Plano Geral

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SESC – Serviço Social do Comércio



SESC – Serviço Social do Comércio


Sesc Departamento Nacional Presidente do Conselho Nacional Antonio Oliveira Santos Diretor Geral Maron Emile Abi-Abib Diretor da Coordenadoria de Educação e Cultura Nivaldo da Costa Pereira Gerente de Cultura Márcia Costa Rodrigues Coordenador Técnico de Cultura para o ES Marco Aurélio Lopes Fialho Sesc Departamento Regional no Espírito Santo Presidente do Conselho Regional José Lino Sepulcri

Organização Gabriel Albuquerque

Preparação de texto Regiane Pimentel

Coordenação editorial e edição de texto Gabriela Cuzzuol Ribeiro

Assistência editorial Leonardo Almenara Leonardo Ribeiro Colaboraram Alice B. Gomes Marcio Pessoa

Projeto gráfico, diagramação e capa Fábio Birous (Estúdio Dr.Quem!) Werllen Castro Curadoria Erly Vieira Jr Gabriel Albuquerque Apresentação Marco Aurélio Lopes Filho Introdução Gabriel Albuquerque Textos Erly Vieira Jr

Revisão de texto Vivian Plascak Jorge Pesquisa Equipe Booklet Edições Leonardo Ribeiro Leonardo Souza Equipe Sesc/ES Adryelisson Maduro Gisele Bernardes Leonardo Almenara

Diretor do Departamento Regional Gutman Uchôa de Mendonça Gerente de Cultura Beatriz de Oliveira Santos Coordenadora de Cultura Colette Dantas Gerente de Unidade Paulo Neves Cruz Assessor Técnico de Cinema Gabriel Albuquerque Assistente Técnico de Cinema Leonardo Almenara Estagiários de Cinema Adryelisson Maduro Gisele Bernardes Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP) Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil

H673 Plano Geral — Panorama histórico do cinema no Espírito Santo / Erly Vieira Jr, Gabriel Almeida Albuquerque (org.). – 1. ed. – Vitória, ES: Centro Cultural Sesc Glória, 2015. 180 p. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-69009-00-9 1. Cinema – Espírito Santo (Estado) – História. I. Albuquerque, Gabriel Almeida, 1978-. CDU: 791(815.2)


Plano Geral

Sesc | Serviço Social do Comércio

Panorama histórico do cinema no Espírito Santo

2015 Vitória, ES



Agradecimentos

ABD Capixaba Alexandre Barcellos Alexandre Serafini Alice Gomes Ana Murta Angela Maria Battestin Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES) Biblioteca Adelpho Poli Monjardim Cleber Carminati Dalmo Roger Ferreira Fábio Pirajá Gabriela Alves Gabriel Menotti Heloisa Ribeiro Joanna Nolasco Ribeiro Joel Cuzzuol Letícia Chamoun Luiz Eduardo Neves Luiz Tadeu Teixeira Margarete Taqueti Mirtes Angela do Nascimento Orlando Bomfim Netto Panela Audiovisual Ricardo Salles de Sá Rosana Paste Samyra Lobino Sérgio Dias Terezinha Mazzei Ursula Dart Vitor Graize Waldir Segundo



Apresentação

Quando se fala de atividade audiovisual, a primeira coisa que nos vem à cabeça é uma exibição de filmes. Mas, na prática, o Sesc realiza bem mais do que isso. O seu diferencial, comparativamente a outras instituições, públicas e privadas, está no fato de abarcar em seu escopo programático ações sistematizadas variadas e de diversos perfis que contribuem para o aumento do repertório simbólico dos indivíduos. Talvez essa deva ser apontada como a principal razão para que o Sesc seja constantemente reconhecido pelo público por seu profundo compromisso com as localidades onde está inserido. A publicação de Plano geral: um panorama histórico do cinema no Espírito Santo, de Erly Vieira Jr, não só corrobora essa argumentação como vem reafirmar o papel transformador inerente à atuação da instituição na sociedade brasileira. O que o Sesc apresenta ao público é um material amplo e consistente sobre a produção cinematográfica espírito-santense, que abre a oportunidade para a difusão e o aprofundamento de conhecimentos específicos relevantes e que se configura como um potente instrumento para a qualificação da atuação de agentes culturais em todo o país, por trazer à tona não só um levantamento, mas também uma rica reflexão acerca do cinema do Espírito Santo. Mais do que trazer um inventário, esta publicação opta por lançar mão de um precioso texto analítico, minucioso e saboroso, capaz de criar um diálogo pertinente da produção local com os diversos contextos culturais, históricos e cinematográficos no qual ela está inserida. Deve ser registrado também o caráter de ineditismo desse trabalho, sobretudo por compreender a história do cinema no Espírito Santo desde as suas origens até o ano de 2015 (data desta publicação), registrando assim todo o seu lastro de ação. Trata-se de uma análise de expressivo fôlego e de grande valia para o desenvolvimento de futuras ações do Sesc. Mas certamente não será útil apenas ao Sesc. Sua leitura atenta trará ricos subsídios a agentes culturais das mais diversas montas, sem dúvida um instrumento valioso para melhor entender a realidade em que estes atuam. Deve-se registrar que a proposta do Plano geral encaixa-se como uma luva nas políticas de ação do Sesc para a área do audiovisual por ofertar uma valiosa contribuição em duas vertentes, uma horizontalizada, dedicada ao desenvolvimento do cinema no Espírito Santo; e outra verticalizada, que relaciona o cinema local ao contexto cinematográfico e cultural brasileiro. Se considerarmos como um dos papéis mais importantes do Sesc o fomento do interesse pela pesquisa, estudo e discussão de temas relacionados à linguagem audiovisual, a presente obra adquire uma dimensão extraordinária ao propiciar, de uma só vez, tanto uma visão histórica quanto uma análise crítica das produções espírito-santenses. E que fique bem evidente:


isso, mais que um diferencial, é um elemento definidor e estruturante do nosso trabalho. Há um evidente traço de valorização da memória inerente ao tipo de pesquisa realizada neste livro, mas deve-se salientar que a produção do texto está impregnada de momentos reflexivos muito bem alinhavados. Os temas tratados são vastos: filmes de ficções, experimentais, animações, documentários, longas, curtas, 35 e 16 milímetros, digital, os cinemas de rua, os cinemas Multiplex, cineclubismo, cinefilia, o papel da universidade, cinema amador, de gênero, enfim, nada escapa da pesquisa aqui empreendida. O trabalho desenvolvido consegue amarrar uma construção didática, com divisões temporais bem distribuídas que organizam e ao mesmo tempo estimulam a leitura, pois jamais se esquece da atmosfera cultural e do contexto histórico no qual foi engendrado cada período analisado. De maneira geral, esperamos que a iniciativa do Sesc Espírito Santo sirva como um estímulo e uma semente para projetos semelhantes pelo Brasil, e que a imagem do trem dos irmãos Lumière adentrando a estação de La Ciotat − a mesma imagem que passeou soberbamente pelas veredas do Espírito Santo, conforme podemos constatar no belo texto deste estudo − possa descortinar e sensibilizar a imaginação de todos que se propuserem a participar dessa deliciosa aventura pelo cinema do Espírito Santo. Sesc Departamento Nacional


Prefácio

Para além dos círculos interessados especificamente no cinema local, parece que poucos se dão conta de que já temos quase 90 anos de imagens em movimento produzidas no Estado, desde que foram captadas as primeiras imagens de um passeio de trem em Cenas de família, um conjunto de tomadas silenciosas filmadas por Ludovico Persici, na década de 1920, com o auxílio de seu invento, o Apparelho Guarany – uma máquina capaz de filmar, projetar, copiar e medir o filme. Ao longo desta viagem pela história do cinema espírito-santense, vimos inúmeros ciclos cinematográficos surgirem e desaparecerem em meio à luta dos realizadores capixabas por visibilidade para suas produções. Neste sentido, muitas têm sido as tentativas de trazer luz à história do cinema capixaba, sua produção e estratégias de difusão. Algumas publicações e levantamentos de pesquisadores têm dado conta dessa trajetória, como o livro de Fernando Tatagiba, ainda nos anos 1980, o livro de André Malverdes sobre as salas de cinema do Espírito Santo e o catálogo da ABD Capixaba, lançado durante a mostra A Vida é Curta, em 2007. Esses levantamentos não só nos mostraram os sucessos, mas também os entraves que os realizadores sofreram para narrar e mostrar suas histórias. Com a publicação deste Plano geral: panorama histórico do cinema no Espírito Santo, percebemos que, apesar de termos conquistado novas fronteiras, com avanços que se demonstram na qualidade e quantidade de produções anuais que são lançadas na internet, nos festivais e nos cineclubes, ainda encontramos dificuldades em alcançar as salas de cinema e as telas de TV, onde o mercado parece se esconder dos capixabas. Inúmeros ciclos se sucederam desde as primeiras imagens silenciosas de Ludovico em 1926, mas até o ano de 1966, quando se inicia o ciclo de cinema amador, só conhecemos registros dos cines jornais e filmes institucionais. A paisagem mudaria radicalmente a partir de 1966, com a produção de realizadores como Luiz Tadeu Teixeira, Ramon Alvarado, Paulo Torre e tantos outros que nos brindaram com as imagens sufocantes da década da repressão, embalados pelo jazz e o rock em noites insones pelos bares boêmios da ilha. Em um misto de poesia, romantismo e ativismo, os chamados anos de chumbo viram surgir imagens em 16 milímetros e o cinema amador, que era exibido junto aos clássicos e novos cinemas nos cineclubes na melhor tradição cinéfila da época. Porém, com o recrudescimento do cenário político, aquele ciclo também se encerrou e o estado só passou a respirar cinema novamente a partir da segunda metade da década de 1970 com alguns filmes esporádicos dos incansáveis Luiz Tadeu e Ramon e a realização de alguns longas em terras capixabas por realizadores de fora. Mas o final da década também


trouxe Orlando Bomfim para o Espírito Santo, onde iniciaria uma série de documentários sobre os imigrantes italianos de Santa Teresa, além de Amylton de Almeida e seus impactantes documentários televisivos. O movimento cineclubista universitário também floresceu entre 1978 e 1986, com a participação ativa de Antônio Claudino de Jesus, Tião Xará, Marcos Valério e muitos outros. Além de ter apresentado as imagens de toda pobreza de São Pedro ao mundo, o ciclo que se inicia em 1980 também trouxe novos questionamentos, especialmente por parte do grupo Balão Mágico, sobre quem detém o poder da imagem – em uma prévia do que seria a então nascente pós-modernidade capixaba que se apropriou do movimento punk, utilizando-se do lema do it yourself e das novas câmeras domésticas de VHS, que nos tornaram produtores e consumidores vorazes de imagens em movimento com um caráter de criação coletiva, cooperativa e experimental e questionando o caráter conservador da sociedade local em plena abertura democrática. A partir de 1990, apesar da grande crise que se abateu sobre o cinema nacional com o fechamento da Embrafilme no início do governo Collor, o cinema capixaba vivenciou um novo ciclo, com a tentativa de implantação de um polo de cinema por intermédio de uma linha de financiamento pelo Banco de Desenvolvimento do Estado do Espírito Santo (Bandes), a criação da Lei Rubem Braga, em 1991, e o surgimento do Vitória Cine Vídeo na capital. E, enfim, nossa viagem chega ao século XXI, com a digitalização dos equipamentos, possibilitando que mais e mais realizadores pudessem narrar suas histórias para o mundo. A criação da ABD Capixaba no ano 2000 foi um dos fatores importantes na consolidação da produção e difusão audiovisual local. A associação propiciou que os realizadores locais passassem a perceber o poder de trabalhar em conjunto, influenciando políticas públicas que originaram editais e fortaleceram os mecanismos de fomento à atividade no Estado. A ABD Capixaba também é responsável pela Mostra Produção Independente, que há 10 anos privilegia os realizadores capixabas, fazendo um trabalho de levantamento da produção audiovisual local por meio do lançamento de DVDs Coletânea da Mostra e da revista Milímetros, na qual acontecem discussões importantes para a produção cinematográfica capixaba. Além disso, o movimento cineclubista vem crescendo desde o ano de 2003, com a retomada nacional e a sua reorganização em um Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros (CNC) e a reinclusão do Estado no centro do movimento nacional com a presidência do CNC nas mãos de um capixaba, Antonio Claudino de Jesus. Tivemos ainda nesta década o surgimento do Cine Falcatrua, que iria projetar a atividade cineclubista por meio do seu duelo com as majors, discutindo a questão dos direitos autorais em tempos digitais. Surgem ainda vários coletivos que começam a mudar as estratégias de produção, não dependendo mais só de editais e leis de incentivo e trabalhando de forma colaborativa, o que parece ser a nova cara da produção contemporânea.


Atualmente, com o curso de cinema da Ufes, o cenário da formação em audiovisual passa por uma mudança significativa. Com apoio do curso, o setor se lança para novas experimentações que surgem aliadas às estratégias de formação do curso. Um edital de longa-metragem tem possibilitado aos realizadores locais a produção mais constante de longas; no entanto, estes novos filmes ainda têm dificuldades em se inserirem nas telas de cinema do país, devido ao alto custo da distribuição. Constantemente, temos a impressão de estarmos recomeçando, quando não um novo ciclo, um novo filme, uma nova série, um novo grupo, uma nova parceria. No entanto, olhando para esta viagem que começou no trem do Ludovico, vemos que já caminhamos e fizemos muito. Olhemos então para o futuro e as novas possibilidades que se apresentam sem deixar de olhar para trás e aprender com todos aqueles que vieram antes de nós e que iluminaram as estradas com sonhos, imagens e sons. E que o público possa seguir conosco em todas as telas. Saskia Sá Cineasta



Introdução

Em 2014, quando as atividades do setor de cultura do Sesc/ES direcionaram suas forças para a ocupação do Sesc Glória, a equipe de cinema passou a focar sua atenção máxima à produção local. Iniciou-se então uma pesquisa que até aquele momento iria se ater somente ao mapeamento e catalogação da produção financiada por recursos públicos estaduais e municipais, no Espírito Santo, nos últimos cinco anos. Compreendendo que esses mecanismos são alguns dos grandes responsáveis pela viabilidade da indústria de cinema e audiovisual local e deparando-se com pouco volume de informações específicas disponível para pesquisa, o Sesc/ES identificou a necessidade de obter um panorama abrangente dessa produção, inclusive, quantitativo. Resolvemos, então, ir além. As informações levantadas até aquele momento identificaram um crescimento na produção local, talvez em função do barateamento da tecnologia, talvez pela efetividade da política pública voltada para este segmento. Entre 2009 e 2014, a produção resultante de iniciativas públicas aumentou cinco vezes. Este dado deixou claro que o Sesc estava diante de uma pesquisa instigante. Para além do uso como referência interna, para autoria da programação desse setor do Sesc/ES, existia a necessidade de se seguir levantando dados e de publicá-los em seguida para o grande público. Fomos em busca de várias referências importantes para compor este levantamento, como todos os catálogos do Festival de Cinema de Vitória, o Vitória Cine Vídeo, e os da Mostra Produção Independente da ABD Capixaba. Somente nessas duas fontes já foi possível vislumbrar décadas de produções de cinema no Espírito Santo, com dezenas de títulos e autores importantíssimos para este panorama. A pesquisa histórica foi fundamental para compreender como o cinema se desenvolveu no Espírito Santo: quem foram seus realizadores, entusiastas, cineclubistas; qual foi a importância dos cineclubes, das salas de cinema e das obras cinematográficas. Tal pesquisa contou com o valoroso trabalho feito por Fernando Tatagiba, bem como o de André Malverdes, ambos com narrativas riquíssimas sobre os bastidores da cena audiovisual capixaba, do parque exibidor, dos lugares e das pessoas que compõem esta história. O trabalho Catálogo de filmes: 81 anos de cinema no Espírito Santo, realizado pela ABD Capixaba em 2007, e a pesquisa para o catálogo 101 filmes capixabas realizado pelo Panela Audiovisual, em 2014, contemplam uma diversidade importante de filmes, sobretudo, se considerarmos somente os trabalhos realizados em película, no primeiro caso, assim como filmes mais recentes, em formatos digitais, no segundo. Uma quantidade considerável de títulos ainda escapou de todas essas referências supracitadas e, para solucionar essa questão, contamos com a


ajuda fundamental dos realizadores, pesquisadores, cineastas e colaboradores, incluindo a consultoria do professor, pesquisador e realizador de cinema, Erly Vieira Jr. A importância desta pesquisa é embasada no sucesso de alguns projetos gerenciados pelo Sesc/ES, que resultaram em estimativas bastante importantes, entre os quais merece destaque o projeto O cinema vai à escola, desenvolvido ao longo de sete anos, via parceria Sesc/ES e Secretaria de Estado da Educação (Sedu), em que a equipe ia a campo, em mais de 100 escolas públicas do Estado, em cerca de 20 cidades. Essa iniciativa concluiu que, mesmo em 2008, já era possível realizar oficinas de produção de vídeo com os alunos do ensino médio. Naquele ano, aproximadamente 30% dos estudantes possuíam um aparelho de telefone celular com câmera de vídeo e praticamente todas as escolas já tinham um laboratório de informática com softwares básicos de edição. Este dado permitiu que se formassem grupos e que fossem produzidos vídeos com o equipamento de que os alunos já dispunham. Em um período de seis anos, a percentagem de estudantes que possuíam um aparelho de telefone celular chegou a 90%, dos quais aproximadamente 30% utilizava esse equipamento para produzir vídeos. Os jovens que atualmente estão cursando o ensino médio utilizam tecnologia com mais desenvoltura e naturalidade do que seus pares de qualquer outra época, ou mesmo os próprios professores. Segundo pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo para o Sesc, em 2013, a cada 100 pessoas que possuem celular, 17 delas usam mais o aparelho para fotografar ou filmar do que para realizar ligações telefônicas. O que esses dados anunciam é uma mudança de hábitos interessante, que comprova a importância da imagem no cotidiano e a inclusão do vídeo no dia a dia do jovem contemporâneo, como linguagem de expressão. Soma-se a essas informações o relevante fato de que o número de produções realizadas no Espírito Santo, do ano 2000 até hoje, é três vezes maior do que todas as produções de 1920 até 2000, somadas. A difusão, por sua vez, ainda é um gargalo. Desde as décadas de 1980 e 1990 as salas de cinema sofreram severas baixas, ficando com um número muito inferior ao alcançado nas décadas anteriores, situação causada, em grande parte, pela introdução dos novos sistemas de videocassete doméstico para ver filmes alugados em locadoras de vídeo, entre outros fatores. O município de Vitória, que havia tido cinemas em vários de seus bairros, em meados de 1990 não tinha nem metade do que tivera outrora. Entretanto, de 1995 até 2008, no Brasil, o número de salas de exibição cinematográfica praticamente dobrou, passando de 1.033 para 2.063. Em 2007, o Brasil teve o 14º maior público de cinema no mundo e a 15ª maior arrecadação de bilheteria, segundo dados do Instituto Gênesis, publicados em 2008. Em 1994, após uma das maiores baixas da história no que diz respeito ao cinema brasileiro, as verbas públicas destinadas à cultura aumentaram consideravelmente no País. O impacto disso foi percebido no número de produções de cinema desde então. Segundo pesquisa publicada pelo Instituto Jones dos Santos Neves, a participação nos gastos públicos executados com cultura no Brasil demonstra que, entre 2004 e 2009, os municípios foram


responsáveis por aproximadamente 50% do investimento, a união por 15% e os Estados por 35%. Ainda que deste total, mais de 50% seja destinado à difusão cultural, em relação ao cinema, boa parte da produção que de fato cresceu bastante, não chega às salas de exibição comerciais. Embora Vitória seja umas das cidades com maior potencial exibidor do País, dificilmente o cidadão comum irá se deparar com uma obra capixaba em um dos cinemas espalhados pela cidade. A capital do Espírito Santo tem a segunda maior média de salas de cinema por habitantes no país, com, aproximadamente, uma sala para cada 18 mil habitantes. Vitória está no topo do ranking dos melhores mercados em ingresso de cinema per capita no Brasil, com 2.8 ingressos por habitante, segundo dados publicados pelo Instituto Gênesis, em 2008. Segundo pesquisa do Sesc, a cada 100 pessoas que vão ao cinema no Brasil, 14 delas dizem nunca ter visto sequer um filme brasileiro, 45 preferem filmes americanos, 33 preferem filmes brasileiros e 23 são indiferentes. Em 2014, o filme norte-americano Jogos Vorazes: Esperança – Parte 1 (Frances Lawrence, 2014) ocupou no fim de semana de sua estreia no Brasil 50% das salas de cinema de todo país. Uma ação predatória contra o cinema nacional. É próprio do fazer cultural do Sesc ser uma instituição propositiva, que considera a brasilidade como um dos critérios mais importantes ao compor sua programação, zelando pela cultura nacional, como item fundamental da soberania de um povo, como elemento básico da formação da autoestima e da cidadania de seus indivíduos, acreditando que a cultura gera melhoria de vida e uma sociedade mais saudável para todos. Com esta publicação, o Sesc realiza uma pequena homenagem a todos os artistas que, desde Ludovico Persici, com uma câmera concebida e produzida com suas próprias mãos, na década de 1920, realizou a primeira filmagem em solo capixaba até os mais jovens realizadores que, com seus recursos digitais, constroem a história desta linguagem no Espirito Santo. Este livro traz à luz pesquisas que incluíram mais de 400 filmes, bem como o texto especializado de Erly Vieira Junior, que, de forma sábia e criteriosa, conta detalhes fundamentais para o maior entendimento acerca da história do cinema capixaba. Esta publicação não intenciona concluir o debate sobre a trajetória do audiovisual capixaba, pois sabe-se que nada termina aqui. Lançamos esta obra para os que virão, e para estes deixaremos a responsabilidade de compreender e contar o que está por vir. Centro Cultural Sesc Glória



Sumário 1926 — 1965, 20 23 ∙ Pioneiros da atividade cinematográfica no Espírito Santo

E, então, um trem resolve partir da estação..., 23 Em meio à invisibilidade, as primeiras imagens cinematográficas de Vitória, 28

Imagens do Espírito Santo durante o Estado Novo, 31 A era de ouro das salas de cinema no Espírito Santo, 34 Júlio Monjardim e o Jornal da tela, 37

39 ∙ Catalogação 1926 — 1955

1966 — 1979, 42 45 ∙ Da cinefilia à filmografia: sonhos e incertezas de uma geração

O ciclo de cinema amador nos anos 1960, 45 A resistência contracultural dos anos 1970 e o cinema ficcional, 50 Cinema documentário e cineclubismo: política e identidade no final da década de 1970, 55

59 ∙ Catalogação 1966 — 1979

1980 — 1999, 65 67 ∙ Da chegada do vídeo à retomada do cinema capixaba

Onde está aquele povo barulhento?, 67 Do Balão ao Éden: a ascensão de uma nova geração, 69 Ficção e documentário: outros olhares, 72 E a década chega ao fim..., 73 A estagnação da era Collor, 74 A retomada do curta-metragem, 76 Videoarte e videoperformance, 79 Documentário, 82 Alternativas para a formação de novos realizadores, 82

85 ∙ Catalogação 1980 — 1999


2000 — 2009, 92 95 ∙ Para o alto e avante: expansão e diversidade do cenário

audiovisual capixaba

O panorama pós-retomada, 95 A ampliação do circuito de festivais, 97 Novas salas de cinema e o renascimento do cineclubismo, 100 A geração da virada do século, 103 A produção dos veteranos, 107 Cinema de bordas, 109 A animação conquista espaço, 109 Uma nova geração de documentaristas, 111 A produção universitária, 113 Os primeiros coletivos juvenis, 114 Cinema e vídeo experimental, 116 Mangue negro e a renovação do cinema de horror brasileiro, 117

120 ∙ Catalogação 2000 — 2009

2010 — 2015, 137 139 ∙ Aqui, agora e daqui em diante

O boom dos longas digitais, 139 Novas perspectivas para o curta-metragem, 142 Um cinema jovem: os coletivos culturais e o curso de cinema da Ufes, 144 Novos caminhos para o cinema ficcional, 148 Engajamentos e tensões no cinema do real, 150 Documentários sobre esportes, 152 Animações e filmes experimentais, 152 A ascensão das webséries, 155

157 ∙ Catalogação 2010 — 2015

Referências Bibliográficas, 177



1926 1926 — 19 — 19


6 965 1965



Pioneiros da atividade cinematográfica no Espírito Santo

E, então, um trem resolve partir da estação... Década de 1920, começo do século passado. Um maquinista desce da locomotiva, em meio à fumaça. Outro homem, agachado em frente ao trem, aparentemente posando para a câmera, é retirado do meio dos trilhos por ele. Na cena seguinte, em que um homem de chapéu caminha em direção à câmera, o letreiro ao fundo revela onde estamos: na estação Coutinho, integrante da Estrada de Ferro Leopoldina, no Ramal Sul do Espírito Santo. É nessa estação que os passageiros vindos da cidade de Castelo costumavam fazer baldeação para o trem que os levaria a Cachoeiro de Itapemirim e Vitória. A pequena fila de passageiros esperando para embarcar é mostrada em um take panorâmico, tremido e inquieto. Por volta de 20 segundos de filme, a câmera fixa mostra a partida do trem de ferro, para, em seguida, posicionar-se à janela de um dos seus vagões e nos conduzir por um passeio de 19 minutos, não somente pelo sul do Estado, mas também pelos pequenos eventos cotidianos vivenciados por uma família da região em viagem de férias, quase um século atrás. Essas são as primeiras imagens de Cenas de família, um conjunto de tomadas silenciosas filmadas por Ludovico Persici, entre 1926 e 1929, nas cidades de Castelo, Cachoeiro de Itapemirim e na praia de Marataízes. Trata-se do mais antigo conjunto de imagens em movimento produzidas no Espírito Santo, que conseguiram chegar aos nossos dias. Possivelmente, estão aí os primeiros planos filmados por Ludovico em seu Apparelho Guarany, já que as Cenas de família começaram a ser produzidas no mesmo ano em que ele finalizou seu invento. Outro filme desse realizador que sobreviveu à posteridade, um faroeste denominado Bang Bang (rodado em Conceição do Castelo e cujas imagens hoje em dia encontram-se quase totalmente desaparecidas), também data de 1926. Na falta de registros mais exatos, não é possível afirmar com certeza qual dos dois filmes começou a ser realizado primeiro. Ainda sobre Cenas de família, também não se sabe ao certo qual era o nome original do filme, nem se era um curta-metragem finalizado ou o fragmento de um trabalho de maior fôlego. No entanto, a importância do material se justifica por uma série de fatores – em especial por ter sido produzido por aquele que talvez tenha sido o único cineasta capixaba da primeira metade do século XX, além de um notável e aperfeiçoador de equipamentos cinematográficos. Filho de um relojoeiro, do qual herdou a profissão, Ludovico Persici nasceu em Alfredo Chaves, sul do Espírito Santo, em 1899. Desde criança,

1926 — 1965

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Cenas de FamĂ­lia

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manifestava interesse por montar e desmontar equipamentos mecânicos, com o objetivo de entender o seu funcionamento – e, por vezes, executava suas próprias invenções. Por volta de 1908, a chegada de um exibidor itinerante à cidade proporcionou ao menino uma experiência transformadora: fascinado pelo cinematógrafo, ele pede ao forasteiro alemão que lhe explique seu funcionamento, e dele ganha, além da explicação, um pedaço de filme. Nos anos seguintes, enquanto residia em várias cidades do sul do Estado, exercendo os ofícios de relojoeiro e ourives, persistiu na obsessão de construir seu próprio equipamento audiovisual. O exercício da função de projecionista no único cinema da cidade de Castelo, já nos anos 1920, continuou alimentando esse desejo e, depois de longas madrugadas de trabalho, eis que em 1926, a partir de latas de manteiga e lentes que ele próprio construiu, Persici finaliza o Apparelho Guarany – uma máquina capaz de filmar, projetar, copiar e medir o filme, além de tocar uma campainha anunciando o final da projeção. No ano seguinte, ele obtém, no Rio de Janeiro, a patente do seu invento, que era revolucionário exatamente por reunir, em um único aparato, as funções de tantas máquinas diferentes. Todavia, mesmo com um certo apoio da imprensa da época, não conseguiu obter patrocinadores para produzir sua criação em larga escala. Entre os fatores que explicam o desinteresse em apoiar a empreitada, tanto da parte do poder público quanto da iniciativa privada, encontram-se a fragilidade da indústria nacional no período e, especialmente, do campo cinematográfico, que ainda não havia se estabelecido como indústria, em um mercado dominado pela maioria esmagadora de produções norte-americanas. Após um período em Belo Horizonte, Persici retorna ao Espírito Santo, então sem a máquina, em 1935. Nunca se soube do paradeiro desta, e o falecimento precoce de seu inventor, vitimado pela tuberculose em 1944, enterrou de vez a possibilidade de encontrá-la. A monografia da jornalista Patrícia Bravin, Ludovico Persici e a origem do cinema no Espírito Santo (2006), traz um estudo biográfico mais aprofundado sobre o cineasta. Nos anos posteriores à invenção do Apparelho Guarany, Persici o utilizou para realizar seus próprios filmes, muitas vezes exibidos em um galpão atrás de sua residência, em Castelo, que funcionava como um cinema improvisado. Não se pode afirmar exatamente quantas obras foram produzidas, já que a maior parte desse material se perdeu, assim como a maioria da produção do cinema silencioso ao redor do planeta, em uma época em que ainda não havia cinematecas e outros órgãos destinados à preservação de filmes e documentos históricos da área. Durante muito tempo, acreditou-se que seu único filme conhecido era Bang Bang, que teve alguns pequenos trechos incluídos no documentário A máquina e o sonho (1974), realizado pelo crítico e cineasta carioca Alex Viany, dedicado a retratar a vida e obra do cineasta e inventor capixaba. Se o nome de Ludovico havia caído no ostracismo com o passar dos anos, o curta de Viany não só reacendeu o interesse pela obra deste criador, como também trouxe uma série de informações bastante relevantes, como o fato de Bang Bang talvez ter sido o primeiro faroeste realizado no Brasil, muito antes do

1926 — 1965

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ciclo de filmes do gênero realizados nos anos 1950-1960 e iniciado com o paulista Da terra nasce o ódio (1954), de Antoninho Hossri. No livro Memórias de um médico da roça (1965), Ciro Vieira da Cunha afirma que Ludovico foi o roteirista, fotógrafo (sua habilidade com a fotografia foi elogiada por Viany) e diretor do filme, ensinando aos atores, em sua maioria trabalhadores rurais e comerciantes de Conceição do Castelo, a cair sobre as mesas, dar socos e pontapés. A descoberta de Cenas de família, há pouco mais de dez anos, deu-se de forma quase acidental: o pesquisador José Eugênio Vieira estava trabalhando em um livro sobre a história de Castelo, quando, em meio a uma entrevista, soube da existência da obra, cuja única cópia encontrava-se na Bahia. Como esse material ficou durante anos em uma sacola plástica, cerca de três minutos dele foram perdidos por conta de mofos e fungos. A partir do que restou, foi gerado um internegativo, que possibilitou uma cópia no formato 16 mm, posteriormente digitalizada, num processo que durou cerca de dois anos e teve a supervisão da cineasta e pesquisadora capixaba Margarete Taqueti. Segundo ela, o material não possuía um nome, e foi batizado como Cenas de família pelos técnicos do laboratório que realizou o restauro. Em agosto de 2008, aconteceu sua primeira exibição pública, num evento realizado no Palácio Anchieta. Atualmente, existem cópias digitais do material em posse do Arquivo Público Estadual (APE-ES), bem como disponíveis no YouTube, onde está acessível gratuitamente a qualquer pessoa. O filme divide-se em duas partes: a primeira, que dura cerca de 14 minutos, com os registros de viagem, incluindo imagens no litoral e na cidade grande; e a segunda parte, anunciada por um letreiro: “Panoramas da Fazenda Exame, propriedade do Sr. José Mussi”. Principalmente na primeira sessão, vemos o registro de vários flagrantes cotidianos: pessoas dançam, reúnem-se para ouvir uma mulher tocando concertina, mergulham no mar com seus maiôs e chapéus da época, riem, leem jornais. Alguns homens, mais jovens, trocam socos de brincadeira e abraços carinhosos, contrastando com a formalidade do conjunto paletó e gravata. Vemos também as casas das pequenas cidades, o interior das lojas, uma estrada em construção (possivelmente a que liga Castelo a Muniz Freire) e até mesmo alguns carros e um bonde nas ruas de uma cidade grande, até hoje não identificada. Seria Cachoeiro do Itapemirim? Ou quem sabe Vitória, destino final da linha do trem? Por vezes, essas pessoas parecem desfilar e, em outros momentos, chegam a olhar para a lente e interagir com a câmera, como se já estivessem familiarizadas há muito tempo com a presença dela em suas vidas. Alternam-se poses fotográficas com momentos mais espontâneos – e, às vezes as duas coisas ao mesmo tempo, como a família que posa como se fosse para uma fotografia, enquanto as crianças menores refestelam-se com suas cadeiras de balanço, roubando a atenção do espectador por alguns instantes. Essas imagens, ao menos na primeira parte, são entremeadas com tomadas da paisagem vista pelo trem em movimento, como se nos indicasse o percurso da viagem. O fato de que o conjunto das primeiras imagens cinematográficas realizadas no Espírito Santo registram um trem partindo da estação nos remete à temática presente nas primeiras imagens dos irmãos

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Lumière, inventores do cinematógrafo, em seu A chegada do trem na estação (1895), considerado por muitos o primeiro filme de todos os tempos1. Claro que há toda uma diferença entre o contexto do primeiro cinema dos Lumière e aquele em que Persici faz suas filmagens, três décadas depois. Afinal, estamos tratando de um realizador e de atores/figurantes que já eram espectadores do modo narrativo clássico, hegemônico a partir 1915, graças ao cinema de Hollywood. Todavia, se não é possível falar exatamente em “primeiro cinema” ao analisar o Cenas de família, pode-se enquadrar as imagens do capixaba em um contexto de filme de registro, que muito dialoga com uma certa vertente documentarista ainda bastante popular no início do século XX. Entre os primeiros filmes realizados, ainda no século XIX, há uma fartura de eventos cotidianos e vistas de pontos turísticos dos diversos cantos do planeta – como podem confirmar as primeiras imagens feitas no Brasil, ainda em 1897, por José Roberto da Cunha Salles e Vittorio di Maio, no Estado do Rio de Janeiro2. Esses filmes eram recebidos pelo público do final do século XIX com grande interesse, exatamente por dialogarem com a experiência nascente das metrópoles modernas, em termos de experiência sensória, emocional e narrativa. O cinema surge em meio a todo um con1  Há uma série de controvérsias sobre qual seria o primeiro filme de todos os tempos. Já em 1888, o francês Louis Le Prince filmou, em Leeds, no Reino Unido, 52 fotogramas (cerca de 2 segundos) em papel fotográfico, em seu Roundhay Garden Scene, que não chegou a ser exibido publicamente na época. Em 1890, William Kennedy Dickson, funcionário de Thomas Edison, começou a realizar pequenos filmes experimentais, com seu cinetógrafo, que daria origem, no ano seguinte, ao cinetoscópio, também de Edison. Ainda em 1891, começam a ser produzidos os primeiros filmes de curta duração para o cinetoscópio, que permitia ao espectador ver as imagens através de um pequeno visor. O cinematógrafo dos irmãos Lumière dá um passo adiante, ao incorporar a ideia da projeção de imagens ampliadas, em uma sala escura − cuja única fonte de luz seria a do projetor − o que torna a experiência da exibição coletiva, e não mais individual, como no cinetoscópio. O dispositivo proposto pelos Lumière, que acabou se consolidando como o formato hegemônico do cinema, teve sua primeira sessão pública em 28 de dezembro de 1895. Todavia, ainda há outras controvérsias: a de que o inventor Charles Francis Jenkins havia inventado um projetor antes, o phantoscope, cuja primeira exibição pública teria sido realizada em junho de 1894; e a de que A chegada do trem na estação não teria sido exibido na primeira sessão de cinema, uma vez que não consta do programa de dez filmes projetados naquela noite, mas sim, teria sido apresentado ao público em janeiro de 1896. De qualquer modo, o impacto do filme junto aos espectadores ajuda a estabelecer seu lugar no imaginário geral como o “primeiro filme de todos os tempos”. Já a primeira sessão do cinematógrafo em terras brasileiras aconteceria em 8 de julho de 1896, por iniciativa do exibidor belga Henri Paillie, que na ocasião projetou oito filmetes com vistas de cidades europeias, numa sala alugada na Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro. 2 Durante muito tempo acreditou-se que as primeiras filmagens em solo brasileiro ocorreram por iniciativa do cinegrafista italiano Affonso Segreto, em junho de 1898, ao registrar de um navio algumas vistas da Baía de Guanabara. Affonso era irmão de Paschoal Segreto, dono da primeira sala de exibição cinematográfica no Rio de Janeiro. Estudos recentes indicam que, na verdade, um conjunto de filmes realizados por Cunha Salles e Vittorio di Maio haviam sido exibidos em Petrópolis, um ano antes – mais precisamente, no dia 1º de Maio de 1897, conforme registra o anúncio na edição daquele dia da Gazeta de Petrópolis. Entre eles, está Ancoradouro de pescadores na Baía de Guanabara, do qual estão preservados, no acervo do Arquivo Nacional, 24 fotogramas, o que faz dele o filme brasileiro mais antigo a ter chegado aos dias de hoje.

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junto de atrações da virada do século, e sua forma de criar relatos sobre o mundo bebia diretamente de outras formas modernas de entretenimento populares do período, como o vaudeville, o jornalismo popular e até mesmo as estratégias cenográficas e narrativas que buscavam envolver o público nos grandes panoramas e nos museus de folclore e de estátuas de cera. Em meio a todas essas atrações, os filmes de registros de viagens faziam imenso sucesso, chegando a constituir um gênero próprio e bastante popular: o travelogue. Contudo, a partir do final da década de 1910, o interesse pelas paisagens exóticas se esgotaria, e o foco dos filmes de viagem passa a ser a dimensão humana, para os hábitos e costumes das pessoas. E esse interesse pelo cotidiano resultaria numa farta produção de “filmes de família”, como o passeio de trem com o qual Persici inauguraria a filmografia produzida no Espírito Santo.

Em meio à invisibilidade, as primeiras imagens cinematográficas de Vitória Se na década de 1920 o trem de Ludovico Persici parecia anunciar um futuro cinematográfico promissor, a década de 1930, no Espírito Santo, parece esquecer o assunto. Nesse período, praticamente não há produção audiovisual no Estado, ao contrário de outras regiões brasileiras, que viram florescer, durante as primeiras décadas do século XX, uma série de ciclos regionais, com ênfase em filmes ficcionais – com destaques para as cidades de Pelotas (1913-14) e Porto Alegre (1925-33), no Rio Grande do Sul; Recife (1923-31), em Pernambuco; e Cataguases (1925-29), em Minas Gerais, que revelou ao país o talentoso cineasta Humberto Mauro. Esses ciclos, apesar da curta duração, proporcionaram momentos importantes para a consolidação de uma filmografia nacional, antes mesmo das primeiras tentativas de se estabelecer uma indústria cinematográfica no país, a partir da criação da Cinédia, em 1929. Antes disso, o cinema nacional havia tido um breve e intenso período de sucesso comercial: trata-se da Belle Époque do cinema brasileiro, ocorrida no Rio de Janeiro, entre 1907 e 1911, quando centenas de filmes “naturais” (documentários) e “posados” (ficcionais) – para usar a nomenclatura popularizada na época – foram produzidos. Naquele momento, ainda não havia interesse de distribuidoras estrangeiras no mercado brasileiro, o que permitiu uma aliança entre produtores e exibidores locais, de modo que o cinema nacional ocupasse a maioria esmagadora das telas. Contudo, a partir da década de 1910, começaram a se instalar no Brasil distribuidoras estrangeiras, oferecendo o melhor do cinema europeu e norte-americano de então. Este último, favorecido pela interrupção da produção europeia durante a Primeira Guerra Mundial, acabou se tornando hegemônico a partir do final da década, como parte de um projeto ambicioso de Hollywood para dominar os diversos mercados estrangeiros com sua ampla oferta de filmes. Segundo Rubens Machado, no texto “O cinema paulistano e os ciclos regionais Sul-Sudeste (1912-1933)”, a participação norte-americana no mercado cinematográfico brasileiro era de 71% já em

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1921, atingindo 86% em 1929. Sem muito espaço nas telas (em torno de 2% do mercado), a produção nacional minguava nesse período, concentrandose basicamente nesses ciclos regionais esporádicos. A chegada do cinema sonoro (surgido em 1927) ao Brasil, no começo dos anos 1930, anima alguns produtores a tentarem implantar um modelo industrial, ainda que bastante rudimentar, no contexto nacional. A quase totalidade da produção nacional estava, nesse período, concentrada no Rio de Janeiro. Adhemar Gonzaga funda a Cinédia, cujo primeiro filme, Lábios sem beijos (1930), seria dirigido por Humberto Mauro. Pouco adiante, em 1933, Carmem Santos cria a Brasil Vox Filmes, que seria rebatizada dois anos depois como Brasil Vita Filmes. Embora conseguissem obter sucesso com alguns de seus filmes, como as comédias musicais ancoradas em cantores famosos, como Carmem Miranda, Francisco Alves e Ary Barroso, estrelas de Alô, Alô, Brasil, grande sucesso em 1935, essas iniciativas, contudo, não durariam muito tempo. A Cinédia, aliás, seria uma exceção entre as produtoras, conseguindo se manter por algumas décadas, com ocasionais sucessos de bilheteria, além de esporádicas aberturas a filmes mais autorais, como os clássicos Ganga bruta (1933), de Humberto Mauro, e Limite (1931), de Mário Peixoto, representante solitário do cinema de vanguarda no Brasil. O filme de Peixoto, um melodrama experimental mudo, obteve pouquíssima repercussão em seu lançamento, e somente iria adquirir o status de obra-prima a partir do final dos anos 1970, quando seria relançado e apresentado às novas gerações, após um processo de restauro que durou quase vinte anos. Na ausência de um ciclo regional, a filmografia capixaba praticamente inexistiu nos anos 1930. Talvez a única exceção sejam as imagens realizadas em 1938 por Luiz Gonzáles Batan3, oficialmente consideradas as mais antigas produzidas na cidade de Vitória. Elas se filiam totalmente ao subgênero dos “filmes de família”: trata-se de um conjunto de dez minutos de cenas, mudas e em preto e branco, que reúnem momentos cotidianos e tomadas de locais pitorescos de Vitória, como o Parque Moscoso, o porto de Vitória, um campo de futebol e crianças brincando na praça Costa Pereira4. Batan vendia equipamentos hospitalares, como representante da Casa Lohner. Um dia, a empresa enviou-lhe uma câmera 16 mm para que revendesse a médicos interessados, que ele acabou utilizando para registrar essas imagens. Quase três décadas depois, elas foram exibidas publicamente sob o nome de Vitória, 1938, por iniciativa de seu filho mais novo, o cineasta Ramón Alvarado, que 3 Cf. “Para quem tem olhos para ver: O cinema no Espírito Santo” (2002), de Luiz Tadeu Teixeira. 4 Muito provavelmente, devem existir outros registros cinematográficos realizados por fotógrafos profissionais no Espírito Santo nesse período, no âmbito dos “filmes de família” e de registro, especialmente por fotógrafos profissionais, que se aventuraram com o equipamento de 16 mm. Há relatos, por exemplo, de latas de filmes com imagens realizadas em Vitória e Campo Grande (bairro do município de Cariacica) há mais de 60 anos, por Alfredo Mazzei, um dos mais importantes nomes da fotografia capixaba das décadas de 1930, 1940 e 1950. Esse material está em posse de seus herdeiros, que atualmente buscam recursos para sua catalogação e digitalização. Todavia, somente as imagens captadas por Batan vieram efetivamente a conhecimento público.

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Luiz Gonzรกles Batan (na primeira imagem) e duas cenas de seu filme

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viria a ser um dos principais nomes do ciclo cinematográfico capixaba dos anos 1960. E são essas imagens silenciosas que relatam aos espectadores do presente um pouco das situações, dos gestos e dos hábitos vividos naquele período de invisibilidade quase total para o cinema capixaba.

Imagens do Espírito Santo durante o Estado Novo As diversas tentativas de se implantar uma indústria cinematográfica brasileira, entre as décadas de 1930 e 1950, esbarraram em uma série de fatores, envolvendo distribuição e exibição de filmes, que favoreciam o produto estrangeiro (majoritariamente hollywoodiano), em detrimento do equivalente nacional. Repetia-se no Brasil uma situação similar à de inúmeros outros países que sofriam a pressão norte-americana diante de um de seus mais importantes produtos de exportação. Esse processo, ocorrido em escala mundial, no Brasil foi ampliado pela liberação de taxas alfandegárias para filmes estrangeiros, em troca da importação de produtos agropecuários brasileiros pelos Estados Unidos. Cada vez mais, salas de cinema brasileiras mantinham uma programação exclusivamente norte-americana, atendendo às demandas de um público amplo, que se acostumava a ler legendas. “Pra que testar o potencial de bilheteria de um filme nacional, se Hollywood oferece diversas opções de sucesso certo, estreladas por seus mais cobiçados astros e estrelas?”, perguntavam-se os principais exibidores locais. As políticas de “boa vizinhança” praticadas durante a Segunda Guerra Mundial (as mesmas que trouxeram Orson Welles para rodar um filme em terras brasileiras, que permaneceria inacabado) escondiam uma série de intensas pressões econômicas exercidas pelos interesses norte-americanos sobre o Estado Novo de Vargas, que nada lembravam a cordialidade e cumplicidade da amizade entre Pato Donald e Zé Carioca nos filmes da Disney, Alô, amigos (1942) e Você já foi à Bahia? (1944). Ah, se os quindins de Iaiá pudessem falar, quanta coisa eles não teriam pra contar... Ainda assim, a década de 1940, para o cinema nacional, é marcada por duas tentativas de se criar grandes estúdios legitimamente brasileiros, que conseguissem de alguma forma romper o monopólio estrangeiro na distribuição e exibição de filmes, ambas no eixo Rio-São Paulo. Em 1941, é inaugurada a Atlântida, no Rio de Janeiro, que ficaria célebre por suas chanchadas de grande apelo popular, gerando um star-system próprio, ancorado em comediantes como Oscarito, Grande Otelo e Dercy Gonçalves. Em 1949, é a vez da Vera Cruz, no Estado de São Paulo – mais precisamente, em São Bernardo do Campo –, que centrava-se em dramas superproduzidos, com ocasionais comédias, como os três primeiros filmes estrelados por Mazzaropi. Já a Cinédia, inaugurada na década anterior, emplacaria, em 1946, um estrondoso sucesso: O ébrio, dirigido por Gilda de Abreu e estrelado pelo cantor Vicente Celestino. O filme ficaria mais de três décadas em cartaz, uma sobrevida comercial garantida pelas então numerosas salas de cinema no interior do país, e atingiria a impressionante marca de oito milhões de

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espectadores. Com o sucesso das chanchadas da Atlântida e de filmes como O ébrio, as décadas de 1940 e 1950 seriam, depois da Belle Époque do cinema nacional ocorrida em 1907-1911, o segundo período na história do cinema brasileiro em que a produção nacional conquistava o grande público (outros dois momentos importantes seriam o boom das pornochanchadas, nos anos 1970, e a chegada da Globo Filmes, a partir de 2002). Por outro lado, as medidas tomadas pelo governo federal para tentar proteger o cinema nacional, durante esse período, foram, em sua maioria, pífias – uma rara exceção foi o decreto de 1932 que obrigava as sessões de filmes estrangeiros a exibirem um curta-metragem nacional como complemento, geralmente um cinejornal. Aliás, sem a possibilidade de ciclos regionais como os das décadas anteriores, a produção na maioria dos Estados brasileiros restringia-se aos cinejornais e eventuais documentários, muitas vezes produzidos por órgãos públicos, como o Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE), cuja produção de documentários era capitaneada pelo pioneiro Humberto Mauro, até então famoso por seus melodramas produzidos no Ciclo de Cataguases e na Cinédia. Humberto Mauro realizaria 357 filmes para o INCE, sendo 239 deles produzidos entre 1936, ano de criação do órgão, e 1947. Apenas um deles, contudo, enfocaria o Espírito Santo, ainda que rapidamente: o curta-metragem O ensino industrial no Brasil – M.E.S. (1945), que mostrava algumas imagens do prédio da então denominada Escola Técnica de Vitória. Somente em 1942 seriam realizados dois documentários sonoros enfocando temas capixabas, por meio do Gabinete de Cinema do Serviço de Informação Agrícola (SIA), do Ministério da Agricultura, que tinha sede no Rio de Janeiro. Trata-se dos curtas-metragens Vitória, a capital do Estado do Espírito Santo (N. 183) e Aspectos turísticos da capital do Estado do Espírito Santo (N. 184), ambos disponíveis no YouTube para o público em geral. Segundo a Enciclopédia do cinema brasileiro (2000), este órgão foi um dos principais centros de produção de documentários no Brasil durante o governo de Getulio Vargas, ao lado do INCE e do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda). Sob o comando de Lafayette Cunha (que assina a fotografia de ambos os filmes) e Pedro Lima, o SIA realizou diversos filmes em todo o país, retratando não só as atividades do ministério, mas também aspectos da agricultura, pecuária, expedições científicas e informações turísticas – como no caso dos filmes citados. Esses documentários, que fazem uso de narração em off, detalhando informações históricas e geográficas, apresentam, em um tom entre o jornalístico e o didático, alguns dos principais pontos da Grande Vitória: o Convento da Penha, a Fortaleza de Piratininga (atual sede do 38º. Batalhão de Infantaria do Exército), a então recém-construída Estrada do Contorno (atual Rodovia Serafim Derenzi), o centro de Vitória, a antiga pista de terra batida do Campo de Aviação de Vitória e até mesmo o pouso de um hidroavião, em Santo Antônio. Esquecidos durante décadas, tanto esses dois curtas-metragens de Lafayette Cunha quanto o de Humberto Mauro não são mencionados em nenhum outro texto que conte a história do cinema local. Nem são propria-

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Aspectos turísticos da capital do ES

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mente capixabas, já que surgem como parte de uma iniciativa do governo federal para estimular o turismo no Estado. Todavia, são filmes bastante populares na internet, frequentemente compartilhados em sites, redes sociais e comunidades frequentados não necessariamente por cinéfilos, mas sim por interessados em imagens antigas (fotografias, vídeos) do Espírito Santo. E é bastante revelador que sejam as únicas imagens rodadas no Estado, nesse período, atualmente disponíveis para consulta: em uma época em que os acontecimentos culturais locais mais relevantes incluíam concursos para a eleição do “Príncipe dos Poetas Capixabas” (organizado pelo jornal A Tribuna e vencido em 1941 por Narciso Araújo), a modernidade que batia às portas dos grandes centros urbanos nacionais ainda teria que esperar um pouco mais para poder ecoar em um Estado cuja capital ainda era um recanto pitoresco e bucólico, com pouco mais de 45 mil habitantes. Ou no máximo, poderia ser testemunhada à distância, pelas telas de cinema, em algum telejornal ou chanchada da Atlântida.

