Publicação da Ação Educativa
Esta é a Publicação da Ação Educativa da Exposição Imagem Passagem - Dinâmicas da fotografia em contexto de viagem No período de 26/10/2016 a 23/12/2016, no Centro Cultural SESC Glória, em Vitória-ES. Com os artistas: Tom Boechat, Ignez Capovilla, Orlando Farya, Miro Soares e Bruno Zorzal.
Índice 1 - Prólogo: Por passagens
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2 - Convite
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3 - Para formação de professores
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4 - Sobre os artistas e suas obras
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Renan Andrade
Equipe de Arte Educação Equipe de Arte Educação
Equipe de Arte Educação
4.1 - Tom Boechat
Toquiotas | Série fotográfica, 2005-2006
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4.2 - Ignez Capovilla
10
4.3 - Orlando da Rosa Farya
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4.4 - Miro Soares
14
4.5 - Bruno Zorzal
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Santa Maria de Jetibá | Série fotográfica, 2016
Acheiropoieton | Série fotográfica, 2016 Reservatório de Memória | Série fotográfica, 2016
Nós, os vizinhos de Pier Paolo | Série fotográfica, 2016
5 - Agradecimentos e créditos finais
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1 - Prólogo: Por passagens Renan Andrade
A presença de outros que veem o que vemos e ouvem o que ouvimos garante-nos a realidade do mundo e de nós mesmos. [1]
Todas as histórias são inconclusas. E a vida contemporânea é repleta de crônicas. Talvez, apenas passemos por elas, ponderamos à primeira vista, participamos de ciclos e nos despedimos como se o fim fosse. Mas a história está ali, criada, às vezes afogada nas memórias. Por vezes, as resgatamos.
Uma compilação de experiências e processos que ocupam o espaço, as paredes, as lembranças, as identificações, e nos ocupam o tempo. Os públicos são vários e os embates diversos. Por isso é preciso alinhavar caminhos, iluminar possibilidades, conduzir percursos.
Em certo sábado me sentei numa padaria. Havia poucos lugares. Na metade do meu café, uma senhora – depois soube que completara seus 85 anos –
Os disparos, os fluxos e os repertórios dos campos de enfoque do Projeto Educativo da exposição Imagem-Passagem foram desenvolvidos colaborativamente e em processo: não se encerram aqui. Incluindo textos, questões e testemunhos relacionados ao processo de construção da mostra, envolto na poética de cada um dos cinco artistas, nas pesquisas e questões dos mediadores e educadores, o material educativo toca vozes aos
perguntou-me se poderia se sentar. Indagou o que eu tomava e pediu o
mesmo. Ajudei-a a se servir o açúcar, a encontrar os talheres. Perguntou o
meu nome, a minha idade: “_Vi que é uma pessoa feliz!”, afirmou, com olhos fixos que me intimidavam. Contou a sua vida. Foi médica obstetra, perdendo a conta dos partos que fez. Ensinou-me, em sua sabedoria das experiências das salas de operação, em como possivelmente eu conseguiria planejar ter um filho
homem ou mulher, numa matemática do ciclo menstrual. Acompanhei-a até o
caixa, ela andava com dificuldade. Continuamos até a praça, deixei-a em casa, nos despedimos marcando outro café qualquer dia desses. Um encontro fortuito, que talvez jamais aconteça.
Um início de conversa. As mediações ocorrem todo o tempo. Nossas horas diárias tem se tornado uma intensa rede de atravessamentos. Nas imediações quase como uma deriva programada que, sutil ou arrebatadoramente, nos transforma. Mas quais presenças nos atravessam? Quais os sentidos que
podemos buscar? Somos público em trânsito. Aprendemos constantemente com o que vemos e com o que encontramos em cada esbarrão por onde
passamos. O esbarrão é a rua, o elevador, a escola, e é também uma exposição de arte.
[1] Arendt, Hannah. A Condição Humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007.
protagonistas, a nós mesmos.
