Introdução ao Antigo Testamento I

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“Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II TIMÓTEO 2:15 Professor: Sérgio Henrique Zilochi Soares email: sergiodireito7@yahoo.com.br

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CONCEITO DE ANTIGO TESTAMENTO Quando se fala em ―Antigo Testamento‖ e ―Novo Testamento‖, pensa-se nas duas principais divisões da Bíblia sob o ponto de vista da classificação técnica e didática. Entretanto, o sentido original dessas expressões não visava livros, mas sim as duas ―economias‖ de salvação divina, ou seja, a do povo eleito de Israel e a do povo eleito fundado por Cristo sob a denominação de Igreja. A palavra portuguesa ―testamento‖ reproduz o termo latim ―testamentum‖ e o grego ―diathéke‖. Neste sentido apresenta a última vontade de uma pessoa na ocasião de sua morte, conforme Hebreus 9:16-17. O sentido mais antigo da palavra encontra-se na palavra hebraica ―berit‖, que significa ―pacto‖, indicando o acordo salvífico entre Deus e o povo de Israel, ou a salvação decretada por Deus a favor da humanidade. Em II Reis 23:2,21 fala-se em ―livro da aliança‖ com referência ao livro encontrado no templo pelo sacerdote Hilquias na época do Rei Josias, o qual serviu de base para uma importante reforma político-religiosa por volta de 622 a.C. Esse documento, segundo as evidências do conteúdo e natureza dessa reforma, continha o texto básico daquilo que se chama hoje de ―Deuteronômio‖. Também, o Apóstolo Paulo, se referiu a toda a literatura do povo pré-cristão como ―Antigo Testamento‖ (II Coríntios 3:14), pensando ainda na ideia de pacto e aliança comum aos antigos. É sempre bom lembrar que os judeus não intitulam a sua literatura como ―Antigo Testamento‖, uma vez que não consideram o pacto feito com Moisés como antigo e, portanto, precisando de uma novidade. Essa divisão é cristã e, provavelmente, só veio a cristalizar-se por volta do Século V d.C., quando os livros do ―Novo Testamento‖ existiam num corpo organizado, num rol ou lista de livros sagrados que a Igreja chamou de ―Cânon‖. Como a Igreja cristã chegou à interpretação da literatura sagrada como ―Antigo‖ e ―Novo‖ testamentos? A teologia parte do princípio que a fé de Israel baseava-se num pacto entre Yehweh e seu povo. Por sua promessa, Yehweh estabeleceu o pacto e coube ao povo cumprir os mandamentos divinos (Êxodo 34:10-11). O sinal desse ajuste foi a circuncisão. Na verdade, os textos sacerdotais sempre apresentam um Deus que se comunica com o homem através de pactos (Na criação, Gênesis 2; em Noé, Gênesis 9; em Abraão, Gênesis 12 e 17; em Moisés, Êxodo 19). Com o passar do tempo, Israel tornou-se incapaz de observar corretamente as condições do pacto, ou melhor, de cumpri-lo, na medida em que desviou-se do direito transmitido aos antigos (Lei – ―Torah‖), desobedecendo a Yehweh e tornando a sua fé num ritualismo cego manifestado por práticas exteriores (liturgias e sacrifícios). Os profetas perceberam esse desvio bem cedo (Isaías 1:10-17). Desde então, já anunciavam o ―novo‖ (Isaías 43:18-19; Jeremias 31:31-34). Essa concepção de ―Novo Pacto‖ foi compreendida pelos cristãos como realizada plenamente na vida e morte de Jesus Cristo (Mateus 26:28; I Coríntios 11:25). A partir de Paulo, percebe-se Moisés e seus escritos como ―Antiga Aliança‖ (II Coríntios 3:12-15) ou como ―primeira aliança‖ (Hebreus 8:7-13; 9:15). A separação para fins didáticos só aparece a partir do momento em que a Igreja chega a uma reforma para a lista de livros do Novo Testamento tal qual possuímos hoje, ou seja, um Cânon de 27 livros, por volta do início do século V d.C.


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