Caderno educativo "Fricções Históricas", de Alexandre Mury

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Sesc – Departamento Regional no Espírito Santo Presidente do Conselho Regional José Lino Sepulcri Diretor do Departamento Regional Gutman Uchôa de Mendonça

ALEXANDRE MURY FRICÇÕES HISTÓRICAS 29 de abril a 12 de julho de 2015

Todas as cópias fotográficas da exposição foram executadas em C-Print.

Design Gráfico Rara Dias, Paula Delecave e Ana Carolina Carneiro

Estagiárias de Artes Visuais Giani Piol Thaís Oliveira

Curadoria Vanda Klabin

Coordenação Geral Afonso Henrique Costa

Assessoria Técnica em Artes Visuais Elaine Pinheiro Renan Andrade Thiago Arruda

Gestão de Projeto Lucas Lins

Gerente de Unidade Paulo Neves Cruz

Direção de Produção Rodrigo Andrade

Coordenadora de Cultura Colette Dantas

Produção R&L Produtores Associados

Gerente de Cultura Beatriz de Oliveira Santos

Assessoria de Imprensa Meio & Imagem Comunicação Arte Educadora Convidada Conteúdo e Projeto Educativo Valquíria Prates Mediadores Ian Rocha, Karenn Amorim, Karoline Leite, Léa Araujo e Luca Peçanha Execução e Montagem Mário Costa | Claquete Iluminação Milton Giglio | Atelier da Luz Transporte Atlantis Seguro Affinité

www.alexandremury.com.br

Produção

Apoio

Realização

Conteúdo e Projeto Educativo Valquíria Prates

Centro Cultural Sesc Glória 29 de abril a 12 de julho de 2015

ALEXANDRE MURY FRICÇÕES HISTÓRICAS

MATERIAL EDUCATIVO


PROCESSOS DE CRIAÇÃO EM ARTES: O ARTISTA, A FOTOGRAFIA E A MEDIAÇÃO DE MUNDOS (E TEMPOS)

Fonte primária de elementos para a aprendizagem, a visão em geral é a habilidade que precede as palavras no que diz respeito às nossas descobertas diante do mundo. Conforme crescemos, as imagens visuais tornam-se um importante elo para a construção de repertórios e de relações com tudo o que há ao nosso redor, como um ponto de encontro para todos os sentidos. Dentre as inúmeras formas da imagem visual, a fotografia é a linguagem mais presente em nossas vidas diárias, seja nas imagens que acessamos em jornais e revistas, na televisão, no cinema ou mesmo nas que produzimos com o auxílio de nossos telefones celulares e nas redes sociais. Diante de fotografias podemos evocar memórias sensoriais de nossos corpos, tendo em vista os materiais que formam um conjunto de tudo o que já experimentamos por meio do tato, olfato, paladar e até mesmo audição. Além disso, imagens fotográficas podem nos remeter a outras, vistas anteriormente, seja devido à sua composição, forma de fazer ou ao assunto abordado. Consideramos, neste material que acompanha a exposição “Alexandre Mury | Fricções históricas”, que a arte, quando se faz em forma de fotografia, nos convida a experimentar muitas dessas ideias. No caso do artista Alexandre Mury, é cuidadosa a maneira como escolhe materiais cotidianos para criar autorretratos que o transformam em criador e criatura da arte, emprestando seu corpo à representação de personagens centrais de pinturas e monumentos amplamente difundidos da história da arte e da cultura. A partir da presença de sua imagem em cenas recriadas, o artista traz ao espectador a possibilidade de interpretar novas narrativas das histórias pouco ou bem conhecidas, criando suas próprias narrativas sobre a arte e a vida. O antes e o agora num mesmo espaço da obra. Para percorrer ideias e processos, selecionamos cinco obras da exposição, às quais endereçamos questionamentos que poderiam ser deslocados para quaisquer das imagens realizadas por Alexandre Mury até o presente momento. São convites para pensarmos sobre história e ficção; o corpo na arte; linguagens artísticas; autoria, citação e modos de produção. Além disso, exercícios de leitura de imagens são sugeridos como prática que pode ser realizada em grupo ou individualmente, na escola ou em casa. Valquíria Prates