A era de ouro das salas de cinema no Espírito Santo Em 1950, a população da cidade de Vitória estava na casa dos 50 mil habitantes, pouco mais que o dobro de trinta anos antes. Embora o pequeno porte da cidade à época possa ser um argumento para justificar a quase inexistência de produções cinematográficas até meados da década de 1960 (com exceção para os cinejornais a partir do final dos anos 1940), nesse período houve grande efervescência em seu parque exibidor, o que foi essencial na formação do público de cinema capixaba. A história das salas de exibição de rua na Grande Vitória pode ser dividida em três momentos principais.5 No primeiro momento, ocorrido nos primórdios do século XX, predominavam os exibidores itinerantes e improvisados (há registros de ocasionais sessões no Teatro Melpômene em 1901), em uma cidade ainda em formação, bastante carente de obras de infraestrutura e saneamento. Entre as exceções do período, está o Éden Cinema, o primeiro cinematógrafo permanente de Vitória, inaugurado em 1907, que funcionava dentro do Éden Parque − um complexo que incluía ainda jardim, bar, bilhar e apresentações musicais. Nesse período, as sessões que, em sua maioria, apresentavam documentários silenciosos, eram acompanhadas por efeitos sonoros. O sonoplasta ficava atrás da tela e fazia uso de vários materiais reunidos em uma espécie de “mesa de ruídos”, simulando, por exemplo, trovoadas ao jogar grãos de arroz em uma placa de zinco. No segundo momento, entre as décadas de 1930 e 1960, aumenta significativamente o número das salas de cinema, então vistas como símbolo de modernização e urbanismo. Esse status era conferido principalmente às salas do centro de Vitória, onde se localizava a sede administrativa e o coração 5 Sobre a história das salas de exibição de rua na Grande Vitória, ver: No escurinho do cinema (2008), do historiador André Malverdes, e História do cinema capixaba (1988), de Fernando Tatagiba.

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1

2

1  Cine 2  Cine 3  Cine

3

Teatro Glória, Vitória (ES) Penha, Marilândia (ES) Santa Cecília, Vitória (ES)

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do comércio da cidade, bem como as residências mais nobres, em especial no entorno do Parque Moscoso. Mas também poderia ser estendido aos cinemas de bairro − Jucutuquara, Lourdes, Campo Grande, Jardim América, Paul, Ibes, Aribiri, São Torquato e centro de Vila Velha −, e até mesmo aos das cidades de interior, cujo funcionamento era sinônimo da autonomia e importância dessas regiões. Foi um período de grande fluxo de público, no qual o espectador médio comparecia ao cinema pelo menos duas vezes por mês – em 1955, a Grande Vitória chegou a ter 13 salas em funcionamento ao mesmo tempo (onze anos antes, eram somente 14 salas em todo o Estado). Já o terceiro momento, que ocorre a partir do final dos anos 1970, seria o de retração do mercado, com o fechamento de muitos cinemas de rua (somente entre 1980 e 1983, foram nove), e diminuição radical do público, que a essa época migrava em massa para outras alternativas, como a televisão e, a partir dos anos 1980, o mercado de videolocadoras. No período áureo, algumas salas chegavam a ter capacidade para mais de mil espectadores: eram os chamados “palácios cinematográficos”.6 Entre os primeiros estão: o Cine Central, que funcionou entre 1921 e 1935; o Politeama, inaugurado em 1926, um grande barracão na avenida República, célebre por sua “sessão colosso”, cujas filas se estendiam por toda a rua; e o Teatro Carlos Gomes, que foi o primeiro cinema a exibir filmes falados da cidade, a partir de 1929. Um dos mais imponentes era o Cine Teatro Glória, inaugurado em 1932, com 1176 lugares divididos entre a plateia, os camarotes e a galeria. O prédio, um marco arquitetônico da época, foi erguido no mesmo terreno onde outrora funcionara o Éden Parque e no qual atualmente funciona o Centro Cultural Sesc Glória. Já na década de 1950, outros palácios foram inaugurados, como o Cine São Luiz, em 1951, o segundo cinema no Brasil a ter um sistema de ar condicionado – um luxo na época. A sessão de abertura exibiu a chanchada Aviso aos navegantes (1950) e teve a presença de parte do elenco, que reunia algumas das principais estrelas do cinema brasileiro de então, como Anselmo Duarte e Adelaide Chiozzo. Na época, algumas obras nacionais conseguiam romper o monopólio hollywoodiano nas salas de exibição, como as chanchadas da Atlântida e as produções da Vera Cruz, em especial a aventura O cangaceiro (1953) e o melodrama Sinhá Moça (1953) – primeiro e segundo lugar entre os filmes brasileiros, respectivamente, no concurso realizado pelo jornal A Gazeta, em 1955, para escolher os favoritos do público capixaba. Já o suntuoso Cine Santa Cecília, com suas 1453 poltronas, abriu suas portas em 1955, e exigia de seus frequentadores o uso de traje social – até mesmo os meninos precisavam usar calças. Ele funcionava no Parque Moscoso, no mesmo local em que o Politeama havia reinado nos anos 1930 e 1940. Anos mais tarde, em 1967, seria inaugurado o Cine Juparanã, com 980 lugares, que, em sua programação, chegou a exibir filmes de Ingmar Bergman (O sétimo selo­) e Federico Fellini (Amarcord). Mesmo entre os cinemas de bairro havia alguns palácios: o Cine Capixaba, de São Torquato, surgido em 1955, tinha 1400 cadeiras, projeção 6 Cf. No escurinho do cinema (2008), do historiador André Malverdes,

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em cinemascope e som estéreo. Além disso, algumas cidades de interior contavam com grandes salas de exibição: o Cine Broadway, em Cachoeiro do Itapemirim, tinha 1080 lugares; o CineIdelmar, em Colatina, 1000 lugares; e o Cine Alba, em Baixo Guandu, tinha capacidade para 800 espectadores – um número bastante expressivo para um município que, na época, tinha pouco mais que 20 mil habitantes.

Júlio Monjardim e o Jornal da tela Nesse período, as sessões dos filmes estrangeiros eram obrigatoriamente acompanhadas de um complemento em curta-metragem nacional (por ordem do Decreto n°. 21.240, de 1932). Esta, que foi a primeira ação do governo federal em prol de uma reserva de mercado para o cinema nacional, permitiu o florescimento de uma intensa produção de cinejornais por todo o país. Entre as décadas de 1940 e 1970, a Atlântida produziu vários exemplares do cinejornalismo, como Atualidades Atlântida, Notícias da semana e o Jornal da tela. Por meio deles, a população das capitais e das cidades do interior do país tinham acesso às imagens dos principais acontecimentos políticos, econômicos, esportivos e culturais do Brasil e do mundo – e, em alguns, havia também espaço para os acontecimentos locais. No Espírito Santo, o Jornal da tela dedicava um minuto de cada edição semanal aos assuntos do Estado. O responsável pela produção desse material local, nos anos 1950 e 1960, era o capixaba Júlio Monjardim. O historiador Luiz Cláudio Ribeiro, em seu artigo “Os cinejornais de Júlio Monjardim”, conta que, desde muito jovem, Júlio já se interessava pela fotografia e pelo cinema. Após adquirir uma câmera profissional (Paillard Bolex, 16 mm), no final dos anos 1940, ele passou a realizar seus próprios filmes, documentando os principais atos oficiais e obras da gestão do governador do Estado, Carlos Lindenberg, do PSD, partido de cuja ala jovem Monjardim fora membro desde a adolescência. Após criar sua própria produtora, a Espírito Santo Filmes, ele passa a documentar oficialmente as obras do governo Jones dos Santos Neves (1951-1955) e da gestão do prefeito de Vitória, Adelpho Poli Monjardim, entre 1955 e 1957. A partir de 1959, ele assume a direção do serviço de cinema do governo do Estado (novamente Carlos Lindenberg) e, nessa condição, passa a produzir material para o Jornal da tela, em uma colaboração que se estenderia até 1965. Pode-se dizer que, em todo esse período, Julio Monjardim foi o único realizador capixaba em atividade. Até meados da década de 1980, ele seguiu registrando os principais eventos e obras públicas do Estado. Também realizou inúmeras propagandas e reportagens para TV, bem como documentários institucionais, feitos sob encomenda. Parte do material produzido entre 1951 e 1955 chegou a ser digitalizada, recebendo atualmente a denominação de Flagrantes capixabas. Os filmes de Júlio Monjardim são testemunhas do processo de modernização, industrialização e urbanização que começou a acontecer em larga escala no Espírito Santo, a partir da década de 1950, em especial na

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região da Grande Vitória, que passava por uma série de transformações, firmando-se como um epicentro da vida intelectual e cultural do Estado. Em 1960, a população da capital passava de 83 mil habitantes, chegando a quase 200 mil em toda a Grande Vitória. Embora boa parte dos filmes realizados por Monjardim tenha se perdido com o tempo, uma parcela considerável desse acervo encontra-se atualmente em fase de catalogação e digitalização, no Arquivo Público Estadual do Espírito Santo. Essas transformações também iriam se refletir no consumo cultural, e uma nascente cultura cinéfila começaria a florescer, ainda que timidamente, nesse período. A fundação do Centro de Estudos Cinematográficos (CEC), primeira associação cinéfila do Espírito Santo, realizava reuniões semanais para discussão de filmes e livros sobre o cinema, especialmente o cinema francês. Nessa época, também surgem os primeiros críticos cinematográficos na imprensa local (como Henrique D. de Castro, o Hendicas, e Marien Calixte), e até mesmo um programa de debates na Rádio Espírito Santo, o Cinelândia Capixaba, comandado por José Américo Vidigal – que também costumava ser o narrador dos cinejornais de Monjardim7. Ainda que tenha existido por um breve período, o CEC foi o primeiro ponto de encontro dos cinéfilos capixabas, ainda nos anos 1950, e seria sucedido pelos primeiros cineclubes, já na década seguinte, como o da Aliança Francesa e o Cineclube Alvorada. Nesses espaços, não somente se assistia e debatia cinema, mas também aconteciam os primeiros encontros entre cinéfilos que tinham o desejo de filmar suas próprias ideias. Nessa transição de cinéfilos a cineastas, começava a ser gestada a fagulha que daria origem àqueles que seriam os filmes da primeira geração de realizadores capixabas, num ciclo de produção que eclodiria no final dos anos 1960.

7 Cf. História do cinema capixaba (1988), de Fernando Tatagiba.

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Plano Geral


1920 —

1930 —

Bang Bang

Vitória, 1938

FICÇÂO, FAROESTE, 12', PB, MUDO,

DOCUMENTÁRIO, 10', 16mm,

1926, Conceição do Castelo (ES)

PB, Mudo, 1938, Vitória (ES)

Um bandido sai pelas ruas da cidade tentando escapar da perseguição do xerife.

O filme é um apanhado de imagens cinematográficas de cenas familiares e cotidianas da grande Vitória. Na década de 1990, Ramón Alvarado, filho de Batan, telecionou o material e editou-o, sob o nome Um belo dia.

de Ludovico Persici

Cenas de família de Ludovico Persici

REGISTRO, 19', 16mm, PB, Mudo, 1926-1929, Cachoeiro do

de Luiz Gonzalez Batan

Itapemirim e Castelo (ES)

O filme reúne cenas do cotidiano das cidades de Castelo e Cachoeiro de Itapemirim, ambas no Espírito Santo. Além dos moradores, a obra revela também locações como ruas, fazendas e uma estação de trem.

1926 — 1965

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1940 —

1950 —

Aspectos turísticos da capital do estado do Espírito Santo (n.184)

Flagrantes Capixabas Comemorações do 1º ano de Governo Jones dos Santos Neves

de Lafayette Cunha

DOCUMENTÁRIO, 8', 35mm, PB,

de Julio Monjardim

sonoro, 1942, Rio de Janeiro (RJ)

DOCUMENTÁRIO, REPORTAGEM, 11', 16mm, PB, sonoro,

Cenas de pontos turísticos das cidades de Vitória e Vila Velha na década de 1940, como o convento da Penha, o Campo de Aviação, a Fortaleza de Piratininga (atual 38º Batalhão de Infantaria) e o quartel da Força Policial (atual Polícia Militar do Espírito Santo). Filme de divulgação turística produzido pelo Serviço de Informação Agrícola do Ministério da Agricultura.

O ensino industrial no Brasil – M.E.S. de Humberto Mauro

DOCUMENTÁRIO, 11', 35mm, PB, sonoro, 1945, Rio de Janeiro (RJ)

Panorama do ensino industrial no Brasil. O prédio da Escola Técnica de Vitória – ES. Fachada e interior da Escola Técnica Nacional, professores, alunos e atividades. Documentário educativo produzido pelo INCE – Instituto Nacional de Cinema Educativo.

Vitória, a capital do estado do Espírito Santo (n.183) de Lafayette Cunha

DOCUMENTÁRIO, 8', 35mm, PB, sonoro, 1942, Rio de Janeiro (RJ)

1952, Vitória (ES)

O filme apresenta uma série de ações em comemoração ao primeiro ano do Governo Jones Santos Neves, no Espírito Santo. Este filme foi um dos cinejornais exibidos nos cinemas no Espírito Santo. Esta catalogação é referente ao trecho de 11 minutos do filme telecinado com som e entrevista de Julio Monjardim.

Flagrantes Capixabas Inauguração da Superintendência do Porto de Vitória de Julio Monjardim

DOCUMENTÁRIO, REPORTAGEM, 5', 16mm, PB, sonoro, 1955, Vitória (ES)

O filme apresenta o registro cinematográfico do governador Jones dos Santos Nevesvisitando o Porto de Vitória, acompanhado por autoridades locais. Este filme foi um dos cinejornais exibidos nos cinemas no Espírito Santo. Esta catalogação é referente ao trecho de 5 minutos do filme telecinado com som e entrevista de Julio Monjardim.

Cenas de pontos turísticos da cidade de Vitória na década de 1940. Filme de divulgação turística produzido pelo Serviço de Informação Agrícola do Ministério da Agricultura.

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Flagrantes Capixabas Obras do Aterro em Bento Ferreira

Flagrantes Capixabas Plano de Valorização do Espírito Santo

DOCUMENTÁRIO, REPORTAGEM,

DOCUMENTÁRIO, REPORTAGEM,

3', 16mm, PB, sonoro,

9', 16mm, PB, sonoro,

1951, Vitória (ES)

1955, Vitória (ES)

O filme apresenta cenas do desenvolvimento da cidade de Vitória, em especial o aterro realizado na região de Bento Ferreira. Este filme foi um dos cinejornais exibidos nos cinemas no Espírito Santo. Esta catalogação é referente ao trecho de 3 minutos do filme telecinado, com som e entrevista de Julio Monjardim.

O filme reúne imagens do de trabalhadores executando obras realizadas pelo Governo Jones dos Santos Neves, no Porto de Capuaba e no Porto de VItória. Este filme foi um dos cinejornais exibidos nos cinemas no Espírito Santo e faz parte de uma série de reportagens sobre o Plano de Valorização do governador Jones do Santos Neves. Esta catalogação é referente ao trecho de 9 minutos do filme telecinado, com som e entrevista de Julio Monjardim.

de Julio Monjardim

Flagrantes Capixabas Obras do Governo Jones do Santos Neves de Julio Monjardim

DOCUMENTÁRIO, REPORTAGEM, 21', 16mm, PB, sonoro, 1951, Vitória, Regência e Santa Leopoldina (ES)

de Julio Monjardim

Flagrantes Capixabas Vitória em Marcha de Julio Monjardim

DOCUMENTÁRIO, REPORTAGEM,

O filme apresenta diversas cenas do cotidiano e obras realizadas durante o GovernoJones Santos Neves, incluindo imagens feitas a bordo de um barco, na Baía de Vitória, a construção do Farol de Regência, em Linhares e da Usina Hidrelétrica de Rio Bonito, no Rio Santa Maria. Este filme foi um dos cinejornais exibidos nos cinemas no Espírito Santo. Algumas cenas foram gravadas de dentro de um barco.

1926 — 1965

11', 16mm, PB, sonoro, 1953, Vitória (ES)

O filme apresenta um registro cinematográfico do plano urbanístico do governo Jonesdos Santos Neves para a cidade de Vitória, com obras como a construção das duas pistas da Avenida Vitória e o asfaltamento da Rodovia Carlos Lindenberg, em Vila Velha. Também inclui imagens do desfile de sete de setembro de 1953. Este filme foi um dos cinejornais exibidos nos cinemas no Espírito Santo. O filme apresenta um registro cinematográfico do plano urbanístico do governo Jones dos Santos Neves para a cidade de Vitória, com obras como a construção das duas pistas da Avenida Vitória e o asfaltamento da Rodovia Carlos Lindenberg, em Vila Velha. Também inclui imagens do desfile de sete de setembro de 1953.

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1966 1966 — 19 — 19 Alto a la agression, 1967


6 979 1979



Da cinefilia à filmografia: sonhos e incertezas de uma geração

O ciclo de cinema amador nos anos 1960 “Repressão da ditadura, Teatro de Arena, Cinema Novo, Bossa Nova, surrealismo, realismo fantástico – um universo inteiro de influências à nossa frente: eis o que foi para nós, capixabas, a década de 1960. Não importa o que você fazia – se combatente nas ruas diante do fuzil ou cassetete, se cineasta, ator, músico ou pintor – a vida parecia explodir num milhão de expectativas, em um interminável poder de criação. [...]Câmera na mão, teatro na praça, poemas surgidos na balbúrdia noturna dos bares, pichações nos virginais muros contra a ditadura e distribuição de panfletos arrancados dos jurássicos mimeógrafos. Era assim que vivíamos naqueles anos que hoje chamam de dourados. Só que então não os chamávamos assim, apenas tínhamos o privilégio e a sorte de vivê-los”1. O depoimento de Antônio Carlos Neves a Jeanne Bilich revela o cenário em que os realizadores de cinema desenvolviam seus processos criativos nos inspiradores anos 1960. Apelidados de “anos de chumbo” pelo peso político, foi uma das décadas de maior potência de criação artística da história do Brasil. O Espírito Santo participou intensamente deste momento de efervescência cultural que tomou conta no país. O acelerado processo de urbanização da Grande Vitória refletia-se na vida intelectual da capital do Estado, que finalmente começava a estabelecer um diálogo com as principais propostas artísticas vigentes na produção brasileira a partir do final dos anos 1950. O período posterior a 1964 presenciou uma intensa produção, sem precedentes em termos de qualidade e quantidade, no cenário cultural capixaba, tomado de assalto por artistas jovens e inovadores. Seguindo os experimentos estéticos do pioneiro Audífax de Amorim, vários novos poetas buscaram romper com a rigidez e o conservadorismo das gerações anteriores, entre os quais: Xerxes Gusmão Neto, Cláudio Lachini, Arlindo Castro e Carlos Chenier. Na crônica, entre a melancolia e a fina ironia, destacava-se Carmélia Maria de Souza, verdadeira tradução de uma geração boêmia e contestadora, que deu novo significado à melancolia trazida pelo vento sul, que costuma soprar na ilha, “chegando de mansinho e virando tudo do avesso”, e tomou-a para si como um dos mais intensos elementos de sua identidade. Essa juventude compartilhava uma série de inquietações políticas e estéticas, traduzidas em discussões que se estendiam a bares como o Dominó (no Parque Moscoso), o Marrocos, que ficava na 1  Cf. As múltiplas trincheiras de Amylton de Almeida: O cinema como mundo, a arte como universo (2005), de Jeanne Bilich, p. 72.

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rua Duque de Caxias, e o nascente Britz, próximo à rua Sete de Setembro, e que viria a se tornar um lendário reduto boêmio nos anos 1970 e 1980. Na música, os conjuntos de iê-iê-iê, que animavam os bailes, começavam a ceder lugar à mistura de blues, jazz e rock d’Os Mamíferos, banda fundada em 1968 e que contaria ainda com fortes doses de surrealismo e literatura beat nas letras de suas canções. Já no teatro destacavam-se, entre outros: o Grupo Geração, criado e dirigido por Antônio Carlos Neves, que encenou Arena conta Zumbi (1966); o Grupo Equipe, de Paulo Torre, que encenou Entre quatro paredes (1966), de Jean Paul Sartre; e a satírica montagem de Vitória, de Setembro a Setembrino (1969), escrita e dirigida por Milson Henriques, verdadeiro agitador cultural do período e um dos atores mais presentes nos palcos e nos curtas-metragens da época. Nas artes visuais, toda uma geração de artistas finalmente apresentava ao público capixaba as principais discussões da arte moderna de então: Maurício Salgueiro, Raphael Samú, Freda Jardim, Marian Rabello, Roberto Newman, Carlos Chenier, entre outros – alguns deles professores e alunos da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), recém federalizada. Em destaque, a impressionante série de esculturas cinéticas e luminosas de Salgueiro, que lhe renderam grande projeção fora do Estado. Entre 1966 e 1970, o Museu de Arte Moderna do Espírito Santo, uma iniciativa independente e sem financiamento público, esteve em plena atividade, chegando a realizar três edições do Salão Nacional de Artes Plásticas, além de diversas exposições temporárias. A divisão cinematográfica do MAM-ES também era bastante atuante, realizando diversas exibições de filmes autorais, especialmente europeus, e clássicos norte-americanos, em diversos espaços do centro da cidade, especialmente no prédio da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (atual Escola de Arte FAFI). Quem coordenava as sessões e os debates era o jornalista cultural Marien Calixte, atuante em várias áreas da cultura e também no rádio e no jornalismo impresso. Outros cineclubes também atraíam os cinéfilos locais no final dos anos 1960, como o da Aliança Francesa, que trazia muitas das novidades da Nouvelle Vague para os capixabas, e o do Colégio Marista, que funcionou por um curto período de tempo. E talvez o mais conhecido deles tenha sido o Cineclube Alvorada, criado em 1965, por Ramón Alvarado e Edgar Bastos. Nas sessões semanais, realizadas no IBEU, a intelectualidade capixaba poderia conferir obras como O processo, de Orson Welles, e a trilogia do silêncio, de Michelangelo Antonioni, além de vários filmes franceses, tchecos, poloneses, italianos e brasileiros. Assim, era possível ampliar o acesso ao que de melhor se fazia no cinema moderno mundial. Além de participar dos debates, alguns frequentadores começaram a tomar a consciência de que “era necessário partir para a prática” – para usar as palavras de Fernando Tatagiba, em seu livro História do cinema capixaba (1988). E foi em um desses debates que Ramón Alvarado conheceu Rubens de Freitas Rocha, que tinha uma câmera Paillard Bolex e rolos de filmes 16 milímetros. Desse encontro, nasceu o primeiro curta-metragem ficcional do Espírito Santo e o primeiro filme de uma nascente geração de cineastas: Indecisão, finalizado em agosto de 1966 e dirigido pelo próprio Ramón.

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Plano Geral


Ponto e vírgula

Alto a la agression

Kaput

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Indecisão inaugura um ciclo de cinema amador capixaba, que vai durar poucos anos, mas vai fazer bastante barulho no cenário cultural local. Trata-se de um conjunto de filmes ficcionais, de curta-metragem, realizados em 16 mm – a bitola dos cineclubes, já que as salas de cinema comerciais utilizavam o formato 35 milímetros. Ao todo, seriam finalizados onze filmes (mais quatro inacabados), entre 1966 e 1971, exibidos em cineclubes e festivais dentro e fora do Estado. Seis são os diretores surgidos nesse ciclo: além de Ramón Alvarado e Rubens Freitas Rocha, temos ainda Antônio Carlos Neves, Luiz Eduardo Lages, Paulo Torre e Luiz Tadeu Teixeira. Nessas obras, utilizavam-se negativos preto e branco, câmeras emprestadas e luz natural. Muitos planos com câmera na mão, filmando bem de perto os rostos dos personagens, como se tentassem captar a intangível, porém asfixiante e melancólica atmosfera do período – como no célebre close da atriz Marlene Simonetti em Kaput (1967), de Paulo Torre, ou no rosto emoldurado no encarte do LP Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, lançado naquele mesmo ano. Se, por um lado, esses filmes pecavam pela precariedade técnica (e, em alguns casos, por roteiros não muito elaborados), por outro eles transbordavam na vontade de experimentar visualmente e de trazer para dentro de si não somente as referências que inspiravam seus realizadores – especialmente os filmes europeus do período –, mas também as principais questões políticas e sociais que esquentavam os debates da intelectualidade de esquerda da época. São filmes de protesto contra os problemas de seu tempo, em especial a repressão dos primeiros anos da ditadura militar. Um exemplo de como isso aparece nos filmes é a menção, em Kaputalter egos − eram indivíduos em conflito permanente entre seus ideais e a dureza do mundo exterior. Daí cenas como a tortura do personagem de Milson no pau de arara, em Alto a la agression (1967), de Antônio Carlos Neves, ou o artigo de jornal contra a Guerra do Vietnã, que custará a vida do protagonista de Kaput, engajado no movimento estudantil. Ou ainda, o poeta que vê, na impossibilidade de escrever um novo poema, o contraste entre os devaneios boêmios e a dura realidade social que o cerca, em Pêndulo (1967), de Ramón Alvarado. Também eram marcantes os dilemas nos romances entre personagens de classes sociais diversas, como em Palladium (1966), de Luiz Eduardo Lages, e Indecisão (1966). E, claro, podemos incluir neste rol o forte simbolismo que atravessa todas as cenas de Ponto e vírgula (1969), filme de estreia de Luiz Tadeu Teixeira: um personagem que tortura e esmaga uma barata, ao mesmo tempo que outro homem tem diversas portas fechando-se diante de si, nos mais diferentes ambientes de seu cotidiano. A versão original deste filme possuía apenas um minuto e meio de duração, mas, em 1979, ele foi estendido para cinco minutos, com a inclusão das imagens de outro filme, realizado pelo cineasta em 1971 e até então inacabado: Variações sobre um tema de Maiakovski (inspirado no poema “A plenos pulmões”, do escritor russo). Uma das sequências incluídas nessa versão é a de uma pantomima representando

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um haraquiri, interpretada pelo próprio Luiz Tadeu e que amplia o sentido metafórico presente na versão original do curta. Boa parte dessa produção tinha um endereço certo: os festivais de cinema amador organizados pelo Jornal do Brasil e patrocinados pela loja de departamentos Mesbla. Esses festivais revelaram vários nomes que iriam fazer a história do cinema brasileiro nas décadas seguintes: Xavier de Oliveira, Antônio Calmon, José Carlos Avellar, André Luiz Oliveira, Murilo Salles e Bruno Barreto (na época, ainda pré-adolescente). Sua importância também pode ser medida pelos ciclos de produção que eles desencadearam, em Estados que até então produziam poucos filmes – como Espírito Santo e Minas Gerais. Entre 1965 e 1970, foram realizadas seis edições, que recebiam trabalhos de diretores iniciantes, na bitola 16 mm, de diversas regiões do país (à exceção da primeira edição, centrada no jovem cinema carioca). Na década seguinte, ele se transformou no Festival Brasileiro de Curta-metragem, incorporando filmes profissionais (35 mm) e realizando mais cinco edições até encerrar suas atividades, em 1977, ano em que um dos vencedores foi O caso Ruschi, filme da cineasta paulista Teresa Trautman. Realizado em Santa Teresa, no interior do Estado, a obra mostrava a luta do ecologista Augusto Ruschi em defesa de uma reserva biológica da região, prestes a ser vendida a uma multinacional. Alguns filmes do ciclo chegaram a ser selecionados para o festival, em seus respectivos anos de realização: A queda (1966), de Paulo Torre, Alto a La Agression, Veia Partida (1968), de Antônio Carlos Neves, e Ponto e vírgula. Baseado em um conto de Amylton de Almeida sobre uma difícil relação entre pai e filho, Veia partida chegou a receber o prêmio de Melhor Fotografia para Ramón Alvarado, na quarta edição do JB/Mesbla, realizada em 1968. E foi incluído em uma mostra de cinema brasileiro realizada em Kiev, no final de 1968. Nesse mesmo ano, Neves vai para a União Soviética, graças à bolsa de estudos obtida na Academia de Artes e Ciências de Moscou, e de lá só retornaria em 1974. Outro nome que vai para o exterior nessa época é Luiz Eduardo Lages, que reside há vários anos na Suécia e relata ter exibido seu curta Palladium nos institutos de cinema de Estocolmo, Viena e Roma, bem como em uma mostra realizada nos anos 1960 no Estado norte-americano de Maryland. Toda a movimentação que esse ciclo cinematográfico produziu em Vitória chega ao ápice com a realização do I Festival de Cinema Amador, no Cine Jandaia, no dia 3 de dezembro de 1967. Nele, foram exibidos nove curtas-metragens, sete deles com a participação de Ramón Alvarado na equipe técnica (em quatro como diretor e três como diretor de fotografia)2. Continuando sem patrocinadores e invisível ao poder público local, o movimento começou a se desfazer em 1968, principalmente a partir do decreto do AI-5. Além da ida de Neves para Moscou, Alvarado foi para o Rio de Janeiro trabalhar profissionalmente com direção de fotografia, retornando ocasionalmente ao Estado para filmar alguns documentários. Paulo Torre seguiu a carreira de jornalista também no Rio, trabalhando nos veículos da 2  Cf. História do cinema capixaba (1988), de Fernando Tatagiba.

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grande imprensa por alguns anos, até retornar ao Estado – chegando a ser chefe de redação de A Gazeta, função que exerceu até falecer, em 1995. Luiz Tadeu Teixeira, que realizaria seu primeiro curta-metragem somente em 1969, continuaria nos anos seguintes a exercer o jornalismo e a dedicar-se ao teatro, retomando a carreira de cineasta a partir dos anos 1990, realizando curtas importantes como O ciclo da paixão (2000) e Graçanaã (2005) e apresentando, durante anos, o programa Curta Vídeo, da TVE, dedicado à produção audiovisual local de ontem e hoje. Infelizmente, boa parte dos filmes realizados durante o ciclo capixaba dos anos 1960 se perdeu. Dos poucos que restaram, somente costumam circular, em cópias telecinadas duas décadas atrás, os curtas Ponto e Vírgula, de Tadeu Teixeira, e Kaput, de Paulo Torre – este último também disponível para streaming na internet, no Vimeo.com. Mesmo com poucos recursos técnicos e certo grau de amadorismo, a geração cinematográfica dos anos 1960 deixou como legado uma produção repleta de novas ideias e forte espírito de invenção, tentando dialogar diretamente com os novos cinemas que eclodiam ao redor do planeta durante toda a década. Ela também se caracterizou por muita inquietação política e vontade de falar de liberdade, duas constantes da juventude brasileira e, por extensão, da intensa produção cultural que tomou conta do país no período compreendido entre o golpe de 1964 e o endurecimento do regime militar nos primeiros anos da década de 1970.

A resistência contracultural dos anos 1970 e o cinema ficcional Em uma manhã de domingo, em junho de 1970, Vitória amanheceu com uma de suas árvores transformadas em um estilingue gigante. Enquanto a maioria das pessoas não entendia o que estava acontecendo, alguns curiosos interagiam com aquele insólito objeto, cujas tiras de plástico eram capazes de acomodar uma pessoa, como se ela estivesse prestes a ser “lançada”. Ao sair dos usuais museus e galerias de arte e escolher as ruas da cidade como lugar e objeto de sua intervenção urbana, o jovem artista Nenna fazia o gesto inaugural da arte contemporânea no Espírito Santo, em total sintonia com o que acontecia no resto do mundo. No mês anterior, o espetáculo cênico Ensaio geral, dirigido por Rubinho Gomes e que reunia nomes como Milson Henriques, Amylton de Almeida, Luiz Tadeu Teixeira e Arlindo Castro, teve seu texto proibido pela censura. A produção do espetáculo, a cargo do jornalista Antônio Alaerte, tentou negociar sua liberação para ser apresentado sem texto, somente com mímicas e música – mas a nova versão também foi proibida. Ainda assim, os integrantes resolveram fazer uma única apresentação pública, ao final da qual destruíram todo o cenário, feito de isopor e papelão, arremessando-o para todos os cantos do teatro, naquilo que é considerado o primeiro happening realizado em terras capixabas. Em setembro daquele ano, foi a vez d’Os Mamíferos vencerem o III Festival Capixaba de Música Popular, com “Agite antes de usar”. Na edição

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do ano anterior, a banda já havia causado bastante estardalhaço ao se apresentar com os rostos maquiados, muito antes da onda glam que tomaria de assalto o mundo nos anos seguintes. Na letra da canção, o vocalista Aprígio Lyrio cantava: “Mas pra fazer melhor efeito, agora/ Agite antes de usar/ Ponha o mal estar pra fora/ Agite antes de usar”, bem fiel ao espírito contestador daquela juventude. Um dos pontos altos dessa movimentação da contracultura do comecinho dos anos 1970 prometia ser o Festival de Guarapari, evento musical produzido por Rubinho e Alaerte, que pretendia ser uma espécie de Woodstock brasileiro. Mesmo enfrentando uma série de problemas financeiros, quase sem infraestrutura e a marcação cerrada da repressão militar, o evento trouxe uma multidão a Três Praias, para curtir shows antológicos, como os de Milton Nascimento, Soma, A Bolha, Novos Baianos, Tony Tornado e Luiz Gonzaga, contando ainda com Chacrinha como mestre de cerimônias. Passado o desbunde da contracultura, o cenário artístico capixaba continuou sua efervescência durante os anos seguintes, arriscando-se nas mais diversas direções que a nova década possibilitava. Na música, tivemos Chico Lessa, Esther Mazzi, Aprígio Lyrio e Os Mamíferos, e, sob uma nova encarnação, mais jazzística: o Mistura Fina. Na literatura, romances de alta inventividade, como Reino dos Medas (1971) e A crônica de Malemort (1977), de Reinaldo Santos Neves, e Blissful Agony (1972), de Amylton de Almeida. Nas artes visuais, além de Nenna, toda uma nova e influente geração de artistas: Hilal Sami Hilal, Carmem Có, Nelma Pezzin, Neusa Mendes, Coracy, Jeveaux, Atílio Colnago, Ronaldo Barbosa. E as artes cênicas, com a reinauguração do Teatro Carlos Gomes e uma série de políticas públicas destinadas à área, viviam um momento bastante fértil, congregando não somente os artistas surgidos na década anterior, mas também ganhando o reforço, a partir de 1976, do Grupo Ponto de Partida, iniciado na Ufes e bastante premiado, dentro e fora do Espírito Santo. Nessa época, a Universidade inaugura dois seminais espaços expositivos: em 1976, a GAP (Galeria de Arte e Pesquisa), que funcionaria na Capela Santa Luzia, no centro de Vitória; e, em 1977, a GAEU (Galeria Espaço Universitário), no campus de Goiabeiras. Ao mesmo tempo, uma nova geração de cineclubistas começava a ganhar forças em um circuito que teria papel crucial na vida cultural do Estado até meados dos anos 1980. Com tanta coisa acontecendo, surge a pergunta: e a produção cinematográfica local, onde estaria? Não estava, pelo menos naquela primeira metade da década. Com o final do ciclo de cinema amador, a produção local silenciou-se por longos anos, enquanto várias outras áreas culturais cresciam em termos de qualidade, quantidade, profissionalização e formação de público. Uma rara exceção, nessa geração, foram os poucos trabalhos de Luiz Tadeu Teixeira no período: o curta-metragem inacabado Variações sobre um tema de Maiakovski (que seria incorporado, em 1979, a uma segunda edição do Ponto e Vírgula, seu filme de estreia) e o documentário em super-8 chamado Castelo: Corpus Christi (1978), que só seria finalizado em vídeo e exibido publicamente quase duas décadas depois.

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Ramón Alvarado, que havia fixado residência no Rio de Janeiro, retornaria esporadicamente ao Estado, para filmar documentários como O mastro do Bino Santo (1971), primeiro filme dedicado às manifestações tradicionais da cultura popular local – no caso, o congo e a festa de São Benedito no município de Serra. Não que nada tenha sido filmado em solo capixaba no período. Muitas vezes com recursos do governo do Estado (o mesmo que jamais apoiara a produção autoral local até então), uma série de longas-metragens feitos por produtoras paulistas e cariocas foram rodados, utilizando cenários e figurantes locais. Entre eles, podemos citar três longas de Jece Valadão: O vale do Canaã (1970), adaptação do livro de Graça Aranha, com ares de faroeste Spaghetti, rodado em Santa Leopoldina; Obsessão (1973), baseado em argumento de Janete Clair e filmado em Castelo; e Nós, os canalhas (1975), com algumas cenas filmadas em Vitória. E também: uma comédia de Fauzi Mansur, estrelada por Renato Aragão e Dedé Santana, A ilha dos paqueras (1970), contendo cenas do Porto de Vitória. Carlo Mossy, um dos mestres da pornochanchada, produziu a comédia erótica Quando as mulheres querem provas (1975), dirigida por Cláudio MacDowell, ambientada na Praia da Costa (mais precisamente no antigo Hostess Hotel), em Vila Velha. O filme teve grande sucesso de público: mais de 500 mil espectadores, segundo dados oficiais, divulgados pela Ancine. Alguns desses filmes ainda hoje são de fácil acesso ao espectador, lançados comercialmente em DVD, reprisados na TV por assinatura ou mesmo disponíveis no Youtube. Já Sagarana: o duelo (1973), de Paulo Thiago, foi rodado em vários municípios: entre eles, Nova Venécia, Linhares, João Neiva e principalmente São Mateus, mostrando que o sertão de Guimarães Rosa também poderia ser encontrado nas paisagens capixabas, aqui registradas sob a bela fotografia de Mário Carneiro. O filme chegou a representar o Brasil na seleção oficial do Festival de Berlim, em 1974. A vida de Jesus Cristo (1971), baseado na encenação do Auto da Paixão de Cristo, realizada anualmente na cidade de São Roque, foi dirigido por José Regattieri, que também assina o roteiro do longa junto com William Cobbett. Nele, misturam-se atores locais com alguns artistas de renome nacional, como Fernanda Montenegro, que fez o papel de Samaritana. Apesar de filmados no Estado, tais filmes não devem ser categorizados como cinema espírito-santense: são obras que pouco ou nada contribuíram para o crescimento da produção audiovisual local, já que o máximo de participação permitida aos espírito-santenses era a de atuarem como figurantes. Uma exceção a isso é o longa-metragem Paraíso no Inferno (1977), de Joel Barcellos. Mais conhecido como ator, com intensa participação nos filmes do Cinema Novo, Barcellos (nascido em Vitória) veio ao Estado para realizar um trabalho bastante autoral, e envolveu em sua equipe (tanto na trilha sonora quanto no elenco) diversos nomes do cenário cultural local – o que abre espaço para alguns pesquisadores afirmarem ser este o primeiro longa-metragem “realmente capixaba”. No filme, estão em cena Alcione

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Dias, Joelson Fernandes e o grupo Mistura Fina, que apresenta uma das canções mais marcantes do filme, “Daqui a duzentos anos”. Também estão lá os bares da época (em especial o Britz) e vários jovens artistas fazendo figurações em diversas cenas de boemia e festa. Ao contar a história de um jovem músico que se recusa a assinar um contrato tentador, abandonando a iminente carreira de popstar para trabalhar em uma mineradora, o filme assume muitas vezes um tom alegórico, bastante comum em certa parcela autoral do cinema brasileiro dos anos 1960-1970. Se as tomadas em meio à zona norte da cidade, com as praias ainda quase intactas (pouco antes da chegada da especulação imobiliária à região), dão um ar paradisíaco ao cenário, o inquietante conflito interior do protagonista ganha força em vários momentos. Em uma sequência que se assemelha a um videoclipe, ao som do tema de Tristão e Isolda, de Wagner, vemos os barracões destruídos na orla da ilha, emoldurados pela imponência do convento no alto da montanha. Cabeças humanas, aparentemente decapitadas em uma mesa, alternamse a cabeças de peixe recém pescado que, por sua vez, contrapõem-se à grandeza do maquinário que extrai e transporta o minério de ferro. Entre a monotonia dos trens de carga que deslizam horizontalmente na tela e a flutuação imprevisível do pequeno barco pesqueiro na Baía de Vitória, é como se presenciássemos a eclosão do inferno nesse paraíso constantemente refletido nas incrédulas lentes dos óculos escuros usados por vários de seus personagens. Por outro lado, poucas são as incursões ficcionais dos realizadores capixabas nesse período, geralmente lançando mão do formato super-8, mais popularizado no Brasil para os filmes caseiros, mas que também serviu como alternativa para vários realizadores iniciantes/independentes pelo país afora, graças ao seu baixo custo de produção. Destacam-se aqui os primeiros curtas-metragens de Sérgio Medeiros, O roubo do filme (1977) e E agora, Alfredo? (1978). Alheia a toda essa efervescência contracultural da capital capixaba, outra experiência ficcional em super-8 se dá no faroeste em média-metragem Olho de gato (1975). O filme foi rodado na cidade de Pancas, no norte do Estado, região célebre pela mineração, por conta das paisagens naturais (que nos remetem aos westerns clássicos) e dos causos envolvendo pistoleiros. A empreitada ficou a cargo do relojoeiro Ailton Claudino de Barros, o Carioca, que assina a direção, e do lavrador e cinéfilo José Augusto Damaceno, protagonista da trama, que narra a descoberta de uma pedra valiosa, o olho de gato, por um garimpeiro, que é escondida em uma fazenda e desperta a cobiça do dono da propriedade. Culminando com um duelo aos moldes dos clássicos do gênero, o filme mobilizou boa parte da cidade em sua produção, mas encontra-se desaparecido há alguns anos. O processo de investigação do paradeiro de sua única cópia é o mote do documentário Olho de gato perdido, que seria realizado em 2009 por Vitor Graize. Vale lembrar que, até a realização do documentário, o filme de Damaceno e Carioca era totalmente desconhecido pelos pesquisadores do audiovisual capixaba.

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Tutti, tutti, buona gente, propriamente buona

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Já no campo da animação, temos o trabalho pioneiro do trio Mário Aguirre, Ricardo Conde e Marco Antonio Neffa, em O Rei do Ibes e outros experimentos (1977), série de seis filmetes, de 30 segundos cada, filmados quadro a quadro no formato super-8.

Cinema documentário e cineclubismo: política e identidade no final da década de 1970 No campo do documentário de curta e média-metragem, o Estado chegou a atrair algumas produções de outros Estados, como Ticumbi (1977), de Eliseu Visconti, sobre a manifestação popular de Conceição da Barra, além de A máquina e o sonho (1974), de Alex Viany; O mastro do Bino Santo, de Ramón Alvarado; e o Caso Ruschi (1977), de Teresa Trautman – os dois últimos exibidos no festival de Brasília, em 1973 e 1978, respectivamente. E é projeto de um cineasta mineiro, então residente no Rio de Janeiro, que vai mudar de vez a história da produção audiovisual no Espírito Santo. Quando Orlando Bomfim vem a Santa Teresa, em 1975, documentar a memória da imigração italiana no Espírito Santo, ele inicia uma série importantíssima de documentários em curta e média-metragem que dão visibilidade a várias manifestações culturais capixabas, não somente mapeando o imaginário de nossas tradições populares, mas também dandolhes voz para que apresentassem ao público não somente sua força e beleza, mas também denunciassem os principais problemas enfrentados na época. Tudo começou quando Orlando percebeu que, mesmo com a proximidade das comemorações do centenário da imigração italiana no Brasil, o Espírito Santo nunca era mencionado na mídia nacional em reportagens que abordavam o tema: algo inaceitável para o cineasta, por se tratar de um Estado que não só recebeu muitos imigrantes como também ainda preservava vários costumes e tradições, alguns dos quais há muito haviam se perdido na própria Itália. Após dois anos de pesquisa e entrevistas, o trabalho resulta no média-metragem Tutti, tutti, buona gente, propriamente buona (1976), que conta a história dessa imigração no Estado a partir dos relatos de seus descendentes. O filme chegou a ganhar o troféu Humberto Mauro/ Coruja de Ouro de melhor documentário, concedido pela Embrafilme – a mais importante premiação do curta-metragem brasileiro na época. O contato com a diversidade cultural capixaba acabou por fazer com que Orlando Bomfim fixasse residência no Espírito Santo, rendendo uma sequência de mais seis documentários em 35 mm e 16 mm, até meados dos anos 1980. No Festival de Brasília de 1979, três de seus filmes foram exibidos: Ticumbi – Canto para liberdade (1978), Augusto Ruschi Guainumbi (1979) e Itaúnas – Desastre ecológico (1979), vencedor na categoria documentário da mostra competitiva daquele ano. Também desse período é Mestre Pedro de Aurora – Para ficar menos custoso (1978), sobre um cantador de jongo do norte do Estado. Em todos esses trabalhos, Orlando abordaria não somente a cultura popular, mas também questões ambientais, fosse o trabalho do biólogo Augusto Ruschi, fosse a cidade soterrada pelas dunas paradisíacas de Itaúnas.

