Julho a outubro de 2017
O DESIGN DA ARBITRARIEDADE, DE TIDE HELLMEISTER
CONSTRUÇÕES GRÁFICAS COLAGEM: DESIGN E ARTE
ARQUITETURAS GRÁFICAS
Colaborações especiais de Bloco Gráfico, Guto Lacaz e Manuela Eichner
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NO CORTE DA TESOURA OU NO CHÃO DA GRÁFICA, A COLAGEM QUE TRANSITA ENTRE A ORDEM E A ESPONTANEIDADE IMAGENS RESSIGNIFICADAS
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Danilo Santos de Miranda Diretor Regional do Sesc São Paulo
ideia do bricoleur, explorada pelo antropólogo Claude Lévi-Strauss, consiste na justaposição, montagem e combinação livre de elementos encontrados no ambiente ou no caminho, de maneira instintiva. O bricoleur trabalha com as mãos de diversas maneiras, recombinando signos preexistentes em usos para os quais não foram elaborados, num desejo poético de conhecimento sobre o mundo à sua volta. A alusão ao bricoleur e ao universo da antropologia é útil para pensar a prática autodidata, instintiva e centrada no uso experimental da colagem desenvolvida por Tide Hellmeister, artista gráfico paulista que fez uso de materiais e objetos de origens imprevistas. Em suas colagens, as letras e os textos são constantemente tomados por imagens, desenhadas com motivos decorativos, colunas, estátuas, frisos, bandeiras, tecidos e outros, quase sempre com algo emoldurando a figura central. Ao remontar fragmentos em novos arranjos imagéticos, as colagens recompõem pedaços e recortes de revistas e fotos, dentre outros materiais, que recombinados oferecem uma nova composição em cujas tramas se exprimem formas e sentidos inéditos. Nesta narrativa visual, a inventividade em recriar significados a partir de elementos originariamente diversos convida a estabelecer relações impensadas entre as imagens justapostas. Na mostra Tide Hellmeister: Cota Zero serão expostas algumas das primeiras produções do artista, que encontrou na colagem sua principal forma de expressão, e que representa uma resistência frente à padronização e uniformidade verificadas na produção de imagens para a grande imprensa do período, especialmente dos anos 60 e 70, além de se manter como paradigma para experiências contemporâneas de comunicação e publicação independente. Ao realizar a presente exposição, o Sesc reforça sua atenção na elaboração artística do ilustrador e designer gráfico e explora a força de criação autoral no campo editorial e nos espaços de comunicação, entendendo como aspectos importantes a atividade criativa e o livre pensar. Ao público, um convite à incursão nesta linguagem artística e no debate em torno da construção experimental das imagens no universo de Tide Hellmeister.
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endemos, por mais que desconfiemos disso, a organizar a História de maneira linear, evolutiva e lógica. Mas basta observar com mais atenção qualquer cadeia de eventos para notar que eles escapam o tempo todo às narrativas com que tentamos conformá-los. Cedo ou tarde demais, concomitantes ou dispersos, os acontecimentos nos surpreendem por sua intempestividade. A trajetória de Tide Hellmeister no universo gráfico (seja como designer, seja como ilustrador e artista) é repleta desses “soluços históricos” que tornam complexo o entendimento de cada época. Relativamente autodidata, Tide entrou em contato com seus ofícios pela prática com mestres diversos, como o pintor João Suzuki, seu primeiro professor de pintura (por pouco tempo), o cenógrafo Cyro del Nero, seu primeiro chefe (na TV Excelsior) e o editor Massao Ohno, que, ainda na primeira metade dos anos 1960, confiou a ele seus primeiros projetos gráficos (em um contexto de pioneirismo editorial). Assim, aos vinte e poucos anos, Tide havia se familiarizado com princípios modernos da arte e do design – ainda que por caminhos pouco usuais e nada formais. Naquela época, o dito “estilo internacional” do design moderno difundia-se pelo Brasil, escoando da Escola de Ulm, na Alemanha. Os princípios desse estilo, aqui difundidos por criadores como Geraldo de Barros e Alexandre Wollner, apoiavam-se na possibilidade de organizar o legado da arte moderna em uma sintaxe confiável para a formação de profissionais (designers,