O que o artista gostaria que o público soubesse? Quais as referências dos mediadores no convívio diário com o visitante, com as horas a fio dentro da exposição? Qual o papel do mediador? Como abraçar a autonomia do público? É preciso receber perguntas ou configurar respostas? A quem se destina e
qual o uso do material educativo de uma exposição de arte? Como o professor pode estar colaborativamente em todo o decurso? Como o aluno pode perceber as conexões que partem dele mesmo? Entendendo o processo educativo como um campo aberto, variável, que admite o sujeito em sua individualidade complexa, o material das próximas páginas não pretende
determinar fusos, mas criar narrativas e funcionar como possíveis referências dentre as escolhas sobre a relação entre a arte contemporânea e a educação, entre as pessoas e, quem sabe, seus processos de viver. Renan Andrade. 3
2 - Convite
Equipe de Arte Educação
A presente publicação tem por objetivo oferecer ao leitor um material a ser utilizado em espaços de educação, sejam eles de ordem formal ou informal. Se faz imprescindível, antes de iniciarmos essa jornada, explicarmos como se deu o processo de construção do Programa Educativo da exposição, que não se resume apenas ao presente instrumento mas entende de forma ampla o desenvolvimento do Programa Educativo de uma mostra.
Portanto, esse material será dividido em duas etapas: a primeira consiste em pequenas proposições da equipe com textos que versam sobre assuntos relacionados a mostra e à mediação em arte educação. A segunda etapa teve como elemento condutor conversas de imersão acerca do universo particular de cada um dos artistas da exposição.
Para tanto foi decidido com todos os membros da equipe de arte educação que
convite para alargamento de entendimentos ao longo da mostra e para além dela, de novas proposições e sugestões não apenas dos envolvidos em sua
todo o percurso de elaboração seria feito de forma colaborativa, onde a autoria
Esperamos que o uso e entendimento desse material educativo atue enquanto
envolvidos e que não contemplasse apenas a visão e entendimento do arte educador convidado.
confecção mas sobretudo daqueles que tiverem contato e se sentirem compelidos à contribuir com ela, seja com textos para imersão na mostra e suas questões, proposições de mediação e desdobramentos lúdicos.
Assim, foi dado o start para o compartilhamento de saberes e repertórios que
Pensando na forma mais democrática de acesso, foi acordado entre todos que
deveria ser diluída em prol de dar voz de forma equânime a todos os
tinham como único intuito a concepção de um trânsito que é disparado pela
participação de todos os envolvidos desde as primeiras conversas com os
o Facebook seria o dispositivo ideal de difusão e compartilhamento de nossas propostas, vez que por essa mídia podemos desenvolver um diálogo contínuo com os nossos públicos/colaboradores.
tanto da formação da equipe de mediadores até a formação de professores
Equipe de Arte Educação.
exposição mas que não deve se encerrar nela, de modo que houve a artistas sobre suas produções e as obras expostas, passando pela concepção realizada a partir da abertura da mostra. Durante a trajetória, foi discutido incansavelmente em como contemplar de forma igualitária todos os envolvidos.
Com isso, optamos por não assinarmos individualmente nenhuma das etapas de elaboração do Programa Educativo. A nossa proposição para a feitura desse material foi que um primeiro gatilho de acesso para pensar a mediação e
desdobramento das obras expostas em diversos ambientes, seria considerar com
o grupo a construção de um discurso uníssono acerca do nosso
entendimento do que seria mais potente enquanto adensadores da relação do público com os trabalhos da mostra.
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3 - Para formação de professores Equipe de Arte Educação
"Dando início então a nossa construção colaborativa, elenco aqui os dois textos escolhidos por mim, ambos pertencentes ao mesmo autor, o artista Luis Camnitzer, que expõe uma visão desafiadora acerca da relação entre arte e educação no texto Educação para a arte/Arte para a educação e o segundo texto, O artista, o cientista e o mágico, que possui ao meu ver um grande dinamizador a respeito do entendimento de arte como um lugar potente em diálogo com a ciência e a mágica". Textos sugeridos:
- Educação para a arte/Arte para a educação, Luis Camnitzer. - O artista, o cientista e o mágico, Luis Camnitzer.
"A escolha dos textos foi muito difícil, passei por vários autores e mudei de ideia
dezenas de vezes. Escolhi dois textos: Por que mediar arte? de Maria Lind e Os lugares da memória: a arte de arquivar e recordar, de Anna Maria Guasch. No primeiro texto a autora faz um breve levantamento histórico das práticas educativas, a partir de ações realizadas no MoMA, em seguida propõe uma
reflexão sobre a necessidade da mediação educativa. O segundo texto aborda a ideia de arquivo como estratégia poética que possibilita ao artista se apropriar de
elementos da cultura, da história e da sua própria vida para o desenvolvimento de seu trabalho. A ideia de arquivo, segundo a autora, ultrapassa o limite do documental".