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Mestre Pedro de Aurora

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Plano Geral


Essa empreitada continuaria ao longo das décadas seguintes, especialmente durante o período em que ele foi diretor da TVE, canal educativo local, entre 1987 e 1990. Esse resgate de algumas raízes da cultura capixaba irá contribuir para o reconhecimento de uma identidade cultural na qual se mesclam matrizes europeias, africanas e indígenas. Muitos dos aspectos aqui retratados seriam resgatados nos anos seguintes pela publicidade e pelo marketing turístico como ícones da cultura popular espírito-santense – desde panelas de barro e congo até as tradições italianas, passando pelos beija-flores e orquídeas de Ruschi. O interesse de Orlando pela alteridade traduz-se, em seus filmes, por uma recusa à voz embebida de autoridade de um narrador em off: Tutti, tutti, buona gente, propriamente buona, por exemplo, dispensa totalmente esse recurso; em outros filmes, a narração é reduzida ao mínimo necessário. Estabelece-se, assim, uma comunicação em que a fala do entrevistado é reconhecida, mesmo que situada dentro do discurso do realizador. Essa possibilidade de o “povo” falar no filme, segundo Orlando, fazia parte de toda uma tentativa do cinema brasileiro reencontrar o diálogo com a população, o espectador, agora dotado de voz com a revogação do AI-5, em 1978. Já Ticumbi – Canto para liberdade, um dos mais inventivos filmes dessa safra, enfatiza os pontos de vista dos participantes da tradicional encenação, com raros depoimentos de especialistas (no caso, os pesquisadores Hermógenes da Fonseca e Rogério Medeiros), dedicando ainda um terço do filme (o final) a uma longa sequência de trechos da procissão e dos cânticos, alternados com fotos de africanos em trajes típicos e imagens do barqueiro que interpreta o papel de rei do congo, sentado em seu barco, vestindo seus trajes cotidianos. Com a inauguração da TV Gazeta, em 1976, iniciam-se as atividades de seu telejornal local, na época utilizando equipamento cinematográfico de 16 mm para captação de imagens, a cargo de Julio Monjardim e sua equipe. Glecy Coutinho, que atuaria como cineasta a partir da década de 1990, fora a primeira mulher repórter do Estado. É também nesse período que o jornalista e crítico de cinema Amylton de Almeida começa a realizar seus documentários televisivos, utilizando a estrutura técnica da emissora. O primeiro deles, São Sebastião dos Boêmios (1976), é um dos mais relevantes filmes de toda a produção capixaba. Retratando o cotidiano do bairro São Sebastião (atual Novo Horizonte, no município da Serra), na época a zona de prostituição da Grande Vitória, o média-metragem já trazia elementos que seriam a marca registrada do cineasta, mesclando um olhar atento aos oprimidos a uma potente crítica social, repleta de fortes doses de ironia e sagacidade. Em seguida, ele realiza Os pomeranos, de 1977, que venceria o I Festival de Verão da Rede Globo, em que concorriam documentários produzidos pelas emissoras afiliadas de todo o Brasil. Amylton venceria novamente o festival em sua terceira edição, em 1980, com O último quilombo (1980) – e ambos os documentários seriam exibidos em rede nacional, como parte da premiação. Amylton também exerceria a crítica cinematográfica durante muitos

1966 — 1979

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anos. Iniciou a carreira no jornal O diário, em 1969, e, a partir de 1972, passou a trabalhar no Caderno Dois de A Gazeta, função que desempenhou até seu falecimento, em 1995, e pela qual se tornou o mais importante crítico de cinema do Espírito Santo durante todo o período em que esteve em atividade, embora raramente voltasse um olhar otimista ou mesmo generoso à produção cinematográfica brasileira (ou capixaba) do período. Em 1976, existiam dez salas de cinema em atividade em Vitória, além de um cine drive-in, na Praia de Camburi, que durou pouquíssimos meses. No entanto, raras eram as oportunidades de exibição, nesses espaços, dos curtas capixabas realizados no período. Estes, por outro lado, encontrariam um amplo espaço de circulação no nascente circuito cineclubista espíritosantense, que fomentava exibições e debates em todo o Estado. A ponta de lança desse circuito era o movimento cineclubista universitário que floresceu entre 1978 e 1986, sob a batuta de nomes como Antônio Claudino de Jesus, Tião Xará e Marcos Valério, entre outros. Com o intuito de fazer o cinema (especialmente o brasileiro) chegar ao máximo de pontos possível, projetando as películas diretamente na parede, o cineclubismo encontrou um ambiente bastante favorável na Ufes, que vivia um momento de gradual abertura política e cultural, iniciado em 1976, com forte movimentação também nas áreas de teatro e artes visuais, além da retomada das atividades do DCE (Diretório Central dos Estudantes), a partir de 1978. Rapidamente, a Universidade chegou a contar com 13 cineclubes funcionando em seus diversos centros: 12 no campus de Goiabeiras e um no de Alegre. Em 1979, o município de Santa Teresa sediou a III Jornada Nacional de Cineclubes, espaço onde se discutiam as principais articulações políticas e culturais do movimento. Parte da memória desse período encontra-se registrada no documentário Na parede, na toalha, no lençol, realizado em 1998 por Lizandro Nunes, Luciana Gama, Ursula Dart e Virgínia Jorge. O curta, verdadeiro tributo a uma geração de muita luta pela democratização do acesso ao cinema, chegou a ser premiado, em 1999, nos festivais de cinema e vídeo da Paraíba (Melhor vídeo documentário) e do Paraná (Prêmio Especial do Júri). O cineclubismo e a realização de documentários foram as principais frentes de ação no campo cinematográfico local, entre o final da década de 1970 e o início dos anos 1980. Por um lado, havia a necessidade de produzir imagens que pensassem os principais aspectos culturais do Espírito Santo, desde o mapeamento das manifestações tradicionais aos principais impasses socioculturais da época. Por outro, como essa produção não encontrava espaço nas salas de cinema, era necessário buscar outras estratégias de exibição, como as sessões seguidas de debate do circuito cineclubista – nelas, o espectador encontrava possibilidades para se aproximar, de alguma forma, dos engajamentos dos cineastas frente às questões que a realidade lhes apresentava, e poder ele mesmo fazer suas reflexões. Outra alternativa era atingir o amplo público televisivo, e foi nela que Amylton de Almeida apostou para inserir na agenda pública a urgência do que retratava – como mostraria, poucos anos depois, a gigantesca repercussão de Lugar de toda pobreza (1983), um dos marcos centrais da filmografia produzida no Espírito Santo na década seguinte. 60

Plano Geral


1960 —

Boa sorte, palhaço

Kaput

Alto a la agression

ficção, 16mm, cor, mudo,

FiCÇÃO, 12', 16mm, PB,

1967, Vitória (ES)

1967, Vitória (ES)

Rapaz mantém amor não correspondido por uma moça, o que o leva a rever alguns conceitos de sua vida.

Um jovem fuma maconha para fugir da realidade que o oprime. Entretanto, com a descoberta do amor, percebe que a fuga não é a solução, mas, sim, a luta. Em 1991, por iniciativa de Nenna e Marcos Valério, o filme foi recuperado, com cópia disponível em vídeo.

de Antonio Carlos Neves

de Antonio Carlos Neves

de Paulo Torre

ficção, 15', 16mm, COR, 1967, Vitória (ES)

A história de um estudante que é preso e torturado pela polícia durante a ditadura militar.

A queda

de Paulo Torre ficção, 15', 16MM, COR,

Cirurgia no coração no Espírito Santo documentário, 5', 16mm, cor, mudo, 1967, Vitória (ES)

mudo, Vitória (ES)

Narra a história de uma moça comum, que se encontra dividida entre os mais íntimos desejos de sua alma e os valores de uma sociedade tradicionalista, cheia de preconceitos e convenções.

Automobilismo

de Rubens Freitas Rocha documentário, 15', 16mm, cor, mudo, 1966, vitória (ES)

Mostra as performances de carros de corrida na estrada que liga dois bairros de Vitória: Praia do Suá e Jucutuquara.

1966 — 1979

Documentário científico que registra a primeira cirurgia de coração realizada no Espírito Santo, por uma equipe chefiada por Adib Jatene.

Indecisão

de Ramon Alvarado ficção, 12', 16mm, pb e cor, mudo, 1966, Vitória (ES)

Uma universitária de classe média dividida entre dois amores: um empresário burguês e um proletário. O filme conta a história dess triângulo amoroso e as crises entre seus personagens e o mundo. Primeiro filme de ficção realizado em Vitória.

No meio do caminho de Antonio Carlos Neves ficção, drama, 16mm, PB, mudo, 1966, Santa Isabel (ES)

Triângulo amoroso entre um homem, uma mulher e um padre. Filme inacabado. Durante as filmagens, em Santa Isabel, a equipe foi expulsa da cidade.

O cristo e o cristo de Ramon Alvarado

documentário, 5', 16mm, pb, mudo, 1966, Vila Velha (ES)

Documentário sobre a Festa da Penha, tradicional celebração em homenagem à padroeira do Espírito Santo, que acontece anualmente durante oito dias em Vila Velha.

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O pêndulo

Primeira revolta

ficção, 7', 16mm, PB, mudo,

ficção, 16mm, PB, mudo,

1967, Vitória (ES)

1966, Vitória (ES)

Trata-se do relato do cotidiano de um jovem poeta que alterna momentos de euforia (quando se encontra com intelectuais à noite nos bares de Vitória) com a depressão do dia seguinte. Baseado em poemas de Carlos Chenier, que também interpreta o protagonista.

Garoto encontra velocípede velho no lixo e, com ajuda de amigos, reforma o brinquedo. Entretanto, não consegue ficar com o brinquedo, por achar que ele foi roubado. Baseado em conto homônimo de Antonio Carlos Neves.

Palladium

de Antonio Carlos Neves

de Ramon Alvarado

de Luiz Eduardo Lages ficção, 10', 16mm, PB,

de Antonio Carlos Neves

Veia partida

FiCÇÃO, 25', 16mm, PB, 1968, Rio de Janeiro (RJ)

mudo, 1966, Vitória (ES)

Um romance entre um casal de jovens de diferentes classes sociais.

Ponto e vírgula

de Luiz Tadeu Teixeira EXPERIMENTAL, 2', 16mm, PB, 1969, Vitória (ES)

Duas histórias se passam paralelamente: um homem tortura uma barata e um cidadão, tenta, em vão, transpor “portas que se fecham para ele”. A montagem final, com 6 minutos de duração, realizada em 1979, inclui trechos de outro filme do cineasta, o inacabado Variações para um tema de Maiakóvski (1971), e nova trilha sonora.

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A história do relacionamento amargo entre pai e filho, nos últimos momentos de vida do pai. O roteiro foi baseado em um conto de Amylton de Almeida. A Melhor fotografia para Ramon Alvarado no IV Festival de Cinema Amador JB/Mesbla, Rio de Janeiro (1968) A Exibido na Mostra do Cinema Brasileiro em Kiev (União Soviética, 1968)

Plano Geral


1970 — Augusto Ruschi Guainumbi

de Orlando Bomfim Netto

Brincadeira dos velhos tempos?

de Ramon Alvarado DOCUMENTáRIO, 11', 35MM,

Estudos científicos do pesquisador Augusto Ruschi na preservação da natureza, incluindo os beija-flores e as orquídeas.

Por meio de uma visão histórica, o filme fala sobre a pipa (brinquedo popular) como fator de resistência cultural à massificação.

A ilha dos paqueras

A Selecionado para o Festival de Gramado (RS) (1978)

FICÇÃO, 87', 35mm, 1970,

Caieiras velhas

de Fauzi Mansur Rio de janeiro (rj)

Depois de simular um naufrágio, dois tarefeiros, o comandante e o showman do navio, acompanhados por quatro modelos, se safam para uma ilha, sem saberem que ela é base de contrabandistas. Segundo filme da dupla Didi e Dedé (Os Trapalhões), rodado em diversos pontos do litoral sudeste Brasileiro, inclusive no Porto de Vitória.

A vida de Jesus Cristo de William Cobbet

FICÇÃO, 105', 35mm, PB, 1971, São Roque (ES)

Encenação do nascimento, vida, paixão e morte de Jesus Cristo, realizada por moradores da comunidade de São Roque. História baseada no Auto da Paixão de Cristo, encenado por José Regattieri.

de Sergio Medeiros

Ficção, 15', Super-8, Cor, 1978, Vitória (ES)

COR, 1977, Rio de Janeiro (RJ)

DOCUMENTÁRIO, 11', 35mm, COR, 1979, Santa Teresa (ES)

E agora, Alfredo?

de Ney Sant’Anna, Nonato Estrela e Ângela Cozetti

Alfredo é um belo jovem que vive em dificuldade financeira. Após casar-se com uma mulher rica e feia, sua vida se transforma em um inferno e ele passa a se fazer de tudo para se livrar da esposa.

Itaúnas – desastre ecológico

de Orlando Bomfim Netto DOCUMENTÁRIO, 8', 35mm, COR, 1979, Conceição da Barra (ES)

DOCUMENTÁRIO, 10', 35mm, COR, 1979, Aracruz (ES)

Os índios tupiniquins do litoral do Espírito Santo têm suas terras reduzidas ao limite da aldeia e extraem sua subsistência do mangue

Caso Ruschi

de Tereza Trautman Documentário, 23', 16mm, COR, 1977, Santa Teresa (ES)

A disputa pela Reserva Biológica de Santa Lúcia entre o cientista Augusto Ruschi e o governo do Espírito Santo, que tenta vender a área a uma multinacional. A Prêmio do festival brasileiro do curta-metragem, Rio de Janeiro (RJ) (1977) A Prêmio especial do júri no festival de Brasília (DF), 1978

O filme narra um desastre ecológico: o desmatamento de Itaúnas (ES). Ocorrido em 1948, tornou a região inabitável em menos de 29 anos. A Melhor curta-metragem no festival de Brasília (DF) (1979)

Mestre Pedro de Aurora – para ficar menos custoso

de Orlando Bomfim Netto DOCUMENTáRIO, 10', 35MM, COR, 1978, Conceição da Barra (ES)

Documentário sobre o último tirador de jongo e raiz, líder dos cantadores e festeiros da região de Vila de Santana, em Conceição da Barra, Espírito Santo.

Castelo: Corpus Christi de Luiz Tadeu Teixeira

DOCUMENTÁRIO, 12', SUPER-8, COR, 1978, Castelo (ES)

Registro da festa de Corpus Christi em Castelo (ES). Preparação para a festa e procissão.

1966 — 1979

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Nós, os canalhas

O mastro de Bino Santo

O roubo do filme

FICÇÃO, 103', 35mm, PB E COR, 1975,

DOCUMENTÁRIO, 10', PB,

FICÇÃO, 20', 35MM, SUPER-8,

Rio de Janeiro (RJ) e Vitória (ES)

Mudo, 1971, Vitória (ES)

COR, 1977, Vitória (ES)

História de dois gêmeos quase homônimos que, nascidos e criados no interior do Espírito Santo, partem para o Rio, em momentos distintos de suas vidas. Enquanto o primeiro está envolvido com o crime, o segundo é vítima de bandidos.

Documentário sobre a festa da puxada e fincada do mastro de São Benedito, realizada anualmente na cidade da Serra (ES).

Em plena ditadura militar um grupo se reúne para produzir um filme. Alguns acontecimentos estranhos desencadeiam clima de desconfiança e medo. A suspeita é de que algum agente do regime militar esteja infiltrado na equipe. A paranóia reina quando o material filmado desaparece do laboratório de revelação.

de Jece Valadão

Obsessão

de Jece Valadão DRAMA, 100', COR, 1973, Castelo (es)

Na pequena cidade de Castelo é inaugurada, numa praça pública, uma estátua de Neuza Rangel, ex-noiva do prefeito Bernardo Graça. A moça foi morta a tiros em circunstâncias não desvendadas pela polícia. Bernardo, ressentido pela morte da noiva que esperava um bebê, resolve desvendar o caso.

de Ramon Alvarado

Os pomeranos

de Amylton de Almeida DOCUMENTáRIO, 40', 16MM, COR, 1977, Santa Maria de Jetibá (ES)

Retrata uma comunidade de imigrantes nórdicos que se isolou e mantém costumes e tradições em Santa Maria de Jetibá.

Olho de gato

de José Damaceno e Ailton Claudino de Barros FICÇÃO, 30', SUPER-8, 1975, Pancas (ES)

Faroeste rodado em 1975, na cidade de Pancas (ES), dirigido pelo lavrador e amante do cinema, José Augusto Damaceno. A realização do filme mobilizou toda a cidade e hoje permanece apenas na lembrança daqueles que participaram do projeto, já que o paradeiro do filme é desconhecido.

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O sonho e a máquina de Alex Viany

DOCUMENTÁRIO, 20', 16mm, PB E COR, 1974, Castelo e Cachoeiro

A Vencedor do I Festival de Verão da Rede Globo (1977)

O Rei do Ibes e outros experimentos

de Mario Aguirre, Ricardo Conde e Marco Antonio Neffa Animação, 3', super-8,

A Melhor filme no Festival de Santos (SP)

de Sergio de Medeiros

1977, Vitória (ES)

Uma série de experimentos em desenho animado quadro a quadro filmados em Super-8. São aproximadamente 6 filmetes de 30 segundos cada um. Trata-se do primeiro trabalho em animação realizado no Espírito Santo.

de Itapemirim e castelo (ES)

Documentário sobre Ludovico Persici. Mostra desde sua família, sua trajetória de vida até sua criação: a máquina de filmar, revelar e projetar filmes.

O Vale do Canaã de Jece Valadão

FICÇÃO, 94', 35mm, COR, 1970, Santa Leopoldina (ES)

A história de um imigrante italiano que chega ao Vale do Canaã, no Espírito Santo, no início do século XX, e enfrenta muitas dificuldades para recomeçar a sua vida. Baseado no romance Canaã, de Graça Aranha. A Prêmio melhor diretor e melhor atriz no Festival de Santos (SP), 1970

Plano Geral


Paraíso no inferno de Joel Barcellos

FICçãO, 72', 35MM, COR, 1977, Vitória (ES)

São Sebastião dos boêmios

de Amylton de Almeida e Wladmir Godoy

Tutti, tutti, buona gente, propriamente buona

de Orlando Bomfim Netto

DOCUMENTÁRIO, 39', 16MM,

DOCUMENTÁRIO, 28', 35mm,

O filme narra a história de um jovem poeta que recusa um contrato para unir-se a um amigo e formar uma banda com potencial de sucesso, unicamente para preservar a própria liberdade. Ele passa, então, a levar uma vida tradicional de operário até que um acontecimento envolvendo o amigo muda seu destino...

COR, 1976, Serra (ES)

COR, 1976, Santa Teresa (ES)

São Sebastião foi a maior zona de prostituição da América Latina, durante os anos 1970. O documentário descreve personagens que habitam e frequentam o local, em uma narrativa que intercala momentos de alegria e tristeza, próprios dos boêmios.

No centenário da imigração italiana, a colonização do Espírito Santo é abordada do ponto de vista dos habitantes de Santa Teresa, o mais forte e representativo núcleo de imigração do estado.

Quando as mulheres querem prova

Ticumbi

de Cláudio MacDowell

de Elyseu Visconti DOCUMENTáRIO, 17', 35MM,

Comédia, 90', 35MM, COR, 1975

COR, 1977, Rio de janeiro (RJ)

O filme narra as aventuras do paquerador Bira, belo jovem que decide passar as férias em Vitória e acaba se envolvendo em confusões que incluem várias mulheres e boatos de que ele seja gay. Estrelado pelo galã da pornochanchada brasileira, Carlo Mossy, o filme foi um grande sucesso de bilheteria na época.

Registro da festa de Ticumbi como se apresenta na cidade de Conceição da Barra, Espírito Santo, executada pelos remanescentes do quilombo local, notável pela pureza étnica. A festa do Ticumbi é a dramatização da disputa entre o Rei Congo e o Rei Bamba e suas respectivas cortes. São 16 personagens e um violeiro que dançam e cantam ao som de vigorosos pandeiros de influência árabe.

Sagarana: o duelo de Paulo Thiago

A Prêmio Coruja de Ouro, Troféu Humberto Mauro da Embrafilme, São Paulo (SP), 1976

Variações para um tema de Maiakovski de Luiz Tadeu Teixeira

FICÇÃO, 16mm, PB, 1971, Vitória (ES)

Cenas de rua da cidade de Vitória são acrescidas de uma encenação em pantomima de um haraquiri, inspirada num poema de Maiakovski. Filme não finalizado. Entretanto, alguns de seus trechos foram utilizados na montagem final de Ponto e Vírgula (1969), do mesmo diretor. História baseada em A Plenos Pulmões, poema de Vladimir Maiakovski.

FICÇÃO, 98', COR, 1973, Vitória (ES)

No sertão brasileiro, um matador de aluguel volta para casa e encontra sua mulher envolvida com um pistoleiro. Começa, então, o duelo entre dois homens, acostumados a matar, pelo amor dessa mulher. O filme concorreu ao Urso de Ouro no Festival de Berlim (1974). A Melhor fotografia e melhor ator coadjuvante para Wilson Grey, com o prêmio Coruja de Ouro da Embrafilme (1973) A Melhor filme da Embrafilme baseado em obra literária, Embrafilme (1973)

1966 — 1979

A Melhor trilha sonora, 10º Festival de Brasília (1977)

Ticumbi – canto para a liberdade

de Orlando Bomfim Netto DOCUMENTÁRIO, 12', 35mm, COR, 1978, Conceição da Barra (ES)

O Ticumbi, seus intérpretes e a relação realidade versus misticismo e a fantasia versus herança cultural.

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1980 1980 — 19 — 19 Eu sou Buck Jones, 1997


0 999 1999



Da chegada do vídeo à retomada do cinema capixaba

Onde está aquele povo barulhento? A orquestra e os tiros de canhão da “Abertura 1812”, de Tchaikovsky, ecoam, com toda pompa. Contudo, em lugar dos usuais fogos de artifício e das comemorações de vitória, as imagens que se sucedem são devastadoras: centenas de pessoas, a maioria mulheres e crianças, avançam sobre o lixo descarregado pelos caminhões, disputando espaço com os urubus. Recolhe-se de tudo, em meio aos detritos, à carniça e ao lixo hospitalar. Alguns, mais afoitos, sobem em cima dos veículos ainda em movimento, na esperança de conseguir algo em estado menos degradado. Mãos de crianças em idade pré-escolar avançam em meio aos dejetos e recolhem frutas ou potes já abertos de iogurte, degustados sem maiores cerimônias no meio de todo mundo, enquanto caminham indiferentes à presença da câmera. Ao final, um plano geral revela centenas de palafitas erguidas em meio ao mangue, muitas delas acessíveis apenas por frágeis pinguelas. A legenda finalmente anuncia onde estamos: “Bairro São Pedro – Vitória, ES, 1983”. Essas são as cenas iniciais de Lugar de toda pobreza (1983), documentário televisivo de Amylton de Almeida, que retrata, em pouco mais de 50 minutos, a dureza cotidiana dos moradores das cercanias do maior depósito de lixo da Grande Vitória. Milhares de pessoas que vivem da coleta, reaproveitamento e ocasional revenda daquilo que usualmente é descartado pelo resto da população. São barracos de madeira, sem água encanada ou energia elétrica, construídos em áreas invadidas: alguns deles quase soterrados em meio aos detritos, que chegam à altura das janelas – e é de uma dessas janelas que uma mãe, cercada por dois filhos pequenos, enumera para a câmera as principais reivindicações dos habitantes daquele bolsão de pobreza. Nada ali nos remete às atuais imagens do belíssimo pôr do sol no deque da Ilha das Caieiras, com seus restaurantes de frutos do mar e sua forte vocação turística, amplamente registrada pelos principais fotógrafos capixabas nas duas últimas décadas. O choque com o presente, em que a região, ainda que predominantemente de baixa renda, encontra-se razoavelmente urbanizada, é inevitável. Se nós, espectadores contemporâneos, estamos muito distantes do contexto original daquelas imagens, o realismo cru com que elas foram captadas nos transporta a uma experiência radical e sem maiores concessões. Neste retrato, o azul imaculado do céu é sempre atravessado pelo bando de urubus em revoada. Estamos nos anos 1980, meio a uma gravíssima recessão econômica, com elevada taxa de desemprego, agravada pelo êxodo rural ainda bastante

1980 — 1999

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intenso, e apenas no início de uma década na qual a hiperinflação irá atingir níveis estratosféricos. Ao mesmo tempo, vive-se, na Grande Vitória, a continuidade dos grandes projetos industriais iniciados na década anterior, a implantação de grandes siderúrgicas e um processo de urbanização e modernização cada vez mais intenso, especialmente nos bairros mais nobres da cidade. São duas faces de um mesmo processo, muito embora uma delas (a mais favorecida) pareça desconhecer o que acontece do outro lado da ilha. O filme abre mão dos usuais narradores e apresentadores, ainda tão comuns no documentário televisivo da época (e também nos trabalhos anteriores do cineasta), para dar ampla voz aos seus protagonistas. Há toda uma crença naquilo que a câmera registra, especialmente nos depoimentos de quem vive naquelas condições precárias. Em meio ao aparente caos, aos poucos começamos a perceber a organização interna dessa comunidade, guiados pelas falas da líder da Associação de Catadores, dona Leda dos Santos. Seguem-se depoimentos não só dos catadores, mas também de outros intermediários dessa cadeia produtiva. Uma mulher relata a dificuldade de seu marido epilético para obter emprego fixo, enquanto a fachada de seu barraco, erguido numa pedra, é enquadrada de modo a destacar a placa de madeira que ocupa metade de uma parede, com os dizeres “obra financiada pela Caixa Econômica Federal” – num contundente comentário irônico da câmera, típico de Amylton para ampliar o caráter de denúncia de seus filmes. Ao mesmo tempo em que são relatados os violentos conflitos entre a polícia (defendendo os supostos proprietários das terras) e os “invasores”, testemunhamos, num momento de trégua, a construção de novos casebres em meio ao charco – e o melancólico piano que acompanha as imagens confere alguma doçura àqueles corpos franzinos que tentam equilibrar as tábuas nos ombros enquanto atravessam a densa lama do mangue, quase atingindo-lhes a cintura. Aliás, o uso da trilha sonora erudita, com forte viés melodramático, busca sacudir a apatia do próprio espectador, ao contrapor a dureza das imagens da vida no lixão a trechos de conhecidas composições do repertório erudito (como Carmina Burana, de Carl Orff ), ou mesmo “Desapareceu um povo”, canção religiosa bastante popular nas igrejas pentecostais da época, cujos versos indagavam: “Onde está aquele povo barulhento/ Onde está que não se vê nenhum irmão?”. A intenção era, claramente, provocar o choque necessário no espectador de classe média – tanto que o impacto do filme junto à opinião pública foi fulminante, após ser exibido pela TV Gazeta e, posteriormente, em rede nacional. Se hoje essa estratégia pode soar sensacionalista, na época ela parecia ser a opção mais viável, traduzindo inclusive uma visão altamente pessimista do cineasta, em um período no qual a forte crise econômica não permitia vislumbrar nenhuma possibilidade de esperança futura. Daí a necessidade de conferir visibilidade ao tema junto às audiências televisivas, trazendo-o para a agenda pública, de modo a obrigar, de algum modo, o Estado a investir em infraestrutura na região – algo que só aconteceria efetivamente a partir do final da década. Lugar de toda pobreza, além de aproveitar bem as especificidades do meio televisivo, também traz em si as marcas do fazer videográfico, que seria o

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Plano Geral


modo de produção de imagens predominante no Espírito Santo durante boa parte dos anos 1980, seja no campo do documentário, da ficção ou da nascente videoarte. Destaco aqui: a mobilidade das câmeras de vídeo, permitindo se filmar em qualquer lugar, seja no formato U-Matic profissional das emissoras de TV da época, ou nos formatos caseiros Betamax e VHS, largamente utilizados pelos produtores independentes; a possibilidade de se assistir ao material logo após sua gravação, sem ter que recorrer aos procedimentos laboratoriais de revelação de filmes; o baixo custo de produção e a liberdade para se filmar mais imagens. O vídeo de Amylton, por exemplo, contou com dez horas de material bruto, o que dá uma proporção, entre as imagens captadas e as editadas, em torno de 10 para 1 – bem maior que nos filmes feitos em película 16 mm ou 35 mm, que variavam geralmente entre 2 e 3 para 1. Além disso, foram necessários seis meses de trabalho, no qual a equipe pôde imergir no cotidiano daquela comunidade.

Do Balão ao Éden: a ascensão de uma nova geração No entanto, há um elemento fundamental que ficou de fora: a participação dos moradores no processo. Inclusive, parte das lideranças da região entendiam que o vídeo reforçava o preconceito, ao mostrar somente os problemas no lixão e não dar visibilidade às outras articulações dos movimentos sociais em São Pedro. Seria necessário que outro projeto envolvesse aquela população na produção de suas próprias imagens: o Vídeo comunitário em São Pedro, realizado por estudantes da Ufes entre 1986 e 1987 (entre eles, diversos integrantes do grupo de contracultura denominado Balão Mágico). Nele, como conta Cleber Carminati, um dos principais articuladores da cena audiovisual da época, as vídeo-reportagens eram conduzidas pelos próprios moradores, e depois exibidas e debatidas nas reuniões das associações de bairro. A experiência de uma proto-TV comunitária em São Pedro era parte de um projeto maior de toda uma geração de videomakers brasileiros nos anos 1980: a de pensar o vídeo como uma alternativa aos discursos hegemônicos televisivos, um questionamento consciente das relações de poder que envolvem a produção e a difusão de imagens. E esse pensamento se nutria da possibilidade (ainda que um tanto utópica) das câmeras de vídeo, por serem mais baratas e portáteis, permitirem ao cidadão médio ser ele mesmo produtor das imagens que consome – uma condição que só se tornaria plenamente possível já no século XXI, com os celulares, redes sociais e sites de compartilhamento de vídeos, caseiros ou não. Isso irá desembocar em várias frentes pelo país afora: além da eclosão das TVs comunitárias, também teremos um boom de documentários com engajamento social, além da produção de videoficções e da nascente videoarte. E uma característica atravessará boa parte dessa produção jovem e independente: a afirmação de um caráter de criação coletiva, cooperativa, do it yourself, experimental, questionando por vezes as tradicionais hierarquias das funções na equipe cinematográfica tradicional.

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Um prenúncio desse novo modus operandi no audiovisual capixaba pode ser observado em Criaturas da Noite, vídeo realizado por Virgínio Lima em 1983. Com duração de oito minutos, ele apresenta os integrantes do grupo A Canalhada em um espetáculo que na época causou muita polêmica, chegando a ser vaiado durante a Mostra de Dança realizada em junho daquele ano. Mas o coletivo que iria fazer bastante “barulho” no período seria o Balão Mágico, que atuou em diversas frentes na Ufes a partir de 1983: performance, pichação, happening, rádios livres, vídeo e outros ativismos (para além das desgastadas formas de articulação partidária). Influenciados tanto pelas propostas artísticas e comportamentais da contracultura, quanto pela cultura de massa televisiva, seus integrantes buscavam questionar toda uma postura conservadora que ainda insistia em dar as cartas na universidade e na sociedade capixaba, mesmo no período de abertura política. A produção audiovisual do grupo não se restringiu somente a trabalhos acabados, assumindo também um caráter de permanente processo. E com o primeiro vídeo “propriamente dito”, Refluxo (1986), dirigido por Sérgio Medeiros, eles inauguram um intenso movimento videográfico na Ufes, que atravessaria toda a segunda metade da década. Trata-se de uma obra de ficção científica, ambientada em dezembro de 2010, após a destruição da civilização pela guerra nuclear. Ao som robótico de Kraftwerk, uma locução feminina nos apresenta uma cidade-laboratório, construída para oferecer condições de vida a parte dos sobreviventes, que pretendem erguer um “Quinto Império”, com ares neonazistas – subestimando que outros humanos, mutantes, atingidos pela catástrofe, também sobreviveram, rastejando e alimentando-se de baratas, procriando como ratos fora dos muros da cidadela. De repente, um reggae eletrônico. Somos apresentados à cúpula do Quinto Império: em plano-sequência, quase sem cortes, iluminação expressionista, maquiagem e mise-en-scène teatrais. O tom de deboche e acidez marcam essa paródia da histeria totalitarista. Já os atores que representam os mutantes são retratados com máscaras de papel machê, capas plásticas e gestos de ampla teatralidade. Decide-se então enviar uma cobaia ao passado. O mundo de 1986 é tão distópico quanto o “futuro”: drogas injetáveis, alienação coletiva, inexistência de solidariedade. Enquanto a cobaia (interpretada pela futura cineasta Sáskia Sá) perambula pela cidade, ao sabor de encontros incertos e que vão se revelando (ou não) como parte de um pesadelo dentro de outro. Refluxo faz da precariedade técnica e dos poucos recursos cenográficos os elementos de sua força. A opção pelo preto e branco de alto contraste, ao mesmo tempo que busca encobrir a falta de equipamentos de iluminação e a baixa resolução da imagem captada pela câmera, acaba criando uma atmosfera densa, repleta de sombras pontiagudas. Feito em caráter cooperativo, com atores estreantes e equipe reduzida, ele traduz, em sua trama, toda uma atmosfera de ceticismo que circulava nos subterrâneos da aparente euforia com a chegada da “tal Nova República” no Brasil. Não à toa, quando a personagem de Saskia percorre a região de São Pedro, em pleno 1986, as pinguelas e os casebres fincados no meio da lama ainda es-

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tão lá, e os personagens parecem ter poucas esperanças na diminuição do abismo entre ricos e pobres. Entre os principais integrantes da ala videográfica do Balão Mágico, citam-se Cleber Carminati, Ernandes Zanon, Sáskia Sá, Antônio Chalhub e Paulo Sérgio Socó, este último mais interessado no campo da videoarte. Entre os trabalhos do grupo, inclui-se ainda o documentário O resgate (1987) e Rendam-se Terráqueos, dirigido por Chalhub e que compila uma série de esquetes, performances e outras intervenções realizadas pelos integrantes do grupo desde 1984 e finalizado em 2002. Em 1999, o Balão seria tema do documentário Pacíficos e ruidosos, de Rodrigo Linhales, Tati Rabello e Larissa Machado. Segundo Cleber Carminati, outros trabalhos universitários do período incluem os vídeos: Formólia (1986), de Ricardo Nespoli e Paulo Sérgio Socó; Janelas (1987), de Ricardo Nespoli e Renzo Pretti; e Aedes Aegyptis (1986-87), projeto de caráter performático dos artistas visuais Rosana Paste, Mac e Celso Adolfo (egresso do grupo A Canalhada), sob o qual seria realizado A vida íntima de Nefertiti (1987), espécie de “novela” sobre o cotidiano da rainha egípcia que foi um ícone de beleza no tempo dos faraós. Rosana, Mac e Celso integrariam, posteriormente, o grupo Éden Dionisíaco do Brasil, do qual também fizeram parte Cleber Carminati, Saskia Sá, Rita Elvira, Gabi Lima e Lobo Pasolini. Nas palavras de Rosana Paste, o grupo partia de releituras cênicas da história da arte para criar “quadros performáticos, mutantes e improvisados”, apresentados em espaços cênicos – como o Theatro Carlos Gomes, que foi palco da montagem de Quadros Bíblicos, em 1989, na qual a cabeça de São João Batista era entregue em um televisor. O grupo não se interessava pelas convenções do teatro, preferindo produzir obras abertas e inacabadas: “Nossa pesquisa estava direcionada para o corpo, a dança, o improviso, a releitura e a interpretação dos ‘ismos’ das artes, de artistas, de contextos relacionados a fatos históricos”, recorda a artista. O espetáculo encerrava com a exibição da videoperformance O inferno de Dante (1989), realizada no Morro do Moreno, em que todos os integrantes do grupo estavam nus e angustiados, buscando um lugar de sobrevivência. Rosana relata que o mar tinha que ser vermelho e que, para obter o efeito desejado, foi colocado papel celofane da mesma cor na frente da tela, colorindo os corpos e a paisagem: “o céu, o mar, a terra, tudo passou a ser o inferno”. O espírito anárquico e demolidor das performances do Éden continuaria em uma série de outros trabalhos videográficos, alguns concluídos e outros inacabados (como a videoperformance Panos e luzes, de 1988), em um trabalho de pesquisa permanente durante todo o período em que o grupo existiu. Sérgio Medeiros, junto a outros integrantes do Balão Mágico, seguiria com o Projeto de Pesquisa de Linguagem Imagética, iniciado com Refluxo e em atividade até hoje. Por meio dele, realizaria diversas adaptações literárias, como o média-metragem Diga adeus a Lorna Love (1988), reunindo quatro contos do livro de Francisco Grijó, e Fuga de Canaã (1991), primeiro longa-metragem em vídeo feito no Estado, a partir do romance homônimo de Renato Pacheco. Antes disso, no comecinho dos anos 1980, ele havia

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realizado mais dois trabalhos no formato super-8: o curta Santa Maria Julião (1980) e o longa Sinais de fascismo (1980), inspirado no Caso Argolas, um esquema de tráfico e corrupção de menores nas instituições carcerárias do Espírito Santo, denunciado em reportagem do jornal A Gazeta por Amylton de Almeida e Glecy Coutinho, em 1978. Quando exibido pela primeira vez, no cineclube da Ufes, o longa-metragem foi apreendido por um grupo de policiais do DOPS, em uma manobra ilegal e que feria a autonomia universitária. O longa foi mutilado, com a retirada das cenas que denunciavam os policiais envolvidos nos crimes citados, e ficou muitos anos sem ser exibido.

Ficção e documentário: outros olhares Outros trabalhos de videoficção incluem ainda a série Telecontos capixabas, realizada por Antonio Carlos Neves para a TVE, entre 1983 e 1986. Somente um único trabalho ficcional no formato 35 mm é realizado no Espírito Santo em toda a década de 1980: o longa-metragem carioca Corpo a corpo, todos os sonhos do mundo (1984), de Iberê Cavalcanti. O filme é uma tragédia familiar, ambientada em uma fazenda em Guarapari, e contou com alguns capixabas no elenco (Glecy Coutinho, Agostino Lazzaro e Paulo de Paula) e na equipe técnica. Rodado em 1981, ainda sob o nome de Veias abertas, o longa de Cavalcanti seria o vencedor do Rio Cine Festival em 1984. No campo do documentário, o vídeo também deixou uma farta produção, como a continuidade da série de documentários televisivos iniciada no final da década de 1970 por Amylton de Almeida: além de Lugar de toda pobreza, foram realizados O último quilombo (1980), premiado no III Festival de Verão da Rede Globo; Piúma: Conchas (1988); Nasce uma cidade (1989), que retrata as origens de Itanhenga (hoje, Nova Rosa da Penha), outro bairro pobre e violento da Grande Vitória; e Incêndio nas mentes ( já em 1990), retratando a perseguição aos descendentes de alemães no Espírito Santo durante a Segunda Guerra Mundial, acusados de colaborar com o regime nazista. Já Orlando Bomfim transitaria entre o cinema e o vídeo, mantendo seu projeto de mapeamento das manifestações culturais tradicionais, como em As paneleiras do barro (1983), média-metragem que buscava resgatar a confecção da panela de barro capixaba, em um momento em que a atividade corria grande risco de extinção, e Dos reis magos aos tupiniquins (1985), registrando a história da Igreja dos Reis Magos, em Nova Almeida. Ele realizaria ainda uma série de documentários televisivos, à frente da TVE (emissora da qual foi diretor no período), entre os quais se destaca Um inferno na ilha (1986), sobre o bairro São Pedro. Também no começo da década, outros colaboradores de Bomfim acabam por fixar residência no Espírito Santo, como o compositor e maestro Jaceguay Lins, autor de várias trilhas sonoras do cinema brasileiro, e o diretor de fotografia Douglas Lynch. Lynch dirigiria o documentário Receita artesanal (1988), sobre o preparo da moqueca capixaba, cujo roteiro, de autoria de Adilson Vilaça e Heloísa

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Figueiredo, fora o vencedor do concurso realizado pelo Departamento Estadual de Cultura em 1986. Realizado em 16 milímetros, o curta recebeu um prêmio especial no Rio Cine Festival, em 1989. Tendo o vídeo como suporte, Clóves Mendes dirige Balduíno, El Africano (1989), documentário sobre o octogenário artista Balduíno: poeta e artista circense, denominado “O rei da panderetologia”. Temos aqui um grande retrato, com largo uso de closes, no qual vemos Balduíno preparar sua maquiagem cênica, enquanto nos conta sua história, fala da condição de artista e negro, recita seus versos, batuca, canta e faz surpreendentes malabarismos com seu instrumento musical. Mesclando trechos da entrevista com imagens de arquivo em seus treze minutos de duração, o curta seria premiado no Festival del Cinema Latino Americano de Trieste, na Itália. Já o artista multimídia Nenna, também no final do período, registraria em vídeo suas experiências com o escultor Franz Krajcberg e o videomaker, músico e pesquisador Arlindo Castro. Daí resultariam dois documentários que seriam finalizados mais de vinte anos depois: respectivamente, Krajcberg (2004) e 88AC – Uma viagem Nenna Arlindo Castro (2004).

E a década chega ao fim... O final dos anos 1980, ao mesmo tempo que contaria com poucas salas de cinema de rua funcionando na Grande Vitória, testemunha a inauguração do Cineclube Ludovico Persici, no Centro Cultural Carmélia M. de Souza, o primeiro do Eestado a funcionar em 35 mmilímetros. Durante toda a década, ainda teremos uma forte movimentação cineclubista no Estado, dando continuidade ao trabalho iniciado na década anterior. E, em 1988, o escritor Fernando Tatagiba publica o livro História do cinema capixaba, a primeira publicação do gênero no Estado. Destaca-se, nesse período, a atuação do CELP (Centro de Estudos Ludovico Persici), entidade que promovia cursos, debates críticos e eventos audiovisuais como os “Noitões do Carmélia”, que viravam a noite com mostras de filmes e outras atrações culturais, marcando época na vida cultural da cidade. O CELP também editou, no ano de 1990, o jornal Trippé, primeiro periódico cinematográfico feito no Espírito Santo, que durou somente duas edições, nas quais abriu espaço para a crítica cinematográfica e as discussões sobre política cultural. Vale lembrar que vários movimentos juvenis marcaram a produção cultural capixaba no período: além do vídeo, temos uma nova geração de artistas – como Lando, Hélio Coelho e Zupo – seguindo uma forte tendência nacional de redescoberta da pintura (graças à chamada Geração 1980). Outros artistas visuais iriam se dedicar a: performance, fotografia, grafite e intervenção urbana. Também temos toda uma nascente cena roqueira (bandas como Thor, Combatentes da Cidade, Pó de Anjo), uma boa fase para o teatro e a dança, e um período de ouro na literatura, em que a coleção Letras Capixabas, da FCAA-Ufes, revelou vários jovens escritores em seus 40 títulos, publicados entre 1981 e 1989.

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Encerrando a década em que o vídeo tomou a linha de frente da produção audiovisual capixaba, temos a videoarte Graúna barroca (1989), de Ronaldo Barbosa e Ricardo Nespoli. Realizado a partir de uma intervenção na praia do Rio Negro, em Fundão, o vídeo utiliza elementos da própria região, como fogo, gravetos e água, que são animados pelos movimentos da própria natureza – na contramão das animações eletrônicas que eram a novidade entre os videomakers da época. O curta levou diversos prêmios em festivais dentro e fora do Brasil, incluindo o de Melhor Videoarte no 33º Festival de Cinema e TV de Nova Iorque, em 1991.

A estagnação da era Collor A década de 1990 começa de forma catastrófica para o cinema brasileiro de longa-metragem. No dia 16 de março daquele ano, o recém-empossado presidente Fernando Collor de Mello extinguiu, em um único ato, a Embrafilme (principal financiadora dos filmes nacionais), o Concine (órgão regulador da área) e reduziu o Ministério da Cultura a uma secretaria da Presidência da República, com todos os cortes orçamentários que isso implica. Foi um duro golpe para o cinema nacional, que já vinha atravessando uma crise na década anterior, perdendo grande parte de seu público para a televisão e para o nascente mercado das videolocadoras. Até então, os dois únicos filões de mercado que não haviam sido atingidos pela crise eram o infantil e o pornográfico. Ambos, contudo, também foram atingidos pelas medidas implantadas por Collor, que paralisaram a produção e a distribuição dos filmes nacionais até a metade da década: vale lembrar que, entre 1991 e 1996, nem mesmo Xuxa e Os Trapalhões, os campeões do segmento infantil na época, estrelaram longas-metragens. Já o cinema pornô gradualmente foi migrando para o rentável mercado de home vídeo e, por volta de 1995, suas novas produções já não ocupavam mais as salas de cinema do país. O choque foi imediato. Em 1992, foram concluídos nove filmes (incluindo os pornôs), e lançados apenas três. Em 1993, dos 11 títulos realizados, apenas quatro chegaram às telas brasileiras – atingindo cerca de 0,5% da bilheteria total do ano, um número irrisório quando lembramos que, em meados dos anos 1970, o cinema nacional detinha um terço do total de ingressos vendidos no Brasil. A situação começa a melhorar a partir de 1996, quando Carlota Joaquina (1994), de Carla Camurati, e O quatrilho (1995), de Fábio Barreto, alcançaram grande sucesso de público, ultrapassando a barreira de um milhão de espectadores – e, no caso do filme de Barreto, obtendo uma indicação para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Essa nova fase, denominada pelos historiadores de “Retomada do Cinema Brasileiro”, irá se estender até 2002. Nela, a produção nacional consegue um novo fôlego, graças à consolidação de leis de incentivo federais, como a Lei do Audiovisual e Lei Rouanet. Seria necessário, contudo, esperar quase uma década até que as salas de cinema pudessem finalmente acolher uma parcela representativa

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desses filmes – que encontravam raros espaços para serem exibidos em um crescente circuito nacional de festivais e mostras. No período Pré-Retomada, o Espírito Santo, Estado que praticamente não produziu cinema na década de 1980, parecia ser uma pequena luz no fim do túnel em que todo o setor mergulhara durante a era Collor. A partir da abertura de uma linha de financiamento de projetos culturais disponibilizada pelo Banco de Desenvolvimento do Estado do Espírito Santo (Bandes), vislumbrou-se a possibilidade de criação de um “polo de cinema” no Espírito Santo – termo amplamente usado pela imprensa local e até nacional naqueles anos. Curiosamente, o primeiro filme realizado com esses recursos foi um curta-metragem experimental – Miragem das fontes, de Gelson Santana, produzido pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 1990. Em um momento em que praticamente não se rodaram longas-metragens no país, os recursos do Bandes atraíram alguns projetos de outros Estados, que utilizaram cenários, figurantes e, em escala bem menor, atores e técnicos locais como contrapartida para suas realizações. São eles: Vagas para moças de fino trato (1993), de Paulo Thiago; Lamarca (1994), de Sérgio Rezende e Fica comigo (1996), de Tizuka Yamazaki. Desses, apenas Lamarca conseguiu alguma repercussão, tendo atingido a marca de 130 mil espectadores no ano de seu lançamento – um feito, em um ano no qual somente sete filmes nacionais chegaram às telas, a maioria não atingindo sequer a marca de dez mil ingressos vendidos. O filme de Sérgio Rezende também proporcionou um papel de destaque ao ator capixaba Eliezer de Almeida, que chegou a ganhar o troféu de Melhor Ator Coadjuvante no Prêmio Cidade de São Paulo de Cinema, oferecido pela Prefeitura Municipal de São Paulo aos melhores filmes nacionais realizados entre 1990 e 1994. Outro longa que utilizou cenários do Espírito Santo, na época, embora sem o apoio do Bandes, foi O guarani (1996), de Norma Bengell. Se o “polo de cinema” capixaba teve vida curta, ao menos a linha de financiamento do Bandes possibilitou a realização de um longa-metragem local – o primeiro, no formato 35 mm, totalmente concebido, produzido e dirigido por profissionais do cenário cultural capixaba. Trata-se de O amor está no ar (1997), dirigido por Amylton de Almeida, que começou a ser filmado em 1994. Com um elenco que mesclava diversos atores locais com nomes de renome nacional, e uma equipe técnica majoritariamente espírito-santense, ele conta a história de Lora Berg, mulher de meia idade, culta e de boa posição social, que apresenta um programa de namoro por correspondência em uma emissora de rádio AM. Lora apaixona-se por Carlos Henrique, dezoito anos mais jovem e desempregado, dando início a um tumultuado relacionamento amoroso. A trama, com várias referências à ópera Tannhäuser, de Richard Wagner, é um autêntico melodrama, no melhor estilo da Hollywood clássica que o cineasta tanto exaltara em suas críticas cinematográficas – dialogando, em especial, com o universo de seu diretor favorito, Douglas Sirk. Amylton faleceria em 1995, após uma batalha contra um câncer fulminante, enquanto ainda se captavam recursos para a finalização do

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longa, que, durante as filmagens, havia estourado bastante seu orçamento inicial. Ele seria concluído dois anos depois pela produtora Luciana Vellozo e pelo co-roteirista Fabiano Gonçalves, a partir de algumas anotações do cineasta – tendo sido reduzido a pouco mais da metade da duração inicial prevista pelo roteiro. O amor está no ar ainda enfrentaria dificuldades para distribuição comercial, chegando a pouquíssimos espectadores – ainda assim, foi exibido em alguns festivais, garantindo a Eliane Giardini o prêmio de Melhor Atriz em Gramado, no ano de seu lançamento. Trata-se de um filme a ser redescoberto. Dois longas-metragens em vídeo foram realizados no período: além de Fuga de Canaã (1991), de Sérgio Medeiros, adaptação do romance homônimo de Renato Pacheco, há também Kazhumbi Ojo Kalunga/ Mal das águas (1992), releitura livre do Tubarão de Spielberg, dirigida por Sidemberg Rodrigues. Rodado entre 1987 e 1991, no formato VHS e com direito a um tubarão mecânico, o longa foi realizado com recursos próprios, tendo sido restaurado e reexibido publicamente em 2012, quando se completaram 20 anos de sua sessão inicial.

