trazer os Judeus a Jerusalém, 11.1,2 2. Um Registro das Famílias Judaicas, 11.3—12.26 D. A Consagração dos Muros, 12.27-43 E. A Instituição de Outras Reformas, 12.44—13.31 1. Provisões Feitas para os Líderes Religiosos, 12.44-47 2. O Rebaixamento de Tobias, 13.1-9 3. A Correção dos Abusos nos Serviços do Templo, 13.10-14 4. A Reforma da Observância do Sábado, 13.15-22 5. As Providências em Relação aos Casamentos Mistos, 13.23-31 LIVINGSTON, George Hebert. Comentário Bíblico Beacon, Volume II. Tradução Luís Aron de Macedo. Editora CPAD, Rio de Janeiro, 2012.Pag. 509 O Contexto Histórico Durante esse período de restauração, Judá era apenas uma pequena parte de uma vasta província persa. Sua sina política e religiosa dependia do poder e das medidas persas. Quando Nabucodonosor, o conquistador de Jerusalém, morreu em 562, o poder babilónico declinou rapidamente nas mãos de governantes ineficazes.12 O fim da Babilônia chegou por obra da Pérsia, um novo poder destinado a dominar o antigo Oriente Próximo por dois séculos.13 O fundador desse império foi Ciro, rei de Ansã, no sul do Irã, que se rebelou contra seus senhores medos e em 550 conseguiu, conquistar o imenso império deles.14 Ciro estendeu seu domínio desde o mar Egeu até a fronteira do Afeganistão. A Babilônia ficou isolada e, em 539, caiu diante dos persas após uma única batalha na fronteira. Ciro controlou toda a Ásia ocidental até os arredores do Egito. Ciro foi um governante esclarecido cuja política geral era permitir que o povo deportado pelos babilônios retornasse a sua terra. Também respeitava as crenças religiosas dos povos subjugados e governava permitindo autonomia local considerável. Mantinha, porém, firme controle por meio do exército persa e um complexo sistema de governo. De conformidade com sua política de repatriação, Ciro permitiu que um grupo de exilados judeus retornasse a Judá em 538, chegando a subsidiar a reconstrução do templo. Judá praticamente não foi afetado pelos principais acontecimentos históricos do império. O seguinte quadro resume o restante da história persa, em especial o período importante para Esdras-Neemias


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

53

Esse período turbulento e importante na história do antigo Oriente Próximo é o ambiente para as consequências do retorno do exílio e o estabelecimento da comunidade judaica sob Esdras e Neemias. Realizações e Significado Um entendimento do contexto histórico do período da restauração destaca a verdadeira grandeza de Esdras e Neemias. A queda de Jerusalém e o exílio haviam lançado cruelmente por terra as esperanças israelitas de um grande destino nacional. Também tinham estremecido a confiança israelita em duas verdades teológicas de longa data — a segurança de Sião como lar terreno permanente de Deus e a promessa de uma dinastia infindável a Davi. Recorrendo, porém, à teologia da aliança, os profetas haviam explicado a tragédia para um Israel confuso, dando-lhe esperança. Os profetas interpretavam o desastre como julgamento de Deus pela negligência de Israel para com as responsabilidades da aliança e prometiam restauração futura como obra da fidelidade divina à antiga aliança. Essa percepção teológica, juntamente com o decreto beneficente de Ciro em 538, deu início à restauração de Israel como povo. No final do século V, Esdras e Neemias haviam estabelecido firmemente uma comunidade religiosa e política viável na Palestina. Mais importante, para evitar que Israel fosse assimilada por outras nações, eles lhe deram uma nova identidade centrada na lei e no templo. Assim, a lei e o culto no templo substituíram a confiança em Sião e a monarquia davídica como o fundamento teológico do futuro de Israel. O Papel de Esdras. Esdras, o sacerdote, foi o primeiro arquiteto da nova identidade de Israel. Ele se preparou para a tarefa pelo estudo rigoroso e pela prática pessoal da lei de Deus (Ed 7.10). Esse é o motivo por que o livro o retrata quase como um segundo Moisés. E significativo que seu primeiro título seja ―escriba‖ (heb. sõpêr, v. 6). Na linguagem pré-exílica, escriba designava um funcionário de Estado de alto grau — um ministro das finanças (2Rs 22.3ss.), secretário de Estado (Is 36.3; cf. 22.15) ou responsável pelos registros do palácio (2Rs 18.18; Jr 36.12). Nos dias de Esdras, entretanto, a Torá ou lei tornara-se o foco da identidade nacional, de modo que escriba — o especialista em interpretação da lei — passou a designar o principal líder espiritual da comunidade. Por exemplo, na impressionante leitura pública da


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

54

lei (Ne 8), Esdras ocupa um lugar de liderança enquanto seus companheiros levitas o auxiliam. Em contraste com o costume pré-exílico, Esdras combinava as funções de sacerdote e escriba. Com o tempo, emergiria uma classe profissional de escribas, substituindo o sacerdócio na liderança espiritual da nação. No Novo Testamento, os escribas eram os líderes mais influentes em questões religiosas. O comissionamento imperial de Esdras autorizava-o a destacar magistrados e juízes para ensinar a ―lei do Deus de Israel‖ e punir os que deixassem de obedecer a ela (Ed 7.25s.). Isso lhe deu um título oficial persa, ―escriba da Lei do Deus do céu‖ (v. 12) — em termos atuais, talvez ―secretário de Estado para questões judaicas‖. Assim, Esdras chegou a Jerusalém com o poder e o zelo para reorganizar a comunidade judaica em torno da lei. O Papel de Neemias. Se Esdras restabeleceu Israel no aspecto espiritual, Neemias deu estabilidade física à frágil comunidade. Como copeiro (um oficial jovem de alta confiança) do rei persa, ele soube da ―miséria e desprezo‖ em Judá (Ne 1.3) e obteve nomeação como seu governador (cap. 2). Com habilidade e ousadia, Neemias executou sua comissão imperial de reconstruir a cidade. Ele examinou os muros à noite para não ser visto por possíveis oponentes e organizou um grupo de trabalho. Sob sua supervisão arguta, o projeto encerrou-se notavelmente em apenas cinquenta e dois dias, apesar de uma oposição persistente (2.19; 4.1-3; [TM 3.33-35], 7-12 [TM 4.1-5]; 6.1-9). As orações de Neemias revelam um homem de profunda piedade e forte convicção. Com o muro pronto, Neemias procurou repovoar Jerusalém e corrigir abusos sociais, econômicos e religiosos. Assim, promoveu tanto a segurança física da capital como a estabilidade socioeconômica de toda a comunidade religiosa. Em parceria com Esdras, ele preservou o povo de Deus de onde viria Jesus Cristo, o cumprimento de todas as esperanças e promessas da antiga aliança. LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederic W. Introdução ao Antigo Testamento. Tradução de Lucy Yamakami. São Paulo: Vida Nova, 1999. Pag. 609 e 607; 612 e 613.


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

55

ESTER O livro toma o nome de sua principal personagem ‗ester, palavra persa que significa ―estréia‖. O nome hebraico de Ester — Hadhassah — queria dizer ―murta‖ (2:7). Autor A julgar pelo Baba Bathra 15C; foram os ―homens da Grande Sinagoga que escreveram o livro de Ester‖. Josefo nas Antiguidades 11:6:1 atribui a autoria do livro a Mardoqueu, opinião que parece ter sido seguida na Sinagoga e corroborada por vezes pelo fato de nos dois últimos capítulos de Ester se mencionarem cartas e escritos de Mardoqueu. Mas à luz de 10:3 é mais que certo não ter sido esse judeu o autor do livro. Ibn Ezra sugeriu Mardoqueu como autor original, por julgar que Mardoqueu constatou que os persas desejavam uma cópia do livro para os seus arquivos oficiais, substituindo o nome dos ídolos pelo nome de Deus. Para que tal não sucedesse, Mardoqueu deliberadamente omitiu também o nome de Deus. É por certo uma teoria engenhosa, mas revela sem dúvida uma baixa concepção da natureza das Escrituras. Não sabemos quem foi o autor, que possivelmente viveu na Pérsia e não na Palestina, dados os conhecimentos profundos que manifesta da vida e dos costumes dos persas. Com certeza na composição do livro se serviu de alguns dos escritos de Mardoqueu (9:20), dos livros das crônicas dos reis da Média e da Pérsia (2:23; 10:2). Tais foram as suas prováveis fontes históricas. É na realidade difícil precisar em que época viveu e trabalhou Este desconhecido autor de Ester, se bem que, de acordo com 10:2, o livro tenha sido escrito depois da morte de Assuero (Xerxes). De fato, à data da composição, já a história oficial do reino de Xerxes tinha sido escrita, e adota-se geralmente a data de 465 A. C. para a morte daquele rei. 1:1 parece indicar que Xerxes era bem conhecido dos leitores. De resto, se atendermos bem a história da Pérsia, parece que só faz referência à uma época logo a seguir à morte de Assuero. Segue-se, por isso, que é melhor considerar o autor como tendo vivido durante a segunda metade do século V A. C. Nada de concreto, todavia. YOUNG, Edward J., Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1964. Pag 306 Propósito e Valor Religioso Uma característica evidente no livro de Ester, sobre a qual há vários comentários, é a ausência do nome de Deus. De fato, não há uma referência específica à oração no livro, exceto em 9.31 onde é feita uma menção ao jejum e ao clamor dos judeus. Pode parecer que esta omissão de qualquer referência específica à religião judaica seja deliberada. É muito provável que a razão seja a sujeição do livro à censura, e qualquer referência a Deus ou à fé dos judeus teria causado a sua destruição. O livro, por outro lado, está repleto de provas da providência divina que atua a favor dos judeus. Isto constitui uma grande parte de sua mensagem religiosa, e é certamente um dos principais propósitos pelos quais foi escrito. Deve-se admitir livremente que o uso cristão do livro é limitado, visto que há muito nele para ser questionado sob o ponto de vista da vida e da prática cristã, e que só pode ser explicado em sua relação com o ambiente oriental antigo em que se originou. ―Nenhuma tentativa deveria ser feita‖, disse o Dr. S. A. Cartledge, ―para justificar o espírito vingativo que aparece constantemente; Jesus nos mostrou uma maneira de tratar os nossos inimigos, que é muito superior à que vemos aqui‖11. Isto é, certamente, parte de uma