"A escolha dos textos a seguir se deu com base às diversas experiências que tenho como mediador em espaços institucionais de arte e do meu entendimento do processo da mediação enquanto experimentação e construção crítica-coletiva, ao mesmo tempo subjetiva e imprevisível. Escolhi, portanto, dois textos: O público não quer ver o novo, uma entrevista de Ricardo Basbaum; e Notas para uma pedagogia visual bem humorada, de Waltércio Caldas. No primeiro texto, Basbaum coloca como positivo o estranhamento do
espectador diante da obra de arte, estimulando-o a pensar, e enfatiza a importância dos serviços educativos dos espaços de arte como indicadores de caminhos para aproximar esse público das narrativas do campo. Já o segundo, Caldas divide conosco, organizando em pequenas sentenças, meios para
pensar o nosso processo particular de (des)entendimento da obra-prima quando diante dele, pensando nas expectativas criadas em cima de cada trabalho, a dúvida como processo de superação e confrontamento de nossas limitações, a teoria da obra de arte aberta e a equivocada ideia de textos que se dão ao trabalho de fazer explicações dos trabalhos apresentados numa exposição". Textos sugeridos: - O público não quer ver o novo, Fernanda Albuquerque e Ricardo Basbaum. - Notas para uma pedagogia visual bem humorada, Waltércio Caldas.
Textos sugeridos:
- Por que mediar arte?, Maria Lind.
- Os lugares da memória: a arte de arquivar e recordar, Anna Maria Guasch.
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"Estar em situação de viagem é sair de sua zona de conforto e se permitir colocar-se em um lugar estranho, é explorar situações distintas do cotidiano, e permitir ser explorado pelo não usual. Ser forasteiro, estrangeiro, encarar tudo com um novo olhar, como ensaio singular. Encontrar-se no lugar da mediação é muitas vezes permanecer em condição de viagem. É errar, estar à deriva, aberto a enfrentar qualquer circunstância como potência catalisadora de uma situação seguinte (ou anterior), mas distinta. Portanto, é fundamental se colocar disposto a aceitar o convite da descoberta com o público, é criar estratégias para sair um pouco do meio, e se colocar ao lado. Ouvir. Levar em conta tudo aquilo que não se leva em conta. Escutar. Se arriscar apostando no incerto. Se arremessar. Para tanto, proponho o acolhimento deste material na estima de que o mesmo auxilie pessoas que de alguma maneira perpassam pelos caminhos da educação, mas também é destinado aos curiosos e demais interessados. Confesso que as escolhas possuem uma relação íntima comigo e minha própria formação como indivíduo, portanto os convido a explorar um pouco dessa construção de saberes por meio destes textos na esperança de que operem como vetores, ou seja, que se multipliquem e se potencializem desdobrando-se em operações outras nas diversas situações da vida. A primeira escolha se trata de uma reflexão da arquiteta-urbanista, Paola Berenstein Jacques, sobre as errâncias urbanas enquanto experiências estéticas, e questões acerca da espetacularização das grandes metrópoles, tendo o corpo físico como mediador, sobretudo como protagonista da cidade. Em seguida indico um escrito do crítico, curador e professor Thierry De Duve, no qual investiga as mudanças de paradigmas relacionadas as escolas de arte, as tradições, mas também sugere desconstruções em torno de mitos, e tabus em torno delas. De Duve estabelece seu pensamento de uma maneira singular, por vezes lança mão de caricaturas, noutros momentos relata situações do cotidiano, decorrentes de oficinas e experiências múltiplas. De Duve é no mínimo um deleite aos insanos (ou incompreendidos), e deve ser revisitado variavelmente". Textos sugeridos:
– Errâncias Urbanas: a arte de Andar pela cidade, Paola Berenstein Jacques. – Quando a forma se transformou em atitude e além, Thierry De Duve.