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ALEXANDRE MURY | FRICÇÕES HISTÓRICAS Em todo o Brasil o Sesc desenvolve atividades e exposições de artes visuais que pretendem estimular a sensibilidade e a formação do olhar de seu público, compre­ endendo a educação como força motriz para o exercício da cidadania e construção da subjetividade. Com a mesma premissa, o Centro Cultural Sesc Glória oferece a seus visitantes a oportunidade de vivenciar, em um mesmo espaço, ações que dialogam com as diversas formas de expressão humana, priorizando o acesso a uma produção cultural e artística de qualidade, alinhada às discussões mais atuais de nossa contemporaneidade. Ao receber em Vitória a mostra “Alexandre Mury | Fricções históricas”, o público terá a oportunidade de conhecer de perto não somente a poética de um jovem e proeminente artista que integra importantes coleções privadas no país, mas também um vasto repertório e imaginário pictórico da história da arte no Ocidente. Alexandre Mury, publicitário de formação, nascido no interior do Rio de Janeiro, expôs pela primeira vez na Galeria Homero Massena, em Vitória, no ano de 2009. Ao retornar a terras capixabas, das quais nunca se afastou totalmente, o artista apresenta em fotografias performáticas a própria imagem – seu corpo – como protagonista de uma desconstrução e ressignificação de um imaginário infindo, partícipe de momentos decisivos da história da pintura e da cultura visual. Sua vontade se completa na necessidade de externar sua criatividade inquieta: experimenta, cria e recria, materializando – muitas vezes ironicamente – ícones memoráveis em novas potências narrativas. A exposição “Alexandre Mury | Fricções históricas” aproxima o espectador de temas e obras bastante presentes em nosso imaginário coletivo, colocando como questão e prova o indício incontestável da existência humana: a criatividade como entusiasmo do viver, o corpo como pensamento crítico e o processo criativo como interpretação do mundo, a responder, talvez, ao desassossego das certezas e incertezas da vida.

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CORPO DE ARTISTA Alexandre Mury, Aopkhes, 2014

O que apresentam os autorretratos? A obra Aopkhes, como as numerosas imagens criadas pelo artista Alexandre Mury, pode ser considerada um autorretrato, uma vez que o artista fotografou a si mesmo. Em geral, autorretratos carregam em sua construção e expressão algumas das interpretações poéticas e posicionamentos sociais e artísticos que marcam a trajetória de um artista, bem como entendimentos sobre sua atuação e seu corpo em determinados momentos de sua vida. Alexandre Mury criou Aopkhes em resposta à pintura Cabeza, um autorretrato criado em 1982, pelo artista norte-americano Jean Michel Basquiat (1960-1988). Para fazer a fotografia, Mury pintou seu corpo com tinta de cores variadas e desenvolveu adereços para compor a imagem, como por exemplo a tiara em que amarrou fitilhos de plástico para evocar os fios de cabelo da figura criada por Basquiat. Além disso, preparou um cenário, em que as pinceladas de tinta ficam aparentes, bem como as marcas do gesto que espalhou a tinta que cobre a extensão do corpo do artista. O que vemos pode nos levar a pensar no artista simultaneamente como suporte da arte e como realizador da arte. O vídeo indicado abaixo mostra o processo de preparação para realizar a obra. Nele, Alexandre pinta sobre seu corpo os traços e as linhas presentes na obra de Basquiat. A fotografia de Mury como a pintura de Basquiat trazem no peito a inscrição Aophkes, palavra utilizada por ele em diversas obras sem um sentido específico. Seria um enigma criado por Basquiat e emprestado por Mury para nomear a obra? Que enigmas pode abrigar um autorretrato?

SUGESTÃO Jean Michel Basquiat, Sem título (Cabeza), 1982. http://warburg.chaa-unicamp.com.br/img/obras/3178_original.jpg Making of da obra Aopkhes, de Alexandre Mury: https://www.youtube.com/watch?v=f9KqHp5eURI

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HISTÓRIA, ARTE E F(R)ICÇÃO Alexandre Mury, Mona Lisa, 2013

Quanta ficção cabe na história da arte? Quando Giorgio Vasari (1511-1574) escreveu o livro Vidas dos mais excelentes arqui­

tetos, pintores e escultores italianos, de Cimabue até nossos dias, inaugurou-se o que conhecemos como história da arte. Publicada em 1550 e revisada com a inserção de imagens dos artistas em 1568, a obra do pintor tornou-se referência bibliográfica e de estilo para a realização de registros biográficos de artistas, narrando episódios de vida e processos de criação que inspiraram artistas do mundo todo. Os textos nos remetem à forma como eram narradas as vidas dos santos católicos, dotando os artistas de qualidades de virtude e conduta artística. O texto de Vasari consagrou o pintor Leonardo da Vinci (1452-1519) e sua obra Mona