A retomada do curta-metragem Como, além dos recursos do Bandes no Estado, havia poucas possibilidades de financiamento no país, durante a primeira metade dos anos 1990, muitos veteranos do cinema nacional, impossibilitados de filmar, acabaram migrando (uns temporariamente, outros de modo definitivo) para outros campos – como a televisão, a publicidade e o jornalismo. Para os jovens realizadores, muitos deles recém-egressos das faculdades de cinema do país, a única forma de se fazer cinema, naquele momento, era o curta-metragem – mesmo com o formato não conseguindo mais espaço nas salas de exibição convencionais, já que a Lei do Curta havia caído no governo Collor. No Brasil, a segunda metade dos anos 1980 havia se tornado conhecida pela “primavera do curta”: um período em que o formato não só possuía um mercado próprio, mas também ganhava reconhecimento nos festivais dentro e fora do país. Talvez o mais bem-sucedido exemplar dessa fase tenha sido Ilha das flores (1989), de Jorge Furtado, vencedor do Urso de Prata do Festival de Berlim na categoria Melhor Curta em 1990. Embora a viabilidade comercial do curta tenha decrescido significativamente na Era Collor, a produção continuou a pleno vapor, movida pelos custos relativamente baixos, pela liberdade criativa e pelos recursos obtidos por meio das diversas leis de incentivo e fundos culturais mantidos pelos governos estaduais e municipais, que se consolidavam em diversos cantos do país. Estados como Pernambuco, Minas Gerais, Ceará, Bahia e o Distrito Federal, entre outros, vêm se somar aos já tradicionais Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul em termos de uma produção cinematográfica constante e de reconhecida qualidade. E é nesse formato que o cinema capixaba iria finalmente renascer nos anos 1990 – agora não mais como um ciclo

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efêmero, mas como um setor que viria a se consolidar nos anos seguintes, até atingir o grau de diversidade que possui nos dias de hoje. A principal vitrine para o curta, nos anos da retomada, era o nascente circuito de festivais que se instalava nos mais diversos Estados brasileiros. Em 1990, surge o Festival Internacional de Curtas de São Paulo e, no ano seguinte, o Curta Cinema, no Rio de Janeiro – ambos eventos de grande porte dedicados exclusivamente ao formato. Além disso, já existiam mostras de curtas em festivais mais tradicionais, como o de Brasília, o de Gramado, o Rio Cine e a Jornada da Bahia. Nos anos seguintes, surgiriam vários outros festivais em todo o país – entre eles, em 1994, o Vitória Cine Vídeo. Durante os primeiros três anos, esse festival que transformaria toda a cena cultural do Estado era uma mostra de caráter não-competitivo, no Cine Metropolis, na Ufes, gerida pelo próprio poder público. A partir da quarta edição, em 1997, o festival passa a ser realizado pela Galpão Produções, com direito a uma mostra competitiva de curtas metragens em película (16 mm e 35 mm) e outra em vídeo, além do lançamento de longas-metragens brasileiros inéditos no circuito capixaba. E, entre 1997 e 2007, o CineTeatro Glória (atual Centro Cultural Sesc Glória) foi seu principal espaço de exibições, sempre atraindo um público superior a 1.000 espectadores por noite. Ao final dos anos 1990, ele já era um dos principais festivais de curta-metragem do país, não apenas mantendo o público espírito-santense em dia com as principais tendências do audiovisual brasileiro, mas também dando visibilidade à produção local e revelando novos nomes, através de seu concurso de roteiros, iniciado em 1998. Tendo chegado à 21ª edição em 2014, o festival mantém ainda, desde 2011, uma mostra competitiva de “longas”. Outro fator importante para que o curta-metragem capixaba pudesse se consolidar foi a criação da Lei Rubem Braga, do município de Vitória, mecanismo de renúncia fiscal cujos recursos arrecadados são destinados a projetos culturais. Implantada em 1991, a lei foi, durante mais de uma década, a principal fonte de financiamento para filmes e vídeos locais, ainda que, no começo, os valores aprovados nem sempre fossem suficientes para cobrir todo o orçamento previsto, o que fazia com que muitas obras tivessem que esperar alguns anos até serem concluídas, quando finalmente apareciam outras (raras) fontes de patrocínio. Hoje em dia, diversos municípios do Espírito Santo já contam com suas leis de incentivo, o governo do Estado possui um sistema de editais próprio e o governo federal também abre vários outros, em uma conjunção que possibilita a realização de um número maior de projetos. Entre os primeiros trabalhos que contaram com o apoio da Lei Rubem Braga, constam algumas experiências em vídeo, como TV Reciclada (1992), de Arlindo Castro e Ronaldo Barbosa. Híbrido de videoarte e documentário ensaístico, o média-metragem traça uma série de questionamentos sobre o lugar da televisão no imaginário contemporâneo, a partir de esquetes e gags visuais repletas de efeitos de edição e computação gráfica (alguns a cargo de Hans Donner, de quem Arlindo Castro era bastante próximo), bem ao gosto da produção videográfica brasileira da época. Já Sacramento (1992), de Luiza Lubiana e Ricardo Sá, também com recursos da Lei Rubem Braga, foi filmado em Super-8 e finalizado em vídeo. Trata-se de uma releitura do mito de São

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1  Solidão

Vadia

2  Sacramento

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Sebastião, pelo prisma de um universo onírico e repleto de arquétipos que nos remetem a tempos imemoriais, em uma linguagem que seria aprofundada nos curtas seguintes da diretora – por exemplo, em A lenda de Proitner (1995), que levou o prêmio de Revelação no Festival de Cuiabá, em 1996, e é um dos mais importantes títulos da filmografia capixaba da década de 1990. Ricardo Sá, de lá para cá, iria se tornar um dos principais documentaristas do Estado, com algumas interessantíssimas incursões no cinema ficcional, adotando uma linguagem bastante experimental. Solidão vadia (1997), realizado em 16 mm, é um exemplar dessa segunda vertente, retratando alegoricamente o encontro de um pescador com uma mulher proibida, em uma pequena aldeia, com ecos de Expressionismo Alemão – história que também seria lançada em uma montagem alternativa, em vídeo Betacam, sob outro título: Tempestade em Akkarrar (1997). Outro nome dessa geração é Marcel Cordeiro, com os curtas Passo a passo com as estrelas (1995), híbrido de ficção científica distópica com tinturas neorrealistas, e Flora (1996) – drama ambientado nos anos 1940, em uma cidade de interior, que rendeu o prêmio de Melhor Atriz à mineira Regina Braga, no Rio Cine Festival de 1996. Já Margarete Taqueti irá estrear na direção com O fantasma da mulher de algodão (1995), que resgata metaforicamente a lenda urbana que aterrorizava os banheiros das escolas públicas, ambientada na época da repressão. Um dos filmes mais importantes dessa safra é Eu sou Buck Jones (1997), estreia na direção de Glecy Coutinho, nome bastante atuante no cenário cultural capixaba desde os anos 1960, como jornalista, professora universitária e atriz. O curta recria um episódio real, ocorrido na infância da cineasta, em João Neiva, no qual, um garoto, fascinado pelo cowboy Buck Jones, herói dos faroestes de matinê, chega a cometer um assassinato para não perder o último episódio de seu seriado cinematográfico favorito. Calcado na delicada interpretação de seu protagonista mirim, o filme rendeu ao ator João Vitor Marangoni o Prêmio Revelação no Vitória Cine Vídeo de 1997. Uma análise mais detalhada dos curtas e longas produzidos em 16 mm e 35 mm na década de 1990 encontra-se no artigo “A ‘década perdida’ dos historiadores foi um período de euforia e perspectiva para os cineastas capixabas”, de João Barreto, publicado ao final deste livro.

Videoarte e videoperformance No campo do vídeo experimental e da videoperformance, a produção também segue ganhando volume e se arriscando em novos territórios. Pioneiros dos anos 1980, o grupo Eden Dionisíaco do Brasil realizaria Comida, sexo e morte (1992), trabalho performático que apresentaria um dos nomes mais atuantes da videoarte capixaba: Lobo Pasolini. Seus trabalhos no período destacam-se pelo intenso acento irônico e pela irreverente apropriação de elementos da nascente cena clubber, da cultura pop e de ícones gays e camp. Destacam-se aqui 1-2-3 Terezinha Remix (1995), Oneman show (1996) e A autobiografia de todo mundo (1998), os dois últimos realizados em parceria com a artista Rosana Paste, sempre transitando entre a autoficção e a esté-

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tica do vídeo experimental. A produção posterior de Lobo ainda incluiria trabalhos bastante instigantes como Love in the age of graphic design (2003) e Entrevista de trabalho (2005), enquanto Rosana firmaria seu nome como uma das principais diretoras de arte dos filmes capixabas, realizando ocasionais trabalhos de videoarte, como O juramento (1999) e Menina moça (2007). Outro nome de destaque é Nenna, realizador de Vydeo (1997), do qual participam Saskia Sá, Joel Barcellos e Franz Krajcberg. Já o artista plástico Júlio Tigre irá se dedicar a uma série de investigações videográficas, seja no registro audiovisual de intervenções e performances, seja na criação de dispositivos que problematizem a própria produção da imagem. Exemplo disso é Lugar algum (1998), instalação que consiste em um cavalete, onde a câmera é posicionada, capaz de ser girado em velocidades alteradas, graças a uma manivela na parte inferior, obrigando o operador a agachar-se para manuseá-la. Com isso, a câmera chega a girar, 360º na direção anti-horária, sem que o cameraman seja filmado. A cada volta, a velocidade vai aumentando, e a imagem vai borrando até desaparecer por completo. Já na virada dos anos 1990 para os 2000, uma nova geração de videomakers surgiria, tendo como principal vitrine as mostras competitivas do Vitória Cine Vídeo: Jean R., Rodrigo Linhales, Tati Rabello, Larissa Machado, Joel Vieira Junior, Cristiano Amigo Vidal e Sanny Lys são alguns desses nomes. Em comum, seus trabalhos exploravam as diversas potencialidades do vídeo digital, do videografismo e dos dispositivos de produção e exibição, além das diversas formas de apropriação dos signos da cultura de massa. Uma declaração de Tati Rabello, proferida num debate realizado no Museu de Arte do Dionísio Del Santo (MAES), em 2003, sintetiza esse estado das coisas: “Mais que a edição, o que mais me interessa é a manipulação da imagem, os efeitos da mesa”. Muitos desses realizadores transitaram entre a videoarte, o videoclipe, a animação, as videoinstalações e as intervenções urbanas – em uma tradução da estética frenética e apropriativa que marcou boa parte da produção daquela virada de século. Alguns desses trabalhos chegaram a ser apresentados em salões e galerias de arte (como o Salão do Mar, realizado na Casa Porto das Artes Plásticas) ou em exposições coletivas de videoinstalação (como a Vide, de 2000), além de intervenções urbanas em espaços públicos, como os vãos da Terceira Ponte (Em Vão, 2001) e a concha acústica do Parque Moscoso (2004). Também foram realizados diversos trabalhos híbridos, que incorporavam a estética da videoarte para a ficção – Roteiro do banal (1999) e O morcego beija-flor (2000), de Joel Vieira Junior –, para a autoficção – Joel (1999) e Meu pé de feijão (2001), também de Joel Vieira Junior – e para o documentário. Nesta última categoria, destacam-se: Múltiplos de um (1998), Ecótono (1999) e Pacíficos e ruidosos (1999), de Rodrigo Linhales, Larissa Machado e Tati Rabello, sendo os dois primeiros trabalhos em uma vertente mais ensaística; C.33 (1999), biografia de Oscar Wilde, dirigida por Jean R., que também faz largo uso de animações gráficas; e, mais recentemente, a série O processo (2008), de Mirabolica (Rodrigo Linhales e Tati Rabello) e Gabi Stein.

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1  Comida, sexo e 2  C.3.3. 3  A autobiografia 4  TV Reciclada 5  Moda 6  Looping

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morte de todo mundo

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Documentário Já em uma vertente mais próxima às linguagens já consolidadas do documentário, também foram realizados vários trabalhos importantes, como Costa Pereira (1995), de Clóves Mendes, um “docudrama” sobre a praça homônima, localizada no centro de Vitória; Cachoeiro em três tons (1994), roteirizado por Luiz Trevisan e dirigido por Clóves Mendes, sobre três gerações da família que trouxe ao mundo os compositores Raul Gonçalves Sampaio, Raul Sampaio e Sérgio Sampaio; Uacataca Tinguilim (1998), de Federico Nicolai, cujo título vem do barulho produzido pelo vendedor de quebra-queixo, ao anunciar seu produto pelas ruas da cidade; Moda (1993), estreia na direção de Saskia Sá, egressa do Balão Mágico; e Na parede, na toalha, no lençol (1998), premiado documentário sobre o movimento cineclubista dos anos 1970, dirigido por Lizandro Nunes, Luciana Gama, Ursula Dart e Virgínia Jorge. Todos esses trabalhos tiveram o vídeo como suporte, tendência que iria se ampliar nacionalmente na década seguinte, graças à praticidade e aos baixos custos, possibilitando aos documentaristas gravarem uma quantidade bem maior de material e experimentar outras estratégias de interação com seus entrevistados, e até mesmo novas linguagens. Também se inclui nessa safra o videodocumentário Ilha do rock, lançado em fevereiro de 1993 por Dan Zecchinelli, Nazareth Pirola, Andrea Zuchi e Beto Castelluber. Durante 25 minutos, esboçava-se, no ritmo frenético da linguagem de videoclipe, um mapa da emergente cena roqueira da Grande Vitória, que iria crescer exponencialmente durante o restante dos anos 1990. Foram entrevistadas oito bandas, dos mais diferentes estilos: Urublues, The Rain, Illness, Lordose pra Leão, Porrada!!!, Camisa de Força, Skelter e Clube Big Beatles. Muitas delas viriam a gravar seus LPs e CDs nos anos seguintes e encontrariam um fiel público nas festas do campus da Ufes, do Camburi Clube, nos eventos da FAFI e nos festivais Rock Lama, realizados na rua da Lama, em Vitória, epicentro da cultura alternativa capixaba durante toda a década. Em 2011, a própria rua da Lama seria tema do documentário Uma volta na Lama, realizado por Ursula Dart, filme que busca investigar as transformações da cidade a partir das diversas mudanças que a rua havia passado e das diversas cenas culturais que nela deixaram seus rastros.

Alternativas para a formação de novos realizadores A década de 1990 presenciou a abertura das primeiras salas de cinema no Shopping Vitória (os Cines Vitória 1, 2 e 3) e do Cine Metrópolis, na Ufes – um espaço dedicado aos filmes de fora do “circuitão”, especialmente brasileiros, europeus e independentes norte-americanos. Mas também viu, num curto espaço de tempo, o fechamento de todas as salas do centro de Vitória: o São Luiz, o Glória, o Santa Cecília e o Paz. Já a Fafi, transformada em Escola de Arte pela Prefeitura de Vitória e oferecendo cursos livres e programação cultural variada, foi espaço para a realização de algumas mostras filmes em 16 mm, por volta de 1993-1995, exibindo clássicos do

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Plano Geral


cinema francês, alemão e japonês. Também o Cineclube Ludovico Persici, no Centro Cultural Carmélia M. de Souza, antes de encerrar as atividades, chegou a abrigar uma extensa mostra em comemoração ao centenário do cinema, entre 1994 e 1995, com exibição semanal de vários clássicos. Entre as poucas opções que restavam ao público cinéfilo local, estavam as videolocadoras, especialmente a Camburi Video e a Show Vídeo, que chegaria a ser considerada uma das dez melhores do país. Por outro lado, a crescente atividade audiovisual no Estado começou a despertar o interesse de vários jovens, sedentos por capacitação técnica, de modo que as oficinas e cursos livres de curta e média duração foram se tornando uma constante durante toda a década de 1990. Alguns longas-metragens, como Fica comigo e A morte da mulata (que seria finalizado em 2002) chegaram a oferecer oficinas técnicas para formação de mão de obra, e o próprio Vitória Cine Vídeo passaria a oferecer minicursos e oficinas a partir de 1997. Se um curso superior de Cinema na Ufes, todavia, só se tornaria realidade a partir de 2010, o mais perto que se oferecia em termos de formação audiovisual vinha do curso de Rádio e TV, iniciado pela Faesa em 1995 e, em menor escala, com as poucas disciplinas na área, ofertadas pela Ufes nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Artes Plásticas. Daí o grande interesse dos futuros realizadores em participar dos cursos livres então ofertados na Grande Vitória. Três cursos de longa duração marcariam época e seriam responsáveis por revelar novos realizadores. O primeiro deles foi “Corpo e imagem”, realizado na Fafi durante todo o ano de 1992, com apoio da TVE e da TV Gazeta, e coordenado por Amylton de Almeida. Dele surgiu o vídeo-documentário Cupido no ar (2002), escrito e produzido por alunos do curso, e dirigido por Roberto Partelli, Raquel Lucena e Fabiano Gonçalves. Dessa turma, surgiria ainda boa parte da equipe do longa O amor está no ar. Já os outros dois cursos, de nome “Realização Cinematográfica”, foram coordenados por Valentina Krupinova, cineasta russa radicada no Brasil, e tiveram como resultado curtas-metragens ficcionais em película 16 milímetros. O primeiro deles ocorreu em 1994 e deu origem ao filme Gringa Miranda, cujo roteiro foi escrito por Valentina, Ricardo Sá e Luiz Tadeu Teixeira. Nele, foram revelados nomes como Gabby Egito (atualmente radicada nos Estados Unidos, onde dirige seus filmes), Marcos Figueiredo (de Bem-vindos ao paraíso) e Carlos Augusto de Oliveira (que viria a residir na Dinamarca e realizar diversos filmes, entre os quais uma coprodução com o Brasil, o longa-metragem Rosa Morena, de 2010). O segundo curso aconteceu no segundo semestre de 1997 e resultou no curta Labirintos móveis (1998). Deste grupo, sairia toda uma geração de diretores, atores e técnicos: Lizandro Nunes, Ursula Dart, Virgínia Jorge, Erly Vieira Jr, Vanessa Frisso, Alessandra Toledo, Leandro Queiroz, Tatiana Martinelli, Janaína Serra, Luciana Gama, entre outros – em sua maioria, estudantes de Jornalismo ou Publicidade da Ufes e ávidos frequentadores dos cursos, oficinas, mostras e festivais que aconteciam na época. Esse grupo continuou trabalhando junto durante o começo dos anos 2000, à medida que vários de seus integrantes faziam seus primeiros filmes e que cada um se especializava em sua respectiva função técnica.

1980 — 1999

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Em 1998, Janaína Serra e Vanessa Frisso produziram um curso de Super-8, resultando no curta-metragem O enforcado, que envolveu diversos dos realizadores acima citados, além de outros que foram se agregando ao grupo: Ana Cristina Murta, Alexandre Serafini, Aracely Cometti, Gustavo Feu, Herbert Pablo. No mesmo ano, Erly Vieira Jr venceria o I Concurso de Roteiros Capixabas do Vitória Cine Vídeo, com Macabéia, que seria rodado em 1999 e finalizado em 2000, contando com boa parte dessa turma na equipe técnica e no elenco. Ainda em 1999, Virgínia Jorge realizaria De amor e bactérias, filmado em super-8 e finalizado em vídeo (Betacam), praticamente com a mesma equipe dos filmes acima citados (agregando ao grupo Fabrício Coradello e Rosana Paste). Premiado no Festival de Cinema do Maranhão e no festival universitário Vide Vídeo, da UFRJ, o curta é o verdadeiro marco inaugural dessa geração capixaba surgida no final dos anos 1990, tanto em termos de estética e de linguagem, quanto no modo de produção. Se a década iniciara em meio às trevas e à incerteza para o cinema brasileiro, seu final apresentava-se bastante promissor para o audiovisual capixaba. Um panorama bastante otimista desenhava-se para os anos seguintes, fortalecido por uma série de novos fatores: barateamento dos custos de produção, a ampliação dos canais de financiamento e patrocínio e a incessante atividade de numerosos realizadores, técnicos e atores – sendo que muitos deles iniciaram sua trajetória em algum momento dos anos 1990.

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Plano Geral


1980 —

Criaturas da noite

Lugar de toda pobreza

As paneleiras de barro

Experimental, 8', Vídeo,

DOCUMENTÁRIO, 58', VÍDEO,

Cor, 1983, Vitória (ES)

COR, 1983, Vitória (ES)

Registro do grupo A Canalhada (Virgínio Lima, Rita Elvira, Du Piran, Robson Ruy, Celso Adolfo, San Vita, Mariano, Célia Sampaio e Maurílio Gualandi), apresentando um espetáculo de dança que causou polêmica em Vitória em 1983.

A vida dos catadores de papel que fazem do lixo sua fonte de vida e alimentação, na região da Grande São Pedro.

de Orlando Bomfim Netto

de Virgínio Lima

de Amylton de Almeida

DOCUMENTÁRIO, 55', 16MM, COR, 1983, Vitória (ES) e Rio de Janeiro (RJ)

História da confecção da panela de barro capixaba no momento em que houve risco de extinção de sua produção, por causa da urbanização e da falta de reconhecimento de sua importância para a cultura do Espírito Santo.

Balduíno, El Africano de Cloves Mendes

Diga adeus a Lorna Love

de Sergio de Medeiros Ficção, 30', Vídeo, Cor, 1988, Vitória (ES)

Documentário, 13', Vídeo, Cor, 1989, Vitória (ES)

Documentário sobre Balduíno, El Africano, o Rei da Panderetologia – poeta, artista de circo e exímio tocador de pandeiro. A Premiado no Festival de Trieste (Itália)

Corpo a corpo – todos os sonhos do mundo de Iberê Cavalcanti

DRAMA, 87', 35MM, COR, 1984, Rio de Janeiro (RJ) e Guarapari (ES)

O filme narra a saga da tradicional família do industrial Gastão Odem, que entra em mergulha em profunda crise após o falecimento da matriarca Ângela. Revelam-se, então, segredos guardados às sete chaves e o que se desvela é um quadro dramático permeado por opressão, medo e violência. A Melhor filme no I Rio Cine Festival, 1984

1980 — 1999

Adaptação de quatro contos do livro homônimo de Francisco Grijó. Primeira produção do Projeto de Pesquisa Linguagem Imagética.

Dos reis magos aos tupiniquim

de Orlando Bomfim Netto DOCUMENTÁRIO, 10', 35MM, COR, 1985, Serra (ES)

Os movimentos culturais na Vila de Nova Almeida e a restauração do altar da Igreja dos reis magos são pano de fundo para uma síntese história do Brasil.

Graúna Barroca

de Ronaldo Barbosa Experimental, 19', Vídeo, Cor, 1989, Vitória e Fundão (ES)

Criado a partir da interferência do artista Ronaldo Barbosa na praia do Rio Negro, norte do Espírito Santo. A Medalha de Ouro no Philadelphia Film Festival (EUA, 1991) A Melhor Videoarte, 33º Festival de Cinema e TV de Nova Iorque (1991) A Special Merit Awards, 15º Festival de Vídeo de Tokyo – JVC ( Japão, 1992)

Nasce uma cidade

de Amylton de Almeida DOCUMENTÁRIO, 57', vídeo, cor, 1989, Cariacica (ES)

A ocupação de um novo bairro em Cariacica: Itanhenga.

O inferno

de Éden Dionisíaco do Brasil Experimental, 12', Vídeo, Cor, 1989, Vitória (ES)

Performance de criação coletiva, releitura do Inferno de Dante. Originalmente produzido para o encerramento do espetáculo cênico “Quadros Bíblicos”, do Éden Dionisíaco do Brasil.

Os votos do Frei Palácios

de Ramon Alvarado DOCUMENTÁRIO, 8', 35mm, COR, 1980, Vitória e Vila Velha (ES)

Documentário sobre a vida do Frei Pedro Palácios, a partir da memória arquitetônica, pictórica e iconográfica.

O último quilombo

de Amylton de Almeida DOCUMENTÁRIO, 43', VíDEO, COR, 1979, Vitória e São Mateus (ES)

Aborda a Comunidade Espírito Santo, em São Mateus, formada por descendentes de escravos que sobrevivem de atividades herdadas de seus antepassados. A Vencedor do 3º Festival de Verão da Rede Globo (1980)

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Piúma – Conchas

Sinais de fascismo

DOCUMENTÁRIO, 51', VÍDEO,

FICÇÃO, 70', SUPER-8, COR,

COR, 1988, Piúma (ES)

1980, Vitória (ES)

Documentário realizado para resgatar a identidade cultural de Piúma através do seu artesanato de conchas.

História real de um menor preso na delegacia de Argolas, em Vila Velha. O fato desperta a curiosidade da imprensa, que passa a investigar o caso. É descoberto um esquema em que policiais civis são acusados de torturar e vender crianças para exploração sexual.

de Amylton de Almeida

Receita artesanal de Douglas Lynch

DOCUMENTÁRIO, 15', 16MM, COR, 1988, Litoral capixaba (ES)

de Sergio de Medeiros

Um panorama da situação dos pescadores do litoral do Espírito Santo; revela os segredos da receita da moqueca capixaba. A Roteiro vencedor do concurso Ludovico Persici promovido pelo Departamento Estadual de Cultura de Vitória (ES) (1986) A Prêmio especial do júri no IV Rio Cine Festival, Rio de Janeiro (RJ) (1989)

Refluxo

de Sergio de Medeiros Ficção, 33', Vídeo, Cor, 1986, Vitória (ES)

Ficção científica ambientada num futuro pós-apocalíptico. Criação coletiva do grupo conhecido como Balão Mágico.

Santa Maria Julião de Sergio de Medeiros FICÇÃO, 8', 16MM, COR, 1980, Vitória (ES)

Antenor, um senhor de idade que vive solitário, encontra-se em avançado estado de decadência física e psicológica. Ele ocupa seu tempo entre relembrar uma musa do passado e perseguir um rato que sempre deixa escapar, por ser seu único companheiro. A história é narrada do ponto de vista do rato.

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Plano Geral


1990 — 1-2-3 Terezinha Remix de Lobo Pasolini

Experimental, 6', Super-VHS,

Autobiografia de todo mundo de Lobo Pasolini

Ficção/Experimental, 8', Super

A lenda de Proitner de Luiza Lubiana

ficção, 21', 16mm, COR, 1995, Rio Bonito (ES)

Menino vive acorrentado pela perna em uma choupana às margens de uma lagoa. Ele observa o mundo por uma fresta, absorvendo o comportamento de um casal de velhos bizarros, que são seus algozes. Quando cresce, liberta-se do cativeiro e tende a repetir o comportamento aprendido na infância. A Troféu Caxiponé – Filme Revelação Festival de Cuiabá (MT), 1997

A miragem das fontes de Gelson Santana

FICÇÂO, 12', 16MM, COR, 1990, Niterói (RJ)

A ânsia humana em sua busca pela identidade. A percepção da resposta contida em si, no próprio interior.

de Clóves Mendes

Documentário, 33', Betacam, Cor, 1994, Cachoeiro do Itapemirim (ES)

VHS, Cor, 1998, Vitória (ES)

Cor, 1995, Vitória (ES)

Releitura irônica da estória de Terezinha de Jesus, atravessada pelos signos da cultura pop de consumo.

Cachoeiro em três tons

Video que se apropria do formato de um talk show para explorar a obsessão por celebridade, a moda e a cultura pop em geral. A Melhor Vídeo no 6º Vitória Cine Vídeo

Bem-vindos ao paraíso de Marcos Figueredo

FICÇÃO, 9', 16MM, COR, 1998, santa leopoldina (ES)

Três irmãos órfãos vivem isolados em uma região montanhosa do interior do Espírito Santo, habitada por colonos de origem germânica. A trama se constrói com relação incestuosa e crime passional.

C.3.3 Oscar Wilde de Jean R

Três gerações de uma família de músicos capixabas: o maestro Raul Gonçalves Sampaio, o compositor Raul Sampaio Cocco e o cantor e compositor Sérgio Sampaio.

Comida, sexo e morte de Lobo Pasolini

Ficção, 5', Super-VHS, Cor, 1992, Vitória (ES)

Performance colaborativa do grupo Éden Dionisíaco do Brasil, concebida por Lobo Pasolini e filmada em um casarão em ruínas.

Costa Pereira – a história de uma cidade contada a partir de uma praça de Clóves Mendes

DOCUMENTÁRIO/ficção, 35', BETACAM, cor, 1995, Vitória (ES)

DOCUMENTÁRIO, 10', BETACAM, COR, 1999, Vitória (ES)

Conta a história dos últimos 10 anos de vida do escritor irlandês Oscar Wilde. A história se passa na Inglaterra do fim do século XIX, e narra desde o envolvimento com o jovem inglês Lord Alfred Douglas, até o julgamento, prisão e morte no exílio.

Costa Pereira foi governador de várias províncias, inclusive do Espírito Santo. Aqui, trouxe desenvolvimento em pleno período do Império. Este documentário ficção relata a história da praça que leva seu nome, contada pelo próprio Costa Pereira, em uma atuação “fantasmagórica”.

A Melhor vídeo no 6° Vitória Cine Vídeo, 1999 A Melhor vídeo no 1° Festival de Cine-Vídeo da Amazônia, Porto Velho (RO)

1980 — 1999

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De amor e bactérias

Fica comigo

Fuga de Canaã

FICÇÃO, 12', BETACAM,

FICÇÃO, 98', 35mm, COR,

Ficção, 110', Vídeo, Cor, 1991,

COR, 1999, Vitória (ES)

1996, Guarapari (ES)

Vitória e Santa Leopoldina (ES)

Qual é a semelhança entre uma senhora em uma cadeira de rodas e um barquinho na superfície seca de uma mesa? Qual a relação entre um moinho de milho e as bactérias no interior de uma vaca? Estas e outras respostas você pode procurar, e talvez até encontre, neste pequeno filme que quer olhar onde ninguém quer ver.

A desordem afetiva do mundo de uma adolescente é discutida pela relação de amor entre Bel e seu pai.

A história da família de imigrantes alemães Jank e a série de tragédias que a atormenta no município de Santa Leopoldina. Adaptação do romance homônimo de Renato Pacheco.

de Virginia Jorge

A Melhor vídeo universitário no Festival Vide Vídeo UFRJ (Rio de Janeiro, RJ, 2000) A Melhor super-8 no 23º Festival Guarnicê de Cinema (São Luis, MA, 2000)

Ecótono

de Tati Rabello, Rodrigo Linhales e Larissa Machado Documentário, 5', Betacam, Cor, 1999, Vitória (ES)

Vídeo ensaio sobre a cidade de Vitória, produzido para exposição na Casa Porto de Artes em comemoração ao 448º aniversário da cidade.

Eu sou Buck Jones de Glecy Coutinho

FICÇÃO, 20', 16mm, COR, 1997, Domingos Martins (ES)

Baseado em um fato real ocorrido em 1943, no interior do Espírito Santo, o filme narra a fascinação de um garoto pelo cinema, fato que o leva às últimas consequências para assistir ao último capítulo do seriado que tem o maior ídolo do faroeste americano daquele tempo: Buck Jones. A Melhor ator capixaba (para João Vitor Marangoni) no IV Vitória Cine Vídeo, 1997

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de Tizuka Yamasaki

A Melhor atriz para Luciana Rigueira no Festival de Gramado (1996)

Flora

de Sergio de Medeiros

Ilha do Rock

FICÇÃO, 15', 35mm, COR, 1996,

de Dan Zecchinelli, Nazareth Pirola, Andrea Zuchi e Beto Castelluber

Domingos Martins (ES)

Documentário, 25', Vídeo,

de Marcel Cordeiro

Cor, 1993, Vitória (ES)

Anos 1940. Flora vive a ilusão do retorno do marido, sumido há sete anos. Chega à cidade e quer informações sobre as saídas de trem. As duas vidas se entrelaçam. O rapaz se envolve com os delírios de Flora. A Melhor Atriz – Regina Braga, Rio Cine Festival – Rio de Janeiro – RJ (1996)

Gringa miranda Direção coletiva

ficção, 12', 16mm, cor, 1995, Vitória (ES)

Uma estrangeira chega ao Brasil e, deslumbrada com a tropicalidade, torce a perna ao tentar imitar Carman Miranda. No hospital, conhece uma enfermeira que a leva a um pai-de-santo, onde “baixa o espírito” de sua musa. Tudo termina numa escola de samba com a gringa fantasiada de Carmen Miranda em um happy end. Entretanto, no final, um pequeno imprevisto acontece...

Um mapa da emergente cena roqueira da Grande Vitória no começo da década de 1990, a partir de oito bandas: Urublues, The Rain, Illness, Lordose pra Leão, Porrada!!!, Camisa de Força, Skelter e Clube Big Beatles.

Incêndio nas mentes de Amylton de Almeida

DOCUMENTÁRIO, 45', vídeo, COR, 1990, Afonso Cláudio (ES)

Investigação sobre a crueldade contra descendentes de imigrantes europeus no Espírito Santo durante a Segunda Guerra Mundial.

Kazhumbi Ojo Kalunga (Mal das águas) de Sidemberg Rodrigues Ficção, 58', VHS, Cor, 1992, Vitória (ES)

Os habitantes da aldeia de Koanhama jamais poderiam imaginar as consequências da condenação de um feiticeiro à fogueira. Apesar da ligação dos seus rituais com a morte de crianças da tribo e com a seca que reduziu as lavouras, sacrificá-lo pode ter libertado a fúria de outro vilão: um tubarão.

Plano Geral


Labirintos móveis Direção coletiva

FICÇÃO, 12', 16mm, COR, 1998, Vitória (ES)

Um grupo de amigos se reúne para comemorar o noivado de Fred e Soraya. Alguém sugere o registro em foto, mas a câmera está sem filme. Todos concordam em escrever um poema, passando de mão em mão. Na medida em que cada um escreve, surgem episódios reveladores que aconteceram no réveillon do ano anterior, que são lembrados com humor e tristeza. Afinal, os “labirintos” das relações humanas podem ser traiçoeiros.

Lamarca

de Sérgio Rezende FICÇÃO, 130', 35MM, COR, 1994, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Bahia

Na parede, na toalha, no lençol

de Virgínia Jorge, Luciana Gama, Lizandro Nunes, Ursula Dart DOCUMENTÁRIO, 20', BETACAM, COR, 1998, Vitória (ES)

Documentário sobre o movimento cineclubista que reconstrói, a partir dos relatos de seus principais participantes no Espírito Santo, a atmosfera de um movimento que desejava transformar a vida das pessoas por meio do cinema. A Melhor Vídeodocumentário no Festival de Vídeo da Paraíba, 1999 A Prêmio especial do júri no Festival de Cinema e Vídeo de Curitiba, 1999

O amor e o humor na música brasileira dos séculos XVIII e XIX de Sergio de Medeiros

O amor está no ar

de Amylton de Almeida FICÇÃO, 82', 35mm, COR, 1997, Vitória (ES)

Lora Berg é uma mulher de origem germânica, culta, solitária, sofisticada, que apresenta um programa de encontros amorosos numa rádio AM de Vitória. Ela se envolve com Carlos Henrique, um jovem de 22 anos, desempregado e semianalfabeto, que deixou o interior para morar na periferia de Vitória. Após certo tempo, o romance revela imensas dificuldades provocadas pelas diferenças. A Melhor atriz para Eliane Giardini no Festival de Gramado (RS), 1997

O ciclo da paixão

de Luiz Tadeu Teixeira FICÇÃO, 13', 35MM, COR, 1999, Vitória (ES)

FICÇÃO, 15', 35MM, COR,

Baseado na vida de um dos mais importantes e pesquisados líderes da luta armada no Brasil, o capitão do Exército Carlos Lamarca, morto aos 33 anos, em 1971, pelos órgãos de segurança do regime militar. A Troféu APCA de melhor ator para Paulo Betti (1995) A Melhor ator coadjuvante para Eliezer de Almeida no Prêmio Cidade de São Paulo de Cinema (1995)

Múltiplos de um

de Tati Rabello, Rodrigo Linhales, Leonardo Taffuri e Larissa Machado Experimental, 4', Betacam, Cor, 1998, Vitória (ES) e Ouro Preto (MG)

Retrato de um indivíduo que se percebe em meio a uma sociedade de pessoas comuns.

1980 — 1999

1998, Vitória (ES)

O encontro de quatro personagens em uma taberna de beira de estrada, entre a corte do Rio de Janeiro e Vila Rica de Ouro Preto, em uma noite de 1801. Enquanto bebem vinho e aguardam o amanhecer para seguir viagem, eles contam causos e cantam belas e curiosas canções da época. Baseado no espetáculo No caminho de Vila Rica, do maestro Sérgio Dias.

História de amor em quatro estações (o encontro, a descoberta, a entrega e o desencontro) conduzida por um “caçador de imagens” que vagueia pela cidade durante a madrugada. A Prêmio especial do júri no VII Vitória Cine Vídeo, Vitória (ES) (2000)

O enforcado

de Virgínia Jorge, Ana Cristina Murta, Alexandre Serafini e Alexandre Vassena FICÇÃO, 3', Super-8, COR, 1998, Vitória (ES)

Após uma consulta de tarô, Walbério e o tarólogo charlatão descobrem que é impossível enganar o destino.

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O fantasma da mulher de algodão

Pacíficos e Ruidosos

FICÇÃO, 35', 16mm, COR,

de Tati Rabello, Rodrigo Linhales, Larissa Machado e Cristiano Vidal

1995, Vitória (ES)

Documentário, 12', Betacam,

de Margarete Taqueti

Cor, 1999, Vitória (ES)

Livre associação do “fantasma” – que aparecia nos banheiros escolares na década de 1970 – com os tormentos de uma geração de adolescentes, diante da transformação biológica do corpo.

O Guarani

de Norma Bengell Ficção, 91', 35mm, Cor, 1996, Rio de Janeiro (RJ)

Adaptação do romance homônimo de José de Alencar, ambientado no início da colonização portuguesa no Brasil. Narra o amor de Ceci, filha de Dom Antônio de Mariz, pelo índio Peri, que recebe a missão de levar a jovem até o Rio de Janeiro, para protegê-la do ataque de índios revoltados pelo assassinato acidental de uma índia Aimoré pelo irmão da jovem. O filme teve cenas filmadas no Convento da Penha.

Documentário sobre o Balão Mágico, movimento cultural ocorrido em Vitória na década de 1980. A Melhor Videodocumentário no 6º Vitória Cine Vídeo

Passo a passo com as estrelas

de Marcel Cordeiro ficção, 19', 16mm, PB, 1995, Vitória (ES)

O sonho de chegar às estrelas leva Alan a percorrer estradas e países até chegar a Bricks, no ano de 2079. Numa favela pós-apocalíptica, conta-se a história deste personagem. A Melhor Curta no festival de Anteprima (Itália, 1996) e Melhor filme no Bellaria Cine Festival (Itália, 1995)

One man show

Rito de passagem

Experimental, 1', VHS,

ficção, 15', U-matic, PB,

Cor, 1991, Vitória (ES)

1996, Vitória (ES)

Trabalho experimental, realizado em parceria com Rosana Paste.

A proposta do filme é um exercício de metalinguagem que integra elemtntos da denúncia cinematográfica com denúncias em torno do desaparecimento de crianças no Brasil. Quantas serão sacrificadas em rituais de magia negra?

de Lobo Pasolini

A Vídeo Revelação no 4º Vitória Cine Vídeo

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de Sergio de Medeiros

Roteiro do Banal de Joel Vieira Junior

FICÇÂO, 8', BETACAM, COR, 1999, vitória (es)

Como o próprio nome, uma história de amor despretensiosa, fortemente visual. Uma metáfora contemporânea sobre o amor. Baseado em história da escritora Mara Coradello.

Sacramento

de Luiza Lubiana e Ricardo Sá FICÇÃO, 8', super-8/U-matic, COR, 1992, Matilde (ES)

O filme narra a volta do mito de São Sebastião. Uma sacerdotisa retira-o da árvore e lava suas chagas nas águas límpidas de um rio. A Melhor fotografia e melhor trilha sonora original no II Festival Nacional de Vídeo de Vitória – Fenavi (1992)

Solidão vadia de Ricardo Sá

FICÇÃO, 17', 16mm, COR, 1997, Serra (ES)

Naquela vila esquecida pelo tempo, a chegada de uma visitante faz aflorar sentimentos adormecidos na mente de um pescador atormentado pela solidão.

Plano Geral


Tempestade em Akkarrar de Ricardo Sá

Ficção, 15', Betacam, Cor,

Vydeo

de Nenna Experimental, 40', Vídeo, Cor, 1995, Vitória (ES)

1997, Vitória e Serra (ES)

Um chalé é o estopim de uma tragédia envolvendo um pescador, uma vadia e uma beata.

Experimento audiovisual realizado pelo artista Multimídia Nenna.

TV reciclada

de Arlindo Castro DOCUMENTÁRIO, 28', VHS, COR, 1992, Vitória (ES)

Documentário ensaístico sobre a TV reciclada; a hipócrita cordialidade cotidiana numa tentativa de se expressar verdadeiramente, ainda que na ficção.

Uacataca Tinguilim de Federico Nicolai

DOCUMENTÁRIO, 18', vhs, COR, 1997, Vitória (ES)

Documentário sobre o vendedor ambulante de quebra-queixo e as características que o doce oferece. Destacando sua música, pela forma como o anuncia e a cidade de Vitória, por meio de seu trajeto e suas origens familiares.

Vaga para moças de fino trato de Paulo Thiago

FICÇÃO, 95', 35MM, COR, estéreo, 1992, Vitória (ES)

O filme narra a história de três mulheres vivem em um mesmo apartamento e dividem seus dramas e conflitos. A Melhor cenografia (Clovis Bueno) A Melhor atriz (Norma Bengell, Maria Zilda e Lucélia Santos) no Festival de Brasília (DF) (1993)

1980 — 1999

93


2000 200 — 20 — 20 No princípio era o verbo, 2005


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Para o alto e avante: expansão e diversidade do cenário audiovisual capixaba

O panorama pós-retomada O início dos anos 2000 apontava uma série de boas perspectivas para o cinema brasileiro, a começar pelo retorno do público aos filmes nacionais: em 2000, O auto da compadecida ultrapassaria dois milhões de ingressos vendidos; dois anos depois, seria a vez de Cidade de Deus chegar a 3,3 milhões; e, em 2003, ano em que Carandiru levaria 4,6 milhões de pessoas aos cinemas, outros seis filmes também quebrariam a barreira de um milhão de espectadores. Entre 2000 e 2009, outros 30 filmes ainda atingiriam essa marca. A fase conhecida como “retomada” do cinema brasileiro se encerra em 2002, uma vez que a produção já estava a pleno vapor e todo um novo público, acostumado com o esquema multiplex dos shopping centers, começava a se familiarizar com a vertente mais comercial dessa filmografia. Alguns Estados fora do eixo Rio-São Paulo, ainda que timidamente, a princípio, já começavam a implantar mecanismos de financiamento de longas-metragens, a exemplo do que ocorrera na década anterior com os curtas. A partir de 2003, também cresce exponencialmente o número de editais nacionais para a área audiovisual. Todos esses canais de incentivo público permitiam que um maior número de obras autorais pudesse obter recursos para sua realização – e encontrar seu espaço tanto no circuito de festivais nacionais (cujo número saltaria de pouco mais de vinte, em 2000, para mais de uma centena, cerca de quatro anos depois) e estrangeiros, quanto em uma rede de cineclubes que enfim renascia, agora apoiada na ampla (e barata) circulação de cópias digitais dos filmes. A digitalização também rendeu muitos frutos no campo da produção audiovisual: a ampla oferta de câmeras de alta resolução e programas de computador para edição e finalização de som e imagem, a preços muito mais baratos que os formatos analógicos de cinema (16 e 35 mm) e vídeo (Betacam SP) permitiu que muito mais gente pudesse filmar e com uma frequência bem maior. Por isso, surgiram inúmeras produtoras audiovisuais, em um mercado que se segmentava a passos rápidos. Se, nos anos 1990, a aquisição de uma câmera e uma ilha de edição em Betacam exigia quantias superiores a 100 mil dólares, com menos de 1/10 desse valor era possível comprar uma boa câmera DV e montar uma ilha digital, já em meados dos anos 2000. Outros equipamentos, mais simples e baratos, também se popularizaram, abrindo espaço para um boom de oficinas de realização audiovisual em projetos sociais voltados aos jovens das periferias de grandes cidades. E a chegada das câmeras fotográficas DSLR, capazes de filmar em HD, já no

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final da década, intensificariam ainda mais esse quadro de barateamento e popularização dos meios de produção. Já no Espírito Santo, os primeiros anos do século XXI testemunharam os ecos desse processo no cenário local. Embora o setor não tenha obtido a gigantesca repercussão junto ao público que o cenário musical possuía na época, e a possibilidade de ser fazer longas-metragens fosse ainda muito distante, o campo audiovisual teve seu crescimento acelerado e tornouse bem mais complexo do que as sementes lançadas na década anterior permitiam imaginar. Não somente o número de produções foi diversas vezes multiplicado, como vários foram os canais para financiamento dessas empreitadas: a consolidação da Lei Rubem Braga, em Vitória; o surgimento de novas leis de incentivo em outros municípios; o florescimento de uma produção universitária de baixíssimo orçamento e intenso potencial criativo; as ocasionais seleções de projetos locais em editais nacionais (como Petrobrás Cultural e o MinC); as quatro edições do DOC-TV (parceria entre MinC, Fundação Padre Anchieta, secretarias estaduais de cultura e emissoras de TV públicas), que proporcionaram um salto na produção de documentários televisivos de média-metragem no Estado1; o Concurso de Roteiros do Vitória Cine Vídeo (revelando novos nomes e permitindo a realização de seus filmes de estreia);2 e os editais da Secretaria de Estado da Cultura, primeiramente restritos à finalização de filmes (desde 2005) e, a partir de 2008, gradualmente ampliados para abrangerem também a produção de curtas e longas-metragens ficcionais, além de documentários, animações, videoclipes, webséries, cineclubes, entre outros. Algumas janelas de exibição também se abriram na televisão local. Além do Curta Vídeo, da TVE, iniciado em meados dos anos 1990 e centrado na exibição de curtas e médias-metragens seguidos de entrevistas com 1  Por meio deste edital, foram realizados quatro documentários de média-metragem, a saber: Viagem Capixaba: Um olhar de Rubem Braga e Carybé, hoje ( João Moraes, 2004), Assim caminha Regência (Ricardo Sá, 2005), Touro Moreno ( Juliano Enrico, 2007) e Olho de gato perdido (Vitor Graize, 2009). 2  Esses concursos de roteiro, realizados anualmente pelo festival (exceto em 2003), garantiam aos vencedores parte dos recursos necessários para a realização dos curtasmetragens. As três primeiras edições premiaram filmes finalizados no formato 16 mm, enquanto que os contemplados nos anos seguintes foram finalizados em 35 mm e, posteriormente, em formato digital. Em 16 edições do concurso, foram contemplados os seguintes roteiros (note que, em parênteses, consta a data do concurso, não a de finalização; seguida do nome do roteirista, que não necessariamente é o diretor do filme): Macabéia (1998, Erly Vieira Jr); Escolhas (1999, Ana Cristina Murta); Mundo cão (2000, César Chaia, Sérgio Marangoni, Poliana Cogo e Saskia Sá); Manoela (2001, Aristeu Carlos Simões); A passageira (2002, Glecy Coutinho); Primeira Paróquia do Cristo Sintético (2004, Gabriel Menotti), Vanessa (2005, Rebeca Monteiro Tosta); Agrados para Cloé (2006, Jefinho Pinheiro); Dia de sol (2007, Virgínia Jorge); Raiz que racha a rua (2008, Alexandre Serafini); A ladeira (2009, Iza Rosemberg); Pela parede (2010, Lucas Bonini e Wayner Tristão); Pique esconde (2011, Dominique Lima); Doppelganger (2012, Giandro Gomes); Talvez amanhã (2013, Jefinho Pinheiro); Intenso (2014, de Ricky Fundão de Oliveira Negreiros). À exceção do roteiro de Rebeca Monteiro Tosta, todos os outros curtas foram realizados – os dois últimos vencedores, atualmente, estão em fase de produção.

