Realizar a exposição Vitória em Arte no Centro Cultural Sesc Glória evidencia a continuidade, proporcionada por esse espaço, do incentivo à produção local que, tão sólida e múltipla, ainda desenha o acesso e conhecimento do grande público que por aqui perpassa. Com parceria do Instituto Sincades e apoio da Prefeitura Municipal de Vitória, a busca aqui é incentivar a reflexão acerca da arte contemporânea, reiterando a importância do entendimento do artista profissional no campo das Artes, com o intuito de proporcionar uma experiência imersiva entre a arte, o artista e o público, mediados por instituições que há muito constroem uma plataforma para a fruição das artes visuais no Espírito Santo. Para essa edição, as ações se voltam não somente para a exposição dos trabalhos, que são apresentados nos espaços expositivos do Centro Cultural Sesc Glória e da Casa Porto das Artes Plásticas mas, também, em propostas urbanas que atentam refletir poeticamente o espaço urbano do Centro da cidade. Por meio de encontros com curadores, artistas, educadores, produtores e pensadores do campo, Vitória em Arte se volta para entender a atuação do artista na contemporaneidade e as práticas que o convergem ou o delimitam no sistema das artes no Brasil. A partir da seleção de propostas de artistas que aqui habitam e desenvolvem suas poéticas, a mostra apresenta os diálogos entre os sindicalizados no Sindicato dos Artistas Plásticos Profissionais do Espírito Santo, entre artistas que já há muito produzem e expõem e outros que iniciam seu percurso, todos no encontro com os homenageados para a 11ª edição da exposição: Rosana Paste e Antônio Rosa. Essa interlocução entre arte contemporânea e cultura popular busca dizer sobre a importância indiscutível da poesia – em todas suas linguagens – para o desenvolvimento do olhar frente o mundo que nos rodeia. Experimentar a percepção do dia a dia é transformá-la em mais um motivo para percorrer a vida. Ao se pensar a exposição Vitória em Arte para o ano de 2015, a intenção se debruçou, sobretudo, em promover encontros e tornar sólida e visível a necessidade de uma exposição de artes visuais: mostrar que o mundo pode ser além e que pensar o nosso terreno de possibilidades no dia a dia é e deve ser tão primordial quanto o enfrentamento do mundo. Centro Cultural Sesc Glória Departamento Regional | Sesc ES
Projeto Educativo Stela Maris Sanmartin
Neste Projeto Educativo pretendemos proporcionar alguns fundamentos que amparem discussões acerca da produção de arte atual e ampliem as possibilidades de experiência com a arte contemporânea. Nesse sentido, justificamos a relevância do Programa Educativo desenvolvido pelo SESC Glória em seu espaço expositivo que, durante a exposição Vitória em Arte, abre espaço para fruir, conhecer, refletir sobre a produção da arte contemporânea capixaba. A concepção sobre arte e seu ensino muda ao longo do tempo e os profissionais da educação devem estar em constante busca para renovar suas metodologias e manter aberto o diálogo com a arte. Podemos destacar que a passagem da concepção modernista do ensino de arte para as propostas contemporâneas traz mudanças significativas nos modos de ensinar e aprender arte. O ensino modernista privilegia a autoexpressão, a livre expressão e afasta o aprendiz da arte adulta com receio de que a criança ou o jovem perca a espontaneidade criativa. Por outro lado, nutre a crença de que a imersão nos processos de expressão permitiria ao aprendiz fazer emergir os conteúdos internos, conhecer a si mesmo e desenvolver a capacidade criadora. O ensino de arte contemporânea, por sua vez, traz como marca a ressignificação da cultura e admite que o aluno efetive a interlocução com a arte e sua história, sem perder sua autonomia, autoria e potência criadora. Explora o uso das imagens, formas coletivas de trabalho, considera o conjunto e respeita as individualidades, principalmente ao ver o mundo e a vida como repertório para as produções artísticas. As rupturas que a arte moderna promoveu quanto à contemplação e representação do real ainda não foram suficientemente digeridas pelo grande público e se estendem às manifestações contemporâneas, vide o estranhamento que a mesma ainda causa. O artista contemporâneo passa a ser um propositor de situações que, juntamente com o público, amplia as concepções apresentadas. A ação educativa em arte, que tem como objeto a arte contemporânea, aproxima o aprendiz da obra e dos procedimentos criadores do artista. Pode explorar os desafios da criação (processos criadores), os meios com os quais se cria (linguagens), o conhecimento sobre as próprias produções artísticas (leitura da imagem) e sobre os saberes artísticos (história da arte), além de orientar a leitura e a interpretação da obra a partir da experiência estética do aluno. Fontes: ARSLAN, L; IAVELBERG, R . Ensino de arte. São Paulo: Cengage Learning, 2006; BRITO, R; LIMA, S . de. Experiência crítica. São Paulo: Cosac Naify, 2005; COCHIARALI, F . Quem tem medo de arte contemporânea. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2006.