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4 - Sobre os artistas e suas obras Equipe de Arte Educação
O material apresentado a seguir constitui a segunda parte desta proposta, ou seja, ele foi elaborado com intenção de proporcionar ao educador/professor/interessado um breve panorama do universo de produção dos artistas participantes da mostra Imagem-Passagem, Tom Boechat, Ignez Capovilla, Orlando da Rosa Farya, Miro Soares e Bruno Zorzal. Acreditamos que o uso desse material não deve se restringir ao período de duração da mostra exposta mas deverá, sobretudo, atuar enquanto disparador de possibilidades de leituras e desdobramentos poéticos acerca das questões advindas da exposição. Esperamos que o convite seja aceito e que o leitor/ participante atue enquanto co-oautor desse trabalho, compartilhando conosco suas impressões, ideias, textos, fotos e proposições realizadas em sala de aula ou da maneira que desejar.
Exposição Imagem Passagem - Dinâmicas da fotografia em contexto de viagem. Vitória-ES. 2016.
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Toquiotas. Série fotográfica, 2005-2006. Tom Boechat.
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4.1 - Tom Boechat
Toquiotas | Série fotográfica, 2005-2006
Toquiotas é uma série de fotografias produzida pelo artista Tom Boechat entre 2005 e 2006 no contexto urbano e noturno da cidade de Tóquio, capital do Japão. As imagens apresentam uma cidade irreconhecível e vazia, vista a partir de um olhar estrangeiro de contemplação, no entanto, de solidão e distanciamento. Para adensar essa sensação de “ver e não ser visto”, o artista se utiliza da simetria e da frontalidade para registrar o que era viver naquele ambiente desconhecido e inóspito. Organizada como um políptico de 11 fotos, o artista captura uma cidade vista de
tempos e espaços diferentes, abrindo possibilidades para o espectador criar
inúmeras novas narrativas. Na maioria delas, a presença humana não é evidente,
ao mesmo tempo que se faz presente na ausência. Você imagina quem vive naqueles apartamentos, quem passa por aquelas avenidas e escadarias, quem frequenta aqueles banheiros e bares.
Em sua pesquisa como artista, Boechat traz uma profusão de referências de
diversas áreas como o cinema e a literatura. Para ele, fotógrafos como Walker Evans, Miguel Rio Branco e Garry Winogrand; cineastas como Wong Kar-wai,
Wim Wenders e Quentin Tarantino; e autores como o escritor português José Saramago e o teórico francês André Rouillé atravessam o seu universo e fazem parte constituinte de seu processo de criação.
Em entrevista realizada durante o processo de pesquisa o artista relatou-nos um caso curioso e que potencializa as proporções deste material que serão feitas a seguir. Em 2005, logo em que chegou ao Japão, Tom recebeu do governo
japonês um documento de identificação, exclusivamente destinado à estrangeiros que morariam brevemente no país, conhecido como alien card: “Se sou alienígena, então não estou na Terra (porque sim, sou da Terra!)." Uma tentativa
frustrada de criar um mundo alienígena acabou por render as fotografias da série Toquiotas. Essas imagens seriam posteriormente enviadas aos escritores brasileiros Elton Pinheiro, Hebert Farias, Luiz Guilherme Santos Neves e Marcia Lahtermaher, dispostos a escreverem contos baseados nesses registros, os quais integram o livro publicado em 2015.
Referências do artista: • A Fotografia: entre documento e arte contemporânea. Livro de André Rouillé. São Paulo, SP, Editora Senac São Paulo, 2009. • Sobre as ruínas do museu. Livro de Douglas Crimp. São Paulo, SP. Editora Martins Fontes, 2005. • Ensaio sobre a Cegueira. Romance de José Saramago. Editora Companhia das Letras, 1995. • Walker Evans: American Photographs, Livro de Walker Evans, com texto crítico de Lincoln Kirstein. Nova York: Museum of Modern Art, 1938. • Toquiotas. Livro de Tom Boechat com imagens e textos sobre a série. Vitória: Usina de Imagem, 2015.
Sugestão de Ação Como proposta de desdobramento do trabalho do artista, sugerimos que convide os alunos para que repensem ou reflitam acerca das paisagens que constituem os seus cotidianos. Questione-os a respeito do que compõe o seu dia a dia. Que lugares em seus trajetos cotidianos despertariam neles a curiosidade e a sensação de ser um “alienígena”, ou seja, de não fazer parte daquele contexto? Peça aos participantes para que tragam à sala de aula esses registros. Importante perguntar aos alunos de que maneira esses registros podem ser obtidos, estimule-os a pensar sobre que outros suportes além da fotogafia e desenho podem ser utilizados. 9
Santa Maria de Jetibá. Série fotográfica, 2016. Ignez Capovilla.