Lisa (1503-1505?) como símbolos de gênio criador e maestria técnica. A fotografia Mona Lisa, de Alexandre Mury, pode ser considerada uma forma de diálogo do artista com esses símbolos, sendo o vídeo Lisa, de 2013, uma obra fundamental para conhecer mais sobre as relações construídas pelo artista em seu trabalho, acompanhando o processo de criação da fotografia. O vídeo começa com Alexandre Mury com roupas comuns, sentado como modelo e, a seguir, pintando uma paisagem semelhante à do fundo da obra de Da Vinci, atuando como artista. Aos poucos, no decorrer no vídeo, Mury vai alternando papéis, entre ser artista e tornar-se parte da obra, num processo de transformação de sua imagem com o auxílio de uma máquina de cortar cabelo e um barbeador para retirar todos os pelos de sua cabeça. Durante todo o processo, ouve-se a voz do artista lendo a passagem do texto em que Vasari descreve a forma como a pele parece natural e viva. O vídeo termina com a imagem da fotografia, enquanto ouve-se a voz do artista lendo a seguinte frase: Nesse retrato feito por Leonardo, há

um sorriso tão agradável, que mais parece coisa divina que humana, tão admirável por não ser diferente do natural. Que tipo de atritos e fricções existem entre os processos de criação de artistas contemporâneos e a tradição artística?

SUGESTÃO Leonardo da Vinci, Mona Lisa, 1503-1505 (?). Disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/File:Mona_Lisa.jpg Vídeo Lisa, 2013: https://vimeo.com/70450464

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LINGUAGENS DA ARTE Alexandre Mury, Um sátiro, 2012

O que da pintura quer ser fotografia? Para o filósofo Merleau Ponty, os olhos podem ser também tato, em forma de memória. Nas pinturas de artistas flamengos do século XVII, por exemplo, as técnicas de pintura a óleo utilizadas serviam para evocar, aos olhos do público, as sensações táteis causadas pelos diferentes materiais. Obras como Dois sátiros, de Peter Paul Rubens (1577-1640), nos chamam a observar a exuberância das cores e texturas, além da força quase cênica das figuras humanas em foco. A ideia principal era simular a realidade natural dos materiais. Todas as sensações visuais e táteis percebidas por Alexandre Mury na pintura

Dois sátiros, levaram o artista a buscar formas de simular aquilo que se vê na pintura de Rubens. Num sofisticado processo de seleção, Mury utilizou uvas artificiais, óleo na pele, chifres e folhas de uva de plástico e pedaço de pelúcia que remete ao pelo de animais. A fotografia de Mury quer se parecer com “a pintura que simula a realidade do momento da pintura”: o pedaço de pele macia de animal que esquenta o corpo, a sensação tátil de quem segura um cacho de uvas vistas e, quiçá, saboreadas. A interpretação da personagem Sátiro, em seu caso, manteve o olhar lascivo e o contraste de luz e sombra na face. Assim, podemos pensar que na linguagem da pintura (em sua manifestação flamenga) os artifícios técnicos eram fundamentais para fazer ver na tela aquilo que foi visto anteriormente na vida (ou considerar a existência real daquilo que parecia existir apenas como representação e criação na literatura), enquanto na linguagem fotográfica atual, com a expressão de Mury, a forma do que foi visto e a sensação do que foi percebido pelos olhos se dá pela forma artificial dos objetos baratos selecionados pelo artista cuidadosamente para a composição da cena. O que da fotografia quer ser pintura?

SUGESTÃO Peter Paul Rubens. Dois sátiros, 1618-1619. Disponível em http://www.wikiart.org/en/peter -paul-rubens/two-satyrs-1619#supersized-artistPaintings-216718

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AUTORIA E CITAÇÃO: DESLOCAMENTOS Alexandre Mury, Abaporu, 2010 Alexandre Mury, Cristo Redentor I, 2010

Onde está a autoria na citação?