Cultura Visual: uma abordagem para prática educativa
1. Jocélia Pozzi A Águia / The Eagle Mosaico / Mosaic 40 x 27 x 2 cm 2015
2. Vania Caus Pandeirista do Baile de Congo / Tambourine player at Congo ball Acrílica e óleo sobre tela / Acrylic and oil on screen 65 x 55 cm 2015
3. Bianca Romano Draisine em cenas do cotidiano (Série Draisines) / Draisine in everyday scene (Draisines series) Acrílica sobre textura contemporânea / Acrylic on contemporary texture) 60 x 80 cm 2015
4. R. Beling Panelas de Barro / Clay pots Aquarela sobre papel / Watercolor on paper 33,2 x 33,3 cm 2015
Ao considerar a natureza da exposição da 11ª edição do Vitória em Arte, que homenageia dois artistas capixabas e apresenta mais de 80 artistas locais, optamos em discutir, promover e apontar princípios para práticas educativas, na perspectiva da cultura visual, que permite incorporar a diversidade e o multiculturalismo no ensino de arte, forma de interrelacionar arte, escola e comunidade. O interesse pelo visual tem levado muitos teóricos a discutirem sobre as imagens e sobre a necessidade de uma alfabetização visual, que se expressa em diferentes designações, como leitura visual e cultura visual. Mas essas expressões são sinônimas? A expressão leitura de imagens começa a circular na década de 1970, influenciada pelo formalismo e fundamentada na teoria da Gestalt e da Semiótica. A ideia de ensinar a ver e ler imagens inspira-se no trabalho de autores como Rudolf Arheim (1957) e Donis Dondis (1973). As abordagens voltadas ao aspecto estético da leitura de imagem de obras de arte apoiam-se nas investigações de Ott (1984), Housen (1992) e Parsons (1992). Como vemos, muitos são os autores que se dedicaram a investigar a leitura de imagem e essas são práticas mais conhecidas e desenvolvidas nos espaços expositivos. Entendendo a cultura como produção social, o olhar pode ser definido como construção cultural e a competência visual do observador estabelecida socialmente. Por isso, as noções de visão e visualidade são básicas para definir a cultura visual. A visão, como processo fisiológico em que a luz impressiona os nervos ópticos, é similar para pessoas das mais diversas culturas. Mas a visualidade, como olhar socializado, depende da maneira própria de olhar para o mundo, o que dá lugar a diferentes sistemas de representação. A Cultura Visual, portanto, não considera o visual como aspecto isolado, mas inclui a relação com todos os outros sentidos e linguagens. Pode ser entendida como uma estratégia para compreender a vida contemporânea, na medida em que o visual passa a ser um lugar onde se criam e se discutem significados a partir da experiência cotidiana, identificando valores e identidades construídos e comunicados pela cultura via mediação visual. Interessa-nos, nesta exposição, para além da leitura formalista de imagens, que o visitante exercite a compreensão crítica das representações, explore os seus significados culturais, valores e identidades. Essa aproximação interativa com as obras permitirá a percepção de que as identidades se refletem e se definem na maneira como representamos a nós mesmos visualmente. Nós, educadores, temos que estar atentos ao que se passa no mundo, com relação aos saberes e aos sujeitos, atuar com propostas imaginativas que permitam aos nossos alunos não apenas pensar sobre as representações, mas também perceber o que elas significam e o que elas têm a ver com suas próprias vidas. Fontes SARDELICH , Maria Emilia. Leitura de Imagens, cultura visual e prática educativa. Cadernos de pesquisa, v.36, n.128, p 451-472, maio/ago 2006; BASTOS, Flávia Maria Cunha. O perturbamento do familiar: uma proposta teórica para a Arte/Educação baseada na comunidade. In BARBOSA , Ana Mae (org.) Arte/Educação Contemporânea. Consonâncias Internacionais. São Paulo: Cortez, 2005.