Construções gráficas de Tide Hellmeister são tesouros compartilhados pela arte e pelo design das décadas de 1960 e 1970 arquitetos) comprometidos com a comunicação, a legibilidade e a clareza simbólica. A Editora Massao Ohno nunca foi exatamente o polo para onde convergia este repertório, tendo abrigado artistas apenas indiretamente ligados ao concretismo, mas dá indícios de ter absorvido parte deste repertório de época. Da mesma forma, Tide nunca vestiu o manto de designer moderno, mas parece ter se adaptado bem a seus princípios, pois as primeiras publicações que realiza como “planejador gráfico” na editora demonstram traquejo no manuseio de seus princípios de diagramação, em que elementos compositivos se articulam em uma malha ortogonal implícita, desenvolvida através de alinhamentos, proporções, ritmos e sugestões de movimento. Além disso, o então designer iniciante demonstra considerar o espaço branco da folha de papel como elemento gráfico significativo e estruturante da composição. Apesar das confluências com o design moderno, pode se dizer que Tide respondeu a seu
tempo, sem submeter-se a ele. Em cada projeto que encontramos, cada colagem que Tide produziu, sobra ou falta alguma coisa em relação aos modelos consolidados do estilo internacional. Arriscou remeter a estilos tipográficos que, teoricamente, haviam se tornado obsoletos, para então recortá-los e recombiná-los como textura sobre a folha em branco; torceu o texto e combinou-o com traços lúdicos feitos à mão; incorporou símbolos e gestos que só foram aceitos inteiramente pelas escolas de design décadas depois. Envolvido desde cedo em usos experimentais da colagem, o artista e designer encontrava em outra polaridade das práticas de vanguarda as possibilidades que o distanciavam do cânone funcionalista. Como, então, operava a colagem no conjunto de obras gráficas e plásticas produzido por Tide em suas duas primeiras décadas de atuação? Para pensar sobre isso, será necessário pensar sobre a importância desse recurso para a consolidação e desvio da linguagem moderna. >>
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4 No repertório das vanguardas modernas europeias, a colagem consta como recurso fundamental do cubismo sintético, do futurismo, do dadaísmo e do surrealismo. Em todos esses casos, seu emprego é constantemente entendido como o choque complexo e ambivalente entre a concretude de materiais gráficos preexistentes e a virtualidade do espaço pictórico abstrato. A colagem carrega, assim, o potencial de, simultaneamente, ligar e separar o espaço compositivo modernista a uma gama infinita de elementos arbitrariamente escolhidos. Por um lado, a colagem atesta a eficiência estética da linguagem modernista, que demonstra poder incorporar toda sorte de elementos exógenos à sua sintaxe; por outro lado, ela cria fissuras nesta mesma linguagem ao infiltrar diferentes regimes de representação e estatutos imagéticos em um mesmo plano pictórico, criando uma imbricação que dificilmente se dissolve. Essa duplicidade se reflete na obra de Tide. Em sua produção gráfica é a colagem que opera como o recurso recorrente e multiforme que não deixa que sua linguagem chegue a coincidir integralmente com os princípios do design moderno. Já em sua produção plástica, é a colagem que o mantém particularmente distante do campo da pintura, pois impede que se configure totalmente um espaço pictórico. O que isso quer dizer? Que o espaço vazio na obra plástica de Tide está mais perto do campo gráfico da folha de papel da colagem ou do impresso do que da espacialidade virtual da pintura. Por isso, talvez, sejam tão frequentes as composições centralizadas, dispostas no espaço vazio (branco ou preto) e estruturadas por uma linha diagonal, que organiza a página ao atravessá-la de fora a fora. Para Tide, as experimentações plásticas e as produções gráficas coexistiam no tempo e no espaço. Essas atuações nunca foram separadas segundo hierarquias lineares — ainda que a parcela gráfica fosse a responsável por manter suas contas em dia — mas alimentamse mutuamente e compartilham certa visualidade ou, talvez, um programa experimental. Um fator determinante no princípio de sua trajetória foi ter produzido muito em pouco tempo no contexto duplamente experimental da Editora Massao Ohno. Primeiro, a fluidez dos formatos e padrões nos primeiros anos da editora (até a forma de apresentar o nome da editora mudava radicalmente de uma publicação para a outra) exigiu do então jovem artista uma enorme variação de soluções gráficas, muitas vezes tendo a colagem como fator dinâmico da apresentação do texto e do projeto visual como um todo. Depois, o zelo quase artesanal