exemplo, no Cristo Redentor I, de Mury, é uma evocação simul-

Pinturas amplamente conhecidas como Abaporu, feita em 1928

tânea da imagem do Cristo do Rio de Janeiro, mas também dos

pela artista Tarsila do Amaral (1886-1973), bem como alguns mo-

conhecidos “artistas de rua” que constituem uma espécie de

numentos como o Cristo Redentor, inaugurado Parque Nacional

atração cultural “viva” nas muitas cidades turísticas das grandes

da Tijuca, no Rio de Janeiro, em 1931, constituem alguns dos

cidades. Ao caracterizar seu Cristo, Mury consegue a suspensão

ícones visuais de nossa cultura, conhecidos pela população em

dos movimentos ao fotografar a cena semelhante ao cotidiano

imagens turísticas e pedagógicas, voltadas ao ensino da arte e

das ruas, utilizando um banquinho plástico, tinta sobre a pele e

da cultura brasileira. No caso do Cristo Redentor, por exemplo, é

uma túnica. Ele realiza todas as etapas de seu trabalho, desde

comum encontrarmos cópias em escala menor em muitas cida-

a elaboração, composição, atuação como modelo da fotografia,

des brasileiras, em pontos de destaque turístico dessas cidades.

enquadramento e composição da cena, delegando o clique foto-

Ambas as obras tornaram-se objeto de exercícios de fazer

gráfico (que capturou a cena elaborada) à sua irmã, que o acom-

artístico (como desenhos de observação e releitura), parte de li-

panhava em São Fidelis, cidade onde a imagem foi realizada.

vros didáticos de ensino da arte, mas também alvo de fotografias

Podemos dizer que a ação criativa de Mury deslocou simul-

turísticas realizadas em passeios. Quando artistas se apropriam

taneamente para dentro de sua fotografia tanto o Cristo como

das obras feitas por outros criadores, chamamos esse proces-

monumento quanto o artista de rua como obra. Evocar uma obra

so de apropriação, uma espécie de deslocamento de sentidos e

seria o mesmo que refazê-la? Por quê?

imagens que constituem uma obra para dentro de seu próprio trabalho. No caso das fotografias realizadas por Mury, podemos pensar também em citação, uma vez que o artista busca reconstituir à sua maneira uma cena, imagem, escultura ou monumento, utilizando materiais em contextos completamente distintos dos evocados nas obras às quais faz menção. O que vemos, por

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SUGESTÃO Tarsila do Amaral. Abaporu, 1928. Disponível em http://falafil.com.br/ wp-content/uploads/2013/06/obrras-de-tarsila-do-amaral-ABAPORU.jpg Heitor da Silva Costa, Paul Landowski e Albert Caquo. Cristo Redentor, 1931. Disponível em http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/97/ Cristo_Redentor_-_Rio_de_Janeiro,_Brasil-crop.jpg

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EXERCÍCIOS DE LEITURA DE IMAGEM Diversas metodologias e estratégias para esti­mular processos de leitura e interpretação de obras de arte foram elaboradas e desenvolvidas por educadores, psicólogos e historiadores da arte, especialmente a partir dos anos 1980, quando museus e instituições culturais do mundo todo passaram a destinar grande parte de seus esforços à apreciação do público e à aprendizagem para a construção de sentidos em artes. | Para esta exposição de fotografias, devido ao teor narrativo de citação e apropriação nas obras, que se remetem à história da arte, tomamos por base o apoio teórico das pesquisas de Robert Ott para realizar exercícios de leitura de imagem. | Escolhemos esse caminho, dentre os tantos possíveis, pois acreditamos que ele possa oferecer ferramentas para que você estimule a criação de diferentes histórias e percursos na exposição, passando por exercícios que estimulem as habilidades descritivas, analíticas e interpretativas, bem como a fundamentação e articulação da percepção em conversas em torno das obras. | Nesse processo é fundamental que você busque indícios, sinais, elementos, pistas e quaisquer outros possíveis pontos de partida para a estruturação de narrativas. | A seguir, planejamos um roteiro de trabalho para percorrer a exposição, com perguntas para estimular sua aproximação:

1 DESCREVER Escolha qualquer imagem na exposição. Olhando para ela tente identificar todos os elementos que a compõe: • O que você está vendo nesta obra? • Do que ela é feita? • Há pessoas? Objetos? Que outros elementos compõem a obra? • Como é o lugar da imagem? • Como são as linhas e formas? • Que cores você vê? São claras, escuras ou esfumaçadas? • Que texturas você percebe? Nas roupas, nos corpos, nas pessoas, nos animais, na paisagem, nos objetos... | Ao observar a obra em busca de respostas para essas questões, podemos prestar atenção nas partes que constituem o todo de um trabalho, perceber os aspectos materiais e físicos da obra, e tentar identificar tudo o que nela nos é familiar e que podemos, por isso, reconhecer. | Além disso, com observações mais detalhadas, podemos descobrir elementos importantes para conhecer melhor a obra e pensar nas relações possíveis com nossas vidas cotidianas e nosso repertório.