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Rosana Paste 1967—
asceu e viveu em Venda Nova do Imigrante/ES até os 18 anos, com uma N infância cheia de aventuras e boas recordações. Descendente da segunda geração de imigrantes italianos, cultura e tradições foram preservadas, mas experiências sensivelmente percebidas levaram-na à produção poética. Na memória grava a cor vermelha da terra do barranco, o preto do asfalto recém-feito e o intenso verde ao redor da casa, matéria a ser alquimicamente transformada em arte. Em 1970, a BR 262 cortou a terra da família, a menos de 11 metros de distância da velha casa de imigrante italiano, grande, alta, com muitas janelas azuis, paredes brancas e varanda fresca. O projeto de engenharia não se importou com as pessoas da terra, criou a ferida e deixou marcas na lembrança daqueles que ali viveram. Rosana é seu próprio material e fio condutor para sua ação criadora em arte. Nela, os códigos da geografia genética se cruzam e se fecundam para gerar obras inscritas em seu próprio corpo/escultura, ou para, a partir dele, criar ações/performances, como também imagens/formas/objetos. Em DoNa rosana, encontramos uma biografia escrita num eumuseu que se constituiu ao longo do tempo, a partir das experiências vividas e memórias ressignificadas e objetivadas em arte. O tempo figura como o escultor e a própria vida como matéria para o trabalho poético. Seu processo criativo aciona as camadas da memória afetiva que se sobrepõem e se cruzam no presente vivido a partir do passado rememorado. O fazer, a princípio artesanal, dá espaço para o novo e as novas tecnologias de fabricação. As formas mais orgânicas tornam-se objetivas, polidas, aparentemente industriais, movimento sincronizado com a tendência contemporânea. Fonte de pesquisa: PASTE, Rosana Lucia. Processo de criação em arte: estudo de caso do artista plástico e professor Nelson Leirner. Dissertação. (Mestrado em Educação). Centro de Educação, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2010; livro eumuseu rosana paste, Vitória, ES, 2014; Catálogo Rosana Paste, Vitória, ES, 2004.
Rosana Paste | 1967 | nasceu em Venda Nova do Imigrante/ES, sob o signo de leão no ocidente e cabra no oriente. Em 1986, ingressou na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) para cursar Artes Plásticas e em 1994 fez concurso para professora no Centro de Artes da Ufes, para a disciplina de Escultura, e é efetiva até hoje. Em 2010 concluiu seu mestrado pela Ufes, com a dissertação Processo de Criação em Arte: Estudo de caso do Artista Plástico e Professor Nelson Leirner e, em 2013, ingressou no doutorado com o projeto O artista professor: cartografias e processos, assumindo sua produção como artista e professora como objeto de estudo. Atua, desde 1987, na área de artes plásticas, vídeo, performance, com exposições coletivas e individuais. No Brasil, participou de sete exposições individuais em Vitória e São Paulo, da primeira edição do projeto Rumos Visuais, do Itaú Cultural, em 1999/2000, expondo em diversas capitais: Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Curitiba, dentre outras. No exterior, participou de exposições coletivas no Japão, no Egito, na Itália e na França.