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seus diretores, também podemos destacar o Produção Independente, da TV Assembleia, e a exibição, em meados da década, de alguns curtas-metragens no domingo à noite, pela TV Gazeta, num projeto que teve vida bastante curta. A partir de 2003, entra no ar, no Canal Universitário, o programa Bitola, produzido pela TV Faesa (uma das emissoras que compõem o Canal), também exibindo curtas e entrevistando realizadores, mantendo-se no ar até os dias de hoje. Já em rede nacional, alguns filmes conseguiram ser exibidos em programas como o Zoom (da TV Cultura de São Paulo), Curta Brasil (da TV Educativa do Rio de Janeiro) e na programação do Canal Brasil. Já na segunda metade da década, a internet passa a ser um meio privilegiado para a difusão audiovisual, em especial em sites como o YouTube e o Vimeo.

A ampliação do circuito de festivais Em termos de mostras, presenciamos o crescimento e a consolidação do Vitória Cine Vídeo como um dos principais festivais do país, servindo inclusive como plataforma para lançamento nacional de vários curtas e médias locais. Outros festivais foram surgindo, alguns com recortes específicos: a MoVA Caparaó, que teve sete edições anuais, entre 2004 e 2010, era voltada para o vídeo ambiental, enquanto a produção universitária contou com a MUV (Mostra Universitária de Vídeos), com três edições entre 2004 e 2006, e o REC, realizado pelo curso de comunicação da FAESA, surgido em 2005 e que, a partir do ano seguinte, passou a ser uma mostra competitiva nacional, até sua quinta e última edição, em 2009. Outro festival de vida curta (seis edições), mas bastante importante foi o Festival de Jovens Realizadores Audiovisuais do Mercosul, realizado em conjunto por entidades do Espírito Santo (Instituto Galpão e Instituto Marlin Azul) e do Ceará (Aldeia Audiovisual), alternando-se entre as capitais dos dois Estados, sendo que a primeira, terceira e quinta edições (2004, 2007 e 2009), foram realizadas em Vitória. Voltado para a circulação de filmes dirigidos por adolescentes e jovens, em sua maioria oriundos de oficinas de inclusão audiovisual, o festival articulou uma rede entre núcleos e projetos sociais de todo o país, inclusive alguns bastante atuantes no Espírito Santo. Ainda no campo da inclusão audiovisual, vale lembrar que o Instituto Marlin Azul esteve à frente de várias iniciativas importantes e premiadas, como o IMA.DOC (de produção de vídeo-documentários), o Núcleo Animazul (oferecendo capacitação de longa duração para a produção de animações) e o Projeto Animação, que esteve em ação entre 2002 e 2010, e cujos filmes envolviam a participação de centenas de estudantes da rede pública, de ensino fundamental e médio, realizando anualmente curtas-metragens decorrentes de oficinas práticas, como os multipremiados Mangue e tal (2002) e Portinholas (2003), este último inspirado em livro infantil de Ana Maria Machado e ambos agraciados com a Menção Honrosa do XXVI Festival do Novo Cinema Latino-Americano de Havana, Cuba. Vale lembrar ainda que dezenas de outros núcleos e projetos de inclusão audiovisual surgiram no

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1

2

1  Exterminador 2  Olhos

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Mortos

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decorrer da década, oferecendo inúmeras oficinas de realização, muitas vezes contando com estudantes universitários ou profissionais recém-formados como instrutores. Dos festivais surgidos nesse período, o mais importante e duradouro é a Mostra Produção Independente, realizada pela ABD Capixaba, (Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-metragistas), braço local da principal entidade nacional de cineastas independentes. A Mostra, iniciada em 2004, é realizada anualmente, tendo chegado, em 2014, à sua décima edição (nos anos de 2005 e 2013, ela não foi realizada). Ela possui uma seção competitiva, exclusiva para filmes realizados no Espírito Santo, incluindo ainda mostras especiais de acordo com o tema de cada edição, sessões de lançamento de curtas e longas, além da distribuição de um DVD-coletânea com os filmes concorrentes e da revista-catálogo Milímetros, espaço importantíssimo para discussão e crítica do cinema capixaba contemporâneo. Funcionando como um amplo panorama anual da filmografia capixaba, o evento revelou vários novos cineastas em suas premiações, como Rodrigo Aragão, um dos principais mestres do cinema brasileiro de horror. Embora já trabalhasse com cinema desde 1994, no campo dos efeitos especiais, Aragão estrearia na direção em 2005, com O Chupa-Cabras, curta-metragem realizado em Guarapari com orçamento de apenas 300,00 reais, e que levaria os troféus de melhor filme pelo Júri Oficial e pela Confederação dos Cineclubes da II Mostra Produção Independente, no ano seguinte. Ele ainda venceria a Mostra novamente em 2014, quando Mar Negro receberia o troféu de Melhor Ficção. Outros nomes revelados pela Mostra incluem Alberto Labuto (Fracasso, prêmio Desconstrução – Melhor Filme, em 2008) e a dupla Ramon Zagoto e Natanael Souza (Melhor Vídeo capixaba por Maicou Diéquision, em 2009). Já na década seguinte, seria a vez de Mariana Preti (Melhor Filme e Melhor Direção por Romance a la Nelson, em 2012); André Ehrlich Lucas e Lucas Veteski (Melhor Documentário por Espírito Santo Futebol Clube, também em 2012); e Elisa Capai (Melhor Documentário por Tão longe é aqui, em 2014).3 A fundação da ABD Capixaba, em 2000, também foi um passo importante para os realizadores locais. Como entidade de classe, ela foi peça fundamental em uma série de reivindicações dos profissionais junto ao poder público, como editais, leis de incentivo e outras iniciativas para fomento, circulação e memória do audiovisual capixaba, como o Ca3  Entre os não-estreantes, também há uma farta lista de premiados: Jefinho Pinheiro (Melhor Ficção e prêmio do Júri Popular, por Dores e odores, na I Mostra, em 2004); Ricardo Sá (Melhor Documentário em 2004, por O cordel dos Atingidos e Melhor filme por A estrada silvestre, em 2010); Bob Redins (Prêmio do Júri popular em 2006, por Em busca da Glamourânssia 2); Erly Vieira Jr (Prêmio Reconstrução – Melhor Filme em 2008, por Eu que nem sei francês); João Moraes e Leonardo Gomes (Melhor Vídeo em Negro & Negro, por N’ Goma – Jongos do Sul Capixaba, em 2009); Juliano Enrico e Raul Chequer (Melhor Ficção por Raquetadas para a Glória, em 2011); Klaus Berg Bragança (Melhor Documentário por Locus, em 2011); Luiz Eduardo Neves (Melhor Videoclipe por Mais Loko, em 2012); Diego Scarparo e Henrique Gomes (Melhor Animação, por Sangue e Rosa, em 2014) e Carolini Covre (Melhor Videoclipe por Onde está o grande tema?, em 2014).

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tálogo de filmes: 81 anos de cinema no Espírito Santo, publicado em 2007. Seu primeiro presidente, durante o biênio 2000-2002, foi o documentarista Orlando Bomfim, a quem se seguiram Luiz Tadeu Teixeira, Sáskia Sá (por dois mandatos consecutivos), Carla Osório, Alexandre Serafini e Ricardo Sá, seu atual presidente.

Novas salas de cinema e o renascimento do cineclubismo Quanto aos espaços tradicionais de exibição, observou-se a rápida multiplicação de salas de cinema em shopping centers, embora a maioria apenas cedesse espaço para os poucos longas-metragens nacionais contemplados com lançamentos de grande porte por grandes distribuidoras. Duas salas na cidade de Vitória, contudo, graças a seu perfil de exibição voltado ao circuito independente, configuram-se durante todo o período como espaços de resistência, abrigando lançamentos de filmes capixabas, mostras e festivais: o Cine Metrópolis, na Ufes, e o Cine Jardins, em Jardim da Penha. Vale lembrar que, nos anos de 2003 e 2004, o Museu de Arte do Espírito Santo (MAES) realizou exibições gratuitas do projeto 10 Maes Vídeo, que consistia em programas com uma a duas horas de duração, com curadoria da cineasta Margarete Taqueti. A cada dez dias, o conjunto da obra de um realizador local – sendo a maioria videoartista – ficava em cartaz, havendo ainda um debate após a sessão de abertura de cada programa. O Espírito Santo também foi um dos protagonistas do renascimento do movimento cineclubista, a partir de 2003, quando o Ministério da Cultura criou uma série de linhas de fomento para a implantação de espaços alternativos de exibição pelo Brasil. Um dos principais articulistas do movimento é o capixaba Antônio Claudino de Jesus, cujo trabalho resultou na implantação de uma sólida rede formada pelos vários cineclubes criados no decorrer da década, principalmente em cidades de interior que não possuíam salas de cinema, tendo como foco principal fazer a ponte entre o público e a produção audiovisual independente brasileira. No entanto, foi uma iniciativa de um grupo de então estudantes universitários que mudaria radicalmente a forma de se pensar salas alternativas de exibição em todo o país, como conta o pesquisador Gabriel Menotti em seu texto “Pirate Film Societies” (2014). Surgido em 2003, em um fértil período de ativismo estudantil na Ufes (e depois oficializado como um projeto de extensão), agregando estudantes de Comunicação, Psicologia e Artes, o Cine Falcatrua foi um coletivo que organizava exibições gratuitas de filmes utilizando computadores domésticos e projetores emprestados pela própria Universidade e tendo como fonte principal para sua programação os filmes disponíveis nas redes de compartilhamento peer-to-peer (p2p) da internet. As sessões semanais, usualmente às quartas-feiras, apresentavam cópias “piratas” de alguns dos principais lançamentos cinematográficos situados fora do circuito blockbuster – e que, em uma cidade como Vitória, então com poucas salas de cinema, demorariam meses para finalmente entrar em cartaz, ou jamais seriam

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exibidos. Filmes como Fahrenheit 11/9 (2004), de Michael Mooree Kill Bill, Vols. 1 e 2 (respectivamente 2003 e 2004), de Quentin Tarantino, foram exibidos meses antes de entrarem em cartaz no Brasil. A prática de download de arquivos digitais e legendagem de filmes para o português, embora fosse uma infração explícita aos imperativos do copyright, bem como sua exibição pública, muitas vezes ocorrida ao ar livre no campus da própria universidade (para acomodar o imenso público que frequentava as sessões), configuravam o modus operandi do grupo, talvez o primeiro cineclube digital brasileiro – em uma época em que raríssimas eram as salas de cinema digital “oficiais” do país. Questionava-se, assim, uma série de questões inerentes ao circuito das salas de exibição, desde os critérios de curadoria baseados na disponibilidade de cópias físicas (e os diversos custos inerentes à sua utilização, que eram praticamente zerados com a adoção de cópias digitais) até a própria experiência de se assistir um filme, explorando possibilidades que iam muito além do clássico dispositivo cinematográfico da sala escura – sem contar as estratégias de divulgação, que aliavam a colagem de cartazes fotocopiados pelas paredes do campus universitário à utilização das redes sociais mais populares da época (Orkut e Fotolog), em uma atualização da lógica do it yourself para o contexto da comunicação mediada por redes. Em poucos meses, a fama do Cine Falcatrua chegara ao resto do país – e até mesmo aos olhos e ouvidos de entidades de proteção de direitos autorais e distribuidoras de filmes exibidos ilegalmente pelo coletivo, como a Lumière e a Europa Filmes, que chegaram a processar a Ufes por violação de direitos autorais. Em lugar de se configurar como uma derrocada, tal episódio acabou reinventando o próprio coletivo, que passou a contar com o apoio de diversos cineastas brasileiros para a exibição de seus filmes, e com a chancela do próprio movimento cineclubista. O uso de cópias digitais inclusive inspirou o Ministério da Cultura a criar um programa de Pontos de Difusão Digital, que proveria núcleos em todo o país com equipamentos digitais para projeções, utilizando cópias de filmes nacionais fornecidas pela Programadora Brasil, com direitos autorais flexibilizados para exibições não comerciais – procedimentos que seriam fundamentais para a eclosão de novos cineclubes nas mais diversas cidades. O Cine Falcatrua continuaria em atividade até 2008, centrando seu foco em discussões curatoriais e de artes visuais, e promovendo pelo Brasil afora uma série de festivais que questionavam a própria experiência do espectador.4

4  Entre eles, destacam-se: Mostra de Conteúdos Livres (2005), somente com filmes realizados em copyleft, CreativeCommons ou outras licenças de flexibilização de direitos autorais; Agosto Cinema Clube (2005), festival para discussão de filmes em mesa de bar; Festival Corta-Curtas (2006), em que o projecionista escolhe, no momento da exibição, quais trechos de filmes seriam apresentados; Kino-Arcade (2006), híbrido de mostra de vídeos e cine-campeonato de fliperama; Se repete como farsa – Mostra internacional de filmes de intervenção urbana (2007); Festival-Dispositivo (2007), um festival espacializado, calcado em videoinstalações e exclusivo para filmes de planos-sequências; e o Laboratório de Roteiro Pornô (2008).

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1

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1  No princípio 2  Baseado em 3  Macabéia 4  Céu de anil

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era o verbo histórias reais

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A geração da virada do século Tendo como pano de fundo o cenário descrito até aqui, bem mais consolidado que o das décadas anteriores, a produção de filmes multiplicouse exponencialmente, chamando atenção por sua riqueza e diversidade. Já em um primeiro momento, ela ganha visibilidade no circuito nacional de festivais de cinema, ancorada por alguns filmes realizados por jovens cineastas, selecionados para diversas mostras em todo o país e recebendo diversas premiações. Três deles são os carros-chefes dessa primeira metade da década: Macabeia (2000), Baseado em histórias reais (2002) e No princípio era o verbo (2005). Macabeia é uma releitura irônica e humanista da personagem Macabéa, do romance A hora da estrela, de Clarice Lispector (embora não seja uma adaptação literária), transposta para o universo kitsch e colorido dos subúrbios da Grande Vitória na virada do século. Escrito por Erly Vieira Jr (que divide a direção com Lizandro Nunes e Virgínia Jorge), foi o primeiro ganhador do Concurso de Roteiros do Vitória Cine Vídeo (1998) e reuniu boa parte da equipe dos curtas Labirintos móveis e De amor e bactérias. Selecionado para quinze festivais (mais da metade dos festivais brasileiros da época), ele recebeu seis prêmios, sendo três deles no Festival de Gramado, em 2001, onde obteve os Kikitos de Melhor Filme, Roteiro e Atriz (para Janine Corrêa), na categoria 16 milímetros. Baseado em histórias reais é a estreia na direção de Gustavo Moraes. Alinhavam-se aqui três tramas interligadas, ambientadas no ápice da ditadura militar: a prisão e tortura de um jovem guerrilheiro após um fracassado assalto a banco, a pressão policial para que a reportagem não seja publicada num jornal e uma dona de casa que prepara um bolo. Trata-se de um thriller ágil, calcado na direção segura e em interpretações marcantes. Selecionado para mais de 30 mostras dentro e fora do Brasil, o filme conseguiu treze prêmios, sete deles em festivais estrangeiros, inclusive o Cacho Pallero, concedido pela Agência Espanhola de Cooperação Internacional, no 31º Festival de Huesca, na Espanha (2003). Já No princípio era o verbo, de Virgínia Jorge, é considerado um dos mais importantes curtas-metragens brasileiros dos anos 2000. Sua carreira em festivais é impressionante: foram 14 prêmios, entre eles Melhor Roteiro, Prêmio Especial do Júri e Aquisição do Canal Brasil, em Gramado (2006). Além disso, o curta foi o vencedor do I AXN Film Festival, realizado pelo canal de televisão AXN em 2006, no qual concorreram 564 trabalhos de vinte países da América Latina. Rodado em preto e branco, o filme de Virgínia tem sua trama ambientada num bar da periferia de Vitória, durante o Carnaval. O ritmo do cotidiano vai se impondo sutilmente, aos poucos, até envolver o espectador completamente nas prosaicas conversas de bar, com seus causos, lorotas e filosofias de boteco, sempre em diálogos muito bem-cuidados, em tom naturalista. É um filme que aposta na oralidade onde o real e o inventado se confundem: nas palavras do cineasta e crítico Rodrigo de Oliveira, “uma possibilidade real de transformação da experiência humana pela palavra”, que se traduz em personagens como “o menino que vira

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4

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1  Nunca

mais vi Erica

2  Manoela 3  Grinalda 4  Meninos 5  Escolhas

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caixa de papelão para escutar melhor aquilo que os ruídos da cidade o impedem de perceber”. Entre os trabalhos que caracterizariam a híbrida e potente produção audiovisual da década de 2000, constam importantes obras desses diretores. Doses de ironia e humor continuaram sendo, por exemplo, a marca da obra cinematográfica de Erly Vieira Jr, que realizaria, entre outros, o falso documentário Saudosa (2005, co-dirigido por Fabrício Coradello) e uma trilogia com a atriz Letícia Braga: Grinalda (2006), Eu que nem sei francês (2008) e Avenca (2009). Os thrillers de alta tensão e os videoclipes seriam as vertentes seguidas por Lizandro Nunes, que dirigiria obras de sucesso como Céu de anil (2003) e Nunca mais vi Érica (2007). As crônicas do cotidiano, por sua vez, permaneceriam sendo a opção de Virgínia Jorge durante toda a década, a exemplo do delicado Dia de sol (2009); enquanto documentário e ficções seriam os gêneros em que Gustavo Moraes investiria. Entre as produções, destaca-se a comédia romântica wse ontem (2005, co-dirigida por Roberto Seba), único representante brasileiro na mostra Shoot Goals, Shoot Films, do Festival de Berlim (2005), voltada para filmes que tivessem o futebol como temática. A variedade de gêneros presentes na produção cinematográfica dos anos 2.00 deve-se também a importantes trabalhos que iriam aos poucos, imprimindo a marca de seus diretores. Alexandre Serafini se especializaria em thrillers de suspense, como Observador (2005) e o extremamente bemsucedido 2 e meio (2010), e Ana Murta, que assina A pedra que o estilingue lança (2009), documentário que revê, quase quarenta anos depois, o impacto da intervenção do estilingue gigante feita pelo artista Nenna em 1970, e traça paralelos entre as relações entre memória, afeto e paisagem urbana nesses dois momentos históricos distintos. Já Ursula Dart, produtora e diretora de fotografia de diversos curtas, também desenvolveria sólida carreira como documentarista, realizando, entre outros, Meninos (2009), documentário de invenção que lança um olhar microscópico do cotidiano de João Gabriel, um garoto de nove anos, como tantos outros que vivem na periferia da Grande Vitória. Todas as tardes, após a escola e enquanto a mãe não chega do trabalho, ele brinca sozinho com sua espada de plástico, carrinhos, figurinhas, sempre rodeado por várias grades onipresentes, sejam as do portão da casa, rodeando a varanda ou vistas de relance pela porta da sala ou janela do quarto, ou mesmo a da própria programação televisiva. Há aqui ecos de cinema direto, de uma câmera que testemunha em sua invisibilidade a solidão do menino, “e assim se faz companheira dele e, ao mesmo tempo, tão solitária quanto ele”, como bem define o crítico e cineasta Rodrigo de Oliveira em seu ensaio “O cinema do Espírito Santo nos anos 2000”. Fabrício Coradello dirige, além de Saudosa, os curtas Manoela (2002), experimento pop-psicodélico estrelado por Helena Santos, e o cáustico Instruções para suicídio doméstico (2002), emulando os vídeos de instruções que acompanhavam máquinas de costura e fornos micro-ondas recém -adquiridos, em uma crítica direta à mercantilização de tudo, até do que é interdito e invendável. Já Jefinho Pinheiro irá investigar os dramas humanos

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1  Mundo cão 2  Enquanto houver 3  Graçanaã

fantasia

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2

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fazendo uso de uma impactante mise-en-scène não naturalista, calcada numa crença na força da palavra, em trabalhos como P.S. Pecados Castigados (2005), Azulzinho (2007) e, especialmente, o lirismo neobarroco Agrados para Cloé (2009), sempre trabalhando com o diretor de fotografia Patrick Tristão – que desde então assinaria a fotografia de diversos curtas e longas capixabas. Cabe também destacar o trabalho de Carlos Augusto de Oliveira, cujo Olhos mortos (2002) é uma sensível adaptação de um conto de Tchekhov para o contexto rural brasileiro, traduzido numa atmosfera marcante e intensa. O cineasta, em seguida, iria dividir sua carreira entre a Dinamarca e o Brasil, com diversos curtas e longas, sempre marcados por uma direção de atores extremamente minuciosa, como no premiado longa-metragem Rosa Morena (2010), realizado em São Paulo.

A produção dos veteranos Realizadores de outras gerações mantiveram o ritmo de produção durante toda a década. Luiz Tadeu Teixeira, por exemplo, assina a direção de dois curtas-metragens de alta voltagem poética: O ciclo da paixão (2000), narrativa livre que narra o amor em suas quatro estações (o encontro, a descoberta, a entrega e o desencontro) a partir dos versos de Viviane Mosé e Caê Guimarães e imagens de alta poesia; e Graçanaã (2006), retorno imaginário do escritor Graça Aranha à região serrana do Espírito Santo, onde escreveu o romance Canaã, para um acerto de contas com o passado – no qual o próprio cineasta também interpreta o personagem principal. Glecy Coutinho e Margarete Taqueti mergulham na história de algumas das principais mulheres escritoras capixabas do século XX, como Maria Stella de Novaes (Relicário de um povo, 2003) e Haydeé Nicolussi (Festa na sombra, 2005). Também temos novos trabalhos de Orlando Bomfim, Clóves Mendes, Saskia Sá, Luiza Lubiana e Sebastião Ribeiro Filho, enquanto Marcel Cordeiro assina o controverso longa-metragem ficcional A morte da mulata (2002). Mas o veterano com atividade mais intensa no período será Ricardo Sá: durante o período ele realizou quase uma dezena de documentários de curta e média-metragem, ora engajando-se em questões ambientais e sociais (especialmente entre as comunidades indígenas e quilombolas), ora repensando, com altas doses de ironia, o descaso com a memória das tradições populares, como em Assim caminha Regência (2005) e Procurando Madalena (2010) – ou ainda juntando as duas coisas, como no lírico A estrada silvestre (2009), um dos mais bem-sucedidos documentários capixabas, que conduz livremente o espectador a um passeio entre o que ainda permanece dos saberes indígenas, quilombolas e pomeranos na contemporaneidade. Já no campo da ficção, a verve política de Ricardo faz-se presente em dois trabalhos de narrativa bastante ousadas, com fortíssimas referências ao Cinema Marginal dos anos 1960/1970: A sabotagem da moqueca real (2003) e Enquanto houver fantasia (2006), paródia demolidora do seriado A ilha da fantasia, ambientada na Grande Vitória de uma realidade paralela, na qual nós, os visitantes, adentramos sob a calorosa recepção do pitoresco Seu Manoelzinho.

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1

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1  Profissão de 2  Portinholas

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Cinema de bordas Seu Manoelzinho, ou melhor Manoel Loreno, é pedreiro e cineasta, e vive em Mantenópolis, um dos mais pobres municípios do interior do Espírito Santo. Desde a década de 1990, ele vem realizando médias e longas-metragens em vídeo, com parcos recursos e elenco local, muitas vezes flertando com o imaginário do faroeste, do romance e do “terrir”. A palavra “amador” não se encaixa exatamente aqui, sendo mais adequado falarmos de “cinema de bordas” – conceito criado pela escritora e pesquisadora Bernadette Lyra pra dar conta de uma produção situada fora dos cânones cinematográficos e das regras do “bem fazer” audiovisual, realizada muitas vezes por cineastas autodidatas em regiões periféricas do Brasil, resultando em filmes miscigenados, verdadeiras “pilhagens” que se apropriam “pelas beiradas” do imaginário dos gêneros clássicos do cinema de massas, sem se envergonhar de sua precariedade técnica ou de seu orçamento zero. Descoberto pela mídia em 2004 e tornado célebre em todo o país, Seu Manoelzinho tem os seguintes destaques entre sua insólita filmografia, que ultrapassa uma dezena de títulos: O rico pobre (2002), O homem sem lei (2006) e A gripe do frango (2008) – todos exibidos na mostra Cinema de Bordas, realizada pelo Itaú Cultural, em São Paulo. Também fora dos cânones oficiais, podemos destacar as produções do núcleo capitaneado por Martin Boldt, em Santa Maria do Jetibá, realizando desde o final dos anos 1990 diversos curtas, médias e longas-metragens em vídeo, falados na língua pomerana, e que reúnem toda a comunidade em sua realização, com o intuito de preservar os costumes e tradições pomeranos, uma vez que eles não mais existem em sua região de origem (antigamente situada entre a Alemanha e a Polônia), mas somente nas comunidades de descendentes da imigração no Espírito Santo. Ainda como “cinema de bordas”, podemos mencionar as ficções em curtas e médias-metragem de Mark Miranda, que chegou a obter patrocínio da Lei Rubem Braga para vários de seus filmes, com destaque para Lasanha e quatro queijos (2002) e até mesmo o erótico Swing Capixaba (2002), produzido e dirigido por Clóvis Rosa, e que teve distribuição focada no mercado de videolocadoras e home video.

A animação conquista espaço Um campo que finalmente irá deslanchar no Espírito Santo nessa década é a animação. Embora haja registros de experimentos realizados na virada dos anos 1970/1980 por um grupo que incluía o artista gráfico Marco Antônio Neffa e o jornalista Ricardo Conde, é somente a partir de 2000 que essa produção começa a tomar corpo. Além dos projetos inclusivos do Instituto Marlin Azul (Projeto Animação e Núcleo Animazul), observa-se também uma grande leva de trabalhos autorais. O primeiro deles é Orelhão (2000), de André Holzmeister, utilizando técnicas de modelagem e animação em 3D, recurso que também está presente em trabalhos como Em busca

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1

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1  Brilhantino 2  O Evangelho segundo 3  Meninos da Guarani

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seu João

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do ZZZ (2001), de Jean R. e Luiza Lubiana e A persistência da luz (2007), de Camila Lombardi e Davi de Jesus Cáo. Uma série de trabalhos em 2D (desenho animado) e animação em flash, desenvolvido por Gabriel Menotti, compõem uma sátira bastante ácida ao universo das raves e dos clubes de música eletrônica, em especial nos personagens que participam de uma espécie de “culto” religioso para o qual só se pode participar se Fluo, hostess da paróquia, for com a cara do visitante – é o caso de Profissão de fé (2003), A Fluo dança (2003) e Primeira Paróquia do Cristo Sintético (2010). Menotti também irá desenvolver uma série de trabalhos conceituais, no campo mais experimental da videoarte, como Pile Driver Balalaika e Faca só lâmina, ambos de 2008. Já a dupla Wolmyr Alcântara e Felipe Gaze irá mesclar 2D e 3D em Esta noite tem peleja (2009), baseado num conto do folclorista Luís da Câmara Cascudo e que recebeu o prêmio de Melhor Curta-Metragem de Animação no 6º Animaserra (RJ), em 2011. Experimentando a animação desenhada/pintada diretamente na película, temos o artista plástico Hélio Coelho e a explosão de imagens em seu Insano Jazz (2009). Já Tati Rabello e Rodrigo Linhales (Mirabólica) irão realizar Exterminador (2005), mesclando ilustrações e efeitos de computação gráfica em uma releitura pop contemporânea do mito de Xangô e Oyá, com forte influência de quadrinhos e do cinema B dos anos 1970. Cabe ainda destacar Ai de ti (2009), de João Moraes, baseado na crônica homônima de Rubem Braga e que conta com os desenhos de Diego Scarparo – que seguiria uma sólida carreira como animador e editor nos anos seguintes.

Uma nova geração de documentaristas Além de Ricardo Sá, outros nomes irão se dedicar ao documentário, com resultados bem relevantes. João Moraes realiza Viagem capixaba: um olhar de Rubem Braga e Carybé, hoje (2004), revisitando o clássico encontro entre dois dos maiores intelectuais brasileiros do século XX. Em seguida, empreende um mergulho no folclore capixaba, em filmes como o premiado O Evangelho segundo seu João (2006), que enfoca as sábias tiradas de um veterano mestre de Folias de Reis, capaz de reinventar a própria bíblia para explicar as origens do folguedo popular ao qual dedicou uma vida inteira, e N’Goma – Jongos do sul capixaba (2009), co-dirigido por Leonardo Gomes. Lucia Caus, diretora do festival Vitória Cine Vídeo, realiza o sensível e premiado Homens (2008), enfocando a temática LGBT e co-dirigido pelo paraibano Bertrand Lira. Gabriel Perrone assina Nicole (2007), enquanto que Edson Ferreira realiza diversos trabalhos de temática social e racial (como Auroras de ébano, de 2005), com destaque para Marcas da Vila (2010), que investiga as feridas deixadas pelo incêndio no mercado da Vila Rubim, em Vitória, ocorrido uma década e meia antes. Já Marcus Konká realiza o longa-metragem Meninos da Guarani (2009), abordando a urgente questão do extermínio de jovens negros nas periferias das grandes cidades, a partir dos relatos das famílias que perderam seus filhos na região de Jacaraípe, no município da Serra.

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1  Cave Canem 2  Cine Falcatrua

1

2

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Outros trabalhos de destaque, desta vez abordando o universo musical, são Vivendo de Rock no ES (2007), de Mila Neri, e No olho da rua (2008), de Luiz Eduardo Neves, centrado na cena do hip hop local. O próprio realizador embarcaria, nos anos seguintes, na realização de videoclipes de artistas desse gênero musical, além de criar o site Panela Audiovisual, verdadeiro banco de filmes capixabas disponíveis para streaming online. Há ainda uma série de bons documentários realizados através do projeto Revelando os Brasis, projeto do governo federal voltado para a produção audiovisual em municípios de até vinte mil habitantes. No primeiro ano do projeto (2005), foram realizados, entre outros: Brilhantino (de Ériton Berçaco), que fala de um ermitão que vive em uma caverna nos arredores de Muqui, com uma notável fotografia valorizada pelos ângulos insólitos de câmera; O sonho de Loreno (de Amanda Almondes), em Mantenópolis, retratando o cineasta Seu Manoelzinho; e Bate-paus (de Jorge Kuster Jacob), em Vila Pavão, sobre a perseguição sofrida pelos descendentes de pomeranos durante a Segunda Guerra Mundial. Outro título a destacar é As últimas responsadeiras (2007), de Patrick Camporez Mação, rodado em Vila Valério, e que acompanha um grupo de mulheres que fazem orações (os responsos) para reencontrar objetos furtados ou desaparecidos. Jorge Kuster Jacob também realizaria, em 2009, Hochtijd – Casamento pomerano, em parceria com Adriana Jacobsen, resgatando as peculiaridades de um rito europeu de origem medieval, ainda presente nos dias de hoje, ainda que atravessado por novos significados, em especiais o de resistência de uma identidade cultural e étnica emigrada, e que não mais existe em seu país de origem.

A produção universitária A partir de 2004, uma nova leva de realizadores começa a surgir, advindos, em sua maioria, do meio universitário, seja através do curso de Rádio e TV da Faesa ou dos cursos de Jornalismo e Publicidade da Ufes, especialmente ligados a projetos de pesquisa e extensão, como o GRAV (Grupo de Estudos Audiovisuais) e o Cine Falcatrua. O que marca essa produção é, principalmente, um renovado interesse nos experimentos de linguagem, como o estudo de mise-en-scène empreendido por Salon de La Paix (2004), de Bob Redins e o flerte com a linguagem do videoclipe, nos documentários da dupla Bento Abreu e Rodolfo Sily, da produtora Olhos Coloridos, como Contra maré (2008) e Laja 100 (2012). Especificamente em trabalhos de realizadores ligados ao GRAV, essa experimentação irá se traduzir em engajamentos micropolíticos e performáticos no real (como Compre na mercearia da esquina, realizado em 2005 por Vitor Lopes e Vitor Graize, ou Auto-Vitrato, feito em 2007 por Maria Inês Dieuzeide), ou no flerte com vertentes contemporâneas do documentário, como o filme-dispositivo, em trabalhos como Rodrigo, Gustavo e Marcelo (2006), de Vitor Lopes (vencedor de Melhor curta no II festival REC) e Cave Canem (2007), de Heraldo Borges, Marijana Mijoc, Hugo Reis e Maria Inês Dieuzeide, selecionado para o Festival de Hamburgo, na Alemanha, em 2007.

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Esse pensamento conceitual do documentário ecoará em empreitadas mais ambiciosas, como O Aleph (2007), de Hugo Reis e William Sossai, registro do processo de gravação do CD homônimo de Fabiano Araújo, filme que impressiona pelo apuro visual e sonoro; e Olho de gato perdido (2009), de Vitor Graize, documentário de criação que mergulha na ausência de um filme tido como desaparecido há décadas, e que lança mão de várias estratégias experimentais tanto para resgatar as memórias dos entrevistados quanto para engajar o espectador nessa busca. Outro trabalho de destaque é Não é só uma passagem (2005), de Igor Pontini, registro, nos moldes do cinema direto, das manifestações estudantis ocorridas no mesmo ano contra o aumento da passagem de ônibus e que, para o crítico Rodrigo de Oliveira, seria o projeto de maior impacto político do cinema capixaba recente, “porque não só há respiro, como ele é ofegante: o filme que participa da manifestação e toma tiro da polícia tanto quanto aqueles a quem registra em imagem, cinema e realidade colados de maneira radical”. Há também a busca por novas temáticas, até então pouco exploradas na produção local, como as questões envolvendo a comunidade LGBT, como na ficção Despertai (2008), de Edson Poloni e Lorenzo de Angeli, e as diversas gradações da discriminação racial, como nos filmes de Alex Andrade, diretor de Você viu algum negro aí? (2007), e Ramon Zagoto, que realizaria com Natanael Souza a ficção Maicou Diéquision (2009). Destaca-se ainda o documentário O caso Araceli (2005), de Tatiana Beling e Diego Herzog, profunda análise sobre o crime que chocou o país na década de 1970. Outros cineastas egressos dessa geração só iriam assinar trabalhos de maior fôlego na década seguinte, como Iza Rosemberg (A ladeira, 2010) e André Félix, cujo documentário A cor do fogo e a cor da cinza tem sido bastante premiado na atual safra de festivais (2014-2015).

Os primeiros coletivos juvenis Além do Cineclube Falcatrua, outros coletivos juvenis, marcados pela prática colaborativa e compartilhada, dedicaram-se ao fazer audiovisual nos anos 2000. Surgida na Ufes, em 2007, o Expurgação atua em diversas frentes: design, música, audiovisual, artes visuais e ativismos diversos. Aqui, alia-se o apuro técnico a uma forte vertente de experimentação e pesquisa, explorando uma ampla gama de suportes e linguagens. Os primeiros vídeos experimentais do Expurgação já revelam um amplo desejo de invenção, como em Paiol (2008), de Alexandre Barcelos, cuja exibição no Vitória Cine Vídeo do mesmo ano incluiu uma intervenção sonora feita pelos integrantes do coletivo, espalhados pela plateia. Já o documentário em longa-metragem Suprasubstancial (2009), de Dalmo Rogério e Gustavo Senna, parte de uma pesquisa que busca adaptar o corpo humano como suporte para os movimentos da câmera, atualizando a utopia visionária de uma câmera-corpo, almejada desde os primórdios do cinema. Outro coletivo dessa geração a ser destacado é a banda Sol na Garganta do Futuro, cujo premiado Cabra Cega (2007) apropria-se de imagens

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1  Paiol

2  Fracasso 3  Free Williams

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2

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em Super-8 captadas nos anos 1970 e ressignificadas dentro do imaginário contemporâneo da ditadura militar do período, num curioso híbrido entre videoclipe e documentário experimental (found footage). Já os criadores da Revista Quase, surgida em 2002, resolvem migrar seu humor escrachado para o vídeo, em especial através da TV Quase, iniciada em 2009 como um canal no YouTube. Entre as produções iniciais estão um impagável piloto para TV e videoclipes com o mesmo espírito demolidor das charges e textos com os quais o coletivo ficou famoso, e que iriam resultar em trabalhos extremamente bem-sucedidos no começo da década seguinte, inclusive no campo da ficção. Antes disso, Juliano Enrico, um dos integrantes do grupo, já havia realizado o documentário em média-metragem Touro Moreno (2007), sobre a vida do septuagenário lutador homônimo, dentro e fora dos ringues. Nele, misturam-se as glórias e derrocadas do passado e os sonhos do presente, enquanto Touro Moreno treina seus filhos na esperança de que algum seja campeão de boxe – feito que quase seria obtido quando Esquiva e Yamaguchi Falcão conquistaram, respectivamente, medalhas de prata e bronze nas Olimpíadas de Londres, em 2012.

Cinema e vídeo experimental O mais prolífico nome da geração universitária surgida em meados da década passada, todavia, não vem de nenhum coletivo. Trata-se de Gui Castor, verdadeiro garimpeiro de imagens, flâneur contemporâneo a filmar compulsivamente, muitas vezes realizando filmes inteiros sozinho, com orçamentos mínimos. Sua extensa filmografia inicia-se em 2005, com base num processo de criação que, em suas próprias palavras, é completamente aberto, em constante construção, abrindo espaço para quaisquer imprevisibilidades – bem ao espírito de um certo “cinema livre”, quase artesanal, praticado por alguns jovens realizadores brasileiros de sua mesma geração. Destacam-se os curtas-metragens Maia (2006), A cabra (2011) e Cavalo Ferro (2012) e os longas-metragens digitais Anjo Preto (2007), centrado na figura do sambista capixaba Edson Papo-Furado, e Harmonia do inferno (2008), que retrata o cotidiano da catadora de papel Elvira da Boa Morte. Aliás, essa prática de sempre coletar imagens, como se a câmera fosse uma extensão do olho do cineasta, e retrabalhá-las permanentemente, até se atingir um resultado desejado, que em muito se aproxima de uma ideia de atelier emprestada das artes visuais, torna-se uma constante na produção audiovisual experimental deste novo século. Podemos aqui destacar os trabalhos de uma série de videoartistas, como: Veruska Almeida, cujo Todavia, contudo, entretanto, embora (2006), entrelaça palavra e imagem em um poema visual que vaga incansável pela cidade; Alberto Labuto, diretor de Fracasso (2007), exercício rigoroso sobre a impossibilidade de se reproduzir o movimento a partir de imagens estáticas; e Wayner Tristão, cujo Viaduto (2009) fala do choque entre duas realidades distintas a partir do ruído urbano. Nesse rol, também cabe citar os trabalhos de coletivos

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Plano Geral


já citados, como o Sol na Garganta do Futuro e o Expurgação – sendo que estes últimos, ao lado de Gui Castor, são os nomes dessa geração que mais mergulham nesse espírito de permanente atelier de imagens. A artista plástica Elisa Queiroz, através de sua EQ Produções, também produzirá uma série de trabalhos performáticos entre a ficção e a videoarte, como Wonderbra (2003), Free Williams (2004, Menção Honrosa no XI Vitória Cine Vídeo) e A novilha rebelde (2005). Neles, a figura obesa da artista é apresentada em releituras irônicas de ícones femininos da cultura de massa (Esther Williams, Julie Andrews), questionando os padrões de beleza e sensualidade de forma bem-humorada – ampliando assim o que ela já fazia em seus trabalhos artísticos anteriores. Videoartistas de gerações anteriores também marcam presença com trabalhos instigantes, como: Lobo Pasolini (Entrevista de trabalho, 2005), que ironiza o rígido código de frases e posturas corporais do mundo corporativo; Rosana Paste (Menina Moça, 2007), estudo plástico sobre a demolição da antiga passarela em frente ao campo da Ufes, centrando-se na relação entre afeto, identidade e paisagem da intrusão do maquinário pesado da construção civil na experiência cotidiana; e a dupla da Mirabólica, que irá realizar O processo (2008), série de mini-documentários (alguns em parceria com Gabi Stein) enfocando o modus operandi de artistas visuais como Julio Tigre, Marcelo Gandini e as já citadas Rosana Paste e Elisa Queiroz.

Mangue negro e a renovação do cinema de horror brasileiro E não daria para falar do cinema no Espírito Santo nos anos 2000 sem mencionar aquele que é o mais importante filme realizado aqui durante esse período. Trata-se de Mangue negro (2008), de Rodrigo Aragão. Se a década para ele iniciava longe do cinema, envolvido com o espetáculo Mausoléu (2001), uma espécie de casa de terror itinerante, ao final dela ele assumiria a direção desse longa-metragem de zumbis ambientado no vilarejo de pescadores Perocão, em Guarapari. Sem nenhum apoio de verba pública, o filme foi realizado com um orçamento reduzidíssimo – 60 mil reais, a maioria desse valor empregada em maquiagem de efeitos e 700 litros de gosma e sangue cenográfico. Com elenco e equipe técnica trabalhando de graça, as filmagens ocorreram em finais de semana, durante cerca de três anos, aproveitando a disponibilidade de cada um. O resultado impressiona desde a primeira sequência do filme pela mão segura do diretor em construir o ritmo interno das cenas e criar atmosferas, especialmente aproveitando a trilha sonora a partir de composições pré-existentes do maestro Jaceguay Lins. Além disso, Aragão estabelece, com bastante propriedade, um diálogo consciente com as regras do cinema de horror, com ocasionais doses de humor – em especial os filmes de George Romero, Lucio Fulci e Sam Raimi, além da antológica revista de terror brasileira Calafrio, que circulou entre 1981 e 1993. O resultado alçou o diretor ao epicentro do cinema de horror brasileiro, e obteve repercussão mundial: selecionado para diversos festivais importantes

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do gênero, como o Sci-Fi London (Inglaterra) e o Fantaspoa (Porto Alegre), o longa recebeu diversos prêmios importantes, inclusive internacionais. Mangue negro chegou a ser exibido no circuito japonês e foi lançado em DVD na Alemanha, no final de 2009, sob o nome de Brain dead zombies. Seu sucesso foi além do público de cinema fantástico e de terror e a crítica especializada. Como lembra o crítico Rodrigo de Oliveira, a seleção do filme para a I Semana dos Realizadores, realizada no Rio de Janeiro em 2009, que reunia a nata do cinema autoral brasileiro, fez com que o filme de Aragão abandonasse “o gueto dos filmes de fantasia para dialogar com a vanguarda do panorama brasileiro”5. E a soma de todos esses pequenos grandes passos (na verdade, gigantescos degraus!) explica como Rodrigo Aragão se tornou um dos mais celebrados e respeitados cineastas contemporâneos em atividade no país.

5  Cf. “O manguezal contra-ataca: A vida e a carreira de Rodrigo Aragão, o mais badalado cineasta capixaba da atualidade” (2010), artigo de Rodrigo de Oliveira publicado na revista Milímetros, n.2.

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Mangue negro

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2000 — 88 AC – uma viagem Nenna e Arlindo Castro de Nenna

documentário/ experimental, 8', Hi-8, cor, 2004, Espírito Santo

Viagem pelo litorial norte do Espírito Santo, empreendida pelos artistas Nenna e Arlindo Castro no final da década de 1980, na qual são abordados temas comprometidos com a nacionalidade brasileira. A Melhor Vídeo Experimental na I Mostra Produção Independente, 2004

A banda

De José Augusto Muleta Ficção, 7', digital, cor, 2005, ESpírito santo

Às vezes, a vida dá uma “banda” na gente.

A estrada silvestre

A fuga

A iniciação

Ficção, 17', 35mm, 2007, vitória (ES)

documentário, 40', Digital,

de Saskia Sá

de Gui Castor 2007, Vitória (ES)

Um velho e sua vida miúda é invisível. Seus sonhos deixados pelas calçadas suburbanas. Uma foto e uma fuga. Mas tudo pode mudar.

Agrados pra Cloê de Jefinho Pinheiro

Ficção, 21', 35mm, Cor, 2009, Vitória (ES)

História cotidianas que, contadas por meio de uma narrativa poética, belas paisagens e uma abordagem lúdica, versam sobre a fé e o tempo. A Roteiro Premiado no 8º Concurso de Roteiro Capixaba (13º Vitória Cine Vídeo) A Menção Honrosa na V Mostra Produção Independente (Vitória, 2009)

A gripe do frango

Através de entrevistas com o pai de santo Robson Cuzzuol e da convivência no terreiro Ilé AséIgbá Alagunnon, o filme aproxima o espectador dos rituais sagrados que fazem parte da essência do candomblé.

Albertinho

de 150 alunos da rede municipal de Vitória Animação, 12', 35mm, Cor, 2006, Vitória (ES)

A história de um menino que tem um sonho: voar. Uma homenagem a Alberto Santos Dumont e ao centenário do voo do 14 bis. A Prêmio Porta Curtas e Reperiferia, no Festival Audiovisual Visões Periféricas (RJ) (2007)

de Ricardo Sá

de Manoel Loreno (Seu Manoelzinho)

Documentário, 45', HDV,

Ficção, 57', VHS, Cor, 2008,

de Eduardo Moraes

Cor, 2009, Vitória (ES)

Mantenópolis (ES)

Ficção, 4', Digital, Cor,

Um registro dos saberes dos povos Guarani, Pomerano e Quilombola no Espírito Santo.

Uma lei determina o extermínio de todos os frangos por conta de uma doença. Um amigo do Seu Manoelzinho é transformado em frango e ele precisa identificar qual das aves, para salvá-lo da morte.

Dentro de uma alcova, um homem acorda preso em um ritual diabólico, executado pelo seu "eu vilão" e presenciado por um outro "eu adormecido".

Ai de ti!

de Sérgio Oliveira Dias

Alcova

2007, Espírito Santo

A Melhor filme na VI Mostra Produção Independente (Vitória, 2010)

A Fluo Dança

de Gabriel Menotti Animação, 3', Digital,

de João Moraes

Cor, 2003, Vitória (ES)

Animação, 6', HDV, Cor, 2009,

Alles blau

Documentário, 20', Vídeo, Pb e cor, 2000, ESpírito santo

Cachoeiro de Itapemirim (ES)

A hostess da Primeira Paróquia ensina os primeiros passos da música eletrônica. A Prêmio do Júri – Primeiro Lugar na Mostra Universitária de Vídeos (MAES) A Menção Honrosa no 11º Vitória Cine Vídeo

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Baseado na mais famosa crônica de Rubem Braga (“Ai de Ti, Copacabana”), é uma fábula irônica sobre Copacabana e seus pecados.

Imigrantes alemães, católicos e luteranos chegam ao Espírito Santo em 1847, formando a colônia de Vila Isabel.

A Menção Honrosa na VI Mostra de Produção Independente (Vitória, 2010)

Plano Geral


Alive at the Cavern Pub

Anjo Preto

A persistência da luz

Animação, 6', HDV, Cor,

Documentário, 74', Mini-

animação, 3', Digital, cor,

2008, Vitória (ES)

dv, cor, 2007, Vitória (ES)

2008, Espírito Santo

A banda Club Big Beatles é interrompida durante o ensaio por um suposto cobrador. Assustados, os músicos fogem pelas ruas da cidade de Vitória e são perseguidos por um grupo de fãs, além do próprio cobrador.

Edson Rodrigues do Nascimento, ou Edson Papo-Furado, o “Anjo Preto”, sambista da velha guarda capixaba.

Em um quarto vazio há um berço que balança sem parar e alguém que o observa imóvel. Mas o companheiro não consegue aceitar que a força de um trauma reduza a vida a uma memória.

de Léo Rangel e Edu Hening

A morte da mulata de Marcel Cordeiro

Ficção, 104', Digital, Cor, 2002, Vitória (ES)

Um escritor escreve seu livro e não se dá conta de que os personagens têm vida própria. Um dia, Alberto é ferido e, delirando, percebe que está vivenciando a trama e, inclusive, sendo chantageado pelos personagens. A Melhor Filme de Língua Estrangeira no Festival de Cinema da Flórida (EUA) A Melhor Diretor no Festival de Cinema da Flórida (EUA) A Melhor Ator no Festival de Cinema da Flórida (EUA) A Melhor Atriz no Festival de Cinema da Flórida, EUA (2002)

Anexos

de Gabriel Perrone, Tiago de Luca e Duda Novaes

de Gui Castor

Animação iniciada de Thiago Lessa

animação, 1', DVD, Cor, 2007

Fragmentos de animações agrupados de forma não-narrativa sobre a trilha “Sinfonia Iniciada”, de José Renato Ribeiro de Moraes.