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4.2 - Ignez Capovilla
Santa Maria de Jetibá | Série fotográfica, 2016
Ignez Capovilla participa da mostra com os trabalhos Prova de Contato e Santa Maria de Jetibá, ambos possuem uma relação íntima com o cotidiano experimentado pela artista que desde o começo de sua formação busca meios de manter seu olhar sensível para questões ordinárias que compõem o seu dia a dia, com especial atenção ao que se chama de fotografias de paisagem. A artista tem na fotografia seu principal meio de produção e pesquisa no campo da arte, sua investigação para a produção das obras expostas na mostra tiveram desde o seu cerne uma importante preocupação em se manter contrário ao olhar
impregnado pelo cotidiano. Ignes procura sentir e explorar todas as possibilidades sensitivas que essa temática pode lhe proporcionar, interferindo minimamente
nesse espaço e no resultado final do material produzido. Suas referências poéticas perpassam não somente artistas do campo visual, como também da filosofia e da música, tendo como elemento crucial para os trabalhos apresentados na mostra a música Carta de Amor
da cantora Maria Bethânia
(1946-), quando segundo Ignez, "ela transforma a dor da lagrima em motivo para regar as nascentes secas".
O ponto de partida para a obra Santa Maria de Jetibá foi uma viagem feita pela
artista até a cidade de Santa Maria de Jetibá, na região serrana do Espírito
Numa espécie de antítese sensitiva no que tange a relação dos trabalhos apresentados na mostra, podemos vaguear pelos contrapontos que versam o trabalho de Ignez em Santa Maria de Jetibá e Prova de Contato, ora somos imersos em uma espécie de cemitério de imagens que nos revelam em forma de vídeo um caótico universo de situações ordinárias, ora por fotografias de uma paisagem que por vezes nos parece tão familiar, e que carrega o peso de uma crise hídrica com grandes impactos ambientais. Os sinais de um recomeço representados pelas nuvens de chuva e a vegetação que brota em meio ao solo árido, emergindo como uma explosão de cores e texturas, tensionam a relação de ausência e presença, vida e morte, fértil e estéril. Referências do artista: • Carta de Amor, canção da artista Maria Bethânia do álbum Oásis de Bethânia, 2012. • Radiohead, banda inglesa de rock alternativo. • Paisagens Urbanas, livro do filósofo Nelson Brissac, SENAC, 2004. • O Ateliê de Giacometti, livro do escritor Jean Genet. Cosac Naify, 2001.
Sugestão de Ação
Santo. No momento em que as fotografias foram realizadas, a cidade que é
Dentro do contexto de ativar um olhar poético para as relações com o cotidiano, se colocando à disposição de novas experiências,
crise hídrica, com consequências sérias ao abastecimento também de boa parte
do interior do estado e da Região Metropolitana de Vitória. Esses acontecimentos
sugerimos a seguinte ação: Em um ambiente aberto cada participante terá um espelho em mãos, posicionando-o abaixo do queixo. Os integrantes da ação devem realizar um percurso tendo
loco o fenômeno que estava acontecendo ali. Segundo a artista, ela iniciou sua
a imagem refletida como referência, transformando por alguns instantes o céu em chão. O objetivo é estimular os partícipes a
ao distinguir vida em um lugar onde tão-somente esperava morte, aqui, Ignez
aprimorarem suas percepções sensoriais, incentivando a experimentação e curiosidade, além das possibilidades de reflexões sobre o nosso cotidiano.
abastecida pelo Rio Santa Maria da Vitória passava por um momento de grave
motivaram a artista a se deslocar com o intuito de perceber e compreender in
jornada com a expectativa de encontrar um ambiente inóspito e oco. No entanto
transpõe em imagens, um desvio do olhar cotidiano para lugares outros, e se arrisca por territórios antagônicos que disparam uma experiência sensível.
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Acheiropoieton. SĂŠrie fotogrĂĄfica, 2016. Orlando da Rosa Farya.