Rosana Paste Série: Geografia genética / Series: Genetic geography Impressão em canvas / Print on canvas 92 x 68 cm 2013—2015 Foto / Photo: Jocimar Nalesso
O que nos dizem estas mãos? Escreva automaticamente todas as ideias que vierem à cabeça sobre as mãos da fotografia de Rosana Paste. A seguir, olhe para as suas próprias mãos e realize o mesmo procedimento. Faça relações entre o eu e o outro. O que o outro pode nos levar a pensar sobre nós mesmos? Crie outras imagens com mãos, buscando explorar diferentes significados para elas.
O Tradicional e o Contemporâneo: interlocução necessária à criação
1. Renato Ren Judith Krantz — Skrupel Acrílica sobre capa de livro impresso / Acrylic on print book cover 29,5 x 37 x 5 cm 2015
2. Israel Scardua Sois anjo, que me tenta, e não me guarda / You are an angel, who tempts me, and does not keep me Desenho sobre tela / Drawing on canvas 60 x 80 cm 2015
3. Rick Rodrigues Sem título / Untitled Dobraduras / Foldings 300 dobraduras em papel / 300 paper foldings 1,5 x 1,5 x 1,5 cm (cada / each) 2015
4. Ariana Margoto Eu colecionável 04 / Collectible Me 04 Objeto / Object 33 x 11,5 x 7,5 cm 2009
Identificamos nas obras apresentadas na exposição Vitória em Arte, o diálogo entre tradição e contemporaneidade na medida em que há imersão nas experiências vividas, na memória, mas também na ação da imaginação criadora sobre o cotidiano. A cultura diz respeito às experiências humanas e as produções culturais, em alguma medida, tentam responder aos mistérios desta mesma vida. Por isso, por mais que muitas manifestações já estejam extintas, ela nos deixam parâmetros, ideias que ainda nos influenciam. A tradição, como nos apresenta Tavares (2005, p.142) “é o chão onde toda cultura pisa, pois ninguém pisa no ar, ninguém começa do zero. Tudo começa a partir de algum passado, de um acúmulo, de conquistas, ideias e obras, de coisas que foram feitas antes, de vidas e experiências anteriores”. Se retirarmos o tradicional, teríamos um presente sem passado e talvez destituído de sentido. Assim, as tradições culturais mantêm-se vivas se fazem sentido para as pessoas, se estiverem em movimento e incorporarem as transformações necessárias à sua permanência. Como disse Fayga Ostrower (1987), o homem não cria porque quer, cria porque precisa dar sentido à sua vida e a arte é uma maneira de conhecer o mundo, de ressignificar as coisas do mundo. O processo criativo nasce das ideias, dos conteúdos que temos internalizados, do nosso repertório, assim como pode ser enriquecido pelo olhar atento ao meio, pela sensibilidade treinada do artista que se coloca em situação de criação, que reinventa o próprio fazer e os modos de fazer para gerar formas novas que traduzam aquilo que o presente necessita. Antonio Rosa talha objetos funcionais que vai estetizando à medida que seu trabalho incorpora os elementos que conhece na cidade grande. São representações que nos permitem identificar elementos da cultura local. A artista Rosana Paste presentifica, em seu trabalho, suas experiências de vida, as percepções singulares da sua relação consigo mesma, com o outro e com as coisas do mundo. A visualidade proposta pelo artista popular Antonio Rosa e pelos artistas contemporâneos desta exposição é exemplo do quanto à arte se admite a diversidade, as singularidades, os diferentes contextos, repertórios, experiências, conhecimentos e processos não lineares. Tanto as manifestações tradicionais como as que buscam incorporar as tecnologias atuais são movidas pela captura sensível de um sujeito em que o espírito criador elabora, processa, dá sentido e faz resultar trabalhos nas mais variadas formas artísticas. Fontes: OSTROWER , Fayga. Criatividade e Processos de Criação. Petrópolis: Vozes, 1987; TAVARES , Bráulio. O contemporâneo e o tradicional: diálogos, conflitos e convergências. In Seminário Nacional de Políticas Públicas para as culturas populares. São Paulo, Instituto Polis; Brasília: Ministério da Cultura, 2005.