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Para Tide, as experimentações plásticas e as produções gráficas coexistiam no tempo e no espaço. na criação de edições interessantes, combinado à simplicidade dos meios da editora, fazia com que muitas das soluções gráficas nascessem do esforço de Tide em recombinar os materiais e processos disponíveis na própria gráfica. Tem-se aí o ambiente ideal para que cresçam os princípios da arbitrariedade, da espontaneidade e da inteligência processual que distinguem o conteúdo desta exposição. Há outro conjunto de experiências de difícil análise, porém de igual importância — o emprego de Tide no desenvolvimento gráfico e na diagramação de jornais diários, com destaque para o Última Hora e o Jornal da Tarde. Pela natureza desses veículos, é difícil discriminar a autoria de Tide em diagramações específicas, mas é preciso destacar seu envolvimento com outro espaço de inovação daquele período. Fundado em janeiro de 1966, o Jornal da Tarde conquistou espaço na história da imprensa, graças à sua ruptura radical com os padrões jornalísticos até então vigentes no País; arriscando assimilar linguagens modernas em todos os aspectos de sua produção, da pauta ao texto, passando pela
diagramação e apresentação. Vivenciar esse ambiente pode ter fortalecido em Tide a percepção de que a criação gráfica é, em si mesma, uma linguagem, que pode aliar-se intimamente à informação textual ou, inclusive, ser ela mesma substituta do texto, sem detrimento do impacto semântico e narrativo. Tide chegou ao começo da década de 1970 já contando com essas vivências e com o reconhecimento profissional (ele também destacou-se como prolífico criador de capas de LPs). A essa altura, ele chamava suas colagens de construções gráficas e seus projetos de design de arquiteturas gráficas. Era o sentido gráfico, portanto, que dava coerência às suas práticas. Nas décadas seguintes, a colagem, a bricolagem, a caligrafia e a cenografia cresceriam em sua prática, até suplantar o papel hegemônico do gráfico no processo criativo do artista. Mas isso, depois. Em tudo que está reunido na mostra Tide Hellmeister: Cota Zero, o norte é dado por uma práxis gráfica, que aponta à plena comunicação visual, estruturada pelos princípios do design moderno e alargada pela espontaneidade experimental arbitrária e processual. O maior legado dessa primeira fase de Tide Hellmeister, sua contribuição talvez pouco autoconsciente, que se apresenta como um soluço histórico no arco de implantação do design moderno no Brasil, foi o exercício pleno de sua arbitrariedade gráfica. Em Tide, os princípios racionalistas não se consolidam como regras. São, antes,
princípios que se fazem legíveis por sua recorrência, mas que podem, a qualquer momento, ser suspensos, para abrir espaço para algum choque visual, alguma narrativa imagética. As colagens de Tide apresentam a versão mais condensada desse arbítrio; afinal, prescindem do tema e da ordem de leitura dos projetos gráficos, fazendo das justaposições associativas o seu próprio tema e razão de ser. Ainda assim, nunca abandonam por completo o eco dos princípios gráficos citados anteriormente. Eram peças que faltavam ser reapresentadas para a reflexão sobre o sentido geral da obra de Tide. São, também, peças que devem lutar por um lugar na ainda esparsa história da colagem no Brasil. Poderão ser, quem sabe, referências para novas gerações de designers que queiram, desde o princípio de sua formação, escapar das polaridades dicotômicas (ordem-arbítrio, regra-expressão) que impregnaram os primeiros cursos de design no País no pósguerras e que, de vez em quando, escorrem ainda para as escolas e cursos atuais.