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

56

questão de revelação progressiva da verdade como a vemos demonstrada no Antigo e no Novo Testamento. Mensagem Espiritual O ensino do livro de Ester pode ser sintetizado da seguinte forma: (1) Os judeus, apesar de desobedientes ao Senhor, e desviarem-se dele no exílio, estão nos pensamentos de Deus e são objeto da sua misericórdia e preocupação. Assim, o Senhor também ama o pecador, e fez com que o Seu Filho amado morresse por ele. (2) A providência de Deus está sempre sobre o seu povo, para salvá-lo das tramas malignas de seus inimigos. (3) Deus às vezes se oculta ao cumprir os seus propósitos no mundo. Em Isaías 45.15 lemos: ―Verdadeiramente, tu és o Deus que te ocultas, o Deus de Israel, o Salvador‖. (4) O poder da oração é ensinado claramente. É evidente que o jejum solicitado em 4.16 é um motivo para esta prática na atualidade. A resposta à oração deve ser vista no sucesso da rainha em convencer o rei a ajudar os judeus no seu sofrimento. (5) A responsabilidade que temos em cumprir a missão delegada por Deus é ensinada em 4.14: ―E quem sabe se para tal tempo como este chegaste a este reino?‖ Também indica o risco que temos de correr ao cumprirmos nossa missão: ―e, perecendo, pereço.‖ (4.16) LIVINGSTON, George Hebert. Comentário Bíblico Beacon, Volume II. Tradução Luís Aron de Macedo. Editora CPAD, Rio de Janeiro, 2012. Pag. 545


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

57


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

58


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

59


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederic W. Introdução ao Antigo Testamento. Tradução de Lucy Yamakami. São Paulo: Vida Nova, 1999. Pag. 584 a 587

60


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

61

JÓ O nome do livro deriva de sua principal referência ‗iyyov, que aparece nos LXX e na Vulgata traduzida por Iob, donde procede o nome português de Jó. Autoria e Composição Há sobretudo dois problemas que cuidadosamente devemos observar neste livro. Primeiro, determinar, o quanto possível, quem e quando o escreveu. Seguidamente, descobrir em que época histórica viveu Jó e quando se deram os acontecimentos relatados no livro. O que mais nos interessa por agora é o primeiro caso, pois a questão da autoria é, sem dúvida, complicadíssima em virtude da diversidade de opiniões. Para maior clareza, exporemos primeiramente a nossa e depois a dos adversários. A teoria da autoria e da data do livro que aparece mais razoável é a que dá a obra como redigida no tempo de Salomão. É a opinião mais antiga, de resto. Já a defendiam alguns dos doutores judeus e Gregório Nazianzeno (falecido cerca de 390 A. D.). Martinho Lutero desenvolveu-a e já no século XIX foi seguida por Haevernick, Keil e Delitzsch. Vejamos os argumentos positivos a seu favor: a) Era uma época de paz em que atividades literárias se desenvolveram. Foi, por isso, uma ocasião propícia para compor um livro, como o de Jó. b) O livro de Jó tem o cunho ou o caráter dos livros da sabedoria (Chokma). Como observa Delitzsch, ―é um cunho daquele período criador e incipiente da Chokma, daquela época salomônica da ciência e da arte, do mais profundo pensamento em matéria de religião revelada e de cultura inteligente e progressiva das formas tradicionais da arte, duma época sem precedentes, em que a literatura correspondeu ao zênite da magnificência gloriosa para que o reino da promissão tendia‖. São Estes os dois principais argumentos que localizam a obra no tempo de Salomão. São pelo menos razoáveis, embora não concludentes. YOUNG, Edward J., Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1964. Pag 277. Esboço I. Prólogo: As Calamidades de Jó, 1.1—3.26 A. A Fama e Retidão de Jó, 1.1-5 B. Os Debates entre Deus e Satanás, 1.6—2.10 C. Os Amigos de Jó vêm para Consolá-lo, 2.11-13 D. Jó Lamenta o Dia do seu Nascimento, 3.1-26 II. Jó Debate o Significado do seu Sofrimento, 4.1—31. A. O Primeiro Ciclo de Discursos, 4.1—14.22 B. O Segundo Ciclo de Discursos, 15.1—21.34 C. O Terceiro Ciclo de Discursos, 22.1—31.40 III. Os Discursos de Eliú, 32.1—37.24 A. Eliú é Apresentado, 32.1-5 B. O Primeiro Discurso de Eliú, 32.6—33.33 C. O Segundo Discurso de Eliú, 34.1.37 D. O Terceiro Discurso de Eliú, 35.1-16 E. O Quarto Discurso de Eliú, 36.1—37.24 IV. A Conversa de Deus com Jó, 38.1—42.6 A. A Primeira Resposta de Deus a Jó, 38.1—40.5


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

62

B. A Segunda Resposta de Deus a Jó, 40.6—42.6 V. Epílogo em Prosa, 42.7-17 A. Jó Intercede pelos seus Amigos, 42.7-9 B. A Saúde e a Riqueza são Devolvidas a Jó, 42.10-17 LIVINGSTON, George Hebert. Comentário Bíblico Beacon, Volume III. Tradução Luís Aron de Macedo. Editora CPAD, Rio de Janeiro, 2012. Pag 26 Os Livros Poéticos Jó é o primeiro do grupo de livros do Antigo Testamento chamados poéticos; os outros são Silmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos. Muitos trechos de tais livros são escritos em forma poética. Este grupo de livros, na maior parte do seu conteúdo, pertence à Idade de Ouro da história dos hebreus, a era de Davi e Salomão; Jó é geralmente atribuído a uma data mais remota; e alguns dos Salmos são mais recentes. Contudo, grande parte dos Salmos se atribui a Davi; e os três livros, Provérbios, Eclesiastes e Cantares, são geralmente atribuídos a Salomão. Assim, não é fora de propósito classificá-los de um modo geral, não em sentido exclusivo, como pertencentes à era de Davi e Salomão. A Poesia hebraica não tem métrica nem rima, como a nossa. Consiste antes em paralelismos, ou idéias rítmicas. O mesmo pensamento é repetido com palavras diferentes, o segundo contrastando-se com o primeiro, ou levando-o a uma culminância, formando uma parelha de versos, sinônimos ou antitéticos. Os sentimentos de uma linha repercutem na seguinte.‖ ―Às vezes as parelhas são duplas, triplas, ou quádruplas, formando dísticos, quadras, sextilhas ou oitavas.‖ O Valor Literário do Livro de Jó Victor Hugo disse: ―O livro de Jó é talvez a maior obra-prima do espírito humano.‖ Thomas Carlyle: ―Denomino este livro, à parte de todas as teorias a seu respeito, uma das maiores coisas que já se escreveram. É nossa primeira e mais antiga declaração sobre o problema interminável: O destino do homem e a maneira de Deus tratá-lo, aqui na terra. Penso que nada existe escrito de igual valor literário. ‖ Philip Schaff: ―Ergue-se como pirâmide na história da literatura, sem precedente e sem rival.‖ O Cenário do Livro Pensa-se que a ―terra de Uz‖, 1:1, ficava ao longo dos limites da Palestina com a Arábia, estendendo-se de Edom, pelo Norte e Leste, ao rio Eufrates, e ladeando a rota de caravanas entre a Babilônia e o Egito. O distrito da terra de Uz que a tradição tem dado como pátria de Jó era Haurã, região ao leste do mar da Galiléia, conhecida pela fertilidade do solo e seus cereais, que já foi densamente povoada, hoje pontilhada de ruínas de 300 cidades. Há nessa região um lugar chamado Deir Eyoub, que se diz ter sido residência de Jó. Quem foi Jó A Septuaginta, num pós-escrito, segundo velha tradição, identificou Jó com ―Jobabe‖, o segundo rei de Edom, Gn 36:33. Nomes e lugares mencionados no livro, ver