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Propostas de ação criadora
Hoje a arte invade a vida, não é mais uma janela para ver a vida. A arte fala do homem, das suas inquietações, das suas realidades e explicita as diferentes vozes dos diversos grupos sociais. Produz visualidades, incentivando a ampliação da percepção sobre as diferentes histórias, a reflexão sobre o que ocorre nos distintos contextos e traz para o espaço expositivo as mais diversas temáticas. Ao visitar esta exposição você pode fruir, ter uma experiência estética com a arte que se produz hoje, ampliar o conhecimento sobre as manifestações culturais e produções artísticas no contexto da contemporaneidade e, em alguma medida, refletir sobre o que estas representações têm a ver com você. Nosso desafio está em aproximá-lo dos procedimentos criativos que lhe levarão a produzir trabalhos que talvez você nunca faria espontaneamente. Exercício 1: Marcas da Memória Nossas identidades se refletem na maneira como representamos a nós mesmos e esse exercício de linguagem pode trazer a consciência de que as imagens e objetos portam significados, que a cultura visual dá forma ao mundo e que nós temos uma forma de olhar para esse mundo. Ainda, que podemos encontrar incômodos e propor soluções para eles por meio da dimensão utópica da arte. Inspirado nos trabalhos impulsionados pela memória afetiva, lugar de onde se traz registros para criar: (re)construir, (re)significar objetos do cotidiano, propomos:
1. Re Henri Nave Submarina (Série Estudos tridimensionais sobre a criatividade no tempo/espaço) / Submarine Ship (Three-dimensional studies on creativity in time/space series) Objet trouvé e assemblage / Found object and assemblage 19 x 18 x 16 cm 2015
Entranhamento (Série Estudos tridimensionais sobre a criatividade no tempo/espaço) / Entanglement (Three-dimensional studies on creativity in time/space series) Objet trouvé e assemblage / Found object and assemblage 31 x 29 x 13 cm 2015
2. Moema Selfie Óleo sobre tela / Oil on canvas 75 x 55 cm 2014 (Usar a câmera do celular no modo de cena negativa, para visualizar a obra de forma realista.)
3. Cida Ramaldes Quer provar? Qual o seu número? / Want to try? What is your number? Apropriação e cerâmica / Appropriation and ceramics 20 x 25 x 10 cm 2009
4. Karini Miranda O canto da cigarra / The cicada sings Escultura e óleo sobre tela / Sculpture and oil on canvas 22,5 x 19,9 x 3 cm 2015
1. A criação de um mapa ou objeto que lhe apresente. Você poderá eleger os elementos com os quais se identifica, particulariza, ou aquilo que pontua a passagem do tempo em sua vida. Exerça toda liberdade criadora para propor ou inventar uma forma de representação e socialize com seus amigos ou sua turma na escola.
Exercício 2: Analogia Inusual É possível estabelecer uma comparação sistemática entre dois fenômenos ou objetos diferentes, sem evidentes semelhanças à primeira vista, e encontrar um ponto comum no diverso, seja nas categorias essenciais de substância, matéria, elementos formais, componentes ou funções entre os diferentes reinos da natureza. A Analogia Inusual pretende estabelecer uma associação lógica de elementos muito diferentes, o que evidencia a perspicácia, o ingênuo, revitalizando a percepção visual interna dos sujeitos. Observe o trabalho O canto da cigarra, de Karini Miranda. Qual a semelhança entre a cigarra e a partitura musical? Observe o trabalho Quer provar? Qual o seu número?, de Cida Ramaldes. O que une sapato a espinho? Proposta de criação a partir do método criativo Analogia Inusual: 1. Procedimento para geração de ideias a) Escolha duas coisas ou fenômenos da natureza ou da cultura, os mais complexos e de diferentes reinos (por exemplo, uma árvore e uma taça de cristal). Levante ideias sobre eles e depois tente encontrar elemento a elemento, parte a parte o que um corresponderia do outro. b) Estruture as respostas nas categorias de partes internas, ações e funções, características objetivas (formas, cor...) e subjetivas, vantagens e prejuízos etc. 2. Integração
Criativa Original a) Faça uma apresentação original dos traços comparados por meio da expressão plástica visual: um desenho, uma colagem, um objeto...