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4.3 - Orlando da Rosa Farya
Acheiropoieton | Série fotográfica, 2016
“Aquilo que não é feito pela mão do homem” é uma tradução possível para o termo Acheiropoieton que dá nome a série de fotografias de Orlando da Rosa Farya para a exposição Imagem-Passagem. O termo deriva do grego bizantino:
αχειροποίητα e designa um tipo particular de ícones que acredita-se terem surgido de forma misteriosa e não confeccionadas pela mão do homem. Assim o artista se apropria desse conceito para nomear o conjunto de fotografias exposto na mostra. Essas imagens compõem uma série de autorretratos feitos a partir do registro de
sombras do próprio artista projetadas em superfícies naturais, como árvores,
arbustos e pedras. Para ele, o termo Acheiropoieton tem conexão direta com questões ligadas à sombra e a fotografia, ressaltando o aspecto mágico desta em
Nas obras expostas na mostra, as sombras não só circunscrevem um formato, como parecem incorporar também os dados de cada espaço eleito, e em cada imagem encontramos um ser diferente, que pode ser monstro ou humano, dialogando com os aspectos mitológicos e instrumentais da sombra. Referências do artista: • Os Dois Lados da Janela. Livro de Orlando da Rosa Farya e Fátima Nader S. Cerqueira. Vitória, ES. A Gazeta, 2014. • A República. Livro de Platão. Grécia. 380 a.C.
Sugestão de Ação
seu trabalho, pois, durante muitas décadas após os primeiros experimentos
A sombra em todos os seus aspectos proporciona narrativas, quer seja na mitologia, na projeção ou na utilização como instrumento
mágica e desconhecida.
para desenho e pintura. Quais as formas de capturar essas sombras? O que a sombra diz sobre algo ou alguém? Quais narrativas surgem a partir das sombras?
fotográficos, a técnica fotográfica ainda era vista como um fenômeno de origem
Em suas referências, Orlando nos fala de seu interesse pelas histórias mitológicas acerca da sombra, como o mito de Plínio, o Velho, que fala da
separação iminente entre uma jovem de nome Dibutade e seu amado que está
Partindo desses questionamentos, seguem as sugestões:
a jovem pede que seu amado se posicione diante de uma parede, de forma que
• Se colocar no lugar do artista como observador do espaço físico e fotografar a própria sombra com dispositivo de captura
prestes a ir para a guerra. Temendo pelo longo período que estariam separados, sua sombra ficasse projetada para que ela pudesse contornar a figura e, assim,
durante sua ausência ela teria naquele espectro uma forma de presença de seu amado.
No que tange ao seu processo de produção artística atual, Orlando tem interesse em questões relacionadas com a sombra justamente por esta não ser feita pelo homem ao passo que, ainda sim são inerentes a ele.
de imagem. • Pensar o aspecto mitológico da sombra na construção das narrativas pessoais. O que a sombra diz sobre algo ou alguém? Quão real é a sombra? • Composição a partir da captura da sombra projetada usando como fundo/suporte o espaço físico. 13
Reservatório de Memória. Série fotográfica, 2016. Miro Soares.
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4.4 - Miro Soares
Reservatório de Memória | Série fotográfica, 2016
O conjunto de cinco fotografias que compõem a série Reservatório de Memória e o filme em super-8 intitulado Campos Liminares são as obras exibidas pelo artista visual, filmmaker, pesquisador e viajante Miro Soares na exposição “ImagemPassagem: Dinâmicas da fotografia em contexto de viagem”.
Além disso, nomes como o do videoartista Michael Snow (Canadá, 1929), os artistas e cineastas Mark Lewis (Canadá, 1958), Jonas Mekas (Lituânia, 1922) e Cao Guimarães (Brasil, 1965) também influenciaram na concepção de suas obras.
A série apresentada na mostra foi produzida durante um período de residência artística na Letônia, em 2016; Nela, Miro elege uma piscina abandonada como
Referências do artista: • Artista norueguês Johan C. Dahl (1788-1857). • Videoartista canadense Michael Snow (1929) • Cineastas Cao Guimarães (Brasil, 1965), Jonas Mekas (Lituânia, 1922) e Mark Lewis (Canadá, 1958).
objeto dessa produção. É possível identificar as interferências realizadas pelo
artista neste local, em que foram inseridas fotos de famílias da região e cartões-
postais adquiridos num mercado de segunda mão no centro da cidade. Essas paisagens construídas através do olhar investigador e curioso dele nos instiga a construir nossas próprias narrativas, de acordo com nosso repertório imagético, reativando as memórias arquitetônicas e pessoais de forma poética.