m uma época onde a única tecnologia que predominava nas artes plásticas era o talento, Tide Hellmeister foi um dos seus mais reconhecidos representantes. Precursor da colagem no País, ele fez da tesoura seu instrumento de trabalho e das mãos seu meio de expressão. Mestre dos recortes e pintura misturados com textos e tipos que talvez só ele soubesse decifrar, tinha o dom de transformar simples papéis em branco em figuras únicas, na maioria das vezes formadas pela junção de imagens aparentemente díspares, que formavam um conjunto harmônico e tão impressionante como são, hoje, as fotomontagens criadas digitalmente. Tide foi designer gráfico, ilustrador e artista plástico, tudo ao mesmo tempo. Foi capista de livros de vanguarda e de discos de sucesso. Teve fundamental participação na criação do Jornal da Tarde, órgão de imprensa que revolucionou a forma de se pensar jornalismo no Brasil. Durante sete anos, fez parceria com o jornalista Paulo Francis, ilustrando a coluna Diário da Corte, que o polêmico colunista, radicado nos EUA, publicava nos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo, do Rio de Janeiro. Comentando a parceria, Francis declarou, uma vez, que não sabia se a ilustração dele era moldura do texto ou vice-versa. Trabalhador incansável, produziu inúmeras obras, que expôs em premiadas exposições e legou muitas outras, suficientes para que as novas gerações tenham o privilégio de conhecer sua maestria.
TIDE HELLMEISTER E A EDITORA MASSAO OHNO
CINEMA BRITÂNICO
PROBLEMAS BRASILEIROS
Tide Hellmeister, junto com o grupo de artistas reunidos na Editora Massao Ohno, revigoraram o modo de composição dos livros no início dos anos 60. Entre 1960 e 1964, artistas como Tide, João Suzuki, Acácio Assunção, Cyro del Nero e Wesley Duke Lee colaboraram com o editor Massao Ohno no desenvolvimento de um estilo editorial experimental, fluído e sem regras rígidas, dedicado a apresentar a produção poética do período, em edições cuidadosamente ilustradas. Com publicações voltadas ao teatro, cinema e literatura, a iniciativa marcou o meio editorial da época por sua ousadia e pelo cuidado com todos os detalhes envolvidos na produção dos livros.
São frequentes os projetos gráficos de Tide em que a tipografia faz as vezes de ilustração, dando às letras e aos blocos de texto possibilidades expressivas, exploradas em títulos e capitulares. Caso exemplar, Cinema Britânico, editado em 1963, é parte de um conjunto de publicações oriundo da aproximação de Massao Ohno com as Cinematecas do Rio e São Paulo. A exploração imagética da tipografia que Tide realiza em Cinema Britânico permite que ele trabalhe com ampliações e composições mais livres. Além de reproduzir imagens e ilustrações de época, o artista gráfico supre lacunas e cria associações ao utilizar trechos da literatura britânica com referências a figuras emblemáticas de sua história.
Criada em 1963, a revista Problemas Brasileiros surgiu de uma série de debates promovidos pelo Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de São Paulo, por iniciativa da Federação do Comércio, Sesc e Senac. Com periodicidade bimestral, a publicação tinha, inicialmente, o formato de um caderno, e trazia desdobramentos desses debates, aprofundando dados relativos ao contexto socioeconômico e político brasileiro. Na década de 1970, a revista ganhou novo formato e conteúdo mais jornalístico, expandindo seus tópicos a reportagens sobre cultura, educação e outros âmbitos. Tide Hellmeister foi diretor de arte da revista, saindo do núcleo editorial em 1978. Nesse período, Tide assinou capas, ilustrações de matérias, além do projeto gráfico da publicação.
Paulo Miyada Curador
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ntes mesmo de historiadores e críticos, é comum que autores e profissionais sejam os primeiros a atestar, direta ou indiretamente, a reverberação de novas referências e parâmetros para a arte e o design. Por isso, Cota Zero convidou designers e artistas para olhar a obra de Tide Hellmeister e fazerem seus “reinventários”, misturas de releituras e comentários que homenageiam a obra e abrem caminho para pensar na sua atualidade. A produção gráfica e plástica de Tide Hellmeister dos anos 1960 e 1970 pode ser, hoje, uma fonte de novas descobertas. Depois da era dos modernismos e das ondas de pós-modernismo, muitos autores procuram combinar o princípio de clareza e economia com o desejo de invenção e ousadia. Manuela Eichner, Guto Lacaz e o grupo Bloco Gráfico representam, cada um à sua maneira, expoentes dessa atitude.