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

63

sobre o cap. 2, parecem dar os descendentes de Esaú como o meio de onde se originou. Se é certo e se Haurã foi o lugar de residência de Jó, isSo indica que os primeiros reis de Edom, de vez em quando, podiam migrar da região pedregosa de Edom rumo ao Norte, às planícies mais férteis de Haurã. Seja como for, o livro respira a atmosfera de tempos muito primitivos e parece ter, como o ambiente que lhe deu origem, as tribos primevas descendentes de Abraão que viviam ao longo da fronteira norte da Arábia, mais ou menos ao tempo da permanência de Israel no Egito. O Assunto do Livro O livro é uma discussão filosófica, em linguagem altamente poética, acerca do problema do sofrimento humano. Muito cedo na história os homens começaram a se perturbar com as tremendas desigualdades e injustiças da vida: como podia um Deus de bondade fazer o mundo tal qual é, onde há tanto sofrimento, e onde tanto padece quem menos o merece. Não compreendemos esse problema hoje mais do que os homens da época de Jó. Entramos nesta vida sem nada decidir sobre nossa vinda. Abrimos os olhos, olhamos ao redor, e não passamos de um enorme ponto de interrogação: ―De que se trata?‖ E quanto mais velhos ficamos e vamos vendo as desigualdades e injustiças do mundo, tanto mais se agiganta o ponto de interrogação: Como podia um Deus de bondade fazer o mundo tal qual é? Mas, embora não nos avantajemos aos da época de Jó na compreensão deste problema, temos, mais do que eles, razão para nos conformarmos com o mesmo. Porquanto, nesse meio tempo, o próprio Deus desceu a nós, na Pessoa de Jesus Cristo, e participou de nossos sofrimentos. Não se trata de ter Ele feito um mundo onde haveria o que sofrer e depois ficasse de longe e dissesse: Deixa que sofram. A história de Jesus, que foi a um só tempo o homem mais justo e o maior sofredor deste mundo, é uma ilustração de como Deus sofre com a Sua criação; e não devemos ter qualquer dificuldade em crer que tudo isso tem um propósito bom, embora não possamos compreendê-lo agora. Demais disto, Jesus ressurgiu dos mortos, dando certeza de uma vida futura, onde todos os mistérios serão desvendados e todas as injustiças serão ajustadas. HALLEY, Henry H., Manual Bíblico de Halley. Tradução David A. de Mendonça. Editora Vida Nova. São Paulo, 1994. Pag. 220 a 222


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

64

SALMOS O livro de Salmos é o primeiro livro na terceira divisão da Bíblia hebraica. Conhecida como Kethubhim ou Escritos, essa terceira divisão era popularmente conhecida pelo nome do primeiro livro, isto é, ―Os Salmos‖. Deste modo, Jesus incluiu todo o Antigo Testamento no que tange às profecias a seu respeito ―na Lei de Moisés, e nos Profetas, e nos Salmos‖ (Lc 24.44). O título em português vem da tradução grega, Septuaginta, concluída em cerca de 150 a.C. Psalmoi, o termo grego, significa ―cânticos‖ ou ―cânticos sagrados‖ e é derivado da raiz que significa ―impulso, toque‖, em cordas de um instrumento de cordas. O título hebraico é Tehillim, e significa ―louvores‖ ou ―cânticos de louvor‖. Os Salmos têm uma importância especial na Bíblia. Lutero descreveu esse livro como ―uma Bíblia em miniatura‖.1 Calvino o descreveu como ―uma anatomia de todas as partes da alma‖, visto que, como explicou, ―não existe emoção que não é representada aqui como em um espelho‖.2 Johannes Arnd escreveu: ―O que o coração é para o homem, os Salmos são para a Bíblia‖.3 W. O. E. Oesterley descreve os Salmos como ―a maior sinfonia de louvor a Deus que já foi escrita na terra‖ O lugar que Salmos recebe no Novo Testamento claramente testifica sobre o valor desse importante livro. Dos aproximadamente 263 textos do Antigo Testamento citados no Novo Testamento, um pouco mais de um terço, ou seja, um total de 93 é tirado do livro de Salmos. Alguns deles, mais particularmente os Salmos 2 e 110, são citados diversas vezes. W. E. Barnes escreve: ―Somente a existência de uma verdadeira continuidade espiritual entre os Salmos e o Evangelho pode explicar o profundo sentimento de afeição com que os cristãos de todas as épocas têm tratado o Saltério‖.6 Um dos valores mais importantes dos Salmos para o estudo do Antigo Testamento é a percepção que se recebe acerca da verdadeira natureza da religião do Antigo Testamento. Infelizmente, temos, com bastante frequência, associado a religião do Antigo Testamento ao farisaísmo e legalismo descritos nos evangelhos e nos escritos de Paulo. Os Salmos mostram claramente que nos tempos do Antigo Testamento a piedade era uma fé viva, espiritual, alegre e intensamente pessoal. Os Salmos representam o aspecto interior e espiritual da religião de Israel. Eles são a expressão múltipla da intensa devoção das almas piedosas a Deus, do sentimento de confiança, esperança e amor que alcançava um clímax em diversos Salmos como o 23; 42; 43; 63 e 84. Eles são a voz da oração de tonalidade múltipla no sentido mais amplo, à medida que a alma se dirige a Deus por meio da confissão, petição, intercessão, meditação, ações de graças, louvor, tanto em público como em particular. Eles oferecem a prova mais completa, se é que isso era necessário, de como é completamente falsa a noção de que a religião de Israel era um sistema formal de ritos e cerimoniais externos. Estrutura do Livro Desde os primórdios da sua história o livro de Salmos no hebraico tem sido subdividido em cinco ―livros‖ ou divisões que são especificados na maioria das traduções modernas. O Livro I inclui os Salmos 1—41. O Livro II, inclui os Salmos 42—72, o Livro III, os Salmos 73—89, o Livro IV, os Salmos 90—106 e o Livro V, os Salmos 107-150.0 Midrash judaico, ou comentário dos Salmos, compara esses cinco livros com os cinco livros de Moisés, o Pentateuco. A divisão está provavelmente relacionada com o ciclo de três anos da leitura da Lei que predominava na Palestina primitiva. O livro de Gênesis era lido nos primeiros quarenta e um sábados. A leitura de Êxodo começava no quadragésimo segundo