Segundo o artista, sua obra pode ser sintetizada em dois aspectos principais: O
Sugestão de Ação Com base no exercício de se colocar “à deriva”, buscando perceber algo novo em nosso cotidiano, propomos uma ação
desprendimento de trabalhar em contexto do desconhecido, de forma que seus
educativa voltada para memória afetiva. A sugestão é que o professor trabalhe com seus alunos por meio de fotos e objetos.
fronteiras e os limites entre as categorias artísticas, como o desenho, a escultura,
Tanto as fotos como os objetos não necessariamente devem tratar de memórias de um passado longínquo.
processos criativos sejam executados sem um roteiro pré-determinado, e as
a pintura, a fotografia, o vídeo, o cinema e a performance. Sobre esse último, podemos ressaltar que, no entendimento de Miro, seu trabalho não se encerra
nas divisas da própria linguagem. No entanto, ele lança mão de questões que
Os objetos recolhidos poderão ser reunidos dentro de um saco (opaco e de cor escura), onde cada participante deverá
desconhecidos.
aleatoriamente retirar um objeto de dentro da sacola e imaginar \inventar um passado para esse objeto ou foto.
Dentro do campo da História da Arte, o artista tem como referência as pinturas
A ideia da atividade é no momento seguinte cada participante
grande pintor romântico na Noruega.
compartilhar com os demais o motivo de ter trazido aquele objeto de valor afetivo.
dialogam com tais divisas, se valendo da gestualidade e do acaso em contextos
de Johan C. Dahl (1788-1857), artista norueguês que é considerado o primeiro
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Nós, os vizinhos de Pier Paolo. Série fotográfica, 2016. Bruno Zorzal.
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4.5 - Bruno Zorzal
Nós, os vizinhos de Pier Paolo | Série fotográfica, 2016
A série de imagens do fotógrafo Bruno Zorzal transita entre universos que vão desde o ficcional ao documental, numa anti-narrativa de uma Itália, percorrida de norte a sul, que, aqui, nos é apresentada como um território desconhecido. Segundo Bruno, o título do trabalho é uma referência ao cineasta e escritor Pier Paolo Pasolini, que figura como uma grande influência para o artista, em especial o romance Meninos da Vida ambientado em um bairro de Roma chamado Monteverde, que tanto Bruno como Pasolini viveram anos de suas vidas. O romance conta a história de um grupo de garotos que passa a juventude vagueando pelo bairro cometendo pequenos delitos e se divertindo.
Essas ideias de deslocamento refletem diretamente nas fotos, uma vez que o artista tenta criar situações em que a fotografia está entregue ao acaso da mesma forma que o viajante que perambula sem rumo pela cidade que não
As fotos nos transportam para este bairro, em meio aos acontecimentos do cotidiano mesclados aos da literatura, seus moradores e transeuntes (os vizinhos) são transfigurados daquela realidade para o universo que o artista insinua. Por meio de sua relação com o bairro e a obra de Pasolini, os moradores se transformam em personagens, sendo este, talvez, o fio condutor de suas errâncias. Assim, o artista constrói suas próprias narrativas e interpretações dessa Roma, e faz o percurso tentando reconstruir em sua mente as vielas pelas quais seus heróis caminharam outrora. Para tanto, por vezes o artista investe no desacerto, lançando-se em uma espécie de “deriva” emocional, no que pulsa sua relação com o bairro e suas práticas artísticas.
Sugestão de Ação
Ao sugerir um universo de incertezas, a ele interessa a possibilidade de criar sensações a partir da imagem, portanto, não hesita ao investir no “erro”, e se apropria dele como uma desconcertante ideia de não pertencimento. Esses desacertos propositais resultaram em imagens desfocadas e em inúmeras outras “imperfeições”. A escolha de fotografar em preto e branco, segundo o artista, está relacionada a dificuldade de reconhecimento do lugar, sendo assim, a sensação de não conseguir compreender o mundo ao seu redor o fez tentar encontrar maneiras de experimentar e traduzir estes novos lugares em imagens.
conhece. Dessa maneira, o artista nos convida a mergulhar nessa abstrata
realidade, assim como viajar pelas incertezas que partem de sua memória sensorial.