Guto Lacaz (São Paulo – SP, 1948)
ilustrador, designer, cenógrafo e desenhista
APRENDENDO COM TIDE HELLMEISTER Manuela Eichner (Arroio do Tigre – RS, 1984) artista visual
DIA DE MUDANÇA
A gente mudava muito de casa. Lembro dos quadros no chão e das caixas todas por arrumar, logo depois que o caminhão de mudanças virava a esquina. Era uma espécie de ritual: o dia em que meu pai, finalmente, chegava armado de martelo e pregos para pendurá-los na parede. “Esperem que o papai já vem pregar.” Era uma diagramação aleatória, mas que fazia todo sentido. Pronto. Agora, estávamos, de fato, instalados na casa nova. Estes quadros me acompanharam a vida toda; eram como brinquedos estimados presos à parede — parte da minha formação visual, mesmo
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que não tivesse muita consciência disso. Até que, em dado momento, fui morar sozinho e me desliguei deles. Eventualmente, os quadros foram encaixotados e também foram viver sozinhos, guardados, embrulhados, mudaram de cor. O tempo passa e me reencontro com as obras de meu pai. Um outro olhar sobre elas. Organizei, estudei, admirei —sim, agora as entendo melhor. São uma espécie de cápsula do tempo, uma volta à infância. Tempo em que Massao Ohno era motivo de brincadeiras na família. Eu não entendia muito bem, mas diziam que ele teria raptado meu pai no dia do noivado com a minha mãe. Tempos das histórias do dia a dia no Jornal da Tarde, das exposições no Sesc. Tempo em que perguntavam o que meu pai fazia e eu não sabia responder muito bem. Dizia com orgulho: ele é um grande artista, o rei da colagem. Resposta certa. Agora, é tempo de aprender como a carreira de um artista começa, vive e revive. E como, de certa forma, vivi tudo isso com ele, também. O que ele quis dizer com tudo isso? O que quis colar em nossas mentes? Só ele sabe, ele e seu sorriso de sempre. Foi isso que descobri.
André Hellmeister
Bloco Gráfico Gabriela Castro (São Paulo – SP, 1986) designer
Gustavo Marchetti (São Paulo – SP, 1982) arquiteto
Paulo André Chagas
(São Paulo – SP, 1982) designer gráfico e arquiteto
TIDE COTA ZERO Sesc Bom Retiro Curadoria / Paulo Miyada Coordenação / André Hellmeister Textos / André Hellmeister, Paulo Miyada e Priscyla Gomes Colaboradores (artes) / Guto Lacaz, Manuela Eichner e Bloco Gráfico: Gabriela Castro, Gustavo Marchetti e Paulo André Chagas Revisão dos textos / Marcos Mauro Rodrigues Design / André Hellmeister + grupotrëma Laura Sobral e Elaine Terrin Produção / Heloísa Sobral - MUDA práticas culturais e educativas Digitalização e fotos das obras / Studio Peter Michael De 20 de julho até 29 de outubro de 2017 Terças a sextas, das 9h às 21h Sábados, das 10h às 21h Domingos e feriados, das 10h às 18h Programação gratuita Agendamento de grupos agendamento@bomretiro.sescsp.org.br
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A OPERAÇÃO PLÁSTICA DE TIDE HELLMEISTER Otoniel S. Pereira
POR OCASIÃO DA EXPOSIÇÃO DE COLAGENS DE TIDE HELLMEISTER SÃO PAULO - JUNHO - 1977
A mesma folha branca que incita ao verso João Cabral de Melo Neto, poeta-engenheiro, açula o amolado gume de Tide Hellmeister, artista-clínico, a fazer uma intervenção plástica nas coisas.
Assim, Tide Hellmeister, com seus dedos agudos, produz clara incisão na superfície na trama na epiderme na textura do papel/pele da pele/papel e esse corte/recorte doerá a despeito de toda anestesia. Assim trabalha em nós Tide Hellmeister, homem de sete instrumentos, todos cortantes. gilete bisturi lamínula cutelo canivete cisalha lanceta sabre tesoura e o mais que existir no dicionário com propriedade de cortar fracionar partir talhar fender rasgar cindir acutilar. Tudo isso na mão, do que será capaz Tide Hellmeister com seu gesto afiado? De um vinco em nossa carne passiva ou de um vestígio de navalha viva. De um sulco no olho contemplativo ou de uma cirurgia no ser vivo. Impossível dizer com palavra o que Tide Hellmeister diz com faca fina operando sem luvas, limpamente, figuras familiares: nós, não outras. Nós que escapamos cada manhã da lâmina de barbear e do espelho, jamais escaparemos da moldura em que Tide Hellmeister nos expõe.
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