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

65

sábado, Levítico no septuagésimo terceiro sábado, Números no nonagésimo e Deuteronômio no centésimo sétimo sábado — correspondendo com o primeiro salmo de cada livro.8 Também é provável que o livro de Salmos atual seja, na verdade, uma coleção de coleções. Isto se observa tanto na natureza como no agrupamento de títulos (veja abaixo) e na afirmação em 72.20: ―Findam aqui as orações de Davi, filho de Jessé‖. Um exame nos títulos dos salmos no Livro I revela que todos eles são creditados a Davi com exceção de 1; 2; 10 e 33. O Livro I foi provavelmente o primeiro saltério oficial. Este livro usa livremente o nome da aliança para Deus, o termo hebraico Yahweh, traduzido por ―Javé‖ naASV e ―Senhor‖ na ARC e ARA e impresso em versalete (ou seja, letra que tem a mesma forma das maiúsculas escrita no tamanho das minúsculas). Uma segunda coleção, aparentemente organizada mais tarde, é encontrada no Livro II, Salmos 42—72. Desse número, sete (42; 44—49) são dedicados ―aos filhos de Corá‖, um é identificado como sendo de Asafe (50), oito de Davi, um de Salomão (72) e quatro estão sem títulos (43; 66; 67; 71). Que essa coleção foi originariamente separada do primeiro livro é demonstrado pela repetição do Salmo 14 no Salmo 54 e parte do Salmo 40 no salmo 70, e pelo fato de que o termo Elohirn (traduzido por ―Deus‖) é constantemente usado como o nome divino em vez de Yahweh. Os salmos de Asafe do Livro III, 73—83, também usam preferivelmente Elohim em lugar de Yahweh, embora os salmos restantes do livro se refiram a Deus como Yahweh. Nenhuma boa razão é dada pelo uso diversificado do nome divino. Mas parece que isso ocorreu de maneira intencional e cuidadosa. E verdade que o judaísmo posterior considerava o nome Yahweh sagrado demais para ser usado, mas essa atitude surgiu muito tempo depois que os salmos foram concluídos. No Livro III, o núcleo básico é formado por um grupo de salmos (73—83) atribuídos a Asafe, que era ministro de louvor de Davi (1 Cr 16.4-7). Com base na menção do aviva- mento de Ezequias na salmódia de Davi e Asafe (2 Cr 29.30), Delitzsch conjectura que a coleção representada pelo Livro II pode ter sido acrescentada na época de Ezequias.10 O restante dos salmos neste que é o mais breve dos cinco livros é atribuído por meio dos seus títulos aos filhos de Corá (84; 85; 87; talvez 88), a Davi (86), a Hemã, o ezraíta (88; cf. 2 Cr 35.15) e a Etã, o ezraíta (89; cf. 1 Cr 2.6). Hemã e Etã são descritos em 1 Reis 4.31 como homens de sabedoria notável. De acordo com 1 Crônicas 2.6 eles poderiam ser netos de Judá, mas 2 Crônicas 35.15 mostra que um dos filhos de Asafe se chamava Hemã. Os salmos nos últimos dois livros em sua maioria não têm descrição, embora um dos títulos atribua o Salmo 90 a Moisés; quinze salmos desse grupo são atribuídos a Davi, um a Salomão (127) e o Salmo 96 e parte do Salmo 105 a Davi conforme 1 Crônicas 16.733. Existem três agrupamentos discerníveis de salmos no Livro IV. Os Salmos 90—99 formam um grupo de dez salmos sabáticos, e o Salmo 100 é o salmo tradicional para o dia da semana. Os Salmos 103—104 são os dois Salmos de Bênção e Adoração, que têm como base o refrão: ―Bendize, ó minha alma, ao Senhor!‖. Os Salmos 105—106 constituem dois ―Salmos de Aleluia‖.11 No Livro V temos dois grupos davídicos, 108—110 e 138—145, além de dois outros salmos também atribuídos a Davi (112; 133). Os Salmos 113—118 são conhecidos como o Hallel egípcio (referindo-se ao Êxodo no Salmo 114). O ―Hallel‖ é um cântico de louvor. Hallelu-Yah (―aleluia!‖) no original hebraico significa ―Louvai ao Senhor‖. O Hallel egípcio é tradicionalmente usado em conexão com a comemoração da Páscoa. Os Salmos 120—134, ―Cânticos dos Degraus‖ ou ―Cânticos da Subida‖, são um grupo de cânticos de peregrinos comemorando o retorno do exílio e usados pelos devotos na sua peregrinação anual a Jerusalém. Estes quinze salmos formam um saltério em miniatura, divididos em cinco grupos de três salmos cada. Os Salmos 146—150 são conhecidos como o Grande Hallel. Cada um desses cinco salmos inicia e termina com a palavra hebraica Hallelu- Yah, que significa: ―Louvai ao Senhor‖.


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

66

Embora haja exceções à regra, Kirkpatrick ressalta que os salmos do Livro I são na maioria pessoais; os salmos dos Livros II e III são basicamente nacionais e os Livros IV e V são, em grande parte, litúrgicos ou designados para serem usados na adoração pública LIVINGSTON, George Hebert. Comentário Bíblico Beacon, Volume III. Tradução Luís Aron de Macedo. Editora CPAD, Rio de Janeiro, 2012. Pag. 103 a 105 Contribuições para a Teologia Bíblica Assim como as janelas e as esculturas das catedrais medievais, os salmos eram quadros de fé bíblica para um povo que não possuía copias das Escrituras em casa e não podia lê-las. Representam um compendio de fé veterotestamentaria. Resumos de historias (e.g., SI 78; 105-106; 136), instruções sobre piedade (e.g., 1; 119), celebrações da criação (8; 19; 104), reconhecimento do julgamento divino (37; 49; 73), garantias de seu cuidado constante (103) e consciência de sua soberania sobre todas as nações (2; 110) foram instalados no centro da fé israelita com o apoio do Saltério.

Temor e intimidade combinavam-se no entendimento que os israelitas tinham desse relacionamento. Eles temiam o poder e a gloria de Deus, sua majestade e soberania. Ao mesmo tempo, protestavam diante dele, discutindo suas decisões e pedindo sua intervenção. Eles o reverenciavam como Senhor e o reconheciam como Pai. Esse senso de relacionamento especial e o que melhor explica os salmos que amaldiçoam os inimigos de Israel. A aliança era tão estreita que qualquer inimigo de Israel era um inimigo de Deus e vice-versa. E mais, o relacionamento de Israel com Deus era expresso num ódio feroz contra o mal, exigindo um julgamento tão severo quanto o crime (109; 137.7-9). Mesmo essa exigência de julgamento era um produto da aliança, uma convicção de que o Senhor justo protegeria seu povo e puniria os que desdenhassem seu culto ou sua lei. Ao que parece, o julgamento ocorreria durante a vida do perverso. O ensino de Jesus sobre o amor para com os inimigos (Mt 5.43-48) pode fazer com que os cristãos tenham dificuldades em usa-los como oração, mas os cristãos não devem perder o ódio pelo pecado nem o zelo pela santidade de Deus que os originaram. G. von Rad da o seguinte subtitulo a seção de sua Teologia do Antigo Testamento sobre a literatura de sabedoria: ―A Resposta de Israel‖.34 Os salmos são de fato respostas dos sacerdotes e do povo diante dos atos de livramento e de revelação de Deus na


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

67

historia deles. São revelação e também resposta. Por meio deles aprende-se o que a salvação divina em sua variada plenitude significa para o povo de Deus, bem como o nível de adoração e a amplitude da obediência a que devem almejar. Não e de surpreender que Salmos, juntamente com Isaias, tenha sido o livro mais citado por Jesus e seus apóstolos. Os cristãos primitivos, como seus antepassados judeus, ouviram a palavra de Deus nesses hinos, queixas e instruções e fizeram deles o fundamento da vida e do culto. LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederic W. Introdução ao Antigo Testamento. Tradução de Lucy Yamakami. São Paulo: Vida Nova, 1999. Pag. 483 e 484 Ideias Dominantes nos Salmos ―Confiança‖ é a primeira e principal ideia do Livro, muitas vezes repetida. Qualquer que fosse a ocasião, de alegria ou de terror, essa ideia levava Davi diretamente a Deus. Fossem quais fossem suas fraquezas, Davi VIVIA EM DEUS. ―Louvor‖ era palavra que estava sempre em seus lábios. Ele sempre estava pedindo alguma coisa a Deus, e sempre lhe agradecia de toda a sua alma as respostas às suas orações. ―Regozijai-vos‖ é outra palavra favorita de Davi. As constantes tribulações não podiam nunca ofuscar seu regozijo em Deus. Exclama sempre: ―Cantai‖, ―celebrai a Deus com júbilo‖. Assim também Paulo em Fp 4:4. ―Benignidade‖ e ―Misericórdia‖ ocorrem centenas de vezes. Davi se referiu muitas vezes à justiça, retidão e ira de Deus. Mas a ―benignidade‖ divina era a coisa em que se gloriava. ―Os ímpios‖. A impiedade reinante afligia-o grandemente. Para Davi, como para outros escritores bíblicos, havia só duas classes de pessoas: os retos e os iníquos. ―Inimigos‖. Fica-se surpreso ante a incessante referência a inimigos. Não sabemos como vivia perpetuamente assediado de inimigos um rei justo e bom como Davi. Os inimigos aos quais se refere, em alguns casos, são inimigos pessoais; outras vezes são inimigos de Israel, ou de Deus Salmos Messiânicos Muitos Salmos, escritos mil anos antes de Cristo, contêm referências a Ele, e de modo nenhum se aplicam a outra pessoa da História. Algumas referências a Davi parecem prenunciar o futuro Rei da família davídica. Além de passagens claramente messiânicas, há muitas expressões nos Salmos, que, de modo menos direto, parecem referir-se veladamente ao Messias. Os Salmos mais claramente messiânicos são os seguintes: SI 2 •— A Deidade e o reinado universal do Ungido de Deus; SI 8 — O Homem, mediante o Messias, torna-se dominador da criação. SI 16 — Sua ressurreição dentre os mortos. SI 22 — Seus sofrimentos. SI 45 — Sua noiva real e Seu trono eterno. SI 69 — Outra vez, os sofrimentos do Messias. SI 72 — A glória e a eternidade do Seu reinado. SI 89 — O juramento divino que Seu trono não terá fim. SI 110 — O Rei e Sacerdote eterno. SI 118 — Será rejeitado pelos chefes do Seu povo. SI 132 — O Herdeiro eterno do trono de Davi. Passagens Messiânicas Vão aqui declarações dos Salmos que o Novo Testamento aplica explicitamente a Cristo (ver mais sobre 2 Sm 7 e Mt 22:22):