Referências do artista: • Cidades Invisíveis. Livro de Ítalo Calvino. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. • Meninos da Vida. Livro de Pier Paolo Pasolini. São Paulo: Brasiliense, 1987.
Em Nós, os vizinhos de Pier Paolo, o artista, nos dá a possibilidade de edificar uma Roma que até então encontrava-se apenas em sua mente, por meio de suas fotos. Desse modo, você pode sugerir aos participantes uma ação de reconfiguração do espaço, sugerindo que eles se dividam em duplas para expedições no entorno da escola. Nas duplas, o guia deverá estar com os olhos vendados e o participante vidente conduzirá o percurso de acordo com as coordenadas daquele que não pode ver. Ao longo do trajeto, ambos deverão compartilhar aquilo que veem e imaginam, de maneira que consigam se deslocar de sua posição cotidiana de conforto e se permitam peregrinar pelo percurso e enxergar/imaginar o espaço percebendo novas possibilidades, com novos meios de ressignificar o local onde vivem. Na sequência da atividade de peregrinação, solicite aos participantes compartilhem relatos acerca da vivencia experimentada.
que 17
5 - Agradecimentos e créditos finais Agradecemos pelo empenho de todos os participantes desse processo em fazer possível a realização desse material.
Imagem Passagem - Dinâmicas da fotografia em contexto de viagem (26 de outubro a 23 de dezembro de 2016) Programa Educativo
Exposição Concepção Tom Boechat, Ignez Capovilla, Orlando Farya,
Impressão e molduras Vitória Fine Art
Arte-educadora convidada Ana Luiza Bringuente
Projeto
Montagem Casa do Lago
Mediadores Giani Piol, Juan Gonçalves, Karenn Amorim, Thaís Oliveira
Iluminação
Mediadores convidados
Fotografias para catálogo
Design gráfico da Publicação do Educativo
Revisão de textos
Instituições parcerias
Miro Soares e Bruno Zorzal
Carlos Dalla | Clareia Produções Produção executiva
Fabrício Coradello | Casa do Lago Texto de apresentação Miro Soares
Texto crítico
Eder Chiodetto Projeto expográfico
Júlio Schmidt | Casa do Lago Design gráfico
Felipe Gomes e Werllen Castro | Gomes+Castro+Lorenção
Antonio Mendel | Espaço-Luz
Edson Chagas
Tiago Zanoli
Versão para o Inglês
Flávia Wanzeller Kunsch Comunicação visual Art Clamur
Jefferson Koscky, Léa Araújo, Luca Peçanha, Renata Rosetti
Alberto Labuto
SEME - Secretaria Municipal de Educação de Vitória
SEDU - Secretaria Estadual de Educação do Espírito Santo Polo Arte na Escola Espírito Santo Agendamento de grupos e escolas sesc-es.com.br/agendamento
Preparação técnica do espaço
Adriano Schroeder, Ana Capucho, Christiano Schroeder
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Agradecimentos Tom Boechat agradece a Simone Neiva, Pablo Carneiro, Humberto Capai, Usina de Imagem, Thais Hilal, OÁ Galeria, Alexandre Emerick. Ignez Capovilla agradece a Marcia Capovilla, Simone Guimarães, Ellen Flegler, Igor Allochio, Virgilio Libardi e Gabriel Menotti. Orlando Farya agradece a Bruno Zorzal. Miro Soares agradece a Daugavpils Mark Rothko Art Centre, Letônia. Bruno Zorzal agradece a Marcos Sacramento, Andrea Pratizzoli, Lina Pallotta e Nazario Dal Poz (Scuola Romana di Fotografia).
SESC | Serviço Social do Comércio Departamento Nacional
Departamento Regional no Espírito Santo
Presidente do Conselho Nacional Antonio Oliveira Santos
Presidente do Conselho Regional José Lino Sepulcri
Assessora em Artes Visuais Elaine Pinheiro
Diretor Geral
Carlos Artexes Simões
Diretor do Departamento Regional Gutman Uchôa de Mendonça
Assistente em Artes Visuais Thiago Arruda
Chefe do Departamento de Cultura
Gerente do Centro Cultural Sesc Glória
Assessora de Imprensa
Assessora em Artes Visuais
Coordenadora de Cultura
Marcia Costa Rodrigues
Caroline Souza
Carlos Bermudes
Ivana Esteves
Rita Sarmento
Estagiário
Nathan Gomes 19