2 ANALISAR Continuando sua investigação, observe agora elementos que ofereçam pistas sobre como a obra foi feita pelo artista e como os elementos da imagem se relacionam. Preste atenção nos seguintes aspectos: • Há uma figura central na imagem? • Há algum elemento que dá equilíbrio? • Você identifica movimento no trabalho? • É possível perceber passagem do tempo na imagem – ou ainda: podemos identificar diferentes momentos de um episódio ou acontecimento? • Como é o fundo? Como as figuras se relacionam no espaço da obra? Quem está na frente ou atrás de quem?

3 INTERPRETAR Se nas etapas anteriores você descreveu para descobrir os elementos que constituem a obra e analisou para entender a relação entre eles, agora chegou a hora de interpretar suas descobertas, a partir de sua experiência de vida, do seu repertório, de tudo o que conhece e já viveu, pensou e sentiu. | Na interpretação a criatividade é a operação mais importante, porque ao relacionar elementos da obra

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com histórias de sua vida ou de outras imagens que você já viu, novas percepções são criadas. | Para entender o que há numa obra para nós, é preciso nos aproximarmos com muita atenção do que percebemos e reconhecemos, mas também devemos ter em mente que não encontraremos respostas para todos os nossos questionamentos, especialmente porque nosso relacionamento com as obras não se esgota em um primeiro encontro. | Para interpretar os elementos das obras e suas relações, podemos seguir em busca dos seguintes aspectos, dentre muitos outros: • A realidade expressa na obra é familiar ao seu cotidiano? • Que sentimentos a obra pode apontar? O que eles despertam em você? • É possível perceber um tema ou assunto abordado? • O que é possível pensar sobre a pessoa, lugar ou cena em foco? • Parece uma cena cotidiana atual ou um evento histórico? • Há alguma espécie de denúncia ou elogio na obra? • Qual parece ser a intenção principal presente nesta obra? • Parece haver algum tema?

4 INVESTIGAR Sempre que nos deparamos com obras de arte descobrimos que há pelo menos três tipos de perguntas: • As que têm respostas na própria imagem, • As que dependem do que conhecemos, • As que demandam uma pesquisa. | Para essas questões, é preciso considerar outras formas de buscar respostas: perguntando a outras pessoas (isso inclui as pessoas que estão na exposição com você, e também os mediadores de exposições e professores), pesquisando na internet textos e entrevistas do artista, lendo livros de arte e textos de parede das exposições ou buscando informações sobre o assunto da obra. | A busca dessas informações vai sempre depender das perguntas que motivam o seu interesse. Assim, se você quiser saber quando uma obra foi feita, e se você não reconhecer qual o material foi utilizado na obra, procure ao lado da obra, na exposição, uma etiqueta que apresenta as informações gerais sobre a obra, como título, data em que o trabalho foi feito, materiais. | Outras perguntas que podem levá-lo a questões interessantes nesse sentido, dentre as muitas possíveis, são: • A que contexto social e geográfico o artista se refere? • A que época o artista se reporta? • Trata-se de um contexto local ou poderia ser em qualquer parte do mundo? • No caso de imagens de pessoas, trata-se de alguém especificamente ou o interesse está em retratar apenas a forma do corpo de uma pessoa ou um tipo de personagem comum em nosso repertório (por exemplo: pessoas que vivem em centros urbanos ou pessoas que vivem em área rural)? • No caso de lugares, trata-se de um lugar que existe ou de um tipo de pintura de paisagem? • No caso de esculturas e objetos, é possível descobrir como foram feitos? • Há algum tema em foco na obra? • Há algum tipo de opinião ou posicionamento do artista em relação ao tema abordado?

5 NARRAR SUAS PERCEPÇÕES A PARTIR DA OBRA Após descrever para descobrir quais os elementos da obra, analisar as relações entre eles e interpretá-las e pesquisar as questões que demandam informações que estão fora da obra mas de certa forma influenciam nosso conhecimento sobre ela, podemos então opinar de forma criativa sobre o trabalho. | Opinião é um conceito que formamos ao abordar experiências, objetos e outras pessoas. | Quando falamos de arte, opinar é um exercício de criar relações entre as ideias sobre o que percebemos em uma obra e o que os outros perceberam sobre esse mesmo trabalho. | No confronto de pensamentos e opiniões nascem muitas histórias da arte, permeadas pelas suas ideias em relação à obra e aos posicionamentos dos artistas, curadores, mediadores, professores, colegas e todos os que conversarem com você sobre o trabalho.

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