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

68

―Tu és meu Filho; eu hoje te gerei‖, SI 2:7; At 13:33. ―Sob seus pés tudo lhe puseste‖, Si 8:6; Hb 2:6-10. ―Não deixarás minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção‖, SI 16:10; At 2:27. ―Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?‖, SI 22:1; Mt 27:46. ―Confiou no SENHOR! livre-o ele‖, SI 22:8; Mt 27:43. ―Traspassaram-me as mãos e os pés‖, SI 22:16; Jo 20:25. ―Repartem entre si as minhas vestes, e sobre minha túnica lançam sortes‖, SI 22:18; Jo 19:24. ―Eis aqui estou para fazer a tua vontade, ó Deus‖, SI 40:7,8; Hb 10:7. ―Até o meu amigo íntimo. . . que comia do meu pão, levantou contra mim o calcanhar‖, SI 41:9; Jo 13:18. ―O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre‖, SI 45:6; Hb 1:8. ―O zelo da tua casa me consumiu‖, SI 69:9; Jo 2:17. ―Por alimento me deram fel, e na minha sede me deram a beber vinagre‖, SI 69:21; Mt 27:34, 38. ―Tome outro o seu encargo‖, SI 109:8; At 1:20. ―Disse o SENHOR ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés‖, Si 110:1; Mt 22:44. ―O SENHOR jurou e não se arrependerá: tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque‖, SI 110:4; Hb 7:17. ―A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular‖, SI 118:22; Mt 21:42. ―Bendito o que vem em nome do SENHOR‖, SI 118:26; Mt 21:9. Ver mais sobre 2 Sm 7 e Mt 2:22. HALLEY, Henry H., Manual Bíblico de Halley. Tradução David A. de Mendonça. Editora Vida Nova. São Paulo, 1994. Pag. 228 e 229


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

69

PROVÉRBIOS A sabedoria hebraica é a arte do sucesso, e Provérbios é um guia para um vida bem-sucedida. Ao citar regras negativas e positivas de vida, Provérbios esclarece a conduta correta e a incorreta numa multiplicidade de situações. A ausência de alusões à história de Israel e aos grandes temas proféticos como a aliança não significa que os autores de sabedoria não tinham consciência deles. Antes, o alvo deles era aplicar os princípios da fé regida pela aliança às atitudes, atividades e relacionamentos do cotidiano. As leis do amor (Lv 19.18; Dt 6.5; cf. Mc 12.29- 31) são ênfases centrais no Antigo Testamento. Provérbios serve como um comentário ampliado delas. O povo de Deus tinha a obrigação de encarar a lei de Deus como uma responsabilidade inevitável que exigia obediência total. Provérbios chama essa obediência de ―o temor do SENHOR‖ (Pv 1.7; 2.5; 9.10; Jó 28.28; SI 111.10). Essa obrigação, paralela ao conhecimento de Deus conforme destacado nos livros proféticos (Os 4.1; 6.6) implica reverência, gratidão e compromisso de fazer a vontade de Deus em todas as circunstâncias. A principal missão de Provérbios é anunciar de maneira contundente, memorável e concisa o significado exato de estar à plena disposição de Deus. LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederic W. Introdução ao Antigo Testamento. Tradução de Lucy Yamakami. São Paulo: Vida Nova, 1999. Pag. 500. O Provérbio é um ditado curto, sentencioso e axiomático, cuja vivacidade está na antítese ou na comparação. São inteiramente desconexos. Destinaram-se em primeiro lugar aos jovens. O método oriental de ensino consistia em constante repetição de pensamentos sábios ou práticos, de modo a fixarem-se na mente. Assuntos. Sabedoria. Retidão. Temor a Deus. Entendimento. Moralidade. Castidade. Diligência. Domínio próprio. Confiança em Deus. Dízimos. O uso próprio das riquezas. Considerações aos pobres. O domínio da língua. A generosidade com inimigos. A escolha de companheiros. A abstenção de mulheres más. O louvor das boas mulheres. A educação dos filhos. O trabalho. A honestidade. A abstenção da ociosidade. O pecado da preguiça. A justiça. A prestimosidade. O contentamento. A jovialidade. O respeito. O bom senso. A Técnica da Abordagem dos Assuntos. O escopo do livro é inculcar virtudes sobre as quais se insiste em toda a Bíblia. Repetidamente, nas Escrituras, de maneiras multiformes e métodos diversos, Deus forneceu ao homem instrução abundantíssima, linha sobre linha, preceito sobre preceito, um pouco aqui, um pouco ali, quanto ao modo de vida que Ele deseja para nós, de sorte que não haja desculpa se errarmos o alvo. Os ensinos deste livro de Provérbios não se exprimem sob a fórmula ―Assim diz o SENHOR‖, como na Lei de Moisés, onde as mesmas verdades são ensinadas por meio de ordens diretas de Deus; antes são ministrados com base na experiência de um homem que experimentou e provou plenamente quase tudo aquilo a que a humanidade se possa entregar. Moisés dizia: São estes os mandamentos de Deus. Salomão diz aqui, que o que Deus mandou, prova-se, pela experiência, ser- a melhor coisa para o homem; a essência da sabedoria humana é o temor de Deus e a observância dos Seus mandamentos . Deus, no longo registro da revelação de Si mesmo e de Sua Vontade ao homem, parece que recorreu a todo método possível, não só por mandamento e preceito, mas igualmente pelo exemplo (ver nota sobre o Eclesiastes), a fim de convencê-lo de que os mandamentos divinos são verdadeiros e dignos de se viver por eles. A fama de Salomão era qual tempo harmônico de instrumento musical, que levava sua voz aos confins da terra e fêlo, para todo o mundo, exemplo da sabedoria das ideias de Deus. Este livro dos Provérbios tem sido chamado ―A melhor norma que um jovem pode seguir com vistas ao sucesso.‖


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

70

HALLEY, Henry H., Manual Bíblico de Halley. Tradução David A. de Mendonça. Editora Vida Nova. São Paulo, 1994. Pag. 244 e 245 Autoria e Data A tradição hebraica atribuiu o livro de Provérbios a Salomão assim como atribuiu o de Salmos a Davi. Israel considerava o rei Salomão o seu sábio por excelência. E há justificativas suficientes para esse reconhecimento. O reinado de quarenta anos de Salomão em Israel foi realmente brilhante. E evidente que esses anos não deixaram de ter os seus defeitos. Os muitos casamentos de Salomão não contam pontos a favor dele (1 Rs 11.19). Na parte final do seu reinado ele preparou o cenário para a dissolução do seu grande império (1 Rs 12.10). Não obstante, ele realizou um ótimo reinado durante os anos dourados de prosperidade e poder de Israel. A arqueologia é testemunha das suas habilidades na arquitetura e engenharia, da sua competência na administração e da sua capacidade como industrialista.2 O historiador sacro de 1 Reis nos conta que Salomão amou o Senhor (3.3); ele orou pedindo a Deus um coração compreensivo (3.3-14); ele mostrou possuir sabedoria em questões práticas da administração (3.16-28); a sua sabedoria foi concedida por Deus (4.29); ele era conhecido por sua sabedoria superior entre as nações vizinhas (4.29-34); ele escreveu 3.000 provérbios e mais de mil hinos (4.32); e foi capaz de responder às perguntas mais difíceis da rainha de Sabá (10.1-10). No entanto, assim como nem todos os salmos foram escritos por Davi, nem todo o livro de Provérbios foi obra de Salomão. Uma parte do livro é designada como ―palavras dos sábios‖ (22.17—24.34). Os últimos dois capítulos do livro contêm as palavras de Agur, o filho de Jaque (30.1-33), e de Lemuel, filho de Massá (31.1-9). O belo poema acróstico acerca da mulher e mãe perfeita (31.10-31) foi escrito por um autor desconhecido. A erudição conservadora aceita a autoria salomônica da maior parte do livro de Provérbios e a sua inclusão como um todo no cânon do Antigo Testamento. A erudição crítica, no entanto, tende a rejeitar a atribuição tradicional da maior parte do livro de Provérbios a Salomão. W. O. E. Oesterley diz: ―Amaioria dos críticos modernos rejeita totalmente a tradição de que Salomão tenha escrito uma série de provérbios‖.3 S. H. Blank comenta: ―Não é necessário levar a sério a atribuição de Provérbios a Salomão em 1.1; 10.1; 25.1 [...] O livro canônico de Provérbios de Salomão não necessita de mais pretensão de autoria de Salomão do que o livro apócrifo de Sabedoria de Salomão‖.4 Mesmo assim, esse mesmo autor reconhece a tendência crescente de se aceitar a validade da tradição judaica. Ele diz: ―Não se pode negar a possibilidade, e a opinião da erudição recente se inclina a aceitar o ponto de vista de que Salomão ao menos cultivava a arte proverbial e foi responsável pelo cerne do livro que lhe é atribuído‖. Embora grande parte do livro de Provérbios tenha sua origem na época de Salomão, no décimo século a.C., a conclusão da obra não pode ser datada antes de 700 a.C., aproximadamente duzentos e cinqüenta anos após o seu reinado. Uma seção (25.1—29.27) contém a coleção de provérbios que os escribas de Ezequias copiaram de obras anteriores de Salomão. Alguns estudiosos datam a edição final de Provérbios ainda mais tarde, mas antes do período de conclusão do Antigo Testamento — 400 a.C. Outros ainda chegam a datar a edição final no período intertestamental. Uma referência ao livro de Provérbios no livro apócrifo de ―Eclesiástico‖ (―A Sabedoria de Jesus Ben Sirach‖), escrito em torno de 180 a.C., indica que nessa época Provérbios era amplamente aceito como parte da tradição religiosa e literária de Israel. Esboço