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Antônio Rosa 1900 — 1978
Antônio Rosa carrega a memória recente dos Quilombolas, pois na região em que viveu e produziu sua arte, foi estabelecido um dos mais poderosos sistemas escravocratas do país. Os portos do extremo norte do Espírito Santo, Vale do Cricaré, confluência dos municípios de São Mateus e Conceição da Barra, facilitaram o comércio negreiro no tempo em que a economia do Brasil se sustentava com mão de obra escrava. O comércio do homem negro foi proibido por lei em 1850, mas continuou clandestinamente até que uma escuna foi detida em 1856 na embocadura do rio Cricaré, com cerca de 350 pessoas, colocando ponto final na importação de escravos. Para suprir a falta do elemento servil, as elites instalam as “fazendas de reprodução” para alimentar o comércio de pessoas com crianças negras, “matrizes” e “reprodutoras”. Apesar desse cenário perverso, a consciência libertária dos homens negros originou heróis populares, que deixaram marcas de suas lutas e manifestação de sua cultura por meio dos ritos, da música, da dança e da arte. Antônio Rosa, homem negro, nascido em Barreira do Cururipe, estado de Alagoas, no ano de 1900, saiu de casa para ganhar o mundo e desceu pelo litoral procurando trabalho e mascateando ao comprar e vender coisas que achava pelo caminho. No sul da Bahia conheceu Dona Evangelina Meireles, cabocla com traços indígenas, que lhe daria 14 filhos. Ela se uniu àquele “moço falante, que lhe contava histórias das lutas e do padecimento dos negros nos tempos da escravidão” (AGUIAR , 2007, p.14). Com trabalho na lavoura, Antônio Rosa sustentou sua família até ser acometido por uma doença que lhe custou uma perna. Sem poder trabalhar, começa a talhar gamelas e vasilhas para colocar farinha que vendia com facilidade. Assim, iniciou a sua vida de artesão: talhava colheres, garfos, tudo de madeira. Dona Evangelina contou que vendia de dar gosto! A princípio, o artesão produzia objetos de utilidades, mas aos poucos passou a elaborar peças artísticas que lhe dão nome. Vale contar uma curiosidade sobre a escultura do sanfoneiro, imagem desta lâmina. Dona Evangelina acreditou que a escultura retrata a amizade de dois amigos. Relatou que, antes de adoecer, Antônio Rosa andava com seu amigo Tibúrcio, o sanfoneiro, a animar festas. Tibúrcio tocava e Antônio dançava e ensinava o baião, o xaxado e o xote para as pessoas. Assim, o sanfoneiro é a representação dessa amizade: a parte de cima, Tibúrcio com a sanfona no peito, e a de baixo, Rosa com as pernas cruzadas, porque não podia mais dançar. Antônio Rosa não era mais mascate, nem lavrador, nem dançador, era o artista popular que viria a participar de uma feira de artesanato em Vitória e, a partir dessa experiência, incorporar os elementos que conheceu na cidade grande. Conceição da Barra, no início da década de 1970, inicia a sua vocação turística e dá visibilidade à produção de Antônio Rosa, que passa a ser reconhecido pelo trabalho em madeira com incisões de grafite e incrustações de outros materiais. Fonte de pesquisa: AGUIAR , Maciel de. Antônio Rosa e Manoel Souto. São Mateus, ES: Memorial, 2007 (História dos Quilombolas; v.18).
Antônio Rosa Sanfoneiro / Accordion player Entalhe sobre madeira / Wood carving 32 x 7,5 x 6,5 cm s/d (date unknown) Acervo Terezinha Calixte / Terezinha Calixte collection
Por quê homenagear um artista popular numa exposição de arte? Talvez esta seja uma pergunta que passou na sua cabeça, mas que você não teve coragem de fazer. Vamos aproveitar este espaço para compreender, refletir e conhecer mais sobre as referências locais, a cultura popular do nosso estado lembrando que a multiculturalidade é uma das características da cultura visual e um dos aspectos ressaltados na arte contemporânea.