A Novilha Rebelde de Elisa Queiroz e Erly Vieira Jr

Ficção, Musical, 18', MiniDV, Cor, 2005, Vitória (ES)

Novilha chega com suas ideias coloridas e joviais para cuidar dos filhos cinzentos do Seu Zebu.

Duas pessoas, criaturas errantes na atmosfera densa de uma grande metrópole. E se uma fosse uma a tal “alma gêmea da outra”? A Vencedor do Troféu Marlim Azul pelo Voto Popular A Vencedor do Prêmio de Melhor Direção de Arte no 27º Festival Guarnicê de Cinema

2000 — 2009

A retomada do Linharinho de Ricardo Sá

Documentário, 11', DVCam, 2008, espírito santo

Em 2007, um grupo de 300 quilombolas retomam uma área que nos anos 1970 lhes foi tomada por uma empresa de celulose. Um ano depois, parte dos que participaram do levante se encontram para avaliar a importância do ocorrido para o movimento quilombola do Sapê do Norte.

A passageira

A sabotagem da Moqueca Real

Ficção, Drama, 10', 35mm,

Ficção, 14', 35mm, Cor,

Cor, 2006, Vitória (ES)

2003, Cachoeiro de

de Glecy Coutinho

de Ricardo Sá

Itapemirim e Vitória (ES)

É quase uma história sobre a vida, o amor e a morte.

Ficção, 12', hdv, Cor, 2003, são Paulo (SP) e Vitória (ES)

de Camila Torres e Davi Caó

A Vencedor do V Concurso de Roteiro Capixaba A Melhor Filme ( Júri Popular), 13º Vitória Cine Vìdeo (2006)

A pedra que o estilingue lança

de Ana Cristina Murta Documentário, 20', digital,

História de um revolucionário que decide fazer pirataria de TV para mostrar a verdadeira face do imperialismo norte-americano no Brasil.

As cores do Espírito Santo de Geruza Contti

Documentário, 17', Cor, 2000, vitória (ES)

Cor, 2009, vitória (es)

Documentário sobre a obra de arte O Estilingue Gigante, do artista plástico Nenna, realizada em 1970.

Abordagem da obra da pintora primitivista Nice.

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Assim caminha Regência

Avenca

de Ricardo Sá

de Erly Vieira Jr., Lizandro Nunes e Virgínia Jorge

documentário, 55', Mini-DV,

Ficção, 11', 35mm, Cor,

cor, 2005, regência (ES)

2009, Vitória (ES)

Em Regência, Litoral Norte do Espírito Santo, seu Miúdo se dedica a preservar a memória de um herói nacional esquecido: Caboclo Bernardo.

“Pé de pitanga é danado pra dar marimbondo/ Avenca só dá em casa de gente feliz” (Douglas Salomão). Terceira parte de uma trilogia realizada em parceria com a atriz Letícia Braga.

Até quando?

de Gustavo Moraes

Azulzinho

Ficção, 18', 35mm, Cor,

de Jefinho Pinheiro

2008, Vitória(ES)

Ficção, 10', Mini-DV, Cor, 2007, Vitória (ES)

Um pai é capaz de tudo para ajudar um filho, quando o amor não tem limites. Até quando? É um encontro de ideias que discute o quanto somos capazes de encarar o dia a dia, e de continuar a acreditar num sonho de uma vida melhor para todos nós, apesar de nossas próprias limitações.

Auroras de ébano de Edson Ferreira

Documentário, 23', digital, Cor, 2005, Vitória (ES)

Personagens da classe média negra do Espírito Santo relatam suas visões sobre o papel desempenhado pelos afrodescendentes na formação do Estado. Discutem também o preconceito racial.

Auto-Vitrato

de Maria Inês Dieuzeide experimental, 2', DVD, cor, 2007, Vitória (es)

Uma câmera, um espelho, alguns reflexos.

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Azul é a cor dos sonhos de uma família e de seu fogão.

Baby Bon Bon

de Marcel Cordeiro Ficção, 75', HDV, Cor, 2008, Espírito Santo

Arildo é um homem de 45 anos, viúvo, sem trabalho e sem esperança de um futuro melhor. Decide, então, prostituir o filho, Ricardo, de 11 anos. O menino fica prisioneiro do pai, em uma condição de apatia e passividade. Passa suas horas a memorizar os números e olhar sempre o mesmo desenho animado.

Bárbara

de Bernando F. Leitão Ficção, 3', Super-8, Cor, 2005, Guaçuí (ES)

O recorte da vida de uma mulher, após a perda de seu marido.

Barratos

de Marcos Veronese Animação, 6', Cor, 2008

A história é contada pela pulga Chicote sobre uma barata e um rato que disputam o poder de um planeta arrasado. Após Ratão assumir como presidente, o poder lhe sobe a cabeça e comete os mesmos erros que os humanos. Baratiza, revoltada, reclama das ações de Ratão e trava uma batalha pela presidência.

Baseado em histórias reais

de Gustavo Moraes Ficção, 15', 35mm, Cor, 2002, Vitória (ES)

Uma análise e uma crítica ao período da Ditadura Militar no Brasil, com personagens reais e complexos, muitas vezes esquecidos pelo tempo. No ano de 1972, durante a ditadura, duas histórias se cruzam. Na primeira, um jovem membro de um grupo guerrilheiro é preso durante a tentativa de um assalto a banco. Uma jornalista que presencia a cena decide escrever um artigo sobre o fato. Na segunda história, uma mulher prepara uma receita de bolo. A Melhor Diretor (Curtas-Metragens) no 2º Festival de Varginha (MG) A Melhor Primeiro Filme no Prêmio Primeiro Plano, 12ª Mostra Curta Cinema AMelhor Filme, Júri Popular no 9º Vitória Cine Vídeo, Vitória (ES) A Melhor Ator, Menção Honrosa no 9º Vitória Cine Vídeo, Vitória (ES) A Menção Honrosa no Curta Mostra Brasil no 2º Goiânia Mostra Curtas (GO) A Melhor Roteiro no 1º Plano no Festival de Cinema de Juiz de Fora (MG) A Melhor Filme de Ficção no 3º Festival Latino Americano de Campo Grande (MS) A Melhor Filme no Júri Popular no 2003 Austin Film Festival (Austin, EUA) A Prêmio Cacho Pallero –

Plano Geral


Ibero Americano no 31º Festival de Cine – Huesca, Espanha A National Board of Review Film Award, Nova York (EUA) A Kim's Video Award, Columbia University Film Festival, Nova York (EUA) A Melhor Direção de Arte 2003, Columbia University Film Festival, New York (EUA) A Faculty Honors 2003, Columbia University Film Festival, New York (EUA) A Diretor do Ano no 5º Short Shorts Film Festival, Califórnia (EUA) A Hors Concurs no 15º Angers Premiers Plans Film Festival, Angers (França)

Batuque moleque de Fábio Carvalho e Alcione Dias

Documentário, 17', Digital, Cor, 2003, vitória (es)

O vídeo documenta o projeto Congo na Escola, realizado em uma escola da rede municipal, promovendo a inclusão social de estudantes de 4 a 14 anos, da Ilha das Caieiras e Grande São Pedro.

Belinha

de Orlando Bomfim Netto ficção, 13', mini-DV, cor, 2007

Na crescente onda da industrialização e extrema competição, com crianças e bebês abandonados, Belinha, uma mulher de meia idade e carente de recursos, adota uma criança com problemas de saúde e a ela dedica toda as forças.

Brilhantino

de Ériton Berçaco Documentário, 16', MiniDV, Cor, 2005, Muqui (ES)

Cave Canem

de Heraldo Ferreira, Marijana Mijoc, Hugo Reis e Maria Inês Dieuzeide Documentário, 3', Mini-Dv,

Após envolver-se em conflitos de terras, Brilhantino passa a viver em uma caverna no interior de sua propriedade rural. O filme mostra o cotidiano deste memorável morador de Muqui, que olha a vida com ironia, poesia e crítica.

Bubblegum Black

de Luiz Eduardo Neves ficção, 4', Mini-Dv, Cor, 2009, vila velha (es)

As tias também amam.

Bud & Rose de Sérgio Dias

Ficção, Drama, 15', Mini-DV, Cor, 2009, Vitória (ES)

O filme narra trajetória de duas irmãs artistas (de fato, uma seria o alter ego da outra) em suas incursões por sete cidades, onde tentam ganhar dinheiro suficiente para comprar uma casa nas montanhas. Para tanto, elas terão que superar os obstáculos, e adotar a máxima de que "os fins justificam os meios”.

Casaca, o reco-reco de cabeça esculpida de Luciana Gama

Documentário, 24', Betacam, Cor, 2003, espírito Santo

PB, 2007, Espírito Santo

Não há lugar como o lar! A Prêmio Especial do Júri na III Mostra Produção Independente (2007) A Selecionado para o 23º Festival Internacional de Curtasmetragens de Hamburgo (2007) A Melhor Documentário no 3º REC – Festival Nacional de Videos Universitários, Vitória, 2007

Céu de anil

de Lizandro Nunes Ficção, 18', 35mm, Cor, 2003

Célio tem seu carro dominado por três assaltantes. Vive uma situação limite em que qualquer ato pode ser determinante no desfecho da trama. Entrelaçando dois possíveis desfechos, o filme mostra como atitudes mínimas podem mudar a trajetória da vida.

Chamas na ilha

de Marcos Veronezi Ficção, Drama, 20', Cor, 2006

Clara é uma bela jovem, moradora de uma favela da ilha de Vitória. Ela conhece um comandante de um navio estrangeiro e decide partir com ele em busca de uma vida melhor.

O documentário Casaca, o reco -reco de cabeça esculpida, narra de forma dinâmica e descontraída um pouco da história do instrumento e sua inserção na cultura contemporânea.

2000 — 2009

125


Chupa-cabras

de Rodrigo Aragão

Contra Maré

ficção, 16', Mini-DV, cor,

de B. A. R. S (Bento Abreu e Rodolfo Silly)

2004, Guarapari (ES)

Documentário, 6', DV, Cor,

Dia de sol

de Virginia Jorge Ficção, 15', 35mm, Cor, 2009, Vitória (ES)

2008, espírito santo

Aparição de uma criatura misteriosa e aterrorizante, na calada da noite: o Chupa-cabras A Melhor Filme pelo Júri Oficial e Prêmio da Confederação dos Cineclubes, II Mostra Produção Independente, Vitória, 2006

Classe média urbana brasileira de Gustavo Moraes Ficção, 3', Cor, 2004

Em uma bela tarde de sol, em uma grande cidade brasileira, um comentário malicioso muda, completamente, o futuro de três jovens.

Como se fosse ontem de Gustavo Moraes e Roberto Seba

Ficção, 6', Cor, 2005, vitória (es)

Final de um campeonato de futebol infantil de bairro. De um lado, o goleiro invicto. Do outro, a artilheira do campeonato. Nos pés dela: a decisão. Nas mãos dele: muito mais que o titulo de campeão. Único filme brasileiro selecionado para a mostra Shoot Goals, Shoot Films, do Festival Internacional de Cinema de Berlim (2005).

Compre na mercearia da esquina

de Vitor Graize e Vitor Lopes Ficção, 4', Digital, Cor, 2005, vitória (ES)

Foram dez meses de investimento no mais conhecido dos fundos monetários: o cofrinho.

126

O documentário questiona a falta de opções e a condição caótica dos transportes públicos na Grande Vitória.

Creme de alface de André Kiepper Ficção, 15', DV, Cor, 2003, Vitória (ES)

A felicidade que acaba com o pote de cosmético. Baseado em texto de Caio Fernando Abreu.

Esta é uma história sobre uma menina, um passarinho e um quintal. Uma menina que corre. Um quintal de chão batido. E um curió que parou de cantar. A história de qualquer um, em um domingo típico dos quintais. Essa é uma história sobre um canto e uma peleja. Um dia de sol. A Vencedor do 9º Concurso de Roteiros do Vitória Cine Vídeo

Descida do Jucu

Dona Maria, muito prazer

Documentário, 10', vídeo,

Documentário, 5', Mini-DV,

Cor, 2000, Vila Velha (ES)

cor, 2007, Vitória (ES)

Documentário sobre a descida ecológica do rio Jucu, que acontece todo primeiro domingo do ano, no balneário da Barra do Jucu (ES). Destaque para esporte e diversão.

Dona Maria é uma senhora que vive no interior do Estado do Espírito Santo. Com simpatia e humildade ela conta um pouco da sua vida simples, das lutas, dos sofrimentos.

Despertai

Dores e odores

de Federico Nicolai

de Edson Poloni

de Iza Rosemberg

Ficção, 25', Mini-DV, Cor,

de Jefinho Pinheiro e Patrick Tristão

2008, Vitória (ES)

Ficção, 21', Mini-DV, PB e Cor, 2004, Vitória (ES)

O pai de César descobre que ele tem um namorado, Justine se mete em bastante encrenca e Regi começa a namorar uma paciente. Despertai mostra a vida dessas três pessoas, seus relacionamentos e círculo de amizades. O vídeo traz um olhar peculiar do cotidiano homossexual, suas vidas, seus amores e sexo.

Um poeta, uma lavadeira, um dono de bar, uma barata e uma naftalina preta. As histórias desses personagens são costuradas por lembranças e poesias que revelam as dores e odores de suas vidas. A Melhor Filme ( Júri Oficial e Júri Popular) na I Mostra Produção Independente (Vitória, ES, 2004)

Plano Geral


El chivo a Baco de Gui Castor

Em transe

Documentário, 20', digital,

de Darlan Machado e Felipe Mecenas

cor, 2009, Barcelona

Animação, 3', DVD, cor,

Estação Itueta

de Bianca Sperandio Documentário, 18', Mini-DV, Cor, 2008, (ES) e Itueta (MG)

2009, Espírito Santo

Gabriela é uma transexual equatoriana que abandonou suas raízes para se entregar a prostituição. El chivo a Baco, é um filme que mostra através de Gabriela, que o sacrifício de muitas pessoas para seguir seu caminho é a solidão.

Ele

de 150 alunos da rede pública de Vitória Animação, 12', 35mm,

Experimentação gráfica utilizando vários recursos de vídeo para criar um transe passando por quatro estágios diferentes de frequência de som e edição de imagem.

Enquanto houver fantasia de Ricardo Sá

Ficção, 30', 35mm, Cor, 2006, Vitória (ES)

cor, 2007, Vitória (ES)

Ele é o cara. Homenagem ao compositor Noel Rosa.

Em busca da glamourânssia II – O Glamour de Bob Redins

FIcção, 17', Mini-DV, cor, 2006, Vitória (ES)

Paródia da série de TV Ilha da fantasia, com pitadas de engajamento socioambiental, em linguagem de cinema de bordas. A Troféu Estilo na III Mostra Produção Independente (2007)

Entrevista de trabalho de Lobo Pasolini

Se promessas de prosperidade dividiam os moradores da pequena cidade de Itueta (MG) quando foi anunciada a construção da Usina Hidrelétrica de Aimorés, mudanças profundas e irreversíveis foram tragicamente vivenciadas enquanto a cidade era inundada pelas águas do Rio Doce e um novo espaço urbano era precariamente erguido. Estação Itueta é um vídeo-documentário-intervenção, realizado no momento em que uma cidade tenta recriar suas redes de relações sociais em um novo espaço para arraigar a vida num novo tempo.

Esta noite tem peleja de Wolmyr Alcantara e Felipe Gaze Animação, 11', Cor, 2009, Vitória (ES)

experimental, 8', mini-Dv,

Sátira à busca desenfreada pelo consumo e pelo glamour A Melhor Curta pelo Júri Popular no Festival REC de Vídeos Universitários Brasileiros Vitória, 2006 A Melhor Filme pelo Júri Popular na II Mostra Produção Independente, Vitória, 2006

Em busca dos ZZZ

de Jean R. e Luiza Lubiana Animação 3D, 8', digital,

cor, 2005, Espírito Santo

Um brasileiro vivendo no exterior se apresenta em uma entrevista de trabalho como faxineiro. Para conseguir o emprego ele não hesita em envernizar a verdade.

Escolhas

de Ana Cristina Murta

Com narração de cordel e animações produzidas sobre gravuras em aquarela, o curta recupera um conto tradicional de Luís da Câmara Cascudo, maior folclorista brasileiro. A Melhor Curta-Metragem de Animação do 6º Festival de Cinema, Animação, Quadrinhos e Games da Serra Carioca (Animaserra 2011)

Ficção, 12', 16mm, Cor, 2003, Vitória (ES)

cor, 2001, Vitória (ES)

Homem vive solitário em seu castelo no espaço sideral e tem problemas de insônia. Até que uma noite ele tem uma boa ideia, resolve seu problema e dorme profundamente.

2000 — 2009

A história narra um ano da vida de Flávio, um homem que desenvolve obsessão por sua escova de dentes. A Vencedor do II Concurso de Roteiros Capixabas, no Vitória Cine Vídeo

127


Eu que nem sei francês

Fracasso

Ginga

Ficção, 6', Mini-DV, Cor, 2008,

Experimental, 14', Mini-DV,

Documentário, 55', Digital,

Vitória (ES) e Niterói (RJ)

Cor, 2007, Vitória (ES)

Cor, 2004, salvador (ba)

E o corpo, fala? Segunda parte de uma trilogia realizada em parceria com a atriz Letícia Braga.

Um vídeo que tem seu enredo baseado no fracasso da tentativa de representar, com imagens estáticas, um movimento.

Documentário sobre capoeira acompanhando cinco adolescentes de Salvador, Bahia

A Prêmio Reconstrução (Melhor Vídeo) na 4ª Mostra de Produção Independente (Vitória, 2008)

de Luiz Tadeu Teixeira

Expedição Tabacchi

A Prêmio Desconstrução (Melhor filme) na IV Mostra Produção Independente (Vitória, 2008) A Menção Honrosa na Mostra do Filme Livre (Rio de Janeiro, 2008)

documentário, 30', digital,

Frames

de Erly Vieira Jr.

de Marcel Cordeiro

cor, 2009, espírito santo

de Alberto Labuto

de Edson Ferreira Documentário, 15', digital,

Documentário acerca da primeira expedição de imigrantes italianos no Brasil, a expedição Tabacchi.

Exterminador

de Tati Rabello e Rodrigo Linhales (Mirabólica) Animação, 3', Digital, Cor, 2005, Vitória (ES)

cor, 2008, Vitória (ES)

A partir das lentes de uma câmera fotográfica digital, Frames aborda os olhares e as relações com a notícia de três fotojornalistas capixabas.

Free Williams de Elisa Queiroz

Experimental, 10', Mini-DV,

Animação inspirada na lenda de Xangô e Oyá.

Festa na sombra

de Margarete Taqueti e Glecy Coutinho Documentário, 30', DVCam,

Releitura bem-humorada da estrela hollywoodiana Esther Williams e dos musicais extravagantes coreografados por Busby Berkeley. A Menção Honrosa no 11º Vitória Cine Vídeo

Frestas

de Cineclube Kbça e Atitude Jovem Documentário, 15', digital, Cor, 2009, Vitória (ES)

Quando jovens de periferia têm como meta acessar a universidade, uma série de realidades se desnudam. O que os motivaram a entrar no ensino superior? Afinal, eles abriram portas ou passaram por frestas?

128

Graçanaã

Drama, 15', 35mm, Cor, 2006, Vitória (ES) e Santa Teresa (ES)

Um retorno imaginário do escritor Graça Aranha às montanhas do Espírito Santo, local onde viveu em 1890, durante os primórdios da imigração alemã na região, e do qual extraiu elementos para escrever sua obra-prima, o romance Canaã. Nessa viagem espiritual, ele faz um acerto de contas com o seu passado.

Geração Gota D'Água de Rômulo Mussielo

Documentário, 30', digital, cor, 2009, Vitória (ES)

Cor, 2004, Vitória (ES)

Cor, 2005, Vitória (ES)

Um passeio lúdico sobre a vida e a obra da escritora, poeta e revolucionária Haydeé Nicolussi.

de Gustavo Moraes

Documentário que trata das vivências, da luta política da organização e do recrutamento de militância estudantil da Ufes, entre os anos de 1976 e 1982.

Grinalda

de Erly Vieira Jr. Ficção, 11', Mini-DV, Cor, 2006, Vitória (ES) e Niterói (RJ)

Nem todo homem é como Charles Aznavour. Ex-marido, então, muito menos... Primeira parte de uma trilogia realizada em parceria com a atriz Letícia Braga. A Melhor vídeo ( Júri Popular) no 13º Vitória Cine Vídeo

Plano Geral


Harmonia no inferno

Ilha do Vento Sul

Lasanha quatro queijos

Documentário, 63', digital,

Documentário, 28', vídeo,

Ficção, 17', Mini-DV, Cor,

2007, Vitória (ES)

Cor, 2000, Vitória (ES)

2002, Vitória (ES)

Elvira Pereira da Boa Morte tem 69 anos. Vive e trabalha dentro de um depósito de lixo. Luta para criar seus filhos e netos, obter seus documentos básicos e ter uma casa. O filme nos possibilita refletir sobre a indiferença da sociedade frente a uma realidade adversa presente em nosso tempo.

O jazz de Vitória, seus músicos e suas particularidades.

Um brinde à amizade.

Insano jazz

de Ricardo Sá

de Gui Castor

Hochtijd – Casamento Pomerano de Adriana Jacobsen e Jorge Kuster Jacob

Documentário, 40', 35mm, cor, 2008, Vila Pavão (ES)

O ritual do casamento pomerano no município de Vila Pavão, desde os preparativos até o encerramento da festa de casamento, que dura três dias. Nele, são revividos os ritos de passagens de ancestrais europeus, transformados com o passar do tempo para se adaptarem à realidade contemporânea dos descendentes de colonos pomeranos capixabas.

Homens

de Lucia Caus e Bertrand Lira Documentário, 22', 35mm, cor, 2008, ESpírito santo (es) e paraíba (pb)

de Flávio Sarlo

de Hélio Coelho Animação, 5', 35mm, cor,

A Melhor Direção no II For Rainbow, Fortaleza (CE) A Menção Honrosa no 16º MIX BRAZIL, São Paulo A Menção Honrosa no 7º Santa Maria Vídeo e Cinema, Santa Maria (RS) A Melhor Curta Metragem 2008 do IV FestAruanda, João Pessoa (PB)

2000 — 2009

La vie en rose documentário, 7', Digital, cor, 2007, Espírito Santo

2009, Vitória (ES)

Narrativa aleatória que pretende, de certa maneira, ilustrar a trilha sonora: um free jazz. A música tem lugar no primeiro plano, como uma personagem invisível que percorre em um ritmo frenético toda a trajetória das imagens.

Isabelita Bandida

de Isabel Aigner, Rubia Pella e Melissa Guizzardi Animação, 1', digital, Cor, 2006, Vitória (ES)

Menina de nove anos se aventura em busca da realização de seus desejos.

Lágrima

de Gui Castor

Resgate da trajetória cinematográfica dos atores capixabas Paulo de Paula e Branca Santos Neves, em uma colagem pizziniana.

Linhas paralelas

de Orlando Bomfim Netto ficção, 14', 35mm, cor, 2010

Neusa relembra situações dos seus 30, 45 e 60 anos, revelando pessoas e acontecimentos em suas constantes viagens de trem num entrelaçado de tempo e espaço. Adaptação do livro de Wanda Sily.

Lita

de Gui Castor Experimental, 2', 35mm, Cor, 2005, Vitória (ES)

Ficção, 3', digital, 2009, Vitória (ES)

A fé presente na vida de uma senhora.

Lally e Lalí

de Sergio de Medeiros Ficção, 15', 35mm, Cor,

Histórias de coragem revelam desencontros e alegrias vividos por homossexuais em pequenas cidades do nordeste do Brasil.

de Mark Miranda

2006, Vitória (ES)

A exploração do trabalho infantil é abordada de forma lúdica. O filme mostra um dia na vida de Lalí, uma menina que vende milho à noite. Adaptação de conto de Renato Pacheco.

Uma senhora utiliza a memória para alimentar seu espírito. A Prêmio Júri Online no XII Vitória Cine Vídeo, Vitória (ES) (2005) A Prêmio do Júri por Pesquisa de Linguagem e Expressão Poética no V Primeiro Plano – Festival de Cinema de Juiz de Fora, MG, 2006.

129


Macabéia

de Erly Vieira Jr., Lizandro Nunes e Virgínia Jorge Ficção, 19', 16mm, cor,

Manada

Mangue negro

Ficção, 12', 35mm, Cor, 2005,

Ficção, Terror, 105', Digital,

Vitória e Itaúnas (ES)

Cor, 2008, Guarapari (ES)

Moça acorda desmemoriada em uma praia deserta. Ouve tambores. Corre ao encontro do som e se depara com uma tribo de caçadores de búfalos. Lá, ela também encontra o amor.

Em um manguezal cercado por montanhas, uma pequena comunidade se sustenta da extração desmedida dos recursos naturais. Nela, Luiz, um tímido jovem, tenta há muito tempo declarar seu amor por Raquel, uma bela moça que se torna objeto de desejo de muitos homens da região. Quando estranhos acontecimentos começam a mudar as feições daquele universo, terríveis criaturas surgem das entranhas do mangue em busca de carne humana. Agora, Luiz deve lutar desesperadamente para salvar aquilo que lhe é mais caro: a vida de Raquel.

de Luiza Lubiana

de Rodrigo Aragão

2000, Vitória (ES)

Imagine a Macabéia. Aquela mesma do livro da Clarice Lispector. Sem graça, parada na vida... Como seria a vida dela nos dias de hoje? Está é a história de Marluce, que pensa, age, sente e sonha como uma Macabéia do final dos anos 1990. A Roteiro Vencedor I Concurso de Roteiros Capixabas, do Vitória Cine Vídeo A Melhor roteiro, Melhor atriz e Melhor curta-metragem 16 mm no 29º Festival de Gramado, RS A Menção Honrosa para a atriz Janine Corrêa no XXXIV Festival de Brasília) A Prêmio de Contribuição Artística do 6º Festival de Cinema Universitário, Niterói, RJ (2001) A Prêmio Especial do Júri do 7º Vitória Cine Vídeo

Maia

de Gui Castor e Orlando Lemos documentário, 11', digital, 2007, pedra menina (ES)

A simplicidade reunida em um jogo.

Maicoun Diéquison de Ramon Zagoto e Natanael de Souza

Mangue e tal

de 150 alunos da Rede Municipal de Ensino de Vitória Animação, 15', 35mm, pb e cor, 2002, Vitória (ES)

A cidade de Vitória sob diversos pontos de vista. A Melhor Curta-metragem 35 mm do Júri Especial/Eletrobrás no VII Florianópolis Audiovisual Mercosul, 2003 A Menção Honrosa 13º Cine Ceará, 2003 A Menção Honrosa, I MoVA Caparaó, Guaçuí, ES, 2004 A Menção Honrosa no 26º Festival Internacional do Novo Cinema Latino-Americano de Havana, Cuba, 2004 A Melhor Vídeo Amador no II Festival Latino-Americano de Vídeo Ambiental da Chapada Diamantina (BA)

A Melhor Filme Juri Popular, Buenos Aires Rojo Sangre A Melhor Diretor Estreante, Santiago Rojo Sangre A Melhor Filme do Ano, Omelete Marginal

Manoela

de Fabrício Coradello Ficção, 10', 35mm, Cor, 2002, Vitória (ES)

Manoela, estudante de Direito, mora sozinha e nega esmola a um mendigo que a aborda diariamente.

Ficção, 9', digital, cor, 2009, Vitória (ES)

Maicoun Diequison é um jovem de periferia, fã de Michael Jackson. Apesar de terem nomes parecidos, o Máicou brasileiro não tem as mesmas chances que o astro do pop.

A Roteiro Vencedor do IV Concurso de Roteiros Capixabas, do Vitória Cine Vídeo (2001)

A Melhor Filme na V Mostra Produção Independente (2009)

130

Plano Geral


Maurício Capixaba de Oliveira: o pescador de sons de Clóves Mendes

Meninos da Guarani de Marcus Konká

Documentário, 71', mini-

de Gustavo Moraes

dv, cor, 2009, Vitória (ES)

Documentário, 30', Cor, 2009, Vitória (ES)

Documentário, 30', Digital, Cor, 2007, Vitória (ES)

A vida e obra do músico capixaba Maurício de Oliveira. Baseado na biografia “O pescador de sons”.

Memória

de Roberto Burura Documentário, 5', DVCAm, cor, 2008, Espírito Santo

Registro de fragmentos recolhidos em um mergulho no mar da memória. Imagens originalmente captadas em Super-8.

Menina moça de Rosana Paste

Documentário, 3', Mini-DV, cor, 2007, Espírito Santo

Registro das últimas horas da passarela utilizada para pedestres, localizada sobre a Avenida Fernando Ferrari, Vitória (ES). Apresenta os elementos urbanos do crescimento, distribuição e reconstrução de novos espaços.

Meninos

de Ursula Dart Documentário, 5', 35mm, cor, 2009, Vitória (ES)

Um dia na vida de um menino de 9 anos. A Menção Honrosa no 16º Vitória Cine Vídeo, 2009

2000 — 2009

Moqueca só capixaba, o resto é peixada

O impacto da violência nas famílias que perderam seus filhos para o narcotráfico na Rua Guarani e em suas adjacências, localizados na Serra, município da Região Metropolitana da Grande Vitória.

Mestre Vitalino e nós no barro

de 150 alunos da rede pública de Vitória Animação, 12', 35mm, cor, 2008, Vitória (ES)

Um boneco de barro que ganha vida e sai de Pernambuco para participar de um baile funk em Vitória. O filme é uma homenagem ao centenário de nascimento de Mestre Vitalino.

Meu pé de feijão de Joel Vieira Junior

A história do Espírito Santo apresentada de forma lúdica e contemporânea, desde os índios até os dias de hoje, usando a culinária como fio condutor. Uma tese de que a Moqueca Capixaba é o resultado da mistura que é hoje o povo capixaba. A Arara de Bronze, no Tour Film Brazil Internacional Festival 2010

Mundo cão de Saskia Sá

Ficção, 17', 16mm, Cor, 2002, Vitória (ES)

A história de Jolly, uma cadelinha bem-nascida e de indiscutível pedigree. Herdeira de uma fortuna, ela descobre que nem tudo no mundo é “bom para cachorro”.

Experimental, 7', Cor, 2001, Vitória (ES)

A vida se resume no princípio básico de que é morrendo que se renasce. A Melhor vídeo no 8º Vitória Cine Vídeo (2002)

Milagre

de Luiza Lubiana Ficção, 15', Cor, 2009, Serra e Alfredo Chaves (ES)

Um bando de ciganos se aloja nas terras de um italiano. Um dos ciganos se apaixona pela filha do dono das terras. O italiano, preconceituoso, manda matar o cigano. A moça abandona sua família, vai ao enterro de seu grande amor e pede a Deus um milagre. A morte, com sua comitiva, também vai ao enterro do cigano.

A Roteiro Vencedor do III Concurso de Roteiros Capixabas do Vitória Cine Vídeo A Menção Honrosa no Festiva de Taguatinga (DF) (2003)

Não é só uma passagem de Igor Pontini

Documentário, 13', MiniDV, Cor, 2005, Vitória (ES)

Contrários ao aumento da tarifa do sistema Transcol, durante 4 dias, milhares de estudantes ocupam as principais avenidas da capital. A Prêmio Cine Curta CUCA – UNE (2007) A Melhor Filme Mostra MAES (2006) A Menção Honrosa Festival Universitário REC (2006)

131


Nino e Dado em A Guerra Definitiva de Leo Rangel

animação, 5', DVD, cor, 2005, COR, Espírito Santo

Um poderoso general comanda, de forma, implacável, a perseguição dos palhaços Nino e Dado. Em meio ao avanço e conquistas militares, Nino e Dado são a última ameaça ao domínio e transformação do mundo em sociedades frias, sem cor e sem vida.

No olho da rua

de Luiz Eduardo Neves

do Júri e Aquisição do Canal Brasilnono XXXIV Festival de Cinema de Gramado (RS) (2006) A Prêmio Espaço Unibanco de Cinema – SP (2006) A Melhor Ator para Augusto Madeira, Festival de Atibaia Internacional do Audiovisual (Atibaia, SP, 2007) A Melhor Curta-Metragem em 35mm e Melhor Filme Segundo o Júri Popular no Curta-SE (Aracaju, 2007) A Melhor Direção de Curta-Metragem e Melhor CurtaMetragem no XI Festival Brasileiro de Cinema de Miami (2007)

Nunca mais vi Erica de Lizandro Nunes

ficção, 20, 35mm, 2007, Vitória (ES)

Documentário, 20', mini-DV, cor, 2008

“No Olho da Rua” retrata por meio de uma edição ágil e depoimentos fragmentados, assim como os samplers do rap, a realidade de representantes de um movimento cultural de resistência na sociedade do capital: o Hip Hop.

No princípio era o verbo

de Virgínia Jorge Ficção, 18', 35mm, Cor, 2005, Vitória (ES)

Fábula composta por três estórias que se fundem num vai e vem lírico e bem-humorado, refletindo sobre o conceito da verdade e sobre a busca por explicações do fenômeno cotidiano. A Vencedor do 1º AXN Film Festival A Vencedor do 1ºPrêmio de Juri Popular do XII Vitória Cine Vídeo, Vitória(ES) (2005) A Melhor Curta-Metragem em 35mm, Segundo a Crítica, e Melhores Atores Brasileiros para Darcy do Espírito Santo e Fábio Matos, no VII Festival Internacional de Curta-Metragem de Belo Horizonte (MG) (2006) A Melhor Roteiro, Prêmio Especial

132

Erica, após anos longe da capital, reencontra um ex-namorado que desperta lembranças e desejos incontroláveis.

O Aleph

de Hugo Reis e William Sossai Documentário, 26', MiniDV, Cor, 2007, Vitória (ES)

Durante um ano, Hugo Reis e William Sossai registraram todo o processo de gravação do primeiro disco de música instrumental brasileira do jovem compositor Fabiano Araújo. Nessa história, cada músico é um personagem dotado de talentos e falhas. O resultado disso tudo é uma experiência sinestésica inesquecível.

Observador

de Alexandre Serafini Ficção, Suspense, 12', 35mm, Cor, 2005, Vitória (ES)

A história de Douglas, um rapaz que meteu o “mouse” onde não devia.

O caso Araceli: A cobertura da Imprensa de Tatiana Beling

Documentário, 20', MiniDv, Cor, 2005, Vitória (ES)

Em maio de 1973, a menina Araceli Crespo foi raptada, drogada, assassinada e morta em Vitória (ES). Os acusados eram membros de duas das mais tradicionais e poderosas famílias do Estado. O documentário aborda a cobertura da imprensa no caso, abordando questões como a fabricação de verdades, a mercantilização da notícia, a incompetência e a corrupção da polícia e do judiciário da época, entre outras. A Melhor Vídeo Documentário (Prêmio do Júri Popular) na 6ª Curta Barra (Vila Velha, ES) 2006 A Melhor Vídeo Documentário no 1º Festival Nacional de Vídeo de Colatina (ES) 2006 A Melhor Vídeo Documentário (Prêmio do Júri Oficial) na 3ª Mostra de Vídeo Universitário do Museu de Arte do ES (2006) A Melhor Vídeo Documentário (Prêmio do Júri Popular) na 3ª Mostra de Vídeo Universitário do Museu de Arte do ES (2006) A Melhor Vídeo Documentário (Prêmio do Júri Popular On-Line) no 13º Vitória Cine Vídeo (2006)

O ciclo da paixão

de Luiz Tadeu Teixeira FICÇÃO, 13´, 35mm, COR, 1999, Vitória (ES)

História de amor em quatro estações (o encontro, a descoberta, a entrega e o desencontro) conduzida por um “caçador de imagens” que vagueia pela cidade durante a madrugada. Baseado em poemas de Caê Guimarães e Viviane Mosé. A Prêmio especial do júri no VII Vitória Cine Vídeo, Vitória (ES) (2000)

Plano Geral


O cordel dos atingidos de Ricardo Sá

documentário, 22', Mini-Dv, cor, 2003, Espírito Santo

O homem que não pode responder por sua própria existência de Gui Castor

Olhos Mortos

de Carlos Augusto de Oliveira Ficção, 15', Pb e cor, 2002, Alfredo Chaves e Vitória (ES)

Documentário, 10',

Através de um cordel, este vídeo retrata o processo de retirada de cinco mil pessoas do Vale do Jequetinhonha (MG), por causa da construção de uma barragem. A Melhor Documentário na I Mostra Produção Independente (2004)

O Evangelho segundo seu João de João Moraes e Eduardo Souza Lima

Documentário, 17', 35mm, Cor, 2006, espírito santo

Este não é um filme sobre Folia de Reis. Revela um homem “santo”, de 74 anos, que comanda esta manifestação folclórica há 56 anos. Apesar de ser analfabeto, tem a função de ser um sábio. Não deixa perguntas sem respostas, o que o leva a criar parábolas e abordagens inéditas e peculiares. A Troféu OnLine, Melhor Filme e Menção Especial do Júri pelo Resgate da Cultura Oral no XIII Vitória Cine Vídeo, Vitória(ES) (2006) A Troféu ABD-MA de Melhor Filme no 30º Guarnicê Cine Vídeo (São Luís, MA)

O Gilbertinho prefere cópias digitais de Gilbertinho

Animação, 1', Digital, Cor, 2006, Vitória (ES)

A mascote do Cine Falcatrua apresenta um bom argumento contra filmes em película.

Digital, cor, 2005

Uma alusão à condição atual dos ameríndios.

O homem que sonhava fotografia de Tião Xará

Ficção, 15', 35mm, cor, 2009, Espírito Santo

Reginaldo descobre em uma manhã que está sonhando fotografia. Quando os sonhos começam a ficar recorrentes, conta para seu amigo de trabalho que, zoando da situação, recomenda que ele procure um analista. Quando ele vai ao analista, este também parece não dar muita importância para o problema de Reginaldo e a tensão com os sonhos, em vez de melhorar, torna-se mais intensa. Porém, tudo se resolve naturalmente, sem a necessidade de intervenção do analista.

Garota toma conta de criança que nunca dorme.

O pé redondo

de Maurício Ribeiro Junior Ficção, 25', Mini-DV, Cor, 2007, Guarapari (ES)

Toda a verdade sobre a lenda que aterrorizou Guarapari, sobre um demônio que apareceu num forró. A Prêmio de Originalidade na III Mostra Produção Independente (Vitória, 2010)

O processo – Elisa Queiroz

de Gabi Stein e Mirabólica Documentário, 4', hdv, Cor, 2009, Vitória (ES)

O homem sem lei

Retratando a artista Elisa Queiroz, este é um dos episódios da série de minidocumentários que retrata o processo criativo de artistas plásticos e suas artes visuais.

Ficção, 72', VHS, Cor, 2006,

O processo – Julio Tigre

de Manoel Loreno (Seu Manoelzinho) Mantenópolis (ES)

de Gabi Stein e Mirabólica Documentário, 4', HDV, cor,

Faroeste que narra a vingança de Johny, mocinho do filme, que junta uma tropa e sai à caça do homem que matou seu pai.

Olho de gato perdido de Vitor Graize

Documentário, 52', HD, Cor, 2009, Pancas (ES)

2008, Espírito Santo

Documentário sobre o processo de criação do artista plástico Julio Tigre.

O processo – Marcelo Gandini

de Gabi Stein e Mirabólica Documentário, 7', hdv,

Em 1975, um relojoeiro, um lavrador, um soldado e um estudante se uniram para filmar na cidade de Pancas (ES) o faroeste Olho de Gato.

2000 — 2009

Cor, 2009, Vitória (ES)

Um dos episódios da série de minidocumentários que retrata o processo criativo de artistas plásticos e suas artes visuais.

133


O processo – Rosana Paste

de Gabi Stein e Mirabólica Documentário, 5', hdv,

O sonho de Loreno de Alana Almondes

Documentário, 17', Mini-DV,

de 150 Alunos da Rede Municipal de Vitória

Cor, 2006, Mantenópolis (ES)

Animação, Cor, 35mm,

Cor, 2009, Vitória (ES)

O processo criativo da artista Rosana Paste.

Orelhão

de André Holzmeister

2003, Vitória (ES)

A história de Seu Manoelzinho, que ficou famoso pelos filmes que dirige em Mantenópolis (ES).

Paiol

Animação 3D, 4', digital,

de Alexandre Barcelos

cor, 2000, Vitória (ES)

Documentário/ Experimental, 2', Digital, Cor, 2008, Vitória (ES)

Jovem vândalo tenta, sem sucesso, fazer uma ligação em um telefone público. Então resolve depredar o orelhão, que não vai deixar isso barato...

O rico pobre

de Manoel Loreno (Seu Manoelzinho) Ficção, 56', VHS, Cor, 2002, Mantenópolis (ES)

Um homem do interior vê sua vida se transformar quando ganha dez milhões de reais na loteria. Decidido a mudar de vida, ele coloca fogo em todos os seus pertences, inclusive no próprio bilhete premiado, que estava no bolso do casaco.

Ortlieb – Amor à Terra

de Tati Wuo e Elisângela Belo documentário, 14', digital, cor, 2002, Espírito Santo

Este vídeo documenta a situação da população atingida pela construção da usina hidrelétrica de Aimorés (MG), no período de dezembro de 1999 a março de 2002. Retrata os impactos sociais e ambientais vividos pela população das zonas urbanas e rurais da cidade.

134

Portinholas

Ritual lóki expurgativo.

Ponto de Vista de Thiago Rocha

Documentário, 15', Mini-dV, Cor, 2009, ESpírito santo

Assim como uma pintura em tela, uma fotografia ou uma escultura fazem as pessoas refletirem, o grafitte tem a mesma proposta. No entanto, vai da cabeça de cada um interpretá -lo como arte ou não.

Uma menina descobre um mundo novo por meio da arte. A Menção Honrosa no XXVI Festival do novo Cinema Latino-Americano de Havana, Cuba (2004) A Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Animação em Curta-Metragem de 35mm A Menção Honrosa no XXVII Festival Guarnicê (MA), 2004 A 3º Lugar no IV Festival Brasileiro Estudantil de Animação – Animarte (RJ), 2005 A Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Animação em Curta-Metragem de 35mm no 8º Florianópolis Mercosul Audiovisual, 2004

Pour Elise

de Erly Vieira Jr. Ficção, 15', Cor, 2004, Vitória e Santa Teresa (ES)

Ponto final

Esta é a história da jovem Elisa e de sua tia Ana, que vive num asilo. Ou não.

Documentário, 18', Digital,

Profissão de Fé

de Ramon Zagoto e Alex Andrade Cor, 2009, Vitória (ES)

de Gabriel Menotti Animação, 1', Digital,

Depois de trinta anos como ponto final de ônibus na cidade de Vitória, o Terminal Dom Bosco vai abaixo, substituído por terminais mais bonitos e modernos. A uma semana da demolição, usuários e trabalhadores contam as histórias que fizeram dele um dos lugares mais peculiares da cidade.

Cor, 2003, Vitória (ES)

Uma breve profissão de fé na Primeira Paróquia do Cristo Sintético, a igreja evangélica clubber. A Prêmio do Júri – Segundo Lugar na Mostra Universitária de Vídeos (MAES) A Menção Honrosa no 10º Vitória Cine Vídeo A Segundo Lugar no 11º Festival do Minuto (2003) A Menção Honrosa no 8º Florianópolis Audiovisual Mercosul (2004)

Plano Geral


P. S. Post Scriptum

Salon de La Paix

ficção, 18, Mini-DV, cor,

FIcção, 12', Mini-DV, cor,

de Dalmo Rogério Ferreira e Gustavo Senna

2005, Espírito Santo

2004, Vitória (ES)

Documentário, 60', HDV,

Agradeço à vida a oportunidade de escrever enquanto poderia ter ficado calada. Beijos. Alice. P. S: Não aguento mais essa merda!

Reflexão/crítica sobre os valores burgueses e como estes estão impregnados em cada palavra que dissemos ou cada gesto que fazemos.

Raiz que racha a rua

Sapo no pé de boi sempre sai pisado

ficção, 12', digital,

de Ricardo Sá

Documentário experimental que buscava apresentar a câmera como extensão do corpo, conduzindo, a partir de uma investigação sobre os movimentos desse corpo e sobre a própria imagem.

2009, Vitória (ES)

documentário, 11',

Swing capixaba

de Jefinho Pinheiro

de Bob Redins

Suprasubstancial

Cor, 2009, Vitória (ES)

de Alexandre Serafini

Mini-DV, cor, 2006

Um dia, meu irmão, a inocência acaba. A Roteiro Vencedor do 10º Concurso de Roteiros do Vitória Cine Vídeo

Relicário de um povo

Ficção, 48', Mini-DV, Cor,

Nos quilombos no Norte do Espírito Santo, a quem pertence verdadeiramente a água?

Saudosa

de Margarete Taqueti

de Erly Vieira Jr. e Fabrício Coradello

Documentário, 56', Mini-

Documentário, 15', 35mm,

DV, Cor, 2003, Vitória (ES)

Cor, 2005, Muniz Freire (ES)

A vida e obra da escritora Maria Stella de Novaes, professora, escritora e um dos nomes mais atuantes do cenário intelectual capixaba em meados do século XX.

Nem tudo em Saudosa é ficção.

Rodrigo, Gustavo e Marcelo de Vitor Lopes

Experimental, 3', digital, Cor, 2006, Vitória (ES)

Videodocumentário experimental sobre os meninos Rodrigo, Gustavo e Marcelo. A Melhor Vídeo no Festival REC de Vídeos Universitários Brasileiros (Vitória, 2006) A Melhor Vídeo pela Ascine no Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro (2006)

2000 — 2009

de Clóvis Rosa

A Melhor Ficção no II Tudo Sobre Mulheres (MT), 2006

Siga minhas mãos de Luciana Gama

Documentário, 52', DVCam, Cor, 2009, Vitória (es)

Siga minhas mãos surge daquela brincadeira de olhar para as nuvens e enxergar figuras. Basta olhar para formações rochosas do nosso estado para perceber uma diversidade de formas que estimulam a imaginação. Uma viagem pelo interior do Espírito Santo.

2002, Vitória (ES)

Quando uma grande amizade junta dois casais num motel, tudo pode acontecer. Uma história de amor, cumplicidade e muito erotismo, como você nunca viu.

Tipitunga

de Jefinho Pinheiro e Patrick Tristão Ficção, 5', Betacam, Cor, 2003, Vitória (ES)

Um dia na vida de um brasileiro, pai de família pedreiro e amante do futebol. Tipitunga existe entre pedras, lamas, botecos e biritas. Assim como nosso país, ele resiste no buraco.

135


Todavia, Contudo, Entretanto, Embora

Transversal

Documentário/ Experimental,

de Paulo Gois Bastos, Priscilla Thompson Pessini e Vitor Graize

7', Mini-DV, Cor, 2006, Vitória (ES)

Documentário, 13', MIni-

de Veruska Almeida

Viaduto

de Wayner Tristão Experimental, 6', Digital, Cor, 2009, Vitória (ES) e Belo Horizonte (MG)

DV, Cor, 2006, Vitória (ES)

Com o roteiro criado a partir da edição, o vídeo cria um elo entre texto, imagem e som e suas possibilidades interativas.

Tonho, O Elefante de Diego Romão e Andressa Marinho

Animação, 2', Super VHS, Cor, 2000, Vitória (ES)

Tonho, um filhote de elefante, enfrenta perigos na floresta onde mora e conta com a ajuda de seus amigos para solucioná-los.

Touro Moreno de Juliano Enrico

Casa. Caminho. Objeto de estudo. Trabalho. Uma avenida e seus desdobramentos. Vida. Espaço. Algumas lembranças, modos de olhar e projeções para um futuro não muito distante.

Último dia de verão de Wayner Tristão

A saga do lutador, boêmio Touro Moreno dentro, fora dos ringues. Aos 69 anos, ele enfrenta lutadores de boxe mais novos, relembra lutas antigas, visita lugares que fizeram parte de sua vida, se dedica ao treinamento dos filhos, campeões amadores de boxe rumo à profissionalização.

Viagem capixaba: um olhar de Rubem Braga e Carybé

Animação, 3', Digital,

de João Moraes

Cor, 2008, Vitória (ES)

Documentário, 52', DVCam, Cor, 2004, Cachoeiro do Itapemirim (ES)

O último dia de verão.

Vai Brincar na Rua de Jefinho Pinheiro

Documentário, 6', MIniDV, Cor, 2009, Serra (ES)

documentário, 50', Digital, Cor, 2007, espíritio santo

Um encontro casual entre duas realidades é interrompido pelo ruído da cidade. Entre tantas interferências, duas alegorias urbanas se esforçam para se tornarem compreendidas.