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

I. Tributo à Sabedoria, 1.1—9.18 A. Título e Propósito, 1.1-6 B. O Tema principal, 1.7 C. Advertências contra a Violência, 1.8-19 D. Advertências contra Negligenciar a Sabedoria, 1.20-33 E. As Recompensas de se Observar a Sabedoria, 2.1-22 F. As Bênçãos da Sabedoria, 3.1-35 G. A Primazia da Sabedoria, 4.1-27 H. Instruções para o Casamento, 5.1-23 I. Uma Série de Advertências, 6.1-19 J. A Sabedoria e o Adultério, 6.20—7.27 K. A Fama e a Excelência da Sabedoria, 8.1-36 L. O Contraste entre a Sabedoria e a Loucura, 9.1-18 II. Os Provérbios de Salomão, 10.1—22.16 A. Provérbios de Contraste, 10.1—15.33 B. Provérbios Parcialmente Paralelos, 16.1—22.16 III. As Palavras do Sábio, 22.17—24.34 A. Introdução, 22.17-21 B. Primeira Coleção, 22.22—23.14 C. Segunda Série, 23.15—24.22 D. Admoestações Adicionais, 24.23-34 IV. A Coleção de Ezequias nos Provérbios de Salomão, 25.1—29.27 A. Primeira Coleção, 25.1—27.27 B. Segunda Coleção, 28.1—29.27 V. As Palavras de Agur, 30.1-33 A. Observações Pessoais, 30.1-9 B. Provérbios Numéricos, 30.10-33 VI. As Palavras de Lemuel, 31.1-9 A. Título, 31.1 B. Advertências contra a Lascívia e Bebidas Fortes, 31.2-7 C. Julgar Retamente, 31.8-9 VII. A Mulher e Mãe Virtuosa, 31.10-31 A. Características Máximas, 31.10-29 B. Tributo Final, 31.30-31. LIVINGSTON, George Hebert. Comentário Bíblico Beacon, Volume III. Tradução Luís Aron de Macedo. Editora CPAD, Rio de Janeiro, 2012. Pag. 355 e 356, 358

71


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

72

ECLESIASTES Na Bíblia hebraica o título é o seguinte: ―Palavras do pregador (divere qoheleth), filho de Davi, rei de Jerusalém‖ (1:1). A palavra qoheleth é um particípio ativo Qal, feminino singular, e a razão do gênero feminino deve-se ao fato de que a palavra indica um ofício. São de notar as formas análogas doutros livros, como: sofereth (Ed 2:55, Ne 7:57); pochereth (Ed 2:57). É mesmo possível que o feminino se explique em sentido neutro, de forma enfática. Aplicada a um indivíduo, contudo, a palavra significa alguém que realizou a ideia completamente. É certo que o particípio é derivado da raiz qahal, que noutros lugares aparece no Hiph‘il com o sentido de ―reunir‖ e assim significaria aquele que reúne ou dirige uma assembleia. Os LXX traduziram-na por ekklesiastes, donde deriva o termo português. Jerônimo traduziu-a por concionator (isto é, aquele que reúne a assembleia). A palavra designa, pois, a função de guia ou chefe que dirige ou fala numa assembleia. Daí ser mais ou menos correta a tradução de ―pregador‖. Autor A palavra Qoheleth indica também o autor do livro. Mas quem é esse autor? Logo de início em 1:1 fala de si próprio como filho de Davi, o que só pode referir-se a Salomão. Todavia, não é o suficiente para se concluir que o autor procura identificar- se como sendo o próprio Salomão. Em primeiro lugar, se o autor nos quer dar a entender que é o próprio Salomão em pessoa, por que utiliza tão estranho título? Por que não escreve simplesmente: ―Palavras de Salomão, filho de Davi, Rei de Jerusalém‖? Em parte alguma do livro se emprega a palavra Salomão. Novamente em 1:16 salienta o autor que sobrepujou em sabedoria ―a todos os que houve antes de mim em Jerusalém‖. Parece referir-se a antigos reis e, sendo assim, de forma alguma poderia aplicar-se a Salomão. É verdade que Hans Moeller (Einleitung, pág. 216) pensa que se trata simplesmente duma referência à cidade reino de Jerusalém, restrição esta, todavia, que não parece convincente. Também não é provável que o autor, mesmo sendo Salomão, se comparasse com os anteriores legisladores da cidade dos jebusitas, ou que incluísse seu pai Davi em tal número. Segue-se que 1:16 só implica que o escritor viveu depois de Salomão. Em 1:12 o autor afirma: ―Eu Qoheleth fui rei em Jerusalém‖. O tempo pretérito não dará a entender que o autor já não era rei? É certo que o verbo (hayithi) pode ser traduzido por ―fui rei e sou ainda‖, tradução aliás pouco provável, restando apenas a ideia de que o autor tinha sido e de fato já não era rei. Ora, este fato não pode aplicar-se a Salomão, que foi rei até o fim da vida. Há ainda outras indicações a favor da não autoria de Salomão. Assim, por exemplo, repare-se que o autor fala como se ele próprio fosse vassalo de um rei tirânico: ―Melhor é o mancebo pobre e sábio do que o rei velho e insensato, que não se deixa mais admoestar‖ (4:13). Seria muito difícil que Salomão escrevesse tais palavras! Veja-se ainda 8:2; 9:14-16; 10:16-17, 20. Além disso, é de supor que o livro foi escrito numa época de opressões, 4:1-3, de perversão da justiça, 5:8; época miserável, enfim, 7:10; 8:9; 10:6-7. Tais palavras são, pois, incongruentes com a época de Salomão, que foi cheia de prosperidade. A linguagem e a direção do livro aparentemente revelam um período posterior ao de Salomão. Com efeito, alguns vocábulos parecem aramaicos, o que em si mesmo não é indicio de data, mas outros aproximam-no de Mishnah. Com toda a probabilidade o livro foi escrito no tempo de Malaquias, se atendermos às referências à política do tempo e aos casos linguísticos que aparecem. Em conclusão, o autor do livro deve ter vivido no período pós-


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

73

exílico e colocou as suas palavras na boca de Salomão utilizando um estratagema literário de maneira a impor a sua mensagem. Outras Teorias sobre a Autoria do Livro Há um texto no Baba Bathra 15a que apresenta Ezequias e seus companheiros como autores do Eclesiastes, o que no fundo não exclui a autoria salomônica, pois quer provavelmente dizer que aqueles personagens foram apenas os editores do texto30. As primitivas tradições cristã e judaica atribuem o livro a Salomão sendo Lutero o primeiro a opor-se a tal tradição. L. Wogue admite que Salomão tenha sido o autor original, mas, que, com o andar dos tempos, e antes do exílio, o livro foi editado e enriquecido com novas expressões, tendo tomado parte nesta obra editorial um ou vários editores. O fundo é de Salomão, mas o desenvolvimento e talvez uma grande parte da redação pertencem a outra época. A autoria salomônica é hoje defendida por Hans Moeller e pelos católicos Gietmann e Schumacher. Aqueles, que como nós, pensam em um autor posterior que colocou as suas palavras na boca de Salomão concordam que tal autor viveu no período pós-exílico. Mas quando, precisamente? Diferem as opiniões. Muitos datariam o livro de 200 A. C., dados os sinais infalíveis da influência helenística. Outros lembram o ano 100 A. C., e Graetz vai até mais longe ao indicar como data da composição do livro a época de Herodes, o Grande. YOUNG, Edward J., Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1964. Pag 301 e 302 Interpretação Como devemos interpretar a mensagem deste livro? O leitor logo fica impressionado por pontos de vista evidentemente contraditórios. Uma teoria persistente defende que o livro é um diálogo com perspectivas contraditórias apresentadas por personagens diferentes. Se este ponto de vista for aceito, a expressão frequentemente repetida ―vaidade de vaidades‖ seria o veredicto do autor num panorama que se restringe apenas ao mundo presente. Outra abordagem favorita tem sido associar a perspectiva consistentemente pessimista ao autor inicial e explicar pontos de vista contraditórios como inserções de autores posteriores que tentaram corrigir afirmações exageradas com o propósito de tornar o livro mais coerente com os ensinamentos religiosos em vigor na época. O livro de fato apresenta oscilações entre confiança e pessimismo. Mas elas não precisam nos instigar a abandonar a convicção na unidade e integridade de Eclesiastes. Tais oscilações não seriam uma consequência natural da luta entre a fé, por um lado, e os interesses pelos assuntos mundanos, por outro, tanto no coração do próprio Salomão como na vida centrada na terra que o livro retrata? Barton escreve: ―Quando um homem contemporâneo percebe quantos conceitos diferentes e estados de humor ele pode ter, descobre menos autores em um livro como Qoheleth‖.5 Se este livro representa a luta de uma alma com dúvidas sombrias, também revela o comportamento de um homem que notou o lado positivo das coisas. Apesar de sua atitude pessimista, a vida é tão preciosa quanto um ―copo de ouro‖ (12.6), e a resposta final ao sentido da vida é: ―Teme a Deus e guarda os seus mandamentos‖ (12.13). Organização Eclesiastes não é um livro racional ou organizado de maneira lógica. É como um diário no qual um homem registrou suas impressões de tempos em tempos. Muitas vezes ele


