marรงo | 2019
Ocupação Museu do Ipiranga Com início em 2017, é fruto da parceria entre a Universidade de São Paulo e o Sesc Ipiranga. Seu principal foco é chamar a atenção da sociedade civil para o Museu do Ipiranga, espaço fechado desde 2013 e com previsão de reabertura em 2022, ano que marca o bicentenário da Independência. “Que museu queremos em 2022?” é a pergunta curatorial que perpassa as ações desenvolvidas nessa Ocupação, baseada no reconhecimento da falta de representatividade de grupos sociais nas narrativas históricas oficiais. Procura-se, por meio de ações artísticas, discutir o poder de pinturas e esculturas que tornaram o Museu do Ipiranga um importante espaço de pensamento acerca da formação do Brasil e que foram replicadas no universo escolar como narrativa hegemônica. Objetiva-se valorizar a diversidade cultural por meio da presença de grupos e discursos, observando-se as narrativas em questão, para a ampliação das leituras para além da hegemônica. E assim, a partir de outras perspectivas, convidar o público a refletir sobre a história do Brasil.
É possível recontarmos a história do Brasil do ponto de vista do protagonismo feminino? Da voz ou silenciamento das mulheres na vida pública? Matriarcado de Pindorama propõe um rito cênico-poético, desde a colonização aos dias atuais, resgatando histórias de violações normalizadas e pacificadas, mas também de lutas femininas por justiça social, abolição dos escravos, liberdade e, especialmente, pela expressão de uma subjetividade alternativa à dominante. Com intenso diálogo entre as artes, convidamos o público a deslocamentos físicos – as pessoas percorrem desde a entrada às salas do Museu da Independência – mas especialmente aos deslocamentos interiores, em relação às certezas históricas e ao imaginário dominante. Uma peça criada como continuidade de um processo que a Estelar de Teatro iniciou em 2006: a investigação de uma voz feminina não só no tema, mas na linguagem - signos articulados de maneira porosa para tentar contaminar o campo social com a poesia e as novas imagens mais necessárias que nunca em nosso momento histórico.
Mas contar a história do Brasil do ponto de vista das mulheres pode ser também contar a história do Brasil do ponto de vista da exploração da natureza? Do rito na rua, convidamos todos a embarcarem nas águas da história. É possível contar a história do Brasil do ponto de vista das águas? Vem mergulhar em nosso ventre-teatro para que possamos reparir nosso país alargando narrativas: da chegada dos invasores europeus, aos primeiros feminicídios de indígenas e africanas. Percorrer túneis estreitos atrás das vozes que a história não conta: guerreiras que não estão nos livros, artistas que ousaram questionar nosso imaginário dominante, mulheres que com suas recusas cotidianas vêm sendo a grande força contrária ao patriarcado há séculos, ecos de arquipotências femininas que um dia povoaram a imaginação desta terra. Podemos pensar em relações entre nossas monoculturas, destruição da biodiversidade e a maneira como nossos imaginários se tornam estreitos? As histórias subterrâneas do país, as camadas de terra sobre as verdades e sua substituição por falsas verdades - as “verdades de supermercado”? Quais as contas que precisamos acertar com nossa história, vozes-sangue-na-terra que precisamos ouvir, para dar conta dos fantasmas que hoje nos assombram? Nosso Matriarcado de Pindorama, nome inspirado pelo Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade, sonha provocar outras possibilidades – e escapar dos roteiros
(roteiros, roteiros, roteiros, roteiros, roteiros) e mentiras mil vezes repetidas. E avisa: quando a voz das mulheres entra em cena, todos os mapas se alteram, porque fala também de muitas outras vozes excluídas. Queremos olhar de frente para esse país – que sim! nasceu de um estupro – para podermos, não mais atormentados pelos demônios do inconsciente – as histórias que nunca puderam existir nem encontrar sua paz – abrir espaço para vivermos novas imagens. Provocamos com a Mátria (na tradição de nossa antropofagia) porque queremos Frátria!
Ficha Técnica Texto Viviane Dias Direção Viviane Dias e Ismar Rachmann Elenco Estelar de Teatro: Anderson Negreiro, Lucía Soledad Spívak, Viviane Dias , Gabriel Moreira, Carla Raíza, Inês Soares Martins, Regina Santos, Rico Marcondes. Direção Musical Lucia Soledad Spívak e Gabriel Moreira Figurinos Cláudia Schapira Consultor cenográfico Sérgio Lessa Preparação corporal Regina Santos Instrutor de percussão Rico Marcondes Arte gráfica Mau Machado e Ismar Rachmann Fotografia Tati Wexler
De 9 a 31.3.19 Sábados e domingos, às 15h
Sesc Ipiranga Rua Bom Pastor, 822 CEP: 04203-000 | São Paulo/SP Tel.: +55 11 3340.2000 /sescipiranga sescsp.org.br/ipiranga