Minidocumentário de um ensaio. É gente que chega, que sai, é cachorro que passa, é criança que brinca e telefone que toca.

Vampsida

de Cloves Mendes Ficção, 16', 35mm, Cor,

O documentário refaz o roteiro dos livros produzidos pelo escritor Rubem Braga e o artista plástico Carybé, na década de 1950, redescobrindo as diversas manifestações culturais capixabas. Uma viagem capixaba de Carybé e Rubem Braga, livro de arte com desenhos de Carybé, e Crônicas do Espírito Santo, uma coletânea de crônicas de temática capixaba escrita por Rubem Braga, foram a base para o filme.

2002, Vitória (ES)

Uma história de amor impossível entre o último vampiro e a última mulher sem o vírus HIV.

A Melhor Vídeo pelo Júri Popular, 14º Vitória Cine Vídeo, 2007

136

Plano Geral


Vitória de Darley de Renato Rosati

Você viu algum negro por aí?

Zen ou Não Zen: Eis a Questão

Ficção, 15', 35mm, Cor, 2006,

de Alex Andrade

Vitória (ES) e Rio de Janeiro (RJ)

Documentário, 4', DVD, COR,

de 150 alunos da rede municipal de Vitória

2007, Espírito Santo

Animação, 10', 35mm,

A rotina de um edifício é abalada quando Darley, um sem-teto, resolve se instalar no corredor do prédio, com disposição para conviver com os moradores. O filme aborda questões como intolerância, racismo e dificuldade de convivência social. A Prêmio do Júri Popular do Festival de Curtas-Metragens de Direitos Humanos – Entretodos, São Paulo, 2007

Vitória para mim

de 150 alunos da Rede Municipal de Vitória Animação, 15', 35mm, Cor, 2005, Vitória (ES)

Cor, 2004, Vitória (ES)

O vídeo busca mostrar a pequena quantidade de estudantes negros na Universidade Federal do Espírito Santo e questiona o reconhecimento da identidade.

Wonderbra

de Elisa Queiroz Experimental, 10', Mini-DV, Cor, 2003, Vitória (ES)

Vídeo que discute a valorização estética do corpo obeso e do desejo das curvas do corpo feminino.

Um monge budista imagina como seria sua vida em um grande centro. A Prêmio de Melhor Trilha Sonora Original para Curta-Metragem em 35mm, no XXVIII Festival Guarnicê (MA) (2005) A Menção Honrosa 35mm/Júri Oficial no V Curta-se (SE) (2005)

X9

de Marcelo Cordeiro documentário, 53', mini-DV,

A vitória de cada um.

cor, 2004, espírito santo

A Melhor Filme Infanto-Juvenil, X Florianópolis Audiovisual Mercosul, 2006

Em 2003, morreram mais pessoas no Espírito Santo do que palestinos no mesmo ano. Entrevistas com os protagonistas da violência no Estado: policiais, presos, juiz, sociólogos e o programa Ronda da Cidade. Os contos da violência misturados à alegria e sensualidade de um povo.

Vivendo de Rock no Espírito Santo de Mila Neri

Documentário, Mini-dv, 21', 2007

Este documentário reúne depoimentos dos personagens mais atuantes da cena hardcore no Estado, a partir do questionamento: “É possível viver de rock no Espírito Santo?”

2000 — 2009

137


2010 2010 — 20 — 20 Negro, 2013 MarMar Negro, Mar Negro, 2013 2013


0 015



Aqui, agora e daqui em diante

O boom dos longas digitais No momento em que este texto é escrito, em janeiro de 2015, o cinema de longa-metragem produzido no Espírito Santo atinge um nível talvez impensável até poucos anos atrás, quando esse tipo de produção ainda parecia parte de um horizonte utópico para os realizadores locais. Uma série de acontecimentos, envolvendo produções realizadas no Estado, chama a atenção para a consolidação de um novo panorama na cadeia produtiva do audiovisual capixaba, bem mais sólido que nas décadas anteriores. O primeiro deles ocorre na Mostra de Cinema de Tiradentes, um dos centros gravitacionais do cinema brasileiro contemporâneo, quando dois filmes capixabas fazem suas estreias, aguardadas com certa ansiedade e bem-recebidas pelo público, crítica e imprensa especializada, a nível nacional: Teobaldo morto, Romeu exilado (2015), de Rodrigo de Oliveira, e As fábulas negras (2015), produzido por Rodrigo Aragão. Teobaldo morto, Romeu exilado, uma história de autoexílio, partidas e chegadas, concorreu na Mostra Aurora, espaço que costuma revelar (inclusive aos olhos do circuito internacional) realizadores que estão trilhando caminhos autorais mais arriscados e inovadores, em propostas por vezes bastante radicais. Não é a primeira vez de Rodrigo de Oliveira nessa competição: seu longa-metragem anterior, As horas vulgares (2011), codirigido por Vitor Graize, havia sido selecionado em 2012. Para Cléber Eduardo, curador da mostra, trata-se de um filme ao mesmo tempo “minimalista” e “barroco”, acumulado de emoções e intensidades – minimalista, pelas informações a conta-gotas, pelos poucos cortes, privilegiando a encenação; barroco “pelas palavras, pelo tom de certas cenas, pelos elementos visuais e míticos somados aos corpos, pelo desfecho com adeus adiado, como se o filme não quisesse se despedir”. Já As fábulas negras é composto de cinco episódios, realizados pelos quatro mais importantes nomes do cinema brasileiro de horror: além de Rodrigo Aragão, Petter Baiestorf, Joel Caetano e o lendário José Mojica Marins – em uma produção totalmente rodada em terras capixabas, com orçamento reduzido. Nele, diversas lendas brasileiras, tradicionais ou contemporâneas, são reapresentadas: do Saci à Loira do Banheiro (no Espírito Santo mais conhecida como “Mulher de Algodão”), passando por Iara e pelo Lobisomem, e incluindo um mito contemporâneo, criado pelo próprio Aragão a partir do desequilíbrio ambiental que nos cerca – o Monstro do Esgoto. Ainda em janeiro, são iniciadas as filmagens de Os incontestáveis, primeiro longa de Alexandre Serafini. Trata-se de um road movie, com Opalas

2010 — 2015

141


2

1

3

1  Teobaldo morto, Romeu 2  A noite do Chupacabras 3  As Horas Vulgares

142

exilado

Plano Geral


e Mavericks, que parte da Grande Vitória até chegar à região do Contestado, ao noroeste, na divisa com Minas Gerais. É o quarto longa-metragem realizado por intermédio de um edital específico do governo do Estado, cuja primeira edição ocorrera em 2009. Com o suporte deste mesmo edital, também foram viabilizados, além de Teobaldo morto, Romeu exilado, o já mencionado As horas vulgares, filme que aposta em diálogos densos e uma rigorosa mise-en-scène corporal na tradição do cinema francês pós-Nouvelle Vague (como nas obras de Philippe Garrel e Jean Eustache), e Entreturnos (2014), drama suburbano de Edson Ferreira que atualiza, para o contexto contemporâneo, uma tradição humanista do cinema brasileiro dos anos 1970/1980, em uma trama marcada por reviravoltas e golpes de montagem que põem em questão os pontos de vista narrativos, desconstruindo as imagens que o espectador acreditava ter solidamente construído para cada um dos protagonistas. Um mês antes, Entreturnos havia sido um dos integrantes da comitiva de filmes brasileiros participantes do 36º Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano, realizado em Havana, em Cuba – poucos meses depois de receber o prêmio do Júri Popular no 21º Vitória Cine Vídeo, onde ocorrera sua estreia. Além disso, janeiro também anuncia a lista de indicados ao Oscar 2015, trazendo, na categoria de documentário, O sal da terra (de Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado) que, apesar de não ser um filme propriamente “capixaba”, teve cenas rodadas no Estado, além de ter contado com recursos financeiros dos governos do Espírito Santo e de Minas Gerais. Esse cenário, repleto de perspectivas animadoras, não surgiu da noite para o dia: ele começa a ser traçado a partir do final da década anterior, quando surgem os primeiros longas-metragens digitais capixabas, ainda realizados de forma independente. Essa leva, iniciada com Anjo preto (Gui Castor, 2007), já chamava a atenção no final do ano seguinte, quando o Vitória Cine Vídeo organizou uma mostra especial, na semana anterior ao festival, reunindo os três longas locais finalizados em 2008: Mangue Negro, de Rodrigo Aragão, Baby Bon bom, de Marcel Cordeiro e Harmonia do inferno, de Gui Castor. No ano seguinte, a extremamente positiva repercussão nacional e internacional de Mangue Negro coloca o cinema de longa-metragem capixaba no mapa dos grandes festivais – o que seria continuado pelos filmes realizados em 2011: As horas vulgares, primeira obra capixaba a participar da Mostra Aurora, principal sessão competitiva de Tiradentes, e A noite do Chupacabras, segundo longa-metragem de Rodrigo Aragão, inspirado no mito contemporâneo que habitava os tabloides e programas de TV sensacionalistas dos anos 1990, e que também teria uma bem-sucedida carreira nos festivais internacionais de cinema fantástico e de horror. No ano de 2013 vem à luz o terceiro e mais bem-sucedido longametragem de Aragão, Mar Negro que, trazendo uma história de zumbis com forte viés político-ambiental, é selecionado para a mostra Novos Rumos, do Festival do Rio. Assim como nos filmes anteriores do cineasta, há uma (cada vez mais) potente construção de ritmo e atmosfera e um diálogo intenso com o cinema de mestres do horror, como Lucio Fulci, Sam Raimi e

2010 — 2015

143


George Romero, sempre temperados com farta dose de humor negro para se criticar as convenções do status quo vigente. Já Outro sertão (2013), codirigido entre a capixaba Adriana Jacobsen e a mineira Soraia Vilela, numa coprodução entre duas empresas capixabas (Instituto Marlin Azul e Galpão Produções), recebe o Prêmio Especial do Júri no Festival de Brasília desse mesmo ano. O documentário aborda o período em que o escritor Guimarães Rosa atuou como vice-cônsul do Brasil na Alemanha (1938-1942), em plena ascensão do Nazismo. Já o ano de 2014 traz, além da ficção científica Crônicas estelares – Livro de memórias, de Marcelo N. Reis, originalmente realizada como websérie, um filme voltado ao universo do surfe: A onda da vida, de José Augusto Muleta e Raphael Gasparini, que conseguiria a difícil tarefa de entrar em circuito nacional, ainda que com poucas cópias, chegando a algumas salas de grandes redes como o Cinemark. Já do outro lado do planeta, os três primeiros longas-metragens de Rodrigo Aragão entram em cartaz no Japão, sendo que Mar Negro também seguiria os passos de Mangue Negro e seria lançado em DVD na Alemanha, sob o nome de Bloodbath.

Novas perspectivas para o curta-metragem Já no cenário do curta-metragem, a produção continua intensa e diversificada, e a disponibilização de diversos filmes em sites de streaming vem ampliando seu público, atingindo outros nichos para além dos canais tradicionais (festivais, televisão, acervos institucionais). Em março de 2011, é a vez do Panela Audiovisual entrar no ar, funcionando como um espaço, dentro da internet, para divulgação dessa produção, tentando agrupar uma produção até então pulverizada em sites como YouTube e Vimeo, ou mesmo em torrents. Por outro lado, o circuito cineclubista, fortalecido pela criação da OCCA (Organização dos Cineclubes Capixabas), em 2011, começa a realizar suas primeiras mostras competitivas – com destaque para a Mostra Curta Colorado, promovida pelo cineclube de mesmo nome, sediado em Cariacica. Além disso, o desenvolvimento do campo audiovisual no interior do Estado também abre caminho para outros espaços de exibição, como o Fecin – Festival de TV e Cinema do Interior, surgido em 2012, em Muqui, e que já realizou, até o momento, três edições anuais, sendo que na última delas foram premiados os capixabas: Abrigo ao sol (2013), de Emerson Evêncio, nas categorias Melhor Ficção e Melhor Atriz (para Teuda Bara); Fragma (2013), de Eduardo Moraes, na categoria Júri Popular; e Últimos refúgios: Reserva Biológica de Duas Bocas (2013), de Alexandre Barcelos, na categoria Web. Outra iniciativa de difusão do audiovisual no interior do Estado veio com as Mostras Capixabas de Audiovisual, promovidas pelo governo do Estado por meio da Rede Cultura Jovem, entre os anos de 2010 e 2011. O projeto envolvia oficinas de realização e exibições de filmes dirigidos por adolescentes e jovens, em diversos municípios do Espírito Santo. Cada uma das quatro mostras abrangia um recorte específico: etnográfico, históricocultural, ambiental e rural. Cabe destacar também que esse incentivo à

144

Plano Geral


1

1  A noite do 2  2 e meio

chupacabras

2

2010 — 2015

145


iniciação audiovisual possibilitou tanto a criação quanto o fortalecimento de pequenos núcleos de produção nas diversas regiões do Estado.

Um cinema jovem: os coletivos culturais e o curso de cinema da Ufes A própria Rede Cultura Jovem, voltada para o incentivo a coletivos culturais a partir de uma grande rede de interação e troca, também teve vida curta, mas seus editais possibilitaram a criação de núcleos de produção audiovisual independentes, revelando uma série de novos realizadores, atuando em curtas-metragens de baixo orçamento e em webséries. Mesmo depois de encerrada a Rede, surgiram novos coletivos culturais, o que permite atestar a centralidade dessa lógica compartilhada no modo de produção da nova geração de cineastas surgidos nesta década. Alguns desses coletivos fizeram parte da seleção da primeira edição do Foco Capixaba, mostra competitiva criada em 2012, dentro do 19º Vitória Cine Vídeo, para dar maior visibilidade à produção local. Dois deles foram realizados com recursos dos editais da Rede Cultura Jovem: A história do puteiro mais antigo de Vitória (2012), de Sidney Spacini (pela Tom Tom Tom Filmes), e Confinópolis – A terra dos sem-chave (2011), de Raphael Araújo, integrante da Camarão Filmes & Ideias Caóticas, surgida em 2001. Além desses dois títulos, outros cinco curtas-metragens fizeram parte da primeira edição da mostra: Os lados da rua (Diego Zon, 2012), La isla de las muñecas (Wayner Tristão e Lucas Bonini, 2012), Ao vivo de Bergue (Paulo Sena, 2011), Galinha d’Angola (Daniel Salaroli, 2012) e Romance a la Nelson (Mariana Preti, 2012) – a maioria desses realizadores, inclusive, iniciaram suas carreiras a partir de 2010. Nas edições seguintes do festival, o Foco Capixaba foi mantido, tornando-se uma de suas principais mostras competitivas – e a sessão que atrai o maior número de espectadores de todo o evento. O filme de Spacini assume-se como um falso-documentário, buscando reinventar lúdica e ironicamente o passado da cidade de Vitória a partir de uma perspectiva insólita, relatando os causos do fictício prostíbulo Higher Ground, com base em fragmentos de episódios reais e forte dose de invenção. Já Confinópolis, vencedor do Foco Capixaba, é uma adaptação da HQ homônima, originalmente publicada na revista Prego, e assume toda uma estética bem mais elaborada que os primeiros trabalhos de inspiração trash da Camarão Filmes, ainda que o modo de produção punk e colaborativo seja mantido. O filme aponta sua ironia para a questão crucial: “Daqui em diante, para onde vamos?”. Daí a opção pela ficção científica futurista, de fotografia estourada, caseira e em alto contraste. Aqui, o diálogo com o do it yourself do punk faz-se fundamental para a instalação de uma visão absolutamente distópica e corrosiva de um status quo vigente, ao mesmo tempo desconstruído estética e politicamente. Também participou da competição do Foco Capixaba, naquele ano, a Garupa Filmes, representada pela dupla Wayner Tristão e Lucas Bonini, que assina o documentário La isla de las muñecas (2012), em que o uso de imagens de Super-8 confere uma dimensão onírica e fantasmagórica a um

146

Plano Geral


1

2

1  Confinópolis 2  Eu

Zumbi

2010 — 2015

147


1

2

3

1  Pela Janela 2  Desfragmentos 3  Coisa de menino 4  O uivo da carne 4

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Plano Geral


pequeno santuário insular localizado ao sul da Cidade do México. Outros trabalhos da produtora incluem, além de diversos videoclipes, a ficção Pela parede (2012) também assinada pela dupla, além de Homem-ilha (2011), de Daniela Camila e Ana Paula Sobreiro, cujas imagens, captadas sob um olhar documental e realista, são convertidas em um relato ficcional conduzido pela locução em off do protagonista, um pescador em exílio aparentemente distante do caos urbano, vez por outra permitindo-se mergulhar em memórias esmaecidas pela textura do Super-8. Outros coletivos juvenis a serem destacados incluem o Ethos Diálogos Visuais, premiado na 8ª Mostra Produção Independente (Melhor Fotografia para Maíra Tristão) pelo documentário Além do mar que há entre lá e cá (Matheus Costa e Henrique Gaudio, 2012), retratando os catraieiros da baía de Vitória, e a Onírios Produções, com destaque para o instigante exercício de horror metalinguístico Eu, Zumbi, coisas de bar ou Passa a régua e traz a conta (Alexander S. Buck, 2011). A produção do curso de Cinema e Audiovisual da Ufes, iniciado em 2010, também se fez presente na ala de estreantes do primeiro Foco Capixaba, com Romance a la Nelson (2012), drama “rodrigueano” escrito e dirigido por Mariana Preti – que levaria os troféus de Melhor Filme e Melhor Direção na Mostra Produção Independente, realizada pela ABD Capixaba em julho daquele mesmo ano.1 Nos anos seguintes, os cineastas egressos da faculdade de cinema seriam responsáveis por muitos outros trabalhos relevantes, oxigenando o cenário local com sua diversidade de propostas e vontade de arriscar. Entre as ficções, destacamos Algo sobre nós (2013), de Diego Locatelli, O uivo da carne na terra da luz (2014), de Eduardo Madeira, 101 (2014), de Edson Rangel, e Pela janela (2014), de Diego de Jesus – cada qual explorando, a seu modo, caminhos estéticos pouco percorridos no cinema capixaba. Já entre os documentários, podemos citar Sinal vermelho (2013), de Naiara Bolzan e Cristina Margon, sensível documentário sobre artistas de rua, Menção Honrosa no Foco Capixaba do 20º Vitória Cine Vídeo; Calado (2014), de Lívia Gegenheimer, impactante ensaio visual e sensorial sobre a presença dos navios de grande porte ao redor da Ilha de Vitória; Desfragmentos (2014), de Melina Leal Galante, sobre um insólito cemitério de azulejos; e Anchieta – Nossa história (2014), documentário em primeira pessoa de Hegli Lotério, que parte de um time de futebol amador para empreender uma redescoberta da figura do próprio pai da cineasta. Já Perto da minha casa (2013), de Diego Locatelli e Carolini Covre, acompanha um grupo de adolescentes da periferia de Vila Velha, que encontram em um areal da vizinhança um território pedindo para ser explorado, sensorialmente, em toda intensidade, por seus corpos que correm, esca1  Além do curso da Ufes, também encontra-se em funcionamento, desde 2006, o curso técnico de Rádio e TV do Centro Estadual de Educação Técnica (CEET) Vasco Coutinho, mantido pelo Governo do Estado. Oferecendo cursos com duração entre um ano e meio (diurno) e dois anos (noturno), ele tem formado, em quase uma década de funcionamento, diversos técnicos atuantes no mercado audiovisual capixaba.

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lam e se equilibram por entre os vãos que separam as gigantescas pilhas de contêineres surgidos ali da noite para o dia. Este é, até o momento, o exemplar que mais circulou em festivais nacionais e o mais premiado dessa safra de filmes universitários.

Novos caminhos para o cinema ficcional Nos últimos anos, diversas obras ficcionais têm explorado esteticamente as tensões entre o real e o imaginário, a partir de abordagens bastante distintas entre si: se os premiados Os lados da rua (vencedor do Cine Ceará, em 2012) e Abrigo ao sol (Melhor Filme segundo o público no festival carioca Curta Cinema, em 2013), partem do lirismo e da delicadeza para oferecer novas alternativas para seus protagonistas enfrentarem a dureza e a solidão cotidiana, em Galinha D’Angola, o mágico e o onírico são apresentados sem maiores cerimônias, como se fossem feitos da mesma matéria que a realidade concreta, de modo que a transição de uma a outra dessas dimensões emane naturalmente aos olhos do espectador. Míope (2013), de Gabi Stein, é um exercício do olhar calcado na exploração sensorial do desfoque, enquanto que Guerra fria (2014), de Paulo Sena, oferece um interessante diálogo entre as mise-en-scènes do cinema e do teatro. Também se destaca a poesia visual com que Saskia Sá empreende um mergulho no universo interior da protagonista de Exílio (2015), e a homenagem empreendida por Erly Vieira Jr. ao deboche e a ironia pop da artista plástica e videomaker Elisa Queiroz, precocemente falecida em 2011, ao roteirizar e filmar um argumento inédito dela em Pra casa agora eu vou (2012). Entre os projetos de maior repercussão no início dos anos 2010 temos as incursões da TV Quase, criações coletivas muitas vezes produzidas originalmente para veiculação na internet, e posteriormente reformatadas em curtas-metragens de comédia escrachada, como Cachaça – Caçadores do Alambique Perdido (2010), Seu Zezin e a Lei Velho Cagado (2010), Raquetadas para a Glória (2011), Loja de Inconveniências – A maldição do Caipora (2012), e a animação As descobertas de Fifi (2010). Há também incursões solo de seus integrantes: Juliano Enrico, já residindo fora do Espírito Santo, adaptaria sua série de charges Irmão de Jor-El para a televisão, numa série de desenhos-animados estreada em 2014 na grade do canal de TV por assinatura Cartoon Network. Já Klaus Berg Bragança, outro integrante do coletivo, assinaria Locus (2011), denso e inventivo estudo sobre as diversas formas da loucura. Talvez as mais potentes incursões de cineastas veteranos no campo da ficção em curta-metragem, nesses últimos anos – ao lado de Loja de inconveniências, esse híbrido de ficção e animação com um roteiro “demolidor” e uma direção de arte “tão saborosa quanto delirante” – sejam 2 e meio (2010), de Alexandre Serafini e A cabra (2011), de Gui Castor. O primeiro radicaliza a pesquisa de seu diretor no campo do suspense, desta vez levando o espectador ao universo do mercado de carros roubados nas labirínticas quebradas

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1  Exílio 2  Míope 3  Sombras do tempo 4  Abrigo ao sol

1

2

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da periferia da região metropolitana, amparado pelos envolventes diálogos assinados pelo escritor Saulo Ribeiro (em uma parceria que será repetida em Os incontestáveis), rendendo a Otoniel Cibien o prêmio de Melhor Ator no 17º Vitória Cine Vídeo. Já o segundo, iniciado com as imagens cruas de um parto, aos poucos vai transportando o espectador a uma atmosfera de total louvação ao artifício, num misto de estranheza e nonsense, transbordando ironia na surpreendente citação ao bolero de Altemar Dutra, dublado pelo também cineasta João Moraes.

Engajamentos e tensões no cinema do real Colhendo os frutos do boom observado na década anterior no campo do documentário, vemos a produção capixaba no segmento continuar a pleno vapor. Nesta primeira metade de década, por exemplo, muitas são as realizações engajadas no diálogo com comunidades usualmente oprimidas pelos interesses dos grandes empreendimentos e suas estratégias de resistência. Nesse cinema de guerrilha, Ricardo Sá continua a ser um nome de destaque, realizando, em parceria com Werá Djekupe, o híbrido de documentário e etnoficção Reikwaapa (2013), investigação sobre os ritos de passagem nas aldeias guarani do Espírito Santo, que aos poucos estão sendo esquecidos pelas gerações mais jovens – o filme seria o vencedor do Foco Capixaba no 20º Vitória Cine Vídeo, em 2013. A temática indígena também estaria presente na ficção Como a noite apareceu (2010), de Alexandre Perim, com roteiro de Jovany Salles Rey, rodado com elenco indígena e totalmente falado na língua guarani, e no documentário Borum-Krenak (2013), de Adriana Jacobsen, que conta a história dos botocudos na região do vale do Rio Doce. Já a questão da resistência quilombola aparece no documentário Imprensados (2013), de Ariel Lacruz, Breno Vinicius Silva, Lígia Sancio, Tião Xará e Vitor Hugo Simon. Nas abordagens da cultura popular, vertente iniciada na produção local ainda década de 1970 e mantida constante nos anos seguintes, destacamse os documentários: Pedras pretas (2012), de Marcos Valério Guimarães, sobre as manifestações tradicionais da região de Itaúnas; Casaca (2013), de Orlando Bomfim, sobre a história do instrumento musical mais característico do folclore capixaba; e Mulheres do congo (2014), de Sandy Vasconcelos, abordando, por meio das questões de gênero, uma perspectiva pouco usual nesse campo do documentário. Outro mergulho bastante interessante é Tramas (2014), de Leonardo Gomes, que mescla lendas e tradições culturais a aspectos contemporâneos da região do Vale do Caparaó, no sudoeste do Espírito Santo. Há também trabalhos de resgate da memória cultural capixaba que enfoquem a música popular, como é o caso de Um Sampaio teimoso (2010), de Nayara Tognere. Feito em coprodução entre ES e RJ, o curta investiga a figura de um dos mais emblemáticos compositores capixabas: o cachoeirense Sérgio Sampaio, autor de um dos hinos da contracultura nacional, a marcha-rancho “Eu quero é botar meu bloco na rua”, concorrente no VII

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Plano Geral


Festival Internacional da Canção (1972), cujo compacto chegou a vender mais de quinhentas mil cópias na época. Já em um trânsito multicultural, registrando suas flanêries pelos quatro cantos do planeta, Gui Castor continua sua série de documentários experimentais, sempre em incessante movimento, destacando-se aqui Café com Pernas (2011), Bratislava (2011) e Cavalo Ferro (2013). Neste último, a câmera comporta-se como passageiro a interagir com as mais diversas paisagens internas e externas, registrando fugazes impressões e explorando as sensações visuais e sonoras no trajeto do trem da estrada de ferro Vitória-Minas. O espaço urbano também reaparece sob diversas formas nos documentários realizados a partir de 2010. Seja pelo estranhamento de uma cidade que, por conta do crescimento acelerado, já não se reconhece mais nas memórias afetivas da cineasta em Uma volta na lama (2010), de Ursula Dart, que parte de imagens de arquivo para confrontar presente passado e explorar o imaginário em torno da rua da Lama, em Jardim da Penha, principal reduto boêmio/alternativo de Vitória a partir da década de 1980; seja pelo exercício curatorial de intervenção urbana, repaginando a paisagem cotidianamente percorrida a partir do trabalho de sete artistas plásticos contemporâneos, em O ano em que fizemos contato (2010), de Erly Vieira Jr; ou, ainda, pelo embate entre a dureza da realidade cotidiana e o exercício da imaginação como instância criadora, tanto na invenção de uma emissora de televisão imaginária (a TV Metrô), dotada de uma complexa grade de exibição que reinventa os canais habituais, quanto na performatização, seja como transformista ou diretor de teledramaturgia, ofícios experimentados por Wagner, jovem protagonista do premiado A cor do fogo e a cor da cinza (2014), de André Félix. Há também a possibilidade (concretíssima) de reinvenção do próprio corpo, como nos documentários Rainhas da noite (2010), de Diego Herzog, sobre drag queens, e Meninos do Arco-íris (2013), de Herbert Pablo, sobre transgêneros, vencedor da Mostra Quatro Estações, voltada para filmes de temática LGBT, no 20º Vitória Cine Vídeo. E (porque não?) os mergulhos, nem sempre racionalmente explicáveis, empreendidos por Lucia Caus nos mistérios das paixões amorosas (Estranho amor, 2010) e na fé (Somos todos filhos de Jorge, 2012), cujas experiências reverberam em nossos corpos e que são atentamente investigados pela documentarista, continuando a forma de abordagem iniciada em seu curta Homens (2008). As paixões políticas e suas fissuras também encontram seu lugar em O que bererico vai pensar? (2012), de Diego Scarparo. O filme explora os reflexos da Ação Integralista Brasileira, em Burarama, no interior do Estado, ao tentar explorar o silêncio velado, mantido através das gerações, entre os descendentes de duas famílias de imigrantes italianos, cujos patriarcas eram amigos bastante próximos, até se desentenderem por divergências ideológicas – em um abismo que se estende por várias décadas. Outros embates também são possíveis: seja pela ação política direta das manifestações civis, nos petardos black block de Davis Alvim, Setembro negro (2013) e Casagrande e as ruas do medo (2014), ou na gag visual demolidora de Sol na Garganta do futuro e Wanessa (2010), de Ítalo Galiza, Jamile Ghil e Marcos

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Luppi, que parte de um gritante erro de escalação no show de abertura de uma cantora pop, convocando um conjunto musical experimental que pouco agradaria ao fã-clube da “artista-celebridade”, para lançar, por cima da constrangedora vaia, a pergunta: “O pop poupa a poesia?”

Documentários sobre esportes Ainda no território das paixões e distopias, há três documentários dedicados ao futebol capixaba. O primeiro deles é Espírito Santo Futebol Clube (2012), de André Erlich Lucas e Lucas Vetekesky, que acompanha a campanha do time homônimo, sendo, nas palavras do crítico Rodrigo de Oliveira, “um filme sobre uma equipe à beira da inexistência, repleto de dramas menores e mais tradicionais, mas que acaba se filiando à figura do presidente, do menos pobre entre os pobres, justamente por ser o que mais arrisca – e o que cai do lugar mais alto”. Em seguida, temos Vitória F. C. (2014), de Vitor Graize e Igor Pontini, que, nos moldes do cinema direto, acompanha um dos mais tradicionais times locais no ano de seu centenário, como uma espécie de observador invisível, porém ruidoso o suficiente para fazer falar, junto ao espectador, o silêncio de uma campanha esportiva ocorrida sem maiores estardalhaços ou acontecimentos extraordinários, mas que ainda assim, nos fazem comungar das fraquezas e das pequenas paixões que movem o dia a dia dessa agremiação. O terceiro filme, também partilhando, de certa forma, da melancolia que envolve o filme de Graize e Pontini, é Invisível (2014), de Diego de Jesus, que parte da constatação de que a maioria esmagadora da população da Grande Vitória não torce para nenhum time local, para daí investigar os anseios e distopias daqueles que se dedicam a fazer parte das frágeis torcidas organizadas do futebol capixaba. Todavia, em lugar de se contentar com os silêncios, o filme busca dar voz a alguns torcedores solitários, como se suas palavras pudessem, de alguma forma, desafiar a aridez do vazio que os rodeia. Ainda no campo do documentário esportivo, o montanhismo é o tema de Amigo imaginário: Uma conquista feminina no Espírito Santo (2013), de Oswaldo Badin, detentor de três troféus (Melhor Filme pelo Júri Oficial, pelo Júri Popular e Melhor Filme Brasileiro) na mostra internacional do Rio Mountain Festival 2013. Já na vertente do documentário ambiental, mesclando a preocupação ecológica com forte apuro estético, tanto na bem-cuidada fotografia quanto na concepção sonora arrojada, temos a série de Últimos Refúgios, nas quais destacam-se Itaúnas (2011), de Yuri Salvador, Toninho Mateiro (2012), de Reinaldo Guedes, e Duas Bocas (2013), de Alexandre Barcelos.

Animações e filmes experimentais No campo da animação, a produção também segue com títulos bem relevantes, como o atmosférico Tortoise e a Espeleosofia (2010), de Gabriel Albuquerque, ensaio existencial que mistura animação em 2D, 3D e aquarela.

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Plano Geral


1

2

1  O

ano em que fizemos contato tritões

2  Alguns

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1

2

1  UMA 2  Loja de

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inconveniências – A maldição do Caipora

Plano Geral


Gabriel, desde a década anterior, tem sido um dos mais atuantes animadores do cenário local, não só trabalhando em diversos projetos, mas também lecionando e incentivando o trabalho do novos animadores. Outro destaque é o psicodélico Saia (2014), de Davi de Jesus Cáo, animação em 3D selecionada para o Panorama Internacional do Anima Mundi, 2014. Temos ainda o mergulho expressionista com toques de malandragem carioca de Sangue e Rosa (Diego Scarparo e Henrique Gomes, 2011) e a adaptação do conto de Machado de Assis, Um apólogo (Darcy Alcântara, Felipe Gaze, Wolmyr Alcântara e Délio Freire, 2012), transposto para o contexto do surgimento da primeira escola de samba brasileira. Alexandre Barcelos assinaria uma das mais radicais experiências sensoriais realizadas no cinema capixaba, com seu curta-metragem experimental Uma (2011). Tendo recebido, no 18º Vitória Cine Vìdeo, os prêmios “Inovação e novas linguagens” e “Melhor Curta-metragem Capixaba”, o filme tem como pontos de partida uma visão da Terra como um macrorganismo vivo e a atmosférica composição “Aerial”, do Moby, um dos nomes mais importantes da história da música eletrônica mundial. Exploram-se aqui, em uma série de metáforas visuais e sonoras, as possibilidades técnicas dos meios analógicos e digitais, partindo tanto de imagens microscópicas quanto astronômicas, mesclando sons da natureza e do espaço urbano e usando recursos técnicos como adaptadores caseiros de lentes 35 mm para filmadoras DSLR e até mesmo os efeitos das vibrações sonoras nas tintas. Outro trabalho experimental de destaque é Encontros (2013), de Ronalson Filho, exercício em found footage, que parte da coleta e apropriação de imagens caseiras anônimas, em sua maioria registros de viagem e de cenas cotidianas, postadas por desconhecidos no site Vimeo, para a construção de uma narrativa ficcional totalmente mediada por mensagens instantâneas de celular. E, no campo da videoperformance, Rubiane Maia apresenta o díptico Esboços de um corpo desconhecido (2014), no qual utiliza o próprio corpo em contato com diversos alimentos, para daí estabelecer novas relações com eles.

A ascensão das webséries Por fim, cabe citar a produção de narrativas seriadas para veiculação em internet, filão que só recentemente começa a ser explorado por uma nova geração de realizadores. A primeira experiência capixaba nesse campo data de uma década atrás, com os dois episódios efetivamente realizados e veiculados da ficcional Menina do blog (2005), de Roberto Seba, que inclusive eram disponibilizados para download em uma webpage própria. A própria TV Quase fez, durante toda sua existência, diversos experimentos nesse campo, como as pérolas de humor ácido Loja de Inconveniências (2010), Novela beijo gay (2011) e Lei Velho Cagado (2012). Também participou de Overdose (2013), série televisiva criada e dirigida pelo humorista carioca Arnaldo Branco. Overdose fala de uma banda de rock fracassada, cujos integrantes incluem membros do coletivo: Daniel Furlan, Juliano Enrico e

2010 — 2015

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Raul Chequer. Exibida na MTV, seu sucesso fez com que os dois primeiros fossem contratados como VJs da emissora. Nos últimos quatro anos, pode-se dizer que tivemos um boom de webséries capixabas, tanto surgidas de maneira independente, quanto patrocinadas pelos editais da Rede Cultura Jovem. Em termos de documentário, destacam-se os projetos Na cola (3 episódios, 2012), sobre jovens artistas dos morros e periferias da Grande Vitória e Pedal (três episódios, 2014), ambos de Ramos Zagoto, este último abordando a ciclomobilidade urbana; Sex-Oh (3 episódios, 2012), da Tom Tom Tom Filmes, em que os entrevistados falam abertamente sobre suas experiências sexuais; Eu modo mundo (3 episódios, 2011), do Coletivo Compartilhe ou Nada, Piedade, Berço do samba, terra de bamba (3 episódios, 2011), do Grupo Raízes da Piedade, retratando as memórias e o cotidiano da tradicional escola de samba do Centro de Vitória. Há projetos realizados fora da Grande Vitória, como Pé na estrada (2012-2013), de Giandro Gomes, rodada em Muniz Freire e no Vale do Caparaó; e Raiz Forte (3 episódios, 2012), de Charlene Bicalho, sobre estética afrodescendente e cabelos crespos, contendo depoimentos de mulheres negras de diversas regiões do Espírito Santo. Em um campo mais ficcional, além da já citada incursão na ficção científica futurista, Crônicas estelares (Marcelo Reis, 2012, 7 episódios), devemos destacar também Valdemar (10 episódios e um spin-off, 2013-2014), de Victor Neves, Pedro Melatte e Renato Miranda), suspense com toques surrealistas ambientando em uma universidade fictícia, com fortes influências de séries como Twin Peaks (David Lynch) e O reino (Lars Von Trier), destacando-se por seu roteiro bastante ambicioso e repleto de tramas paralelas. Dialogando com as mais diversas referências culturais, buscando produzir novas imagens do presente e pondo em questão a usual imagérie de nossas tradições. Assumindo uma vocação cosmopolita que aponta para as potencialidades do presente para marcar seu lugar no mundo – esse é a condição atual da produção audiovisual capixaba, nesta segunda década do século XXI. Se ainda não ocupamos um lugar de destaque no panorama nacional, ao menos estamos bem-servidos em termos de diversidade de propostas e olhares. À medida que o contexto da produção vai se firmando cada vez mais, cabe aos realizadores em atividade no Espírito Santo dar continuidade a essa trajetória, em que a reflexão sobre realidade que nos cerca é um ato cada vez mais necessário. E que a segunda metade desta década possa cada vez mais confirmar essas promessas. A sensação que fica é que, mesmo depois de tantos anos, o jogo está apenas começando, só que agora, finalmente parece que é para valer.

158

Plano Geral


2010 —

A baleia Jubarte

A cabra

+1 Brasileiro

Animação , 4', HDV, cor,

Ficção, 12', HDV, cor,

2013, vitória (es)

2010, Espírito Santo

Uma baleia jubarte vivia feliz a nadar até o dia em que fica presa no lixo lançado no mar pelos humanos.

A vida é um inferno desejado.

de Gustavo Moraes

de Alexandre Campaneli

de Gui Castor

ficção, 17', digital, cor, 2015, Vitória (ES)

Música e drama se encontram quando Torquato, um taxista viúvo, enfrenta toda a sorte de brutalidade nas ruas para criar sua filha a duras penas, expressando suas frustrações e sua perseverança soltando a voz.

101

De Edson Rangel Ficção, 9', digital, cor, 2014, ES

Um artista vive uma noite incomum em sua casa, onde um estranho invasor, de quem não pode fugir, revelará seu medo mais oculto.

2 e Meio

de Alexandre Serafini Ficção, 18', 35mm, cor, 2010, vitória (es)

Com o roubo de seu carro de trabalho, Hernani, um mecânico de elevadores, toma uma atitude desesperada. A Melhor Ator (para Otoniel Cibien) A Melhor Curta Capixaba no 17º Vitória Cine Vídeo

2010 — 2015

Abrigo ao Sol

de Emerson Evêncio ficção, 18', H.264, cor, 2013, Vitória (ES)

A Troféu Melhor Filme Livre na Mostra do Filme Livre, Rio de Janeiro, 2011

A casa do sítio e suas magias de Ianh Moll Zovico

Animação, 2', digital, Cor,

Sob o sol deita-se a memória de uma espera. E depois do horizonte? O que lhe espera? A busca idosa e pulsante move essa mulher, que tenta dar sentido ao tempo. A Prêmio Melhor Filme Panorama Nacional – Prêmio de Público, 23° Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro – Curta Cinema 2013 A Melhor Curta pelo Voto do Júri e Prêmio Especial de Atuação – Atriz Teuda Bara, 9° Mube Vitrine Independente – São Paulo, 2013 A Prêmio Melhor Filme e Prêmio Melhor Atriz – Atriz Teuda Bara, 8° Encontro Nacional de Cinema e Vídeo dos Sertões, 2013 A Prêmio Melhor Filme e Prêmio Melhor Diretor, 2° Festival de Cinema de Santa Rosa (RS), 2013 A Prêmio da ABD/ES, 20° Festival de Vitória – Vitória Cine Vídeo, 2013 A Menção Honrosa, Festival Chico de Cinema 2013, Palmas (TO) A Menção Honrosa na IX Mostra Produção Independente, Vitória, 2014

2012, Vila Velha (ES)

A casa do sítio, como é chamada por seus residentes, ganha vida. Animações de papel são os responsáveis por gerar a alegria do casal Mônika e Carlão (arquiteta e engenheiro) ao construir a casa dos sonhos, com todo amor e carinho. A Melhor Vídeo Arte no I Panela Audiovisual, Vila Velha, 2013

Acaso

de Christiane Reis Ficção, 11', HDV, Cor, 2011, Vitória (ES)

Duas vidas distintas: Luíza é tatuadora e estuda Design de Moda. Com a vida agitada, é rodeada de amigos e está passando por uma mudança. Ruan é recém-formado e está procurando emprego. Desanimado, não pensa em outra coisa que não seja sua carreira e estabilidade financeira. Será que o acaso vai colaborar para esses dois mudarem suas formas de verem a vida e serem felizes?

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A cidade viva e seus diálogos

A fantástica vida de Baffus Bagus Bagarius

A história do puteiro mais antigo de Vitória

Documentário, 3', digital,

Ficção, 13', Digital, Cor,

Ficção, 11', digital, cor,

cor, 2012, Espírito Santo

2012, Vitória (ES)

2011, vitória (ES)

Carlitos e Saltimbanque são dois artistas de rua que buscam conquistar seu lugar ao sol em meio ao caos urbanista tentando sempre encarar o cotidiano de forma lúdica.

Exilado de seu mundo, Baffus Bagus Bagarius vaga pelas ruas da cidade até encontrar na publicidade a única forma de manter sua existência.

O pseudo-documentário A História do Puteiro Mais Antigo de Vitória contará pedaços da história do prostíbulo “HigherGround” que acaba de ser fechado e resgatará seus principais personagens.

de Juliano Koscky

A Melhor Documentário no I Festival Panela Audiovisual, Vila Velha, 2013

A cor do fogo e a cor da cinza de André Félix

Documentário, 23', Digital, Cor, 2014, Vitória (ES)

Wagner vive na favela e desde os 7 anos de idade é proprietário da Rede Metror, um canal de televisão feito de papel e lápis de cor. Após 11 anos e mais de 70 novelas transmitidas, Wagner dirige atrizes reais pela primeira vez. A Troféu ABD-SP de Destaque da Mostra Brasil no 25º Festival Internacional de Curtas de São Paulo – Kinoforum A Prêmio Especial do Júri no 21º Vitória Cine Vídeo A Melhor Filme na X Mostra Produção Independente, Vitória, 2015

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de Alexander S. Buck

A Melhor Ficção no I Festival Panela Audiovisual, Vila Velha, 2013

A grande árvore

de Orlando da Rosa Farya Documentário, 30', Digital,

de Sidney Spacini

A ladeira

de Iza Rosenberg Ficção, 15', Digital, cor, 2011, Espírito Santo

2014, Ibiraçu (ES)

Uma homenagem ao monge Dayju San que revela a experiência da criação do primeiro Mosteiro Zen Budista da América Latina, reconhecido como um espaço de importância ambiental, turística e educacional. O Mosteiro Zen Morro da Vargem, localizado no município de Ibiraçu, foi fundado em 1974, e trouxe o conhecimento da Escola Soto Zen, introduzida no Japão pelo Mestre Dogen Zenji (1200-1253), fundador do Mosteiro Eihei-ji, no ano de 1244. O local tornou-se uma referência em educação ambiental e na vivência desta filosofia.

Dona Santa é uma senhora que tem um caminho a percorrer. Mesmo com problema na perna e sacolas pesadas para carregar, ela não desiste de subir a ladeira. Nessa história cotidiana, há o contraste do tempo entre gerações e a contemplação das coisas que sempre deixamos pra trás. A Vencedor do Concurso de Roteiros do 16º Vitória Cine Vídeo

Plano Geral


Além do mar que há entre lá e cá

Ali, na Costa Pereira

Amor mascarado

de Henrique Gaudio e Matheus Costa

de Matheus Costa, Heitor Riguette, Henrique Gaudio e Ana Paula Gonçalves

Documentário, 23', digital,

Documentário, 28', Digital,

Animação, 8', digital, Cor,

cor, 2011, Espírito Santo

cor, 2012, vitória (es)

2013, cariacica (es)

Nadando contra a corrente, a catraia constitui-se num dos mais antigos meios de transporte entre a capital e a cidade de Vila Velha (ES). Em plena “cultura do automóvel”, surpreende que existam pessoas que preferem “o remo à roda”. No entanto, é isso que percebemos quando olhamos de perto os pequenos barcos que insistem em cruzar a abarrotada baía do centro. Símbolos de “tempos que não voltam mais”, os catraieiros testemunham que a história não consiste apenas do passado, mas se situa e se escreve no presente.

O filme aborda a questão do uso do espaço público e os diferentes investimentos afetivos e simbólicos que a ele se direcionam. Trata mais especificamente de uma praça localizada na região central da capital Vitória. O que nos interessa é saber: o que pode um espaço?

A história de um amor adolescente que mistura o Carnaval de Máscaras e o Congo, duas tradições da região.

Algo sobre nós

A mão tagarela

Ficção, 15', HD, Cor,

Documentário, 13', HDV,

2013, Vitória (ES)

Cor, 2010, Vitória (ES)

Uma tarde no atelier do artista Hélio Coelho.

A lenda do apartamento 103

Um jovem mora em uma cidade sitiada por indústrias que exportam aço. Ao dormir, sempre tem problemas, pois escuta o som ambiente composto pelos ruídos dessas, que o impedem de descansar. Essa “insônia sonora” reflete na melancólica e retraída vida do jovem.

Ficção, 4', digital, Cor,

Alguns tritões

A Melhor Fotografia na VIII Mostra Produção Independente (Vitória, ES)

de Ianh Moll Zovico 2012, Vila Velha (ES)

de Diego Locatelli

de André Ehrlich Lucas Documentário, 16', DCP,

Homem perde uma aposta e resolve encarar o desafio de entrar no apartamento mais assombrado de sua cidade.

2010 — 2015

Cor, 2015, vila velha (es)

Alguns tritões de Vila Velha.

de alunos da Escola do Campo e Estação de Ciências Margarete Cruz Pereira

A Melhor Filme Infantojuvenil no FATUX – Festival Brasileiro de Filmes de Aventura, Turismo e Sustentabilidade, Paraty (RJ)

de Erly Vieira Jr

Anchieta

de Hegli Barbosa Lotério Documentário, 15', digital, cor, 2014, Espírito Santo

Time de futebol amador ativo há mais de 30 anos, no bairro de Argolas (Vila Velha, ES), Anchieta desperta em Hegli Lotério, filha de um de seus fundadores, a curiosidade quanto às histórias que tanto escutou na infância. Nesse contexto, o documentário é uma busca por esses fragmentos que culminam em outras histórias de laços de amizade e família.

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Angorá

de Emerson Evêncio

A onda da vida – uma história de amor e surf

As curvas de Niemeyer

Ficção, 11', 35mm, Cor,

de José Augusto Muleta

2011, vitória (ES)

ficção, 75', HDV, Cor,

de alunos do Projeto Animação Instituto Marlim Azul (IMA AZUL)

2014, Regência (ES)

Animação, 10', 35mm,

Angorá é um desencontro entre Bruno, Fabrício, Silvio e Lucio, suas crises e um gato. O filme é uma tentativa recortada e não linear de aproximar o Medo, a Culpa, o Ego e o Sensível pelo olhar felino.

A noite do Chupacabras de Rodrigo Aragão

2010, cor, Vitória (ES)

Tudo começa quando três jovens amigos surfistas partem para uma viagem Brasil afora em busca de novas experiências, ondas perfeitas e novos sonhos. Destino? Quem sabe? Uma aventura que vai mudar as vidas de Joel, Thiago e Caio para sempre.

A menina Estela embarca numa nave do tempo junto com Oscar Niemeyer, um dos mais importantes arquitetos modernos do mundo, para descobrir as principais obras do artista em uma aventura fantástica de curvas e cores.

A Melhor Filme no Festival de Visconde do Rio Branco, 2013

As descobertas de Fifi

A rixa entre duas famílias, Silva e Carvalho, é a distração perfeita para camuflar os ataques do Chupacabras. Enquanto os rivais entram em combate, a sinistra criatura lambe de sangue vítimas sem chance de defesa. Num clima de Bang Bang e fábula épica, A noite do Chupacabras promete belos banhos de sangue, muitos tiros e um monstro 100% latino-americano.