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

74

prefere expressar sentimentos do momento e reações emocionais a apresentar uma filosofia equilibrada sobre a vida. Geralmente o estado de espírito é de ceticismo, mas ainda assim Peterson escreve: ―Teria sido uma desgraça e uma grande pena se um livro que foi escrito para ser a Bíblia de todos os homens não se referisse ou deixasse de lidar com o espírito de ceticismo que é comum a todos os homens‖.6 A estrutura do livro faz dele um livro tão difícil de esboçar que muitos comentaristas nem tentam identificar um padrão lógico. No esboço aqui apresentado, o autor foi influenciado por Archer7 mais do que por qualquer outro autor. Às vezes o leitor cuidadoso irá perceber que um destaque aponta para um pensamento significativo daquela seção mais do que para um resumo de tudo que está ali. Embora ocasionalmente os parágrafos estejam relacionados apenas vagamente entre si, todos eles estão relacionados ao tema do livro — talvez isso só seja verdade porque esse tema é tão amplo quanto a própria vida! Esboço I. A Busca pelo Sentido da Vida, 1.1—2.26 A. Introdução, 1.1-11 B. A Futilidade das Experiências Humanas, 1.12—2.26 II. Aprendendo a Lidar com a Vida, 3.1—5.20 A. Poema de um Mundo Bem Ordenado, 3.1-8 B. Frustração e Fé, 3.9-15 C. O Problema do Mal Moral, 3.16-22 D. As Desilusões da Vida, 4.1-16 E. Adorando a Deus da Maneira Correta, 5.1-7 F. Ajustando Problemas Financeiros, 5.8-20 III. Não Há Satisfação em Bens Terrenos, 6.1—8.17 A. Frustrações da Riqueza e da Família, 6.1-12 B. Sabedoria Prática em um Mundo Pecaminoso, 7.1-29 C. Aprendendo a Lidar com um Mundo Imperfeito, 8.1-17 IV. As Injustiças da Vida nas Mãos de Deus, 9.1—10.20 A. Pensamentos a Respeito da Morte, 9.1-18 B. Sabedoria e Tolice, 10.1-20 V. Como Melhor Investir na Vida, 11.1-8 A. Seja Generoso, 11.1-3 B. Seja Diligente no Trabalho, 11.4-6 C. Seja Alegre, 11.7-8 . VI. Vendo a Vida por Completo, 11.9—12.14 A. A Vida Terrena em Perspectiva, 11.9—12.8 B. A Vida à Luz da Eternidade, 12.9-14 LIVINGSTON, George Hebert. Comentário Bíblico Beacon, Volume I. Tradução Luís Aron de Macedo. Editora CPAD, Rio de Janeiro, 2012. Pag. 429 a 431


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

75

CANTARES Os que amam sempre perceberam que o cântico é a única expressão adequada para sentimentos intensos, prazer arrebatador, compromisso profundo. Dominados pelo desejo de dar-se para o outro e de receber dele o que não se pode pedir, não inventam fórmulas, não preparam receitas, não escrevem rituais, não desenham mapas, não elaboram gráficos. Cantam. Encontram nas Escrituras Sagradas o melhor dos cânticos. Seu nome vem de 1.1: ―Cântico dos cânticos [i.e., o melhor dos cânticos] de Salomão‖. (Um nome alternativo, Cantares, deriva da Vulgata). Cântico dos Cânticos é colocado em primeiro lugar entre os cinco rolos (Megilloth) no cânon judaico empregado em ocasiões festivas, sendo designado para leitura na Páscoa. Autoria e Data A autoria salomônica tradicional baseia-se em referências ao rei ao longo do livro (1.5; 3.7, 9, 11), principalmente no título (1.1). ―A Salomão‖, hebraico lishlõmõh (1.1), pode indicar autoria. Mas há outras interpretações possíveis: ―para‖ ou ―ao estilo de Salomão‖. A habilidade de Salomão como compositor de cânticos é conhecida em razão de IReis 4.32 (cf. SI 72, 127), mas seu relacionamento com esses poemas de amor é obscuro.3 E difícil justificar as tentativas de ajustar o amor e a lealdade aqui expressa aos padrões salomônicos de casamentos e concubinatos políticos (veja lRs 11). Os supostos empréstimos de palavras persas e gregas,4 o emprego quase uniforme da forma de pronome relativo característica do hebraico mais recente5 e de palavras e frases que refletem influência aramaica6 indicam mas não provam que a edição final, se não a própria composição, foi posterior a Salomão. Entretanto, o livro não precisa ser datado no período helénico (após 330). Existem amplas evidências tanto do comércio entre a Jônia e Canaã, quanto do impacto aramaico sobre a literatura hebraica dos primeiros séculos da monarquia.7 A falta de referências históricas em Cântico dos Cânticos dificulta a datação. Alguns estudiosos defendem o período persa, mais exatamente entre a época de Neemias e 350, com base em argumentos linguísticos e dados geográficos. Nas descrições da fabulosa glória de Salomão, eles encontram reflexos ―da pompa e solenidade do Império Persa e dos palácios luxuosos do Grande Rei em Susã e Persépolis‖.8 Mas o testemunho da arqueologia a respeito do esplêndido reino de Salomão parece tornar desnecessária a influência persa. O cenário generoso de Cântico dos Cânticos reflete com precisão a glória de Salomão, assim como o luxo, a riqueza e a sabedoria de Eclesiastes relembram com detalhes suas circunstâncias majestosas. Ainda que o próprio Salomão provavelmente não tenha sido o autor, boa parte do ambiente e do tom reflete sua época. Assim como Provérbios, o núcleo ou centro de Cântico dos Cânticos pode ter sido transmitido (talvez oralmente), aumentado por um editor anônimo inspirado e dele recebido sua forma atual. Por volta do período do exílio, ele teria organizado e colecionado cânticos de amor tradicionais israelitas.9 LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederic W. Introdução ao Antigo Testamento. Tradução de Lucy Yamakami. São Paulo: Vida Nova, 1999. Pag. 555 a 559 Interpretação Intérpretes concordam que Cantares de Salomão é um poema que tem como tema o amor, mas além disso existem diferenças grandes de interpretação.


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

76

Alegórica. Desde a época do Talmude (ca. 150 a 500 d.C.) era comum entre os judeus classificar este livro como uma música alegórica do amor de Deus por seu povo escolhido. Seguindo esse padrão, os cristãos viram essa ideia no contexto do amor de Cristo pela igreja. J. Hudson Taylor, seguindo o pensamento de Orígenes, encontrou aí uma descrição do relacionamento do crente com o seu Senhor.2 E natural que a interpretação alegórica tenha encontrado adeptos entre os homens devotos e estudiosos desde antigamente até os dias de hoje. O amor terreno imutável é o nosso relacionamento humano mais precioso e significativo. Sabemos que o nosso relacionamento com Deus deveria ser ao menos tão perfeito e de tão excelente qualidade quanto esse, então empregamos as nossas melhores ilustrações humanas na tentativa de descrever o amor e a resposta humano-divina. Mas apesar do que foi dito a favor de uma interpretação alegórica do livro, este ponto de vista contém um defeito decisivo. Adam Clarke, o deão dos comentaristas wesleyanos, está entre aqueles que expõem essa fraqueza. Se essa maneira de interpretação [alegórica] fosse aplicada às Escrituras em geral, (e por que não, se é legítimo aqui?) a que estado a religião logo chegaria! Quem poderia ver qualquer coisa certa, determinada e estabelecida no significado dos oráculos divinos, quando fantasia e imaginação devem ser os intérpretespadrão? Deus não entregou a sua palavra à vontade do homem dessa maneira [...] nada [deveria ser] recebido como a doutrina do Senhor a não ser o que deriva daquelas palavras claras do Altíssimo [...] Alegorias, metáforas e figuras de linguagem em geral, nas quais o desígnio está claramente indicado, que é o caso de todas aquelas empregadas pelos autores sacros, deveriam ilustrar e aplicar de forma mais clara a verdade divina; mas extrair à força significados celestiais de um livro santo onde não existe tal indicação, com certeza não é o caminho para se chegar ao conhecimento do Deus verdadeiro, e de Jesus a quem Ele enviou.3 Ao contrário da opinião de alguns estudiosos, parece questionável que a interpretação alegórica entre os judeus tenha sido um fator importante para a inclusão de Cantares no cânon do Antigo Testamento. O cânon foi finalmente aprovado por volta do fim do primeiro século d.C., e as interpretações alegóricas que são conhecidas há mais tempo aparecem no Talmude (do século II ao século V). Gottwald diz: ―E provável que a interpretação alegórica tenha surgido após a canonicidade, e não antes dela‖.4 E verdade que Orígenes e outros pais da igreja mantiveram a interpretação alegórica de Cantares. Mas Orígenes aplicou este mesmo método a outros livros da Bíblia, e nós já não aceitamos essa interpretação como válida para eles. Então por que seria necessário aceitá-la no caso de Cantares de Salomão? Meek escreve: ―A interpretação alegórica poderia fazer com que o livro significasse qualquer coisa que a imaginação fértil do intérprete pudesse inventar, e, no final, as suas próprias extravagâncias seriam a sua ruína, de forma que hoje esta escola de interpretação praticamente desapareceu‖.5 Literal. Com base nas premissas expressas acima está claro que o método alegórico deve ser rejeitado por ser um caminho inaceitável de interpretar a Bíblia. Por essa razão só aceitamos os métodos que nos permitem extrair o significado das palavras com base no sentido claro delas, como foram escritas. Fundamentado nisso, o Cantares de Salomão está falando do amor humano entre um homem e uma mulher. Foi esse amor que estava faltando quando Deus disse: ―Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea‖ (Gn 2.18). Mas mesmo quando Cantares é interpretado de maneira literal, existe uma grande variedade de interpretações.


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

77

Cultual. Com a descoberta das antigas liturgias de culto do Oriente Próximo, emergiu uma teoria que interpretava o Cantares como um ritual pagão que havia sido secularizado ou até se adaptado para o louvor de Javé. Mas Gottwald ressalta que ―existiriam problemas terríveis‖ se aceitássemos esta interpretação.6 Lírica. Entre os intérpretes contemporâneos tem sido comum explicar o Cantares como uma coleção de poemas de amor que descrevem a beleza física, cantados em casamentos sírios, e talvez em outras épocas, quando o amante ansiava expressar sua afeição por sua amada. Este ponto de vista pode elucidar a origem de algumas passagens em Cantares, mas não consegue explicar as evidências de unidade do livro.7 Três personagens. Este ponto de vista foi desenvolvido primeiramente por Bi Ezra, popularizado por J. F. Jacobi (1771), e explicado de maneira detalhada e cuidadosa por Heinrich Ewald (1826).8 Mesmo Meek, que rejeita esse ponto de vista, escreve: ―Se o livro deve ser interpretado literalmente, existem dois amantes, um rei e um pastor‖.9 Em 1891 Driver escreveu: ―De acordo com [...] [esse] ponto de vista [...] aceito pela maioria dos críticos e intérpretes modernos, existem três personagens, isto é: Salomão, a serva sulamita e seu amante pastor‖.10 Esta perspectiva foi defendida e desenvolvida mais recentemente por Terry11 e Pouget.12 De acordo com a interpretação dos três personagens, a jovem mulher era a única filha entre vários irmãos que pertenciam a uma mãe viúva morando em Suném (veja mapa 3). Ela se apaixonou por um belo jovem pastor e eles então noivaram. Enquanto isso, em uma visita pela vizinhança, o rei Salomão foi atraído pela beleza e graça da jovem. Ela foi levada à força para a corte de Salomão ou simplesmente sob um impulso do momento (cf. 6.12) que veio dela mesma em acordo com os servos do rei. Aqui o rei tentou cortejá-la, mas foi rejeitado. Por causa da urgência que sentia, Salomão tentou fasciná-la com sua pompa e esplendor. Mas todas as suas promessas de joias, prestígio e a mais alta posição entre suas esposas não conquistaram o amor da jovem. De modo imperturbável ela declarou o seu amor pelo seu amado do campo. Finalmente, reconhecendo a profundidade e a natureza do seu amor, Salomão permitiu que a moça deixasse sua corte. Acompanhada pelo seu querido pastor, ela deixou a corte e retornou ao seu humilde lar no campo. Se essa interpretação for aceita, o tema do livro é a fidelidade ao amor em vez do amor conjugal somente, como se estivesse lidando com apenas dois personagens. Ainda que existam problemas nessa interpretação, eles não são insolúveis. Este ponto de vista foi defendido por muitos estudiosos da Bíblia competentes e é aprovado pelo autor como a melhor base para esboçar e explicar o conteúdo do livro. Ao defender essa postura, deve-se admitir que as decisões quanto a quem está falando são totalmente subjetivas. Cada verso no livro é colocado nos lábios de algum orador na forma de discurso direto. Não existe, no entanto, qualquer indicação em nenhum momento que afirme ao leitor quem está falando. O esboço seguido neste comentário reflete uma concordância geral entre intérpretes que aceitam a interpretação dos três personagens. Há, com certeza, diferenças pequenas até mesmo entre aqueles que concordam acerca das divisões gerais. Nesses casos, o autor aceita a responsabilidade de escolha entre as alternativas. Esboço I. Nome e Identificação, 1.1 II. Acordando para a Realidade, 1.2-4a III. A Primeira Visita do Rei, 1.4b—2.7 A. A Sulamita e as Solteiras, 1.4b-8 B. Salomão e a Sulamita, 1.9—2.7 IV. Uma Visita e um Sonho, 2.8—3.5 A. A Visita do Amado, 2.8.17


“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

78

B. O Primeiro Sonho do Amado, 3.1-5 V. O Rei Novamente como Pretendente, 3.6—5.1 A. O Cortejo Real, 3.6-11 B. O Segundo Pedido de Casamento do Rei, 4.1—5.1 VI. O Cântico do Amado, 5.2—6.3 A. O Segundo Sonho da Sulamita, 5.2-8 B. O Cântico da Sulamita para o seu Amado, 5.9—6.3 VII. A Proposta Suprema do Rei, 6.4—8.4 A. O Cortejo Entusiástico, 6.4-10 B. A Rejeição Eficaz, 6.11-12 C. A Súplica das Mulheres, 6.13—7.5 D. A Paixão em Chamas, 7.6-9 E. O Clamor por Amor Verdadeiro, 7.10—8.4 VIII. Reunião e Reflexão, 8.5-14 A. O Tributo da Sulamita ao Amor, 8.5-7 B. Um Lembrete e uma Resposta, 8.8-12 C. Afinal, a Recompensa do Amor, 8.13-14 LIVINGSTON, George Hebert. Comentário Bíblico Beacon, Volume III. Tradução Luís Aron de Macedo. Editora CPAD, Rio de Janeiro, 2012. Pag. 475 a 477; 479 O Propósito Qual o lugar dessa poesia de amor nas Escrituras, principalmente se não tinha em sua origem a intenção de ser uma mensagem alegórica ou tipológica do amor de Deus? O livro é uma lição objetiva, um provérbio estendido ou uma parábola (mãshãl), que ilustra as ricas maravilhas do amor humano, uma dádiva do amor de Deus. Ainda que expresso em linguagem audaciosa, Cântico dos Cânticos oferece um equilíbrio sadio, bíblico, entre os extremos dos excessos sexuais ou perversão e o ascetismo, com demasiada frequência entendido como a concepção cristã do sexo, ascetismo que nega o caráter essencialmente bom e correto do amor físico dentro da estrutura matrimonial prescrita por Deus. Podemos dizer mais: ―Ele não só fala da pureza do amor humano, mas também, por sua própria inclusão no cânon, lembra-nos de um amor mais puro que o nosso‖. LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederic W. Introdução ao Antigo Testamento. Tradução de Lucy Yamakami. São Paulo: Vida Nova, 1999. Pag. 565


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.