Ao vivo de Bergue

Animação, 2', Digital, cor,

A Melhor Criatura, Cinefantasy (São Paulo, 2011)

de Virginia Jorge

Ficção, 104', HD, Cor, 2011, Guarapari (ES)

A nona vítima de Diego Zon

Ficção, 11', Digital, Cor, 2012, Vitória (ES)

Oito misteriosos assassinatos ocorrem no campus da Ufes. Os crimes que abalam a Grande Vitória, tornando-se foco da imprensa local. Enquanto a polícia permanece sem suspeitos, um nono assassinato poderá ocorrer.

de Paulo Sena

de Yuri Custódio

2010, Espírito Santo

Ficção, 12', Digital, cor, 2011, Espírito Santo

Bergue liga a TV e acompanha ao vivo um sequestro inusitado: ele mesmo mantendo uma refém em sua própria casa. Culpado ou inocente? A essência não está nos fatos, talvez nas impressões deixadas pelo caminho.

A própria cauda Ficção, 15', HD, Pb e cor, 2015, Vitória (ES)

Um homem, uma mulher e o bicho que há em cada um de nós. A Melhor Filme na X Mostra Produção Independente, Vitória, 2015

A inocente cadelinha Fifi desperta para a puberdade e tenta lidar com o turbilhão de hormônios.

As fábulas negras

de Rodrigo Aragão, Petter Baiestorf, Joel Caetano e José Mojica Marins. Ficção, 93', HD, Cor, 2015, Guarapari (ES)

Um grupo de crianças embarca numa aventura macabra povoada por personagens do imaginário popular brasileiro – lobisomem, bruxa, fantasma, monstro e Saci. Com o encontro antológico entre quatro dos nomes mais importantes do terror nacional: Rodrigo Aragão, Petter Baiestorf, Joel Caetano e José Mojica Marins, o eterno Zé do Caixão.

A Melhor Montagem no Festival de Cinema de Maringá em 2012

162

Plano Geral


As horas vulgares

de Rodrigo de Oliveira e Vitor Graize Ficção, 123', HD, PB,

Baía do Espírito Santo

Borum-Krenak

Documentário, 30', HDV,

Documentário, 10', digital,

Cor, 2014, Vila Velha (ES)

cor, 2013, Vitória (ES)

Uma visão acerca do processo de implantação dos portos no canal de Vitória e sua repercussão na vida e na cultura das pessoas, bem como sua influência na paisagem e no meio ambiente.

A história desconhecida de um povo que sobreviveu à colonização do Vale do Rio Doce.

de Claudino de Jesus

De Adriana Jacobsen

2011, vitória (es)

Na noite vazia de Vitória, Théo e Lauro se reencontram. Entre a cumplicidade dessa noite e a lembrança de noites passadas com velhos amigos, bebidas e jazz, eles irão confrontar a realidade e o desencanto.

A sombra da mucuri

de alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio de Mucurici animação, 10', Digital, cor, mucurici e vitória (ES)

A obra resgata a história da Guerra do Contestado, um conflito por fronteiras registrado no noroeste capixaba entre as décadas de 1940 e 1960, envolvendo os estados do Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia. A animação também mostra o desenvolvimento do município ao longo das décadas.

Atrás de uma bola de Gustavo Moraes

Ficção, 10', digital, COR, Vitória (ES), 2015

Uma bola chutada com força; uma criança correndo atrás dessa bola e um carro vindo na direção desse menino com a bola. Esta situação, vista um dia, em uma rua, originou a ideia deste curta-metragem. Entreter e ao mesmo tempo questionar as escolhas que fazemos e a vida que escolhemos levar. Atrás de uma Bola… é acima de tudo uma saudação e celebração da vida.

2010 — 2015

Bar do Pantera de Juliana Gama

Documentário, 26', HDV, Cor, 2013, Cariacica (ES)

O Bar do Pantera é um local de aparência simples, mas que se tornou uma das referências culturais para o município de Cariacica. Espaço de convivência e troca de ideias, a história do bar se confunde com a história de vida de muitas pessoas que passam por ali.

Boa Noite

de Victor Neves Ficção, 9', Full HD, Cor, 2014, Vitória (ES)

O zelador passa os dias nas dependências do prédio onde trabalha. Aos poucos, mudanças em sua rotina passam a incomodá-lo e ele sente que está perdendo seu espaço. A Vencedor da Mostra Ecos, Vitória, 2014

Bratislava

De Gui Castor Documentário/ Experimental, 8', HDV, cor, 2011, Vitória (ES) e Bratislava (República Tcheca)

A vida produz um som.

Cachaça – os caçadores do alambique perdido de Juliano Enrico

Ficção, 13', Digital, cor, 2010, vitória (ES)

O pacato aventureiro Aço Fino é obrigado a embarcar numa perigosa jornada em busca de um misterioso alambique perdido. A Prêmio de Pesquisa de Linguagem, 17º Vitória Cine Vídeo, 2010

Café com pernas de Gui Castor

Ficção, 39', HDV, cor, 2010, Espírito Santo

É um filme que mostra o conflito de um homem encurralado no próprio mundo. Simples fatos cotidianos confluem e se entrecruzam, gerando problemáticas que ele atravessa.

163


Calado

de Lívia Gegenheimer

Coisa de Menino

Confinópolis – a terra dos sem-chave

Documentário, 14', HD,

de Bipe Couto e Dayana Cordeiro

Cor, 2014, Vitória (ES)

ficção, 17', digital, Cor,

Ficção, 16', HD, Cor, 2012,

2014, Vitória (ES)

Vitória e Vila Velha (ES)

Descobertas e perdas. Um abismo entre pai e filho. De forma sensível, o curta metragem Coisa de Menino retrata a história de João, um menino de 10 anos que, após a morte da mãe, viu a relação com o seu pai, Olavo, se tornar cada vez mais distante. Buscando preencher o vazio, João cria em suas brincadeiras um universo de expectativas, medos, ansiedades e desejos.

Confinópolis é um lugar onde o totalitarismo reina e as pessoas são trancadas em seus próprios corpos que, no lugar de rostos, têm fechaduras sem chave. O clima de policiamento e violência dominam a narrativa. Contada em preto e branco, a história torna o absurdo do Estado Totalitário ainda mais contrastante, sem floreios ou discursos amistosos. Nesse cenário um sujeito sem nome começa a agir contra o patrulhamento imposto pelo totalitário Fechadura Hernandez, e em suas buscas ele descobre que pode mudar a realidade do aprisionamento em Confinópolis.

O corpo estranho e majestoso em meio à metrópole. Calado é a profundidade que um navio imerge em água. Que imerge em nós.

Casaca

de Orlando Bonfim Netto Documentário, 20', digital, cor, 2013, Espírito Santo

A origem da casaca.

Cavalo ferro de Gui Castor

Documentário, 20', HDV, cor, 2013, Espírito Santo

A viagem de trem como o intervalo de um tempo de vida para outro que o espera.

Cláudio

de Raphael Araújo Ficção, 7', digital, 2013, vitória e vilha velha (es)

Um cotidiano sufocante em uma cidade engarrafada encontra uma saída silenciosa.

A Menção Honrosa na X Mostra Produção Independente, Vitória, 2015

Como a noite apareceu de Regina Mainardi direção Alexandre Perim Ficção, 30', HDV-ALL, Cor, 2010, Aracruz (ES)

Muito antigamente, antes da chegada do homem branco à terra dos guaranis, quando a noite ainda não existia, o jovem guerreiro Abarayra sai upelo mundo à procura de uma mulher para casar. A escolhida é Yanhuri, a belíssima filha da mítica Cobra Grande. Porém, logo após o casamento, movidos pela curiosidade, os dois amigos de Abarayra abrem um coco proibido, desencadeando uma série de misteriosos acontecimentos.

de Raphael Araújo

A Melhor Filme Curta Metragem, FEST 2012 – Festival Internacional de Cinema Jovem, Espinho – Portugal A Melhor Arte na 8ª Mostra Produção Vitória, 2012 A Melhor Filme do Foco Capixaba no 19° Vitória Cine Vídeo

A Melhor Roteiro na Oitava Mostra Produção Independente, Vitória, 2012

164

Plano Geral


Crônicas estelares – livro de memórias

Doppelganger

de Marcelo N. Reis

de Giandro Gomes e Joel Vieira Jr

Ficção, 60', HD, Cor,

Ficção, 13', HD, Cor, 2013,

2014, Vitória (ES)

Muniz Freire (ES)

Tendo seu planeta destruído pelos Greys, Amaryllis (Babi Chagas), uma alienígena, vem à Terra para evitar que o mesmo aconteça, e com a intenção de se vingar dos assassinos de sua raça. Um grupo secreto das forças armadas, a U.C.I.A, treina jovens abduzidos (pessoas sequestradas por alienígenas) para desenvolverem suas mutações. Seu trabalho é investigar as misteriosas invasões alienígenas no Brasil, descobrindo que uma guerra universal existente há anos está chegando a Terra, e a humanidade terá de lutar, ou deixará de existir.

Renato é um psicopata foragido do sanatório que se esconde na antiga fazenda da família e pede ajuda à sua irmã gêmea, Cláudia, chamando-a para um encontro. Mesmo com o apelo desesperado de sua mãe que tenta impedi-la, Cláudia retorna à fazenda onde passou sua infância e, depois do disparo de uma arma, começa um estranho diálogo com Renato. No decorrer da conversa surge a dúvida: qual dos dois está morto?

Delete love

de Paulo Sena

de Gabi Stein

Ficção, 13', 35mm, Cor,

A Vencedor do 14º Concurso de Roteiro Capixaba, Vitória Cine Vídeo

Embaraçadas Ficção, 12', 2k, Cor, 2014, vitória (es)

2010, vitória (es)

Desfragmentos

Duas mulheres, uma história e dois limites. Ligadas pelos afetos, pela poesia e pelo cordão umbilical, elas se encontram, se desencontram e se amam. Embaladas pela dança de seus vazios, elas entendem o sentido do começo e do fim.

Documentário, 13', digital,

Encontros

Este arquivo será removido totalmente e não poderá ser recuperado. Você tem certeza que deseja apagar esta pasta <amor> da sua memória? <sim><não>

de Melina Leal Galante cor, 2014, vitória (es)

De Ronalson Filho Ficção, 9', Digital, cor,

“O fim é o início de uma existência”. A partir de um local de despejo de pisos e azulejos usados, quantas memórias e histórias podem ser recriadas?

2010 — 2015

Entreturnos

de Edson Ferreira Ficção, 82', HD, Cor, 2014, vitória e vila velha (es)

Beto (Paulo Roque) é um cobrador de ônibus casado com Gilda ( Janaína Kremer), que anseia ter um filho. Quando Beto se aproxima de Leia (Lorena Lima), dona do bar que ele frequenta, conhece Valcir (Luis Miranda), um estrangeiro recém-chegado na cidade que vai completar o triângulo amoroso que resulta numa gravidez. Em meio às dificuldades em lidar com esta situação, os personagens circulam pela cidade e descobrem mais sobre si mesmos, enquanto aprendem a enfrentar seus conflitos pessoais. A Melhor Filme pelo Júri Popular no 21º Vitória Cine Vídeo, 2014

Espírito Santo Futebol Clube

de André Ehrlich Lucas e Lucas Vetekesky Documentário, 29', HD, Cor, 2012, Vitória (ES)

O retrato de um clube de futebol capixaba e a luta do seu principal dirigente para conseguir patrocínio. A Melhor Curta/Fórum doc BH 2012 A Melhor Documentário na 8ª Mostra de Produção Independente

2013, Vitória (ES)

“Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa de mensagens...” (Filme realizado a partir de found footage encontrada no Vimeo).

165


Estranho amor de Lucia Caus

Documentário, 26', Digital,

Eu, Zumbi, coisas de bar ou Passa a régua e traz a conta

Cor, 2010, Vitória (ES) e

de Alexander S. Buck

Rio de Janeiro (RJ)

Ficção, 8', Digital, Cor,

Finados – O luto e a eterna saudade de Caio Perim

Documentário, 15', HD, cor, Vitória (ES)

2012, Vitória (ES)

Mulheres reais contam como se entregaram de corpo e alma, fizeram loucuras, sofreram e sorriram por um sentimento incontrolável.

Evo

de Rubiane Maia e Renata Ferraz Ficção, 15', HDV, Cor, 2015, Vitória (ES)

Chove torrencialmente. Uma mulher procura abrigo em uma antiga pensão, a única casa em um raio de quilômetros. Existe apenas uma vaga em um quarto compartilhado. Parece ser suficiente para ela, que pretende seguir viagem tão logo a chuva cesse. No entanto, a espera pode ser mais longa que a duração de uma tempestade.

Eu, Mulher

de Adryelisson Maduro documentário, 16', HD, Cor, 2015, Vitória (ES)

Histórias de opressões e limitações vividas por mulheres trans, da infância à vida adulta.

166

Proximidade com o real em uma realidade absurda. Cotidiano, cinema, violência e zumbi. As disparidades de uma situação inesperada a partir de dois pontos de vista. Uma assumida ficção com propósito de realidade. A 1° lugar na 1ª Ecos Mostra Livre , Vitória, 2011 A Melhor Vídeo Experimental na 10ª Mostra de Audiovisual Universitário de Mato Grosso A 1º Lugar Categoria Experimental Vale Curtas 2011 A Melhor Curta Fantástico Cinefestival – 1º Festival de Cinema Brasileiro do Vale do Jaguaribe

Exílio

Saskia Sá Ficção, 20', HDV, Cor, 2015, vitória (ES)

Uma mulher... Um Exílio... A areia dos sonhos... Um filme abismo. Exílio é conduzido através de imagens do desterro voluntário da mulher, presa em um não-lugar entre as suas lembranças, o presente árido e um futuro incerto. Ela segue cega ao mundo que a circunda e entregue aos caminhos que surgem sem possibilidade de escolha, sendo, assim, escolhida por eles.

No dia de finados, aborda-se a relação do brasileiro com a data, focando em sua ligação cultural e emocional, culminando no inevitável e eterno sentimento de saudade.

Fragma

de Eduardo Moraes Ficção, 12', Digital, Cor, 2013, Vitória (ES)

Duas vidas procuram dar significado a um tempo vivido, sonhado e, acima de tudo, sentido. A Melhor Montagem no 3º Festival Internacional Unasur Cine (Argentina) A Melhor Fotografia no 10º La Pedrera Short Film Festival (Uruguai) A Prêmio de Incentivo na 9º Mostra ABD Capixaba (ES) A Melhor Curta-Metragem – Júri Popular no 3º Fecin (ES) A Melhor Curta-Metragem – Ficção (2º Lugar) no 20º Festival de Vídeo de Teresina (PI) A Melhor Curta-Metragem (2º Lugar) no 8º Curta Ourinhos (SP)

Plano Geral


Galinha d'angola

Guerreira

Ilhados

Ficção, 11', Full HD, Cor,

de Wolmyr Alcantara e Darcy Alcantara

2012, Espírito Santo

Animação, 7', Digital,

Documentário, 15', 35mm,

Cor, 2015, Vitória (ES)

cor, 2014, vila velha (es)

Há um clima de tensão no elenco e na produção às vésperas da estreia da peça Guerreira, pois Regina, a jovem atriz principal, que interpreta Maria Ortiz, está atrasada. Mesmo sem ela, a peça começa, com a esperança de que Regina consiga chegar a tempo de sua personagem entrar no palco. O desafio seria simples se a atriz, no caminho, não se deparasse com um grande engarrafamento na ponte que leva ao teatro, o carro que dá defeito, a filha hipoglicêmica que ameaça desmaiar e um histérico diretor que está nos nervos por conta do atraso da sua atriz principal.

Concluída em 1989, a Terceira Ponte é um marco da construção civil capixaba. Sob seu pilar central existe uma casa habitada por um pescador.

de Daniel Salaroli

Um menino procura seu pai, no meio da mata. O caminho leva a um sonho estranho. O curta-metragem foi rodado no interior do Espírito Santo, numa região onde a Mata Atlântica ainda se encontra bastante preservada. Todos os atores são pessoas que vivem em Todos os Santos, pequena vila próxima ao local das filmagens. A Menção Honrosa no Foco Capixaba – 19º Vitória Cine Vídeo, 2012 A Menção Honrosa – 1º FECIM, Muqui, ES, 2012

Guerra fria

de Paulo Sena Ficção, 17', 2K, Cor, 2014, Vitória (ES)

É igual no teatro. Um personagem precisa morrer para nascer outro. E o ator se aproxima de si mesmo.

Homem ilha

de Ana Paula Sobreiro e Daniela Camilo Ficção, 11', HDV, Cor, 2011, vila velha (es)

Um velho marujo encalhado em uma ilha deserta tem o tempo todo para pensar no que já fez e no que abandonou. Tudo isso, porém, está somente a alguns metros de distância e parece aproximar-se cada vez mais.

2010 — 2015

de Lucas Bonini e Wayner Tristão

Ilhas Cayman

de Gabriel Perrone Ficção, 15', 35mm, Cor, 2011, Vitória (ES)

Motorista de táxi leva um passageiro que não sabe dizer o endereço do seu destino, mas ao dar as orientações, o taxista descobre estar percorrendo um caminho conhecido. Momentos críticos na vida de um homem podem ser a base para grandes mudanças. A Melhor Direção – Festival Internacional de Curtas de Silhouette (França) A Melhor Curta de Ficção – International Short Film Festival 2011 (Suíça) A Troféu Marlim Azul de Melhor Ator (Luiz Carlos Vasconcelos) no 18º Vitória Cine Vídeo A Melhor Fotografia no Festival Latino Americano de Cinema – Curta Neblina (Brasil/Chile/Argentina)

167


Imprensados

de Ariel Lacruz, Breno Vinicius Silva, Lígia Sancio, Tião Xará e Victor Hugo Simon Documentário, 20', cor, 2013, Espírito Santo

O documentário mostra a luta pelo reconhecimento do direito do Território Quilombola do Sapê do Norte, que abrange áreas nos municípios de Conceição da Barra e São Mateus no Espírito Santo, bem como as dificuldades enfrentadas pelos quilombolas com os extensos cultivos de eucalipto para celulose que cerca as comunidades, segundo os depoimentos das principais lideranças locais.

Inconstância

de Diego de Jesus Documentário, 18', digital, cor, 2013, vitória (es)

Com o crescimento das cidades, locomover-se nos grandes centros urbanos tornou-se um problema. Insconstância traz uma reflexão sobre a mobilidade urbana nas grandes cidades e sobre as escolhas governamentais.

Invisível

La Serena

Documentário, 24', HDV,

Ficção, 87', HDV, Cor,

cor, 2015, Cariacica (ES)

2010, Muniz Freire (ES)

Poucos em meio à multidão: torcedores de dois dos principais times de futebol do Espírito Santo são minoria mesmo jogando em casa.

História do encontro entre Nina, idosa excêntrica e solitária conhecida como “Dona Louca” e Pigmeu, menino foragido de um orfanato, que ela acredita ser o retorno do filho falecido.

De Diego de Jesus

A Melhor Filme na X Mostra Produção Independente, Vitória, 2015

Já era uma vez

de Ana Beatriz Valença Animação, 5', Digital,

de Giandro Gomes

Läjä Cem

de Bento Abreu e Rodolfo Sily Documentário, 8', Digital, cor, 2012, Espírito Santo

Cor, 2012, Serra (ES)

Cinderela e o Príncipe Encantado se casam para serem felizes para sempre. Todavia o tempo passa e suas vidas tomam um rumo diferente do esperado.

A Läjä Records bateu a marca dos 100 títulos lançados, e para comemorar, lançou um vídeo institucional sob a alcunha de Läjä Cem.

Jeitinho brasileiro

Loja de Inconveniências – A maldição do Caipora

Ficção, 5', Digital, Cor,

Ficção, 15', DVD, Cor,

2010, Vitória (ES)

2012, vitória (es)

Em uma situação extrema, reflexões e memórias de uma vida que poderia ser de qualquer brasileiro(a). Uma metáfora ficcional acerca do jeitinho brasileiro.

Na estranha loja do seu Argemiro, Jairo vai comprar cigarros e acaba sendo apresentado a diversas lendas do local.

de Alexander S. Buck

La isla de las muñecas de Wayner Tristão e Lucas Bonini

de Juliano Enrico

A Melhor Filme do Júri Popular, 19º Vitória Cine Vídeo, 2012

Documentário, 6', HDV, cor, 2012, Espírito Santo

Em uma ilha habitada por brinquedos, o lado lúdico pode ser preterido ao fantasmático.

168

Plano Geral


Locus

Marcas da vila

Documentário, 26', Digital,

Documentário, 17', Mini-DV,

de Herbert Fieni e Lamartine Neto

cor, 2011, alegre (es)

cor, 2010, Espírito Santo

Documentário, 23', Full HD,

Locus, documentário gravado em Alegre, interior sul do Espírito Santo, aborda a problemática da convivência com a loucura no espaço público através de um passeio de estranhamento pela cidade. Com depoimentos de moradores, psicólogos, especialistas, autoridades policiais e municipais, a narrativa propõe um debate sobre o imaginário do que é loucura e de quem é louco, em Alegre.

Marcas da Vila resgata o drama vivido pelos familiares das quatro vítimas fatais do maior incêndio da história do Espírito Santo, ocorrido no dia 1º de julho de 1994.

de Klaus Berg

de Edson Ferreira

Meninos do arco-íris

Cor, 2013, Vitória (es)

A Melhor Documentário na VII Mostra Produção Independente, Vitória, 2011

Mar Negro

São Paulo (SP)

Documentário de conteúdo livre que aborda o transbordamento das fronteiras entre os gêneros masculino e feminino, utilizando como fio condutor da narrativa a lenda do arco-íris, que nos conta que as crianças podem mudar de sexo se passarem por baixo de sua luz mágica.

Duas formigas brigam por uma frutas no galho de uma árvore até que algo inesperado acontece.

A Melhor Filme na Mostra Quatro Estações, 20º Vitória Cine Vídeo, 2013 A Menção Honrosa na IX Mostra Produção Independente, 2014

Meltdown

Meu nome é Fulano

Meio a meio

de Danilo Amorim Animação, 3', HD, 2012,

de Rodrigo Aragão

de Victor Neves, Pedro Melatte e Renato Miranda

Ficção, 100', HD, Cor,

Ficção, 16', digital, Cor,

2013, Guarapari (ES)

2015, Vila Velha (ES)

Uma estranha contaminação atinge uma pequena vila de pescadores. Quando peixes e crustáceos se transformam em horrendas criaturas transmissoras de morte e destruição, o solitário Albino luta pelo grande amor da sua vida, arriscando a própria alma numa desesperada fuga pela sobrevivência,

Mulher passa férias sozinha em uma casa de veraneio.

A Melhor Ficção na IX Mostra de Produção Independente (2014)

2010 — 2015

Memória sobre as águas de Keyla Cezini

Documentário, 15', digital, cor, 2011, ESpírito santo

de Naiara Bolzan

Documentário, 15', HDV, cor, 2014, Vitória (ES)

“Bom dia! Boa Tarde! Boa Noite! Meu nome é Fulano. Eu poderia estar fazendo outra coisa, mas estou aqui dentro deste coletivo e gostaria de vender essas maravilhas pra vocês!” Vendedores ambulantes: conheça o cotidiano de quem vive sem o amparo da Lei.

O filme aborda o cotidiano dos catraieiros da baía de Vitória. Por meio de entrevista, as histórias e os desafios desses profissionais são revelados.

169


Míope

Nega do ébano

O bom da brincadeira

Ficção, 12', digital, cor,

Ficção, 20', digital, cor,

Documentário, 15', HDV,

2012, vitória (es)

2012, vitória (es)

Cor, 2014, Espírito Santo

Tudo parece absolutamente fosco e sem graça para Amilcar, um jovem não desprovido de recursos e sem ambições espirituais ou materiais exageradas. Quando de repente tudo lhe parece incrivelmente nítido e cheio de detalhes, Amilcar descobre que é míope, passa a usar óculos e sua vida se torna cem vezes mais rica e interessante do que antes. A partir daí, ele experimenta novas sensações, até então desconhecidas.

Uma bela moça de origem negra é ameaçada de morte pelo padrasto. Apesar de ser “liberada” pelos pistoleiros, é obrigada a fugir para dentro de uma mata fechada onde encontra um abrigo na casa dos pivetes-infratores. Eles a acolhem, mas exigem que ela participe dos assaltos que eles praticam na cidade. Em um certo momento acontece uma reviravolta: a moça conhece alguém, como o príncipe encantado da história da Branca de Neve, conduzindo a trama para um desfecho surpreendente.

O carnaval de Roda D’Água em três momentos – 1992, 2002 e 2012 – é analisado pelos brincantes da região.

de Gabriele Stein

Mulheres do Congo de Sandy Vasconcelos

Documentário, 16', digital, cor, 2014, Espírito Santo

O congo através do olhar feminino. A batida do tambor, o canto doce da corneta e a origem do congo são cercados de mistérios assim como o surgimento da mulher. A Prêmio do Público da Mostra Outros Olhares, 21º Vitória Cine Vídeo, 2014

170

de Valentina Krupnova

O ano em que fizemos contato de Erly Vieira Jr

Documentário, 19', HDV, Cor, 2010, Vitória (ES)

Uma ilha. Sete artistas. Diversas cartografias de uma cidade na qual habita meu desassossego. (Documentário livremente inspirado nas obras dos artistas David Caetano, Douglas Salomão, Elisa Queiroz, Hélio Coelho, Julio Schimidt, Maruzza Valdetaro e Rosindo Torres).

de Ricardo Sá

O congueiro do Santo Preto de Fábio Carvalho

documentário, 23', HDV, Cor, 2013, Vitória e Serra (ES)

O congo capixaba tem como um de seus maiores ícones o Mestre Antônio Rosa (19231999), homem responsável, durante cerca de 50 anos, pela Festa de São Benedito, realizada no município da Serra (ES), em louvor ao padroeiro das bandas de congo e de boa parte da população capixaba. É uma história de luta permanente que atravessou toda uma vida em favor da manutenção dessa festa e das bandas de congo, tradição herdada de seus pais e transmitida aos seus filhos e netos.

O maestro em si de Diego Zon

Documentário, 20', digital, cor, 2010, Alegre (ES)

A vida e obra do músico alegrense Wilson Laerte, um jovem senhor, fiel à sua cidade interiorana, que dorme sonhando em reger orquestra e acorda vivendo como maestro.

Plano Geral


O menino que queria salvar o mundo de Alexandre Campaneli Animação, 8', HDV, Cor,

Os lados da rua de Diego Zon

Ficção, 15', digital, cor,

de Adriana Jacobsen e Soraia Vilela

2012, Muqui (ES)

Documentário, 73', HDV,

2010, Vitória (ES)

Um menino decide salvar o mundo e recebe a ajuda de sua amiga imaginária, uma árvore falante.

O que bererico vai pensar? de Diego Scarparo

Documentário, 28', HD, Cor, 2012,

cor, 2013, Espírito Santo

Carrão é um garoto que, apesar do seu comportamento excêntrico, vive livremente o ritmo de vida de uma típica cidade de interior. Ao ser surpreendido por um acontecimento que ameaça destruir seu mundo particular, precisará encontrar um caminho que o liberte novamente.

Cachoeiro do Itapemirim (ES)

Um registro dos reflexos da “Acção Integralista Brasileira” numa pequena vila no interior do Espírito Santo, onde a relação de duas famílias de imigrantes italianos, cujos patriarcas eram grandes amigos, é abalada seriamente por divergências ideológicas e políticas. A mágoa perdura por décadas e atravessa gerações no pequeno vilarejo de Floresta (hoje denominado Burarama, distrito de Cachoeiro de Itapemirim). Por meio desses registros, temos uma experiência humanizada do que foi a influência dos regimes totalitários no mundo e dos ecos dessas ideologias em lugares remotos. Ali a vila se comportou como um pequeno país. O micro desnuda o macro.

Outro sertão

A Melhor Curta-metragem, 22º Cine Ceará A Melhor Ator (Danilo Andrade) e Melhor Direção de Arte no 3º Festival de Cinema Curta Amazônia A Melhor Som/ Trilha Sonora na VIII Mostra de Produção Independente, Vitória, 2012 A Melhor ator no 3º Festival Nacional de Cinema de Petrópolis A Melhor Filme ( Juri Popular) Mostra “Casa da América Latina” – Festival de Curtas-Metragens de Bruxelas (Bélgica) A Melhor Ator no I FestCine São Gonçalo A Melhor Ator e Melhor Direção de Arte no IV Festival Jericoacoara Cinema Digital A Menção Honrosa no Festival Internacional de Cine de Barranquilla (Colômbia)

Outro Sertão é um documentário sobre a estadia de João Guimarães Rosa na Alemanha nazista. O filme resgata a experiência do então vice-cônsul em Hamburgo entre 1938 e 1942. Através de imagens de arquivo da época, documentos, testemunhos de pessoas (inclusive judeus que fugiram para o Brasil por Hamburgo) que o conheceram e uma entrevista inédita com o próprio escritor, o documentário revela novos aspectos de sua biografia. A Prêmio Especial do Júri no 46º Festival de Brasília A Melhor Documentário Brasileiro (Prêmio do Público) Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (2013) A Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro e Melhor Montagem no Encontro Nacional de Cinema e Vídeo dos Sertões (PI, 2014) A Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Uso de Material de Arquivo no Recine (RJ, 2014)

O uivo da carne na terra da luz

de Eduardo Madeira Ficção, 21', HDV, Cor, 2014, Vitória (ES)

Mulher resignada foge de casa e encontra refúgio em um hotel onde estranhas situações parecem conversar com suas afetações mais íntimas e pessoais.

2010 — 2015

171


Pássaro de papel

Pela janela

Pique esconde

Ficção, 15', HDV, Cor,

Ficção, 20', DCP, Cor,

Ficção, 10', 35mm, cor,

2014, Muqui (ES)

2014, Vitória (ES)

2012, vitória (es)

Um fotógrafo passa por um momento reflexivo e busca em si lembranças do passado, decidindo voltar momentaneamente ao antigo vilarejo onde morava com o pai. Lá, além de recordações de momentos que ainda parecem vivos e latentes, ele captará imagens de pessoas comuns do lugar que, aos poucos, passam a fazer parte de sua memória fotográfica. A partir das imagens, as pessoas são “conduzidas” para um quarto obscuro, um universo que desconhecem, uma gaiola invisível que condiciona a imagem e a mobilidade humana. Quem somos e para onde vamos por meio das fotografias?

Após ouvir a briga dos vizinhos, jovem começa a descobrir que a sua vida talvez não seja como ela imagina.

Depois de ser incomodado por Mateus, um menino de 11 anos, João começa a lembrar do passado. Mas suas lembranças são confusas e não consegue saber que o seu passado pode estar do seu lado.

de Léo Alves

de Diego de Jesus

Pela parede

de Wayner Tristão e Lucas Bonini Ficção, 25', 35mm, PB, 2011, Vila Velha (ES)

A parede que serve para isolar territórios também funciona como suporte de integração social numa cidade ocupada por tanta informação.

Perto da minha casa de Diego Locatelli e Carolini Covre

Documentário, 15', Full HD,

A Prémio do Júri Popular no 7º Festival de Cinema de Triunfo, PE

Pedras pretas – Itaúnas de São Benedito e São Sebastião

de Marcos Valério Guimarães Documentário, 25', HDV, Cor,

Cor, 2013, Vila Velha (ES)

Em meio aos centros urbanos, encontramos pontos de resistência que reconfiguram os espaços. Em Vila Velha, um grupo de jovens ressignifica um depósito de contêineres.

2012, Itaúnas e Vila Velha (ES)

A festa de São Benedito e São Sebastião, em Itaúnas, norte do Estado do Espírito Santo, é o momento maior do rico folclore da região. Expressão de uma forma histórica de vida, marcada por escravidão, tragédia ecológica e a modernidade industrial do eucalipto e do álcool, o folclore também é uma forma de exercício político, do direito à vida. Um bem simbólico maior.

172

A Melor Filme pelo Júri Popular e Melhor Montagem no 20º Vitória Cine Vídeo, 2013 A Melhor Direção (Mostra Municípios) no 14º Goiânia Mostra Curtas, 2014

de Dominique Lima

A Vencedor do Concurso de Roteiros do 18º Vitória Cine Vídeo

Planície

De Gabriel Perrone Ficção, 15', HDV, cor, 2015, Vitória (ES) e Porto (Portugal)

Pedro e Daniel têm forte amizade. Entre eles, há apenas um segredo. A Melhor Filme na X Mostra Produção Independente, Vitória, 2015

Pomeranos sob olhar de pomeranos de Julio Carlos Dettmann Documentário, 19', Digital, Cor, 2012, Pancas (ES)

Este documentário registra o olhar de pomeranos notáveis residentes em Laginha – Pancas (ES), acerca de 5 aspectos da cultura pomerana: história, costumes, artesanato, culinária e dança. Traz uma abordagem sensível sobre o cotidiano de pessoas simples, mas que representam toda uma geração de imigrantes pomeranos residentes no Espírito Santo.

Plano Geral


Pra casa agora eu vou

Primeira Paróquia do Cristo Sintético

Ficção, 9', HD, Cor,

de Gabriel Menotti

Redescobrindo a Mata Atlântica

2012, Vitória (ES)

Animação, 14', Digital,

documentário, 20', Full HD,

Cor, 2010, Vitória (ES)

Cor, 2014, Espírito Santo

É noite de revelações e o Redentor foi barrado na porta. Um filme sobre o apocalipse e nostalgia rave.

A Mata Atlântica apresenta uma biodiversidade rica e singular, tanto em termos científicos, quanto em formas e cores, resultado da ação de milhões de anos de seleção natural. O manto natural verde das montanhas, com escarpas íngremes, é drenado por vales profundos, formando córregos e rios, que seguem ziguezagueando em direção ao mar. O documentário Redescobrindo a Mata Atlântica é uma narrativa visual que exalta as belezas da Mata Atlântica, tendo como personagem principal o Muriqui, o maior macaco das Américas. Dentro deste contexto, o documentário mostra a visão de pesquisadores, professores e estudantes que participaram do Programa Difusão da Biodiversidade da Mata Atlântica. O programa estimula, em crianças e adolescentes, o interesse pela ciência da biodiversidade e a introdução desses jovens em temas relacionados ao conhecimento e conservação da Mata Atlântica.

de Erly Vieira Jr

Memórias de um libertador de anões de jardim. Um filme com anões, comic sans e Google tradutor. Produzido para a exposição Elisa, realizada na GAEU-Ufes, sob curadoria de Neusa Mendes. Inspirado em uma ideia original de Elisa Queiroz

Pra durar enquanto o mundo durasse de Ricardo Salles de Sá

Documentário, 26', Full HD,

A Roteiro Vencedor do 6º Concurso de Roteiros do Vitória Cine Vídeo

Procurando Madalena de Ricardo Salles de Sá

Documentário, 26', Mini-dv, cor, 2010, Espírito Santo

Cor, 2014, Nova Almeida (ES)

A história da construção da Igreja de Reis Magos, em Nova Almeida (ES), na Serra (ES), erguida no início da colonização portuguesa no Brasil, por jesuítas e indígenas.

Praias e cachoeiras de Giandro Gomes

Videoclipe, 4', HDV, Cor, 2012, Alegre (ES)

Videoclipe da música “Praias e Cachoeiras”, da banda Alldeia, gravado na Cachoeira da Fumaça durante o projeto “Websérie Pé na Estrada”, patrocinado pela Secult-ES.

Madalena do Jucu é um samba de Martinho da Vila, adaptado da toada Madalena, que é cantada pelas bandas de Congo do Espírito Santo há mais de 70 anos. O documentário revela o universo do congo – uma manifestação cultural genuinamente capixaba ainda desconhecida pela maioria dos brasileiros, ao mesmo tempo em que versões sobre a origem da Madalena são apresentadas pelos congueiros.

Quando a criança nasce de Ricardo Salles de Sá

Documentário, 30', Full HD, Cor, 2015, Vitória (ES)

Gravidez e parto entre os guaranis do Espírito Santo, ontem e hoje.

de Leonardo Merçon

Rainhas da noite de Diego Herzog

Documentário, 30', Mini-DV, cor, 2010, vila velha (es)

O palco e a vida de artistas performáticos que se apresentam vestidos de mulher nos clubes noturnos capixabas.

2010 — 2015

173


Raquetadas para a glória

de Juliano Enrico Ficção, 7', Digital, cor,

Romance a la Nelson de Mariana Pretti

Ficção, 8', digital, cor,

de Cristina Margon e Naiara Bolzan

2012, vitória (eS)

Documentário, 15', digital,

2011, Espírito Santo

Um trailer épico sobre superação e esperança num mundo pós-apocalíptico dominado por impiedosos jogadores de frescobol. A Melhor Ficção na VII Mostra Produção Independente, Vitória, 2011

Reikwaapa – Ritos de passagem Guarani de Ricardo Sá e Marcelo Guarani

Documentário, 16', digital, cor, 2013, Espírito Santo

cor, 2013, Espírito Santo

Como nas tragédias rodriguianas, o amor incestuoso, a paixão lésbica e o amor não correspondido destroem a vida de três jovens. Julia, Vanessa e Lucas estão entrelaçados num ciclo amoroso, nenhum deles correspondido, mas todos eles apaixonados. A Melhor Ficção e Melhor Direção na VIII Mostra Produção Independente, Vitória, 2012

Saia

de Davi de Jesus Cáo Animação, 5', Digital,

Na passagem da infância para a adolescência, os guaranis realizam ritos. O documentário discute a ressignificação desses ritos no cotidiano das aldeias guaranis do ES.

Cor, 2013, Vitória (ES)

O Sinal Vermelho é a deixa dada para os artistas de rua mostrarem todos os seus talentos. Diferentes artistas contam o motivo de escolherem a rua como palco para exibirem suas artes e como são recebidos pela população capixaba. A Menção Honrosa na IX Mostra Produção Independente (Vitória, ES) A Menção Honrosa do Foco Capixaba, 20º Vitória Cine Vídeo

Seu Zezin e a Lei Velho Cagado de Raul Chequer

Ficção, 4', Digital, cor,

Os episódios de Saia continuavam indefinidamente. Sua conclusão, quando veio, foi chocante. Para todos, já era tarde mais.

A Melhor Filme do Foco Capixaba, 20º Vitória Cine Vídeo

Sangue & rosa

Revelações de um cineasta canibal

Animação, 14', HD, Cor, 2011,

de Diego Scarparo e Henrique Gomes

de Rodrigo Aragão

Cachoeiro de Itapemirim

Ficção, 14', HDV, cor,

(ES) e Rio de Janeiro (RJ)

2015, Guarapari (ES)

Denilson sempre quis ser um cineasta consagrado e estar sob os holofotes. Mesmo apoiado pelas suas companheiras, a falta de recursos, ou talento, conduzem o trio por um caminho obscuro, saturado por práticas medonhas.

Sinal vermelho

Ardeal, Cárpatos, Romênia. O sinistro Conde Orlok apaixona-se pela descrição da noiva do corretor de imóveis e parte para Londres num navio. Até então, tudo vai de acordo com a história clássica de vampiro, mas algo de inesperado acontece no meio do oceano, e nosso vilão vai aportar no Rio de Janeiro, em 1931, onde dá sua surpreendente contribuição para a música brasileira.

2010, Espírito Santo

A Lei Velho Cagado de Incentivo à Cultura é um projeto do Instituto Quase de Desenvolvimento Sustentável, com o objetivo de democratizar a produção artística do nosso país. Este é o primeiro vídeo da série que mostrará como a nova lei mudou a vida de milhares de brasileiros.

Silentio

de Erly Vieira Jr Documentário, 13', hd, Cor, 2010, Viana (ES)

Documentário sobre a exposição Silentio, realizada em Viana pelo artista paraibano José Rufino, sob curadoria de Neusa Mendes. Este vídeo é parte da Ação Educativa do projeto RE Invenção de uma cidade, contemplado pelo Edital Arte e Patrimônio 2009, do Paço das Artes/MinC/Iphan.

A Melhor Animação na IX Mostra de Produção Independente (Vitória, ES, 2014)

174

Plano Geral


Sol na Garganta do Futuro e Wanessa

Teobaldo morto, Romeu exilado

experimental, 3', HD, Cor,

Ficção, 118', DCP, Cor, 2015,

2010, Vitória (ES)

Vitória e Burarama (ES)

O pop poupa a poesia? Ou o inusitado encontro entre Wanessa (Camargo) e a banda Sol na Garganta do Futuro?

João é um músico de 32 anos que opta pelo isolamento numa propriedade no interior do Brasil após Flora, sua mulher grávida, romper com ele. Depois de três meses, quando finalmente parece estar pronto para reparar seus erros junto a Flora e acompanhar o parto de seu filho, João é surpreendido pela misteriosa visita de Max, seu melhor amigo, há muitos anos desaparecido e dado como morto.

de Jamilla Ghil e Ítalo Galiza

Sombras do tempo de Edson Ferreira

Ficção, 15', 35mm/DCP, Cor, 2012, Vitória (ES)

Sombras do tempo é um mergulho ao mais íntimo de um homem: suas memórias, marcadas por mistérios e ausências. O tempo é o fio condutor, onde passado e presente se misturam e revelam uma mente em busca de significados.

Somos todos filhos de Jorge de Lucia Caus

Documentário, 9', digital, cor, 2012, Espírito Santo

O curta dá vida ao santo guerreiro que sai pelas ruas em plena festa de São Jorge. Neste percurso, o espectador se depara com relatos emocionados, curiosos e cheios de devoção de pessoas que têm o santo como fiel protetor.

Tarde fria

de Leandro Sherman Ficção, 8', digital, Cor, 2014, Vitória (ES)

Tarde fria mostra, pela ótica de um rapaz, como a vida está cada vez mais solitária em nossa sociedade.

2010 — 2015

de Rodrigo de Oliveira

Tortoise e a Espeleosofia

de Gabriel Albuquerque

Tramas

de Leonardo Gomes Souza Documentário, 30', HDTV, cor, 2014, Espírito Santo

Com histórias de lendas, cultura, sonhos e fazeres do Caparaó, Tramas mostra as riquezas humanas que há na montanha sagrada.

Tudo bem?

de Eduardo Moraes ficção, 12', Cor, 2010, espírito santo

A hipócrita cordialidade cotidiana numa tentativa de se expressar verdadeiramente, ainda que na ficção.

Últimos Refúgios: Itaúnas

Animação, 9', digital, Cor,

de Yuri Salvador

2010, espírito santo

documentário, 24', Full HD, Cor, 2012, itaúnas (es)

Tortoise e a Espeleosofia¹ é uma animação que combina diversas técnicas (animação 2D em aquarela e animação 3D), para contar a história de uma tartaruga que vive o tédio de habitar um aquário preenchido apenas com água. Delirando entre o sonho e a realidade, Tortoise vive as experiências e consequências da privação do sono e estímulos. Esse ambiente é explorado através do olhar e arte de Gabriel Albuquerque e Olhos Coloridos.

Últimos Refúgios: Itaúnas exibe imagens da fauna e flora da região e mostra como grupos humanos se apropriam intelectualmente e materialmente dos recursos naturais. O filme traz depoimentos de habitantes da pequena vila instalada no entorno do parque, como pescadores, e opiniões de ambientalistas e biólogos.

1. espeleosofia: s. f (spéleo=caverna + sofia=sabedoria) Corrente do pensamento surgida da vida nas cavernas. 2. Campo científico da espeleologia, a ciência que estuda as cavernas. 3. Corrente platônica do pensamento.

175


Últimos Refúgios: Reserva Biológica de Duas Bocas

de Alexandre Barcelos

Uma

Uma volta na Lama

Documentário, 14', 35mm,

Documentário, 26', HD,

Cor, 2011, Vitória (ES)

Cor, 2010, Vitória (ES)

Visão do planeta Terra como um macro-organismo vivo. Assim como as células, o homem participa desta rede energética pelo equilíbrio de um imenso sistema.

Uma cidade cresce. Uma rua se modifica.

de Alexandre Barcelos

de Ursula Dart

Documentário, 25', Full HD, Cor, 2013, Espírito Santo

O filme traz como tema a água e fala de uma das principais características da Reserva, a preservação de recursos hídricos. O documentário é composto por imagens que revelam a rica biodiverdade preservada pela unidade de conservação.

Últimos Refúgios: Toninho Mateiro de Reinaldo Guedes

documentário, 30', Full HD, Cor, 2013, vila velha (es)

O documentário conta a história de um antigo caçador que se tornou forte aliado em pesquisas sobre a região do Parque Estadual Paulo Cesar Vinha, localizado entre as cidades de Vila Velha e Guarapari, no Espírito Santo. O “matuto” Toninho Mateiro cresceu na região do parque e hoje é considerado um dos principais especialistas práticos de natureza do Estado. Através da visão do protagonista, o filme mostra um panorama sobre o local, incluindo um alerta sobre a preservação da área.

Um Sampaio teimoso de Nayara Tognere

Documentário, 13', digital, cor, 2010, Cachoeiro de Itapemirim

A Prêmio Inovação e Novas Linguagens e Melhor Curta-Metragem Capixaba – 18º Vitória Cine Vídeo 2011 A Prêmio “Porta Curtas” Melhor Curta-Metragem – VII Mostra Produção Independente, Vitória, 2011 A Melhor Filme Brasileiro de Curta-Metragem, Categoria Experimental no 4º Festival de Cinema Curta Amazônia, Porto Velho, 2013

(ES) e Rio de Janeiro (RJ)

Um apólogo

Vento Sul

de Darcy Alcântara, Felipe Gaze, Wolmyr Alcântara e Délio Freire

O filme revela particularidades da vida de Sérgio Sampaio através de depoimentos de amigos, familiares, imagens de arquivo e sua própria música, mostrando a incontestável importância do cantor e compositor para a música brasileira.

de Saskia Sá Ficção, 13', HDV, Cor, 2014, vitória (es)

Animação, 8', Digital, Cor, 2012, Vitória (ES)

Baseado no conto homônimo de Machado de Assis, um apólogo revive o início da primeira escola de samba do Brasil, a “Deixa Falar”, fundada por Ismael Silva, no Rio de Janeiro. As personagens do filme guardam todas um mistério comum: jamais mostram o rosto. Aproveitando a época em que se passa o filme, os anos 1930 do século XX, foi possível brincar ainda com a forma do cinema mudo.

Volto à Vitória em um dia de sol de junho, quando o vento vira sul e o céu se torna azul. Volto sem nunca ter saído. Vitória. Minha ilha. A cidade que nunca foi minha.

A Melhor Curta Metragem de Animação do Festival Panela Audiovisual, Vila Velha, 2013 (ES)

176

Plano Geral


Victor

de Felipe Gaze, Wolmyr Alcantara e Darcy Alcantara

Vivendo de Rock no Espírito Santo de Mila Neri

Animação, 1', Digital,

Documentário, 17', mini-DV,

Cor, 2015, Vitória (ES)

Cor, 2015, vila velha (ES)

Os pingos da chuva parecem não incomodar um estranho homem e seu surrão quando esses atravessam, na madrugada, a fachada de um cemitério na alameda mal iluminada. Enquanto o carro policial ronda a esquina, o misterioso sujeito, cuja face permanece oculta na névoa densa, aperta o passo até chegar em um pequeno cômodo onde dedica o restante da madrugada ao seu enigmático projeto. A manhã seguinte traz a revelação surpreendente de todo o mistério envolto na figura e o verdadeiro motivo de sua pressa: o homem é um artista, criador de brinquedos a partir de materiais reutilizáveis, como garrafas pets, latas e caixas, fazendo assim a alegria das crianças do bairro onde vive.

Em pouco mais de 20 minutos, o curta conta a história de pessoas que vivem, ou tentam viver, profissionalmente do punk/hardcore.

Vitória F.C.

de Vitor Graize e Igor Pontini Documentário, 29', hdv, Cor, 2014, Vitória (ES)

Um clube de futebol no ano de seu centenário: a trajetória do Vitória Futebol Clube, o time mais antigo do estado do Espírito Santo, nas finais do campeonato estadual de 2012. A Melhor Filme do Foco Capixaba, 21º Vitória Cine Vìdeo, 2014

2010 — 2015

177



Referências Bibliográficas

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180

Plano Geral


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Referências Bibliográficas

181




Esta obra apresenta ao público um material amplo e consistente sobre a produção cinematográfica espírito-santense, em seus quase 90 anos de história. São diversos os temas abordados, que vão desde os filmes de ficções, experimentais, animações, documentários, até os cinemas de rua, o cineclubismo, o cinema amador, entre outros. Além de trazer um rico inventário, esta publicação lança mão de um precioso texto analítico, minucioso e saboroso, capaz de criar um diálogo pertinente da produção local com os diversos contextos culturais, históricos e cinematográficos no qual ela está inserida.


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